Você está na página 1de 1

Lu�s de Cam�es

Transforma-se o amador na coisa amada

Trasforma-se o amador na coisa amada,


por virtude do muito imaginar;
n�o tenho, logo, mais que desejar,
pois em mim tenho a parte desejada.

Se nela est� minha alma transformada,


que mais deseja o corpo de alcan�ar?
Em si somente pode descan�ar,
pois consigo tal alma est� ligada.

Mas esta linda e pura semid�ia,


que, como um acidente em seu sujeito,
assim como a alma minha se conforma,

est� no pensamento como ideia:


e o vivo e puro amor de que sou feito,
como mat�ria simples busca a forma.

Alma minha gentil, que te partiste


T�o cedo desta vida descontente,
Repousa la no C�u eternamente,
E viva eu c� na terra sempre triste.

Se l� no no assento et�reo, onde subiste,


Mem�ria desta vida se consente,
N�o te esque�as daquele amor ardente
Que j� nos olhos meus t�o puro viste.

E se vires que pode merecer-te


Alguma coisa a dor que me ficou
Da m�goa, sem rem�dio, de perder-te;

Roga a deus que teus anos encurtou,


Que t�o cedo de c� me leve a ver te,
Qu�o cedo dos meus olhos te levou.

Transforma-se o amador na coisa amada,


por virtude do muito imaginar;
N�o tenho, logo, mais que desejar,
pois em mim tenho a parte desejada.

Se nela est� minha alma transformada,


que mais deseja o corpo alcan�ar?
Em si somente pode descan�ar,
pois consigo tal alma est� ligada.

Mas esta linda e pura semid�ia,


que, como um acidente em seu sujeito,
assim como a alma minha se conforma,

est� no pensamento como ideia:


e o vivo e puro amor de que sou feito,
como a mat�ria simples busca a forma.

Você também pode gostar