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Resumo
A etapa de fermentação na produção da farinha de mandioca do grupo d’água é responsável pelo desenvolvimento de
características químicas e sensoriais peculiares no produto. O objetivo deste estudo foi verificar a influência da etapa de
fermentação das raízes de mandioca nos principais parâmetros físico-químicos da farinha, seguido de avaliação sensorial da
preferência do consumidor. As análises realizadas foram determinação do teor de umidade, cinzas, proteínas, amido e acidez
total titulável. O teste sensorial utilizado foi o de ordenação-preferência dos produtos. De acordo com os resultados obtidos, a
etapa de fermentação, responsável pelo aumento da acidez total titulável da farinha de mandioca do grupo d’água, foi o único
parâmetro que excedeu o valor limite permitido pela legislação brasileira vigente. Com base no resultado da análise sensorial,
houve maior preferência dos consumidores pela farinha de mandioca com maior teor de acidez total (3,44 cmol NaOH kg-1),
que corresponde à raiz fermentada por 96 horas.
Palavras-Chave: acidez, mandioca, processamento, análise sensorial.
1
UNICAMP. renanchiste@gmail.com
2
Embrapa Cerrados. kelly.cohen@cpac.embrapa.br
Tabela 2 - Características físico-químicas das farinhas d’água produzidas a partir de raízes de mandioca com diferentes tempos de fermentação.
Tempo de Fermentação Acidez total titulável Umidade Cinzas Proteínas Amido
(h) (cmol NaOH.kg-1)* (%) (%)* (%)* (%)*
24 b
1,90 ± 0,01 a
9,20 ± 0,28 a
0,72 ± 0,01 a
2,16 ± 0,16 c
70,20 ± 0,01
48 c
0,86 ± 0,03 b
5,57 ± 1,34 c
0,50 ± 0,02 b
1,62 ± 0,16 b
71,49 ± 0,04
72 a
3,34 ± 0,12 b
4,19 ± 0,06 bc
0,53 ± 0,01 b
1,60 ± 0,14 c
70,27 ± 0,02
96 a
3,44 ± 0,10 b
3,86 ± 0,16 b
0,54 ± 0,01 b
1,57 ± 0,13 a
75,01 ± 0,01
*valores expressos em base úmida. cmol NaOH.kg-1 = centimol de hidróxido de sódio por quilo. Médias com letras iguais, em uma mesma coluna, não diferem significativamente
entre si (Teste de Tukey a 5% de significância). Média de três medições ± desvio padrão.
raízes, estão abaixo do permitido pela legislação vigente, que de produto diferenciado, que optam por adquirir a farinha
é no máximo 1,5% (Brasil 1995). Segundo Cagnon et al. d’água por apresentar o referido sabor “mais ácido”, resultante
(2002) os valores de cinzas estão relacionados com a cultivar do tempo de fermentação superior a 48 horas.
de mandioca, assim como suas características de solo e cultivo.
De acordo com a Portaria nº 554 de 30/08/1995 do Conclusões
MAPA, não há referências com relação aos valores de proteínas A etapa de maceração da raiz de mandioca é responsável
da farinha de mandioca. Entretanto, neste estudo, foi realizada pelo elevado teor de acidez total na farinha d’água, dificultando
tal determinação como informação complementar referente assim o enquadramento do produto ao parâmetro exigido pela
aos constituintes do produto. Foi observado que a farinha de legislação vigente. No entanto, o teste sensorial de ordenação-
mandioca não se trata de um produto com elevados teores de preferência indica que os provadores possuem preferência pelo
proteínas. Os valores encontrados no presente trabalho (1,57 sabor da farinha de mandioca do grupo d’água com maior
a 2,16 %) foram maiores do que os encontrados por Dias e acidez total.
Leonel (2006) em diversos tipos de farinha de mandioca (0,57
Portanto, sugere-se que este valor seja melhor avaliado
a 1,06%), Chisté et al. (2006) em farinha seca (0,59 a 0,93%)
pelos órgãos competentes com a finalidade de facilitar o
e Chisté et al. (2007) em farinha d’água (0,76 a 0,94%).
enquadramento da farinha d’água nas condições de qualidade
Para a farinha de mandioca do grupo d’água é exigido teor especificadas pela legislação.
mínimo de 70% de amido (Brasil 1995). Todas as farinhas
produzidas após diferentes tempos de maceração da raiz
apresentaram valores dentro do permitido pela legislação,
Agradecimentos
variando de 70,20 a 75,01%. Chisté et al. (2007) após Ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento
avaliação do processo artesanal de fabricação da farinha d’água Científico e Tecnológico) e ao Fundo Estadual de Ciência
no interior do Pará, também encontraram valores dentro do e Tecnologia (FUNTEC) / Secretaria Executiva de Ciência,
limite mínimo permitido pela legislação. Tecnologia e Meio Ambiente (SECTAM), pelo apoio
financeiro.
De acordo com os resultados do teste de ordenação-
preferência (Tabela 3) realizado nas diferentes amostras
de farinha d’água, com distintos valores de acidez total, Bibliografia Citada
foi verificado que a amostra de farinha produzida após 48 AOAC. 1997. Official methods of analysis of the Association of
Official Analytical Chemists. V.2, Edited Ig W. Horwitz, 16ª ed.,
horas de maceração da raíz de mandioca (menor acidez
Washington, DC, USA. 850 pp.
total) apresentou a menor pontuação de preferência,
Brasil. 1995. Ordinance nº 554 of August 30, 1995 (Portaria nº 554
diferindo significativamente somente da amostra produzida
de 30 de agosto de 1995). Diário Oficial. Brasília, Secretaria da
após 96 horas de maceração. As farinhas produzidas após Agricultura, do Abastecimento e Reforma Agrária. 1 Set., Seção
24 e 72 horas de meceração da mandioca apresentaram 1 (in Portuguese).
preferência intermediária em relação às outras, não diferindo Cagnon, J.R.; Cereda, M. P.; Pantarotto, S. 2002. Culture of starchy
significativamente das demais amostras. Finalmente a farinha tubers in Latin America. Volume 2: Culture of starchy tubers in
produzida após 96 horas de maceração da mandioca (maior Latin-America, Fundação Cargill, São Paulo, SP, Brasil. 537 pp
acidez total) apresentou maior pontuação em preferência, (in Portuguese).
diferindo apenas da amostra com 48 horas de maceração. Cereda, M.P.; Daiuto, E.R.; Vilpoux, O. 2004. Methodology for
A preferência pela farinha com sabor mais ácido pode estar determination of starch by acid digestion in microwave. Revista
relacionada com hábitos culturais dos consumidores desse tipo da Associação Brasileira dos Produtores de Amido de Mandioca
(ABAM), ano II, n.8, p.29 (in Portuguese, with abstract in
English).
Tabela 3 - Teste de ordenação-preferência realizado nas diferentes farinhas Cereda, M.P.; Vilpoux, O.F. 2003. Culture of starchy tubers in Latin
d’água produzidas com diferentes tempos de fermentação. America. Volume 3: Technology, use and potentialities of Latin-
American starchy tubers, Fundação Cargill, São Paulo, SP, Brasil.
Tempo de fermentação Somatório das notas
694 pp (in Portuguese).
(h) atribuídas no teste
Chisté, R.C.; Cohen, K.O. 2007. Total acidity and starch behavior
48 b
124
in the cassava flour production of dry group. Revista Brasileira de
24 ab
152 Tecnologia Agroindustrial, 1: 17-25 (in Portuguese, with abstract
72 ab
154 in English).
96 a
170
Chisté, R.C.; Cohen, K.O.; Mathias, E.A.; Ramôa Jr, A.G.A. 2007.
Participaram do teste 60 provadores não-treinados. Médias com letras iguais, em uma Study of physical-chemical and microbiological properties
mesma coluna, não diferem significativamente entre si (Teste de Friedman a 5% de
significância). when processing cassava flour from the water group. Ciência
e Tecnologia de Alimentos, 27: 265-269 (in Portuguese, with Maravalhas, N. 1964. Five studies of cassava flour. INPA, Manaus,
abstract in English). AM, Brasil. 9 pp. (in Portuguese).
Chisté, R.C.; Cohen, K.O.; Mathias, E.A.; Ramôa Jr, A.G.A. 2006. STATISTICA for Windows 5.5. 2000. Computer Program Manual.
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Alimentos, 26: 861-864 (in Portuguese, with abstract in English). Vilpoux, O. 2003. Culture of starchy tubers in Latin America. Volume
Dias, L.T.; Leonel, M. 2006. Phisico-chemical characteristics 3: Technology, use and potentialities of Latin-American starchy
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Agrotecnologia, 30: 692-700 (in Portuguese, with abstract in Portuguese).
English).
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