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Ela passou algumas horas sob a luz do sol | Elle a passé tant d’heures sous les sunlights…​,

1984, França, p&b, 130’


Com Mireille Perrier, Jacques Bonnaffé, Anne Wiazemsky, Lou Castel, Philippe Garrel,
Chantal Akerman, Jacques Doillon
CI: 14 anos 
 
Um filme sobre a realização, sobre as conversas que se tem enquanto se realiza um filme e sobre o que foi vivido 
e o que se vive para que um filme de Philippe Garrel aconteça. Em cena o conhecido romance que o cineasta teve 
com a cantora Nico, o nascimento de seu filho, o relacionamento com Brigitte Sy, mãe da criança, e também 
revelações de impressões do diretor sobre os filmes dos outros, sobre artistas como Jean Eustache e Chantal 
Akerman, ela que ele também faz questão de retratar. Fisicamente o cineasta se mostra em alguns momentos, 
quase sempre encoberto pelos seus cabelos volumosos ou por um cenário com pouca luz. Muitas vezes flutua 
como um fantasma pelos sets enquanto as situações vividas pelos casais são filmadas. Apesar de centrado nas 
suas experiências emocionais, o enfoque é sempre em filmar as atrizes. A estrutura dramática é toda 
concentrada em seus rostos e em uma espécie de asfixia provocada pelas relações em que as personagens estão 
inseridas e pela câmera. Uma das importantes conversas do diretor registradas no filme é com Anne Wiazemsky, 
momento de destaque na primeira metade da obra em que a atriz questiona sobre ter sido escolhida para 
interpretar Christa/Nico. Ao mesmo tempo, o cineasta faz comentários reveladores e graves sobre sua 
companheira para logo interromper a conversa ao dizer:“Agora vou cortar e fazer um close.” A fala é 
sintetizadora de um cinema e de uma postura: É no close que encontra a solução para falar de Chantal Akerman e 
para falar de Nico através de outras mulheres, das atrizes. Trata-se de um contemplar de rostos carregados de 
passado que costura esse e outros de seus filmes. Por muito tempo no cinema, o close e o modo de filmar as 
mulheres foi confundido com amor e devoção por quem se registra. Esse filme de Phillippe Garrel nos ajuda a 
compreender que quando um homem filma de muito perto uma mulher para falar de si, se sobressai a ideia de 
obsessão, fetiche e do esmiuçar emocional centrado na outra pessoa a na imagem que se faz dela. 

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