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ASSOCIAÇÃO EDUCATIVA DO BRASIL – SOEBRAS

FACULDADE DE SAÚDE IBITURUNA – FASI


CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

PSICOLOGIA NO DIA A DIA DA ATENÇÃO PRIMARIA


A partir de experiência de estágio de ações de promoção da saúde em uma UBS

Montes Claros - MG; Novembro, 2018.

Amanda Cristina Andrade


Jennifer Rafaela Silva Siqueira
Maira Cristina Neres Pestana
Thaisa Maria Fonseca Almeida
RESUMO

A inserção da Psicologia na Atenção Primária é de extrema importância na atualidade, visto as


variadas discussões que houveram a respeito dessa nova diretriz. Como porta de entrada da rede
de saúde, que integra uma nova perspectiva mais abrangente de se pensar este conceito como
processo e seus multideterminantes, que as próprias ferramentas de trabalho devem englobar
essa nova visão. Neste sentido, a partir de um olhar sistêmico e global sobre o conceito de
saúde, e a importância da interdisciplinaridade e sua atuação no território, dentro do conceito
de cidadania, que a promoção da saúde se insere dentro desta perspectiva, situando-se assim as
ações educativas, por exemplo, tendo como objetivo deste trabalhar refletir sobre este conceito
a partir de dois relatos de experiências. Inseridos dentro da prática do estágio de Saúde Mental,
desenvolvido na UBS do Planalto de Montes Claros, do curso de Psicologia da Faculdade de
Saúde Ibituruna – FASI, onde dentre as atividades realizadas, foram feitas duas ações nos meses
de setembro e outubro com as temáticas do suicídio e mês das crianças. A ação desenvolvida
no mês de setembro se desdobrou em mural com frases reflexivas a respeito de memórias
afetivas, enquanto que a desenvolvida no mês de outubro parte de um projeto conjunto para
confraternização do mês das crianças contando com o envolvimento de toda a equipe da
Unidade, para elaboração de atividades lúdicas para o público infantil e famílias. A partir disto,
foi possível observar a importância do lugar da Psicologia neste contexto, que se compromete
com uma visão ampliada sobre a subjetividade, considerando a potencialidade do território,
para o pensar criativo em ações e comprometidos com a diretrizes do SUS e com a ética da
profissão; em que se insere a Promoção da Saúde.

Palavras-chave: Psicologia. Atenção Primária. Promoção da saúde.

INTRODUÇÃO

Discute-se cada vez mais sobre a relevância de ação de profissionais relacionada à saúde, tendo
assim um grande conhecimento diante dos profissionais para conseguir dar suporte através de
ferramentas teóricas e um trabalho interdisciplinar, diante da compreensão do conceito de saúde
em uma dimensão da totalidade e integralidade, envolvendo diversos aspectos, e a partir disso
se insere inclusive a importância da Psicologia neste campo, e dentro da rede de saúde, no
contexto também da Atenção Primária, onde este trabalho se insere (RONZANI;
RODRIGUES, 2006).

Dessa forma, a psicologia diante das outras profissões, possui suas especificidades e não se
posiciona apenas na saúde e sim em outras áreas existentes também como a saúde, comunidade,
o trabalho, dentre outras. Mesmo existindo outras áreas de atuação a maioria dos psicólogos
atua na área da saúde, pois mesmo existindo diversidade de campos de atuação, nota-se a
necessidade de investir na formação para trabalhar no SUS, pois é um campo mais amplo e
exige a presença do profissional para fazer o seu trabalho diferencial nessa área
(ROMAGNOLI, 2006).

Neste sentido que algumas instituições de ensino proporcionam experiências de estágio dentro
de diversos equipamentos da rede de saúde, em que se circunscreve as reflexões deste trabalho
advindos de uma das experiências de um desses estágios. O estágio curricular supervisionado
específico III – Saúde mental II foi realizada na Unidade básica de Saúde (UBS) situada no
bairro Planalto na cidade de Montes Claros – MG. O estágio acontecia quinzenalmente de 13:30
às 17:00 em que foi possível ter atendimento individual e ações de prevenção a saúde: como
mural e entrega de panfletos para conscientizar a população sobre o Setembro Amarelo
participação no dia das crianças em atividades lúdicas. Assim, a partir destes momentos de
experiência adquiridos pelas acadêmicas, pode se perceber que a atuação do psicólogo na
atenção primária não é apenas de fazer um acompanhamento individual e sim grupal
envolvendo também reflexões, prevenção, e promoção da saúde – discussões centrais que
propiciaram a construção deste artigo.

REFERENCIAL TEÓRICO

O conceito de saúde foi modificado ao longo do tempo, sendo hoje considerada dentro de uma
diversidade de discursos, que envolve questões culturais, sociais, políticas e econômicas. Por
isto que cada pessoa atribui um significado diferenciado, uma que dependerá das
particularidades de cada um. Neste sentido que até mesmo os assuntos relacionados à
espiritualidade, religião e laicidade deve ser considerado inserido neste processo (SCLIAR,
2007).

Se antes no contexto brasileiro, assim como outros países em desenvolvimento, a saúde não era
considerado como direito garantido da população, a partir dos estudos sobre pobreza e
desigualdade e preocupação de entidades importantes diante da realidade social de vários
países, o conceito de saúde se alia ao da cidadania no âmbito da responsabilidade do estado,
fazendo com que as pessoas passassem a ter direitos mínimos de acesso dentro de uma agenda
política. Neste sentido que o Sistema Único de Saúde (SUS) é considerado referência
internacional, uma vez que sua filosofia atende toda a dimensão integral do conceito de saúde
contando com equipamentos que atendem à população dentro de diversas complexidades com
que o conceito de saúde pode envolver, como a porta da entrada da Atenção Primária. (BRASIL
et al, 2004).

A Atenção Primária, como primeira porta de acesso aos serviços de saúde, desenvolve um
serviço integrativo com as demais políticas, envolvendo uma articulação intersetorial, para ter
um resultado satisfatório mediante as demandas. Deve levar em consideração que os serviços
de saúde não podem ser tratados isoladamente das questões sociais uma vez que isso faz parte
da vida do sujeito, ou seja, sempre tendo um olhar holístico sobre a vida do usuário. Neste
sentido que se tem um marco importante na história da atenção primaria à saúde, que ocorreu
em 1978 a assinatura da declaração de Alma-Ata, que trouxe questões pertinentes para
funcionamento do serviço. Contanto com a colaboração de todos os setores disponíveis para
promover atenção de qualidade e além de se preocupar com outros custos (GIOVANELLA;
MENDONÇA 2009); (HEIMANN et al, 2011).
Dentro da Atenção Primária, a Psicologia vem contribuindo por fortalecer o conceito ampliado
de saúde, principalmente através de um olhar crítico, quando considera outros atravessamentos
na subjetividade antes negligenciados pela psicologia individualista. Assim, as ações da
Psicologia na Atenção Primária devem considerar o potencial do território, e sob um olhar
sistêmico, considerar as diferentes subjetividades ou existências que tecem o conceito de saúde
do lugar, que por sua vez vai atuar nas subjetividades que compõem as relações deste território.
Nisto reside a importância da promoção da saúde, uma vez que leva em consideração
justamente o conhecimento que o território já possui sobre saúde e doença, não possuindo assim
o foco sobre o doente ou a doença, podendo se materializar por exemplo por meio de ações que
visem reflexões sobre o viver, sobre o que faz realmente parte da vida, sendo o foco dos dois
relatos presentes a seguir (CORREIA; BARROS; CORVERO, 2011; IGLESIAS et al, 2009).

DESENVOLVIMENTO

A partir do arcabouço teórico discorrendo sobre a Atenção Primária, que este trabalho se
propõe a refletir em cima de duas experiências de estágio neste âmbito que aconteceram nos
meses de setembro e outubro, a partir do entendimento da importância de ações dentro da
promoção de saúde, quando se considera os cuidados essenciais de saúde, pensando em um
alcance universal das famílias assistidas pela Unidade Básica de Saúde. Sendo por isso, um
trabalho desafiador, com impacto significativo a partir das propostas de práticas de alcance a
população do território, uma vez que o contato com a comunidade faz toda diferença, por levar
a conhecer as pessoas e a realidade em que vivem, a fim de facilitar encontrar ferramentas
necessárias para empoderar e dar voz as famílias sobre seus direitos.

No mês de setembro, foram realizadas algumas discussões em grupo sobre as possibilidades de


se trabalhar o tema da morte com o público que aguarda atendimento na Unidade Básica em
um dia da semana. Em decorrência do estágio ser quinzenal, e do tempo de espera de cerca de
30minutos, foram pensadas várias formas de se abordar o tema dentro de um viés
psicopedagógico como também reflexivo, mas que fosse que de maneira não muito
aprofundada. Assim, definiu-se que a temática do setembro amarelo abordaria a perspectiva da
vida e do sentido do viver, uma vez que atravessa o assunto central do mês referido. Dentro
disto, foram pensadas frases relacionadas a experiências diárias, do cotidiano, com o objetivo
de se trabalhar a memória afetiva através da exposição dessas frases na recepção. Foi
confeccionado um mural suspenso, onde as frases ficaram expostas, penduradas por barbante
amarelo.

A outra experiência dentro deste estágio realizado no mês de outubro refere-se a um trabalho
conjunto, organizado e lúdico de toda a equipe que compõe a UBS a partir de uma ação do mês
das crianças, para principalmente o público infantil. Assim, as acadêmicas foram informadas
sobre a lógica do trabalho no dia, juntamente com outros profissionais e trabalhadores que
integram a equipe de atenção primária, e em um dos dias acordados que aconteceu a ação, as
acadêmicas puderam se inserir em algumas das atividades, como as oficinas de desenho, e de
tatuagem infantil. A ação também contou com lanche e doces para as famílias presentes, e
outras atividades recreativas, sendo finalizada no final da tarde, com o apoio para reorganização
e limpeza do espaço de todos os membros e estagiários que atuam no equipamento em questão.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As experiências vivenciadas pelas acadêmicas durante o percurso do estágio as colocaram em


contato direto com a realidade do funcionamento da rede de atenção em saúde. A atuação
profissional na atenção primária perpassa pelo âmbito da prevenção, mas principalmente da
promoção em saúde, pensando em seu conceito ampliado. Por isto que a promoção de saúde
vem com o intuito de capacitar os indivíduos, as famílias e a comunidade para serem ativos no
processo de saúde e melhora da qualidade de vida, e por considera, segundo Heidemann, Wosny
e Boehs (2014), que as “ações intersetoriais e intrassetoriais são imprescindíveis para ampliação
da consciência sanitária, com direitos e deveres da cidadania, educação em saúde para mudança
das condições de vida da população.” (p. 3554)

Nesta perspectiva que quando se foi pensado sobre o mural para o mês do Setembro Amarelo,
considerou-se como importante metodologia a arte como ferramenta de acesso à subjetividade
de maneira espontânea, como um movimento natural através do estético, para abordar assunto
delicado como o da morte, mas que não pode deixar de ser levantando, levando em consideração
por ser parte da vida. E em busca que um conceito ampliado que se pensou em situações
cotidianas e de vida que pudessem trabalhar a questão da memória afetiva como forma de
sensibilização para o sentido do viver, já que casos de suicídio está atrelado à falta de sentido
do viver. Por isso que pensar na metodologia da arte em forma do mural, por exemplo,
abarcando frases de sensibilização se inserem dentro da lógica da promoção da saúde, uma vez
que não impõe um determinado conceito fixo do conceito de saúde, como também não busca
instruir de forma impositiva sobre um assunto delicado, buscando abranger algumas
possibilidades de experiências que fazem parte da própria existência, e por isto das
subjetividades do território atendido pela unidade.

A outra ação desenvolvida no mês de outubro, quando pensada de forma coletiva, levando em
consideração o mês das crianças, e dentro de um projeto lúdico que contemplasse o
envolvimento familiar com as crianças, abrangendo todos os profissionais e trabalhadores da
unidade, inclusive acadêmicos, também pode se inserir dentro da lógica da promoção de saúde,
uma vez que também não possui como foco a doença, mas proporcionar um momento de
confraternização, além de fortalecimento de vínculos entre famílias e trabalhadores que atuam
na saúde. Assim, além de ser uma forma de conhecer as pessoas do território, o momento de
alegria também pode ser considerado como de promoção de saúde quando se pensado na
importância do afeto e do fortalecimento das relações.

Diante do exposto que se vê a importância do lugar do psicólogo quando aquele que precisa
pensar e desenvolver estratégias para a promoção de saúde em que possibilite a autonomia e a
transformação, fazendo com que o indivíduo participe e desperte para a responsabilização. De
certo que o trabalho da Psicologia no campo da Saúde e da Atenção Primária envolve inúmeras
ações conectadas tanto com a filosofia e diretrizes do SUS, quanto da ética profissional do
psicólogo, mas neste sentido é importante destacar a Promoção da Saúde, quando somente é
possível acontecer na proximidade com o território e com a Vida, como mais uma afirmação de
um compromisso social e de um envolvimento criativo para se pensar estratégias de criação de
uma cultura mais responsável e integrada com a sua saúde e com um conceito de saúde
ampliado. Neste sentido que a Promoção da Saúde se consolida na Estratégia da Saúde da
Família reforçando os princípios do SUS, especialmente o da integralidade na atenção à saúde
e o da participação social.
REFERÊNCIAS

BRASIL, I. N. C. A. et al. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer-INCA,


Estimativas da incidência e mortalidade por câncer. Rio de Janeiro: INCA, p. 83, 2004.

BRANTE, Anne Raissa Souza Dias et al. Abordagem Familiar: aplicação de ferramentas a
uma família do município de Montes Claros/MG. Revista Brasileira de Medicina de
Família e Comunidade, v. 11, n. 38, p. 1-9, 2016.

CORREIA, Valmir Rycheta; BARROS, Sônia; DE ALMEIDA COLVERO, Luciana. Saúde


mental na atenção básica: prática da equipe de saúde da família. Revista da Escola de
Enfermagem da USP, v. 45, n. 6, p. 1501-1506, 2011.
GIOVANELLA, L; MENDONÇA, M. H. M. 16. Atenção primária à saúde. P. 575-626, Nov,
2009.

HEIDEMANN, Ivonete Teresinha Schülter Buss; WOSNY, Antonio de Miranda; BOEHS,


Astrid Eggert. Promoção da Saúde na Atenção Básica: estudo baseado no método de Paulo
Freire. Ciência & Saúde Coletiva, v. 19, p. 3553-3559, 2014.

HEIMANN, L.S. et al. Atenção primária em saúde: um estudo multidimensional sobre os


desafios e potencialidades na Região Metropolitana de São Paulo. Ciência & Saúde
Coletiva, v. 16, p. 2877-2887, 2011.

IGLESIAS, Alexandra et al. Análise das ações de promoção à saúde realizadas por psicólogos
em Vitória-ES. Revista Psicologia-Teoria e Prática, v. 11, n. 1, 2009.

ROMAGNOLI, Roberta Carvalho. A formação dos psicólogos e a saúde pública. Pesquisas e


práticas psicossociais, v. 1, n. 2, p. 1-15, 2006.
RONZANI, Telmo Mota; RODRIGUES, Marisa Cosenza. O psicólogo na atenção primária à
saúde: contribuições, desafios e redirecionamentos. Psicologia: ciência e profissão, v. 26, n.
1, p. 132-143, 2006.

SCLIAR, M. História do conceito de saúde. Physis: Revista de saúde coletiva, v. 17, p. 29-
41, 2007.

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