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Compc3aandio Dos Sc3admbolos Definic3a7c3b5es e Declarac3a7c3b5es de Fc3a9 e Moral PDF
Compc3aandio Dos Sc3admbolos Definic3a7c3b5es e Declarac3a7c3b5es de Fc3a9 e Moral PDF
Editio XL
MMV
Herder
Freiburg - Basel - Wien
Paulinas
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© EDIÇÕES LOYOLA, São Paulo, Brasil, 2006
Introdução .................................................................................................................................................... 3
I. O “denzinger” .................................................................................................................................... 3
II. Para o uso teológico do “Denzinger” ............................................................................................. 8
III. Indicações para a leitura ............................................................................................................... 11
Primeira Parte
Símbolos da fé
SÍMBOLOS SIMPLES ................................................................................................................................ 17
1 Epístola dos Apóstolos (versão etiópica) ............................................................................ 17
2 Papiro litúrgico Dêr Balyzeh ............................................................................................... 17
3-5 Constituições da Igreja egípcia, por volta do ano 500 ........................................................ 18
a) Versão copta: Símbolo batismal .................................................................................. 18
b) Versão etíope em forma de interrogação ..................................................................... 18
c) Versão etíope em forma declaratória ........................................................................... 18
6 Símbolo batismal da Igreja armênia (Símbolo breve) ......................................................... 18
Primeira Parte
Documentos do magistério da Igreja
CLEMENTE I de Roma: 92(88?) – 101(97?) ............................................................................................ 43
101-102 Carta “Dia2 ta2w ai3fnidi1oyw”, aos Coríntios, ca. 96
(Ordem hierárquica na Igreja / Autoridade da Igreja de Roma) ................................... 43
VI
VII
VIII
Concílio de CALCEDÔNIA (4º ecumênico): 8 out. – início de nov. 451 ...................................... 111
300-303 Sessão 5ª, 22 out. 451: Símbolo de fé de Calcedônia (Naturezas em Cristo) ................ 112
304-305 Sessão 7ª (15ª): Cânones (Simonia / Matrimônio misto / Batismo recebido na heresia) 114
306 Carta sinodal “ 3Eplh1suh xara9w”, ao Papa Leão I, início de nov. 451
(Primado da Sé romana) ................................................................................................ 114
308-310 Carta “Sollicitudinis quidem tuae”, ao bispo Teodoro de Fréjus (França meridional),
11 jun. 452 (Sacramento da penitência) ........................................................................ 115
311-316 Carta “Regressus ad nos”, ao bispo Nicetas de Aqüiléia, 21 mar. 458
(Matrimônio / Batismo) .................................................................................................. 116
317-318 Carta “Promisisse me memini”, ao imperador Leão I, 17 ago. 458
(As duas naturezas em Cristo) ....................................................................................... 118
319-320 Carta “Frequenter quidem”, ao bispo Neão de Ravena, 24 out. 458
(Batismo administrado por hereges) .............................................................................. 119
321-322 Carta “Epistolas fraternitatis”, ao bispo Rústico de Narbonne, ano 458 ou 459
(Votos religiosos) ............................................................................................................ 120
323 Carta “Magna indignatione”, a todos os bispos da Campânia etc., 6 mar. 459
(Confissão secreta) ......................................................................................................... 120
325-329 “Statuta Ecclesiae Antiqua”, meados ou fim do séc. V (Exame de fé antes
da ordenação episcopal / A imposição das mãos, matéria da ordenação) .................... 121
IX
MARTINHO I: 5 (?) jul. 649 – 17 jun. 653 (16 set. 655) ................................................................ 180
500-522 Sínodo do LATRÃO, 5-31 out. 649 ............................................................................... 180
500 a) Profissão de fé (Duas vontades e operações em Cristo) ............................................ 180
501-522 b) Cânones (Erros a respeito da Trindade e Cristo) ...................................................... 181
III Concílio de CONSTANTINOPLA (6º ecumênico): 7 nov. 680 – 16 set. 681 ........................... 201
550-552 Sessão 13ª, 28 mar. 681 (Condenação dos monotelistas e do Papa Honório I) ............ 201
553-559 Sessão 18ª, 16 set. 681 (Definição sobre as duas vontades e operações em Cristo) ..... 202
XI
XII
XIII
III Concílio do LATRÃO (11º ecumênico): 5-19(22?) mar. 1179 .................................................. 261
751 Sessão 3ª, 19 ou 22 mar.: Capítulos (Simonia) .............................................................. 261
753 Carta “In civitate tua”, ao arcebispo de Gênova, data incerta (Contrato de venda ilícito) 262
754 Carta “Ex publico instrumento”, ao bispo de Bréscia, data incerta
(Vínculo matrimonial) .................................................................................................... 262
755-756 Carta (fragmentos) “Verum post” ao arcebispo de Salerno, data incerta
(Consentimento matrimonial) ........................................................................................ 263
757-758 Carta (fragmentos) ao bispo Pôncio de Clermont (?), data incerta (Forma do batismo) 263
XIV
XV
Concílio de VIENNE (Fr.) (15º ecumênico): 16 out. 1311 – 6 mai. 1312 ....................................... 308
891-908 Sessão 3ª, 6 mai. 1312 .................................................................................................... 308
891-899 a) Constituição “Ad nostrum qui” (Erros dos begardos e dos beguinos) ....................... 308
900-904 b) Constituição “Fidei catholicae” (Erros atribuídos a Pedro João Olivi) ..................... 309
906 c) Constituição “Ex gravi ad Nos” (Usura) .................................................................... 311
908 d) Constituição “Exivi de paradiso” (Voto de pobreza franciscana) .............................. 311
XVI
Concílio de CONSTANÇA (16º ecumênico), 5 nov. 1414 – 22 abr. 1418 ...................................... 342
1151-1195 Sessão 8ª, 4 mai. 1415: Decreto confirmado pelo Papa Martinho V em 22 fev. 1418
(Erros de João Wyclif) .................................................................................................... 343
1198-1200 Sessão 13ª, 15 jun. 1415: Decreto “Cum in nonnullis”, confirmado por
Martinho V no 1 set. 1425 (Comunhão só sob a espécie do pão) .................................. 347
1201-1230 Sessão 15ª, 6 jul. 1415: Decreto confirmado pelo Papa Martinho V em 22 fev. 1418
(Erros de João Hus) ....................................................................................................... 348
1235 Sessão 15ª, 6 jul. 1415: Decreto “Quilibet tyrannus” (Tiranicídio) ............................... 352
Concílio de FLORENÇA (17º ecumênico): 26 fev. 1439 – ago. (?) 1445 ....................................... 357
1300-1308 Bula sobre a união com os gregos: “Laetentur caeli”, 6 jul. 1439 ................................. 358
1309 Decreto “Moyses vir Dei”, contra o Concílio de Basiléia, 4 set. 1439
(Dependência do concílio geral do Papa) ...................................................................... 359
1310-1328 Bula sobre a união com os armênios “Exsultate Deo”, de 22 nov. 1439 ....................... 360
1330-1353 Bula “Cantate Domino”, sobre a união com os coptas e os etíopes, 4 fev. 1442 ........... 366
XVII
V Concílio do LATRÃO (18º ecumênico): 3 mai. 1512 – 16 mar. 1517 ......................................... 383
Concílio de TRENTO (19º ecumênico): 13 dez. 1545 – 4 dez. 1563 .............................................. 394
1500 Sessão 3ª, 4 fev. 1546: Decreto sobre o Símbolo da fé .................................................. 394
1501-1508 Sessão 4ª, 8 abril 1546 ................................................................................................... 395
1501-1505 a) Decreto sobre os livros sagrados e as tradições a serem acolhidas ........................ 395
1506-1508 b) Decreto sobre a edição Vulgata da Bíblia e sobre o modo de interpretar a
Sagrada Escritura .................................................................................................... 396
1510-1516 Sessão 5ª, 17 jun. 1546: Decreto sobre o pecado original ............................................. 397
1520-1583 Sessão 6ª, 13 jan. 1547: Decreto sobre a justificação .................................................... 400
1600-1630 Sessão 7ª, 3 mar. 1547: Decreto sobre os sacramentos .................................................. 415
XVIII
XIX
XX
XXI
Concílio do VATICANO I (20º ecumênico): 8 dez. 1869 – 20 out. 1870 ........................................ 643
3000-3045 3ª sessão, 24 abr. 1870: Constituição dogmática “Dei Filius” sobre a fé católica
(Deus, Criador de todas as coisas / Revelação / Fé / Fé e razão) ................................. 643
3050-3075 4ª sessão, 18 jul. 1870: primeira Constituição Dogmática “Pastor aeternus”
sobre a Igreja de Cristo (Instituição do primado apostólico / Perpetuidade do
primado dos Romanos Pontífices / Significado e natureza do primado do
Romano Pontífice / Magistério infalível do Romano Pontífice) ..................................... 652
3100-3102 Resposta do S. Ofício ao Vigário Apostólico da Oceania Central, 18 dez. 1872
(Conceito metodista do batismo) ................................................................................... 660
3105-3109 Instrução da S. Congregação da Propagação da Fé, ano de 1873 (Juros) ...................... 661
3112-3117 Respostas ao despacho circular do chanceler Bismarck acerca
da interpretação da Constituição “Pastor aeternus” do Vaticano I,
jan.-mar. 1875 (Jurisdição do Papa e dos bispos) ......................................................... 662
3112 a) Declaração comum dos bispos da Alemanha, jan.-fev. 1875 .................................. 662
3117 b) Carta apostólica “Mirabilis illa constantia”, aos bispos da Alemanha, 4 mar. 1755 664
3121-3124 Decreto do Santo Ofício, 7 jul. 1875 (Transubstanciação) ........................................... 665
3126 Instrução do S. Ofício ao bispo de Nesqually, 24 jan. 1877
(Fé e intenção do ministro do sacramento) ................................................................... 666
XXII
XXIII
XXIV
XXV
Concílio VATICANO II (21º ecumênico): 11 out. 1962 – 8 dez. 1965 ........................................... 905
XXVI
XXVII
XXVIII
Com satisfação apresentamos a tradução brasileira da 40ª edição (2005) da coletânea de declarações
do Magistério da Igreja Católica conhecida como “o Denzinger”. Desde 1991, esta coletânea, graças aos
cuidados do Prof. Dr. Peter Hünermann, é publicada em forma bilíngüe, sendo que já existem as versões
italiana, francesa, espanhola e croata, enquanto está sendo preparada a chinesa.
A pastoral, hoje, revela grande sede das fontes, como se mostra na animada busca do público católico
por conhecer melhor a Bíblia. Pergunta-se, porém, para que traduzir uma obra volumosa e altamente
técnica dedicada a pronunciamentos, dos mais diversos tipos, do Magistério eclesiástico? Respondemos
com uma parábola. Quem prova, nas montanhas, da água de uma fonte natural, estranha, depois, o gosto
da água encanada e tratada… mas é essa que temos à disposição no dia-a-dia. A água da fonte é a Bíblia,
os Evangelhos. A água tratada é a catequese que recebemos. E o encanamento, vamos conhecê-lo pelo
“Denzinger”: os documentos aqui reunidos são um espelho das práticas e discussões que conduziram ao
atual modo de formular e praticar a fé no âmbito da Igreja Católica. Espelho, observe-se, a partir de uma
determinada perspectiva: a dos pronunciamentos do Magistério. Outras perspectivas, o estudioso da teo-
logia católica as encontrará nos textos e nas tradições e práticas não escrituradas do povo fiel e de seus
expoentes teológicos e místicos.
*
A fé cristã não é a conclusão de um raciocínio abstrato e universal, mas surge a partir de um fato
histórico considerado revelador e salvífico, o qual nos alcança mediante uma tradição que o transmite, com
seu sentido e interpretação, no quadro de uma comunidade que lhe garante a continuidade na expressão e
na vida. Nossa fé está inextricavelmente ligada a realidades históricas, positivas, que estão aí e das quais
não se pode prescindir quando se pretende crer como cristão. É a “positividade” da fé (à diferença das
elaborações especulativas).
Ora, exatamente essa positividade é pouco assimilada pelo povo cristão em geral e, de modo especial,
em nosso país. No tempo da Cristandade, quando a sociedade se identificava com a Igreja, o aspecto
histórico-positivo da fé e sua investigação crítica não importavam, porque o regime de Cristandade parecia
evidente a todos. Com a Modernidade, isso mudou. Iniciou-se a longa agonia da Cristandade “constanti-
niana”, anunciada desde a Renascença e completada depois da Segunda Guerra Mundial, razão pela qual
se tornou necessário o Concílio Vaticano II, até hoje insuficientemente assimilado.
Foi a Modernidade, com a descoberta da história como ciência, que evidenciou a positividade da fé.
Tornou-se preciso expor, de modo histórico, quais são os dados exatos da fé. Ora, do lado católico, num
primeiro momento, a positividade da fé foi valorizada, sobretudo, em função da apologética contra a
Reforma protestante e o Iluminismo moderno. Quando, no século XIX, H. Denzinger concebeu este ma-
nual de pronunciamentos pontifícios e conciliares, esta coleção foi usada antes como arsenal para o com-
bate do que como testemunho da dinâmica da fé no coração da Igreja.
Ora, quando se começou a respirar os ares que anunciavam o Concílio Vaticano II, a remodelação
efetuada por A. Schönmetzer e continuada pelo Prof. P. Hünermann fez do “Denzinger” muito mais do que
um arsenal para provar teses teológicas. Tornou-se um espelho da evolução da expressão da fé em con-
fronto com os desafios históricos, mostrando, inclusive, como expressões provisórias podem ser ultrapas-
sadas pela própria dinâmica da fé e da prática eclesial, enquanto se descobre, nesta evolução, o cerne
sólido e permanente, aquilo que é propriamente o ser cristão manifestado na evolutiva diacronia da história
e na complexa sincronia de cada época. Tornou-se possível a “leitura teológica” do Denzinger.
Tal leitura é oportuna e necessária na atual conjuntura da Igreja no Brasil. Nossa catequese em grande
parte ainda reflete o mundo ibérico pré-moderno dos primeiros colonizadores e missionários, nem sequer
moldado pelo Concílio de Trento. Acresce que, nos últimos decênios, a formação do clero, religiosos e
leigos, preponderantemente prática e – com a expulsão do elemento humanístico do Ensino Médio –
afastada das tradicionais línguas eclesiásticas, não privilegiou o estudo positivo da tradição. Mais: sob o
influxo da pós-modernidade surge o perigo de uma nova gnose, um pseudocristianismo a-histórico, entre-
gue a gostos subjetivos de valor duvidoso, enquanto, por outro lado, recrudesce um fundamentalismo
ávido de argumentos de autoridade, porém incapaz de interpretar os dados positivos da fé. A presente
seleção de pronunciamentos do Magistério, providos de data e circunstância para avaliar-lhes o peso, po-
de ser uma ajuda para o uso certo da teologia positiva (como explicado na Introdução, a seguir), desde que
se tenha presente que esta seleção não se identifica sem mais com a fé vivida pela Igreja durante vinte
séculos. A fé é maior que o “Denzinger”!
Para os que exercem a diaconia do estudo e/ou do governo no Povo de Deus, a fim de orientá-lo na
compreensão daquilo que crê, o acesso aos documentos que balizaram a transmissão da fé será um convite
a aprofundar a compreensão histórica e a interpretação criativa da tradição viva da qual participamos.
Todavia, olhando com realismo, pensamos que a presente publicação terá de ser completada, no futuro,
para o uso de não-especialistas, por uma publicação mais acessível e resumida, mantendo, porém, a mesma
linha histórica e concentrada sobretudo nas questões permanentes da fé.
*
A presente edição brasileira foi preparada pelo latinista José Marino Luz († 2004), de grata memória,
e por Johan Konings, revisor teológico, com a ajuda dos colegas professores da Faculdade Jesuíta de
Filosofia e Teologia (Instituto Santo Inácio) de Belo Horizonte.
Nossa tradução segue o modelo da edição bilíngüe alemã1, considerada “editio princeps”. Dela copia-
mos também o modo de referência bibliográfica, já conhecido dos usuários do Denzinger latino. Quando,
porém, nas introduções e notas, se faz menção a traduções alemãs de obras teológicas universais, substi-
tuímo-las, se possível, por traduções em idioma neolatino. Os nomes de cidades são representados na
forma mais usual entre nós, ora latinizada, ora não, às vezes com outra forma amplamente conhecida entre
parênteses. Quanto às abreviaturas, procuramos aproximar as portuguesas às latinas.
Adotamos a estrutura e diagramação da edição alemã, bem como seu sistema de abreviaturas e remis-
sivas, consagrado pelo uso centenário. Como o modelo alemão, oferecemos uma tradução formal, não
atualizante, nem inclusiva ou de outro modo adaptada às tendências do momento; ao contrário, por causa
da índole documental, e tratando-se de um instrumento de estudo, esforçamo-nos por manter a maior
literalidade possível, nos limites da legibilidade e do respeito ao gênio da língua portuguesa. O grau de
literalidade depende, contudo, do gênero literário: maior nas profissões de fé e definições, menor em textos
meramente expositivos, nos quais prevalece a clareza.
Se a edição alemã é o modelo, a base da tradução é, evidentemente, o texto na língua original (normal-
mente, o latim ou o grego). Se, nesta documentação, algum texto goza de “oficialidade” (segundo sua nota
teológica), é o texto original, não a tradução. A tradução é mero instrumento de ajuda, devendo sempre ser
conferido com o original. Por esta razão, não se procurou uniformizá-la com as eventuais traduções por-
tuguesas parciais divulgadas por instâncias eclesiásticas ou outras – aliás, pouco homogêneas e muitas
vezes facilitadas em vista do leitor não especialista. De modo análogo, as citações bíblicas são traduzidas,
não segundo as edições bíblicas da atualidade, mas segundo o teor das diversas versões gregas e latinas
usadas nos documentos originais.
JOHAN KONINGS, SJ
1 Heinrich DENZINGER, Enchiridion symbolorum, definitionum et declarationum de rebus fidei et morum / Kompendium
der Glaubensbekenntnisse und kirchlichen Lehrentscheidungen, aos cuidados de Peter Hünermann, 40ª ed., atualizada
[lat.-alem.], Freiburg etc.: Herder, 2005. Adaptações à edição brasileira vêm entre colchetes duplos [[ ]].
Como na edição alemã se introduziram algumas falhas nos textos originais latinos, permitimo-nos as seguintes corre-
ções: n. 564, § 1: agnosant > agnoscant; n. 663: triarcharam > patriarcharum; n. 3051: Petram > Petrum; n. 2512 “de
‘liberi > de “liberi; n. 3055: Apostolorum, omnium > Apostolorum omnium; n. 3112: esse in se > esse in se; n. 3156:
naturlismo > naturalismo; n. 3543: Enzyclicis > Encyclicis; n. 3456: criticem > criticam; n. 3556: Nolantur > Notantur,
n. 3652 § 2: in umum > in unum; n. 3971 § 1: amimo > animo; n. 4153: censecrentur > consecrentur; n. 4159 § 2:
apostulatus > apostolatus; n. 4858 § 5: ermergentibus > emergentibus. Além disso, completamos algumas palavras no
n. 1400, de acordo com o texto da coleção Mansi, usada também por Denzinger.
Para completar os nn. 4192s, a 40ª edição alemã acrescentou, no fim, um anexo com os nn. 4193-4194. Com a
anuência do organizador incluímos estes números na seqüência normal.
I. O “DENZINGER”
1. A história do “Denzinger” 1
Quando, depois de seus estudos de filologia, matemática, filosofia e teologia, em Würzburg e Roma,
e três anos de serviço pastoral, iniciou sua docência em Würzburg, Heinrich Denzinger (1819-1883) era
guiado pela idéia de restabelecer uma teologia genuína, em contraposição ao racionalismo teológico vi-
gente em seu tempo. O resultado foi o Enchiridion symbolorum et definitionum quae de rebus fidei et
morum a conciliis oecumenicis et summis pontificibus emanaverunt, publicado pela primeira vez em 1854.
Na Introdução, Denzinger declara: “Entre os muitos males com que a situação desfavorável afeta os cen-
tros católicos de ensino, os estudos de teologia sofrem principalmente de que muitos desconhecem ou
negligenciam os chamados documentos positivos da fé e da moral, sancionados pela autoridade da Igreja,
e confiam demais em sua própria razão”.
Na primeira edição do Enchiridion, Denzinger selecionou textos de 100 documentos pontifícios: cre-
dos, decisões conciliares, conclusões de sínodos provinciais e declarações ou escritos doutrinais pontifí-
cios até o pontificado de Pio IX. Com essa documentação queria ilustrar as etapas essenciais da evolução
da doutrina eclesiástica. Este Enchiridion forneceu a M. J. Scheeben a base para a sinopse comentada
dessa evolução que ele apresenta em sua Teologia Fundamental2.
Quando Denzinger publicou sua obra, já existiam manuais antigos, cujas seleções de documentos,
porém, tinham ficado obsoletas diante dos desafios contemporâneos. Ao recensear o “Denzinger” no Tü-
binger Theologische Quartalschrift, Hitzfelder observa: “É supérfluo lembrar que esta coleção não preten-
de ser exaustiva; entretanto não se pode negar ao autor o honroso testemunho de ter cumprido de modo
altamente satisfatório a sua promessa: uma visão de conjunto tão completa quanto possível da doutrina
eclesial, com especial consideração das necessidades do tempo presente”3.
Desde a primeira edição, o “Denzinger” é organizado cronologicamente e munido de um índice sis-
temático. A acolhida positiva da obra, dedicada a Pio IX, provoca, em dezoito meses, mais duas edições,
nas quais aparecem os números marginais, além de novos textos. Esta ampliação leva em consideração os
interesses teológicos e eclesiais de seu tempo. Reforçam-se os testemunhos em favor da primazia do
Romano Pontífice, bem como a cristologia, as questões matrimoniais e o conhecimento religioso. Já a 2ª
edição contém um terço a mais. A 4ª edição (1865) inclui amplos extratos da Encíclica Quanta cura
(1864), bem como do Syllabus de Pio IX. A 5ª edição (1874) – a última preparada pelo próprio Denzinger
– contém citações decisivas do Concílio Vaticano I, embora apenas no Prefácio. Os textos do Concílio de
Trento ainda não são considerados.
Da 6ª à 9ª edição (1888-1900), a obra fica aos cuidados de Ignaz Stahl, Privatdozent e professor hono-
rário em Würzburg. Na 6ª edição, ele inclui os textos de Trento e as constituições do Vaticano I. A 7ª edição
é preparada com nova aferição de muitos documentos em relação às fontes e com numerosas emendas. Nas
pegadas do Vaticano I acolhe-se um número bem maior de encíclicas papais. Já são 115 os documentos. As
edições 8ª e 9ª trazem poucas mudanças em relação à anterior – só correções menores. Com a morte de
Ignaz Stahl, em 1905, a edição passa da editora Oskar Stahel, de Würzburg, para a editora Herder.
A partir da 10ª edição (1908) quem toma conta da obra é Clemens Bannwart SJ, com a colaboração
de Johannes B. Umberg SJ. O novo coordenador promove uma reorganização radical. O título soa agora
Enchiridion symbolorum, definitionum et declarationum de rebus fidei et morum. A ordem cronológica dos
1 Cf. J. Schumacher, Der “Denzinger”. Geschichte und Bedeutung eines Buches in der Praxis der neueren Theologie
(FThSt 114; Freiburg 1974).
2 M.J. Scheeben, Handbuch der katholischen Dogmatik I: Theologische Erkenntnislehre, ed. M. Grabmann (Freiburg
19593), n. 611-615.
3 ThQ 36 (1854) 518s.
dos documentos, a nova numeração contínua, a reelaboração dos registros, com notável ampliação do
índice sistemático, que recebe verbetes afinados com a linguagem bíblica. A eclesiologia não aparece mais
como parte da Teologia Fundamental, mas como tratado autônomo. A moral volta a ser organizada segun-
do os âmbitos de deveres.
Quanto à reformulação do conteúdo, percebe-se que Schönmetzer neutraliza os exageros papistas de
Bannwart e acolhe textos que se tornaram importantes no diálogo ecumênico, além de documentos que
tratam da tolerância e da liberdade humanas e condenam a escravidão, a tortura e os ordálios.
G. Maron, na sua recensão no Materialdienst des konfessionskundlichen Instituts Bensheim, critica o
fato de Schönmetzer ter excluído textos que teriam causado problemas ao ecumenismo6, e J. C. Fenton, em
sua recensão, julga que Schönmetzer minimiza a infalibilidade do Magistério eclesiástico e se torna pro-
pagandista de uma tendência lamentável de nosso tempo7. Mas a essas vozes isoladas contrapõe-se a ampla
aprovação que se revela, por exemplo, no ritmo das novas edições (33ª, 1965; 34ª, 1967) totalizando
25.000 exemplares. Nestas edições são acolhidos extratos das Encíclicas Mater et Magistra e Pacem in
terris de João XXIII, bem como dois documentos de Paulo VI.
As edições 35ª e 36ª não trazem documentos novos, apenas emendas. Na 35ª edição, Schönmetzer
anuncia o propósito de publicar, em volume separado, os documentos do Concílio Vaticano II e documen-
tos magisteriais recentes, mas sua morte impediu a realização desse projeto.
as encíclicas do Papa João Paulo II estão representadas, devido à mudança no gênero literário, que deu a
algumas delas um caráter meditativo-parenético.
5. Reelaboração do aparato
Mérito de Schönmetzer é ter elaborado, para os diversos documentos do “Denzinger”, concisas intro-
duções históricas, que ocasionalmente oferecem também ajuda para a compreensão teológica. Pode-se ver
nisso um certo interesse apologético, ainda que inconsciente. As introduções receberam revisão quanto ao
conteúdo e quanto ao estilo; do mesmo modo, os títulos, entretítulos e notas de rodapé. Foram revisadas
e, em muitos casos, atualizadas as referências bibliográficas. Os textos novos receberam, via de regra,
introduções do mesmo tipo.
Os registros foram revisados e completados com vistas aos textos novos introduzidos. O índice dos
documentos eclesiásticos, citados por seu incipit, refere também os textos que são apenas mencionados,
não reproduzidos. O registro de pessoas e conteúdos inclui termos em latim e em vernáculo. Quanto às
pessoas, continuou-se com o critério vigente, de só mencionar no índice aquelas que são relevantes no
lugar referido. Assim não são mencionados, por exemplo, os destinatários das cartas de Agostinho ou de
Cipriano que não têm relevância. Quanto às localidades, só se mencionam aquelas onde se realizou um
concílio ou sínodo ou que deram origem a uma profissão de fé. Os nomes estão na forma mais conhecida,
normalmente a alemã [[nesta trad., a forma mais conhecida no Brasil, levando em consideração as épocas
históricas]]. O índice sistemático é que deu mais trabalho. As referências listadas por Schönmetzer foram
conservadas, mas abrigadas em novas divisões. Foi conservada sem mudança a parte que indica as decla-
rações eclesiásticas que se contradizem [[H 3h]]. Em conseqüência das novas questões teológicas e do
Concílio Vaticano II com os documentos que lhe seguiram, o índice sistemático precisou de atualização.
A esquematização tradicional – por exemplo, na eclesiologia – mostrou-se inadequada para certas decla-
rações essenciais do Vaticano II, assim a fundamentação da Igreja no mistério da Trindade e o conceito de
Povo de Deus.
Traduções latinas de textos gregos só foram conservadas quando sua origem lhes confere um valor
próprio, por exemplo, os textos do Sínodo do Latrão de 649.
Nos textos gregos e latinos, os livros bíblicos são abreviados segundo a “Stuttgarter Vulgata”8 e as
convenções de Loccum, os Salmos sendo numerados de acordo com os manuscritos em que são citados.
[[No texto português adotam-se as abreviaturas da tradução da CNBB; como na ed. alemã, os salmos são
numerados, na coluna vernácula, segundo a Bíblia Hebraica, na coluna latina/grega, porém, segundo a
Vulgata/Septuaginta.]]
Edição oficial e autêntica das Atas da Sé Apostólica são, desde 1904, as ASS (37[1904/05]), pouco
depois substituída pelas AAS (1[1909]). A paginação originária das ASS/AAS é posta entre […]. As re-
ferências ao CIC 1917 foram omitidas. Os textos dos documentos são precedidos imediatamente pela
indicação das edições e, eventualmente, das Regestae.
Os entretítulos, quando pertencem ao texto autêntico (p. ex. nos textos do Concílio de Trento), são
apresentados, via de regra, em latim e em tradução.
8 Biblia Sacra, iuxta Vulgatam versionem, adiuvantibus B. Fischer OSB e.a., recensuit et brevi apparatu instruxit R.
Weber OSB (Stuttgart 19833).
No texto, a referência a outro texto se faz mediante o número marginal precedido de *. Nos registros,
o número marginal é referido sem o asterisco. As notas de rodapé mencionam as fontes das citações,
paráfrases e proposições condenadas. No rodapé aparece o número marginal precedido de * e seguido pelo
número específico da nota.
2. Ensino autêntico
A tarefa da proclamação ex officio é difícil e de grande responsabilidade. As verdades fundamentais da
fé devem ser interpretadas para o dia-a-dia do indivíduo e das famílias, das sociedades e dos contextos
culturais. Nesta concretização a ser sempre feita podem surgir acentos unilaterais, curtos-circuitos, enga-
nos e erros. Visto que a revelação de Deus em Jesus Cristo é apenas o início e não o fim do Reino de Deus,
e com o Espírito é dado primeiramente o sinal e penhor da glória futura, a proclamação oficial como “tra-
dução” [[Über-Setzung]] do Evangelho nas diversas dimensões da vida está sujeita, em princípio, às con-
dições do conhecimento humano finito e aos limites da práxis humana. Isso significa que os bispos são
remetidos àqueles subsídios, mecanismos de segurança e formas institucionais comprovadas que a finitude
humana desenvolveu para a promoção de seu conhecimento e práxis. Do outro lado, cabe ao ouvinte da
Palavra, como cristão adulto, distinguir entre o que é e o que não é essencial na proclamação, entre a
afirmação fundamental e os detalhes, bem como assimilar a pregação na sua compreensão global da fé.
Escutar no Espírito não é menos importante que proclamar e ensinar no Espírito. O Paráclito prometido à
Igreja se refere a ambos e se manifesta, entre outras coisas, no uso adequado das aptidões e capacidades
humanas tanto dos ministros como dos fiéis ouvintes. O permanecer da Igreja na verdade tem seu funda-
mento em Jesus Cristo, que, como Senhor Glorificado, no seu Espírito permanece presente à Igreja. Esse
permanecer, que é dom de Deus, é porém mediado pela “loucura da pregação”, pelo esforço por explicar
e escutar de modo correto o Evangelho, pela conversão e renovação.
Na ampla corrente dos testemunhos ministeriais da fé, as definições magisteriais da fé ocupam um
lugar peculiar. Na vida dos fiéis individuais, na práxis e na compreensão das comunidades, das Igrejas
particulares ou da Igreja universal, a fé pode deparar com abusos e ameaças que exigem um julgamento
claro para discernir se a respectiva compreensão ou prática é compatível com o Evangelho ou não. A
competência de tais juízos doutrinais, em toda a tradição, é atribuído ao Papa e aos bispos como pastores
da Igreja. Competência que se refere a questões de fé e também de moral (fides et mores), pois o Evan-
gelho se refere à vida real na graça de Deus. Até o Concílio de Trento, “mores” significava os usos e as
formas de vida da Igreja; na época moderna, geralmente, a doutrina moral.
As decisões magisteriais apoiam-se nas atestações da fé acima esboçadas e são de interesse extraordi-
nário para a elaboração de uma compreensão adequada da fé, porque normalmente apresentam juízos bem
ponderados, por causa da precisão e acuidade das questões. A segunda parte da presente coleção consta de
tais juízos. Não se devem confundir estes juízos com a proclamação do Evangelho. Não substituem – nem
mesmo como conjunto – a pregação do Evangelho, mas a completam desde uma ótica específica. Assim
são importantes para a compreensão mais aguda do Evangelho – sendo, evidentemente, de peso, autorida-
de e normatividade variáveis.
A autoridade e a normatividade implicam um conjunto de critérios. O primeiro provém da autoria: não
é a mesma coisa se a decisão doutrinal é tomada por um bispo individual, pelos bispos em conjunto, por
um concílio ecumênico, por um sínodo particular ou por uma conferência episcopal, pelo Papa ou por uma
Congregação da Cúria romana. Quanto mais abrangente a competência de governo, tanto mais peso tem
a decisão. A competência de governo mais elevada em relação à Igreja universal encontra-se no Papa e no
colégio episcopal. Um segundo critério encontra-se nos destinatários: quanto mais amplo o círculo dos
destinatários, tanto mais peso tem a decisão. Um terceiro critério provém da natureza da causa em questão:
deve-se distinguir entre pontos centrais da fé ou da moral e assuntos mais periféricos ou meramente dis-
ciplinares. Em quarto lugar importa ver de que fontes a decisão se alimenta: pode tratar-se de uma verdade
que aparece expressis verbis ou apenas implicitamente na Escritura e na Tradição, de deduções teológicas
ou de conseqüências de princípios morais que são de compreensão comum, inclusive filosófica; enfim, a
decisão pode estar fundamentada na tradição eclesial ou no uso solidamente estabelecido. O quinto critério
é a forma em que a decisão se apresenta: pela forma se manifesta em que grau e modo a competência
doutrinária está em jogo. Uma instrução deve ser tratada de outra maneira que um decreto, uma encíclica
ou uma constituição de um concílio ecumênico.
Para determinar o peso de uma sentença doutrinal são necessários esclarecimentos cuidadosos, que se
orientem pelos critérios mencionados e levem em consideração as mudanças históricas na forma de exercer
a autoridade. Faz parte das regras da hermenêutica teológica não atribuir normatividade própria às intro-
duções e epílogos, nem aos argumentos em si, nem às aclarações ou citações, mas tão-somente ao núcleo
dos pronunciamentos.
As decisões incluem, muitas vezes, censuras teológicas, que precisam em que medida uma doutrina
deve ser rejeitada. Desde a Idade Média tardia e mais ainda no início da Idade Moderna, aparecem, além
disso, as qualificações teológicas, que indicam o grau de aceitação devido aos ensinamentos eclesiásticos.
Até a alta Idade Média usam-se as avaliações antigas de heterodoxia e ortodoxia. Observe-se que as con-
denações (1a3nauemati1zomen, damnamus etc.) não necessariamente ocorrem em casos de oposição estrita à
doutrina revelada, mas também em infrações contra a eclesialidade; não toda doutrina condenada é heresia
no sentido estrito. A partir do século XIV percebe-se uma diferenciação das censuras. No âmbito da
filosofia moderna, a questão da verificação ganha peso maior; em vista disso elaboram-se as qualificações
ou notas teológicas, com as distinções mencionadas a seguir. Uma doutrina é de fide divina (“de fé divina”)
quando pertence explicita ou implicitamente à revelação divina. É de fide divina et catholica (“de fé divina
e católica”) quando, além disso, está sendo apresentada formalmente, pelo Magistério eclesiástico, como
objeto de fé. Fidei proxima (“próxima da fé”) é uma sentença que deve ser considerada verdade revelada
segundo o consenso dos teólogos, e que a Igreja sustenta, sem apresentá-la como revelada. Outra nota
importante é a que tradicionalmente é chamada de fide ecclesiastica (“de fé eclesiástica”). Refere-se a
verdades que não se encontram formalmente na doutrina revelada, mas têm tão íntima conexão com ela
que o Magistério as apresenta como verdades definitivas. Existem, aliás, opiniões teológicas diversamente
qualificáveis. No uso das censuras e qualificações teológicas, o Magistério orienta-se pela linguagem da
respectiva época.
3. Ensino infalível
O ensino infalível atribuído ao Papa e ao colégio episcopal não se contrapõe à proclamação e ao ensino
sujeitos a erro como algo de outra natureza. Ao contrário, ambos estão em íntima conexão e radicados no
dom do Espírito dado à Igreja toda para conservá-la na verdade e não permitir que o sentido da fé comum
do povo se extravie no erro. O sentido da fé comum do Povo de Deus, por isso, é designado como inde-
fectível (indefectibilis). O Magistério participa de seu modo neste dom divino outorgado à Igreja como um
todo. O ensino infalível constitui o cume como que implícito do ensinamento autêntico ou magisterial.
Ensino infalível na forma do Magistério ordinário ocorre quando os bispos por todo o orbe unanimemente
proclamam algo como verdade de fé. O consenso fundamenta a garantia e a verificação de se estar na
verdade. Disso se distingue o ensino infalível do Magistério extraordinário. O Concílio Vaticano I defende
a necessidade de tal competência com este argumento: em questões de fé e de moral podem surgir “peri-
gos”, ou mesmo “danos”, que tornam necessária uma decisão fidedigna, que declare se a respectiva opi-
nião ou prática se move no quadro do Evangelho ou, pelo contrário, o falsifica. Nos concílios Vaticanos
I e II mencionam-se resumidamente as fontes e critérios dos quais tanto o Papa como também os concílios
universais e o colégio episcopal – quando agindo num ato formalmente colegial, mesmo não de forma
conciliar – podem inferir o acordo ou a discordância com a fé. Assim se ensina uma possibilidade de
verificação eclesial última da fé, para que a Igreja como um todo possa ser consolidada na verdade e
permanecer fiel a seu fundamento. O fundamento de tudo isso é a promessa do auxílio do Espírito Santo.
Quando se diz que as definições infalíveis são irreformáveis em si e não pelo consentimento da Igreja,
significa que as sentenças do Papa não necessitam, para sua obrigatoriedade, a aprovação posterior do
episcopado, como também as definições de um concílio legítimo não necessitam o consentimento de outra
instância para serem normativas. São de última instância, de modo que de tal decisão não se pode apelar
a outra instância. É impossível os fiéis individuais ou a Igreja como Povo de Deus serem por decisões
infalíveis induzidos ao engano ou ao erro. Mas essa qualificação não significa que essas definições repre-
sentem, em todos os casos, as respostas ideais ou de todo bem-encontradas para questões de fé e de moral,
podendo ulteriormente ser retomadas, explicadas ou até completadas. É evidente que todas as definições
são carentes de interpretação; com vistas a seu significado, devem ser explicadas mediante a integração na
compreensão de conjunto da fé e no contexto da tradição da fé.
A possibilidade assim caracterizada de uma garantia para a fé não vale de modo absoluto, mas apenas
no que diz respeito àqueles assuntos da fé que são passíveis de definição e, portanto, claramente delimi-
tados e capazes em si de definição unívoca. O Magistério não seria capaz de definir a totalidade da verdade
revelada. Também nisso se manifesta o caráter extraordinário desta forma de ensino.
9 Über den rechten Gebrauch des “Denzinger”, in: Situation und Aufgabe der Theologie heute (Paderborn 1971) 125-150.
10
– A listagem de textos que em si têm pesos muito diferentes pode dar a impressão de tratar-se de
parágrafos de um código legal, todos mais ou menos iguais entre si.
– Corre-se o perigo de alimentar a imaginação de que para os fiéis existe “um ser superior, único em
seu gênero, … o Magistério, que toma conta deles, os doutrina e corrige, e define o que pode ser susten-
tado e o que não”10. Tal imaginação esquece que há muitas maneiras de conservar e de explicar a fé. A
Tradição menciona os santos Padres, a liturgia, os grandes teólogos etc. Os documentos magisteriais repre-
sentam apenas uma forma entre muitas de explicação consolidadora da fé.
– Seja afastada a idéia de que os termos técnicos da teologia possuem o mesmo sentido em todos os
documentos. A abrangência semântica do mesmo termo é variável segundo época e circunstância. Os
termos sacramentum e dogma, por exemplo, conheceram notáveis variações de sentido.
– A seleção dos textos atualmente presentes no “Denzinger”, ao privilegiar os documentos pontifícios,
relegou ao segundo plano os testemunhos doutrinais de sínodos particulares e provinciais e de bispos
individuais. Isso pode criar uma imagem errônea do Magistério ordinário na plenitude de suas formas.
– Enfim considere-se o contexto global que inclui todas as definições e declarações de caráter magis-
terial. São expressões da vida vivida na fé e pretendem promover a vida de fé, repleta do Espírito. Esses
textos são compreendidos e assimilados genuinamente só quando acolhidos, não de modo exterior, como
que “jurídico”, como receitas, mas como testemunhos da fé.
O uso teológico adequado do “Denzinger” não leva a uma estéril “teologia do Denzinger”, a qual deve
ser considerada utilização abusiva desta seleção. A verdadeira utilidade do “Denzinger”, apontada por
Congar, se descortina para quem sabe lidar com ele de modo verdadeiramente teológico.
10 Ibid. 141.
11
Números de páginas ou secções (elementos da mesma ordem são separados por simples espaço, sem sinal)
1/I/I, 49 = citação de tomo, volume, parte e página de obra em bibliografia; o número depois da
vírgula indica a página, quando não houver outra indicação
1161 5-17 = página 116 (tipo normal), linha(s) (tipo subscrito) 1 e 5-17
12a 15b = páginas com indicação de coluna (a = esquerda, b = direita; algumas obras tem quatro
colunas: a b c d)
17C = página (ou coluna) com indicação de subdivisão
60s 63ss = o(s) número(s) mencionado mais o(s) seguinte(s)
fol. 4r fol. 6v = fólio (folha) 4 recto e fólio 6 verso
[241] = paginação marginal da edição oficial dos documentos da Santa Sé (ASS desde 37 [1904/05]
e AAS desde 1 [1909])
Abreviaturas gerais
a(rt). = articulus, artigo dogmat. = dogmaticus [dogmático]
ad / apud = junto a dub. = dubium, dubitatio [dúvida]
a. v. = aliis verbis [com outras palavras] e(x). g(r). = exempli gratia [por exemplo]
al. = alii, outros e. a. = et alii [e outros]
apost. = apostolicus [apostólico] ed. = editio, edição / editor
appd. = appendix [apêndice] ep. = epistula [carta]
ass. = assertio [asserto, asserção] etc. = et cetera, etcetera
c(ap). = caput, capitulum, capítulo expos. = expositio [exposição]
ca. = circa, cerca de fasc. = fasciculum, fascículo
can. (cân.) = canon, cânon fol. = folium [fólio, folha]
cf. = confer, conferatur, confira fundam. = fundamentum [fundamento]
cit. = citatus, citado gr. = graece, (em) grego
col. = columna, coluna hom. = homilia
Coll. = Collectio [coleção] ib(id.) = ibidem, no mesmo lugar
coll. = collige [deduz] l. c. = loco citato, no lugar citado
concl. = conclusio [conclusão] l. = liber / linea, livro / linha (conforme
controv. = controversia [controvérsia] o contexto)
coroll. = corollarium [corolário] N.F. = Neue Folge [Nova Série]
cs. = causa [causa] n. = numerus, número
ctm. = certamen [contenda] NB. = notabene
dec. = decisio [decisão] nt. = nota, adnotatio, anotação
diffic. = difficultas [dificuldade] p. = pars / pagina, página
disp. = disputatio [disputa] p. ex. = por exemplo
disq. = disquisitio [pesquisa] pgta. = pergunta
dist. = distinctio [distinção] port. = português
doc. = documentum, documento propos. = propositio [proposição]
12
Abreviaturas bibliográficas
AAS = Acta Apostolicae Sedis (Roma 1909ss)
AbhBayAk = Abhandlungen der Bayerischen Akademie der Wissenschaften, Philosophisch-
philologische und historische Klasse (München 1835ss)
ACColon = Acta et Decreta Concilii Provinciae Coloniensis … a. Dni. MDCCCLX … celebrati
(Köln 1862)
ACOe = Acta Conciliorum Oecumenicorum, ed. E. Schwartz (Strassburg 1914; Berlin – Leipzig
1922-1940); 2. Serie (Berlin 1988ss)
AmER = The American Ecclesiastical Review (New York – Cincinatti 1889-1905; 1943ss)
AnBoll = Analecta Bollandiana (Paris – Bruxelles 1882ss)
AnE = Analecta Ecclesiastica (Roma 1893-1911)
AnIP = Analecta Iuris Pontificii (Roma 1855-1891)
Apoll = Apollinaris. Commentarius iuris canonici (Vaticano 1928ss)
ArchFrPr = Archivum Fratrum Praedicatorum (Roma 1931ss)
ArchHDLMA = Archives d‘Histoire Doctrinale et Littéraire du Moyen-Âge (Paris 1926ss)
ArchKKR = Archiv für Katholisches Kirchenrecht (Mainz 1857ss)
ArchLKGMA = Archiv für Literatur-und Kirchengeschichte des Mittelalters (Berlin 1885-1900)
ArchTGran = Archivo Teológico Granadino (Granada 1938ss)
ASS = Acta Sanctae Sedis (Roma 1865-1908)
ASyll = Acta Sancti Domini Nostri Pii IX., ex quibus excerptus est Syllabus (Roma 1865)
ASyn = Acta Synodalia Sacrosancti Concilii Oecumenici Vaticani secundi (Vaticano 1970-1980)
BarAE = Annales Ecclesiastici a Christo nato ad annum 1198, ed. C. Baronius – O. Raynaldus
– I. Laderchius (Lucca 1738ss); ed. A. Theiner (Bar-le-Duc 1864ss)
BeitrGPhThMA = Beiträge zur Geschichte der Philosophie und Theologie des Mittelalters (Münster 1891ss)
BekSchELK = Die Bekenntnisschriften der Evangelisch-Lutherischen Kirche (Göttingen 19676)
BltLE = Bulletin de Littérature Ecclésiastique (Toulouse 1899ss)
BoeW = J.F. Boehmer – C. Will, Regesta archiepiscoporum Maguntinensium (Innsbruck 1877ss)
Bruns = H.Th. Bruns, Canones Apostolorum et Conciliorum saec. IV-VII (Berlin 1839)
BullCocq = Bullarum, Privilegiorum ac Diplomatum Romanorum Pontificum amplissima collectio,
ed. C. Cocquelines (Roma 1739ss)
BullFr = Bullarium Franciscanum, Romanorum pontificum constitutiones, epistolas ac diploma-
ta continens, ed. J.H. Sbaralea – K. Eubel (Roma 1759-1904; 1929-1949)
BullLux = Magnum Bullarium Romanum (Luxemburg 1727ss)
BullOP = Bullarium Ordinis Praedicatorum, ed. Th. Ripoll – A. Brémond (Roma 1729-1740)
BullRCt = Bullarii Romani Continuatio (continuação de BullCocq), ed. A. Barbèri – R. Segreti
(Roma 1835ss)
BullTau = Bullarum, Diplomatum et Privilegiorum Romanorum Pontificum Tauriensis editio, ed.
G. Tomassetti et alii (Turim 1857-1872)
CaANQ = C.P. Caspari, Alte und neue Quellen zur Geschichte des Taufsymbols und der Glau-
bensregel (Christiania 1879)
13
CaKA = C.P. Caspari, Ungedruckte, unbeachtete … Quellen zur Geschichte des Taufsymbols
und der Glaubensregel (Christiania 1866ss)
CdICF = Codicis Iuris Canonici Fontes, ed. P. Gasparri – I. Serédi (Roma 1923-1939)
CdLuc = El Codice Lucense de la Colección Canónica Hispana, ed. C. García Goldáraz, Parte
1: Reconstrucción (Roma 1954)
CIC = Codex Iuris Canonici (Roma 1917; 1983)
CivCatt = La Civiltà Cattolica (Roma 1850ss)
ClPL = Clavis Patrum Latinorum, ed. E. Dekkers: Sacris Erudiri. Jaarboek voor Godsdienstwe-
tenschappen 3 (Steenbrugge 1951; 1961 2)
CoDeDe = Constitutiones, Decreta, Declarationes, ed. Secretar. Generalis Concilii Vaticani II
(Vaticano 1966)
COeD = Conciliorum Oecumenicorum Decreta, ed. Centro di Documentazione. Istituto per le
Scienze Religiose, Bologna (Barcelona – Freiburg – Roma 19622; 19733)
CollLac = Acta et Decreta Sacrorum Conciliorum recentiorum. Collectio Lacensis (Freiburg 1870-1890)
CollPF = Collectanea S. Congregationis de Propaganda Fide (Roma 19072)
CouE = Epistolae Romanorum Pontificum a S. Clemente usque ad Innocentium III., ed. P. Cous-
tant (incompleto; Paris 1721)
CpChL = Corpus Christianorum, Series Latina (Turnhout 1953ss)
CpChL.CM = Corpus Christianorum, Continuatio Medievalis (Turnhout 1966ss)
CpRef = Corpus Reformatorum (Berlin 1834ss)
CSCO = Corpus Scriptorum Christianorum Orientalium
CSEL = Corpus Scriptorum Ecclesiasticorum Latinorum (Wien 1866ss)
CVis = Concilios Visigóticos e Hispano-Romanos, ed. J. Vives (Barcelona – Madrid 1963)
DALtg = Dictionnaire d’Archéologie Chrétienne et Liturgie (Paris 1907-1953)
DenCh = H. Denifle – E. Chatelain, Chartularium Universitatis Parisiensis (Paris 1889ss)
DivThomPl = Divus Thomas. Commentarium de philosophia et theologia (Piacenza 1880ss)
DThC = Dictionnaire de Théologie Catholique (Paris 1903ss)
DuPlA = Ch. du Plessis d’Argentré, Collectio iudiciorum de novis erroribus qui ab initio XII
saeculi … usque ad a. 1713 in Ecclesia proscripti sunt et notati (Paris 17281; 17552)
EnchB = Enchiridion Biblicum, ed. Pontificia Comissio Biblica (Roma 19614)
EnglHR = English Historical Review (London 1886ss)
EstEcl = Estudios Eclesiásticos (Madrid 1922ss)
ÉtFranc = Études Franciscaines (Paris 1899ss)
FlP = Florilegium Patristicum (Bonn 1904-1941)
Frdb = Corpus Iuris Canonici, ed. E.L. Friedberg (Leipzig 1879-18812)
FThSt = Freiburger Theologische Studien (Freiburg 1910ss)
Funk = F.X. Funk, Patres Apostolici (Tübingen 1901ss)
GChSch = Die Griechischen Christlichen Schriftsteller der ersten drei Jahrhunderte (Berlin –
Leipzig 1897ss)
Greg = Gregorianum (Roma 1920ss)
Guibert = J. de Guibert, Documenta ecclesiastica christianae perfectionis studium spectantia
(Roma 1931)
HaC = J. Hardouin, Acta Conciliorum et Epistolae decretales ac Constitutiones Summorum
Pontificum ab anno 34 ad annum 1714 (Paris 1714-1715)
HJb = Historisches Jahrbuch der Görres-Gesellschaft (Münster – München 1880ss)
Hn = A. Hahn – G.L. Hahn, Bibliothek der Symbole und Glaubensregeln der Alten Kirche
(Breslau 18973)
Irénikon = Irénikon (Amay-sur-Meuse – Chevetogne 1926ss)
JR = Ph. Jaffé, Regesta Pontificum Romanorum, ed. S. Löwenfeld – F. Kaltenbrunner – P.
Ewald (Leipzig 1885-18882)
JThSt = The Journal of Theological Studies (Oxford – London 1899ss)
Karmiris = J.N. Karmiris, Ta2 dogmatika2 kai2 symbolika2 mnhmei9a th9w 3Oruodo1joy Kauolikh9w
3Ekklhsi1aw, T. 1 (Atenas 1952)
14
15
16
Primeira Parte
SÍMBOLOS DA FÉ
Os “Símbolos da fé” apresentados neste compêndio são fórmulas verbalmente fixadas, englobando as principais ver-
dades da fé, confirmadas pela autoridade eclesiástica e quase sempre também destinadas a uma pública profissão de fé.
São deixadas de lado, portanto, nesta coleção, as fórmulas um tanto vagas citadas por autores eclesiásticos, ou não
redigidas em forma estável, ou ainda, reconstruções meramente hipotéticas ou incertas. Também são excluídas fórmulas
da fé de caráter meramente privado.
Os Símbolos que têm sua origem em ato solene do Magistério da Igreja e são de tal ordem doutrinal que podem
ser equiparados aos outros documentos deste Magistério, encontram-se mais adiante, entre os “Documentos do Ma-
gistério da Igreja”, que constituem a segunda parte do presente compêndio. Destas fórmulas, o momento de origem
é bem conhecido, pois se trata de Símbolos sinodais e de profissões de fé apresentadas ou recebidas pelos Sumos
Pontífices.
Outros Símbolos, ao contrário, cuja origem permanece obscura, porque somente aos poucos integrados na vida
eclesial e na liturgia, dificilmente podiam ser objeto de organização cronológica. Pareceu adequado reuni-los aqui num
conjunto específico, de modo que Símbolos de origem comum ou aparentados entre si possam ser mais facilmente
comparados.
SÍMBOLOS SIMPLES
Os seguintes Símbolos se compõem de uma série de artigos articulados na mesma ordem.
17
18
PROFISSÕES DE FÉ ARTICULADAS
I. Esquema tripartido trinitário
A estrutura gramatical dos Símbolos deste esquema corresponde à tríplice pergunta do batismo acerca da fé na
Trindade divina. São compostos de t r ê s p a r t e s p r i n c i p a i s , referindo-se a cada pessoa divina. É difícil a conexão
dos artigos que e x p r i m e m a f é n a I g r e j a , n a r e m i s s ã o d o s p e c a d o s , na r e s s u r r e i ç ã o etc. Geralmen-
te ligam-se aos artigos sobre o Espírito Santo. Tal explicação, porém, não leva em conta o desenvolvimento histórico.
Como fica claro a partir dos Símbolos simples, estes artigos primeiro tinham um lugar próprio, a o l a d o daqueles sobre
as três pessoas divinas. Depois que as secções trinitárias foram desenvolvidas e ampliadas, o original caráter de acrés-
cimo ficou esfumado ou ocultado. Do ponto de vista histórico, portanto, é melhor entender estes artigos como “apên-
dice” ou “clausula final” de um Símbolo tripartido. Não obstante, os textos dos Símbolos são aqui apresentados como
o requer a estrutura gramatical.
A. FÓRMULAS OCIDENTAIS
SÍMBOLO DOS APÓSTOLOS
Este nome designa uma determinada fórmula de fé que por muitos séculos foi tida como composta pelos próprios
Apóstolos e que, por isso, gozava de maior autoridade. Os indícios mais antigos dessa convicção se encontram no fim
do séc. IV: cf. a carta do Sínodo de Milão (presidido por Ambrósio), mandada em 390 ao Papa Sirício, na qual aparece
pela primeira vez o nome “Símbolo dos Apóstolos” (PL 16, 1174); Explanatio symboli, de Ambrósio (ed. O. Faller:
CESL 73, 10s / B. Botte: SouChr 25bis [Paris 19612] 46-48 54 / PL 17, 1093 1096); Rufino de Aquiléia, Expositio in
Symbolum 2 (ed. M. Simonetti: CpChL 20[1961] 134 / PL 21, 337), escrita por volta de 404. Segundo a lenda, cada um
dos Apóstolos contribuiu com um artigo; cf., p. ex., os textos PL 39, 2189 (= Pseudo-Agostinho, Sermo 240 [De
symbolo]; 89, 1034CD; Hn § 42s 66 (III) 92 99; Hn nota 87 ad § 42; C.F. Bühler: Speculum 28 (Cambridge/Massachusetts
1953) 335-339. No séc. XV, esta convicção começou a ceder diante dos argumentos da crítica. A versão mais antiga que
conhecemos não pode ser datada antes dos últimos decênios do séc. II.
O Símbolo se desenvolveu em d u a s f o r m a s : a forma mais antiga, romana (designada com “R”), foi introduzida
em Roma e se encontra em grego e em latim. A forma mais recente é o texto geralmente aceito (“T”), que provavelmente
se formou pelo séc. VII na Gália meridional e que mais tarde foi introduzido também em Roma. Em seguida, também
o resto da Igreja latina acolheu a forma “T”. Com a publicação do Catecismo Romano (1566) e do Breviário Romano
(1568) se pôs fim à evolução.
19
20
qui sub Pontio Pilato crucifixus est et sepultus, que sob Pôncio Pilatos foi crucificado e sepulta-
tertia die resurrexit a mortuis, ascendit in caelis do, ao terceiro dia ressuscitou dos mortos, su-
[caelos], sedet [sedit] ad dextera[m] Patris, unde biu nos [aos] céus, está sentado [sentou-se] à
[inde] venturus est iudicare vivos et [ac] mor- direita do Pai, de onde virá julgar os vivos e os
tuos; mortos;
et in Spiritu Sancto [Sp’um S’um], sancta[m] e no Espírito Santo, a santa Igreja [católica], a re-
Ecclesia[m catholicam], remissione[m] pecca- missão dos pecados, a ressurreição da carne.
torum, carnis resurrectionis [resurrectionem].
21
22
et in Spiritu Sancto, in sanctam Ecclesiam, in re- e no Espírito Santo, na santa Igreja, na remissão
missionem peccatorum, carnis resurrectionem. dos pecados, a ressurreição da carne.
Á f r i c a , séc. V-VI
21: Agostinho: Sermão 215, na devolução do Símbolo
Esta versão era usada muito provavelmente em Hipona (Hippo Regius), a sede episcopal de Agostinho (cf. *14).
Ed.: PL 38, 1072-1076 / Kelly 175 / Hn § 47 / Ltzm 13.
Credimus in Deum Patrem omnipotentem, univer- Cremos em Deus Pai onipotente, criador de tudo, 21
sorum creatorem, regem saeculorum, immor- rei dos séculos, imortal e invisível.
talem et invisibilem.
Credimus et in Filium eius Dominum nostrum Ie- Cremos também em seu Filho, nosso Senhor Jesus
sum Christum Cristo,
natum de Spiritu Sancto ex virgine Maria, nascido do Espírito Santo, <do seio> da virgem
Maria,
crucifixus sub Pontio Pilato, mortuus et sepultus foi crucificado sob Pôncio Pilatos, morto e sepul-
est, tertia die resurrexit a mortuis, adscendit ad tado, ao terceiro dia ressuscitou dos mortos, su-
caelos, sedet ad dexteram Dei Patris, inde ven- biu aos céus, está sentado à direita de Deus
turus est iudicare vivos et mortuos. Pai, de onde virá julgar os vivos e os mortos.
Credimus et in Spiritum Sanctum, remissionem Cremos também no Espírito Santo, a remissão dos
peccatorum, resurrectionem carnis, vitam ae- pecados, a ressurreição da carne, a vida eterna
ternam per sanctam Ecclesiam catholicam. por meio da santa Igreja católica.
23
Fulgêncio, bispo de Ruspe († 532). O seu Símbolo pode ser reconstituído dos Libri X contra Fabianum Arianum,
fragm. 36 (cf. também o fragm. 32: CpChL 91A, 831s, como também De fide, c. 20: ibid. 751 / PL 65, 699C).
Ed.: J. Fraipont: CpChL 91A (1968) 854-860 / PL 65, 822-827 / CaUQ 2, 245-253 / Kelly 175s / Hn § 49.
[Variantes de pouco relevo não são consideradas, pois a versão não é suficientemente segura.]
22 Credo in Deum Patrem omnipotentem, universorum Creio em Deus Pai onipotente, criador de tudo, rei
creatorem, regem saeculorum, immortalem et dos séculos, imortal e invisível.
invisibilem.
Credo et in Filium eius [–!] Iesum Christum [, Fi- Creio também em seu Filho [–!] Jesus Cristo [, seu
lium eius unicum, Dominum nostrum], Filho único, nosso Senhor],
qui natus est de Spiritu Sancto ex virgine Maria, que nasceu do Espírito Santo, <do seio> da Vir-
gem Maria;
[qui] crucifixus est [–!] sub Pontio Pilato et se- [que] foi [–!] crucificado sob Pôncio Pilatos e [foi]
pultus [est], tertia die a mortuis [–! (?)] resur- sepultado, ao terceiro dia ressuscitou dos mor-
rexit, assumptus est in caelos [in caelum as- tos [–! (?)], foi assunto aos céus [subiu ao céu]
cendit], et ad dexteram Patris sedet [in dextera e está sentado à direita do Pai [sentou-se à di-
Dei sedit], inde venturus est iudicare vivos et reita de Deus], de onde virá julgar os vivos e
mortuos. os mortos.
Credo et in Spiritum Sanctum, remissionem pecca- Creio também no Espírito Santo, a remissão dos
torum, carnis resurrectionem [et] in [–!] vitam pecados, a ressurreição da carne para a [e a]
aeternam per sanctam Ecclesiam. vida eterna por meio da santa Igreja.
24
Credo [MBr: Credis …?] in 1Sanctum 2Spiritum [MBr Creio [MBr: Crês…?] no Santo Espírito [MBr Eth:
Eth: 2-1], sanctam Ecclesiam catholicam, remis- Espírito Santo], a santa Igreja católica, a re-
sionem omnium peccatorum, carnis [LOMoz: missão de todos os pecados, a ressurreição da
huius] resurrectionem et vitam aeternam. [LOMoz: desta] carne e a vida eterna.
25
qui conceptus est [conceptum] de Spiritu Sancto, que foi concebido [concebido] do Espírito Santo,
natus est [natum] de Maria virgine, nasceu [nascido] de Maria virgem,
passus est [passum] sub Pontio Pilato, crucifixus, padeceu [padecido] sob Pôncio Pilatos, <foi> cru-
mortuus et sepultus [-um], descendit ad infer- cificado, morto e sepultado, desceu aos infer-
na, tertia die resurrexit a mortuis, ascendit ad nos, ao terceiro dia ressuscitou dos mortos, su-
caelos, sedit ad dexteram Dei Patris omnipo- biu aos céus, está sentado à direita de Deus Pai
tentis, inde venturus iudicare vivos et mortuos. onipotente, de onde virá para julgar os vivos e
Credo in Sanctum Spiritum [Sancto Spiritu], sanc- os mortos.
tam Ecclesiam catholicam, sanctorum commu- Creio no Santo Espírito [var. acus./ablat.], a santa
nionem, remissionem peccatorum, carnis resur- Igreja católica, a comunhão dos santos, a re-
rectionem, vitam aeternam. missão dos pecados, a ressurreição da carne, a
vida eterna.
26
a mortuis, ascendit in caelis seditque ad dexte- ressuscitou dos mortos, subiu aos céus e sen-
ram Dei Patris omnipotentis, exinde venturus tou-se à direita de Deus Pai onipotente, de onde
iudicare vivos ac mortuos. virá para julgar os vivos e os mortos.
Credo et in Spiritum Sanctum, Deum omnipotentem, Creio também no Espírito Santo, Deus onipotente,
unam habentem substantiam cum Patre et Filio, que tem uma só substância com o Pai e o Fi-
sanctam esse Ecclesiam catholicam, abremissa lho, <creio> que santa é a Igreja católica, a
peccatorum, sanctorum commonionem [!], car- remissão dos pecados, a comunhão dos santos,
nis resurrectionem. Credo vitam post mortem et a ressurreição da carne. Creio a vida depois da
vitam aeternam in gloria Christi. morte e a vida eterna na glória de Cristo.
Haec omnia credo in Deum. Tudo isto creio em Deus.
27
B. FÓRMULAS ORIENTAIS
São apresentados os Símbolos batismais das Igrejas da Síria, Palestina, Ásia Menor e Egito. Aqui não é considerada
a reconstituição da forma que se convenciou chamar “O” (a equivalente da forma “R” ocidental), que, na opinião de
alguns estudiosos, é considerada a base dos Símbolos orientais. As profissões de fé dos Concílios de Nicéia e Constan-
tinopla serão apresentadas na 2ª parte: ver *125 e 150.
SÍMBOLOS LOCAIS
Entre os Símbolos aqui apresentados, os de Cesaréia e de Jerusalém (talvez também o de Macário, o Egípcio, têm
forma pré-nicena, mesmo que os documentos que os transmitem não remontem a tempos anteriores ao Concílio de
Nicéia. Nos outros Símbolos foram acrescentados alguns elementos da teologia nicena, sem que isso tenha modificado
fortemente sua versão original.
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to2n dia2 th2n h4mete1ran svthri1an sarkvue1nta o qual se encarnou pela nossa salvação e viveu
kai2 e3 n a3 n urv1 p oiw politeysa1 m enon, kai2 como cidadão entre os homens, e padeceu, e
pauo1nta, kai2 a3nasta1nta tü9 tri1tü h4me1rä, kai2 ressuscitou ao terceiro dia, e subiu ao Pai, e
a3neluo1nta pro2w to2n pate1ra, kai2 h7jonta pa1lin virá de novo em glória para julgar os vivos e
e3n do1jü kri9nai zv9ntaw kai2 nekroy1w. os mortos.
Pistey1omen kai2 ei3w e8n pney9ma a7gion. Cremos também em um só Espírito Santo.
J e r u s a l é m , meados do séc. IV
41: Cirilo, bispo de Jerusalém: Catequeses VI-XVIII, por volta do ano 348
O texto do Símbolo foi recolhido de diversos trechos das Catequeses; por isso, às vezes é reconstituído de outro
modo. Segundo J.G. Davies (VigChr 9 [1955] 218-221), deve-se ler “a3neluo1nta” (“desceu”), em analogia a “kateluo1nta”
(“subiu”). Cirilo rejeitou o conceito niceno de “o4mooy1siow” (homoousios) por julgá-lo suspeito de sabelianismo.
Ed.: PG 33, 533s (cf. PG 33, 605-1060) / F.J.A. Hort, Two dissertations (Cambridge-London 1876) 142 / A.A.
Stephenson, in: Studia Patrística 3 (TU 78; Berlin 1961) 307 308-313 / Kelly 182s / Hn § 124 / Ltzm 19.
Pistey1omen ei3w e7na Ueo1n, pate1ra pantokra1tora, Cremos em um só Deus Pai onipotente, artífice do 41
poihth2n oy3ranoy kai2 gh9w, o4ratv9n te pa1ntvn céu e da terra, de todas as coisas visíveis e
kai a3ora1tvn. invisíveis,
[Kai2] ei3w e7na ky1rion 3Ihsoy9n Xristo1n, [e] em um só Senhor, Jesus Cristo,
to2n yi4o2n toy9 Ueoy9 to2n monogenh9, to2n e3k toy9 o Filho unigênito de Deus, Deus verdadeiro ge-
patro2w gennhue1nta Ueo2n a3lhuino2n pro2 pa1ntvn rado do Pai antes de todos os séculos, por meio
tv9n ai3v1nvn, di’ oyß ta2 pa1nta e3ge1neto, do qual tudo veio a ser,
[to2 n kateluo1 n ta, to2 n sarkvue1 n ta kai2 ] o qual [desceu e se encarnou e] se humanou, foi
e3nanurvph1santa, [to2n] stayrv-ue1nta [kai2 crucificado [e sepultado] e ressuscitou [dos
tafe1nta kai2] a3nasta1nta [e3k nekrv9n] tü9 tri1tü mortos] ao terceiro dia, e subiu aos céus, e
h4me1rä, kai2 a3neluo1nta ei3w toy2w oy3ranoy1w, kai2 sentou-se à direita do Pai, e vem com glória
kaui1 s anta e3 k dejiv9 n toy9 patro1 w , kai2 para julgar os vivos e os mortos; cujo reino
e3rxo1menon e3n do1jü kri9nai zv9ntaw kai2 nekroy1w, não terá fim.
oyß th9w basilei1aw oy3k e5stai te1low.
[Kai2] ei3w e8n a7gion pney9ma, to2n para1klhton, to2 [E] num só Espírito Santo, o Paráclito, que falou
lalh9san e3n toi9w profh1taiw, kai2 ei3w e8n por meio dos profetas; e num só batismo de
ba1ptisma metanoi1aw ei3w a5fesin a4martiv9n, kai2 conversão para a remissão dos pecados, e numa
ei3w mi1an a4gi1an kauolikh2n e3kklhsi1an, kai2 ei3w só santa Igreja católica, e na ressurreição da
sarko2w a3na1stasin, kai2 ei3w zvh2n ai3vn1 ion. carne, e na vida eterna.
a) Forma breve
Pistey1omen ei3w e7na Ueo1n, pate1ra pantokra1tora, Cremos em um só Deus, Pai onipotente, artífice do 42
poihth2n oy3ranoy9 te kai2 gh9w, o4ratv9n te pa1ntvn céu e da terra, de todas as coisas visíveis e
kai a3ora1tvn. invisíveis.
Kai2 ei3w e7na ky1rion 3Ihsoy9n Xristo1n, E em um só Senhor Jesus Cristo,
29
to2n yi4o2n toy9 Ueoy9 to2n monogenh9, to2n e3k toy9 o Filho unigênito de Deus, gerado do Pai antes
patro2w gennhue1nta pro2 pa1ntvn tv9n ai3v1nvn, de todos os séculos, isto é, da essência do Pai,
toyte1stin e3k th9w oy3si1aw toy9 patro1w, fv9w e3k luz da luz, Deus verdadeiro de Deus verdadei-
fvto1w, Ueo2n a3lhuino2n e3k Ueoy9 a3lhuinoy9, ro, gerado, não feito, consubstancial ao Pai, por
gennhue1nta oy3 poihue1nta, o4mooy1sion tö9 patri1, meio do qual tudo veio a ser, tanto o que há no
di’ oyß ta2 pa1nta e3ge1neto, ta1 te e3n toi9w oy3ra- céu como na terra;
noi9w kai2 ta2 e3n tü9 gü9,
to2n di’ h4ma9w toy2w a3nurv1poyw kai2 dia2 th2n o qual, por causa de nós homens e da nossa sal-
h4mete1ran svthri1an kateluo1nta e3k tv9n oy3ra- vação, desceu dos céus e se encarnou do Espí-
nv9n kai sarkvue1nta e3k pney1matow a4gi1oy kai2 rito Santo e Maria, a virgem, e se humanou,
Mari1aw th9w parue1noy, kai2 e3nanurvph1santa, foi crucificado por nós sob Pôncio Pilatos e
stayrvue1nta te y4pe2r h4mv9n e3pi2 Ponti1oy Pi- padeceu, e foi sepultado, e ressuscitou ao ter-
la1 t oy, kai2 pauo1 n ta kai2 tafe1 n ta, kai2 ceiro dia, segundo as Escrituras, e subiu aos
a3nasta1nta tü9 tri1tü h4me1rä kata2 ta2w grafa1w, céus, e está sentado à direita do Pai, e vem de
kai1 a3 n eluo1 n ta ei3 w toy2 w oy3 r anoy1 w , kai2 novo com glória para julgar os vivos e os mor-
kauezo1menon e3k dejiv9n toy9 patro1w, kai2 pa1lin tos; cujo reino não terá fim.
e3rxo1menon meta2 do1jhw kri9nai zv9ntaw kai2
nekroy1w, oyß th9w basilei1aw oy3k e5stai te1low.
Kai2 ei3w to2 pney9ma to2 a7gion, to2 ky1rion kai E no Espírito Santo, o Senhor e doador da vida, que
zvopoio1n, to2 e3k toy9 patro2w e3kporeyo1menon, procede do Pai, que com o Pai e o Filho é
to2 sy2n patri2 kai yi4ö9 symproskynoy1menon adorado e glorificado, que falou por meio dos
kai syndojazo1menon, to2 lalh9san dia tv9n profetas; em uma só santa Igreja católica e
profhtv9n= ei3w mi1an a4gi1an kauolikh2n kai2 apostólica; reconhecemos um só batismo para
a3postolikh2n e3kklhsi1an= o4mologoy9men e8n a remissão dos pecados, aguardamos a ressur-
ba1ptisma ei3w a5fesin a4martiv9n, prosdokv9men reição dos mortos e a vida do século vindouro.
a3na1stasin nekrv9n kai2 zvh2n toy9 me1llontow Amém.
ai3v9now, a3mh1n.
43 Toy2w de2 le1gontaw “h0n pote o7te oy3k h0n” kai2 “pri2n Aqueles, porém, que dizem: “Houve um tempo em
gennhuh9nai oy3k h0n”, h6 o7ti e3j oy3k o5ntvn e3ge1neto que ele não existia” e: “Antes de ser gerado, não
h6 e3j e4te1raw y4posta1sevw h6 oy3si1aw fa1skontaw ei0nai existia”, ou então que veio a ser do nada, ou então
h6 r4eysto2n h6 a3lloivto2n to2n toy9 Ueoy9 yi4on1 , toy1toyw que é de uma outra hipóstase ou substância, ou que
a3 n auemati1 z ei h4 kauolikh2 kai a3 p ostolikh2 o Filho de Deus é mutável ou alterável, a eles ana-
e3kklhsi1a. tematiza a Igreja católica e apostólica.
b) Forma longa
44 Pistey1omen ei3w e7na Ueo2n pate1ra pantokra1tora, Cremos em um só Deus Pai onipotente, artífice de
pa1ntvn o4ratv9n te kai2 a3ora1tvn poihth1n= todas as coisas visíveis e invisíveis,
kai2 ei3w e7na ky1rion 3Ihsoy9n Xristo1n, e em um só Senhor, Jesus Cristo,
to2n yi4o2n toy9 Ueoy9, gennhue1nta e3k Ueoy9 patro2w o Filho de Deus, unigênito, gerado de Deus Pai,
monogenh9, toyte1stin e3k th9w oy3si1aw toy9 patro1w, isto é, da substância do Pai, Deus de Deus, luz
Ueo2n e3k Ueoy9, fv9w e3k fvto1w, Ueo2n a3lhuino2n da luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro,
e3k Ueoy9 a3lhuinoy9, gennhue1nta oy3 poihue1nta, gerado, não criado, consubstancial ao Pai; por
o4mooy1sion tö9 patri1, di’ oyß ta2 pa1nta e3ge1neto, meio dele tudo veio a ser, tanto o que há no
ta1 te e3n toi9w oy3ranoi9w kai2 ta2 e3n tü9 gü9, céu como na terra, o visível e o invisível;
o4rata1 te kai2 a3o1rata,
to2n di’ h4ma9w toy2w a3nurv1poyw kai2 dia2 th2n h4mete1ran o qual, por causa de nós homens e da nossa salva-
svthri1an kateluo1nta kai2 sarkvue1nta, toyte1sti ção, desceu e se encarnou, isto é, foi gerado
gennhue1nta telei1vw e3k th9w a4gi1aw Mari1aw th9w perfeitamente da santa Maria, a sempre virgem,
a3eiparue1noy dia2 pney1matow a4gi1oy, e3nanurv- por meio do Espírito Santo; humanou-se, isto é,
ph1santa, toyte1sti te1leion a5nurvpon labo1nta, assumiu o homem perfeito, alma e corpo e mente
cyxh2n kai2 sv9ma kai2 noy9n kai2 pa1nta, ei5 ti e tudo que seja um homem, fora o pecado; não
30
e3sti2n a5nurvpow, xvri2w a4marti1aw, oy3k a3po2 do sêmen do varão, nem em um ser humano,
spe1 r matow a3 n dro2 w oy3 d e2 e3 n a3 n urv1 p ö, mas em si, plasmou carne para <constituir> uma
a3ll’ ei3w e4ayto2n sa1rka a3napla1santa ei3w mi1an só santa unidade; não do modo como inspirou,
a4gi1an e4no1thta= oy3 kaua1per e3n profh1taiw falou e operou nos profetas, mas humanou-se
e3ne1pneyse1 te kai2 e3la1lhse kai e3nh1rghsen, a3lla2 perfeitamente (“pois o Verbo veio a ser carne”,
telei1vw e3nanurvph1santa (“o4 ga2r lo1gow sa2rj não sujeito a mudança, nem transformando sua
e3ge1neto”, oy3 troph2n y4posta2w oy3de2 metabalv2n divindade em humanidade), unificando em uma
th2n e4aytoy9 ueo1thta ei3w a3nurvpo1thta), ei3w mi1an só a sua santa perfeição e a divindade (pois um
synenv1santa e4aytoy9 a4gi1an teleio1thta1 te kai2 só é o Senhor Jesus Cristo e não dois; ele mes-
ueo1thta (eißw ga1r e3sti ky1riow 3Ihsoy9w Xristo2w mo Deus, ele mesmo Senhor, ele mesmo rei);
kai2 oy3 dy1o, o4 ay3to2w Ueo1w, o4 ay3to2w ky1riow, o4 ele mesmo sofreu na carne, e ressuscitou, e subiu
ay3to2w basiley1w), pauo1nta de2 to2n ay3to2n e3n aos céus com esse mesmo corpo, sentou-se na
sarki1, kai2 a3nasta1nta kai2 a3neluo1nta ei3w toy2w glória à direita do Pai e virá com o mesmo corpo
oy3ranoy2w e3n ay3tö9 tö9 sv1mati, e3ndo1jvw na glória para julgar os vivos e os mortos; cujo
kaui1santa e3n dejiä9 toy9 patro1w, e3rxo1menon e3n reino não terá fim.
ay3tö9 tö9 sv1mati e3n do1jü kri9nai zv9ntaw kai2
nekroy1w= oyß th9w basilei1aw oy3k e5stai te1low=
kai2 ei3w to2 a7gion pney9ma pistey1omen, to2 lalh9san e3n Cremos também no Espírito Santo, que falou na Lei,
no1mö kai2 khry9jan e3n toi9w profh1taiw kai2 pregou nos Profetas e desceu sobre o Jordão;
kataba2n e3pi2 to2n 3Iorda1nhn, laloy9n e3n a3posto- fala nos Apóstolos, habita nos santos; cremos
l1 oiw, oi3koy9n e3n a4gi1oiw= oy7tvw de2 pistey1omen e3n nele neste sentido, que ele é Espírito santo,
ay3tö9, o7ti e3sti2 pney9ma a7gion, pney9ma Ueoy9, Espírito de Deus, Espírito perfeito, Espírito
pney9ma te1leion, pney9ma para1klh-ton, a5ktiston, Paráclito, incriado, que procede do Pai e é re-
e3k toy9 patro2w e3kporeyo1menon kai2 e3k toy9 yi4oy9 cebido do Filho e é crido; cremos em uma só
lambano1menon kai2 pisteyo1menon= pistey1omen ei3w Igreja católica e apostólica, em um só batismo
mi1an kauolikh2n kai2 a3postolikh2n e3kklhsi1an, de conversão, na ressurreição dos mortos e o
kai ei3w e8n ba1ptisma metanoi1aw, kai2 ei3w justo juízo de almas e corpos, no reino dos céus
a3na1stasin nekrv9n kai2 kri1sin dikai1an cyxv9n e na vida eterna.
kai2 svma1tvn, kai2 ei3w basilei1an oy3ranv9n, kai2
ei3w zvh2n ai3vn1 ion.
Toy2w de2 le1gontaw, o7ti h0n pote, o7te oy3k h0n o4 yi4o2w Aqueles, porém, que dizem que houve um tempo 45
h6 to2 pney9ma to2 a7gion, h6 o7ti e3j oy3k o5ntvn e3ge1neto em que não existia o Filho ou o Espírito Santo, ou
h6 e3j e4te1raw y4posta1sevw h6 oy3si1aw, fa1skontaw ei0nai que vieram a ser do que não existia ou de outra
trepto2n h6 a3lloivto2nto2n yi4on2 toy9 Ueoy9 h6 to2 a7gion hipóstase ou substância, afirmando ser mutável ou
pney9ma, toy1toyw a3nauemati1zei h4 kauolikh2 kai2 alterável o Filho de Deus ou o Espírito Santo, a
a3postolikh2 e3kklhsi1a, h4 mh1thr y4mv9n te kai2 h4mv9n= eles anatematiza a Igreja católica e apostólica, Mãe
kai2 pa1lin a3nauemati1zomen toy2w mh2 o4mologoy9ntaw vossa e nossa; e anatematizamos ainda aqueles que
a3na1stasin nekrv9n kai2 pa1saw ta2w ai4re1seiw ta2w não confessam a ressurreição dos mortos, bem como
mh2 e3k tay1thw th9w o3ruh9w pi1stevw oy5saw. todas as heresias, que não são desta reta fé.
31
to2n yi4on2 toy9 Ueoy9, gennhue1nta e3k toy9 patro1w, o Filho de Deus, gerado do Pai, Deus de Deus, luz
Ueo2n e3k Ueoy9, fv9w e3k fvto1w, Ueo2n a3lhuino2n da luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro,
e3k Ueoy9 a3lhuinoy9, gennhue1nta, oy3 poihue1nta, gerado, não feito, consubstancial ao Pai; por
o4mooy1sion tö9 patri1, di’ oyß ta2 pa1nta e3ge1neto, meio do qual tudo foi feito, as coisas no céu e
ta1 te e3n tö9 oy3ranö9 kai2 ta2 e3pi2 th9w gh9w, o4rata1 as sobre a terra, visíveis e invisíveis;
te kai2 a3or1 ata=
to2n di’ h4ma9w toy2w a3nurv1poyw kai2 dia2 th2n h4me- o qual, por causa de nós homens e da nossa salva-
te1ran svthri1an kateluo1n-ta, sarkvue1nta, ção desceu, encarnou-se, humanou-se, isto é,
e3nanurvph1santa, toyte1sti gennhue1nta telei1vw gerado perfeitamente <do seio> de Maria, a
e3k Mari1aw th9w a3eiparue1noy dia2 pney1matow sempre virgem, por obra do Espírito Santo,
a4gi1oy, sv9ma kai2 cyxh2n kai2 noy9n kai2 pa1nta, possuiu, verdadeiramente e não só em aparên-
o7 s a e3 s ti2 n a3 n urv1 p oiw, xvri2 w a4 m arti1 a w, cia, corpo e alma e mente e tudo quanto é dos
a3lhuinv9w kai2 oy3 dokh1sei e3sxhko1ta= pauo1nta, homens, menos o pecado; padeceu, isto é, foi
toyte1sti stayrvue1nta, tafe1nta, kai2 a3nasta1nta crucificado, sepultado, e ressuscitou ao tercei-
tü9 tri1tü h4me1rä, kai2 a3neluo1nta ei3w oy3ranoy2w ro dia, e subiu aos céus nesse mesmo corpo;
e3n ay3tö9 tö9 sv1mati, e3ndo1jvw kaui1santa e3n sentou-se na glória à direita do Pai, vem nesse
dejiä9 toy9 patro1w, e3rxo1menon e3n ay3tö9 tö9 sv1mati mesmo corpo, na glória, para julgar os vivos e
e3n do1jü kri9nai zv9ntaw kai2 nekroy1w, oyß th9w os mortos; cujo reino não terá fim.
basilei1aw oy3k e5stai te1low.
Kai2 pistey1omen ei3w to2 pney9ma to2 a7gion, to2 oy3k E cremos no Espírito Santo, que não é estranho ao
a3llo1trion patro2w kai2 yi4oy9, a3ll’ o4mooy1sion Pai e ao Filho, mas consubstancial ao Pai e ao
o6n patri2 kai2 yi4ö9, to2 a5ktiston, to2 te1leion, Filho, o incriado, o perfeito, o Paráclito, que
to2 para1klhton, to2 lalh9san e3n no1mö kai2 e3n falou na Lei e nos Profetas e nos [Apóstolos e]
profh1taiw kai2 e3n [a3posto1loiw kai2] ey3agge- Evangelhos, desceu sobre o Jordão, será pre-
li1oiw= kataba2n e3pi2 to2n 3Iorda1nhn, khryjo1menon gado [pregou] aos Apóstolos, habita nos san-
[khry9jan] a3posto1loiw, oi3koy9n e3n a4gi1oiw. Kai2 tos. E cremos nesta única <e> uma só Igreja
pistey1omen ei3w mi1an mo1nhn tay1thn kauolikh2n católica e apostólica [–!], em um só batismo
kai2 a3postolikh2n [–!] e3kklhsi1an, ei3w e8n de conversão e de remissão dos pecados, na
ba1ptisma metanoi1aw kai2 a3fe1sevw a4martiv9n, ressurreição dos mortos, no juízo eterno das
ei3w a3na1stasin nekrv9n, ei3w kri1sin ai3v1nion almas e dos corpos, no reino dos céus e na
cyxv9n te kai2 svma1tvn, ei3w basilei1an oy3ra- vida eterna.
nv9n, kai2 zvh2n ai3v1nion.
47 Toy2w de2 le1gontaw, o7ti h0n pote, o7te oy3k h0n o4 yi4ow1 , Aqueles, porém, que dizem que houve um tempo
h6 h0n pote, o7te oy3k h0n to2 a7gion pney9ma, h6 o7ti e3j em que não existia o Filho, ou que houve um tempo
oy3k o5ntvn e3ge1neto, h6 e3j e4te1raw y4posta1sevw h6 em que não existia o Espírito Santo, ou que foi feito
oy3si1aw fa1skontaw ei0nai to2n yi4o2n toy9 Ueoy9 h6 to2 do que não existe ou de uma outra hipóstase ou
pney9ma to a7gion, trepto2n h6 a3lloivto1n, toy1toyw substância, afirmando ser o Filho de Deus ou o Es-
a3nauemati1zomen, o7ti ay3toy2w a3nauemati1zei h4 pírito Santo mutável ou alterável, a eles anatemati-
kauolikh2 mh1thr h4mv9n kai2 a3postolikh2 e3kklhsi1a= zamos, porque os anatematiza a nossa católica Mãe
kai2 a3nauemati1zomen pa1ntaw toy2w mh2 o4mologoy9ntaw e apostólica Igreja; e anatematizamos todos aque-
a3na1stasin sarko2w [nekrv9n] kai2 pa9san ai7resin, les que não reconhecem a ressurreição da carne [dos
toyte1sti toy2w mh2 o5ntaw e3k tay1thw th9w pi1stevw mortos] e cada heresia, isto é, aqueles que não são
th9w a4gi1aw kai2 mo1nhw kauolikh9w e3kklhsi1aw. desta fé da santa e única Igreja católica.
32
Hort. – Acerca da origem deste Símbolo, os pareceres divergem notavelmente. Alguns afirmam que é mais antigo que
o Símbolo longo de Epifânio (*44s) e que foi, da Capadócia, introduzido na Armênia, pela metade do séc. IV. Outros
o consideram simplesmente uma forma mais recente e inferior da Hermeneia (*46s), que se tornou de uso comum na
Armênia a partir do séc. VII: cf. G. Winkler, A Remarkable Shift in the 4th Century Creeds. An Analysis of the Armenian,
Syriac and Greek Evidence, in: Studia Patristica 17/III (Oxford 1982) 1396-1401.
Ed.: A. Ter-Mikelian, o.c. (*6) 22-24 / F.J.A. Hort, o.c. (*41) 120-123 146s (“Cappadocian Creed”) / Hn § 137 (nas
notas a versão dos armênios unidos a Roma) / CaANQ 2, 31-34 (reconstrução às vezes errônea) / MaC 25, 1269CD
(com elementos mais tardios) / É apresentada só uma tradução latina nos Acta Benedicti XII, ed. A.L. Tǎutu (Codex Iuris
Canonici Orientalis, Fontes III 8 [Vaticano 1958] 228.
Pistey1omen ei3w e7na Ueo1n, pate1ra pantokra1tora, Cremos em um só Deus Pai onipotente, criador do 48
poihth2n oy3ranoy9 kai2 gh9w, o4ratv9n te kai2 a3ora1tvn. céu e da terra, das coisas visíveis e invisíveis.
Kai2 ei3w e7na ky1rion 3Ihsoy9n Xristo1n, E em um só Senhor, Jesus Cristo,
to2n yi4o2n Ueoy9, [to2n] gennhue1nta e3k toy9 [–!] o Filho de Deus, unigênito, [o] gerado do Pai [isto
patro2w monogenh9 [toyte1stin e3k th9w oy3si1aw é, da substância do Pai] antes de todos os sécu-
toy9 patro1w] pro2 pa1ntvn tv9n ai3v1nvn [–!], los [–!], Deus de Deus, luz da luz, Deus verda-
Ueo2n e3k Ueoy9, fv9w e3k fvto1w, Ueo2n a3lhuino2n deiro de Deus verdadeiro, gerado, não feito,
e3k Ueoy9 a3lhuinoy9, gennhue1nta oy3 poihue1nta, consubstancial ao Pai; por meio do qual tudo
o4mooy1sion tö9 patri1, di’ oyß ta2 pa1nta e3ge1neto, foi feito, as coisas no céu [nos céus] e as na
ta2 [te] e3n tö9 oy3ranö9 [e3n toi9w oy3ranoi9w] kai2 terra, visíveis e invisíveis;
ta2 e3n tü9 gü9 [e3pi2 th9w gh9w], o4rata1 te kai2 a3or1 ata,
to2n di’ h4ma9w toy2w a3nurv1poyw kai2 dia2 th2n h4mete- o qual, por causa de nós homens e da nossa sal-
r1 an svthri1an kateluo1nta e3k tv9n oy3ranv9n, vação, desceu dos céus, se encarnou, se huma-
sarkvue1nta, e3nanurvph1santa [, gennhue1nta] nou [, gerado] perfeitamente <do seio> de
telei1vw e3k Mari1aw th9w a4gi1aw parue1noy dia2 Maria, a santa Virgem, por meio do Espírito
pney1matow a4gi1oy, e3j hßw a3ne1laben sa1rka, noy9n, Santo; dela assumiu carne, mente, alma [desta
cyxh2n [e3k tay1thw sv9ma kai2 cyxh2n kai2 noy9n] <teve> corpo e alma e mente] e tudo o que há
kai2 pa1nta o7sa e3sti2n e3n a3nurv1pö [a5nurvpow], no homem [um homem é], verdadeiramente e
a3lhuv9w kai2 oy3 dokh1sei [e3sxhko1ta], pauo1nta, não em aparência; padeceu, foi crucificado,
stayrvue1nta, tafe1nta, a3nasta1nta tü9 tri1tü h4me- sepultado, ressuscitou ao terceiro dia e subiu
r1 ä, kai2 a3neluo1nta ei3w to2n oy3rano2n [toy2w oy3ra- ao céu [aos céus] com este mesmo corpo, sen-
noy2w] e3n ay3tö9 tö9 sv1mati, kaui1santa e3n dejiä9 tou-se à direita do Pai, vem com este mesmo
[e3k dejiv9n] toy9 patro1w, e3rxo1menon e3n ay3tö9 tö9 corpo e na glória do Pai para julgar os vivos e
sv1mati kai2 e3n do1jü patro2w kri9nai zv9ntaw kai2 os mortos; cujo reino não terá fim.
nekroy1w, oyß th9w basilei1aw oy3k e5stai te1low.
[Kai2] Pistey1omen ei3w to2 pney9ma to2 a7gion, to2 [E] cremos no Espírito Santo, incriado, perfeito, que
a5ktiston, to2 te1leion, to2 lalh9san dia2 toy9 no1moy falou por meio da Lei e dos Profetas e dos
kai2 tv9n profhtv9n kai2 tv9n ey3aggelistv9n [e3n Evangelistas [na Lei, nos Profetas e nos Evan-
no1mö kai2 e3n profh1taiw kai2 e3n ey3aggeli1oiw], to2 gelhos] e que desceu ao Jordão, pregou o Após-
[–!] kataba2n e3pi2 to2n 3Iorda1nhn, khry9jan to2n tolo [aos Apóstolos] e habitou [habita] nos
a3po1stolon [a3posto1loiw] kai2 [–!] oi3kh9san santos. E cremos em uma só Igreja católica e
[oi3koy9n] e3n a4gi1oiw. [Kai2] Pistey1omen ei3w mi1an apostólica, em um só batismo para a conver-
mo1nhn kauolikh2n kai2 a3postolikh2n e3kklhsi1an, são, na dispensa [expiação(?)] e remissão dos
ei3w e8n ba1ptisma ei3w meta1noian [metanoi1aw], pecados, na ressurreição dos mortos, no juízo
ei3w pa1resin [i4lasmo2n(?)] kai2 a5fesin a4martiv9n, do século [eterno] de almas e corpos, no reino
ei3w a3na1stasin nekrv9n, ei3w kri1sin toy9 ai3vn9 ow dos céus e na vida eterna.
[ai3vn1 ion] cyxv9n te kai2 svma1tvn, ei3w basilei1an
tv9n [–!] oy3ranv9n kai2 ei3w zvh2n ai3vn1 ion.
Toy2w de2 le1gontaw “h0n pote, o7te oy3k h0n o yi4o2w toy9 Aqueles, porém, que dizem: “Houve um tempo no 49
Ueoy9 [–!]”, h6 “h0n pote, o7te oy3k h0n to2 pney9ma qual não existia o Filho de Deus [–!]”, ou então:
to2 a7gion [to2 a7gion pney9ma]”, h6 o7ti e3j oy3k “Houve um tempo em que não existia o Espírito
o5 n tvn e3 g e1 n onto [e3 g e1 n eto], h6 e3 j e4 t e1 r aw Santo” ou afirmam que o Filho de Deus ou também
y4posta1sevw h6 oy3si1aw fa1skontaw ei0nai to2n [–!] o Espírito Santo vieram a ser [veio a ser] do
yi4on2 toy9 Ueoy9 h6 kai2 [–!] to2 pney9ma to2 a7gion, que não existe ou de uma outra hipóstase ou subs-
33
kai2 treptoy2w h6 a3lloivtoy2w ei0nai ay3toy1w tância, e que são mutáveis ou alteráveis [é mutável
[trepto2n h6 a3lloivto1n], toy1toyw a3nauemati1zei ou alterável], a eles anatematiza a Igreja católica e
h4 kauolikh2 kai2 a3postolikh2 e3kklhsi1a. apostólica.
A n t i o q u i a , fim do séc. IV
50: Símbolo batismal de Antioquia (fragmentos)
Deste Símbolo batismal, distinto daquele do sínodo de 341 contra Atanásio de Alexandria, foram conservados três
fragmentos, nos três seguintes autores:
[A] Eusébio, (posteriormente) bispo de Dorileo. Obtestatio contra Nestorium (das atas do Concílio de Éfeso
de 431).
Ed.: ACOe 1/I/I, 102 / MaC 4, 1009E / Kelly 184s.
[B] João Cassiano, De incarnatione Domini contra Nestorium VI, c. 3, n. 2; c. 6-10. Cita-o em latim.
Ed.: M. Petschenig: CSEL 17, 327 329 331-335 / PL 50, 142-144 149s 153-158 / Kelly 183s.
[C] João Crisóstomo, Homilia 40 sobre 1Cor (15, 29), n. 1.2.
Ed.: PG 61, 348 349.
O resto do texto grego [entre colchetes] é uma reconstrução. – Cf. também Hn § 130 / Ltzm 22s.
50 [Pistey1omen ei3w e7na [B:] Credo in unum et [Cremos em um só e [B:] Creio em um só
kai2 mo1non a3lhuino2n solum verum Deum, Pa- único Deus verdadeiro, e único Deus verdadei-
Ueo1n, pate1ra panto- trem omnipotentem, Pai onipotente, artífice ro, Pai onipotente, cria-
kra1tora, pa1ntvn o4ra- creatorem omnium visi- de todas as coisas visí- dor de todas as criaturas
tv9n te kai2 a3ora1tvn bilium et invisibilium veis e invisíveis. visíveis e invisíveis.
poihth1n. creaturarum.
Kai2 ei3w to2n ky1rion Et in Dominum nos- E em nosso Senhor E em nosso Senhor
h4mv9n 3Ihsoy9n Xristo1n, trum Iesum Christum, Jesus Cristo, seu Filho Jesus Cristo, seu Filho
to2n yi4on2 ay3toy9 to2n mo- Filium eius unigenitum unigênito e primogênito unigênito e primogênito
nogenh9 kai2 prvto1tokon et primogenitum totius de toda a criação, gera- de todo o ser criado,
pa1shw kti1sevw, to2n e3j creaturae, ex eo natum do por ele antes de todos nascido dele antes de
ay3toy9 gennhue1nta pro2 ante omnia saecula, et os séculos, não feito,] todos os séculos, e não
pa1ntvn tv9n ai3vn1 vn, oy3 non factum, feito,
poihue1nta,]
[A:] Ueo2n a3lhuino2n e3k Deum verum ex Deo [A:] Deus verdadeiro de Deus verdadeiro de Deus
Ueoy9 a3lhuinoy9, o4mo- vero, homousion Patri, Deus verdadeiro, con- verdadeiro, consubstan-
oy1sion tö9 patri1, di’ per quem et saecula substancial ao Pai, por cial ao Pai, por meio do
oyß kai2 oi4 ai3 v9 n ew compaginata sunt et meio do qual e os céus qual e os séculos foram
kathrti1suhsan kai2ta2 omnia acta, foram ordenados, e to- ordenados, e todas as
pa1nta e3ge1neto, das as coisas vieram a coisas foram feitas;
ser;
to2n di’ h4ma9w [kat]- qui propter nos venit o qual, por causa de o qual por causa de
eluo1nta kai gennhue1n- et natus est ex Maria nós veio [desceu] e foi nós veio e nasceu <do
ta e3 k Mari1 a w th9 w virgine, et crucifixus gerado <do seio> de seio> de Maria virgem,
a4 g i1 a w [th9 w a3 e i]par- sub Pontio Pilato, Maria, a santa [sempre] e foi crucificado sob
ue1noy, kai2stayrvue1nta virgem, e foi crucifica- Pôncio Pilatos,
e3pi2 Ponti1oy Pila1toy, do sob Pôncio Pilatos,
[kai2 tafe1 n ta kai2 et sepultus, et tertia die [e foi sepultado, e res- e foi sepultado, e ao ter-
a3 n asta1 n ta tü9 tri1 t ü resurrexit secundum suscitou ao terceiro dia, ceiro dia ressuscitou,
h4me1rä kata2 ta2w grafa1w, Scripturas, et ascendit segundo as Escrituras, e segundo as Escrituras, e
kai2 a3neluo1nta ei3w toy2w in caelos, et iterum ve- subiu aos céus e virá de subiu aos céus e virá de
oy3ranoy1w, kai2 pa1lin niet iudicare vivos et novo para julgar os vi- novo para julgar os vi-
e3rxo1menon kri9nai zv9n- mortuos … vos e os mortos …] vos e os mortos…
taw kai2nekroy1w …]
[C:] kai2 ei3w a4martiv9n [C:] e na remissão dos
a5 f esin, kai2 [ei3 w ] pecados, e [n]a ressur-
nekrv9n a3na1stasin, kai2 reição dos mortos e na
ei3w zvh2n ai3v1nion. vida eterna.
34
M o p s u é s t i a d a C i l í c i a , fim do séc. IV
51: Teodoro, bispo de Mopsuéstia: Catequeses I-X, entre 381 e 392
A forma apresentada por Teodoro, segundo ele mesmo testemunha, foi ampliada sob a influência do Concílio de
Constantinopla e do seu Símbolo. Foi completada pela inserção de “e7n” antes de “pney9ma a7gion”, e tudo o que vem
depois destas palavras é acréscimo.
Ed.: Edição siríaco-francesa de R. Tonneau – R. Devreesse, Les homélies catéchétiques de Théodore de Mopsueste
(ST 145; Roma 1949); reconstituição do Símbolo grego, ver A. Rücker, Ritus baptismi et Missae, quem descripsit
Theodorus episcopus Mopsuestemus in sermonibus catecheticis (Opuscula et textus historiam ecclesiae… illustrantia,
Series liturgica 2; Münster 1933) 43s, e J. Lebon, in: RHE 32 (1936) 836 / Kelly 187s.
Pistey1omen ei3w e7na Ueo1n, pate1ra pantokra1tora, Cremos em um só Deus Pai onipotente, artífice de 51
pa1ntvn o4ratv9n te kai a3ora1tvn poihth1n. todas as coisas visíveis e invisíveis.
Kai2 ei3w e7na ky1rion 3Ihsoy9n Xristo1n, E em um só Senhor, Jesus Cristo,
to2n yi4on2 toy9 Ueoy9 to2n monogenh9, to2n prvto1tokon o Filho unigênito de Deus, o primogênito de toda
pa1shw kti1sevw, to2n e3k toy9 patro2w ay3toy9 a criação, gerado pelo seu Pai antes de todos
gennhue1nta pro pa1ntvn tv9n ai3v1nvn, oy3 os séculos, não feito, Deus verdadeiro de Deus
poihue1nta, Ueo2n a3lhuino2n e3k Ueoy9 a3lhuinoy9, verdadeiro, consubstancial ao seu Pai; por meio
o4mooy1sion tö9 patri2 ay3toy9, di’ oyß oi4 ai3v9new do qual foram ordenados os séculos e tudo veio
kathrti1suhsan kai2 ta2 pa1nta e3ge1neto, a ser,
to2n di’ h4ma9w toy2w a3nurv1poyw kai2 dia2 th2n o qual, por causa de nós homens e da nossa sal-
h4mete1ran svthri1an kateluo1nta e3k tv9n oy3ra- vação, desceu dos céus e se encarnou, e se fez
nv9n, kai2 sarkvue1nta kai2 a5nurvpon geno1me- homem, gerado <do seio> de Maria, a virgem;
non, gennhue1nta e3k Mari1aw th9w parue1noy, kai2 e, crucificado sob Pôncio Pilatos, foi sepulta-
stayrvue1nta e3pi2 Ponti1oy Pila1toy, tafe1nta do e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as
kai2 a3nasta1nta tü9 tri1tü h4me1rä kata2 ta2w Escrituras, e subiu aos céus, está sentado à di-
grafa1 w , a3 n eluo1 n ta ei3 w toy2 w oy3 r anoy1 w , reita de Deus, e de novo vem para julgar os
kauezo1menon e3k dejiv9n toy9 Ueoy9, kai2 pa1lin vivos e os mortos.
e3rxo1menon kri9nai zv9ntaw kai2 nekroy1w.
Kai2 ei3w e8n pney9ma a7gion, to2 e3k toy9 patro2w e3kporey- E em um só Espírito Santo, que procede do Pai,
o1menon, pney9ma zvopoio1n= o4mologoy9men e8n Espírito vivificante; professamos um só batis-
ba1ptisma, mi1an a4gi1an e3kklhsi1a kauolikh1n, mo, uma só santa Igreja católica, a remissão
a5fesin a4martiv9n, a3na1stasin sarko2w kai2 dos pecados, a ressurreição da carne e a vida
zvh2n ai3v1nion. eterna.
E g i t o , metade do séc. IV
55: Apotegmas de Macário, o Grande
Num manuscrito vienense (séc. IX) dos Apophtegmata Patrum e nos manuscritos gregos de Paris nn. 1627 e 1628
(séc. XIII e XIV) da Historia Lausiaca de Paládio de Helenópolis, está consignada uma historieta de Macário, o Egípcio
ou o Grande (ca. 300-390), na qual é recitado o Símbolo. Sua forma é provavelmente local egípcia, e substancialmente
já pré-nicena. Elementos nicenos foram acrescentados mais tarde. Pelo fim, porém, uma paráfrase um tanto livre do
Símbolo substitui a forma oficial. Enquanto E. Preuschen considera esta historieta parte autêntica do c. 19 da Historia
Lausiaca, C. Butler nega-o em sua edição crítica dessa obra (The Lausiac History of Palladius 2 [Cambridge 1904]
194s, nota 28). Em vista disso, nem ele, nem os editores ulteriores (A. Lucot [Paris 1912]; Ramón y Arrufat [Barcelona
1927]) trazem o texto do Símbolo.
Ed.: PG 34, 212D-213A; cf. também 51D [= Codex Vindobonensis] / E. Preuschen, Palladius und Rufinus (Giessen
1897) 1274-13 [= Codex Parisinus] / Kelly 191 / Ltzm 25s. – Aqui vem apresentado como texto principal o do Codex
Vindobonensis [entre colchetes: variantes do Codex Parisinus 1628].
Pistey1v ei3w e7na Ueo1n, pate1ra pantokra1tora. Creio em um só Deus Pai onipotente 55
Kai2 ei3w to2n o4mooy1sion ay3toy9 lo1gon, di’ oyß e3poi1hse E no seu Verbo consubstancial, por meio do qual
toy2w ai3v9naw, ele fez os séculos;
to2n e3pi2 syntelei1ä tv9n ai3v1nvn ei3w a3ue1thsin o qual, no término dos séculos, para abolição do
th9w [–!] a4marti1aw e3pidhmh1santa e3n sarki1, [de] pecado, veio residir na carne que para si
h8n e3k th9w a4gi1aw parue1noy Mari1aw e4aytö9 preparou <do seio> da santa Virgem Maria
35
y4 p esth1 s ato [sarkvue1 n ta e3 k th9 w a4 g i1 a w [; o qual se encarnou <do seio> da santa Vir-
parue1noy, kai2] gem e];
to2n [–!] stayrvue1nta y4pe2r h4mv9n, kai2 a3pouano1nta o qual [–!] foi crucificado por nós, e morreu, e
kai2 tafe1nta [–!] kai2 a3nasta1nta tü9 tri1tü foi sepultado, [–!] e ressuscitou ao terceiro dia,
h4me1rä [kai2 a3neluo1nta ei3w toy2w oy3ranoy1w], [e subiu aos céus,] e sentou-se à direita do
kai2 kauezo1 m enon e3 n dejiä9 toy9 patro1 w [Deus e] Pai, e de novo virá no século vindou-
[kaui1santa e3k dejiv9n toy9 Ueoy9 kai2 patro1w], ro [–!] para julgar vivos e mortos.
kai2 pa1lin e3rxo1menon e3n tö9 me1llonti ai3v9ni
[–!] kri9nai zv9ntaw kai2 nekroy1w.
Kai2 ei3w to2 pney9ma to2 a7gion [to2 a7gion pney9ma], to2 E no Espírito Santo, consubstancial ao Pai e a seu
o4mooy1sion tö9 patri2 kai2 tö9 [–!] lo1gö ay3toy9 Verbo [ao Verbo de Deus]. Creiamos [!] porém
[toy9 Ueoy9]. Pistey1vmen [!] de2 [–!] kai2 ei3w [–!] também na ressurreição de alma e corpo
a3na1stasin cyxh9w kai2 sv1matow [nekrv9n], [dos mortos], como diz o Apóstolo: “[Semeia-
kauv2w le1gei [fhsi2n] o4 a4po1stolow “[spei1retai se na corrupção, ressuscita-se na glória,] se-
e3n fuorä9, e3gei1retai e3n do1jü,] spei1retai sv9ma meia-se um corpo psíquico, ressuscita um cor-
cyxiko1n, e3gei1retai sv9ma pneymatiko1n” [cf. 1 po espiritual” [cf. 1Cor 15,42-44].
Cor 15,42-44].
36
toi9w a3posto1loiw para2 toy9 patro2w kata2 th2n bém aos Apóstolos da parte do Pai, segundo a
e3paggeli1an toy9 svth9row h4mv9n kai2 kyri1oy 3Ihsoy9 promessa do nosso Salvador e Senhor Jesus
Xristoy9, kai2 meta2 toy2w a3posto1loyw de2 pa9si Cristo, e depois dos apóstolos a todos os que,
toi9w pistey1oysin e3n tü9 a4gi1ä kauolikü9 kai2 na santa Igreja católica e apostólica, crêem na
a3postolikü9 e3kklhsi1ä, ei3w sarko2w a3na1stasin ressurreição da carne e na remissão dos peca-
kai2 ei3w a5fesin a4martiv9n kai2 ei3w basilei1an dos, e no reino dos céus e na vida do século a
oy3ranv9n kai2 ei3w zvh2n toy9 me1llontow ai3vn9 ow. chegar.
Egito
62-63: Constituições da Igreja egípcia
Cf. *3°, onde constam informações prévias e os títulos completos das edições.
Ed.: Versão c o p t a : Traditio apostolica 16, 16, em Till-Leipoldt 20s (Funk 2, 110); a versão copta não tem a forma
interrogativa; cf. Hn § 139 (2ª partre). – Versão e t í o p e : Traditio apostolica 34, em Duensing 56-59. – O texto latino
(*62s) baseia-se na edição alemã de Till e Duensing (acrescentam-se entre parênteses os termos gregos conservados
no copta).
37
38
sibi Pater sit, ipse et Filius, sed Patrem esse qui Pai, ele mesmo seja também Filho, mas que o Pai é
genuit, et Filium esse qui genitus sit, Spiritum vero aquele que gerou, e o Filho, aquele que foi gerado,
Sanctum non genitum neque ingenitum, non crea- e o Espírito Santo, não gerado nem não gerado, não
tum neque factum, sed de Patre et Filio [–!] proce- criado nem feito, mas procedente do Pai e do Filho
dentem, Patri et Filio coaeternum et coaequalem et [–!], coeterno e coigual e cooperador com o Pai e
cooperatorem, quia scriptum est: “Verbo Domini com o Filho, porque está escrito: “Pela palavra do
caeli firmati sunt” id est, a Filio Dei, “et spiritu oris Senhor os céus foram firmados”, isto é, pelo Filho
eius omnis virtus eorum” [Ps 32,6], et alibi: Emitte de Deus, “e pelo Espírito de sua boca, toda a sua
spiritum tuum et creabuntur et renovabis faciem força” [Sl 33,6], e alhures: “Envia teu Espírito, e
terrae [cf. Ps 103,30]. Ideoque in nomine Patris et serão criados, e renovarás a face da terra” [cf. Sl
Filii et Spiritus Sancti unum confitemur Deum, quia 104,30]. Por isto, no nome do Pai e do Filho e do
[deus] nomen est potestatis deus [–!], non proprie- Espírito Santo, professamos um só Deus, pois [deus]
tatis. Proprium nomen est Patri Pater, et proprium é o nome do poder deus [–!], não da propriedade. O
nomen est Filio Filius, et proprium nomen est nome próprio para o Pai é Pai, o nome próprio para
Spiritui Sancto Spiritus Sanctus. Et in hac Trinitate o Filho é Filho, o nome próprio para o Espírito San-
unum Deum credimus, quia ex uno Patre, quod est to é Espírito Santo. E, nesta Trindade, cremos um
unius cum Patre naturae uniusque substantiae et só Deus, pois o que é de uma só natureza e de uma
unius potestatis. Pater Filium genuit, non voluntate, só substância e de um só poder com o Pai <pro-
nec necessitate, sed natura. vém> do único Pai. O Pai gerou o Filho, não pela
vontade ou por necessidade, mas por natureza.
Filius ultimo tempore ad nos salvandos et ad im- O Filho, no último tempo, desceu do Pai para
plendas scripturas descendit a Patre, qui nunquam nos salvar e para cumprir as Escrituras, ele que ja-
desiit esse cum Patre, et conceptus est de Spiritu mais cessou de estar com o Pai, e foi concebido do
Sancto et natus ex Maria [–!] Virgine, carnem, ani- Espírito Santo e nasceu <do seio> de Maria [–!]
mam et sensum, hoc est perfectum suscepit homi- virgem, assumiu uma carne, uma alma, uma inteli-
nem, nec amisit, quod erat, sed coepit esse, quod gência, isto é, um homem perfeito; não renunciou
non erat; ita tamen, ut perfectus in suis sit et verus ao que era, mas começou a ser o que não era; po-
in nostris. Nam qui Deus erat, homo natus est, et rém de modo que fosse perfeito no <que é> seu e
qui homo natus est, operatur ut Deus; et qui opera- verdadeiro no <que é> nosso. De fato, ele que era
tur ut Deus, ut homo moritur; et qui ut homo moritur, Deus nasceu como homem, e aquele que nasceu
ut Deus resurgit [surgit]. Qui devicto mortis imperio como homem atua como Deus; e aquele que atua
cum ea carne, qua natus et passus et mortuus fue- como Deus morre como homem, e aquele que morre
rat, resurrexit tertia die [-!], ascendit ad Patrem como homem ressurge [surge] como Deus. Ele que,
sedetque ad dextram eius in gloria [gloriam], quam vencido o domínio da morte com aquela carne na
semper habuit habetque. In huius morte et sanguine qual tinha nascido, sofrido e morrido, ressuscitou
credimus emundatos nos ab eo resuscitandos die no- ao terceiro dia [–!], subiu ao Pai e está sentado à
vissima in hac carne, qua nunc vivimus, et habe- sua direita, na glória que sempre teve e tem. Cre-
mus spem nos consecuturos ab ipso aut vitam ae- mos que nós, purificados na sua morte e sangue,
ternam praemium boni meriti aut poenam pro pec- haveremos de ser ressuscitados por ele, no último
catis aeterni supplicii. Haec lege, haec retine, huic dia, nesta carne na qual agora vivemos, e temos a
fidei animam tuam subiuga. A Christo Domino et esperança de que dele haveremos de alcançar ou a
vitam consequeris et praemium [praemia]. vida eterna como prêmio do bom mérito, ou a pena
do suplício eterno pelos pecados. Lê estas coisas,
guarda-as, submete tua alma a esta fé. Do Cristo
Senhor obterás e a vida, e o prêmio [os prêmios].
39
stantia, una virtus, una potestas est. Patrem Deum, substância, uma só força, um só poder. Dizemos
et Filium Deum, et Spiritum Sanctum Deum, non que o Pai é Deus, o Filho é Deus e o Espírito Santo
tres deos esse dicimus, sed unum piissime confite- é Deus, não três deuses, mas professamos com toda
mur. Nam tres nominantes personas unam esse subs- piedade um só <Deus>. Pois, nomeando três pes-
tantiam catholica atque apostolica profitemur voce. soas, professamos com voz católica e apostólica que
Itaque Pater et Filius et Spiritus Sanctus, et “tres somente uma é a substância. Portanto, Pai e Filho e
unum sunt” [cf. 1 Io 5,7]. Tres, nec confusi, nec Espírito Santo, e “os três são um só” [cf. 1Jo 5,7].
divisi, sed et distincte coniuncti et coniuncti distincti; Três, não confusos nem separados, mas distintamen-
uniti substantia, sed discreti nominibus, coniuncti te unidos e unidamente distintos; unidos quanto à
natura, distincti personis, aequales divinitate, con- substância, mas distintos quanto aos nomes, unidos
similes maiestate, concordes trinitate, participes quanto à natureza, distintos quanto às pessoas, iguais
claritate. Qui ita unum sunt, ut tres quoque esse non quanto à divindade, semelhantes na majestade, con-
dubitemus; ita tres sunt, ut separari a se non posse cordes na Trindade, partícipes no esplendor. Eles
fateamur. Unde dubium non est, unius iniuriam são um de tal modo que não duvidemos que são
omnium esse contumeliam, quia unius laus ad om- também três; são três de tal modo que professamos
nium pertinet gloriam. que não se podem separar entre si. Pelo que não há
dúvida de que a injúria a um é insulto a todos, já
que o louvor de um concerne à glória de todos.
“Hoc enim fidei nostrae secundum evangelicam “Isto é, pois, o ponto principal de nossa fé segun-
et apostolicam doctrinam principale est, Dominum do a doutrina evangélica e apostólica: que Jesus Cris-
nostrum Iesum Christum et Dei Filium a Patre nec to, Senhor nosso e Filho de Deus, não se separa do
honoris confessione, nec virtutis potestate, nec subs- Pai, nem pelo reconhecimento da honra, nem pelo
tantiae divinitate, nec intervallo temporis separari”1. poder da força, nem pela divindade da substância,
Et ideo si quis Filium Dei, qui sicut vere Deus, ita nem pela diferença de tempo”1. E por isso, se alguém
verus homo absque peccato dumtaxat, vel de hu- diz que o Filho de Deus, que é tão verdadeiramente
manitate aliquid vel deitate minus dicit habuisse, Deus como é verdadeiro homem, porém sem peca-
profanus et alienus ab Ecclesia catholica atque apos- do, tenha tido alguma coisa a menos quanto à huma-
tolica iudicandus est. nidade ou quanto à divindade, deve ser considerado
ímpio e estranho à Igreja católica e apostólica.
*74 1 Hilário de Poitiers, De synodis 61 (PL 10, 522). Mas no lugar de “substantiae divinitate” (“pela divindade da substân-
cia”) lê-se aí: “substantiae diversitate” (“pela diversidade da substância”).
40
que [quis] integram inviolatamque servaverit, abs- guém não a conservar íntegra e inviolada, sem dú-
que dubio in aeternum peribit. vida perecerá para sempre.
(3) Fides autem catholica haec est, ut unum Deum (3) A fé católica é que veneremos um só Deus na
in T r i n i t a t e , et Trinitatem in unitate veneremur, T r i n d a d e e a Trindade na unidade, (4) não con-
(4) neque confundentes personas, neque substan- fundindo as pessoas, nem separando a substância;
tiam separantes: (5) alia est enim persona Patris, (5) pois uma é a pessoa do Pai, outra a [pessoa] do
alia [persona] Filii, alia [persona] Spiritus Sancti; Filho, outra a [pessoa] do Espírito Santo; (6) mas
(6) sed Patris et Filii et Spiritus Sancti una est divi- uma só é a divindade do Pai e do Filho e do Espí-
nitas, aequalis gloria, coaeterna maiestas. rito Santo, igual a glória, coeterna a majestade.
(7) Qualis Pater, talis Filius, talis [et] Spiritus (7) Qual o Pai, tal o Filho, [e] tal o Espírito San-
Sanctus: (8) increatus Pater, increatus Filius, increa- to: (8) incriado o Pai, incriado o Filho, incriado o
tus Spiritus Sanctus; (9) immensus [inmensus] Pa- Espírito Santo; (9) incomensurável o Pai, incomen-
ter, immensus Filius, immensus Spiritus Sanctus; surável o Filho, incomensurável o Espírito Santo;
(10) aeternus Pater, aeternus Filius, aeternus Spiri- (10) eterno o Pai, eterno o Filho, eterno o Espírito
tus Sanctus; (11) et tamen non tres aeterni, sed unus Santo; (11) e, no entanto, não três eternos, mas um
aeternus; (12) sicut non tres increati nec tres immen- só eterno; (12) como também não três incriados nem
si, sed unus increatus [inmensus] et unus immensus três incomensuráveis, mas um só incriado [inco-
[increatus]. (13) Similiter omnipotens Pater, omni- mensurável] e um só incomensurável [incriado]. (13)
potens Filius, omnipotens Spiritus Sanctus; (14) et Semelhantemente, onipotente o Pai, onipotente o
tamen non tres omnipotentes, sed unus omnipotens. Filho, onipotente o Espírito Santo; (14) e, no entan-
(15) Ita Deus Pater, Deus Filius, Deus Spiritus Sanc- to, não três onipotentes, mas um só onipotente. (15)
tus; (16) et tamen non tres Dii, sed unus Deus. (17) Assim Deus o Pai, Deus o Filho, Deus o Espírito
Ita Dominus Pater, Dominus Filius, Dominus Spi- Santo; (16) e, no entanto, não três deuses, mas um
ritus Sanctus; (18) et tamen non tres Domini, sed só Deus. (17) Assim Senhor o Pai, Senhor o Filho,
unus est [–!] Dominus: (19) quia, sicut singillatim Senhor o Espírito Santo, (18) e, no entanto, não três
unamquamque personam [et] Deum ac [et] Domi- Senhores, mas um só é [–!] o Senhor: (19) pois,
num confiteri christiana veritate compellimur, (20) como somos obrigados pela verdade cristã a pro-
ita tres Deos aut Dominos dicere catholica religio- fessar cada pessoa em sua singularidade como Deus
ne prohibemur. e Senhor, (20) assim a religião católica nos proíbe
falar de três Deuses ou Senhores.
(21) Pater a nullo est factus nec creatus nec geni- (21) O Pai não foi feito por ninguém, nem criado
tus; (22) Filius a Patre solo est, non factus nec crea- nem gerado; (22) o Filho é só pelo Pai, nem feito
tus, sed genitus; (23) Spiritus Sanctus a Patre et Filio, nem criado, mas gerado; (23) o Espírito Santo <é>
non factus nec creatus nec genitus, sed procedens. do Pai e do Filho, nem feito, nem criado, nem ge-
(24) Unus ergo Pater, non tres Patres; unus Filius, rado, mas procedente. (24) Portanto, um só Pai, não
non tres Filii; unus Spiritus Sanctus, non tres Spiri- três Pais; um só Filho, não três Filhos; um só Espí-
tus Sancti. (25) Et [–!] in hac Trinitate nihil prius rito Santo, não três Espíritos Santos. (25) E [–!] nesta
aut posterius, nihil maius aut minus, (26) sed totae Trindade nada é antes ou depois, nada maior ou
tres personae coaeternae sibi sunt et coaequales. (27) menor, (26) mas todas as três pessoas são entre si
Ita ut per omnia, sicut iam supra dictum est, et unitas coeternas e coiguais. (27) De modo que, em tudo,
in Trinitate et Trinitas in unitate [Trinitas in unitate como já foi dito acima, deve ser venerada e a uni-
et unitas in Trinitate] veneranda sit. (28) Qui vult dade na Trindade e a Trindade na unidade [a Trin-
ergo salvus esse, ita de Trinitate sentiat. dade na unidade e a unidade na Trindade]. (28)
Quem, pois, quiser ser salvo pense assim a respeito
da Trindade.
(29) Sed necessarium est ad aeternam salutem, (29) Mas é necessário para a salvação eterna que 76
ut i n c a r n a t i o n e m quoque Domini nostri Iesu também creia fielmente na e n c a r n a ç ã o de nosso
Christi fideliter credat. (30) Est ergo fides recta, ut Senhor Jesus Cristo. (30) É, portanto, reta fé que
credamus et confiteamur, quia Dominus noster Iesus creiamos e professemos que nosso Senhor Jesus
Christus Dei Filius [et] Deus [pariter] et homo est: Cristo, o Filho de Deus, é Deus e homem [tanto
(31) Deus est ex substantia Patris ante saecula ge- Deus como igualmente homem]: (31) é Deus gera-
nitus, et homo est ex substantia matris in saeculo do antes dos séculos da substância do Pai, e é ho-
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natus; (32) perfectus Deus, perfectus homo ex ani- mem nascido no século da substância da mãe; (32)
ma rationali [rationabili] et humana carne subsis- perfeito Deus, perfeito homem, subsistente de alma
tens; (33) aequalis Patri secundum divinitatem, racional [dotada de razão] e carne humana; (33)
minor Patre secundum humanitatem; (34) qui, licet igual ao Pai segundo a divindade, inferior ao Pai
Deus sit et homo, non duo tamen, sed unus est segundo a humanidade; (34) ele, apesar de ser Deus
Christus; (35) unus autem non conversione divini- e homem, contudo não é dois mas um só Cristo;
tatis in carnem [carne], sed assumptione humanita- (35) um só, porém não pela transformação da divin-
tis in Deum [Deo]; (36) unus omnino, non confu- dade em carne [na carne], mas pela assunção da
sione substantiae, sed unitate personae. (37) Nam humanidade em Deus; (36) absolutamente um só,
sicut anima rationalis [rationabilis] et caro unus est não por confusão da substância mas pela unidade
homo, ita Deus et homo unus est Christus. (38) Qui da pessoa. (37) Pois, como o homem uno é alma
passus est pro salute nostra, descendit [discendit] racional [dotada de razão] e carne, assim o Cristo
ad inferos, tertia die resurrexit [surrexit] a mortuis, uno é Deus e homem. (38) Ele padeceu pela nossa
(39) ascendit ad caelos, sedet [sedit] ad dexteram salvação, desceu aos infernos, ao terceiro dia [–!]
Patris, inde venturus est [–!] iudicare vivos et mor- ressurgiu dos mortos, (39) subiu aos céus, está sen-
tuos. (40) Ad cuius adventum omnes homines re- tado [sentou-se] à direita do Pai, de onde virá para
surgere habent cum [in] corporibus suis, et redditu- julgar os vivos e os mortos. (40) À sua vinda, todos
ri sunt de factis propriis rationem; (41) et qui bona os homens devem ressuscitar com [em] seus corpos
egerunt, ibunt in vitam aeternam, qui vero [–!] mala, e hão de prestar contas de suas ações; (41) e os que
in ignem aeternum. fizeram o bem irão para a vida eterna, aqueles, po-
rém [–!], que <fizeram> o mal, para o fogo eterno.
(42) Haec est fides catholica: quam nisi quisque (42) Esta é a fé católica: se alguém não crer nela
[quis] fideliter firmiterque crediderit, salvus esse non fiel e firmemente, não poderá ser salvo.
poterit.
42
Segunda parte
DOCUMENTOS DO MAGISTÉRIO DA IGREJA
Não se consegue estabelecer com precisão o período do pontificado de alguns Papas, sobretudo nos séculos I-III
e IX-X, por causa da escassez de fontes. Indicamos a duração dos pontificados principalmente com base nos autores L.
Duchesne, Th. Mommsen, Ph. Jaffé e F.X. Seppelt. Consideramos também hipóteses mais recentes e apontamos pro-
váveis divergências. Foi comparado o Annuario Pontificio, desde 1949 provido, por A. Mercato, de um elenco dos Papas
corrigido em relação às edições anteriores.
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(c. 42, n. 1) Oi4 a3po1stoloi h4mi9n ey3hggeli1suhsan (Cap. 42, n. 1) Os apóstolos nos anunciaram o
a3po2 toy9 Kyri1oy 3Ihsoy9 Xristoy9, 3Ihsoy9w o4 Xristo2w evangelho da parte do Senhor Jesus Cristo; Jesus, o
a3po2 toy9 Ueoy9 e3jepe1mfuh. (2) 4O Xristo2w oy0n a3po2 Cristo, foi enviado por Deus. (2) O Cristo, portan-
toy9 Ueoy9, kai2 oi4 a3po1stoloi a3po2 toy9 Xristoy9= to, foi mandado por Deus, e os Apóstolos pelo Cris-
e3ge1nonto oy0n a3mfo1tera ey3ta1ktvw e3k uelh1matow to; as duas coisas aconteceram, pois, ordenadamen-
Ueoy9. (3) Paraggeli1aw oy0n labo1ntew kai2 plhro- te, segundo a vontade de Deus. (3) Os apóstolos,
forhue1ntew dia2 th9w a3nasta1sevw toy9 Kyri1oy h4mv9n portanto, tendo recebido as instruções, plenamente
3Ihsoy9 Xristoy9 kai2 pistvue1ntew e3n tö9 lo1gö toy seguros graças à ressurreição de nosso Senhor Je-
Ueoy9, meta2 plhrofori1aw pney1matow a4gi1oy e3jh9luon sus Cristo e confirmados na fé pela palavra de Deus,
ey3aggelizo1menoi, th2n basilei1an toy9 Ueoy9 me1llein partiram, com a plenitude do Espírito Santo, para
e5rxesuai. (4) Kata2 xv1raw oy0n kai2 po1leiw khry1s- anunciar a boa-nova de que o reino de Deus estava
sontew kaui1stanon ta2w a3parxa2w ay3tv9n, doki- para chegar. (4) Então, pregando por regiões e cida-
ma1 s antew tö9 pney1 m ati, ei3 w e3 p isko1 p oyw kai2 des, iam estabelecendo as suas primícias como bis-
diako1noyw tv9n mello1ntvn pistey1ein. pos e diáconos daqueles que haveriam de crer, de-
pois de os provarem no Espírito.
ZEFERINO: 198(199?)-217
105: Declarações dogmáticas de Zeferino e Calisto
São apresentadas numa argumentação contra Calisto por parte de Hipólito de Roma, na sua obra (atribuída, na PG,
erroneamente a Orígenes de Alexandria) Philosophumena ou Refutatio omnium haeresium IX 11, escrita depois de 222.
Alguns atribuem a segunda declaração, “Não morreu o Pai…”, não a Calisto, mas a Zeferino. Porque as palavras de
Zeferino, como estão transcritas, demonstram grande semelhança com a profissão de fé modalista, pela qual foi conde-
nado Noeto de Esmirna (ca. 200), alguns colocam em discussão a sua autenticidade.
Ed.: P. Wendland, Hippolytus 3 (GChSch; Leipzig 1916) 2461-4 / PG 16 (III), 3380A.
44
O Verbo encarnado
Ay3to2n de2 to2n Zefyri9non [Ka1llistow] proa1gvn [Calisto] levou o próprio Zeferino a dizer aberta- 105
dhmosi1ä e5peiue le1gein= “ 3Egv2 oi0da e7na Ueo2n mente ao povo: “Eu só conheço um único Deus,
Xristo2n 3Ihsoy9n, kai2 plh2n ay3toy9 e7teron oy3de1na Jesus Cristo, e fora dele nenhum outro, que tenha
genhto2n kai2 pauhto1n”. pote2 de2 [Ka1llistow] le1gvn= sido gerado e passível”, mas então, dizendo: “Não
“Oy3x o4 Path2r a3pe1uanen, a3lla2 o4 Yi4o1w”. oy7tvw morreu o Pai, mas o Filho”, [Calisto] manteve as-
a5payston th2n sta1sin e3n tö9 laö9 dieth1rhsen. sim no povo uma discórdia infindável.
109: Carta “ 7Ina de2 gnö9w”, ao bispo Fábio de Antioquia, ano 251
Fragmento de uma carta perdida, conservado por Eusébio de Cesaréia, Historia Ecclesiae VI 43, 11.
Ed.: E. Schwartz, Eusebius Werke 2: Kirchengeschichte (GChSch) 61813-19 / PL 3, 765AB / PG 20, 621A / Routh
3, 23s. – Reg.: JR 106, com acréscimo.
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46
Patris et Filii et Spiritus Sancti. … dicunt eum qui nomes do Pai, do Filho e do Espírito Santo. …
quomodocumque foris baptizatur, mente et fide sua <eles> dizem que aquele que é batizado fora, do
baptismi gratiam consequi posse. modo que for, pode obter, por sua disposição inter-
na e sua fé, a graça do batismo.
(c. 17) … Stephanus, qui per successionem ca- (Cap. 17) … Estêvão, que proclama ocupar a cá-
thedram Petri habere se praedicat, nullo adversus tedra de Pedro por sucessão, não é movido por zelo
haereticos zelo excitatur, concedens illis non modi- algum contra os hereges, pois concede-lhes não um
cam, sed maximam gratiae potestatem, ut dicat eos modesto, mas o maior poder sobre a graça, dizendo
et adseveret per baptismi sacramentum sordes veteris e garantindo que, por meio do sacramento do batis-
hominis abluere, antiqua mortis peccata donare, mo, eles lavam as sujeiras do homem velho, per-
regeneratione caelesti filios Dei facere, ad aeternam doam os antigos pecados de morte, fazem filhos de
vitam divini lavacri sanctificatione reparare. Deus mediante a regeneração celeste e, com a san-
tificação da purificação divina, reabilitam para a
vida eterna.
Trindade e encarnação
(c. 1) 4Ejh9w d’ a6n ei3ko1tvw le1goimi kai2 pro2w (Cap. 1) Com todo direito, falarei a seguir tam- 112
toy2w diairoy9ntaw kai2 katate1mnontaw kai2 a3nai- bém contra aqueles que dividem, laceram e esva-
roy9ntaw to2 semno1taton kh1rygma th9w e3kklhsi1aw ziam em três forças indeterminadas, três hipóstases
toy9 Ueoy9, th2n monarxi1an, ei3w trei9w dyna1meiw tina2w e divindades separadas o anúncio mais venerando
kai2 memerisme1naw y4posta1seiw kai2 ueo1thtaw trei9w= da Igreja de Deus, a monarquia <de Deus>. De fato,
pe1pysmai ga2r ei0nai1 tinaw tv9n par’ y4mi9n kathxoy1n- fiquei sabendo que alguns dentre os que catequizam
tvn kai2 didasko1ntvn to2n uei9on lo1gon tay1thw e ensinam a palavra divina conduzem a essa opi-
y4fhghta2w th9w fronh1sevw= oi8 kata2 dia1metron, v4w nião, colocando-se, por assim dizer, em posição dia-
e5pow ei3pei9n, a3nti1keintai tü9 Sabelli1oy gnv1mü= o4 metralmente oposta à convicção de Sabélio. Este,
me2n ga2r blasfhmei9 ay3to2n to2n yi4o2n ei0nai le1gvn com efeito, blasfema dizendo que o próprio Filho é
to2n pate1ra, kai2 e5mpalin= oi4 de2 trei9w ueoy2w tro1pon o Pai e vice-versa, aqueles, por sua vez, anunciam
tina2 khry1ttoysin, ei3w trei9w y4posta1seiw je1naw em certo modo três deuses dividindo a santa Unida-
a3llh1lvn panta1pasi kexvrisme1naw diairoy9ntew de em três hipóstases de todo separadas, estranhas
th2n a4gi1an mona1da= h4nv9suai ga2r a3na1gkh tö9 Ueö9 uma à outra. É, de fato, necessário que o Verbo di-
tv9n o7lvn to2n uei9on lo1gon, e3mfiloxvrei9n de2 tö9 vino seja unido ao Deus de todas as coisas; e <é
Ueö9 kai2 e3ndiaita9suai dei9 to2 a7gion pney9ma= h5dh necessário> que o Espírito Santo permaneça e con-
kai2 th2n uei1an tria1da ei3w e7na, v7sper ei3w koryfh1n tinue morando sempre em Deus. É, pois, absoluta-
tina, to2n Ueo2n tv9n o7lvn to2n pantokra1tora le1gv, mente necessário que também a divina Trindade seja
sygkefalaioy9suai1 te kai2 syna1gesuai pa9sa recapitulada e reunida em um só, como que num
a3na1gkh. Marki1vnow ga2r toy9 mataio1fronow di1da- ápice, quero dizer, no Deus do universo, o Onipo-
gma ei3w trei9w a3rxa2w th9w monarxi1aw tomh2 kai2 tente. O ensinamento, portanto, de Marcião, <ho-
diai1resiw, pai1deyma o6n diaboliko1n, oy3xi2 de2 tv9n mem> de mente vazia, recorta e divide a monarquia
o5ntvw mauhtv9ntoy9 Xristoy9 kai2 tv9n a3reskome1nvn em três princípios; é um ensinamento diabólico, não
toi9w toy9 svth9row mauh1masin. Oyßtoi ga2r tria1da o dos verdadeiros discípulos de Cristo e daqueles
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me2n khryttome1nhn y4po2 th9w uei1aw grafh9w safv9w que se comprazem nos ensinamentos do Salvador.
e3pi1stantai, trei9w de2 ueoy2w oy5te palaia2n oy5te Estes, de fato, sabem claramente que a Trindade é
kainh2n diauh1khn khry1ttoysan. anunciada pela divina Escritura e que nem o Antigo
nem o Novo Testamento pregam três deuses.
113 (c. 2) Oy3 mei9on d’ a5n tiw katame1mfoito kai2 (Cap. 2) Não menos, porém, convém censurar
toy2w poi1hma to2n yi4o2n ei0nai doja1zontaw, kai2 aqueles que afirmam que o Filho seja uma produ-
gegone1nai to2n ky1rion v7sper e7n ti tv9n o5ntvw geno- ção e que julgam que o Senhor tenha sido origina-
me1nvn nomi1zontaw, tv9n uei1vn logi1vn ge1nnhsin do como qualquer das coisas que realmente vieram
ay3tö9 th2n a4rmo1ttoysan kai2 pre1poysan, a3ll’ oy3xi2 a ser, apesar de que as divinas palavras atestem a
pla1sin tina2 kai2 poi1hsin prosmartyroy1ntvn. Bla1- respeito dele uma geração como lhe corresponde e
sfhmon oy0n oy3 to2 tyxo1n, me1giston me2n oy0n, xeiro- convém, e não qualquer tipo de plasmação ou pro-
poi1hton tro1pon tina2 le1gein to2n ky1rion. Ei3 ga2r dução. Não é, portanto, uma blasfêmia qualquer, mas
ge1gonen yi4o1w, h0n o7te oy3k h0n= a3ei2 de2 h0n, ei5 ge e3n a maior, dizer que o Senhor tenha sido feito de al-
tö9 patri1 e3stin, v4w ay3to1w fhsi [Io 14,10s], kai2 gum modo com as mãos. Se, de fato, o Filho foi
ei3 lo1gow kai2 sofi1a kai2 dy1namiw o4 Xristo1w, tay9ta originado, houve um tempo em que não era; ora,
ga2r ei0nai to2n Xristo2n ai4 uei9ai le1goysi grafai1 ele sempre existiu, se, como ele mesmo diz, está no
[Io 1,14; 1 Cor 1,24], v7sper e3pi1stasue, tay9ta de2 Pai [Jo 14,10s] e se o Cristo é a palavra, a sabedo-
dyna1meiw oy0sai toy9 Ueoy9 tygxa1noysin. Ei3 toi1nyn ria e a força – que o Cristo seja isto, como sabeis, o
ge1gonen o4 yi4o1w, h0n o7te oy3k h0n tay9ta= h0n a5ra dizem as divinas Escrituras [Jo 1,14; 1Cor 1,24] –;
kairo1w, o7te xvri2w toy1tvn h0n o4 Ueo1w= a3topv1taton ora, essas são forças de Deus. Se, pois, o Filho veio
de2 toy9to. a ser, houve um tempo em que não era, houve tam-
bém um tempo em que Deus existia sem essas <for-
ças>, o que é totalmente absurdo.
114 Kai2 ti1 a6n e3pi2 ple1on peri2 toy1tvn pro2w y4ma9w E que deveria eu argumentar mais ainda acerca
dialegoi1mhn, pro2w a5ndraw pneymatofo1royw kai2 disso junto de vós, homens cheios de Espírito, que
safv9w e3pistame1noyw ta2w a3topi1aw ta2w e3k toy9 sabeis claramente os absurdos que brotam da afir-
poi1hma le1gein to2n yi4o2n a3nakyptoy1saw; Aißw moi mação de que o Filho é uma produção? Parece-me
dokoy9si mh2 prosesxhke1nai to2n noy9n oi4 kauhgh- que não atentaram para esses <absurdos> aqueles
sa1menoi th9w do1jhw tay1thw, kai2 dia2 toy9to komidü9 que introduziram tal opinião e que, por isso, falta-
toy9 a3lhuoy9w dihmarthke1nai, e4te1rvw h6 boy1letai ram inteiramente à verdade, porque entenderam de
tay1tü h4 uei1a kai2 profhtikh2 grafh2 to2 “ky1riow outro modo o que a Escritura divina e profética
e5ktise1 me a3rxh2n o4dv9n ay3toy9” [Prv 8,22: Septg.] pretende <com a frase>: “O Senhor me criou como
e3kdeja1menoi. Oy3 mi1a ga2r h4 toy9 “e5ktisen”, v4w início do seu caminho” [Pr 8,22 Septg.]. De fato,
i5ste, shmasi1a. “ E 5 ktise” ga2r e3ntay9ua a3koyste1on como sabeis, não é um só o significado de “criou”.
a3nti2 toy9 “e3pe1sthse toi9w y4p’ ay3toy9 gegono1sin “Criou” aqui é para se entender no sentido de “pôs
e5rgoiw”, gegono1si de2 di’ ay3toy9 toy9 yi4oy9. Oy3xi2 de1 à frente das obras feitas por ele”, feitas por meio
ge to2 “e5ktise” ny9n le1goit’ a6n e3pi2 toy9 “e3poi1hse”. do mesmo Filho. “Criou” não se diz aqui no senti-
Diafe1rei ga2r toy9 “poih9sai” to2 “kti1sai”. “Oy3k do de “fez”. “Criar”, de fato, é distinto de “fazer”.
ay3to2w oyßto1w soy path2r e3kth1sato1 se, kai2 e3poi1hse1 “Não é ele teu Pai, que te adquiriu, te fez e te
se kai2 e5ktise1 se;” [Dt 32,6: Septg.] tü9 e3n tö9 criou?” [Dt 32,6 Septg.], diz Moisés no grande
deyteronomi1ö mega1lü v3dü9 o4 Mvsh9w fhsi. Pro2w cântico do Deuteronômio. A eles alguém também
oy8w kai2 ei5poi a5n tiw= 3V r4icoki1ndynoi a5nurvpoi, pode dizer: Ó homens temerários, é <por acaso>
poi1hma “o4 prvto1tokow pa1shw kti1sevw” [Col 1,15], uma produção “o primogênito de toda a criação?”
“o4 e3k gastro2w pro2 e4vsfo1roy gennhuei1w” [Ps 109,3: [Cl 1,15], “que foi gerado do seio antes do astro da
Septg.], o4 ei3pv2n v4w sofi1a, “pro2 de2 pa1ntvn boynv9n manhã” [Sl 110,3 Septg.], e que, como Sabedoria,
gennä9 me” [Prv 8,25: Septg.]; Kai2 pollaxoy9 de2 diz: “Gerou-me antes de todas as colinas” [Pr 8,25
tv9n uei1vn logi1vn gegennh9suai, a3ll’ oy3 gegone1nai Septg.]? Também em muitas outras passagens das
to2n yi4o2n lego1menon ey7roi tiw a5n. 4Yf’ vßn katafa- palavras divinas se pode encontrar escrito que o
nv9w e3le1gxontai ta2 cey1dh peri2 th9w toy9 kyri1oy Filho foi gerado, mas não que foi feito. Por estas
gennh1sevw y4polamba1nontew, oi4 poi1hsin ay3toy9 th2n razões, estão manifestamente refutados os que fa-
uei1an kai2 a5r3r4hton ge1nnhsin le1gein tolmv9ntew. lam mentira a respeito da geração do Senhor, os
48
Indissolubilidade do matrimônio
Can. 9. Item femina fidelis, quae adulterum ma- Cân. 9. Igualmente, se uma mulher crente tiver 117
ritum reliquerit fidelem et alterum ducit, prohibea- deixado o marido adúltero, <igualmente> crente, e
tur ne ducat; si duxerit, non prius accipiat commu- esposar um outro, deve ser proibida de esposá-lo;
nionem, nisi quem reliquerit prius de saeculo exierit; se <contudo> o esposar, não receba a comunhão
nisi forte necessitas infirmitatis dare compulerit. antes que aquele que ela deixou tiver passado deste
mundo, a não ser que, eventualmente, a necessida-
de por causa de doença constranja a isso.
49
Batismo e crisma
120 Can. 38. Loco peregre navigantes aut si ecclesia Cân. 38. Ao viajar de navio numa região remota
in proximo non fuerit, posse fidelem, qui lavacrum ou afastada, ou se não houver igreja na vizinhança,
suum integrum habet nec sit bigamus, baptizare in um fiel que mantém íntegro seu batismo e não seja
necessitate infirmitatis positum catechumenum, ita bígamo pode batizar um catecúmeno que se encon-
ut, si supervixerit, ad episcopum eum perducat, ut tra em estado urgente de enfermidade, com o com-
per manus impositionem perfici possit. promisso de que, se ele sobreviver, conduzi-lo ao
bispo para que mediante a imposição da mão possa
ser levado à perfeição.
121 Can. 77. Si quis diaconus regens plebem sine Cân. 77. Se um diácono dirigente do povo tiver
episcopo vel presbytero aliquos baptizaverit, epis- batizado alguém na ausência de bispo ou presbíte-
copus eos per benedictionem perficere debebit; quod ro, o bispo deverá levá-lo à perfeição mediante a
si ante de saeculo recesserint, sub fide, qua quis bênção; e se tiver migrado do mundo antes disso,
credidit, poterit esse iustus. poderá, em virtude da fé com que acreditou, estar
entre os justos.
50
Entre as traduções latinas do Símbolo sobressaem por antiguidade as versões de Hilário de Poitiers, das quais vem
aqui apresentada, ao lado do texto grego, a que consta da obra De Synodis 84 (PL 10, 36A) (incluído o anatematismo).
Ed.: [t e x t o g r e g o ] I. Ortiz de Urbina, El simbolo Niceno (Madrid 1947) 21s / idem, in: OrChrPer 2(1936) 342s
/ H.G. Opitz, Athanasius Werke 2/I (Berlin-Leipzig 1935) 30 36s / G.L. Dossetti, Il simbolo di Nicea e di Constantinopoli
(Testi e ricerche di scienze religiose 2; Roma 1967) 222-237 / Hn § 142 / MaC 2, 665C-E (cf. 6, 688B) / COeD3 52-19
/ Kelly 215f / Ltzm 26s. – [v e r s ã o l a t i n a ] As outras traduções de Hilário de Poitiers (exceto a supra citada), ver A.
Feder: CSEL 65, 150 / a maior parte das traduções colhidas das coleções dos cânones, in Turner 1/I/II (1904) 106-109
[= as mais antigas]; 1/II/1 (1913) 297-319 [= as posteriores]; ibid. 320-324: rico elenco das variantes.
[Recensio graeca] [Recensio latina] [Versão grega] [Versão latina] 125
Pistey1 o men ei3 w e7 n a Credimus in unum Deum, Cremos em um só Deus, Cremos em um só Deus,
Ueo1n, pate1ra pan- Patrem omnipten- Pai onipotente, ar- Pai onipotente, ar-
tokra1tora, pa1ntvn tem, omnium visi- tífice de todas as tífice de todas as
o4 r atv9 n te kai2 bilium et invisibi- coisas visíveis e in- coisas visíveis e in-
a3ora1tvn poihth1n, lium factorem. visíveis. visíveis.
kai2 ei3 w e7 n a ky1 r ion Et in unum Dominum E em um só Senhor Je- E em um só nosso Se-
I3 hsoy9 n Xristo1 n , nostrum Iesum Chris- sus Cristo, o Filho nhor Jesus Cristo,
to2n yi4on2 toy9 Ueoy9, tum Filium Dei, de Deus, Filho de Deus,
gennhue1nta e3k toy9 natum ex Patre unige- gerado unigênito do nascido unigênito do
Patro2w monogenh9, nitum, hoc est de Pai, isto é, da subs- Pai, isso é, da subs-
toyte1stin e3k th9w substantia Patris, tância do Pai, Deus tância do Pai, Deus
oy3 s i1 a w toy9 Pa- Deum ex Deo, lu- de Deus, luz da luz, de Deus, luz da luz,
tro1w, Ueo2n e3k Ueoy9, men ex lumine, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro de
fv9w e3k fvto1w, Ueo2n Deum verum de Deus verdadeiro, Deus verdadeiro,
a3lhuino2n e3k Ueoy Deo vero, natum, gerado, não feito, nascido, não feito,
a3lhuinoy9, gennh- non factum, unius consubstancial ao de uma só substân-
ue1nta oy3 poihue1n- substantiae cum Pai, por meio do cia com o Pai (o
ta, o4mooy1sion tö9 Patre (quod graece qual vieram a ser que em grego se diz
patri1, di’ oyß ta2 dicunt homousion), todas as coisas, homoousion); por
pa1nta e3ge1neto, ta1 per quem omnia tanto no céu como meio do qual foram
te e3n tö9 oy3ranö9 facta sunt, quae in na terra; feitas todas as coi-
kai2 ta2 e3n tü9 gü9, caelo et in terra, sas que <há> no
céu e as na terra;
to2n di’ h4ma9w toy2w qui propter nostram o qual, por causa de o qual, por causa de
a3 n urv1 p oyw kai2 salutem descendit, nós homens e da nossa salvação des-
dia2 th2n h4mete1ran incarnatus est et nossa salvação, ceu, se encarnou e
svthri1an katel- homo factus est et desceu e se encar- se fez homem, e
uo1nta kai2 sarkv- passus est, et resur- nou, se humanou, padeceu, e ressus-
ue1nta, e3nanurvph1- rexit tertia die, et padeceu, e ressus- citou ao terceiro
santa, pauo1 n ta, ascendit in caelos, citou ao terceiro dia, e subiu aos
kai2 a3nasta1nta tü9 venturus iudicare dia, [e] subiu aos céus, havendo de
tri1tü h4me1rä, [kai2] vivos et mortuos. céus, havendo de vir julgar os vivos
a3neluo1nta ei3w toy2w vir julgar os vivos e os mortos.
oy3ra-noy1w, e3rxo1me- e os mortos;
non kri9nai zv9ntaw e no Espírito Santo. E no Espírito Santo.
kai2 nekroy1w, 126
Toy2w de2 le1gontaw= “h0n Eos autem, qui dicunt Aqueles, porém, que di- Aqueles, porém, que di-
pote o7te oy3k h0n”, kai2 “Erat, quando non erat’’ zem: “Houve um tempo zem: “Houve um tempo
“pri2n gennhuh9nai oy3k et “Antequam nasce- em que não era”, e: “An- em que não era” e: “An-
h0n” kai2 o7ti e3j oy3k o5n- retur, non erat’’ et tes de ser gerado não tes que nascesse não
tvn e3ge1neto, h6 e3j e4te1raw “Quod de non exstanti- era”, e que veio a ser do era”, e que foi feito do
y4posta1sevw h6 oy3si1aw bus factus est’’ vel ex que não é, ou que dizem que não era, ou que di-
fa1skontaw ei0nai h6 ktis- alia substantia aut es- ser o Filho de Deus de zem ser de outra subs-
to2n [–!] h6 trepto2n h6 sentia dicentes aut con- uma outra hipóstase ou tância ou essência, ou
51
a3lloivto2n to2n yi4on2 toy9 vertibilem aut demuta- substância ou criado que Deus é mutável ou
Ueoy9, a3nauemati1zei h4 bilem Deum, hos ana- [–!], ou mutável ou alte- alterável, a eles anatema-
kauolikh2 e3kklhsi1a. thematizat catholica rável, <a eles> anatema- tiza a Igreja católica.
Ecclesia. tiza a Igreja católica.
127-129: Cânones
Ed.: Bruns 1, 16 19 18 / HaC 1, 326D-330B (cf. 431E-326A) / MaC 2, 672B-673D (cf. 896 900 904) / COeD3 927-
1237 / [textos latinos:] Turner 1/I/II (1904) 122-133 [= coleções mais antigas]; 262 267 272 [= coleção de Dionísio, o
Pequeno] / PL 56, 827C-830A. – Segue aqui a versão de Dionísio.
[ad 128a:] A um castrado (eunuco) era vetado o acesso à “reunião do Senhor” já em Dt 23,2. Mas, como na
Escritura é mencionado que Cristo louva os eunucos que se fizeram tais pelo reino dos Céus (Mt 19,12), e numa outra
passagem recomenda a automutilação (“Se… te escandaliza, corta-o…”, Mt 5,27s; 18,8s; par.), poderia parecer estranho
condenar e proibir um ato deste tipo feito com a melhor das intenções. Houve quem entendesse as palavras de Cristo
literalmente e aprovasse a castração: a seita dos valesianos, a crer em Epifânio de Salamina (Panarion haeresium 58,
1, ed. K. Holl [GChSch] 2, 358 / PG 41, 1009D-1001C; repetido por Agostinho, De haeresibus 37, ed. R. Vander Plaetse
– C. Beukers: CpChL H6 [1969] 306 / PL 42, 32). É também sabido que Orígenes de Alexandria, quando ainda jovem,
se castrou (Eusébio de Cesaréia, Historia ecclesiae, VI, 8, ed. E. Schwartz (GChSch) 2/II, 534 / PG 20, 537AB). O
cânon 1 de Nicéia parece ser a primeira proibição eclesiástica da castração. O pseudepígrafo Canones Apostolorum, que
aborda nos cânones 21-24 esta temática (Turner 1/I/I, 17s / Bruns 1, 3s), não data de antes do fim do séc. IV. Cf. uma
coleção de semelhantes proibições em Graciano, Decretum, p. I, dist. 55, c. 4-5 7-9 (Frdb 1, 216s).
Porque o problema da castração e da mutilação faz vir à tona a questão sobre o direito de dispor do próprio corpo,
citam-se aqui algumas palavras de Pio XII, em que sublinha o princípio da totalidade, que neste caso se deve aplicar
(Alocução aos participantes do I Congresso internacional de histopatologia do sistema nervoso, 13 set. 1952: AAS 44
[1952] 782): “Visto que ele (o paciente ) é usuário, mas não proprietário, não tem poder ilimitado para realizar atos de
destruição ou mutilação de caráter anatômico ou funcional. Em virtude, porém, do princípio da totalidade, do seu direito
de uso dos serviços do organismo como um todo, pode dispor de cada parte no sentido de destruí-la ou de mutilá-la,
no caso e na medida em que for necessário para o bem do homem em seu conjunto, para garantir a sua existência ou
para evitar e, naturalmente, reparar danos permanentes, que não poderiam ser descartados nem reparados de outro
modo”. (“Parce qu’il [le patient] est usufruitier et non propriétaire, il n’a pas un pouvoir illimité de poser des actes de
destruction ou de mutilation de caractère anatomique ou fonctionnel. Mais, en vertu du principe de totalité, de son droit
d’utiliser les services de l’organisme comme un tout, il peut disposer des parties individuelles pour les détruire ou les
mutiler, lorsque et dans la mesure où c’est nécessaire pour le bien de l’être dans son ensemble, pour assurer son
existence, ou pour éviter, et naturellement pour réparer des dommages graves et durables, qui ne pourraient être autrement
ni écartés ni réparés.”)
52
Castração
a’. Ei5 tiw e3n no1sö y4po2 i3atrv9n e3xeiroyrgh1uh, 1. Se alguém foi mutilado pelos médicos por 128a
h6 y4po2 barba1rvn e3jetmh1uh, oyßtow mene1tv e3n tö9 ocasião de uma enfermidade ou castrado pelos bár-
klh1rö= ei3 de1 tiw y4giai1nvn e4ayto2n e3je1teme, toy9ton baros, pode permanecer no clero. Mas se alguém,
kai2 e3 n tö9 klh1 r ö e3 j etazo1 m enon pepay9 s uai estando em boa saúde, se castrou a si mesmo, um
prosh1kei, kai2 e3k toy9 dey9ro mhde1na tv9n toioy1tvn tal deve ser excluído da pertença ao clero; e a partir
xrh9nai prosa1gesuai= v7sper de2 toy9to pro1dhlon, de agora nenhum desses seja admitido. Ora, como
o7ti peri2 tv9n e3pithdeyo1ntvn to2 pra9gma kai2 evidentemente o que foi dito se refere àqueles que
tolmv1ntvn e4aytoy2w e4kte1mnein ei5rhtai= oy7tvw ei5 façam isso deliberadamente e ousem castrar-se a si
tinew y4po2 barba1rvn h6 despotv9n ey3noyxi1suhsan, mesmos, a regra admite ao clero quem tiver sido
ey4ri1skointo de2 a5llvw a5jioi, toy2w toioy1toywei3w feito eunuco pelos bárbaros ou pelos próprios pa-
klh9ron prosi1etai o4 kanv1n. trões, mas for digno sob os outros aspectos.
O erro de Ário
(c. 1, n. 2) Prv9ton me2n oy0n e3j a4pa1ntvn e3jeta1suh (Cap. 1, n. 2) Antes de tudo, pois, foi examinado
130
ta2 kata2 th2n a3se1beian kai2 th2n paranomi1anArei1 3 oy o que diz respeito à impiedade e ao delito de Ário
kai2 tv9n sy2n ay3tö9, … kai2 pamchfei2 e5dojen a3nau- e dos seus seguidores, … e unanimemente decidi-
ematisuh9nai th2n a3sebh9 ay3toy9 do1jan, kai2 ta2 mos anatematizar a sua ímpia doutrina e as expres-
r4hm1 ata kai2 ta2 o3no1mata ta2 bla1sfhma, oißw e3ke1xrhto sões blasfemas que empregava em suas blasfêmias
blasfhmv9n, to2n Yi4o2n toy9 Ueoy9 le1gvn e3j oy3k ao dizer que o Filho de Deus veio do nada e que
o5ntvn, kai2 ei0nai1 pote o7te oy3k h0n= kai2 ay3tejoysi- havia um tempo em que não era; e ao dizer que o
o1thti kaki1aw kai2 a3reth9w dektiko2n to2n Yi4o2n toy9 Filho de Deus por sua livre vontade era capaz do
Ueoy9 le1gontow, kai2 kti1sma kai2 poi1hma o3noma1zo- mal e da virtude, e ao chamá-lo de criatura e produ-
ntow, a7panta a3neuema1tisen h4 a4gi1a sy1nodow, oy3de2 to; tudo isso, o santo Sínodo anatematizou, não
o7son a3koy9sai th9w a3seboy9w do1jhw h6 a3ponoi1aw kai2 suportando sequer ouvir a ímpia doutrina ou desva-
tv9n blasfh1mvn r4hma1tvn a3nasxome1nh. rio, nem as palavras blasfemas.
53
O primado da Sé romana
132 (22) ... Ei3 ga2r kai2 o7lvw, v4w fate1, ge1gone1 ti ei3w (22) Se de todo, como dizeis, houve uma certa
ay3toy2w a4ma1rthma, e5dei kata2 to2n e3kklhsiastiko2n falta em relação a eles, o juízo devia acontecer se-
kano1na, kai2 mh2 oy7tvw gegenh9suai th2n kri1sin. gundo o cânon eclesiástico e não desse modo. De-
5Edei grafh9nai pa9sin h4mi9n, i7na oy7tvw para2 via haver-se escrito a todos nós, para que fosse as-
pa1ntvn o4risuü9 to2 di1kaion= e3pi1skopoi ga2r h0san sim estabelecido por todos o que é justo. Os afeta-
oi4 pa1sxontew, kai2 oy3x ai4 tyxoy9sai e3kklhsi1ai ai4 dos, na verdade, eram bispos, e as Igrejas afetadas
pa1sxoysai, a3ll’ vßn ay3toi2 oi4 a3po1stoloi di’ não eram quaisquer, mas aquelas que os próprios
e4aytv9n kauhgh1santo. Dia2 ti1 de2 peri2 th9w Ale- 3 Apóstolos dirigiram pessoalmente. Por que motivo,
jandre1vn e3kklhsi1aw ma1lista oy3k e3gra1feto h4mi9n; principalmente no tocante à Igreja de Alexandria,
H
6 a3gnoei9te o7ti toy9to e5uow h0n, pro1teron gra1fesuai não foi escrito a nós? Por acaso ignorais que o cos-
h4mi9n, kai2 oy7tvw e5nuen o4ri1zesuai ta2 di1kaia; Ei3 tume era este: que se escreva primeiro a nós e daí
mh2n oy0n ti toioy9ton h0n y4popteyue2n ei3w to2n venha a ser estabelecido o que é justo? Se portanto
e3pi1skopon to2n e3kei9, e5dei pro2w th2n e3ntay9ua se suspeitava alguma coisa do gênero a respeito do
e3kklhsi1an grafh9nai. bispo de lá, devia haver-se escrito à Igreja daqui.
54
Quod si aliquis epis- Ei3 de2 a5ra tiw e3pi- Se um bispo tiver Se, porém, aparecer
copus iudicatus fuerit in sko1pvn e5n tini pra1g- sido julgado em deter- que um dos bispos em
aliqua causa, et putat mati do1jü katakri1nes- minada causa e achar determinada causa tenha
bonam causam habere, uai, kai2 y4polamba1nei que tem boas razões sido condenado, e ele
ut iterum iudicium reno- e4 a yto2 n mh2 sauro1 n , para pedir revisão do estiver convencido de ter
vetur, si vobis placet, a3lla2 kalo2n e5xein to2 julgamento, se vos pa- não uma causa débil, po-
sanctissimi Petri Apos- pra9gma, i7na kai2 ay0uiw recer bem, honremos a rém justa, de modo que
toli memoriam honore- h4 kri1siw a3nanevuü9 ei3 memória do santíssimo o veredicto possa ainda
mus: scribatur vel ab dokei9 y4mv9n tü9 a3ga1pü, Apóstolo Pedro: escre- ser renovado, se parecer
his, qui causam exami- Pe1troy toy9 a3posto1loy va-se, ou por parte da- bem à vossa caridade,
narunt, vel ab episcopis, th2n mnh1mhn timh1svmen, queles que examinaram honremos a memória do
qui in proxima provin- kai2 grafh9 n ai para2 a causa, ou dos bispos Apóstolo Pedro, e escre-
cia morantur, Romano toy1tvn tv9n krina1ntvn que residem na provín- va-se, por parte daqueles
episcopo; et si iudicave- [’Ioyli1ö]1 tö9 e3pisk1o- cia vizinha, ao bispo de que julgaram, a [Júlio,] 1
rit renovandum esse iu- pö ’Rv1mhw, v7ste dia2 Roma; e se ele julgar o bispo de Roma, para
dicium, renovetur, et det tv9 n geitniv1 n tvn tü9 necessária a revisão do que, se necessário, os
iudices. Si autem proba- e3parxi1ä e3piskopvn, ei3 julgamento, faça-se a bispos vizinhos daquela
verit talem causam esse, de1oi, a3nanevuh9nai to2 revisão, e que ele desig- província renovem o jul-
ut ea non refricentur dikasth1rion, kai2 e3pi- ne os juizes. Se, porém, gamento, e que ele de-
quae acta sunt, quae gnv1monaw ay3to2w para1s- provar que a causa é tal signe os árbitros. Se, po-
decreverit confirmata xoi. Ei3 de2 mh2 systh9nai que não se deve retomar rém, não puder compro-
erunt. Si hoc omnibus dy1natai, toioy9ton ay3- o que foi tratado, será var que sua causa é tal
placet? Synodus respon- toy9 ei0nai to2 pra9gma, confirmado o que tiver de merecer uma revisão,
dit: Placet. v4w palindiki1aw xrü9- sido estabelecido. Isto não seja derrogado o que
zein, ta2 a7paj kekrime1na parece bem a todos? O foi anteriormente julga-
mh2 a3naly1esuai, ta2 de2 sínodo responde: Pare- do, mas permaneça em
o5nta be1baia tygxa1nein. ce bem. vigor o que existe.
(Isid. 5) Gaudentius d’. Gayde1 n tiow (Isid. 5) O bispo Gau- 4. O bispo Gaudêncio 134
episcopus dixit: Adden- e3 p i1 s kopow ei0 p en= Ei3 dêncio disse: Se parecer disse: Se parecer bem, é
dum, si placet, huic sen- dokei9 , a3 n agkai9 o n bem, deve-se acrescen- necessário acrescentar a
tentiae, quam plenam prosteuh9nai tay1tü tü9 tar a esta sentença que esta sentença que ex-
sanctitatis protulistis: a3 p ofa1 s ei, h7 n tina tendes proferido cheia pressaste cheia de mani-
cum aliquis episcopus a3 g a1 p hw ei3 l ikrinoy9 w de santidade: se um bis- festa caridade: se um
depositus fuerit eorum plh1rh e3jenh1noxaw= v7ste po deposto pelo julga- bispo deposto pelo julga-
episcoporum iudicio, e3 a 1 n tiw e3 p i1 s kopow mento desses bispos que mento desses bispos dis-
qui in vicinis commo- kauaireuü9 tü9 kri1sei moram nas localidades ser que lhe cabe ainda
rantur locis, et procla- toy1tvn tv9n e3pisko1pvn vizinhas declarar querer uma vez a causa da de-
maverit agendum sibi fa1 s kü pa1 l in e4 a ytö9 que se lhe faça recurso fesa, não seja instalado
esse negotium in urbe a3 p ologi1 a w pra9 g ma na cidade de Roma, em na sua sé um outro, an-
Roma, alter episcopus e3pibalei9n, mh2 pro1teron caso algum, depois do tes que o bispo dos ro-
in eadem cathedra, post ei3w th2n kaue1dran ay3toy9 apelo do considerado manos, depois de delibe-
appellationem eius, qui e7teron y4pokatasth9nai, deposto, seja ordenado ração, tenha apresentado
videtur esse depositus, e3a2n mh2 o4 th9w 4Rvmai1vn no seu lugar outro bis- uma decisão.
omnino non ordinetur e3 p i1 s kopow e3 p ignoy2 w po na mesma sé, antes
loco ipsius, nisi causa peri2 toy1 t oy, o7 r on que sua causa seja deter-
fuerit iudicio Romani e3jene1gkü. minada pelo julgamen-
episcopi determinata. to do bispo de Roma.
([Can. 3b] Isid. 7) e’. 7Osiow e3pi1skopow ([Cân. 3b] Isid. 7) 5. O bispo Ósio dis- 135
Osius episcopus dixit: ei0pen= 5Hresen, i7na O bispo Ósio disse: Pa- se: Pareceu bem que:
receu bem, porém, que:
55
Placuit autem, ut, si ei5 tiw e3pi1skopow ka- se um bispo foi acu- se um bispo foi acu-
episcopus accusatus taggeluei1h, kai2 syn- sado, e os bispos da sado, e os bispos da
135
fuerit, et iudicaverint auroisue1 n tew oi4 sua região, reunidos, o sua região, reunidos,
congregati episcopi e3pi1skopoi th9w e3no- tiverem condenado e o tiverem removido
regionis ipsius, et de ri1aw th9w ay3th9w toy9 destituído de seu grau, de seu grau, e ele,
gradu suo deiecerint baumoy9 ay3to2n a3po- e se aparece que, fei- como apelante, se re-
eum, et appellasse kinhsvsin, kai v7s- to o apelo, ele se re- fugiou junto ao bea-
videatur, et confuge- per e3kkalesa1menow fugiou junto ao bea- tíssimo bispo da Igre-
rit ad beatissimum ec- katafy1gü e3pi2 maka- tíssimo bispo da Igre- ja dos romanos e
clesiae Romanae riv1 t aton th9 w R4 v- ja de Roma e quer ser <este> quiser ouvi-lo
episcopum et voluerit mai1 v n e3 k klhsi1 a w escutado, e <este> o e achar que seja jus-
audiri et iustum puta- e3pi1skopon, kai2 boy- julgar justo, seja reno- to, seja renovado o
verit, [ut] renovetur lhuei1n ay3toy9 dia- vado o exame: exame de sua causa,
examen; koy9sai, di1kaio1n te
ei0nai nomi1sü a3na-
nev1 s asuai aytoy9
th2 n e3 j e1 t asin toy9
pra1gmatow=
scribere his episcopis gra1fein toy1toiw toi9w ele se digne escrever ele se digne escrever aos
dignetur, qui in finitima e3pisko1poiw katajiv1sü, aos bispos na província bispos vizinhos daque-
et propinqua provincia toi9w a3gxistey1oysi tü9 contígua e próxima, la província, para que
sunt, [ut] ipsi diligenter e3 p arxi1 ä , i7 n a ay3 t oi2 para que eles examinem eles, com solicitude e
omnia requirant et iuxta e3 p imelv9 w kai2 meta2 tudo diligentemente e diligência, tudo inda-
fidem veritatis definiant. a3 k ribei1 a w e7 k asta tomem uma decisão se- guem e, segundo a cre-
diereynh1 s vsin kai2 gundo a credibilidade dibilidade da verdade,
kata2 th2n th9w a3lhuei1aw da verdade. apresentem uma sen-
pi1stin ch9fon peri2 toy9 tença sobre a causa.
pra1gmatow e3jene1gkvsin.
Quod si qui rogat Ei3 de1 tiw a3jioi9 kai2 Se, porém, alguém Se, porém, alguém
causam suam iterum pa1lin ay3toy9 to2 pra9gma pedir que sua causa seja julgar que sua causa
audiri et deprecatione a3 k oysuh9 n ai, kai2 tü9 ouvida de novo e com deva ser novamente ou-
sua moverit episcopum deh1sei tü9 e4aytoy9 to2n seu pedido induzir o vida e aparecer que por
Romanum, ut e latere R4 vmai1 v n e3 p i1 s kopon bispo de Roma a enviar seu pedido ele mover o
suo presbyterum mittat, kinei9n do1jü a3po2 toy9 um presbítero assessor bispo dos romanos a en-
erit in potestate episco- i3di1oy pleyroy9 presby- seu, estará no poder do viar presbíteros assesso-
pi, quid velit aut quid te1royw a3posteiloi= ei0- bispo o que quiser e o res seus, está no poder
aestimet: si decreverit nai e3n tü9 e3joysi1ä ay3- que julgar: se decretar do próprio bispo o que
mittendos esse, qui toy9 toy9 e3pisko1poy, o7per que devem ser enviados julgar ser o melhor; e
praesentes cum episco- a6n kalv9w e5xein dokim- <presbíteros> para jul- [se] decidir que devam
pis iudicent, habentes a1sü kai2 [e3an2 ] o4ri1sü, gar na presença dos bis- ser enviados <presbíte-
[eius] auctoritatem, a dei9n a3postalh9nai toy2w pos, com a autoridade ros> para julgar na pre-
quo destinati sunt, erit meta2 tv9n e3pisko1pvn [dele,] pelo qual foram sença dos bispos, com a
in suo arbitrio. Si vero krinoy9ntaw, e5xonta1w te designados, ficará ao autoridade daquele por
crediderit sufficere epis- th2n ay3uenti1an toy1toy seu arbítrio <fazê-lo>. quem foram designa-
copos, ut negotio termi- par’ oyß a3pesta1lhsan, Se, porém, acreditar dos, isto seja também
num imponant, faciet kai2 toy9to uete1on. Ei3 de2 que bastam os bispos assumido. Se, porém,
quod sapientissimo con- e3jarkei9n nomi1zoi pro2w para pôr termo à lide, pensar que bastam <os
silio suo iudicaverit. th2 n toy9 pra1 g matow faça o que na sua sa- bispos> para o exame
e3pi1gnvsin kai2 a3po1fa- pientíssima deliberação da causa e a sentença
sin toy9 e3 p isko1 p oy, tiver julgado. sobre o bispo, faça o
poih1 s ei o7 p er a6 n tü9 que julgar melhor na
e3 m fronesta1 t ü ay3 t oy9 sua prudentíssima deli-
56
136: Carta do Sínodo de Sérdica “Quod semper”, ao Papa Julio I, ca. 343
Ed.: A Feder: CSEL 65, 127 / CouE 395 / MaC 3, 40B / HaC 1, 653C.
O primado da Sé romana
Hoc enim optimum et valde congruentissimum Esta, de fato, parecerá ser a coisa melhor e mais 136
esse videbitur, si ad caput, id est ad Petri Apostoli apropriada: que os sacerdotes do Senhor de todas
sedem, de singulis quibusque provinciis Domini as províncias recorram à cabeça, isto é, à sé do
referant sacerdotes. Apóstolo Pedro.
57
byteros urbis Romae Lucium, Paulum et Helianum guindo a tradição dos predecessores, enviei os meus
e latere meo ad Alexandriam ad supradictum Atha- assessores Lúcio, Paulo e Heliano, presbíteros da
nasium direxi, ut ad urbem Romam veniret, ut in cidade de Roma a Alexandria, ao sobredito Ataná-
praesenti id, quod de Ecclesiae disciplina exstitit, sio, para que viesse à cidade de Roma, a fim de
in eum statueretur. Litteras etiam ad eundem per que, na sua presença, fosse estabelecido a seu res-
supradictos presbyteros dedi, quibus continebatur, peito o que consta da disciplina da Igreja. Mediante
quod si non veniret, sciret se alienum esse ab Ec- os supracitados presbíteros mandei-lhe também uma
clesiae Romanae communione. Reversi igitur pres- carta, comunicando que, se não viesse, soubesse que
byteri nuntiaverunt eum venire noluisse. Secutus estava excluído da comunhão com a Igreja de Roma.
denique litteras caritatis vestrae, quas de nomine Ora, ao retornarem, os presbíteros informaram que
supradicti Athanasii ad nos dedistis, sciatis his lit- não queria vir. Segui então ao pé da letra a carta de
teris, quas ad unanimitatem vestram dedi, me cum vossa caridade, que nos enviastes a respeito do
omnibus vobis et cum universis episcopis Ecclesiae sobredito Atanásio, e saibais, mediante a presente
catholicae pacem habere, supradictum autem Atha- carta, mandada no intuito da unanimidade convos-
nasium alienum esse a communione mea sive Ec- co, que estamos em paz com todos vós e com todos
clesiae Romanae et a consortio litterarum et eccle- os bispos da Igreja católica, enquanto o sobredito
siasticarum. Atanásio é excluído da comunhão comigo, ou seja,
com a Igreja de Roma, bem como da comunicação
escrita e da incumbência eclesiástica.
58
1. Toy2w de2 le1gontaw e3j oy3k o5ntvn to2n yi4o1n, h6 1. Aqueles que dizem que o Filho vem daquilo que 140
e3j e4te1raw y4posta1sevw, kai2 mh2 e3k toy9 Ueoy9, kai2 não é, ou de uma outra hipóstase e não de Deus, e
o7ti h0n xro1now h6 ai3v1n, o8te oy3k h0n, a3llotri1oyw que houve um tempo ou um éon em que ele não era,
oi0den h4 a4gi1a kai2 kauolikh2 3Ekklhsi1a. a Igreja santa e católica os considera estranhos.
2. Pa1lin oy0n e3roy9men= Ei5 tiw to2n pate1ra kai2 2. De novo, pois, dizemos: se alguém disser que
to2n yi4o2n dy1o le1gei Ueoy1w, a3na1uema e5stv. o Pai e o Filho são dois deuses, seja anátema.
3. Kai2 ei5 tiw, le1gvn Ueo2n to2n Xristo2n pro2 3. E se alguém chamar de Deus a Cristo, Filho de
ai3v1nvn yi4o2n toy9 Ueoy9, y4poyrghko1ta tö9 patri2 Deus antes dos séculos, mas não professar que ele
ei3w th2n tv9n o7lvn dhmioyrgi1an mh2 o4mologoi1h, adjuvou ao Pai na produção de todas as coisas, seja
a3na1uema e5stv. anátema.
4. Ei5 tiw to2n a3ge1nnhton, h6 me1row ay3toy9 e3k 4. Se alguém ousar dizer que o não-gerado ou
Mari1aw le1gein gegenh9suai tolmä9, a3na1uema e5stv. uma parte dele nasceu de Maria, seja anátema.
5. Ei5 tiw kata2 pro1gnvsin pro2 Mari1aw le1gei 5. Se alguém disser que o Filho existe antes de
to2n yi4on2 ei0nai, kai2 mh2 pro2 ai3vn1 vn e3k toy9 patro2w Maria segundo a presciência, e não que ele foi ge-
gegennhme1non pro2w to2n Ueo2n ei0nai, kai2 di’ ay3toy9 rado pelo Pai antes dos séculos e que tudo é origi-
gegenh9suai ta2 pa1nta, a3na1uema e5stv. nado por meio dele, seja anátema.
6. Ei5 tiw th2n oy3si1an toy9 Ueoy9 platy1nesuai, h6 6. Se alguém disser que a substância de Deus se
syste1llesuai fa1skoi, a3na1uema e5stv. dilata ou se contrai, seja anátema.
7. Ei5 tiw platynome1nhn th2n oy3si1an toy9 Ueoy9 7. Se alguém disser que a substância dilatada de
to2n yi4on2 le1goi poiei9n, h6 to2n platysmo2n th9w oy3si1aw Deus constitui o Filho ou então chama o Filho a
ay3toy9 yi4o2n o3noma1zoi, a3na1uema e5stv. dilatação da sua substância, seja anátema.
8. Ei5 tiw e3ndia1ueton h6 proforiko2n lo1gon le1gei 8. Se alguém disser que o Filho de Deus é a pa-
to2n yi4o2n toy9 Ueoy9, a3na1uema e5stv. lavra interior ou proferida, seja anátema.
9. Ei5 tiw a5nurvpon mo1non le1gei to2n e3k Mari1aw 9. Se alguém disser que o Filho <nascido> de
yi4o1n, a3na1uema e5stv. Maria é somente homem, seja anátema.
10. Ei5 tiw Ueo2n kai2 a5nurvpon to2n e3k Mari1aw 10. Se alguém, chamando o <nascido> de Maria
le1gvn, Ueo2n to2n a3ge1nnhton oy7tv noei9, a3na1uema Deus e homem, com isso entende o Deus não-gera-
e5stv. do, seja anátema.
11. Ei5 tiw to2 “ 3Egv2 Ueo2w prv9tow, kai2 e3gv2 meta2 11. Se alguém entender a frase: “Eu <sou> Deus,
tay9ta, kai2 plh2n e3moy9 oy3k e5sti Ueo1w” [Is 44,6], o primeiro, e eu <sou> depois destas coisas, e fora
e3p’ a3naire1sei ei3dv1lvn kai2 tv9n mh2 o5ntvn uev9n de mim não há Deus” [Is 44,6], dita para destruição
ei3rhme1non, e3p’ a3naire1sei toy9 monogenoy9w pro2 dos ídolos e dos que não são deuses, no sentido de
ai3v1nvn Ueoy9 3IoydaÖkv9w e3klamba1noi, a3na1uema excluir, à maneira dos judeus, o Unigênito de Deus
e5stv. antes dos séculos, seja anátema.
12. Ei5 tiw to2 “ 4O Lo1gow sa2rj e3ge1neto” [Io 1,14] 12. Se alguém, escutando a frase “O Verbo veio
a3koy1vn, to2n Lo1gon ei3w sa1rka metabeblh9suai a ser carne” [Jo 1,14], entender que o Verbo tenha
nomi1zoi, h6 troph1n y4pomemenhko1ta a3neilhfe1nai se transformado em carne ou diz que, ao assumir a
th2n sa1rka le1goi, a3na1uema e5stv. carne, tenha sofrido mudança, seja anátema.
13. Ei5 tiw, to2 n monogenh9 yi4 o 2 n toy9 Ueoy9 13. Se alguém, ouvindo que o Filho de Deus foi
e3stayrvme1non a3koy1vn, th2n ueo1thta ay3toy9 fuora1n, crucificado, disser que sua divindade sofreu corrup-
h6 pa1uow, h6 troph1n, h6 mei1vsin, h6 a3nai1resin ção, ou paixão, ou mudança, ou diminuição, ou eli-
y4pomemenhke1nai le1goi, a3na1uema e5stv. minação, seja anátema.
14. Ei5 tiw to2 “Poih1svmen a5nurvpon” [Gn 1,26], 14. Se alguém disser que a frase: “Façamos o
mh2 to2n pate1ra pro2w to2n yi4o2n le1gein, a3ll’ ay3to2n homem” [Gn 1,26], não a diz o Pai ao Filho, mas o
pro2w e4ayto2n le1goi to2n Ueo2n ei3rhke1nai, a3na1uema próprio Deus a tenha dito a si mesmo, seja anátema.
e5stv.
15. Ei5 tiw mh2 to2n yi4o2n le1goi tö9 Abraa2
3 m e4v- 15. Se alguém disser que não o Filho apareceu a
ra9suai [Gn 18,1-22], a3lla2 to2n a3ge1nnhton Ueo1n, Abraão [Gn 18,1-22], mas o Deus não-gerado, ou
h6 me1row ay3toy9, a3na1uema e5stv. uma parte dele, seja anátema.
16. Ei5 tiw tö9 3Iakv2b mh2 to2n yi4o2n v4w a5nurvpon 16. Se alguém disser que não <foi> o Filho como
pepalaike1nai [Gn 32,25-31], a3lla2 to2n a3ge1nnhton homem <quem> lutou com Jacó [Gn 32,25-31], mas
Ueo1n, h6 me1row ay3toy9 le1goi, a3na1uema e5stv. o Deus não-gerado, ou parte dele, seja anátema.
59
60
*141 1 Estas inserções não provêm de Hilário, mas de um compilador ou copiador destas cartas: cf. A.L. Feder: SBWienAk
162/IV (1910) 123s.
61
idcirco non aliqua necessitate impulsus – Deo teste Igreja católica, por este motivo, não impelido por
dico – sed pro bono pacis et concordiae, quae mar- nenhum constrangimento – Deus é testemunha –, mas
tyrio praeponitur, his litteris convenio vos, domini para o bem da paz e da concórdia, que tem prece-
fratres carissimi. Cognoscat itaque prudentia vestra, dência sobre o martírio, me dirijo a vós, caríssimos
Athanasium, qui Alexandrinae Ecclesiae episcopus irmãos do Senhor, com esta carta. A vossa prudência
fuit, [a me esse damnatum] priusquam ad comita- saiba que Atanásio, que foi bispo da Igreja de Ale-
tum sancti imperatoris secundum litteras Orienta- xandria, [foi por mim condenado] antes [que eu es-
lium episcoporum [scriberem, quod] et ab Eccle- crevesse], de acordo com a carta dos bispos do Orien-
siae Romanae communione separatus est, sicuti teste te à corte do santo imperador, [que ele] é separado
est omne presbyterium Ecclesiae Romanae. Sola também da comunhão com a Igreja de Roma, como
haec causa fuit, ut tardius viderer de nomine ipsius disso é testemunha o corpo de presbíteros da Igreja
litteras ad fratres et coepiscopos nostros Orientales romana. Este foi o único motivo pelo qual eu pareci
dare, ut legati mei, quos ab urbe Roma ad comitatum mandar, tarde demais, aos nossos irmãos e coepísco-
direxeram, seu episcopi, qui fuerant deportati, et ipsi pos orientais, uma carta relativa à pessoa dele, para
una cum his, si fieri posset, de exilio revocarentur. conseguir que os legados que tinha enviado da cida-
de de Roma à corte, e igualmente os <outros> bis-
pos que tinham sido exilados, e nós mesmos junta-
mente com eles, fôssemos revogados do exílio.
(2) Et hoc autem scire vos volo, quod fratrem (2) Mas desejo também que saibais que pedi ao
Fortunatianum petii, ut litteras meas ad clementis- irmão Fortunaciano, que [fizesse chegar] ao clemen-
simum imperatorem [perferat, quas ad Orientales tíssimo Imperador a minha carta, [que escrevi aos
episcopos feci, ut scirent et ipsi una secum Athanasii bispos orientais, para que eles também soubessem
communione me esse separatum. Quas credo quod que eu, junto com eles, me separei da comunhão
pietas ipsius pro bono pacis gratulanter accipiet … com Atanásio. Creio que sua piedade a receberá com
Pervideat caritas vestra haec me benigno et innocenti alegria, por amor da paz. … Reconheça a vossa
animo gessisse. Quapropter his litteris meis convenio caridade que fiz isto com ânimo benévolo e inocen-
vos et adiuro per Deum omnipotentem et Christum te. Por isso me dirijo a vós com a presente carta e
Iesum Filium eius, Deum et Dominum nostrum, ut vos conjuro por Deus onipotente e por Jesus Cristo,
dignemini ad clementissimum imperatorem]1 Cons- seu Filho, nosso Deus e Senhor, que vos digneis
tantium Augustum pergere et petere, ut bono pacis solicitar e requerer junto ao clementíssimo impera-
et concordiae, in qua pietas eius semper exsultat, dor]1 Constâncio Augusto que ele, pelo bem da paz
me ad Ecclesiam mihi divinitus traditam iubeat re- e da concórdia, em que sua piedade sempre se ale-
verti, ut temporibus ipsius Ecclesia Romana nullam gra, me faça retornar à Igreja a mim confiada por
sustineat tribulationem. … Deus, para que a Igreja de Roma não tenha de so-
frer tribulação alguma durante o seu governo. …
*142 1 Por causa do homeoteleuto, o que está entre […] falta em alguns manuscritos.
62
Trindade divina
Ea gratia, fratres, Jericho illa, quae figura est Por causa disso, irmãos, aquela Jericó, apostro- 144
saecularium voluptatum, conclamata concidit nec fada em altos brados como figura das volúpias mun-
resurgit, quia omnes uno ore unius virtutis, unius danas, desmorona e não mais se erguerá, pois to-
maiestatis, unius divinitatis, unius usiae dicimus dos nós a uma só voz dizemos que a Trindade é de
Trinitatem, ita ut inseparabilem potestatem, tres uma só força, de uma só majestade, de uma só di-
tamen adseramus esse personas, nec redire in se aut vindade, de uma só usia, de modo que afirmamos
minui, … sed semper manere nec potentiae gradus que há um poder inseparável, porém em três pes-
quosdam ortusque tempora disparata nec prolativum soas, que não retornam em si ou diminuem, … mas
Verbum, ut generationem ei demamus, nec inper- permanecem sempre; e <afirmamos> também que
fectum, ut ad personam aut Patris natura aut divini- não há níveis de poder e tempos de proveniência
tatis ei plenitudo defuerit, nec dissimilem opere distintos; que o Verbo nem é proferido, pelo que
Filium nec dissimilem potestate aut per universa lhe negaríamos a geração, nem imperfeito, como se
dissimilem nec subsistere aliunde, sed de Deo na- à sua pessoa faltasse ou a natureza do Pai ou a ple-
tum nec falsum, sed Deum verum de Deo vero esse nitude da divindade; que o Filho não é desseme-
generatum, lumen verum de vero lumine, ne minu- lhante quanto ao operar, ou dessemelhante quanto
tum aut diversum putetur, quod Unigenitus habet ao poder, ou dessemelhante em tudo, e não tem
splendorem lucis aeternae [cf. Sap 7,26], quia natu- subsistência de outra parte, mas, nascido de Deus,
rae ordine neque sine splendore lumen neque splen- foi gerado, não falso, porém verdadeiro Deus do
dor potest esse sine lumine, imaginem quoque Pa- Deus verdadeiro, luz verdadeira da luz verdadeira,
tris, ut qui eum viderit, viderit et Patrem [Io 14,9]; para que não venha a ser considerado diminuído ou
eundem redemptionis nostrae gratia processisse de diverso, pois o Unigênito tem o esplendor da luz
virgine, ut perfectus homo pro perfecto qui pecca- eterna [cf. Sb 7,26], porque segundo a ordem da
verat homine nasceretur. Ergo, fratres, adseramus natureza não pode haver luz sem esplendor, nem
Dei Filium et perfectum hominem suscepisse. esplendor sem luz; que é também a imagem do Pai,
pois quem o vê, vê também o Pai [Jo 14,9]; que ele
mesmo, por amor à nossa redenção, procedeu da
Virgem, para nascer, como homem perfeito, em prol
do homem perfeito que pecara. Por isso, irmãos,
afirmamos que o Filho de Deus assumiu também o
homem perfeito.
Spiritum quoque Sanctum increatum atque unius Professamos também o Espírito incriado e de uma 145
maiestatis, unius usiae, unius virtutis cum Deo Pa- só majestade, de uma só usia, de uma só força com
tre et Domino nostro Iesu Christo fateamur. Neque Deus Pai e com o Senhor nosso Jesus Cristo. Pois
enim creaturae dignus iniuriae est, qui emissus est, não merece de ser desprezado como criatura aquele
ut crearet, sicut propheta sanctus adstruxit dicens: que foi enviado para criar, como assegurou o santo
“Emitte Spiritum tuum et creabuntur” [Ps 103,30]. profeta, dizendo: “Envia teu Espírito e serão cria-
Deinde alius item posuit: “Spiritus divinus, qui fecit dos” [Sl 104,30]. Depois, um outro afirmou de modo
me” [cf. Iob 33,4]. Non enim separandus est divini- semelhante: “O Espírito divino que me fez” [Jó
tate, qui in operatione ac peccatorum remissione 33,4]. Com efeito, não se deve separar quanto à
conectitur. divindade aquele que está unido no operar e na re-
missão dos pecados.
63
64
148: Carta “Per filium meum”, ao bispo Paulino de Antioquia, ano 375
Ed.: PL 13, 356B-357A (= Carta 3) / MaC 3, 426AB / CouE 509B-510B. – Reg.: JR 235.
Condenação do Apolinarismo
Ginv1skete toi1nyn o7ti pa1lai to2n Timo1ueon to2n Saibam, portanto, que há muito tempo condena- 149
be1bhlon, to2n mauhth2n toy9 Apolinari1
3 oy toy9 ai4re- mos o trivial Timóteo, o discípulo do herético Apo-
tikoy9, meta2 toy9 a3seboy9w ay3toy9 do1gmatow kauei1lo- linário, juntamente com sua ímpia doutrina, e não
men, kai2 oy3damv9w pistey1omen ay3toy9 ta2 lei1cana cremos de modo algum que quanto resta dele rece-
lo1gö tini2 toy9 loipoy9 i3sxy1ein. … 4O ga2r Xristo2w ba algum crédito no futuro. … Pois Cristo, o Filho
o4 yi4o2w toy9 ueoy9 o4 ky1riow h4mv9n tö9 ge1nei tv9n de Deus <e> nosso Senhor, trouxe ao gênero huma-
a3nurv1pvn dia2 toy9 i3di1oy pa1uoyw plhresta1thn no, mediante sua própria paixão, a salvação total-
a3pe1dvke th2n svthri1an, i7na o7lon to2n a5nurvpon mente plena, para livrar de todo pecado o homem
tai9w a4marti1aiw e3nexo1menon pa1shw a4marti1aw e3ley- inteiro, preso nos pecados. Se alguém disser que
uerv1sü. Toy9ton ei5 tiw h5toia3nurvpo1thtow h6 ueo1th- ele teve parte menor, quer da humanidade, quer da
tow e5latton e3sxhke1nai ei5poi, pney1matow diabo1loy divindade, mostra-se cheio do espírito do demônio,
peplhrvme1now th9w gee1nnhw yi4o2n e4ayto2n a3podei1k- filho da geena. Por que, então, voltais a me pedir a
nysi. Ti1 toi1nyn pa1lin par’ e3moy9 zhtei9te th2n condenação de Timóteo? Ele foi também aqui, pelo
kauai1resin Timoue1oy; O 8 w kai2 e3ntay9ua kri1sei juízo da Sé Apostólica, … condenado juntamente
th9w a3postolikh9w kaue1draw … kauüre1uh a7ma tö9 com seu mestre Apolinário …
didaska1lö ay3toy9 Apolinari1
3 ö…
65
Teodoreto de Ciro, Historia Ecclesiae V 9, 13, ed. Parmentier [GChSch] 293 / PG 82, 1217B), mas foi universalmente
reconhecido como tal só muito mais tarde. Na Igreja ocidental – onde era visto como ofensivo o cân. 3, que exigia para
a sé da “Nova Roma” as prerrogativas de um patriarcato –, o sínodo foi recebido implicitamente, e somente quanto às
afirmativas dogmáticas, pelo fato de o Papa Vigílio ter confirmado o II Concílio de Constantinopla (em 553).
66
ue1nta e3k pney1ma- Maria virgine, et ria, a Virgem, e se seio> de Maria Vir-
tow a4gi1oy kai2 Ma- homo factus est, humanou; que tam- gem, e se fez ho-
ri1aw th9w parue1noy, crucifixus etiam bém foi crucificado mem; que também
kai2 e3 n anurv- pro nobis sub Pon- por nós, sob foi crucificado por
ph1 s anta, stay- tio Pilato, passus et Pôncio Pilatos, e nós, sob Poncio
rvue1n ta te y4pe2r sepultus est, et re- padeceu e foi se- Pilatos, padeceu e
h4mv9n e3pi2 Ponti1oy surrexit tertia die pultado e ressusci- foi sepultado, e res-
Pila1toy kai2 pa- secundum Scriptu- tou no terceiro dia, suscitou no tercei-
uo1nta kai2 tafe1nta ras, et ascendit in segundo as Escritu- ro dia, segundo as
kai2 a3nasta1nta tü9 caelum, sedet ad ras, e subiu aos Escrituras, e subiu
tri1tü h4me1rä kata2 dexteram Patris, et céus e está sentado ao céu, está senta-
ta2w grafa1w, kai2 iterum venturus est à direita do Pai; e do à direita do Pai
a3neluo1nta ei3w toy2w cum gloria, iudica- virá novamente na e virá novamente
oy3ra-noy1w, kai ka- re vivos et mor- glória para julgar para julgar os vivos
uezo1menon e3n de- tuos: cuius regni os vivos e os mor- e os mortos; cujo
jiä9 toy9 patro1 w , non erit finis. tos; cujo reino não reino não terá fim.
kai2 pa1lin e3rxo1me- terá fim.
non meta2 do1 j hw,
kri9nai zv9ntaw kai2
nekroy1 w = oyß th9 w
basilei1 a w oy3 k
e5stai te1low=
kai2 ei3w to2 pney9ma to2 Et in Spiritum Sanctum, E no Espírito Santo, E no Espírito Santo,
a7gion, to2 ky1rion Dominum et vivifi- Senhor e vivifica- Senhor e vivifica-
kai2 zvopoio1n, to2 cantem, qui ex Pa- dor, que procede dor, que procede
e3k toy9 patro2w e3k- tre Filioque proce- do Pai, que junto do Pai e do Filho,
poreyo1 m enon, to2 dit, qui cum Patre com o Pai e o Fi- que com o Pai e o
sy2n patri2 kai2 yi4ö9 et Filio simul ado- lho deve ser coado- Filho ao mesmo
symproskynoy1menon ratur et conglorifi- rado e conglorifi- tempo é adorado e
kai2 syndojazo1me- catur, qui locutus cado, que falou por conglorificado, que
non, to2 lalh9san est per prophetas. meio dos profetas. falou por meio dos
dia2 tv9n profhtv9n. Et unam sanctam Na Igreja una, san- profetas. E a Igreja
Ei3 w mi1 a n a4 g i1 a n catholicam et apos- ta, católica e apos- una, santa, católica
kauolikh2 n kai2 tolicam Ecclesiam. tólica. Confessa- e apostólica. Con-
a3postolikh2n e3kk- Confiteor unum mos um só batismo fesso um só batis-
lhsi1 a n. 4Omolo- baptisma in remis- para a remissão dos mo para a remissão
goy9men e8n ba1ptis- sionem peccato- pecados. Espera- dos pecados. E es-
ma ei3 w a5 f esin rum. Et exspecto mos a ressurreição pero a ressurreição
a4martiv9n. Pros- resurrectionem dos mortos e a vida dos mortos e a vida
dokv9men a3na1sta- mortuorum, et vi- do século vindou- do século vindou-
sin nekrv9 n kai2 tam venturi saecu- ro. Amém. ro. Amém.
zvh2n toy9 me1llon- li. Amen.
tow ai3v9now. Amh1
3 n.
67
Biuyni1aw syneluo1ntvn= a3lla2 me1nein e3kei1nhn nia, mas ela deve permanecer em vigor, e toda he-
kyri1an, kai2 a3nauematisuh9nai pa9san ai7resin= kai resia ser anatematizada; e especialmente a dos eu-
i3dikv9w th2n tv9n Ey3nomianv9n, ei5t’ oy0n Anomoi1
3 vn= nomianos, ou seja, dos anomeus; a dos arianos,
kai2 th2n tv9n Areianv9
3 n, ei5t’ oy0n Ey3dojianv9n= kai2 ou seja, dos eudoxianos; e a dos semiarianos, ou
th2n tv9n 4Hmiareianv9n, ei5t’ oy0n Pneymatoma1xvn= seja, dos pneumatômacos; e a dos sabelianos, dos
kai2 th2 n tv9 n Sabellianv9 n , kai2 th2 n tv9 n marcelianos, dos fotinianos e dos apolinaristas.
Markellianv9n, kai2 th2n tv9n Fvteinianv9n, kai2
th2n tv9n Apolinaristv9
3 n.
Trindade e Encarnação
152 Quia post Concilium Nicaenum is error inolevit, Como, depois do Concílio de Nicéia, se desen-
ut quidam ore sacrilego auderent dicere, Spiritum volveu o erro de alguns que, com boca sacrílega,
Sanctum factum esse per Filium: ousam afirmar que o Espírito Santo foi feito pelo
Filho:
153 (1.) Anathematizamus eos, qui non tota libertate (1.) Anatematizamos aqueles que não proclamam
proclamant, eum cum Patre et Filio unius potestatis com toda a franqueza que ele é, com o Pai e o Fi-
esse atque substantiae. lho, de um único poder e substância.
154 (2.) Anathematizamus quoque eos, qui Sabellii (2.) Anatematizamos também aqueles que, segun-
sequuntur errorem, eundem dicentes esse Patrem do o erro de Sabélio, dizem que o Pai é o mesmo
quem et Filium. que o Filho.
155 (3.) Anathematizamus Arium atque Eunomium, (3.) Anatematizamos Ário e Eunômio, que, com
qui pari impietate, licet sermone dissimili, Filium igual impropriedade, mas com palavras diferentes,
et Spiritum Sanctum asserunt creaturas. afirmam que o Filho e o Espírito Santo são criaturas.
156 (4.) Anathematizamus Macedonianos, qui de Arii (4.) Anatematizamos os macedonianos, que, pro-
stirpe venientes, non perfidiam mutaverunt, sed cedentes da estirpe de Ário, não mudaram sua crença
nomen. errônea, mas <apenas> o nome.
157 (5.) Anathematizamus Photinum, qui Ebionis (5.) Anatematizamos Fotino, que, renovando a he-
haeresim instaurans, Dominum Iesum Christum resia de Ébion, professa que o Senhor Jesus Cristo
tantum ex Maria confitetur. <provém> só de Maria.
158 (6.) Anathematizamus eos, qui duos asserunt Fi- (6.) Anatematizamos os que afirmam que há dois
lios, unum ante saecula, et alterum post assumptio- Filhos, um antes dos séculos e o outro depois de
nem carnis ex Virgine. ter, da Virgem, assumida a carne.
159 (7.) Anathematizamus eos, qui pro hominis ani- (7.) Anatematizamos os que dizem que, no lugar
ma rationabili et intelligibili dicunt Dei Verbum in da alma racional e intelectiva do homem, o Verbo
humana carne versatum, cum ipse Filius et Verbum de Deus se deteve na carne humana, pois o mesmo
Dei non pro anima rationabili et intelligibili in suo Filho e Verbo de Deus não ocupou no seu corpo o
corpore fuerit, sed nostram (id est rationabilem et lugar de uma alma racional e intelectiva, mas assu-
68
intelligibilem) sine peccato animam susceperit at- miu, sem o pecado, a nossa alma (a saber, racional
que salvaverit. e intelectiva) e salvou-a.
(8.) Anathematizamus eos, qui Verbum Filium Dei (8.) Anatematizamos os que afirmam que o Ver- 160
extensionem aut collectionem et a Patre separatum, bo de Deus, Filho de Deus, é uma extensão ou uma
insubstantivum et finem habiturum esse contendunt. contração, e separado do Pai, sem substância, e que
terá fim.
(9.) Eos quoque, qui de ecclesiis ad ecclesias mi- (9.) Também aqueles que se transferem de Igreja 161
graverunt, tamdiu a communione nostra habemus em Igreja, os temos como separados da nossa co-
alienos, quamdiu ad eas redierint civitates, in qui- munhão, até que voltem às cidades nas quais foram
bus primum sunt constituti. Quodsi alius, alio trans- primeiramente estabelecidos. Se, porém, no lugar
migrante, in loco viventis est ordinatus, tamdiu vacet daquele que foi embora e continua vivo, tiver sido
sacerdotii dignitate, qui suam deseruit civitatem, ordenado um outro, o que abandonou sua cidade
quamdiu successor eius quiescat in Domino. ficará privado da dignidade do sacerdócio até que
seu sucessor repouse no Senhor.
(10.) Si quis non dixerit semper Patrem, semper (10.) Se alguém não disser que o Pai é sempre, o 162
Filium, semper Spiritum Sanctum esse: haereticus est. Filho é sempre, o Espírito Santo é sempre: é herege.
(11.) Si quis non dixerit Filium natum de Patre, (11.) Se alguém não disser que o Filho nasceu do 163
id est de substantia divina ipsius: haereticus est. Pai, isto é, da substância divina dele: é herege.
(12.) Si quis non dixerit verum Deum Filium Dei, (12.) Se alguém não disser que o Filho de Deus 164
sicut verum Deum Patrem eius, et omnia posse et é verdadeiro Deus, como verdadeiro Deus é seu Pai,
omnia nosse et Patri aequalem: haereticus est. e que ele tudo pode e tudo conhece e é igual ao Pai:
é herege.
(13.) Si quis dixerit, quod in carne constitutus cum (13.) Se alguém disser que ele, enquanto estava 165
esset in terra, in caelis cum Patre non erat: haereti- na terra, constituído na carne, não estava nos céus
cus est. com o Pai: é herege.
(14.) Si quis dixerit, quod in passione crucis do- (14.) Se alguém disser que, na paixão da cruz, 166
lorem sentiebat Deus, et non caro cum anima, quam era Deus quem sentia a dor, não a carne com alma
induerat – forma servi, quam sibi acceperat [cf. Phil com que se revestira o Filho de Deus, Cristo – a
2,7], sicut ait Scriptura – Filius Dei Christus: non forma do servo que tinha tomado, como diz a Es-
recte sentit. critura [cf. Fl 2,7] –: não tem o reto sentir.
(15.) Si quis non dixerit, quod in carne sedet in (15.) Se alguém não disser que ele se assenta à 167
dextera Patris, in qua venturus est iudicare vivos et direita do Pai na carne, na qual virá para julgar os
mortuos: haereticus est. vivos e os mortos: é herege.
(16.) Si quis non dixerit, Spiritum Sanctum de (16.) Se alguém não disser que o Espírito Santo, 168
Patre esse vere ac proprie, sicut Filium, de divina como o Filho, é verdadeiramente e propriamente
substantia et Deum verum: haereticus est. do Pai, da divina substância, e verdadeiro Deus: é
herege.
(17.) Si quis non dixerit, omnia posse Spiritum (17.) Se alguém não disser que o Espírito Santo 169
Sanctum et omnia nosse et ubique esse, sicut Fi- tudo pode, tudo conhece e está em todo lugar, como
lium et Patrem: haereticus est. o Filho e o Pai: é herege.
(18.) Si quis dixerit Spiritum Sanctum facturam, (18.) Se alguém disser que o Espírito Santo é uma 170
aut per Filium factum: haereticus est. produção ou que foi feito pelo Filho: é herege.
(19.) Si quis non dixerit, omnia per Filium et (19.) Se alguém não disser que o Pai fez tudo, as
Spiritum Sanctum Patrem fecisse, id est visibilia et coisas visíveis e invisíveis, por meio de seu Filho e
invisibilia: haereticus est. do Espírito Santo: é herege.
(20.) Si quis non dixerit, Patris et Filii et Spiritus (20.) Se alguém não disser que una é a divin- 171
Sancti unam divinitatem, potestatem, maiestatem, dade, o poder, a majestade, a força, una a gló-
potentiam, unam gloriam, dominationem, unum reg- ria, o domínio, uno o reino e una a vontade e a
69
num, atque unam voluntatem ac veritatem: haere- verdade do Pai e do Filho e do Espírito Santo: é
ticus est. herege.
173 (21.) Si quis tres personas non dixerit veras Pa- (21.) Se alguém não disser que existem três ver-
tris et Filii et Spiritus Sancti, aequales, semper vi- dadeiras pessoas, Pai, Filho e Espírito Santo, iguais,
ventes, omnia continentes visibilia et invisibilia, sempre vivas, que sustentam todas as coisas visí-
omnia potentes, omnia iudicantes, omnia vivifican- veis e invisíveis, tudo podem, tudo julgam, tudo vi-
tes, omnia facientes, omnia salvantes: haereticus est. vificam, tudo criam, tudo salvam: é herege.
174 (22.) Si quis non dixerit adorandum Sanctum (22.) Se alguém não disser que toda criatura deve
Spiritum ab omni creatura sicut Filium et Patrem: adorar o Espírito Santo como o Filho e o Pai: é
haereticus est. herege.
175 (23.) Si quis de Patre et Filio bene senserit, de Spiritu (23.) Se alguém tiver uma opinião reta a respeito do
autem non recte habuerit, haereticus est, quod omnes Pai e do Filho, mas não a respeito do Espírito Santo,
haeretici de Filio Dei et Spiritu Sancto male sentientes, é herege, já que todos os hereges que têm opinião
in perfidia Iudaeorum et paganorum inveniuntur. errada sobre o Filho de Deus e o Espírito Santo se
encontram na crença errônea dos judeus e dos pagãos.
176 (24.) Quod si quis partiatur, Patrem Deum dicens (24.) Se, pois, alguém fizer uma separação cha-
et Deum Filium eius et Deum Sanctum Spiritum, mando o Pai de Deus, seu Filho, de Deus, e o Es-
deos dici et non Deum propter unam divinitatem et pírito Santo, de Deus, <dizendo> que são chama-
potentiam, quam credimus et scimus Patris et Filii dos deuses, e não Deus em virtude da única divin-
et Spiritus Sancti; subtrahens autem Filium aut dade e poder que cremos e sabemos ser do Pai, do
Spiritum Sanctum, ita solum aestimet Deum Patrem Filho e do Espírito Santo; <ou se,> ao contrário,
dici, aut ita credit unum Deum: haereticus est in subtraindo o Filho e o Espírito Santo, achar que
omnibus, immo Iudaeus, quod nomen deorum et só o Pai deva ser chamado Deus, ou crer em um só
angelis et sanctis omnibus a Deo est positum et Deus desse modo: é herege em tudo, judeu até, já
donatum, de Patre autem et Filio et Spiritu Sancto que o nome “deuses” por Deus foi posto e dado tam-
propter unam et aequalem divinitatem non nomen bém aos anjos e a todos os santos – tal o devaneio
deorum, sed Dei nobis ostenditur atque indicitur, ut dos hereges ou dos judeus, ou também dos pagãos –
credamus, quia in Patre et Filio et Spiritu Sancto , enquanto à nos, por causa da única e igual divin-
solum baptizamur et non in archangelorum nomini- dade do Pai, do Filho e do Espírito Santo, é apre-
bus aut angelorum, quomodo haeretici, aut Iudaei, sentado e proposto à nossa fé, não o nome “deu-
aut etiam pagani dementes. ses”, mas “Deus”, pois fomos batizados somente
no Pai e no Filho e no Espírito Santo e não nos
nomes dos arcanjos ou dos anjos.
177 Haec ergo est salus christianorum, ut credentes Esta, pois, é a salvação dos cristãos: que na fé na
Trinitati, id est Patri et Filio et Spiritui Sancto, et in Trindade, isto é no Pai e no Filho e no Espírito Santo,
eam baptizati veram solam unam divinitatem et e batizados nela, creiamos sem dúvida que dela é
potentiam, maiestatem et substantiam eiusdem esse própria uma só verdadeira divindade e poder, ma-
sine dubio credamus. jestade e substância.
Do Espírito Santo
178 Prius agendum est de Spiritu septiformi, qui in Antes de tudo devemos tratar do Espírito septi-
Christo requiescit. Spiritus sapientiae: Christus Dei forme que repousa em Cristo. Espírito de Sabedo-
70
virtus et Dei sapientia [1 Cor 1,24]. Spiritus in- ria: Cristo é a força de Deus e a sabedoria de Deus
tellectus: Intellectum dabo tibi, et instruam te in via, [1Cor 1, 24]. Espírito de inteligência: Dar-te-ei in-
in qua ingredieris [Ps 31,8]. Spiritus consilii: Et teligência, te instruirei no caminho em que deves
vocabitur nomen eius magni consilii angelus [Is 9,6: entrar [Sl 32,8]. Espírito de conselho: O seu nome
Septg.]. Spiritus virtutis: ut supra, Dei virtus et Dei será chamado mensageiro do grande conselho [Is
sapientia [1 Cor 1,24]. Spiritus scientiae: Propter 9,6 Septg.]. Espírito de fortaleza: como dito acima,
eminentiam Christi scientiae Iesu [Eph 3,19; Phil força e sabedoria de Deus [1Cor 1, 24]. Espírito da
3,8] apostoli. Spiritus veritatis: Ego via et vita et ciência: Por causa da eminência da ciência de Cris-
veritas [Io 14,6]. Spiritus timoris [Dei]: Initium to Jesus [Ef 3,19; Fl 3,8], o enviado. Espírito da
sapientiae timor Domini [Ps 110,10; Prv 9,10]. Verdade: Eu <sou> o caminho e a verdade e a vida
[Jo 14,6]. Espírito do temor [de Deus]: Início da
sabedoria <é> o temor de Deus [Sl 111,10; Pr 9,10].
Multiformis autem nominum Christi dispensatio: Multiforme é, pois, a distribuição dos nomes de
Dominus, quia spiritus; Verbum, quia Deus; Filius, Cristo: Senhor, porque espírito; Verbo, porque Deus;
quia unigenitus ex Patre; … propheta, quia futura Filho, porque unigênito do Pai; … profeta, porque
revelavit; “Spiritus enim Sanctus non est Patris tan- revelou as coisas futuras. “O Espírito Santo, de fato,
tummodo aut Filii tantummodo Spiritus, sed Patris não é Espírito só do Pai, ou só do Filho, mas Espí-
et Filii Spiritus; scriptum est enim: Si quis dilexerit rito do Pai e do Filho; pois está escrito: Se alguém
mundum, non est Spiritus Patris in illo [cf. 1 Io 2,15; ama o mundo, nele não há o Espírito do Pai [cf. 1Jo
Rm 8,9]; item scriptum est: Quisquis ‘autem Spiri- 2,15; Rm 8,9]; igualmente está escrito: ‘Quem, por
tum Christi non habet, hic non est eius’ [Rm 8,9]; sua vez não tem o Espírito de Cristo, não pertence
nominato ita Patre et Filio intelligitur Spiritus”1 a ele’ [Rm 8,9]; quando são assim nomeados o Pai
Sanctus, de quo ipse Filius in Evangelio dicit, quia e o Filho entende-se o Espírito” 1 Santo, de quem o
Spiritus Sanctus a Patre procedit [Io 15,26], et de mesmo Filho, no Evangelho, diz: O Espírito Santo
meo accipiet et adnuntiabit vobis [Io 16,14]. procede do Pai [Jo 15,26] e: Receberá do meu e vo-
lo anunciará [Jo 16,14].
*178 1 “O Espírito Santo … entende-se o Espírito” (“Spiritus enim Sanctus … intelligitur Spiritus”) é citado de Agostinho,
In evangelium Iohannis tractatus IX 7 (PL 35, 1461 / R. Willems: CpChL 36 [1954] 94); ora, como esta obra não foi
escrita antes de 414, a citação contradiria a origem damasiana do Decretum. E. Schwartz (ZNTW 29 [1930] 161-168)
pensa tratar-se de uma interpolação.
71
*180 1 Assim Jerônimo de Estrídon, presente a este sínodo; cf. De viris illustribus liber 9 18 (PL 23, 655 670). Muito mais
tarde, na versão atribuída ao papa Hormisdas do Decretum Gelasianum (vgl. *350°), a repetição do cânon escriturístico
do Decretum Damasi lê neste lugar: “3 Cartas do Apóstolo João” (Thl 932), de acordo com quanto foi estabelecido
pelo sínodo de Cartago em 397; cf. *186.
72
eorum qui in tua sunt dioecesi constituti, sed etiam dos os nossos coepíscopos, e não só dos que estão
ad universos Carthaginenses ac Baeticos, Lusitanos constituídos em tua diocese; mas também a todos os
atque Gallicios, vel eos qui vicinis tibi collimitant <bispos> cartagineses e béticos, lusitanos e galícios,
hinc inde provinciis, haec quae a Nobis sunt salubri ou seja, aos bispos das províncias vizinhas da tua,
ordinatione disposita, sub litterarum tuarum prose- seja mandado, acompanhando uma carta tua, tudo
cutione mittantur. Et quamquam statuta Sedis Apos- quanto por Nós em salutar disposição foi estabeleci-
tolicae vel canonum venerabilia definita nulli sa- do. E, se bem que a nenhum sacerdote do Senhor
cerdotum Domini ignorare sit liberum: utilius ta- seja permitido ignorar as decisões da Sé Apostólica
men et, pro antiquitate sacerdotii tui, dilectioni tuae ou as veneráveis disposições dos cânones, todavia
esse admodum poterit gloriosum, si ea, quae ad te poderá ser bastante útil e, em consideração à longe-
speciali nomine generaliter scripta sunt, per unani- vidade do teu sacerdócio, rica fonte de glória para
mitatis tuae sollicitudinem, in universorum fratrum teu amor, se aquelas coisas de natureza geral que
nostrorum notitiam perferantur: quatenus et quae a foram escritas particularmente para ti, por causa de
Nobis non inconsulte, sed provide sub nimia caute- tua solicitude pela unidade, sejam levadas ao conhe-
la et deliberatione sunt salubriter constituta, inte- cimento de todos os nossos irmãos: obtemos assim,
merata permaneant et omnibus in posterum excu- de um lado, que permaneçam incorruptas aquelas
sationibus aditus, qui iam nulli apud Nos patere coisas que, não desconsideradamente, mas com pre-
poterit, obstruatur. visão, com máxima prudência e ponderação, foram
salutarmente estabelecidas por nós; de outro, que a
todas as futuras escusas se feche o acesso, que junto
a Nós a ninguém mais poderá ficar aberto.
A necessidade do Batismo
(c. 2 § 3) Sicut sacram ergo paschalem reveren- (Cap. 2 § 3) Como, portanto, afirmamos que ab- 184
tiam in nullo dicimus esse minuendam1, ita infanti- solutamente não se deve diminuir a veneração da
bus qui necdum loqui poterunt per aetatem vel his, Páscoa1, assim queremos que às crianças que por
73
quibus in qualibet necessitate opus fuerit sacri unda causa da idade ainda não podem falar, ou aos que
baptismatis, omni volumus celeritate succurri, ne por qualquer emergência precisam da água do sa-
ad nostrarum perniciem tendat animarum, si negato grado batismo, se venha em socorro com toda a ra-
desiderantibus fonte salutari exiens unusquisque de pidez, a fim de que não soframos dano para as nos-
saeculo et regnum perdat et vitam. Quicumque etiam sas almas se, tendo negado àqueles que o desejam
discrimen naufragii, hostilitatis incursum, obsidionis a fonte da vida, alguém ao sair do mundo perca e o
ambiguum vel cuiuslibet corporalis aegritudinis reino dos céus e a vida. Qualquer um que incorrer
desperationem inciderint, et sibi unico credulitatis no risco do naufrágio, na hostilidade dos inimigos,
auxilio poposcerint subveniri, eodem quo poscunt na incerteza de um assédio ou em qualquer enfer-
momento temporis expetitae regenerationis praemia midade corporal desesperadora e solicitar ser aju-
consequantur. Hactenus erratum in hac parte suffi- dado com o único auxílio da fé, consiga, no mesmo
ciat; nunc praefatam regulam omnes teneant sacer- momento em que o pedir, o prêmio da regeneração
dotes, qui nolunt ab apostolicae petrae, super quam pedida. Bastam os erros cometidos até agora nesta
Christus universalem construxit Ecclesiam, solidi- parte. De agora em diante, todos os sacerdotes que
tate divelli. não querem ser arrancados da sólida pedra apostó-
lica sobre a qual Cristo construiu a Igreja universal
observem esta regra.
*185 1 Neste documento não é formulado pela primeira vez a obrigação do celibato. Ele supõe que nas partes ocidentais da
Igreja já esteja em voga; cf. Sínodo de Elvira, *118s.
74
a) Capítulo
A sagração do crisma
Can. 20. (1) Quamvis paene ubique custodiatur, Cân. 20. (1) Se bem que em quase todo lugar se 187
ut absque episcopo chrisma nemo conficiat, tamen observe que ninguém, exceto o bispo, consagre o
75
quia in aliquibus locis vel provinciis presbyteri crisma, visto, porém, que em alguns lugares ou pro-
dicuntur chrisma conficere, placuit, ex hac die víncias, conforme se diz, os presbíteros o consa-
nullum alium nisi episcopum chrisma conficere et gram, foi estabelecido que, de hoje em diante, ne-
per dioeceses destinare, ita ut de singulis ecclesiis nhum outro exceto o bispo consagre o crisma e o
ad episcopum ante diem Paschae diaconi destinentur destine à diocese; de tal modo que, de cada igreja,
aut subdiaconi, ut confectum chrisma ab episcopo antes do dia da Páscoa, sejam mandados até o bis-
destinatum ad diem Paschae possit occurrere. (2) po diáconos e subdiáconos, para que o crisma con-
Episcopum sane certum est omni tempore licere sagrado e entregue pelo bispo possa estar à dispo-
chrisma conficere, sine conscientia autem episcopi sição para o dia de Páscoa. (2) Sem dúvida, é per-
nihil penitus faciendum; statutum vero est diaco- mitido ao bispo consagrar o crisma em qualquer
num non chrismare, sed presbyterum absente epis- tempo, mas não se faça absolutamente nada sem
copo, praesente vero, si ab ipso fuerit praeceptum. que o bispo o saiba. Foi estabelecido também que o
diácono não pode crismar, e sim, o presbítero na
ausência do bispo; em sua presença, porém, só se
<o bispo> lho ordenar.
b) “Symbolum Toletanum I” (400) e sua forma longa, chamada “Libellus in modum symboli”,
do bispo Pastor de Palência (447)
Profissão de fé contra os erros dos priscilianos
188 Credimus in unum verum Deum, Patrem et Fi- Cremos no único Deus verdadeiro, Pai e Filho e
lium et Spiritum Sanctum, visibilium et invisibilium Espírito Santo, que fez as coisas visíveis e invisí-
factorem, per quem creata sunt omnia in caelo et in veis, por quem tudo foi criado no céu e sobre a
terra. Hunc unum Deum et hanc unam esse divini terra. Este é o único Deus e esta é a única Trindade
nominis [divinae substantiae] Trinitatem. Patrem do nome divino [da divina substancia]. <Cremos
[autem] non esse ipsum Filium, sed habere Filium que> o Pai [porém] não é o Filho mesmo, mas há
qui Pater non sit. Filium non esse Patrem, sed Fi- um Filho que não é o Pai. O Filho não é o Pai, mas
lium Dei [de Patris] esse natura. Spiritum quoque é Filho de Deus por natureza [pela natureza do Pai].
Paracletum [Paraclitum] esse, qui nec Pater sit ipse, E o Espírito é o Paráclito, e não é nem o Pai nem
nec Filius, sed a Patre [Filioque] procedat [proce- o Filho, mas procede do Pai [e do Filho]. O Pai é,
dens]. Est ergo ingenitus Pater, genitus Filius, non portanto, não-gerado; gerado é o Filho; não gerado
genitus Paracletus, sed a Patre [Filioque] procedens. é o Paráclito, mas procede do Pai [e do Filho]. É do
Pater est, cuius vox haec est audita de caelis: Hic Pai a voz ouvida nos céus: Este é meu Filho ama-
est Filius meus dilectus, in quo bene complacui; do, no qual me comprouve: a este [a ele] escutai
hunc [ipsum] audite [Mt 17,5; 2 Pt 1,17; cf. Mt 3,17]. [Mt 17,5; 2Pd 1,17; cf. Mt 3,17]. É o Filho quem
Filius est, qui ait: Ego a Patre exivi, et a Deo veni diz: Eu saí do Pai e vim de Deus a este mundo [cf.
in hunc mundum [cf. Io 16,28]. Paracletus ipse Jo 16,28]. O próprio Paráclito [o Paráclito Espíri-
[Paraclitus Spiritus] est, de quo Filius ait: Nisi abiero to] é de quem o Filho diz: Se [eu] não vou para o
[ego] ad Patrem, Paracletus non veniet ad vos [Io Pai, não virá a vós o Paráclito [Jo 16,7]. Esta Trin-
16,7]. Hanc Trinitatem personis distinctam, subs- dade, distinta pelas pessoas, <é> uma substância
tantiam unam [unitam], virtutem, potestatem, maies- única [unida], força, poder e majestade [na força,
tatem [virtute et potestate et maiestate] indivisibi- poder e majestade] indivisível e sem diferença; [cre-
lem, indifferentem; praeter illam [hanc] nullam [cre- mos] que fora dela [desta] não haja natureza divina
dimus] divinam esse naturam, vel angeli vel spiri- ou de anjo ou de espírito ou de qualquer força que
tus vel virtutis alicuius, quae Deus esse credatur. se creia seja Deus.
189 Hunc igitur [ergo] Filium Dei, Deum, natum a Portanto, este Filho de Deus, Deus, nascido do
Patre ante omne omnino principium, sanctificasse Pai antes de qualquer início, santificou, no útero da
in utero beatae Mariae virginis [uterum Mariae vg.], bem-aventurada Virgem Maria [o útero de Maria
atque ex ea verum hominem, sine viri [virili] gene- virgem], e assumiu dela um homem verdadeiro,
ratum semine, suscepisse; [duabus dumtaxat natu- gerado sem sêmen do homem [viril]; [encontrando-
ris, id est deitatis et carnis, in unam convenientibus se duas naturezas, isto é, a da divindade e a da car-
omnino personam] id est Dominum [nostrum] Ie- ne, totalmente em uma única pessoa,] isto é, o Se-
76
sum Christum. Non [Nec] imaginarium corpus aut nhor [nosso] Jesus Cristo. [E] não um corpo imagi-
forma sola compositum [phantasmatis alicuius in eo nário ou composto só de forma [de alguma apari-
fuisse], sed solidum [atque verum]: Atque [–!] hunc ção], mas sólido [e verdadeiro]. Também [–!] teve
et esuriisse et sitiisse et doluisse et flevisse et om- fome e sede e sentiu dor e chorou e sentiu todas as
nia corporis exitia sensisse [omnes corporis iniurias feridas do corpo [suportou todos os agravos do
pertulisse]. Postremo [a Iudaeis] crucifixum, mor- corpo]. Finalmente foi crucificado [pelos judeus],
tuum [–!] et sepultum, [et] tertia die resurrexisse; morto [–!] e sepultado, [e] ressuscitou ao terceiro
conversatum postmodum cum discipulis [suis], qua- dia; permaneceu depois com [seus] discípulos, ao
dragesima [post resurrectionem] die ad caelos [cae- quadragésimo dia [depois da ressurreição] subiu aos
lum] ascendisse. Hunc filium hominis etiam “Dei céus [ao céu]. Este filho do homem é chamado tam-
Filium” appellari [dici]; Filium autem Dei “Deum”, bém “Filho de Deus”; o Filho de Deus, porém, é
“filium hominis” non vocari [Filium autem Dei chamado “Deus”, não “filho do homem” [o Filho
Deum hominis filium appellari]. de Deus, porém, é chamado Deus, filho do homem].
Resurrectionem vero [futuram] humanae credi- Cremos na ressurreição [futura] da carne huma- 190
mus carnis [carni]. Animam autem hominis non na. Afirmamos que a alma do homem não é
divinam esse substantiam aut Dei partem, sed crea- substancia divina ou parte de Deus, mas criatura
turam [dicimus] divina voluntate non prolapsam [?] que, não por vontade divina, caiu [chamamo-la de
[creatam]. criatura que por vontade divina foi criada].
1. Si quis ergo [autem] dixerit atque [aut] credi- 1. Se alguém, portanto [porém], disser e [ou] crer 191
derit, a Deo omnipotente mundum hunc factum non que este mundo e aquilo que o adorna não foi feito
fuisse atque eius omnia instrumenta, anathema sit. por Deus onipotente, seja anátema.
2. Si quis dixerit atque [vel] crediderit, Deum 2. Se alguém disser e [ou] crer que Deus Pai é o 192
Patrem eundem Filium esse [esse Filium] vel [próprio] Filho ou Paráclito, seja anátema.
Paracletum, anathema sit.
3. Si quis … crediderit, Deum [Dei] Filium eun- 3. Se alguém … crer que Deus Filho [o Filho de 193
dem esse Patrem vel Paracletum, anathema sit. Deus] é o próprio Pai e o Paráclito, seja anátema.
4. Si quis … crediderit, Paracletum Spiritum [-!] 4. Se alguém … crer que o Espírito [–!] Paráclito 194
vel Patrem esse vel Filium, anathema sit. é o Pai ou o Filho, seja anátema.
5. Si quis … crediderit, hominem Iesum Chris- 5. Se alguém … crer que o homem Jesus Cristo 195
tum a Filio Dei assumptum non fuisse [carnem tan- não foi assumido pelo Filho de Deus [só a carne
tum sine anima a Filio Dei fuisse susceptam], ana- sem uma alma foi assumida pelo Filho de Deus],
thema sit. seja anátema.
6. Si quis … crediderit, Filium Dei Deum pas- 6. Se alguém … crer que o Filho de Deus pade- 196
sum [Christum innascibilem esse], anathema sit. ceu enquanto Deus [Cristo não podia nascer], seja
anátema.
7. Si quis … crediderit, hominem Iesum Chris- 7. Se alguém … crer que o homem Jesus Cristo 197
tum hominem impassibilem fuisse [deitatem Christi foi homem impassível [a divindade de Cristo foi
convertibilem fuisse vel passibilem], anathema sit. mutável ou passível], seja anátema.
8. Si quis … crediderit, alterum Deum esse priscae 8. Se alguém … crer que o Deus da antiga Lei seja 198
Legis, alterum Evangeliorum, anathema sit. diferente daquele dos Evangelhos, seja anátema.
9. Si quis … crediderit, ab altero Deo mundum 9. Se alguém … crer que o mundo foi feito por 199
fuisse factum quam [factum fuisse et non] ab eo, de um outro Deus que [e não] por aquele de quem está
quo scriptum est: In principio fecit Deus caelum et escrito: No princípio Deus fez o céu e a terra [cf.
terram [cf. Gn 1,1], anathema sit. Gn 1,1], seja anátema.
10. Si quis … crediderit, corpora humana non 10. Se alguém … crer que os corpos humanos 200
resurrectura [resurgere] post mortem, anathema sit. depois da morte não ressuscitarão [ressuscitam],
seja anátema.
11. Si quis … crediderit, animam humanam Dei 11. Se alguém … crer que a alma humana seja 201
portionem vel Dei esse substantiam, anathema sit. porção de Deus ou substância de Deus, seja anátema.
77
202 12. Si quis aliquas scripturas, praeter quas ca- 12. Se alguém crer que algumas escrituras fora
tholica Ecclesia recepit, vel in auctoritate haben- daquelas que a Igreja católica acolhe devam ter
das esse crediderit vel fuerit veneratus [Si quis … autoridade, ou <as> venerar [Se alguém … crer
crediderit, alias scripturas, praeter quas Ecclesia ca- que outras escrituras fora daquelas que a Igreja
tholica recipit, in auctoritate habendas vel esse ve- católica acolhe, devam ter autoridade ou ser vene-
nerandas], anathema sit. radas], seja anátema.
203 [13. Si quis … crediderit, deitatis et carnis unam [13. Se alguém … crer que em Cristo há uma só
in Christo esse naturam, anathema sit.] natureza da divindade e da carne, seja anátema.]
204 [14. Si quis … crediderit, esse aliquid, quod se [14. Se alguém … crer que exista alguma coisa
extra divinam Trinitatem possit extendere, anathe- que possa se estender para fora da divina Trindade,
ma sit.] seja anátema.]
205 [15. Si quis astrologiae vel mathesiae [sic!] aes- [15. Se alguém julgar dever crer na astrologia e
timat esse credendum, anathema sit.] [cf. *460] na matemática [sic!], seja anátema.] [cf. *460]
206 [16. Si quis … crediderit, coniugia hominum, [16. Se alguém … crer que as relações conjugais
quae secundum legem divinam licita habentur, ex- humanas tidas licitamente segundo a lei divina se-
secrabilia esse, anathema sit.] jam execráveis, seja anátema.]
207 [17. Si quis … crediderit, carnes avium seu pe- [17. Se alguém … crer que se deva abster da carne
cudum, quae ad escam datae sunt, non tantum pro dos pássaros ou dos animais terrestres que foram
castigatione corporum abstinendas, sed exsecrandas dadas para nutrição, não apenas por causa da disci-
esse, anathema sit.] plina do corpo, mas porque sejam execráveis, seja
anátema.]
208 [18. Si quis in his erroribus Priscilliani sectam [18. Se alguém segue ou professa a seita de Pris-
sequitur vel profitetur, ut aliud in salutari baptismi ciliano nestes erros, de modo a fazer na ação salu-
contra sedem sancti Petri faciat, anathema sit.] tar do batismo outra coisa, que seja contrária à sé
de São Pedro, seja anátema.]
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episcopus, Eusebius quoque a Vercellis, Hilarius de Deus, moldado pelo ensinamento divino, ou quan-
Gallis, ut de plerisque taceam, quorum potuerit tos, de santa memória, seguiram seu exemplo,
arbitrio residere cruci potius affigi, quam Deum L i b é r i o , bispo da Igreja romana, também Eusé-
Christum, quod Ariana cogebat haeresis, blasphe- bio de Vercelli, Hilário da Gália, para não falar de
marent, aut Filium Dei Deum Christum dicerent muitos outros que livremente preferiram deixar-se
creaturam Domini. pregar na cruz a blasfemar o Cristo Deus, ao que
constrangia a heresia ariana, ou a declarar criatura
do Senhor o Filho de Deus, Deus Cristo.
[Segue a reprovação dos livros de Orígenes de Alexandria, traduzidos em latim por Rufino: cf. *353.]
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suis, permittente Salvatore nostro, a perpetuo exitio para não parecermos seguir a severidade e a dureza
vindicentur [cf. *2638]. do herege Novaciano, que negava o perdão. É con-
cedida, portanto, junto com a última penitência, a
comunhão, para que tais pessoas, ao menos no seu
último momento, concedendo-o nosso Salvador,
sejam preservadas da ruína eterna.
214: Carta “Magna me gratulatio”, a Rufo e outros bispos da Macedônia, 13 dez. 414
Ed.: CouE 836BC / PL 20, 253B (= Carta 17) / MaC 3, 061E. – Reg.: JR 303.
A forma do Batismo
[Explica-se por que motivo, segundo os cânones 8 e 19 de Nicéia (*127s) devem ser batizados, caso
venham à Igreja, os paulianistas, mas não os novacianos:]
214 (c. 5 § 10) Quod idcirco distinctum esse ipsis dua- (Cap. 5 § 10) A razão manifesta claramente por
bus haeresibus, ratio manifesta declarat, quia Paulia- que se deve distinguir entre estas duas heresias, visto
nistae in nomine Patris et Filii et Spiritus Sancti que os paulianistas não batizam no nome do Pai e do
minime baptizant, et Novatiani iisdem nominibus Filho e do Espírito Santo, enquanto os novacianos
tremendis venerandisque baptizant, nec apud istos de batizam nestes tremendos e venerandos nomes e por
unitate potestatis divinae, hoc est Patris et Filii et eles jamais foi posta em dúvida a unidade do poder
Spiritus Sancti, quaestio aliquando commota est. divino, isto é, do Pai e do Filho e do Espírito Santo.
215-216: Carta “Si instituta ecclesiastica”, ao bispo Decêncio de Gúbio, 19 mar. 416
Ed.: PL 20, 544B-555B 559B-561A (= Carta 25) / CouE 858A-859A 862B-864A / MaC 3, 1029BC 1030E /
Graciano, Decretum, p. III, dist. 4, c. 119 (Frdb 1, 1398). – Reg.: JR 311, com acréscimos.
80
O ministro da confirmação
(c. 3 § 6) De consignandis vero infantibus mani- (Cap. 3 § 6) A respeito da confirmação das crian-
festum est, non ab alio quam ab episcopo fieri lice- ças, é claro que não deve ser feita por nenhum ou-
re. Nam presbyteri, licet secundi sint sacerdotes, tro senão pelo bispo. De fato, os presbíteros, se bem
pontificatus tamen apicem non habent. Hoc autem que sejam sacerdotes do segundo grau, não possuem
pontificium solis deberi episcopis, ut vel consignent, o ápice do pontificado. Que este múnus pontifical
vel Paracletum Spiritum tradant, non solum con- de confirmar e transmitir o Espírito Paráclito seja
suetudo ecclesiastica demonstrat, verum et illa lectio próprio somente dos bispos, o demonstra não só o
Actuum Apostolorum, quae asserit Petrum et costume eclesiástico, mas também a passagem dos
Ioannem esse directos, qui iam baptizatis traderent Atos dos Apóstolos que narra que Pedro e João fo-
Spiritum Sanctum [cf. Act 8,14-17]. Nam presbyte- ram mandados para transmitir o Espírito Santo àque-
ris, sive extra episcopum, sive praesente episcopo les que já tinham sido batizados [cf. At 8,14-17]. Na
cum baptizant, chrismate baptizatos ungere licet, sed verdade, aos presbíteros, toda vez que batizam, quer
quod ab episcopo fuerit consecratum; non tamen sem o bispo quer em sua presença, é permitido ungir
frontem ex eodem oleo signare, quod solis debetur os batizados com o crisma – consagrado, porém,
episcopis, cum tradunt Spiritum Paracletum. Verba pelo bispo –, mas não podem assinalar a fronte com
vero dicere non possum, ne magis prodere videar, este óleo, o que compete só aos bispos quando trans-
quam ad consultationem respondere. mitem o Espírito Paráclito. Não posso, porém, di-
zer as palavras, para que eu não pareça mais revelar
<o mistério> do que responder à consulta.
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217: Carta “In requirendis”, aos bispos do Sínodo de Cartago, 27 jan. 417.
Ed.: A. Goldbacher: CSEL 44, 701-703 (apud Agostinho, carta 181) / PL 20, 582C-583B (= Inocêncio, carta 29);
33, 780 (apud Agostinho, carta 181). – Reg.: JR321
O primado da Sé romana
217 (c. 1) In requirendis Dei rebus … antiquae tradi- (Cap. 1) Na procura das coisas de Deus … se-
tionis exempla servantes … nostrae religionis vigo- guindo os exemplos da antiga tradição … confir-
rem non minus nunc in consulendo quam antea, cum mastes de modo veraz o vigor de nossa religião,
pronuntiaretis, vera ratione firmastis, qui ad Nos- não menos agora, ao consultardes, que antes, quan-
trum referendum adprobastis esse iudicium, scientes, do exprimíeis as vossas decisões, vós que reconhe-
quid Apostolicae Sedi, cum omnes hoc loco positi cestes que se deve recorrer ao nosso julgamento,
ipsum sequi desideremus Apostolum, debeatur, a sabendo o que é devido à Sé Apostólica, já que todos
quo ipse episcopatus et tota auctoritas nominis huius os que fomos postos nesta Sé desejamos seguir o
emersit. Quem sequentes tam mala iam damnare Apóstolo mesmo do qual emergiu o próprio episco-
novimus quam probare laudanda, velut id vero, quod pado e toda a autoridade da sua função. Seguindo o
Patrum instituta sacerdotali custodientes officio non seu exemplo, tanto sabemos condenar prontamente
censetis esse calcanda, quod illi non humana sed as coisas más quanto aprovar as louváveis, como
divina decrevere sententia, ut quicquid quamvis de decerto isto: que observando por ofício sacerdotal
disiunctis remotisque provinciis ageretur, non prius as disposições dos Padres não julgueis que possam
ducerent finiendum, nisi ad huius Sedis notitiam ser deprezadas; pois eles decidiram, não com hu-
perveniret, ut tota huius auctoritate, iusta quae fue- mana mas com divina sentença, que qualquer coisa
rit pronuntiatio, firmaretur, indeque sumerent cete- que fosse tratada, também nas províncias mais lon-
rae Ecclesiae, velut de natali suo fonte aquae cunctae gínquas e remotas, não a levassem a definição antes
procederent et per diversas totius mundi regiones que chegasse ao conhecimento desta Sé, para que
puri capitis incorruptae manarent, quid praecipere, seja confirmada com toda a sua autoridade qual-
quos abluere, quos velut caeno inemundabili quer decisão justa, e de lá as outras Igrejas possam
sordidatos mundis digna corporibus unda vitaret. haurir – assim como todas as águas brotam de sua
nascente originária e fluem incorruptas de cabecei-
ra pura pelas diversas regiões do mundo inteiro – o
que prescrever, a quem purificar e a quem, como
que sujos de lama impossível de limpar, a água dig-
na de corpos limpos deve evitar.
218-219: Carta “Inter ceteras Ecclesiae Romanae”, a Silvano e aos outros padres
do Sínodo de Mileve, 27 jan. 417
Ed.: apud Agostinho, carta 182: A. Goldbacher: CSEL, 716s; 720 / PL 33, 784s; 20, 590AB 592AB (apud Inocên-
cio, carta 20); 56, 468 470 (= Codex canonum eclesiasticorum). – Reg.: JR 322.
O primado da Sé romana
218 (c. 2) Diligenter ergo et congrue apostolici con- (Cap. 2) Com diligência, pois, e em devido ato,
sulitis honoris arcana, honoris, inquam, illius, quem consultais os arcanos do honorífico múnus apostó-
“praeter illa, quae sunt extrinsecus, sollicitudo” lico – múnus, digo, daquele a quem incumbe, “além
manet “omnium Ecclesiarum” [2 Cor 11,28] super das coisas exteriores, a solicitude por todas as Igre-
anxiis rebus quae sit tenenda sententia, antiquae jas” [2Cor 11,28] –, acerca da posição a tomar nas
scilicet regulae formam secuti, quam toto semper coisas duvidosas, tendo seguido nisto o modelo da
ab orbe mecum nostis servatam. … Quid id etiam antiga regra que sabeis ter sido comigo observa-
actione firmastis nisi scientes, quod per omnes pro- da sempre por todo o orbe. … Por que motivo ten-
vincias de apostolico fonte petentibus responsa sem- des confirmado esta regra com a vossa conduta,
per emanent? Praesertim quotiens fidei ratio venti- senão porque sabeis que sempre da fonte apostólica
latur, arbitror omnes fratres et coepiscopos nostros fluem para todas as províncias respostas aos que as
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nonnisi ad Petrum, id est sui nominis et honoris requisitam? Particularmente, cada vez que é discu-
auctorem referre debere, velut nunc rettulit vestra tida a doutrina da fé, julgo que todos os nossos ir-
dilectio, quod per totum mundum possit Ecclesiis mãos e coepíscopos devem referir-se somente a Pe-
omnibus in commune prodesse. Fiant enim necesse dro, isto é, ao detentor do seu nome e do seu múnus
est cautiores, cum inventores malorum ad duplicis honorífico, assim como agora vossa caridade per-
relationem synodi sententiae nostrae statutis viderint guntou que coisa possa ser proveitoso ao conjunto
ab ecclesiastica communione seiunctos. de todas as Igrejas no mundo inteiro. De fato, é
preciso que se tornem mais cautos, vendo que os
autores do mal, em resposta aos atos do duplo síno-
do, pelas disposições do nosso julgamento foram
separados da comunhão eclesiástica.
A necessidade do batismo
(c. 5) … parvulos aeternae vitae praemiis etiam (Cap. 5) … Que também sem a graça do batismo 219
sine baptismatis gratia posse donari, perfatuum est. possa ser dado às crianças o prêmio da vida eterna
Nisi enim manducaverint carnem Filii hominis et é uma grande tolice. Pois se não se tiverem alimen-
biberint sanguinem eius, non habebunt vitam in semet tado da carne do Filho do Homem e não tiverem
ipsis [cf. Io 6,53s]. Qui autem hanc eis sine regene- bebido o seu sangue, não terão em si a vida [cf. Jo
ratione defendunt, videntur mihi ipsum baptismum 6,53s]. Quem, porém, sustenta que a tenham sem a
velle cassare, cum praedicant hos habere, quod in regeneração, me parece querer anular o próprio
eos creditur non nisi baptismate conferendum. Si ergo batismo, pregando que as crianças têm o que se-
nihil volunt officere non renasci, fateantur necesse gundo a fé lhes é conferido somente por meio do
est nec regenerationis sacra fluenta prodesse. Verum, batismo. Se, pois, segundo eles, não faz mal não
ut superfluorum hominum prava doctrina celeri ve- renascer, é necessário que digam abertamente que
ritatis possit ratione discingi, proclamat hoc Domi- os sagrados fluxos da regeneração não dão provei-
nus in Evangelio dicens: Sinite infantes et nolite eos to. Mas para que o iníquo ensinamento de alguns
prohibere venire ad me: talium est enim regnum mentores de coisas supérfluas possa ser desmonta-
caelorum [cf. Mt 19,14; Mc 10,14; Lc 18,16]. do pela pronta exposição da verdade, eis o Senhor
declarando justamente isto no Evangelho, quando
diz: “Admiti as crianças e não as impeçais de virem
a mim, pois aos que são como elas pertence o reino
dos céus” [cf. Mt 19,14; Mc 10,14; Lc 18,16].
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locum Nos regere, ipsius quoque potestatem nomi- romana é firmada por todas as leis e costumes hu-
nis obtinere non latet vos, sed nostis, fratres caris- manos e divinos – e não vos é oculto, mas o sabeis,
simi, et, quemadmodum sacerdotes, scire debetis: irmãos caríssimos, e como sacerdotes o deveis sa-
(4) tamen cum Nobis tantum esset auctoritatis, ut ber, que Nós governamos o seu território e também
nullus de Nostra possit retractare sententia, nihil exercemos o poder do seu nome –, (4) todavia,
egimus, quod non ad vestram notitiam Nostris ultro mesmo tendo autoridade tão grande que ninguém
litteris referremus, dantes hoc fraternitati et in possa rediscutir as nossas decisões, nada temos fei-
commune consulentes, non quia quid deberet fieri to sem, de própria vontade, levá-lo a vosso conhe-
nesciremus aut faceremus aliquid, quod contra uti- cimento por nossa carta, concedendo isto à frater-
litatem Ecclesiae veniens displiceret, sed pariter nidade e realizando consulta em comum, não por-
vobiscum voluimus habere tractatum de illo [Cae- que não soubéssemos o que deveria ser feito ou
lestio accusato]. porque fizéssemos algo que desagradasse por ir de
encontro à utilidade da Igreja, mas queríamos que a
questão dele [do acusado Celéstio] fosse tratado jun-
tamente convosco.
*222 1 Esta e outras frases de Celéstio são citadas por Marius Mercator, Commonitorium super nomine Caelestii 1 (ACOe 1/
V, 66, n. 36 / PL 48, 69A; 45, 1686). Cf. Agostinho, De peccatorum meritis et remissione et de baptismo parvulorum
I 2, n. 2 (CSEL 60, 3 / PL 44, 109).
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tum intravit in mundum (et per peccatum mors), et o Apóstolo: “Por um só homem entrou o pecado no
ita in omnes homines pertransiit, in quo omnes pec- mundo (e pelo pecado a morte), e assim passou a
caverunt” [cf. Rm 5,12], nisi quemadmodum Ec- todos os homens; nele todos pecaram” [cf. Rm 5,12],
clesia catholica ubique diffusa semper intellexit. no sentido no qual a Igreja católica, difundida por
Propter hanc enim regulam fidei etiam parvuli, qui toda parte, sempre o tem entendido. Por causa des-
nihil peccatorum in se ipsis adhuc committere po- ta regra da fé, também as crianças, que por si mes-
tuerunt, ideo in peccatorum remissionem veraciter mas ainda não puderam cometer nada de pecami-
baptizantur, ut in eis regeneratione mundetur, quod noso, todavia são verdadeiramente batizadas para
generatione traxerunt. remissão dos pecados, para que pela regeneração
venha a ser purificado nelas o que contraíram quan-
do foram geradas.
Can. 3’. Item placuit, ut si quis dicit, ideo dixis- Cân. 3’. Igualmente foi decidido: Quem afirmar 224
se Dominum: “In domo Patris mei mansiones mul- que o Senhor disse: “Na casa de meu Pai há muitas
tae sunt” [Io 14,2], ut intelligatur, quia in regno cae- moradas” [Jo 14,2] para se entender que no Reino
lorum erit aliquis medius aut ullus alicubi locus, dos Céus haverá algum lugar no meio ou qualquer
ubi beate vivant parvuli, qui sine baptismo ex hac outro lugar onde possam viver felizes as crianças
vita migrarunt, sine quo in regnum caelorum, quod que deixaram esta vida sem o batismo, sem o qual
est vita aeterna, intrare non possunt, anathema sit. não podem entrar no Reino dos Céus que é a vida
Nam cum Dominus dicat: Nisi quis renatus fuerit eterna, seja anátema. De fato, já que o Senhor diz:
ex aqua et Spiritu Sancto, non intrabit in regnum “Quem não renascer pela água e pelo Espírito San-
caelorum [Io 3,5], quis catholicus dubitet partici- to não entrará no reino dos céus” [Jo 3,5], qual
pem fore diaboli eum, qui coheres esse non meruit católico pode duvidar que será partícipe do diabo
Christi? Qui enim dextra caret, sinistram procul du- aquele que não mereceu ser co-herdeiro de Cristo?
bio partem incurret. Pois quem faltar no lado direito, sem dúvida irá para
o <lado> esquerdo.
A graça
Can. 3. Item placuit, ut quicumque dixerit, gra- Cân. 3. Igualmente foi decidido: Quem disser que 225
tiam Dei, qua iustificatur homo per Iesum Christum a graça de Deus, pela qual o homem é justificado me-
Dominum nostrum, ad solam remissionem peccato- diante nosso Senhor Jesus Cristo, serve somente para
rum valere, quae iam commissa sunt, non etiam ad a remissão dos pecados já cometidos, não também
adiutorium, ut non committantur, anathema sit. para dar auxílio para não cometê-los, seja anátema.
Can. 4. Item, quisquis dixerit, eandem gratiam Cân. 4. Igualmente: Quem disser que esta mes- 226
Dei per Iesum Christum Dominum nostrum propter ma graça de Deus mediante nosso Senhor Jesus
hoc tantum nos adiuvare ad non peccandum, quia Cristo nos ajuda a não pecar somente porque, por
per ipsam nobis revelatur et aperitur intellegentia meio dela, nos é revelada e aberta a compreensão
mandatorum, ut sciamus, quid appetere, quid vitare dos mandamentos, para que saibamos o que deve-
debeamus, non autem per illam nobis praestari, ut mos desejar e o que evitar, não porém que por ela
quod faciendum cognoverimus, etiam facere diliga- nos é concedido também amar e conseguir fazer
mus atque valeamus, anathema sit. Cum enim dicat quanto reconhecemos dever fazer, seja anátema. De
Apostolus: “Scientia inflat, caritas vero aedificat” fato, já que o apóstolo diz: “A ciência incha, a ca-
[1 Cor 8,1], valde impium est, ut credamus, ad eam ridade, porém, edifica” [1Cor 8,1], é grande falta
quae inflat nos habere gratiam Christi, et ad eam, de piedade crermos ter a graça de Cristo para o que
quae aedificat, non habere, cum sit utrumque do- incha e não tê-la para o que edifica, pois ambas as
num Dei, et scire, quid facere debeamus, et diligere, coisas são dom de Deus, tanto o saber o que deve-
ut faciamus, ut aedificante caritate scientia nos non mos fazer quanto o amar para fazê-lo, a fim de que,
possit inflare. Sicut autem de Deo scriptum est: “Qui graças à caridade que edifica, a ciência não nos possa
docet hominem scientiam” [Ps 93,10] ita etiam inchar. Como, porém, a respeito de Deus está escri-
scriptum est: “Caritas ex Deo est” [1 Io 4,7]. to: “Quem ensina ao homem a ciência” [Sl 94,10],
assim também está escrito: “A caridade vem de
Deus” [1Jo 4,7].
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227 Can. 5. Item placuit, ut quicumque dixerit, ideo Cân. 5. Igualmente foi decidido: Quem disser que
nobis gratiam iustificationis dari, ut, quod facere per a graça da justificação nos é dada para que mais
liberum iubemur arbitrium, facilius possimus im- facilmente cumpramos, mediante a graça, o que pelo
plere per gratiam, tamquam et si gratia non daretur, livre-arbítrio nos é mandado fazer, como se, não
non quidem facile, sed tamen possimus etiam sine nos sendo dada a graça, todavia pudéssemos sem
illa implere divina mandata, anathema sit. De fruc- ela cumprir os mandamentos divinos, embora não
tibus enim mandatorum Dominus loquebatur, ubi com facilidade, seja anátema. De fato, quando esta-
non ait: sine me difficilius potestis facere, sed ait: va falando dos frutos dos mandamentos, o Senhor
“Sine me nihil potestis facere” [Io 15,5]. não disse: Sem mim podeis fazer algo, mas com
mais dificuldade; ao contrário, ele disse: ‘Sem mim
nada podeis fazer’ [Jo 15,5]”.
228 Can. 6. Item placuit, quod ait sanctus Ioannes Cân. 6. Igualmente foi decidido, no que diz respei-
Apostolus: “Si dixerimus, quia peccatum non habe- to ao trecho de São João Apóstolo: “Se dissermos
mus, nos ipsos seducimus, et veritas in nobis non que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos
est” [1 Io 1,8]: quisquis sic accipiendum putaverit, e não há em nós a verdade” [1Jo 1,8]: Quem julgar
ut dicat propter humilitatem oportere dici, nos ha- poder interpretar isso no sentido de que por humilda-
bere peccatum, non quia vere ita est, anathema sit. de é necessário dizer que temos pecado, não porque
Sequitur enim Apostolus et adiungit: “Si autem seja verdade, seja anátema. O Apóstolo, de fato, pros-
confessi fuerimus peccata nostra, fidelis est et iustus, segue argumentando: “Se tivermos confessado os
qui remittat nobis peccata et mundet nos ab omni nossos pecados, ele é fiel e justo para perdoar nossos
iniquitate” [1 Io 1,9]. Ubi satis apparet, hoc non pecados e purificar-nos de toda iniqüidade” [1Jo 1,9].
tantum humiliter, sed etiam veraciter dici. Poterat Aqui aparece com bastante clareza que isso não é dito
enim Apostolus dicere: “Si dixerimus: non habe- só por humildade, mas no sentido verdadeiro. O Após-
mus peccatum, nos ipsos extollimus, et humilitas in tolo, de fato, poderia ter dito: “Se disséssemos não ter
nobis non est“. Sed cum ait: Nos ipsos decipimus, pecado, nos enalteceríamos a nós mesmos e não há
et veritas in nobis non est: satis ostendit eum, qui em nós humildade”. Mas, como diz: “Enganamo-nos
se dixerit non habere peccatum, non verum loqui, a nós mesmos e não há em nós a verdade”, fica sufi-
sed falsum. cientemente claro que aquele que disser que não tem
pecado, não fala o que é verdadeiro, mas falso.
229 Can. 7. Item placuit, ut quicumque dixerit, in Cân. 7. Igualmente foi decidido: Quem afirmar
oratione dominica ideo dicere sanctos: “Dimitte que os santos, quando na oração do Senhor dizem:
nobis debita nostra” [Mt 6,12], ut non pro seipsis “Perdoa-nos as nossas dívidas” [Mt 6,12], o digam
hoc dicant, quia non est iam necessaria ista petitio, não em favor de si mesmos, já que para eles esta
sed pro aliis qui sunt in suo populo peccatores, et oração já não é necessária, mas pelos outros de seu
ideo non dicere unumquemque sanctorum: “Dimitte povo, que são pecadores; e que cada santo não diz:
mihi debita mea”, sed “Dimitte nobis debita nos- “Perdoa-me os meus pecados”, mas “Perdoa-nos os
tra”, ut hoc pro aliis potius quam pro se iustus petere nossos pecados”, para que se compreenda que o
intellegatur, anathema sit. Sanctus enim et iustus justo pede isto antes pelos outros que para si mes-
erat Apostolus Iacobus, cum dicebat: “In multis enim mo, seja anátema. Santo e justo era de fato o Após-
offendimus omnes” [Iac 3,2]. Nam quare additum tolo Tiago quando dizia: “Em muitas coisas todos
est “omnes”, nisi ut ista sententia conveniret et nós erramos” [Tg 3,2]. Pois por qual motivo foi
Psalmo, ubi legitur: “Ne intres in iudicium cum acrescentado “todos”, senão porque com esta afir-
servo tuo, quia non iustificabitur in conspectu tuo mação está de acordo também o Salmo onde se lê:
omnis vivens” [Ps 142,2]? Et in oratione sapientis- “Não entres em juízo com teu servo, porque diante
simi Salomonis: “Non est homo qui non peccavit” de tua face nenhum vivente será justificado” [Sl
[3 Rg 8,46]. Et in libro sancti Iob: “In manu omnis 143,2]? E na oração do sapientíssimo Salomão:
hominis signat, ut sciat omnis homo infirmitatem “Não há ser humano que não tenha pecado” [1Rs
suam” [Iob 37,7]. Unde etiam Daniel sanctus et 8,46]. E no livro do santo Jó: “Na mão de cada
iustus, cum in oratione pluraliter diceret: “Peccavi- homem põe uma marca, para que cada um conheça
mus, iniquitatem fecimus” [Dn 9,5 15], et cetera sua fraqueza” [Jó 37,7]. Por isso, também o santo e
quae ibi veraciter et humiliter confitetur: ne putare- justo Daniel diz, na oração em forma plural: “Peca-
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tur, quemadmodum quidam sentiunt, hoc non de mos, cometemos iniqüidade” [Dn 9,5.15] e as ou-
suis, sed de populi sui potius dixisse peccatis, postea tras coisas que ele confessa com veracidade e hu-
dixit: “Cum … orarem et confiterer peccata mea et mildade; <e> para que não se pensasse, como al-
peccata populi mei” [Dn 9,20] Domino Deo meo, guns entendem, que o tivesse dito dos seus pecados
noluit dicere “peccata nostra”, sed “peccata populi e não dos do povo, diz mais adiante: “Enquanto eu
sui” dixit et “sua”, quoniam futuros istos, qui tam … orava e confessava os meus pecados e os peca-
male intellegerent, tamquam propheta praevidit. dos do meu povo” [Dn 9,20] ao Senhor meu Deus;
não quis dizer “os nossos pecados”, mas falou dos
pecados do seu povo e dos seus, pois como profeta
ele previu que haveria quem o entendesse tão mal.
Can. 8. Item placuit, ut quicumque ipsa verba Cân. 8. Igualmente foi decidido: Quem afirmar 230
dominicae orationis, ubi dicimus: “Dimitte nobis que as palavras da oração do Senhor, quando dize-
debita nostra” [Mt 6,12], ita volunt a sanctis dici, ut mos “Perdoa-nos as nossas dívidas” [Mt 6,12], são
humiliter, non veraciter hoc dicatur, anathema sit. pronunciadas pelos santos no sentido da humilda-
Quis enim ferat orantem et non hominibus, sed ipsi de, não da verdade, seja anátema. Pois quem pode-
Domino mentientem, qui labiis sibi dicit dimitti ria suportar um orante que mente, não aos homens,
velle, et corde dicit, quae sibi dimittantur, debita mas a Deus mesmo, quando com os lábios diz que
non habere? quer ser perdoado, mas, com o coração, que não
tem dívidas a lhe serem perdoados?
O pecado original
Fidelis Dominus in verbis suis [Ps 144,13] eius- Fiel é o Senhor nas suas palavras [Sl 145,13], e o 231
que baptismus re ac verbis, id est opere, confessio- seu batismo contém, na realidade e nas palavras, isto
ne et remissione vera peccatoram in omni sexu, é, na ação, na profissão de fé e na verdadeira remis-
aetate, condicione generis humani, eandem plenitu- são dos pecados a mesma plenitude para cada sexo,
dinem tenet. Nullus enim, nisi qui peccati servus idade e condição do gênero humano. De fato, nin-
est, liber efficitur, nec redemptus dici potest, nisi guém pode ficar livre senão quem é escravo do peca-
qui vere per peccatum fuerit ante captivus, sicut do, nem pode ser chamado redimido senão aquele
scriptum est: “Si vos Filius liberaverit, vere liberi que, verdadeiramente, pelo pecado, antes era prisio-
eritis” [Io 8,36]. Per ipsum enim renascimur spiri- neiro, como está escrito: “Se o Filho vos tiver liber-
taliter, per ipsum crucifigimur mundo. Ipsius morte tado, sereis verdadeiramente livres” [Jo 8,36]. Por
mortis ab Adam omnibus nobis introductae atque ele, de fato, renascemos espiritualmente, por ele so-
transmissae universae animae, illud propagatione mos crucificados para o mundo. Por sua morte é
contractum chirographum [cf. Col 2,14] rumpitur, destruído o título de dívida da morte [cf. Cl 2,14]
in quo nullus omnino natorum, antequam per bap- introduzida por Adão para nós todos e transmitida a
tismum liberetur, non tenetur obnoxius. cada vivente – <título de dívida> contraído com a
procriação e do qual absolutamente nenhum dos nas-
cidos está livre antes de ser livrado pelo batismo.
87
O primado da Sé Romana
232 (c. 2) … Ad synodum [Corinthi] … talia scripta (Cap. 2) … Dirigimos direto ao Sínodo [de
direximus, quibus universi fratres intellegant, … de Corinto] … um escrito com o intuito de fazer com-
nostro non esse iudicio retractandum. Numquam preender a todos os irmãos … que não se pode
etenim licuit de eo rursus, quod semel statuta est ab deliberar de novo sobre um julgamento nosso. De
Apostolica Sede, tractari. fato, nunca é lícito deliberar outra vez a respeito do
que uma vez foi estabelecido pela Sé Apostólica.
O primado da Sé romana
233 (c. 1) Institutio universalis nascentis Ecclesiae de (Cap. 1) A instituição da nascente Igreja universal
beati Petri sumpsit honore principium, in quo regi- tomou início no múnus honorífico do bem-aventu-
men eius et summa consistit. Ex eius enim eccle- rado Pedro, no qual está seu governo e ápice. Da
siastica disciplina per omnes Ecclesias, religionis sua fonte fluiu, à medida que crescia a veneração da
iam crescente cultura, fonte manavit. Nicaenae sy- religião, a disciplina eclesiástica em todas as Igre-
nodi non aliud praecepta testantur: adeo ut non ali- jas. As disposições do Concílio de Nicéia não teste-
quid super eum ausa sit constituere, cum videret, munham outra coisa, a tal ponto que não ousou
nihil supra meritum suum posse conferri, omnia definir nada sobre ele, vendo que era impossível pro-
denique huic noverat Domini sermone concessa. por algo acima do seu mérito, pois sabia, afinal, que
Hanc ergo Ecclesiis toto orbe diffusis velut caput tudo lhe era concedido pela palavra do Senhor. É
suorum certum est esse membrorum: a qua se quis- certo que esta <Igreja romana> é, para as Igrejas
quis abscidit, sit christianae religionis extorris, cum espalhadas pelo orbe inteiro, como a cabeça de seus
in eadem non ceperit esse compage. membros: quem dela se desliga seja banido da reli-
gião cristã, já que deixou de estar inserido nela.
234-235: Carta “Manet beatum”, a Rufo e aos outros bispos da Macedônia etc., 11 mar. 422
Ed.: C. Silva Tarouca, l. c. ad *232, 276-3095 (= carta 8) / CouE 1039-1042 / PL20, 779B-782C (= carta 15) / MaC
8, 756-758A. – Reg.: JR 365.
O primado da Sé romana
234 Manet beatum apostolum Petrum per sententiam Pertence ao bem-aventurado apóstolo Pedro, com
dominicam universalis Ecclesiae ab hoc sollicitudo base na afirmação do Senhor, o cuidado, por ele
suscepta, quippe quam evangelio teste in se noverit assumido, da Igreja universal, que, segundo o teste-
esse fundatam. Nec umquam eius honor vacuus po- munho do evangelho, sobre si sabia fundada. E ja-
test esse curarum, cum certum sit summam rerum mais este seu múnus honorífico pode ser livre de
ex eius deliberatione pendere. … Absit hoc a Do- cuidados, pois é certo que as últimas decisões de-
mini sacerdotibus, ut in hunc aliquis eorum cadat pendem da sua deliberação. … Esteja longe dos
reatum, ut in nova quippiam usurpatione temptando, sacerdotes do Senhor que algum deles caia na cul-
inimica sibi faciat scita maiorum, aemulum se illum pa de, em nova tentativa ilícita, tornar-se inimigo
specialiter habere cognoscens, apud quem Christus das deliberações dos antepassados, sabendo ter como
noster sacerdotii summam locavit, in cuius contu- rival de modo particular aquele junto ao qual o nosso
meliam quisquis insurgit, habitator caelestium non Cristo estabeleceu o ápice do sacerdócio; se alguém
poterit esse regnorum. “Tibi”, inquit, “dabo claves ousar ultrajá-lo, não poderá habitar no reino dos
regni caelorum” [Mt 16,19], in quod nullus absque céus. “A ti”, diz ele, “darei as chaves do reino dos
gratia ianitoris intrabit. … céus” [Mt 16,19], e neste ninguém entrará sem o
favor do porteiro. …
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Quoniam locus exigit, si placet, recensete cano- Já que o lugar o exige, se parecer bem, passai em 235
num sanctiones, repperietis, quae sit post Ecclesiam resumo as disposições dos cânones; encontrareis
Romanam secunda sedes, quaeve sit tertia. … Nemo qual é a segunda sé depois da Igreja romana, ou
unquam apostolico culmini, de cuius iudicio non qual é a terceira. … Ninguém jamais levantou com
licet retractari, manus obvias audacter intulit, nemo arrogância a mão contra o vértice apostólico, cujo
in hoc rebellis exstitit nisi qui de se voluit iudicari. julgamento não é lícito submeter a nova discussão;
Servant Ecclesiae magnae praedictae per canones ninguém se revoltou contra ele, exceto quem qui-
dignitates: Alexandrina et Antiochena [cf. Conc. sesse por ele ser julgado. As acima referidas gran-
Nicaen. I can. 6], habentes ecclesiastici iuris noti- des Igrejas mantêm, por força dos cânones, sua
tiam. Servant, inquam, statuta maiorum, in omni- posição de dignidade: a de Alexandria e de Antio-
bus deferentes, et eius vicissitudinem recipientes quia [cf. I Concílio de Nicéia, cân. 6], tendo co-
gratiae, quam se in Domino, qui pax nostra est, nhecimento do direito eclesiástico. Elas guardam
Nobis debere cognoscunt. os estatutos dos antepassados, em tudo deferindo –
e em troca recebendo – os favores que reconhecem
devidos a Nós, no Senhor, que é a nossa paz.
Sed quia res postulat, adprobandum documentis Mas como o assunto o requer, devemos demons-
est, maxime Orientalium Ecclesias in magnis nego- trar com documentos que particularmente as Igre-
tiis, in quibus opus esset disceptatione maiore, Se- jas Orientais, para as grandes questões, nas quais
dem semper consuluisse Romanam, et quotiens usus fosse necessário maior investigação, sempre têm
exegit, eius auxilium postulasse. consultado a Sé romana e que, toda vez que neces-
sário, têm pedido o seu auxílio.
[Seguem exemplos de apelos e consultas, na questão de Atanásio e Pedro de Alexandria, da Igreja de
Antíoquia, de Nectário de Constantinopla e dos orientais separados no tempo de Inocêncio I.]
89
A autoridade de Agostinho
237 Cap. 2. Augustinum sanctae recordationis virum Cap. 2. Sempre temos estado em comunhão com
pro vita sua atque meritis in nostra communione Agostinho, homem de santa memória por sua vida
semper habuimus, nec unquam hunc sinistrae sus- e seus méritos. Jamais sequer uma voz de maldosa
picionis saltem rumor adspersit: quem tantae scien- suspeição a ofuscou: recordemos que no seu tempo
tiae olim fuisse meminimus, ut inter magistros op- tinha tanto saber que foi colocado sempre, também
timos etiam ante a meis semper decessoribus antes, por meus predecessores, entre os melhores
haberetur. mestres.
A graça
238 Quia nonnulli, qui catholico nomine gloriantur, Já que alguns, que se gloriam de se chamar cató-
in damnatis haereticorum sensibus seu pravitate sive licos, ou por maldade ou por ignorância persistem
imperitia demorantes, piissimis disputatoribus ob- nas concepções condenadas dos hereges e têm a pre-
viare praesumunt, et cum Pelagium atque Caeles- sunção de encarar o debate com os pensadores mais
tium anathematizare non dubitent, magistris tamen piedosos, e, se bem que não hesitem anatematizar
nostris, tamquam necessarium modum excesserint, Pelágio e Celéstio, todavia contradizem os nossos
obloquuntur, eaque tantummodo sequi et probare mestres como se tivessem ultrapassado a medida
profitentur, quae sacratissima beati Apostoli sedes necessária; e como afirmam apenas seguir e aprovar
Petri contra inimicos gratiae Dei per ministerium o que a sacratíssima Sé do bem-aventurado Apóstolo
praesulum suorum sanxit et docuit, necessarium fuit Pedro, pelo ministério dos que a presidem, sancio-
diligenter inquirere, quid rectores Romanae Eccle- nou e ensinou contra os inimigos da graça de Deus,
siae de haeresi, quae eorum temporibus exorta fue- foi necessário examinar diligentemente que julgamen-
rat, iudicarint, et contra nocentissimos liberi arbitrii to os guias da Igreja romana proferiram sobre a he-
defensores quid de gratia Dei sentiendum esse cen- resia surgida no seu tempo e que opinião julgaram se
suerint; ita ut etiam Africanorum conciliorum quas- devesse ter sobre a graça de Deus contra os defenso-
dam sententias iungeremus, quas utique suas fece- res extremamente nocivos do livre-arbítrio; de modo
runt apostolici antistites, cum probarunt. que acrescentaremos, depois, também algumas sen-
tenças dos concílios africanos, que os bispos apostó-
licos, aprovando-as, de algum modo fizeram suas.
90
Ut ergo plenius, qui in aliquo dubitant, instruantur, Para que, portanto, sejam mais perfeitamente ins-
constitutiones sanctorum Patrum compendioso ma- truídos os que tiverem alguma dúvida, tornamos
nifestamus Indiculo, quo, si quis non nimium est conhecidas as determinações dos santos Padres num
contentiosus, agnoscat omnium disputationum con- breve resumo (Indiculus), pelo qual quem não é de-
nexionem ex hac subditarum auctoritatum brevitate masiadamente contencioso possa compreender que
pendere, nullamque sibi contradictionis superesse a conexão lógica de todas as disputas depende das
rationem, si cum catholicis credat et dicat: concisas declarações autoritativas abaixo apresen-
tadas e que não resta nenhum motivo de controvér-
sia, se, com os católicos, ele acredita e diz:
Cap. 1. In praevaricatione Adae omnes homines, Cap. 1. Na prevaricação de Adão, todos os ho- 239
naturalem possibilitatem1 et innocentiam perdidis- mens perderam a habilitação natural1 e a inocência,
se, et neminem de profundo illius ruinae per libe- e ninguém pode, mediante o livre-arbítrio, erguer-
rum arbitrium posse consurgere, nisi eum gratia Dei se do abismo daquela queda, a não ser que o tenha
miserentis erexerit, pronuntiante beatae memoriae reerguido a graça de Deus misericordioso, como
Innocentio papa atque dicente in epistula ad Car- declara o Papa Inocêncio, de feliz memória, que, na
thaginense concilium2: “Liberum enim arbitrium carta ao Concílio de Cartago2, diz: “Ele, sucumbin-
olim ille perpessus, dum suis inconsultius utitur do então ao livre-arbítrio, enquanto usava dos seus
bonis, cadens in praevaricationis profunda demersus bens de modo indevido, ao cair, afundou no abismo
est, et nihil, quemadmodum exinde surgere posset, da prevaricação e não encontrou modo algum de
invenit; suaque in aeternum libertate deceptus, huius poder se reerguer; e, para sempre enganado pela sua
ruinae iacuisset oppressu, nisi eum post Christi pro liberdade, teria ficado sob a opressão dessa queda
sua gratia relevasset adventus, qui per novae rege- se, em seguida, não o tivesse reerguido com a sua
nerationis purificationem omne praeteritum vitium graça a vinda de Cristo, que, mediante a purifica-
sui baptismatis lavacro purgavit.” ção da nova regeneração, lavou com o banho do
seu batismo toda a culpa passada”.
Cap. 2. Neminem esse per semetipsum bonum, Cap. 2. Ninguém é bom por si mesmo, se aquele 240
nisi participationem sui ille donet, qui solus est que é o único a ser bom não concede participação
bonus. Quod in eisdem scriptis eiusdem pontificis de si mesmo. Isto é atestado pela afirmação do
sententia protestatur dicens1: “Numquid nos de eo- mesmo Papa, no mesmo escrito, quando diz1: “Po-
rum posthac rectum mentibus aestimemus, qui sibi deremos de agora em diante achar retos os concei-
se putant debere, quod boni sunt, nec illum consi- tos daqueles que pensam dever a si mesmos o que
derant, cuius quotidie gratiam consequuntur, qui sine eles têm de bom e não consideram aquele cuja gra-
illo tantum se assequi posse confidunt?” ça todo dia conseguem, confiando poder obter sem
ele algo tão grande?”
Cap. 3. Neminem etiam baptismatis gratia reno- Cap. 3. Ninguém, mesmo se renovado pela graça 241
vatum idoneum esse ad superandas diaboli insidias de batismo, é capaz de superar as insídias do diabo
et ad vincendas carnis concupiscentias, nisi per e de vencer as concupiscências da carne, se não tiver
quotidianum adiutorium Dei perseverantiam bonae recebido como dom a perseverança de manter-se
conservationis acceperit. Quod eiusdem antistitis in no bem pelo auxílio quotidiano de Deus. Isto é
eisdem paginis doctrina confirmat, dicens1: “Nam confirmado pelo ensinamento do mesmo bispo, nas
quamvis hominem redemisset a praeteritis ille pec- mesmas paginas, quando diz1: “De fato, se bem que
catis, tamen sciens iterum posse peccare, ad repara- ele tenha redimido o homem dos pecados do passa-
*239 1 Cf. Agostinho, De natura et gratia 40, n. 47 (CSEL 60, 268 / PL 44, 270).
2 Carta “In requirendis”, 27 jan. 417, n. 7 (CSEL 44, 709s) = n. 6 (PL 20, 586B).
*240 1 Ibid., n. 3 (CSEL 44, 705s / PL 20, 584B); aqui segue o texto completo segundo CSEL (no Indiculus, ou abreviado
ou defeituoso): “ … nem dirigem seu olhar para aquele cuja graça diariamente recebem? Mas exatamente os tais é que
ficam sem receber a graça de Deus, os que confiam que sem ele possam alcançar algo tão grande que mal o merecem
aqueles que o solicitam e recebem” (“… nec illum considerant, cuius cotidie gratiam consequuntur? Sed iam isti, qui
tales sunt, nullam Dei gratiam consequuntur, qui sine illo tantum se adsequi posse confidunt, quantum vix illi, qui ab
illo postulant et accipiunt, promerentur”).
*241 1 Ibid., n. 7 (CSEL 44, 710s) = n. 6 (PL 20, 586C).
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tionem sibi, quemadmodum posset illum et post ista do, todavia, sabendo que pode novamente pecar, teve
corrigere, multa servavit, quotidiana praestans illi de reservar muitas outras possibilidades de nova cura
remedia, quibus nisi freti confisique nitamur, nulla- – como pudesse corrigi-lo também depois –, doan-
tenus humanos vincere poterimus errores. Necesse do-lhe remédios quotidianos; e, se não nos apoiar-
est enim, ut quo auxiliante vincimus, eo iterum non mos confiantes nestes, não poderemos absolutamen-
adiuvante vincamur.” te vencer os erros humanos. Necessariamente, pois,
assim como graças à sua ajuda somos vencedores,
sem sua ajuda somos vencidos.
242 Cap. 4. Quod nemo, nisi per Christum, libero bene Cap. 4. Que ninguém use bem o livre-arbítrio a
utatur arbitrio, idem magister in epistula ad Milevi- não ser mediante Cristo, o proclama o mesmo mes-
tanum concilium [416] data praedicat dicens1: “Ad- tre numa carta dirigida ao Concílio de Mileve [416],
verte tandem, o pravissimarum mentium perversa onde diz1: “Lembra-te, finalmente, ó perversa dou-
doctrina, quod primum hominem ita libertas ipsa trina de mentes tão transviadas, que a própria liber-
decepit, ut, dum indulgentius frenis eius utitur, in dade enganou o primeiro homem de tal modo que,
praevaricationem praesumptione conciderit. Nec ex ao usar seus freios com maior frouxidão, se preci-
hac potuit erui, nisi ei providentia regenerationis pitou por presunção na prevaricação. E dela não
statum pristinae libertatis Christi Domini reformas- poderia ser tirado, se a vinda de Cristo Senhor com
set adventus.” a providência da regeneração não tivesse restabele-
cido o estado da primeira liberdade”.
243 Cap. 5. Quod omnia studia et omnia opera ac Cap. 5. Todo o empenho e toda a obra dos Santos
merita Sanctorum ad Dei gloriam laudemque refe- devem ser referidos à glória e ao louvor de Deus,
renda sint; quia nemo aliunde ei placet, nisi ex eo, porque ninguém de outro modo lhe é agradável
quod ipse donaverit. In quam nos sententiam dirigit senão partindo de quanto ele mesmo lhe tiver dado.
beatae recordationis papae Zosimi regularis auctori- Para este princípio dirige a nossa atenção a autori-
tas, cum scribens ad totius orbis episcopos ait1: “Nos dade normativa do Papa Z ó s i m o , de feliz memó-
autem instinctu Dei (omnia enim bona ad auctorem ria, quando, escrevendo aos bispos do orbe inteiro,
suum referenda sunt, unde nascuntur) ad fratrum et diz1: Nós, por moção de Deus (pois toda coisa boa
coepiscoporum nostrorum conscientiam universa deve ser referida a seu autor, de onde nasce) temos
retulimus.” Hunc autem sermonem sincerissimae mandado tudo para análise e parecer dos nossos
veritatis luce radiantem tanto Afri episcopi honore irmãos e bispos”. Os bispos africanos acolheram
venerati sunt, ut ita ad eundem virum scriberent: com tanta veneração esta palavra, radiante da luz
“Illud vero, quod in litteris, quas ad universas pro- da mais sincera verdade, que chegaram a respon-
vincias curasti esse mittendas, posuisti dicens: ‘Nos der-lhe: “O que puseste por escrito na tua carta,
tamen instinctu Dei, etc.,’ sic accepimus dictum, ut mandada a todas as províncias, dizendo: ‘Nós, por
illos, qui contra Dei adiutorium extollunt humani moção de Deus etc.’, o recebemos no sentido de
arbitrii libertatem, districto gladio veritatis velut que tu, desnudando a espada da verdade, como
cursim transiens amputares. Quid enim tam libero passando em corrida, estarias cortando os que er-
fecistis arbitrio, quam quod universa in nostrae hu- guem contra o auxílio de Deus a liberdade do arbí-
militatis conscientiam retulistis. Et tamen instinctu trio humano. Que, pois, fizestes com tão livre arbí-
Dei factum esse fideliter sapienterque vidistis, vera- trio, senão que referistes tudo à consciência de nos-
citer fidenterque dixistis. Ideo utique, quia ‘praepa- sa humildade! E, todavia, fiel e sabiamente reco-
ratur voluntas a Domino’ [Prv 8,35 Septg.; cf. *374], nhecestes e com verdade e confiança dissestes que
et ut boni aliquid agant, paternis inspirationibus foi por moção de Deus. Por isso, certamente, já que
suorum ipse tangit corda filiorum. ‘Quotquot enim ‘a vontade é preparada pelo Senhor’ [Pr 8,35 Septg.;
Spiritu Dei aguntur, hi filii Dei sunt’ [Rm 8,14 ]; ut cf. *374], é ele mesmo que toca o coração dos fi-
nec nostrum deesse sentiamus arbitrium, et in bonis lhos com paternas inspirações para que façam algo
quibusque voluntatis humanae singulis motibus de bom. ‘Pois todos os que são conduzidos pelo
magis illius valere non dubitemus auxilium.” Espírito de Deus, são filhos de Deus’ [Rm 8,14];
*242 1 Carta “Inter ceteras”, 27 jan. 417, n. 3 (CSEL 44, 718s / PL 20, 591A).
*243 1 Epistula tractoria (cf. *231).
92
*244 1 Outro fragmento da Epistula tractoria. Com muita probabilidade pertence também a esta carta o inteiro cap. 7 do
Indiculus, que repete quase verbalmente os cânones 3-5 do Sínodo de Cartago (*225-227).
93
non habere, cum sit utrumque donum Dei, et scire, não tê-la para o que edifica, pois ambas as coisas
quid facere debeamus, et diligere, ut faciamus, ut são dom de Deus, tanto o saber o que devemos fa-
aedificante caritate, scientia non possit inflare. Si- zer quanto o amar para fazê-lo, afim de que, por
cut autem de Deo scriptum est: ‘Qui docet homi- meio da caridade que edifica, a ciência não possa
nem scientiam’ [Ps 93,10], ita scriptum est etiam: inchar. Como, porém, a respeito de Deus está escri-
‘Caritas ex Deo est’ [1 Io 4,7]”. to: “Quem ensina ao homem a ciência” [Sl 94,10],
assim também está escrito: “A caridade vem de
Deus” [1Jo 4,7].
Item quinto capitulo: “Ut quisquis dixerit, ideo Igualmente no capítulo quinto: “Quem disser que
nobis gratiam iustificationis dari, ut, quod facere per a graça da justificação nos é dada para que mais
liberum arbitrium iubemur, facilius possimus facilmente cumpramos, mediante a graça, o que pelo
implere per gratiam, tamquam etsi gratia non dare- livre-arbítrio nos é mandado fazer, como se, não
tur, non quidem facile, sed tamen possimus etiam nos sendo dada a graça, todavia pudéssemos sem
sine illa implere divina mandata, anathema sit. De ela cumprir os mandamentos divinos, embora não
fructibus enim mandatorum Dominus loquebatur, com facilidade, seja anátema. De fato, quando esta-
ubi non ait: Sine me difficilius potestis facere, sed va falando dos frutos dos mandamentos, o Senhor
ait: ‘Sine me nihil potestis facere’ [Io 15,5]”. não disse: Sem mim podeis fazer algo, mas com
mais dificuldade; ao contrário, ele disse: ‘Sem mim
nada podeis fazer’ [Jo 15,5]”.
246 Cap. 81. Praeter has autem beatissimae et Apos- Cap. 81. Além dessas invioláveis deliberações da
tolicae Sedis inviolabiles sanctiones, quibus nos beatíssima e Apostólica Sé, com as quais os piedo-
piissimi Patres, pestiferae novitatis elatione deiecta, síssimos Padres, rejeitada a arrogância da pestífera
et bonae voluntatis exordia et incrementa probabi- novidade, nos ensinaram a atribuir à graça de Cristo
lium studiorum et in eis usque in finem perseveran- tanto a inicial boa vontade quanto o incremento dos
tiam ad Christi gratiam referre docuerunt, obsecra- louváveis esforços e a perseverança neles até o fim,
tionum quoque sacerdotalium sacramenta respicia- tenhamos em consideração também os sacramentos
mus, quae ab Apostolis tradita in toto mundo atque das públicas orações sacerdotais, que, trazidos des-
in omni Ecclesia catholica uniformiter celebrantur, de os Apóstolos, são celebrados uniformemente em
ut legem credendi lex statuat supplicandi2. todo o mundo e em cada Igreja católica, para que a
norma do orar determine a norma do crer2.
Cum enim sanctarum plebium praesules manda- De fato, quando os chefes dos povos santos cum-
ta sibimet legatione fungantur, apud divinam cle- prem o encargo a eles confiado, defendem a causa
mentiam humani generis agunt causam, et tota se- do gênero humano junto à clemência divina e, ge-
cum Ecclesia congemiscente, postulant et precan- mendo com eles toda a Igreja, pedem e suplicam
tur, ut infidelibus donetur fides, ut idololatrae ab que aos não-crentes seja dada a fé, que os idólatras
impietatis suae liberentur erroribus, ut Iudaeis abla- se livrem dos erros de sua impiedade, que aos ju-
to cordis velamine lux veritatis appareat, ut haere- deus, tirado o véu do coração, apareça a luz da ver-
tici catholicae fidei perceptione resipiscant, ut schis- dade, que os hereges, mediante o entendimento da
matici spiritum redivivae caritatis accipiant, ut lapsis fé católica, voltem à razão, que os cismáticos aco-
paenitentiae remedia conferantur, ut denique cate- lham o espírito da renovada caridade, que aos lap-
chumenis ad regenerationis sacramenta perductis sos sejam oferecidos os remédios da penitência e,
caelestis misericordiae aula reseretur. finalmente, que aos catecúmenos, levados aos sa-
cramentos da regeneração, se abra o recinto da
misericórdia celeste.
Haec autem non perfunctorie neque inaniter a Que isso, porém, não se pede ao Senhor por for-
Domino peti rerum ipsarum monstrat effectus: malidade ou ineficazmente, o demonstra o efeito:
quandoquidem ex omni errorum genere plurimos pois Deus se digna atrair muitos do meio de todo
Deus dignatur attrahere, quos “erutos de potestate gênero de erros para que, “tirados do poder das tre-
*246 1 Este cap. 8 tem relação estreita com Próspero de Aquitânia, De vocatione omnium gentium I 12 (PL 51, 664CD).
2 Lema que evidencia a liturgia como fonte do conhecimento teológico.
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tenebrarum transferat in regnum Filii caritatis suae” vas, os transfira para o reino do Filho do seu amor”
[cf. Col 1,13], et “ex vasis irae faciat vasa miseri- [cf. Cl 1,13] e “de vasos de ira, os transforme em
cordiae” [cf. Rm 9,22s]. Quod adeo totum divini vasos de misericórdia” [cf. Rm 9,22]. Tão claramen-
operis esse sentitur, ut haec efficienti Deo gratia- te percebe-se que tudo isso é obra divina, que sem-
rum semper actio laudisque confessio pro illumina- pre se devem dirigir ação de graças e louvores a
tione talium vel correctione referatur. Deus, que opera isso para a iluminação e correção
dessas pessoas.
Cap. 9. Illud etiam, quod circa baptizandos in Cap. 9. Consideremos também com olhar dili- 247
universo mundo sancta Ecclesia uniformiter agit, gente o uniforme procedimento da santa Igreja no
non otioso contemplamur intuitu. Cum sive parvuli mundo inteiro a respeito dos batizandos. Quando,
sive iuvenes ad regenerationis veniunt sacramentum, crianças ou jovens, se apresentam para o sacramen-
non prius fontem vitae adeunt, quam exorcismis et to da regeneração, eles não se aproximam da fonte
exsufflationibus clericorum spiritus ab eis immundus da vida antes que, com exorcismos e insuflações
abigatur; ut tunc vere appareat, quomodo princeps por parte dos clérigos, seja afastado deles o espírito
mundi huius mittatur foras [Io 12,31], et quomodo imundo. Assim manifesta-se verdadeiramente como
prius alligetur fortis [cf. Mt 12,29], et deinceps vasa o príncipe deste mundo é lançado fora [Jo 12,31], e
eius diripiantur [cf. Mc 3,27], in possessionem trans- como o homem forte primeiro é amarrado [cf. Mt
lata victoris, qui “captivam ducit captivitatem” [Eph 12,29] e depois lhe são roubados os pertences [cf.
4,8], et dat dona hominibus [Ps 67,19]. Mc 3,27] e passados ao poder do vencedor, que “leva
cativo o cativeiro” [Ef 4,8] e distribui dons aos ho-
mens [Sl 68,19].
His ergo ecclesiasticis regulis et ex divina sumptis Com estas regras eclesiásticas e com os testemu- 248
auctoritate documentis, ita adiuvante Domino nhos recebidos da autoridade divina, fomos, com o
confirmati sumus, ut omnium bonorum affectuum auxílio do Senhor, de tal forma confirmados que pro-
atque operum et omnium studiorum omniumque fessamos ser Deus autor de todos os bons sentimen-
virtutum, quibus ab initio fidei ad Deum tenditur, tos e obras e de todos os esforços e de todas as vir-
Deum profiteamur auctorem, et non dubitemus, ab tudes com as quais, desde o começo da fé, se tende
ipsius gratia omnia hominis merita praeveniri, per para Deus; e não duvidamos que todos os méritos
quem fit, ut aliquid boni et velle incipiamus et face- do homem são prevenidos pela graça daquele por
re [cf. Phil 2,13]. meio de quem acontece que comecemos tanto a
querer como a fazer algo de bom [cf. Fl 2,13].
Quo utique auxilio et munere Dei non aufertur Certamente, por este auxílio e dom de Deus não
liberum arbitrium, sed liberatur, ut de tenebroso é suspenso o livre-arbítrio, mas liberado, para que,
lucidum, de pravo rectum, de languido sanum, de de tenebroso, se torne luminoso, de doente, são, de
imprudente sit providum. Tanta enim est erga om- imprudente, sabio. Pois tão grande é a bondade
nes homines bonitas Dei, ut nostra velit esse merita, de Deus para com todos os homens que ele quer
quae sunt ipsius dona, et pro his, quae largitus est, que sejam nossos os méritos que são seus próprios
aeterna praemia sit donaturus1. Agit quippe in no- dons e que ele dará prêmios eternos por aquilo que
bis, ut, quod vult, et velimus et agamus, nec otiosa ele <mesmo> presenteou!1 Ele age verdadeiramen-
in nobis esse patitur, quae exercenda, non negligen- te em nós de tal maneira que queiramos e façamos
da, donavit, ut et nos cooperatores simus gratiae Dei. aquilo que ele quer, e não suporta que fique inope-
Ac si quid in nobis ex nostra viderimus remissione rante em nós quanto ele doou para que fosse colo-
languescere, ad illum sollicite recurramus, qui sanat cado em obra e não ficasse esquecido, de modo que
omnes languores nostros et redimit de interitu vi- também nós sejamos cooperadores da graça de
tam nostram [Ps 102,3s], et cui quotidie dicimus: Deus. E se tivermos constatado que algo em nós
Ne inducas nos in tentationem, sed libera nos a malo murcha por causa de nossa falta de cuidado, recor-
[Mt 6,13]. ramos solícitos a ele que cura todas as nossas en-
fermidades e salva da morte a nossa vida [Sl 103,3s];
a ele cada dia digamos: Não nos deixes cair em
tentação, mas livra-nos do mal [Mt 6,13].
*248 1 Agostinho, Carta 194, ao presbítero Sixto, cap. 5, n. 19 (CSEL 57, 190s / PL 33, 880).
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249 Cap. 10. Profundiores vero difficilioresque par- Cap.10. As partes mais profundas e difíceis, po-
tes incurrentium quaestionum, quas latius pertrac- rém, das questões atinentes, que são tratadas mais
tarunt, qui haereticis restiterunt, sicut non audemus amplamente por aqueles que resistiram aos here-
contemnere, ita non necesse habemus adstruere, quia ges, se não temos a impertinência de desprezá-las,
ad confitendum gratiam Dei, cuius operi ac digna- também não temos necessidade de reapresentá-las.
tioni nihil penitus subtrahendum est, satis sufficere De fato, cremos que, para professar a graça de Deus,
credimus, quidquid secundum praedictas regulas de cuja obra e condescendência absolutamente nada
Apostolicae Sedis nos scripta docuerunt: ut prorsus deve ser subtraído, é suficiente quanto nos têm en-
non opinemur catholicum, quod apparuerit praefi- sinado os escritos da Sé Apostólica segundo os su-
xis sententiis esse contrarium. praditos princípios; neste sentido, pois, não julga-
mos católico o que se mostrar contrário às senten-
ças acima estabelecidas.
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po1thtow, dia2 th9w a3fra1stoy kai2 a3por3r4h1toy pro2w de e a humanidade, mediante seu inefável e arcano
e4no1thta syndromh9w. … encontro na unidade, formaram para nós um só
Senhor e Cristo e Filho …
Oy3 ga2r prv9ton a5nurvpow e3gennh1uh koino2w e3k Com efeito, não nasceu antes, da santa Virgem, 251
th9w a4gi1aw Parue1noy= ei0u’ oy7tvw katapefoi1thken um homem qualquer, sobre o qual depois desceria o
e3p’ ay3to2n o4 Lo1gow= a3ll’ e3j ay3th9w mh1traw e4nvuei2w Verbo, mas se diz que <este>, unido desde o útero
y4pomei9nai le1getai ge1nnhsin sarkikh1n, v4w th9w materno, assumiu o nascimento carnal, apropriando-
i3di1aw sarko2w th2nge1nnhsin oi3keioy1menow. ... Oy7tvw se o nascimento de sua própria carne. … Por isso,
teuarsh1kasi, ueoto1kon ei3pei9n th2n a4gi1an parue1non, eles [os santos Padres] não duvidaram chamar a san-
oy3x v4w th9w toy9 Lo1goy fy1sevw h5toi th9w ueo1thtow ta Virgem de Deípara, não no sentido de que a natu-
ay3toy9 th2n a3rxh2n toy9 ei0nai laboy1shw e3k th9w a4gi1aw reza do Verbo ou a sua divindade tenham tido ori-
parue1noy, a3ll’ v4w gennhue1ntow e3j ay3th9w toy9 a4gi1oy gem da santa Virgem, mas no sentido de que o Verbo
sv1 m atow cyxvue1 n tow logikv9 w , öß kai2 kau’ se diz nascido <de Maria> segundo a carne, por ter
y4po1stasin e4nvuei2w o4 Lo1gow gegennh9suai le1getai tomado dela o santo corpo dotado de alma racional
kata2 sa1rka. ao qual também estava unido segundo a hipóstase.
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y4pola1bü, ti1uhsin to2 “Xristo1w”, v4w th9w a3pauoy9w Verbo, fosse passível, usou o <termo> “Cristo”
kai2 pauhth9w oy3si1aw e3n monadikö9 prosv1pö como denominação que significa, numa única pes-
proshgori1an shmantikh1n, o7pvw kai2 a3pauh2w o4 soa, a substância impassível e a que é passível, para
Xristo2w kai2 pauhto2w a3kindy1nvw kaloi9to, a3pauh2w que se pudesse, sem perigo de confusão, dizer que
me2n ueo1thti,pauhto2w de2 tü9 toy9 sv1matow fy1sei. o Cristo é impassível e passível: impassível na di-
vindade, passível na natureza do corpo.
251c (c. 5) Polla2 le1gein peri2 toy1toy dyna1menow kai2 (Cap. 5) Eu poderia dizer muitas coisas a este
prv9to1n ge to2 mhde2 gennh1sevw e3pi2 th9w oi3konomi1aw, propósito; e antes de tudo, que aqueles santos Pa-
a3ll’ e3nanurvph1sevw toy2w a4gi1oyw e3kei1noyw mnhmo- dres não falaram, no quadro da economia da salva-
ney9sai pate1raw, th2n th9w braxylogi1aw e3n prooi- ção, de nascimento, mas de humanação; mas sinto
mi1oiw y4po1sxesin xalinoy9san to2n lo1gon ai3sua1- que a promessa que fiz no início, de falar breve-
nomai kai2 pro2w to2 dey1teron th9w sh9w a3ga1phw kinoy9- mente, limita o meu discurso e me leva ao segundo
san kefa1laion, e3n öß th2n me2n tv9n fy1sevn e3pü1noyn- capítulo de teu encarecido <escrito>, no qual eu
diai1resin kata2 to2n th9w a3nurvpo1thtow kai2 ueo1thtow achei louvável a separação das naturezas em razão
lo1gon kai2 th2n toy1tvn ei3w e4no2w prosv1poy [sic!] da humanidade e da divindade e a sua conjunção
syna1feian kai2 to2 to2n Ueo2n lo1gon deyte1raw e3k em uma só pessoa [sic!], e também que não se diz
gynaiko2w mh2 fa1skein dedeh9suai gennh1sevw kai2 que Deus, o Verbo, precisou de um segundo nasci-
toy9 pa1uoyw a5dekton o4mologei9n th2n ueo1thta. 3Oruo1- mento de mulher, e que se afirma que a divindade
doja ga2r v4w a3lhuv9w ta2 toiay9ta kai2 tai9w tv9n é incapaz de sofrer. Tudo isso, de fato, é verdadei-
ai4re1sevn pasv9n peri2 ta2w despotika2w fy1seiw ramente ortodoxo e contrário às opiniões errôneas
e3nanti1a kakodoji1aiw. Ta2 loipa2 de2 ei3 me1n tina de todas as heresias sobre as duas naturezas do
sofi1an kekrymme1nhn e3ph1geto tai9w tv9n a3naginvs- Senhor. Se o resto, porém, introduz alguma sabe-
ko1ntvn a3koai9w a3kata1lhpton, th9w sh9w e3stin doria oculta, incompreensível aos ouvidos dos lei-
a3kribei1aw ei3de1nai= e3moi9 goy9n ta2 prv9ta kata- tores, compete à tua diligência sabê-lo; a mim pa-
stre1fein e3do1kei. To2n ga2r e3n toi9w prv1toiw a3pauh9 receu que contradiz o que precede. Pois aquele que
khryxue1nta kai2 deyte1raw gennh1sevw a5dekton pa1lin inicialmente é dito impassível e sem necessidade
pauhto2n kai2 neo1ktiston oy3k oi0d’ o7pvw ei3sh9gen, de um segundo nascimento, depois, não sei como,
v4w tv9n kata2 fy1sin tö9 Ueö9 lo1gö proso1ntvn tü9 <o escrito> o introduzia como passível e novamen-
toy9 naoy9 synafei1ä diefuarme1nvn h6 mikroy9 tinow te criado, como se as propriedades que convêm por
toi9w a3nurv1poiw nomizome1noy toy9 to2n a3nama1rthton natureza a Deus, o Verbo, tivessem sido destruídas
nao2n kai2 th9w uei1aw a3xv1riston fy1sevw th2n y4pe2r pela conjunção com o templo; ou como se resul-
a4martvlv9n ge1nnhsi1n te kai2 teleyth2n y4pomei9nai tasse de pouca monta aos olhos dos homens que
h6 pistey1esuai th9w despotikh9w oy3k o3feiloy1shw este templo impecável, inseparável da natureza di-
fvnh9w pro2w 3Ioydai1oyw bov1shw= “Ly1sate to2n nao2n vina, assumisse o nascimento e a morte pelos pe-
toy9ton, kai2 e3n trisi2n h4me1raiw e3gerv9 ay3to1n” [Io cadores; ou <como se> não se devesse crer na voz
2,19], oy3= ly1sate1 moy th2n ueo1thta kai2 e3n trisi2n do Senhor, que gritou aos judeus: “Destruí, vós,
h4me1raiw e3geruh1setai. este templo, e em três dias o reerguerei” [Jo 2,19],
não: Destruí a minha divindade, e em três dias ela
será reerguida.
251d (c. 6) … Pantaxoy9 th9w uei1aw grafh9w, h4ni1ka a6n (Cap. 6) … A divina Escritura, sempre que lem-
mnh1mhn th9w despotikh9w oi3konomi1aw poih9tai, bra a economia da senhorial salvação, atribui o nas-
ge1nnhsiw h4mi9n kai2 pa1uow oy3 th9w ueo1thtow, a3lla2 cimento e a paixão não à divindade mas à humani-
th9w a3nurvpo1thtow toy9 Xristoy9 paradi1dotai, v4w dade de Cristo, de modo que, em termos mais cor-
kalei9suai kata2 a3kribeste1ran proshgori1an th2n retos, a santa Virgem é chamada Cristípara e não
a4gi1an parue1non Xristoto1kon, oy3 Ueoto1kon. Kai2 Deípara. Escuta, portanto o que proclamam os evan-
a5koye tay9ta tv9n ey3aggeli1vn bov1ntvn= “Bi1blow”, gelhos: “Livro”, dizem, “da origem de Jesus Cristo,
fhsi1n, “gene1sevw, 3Ihsoy9 Xristoy9 yi4oy9 Dayi2d yi4oy9 filho de Davi, filho de Abraão” [Mt 1,1]. Ora, é
Abraa1
3 m” [Mt 1,1]. Dh9lon de2 o7ti toy9 Dayi2d yi4o2w o4 evidente que Deus, o Verbo, não era filho de Davi.
Ueo2w Lo1gow oy3k h0n. De1xoy kai2 a5llhn, ei3 dokei9, Escuta ainda, se parecer bom, um outro testemu-
martyri1an “ 3Iakv2b de2 e3ge1nnhse to2n 3Ivsh2f to2n nho: “Jacó gerou José, o esposo de Maria, da qual
a5ndra Mari1aw, e3j hßw e3gennh1uh 3Ihsoy9w o4 lego1menow nasceu Jesus, chamado Cristo” [Mt 1,16]. Preste
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Xristo1w” [Mt 1,16]. Sko1pei pa1lin e4te1ran h4ma9w atenção ainda a uma outra voz, que nos atesta: “Eis
diamartyrome1nhn fvnh1n= “Toy9 de2 3Ihsoy9 Xristoy9 como foi a origem de Jesus Cristo: depois que sua
h4 ge1nnhsiw oy7tvw h0n. Mnhsueyuei1shw ga2r th9w mãe Maria fora desposada a José, foi encontrada
mhtro2w ay3toy9 Mari1aw tö9 3Ivsh1f, ey4re1uh e3n gastri2 grávida <por obra> do Espírito Santo” [Mt 1,18].
e5xoysa e3k pney1matow a4gi1oy” [Mt 1,18]. Kti1sma Será que alguém pensará que a divindade do Uni-
de2 Pney1matow ti1w a6n th2n toy9 monogenoy9w y4pola1boi gênito seja uma criatura do Espírito Santo? E que
ueo1thta; Ti1 dei9 le1gein kai2 to2 “h0n h4 mh1thr toy9 dizer da <expressão>: “Estava ali a mãe de Jesus”
3Ihsoy9 e3kei9” [Io 2,1]; kai2 pa1lin to2 “sy2n Mari1ä [Jo 2,1]? E ainda: “com Maria, a mãe de Jesus” [At
tü9 mhtri2 toy9 3Ihsoy9” [Act 1,14] kai2 to2 “to2 e3n 1,14]; e mais adiante: “O que nela foi gerado vem
ay3tü9 gennhue2n e3k pney1mato1w e3stin a4gi1oy” [Mt 1,20] do Espírito Santo” [Mt 1,20]; e: “Toma o menino e
kai2 to2 “la1be to2 paidi1on kai2 th2n mhte1ra ay3toy9 sua mãe e foge para o Egito” [Mt 2,13]; e: “Acerca
kai2 fey9ge ei3w Ai5gypton” [Mt 2,13] kai2 to2 “Peri2 de seu filho nascido da semente de Davi segundo a
toy9 yi4oy9 ay3toy9 toy9 genome1noy e3k spe1rmatow Dayi2d carne” [Rm 1,3]; e, de novo, a respeito da sua pai-
kata2 sa1rka” [Rm 1,3] kai2 peri2 toy9 pa1uoyw ay0uiw xão: “Deus, tendo mandado o próprio Filho em carne
o7ti “o4 Ueo2w to2n e4aytoy9 yi4on2 pe1mcaw e3n o4moiv1mati semelhante à do pecado e em vista do pecado, con-
sarko2w a4marti1aw kai2 peri2 a4marti1aw kate1krine denou o pecado na carne” [Rm 8,3]; e ainda: “Cris-
th2na4marti1an e3n tü9 sarki1” [Rm 8,3] kai2 pa1lin to morreu pelos nossos pecados” [1Cor 15,3]; e:
“Xristo2w a3pe1uanen y4pe2r tv9n a4martiv9n h4mv9n” [1 “Porque Cristo sofreu na carne” [1Pd 4,1] e: “Isto
Cor 15,3] kai2 “Xristoy9 pauo1ntow sarki1” [1 Pt é”, não a minha divindade, mas “o corpo que é re-
4,1] kai2 “Toy9to1 e3stin”, oy3x h4 ueo1thw moy9, a3lla2 partido por vós” [1Cor 11,24]?
“to2 sv9ma to2 y4pe2r y4mv9n klv1menon” [1 Cor 11,24].
(c. 7) Kai2 a5llvn myri1vn fvnv9n diamartyro- (Cap. 7.) E outras palavras incontáveis testemu- 251e
me1nvn tv9n a3nurv1pvn to2 ge1now mh2 th2n toy9 yi4oy9 nham ao gênero humano que não se deve pensar
nomi1zein ueo1thta pro1sfaton h6 pa1uoyw svmatikoy9 que a divindade do Filho seja recente e capaz de
dektikh1n, a3lla2 th2n synhmme1nhn tü9 fy1sei th9w sofrer no corpo, mas a carne unida à natureza divina
ueo1thtow sa1rka. 7Ouen kai2 ky1rion toy9 Dayi2d e4ay- <o é>. Por isso, Cristo se autodefine senhor de Davi
to2n o4 Xristo2w kai2 yi4on2 o3noma1zei= “Ti1 ga1r”, fhsi1n, e filho dele quando diz: “Que vos parece a respeito
“y4mi9n dokei9 peri2 toy9 Xristoy9; ti1now yi4o1w e3sti; do messias? De quem é filho? Responderam-lhe: De
le1goysin ay3tö9= toy9 Dayi1d. Apekri1
3 uh 3Ihsoy9w kai2 Davi. E Jesus lhes respondeu e disse: Como então
ei0pen ay3toi9w= pv9w oy0n Dayi2d e3n pney1mati ky1rion Davi, sob inspiração, o chama Senhor, dizendo: Disse
ay3to2n kalei9, le1gvn= ei0pen o3 ky1riow tö9 kyri1ö o Senhor ao meu Senhor: Senta-te à minha direita”
moy= ka1uoy e3k dejiv9n moy” [Mt 22,42-44]= v4w yi4ow2 [Mt 22,42-44]? O fato é que ele é de Davi perfeita-
v6n pa1ntvw toy9 Dayi2d kata2 sa1rka, kata2 de2 th2n mente filho segundo a carne e senhor segundo a di-
ueo1thta ky1riow. Ei0nai me2n oy0n th9w toy9 yi4oy9 vindade. É certo e conforme à tradição evangélica
ueo1thtow to2 sv9ma nao2n kai2 nao2n kat’ a5kran tina2 confessar que o corpo é o templo da divindade do
kai2 uei1an h4nvme1nvn syna1feian, v4w oi3keioy9suai Filho, templo no sentido de uma suprema e divina
ta2 toy1toy th2n th9w ueo1thtow fy1sin, o4mologei9suai conjunção dos <elementos> unidos, de modo que a
kalo2n kai2 tv9n ey3aggelikv9n parado1sevn a5jion= divina natureza se apropria aquilo que pertence a
to2 de2 dh2 tö9 th9w oi3keio1thtow prostri1bein o3no1mati este <templo>. Mas quando ao termo apropriação
kai2 ta2w th9w synhmme1nhw sarko2w i3dio1thtaw, ge1nnh- se associam as propriedades da carne adjunta, quero
sin le1gv kai2 pa1uow kai2 ne1krvsin, h6 planvme1nhw dizer, o nascimento, a paixão e a morte, isso aí, ó
e3sti1n, a3delfe1, kau’ 7Ellhnaw dianoi1aw h6 ta2 toy9 irmão, é coisa de um pensamento errôneo, à moda
frenoblaboy9w Apolinari1
3 oy kai2 Arei1
3 oy kai2 tv9n dos gregos <= pagãos>, ou afetado pelo desvario de
a5llvn nosoy1shw ai4re1sevn, ma9llon de1 ti ka3kei9nvn Apolinário, de Ário e de outras heresias, ou antes,
bary1teron. Ana13 gkh ga2r tö9 th9w oi3keio1thtow toy2w coisa mais grave ainda. É inevitável, então, que
toioy1toyw parasyrome1noyw o3no1mati kai2 galaktot- aqueles que se deixam seduzir por este termo “apro-
rofi1aw koinvno2n dia2 th2n oi3keio1thta to2n Ueo2n priação”, em nome da apropriação fazem o Deus-
Lo1gon poiei9n kai2 th9w kata2 mikro2n ay3jh1sevw me1to- Verbo partícipe do amamentamento, sujeito do gra-
xon kai2 th9w e3n tö9 toy9 pa1uoyw kairö9 deili1aw kai2 dativo crescimento e do medo no momento da pai-
bohuei1aw a3ggelikh9w e3ndea9. Kai2 sivpv9peritomh2n xão, e necessitado do auxílio dos anjos. E não fala-
kai2 uysi1an kai2 i4drv9taw kai2 peina9n, a8 tü9 sarki2 rei da circuncisão, do sacrifício, do suor, da fome,
me2n v4w di’ h4ma9w symba1nta proskynhta2 prosap- coisas dignas de adoração quando atribuídos à car-
99
to1mena e3pi2 de2 th9w ueo1thtow tay9ta kai2 ceydh9 ne, já que ele as sofreu por nossa causa, mas que,
lambano1mena kai2 h4mi9n v4w sykofa1ntaiw dikai1aw atribuídas à divindade, são mentiras e nos merecem
katakri1sevw ai5tia. justa condenação como caluniadores.
100
toy9to noei9n a3nagka1sei) kai2 oy3xi2 dh2 ma9llon miä9 sempre se acrescenta faz pensar nisso) e não honra
proskynh1sei timä9 to2n 3Emmanoyh2l kai2 mi1an ay3tö9 com uma única adoração o Emanuel, atribuindo-
th2n dojologi1an a3na1ptei, kauo2 ge1gone sa2rj o4 lhe um único e mesmo louvor, visto que o Verbo
lo1gow=a3na1uema e5stv. veio a ser carne, seja anátema.
u .1 Ei5 ti1w fhsin to2n e7na ky1rion 3Ihsoy9n Xristo2n 9. Se alguém disser que o único Senhor, Jesus 260
dedoja1suai para2 toy9 pney1matow, v4w a3llotri1ä Cristo, foi glorificado pelo Espírito no sentido de
dyna1mei tü9 di 3 ay3toy9 xrv1menon, kai2 par’ ay3toy9 ter usado a força que dele <recebera> como <uma
labo1nta to2 e3nergei9n dy1nasuai kata2 pneyma1tvn força> alheia, e que dele recebeu a capacidade de
a3kaua1rtvn, kai2 to2 plhroy9n ei3w a3nurv1poyw ta2w operar contra os espíritos imundos e de realizar para
ueoshmei1aw, kai2 oy3xi2 dh2 ma9llon i5dion ay3toy9 to2 os homens os sinais divinos, em vez de dizer que
pney9ma1 fhsin, di 3 oyß kai2 e3nh1rghke ta2w ueoshmei1aw= lhe é próprio o Espírito pelo qual operou os sinais
a3na1uema e5stv. divinos, seja anátema.
i .1 Arxiere1
3 a kai2 a3po1stolon th9w o4mologi1aw h4mv9n 10. A divina Escritura diz que o Cristo se fez após- 261
[cf. Hbr 3,1] gegenh9suai Xristo1n, h4 uei1a le1gei tolo e sumo sacerdote da fé que nós professamos
grafh1, proskeko1mike de2 y4pe2r h4mv9n e4ayto2n ei3w [cf. Hb 3,1] e se ofereceu por nós em odor de sua-
o3smh2n ey3vdi1aw tö9 ueö9 [cf. Eph 5,2] kai2 patri1= ei5 vidade a Deus Pai [cf. Ef 5,2]. Por isso, se alguém
tiw toi1nyn a3rxiere1a kai2 a3po1stolon h4mv9n gege- disser que quem se fez nosso sumo sacerdote e após-
nh9suai1 fhsin oy3k ay3to2n to2n e3k Ueoy9 lo1gon, o7te tolo, quando se fez carne e homem como nós, não
ge1gone sa2rj kai2 kau’ h4ma9w a5nurvpow, a3ll’ v4w é o próprio Verbo que é de Deus, mas como se fos-
e7teron par’ ay3to2n i3dikv9w a5nurvpon e3k gynaiko1w= se outro, distinto dele, especificamente um homem
h6 ei5 tiw le1gei, kai2 y4pe2r e4aytoy9 prosenegkei9n <nascido> de mulher; ou se alguém disser que ofe-
ay3to2n th2n prosfora1n, kai2 oy3xi2 dh2 ma9llon y4pe2r receu o sacrifício também para si e não somente
mo1nvn h4mv9n (oy3 ga2r a6n e3deh1uh prosfora9w o4 mh2 por nós (pois quem não conhece o pecado não tem
ei3dv2w a4marti1an)= a3na1uema e5stv. necessidade de sacrifício), seja anátema.
ia .1 Ei5 tiw oy3x o4mologei9 th2n toy9 kyri1oy sa1rka 11. Se alguém não confessar que a carne do Se- 262
zvopoio2n ei0nai, kai2 i3di1an ay3toy9 toy9 e3k Ueoy9 nhor é vivificante e própria do Verbo mesmo que
patro2w lo1goy, a3ll’ v4w e4te1roy tino2w par’ ay3to2n provém do Pai, mas como que de um outro, distin-
synhmme1noy me2n ay3tö9 kata2 th2n a3ji1an h6 goy9n v4w to dele, coligado a ele pela dignidade ou só por ter
mo1nhn uei1an e3noi1khsin e3sxhko1tow, kai2 oy3xi2 dh2 recebido a divina habitação, e não, antes, que ela
ma9llon zvopoio1n, v4w e5fhmen, o7ti ge1gonen i3di1a é vivificante, como dissemos, por ter sido própria
toy9 lo1goy, toy9 ta2 pa1nta zvogonei9n i3sxy1ontow= do Verbo que pode vivificar todas as coisas, seja
a3na1uema e5stv. anátema.
ib’. Ei5 tiw oy3x o4mologei9 to2n toy9 Ueoy9 lo1gon 12. Se alguém não confessar que o Verbo de Deus 263
pauo1nta sarki1, kai2 e3stayrvme1non sarki1, kai2 sofreu na carne, foi crucificado na carne, sofreu a
uana1toy geysa1menon sarki1, gegono1ta te prvto1to- morte na carne e se tornou o primogênito dentre os
kon e3k tv9n nekrv9n, kauo2 zvh1 te1 e3sti kai2 zvopoio2w mortos, visto que, como Deus, é vida e é vivifican-
v4w Ueo1w= a3na1uema e5stv. te, seja anátema.
Condenação de Nestório
Pro2w toi9w a5lloiw, mh1te y4pakoy9sai boylhue1ntow Como o ilustríssimo Nestório, entre outras coi- 264
toy9 timivta1toy Nestori1oy tü9 par’ h4mv9n klh1sei, sas, não quis nem obedecer a nosso convocação,
mh1te mh2n toy2w par’ h4mv9n a3postale1ntaw a4givta1toyw nem acolher os santíssimos e piíssimos bispos man-
kai2 ueosebesta1toyw e3pisko1poyw prosdejame1noy, dados por nós, fomos obrigados a proceder ao exa-
a3nagkai1vw e3xvrh1samen e3pi2 th2n e3je1tasin tv9n me de suas ímpias expressões; e como, por suas
dyssebhue1ntvn ay3tö9 kai2 fvra1santew ay3to1n, e5k cartas, pelos escritos que foram lidos e pelas afir-
te tv9n e3pistolv9n ay3toy9 kai2 e3k tv9n syggramma1tvn mações recentemente proferidas nesta metrópole,
101
tv9n a3nagnvsue1ntvn kai2 e3k tv9n a3rti1vw par’ ay3toy9 como ficou atestado, o flagramos pensando e pre-
r4hue1ntvn kata2 th1nde th2n mhtro1polin kai2 pros- gando impiamente, obrigados pelos cânones e pela
martyrhue1ntvn dyssebv9w fronoy9nta kai2 khry1tton- carta do nosso santíssimo pai e colega no ministé-
ta, a3nagkai1vw katepeixue1ntew a3po1 te tv9n kano1nvn rio Celestino, bispo da Igreja de Roma, chegamos,
kai2 e3k th9w e3pistolh9w toy9 a4givta1toy patro2w h4mv9n muitas vezes com lágrimas, a esta dolorosa conde-
kai2 sylleitoyrgoy9 Kelesti1noy toy9 e3pisko1poy th9w nação dirigida contra ele:
‘Pvmai1vn 3Ekklhsi1aw, dakry1santew polla1kiw e3pi2
tay1thn th2n skyurvph2n kat’ ay3toy9 e3xvrh1samen
a3po1fasin=
4O blasfhmhuei2w toi1nyn par’ ay3toy9 Ky1riow h4mv9n Nosso Senhor Jesus Cristo, por ele blasfemado,
’Ihsoy9 w Xristo2 w v7 r ise dia2 th9 w paroy1 s hw estabeleceu, pela boca deste santíssimo Sínodo, que
a4givta1thw syno1doy, a3llo1trion ei0nai to2n ay3to2n o mesmo Nestório está excluído da dignidade epis-
Nesto1rion toy9 te e3piskopikoy9 a3jiv1matow kai2 copal e de todo e qualquer colégio sacerdotal.
panto2w syllo1goy i4eratikoy9.
102
ri1oy h6 ta2 Kelesti1oy fronh9sai, kai2 toy1toyw ei0nai idéias de Nestório ou de Celestino, fica decidido pelo
kauürhme1noyw, y4po2 th9w a4gi1aw syno1doy dedikai1vtai. sagrado Sínodo que também estes estão depostos.
103
de2 diairoy9ntaw v4w e3pi2 dy1o fy1sevn, kai2 ta2w me2n feridas> a uma única pessoa, enquanto distinguem
ueoprepei9w kata2 th2n ueo1thta toy9 Xristoy9, ta2w de2 outras como <referidas> a duas naturezas, atribuin-
tapeina2w kata2 th2n a3nurvpo1thta ay3toy9 paradi- do as dignas de Deus à divindade de Cristo, as mais
do1ntaw. humildes à sua humanidade.
A usura
280 (c. 3) Nec hoc quoque praetereundum duximus, (Cap. 3) Julgamos também não dever preterir o
quosdam lucri turpis cupiditate captatos usurariam fato de que alguns, tomados pelo desejo de lucro
exercere pecuniam, et faenore velle ditescere, quod torpe, praticam negócios com juro e querem enri-
Nos non dicam in eos, qui sunt in clericali officio quecer-se com o rendimento; e isto nos entristece,
constituti, sed et in laicos cadere, qui christianos se digo, não só quando acontece entre aqueles que estão
dici cupiunt, condolemus. Quod vindicari acrius in constituídos num ministério clerical, mas também
eos qui fuerint confutati decernimus, ut omnis pec- no caso de leigos que desejam ser chamados cris-
candi opportunitas adimatur. tãos. Determinamos que se exija severo castigo para
os que forem encontrados culpados, para que seja
eliminada qualquer ocasião de pecado.
281 (c. 4) Illud etiam duximus praemonendum, ut sicut (Cap. 4) Julgamos também dever advertir que
non suo, ita nec alieno nomine aliquis clericorum nenhum clérigo, nem em seu próprio nome, nem
exercere faenus adtemptet: indecens enim est, cri- em nome de outra pessoa procure tirar rendimento
men suum commodis alienis impendere. Faenus de juros, pois é inadmissível praticar um crime para
autem hoc solum aspicere et exercere debemus, ut o proveito de um outro. Devemos, ao contrário, con-
quod hic misericorditer tribuimus, ab eo Domino, siderar e praticar somente aquele empréstimo a ju-
qui multipliciter et in perpetuum mansura tribuet, ros no qual o que aqui emprestamos com miseri-
recipere valeamus. córdia, o podemos reaver junto àquele Senhor que
retribuirá em múltiplo e para sempre.
282: Carta “Quanta fraternitati” ao bispo Anastásio de Tessália, ano 446 (?)
Ed.: PL 54, 676AB (= carta 14) / BullCocq 1, 32bs/ BullTau 1, 53b-54a. – Reg.: JR 411.
104
tituti sollicitudinem susciperent ampliorem, per quos rio; e que, por sua vez, alguns constituídos nas cida-
ad unam Petri sedem universalis Ecclesiae cura des maiores assumissem uma responsabilidade mais
conflueret et nihil usquam a suo capite dissideret. ampla e através deles confluísse o cuidado da Igreja
universal com a única Sé de Pedro, e nada em ne-
nhum lugar ficasse separado de sua cabeça.
105
alius sit qui genuit, alius qui genitus est, alius qui Filho, ora Espírito Santo; e que não seja outro aquele
de utroque processit; sed singularis unitas in tribus que gerou, outro aquele que foi gerado, outro ainda
quidem vocabulis, sed non in tribus sit accipienda o que procedeu de ambos; mas que a singular uni-
personis. Quod blasphemiae genus de Sabellii opi- dade deva na verdade ser aceita em três vocábulos,
nione sumpserunt, cuius discipuli etiam Patripas- porém não em três pessoas. Eles tiraram este gêne-
siani merito nuncupantur; quia si ipse est Filius qui ro de blasfêmia do conceito de Sabélio, cujos discí-
et Pater, crux Filii Patris est passio; et quidquid in pulos justamente são chamados patripassionistas;
forma servi Filius Patri oboediendo sustinuit, totum pois, se o Filho é o mesmo que o Pai, a cruz do
in se Pater ipse suscepit. Filho é a paixão do Pai; e tudo quanto o Filho, na
condição de servo, obedecendo ao Pai suportou, tudo
isso o próprio Pai suportou em si.
Quod catholicae fidei sine ambiguitate contra- Isso é, sem dúvida, contrário à fé católica, que
rium est, quae Trinitatem deitatis sic homousion professa a Trindade da divindade de tal modo igual
confitetur, ut Patrem et Filium et Spiritum Sanc- na essência, que crê que o Pai, o Filho e o Espírito
tum sine confusione indivisos, sine tempore sem- Santo sejam sem confusão indivisos, sem tempo
piternos, sine differentia credat aequales: quia uni- sempiternos, sem diferença iguais, já que não a
tatem in trinitate non eadem persona, sed eadem unicidade da pessoa, mas da essência realiza a uni-
implet essentia. … dade na Trindade. …
Natureza do diabo
286 (c. 6) Sexta annotatio indicat eos dicere, quod (Cap. 6) A sexta anotação denuncia que eles di-
diabolus numquam fuerit bonus, nec natura eius zem que o diabo nunca foi bom e sua natureza não
opificium Dei sit, sed eum ex chao et tenebris emer- seja obra de Deus, mas que ele emergiu do caos e
sisse: quia scilicet nullum sui habeat auctorem, sed das trevas: isto significa que ele não tem autor al-
106
omnis mali ipse sit principium atque substantia: cum gum, mas seja ele mesmo a substância de todo o
fides vera … omnium creaturarum sive spiritualium mal, enquanto a verdadeira fé … professa que a
sive corporalium bonam confiteatur substantiam, et substância de todas as criaturas, quer espiritual quer
mali nullam esse naturam: quia Deus, qui universi- corporal, é boa e que não há nenhuma natureza do
tatis est conditor, nihil non bonum fecit. Unde et mal; pois Deus, que é criador de todas as coisas, não
diabolus bonus esset, si in eo quod factus est per- fez nada que não fosse bom. De onde também o diabo
maneret. Sed quia naturali excellentia male usus est seria bom se permanecesse no <estado> em que foi
“et in veritate non stetit” [Io 8,44], non in contra- feito. Mas, porque usou mal sua excelência natural e
riam transiit substantiam, sed a summo bono, cui “não permaneceu na verdade” [Jo 8,44], não passou
debuit adhaerere, descivit, sicut ipsi qui talia asse- para uma substância contrária, mas desligou-se do
runt, a veris in falsa proruunt et naturam in eo ar- sumo bem ao qual devia aderir, assim como os mes-
guunt, in quo sponte delinquunt ac pro sua volunta- mos que afirmam tais coisas caem da verdade na
ria perversitate damnantur. Quod utique in ipsis falsidade e acusam a natureza naquilo em que por pró-
malum erit, et ipsum malum non erit substantia, sed pria vontade cometem falta e são condenados por
poena substantiae. causa de sua voluntária perversidade. De qualquer
modo, o mal estará neles e o mal mesmo não será a
substância, mas o castigo <aplicado> à substância.
107
quem nec peccatum contaminare nec mors potuit sa natureza e a fizesse sua aquele que nem o pecado
detinere. pôde contaminar, nem a morte deter.
Conceptus quippe est de Spiritu Sancto intra ute- Foi, de fato, concebido do Espírito Santo no úte-
rum virginis matris, quae illum ita salva virginitate ro da virgem mãe, que o deu à luz, permanecendo
edidit, quemadmodum salva virginitate concepit. … intacta a sua virgindade, assim como com intacta
virgindade o concebeu. …
An forte ideo [Eutyches] putavit Dominum nos- Ou talvez [Êutiques] pensou que o nosso Senhor
trum Iesum Christum non nostrae esse naturae, quia Jesus Cristo não teve a nossa natureza, porque o
missus ad beatam Mariam angelus ait: “Spiritus anjo, mandado à bem-aventurada Maria, diz: “O
Sanctus superveniet in te, et virtus Altissimi obum- Espírito Santo descerá sobre ti e poder do Altíssi-
brabit tibi, ideoque quod nascitur ex te sanctum mo te cobrirá com sua sombra; por isso, o santo
vocabitur Filius Dei” [Lc 1,35]. Ut quia conceptus que nascer de ti será chamado Filho de Deus” [Lc
virginis divini fuit operis, non de natura concipientis 1,35] – como se a carne do concebido não fosse da
fuerit caro concepti. Sed non ita intelligenda est illa natureza da parturiente porque a conceição da Vir-
generatio singulariter mirabilis et mirabiliter singu- gem foi obra divina! Ao contrário, aquela geração
laris, ut per novitatem creationis proprietas remota singularmente admirável e admiravelmente singu-
sit generis: fecunditatem virgini Sanctus Spiritus lar não se deve entender no sentido de que, pela
dedit, veritas autem corporis sumpta de corpore est, novidade da criação, seja removido o que é próprio
et “aedificante sibi Sapientia domum” [Prv 9,1] do gênero: foi o Espírito Santo que deu à Virgem a
“Verbum caro factum est, et habitavit in nobis” [Io fecundidade, mas a verdade do corpo foi tomada do
1,14], hoc est, in ea carne, quam sumpsit ex homi- corpo e, “edificando a Sabedoria uma casa para si”
ne, et quam spiritus vitae rationalis animavit. [Pr 9,1], “o Verbo se fez carne e habitou entre nós”
[Jo 1,14], isto é, naquela carne que tomou do ho-
mem e que o espírito da vida racional animou.
293 (c. 3) Salva igitur proprietate utriusque naturae et (Cap. 3) Assim, permanecendo intacta a proprie-
in unam coeunte personam, suscepta est a maiestate dade de cada qual de ambas as naturezas, e con-
humilitas, a virtute infirmitas, ab aeternitate morta- vergindo elas em uma única pessoa, a humildade
litas, et ad resolvendum condicionis nostrae debitum foi assumida pela majestade, a fraqueza, pelo po-
natura inviolabilis naturae est unita passibili: ut, der, a mortalidade, pela eternidade; e, para pagar o
quod nostris remediis congruebat, unus atque idem débito da nossa condição, a natureza inviolável
“mediator Dei et hominum, homo Christus Iesus” uniu-se à natureza passível, para que – como con-
[1 Tim 2,5] et mori posset ex uno, et mori non ex vinha para nos remediar – o único e mesmo “me-
altero1. In integra ergo veri hominis perfectaque diador de Deus e dos homens, o homem Cristo
natura verus natus est Deus, totus in suis, totus in Jesus” [1Tm 2,5], por uma parte pudesse morrer e
nostris – nostra autem dicimus quae in nobis ab initio por outra não morrer1. O Deus verdadeiro nasceu,
Creator condidit et quae reparanda suscepit; nam portanto, numa íntegra e perfeita natureza de ho-
illa, quae deceptor intulit et homo deceptus admi- mem verdadeiro, inteiro no que é seu, inteiro no
sit, nullum habuerunt in salvatore vestigium … que é nosso – ora, chamamos nosso o que o Cria-
dor colocou em nós desde o início e que ele assu-
miu para repará-lo; pois o que o enganador intro-
duziu e o homem enganado admitiu não tem ves-
tígio algum no Salvador …
Adsumpsit formam servi sine sorde peccati, hu- Ele assumiu a forma de servo sem a mancha do
mana augens, divina non minuens, quia exinanitio pecado, elevando o que é humano sem diminuir o
illa, qua se invisibilis visibilem praebuit …, incli- que é divino, pois aquele esvaziamento no qual o
natio fuit miserationis, non defectio potestatis2. invisível se ofereceu visível …, foi um inclinar-se
da misericórdia, não uma falta de poder2.
*293 1 “Salva igitur – ex altero” (“Assim, permanecendo – não morrer”) = Sermão 21, 2 (PL 54, 192A); vgl. Tertuliano,
Adversus Praxean 27, 11 (E. Kroymann – E. Evans: CpChL 2 [1954] 1199 / CSEL 47, 2821).
2 “In integra – defectio potestatis” (“O Deus verdadeiro – falta de poder”) = Sermão 23, 2 (PL 54, 201AB).
108
(c. 4) Ingreditur ergo haec mundi infirma Filius (Cap. 4) O Filho de Deus entra, portanto, no que 294
Dei, de caelesti sede descendens et a paterna gloria no mundo é fraco, descendo da sede celeste sem
non recedens, novo ordine, nova nativitate genera- abandonar a glória do Pai, gerado numa ordem nova,
tus. Novo ordine: quia invisibilis in suis, visibilis num novo nascimento. Numa ordem nova: porque,
est factus in nostris, incomprehensibilis voluit com- invisível no que é seu, se fez visível no que é nos-
prehendi; ante tempora manens esse coepit ex tem- so; incompreensível, quis ser compreendido; per-
pore; universitatis Dominus servilem formam obum- manecendo antes dos tempos, começou a existir no
brata maiestatis suae immensitate suscepit; impas- tempo; Senhor de todas as coisas, assumiu a forma
sibilis Deus non dedignatus est homo esse passibi- de servo, cobrindo com sombra a imensidão da sua
lis et immortalis mortis legibus subiacere1. Nova majestade; Deus impassível não desdenhou ser ho-
autem nativitate generatus: quia inviolata virginitas mem passível; e imortal, <não desdenhou> sujei-
concupiscentiam nescivit, carnis materiam minis- tar-se às leis da morte1. Gerado, mas num novo
travit2. Assumpta est de matre Domini natura, non nascimento: porque a virgindade inviolada ignorou
culpa3; nec in Domino Iesu Christo, ex utero virgi- a concupiscência e ofereceu a matéria da carne2.
nis genito, quia nativitas est mirabilis, ideo nostri Da mãe do Senhor foi assumida a natureza, não a
est natura dissimilis. Qui enim verus est Deus, idem culpa3; e no Senhor Jesus Cristo nascido do seio da
verus est homo, et nullum est in hac unitate menda- Virgem a natureza não é diferente da nossa por ser
cium4, dum invicem sunt et humilitas hominis et admirável o <seu> nascimento. De fato, ele que é
altitudo divinitatis. Sicut enim Deus non mutatur verdadeiro Deus é ao mesmo tempo verdadeiro
miseratione, ita homo non consumitur dignitate. Agit homem, e nesta unidade não há mentira alguma4,
enim utraque forma cum alterius communione quod enquanto são imutáveis a humildade do homem e a
proprium est: Verbo scilicet operante quod Verbi est, elevação da divindade. Pois assim como Deus não
et carne exsequente quod carnis est. Unum horum muda pela misericórdia, assim o homem não é ab-
coruscat miraculis, aliud succumbit iniuriis. Et si- sorvido pela dignidade. De fato, cada uma das duas
cut Verbum ab aequalitate paternae gloriae non formas opera em comunhão com a outra o que lhe
recedit, ita caro naturam nostri generis non relinquit. é próprio: isto é, o Verbo opera o que é do Verbo, a
carne opera o que é da carne. Dessas <realidades>,
uma brilha nos milagres, a outra é submetida nos
ultrajes. E como o Verbo não abandona a igualdade
da glória do Pai, também a carne não abandona a
natureza do nosso gênero.
… Non eiusdem naturae est dicere: “Ego et Pater Não é da mesma natureza dizer: “Eu e o Pai so- 295
unum sumus” [Io 10,30] et dicere: “Pater maior me mos uma só coisa” [Jo 10,30] e dizer: “O Pai é maior
est” [Io 14,28]. Quamvis enim in Domino Iesu do que eu” [Jo 14,28]. De fato, se bem que no Se-
Christo Dei et hominis una persona sit, aliud tamen nhor Jesus Cristo seja una a pessoa de Deus e do
est, unde in utroque communis est contumelia, aliud, homem, todavia, uma coisa é de onde <deriva> em
unde communis est gloria. De nostro enim illi est ambos a comum ultraje, outra coisa, de onde <de-
minor Patre humanitas, de Patre illi aequalis cum riva> a glória comum. Com efeito, da nossa nature-
Patre divinitas. za ele tem a humanidade inferior ao Pai, do Pai a
divindade igual ao Pai.
*294 1 “Ingreditur – subiacere” (“O Filho de Deus – às leis da morte”) = Sermão 22, 2 (PL 54, 195A).
2 Cf. ibid. 3 (ibid. 196C).
3 Cf. ibid. (196CD).
4 “Christo – mendacium” (“e embora seja – mentira alguma”) = Sermão 24, 3 (PL 54, 205C).
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poris esset, accepit: Natura quippe nostra non sic te, nem uma carne que não fosse a do corpo mater-
adsumpta est, ut prius creata post adsumeretur, sed no. O fato é que nossa natureza não foi assumida
ut ipsa adsumptione crearetur. Unde quod in Orige- no sentido de ter sido criada antes, e depois assumi-
ne merito damnatum est [cf. *209], qui animarum, da, mas no sentido de que foi criada enquanto foi
antequam corporibus insererentur, non solum vitas, assumida. Por isso, o que foi justamente condenado
sed et diversas fuisse asseruit actiones, necesse est em Orígenes [cf. *209], que afirmou a existência
ut etiam in isto, nisi maluerit sententiam abdicare, anterior não só das vidas, mas das diversas ações
plectatur. das almas, antes de serem inseridas nos corpos, pre-
cisa ser censurado também neste <Êutiques>, a não
ser que prefira abandonar seu conceito.
Nativitas enim Domini secundum carnem, quam- De fato, se bem que o nascimento do Senhor 299
vis habeat quaedam propria, quibus humanae con- segundo a carne tenha peculiaridades pelas quais
dicionis initia transcendat, sive quod solus [ex Sanc- transcende os inícios da condição humana – seja
to Spiritu] ab inviolata virgine sine concupiscentia porque só ele foi concebido e nasceu sem concu-
est conceptus et natus, sive quod ita visceribus matris piscência [por obra do Espírito Santo] da Virgem
est editus, ut et fecunditas pareret et virginitas per- inviolada, seja porque saiu do ventre da mãe de
maneret, non alterius tamen naturae erat eius caro modo que a fecundidade dá à luz enquanto a vir-
quam nostrae, nec alio illi quam ceteris hominibus gindade continua intacta –, todavia a sua carne não
anima est inspirata principio, quae excelleret non era de natureza diversa da nossa, nem foi num iní-
diversitate generis, sed sublimitate virtutis. Nihil cio diferente do dos outros homens que lhe foi ins-
enim carnis suae habebat adversum, nec discordia pirada a alma, que devia sobressair não pela dife-
desideriorum gignebat compugnantiam voluntatum, rença de espécie, mas pela sublimidade da virtude.
sensus corporei vigebant sine lege peccati, et veritas Nada ele tinha, de fato, que fosse adverso à sua
affectionum sub moderamine deitatis et mentis nec carne, e nenhuma discórdia de desejos gerava dissí-
temptabatur illecebris nec cedebat iniuriis. Verus dio de vontade; os sentidos do corpo vigoravam sem
homo vero unitus est Deo, nec secundum exsisten- a lei do pecado, e a retidão dos afetos, sob a guia da
tem prius animam deductus e caelo nec secundum divindade e da mente, não era tentada por seduções,
carnem creatus ex nihilo, eandem gerens in Verbi nem cedia a ultrajes. Homem verdadeiro, uniu-se
deitate personam et tenens communem nobiscum ao Deus verdadeiro; e não foi, segundo uma alma
in corpore animaque naturam. Non enim esset Dei antes existente, trazido do céu, nem, segundo a
hominumque mediator, nisi idem Deus idemque carne, criado do nada, porque ele tem a mesma
homo in utroque et unus esset et verus. pessoa na divindade do Verbo e possui uma nature-
za comum conosco no corpo e na alma. Não seria,
de fato, mediador de Deus e dos homens, se o
mesmo Deus e o mesmo homem não fosse em
ambos único e verdadeiro.
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dojoy1ntvn ei3ko1tvw synh1rmosen pro2w th2n tv9n o3ruv9n tolo Pedro e é para nós uma coluna comum contra
dogma1tvn bebai1vsin. os heterodoxos, a favor dos dogmas da ortodoxia.
Toi9w te ga2r ei3w yi4v9n dya1da to2 th9w oi3konomi1aw <Este Sínodo> se opõe aos que tentam separar o
diaspa9n e3pixeiroy9si mysth1rion parata1ttetai kai2 mistério da economia numa dualidade de filhos, ex-
toy2w pauhth2n toy9 monogenoy9w le1gein tolmv9ntaw clui da assembléia sacerdotal aqueles que ousem
th2n ueo1thta toy9 tv9n i4ere1vn a3pvuei9tai syllo1goy afirmar passível a divindade do Unigênito, resiste aos
kai2 toi9w e3pi2 tv9n dy1o fy1sevn toy9 Xristoy9 kra9sin que pensam numa mistura ou confusão das duas
h6 sy1gxysin e3pinooy9sin a3nui1statai kai2 toy2w oy3- naturezas de Cristo, expulsa os que, delirando, jul-
ra1nion h6 e4te1raw tino2w y4pa1rxein oy3si1aw th2n e3j gam celeste ou de qualquer outra substância aquela
h4mv9n lhfuei9san ay3tö9 toy9 doy1loy morfh2n para- forma humana de servo que de nós assumiu e anate-
pai1ontaw e3jelay1nei kai2 toy2w dy1o me2n pro2 th9w matiza os que inventam a fábula das duas naturezas
e4nv1sevw fy1seiw toy9 kyri1oy myuey1ontaw, mi1an de2 do Senhor antes da união e de uma só depois da união.
meta2 th2n e7nvsin a3napla1ttontaw a3nauemati1zei.
[D e f i n i t i o ] 4Epo1menoi toi1nyn toi9w a4gi1oiw pa- [D e f i n i ç ã o ] Seguindo, pois, os santos Padres, 301
tra1sin, e7na kai2 to2n ay3to2n o4mologei9n yi4o2n to2n com unanimidade ensinamos que se confesse que
ky1rion h4mv9n 3Ihsoy9n Xristo2n symfv1nvw a7pantew um só e o mesmo Filho, o Senhor nosso Jesus Cris-
e3kdida1skomen, te1leion to2n ay3to2n e3n ueo1thti, kai2 to, perfeito na sua divindade e perfeito na sua hu-
te1leion to2n ay3to2n e3n a3nurvpo1thti, Ueo2n a3lhuv9w, manidade, verdadeiro Deus e verdadeiro homem
kai2 a5nurvpon a3lhuv9w to2n ay3to2n e3k cyxh9w logikh9w <composto> de alma racional e de corpo, consubs-
kai2 sv1matow, o4mooy1sion tö9 patri2 kata2 th2n tancial ao Pai segundo a divindade e consubstancial
ueo1thta, kai2 o4mooy1sion h4mi9n to2n ay3to2n kata2 th2n a nós segundo a humanidade, semelhante em tudo a
a3nurvpo1thta, kata2 pa1nta o7moion h4mi9n xvri2w nós, menos no pecado [cf. Hb 4,15], gerado do Pai
a4marti1aw [cf. Hbr 4,15]= pro2 ai3v1nvn me2n e3k toy9 antes dos séculos segundo a divindade e, nestes úl-
patro2w gennhue1nta kata2 th2n ueo1thta, e3p’ e3sxa1tvn timos dias, em prol de nós e de nossa salvação,
de2 tv9n h4merv9n to2n ay3to2n di’ h4ma9w kai2 dia2 th2n <gerado> de Maria, a virgem, a Deípara, segundo a
h4mete1ran svthri1an e3k Mari1aw th9w parue1noy th9w humanidade;
ueoto1koy kata2 th2n a3nurvpo1thta=
e7na kai2 to2n ay3to2n Xristo2n yi4o2n ky1rion mono- um só e o mesmo Cristo, Filho, Senhor, unigênito, 302
genh9 e3n dy1o fy1sesin1 a3sygxy1tvw, a3tre1ptvw, a3diai- reconhecido em duas naturezas1, sem mistura, sem
re1tvw, a3xvri1stvw gnvrizo1menon, oy3damoy9 th9w tv9n mudança, sem divisão, sem separação, não sendo de
fy1sevn diafora9w a3nürhme1nhw dia2 th2n e7nvsin, modo algum anulada a diferença das naturezas por
svzome1nhw de2 ma9llon th9w i3dio1thtow e4kate1raw causa da sua união, mas, pelo contrário, salvaguarda-
fy1sevw, kai2 ei3w e8n pro1svpon kai2 mi1an y4po1stasin da a propriedade de cada uma das naturezas e con-
syntrexoy1shw, oy3k ei3w dy1o pro1svpa merizo1menon correndo numa só pessoa e numa só hipóstase; não
h6 diairoy1menon, a3ll’ e7na kai2 to2n ay3to2n yi4o2n dividido ou separado em duas pessoas, mas um único
monogenh9 Ueo2n lo1gon, ky1rion I3 hsoy9nXristo1n, e o mesmo Filho, unigênito, Deus Verbo, o Senhor
kaua1per a5nvuen oi4 profh9tai peri2 ay3toy9 kai2 ay3to2w Jesus Cristo, como anteriormente nos ensinaram a
h4ma9w 3Ihsoy9w Xristo2w e3jepai1deysen, kai2 to2 tv9n respeito dele os Profetas, e também o mesmo Jesus
pate1rvn h4mi9n parade1dvke sy1mbolon. Cristo, e como nos transmitiu o Símbolo dos Padres.
[S a n c t i o ] Toy1tvn toi1nyn meta2 pa1shw panta- [S a n ç ã o ] Depois de termos estabelecido tudo 303
xo1uen a3kribei1aw te kai2 e3mmelei1aw par’ h4mv9n dia- com toda a possível acríbia e diligência, o santo
typvue1ntvn, v7risen h4 a4gi1a kai2 oi3koymenikh2 sy1- Sínodo ecumênico decidiu que ninguém pode apre-
nodow, e4te1ran pi1stin mhdeni2 e3jei9nai profe1rein, sentar, escrever ou compor uma outra forma de fé
h6 goy9n syggra1fein h6 syntiue1nai h6 fronei9n h6 ou crer e ensinar de outro modo …
dida1skein e4te1rvw …
*302 1 Leia-se “e3n dy1o fy1sesin” (“em duas naturezas”), não “e3k dy1o fy1sevn” (“a partir de duas naturezas”), variante
oferecida em edições mais antigas e menos críticas do texto grego; todas as versões latinas atestam “em duas nature-
zas” (“in duabus naturis). A outra variante, acenando ao monofisismo, seria contrária à intenção do concílio. A variante
certa é atestada também em texto extraconciliares: apud R.V. Sellers, The Council of Chalcedon (London 1953) 120s
nota 6; I. Ortiz de Urbina, Das Symbol von Chalkedon, in: A. Grillmeier – H. Bacht (ed.), Das Konzil von Chalkedon
1 (Würzburg 19592) 391 nota 4 (para a ed. 19511, cf. apêndice do t. 3 [1954] 877).
113
Simonia
304 Kan. 2. Ei5 tiw e3pi1skopow e3pi2 xrh1masi xeiro- Can. 2. Se um bispo faz uma sagrada ordenação
toni1an poih1saito kai2 ei3w pra9sin kataga1goi th2n por dinheiro, se vende a graça que não pode ser
a5praton xa1rin kai2 xeirotonh1soi e3pi2 xrh1masin vendida, se consagra por lucro um bispo, um
e3pi1skopon h6 xvrepi1skopon h6 presby1teron h6 corepíscopo, um presbítero, um diácono ou qual-
dia1konon h6 e7tero1n tina tv9n e3n tö9 klh1rö kata- quer outro contado entre o clero, ou se, por torpe
riumoyme1nvn h6 proba1loito e3pi2 xrh1masin oi3ko- cobiça, promove um administrador ou defensor
no1mon h6 e5kdikon h6 paramona1rion h6 o7lvw tina2 público ou guardião ou qualquer um que pertença à
toy9 kano1now di’ ai3sxroke1rdeian oi3kei1an, o4 toy9to instituição canônica, ele se expõe – se o fato for
e3pi-xeirh1saw e3legxuei2w kindyneye1tv peri2 to2n comprovado – ao perigo de perder o próprio cargo;
oi3kei9on baumo2n kai2 o4 xeirotonoy1menow mhde2n e3k e aquele que recebeu a ordenação não levará ne-
th9w kat’ e3mpori1an v3felei1suv xeirotoni1aw h6 pro- nhuma vantagem de tal ordenação ou promoção
bolh9w, a3ll’ e5stv a3llo1triow th9w a3ji1aw h6 toy9 fron- comprada, mas será deposto da dignidade ou do
ti1smatow oyßper e3pi2 xrh1masin e5tyxen. Ei3 de1 tiw posto que obteve com dinheiro. Ora, se alguém in-
kai2 mesitey1vn fanei1htoi9w oy7tvw ai3sxroi9w kai2 terveio como mediador neste comércio torpe e iní-
a3uemi1toiw lh1mmasin, kai2 oyßtow ei3 me2n klhriko2w quo, em se tratando de um clérigo, seja rebaixado
ei5h, toy9 oi3kei1oy e3kpipte1tv baumoy9= ei3 de2 laiko2w do próprio grau, em se tratando de um leigo ou de
h6 mona1zvn, a3nauematize1suv. um monge, seja anatematizado.
306: Carta sinodal “ 3Eplh1suh xara9w”, ao Papa Leão I, início de nov. 451
Ed.: texto original grego: ACOe 2/I/III, 11620-1172; trad. latina: 2/III/II, 9316-31 9614-29.
O primado da Sé Romana
306 … Ti1 ga2r pi1stevw pro2w ey3frosy1nhn a3nv1teron; … Que coisa, de fato, dá alegria mais sublime
… h8n ay3to2w a5nvuen h4mi9n o4 svth2r pro2w svthri1an que a fé? … Desde antigamente no-la transmitiu,
pare1dvke fh1saw; “poreyue1ntew mauhtey1sate pa1nta para a salvação, o próprio Salvador, dizendo: “Ide,
ta2 e5unh …” [Mt 28,19s], h8n ay3to2w v7sper xrysh9n ensinai a todas as gentes …” [Mt 28,19s]; tu mesmo
seira2n tö9 prosta1gmati toy9 ueme1noy katagome1nhn a tens conservado, qual corrente de ouro descida do
114
ei3w h4ma9w diefy1lajaw pa9si th9w toy9 makari1oy céu até nós por ordem de quem rege, fazendo-te para
Pe1troy fvnh9w e4rmhney2w kauista1menow kai2 th9w todos o intérprete da voz do bem-aventurado Pedro
e3kei1noy pi1stevw toi9w pa9si to2n makarismo2n e3fel- e atraindo sobre todos a bem-aventurança de sua fé.
ko1menow. 7Ouen kai2 h4mei9w v4w a3rxhgö9 soi toy9 kaloy9 Por isso, também nós, usando-te como guia para o
pro2w v3fe1leian xrhsa1menoi th9w a3lhuei1aw toi9w th9w aproveitamento deste bem, mostramos aos filhos da
e3kklhsi1aw te1knoiw to2n klh9ron e3dei1jamen, … miä9 Igreja a herança da verdade, … tendo dado a conhe-
sympnoi1ä kai2 o4monoi1ä th9w pi1stevw th2n o4mologi1an cer, em unânime concórdia e comunhão de senti-
gnvri1santew. Kai2 h0men e3n koinü9 xorei1ä, toi9w mentos, a profissão da fé. E nos encontrávamos num
pneymatikoi9w v4w e3n basilikoi9w dei1pnoiw e3ntry- comum canto coral, entregando-nos, como nos ban-
fv9ntew e3de1smasin, a7per dia2 tv9n sv9n gramma1tvn1 quetes imperiais, ao gozo dos alimentos espirituais
o4 Xristo2w toi9w ey3vxoyme1noiw hy3tre1pise, kai2 to2n que Cristo mediante o teu escrito1 preparou para os
e3poyra1nion nymfi1on e3n h4mi9n o4ra9n e3dokoy9men convidados; também nos parecia o esposo celeste
e3ndiaitv1menon. Ei3 ga2r o7poy ei3si2 dy1o h6 trei9w estar participando de nosso convívio. Se, de fato,
synhgme1noi ei3w to2 ay3toy9 o5noma, e3kei9 e5fh ei0nai ele disse que, onde estão dois ou três reunidos em
e3n me1sö ay3tv9n [cf. Mt 18,20], po1shn peri2 pen- seu nome, lá está no meio deles [cf. Mt 18,20], que
takosi1oyw ei5kosin i4ere1aw th2n oi3kei1vsin e3pedei1k- grande familiaridade mostrou ele aos quinhentos e
nyto, oi8 kai2 patri1dow kai2 po1noy th9w ei3w ay3to2n vinte sacerdotes que puseram acima de pátria e tra-
o4mologi1aw th2n gnv9sin proe1uhkan; vßn sy2 me2n v4w balho o entendimento da profissão <da fé> referen-
kefalh2 melv9n h4gemo1neyew e3n toi9w th2n sh2n ta1jin te a ele e dos quais tu, qual cabeça em relação aos
e3pe1xoysi th2n ey3boyli1an e3pideikny1menow … membros, és o guia, demonstrando teu excelente con-
selho por meio dos que te representavam …
O sacramento da penitência
(c. 2) Multiplex misericordia Dei ita lapsibus (Cap. 2) A multíplice misericórdia de Deus veio 308
subvenit humanis, ut non solum per baptismi gra- em socorro das quedas humanas nisto, que não só
tiam, sed etiam per paenitentiae medicinam spes pela graça do batismo, mas também pelo remédio
vitae reparetur aeternae, ut qui regenerationis dona da confissão é restabelecida a esperança da vida
violassent, proprio se iudicio condemnantes ad re- eterna, para que os que tiveram violado os dons da
missionem criminum pervenirent: sic divinae boni- regeneração, quando por próprio juízo se acusam cul-
tatis praesidiis ordinatis, ut indulgentia Dei nisi pados, cheguem à remissão dos pecados; sendo que
supplicationibus sacerdotum nequeat obtineri. “Me- os auxílios da divina bondade estão dispostos de tal
diator enim Dei et hominum, homo Christus Iesus” modo que não se pode obter o perdão de Deus se-
[1 Tim 2,5] hanc praepositis Ecclesiae tradidit po- não pelas súplicas dos sacerdotes. “O mediador en-
testatem, ut et confitentibus actionem paenitentiae tre Deus e os homens, o homem Cristo Jesus” [1Tm
darent, et eosdem salubri satisfactione purgatos ad 2,5], com efeito, conferiu este poder a quantos são
communionem sacramentorum per ianuam recon- prepostos à Igreja, para que dêem aos que confes-
ciliationis admitterent. … sam uma penitência a cumprir e os admitam, purifi-
cados por salutar correção, através da porta da re-
conciliação, à comunhão dos sacramentos …
(c. 4) His autem, qui in tempore necessitatis et in (Cap. 4) Ora, aos que num momento de emergên-
periculi urgentis instantia praesidium paenitentiae cia e na iminência de premente perigo pedem o socor- 309
*306 1 Especialmente o “Tomus Leonis”, lido com pleno assentimento nas sessões 2ª e 4ª (*290-295; cf. também *300), bem
como a carta ao concílio (n. 93, PL), lida na sessão 16ª.
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116
curandum est, ut recipiat unusquisque quod pro- timamente tinha e se providencie com toda solici-
prium est. tude que cada um receba o que lhe pertence.
(c. 2) Nec tamen culpabilis iudicetur et tamquam (Cap. 2) Não se julgue todavia culpado nem seja 312
alieni iuris pervasor habeatur, qui personam eius julgado usurpador do direito de outrem quem assu-
mariti, qui iam non esse existimabatur, assumpsit. miu o lugar do cônjuge que se pensava não mais
Sic enim multa, quae ad eos qui in captivitatem ducti existir. De fato, muitas coisas que pertenciam àque-
sunt pertinebant, in ius alienum transire potuerunt, les que foram levados à prisão puderam assim pas-
et tamen plenum iustitiae est, ut eisdem reversis sar para o direito de outros, mas é também plena
propria reformentur. Quodsi in mancipiis vel in agris justiça que, se retornarem, sejam-lhes restituídas as
aut etiam in domibus ac possessionibus rite serva- suas coisas. Se isso é observado, com toda a justi-
tur, quanto magis in coniugiorum redintegratione ça, nos direitos de propriedade, no que concerne
faciendum est, ut, quod bellica necessitate turba- campos, casas e posses, quanto mais se deve pro-
tum est, pacis remedio reformetur? curar, quando da reintegração dos matrimônios, que
seja restabelecido com o remédio da paz o que foi
perturbado pela calamidade da guerra?
(c. 3) Et ideo, si viri post longam captivitatem (Cap. 3) E por isso, se os maridos, retornando 313
reversi ita in dilectione suarum coniugum perseve- depois de longa prisão, tiverem perseverado no amor
rent, ut eas cupiant in suum redire consortium, para com suas mulheres a ponto de desejar que elas
omittendum est et inculpabile iudicandum, quod voltem a ser suas esposas, deve-se deixar para trás
necessitas intulit, et restituendum, quod fides poscit. e desculpar o que a necessidade causou, e restituir
quanto a fidelidade requer.
(c. 4) Si autem aliquae mulieres ita posteriorum (Cap. 4) Se, ao contrário, algumas mulheres se 314
virorum amore sunt captae, ut malint his cohaerere encontrarem tão presas pelo amor aos maridos pos-
quam ad legitimum redire consortium, merito sunt teriores que preferem ficar unidas a estes a voltar à
notandae, ita ut etiam ecclesiastica communione união legítima, devem com justiça ser censuradas,
priventur: quae de re excusabili contaminationem a ponto de serem privadas também da comunhão
criminis elegerunt, ostendentes sibimet pro sua in- eclesial: estas escolheram fazer de uma ação des-
continentia placuisse, quod iusta remissio poterat culpável uma contaminação delituosa, mostrando
expiare. … comprazer-se, a favor da sua incontinência, daquilo
que uma justa remissão poderia ter expiado. …
(c. 6) His vero …, qui ad iterandum baptismum (Cap. 6) Aqueles, porém, que … foram constran- 315
vel metu coacti sunt vel errore traducti, et nunc se gidos pelo medo ou desviados pelo erro para repetir
contra catholicae fidei sacramentum egisse cognos- o batismo e agora reconhecem que agiram contra o
cunt, ea custodienda est moderatio, qua in societa- sacramento da fé católica devem observar a diretiva
tem nostram non nisi per paenitentiae remedium et segundo a qual, <entrando> em nossa comunidade,
per impositionem episcopalis manus communionis só recebem a unidade da comunhão pelo remédio da
recipiant unitatem. … penitência e pela imposição da mão pelo bispo. …
(c. 7) Nam hi, qui baptismum ab haereticis acce- (Cap. 7) De fato, aqueles que receberam o batis- 316
perunt, cum antea baptizati non fuissent, sola invo- mo dos hereges, não tendo sido anteriormente bati-
catione Spiritus Sancti per impositionem manuum zados, devem ser confirmados pela simples invoca-
confirmandi sunt, quia formam tantum baptismi sine ção do Espírito Santo mediante a imposição das
sanctificationis virtute sumpserunt. Et hanc regu- mãos, porque receberam somente a forma do batis-
lam, ut scitis, servandam in omnibus Ecclesiis prae- mo, sem a força da santificação. E insistimos, como
dicamus, ut lavacrum semel initum nulla iteratione sabeis, que esta regra seja observada em todas as
violetur, dicente Apostolo: “Unus Dominus, una Igrejas, para que o banho uma vez recebido não seja
fides, unum baptisma” [Eph 4,5]. Cuius ablutio nulla violado por nenhuma repetição, pois o Apóstolo diz:
iteratione temeranda est, sed, ut diximus, sola sanc- “Um só Senhor, uma só fé, um só batismo” [Ef 4,5].
tificatio Spiritus Sancti invocanda est: ut quod ab Esta sua ablução não se deve profanar com repeti-
117
haereticis nemo accipit, a catholicis sacerdotibus ção alguma, mas, como dissemos, deve-se somente
consequatur. invocar a santificação do Espírito Santo, para que o
que dos hereges ninguém recebe, o consiga dos sa-
cerdotes católicos.
*317 1 “Licet – efficit” (“Também se – não realiza”) = Sermão 64, 4 (PL 54, 360B).
118
evecta est, in tantam unitatem ab ipso conceptu cumpriu o sacramento de sua grande piedade, é a
Virginis deitate et humanitate conserta, ut nec sine humilde condição humana, que foi elevada à glória
homine divina, nec sine Deo agerentur humana. do poder divino, tendo sido a divindade e a huma-
nidade unidas desde a conceição pela Virgem, em
unidade tão grande que o que é divino não seria
feito sem o homem, nem o que é humano, sem Deus.
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320 (2) Quod si ab haereticis baptizatum quempiam (2) Se, porém, for verificado que alguém tenha sido
fuisse constiterit, erga hunc nullatenus sacramen- batizado pelos hereges, não se repita de modo algum
tum regenerationis iteretur, sed hoc tantum, quod o sacramento da regeneração, mas se confira somen-
ibi defuit, conferatur: ut per episcopalem manus te o que ali faltou: para que, pela imposição episco-
impositionem virtutem Sancti Spiritus consequatur. pal da mão, ele consiga a força do Espírito Santo.
321-322: Carta “Epistolas fraternitatis”, ao bispo Rústico de Narbonne, ano 458 ou 459
Ed.: BullCocq 1, 28b / BullTau 1, 45b / PL 54, 1207 BC (= carta 167). – Reg.: JR 544.
323: Carta “Magna indignatione”, a todos os bispos da Campânia etc., 6 mar. 459
Ed.: BullCocq 1, 47a / BullTau 1, 80a / PL 54, 1210CD (= carta 168) – Reg.: JR 545.
A confissão secreta
323 (c. 2) Illam etiam contra apostolicam regulam (Cap. 2) Também disponho seja afastada de to-
praesumptionem, quam nuper agnovi a quibusdam dos os modos a temeridade, contrária à regra apos-
illicita usurpatione committi, modis omnibus cons- tólica, que, segundo recém aprendi, alguns estão co-
tituo submoveri. De paenitentia scilicet, quae a fi- metendo por ilícita usurpação. Mais exatamente: não
delibus postulatur, ne de singulorum peccatorum se proclame em público, da penitência que os fiéis
genere libello scripta professio publice recitetur, cum solicitam, a declaração escrita em documento refe-
reatus conscientiarum sufficiat solis sacerdotibus rente ao gênero dos diversos pecados, porque basta
indicari confessione secreta. Quamvis enim pleni- que a culpa das consciências seja manifestada só
tudo fidei videatur esse laudabilis, quae propter Dei aos sacerdotes em confissão secreta. Pois, embora
timorem apud homines erubescere non veretur, ta- pareça louvável uma plenitude de fé que, por temor
men quia non omnium huiusmodi sunt peccata, ut de Deus, não receia enrubescer diante dos homens,
ea, qui paenitentiam poscunt, non timeant publicare, todavia – já que não de todos são tais os pecados
removeatur tam improbabilis consuetudo, ne multi que os candidatos à penitência não receiem publi-
a paenitentiae remediis arceantur, dum aut erubes- cá-los –, seja removido um costume tão inaceitá-
cunt aut metuunt inimicis suis facta reserari, quibus vel, para não acontecer que muitos fiquem afasta-
possint legum constitutione percelli. Sufficit enim dos do remédio da penitência, ou porque se enver-
illa confessio, quae primum Deo offertur, tum etiam gonham ou porque temem que sejam revelados aos
sacerdoti, qui pro delictis paenitentium precator seus inimigos fatos pelos quais poderiam ser puni-
accedit. Tunc enim demum plures ad paenitentiam dos por disposição legal. É suficiente, pois, aquela
120
poterunt provocari, si populi auribus non publicetur confissão que é feita primeiramente a Deus e de-
conscientia confitentis. pois também ao sacerdote, o qual intervém como
intercessor pelas faltas dos penitentes. Com efeito,
só então muitos poderão ser levados à penitência,
se a consciência do penitente não for tornada públi-
ca aos ouvidos do povo.
121
si diabolus non per condicionem, sed per arbitrium mesmo; se o diabo se tornou maligno não pela pró-
factus sit malus. Quaerendum etiam ab eo, si credat pria condição, mas através do <livre->arbítrio. Deve-
huius quam gestamus et non alterius carnis resur- se interrogá-lo também se crê na ressurreição desta
rectionem; si credat iudicium futurum et recepturos carne que levamos conosco, não de uma outra car-
singulos pro his quae in hac carne gesserunt vel ne; se crê que haverá o juízo e que cada um recebe-
poenas vel gloriam; si nuptias non improbet; si se- rá, pelo que fez nesta carne, quer castigos, quer a
cunda matrimonia non damnet; si carnium percep- glória; se não desaprova o casamento; se não con-
tionem non culpet; si paenitentibus reconciliatis dena os segundos matrimônios; se não despreza o
communicet; si in baptismo omnia peccata, id est, consumo de carne; se recebe à comunhão os peni-
tam illud originale contractum quam illa quae vo- tentes reconciliados; se <acredita que> no batismo
luntarie admissa sunt, dimittantur; si extra Eccle- são perdoados todos os pecados, isto é, tanto o ori-
siam catholicam nullus salvetur. ginalmente contraído como os cometidos volunta-
riamente; se <acredita que> fora da Igreja católica
ninguém se salve.
Cum, in his omnibus examinatus, inventus fuerit Se, examinado em todos estes pontos, for encon-
plene instructus, tunc cum consensu clericorum et trado plenamente habilitado, então, com o consen-
laicorum et conventu totius provinciae episcoporum so dos clérigos e dos leigos e reunindo-se os bispos
… ordinetur episcopus. de toda a província, … seja ordenado bispo.
*328 1 A saber, destinado ao serviço do bispo ou do presbítero, como determina também o cân. 57 (resp. 37); cf. a fonte desta
definição, Hipólito de Roma, Traditio apostolica 8: “na ordenação diaconal só o bispo impõe as mãos, já que não está
sendo ordenado ao presbiterado, mas ao serviço do bispo, para que faça o que por este lhe for mandado” (“in diacono
ordinando solus episcopus imponat manus, propterea quia non in sacerdotio ordinatur, sed in ministerio episcopi, ut
faciat ea quae ab ipso iubentur …”); cf. B. Botte, Hippolyte de Rome (SouChr 11bis; 19843) 58; id., Hippolyte de
Rome (LQF 39; Münster 1963) 22.
122
Graça e predestinação
Correptio vestra salus publica, et sententia vestra A vossa repreensão é salvação pública, e vossa 330
medicina est. Unde et ego summum remedium duco, sentença, medicina. Portanto, também eu considero
ut praeteritos errores accusando excusem, et saluti- como sumo remédio desculpar-me, acusando os er-
fera confessione me diluam. Proinde iuxta praedi- ros passados, e purificar-me com salutar confissão.
candi recentia statuta concilii, damno vobiscum Por isso, segundo as recentes decisões do louvável
sensum illum, Sínodo, condeno convosco a sentença
qui dicit humanae oboedientiae laborem divinae que diz que o esforço da obediência humana não
gratiae non esse iungendum; é para ser unido à graça divina;
qui dicit post primi hominis lapsum ex toto arbi- que diz que, depois da queda do primeiro homem, 331
trium voluntatis exstinctum; foi extinto totalmente o arbítrio da vontade;
qui dicit quod Christus Dominus et Salvator noster que diz que não foi pela salvação de todos que 332
mortem non pro omnium salute susceperit; Cristo, nosso Senhor e Salvador, assumiu a morte;
qui dicit quod praescientia Dei hominem violen- que diz que a presciência de Deus impele com 333
ter compellat ad mortem, vel quod Dei pereant vo- violência o homem à morte, ou seja, que aqueles
luntate qui pereunt; que se perdem, se perdem por vontade de Deus;
qui dicit quod post acceptum legitime baptismum que diz que todo o que tiver cometido uma falta 334
in Adam moriatur quicumque deliquerit; depois de ter recebido legitimamente o batismo
morre em Adão;
qui dicit alios deputatos ad mortem, alios ad vi- que diz que uns são destinados à morte, outros 335
tam praedestinatos; predestinados à vida;
qui dicit ab Adam usque ad Christum nullos ex que diz que, de Adão até Cristo, ninguém entre 336
gentibus per primam Dei gratiam, id est per legem os pagãos tenha sido salvo mediante a primeira graça
naturae, in adventum Christi esse salvatos eo quod de Deus, isto é mediante a lei natural, em vista da
liberum arbitrium ex omnibus in primo parente vinda de Cristo, porque no primeiro genitor perde-
perdiderint; ram, totalmente, o livre-arbítrio;
qui dicit patriarchas ac prophetas vel summos que diz que os Patriarcas e os Profetas, ou também 337
quosque sanctorum, etiam ante redemptionis tem- todos os maiores santos, mesmo antes dos tempos de
pora in paradisi habitatione deguisse; redenção, tenham habitado as moradas do paraíso;
qui dicit ignes et inferna non esse. que diz que não há fogo nem inferno. 338
Haec omnia quasi impia et sacrilegiis repleta Condeno todas essas coisas como ímpias e sacrí- 339
condemno. Ita autem assero gratiam Dei, ut adnisum legas. Afirmo, porém, a graça de Deus deste modo,
hominis et conatum gratiae semper adiungam, et que sempre mantenho unido o esforço do homem e
libertatem voluntatis humanae non exstinctam, sed o impulso da graça, e declaro que a liberdade da von-
adtenuatam et infirmatam esse pronuntiem, et peri- tade humana não foi extinta, mas atenuada e enfra-
clitari eum, qui salvus est, et eum qui periit, potuisse quecida, e que aquele que se salvou está no perigo,
salvari. e que aquele que se perdeu teria podido salvar-se.
123
340 Christum etiam, Deum et Salvatorem nostrum, Também <afirmo que> Cristo, nosso Deus e Sal-
quantum pertinet ad divitias bonitatis suae, pretium vador, no que concerne às riquezas da sua bondade,
mortis pro omnibus obtulisse, et quia nullum perire ofereceu o preço da morte por todos, e que não quer
velit, qui est Salvator omnium hominum, maxime que ninguém se perca, ele que é o Salvador de todos
fidelium, dives in omnibus qui invocant illum [Rm os homens, de modo particular dos que crêem, rico
10,12]. Et quia in tantis rebus conscientiae satisfa- para com todos os que o invocam [Rm 10,12]. E,
ciendum, memini me ante dixisse, quod Christus dado que a respeito de realidade tão importante se
pro his tantum, quos credituros praescivit, advenisset deve dar satisfação à consciência, recordo-me de ter
[provocando ad Mt 20,28; 26,28; Hbr 9,27]. Nunc dito anteriormente que Cristo viera somente para
vero sacrorum testimoniorum auctoritate, quae abun- aqueles dos quais tinha presciência de que acredita-
de per spatia divinarum inveniuntur Scripturarum, riam [alegando Mt 20,28; 26,28; Hb 9,27]. Agora,
ex seniorum doctrinae ratione patefacta, libens fa- porém, com base na autoridade dos sagrados teste-
teor Christum etiam pro perditis advenisse, quia munhos que se encontram em abundância nos textos
eodem nolente perierunt. Neque enim fas est circa das divinas Escrituras, trazidos à luz pela reflexão da
eos solum, qui videntur esse salvati, immensae di- doutrina dos antigos, de bom grado professo que Cris-
vitias bonitatis ac beneficia divina concludi. Nam to veio também por aqueles que se perderam, pois
si Christum his tantum remedia adtulisse dicimus, foi contra a sua vontade <de Cristo> que se perde-
qui redempti sunt, videbimur absolvere non redemp- ram. De fato, não é lícito <dizer> que as riquezas da
tos, quos pro redemptione contempta constat esse imensa bondade e os benefícios divinos sejam restri-
puniendos. tos somente aos que, pelo que se vê, são salvos.
Pois, se dizemos que Cristo trouxe os remédios so-
mente para aqueles que foram remidos, parece que
absolvemos os não remidos, dos quais consta que
devem ser punidos por desprezarem a redenção.
341 Assero etiam per rationem et ordinem saeculo- Afirmo ainda que, através da ordem e seqüência
rum alios lege gratiae, alios lege Moysi, alios lege dos séculos, na esperança da vinda de Cristo, al-
naturae, quam Deus in omnium cordibus scripsit [cf. guns se salvaram pela lei da graça, outros pela lei
Rm 2,15], in spe adventus Christi fuisse salvatos; de Moisés, outros pela lei da natureza que Deus
nullos tamen ex initio mundi, ab originali nexu nisi escreveu no coração de todos [cf. Rm 2,15]; que
intercessione sacri sanguinis absolutos. nenhum, todavia, desde o início do mundo, foi ab-
solvido do laço <do pecado> original senão pela
intercessão do sagrado sangue.
342 Profiteor etiam aeternos ignes et infernales flam- Professo ainda que para pecados capitais são pre-
mas factis capitalibus praeparatas, quia perseveran- parados fogos eternos e chamas infernais, já que,
tes in finem humanas culpas merito sequitur divina merecidamente, às culpas humanas que são susten-
sententia, quam iuste incurrunt, qui haec non toto tadas até o fim, se segue a sentença divina, na qual
corde crediderint. incorrem com justiça aqueles que não creram de
todo o coração nestas realidades.
Orate pro me, domini sancti et apostolici Patres! Orai por mim, santos senhores e Padres apostóli-
– Lucidus presbyter hanc epistolam manu propria cos! – Eu, presbítero Lúcido, subscrevi de minha
subscripsi et, quae in ea adstruuntur, assero, et quae própria mão esta carta, e confirmo o que nela está
sunt damnata, damno. escrito, e condeno o que nela é condenado.
124
A liberdade da Igreja
Cum apud barbaras etiam nationes atque ipsius Como, até entre as nações bárbaras e ignorantes 345
deitatis ignaras in exsequendis negotiis vel humanis da divindade, pelo direito dos povos sempre tem
iure gentium semper legationis cuiuslibet habeatur sido considerada sacrossanta a liberdade de qual-
sacrosancta libertas, notum est omnibus quanto quer legação no cumprimento de missões mesmo
magis ab imperatore Romano et christiano principe humanas, todo mundo sabe quanto mais ela deveria
in rebus praesertim divinis oportuerit intemerata ter sido respeitada pelo imperador romano e prínci-
servari. … pe cristão, sobretudo no que diz respeito às realida-
des divinas.
Puto autem quod pietas tua, quae etiam suis ma- Penso, porém, que a tua piedade, que prefere a
vult vinci legibus quam reniti, caelestibus debeat sujeição às suas leis à renitência, deve obedecer aos
parere decretis atque ita humanarum sibi rerum fas- decretos celestiais e saber que o sumo nível das rea-
tigium noverit esse commissum, ut tamen ea quae lidades humanas lhe foi confiado de tal modo que
divina sunt, per dispensatores divinitus adtributos não duvide que o que é divino deva ser recebido
percipienda non ambigat; puto quod vobis sine ulla por meio de dispensadores divinamente designados;
dubitatione sit utile, si Ecclesiam catholicam vestri penso que, sem dúvida, seja útil para vós deixardes
tempore principatus sinatis uti legibus suis nec li- que a Igreja católica, no tempo de vosso governo,
125
bertati eius quemquam permittatis obsistere, quae use as suas próprias leis e não permitais a ninguém
regni vobis restituit potestatem. contrapor-se à sua liberdade, que restituiu a vós o
poder do reino.
Certum est enim, hoc rebus vestris esse salutare, Com efeito, é certamente salutar para os vossos
ut cum de causis agitur Dei, iuxta ipsius constitutum interesses que, em se tratando dos assuntos de Deus,
regiam voluntatem sacerdotibus Christi studeatis vos apliqueis, segundo o que ele estabeleceu, a não
subdere, non praeferre, et sacrosancta per eorum antepor, mas a submeter a régia vontade aos sacer-
praesules discere potius quam docere, Ecclesiae for- dotes de Cristo, a aprender antes que ensinar as
mam sequi, non huic humanitus sequenda iura prae- sacrossantas realidades dos que são responsáveis por
figere neque eius sanctionibus velle dominari, cui elas, a respeitar a organização da Igreja e não im-
Deus voluit clementiam tuam piae devotionis colla por-lhe um direito de instância humana, nem que-
summittere, ne dum mensura caelestis dispositionis rer dominar as sanções daquela para a qual Deus
exceditur, eatur in contumeliam disponentis. quis a tua clemência abaixasse a cabeça em religio-
sa obediência, para não acontecer que, quando se
excede a medida da ordem celeste, isso resulte em
prejuízo de quem manda.
*347 1 Schwartz indica aqui uma lacuna, que ele completa como segue: “uma por Deus a ti permitida ou obedecer a” (“parere
vel a Deo tibi permissae”).
126
decet affectu eis et convenit oboedire, qui praero- decisão excluída, com quanto <mais> amor, te peço,
gandis venerabilibus sunt attributi mysteriis? será preciso e conveniente obedecer àqueles que fo-
ram destinados a conferir os venerandos mistérios?
Proinde, sicut non leve discrimen incumbit pon- Por isso, como os bispos correm o não leve risco
tificibus siluisse pro divinitatis cultu quod congruit, de terem calado o que convém fazer a favor do culto
ita his, quod absit, non mediocre periculum est, qui, da divindade, assim existe – Deus nos livre! – um
cum debeant parere, despiciunt. Et si cunctis gene- perigo não medíocre para aqueles que, devendo obe-
raliter sacerdotibus recte divina tractantibus fidelium decer, desdenham fazê-lo. E se convém que em geral
convenit corda submitti, quanto potius sedis illius os corações dos fiéis sejam submissos a todos os
praesuli consensus est adhibendus, quem cunctis sacerdotes que tratam corretamente as coisas divi-
sacerdotibus et divinitas summa voluit praeminere nas, quanto mais se deve prestar anuência ao chefe
et subsequens Ecclesiae generalis iugiter pietas daquela Sé que a suma divindade quis tivesse o pri-
celebravit? mado sobre todos os sacerdotes, como em seguida
a piedade da Igreja inteira sem interrupção tem
celebrado?
(3) Ubi pietas tua evidenter advertit numquam (3) Aqui, a tua piedade constata claramente que
quolibet penitus humano consilio elevare se quem- jamais alguém dentro de qualquer projeto puramente
quam posse illius privilegio vel confessioni, quem humano pode elevar-se ao privilégio e à profissão
Christi vox praetulit universis, quem Ecclesia vene- de fé daquele que a palavra de Cristo prepôs a to-
randa confessa semper est et habet devota prima- dos e que a venerada Igreja sempre reconheceu e
tem. Impeti possunt humanis praesumptionibus, devotamente tem como primaz. As realidades que
quae divino sunt iudicio constituta, vinci autem foram constituídas por juízo divino podem ser
quorumlibet potestate non possunt. agredidas pela humana temeridade, não podem, po-
rém, ser vencidas pelo poder de ninguém.
127
128
[Mt 18,18]. In quibuscunque omnia sunt, quanta- tos fazem penitência. A ela é dito: tudo quanto ti-
cunque sint, et qualiacunque sint, veraci nihilomi- verdes perdoado sobre a terra … [cf. Jo 20,23], “tudo
nus eorum manente sententia, qua nunquam solven- o que tiverdes desligado sobre a terra, será desliga-
dus esse denuntiatur in eorum tenore consistens, non do também no céu” [Mt 18,18]. Com tudo isso são
etiam ab hoc eodem post recedens. entendidos todos os pecados, por maiores e mais
numerosos que sejam, permanecendo verdadeiro,
não obstante, o juízo a respeito disso que declara
que jamais poderá ser perdoado quem neles persis-
te, não porém quem em seguida deles se afasta.
Primado da Sé Romana
Post [has omnes1] propheticas et evangelicas at- Depois de [todos estes1] escritos proféticos e evan- 350
que apostolicas [quas superius deprompsimus1] gélicos e apostólicos [que acima elencamos1], nos
scripturas, quibus Ecclesia catholica per gratiam Dei quais a Igreja católica pela graça de Deus está fun-
fundata est, etiam illud intimandum putavimus, dada, julgamos dever sublinhar também o seguinte:
quod, quamvis universae per orbem catholicae embora para a universal Igreja católica esparsa pelo
diffusae Ecclesiae unus thalamus Christi sit, sancta orbe o tálamo de Cristo seja único, a santa Igreja
tamen Romana Ecclesia nullis synodicis constitutis romana foi anteposta às outras Igrejas não por quais-
ceteris Ecclesiis praelata sit, sed evangelica voce quer decisões conciliares, mas obteve seu primado
Domini et Salvatoris primatum obtenuit: Tu es Pe- da palavra evangélica do Senhor e Salvador: Tu és
trus, inquiens, et super hanc petram aedificabo Ec- Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja,
clesiam meam, et portae inferi non praevalebunt e as portas do inferno não prevalecerão contra ela,
adversus eam, et tibi dabo claves regni caelorum, et e te darei as chaves do reino dos céus, e tudo o que
quaecumque ligaveris super terram, erunt ligata et tiveres ligado sobre a terra será ligado também no
in caelo, et quaecumque solveris super terram, erunt céu e tudo o que desligares na terra será desligado
soluta et in caelo [Mt 16,18s]. também no céu [Mt 16,18s].
Addita est etiam societas beatissimi Pauli Apos- A isso acresce a presença do beatíssimo Apóstolo
toli, vasis electionis, qui non diverso, sicut haereti- Paulo, vaso eleito, que não em tempo diferente, como
ci garriunt, sed uno tempore, uno eodemque die glo- tagarelam os hereges, mas, agonizando juntamente
riosa morte cum Petro in urbe Roma sub Caesare com Pedro no mesmo tempo e no mesmo dia, sob o
Nerone agonizans coronatus est; et pariter supra- imperador Nero, foi coroado por gloriosa morte na
dictam sanctam Romanam Ecclesiam Christo Do- cidade de Roma; e eles consagraram de igual modo
129
mino consecrarunt aliisque omnibus urbibus in uni- a supracitada santa Igreja romana ao Cristo Senhor,
verso mundo sua praesentia atque venerando trium- e com a sua presença e venerando triunfo a coloca-
pho praetulerunt. ram à frente de todas as cidades do mundo inteiro.
351 Est ergo prima Petri Apostoli sedes Romana Ec- Por isso, a primeira sé do Apóstolo Pedro é a
clesia non habens maculam neque rugam nec ali- Igreja romana, que não tem mancha nem ruga nem
quid eiusmodi [Eph 5,27]. Secunda autem sedes apud qualquer coisa do gênero [Ef 5,27]. A segunda sé,
Alexandriam beati Petri nomine a Marco eius disci- depois, foi consagrada em nome do bem-aventura-
pulo atque evangelista consecrata est … . Tertia vero do Pedro em Alexandria, por Marcos, seu discípulo
sedes apud Antiochiam beatissimi Apostoli Petri e evangelista … . Como terceira foi honrada, por
habetur honorabilis, eo quod illic, priusquam Ro- sua vez, a sé do beatíssimo apóstolo Pedro em
mam venisset habitavit et illic primum nomen Chris- Antioquia, porque ali esteve antes de ir para Roma
tianorum novellae gentis exortum est [cf. Act 11,26]. e ali apareceu pela primeira vez o nome de cristãos
para <designar> o novo povo.
*352 1 Inserido sem dúvida não antes do fim do cisma de Acácio (ano 519).
130
Item decretales epistolas, quas beatissimi papae Igualmente sejam recebidas com veneração as
diversis temporibus ab urbe Roma pro diversorum cartas decretais que os beatíssimos papas em diver-
Patrum consultatione dederunt, venerabiliter susci- sos tempos mandaram desde a cidade de Roma, por
piendas esse. ocasião das consultas de diversos Padres.
Item gesta sanctorum martyrum … . Sed ideo Assim também os atos dos santos mártires … .
secundum antiquam consuetudinem singulari cau- Mas, segundo um antigo costume, por singular cau-
tela in sancta Romana Ecclesia non leguntur, quia tela, estes não são lidos na santa Igreja romana, seja
et eorum, qui conscripsere, nomina penitus igno- porque são de todo desconhecidos os nomes de
rantur, et ab infidelibus et idiotis superflua aut mi- quem os escreveu, seja porque, para os infiéis e os
nus apta quam rei ordo fuerit, esse putantur … . inexperientes, podem parecer supérfluos ou menos
Propter quod, … ne vel levis subsannandi oriretur apropriados que o decurso do fato … . Por isso, …
occasio, in sancta Romana Ecclesia non leguntur. para que não haja qualquer ocasião de gozação, não
Nos tamen cum praedicta Ecclesia et omnes marty- são lidos na santa Igreja romana. Nós, todavia, com
res et eorum gloriosos agones, qui Deo magis quam a referida Igreja veneramos, com plena devoção, seja
hominibus noti sunt, omni devotione veneramur. todos os mártires, seja as suas gloriosas lutas que
são conhecidas mais de Deus do que dos homens.
Item vitas Patrum, Pauli, Antonii, Hilarionis et Igualmente acolhemos com toda a honra as vidas
omnium eremitarum, quas tamen vir beatissimus Hie- dos Padres, de Paulo, de Antônio, de Hilário e de
ronymus descripsit, cum omni honore suscipimus. todos os eremitas, <só> aquelas todavia que escre-
veu o beatíssimo Jerônimo.
[Continuando seriem librorum monetur:] cum [Continuando a série dos livros, se recomenda]:
haec ad catholicorum manus pervenerint, beati Pauli quando esses <escritos> chegam às mãos dos cató-
Apostoli praecedat sententia: “Omnia probate, quod licos proceda-se segundo a sentença do bem-aven-
bonum est, tenete” [1 Th 5,21]. Item Rufinus vir turado Paulo Apóstolo: “Tudo examinai, o que é
religiosus plurimos ecclesiastici operis edidit libros, bom conservai” [1Ts 5,21]. Assim também Rufino,
nonnullas etiam Scripturas interpretatus est. Sed homem religioso, publicou vários livros de uma
quoniam venerabilis Hieronymus eum in aliquibus obra eclesiástica, interpretou também algumas Es-
de arbitrii libertate notavit, illa sentimus, quae prae- crituras. Mas já que o venerável Jerônimo o desa-
dictum beatum Hieronymum sentire cognoscimus; provou em algumas questões sobre a liberdade de
et non solum de Rufino, sed etiam de universis, quos arbítrio, temos como opinião aquilo que reconhe-
vir saepius memoratus zelo Dei et fidei religione cemos como o pensamento do referido bem-aven-
reprehendit. – Item Origenis nonnulla opuscula, quae turado Jerônimo; e <isso>, não somente em refe-
vir beatissimus Hieronymus non repudiat, legenda rência a Rufino, mas também a todos os que este
suscipimus. Reliqua autem omnia cum auctore suo homem, muitas vezes por nós recordado, no zelo
dicimus renuenda. … de Deus e na piedade da fé repreende. Igualmente
aceitamos algumas obras de Orígenes, que o bea-
tíssimo Jerônimo não refuta. As restantes obras, ao
contrário, julgamos que devem ser rejeitadas com
o seu autor. …
131
sequacibus sub anathematis insolubili vinculo in católica e apostólica, e, com os seus autores e os
aeternum confitemur esse damnata. seguidores dos autores, condenado sob o vínculo
inviolável do anátema.
132
mentum, quod per illum datum est, aliis perfectio- somente a si mesmo. De fato, o sacramento invio-
nem suae virtutis obtinuit. lável por ele administrado manteve para os outros a
perfeição de sua força.
Profissão de fé
Confitemur ergo, Dominum nostrum Iesum Chris- Professemos portanto que o nosso Senhor Jesus 357
tum Filium Dei unigenitum ante omnia quidem Cristo é Filho unigênito de Deus, nascido do Pai
saecula sine principio ex Patre natum secundum segundo a divindade, sem início, antes de todos os
deitatem, in novissimis autem diebus de sancta vir- séculos; o mesmo, porém, nos últimos dias, encar-
gine Maria eundem incarnatum et perfectum homi- nado da Santa Virgem Maria e homem perfeito,
nem ex anima rationali et corporis susceptione, tendo uma alma racional e tendo assumido um cor-
homousion Patri secundum deitatem et homousion po, é consubstancial ao Pai segundo a divindade e
nobis secundum humanitatem. Duarum enim natu- consubstancial a nós segundo a humanidade. De
rarum perfectarum unitas facta est ineffabiliter. fato, de maneira inefável foi feita, das duas nature-
Propter quod unum Christum eundem Filium Dei zas perfeitas, uma unidade. Por isso professamos
et hominis unigenitum a Patre et primogenitum ex um só Cristo igualmente Filho de Deus e do ho-
mortuis confitemur, scientes quod quidem coaeter- mem, unigênito do Pai e primogênito dentre os
nus suo Patri secundum divinitatem, secundum mortos, sabendo que, decerto coeterno com seu Pai
quam opifex est omnium, et dignatus est post con- segundo a divindade, segundo a qual é artífice de
sensionem sanctae Virginis, cum dixit ad angelum tudo, se dignou também – depois do consenso da
“Ecce ancilla Domini, fiat mihi secundum verbum Santa Virgem, quando ela disse ao anjo: “Eis a ser-
tuum” [Lc 1,38], ineffabiliter sibi ex ipsa aedificari va do Senhor, aconteça a mim segundo a tua pala-
templum et istud sibi univit, quod non coaeternum vra” [Lc 1,38] – edificar para si, inefavelmente, por
de sua substantia e caelo detulit corpus, sed ex massa ela, um templo que uniu a si; e não transferiu este
nostrae substantiae, hoc est ex Virgine. Hoc acci- corpo, como coeterno, da sua substância do céu para
piens et sibi uniens non Deus Verbum in carne ver- cá, mas o tomou da matéria da nossa substância,
sus est neque ut phantasma apparens, sed inconver- isto é, da Virgem. Acolhendo-o e unindo-o a si, Deus
tibiliter et incommutabiliter suam conservavit es- Verbo não se mudou em carne nem se mostrou como
sentiam, primitias naturae nostrae sibi univit. Nam aparição imaginária, mas, conservando imutável e
principium Deus Verbum has nostrae naturae pri- invariavelmente a sua essência, uniu a si as primí-
mitias per multam sibi bonitatem unire dignatus est: cias da nossa natureza. De fato, o princípio, Deus
qui non permixtus, sed in utrisque substantiis unus Verbo, dignou-se unir a si, na sua grande bondade,
et ipse visus secumdum quod scriptum est: “Solvi- estas primícias da nossa natureza: ele se mostrou
te templum istud, et in tribus diebus resuscitabo não uma mistura, mas único e o mesmo em ambas
illud” [Io 2,19]. Solvitur enim Christus Iesus se- as substâncias, segundo o que está escrito: “Destruí
cundum meam substantiam, quam suscepit, et so- este templo e em três dias o reerguerei” [Jo 2,19].
lutum suscitat proprium templum, hoc ipse secun- Foi destruído, de fato, Cristo Jesus segundo a mi-
dum divinam substantiam, secundum quam et om- nha substância que ele assumiu, e ele mesmo res-
nium artifex est. suscita o seu próprio templo destruído, a saber, se-
gundo a substância divina, segundo a qual é tam-
bém o artífice de tudo.
Numquam autem post resurrectionem unitionis Depois da ressurreição da nossa natureza a ele 358
nostrae naturae discessit a proprio templo nec dis- unida, nunca se separou do seu próprio templo, nem
cedere potest propter ineffabilem suam benignita- se pode separar, por causa da sua inefável benigni-
tem, sed est ipse Dominus Iesus Christus et passi- dade, mas ele é o mesmo Senhor Jesus Cristo, tanto
bilis et impassibilis, passibilis secundum humanita- passível como impassível, passível segundo a hu-
133
tem, impassibilis secundum divinitatem. Suscitavit manidade e impassível segundo a divindade. Deus
igitur suum templum Deus Verbum et in se naturae Verbo ressuscitou, portanto, o seu templo e operou
nostrae resurrectionem et renovationem operatus est. em si a ressurreição e a renovação da nossa nature-
Et hanc Dominus Christus, postquam resurrexit a za. E esta, o Senhor Cristo, depois de ressuscitado
mortuis, discipulis ostendebat dicens: “Palpate me dos mortos, mostrava-a aos discípulos, dizendo:
et videte, quoniam spiritus carnem et ossa non ha- “Tocai-me e vede, já que um espírito não tem carne
bet, quemadmodum me videtis habere” [Lc 24,39]. e ossos como vós vedes que eu tenho” [Lc 24,39].
Non dixit “quemadmodum me dicitis esse”, sed “ha- Não disse “como dizeis que eu sou”, mas “que eu
bere”, ut et qui habet et qui habetur considerans, tenho”, para que, considerando tanto quem tem
non permixtionem, non conversionem, non muta- quanto quem é tido, possas notar que não aconteceu
tionem, sed unitatem factam respicias. Propterea et mistura, nem transformação, nem mudança, mas uni-
fixuras clavorum et punctionem lanceae demons- dade. Por isso, ele mostrou também as perfurações
travit et cum discipulis manducavit, ut per omnia dos cravos e a ferida da lança e comeu com os seus
resurrectionem nostrae naturae in se renovatam do- discípulos, para ensinar por meio de todas estas
ceret, et, quia secundum beatam divinitatis substan- coisas a ressurreição, nele renovada, de nossa natu-
tiam inconvertibilis, incommutabilis, impassibilis, reza; e, já que, segundo a santa divindade, ele é sem
immortalis, nullius indigens, perficiens omnes pas- transformação ou mudança, impassível, imortal,
siones, et permisit proprio inferri templo, quod necessitado de nada, suportando todos os sofrimen-
virtute propria suscitavit, et per propriam perfectio- tos, ele permitiu que estes fossem infligidos ao seu
nem templi sui renovationem nostrae naturae ope- templo, que suscitou com a própria força, bem como
ratus est. operou, mediante a própria perfeição do seu tem-
plo, a renovação da nossa natureza.
359 Qui autem dicunt subtilem hominem Christum aut Aqueles, ao contrário, que dizem que Cristo é um
passibilem Deum aut in carne versum aut non cou- simples homem, ou que é Deus passível, ou que se
nitum habuisse corpus aut de caelo hoc detulisse mudou em carne, ou que teve um corpo não unido
aut phantasma esse aut mortalem dicentes Deum a si ou que o fez descer do céu, ou que foi uma
Verbum indiguisse, ut a Patre resuscitaretur, aut sine aparição imaginária, ou – afirmando que Deus Ver-
anima corpus aut sine sensu hominem suscepisse bo é mortal – <dizem> que ele teve necessidade de
aut duas substantias Christi secundum permixtionem ser ressuscitado pelo Pai, ou tomou um corpo sem
confusas unam factam fuisse substantiam et non alma ou uma humanidade sem a faculdade do sen-
confitentes Dominum nostrum Iesum Christum duas tido, ou que as duas substâncias de Cristo, confusas
esse naturas inconfusas, unam autem personam, por mistura, foram reduzidas a uma só substância,
secundum quod unus Christus, unus idem Filius, e não professam que nosso Senhor Jesus Cristo é
istos anathematizat catholica et apostolica Ecclesia. duas naturezas inconfusas, porém uma única pes-
soa, portanto, um só Cristo, igualmente um só Fi-
lho: a Igreja católica os anatematiza.
360-361: Carta “Bonum atque iucundum”, aos bispos da Gália, 23 ago. 498
Ed.: E. Schwartz, l. c. ad *345, 15431-15514 / Thl 703s (= carta 10) / PL 62, 68C-69A / BullTau apêndice 1, 355b-
356a. – Reg.: JR 761.360-361
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tituta, anathematizamus omnes haereses, praecipue guindo o que os Padres estabeleceram, anatemati-
Nestorium haereticum, qui quondam Constantino- zamos todas as heresias, particularmente o herege
politanae fuit urbis episcopus, damnatum in Conci- Nestório, que foi a seu tempo bispo da cidade de
lio Epheseno a Caelestino papa urbis Romae et a Constantinopla, condenado no Concílio de Éfeso por
sancto [venerabili viro] Cyrillo Alexandrinae civi- Celestino, Papa da cidade de Roma, e por São [pelo
tatis antistite; una cum isto [similiter] anathemati- venerável] Cirilo, bispo da cidade de Alexandria;
zantes Eutychen et Dioscorum Alexandrinum in juntamente com ele [de modo semelhante] anate-
sancta Synodo, quam sequimur et amplectimur, matizamos Êutiques e Dióscoro de Alexandria, con-
Chalcedonensi damnatos [, quae secuta s. Concilium denados no santo Sínodo de Calcedônia, o qual se-
Nicaenum fidem apostolicam praedicavit]. guimos e abraçamos [e que na linha do santo Con-
cílio de Nicéia proclamou a fé apostólica].
(3) His Timotheum adiicientes parricidam [De- (3) Acrescentamos a estes [Detestamos igualmen-
testamur et T. parr.], Aelurum cognomento, et dis- te] o traidor Timóteo, cognominado Éluro, e o seu
cipulum quoque ipsius atque sequacem in omni- discípulo e cabal seguidor Pedro de Alexandria; e
bus Petrum Alexandrinum; itemque [–!] condem- igualmente [–!] condenamos [também] e anatema-
namus [etiam] et anathematizamus Acacium Cons- tizamos Acácio, bispo de Constantinopla, condena-
tantinopolitanum quondam episcopum ab Aposto- do pela Sé Apostólica, seus cúmplices e seguido-
lica Sede damnatum, eorum complicem atque se- res, ou ainda aqueles que permaneceram em comu-
quacem, vel qui in eorum communionis societate nhão com eles, já que [Acácio] mereceu na conde-
permanserint: quia [Acacius] quorum se commu- nação um juízo semelhante ao daqueles a cuja co-
nioni miscuit, ipsorum similem meruit in damna- munhão se uniu. Não menos condenamos Pedro de
tione sententiam. Petrum nihilominus Antiochenum Antioquia com os seguidores dele e de todos os
damnantes [damnamus] cum sequacibus suis et acima mencionados.
omnium supra scriptorum.
(4) Quapropter [–!] suscipimus [autem] et pro- (4) Conseqüentemente [–!] acolhemos [porém] 365
bamus epistolas beati Leonis papae universas, quas e aprovamos todas as cartas do bem-aventurado
de christiana religione conscripsit. Unde [–!], sicut Papa Leão, escritas por ele a respeito da religião
praediximus, sequentes in omnibus Apostolicam cristã. Portanto [–!], como dissemos acima, segui-
Sedem et praedicantes eius omnia constituta, [. Et mos em tudo a Sé Apostólica e proclamamos tudo
ideo] spero, ut in una communione vobiscum, quam quanto foi por ela estabelecido, [e por isto] espero
Sedes Apostolica praedicat, esse merear, in qua est merecer estar na única comunhão convosco, aque-
integra et verax christianae religionis [et perfecta] la que a Sé Apostólica proclama e na qual está a
soliditas: promittentes [promittens] etiam [in sequen- íntegra e veraz [e perfeita] solidez da religião cris-
ti tempore] sequestratos a communione Ecclesiae tã: prometemos [prometo] também [no futuro] não
catholicae, id est non consentientes Sedi Apostoli- ler durante os mistérios os nomes daqueles que
cae, eorum nomina inter sacra non recitanda esse foram afastados da comunhão com a Igreja católi-
mysteria. [Quodsi in aliquo a professione mea de- ca, isto é, aqueles que não estão de acordo com a
viare tentavero, his, quos damnavi, complicem me Sé Apostólica. [E se eu tentar em alguma coisa
mea sententia esse profiteor.] (5) Hanc autem pro- desviar da minha profissão, professo que segundo
fessionem meam [ego] manu propria [mea] subs- meu próprio juízo me torno cúmplice de quantos
cripsi et tibi Hormisdae sancto et venerabili papae tenho condenado.] (5) Esta minha profissão, pois,
urbis Romae obtuli [direxi] … [eu] a subscrevi de própria [minha] mão e a ofere-
ci [dirigi] a ti, Hormisdas, santo e venerável Papa
da cidade de Roma …
137
A divina Trindade
367 (c. 7) Nam si Trinitas Deus, hoc est Pater et Fi- (Cap. 7) De fato, se a Trindade, isto é, Pai, Filho
lius et Spiritus Sanctus, Deus autem unus, speciali- e Espírito Santo, <é> Deus, e por outro lado Deus
ter Legislatore dicente: “Audi Israel, Dominus Deus <é> um só, segundo quanto particularmente diz o
tuus Deus unus est” [Dt 6,4]: qui aliter habet, ne- Legislador: “Escuta, Israel, o Senhor teu Deus é um
cesse est aut divinitatem in multa dividat aut spe- só” [Dt 6,4], quem tem uma opinião diversa, neces-
cialiter passionem ipsi essentiae Trinitatis impingat sariamente, ou divide a divindade em muitas <par-
et … hoc est aut plures deos more profanae genti- tes>, ou imputa particularmente o sofrer à essência
litatis inducere aut sensibilem poenam ad eam na- da Trindade mesma; e … isto significa ou introdu-
turam, quae aliena est ab omni passione, transferre. zir muitos deuses, segundo o costume do ímpio pa-
ganismo, ou destinar uma pena sensível àquela na-
tureza que é alheia a qualquer sofrer.
(c. 8) Unum est sancta Trinitas, non multiplicatur (Cap. 8) A santa Trindade é uma única realidade,
numero, non crescit augmento nec potest aut in- não se multiplica, nem aumenta quanto ao número,
tellegentia comprehendi aut hoc quod Deus est dis- nem cresce por desenvolvimento, nem pode ser
cretione seiungi. Quis ergo illi secreto aeternae captada pela inteligência, e o que Deus é não pode
impenetrabilisque substantiae, quod neque ulla vel ser separado por divisão. Quem portanto, tentará
invisibilium creaturarum potuit investigare natura, introduzir uma ímpia divisão no mistério da eterna
profanam divisionem temptet ingerere et divini ar- e impenetrável substância – o qual nenhuma natu-
cana mysterii revocare ad calculum moris humani? reza, nem mesmo das criaturas invisíveis, pôde in-
Adoremus Patrem et Filium et Spiritum Sanctum, vestigar – e reduzir as arcanas realidades do misté-
indistinctam distincte, inconprehensibilem et inenar- rio divino a um cálculo a modo humano? Adore-
rabilem substantiam Trinitatis, ubi etsi admittit nu- mos o Pai, o Filho e o Espírito Santo, a substância
merum ratio personarum, unitas tamen non admittit distintamente indistinta, incompreensível e inenar-
essentiae, ita tamen, ut servemus divinae propria rável da Trindade; nela, mesmo se a razão admite
naturae, servemus propria unicuique personae, ut uma pluralidade de pessoas, a unidade todavia não
nec personis divinitatis singularitas denegetur nec admite <uma pluralidade> na essência; mas, assim
ad essentiam hoc, quod est proprium nominum, como mantemos a peculiaridade da natureza divi-
transferatur. na, assim mantemos o que é próprio a cada pessoa,
para que nem às pessoas seja negada a unicidade da
divindade, nem seja transferida à essência o que é
próprio dos nomes.
(c. 9) Magnum est sanctae et incomprehensibile (Cap. 9) Grande e incompreensível é o mistério
mysterium Trinitatis: Deus Pater, Deus Filius, Deus da santa Trindade: Deus Pai, Deus Filho, Deus Es-
138
Spiritus Sanctus, Trinitas indivisa, et tamen notum pírito Santo, Trindade indivisa; e, contudo, sabe-
est, quia proprium est Patris, ut generaret Filium; mos que é próprio do Pai gerar o Filho, próprio do
proprium Filii Dei, ut ex Patre Patri nasceretur ae- Filho de Deus nascer do Pai igual ao Pai; e sabe-
qualis, notum etiam, quid sit proprium Spiritus Sancti. mos também o que é próprio do Espírito Santo.
139
Fulgêncio, o Liber ad Petrum Diaconum 12ss: PL 65, 466A-469B). O sínodo foi confirmado por Bonifácio II (*398-
400). Sínodo provincial, ficou desconhecido de muitos e do séc. VIII em diante caiu no esquecimento. Voltou à memória
só com as discussões do Concílio de Trento.
Ed.: G. Morin, Caesarii Arelatensis Opera varia (Opera omnia 2; Maretioli 1942) 70-77 / C. Munier: CpChL 148
(1963) 55-63 / F. Maassen: MGH Leges III, = Concilia 1 (1893) 46-52 / Bruns 2, 176-182 / MaC 8, 711D-717A.
a) Proêmio
370 … Pervenit ad nos, esse aliquos, qui de gratia et … Ficamos sabendo que há alguns que, em sua
libero arbitrio per simplicitatem minus caute et non simplicidade, querem julgar a respeito da graça e
secundum fidei catholicae regulam sentire velint. do livre-arbítrio com menor cautela e não segundo
Unde id nobis, secundum admonitionem et auctori- a regra da fé católica. Pelo que nos pareceu justo e
tatem Sedis Apostolicae, iustum ac rationabile vi- razoável, seguindo a admoestação e a autoridade da
sum, ut pauca capitula ab Apostolica nobis Sede Sé Apostólica, propor para serem por todos obser-
transmissa, quae ab antiquis Patribus de sanctarum vados e subscrever com as nossas mãos os poucos
Scripturarum voluminibus in hac praecipue causa capítulos a nós transmitidos pela Sé Apostólica e
collecta sunt, ad docendos eos, qui aliter quam que, pelos antigos Padres, foram recolhidos dos li-
oportet sentiunt, ab omnibus observanda proferre et vros das santas Escrituras, com a intenção principal
manibus nostris subscribere deberemus. … de ensinar aqueles que julgam diversamente de como
convém.
b) Cânones
O pecado original
371 Can. 1. Si quis per offensam praevaricationis Cân. 1. Se alguém diz que o homem, pela dete-
Adae non totum, id est secundum corpus et ani- rioração que vem da prevaricação de Adão, não foi
mam, “in deterius” dicit hominem “commutatum”1, “mudado para pior”1 inteiramente, isto é, segundo
sed animae libertate illaesa durante, corpus tantum- corpo e alma, mas crê que somente o corpo <este-
modo corruptioni credit obnoxium, Pelagii errore ja> sujeito à corrupção, permanecendo ilesa a liber-
deceptus adversatur Scripturae dicenti: “Anima, dade da alma, ele se opõe, enganado pelo erro de
quae peccaverit, ipsa morietur” [Ez 18,20]; et: Pelágio, à Escritura que diz: “A alma que tiver pe-
“Nescitis, quoniam, cui exhibetis vos servos ad cado, ela mesmo morrerá” [Ez 18,20]; e: “Não sa-
oboediendum, servi estis eius, cui oboeditis?” [Rm beis que, oferecendo-vos como escravos para obe-
6,16]; et: “A quo quis superatur, eius et servus addi- decer a alguém, sois escravos daquele a quem
citur” [cf. 2 Pt 2,19]. obedeceis?” [Rm 6,16]; e: “Por quem alguém é
vencido, a ele é entregue também como escravo”
[cf. 2Pd 2,19].
372 Can. 2. Si quis soli Adae praevaricationem suam, Cân. 2. Se alguém afirma que a prevaricação de
non et eius propagini asserit nocuisse, aut certe Adão prejudicou somente a ele e não também à sua
mortem tantum corporis quae poena peccati est, non descendência, ou que decerto passou a todo o gêne-
autem et peccatum, quod mors est animae, per unum ro humano só a morte do corpo, que é o castigo do
hominem in omne genus humanum transiisse testa- pecado, não porém o pecado, que é a morte da alma,
tur, iniustitiam Deo dabit contradicens Apostolo atribui a Deus uma injustiça, contradizendo o Após-
dicenti: “Per unum hominem peccatum intravit in tolo, que diz: “Por um só homem o pecado entrou
mundum [mundo], et per peccatum mors, et ita in no mundo e com o pecado a morte, e assim ela [a
omnes homines [mors] pertransiit, in quo omnes morte] passou a todos os homens, já que nele todos
peccaverunt” [cf. Rm 5,12]1. pecaram” [Rm 5,12]1.
*371 1 Agostinho, De nuptiis et concupiscentia II 34, n. 57 (CSEL 42, 315 / PL 44, 471).
*372 1 Cf. Agostinho, Contra duas epistulas Pelagianorum IV 4, n. 4-7 (CSEL 60, 524-528 / PL 44, 611-614).
140
A graça
Can. 3. Si quis invocatione humana gratiam Dei Cân. 3. Se alguém diz que a graça de Deus pode 373
dicit posse conferri, non autem ipsam gratiam face- ser conferida por causa da invocação do homem,
re, ut invocetur a nobis, contradicit Isaiae prophe- não porém que a própria graça faz com que seja
tae vel Apostolo idem dicenti: “Inventus sum a non invocada por nós, contradiz o profeta Isaías e o
quaerentibus me; palam apparui his, qui me non Apóstolo, que o cita: “Fui encontrado pelos que não
interrogabant” [Rm 10,20; cf. Is 65,1] me procuravam; manifestei-me aos que não me in-
terrogavam” [Rm 10,20; cf. Is 65,1].
Can. 4. Si quis, ut a peccato purgemur, volunta- Cân. 4. Se alguém professa que, para sermos 374
tem nostram Deum exspectare contendit1, non au- purificados do pecado, Deus aguardou a nossa von-
tem, ut etiam purgari velimus, per Sancti Spiritus tade1, não porém que também o querer ser purifica-
infusionem et operationem in nos fieri confitetur, dos se dá em nós mediante a inspiração e a obra do
resistit ipsi Spiritui Sancto per Salomonem dicenti: Espírito Santo, se opõe ao mesmo Espírito Santo,
“Praeparatur voluntas a Domino” [Prv 8,35 Septg.]2, que diz por meio de Salomão: “A vontade é prepa-
et Apostolo salubriter praedicanti: “Deus est, qui rada pelo Senhor” [Pr 8,35 Septg.]2, e ao Apóstolo,
operatur in vobis et velle et perficere pro bona vo- que salutarmente anuncia: “É Deus que opera em
luntate” [cf. Phil 2,13]. vós tanto o querer como o realizar segundo <seu>
beneplácito” [cf. Fl 2,13].
Can. 5. Si quis, sicut augmentum, ita etiam ini- Cân. 5. Se alguém diz que, como o crescimento, 375
tium fidei ipsumque credulitatis affectum, quo in assim também o início da fé e a própria inclinação
eum credimus, qui iustificat impium, et ad [re]gene- para crer, pela qual cremos naquele que justifica o
rationem sacri baptismatis pervenimus, non per gra- ímpio e chegamos à [re]generação do sagrado ba-
tiae donum, id est per inspirationem Spiritus Sancti tismo, está em nós, não pelo dom da graça – isto é,
corrigentem voluntatem nostram ab infidelitate ad pela inspiração do Espírito Santo que corrige a nossa
fidem, ab impietate ad pietatem, sed naturaliter nobis vontade da incredulidade à fé, da impiedade à pie-
inesse dicit, apostolicis dogmatibus adversarius dade –, mas pela natureza, se monstra adversário
approbatur, beato Paulo dicente: “Confidimus, quia dos ensinamentos apostólicos, já que o bem-aven-
qui coepit in vobis bonum opus, perficiet usque in turado Paulo diz: “Confiamos que aquele que ini-
diem Iesu Christi” [cf. Phil 1,6]; et illud: “Vobis ciou em vós a boa obra a leve a termo até o dia de
datum est pro Christo non solum, ut in eum creda- Jesus Cristo” [cf. Fl 1,6]; e ainda: “A vós foi dado
tis, verum etiam, ut pro illo patiamini” [cf. Phil não só que creiais em Cristo, mas também que
1,29]; et: “Gratia salvi facti estis per fidem, et hoc sofrais por ele” [cf. Fl 1,29]; e: “Pela graça fostes
non ex vobis: Dei enim donum est” [cf. Eph 2,8]. salvos mediante a fé, e isto não vem de vós, pois é
Qui enim fidem, qua in Deum credimus, dicunt esse dom de Deus” [cf. Ef 2,8]. Aqueles, de fato, que
naturalem, omnes eos, qui ab Ecclesia Christi alieni dizem que a fé com a qual cremos em Deus é natu-
sunt, quodammodo fideles esse definiunt1. ral afirmam que os que são estranhos à Igreja de
Cristo, em certo sentido, são todos crentes1.
Can. 6. Si quis sine gratia Dei credentibus, vo- Cân. 6. Se alguém diz que a nós, que sem a graça 376
lentibus, desiderantibus, conantibus, laborantibus, de Deus cremos, queremos, desejamos, nos esfor-
orantibus, vigilantibus, studentibus, petentibus, quae- çamos, nos fadigamos, rezamos, vigiamos, nos apli-
rentibus, pulsantibus nobis misericordiam dicit con- camos, pedimos, batemos na porta, por Deus é con-
ferri divinitus, non autem, ut credamus, velimus, vel ferida misericórdia, não porém que acontece em nós
haec omnia, sicut oportet, agere valeamus, per in- por infusão e inspiração do Santo Espírito que cre-
fusionem et inspirationem Sancti Spiritus in nobis mos, queremos, ou somos capazes de fazer tudo
fieri confitetur, et aut humilitati, aut oboedientiae como deve ser, e subordina o auxílio da graça à
humanae subiungit gratiae adiutorium, nec, ut oboe- humildade ou à obediência humana, e não concor-
*374 1 Contra Fausto de Riez; cf. do mesmo De gratia I 18 (CSEL 21, 565s), = I 19 (PL 58, 812D).
2 Assim a Septuaginta traduz erroneamente o texto hebraico, que a Vulgata reproduz com exatidão (“ele colherá salva-
ção do Senhor”).
*375 1 Este cânon é ao mesmo tempo um resumo de Agostinho, De praedestinatione Sanctorum (PL 44, 959-992).
141
dientes et humiles simus, ipsius gratiae donum esse da que o sermos obedientes e humildes é dom da
consentit, resistit Apostolo dicenti: “Quid habes, própria graça, se opõe ao Apóstolo, que diz: “Que
quod non accepisti?” [1 Cor 4,7]; et: “Gratia Dei coisa tens que não recebeste?” [1Cor 4,7]; e: “Pela
sum id, quod sum” [1 Cor 15,10]1. graça de Deus sou aquilo que sou” [1Cor 15,10]1.
377 Can. 7. Si quis per naturae vigorem bonum ali- Cân. 7 Se alguém afirma que pela força da nature-
quid, quod ad salutem pertinet vitae aeternae, cogi- za se pode pensar como convém ou escolher algum
tare, ut expedit, aut eligere, sive salutari, id est evan- bem atinente à saúde da vida eterna, ou então, que se
gelicae praedicationi consentire posse confirmat pode consentir à pregação salutar, isto é, evangélica,
absque illuminatione et inspiratione Spiritus Sanc- sem a iluminação e a inspiração do Espírito Santo,
ti, qui dat omnibus suavitatem in consentiendo et que dá a todos suavidade no consentir e no crer na
credendo veritati, haeretico fallitur spiritu, non in- verdade, é enganado por um espírito de heresia, não
telligens vocem Dei in Evangelio dicentis: “Sine me compreendendo a voz de Deus, que diz no Evange-
nihil potestis facere” [Io 15,5]; et illud Apostoli: lho: “Sem mim nada podeis fazer” [Jo 15,5]; nem o
“Non quod idonei simus cogitare aliquid a nobis que diz o Apóstolo: “Não que por nós mesmos pos-
quasi ex nobis, sed sufficientia nostra ex Deo est” samos considerar alguma coisa como se viesse de nós,
[2 Cor 3,5]1. mas a nossa capacidade vem de Deus” [2Cor 3,5]1.
378 Can. 8. Si quis alios misericordia, alios vero per Cân. 8. Se alguém sustenta que alguns podem
liberum arbitrium, quod in omnibus, qui de praeva- chegar à graça do batismo por via da misericórdia,
ricatione primi hominis nati sunt, constat esse vi- outros ao contrário por meio do livre-arbítrio, que
tiatum, ad gratiam baptismi posse venire contendit, consta ser viciado em todos quantos nasceram a partir
a recta fide probatur alienus. Is enim non omnium da prevaricação do primeiro homem, se mostra es-
liberum arbitrium per peccatum primi hominis as- tranho à verdadeira fé. Pois afirma que o pecado do
serit infirmatum, aut certe ita laesum putat, ut ta- primeiro homem não enfraqueceu o livre-arbítrio de
men quidam valeant sine revelatione Dei mysterium todos ou decerto o pensa lesado de tal modo que
salutis aeternae per semetipsos posse conquirere. todavia alguns sejam capazes de poder alcançar, por
Quod quam sit contrarium, ipse Dominus probat, si mesmos, sem a revelação de Deus, o mistério da
qui non aliquos, sed neminem ad se posse venire salvação. Quão contraditório isto seja, o assegura o
testatur, nisi “quem Pater attraxerit” [cf. Io 6,44], próprio Senhor, que testemunha que não alguns, ali-
sicut et Petro dicit. “Beatus es, Simon BarJona, quia ás, ninguém, pode chegar a ele senão “quem o Pai
caro et sanguis non revelavit tibi, sed Pater meus, atraiu” [cf. Jo 6,44], como também diz a Pedro:
qui in caelis est” [Mt 16,17]; et Apostolus: “Nemo “Bem-aventurado és tu, Simão, filho de Jonas, por-
potest dicere Dominum Iesum nisi in Spiritu Sanc- que não foi a carne e o sangue que to revelou, mas
to” [cf. 1 Cor 12,3]1. o meu Pai que está nos céus” [Mt 16,17]; e o Após-
tolo: “Ninguém pode dizer ‘Senhor Jesus’ senão no
Espírito Santo” [cf. 1Cor 12,3]1.
379 Can. 9. “De adiutorio Dei. Divini est muneris, cum Cân. 9. “Sobre o auxílio de Deus. É por um dom
et recte cogitamus, et pedes nostros a falsitate et divino que pensamos retamente e afastamos os nos-
iniustitia continemus; quoties enim bona agimus, Deus sos pés da mentira e da injustiça; de fato, todas as
in nobis atque nobiscum, ut operemur, operatur“1. vezes que fazemos coisas boas, Deus opera em nós
e conosco, para que nós operemos.”1
380 Can. 10. De adiutorio Dei. Adiutorium Dei etiam Cân. 10. Sobre a assistência de Deus. O auxílio
renatis ac sanatis semper est implorandum, ut ad de Deus deve ser sempre pedido também pelos re-
*376 1 Cf. Agostinho, De dono perseverantiae 23, n. 64 (PL 45, 1032); Próspero de Aquitânia, De gratia Dei et libero arbitrio
contra Collatorem (PL 51, 220s, = c. 2, n. 4-5; PL 45, 1804s, = c. 2, n. 6-7).
*377 1 Cf. Agostinho, De gratia Christi et de peccato originali 25, n. 26 – 26, n. 27 (CSEL 42, 145-148 / PL 44, 373s).
*378 1 Cf. Próspero de Aquitânia, Contra Collatorem (PL 51, 225BC 267s, = c. 5, n. 1; c. 19; PL 45, 1806s 1829, = c. 5, n.
13; c. 19, n. 55 [definição 6ª]).
*379 1 De aqui até o cân. 25 (exceto cân. 10, cuja fonte é desconhecida) são alegadas frases isoladas de Próspero de Aquitânia,
Sententiae ex operibus S. Augustini delibatae; basta aqui referir os números: os lugares exatos são facilmente encon-
trados em PL 51, 427-496; a mesma obra é trazida em apêndice às obras de Agostinho em PL 45, 1859-1898. O lugar
acima referido é Sent. 22.
142
finem bonum pervenire, vel in bono possint opere nascidos, para que possam chegar a um bom fim ou
perdurare1. perseverar nas boas ações1.
Can. 11. “De obligatione votorum. Nemo quid- Cân. 11. “Sobre a obrigatoriedade dos votos. Nin- 381
quam Domino recte voveret, nisi ab ipso acceperit guém ofereceria de maneira justa alguma coisa ao
quod voveret”1, sicut legitur: Et quae de manu tua Senhor, se não tivesse recebido dele o que com o
accepimus, damus tibi [1 Par 29,14]. voto doa”1, como se lê: E nós te damos o que de tua
mão recebemos [1Cr 29,14].
Can. 12. “Quales nos diligat Deus. Tales nos amat Cân. 12. “Quais nos ama Deus. Deus nos ama 382
Deus, quales futuri sumus ipsius dono, non quales assim como seremos mediante o seu dom, não como
sumus nostro merito”1. somos por mérito nosso.”1
Can. 13. De reparatione liberi arbitrii. Arbitrium Cân. 13. Sobre a reparação do livre-arbítrio. O 383
voluntatis in primo homine infirmatum, nisi per arbítrio da vontade, enfraquecido no primeiro ho-
gratiam baptismi non potest reparari; “quod amis- mem, não pode ser reparado senão pela graça do
sum, nisi a quo potuit dari, non potest reddi. Unde batismo; “o que foi perdido não pode ser restituído
Veritas ipsa dicit: ‘Si vos Filius liberaverit, tunc vere senão por aquele pelo qual pode ser dado. Por isso
liberi eritis’ [Io 8,36]”1. a própria Verdade diz: ‘Se o filho vos tiver liberta-
do, então sereis verdadeiramente livres’ [Jo 8,36]”1.
Can. 14. “Nullus miser de quantacumque miseria Cân. 14. “Nenhum desgraçado é livrado da des- 384
liberatur, nisi qui Dei misericordia praevenitur”1, si- graça, por maior que seja, se a misericórdia de Deus
cut dicit Psalmista: “Cito anticipet nos misericordia não o socorre”1, como diz o Salmista: “Socorra-
tua Domine” [Ps 78,8]; et illud: “Deus meus, mise- nos logo, Senhor, a tua misericórdia [Sl 79,8]; e
ricordia eius praeveniet me” [Ps 58,11]. ainda: “Meu Deus, a sua misericórdia me preveni-
rá” [Sl 59,11].
Can. 15. “Ab eo, quod formavit Deus, mutatus Cân. 15. “Adão foi mudado do que Deus fez, mas 385
est Adam, sed in peius per iniquitatem suam. Ab para pior, em razão de sua indignidade. Quem crê é
eo, quod operata est iniquitas, mutatur fidelis, sed mudado do que a iniqüidade operou, mas para me-
in melius per gratiam Dei. Illa ergo mutatio fuit lhor, pela graça de Deus. Se aquela foi a mudança
praevaricatoris primi, haec secundum Psalmistam do primeiro prevaricador, esta, segundo o salmista,
‘mutatio est dextrae Excelsi’ [cf. Ps 76,11]”1. ‘é a mudança da destra do Excelso’ [cf. Sl 77,11].”1
Can. 16. “Nemo ex eo, quod videtur habere, glo- Cân. 16. “Ninguém deve se gloriar do que parece 386
rietur, tamquam non acceperit, aut ideo se putet ac- ter como se não o tivesse recebido, nem crer tê-lo
cepisse, quia littera extrinsecus vel, ut legeretur, appa- recebido porque, de fora, apareceu uma letra para ser
ruit, vel, ut audiretur, sonuit. Nam sicut Apostolus lida ou ressoou para ser ouvida. De fato, como diz o
dicit: ‘Si per legem iustitia, ergo Christus gratis Apóstolo: ‘Se a justiça vem da lei, então Cristo mor-
mortuus est’ [Gal 2,21]; ‘ascendens in altum capti- reu por nada’ [Gl 2,21]; ‘subindo às alturas levou
vavit captivitatem, dedit dona hominibus’ [cf. Eph cativo o cativeiro, distribuiu dons aos homens’ [Ef
4,8; cf. Ps 67,19]. Inde habet, quicumque habet; quis- 4,8; cf. Sal 68,19]. Todo aquele que tem, é dali que
quis autem se inde habere negat, aut vere non habet, tem; quem ao invés nega tê-lo dali, ou na verdade
aut id, ‘quod habet, auferetur ab eo’ [Mt 25,29]”1. não tem, ou ‘o que tem lhe será tirado’ [Mt 25,29].”1
Can. 17. “De fortitudine christiana. Fortitudinem Cân. 17 “Sobre a fortaleza cristã. A cobiça mun- 387
Gentilium mundana cupiditas, fortitudinem autem dana produz a fortaleza dos pagãos, a caridade de
*380 1 Relacionado com Próspero de Aquitânia, Contra Collatorem 11-12 (PL 51, 242-247; 45, 1815-1817).
*381 1 Sent. 54 (apud Próspero: “De oblatione votorum” [“A apresentação de votos”]!: Agostinho, De civitate Dei XVII 4,
7 (B. Dombart – A. Kalb: CpChL 48 [1955] 559 / CSEL 40/II, 216 / PL 41, 530).
*382 1 Sent. 56.
*383 1 Sent. 152: de Agostinho, De civitate Dei XIV 11, 1 (CpChL 48, 432 / CSEL 40/II, 28 / PL 41, 418).
*384 1 Sent. 212 (outros 211).
*385 1 Sent. 226 (outros 225): de Agostinho, Enarrationes in Psalmos 68 [ad v. 1], Sermo 1, 2 (E. Dekkers – J. Fraipont:
CpChL 39 [1956] 902 / PL 36, 841).
*386 1 Sent. 260 (outros 259): de Agostinho, De Spiritu et littera 29, n. 50 (CSEL 60, 205 / PL 44, 231).
143
Christianorum Dei caritas facit, quae ‚diffusa est in Deus, ao contrário, a fortaleza dos cristãos; ela ‘é
cordibus nostris’, non per voluntatis arbitrium, quod derramada nos nossos corações’ não mediante o li-
est a nobis, sed “per Spiritum Sanctum, qui datus vre poder da vontade que é nosso, mas ‘mediante o
est nobis’ [Rm 5,5]”1. Espírito Santo que nos foi dado’ [Rm 5,5].”1
388 Can. 18. “Nullis meritis gratiam praeveniri. De- Cân. 18. “A graça não é prevenida por nenhum
betur merces bonis operibus, si fiant; sed gratia, quae mérito. Deve-se um prêmio às boas obras, se acon-
non debetur, praecedit, ut fiant”1. tecem; mas a graça, que não é devida, as previne
para que aconteçam.”1
389 Can. 19. “Neminem nisi Deo miserante salvari. Cân. 19. “Ninguém é salvo senão pela misericór-
Natura humana, etiamsi in illa integritate, in qua dia de Deus. A natureza humana, mesmo se se en-
est condita, permaneret, nullo modo se ipsam, crea- contrasse naquela integridade na qual foi criada, não
tore suo non adiuvante, servaret; unde cum sine Dei se conservaria a si mesma de modo algum sem o
gratia salutem non possit custodire, quam accepit, auxílio do seu criador; pelo que, não podendo guar-
quomodo sine Dei gratia poterit reparare, quod per- dar sem a graça de Deus a salvação que recebeu, de
didit?”1. que maneira sem a graça de Deus poderia reparar o
que perdeu?”1
390 Can. 20. “Nihil boni hominem posse sine Deo. Cân. 20. “O homem sem Deus não pode <fazer>
Multa Deus facit in homine bona, quae non facit nada de bom. Deus faz no homem muitas coisas boas
homo; nulla vero facit homo bona, quae non Deus que o homem não faz; mas o homem não faz nada
praestat, ut faciat homo”1. de bom que Deus não outorgue que o homem faça!”1
391 Can. 21. “De natura et gratia. Sicut iis, qui vo- Cân. 21. “Sobre a natureza e graça. Como o
lentes in lege iustificari et a gratia exciderunt, ve- Apóstolo com toda a verdade diz àqueles que, que-
rissime dicit Apostolus: ‘Si ex lege iustitia est, ergo rendo ser justificados pela lei, se afastaram também
Christus gratis mortuus est’ [Gal 2,21], sic iis, qui da graça: ‘Se a justiça é da lei, então Cristo morreu
gratiam, quam commendat et percipit fides Christi, por nada’ [Gl 2,21], assim, para aqueles que crêem
putant esse naturam, verissime dicitur: Si per natu- que seja natureza a graça que a fé em Cristo entre-
ram iustitia est ‘ergo Christus gratis mortuus est’. ga e recebe, é dito com toda a verdade: se a justiça
Iam hic enim erat lex, et non iustificabat: iam hic é através da natureza, então ‘Cristo morreu por
erat et natura, et non iustificabat. Ideo Christus non nada’. De fato, a lei já existia e não justificava, tam-
gratis mortuus est, ut et lex per illum impleretur, bém a natureza já existia e não justificava. Portan-
qui dixit: ‘Non veni legem solvere, sed adimplere’ to, Cristo não morreu por nada, para que, de uma
[Mt 5,17], et natura per Adam perdita per illum parte, a lei fosse levada à plenitude por ele, que
repararetur, qui dixit, venisse se ‘quaerere et salvare, disse: ‘Não vim para abolir a lei mas para levá-la à
quod perierat’ [Lc 19,10]”1. plenitude’ [Mt 5,17], <e> de outra, a natureza arru-
inada através de Adão fosse restabelecida por ele,
que disse ter vindo ‘para procurar e salvar o que
estava perdido’ [Lc 19,10].”1
392 Can. 22. “De his, quae hominum propria sunt. Cân. 22. “Sobre o que é próprio dos seres huma-
Nemo habet de suo nisi mendacium et peccatum. nos. Ninguém nada tem de próprio a não ser men-
Si quid autem habet homo veritatis atque iustitiae, tira e pecado. Se, porém, algum homem tem algu-
ab illo fonte est, quem debemus sitire in hac eremo, ma coisa de verdade e de justiça, provém daquela
ut ex eo quasi guttis quibusdam irrorati non deficia- fonte, da qual neste deserto devemos ter sede para
mus in via”1. que, como orvalhados por ela mediante algumas
gotas, não desfaleçamos no caminho.”1
*387 1 Sent. 297 (outros 295): de Agostinho, Contra secundam Iuliani responsionem imperfectum opus I 83 (PL 45, 1104).
*388 1 Sent. 299 (outros 297): de Agostinho, Contra secundam Iuliani responsionem imperfectum opus I 133 (PL 45, 1133).
*389 1 Sent. 310 (outros 308): de Agostinho, carta 186, c. 11, n. 37 (CSEL 57, 77 / PL 33, 830).
*390 1 Sent. 314 (outros 312): de Agostinho, Contra duas epistulas Pelagianorum II 9 (outros 8), n. 21 (CSEL 60, 482 / PL 44, 586).
*391 1 Sent. 317 (outros 315): de Agostinho, De gratia et libero arbitrio 13, n. 25 (PL 44, 896).
*392 1 Sent. 325 (outros 323): de Agostinho, In evangelium Iohannis, tract. 5, 1 [ad Jo 1,33] (R. Willems: CpChL 36 [1954]
40 / PL 35, 1414).
144
Can. 23. “De voluntate Dei et hominis. Suam Cân. 23. “Sobre a vontade de Deus e do ser hu- 393
voluntatem homines faciunt, non Dei, quando id mano. Os seres humanos, quando fazem o que de-
agunt, quod Deo displicet; quando autem id faciunt, sagrada a Deus, fazem a sua vontade e não a de
quod volunt, ut divinae serviant voluntati, quamvis Deus; quando porém, fazem o que querem para ser-
volentes agant quod agunt, illius tamen voluntas est, vir à vontade divina, ainda que o que fazem, o fa-
a quo et praeparatur et iubetur, quod volunt”1. çam pelo querer, o que eles querem, contudo, é a
vontade daquele pelo qual é preparado e ordenado.”1
Can. 24. “De palmitibus vitis. Ita sunt in vite Cân. 24. “Sobre os sarmentos da videira. Os sar- 394
palmites, ut viti nihil conferant, sed inde accipiant mentos estão na videira de tal modo que não tra-
unde vivant: sic quippe vitis est in palmitibus, ut zem nada para a videira, mas dela recebem com
vitale alimentum subministret iis, non sumat ab iis. que viver: pois a videira está nos sarmentos para
Ac per hoc et manentem in se habere Christum, et providenciar-lhes o alimento vital, não para lho ti-
manere in Christo, discipulis prodest utrumque, non rar. Assim pois, seja que Cristo esteja neles, seja
Christo. Nam praeciso palmite, potest de viva radi- que eles estejam em Cristo, ambas as coisas são
ce alius pullulare; qui autem praecisus est, sine ra- úteis aos discípulos, não a Cristo. De fato, se um
dice non potest vivere [cf. Io 15,5-8]”1. sarmento for cortado, um outro pode desabrochar
da raiz viva; o que foi cortado, porém, sem a raiz
não pode viver [cf. Jo 15,5-8].”1
Can. 25. “De dilectione, qua diligimus Deum. Cân. 25. “Sobre o amor com que amamos a Deus. 395
Prorsus donum Dei est diligere Deum. Ipse ut dili- É seguramente dom de Deus amar a Deus. Ele, que
geretur dedit, qui non dilectus diligit. Displicentes não amado ama, concedeu que fosse amado. Fo-
amati sumus, ut fieret in nobis unde placeremus. mos amados enquanto éramos desagradáveis, para
Diffundit enim caritatem in cordibus nostris Spiri- que acontecesse em nós aquilo pelo qual agradás-
tus [Rm 5,5] Patris et Filii, quem cum Patre amamus semos. De fato, o Espírito do Pai e do Filho, que
et Filio”1. com o Pai e o Filho amamos, derramou em nossos
corações a caridade [Rm 5,5].”1
*393 1 Sent. 340 (outros 338): de Agostinho, In evangelium Iohannis, tract. 19, 19 [ad Jo 5,19-30] (R. Willems: CpChL 36
[1954] 202 / PL 35, 1555).
*394 1 Sent. 368 (outros 366): de Agostinho, In evangelium Iohannis, tract. 81, 1 [ad Jo 15,4-7] (CpChL 36, 530 / PL 35, 1841).
*395 1 Sent. 372 (outros 370): de Agostinho, In evangelium Iohannis, tract. 102, 5 [ad Jo 16,23-28] (CpChL 36, 597 / PL 35, 1898).
145
arbitrio haberi, sed Christi novimus simul et credi- livre-arbítrio de quantos desejam ser batizados, mas
mus largitate conferri, secundum illud, quod iam é conferida pela generosidade de Cristo, segundo o
saepe dictum est et praedicat Paulus Apostolus: que muitas vezes já foi dito e o Apóstolo Paulo
“Vobis donatum est pro Christo, non solum, ut in prega: “A vós foi dado, em relação a Cristo, não só
eum credatis, sed etiam, ut pro eo patiamini” [Phil que nele creiais, mas também que sofrais por ele’”
1,29]; et illud: “Deus, qui coepit in vobis bonum [Fl 1,29]; e ainda: “Deus, que iniciou em vós a boa
opus, perficiet usque in diem Domini nostri” [Phil obra, a levará a termo até o dia do nosso Senhor”
1,6]; et illud: “Gratia salvi facti estis per fidem, et [Fl 1,6]; e ainda: “Pela graça fostes salvos median-
hoc non ex vobis: Dei enim donum est” [Eph 2,8]; te a fé, e isso não vem de vós, pois é dom de Deus”
et quod de se ipso ait Apostolus: “Misericordiam [Ef 2,8]; e se o Apóstolo diz de si mesmo: “Conse-
consecutus sum, ut fidelis essem” [1 Cor 7,25; 1 gui a misericórdia para que eu fosse fiel” [1Cor 7,25;
Tim 1,13]; non dixit: “quia eram”, sed: ut essem. Et 1Tm 1,13], não disse: “porque eu era” mas: para
illud: “Quid habes, quod non accepisti?” [1 Cor 4,7]. que eu fosse. E em outro lugar: “O que tens que
Et illud: “Omne datum bonum, et omne donum não recebeste?” [1Cor 4,7]. E isto: “Toda boa dádi-
perfectum desursum est, descendens a Patre lumi- va e todo dom perfeito vem do alto, descendo do
num” [Iac 1,17]. Et illud: “Nemo habet quidquam, Pai das luzes” [Tg 1,17]. E ainda: “Ninguém nada
nisi illi datum fuerit desuper” [Io 3,27]. Innumera- tem, se não lhe for dado do alto” [Jo 3,27]. Inume-
bilia sunt sanctarum Scripturarum testimonia, quae ráveis são os testemunhos das santas Escrituras que
possint ad probandam gratiam proferri, sed brevita- podem ser aduzidos para provar o operar da graça,
tis studio praetermissa sunt, quia et revera, cui pauca mas por amor da brevidade são deixados de lado, já
non sufficiunt, plura non proderunt. que, sem dúvida, para aquele ao qual não são sufi-
cientes os poucos, não ajudarão os outros mais.
397 Hoc etiam secundum fidem catholicam credimus, Segundo a fé católica cremos também que, de-
quod post acceptam per baptismum gratiam omnes pois de ter recebido a graça pelo batismo, todos os
baptizati, Christo auxiliante et cooperante, quae ad batizados, com o auxílio e a cooperação de Cristo,
salutem animae pertinent, possint et debeant, si fi- podem e devem cumprir quanto diz respeito à salva-
deliter laborare voluerint, adimplere. Aliquos vero ção da alma, se quiserem se comportar segundo a
ad malum divina potestate praedestinatos esse, non fé. Ao contrário, não só não acreditamos que pelo
solum non credimus, sed etiam, si sunt, qui tantum divino poder alguns tenham sido predestinados ao
mali credere velint, cum omni detestatione illis mal, mas, se há alguns que querem crer em tamanho
anathema dicimus. mal, com toda a reprovação lhes dizemos: anátema!
Hoc etiam salubriter profitemur et credimus, quod Professamos e cremos também, para <nossa> sal-
in omni opere bono non nos incipimus, et postea vação, que em cada boa obra não somos nós a ini-
per Dei misericordiam adiuvamur, sed ipse nobis ciar, sendo depois ajudados pela misericórdia de
nullis praecedentibus bonis meritis et fidem et amo- Deus, mas que ele, sem que preceda algum mérito
rem sui prius inspirat, ut et baptismi sacramenta fi- bom, nos inspira antes de tudo a fé e o amor a ele,
deliter requiramus, et post baptismum cum ipsius para que, de uma parte, procuremos com fé o sacra-
adiutorio ea, quae sibi sunt placita, implere possi- mento do batismo e, de outra, depois do batismo,
mus. Unde manifestissime credendum est, quod et com seu auxílio possamos cumprir o que lhe agrada.
illius latronis, quem Dominus ad paradisi patriam Por isso, evidentissimamente, é preciso crer que tão
revocavit [Lc 23,43], et Cornelii centurionis, ad admirável fé – seja a do ladrão que o Senhor chamou
quem angelus Domini missus est [Act 10,3], et Za- para a pátria do paraíso [Lc 23 43], seja a do centurião
chaei, qui ipsum Dominum suscipere meruit [Lc Cornélio, a quem foi mandado um anjo do Senhor
19,6], illa tam admirabilis fides non fuit de natura, [At 10,3], seja a de Zaqueu, que mereceu acolher o
sed divinae gratiae largitate donata. próprio Senhor [Lc 19,6] – não vem da natureza, mas
foi doada pela generosidade da graça divina.
146
147
ricordia eius subsequitur me” [Ps 22,6]. Similiter et [Sl 59,11]; e ainda: “A minha misericórdia está com
beatus Paulus dicit: “Aut quis prior dedit ei, et retri- ele” [Sl 89,25]; e em outro lugar: “A sua misericór-
buetur illi? Quoniam ex ipso, et per ipsum, et in dia me segue” [Sl 23,6]. De modo semelhante, tam-
ipso sunt omnia” [Rm 11,35s]; bém o bem-aventurado Paulo diz: “Ou quem lhe deu
por primeiro, para que lhe seja restituído? Já que
dele, por ele e nele estão todas as coisas” [Rm 11,35s].
400 Unde nimis eos, qui contra sentiunt, admiramur, Por isso admiramos muito que os que pensam de
usque eo vetusti erroris adhuc reliquiis praegravari, maneira contrária continuam até hoje curvados sob
ut ad Christum non credant Dei beneficio, sed natu- o que resta do antigo erro – de não crer que se venha
rae veniri; et ipsius naturae bonum, quod Adae pec- a Cristo pelo benefício de Deus, mas pelo da natu-
cato noscitur depravatum, auctorem nostrae fidei di- reza – e dizem que, mais que Cristo, o autor da
cant magis esse quam Christum; nec intelligant se nossa fé seja a bondade da própria natureza, que,
dominicae reclamare sententiae dicenti: “Nemo ve- como se sabe, é desgastado pelo pecado de Adão; e
nit ad me, nisi datum fuerit illi a Patre meo” [Io 6,44]; não compreendem que se opõem às palavras do
sed et beato Paulo simul obsistere clamanti ad He- Senhor que diz: “Ninguém vem a mim se não lhe
braeos: “Curramus ad propositum nobis certamen, for dado por meu Pai” [Jo 6,44]; e ao mesmo tem-
aspicientes in auctorem fidei et consummatorem Ie- po se opõem ao bem-aventurado Paulo, que procla-
sum Christum” [Hbr 12,1s]. Quae cum ita sint, inve- ma aos Hebreus: “Corramos para a disputa que está
nire non possumus, quid ad credendum in Christo, diante de nós, olhando para o autor e consumador
sine Dei gratia, humanae deputent voluntati; cum da fé” [Hb 12,1s]. Sendo assim, não podemos en-
Christus auctor consummatorque sit fidei. – (c. 3) contrar o que atribuem à vontade humana para crer
Quapropter … supra scriptam confessionem vestram em Cristo, sem a graça de Deus, pois Cristo é o
consentaneam catholicis Patrum regulis approbamus. autor e consumador da fé – (Cap. 3) Por isso …
aprovamos a vossa profissão acima escrita como
consentânea com os princípios católicos dos Padres.
148
[D e a d a g i o “ U n u s d e Tr i n i t a t e p a s s u s [A re s p e i t o d a ex p re s s ã o “ u m d a Tr i n -
e s t ” .] Unum enim ex sancta Trinitate Christum d a d e s o f re u ” ]. Que Cristo seja um da santa Trin-
esse, hoc est unam de tribus sanctae Trinitatis dade, isto é, que seja uma santa pessoa ou subsis-
personis sanctam esse personam sive subsistentiam, tência – que os gregos chamam hipóstase – das três
quam Graeci hypostasim dicunt, in his exemplis pessoas da santa Trindade, <o> demonstramos de
evidenter ostendimus [allegantur inter alia Gn 3,22; modo evidente com estes exemplos [são alegados,
1 Cor 8,6; Symbolum Nicaenum]. entre outros, Gn 3,22; 1Cor 8,6; o Símbolo niceno].
[D e C h r i s t o “ D e o c a r n e p a s s o ” .] Deum [A re s p e i t o d e C r i s t o “ D e u s q u e s o -
vero carne passum his nihilominus roboremus exem- f re u n a c a r n e ” . ] Que Deus tenha sofrido na
plis [Dt 28,66; Io 14,6; Mal 3,8; Act 3,15; 20,28; 1 carne, o demonstramos por sua vez com estes exem-
Cor 2,8; Cyrillus Alexandrinus, Anathematismus 12; plos [Dt 28,66; Jo 14,6; Ml 3,8; At 3,15; 20,28;
Leo I, Tomus ad Flavianum etc.]. 1Cor 2,8; Cirilo de Alexandria, Anátema 12; Leão
I, Tomus ad Flavianum etc.].
[D e t i t u l o “ M a t e r D e i ” .] Gloriosam vero [A re s p e i t o d o t í t u l o “ M ã e d e D e u s ” .]
sanctam semper virginem Mariam proprie et vera- Com justiça, pois, ensinamos que a gloriosa san-
citer Dei genitricem matremque Dei Verbi ex ea ta sempre virgem Maria própria e verdadeiramen-
incarnati ab hominibus catholicis confiteri recte te é chamada, pelos católicos, genitora de Deus e
docemus. Proprie namque et veraciter idem ipse Mãe de Deus Verbo, encarnado por meio dela.
ultimis temporibus incarnatus, ex sancta et gloriosa Própria e verdadeiramente, de fato, ele mesmo,
Virgine matre nasci dignatus est. Propterea ergo, encarnado nos últimos tempos, se dignou nascer
quia proprie et veraciter Dei Filius ex ea incarnatus da santa gloriosa Virgem mãe. Por isso, já que
et natus est, ideo proprie et veraciter matrem Dei ex própria e verdadeiramente dela se encarnou e nas-
ea incarnati et nati esse confitemur, et, ne Dominus ceu, própria e verdadeiramente professamos que
Iesus per honorificentiam vel gratiam nomen Dei ela é a mãe de Deus, que dela se encarnou e nas-
accepisse credatur, sicut Nestorius sentit insulsus: ceu, e <isso>, para que não se creia que o Senhor
veraciter autem ideo, ne in phantasmate aut aliquo Jesus tenha tomado o nome de Deus por honori-
modo non veram sumpsisse carnem credatur ex ficência ou grátis, como acha o ímpio Nestório:
virgine, sicut asseruit impius Eutyches. “verdadeiramente”, para que não se creia que as-
sumiu da Virgem uma carne em aparência ou de
certo modo não verdadeira, como afirmou o ímpio
Êutiques.
[S u m m a r i u m c h r i s t o l o g i a e .] His igitur [S u m á r i o d e c r i s t o l o g i a .] Com isto se de- 402
evidenter ostensum est, … quid speraverit impera- monstrou com evidência, … o que esperou o Impe-
tor, quid Romana sequatur et colat Ecclesia, scilicet rador, o que e a Igreja romana segue e honra, a saber,
Christum Dominum nostrum unum esse, ut saepe que o Cristo, nosso Senhor, como várias vezes te-
diximus, sanctae Trinitatis, ex duabus naturis cog- mos dito, é um da santa Trindade, a ser reconheci-
noscendum, hoc est in deitate et humanitate perfec- do em duas naturezas, isto é, perfeito na divindade
tum, non antea exsistente carne et postea unita Ver- e na humanidade; que a carne não existia antes e
bo, sed in ipso Deo Verbo initium, ut esset, acci- foi unida mais tarde ao Verbo, mas começou a exis-
piente. Ideo enim quia Verbi ex materno corpore tir no próprio Deus Verbo. Porque, de fato, a carne
caro sumpsit initium, salva proprietate et veritate do Verbo tomou início no corpo materno, salvaguar-
utriusque naturae, hoc est divinitatis atque humani- dando a peculiaridade e a verdade de ambas as
tatis [cf. *293], Dei Filium Dominum nostrum Ie- naturezas, isto é, da divindade e da humanidade [cf.
sum Christum catholice confitemur, omni posthac *293], de modo católico professamos Filho de Deus
commutatione vel confusione submota. Neque enim o nosso Senhor Jesus Cristo, de modo a excluir toda
naturas in eo aliter agnoscimus, nisi differentias ulterior mudança ou confusão. De fato, não conhe-
intellegentes et confitentes divinitatis atque huma- cemos nele as naturezas doutro modo senão com-
nitatis. Sed nec duas personas in Christo intellegimus preendendo e professando as diferenças da divin-
per id quod dicimus duas naturas, ut adunationis dade e da humanidade. Mas pelo fato de falar em
divisionem facere videamur et sit, quod absit, qua- duas naturezas não entendemos duas pessoas em
ternitas, non trinitas, sicut Nestorius sentit insanus, Cristo, de modo que parecêssemos introduzir uma
nec confundimus easdem unitas naturas, cum unam divisão no que é uno e houvesse – longe de nós tal
149
personam Christi confitemur, ut Eutyches impius cre- pensamento! – uma quaternidade, não uma trinda-
dit. Tomum vero papae Leonis omnesque epistolas de, como pensa o desvairado Nestório; e quando
nec non et quattuor synodos, Nicaenam, Constanti- professamos uma só pessoa em Cristo, não confun-
nopolitanam et Ephesenam primam et Calchidonen- dimos as duas naturezas unidas, como crê o ímpio
sem, sicut Romana hactenus suscepit et veneratur Êutiques. Como, pois, a Igreja romana até agora
Ecclesia, sequimur, amplectimur atque servamus. acolheu e venera o Tomus do Papa Leão e todas as
suas cartas, além dos quatro concílios – o de Ni-
céia, o de Constantinopla, o primeiro de Éfeso e o
de Calcedônia –, assim nós seguimos, acolhemos e
observamos.
150
Serafi2m Serafi1m, kai2 pa1saiw a4plv9w tai9w a5nv do-se, em suma, semelhante às potências superio-
dyna1mesin e3jomoivue1nta, a3na1uema e5stv. res, seja anátema.
e’. Ei5 tiw le1gei h6 e5xei, e3n tü9 a3nasta1sei sfai- 5. Se alguém diz ou sustenta que na ressurreição 407
roeidh9 ta2 tv9n a3nurv1pvn e3gei1resuai sv1mata, kai2 os corpos humanos ressuscitam em forma de esfera
oy3x o4mologei9 o3rui1oyw h4ma9w e3gei1resuai, a3na1uema e não professa que seremos ressuscitados em posi-
e5stv. ção erguida, seja anátema.
w’. Ei5 tiw le1gei h6 e5xei, oy3rano2n kai2 h7lion kai2 6. Se alguém diz ou sustenta que o céu e o sol e 408
selh1nhn kai2 a3ste1raw kai2 y7data ta2 y4pera1nv tv9n a lua e as estrelas e as águas acima dos céus são
oy3ranv9n e3mcy1xoyw kai2 logika2w [y4lika2w]1 ei0nai1 potências animadas e inteligentes [materiais]1, seja
tinaw dyna1meiw, a3na1uema e5stv. anátema.
z’. Ei5 tiw le1gei h6 e5xei, o7ti o4 despo1thw Xristo2w 7. Se alguém diz ou sustenta que o Senhor Cristo 409
e3n tö9 me1llonti ai3vn9 i stayrvuh1setai y4pe2r daimo1- no século futuro será crucificado pelos demônios
nvn, kaua2 kai2 y4pe2r a3nurv1pvn, a3na1uema e5stv. como <o foi> pelos homens, seja anátema.
h’. Ei5 tiw le1gei h6 e5xei, h6 peperasme1nhn ei0nai 8. Se alguém diz ou sustenta ou que o poder de 410
th2n toy9 Ueoy9 dy1namin, kai2 tosay9ta ay3to2n Deus seja limitado e tanto produziu quanto podia
dhmioyrgh9sai, o7svn[o7son] peridra1jasuai kai2 apertar com a mão e pensar [–!], ou que as criatu-
noei9n h3dy1nato, h6 ta2 kti1smata syna 1dia ei0nai tö9 ras são coeternas com Deus [–!], seja anátema.
Ueö9 [–!], a3na1uema e5stv.
u’. Ei5 tiw le1gei h6 e5xei, pro1skairon ei0nai th2n 9. Se alguém diz ou sustenta que o castigo dos 411
tv9n daimo1nvn kai2 a3sebv9n a3nurv1pvn ko1lasin, demônios e dos homens ímpios é temporário e terá
kai2 te1low kata1 tina xro1non ay3th2n e7jein, h5goyn fim depois de certo tempo, isto é, que haverá uma
a3pokata1stasin e5sesuai daimo1nvn, h6 a3sebv9n restauração dos demônios ou dos homens ímpios,
a3nurv1pvn, a3na1uema e5stv. seja anátema.
*408 1 Contrariamente a todos os manuscritos gregos deve-se ler, aqui: “logika1w” = inteligentes; cf. Origenes, De principiis
I 7 (P. Koetschau: GChSch Origenes 5 [1913] 85-94); assim confirma uma tradução siríaca do Edictum.
151
sionisque brevitate confessus est “Tu es Christus gunta e da resposta, que o próprio e mesmo [Cris-
filius Dei vivi” [Mt 16,16], sacratissimae scilicet to] é filho do homem e de Deus, “Tu és o Cristo, o
mysterium incarnationis eius aperiens, dum in uni- Filho do Deus vivo” [Mt 16,16], abrindo assim o
tate personae, servata geminae proprietate naturae, mistério da sua sacratíssima encarnação, enquanto,
homo idemque Deus esset, quod ex matre semper na unidade da pessoa, conservada a peculiaridade
virgine sumpsit in tempore, et quod natus ex patre da própria natureza, era simultaneamente homem e
est ante saecula, permaneret. Deus e permaneceu o que assumiu no tempo da mãe
sempre virgem e o que era antes dos séculos como
nascido do Pai.
Inconfuse autem et indivise atque inconvertibili- Unindo a si, porém, de modo inconfuso e indivi-
ter et substantialiter uniens sibi carnem Deus Ver- so, imutável e substancial, a carne, veio Deus Ver-
bum Emmanuel noster, qui lege et prophetis adnun- bo, o nosso Emanuel, esperado porque o anuncia-
tiantibus exspectabatur, advenit: “Verbum ergo caro vam a Lei e os Profetas: “Pois o Verbo se fez carne
factum est et habitavit in nobis” [Io 1,14], totus in e habitou entre nós” [Jo 1,14], inteiro no que era
suis, totus in nostris, adsumens ex vulva carnem cum seu, inteiro no que é nosso, assumindo do útero uma
anima rationali et intellectuali. … carne com alma racional e intelectiva …
Humanitatis sumpsit initium, ut nos aeternitatis Tomou início na humanidade para fazer-nos par-
suae faceret coheredes; nostrae consors dignatus est ticipantes da sua eternidade; dignou-se participar da
esse naturae, ut nos suae immortalitatis faceret esse nossa natureza para nos tornar partícipes da sua
participes; pauper factus est, cum esset dives, ut eius imortalidade; sendo rico, fez-se pobre, para que nos
inopia ditaremur [cf. 2 Cor 8,9]; omnia quae nostra enriquecêssemos de sua pobreza [cf. 2Cor 8,9]; ten-
sunt, evacuato noxarum nostrarum chirographo con- do destruído o documento da nossa dívida, perdoou
donavit [cf. Col 2,13s] … id peragens …, ut “media- tudo o que é nosso [cf. Cl 2,13s] … para conseguir
tor Dei et hominum homo Christus Iesus” [1 Tim … que “o mediador de Deus e dos homens, o ho-
2,5] maledicto quo primus homo terrenus mortis mem Cristo Jesus” [1 Tm 2,5], como segundo ho-
vinculis tenebatur, adstrictus, secundus homo cae- mem, celeste [1Cor 15,47], <nos> livrasse da mal-
lestis [1 Cor 15,47], dum mortem morte calcaret, dição da qual o primeiro homem, terrestre, preso
absolveret. pelos laços da morte, era cativo, e pela morte sub-
jugasse a morte.
414 Passus est pro nobis Dei Filius, crucifixus carne O Filho de Deus sofreu por nós, foi crucificado na
est, mortuus carne est et die tertio resurrexit, ut carne, morreu na carne e ao terceiro dia ressuscitou,
divina inpassibili permanente natura et carnis nos- para que – como sua divina natureza permaneceu
trae veritate servata unius eiusdemque Domini Dei não sujeita ao sofrimento e a verdade da nossa car-
nostri Iesu Christi et passiones et miracula fatea- ne, conservada – professemos tanto os sofrimentos
mur, ut glorificationem Capitis nostri totius Eccle- como os milagres do único e o mesmo nosso Senhor
siae corpus aspiciens, quales primitias in Capite Deus, Jesus Cristo, a fim de que o corpo de toda a
nostro, id est in Christo Deo ac Domino, intueretur Igreja, contemplando a glorificação de nossa Cabe-
ex mortuis, tales in his qui eius membra sunt, in ça, aquilo que vê em nossa Cabeça, isto é, em Cris-
futurae gloriae praestoletur adventum. Ipse igitur to, Deus e Senhor, como primícias dentre os mortos,
Redemptor noster sedet ad dexteram Patris, unus também o espere nos que são seus membros, no ad-
idemque sine confusione utriusque naturae, sine vento da glória futura. Portanto, o próprio Redentor
divisione personae et ex duabus atque in duabus nosso assenta-se à direita do Pai, um e o mesmo,
creditus permanensque naturis, inde venturus iudi- sem confusão das duas naturezas e, segundo cremos,
care vivos et mortuos. continuando a existir das duas e nas duas naturezas;
e de lá virá para julgar os vivos e os mortos.
415 Pater autem cum eodem unigenito Filio et Spiri- Ora, o Pai é, com o mesmo unigênito Filho e com
tu Sancto unus est in deitate et aequalis indiscretae- o Espírito Santo, um na divindade e de igual e
que naturae. Huius fidei plenitudinem Dominus inseparada natureza. Nosso Senhor, depois da res-
noster post resurrectionem mandavit Apostolis di- surreição, confiou a plenitude desta fé aos apósto-
cens: “Ite, docete omnes gentes, baptizantes eos in los, dizendo: “Ide, ensinai a todas as gentes, bati-
nomine Patris et Filii et Spiritus Sancti” [Mt 28,19]. zando-as no nome do Pai e do Filho e do Espírito
“In nomine”, inquit, dixit non in nominibus, ut in Santo” [Mt 28,19]. Diz “no nome”, não disse “nos
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quibus una virtus, una potestas, una deitas, una nomes”, para que, naqueles nos quais há uma só
aeternitas, una gloria, una omnipotentia, una beati- força, um só poder, uma só divindade, uma só eter-
tudo, una operatio est unaque natura, unius quoque nidade, uma só glória, uma só onipotência, um só
nominis exsistat integritas. Nihil in deitate quippe operar e uma só natureza, subsista também a inte-
discretum est, cum tantum personarum proprietas gridade de um só nome. Nada, na verdade, é sepa-
manifesta distinctione signetur. Totum ergo quod rado na divindade, sendo marcada pela distinção
Trinitas est, permanet consubstantialis et indiscre- somente a manifesta peculiaridade das pessoas.
ta divinitas. Portanto, tudo aquilo que é a Trindade permanece
divindade consubstancial e inseparada.
1. Si quis servata inconvertibilitate naturae divi- 1. Se alguém, conservada a imutabilidade da na- 416
nae non confitetur Verbum carnem factum et ex ipsa tureza divina, não professa que o Verbo se fez carne
conceptione de utero Virginis humanae naturae sibi e, a partir de sua concepção no útero da Virgem,
secundum subsistentiam unisse principia, sed tam- uniu a si segundo a hipóstase os princípios da natu-
quam cum exsistenti iam homine fuerit Deus Ver- reza humana, mas <diz> que Deus Verbo tenha sido
bum, ut per hoc non sancta Virgo vere Dei genitrix como um homem já existente e que portanto não se
esse credatur, sed verbo tenus appelletur, anathe- deva crer que a santa Virgem seja verdadeiramente
ma sit. a genitora de Deus, mas somente <assim> chamada
de nome, seja anátema.
2. Si quis secundum subsistentiam unitatem na- 2. Se alguém nega a unidade das naturezas em 417
turarum in Christo factam denegat, sed seorsum Cristo, realizada segundo a hipóstase, mas <diz>
existenti homini tamquam uni iustorum inhabitare que Deus Verbo habita num homem existente por
Deum Verbum, et non ita confitetur naturarum se- si, como em um dos justos, e não professa a unida-
cundum subsistentiam unitatem, ut Deus Verbum de das naturezas segundo a hipóstase, no sentido de
cum adsumpta carne una permanserit permaneatque que Deus Verbo permaneceu e permanece com a
subsistentia sive persona, anathema sit. carne assumida uma hipóstase, ou seja, uma pes-
soa, seja anátema.
3. Si quis voces evangelicas et apostolicas in uno 3. Se alguém divide as afirmações evangélicas e 418
Christo ita dividit, ut etiam naturarum in ipso uni- apostólicas a respeito do único Cristo, de tal modo
tarum divisionem introducat, anathema sit. que introduz também uma divisão das naturezas nele
unidas, seja anátema.
4. Si quis unum Iesum Christum verum Dei et 4. Se alguém diz que o único Jesus Cristo, ao 419
eundem verum hominis Filium futurorum ignoran- mesmo tempo verdadeiro Filho de Deus e do ho-
tiam aut diei ultimi iudicii habuisse dicit et tanta mem, tinha ignorância das coisas futuras ou do juí-
scire potuisse, quanta ei deitas quasi alteri cuidam zo do último dia e só podia saber o que a divindade,
inhabitans revelabat, anathema sit. como que habitando em outro, lhe revelasse, seja
anátema.
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420 5. Si quis illud Apostoli, quod est in epistula ad 5. Se alguém pensa que o que diz o Apóstolo na
Hebraeos [5,7s] dictum, quod experimento cogno- carta aos Hebreus [5,7s], a saber, que <Cristo> pela
vit oboedientiam et cum clamore forti et lacrimis experiência conheceu a obediência e com fortes gri-
preces supplicationesque obtulit ad eum, qui salvum tos e lágrimas ofereceu preces e súplicas àquele que
illum posset a morte facere, tamquam nudo deitate podia salvá-lo da morte, se refere a Cristo como
Christo deputans, qui laboribus virtutis perfectus sit, despojado da divindade, tornado perfeito com o es-
ut ex hoc duos introducere Christos vel duos Filios forço das virtudes, de modo que com isso parece
videatur, et non unum eundemque credit Christum introduzir dois Cristos ou dois Filhos, e não crer que
Dei et hominis Filium ex duabus et in duabus natu- se deve professar e adorar um único e mesmo Cris-
ris inseparabilibus indivisisque confitendum atque to, Filho de Deus e do homem, de duas e em duas
adorandum, anathema sit. naturezas inseparáveis e indivisas, seja anátema.
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d’. Ei5 tiw le1gei, kata2 xa1rin, h6 kata2 e3ne1rgeian, 4. Se alguém diz que a união do Verbo de Deus 424
h6 kata2 i3sotimi1an h6 kata2 ay3uenti1an, h6 a3nafora1n, com o homem aconteceu só na ordem da graça, ou
h6 sxe1sin, h6 dy1namin th2n e7nvsin toy9 Ueoy9 lo1goy da operação, ou da igualdade de honra, ou da auto-
pro2w a5nurvpon gegenh9suai= h6 kata2 ey3doki1an, v4w ridade, ou da relação, ou do afeto ou da força; ou,
a3resue1ntow toy9 Ueoy9 lo1goy toy9 a3nurv1poy, a3po2 então, segundo o beneplácito, como se o Verbo de
toy9 ey0 kai2 kalv9w do1jai ay3tö9 peri2 ay3toy9, kauv2w Deus se tivesse comprazido no homem, porque teve
Ueo1dvrow maino1menow le1gei= dele uma boa e bela estima, como no seu devaneio
afirma Teodoro;
h6 kata2 o4mvnymi1an, kau’ h8n oi4 Nestorianoi2 ou, então, segundo a homonímia pela qual os
to2n Ueo2n lo1gon 3Ihsoy9n kai2 Xristo2n kaloy9ntew, nestorianos atribuem ao Deus Verbo o nome de Jesus
kai2 to2n a5nurvpon kexvrisme1nvw Xristo2n kai2 yi4on2 e de Cristo, enquanto chamam o homem separada-
o3noma1zontew, kai2 dy1o pro1svpa profanv9w le1gontew, mente de Cristo e Filho, falando evidentemente de
kata2 mo1nhn th2n proshgori1an, kai2 timh2n kai2 a3ji1an, duas pessoas, e <assim> de modo fingido falam de
kai2 prosky1nhsin, kai2 e8n pro1svpon, kai2 e7na uma só pessoa e de um só Cristo somente quanto
Xristo2n y4pokri1nontai le1gein= ao nome, a honra, a dignidade e a adoração;
a3ll’ oy3x o4mologei9 th2n e7nvsin toy9 Ueoy9 lo1goy mas não confessa que a união do Verbo de Deus
pro2w sa1rka e3mcyxvme1nhn cyxü9 logikü9 kai2 noerä9, com a carne animada por uma alma racional e inte-
kata2 sy1nuesin h5goyn kau’ y4po1stasin gegenh9suai, lectiva tenha acontecido segundo a composição, isto
kauv2w oi4 a7gioi pate1rew e3di1dajan= kai2 dia2 toy9to é, segundo a subsistência, como têm ensinado os
mi1an ay3toy9 th2n y4po1stasin, o7 e3stin o4 ky1riow Santos Padres, e por isso <não confessa> uma só
’Ihsoy9w Xristo1w, eißw th9w a4gi1aw tria1dow= o4 toioy9tow hipóstase nele, que é o nosso Senhor Jesus Cristo,
a3na1uema e5stv. um da santa Trindade, seja anátema.
Polytro1pvw ga2r nooyme1nhw th9w e4nv1sevw, oi4 me2n De fato, a unidade é concebida de muitos modos: 425
tü9 a3sebei1ä Apollinari1
3 oy kai2 Ey3tyxoy9w a3koloy- uns, seguindo a impiedade de Apolinário e de Êuti-
uoy9ntew, tö9 a3fanismö9 tv9n syneluo1ntvn prokei1- ques e admitindo a anulação dos elementos que
menoi, th2n kata2sy1gxysin th2n e7nvsin presbey1oy- formam a unidade, falam de uma união por confu-
sin. Oi4 de2 ta2 Ueodv1roy kai2 Nestori1oy fronoy9ntew, são, outros, seguindo as idéias de Teodoro e de
tü9 diaire1sei xai1rontew, sxetikh2n th2n e7nvsin e3peis- Nestório, são favoráveis à separação e falam de uma
a1goysin= h4 me1ntoi a4gi1a toy9 Ueoy9 e3kklhsi1a, união de relação. A santa Igreja de Deus, rejeitando
e4kate1raw ai4re1sevw th2n a3se1beian a3poballome1nh, a impiedade de uma e outra heresia, confessa a união
th2n e7nvsin toy9 Ueoy9 lo1goy pro2w th2n sa1rka kata2 de Deus Verbo com a carne segundo a composição,
sy1nuesin o4mologei9= o7per e3sti2 kau’ y4po1stasin. 4H ou seja, segundo a hipóstase. Esta união por com-
ga2r kata2 sy1nuesin e7nvsiw, e3pi2 toy9 kata2 Xristo2n posição não somente conserva, no mistério de Cris-
mysthri1oy, oy3 mo1non a3sy1gxyta ta2 syneluo1nta to, sem confusão, os elementos que concorrem à
diafyla1ttei, a3ll’ oy3de2 diai1resin e3pide1xetai. unidade, como também não admite sua divisão.
e’. Ei5 tiw th2n mi1an y4po1stasin toy9 kyri1oy h4mv9n 5. Se alguém entende a única hipóstase de nosso 426
’Ihsoy9 Xristoy9 oy7tvw e3klamba1nei, v4w e3pidexome1nhn Senhor Jesus Cristo como se abrigasse o sentido de
pollv9n y4posta1sevn shmasi1an, kai2 dia2 toy1toy ei3s- muitas hipóstases, e destarte tentar introduzir no
a1gein e3pixeirei9 e3pi2 toy9 kata2 Xristo2n mysthri1oy mistério de Cristo duas hipóstases ou duas pessoas;
dy1o y4posta1seiw, h5toi dy1o pro1svpa, kai2 tv9n par’ e, depois de haver introduzido duas pessoas, falar
ay3toy9 ei3sagome1nvn dy1o prosv1pvn, e8n pro1svpon de uma só pessoa quanto à dignidade, a honra e a
le1gei kata2 a3ji1an, kai2 timh1n, kai2 prosky1nhsin, adoração, como escreveram em seus devaneios Teo-
kaua1per Ueo1dvrow kai2 Nesto1riow maino1menoi doro e Nestório; e se acusar o santo Sínodo de
synegra1canto= kai2 sykofantei9 th2n a4gi1an e3n Xal- Calcedônia, sustentando que este usou a expressão
khdo1ni sy1nodon, v4w kata2 tay1thn th2n a3sebh9 e5nnoian “uma só substância” neste ímpio sentido;
xrhsame1nhn tö9 th9w mia9w y4posta1sevw r4hm 1 ati=
a3lla2 mh2 o4mologei9 to2n toy9 Ueoy9 lo1gon sarki2 e não confessa, ao invés, que o Verbo de Deus se
kau’ y4po1stasin e4nvuh9nai, kai2 dia2 toy9to mi1an uniu à carne segundo a hipóstase e que, portanto,
ay3toy9 th2n y4po1stasin, h5toi e8n pro1svpon= oy7tvw há somente uma hipóstase, ou seja, uma só pessoa;
te kai2 th2n a4gi1an e3n Xalkhdo1ni sy1nodon mi1an e que é neste sentido que o santo Sínodo de Calce-
y4po1stasin toy9 kyri1oy h4mv9n 3 Ihsoy9 Xristoy9 dônia confessou uma só hipóstase do Senhor Jesus
o4mologh9sai= o4 toioy9tow a3na1uema e5stv. Cristo, seja anátema.
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Oy5te ga2r prosuh1khn prosv1poy, h5goyn y4posta1- A santa Trindade, de fato, não recebeu acréscimo
sevw e3pede1jato h4 a4gi1a tria2w kai2 sarkvue1ntow de pessoa ou hipóstase, nem mesmo depois que se
toy9 e4no2w th9w a4gi1aw tria1dow Ueoy9 lo1goy. encarnou um da santa Trindade, Deus Verbo.
427 w’. Ei5 tiw kataxrhstikv9w, a3ll’ oy3k a3lhuv9w 6. Se alguém diz que a santa gloriosa e sempre
ueoto1kon le1gei th2n a4gi1an e5ndojon a3eiparue1non virgem Maria é deípara somente em sentido impró-
Mari1an= h6 kata2 a3nafora1n, v4w a3nurv1poy ciloy9 prio e não verdadeiro, ou que ela o é por atribuição,
gennhue1ntow, a3ll’ oy3xi2 toy9 Ueoy9 lo1goy sarkvue1n- como se dela tivesse nascido um simples homem e
tow kai2 gennhue1ntow e3j ay3th9w, a3naferome1nhw de2 não o Verbo de Deus enquanto unido ao homem no
kat’ e3kei1noyw th9w toy9 a3nurv1poy gennh1sevw e3pi2 momento de seu nascimento; e se ele acusa o santo
to2n Ueo2n lo1gon v4w syno1nta tö9 a3nurv1pö genome1nö= Sínodo de Calcedônia de chamar a Virgem deípara
kai2 sykofantei9 th2n a4gi1an e3n Xalkhdo1ni sy1nodon, nesse sentido ímpio imaginado por Teodoro;
v4w kata2 tay1thn th2n a3sebh9 e3pinohuei9san para2
Ueodv1roy e5nnoian ueoto1kon th2n parue1non ei3poy9san=
h6 ei5 tiw a3nurvpoto1kon ay3th2n kalei9 h6 xristo- ou se alguém a chama hominípara ou cristípara
to1kon, v4w toy9 Xristoy9 mh2 o5ntowUeoy9= como se Cristo não fosse Deus,
a3lla2 mh2 kyri1vw, kai2 kata2 a3lh1ueian ueoto1kon mas não a confessa, propriamente e segundo a
ay3th2n o4mologei9, dia2 to2 to2n pro2 tv9n ai3v1nvn e3k verdade, deípara desde o momento em que o Deus
toy9 patro2w gennhue1nta Ueo2n lo1gon e3p’ e3sxa1tvn Verbo, gerado pelo Pai antes dos séculos, nestes úl-
tv9n h4merv9n e3j ay3th9w sarkvuh9nai, oy7tv te ey3sebv9w timos tempos, se encarnou nela, e não reconhece
kai2 th2n a4gi1an e3n Xalkhdo1ni sy1nodon ueoto1kon que é com este sentimento de veneração que o san-
ay3th2n o4mologh9sai, o4 toioy9tow a3na1uema e5stv. to Sínodo de Calcedônia a proclamou deípara, seja
anátema.
428 z’. Ei5 tiw e3n dy1o fy1sesi le1gvn, mh2 v4w e3n ueo1thti 7. Se alguém, ao dizer “em duas naturezas”, não
kai2 a3nurvpo1thti to2n e7na ky1rion h4mv9n 3Ihsoy9n confessa que na divindade e na humanidade se deve
Xristo2n gnvri1zesuai o4mologei9, i7na dia2 toy1toy reconhecer nosso Senhor Jesus Cristo, no sentido
shma1nü th2n diafora2n tv9n fy1sevn, e3j vßn a3sygxy1- de indicar a diversidade das naturezas na qual se
tvw h4 a5frastow e7nvsiw ge1gonen= oy5te toy9 lo1goy realizou a inefável unidade sem confusão – sem que
ei3w th2n th9w sarko2w metapoihue1ntow fy1sin, oy5te o Verbo se mudasse na natureza da carne e sem
th9w sarko2w pro2w th2n toy9 lo1goy fy1sin metaxvrh- que a carne se transformasse na natureza do Verbo
sa1shw (me1nei ga2r e4ka1teron, o7per e3sti2 tü9 fy1sei, (pois ambos permanecem o que são por natureza
kai2 genome1nhw th9w e4nv1sevw kau’ y4po1stasin), a3ll’ também depois que se realizou a união segundo a
e3pi2 diaire1sei tü9 a3na2 me1row, th2n toiay1thn lamba1- hipóstase) –; mas entende tal expressão como uma
nei fvnh2n e3pi2 toy9 kata2 Xristo2n mysthri1oy= divisão em partes no mistério de Cristo;
h6 to2n a3riumo2n tv9n fy1sevn o4mologv9n e3pi2 toy9 ou se, ao admitir o número das naturezas no mes-
ay3toy9 e4no2w kyri1oy h4mv9n 3Ihsoy9 toy9 Ueoy9 lo1goy mo e único nosso Senhor Jesus Cristo, Deus Verbo
sarkvue1ntow, mh2 tü9 uevri1ä mo1nü th2n diafora2n encarnado, não entende a diferença das naturezas
toy1tvn lamba1nei, e3j vßn kai2 synete1uh, oy3k constitutivas em nível de teoria somente, não sendo
a3nairoyme1nhn dia2 th2n e7nvsin (eißw ga2r e3j a3mfoi9n, supressa pela união (porque um <é> em ambos e
kai2 di’ e4no2w a3mfo1tera), a3ll’ e3pi2 toy1tö ke1xrhtai ambos em um), mas serve-se do número para con-
tö9 a3riumö9, v4w kexvrisme1naw kai2 i3dioÿposta1toyw siderar as naturezas como separadas e tendo hipós-
e5xei ta2w fy1seiw, o4 toioy9tow a3na1uema e5stv. tase própria, seja anátema.
429 h’. Ei5 tiw e3k dy1o fy1sevn ueo1thtow kai2 a3nurv- 8. Se alguém, confessando que a união foi feita
po1thtow o4mologv9n th2n e7nvsin gegenh9suai, h6 mi1an das duas naturezas, da divindade e da humanidade,
fy1sin toy9 Ueoy9 lo1goy sesarkvme1nhn le1gvn, mh2 ou falando de uma só natureza encarnada do Deus
oy7tvw ay3ta2 lamba1nü, kaua1per kai2 oi4 a7gioi pa- Verbo, não entende estas expressões segundo o sen-
te1rew e3di1dajan, o7ti e3k th9w uei1aw fy1sevw kai2 th9w tido do ensinamento dos Santos Padres, isto é, que
a3nurvpi1nhw, th9w e4nv1sevw kau’ y4po1stasin geno- da natureza divina e da natureza humana, pela união
me1nhw, eißw Xristo2w a3petele1suh= a3ll’ e3k tv9n toi- segundo a hipóstase, se fez um só Cristo, mas antes
oy1tvn fvnv9n mi1an fy1sin, h5toi oy3si1an ueo1thtow com esta expressão tenta introduzir uma só nature-
kai2 sarko2w toy9 Xristoy9 ei3sa1gein e3pixeirei9, o4 za ou substância da divindade e carne de Cristo,
toioy9tow a3na1uema e5stv. seja anátema.
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Kau’ y4po1stasin ga2r le1gontew to2n monogenh9 Ao dizer, de fato, que o Verbo unigênito se uniu 430
lo1gon h4nv9suai, oy3k a3na1xysi1n tina th2n ei3w a3llh1- à carne segundo a hipóstase, não afirmamos que se
loyw [-aw] tv9n fy1sevn pepra9xuai fame1n= menoy1shw tenha operado uma recíproca confusão das nature-
de2 ma9llon e4kate1raw o7per e3sti1n, h4nv9suai sarki2 zas, mas antes entendemos que o Verbo se uniu à
nooy9men to2n lo1gon. Dio2 kai2 eißw e3stin o4 Xristo1w, carne, mesmo se uma e outra <natureza> permane-
Ueo2w kai2 a5nurvpow, o4 ay3to2w o4mooy1siow tö9 patri2 cem o que são. Em conseqüência, um é também o
kata2 th2n ueo1thta, kai2 o4mooy1siow h4mi9n o4 ay3to2w Cristo Deus e homem, consubstancial ao Pai segun-
kata2 th2n a3nurvpo1thta= e3pi1shw ga2r kai2 toy2w a3na2 do a divindade, consubstancial a nós segundo a
me1row diairoy9ntaw, h5toi te1mnontaw, kai2 toy2w humanidade. Por isso, a Igreja de Deus rejeita e
sygxe1ontaw to2 th9w uei1aw oi3konomi1aw mysth1rion anatematiza aqueles que dividem ou cortam em
toy9 Xristoy9, a3postre1fetai kai2 a3nauemati1zei h4 partes o mistério da divina economia de Cristo, bem
toy9 Ueoy9 e3kklhsi1a. como aqueles que o confundem.
u’. Ei5 tiw proskynei9suai e3n dysi2 fy1sesi le1gei 9. Se alguém diz que Cristo é adorado em duas 431
to2n Xristo1n, e3j oyß dy1o proskynh1seiw ei3sa1gontai, naturezas, introduzindo com isto duas adorações, uma
i3di1a tö9 Ueö9 lo1gö kai2 i3di1a tö9 a3nurv1pö= própria do Deus Verbo e outra própria do homem;
h6 ei5 tiw e3pi2 a3naire1sei th9w sarko1w, h6 e3pi2 ou se alguém fala fantasiosamente sobre a supres-
sygxy1sei th9w ueo1thtow kai2 th9w a3nurvpo1thtow, h6 são da carne ou a confusão da divindade e da hu-
mi1an fy1sin h5goyn oy3si1an tv9n syneluo1ntvn tera- manidade, ou de uma só natureza ou substância dos
teyo1menow, oy7tv proskynei9 to2n Xristo1n, a3ll’ oy3xi2 elementos unidos, e assim adorar o Cristo, mas sem
miä9 proskynh1sei to2n Ueo2n lo1gon sarkvue1nta meta2 venerar com única adoração o Deus Verbo encarna-
th9w i3di1aw ay3toy9 sarko2w proskynei9, kaua1per h4 do junto com a sua carne, como a Igreja de Deus
toy9 Ueoy9 e3kklhsi1a pare1laben e3j a3rxh9w, o4 toioy9tow recebeu <por tradição> desde o início, seja anátema.
a3na1uema e5stv.
i’. Ei5 tiw oy3x o4mologei9, to2n e3stayrvme1non sarki2 10. Se alguém não confessa que nosso Senhor 432
ky1rion h4mv9n I3 hsoy9n Xristo2n ei0nai Ueo2n a3lhuino2n Jesus Cristo, crucificado em sua carne, é verdadei-
kai2 ky1rion th9w do1jhw kai2 e7na th9w a4gi1aw tria1dow= ro Deus, Senhor da glória e um da santa Trindade,
o4 toioy9tow a3na1uema e5stv. seja anátema.
ia’. Ei5 tiw mh2 a3nauemati1zei Areion,
5 Ey3no1mion, 11. Se alguém não anatematiza Ário, Eunômio, 433
Makedo1nion, Apollina1
3 rion, Nesto1rion, Ey3tyxe1a Macedônio, Apolinário, Êutiques e Orígenes junta-
kai2 3Vrige1nhn, meta2 tv9n a3sebv9n ay3tv9n syggram- mente com seus ímpios escritos, bem como todos
ma1tvn, kai2 toy2w a5lloyw pa1ntaw ai4retikoy1w, toy2w os outros hereges condenados pela santa Igreja ca-
katakriue1ntaw y4po2 th9w a4gi1aw kauolikh9w kai2 tólica e apostólica e pelos quatro supracitados con-
a3postolikh9w e3kklhsi1aw kai2 tv9n proeirhme1nvn cílios, e também os que professaram ou professam
a4gi1vn tetta1rvn syno1dvn, kai2 toy2w ta2 o7moia tv9n doutrinas semelhantes àquelas dos supraditos here-
proeirhme1nvn ai4retikv9n fronh1santaw h6 fronoy9n- ges e persistem na própria impiedade até a morte,
taw, kai2 me1xri te1loyw tü9 oi3kei1ä a3sebei1ä e3mmei1nan- seja anátema.
taw= o4 toioy9tow a3na1uema e5stv.
ib’. Ei5 tiw a3ntipoiei9tai Ueodv1roy toy9 a3seboy9w 12. Se alguém defende o ímpio Teodoro de Mop- 434
toy9 Mocoyesti1aw, toy9 ei3po1ntow, a5llon ei0nai to2n suéstia, que diz: um é o Deus Verbo e outro o Cris-
Ueo2n lo1gon, kai2 a5llon to2n Xristo2n y4po2 pauv9n to que, molestado pelas paixões da alma e os dese-
cyxh9w kai2 tv9n th9w sarko2w e3piuymiv9n e3noxloy1me- jos da carne, foi apartado pouco a pouco dos senti-
non, kai2 tv9n xeiro1nvn kata2 mikro2n xvrizo1menon, mentos inferiores e que, melhorando com o progre-
kai2 oy7tvw e3k prokoph9w e5rgvn beltivue1nta, kai2 dir das obras e se erguendo perfeito pelo modo de
e3k politei1aw a5mvmon katasta1nta, v4w cilo2n a5nu- viver, foi batizado como um simples homem no
rvpon baptisuh9nai ei3w o5noma patro2w kai2 yi4oy9 nome do Pai do Filho e do Espírito Santo e por
kai2 a4gi1oy pney1matow, kai2 dia2 toy9 bapti1smatow meio do batismo recebeu a graça do Espírito Santo
th2n xa1rin toy9 a4gi1oy pney1matow labei9n, kai2 e foi julgado digno da adoção divina; e que, assim
yi4ouesi1aw a3jivuh9nai= kai2 kat’ i3so1thta basilikh9w como acontece a uma imagem do imperador, rece-
ei3ko1now ei3w pro1svpon toy9 Ueoy9 lo1goy prosky- be adoração destinada à pessoa de Deus Verbo; e
nei9suai= kai2 meta2 th2n a3na1stasin a5trepton tai9w que, depois da ressurreição, se tornou imutável nos
e3nnoi1aiw kai2 a3nama1rthton pantelv9w gene1suai. seus pensamentos e de todo impecável.
157
Kai2 pa1 l in ei3 r hko1 t ow toy9 ay3 t oy9 a3 s eboy9 w – O ímpio Teodoro disse também que a união do
Ueodv1roy, th2n e7nvsin toy9 Ueoy9 lo1goy pro2w to2n Deus Verbo com o Cristo é semelhante à união
Xristo2n toiay1thn gegenh9suai, oi7an o4 a3po1stolow do homem e da mulher, de que fala o Apóstolo:
e3pi2 a3ndro2w kai2 gynaiko1w= “e5sontai oi4 dy1o ei3w “Os dois formarão uma só carne” [Ef 5,31].
sa1rka mi1an” [Eph 5,31].
Kai2 pro2w tai9w a5llaiw a3nariumh1toiw ay3toy9 Entre outras inumeráveis blasfêmias, ele ousou
blasfhmi1aiw, tolmh1santow ei3pei9n, o7ti meta2 th2n dizer que depois da ressurreição, quando o Senhor
a3na1stasin e3mfysh1saw o4 ky1riow toi9w mauhtai9w soprou sobre os seus discípulos, dizendo: “Recebei
kai2 ei3pv1n= “la1bete pney9ma a7gion” [Io 20,22], oy3 o Espírito Santo” [Jo 20,22], não lhes deu o Espí-
de1dvken ay3toi9w pney9ma a7gion, a3lla2 sxh1mati mo1non rito Santo, mas soprou só a modo de figura.
e3nefy1shse.
Oyßtow de2 kai2 th2n o4mologi1an toy9 Uvma9 th2n e3pi2 Ele disse também que a confissão de Tomé, quan-
tü9 chlafh1sei tv9n xeirv9n kai2 th9w pleyra9w toy9 do, após apalpar as mãos e o lado do Senhor, de-
kyri1oy, meta2 th2n a3na1stasin, to2 “o4 ky1rio1w moy pois da ressurreição exclamou: “Meu Senhor e meu
kai2 o4 Ueo1w moy” [Io 20,28] ei0pe, mh2 ei3rh9suai Deus” [Jo 20,28], não foi pronunciado por Tomé a
peri2 toy9 Xristoy9 para2 toy9 Uvma9, a3ll’ e3pi2 tö9 respeito de Cristo, mas que, no seu estupor pelo
parado1jö th9w a3nasta1sevw e3kplage1nta to2n Uvma9n milagre da ressurreição, Tomé glorificou a Deus que
y4mnh9sai to2n Ueo2n e3gei1ranta to2n Xristo1n. havia ressuscitado Cristo.
435 To2 de2 xei9ron, kai2 e3n tü9 tv9n pra1jevn tv9n a3po- E, o que é pior, no seu comentário aos Atos dos
sto1lvn genome1nü par’ ay3toy9 dh9uen e4rmhnei1ä sygk- Apóstolos, o mesmo Teodoro, comparando o Cristo
ri1nvn o4 ay3to2w Ueo1dvrow to2n Xristo2n Pla1tvni, a Platão, a Mâni, a Epicuro, a Marcião, afirma que,
kai2 Manixai1ö, kai2 3Epikoy1rö, kai2 Marki1vni, como cada um destes inventando uma doutrina pró-
le1gei, o7ti, v7sper e3kei1nvn e7kastow ey4ra1menow pria fez que seus discípulos se chamassem platôni-
oi3kei9on do1gma, toy2w ay3tö9 mauhtey1santaw pepoi1hke cos maniqueus, epicureus e marcionitas, do mesmo
kalei9suai Platvnikoy2w kai2 Manixai1oyw kai2 3Epi- modo, tendo inventado Cristo uma doutrina, é se-
koyrei1oyw kai2 Markivnista1w, to2n o7moion tro1pon gundo ele que são denominados os cristãos. –
kai2 toy9 Xristoy9 ey4rame1noy do1gma, e3j ay3toy9
Xristianoy2w kalei9suai.
Ei5 tiw toi1nyn a3ntipoiei9tai toy9 ei3rhme1noy a3se- Se, portanto, alguém defender o ímpio supraci-
besta1toy Ueodv1roy, kai2 tv9n a3sebv9n ay3toy9 syg- tado Teodoro e os seus escritos sacrílegos, nos
gramma1tvn, e3n oißw ta1w te ei3rhme1naw kai2 a5llaw quais despeja as blasfêmias já recordadas e inu-
a3nariumh1toyw blasfhmi1aw e3je1xei, kata2 toy9 mega1- meráveis outras contra o grande Deus e Salvador
loy Ueoy9 kai2 svth9row h4mv9n 3Ihsoy9 Xristoy9= a3lla2 Jesus Cristo, e não o anatematiza com os seus
mh2 a3nauemati1zei ay3to1n, kai2 ta2 a3sebh9 ay3toy9 syg- ímpios escritos, bem como a todos aqueles que o
gra1mmata, kai2 pa1ntaw toy2w dexome1noyw, h6 kai2 aceitam, ou o defendem, ou afirmam a ortodoxia
e3kdikoy9ntaw ay3to1n, h6 le1gontaw o3ruodo1jvw ay3to2n de sua doutrina, ou aqueles que escreveram a seu
e3kue1suai, kai2 toy2w gra1cantaw y4pe2r ay3toy9 kai2 favor e partilham seus pensamentos, ou que, par-
ta2 ay3ta2 e3kei1nö fronh1santaw h6 kai2 toy2w gra1fontaw tilhando os seus pensamentos, estão escrevendo a
y4pe2r ay3toy9 kai2 tv9n a3sebv9n ay3toy9 syggramma1tvn, favor dele e dos seus ímpios escritos, bem como
kai2 toy2w ta2 o7moia fronoy9ntaw, h6 fronh1santaw os que pensam ou outrora pensaram como ele e
pv1pote, kai2 me1xri te1loyw e3mmei1nantaw tü9 toiay1tü perseveraram em tal impiedade [heresia] até o fim,
a3sebei1ä [ai4re1sei], a3na1uema e5stv. seja anátema.
436 ig’. Ei5 tiw a3ntipoiei9tai tv9n a3sebv9n syggramma1- 13. Se alguém defender, contra a verdadeira fé,
tvn Ueodvri1toy, tv9n kata2 th9w a3lhuoy9w pi1stevw, contra o primeiro e santo Concílio de Éfeso, con-
kai2 th9w e3n 3Efe1sö prv1thw kai2 a4gi1aw syno1doy kai2 tra são Cirilo e seus doze capítulos [cf. *253-263],
toy9 e3n a4gi1oiw Kyri1lloy, kai2 tv9n dv1deka ay3toy9 os ímpios escritos de Teodoreto e tudo o que mes-
kefalai1vn [cf. *252-263], kai2 pa1ntvn vßn syneg- mo Teodoreto compôs em defesa dos ímpios Teo-
ra1cato y4pe2r Ueodv1roy kai2 Nestori1oy tv9n dysse- doro e Nestório e dos outros que professam o pen-
bv9n, kai2 y4pe2r a5llvn tv9n ta2 ay3ta2 toi9w proeirh- samento dos supraditos Teodoro e Nestório e os
me1noiw Ueodv1rö kai2 Nestori1ö fronoy1ntvn, kai2 acatam juntamente com sua impiedade; e <se> por
dexome1nvn ay3toy1w, kai2 th2n ay3tv9n a3se1beian, kai2 causa deles chamar de ímpios os doutores da Igre-
158
di’ ay3tv9n a3sebei9w kalei9 toy2w th9w e3kklhsi1aw di- ja que professam a união segundo a hipóstase do
daska1loyw, toy2w kau’ y4po1stasin th2n e7nvsin toy9 Verbo de Deus;
Ueoy9 lo1goy fronoy9ntaw=
kai2 ei5per oy3k a3nauemati1zei ta2 ei3rhme1na a3sebh9 e se, portanto, não anatematiza os sobreditos
syggra1mmata, kai2 toy2w ta2 o7moia toy1toiw fronh1sa- ímpios escritos e aqueles que pensam ou pensaram
ntaw h6 fronoy9ntaw, kai2 pa1ntaw de2 toy2w gra1cantaw como eles e quantos têm escrito contra a fé ortodo-
kata2 th9w o3ruh9w pi1stevw, h6 toy9 e3n a4gi1oiw Kyri1lloy xa e contra Cirilo, homem santo, e seus doze capí-
kai2 tv9n dv1deka ay3toy9 kefalai1vn, kai2 e3n tü9 tulos, bem como aqueles que findaram em tal impie-
toiay1tü a3sebei1ä teleyth1santaw= o4 toioy9tow dade, seja anátema.
a3na1uema e5stv.
id’. Ei5 tiw a3ntipoiei9tai th9w e3pistolh9w th9w lego- 14. Se alguém defende a carta, que dizem ter sido 437
me1nhw para2 5Iba gegra1fuai pro2w Ma1rhn to2n Pe1r- escrita por Ibas ao persa Máris, na qual se nega que
shn, th9w a3rnoyme1nhw me2n to2n Ueo2n lo1gon e3k th9w Deus Verbo, encarnado na santa deípara e sempre
a4gi1aw ueoto1koy kai2 a3eiparue1noy Mari1aw sarkv- virgem Maria, se fez homem; <carta> que afirma
ue1nta, a5nurvpon gegenh9suai= lego1yshw de2 cilo2n que dela nasceu um simples homem, que ele chama
a5nurvpon e3j ay3th9w genhuh9nai, o8n nao2n a3pokalei9= de templo, de modo que um seja o Deus Verbo, outro
v4w a5llon ei0nai to2n Ueo2n lo1gon, kai2 a5llon to2n o homem; que acusa são Cirilo, que pregou a ver-
a5nurvpon= kai2 to2n e3n a4gi1oiw Ky1rillon th2n o3ruh2n dadeira fé cristã, de ser herege e de ter escrito de
tv9n xristianv9n pi1stin khry1janta diaballoy1shw igual modo que o ímpio Apolinário; que reprova o
v4w ai4retiko1n, kai2 o4moi1vw Apollinari1
3 ö tö9 dysse- primeiro santo Sínodo de Éfeso por ter, sem sufi-
bei9 gra1canta= kai2 memfome1nhw th2n e3n 3Efe1sö prv1- ciente discussão, condenado Nestório – e esta mes-
thn a4gi1ansy1nodon, v4w xvri2w zhth1sevw Nesto1rion ma ímpia carta define os doze capítulos de são Ci-
kaueloy9san= kai2 ta2 dv1deka kefa1laia toy9 e3n rilo [*252-263] ímpios e contrários à verdadeira fé
a4gi1oiw Kyri1lloy [*252-263] a3sebh9 kai2 e3nanti1a e toma a defesa de Teodoro e de Nestório, bem como
tü9 o3ruü9 pi1stei a3pokalei9 h4 ay3th2 a3sebh2w e3pistolh1, das suas doutrinas e escritos ímpios;
kai2 e3kdikei9 Ueo1dvron kai2 Nesto1rion kai2 ta2 a3se-
bh9 ay3tv9n do1gmata kai2 syggra1mmata=
ei5 tiw toi1nyn th9w ei3rhme1nhw e3pistolh9w a3ntipoiei9- se, portanto, alguém defende a referida carta e
tai, kai2 mh2 a3nauemati1zei ay3th1n, kai2toy2w a3nti- não a anatematizar juntamente com os que a defen-
poioyme1noyw ay3th9w, kai2 le1gontaw, ay3th2n o3ruh2n dem, mas diz que ao menos em parte é ortodoxa; e
ei0nai, h6 me1row ay3th9w, kai2 gra1cantaw kai2 gra1fon- <se não condenar> aqueles que escreveram e escre-
taw y4pe2r ay3th9w, h6 tv9n periexome1nvn ay3tü9 a3se- vem a seu favor ou a favor das aí contidas impieda-
beiv9n, kai2 tolmv9ntaw tay1thn e3kdikei9n h6 ta2w perie- des e se atrevem, em nome dos Santos Padres e do
xome1naw ay3tü9 a3sebei1aw o3no1mati tv9n a4gi1vn pate1- santo Sínodo de Calcedônia, a vindicá-la ou as
rvn, h6 th9w a4gi1aw e3n Xalkhdo1ni syno1doy, kai2 toy1toiw impiedades nela contidas, nisto perseverantes até o
me1xri te1loyw e3mmei1nantaw= o4 toioy9tow a3na1uema e5stv. fim: seja anátema.
Toy1tvn toi1nyn oy7tvw o4mologhue1ntvn, a8 kai2 Depois de ter assim professado o que recebemos 438
parela1bomen e3k th9w uei1aw grafh9w, kai2 th9w tv9n tanto da Sagrada Escritura como do ensinamento
a4gi1vn pate1rvn didaskali1aw, kai2 tv9n o4risue1ntvn dos Santos Padres e das definições em torno da única
peri2 th9w mia9w kai2 th9w ay3th9w pi1stevw para2 tv9n e mesma fé formuladas pelos sobreditos quatro san-
proeirhme1nvn a4gi1vn tessa1rvn syno1dvn, genome1nhw tos sínodos; depois de ter pronunciado a condena-
de2 kai2 par’ h4mv9n th9w e3pi2 toi9w ai4retikoi9w, kai2 ção contra os hereges e sua impiedade, e contra
th9w ay3tv9n a3sebei1aw, pro1sge kai2 th9w tv9n e3kdi- aqueles que vindicam ou tentam vindicar os supra-
khsa1ntvn h6 e3kdikoy1ntvn ta2 ei3rhme1na tri1a kefa1-
ditos três capítulos e perseveraram e continuam per-
laia, kai2 e3napomeina1ntvn h6 a3pomeno1ntvn tü9 oi3-
severando em seu próprio erro; se alguém tentar
kei1ä pla1nü, katakri1sevw, ei5 tiw e3pixeirh1soi e3nan-
ti1a toi9w par’ h4mv9n ey3sebv9w diatypouei9si para- transmitir, ensinar ou escrever alguma coisa contra
doy9nai, h6 dida1jai, h6 gra1cai, ei3 me2n e3pi1skopow o que piedosamente temos definido, se for bispo ou
ei5h, h6 e3n klh1rö a3nafero1menow, o4 toioy9tow a3llo1- clérigo, por agir de modo incompatível com o sa-
tria i4ere1vn kai2 th9w e3kklhsiastikh9w katasta1sevw cerdócio ou o estado eclesiástico, será despojado
pra1ttvn, gymnvuh1setai th9w e3piskoph9w, h6 toy9 klh1- da sua dignidade episcopal ou clerical; se for mon-
roy, ei3 de2 monaxo1w, h6 la ko1w, a3nauematisuh1setai. ge ou leigo, será anatematizado.
159
A “Fides Pelagii”
441 [D e Tr i n i t a t e d i v i n a .] Credo igitur in unum [A Tr i n d a d e d i v i n a .] Creio, portanto, em
Deum, Patrem et Filium et Spiritum Sanctum: Pa- um só Deus, Pai, Filho e Espírito Santo: isto é, no
trem scilicet omnipotentem, sempiternum, ingeni- Pai onipotente, sempiterno, não gerado; no Filho,
tum; Filium vero, ex eiusdem Patris substantia vel porém, gerado da substância ou natureza do mes-
natura genitum, ante omne omnino vel temporis vel mo Pai, absolutamente antes do início de qualquer
aevi cuiusquam initium, id est [de omnipotente] tempo ou idade, isto é [do Onipotente] onipotente,
omnipotentem, aequalem, consempiternum et con- igual, co-sempiterno e consubstancial ao Genitor;
substantialem Genitori; Spiritum quoque Sanctum, também no Espírito Santo, onipotente, igual a am-
omnipotentem, utrique, Patri scilicet ac Filio, ae- bos, isto é, ao Pai e ao Filho, co-sempiterno e con-
qualem, consempiternum atque consubstantialem; substancial, que, procedendo do Pai intemporalmen-
qui ex Patre intemporaliter procedens, Patris est te, é o Espírito do Pai e do Filho; isto é, três pes-
Filiique Spiritus; hoc est, tres personas sive tres sub- soas ou seja, três subsistências de uma só essência
sistentias unius essentiae sive naturae, unius virtu- ou natureza, de uma só força, de uma só operação,
tis, unius operationis, unius beatitudinis atque unius de uma só beatitude e de um só poder; para que,
potestatis; ut trina sit unitas, et una sit Trinitas, iuxta como a unidade é trina, também a Trindade seja
vocis dominicae veritatem, dicentis: “Ite, docete om- una, segundo a verdade da palavra do Senhor: “Ide,
nes gentes, baptizantes eos in nomine Patris et Filii ensinai a todas as gentes, batizando-as no nome do
et Spiritus Sancti” [Mt 28,19]. “In nomine”, inquit, Pai e do Filho e do Espírito Santo” [Mt 28,19]. “No
non “nominibus”, ut et unum Deum per indistinctum nome” disse, não “nos nomes”, seja para mostrar
divinae essentiae nomen ostenderet et personarum um único Deus mediante o nome indistinto da es-
discretionem suis demonstratam proprietatibus edo- sência divina, seja para indicar a diversidade das
ceret [cf. *415]; quia dum tribus unum deitatis no- pessoas demonstrada pelas suas peculiaridades [cf.
men est, aequalitas ostenditur personarum, et rur- *415]; já que o fato de os três terem um único nome
sus aequalitas personarum nihil extraneum, nihil quanto à divindade mostra a igualdade das pessoas
accedens in eis permittit intelligi: ita ut et unusquis- e, por sua vez, a igualdade das pessoas não permite
que eorum verus perfectusque sit Deus, et omnes que se compreenda nelas nada de estranho, nada de
tres simul unus verus perfectusque sit Deus, videli- acessório, de modo que tanto cada um deles é ver-
cet ex plenitudine divinitatis nihil minus in singu- dadeiro e perfeito Deus como todos os três junta-
lis, nihil amplius intellegatur in tribus. mente são um único e perfeito Deus; isto é, para
que, da plenitude da divindade nada se reconheça a
menos em cada um, nada a mais nos três.
442 [D e Fi l i o D e i i n c a r n a t o .] Ex hac autem [O f i l h o d e D e u s e n c a r n a d o .] Creio e pro-
sancta et beatissima atque consubstantiali Trinitate fesso, pois, que, desta Trindade santa e beatíssima
credo atque confiteor unam personam, id est Filium e consubstancial, uma pessoa, isto é, o Filho de
Dei, pro salute humani generis novissimis tempori- Deus, desceu dos céus para a salvação do gênero
bus descendisse de caelo, nec patriam sedem nec humano nos últimos tempos, sem deixar a sede do
mundi gubernacula relinquentem, et superveniente Pai e o governo do mundo; e logo que o Espírito
160
in beata virgine Maria Sancto Spiritu atque obum- Santo veio do céu na bem-aventurada virgem Ma-
brante ei virtute Altissimi, eundem Verbum ac Fi- ria e a força do Altíssimo a cobriu, este mesmo
lium Dei in utero eiusdem sanctae virginis Mariae Verbo e Filho de Deus entrou suavemente no útero
clementer ingressum et de carne eius sibi unisse da mesma santa virgem Maria e, da carne dela, uniu
carnem anima rationali et intellectuali animatam; a si uma carne animada por alma racional e intelec-
nec ante creatam esse carnem, et postea superve- tiva; não que antes tivesse sido criada a carne e
nisse Filium Dei, sed, sicut scriptum est, “sapientia depois o Filho de Deus tivesse sobrevindo a esta,
aedificante sibi domum” [Prv 9,1] mox carnem in mas, como está escrito “construindo a Sabedoria
utero Virginis, mox Verbi Dei carnem factam exin- para si uma casa” [Pr 9,1], imediatamente a carne
deque sine ulla permutatione aut conversione Verbi no útero da Virgem se fez a carne do Verbo de Deus
carnisque naturae, Verbum ac Filium Dei factum e, portanto, o Verbo e Filho de Deus se fez homem
hominem, unum in utraque natura, divina scilicet et sem nenhuma mudança ou transformação da natu-
humana, Christum Iesum Deum verum eundemque reza do Verbo e da carne, um só em ambas as na-
verum hominem processisse, id est natum esse, turezas, isto é, na e divina e na humana; e <assim>
servata integritate maternae virginitatis: quia sic eum Jesus Cristo procedeu, isto é, nasceu verdadeiro
Virgo permanens genuit, quemadmodum Virgo Deus e, o mesmo, verdadeiro homem, conservada
concepit. Propter quod eandem beatam virginem a integridade da virgindade materna, pois ela o gerou
Mariam Dei genitricem verissime confitemur: pe- permanecendo virgem assim como virgem o havia
perit enim incarnatum Dei Verbum. concebido. Pelo que professamos de maneira
veracíssima a mesma bem-aventurada virgem Ma-
ria genitora de Deus, pois ela gerou o Verbo de Deus
encarnado.
Est ergo unus atque idem Iesus Christus verus O único e o mesmo Jesus Cristo é portanto ver-
Filius Dei et idem ipse verus filius hominis, perfec- dadeiro Filho de Deus e, o mesmo, verdadeiro filho
tus in deitate, et idem ipse perfectus in humanitate, do homem, perfeito na divindade e, o mesmo, per-
utpote totus in suis et idem ipse totus in nostris [cf. feito na humanidade, sendo inteiro no que é seu e,
*293]; sic per secundam nativitatem sumens ex ho- o mesmo, inteiro no que é nosso [cf. *293]; do se-
mine matre quod non erat, ut non desisteret esse gundo nascimento, de mãe humana, ele tomou o
quod per primam, qua ex Patre natus est, erat. Prop- que ele não era, de tal modo, porém, que não dei-
ter quod eum ex duabus et in duabus, manentibus xou de ser o que era pelo primeiro <nascimento>,
indivisis inconfusisque credimus esse naturis: indi- no qual nasceu do Pai. Por isso cremos que ele seja
visis quidem, quia et post adsumptionem naturae de duas – ou em duas – naturezas, que permanecem
nostrae unus Christus Filius Dei permansit et per- indivisas e inconfusas: indivisas, já que o único
manet: inconfusis autem, quia sic in unam perso- Cristo, também depois de tomar a nossa natureza,
nam atque subsistentiam adunatas credimus esse na- permaneceu e permanece Filho de Deus; inconfusas,
turas, ut utriusque proprietate servata, neutra con- porque cremos que as naturezas foram unidas em
verteretur in alteram. Ac propterea, sicut saepe di- uma só pessoa e subsistência, de modo que, conser-
ximus, unum eundemque Christum esse verum Fi- vada a peculiaridade de ambas, nenhuma das duas
lium Dei, et eundem ipsum verum filium hominis é superada pela outra. E, portanto, professamos,
confitemur, consubstantialem Patri secundum dei- como sempre temos dito, que o único e o mesmo
tatem, et consubstantialem nobis eundem secundum Cristo é verdadeiro Filho de Deus e, o mesmo, ver-
humanitatem, per omnia nobis similem absque pec- dadeiro filho do homem, consubstancial ao Pai se-
cato; passibilem carne, eundem ipsum inpassibilem gundo a divindade e consubstancial a nós segundo
deitate. a humanidade, em tudo semelhante a nós, excluído
o pecado; passível na carne e, <sendo> o mesmo,
impassível na divindade.
Quem sub Pontio Pilato sponte pro salute nostra Confessamos que ele, sob Pôncio Pilatos, sofreu
passum esse carne confitemur, crucifixum carne, voluntariamente na carne pela nossa salvação, na
mortuum carne, resurrexisse tertia die, glorificata carne foi crucificado, morto na carne ressuscitou ao
et incorruptibili eadem carne, et … ascendisse in terceiro dia, na mesma carne glorificada e incor-
caelos; sedere etiam ad dexteram Patris. ruptível, e … subiu aos céus; e está sentado à direi-
ta do Pai.
161
444: Carta encíclica “Vas electionis”, a todo o Povo de Deus, por volta de 557
Esta carta, que contém a segunda parte da “Fides Pelagii”, tem a mesma finalidade que a carta acima apresentada.
A data de sua composição é discutida: Gassó (p. 36) indica o período entre 16 abr. 557 e o início de jan. 559, contra
Duchesne, Devreesse e outros, que sustentam a composição anterior à consagração do Papa em 16 abr. 556.
Ed.: Gassó-Batlle, l. c. ad *441°, 38s (= carta 11) / W. Gundlach, MGH Epistulae III (1892) 8223-8315 (= Epistulae
Arelatenses 56) / PL 69, 399D-400C (= carta 6) / MaC 9, 720A-D / Pitra, l. c. ad *441°, pp. XIV-XV. – Reg.: JR 938.
*444 1 Ele distingue como II Concílio de Éfeso o “Latrocinium” (“sínodo dos ladrões”; Leo I: ACOe 2/IV, 514 / PL 54, 943B),
realizado em ago. 449 a favor de Eutiques.
162
versalis Ecclesiae firmitas est, ita me tueri ac defen- pírito Santo; e professo proteger e defender a sua
dere profiteor, sicut eas decessores meos defendisse firmeza, já que é a firmeza da Igreja universal, as-
non dubium est. In quibus illum maxime et sequi et sim como não há dúvida de que os tenham defendi-
imitari desidero, quem Calchedonensis synodi auc- do os meus predecessores. Entre estes, desejo seguir
torem novimus exstitisse [Leo I pp.], qui suo e imitar sobretudo aquele que sabemos ter sido o
congruens nomini eius se membrum, qui de tribu autor do Sínodo de Calcedônia [o Papa Leão I] <e>
Iuda leo exstitit [cf. Apc 5,5], vivacissima fidei solli- que, em conformidade com seu nome, com a sua
citudine evidenter ostendit. Similem igitur supras- vivíssima solicitude pela fé, se mostrou claramente
criptis synodis reverentiam me semper exhibiturum membro daquele leão que saiu da tribo de Judá [cf.
esse confido, et quicumque ab eisdem quattuor con- Ap 5,5]. Estou, pois, confiante de que sempre de-
ciliis absoluti sunt, me esse orthodoxos habiturum, monstrarei aos sínodos acima mencionados igual re-
nec umquam in vita mea ... aliquid de sanctae et verência e terei por ortodoxos todos aqueles que por
verae praedicationis eorum auctoritate minuere. estes mesmos quatro concílios foram absolvidos; e
nunca de minha vida tirarei … coisa alguma da
autoridade de sua santa e verdadeira mensagem.
Sed et canones, quos Sedes Apostolica suscipit, Mas sigo e venero também os cânones que a Sé
sequor et veneror … . Epistolas etiam beatae recor- Apostólica acolhe … . Também as cartas do Papa
dationis papae Caelestini … et Agapiti pro defen- Celestino, de feliz memória, … e de Agapito em
sione fidei catholicae et pro firmitate suprascripta- defesa da fé católica e da validade dos supracitados
rum quattuor synodorum et contra haereticos … me quatro sínodos contra os hereges … eu professo
custodire profiteor, et omnes, quos ipsi damnave- guardá-las, e considerar condenados todos aqueles
runt, habere damnatos, et quos ipsi receperunt, prae- que eles condenaram, e venerar entre os ortodoxos
cipue venerabiles episcopos Theodoretum et Ibam, os que eles acolheram, sobretudo os veneráveis bis-
me inter orthodoxos venerari. pos Teodoreto e Ibas.
445: Carta “Admonemus ut”, ao bispo Gaudêncio de Volterna, set. 558 – 2 fev. 559
Ed.: Gassó-Batlle, l. c. ad *441°, 65s (= carta 21); Graciano, Decretum, p. III, dist. 4, c. 30 82 (Frdb 1, 1370 1389)
(= Pseudo-Gelásio). – Reg.: JR 980; P. Ewald, in: NArch 5 (1880) 539s (= Collectio Britannica, Pelágio, carta 8).
A forma do batismo
De haereticis [ad catholicam fidem reversuris, de A respeito dos hereges [que querem retornar à 445
quibus] … Nos consulendos esse duxisti, … utrum Igreja católica e a respeito dos quais] … pensaste
baptizandi sint an tantummodo reconciliandi, haec em consultar-nos … se devem ser batizados ou sim-
tuam volumus observantiam custodire …: … quia plesmente reconciliados, queremos que a tua obser-
in n o m i n e s o l u m m o d o C h r i s t i una etiam vância guarde estas coisas… : … pois afirmam que
mersione se asserunt baptizari, evangelicum vero foram batizados somente n o n o m e d e C r i s t o ,
praeceptum … nos admonet, i n n o m i n e T r i n i - também com uma só imersão, enquanto o preceito
t a t i s , trina etiam mersione sanctum baptisma uni- evangélico … nos recomenda ministrar a cada um
cuique tribuere, dicente Domino nostro discipulis o santo batismo n o n o m e d a T r i n d a d e , e tam-
suis: “Ite, baptizate omnes gentes in nomine Patris bém com uma tríplice imersão, porque nosso Senhor
et Filii et Spiritus Sancti” [Mt 28,19], si re vera hi diz a seus discípulos: “Ide, batizai todas as gentes
de praefatis haereticis … solummodo se in nomine em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” [Mt
Domini baptizatos fuisse forsitan confitentur, sine 28,19]; se verdadeiramente estes entre os nomeados
cuiusquam dubitationis ambiguo eos ad catholicam hereges … afirmam que foram simplesmente bati-
fidem venientes sanctae Trinitatis nomine baptiza- zados no nome do Senhor, tu, afastada a incerteza
bis. Sin vero … manifesta confessione claruerit, de qualquer dúvida, batizarás no nome da santa Trin-
quod in Trinitatis fuerint nomine baptizati, sola re- dade aqueles que vêm para a fé católica. Se, ao in-
conciliationis inpensae gratia catholicae sociare fi- vés … for esclarecido, com uma confissão manifes-
dei maturabis … ta, que tinham sido batizados no nome da Trindade,
te apressarás a associá-los à fé católica só pela graça
da reconciliação <que lhes é> concedida. …
163
447: Carta “Relegentes autem”, ao patrício Valeriano, março ou início de abril 559
Ed.: Gassó-Batlle, l. c. ad *441°, 158 (= carta 59) / PL 69, 413B / parcialmente: Graciano, Decretum, p. I, dist. 17,
c. 4 (Frdb 1,51). – Reg.: JR 1018; P. Ewald, in: NArch 5 (1880) 553-555 (= Collectio Britannica, Pelágio, carta 46).
*446 1 Cf. Cipriano, De catholicae Ecclesiae unitate 4 (M. Bévenot: CpChL 3 [1972] 251s / CSEL 3, 212s).
*447 1 Sínodo de Antioquia 341, cân. 5, citado no Concílio de Calcedônia, sessão 4ª (ACOe 2/I/II, 118, n. 90 grego; 2/III/II,
124 versão latina).
164
A Trindade e Cristo
1. Si quis Patrem et Filium et Spiritum Sanctum 1. Se alguém não professa o Pai e o Filho e o 451
non confitetur tres personas unius esse substantiae Espírito Santo <como> três pessoas de uma só subs-
et virtutis ac potestatis, sicut catholica et apostolica tância e força e poder, como o ensina a Igreja cató-
Ecclesia docet, sed unam tantum dicit et solitariam lica e apostólica, mas diz que são uma única pessoa
esse personam, ita ut ipse sit Pater qui Filius, ipse apenas, e solitária, de modo que o Pai seja o mesmo
etiam sit Paraclitus Spiritus, sicut Sabellius et Pris- que o Filho, e o mesmo também o Espírito Santo,
cillianus dixerunt, anathema sit. como o disseram Sabélio e Prisciliano, seja anátema.
2. Si quis extra sanctam Trinitatem alia nescio 2. Se alguém introduz, fora da santa Trindade, não 452
quae divinitatis nomina introducit, dicens quod in sei que outro nome da divindade, dizendo que na
ipsa divinitate sit trinitas trinitatis, sicut Gnostici et mesma divindade haja uma trindade da trindade, como
Priscillianus dixerunt, anathema sit. o disseram os gnósticos e Prisciliano, seja anátema.
3. Si quis dicit, Filium Dei Dominum nostrum, 3. Se alguém diz que o Filho de Deus, nosso 453
antequam ex Virgine nasceretur, non fuisse, sicut Senhor, antes de nascer da Virgem não existia, como
Paulus Samosatenus et Photinus et Priscillianus di- o disseram Paulo de Samosata e Fotino e Priscilia-
xerunt, anathema sit. no, seja anátema.
4. Si quis natalem Christi secundum carnem non 4. Se alguém não venera de verdade o dia natal 454
vere honorat, sed honorare se simulat, ieiunans in de Cristo segundo a carne, mas finge venerá-lo, je-
eodem die et in Dominico, quia Christum in vera juando nesse dia e no domingo, porque não crê que
hominis natura natum esse non credit, sicut Cer- Cristo tenha nascido na verdadeira natureza do ho-
don, Marcion, Manichaeus et Priscillianus dixerunt, mem, como o disseram Cêrdon, Marcião, Maniqueu
anathema sit. e Prisciliano, seja anátema.
165
459 9. Si quis animas et corpora humana fatalibus 9. Se alguém crê que as almas e os corpos huma-
stellis credit adstringi, sicut pagani et Priscillianus nos estão sujeitos a estrelas fatais, como o disseram
dixerunt, anathema sit. os pagãos e Prisciliano, seja anátema.
460 10. Si quis duodecim signa de sideribus, quae 10. Se alguém crê que as doze constelações es-
mathematici observare solent, per singula animae trelares que os astrólogos costumam observar estão
vel corporis membra disposita credunt et nomini- dispostas em relação a cada membro da alma e do
bus Patriarcharum adscripta dicunt, sicut Priscillia- corpo, e diz que estão ligadas aos nomes dos pa-
nus dixit, anathema sit. triarcas, seja anátema.
461 11. Si quis coniugia humana damnat et procrea- 11. Se alguém condena os matrimônios humanos
tionem nascentium perhorrescit, sicut Manichaeus e despreza a procriação dos filhos, como o disseram
et Priscillianus dixerunt, anathema sit. Maniqueu e Prisciliano, seja anátema.
462 12. Si quis plasmationem humani corporis dia- 12. Se alguém diz que a formação do corpo hu-
boli dicit esse figmentum, et conceptiones in uteris mano é uma figura do diabo, e disser que o
matrum operibus dicit daemonum figurari, propter concebimento no útero materno se realiza por obra
quod et resurrectionem carnis non credit, sicut do demônio, e por isso não crê nem mesmo na res-
Manichaeus et Priscillianus dixerunt, anathema sit. surreição da carne, como o disseram Maniqueu e
Prisciliano, seja anátema.
463 13. Si quis dicit, creationem universae carnis non 13. Se alguém diz que a criação de toda a carne
opificium Dei, sed malignorum esse angelorum, não é obra de Deus, mas dos anjos malignos, como
sicut Manichaeus et Priscillianus dixerunt, anathe- o disseram Maniqueu e Prisciliano, seja anátema.
ma sit.
464 14. Si quis immundos putat cibos carnium, quos 14. Se alguém julga comidas imundas as carnes
Deus in usus hominum dedit, et, non propter afflic- que Deus deu para uso aos homens, e delas se abs-
tionem corporis sui, sed quasi immunditiam putans, tém – não para disciplinar seu corpo, mas porque
ita ab eis abstineat, ut ne olera cocta cum carnibus as reputa imundas –, de modo a nem mesmo degus-
praegustet, sicut Manichaeus et Priscillianus dixe- tar verdura cozida com carne, como o disseram Ma-
runt, anathema sit. niqueu e Prisciliano, seja anátema.
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ris; patere pro Christo; haerens corpori pugna pro rindo ao corpo; combate pela Cabeça [Não serás
capite]”1. contado entre os membros de Cristo; sofre por Cris-
to; aderindo ao corpo, combate pela Cabeça]”1.
Sed et beatus Cyprianus … inter alia sic dicit: Mas também o bem-aventurado Cipriano … diz 469
“Exordium ab unitate proficiscitur, et primatus Petro entre outras coisas: “O início parte da unidade, e o
datur, ut una Christi Ecclesia et cathedra monstre- primado foi dado a Pedro, para que a Igreja e cá-
tur”1; et pastores sunt omnes, sed grex unus ostendi- tedra de Cristo se mostre una1”; e pastores são to-
tur, qui ab Apostolis unanimi consensione pascatur. dos, mas o rebanho aparece como um só, devendo
ser levado ao pasto pelos Apóstolos com unânime
acordo.
Et post pauca: “Hanc Ecclesiae unitatem qui non E pouco depois: “Quem não respeita esta unida-
tenet, tenere se fidem credit? Qui cathedram Petri, de da Igreja acredita que respeita a fé? Quem aban-
super quam Ecclesia fundata est [cf. Mt 16,18], dona a cátedra de Pedro, sobre o qual foi fundada a
deserit et resistit, in Ecclesia se esse confidit?”2 … Igreja [cf. Mt 16,18], e se <lhe> opõe, pode confiar
de estar na Igreja?”2 …
“Cum Deo manere non possunt, qui esse in Ec- “Não podem permanecer com Deus aqueles que
clesia Dei unanimiter noluerunt: ardeant licet não quiseram viver em unanimidade na Igreja de
flammis et ignibus traditi, vel obiecti bestiis ani- Deus: e mesmo se arderem levados a ferro e fogo
mam suam ponant: non erit illa fidei corona, sed ou derem a própria vida jogados aos animais fero-
poena perfidiae, nec exitus gloriosus, sed despera- zes, tal coisa não será a coroa da fé, mas o castigo
tionis interitus. Occidi talis potest, coronari non da infidelidade; nem será a chegada gloriosa, mas a
potest”3. … perdição desesperada. Uma tal pessoa pode ser
morta, ser coroada não pode.”3 …
“Peius schismatis crimen est quam quod hi, qui “O crime do cisma é pior que o daqueles que
sacrificaverunt; qui tamen in paenitentia criminis sacrificaram <aos deuses>; estes, de fato, uma vez
constituti Deum plenissimis satisfactionibus depre- estabelecidos em penitência por seu crime, supli-
cantur. Illic Ecclesia quaeritur et rogatur; hic Eccle- cam a Deus com pleníssimas satisfações. Lá se pro-
siae repugnatur. Illic qui lapsus est, sibi tantum no- cura e se pede à Igreja, aqui se faz oposição à Igre-
cuit; hic qui schisma facere conatur, multos secum ja. Lá quem caiu causou dano somente a si, aqui
trahendo decipit. Illic animae unius est damnum; quem tenta fazer um cisma engana a muitos, levan-
hic periculum plurimorum. Certe peccasse se hic do-os consigo. Lá há o dano de uma só alma, aqui,
intellegit et lamentatur et plangit; ille tumens in perigo para muitos. Um compreende que decerto
peccato suo et ipsis sibi delictis placens, a matre pecou, e lamenta e chora, outro, inchando-se em
filios segregat, oves a pastore sollicitat, Dei sacra- seu pecado e comprazendo-se nas próprias culpas,
menta disturbat, et cum lapsus semel peccaverit, hic separa os filhos da mãe, subleva as ovelhas contra
quotidie peccat. Postremo lapsus martyrium post- o pastor, destrói os sacramentos de Deus e, enquan-
modum consecutus, potest regni promissa percipere; to o que caiu pecou uma só vez, este peca todo dia.
hic, si extra Ecclesiam fuerit occisus, ad Ecclesiae Por fim, aquele que caiu, conseguindo mais tarde o
non potest praemia pervenire”4. martírio, pode receber as promessas do Reino;
<mas> este, se for morto fora da Igreja, não pode
chegar aos prêmios da Igreja”4.
167
470: III Sínodo de TOLEDO, iniciado 8 mai. 589: Profissão de fé do rei Recaredo
Junto desta profissão de fé são dignos de nota os 23 anatematismos contra a heresia ariana, bem como o “Filioque”
inserido na profissão de fé constantinopolitana, inserção encontrada pela primeira vez nos atos deste sínodo (MaC
9,981D / HaC 3,472A); parece todavia uma interpolação, pois falta em alguns manuscritos mais antigos, por exemplo
o Codex Lucensis (séc. IX); cf. J. Orlandis – D. Ramos-Lisson, Die Synoden auf der iberischen Halbinsel bis zum
Einbruch des Islam (711) (Konziliengeschichte, Reihe A: Darstellungen; Paderborn 1981) 109s, esp. nota 54.
Ed.: MaC 9, 978C-979A / HaC 3, 469D-470A / Hn § 177 / CVis 109 / CdLuc 44923-4506.
A divina Trindade
470 Confitemur esse Patrem, qui genuerit ex sua subs- Professamos existir um Pai, que gerou da sua
tantia Filium sibi coaequalem et coaeternum, non substância um Filho a ele coigual e coeterno, não
tamen ut ipse idem sit natus et genitor [natus inge- todavia no sentido de que o mesmo seja nascido e
nitus], sed persona alius sit Pater, qui genuit, alius genitor [nascido não gerado], mas que, segundo a
sit Filius, qui fuerit generatus, unius tamen uterque pessoa, um seja o Pai que gerou, outro o Filho que
substantiae divinitate subsistat: Pater, ex quo sit foi gerado, ambos todavia segundo a divindade sub-
Filius, ipse vero ex nullo sit alio; Filius, qui habeat sistindo de uma única substância: o Pai, de quem é
Patrem, sed sine initio et sine diminutione in ea, o Filho, não é de nenhum outro; o Filho, que tem
quia Patri coaequalis et coaeternus est, divinitate um Pai, subsiste todavia sem início e diminuição da
subsistat. Spiritus aeque Sanctus confitendus a no- divindade, porque é coigual e coeterno ao Pai. Igual-
bis et praedicandus est a Patre et a Filio procedere mente devemos confessar e pregar que o Espírito
et cum Patre et Filio unius esse substantiae; tertiam Santo procede do Pai e do Filho e que é de uma
vero in Trinitate Spiritus Sancti esse personam, qui única substância com o Pai e com o Filho; na Trin-
tamen communem habeat cum Patre et Filio divini- dade, portanto, a terceira pessoa é a do Espírito
tatis essentiam. Haec enim sancta Trinitas unus est Santo, que todavia tem em comum com o Pai e com
Deus, Pater et Filius et Spiritus Sanctus, cuius bo- o Filho a essência da divindade. Esta santa Trinda-
nitate, omnis [hominis] licet bona sit condita crea- de, de fato, é um único Deus, Pai e Filho e Espírito
tura [natura], per assumptam tamen a Filio humani Santo; e, embora por sua bondade cada criatura [a
habitus formam a damnata progenie reformamur ad natureza do homem] tenha sido criada boa, foi
beatitudinem pristinam. mediante a forma do estado humano assunta pelo
Filho, que nós, de progênie condenada, somos res-
tituídos à beatitude original.
168
eorum soliditatem non tenet, etiam si lapis esse cer- da santa fé e deve-se firmar <a construção> de toda
nitur, tamen extra aedificium iacet. a vida e ação; e todo aquele que não se firma na
solidez deles, mesmo que seja visto como uma pe-
dra, todavia está fora do edifício.
Quintum quoque concilium pariter veneror, in quo De igual modo venero também o quinto concílio,
Epistola quae Ibae dicitur erroris plena reprobatur, no qual é rejeitada <como> repleta de erros a carta
Theodorus [Mopsuestenus] personam Mediatoris que se diz de Ibas, é demonstrado que Teodoro [de
Dei et hominum in duabus subsistentiis separans ad Mopsuéstia], separando a pessoa do mediador entre
impietatis perfidiam cecidisse convincitur, scripta Deus e os homens em duas hipóstases, caiu no delito
quoque Theodoreti, per quae beati Cyrilli fides re- da impiedade, e também são refutados os escritos de
prehenditur, ausu dementiae prolata refutantur1. Teodoreto, nos quais, produtos de audácia desvaira-
da, se reprova a fé do bem-aventurado Cirilo1.
Cunctas vero quae praefata veneranda concilia Rejeito todos aqueles que os supraditos veneran-
personas respuunt, respuo, quas venerantur, amplec- dos concílios rejeitam, acato aqueles que eles vene-
tor, quia dum universali sunt consensu constituta, ram. Já que são fundados no consenso universal,
se et non illa destruit, quisquis praesumit aut solvere quem pretende desligar os que eles ligam ou ligar
quos religant aut ligare quos solvunt. Quisquis ergo os que eles desligam destrói a si mesmo, não a eles.
aliud sapit, anathema sit. Quem, pois, pensar diversamente seja anátema.
Simonia
… Agnovi quod in Galliarum vel Germaniae par- … Soube que, em certos lugares das Gálias e da 473
tibus nullus ad sacrum ordinem sine commodi da- Germânia, ninguém chega à ordem sagrada sem con-
tione perveniat. Quod si ita est, flens dico, gemens cessão de alguma doação. Estando as coisas assim,
denuntio, quia cum sacerdotalis ordo intus cecidit, digo-o chorando, com gemidos denuncio que, se a
foris quoque diu stare non poterit. Scimus quippe ordem sagrada caiu interiormente, também exterior-
ex Evangelio, quid Redemptor noster per semetip- mente não poderá resistir por muito tempo. Bem sa-
sum fecerit, quia ingressus templum cathedras ven- bemos, pelo Evangelho, o que fez o nosso Redentor
dentium columbas evertit [cf. Mt 21,12]. Columbas pessoalmente: entrou no templo e derrubou as ban-
enim vendere est de Spiritu Sancto, quem Deus cas dos vendedores de pombos [cf. Mt 21,12]. Pois
omnipotens consubstantialem sibi per impositionem vender os pombos significa tirar vantagem temporal
manuum hominibus tribuit, commodum temporale do Espírito Santo, que Deus onipotente, como con-
percipere. Ex quo, ut praedixi, malo iam innuitur, substancial a si, concede aos homens mediante a
quid sequatur, quia qui in templo Dei columbas imposição das mãos. E, que coisa siga deste mal já
vendere praesumpserunt, eorum, Deo iudice, cathe- foi indicado, como acima o disse, pois as bancas da-
drae ceciderunt. queles que ousaram vender pombos no templo de
Deus foram destruídos pelo juízo de Deus.
Qui videlicet error in subditis cum augmento Este erro, pelo visto, propaga-se em linha cres-
propagatur. Nam ipse quoque, qui pretio ad sacrum cente entre os súditos. De fato, aquele que por di-
honorem [ordinem] perducitur, iam in ipsa provectus nheiro é conduzido à sagrada honra [ordem], vicia-
sui radice vitiatus, paratior est aliis venumdare quod do já na própria raiz de sua promoção, fica muito
emit. Et ubi est quod scriptum est: “Gratis accepistis, mais disposto a vender a outros o que comprou. E
gratis date” [Mt 10,8]? onde permanece o que está escrito: “De graça rece-
bestes, de graça dai” [Mt 10,8]?
*472 1 Cf. o juízo oscilante sobre Teodoreto e Ibas no Concílio de Calcedônia, da parte de Vigilio e Pelágio I (*300°° 416° 444).
169
Et cum prima contra sanctam Ecclesiam simo- E, como a simonia surgiu como primeira heresia
niaca haeresis sit exorta, cur non perpenditur, cur contra a santa Igreja, por que não se reflete, por que
non videtur, quia eum, quem quis cum pretio ordinat, não se vê que quem ordena alguém por dinheiro, ao
provehendo agit, ut haereticus fiat? promovê-lo, faz com que se torne herege?
*474 1 Cf. p. ex. Agostinho, Enarrationes in Psalmos 6 [ad v. 1] (E. Dekkers – J. Fraipont: CpChL 38 [1956] 27); De diversis
quaestionibus LXXXIII libri, q. 60 65 (A. Mutzenbecher: CpChL 44A [1975] 119 147-149 / PL 40, 48 59s); De
Trinitate I 12 (W.J. Mountain – Fr. Glorie: CpChL 50 [1968] 61-68 / PL 42, 836-840).
170
Diem ergo et horam iudicii scit Deus et homo; sed negou ter. Portanto, o Deus e homem conhece o dia
ideo, quia Deus est homo. e a hora do juízo, mas isto, porque Deus é homem.
Res autem valde manifesta est, quia quisquis Nes- É, portanto, bem manifesto que quem não for 476
torianus non est, Agnoita esse nullatenus potest. nestoriano não pode absolutamente ser agnoeta.
Nam qui ipsam Dei Sapientiam fatetur incarnatam, Quem de fato professa que a mesma sabedoria de
qua mente valet dicere: esse aliquid, quod Dei Sa- Deus se encarnou, em que sentido pode dizer que
pientia ignoret? Scriptum est: “In principio erat Ver- existe alguma coisa que a sabedoria de Deus ignora?
bum, et Verbum erat apud Deum, et Deus erat Ver- Está escrito: “No princípio existia o Verbo, e o Verbo
bum. Omnia per ipsum facta sunt” [Io 1,1 3]. Si estava junto de Deus e Deus era o Verbo. Tudo foi
omnia, procul dubio etiam dies iudicii et hora. Quis feito por meio dele” [Jo 1,13]. Se tudo, então sem
ergo ita desipiat, ut dicere praesumat, quia Verbum dúvida também o dia e a hora do juízo. Quem seria
Patris fecit quod ignorat? Scriptum quoque est: portanto tão insensato de ousar dizer que o Verbo do
Sciens Iesus, quia omnia dedit ei Pater in manus [Io Pai fez o que ignora? Está também escrito: Sabendo
13,3]. Si omnia, profecto et iudicii diem et horam. Jesus que o Pai lhe tinha dado tudo nas mãos [Jo
Quis ergo ita stultus est, ut dicat, quia accepit Filius 13,3]. Se tudo, sem dúvida também o dia e a hora do
in manibus quod nescit? juízo. Quem seria portanto tão estulto de dizer que o
Filho recebeu nas mãos o que não conhece?
De eo vero loco, in quo mulieribus de Lazaro Quanto àquela passagem, na qual a respeito de
dicit: “Ubi posuistis eum?” [Io 11,34], ipsa specia- Lázaro ele diz às mulheres: “Onde o pusestes?” [Jo
liter sensimus, quae sensistis, quia si negant scisse 11,34], pensamos exatamente o mesmo que vós pen-
Dominum, ubi fuerat Lazarus sepultus, atque ideo sastes: que, se se diz que o Senhor não sabia onde
requisisse, procul dubio compelluntur fateri quia Lázaro tinha sido sepultado e que por isto fez a per-
nescivit Dominus, in quibus locis se Adam et Eva gunta, sem dúvida é forçoso admitir também que o
post culpam absconderant, cum in paradiso dixit: Senhor ignorava o lugar onde Adão e Eva se tinham
“Adam, ubi es?” [cf. Gn 3,9], aut cum Cain corripit escondido depois da culpa, quando no paraíso disse
dicens: “Ubi est Abel frater tuus?” [Gn 4,9]. Qui si “Adão, onde estás?” [cf. Gn 3,9]; ou então, quando
nesciebat, cur protinus adiunxit: “Sanguis fratris tui ralha com Caim dizendo: “Onde está Abel, teu irmão?”
de terra clamat ad me”? [Gn 4,9]. Se não o sabia, por que então acrescentou:
“O sangue de teu irmão brada a mim da terra”?
477: Carta “Litterarum tuarum primordia”, ao bispo Sereno de Marselha, out. 600
Em julho de 599 era mandada uma breve carta ao bispo Sereno, sobre a mesma questão (Registrum epistolarum IX
208 MGH, = IX 105 PL).
Ed.: MGH Epistulae II 2707-16 27115-19 (= Registrum epistolarum XI 10) / CpChL 140A, 873-875 (= Registrum
epistolarum XI 13) / PL 77, 1128BC 1129C (= Registrum epistolarum XI 13) / Graciano, Decretum, p. III, dist. 3, c.
27 (Frdb 1, 1360). – Reg.: JR 1800.
171
478-479: Carta “Quia caritati nihil”, aos bispos da Ibéria (Geórgia do Cáucaso),
por volta de 22 jun. 601
Ed.: [*478; *479]: MGH Epistulae II 32510-25 3274-12 32627-3274 (= Registrum epistolarum XI 52) / CpChL 140A,
952-955 (= Registrum epistolarum XI 52) / PL 77, 1205A-1206A 1207A 1207D-1208B (= Registrum epistolarum XI
67). – [Somente *478]: Graciano, Decretum, p. III, dist. 4, c. 44 84 (Frdb 1, 1380 1390). – Reg.: JR 1844.
172
Qui sincera intentione extraneos ad christianam Aqueles que com intenção sincera desejam levar 480
religionem, ad fidem cupiunt rectam adducere, blan- à reta fé os que estão longe da religião cristã devem
dimentis debent, non asperitatibus, studere, ne quo- se esforçar, com palavras atraentes, não ásperas, para
rum mentem reddita plana ratio poterat provocare, que um sentimento hostil não afaste aqueles cuja
pellat procul adversitas. Nam quicumque aliter agunt mente poderia ser estimulada pela apresentação de
et eos sub hoc velamine a consueta ritus sui volunt um raciocínio claro. De fato, os que agem de modo
cultura suspendere, suas illi magis quam Dei pro- contrário e com tal pretexto os queiram afastar do
bantur causas attendere. Iudaei siquidem Neapolim culto costumeiro do seu rito, demonstram empenhar-
habitantes questi Nobis sunt asserentes, quod qui- se mais pelos próprios interesses que por aqueles
dam eos a quibusdam feriarum suarum solemnibus de Deus. Até queixaram-se conosco alguns judeus
irrationabiliter nitantur arcere, ne illis sit licitum, que habitam em Nápoles, afirmando que alguns se
festivitatum suarum solemnia colere, sicut eis nunc empenham irracionalmente para impedir-lhes a ce-
usque et parentibus eorum longis retro temporibus lebração de algumas festas suas, <isto é> que a eles
licuit observare vel colere. Quod si ita se veritas não seja permitido celebrar as suas festas como até
habet, supervacuae rei videntur operam adhibere. agora a eles e, em tempos idos, a seus antepassa-
Nam quid utilitatis est, quando, etsi contra longum dos, era lícito observar e celebrar. Se isso for verda-
usum fuerint vetiti, ad fidem illis et conversionem de, <aqueles> parecem gastar seu esforço por algo
nihil proficit? Aut cur Iudaeis, qualiter caeremonias totalmente inútil. De fato, que utilidade traz proi-
suas colere debeant, regulas ponimus, si per hoc eos bir-lhes um antigo costume, se <isso> de nada lhes
lucrari non possumus? aproveita para a fé e a conversão? Ou por que esta-
belecermos para os judeus regras como devam ce-
lebrar suas festividades, se com isto não podemos
ganhá-los?
Agendum ergo est, ut ratione potius et mansue- Deve-se agir, portanto, de modo que, antes pro-
tudine provocati sequi nos velint, non fugere, ut vocados pela razão e pela mansidão, queiram se-
eis ex eorum Codicibus ostendentes quae dicimus guir-nos <e> não fugir, para que, mostrando-lhes
ad sinum matris Ecclesiae Deo possimus adiuvan- pelos seus escritos o que nós afirmamos, os possa-
te convertere. Itaque fraternitas tua eos monitis mos, com o auxílio de Deus, converter para o seio
quidem, prout potuerit Deo adiuvante, ad conver- da Mãe Igreja. Por isso, a tua fraternidade, quanto
tendum accendat et de suis illos solemnitatibus in- puder, com o auxílio de Deus, com conselhos os
quietari denuo non permittat, sed omnes festivi- anime à conversão e não permita que sejam de novo
tates feriasque suas, sicut hactenus … tenue- perturbados por motivo de suas festividades, mas
173
runt, liberam habeant observandi celebrandique tenham a livre concessão de observar e de celebrar
licentiam. todas as suas comemorações e festas como até ago-
ra … o têm feito.
Símbolo trinitário-cristológico
485 (cap. 1) Secundum divinas Scripturas et doctri- (Cap.1) Em conformidade com as Escrituras di-
nam, quam a sanctis Patribus accepimus, Patrem et vinas e a doutrina que recebemos dos santos Pa-
Filium et Spiritum Sanctum unius deitatis atque dres, confessamos <que> o Pai e o Filho e o Espí-
substantiae confitemur; in personarum diversitate rito Santo <são> de uma só divindade e substância;
trinitatem credentes, in divinitate unitatem praedi- crendo a Trindade na diversidade das pessoas e
cantes, nec personas confundimus nec substantiam anunciando na divindade a unidade, nem confundi-
separamus. Patrem a nullo factum vel genitum dici- mos as pessoas, nem separamos a substância. Dize-
mus, Filium a Patre non factum sed genitum asseri- mos que o Pai não foi feito ou gerado por ninguém,
mus, Spiritum vero Sanctum nec creatum nec geni- afirmamos que o Filho não foi feito, mas gerado
tum, sed procedentem ex Patre et Filio profitemur, pelo Pai; do Espírito Santo professamos que não
ipsum autem Dominum nostrum Iesum Christum foi nem criado nem gerado, mas procede do Pai e
Filium Dei et creatorem omnium, ex substantia Pa- do Filho; e quanto ao próprio Senhor nosso Jesus
tris ante saecula genitum, descendisse ultimo tem- Cristo, Filho de Deus e criador de tudo, gerado da
pore pro redemptione mundi a Patre, qui numquam substância do Pai antes dos séculos, <professamos>
desiit esse cum Patre; incarnatus est enim ex Spiritu que nos últimos tempos desceu do Pai para a reden-
Sancto et sancta gloriosa Dei genitrice virgine Ma- ção do mundo, ele que jamais cessou de estar com
ria et natus ex ipsa solus; idem Christus Dominus o Pai; de fato, encarnou-se, do Espírito Santo e da
Iesus unus de sancta Trinitate anima et carne per- santa gloriosa Genitora de Deus, a virgem Maria, e
fectum sine peccato suscipiens hominem, manens só ele nasceu dela; o mesmo Cristo, o Senhor Je-
quod erat, assumens quod non erat, aequalis Patri sus, um da santa Trindade, assumiu sem pecado o
secundum divinitatem, minor Patri secundum huma- homem perfeito, em alma e carne, permanecendo o
nitatem, habens in una persona duarum naturarum que era e assumindo o que não era; igual ao Pai na
proprietates; naturae enim in illo duae, Deus et homo, divindade e inferior ao Pai na humanidade, ele tem
non autem duo filii et dii duo, sed idem una persona em uma única pessoa as propriedades de duas natu-
in utraque natura; perferens passionem et mortem rezas; nele de fato, há duas naturezas, Deus e ho-
pro nostra salute, non in virtute divinitatis, sed in mem, não porém dois filhos e dois deuses, mas o
infirmitate humanitatis, descendit ad inferos, ut sanc- mesmo é uma só pessoa em duas naturezas; ele
tos, qui ibidem tenebantur, erueret, devictoque mor- padeceu sofrimentos e morte pela nossa salvação,
tis imperio resurrexit; assumptus deinde in caelos não pela força da divindade, mas pela fraqueza da
venturus est in futuro ad iudicium vivorum et mor- humanidade; ele desceu aos ínferos para livrar os
tuorum; cuius morte et sanguine mundati remissio- santos que ali estavam retidos e, depois de ter ven-
nem peccatorum consecuti sumus, resuscitandi ab cido o império da morte, ressuscitou; elevado, de-
eo in die novissima in ea qua nunc vivimus carne et pois, ao céu, virá no futuro para o juízo dos vivos
174
in ea qua resurrexit idem Dominus forma, perceptu- e dos mortos; purificados pela sua morte e pelo seu
ri ab ipso, alii pro iustitiae meritis vitam aeternam, sangue, conseguimos a remissão dos pecados, para
alii pro peccatis supplicii aeterni sententiam. sermos ressuscitados por ele no último dia, na car-
ne na qual ora vivemos e na forma na qual o mes-
mo Senhor ressuscitou; uns receberão dele a vida
eterna, pelos merecimentos da justiça, os outros, por
causa do pecado, a condenação do suplício eterno.
Haec est catholicae Ecclesiae fides, hanc confes- Esta é a fé da Igreja católica; esta confissão de fé,
sionem conservamus atque tenemus, quam quisquis nós a conservamos e sustentamos; quem a tiver guar-
firmissime custodierit perpetuam salutem habebit. dado com grande firmeza, terá a salvação perpétua.
175
peccatum creata est, non quae post praevaricationem culpa; aquela, decerto, com os efeitos com que foi
vitiata. Christus enim … sine peccato conceptus de criada antes de cair no pecado, não a viciada depois
Spiritu Sancto etiam absque peccato est partus de da queda. Cristo, de fato, concebido sem pecado
sancta et immaculata Virgine Dei genitrice, nullum pelo Espírito Santo, foi dado à luz, também sem
experiens contagium vitiatae naturae. … Nam lex pecado, pela santa e imaculada Virgem, genitora de
alia in membris, aut voluntas diversa non fuit vel Deus, sem experimentar qualquer contágio com a
contraria Salvatori, quia super legem natus est hu- natureza viciada. … De fato, nos seus membros não
manae condicionis. … houve outra lei, nem algum querer diferente ou
contrário ao Salvador, pois ele nasceu acima da lei
da condição humana. …
Quia Dominus Iesus Christus, Filius ac Verbum Que o Senhor Jesus Cristo, Filho e Verbo de Deus,
Dei, “per quem facta sunt omnia” [Io 1,3], ipse sit “por meio do qual tudo foi feito” [Jo 1,3], seja ele
unus operator divinitatis atque humanitatis, plenae mesmo o único operador da divindade e da humani-
sunt sacrae litterae luculentius demonstrantes. Utrum dade, o demonstram claramente todas as sagradas Es-
autem propter opera divinitatis et humanitatis, una crituras. Se, ao invés, por meio das obras da divinda-
an geminae operationes debeant derivatae dici vel de e da humanidade, se deva falar ou pensar em uma
intelligi, ad nos ista pertinere non debent; reliquen- só ou em duas operações derivadas, não deve ser
tes ea grammaticis, qui solent parvulis exquisita de- importante para nós; deixamos a questão para os
rivando nomina venditare. Nos enim non unam ope- mestres da gramática, que estão acostumados a ven-
rationem vel duas Dominum Iesum Christum eius- der às crianças os conceitos adquiridos por derivação.
que Sanctum Spiritum sacris litteris percepimus, sed Nós, entretanto, pelas sagradas Escrituras não apren-
multiformiter cognovimus operatum. demos que o Senhor Jesus Cristo e o seu Santo Espí-
rito <obraram> uma única ou duas operações, mas
reconhecemos que de modo multiforme operaram.
488: Carta “Scripta dilectissimi filii”, ao mesmo Sérgio de Constantinopla, ano 634
Segundo C. Silva Tarouca, a carta não é autêntica: Greg 12 (1931) 44–46.
Ed.: MaC 11, 579D-582A / HaC 3, 1351E-1354B / PL 80, 475A-C (= carta 5). – Reg.: JR 2024 com acréscimos.
176
confiteri: et pro duabus operationibus, ablato gemi- em ambas as naturezas, e no lugar das duas opera-
nae operationis vocabulo, ipsas potius duas naturas, ções, eliminando o conceito da dupla operação, se
id est divinitatis et carnis assumptae, in una perso- deve antes pregar conosco que as mesmas duas na-
na unigeniti Dei Patris inconfuse, indivise, atque turezas, isto é, a da divindade e a da carne assunta,
inconvertibiliter nobiscum praedicare propria na única pessoa do Unigênito de Deus Pai operam
operantes. o que lhes é próprio, de modo inconfundível, indi-
viso e imutável.
177
na, cum Patre et Spirito Sancto natura, ac sicut di- pessoa, e do homem assunto, mediante a natureza;
ximus, ex duabus naturis et una persona unus est igualmente, ele é um com este homem na pessoa,
Dominus noster Iesus Christus, in forma divinitatis <um> com o Pai e o Espírito Santo na natureza, e
aequalis Patri, in forma servi minor Patre; hinc enim o nosso Senhor Jesus Cristo é, como temos dito,
est vox eius in Psalmo [21,11]: “De ventre matris pelas duas naturezas e em uma pessoa, uno, igual
meae Deus meus es tu”. Natus itaque a Deo sine ao Pai na força da divindade, inferior ao Pai na
matre, natus a virgine sine patre solus, “Verbum caro forma do servo; daí, de fato, a sua palavra no Sal-
factum est et habitavit in nobis” [Io 1,14]; et cum mo [22,11]: “Desde o seio de minha mãe és tu o
tota cooperata sit Trinitas formationem suscepti meu Deus”. Só ele, portanto, nasceu de Deus sem
hominis, quoniam inseparabilia sunt opera Trinita- mãe, nasceu da Virgem sem pai, e “o Verbo se fez
tis, solus tamen accepit hominem in singularitate carne e habitou entre nós” [Jo 1,14]; e, se bem que
personae, non in unitate divinae naturae, in id quod a inteira Trindade tenha cooperado para a forma-
est proprium Filii, non quod commune Trinitati; nam ção do homem assunto, já que as obras da Trindade
si naturam hominis Deique alteram in altera confu- são inseparáveis, todavia só ele, na singularidade
disset, tota Trinitas corpus assumpsisset, quoniam da pessoa, não na unidade da natureza divina, assu-
constat naturam Trinitatis esse unam, non tamen miu o homem no que é próprio do Filho, não no
personam. que é comum à Trindade; de fato, se tivesse con-
fundido uma com a outra as naturezas do homem e
de Deus, a inteira Trindade teria assumido o corpo,
já que consta que a natureza da Trindade é una,
mas não a pessoa.
492 Hic igitur Dominus Iesus Christus missus a Pa- Este Senhor Jesus Cristo, portanto, enviado pelo
tre, suscipiens quod non erat, nec amittens quod erat, Pai, acolhendo o que não era sem perder o que era,
inviolabilis de suo, mortalis de nostro, venit in hunc inviolável pela sua realidade, mortal pela nossa, veio
mundum peccatores salvos facere et credentes ius- a este mundo para salvar os pecadores e justificar
tificare, faciensque mirabilia, traditus est propter os que crêem; e ele fez milagres, foi preso por cau-
delicta nostra, mortuus est propter expiationem sa dos nossos delitos, morreu pela nossa expiação,
nostram, resurrexit propter iustificationem nostram, ressuscitou pela nossa justificação; pelas suas cha-
cuius livore sanati [Is 53,5], cuius morte Deo Patri gas fomos curados [Is 53,5], mediante a sua morte
reconciliati, cuius resurrectione sumus resuscitati; reconciliados com Deus Pai e ressuscitados median-
quem etiam venturum in fine exspectamus saeculo- te a sua ressurreição; esperamos, também, que ele
rum et cum resurrectione omnium aequissimo suo venha no fim dos tempos e, com a ressurreição de
iudicio redditurum iustis praemia et impiis poenas. todos, por seu justíssimo juízo dará aos justos o
prêmio e aos ímpios, os castigos.
493 Ecclesiam quoque catholicam credimus sine Cremos também que a Igreja católica, sem man-
macula in opere et absque ruga [cf. Eph 5,23-27] in cha no operar e sem ruga [cf. Ef 5,23-27] na fé, é
fide corpus eius esse, regnumque habituram cum o seu corpo e que possuirá o reino, com a sua Ca-
Capite suo omnipotente Christo Iesu, postquam hoc beça, o onipotente Cristo Jesus, depois que esta
corruptibile induerit incorruptionem et mortale realidade corruptível se tiver vestido com a incor-
immortalitatem [1 Cor 15,53] “ut sit Deus omnia in rupção e esta realidade mortal, com a imortalidade
omnibus” [ib. 15,28]. [1Cor 15,53], “a fim de que Deus seja tudo em
todos” [ib. 15,28].
Hac fide corda purificantur [cf. Act 15,9], hac Por meio desta fé são purificados os corações [cf.
haereses exstirpantur, in hac omnis Ecclesia collo- At 15,9], mediante ela são extirpadas as heresias,
cata iam in regno caelesti et degens in saeculo prae- nela, a Igreja inteira já toma lugar no reino celeste
senti gloriatur, et non est in alia fide salus: “Nec e, permanecendo <ainda> no século presente, se glo-
enim nomen aliud est sub caelo datum hominibus, ria; e não há salvação em outra fé: “Pois não foi
in quo oporteat nos salvos fieri” [Act 4,12]. dado aos homens outro nome debaixo do céu, no
qual devamos ser salvos” [At 4,12].
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179
tum natura et non etiam de divina natura docere gundo se sabe, ele ensina sobre a natureza humana e
sciatur: … debet qui super hoc ambigit scire, quo- não também sobre a divina, … quem faz disto um
niam ad hoc facta est responsio ad iam dicti patriar- problema deve saber que, quanto a isso, já foi dada
chae interrogationem. Praeterea et hoc fieri solet, uma resposta à pergunta do patriarca acima mencio-
ut scilicet ubi est vulnus, ibi medicinale occurrat nado. Além disso, acontece muitas vezes que justa-
auxilium. Nam et beatus Apostolus hoc saepe fecisse mente lá onde está a ferida também se aplica o auxí-
dignoscitur, se secundum auditorum consuetudinem lio da medicina. De fato, também o bem-aventurado
praeparans; et aliquando quidem de suprema natura Apóstolo evidentemente assim o fez, muitas vezes,
docens, de humana penitus tacet; aliquando vero de adaptando-se ao que preocupava os ouvintes; uma vez,
humana dispensatione disputans, mysterium divini- ministrando ensinamentos a respeito da natureza su-
tatis eius non tangit. … prema, cala-se completamente a respeito da humana,
outra vez, ao contrário, falando do operar salvífico
humano, não toca no mistério da sua divindade …
498 Praedictus ergo decessor meus docens de myste- Por isso, meu referido predecessor, ensinando a res-
rio incarnationis Christi dicebat, non fuisse in eo, peito do mistério da encarnação de Cristo, dizia que
sicut in nobis peccatoribus, mentis et carnis contra- nele não há, como em nós pecadores, vontades con-
rias voluntates. Quod quidam ad proprium sensum trárias, a da mente e a da carne. Alguns deformaram
convertentes, divinitatis eius et humanitatis unam isso no sentido de sua própria opinião, supondo que
eum voluntatem docuisse suspicati sunt, quod veri- tenha ensinado uma só vontade da sua divindade e
tati omnimodis est contrarium. humanidade, o que é totalmente contrário à verdade.
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humanam, in approba- dy1 o ta2 kata2 fy1 s in duas vontades naturais, assim também as duas
tione perfecta et indimi- uelh1mata uei9o1n te kai2 a divina e a humana, vontades segundo a na-
nuta eundem veraciter a3nurv1pinon, kai2 dy1o para confirmar perfeita- tureza, a divina e a hu-
esse perfectum Deum et ta2w fysika2w e3nergei1aw, mente e sem restrição mana, e as duas opera-
hominem perfectum se- uei1an te kai2 a3nurv- que o mesmo e único ções naturais, a divina e
cundum veritatem, eun- pi1nhn, ei3w pi1stvsin nosso Senhor e Deus a humana, para confir-
dem atque unum Domi- e3ntelh9 kai2 a3para1leip- Jesus Cristo é verdadei- mar perfeitamente e sem
num nostrum et Deum ton, toy9, Ueo2n fy1sei ramente perfeito Deus e restrição que o mesmo e
Iesum Christum, utpote te1leion a3lhuv9w, mo1nhw perfeito homem, visto único nosso Senhor e
volentem et operantem di1xa th9w a4marti1aw, to2n que ele quis e operou, Deus Jesus Cristo é ver-
divine et humane nos- ay3to2n kai2 e7na ky1rion divina e humanamente, dadeiramente Deus, per-
tram salutem, h4mv9n kai2 Ueo2n 3Ihsoy9n a nossa salvação, feito por natureza, exce-
Xristo2n y4pa1rxein, v4w to só o pecado, visto que
ue1lonta1 te kai2 e3nergoy9n- ele quis e ao mesmo
ta ueïkv9 w a7 m a kai2 tempo operou, divina e
a3nurvpikv9w th2n h4mv9n humanamente, a nossa
svthri1an, salvação,
[continua a profissão de Calcedônia:] como antes os profetas a respeito dele … / kaua1per a5nvuen oi4
profh9tai peri2 ay3toy9 … / sicut superius prophetae de eo …
b) Cânones
Condenação de erros a respeito da Trindade e Cristo
Can. 1. Si quis se- a’. Ei5 tiw oy3x o4molo- Cân. 1: Se alguém não Cân. 1: Se alguém 501
cundum sanctos Patres gei9 kata2 toy2w a4gi1oyw professa, de acordo com não professa, de acordo
non confitetur proprie et pate1raw kyri1vw kai2 os Santos Padres, em com os Santos Padres,
veraciter Patrem et Fi- a3 l huv9 w pate1 r a kai2 sentido próprio e verda- em sentido próprio e
lium et Spiritum Sanc- yi4on2 kai2 pney9ma a7gion, deiro, Pai e Filho e Es- verdadeiro, Pai e Filho
tum, trinitatem in unita- tria1da e3n mona1di, kai2 pírito Santo, Trindade e Espírito Santo, Trinda-
te et unitatem in trinita- mona1 d a e3 n tria1 d i, em unidade e unidade de em unidade e unida-
te, hoc est, unum Deum toyte1stin e7na Ueo2n e3n em Trindade, isto é, um de em Trindade, isto é,
in tribus subsistentiis trisi2 n y4 p osta1 s esin só Deus em três subsis- um só Deus em três hi-
consubstantialibus et o4mooysi1oiw kai2 o4mo- tências consubstanciais e póstases consubstanciais
aequalis gloriae, unam do1joiw, mi1an kai2 th2n de igual glória, uma só e da mesma glória, uma
eandemque trium deita- ay3th2n tv9n triv9n ueo1th- e mesma divindade dos só e mesma divindade
tem, naturam, substan- ta, fy1 s in, oy3 s i1 a n, três, natureza, substân- dos três, natureza, subs-
tiam, virtutem, poten- dy1 n amin, kyrio1 t hta, cia, força, poder, reino, tância, força, senhorio,
tiam, regnum, impe- basilei1an, e3joysi1an, império, vontade, opera- reino, autoridade, domí-
rium, voluntatem, ope- ue1 l hsin, e3 n e1 r geian, ção, incriada, sem prin- nio, vontade, operação,
rationem, inconditam, despotei1an, a5ktiston, cípio, incompreensível, soberania não criada,
sine initio, incompre- a5narxon, a5peiron, a3na- imutável, criadora e pro- sem princípio, ilimitada,
hensibilem, immutabi- lloi1vton, dhmioyrgi- tetora de todos, seja con- imutável, produtora dos
lem, creatricem om- kh2n tv9n o5ntvn, kai2 pro- denado. entes, previdente e os
nium et protectricem, nohtikh1n, kai2 synek- mantendo juntos, seja
condemnatus sit. tikh1n, ei5h kata1kritow. condenado.
Can. 2. Si quis se- b’. Ei5 tiw oy3x o4molo- Cân. 2: Se alguém Cân. 2: Se alguém 502
cundum sanctos Patres gei9 kata2 toy2w a4gi1oyw não professa, de acordo não professa, de acordo
non confitetur proprie et pate1raw kyri1vw kai2 com os santos Padres, com os santos Padres,
secundum veritatem ip- a3lhuv9w ay3to2n to2n e7na em sentido próprio e em sentido próprio e
sum unum sanctae et th9w a4gi1aw kai2 o4mooy- verdadeiro, que o mes- verdadeiro, que o mes-
consubstantialis et ve- si1oy kai2 proskynhth9w mo Deus Verbo, um da mo Deus Verbo, um da
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Patre incorporaliter et ai3v1nvn e3k toy9 Ueoy9 to antes dos tempos, do <nascimento> antes dos
sempiternaliter, quam- kai2 patro2w a3svma1tvw, Deus e Pai, sem corpo e séculos, do Deus e Pai,
que de sancta virgine kai2 a3 di1vw, kai2 th2n e3k sempiternamente, co- sem corpo e eterno, e o
semper Dei genitrice th9w a4gi1aw a3eiparue1noy mo, da santa sempre vir- <nascimento>, da santa
Maria corporaliter in Mari1aw sarkikv9w e3p’ gem genitora de Deus sempre virgem Maria,
ultimis saeculorum, at- e3sxa1tvn tv9n ai3v1nvn Maria, no corpo, no fim na carne, no fim dos
que unum eundemque kai2 to2n ay3to2n kai2 e7na dos tempos; e que o tempos; e que o mesmo
Dominum nostrum et ky1rion h4mv9n kai2 Ueo2n único e mesmo Senhor e único Senhor nosso e
Deum Iesum Christum I3 hsoy9n Xristo2n o4mo- nosso e Deus Jesus Cris- Deus Jesus Cristo é con-
consubstantialem Deo oy1 s ion tö9 Ueö9 kai2 to é consubstancial ao substancial ao Deus e
et Patri secundum dei- patri2 kata2 th2n ueo1- Deus e Pai segundo a Pai segundo a divinda-
tatem, et consubstantia- thta, kai2 o4mooy1sion tü9 divindade e consubstan- de e consubstancial à
lem homini et matri se- parue1 n ö kai2 mhtri2 cial ao homem e à mãe Virgem e mãe segundo
cundum humanitatem, kata2 th2n a3nurvpo1thta, segundo a humanidade; a humanidade, e que o
atque eundem passibi- kai2 to2n ay3to2n pauhto2n e que o mesmo é passí- mesmo é passível quan-
lem carne, et impassibi- sarki1, a3pauh9 ueo1thti, vel quanto à carne e não to à carne, não passível
lem deitate, circum- perigrapto2n sv1mati, passível quanto à divin- quanto à divindade, cir-
scriptum corpore, incir- a3peri1grapton pney1ma- dade, circunscrito quan- cunscrito quanto ao cor-
cumscriptum deitate, ti, to2n ay3to2n a5ktiston to ao corpo, incircuns- po, incircunscrito quan-
eundem inconditum et kai2 ktisto1n, e3pi1geion crito quanto à divinda- to ao espírito; que o
conditum, terrenum et kai2 oy3ra1nion, o4rv1me- de; que o mesmo é não mesmo é não criado e
caelestem, visibilem et non kai2 nooy1 m enon, criado e criado, terreno criado, terreno e celes-
intellegibilem, capabi- xvrhto2n kai2 a3xv1rhton, e celeste, visível e inte- te, visível e inteligível,
lem et incapabilem, ut i7na o7lö a3nurv1pö tö9 ligível, concebível e in- concebível e inconcebí-
toto homine eodemque ay3tö9 kai2 Ueö9, o7low concebível, para que pe- vel, para que pelo <mes-
et Deo totus homo re- a5nurvpow a3naplasuü9 o4 lo <mesmo> que é intei- mo> que é inteiro ho-
formaretur, qui sub pec- pesv9n y4po2 th2n a4mar- ro homem e Deus seja mem e Deus seja refor-
cato cecidit, condemna- ti1an, ei5h kata1kritow. reformado o homem in- mado o homem inteiro
tus sit. teiro que caiu no peca- que caiu no pecado, seja
do, seja condenado. condenado.
Can. 5. Si quis secun- e’. Ei5 tiw oy3x o4molo- Cân. 5: Se alguém Cân. 5: Se alguém não 505
dum sanctos Patres non gei9 kata2 toy2w a4gi1oyw não professa, de acordo professa, de acordo com
confitetur proprie et se- pate1raw kyri1vw kai2 com os santos Padres, os santos Padres, em sen-
cundum veritatem unam a3lhuv9w mi1an fy1sin toy9 em sentido próprio e tido próprio e verdadei-
naturam Dei Verbi in- Ueoy9 lo1goy sesarkv- verdadeiro, encarnada a ro, que <a expressão>
carnatam, per hoc quod me1nhn, dia2 toy9 sesar- única natureza de Deus “uma só natureza encar-
incarnata dicitur nostra kvme1 n hn ei3 p ei9 n , th9 w Verbo, pelo que se diz nada de Deus Verbo”, ao
substantia perfecte in kau’ h4 m a9 w oy3 s i1 a w que a nossa substância dizer “encarnada”, indi-
Christo Deo et indimi- e3ntelv9w e3n ay3tö9 Xris- se encarnou, perfeita- ca a substância própria de
nute, absque tantummo- tö9 tö9 Ueö9, kai2 a3para- mente e sem diminui- nós, perfeitamente e sem
do peccato significata, lei1ptvw, mo1nhw di1xa ção, em Cristo Deus, to- diminuição, no mesmo
condemnatus sit. th9w a4marti1aw shmai1- davia exceto só o peca- Cristo Deus, exceto só o
nein, ei5h kata1kritow. do, seja condenado. pecado, seja condenado.
Can. 6. Si quis secun- w’. Ei5 tiw oy3x o4molo- Cân. 6: Se alguém Cân. 6: Se alguém não 506
dum sanctos Patres non gei9 kata2 toy2w a4gi1oyw não professa, de acordo professa, de acordo com
confitetur proprie et se- pate1raw kyri1vw kai2 com os Santos Padres, os Santos Padres, em
cundum veritatem, ex a3lhuv9w e3k dy1o fy1sevn, em sentido próprio e sentido próprio e verda-
duabus et in duabus na- ueo1thtow kai2 a3nurvpo1- verdadeiro, que o único deiro, que o mesmo e
turis substantialiter uni- thtow, kai2 e3n dysi2 fy1- e mesmo Senhor Jesus único Senhor nosso e
tis inconfuse et indivise sesi, ueo1thti kai2 a3nu- Cristo é de duas e em Deus Jesus Cristo é de
unum eundemque esse rvpo1thti, kau’ y4po1s- duas naturezas, subs- duas naturezas, divinda-
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Christi Dei nostri volun- Ueoy9 ta2 uelh1 m ata coerentemente unidas do des coerentemente uni-
tates cohaerenter unitas, symfyv9 w h4 n vme1 n a único e mesmo Cristo das do único e mesmo
divinam et humanam, uei9o1n te kai2 a3nurv1- nosso Deus, a divina e a Cristo Deus, a divina e
ex hoc quod per utram- pinon dia2 to2 kau’ humana, pelo fato de que a humana, pelo fato de
que eius naturam volun- e4kate1ran ay3toy9 fy1sin ele mesmo, segundo ca- que ele mesmo, segun-
tarius naturaliter idem uelhtiko2n kata2 fy1sin da natureza sua, de mo- do cada natureza sua, de
consistit nostrae salutis, to2n ay3to2n y4pa1rxein th9w do natural, está queren- modo natural, está que-
condemnatus sit. h4 m v9 n svthri1 a w, ei5 h do a nossa salvação, seja rendo a nossa salvação,
kata1kritow. condenado. seja condenado.
Can. 11. Si quis se- ia’. Ei5 tiw oy3x o4mo- Cân. 11: Se alguém Cân. 11: Se alguém 511
cundum sanctos Patres logei9 kata2 toy2w a4gi1oyw de acordo com os San- não professa de acordo
non confitetur proprie et pate1raw kyri1vw kai2 tos Padres não professa, com os Santos Padres,
secundum veritatem a3lhuv9w dy1o toy9 ay3toy9 em sentido próprio e própria e verdadeira-
duas unius eiusdemque kai2 e4no2w Xristoy9 toy9 segundo a verdade, do mente, do mesmo e úni-
Christi Dei nostri ope- Ueoy9 ta2 w e3 n ergei1 a w único e mesmo Cristo co Cristo Deus, duas
rationes cohaerenter symfyv9 w h4 n vme1 n aw, nosso Deus, duas ope- operações coerentemen-
unitas, divinam et hu- uei1an kai2 a3nurvpi1nhn rações unidas sem inter- te unidas, a divina e a hu-
manam, ab eo quod per dia2 to2 kau’ e4kate1ran rupção, a divina e a hu- mana, pelo fato de que
utramque eius naturam ay3toy9 fy1sin e3nerghti- mana, pelo fato de que ele, segundo cada uma
operator naturaliter ko2n to2n ay3to2n y4pa1rxein ele, por cada uma de de suas naturezas, é o
idem exsistit nostrae sa- th9w svthri1aw h4mv9n, ei5h suas naturezas, de modo operador da nossa salva-
lutis, condemnatus sit. kata1kritow. natural é o operador da ção, seja condenado.
nossa salvação, seja
condenado.
Can. 12. Si quis se- ib’. Ei5 tiw o4mologei9 Cân. 12: Se alguém Cân. 12: Se alguém 512
cundum scelerosos hae- kata2 toy2w e3nagei9w ai4re- professa, de acordo com professa, de acordo com
reticos unam Christi Dei tikoy2w th9w te ueo1thtow os iníquos hereges, uma os ímpios hereges, uma
nostri voluntatem confi- kai2 th9w a3nurvpo1thtow só vontade e uma só só natureza da divinda-
tetur et unam operatio- toy9 Xristoy9 mi1 a n operação em Cristo, de e da humanidade de
nem, in peremptionem fy1sin, h6 mi1an ue1lhsin, nosso Deus, anulando a Cristo, ou uma só vonta-
sanctorum Patrum con- h6 mi1an e3ne1rgeian, ei3w profissão de fé dos san- de ou uma só operação,
fessionis, et abnegatio- a3natroph2n me2n th9w tv9n tos Padres e negando a subvertendo a profissão
nem eiusdem Salvatoris a4gi1vn patrv9n o4molo- dispensação salvífica do de fé dos santos Padres,
nostri dispensationis, gi1aw, a3ue1thsin de2 th9w mesmo nosso Salvador, negando a economia do
condemnatus sit. ay3 t oy9 toy9 svth9 r ow seja condenado. mesmo nosso Salvador,
h4mv9n oi3konomi1aw, ei5h seja condenado.
kata1kritow.
Can. 13. Si quis se- ig’. Ei5 tiw kata2 toy2w Cân. 13: Se alguém, Cân. 13: Se alguém, 513
cundum scelerosos hae- e3 n agei9 w ai4 r etikoy2 w de acordo com os iní- de acordo com os iní-
reticos in Christo Deo in tai9w e3pi2 Xristoy9 toy9 quos hereges, visto que quos hereges, além das
unitate sustantialiter sal- Ueoy9 kau’ e7 n vsin em Cristo Deus são sal- duas vontades e duas
vatis et a sanctis Patri- oy3sivdv9w svzome1naiw, vaguardadas substancial- operações, a divina e a
bus nostris pie praedica- kai2 toi9w a4gi1oiw patra1- mente na unidade e pia- humana, salvaguarda-
tis duabus voluntatibus sin h4mv9n ey3sebv9w kh- mente ensinadas na pre- das em Cristo Deus
et duabus operationibus, ryttome1 n aiw dy1 o ue- gação dos nossos santos substancialmente se-
divina et humana, con- lh1sesi kai2 dy1o e3ner- Padres duas vontades, a gundo a unidade e a nós
tra doctrinam Patrum, et gei1 a iw, uei1 ä te kai2 divina e a humana, con- piamente ensinadas na
unam voluntatem atque a3 n urvpi1 n ü, e3 p idia- trariamente à doutrina pregação dos nossos
unam operationem con- ta1ttetai synomologei9n dos Padres, professar santos Padres, junta-
fitetur, condemnatus sit. ay3tai9w para2 th2n e3kei1- uma só vontade e opera- mente com estas, con-
nvn didakali1an kai2 ção, seja condenado. trariamente ao ensina-
185
186
operationibus, hoc est, uelh1sevn kai2 dy1o e3ner- mente na unidade e pia- cialmente segundo a
divina et humana, dis- geiv9n, uei1aw kai2 a3nu- mente ensinadas na pre- unidade e piamente en-
sensiones et divisiones rvpi1nhw, dixonoi1aw kai2 gação dos santos Padres, sinadas na pregação dos
insipienter mysterio dis- diaire1seiw a3fro1nvw tö9 liga tolamente, ao mis- Santos Padres, atribui
pensationis eius innec- kat ay3tv9n mysthri1ö tério de sua dispensação tolamente, ao mistério
tit, et propterea evange- prostri1betai, kai2 dia2 salvífica, contradições e que a isto se refere, con-
licas et apostolicas de toy9to ta2w ey3aggelika2w divisões; e por isso atri- tradições e divisões; e
eodem Salvatore voces kai2 a3postolika2w peri2 bui as afirmações dos por isso <atribui> as
non uni eidemque per- ay3toy9 toy9 svth9row fv- Evangelhos e dos Após- afirmações dos Evange-
sonae et essentialiter tri- na1w, oy3x e4ni2 kai2 tö9 tolos sobre o mesmo lhos e dos Apóstolos so-
buit eidem ipsi Domino ay3tö9 tö9 kyri1ö h4mv9n Salvador não à única e bre o mesmo Salvador
et Deo nostro Iesu kai2 Ueö9 3Ihsoy9 Xristö9 mesma pessoa, e essen- não ao único e mesmo
Christo secundum bea- kata2 Ky1 r illon to2 n cialmente o mesmo Se- Senhor e Deus nosso
tum Cyrillum, ut osten- a3oi1dimon ei3w pi1stvsin nhor e Deus nosso Jesus Jesus Cristo, segundo o
datur Deus esse et homo toy9 Ueo2n ei0nai fy1sei Cristo, segundo o bem- ilustre Cirilo, para con-
idem naturaliter, con- kai2 a5nurvpon a3lhuv9w aventurado Cirilo, para firmar que ele é por na-
demnatus sit. to2n ay3to1n, ei5h kata1- que apareça claramente tureza verdadeiramente
kritow. que o mesmo é por na- Deus e homem, seja
tureza Deus e homem, condenado.
seja condenado.
Can. 17. Si quis se- iz’. Ei5 tiw oy3x o4mo- Cân. 17. Se alguém Cân. 17. Se alguém 517
cundum sanctos Patres logei9 kata2 toy2w a4gi1oyw não professa, de acordo não professa, de acordo
non confitetur proprie et pate1raw kyri1vw kai2 com os santos Padres, com os santos Padres,
secundum veritatem a3lhuv9w pa1nta ta2 para- em sentido próprio e em sentido própri e ver-
omnia, quae tradita sunt doue1nta kai2 khryxue1n- verdadeiro, tudo o que dadeiro, tudo o que foi
et praedicata sanctae ta tü9 a4gi1ä toy9 Ueoy9 foi entregue à santa, ca- transmitido e pregado à
catholicae et apostolicae kauolikü9 kai2 a3posto- tólica e apostólica Igre- santa, católica e apostó-
Dei Ecclesiae, perinde- likü9 e3kklhsi1ä par’ ja de Deus, por parte lica Igreja de Deus, pe-
que a sanctis Patribus et ay3tv9n te tv9n a4gi1vn dos santos Padres ou los mesmos santos Pa-
venerandis universali- patrv9n, kai2 tv9n e3gk- dos cinco venerandos dres ou pelos cinco con-
bus quinque Conciliis ri1 t vn oi3 k oymenikv9 n concílios universais, até cílios ecumênicos apro-
usque ad unum apicem pe1nte syno1dvn, a5xri o último tracinho, quan- vados, até o último tra-
verbo et mente, con- mia9w kerai1aw lo1gö kai2 to à palavra e quanto à cinho, quanto à palavra
demnatus sit. dianoi1ä, ei5h kata1k- mente, seja condenado. e quanto à mente, seja
ritow. condenado.
Can. 18. Si quis se- ih’. Ei5 tiw kata2 toy2w Cân. 18. Se alguém, Cân. 18. Se alguém, 518
cundum sanctos Patres a4gi1oyw pate1raw symfv1- de acordo com os san- de acordo com os san-
consonanter nobis pari- nvw h4mi9n kai2 o4modo1jvw tos Padres, em conso- tos Padres, em conso-
terque fide non respuit oy3k a3poba1lletai kai2 nância conosco e na nância conosco e na
et anathematizat anima a3nauemati1zei cyxü9 te mesma fé, não rejeita e mesma fé, não rejeita e
et ore omnes, quos res- kai2 sto1mati pa1ntaw, anatematiza com alma e anatematiza com alma e
puit et anathematizat oy8w a3poba1lletai kai2 boca todos aqueles que, boca todos aqueles que,
nefandissimos haereti- a3nauemati1zei dysvny1- como nefandos hereges, como ignominiosos he-
cos cum omnibus impiis moyw ai4retikoy2w meta2 com todos seus ímpios reges, com todos os es-
eorum conscriptis usque pa1ntvn tv9n syggram- escritos até o último tra- critos até ao menor tra-
ad unum apicem sancta ma1tvn a5xri mia9w ke- cinho, rejeita e anatema- cinho, rejeita e anatema-
Dei Ecclesia catholica rai1aw h4 a4gi1a toy9 Ueoy9 tiza a santa, católica e tiza a santa católica e
et apostolica, hoc est, kauolikh2 kai2 a3 p o- apostólica Igreja de apostólica Igreja de
sanctae et universales stolikh2 e3 k klhsi1 a , Deus afasta, isto é, os Deus, quer dizer, os cin-
quinque Synodi et con- tay3to2n de2 le1gein ai4 a7g- cinco concílios santos e co concílios santos e
sonanter omnes proba- iai kai2 oi3koymenikai2 universais e, em conso- ecumênicos e, no mes-
biles Ecclesiae Patres, pe1 n te sy1 n odoi, kai2 nância, todos os com- mo pensamento, todos
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*519 1 Mencionados ainda: os monotelistas Teodoro de Faran, Ciro de Alexandria, Sergio, Patriarca de Constantinopla e seus
sucessores Pirro e Paulo, também o edito do imperador Heráclito, chamado Ekthesis, que Sérigo redigiu em 368 a
favor do monotelismo, e o Typos de Constantino III (= Constâncio II), que revoga a Ekthesis, mas impõe o silêncio
aos defensores do diotelismo (doutrina de duas vontades).
188
et invalidas atque infir- moyw ay3tv9n peri2 toy1toy propósito, ou <suas> pósito, ou <suas> sen-
mas, magis autem pro- kri1seiw, h5toi ch1foyw sentenças vazias, sem tenças vazias, sem efei-
fanas et exsecrabiles vel e4vl1 oyw kai2 a3ky1royw kai2 efeito e inválidas, mais to e inválidas, mais ain-
reprobabiles arbitratur, a3 b ebai1 o yw o4 r i1 z etai, ainda, profanas e exe- da, profanas, execráveis
huiusmodi condemna- ma9llon de2 bebh1loyw kai2 cráveis ou rejeitáveis, e rejeitáveis, um tal seja
tus sit. e3 p ara1 t oyw kai2 a3 p o- seja condenado. condenado.
blh1toyw, o4 toioy9tow ei5h
kata1kritow.
Can. 19. Si quis ea, iu’. Ei5 tiw ta2 tv9n Cân. 19: Se alguém, Cân.19: Se alguém, 521
quae scelerosi haeretici e3nagv9n ai4retikv9n o4mo- sem deixar dúvida, pro- de modo confesso, pen-
sapiunt, indubitanter logoyme1nvw fronv9n kai2 fessa e entende o que os sa e louva a opinião dos
professus atque intelle- doja1zvn e3k propetoy9w iníquos hereges afir- iníquos hereges e com
gens, per inanem proter- a3noi1aw tay9ta le1gei th9w mam e com vã impu- apressada tolice diz que
viam dicit, haec pietatis ey3sebei1aw y4pa1rxein ta2 dência diz que estas são estas são as doutrinas da
esse dogmata, quae tra- do1gmata, a8 paradedv1- as doutrinas da piedade piedade, transmitidas
diderunt ab initio specu- kasin oi4 a3p’ a3rxh9w ay3- que têm transmitido por aqueles que desde o
latores et ministri verbi, to1ptai kai2 y4phre1tai toy9 desde o início os obser- início foram testemu-
hoc est dicere, sanctae lo1goy geno1menoi, tay3to2n vadores e ministros da nhas oculares e minis-
et universales quinque de2 le1gein ai4 a7giai kai2 Palavra – isto é, os cin- tros da Palavra – isto é
Synodi, calumnians uti- oi3 k oymenikai2 pe1 n te co Sínodos santos e uni- os cinco Sínodos santos
que ipsos sanctos Patres sy1nodoi, sykofantv9n versais –, e se de tal e ecumênicos –, en-
et memoratas sanctas ay3toy1w te toy2w a4gi1oyw modo calunia os pró- quanto calunia os pró-
quinque Synodos, in pate1raw, kai2 ay3ta2w ta2w prios santos Padres e os prios santos Padres e os
deceptione simplicium, a4 g i1 a w oi3 k oymenika2 w citados cinco santos Sí- próprios cinco santos
vel susceptione suae pe1 n te syno1 d oyw ei3 w nodos, para engano dos Sínodos ecumênicos,
profanae perfidiae, a3pa1thn tv9n a3keraio- simples ou amparo à para engano dos mais
huiusmodi condemna- te1rvn, h5toi paradoxh2n própria fé errônea e pro- simples ou amparo à
tus sit. th9 w e4 a ytoy9 bebh1 l oy fana, seja condenado. própria fé errônea e pro-
kakopisti1aw, o4 toioy9tow fana, seja condenado.
ei5h kata1kritow.
Can. 20. Si quis se- k’. Ei5 tiw kata2 toy2w Cân. 20: Se alguém, Cân. 20: Se alguém, 522
cundum scelerosos hae- e3 n agei9 w ai4 r etikoy1 w , de acordo com os iní- de acordo com os iní-
reticos quocumque mo- kau’ oißon dh1pote tro1- quos hereges, de algum quos hereges, de algum
do … terminos remo- pon ... o7ria metakinv9n modo… remove ilicita- modo … remove ilicita-
vens illicite, quos po- a3uemi1tvw, a8 e5uento pa- mente os marcos que mente os marcos que
suerunt firmius sancti gi1vw oi4 a7gioi th9w ka- fixaram de modo irre- fixaram de modo irre-
catholicae Ecclesiae Pa- uolikh9w e3kklhsi1aw pa- movível os santos Pa- movível os santos Pa-
tres, id est sanctae et te1rew, tay3to2n de2 le1gein dres da Igreja católica – dres da Igreja católica –
universales quinque Sy- ai4 a7giai kai2 oi3koy- isto é, os cinco santos isto é, os cinco Sínodos
nodi, novitates temere menikai2 pe1nte sy1nodoi, Sínodos universais –, e santos e ecumênicos – ,
exquirere, et fidei alte- kainotomi1aw tolmhrv9w temerariamente inventa e temerariamente inven-
rius expositiones, aut e3pinoei9, kai2 pi1stevw novidades e exposições ta inovações e exposi-
libellos, aut epistolas, e4 t e1 r aw e3 k ue1 s eiw, h6 de uma outra fé, ou li- ções de uma outra fé, ou
aut conscripta, aut subs- ty1poyw, h6 no1moyw, h6 vros, ou cartas, ou escri- fórmulas ou leis ou es-
criptiones, aut testimo- o7royw, h6 libe1lloyw, h6 tos, ou firmas, ou falsos tatutos, ou livros, ou
nia falsa, aut synodos, a3nafora1w, h6 e3pistola1w, testemunhos, ou síno- artigos, ou cartas, ou
aut gesta monumento- h6 syggrafa1w, h6 y4po- dos, ou protocolos de escritos, ou assinaturas,
rum, aut ordinationes grafa1w, h6 martyri1aw sessões, ou ordenações ou falsos testemunhos,
vacuas ecclesiasticae re- ceydei9w, h6 syno1doyw, h6 nulas, não reconhecidas ou sínodos, ou atos de
gulae incognitas aut loci pra1jeiw y4pomnhma1tvn, pela regra eclesiástica, registro, ou ordenações
servaturas incongruas et h6 xeirotoni1aw e4vl 1 oyw ou representações im- inválidas não reconheci-
irrationabiles, et com- kai2 tö9 e3kklhsiastikö9 próprias e sem funda- das pela regra eclesiás-
189
pendiose, si quid aliud kano1ni mh2 e3gnvsme1naw, mento; e, em suma, se tica, ou representações
impiissimis haereticis h6 topothrhsi1aw, h5goyn faz qualquer outra coi- ou representantes sem
consuetum est agere, per topothrhta2w a3ue1smoyw sa que às vezes os mais legalidade e acanônicos;
diabolicam operationem kai2 a3kanoni1stoyw, kai2 que ímpios hereges cos- e, em suma, se faz qual-
tortuose et callide agit a4plv9w ei5tiper a5llo tumam fazer, tortuosa e quer outra coisa que os
contra pias orthodoxo- toi9w a3sebe1sin ai4reti- astutamente, mediante ímpios hereges costu-
rum catholicae Eccle- koi9w ei5uistai pra1ttein, operação diabólica, con- mam fazer, mediante
siae, hoc est dicere, pa- e3k diabolikh9w e3nergei1aw trariando as pias prega- operação diabólica, tor-
ternas eius et synodales skoliv9w kai2 panoy1rgvw ções dos ortodoxos da tuosa e astutamente,
praedicationes, ad ever- poiei9 kata2 tv9n ey3sebv9n Igreja católica – isto é, contrariando as pias e
sionem sincerissimae in kai2 o3 r uodo1 j vn th9 w dos Padres e dos Síno- ortodoxas pregações da
Dominum Deum nos- kauolikh9w e3kklhsi1aw, dos –, para destruir a Igreja católica – isto é,
trum confessionis, et tay3to2n de2 le1gein tv9n sinceríssima profissão dos seus Padres e Sí-
usque in finem sine pae- patrikv9n ay3th9w kai2 do Senhor nosso Deus; nodos –, para destruir a
nitentia permanet haec synodikv9n khrygma1tvn, e se persevera até o fim, sincera profissão do
impie agens, huiusmodi pro2 w a3 n atroph2 n th9 w sem arrepender-se, nes- Senhor nosso e Deus
in saecula saeculorum ei3likrinoy9w ei3w to2n ky1- te ímpio agir, seja con- Jesus Cristo; e se perse-
condemnatus sit, “et rion h4mv9n kai2 Ueo2n denado por toda a eter- vera até o fim sem arre-
dicat omnis populus: 3Ihsoy9n Xristo2n o4molo- nidade, “e todo o povo pendimento neste ímpio
fiat, fiat” [Ps 105,48]. gi1aw kai2 me1xri te1loyw diga: assim seja, assim agir, seja condenado
a3metanoh1tvw diatelei9 seja” [Sl 106,48]. pelos séculos dos sécu-
ta2 toiay9ta dyssebv9w los, “e todo o povo dirá:
e3nergv9n, o4 toioy9tow ei3w assim seja, assim seja”
toy2w ai3vn1 aw tv9n ai3vn1 vn [Sl 106,48].
ei5h kata1kritow= “kai2
e3rei9 pa9w lao1w= ge1noito,
ge1noito” [Ps 105,48].
A divina Trindade
525 (1) Confitemur et credimus sanctam atque ineffa- (1) Confessamos e cremos que a santa e inefável
bilem Trinitatem, Patrem et Filium et Spiritum Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, por natureza
Sanctum, unum Deum naturaliter esse unius subs- é um só Deus de uma única substância, de uma única
tantiae, unius naturae, unius quoque maiestatis at- natureza, de uma única majestade e força.
que virtutis.
(2) Et P a t r e m quidem non genitum, non crea- (2) E professamos que o P a i é gerado, não cria-
tum, sed ingenitum profitemur. Ipse enim a nullo do, ingênito. Ele de fato, não tem origem de nin-
originem ducit, ex quo et Filius nativitatem et Spi- guém, ele do qual o Filho teve o nascimento, bem
ritus Sanctus processionem accepit. Fons ergo ipse como o Espírito Santo a procedência. Ele é, portan-
190
et origo est totius divinitatis. (3) Ipse quoque Pater to, a fonte e a origem de toda a divindade. (3) Ele
est essentiae suae, qui de ineffabili substantia Fi- é também o Pai de sua essência, o qual de sua ine-
lius [Pater, essentia quidem ineffabilis, substantiae fável substância gerou o Filho [Ele mesmo, o Pai,
suae Filium] ineffabiliter genuit nec tamen aliud isto é, a sua inefável substância, gerou inefavelmente
quam quod ipse est, genuit: Deus Deum, lux lucem; o Filho da sua substancia] e, todavia, não gerou outra
ab ipso est ergo “omnis paternitas in caelo et in terra” coisa senão o que ele mesmo é: Deus <gerou> Deus,
[Eph 3,15]. luz <gerou> luz; dele é, por isso, “toda paternidade
no céu e sobre a terra” [Ef 3,15].
(4) F i l i u m quoque de substantia Patris sine ini- (4) Professamos também que o F i l h o é nasci- 526
tio ante saecula natum, nec tamen factum esse fate- do da substância do Pai, sem início, antes dos sécu-
mur: quia nec Pater sine Filio, nec Filius aliquando los, porém não criado: pois nem o Pai existiu ja-
exstitit sine Patre. (5) Et tamen non sicut Filius de mais sem o Filho, nem o Filho sem o Pai. (5) E,
Patre, ita Pater de Filio, quia non Pater a Filio, sed todavia, o Pai não é do Filho como o Filho do Pai,
Filius a Patre generationem accepit. Filius ergo Deus pois o Pai não recebeu a geração do Filho, mas o
de Patre, Pater autem Deus, sed non de Filio; Pater Filho do Pai. O Filho é portanto Deus pelo Pai, o
quidem Filii, non Deus de Filio: ille autem Filius Pai ao invés é Deus, mas não pelo Filho; ele é de
Patris et Deus de Patre. Aequalis tamen per omnia fato Pai do Filho, não Deus pelo Filho; este, ao
Filius Deo Patri: quia nec nasci coepit aliquando, contrário, é Filho do Pai e Deus pelo Pai. Todavia,
nec desiit. o Filho é igual em tudo a Deus Pai, já que o seu
nascimento nem teve início, nem cessou num de-
terminado momento.
(6) Hic etiam unius cum Patre substantiae credi- (6) Cremos também que ele é de uma única subs-
tur, propter quod et o4mooy1siow Patri dicitur, hoc est tância com o Pai, pelo que é chamado também
eiusdem cum Patre substantiae; o7mow enim graece o4mooy1siow ao Pai, isto é, da mesma substância que
unum, oy3si1a vero substantia dicitur, quod utrum- o Pai; pois o7mow, em grego, significa “um”, oy3si1a
que coniunctum sonat ‘una substantia’. Nec enim “substância”, e os dois juntos significam “uma só
de nihilo, neque de aliqua alia substantia, sed de substância”. De fato, devemos crer que o Filho não
Patris utero, id est, de substantia eius idem Filius foi gerado nem do nada, nem de qualquer outra subs-
genitus vel natus esse credendus est. tância, mas do seio do Pai, isto é, de sua substância.
(7) Sempiternus ergo Pater, sempiternus et Filius. (7) Eterno é portanto o Pai, eterno também o Fi-
Quod si semper Pater fuit, semper habuit Filium, lho. Se sempre, porém, foi Pai, teve sempre o Filho
cui Pater esset: et ob hoc Filium de Patre natum de quem era Pai, e portanto professamos o Filho
sine initio confitemur, (8) Nec enim eundem Filium nascido do Pai sem início. (8) De fato, não o chama-
Dei, pro eo, quod de Patre sit genitus, “desectae mos Filho de Deus por ter sido gerado pelo Pai como
naturae portiunculam”1 nominamus; sed perfectum “porciúncula de uma natureza seccionada”1, mas afir-
Patrem, perfectum Filium sine diminutione, sine mamos, sim, que o Pai perfeito gerou, sem diminui-
desectione genuisse asserimus, quia solius divinita- ção e sem separação, um Filho perfeito, pois somente
tis est inaequalem Filium non habere. à divindade compete não ter um Filho desigual.
(9) Hic etiam Filius Dei natura est Filius, non (9) Este Filho é também Filho por natureza, não
adoptione2, quem Deus Pater nec voluntate nec por adoção2, ele que Deus Pai, como devemos crer,
necessitate genuisse credendus est; quia nec ulla in gerou não por vontade, nem por necessidade, já que
Deo necessitas capit [al. cadit], nec voluntas sapien- em Deus nem cabe qualquer necessidade, nem a
tiam praevenit. vontade precede a sabedoria.
(10) S p i r i t u m quoque S a n c t u m , qui est ter- (10) Cremos também que o E s p í r i t o S a n t o , 527
tia in Trinitate persona, unum atque aequalem cum que é a terceira pessoa na Trindade, é Deus um e
Deo Patre et Filio credimus esse Deum, unius igual com Deus Pai e Filho, da mesma substância e
substantiae, unius quoque esse naturae: non tamen também da mesma natureza; todavia, não é gerado
*526 1 Cf. Vigílio de Tapso, Contra Arianos, Sabellianos et Photinianos dialogus II 13 (PL 62, 206A).
2 Assim contra os Bonosianos, que confessavam o Filho de Deus como “filho adotivo” em sua natureza divina apenas,
enquanto os “adocionistas” ulteriores diziam isso de sua natureza humana.
191
genitum vel creatum, sed ab utrisque procedentem, nem criado, mas procede de ambos e é o Espírito
amborum esse Spiritum. (11) Hic etiam Spiritus de ambos. (11) Este Espírito Santo não é, conforme
Sanctus nec ingenitus nec genitus creditur: ne aut si a fé, nem gerado nem não gerado, para que não
ingenitum dixerimus, duos Patres dicamus, aut si apareça que, chamando-o não gerado, estejamos
genitum, duos Filios praedicare monstremur: qui ta- falando de dois Pais e, chamando-o gerado, esteja-
men nec Patris tantum nec Filii tantum, sed simul mos pregando dois Filhos; todavia ele não é cha-
Patris et Filii Spiritus dicitur. (12) Nec enim de Patre mado Espírito só do Pai, nem só do Filho, mas ao
procedit in Filium, vel de Filio procedit ad sancti- mesmo tempo do Pai e do Filho. (12) Não procede,
ficandam creaturam, sed simul ab utrisque proces- de fato, do Pai no Filho, nem procede do Filho para
sisse monstratur; quia caritas sive sanctitas ambo- santificar a criação, mas mostra-se que ele proce-
rum esse agnoscitur. (13) Hic igitur Spiritus Sanc- deu de ambos, já que é reconhecido como caridade
tus missus ab utrisque sicut Filius [a Patre] credi- ou santidade de ambos. (13) Este Espírito Santo,
tur; sed minor a Patre et Filio non habetur, sicut portanto, cremos, foi mandado por ambos, como o
Filius propter assumptam carnem minorem se Patre Filho [da parte do Pai]; mas não é tido como infe-
et Spiritu Sancto esse testatur. rior ao Pai e ao Filho à maneira em que o Filho dá
testemunho de ser inferior ao Pai e ao Espírito San-
to por motivo da carne assumida.
528 (14) Haec est sanctae T r i n i t a t i s relata narratio: (14) Assim é que convém apresentar a santa
quae non triplex, sed Trinitas et dici et credi debet. T r i n d a d e : não se deve dizer e crer que ela seja
Nec recte dici potest, ut in uno Deo sit Trinitas, sed tríplice, mas Trindade. Não se pode dizer de modo
unus Deus Trinitas. (15) In relativis vero persona- certo que no único Deus está a Trindade, mas que o
rum nominibus Pater ad Filium, Filius ad Patrem, único Deus é a Trindade. (15) Pelo nome das pes-
Spiritus Sanctus ad utrosque refertur: quae cum soas, porém, que exprime uma relação, o Pai é pos-
relative tres personae dicantur, una tamen natura vel to em referência ao Filho, o Filho ao Pai e o Espí-
substantia creditur. (16) Nec sicut tres personas, ita rito Santo a ambos: se bem que, em vista de sua
tres substantias praedicamus, sed unam substantiam, relação, sejam chamadas três pessoas, estas são,
tres autem personas. (17) Quod enim Pater est, non todavia, conforme pregamos, uma só natureza ou
ad se, sed ad Filium est; et quod Filius est, non ad substância. (16) E como três pessoas não pregamos
se, sed ad Patrem est; similiter et Spiritus Sanctus três substâncias, mas sim uma única substância e
non ad se, sed ad Patrem et Filium relative refertur: três pessoas. (17) De fato, o que é o “Pai”, não o é
in eo quod Spiritus Patris et Filii praedicatur. (18) em relação a si mesmo, mas ao Filho; e o que é o
Item cum dicimus: Deus, non ad aliquid dicitur, sicut “Filho”, não o é em relação a si mesmo, mas ao Pai;
Pater ad Filium vel Filius ad Patrem vel Spiritus de modo semelhante, também, o Espírito Santo não
Sanctus ad Patrem et Filium, sed ad se specialiter é referido em relação a si, mas ao Pai e ao Filho,
dicitur Deus. sendo chamado Espírito do Pai e do Filho. (18)
Igualmente, quando dizemos “Deus”, isto é dito não
em relação a qualquer coisa, como o Pai <em rela-
ção> ao Filho, ou o Filho ao Pai, ou o Espírito San-
to ao Pai e ao Filho, mas “Deus” é chamado <as-
sim> de modo particular em relação a si mesmo.
529 (19) Nam et si de singulis personis interrogemur, (19) De fato, se somos interrogados sobre cada
Deum necesse est fateamur. Deus ergo Pater, Deus uma das pessoas, devemos professar que é Deus.
Filius, Deus Spiritus Sanctus singulariter dicitur: nec Por isso, o Pai é chamado Deus, o Filho, Deus e o
tamen tres dii, sed unus est Deus. (20) Item et Pater Espírito Santo, Deus, cada qual singularmente; e
omnipotens et Filius omnipotens et Spiritus Sanc- todavia não há três deuses, mas um só Deus. (20)
tus omnipotens singulariter dicitur: nec tamen tres Igualmente o Pai é chamado onipotente, o Filho,
omnipotentes, sed unus omnipotens, sicut et unum onipotente, o Espírito Santo, onipotente, cada qual
lumen, unumque principium praedicatur. (21) Sin- singularmente; e todavia não há três onipotentes,
gulariter ergo, et unaquaeque persona plenus Deus mas um só onipotente, como se fala de uma só luz
et totae tres personae unus Deus confitetur [sic!] et e de um só princípio. (21) Portanto, professamos e
creditur: una illis vel indivisa atque aequalis Dei- cremos que cada pessoa, singularmente, é plena-
192
tas, maiestas sive potestas, nec minoratur in singu- mente Deus, e todas as três pessoas são um só Deus:
lis, nec augetur in tribus; quia nec minus aliquid elas têm a única, indivisa e igual divindade, majes-
habet, cum unaquaeque persona Deus singulariter tade ou poder, sem diminuição em cada uma, nem
dicitur, nec amplius, cum totae tres personae unus aumento nas três, pois quando cada pessoa é cha-
Deus enuntia[n]tur. mada singularmente Deus, nada há a menos, nem
<há algo> a mais quando as três pessoas são pro-
clamadas um só Deus.
(22) Haec ergo sancta Trinitas, quae unus et ve- (22) Esta santa Trindade, que é o único e verda- 530
rus est Deus, nec recedit a numero, nec capitur nu- deiro Deus, nem subtrai-se ao número, nem é cap-
mero. In relatione enim personarum numerus cer- tada pelo número. Na relação das pessoas, de fato,
nitur; in divinitatis vero substantia, quid numera- se reconhece o número; na substância da divinda-
tum sit, non comprehenditur. Ergo [in] hoc solum de, porém, não é compreendido nada que seja enu-
numerum insinuant, quod ad invicem sunt; et in hoc merado. Por isso, só no que são em referência uma
numero carent, quod ad se sunt. (23) Nam ita huic à outra é que insinuam o número; e no que são em
sanctae Trinitati unum naturale convenit nomen, ut relação a si mesmas deixam o número de lado. (23)
in tribus personis non possit esse plurale. Ob hoc De fato, a esta santa Trindade convém um nome de
ergo credimus illud in sacris litteris dictum: “Mag- natureza que seja único, de modo que não possa ser
nus Dominus noster et magna virtus eius et sapien- usado no plural para as três pessoas. Por isso cre-
tiae eius non est numerus” [Ps 146,5]. mos também naquelas palavras das sagradas escri-
turas: “Grande é o nosso Deus e grande o seu po-
der, e para sua sabedoria não há número” [Sl 147,5].
(24) Nec quia tres has personas esse diximus (24) Não poderemos dizer, porém, que, tendo
unum Deum, eundem esse Patrem quem Filium, vel declarado que estas três pessoas são um só Deus, o
esse Filium eum, qui est Pater, aut eum, qui Spiri- Pai seja o mesmo que o Filho e o Filho o mesmo
tus Sanctus est, vel Patrem vel Filium dicere pote- que o Pai, ou que quem é o Espírito Santo seja o
rimus. (25) Non enim ipse est Pater qui Filius, nec Pai ou o Filho. (25) Pois quem é o Filho não é ele
Filius ipse qui Pater, nec Spiritus Sanctus ipse qui mesmo o Pai, nem quem é o Pai é ele mesmo o
est vel Pater vel Filius; cum tamen ipsum sit Pater Filho, nem quem é o Pai ou o Filho é ele mesmo o
quod Filius, ipsum Filius quod Pater, ipsum Pater Espírito Santo; todavia o Pai é isto mesmo que é o
et Filius quod Spiritus Sanctus: id est, natura unus Filho, o Filho, isto mesmo que é o Pai, o Pai e o
Deus. (26) Cum enim dicimus non ipsum esse Pa- Filho, isto mesmo que é o Espírito Santo, isto é, um
trem quem Filium, ad personarum distinctionem único Deus por natureza. (26) De fato, quando di-
refertur. Cum autem dicimus ipsum esse Patrem zemos que o Pai não é o mesmo que o Filho, isso se
quod Filium, ipsum Filium quod Patrem, ipsum refere à distinção das pessoas. Quando, porém, di-
Spiritum Sanctum quod Patrem et Filium, ad natu- zemos que o Pai é isto que é o Filho, o Filho isto
ram, qua Deus est, vel substantiam pertinere mons- que é o Pai e o Espírito Santo isto que é o Pai e o
tratur, quia substantia unum sunt: personas enim Filho, isso se refere evidentemente à natureza da
distinguimus, non deitatem separamus. qual Deus é, ou à substância, já que, quanto à subs-
tância, são uma só realidade: distinguimos, de fato,
as pessoas, <mas> não dividimos a divindade.
(27) Trinitatem igitur in personarum distinctione (27) A Trindade, portanto, nós a reconhecemos 531
agnoscimus; unitatem propter naturam vel substan- na distinção das pessoas; a unidade, nós a professa-
tiam profitemur. Tria ergo ista unum sunt, natura mos em vista da natureza ou da substância. Estas
scilicet, non persona. (28) Nec tamen tres istae per- três, portanto, são uma só realidade, isto é, quanto
sonae separabiles aestimandae sunt, cum nulla ante à natureza, não quanto às pessoas. (28) Todavia,
aliam, nulla post aliam, nulla sine alia vel exstitis- estas três pessoas não devem ser consideradas se-
se, vel quidpiam operasse aliquando credatur. (29) paráveis, já que, segundo cremos, nenhuma existiu
Inseparabiles enim inveniuntur et in eo quod sunt, jamais ou tem operado qualquer coisa antes das
et in eo quod faciunt: quia inter generantem Patrem outras, nenhuma depois das outras, nenhuma sem
et generatum Filium vel procedentem Spiritum as outras. (29) De fato, vemos que são inseparáveis
Sanctum nullum fuisse credimus temporis in- quer naquilo que são, quer naquilo que fazem: já
193
tervallum, quo aut genitor genitum aliquando prae- que entre o Pai, que gera, e o Filho, que foi gerado,
cederet, aut genitus genitori deesset, aut procedens e o Espírito Santo, que <deles> procede, não hou-
Spiritus Patre vel Filio posterior appareret. (30) Ob ve, segundo nossa fé, nenhum intervalo de tempo
hoc ergo inseparabilis et inconfusa haec Trinitas a no qual o genitor tivesse precedido o gerado, ou o
nobis et praedicatur et creditur. Tres igitur personae gerado tivesse faltado ao genitor, ou o Espírito San-
istae dicuntur, iuxta quod maiores definiunt, ut ag- to procedente do Pai e do Filho tivesse aparecido
noscantur, non ut separentur. (31) Nam si attenda- mais tarde. (30) Por isso, declaramos e acreditamos
mus illud, quod Scriptura sancta dicit de Sapientia: inseparável e inconfusa esta Trindade. Se, portanto,
“Splendor est lucis aeternae” [Sap 7,26]: sicut splen- de acordo com a doutrina dos antepassados, se fala
dorem luci videmus inseparabiliter inhaerere, sic nestas três pessoas, é para que sejam reconhecidas,
confitemur Filium a Patre separari non posse. (32) não para que sejam separadas. (31) De fato, se pres-
Tres ergo illas unius atque inseparabilis naturae per- tamos atenção ao que a santa Escritura diz da Sabe-
sonas sicut non confundimus, ita separabiles nulla- doria: “É o esplendor da luz eterna” [Sl 7,26], en-
tenus praedicamus. tão, assim como vemos que o esplendor é insepara-
velmente inerente à luz, professamos também que
o Filho não pode ser separado do Pai. (32) Portan-
to, assim como não confundimos estas três pessoas,
que são de uma só e inseparável natureza, declara-
mos também que são absolutamente inseparáveis.
532 (33) Quando quidem ita nobis hoc dignata est ipsa (33) Em verdade, a própria Trindade se dignou
Trinitas evidenter ostendere, ut etiam in his nomi- mostrar-nos isso de maneira tão clara que mesmo
nibus, quibus voluit sigillatim personas agnosci, com os nomes com os quais segundo o seu querer as
unam sine altera non permittat intelligi: nec enim pessoas são reconhecidas singularmente, não permi-
Pater absque Filio cognoscitur, nec sine Patre Filius te que uma seja compreendida sem a outra: de fato
invenitur. (34) Relatio quippe ipsa vocabuli perso- nem o Pai é reconhecido sem o Filho, nem se en-
nalis personas separari vetat, quas etiam, dum non contra o Filho sem o Pai. (34) Em verdade, a própria
simul nominat, simul insinuat. Nemo autem audire relação <expressa> pelo nome das pessoas proíbe
potest unumquodque istorum nominum, in quo non separar as pessoas, pois, se não as nomeia simulta-
intelligere cogatur et alterum. (35) Cum igitur haec neamente, insinua-as simultaneamente. Ninguém,
tria sint unum et unum tria, est tamen unicuique pois, pode ouvir um destes nomes sem forçosamen-
personae manens sua proprietas. Pater enim aeter- te entender também o outro. (35) Portanto, se bem
nitatem habet sine nativitate, Filius aeternitatem cum que estas três sejam uma só realidade, e a única rea-
nativitate, Spiritus vero Sanctus processionem sine lidade, três, todavia permanece para cada uma das
nativitate cum aeternitate1. pessoas o que lhe é próprio. O Pai tem a eternidade
sem nascimento, o Filho a eternidade com o nasci-
mento, o Espírito Santo o proceder sem nascimento,
com a eternidade1.
A encarnação
533 (36) De his tribus personis solam Filii personam (36) Cremos que destas três pessoas só a pessoa
pro liberatione humani generis hominem verum sine do Filho assumiu, em prol da libertação do gênero
peccato de sancta et immaculata Maria Virgine cre- humano, um verdadeiro homem, sem pecado, da
dimus assumpsisse, de qua novo ordine novaque na- santa e imaculada Virgem Maria, pela qual foi gera-
tivitate est genitus; novo ordine, quia invisibilis di- do numa ordem nova, num novo nascimento; numa
vinitate, visibilis monstratur in carne; nova autem ordem nova, já que, invisível na sua divindade, se
nativitate est genitus, quia intacta virginitas et viri- mostra visível na carne; num novo nascimento ele
lem coitum nescivit et foecundatam per Spiritum foi gerado, já que a virgindade intacta e desconhe-
Sanctum carnis materiam ministravit. (37) Qui par- ceu o coito viril e, fecundada pelo Espírito Santo,
tus Virginis nec ratione colligitur, nec exemplo subministrou a matéria da carne. (37) Este parto da
194
monstratur; quod si ratione colligitur, non est mira- Virgem não pode ser compreendido pela razão e em
bile; si exemplo monstratur, non erit singulare1. (38) nada pode ser exemplificado; porque, se pudesse ser
Nec tamen Spiritus Sanctus Pater esse credendus compreendido pela razão, não seria maravilhoso; se
est Filii, pro eo quod Maria eodem Spiritu Sancto em algo pudesse ser exemplificado, não seria sin-
obumbrante concepit: ne duos patres Filii videamur gular1. (38) Todavia, não se deve crer, porque Maria
asserere, quod utique nefas est dici. concebeu sob a sombra do Espírito Santo, que o
Espírito Santo seja o Pai do Filho, para não parecer-
mos afirmar que o Filho tem dois pais, o que certa-
mente seria inadmissível dizê-lo.
(39) In quo mirabili conceptu, aedificante sibi (39) Nesta admirável conceição, na qual a Sabe- 534
Sapientia domum [cf. Prv 9,1], “Verbum caro factum doria construiu para si uma casa [cf. Pr 9,1], “o
est et habitavit in nobis” [Io 1,14]. Nec tamen Ver- Verbo se fez carne e habitou entre nós” [Jo 1,14].
bum ipsum ita in carne conversum atque mutatum Todavia o Verbo não foi transformado e mudado
est, ut desisteret Deus esse, qui homo esse voluisset; em carne, como se aquele que quis ser homem ces-
sed ita Verbum caro factum est, ut non tantum ibi sasse de ser Deus, mas o Verbo se fez carne, de
sit Verbum Dei et hominis caro, sed etiam rationalis modo que ali não só esteja o Verbo de Deus e a
hominis anima; atque hoc totum et Deus dicatur carne do homem, mas também a alma racional do
propter Deum et homo propter hominem. homem; e tudo isto deve ser dito seja de Deus, em
vista de Deus, seja do homem, em vista do homem.
(40) In quo Dei Filio duas credimus esse naturas; (40) Cremos haver neste Filho de Deus duas na-
unam divinitatis, alteram humanitatis, quas ita in se turezas, uma da divindade, outra da humanidade,
una Christi persona univit, ut nec divinitas ab hu- que a pessoa de Cristo uniu em si de tal modo que
manitate, nec humanitas a divinitate possit aliquan- jamais poderá ser separada nem a divindade da
do seiungi. (41) Unde perfectus Deus, perfectus et humanidade, nem a humanidade da divindade. (41)
homo in unitate personae unus est Christus; nec Daí, o único Cristo é na unidade da pessoa perfeito
tamen, quia duas diximus in Filio esse naturas, duas Deus e perfeito homem; todavia, por termos dito
causabimus in eo esse personas; ne Trinitati, quod que no Filho há duas naturezas, não vamos dar lu-
absit, accedere videatur quaternitas. (42) Deus enim gar a duas pessoas no Filho, para que não pareça
Verbum non accepit personam hominis, sed natu- aceder à Trindade – longe de nós dizê-lo! – uma
ram, et in aeternam personam divinitatis tempora- quaternidade. (42) Deus Verbo não assumiu a pes-
lem accepit substantiam carnis. soa de um homem, mas sim, a natureza; e na eter-
na pessoa da divindade acolheu a substância tem-
poral da carne.
(43) Item cum unius substantiae credamus esse (43) Igualmente, enquanto cremos que o Pai, o 535
Patrem et Filium et Spiritum Sanctum, non tamen Filho e o Espírito Santo são de uma só substância,
dicimus, ut huius Trinitatis unitatem Maria Virgo todavia não dizemos que a Virgem Maria gerou a
genuerit, sed tantummodo Filium, qui solus naturam unidade desta Trindade, mas só o Filho, o único
nostram in unitate personae suae assumpsit. (44) que assumiu nossa natureza na unidade da sua pes-
Incarnationem quoque huius Filii Dei tota Trinitas soa. (44) A encarnação deste Filho de Deus, deve-
operasse credenda est, quia inseparabilia sunt opera mos crer ainda, foi operada pela Trindade inteira, já
Trinitatis. Solus tamen Filius formam servi accepit que as obras da Trindade são inseparáveis. Todavia,
[cf. Phil 2,7] in singularitate personae, non in unitate só o Filho, na singularidade da pessoa, não na uni-
divinae naturae, in id quod est proprium Filii, non dade da natureza divina, tomou a forma do servo
quod commune Trinitati: (45) quae forma illi ad [cf. Fl 2,7], naquilo que é próprio do Filho, não
unitatem personae coaptata est, id est ut Filius Dei et naquilo que é comum à Trindade; (45) e esta forma
Filius hominis unus sit Christus. Item idem Christus lhe foi unida na unidade da pessoa, isto é, de modo
in his duabus naturis, tribus exstat substantiis: Verbi, que o Filho de Deus e o Filho do homem seja o
quod ad solius Dei essentiam referendum est, corpo- único Cristo; do mesmo modo, o mesmo Cristo
ris et animae, quod ad verum hominem pertinet. nestas duas naturezas é constituído de três substân-
*533 1 Cf. Agostinho, Carta 137, cap. 2, n. 8 (CSEL 44, 10710s / PL 33, 519).
195
196
nitus est vocatus, temporaliter primogenitus factus como reconhecemos, indivisível. (56) De fato, aque-
est: unigenitus propter deitatis substantiam, primo- le que é chamado unigênito antes dos tempos, se
genitus propter assumptae carnis naturam. tornou primogênito no tempo: unigênito por causa
da substância da divindade, primogênito por causa
da natureza da carne assumida.
A redenção
(57) In qua suscepti hominis forma iuxta evange- (57) Nesta forma do homem assumido, assim cre- 539
licam veritatem sine peccato conceptus, sine pecca- mos segundo a verdade do Evangelho, foi concebido
to natus, sine peccato mortuus creditur, qui solus sem pecado e morreu sem pecado aquele que, como
pro nobis “peccatum est factus” [cf. 2 Cor 5,21], id único, em prol de nós “se tornou pecado” [cf. 2 Cor
est, sacrificium pro peccatis nostris. (58) Et tamen 5,21], isto é, sacrifício pelos nossos pecados. (58). E
passionem ipsam, salva divinitate sua, pro delictis todavia, salvaguardada a sua divindade, suportou esta
nostris sustinuit, mortique adiudicatus et cruci veram paixão pelos nossos delitos, foi condenado à morte e
carnis mortem excepit, tertio quoque die virtute aceitou na cruz uma verdadeira morte da carne; e ao
propria sua suscitatus e sepulchro surrexit. terceiro dia, suscitado por sua própria força, ressurgiu
do sepulcro.
197
A divina Trindade
542 Hic igitur status est evangelicae atque apostoli- Eis a posição da fé evangélica e apostólica e da
cae fidei regularisque traditionis, ut confitentes sanc- tradição normativa: enquanto professamos que a
tam et inseparabilem Trinitatem, id est Patrem et santa e inseparável Trindade, isto é, Pai, Filho e
Filium et Spiritum Sanctum, unius esse deitatis, Espírito Santo, é de uma só divindade, de uma só
unius naturae et substantiae sive essentiae, unius eam natureza ou substância ou essência, proclamamos
praedicemus et naturalis voluntatis virtutis, opera- também que ela é de uma só vontade natural, uma
tionis, dominationis, maiestatis, potestatis et gloriae. só força, operação, domínio, majestade, poder e
Et quidquid de eadem sancta Trinitate essentialiter glória. E qualquer coisa que seja dito, quanto à es-
dicitur, singulari numero tamquam de una natura sência, a respeito da mesma santa Trindade, instruí-
trium consubstantialium personarum comprehenda- dos nisto pela doutrina normativa, queremos enten-
mus regulari ratione hoc instituti. dê-lo no singular, como <dito> da única natureza
das três pessoas consubstanciais.
198
Cum duas autem naturas duasque naturales vo- Ora, se professamos duas naturezas, duas vonta- 544
luntates et duas naturales operationes confitemur in des naturais e duas operações naturais no nosso Se-
uno Domino nostro Iesu Christo, non contrarias eas nhor Jesus Cristo, não as dizemos nem contrárias
nec adversas ad alterutram dicimus … nec tamquam nem adversas uma à outra …, nem como que sepa-
separatas in duabus personis vel subsistentiis, sed radas em duas pessoas ou subsistências, mas dize-
duas dicimus eundemque Dominum nostrum Iesum mos que o mesmo nosso Senhor Jesus Cristo, como
Christum, sicut naturas, ita et naturales in se volun- tem em si duas naturezas, assim também duas von-
tates et operationes habere, divinam scilicet et hu- tades naturais, isto é, a divina e a humana: na ver-
manam: divinam quidem voluntatem et operationem dade, desde a eternidade tem em comum com o Pai
habere ex aeterno cum coessentiali Patre commu- coessencial a vontade e operação divina, enquanto
nem; humanam temporaliter ex nobis cum nostra a humana, assumida de nós, <ele a tem em comum>
natura susceptam. … com a nossa natureza no tempo. …
Porro apostolica Christi Ecclesia … ex proprie- Além disso, a Igreja apostólica de Cristo … reco- 545
tatibus naturalibus unamquamque harum Christi nhece, com base nas propriedades naturais, que cada
naturarum perfectam esse cognoscit, et quidquid ad uma destas naturezas de Cristo é perfeita, e profes-
proprietates naturarum pertinet, duplicia omnia con- sa como dúplice tudo o que se refere às proprieda-
fitetur, quia ipse Dominus noster Iesus Christus et des das naturezas, já que o próprio nosso Senhor
Deus perfectus est et homo perfectus est et ex dua- Jesus Cristo é tanto perfeito Deus como perfeito ho-
bus et in duabus naturis … . mem, quer de duas, quer em duas naturezas … .
Consequenter itaque … duas etiam naturales vo- Conseqüentemente, … ela professa e proclama
luntates in eo et duas naturales operationes esse que nele há também duas vontades naturais e duas
confitetur et praedicat. Nam si personalem quisquam operações naturais. De fato, se alguém entendesse
intelligat voluntatem, dum tres personae in sancta a vontade como pessoal, dever-se-ia, já que na san-
Trinitate dicuntur, necesse est, ut et tres voluntates ta Trindade se fala de três pessoas, falar <nesta>
personales et tres personales operationes (quod ab- também de três vontades pessoais e três operações
surdum est et nimis profanum) dicerentur. Sin au- pessoais (o que é absurdo e de todo profano). Se,
tem, quod fidei christianae veritas continet, natura- ao invés, conforme implica a verdade da fé cristã, a
lis voluntas est, ubi una haec natura dicitur sanctae vontade é natural, deve-se, ao falar dessa única
et inseparabilis Trinitatis, consequenter et una na- natureza da santa e inseparável Trindade, conseqüen-
turalis voluntas et una naturalis operatio intelligen- temente, reconhecer uma só vontade natural e uma
da est. Ubi vero in una persona Domini nostri Iesu só operação natural. Onde, porém, professamos na
Christi Mediatoris Dei et hominum [cf. 1 Tim 2,5] pessoa do nosso Senhor Jesus Cristo, o mediador
duas naturas, id est divinam et humanam, confite- entre Deus e os homens [cf. 1Tm 2,5], duas nature-
mur, in quibus et post admirabilem adunationem zas, isto é, a divina e a humana, nas quais ele sub-
consistit, sicut duas unius eiusdemque naturas, ita siste também depois da admirável união, assim como
et duas naturales voluntates duasque naturales ope- professamos duas naturezas do único e mesmo,
rationes eius regulariter confitemur. assim também as suas duas vontades naturais e as
suas duas operações naturais.
A divina Trindade
Credentes in Deum Patrem … et in Filium eius Cremos em Deus Pai … e em seu Filho … e no 546
… et in Spiritum Sanctum, Dominum et vivificato- Espírito Santo, Senhor e vivificador, que procede
rem, ex Patre procedentem, cum Patre et Filio coa- do Pai, e com o Pai e o Filho deve ser adorado e
199
*548 1 “Unum quippe – Christum” (“Reconhecemos – Cristo”): texto colhido com poucas modificações da profissão de fé de
Calcedônia; cf. *302.
200
carnis naturam conversum est, neque caro in Verbi Verbo foi transformado na natureza da carne, nem a
naturam transformata est: permansit enim utrum- carne foi mudada na natureza do Verbo: permane-
que, quod naturaliter erat: differentiam quippe adu- ceram de fato ambas as realidades assim como eram
natarum in eo naturarum sola contemplatione dis- por natureza; a diferença das naturezas nele unidas,
cernimus, ex quibus inconfuse, inseparabiliter et in- das quais ele de maneira inconfusa, inseparável e
commutabiliter est compositus: unus enim ex utris- imutável é composto, só a reconhecemos mediante
que et per unum utraque, quia simul sunt et altitudo a reflexão: um só, de fato, das duas, e ambas me-
deitatis et humilitas carnis, servante utraque natura diante um só, já que estão juntas tanto a altura da
etiam post adunationem sine defectu proprietatem divindade como a inferioridade da carne, no que as
suam, et “operante utraque forma cum alterius com- duas naturezas, também depois da união, conser-
munione quod proprium habet: Verbo operante quod vam, sem diminuição, as suas propriedades; e “cada
Verbi est, et carne exsequente quod carnis est: quo- uma das duas formas opera em comunhão com a
rum unum coruscat miraculis, aliud succumbit iniu- outra aquilo que lhe é próprio: o Verbo opera o que
riis” [*294]. é do Verbo, a carne, ao invés, cumpre o que é da
carne: uma destas <realidades> brilha nos milagres,
a outra é submetida aos ultrajes” [*294].
Unde consequenter, sicut duas naturas, sive subs- Daí, conseqüentemente, como professamos que
tantias, id est deitatem et humanitatem, inconfuse, ele verdadeiramente tem duas naturezas ou substân-
indivise, incommutabiliter eum habere veraciter cias, isto é, a divindade e a humanidade, de modo
confitemur, ita quoque et duas naturales voluntates inconfuso, indiviso e imutável, assim também pro-
et duas naturales operationes habere, utpote perfec- fessamos que ele tem duas vontades naturais bem
tum Deum et perfectum hominem, unum eundem- como duas atividades naturais, já que a regra da
que ipsum Dominum Iesum Christum [*501-522] piedade nos ensina que o único e mesmo Senhor
pietatis nos regula instruit, quia hoc nos apostolica Jesus Cristo é perfeito Deus e perfeito homem [*501-
atque evangelica traditio, sanctorumque Patrum ma- 522]; pois demonstra-se que assim nos instruíram a
gisterium, quos sancta apostolica atque catholica tradição apostólica e evangélica e o magistério dos
Ecclesia et venerabiles Synodi suscipiunt, instituis- santos Padres, que a Igreja santa, apostólica e cató-
se monstratur. lica e os veneráveis Sínodos têm acolhido.
201
ey4rhko1tew pa1ntü a3llotri1aw tygxanoy1saw tv9n concílios e de todos os ilustres santos Padres, e que
a3postolikv9n didagma1tvn kai2 tv9n o4risue1ntvn y4po2 ao contrário seguem as falsas doutrinas dos here-
tv9n a4gi1vn syno1dvn kai2 pa1ntvn tv9n e3kkri1tvn ges, as refutamos todas e as abominamos como
a4gi1vn pate1rvn, e4pome1naw de2 tai9w tv9n ai4retikv9n nocivas às almas.
ceydodidaskali1aiw, tay1taw pa1ntü a3poballo1meua
kai2 v4w cyxofuo1royw bdelytto1meua.
551 ßVn de1, toyte1sti tv9n ay3tv9n, ta2 a3sebh9 a3po- Quanto àqueles cujas ímpias doutrinas rechaça-
strefo1meua do1gmata, toy1tvn kai2 ta2 o3no1mata e3k mos, isto é, estes mesmos, julgamos que até os seus
th9w a4gi1aw toy9 Ueoy9 e3kklhsi1aw e3kblhuh9nai nomes devem ser banidos da santa Igreja de Deus;
e3kri1namen, toyte1sti S e r g i 1 o y … toy9 a3rjame1noy isto é, de S é r g i o …, que ousou sustentar essa
peri2 toy9 toioy1toy a3seboy9w syggra1fesuai do1gmatow, doutrina nos seus escritos; de C i r o de Alexandria,
K y 1 r o y toy9 Alejandrei1
3 aw, P y 1 r 3 r 4 o y , P a y 1 l o y de P i r r o , P a u l o e P e d r o , os quais também ti-
kai2 P e 1 t r o y kai2 ay3tv9n proedreysa1ntvn e3n tö9 veram o encargo episcopal na sé desta cidade pro-
uro1nö th9w ueofyla1ktoy tay1thw po1levw kai2 ta2 tegida por Deus e seguiram as doutrinas deles; e
o7 m oia e3 k ei1 n oiw fronhsa1 n tvn= ei0 t a de2 kai2 também de Te o d o r o , ex-bispo de Faran. Todas
U e o d v1 r o y toy9 th9w Fara2n genome1noy e3pisko1poy= estas supracitadas pessoas, Agatão, o santíssimo e
vßn pa1ntvn progegramme1nvn prosv1pvn e3pemnh1uh três vezes beatíssimo Papa da antiga Roma, as lem-
e3n tü9 pro2w to2n … basile1a a3naforä9 [cf. *542- brou na carta ao … imperador [*542-545] e as
545] Aga1 3 uvn o4 a4giv1tatow kai2 trismaka1ristow rechaçou por defenderem pensamentos contrários à
th9w presbyte1raw 4Rv1mhw pa1paw, kai2 a3peba1lleto nossa reta fé; e determinamos que sejam também
v4 w e3 n anti1 v w th9 w o3 r uodo1 j oy h4 m v9 n pi1 s tevw submetidas ao anátema.
fronh1santaw, oy8w kai2 a3naue1mati kauypoblhuh9nai
o4ri1zomen.
552 Pro2w toy1toiw de2 synekblhuh9nai e3k th9w a4gi1aw Concordamos em expulsar da santa Igreja de Deus
toy9 Ueoy9 e3kklhsi1aw kai2 synanauematisuh9nai e em submeter ao anátema também H o n ó r i o , que
synei1domen kai2 4Onv1rion, to2n geno1menon pa1pan foi Papa da antiga Roma, porque, ao examinar os
th9w presbyte1raw 4Rv1mhw dia2 to2 ey4rhke1nai h4ma2w escritos que ele enviou a Sérgio, constatamos que
dia2 tv9n genome1nvn par’ ay3toy9 gramma1tvn pro2w aderiu em tudo ao seu pensamento e confirmou as
Se1rgion kata2 pa1nta tü9 e3kei1noy gnv1mü e3jako- suas ímpias doutrinas.
loyuh1santa kai2 ta2 ay3toy9 a3sebh9 kyrv1santa
do1gmata.
202
toy9 panie1roy kai2 makarivta1toy pa1pa th9w ay3th9w mandado a Flaviano, homem santo, que por aquele
presbyte1raw 4Rv1mhw Le1ontow, tö9 stale1nti pro2w Sínodo foi definido coluna da ortodoxia.
Flayiano1n, to2ne3n a4gi1oiw [cf. *290-295], o8n kai2
sth1lhn o3ruodoji1aw h4 toiay1th sy1nodow a3peka1lesen.
5Eti mh2n kai2 tai9w synodikai9w e3pistolai9w tai9w Elas <são> também <conformes> às cartas sino- 554
grafei1saiw para2 toy9 makari1oy Kyri1lloy kata2 dais escritas pelo bem-aventurado Cirilo aos bispos
Nestori1oy toy9 dysseboy9w pro2w toy2w th9w a3natolh9w do Oriente contra o ímpio Nestório. Seguindo, por-
e3pisko1poyw= e4pome1nh te tai9w te a4gi1aiw kai2 tanto, os cinco Sínodos santos e ecumênicos e os
oi3koymenikai9w pe1nte syno1doiw, kai2 toi9w a4gi1oiw santos eminentes Padres, unanimemente, o presen-
kai2 e3gkri1toiw patra1si, kai2 symfv1nvw o4ri1zoysa te Sínodo define e confessa o Senhor nosso Jesus
o4mologei9 to2n ky1rion h4mv9n 3Ihsoy9n Xristo1n, to2n Cristo nosso verdadeiro Deus, um da santa, con-
a3lhuino2nUeo2n h4mv9n, to2n e7na th9w a4gi1aw o4mooysi1oy substancial e vivificante Trindade, perfeito na di-
kai2 zvarxikh9w Tria1dow, te1leion e3n ueo1thti, kai2 vindade e perfeito na humanidade; verdadeiramen-
te1leion to2n ay3to2n e3n a3nurvpo1thti, Ueo2n a3lhuv9w, te Deus e verdadeiramente homem, o mesmo <com-
kai2 a5nurvpon a3lhuv9w, ay3to2n e3k cyxh9w logikh9w posto> de alma racional e corpo, consubstancial ao
kai2 sv1matow= o4mooy1siontö9 patri2 kata2 th2n ueo1thta, Pai segundo a divindade e consubstancial a nós na
kai2 o4mooy1sion h4mi9n to2n ay3to2n kata2 th2n a3nurv- sua humanidade, semelhante a nós em tudo, menos
po1thta= kata2 pa1nta o7moion h4mi9n xvri2w a4marti1aw no pecado [cf. Hb 4,15].
[cf. Hbr 4,15]=
To2n pro2 ai3v1nvn me2n e3k toy9 patro2w gennhue1nta <Confessamos que ele é> antes dos séculos ge- 555
kata2 th2n ueo1thta, e3p’ e3sxa1tvn de2 tv9n h4merv9n rado do Pai segundo a divindade e, nestes últimos
to2n ay3to2n di’ h4ma9w kai2 dia2 th2n h4mete1ran svthri1an tempos, em prol de nós e da nossa salvação, gera-
e3k pney1matow a4gi1oy kai2 Mari1aw th9w parue1noy, do do Espírito Santo e de Maria Virgem – que é
th9w kyri1vw kai2 kata2 a3lh1ueian Ueoto1koy, kata2 plena e verdadeiramente a Deípara –, segundo a
th2n a3nurvpo1thta= e7na kai2 to2n ay3to2n Xristo2n humanidade; um só e mesmo Cristo, Filho unigê-
yi4on2 ky1rion monogenh9 e3n dy1o fy1sesin a3sygxy1tvw, nito de Deus, reconhecido em duas naturezas sem
a3tre1ptvw, a3xvri1stvw, a3diaire1tvw gnvrizo1menon, confusão, mudança, separação ou divisão, sem que
oy3damoy9 th9w tv9n fy1sevn diafora9w a3nürhme1nhw de algum modo por causa da união seja abolida a
dia2 th2 n e7 n vsin, svzome1 n hw de2 ma9 l lon th9 w diferença das naturezas, mas, ao contrário, salva-
i3dio1thtow e4kate1raw fy1sevw, kai2 ei3w e8n pro1svpon, guardando a propriedade de uma e de outra e con-
kai2 mi1an y4po1stasin syntrexoy1shw, oy3k ei3w dy1o correndo ambas para formar uma só pessoa e uma
pro1svpa merizo1menon h6 diairoy1menon, a3ll’ e7na só subsistência; não dividido ou decomposto em
kai2 to2n ay3to2n yi4o2n monogenh9 Ueoy9 lo1gon ky1rion duas pessoas, mas um só e o mesmo Filho unigê-
3Ihsoy9n Xristo1n, kaua1per a5nvuen oi4 profh9tai peri2 nito, Verbo de Deus, o Senhor Jesus Cristo, como
ay3toy9, kai2 ay3to2w h4ma9w 3Ihsoy9w o4 Xristo2w e3je- anteriormente os profetas nos revelaram a seu res-
pai1deyse, kai2 to2 tv9n a4gi1vn pate1rvn h4mi9n para- peito, e o mesmo Jesus Cristo nos ensinou, e o
de1dvke sy1mbolon1. Símbolo dos Santos Padres nos transmitiu1.
Kai2 dy1o fysika2w uelh1seiw h5toi uelh1mata e3n Do mesmo modo, proclamamos nele, segundo o 556
ay3tö9, kai2 dy1o fysika2w e3nergei1aw a3diaire1tvw, ensinamento dos santos Padres, duas vontades ou
a3tre1ptvw, a3meri1stvw, a3sygxy1tvw kata2 th2n tv9n quereres naturais e duas operações naturais, sem
a4gi1vn pate1rvn didaskali1an o4say1tvw khry1ttomen= divisão, sem mudanças, sem separação ou confu-
kai2 dy1o me2n fysika2 uelh1mata oy3k y4penanti1a, mh2 são. E as duas vontades naturais não estão – longe
ge1noito, kauv2w oi4 a3sebei9w e5fhsan ai4retikoi1, a3ll’ disso! – em contraste entre si, como afirmam os
e4po1menon to2 a3nurv1pinon ay3toy9 ue1lhma, kai2 mh2 ímpios hereges, mas a sua vontade humana segue
a3ntipi1pton, h6 a3ntipalai9on, ma9llon me2n oy0n kai2 sem oposição ou relutância, ou melhor, é submissa
y4potasso1menon tö9 uei1ö ay3toy9 kai2 pansuenei9 à sua vontade divina e onipotente. Era necessário,
uelh1 m ati= e5 d ei ga2 r to2 th9 w sarko2 w ue1 l hma de fato, que a vontade da carne fosse guiada e sub-
kinhuh9nai, y4potagh9nai de2 tö9 uelh1mati tö9 ueïkö9 missa à vontade divina, segundo o sapientíssimo
*555 1 De “te1leion e3n ueo1thti” (“perfeito na divindade” [*554]) até aqui: tomado quase literalmente da definição de Calce-
dônia (*301s).
203
kata2 to2n pa1nsofon Auana13 sion1= v7sper ga2r h4 Atanásio1. Como, de fato, a sua carne é chamada a
ay3toy9 sa1rj, sa2rj toy9 Ueoy9 lo1goy le1getai kai2 carne do Verbo de Deus e realmente o é, assim a
e5stin, oy7tv kai2 to2 fysiko2n th9w sarko2w ay3toy9 vontade natural da sua carne é chamada, e é, vonta-
ue1lhma i5dion toy9 Ueoy9 lo1goy le1getai kai2 e5sti, de própria do Verbo de Deus, segundo o que ele
kaua1 fhsin ay3to1w= “o7ti katabe1bhka e3k toy9 mesmo afirma: “Desci do céu não para fazer a mi-
oy3ranoy9, oy3x i7na poiv9 to2 ue1lhma to2 e3mo1n, a3lla2 nha vontade, mas a vontade daquele que me enviou”
to2 ue1lhma toy9 pe1mcanto1w me patro1w” [Io 6,38], [Jo 6,38], chamando sua a vontade da sua carne, já
i5dion le1gvn ue1lhma ay3toy9 to2 th9w sarko1w, e3pei2 que a carne se tornara sua. De fato, como a sua carne,
kai2 h4 sa2rj i3di1a ay3toy9 ge1gonen= o8n ga2r tro1pon h4 toda santa, imaculada e animada, se bem que deifi-
panagi1a kai2 a5mvmow e3cyxvme1nh ay3toy9 sa2rj cada, não foi cancelada, mas permaneceu no pró-
ueouei9sa oy3k a3nüre1uh, a3ll’ e3n tö9 i3di1ö ay3th9w prio estado e no próprio modo de ser, assim tam-
o7rö te kai2 lo1gö die1meinen, oy7tv kai2 to2 a3nurv1pi- bém a sua vontade humana, ainda que deificada,
non ay3toy9 ue1lhma uevue2n oy3k a3nüre1uh, se1svstai não foi anulada, mas antes salvaguardada, segundo
de2 ma9llon, kata2 to2n ueolo1gon Grhgo1rion le1gonta= o que diz Gregório, o Teólogo: “De fato, o seu que-
“to2ga2r e3kei1noy ue1lein, to2 kata2 to2n svth9ra rer, considerado como o do Salvador, não é contrá-
nooy1menon oy3de2 y4penanti1on Ueö9, uevue2n o7lon2.” rio a Deus, pois é totalmente divinizado”2.
557 Dy1o de2 fysika2w e3nergei1aw a3diaire1tvw, a3tre1ptvw, Nós louvamos no mesmo nosso Senhor Jesus
a3meri1stvw, a3sygxy1tvw e3n ay3tö9 tö9 kyri1ö h4mv9n Cristo, nosso verdadeiro Deus, duas operações na-
3Ihsoy9 Xristö9 tö9 a3lhuinö9 Ueö9 h4mv9n doja1zomen, turais sem divisão, mudança, separação ou confu-
toyte1sti uei1an e3ne1rgeian kai2 a3nurvpi1nhn e3ne1rge- são: isto é, uma operação divina e uma operação
ian kata2 to2n uehgo1ron Le1onta trane1stata fa1skon- humana, conforme com toda clareza afirma o divi-
ta= “e3nergei9 ga2r e4kate1ra morfh2 meta2 th9w uate1roy no pregador Leão: “Cada natureza opera em comu-
koinvni1aw o7per i5dion e5sxhke, toy9 me2n lo1goy ka- nhão com a outra segundo o que lhe é próprio; o
tergazome1noy toy9to o7per e3sti2 toy9 lo1goy, toy9 de2 Verbo opera o que é próprio do Verbo, o corpo cum-
sv1matow e3kteloy9ntow a7per e3sti2 toy9 sv1matow” pre o que é próprio do corpo” [*294]. Não atribui-
[*294]. Oy3 ga2r dh1poy mi1an dv1somen fysikh2n th2n remos, decerto, uma só natural operação a Deus e à
e3ne1rgeian Ueoy9 kai2 poih1matow, i7na mh1te to2 poihue2n criatura, para que não elevemos a criatura até a subs-
ei3w th2n uei1an a3naga1gvmen oy3si1an, mh1te mh2n th9w tância divina, nem rebaixemos a sublimidade da
uei1aw fy1sevw to2 e3jai1reton ei3w to2n toi9w gennhtoi9w natureza divina ao nível que convém à criatura; pois
pre1ponta kataga1gvmen to1pon= e4no2w ga2r kai2 toy9 reconhecemos que tanto os milagres como os sofri-
ay3toy9 ta1 te uay1mata kai2 ta2 pa1uh ginv1skomen mentos são de um só e mesmo, segundo as respec-
kat’ a5llo kai2 a5llo tv9n, e3j vßn e3sti, fy1sevn, tivas propriedades das naturezas de que é composto
kai2 e3n aißw to2 ei0nai e5xei, v4w o4 uespe1siow e5fhse e nas quais tem o seu ser, como com divina elo-
Ky1rillow1. qüência disse Cirilo1.
558 Pa1ntouen goy9n to2 a3sy1gxyton kai2 a3diai1reton Conservando, portanto, inteiramente o que é in-
fyla1ttontew, synto1mö fvnü9 to2 pa9n e3jagge1llomen= confuso e indiviso, resumimos tudo nesta única ex-
e7na th9w a4gi1aw Tria1dow kai2 meta2 sa1rkvsin to2n pressão: crendo que é um da santa Trindade, tam-
ky1rion h4mv9n 3Ihsoy9n Xristo2n to2n a3lhuino2n Ueo2n bém depois da encarnação, o Senhor nosso Jesus
h4mv9n ei0nai pistey1ontew, fa1men dy1o ay3toy9 ta2w Cristo, nosso verdadeiro Deus, afirmamos que duas
fy1seiw e3n tü9 miä9 ay3toy9 dialampoy1saw y4posta1sei, são as suas naturezas a resplandecer na sua única
e3n üß ta1 te uay1mata, kai2 ta2 pauh1mata di’ o7lhw hipóstase, na qual, durante toda sua permanência
ay3toy9 th9w oi3konomikh9w a3nastrofh9w, oy3 kata2 fan- salvífica entre nós, tanto mostrou os prodígios quan-
tasi1an, a3lla2 a3lhuv9w e3pedei1jato, th9w fysikh9w e3n to os sofrimentos, não na aparência, mas verdadei-
ay3tü9 tü9 miä9 y4posta1sei diafora9w gnvrizome1nhw ramente; já que na única e mesma hipóstase se re-
tö9 meta2 th9w uate1roy koinvni1aw e4kate1ran fy1sin conhece a diferença das naturezas, porque cada
*556 1 Atanásio de Alexandria, Tractatus in illud “Nunc anima mea turbata est” [Jo 12,27] (perdido).
2 Gregório de Nazianze, Oratio 30, 12 (PG 36, 117C).
*557 1 Este texto parece reproduzir em estilo bastante livre o teor doutrinal sobretudo da carta sinodal a Nestório n. 8-9
(ACOe 1/I/I, 38), de seus anatematismos 4 e 9 (*255 260), da carta a João de Antioquia (*271-273), dos Scholia de
incarnatione Unigeniti (Florilegium Cyrillianum 112s: ACOe 1/ V/I, 229) e do Thesaurus de Trinitate (PG 75, 388).
Há semelhança também com o 3º anatematismo do II concílio de Constantinopla (*423).
204
ue1lein te kai2 e3nergei9n ta2 i5dia kau’ o8n dh2 lo1gon natureza quer e o opera em comunhão com a outra
kai2 dy1o fysika2 uelh1mata1 te kai2 e3nergei1aw o que lhe é próprio; e, por esta razão, louvamos
doja1zomen pro2w svthri1an toy9 a3nurvpi1noy ge1noyw também as duas vontades naturais e operações, que
katallh1lvw syntre1xonta. juntas concorrem à salvação do gênero humano.
Toy1 t vn toi1 n yn meta2 pa1 s hw pantaxo1 u en Estabelecido tudo isso com toda a exatidão e di- 559
a3kribei1aw te kai2 e3mmelei1aw par’ h4mv9n diatypv- ligência, determinamos que não é lícito a alguém
ue1ntvn, o4ri1zomen e4te1ran pi1stin mhdeni2 e3jei9nai exprimir uma outra profissão de fé, nem escrever,
profe1rein, h5goyn syggra1fein h6 syntiue1nai h6 fro- compor, pensar ou ensinar de outro modo. Aqueles,
nei9n h6 dida1skein e4te1rvw= toy2w de2 tolmv9ntaw h6 porém, que ousarem compor uma profissão de fé
syntiue1nai pi1stin e4te1ran h6 prokomi1zein h6 dida1s- ou difundir, ensinar ou transmitir um outro Símbo-
kein, h6 paradido1nai e7teron sy1mbolon toi9w e3ue1loy- lo aos que do paganismo, do judaísmo ou de qual-
sin e3pistre1fein ei3w e3pi1gnvsin th9w a3lhuei1aw e3j quer outra heresia desejam converter-se ao conhe-
‘Ellhnismoy9 h6 e3j 3Ioyda smoy9, h6 goy9n e3j ai4re1sevw cimento da verdade; ou <os que> tentarem introdu-
oi7aw oy0n, h6 kainofvni1an, h5toi le1jevw e3fey1resin zir inovações de expressão ou invenções de lingua-
pro2w a3natroph2n ei3sa1gein tv9n nyni2 par’ h4mv9n gem para transtorno de quanto agora por nós foi
diorisue1ntvn= toy1toyw, ei3 me2n e3pi1skopoi ei0en, h6 definido, se forem bispos ou clérigos, os bispos
klhrikoi1, a3llotri1oyw ei0nai toy2w e3pisko1poyw th9w sejam rebaixados do episcopado e os clérigos do
e3piskoph9w kai2 toy2w klhrikoy2w toy9 klh1roy= ei3 de2 estado clerical; se forem monges ou leigos, sejam
mona1zontew ei0en h6 la koi1, a3nauemati1zesuai ay3toy1w. anatematizados.
205
peccato: et duas idcirco naturales voluntates duasque operou as coisas humanas, exceto só o pecado: <o
naturales operationes eum habere veraciter praedi- Sínodo> proclamou verazmente que ele, por isso,
cavit, per quae principaliter et naturarum eius veritas tem duas vontades naturais e duas operações natu-
demonstratur, usque ad cognoscendam profecto rais, pelas quais é também demonstrada, principal-
differentiam, quarum sunt naturarum, ex quibus et mente, a verdade das suas naturezas, para que se
in quibus unus idemque Dominus noster Iesus Chris- reconheça claramente a diferença, <ou seja>, sua
tus consistit; per quae revera probavimus, hanc sanc- respectiva pertença a essas naturezas das quais e
tam … sextam Synodum … apostolicam praedica- nas quais é composto o único e mesmo Senhor nosso
tionem inoffenso pede fuisse secutam, sanctorumque Jesus Cristo; pelo que na verdade reconhecemos que
et universalium quinque conciliorum definitionibus este santo … sexto Sínodo … seguiu a pregação
in omnibus consentientem, nihil super statuta or- apostólica sem tropeçar, de acordo em todos os pon-
thodoxae fidei augentem aut minuentem, sed regi- tos com as definições dos cinco Sínodos santos e
am et evangelicam semitam rectissime gradientem, universais, sem nada acrescentar ou diminuir quan-
et in his atque per eos sacrorum dogmatum lima et to ao estabelecido pela fé ortodoxa, mas seguindo
probabilium catholicae Ecclesiae Patrum doctrina de modo bem reto o caminho régio e evangélico; e
servata est … neles e por meio deles foram guardadas a elabora-
ção dos sagrados dogmas e a doutrina dos Padres
aprovados pela Igreja católica …
562 Et quia [Synodus Constantinopolitana] definitio- E já que [o Sínodo de Constantinopla] anunciou
nem rectae fidei … plenissime praedicavit, quam et com grande ênfase … a definição da reta fé, que
Apostolica Sedes beati Petri Apostoli … veneranter também a Sé Apostólica do bem-aventurado Após-
suscepit, idcirco et Nos, et per Nostrum officium tolo Pedro … acolheu com veneração, por isso, Nós,
haec veneranda Sedes Apostolica concorditer ac e através do nosso ministério esta veneranda Sé
unanimiter his quae definita sunt ab ea, consentit et Apostólica, concorde e unanimemente aprovamos
beati Petri auctoritate confirmat … o que por este foi definido e o confirmamos com a
autoridade do bem-aventurado Pedro …
563 Pariterque anathematizamus novi erroris inven- E igualmente anatematizamos os autores do novo
tores, id est Theodorum Pharanitanum episcopum, erro, isto é Teodoro, bispo de Faran, Ciro de Ale-
Cyrum Alexandrinum, Sergium, Pyrrhum … necnon xandria, Sérgio, Pirro … e também H o n ó r i o , que
et H o n o r i u m , qui hanc apostolicam Ecclesiam não iluminou esta Igreja apostólica com a doutrina
non apostolicae traditionis doctrina lustravit, sed da tradição apostólica, mas tentou subverter a ima-
profana proditione immaculatam fidem subvertere culada fé com ímpia traição [versão grega: permi-
conatus est [graeca recensio: tü9 bebh1lö prodosi1ä tiu que a <Igreja> imaculada fosse manchada por
mianuh9nai th2n a5spilon parexv1rhse]. ímpia traição].
206
utraque perfecta, nihil minus ex deitate habens, ni- pela Virgem Maria. Cada uma de suas gerações é
hil imperfectum ex humanitate suscipiens, non na- completa, cada qual perfeita; ele não tem nada de
turarum geminatione divisus, non persona gemina- menos da divindade, nem recebe nada de imperfeito
tus, sed plenus Deus plenusque homo absque omni da humanidade, não é dividido pela duplicidade das
peccato in singularitate personae unus est Christus. naturezas, nem duplicado na pessoa, mas, como Deus
completo e homem completo, sem pecado algum, é,
na singularidade da pessoa, o único Cristo.
Unus igitur in utraque natura consistens et divi- Subsistindo como único, portanto, nas duas natu-
nitatis signis effulget et humanitatis passionibus rezas, refulge nos sinais da divindade e está subme-
subiacet. Nec enim alter ex Patre, alter ex matre est tido aos sofrimentos da humanidade. Não foi, de
genitus, cum tamen aliter de Patre, aliter de matre fato, outro que foi gerado do Pai e outro, da mãe, se
sit natus: ipse tamen in utroque naturarum genere bem que tenha nascido de outro modo do Pai e de
non divisus, sed unus idemque et Dei et hominis outro modo da mãe; o mesmo não é, todavia, divi-
filius; ipse vivit moriens, ipse moritur vivens; ipse dido nas duas formas de natureza, mas o único e o
impassibilis patiens, ipse passioni non subiacens nec mesmo Filho, quer de Deus, quer do homem; ele
deitate succumbens nec humanitate passioni se mesmo vive, se bem que morra, e morre, se bem
subtrahens; habens ex deitatis natura nonposse mori, que viva. Ele mesmo é impassível ainda que sofra;
habens ex humanitatis substantia et nolle et posse em <sua> divindade não sucumbe ao sofrimen-
mori; ex una immortalis habetur, ex altera morta- to, em <sua> humanidade não se lhe subtrai; da na-
lium condicione resolvitur; habens in aeterna divi- tureza da divindade ele tem o não poder morrer; da
nitatis voluntate quo susceptum hominem sumeret, substância da humanidade, ele tem e o não querer
habens in suscepti hominis voluntate, ut humana morrer e o poder morrer; com base em uma condi-
voluntas Deo subdita esset. Unde et ipse dicit ad ção é tido imortal, com base na outra, a dos mortais,
Patrem: “Pater, non mea voluntas, sed tua fiat” [Lc desfalece; na eterna vontade da divindade ele pos-
22,42], alteram videlicet ostendens voluntatem di- sui o uso do homem assumido; na vontade do ho-
vinitatis qua susceptus est homo, alteram hominis mem assumido lhe cabe que a vontade humana fi-
qua oboediendum est Deo. que sujeita a Deus. Por isso, ele mesmo diz ao Pai:
“Pai, não se faça a minha, mas a tua vontade” [Lc
22,42], e mostra assim que uma é a vontade de Deus,
em virtude da qual o homem é assumido, e outra a
do homem, com a qual se deve obedecer a Deus.
(c. 9) Et ideo secundum harum duarum differen- (Cap. 9) E portanto, segundo a diferença dessas
tiam naturarum, duarum quoque inseparabilium pro- duas naturezas, deve-se também proclamar as pro-
prietates praedicandae sunt voluntatum et operum. priedades de duas vontades e operações inseparáveis.
(c. 10) … Si quis igitur Iesu Christo Dei Filio ex (Cap. 10) … Por isso, se alguém, a Jesus Cristo
utero Mariae virginis nato aliquid aut divinitatis Filho de Deus nascido do seio da virgem Maria, algo
imminuit aut de suscepta humanitate subducit, ex- tira da divindade ou alguma coisa subtrai da humani-
cepta sola lege peccati, et eum non verum Deum dade assumida, exceto somente a lei do pecado, e não
hominemque perfectum in una persona subsisten- crê sinceramente que ele existe como verdadeiro Deus
tem sincerissime credit, anathema sit. e perfeito homem em uma só pessoa, seja anátema.
207
houvesse três substâncias. Juliano, porém, perseverou em suas opiniões censuradas e escreveu uma segunda apologia, o
Liber responsionis fidei nostrae. Com facilidade conseguiu que tal obra fosse acolhida nos atos do XV Sínodo de Toledo,
pois ele foi o presidente. Diz-se que o Papa Sérgio I aprovou esta explicação. Contrariamente aos Padres espanhóis, mais
tarde os sinodais do Sínodo de Frankfurt afastaram a segunda proposição doutrinal de Juliano (*613). Deve-se admitir
que não se justifica, nem pela lógica nem pelos costumes eclesiásticos, colocar no mesmo degrau de ser, numa mera
adição, uma substância completa (a natureza divina) e duas incompletas (a alma e o corpo da natureza humana).
Ed.: MaC 12, 10E-12D / HaC 3, 1761B-1762D / PL 96, 525A-529B / CdLuc 741-746 / CVis 453-456.
208
posse intelligi aut anima sola interdum nominata meada a carne se pode entender o homem inteiro,
totius hominis perfectionem agnosci. Quapropter ou então, que se entende a perfeição do homem in-
natura divina humanae sociata naturae possunt et teiro quando somente se fala da alma. Por isto a
tres proprie et duae tropice appellari substantiae. Sed natureza divina associada à natureza humana pode
aliud est, cum per proprietatem totus homo ser chamada quer três substâncias em sentido pró-
exprimitur, aliud, cum a parte totus intelligitur. Est prio, quer duas em sentido figurado. É, porém, ou-
enim quidam modus locutionis, qui frequenter in tra coisa expressar o homem todo mediante uma pro-
Scripturis divinis positus invenitur, quo significatur priedade, e outra coisa compreender o todo a partir
a parte totum: hic etiam tropus apud grammaticos de uma parte. Há, de fato, um modo de dizer que se
“synecdoche” dicitur. encontra muito nas Escrituras divinas, pelo qual o
todo é designado a partir de uma parte, e este modo
pelos gramáticos é chamado de “sinédoque”.
A divina Trindade
(art. 1) Credimus et confitemur omnium creatu- (Art. 1) Cremos e professamos, como autora e con- 568
rarum, quae trinis rerum machinis continentur, servadora de todas as criaturas que estão contidas na
auctricem atque conservatricem individuam Trini- tríplice construção do mundo, a indivisa Trindade;
tatem: (2) id est Patrem, qui est totius fons et origo (2) isto é, o Pai, que é fonte e origem de toda a divin-
divinitatis; Filium, qui est plena imago Dei propter dade; o Filho, que é a plena imagem de Deus, por
expressam in se paternae claritatis unionem, ante causa da unidade nele expressa com a glória do Pai,
omnium saeculorum eventum ex Patris intimo tendo sido gerado inefavelmente, antes de todos os
ineffabiliter genitus; Spiritum vero Sanctum ex Patre séculos, do íntimo do Pai; e o Espírito Santo, que
Filioque absque aliquo initio procedentem. procede do Pai e do Filho, sem início algum.
(3) Qui tres, quamquam personarum secernantur (3) Se bem que estes três sejam separados pela
distinctione, numquam tamen separantur potentiae distinção das pessoas, não são, porém, jamais divi-
maiestate: inseparabilis nempe aequalitatis eorum didos na majestade do poder: a sua divindade, de
insinuatur divinitas. Et tamen, quamvis Pater ge- fato, é dada a conhecer como de igualdade insepa-
nuerit Filium, nec ideo Filius sit idem qui Pater, rável. E, se bem que o Pai tenha gerado o Filho,
neque Pater sit ipse qui Filius, sed nec Spiritus nem por isso o Filho é o mesmo que o Pai, nem o
Sanctus Pater sit Filiusque, sed tantum Patris Filii- Pai o mesmo que o Filho; mas também o Espírito
que Spiritus eidem Patri et Filio etiam ipse coaequa- Santo não é nem o Pai nem o Filho, mas só o Espí-
lis. (4) Nequaquam in hac sancta Trinitate quicquam rito do Pai e do Filho, também ele igual ao Pai e ao
creatum servum famulumque convenit credi, nec Filho. (4) Não se deve absolutamente crer que nes-
adventitium vel subintroductum tamquam ei aliquan- ta santa Trindade haja alguma coisa de criado, ser-
do acciderit, quod constet eam aliquando minime vo e servidor; nem se deve afirmar que alguma vez
habuisse, condecet autumari. … lhe tenha sobrevindo algo de adventício ou tenha
sido subintroduzido algo que, pelo que consta, an-
tes não o tivesse. …
(6) Quarum tamen personarum, quamvis in hoc, (6) Se bem que nestas pessoas, no que são em
quod ad se sunt, nulla possit separabilitas inveniri, relação a si mesmas, não possa ser encontrada divi-
in hoc vero, quod ad distinctionem adtinet, sunt são alguma, há todavia, no que concerne à distin-
quaedam, quae specialius unicuique possint perti- ção, alguma coisa que pode respeitar especialmen-
nere personae: scilicet, quod Pater a nullo origi- te a cada pessoa em particular, a saber, que o Pai
nem sumpsit, Filius Patre generante exsistit, Spi- não teve origem de ninguém, que o Filho existe
209
ritus quoque Sanctus ex Patris Filiique unione pro- porque o Pai gera e que o Espírito Santo procede da
cedit. … unidade do Pai e do Filho.
(10) Et ista dicentes non personarum confundi- (10) E quando dizemos isto, não confundimos as
mus proprietates, nec unionem substantiae separa- propriedades das pessoas, nem separamos a unida-
mus; nihil etiam in eadem sancta Trinitate maius de da substância; e também não devemos crer que
aut minus credere oportet nihilque etiam imperfec- nesta santa Trindade algo seja maior ou menor, nem
tum atque mutabile. … que algo seja imperfeito e mutável. …
570 (12) Idcirco sunt quaedam, quae in hac sancta (12) Por isso, há alguma coisa que nesta santa
Trinitate indiscrete oporteat confiteri. In hoc etenim, Trindade se deve professar sem introduzir uma di-
quod ad se sunt Pater et Filius et Spiritus Sanctus, visão. De fato, naquilo que o Pai e o Filho e o Es-
indiscrete unus Deus credendus est Pater cum Filio pírito Santo são para si, devem ser cridos indivisos
et Spiritu Sancto. Quod vero ad relativum adtinet, como um só Deus, o Pai com o Filho e o Espírito
discrete personarum trium est praedicanda proprie- Santo. No que diz respeito à relação, o que é pró-
tas, Evangelista praedicante: Ite, docete omnes gen- prio das três pessoas deve ser proclamado de ma-
tes in nomine Patris et Filii et Spiritus Sancti [cf. neira distinta, como proclama o Evangelista: Ide,
Mt 28,19]. Relativum etenim dicitur, quod una ad ensinai a todas as gentes no nome do Pai e do Filho
aliam persona referatur; nam quando dicitur Pater, e do Espírito Santo [cf. Mt 28,19]. Fala-se de “rela-
Filii nihilominus persona signatur, et cum dicitur ção” enquanto uma pessoa se refere a outra; de fato,
Filius, Pater ei sine dubio inesse monstratur. quando se diz “Pai” é designada também a pessoa
do Filho, e quando se diz “Filho”, aparece que o
Pai sem dúvida está nele.
(13) At nunc, quoniam Spiritus Sancti vocabu- (13) Ora, na palavra “Espírito Santo”, com a qual
lum, quo non tota Trinitas significatur, sed tertia não é designada a inteira Trindade, mas a terceira
quae est in Trinitate persona, quomodo secundum pessoa que está na Trindade, não é de todo claro
relativum ad Patris Filiique referatur personam, como no sentido relacional se refira à pessoa do Pai
nequaquam apertissime pateat pro eo scilicet, quia e do Filho, pois assim como dizemos: o Espírito San-
sicut dicimus Spiritum Sanctum Patris, non conse- to do Pai, não dizemos correspondentemente: o Pai
quenter dicimus Patrem Spiritus Sancti, ne Filius do Espírito Santo, para que não se entenda o Espí-
Spiritus Sanctus intellegatur; in aliis tamen vocabu- rito Santo como Filho; porém, nos outros vocábulos
lis, quibus eiusdem Sancti Spiritus signatur perso- com os quais se designa a pessoa do Espírito Santo
na, ad relativum pertinere dinoscitur. (14) Igitur está claro que exprimem a relação. (14) Particular-
“donum” specialiter Spiritum Sanctum accipimus, mente compreendemos, portanto, o Espírito Santo,
quae in sancta praenoscitur Trinitate tertia esse per- do qual se sabe que é a terceira pessoa da santa Trin-
sona pro eo quod a Patre Filioque, cum quibus unius dade, como “dom”, pelo motivo de ele ser dado aos
essentiae per omnia creditur, fidelibus condonetur: fiéis pelo Pai e pelo Filho, com os quais cremos que
quapropter cum dicitur “donum donatoris” et “do- em tudo seja de uma só essência; se, por isso, se fala
nator doni”, relativum haud dubie declaratur: quod do “dom do doador” e do “doador do dom”, aparece
etiam de ipso vocabulo Spiritus Sancti inculpabili- claro sem dúvida o sentido relacional; e isto deve
ter est credendum. ser crido – para não incorrer em culpa – também da
própria palavra “Espírito Santo”.
210
obumbraturum eam praemonuit [cf. Lc 1,35], ciando que o poder do Altíssimo, que é o Filho de
eiusdem Filii carni totam Trinitatem cooperatricem Deus Pai, a cobriria com sua sombra [cf. Lc 1,35],
esse monstravit. (19) Quae scilicet virgo sicut ante mostrou que a inteira Trindade coopera com a car-
conceptionem obtinuit virginitatis pudorem, ita post ne do Filho. (19) De fato, como a virgem antes da
partum nullam sensit integritatis corruptionem; nam concepção conservou o pudor da virgindade, assim
virgo concepit, virgo peperit, et post partum incor- depois do nascimento a sua integridade não foi fe-
ruptelae pudorem sine interceptione obtinuit. … rida; pois como virgem concebeu, como virgem deu
à luz e depois do nascimento conservou, sem que
nada se subtraísse, o pudor da incorrupção. …
(22) Ipse vero Dei Filius ab ingenito Patre geni- (22) É evidente, pois, que o Filho mesmo de Deus, 572
tus, a vero verus, a perfecto perfectus, ab uno unus, gerado do Pai não gerado, verdadeiro do verdadei-
a toto totus, Deus sine initio, perfectum hominem ro, perfeito do perfeito, uno do uno, inteiro do intei-
de sancta et inviolata Maria semper virgine adsump- ro, Deus sem início, assumiu um homem perfeito da
sisse est manifestus. (23) Cui etiam, sicut hominis santa e inviolada sempre virgem Maria. (23) Como
perfectionem adscribimus, ita duas ei voluntates lhe atribuímos a perfeição do homem, assim não
inesse, unam divinitatis suae, aliam humanitatis menos cremos que nele há também duas vontades,
nostrae, nihilominus credimus: (24) quod etiam per uma da sua divindade, outra da nossa humanidade;
quatuor Evangelistarum oracula eiusdem Redemp- (24) isso é também declarado com toda clareza nos
toris nostri affatu evidentissime declaratur; sic enim dizeres dos quatro evangelistas em que fala o nosso
fatus est dicens: “Pater mi, si possibile est, transeat Redentor; ele, de fato, se exprimiu assim: “Meu Pai,
a me calix iste; verumtamen non sicut ego volo, sed se for possível, afasta de mim este cálice, todavia
sicut tu” vis [Mt 26,39]; et iterum: Non veni volun- não como eu quero mas como tu queres” [Mt 26,39];
tatem meam facere, sed voluntatem eius, qui misit e ainda: Não vim para fazer a minha vontade, mas a
me [cf. Io 6,38] … vontade daquele que me enviou [cf. Jo 6,38] …
(25) Quibus etiam adlocutionibus demonstrat suam (25) Com estas palavras, ele mostra também que
voluntatem ad hominem retulisse se adsumptum, a sua vontade, ele a referiu ao homem assumido,
Patris ad divinitatem, in qua est idem unus et aequa- mas aquela do Pai, à divindade, na qual ele é uno e
lis cum Patre: quippe quantum ad divinitatis adtinet igual ao Pai. De fato, no que concerne à unidade da
unitatem, non est alia voluntas Patris, alia Filii; una divindade, a vontade do Pai não é diferente da do
enim est voluntas, ubi una persistit divinitas. Quan- Filho, pois onde há uma só divindade, há uma só
tum autem ad hominis naturam adsumpti alia est vontade. Quanto, porém, à natureza do homem as-
voluntas deitatis suae, alia etiam humanitatis nos- sumido, outra é a vontade da sua divindade e outra
trae. (26) Proinde in hoc quod ait: “Non sicut ego a da nossa humanidade. (26) Por isso, nesta sua ex-
volo, sed sicut tu” [Mt 26,39], patule ostendit non pressão: “Não como eu quero, mas como tu <que-
velle id fieri quod voluntate humani loquebatur affec- res>” [Mt 26,39], ele mostra claramente não querer
tus, sed propter quod ad terras paterna voluntate que aconteça o que falava sob influxo da vontade
descenderat, cuius tamen Patris voluntas nequaquam humana, mas aquilo por que descera à terra segun-
contraria Filii voluntati exstitit, quia quibus est divi- do o querer do Pai; mas a vontade do Pai não é de
nitas una, non potest esse voluntas diversa; et ubi in modo algum oposta à vontade do Filho, pois aque-
natura nihil potest diversitatis accidere, ibi nihilo- les que têm uma só divindade não podem ter uma
minus enumerantur generaliter aliqua numerosa. vontade diferente; e onde na natureza não pode haver
diversidade alguma, lá contudo pode, de modo ge-
ral, ser enumerado algum número.
(27) Igitur huius voluntatis sanctae vocabulum, (27) Por isso, este termo “santa vontade” – se bem 573
quamvis per comparativam similitudinem Trinita- que, na semelhança comparativa na qual a Trindade
tis, qua dicitur memoria, intellegentia et voluntas, é chamada memória, inteligência e vontade, apare-
ad personam Sancti referatur Spiritus, secundum hoc ça referido ao Espírito Santo –, segundo o signifi-
autem, quod ad se dicitur, substantialiter praedica- cado que tem em si é predicado em relação à subs-
tur. (28) Nam voluntas Pater, voluntas Filius, vo- tância. (28) De fato, o Pai <é> vontade, o Filho,
luntas Spiritus Sanctus, quemadmodum Deus est vontade, e o Espírito Santo, vontade, como também
Pater, Deus est Filius, Deus est Spiritus Sanctus, et o Pai é Deus, o Filho é Deus, o Espírito Santo é
211
multa alia similia, quae secundum substantiam dici Deus; e muitas outras coisas semelhantes, que, sem
ab his, qui catholicae fidei veridici cultores exsistunt, ambigüidade alguma, são ditas em relação à subs-
nulla ratione ambigitur. (29) Et sicut est catholicum tância por aqueles que verdadeiramente honram a
dici Deum de Deo, lumen de lumine, lucem de luce, fé católica. (29) E como é católico dizer “Deus de
ita verae fidei est proba adsertio, voluntatem dici Deus”, “luz de luz”, “esplendor de esplendor”, as-
de voluntate, sicut sapientiam de sapientia, essen- sim é justa afirmação da fé católica dizer “vontade
tiam de essentia: et veluti Deus Pater genuit Filium de vontade”, bem como “sabedoria de sabedoria”,
Deum, ita voluntas Pater genuit Filium voluntatem. “essência de essência”; e como Deus Pai gerou Deus
(30) Itaque quamquam secundum essentiam Pater Filho, assim a vontade, o Pai, gerou a vontade, o
voluntas, Filius voluntas, Spiritus Sanctus voluntas, Filho. (30) E se bem que o Pai segundo a essência
non tamen secundum relativum unus esse creden- seja vontade, o Filho, vontade e o Espírito Santo,
dus est, quoniam alius est Pater qui refertur ad Fi- vontade, todavia não se deve crer que estes, em
lium, alius Filius qui refertur ad Patrem, alius Spi- sentido relacional, sejam um só, pois um é o Pai
ritus Sanctus qui pro eo quod de Patre Filioque que se refere ao Filho, outro o Filho que se refere
procedit, ad Patrem Filiumque refertur: non aliud, ao Pai, outro o Espírito Santo que, por proceder do
sed alius; quia quibus est unum esse in deitatis na- Pai e do Filho, se refere ao Pai e ao Filho: não
tura, his est in personarum distinctione specialis qualquer outra coisa, mas um outro, pois os que têm
proprietas. … um único ser na natureza da divindade têm uma
peculiar propriedade na distinção das pessoas. …
*574 1 Contra o patriarca Eutíquio de Constantinopla; cf. Gregório Magno, Moralia XIV 56, n. 72 (M. Adriaen: CpChL 143A
[1979] 743s / PL 75, 1077s).
212
cesserint aut peccata in ea relaxari diffidentiae malo que, pelo mal da incredulidade, negam que nela os
negaverint, nisi paenitudinis ope ad eam redierint pecados são remitidos, se não retornarem a ela com
et quaeque Nicaena synodus …, Constantinopolita- o auxílio da penitência e não tiverem crido sem som-
nus conventus …, Epheseni primi concilii amplecti bra de dúvida todas as afirmações que o Sínodo de
auctoritas sanxit atque Chalcedone sanctorum una- Nicéia …, a reunião de Constantinopla … e a auto-
nimitas vel reliquorum conciliorum sive etiam om- ridade do primeiro Concílio de Éfeso decidiu aceitar
nium venerabilium Patrum in fide sana recte viven- e que a vontade unânime dos santos Padres em Cal-
tium edicta custodire praecipiunt, absque aliquo cedônia ou dos outros concílios, ou também de to-
dubietatis naevo non crediderint, perpetuae damna- dos os venerandos Padres que viveram retamente na
tionis sententia ulciscentur atque in fine saeculi cum santa fé prescrevem observar, <todos eles> serão san-
diabolo eiusque sociis ignivomis rogis cremabuntur. cionados com a condenação à punição eterna e, no
fim do tempo, serão queimados com o diabo e os
seus asseclas em fogueiras vomitando chamas.
Ta2 gra1mmata
581: Carta “Ta2 mata” ao imperador Leão III entre 726 e 730
Esta carta, atribuída no passado erroneamente a Gregório III, é, ao menos quanto à substância, autêntica (E. Caspar).
É dirigida a Leão III Isáurico, cognominado “o iconoclasta”.
Ed.: E. Caspar, Papst Gregor II. und der Bilderstreit, in: ZKG 52 (1933) 77156-171 (somente em grego) / MaC 12,
966A-C (gr.); 965 (lat.) / HaC 4, 8AB; 7AB / BarAE, ao ano 726 n. 28.
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ei3w y4po1mnhsin h4mv9n kai2 ei3w die1gersin kai2 to2n rador, mas para nossa memória e nosso estímulo, e
noy9n h4mv9n to2n paxy2n kai2 xondro2n a5nv a3nafe1ronta, para que nossa mente lerda e fraca seja dirigida para
di’ vßn ta2 o3no1mata kai2 di’ vßn h4 e3pi1klhsiw kai2 o alto por meio daqueles aos quais se referem esses
di’ vßn oi4 xarakth9rew= kai2 oy3k v4w ueoy1w, v4w le1geiw nomes, invocações e imagens; e não como se fos-
sy1. Mh2 ge1noito. Oy3 ga2r e5xomen ta2w e3lpi1daw ei3w sem deuses, como tu dizes – longe de nós! De fato,
ay3ta1. Kai2 ei3 me1n e3stin ei3kv9n toy9 Kyri1oy, le1gomen= não pomos nossa esperança nesses <objetos>. E se
Ky1rie 3Ihsoy9 Xriste2 Yi4e2 toy9 Ueoy9, boh1uhson kai2 é uma imagem do Senhor, dizemos: Senhor Jesus
sv9son h4ma9w. Ei3 de2 th9w a4gi1aw ay3toy9 mhtro1w, le1go- Cristo, Filho de Deus, socorre-nos e salva-nos. Se
men= a4gi1a ueoto1ke, mh1thr toy9 Kyri1oy, pre1sbeye <é> da sua santa Mãe, dizemos: Santa mãe de Deus,
ei3w to2n Yi4o1n soy to2n a3lhuino2n Ueo2n h4mv9n ei3w to2 mãe do Senhor, intercede junto ao teu Filho, nosso
sv9sai ta2w cyxa2w h4mv9n. Ei3 de2 ma1rtyrow= a7gie verdadeiro Deus, para a salvação das nossas almas!
Ste1fane prvtoma1rtyw, o4 e3kxy1saw to2 aißma y4pe2r Se <é> do mártir, <dizemos>: Ó santo Estêvão,
Xristoy9 v4w e5xvn parrhsi1an= pre1sbeye y4pe2r h4mv9n. protomártir, tu que derramaste o sangue pelo Cris-
Kai2 e3pi2 panto2w ma1rtyrow martyrh1santow oy7tvw to, com tua liberdade de falar, intercede por nós! E
le1gomen, toiay1taw ey3xa2w a3nape1mpomen di’ ay3tv9n. para qualquer mártir que venceu o martírio, assim
Kai2 oy3k e5stin, v4w le1geiw, basiley9, ueoy2w toy2w dizemos, elevamos semelhantes orações por meio
ma1rtyraw o3noma1zontew. deles. E não é <verdade> que chamamos os márti-
res de deuses, como dizes, ó Imperador.
214
Simonia
(§ 2) Repperimus [in Bonifatii litteris ad papam] (§2) Encontramos [numa carta de Bonifácio ao 586
…, quod talia a te nobis referantur, quasi Nos cor- Papa] …, que por ti nos foi comunicado que Nós
ruptores simus canonum et Patrum rescindere tra- seríamos corruptores dos cânones e procuraríamos
ditiones quaeramus, ac per hoc, quod absit, cum ab-rogar as tradições dos Padres, e que com isto –
nostris clericis in simoniacam haeresim incidamus, o que fique longe de nós! – cairíamos junto com o
accipientes et compellentes quorum pallia tribuimus, nosso clero na heresia simoníaca por aceitarmos
ut nobis praemia largiantur, expetentes ab illis pe- <prêmios> e constrangermos aqueles aos quais con-
cunias. … [Admonetur Bonifatius, ne tale quid ite- cedemos o pálio, pretendendo deles dinheiro. …
rum scribat], quia fastidiosum a Nobis et iniurio- [Bonifácio é admoestado a não escrever novamen-
sum suscipitur, dum illud Nobis ingeritur quod Nos te tais coisas], porque de nossa parte é tido como
omnino detestamur. Absit enim a Nobis et a Nostris repugnante e injurioso culpar-nos disto que plena-
clericis, ut donum, quod per Spiritus Sancti gratiam mente detestamos. Fique longe de Nós e do nosso
suscepimus, pretio venumdemus … anathematizan- clero vender por dinheiro um dom que recebemos
tes namque omnes, quicumque ausi fuerint donum pela graça do Espírito Santo … pois anatematiza-
Sancti Spiritus pretio venumdare. mos todos aqueles que ousem vender por dinheiro
um dom do Espírito Santo.
… Clemens, qui per suam stultitiam sanctorum … Clemente, que na sua estupidez afasta quanto 587
Patrum statuta respuit vel omnia synodalia acta, foi estabelecido pelos santos Padres e todos os atos
inferens etiam Christianis iudaismum, dum praedi- sinodais, e que introduz também para os cristãos o
cet fratris defuncti accipere uxorem, insuper et Do- judaísmo pregando que <é lícito> tomar a mulher
minum Iesum Christum descendentem ad inferos do irmão defunto, e que além disso prega que o
omnes pios et impios exinde praedicat abstraxisse, Senhor Jesus Cristo, logo que desceu aos infernos,
ab omni sit sacerdotali officio nudatus et anathema- tirou de lá a todos, pios e ímpios, seja privado de
tis vinculo obligatus. qualquer ofício sacerdotal e ligado pelo vínculo do
anátema.
215
589: Carta “Sacris liminibus”, ao arcebispo Bonifácio de Mainz (Mogúncia), 1 mai. 748
Ed.: Tangl: MGH Epistulae selectae I 17319-26 1753-8 (= Carta 80) / Dümmler: MGH Epistulae III 35710-24 3589-13 /
Jaffé, Monumenta Moguntina 186s (= Carta 66) / PL 89, 943D; 944C (= Carta 11) / Graciano, Decretum, p. III, dist.
4, c. 83 (Frdb 1, 1389s). – Reg.: JR 2286 com acréscimos; BoeW 1, 16s, n. 70.
216
Forma do batismo
(Resp. XIV.) De illo presbytero, qui baptizavit (Resp. 14) A respeito daquele presbítero que ba- 592
isto modo sic rustice: In nomine Patris mergo et tiza deste modo tão rústico: Em nome do Pai imirjo
Filii mergo et Spiritus Sancti mergo, et ipse presby- e em nome do Filho imirjo e em nome do Espírito
ter nescit, si episcopus fuit qui eum benedixit: hic, Santo imirjo; e o mesmo presbítero não sabe se foi
qui ordinationem suam ignorat, omnino abiiciendus um bispo que o consagrou: esse, que não sabe nada
est …; infantes vero illi, quos baptizavit, licet rustice, de sua ordenação, absolutamente deve ser deposto
quia in nomine sanctae Trinitatis sunt baptizati, in …; ora, as crianças que ele, mesmo de modo rústi-
eo permaneant baptismo. co, batizou, permaneçam neste batismo, já que fo-
ram batizadas em nome da santa Trindade.
A predestinação
Illud autem, quod alii ex ipsis dicunt, quod prae- Ora, a respeito do que outros dentre eles dizem, 596
destinatio ad vitam sive ad mortem in Dei sit potes- que a predestinação para a vida ou para a morte esteja
tate et non nostra; isti dicunt “Ut quid conamur em poder de Deus e não no nosso, uns dizem: “Que
vivere, quod in Dei est potestate?”; alii iterum di- adianta esforçar-se para viver se isso está em poder de
cunt: “Ut quid rogamus Deum, ne vincamur tenta- Deus?”; outros por sua vez: “Que adianta rezar a Deus
tione, quod in nostra est potestate, quasi libertate para não sermos vencidos pela tentação, se isso, como
arbitrii?” que pelo livre-arbítrio, está em nosso poder?”
Revera enim nullam rationem reddere vel acci- Realmente, eles não podem apresentar ou rece-
pere valent, ignorantes beati Fulgentii episcopi ad ber razão alguma, pois ignoram os escritos do bem-
Eugipium presbyterum contra sermonem cuiusdam aventurado bispo Fulgêncio ao presbítero Eugípio
Pelagiani opuscula directa …: “Opera ergo miseri- dirigidos contra os discursos de um pelagiano … :
cordiae ac iustitiae praeparavit Deus in aeternitate “Deus preparou na eternidade da sua imutabilidade
incommutabilitatis suae …” praeparavit ergo iusti- obras de misericórdia e de justiça …; preparou, por-
ficandis hominibus merita; praeparavit iisdem glo- tanto, méritos para os homens a serem justificados,
rificandis et praemia; malis vero non praeparavit preparou para os mesmos, para sua glorificação,
voluntates malas aut opera mala, sed praeparavit eis também prêmios; para os maus, porém, não prepa-
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iusta et aeterna supplicia. Haec est aeterna praedes- rou vontades más ou más obras, mas lhes preparou
tinatio futurorum operum Dei, quam, sicut nobis suplícios justos e eternos. Tal é a eterna predestina-
apostolica doctrina semper insinuari cognoscimus, ção das futuras obras de Deus que, como sabemos,
sic etiam fiducialiter praedicamus.” pela doutrina apostólica sempre nos foi ensinado, e
que assim também confiantemente pregamos”.
*601 1 Basílio Magno, De Spiritu Sancto 18, n. 45 (B. Pruche [SouChr 17bis; Paris 19682] 40619s / PG 32, 149C); é o locus
classicus da veneração das imagens sagradas.
218
Oy7tv ga2r kraty1netai h4 tv9n a4gi1vn pate1rvn Assim se reforça o ensinamento dos nossos san- 602
h4 m v9 n didaskali1 a , ei 5 t oyn para1 d osiw th9 w tos Padres, ou seja, a tradição da Igreja universal,
kauolikh9w e3kklhsi1aw, th9w a3po2 pera1tvn ei3w pe1rata que de um extremo ao outro da terra acolheu o Evan-
dejame1nhw to2 ey3agge1lion= oy7tv tö9 e3n Xristö9 gelho. Assim nos tornamos seguidores de Paulo que
lalh1santi Pay1lö [cf. 2 Cor 2,17] kai2 pa1sü tü9 falou em Cristo [cf. 2Cor 2,17], do divino colégio
uei1ä a3postolikü9 o4mhgy1rei kai2 patrikü9 a4gio1thti apostólico e dos santos Padres, mantendo as tradi-
e3jakoloyuoy9men kratoy9ntew ta2w parado1seiw [cf. ções que temos recebido [cf. 2Ts 2,15]. Assim po-
2 Th 2,15], a8w pareilh1famen= oy7tv toy2w e3piniki1oyw demos cantar para a Igreja os hinos triunfais à ma-
tü9 e3kklhsi1ä profhtikv9w katepä1domen y7mnoyw= neira do profeta: “Alegra-te filha de Sião, exulta filha
“Xai9re sfo1dra, uy1gater Si1vn, kh1rysse, uy1gater de Jerusalém; goza e regozija-te com todo o cora-
4Ieroysalh1m= te1rpoy kai2 ey3frai1noy e3j o7lhw th9w ção; o Senhor tirou de teu meio as iniqüidades dos
kardi1aw soy= periei9le ky1riow e3k soy9 ta2 a3dikh1mata teus adversários, foste libertada das mãos dos teus
tv9n a3ntikeime1nvn soi, lely1trvsai e3k xeiro2w inimigos. Deus é rei no teu meio, não mais verás o
e3xurv9n soy= ky1riow basiley2w e3n me1sö soy= oy3k mal” [Sf 3,14s Septg.], e paz contigo para sempre!
o5cei kaka2 oy3ke1ti” [So 3,14s: Septg.] kai2 ei3rh1nh
e3pi2 soi2 ei3w to2n ai3v9na xro1non.
Toy2w oy0n tolmv9ntaw e4te1rvw fronei9n h6 dida1skein Aqueles, pois, que ousam pensar ou ensinar di- 603
h6 kata2 toy2w e3nagei9w ai4retikoy2w ta2w e3kklhsias- versamente, ou, seguindo os ímpios hereges, violar
tika2w parado1seiw a3uetei9n, kai2 kainotomi1an tina2 as tradições da Igreja, ou inventar novidades, ou re-
e3pinoei9n, h6 a3poba1llesuai1 ti e3k tv9n a3nateueime1nvn pelir alguma coisa do que foi confiado à Igreja, como
tü9 e3kklhsi1ä, ey3agge1lion, h6 ty1pon toy9 stayroy9, h6 o <livro do> Evangelho, a imagem da cruz, uma
ei3konikh2n a3nazvgra1fhsin, h6 a7gion lei1canon imagem pintada ou uma santa relíquia de um már-
ma1rtyrow= h6 e3pinoei9n skoliv9w kai2 panoy1rgvw pro2w tir; ou <que ousam> transtornar com astúcia e en-
to2 a3natre1cai e7n ti tv9n e3nue1smvn parado1sevn godo algo das legítimas tradições da Igreja univer-
th9w kauolikh9w e3kklhsi1aw= e5ti ge mh2n v4w koinoi9w sal ou usar para fins profanos os vasos sagrados ou
xrh9suai toi9w i4eroi9w keimhli1oiw h6 toi9w ey3age1si os mosteiros santificados, nós decretamos que, se
monasthri1oiw= e3pisko1poyw me2n o5ntaw h6 klhrikoy2w bispos ou clérigos, sejam depostos, se monges ou
kauairei9suai prosta1ssomen, mona1zontaw de2 h6 leigos, sejam excluídos da comunhão.
laÖkoy2w th9w koinvni1aw a3fori1zesuai.
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kai2 tv9n a3po1ntvn kai2 syntiueme1nvn dia2 gramma1- de quanto foi feito compete em cada província ao
tvn, to1te th2n xeirotoni1an poiei9suai, to2 de2 ky9row bispo metropolita”.
tv9n ginome1nvn di1dosuai kau’ e4ka1sthn e3parxi1an
tö9 mhtropoli1tü.
610-611: Carta “Si tamen licet” aos bispos da Espanha, entre 793 e 794
Ed. [*610; 611]: A. Werminghoff: MGH Leges III, = Concilia 2/I (1904) 1236-9; 12315-39 / MaC 13, 865D866D /
HaC 4, 866B-867A. – Reg.: JR 2482.
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Hinc alias dicit: “Ascendo ad Patrem meum et Por isso diz, em outra passagem: “Subo ao meu
Patrem vestrum“ [Io 20,17]. Distincte enim dixit Pai e vosso Pai” [Jo 20,17]. De maneira distinta
“meum” et “vestrum”, eius videlicet non per gra- disse “meu” e “vosso” – seu, não por graça, mas
tiam, sed per naturam, noster vero per gratiam adop- por natureza, nosso, ao invés, pela graça da adoção.
tionis. Porro numquam non fuit Filius, quia num- Mais ainda, nunca o Filho não existiu, porque nun-
quam non fuit Pater. Semper eum et ubique distincte ca o Pai não existiu. Sempre e em qualquer lugar
Patrem suum appellat. “Pater” inquit “meus usque ele o chama expressamente seu Pai. “Meu Pai”, diz,
modo operatur, et ego operor” [Io 5,17], et rursus: “opera até agora, e eu opero” [Jo 5,17]; e ainda:
“Pater, clarifica Filium tuum, ut Filius tuus clarificet “Pai, glorifica teu Filho, para que teu Filho te glo-
te” [Io 17,1], et: “Pater meus quod dedit mihi, maius rifique a ti” [Jo 17,1], e: “O que meu Pai me deu é
omnibus est” [Io 10,29]. maior que tudo” [Jo 10,29].
Quodsi secundum eorum callidam tergiversatio- Se nos seus astuciosos subterfúgios eles pensam
nem cuncta, quae protulimus, ad divinitatem tan- que tudo isso que mencionamos deve ser referido
tummodo Filii Dei referenda opinantur, dicant, ubi somente à divindade do Filho de Deus, digam onde
umquam communi affectu dixerit nobiscum “Pater alguma vez ele tenha dito “Pai nosso” em comum
noster”. “Scit enim” inquit “Pater vester, quid vobis sentimento conosco. “O vosso Pai”, diz, “sabe de
opus sit” [Mt 6,8]. Non ait “noster”, quasi nobis- fato do que precisais” [Mt 6,8]. Ele não diz “nosso”,
cum adoptatus per gratiam. Et alibi “Estote ergo et como se ele juntamente conosco tivesse sido adota-
vos perfecti, sicut et Pater vester caelestis perfectus do por graça. E em outra passagem: “Sede portanto
est” [Mt 5,48]. Cur non dixit “noster”? Quia aliter perfeitos como é perfeito o vosso Pai celestial” [Mt
noster et aliter suus. Hinc rursus ait: “Si vos, cum 5,48]. Por que não diz “nosso”? Porque é de outro
sitis mali, nostis bona dare filiis vestris, quanto ma- modo nosso e de outro modo seu. E alhures: “Se
gis Pater vester de caelo dabit spiritum bonum pe- vós, que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vos-
tentibus se?” [Lc 11,13] et cetera. Hinc Paulus, vas sos filhos, quanto mais o vosso Pai do céu dará o
electionis, ait: “Proprio Filio suo non pepercit Deus, espírito bom aos que lhe pedirem?” [Lc 11,13]; e
sed pro nobis omnibus tradidit illum” [Rm 8,32]. assim adiante. Por isso, Paulo, vaso de eleição, dis-
Scimus enim, quia non est traditus secundum divi- se: “Deus não poupou o próprio Filho, mas o entre-
nitatem, sed secundum id quod homo verus erat. gou por nós todos” [Rm 8,32]. Sabemos de fato que
ele não foi entregue segundo a sua divindade, mas
segundo o seu ser verdadeiro homem.
a) Carta sinodal dos bispos do Reino dos Francos aos bispos da Espanha
Refutação dos adocionistas
… Invenimus enim in libelli vestri principio scrip- Encontramos escrito no início da vossa carta a 612
tum, quod posuistis vos: “Confitemur et credimus vossa afirmação: “Professamos e cremos que Deus,
Deum Dei Filium ante omnia tempora sine initio ex Filho de Deus, <foi> gerado antes de todo o tempo,
Patre genitum, coaeternum et consubstantialem, non sem princípio, pelo Pai coeterno e consubstancial,
adoptione, sed genere”. Item post pauca eodem loco não por adoção, mas por geração”. Igualmente se lê,
221
legebatur: “Confitemur et credimus eum factum ex no mesmo escrito, um pouco adiante: “Professamos
muliere, factum sub lege [cf. Gal 4,4], non genere e cremos que ele, feito da mulher, feito sob a lei [cf.
esse Filium Dei, sed adoptione, non natura, sed Gl 4,4], não é Filho de Deus segundo a geração,
gratia”. Ecce serpens inter pomifera paradisi latitans mas por adoção, não por natureza, mas por graça”.
ligna, ut incautos quosque decipiat. … Eis a serpente que se esconde entre as árvores fru-
tíferas do paraíso para enganar todos os incautos. …
613 Quod etiam in sequentibus adiunxistis, in profes- Também não encontramos dito na profissão de fé
sione Nicaeni symboli non invenimus dictum, “in de Nicéia o que mais adiante acrescentastes, <a
Christo duas naturas et tres substantias” [cf. *567], saber,> “em Cristo duas naturezas e três substân-
et “homo deificus” et “Deus humanatus”. Quid est cias” [cf. *567], “homem deífico” e “Deus huma-
natura hominis, nisi anima et corpus? Vel quid est nado”. O que é a natureza do homem, senão alma e
inter naturam et substantiam, ut tres substantias ne- corpo? Ou então, que diferença há entre “natureza”
cesse sit nobis dicere, et non magis simpliciter, si- e “substância”, de modo que devamos falar de três
cut sancti Patres dixerunt, confiteri Dominum nos- substâncias e não antes, simplesmente, como disse-
trum Iesum Christum Deum verum et verum homi- ram os santos Padres, professar nosso Senhor Jesus
nem in una persona? Cristo como verdadeiro Deus e verdadeiro homem
em uma só pessoa?
Mansit vero persona Filii in sancta Trinitate, cui Mas a pessoa do Filho permaneceu na santa Trin-
personae humana accessit natura, ut esset una per- dade; a esta pessoa se ajuntou a natureza humana,
sona, Deus et homo, non homo deificus et humana- de modo que é uma só pessoa, Deus e homem, não
tus Deus, sed Deus homo et homo Deus: propter homem deífico e Deus humanado, mas Deus ho-
unitatem personae unus Dei Filius, et idem hominis mem e homem Deus, por causa da unidade da pes-
Filius, perfectus Deus, perfectus homo. soa um só Filho de Deus e, o mesmo, Filho do
homem, perfeito Deus, perfeito homem.
Perfectus homo non est nisi anima et corpore …, O homem é perfeito só com a alma e o corpo …;
nec negamus et nos, Christo haec tria veraciter ines- também nós não negamos que em Cristo haja verda-
se, divinitatem scilicet, animam et corpus. Sed quia deiramente estes três, a saber, a divindade, a alma e
vere Deus et homo dicitur, in Dei nomine totum o corpo. Mas já que verdadeiramente é chamado Deus
quod Dei est designatur, in hominis vero totum e homem, no nome “Deus” é designado tudo o que
quicquid hominis est intelligitur. Ideo sufficit, in eo é de Deus, no <nome> “homem” ao invés é entendi-
unam perfectam divinitatis et alteram perfectam do tudo o que é do homem. Portanto, é suficiente
humanitatis confiteri substantiam. … Consuetudo professar nele uma, a perfeita substância da divinda-
ecclesiastica solet in Christo duas substantias no- de, e outra, a perfeita substancia da humanidade. …
minare, Dei videlicet et hominis. … O costume eclesiástico sói nomear em Cristo duas
substâncias, isto é a, de Deus e a do homem. …
614 Si ergo Deus verus est, qui de Virgine natus est, Se, portanto, é verdadeiro Deus aquele que nas-
quomodo tunc potest adoptivus esse vel servus? ceu da Virgem, como pode ser filho adotivo ou ser-
Deum enim nequaquam audetis confiteri servum vel vo? De fato, vós não ousais absolutamente designar
adoptivum: et si eum propheta servum nominasset, Deus como servo ou filho adotivo; e mesmo se o
non tamen ex condicione servitutis, sed ex humili- profeta o chamou servo, não <foi> todavia por cau-
tatis oboedientia, qua factus est Patri “oboediens sa da condição de servidão, mas por causa da obe-
usque ad mortem” [Phil 2,8]. diência da humildade, pela qual ele se fez “obedien-
te” ao Pai “até à morte” [Fl 2,8].
b) Capitular do sínodo
Condenação dos adocionistas
615 Can. 1. … In primordio capitulorum exortum est Cân. 1: … No começo dos capítulos, começou-
de impia ac nefanda haeresi Eliphandi, Toletanae se com a ímpia e nefanda heresia do bispo Elipando
sedis episcopi, et Felicis, Orgellitanae, eorumque de Toledo e de Félix de Urgel e dos seus seguidores
sequacibus, qui male sentientes in Dei Filio assere- que, em <sua> opinião errônea, afirmavam no Fi-
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bant adoptionem: quam omnes qui supra sanctissi- lho de Deus uma adoção: mas, em unânime repú-
mi Patres et respuentes una voce contradixerunt dio, todos os acima citados santíssimos Padres con-
atque hanc haeresim funditus a sancta Ecclesia era- tradisseram-na e decidiram que esta heresia deve
dicandam statuerunt. ser, até a raiz, erradicada da santa Igreja.
A divina Trindade
[Post Symbolum Constantinopolitanum sequitur:] [Depois do Símbolo constantinopolitano segue-se:] 616
Sanctam autem, perfectam, inseparabilem et ineffa- Professo a santa, perfeita, inseparável, inefável e ver-
bilem veramque Trinitatem, id est Patrem et Filium dadeira Trindade, isto é, o Pai e o Filho e o Espírito
et Spiritum Sanctum, individuam confiteor in uni- Santo, sem divisão na unidade da natureza, já que
tate naturae, quia trinus et unus est Deus: trinus ni- Deus é trino e uno: trino, de fato, em virtude da dis-
mirum per distinctionem personarum; unus vero per tinção das pessoas, uno, ao invés, em virtude da in-
substantiam inseparabilem deitatis. Has igitur tres separável substância da divindade. Cremos portanto
personas … non putativas vel quasi suspicabiles que estas três pessoas … <são>, não putativas ou
tantum, sed veras, subsistentes, coaeternas, coaequa- como que conjeturadas apenas, mas verdadeiras, sub-
les credimus et consubstantiales. … sistentes, coeternas, coiguais e consubstanciais. …
Nam Pater verus Deus, vere et proprie Pater est, O Pai, de fato, como verdadeiro Deus, é verda- 617
qui genuit ex se, id est ex sua substantia, intempo- deira e propriamente Pai, tendo gerado por si, isto
raliter et sine initio verum Filium, coaeternum, con- é, pela sua substância fora do tempo e sem início, o
substantialem et coaequalem sibi. verdadeiro Filho, que é com ele coeterno, consubs-
tancial e coigual.
Et Filius verus Deus, vere et proprie est Filius, E o Filho, como verdadeiro Deus, é verdadeira e
qui ante omnia saecula genitus est de Patre intem- propriamente Filho, antes de todo o tempo, fora do
poraliter et absque ullo initio. … Et numquam fuit tempo e sem início algum gerado pelo Pai. … E
Pater sine Filio, nec Filius sine Patre. … jamais o Pai existiu sem o Filho, nem o Filho sem
o Pai. …
Spiritus namque Sanctus verus Deus, vere et E o Espírito Santo, como verdadeiro Deus, é
proprie Spiritus Sanctus est: non genitus nec crea- verdadeira e propriamente Espírito Santo: não ge-
tus, sed ex Patre Filioque intemporaliter et insepa- rado, nem criado, mas procedente do Pai fora do
rabiliter procedens. Consubstantialis, coaeternus et tempo e de modo inseparável. Sempre é, sempre
aequalis Patri Filioque semper est, erat et erit. Et foi e sempre será consubstancial, coeterno e igual
numquam fuit Pater aut Filius sine Spiritu Sancto, ao Pai e ao Filho. E jamais o Pai ou o Filho existiu
nec Spiritus Sanctus sine Patre et Filio. sem o Espírito Santo, nem o Espírito Santo sem o
Pai ou o Filho.
Et idcirco inseparabilia sunt semper opera Trinita- Conseqüentemente as obras da Trindade são sem- 618
tis, et nihil est in sancta Trinitate diversum aliquid pre inseparáveis, e não há na Trindade nada de di-
aut dissimile vel inaequale: non divisum naturaliter, ferente ou de dissemelhante ou de desigual; nada
non confusum personaliter, nihil maius aut minus, há de dividido na natureza, nada de confuso nas
non anterior, non posterior, non inferior, non supe- pessoas, nada de maior ou de menor; não antes nem
rior; sed una et aequalis potestas, par gloria, sempi- depois, não inferior não posterior, mas sim, um só
terna et coaeterna consubstantialisque maiestas. … igual poder, igual glória, majestade sempiterna,
coeterna e consubstancial. …
223
620 (8) Illud quoque salutare sacramentum, quod (8) Também aquele sacramento salutar que o
commendat Iacobus Apostolus dicens: “Infirmatur apóstolo Tiago recomenda, dizendo: “Alguém entre
quis in vobis? … remittetur ei” [Iac 5,14s], solerti vós está doente? … ele receberá o perdão” [Tg
praedicatione populis innotescendum est: magnum 5,14s], deve ser tornado conhecido aos povos com
sane ac valde appetendum mysterium, per quod, si diligente pregação: de fato, <é> um mistério gran-
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fideliter poscitur, et peccata remittuntur, et conse- de e desejável, mediante o qual, se for pedido com
quenter corporalis salus restituitur. … Hoc tamen fé, tanto são remetidos os pecados como também,
sciendum, quia, si is, qui infirmatur, publicae pae- conseqüentemente, restabelecida a saúde corporal.
nitentiae mancipatus est, non potest huius mysterii … Importa considerar, porém, que um doente liga-
consequi medicinam, nisi prius reconciliatione per- do pela penitência pública não pode receber a me-
cepta communionem corporis et sanguinis Christi dicina deste mistério, se antes, obtida a reconcilia-
meruerit. Cui enim reliqua sacramenta interdicta ção, não tiver recebido a comunhão do corpo e do
sunt, hoc uno nulla ratione uti conceditur. sangue de Cristo. A quem, portanto, os outros sa-
cramentos estão proibidos, de modo algum lhe é
permitido usufruir deste aqui.
*621 1 Cf. Agostinho, Carta 190, cap. 3, n. 9 (CSEL 57, 144 / PL 33, 859s); De dono perseverantiae 14, n. 35 (PL 45, 1014).
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624 Cap. 4. Christus Iesus Dominus noster, sicut nullus Cap. 4. Como não há, não houve, nem haverá
homo est, fuit vel erit, cuius natura in illo assumpta homem algum cuja natureza não foi assumida por
non fuerit, ita nullus est, fuit vel erit homo, pro quo Cristo Jesus, nosso Senhor, assim não há homem
passus non fuerit; licet non omnes passionis eius algum, não houve, nem haverá pelo qual ele não
mysterio redimantur. Quod vero omnes passionis tenha sofrido; todavia nem todos são salvos pelo
eius mysterio non redimuntur, non respicit ad mag- mistério de seu sofrimento. Que nem todos sejam
nitudinem et pretii copiositatem, sed ad infidelium salvos pelo mistério do seu sofrer porém, não res-
et ad non credentium ea fide, “quae per dilectionem peita à grandeza e plenitude do preço do resgate,
operatur” [Gal 5,6], respicit partem; quia poculum mas à parte dos infiéis e daqueles que não crêem
humanae salutis, quod confectum est infirmitate com aquela fé “que opera mediante o amor” [Gl
nostra et virtute divina, habet quidem in se, ut om- 5,6]; de fato, o cálice da salvação humana que foi
nibus prosit: sed si non bibitur, non medetur. preparado para a nossa fraqueza e com a força di-
vina, tem certamente de ser útil a todos; mas, se
não for bebido, não salva.
A predestinação
625 Can. 1. … Novitates vocum et praesumptivas Cân. 1. … Com todo o empenho evitamos novi-
garrulitates, unde potius inter fratres contentionum dades de palavras e presunçosas tagarelices, que
et scandalorum fomes excitari potest, quam aedifi- muitas vezes mais excitam a fome de disputas e
catio ulla timoris Dei succrescere, cum studio omni escândalos entre os irmãos do que fazem crescer a
devitamus. Indubitanter autem doctoribus pie et recte edificação no temor de Deus. Sem dúvida, porém,
tractantibus verbum veritatis, ipsisque sacrae Scrip- sujeitamos com reverência o ouvido e, com obe-
turae lucidissimis expositoribus, id est Cypriano, Hi- diência, a inteligência aos mestres que trataram pia
lario, Ambrosio, Hieronymo, Augustino, ceterisque e retamente a palavra da verdade e aos próprios
in catholica pietate quiescentibus, reverenter audi- luminosíssimos expositores da Sagrada Escritura,
tum et obtemperanter intellectum submittimus, et isto é, a Cipriano, Hilário, Ambrósio, Jerônimo,
pro viribus, quae ad salutem nostram scripserunt, Agostinho e aos outros que repousam na piedade
amplectimur. Nam de praescientia Dei, et de prae- católica; e com toda a força acolhemos quanto têm
destinatione, et de quaestionibus aliis, in quibus fra- escrito pela nossa salvação. De fato, quanto à pres-
trum animi non parum scandalizati probantur, illud ciência de Deus, a predestinação e as outras ques-
tantum firmissime tenendum esse credimus, quod tões nas quais os ânimos dos irmãos se mostraram
ex maternis Ecclesiae visceribus nos hausisse gau- bastante escandalizados, cremos dever sustentar com
demus. firmeza somente aquilo que, para nossa alegria, re-
cebemos do seio maternal da Igreja.
626 Can. 2. “D e u m p r a e s c i r e et praescisse aeter- Cân. 2. Sustentamos com firmeza que “D e u s
naliter et bona, quae boni erant facturi, et mala, quae t e m p r e s c i ê n c i a e que desde a eternidade sou-
226
mali sunt gesturi”1, quia vocem Scripturae dicentis be com antecedência tanto o bem que fariam os
habemus: “Deus aeterne, qui absconditorum es bons, quanto o mal que fariam os maus”1, já que
cognitor, qui nosti omnia antequam fiant“ [Dn temos a palavra da Escritura que diz: “Deus eterno,
13,42], fideliter tenemus; et placet tenere, “bonos que conheces as coisas escondidas, que tudo sabes
praescisse omnino per gratiam suam bonos futuros, antes que aconteça” [Dn 13,42]; e julgamos certo
et per eandem gratiam aeterna praemia accepturos: sustentar “que ele de todo tem sabido de antemão
malos praescisse per propriam malitiam malos fu- que, por sua graça, os bons seriam conservados bons
turos, et per suam iustitiam aeterna ultione dam- e, pela mesma graça, receberiam prêmios eternos;
nandos”2: ut secundum Psalmistam: “Quia potestas que soube de antemão que os maus seriam maus
Dei est, et Domini misericordia, ut reddat unicui- pela própria maldade e, por causa de sua justiça,
que secundum opera sua” [Ps 61,12s], et sicut apos- deveriam ser punidos com castigo eterno”2; como,
tolica doctrina se habet: “His quidem, qui secun- segundo o salmista: “A Deus pertence o poder, e ao
dum patientiam boni operis gloriam et honorem et Senhor, a misericórdia, para retribuir a cada um se-
incorruptionem quaerunt, vitam aeternam: his au- gundo as suas obras” [Sl 62,12s], e como se apre-
tem, qui ex contentione, et qui non acquiescunt senta o ensinamento apostólico: “Àqueles que, na
veritati, credunt autem iniquitati, ira et indignatio, perseverança de um bom proceder, procuram gló-
tribulatio et angustia in omnem animam hominis ria, honra e incorruptibilidade, a vida eterna; para
operantis malum” [Rm 2,7-10]. aqueles, porém, que por rebeldia desobedecem à ver-
dade e põem sua confiança na iniqüidade, ira e in-
dignação, tribulação e angústia para toda alma hu-
mana que opera o mal” [Rm 2,7-10].
In eodem sensu idem alibi: “In revelatione”, in- No mesmo sentido diz alhures: “Quando se reve-
quit, “Domini nostri Iesu Christi de caelo cum an- lar nosso Senhor Jesus Cristo, vindo do céu com os
gelis virtutis eius, in igne flammae dantis vindictam anjos de seu poder, em fogo flamejante executando
his, qui non noverunt Deum, et qui non oboediunt a vindicta contra aqueles que não reconhecem Deus
evangelio Domini nostri Iesu Christi, qui poenas e que não obedecem ao Evangelho de nosso Senhor
dabunt in interitu aeternas, … cum venerit glorifi- Jesus Cristo, <e> que cumprirão penas eternas na
cari in Sanctis suis et admirabilis fieri in omnibus, perdição, … quando ele vier para ser glorificado
qui crediderunt” [2 Th 1,7-10]. nos seus santos e ser admirado em todos aqueles
que tiverem crido” [2Ts 1,7-10].
Nec prorsus ulli malo praescientiam Dei imposuisse Além disso, a presciência de Deus não impôs a 627
necessitatem, ut aliud esse non posset, sed quod ille nenhum malvado uma necessidade tal que não pu-
futurus erat ex propria voluntate, sicuti Deus, qui novit desse ser diferente, mas, sabendo como Deus tudo
omnia antequam fiant, praescivit ex sua omnipotenti antes de acontecer, ele sabia com antecedência, com
et incommutabili maiestate. “Nec ex praeiudicio eius base na sua onipotente e imutável majestade, o que
aliquem, sed ex merito propriae iniquitatis credimus aquele por própria vontade teria sido. “E também não
condemnari”1. “Nec ipsos malos ideo perire, quia boni cremos que alguém seja por ele condenado em razão
esse non potuerunt; sed quia boni esse noluerunt, de uma condenação precedente, mas <só> em ra-
suoque vitio in massa damnationis vel merito origi- zão de sua própria iniqüidade”1. “Estes malvados pe-
nali vel etiam actuali permanserunt”2. receram não porque não tivessem podido ser bons,
mas porque não quiseram ser bons, e com seu vício
permaneceram na massa destinada à condenação, quer
pelo desmérito original, quer também pelo atual”2.
Can. 3. Sed et de p r a e d e s t i n a t i o n e Dei pla- Cân. 3. Mas também no que se refere à p r e d e s - 628
cuit, et fideliter placet, iuxta auctoritatem apostoli- t i n a ç ã o por parte de Deus, temos resolvido e com
cam, quae dicit: “An non habet potestatem figulus fidelidade sustentamos, segundo a autoridade apos-
227
luti ex eadem massa facere aliud vas in honorem, tólica, que diz: “Acaso não pode o oleiro, da mes-
aliud vero in contumeliam?” [Rm 9,21] ubi et statim ma massa, fazer um vaso destinado à honra e outro,
subiungit: “Quod si volens Deus ostendere iram et ao invés, à vergonha?” [Rm 9,21], logo acrescen-
notam facere potentiam suam, sustinuit in multa tando: “Se Deus, que quis mostrar a sua ira e tornar
patientia vasa irae aptata sive praeparata in interitum, conhecido o seu poder, suportou com grande pa-
ut ostenderet divitias gratiae suae in vasa misericor- ciência vasos de ira, destinados ou preparados com
diae, quae praeparavit in gloriam” [Rm 9,22s]: antecedência a perecer, para mostrar a riqueza de
fidenter fatemur praedestinationem electorum ad sua graça nos vasos de misericórdia, que ele com
vitam, et praedestinationem impiorum ad mortem: antecedência preparou para a glória” [Rm 9,22s]:
in electione tamen salvandorum misericordiam Dei assim professamos com fé a predestinação dos elei-
praecedere meritum bonum: in damnatione autem tos à vida e a predestinação dos ímpios à morte; na
periturorum meritum malum praecedere iustum Dei eleição daqueles que devem ser salvos, a misericór-
iudicium. “Praedestinatione autem Deum ea tantum dia de Deus precede o mérito, mas na condenação
statuisse, quae ipse vel gratuita misericordia vel iusto daqueles que perecerão, o desmérito precede o jus-
iudicio facturus erat“1 secundum Scripturam dicen- to juízo de Deus. “Mediante a predestinação Deus
tem: “Qui fecit, quae futura sunt“ [Is 45,11: Septg.]: somente determinou o que ele mesmo teria feito ou
in malis vero ipsorum malitiam praescivisse, quia por misericórdia gratuita ou por justo juízo” 1, se-
ex ipsis est, non praedestinasse, quia ex illo non est. gundo a Escritura que diz: “Ele fez o que será” [Is
45,11 Septg.]; nos maus, porém, lhes conheceu de
antemão a malícia, porque provém deles, <mas> não
a predestinou, pois não provém dele.
629 Poenam sane malum meritum eorum sequentem, Ora, como Deus, que tudo vê de antemão, certa-
uti Deum, qui omnia prospicit, praescivisse et prae- mente soube e predestinou com antecedência a pena
destinasse, quia iustus est, apud quem est, ut sanctus que segue a culpa deles, já que ele é justo e junto
Augustinus1 ait, de omnibus omnino rebus tam fixa dele, como diz santo Agostinho1, existe de todas as
sententia quam certa praescientia. Ad hoc siquidem coisas, sem exceção, tanto um juízo determinado,
facit Sapientis dictum: “Parata sunt derisoribus iu- quanto uma presciência segura. Com isto concorda
dicia, et mallei percutientes stultorum corporibus” sem dúvida o sábio ditado: “Para os zombeteiros
[Prv 19,29]. estão preparados os juízos, e martelos para golpear
os corpos dos estultos” [Pr 19,29].
De hac immobilitate praescientiae et praedesti- Desta imutabilidade da presciência e da predesti-
nationis Dei, per quam apud eum futura iam facta nação de Deus, pela qual junto dele as coisas futu-
sunt, etiam apud Ecclesiasten bene intelligitur dic- ras já aconteceram, se compreende bem o que é dito
tum: “Cognovi, quod omnia opera, quae fecit Deus, no Eclesiastes: “Aprendi que todas as obras que
perseverent in perpetuum. Non possumus his addere Deus fez duram para sempre. A elas nada podemos
nec auferre, quae fecit Deus, ut timeatur” [Ecl 3,14]. acrescentar, nem nada tirar ao que Deus fez, para
“Verum aliquos ad malum praedestinatos esse divi- que ele seja temido” [Ecl 3,14]. “Mas que alguns
na potestate”, videlicet ut quasi aliud esse non pelo poder divino sejam predestinados ao mal”, isto
possint, “non solum non credimus, sed etiam si sunt, é, no sentido de que não possam ser diferentes, isto
qui tantum mali credere velint, cum omni detesta- “não só não o cremos, mas, se há outros que que-
tione”, sicut Arausica Synodus, “illis anathema di- rem crer coisa tão maligna”, como o Sínodo de
cimus” [*397]. Orange “com toda a reprovação lhes dizemos: aná-
tema” [*397].
630 Can. 4. Item de r e d e m p t i o n e sanguinis Chris- Cân. 4. Igualmente no que diz respeito à r e d e n -
ti, propter nimium errorem, qui de hac causa exortus ç ã o mediante o sangue de Cristo: em vista do gran-
est, ita ut quidam, sicut eorum scripta indicant, etiam de erro surgido por esta questão – a ponto de al-
pro illis impiis, qui a mundi exordio usque ad pas- guns, como provam seus escritos, afirmarem que
sionem Domini in sua impietate mortui aeterna este <sangue> tenha sido derramado também em
228
damnatione puniti sunt, effusum eum definiant, prol daqueles ímpios que, do início do mundo até à
contra illud propheticum: “Ero mors tua, o mors, paixão do Senhor, morreram na sua impiedade e
morsus tuus ero, inferne” [Os 13,14]: illud nobis foram punidos com a condenação eterna, contraria-
simpliciter et fideliter tenendum ac docendum pla- mente à palavra do Profeta: “Ó morte, eu serei a tua
cet iuxta evangelicam et apostolicam veritatem, quod morte, ó inferno, eu serei a tua mordedura” [Os 13,14]
pro illis hoc datum pretium teneamus, de quibus –, decidimos que se deve sincera e fielmente susten-
ipse Dominus noster dicit: “Sicut Moyses exaltavit tar e ensinar, segundo a verdade evangélica e apos-
serpentem in deserto, ita exaltari oportet Filium tólica, que consideremos este preço pago em prol
hominis, ut omnis, qui credit in ipso, non pereat, daqueles dos quais o próprio Senhor diz: “Como Moi-
sed habeat vitam aeternam. Sic enim Deus dilexit sés levantou a serpente no deserto, assim o Filho do
mundum, ut Filium suum unigenitum daret: ut homem deve ser levantado, para que cada um que
omnis, qui credit in eum, non pereat, sed habeat nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna. De
vitam aeternam” [Io 3,14-16], et Apostolus: “Chris- fato, Deus amou tanto o mundo que deu o seu Filho
tus”, inquit, “semel oblatus est ad multorum exhau- unigênito, para que todo que nele crer não pereça,
rienda peccata” [Hbr 9,28]. mas tenha a vida eterna” [Jo 3,14-16]; e o Apóstolo
diz: “Cristo foi crucificado uma vez por todas, para
tirar os pecados de muitos” [Hb 9,28].
Porro capitula [– quattuor, quae a concilio fra- Também os [– quatro capítulos que menos pru- 631
trum nostrorum minus prospecte suscepta sunt, prop- dentemente foram aceitos pelo sínodo dos nossos,
ter inutilitatem vel etiam noxietatem, et errorem em vista da sua inutilidade ou até nocividade e do
contrarium veritati: sed et alia –] XIX syllogismis erro contrário à verdade, mas também os outros –]
ineptissime conclusa et, licet iactetur, nulla saecu- dezenove capítulos, que de maneira totalmente im-
lari litteratura nitentia, in quibus commentum dia- própria foram derivados mediante silogismos e –
boli potius quam argumentum aliquod fidei depre- apesar de quem se gabe – não se apóiam em nenhu-
henditur, a pio auditu fidelium penitus explodimus, ma ciência literária secular, <e> nas quais se de-
et ut talia et similia caveantur per omnia, auctorita- preendem antes as fantasias do diabo do que qual-
te Spiritus Sancti interdicimus: novarum etiam re- quer prova da fé, de todo os afastamos do piedoso
rum introductores, ne districtius feriantur, castigan- ouvido dos fiéis e, para que estes em tudo sejam
dos esse censemus. protegidos disso e de coisa semelhante, com a au-
toridade do Espírito Santo os proibimos; e julga-
mos que aqueles que introduzem novidades devem
ser castigados, para que não sejam punidos ainda
mais severamente.
Can. 5. Item firmissime tenendum credimus, quod Cân. 5. Igualmente cremos que se deve sustentar 632
omnis multitudo fidelium “ex aqua et Spiritu Sanc- firmissimamente que toda a multidão dos fiéis, re-
to” [Io 3,5] regenerata, ac per hoc veraciter Eccle- generada “pela água e pelo Espírito Santo” [Jo 3,5]
siae incorporata, et iuxta doctrinam apostolicam in e, com isto, verdadeiramente incorporada à Igreja
morte Christi baptizata [Rm 6,3], in eius sanguine e, segundo a doutrina apostólica, batizada na morte
sit a peccatis suis abluta: quia nec in eis potuit esse de Cristo [Rm 6,3], no sangue dele tem sido purifi-
vera r e g e n e r a t i o , nisi fieret et vera redemptio: cada dos seus pecados; pois não poderia haver ne-
cum in Ecclesiae sacramentis nihil sit cassum, nihil les verdadeira r e g e n e r a ç ã o se não tivesse tam-
ludificatorium, sed prorsus totum verum, et ipsa sui bém acontecido verdadeira redenção; nos sacramen-
veritate ac sinceritate subnixum. tos da Igreja, de fato, não há nada de inútil, nada de
enganoso, mas tudo é plenamente verdadeiro e fun-
dado na sua verdade e sinceridade.
Ex ipsa tamen multitudine fidelium et redempto- Desta multidão de fiéis e redimidos, todavia, uns
rum alios salvari aeterna salute, quia per gratiam são salvos com salvação eterna, porque pela graça
Dei in redemptione sua fideliter permanent, ipsius de Deus perseveram na fé na sua redenção e levam
Domini sui vocem in corde ferentes: “Qui … per- no seu coração a palavra do seu mesmo Senhor:
severaverit usque in finem, hic salvus erit” [Mt 10,22 “Quem … perseverar até o fim será salvo” [Mt 10,22
et 24,13]: alios, quia noluerunt permanere in salute e 24,13]; os outros, que não quiseram permanecer
229
fidei, quam initio acceperunt, redemptionisque gra- na salvação da fé por eles recebida desde o início e,
tiam potius irritam facere prava doctrina vel vita, por uma doutrina ou vida depravada, preferiram
quam servare elegerunt, ad plenitudinem salutis et tornar ineficaz a graça da redenção antes que con-
ad perceptionem aeternae beatitudinis nullo modo servá-la, não chegam absolutamente à plenitude da
pervenire. [Provocatur ad Rm 6,3; Gal 3,27; Hbr salvação nem a receber a eterna beatitude. [Alegam-
10,22s 26 28s.] se Rm 6,3; Gl 3,27; Hb 10,22s 26 28s.]
633 Can. 6. Item de g r a t i a , per quam salvantur cre- Cân. 6. Igualmente, no que diz respeito à g r a ç a
dentes, et sine qua rationalis creatura numquam pela qual os crentes são salvos e sem a qual a cria-
beate vixit, et de l i b e r o a r b i t r i o per peccatum tura racional jamais viveu de maneira feliz, e no
in primo homine infirmato, sed per gratiam Domini que concerne ao l i v r e - a r b í t r i o que por causa
Iesu fidelibus eius redintegrato et sanato, idipsum do pecado ficou enfraquecido no primeiro homem,
constantissimi et fide plena fatemur, quod sanctissi- mas pela graça do Senhor Jesus foi restabelecido e
mi Patres auctoritate sacrarum Scripturarum nobis sanado nos seus fiéis, professamos firmissimamente
tenendum reliquerunt, quod Africana [*222], quod e com plena fé o mesmo que os santíssimos Padres
Arausica [*370-397] Synodus professa est, quod com a autoridade das Escrituras santas nos deixa-
beatissimi Pontifices Apostolicae Sedis [•238-249] ram para que o guardássemos, o que o Sínodo Afri-
catholica fide tenuerunt: sed et de natura et gratia, in cano [*222] e o de Orange [*370-397] professa-
aliam partem nullo modo declinare praesumentes. ram, o que os beatíssimos pontífices da Sé Apostó-
lica [*238-249] com fé católica sustentaram; mas
também no que diz respeito à natureza e à graça,
não nos permitimos desviar de modo algum em
outra direção.
Ineptas autem quaestiunculas, et aniles pene As ridículas questiúnculas e fábulas de velhinhas
fabulas [1 Tim 4,7], Scotorumque pultes puritati fidei [1Tm 4,7], assim como as papinhas dos seguidores
nauseam inferentes, quae periculosissimis et gra- de Escoto <Eriúgena>, que dão náusea à pureza da
vissimis temporibus, ad cumulum laborum nostro- fé – coisa que, em tempos extremamente perigosos
rum, usque ad scissionem caritatis miserabiliter et e difíceis, para aumentar ainda a nossa carga, cres-
lacrimabiliter succreverunt, ne mentes christianae ceu de modo miserável e deplorável, até romper a
inde corrumpantur et excidant a simplicitate et caridade –, de todo as repelimos, para que as men-
castitate fidei, quae est in Christo [2 Cor 11,3] Iesu, tes cristãs não sejam por isso corrompidas e se afas-
penitus respuimus, et ut fraterna caritas cavendo a tem da simplicidade e pureza da fé que está em
talibus auditum castiget, Domini Christi amore Cristo Jesus [2Cor 11,3]; e, no amor do Cristo Se-
monemus. nhor, admoestamos que a caridade fraterna disci-
pline o ouvido, guardando-se de tais coisas.
230
tummodo secundum carnem sustinuit, deitate autem cruz somente segundo a carne, na divindade porém
impassibilis mansit, ut apostolica docet auctoritas et permaneceu impassível, como ensina a autoridade
sanctorum Patrum luculentissime doctrina ostendit. apostólica e mostra de maneira eminentíssima a dou-
trina dos santos Padres.
Cap. 2 (8). Hi autem, qui aiunt, quia Redemptor Cap. 2 (8). Aqueles, portanto, que afirmam que o 636
noster et Dominus Iesus Christus et Dei Filius pas- nosso Redentor e Senhor Jesus Cristo e Filho de
sionem crucis secundum deitatem sustinuit, quod Deus suportou a paixão da cruz segundo a divinda-
impium est et catholicis mentibus exsecrabile, ana- de, o que é ímpio e execrável para as mentes cató-
thema sint. licas, sejam anátema.
A eficácia do Batismo
Cap. 9 (4). Omnibus enim, qui dicunt, quod hi, Cap. 9 (4). Todos aqueles, de fato, que dizem que 637
qui sacrosancti fonte baptismatis credentes in Pa- os que, crendo no Pai, no Filho e no Espírito Santo,
trem et Filium Sanctumque Spiritum renascuntur, renascem na fonte do sacrossanto batismo não são
non aequaliter originali abluantur delicto, anathe- ao mesmo tempo lavados da culpa original, sejam
ma sit. anátema.
*638 1 Frase citada como palavra autêntica do papa Silvestre I; cf. a constituição inautêntica do papa Silvestre I, resp. os caps.
3 e 20 do pretenso II sínodo de Roma (PL 8, 833D [834D] e 840CD). Foram acolhidos em Graciano, Decretum, p. II,
cs. 9, q. 3, c. 13 (Frdb 1, 610).
2 Das atas de um pretenso sínodo de Sinuessa (Lácio), obra de um falsário de ca. ano 500; cf. ClPL 1679. Cf. igualmente
o Liber pontificalis: ed. L. Duchesne 1 (Paris 1886) 72 162s e LXXIV-LXXV.
231
Ecclesia ipsa disposita, antiquitus observata et a pela boca de Cristo no bem-aventurado Pedro, dis-
sanctis universalibus synodis celebrata atque a postos na mesma Igreja, observados desde tempos
cuncta Ecclesia iugiter venerata, nullatenus possint remotos, louvados pelos santos Sínodos universais
minui, nullatenus infringi, nullatenus commutari, e venerados continuamente por toda a Igreja, não
quoniam fundamentum quod Deus posuit, humanus podem de modo algum ser diminuídos, de modo
non valet amovere conatus, et quod Deus statuit, algum prejudicados, de modo algum mudados, já
firmum validumque consistit. … Ista igitur privile- que tentativas humanas não são capazes de remover
gia huic sanctae Ecclesiae a Christo donata, a sy- o fundamento posto por Deus, e o que Deus estabe-
nodis non donata, sed iam solummodo celebrata et leceu subsiste de modo firme e sólido. … Aqueles
venerata, … Nos cogunt Nosque compellunt, “om- privilégios, pois, que a esta santa Igreja foram do-
nium habere sollicitudinem ecclesiarum” Dei [cf. ados por Cristo, não doados pelos Sínodos, mas <por
2 Cor 11,28]. … eles> somente louvados e venerados, … Nos cons-
trangem e Nos impelem “a ter a solicitude de todas
as Igrejas” de Deus [cf. 2Cor 11,28]. …
641 Quoniam, cum secundum canones, ubi est maior Visto que, segundo os cânones, o julgamento de
auctoritas, iudicium inferiorum sit deferendum, ad instâncias inferiores deve ser apresentado <lá> onde
dissolvendum scilicet vel ad roborandum: patet haja uma autoridade superior, a saber, para aboli-
profecto Sedis Apostolicae, cuius auctoritate maior lo ou para consolidá-lo, fica efetivamente claro que
non est, iudicium a nemine fore retractandum [cf. não deve ser rediscutido por ninguém o julgamen-
*232], “neque cuiquam de eius liceat iudicare iudi- to da Sé Apostólica, pois não há autoridade supe-
cio. Siquidem ad illam de qualibet mundi parte rior à sua [cf. *232]; e que a ninguém é lícito jul-
canones appellari voluerunt; ab illa autem nemo sit gar a respeito do seu veredicto. De fato, os câno-
appellare permissus”1. … nes estabeleceram que a ela se apelasse de qual-
quer parte do mundo, mas apelar dela não é permi-
tido a ninguém”1. …
Ergo de iudicio Romani praesulis non retractan- Portanto, se é reconhecido o que temos dito a
do, quia nec mos exigit, quod diximus comprobato, respeito do juízo do bispo de Roma, <juízo> que
non negamus eiusdem Sedis sententiam posse in não pode ser rediscutido – o que também o costu-
melius commutari, cum aut sibi subreptum aliquid me não exige –, não negamos que a sentença desta
fuerit, aut ipsa pro consideratione aetatum vel tem- mesma Sé possa ser mudada para melhor, se lhe
porum seu gravium necessitatum dispensatorie tiver escapado alguma coisa, ou se ela mesma, em
quiddam ordinare decreverit, quoniam et egregium consideração dos tempos e circunstâncias ou de
Apostolum Paulum quaedam fecisse dispensatorie graves exigências, decretou prescrever algo em ca-
legimus, quae postea reprobasse dinoscitur; quando ráter excepcional, já que também o egrégio apósto-
tamen illa, Romana videlicet Ecclesia, discretissima lo Paulo, como lemos, fez em caráter excepcional
consideratione fieri delegerit, non quando ipsa, quae algumas coisas que, como sabemos, mais tarde re-
bene sunt diffinita, retractari renuerit. … provou; todavia, somente se ela, isto é, a Igreja
romana, depois de detalhado exame tiver ordenado
que isto aconteça, não <porém> se ela tiver rejeita-
do nova discussão daquilo que foi bem definido. …
642 Vos autem, quaesumus, nolite praeiudicium Dei A vós, porém, pedimos para não trazer à Igreja
Ecclesiae irrogare: illa quippe nullum imperio vestro de Deus dano algum: pois ela não traz dano algum
praeiudicium infert, cum magis pro stabilitate ip- ao vosso império, já que, antes, suplica a Deus pela
sius aeternam divinitatem exoret et pro incolumitate sua estabilidade e com constante devoção ora por
vestra et perpetua salute iugi devotione precetur. vossa incolumidade e vossa salvação perpétua. Não
Nolite, quae sua sunt, usurpare; nolite, quae ipsi soli pretendais o que pertence a ela; não queirais arre-
commissa sunt, velle surripere, scientes, quia tanto batar para vós o que é confiado só a ela; já que
nimirum a sacris debet omnis mundanarum rerum sabeis que todo administrador das realidades mun-
administrator esse remotus, quanto quemlibet ex danas sem dúvida deve estar tão longe das <reali-
*641 1 Gelásio I., Carta “Valde mirati” aos bispos de Dardânia (Sérvia) 1 fev. 495, n. 5 (Thl 399).
232
catalogo clericorum et militantium Deo nullis con- dades> santas, quanto convém que qualquer um das
venit negotiis saecularibus implicari. filas do clero e dos militantes de Deus não se en-
volva em afazeres seculares.
Denique hi, quibus tantum humanis rebus et non Finalmente, não entendemos de modo algum co-
divinis praeesse permissum est, quomodo de his, mo aqueles aos quais é só permitido presidir as rea-
per quos divina ministrantur, iudicare praesumant, lidades humanas e não as divinas ousem julgar acer-
penitus ignoramus. Fuerunt haec ante adventum ca dos que administram as coisas divinas. Antes da
Christi, ut quidam typice reges simul et sacerdotes vinda de Cristo, acontecia que alguns, a modo de
exsisterent; quod sanctum Melchisedech fuisse sa- prefiguração, fossem simultaneamente reis e sacer-
cra prodit historia [cf. Gn 14,18], quodque in mem- dotes; a história sagrada relata que o santo Melqui-
bris suis diabolus imitatus, utpote qui semper quae sedec tenha sido tal [cf. Gn 14,18], e isso, o diabo
divino cultui conveniunt sibimet tyrannico spiritu o imitou nos seus membros, ele que sempre tenta
vindicare contendit, ut pagani imperatores iidem et reivindicar para si, com espírito tirânico, o que cabe
“maximi pontifices” dicerentur. Sed cum ad verum ao culto divino, de modo que os imperadores pa-
ventum est eundem regem atque pontificem, ultra gãos eram também considerados “sumos pontífices”.
sibi nec imperator iura pontificatus arripuit, nec Mas com o advento do verdadeiro rei e também
pontifex nomen imperatorium usurpavit. pontífice, nem o imperador se arrogou mais os di-
reitos do pontífice, nem o pontífice pretendeu o
nome de imperador.
Quoniam idem “Mediator Dei et hominum homo Pois o próprio “mediador entre Deus e os homens,
Christus Iesus” [1 Tim 2,5] sic actibus propriis ei o homem Cristo Jesus” [1Tm 2,5] repartiu as tare-
dignitatibus distinctis officia potestatis utriusque fas dos dois poderes – querendo que, mediante uma
discrevit, propria volens medicinali humilitate sur- salutar humildade pessoal, fossem elevados para o
sum efferri, non humana superbia rursus in inferna alto e não, pela humana soberba, de novo mergu-
demergi, ut et christiani imperatores pro aeterna vita lhados nos infernos –, com ações próprias e digni-
pontificibus indigerent, et pontifices pro cursu tem- dades diversas, de modo que os imperadores cris-
poralium tantummodo rerum imperialibus legibus tãos para a vida eterna tivessem necessidade dos
uterentur: quatenus spiritalis actio carnalibus distaret pontífices e que os pontífices para o curso das rea-
incursibus, et ideo militans Deo minime se negotiis lidades puramente temporais se servissem das leis
saecularibus implicaret [cf. 2 Tim 2,4], ac vicissim imperiais: para que a ação espiritual esteja longe
non ille rebus divinis praesidere videretur, qui esset dos ataques carnais e, por isto, aquele que luta por
negotiis saecularibus implicatus: ut et modestia Deus não se envolva de nenhum modo em afazeres
utriusque ordinis curaretur, ne extolleretur utroque seculares [cf. 2Tm 2,4], nem, de outra parte, pareça
suffultus, et competens qualitatibus actionum spe- presidir as realidades divinas quem está envolvido
cialiter professio aptaretur. em afazeres seculares; assim se tomará cuidado da
modéstia de ambas as ordens, de modo que, susten-
tando-se sobre ambas, nenhuma se glorifique e a
correspondente função seja especificamente adap-
tada às características das ações.
Cap. 3. … Sufficiat secundum leges solus eorum Cap. 3. … Segundo as leis seja suficiente o con- 643
consensus, de quorum coniunctionibus agitur; qui sentimento daqueles de cuja união se trata; se faltar
consensus si solus in nuptiis forte defuerit, cetera às núpcias só esse consentimento, todo o resto, mes-
omnia, etiam cum ipso coitu celebrata, frustrantur, mo realizado o coito, será inútil, como atesta o gran-
233
Ioanne Chrysostomo magno doctore testante, qui de doutor João Crisóstomo, que diz: “O que faz o
ait: “Matrimonium non facit coitus, sed voluntas”1. matrimônio não é o coito, mas a vontade <= o con-
sentimento>”1.
*643 1 Pseudo-João Crisóstomo, Opus imperfectum in Matthaeum, hom. 32, 9 (PG 56, 802); cf. Digesta L 17, Regra de
direito 30 (P. Krüger – Th. Mommsen [Berlin 190811] 921).
*646 1 Cf. Ambrósio, De Spiritu Sancto I 3, n. 42-44 (PL 16, 713B-715A). Para a explicação desta frase, cf. O. Faller, Die
Taufe im Namen Jesu bei Ambrosius: Festschrift 75 Jahre Stella Matutina I (Feldkirch/Vorarlberg 1931) 139-150; G.
Bareille: DThC 2/I (1905) 184.
234
gandum est, quamvis non praetereundum esse cre- mos que não se deva deixar de lado o que o bem-
damus, quid beatus de baptismo dicat Augustinus2: aventurado Agostinho diz do batismo2: “Temos já
“Iam satis” inquit “ostendimus ad baptismum, qui mostrado suficientemente que para o batismo que é
verbis evangelicis consecratur, non pertinere cuius- santificado pelas palavras do Evangelho, o erro do
quam vel dantis vel accipientis errorem, sive de Patre ministro ou do destinatário não tem importância al-
sive de Filio sive de Spiritu Sancto aliter sentiat guma, se ele pensa a respeito do Pai ou do Filho ou
quam doctrina caelestis insinuat”, et iterum: “Sunt do Espírito Santo diversamente do que ensina a dou-
etiam quidam ex eo numero, qui adhuc nequiter trina celeste”, e ainda: “Há também alguns deste nú-
vivant aut etiam in haeresibus vel in gentilium su- mero que vivem até agora indignamente ou mesmo
perstitionibus iaceant, et tamen etiam illic ‘novit na heresia, ou perseveram na superstição dos pagãos,
Dominus’ qui sunt eius’ [2 Tim 2,19]. Namque in e todavia também ali ‘o Senhor conhece os que são
illa ineffabili praescientia multi, qui foris videntur, seus’ [2Tm 2,19]. Pois naquela inefável presciência
intus sunt”. muitos que parecem estar fora estão dentro”.
Et alio loco: “Etiam corde tardiores, quantum E em outra passagem: “Também os mais moro-
existimo, intelligunt baptisma Christi nulla perver- sos de coração, como penso, compreendem que o
sitate hominis sive dantis sive accipientis posse vio- batismo de Cristo não pode ser violado por nenhu-
lari”; et rursus: “Potest tamen” ait “tradere separa- ma perversidade da pessoa que o administra ou o
tus, sicut potest habere separatus, sed quam perni- recebe”; e diz ainda: “Quem está separado <da Igre-
ciose tradere; ille autem cui tradit potest salubriter ja> pode transmitir, como pode possuir quem está
accipere, si ipse non separatus accipiat”. separado – transmitir, porém, funestamente, enquan-
to aquele a quem transmite pode receber salutar-
mente, se não receber como separado”.
*646 2 Seguem-se 4 lugares de Agostinho, De baptismo contra Donatistas IV 15, n. 22; V 27, n. 38; VI 5, n. 7 (CSEL 51,
247 295 297 302 / PL 43, 168 196 197 200).
235
sed voluntarie proferenda; denique, si contigerit vos ser involuntária, mas voluntária; nem se deve extor-
etiam illis poenis illatis nihil de his, quae passo in qui-la mediante a violência, mas deve ser apresen-
crimen obiiciuntur, penitus invenire, nonne saltem tada voluntariamente; se, ao fim, acontece que, mes-
tunc erubescitis, et quam impie iudicetis agnoscitis? mo depois de ter usado esses tormentos, nada
encontrais daquilo de que o torturado é acusado, ao
menos então não havereis de enrubescer reconhe-
cendo o quanto julgais impiamente?
Similiter autem, si homo criminatus, talia passus De modo semelhante porém, se uma pessoa
sustinere non valens, dixerit se perpetrasse quod non incriminada, submetida <a torturas>, não podendo
perpetravit: ad quem, rogo, tantae impietatis mag- suportá-las, diz ter cometido aquilo que não come-
nitudo revolvitur nisi ad eum, qui hunc talia cogit teu, pergunto-me sobre quem recai a exorbitância
mendaciter confiteri? Quamvis non confiteri nosca- de tanta impiedade, senão sobre aquele que obri-
tur, sed loqui, qui hoc ore profert, quod corde non gou essa pessoa a confessar o falso? E isso, embora
tenet! … se saiba que quem com a boca fala o que não tem
no coração não faz uma confissão, mas <somente>
palavreia! …
Porro cum liber homo crimine fuerit appetitus, Se, além disso, um homem livre for citado por
nisi iam pridem repertus est alicuius sceleris reus, um crime e – caso não tenha sido já anteriormente
aut tribus testibus convictus poenae succumbit, aut declarado réu de algum crime ou, provada sua cul-
si convinci non potuerit, ad Evangelium sacrum, pa mediante três testemunhas, esteja submetido à
quod sibi obicitur, minime commisisse iurans absol- pena, ou caso não se possa provar a culpa – jurar,
vitur, et deinceps huic negotio finis imponitur, que- sobre o sagrado Evangelho posto diante dele, que
madmodum crebro dictus Apostolus gentium attes- não cometeu de modo algum <o ato>, deve ser
tatur: “Omnis” inquiens “controversiae eorum finis absolvido e a questão encerrada, como testemunha
ad confirmationem est iuramentum” [Hbr 6,16]1. o tão citado Apóstolo das gentes, quando diz: “A
garantia dada no juramento põe fim a qualquer con-
testação” [Hb 6,16]1.
*648 1 Definição em contraposição à legislação de Inocêncio IV contra os mestres do erro. Cf. sua Constituição “Cum adversus”,
de 22 fev. 1244 (BullTau 3, 503b-505a), na qual ele confirma as disposições severíssimas do imperador Frederico II, como
também a Constituição “Ad exstirpanda” de 15 mai. 1252 (BullTau 3, 552b-558b), que ordena, na lei 25, aquilo que
Nicolau I rejeita, a saber, que se force os mestres do erro “sem que haja mutilação de membros ou perigo de morte …
a confessar seus erros e a denunciar outros …, assim como se força ladrões e assaltantes” (“cogere citra membri dimi-
nutionem et mortis periculum … errores suos fateri et accusare alios …, sicut coguntur fures et latrones”) (ibid. 556a).
236
viam inoffense incede- uei1 a w dikaiosy1 n hw los o caminho reto e ré- los o caminho reto e
re volentes, veluti quas- a3prosko1ptvw badi1zein gio da divina justiça, de- régio da divina justiça
dam lampades semper e3ue1lontew, oißo1n tinaw vemos guardar como devemos guardar como
lucentes et illuminantes pyrsoy2 w a3 e ilampei9 w tochas sempre a brilhar, tochas sempre a brilhar
gressus nostros, qui se- toy2 w tv9 n a4 g i1 v n pa- que iluminam os nossos as definições dos santos
cundum Deum sunt, te1rvn o7royw kratei9n passos que são segundo Padres.
sanctorum Patrum de- o3fei1lomen= Deus, as definições e o
finitiones et sensus reti- pensamento dos santos
nere debemus. Padres.
Quapropter et has ut Por isso nós, ao 651
“secunda eloquia” se- exemplo do grande e
cundum magnum et sa- sapientíssimo Dionísio1,
pientissimum Diony- considerando-os e esti-
sium 1 arbitrantes et mando-os como uma
existimantes, etiam de “segunda palavra” de
eis cum divino David Deus, cantaremos sem
promptissime cana- demora a seu respeito
mus: “Mandatum Do- com o divino Davi: “O
mini lucidum illumi- mandamento do Senhor
nans oculos” [Ps 18,9; é límpido, iluminando
citatur et Ps 118,105; os olhos” [Sl 19,9; são
Prv 6,23; Is 26,9: citados também: Sl
Septg.]. … Luci enim 119,105; Pr 6,23; Is
veraciter assimilatae 26,9 Septg.] . … Pois é
sunt divinorum cano- com verdade que as
num hortationes et de- exortações e proibições
hortationes, secundum dos divinos cânones são
quod discernitur melius comparados à luz, por-
a peiore et expediens que graças a eles se dis-
atque proficuum ab eo, tingue o melhor do pior
quod non expedire, sed e o que é vantajoso e
et obesse dignoscitur. profícuo do que não é
útil, mas até danoso.
Igitur regulas, quas toigaroy9n toy2w e3n tü9 Por isso professamos Por isso professamos 652
sanctae catholicae et kauolikü9 kai2 a3pos- observar e guardar as observar e guardar os
apostolicae Ecclesiae tolikü9 e3kklhsi1ä para- regras transmitidas à estatutos transmitidos à
tam a sanctis famosissi- doue1ntaw uesmoy2w para1 Igreja santa, católica e Igreja católica e apostó-
mis Apostolis quam ab te tv9n a4gi1vn kai2 pan- apostólica seja pelos lica, seja pelos santos e
orthodoxorum universa- eyfh1mvn a3posto1lvn, santos e celebérrimos universalmente preza-
libus necnon et localibus para1 te o3 r uodo1 j vn Apóstolos, seja pelos dos Apóstolos, seja pe-
conciliis vel etiam a syno1dvn oi3koymenikv9n concílios universais e los sínodos ecumênicos
quolibet deiloquo Patre te kai2 topikv9n h6 kai2 locais dos bispos orto- e locais, ou também por
ac magistro Ecclesiae pro1 w tinow uehgo1 r oy doxos, seja por qualquer algum Padre falando
traditae sunt, servare ac patro2w didaska1loy th9w Padre falando por Deus por Deus <e> doutor da
custodire profitemur; e3kklhsi1aw threi9n kai2 e doutor da Igreja; Igreja;
fyla1ttein o4mologoy9men=
his et propriam vitam segundo estas regula-
et mores regentes et mos a nossa vida e cos-
omnem sacerdotii cata- tumes e estabelecemos
logum, sed et omnes, que todo o estado sacer-
237
238
239
dantes operam, devene- e5xein ay3to2n doja1zon- grau de impiedade que almas e com alguns ar-
runt, ut duas eum habe- tew, kai1 tisin a3syl- ensinam despudorada- gumentos desprovidos
re animas impudenter logi1 s toiw e3 p ixeirh1 - mente que ele tenha duas de lógica reforçam a
dogmatizare et quibus- masi th2n i3di1an kra- almas, e com alguns ar- própria heresia;
dam irrationabilibus co- ty1noysin ai7resin= gumentos irracionais …
natibus … propriam pretendem confirmar a
haeresim confirmare própria heresia;
pertentent.
658 Itaque sancta haec et h4 toi1nyn a4gi1a kai2 Por isso, este Sínodo Por isso, este Sínodo
universalis Synodus … oi3koymenikh ay7th sy1- santo e universal … santo e ecumênico ana-
talis impietatis invento- nodow toy2w th9w toiay1thw anatematiza em alta voz tematiza em alta voz os
res et patratores et his a3sebei1aw gennh1toraw os autores de tal impie- autores de tal impieda-
similia sentientes ma- kai2 toy2w o4mofronoy9n- dade e os que pensam de e aqueles que pen-
gna voce anathematizat, taw ay3toi9w a3nauemati1- como eles, sam como eles;
zei megalofv1nvw!
et definit atque pro- e define e promulga
mulgat, neminem prorsus que ninguém doravante
habere vel servare quo- deve possuir ou conser-
quo modo statuta huius var de algum modo os
impietatis auctorum. textos dos autores desta
impiedade.
Si autem quis contra- ei3 de1 tiw ta2 e3nanti1a Se alguém ousar agir se, todavia, alguém
ria gerere praesumpse- toy9 loipoy9 tolmh1sei contrariamente a este no futuro ousar dizer o
rit huic sanctae et le1gein, a3na1uema e5stv. santo e grande Sínodo, contrário, seja anátema.
magnae Synodo, ana- seja anátema e excluído
thema sit et a fide atque da fé e do culto cristãos.
cultura Christianorum
alienus.
240
nones convenire saecu- a3 l la2 mo1 n oyw toy2 w mais até hoje os sagra- estejam presentes aos
lares principes in conci- e3pisko1poyw= o7uen oy3de2 dos cânones prescreve- sínodos, mas somente
liis sanxerint, sed solos plh2n tv9n oi3koymenikv9n ram a convocação dos os bispos; e daí, não
antistites. Unde nec in- syno1dvn th2n paroy- príncipes seculares aos constatamos ter ocorri-
terfuisse illos synodis, si1 a n ay3 t v9 n gegenh- concílios, mas somente do sua presença aos sí-
exceptis conciliis uni- me1nhn ey4ri1skomen. Oy3de2 a dos bispos. Daí, cons- nodos, a não ser nos sí-
versalibus, invenimus: ga2r uemito1n e3sti gi1nes- tatamos que eles nunca nodos ecumênicos. De
neque enim fas est, sae- uai ueata2w toy2w kosmi- estiveram presentes aos fato não é conveniente
culares principes spec- koy2w a5rxontaw tv9n toi9w sínodos, a não ser nos que os príncipes secula-
tatores fieri rerum, quae i4 e rey9 s i toy9 Ueoy9 concílios universais: de res sejam espectadores
sacerdotibus Dei non- symbaino1 n tvn prag- fato não é conveniente do que acontece aos sa-
numquam eveniunt … . ma1tvn. que os príncipes secula- cerdotes de Deus.
res sejam espectadores
do que às vezes pode
acontecer aos sacerdo-
tes de Deus … .
241
242
Reprovação do ordálio
Consuluisti de infantibus, qui in uno lecto cum Fizeste uma consulta por causa das crianças que, 670
parentibus dormientes mortui reperiuntur, utrum dormindo em um só leito com os pais, são encon-
ferro candente aut aqua fervente seu alio quolibet tradas mortas: se os pais devem se purificar com
examine parentes se purificare debeant eos non ferro incandescente ou água fervente ou com algu-
oppressisse. Monendi namque sunt et protestandi ma outra prova de não tê-los esmagado. Os pais
parentes, ne tam tenellos secum in uno collocent devem, de fato, ser admoestados e esconjurados para
lecto, ne negligentia qualibet proveniente suffocentur não tomar consigo no leito criancinhas tão delica-
vel opprimantur, unde ipsi homicidii rei inveniantur. das, para que não por qualquer imprudência sejam
Nam ferri candentis vel aquae ferventis examina- sufocadas ou esmagadas, com a conseqüência de
tione confessionem extorqueri a quolibet sacri non <os pais> por isto serem acusados de homicídio.
censent canones; et quod sanctorum Patrum docu- Pois os santos cânones não aprovam que seja
mento sancitum non est, superstitiosa adinventione extorquida com a prova do ferro incandescente ou
non est praesumendum. da água fervente uma confissão de quem quer que
seja, e o que não foi estabelecido pela doutrina dos
santos Padres não deve ser presumido por uma
imaginação supersticiosa.
Spontanea enim confessione vel testium appro- Com efeito, delitos tornados conhecidos median-
batione publicata delicta, habito prae oculis Dei ti- te confissão espontânea ou com prova de testemu-
more, commissa sunt regimini nostro iudicare; oc- nhas, por se ter o temor de Deus diante dos olhos,
culta vero et incognita illius sunt iudicio relinquen- foram confiados para julgamento ao nosso governo;
da, “qui solus novit corda filiorum hominum” [cf. mas o que está escondido ou desconhecido deve ser
3 Rg 8,39]. deixado ao juízo daquele “que é o único a conhecer
o coração dos filhos dos homens” [cf. 1Rs 8,39].
Hi autem qui probantur vel confitentur talis reatus Aqueles pois dos quais se demonstra, ou que
se noxios, tua eos castiget moderatio, quia si con- confessam, <serem> culpados de um tal ato, a tua
ceptum in utero qui per abortum deleverit, homicida autoridade os deve punir, pois que, se é homicida
est, quanto magis qui unius saltem diei puerulum quem destruiu com aborto o que foi concebido no
peremerit, homicidam se esse excusare nequibit? útero, quanto mais será impossível desculpar-se de
ser homicida aquele que matou uma criancinha que
tinha ao menos um dia?
243
244
integritatem, quatenus memoria Udalrici iam prae- sideração de todas as Igrejas e até com o apoio do
fati venerabilis episcopi divino cultui dicata exsistat, governo apostólico – de conseguir a comodidade
et in laudibus Dei devotissime persolvendis semper da utilidade e a integridade da firmeza no sentido
valeat proficere. de que a memória do acima citado venerável bispo
Ulrico seja dedicada ao culto divino e possa ser sem-
pre de auxílio no devotíssimo cumprimento dos lou-
vores de Deus.
Profissão de fé
Firmiter … credo sanctam T r i n i t a t e m , Patrem Creio … firmemente que a santa T r i n d a d e , Pai, 680
et Filium et Spiritum Sanctum, unum Deum omni- Filho e Espírito Santo, é um só Deus onipotente, e
potentem esse, totamque in Trinitate deitatem coes- que toda a divindade está na Trindade coessencial e
sentialem et consubstantialem, coaeternam et coom- consubstancial, coeterna e igualmente onipotente,
nipotentem, uniusque voluntatis, potestatis et maies- de uma só vontade, poder e majestade; criador de
tatis: creatorem omnium creaturarum, ex quo om- todas as criaturas, do qual tudo, pelo qual tudo, no
nia, per quem omnia, in quo omnia [Rm 11,36], quae qual tudo [Rm 11,36] o que há no céu e na terra,
sunt in caelo et in terra, visibilia et invisibilia, Cre- visível e invisível. Creio também que as singulares
do etiam singulas quasque in sancta Trinitate per- pessoas na santa Trindade [são] um só Deus verda-
sonas unum Deum verum, plenum et perfectum. deiro, pleno e perfeito.
Credo quoque ipsum Dei Patris F i l i u m , Ver- Creio também que o F i l h o de Deus Pai, o Ver- 681
bum Dei aeternaliter natum ante omnia tempora de bo de Deus, nascido eternamente do Pai antes de
Patre, consubstantialem, coomnipotentem et coae- todos os tempos, consubstancial, coonipotente e
qualem Patri per omnia in divinitate, temporaliter coigual ao Pai na divindade em tudo, nasceu no
245
natum de Spiritu Sancto ex Maria semper virgine, tempo, do Espírito Santo, <do seio> de Maria sem-
cum anima rationali: duas habentem nativitates, pre virgem, com uma alma racional, tendo dois nas-
unam ex Patre aeternam, alteram ex matre tempo- cimentos, um eterno do Pai, o outro, no tempo, pela
ralem: duas voluntates et operationes habentem: mãe; tendo duas vontades e duas operações; verda-
Deum verum et hominem verum: proprium in utra- deiro Deus e verdadeiro homem, próprio e perfeito
que natura atque perfectum: non commixtionem numa e noutra natureza; ele não sofreu mistura nem
atque divisionem passum, non adoptivum, neque divisão, não é adotivo nem fruto de imaginação; é
phantasticum: unicum et unum Deum, Filium Dei um único e um só Deus, filho de Deus em duas
in duabus naturis, sed in unius personae singulari- naturezas, mas na singularidade de uma só pessoa;
tate: impassibilem et immortalem divinitate, sed in impassível e imortal na divindade, todavia na hu-
humanitate pro nobis et pro nostra salute passum manidade padeceu por nós e por nossa salvação em
vera carnis passione et sepultum, ac resurrexisse a verdadeiro sofrimento da carne, e foi sepultado, e
mortuis die tertia vera carnis resurrectione: propter ressuscitou dos mortos ao terceiro dia com verda-
quam confirmandam cum discipulis, nulla indigen- deira ressurreição da carne, e para confirmação desta
tia cibi, sed sola voluntate et potestate, comedisse: tomou comida com os discípulos, não por necessi-
die quadragesimo post resurrectionem cum carne, dade de alimento, mas unicamente pela <sua> von-
qua surrexit, et anima ascendisse in caelum et sedere tade e poder; no quadragésimo dia depois da res-
in dextera Patris, inde decimo die misisse Spiritum surreição subiu ao céu, com a carne na qual res-
Sanctum, et inde, sicut ascendit, venturum iudicare suscitara e com a alma, e está sentado à direita do
vivos et mortuos, et redditurum unicuique secun- Pai; de lá, no décimo dia, mandou o Espírito Santo,
dum opera sua. e de lá, assim como subiu, de novo virá, para julgar
os vivos e os mortos e retribuir a cada um segundo
suas obras.
682 Credo etiam S p i r i t u m S a n c t u m , plenum et Creio também <n>o E s p í r i t o S a n t o , plena,
perfectum verumque Deum, a Patre et Filio proce- perfeita e verdadeiramente Deus, que procede do
dentem, coaequalem et coessentialem et coomni- Pai e do Filho, coigual, coessencial, coonipotente e
potentem et coaeternum per omnia Patri et Filio, coeterno em tudo ao Pai e ao Filho, e que falou por
per prophetas locutum. meio dos profetas.
683 Hanc sanctam et individuam Trinitatem non tres Esta santa e indivisível Trindade, não três deu-
Deos, sed in tribus personis et in una natura sive ses, mas, em três pessoas e numa só natureza ou
essentia unum Deum omnipotentem, aeternum, in- essência, um só Deus onipotente, eterno, invisível e
visibilem et incommutabilem ita credo et confiteor, imutável, eu creio nela e a confesso, tanto que pro-
ut Patrem ingenitum, Filium unigenitum, Spiritum clamo segundo a verdade que o Pai é ingênito, o
Sanctum nec genitum nec ingenitum, sed a Patre et Filho é unigênito e o Espírito Santo nem gerado
Filio procedentem, veraciter praedicem. nem ingênito, mas procedente do Pai e do Filho.
684 [Va r i a :] Credo sanctam, catholicam et aposto- [A s s u n t o s d i v e r s o s : ] Creio que a Igreja san-
licam, unam esse veram Ecclesiam, in qua unus ta, católica e apostólica é a única verdadeira, e nela
datur baptismus et vera omnium remissio peccato- é administrado o verdadeiro batismo e a única ver-
rum. Credo etiam veram resurrectionem eiusdem dadeira remissão de todos os pecados. Creio tam-
carnis, quam nunc gesto, et vitam aeternam. bém <n>a ressurreição verdadeira desta mesma
carne que agora possuo, e <n>a vida eterna.
685 Credo etiam Novi et Veteris Testamenti, legis et Creio também que Deus, Senhor onipotente, é o
Prophetarum et Apostolorum unum esse auctorem, único autor do Novo e do Antigo Testamento, da
Deum et Dominum omnipotentem. Deum praedes- Lei, dos Profetas e dos Apóstolos. Creio que Deus
tinasse solummodo bona, praescivisse autem bona predestinou somente o bem, enquanto preconhecia
malaque. Gratiam Dei praevenire et subsequi ho- o bem e o mal. Creio que a graça de Deus previne
minem credo et profiteor, ita tamen, ut liberum ar- e segue o homem, todavia sem que negue, de modo
bitrium rationali creaturae non denegem. Animam algum, o livre-arbítrio da criatura racional. Creio e
non esse partem Dei, sed ex nihilo creatam, et abs- proclamo que a alma não é uma parte de Deus, mas
que baptismate originali peccato obnoxiam, credo que foi criada do nada e que, sem o batismo, está
et praedico. sujeita ao pecado original.
246
Porro anathematizo omnem haeresim extollentem Anatematizo, outrossim, cada heresia que se er- 686
se adversus sanctam Ecclesiam catholicam, pariter- gue contra a santa Igreja católica e, igualmente, todo
que eum, quicunque aliquas scripturas praeter eas, aquele que crer que se devam considerar autoriza-
quas catholica Ecclesia recipit, in auctoritate haben- das outras escrituras que não as que a Igreja católi-
das esse crediderit vel veneratus fuerit. ca acolhe, ou que as tiver venerado.
Quattuor Concilia omnimode recipio et velut quat- Reconheço com todo o respeito os quatro Concí-
tuor evangelia veneror: quia per quattuor partes lios e os venero como os quatro Evangelhos: pois a
mundi universalis Ecclesia, in his tanquam in qua- Igreja universal, nas quatro partes do mundo, tem
dro lapide, fundata consistit [cf. *472]. … Pari modo neles seu fundamento estável, como sobre uma pe-
recipio et veneror reliqua tria Concilia. … Quidquid dra quadrangular [cf. *472]. … De igual modo aco-
supradicta septem sancta et universalia Concilia lho e venero os outros três Concílios. … Tudo quan-
senserunt et collaudaverunt, et sentio et collaudo, et to os acima citados sete Concílios santos e univer-
quoscunque anathematizaverunt, anathematizo. sais tenham entendido e louvado, também eu en-
tendo e louvo, e anatematizo todo aquele que eles
tenham anatematizado.
*688 1 Pedro Damião distingue “quatro maneiras distintas” (cap. 1: PL 145, 161C): “uns cometem ato contra a natureza
consigo mesmos, outros, pelas mãos de outros, outros, entre as coxas, outros enfim, consumando o ato” (“alii siquidem
secum, alii aliorum manibus, alii inter femora, alii denique consummato actu contra naturam delinquunt”).
247
aliis spe recuperationis sui ordinis, qui vel per lon- tência se purificaram, sejam readmitidos aos mes-
ga tempora secum sive cum aliis vel cum pluribus, mos graus nos quais se encontravam, sem porém
brevi licet tempore, quolibet duorum foeditatis ge- perseverarem no pecado; seja aos invés tirada a es-
nere, quae descripseras, maculati vel, quod est hor- perança de reintegração na sua ordem àqueles que,
rendum dictu et auditu, in terga prolapsi sunt. Con- ou por longo tempo consigo mesmo ou com outros,
tra quod Nostrum Apostolicae sanctionis decretum ou com muitos mesmo se por breve tempo, se man-
si quis ausus fuerit vel iudicare vel latrare, ordinis charam com qualquer dos dois gêneros de torpeza
sui se noverit periculo agere. que tu descreveste, ou se, coisa horrível de se dizer
e de se ouvir, deitaram nas costas de outrem. E se
alguém ousar sentenciar ou protestar contra este
nosso decreto de castigo apostólico, saiba que põe
em risco a sua ordem.
248
tatoribus suis, aeterno anathemate dignos esse juro-o pela santa e consubstancial Trindade e por
pronuntio. estes sacrossantos evangelhos de Cristo. Aqueles,
porém, que se opuserem a esta fé, eu os declaro
dignos de eterno anátema, juntamente com suas
doutrinas e seus seguidores.
A ordenação simoníaca
Dominus papa Nicolaus synodo in basilica Con- O senhor Papa Nicolau que presidiu o sínodo na 691
stantiniana praesidens dixit: (§ 1) Erga simoniacos basílica constantiniana disse: (§1) Nós decidimos
nullam misericordiam in dignitate servanda haben- que, para com os simoníacos, não se deva ter ne-
dam esse decernimus; sed iuxta canonum sanctiones nhuma misericórdia em relação à conservação da
et decreta sanctorum Patrum eos omnino damnamus, sua dignidade; mas segundo as sanções dos câno-
ac deponendos esse apostolica auctoritate sancimus. nes e os decretos dos santos Padres, os condenamos
sem exceção e, pela apostólica autoridade, decreta-
mos que sejam depostos.
(§ 2) De iis autem, qui non per pecuniam, sed (§ 2) No que se refere aos que são ordenados 692
gratis sunt a simoniacis ordinati, quia quaestio a pelos simoníacos não por dinheiro, mas gratuita-
longo tempore est diutius ventilata, omnem nodum mente, dado que o problema vem debatido ampla-
dubietatis absolvimus: ita ut super hoc capitulo mente há muito tempo, nós desfazemos o nó da
neminem deinceps ambigere permittamus. … Eos, dúvida: não permitimos de agora em diante a nin-
qui usque modo gratis sunt a simoniacis consecrati, guém de permanecer na incerteza sobre este assun-
… in acceptis ordinibus manere permittimus … . to. … Aqueles que gratuitamente foram ordenados
por simoníacos … permitimos que fiquem nas or-
dens recebidas … .
Ita tamen auctoritate sanctorum Apostolorum Petri Todavia, pela autoridade dos apóstolos Pedro e
et Pauli omnimodis interdicimus, ne aliquando ali- Paulo, de todo modo proibimos que algum dos
quis successorum Nostrorum ex hac Nostra permis- nossos sucessores desta nossa permissão deduza ou
sione regulam sibi vel alicui assumat vel praefigat: estabeleça uma regra para si ou para outrem: pois
quia non hoc auctoritas antiquorum Patrum iubendo não foi a autoridade dos antigos Padres que, orde-
aut concedendo promulgavit, sed temporis nimia nando ou concedendo, promulgou isso, mas a ex-
necessitas permittendum a Nobis extorsit. trema necessidade do tempo arrancou de nós que o
permitíssemos.
(§ 3) De cetero autem si quis hinc in posterum ab (§ 3) De resto, se alguém, de agora em diante 693
eo, quem simoniacum esse non dubitat, se conse- tiver consentido em fazer-se consagrar por alguém
crari permiserit, et consecrator et consecratus non que, sem dúvida alguma, considera simoníaco, tan-
disparem damnationis sententiam subeat, sed to o consagrado como o consagrador não devem
uterque depositus paenitentiam agat et privatus a receber sentença condenatória diferente, mas am-
propria dignitate persistat. bos devem ser depostos e fazer penitência, e per-
maneçam privados de sua dignidade.
249
694 (§ 5) Nicolaus episcopus episcopis omnibus: Sta- (§ 5) O bispo Nicolau, a todos os bispos: Pro-
tuimus decretum de simoniaca tripartita haeresi, id mulgamos um decreto sobre a tríplice heresia si-
est de simoniacis simoniace ordinatoribus vel ordi- moníaca, isto é, sobre os simoníacos que mediante
natis, et de simoniacis simoniace a non simoniacis, simonia ordenaram e foram ordenados, sobre os
et simoniacis non simoniace a simoniacis: simoníacos <ordenados> mediante simonia por não
simoníacos, e sobre os simoníacos <ordenados> sem
simonia pelos simoníacos.
Simoniaci simoniace ordinati vel ordinatores se- Os simoníacos que foram ordenados ou ordenam
cundum ecclesiasticos canones a proprio gradu de- com simonia, segundo os cânones eclesiásticos, de-
cidant. Simoniaci quoque simoniace a non simo- caem de seu grau. Também os simoníacos ordena-
niacis ordinati similiter ab officio male accepto re- dos de modo simoníaco por um não simoníaco se-
moveantur. Simoniacos autem non simoniace a si- jam afastados do ofício recebido malignamente.
moniacis ordinatos misericorditer per manus impo- Concedemos, ao invés, que, em vista da necessida-
sitionem pro temporis necessitate concedimus in de do tempo, misericordiosamente, pela imposição
officio permanere. da mão, permaneçam no ofício os simoníacos orde-
nados de modo não simoníaco pelos simoníacos.
250
cultum disponit adducere, tamen quia id inordinato judeus ao culto da cristandade, todavia temos jul-
videris studio agere, necessarium duximus, admo- gado necessário endereçar-te uma carta nossa para
nendo tibi litteras nostras dirigere. Dominus enim te admoestar, dado que o pareces fazer com zelo
noster Iesus Christus nullum legitur ad sui servi- desordenado. Lê-se de fato que nosso Senhor Jesus
tium violenter coegisse, sed humili exhortatione, Cristo não forçou ninguém com violência ao seu
reservata unicuique proprii arbitrii libertate, quos- serviço, mas, com humilde exortação – resguarda-
cumque ad vitam praedestinavit aeternam non da para cada um a liberdade do próprio arbítrio –
iudicando, sed proprium sanguinem fundendo ab ele salvou do erro todos aqueles que predestinou à
errore revocasse. … vida eterna, não julgando, mas derramando seu pró-
prio sangue. …
Item beatus Gregorius, ne eadem gens ad fidem Assim também o bem-aventurado Gregório numa
violentia trahatur, in quadam sua epistola interdicit1. sua carta proíbe que este mesmo povo seja condu-
zido à fé com violência1.
*698 1 Podem-se citar, sobre este assunto, diversas cartas de Gregório I; cf. em particular *480; além disso, as cartas “Scribendi”,
aos bispos Virgílio de Arles e Teodoro de Marselha, de 3 jun. 591, e “Supplicaverunt”, aos bispos Bacaudo e Agnelo,
de set. ou out. 519 (MGH Epistulae I 71s 105 / PL 77, 509-511 457). Não todos os papas seguiram esta opinião. Entre
os documentos mais deploráveis mencione-se a Constituição de Paulo IV “Cum nimis absurdum”, de 14 jul. 1555, que, conf. maiúscula
entre outras coisas, ordena a criação de um gueto para os judeus em Roma (BullTau 6, 498s). Não se coaduna com a
opinião de Gregório I a prática de forçar os judeus a escutar teólogos que pregassem para eles (cf. Gregório XIII,
“Sancta Mater”, 1 set. 1584: BullTau 8, 487s).
251
252
253
*710 1 Sínodo de Toulouse, jul. 1119, sob a presidência de Calisto II, cân. 1 (MaC 21, 226CD).
254
nitus interdicimus et aliarum mulierum cohabitatio- com concubinas ou com esposas e coabitarem com
nem, praeter quas Synodus Nicaena [can. 3]1 prop- outras mulheres que aquelas com as quais o Concí-
ter solas necessitudinum causas habitare permisit, lio de Nicéia [cân. 3]1, só por razões de necessida-
videlicet matrem, sororem, amitam vel materteram de, permitiu a coabitação, isto é, a mãe, a irmã, a
aut alias huiusmodi, de quibus nulla valeat iuste tia paterna ou materna ou outras semelhantes, a res-
suspicio oriri2. peito das quais honestamente não possa surgir al-
guma suspeita2.
Can. 4 (al. 8). Praeterea iuxta beatissimi Stepha- Cân. 4 (outros 8). Além disso, em conformidade 712
ni papae sanctionem1 statuimus, ut laici, quamvis ao que foi disposto pelo beatíssimo Papa Estêvão1,
religiosi sint, nullam tamen de ecclesiasticis rebus estabelecemos que os leigos, por mais piedosos que
aliquid disponendi habeant facultatem; sed secun- sejam, não tenham nenhuma faculdade de dispor das
dum Apostolorum Canones [can. 38, al. 39]2 om- coisas eclesiásticas; mas que, segundo os Cânones
nium negotiorum ecclesiasticorum curam episcopus dos Apóstolos [cân. 38, outros 39]2, os cuidados de
habeat et ea velut Deo contemplante dispenset. (Al. todos os negócios eclesiásticos estejam nas mãos do
can. 9) Si quis ergo principum aut laicorum alio- bispo, e que os administre como que sob o olhar de
rum dispensationem vel donationem rerum sive Deus. (Outros cân. 9) Portanto, se algum dentre os
possessionum ecclesiasticarum sibi vindicaverit, ut príncipes ou dentre outros leigos tiver reivindicado o
sacrilegus iudicetur. direito de dispor dos bens ou das posses eclesiásti-
cas ou de conferi-las, seja considerado sacrílego.
715-718: Cânones
Simonia e usura
Can. 2. Si quis praebendam, vel prioratum, seu Cân. 2. Se alguém, levado pela maldita paixão da 715
decanatum, aut honorem, vel promotionem aliquam avareza, obteve com dinheiro uma prebenda, um
ecclesiasticam, seu quodlibet sacramentum eccle- priorado, uma forania, uma dignidade ou uma pro-
siasticum, utpote chrisma vel oleum sanctum, con- moção eclesiástica ou um sagrado sinal da Igreja,
secrationes altarium vel ecclesiarum, interveniente como o santo crisma, o óleo santo, a consagração
exsecrabili ardore avaritiae per pecuniam acquisi- de altares ou de igrejas, tal seja privado da dignida-
vit: honore male acquisito careat, et emptor atque de mal-adquirida; o comprador, o vendedor e o in-
venditor et interventor nota infamiae percellantur. termediário sejam feridos com a marca da infâmia.
Et nec pro pastu, nec sub obtentu alicuius consue- E nem para o sustento, nem sob o pretexto de al-
tudinis ante vel post a quoquam aliquid exigatur, gum costume, nem antes nem depois, de ninguém
vel ipse dare praesumat: quoniam simoniacum est; se exigirá coisa alguma, e nem o próprio <benefi-
*711 1 Cân. 3 de Nicéia (Turner 1/I/II [1904] 116s; cf. sínodo de Elvira, cân. 27 [*118]).
2 Esta estipulação dirige-se também contra os erros dos nicolaítas, que afirmavam a princípio que o celibato fosse
impossível de se observar e nocivo à moral.
*712 1 Pseudo-Isidoro: Segunda carta de Estêvão, cap. 12 (P. Hinschius, Decretales Pseudo-Isidorianae [Leipzig 1863] 186).
2 Canones Apostolorum 38 (39) (Turner 1/I/I [1899] 26 / Bruns 1, 6).
255
sed libere et absque imminutione aliqua, collata sibi ciário> dará – pois isto é simoníaco –, mas ele deve
dignitate atque beneficio perfruatur1. gozar livremente e sem nenhuma diminuição da
dignidade e do benefício a ele conferidos1.
716 Can. 13. Porro detestabilem et probrosam, divi- Cân. 13. Condenamos, além disso, a insaciável
nis et humanis legibus per Scripturam in Veteri et avidez dos u s u r á r i o s , detestável e vergonhosa
in Novo Testamento abdicatam, illam, inquam, in- para as leis divinas e humanas, condenada pelas Es-
satiabilem f o e n e r a t o r u m rapacitatem damna- crituras tanto no Antigo como no Novo Testamen-
mus, et ab omni ecclesiastica consolatione seques- to; além disso os excluímos de qualquer conforto
tramus, praecipientes, ut nullus archiepiscopus, eclesiástico e mandamos que nenhum arcebispo,
nullus episcopus vel cuiuslibet ordinis abbas, seu bispo ou abade de qualquer ordem, ou ninguém per-
quivis in ordine et clero, nisi cum summa cautela tencente a uma ordem ou ao clero acolha os usurá-
usurarios recipere praesumat, sed in tota vita infa- rios senão com a máxima cautela. Sejam conside-
mes habeantur et, nisi resipuerint, christiana sepul- rados infames por toda a vida e, se não se emenda-
tura priventur1. rem, sejam privados da sepultura cristã1.
*715 1 Procura-se impedir que alguém, para evitar o perigo de simonia, em vez de uma venda propriamente exija uma
provisão.
*716 1 Parece que muitos entenderam esta sanção apenas como uma proibição para credores, de modo que não se aplicasse
a quem recebesse dinheiro com juros. Alexandre III proibiu isso (Gregório IX, Decretales, l. V, tit. 19, c. 4; Frdb 2,
812s), mesmo quando feito para resgatar os fiéis presos pelos sarracenos. O mesmo papa rejeitou também (c. 5) a
restrição que limitava a devolução dos juros aos recebidos depois do decreto do Concílio do Latrão. Enfim, definiu (c.
9), que mesmo os herdeiro e as pessoas estrangeiras eram obrigados a restituir os juros. Cf. ainda, no mesmo título 19
das Decretales, os decretos de Inocêncio III insistindo na observação deste cânon.
*717 1 Tomado do sínodo de Amalfi, realizado no ano de 1089, sob Urbano II, can. 16 (MaC 20, 724CD). O que é a “falsa
penitência” vem descrito também no cân. 5 do V Sínodo de Roma, realizado sob Gregório VII (MaC 20, 510AB /
Graciano, Decretum, p. II, cs. 33, dist. 5, c. 6: Frdb 1, 1241).
256
*718 1 Quase verbalmente do Sínodo de Toulouse, de 1119, sob Calisto II (MaC 21, 234AB). O cânon visa especialmente
Pedro de Bruys.
257
727 7. Quod Deus nec debeat nec possit mala impedire. 7. Deus não deve nem pode impedir o mal.
728 8. Quod non contraximus culpam ex Adam, sed 8. De Adão não contraímos a culpa, mas somente
poenam tantum. a pena.
729 9. Quod non peccaverunt, qui Christum ignoran- 9. Não têm pecado aqueles que, sem o saberem,
tes crucifixerunt. crucificaram o Cristo.
730 10. Quod non sit culpae adscribendum, quicquid 10. Não se deve atribuir culpa a qualquer coisa
fit per ignorantiam. feita por ignorância.
731 11. Quod in Christo non fuerit spiritus timoris 11. Em Cristo não houve o espírito do temor do
Domini. Senhor.
732 12. Quod potestas ligandi atque solvendi Aposto- 12. O poder de ligar e de desligar foi dado só aos
lis tantum data sit, et non successoribus eorum. apóstolos, não aos seus sucessores.
733 13. Quod propter opera nec melior nec peior effi- 13. Pelas obras o homem não se torna nem me-
ciatur homo. lhor nem pior.
734 14. Quod ad Patrem, quia ab alio non est, proprie 14. Ao Pai compete, porque não é de outros, em
vel specialiter attineat omnipotentia, non etiam sa- sentido próprio e especial a onipotência, porém não
pientia et benignitas. igualmente a sabedoria e a bondade.
735 15. Quod etiam castus timor excludatur a futura vita. 15. Também o pio temor é excluído da vida futura.
736 16. Quod diabolus immittat suggestiones per 16. O diabo inspira sugestões por meio da conju-
appositionem lapidum vel herbarum. gação de pedras e de ervas.
737 17. Quod adventus in fine saeculi posset attribui 17. A vinda ao fim do tempo pode ser atribuída
Patri. ao Pai.
738 18. Quod anima Christi per se non descendit ad 18. A alma de Cristo não desceu aos infernos por
inferos, sed per potentiam tantum. si mesma, mas só por potência.
739 19. Quod neque opus neque voluntas neque con- 19. Nem a obra, nem a vontade, nem a concupis-
cupiscentia neque delectatio, quae movet eam, pec- cência, nem o prazer que a suscita é pecado, e não
catum sit, nec debemus eam velle exstingui. devemos querer que se extinga.
O batismo de desejo
741 Presbyterum, quem sine unda baptismatis extre- O presbítero do qual comunicaste que terminou seus
mum diem clausisse significasti, quia in sanctae dias sem o banho do batismo, foi libertado do pecado
matris Ecclesiae fide et Christi nominis confessio- original e chegou ao gozo da pátria celestial, assim
ne perseveravit, ab originali peccato solutum et declaramos sem hesitar, porque perseverou na fé da
caelestis patriae gaudium esse adeptum asserimus santa mãe Igreja e na confissão do nome de Cristo.
incunctanter. Lege super octavum librum Augustini Podes ler, outrossim, o livro oitavo de Agostinho, De
de civitate Dei1, ubi inter cetera legitur: “Baptismus civitate Dei1, onde se lê, entre outras coisas: “O ba-
invisibiliter ministratur, quem non contemptus reli- tismo é administrado de modo invisível àquele que
gionis, sed terminus necessitatis excludit”. Librum não o desprezo da religião, mas a barreira da neces-
etiam beati Ambrosii de obitu Valentiniani2 idem sidade exclui”. Vale reler também o livro do bem-
asserentis revolve. Sopitis ergo quaestionibus, doc- aventurado Ambrósio, De obitu Valentiniani 2, que
*741 1 Corresponde, quanto ao teor, a Agostinho, De civitate Dei XIII 7 (B. Dombart – A. Kalb: CpChL 48 [1955] 389s /
CSEL 40/I, 622f / PL 41, 381). poder-se-ia ter citado: Agostinho, De baptismo con tra Donatistas IV 22, n. 29 (CSEL
51, 25714 / PL 43, 173).
2 Ambrósio, De obitu Valentiani 51 (CSEL 73, 354 / PL 16, 1374BC).
258
torum Patram sententias teneas, et in ecclesia tua sustenta a mesma coisa. Caladas as disputas, guar-
iuges preces hostiasque Deo offerri iubeas pro pres- da firmemente as sentenças dos doutos Padres e na
bytero memorato. tua Igreja ordena que sejam oferecidas contínuas
orações e sacrifícios pelo presbítero recordado.
A divina Trindade
“De primo tantum [capitulo] Romanus Pontifex “Somente sobre o primeiro [capítulo] o Romano 745
diffinivit, ne aliqua ratio in theologia inter natu- Pontífice tomou uma decisão, para que nenhum ra-
ram et personam divideret, neve Deus divina es- ciocínio na teologia leve a uma divisão entre a na-
sentia diceretur ex sensu ablativi tantum, sed etiam tureza e a pessoa, e para que não se fale de Deus
nominativi.” como essência divina só no sentido de um ablativo,
mas também do nominativo.”
259
Ed.: MaC 21, 1176DE / HaC 6/II, 1597AB / Gregório IX, Decretales, l. V, tit. 19, c. 1 (Frdb 2, 811); ibid. c. 2
proíbe-se a usura de modo escondido também para os leigos.
Usura
747 (Cap. 2) Plures clericorum, et quod maerentes (Cap. 2) Vários clérigos, e o dizemos chorando,
dicimus, eorum quoque qui praesens saeculum pro- também entre aqueles que com voto e hábito se
fessione vocis et habitu reliquerunt, dum commu- retiraram do presente mundo, enquanto aborrecem
nes usuras, quasi manifestius damnatas, exhorrent, as usuras comuns, porque mais manifestamente
commodata pecunia indigentibus possessiones eo- condenadas, quando emprestam dinheiro aos indi-
rum in pignus accipiunt, et provenientes fructus per- gentes tomam como penhor as suas posses e se
cipiunt ultra sortem. apropriam dos provenientes frutos para além do
capital emprestado.
Idcirco generalis Concilii decrevit auctoritas, ut Por esse motivo, a autoridade do Concílio geral
nullus amodo constitutus in clero vel hoc vel aliud decretou que, de agora em diante, ninguém que se
genus usurae exercere praesumat. Et si quis hacte- encontra ordenado no clero ouse praticar este ou
nus alicuius possessionem data pecunia sub hac outro gênero de usura. E se, até agora, alguém, em-
specie vel condicione in pignus acceperit, si sortem prestando o dinheiro sob tal forma ou condição, tiver
suam, deductis expensis, de fructibus iam perceperit, recebido como penhor as posses de alguém, tendo
absolute possessionem restituat debitori. Si autem já recuperado dos frutos o seu capital, deduzidas as
aliquid minus habet, eo recepto, possessio libere ad despesas, ele deve restituir sem restrição as posses
dominum revertatur. ao devedor. Se, porém, houver algum déficit, desde
que seja compensado, as posses retornem sem ônus
ao dono.
Quodsi post huiusmodi constitutum in clero quis- Ora, se depois deste decreto houver no clero al-
quam exstiterit qui detestandis usurarum lucris in- guém que persista nos detestáveis lucros da usura,
sistat, ecclesiastici officii periculum patiatur, nisi seja posto em perigo o seu ofício eclesiástico, a não
forte Ecclesiae beneficium fuerit, quod redimendum ser no caso de um beneficio da Igreja que ele achou
ei hoc modo de manu laici videatur. dever resgatar deste modo da mão de um leigo.
260
Simonia
Cap. 10. Monachi non pretio recipiantur in mo- Cap. 10. Os monges não sejam recebidos no 751
nasterio. … Si quis autem exactus pro sua receptio- mosteiro por dinheiro. … Ora, se alguém, depois
ne aliquid dederit, ad sacros ordines non ascendat. de recusado, tiver pago alguma coisa para ser ad-
261
Is autem, qui acceperit, officii sui privatione mitido, não pode ser elevado às ordens sagradas, e
mulctetur1. o que tiver recebido <o dinheiro> seja punido com
a privação do seu ofício1.
O vínculo do matrimônio
754 Quia praefata mulier, licet a praefato viro des- Dado que a supradita mulher, se bem que casada
ponsata fuerit, adhuc tamen, sicut asserit, ab ipso com o supradito homem, até agora, segundo afir-
est incognita, fraternitati tuae per apostolica scripta ma, não teve relações com ele, solicitamos a tua
praecipiendo mandamus, quatenus, si praedictus vir fraternidade, por ordem expressa em escrito apos-
mulierem ipsam carnaliter non cognoverit, et eadem tólico, para que, se o supradito homem não teve re-
mulier, sicut ex parte tua Nobis proponitur, ad reli- lação carnal com esta mulher e a mulher, como de
gionem transire voluerit, recepta ab ea sufficienti tua parte nos foi apresentado, quiser passar à vida
cautione, quod vel ad religionem transire vel ad religiosa, tu – recebida dela suficiente garantia de
virum suum redire infra duorum mensium spatium que dentro de dois meses passe à vida religiosa ou
debeat, ipsam contradictione et appellatione cessante volte para seu marido –, cessando oposição e ape-
a sententia [excommunicationis], qua tenetur, absol- lação, a deves absolver da sentença [de excomunhão]
vas ita, quod, si ad religionem transierit, uterque pela qual está ligada, de modo que, se passar à vida
restituat alteri, quod ab eo noscitur recepisse, et vir religiosa, cada um dos dois restitua ao outro o que
ipse, ea religionis habitum assumente, ad alia vota se sabe ter dele recebido, e o marido, logo que ela
licentiam habeat transeundi. Sane quod Dominus assuma o hábito religioso, tenha a faculdade de
in Evangelio dicit, non licere viro, nisi ob causam contrair outras núpcias. Decerto, o que o Senhor
fornicationis uxorem suam dimittere [Mt 5,32; 19,9], diz no Evangelho, que não é lícito ao homem repu-
intelligendum est, secundum interpretationem sacri diar sua mulher, exceto em caso de fornicação [Mt
eloquii, de his, quorum matrimonium carnali copu- 5,32; 19,9], é de se entender segundo a interpreta-
la est consummatum, sine qua matrimonium con- ção da santa palavra relativa àqueles cujo matrimô-
*751 1 Assim já o sínodo de Amalfi, sob Urbano II, cân. 7 (MaC 20, 723C).
262
summari non potest, et ideo, si praedicta mulier non nio tenha sido consumado com a união carnal, sem
fuit a viro suo cognita, licitum est ei ad religionem a qual o matrimônio não pode ser consumado, e
transire. portanto, se a referida mulher não teve relações com
seu marido, é-lhe permitido passar à vida religiosa.
A forma do batismo
Si quis sane puerum ter in aqua immerserit in Mesmo se alguém tiver mergulhado três vezes na 757
nomine Patris et Filii et Spiritus Sancti, Amen, et água uma criança em nome do Pai e do Filho e do
non dixerit: “Ego baptizo te in nomine Patris et Filii Espírito Santo, Amém, e não tiver dito: “Eu te ba-
et Spiritus Sancti, Amen”, non est puer baptizatus. tizo em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo,
Amém”, a criança não está batizada.
De quibus dubium est, an baptizati fuerint, bap- Aqueles para os quais há dúvida de que tenham 758
tizantur his verbis praemissis: “Si baptizatus es, non sido batizados, sejam batizados, acrescentando-se,
te baptizo; sed, si nondum baptizatus es, ego te antes, estas palavras: “Se és batizado, não te batizo;
baptizo, etc.” mas se não és ainda batizado, eu te batizo, etc.”
263
A castração
762 … Priorissa et conventus de Colonantia a Sede … A priora e o convento de Colonância pergun-
Apostolica quaesierunt, si iuvenis quidam, conversus taram à Sé Apostólica se um certo jovem, irmão
earum, genitalibus destitutus, in presbyterum possit converso junto deles, privado dos órgãos genitais,
de permissione canonum ordinari. poderia, com a permissão dos cânones, ser ordena-
do presbítero
Nos itaque in hoc articulo distinctionem volentes Querendo sobre este ponto observar a distinção
canonicam observari, fraternitati tuae per Apostoli- canônica, Nós mandamos à tua fraternidade, por meio
ca scripta mandamus, quatenus inquiras diligentius dos escritos apostólicos, procurar com diligência a
veritatem, si ab hostibus sectus fuerit vel a medicis verdade, isto é, se lhe foi tirada a virilidade por ini-
aut nesciens carnis vitio reluctari ipse sibi manum migos ou por médicos ou, não sabendo opor-se ao
iniecerit. Priores enim admittunt canones [cf. *128a], vício da carne, ele mesmo o tenha feito. Os cânones
264
si alias idonei sint, tertium velut homicidam sui de fato, admitem os primeiros [cf. *128a], se são
statuunt puniendum. idôneos por outras razões, mas estabelecem que se
deve punir o terceiro como homicida de si mesmo.
A usura
Consuluit Nos tua devotio, an ille in iudicio ani- A tua devoção Nos consultou <perguntando> se, 764
marum quasi usurarius debeat iudicari, qui non ali- no juízo das almas, não se deva julgar como usurário
as mutuo traditurus, eo proposito mutuam pecuniam aquele que, não disposto a prestar de outro modo,
credit, ut, licet omni conventione cessante, plus ta- concede dinheiro em empréstimo com a intenção de,
men sorte recipiat; et utrum eodem reatu criminis mesmo cessando qualquer acordo, receber mais do
involvatur, qui, ut vulgo dicitur, non aliter parabolam que o capital; e se incorre na mesma acusação de
iuramenti concedit, donec, quamvis sine exactione, delito aquele que, como comumente se diz, não presta
emolumentum aliquod inde percipiat; et an nego- de outro modo o consenso para um juramento se não
tiator poena consimili debeat condemnari, qui mer- receba algum emolumento, ainda que sem exação; e
ces suas longe maiore pretio distrahit, si ad solutio- se não deva ser condenado com igual pena o nego-
nem faciendam prolixioris temporis dilatio proro- ciante que revender as suas mercadorias por um pre-
getur, quam si ei in continenti pretium persolvatur. ço bem maior que o preço à vista, caso o pagamento
seja protelada por considerável lapso de tempo.
Verum quia, quid in his casibus tenendum sit, ex Como, pois, se sabe com clareza a que se ater,
evangelio Lucae manifeste cognoscitur, in quo di- pelo evangelho de Lucas, que diz: “Emprestai sem
citur: “Date mutuum, nihil inde sperantes” [Lc 6,35]: esperar nada em troca” [Lc 6,35], deve-se julgar que
huiusmodi homines pro intentione lucri, quam ha- homens assim, por causa de sua intenção de lucro –
bent, cum omnis usura et superabundantia prohi- sendo proibidos na lei toda usura e lucro excessi-
beatur in lege, iudicandi sunt male agere, et ad ea, vo –, agem erroneamente e, no juízo das almas,
quae taliter sunt accepta, restituenda in animarum devem ser induzidos a restituir o que em tal modo
iudicio efficaciter inducendi. tenham recebido.
265
sibi non possit vel debeat denegari, cum, quod verbis condições quer contrair o matrimônio, não se pode
non potest, signis valeat declarare. nem deve proibi-lo, dado que está em condições de
declarar com sinais o que não pode com as palavras.
266
frater enim vel soror non est servituti subiectus in mos o que diz o Apóstolo: “Se o não crente se se-
huiusmodi” [1 Cor 7,15]. Et canonem etiam, in quo para, separe-se: neste caso o irmão ou a irmã não
dicitur: Quod “contumelia creatoris solvit ius matri- está sujeito à servidão” [1Cor 7,15]. E também o
monii circa eum, qui relinquitur”1. cânon, no qual se diz: “A ofensa do Salvador des-
liga a força jurídica do matrimônio relativamente
àquele que é abandonado”1.
Si vero alter f i d e l i u m coniugum vel labatur in Se, ao contrário, um de dois cônjuges c r e n t e s 769
haeresim vel transeat ad gentilitatis1 errorem, non cai na heresia ou passa para o erro do paganismo1,
credimus, quod in hoc casu is, qui relinquitur, vi- não cremos que, neste caso, aquele que é abandona-
vente altero possit ad secundas nuptias convolare, do, enquanto o outro ainda vive, possa passar a se-
licet in hoc casu maior appareat contumelia creato- gundas núpcias, mesmo se neste caso a injúria ao
ris. Nam etsi matrimonium verum quidem inter in- criador pareça maior. De fato, também se entre não
fideles exsistat, non tamen est ratum: inter fideles crentes existe verdadeiro matrimônio, este porém
autem verum quidem et ratum exsistit: quia sacra- não é ratificado; entre os crentes, ao invés, existe o
mentum fidei, quod semel est admissum, numquam matrimônio verdadeiro e, além disso, ratificado: pois
amittitur, sed ratum efficit coniugii sacramentum, o sacramento da fé <= o batismo>, que é recebido
ut ipsum in coniugibus illo durante perduret. uma vez só, não se pode jamais perder, mas torna o
sacramento do matrimônio ratificado, de modo que
este perdura nos cônjuges enquanto subsistir aquele.
267
tionis usurpant, sacerdotum simplicitatem eludunt para si o ofício da pregação, zombam da simplici-
et eorum consortium aspernantur qui talibus non dade dos sacerdotes e recusam a companhia daque-
inhaerent. Deus enim ... in tantum odit opera tene- les que não se associam a tais coisas. Deus, de fato,
brarum, ut [Apostolis] … praeceperit dicens: “Quod … odeia a tal ponto as obras das trevas que [aos
dico vobis in tenebris, dicite in lumine, et quod in Apóstolos] … recomendou e disse: “Aquilo que vos
aure auditis, praedicate super tecta” [Mt 10,27]; per digo nas trevas, dizei-o na luz, e aquilo que escutais
hoc manifeste denuntians, quod evangelica praedi- ao pé do ouvido, pregai-o sobre os tetos” [Mt 10,27];
catio non in occultis conventiculis, sicut haeretici dando com isso a conhecer de modo manifesto que
faciunt, sed in ecclesia iuxta morem catholicum est a pregação evangélica deve ser proposta não em
publice proponenda. … conventículos escondidos, como fazem os hereges,
mas publicamente na Igreja, de acordo com o cos-
tume católico. …
771 Arcana vero fidei sacramenta non sunt passim Os abscônditos mistérios da fé não devem, po-
omnibus exponenda, cum non passim ab omnibus rém, ser colocados à disposição de todos sem dis-
possint intelligi, sed eis tantum qui ea fideli pos- tinção, dado que não podem ser compreendidos de
sunt concipere intellectu. Propter quod simpliciori- modo indistinto por todos, mas somente por aque-
bus inquit Apostolus: “Quasi parulis in Christo lac les que podem acolhê-los com uma inteligência
potum dedi vobis, non escam“ [1 Cor 3,2]. … crente. Por isso, o Apóstolo diz aos simples: “Como
a recém-nascidos em Cristo vos dei leite de beber,
não alimento sólido” [1Cor 3,2]. …
Tanta est enim divinae Scripturae profunditas, ut De fato, a profundidade da divina Escritura é tão
non solum simplices et illiterati, sed etiam pruden- grande que não só os iletrados, mas também os
tes et docti non plene sufficiant ad ipsius intelligen- sábios e os doutores não estão plenamente à altura
tiam indagandam. Propter quod dicit Scriptura: de perscrutar seu significado. Por isso a Escritura
“Quia multi defecerunt scrutantes scrutinio” [Ps diz: “Muitos fracassaram no afã de perscrutar” [Sl
63,7]. Unde recte fuit olim in lege divina statutum, 64,7]. Por isso, naquele tempo foi corretamente es-
ut bestia, quae montem [Sinai] tetigerit, lapidetur tabelecido na lei divina que o animal que tivesse
[cf. Hbr 12,20; Ex 19,12s], ne videlicet simplex ali- tocado o monte [Sinai] fosse apedrejado [cf. Hb
quis vel et indoctus praesumat ad sublimitatem 12,20; Ex 19,12s], para que evidentemente um sim-
Scripturae sacrae pertingere vel eam aliis praedica- ples qualquer ou alguém sem instrução não presu-
re. Scriptum est enim: “Altiora te ne quaesieris“ [Sir ma penetrar na sublimidade da sagrada Escritura
3,22]. Propter quod dicit Apostolus: “Non plus ou pregá-la a outros. Está escrito, de fato: “Não
sapere quam oporteat sapere, sed sapere ad sobrie- procures para ti o que te ultrapassa” [Eclo 3,22].
tatem” [Rm 12,3]. Por isso diz o Apóstolo: “Não <procureis> saber
mais do que convém saber, mas saber com sobrie-
dade” [Rm 12,3].
Sicut enim multa sunt membra corporis, omnia Como de fato são muitos os membros do corpo,
vero membra non eundem actum habent, ita multi mas nem todos os membros têm a mesma função,
sunt ordines in Ecclesia, sed non omnes idem ha- assim são muitas as categorias na Igreja, mas nem
bent officium, quia secundum Apostolum “alios todas têm o mesmo encargo, pois segundo o Após-
quidem Dominus dedit apostolos, alios prophetas, tolo: “Alguns precisamente o Senhor estabeleceu
alios autem doctores etc.” [Eph 4,11]. Cum igitur como apóstolos, outros como profetas, outros ainda
doctorum ordo sit quasi praecipuus in Ecclesia, non como doutores etc.” [Ef 4,11]. Sendo pois na Igreja
debet sibi quisquam indifferenter praedicationis offi- a categoria dos doutores de certo modo singular,
cium usurpare. não deve qualquer um de modo indistinto reivindi-
car para si o encargo da pregação.
268
321D; cf. também o apêndice [que não faz parte propriamente do Concílio do Latrão], cap. 1: MaC 22, 355E-356C);
JR 13973). A constituição foi repetida e confirmada por Honório III (7 nov. 1217; PoR 5616), Gregório IX (3 mai 1235;
PoR 9893), Inocêncio IV (22 out. 1246 e 5 jul. 1247: PoR 12315 12596) e outros.
Ed.: PL 214, 864C-865B (= Cartas II 302). – Reg.: PoR 834.
269
O primado da Sé romana
774 Apostolicae Sedis primatus, quem non homo, sed O primado da Sé Apostólica, que não o homem,
Deus, immo verius Deus homo constituit, multis mas Deus, ou mais acertadamente, o Deus-homem
quidem et evangelicis et apostolicis testimoniis com- instituiu, é comprovado decerto por muitos teste-
probatur, a quibus postmodum constitutiones cano- munhos evangélicos e apostólicos, dos quais proce-
nicae processerunt, concorditer asserentes sacrosanc- deram em seguida as constituições canônicas, que
tam Ecclesiam in beato Petro Apostolorum principe afirmam concordemente que a santa Igreja consa-
consecratam quasi magistram et matrem ceteris praee- grada no beato Pedro, príncipe dos Apóstolos, se
minere. Hic enim … audire promeruit: “Tu es Petrus eleva como mestra e mãe sobre todas as outras. Pois
… tibi dabo claves regni caelorum” [Mt 16,18s]. ele … mereceu ouvir: “Tu es Pedro … a ti darei as
chaves do reino dos céus” [Mt 16,18s].
Nam licet primum et praecipuum Ecclesiae fun- De fato, ainda que o primeiro e principal funda-
damentum sit unigenitus Dei Filius Iesus Christus, mento da Igreja seja o unigênito Filho de Deus, Je-
iuxta quod dicit Apostolus: “Quia fundamentum sus Cristo, segundo o que diz o Apóstolo: “Foi posto
positum est, praeter quod aliud poni non potest, quod um fundamento, Cristo Jesus, e não pode ser posto
est Christus Iesus” [1 Cor 3,11], secundum tamen outro que ele” [1Cor 3,11], todavia, o segundo e
et secundarium Ecclesiae fundamentum est Petrus, secundário fundamento da Igreja é Pedro, mesmo
etsi non tempore primus, auctoritate tamen praeci- se não primeiro no tempo, quanto à autoridade,
puus inter ceteros, de quibus Paulus Apostolus in- porém, precípuo entre os outros, dos quais o após-
quit: “Iam non estis hospites et advenae, sed estis tolo Paulo diz: “Já não sois hóspedes e estranhos,
cives sanctorum et domestici Dei, superaedificati mas sois concidadãos dos santos e familiares de
supra fundamentum Apostolorum et Prophetarum” Deus, edificados sobre o fundamento dos Apósto-
[Eph 2,20]. … los e dos Profetas” [Ef 2,19s]. …
Huius etiam primatum Veritas per se ipsam ex- Este seu primado, a Verdade o proclamou tam-
pressit, cum inquit ad eum: “Tu vocaberis Cephas” bém pessoalmente quando lhe disse: “Tu te chama-
[Io 1,42]: quod etsi ‘Petrus’ interpretetur, ‘caput’ rás Cefas” [Jo 1,42]; ainda que traduzido como
tamen exponitur, ut sicut caput inter cetera membra ‘Pedro’, é todavia explicado como ‘cabeça’, a fim
corporis, velut in quo viget plenitudo sensuum, de que, como a cabeça obtém o primado sobre to-
obtinet principatum, sic et Petrus inter Apostolos et dos os outros membros do corpo, já que nela a ple-
successores ipsius inter universos Ecclesiarum prae- nitude dos sentidos tem seu vigor, assim também
latos praerogativa praecellerent dignitatis, vocatis Pedro entre os apóstolos e os seus sucessores entre
sic ceteris in partem sollicitudinis, ut nihil eis de todos os prelados da Igreja tivessem a primazia pelo
potestatis plenitudine deperiret. Huic Dominus oves privilégio da dignidade, enquanto os outros são
suas pascendas vocabulo tertio repetito commisit, chamados para tomar parte na solicitude, de tal
ut alienus a grege dominico censeatur, qui eum etiam modo que não lhes falte nada da plenitude do po-
in successoribus suis noluerit habere pastorem. Non der. O Senhor lhe mandou apascentar as suas ove-
enim inter has et illas oves distinxit, sed simpliciter lhas, com uma palavra repetida três vezes, para que
inquit: “Pasce oves meas” [Io 21,17], ut omnes seja considerado estranho ao rebanho do Senhor
omnino intelligantur ei esse commissae. quem não quiser tê-lo como pastor nos seus suces-
sores. Não distinguiu portanto entre estas e aquelas
ovelhas, mas disse simplesmente: “Apascenta as mi-
nhas ovelhas” [Jo 21,17], para que todas compre-
endessem que foram confiadas a ele.
… [Explicatur allegorice Io 21,7:] Cum enim … [É explicado alegoricamente Jo 21,7:] Pois
mare mundum designet [iuxta Ps 103,25] …, per que, de fato, com o mar se designa o mundo [se-
270
hoc, quod Petrus se misit in mare, privilegium ex- gundo Sl 104,25] …, com o seu lançar-se ao mar,
pressit pontificii singularis, per quod universum Pedro manifestou o privilégio da singular autorida-
orbem susceperat gubernandum, ceteris Apostolis de pontifical, mediante a qual tinha recebido o in-
ut vehiculo navis contentis, cum nulli eorum uni- teiro universo para governar, e tendo ficado os ou-
versus fuerit orbis commissus, sed singulis singulae tros apóstolos como que retidos no veículo da em-
provinciae vel Ecclesiae potius deputatae. barcação, por isso não foi confiado a nenhum deles
o inteiro universo, mas antes foram confiados a cada
um deles províncias ou Igrejas distintas.
… [Simile argumentum allegoricum deducitur ex … [Um argumento alegórico semelhante é dedu-
Mt 14,28-31:] Per hoc quod Petrus super aquas maris zido de Mt 14,28-31:] Pelo fato de ter caminhado
incessit, super universos populos se potestatem ac- sobre as águas, Pedro demonstrou ter recebido o
cepisse monstravit. poder sobre todos os povos.
Pro eo Dominus se orasse fatetur, inquiens in Que por ele rezou, o Senhor o declara quando 775
articulo passionis: “Ego pro te rogavi, Petre, ut non diz, no momento da paixão: “Eu rezei por ti, Pedro
deficiat fides tua. Et tu aliquando conversus, confir- para que não desfaleça a tua fé. E tu, quando fores
ma fratres tuos” [Lc 22,32], ex hoc innuens mani- convertido, confirma os teus irmãos” [Lc 22,32],
feste, quod successores ipsius a fide catholica nullo com isto claramente indicando que os seus suces-
umquam tempore deviarent, sed revocarent magis sores jamais desviariam da fé católica, mas antes
alios et confirmarent etiam haesitantes, per hoc sic chamariam os outros e também confirmariam os
ei confirmandi alios potestatem indulgens, ut aliis duvidosos, destarte concedendo a ele o poder de
necessitatem imponeret obsequendi. … confirmar os outros de modo a impor aos outros a
necessidade de obedecer. …
Huic praeterea dictum … legisti: “Quodcumque Tens lido, além disso, que a ele foi dito: “Tudo o
ligaveris super terram, erit ligatum et in caelis; et que ligares sobre a terra será ligado também nos céus
quodcumque solveris super terram, erit solutum et e tudo o que desligares sobre a terra será desligado
in caelis” [Mt 16,19]. Quod si omnibus etiam Apos- também nos céus” [Mt 16,19]. Se, pois, tu achas que
tolis simul dictum esse reperias, non tamen aliis sine isto foi dito de modo inclusivo também a todos os
ipso, sed ipsi sine aliis attributam esse cognosces apóstolos, saberás todavia que aos outros, não sem ele,
ligandi et solvendi a Domino facultatem, ut quod mas a ele, mesmo sem os outros, foi atribuída a facul-
non alii sine ipso, ipse sine aliis posset ex privile- dade de ligar e de desligar, para que o que os outros
gio sibi collato a Domino et concessa plenitudine não <podem> sem ele, ele mesmo o pudesse sem os
potestatis. … outros, pelo privilégio a ele atribuído pelo Senhor e
pela plenitude de poder que lhe foi concedida. …
[Petrus] vidit caelum apertum et descendens vas [Pedro] viu o céu aberto e uma espécie de recep-
quoddam velut linteum magnum quattuor initiis in táculo descendo que arriava do céu à terra como
terram de caelo submitti, quod omnia quadrupedia uma grande toalha com quatro pontas e que contin-
et serpentia terrae ac caeli volatilia continebat [Act ha toda sorte de quadrúpedes e de répteis da terra e
10,9-12]. … Et vox ad eum est facta secundo: “Quod de pássaros do céu [At 10,9-12]. … E uma voz foi
Deus purificavit, tu commune ne dixeris”. Per quod dirigida a ele pela segunda vez: “O que Deus puri-
innuitur manifeste, quod Petrus praelatus fuerit ficou, não o chames profano”. Com isto é indicado
populis universis, cum vas illud orbem, et universitas de modo manifesto que Pedro foi posto à frente de
contentorum in eo universas significet tam Iudaeo- todos os povos, visto que aquele receptáculo e todo
rum quam gentium nationes. … o conjunto das coisas nele contidas significa<m>
os povos tanto dos judeus como dos gentios. …
271
personas consensus legitimus intervenerit de prae- depois que entre pessoas legítimas é celebrado em
senti, qui sufficit in talibus iuxta canonicas sanctio- mútua presença um legítimo consentimento (o qual
nes, et, si solus defuerit, cetera, etiam cum ipso coitu nestes casos é suficiente segundo as disposições
celebrata, frustrantur, si personae iunctae legitime canônicas, enquanto, se só este faltar, todas as ou-
cum aliis postea de facto contrahant, quod prius de tras coisas, mesmo celebradas com a união carnal,
iure factum fuerat, non poterit irritari. não têm valor) –, se pessoas legitimamente unidas
depois contraem <uma união> de facto com outras,
não poderá ser tornado vão o que, anteriormente,
fora feito de iure.
272
fuit divina revelatione concessum, quae mos quan- E a ninguém jamais foi lícito ter mais esposas ao
doque, interdum etiam fas censetur, per quam sicut mesmo tempo, salvo àquele ao qual foi concedido
Iacob a mendacio, Israelitae a furto, et Samson ab pela revelação divina – às vezes considerada costu-
homicidio, sic et Patriarchae et alii viri iusti, qui me, às vezes também lei –, por meio da qual, como
plures leguntur simul habuisse uxores, ab adulterio Jacó pela mentira, os israelitas pelo furto, Sansão
excusantur. pelo homicídio, assim também os patriarcas e ou-
tros homens justos dos quais se lê que tiveram
muitas esposas ao mesmo tempo, foram desculpa-
dos do adultério.
Sane veridica haec sententia probatur etiam de Esta sentença é demonstrada totalmente verídica
testimonio Veritatis testantis in Evangelio: “Quicun- também com base no testemunho da Verdade que
que dimiserit uxorem suam, nisi ob fornicationem, atesta no Evangelho: “Quem repudia sua esposa,
et aliam duxerit, moechatur” [Mt 19,9; cf. Mc 10,11]. exceto em caso de fornicação, e toma uma outra,
Si ergo uxore dimissa duci alia de iure non potest, comete adultério” [Mt 19,9; cf. Mc 10,11]. Se, por-
fortius et ipsa retenta: per quod evidenter apparet, tanto, uma vez repelida a esposa, outra não pode ser
pluralitatem in utroque sexu, cum non ad imparia tomada segundo o direito, com maior razão ainda,
iudicentur, circa matrimonium reprobandam. quando a mesma é conservada. Por isso se eviden-
cia com clareza que, em ambos os sexos (pois não
devem ser considerados de modo desigual), quanto
ao matrimônio, a pluralidade deve ser afastada.
Qui autem secundum ritum suum legitimam Quem, porém, repudiou a esposa legítima segun- 779
repudiavit uxorem, cum tale repudium Veritas in do o rito que é o dele, dado que a Verdade no evan-
Evangelio reprobaverit, numquam ea vivente licite gelho repeliu tal repúdio, nunca, mesmo se conver-
poterit aliam, etiam ad fidem Christi conversus, tido à fé em Cristo, poderá de modo lícito tomar
habere, nisi post conversionem ipsius illa renuat co- outra enquanto aquela estiver viva, a não ser que
habitare cum ipso, aut etiamsi consentiat, non ta- ela, depois da conversão <dele>, não queira coabi-
men absque contumelia creatoris, vel ut eum pertra- tar com ele ou, mesmo ela aceitando, <coabitar>
hat ad mortale peccatum, in quo casu restitutionem não seja possível sem ofensa do criador ou o con-
petenti, quamvis de iniusta spoliatione constaret, duza a pecado mortal; se, neste caso, ela pedir res-
restitutio negaretur: quia secundum Apostolum frater tituição, mesmo caracterizada uma espoliação in-
aut soror non est in huiusmodi subiectus servituti justa, a restituição seja negada, já que segundo o
[cf. 1 Cor 7,15]. Apóstolo, em tal situação o irmão ou a irmã não
está sujeito a servidão [cf. 1 Cor 7,15].
Quod si conversum ad fidem et illa conversa se- Ora, se depois que ele se converteu à fé, ela, tam-
quatur, antequam propter causas praedictas legiti- bém convertida, o seguir, seja ele obrigado a retomá-
mam ille ducat uxorem, eam recipere compelletur. la antes que pelas referidas razões tome esposa le-
Quamvis quoque secundum evangelicam veritatem, gítima. Embora, sempre segundo a verdade evan-
qui duxerit dimissam, moechatur [Mt 19,9]: non gélica, aquele que toma uma repudiada cometa adul-
tamen dimissor poterit obicere fornicationem dimis- tério [Mt 19,9], não poderá todavia aquele que re-
sae, pro eo, quod nupsit alii post repudium, nisi alias pudia acusar a repudiada de fornicação pelo fato de
fuerit fornicata. ter esposado um outro depois do repúdio, se ela não
tiver cometido fornicação de outro modo.
780-781: Carta “Maiores Ecclesiae causas”, ao arcebispo Imberto de Arles, fim de 1201
Ed.: Gregório IX, Decretales, l. III, tit. 42, c. 3 (Frdb 2, 644-646). – Reg.: PoR 1479.
273
ex aqua fuerit et Spiritu sancto renatus, regni caelo- do seu povo [cf. Gn 17,14], assim aquele que renas-
rum introitum obtinebit [cf. Io 3,5]. … cer da água e do Espírito Santo obterá o ingresso
no reino dos céus [cf. Jo 3,5]. …
Etsi originalis culpa remittebatur per circumci- Também se o pecado original era perdoado por
sionis mysterium, et damnationis periculum vitaba- meio do mistério da circuncisão e o perigo da con-
tur, non tamen perveniebatur ad regnum caelorum, denação era evitado, não se chegava todavia ao rei-
quod usque ad mortem Christi fuit omnibus obsera- no dos céus, que até à morte de Cristo permaneceu
tum; sed per sacramentum baptismi Christi sangui- fechado para todos; mas por meio do sacramento
ne rubricati culpa remittitur, et ad regnum caelo- do batismo, avermelhado pelo sangue de Cristo, é
rum etiam pervenitur, cuius ianuam Christi sanguis remitida a culpa e chega-se também ao reino dos
fidelibus suis misericorditer reseravit. Absit enim, céus, cuja porta o sangue de Cristo abriu misericor-
ut universi parvuli pereant, quorum quotidie tanta diosamente para aqueles que crêem nele. Não se
multitudo moritur, quin et ipsis misericors Deus, qui pense, de fato, que se percam todas as criancinhas,
neminem vult perire, aliquod remedium procuraverit das quais morre diariamente tão grande multidão,
ad salutem. … sem que Deus misericordioso, que não quer que
ninguém se perca, tenha proporcionado também para
elas algum remédio para a salvação. …
Quod opponentes inducunt, fidem aut caritatem O que dizem os opositores, que às criancinhas, já
aliasque virtutes parvulis, utpote non consentienti- que não podem consentir, não são infusas a fé ou a
bus, non infundi, a plerisque non conceditur abso- caridade e as outras virtudes, não é de modo ne-
lute …, aliis asserentibus, per virtutem baptismi nhum admitido pela maioria… , pois outros susten-
parvulis quidem culpam remitti, sed gratiam non tam que em virtude do batismo às criancinhas é
confierri; nonnullis vero dicentibus, et dimitti pec- perdoada a culpa, mas não é conferida a graça; al-
catum, et virtutes infundi, habentibus illas quoad guns outros, porém, dizem que é perdoado o peca-
habitum [cf. *904], non quoad usum, donec perve- do e são infusas também as virtudes, de modo que
niant ad aetatem adultam. … as possuam como hábito [cf. *904], não ainda no
seu exercício, até que cheguem à idade adulta. …
Dicimus distinguendum, quod peccatum est du- Fazendo uma distinção, Nós dizemos que há um
plex: originale scilicet et actuale: originale, quod dúplice pecado, o original e o atual: o pecado ori-
absque consensu contrahitur, et actuale, quod com- ginal, que é contraído sem o consentimento, e o
mittitur cum consensu. Originale igitur, quod sine atual, que é cometido em virtude do consentimen-
consensu contrahitur, sine consensu per vim re- to. O pecado original, portanto, como é contraído
mittitur sacramenti; actuale vero, quod cum con- sem o consentimento, sem o consentimento é per-
sensu contrahitur, sine consensu minime relaxatur. doado em virtude do sacramento; o atual, porém,
… Poena originalis peccati est carentia visionis Dei, que é contraído em virtude do consentimento, não
actualis vero poena peccati est gehennae perpetuae é de modo algum perdoado sem o consentimento.
cruciatus. … … A pena do pecado original é a privação da visão
de Deus, enquanto a pena do pecado atual é o tor-
mento do inferno eterno. …
781 Id est religioni christianae contrarium, ut semper Está em contradição com a religião cristã que seja
i n v i t u s et penitus contradicens ad recipiendam et obrigado a receber e a observar o cristianismo al-
servandam Christianitatem aliquis compellatur. guém que constantemente n ã o q u e r e se opõe de
Propter quod inter invitum et invitum, coactum et todo. A este propósito, alguns distinguem, não sem
coactum alii non absurde distinguunt, quod is, qui razão, entre contrário e contrário, entre constrangi-
terroribus atque suppliciis violenter attrahitur, et, ne do e constrangido, porque aquele que com terrores e
detrimentum incurrat, baptismi suscipit sacramen- suplícios é arrastado de modo violento e que, para
tum, talis quidem sicut et is, qui ficte ad baptismum não se expor a dano, acolhe assim o sacramento do
accedit, characterem suscipit Christianitatis impres- batismo, recebe impresso o caráter de cristão de
sum et ipse tamquam conditionaliter volens, licet igual modo como aquele que vai ao batismo com
absolute non velit, cogendus est ad observantiam hipocrisia, e, assim como quem quer de modo con-
fidei christianae. … dicional, se bem que não queira de modo absoluto,
deve ser obrigado à observância da fé cristã. …
274
Ille vero, qui numquam consentit, sed penitus con- Aquele, ao invés, que não dá jamais o seu consen-
tradicit, nec rem nec characterem suscipit sacramen- timento, mas se opõe radicalmente, não recebe nem
ti, quia plus est expresse contradicere, quam mi- a realidade, nem o caráter do sacramento, pois opor-
nime consentire: sicut nec ille notam alicuius rea- se expressamente é ainda mais que não consentir de
tus incurrit, qui contradicens penitus et reclamans modo algum; assim como não se mancha de culpa-
thurificare idolis cogitur violenter. bilidade alguma aquele que é constrangido com vio-
lência a oferecer incenso aos ídolos embora radical-
mente se opondo e protestando.
Dormientes autem et amentes, si prius quam amen- Quanto aos que dormem e os que são privados
tiam incurrerent aut dormirent, in contradictione per- do juízo, se, antes de cair na demência ou antes de
sisterent: quia in eis intellegitur contradictionis pro- dormir, persistiam em dizer não, mesmo tendo sido
positum perdurare, etsi fuerint sic immersi, charac- batizados nesta condição, não recebem o caráter do
terem non suscipiunt sacramenti; secus autem si prius sacramento, pois entende-se que neles perdura o pro-
catechumeni exstitissent et habuissent propositum pósito de negar; mas, se antes foram catecúmenos e
baptizandi; unde tales in necessitatis articulo tiveram o propósito de serem batizados, o contrário
consuevit Ecclesia baptizare. Tunc ergo characterem é o caso; por isso, a Igreja concebeu o costume de
sacramentalis imprimit operatio, cum obicem volun- batizar tais pessoas em caso de necessidade. Neste
tatis contrariae non invenit obsistentem. caso, a ação sacramental imprime o caráter, dado
que não encontra a oposição do obstáculo da von-
tade contrária.
782-784: Carta “Cum Marthae circa”, ao arcebispo João de Lião, 29 nov. 1202
Ed.: PL 214, 1119A-1122B (= Cartas V 121) / Gregório IX, Decretales, l. III, tit. 41, c. 6 (Frdb 2, 637-639). – Reg.:
PoR 1779.
275
Dicitur tamen “mysterium fidei”, quoniam et aliud Diz-se, todavia, “mistério da fé”, porque aqui se
ibi creditur, quam cernatur, et aliud cernitur, quam crê outra coisa do que se vê e se vê outra coisa do
credatur. Cernitur enim species panis et vini, et cre- que se crê. Vêem-se de fato as espécies do pão e do
ditur veritas carnis et sanguinis Christi, ac virtus vinho, enquanto se crê a verdade da carne e do san-
unitatis et caritatis. … gue de Cristo e o poder da unidade e da caridade. …
Os elementos da eucaristia
783 Distinguendum est tamen subtiliter inter tria, quae É necessário, todavia, distinguir sutilmente entre
sunt in hoc sacramento discreta, videlicet formam três coisas que se discernem neste sacramento, a
visibilem, veritatem corporis et virtutem spiritua- saber, a forma visível, a verdade do corpo e a força
lem. Forma est panis et vini, veritas carnis et sangui- espiritual. A forma é do pão e do vinho, a verdade
nis, virtus unitatis et caritatis. Primum est ‘sacra- é da carne e do sangue, a força é da unidade e da
mentum et non res’. Secundum est ‘sacramentum caridade. A primeira <coisa> é ‘sacramento e não
et res’. Tertium est ‘res et non sacramentum’. Sed realidade’. A segunda é ‘sacramento e realidade’. A
primum est sacramentum geminae rei. Secundum terceira é ‘realidade e não sacramento’. Mas a pri-
autem est sacramentum unius, et alterius res exsistit. meira é o sacramento de uma dúplice realidade. A
Tertium vero est res gemini sacramenti. Credimus segunda é o sacramento de uma <realidade>, e da
igitur, quod formam verborum, sicut in canone re- outra é a realidade. A terceira é a realidade de um
peritur, et a Christo Apostoli, et ab ipsis eorum dúplice sacramento. Cremos, portanto, que a forma
acceperint successores. … das palavras, assim como se encontra no cânon, de
Cristo a receberam os Apóstolos, e destes mesmos
<a receberam> os seus sucessores. …
785: Carta “Cum venisset” ao arcebispo Basílio de Tárnovo (Bulgária), 25 fev. 1204
A proibição aos presbíteros de administrar a crisma é simplesmente de direito eclesiástico, como aparece claramen-
te pelo uso, constatado muitas vezes, de se confiar a administração aos simples sacerdotes, todavia com o uso de óleo
consagrado pelo bispo; cf. *1318; 2588. Análoga proibição para os sacerdotes de rito latino (!) se encontra em Inocêncio
III, na carta “Quanto de benignitate”, ao seu vigário em Constantinopla, 16 nov. 1199 (PL 214, 772BC; PoR 868).
Ed.: PL 215, 285CD (= Cartas VII 3); Gregório IX, Decretales, l. I, tit. 15, c. 1, § 7 (Frdb 2, 133). – Reg.: PoR 2138.
276
O ministro da confirmação
Per frontis chrismationem manus impositio de- Com a unção da fronte é designada a imposição da 785
signatur, quae alio nomine dicitur confirmatio, quia mão, que, com outro nome, é chamada confirmação,
per eam Spiritus Sanctus ad augmentum datur et porque por meio desta, é dado o Espírito Santo para
robur. Unde cum ceteras unctiones simplex sacer- o crescimento e para a força. Donde, enquanto o sim-
dos vel presbyter valeat exhibere, hanc non nisi ples sacerdote ou presbítero está em condições de
summus sacerdos, id est episcopus, debet conferre, efetuar as outras unções, esta ao invés não deve con-
quia de solis Apostolis legitur, quorum vicarii sunt feri-la senão o sumo sacerdote, isto é, o bispo, pois é
episcopi, quod per manus impositionem Spiritum só com respeito aos Apóstolos, dos quais os bispos
Sanctum dabant [cf. Act 8,14-25]. são os vigários, que se lê que davam o Espírito San-
to, mediante a imposição da mão [cf. At 8,14-25].
786: Carta “Ex parte tua”, ao arcebispo André de Lund, 12 jan. 1206
Ed.: PL 215, 774A / Gregório IX, Decretales, l. III, tit. 32, c. 14 (Frdb 2, 584). – Reg.: PoR 2651.
787: Carta “Non ut apponeres”, ao arcebispo Thorias de Trondheim (Noruega), 1 mar. 1206
Ed.: PL 215, 813A (= Cartas IX 5) / Gregório IX, Decretales, l. III, tit. 42, c. 5 (Frdb 2, 647). – Reg.: PoR 2696.
A matéria do batismo
Postulasti, utrum parvuli sint pro Christianis ha- Tu perguntaste se devam considerar-se como cris- 787
bendi, quos, in articulo mortis constitutos, propter tãos aquelas crianças pequenas que, chegadas à imi-
aquae penuriam et absentiam sacerdotis, aliquorum nência da morte, por falta de água e pela ausência do
simplicitas in caput ac pectus ac inter scapulas pro sacerdote, a simplicidade de alguns untou com as-
baptismo salivae conspersione linivit. Respondemus, persão de saliva na cabeça, no peito e entre as omo-
quod cum in baptismo duo semper, videlicet “ver- platas como batismo. Nós respondemos: dado que
bum et elementum”1, necessario requirantur, iuxta no batismo são sempre requeridas necessariamente
quod de verbo Veritas ait: “Euntes in mundum uni- duas coisas, a saber, “a palavra e o elemento”1, se-
versum, baptizate omnes gentes in nomine Patris et gundo o que a Verdade diz em ordem à palavra: “Ide
Filii et Spiritus sancti” [Mc 16,15; Mt 28,19], ea- pelo mundo inteiro, batizai todas as gentes em nome
demque dicat de elemento: “Nisi quis renatus fuerit do Pai e do Filho e do Espírito Santo” [Mt 16,15; Mt
ex aqua et Spiritu sancto, non intrabit in regnum 28,19], e segundo o que ela diz em ordem ao ele-
caelorum” [Io 3,5], dubitare non debes, illos veram mento: “Se alguém não renascer da água e do Espí-
non habere baptismum, in quibus non solum utrum- rito Santo não entrará no reino dos céus” [Jo 3,5],
que praedictorum, sed eorum alterum est omissum. não deves duvidar de que não têm um verdadeiro
batismo aqueles para os quais não só ambas as coi-
sas referidas, mas mesmo uma só delas foi omitida.
*787 1 Agostinho, In evangelium Iohannis, tract. 80, 3 (R. Willems: CpChL 36 [1954] 529 / PL 35, 1840).
277
788: Carta “Debitum officii pontificalis”, ao bispo Bartoldo (ou Beltrão) de Metz, 28 ago. 1206
Ed.: PL 215, 986A (= Cartas IX 159) / Gregório IX., Decretales, l. III, tit. 42, c. 4 (Frdb 2, 646s). – Reg.: PoR 2875.
789: Carta “De homine qui”, aos reitores da Fraternidade Romana, 22 out. 1208
Ed.: PL 215, 1463C-1464A (= Cartas XI 146) / Gregório IX, Decretales, l. III, tit. 41, c. 7 (Frdb 2, 640). – Reg.: PoR 3503.
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dexteram Patris et in eadem venturus est iudicare tou com verdadeira ressurreição de sua carne e com
vivos et mortuos. verdadeira reassunção da alma e do corpo; e nesta
<carne>, depois de ter comido e bebido, subiu ao
céu e sentou-se à direita do Pai, e na mesma virá
para julgar os vivos e os mortos.
792 Corde credimus et ore confitemur unam Eccle- Com o coração cremos e com a boca confessa-
siam non haereticorum, sed sanctam Romanam ca- mos uma só Igreja, não dos hereges, mas a santa,
tholicam, apostolicam, extra quam neminem salva- Romana, católica e apostólica, fora da qual nós
ri credimus. cremos que ninguém se salva.
793 S a c r a m e n t a quoque, quae in ea celebrantur, Não rejeitamos, pois, de modo algum, os s a c r a -
inaestimabili atque invisibili virtute Spiritus Sancti m e n t o s que nela são celebrados em virtude da
cooperante, licet a peccatore sacerdote ministren- inestimável e invisível força cooperante do Espírito
tur, dum Ecclesia eum recipit, in nullo reprobamus, Santo, mesmo se forem administrados por um sa-
nec ecclesiasticis officiis vel benedictionibus ab eo cerdote pecador, enquanto a Igreja o acolhe, e nem
celebratis detrahimus, sed benevolo animo tamquam mesmo lançamos o descrédito sobre os ofícios ecle-
a iustissimo amplectimur, quia non nocet malitia siásticos ou sobre as bênçãos por ele realizados, mas
episcopi vel presbyteri neque ad baptismum infan- os acolhemos com ânimo benévolo como de um
tis neque ad Eucharistiam consecrandam nec ad <ministro> plenamente justo, porque a malícia de
cetera ecclesiastica officia subditis celebrata. um bispo ou de um presbítero não prejudica nem
ao batismo de uma criança, nem à consagração da
eucaristia, nem aos outros ofícios eclesiásticos ce-
lebrados para os súditos.
794 Approbamus ergo b a p t i s m u m infantium, qui Aprovamos, portanto, o b a t i s m o das crianças,
si defuncti fuerint post baptismum, antequam pec- que confessamos e cremos ser salvas no caso de
cata committant, fatemur eos salvari et credimus; et serem mortas depois do batismo, antes de cometer
in baptismate omnia peccata, tam illud originale pecados. E cremos que no batismo são perdoados
peccatum contractum quam illa, quae voluntarie todos os pecados, seja o pecado original contraído,
commissa sunt, dimitti credimus. sejam os que foram cometidos voluntariamente.
C o n f i r m a t i o n e m ab episcopo factam, id est Pensamos que a c r i s m a dada pelo bispo, isto
impositionem manuum, sanctam et venerande esse é, a imposição das mãos, é santa e deve ser recebi-
accipiendam censemus. da com veneração.
S a c r i f i c i u m , id est panem et vinum, post Firmemente e sem duvidar cremos com coração
consecrationem esse verum corpus et verum san- puro e afirmamos com simplicidade, em palavras
guinem Domini nostri Iesu Christi, firmiter et indu- cheias de fé, que o s a c r i f í c i o , isto é, o pão e o
bitanter corde puro credimus et simpliciter verbis vinho, depois da consagração, é o verdadeiro corpo
fidelibus affirmamus, in quo nihil a bono maius nec e o verdadeiro sangue de nosso Senhor Jesus Cristo;
a malo minus perfici credimus sacerdote; quia non no qual nós cremos que nada é feito de mais por um
in merito consecrantis, sed in verbo efficitur Crea- sacerdote bom e nada de menos por um mau, pois
toris et in virtute Spiritus Sancti. Unde firmiter cre- que é feito não por mérito do consagrante, mas pela
dimus et confitemur, quod quantumcumque quilibet palavra do Criador e pela força do Espírito Santo.
honestus, religiosus, sanctus et prudens sit, non potest Por isso, firmemente cremos e confessamos que nin-
nec debet Eucharistiam consecrare nec altaris Sacri- guém, por mais honesto, religioso, santo e prudente
ficium conficere, nisi sit presbyter, a visibili et tan- que seja, pode e deve consagrar a Eucaristia ou ce-
gibili episcopo regulariter ordinatus. Ad quod offi- lebrar o sacrifício do altar senão um presbítero regu-
cium tria sunt, ut credimus, necessaria: scilicet certa larmente ordenado por um bispo visível e tangível.
persona, id est presbyter ab episcopo, ut praedixi- Para esta função são necessárias, como cremos, três
mus, ad illud proprie officium constitutus, et illa coisas: uma determinada pessoa, isto é, o presbítero
sollemnia verba, quae a sanctis Patribus in canone – constituído justamente para aquela função, como
sunt expressa, et fidelis intentio proferentis; ideoque antes o dissemos, por um bispo –, as solenes pala-
firmiter credimus et fatemur, quod quicumque sine vras que estão expressas no cânon pelos santos Pa-
praecedenti ordinatione episcopali, ut praediximus, dres e a intenção de fé de quem oferece; por isso,
280
credit et contendit, se posse sacrificium Eucharis- firmemente cremos e confessamos que quem crê e
tiae facere, haereticus est et perditionis Core et suo- pretende poder celebrar o sacrifício da eucaristia, sem
rum complicum est particeps atque consors [Nm 16], prévia ordenação pelo bispo, como antes o disse-
et ab omni sancta Romana Ecclesia segregandus. mos, é herege e participante e co-herdeiro da perdi-
ção de Coré e dos seus cúmplices [Nm 16], devendo
ser afastado de toda a santa Romana Igreja.
Peccatoribus vere paenitentibus v e n i a m conce- Acreditamos que é concedido por Deus o p e r -
di a Deo credimus et eis libentissime communicamus. d ã o aos pecadores que de verdade se arrependem;
e com eles, com grandíssima alegria, estamos em
comunhão.
U n c t i o n e m i n fi r m o r u m cum oleo consecra- Veneramos a u n ç ã o d o s e n f e r m o s com óleo
to veneramur. consagrado.
C o n i u g i a carnalia esse contrahenda, secundum Em conformidade com o Apóstolo [cf. 1Cor 7],
Apostolum [cf. 1 Cor 7] non negamus, ordinarie não negamos que se possam contrair u n i õ e s c o n -
vero contracta disiungere omnino prohibemus. Ho- j u g a i s carnais; ao contrário, proibimos absoluta-
minem quoque cum sua coniuge salvari credimus mente que se dissolvam as que foram contraídas de
et fatemur, nec etiam secunda et ulteriora matrimo- modo regular. Cremos e confessamos que o homem
nia condemnamus. também com sua mulher é salvo e não condenamos
nem os segundos, nem os ulteriores matrimônios.
C a r n i u m p e r c e p t i o n e m minime culpamus. Não desprezamos de modo algum o c o n s u m o 795
Non condemnamus i u r a m e n t u m , imo credimus d e c a r n e s . Não condenamos o juramento, antes
puro corde, quod cum veritate et iudicio et iustitia cremos, com coração puro, que é lícito jurar segun-
licitum sit iurare. [Additum a. 1210: De potestate do a verdade, o discernimento, a justiça. [Acrescen-
saeculari asserimus, quod sine peccato mortali po- tado no ano de 1210: Por quanto diz respeito ao
test i u d i c i u m s a n g u i n i s exercere, dummodo poder secular declaramos que se pode exercer o
ad inferendam vindictam non odio, sed iudicio, non j u l g a m e n t o d e s a n g u e sem pecado mortal,
incaute, sed consulte procedat.] contanto que ao comunicar o castigo ele proceda
não por ódio mas por ato de justiça, não por ato
incauto, mas com reflexão.]
P r a e d i c a t i o n e m necessariam valde et lauda- Cremos que a p r e g a ç ã o é grandemente neces- 796
bilem esse credimus, tamen ex auctoritate vel li- sária e merecedora de louvor, cremos todavia que
centia Summi Pontificis vel praelatorum permissio- ela deva ser exercida pela autoridade ou com per-
ne illam credimus exercendam. In omnibus vero missão do Sumo Pontífice ou por concessão dos pre-
locis, ubi manifesti haeretici manent et Deum et lados. Em todos aqueles lugares onde hereges de-
fidem sanctae Romanae Ecclesiae abdicant et blas- clarados se encontram e rejeitam e blasfemam Deus
phemant, credimus, quod disputando et exhortando e a fé da santa romana Igreja, cremos que de acor-
modis omnibus secundum Deum debeamus illos do com a vontade de Deus, mediante discussões e
confundere et eis verbo Dominico, veluti Christi et exortações, de todos os modos, devemos confundi-
Ecclesiae adversariis, fronte usque ad mortem libe- los e nos devemos opor a eles como a adversários
ra contraire. de Cristo e da Igreja, com a palavra de Deus e fran-
camente, até a morte.
O r d i n e s vero e c c l e s i a s t i c o s et omne quod Com humildade louvamos e com fé veneramos a s
in sancta Romana Ecclesia sancitum legitur aut cani- o r d e n s e c l e s i á s t i c a s e tudo o que é lido ou can-
tur, humiliter collaudamus et fideliter veneramur. tado, como estabelecido na santa Igreja romana.
D i a b o l u m non per condicionem, sed per arbi- Cremos que o d i a b o se tornou maligno não por 797
trium malum factum esse credimus. predisposição, mas por livre escolha.
Corde credimus et ore confitemur huius carnis Com o coração cremos e com a boca confessa-
quam gestamus, et non alterius, r e s u r r e c t i o n e m . mos a r e s s u r r e i ç ã o desta mesma carne que te-
mos e não de uma outra.
I u d i c i u m quoque per Iesum Christum futurum Firmemente cremos e afirmamos que haverá tam-
et singulos pro iis quae in hac carne gesserunt, re- bém um j u í z o por parte de Jesus Cristo e que cada
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cepturos vel poenas vel praemia, firmiter credimus um, segundo o que tiver feito nesta carne, receberá
et affirmamus. castigos ou prêmios.
Eleemosynas sacrificium ceteraque beneficia fi- Cremos que as esmolas, o sacrifício e as outras
delibus posse p r o d e s s e d e f u n c t i s credimus. boas obras podem a j u d a r o s m o r t o s .
Remanentes in saeculo et s u a p o s s i d e n t e s , Confessamos e cremos que aqueles que, c o m
eleemosynas et cetera beneficia ex rebus suis agen- s u a s p o s s e s , permanecem no mundo e praticam
tes, praecepta Domini servantes salvari fatemur et esmolas e outras boas obras com aquilo que pos-
credimus. Decimas, primitias et oblationes ex suem e observam os preceitos do Senhor, são salvos.
praecepto Domini credimus clericis persolvendas. Cremos que se deve doar aos clérigos sob as ordens
do Senhor o dízimo, as primícias e as oblações.
798: Carta “In quadam nostra”, ao bispo Hugo de Ferrara, 5 mar. 1209
Ed.: PL 216, 16B-17D / Gregório IX, Decretales, l. III, tit. 41, c. 8 (Frdb 2, 640s). – Reg.: PoR 3684.
O ordálio
799 Licet apud iudices saeculares vulgaria exercean- Se bem que junto a juízes seculares sejam feitos
tur iudicia, ut aquae frigidae vel ferri candentis sive julgamentos populares, como aqueles da água gela-
duelli, huiusmodi tamen iudicia Ecclesia non admi- da ou do ferro incandescente, ou até duelos, a Igreja
sit, cum scriptum sit in lege divina: “Non tentabis todavia não tem admitido julgamentos de tal gêne-
Dominum Deum tuum” [Dt 6,16; Mt 4,7]. ro, dado que está escrito na lei divina: “Não porás
à prova ao Senhor teu Deus” [Dt 6,16; Mt 4,7].
282
283
corporibus, quae nunc gestant, ut recipiant secun- com os próprios corpos com que agora estão reves-
dum opera sua, sive bona fuerint sive mala, illi cum tidos, para receber, segundo suas obras, sejam boas
diabolo poenam perpetuam, et isti cum Christo glo- ou más, uns a pena eterna com o diabo, outros a
riam sempiternam. glória eterna com o Cristo.
802 Una vero est fidelium universalis E c c l e s i a , Ora, existe uma I g r e j a universal dos fiéis, fora
extra quam nullus omnino salvatur1, in qua idem da qual absolutamente ninguém se salva1, e na qual
ipse sacerdos est sacrificium Iesus Christus, cuius o mesmo Jesus Cristo é sacerdote e sacrifício, cujo
corpus et sanguis in s a c r a m e n t o a l t a r i s sub corpo e sangue são contidos verdadeiramente no
speciebus panis et vini veraciter continentur, trans- s a c r a m e n t o d o a l t a r, sob as espécies do pão e
substantiatis pane in corpus, et vino in sanguinem do vinho, pois que, pelo poder divino, o pão é tran-
potestate divina: ut ad perficiendum mysterium substanciado no corpo e o vinho no sangue; de modo
unitatis accipiamus ipsi de suo, quod accepit ipse que, para realizar plenamente o mistério da unida-
de nostro. Et hoc utique sacramentum nemo potest de, nós recebemos dele o que ele recebeu de nós.
conficere, nisi sacerdos, qui rite fuerit ordinatus, Este sacramento, não pode celebrá-lo absolutamen-
secundum claves Ecclesiae, quas ipse concessit te ninguém senão o sacerdote que tenha sido regu-
Apostolis eorumque successoribus Iesus Christus. larmente ordenado, segundo <o poder d>as chaves
da Igreja que o mesmo Jesus Cristo concedeu aos
Apóstolos e aos seus sucessores.
Sacramentum vero b a p t i s m i (quod ad Dei in- Quanto ao sacramento do b a t i s m o (que se ce-
vocationem et individuae Trinitatis, videlicet Patris, lebra na água invocando a indivisa Trindade, Pai e
et Filii, et Spiritus Sancti, consecratur in aqua) tam Filho e Espírito Santo): conferido, por quem quer
parvulis, quam adultis in forma Ecclesiae a quo- que seja, segundo a norma <e> na forma da Igreja,
cunque rite collatum proficit ad salutem. tanto a crianças como a adultos, leva à salvação.
Et si post susceptionem baptismi quisquam pro- E se alguém, depois de ter recebido o batismo,
lapsus fuerit in peccatum, per veram potest semper caiu novamente em pecado, pode sempre ser rege-
paenitentiam reparari. Non solum autem virgines et nerado mediante uma verdadeira penitência. Não
continentes, verum etiam coniugati, per rectam fi- somente as virgens e aqueles que observam a con-
dem et operationem bonam placentes Deo, ad ae- tinência, mas também as pessoas casadas que pro-
ternam merentur beatitudinem pervenire. curam agradar a Deus com reta fé e vida honesta,
merecem chegar à eterna beatitude.
*802 1 Cipriano de Cartago, Carta (73) a Jubaiano, cap. 21 (CSEL 3/II, 7953s; PL 3, 1169A): “Salus extra Ecclesiam non est”
(“Fora da Igreja não há salvação”; cf. *3866-3873).
284
A Trindade
Damnamus ergo et reprobamus libellum seu Condenamos, portanto, e reprovamos o opúsculo 803
tractatum, quem Abbas Ioachim edidit contra Ma- ou tratado que o abade Joaquim publicou contra o
gistrum Petrum Lombardum, de unitate seu essen- mestre Pedro Lombardo sobre a unidade ou essên-
tia Trinitatis, appellans ipsum haereticum et insanum cia da Trindade, onde o chama herege e estulto por
pro eo, quod in suis dixit Sententiis: “Quoniam ter dito, nas suas Sententiae: “Há uma realidade
quaedam summa res est Pater, et Filius, et Spiritus suprema, que é o Pai, o Filho e o Espírito Santo, e
Sanctus, et illa non est generans, neque genita, ne- esta não gera, nem é gerada, nem procede”.
que procedens.”
Unde asserit, quod ille non tam Trinitatem, quam Disto conclui que Lombardo construía, em Deus,
quaternitatem astruebat in Deo, videlicet tres per- não uma Trindade, mas uma quaternidade: ou seja
sonas, et illam communem essentiam quasi quartam; três pessoas mais aquela comum essência, quase um
manifeste protestans, quod nulla res est, quae sit quarto elemento; ele afirma claramente que não há
Pater et Filius et Spiritus Sanctus; nec est essentia, coisa alguma, nem essência, nem substância, nem
nec substantia, nec natura: quamvis concedat, quod natureza, que seja Pai, Filho e Espírito Santo, se
Pater et Filius et Spiritus Sanctus sunt una essentia, bem que conceda que o Pai, o Filho e o Espírito
una substantia unaque natura. Verum unitatem huius- Santo são uma só essência, uma só substância, uma
modi non veram et propriam, sed quasi collectivam só natureza. Mas ele explica que esta não é uma
et similitudinariam esse fatetur, quemadmodum unidade verdadeira e própria, mas como que cole-
dicuntur multi homines unus populus, et multi fide- tiva e analógica, como quando se diz que muitos
les una Ecclesia iuxta illud: “Multitudinis creden- homens são um povo e que muitos fiéis são uma
tium erat cor unum et anima una” [Act 4,32]; et: Igreja, segundo o dito: “A multidão dos fiéis tinha
“Qui adhaeret Deo, unus spiritus est” [1 Cor 6,17] um só coração e uma só alma” [At 4,32]; e “Quem
cum illo; item: “Qui … plantat, et qui rigat, unum se une ao Senhor forma com ele um só espírito”
sunt” [1 Cor 3,8]; et: Omnes “unum corpus sumus [1Cor 6,17]. E ainda: “Quem planta e quem irriga
in Christo” [Rm 12,5]; rursus in libro Regum: “Po- são um só” [1Cor 3,8]; e “Todos somos um só cor-
pulus meus et populus tuus unum sunt” [3 Rg 22,5: po em Cristo” [Rm 12,5]; e ainda, no livro dos Reis:
Vulgata; cf. Rt 1,16]. “Meu povo e teu povo são uma coisa só” [1Rs 22,5
Vulgata; cf. Rt 1,16].
Ad hanc autem suam sententiam astruendam illud Ora, para provar esta afirmação, ele alega sobre-
potissimum verbum inducit, quod Christus de fide- tudo aquela expressão que Cristo usa a respeito dos
libus inquit in Evangelio: “Volo, Pater, ut sint unum seus seguidores, no Evangelho: “Quero, ó Pai, que
in nobis, sicut et nos unum sumus, ut sint consum- eles sejam um em nós, como nós também somos
mati in unum” [Io 17,22s]. Non enim, ut ait, fideles um, para que sejam consumados na unidade” [Jo
Christi sunt unum, id est quaedam una res, quae 17,22s]. Na realidade, diz ele, os fiéis do Cristo não
communis sit omnibus, sed hoc modo sunt unum, são uma coisa só, isto é, uma realidade comum a
id est una Ecclesia, propter catholicae fidei unita- todos, mas eles são um deste modo, isto é, formam
tem, et tandem unum regnum, propter unionem in- uma só Igreja, por causa da unidade da fé católica,
dissolubilis caritatis, quemadmodum in canonica e então um só reino, por causa da unidade indisso-
Ioannis Apostoli epistola legitur: Quia “tres sunt, lúvel da caridade, como se lê na carta canônica do
qui testimonium dant in caelo, Pater, et Filius, et Apóstolo João: porque “três dão testemunho no céu,
Spiritus Sanctus: et hi tres unum sunt” [1 Io 5,7], o Pai, o Verbo e o Espírito Santo, e estes três são
statimque subiungitur: “Et tres sunt, qui testimo- uma só coisa” [1Jo 5,7], a que logo acrescenta: “E
nium dant in terra: Spiritus, aqua et sanguis: et hi três são aqueles que dão testemunho na terra: o
tres unum sunt” [1 Io 5,8], sicut in quibusdam espírito, a água e o sangue, e estes três são uma só
codicibus invenitur. coisa” [1Jo 5,8], como se lê em alguns códigos.
Nos autem, sacro approbante Concilio, credimus Nós, com a aprovação do sagrado Concílio, cre- 804
et confitemur cum Petro Lombardo, quod una quae- mos e confessamos, com Pedro Lombardo, que
dam summa res est, incomprehensibilis quidem et existe alguma única realidade suprema incompreen-
ineffabilis, quae veraciter est Pater, et Filius, et sível e inefável, a qual é verdadeiramente Pai, Filho
Spiritus Sanctus; tres simul personae, ac singillatim e Espírito Santo, as três pessoas juntamente e cada
285
quaelibet earundem: et ideo in Deo solummodo Tr i - uma delas singularmente. Em Deus, portanto, só há
n i t a s est, n o n q u a t e r n i t a s ; quia quaelibet trium Tr i n d a d e , n ã o q u a t e r n i d a d e , pois que cada
personarum est illa res, videlicet substantia, essen- uma das três pessoas é aquela realidade, isto é, subs-
tia seu natura divina: quae sola est universorum prin- tância, essência ou natureza divina, que sozinha é
cipium, praeter quod aliud inveniri non potest: et princípio de todas as coisas, e fora da qual não se
illa res non est generans, neque genita, nec proce- encontra nenhum outro <princípio>. Ela não gera,
dens, sed est Pater, qui generat, et Filius, qui gignitur, não é gerada, não procede, mas é o Pai que gera, o
et Spiritus Sanctus, qui procedit: ut dis-tinctiones Filho que é gerado, o Espírito Santo que procede;
sint in personis, et unitas in natura. de tal modo, as distinções estão nas pessoas, a uni-
dade na natureza.
805 Licet igitur “a l i u s sit Pater, a l i u s Filius, a l i u s Embora, pois, “o u t r o seja o Pai, o u t r o o Filho
Spiritus Sanctus, n o n t a m e n a l i u d ”1: sed id, e o u t r o o Espírito Santo, não são todavia o u t r a
quod est Pater, est Filius, et Spiritus Sanctus idem c o i s a ”1, mas o que é o Pai, também o é o Filho e
omnino; ut secundum orthodoxam et catholicam o Espírito Santo, de modo todo igual; assim, segun-
fidem consubstantiales esse credantur. Pater enim do a verdadeira fé católica, nós cremos que eles são
ab aeterno Filium generando, suam substantiam ei consubstanciais. Com efeito, o Pai, desde a eterni-
dedit, iuxta quod ipse testatur: “Pater quod dedit dade gerando o Filho, deu-lhe a sua substância,
mihi, maius omnibus est” [Io 10,29]. segundo este o atesta: “O que o Pai me deu é maior
que todas as coisas” [Jo 10,29].
Ac dici non potest, quod partem substantiae suae E não se pode dizer que ele lhe tenha dado uma
illi dederit, et partem ipse sibi retinuerit, cum sub- parte da sua substância, retendo a outra parte para
stantia Patris indivisibilis sit, utpote simplex omni- si, porque a substância do Pai é indivisível, enquan-
no. Sed nec dici potest, quod Pater in Filium trans- to absolutamente simples. E nem mesmo se pode
tulerit suam substantiam generando, quasi sic dederit dizer que o Pai, gerando-o, tenha transferido para o
eam Filio, quod non retinuerit ipsam sibi; alioquin Filho a sua substância, como se a tivesse dado ao
desiisset esse substantia. Patet ergo, quod sine ulla Filho sem conservá-la para si; neste caso, teria ces-
diminutione Filius nascendo substantiam Patris ac- sado de ser substância. É claro, portanto, que o Filho
cepit, et ita Pater et Filius habent eandem substan- recebeu sem nenhuma diminuição a substância do
tiam: et sic eadem res est Pater et Filius, nec non et Pai, ao nascer; e assim, o Pai e o Filho têm a mes-
Spiritus Sanctus ab utroque procedens. ma substância. Assim, são a mesma realidade o Pai
e o Filho, e igualmente o Espírito Santo, que proce-
de de um e do outro.
806 Cum vero Veritas pro fidelibus suis orat ad Pa- Quando a Verdade reza ao Pai em prol dos seus
trem: “Volo”, inquiens, “ut ipsi sint unum in nobis, fiéis, dizendo: “Quero, Pai, que eles sejam um em
sicut et nos unum sumus” [Io 17,22]: hoc nomen nós, como também nós somos um” [Jo 17,22], o
“unum” pro fidelibus quidem accipitur, ut intelliga- termo “um” referido aos fiéis se deve entender no
tur unio caritatis in gratia, pro personis vero divi- sentido de união de caridade na graça, enquanto
nis, ut attendatur identitatis unitas in natura, que- referido às pessoas divinas indica a unidade de iden-
madmodum alibi Veritas ait: “Estote perfecti, sicut tidade na natureza, como diz a Verdade em outra
et Pater vester caelestis perfectus est” [Mt 5,48], ac passagem: “Sede vós portanto perfeitos como é
si diceret manifestius: “Estote perfecti” perfectione perfeito o vosso Pai celeste” [Mt 5,48], como se
gratiae, “sicut Pater vester caelestis perfectus est” dissesse mais claramente: “Sede perfeitos” com a
perfectione naturae, utraque videlicet suo modo: perfeição da graça, “como o vosso Pai celeste é
quia inter creatorem et creaturam non potest tanta perfeito” com a perfeição da natureza, isto é, cada
similitudo notari, quin inter eos maior sit dissimili- um a seu modo. Pois entre o criador e a criatura
tudo notanda. não se pode observar tamanha semelhança que não
se deva observar diferença maior ainda.
*805 1 Cf. Gregório de Nazianze, Carta (101) a Cledônio I 20-21 (P. Galley: SouChr 208 [1974] 44-46 / PG 37, 180AB).
286
Si quis igitur sententiam vel doctrinam praefati Ioa- Se alguém se atrever a defender ou aprovar a opi-
chim in hac parte defendere vel approbare praesump- nião ou a doutrina do citado Joaquim sobre este
serit, tamquam haereticus ab omnibus confutetur. assunto, seja confutado por todos como herege.
In nullo tamen propter hoc Florensi monasterio, Não pretendemos, todavia, com isto derrogar nada 807
cuius ipse Ioachim exstitit institutor, volumus dero- ao mosteiro de Fiore, do qual o mesmo Joaquim foi
gari: quoniam ibi et regularis est institutio, et ob- o fundador, pois que aí a formação é conforme à
servantia salutaris: maxime, cum ipse Ioachim regra, e a observância, salutar, tanto que o mesmo
omnia scripta sua Nobis assignari mandaverit, Apos- Joaquim decidiu enviar-nos todos os seus escritos
tolicae Sedis iudicio approbanda seu etiam corri- para submetê-los ao julgamento da Sé Apostólica
genda, dictans epistolam1, quam propria manu em vista da aprovação ou da correção, acompanhan-
subscripsit, in qua firmiter confitetur, se illam fi- do-os com uma carta1 por ele ditada e assinada de
dem tenere, quam Romana tenet Ecclesia, quae dis- próprio punho, na qual com firmeza declara susten-
ponente Domino cunctorum fidelium mater est et tar a fé da Igreja de Roma, pela vontade de Deus
magistra. mãe e mestra de todos os fiéis.
Reprobamus etiam et condemnamus perversissi- Reprovamos e condenamos também a extravagante 808
mum dogma impii Almarici, cuius mentem sic pa- crença do ímpio Almarico, cuja mente de tal modo foi
ter mendacii excaecavit, ut eius doctrina non tam obcecada pelo pai da mentira, que a sua doutrina deve
haeretica censenda sit, quam insana. ser tida antes como insensata do que como herética.
*807 1 A Protestatio de Joaquim de Fiore, escrita no ano 1200 (DuPlA 1/I, 121ab).
287
Postquam enim Graecorum ecclesia cum quibusdam mas e atentam à honra da Igreja. Desde que a Igreja
complicibus et fautoribus suis ab oboedientia Sedis grega, com alguns de seus cúmplices e partidários,
Apostolicae se subtraxit, in tantum Graeci coepe- se afastou da obediência da Sé Apostólica, os gre-
runt abominari Latinos, quod inter alia, quae in dero- gos começaram a desprezar de tal modo os latinos
gationem eorum impie committebant, si quando que – entre outros desaforos que na sua impiedade
sacerdotes Latini super eorum celebrassent altaria, cometiam –, tendo sacerdotes latinos celebrado so-
non prius ipsi sacrificare volebant in illis, quam ea bre seus altares, se recusavam a oferecer o santo
tamquam per hoc inquinata lavissent; baptizatos sacrifício antes que <os altares> fossem lavados,
etiam a Latinis ipsi Graeci rebaptizare ausu temera- como se isso pudesse contaminá-los. Além disso,
rio praesumebant: et adhuc, sicut accepimus, qui- os gregos temerariamente ousavam rebatizar os que
dam hoc agere non verentur. tinham sido batizados pelos latinos; e até hoje, pelo
que ouvimos, alguns não receiam fazê-lo.
Volentes ergo tantum scandalum ab Ecclesia Dei Desejosos, pois, de afastar da Igreja de Deus tão
amovere, sacro suadente Concilio districte praeci- grave escândalo, segundo o parecer do sagrado Síno-
pimus, ut talia de cetero non praesumant, confor- do, lhes mandamos severamente que evitem para o
mantes se tamquam oboedientiae filii sacrosanctae futuro tais práticas, conformando-se como filhos
Romanae Ecclesiae matri suae, ut sit “unum ovile obedientes à sacrossanta Romana Igreja, sua mãe, para
et unus pastor” [Io 10,16]. que haja “um só rebanho e um só pastor” [Jo 10,16].
Si quis autem quid tale praesumpserit, excom- Se alguém ousar fazer ainda alguma coisa seme-
municationis mucrone percussus ab omni officio et lhante, seja atingido pela espada da excomunhão e
beneficio ecclesiastico deponatur. deposto de todo ofício e benefício eclesiástico.
O primado da Sé Romana
811 Antiqua patriarchalium sedium privilegia reno- Renovando os antigos privilégios das sedes
vantes, sacra universali Synodo approbante, sanci- patriarcais, decretamos com a aprovação do santo e
mus, ut post Romanam Ecclesiam, quae disponente universal Concílio, que, depois da Igreja de Roma,
Domino super omnes alias ordinariae potestatis ob- a qual por disposição do Senhor, como mãe e mes-
tinet principatum, utpote mater universorum Chris- tra de todos os fiéis cristãos, tem o primado do po-
ti fidelium et magistra, Constantinopolitana primum, der ordinário sobre todas as outras Igrejas, a Igreja
Alexandrina secundum, Antiochena tertium, Hiero- de Constantinopla tenha o primeiro lugar, a de Ale-
solymitana quartum locum obtineant. xandria o segundo, a de Antioquia o terceiro e a de
Jerusalém o quarto.
812-814: Cap. 21. A obrigação anual da confissão, o sigilo confessional e a comunhão pascal
Ed.: MaC 22, 1007E-1010C / HaC 7, 35s / Gregório IX, Decretales, l. V, tit. 38, c. 12 (Frdb 2, 887) / COeD3 245.
288
arceatur et moriens christiana careat sepultura. Unde negada a entrada na igreja durante a vida ou a sepul-
hoc salutare statutum frequenter in ecclesiis publi- tura cristã após a morte. Esta salutar disposição seja
cetur, ne quisquam ignorantiae caecitate velamen publicada freqüentemente nas igrejas, para que nin-
excusationis assumat. guém se esconda por trás da desculpa da ignorância.
Si quis autem alieno sacerdoti voluerit iusta de Se alguém, por justo motivo, desejar confessar os
causa sua confiteri peccata, licentiam prius postulet seus pecados a um outro sacerdote, antes peça e obte-
et obtineat a proprio sacerdote, cum aliter ille ip- nha a licença de seu próprio sacerdote; do contrário, o
sum non possit absolvere vel ligare. outro não teria o poder de absolvê-lo ou de ligá-lo.
Obrigações do confessor
Sacerdos autem sit discretus et cautus, ut more O sacerdote seja discreto e prudente, para que, à 813
periti medici superinfundat vinum et oleum [cf. Lc maneira de um médico experiente, derrame vinho e
10,34] vulneribus sauciati, diligenter inquirens et óleo [cf. Lc 10,34] sobre as feridas do ferido, infor-
peccatoris circumstantias et peccati, quibus pruden- mando-se diligentemente sobre a situação do peca-
ter intelligat, quale debeat ei praebere consilium et dor e sobre as circunstâncias do pecado, para en-
cuiusmodi remedium adhibere, diversis experimen- tender, com toda a prudência, qual conselho dar e
tis utendo ad sanandum aegrotum. qual remédio aplicar, usando de diversos meios para
curar o enfermo.
Caveat autem omnino, ne verbo aut signo aut alio Guarde-se absolutamente de revelar com palavras 814
quovis modo aliquatenus prodat peccatorem: sed si ou sinais, ou de qualquer modo, o pecador; se tiver
prudentiore consilio indiguerit, illud absque ulla necessidade do conselho de alguém mais prudente,
expressione personae caute requirat, quoniam qui pergunte com cautela, sem nenhum aceno à pessoa:
peccatum in paenitentiali iudicio sibi detectum prae- pois se alguém ousar revelar um pecado a ele ma-
sumpserit revelare, non solum a sacerdotali officio nifestado no foro da penitência, decretamos que não
deponendum decernimus, verum etiam ad agendam só seja deposto do ofício sacerdotal, mas que seja
perpetuam paenitentiam in arctum monasterium enclausurado sob rígida custódia num convento, para
detrudendum. fazer penitência para sempre.
815: Cap. 22. Os doentes devem preocupar-se mais com a alma que com o corpo
Pensa-se sobretudo no costume de aconselhar atividade sexual para a cura de doenças psíquicas; assim Cláudio
Galen, De venereis (Opera omnia, ed. K. G. Kuhn, vol. 5 [Leipzig 1823] 912s); De locis affectis, V, 5 (ib., vol. 8 [1824]
417s). Cf. o louvor ao arcebispo Tomás de York († 1114) nos Gesta S. Anselmi (Acta Sanctorum, abril, vol. 2 [Antuérpia
1675] 949aC, nota h) e apud Eadmer, Historia Novorum (PL 159, 483CD, nota).
Ed.: MaC 22, 1011A / HaC 7, 38C / Gregório IX, Decretales, l. V, tit. 38, c. 13 (Frdb 2, 888) / COeD3 246.
289
quam civilis, cum generaliter sit omni constitutioni canônica ou civil, tenha valor sem a boa fé, pois de
atque consuetudini derogandum, quae absque mor- modo geral deve-se derrogar a cada constituição ou
tali peccato non potest observari. Unde oportet, ut, costume quando não podem ser observados sem pe-
qui praescribit, in nulla temporis parte rei habeat cado mortal. É necessário, portanto, que quem ad-
conscientiam alienae. quire por prescrição não tenha em nenhum momen-
to a consciência de <tomar> um bem alheio.
290
annum …; ac deinde in anniversario dedicationis cia <outorgada> por ocasião da dedicação de uma
tempore 40 dies de iniunctis paenitentiis indulta basílica não ultrapasse um ano …; e depois, no ani-
remissio non excedat. Hunc quoque dierum nume- versário da dedicação, a remissão concedida da pe-
rum indulgentiarum litteris praecipimus moderari, nitência prescrita não supere os quarenta dias. Que-
quae pro quibuslibet causis aliquoties conceduntur, remos também que este número de dias seja consi-
cum Romanus Pontifex, qui plenitudinem obtinet derado como justa medida das cartas de indulgên-
potestatis, hoc in talibus moderamen consueverit cias algumas vezes concedidas por causas diversas,
observare. pois que o próprio Romano Pontífice, que tem a
plenitude do poder, costuma ater-se a estes limites.
291
*824 1 Pedro Lombardo, Sententiae, l. II, dist. 25, c. 7; sugerido em Ambrósio de Milão, Expositio evangelii secundum Lucam
VII 73, = ad Lc 10,30 (M. Adriaen: CpChL 14 [1957] 238s / CSEL 32/IV, 312s / PL 15, 1806A); apud Agostinho,
Quaestiones evangeliorum II, q. 19 (A. Mutzenbecher: CpChL 44B [1980] 62s / PL 35, 1340); Beda Venerabilis, In
Lucae evangelium expositio III 10 (D. Hurst: CpChL 120 [1960] 222 / PL 92, 468D).
292
devita, quam quidam appetentes exciderunt a fide“ que foi dito pelo Apóstolo … : “Evita as fúteis no-
[1 Tim 6,20s]. … vidades dos discursos e as opiniões de uma ciência
de nome falso, pois alguns, abraçando-a, se desvi-
aram da fé” [1Tm 6,20s] …
Et dum fidem conantur plus debito ratione ads- E enquanto procuram, mais que o devido, refor-
truere naturali, nonne illam reddunt quodammodo çar a fé com a razão natural, não a tornam talvez de
inutilem et inanem? Quoniam “fides non habet certo modo inútil e vazia? Pois “a fé não tem ne-
meritum, cui humana ratio praebet experimentum”2. nhum valor se a humana razão fornece a prova”2. A
Credit denique intellecta natura, sed fides ex sui natureza crê, afinal, nas coisas que se entendem,
virtute gratuita intellegentia credita comprehendit, mas a fé, por sua própria força, numa percepção
quae audax et improba penetrat, quo naturalis nequit que vem da graça, compreende as coisas que se
attingere intellectus. crêem, ela que, audaz e intrépida, penetra onde a
inteligência natural não pode chegar.
*824 2 Gregório I Magno, In Evangelia homiliae, l. II, hom. 26, n. 1 (PL 76, 1197C).
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generationem prolis evites”, vel: “donec inveniam outro: “contraio <matrimônio> contigo se evitares
aliam honore vel facultatibus digniorem”, aut: “si gerar filhos”, ou então: “até quando não tiver encon-
pro quaestu adulterandam te tradas”: matrimonialis trado uma outra, mais digna em honra ou riquezas”,
contractus, quantumcumque sit favorabilis, caret ou ainda: “se tu te entregares por dinheiro à prosti-
effectu; licet aliae condiciones appositae in matri- tuição”: <nestes casos,> o contrato matrimonial, por
monio, si turpes aut impossibiles fuerint, debeant mais favorável que seja, é privado de efeito; outras
propter eius favorem pro non adiectis haberi. condições acrescentadas no matrimônio, porém, se
torpes ou impossíveis, devem, em favor do mesmo,
ser consideradas como se não constassem.
A usura
828 Naviganti vel eunti ad nundinas certam mutuans Se alguém empresta certa quantia de dinheiro a
pecuniae quantitatem, eo quod suscipit in se peri- alguém que para comércio vai por mar ou por terra
culum, recepturus aliquid ultra sortem usurarius e, em vista do risco <financeiro>, receber algo a
[non?] est censendus. mais do que o capital, [não?] deve ser considerado
um usurário.
Ille quoque, qui dat X solidos, ut alio tempore Também, se alguém dá 10 sólidos <= moedas de
totidem sibi grani, vini et olei mensurae reddantur: ouro> para que em outro momento lhe sejam entre-
quae, licet tunc plus valeant, utrum plus vel minus gues correspondentes quantias de grãos, vinho e
solutionis tempore fuerint valiturae, verisimiliter óleo, as quais permitem razoável dúvida quanto ao
dubitatur: non debet ex hoc usurarius reputari. aumento ou diminuição do preço, mesmo se naque-
le momento valerem mais, não deve ser, por isso,
considerado usurário.
Ratione huius dubii etiam excusatur, qui pannos, Em razão de semelhante dúvida é escusado tam-
granum, vinum, oleum vel alias merces vendit, ut bém aquele que vende pães, grão, vinho, óleo e ou-
amplius, quam tunc valeant, in certo termino reci- tras mercadorias para, a determinado prazo, receber
piat pro eisdem, si tamen ea tempore contractus non em troca delas mais do que valessem no tempo do
fuerat venditurus. contrato – com a condição de que não estava para
vendê-los nesse momento.
829: Carta “Cum sicut ex” ao arcebispo Sigurd de Trondheim (Noruega), 8 jul. 1241
Ed.: BarAE, ao ano 1241, n. 42 / Chr.C.A. Lange – C.R. Unger, Diplomatarium Norvegicum 1/I (Christiania [Oslo]
1847) 21, n. 26. – Reg.: PoR 11048.
A matéria do batismo
829 Cum, sicut ex tua relatione didicimus, nonnun- Como ficamos sabendo pela tua relação, às ve-
quam propter aquae penuriam infantes terrae tuae zes acontece que as crianças da tua terra, pela falta
contingat in cerevisia baptizari: tibi tenore praesen- de água, são batizadas com cerveja; a respeito dis-
tium respondemus, quod cum secundum doctrinam so te respondemos: visto que segundo a doutrina
evangelicam oporteat ex aqua et Spiritu Sancto re- do Evangelho é necessário renascer da água e do
nasci [cf. Io 3,5], non debent reputari rite baptizati, Espírito Santo [cf. Jo 3,5], não se deve considerar
qui in cerevisia baptizantur. batizados do modo regular aqueles que são batiza-
dos com cerveja.
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834 8 (§ 6). Porro in appositione aquae, sive frigidae, 8 (§ 6). Quanto a acrescentar no s a c r i f í c i o d o
sive calidae, vel tepidae, in a l t a r i s s a c r i f i c i o , a l t a r quer água fria, quer quente ou morna, os
suam si velint consuetudinem Graeci sequantur, gregos podem seguir, se quiserem, os seus costu-
dummodo credant et asserant, quod servata canonis mes, desde que creiam e declarem que, respeitada a
forma, conficiatur pariter de utraque. forma do cânon, com ambas <o sacrifício> é reali-
zado de igual modo.
9. Sed E u c h a r i s t i a m in die Coenae Domini 9. Não devem, porém, conservar por um ano a
consecratam usque ad annum, praetextu infirmorum, E u c a r i s t i a consagrada no dia da Ceia do Senhor,
ut de illa videlicet ipsos communicent, non reser- com o pretexto dos enfermos, quer dizer, para desta
vent. Liceat tamen eis, pro infirmis ipsis, corpus lhes dar a comunhão. Seja-lhes permitido, todavia,
Christi conficere, ac per quindecim dies, et non que para estes enfermos preparem o corpo de Cris-
longiori temporis spatio, conservare; ne per diutinam to e o conservem por quinze dias, mas não por um
ipsius reservationem, alteratis forsitan speciebus, prazo maior; isto, porque uma conservação muito
reddatur minus habile ad sumendum: licet veritas longa talvez altere as espécies, tornando-as menos
et efficacia semper eadem omnino remaneat, nec próprias para serem consumidas, mesmo se a ver-
ulla umquam diuturnitate, seu volubilitate temporis dade e a eficácia permanecem de todo as mesmas e
evanescat. jamais desparecem pelo prolongamento ou pelo
passar do tempo.
835 18 (§ 14). De f o r n i c a t i o n e autem, quam so- 18 (§14). No que se refere à f o r n i c a ç ã o de
lutus cum soluta committit, quin sit mortale pecca- solteiro com solteira, não se deve em caso algum
tum, non est aliquatenus ambigendum, cum tam for- duvidar que não seja pecado mortal, dado que o
nicarios, quam adulteros a regno Dei Apostolus Apóstolo afirma que são excluídos do reino de Deus
asserat alienos [cf. 1 Cor 6,9s]. [cf. 1Cor 6,9s].
836 19 (§ 15). Ad haec volumus et expresse praecipi- 19 (§15). Além destas coisas, queremos, e de modo
mus, quod episcopi Graeci s e p t e m o r d i n e s se- formal ordenamos, que os bispos gregos, daqui em
cundum morem Ecclesiae Romanae de cetero diante, segundo o uso da Igreja romana, confiram
conferant, cum hucusque tres de minoribus circa s e t e o r d e n s , dado que, segundo o que se diz,
ordinandos neglexisse, vel praetermisisse dicantur. eles até agora têm deixado de lado e omitido três
Illi tamen, qui iam sunt taliter ordinati per eos, prop- das <ordens> menores que respeitam aos ordenan-
ter nimiam ipsorum multitudinem, in sic susceptis dos. Aqueles, todavia, que já foram ordenados por
ordinibus tolerentur. eles deste modo, por causa de seu número excessi-
vo, sejam tolerados nas ordens assim recebidas.
837 20 (§ 16). Quia vero secundum Apostolum, mulier 20 (§ 16). Dado que, segundo o Apóstolo, uma
mortuo viro ab ipsius est lege soluta, ut nubendi cui mulher, depois da morte do marido, pela lei fica
vult in Domino liberam habeat facultatem [cf. Rm livre em relação a ele, de modo a dispor da liberda-
7,2; 1 Cor 7,39], secundas, et tertias, ac u l t e r i o - de de se casar com quem quiser [cf. Rm 7,2; 1Cor
r e s etiam n u p t i a s Graeci non reprehendant ali- 7,39], os gregos não podem de modo algum des-
quatenus, nec condemnent, sed potius illas approbent prezar e condenar as segundas, terceiras ou até u l -
inter personas, quae alias licite ad invicem matri- t e r i o r e s n ú p c i a s , ao contrário devem aprová-
monio iungi possunt. las, quando entre pessoas que, de resto, podem lici-
tamente contrair matrimônio.
838 21. Secundo tamen nubentes presbyteri nullate- 21. Aqueles, porém, que se casam pela segunda
nus benedicant. vez, os presbíteros não devem abençoá-los de modo
algum.
[D e s o r t e d e f u n c t o r u m ] 23 (§ 18). Deni- [A s o r t e d o s d e f u n t o s ] 23 (§ 18). No evan-
que cum Veritas in Evangelio asserat, quod si quis gelho, enfim, a Verdade afirma que, se alguém tiver
in Spiritum Sanctum blasphemiam dixerit, neque in proferido blasfêmia contra o Espírito Santo, não lhe
hoc saeculo, neque in futuro dimittetur ei [cf. Mt será perdoado nem neste século nem no futuro [cf.
12,32]; per quod datur intellegi quasdam culpas in Mt 12,32]: por estas palavras se dá a entender que
praesenti, quasdam vero in futuro saeculo relaxari, algumas culpas são perdoadas no século presente,
et Apostolus dicat, quod “uniuscuiusque opus, quale outras, ao contrário, no século futuro; o Apóstolo
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sit, ignis probabit”, et “cuius opus arserit, detrimen- diz que “a qualidade da obra de cada um será pro-
tum patietur; ipse autem salvus erit; sic tamen qua- vada pelo fogo” e “aquele cuja obra for queimada
si per ignem” [1 Cor 3,13.15], et ipsi Graeci vere receberá a punição, mas ele mesmo será salvo como
ac indubitanter credere ac affirmare dicantur, ani- que através do fogo” [1Cor 3,13.15]; também os
mas illorum, qui, suscepta paenitentia, ea non próprios gregos, segundo o que se diz, segundo a
peracta, vel qui sine mortali peccato, cum venialibus verdade e sem nenhuma dúvida crêem e afirmam
tamen et minutis decedunt, purgari post mortem, et que as almas daqueles que receberam, mas não cum-
posse suffragiis Ecclesiae adiuvari: Nos, quia locum priram a penitência, ou então os que morreram sem
purgationis huiusmodi dicunt non fuisse sibi ab pecado mortal, mas com pecados veniais ou de pou-
eorum doctoribus certo et proprio nomine indicatum, ca monta, são purificados depois da morte e podem
illum quidem iuxta traditiones et auctoritates sanc- ser ajudados com as orações de sufrágio da Igreja.
torum Patrum “Purgatorium” nominantes volumus, Ora, porque dizem que o lugar de tal purificação
quod de cetero apud ipsos isto nomine appelletur. não lhes foi indicado com nome preciso e peculiar
Illo enim transitorio igne peccata utique, non ta- pelos seus doutores, Nós, que segundo a tradição e
men criminalia seu capitalia, quae prius per paeni- autoridade dos santos Padres <o> denominamos
tentiam non fuere remissa, sed parva et minuta “purgatório”, queremos que, de agora em diante,
purgantur, quae post mortem etiam gravant, si in seja por eles chamado com este nome. Com aquele
vita fuerunt relaxata. fogo transitório, de fato, certamente são purifica-
dos os pecados, não todavia os delituosos ou mor-
tais que não foram perdoados antes mediante a
penitência, mas os pequenos e de pouca monta que
ainda pesarem depois da morte, mesmo tendo sido
perdoados durante a vida.
24 (§ 19). Si quis autem absque paenitentia in 24 (§ 19). Se alguém, pois, sem a penitência, 839
peccato mortali decedit, hic procul dubio aeternae morrer em pecado mortal, sem dúvida alguma será
gehennae ardoribus perpetuo cruciatur. atormentado para sempre pelas chamas da geena
eterna.
25 (§ 20). Animae vero parvulorum post baptis- 25 (§ 20). As almas, porém, das criancinhas de-
mi lavacrum, et adultorum etiam in caritate dece- pois do banho do batismo e também as dos adultos
dentium, qui nec peccato, nec ad satisfactionem que morreram na caridade, não sendo detidas pelo
aliquam pro ipso tenentur, ad patriam protinus trans- pecado nem condicionadas por alguma satisfação,
volant sempiternam. voam diretamente para a pátria eterna.
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841 et nonnulla contra illos, qui propter Deum sub e também algumas sobre aqueles que pela causa
artissima paupertate mendicant, mundum cum suis de Deus pedem esmola em grandíssima pobreza,
opibus voluntaria inopia superantes; superando pela voluntária indigência o mundo jun-
tamente com suas riquezas;
842 alia vero contra eos, qui salutem animarum ze- outras ainda contra aqueles que, zelando com
lantes ardenter, et sacris studiis procurantes, multos ardor pela salvação das almas e dedicando-se com
in Ecclesia Dei operantur spirituales profectus, et empenho aos estudos sagrados, operam na Igreja
magnum faciunt ibi fructum; de Deus muitos progressos espirituais e nisso pro-
duzem muitos frutos;
843 quaedam autem contra salutarem pauperum seu algumas também contra o salutar estado dos po-
mendicantium religiosorum statum, sicut sunt di- bres ou religiosos mendicantes, como são os diletos
lecti filii Fratres Praedicatores, et Minores, qui vi- filhos Frades Pregadores e Menores, que pela força
gore spiritus, saeculo cum suis divitiis derelicto, ad do Espírito, deixam o mundo e suas riquezas e de-
solam caelestem patriam tota intentione suspirant; sejam com toda a vontade a pátria celeste;
necnon et alia plura inconvenientia, digna utique e muitas outras coisas inconvenientes, portanto
confutatione ac confusione perpetua, manifeste com- merecedoras de confutação e de reprovação perene;
perimus contineri;
844 quodque etiam idem libellus magni scandali se- e porque o mesmo libelo era sementeira de gran-
minarium, et multae turbationis materia existebat, de escândalo e matéria de grande agitação, além de
et inducebat etiam dispendium animarum, cum re- trazer dano às almas, afastando os fiéis da devoção
traheret a devotione solita, et consueta eleemosyna- habitual e da costumeira oferta generosa de esmo-
rum largitione, ac a conversione, et religionis in- las, da conversão e do ingresso na vida religiosa:
gressu fideles:
Nos libellum eumdem, qui sic incipit: “Ecce vi- Nós, aconselhados por Nossos Irmãos, em virtu-
dentes clamabunt foris”, quique secundum ipsius de da autoridade apostólica, rejeitamos este libelo,
titulum Tractatus brevis de periculis novissimorum que começa pela palavras “Ecce videntes clamabunt
temporum nuncupatur, tamquam iniquum, scelestum foris” e segundo o seu título é chamado Tractatus
et exsecrabilem, et institutiones ac documenta in eo brevis de periculis novissimorum temporum, e para
tradita, utpote prava, falsa et nefaria, de Fratrum sempre o condenamos como iníquo, ímpio e detes-
Nostrorum consilio, auctoritate Apostolica reproba- tável, e as doutrinas e os ensinamentos nele conti-
mus et in perpetuum condemnamus … dos, como errôneos, falsos e infames …
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Sed quia nonnulli propter irrefragabilis praemis- Mas, porque alguns, ignorando a irrecusável ver-
sae veritatis ignorantiam in errores varios sunt pro- dade agora acenada, caíram em vários erros, Nós,
lapsi, Nos huiusmodi erroribus viam praecludere desejosos de fechar o caminho para esses erros, com
cupientes, sacro approbante Concilio, damnamus et o consentimento do santo Concílio, condenamos e
reprobamus, qui negare praesumpserint, aeternali- reprovamos todos aqueles que ousem negar que o
ter Spiritum Sanctum ex Patre et Filio procedere, Espírito Santo prossegue eternamente do Pai e do
sive etiam temerario ausu asserere, quod Spiritus Filho, ou também, afirmar temerariamente que o
Sanctus ex Patre et Filio, tanquam ex duobus prin- Espírito Santo procede do Pai e do Filho como de
cipiis, et non tanquam ex uno, procedat. dois princípios e não como de um só.
851-861: Sessão 4ª, 6 jul. 1274: Carta do imperador Miguel ao Papa Gregório
Ed.: MaC 24, 70A-74A / HaC 7, 694C-698A / BullTau 4, 26b-28a / BullCocq 3/II, 12a-13a.
301
potentem et coaeternum per omnia Patri et Filio. te, coeterno em tudo ao Pai e ao Filho. Cremos que
Credimus hanc sanctam Trinitatem non tres Deos, esta santa Trindade não <são> três deuses, mas um
sed unicum Deum omnipotentem, aeternum et invi- único Deus onipotente, eterno, invisível e imutável.
sibilem et incommutabilem.
854 Credimus sanctam catholicam et apostolicam Nós cremos que há uma só verdadeira I g r e j a ,
unam esse veram E c c l e s i a m , in qua unum datur santa, católica e apostólica, na qual é administrado
sanctum baptisma et vera omnium remissio pecca- um único santo batismo e a verdadeira remissão de
torum. Credimus etiam veram r e s u r r e c t i o n e m todos os pecados. Cremos também na verdadei-
huius carnis, quam nunc gestamus, et vitam aeter- ra r e s s u r r e i ç ã o desta mesma carne que agora
nam. Credimus etiam N o v i et Ve t e r i s Te s t a - possuímos e na vida eterna. Cremos também que o
m e n t i , Legis, ac Prophetarum et Apostolorum, unum Deus e Senhor onipotente é o único autor do N o v o
esse auctorem Deum ac Dominum omnipotentem. e do A n t i g o Te s t a m e n t o , da Lei, dos Profetas
e dos Apóstolos.
855 [A d d i t i o s p e c i a l i s c o n t r a e r r o r e s [A d e n d o p a r t i c u l a r c o n t ra o s e r ro s d o s
O r i e n t a l i u m ] Haec est vera fides catholica, et o r i e n t a i s ] Esta é a verdadeira fé católica, e esta,
hanc in supradictis articulis tenet et praedicat sa- nos artigos referidos, a sacrossanta Romana Igreja
crosancta Romana Ecclesia. Sed propter diversos guarda e proclama. Mas pelo motivo de diversos
errores, a quibusdam ex ignorantia et ab aliis ex erros, que alguns introduziram por ignorância, ou-
malitia introductos, dicit et praedicat: tros por malícia, ela diz e proclama:
Eos, qui post baptismum in peccata labuntur, non Aqueles que, depois do batismo, caírem em pe-
rebaptizandos, sed per veram paenitentiam suorum cado não devem ser de novo batizados, mas conse-
consequi veniam peccatorum. guem o perdão dos seus pecados mediante uma
verdadeira penitência.
856 [D e s o r t e d e f u n c t o r u m ] Quod si vere pae- [A s o r t e d o s d e f u n t o s ] E se tiverem faleci-
nitentes in caritate decesserint, antequam dignis pae- do em verdadeira penitência na caridade, antes de
nitentiae fructibus de commissis satisfecerint et haver satisfeito com frutos dignos de penitência pelo
omissis: eorum animas poenis purgatoriis seu ca- que cometeram ou deixaram de fazer, as suas almas
tharteriis, sicut nobis frater Iohannes [Parastron O. são purificadas depois da morte, com penas purifi-
F. M.] explanavit, post mortem purgari: et ad poe- catórias, ou seja, catartérias, como nos aclarou frei
nas huiusmodi relevandas prodesse eis fidelium João [Parastron OFM]; e para aliviá-los de penas
vivorum suffragia, Missarum scilicet sacrificia, ora- de tal gênero são-lhes úteis os sufrágios dos fiéis
tiones et eleemosynas et alia pietatis officia, quae a vivos, quer dizer, os sacrifícios das missas, as ora-
fidelibus pro aliis fidelibus fieri consueverunt se- ções, as esmolas e outros exercícios de piedade que
cundum Ecclesiae instituta. os fiéis costumam fazer em prol de outros fiéis,
segundo as orientações da Igreja.
857 Illorum autem animas, qui post sacrum baptisma As almas, pois, daqueles que, depois de terem
susceptum nullam omnino peccati maculam incur- recebido o santo batismo, jamais incorreram em
rerunt, illas etiam, quae post contractam peccati nenhuma mancha de pecado, e também aquelas que,
maculam, vel in suis manentes corporibus, vel eis- depois de terem contraído a mancha do pecado,
dem exutae, prout superius dictum est, sunt purga- segundo o que foi dito acima, foram purificadas,
tae, mox in caelum recipi. seja quando ainda nos seus corpos, seja quando já
despojadas deles, são logo recebidas no céu.
858 Illorum autem animas, qui in mortali peccato vel As almas, pois, daqueles que morreram em peca-
cum solo originali decedunt, mox in infernum des- do mortal, ou só com o pecado original, descem
cendere, poenis tamen disparibus puniendas. logo ao inferno, sendo todavia punidas com penas
diferenciadas.
859 Eadem sacrosancta Ecclesia Romana firmiter cre- A mesma sacrossanta Igreja romana crê firme-
dit et firmiter asseverat, quod nihilominus in die mente e com firmeza afirma que, no dia do juízo,
iudicii omnes homines ante tribunal Christi cum suis todos os homens comparecerão, com seus corpos,
corporibus comparebunt, reddituri de propriis factis diante do tribunal de Cristo e prestarão contas de
rationem [cf. Rm 14,10s]. suas ações [cf. Rm 14,10].
302
Tenet etiam et docet eadem sancta Romana Ec- A mesma santa Igreja romana tem por certo e 860
clesia, septem esse ecclesiastica s a c r a m e n t a , ensina que os s a c r a m e n t o s eclesiásticos são sete:
unum scilicet baptisma, de quo dictum est supra; um certamente é o batismo, do qual se fala acima;
aliud est sacramentum confirmationis, quod per outro é o sacramento da confirmação, que os bispos
manuum impositionem episcopi conferunt, chris- conferem com a imposição das mãos, ungindo com
mando renatos; aliud est paenitentia, aliud Eucha- o crisma aqueles que renasceram; outro é a peni-
ristia, aliud sacramentum ordinis, aliud est matri- tência; outro a Eucaristia, outro o sacramento da
monium, aliud extrema unctio, quae secundum doc- ordem, outro o matrimônio, outro a extrema-unção,
trinam beati Iacobi infirmantibus adhibetur. que segundo a doutrina do bem-aventurado Tiago é
administrada aos doentes.
Sacramentum Eucharistiae ex azymo conficit A mesma Igreja romana efetua o sacramento da
eadem Romana Ecclesia, tenens et docens, quod in Eucaristia com pão ázimo, sustentando e ensinando
ipso sacramento panis vere transsubstantiatur in que no mesmo sacramento o pão é verdadeiramen-
corpus et vinum in sanguinem Domini nostri Iesu te transubstanciado no corpo e o vinho no sangue
Christi. de nosso Senhor Jesus Cristo.
De matrimonio vero tenet, quod nec unus vir Com referência ao matrimônio tem como certo
plures uxores simul, nec una mulier permittitur que não é permitido ao homem ter contemporanea-
habere plures viros. Soluto vero legitimo matrimo- mente várias mulheres, nem à mulher ter vários
nio per mortem coniugum alterius, secundas et maridos. Desligado porém o matrimônio legítimo,
tertias deinde1 nuptias successive licitas esse dicit, pela morte de um ou outro dos cônjuges, diz que
si impedimentum canonicum aliud ex causa aliqua são lícitas sucessivamente as segundas e também as
non obsistat. terceiras núpcias1, a não ser que se oponha outro
impedimento canônico por alguma outra causa.
Ipsa quoque sancta Romana Ecclesia summum A mesma santa Romana Igreja possui também o 861
et plenum p r i m a t u m et principatum super uni- supremo e pleno p r i m a d o e principado sobre toda
versam Ecclesiam catholicam obtinet; quem se ab a Igreja católica; <primado> que, com verdade e
ipso Domino in beato Petro Apostolorum principe humildade, reconhece ter recebido, com a plenitu-
sive vertice, cuius Romanus Pontifex est successor, de do poder, do próprio Senhor, no bem-aventurado
cum potestatis plenitudine recepisse veraciter et hu- Pedro, príncipe ou cabeça dos Apóstolos, do qual o
militer recognoscit. Et sicut prae ceteris tenetur fi- Romano Pontífice é o sucessor. E assim como está
dei veritatem defendere: sic et si quae de fide su- obrigada a defender, mais que as outras, a verdade
bortae fuerint quaestiones, suo debent iudicio defi- da fé, assim também devem ser definidas por seu
niri. Ad quam potest gravatus quilibet super negotiis juízo as questões que surgirem a respeito da fé. A
ad ecclesiasticum forum pertinentibus appellare: et ela pode apelar qualquer acusado em matéria que
in omnibus causis ad examen ecclesiasticum spec- pertença ao foro eclesiástico, e em todas as causas
tantibus ad ipsius potest iudicium recurri: et eidem que dizem respeito à avaliação eclesiástica pode-se
omnes ecclesiae sunt subiectae, ipsarum praelati recorrer ao seu julgamento. A ela estão sujeitas to-
oboedientiam et reverentiam sibi dant. Ad hanc das as Igrejas, e os seus prelados lhe devem obe-
autem sic potestatis plenitudo consistit, quod eccle- diência e reverência. Todavia, a plenitude do poder
sias ceteras ad sollicitudinis partem admittit; quarum se dá para ela deste modo, que deixa participar de
multas et patriarchales praecipue diversis privilegiis sua solicitude as outras Igrejas, muitas das quais,
eadem Romana Ecclesia honoravit, sua tamen ob- sobretudo as patriarcais, com diversos privilégios
servata praerogativa tum in generalibus conciliis, honrou a mesma Igreja romana, sempre salvaguar-
tum in aliquibus aliis semper salva. dada porém a sua prerrogativa, seja nos concílios
gerais, seja em alguma outra coisa.
INOCÊNCIO V: 21 jan. – 22jun. 1276
ADRIANO V: 11 jul. – 18 ago. 1276
JOÃO XXI: 8 set. 1276 – 20 mai. 1277
*860 1 Assim na versão que tem a assinatura do imperador; na versão de Clemente IV (1267) se lê: “tertias et deinceps
nuptias” (“terceiras núpcias e subseqüentes”).
303
As indulgências
868 Antiquorum habet fida relatio, quod accedenti- Um documento digno de fé dos antigos relata que,
bus ad honorabilem basilicam principis Apostolo- àqueles que vão à venerável basílica do príncipe
rum de Urbe concessae sunt magnae remissiones et dos Apóstolos na Urbe, são concedidas copiosas
indulgentiae peccatorum. remissões e indulgências dos pecados.
304
Nos igitur … huiusmodi remissiones et indul- Nós, portanto, … considerando válidas e aceitas
gentias omnes et singulas ratas et gratas habentes, tais remissões e indulgências, todas e cada uma sin-
ipsas auctoritate Apostolica confirmamus et appro- gularmente, as confirmamos e aprovamos em virtu-
bamus … . de da autoridade apostólica… .
Nos de omnipotentis Dei misericordia et eorun- Confiando na misericórdia de Deus onipotente e
dem Apostolorum eius meritis et auctoritate confisi, nos méritos e na autoridade dos seus próprios Após-
de fratrum Nostrorum consilio et Apostolicae ple- tolos, pelos conselhos dos Nossos irmãos e em vir-
nitudine potestatis omnibus … ad basilicas ipsas tude da plenitude do poder apostólico, a todos …
accedentibus reverenter, vere paenitentibus et con- os que visitam de modo respeitoso estas basílicas, e
fessis … in huiusmodi praesenti et quolibet cente- fazem realmente penitência e se tiverem confessa-
simo secuturo annis non solum plenam et largio- do … neste presente e em qualquer um dos seguin-
rem, immo plenissimam omnium suorum concede- tes centenários, concederemos e concedemos não
mus et concedimus veniam peccatorum. só a plena e mais ampla, mas também a pleníssima
indulgência de todos os seus pecados.
A unicidade da Igreja
U n a m sanctam Ecclesiam catholicam et ipsam Instados pela fé, somos obrigados a crer e a afir- 870
apostolicam urgente fide credere cogimur et tenere, mar que há u m a só Igreja, santa, católica e que
nosque hanc firmiter credimus et simpliciter confi- esta mesma é apostólica, e com firmeza cremos e
temur, extra quam nec salus est nec remissio pecca- sinceramente confessamos que fora dela não há nem
torum …; quae unum corpus mysticum repraesen- salvação nem remissão dos pecados …; e ela repre-
tat, cuius corporis caput Christus, Christi vero Deus. senta um só corpo místico, e deste corpo a cabeça
In qua “unus Dominus, una fides et unum baptis- é Cristo, e a de Cristo é Deus. Nela há “um só
ma” [Eph 4,5]. Una nempe fuit diluvii tempore arca Senhor, uma só fé e um só batismo” [Ef 4,5]. Uma
Noe, unam Ecclesiam praefigurans, quae in uno só foi, ao tempo do dilúvio, a arca de Noé, prefigu-
cubito consummata unum, Noe videlicet, guberna- rando uma só Igreja; e com um arremate de um só
305
torem habuit et rectorem, extra quam omnia subsis- côvado, ela teve um só timoneiro e dirigente, isto é,
tentia super terram legimus fuisse deleta. Noé; e fora dela, lemos, todo ser vivo sobre a terra
foi destruído.
871 Hanc autem veneramur et u n i c a m , dicente Do- Nós a veneramos também <como> ú n i c a , pois
mino in Propheta: “Erue a framea, Deus, animam o Senhor diz, no Profeta: “Arranca da espada, ó
meam, et de manu canis unicam meam” [Ps 21,21]. Deus, a minha alma, e das garras do cão a minha
Pro anima enim, id est pro se ipso, capite simul vida” [Sl 22,21]. Ele rezou, de fato, pela alma, isto
oravit et corpore, quod corpus unicam scilicet Ec- é, por si mesmo, cabeça e corpo juntos, e com este
clesiam nominavit, propter sponsi, fidei, sacramen- corpo indicou certamente a única Igreja, por causa
torum et caritatis Ecclesiae unitatem. Haec est “tu- da unidade do esposo, da fé, dos sacramentos, e da
nica” illa Domini “inconsutilis” [Io 19,23], quae caridade da Igreja. É esta aquela túnica “sem costu-
scissa non fuit, sed sorte provenit. ras” [Jo 19,23] do Senhor, a qual não foi rasgada,
mas designada pela sorte.
872 Igitur Ecclesiae unius et unicae unum corpus, A una e única Igreja, portanto, tem um só corpo,
unum caput, non duo capita quasi monstrum, Chris- uma só cabeça – não duas, como um monstro –, a
tus videlicet et Christi vicarius Petrus Petrique suc- saber: Cristo e o vigário de Cristo, que é Pedro e o
cessor, dicente Domino ipsi Petro: “Pasce oves sucessor de Pedro; pois o Senhor disse ao mesmo
meas” [Io 21,17]. “Meas”, inquit, et generaliter, non Pedro: “Apascenta as minhas ovelhas” [Jo 21,17].
singulariter has vel illas: per quod commisisse sibi “Minhas”, ele disse, e de modo geral, não singular-
intelligitur universas. Sive ergo Graeci sive alii se mente estas ou aquelas: por isto se entende que todas
dicant Petro eiusque successoribus non esse com- lhe foram confiadas. Quando, portanto, os gregos
missos: fateantur necesse est se de ovibus Christi ou outros dizem que eles não foram confiados a
non esse, dicente Domino in Ioanne, “unum ovile, Pedro e aos seus sucessores, é necessário que eles
unum et unicum esse pastorem” [Io 10,16]. declarem não pertencer às ovelhas de Cristo, dado
que o Senhor diz em João: “um só rebanho, um só
e único pastor” [Jo 10,16].
*873 1 Hugo de São Vítor, De sacramentis lib. II, p. II, c. 4, n. 4 (PL 176, 418C).
306
suo superiore; si vero suprema, a solo Deo, non ab poder espiritual menor se desviar, <será julgado>
homine poterit iudicari, testante Apostolo: “Spiri- pelo que lhe é superior; se, porém, o poder supre-
tualis homo iudicat omnia, ipse autem a nemine mo <se desviar>, poderá ser julgado só por Deus,
iudicatur” [1 Cor 2,15]. não pelo homem, como atesta o Apóstolo: “O ho-
mem espiritual julga todas as coisas, mas ele mes-
mo não é julgado por ninguém” [1Cor 2,15].
Est autem haec auctoritas, etsi data sit homini et Ora, esta autoridade, mesmo se dada a um homem 874
exerceatur per hominem, non humana, sed potius e exercida por meio de um homem, não é humana,
divina potestas, ore divino Petro data, sibique suis- mas antes, um poder divino, dado pela boca divina a
que successoribus in ipso Christo, quem confessus Pedro, a ele e aos seus sucessores, no próprio Cristo,
fuit petra firmata, dicente Domino ipsi Petro: “Quod- que ele, como rocha firme, professara, na ocasião
cumque ligaveris” etc. [Mt 16,19]. Quicumque igitur em que o Senhor disse ao mesmo Pedro: “Tudo o
huic potestati a Deo sic ordinatae “resistit, Dei or- que ligares” etc. [Mt 16,19]. Portanto, quem resiste
dinationi resistit” [Rm 13,2], nisi duo, sicut Mani- a este poder assim ordenada por Deus, “resiste à
chaeus, fingat esse principia, quod falsum et haere- ordenação de Deus” [Rm 13,2], a menos que imagi-
ticum iudicamus, quia, testante Moyse, non in prin- ne, qual um maniqueu, que haja dois princípios, coisa
cipiis, sed “in principio caelum Deus creavit et ter- que julgamos falsa e herética, dado que, segundo o
ram” [Gn 1,1]. testemunho de Moisés, não nos princípios, mas “no
princípio Deus criou o céu e a terra” [Gn 1,1].
Porro s u b e s s e R o m a n o P o n t i fi c i omni hu- E declaramos, enunciamos, definimos que, para 875
manae creaturae declaramus, dicimus, diffinimus toda humana criatura, é necessário para a salvação
omnino esse de necessitate salutis. s u b m e t e r - s e a o R o m a n o P o n t í fi c e .
307
308
asserentes, quod esset imperfectionis eisdem, si a afirmam que isso seria para eles sinal de imperfei-
puritate et altitudine suae contemplationis tantum ção, se descessem da pureza e da altura da sua con-
descenderent, quod circa ministerium seu sacramen- templação a ponto de meditar sobre o mistério ou o
tum Eucharistiae aut circa passionem humanitatis sacramento da Eucaristia ou sobre a paixão da hu-
Christi aliqua cogitarent. manidade de Cristo.
[C e n s u r a :] Nos sacro approbante Concilio sec- [C e n s u r a :] Nós, com o consenso do santo Con- 899
tam ipsam cum praemissis erroribus damnamus et cílio, condenamos e reprovamos totalmente esta seita
reprobamus omnimo inhibentes districtius, ne quis com os seus erros, proibindo severamente que no
ipsos de cetero teneat, approbet vel defendat. futuro alguém possa sustentá-los, aprová-los ou
defendê-los.
309
nostro novissimo Adam [cf. 1 Cor 15,45], id est primeiro e velho Adão, que segundo o Apóstolo “é
Christo, veritas responderet. figura daquele que deve vir” [Rm 5,14], correspon-
desse a verdade em nosso novo Adão [cf. 1Cor
15,45], isto é, em Cristo.
Haec est, inquam, veritas, illius praegrandis aqui- Esta, digo, é a verdade confirmada pelo testemu-
lae vallata testimonio, quam propheta vidit Ezechiel nho daquela águia enorme – que o profeta Ezequiel
[cf. Ez 1,4-28] animalibus ceteris evangelicis trans- [cf. Ez 1,4-28] viu voar acima dos animais que re-
volantem, beati Iohannis videlicet, Apostoli et presentam os outros evangelistas –, a saber, do bem-
Evangelistae, qui sacramenti huius rem gestam aventurado João, Apóstolo e Evangelista, o qual,
narrans et ordinem in Evangelio suo dixit: “Ad Ie- revelando o decorrer e a ordem deste mistério, dis-
sum autem cum venissent, ut viderunt eum iam se no seu Evangelho: “Chegando, porém, a Jesus e
mortuum, non fregerunt eius crura, sed unus militum vendo que já estava morto, não lhe quebraram as
lancea latus eius aperuit, et continuo exivit sanguis pernas, mas um dos soldados abriu-lhe o lado com
et aqua; et qui vidit, testimonium perhibuit, et ve- a lança, e logo saiu sangue e água. Quem viu dá
rum est testimonium eius, et ille scit, quia vera dicit, testemunho, e o seu testemunho é verdadeiro, e ele
ut et vos credatis” [Io 19,33-35]. sabe que diz a verdade, para que também vós pos-
sais crer” [Jo 19,33-35].
Nos igitur ad tam praeclarum testimonium ac Nós, portanto, voltando nossa atenção para um
sanctorum Patrum et Doctorum communem senten- testemunho tão excelente e para a comum opinião
tiam apostolicae considerationis, ad quam dumtaxat dos santos Padres e Doutores – aos quais, só, per-
haec declarare pertinet, aciem convertentes, sacro tence definir estas coisas –, com o consenso do santo
approbante Concilio, declaramus, praedictum Concílio declaramos que o Apóstolo e Evangelista
Apostolum et Evangelistam Ioannem rectum in João, ao narrar o que referimos, respeitou a verda-
praemissis factae rei ordinem tenuisse, narrando, deira ordem dos acontecimentos, contando como a
quod Christo “iam mortuo unus militum lancea latus Cristo “já morto, um dos soldados abriu-lhe o lado
eius aperuit”. com a lança”.
902 [D e a n i m a u t f o r m a c o r p o r i s .] Porro [A a l m a c o m o f o r m a d o c o r p o .] Outros-
doctrinam omnem seu positionem temere asseren- sim, sempre com o consenso do referido santo Con-
tem, aut vertentem in dubium, quod substantia ani- cílio, reprovamos como errônea e contrária à ver-
mae rationalis seu intellectivae vere ac per se humani dade da fé católica, toda doutrina ou tese que afir-
corporis non sit forma, velut erroneam ac veritati me temerariamente ou ponha em dúvida que a subs-
catholicae inimicam fidei, praedicto sacro approban- tância da alma racional ou intelectiva não é verda-
te Concilio reprobamus: definientes, ut cunctis nota deiramente e por si a forma do corpo humano; e,
sit fidei sincerae veritas ac praecludatur universis para que seja conhecida por todos a verdade da pura
erroribus aditus, ne subintrent, quod quisquis fé e fechado o caminho a todo erro, definimos que
deinceps asserere, defendere seu tenere pertinaciter qualquer um que no futuro ouse afirmar, defender
praesumpserit, quod anima rationalis seu intellectiva ou sustentar com pertinácia que a alma racional ou
non sit forma corporis humani per se et essentiali- intelectiva não é a forma do corpo humano por si
ter, tamquam haereticus sit censendus. essencialmente, deve ser considerado herege.
903 [D e e f f e c t u b a p t i s m i .] Ad hoc baptisma [O e f e i t o d o b a t i s m o .] É também necessá-
unicum baptizatos omnes in Christo regenerans est, rio que todos professem fielmente um único batis-
sicut unus Deus ac fides unica [cf. Eph 4,5] ab om- mo, que regenera todos os que são batizados em
nibus fideliter confitendum, quod celebratum in aqua Cristo, como se deve confessar que há um só Deus
in nomine Patris et Filii et Spiritus Sancti credimus e uma única fé [cf. Ef 4,5]; e que, celebrado com a
esse tam adultis quam parvulis communiter perfec- água em nome do Pai, do Filho do Espírito Santo,
tum remedium ad salutem. é remédio de salvação perfeito e comum tanto para
os adultos como para as crianças.
904 Verum quia quantum ad effectum baptismi in É verdade que, quanto ao efeito do batismo nas
parvulis reperiuntur doctores quidam theologi opi- crianças, se encontram os entre os teólogos opiniões
niones contrarias habuisse, quibusdam ex ipsis di- contrárias: alguns, de fato, dizem que em virtude
centibus, per virtutem baptismi parvulis quidem do batismo aos pequenos é perdoada a culpa, mas
310
culpam remitti, sed gratiam non conferri, aliis não é dada a graça; outros, ao invés, afirmam que
econtra asserentibus, quod et culpa iisdem in bap- no batismo lhes é perdoada a culpa e lhes são infusas
tismo remittitur, et virtutes ac informans gratia a graça informante e as virtudes, quanto à disposi-
infunduntur quoad habitum [cf. •780], etsi non pro ção [cf. *780], ainda que não quanto ao uso nesse
illo tempore quoad usum: tempo.
Nos autem attendentes generalem efficaciam mor- Quanto a nós, tendo presente a eficácia geral da
tis Christi, quae per baptisma applicatur pariter morte de Cristo, que de modo igual é aplicada pelo
omnibus baptizatis, opinionem secundam, quae dicit, batismo a todos os batizados, com o consenso do
tam parvulis quam adultis conferri in baptismo in- sacro Concílio julgamos que se deva escolher a se-
formantem gratiam et virtutes, tamquam probabi- gunda opinião, pela qual no batismo são infusas,
liorem, et dictis Sanctorum et doctorum moderno- tanto às crianças como aos adultos, a graça infor-
rum theologiae magis consonam et concordem, sa- mante e as virtudes, como a mais provável e como
cro approbante Concilio duximus eligendam. a mais consoante e concorde com os enunciados
dos Santos e dos modernos doutores em teologia.
Usura
… Si quis in illum errorem inciderit, ut pertinaciter … Se alguém tiver caído naquele erro, a ponto 906
affirmare praesumat, exercere usuras non esse pecca- de ousar afirmar com pertinácia que praticar a usu-
tum, decernimus eum velut haereticum puniendum. ra não é pecado, decretamos que deva ser punido
como herege.
311
arctos usus seu pauperes, qui in ipsorum regula incluídos em sua regra e segundo forma de obriga-
continentur, et eo obligationis modo, sub quo con- ção em que esta inclui ou expõe tais usos. Dizer,
tinet seu ponit regula dictos usus. Dicere autem, sicut porém, como alguns parecem afirmar, que seja he-
aliqui asserere perhibentur, quod haereticum sit, rético sustentar que o uso pobre está ou não incluí-
tenere usum pauperem includi vel non includi sub do no voto de pobreza evangélica, julgamos pre-
voto evangelicae paupertatis, praesumptuosum et sunçoso e temerário.
temerarium iudicamus.
312
sua perfidia viderint alienos: quia apud ipsos solos inventam declarar privados de todo poder eclesiás-
(ut ipsi somniant) sicut spiritualis vitae sanctitas, tico aqueles que vêem alheios à sua perfídia; já que
sic auctoritas perseverat, in qua re Donatistarum só junto deles (assim deliram) se mantém tanto a
sequuntur errorem … santidade da vida espiritual como também a autori-
dade, e nisto seguem o erro dos donatistas …
(3) § 18. Tertius istorum error in Waldensium (3) § 18. O terceiro erro deles se liga com o erro 913
errore coniurat, quoniam et ii et illi in nullum even- dos valdenses, dado que tanto estes como aqueles
tum asserunt fore iurandum, dogmatizantes mortalis afirmam que não se deve jurar em caso nenhum e
criminis contagione pollui et poena teneri, quos ensinam que se mancham pelo contágio de culpa
contigerit iuramenti religione constringi. mortal e devem submeter-se a pena aqueles que
casualmente, por temor religioso, tenham sido cons-
trangidos a prestar juramento.
(4) § 20. Quarta huiusmodi impiorum blasphe- (4) § 20. A quarta blasfêmia desses ímpios, que 914
mia de praedictorum Waldensium venenato fonte emana da nascente envenenada dos referidos val-
prorumpens, sacerdotes rite etiam et legitime secun- denses, inventa que os sacerdotes ordenados segun-
dum formam Ecclesiae ordinatos, quibuslibet tamen do o rito e de modo legítimo, conforme a norma
criminibus pressos, non posse conficere vel confer- da Igreja, porém marcados por um delito qualquer,
re ecclesiastica sacramenta confingit. não podem celebrar ou conferir os sacramentos da
Igreja.
(5) § 22. Quintus error sic istorum hominum (5) § 22. O quinto erro obceca de tal modo a 915
mentes obcaecat, ut Evangelium Christi in se solis mente desses homens, que afirmam que o Evange-
hoc in tempore asserant esse completum, quod hac- lho de Cristo somente neles, no tempo presente, é
tenus (ut ipsi somniant) obtectum fuerat, immo pror- levado a plenitude; e que até agora (assim deliram)
sus exstinctum. tinha sido obscurecido, ou melhor, completamente
extinto.
§ 24. Multa sunt alia, quae isti praesumptuosi § 24. São muitas as outras coisas que, segundo se 916
homines contra coniugii venerabile sacramentum diz, esses homens vaidosos vão motejando contra o
garrire dicuntur, multa, quae de cursu temporum et venerável sacramento do matrimônio, muitas aque-
fine saeculi somniant, multa, quae de Antichristi las que deliram acerca do decorrer dos tempos e do
adventu, quem iamiam instare asserunt, flebili va- fim do mundo, muitas as que divulgam, com la-
nitate divulgant. Quae omnia, quia partim haereti- mentável vaidade, em torno da vinda do Anticristo,
ca, partim insana, partim fabulosa cognoscimus, que afirmam estar para acontecer. Todas essas coi-
damnanda potius cum suis auctoribus, quam stilo sas, pois, que reconhecemos em parte heréticas, em
prosequenda aut refellenda censemus. … parte delirantes, em parte fabulosas, Nós julgamos
que devam ser condenadas junto com seus autores
antes que tratadas ou confutadas por escrito. …
313
peccata, quae confessi fuerant, iterum confiteri pro- obrigados a confessar de novo a seu próprio sacer-
prio sacerdoti. dote os mesmos pecados que tinham confessado.
922 (2) Quod stante Statuto [Concilii Lateranensis IV, (2) Enquanto existe o Estatuto “Omnis utrius-
*812] “Omnis utriusque sexus” edito in concilio que sexus”, promulgado em concílio geral [IV Con-
generali ita Romanus Pontifex non potest facere, quod cílio do Latrão, *812], o Romano Pontífice não
parochiani non teneantur confiteri omnia peccata sua pode fazer com que os paroquianos não sejam obri-
semel in anno proprio sacerdoti, quem dicit esse gados a confessar anualmente todos os seus peca-
parochialem curatum; immo nec Deus posset hoc dos ao próprio sacerdote, que ele declara ser o en-
facere: quia, ut dicebat, implicat contradictionem. carregado da paróquia; e nem mesmo Deus pode-
ria fazê-lo, porque, como ele tem dito, isso implica
contradição.
923 (3) Quod Papa non potest dare generalem potes- (3) O Papa não pode dar o poder geral de ouvir
tatem audiendi confessiones, immo nec Deus, quin confissões, e nem mesmo Deus, sem que aquele que
confessus habenti generalem licentiam teneatur ite- se confessou a quem tem um poder geral seja obri-
rum confiteri suo proprio sacerdoti, quem dicit esse gado de confessar-se de novo a seu próprio sacer-
(ut praemittitur) parochialem curatum. dote, que ele declara (como antes referido) ser o
encarregado da paróquia.
924 [C e n s u r a :] … Comperimus, praemissos articu- [C e n s u r a :] Verificamos que os artigos acima
los doctrinam non sanam, sed periculosam multum contêm uma doutrina não sã, mas muito perigosa e
et veritati contrariam continere. Quos etiam articu- contrária à verdade. Estes mesmos artigos, todos e
los omnes et singulos idem magister Ioannes … cada um, o mestre João … os tem retratado … .
revocavit … . Omnes articulos et quemlibet eorum Nós, em virtude da autoridade apostólica e confor-
tamquam falsos et erroneos et a doctrina sana de- memente ao conselho dos nossos irmãos, condena-
vios auctoritate Apostolica damnamus et reprobamus mos e afastamos esses artigos, todos e cada um,
de fratrum Nostrorum consilio …, doctrinam ipsis como falsos, errôneos e em contradição com a sã
contrariam veram esse et catholicam asserentes … doutrina … , afirmando que a doutrina oposta é ver-
dadeira e católica …
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316
(5) Quod Papa vel tota Ecclesia simul sumpta (5) O Papa, ou também toda a Igreja tomada no 945
nullum hominem quantumcumque sceleratum po- seu conjunto, não pode punir com punição cons-
test punire punitione coactiva, nisi Imperator daret tritiva nenhum homem, por mais criminoso que
eis auctoritatem1. seja, a não ser que o Imperador lhe dê autoridade
para isso1.
[C e n s u r a : Articulos praedictos] … velut sa- [C e n s u r a : os artigos acima citados,] … Nós 946
crae Scripturae contrarios et fidei catholicae inimi- os declaramos, por sentença, enquanto contrários à
cos, haereticos, seu haereticales et erroneos, nec- sagrada Escritura e inimigos da fé católica, heréti-
non et praedictos Marsilium et Ioannem haereticos, cos ou semelhantes à heresia e errôneos; e também
immo haeresiarchas fore manifestos et notorios sen- que os acima citados Marsílio e João são hereges,
tentialiter declaramus. ou mais, manifestos e notórios heresiarcas.
*945 1 Cf. d. II, c. 5, § 4-6; d. III, c. 2, § 7 14 15 16 18 30; cf. também d. I, c. 19, § 12 (Scholz 182-192 604-608; 135s).
317
constare per confessionem1 eiusdem Ekardi, quod de modo evidente, da confissão1 do mesmo Eckhart
ipse praedicavit, dogmatizavit et scripsit viginti sex consta que ele pregou, ensinou e escreveu vinte e
articulos, tenorem qui sequitur continentes: seis artigos que têm a seguinte formulação:
951 (1) Interrogatus quandoque, quare Deus mundum (1) Interrogado uma vez por qual razão Deus não
non prius produxerit, respondit tunc, sicut nunc, tenha formado o mundo antes, respondeu que Deus
quod Deus non potuit primo1 producere mundum, não pôde formar o mundo primeiro1, porque uma
quia res non potest agere, antequam sit; unde quam coisa não pode operar antes de existir; de onde Deus,
cito Deus fuit, tam cito mundum creavit2. logo que fosse sendo, tão logo criou o mundo2.
952 (2) Item concedi potest mundum fuisse ab aeterno1. (2) Igualmente: Pode-se admitir que o mundo
exista desde a eternidade1.
953 (3) Item simul et semel, quando Deus fuit, quan- (3) Igualmente: Deus, de uma vez e ao mesmo tem-
do Filium sibi coaeternum per omnia coaequalem po em que foi sendo, quando gerou o Filho consigo
Deum genuit, etiam mundum creavit1. coeterno e coigual em tudo, criou também o mundo1.
954 (4) Item in omni opere, etiam malo, malo, inquam, (4) Igualmente: Em cada obra, mesmo má – má,
tam poenae quam culpae, manifestatur et relucet digo, tanto pela pena como pela culpa –, se mani-
aequaliter gloria Dei1. festa e resplende de igual modo a glória de Deus1.
955 (5) Item vituperans quempiam vituperio ipso (5) Igualmente: Aquele que insulta alguém com
peccato vituperii laudat Deum, et quo plus vituperat um insulto, pelo próprio pecado de insulto rende
et gravius peccat, amplius Deum laudat1. louvor a Deus, e quanto mais insulta e mais grave-
mente peca, tanto mais rende louvor a Deus1.
956 (6) Item Deum ipsum quis blasphemando Deum (6) Igualmente: Aquele que blasfema Deus mes-
laudat1. mo rende louvor a Deus1.
957 (7) Item quod petens hoc aut hoc, malum petit et (7) Igualmente: Aquele que pede esta ou aquela
male, quia negationem boni et negationem Dei petit, coisa pede o mal e de modo mau, porque pede a
et orat Deum sibi negari1. negação do bem e a negação de Deus, e pede que
Deus se lhe negue1.
958 (8) Qui non intendunt res, nec honores, nec uti- (8) Aqueles que não pretendem as coisas, nem as
litatem, nec devotionem internam, nec sanctitatem, honras, nem a utilidade, nem a devoção interna, a
nec praemium, nec regnum caelorum, sed omnibus santidade ou o prêmio, nem o reino dos céus, mas
his renuntiaverunt, etiam quod suum est, in illis renunciaram a todas essas coisas, inclusive o que é
hominibus honoratur Deus1. seu, nestes homens Deus é honrado1.
(9) Ego nuper cogitavi, utrum ego vellem aliquid (9) Tenho pensado, ultimamente, se eu deveria que-
recipere a Deo vel desiderare: ego volo de hoc val- rer receber ou desejar alguma coisa de Deus; eu quero
de bene deliberare, quia ubi ego essem accipiens a refletir muito bem sobre isso, porque, desde que eu fosse
Deo, ibi essem ego sub eo vel infra eum, sicut unus um que recebe de Deus, no mesmo momento eu ficaria
famulus vel servus, et ipse sicut dominus in dando, sob ele ou debaixo dele, como um escravo ou um ser-
et sic non debemus esse in aeterna vita1. vo, e ele mesmo, na situação de quem doa como um
patrão, e não é assim que devemos ser na vida eterna1.
318
(10) Nos transformamur totaliter in Deum et (10) Nós somos totalmente transformados em Deus 960
convertimur in eum; simili modo sicut in sacramento e nos mudamos nele; de modo semelhante, como no
panis convertitur in corpus Christi, sic ego convertor sacramento o pão é mudado no corpo de Cristo, as-
in eum, quod ipse operatur me suum esse unum, sim eu sou mudado nele, porque ele mesmo me faz
non simile. Per viventem Deum verum est, quod ibi ser um consigo, não semelhante. Pelo Deus vivo, é
nulla est distinctio1. verdade que ali não há nenhuma distinção1.
(11) Quidquid Deus Pater dedit Filio suo unige- (11) Tudo quanto deu ao seu unigênito Filho na 961
nito in humana natura, hoc totum dedit mihi. Hic natureza humana, tudo isso Deus o deu a mim. Nisto
nihil excipio, nec unionem nec sanctitatem, sed não excluo nada, nem a união nem a santidade, mas
totum dedit mihi sicut sibi1. tudo ele deu a mim como a ele1.
(12) Quidquid dicit sacra Scriptura de Christo, (12) Tudo quanto a sagrada Escritura diz de Cris- 962
hoc etiam totum verificatur de omni bono et divino to, tudo isso se demonstra verdadeiro também em
homine1. cada homem bom e divino1.
(13) Quidquid proprium est divinae naturae, hoc (13) Tudo quanto é próprio da natureza divina, 963
totum proprium est homini iusto et divino; propter tudo isso é próprio do homem justo e divino; por
hoc iste homo operatur, quidquid Deus operatur, et isso, este homem opera tudo o que Deus opera, e
creavit una cum Deo caelum et terram, et est gene- ele criou junto com Deus o céu e a terra, e é gera-
rator Verbi aeterni, et Deus sine tali homine nesci- dor do Verbo eterno; e sem um homem assim, Deus
ret quidquam facere1. não saberia fazer nada1.
(14) Bonus homo debet sic conformare volunta- (14) O homem bom deve conformar a sua vontade 964
tem suam voluntati divinae, quod ipse velit quid- à vontade divina de modo tal que ele mesmo queira
quid Deus vult. Quia Deus vult aliquo modo me o que Deus quer. Porque Deus de certo modo quer
pecasse, nollem ego, quod ego peccata non commi- que eu tenha pecado, eu não quereria jamais não ter
sissem, et haec est vera paenitentia1. cometido pecado, e esta é a verdadeira penitência1.
(15) Si homo commisisset mille peccata morta- (15) Quem tivesse cometido mil pecados mor- 965
lia, si talis homo esset recte dispositus, non deberet tais, tal homem, se tivesse reta disposição, não de-
velle se ea non commisisse1. veria querer não tê-los cometido1.
(16) Deus proprie non praecipit actum exte- (16) Deus não prescreve propriamente o ato 966
riorem1. exterior1.
(l7) Actus exterior non est proprie bonus nec di- (17) O ato exterior não é propriamente nem bom 967
vinus, nec operatur ipsum Deus proprie neque parit1. nem divino, e Deus propriamente não o opera nem
o produz1.
(18) Afferamus fructum actuum non exteriorum, (18) Produzamos o fruto não de atos exteriores, 968
qui nos bonos non faciunt, sed actuum interiorum, que não nos tornam bons, mas de atos interiores,
quos Pater in nobis manens facit et operatur1. que o Pai que mora em nós faz e opera1.
(19) Deus animas amat, non opus extra1. (19) Deus ama as almas, não a obra exterior1. 969
1
(20) Quod bonus homo est unigenitus Filius Dei . 1 (20) O homem bom é o Filho de Deus unigênito . 970
(21) Homo nobilis est ille unigenitus Filius Dei, (21) O homem nobre é este Filho de Deus unigê- 971
quem Pater aeternaliter genuit1. nito que o Pai gerou desde a eternidade1.
319
972 (22) Pater generat me suum filium et eundem (22) O Pai me gera como filho seu e como o
filium. Quidquid Deus operatur, hoc est unum; prop- mesmo filho. Qualquer coisa que Deus opera é
ter hoc generat ipse me suum filium sine omni única; por isso ele me gera como seu filho sem
distinctione1. nenhuma distinção1.
973 (23) Deus est unus omnibus modis et secundum (23) Deus é uno em todos os modos e segundo
omnem rationem, ita ut in ipso non sit invenire ali- cada ponto de vista, de modo que nele mesmo não
quam multitudinem in intellectu vel extra intellec- se pode encontrar qualquer multiplicidade, no inte-
tum1. Qui enim duo videt vel distinctionem videt, lecto ou fora do intelecto1. Aquele, de fato, que vê
Deum non videt, Deus enim unus est extra nume- uma dualidade ou vê uma distinção, não vê Deus,
rum et supra numerum, nec ponit in unum cum ali- pois Deus é uno, fora do número e acima do núme-
quo2. Sequitur [scilicet loco posteriore]: nulla igitur ro, nem se compõe em unidade com nada2. Segue
distinctio in ipso Deo esse potest aut intelligi3. adiante [a saber, num trecho ulterior]: portanto em
Deus mesmo não pode haver e nem se pode pensar
distinção nenhuma3.
974 (24) Omnis distinctio est a Deo aliena, neque in (24) Toda distinção é estranha a Deus, seja na
natura neque in personis; probatur: quia natura ipsa natureza, seja nas pessoas; isto se demonstra porque
est una et hoc unum, et quaelibet persona est una et a mesma natureza é una e só este uno; e qualquer
idipsum unum, quod natura1. pessoa é una e este mesmo uno que <é> a natureza1.
975 (25) Cum dicitur: “Simon, diligis me plus his?” (25) Onde é dito: “Simão, me amas mais do que es-
[Io 21,15], sensus est, id est plus quam istos, et bene tes?” [Jo 21,15], o sentido é: a mim mais do que a
quidem, sed non perfecte. In primo enim et secun- eles, e está bem, decerto, mas não está perfeito. Pois
do et plus et minus et gradus est et ordo, in uno no primeiro e no segundo, e no mais e no menos,
autem nec gradus est nec ordo. Qui igitur diligit há uma gradação e uma ordem; no uno, ao contrá-
Deum plus quam proximum, bene quidem, sed rio, não há gradação nem ordem. Aquele portanto
nondum perfecte1. que ama a Deus mais que ao próximo, sem dúvida
faz bem, mas não ainda de modo perfeito1.
976 (26) Omnes creaturae sunt unum purum nihil: non (26) Todas as criaturas são um puro nada: não
dico, quod sint quid modicum vel aliquid, sed quod digo que são algo de pouca monta ou uma coisa
sint unum purum nihil1. qualquer, mas que são um puro nada1.
Obiectum praeterea exstitit dicto Ekardo, quod Além disso, foi imputado ao supradito Eckhart
praedicaverat alios duos articulos sub his verbis: ter pregado outros dois artigos com estas palavras:
977 (1) Aliquid est in anima, quod est increatum et (1) Há na alma algo de incriado e de incriável; se
increabile; si tota anima esset talis, esset increata et toda a alma fosse de tal gênero seria incriada e
increabilis, et hoc est intellectus1. incriável; e isto é o intelecto1.
978 (2) Quod Deus non est bonus neque melior ne- (2) Deus não é bom, nem melhor, nem ótimo;
que optimus; ita male dico, quandocumque voco cada vez que eu chamo Deus de bom, eu me expri-
Deum bonum, ac si ego album vocarem nigrum1. mo assim de modo errôneo, como se chamasse o
branco de preto1.
979 [C e n s u r a :] … Quia … invenimus primos quin- [C e n s u r a :] … Pois que Nós … temos constata-
decim memoratos articulos et duos etiam alios ulti- do que os primeiros quinze artigos mencionados e
320
mos tam ex suorum sono verborum quam ex sua- também outros, os últimos dois, seja pelo tom das
rum connexione sententiarum errorem seu labem palavras, seja pela conexão dos seus conceitos, con-
haeresis continere, alios vero undecim, quorum têm o erro, pior, a mancha da heresia, e temos cons-
primus incipit “Deus non praecipit” etc. [prop. 16], tatado também que os outros onze, o primeiro dos
reperimus nimis male sonare et multum esse teme- quais começa “Deus não prescreve” etc. [propos. 16]
rarios de haeresique suspectos, licet cum multis ressoam de modo muito equívoco e são fortemente
expositionibus et suppletionibus sensum catholicum temerários e suspeitos de heresia, também se, com
formare valeant vel habere: muitos esclarecimentos e acréscimos, são capazes de
formar ou de ter um sentido católico:
ne articuli huiusmodi seu contenta in eis corda sim- para que artigos de tal feita, ou melhor, as coisas
plicium, apud quos praedicati fuerunt, ultra inficere neles contidas não possam corromper mais ainda
valeant, … os corações das pessoas simples perante os quais
foram pregadas …
Nos … praefatos quindecim primos articulos et duos Nós … condenamos e reprovamos expressamente
alios ultimos tamquam haereticos, dictos vero alios os acima chamados primeiros quinze artigos e os
undecim tamquam male sonantes, temerarios, et últimos dois como heréticos, e também os outros
suspectos de haeresi, ac nihilominus libros quoslibet onze como malsoantes, temerários e suspeitos de
seu opuscula eiusdem Ekardi, praefatos articulos seu heresia, e assim também qualquer livro ou opúscu-
eorum aliquem continentes, damnamus et reproba- lo do mesmo Eckhart que contenha os acima men-
mus expresse. … cionados artigos ou qualquer um deles. …
Porro … volumus notum esse, quod, prout cons- Ademais … queremos que seja conhecido, como 980
tat per publicum instrumentum inde confectum, consta do documento público em seguida elabora-
praefatus Ekardus in fine vitae suae fidem catholi- do, que o supracitado Eckhart, ao fim de sua vida,
cam profitens praedictos viginti sex articulos, quos professando a fé católica, os ditos vinte e seis arti-
se praedicasse confessus exstitit, necnon quaecum- gos que confessou ter pregado, e também todas as
que alia per eum scripta et docta …, quae possent outras coisas por ele escritas e ensinadas … que
generare in mentibus fidelium sensum haereticum pudessem gerar nas mentes dos fiéis um sentido
vel erroneum ac verae fidei inimicum, quantum ad herético ou errôneo e inimigo da verdadeira fé, quan-
illum sensum revocavit ac etiam reprobavit …, de- to a tal sentido os retratou e também reprovou …,
terminationi Apostolicae Sedis et Nostrae tam se submetendo à determinação da Sé Apostólica e Nossa
quam scripta sua et dicta omnia summittendo1. a si mesmo, os seus escritos e tudo quanto disse1.
*980 1 Eckhart declarou publicamente, em 13 fev. 1327, em Colônia, que ele retrataria tudo quanto se encontrasse de errôneo nos
seus pronunciamentos e escritos (cf. Laurent, in: DivThomPl 39 [1936] 344-346, Doc. V / Denifle, in: ArchLKGMA 2
[1886] 630-633); mas as palavras da bula parecem referir-se a uma retratação ulterior, da qual não temos outras informações.
321
322
RHE 6 [1905] 788). Contrariamente a seu predecessor, ele defendeu a concepção teológica comum nesta questão. Antes
de defini-la, encarregou uma comissão de teólogos de examinar detalhadamente o problema.
Ed.: BullTau 4, 346b-347a / BullCocq 3/II, 214ab / DuPlA 1/I (1724) 321b-322a / Bento XII, Acta, ed. A.L. Tǎutu
(Codex Iuris Canonici Orientalis, Fontes III 8; Vaticano 1958) 12s.
323
cuatione praedictae visionis et fruitionis continuata cionada visão e fruição –, permanecem ininterruptos
exstitit et continuabitur usque ad finale iudicium et e continuarão até ao juízo final e, a partir deste, por
ex tunc usque in sempiternum. toda a eternidade.
1002 [I n f e r n u m . – I u d i c i u m g e n e ra l e .] Diffini- [I n f e r n o . – Ju í z o u n i v e r s a l .] Definimos
mus insuper, também
quod secundum Dei ordinationem communem ani- que, segundo a geral disposição de Deus, as almas
mae decedentium in actuali peccato mortali mox dos que morrem em pecado mortal atual, logo de-
post mortem suam ad inferna descendunt, ubi poe- pois de sua morte descem ao inferno, onde são ator-
nis infernalibus cruciantur, mentadas com suplícios infernais,
et quod nihilominus in die iudicii omnes homines e que, todavia, no dia do juízo, todos os homens
“ante tribunal Christi” cum suis corporibus compa- com seus corpos comparecerão “diante do tribunal
rebunt, reddituri de factis propriis rationem, “ut de Cristo” para prestar contas de suas ações, “para
referat unusquisque propria corporis, prout gessit, que cada um receba o que lhe toca segundo o que
sive bonum sive malum” [2 Cor 5,10]. fez quando estava no corpo, seja de bem ou de mal”
[2Cor 5,10].
324
mana rationalis exsistens, et angelus exsistens in- dado que a alma humana racional existente e o anjo
tellectualis naturae, sint quaedam lumina spiritua- existente de natureza intelectiva são de certo modo
lia, ex se ipsis propagant alia lumina spiritualia. … luzes espirituais, por si mesmos produzem outras
luzes espirituais. …
6. Item dicunt Armeni, quod animae puerorum, 6. Igualmente, os armênios dizem que as almas 1008
qui nascuntur ex christianis parentibus post Christi das crianças que nascem de genitores cristãos de-
passionem, si moriantur antequam baptizentur, pois da paixão de Cristo, se morrerem antes de
vadunt ad paradisum terrestrem, in quo fuit Adam batizadas, vão para o paraíso terrestre no qual vi-
ante peccatum; animae vero puerorum, qui nascuntur veu Adão antes do pecado; as almas das crianças,
ex parentibus non christianis post Christi passionem ao contrário, que depois da paixão de Cristo nas-
et moriuntur sine baptismo, vadunt ad loca, ubi sunt cem de genitores não cristãos e morrem sem batis-
animae parentum ipsorum. mo vão para os lugares onde se encontram as almas
de seus genitores.
8. Item Armeni dicunt quod animae puerorum 8. Igualmente, os armênios dizem que as almas 1009
baptizatorum et animae multum perfectorum homi- das crianças batizadas e as almas dos homens alta-
num post generale iudicium intrabunt in regnum mente perfeitos, depois do juízo universal, entrarão
caelorum, ubi carebunt omni malo poenali huius no reino dos céus, onde ficarão livres de todo mal
vitae … . Non tamen videbunt Dei essentiam, quia penal desta vida … . Não verão, porém, a essência
nulla creatura eam videre potest; sed videbunt divina, porque nenhuma criatura a pode ver; mas
claritatem Dei, quae ab eius essentia emanat, sicut verão a claridade de Deus que brota da sua essên-
lux solis emanat a sole et tamen non est sol. … cia, assim como a luz do sol brota do sol e todavia
não é o sol. …
17. Item quod Armeni communiter tenent, quod in 17. Igualmente, os armênios comumente susten- 1010
alio saeculo non est purgatorium animarum, quia, ut tam que no século futuro não há o purgatório das
dicunt, si christianus confiteatur peccata sua, omnia almas, porque, como dizem, se um cristão confessa
peccata eius et poenae peccatorum ei dimittuntur. Nec os seus pecados, todos os seus pecados e as penas
etiam ipsi orant pro defunctis, ut eis in alio saeculo dos pecados lhe são remetidos. E eles nem mesmo
peccata dimittantur, sed generaliter orant pro omni- rezam pelos defuntos para que lhes sejam perdoa-
bus mortuis, sicut pro beata Maria, Apostolis … dos os pecados no outro mundo, mas rezam em geral
por todos os mortos, assim como por Maria, pelos
Apóstolos …
18. Item quod Armeni credunt et tenent, quod 18. Igualmente, os armênios crêem e têm como 1011
Christus descendit de caelo et incarnatus fuit prop- certo que Cristo desceu dos céus e se encarnou para
ter hominum salutem non pro eo, quod filii propagati a salvação dos homens, não porém pelo fato de os
ex Adam et Eva post peccatum eorum ex eis con- filhos gerados por Adão e Eva depois do seu peca-
trahant originale peccatum, a quo per Christi incar- do contraírem destes o pecado original, do qual são
nationem et mortem salventur, cum nullum tale salvos pela encarnação e a morte de Cristo, pois
peccatum dicant esse in filiis Adae: sed dicunt, quod dizem que nos filhos de Adão não há nenhum peca-
Christus propter salutem hominum est incarnatus et do de tal gênero; dizem, ao invés, que Cristo se en-
passus, quia per suam passionem filii Adam, qui carnou e padeceu pela salvação dos homens, por-
dictam passionem praecesserunt, fuerunt liberati ab que pela sua paixão, os filhos de Adão que viveram
inferno, in quo erant non ratione originalis peccati antes da dita paixão foram libertos do inferno, no
quod in eis esset, sed ratione gravitatis peccati per- qual porém se encontraram não por causa de um
sonalis primorum parentum. Credunt etiam, quod pecado original que estivesse neles, mas por causa
Christus propter salutem puerorum, qui nati fuerunt da gravidade do pecado pessoal dos primeiros pro-
post eius passionem, incarnatus fuit et passus, quia genitores. Crêem também que Cristo se encarnou e
per suam passionem destruxit totaliter infernum. … padeceu pela salvação das crianças que nasceram
depois de sua paixão, porque por meio de sua pai-
xão destruiu totalmente o inferno. …
19. … In tantum dicunt, quod … concupiscentia 19. … Eles dizem que a tal ponto … a concupis- 1012
carnis est peccatum et malum, quod parentes etiam cência da carne é pecado e mal, que os genitores,
325
christiani, quando matrimonialiter concumbunt, com- mesmo cristãos, quando deitam juntos matrimoni-
mittunt peccatum …, quia actum matrimonialem almente, cometem pecado …, porque, conforme
dicunt esse peccatum et etiam matrimonium. … dizem, o ato matrimonial é pecado, e também o
matrimônio.
1013 40. … Alii vero dicunt, quod episcopi et presby- 40. … Outros ainda dizem que os bispos e os
teri Armenorum nihil faciunt ad peccatorum remis- presbíteros dos armênios não contribuem em nada
sionem nec principaliter nec ministerialiter, sed solus à remissão dos pecados, nem principal, nem minis-
Deus peccata remittit: nec episcopi vel presbyteri terialmente, mas que somente Deus perdoa os pe-
adhibentur ad faciendam dictam peccatorum remis- cados: nem se recorre aos bispos e aos presbíteros
sionem, nisi quia ipsi acceperunt potestatem loquen- para cumprir a remissão dos pecados, a não ser
di a Deo et ideo, cum absolvunt, dicunt: “Deus di- porque receberam o poder de falar da parte de Deus;
mittat tibi peccata tua”; vel: “Ego dimitto tibi pec- e assim, quando absolvem, dizem: “Deus te perdoe
cata tua in terra et Deus dimittat tibi in caelis”. os teus pecados”; ou então: “Eu te perdôo os teus
pecados na terra e Deus os perdoe a ti nos céus”.
1014 42. Item Armeni dicunt et tenent, quod sola Christi 42. Igualmente os armênios dizem e sustentam que
passio sine omni alio Dei dono, etiam gratificante, a paixão de Cristo só, sem nenhum outro dom de
sufficit ad peccatorum remissionem: nec dicunt, Deus, mesmo gratificante, é suficiente para a remis-
quod ad peccatorum remissionem faciendam requi- são dos pecados; e não dizem que para completar a
ratur gratia Dei gratificans, vel iustificans, nec quod remissão dos pecados é requerida a graça gratificante
in sacramentis novae legis detur gratia gratificans. ou justificante de Deus, e tampouco que nos sacra-
mentos da nova lei seja dada a graça gratificante.
1015 49. Item dicunt, quod si aliquis … accipiat ter- 49. Igualmente dizem que, se alguém … tomar
tiam [uxorem], vel quartam et deinceps, non potest uma terceira [esposa], ou uma quarta e assim por
absolvi per eorum ecclesiam, quia dicunt, quod tale diante, não pode ser absolvido pela sua Igreja, por-
matrimonium fornicatio est. … que dizem que tal matrimônio é fornicação. …
1016 58. Item quod Armeni dicunt et tenent, quod ad 58. Igualmente os armênios dizem e sustentam
hoc, quod sit baptismus verus, ista tria requiruntur, que, para que haja verdadeiro batismo, são requeri-
scilicet aqua, chrisma … et Eucharistia; ita quod, si das estas três coisas, isto é: a água, o crisma … e a
aliquis baptizaret in aqua aliquem dicendo: “Ego te eucaristia; de modo que, se alguém batizasse di-
baptizo in nomine Patris et Filii et Spiritus Sancti, zendo: “Eu te batizo em nome do Pai e do Filho e
Amen”, et postea non inungeretur dicto chrismate, do Espírito Santo, Amem”, e depois não o ungisse
non esset baptismus. Si etiam non daretur ei Eu- com o referido crisma, tal não seria um batismo. Se
charistiae sacramentum, baptizatus non esset. … também não lhe fosse dado o sacramento da Euca-
ristia, não estaria batizado. …
1017 66. Item omnes Armeni communiter dicunt et 66. Igualmente todos os armênios comumente
tenent, quod per verba posita in eorum canone dizem e sustentam que em virtude das palavras que
Missae, quando dicitur per sacerdotem “Accepit se encontram no seu cânon da Missa, quando o sa-
panem et gratias agens fregit et dedit suis sanctis cerdote diz: “Tomou o pão e rendeu graças, o partiu
electis et recumbentibus discipulis dicens: Accipite e deu a seus santos eleitos e discípulos, sentados à
et manducate ex hoc omnes, hoc est Corpus meum mesa com ele, dizendo: Tomai e comei todos, este
…; similiter et calicem accipiens … dicens: Accipite é o meu corpo …; tomando do mesmo modo o cá-
et bibite ex hoc omnes, hic est Sanguis meus … in lice … dizendo: Tomai e bebei dele todos, este é o
remissionem peccatorum” non conficitur nec ipsi meu sangue … para a remissão dos pecados”, não
conficere intendunt Corpus et Sanguinem Christi, é produzido, nem pretendem eles produzir, o corpo
sed solum dicunt verba recitative, recitando scilicet e o sangue de Cristo, mas dizem somente as pala-
quod Dominus fecit, quando sacramentum instituit. vras de modo recitativo, recitando o que fez o Se-
Et post dicta verba dicit sacerdos multas orationes nhor quando instituiu o sacramento. E depois das
positas in eorum canone, et post dictas orationes mencionadas palavras, o sacerdote diz muitas ora-
venit ad locum, ubi sic in eorum canone dicitur: ções recolhidas no cânon deles, e depois das ditas
“Adoramus, supplicamus et petimus a te, benigne orações chega ao lugar onde no cânon deles é dito
Deus, mitte in nobis et in hoc propositum donum assim: “Nós te adoramos, te suplicamos e te pedi-
326
coessentialem tibi Spiritum Sanctum, per quem mos, ó Deus benigno, envia sobre nós e sobre esta
panem benedictum Corpus veraciter efficies Domi- oblação o dom a ti coessencial, o Espírito Santo,
ni nostri et Salvatoris Iesu Christi” – et dicta verba em virtude do qual tu tornas o pão abençoado ver-
dicit sacerdos ter, deinde dicit sacerdos super dadeiramente o corpo de nosso Senhor e Salvador
calicem et vinum benedictum: “Sanguinem veraci- Jesus Cristo” – e as acima referidas palavras, o sa-
ter efficies Domini Nostri Salvatoris Iesu Christi”, cerdote as diz três vezes, e depois o sacerdote diz
et per haec verba [sic dictae “Epiclesis”] credunt, sobre o cálice e o vinho bento: “Tu <o> tornas ver-
quod conficiantur Corpus Christi et Sanguis. … dadeiramente o sangue de nosso Senhor Salvador
Jesus Cristo”, e em virtude destas palavras [a assim
chamada “epíclese”] eles crêem que sejam consa-
grados o corpo e o sangue de Cristo. …
67. Item quod Armeni non dicunt, quod post dicta 67. Igualmente os armênios não dizem que, de- 1018
verba consecrationis panis et vini sit facta trans- pois das supraditas palavras de consagração do pão
substantiatio panis et vini in verum corpus Christi e do vinho, se verifica a transubstanciação do pão e
et sanguinem, quod natum fuit de Virgine Maria et do vinho no verdadeiro corpo e sangue de Cristo,
passum et resurrexit; sed tenent, quod illud sacra- que nasceu de Maria Virgem e padeceu e ressusci-
mentum sit exemplar vel similitudo aut figura veri tou; mas sustentam que aquele sacramento é ima-
corporis et sanguinis Domini: … propter quod ipsi gem ou semelhança ou figura do verdadeiro corpo e
sacramentum Altaris non vocant corpus et sangui- sangue do Senhor: … por isso, os mesmos não cha-
nem Domini, sed hostiam vel sacrificium vel com- mam o sacramento do Altar o corpo e o sangue do
munionem. … Senhor, mas hóstia ou sacrifício ou comunhão. …
68. Item Armeni dicunt et tenent, quod si presby- 68. Igualmente os armênios dizem e sustentam 1019
ter vel episcopus ordinatus committat fornicationem, que, se um presbítero ou um bispo ordenado come-
etiam in secreto, perdit potestatem conficiendi et te fornicação, perde o poder de celebrar e de admi-
ministrandi omnia sacramenta. … nistrar todos os sacramentos. …
70. Item Armeni non dicunt nec tenent, quod sa- 70. Igualmente os armênios não dizem e não sus- 1020
cramentum Eucharistiae digne susceptum operetur tentam que o sacramento da Eucaristia, recebido de
in suscipiente peccatorum remissionem, vel poena- modo digno, opera naquele que o recebe a remissão
rum debitarum peccato relaxationem, vel quod per dos pecados ou a relaxação das penas devidas pelo
ipsum detur gratia Dei vel eius augmentum: sed so- pecado, ou que pelo mesmo é dada a graça de Deus
lum dicunt, quod … corpus Christi intrat in eius e o seu aumento; mas dizem somente que … o cor-
corpus et in ipsum convertitur, sicut et alia alimenta po de Cristo entra no seu corpo e neste mesmo é
convertuntur in alimentato. … transformado, como também os outros alimentos são
transformados naquele que é alimentado. …
327
Non enim corruptibilibus auro et argento, sed sui eterna [Hb 9,12]. Pois ele nos redimiu, não a preço
ipsius agni incontaminati et immaculati pretioso de coisas corruptíveis como o ouro ou a prata, mas,
sanguine nos redemit [cf. 1 Pt 1,18s], quem in ara com seu próprio sangue precioso de cordeiro sem
crucis innocens immolatus non guttam sanguinis defeitos e sem mancha [cf. 1Pd 1,18s] e, como to-
modicam, quae tamen propter unionem ad Verbum dos sabem, imolado inocente sobre o altar da cruz,
pro redemptione totius humani generis suffecisset, ele o derramou não como pequena gota de sangue,
sed copiose velut quoddam profluvium noscitur que todavia em virtude da união ao Verbo teria sido
effudisse ita, ut “a planta pedis usque ad verticem suficiente para a redenção de todo o gênero huma-
capitis nulla sanitas“ [Is 1,6] inveniretur in ipso. no, mas de modo copioso, como um fluxo transbor-
dante, de modo que “da planta dos pés ao topo da
cabeça nenhuma parte ilesa” [Is 1,6] se pode en-
contrar nele.
Quantum ergo exinde, ut nec supervacua, inanis De tão grande tesouro, por conseguinte, ele enri-
aut superflua tantae effusionis miseratio redderetur, queceu a Igreja militante, para que a misericórdia
thesaurum militanti Ecclesiae acquisivit, volens suis de tamanha efusão não fosse inútil, vã ou supérflua,
thesaurizare filiis pius Pater, ut sic sit “infinitus the- querendo <como> bom Pai acumular tesouros para
saurus hominibus, quo qui usi sunt, Dei amicitiae os seus filhos, para que assim houvesse “um tesouro
participes sunt effecti” [Sap 7,14]. inexaurível para os homens, cujos usuários se torna-
ram partícipes da amizade de Deus” [Sb 7,14].
1026 Quem quidem thesauram … per beatum Petrum E este tesouro, pois, … ele o entregou para ser
caeli clavigerum, eiusque successores, suos in terris distribuído em vista da salvação aos fiéis, por meio
vicarios, commisit fidelibus salubriter dispensandum, do bem-aventurado Pedro, que traz as chaves do
et pro piis ac rationabilibus causis, nunc pro totali, céu, e de seus sucessores, seus vigários na terra; e
nunc pro partiali remissione poenae temporalis pro para, por razões piedosas e razoáveis, ser minis-
peccatis debitae, tam generaliter, quam specialiter trado misericordiosamente aos verdadeiramente
(prout cum Deo expedire cognoscerent), vere paeni- penitentes e confessados, para total ou parcial re-
tentibus et confessis misericorditer applicandum. missão da pena temporal devida pelos pecados,
quer de modo geral, quer de modo especial (segun-
do o que, diante de Deus, <os ministros> julgarem
conveniente).
1027 Ad cuius quidem thesauri cumulum beatae Dei Ge- Para o montante deste tesouro, sabe-se, contri-
nitricis omniumque electorum a primo iusto usque buem os méritos da bem-aventurada Mãe de Deus
ad ultimum merita adminiculum praestare noscun- e de todos os eleitos do primeiro até o último justo;
tur; de cuius consumptione seu minutione non est e não se deve de modo algum temer que se esgote
aliquatenus formidandum, tam propter infinita Christi ou diminua, já que os méritos de Cristo (como se
(ut praedictum est) merita, quam pro eo, quod quan- disse acima) são infinitos e, quanto mais numero-
to plures ex eius applicatione trahuntur ad iustitiam, sos os que pela sua distribuição são conduzidos à
tanto magis accrescit ipsorum cumulus meritorum. justiça, mais cresce o montante de seus méritos.
328
potest in brevi haberi tempore, si homines conver- em breve tempo esta certeza pode ser conseguida,
tant intellectum suum ad res, et non ad intellectum em medida modesta, se os homens voltarem seu in-
Aristotelis et commentatoris. telecto às coisas <mesmas>, e não ao intelecto de
Aristóteles e do <seu> comentador <= Averroes>.
2. … Quod non potest evidenter evidentia prae- 2. … Por causa da supradita evidência, não se 1029
dicta ex una re inferri vel concludi alia res, vel ex pode de uma só coisa de modo evidente inferir ou
non-esse unius nonesse alterius. concluir outra coisa, nem, do não-ser de uma, o não-
ser de outra.
3. … Quod propositiones: “Deus est”, “Deus non 3. … As proposições “Deus é” e “Deus não é” 1030
est”, penitus idem significant, licet alio modo. significam exatamente a mesma coisa, ainda que de
outro modo.
9. … Quod certitudo evidentiae non habet gradus. 9. … A certeza da evidência não tem gradação. 1031
10. … Quod de substantia materiali alia ab ani- 10. … De uma substância material que é outra coisa 1032
ma nostra non habemus certitudinem evidentiae. que nossa alma não temos a certeza da evidência.
11. ... Quod excepta certitudine fidei non erat alia 11. … Exceto a certeza da fé, não havia outra 1033
certitudo nisi certitudo primi principii vel quae in certeza senão a certeza do primeiro princípio ou a
primum principium potest resolvi. que se pode reduzir ao primeiro princípio.
14. … Quod nescimus evidenter, quod alia a Deo 14. … Não sabemos com evidência que coisas 1034
possint esse causa alicuius effectus – quod aliqua outras que Deus possam ser causa de algum efeito
causa causet efficienter, quae non sit Deus – quod – que qualquer causa que não seja Deus possa de
aliqua causa efficiens naturalis sit vel esse possit. modo eficiente causar <algo> – que exista ou que
possa existir qualquer causa eficiente natural.
15. … Quod nescimus evidenter, utrum aliquis 15. … Não sabemos com evidência que exista ou 1035
effectus sit vel esse possit naturaliter productus. possa existir qualquer efeito produzido de modo
natural.
17. … Quod nescimus evidenter, quod in aliqua 17. … Nós não sabemos com evidência que em 1036
productione concurrat subiectum. alguma produção concorra um sujeito.
21. … Quod quacumque re demonstrata nullus 21. … Demonstrada uma coisa qualquer, ninguém 1037
scit evidenter, quin excedat nobilitate omnes alias. sabe de modo evidente que ela não <talvez> supere
em excelência todas as outras.
22. … Quod quacumque re demonstrata nullus 22. … Demonstrada uma coisa qualquer, ninguém 1038
scit evidenter, quin ipsa sit Deus, si per Deum in- sabe de modo evidente que ela não <talvez> seja Deus,
telligamus ens nobilissimum. se por Deus nós entendemos o ser mais excelente.
25. … Quod aliquis nescit evidenter, quin ista 25. … Ninguém sabe de modo evidente que não 1039
possit rationabiliter concedi: “Si aliqua res est pro- se possa <talvez> razoavelmente admitir isto: “Se
ducta, Deus est productus”. uma coisa qualquer é produzida, Deus é produzido”.
26. … Quod non potest evidenter ostendi, quin 26. … Não pode ser mostrado de modo evidente 1040
quaelibet res sit aeterna. que qualquer coisa não seja eterna.
30. … Quod istae consequentiae non sunt evi- 30. … Não são evidentes as seguintes deduções: 1041
dentes: “Actus intelligendi est: ergo intellectus est. “Há um ato de intelecto, logo há o intelecto. Há um
Actus volendi est: igitur voluntas est”. ato de vontade, logo há a vontade”.
31. … Quod non potest evidenter ostendi, quin 31. … Não pode ser demonstrado de modo evi- 1042
omnia, quae apparent, sint vera. dente que tudo o que aparece seja verdadeiro.
32. … Quod Deus et creatura non sunt aliquid. 32. … Deus e o criado não são algo. 1043
39. … Quod universum est perfectissimum se- 39. … O universo é perfeitíssimo em si e em todas 1044
cundum se et secundum omnes panes suas, et quod as suas partes, e não pode haver nenhuma imperfei-
nulla imperfectio potest esse in toto nec in partibus, ção, quer no todo, quer nas partes, e por isso é ne-
et propter hoc oportet tam totum quam partes esse cessário que tanto o todo como as partes sejam eter-
329
aeterna nec transire de non-esse in esse, nec e con- nas e que não passem do não-ser ao ser vice-versa,
verso, quia ad istud sequitur necessario in universo porque a isso seguiria necessariamente a imperfei-
vel in partibus eius imperfectio. ção, seja no universo quer nas suas partes.
1045 40. … Quod quidquid est in universo, est melius 40. … Quanto existe no universo é melhor o
ipsum quam non ipsum. mesmo do que o não-mesmo.
1046 42. … Quod praemiatio bonorum et punitio ma- 42. … A recompensa dos bons e a punição dos
lorum per hoc fit, quia quando corpora atomalia maus acontece deste modo: quando as partículas atô-
segregantur, remanet quidam spiritus, qui dicitur micas são separadas, permanece um certo espírito,
intellectus, et alius, qui dicitur sensus, et isti spiri- chamado intelecto, e um outro, chamado sentimen-
tus, sicut in bono se habebant in optima dispositio- to, e estes espíritos, dado que no bom se encontra-
ne, sic se habebunt infinities secundum quod illa vam em ótima disposição, irão ainda se encontrar
individua infinities congregabuntur, et sic in hoc no infinito, de acordo com o fato de esses átomos
bonus praemiabitur, malus autem punietur, quia se reunirem infinitas vezes, e nisto o bom será pre-
infinities, quando iterabitur congregatio suorum ato- miado; o mau, ao invés, será punido, porque no in-
malium, habebit semper suam malam dispositionem. finito, quando se repetir a reunião dos seus consti-
Vel potest, dicit [Nicolaus de U.], aliter poni, quia tuintes atômicos, terá sempre a sua má disposição.
illi duo spiritus bonorum, quando dicitur corrumpi Ou então, diz ele [Nicolau de Autrecourt], se pode
suppositum eorum, fiunt praesentes alteri supposito também dizer, de outro modo, que os dois espíritos
constituto ex atomis perfectioribus. Et tunc, cum tale dos bons, quando se diz que seu sustentáculo se
suppositum sit maioris flexionis et perfectionis, id- desfez, fazem-se presentes a outro sustentáculo,
circo intelligibilia magis quam prius veniunt ad eos. constituído de átomos mais perfeitos. E então, sen-
do este sustentáculo de maior flexibilidade e per-
feição, as realidades inteligíveis vão a eles melhor
que antes.
1047 43. … Quod esse corruptibile includit repugnan- 43. … O ser corruptível inclui repugnância e con-
tiam et contradictionem. tradição.
1048 53. … Quod hoc est primum principium et non 53. … Este é o primeiro princípio, e não outros:
aliud: “Si aliquid est, aliquid est”. “Se algo é, algo é.”
1049 58. … Quod Deus potest praecipere rationali crea- 58. … Deus pode ordenar à criatura racional que
turae quod habeat ipsum odio, et ipsa oboediens plus o odeie, e quando obedece, tem ela um mérito maior
meretur quam si ipsum diligeret ex praecepto, quo- do que se o amasse em virtude do preceito, porque
niam hoc faceret cum maiori conatu et magis con- o faz com maior esforço e mais contra a própria
tra propriam inclinationem. inclinação.
O primado da Sé Romana
1050 In primo igitur capitulo responsionis tuae … Quanto ao primeiro capítulo da tua respos-
quaerimus: 1., si creditis tu et ecclesia Armenorum, ta … perguntamos: 1. se tu e a Igreja dos armênios
quae tibi obedit, omnes illos, qui in baptismo ean- que te deve obediência credes que todos aqueles
dem fidem catholicam receperunt, et postmodum a que no batismo receberam a mesma fé católica
communione fidei eiusdem Ecclesiae Romanae, e que depois se afastaram ou no futuro se afastarão
quae una sola catholica est, recesserunt vel rece- da comunhão da fé da Igreja romana, sendo só ela
dent in futurum, esse schismaticos et haereticos, si a única católica, são cismáticos e hereges, se com
330
pertinaciter divisi a fide ipsius Romanae Ecclesiae pertinácia perseverem separados da fé desta Igreja
perseverent. romana;
2. petimus, si creditis tu et Armeni tibi obedien- 2. perguntamos se tu e os armênios que te devem 1051
tes, quod nullus homo viatorum extra fidem ipsius obediência credes que nenhum daqueles que estão
Ecclesiae et obedientiam Pontificum Romanorum na condição de peregrinos poderá no fim ser salvo
poterit finaliter salvus esse. fora da fé desta Igreja e da obediência aos Roma-
nos Pontífices.
In secundo vero capitulo … quaerimus: 1., si Quanto ao segundo capítulo, … perguntamos: 1. 1052
credidisti, credis vel credere es paratus cum eccle- se tu, com a Igreja dos armênios que te deve obe-
sia Armenorum, quae tibi obedit, quod beatus Pe- diência, tens crido, crês ou estás disposto a crer que
trus plenissimam potestatem iurisdictionis accepe- o bem-aventurado Pedro recebeu do Senhor Jesus
rit super omnes fideles Christianos a Domino Iesu Cristo o pleno e total poder de jurisdição sobre to-
Christo: et quod omnis potestas iurisdictionis, quam dos os fiéis cristãos; e que todo poder de jurisdição
in certis terris et provinciis et diversis partibus or- que em determinados territórios ou províncias e em
bis specialiter et particulariter habuerunt Iudas diversas partes da terra, de modo especial e particu-
Thaddaeus et ceteri Apostoli, subiecta fuerit plenis- lar, tiveram Judas Tadeu e os outros Apóstolos es-
sime auctoritati et potestati, quam super quoscum- teve completamente sujeito à autoridade e ao poder
que in Christum credentes in omnibus partibus or- que o bem-aventurado Pedro recebeu do mesmo Se-
bis beatus Petrus ab ipso Domino Iesu Christo ac- nhor Jesus Cristo sobre qualquer um que crê em
cepit: et quod nullus Apostolus vel quicumque alius Cristo, por toda a terra; e que nenhum Apóstolo ou
super omnes Christianos nisi solus Petrus plenissi- nenhum outro, senão só Pedro, recebeu o pleníssimo
mam potestatem accepit. poder sobre todos os cristãos;
2., si credidisti, tenuisti vel credere ac tenere pa- 2. se tens crido e sustentado, tu com os armênios 1053
ratus es cum Armenis tibi subiectis, quod omnes a ti sujeitos, ou estás disposto a crer e a ter por
Romani Pontifices, qui beato Petro succedentes ca- certo que todos os Romanos Pontífices, que como
nonice intraverunt et canonice intrabunt, ipsi beato sucessores do bem-aventurado Pedro entraram e
Petro Romano Pontifici successerint et succedent in entrarão em função de acordo com os cânones, su-
eadem plenitudine, iurisdictione potestatis, quam ipse cederam e sucederão o bem-aventurado Romano
beatus Petrus accepit a Domino Iesu Christo super Pontífice Pedro na mesma plenitude de poder e de
totum et universum corpus Ecclesiae militantis. jurisdição que o bem-aventurado Pedro recebeu do
Senhor Jesus Cristo sobre todo o corpo universal
da Igreja militante;
3., si credidistis et creditis tu et Armeni tibi subiecti, 3. se tendes crido e credes, tu e os armênios a ti 1054
Romanos Pontifices qui fuerunt, et Nos qui sumus sujeitos, que os que foram Romanos Pontífices, Nós
Pontifex Romanus, ac illos qui in posterum successive agora que o somos e aqueles que no futuro sucessiva-
erunt, tamquam legitimos et potestate plenissimos mente o serão, como vigários de Cristo legítimos e
Christi vicarios, omnem potestativam iurisdictionem, locupletados de poder, receberam diretamente do pró-
quam Christus ut caput conforme in humana vita prio Cristo, sobre todo o corpo universal da igreja
habuit, immediate ab ipso Christo super totum ac militante, toda a jurisdição provida de poder que Cris-
universum corpus militantis Ecclesiae accepisse. to, como Cabeça conforme, teve na vida humana;
4., si credidisti et credis, quod omnes Romani 4. se tens crido e crês que todos os que foram 1055
Pontifices qui fuerunt, Nos qui sumus, et alii qui Romanos Pontífices, Nós que agora o somos e os
erunt in posterum, ex plenitudine potestatis et auc- outros que o serão no futuro, em virtude da supra-
toritatis praemissae potuerunt, possumus et poterunt dita plenitude de poder e autoridade, puderam, po-
immediate per Nos et eos de omnibus tamquam de demos e poderão diretamente, por quanto está em
iurisdictione Nostra ac eorum subditis iudicare et nós e neles, julgar sobre todos, enquanto sujeitos à
ad iudicandum quoscumque voluerimus ecclesias- jurisdição nossa e deles, bem como constituir e
ticos iudices constituere et delegare. delegar os que quisermos para julgar como juizes
eclesiásticos;
5., si credidisti et credis, quod in tantum fuerit, 5. se creste e crês que a suprema e excelsa autori- 1056
sit et erit suprema et praeeminens auctoritas et iuridi- dade e o poder jurídico dos que foram Romanos
331
ca potestas Romanorum Pontificum qui fuerunt, Pontífices, de nós que agora o somos e dos que no
Nostri qui sumus, et illorum qui in posterum erunt, futuro o serão, foi, é e será tão grande que não foi,
ut a nemine iudicari potuerint, potuerimus neque in nem é, nem no futuro será possível serem julgados
posterum poterunt; sed soli Deo iudicandi servati por ninguém; mas que eles foram, nós somos e eles
fuerint, servemur et servabuntur: et quod a senten- serão reservados para ser julgados por Deus só; e que,
tiis et iudiciis Nostris non potuerit neque possit nec das nossas sentenças e juízos, não se pôde, nem se
poterit ad aliquem iudicem alium appellari. pode, nem se poderá apelar a qualquer outro juiz;
1057 6., si credidisti et adhuc credis, plenitudinem po- 6. se tens crido e ainda crês que a plenitude do
testatis Romani Pontificis se extendere in tantum, poder do Romano Pontífice se estende a tal ponto
quod patriarchas, catholicon, archiepiscopos, episco- que ele pode transferir os patriarcas, os católicos,
pos, abbates et quoscumque praelatos alios de dig- os arcebispos, os bispos, os abades e qualquer ou-
nitatibus, in quibus fuerint constituti, possit ad alias tro prelado, das dignidades em que foram constituí-
dignitates maioris vel minoris iurisdictionis trans- dos, a outras dignidades de maior ou menor jurisdi-
ferre, vel exigentibus eorum criminibus ipsos de- ção, ou então, toda vez que o exijam os seus deli-
gradare et deponere, excommunicare et Satanae tra- tos, os pode degradar e depor, excomungar e entre-
dere [cf. 1 Cor 5,5]. gar a satanás [cf. 1Cor 5,5];
1058 7., si credidisti et adhuc credis, pontificalem auc- 7. se tens crido e ainda crês que a autoridade
toritatem non posse nec debere subici cuicumque pontifícia, no que concerne à instituição judiciária,
imperiali et regali aut alteri saeculari potestati, quan- à correção e à destituição, não pode nem deve ser
tum ad institutionem iudicialem, correctionem vel submissa a nenhum poder imperial e régio, nem a
destitutionem. outro <poder> secular;
1059 8., si credidisti et credis, Romanum Pontificem 8. se tens crido e crês que o Romano Pontífice
solum posse sacros generales canones condere, ple- pode sozinho promulgar os sagrados cânones ge-
nissimam indulgentiam dare visitantibus limina rais, dar a indulgência mais ampla aos que visitam
Apostolorum Petri et Pauli vel ad Terram Sanctam a sede dos Apóstolos Pedro e Paulo, aos que vão à
accedentibus, aut quibuscumque fidelibus vere et Terra Santa ou a qualquer fiel verdadeira e plena-
plene paenitentibus et confessis. mente penitente e confessado;
1060 9., si credidisti et credis, omnes, qui se contra 9. se tens crido e crês que todos aqueles que se
fidem Romanae Ecclesiae erexerunt et in finali im- sublevaram contra a fé romana e morreram em con-
paenitentia mortui fuerunt, damnatos fuisse et ad dição de impenitência final são condenados e des-
perpetua infernorum supplicia descendisse. ceram para os eternos suplícios do inferno;
1061 10., si credidisti et adhuc credis, Romanum Pon- 10. se tens crido e ainda crês que o Romano
tificem circa administrationem sacramentorum Ec- Pontífice, no que diz respeito à administração dos
clesiae, salvis semper illis, quae sunt de integritate sacramentos da Igreja, salvo o que pertence à inte-
et necessitate sacramentorum, posse diversos ritus gridade e obrigatoriedade dos sacramentos, pode
ecclesiarum Christi tolerare, et etiam concedere, ut tolerar os diversos ritos das Igrejas de Cristo e per-
serventur. mitir também que sejam conservados;
1062 11., si credidisti et credis, Armenos, qui Romano 11. se tens crido e crês que os armênios que em
Pontifici in diversis partibus orbis obediunt et for- diversas partes da terra obedecem ao Romano Pon-
mas et ritus Romanae Ecclesiae in administratione tífice e com zelo e com devoção observam as for-
sacramentorum et in ecclesiasticis officiis, ieiuniis mas e os ritos da Igreja romana na administração
et aliis caerimoniis studiose et cum devotione ob- dos sacramentos e nas funções eclesiásticas, nos
servant, bene agere et illa agendo vitam aeternam jejuns e nas outras cerimônias, procedem bem e
mereri. fazendo estas coisas merecem a vida eterna;
1063 12., si credidisti et credis, neminem de dignitate 12. se tens crido e crês que ninguém pode ser
episcopali ad archiepiscopalem, patriarchalem vel transferido da dignidade episcopal para a arquie-
catholicon posse transferri auctoritate propria, nec piscopal, ou para a patriarcal ou de katholikós, por
etiam auctoritate cuiuscumque principis saecularis, autoridade própria, nem por autoridade de qualquer
sive rex fuerit sive imperator, vel quicumque alius príncipe secular, fosse até o rei ou o imperador, ou
fultus qualicumque potestate et dignitate terrena. qualquer outro escorado por qualquer poder ou dig-
nidade terrena.
332
13., si credidisti et adhuc credis, solum Romanum 13. se tu tens crido e ainda crês que só o Romano 1064
Pontificem, dubiis emergentibus circa fidem catho- Pontífice pode pôr fim às dúvidas que surgem em
licam, posse per determinationem authenticam, cui torno da fé católica, mediante uma deliberação au-
sit inviolabiliter adhaerendum, finem imponere, et têntica, à qual se deve aderir de modo irrevogável,
esse verum et catholicum quidquid ipse auctoritate e que tudo o que ele mesmo declara ser verdade,
clavium sibi traditarum a Christo determinat esse em virtude da autoridade das chaves a ele entregues
verum, et quod determinat esse falsum et haereti- por Cristo deve ser tido como verdadeiro e católi-
cum, sit censendum. co, e o que ele declara ser falso ou herege, tal deve
ser considerado;
14., si credidisti et credis, Novum et Vetus Testa- 14. se tens crido e crês que o Novo e o Antigo 1065
mentum in omnibus libris, quos Romanae Eccle- Testamento, em todos os livros que a autoridade da
siae nobis tradidit auctoritas, veritatem indubiam per Igreja romana nos entregou, contêm a verdade cer-
omnia continere. … ta sobre todas as coisas.
O purgatório
... Quaerimus, si credidisti et credis, purgatorium … Perguntamos se tens crido e crês que existe 1066
esse, ad quod descendunt animae decedentium in o purgatório, ao qual descem as almas daqueles
gratia, quae nondum per completam paenitentiam que morreram na graça e ainda não cumpriram a
de suis satisfecerunt peccatis. satisfação dos seus pecados por uma penitência
completa.
Item si credidisti et credis, quod igne crucientur Igualmente, se tens crido e crês que elas são ator- 1067
ad tempus, et quod mox purgatae, etiam citra diem mentadas pelo fogo por um certo tempo e que, uma
iudicii, ad veram et aeternam beatitudinem per- vez purificadas, mesmo antes do dia do juízo, che-
veniant, quae in faciali Dei visione et dilectione gam à verdadeira e eterna felicidade, que consiste
consistit. na visão face a face de Deus e no amor.
333
bilibus in Christo Patribus“, subtrahis de LIII primis palavras> “Honorabilibus in Christo Patribus”,
capitulis capitula XIV: passas sob silêncio 14 dos 53 primeiros capítulos:
1. Quod Spiritus Sanctus procedit a Patre et Filio. 1. O Espírito Santo procede do Pai e do Filho.
1073 3. Quod parvuli ex primis parentibus contrahunt 3. As criancinhas contraem o pecado original dos
originale peccatum. primeiros genitores.
1074 6. Quod animae ex toto purgatae separatae a suis 6. As almas completamente purificadas, separa-
corporibus manifeste Deum vident. das de seus corpos, vêem Deus de modo manifesto.
1075 9. Quod animae decedentium in mortali peccato 9. As almas daqueles que morreram em pecado
in infernum descendant. mortal descem ao inferno.
1076 12. Quod baptismus deleat originale et actuale 12. O batismo elimina o pecado original e o pe-
peccatum. cado atual.
1077 13. Quod Christus non destruxit descendendo ad 13. Cristo não destruiu, quando desceu aos infer-
inferos inferiorem infernum. nos, o inferno inferior.
1078 15. Quod angeli a Deo fuerunt creati boni. 15. Os anjos foram criados bons por Deus.
1079 30. Quod effusio sanguinis animalium nullam 30. A efusão do sangue dos animais não opera
operatur remissionem peccatorum. nenhuma remissão dos pecados.
1080 32. Quod non iudicent comestores piscium et olei 32. Não se devem condenar aqueles que nos dias
in diebus ieiuniorum. de jejum comem peixe e óleo.
1081 39. Quod in Ecclesia catholica baptizati, si effi- 39. Os que foram batizados na Igreja Católica,
ciantur infideles et postmodum convertantur, non se se tornarem infiéis e depois novamente se con-
sunt iterum baptizandi. verterem, não devem ser batizados de novo.
1082 40. Quod parvuli ante octavum diem possunt 40. As criancinhas podem ser batizadas antes do
baptizari, et quod baptismus non potest esse in li- oitavo dia, e o batismo não pode ser dado com ne-
quore alio quam in vera aqua. nhum outro líquido que água pura.
1083 42. Quod corpus Christi post verba consecratio- 42. O corpo de Cristo das palavras da consagra-
nis sit idem numero quod corpus natum de Virgine ção é numericamente o mesmo corpo que nasceu
et immolatum in cruce. da Virgem e foi imolado sobre a cruz.
1084 45. Quod nullus, etiam sanctus, corpus Christi 45. Ninguém, nem mesmo um santo, pode con-
potest conficere, nisi sit sacerdos. sagrar o corpo de Cristo, se não é sacerdote.
1085 46. Quod est de necessitate salutis, confiteri pro- 46. É necessário para a salvação confessar, ao
prio sacerdoti vel de licentia eius, omnia peccata próprio sacerdote ou com sua licença, todos os pe-
mortalia perfecte et distincte. cados mortais, de modo completo e distinto.
334
*1091 1 Constituição “Quia quorumdam mentes”, 10 nov. 1324: João XXII, Extravagantes communes, tit. 14, c. 5 (Frdb 2,
1230-1236).
335
– Istum articulum revoco tamquam falsum et – Retrato este artigo como falso e escandaloso.
scandalosum.
1093 Respondendo ad quemdam baccalaureum [dicen- Em resposta a certo bacharel [que dizia] … que
tem] … quod Christus talia non abdicavit, illud Cristo não tinha renunciado a tais coisas, eu neguei
negavi, et dixi, quod Christus nihil sibi retinuit. esta afirmação e disse que Cristo não tinha tido nada
para si.
– Ista duo dicta revoco tamquam falsa et haereti- – Eu retrato estas duas afirmações como falsas e
ca, quia Christus loculos habuit propter infirmos, a heréticas, porque Cristo por teve bolsas para os
fidelibus oblata conservans … doentes e conservava as ofertas dos fiéis …
1094 (Correl. ultimum) Quod non plus curavit Christus de (Corolário último) Que Cristo não cuidou mais das
temporalibus quam faciunt divites de pauperibus. … coisas temporais que os ricos cuidam dos pobres…
– Nunc dico quod Christus de temporalibus cura- – Agora eu digo que Cristo cuidou das coisas tem-
vit, quia non omnia abdicavit … porais, pois não renunciou a todos as coisas …
336
tus ad caelum rapitur et in ventrem hominis non cies são trituradas pelos dentes, Cristo é levado ao
traicitur. céu e não é transferido para o ventre do homem.
1110-1116: Bula “Salvator humani generis” ao arcebispo de Riga e seus sufragâneos, 8 abr. 1374
O Sachsenspiegel [[“Speculum Saxonicum” = imagem dos costumes saxões)]] de Eike von Repgow, originalmente
escrito em latim e depois traduzido no baixo-alemão (entre jul. 1224 e 1228; cf. K.A. Eckhardt, Lehnrecht [1956] 127-
129), é considerado a coleção jurídica mais significativa da Idade Média alemã. Exerceu grande influência sobretudo na
Alemanha meridional (Schwabenspiegel). Todavia, já que alguns dos seus princípios estavam em contraste com a dou-
trina cristã, João Klenkok OESA fez pressão sobre o Papa para que lhe desaprovasse 14 artigos. Gregório XI consentiu
ao seu desejo com esta bula dirigida ao arcebispo de Riga e seus bispos sufragâneos da Livônia e da Prússia. Na mesma
questão, dirigiu-se também ao imperador Carlos IV com a carta de 15 out. 1374 (MaC 23, 157-162).
Ed.: BullTau 4, 575a-576a / BullCocq 3/II, 360b-361a / MaC 23, 160 (elencada erroneamente sob Gregório IX).
Os lugares das proposições são indicados a seguir segundo K.A. Eckhardt, Sachsenspiegel: [t. 1] Landrecht; [t. 2]
Lehnrecht (Germanenrechte, N.F., Land- und Lehnrechtsbücher; Göttingen – Berlin – Frankfurt/M. 1955; 1956) [= GR];
e segundo idem, Land- und Lehnrecht (Fontes iuris Germanici antiqui, Neue Serie 1/I u. 1/II, publicação separada dos
MGH; Hannover 1933) [= MGH].
337
1115 (12) Quod heres non tenetur de furto vel spolio (12) O herdeiro não é obrigado a responder pelo
perpetrato per illum, cui succedit in hereditate, furto ou roubo perpetrado por aquele a quem suce-
respondere: quod erroneum est saltem in foro cons- de na herança: isto é errôneo pelo menos no foro da
cientiae1. consciência1.
1116 [C e n s u r a : Scripta damnantur tamquam] falsa, [C e n s u r a : Os escritos sejam condenados como]
temeraria, iniqua et iniusta et in quibusdam haere- falsos, temerários, iníquos e injustos e, em algumas
tica et schismatica et contra bonos mores exsistentia partes, também hereges e cismáticos, resultando con-
periculosaque animabus. trários aos bons costumes e perigosos para as almas.
*1115 1 Cf. ibid. I 6 § 2; II 17 § 1 (= art. 6 62 GR 1, 78 148 e 149, aparato / = art. 7 66 MGH 25 73).
*1121 1 I 35 (1, 25119-21).
*1122 1 I 35 (1, 25217s).
*1123 1 I 35 (1, 25224-26).
*1124 1 I 1 (1, 116-18).
*1125 1 I 35 (1, 2533-5).
*1126 1 I 37 (1, 2612-14); ao mesmo tempo para propos. 17 (*1137) cf. II 1 (2, 14-6 213-18); 2 (2, 13); 3 (2, 23-26); 4 (2, 3319s);
5 (2, 42); 8 (2, 76-80); 10 (2, 97-101 112s); III 2 (3, 27s); 14 (3, 259 263); 17 (3, 346); 20 (4, 404). Cf. também a frase
de Constança 16 (*1166).
338
7. Numquid Ecclesia est in tali statu vel non, non 7. Se a Igreja esteja ou não em tal estado, não é 1127
est meum discutere, sed dominorum temporalium tarefa minha discuti-lo, mas cabe aos senhores tem-
examinare et, posito casu, confidenter agere et sub porais examiná-lo e, se for o caso, agir corajosa-
poena damnationis aeternae eius temporalia auferre1. mente e, sob pena de eterna condenação, subtrair-
lhe os bens temporais1.
8. Scimus quod non est possibile, quod vicarius 8. Sabemos que não é possível que o vigário de 1128
Christi pure ex bullis suis vel ex illis cum voluntate Cristo, meramente em virtude das suas bulas, ou
et consensu suo et sui collegii quemquam habilitet destas com a vontade e o consentimento seu e do seu
vel inhabilitet1. colégio, possa habilitar ou desabilitar alguém1.
9. Non est possibile hominem excommunicari, 9. Não é possível excomungar alguém se não ti- 1129
nisi prius et principaliter excommunicetur a se ipso1. ver sido antes, e principalmente, excomungado por
si mesmo1.
10. Nemo ad sui deteriorationem excommunica- 10. Ninguém é excomungado, suspenso ou puni- 1130
tur, suspenditur vel aliis censuris cruciatur nisi in do com outras censuras a seu dano, se não pelo que
causa Dei1. diz respeito a Deus1.
11. Maledictio vel excommunicatio non ligat 11. A maldição ou a excomunhão não liga de 1131
simpliciter, nisi quantum fertur in adversarium legis modo geral, mas somente quando é dirigida contra
Christi1. um adversário da lei de Cristo1.
12. Non est exemplificata potestas a Christo suis 12. Não há um testemunho dado por Cristo aos 1132
discipulis excommunicandi subditos, praecipue seus discípulos acerca do poder de excomungar os
propter negationem temporalium, sed e contra1. súditos, particularmente por causa da negação de
bens temporais, mas antes o contrário1.
13. Discipuli Christi non habent potestatem coacte 13. Os discípulos de Cristo não têm o poder de 1133
exigere temporalia per censuras1. exigir coercitivamente os bens temporais por meio
de censuras1.
14. Non est possibile de potentia Dei absoluta, 14. Não é possível, segundo o absoluto poder 1134
quod si papa vel alius praetendat se quovis modo de Deus, que o Papa ou um outro, se pretende
solvere vel ligare, eo ipso solvit et ligat1. desligar ou ligar de modo arbitrário, de fato desli-
gue ou ligue1.
15. Credere debemus quod solum tunc solvit vel 15. Devemos crer que só então ele liga ou desli- 1135
ligat, quando se conformat legi Christi1. ga quando se conforma com a lei de Cristo1.
16. Hoc debet catholice credi: quilibet sacerdos 16. Isto deve ser catolicamente crido: qualquer 1136
rite ordinatus habet potestatem sufficienter sacra- sacerdote devidamente ordenado tem o poder de
menta quaelibet conferendi, et per consequens conferir de maneira adequada qualquer sacramen-
quemlibet contritum a peccato quolibet absolvendi1. to, e, por conseguinte, de absolver qualquer homem
arrependido de qualquer pecado1.
17. Licet regibus, auferre temporalia a viris ec- 17. Aos reis é lícito subtrair os <bens> temporais 1137
clesiasticis, ipsis abutentibus habitualiter1. aos eclesiásticos, toda vez que estes façam habi-
tualmente mal uso deles1.
339
1138 18. Sive domini temporales sive sancti papae sive 18. Que tenham sido senhores temporais, ou san-
Caput Ecclesiae, qui est Christus, dotaverint Eccle- tos papas, ou a Cabeça da Igreja, que é Cristo, que
siam bonis fortunae vel gratiae, et excommunicave- dotaram a Igreja de bens de fortuna ou de graça e
rint eius temporalia auferentes, licet tamen propter excomungaram os que subtraírem seus bens tem-
condicionem implicitam delicto proportionabili eam porais, é lícito todavia, em virtude de uma condi-
temporalibus spoliare1. ção implícita, despojá-la dos bens temporais em
conseqüência de um delito proporcional1.
1139 19. Ecclesiasticus, immo Romanus Pontifex, potest 19. Um eclesiástico, mesmo que seja o Romano
legitime a subditis et laicis corripi, etiam accusari1. Pontífice, pode ser admoestado e também acusado
de modo legítimo pelos súditos e pelos leigos1.
340
341
nem post Missarum, Vesperorum et Matutinorum subordinadas com direito pleno, possam dar a
sollemnia, dummodo in benedictione huiusmodi solene benção depois da celebração solene das
aliquis antistes vel Sedis Apostolicae legatus missas, das Vésperas e das Matinas, contanto que
praesens non esset, elargiri possent per quasdam uma benção de tal gênero não seja presenciada
primo, por nenhum bispo ou legado da Sé Apostólica;
[2] et deinde, ut abbas et successores praefati [2] e, além disso, que o abade e os acima referi-
omnibus et singulis Canonicis praesentibus et dos sucessores tenham o poder de c o n f e r i r li-
futuris Professis eiusdem monasterii omnes mi- vremente e licitamente a todos e a cada um dos
nores necnon s u b d i a c o n a t u s , d i a c o n a t u s et cônegos presentes e futuros, professos do mesmo
p r e s b y t e r a t u s ordines statutis a iure tempori- mosteiro, todas as ordens menores, como tam-
bus c o n f e r r e libere et licite valerent, felicis re- bém o s u b d i a c o n a d o , o d i a c o n a d o e o
cordationis Alexandri papae IV praedecessoris p r e s b i t e r a d o , nos tempos estabelecidos pelo
Nostri quae incipit “Abbates”1 et aliis quibuscum- direito, não obstante a <constituição> de nosso
que constitutionibus Apostolicis contrariis nequa- predecessor o Papa Alexandre IV, de feliz me-
quam obstantibus, mória, que inicia “Abbates”1, e qualquer outra
constituição apostólica contrária,
eisdem abbati et successoribus auctoritate Aposto- ao mesmo abade e aos seus sucessores, em virtude
lica de speciali gratia per quasdam alias Litteras da autoridade apostólica, por uma graça especial,
Nostras [*1145] duximus indulgendum, prout in por uma Nossa carta [*1145], decidimos que se de-
praedictis Litteris plenius continetur. vesse concordá-lo, como expresso mais amplamen-
te na supradita carta.
Cum autem, sicut exhibita Nobis nuper pro parte Ora, visto que – como consta da solicitação re-
venerabilis Fratris Nostri Roberti episcopi Londo- centemente dirigida a Nós por intermédio do nosso
niensis petitio continebat, monasterium praefatum, venerável irmão Roberto, bispo de Londres – o
in quo idem episcopus ius obtinet patronatus, per supradito mosteiro, no qual o mesmo bispo tem o
quosdam ipsius episcopi praedecessores … funda- direito de patronato, foi fundado por alguns prede-
tum exstiterit ac Litterae et indulta huiusmodi in cessores do mesmo bispo … e visto que se reconhe-
gravem ipsius episcopi et iurisdictionis suae ordi- ce que a carta ou as concessões de tal espécie resul-
nariae ac Ecclesiae Londoniensis laesionem verge- tam em grave dano para o próprio bispo, sua jurisdi-
re dignoscantur, pro parte eiusdem episcopi Nobis ção ordinária e a Igreja de Londres, foi a Nós humil-
fuit humiliter supplicatum, ut suae et eiusdem Ec- demente dirigida a súplica, da parte do mesmo bis-
clesiae indemnitati consulere in praemissis de be- po, para que, no que precede, por benevolência apos-
nignitate Apostolica dignaremur. Nos super his … tólica dignássemos cuidar de que não haja dano a
providere volentes, huiusmodi supplicationibus in- ele e à sua Igreja. Nós, em ordem a estas coisas …
clinati Litteras et indulta huiusmodi auctoritate querendo providenciar, atendendo a essas súplicas,
Apostolica ex certa scientia tenore praesentium re- em virtude da autoridade apostólica e por conheci-
vocamus, cassamus et irritamus ac nullius esse vo- mento certo, revogamos, cassamos e anulamos, pelo
lumus roboris vel momenti. conteúdo da presente, a carta e os tais indultos, e
queremos que não tenham força nem valor algum.
*1146 1 Bonifácio VIII, Decretales (“Liber Sextus”), l. V, tit. 7, c. 3 (Frdb 2, 1084); PoR 18116.
342
Os sinodais tinham dado ao concílio, já desde o início, um caráter ecumênico, apoiando-se no princípio da supre-
macia do concílio formulado nas sessões 4ª e 5ª: “Este sínodo, legitimamente convocado no Espírito Santo, constituindo
um concílio geral e representando a Igreja católica militante, tem o seu poder diretamente de Cristo; qualquer um, de
qualquer estado ou dignidade, até papal, é obrigado a lhe obedecer no que diz respeito à fé e à extirpação do referido
cisma…” (“ipsa Synodus in Spiritu Sancto congregata legitime, generale concilium faciens, Ecclesiam catholicam
militantem repraesentans, potestatem a Christo immediate habet, cui quilibet cuiuscumque status vel dignitatis, etiam
si papalis exsistat, oboedire tenetur in his quae pertinent ad fidem et exstirpationem dicti schismatis …”; MaC 27,585B
590D / COeD3 40810-14 40922-26).
Martinho V obrigou os fiéis a reconhecer o concílio como ecumênico (*1247-1248). É objeto de discussão em que
medida tenha confirmado seus decretos. Na última sessão (45ª), de 22 abr. 1418, o Papa declarou válido tudo “aquilo
que no concílio foi discutido de maneira conciliar a respeito do tema da fé” (“omnia gesta in Concilio conciliariter circa
materiam fidei“; MaC 27,1199B / COeD3 450s, nota 4). Além dos decretos alegados na Bula “In eminentis apostolicae”
de 1 set. 1425 (cf. *1247), foi, em 9 out. 1417, expressamente aprovada também a constituição “Frequens generalium
conciliorum” da sessão 39ª (MaC 27,1159B-E / COeD3 438-443), como resulta da carta de Eugênio IV “Ad ea ex
debito”, de 5 fev. 1447 (1446 segundo a datação da Cúria) ao imperador romano Frederico III (em G. Hofmann, Con-
cilium Florentinum 1/III [Roma 1946] 111s / A. Mercati, Raccolta di concordati 1 [Roma 19542] 168s); esta constituição
estabelece, entre outras coisas, o procedimento para pôr fim a cismas: caso tenha surgido um cisma de papas, cada um
deles deve remeter-se ao concílio geral, já que só este tem autoridade para decidir sobre a questão da legitimidade.
1151-1195: Sessão 8ª, 4 mai. 1415: Decreto confirmado pelo Papa Martinho V em 22 fev. 1418
As proposições de João Wyclif, condenadas pelo Concílio de Constança na sessão 8ª e repetidas na Bula “Inter
cunctas” de 22 fev. 1418, já tinham sido condenadas, em parte, em dois sínodos de Londres (MaC 26, 695E-697B;
817A-819A). O Sínodo de Londres do ano 1382 (o “sínodo-terremoto”) condenou 24 proposições, que concordam
quase literalmente com as proposições 1-24 de Constança; além disso, em 1396, um Sínodo de Londres reprovou outras
18 proposições do Trialogus (composto em 1383). Um sínodo de Roma, no fim de 1412, avaliou os escritos de Wyclif,
o Dialogus e o Trialogus, depois de exame peculiar (BullTau 4661s / MaC 27, 505-508; cf. 1217-1220 / HaC 8,203s;
cf. 920-923). Chegou-nos também uma breve censura e uma detalhada condenação de 45 artigos de Wyclif por parte dos
teólogos do Concílio de Constança (ed. H. von der Hardt, l.c. infra, 3, 168-211 212-335).
Ed.: MaC 27, 632C-634B [= texto da sessão]; 1207E-1209B [= texto da bula] / HaC 8, 299E-301C; 909E-911D
/ H. von der Hardt, Magnum oecumenicum Constantiense Concilium 4 (Frankfurt/M.-Leipzig 1699) 153-155; 1523-
1525 / BullTau 4, 669b-671a / BullLux 1, 290b-291a / DuPlA 1/II, 49a-50b / COeD3 411-413.
As proposições condenadas raras vezes reproduzem com exatidão as palavras de Wycliff. Via de regra caricaturizam
o sentido que têm para Wyclif. Os lugares são indicados a seguir segundo a edição de estudo da Wyclif-Society:
De civili dominio (ca. 1376); cf. *1121°;
Dialogus sive Speculum ecclesiae militantis (1379): ed. A.W. Pollard (London 1886);
De eucharistia tractatus maior (1379): ed. J. Loserth (London 1892);
Tractatus de potestate papae (1379): ed. J. Loserth (London 1907);
De ordine christiano (ca. 1380), in: Opera minora, ed. J. Loserth (London 1913);
Tractatus de blasphemia (1381): ed. M.H. Dziewicki (London 1893);
De mendaciis Fratrum (1382), in: John Wiclif’s Polemical Works in Latin, ed. R. Buddensieg, t. 2 (London 1883);
Trialogus, cum Supplemento Trialogi (1383): ed. G. Lechler (Oxford 1869).
*1151 1 Muitíssimos lugares relevantes também para propos. 2 (*1152) e indiretamente (na medida em que se nega o poder do
presbítero quanto à transubstanciação) para propo. 5 (*1155) em De eucharistia, sobretudo cap. 2-5 9; Trialogus IV
2-6 27 36.
*1153 1 Trialogus IV 7 (Le. 266); cf. ibid. cap. 8 (Le. 269s); cf. De eucharistia, cap. 2 4 7 9 (Los. 53; 100 112; 190-192 227s;
291-293).
343
1154 4. Si episcopus vel sacerdos exsistat in peccato 4. Se um bispo ou um sacerdote está em pecado
mortali, non ordinat, non consecrat, non conficit, mortal, não ordena, não consagra, não realiza, não
non baptizat1. batiza1.
1155 5. Non est fundatum in Evangelio, quod Christus 5. Não está fundado no Evangelho que Cristo
Missam ordinaverit. instituiu a missa.
1156 6. Deus debet oboedire diabolo1. 6. Deus deve obedecer ao diabo1.
1157 7. Si homo fuerit debite contritus, omnis confessio 7. Pelo homem devidamente arrependido, toda
exterior est sibi superflua et inutilis1. confissão exterior é supérflua e inútil1.
1158 8. Si Papa sit praescitus et malus, et per conse- 8. Se o Papa é censurado e malvado e, por conse-
quens membrum diaboli, non habet potestatem su- guinte, membro do diabo, não tem sobre os fiéis poder
per fideles sibi ab aliquo datam, nisi forte a Caesare1. dado por ninguém, a não ser talvez pelo César1.
1159 9. Post Urbanum VI non est aliquis recipiendus 9. Depois de Urbano VI ninguém pode ser aceito
in Papam, sed vivendum est more Graecorum sub como Papa; mas é preciso viver, como os gregos,
legibus propriis1. sob leis próprias1.
1160 10. Contra Scripturam sacram est, quod viri ec- 10. É contra a sagrada Escritura que os eclesiás-
clesiastici habeant possessiones1. ticos tenham posses1.
1161 11. Nullus praelatus debet aliquem excommuni- 11. Nenhum prelado deve excomungar alguém
care, nisi prius sciat eum excommunicatum a Deo: se antes não souber que ele foi excomungado por
et qui sic excommunicat, fit ex hoc haereticus vel Deus. E quem excomungar de outro modo torna-se,
excommunicatus1. por isto mesmo, herege e excomungado1.
1162 12. Praelatus excommunicans clericum, qui 12. Um prelado que excomunga um clérigo que
appellavit ad regem vel ad concilium regni, eo ipso tenha apelado ao rei ou à assembléia do reino é, por
traditor est regis et regni1. isso mesmo, traidor do rei e do reino1.
1163 13. Illi, qui dimittunt praedicare sive audire ver- 13. Quem desiste de pregar ou de ouvir a palavra
bum Dei propter excommunicationem hominum, de Deus por uma excomunhão da parte de homens,
sunt excommunicati, et in Dei iudicio traditores é excomungado, e no dia do juízo será considerado
Christi habebuntur1. traidor do Cristo1.
1164 14. Licet alicui diacono vel presbytero praedica- 14. É lícito a um diácono ou a um presbítero
re verbum Dei absque auctoritate Sedis Apostolicae pregar a palavra de Deus sem a licença da Sé Apos-
sive episcopi catholici1. tólica ou do bispo católico1.
1165 15. Nullus est dominus civilis, nullus est praela- 15. Ninguém é senhor, prelado, bispo enquanto
tus, nullus est episcopus, dum est in peccato morta- se encontra em pecado mortal [cf. *1230]1.
li [cf. *1230]1.
*1154 1 Assim como propos. 15 (cf. l. c. ad *1165) deduzido da teoria que diz que o direito de propiedade é tão subordinado
à graça, que ao homem pecador só cabe o uso das coisas, não a propriedade.
*1156 1 Nesta forma, a frase é totalmente alheia a Wyclif; trata-se de uma dedução irônica: segundo Wyclif, um papa
indigno é o diabo, o anticristo: se Deus corroborasse, de acordo com Mt 16,19, o que o papa liga ou desliga,
obedeceria ao diabo.
*1157 1 Sugerido em De potestate papae, cap. 11 (Los. 314).
*1158 1 Sugerido em Trialogus IV 32 (Le. 358s).
*1159 1 Supplementum Trialogi, cap. 8 (Le. 446).
*1160 1 Cf. Dialogus, cap. 3-7 (Poll. 5-14); cf. Trialogus IV 15 17 (Le. 298s; 303ss).
*1161 1 Deduzido de De civili dominio I 38 (Poole 1, 274-285).
*1162 1 Cf. De blasphemia, cap. 7 (Dzw. 109-110).
*1163 1 Cf. De civili dominio I 38 (Poole 1, 275).
*1164 1 Cf. De mendaciis Fratruma (Buddensieg 4056-7).
*1165 1 Ver propos. 4 (*1154); cf. De civili dominio I 3 (Poole 1, 16-25); II 10 12 16 (Los. 2, 10532-34; 13910s; 210-213 217);
III 2 (Los. 3, 2512-33).
344
16. Domini temporales possunt ad arbitrium suum 16. Os senhores temporais podem tirar a seu cri- 1166
auferre bona temporalia ab Ecclesia, possessionatis tério os bens temporais da Igreja toda vez que os
habitualiter delinquentibus, id est ex habitu, non possuidores pecarem habitualmente, isto é, não uma
solum actu delinquentibus1. só vez, mas por hábito1.
17. Populares possunt ad suum arbitrium domi- 17. As pessoas do povo podem, a seu critério, 1167
nos delinquentes corrigere1. corrigir os senhores que cometem falta1.
18. Decimae sunt purae eleemosynae, et possunt 18. Os dízimos são também esmolas, portanto os 1168
parochiani propter peccata suorum praelatorum ad paroquianos podem negá-los a seu juízo em razão
libitum suum eas auferre1. dos pecados de seus prelados1.
19. Speciales orationes, applicatae uni personae 19. As orações particulares aplicadas a uma só 1169
per praelatos vel religiosos, non plus prosunt eidem, pessoa por prelados ou por religiosos não os ajudam,
quam generales, ceteris paribus1. em iguais condições, mais que as orações gerais1.
20. Conferens eleemosynam Fratribus est ex- 20. Quem dá esmola a frades <mendicantes> é 1170
communicatus eo facto1. por isto mesmo excomungado1.
21. Si aliquis ingreditur religionem privatam qua- 21. Quem entra numa ordem religiosa privada, 1171
lemcumque, tam possessionatorum quam mendican- seja ela de possuidores ou de mendicantes, se torna
tium, redditur ineptior et inhabilior ad observatio- mais inepto e mais incapaz de observar os manda-
nem mandatorum Dei1. mentos de Deus1.
22. Sancti, instituentes religiones privatas, sic 22. Os santos que instituíram ordens religiosas 1172
instituendo peccaverunt1. privadas pecaram pelo fato de as fundarem1.
23. Religiosi viventes in religionibus privatis non 23. Os religiosos que vivem em ordens religiosas 1173
sunt de religione christiana1. privadas não pertencem à religião cristã1.
24. Fratres tenentur per laborem manuum victum 24. Os frades devem procurar para si o necessá- 1174
acquirere, et non per mendicitatem1. – [Censura in rio à vida com o trabalho das suas mãos, não men-
utroque textu ibi addita:] Prima pars est scandalosa digando1. – [Censura acrescentada em ambos os
et praesumptuosa, pro quanto sic generaliter et in- textos:] A primeira parte é escandalosa e presunço-
distincte loquitur; et secunda erronea, pro quanto sa, na medida em que assim fala de modo genérico
asserit mendicitatem fratribus non licere. e indistinto; e a segunda é errônea, na medida em
que afirma que não é lícito aos frades mendigar.
25. Omnes sunt simoniaci, qui se obligant orare 25. Os que se comprometem a orar por outros 1175
pro aliis, eis in temporalibus subvenientibus1. que os ajudam nas necessidades temporais são to-
dos simoníacos1.
26. Oratio praesciti nulli valet1. 26. A oração de quem é reprovado não serve de 1176
nada para ninguém1.
27. Omnia de necessitate absoluta eveniunt1. 27. Tudo acontece segundo uma necessidade 1177
absoluta1.
*1166 1 Trialogus IV 37 (Le. 377); cf. De potestate papae, cap. 8 (Los. 18130), e os lugares indicados ad *1126.
*1167 1 Trialogus IV 37 (Le. 377); cf. De civili dominio II 2 (Los. 2, 11).
*1168 1 Cf. De civili dominio I 37 (Poole 1, 265-274); III 22 (Los. 4, 454s); Supplementum Trialogi, cap. 3 (Le. 420).
*1169 1 Cf. De civili dominio III 22 (Los. 4, 47815-29); Dialogus, cap. 22 23 (Poll. 44; 46s); Trialogus IV 38 (Le. 380s).
*1170 1 Ver propos. 34 (*1184).
*1171 1 Cf. De civili dominio III 2 (Los. 3, 1523-25 1617-19); ver também propos. 35 (*1185).
*1172 1 Cf. Trialogus IV 35 (Le. 361s); De blasphemia, cap. 15 (Dzw. 22919-21).
*1173 1 Cf. Trialogus IV 33 (Le. 362s).
*1174 1 Cf. Trialogus IV 28 29 (Le. 341-344; 348).
*1175 1 Cf. Trialogus IV 30 (Le. 349fs); Dialogus, cap. 22 (Poll. 43-45; 4431).
*1176 1 Cf. Dialogus, cap. 22 23 (Poll. 459-11; 476-9); Trialogus IV 30 (Le. 350).
*1177 1 Trialogus III 8 (Le. 154); cf. cap. 12 13 (Le. 286; 289s); cf. Dialogus, cap. 23 (Poll. 466s); ver também De blasphemia,
cap. 11 (Dzw. 166, nota).
345
1178 28. Confirmatio iuvenum, clericorum ordinatio, 28. A confirmação dos jovens, a ordenação dos
locorum consecratio reservantur Papae et episcopis clérigos e a consagração dos lugares são reservadas
propter cupiditatem lucri temporalis et honoris1. ao Papa e aos bispos por avidez de lucro temporal
e de honras1.
1179 29. Universitates, studia, collegia, graduationes, 29. As universidades, os estudos, os colégios, os
et magisteria in iisdem sunt vana gentilitate intro- graus acadêmicos e as suas cátedras são todos in-
ducta; tantum prosunt Ecclesiae, sicut diabolus1. troduzidos por vaidoso espírito pagão e tanto aju-
dam à Igreja quanto lhe ajuda o diabo1.
1180 30. Excommunicatio Papae vel cuiuscumque 30. Não se deve temer a excomunhão do Papa ou
praelati non est timenda, quia est censura antichristi1. de qualquer prelado, pois é censura do anticristo1.
1181 31. Peccant fundantes claustra, et ingredientes 31. Aqueles que fundam mosteiros pecam, e os
sunt viri diabolici1. que neles entram são homens diabólicos1.
1182 32. Ditare clerum est contra regulam Christi1. 32. Enriquecer o clero é contra a ordem de Cristo1.
1183 33. Silvester papa et Constantinus imperator er- 33. O Papa Silvestre e o imperador Constantino
rarunt Ecclesiam dotando1. erraram ao dotar a Igreja1.
1184 34. Omnes de ordine mendicantium sunt haereti- 34. Todos os membros das ordens mendicantes
ci, et dantes eis eleemosynas sunt excommunicati1. são hereges, e aqueles que lhes dão esmolas estão
excomungados1.
1185 35. Ingredientes religionem aut aliquem ordinem 35. Os que entram na vida religiosa ou numa
eo ipso inhabiles sunt ad observanda divina prae- ordem são, por isso mesmo, incapazes de observar
cepta [cf. *1171], et per consequens ad pervenien- os preceitos divinos [cf. *1171] e, por conseguinte,
dum ad regnum caelorum, nisi apostataverint ab de chegar ao reino dos céus, a menos que delas
iisdem1. apostasiem1.
1186 36. Papa cum omnibus clericis suis possessionem 36. O Papa e todos os seus clérigos que têm pos-
habentibus sunt haeretici, eo quod possessiones ses são hereges justamente porque possuem; assim
habent, et consentientes eis, omnes videlicet domi- também aqueles que estão de acordo com eles, a sa-
ni saeculares et ceteri laici1. ber, todos os senhores seculares e os outros leigos1.
1187 37. Ecclesia Romana est synagoga satanae [cf. 37. A Igreja romana é a sinagoga de Satanás [cf.
Apc 2,9], nec Papa est proximus et immediatus vi- Ap 2,9], e o Papa não é o vigário próximo e imedia-
carius Christi et Apostolorum1. to de Cristo e dos Apóstolos1.
1188 38. Decretales epistolae sunt apocryphae, et sedu- 38. As cartas decretais são apócrifas e afastam da
cunt a fide Christi, et clerici sunt stulti, qui student eis1. fé em Cristo, e os clérigos que as estudam são tolos1.
1189 39. Imperator et domini saeculares sunt seducti a 39. O imperador e os senhores seculares foram
diabolo, ut Ecclesiam ditarent bonis temporalibus1. seduzidos pelo diabo para que dotassem a Igreja de
bens temporais1.
*1178 1 Dialogus, cap. 24 (Poll. 5019-23); quanto à crisma, cf. também Trialogus IV 14 (Le. 294s).
*1179 1 Dialogus, cap. 26 (Poll. 5325-28).
*1180 1 Cf. Dialogus, cap. 27 (Poll. 5615-23); De potestate papae, cap. 10 12 (Los. 239s; 355).
*1181 1 Cf. Dialogus cap. 28 (Poll. 594 17-26); Supplementum Trialogi, cap. 7 (Le. 439ss); De civili dominio III 22 (Los. 4, 473s).
*1182 1 Cf. Trialogus III 17 (Le. 186s); Supplementum Trialogi, cap. 2 (Le. 412ss); Dialogus, cap. 29 36 (Poll. 6220s; 8412 8521).
*1183 1 Cf. Trialogus III 20; IV 17 18 (Le. 196; 306; 310); Supplementum Trialogi, cap. 1 2 (Le. 407s; 413); Dialogus, cap.
4 30 (Poll. 722-83; 6317-21); De civili dominio III 21 22 (Los. 4, 445; 47314-17).
*1184 1 Cf. Trialogus IV 34 (Le. 365); além disso, em geral, seus escritos polêmicos contra as “seitas”.
*1185 1 Cf. Trialogus IV 39 (Le. 385s); sugerido no Dialogus, cap. 26 (Poll. 55).
*1186 1 Cf. Trialogus IV 18 (Le. 307-311); Dialogus, cap. 3 4 7 17 35 (Poll. 6s; 812-15; 145-8; 3417-19; 82s); De civili dominio
III 14 23 (Los. 3, 261; 4, 498).
*1187 1 Cf. Trialogus III 17 (Le. 186); IV 22 (Le. 325); Dialogus, cap. 4 20 (Poll. 815s; 4112); De potestate papae, cap. 8 (Los.
1653s); De ordine christiano, cap. 3 (Los. 13325).
*1188 1 Cf. Trialogus IV 6 (Le. 262s); Dialogus, cap. 7 13 (Poll. 1417-21; 266).
*1189 1 Trialogus IV 18 (Le. 310); De potestate papae, cap. 12 (Los. 317) e em geral; vertambém props. 32 e 33 (*1182s).
346
40. Electio Papae a cardinalibus a diabolo est 40. A eleição do Papa por parte dos cardeais foi 1190
introducta1. introduzida pelo diabo1.
41. Non est de necessitate salutis credere, Roma- 41. Não é necessário para a salvação crer que a 1191
nam Ecclesiam esse supremam inter alias ecclesias. Igreja romana seja a superior a todas as outras igre-
– [Censura:] Error est, si per Romanam Ecclesiam jas. – [Censura:] É um erro, se por Igreja romana
intelligatur universalis Ecclesia aut concilium ge- se entende a Igreja universal ou um concílio geral,
nerale, aut pro quanto negaret primatum Summi ou enquanto se nega o primado do Sumo Pontífice
Pontificis super alias Ecclesias particulares. sobre outras Igrejas particulares.
42. Fatuum est credere indulgentiis Papae et epis- 42. É tolice acreditar nas indulgências do Papa e 1192
coporum1. dos bispos1.
43. Iuramenta illicita sunt, quae fiunt ad corrobo- 43. Os juramentos feitos para dar maior força aos 1193
randum humanos contractus et commercia civilia1. contratos dos homens e ao comércio civil são ilícitos1.
44. Augustinus, Benedictus et Bernardus damna- 44. Agostinho, Bento e Bernardo são condena- 1194
ti sunt, nisi paenituerint de hoc, quod habuerunt dos, a não ser que tenham feito penitência por ter
possessiones et instituerunt et intraverunt religiones: tido posses, ter instituído ordens religiosas e ter en-
et sic, a Papa usque ad ultimum religiosum, omnes trado nelas; e assim, do Papa até o último religioso,
sunt haeretici1. são todos hereges1.
45. Omnes religiones indifferenter introductae 45. Todas as ordens religiosas, sem distinção, 1195
sunt a diabolo1. foram introduzidas pelo diabo1.
[Censura sumária para todos os 45 artigos: veja *1251; cf. também *1225].
*1190 1 Cf. Supplementum Trialogi, cap. 4 9 (Le. 426; 450s); Dialogus, cap. 11 (Poll. 2215-23).
*1192 1 Cf. Trialogus IV 32 (Le. 359); Dialogus, cap. 13 (Poll. 2513-16).
*1193 1 Cf. Dialogus, cap. 13 (Poll. 2611-13)
*1194 1 Cf. Dialogus, cap. 15 32 (Poll. 318-9; 764); Supplementum Trialogi, cap. 1 (Le. 409); De potestate papae, cap. 10 (Los.
240); De blasphemia, cap. 15 (Dzw. 22929).
*1195 1 Cf. Dialogus, cap. 21 (Poll. 428); Trialogus IV 32 34 (Le. 360; 366s); Supplementum Trialogi, cap. 7 (Le. 440).
347
cramentum, tamen hoc non obstante sacrorum ca- do vinho, não obstante isso, a admirável autoridade
nonum auctoritas laudabilis et approbata consuetu- dos sagrados cânones e o autorizado costume da
do Ecclesiae servavit et servat, quod huiusmodi Igreja têm declarado e declaram que este sacramento
sacramentum non debet confici post coenam, ne- não deve ser administrado depois da refeição nem a
que a fidelibus recipi non ieiunis, nisi in casu infir- fiéis que não estão em jejum, salvo no caso de doen-
mitatis aut alterius necessitatis a iure vel Ecclesia ça ou de outra necessidade, concedido ou admitido
concesso vel admisso. pelo direito ou pela Igreja.
1199 Et sicut haec consuetudo ad evitandum aliqua E como este costume foi introduzido, com razão,
pericula et scandala rationabiliter introducta est, sic para evitar perigos e escândalos, com análoga ou
potuit simili aut maiori ratione introduci aut ratio- maior razão foi introduzido e observado este outro:
nabiliter observari, quod, licet in primitiva Ecclesia se bem que na Igreja primitiva este sacramento era
huiusmodi sacramentum reciperetur a fidelibus sub recebido pelos fiéis sob ambas as espécies, mais
utraque specie, tamen postea a conficientibus sub tarde, porém, era recebido pelos consagrantes sob
utraque specie et a laicis tantummodo sub specie ambas as espécies, mas pelos leigos somente sob a
panis suscipiatur, cum firmissime credendum sit et espécie do pão, pois é preciso crer com toda a fir-
nullatenus dubitandum, integrum Christi corpus et meza e sem sombra de dúvida que o corpo e o san-
sanguinem tam sub specie panis quam sub specie gue de Cristo estão verdadeiramente contidos, na
vini veraciter contineri. Unde, cum huiusmodi con- sua integridade, tanto sob a espécie do pão, como
suetudo ab Ecclesia et sanctis Patribus rationabili- sob a do vinho. Portanto, visto que foi introduzido
ter introducta et diutissime observata sit, habenda com boa razão pela Igreja e pelos santos Padres e
est pro lege, quam non licet reprobare aut sine Ec- observada durante muitíssmo tempo, este costume
clesiae auctoritate pro libito mutare. deve ser considerado como uma lei que não pode
ser reprovada nem modificada arbitrariamente, sem
o consentimento da Igreja.
1200 Quapropter dicere, quod hanc consuetudinem aut É errôneo sustentar que a observância deste cos-
legem observare sit sacrilegum aut illicitum, censeri tume ou lei é sacrílega ou ilícita; e os que se obsti-
debet erroneum, et pertinaciter asserentes oppositum nam em sustentar o contrário devem ser tratados
praemissorum tamquam haeretici arcendi sunt … como hereges …
348
versalis sancta Ecclesia tantum est una, sicut tan- universal é única, como somente um é o número de
tum unus est numerus omnium praedestinatorum1. todos os predestinados1.
2. Paulus numquam fuit membrum diaboli, licet 2. Paulo nunca foi membro do demônio, se bem 1202
fecit quosdam actus actibus ecclesiae malignantium que tenha cometido atos semelhantes aos da igreja
consimiles1. dos malignos1.
3. Praesciti non sunt partes Ecclesiae, cum nulla 3. Os não predestinados não fazem parte da Igre- 1203
pars eius finaliter excidat ab ea, eo quod praedesti- ja, porque nenhum daqueles que a ela pertencem se
nationis caritas, quae ipsam ligat, non excidit [cf. 1 separará dela ao fim, pois a caridade da predestina-
Cor 13,8]1. ção que a reúne não cessará jamais [cf. 1 Cor 13,8]1.
4. Duae naturae, divinitas et humanitas, sunt unus 4. As duas naturezas, a divindade e a humanida- 1204
Christus1. de, são um só Cristo1.
5. Praescitus, etsi aliquando est in gratia secun- 5. O não predestinado, se bem que no presente 1205
dum praesentem iustitiam, tamen numquam est pars possa às vezes estar em estado de graça, nunca faz
sanctae Ecclesiae; et praedestinatus semper manet parte da santa Igreja, enquanto o predestinado per-
membrum Ecclesiae, licet aliquando excidat a gra- manece sempre membro da Igreja, também se às
tia adventitia, sed non a gratia praedestinationis1. vezes pode ser privado de uma graça adventícia,
jamais todavia da graça da predestinação1.
6. Sumendo Ecclesiam pro convocatione praedes- 6. Se se entende a Igreja como assembléia dos 1206
tinatorum, sive fuerint in gratia, sive non secundum predestinados, estejam ou não atualmente em esta-
praesentem iustitiam, isto modo Ecclesia est articu- do de graça, ela é artigo de fé1.
lus fidei1.
7. Petrus non est nec fuit caput Ecclesiae sanctae 7. Pedro não foi e não é a cabeça da santa Igreja 1207
catholicae1. católica1.
8. Sacerdotes quomodolibet criminose viventes, 8. Os sacerdotes que vivem em pecado contami- 1208
sacerdotii polluunt potestatem, et sicut filii infide- nam o poder sacerdotal e, como filhos infiéis, têm
les sentiunt infideliter de septem sacramentis Ec- um conceito infiel dos sete sacramentos da Igreja, do
clesiae, de clavibus, officiis, censuris, moribus, cae- poder das chaves, dos ofícios, das censuras, dos cos-
remoniis, et sacris rebus Ecclesiae, veneratione re- tumes, das cerimônias, das coisas sagradas, da vene-
liquiarum, indulgentiis et ordinibus1. ração das relíquias, das indulgências, das ordens1.
9. Papalis dignitas a Caesare inolevit, et Papae 9. A dignidade papal teve origem no imperador, 1209
praefectio et institutio a Caesaris potentia emanavit1. e a designação e a entronização do Papa têm sido
realizadas pelo poder imperial1.
10. Nullus sine revelatione assereret rationabili- 10. Ninguém sem uma especial revelação pode 1210
ter de se vel alio, quod esset caput ecclesiae parti- razoavelmente afirmar, de si ou de um outro, que é
*1201 1 De ecclesia, cap. 1 C (S. Harrison Thomson, Magistri Johannis Hus Tractatus de Ecclesia [Cambridge 1956] 3); cf.
ibid., cap. 2 A e D (Thomson 8 10) e alhures.
*1202 1 Ibid., cap. 3 H (Thomson 18); cf. cap. 4 H (Th. 27s).
*1203 1 Ibid., cap. 3 F (Th. 15); cf. também cap. 4 D (Th. 23). Hus distingue os predestinados na Igreja e os predestinados da
Igreja, admitindo o primeiro conceito e negando o segundo.
*1204 1 Ibid., cap. 4 B (Th. 21): artigo truncado, que não permite concluir qual é mesmo o objetivo. Depois “… sunt unus
Christus” (“… são um só Cristo”) é preciso acrescentar: “qui est caput unicum sponsae suae universalis Ecclesiae,
quae est praedestinatorum universitas” (“que é a Cabeça única de sua esposa, a Igreja universal, que é o conjunto dos
predestinados”). Hus substituiu o conceito costumeiro de “Igreja universal” (“Ecclesia universalis”), na qual o papa é
a cabeça, por um outro conceito, que inclui tanto a Igreja triunfante como a “dormiente” (que sofre no purgatório em
vista da expiação); por isso, só o Cristo é a Cabeça da Igreja universal, mais exatamente, a Cabeça exterior como Deus,
a interior como ser humano; o papa fica praticamente excluído.
*1205 1 Ibid., cap. 4 H (Th. 28) [para a 1ª parte da propos.]; cf. de resto cap. 4 D H; cap. 5 D (Th. 23 27 34).
*1206 1 Ibid., cap. 7 C (Th. 45); cf. cap. 5 F G (Th. 35-37).
*1207 1 Ibid., cap. 9 G (Th. 65); cf. cap. 7 G; 9 B (Th. 51s; 58).
*1208 1 Ibid., cap. 11 D (Th. 93).
*1209 1 Ibid., cap. 15 E (Th. 122); cf. cap. 13 C; 15 D (Th. 104 122).
349
cularis, nec Romanus Pontifex est caput Romanae cabeça de uma Igreja particular; e o Romano Pon-
Ecclesiae1. tífice não é a cabeça da Igreja de Roma1.
1211 11. Non oportet credere, quod iste, quicumque 11. Não se é obrigado a crer que algum Romano
est Romanus Pontifex, sit caput cuiuscumque par- Pontífice seja a cabeça de alguma santa Igreja par-
ticularis ecclesiae sanctae, nisi Deus eum praedes- ticular, se Deus não o tiver predestinado1.
tinaverit1.
1212 12. Nemo gerit vicem Christi vel Petri, nisi se- 12. Ninguém faz as vezes de Cristo ou de Pedro
quatur eum in moribus: cum nulla alia sequela sit se não o imitar nos costumes: nenhuma outra se-
pertinentior, nec aliter recipiat a Deo procurato- qüela, de fato, deve ser mais fiel. Do contrário,
riam potestatem; quia ad illud officium vicaria- não se recebe de Deus o poder delegado, porque a
tus requiritur et morum conformitas et instituentis conformidade dos costumes e a autoridade daque-
auctoritas1. le que o delega são requeridos para o ofício de
vigário1.
1213 13. Papa non est verus et manifestus successor 13. O Papa não é o sucessor certo e verdadeiro
Apostolorum principis Petri, si vivit moribus con- de Pedro, príncipe dos apóstolos, se vive de modo
trariis Petro: et si quaerit avaritiam, tunc est vica- contrário ao de Pedro; e se pratica a avareza, é o
rius Iudae Iscarioth. Et pari evidentia Cardinales non vigário de Judas Iscariotes. É igualmente evidente
sunt veri et manifesti successores collegii aliorum que os cardeais não são os sucessores certos e ver-
Apostolorum Christi, nisi vixerint more Apostolo- dadeiros do colégio dos apóstolos de Cristo, se não
rum, servantes mandata et consilia Domini nostri conduzirem uma vida semelhante à dos Apóstolos,
Iesu Christi1. observando os mandamentos e os conselhos de
nosso Senhor Jesus Cristo1.
1214 14. Doctores ponentes, quod aliquis per censu- 14. Alguns doutores afirmam que quem deve re-
ram ecclesiasticam emendandus, si corrigi noluerit, ceber uma censura eclesiástica, mas não se quer
saeculari iudicio est tradendus, pro certo sequuntur corrigir, deve ser entregue ao braço secular. Eles
in hoc pontifices, scribas et pharisaeos, qui Chris- seguem nisso incontestavelmente os sumos sacer-
tum non volentem eis oboedire in omnibus, dicentes: dotes, os escribas e os fariseus, os quais, dizendo:
“Nobis non licet interficere quemquam” [Io 18,31], “A nós não é permitido matar ninguém” [Jo 18,31],
ipsum saeculari iudicio tradiderunt; et tales sunt entregaram ao braço secular o Cristo, que não quis
homicidae graviores quam Pilatus1. obedecer-lhes em tudo; e assim são homicidas mais
culpados que Pilatos1.
1215 15. Oboedientia ecclesiastica est oboedientia se- 15. A obediência eclesiástica é uma obediência
cundum adinventionem sacerdotum Ecclesiae prae- inventada pelos sacerdotes da Igreja contra a vonta-
ter expressam auctoritatem Scripturae1. de expressa da Escritura1.
1216 16. Divisio immediata humanorum operum est: 16. A distinção imediata dos atos humanos con-
quod sunt vel virtuosa vel vitiosa, quia si homo est siste em que são virtuosos ou viciosos: se alguém é
vitiosus et agit quidquam, tunc agit vitiose; et si est vicioso e faz algo, age como vicioso; se é virtuoso
virtuosus et agit quidquam, tunc agit virtuose; quia e faz algo, age como virtuoso. Pois assim como o
sicut vitium, quod crimen dicitur seu mortale pec- vício, que é chamado delito ou pecado mortal, con-
catum, inficit universaliter actus hominis vitiosi, sic tamina de modo geral os atos do vicioso, assim a
virtus vivificat omnes actus hominis virtuosi1. virtude vivifica todos os atos do virtuoso1.
1217 17. Sacerdotes Christi viventes secundum legem 17. Os sacerdotes de Cristo que vivem habitual-
eius, et habentes Scripturae notitiam et affectum ad mente segundo a sua lei e que têm conhecimento
350
aedificandum populum, debent praedicare non obs- da Escritura e o desejo de edificar o povo, devem
tante praetensa excommunicatione. Et infra: Quod si pregar, não obstante uma pretensa excomunhão. E
Papa vel aliquis praelatus mandat sacerdoti sic dis- mais adiante: Se o Papa ou um outro superior man-
posito non praedicare, non debet subditus oboedire1. da a um sacerdote com estas disposições não pre-
gar, o subordinado não deve obedecer1.
18. Quilibet praedicantis officium de mandato 18. Quem acede ao sacerdócio, recebe por man- 1218
accipit, qui ad sacerdotium accedit; et illud manda- dato o ofício de pregar; e deve executar o mandato,
tum debet exsequi, praetensa excommunicatione non não obstante uma pretensa excomunhão1.
obstante1.
19. Per censuras ecclesiasticas excommunicatio- 19. Com as censuras eclesiásticas da excomunhão, 1219
nis, suspensionis et interdicti ad sui exaltationem da suspensão e do interdito, o clero para sua própria
clerus populum laicalem sibi suppeditat, avaritiam exaltação subjuga o povo leigo, multiplica a cobiça,
multiplicat, malitiam protegit, et viam praeparat esconde a malícia e prepara a estrada do anticristo.
antichristo. Signum autem evidens est, quod ab an- Isso é sinal evidente de que provêm do anticristo
tichristo tales procedunt censurae, quas vocant in tais censuras, que nos seus processos chamam ful-
suis processibus fulminationes, quibus clerus prin- minações e das quais o clero se serve principalmen-
cipalissime procedit contra illos, qui denudant ne- te contra os que denunciam a malícia do anticristo
quitiam antichristi, quam clerus pro se maxime que o clero amplamente se tem apropriado1.
usurpavit1.
20. Si Papa est malus et praesertim, si est praes- 20. Se o Papa é mau e sobretudo pré-conhecido 1220
citus, tunc ut Iudas Apostolus est diabolus, fur, et <por Deus como perdido>, então, como o apóstolo
filius perditionis, et non est caput sanctae militantis Judas, é um demônio, um ladrão, um filho da per-
Ecclesiae, cum nec sit membrum eius1. dição e não é a cabeça da santa Igreja militante, já
que nem é membro dela1.
21. Gratia praedestinationis est vinculum, quo 21. A graça da predestinação é o laço que une 1221
corpus Ecclesiae et quodlibet eius membrum iungi- indissoluvelmente o corpo da Igreja e cada um de
tur Christo capiti insolubiliter1. seus membros a Cristo, a cabeça1.
22. Papa vel praelatus malus et praescitus est 22. O Papa ou o prelado mau e pré-conhecido 1222
aequivoce pastor, et vere fur et latro1. <por Deus como perdido> é falsamente chamado
pastor; na realidade é ladrão e assaltante1.
23. Papa non debet dici ‘Sanctissimus’, etiam 23. O Papa não deve ser chamado “santíssimo” 1223
secundum officium; quia alias rex deberet etiam dici nem mesmo em razão do ofício, porque então tam-
sanctissimus secundum officium, et tortores et prae- bém o rei deveria chamar-se santíssimo pelo seu
cones dicerentur sancti, immo etiam diabolus debe- ofício, e os verdugos e os bandidos, santos. Mais:
ret dici sanctus, cum sit officiarius Dei1. também o diabo deveria chamar-se santo, porque é
servidor de Deus1.
24. Si Papa vivat Christo contrarie, etiamsi as- 24. Se o Papa conduz uma vida contrária a Cris- 1224
cenderet per ritam et legitimam electionem secun- to, mesmo que tenha subido a sua função por uma
dum constitutionem humanam vulgatam, tamen eleição canônica e legítima segundo a constituição
aliunde ascenderet quam per Christum, dato etiam humana vigente, ele <de fato> estaria subindo por
quod intraret per electionem a Deo principaliter outra parte que por Cristo, mesmo se ascendesse
factam; nam Iudas Iscariothes rite et legitime est pela eleição feita em primeira instância por Deus.
351
electus a Deo Christo Iesu ad episcopatum, et ta- Pois Judas Iscariotes, em regra e legitimamente elei-
men ascendit aliunde in ovile ovium1. to ao apostolado por Cristo Jesus, que é Deus, toda-
via subiu por outra parte ao redil das ovelhas1.
1225 25. Condemnatio 45 articulorum Iohannis Wicleff, 25. A condenação dos 45 artigos de João Wyclif
per doctores facta, est irrationabilis et iniqua et male emitida pelos doutores é irracional, iníqua e mal-
facta: ficta est causa per eos allegata, videlicet ex eo feita; além disso, a causa por eles alegada é fingida,
quod ‘nullus eorum sit catholicus, sed quilibet eorum a saber, porque “nenhum deles é católico, mas são
aut est haereticus, aut erroneus, aut scandalosus’1. todos hereges ou errôneos ou escandalosos”1.
1226 26. Non eo ipso, quod electores, vel maior pars 26. Se os eleitores ou a maioria deles se declara-
eorum consenserint viva voce secundum ritum ho- ram de acordo a viva voz sobre uma pessoa segundo
minum in personam aliquam, eo ipso illa persona os usos e costumes humanos, nem por isso ela é le-
est legitime electa, vel eo ipso est verus et manifestus gitimamente eleita, ou nem por isso é verdadeiro e
successor vel vicarius Petri Apostoli, vel alterius manifesto sucessor ou vigário do Apóstolo Pedro ou
Apostoli in officio ecclesiastico: unde, sive electores de um outro Apóstolo num ofício eclesiástico. Por-
bene vel male elegerint, operibus electi debemus tanto, tenham os eleitores escolhidos bem ou mal,
credere: nam eo ipso, quo quis copiosius operatur nós devemos crer naquilo que o eleito faz, pois quanto
meritorie ad profectum Ecclesiae, habet a Deo ad mais alguém trabalha meritoriamente para o progresso
hoc copiosius facultatem1. da Igreja, mais recebe poder de Deus para este fim1.
1227 27. Non est scintilla apparentiae, quod oporteat 27. Não existe o mínimo indício de que, para
esse unum caput in spiritualibus regens Ecclesiam, governar a Igreja nas coisas espirituais, deva haver
quod semper cum Ecclesia ipsa militante conversetur uma única cabeça que sempre deve estar junto à
et conservetur1. Igreja militante e ser conservada1.
1228 28. Christus sine talibus monstruosis capitibus per 28. Cristo governaria melhor a sua Igreja mediante
suos veraces discipulos sparsos per orbem terrarum seus verdadeiros discípulos espalhados sobre a ter-
melius suam Ecclesiam regularet1. ra, sem esses chefes monstruosos1.
1229 29. Apostoli et fideles sacerdotes Domini strenue 29. Os Apóstolos e os fiéis sacerdotes do Senhor
in necessariis ad salutem regularunt Ecclesiam, administraram corajosamente a Igreja em tudo o que
antequam Papae officium foret introductum: sic é necessário para a salvação, antes que fosse
facerent, deficiente per summe possibile Papa, us- introduzida a função papal; e assim fariam até o dia
que ad diem iudicii1. do juízo se viesse a faltar o Papa, coisa bem possível1.
1230 30. Nullus est dominus civilis, nullus est praela- 30. Ninguém é senhor civil, nem prelado, nem
tus, nullus est episcopus, dum est in peccato morta- bispo, se está em pecado mortal [cf. *1165]1.
li [cf. *1165]1.
*1224 1 Ibid. (Nbg. 1, fol. 259r); cf. De ecclesia, cap. 5 F G; 14 G (Th. 35-37 115).
*1225 1 Responsio ad scripta Stephani Palecz (Nbg. 1, fol. 260r); cf. De ecclesia, cap. 23 [letra] O (Th. 236); Defensio quorum-
dam articolorum Iohannis Wiclefs (escrita em 1412) Nbg. 1, fol. 111r-117r; Responsio ad scripta Stanislai de Znojma
(Nbg. 1, fol. 265v); ali, Hus assume de Wyclif, expressamente, só as proposições de Constança 4 13 15 16 18 32 33.
*1226 1 Responsio ad scripta Stanislai de Znojma, cap. 2 (Nbg. 1, fol. 271rv).
*1227 1 Ibid., cap. 5 (Nbg. 1, fol. 277r).
*1228 1 Ibid., cap. 5 (Nbg. 1, fol. 277v); cf. De ecclesia, cap. 15 A (Thomson 119).
*1229 1 Responsio ad scripta Stanislai de Znojma, cap. 8 (Nbg. 1, fol. 283v); cf. De ecclesia, cap. 15 A C D H (Th. 119 121 127).
*1230 1 De decimis (Nbg. 1, fol. 128r), na defesa da propos. 15 de Constança, de Wyclif (*1165); cf. a Responsio ad scripta
Stephani Palecz (Nbg. 1, fol. 256r).
352
do Sínodo de Paris e apresentou uma resolução mais suave. Falta uma confirmação expressa por parte de Martinho V.
Uma condenação do tiranicídio se encontra todavia na constituição de Paulo V, “Cura dominici gregis”, de 24 jan. 1615
(BullTau 12,269).
Ed.: MaC 27, 765E-766A / COeD3 4328-19 / v.d. Hardt, l.c. ad *1151°, 4, 439s.
*1247 1 Cf. as notas prévias sobre a validade dos decfretos deste concílio: *1151°.
353
Praga, factae de personis eorum, libris et documentis pelo sagrado Concílio geral de Constança a respei-
per sacrum generale Constantiense Concilium, fue- to das suas pessoas, livros e documentos, foram
rint rite et iuste factae, et a quolibet catholico pro pronunciadas no modo devido e justo e como tais
talibus tenendae et firmiter asserendae. devem ser sustentadas e solidamente afirmadas por
todo católico.
1250 8. Item, utrum credat, teneat, asserat, Iohannem 8. Igualmente, se crê, sustenta e afirma que João
Wicleff de Anglia, Iohannem Hus de Bohemia et Wyclif da Inglaterra, João Hus da Boêmia e Jerôni-
Hieronymum de Praga fuisse haereticos et pro hae- mo de Praga foram hereges e devem ser chamados
reticis nominandos ac deputandos, et libros et e considerados hereges, e que seus livros e suas
doctrinas eorum fuisse et esse perversos, propter doutrinas foram e são perversas, e que foram con-
quos et quas, et eorum pertinacias, per sacrum denados como hereges pelo sagrado Concílio de
Concilium Constantiense pro haereticis sunt con- Constança por causa destes <livros e doutrinas> e
demnati. por causa de sua pertinácia.
1251 11. Item, specialiter litteratus interrogetur, utrum 11. Igualmente pergunte-se de modo especial ao
credat, sententiam sacri Constantiensis Concilii su- letrado, se crê que a sentença do sagrado Concílio
per quadraginta quinque Iohannis Wicleff, et Iohannis de Constança pronunciada sobre os quarenta e cin-
Hus triginta articulis superius descriptis latam, fore co artigos de João Wyclif e sobre os trinta artigos
veram et catholicam: scilicet, quod supradicti de João Hus acima descritos, foi verdadeira e ca-
quadraginta quinque articuli Ioannis Wicleff et tólica, isto é, que os acima citados quarenta e cin-
Iohannis Hus triginta non sunt catholici, sed quidam co artigos de João Wyclif e os trinta de João Hus
ex eis sunt notorie haeretici, quidam erronei, alii não são católicos, mas que alguns deles são noto-
temerarii et seditiosi, alii piarum aurium offensivi. riamente heréticos, alguns errôneos, outros teme-
rários e sediciosos, outros ofensivos aos ouvidos
piedosos.
1252 12. Item, utrum credat et asserat, quod in nullo 12. Igualmente, se crê e afirma que em nenhum
casu sit licitum iurare. caso é lícito jurar.
1253 13. Item, utrum credat, quod ad mandatum iudi- 13. Igualmente, se crê que seja lícito o juramento
cis iuramentum de veritate dicenda, vel quodlibet de dizer a verdade, exigido pelo juiz, ou outro <ju-
aliud ad causam opportunum, etiam pro purificatio- ramento> qualquer que seja útil para a causa, inclu-
ne infamiae faciendum, sit licitum. sive para limpar seu nome de alguma desonra.
1254 14. Item, utrum credat, quod periurium scienter 14. Igualmente, se crê que o perjúrio conscia-
commissum, ex quacumque causa vel occasione, pro mente cometido por qualquer motivo ou ocasião,
conservatione vitae corporalis propriae vel alterius, para conservar a própria vida corpórea ou a de ou-
etiam in favorem fidei, sit mortale peccatum. trem, inclusive para vantagem da fé, é pecado
mortal.
1255 15. Item, utrum credat, quod deliberato animo 15. Igualmente, se crê que aquele que despreza
contemnens ritum Ecclesiae, caeremonias exorcismi deliberadamente os ritos da Igreja, as cerimônias
et catechismi, aquae baptismatis consecratae, peccet do exorcismo, do catecismo e da consagração da
mortaliter. água para o batismo, peca mortalmente.
1256 16. Item, utrum credat, quod post consecrationem 16. Igualmente, se crê que, depois da consagra-
sacerdotis in sacramento altaris sub velamento panis ção pelo sacerdote, no sacramento do altar, sob o
et vini non sit panis materialis et vinum materiale, véu do pão e do vinho, não estão o pão material e
sed idem per omnia Christus, qui fuit in cruce pas- o vinho material, mas, em plena identidade, o Cris-
sus et sedet ad dexteram Patris. to, que padeceu sobre a cruz e está sentado à di-
reita do Pai.
1257 17. Item, utrum credat et asserat, quod facta con- 17. Igualmente, se crê e afirma que, uma vez feita
secratione per sacerdotem, sub sola specie panis a consagração pelo sacerdote, ainda que somente
tantum, et praeter speciem vini, sit vera caro Chris- sob a espécie do pão – independentemente da espé-
ti et sanguis et anima et deitas et totus Christus, ac cie do vinho –, há a verdadeira carne de Cristo e o
sangue e a alma e a divindade e tudo de Cristo, e
354
idem corpus absolute et sub unaqualibet illarum que o mesmo corpo está de modo perfeito sob qual-
specierum singulariter. quer uma destas espécies singularmente.
18. Item, utrum credat, quod consuetudo com- 18. Igualmente, se crê que o costume, observa- 1258
municandi personas laicales sub specie panis tan- do pela Igreja universal e aprovado pelo sagrado
tum, ab Ecclesia universali observata, et per sacrum Concílio de Constança, de dar a comunhão aos
Concilium Constantiae approbata, sit servanda sic, leigos somente sob a espécie do pão, deve ser
quod non liceat eam reprobare aut sine Ecclesiae mantido, de modo que não é lícito desaprová-lo
auctoritate pro libito immutare. Et quod dicentes ou arbitrariamente mudá-lo sem a autoridade da
pertinaciter oppositum praemissorum, tamquam Igreja. E que aqueles que dizem de modo pertinaz
haeretici vel sapientes haeresim, sint arcendi et o contrário das coisas acima ditas, devem ser afas-
puniendi. tados e punidos como hereges ou como cheirando
a heresia.
19. Item, utrum credat, quod christianus contem- 19. Igualmente, se crê que o cristão que despreza 1259
nens susceptionem sacramentorum confirmationis, o recebimento dos sacramentos da confirmação, da
vel extremae unctionis, aut solemnizationis matri- extrema-unção ou da celebração solene do matri-
monii, peccet mortaliter. mônio, peca mortalmente.
20. Item, utrum credat, quod christianus ultra 20. Igualmente, se crê que um cristão, para sua 1260
contritionem cordis, habita copia sacerdotis idonei, salvação, além da contrição do coração, quando há
soli sacerdoti de necessitate salutis confiteri tenea- a disponibilidade de um sacerdote idôneo, deve con-
tur, et non laico seu laicis quantumcumque bonis et fessar-se só ao sacerdote e não a um leigo ou a lei-
devotis. gos, mesmo que sejam bons e devotos.
21. Item, utrum credat, quod sacerdos in casibus 21. Igualmente, se crê que o sacerdote, nos casos 1261
sibi permissis possit peccatorem confessum et con- de sua competência, pode absolver dos pecados um
tritum a peccatis absolvere, et sibi paenitentiam pecador que se confessou e está arrependido, e
iniungere. impor-lhe a penitência.
22. Item, utrum credat, quod malus sacerdos cum 22. Igualmente, se crê que um sacerdote indigno, 1262
debita materia et forma et cum intentione faciendi, com a matéria e forma devidas e com a intenção de
quod facit Ecclesia, vere conficiat, vere absolvat, fazer aquilo que faz a Igreja, realmente consagra,
vere baptizet, vere conferat alia sacramenta. realmente absolve, realmente batiza, realmente con-
fere os outros sacramentos.
23. Item, utrum credat, quod beatus Petrus fuerit 23. Igualmente, se crê que o bem-aventurado 1263
vicarius Christi, habens potestatem ligandi et sol- Pedro foi o vigário de Cristo, tendo poder de ligar
vendi super terram. e de desligar sobre a terra.
24. Item, utrum credat, quod Papa canonice elec- 24. Igualmente, se crê que o Papa canonicamente 1264
tus, qui pro tempore fuerit, eius nomine proprio eleito para o atual tempo, uma vez pronunciado o
expresso, sit successor beati Petri, habens supremam seu nome próprio, é o sucessor do bem-aventurado
auctoritatem in Ecclesia Dei. Pedro e possui a suprema autoridade na Igreja de
Deus.
25. Item, utrum credat, auctoritatem iurisdictio- 25. Igualmente, se crê que a autoridade de juris- 1265
nis Papae, archiepiscopi et episcopi in solvendo et dição do Papa, do arcebispo e do bispo no desligar
ligando esse maiorem auctoritate simplicis sacer- e ligar é maior que a autoridade do simples sacer-
dotis, etiam si curam animarum habeat. dote, mesmo se tiver o cuidado das almas.
26. Item, utrum credat, quod Papa omnibus Chris- 26. Igualmente, se crê que o Papa, a todos os cris- 1266
tianis vere contritis et confessis ex causa pia et iusta tãos que estão verdadeiramente arrependidos e con-
possit concedere indulgentias in remissionem pecca- fessados, pode conceder as indulgências para a re-
torum, maxime pia loca visitantibus et ipsis manus missão dos pecados, por uma causa pia e justa, es-
suas porrigentibus adiutrices. pecialmente àqueles que visitam os lugares de de-
voção e lhes estendem suas mãos em ajuda.
355
27. Et utrum credat, quod ex tali concessione visi- 27. E se crê que por uma tal concessão podem
tantes ecclesias ipsas et manus adiutrices eis porri- conseguir semelhantes indulgências aqueles que vi-
gentes huiusmodi indulgentias consequi possint. sitam as igrejas e lhes estendem as mãos em ajuda.
1268 28. Item, utrum credat, quod singuli episcopi suis 28. Igualmente, se crê que cada bispo pode con-
subditis secundum limitationem sacrorum canonum ceder tais indulgências aos próprios súditos, segun-
huiusmodi indulgentias concedere possint. do a determinação dos sagrados cânones.
1269 29. Item, utrum credat et asserat, licitum esse 29. Igualmente, se crê e afirma que é lícito vene-
Sanctorum reliquias et imagines a Christi fidelibus rar por parte dos fiéis cristãos as relíquias e as ima-
venerari. gens dos Santos.
1270 30. Item, utrum credat, religiones ab Ecclesia 30. Igualmente, se crê que as ordens religiosas
approbatas, a sanctis Patribus rite et rationabiliter aprovadas pela Igreja foram introduzidas pelos san-
introductas. tos Padres de modo legítimo e razoável.
1271 31. Item, utrum credat, quod Papa vel alius prae- 31. Igualmente, se crê que o Papa ou um outro
latus, propriis nominibus Papae pro tempore expres- prelado, uma vez proclamado seu nome no cargo,
sis, vel ipsorum vicarii, possint suum subditum ou então seu vigário, podem excomungar seu súdi-
ecclesiasticum sive saecularem propter inoboedien- to, eclesiástico ou secular, por motivo da desobe-
tiam sive contumaciam excommunicare, ita quod diência ou da contumácia, de tal modo que deve ser
talis pro excommunicato sit habendus. tido por excomungado.
1272 32. Item, utrum credat, quod inoboedientia sive 32. Igualmente, se crê que, crescendo a desobe-
contumacia excommunicatorum crescente, praelati diência ou a contumácia dos excomungados, os
vel eorum vicarii in spiritualibus habeant potesta- prelados e os seus vigários nas coisas espirituais
tem aggravandi et reaggravandi, interdictum ponendi têm o poder de exasperar e de exasperar mais ain-
et brachium saeculare invocandi; et quod illis cen- da, de lançar o interdito e de invocar o braço secu-
suris per inferiores sit oboediendum. lar; e que àquelas censuras os subalternos devem
obedecer.
1273 33. Item, utrum credat, quod Papa vel alii praela- 33. Igualmente, se crê que o Papa ou outros pre-
ti et eorum vicarii in spiritualibus habeant potesta- lados e os seus vigários nas coisas espirituais têm o
tem sacerdotes et laicos inoboedientes et contuma- poder de excomungar os sacerdotes e os leigos de-
ces excommunicandi, ab officio, beneficio, ingres- sobedientes e contumazes e de suspendê-los do
su ecclesiae et administratione ecclesiasticorum sa- ofício, do benefício, do acesso à igreja e da admi-
cramentorum suspendendi. nistração dos sacramentos eclesiásticos.
1274 34. Item, utrum credat, quod liceat personis ec- 34. Igualmente, se crê que é lícito aos eclesiásti-
clesiasticis absque peccato huius mundi habere cos ter, sem pecado, posses deste mundo e bens
possessiones et bona temporalia. temporais.
1275 35. Item, utrum credat, quod laicis ipsa ab eis 35. Igualmente, se crê que aos leigos não é lícito
auferre potestate propria non liceat; immo quod sic subtrair-lhes estas coisas por iniciativa própria; an-
auferentes, tollentes et invadentes bona ipsa eccle- tes, aqueles que assim subtraem, levam e ocupam
siastica sint tamquam sacrilegi puniendi, etiam si os bens eclesiásticos, devem ser punidos como sa-
male viverent personae ecclesiasticae bona huius- crílegos, também caso os eclesiásticos que possuem
modi possidentes. tais bens levem uma vida malvada.
1276 36. Item, utrum credat, quod huiusmodi ablatio 36. Igualmente, se crê que uma espoliação e uma
et invasio, cuicumque sacerdoti, etiam male viven- ocupação de tal gênero feita e perpetrada de modo
ti, temere vel violenter facta vel illata, inducat sa- temerário e violento a qualquer sacerdote – tam-
crilegium. bém ao de má vida – comporta sacrilégio.
1277 37. Item, utrum credat, quod liceat laicis utrius- 37. Igualmente, se crê que é lícito aos leigos de
que sexus, viris scilicet et mulieribus, libere praedi- ambos os sexos, isto é, aos homens e às mulheres,
care verbum Dei. pregar livremente a palavra de Deus.
1278 38. Item, utrum credat, quod singulis sacerdoti- 38. Igualmente, se crê que a cada sacerdote é lí-
bus libere liceat praedicare verbum Dei, ubicum- cito pregar livremente a palavra de Deus, em todo
356
que, quandocumque et quibuscumque placuerit, lugar em qualquer momento e a quem lhe agradar,
etiam si non sint missi. mesmo se não mandado.
39. Item, utrum credat, quod omnia peccata mor- 39. Igualmente, se crê que todos os pecados 1279
talia, et specialiter manifesta, sint publice corrigen- mortais, e especialmente os manifestos, devem ser
da et exstirpanda. corrigidos e extirpados publicamente.
357
Na disputa acerca do local onde tratar com os gregos sobre a reunificação, Eugênio IV, em 18 set. 1437, pela
constituição “Doctoris gentium” (ed. G. Hofmann, Epistolae Pontificiae ad Concilium Florentinum spectantes [v. infra],
n. 88), deslocou o concílio para Ferrara. A maioria dos sinodais, porém, continuou o concílio em Basiléia até o ano
1448. Em 24 jun. 1439 depuseram Eugênio IV e em 5 nov. do mesmo ano elegeram como chefe da Igreja Amadeu VIII
de Sabóia. Com a eleição de um antipapa, o cisma se consumou.
Em Ferrara, o concílio começou em 8 jan. 1438. Depois de 16 sessões foi deslocado para Florença, onde em 26 fev.
1439 teve lugar a primeira sessão geral. Depois de difíceis tratativas, em 28 jun. 1439 foi redigido o decreto sobre a
união com os gregos, subscrito em 5 jul. e tornado público um dia depois. Em 22 nov. 1439 seguiu a união com os
armênios. O decreto para os jacobitas (a bula diz sempre, estranhamente, jacobinos), que confirma a união com
os coptas, foi emanado em 4 fev. 1442. Em 26 abr. 1443 o concílio foi transferido para Roma, no Latrão, e em duas
sessões (30 set. 1444 e 7 ago. 1445) concluiu a união com os outros orientais: os sírios da Mesopotâmia, os caldeus e
os maronitas de Chipre.
1300-1308: Bula sobre a união com os gregos: “Laetentur caeli”, 6 jul. 1439
O decreto para os gregos foi repetido, com poucos acréscimos ou omissões, por Bento XIV, na constituição “Etsi
pastoralis” para os italo-gregos, de 26 mai. 1742 (§ 1).
Ed.: G. Hofmann, Concilium Florentinum: Documenta et scriptores, series A, t. 1: Epistolae pontificiae ad Conci-
lium Florentinum spectantes II (Roma 1944) 71-73 (n. 176) / G. Hofmann, Documenta Concilii Florentini de unione
Orientalium: I. De unione Graecorum (TD ser. theol. 18; Roma 1935) 14-17 / MaC 31A, 1030D-1034A, cf. 31B,
1696D-1698A / HaC 9, 422B-423B, cf. 9, 986B-987B / BullTau 5, 41ab / BullCocq 3/III, 25b-26b / COeD3 52631-52842.
358
quemque scilicet iuxta suae Ecclesiae sive occiden- <sacramentalmente> o corpo do Senhor com um
talis sive orientalis consuetudinem. ou outro pão, cada qual segundo o rito da própria
Igreja, seja ocidental ou oriental.
[D e s o r t e d e f u n c t o r u m .] Item, si vere pae- [A s o r t e d o s d e f u n t o s .] Igualmente, se os 1304
nitentes in Dei caritate decesserint, antequam dig- verdadeiros penitentes falecerem no amor de Deus,
nis paenitentiae fructibus de commissis satisfecerint antes de ter satisfeito com frutos dignos de penitên-
et omissis, eorum animas poenis purgatoriis post cia o que cometeram ou deixaram de fazer, suas
mortem purgari: et ut a poenis huiusmodi releventur, almas são purificadas depois da morte com as pe-
prodesse eis fidelium vivorum suffragia, Missarum nas do purgatório; e para que recebam um alívio
scilicet sacrificia, orationes et eleemosynas, et alia destas penas ajudam-nos os sufrágios dos fiéis vi-
pietatis officia, quae a fidelibus pro aliis fidelibus ventes, como o sacrifício da missa, as orações, as
fieri consueverunt secundum Ecclesiae instituta. esmolas e as outras práticas de piedade que os fiéis
costumam oferecer pelos outros fiéis, segundo as
disposições da Igreja.
Illorumque animas, qui post baptisma susceptum Quanto às almas daqueles que, depois do batis- 1305
nullam omnino peccati maculam incurrerunt, illas mo, não se mancharam de nenhuma culpa, e tam-
etiam, quae post contractam peccati maculam, vel bém a respeito daquelas que, depois de ter cometi-
in suis corporibus, vel eisdem exutae corporibus, do o pecado, foram purificadas ou nesta vida ou
prout superius dictum est, sunt purgatae, in caelum depois da sua morte no modo acima descrito, <de-
mox recipi et intueri clare ipsum Deum trinum et claramos> que são logo aceitas no céu e vêem cla-
unum, sicuti est, pro meritorum tamen diversitate ramente o Deus uno e trino como ele é, mas algu-
alium alio perfectius. mas de modo mais perfeito que outras, segundo a
diversidade dos méritos.
Illorum autem animas, qui in actuali mortali pec- Ao invés, as almas daqueles que morrem em 1306
cato vel solo originali decedunt, mox in infernum pecado mortal atual ou somente original, descem
descendere, poenis tamen disparibus puniendas [cf. imediatamente ao inferno para serem punidas, po-
*856-858]. rém com penas diferentes [cf. *856-858].
[O rd o s e d i u m p a t r i a rc h a l i u m ; p r i m a - [O rd e m d a s s é s p a t r i a rc a i s ; o p r i m a - 1307
t u s R o m a n u s ] Item diffinimus, sanctam Aposto- d o ro m a n o .] Igualmente definimos que a santa
licam Sedem, et Romanum Pontificem, in universum Sé Apostólica e o Romano Pontífice têm o primado
orbem tenere primatum, et ipsum Pontificem Roma- sobre todo o universo e que o mesmo Romano
num successorem esse beati Petri principis Aposto- Pontífice é o sucessor do bem-aventurado Pedro,
lorum et verum Christi vicarium, totiusque Ecclesiae príncipe dos Apóstolos, é verdadeiro vigário de
caput et omnium Christianorum patrem ac doctorem Cristo, cabeça de toda a Igreja, pai e doutor de to-
exsistere; et ipsi in beato Petro pascendi, regendi ac dos os cristãos; e que nosso Senhor Jesus Cristo
gubernandi universalem Ecclesiam a Domino nostro transmitiu a ele, na pessoa do bem-aventurado Pe-
Iesu Christo plenam potestatem traditam esse, que- dro, o pleno poder de apascentar, reger e governar
madmodum etiam in gestis oecumenicorum Conci- a Igreja universal, como é atestado também nas atas
liorum et in sacris canonibus continetur. dos concílios ecumênicos e nos sagrados cânones.
Renovantes insuper ordinem traditum in canoni- Renovamos, além disso, a disposição transmitida 1308
bus ceterorum venerabilium patriarcharum, ut nos cânones a observar entre os outros veneráveis
patriarcha Constantinopolitanus secundus sit post patriarcas: que o patriarca de Constantinopla seja o
sanctissimum Romanum Pontificem, tertius vero segundo depois do santíssimo Pontífice Romano, o
Alexandrinus, quartus autem Antiochenus, et quintus patriarca de Alexandria o terceiro, o de Antioquia o
Hierosolymitanus, salvis videlicet privilegiis omni- quarto, o de Jerusalém o quinto, salvaguardados,
bus et iuribus eorum. evidentemente, todos os seus privilégios e direitos.
1309: Decreto “Moyses vir Dei”, contra o Concílio de Basiléia, 4 set. 1439
Quando os sinodais que depois da transferência do concílio para Ferrara tinham ficado em Basiléia perceberam que
o Papa Eugênio IV não mudava de comportamento, redigiram, na sessão 33ª, de 16 mai. 1439, três proposições dou-
359
trinais acerca da supremacia do concílio geral sobre o Papa (MaC 29, 178B-179B / João de Segovia, l.c. infra XIV 37,
p. 278) e na subseqüente sessão de 24 jun. 1439 o depuseram (MaC 29, 179C-181B / João de Segóvia, l.c. infra XV,
15, pp. 325-327). Eugênio IV respondeu com este decreto.
Ed.: G. Hofmann, Concilium Florentinum … (cf. *1300°) 1/II, 1049-19 10531-38 / MaC 31b, 1718D-1719A 1720BC
/ HaC 9, 1006E-1007A 1008BC / João de Segovia, Historia gestorum generalis Synodi Basiliensis (Concilium Basileense:
Scriptores 3/I [Wien 1886] XV 27, p. 384-386 / COeD3 5321-12 53333-42.
1310-1328: Bula sobre a união com os armênios “Exsultate Deo”, de 22 nov. 1439
Além dos antigos documentos de fé abaixo indicados, esta bula contém uma instrução sobre os sacramentos; trata-
se na maior parte de um extrato de Tomás de Aquino, De articulis fidei et Ecclesiae sacramentis (P. Mandonnet, Sancti
Thomae Aquinatis Opuscula omnia 3 [Paris 1927] 11-18 / ed. de Parma 16 [1865] 119-122). A validade desta instrução
foi longamente colocada em discussão, sobretudo por causa da afirmação de que a entrega dos instrumentos é a matéria
do sacramento da ordem (cf. 1326), enquanto os fatos históricos mostram que até o século IX, tanto na Igreja ocidental
como na oriental, estava em uso só a imposição das mãos. Esta esteve sempre indiscutivelmente em vigor junto de certos
orientais, como admitem diversos papas: cf. p. ex., Clemente VIII, Instrução “Presbyteri graeci”, 31 ago. 1595 (BullTau
10, 213); Urbano VIII, Breve “Universalis Ecclesiae”, 23 nov. 1624 (BullLux 4, 172 ab); Bento XIV, constituição “Etsi
pastoralis” 26 maio 1742 (Bul Lux 16, 98b-100b); Leão XIII, Bula “Orientalium dignitas”, 30 nov. 1894 (ASS 27
360
[1894/95] 257-264). Pio XII, sem aprofundar-se na questão histórica, na constituição “Sacramentum ordinis” de 30 nov.
1947 (*3857-3861) estabeleceu que a imposição das mãos é a única matéria necessária para a validade da ordem.
Ed.: G. Hofmann, Concilium Florentinum … (cf. *1300°) 1/II, 128-131 134 (n. 224) / idem, Documenta … (cf.
*1300°): II. De unione Armêniorum (TD ser. theol. 19; Roma 1935) 30-42 / A. Balgy, Historia doctrinae catholicae inter
Armênios unionisque eorum cum Ecclesia Romana in Concilio Florentino (Wien 1878) 110-117; 124 (texto armênio: ibid.
132-155) / MaC 31A, 1054B-1060C / HaC 9, 437D-442B / BullTau 5, 48a-51b / BullCocq 3/III, 30b-33a / COeD3 540-555.
Quinto, ecclesiasticorum s a c r a m e n t o r u m ve- Em quinto lugar, para facilitar a compreensão aos 1310
ritatem pro ipsorum Armenorum tam praesentium armênios de hoje e de amanhã, redigimos nesta
quam futurorum faciliore doctrina sub hac brevissi- brevíssima fórmula a doutrina sobre os s a c r a m e n -
ma redigimus formula. Novae Legis septem sunt t o s . Os sacramentos da nova Lei são sete: batismo,
sacramenta: videlicet baptismus, confirmatio, Eu- confirmação, Eucaristia, penitência, extrema-unção,
charistia, paenitentia, extrema unctio, ordo et ma- ordem e matrimônio, e diferem muito dos sacramen-
trimonium, quae multum a sacramentis differunt tos da antiga Lei. Aqueles, de fato, não produziam a
Antiquae Legis. Illa enim non causabant gratiam, graça, mas significavam somente que ela teria sido
sed eam solum per passionem Christi dandam esse concedida pela paixão de Cristo; estes nossos sacra-
figurabant: haec vero nostra et continent gratiam, et mentos, ao contrário, e contêm em si a graça, e a
ipsam digne suscipientibus conferunt. comunicam a quem os recebe dignamente.
Horum quinque prima ad spiritualem uniuscuius- Destes, os primeiros cinco são voltados para a 1311
que hominis in seipso perfectionem, duo ultima ad perfeição individual de cada um, os últimos dois
totius Ecclesiae regimen multiplicationemque ordi- para o governo e a multiplicação de toda a Igreja.
nata sunt. Per baptismum enim spiritualiter renas- Pelo batismo de fato, nós renascemos espiritualmen-
cimur; per confirmationem augemur in gratia, et te; com a confirmação crescemos na graça e nos
roboramur in fide; renati autem et roborati nutrimur robustecemos na fé. Uma vez renascidos e fortifi-
divina Eucharistiae alimonia. Quod si per pecca- cados, somos nutridos com o alimento da divina
tum aegritudinem incurrimus animae, per paeniten- Eucaristia. Se com o pecado adoecemos na alma,
tiam spiritualiter sanamur: spiritualiter etiam et somos espiritualmente curados pela penitência; es-
corporaliter, prout animae expedit, per extremam piritualmente e também corporalmente, segundo o
unctionem; per ordinem vero Ecclesia gubernatur que mais aproveita à alma, pela extrema-unção. Com
et multiplicatur spiritualiter, per matrimonium cor- o sacramento da ordem a Igreja é governada e se
poraliter augetur. multiplica espiritualmente, mediante o matrimônio
aumenta corporalmente.
Haec omnia sacramenta tribus perficiuntur, vide- Todos estes sacramentos constam de três elemen- 1312
licet rebus tamquam materia, verbis tamquam for- tos: das coisas, que constituem a matéria, das pala-
ma, et persona ministri conferentis sacramentum vras, que são a forma, e da pessoa do ministro, que
cum intentione faciendi, quod facit Ecclesia: quo- confere o sacramento com a intenção de fazer aqui-
rum si aliquod desit, non perficitur sacramentum. lo que a Igreja faz. Se faltar um destes elementos,
não é efetuado o sacramento.
Inter haec sacramenta tria sunt: baptismus, con- Entre esses sacramentos há três: batismo, confir- 1313
firmatio et ordo, quae characterem, id est, spirituale mação e ordem, que imprimem na alma um caráter
quoddam signum a ceteris distinctivum, imprimunt indelével, ou seja, um sinal espiritual que distingue
in anima indelebile. Unde in eadem persona non <quem o recebe> dos outros, pelo que não podem
reiterantur. Reliqua vero quattuor characterem non ser reiterados na mesma pessoa. Os outros quatro
imprimunt, et reiterationem admittunt. não imprimem o caráter e portanto se admite repe-
ti-los na mesma pessoa.
Primum omnium sacramentorum locum tenet O primeiro de todos os sacramentos é o b a t i s - 1314
sanctum b a p t i s m a , quod vitae spiritualis ianua m o , porta de ingresso à vida espiritual; por meio
361
est: per ipsum enim membra Christi ac de corpore dele nos tornamos membros de Cristo e do corpo da
efficimur Ecclesiae. Et cum per primum hominem Igreja. E como por causa do primeiro homem a morte
mors introierit in universos [cf. Rm 5,12], nisi ex entrou no mundo [cf. Rm 5,12], se nós não renascer-
aqua et Spiritu renascamur, non possumus ut inquit mos da água e do Espírito, não poderemos, como
Veritas, in regnum caelorum introire [cf. Io 3,5]. diz a verdade, entrar no reino de Deus [cf. Jo 3,5].
M a t e r i a huius sacramenti est aqua vera et na- M a t é r i a deste sacramento é a água pura e na-
turalis: nec refert, frigida sit an calida. tural, não importa se quente ou fria.
F o r m a autem est: “Ego te baptizo in nomine A f o r m a são as palavras: “Eu te batizo em nome
Patris et Filii et Spiritus Sancti”. Non tamen nega- do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. Não nega-
mus, quin et per illa verba: “Baptizetur talis servus mos, porém, que também com as palavras: “Seja
Christi in nomine Patris et Filii et Spiritus Sancti”, batizado o tal servo de Cristo em nome do Pai do
vel “Baptizatur manibus meis talis in nomine Patris Filho e do Espírito Santo”; ou com as palavras “O
et Filii et Spiritus Sancti”, verum perficiatur baptis- tal, com as minhas mãos, é batizado em nome do
ma; quoniam cum principalis causa, ex qua baptis- Pai, do Filho e do Espírito Santo”, se administre o
ma virtutem habet, sit sancta Trinitas, instrumentalis verdadeiro batismo. De fato, a causa principal da
autem sit minister, qui tradit exterius sacramentum, qual o batismo tira sua eficácia é a santa Trindade,
si exprimitur actus, qui per ipsum exercetur minis- enquanto a causa instrumental é o ministro, que
trum, cum sanctae Trinitatis invocatione, perficitur exteriormente confere o sacramento; se o ato con-
sacramentum. ferido pelo mesmo ministro se exprime com a invo-
cação da santa Trindade, é realizado o sacramento.
1315 M i n i s t e r huius sacramenti est sacerdos, cui ex M i n i s t r o deste sacramento é o sacerdote, a
officio competit baptizare. In causa autem necessita- quem por ofício compete batizar; mas em caso de
tis non solum sacerdos vel diaconus, sed etiam laicus necessidade pode administrar o batismo não só um
vel mulier, immo etiam paganus et haereticus sacerdote ou um diácono, mas também um leigo,
baptizare potest, dummodo formam servet Eccle- uma mulher e até um pagão ou herege, mas que use
siae et facere intendat, quod facit Ecclesia. a forma da Igreja e queira fazer o que faz a Igreja.
1316 Huius sacramenti e f f e c t u s est remissio omnis E f e i t o deste sacramento é a remissão de toda
culpae originalis et actualis, omnis quoque poenae, culpa original e atual e de toda pena relativa. Não
quae pro ipsa culpa debetur. Propterea baptizatis se deve, portanto, impor aos batizados nenhuma
nulla pro peccatis praeteritis iniungenda est satis- penitência pelos pecados anteriores ao batismo, e
factio: sed morientes, antequam culpam aliquam os que morrem antes de cometer qualquer culpa são
committant, statim ad regnum caelorum et Dei vi- recebidos logo no reino dos céus e acedem à visão
sionem perveniunt. de Deus.
1317 Secundum sacramentum est c o n f i r m a t i o ; cuius O segundo sacramento é a c o n f i r m a ç ã o , cuja
m a t e r i a est chrisma confectum ex oleo, quod ni- m a t é r i a é o crisma consagrado pelo bispo, com-
torem significat conscientiae, et balsamo, quod posto de óleo, que significa a luz da consciência, e
odorem significat bonae famae, per episcopum de bálsamo, que significa o perfume da boa fama.
benedicto.
F o r m a autem est: “Signo te signo crucis, et con- A f o r m a são as palavras: “Te assinalo com o
firmo te chrismate salutis, in nomine Patris et Filii sinal da cruz e te confirmo com o crisma da salva-
et Spiritus Sancti”. ção em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”.
1318 Ordinarius minister est episcopus. Et cum ceteras O m i n i s t r o ordinário é o bispo. E, enquanto para
unctiones simplex sacerdos valeat exhibere, hanc as outras unções basta um simples sacerdote, esta só
non nisi episcopus debet conferre, quia de solis o bispo pode conferi-la, porque só dos Apóstolos, de
Apostolis legitur, quorum vicem tenent episcopi, quem os bispos fazem as vezes, se lê que davam o
quod per manus impositionem Spiritum Sanctum Espírito Santo com imposição da mão, como mostra
dabant, quemadmodum Actuum Apostolorum lectio a leitura dos Atos dos Apóstolos: “Quando os após-
manifestat. “Cum enim audissent”, inquit, “Apos- tolos que estavam em Jerusalém souberam que a
toli, qui erant Hierosolymis, quia recepisset Sama- Samaria tinha acolhido a palavra de Deus, enviaram
ria verbum Dei, miserunt ad eos Petrum et Ioannem. para lá Pedro e João. Quando eles chegaram, reza-
Qui cum venissent, oraverunt pro eis, ut acciperent ram por eles para que recebessem o Espírito Santo,
362
Spiritum Sanctum; nondum enim in quemquam illo- pois não tinha ainda descido sobre nenhum deles,
rum venerat, sed baptizati tantum erant in nomine mas tinham sido somente batizados no nome do
Domini Iesu. Tunc imponebant manus super illos, Senhor Jesus. Então impuseram-lhes as mãos, e eles
et accipiebant Spiritum Sanctum” [Act 8,14-17]. receberam o Espírito Santo” [At 8,14-17]. A confir-
Loco autem illius manus impositionis in Ecclesia mação, na Igreja, tem mesmo o lugar daquela im-
datur confirmatio. Legitur tamen aliquando per posição da mão. Lê-se, todavia, que alguma vez com
Apostolicae Sedis dispensationem ex rationabili et licença da Sé Apostólica e por um motivo razoável
urgente admodum causa simplicem sacerdotem e urgentíssimo, também um simples sacerdote te-
chrismate per episcopum confecto hoc administras- nha administrado o sacramento da confirmação com
se confirmationis sacramentum. crisma consagrado pelo bispo.
E f f e c t u s autem huius sacramenti est, quia in O e f e i t o deste sacramento, já que por ele é 1319
eo datur Spiritus Sanctus ad robur, sicut datus est conferido o Espírito Santo para a fortaleza, como
Apostolis in die Pentecostes, ut videlicet Christia- foi dada aos apóstolos no dia de Pentecostes, é que
nus audacter Christi confiteatur nomen. Ideoque in o cristão possa corajosamente confessar o nome de
fronte, ubi verecundiae sedes est, confirmandus Cristo. Por isso, o confirmando é ungido sobre a
inungitur, ne Christi nomen confiteri erubescat et fronte, sede do sentido de vergonha, para que não se
praecipue crucem eius, quae Iudaeis quidem est envergonhe de confessar o nome de Cristo e sobre-
scandalum, gentibus autem stultitia [cf. 1 Cor 1,23] tudo a sua cruz, que segundo o Apóstolo é escânda-
secundum Apostolum; propter quod signo crucis lo para os judeus e loucura para os pagãos [cf.1Cor
signatur. 1,23]; e por isso é marcado com o sinal da cruz.
Tertium est E u c h a r i s t i a e sacramentum, cuius O terceiro sacramento é a E u c a r i s t i a , cuja 1320
m a t e r i a est panis triticeus, et vinum de vite, cui m a t é r i a é o pão de trigo e o vinho de uva, ao qual
ante consecrationem aqua modicissima admisceri antes da consagração se deve acrescentar alguma
debet. Aqua autem ideo admiscetur, quoniam iuxta gota de água. A água é acrescentada porque, segun-
testimonia sanctorum Patrum ac Doctorum Eccle- do o testemunho dos santos Padres e Doutores da
siae pridem in disputatione exhibita creditur, ipsum Igreja, exposto nas precedentes discussões, se crê
Dominum in vino aqua permixto hoc instituisse que o Senhor mesmo tenha usado vinho misturado
sacramentum. com água na instituição deste sacramento.
Deinde, quia hoc convenit dominicae passionis E também, porque isto convém ao memorial da
repraesentationi. Inquit enim beatus Alexander1 paixão do Senhor. Pois o bem-aventurado Papa
Papa, quintus [successor] a beato Petro: “In sacra- Alexandre1, quinto <sucessor> depois do bem-aven-
mentorum oblationibus, quae intra Missarum solem- turado Pedro, diz: “Nas oblações dos sacramentos
nia Domino offeruntur, panis tantum et vinum aqua apresentadas ao Senhor durante a celebração da
permixtum in sacrificium offerantur. Non enim de- Missa, sejam oferecidos em sacrifício apenas o pão
bet in calice Domini aut vinum solum aut aqua sola e o vinho misturado com água. Não se deve, pois,
offerri, sed utrumque permixtum, quia utrumque, oferecer no cálice do Senhor só o vinho ou só a
id est, sanguis et aqua, ex latere Christi profluxisse água, mas ambos, justamente porque se lê que uma
legitur [cf. Io 19,34]”. e outra coisa, isto é, o sangue e a água, jorraram do
lado de Cristo [cf. Jo 19,34].
Tum etiam, quod convenit ad significandum huius Além disso, significa o efeito deste sacramento: a
sacramenti effectum, qui est unio populi christiani união do povo cristão a Cristo. A água, de fato, sig-
ad Christum. Aqua enim populum significat, secun- nifica o povo, segundo a expressão do Apocalipse:
dum illud Apocalypsis: Aquae multae, populi multi muitas águas, muitos povos [cf. Ap 17,15]. E o Papa
[cf. Apc 17,15]. Et Iulius2 Papa, secundus [succes- Júlio2, o segundo <sucessor> depois do bem-aven-
sor] post beatum Silvestrum, ait: “Calix dominicus turado Silvestre, diz: “O cálice do Senhor deve ser
iuxta canonum praeceptum vino et aqua permixtus oferecido, segundo as disposições dos cânones, com
debet offerri, quia videmus in aqua populum água e vinho misturados, porque na água se prefigu-
*1320 1 Pseudo-Alexandro I, Carta a todos os ortodoxos, cap. 9, apud Graciano, Decretum p. III, dist. 2, c. 1 (Frdb 1, 1314),
tomada do Pseudo-Isidoro (P. Hinschius, Decretales Pseudo-Isidorianae … [Leipzig 1863] 99).
2 Pseudo-Júlio I, Carta aos bispos do Egito, apud Graciano, Decretum p. III, dist. 2, c. 7 (Frdb 1, 1316); cf. IV Sínodo
de Braga, 675, cap. 2 (MaC 11, 155E).
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intelligi, in vino vero ostendi sanguinem Christi. ra o povo e no vinho se manifesta o sangue de Cris-
Ergo cum in calice vinum et aqua miscetur, Christo to; quando, portanto, se mistura no cálice a água
populus adunatur, et fidelium plebs ei, in quem cre- com o vinho, o povo é unido a Cristo, e a multidão
dit, copulatur et iungitur.” dos fiéis é coligada e juntada àquele em que crê”.
Cum ergo tam sancta Romana Ecclesia a beatis- Se, portanto, quer a santa Igreja romana instruída
simis Apostolis Petro et Paulo edocta, quam reli- pelos beatíssimos apóstolos Pedro e Paulo, quer
quae omnes Latinorum Graecorumque ecclesiae, in todas as outras Igrejas de latinos e gregos, ilumina-
quibus omnis sanctitatis et doctrinae lumina clarue- das por esplêndidos exemplos de santidade e de
runt, ab initio nascentis Ecclesiae sic servaverint et doutrina, têm observado desde o início da Igreja, e
modo servent, inconveniens admodum videtur, ut ainda observam, este rito, parece incorreto que al-
alia quaevis regio ab hac universali et rationabili guma outra região discorde daquilo que é univer-
discrepet observantia. Decernimus igitur, ut etiam salmente observado e racionalmente fundado. De-
ipsi Armeni se cum universo orbe christiano con- cretamos, pois, que também os armênios se confor-
forment, eorumque sacerdotes in calicis oblatione mem a todo o resto do mundo cristão e que seus
paululum aquae, prout dictum est, vino admisceant. sacerdotes, na oblação do cálice, acrescentem algu-
ma gota de água ao vinho, como foi dito.
1321 F o r m a huius sacramenti sunt verba Salvatoris, A f o r m a deste sacramento são as palavras com
quibus hoc confecit sacramentum; sacerdos enim in as quais o Salvador o produziu. O sacerdote, de fato,
persona Christi loquens hoc conficit sacramentum. produz este sacramento falando in persona Christi.
Nam ipsorum verborum virtute substantia panis in E em virtude dessas palavras, a substância do pão
corpus Christi, et substantia vini in sanguinem se transforma no corpo de Cristo e a substância do
convertuntur, ita tamen, quod totus Christus conti- vinho em sangue. Isto acontece, porém, de modo
netur sub specie panis et totus sub specie vini. Sub tal que o Cristo está contido inteiro sob a espécie
qualibet quoque parte hostiae consecratae et vini do pão e inteiro sob a espécie do vinho e, se tam-
consecrati, separatione facta, totus est Christus. bém estes elementos são divididos em partes, em
cada parte da hóstia consagrada e de vinho consa-
grado está o Cristo inteiro.
1322 Huius sacramenti e f f e c t u s , quem in anima ope- O e f e i t o que este sacramento opera na alma de
ratur digne sumentis, est adunatio hominis ad Chris- quem o recebe dignamente é a união do homem ao
tum. Et quia per gratiam homo Christo incorpora- Cristo. E como, pela graça, o homem é incorporado
tur et membris eius unitur, consequens est, quod a Cristo e unido a seus membros, segue-se que este
per hoc sacramentum in sumentibus digne gratia au- sacramento, naqueles que o recebem dignamente,
geatur; omnemque effectum, quem materialis cibus aumente a graça e produza na vida espiritual todos
et potus quoad vitam agunt corporalem, sustentan- os efeitos que o alimento e a bebida materiais pro-
do, augendo, reparando et delectando, sacramentum duzem na vida do corpo, alimentando-o, fazendo-o
hoc quoad vitam operatur spiritualem, in quo, ut crescer, restaurando-o e deleitando-o. Neste sacra-
inquit Urbanus [IV] Papa [*846] gratam Salvatoris mento, como diz o Papa Urbano [IV; *846], recor-
nostri recensemus memoriam, a malo retrahimur, damos a grata memória do nosso Salvador, somos
confortamur in bono, et ad virtutum et gratiarum afastados do mal e confortados no bem, e progredi-
proficimus incrementum. mos no crescimento das virtudes e graças.
1323 Quartum sacramentum est p a e n i t e n t i a , cuius O quarto sacramento é a p e n i t ê n c i a , do qual
quasi m a t e r i a sunt actus paenitentis, qui in tres são como que a m a t é r i a os atos do penitente,
distinguuntur partes. Quarum prima est cordis con- distintos em três grupos: o primeiro é a contrição
tritio; ad quam pertinet, ut doleat de peccato com- do coração, que consiste na dor do pecado cometi-
misso, cum proposito non peccandi de cetero. Se- do acompanhada do propósito de não pecar para o
cunda est oris confessio; ad quam pertinet, ut pec- futuro. O segundo é a confissão oral, na qual o
cator omnia peccata, quorum memoriam habet, suo pecador confessa integralmente ao seu sacerdote
sacerdoti confiteatur integraliter. Tertia est satisfac- todos os pecados de que tem memória. O terceiro é
tio pro peccatis secundum arbitrium sacerdotis; quae a penitência pelos pecados, segundo o arbítrio do
quidem praecipue fit per orationem, ieiunium et sacerdote; à qual se satisfaz especialmente por meio
eleemosynam. da oração, do jejum e da esmola.
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Pater de substantia sua genuit Filium, solus Filius gerado do Pai <e dele> só, só o Espírito Santo pro-
de solo Patre est genitus, solus Spiritus Sanctus si- cede ao mesmo tempo do Pai e do Filho. Estas três
mul de Patre procedit et Filio. Hae tres personae pessoas são um só Deus, não três deuses, porque uma
sunt unus Deus, et non tres dii: quia trium est una só é a substância das três, uma a essência, uma a
substantia, una essentia, una natura, una divinitas, natureza, uma a divindade, uma a imensidade, uma a
una immensitas una aeternitas, omniaque sunt unum, eternidade, e todas as coisas são uma só realidade,
ubi non obviat relationis oppositio1. não se encontrando aí a oposição de uma relação1.
“Propter hanc unitatem Pater est totus in Filio, “Por esta unidade, o Pai está todo no Filho, todo 1331
totus in Spiritu Sancto; Filius totus est in Patre, totus no Espírito Santo; o Espírito Santo está todo no Pai,
in Spiritu Sancto; Spiritus Sanctus totus est in Pa- todo no Filho. Nenhum precede o outro pela eterni-
tre, totus in Filio. Nullus alium aut praecedit aeter- dade, o ultrapassa em grandeza ou o supera em
nitate, aut excedit magnitudine, aut superat potesta- poder. É eternamente, de fato, e sem princípio que
te. Aeternum quippe et sine initio est, quod Filius o Filho tem origem do Pai, e eternamente e sem
de Patre exstitit; et aeternum ac sine initio est, quod princípio que o Espírito Santo procede do Pai e do
Spiritus Sanctus de Patre Filioque procedit”1. Pater Filho.”1 Tudo o que o Pai é ou tem, não o tem de
quidquid est aut habet, non habet ab alio, sed ex se, um outro, mas por si mesmo, e ele é princípio sem
et est principium sine principio. Filius quidquid est princípio. Tudo o que o Filho é ou tem, o tem do
aut habet, habet a Patre, et est principium de prin- Pai e é princípio de princípio. Tudo o que o Espírito
cipio: Spiritus Sanctus quidquid est aut habet, ha- Santo é ou tem, o tem do Pai e do Filho juntos. Mas
bet a Patre simul et Filio. Sed Pater et Filius non o Pai e o Filho não são dois princípios do Espírito
duo principia Spiritus Sancti, sed unum principium, Santo, mas um só princípio, como o Pai, o Filho e
sicut Pater et Filius et Spiritus Sanctus non tria prin- o Espírito Santo não são três princípios da criação
cipia creaturae, sed unum principium. mas um só princípio.
Quoscumque ergo adversa et contraria sentientes <A Igreja>, portanto, condena, reprova e fere com 1332
damnat, reprobat et anathematizat et a Christi cor- anátema todos aqueles que crêem coisa diferente e
pore, quod est Ecclesia, alienos esse denuntiat. Hinc contrária, e os declara separados do corpo de Cristo
damnat Sabellium personas confundentem et ipsa- que é a Igreja. Condena, portanto, Sabélio, que
rum distinctionem realem penitus auferentem. Dam- confunde as pessoas e elimina completamente a
nat Arianos, Eunomianos, Macedonianos solum distinção real das mesmas. Condena os arianos, os
Patrem Deum verum esse dicentes, Filium autem et eunomianos, os macedônios, segundo os quais só o
Spiritum Sanctum in creaturarum ordine collocan- Pai é verdadeiro Deus, colocando o Filho e o Espí-
tes. Damnat et quoscumque alios, gradus seu inae- rito Santo na ordem das criaturas. Condena tam-
qualitatem in Trinitate facientes. bém todos os outros que introduzam graus ou desi-
gualdade na Trindade.
Firmissime credit, profitetur et praedicat, unum Ela crê firmissimamente, professa e prega que um 1333
verum Deum Patrem et Filium et Spiritum Sanc- só verdadeiro Deus, Pai, Filho e Espírito Santo é o
tum, esse omnium visibilium et invisibilium c r e a - c r i a d o r de todas as coisas visíveis e invisíveis, o
t o r e m , qui quando voluit, bonitate sua universas, qual, quando quis, criou por bondade todas as cria-
tam spiritales quam corporales, condidit creaturas, turas espirituais e corporais, boas, é claro, pois são
bonas quidem, quia a summo bono factae sunt, sed feitas pelo sumo bem, mas mutáveis, porque feitas
mutabiles, quia de nihilo factae sunt, nullamque mali do nada; afirma que não há natureza má em si
asserit esse naturam, quia omnis natura, in quan- mesma, porque cada natureza enquanto tal é boa.
tum natura est, bona est.
Unum atque e u n d e m D e u m Ve t e r i s e t N o - <A Igreja> confessa um só e o m e s m o D e u s 1334
v i Te s t a m e n t i , hoc est, Legis et Prophetarum como autor d o A n t i g o e d o N ovo Te s t a m e n -
*1330 1 Este princípio fundamental da teologia trinitária foi formulada pela primeira vez por Anselmo de Cantuária, De
processione Spiritus Sancti 1 (F.S. Schmitt, Sancti Anselmi Cantuariensis Opera Omnia 2 [Edinburgh 1946] 18024-
1814 1812-4), = cap. 2 (PL 158, 288C).
*1331 1 Cf. Fulgêncio de Ruspe, De fide seu de regula fidei ad Petrum 1, n. 4 (J. Fraipont: CpChL 91A [1968] 714 / PL 65,
674AB).
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atque Evangelii profitetur auctorem, quoniam eodem t o , isto é, da Lei e dos Profetas e também do Evan-
Spiritu Sancto inspirante utriusque Testamenti Sancti gelho, porque os Santos do um e do outro Testa-
locuti sunt, quorum libros suscipit et veneratur, qui mento falaram sob inspiração do mesmo Espírito
titulis sequentibus continentur: Santo; e ela aceita e venera os livros deles, com-
preendidos sob os seguintes títulos:
1335 Quinque Moysi id est Genesi, Exodo, Levitico, Os cinco <livros> de Moisés, isto é Gênesis, Êxo-
Numeris, Deuteronomio; Iosue, Iudicum, Ruth, do, Levítico, Números, Deuteronômio; os <livros>
Quatuor Regum, Duobus Paralipomenon, Esdra, de Josué, dos Juízes, de Rute, os quatro dos Reis,
Neemia, Tobia, Iudith, Hester, Iob, Psalmis David, os dois dos Paralipômenos, Esdras, Neemias, To-
Parabolis, Ecclesiaste, Canticis Canticorum, Sapien- bias, Judite, Ester, Jó, os Salmos de Davi, os Pro-
tia, Ecclesiastico, Isaya, Ieremia, Baruch, Ezechiele, vérbios, o Eclesiastes, o Cântico dos Cânticos, a
Daniele, Duodecim Prophetis Minoribus id est Osee, Sabedoria, o Eclesiástico, Isaías, Jeremias, Baruc,
Iohele, Amos, Abdia, Iona, Michea, Naum, Abac- Ezequiel, Daniel, os doze profetas menores, isto é,
huc, Sophonia, Ageo, Zacharia, Malachia; Duobus Oséias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miquéias, Naum,
Machabaeorum, Quatuor Evangeliis, Mathaei, Mar- Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias; os
ci, Lucae, Iohannis; Quatuordecim Epistolis Pauli, dois dos Macabeus, os quatro evangelhos de Ma-
Ad Romanos, Duabus ad Corinthios, Ad Galatas, teus, Marcos, Lucas e João; as quatorze cartas de
Ad Ephesios, Ad Philipenses, Duabus ad Thesalo- Paulo: aos Romanos, duas aos Coríntios, aos
nicenses, Ad Colocenses, Duabus ad Timotheum, Galátas, aos Éfésios, aos Filipenses, duas aos Tes-
Ad Titum, Ad Philemonem, Ad Hebraeos; Petri dua- salonicenses, aos Colossensses, duas a Tímoteo, a
bus; Tribus Iohannis; Una Iacobi; Una Iudae; Acti- Tito, a Filêmon, aos Hebreus; as duas cartas de
bus Apostolorum et Apocalypsi Iohannis. Pedro, as três de João, uma de Tiago, uma de Judas,
os Atos dos Apóstolos e o Apocalipse de João.
1336 Propterea Manichaeorum anathematizat insaniam, <A Igreja> condena com anátema o delírio dos
qui duo prima principia posuerunt, unum visibilium, maniqueus, que admitiam dois princípios primor-
aliud invisibilium; et alium Novi Testamenti Deum, diais, um das coisas visíveis, o outro das coisas
alium Veteris esse dixerunt. invisíveis, e diziam que um é o Deus do Novo Tes-
tamento, outro o do Antigo.
1337 Firmiter credit, profitetur et praedicat, unam ex Ela crê firmemente, professa e prega que uma das
Trinitate personam, verum Deum, Dei F i l i u m ex pessoas da Trindade, <sendo> verdadeiro Deus,
Patre genitum, Patri consubstantialem et coaeter- F i l h o de Deus, gerado pelo Pai, consubstancial e
num, in plenitudine temporis, quam divini consilii coeterno com o Pai na plenitude dos tempos, esta-
inscrutabilis altitudo disposuit, propter salutem hu- belecida pela insondável profundidade do divino
mani generis veram hominis integramque naturam conselho, assumiu, pela salvação do gênero huma-
ex immaculato utero Mariae Virginis assumpsisse no, do útero imaculado da virgem Maria, a verda-
et sibi in unitatem personae copulasse tanta unitate, deira e íntegra natureza humana e a ligou a si na
ut quidquid ibi Dei est, non sit ab homine separatum, unidade da pessoa com tal vínculo de unidade que
et quidquid est hominis, non sit a deitate divisum, tudo aquilo que aqui é de Deus não é separado do
sitque unus et idem indivisus, utraque natura in suis homem, e aquilo que é do homem não é diviso da
proprietatibus permanente, Deus et homo, Dei Fi- divindade, e é um só ser indiviso, permanecendo
lius et hominis filius, “aequalis Patri secundum di- uma e outra natureza com as suas propriedades,
vinitatem, minor Patre secundum humanitatem” Deus e homem, filho de Deus e filho do homem,
[Symbolum pseudo Athanasium: *76], immortalis “igual ao Pai segundo a divindade, menor que o Pai
et aeternus ex natura divinitatis, passibilis et tem- segundo a humanidade” [Símbolo pseudo-atanasia-
poralis ex condicione assumptae humanitatis. no: *76], imortal e eterno pela natureza divina,
sujeito ao sofrimento e ao tempo pelo condição
humana que assumiu.
1338 Firmiter credit, profitetur et praedicat, Dei Filium Ela crê firmemente, professa e prega que o Filho
in assumpta humanitate ex Virgine vere natum, vere de Deus, na humanidade que assumiu, verdadeira-
passum, vere mortuum et sepultum, vere ex mor- mente nasceu da Virgem, verdadeiramente sofreu, e
tuis resurrexisse, in caelum ascendisse, sedereque verdadeiramente morreu e foi sepultado, e verda-
368
ad dexteram Patris, et venturum in fine saeculorum deiramente ressurgiu dos mortos, subiu ao céu e
ad vivos mortuosque iudicandos. sentou-se à direita do Pai, e virá ao fim dos séculos
para julgar os vivos e os mortos.
Anathematizat autem, exsecratur et damnat om- Ela fere com o anátema, maldiz e condena toda 1339
nem haeresim contraria sapientem. Et primo dam- heresia que professe doutrinas contrárias. E, em
nat Ebionem, Cerinthum, Marcionem, Paulum Sa- primeiro lugar, condena Ebion, Cerinto, Marcião,
mosatenum, Photinum omnesque similiter blasphe- Paulo de Samosata, Fotino e todos aqueles que pro-
mantes, qui percipere non valentes unionem perso- ferem semelhantes blasfêmias, os quais, incapazes
nalem humanitatis ad Verbum, Iesum Christum de compreender a união pessoal da humanidade com
Dominum nostrum verum Deum esse negaverunt, o Verbo, negaram que Jesus Cristo, nosso Senhor,
ipsum purum hominem confitentes, qui divinae gra- seja verdadeiro Deus, enquanto o reconhecem como
tiae participatione maiore, quam sanctioris vitae simples homem, que seria chamado homem divino
merito suscepisset, divinus homo diceretur. por causa de uma maior participação na graça divi-
na, recebida por mérito de uma vida mais santa.
Anathematizat etiam Manichaeum cum sectato- Ela fere com o anátema também Maniqueu e os 1340
ribus suis, qui Dei Filium non verum corpus, sed seus seguidores, os quais, delirando que o Filho de
phantasticum sumpsisse somniantes, humanitatis in Deus não assumiu um corpo verdadeiro mas só
Christo veritatem penitus sustulerunt. aparente, anularam totalmente a verdade da huma-
nidade no Cristo.
Nec non Valentinum asserentem, Dei Filium nihil Ela ainda condena Valentino, que afirma que o 1341
de Virgine Matre cepisse, sed corpus caeleste sump- Filho de Deus não recebeu nada da Virgem Maria,
sisse, atque ita transisse per uterum Virginis, sicut mas assumiu um corpo celeste e passou através do
per aquaeductum defluens aqua transcurrit. útero da Virgem assim como a água escorre através
de um aqueduto.
Arium etiam, qui asserens, corpus ex Virgine Também Ário, o qual, afirmando que o corpo 1342
assumptum anima caruisse, voluit loco animae fuisse assumido da Virgem não tinha alma, pretendeu que
deitatem. no seu lugar estivesse a divindade.
Apollinarem quoque, qui intelligens, si anima Assim também Apolinário, o qual compreendeu 1343
corpus informans negetur in Christo, humanitatem bem que, negando a enformação do corpo pela alma,
veram ibidem non fuisse, solam posuit animam não haveria mais verdadeira humanidade no Cristo,
sensitivam, sed deitatem Verbi vicem rationalis ani- porém, lhe atribui só a alma sensitiva, enquanto a
mae tenuisse. natureza divina do Verbo substituiria a alma racional.
Anathematizat etiam Theodorum Mopsuestenum Ela fere com o anátema também Teodoro de 1344
atque Nestorium asserentes, humanitatem Dei Filio Mopsuestia e Nestório, os quais afirmam que a
unitam esse per gratiam et ob id duas in Christo humanidade é unida ao Filho de Deus por meio da
esse personas, sicut duas fatentur esse naturas, cum graça e que, por isso, há duas pessoas em Cristo,
intelligere non valerent, unionem humanitatis ad bem como admitem haver duas naturezas; não con-
Verbum hypostaticam exstitisse, et propterea nega- seguindo compreender que a união da humanidade
rent Verbi subsistentiam accepisse. Nam secundum com o Verbo é hipostática, negaram que ela tenha
hanc blasphemiam non Verbum caro factum est, sed recebido a subsistência do Verbo. Segundo esta afir-
Verbum per gratiam habitavit in carne, hoc est, non mação blasfema, o Verbo não se fez carne, mas, por
Dei Filius homo factus est, sed magis Dei Filius meio da graça, o Verbo habitou na carne, isto é, o
habitavit in homine. Filho de Deus não se fez homem, mas antes <se
afirma que> o Filho de Deus habitou no homem.
Anathematizat etiam, exsecratur et damnat Euty- Ela fere com o anátema, amaldiçoa e condena 1345
chen archimandritam, qui cum intelligeret, iuxta também o arquimandrita Êutiques. Este entendia
Nestorii blasphemiam veritatem incarnationis exclu- que, segundo a heresia de Nestório era anulada a
di, et propterea oportere, quod ita Dei Verbo unita verdade da encarnação e que portanto, era neces-
esset humanitas, ut deitatis et humanitatis una esset sário que a humanidade fosse unida ao Verbo de
eademque persona, ac etiam capere non posset, Deus, de modo que houvesse uma só e mesma
369
stante pluralitate naturarum, unitatem personae, si- pessoa para a divindade e humanidade; mas não
cut deitatis et humanitatis in Christo unam posuit podendo entender, dada a pluralidade das nature-
esse personam, ita unam asseruit esse naturam, zas, a unidade da pessoa, assim como admitiu em
volens ante unionem dualitatem fuisse naturarum, Jesus Cristo uma só pessoa, a divindade e a huma-
sed in unam naturam in assumptione transiisse, nidade, assim afirmou haver uma só natureza, que-
maxima blasphemia et impietate concedens aut rendo que antes da união houvesse uma dualidade
humanitatem in deitatem, aut deitatem in humani- de naturezas, transformada em unidade no momen-
tatem esse conversam. to da assunção, admitindo com suma impiedade
que ou a humanidade se transformara na divinda-
de, ou a divindade, na humanidade.
1346 Anathematizat etiam, exsecratur et damnat Ma- Ela fere com o anátema, amaldiçoa e condena tam-
carium Antiochenum omnesque similia sapientes, bém Macário de Antioquia e todos aqueles que se-
qui, licet vere de naturarum dualitate et personae guem doutrinas semelhantes. Este, não obstante pen-
unitate sentiret, tamen circa Christi operationes sasse certo quanto à dualidade das naturezas e quan-
enormiter oberravit dicens, in Christo utriusque to à unidade da pessoa, errou gravemente a respeito
naturae unam fuisse operationem unamque volun- das operações de Cristo, dizendo que no Cristo ha-
tatem. Hos omnes cum haeresibus suis anathemati- via uma só operação e uma só a vontade de ambas as
zat sacrosancta Romana Ecclesia, affirmans in naturezas. A sacrossanta Igreja romana anatematiza
Christo duas esse voluntates duasque operationes. a todos eles, com as suas heresias, afirmando que no
Cristo duas são as vontades e duas as operações.
1347 Firmiter credit, profitetur et docet, neminem Ela crê firmemente, professa e ensina que jamais
umquam ex viro feminaque conceptum a diaboli alguém concebido de homem e de mulher foi liber-
dominatu fuisse liberatum, nisi per fidem1 mediato- tado do domínio do demônio, senão pela fé1 no
ris Dei et hominum Iesu Christi [cf. 1 Tim 2,5] mediador entre Deus e os homens Jesus Cristo [cf.
Domini nostri, qui sine peccato conceptus, natus et 1Tm 2,5], nosso Senhor, o qual, concebido, nascido
mortuus, humani generis hostem, peccata nostra e morto sem pecado, venceu sozinho, com a sua
delendo, solus sua morte prostravit, et regni caeles- morte, o inimigo do gênero humano, cancelando os
tis introitum, quem primus homo peccato proprio nossos pecados; que reabriu o acesso ao reino ce-
cum omni successione perdiderat, reseravit, quem leste que o primeiro homem por causa de seu peca-
aliquando venturum omnia Veteris Testamenti sa- do tinha perdido com toda a sua descendência; e
cra sacrificia, sacramenta, ceremoniae praesignarunt. cuja vinda foi prefigurada por todos os santos sa-
crifícios, pelos sacramentos e pelas cerimônias do
Antigo Testamento.
1348 Firmiter credit, profitetur et docet, l eg a l i a Ve - Ela crê firmemente, professa e ensina que as
t e r i s Te s t a m e n t i , seu Mosaicae legis, quae divi- p r e s c r i ç õ e s l eg a i s d o A n t i g o Te s t a m e n t o ,
duntur in ceremonias, sacra sacrificia, sacramenta, isto é da Lei mosaica, que se dividem em cerimô-
quia significandi alicuius futuri gratia fuerant insti- nias, sacrifícios sagrados e sacramentos, mesmo
tuta, licet divino cultui illa aetate congruerunt, sig- porque instituídas para significar algo futuro, ainda
nificato per illa Domino nostro Iesu Christo adve- que adequadas ao culto divino daquela época, des-
niente cessasse, et Novi Testamenti sacramenta de o momento em que veio o nosso Senhor Jesus
coepisse. Quemcumque etiam post passionem in Cristo, por elas prefigurado, cessaram, quando to-
legalibus spem ponentem et illis velut ad salutem maram início os sacramentos do Novo Testamento.
necessariis se subdentem, quasi Christi fides sine Ela ensina que peca mortalmente todo aquele que
illis salvare non posset, peccasse mortaliter. Non voltar a pôr, depois da paixão <de Cristo>, sua es-
tamen negat a Christi passione usque ad promulga- perança naquelas prescrições legais e as observa
tum Evangelium illa potuisse servari, dum tamen como se fossem necessárias à salvação, e a fé no
minime ad salutem necessaria crederentur, sed post Cristo não pudesse salvar sem elas. <A Igreja> não
*1347 1 Tanto o texto original da bula como Fulgêncio de Ruspe, De fide seu de regula fidei ad Petrum 26, n. 69 (J. Fraipont
– C. Lambot: CpChL 91A [1968] 753 / PL 65, 701A [= n. 67]), de onde tomamos estas palavras; outros, no lugar de
“fidem”, lêem, com o Concílio de Trento (*1513), “meritum” (“pelo mérito … de Cristo”).
370
promulgatum Evangelium sine interitu salutis ae- nega, todavia que, no tempo entre a paixão de Cris-
ternae asserit non posse servari. to e a promulgação do Evangelho, elas pudessem
ser observadas, mesmo que não fossem julgadas ne-
cessárias à salvação; depois do anúncio do Evange-
lho, porém, não podem mais ser observadas sem a
perda da salvação eterna.
Omnes ergo post illud tempus circumcisionis et Todos, portanto, que depois disso observam os
sabbati reliquorumque legalium observatores alienos tempos da circuncisão, do sábado e de outras dis-
a Christi fide denuntiat et salutis aeternae minime posições da lei, ela os denuncia como estranhos à
posse esse participes, nisi aliquando ab iis erroribus fé em Cristo, não podendo de todo participar da
resipiscant. Omnibus igitur, qui christiano nomine salvação eterna. A todos, portanto, que se gloriam
gloriantur, praecipit omnino, quocumque tempore, do nome cristão, ordena absolutamente de acabar
vel ante vel post baptismum, a circumcisione ces- com a circuncisão, não importa em que momento,
sandum; quoniam sive quis in ea spem ponat, sive antes ou depois do batismo, seja administrada. Pois
non, sine interitu salutis aeternae observari omnino não pode ser observada de modo algum – quer al-
non potest. guém coloque nela sua esperança, quer não – sem
a perda da salvação eterna.
Circa p u e r o s vero propter periculum mortis, Quanto às c r i a n ç a s , dado o perigo de morte 1349
quod potest saepe contingere, cum ipsis non possit muitas vezes iminente, pois que não podem ser aju-
alio remedio subveniri, nisi per s a c r a m e n t u m dadas senão com o s a c r a m e n t o d o b a t i s m o
b a p t i s m i , per quod eripiuntur a diaboli dominatu que as libera do domínio do demônio e as torna fi-
et in Dei filios adoptantur, admonet, non esse per lhos adotivas de Deus, a Igreja admoesta que o batis-
quadraginta aut octoginta dies seu aliud tempus iuxta mo não seja protelado por quarenta ou oitenta dias,
quorundam observantiam sacrum baptisma differen- segundo a praxe de alguns, mas seja administrado
dum, sed quamprimum commode fieri potest, de- desde que possível, de modo adequado, tendo cuida-
bere conferri, ita tamen, quod mortis imminente do de que, em iminente perigo de morte, sejam ba-
periculo mox sine ulla dilatione baptizentur, etiam tizados logo, sem nenhuma demora, até por um lei-
per laicum vel mulierem, in forma Ecclesiae, si desit go ou por uma mulher, na falta de sacerdote, na for-
sacerdos, quemadmodum in decreto Armenorum ma prevista pela Igreja, como é indicado de modo
ple-nius continetur [*1315]. mais completo no decreto para os armênios [*1315].
Firmiter credit, profitetur et praedicat, o m n e m A Igreja crê firmemente, confessa e anuncia que 1350
c r e a t u r a m D e i b o n a m 1, “nihilque reiciendum, t u d o o q u e f o i c r i a d o p o r D e u s é b o m 1 “e
quod cum gratiarum actione percipitur” [1 Tim 4,4], não se deve desprezar nada que se recebe com ação
quia, iuxta verbum Domini, “non quod intrat in os, de graças” [1Tm 4,4]; pois, segundo a expressão do
coinquinat hominem” [Mt 15,11], illamque Mosai- Senhor “não é aquilo que entra pela boca que faz o
cae legis ciborum mundorum et immundorum diffe- homem impuro” [Mt 15,11]; e afirma que aquela
rentiam ad ceremonialia asserit pertinere, quae sur- diferença da Lei mosaica entre alimentos puros e
gente Evangelio transierunt et efficacia esse desie- impuros diz respeito às normas cerimoniais, que
runt. Illam etiam Apostolorum prohibitionem “ab foram superadas e anuladas com a anúncio do Evan-
immolatis simulacrorum et sanguine et suffocato” gelho. Também a ordem dos Apóstolos de abster-se
[Act 15,29] dicit illi tempori congruisse, quo ex “das carnes oferecidas aos ídolos, do sangue e das
Iudaeis atque gentilibus, qui antea diversis ceremo- carnes sufocados” [At 15,29] era adaptada ao tem-
niis moribusque vivebant, una surgebat Ecclesia, ut po no qual, de judeus e gentios, que antes viviam
cum Iudaeis etiam gentiles aliquid communiter segundo ritos e costumes diversos, estava surgindo
observarent, et in unum Dei cultum fidemque con- uma só Igreja; <era> a fim de que os gentios obser-
veniendi praeberetur occasio et dissensionis mate- vassem algo em comum com os judeus e lhes fosse
ria tolleretur, cum Iudaeis propter antiquam con- proporcionado unir-se em um só culto e em uma só
suetudinem sanguis et suffocatum abominabilia fé em Deus e fosse eliminado um objeto de dissen-
*1350 1 Cf. Fulgêncio de Ruspe, De fide seu de regula fidei ad Petrum 42, n. 85 (J. Fraipont – C. Lambot: CpChL 91A [1968]
758 / PL 65, 704CD [= n. 83]).
371
viderentur et esu immolatitii poterant arbitrari gen- são, porque aos judeus, por antiga tradição, o san-
tiles ad idololatriam redituros. Ubi autem eo usque gue e a carne sufocada pareciam coisas abominá-
propagata est christiana religio, ut nullus in ea Iu- veis e eles podiam pensar que os gentios, ao come-
daeus carnalis appareat, sed omnes ad Ecclesiam rem coisas imoladas, estivessem voltando à idola-
transeuntes in eosdem ritus Evangelii ceremoniasque tria. Mas, quando a religião cristã se difundiu de
conveniant, credentes “omnia munda mundis” [Tit modo a não haver mais nela nenhum judeu segundo
1,15], illius apostolicae prohibitionis causa cessan- a carne, mas antes, com a passagem à Igreja, todos
te, etiam cessavit effectus. participavam dos mesmos ritos e cerimônias pro-
postas pelo Evangelho, persuadidos de que “para
os puros tudo é puro” [Tt 1,15], cessada a razão
daquela proibição, cessou também o efeito.
Nullam itaque cibi naturam condemnandam esse A Igreja declara, portanto, que nenhum dos ali-
denuntiat, quem societas admittit humana, nec inter mentos em uso entre os homens deve ser condenado
animalia discernendum per quemcumque, sive vi- e que ninguém, homem ou mulher, deve fazer dife-
rum sive mulierem, et quocumque genere mortis rença entre os animais em função do modo como
intereant, quamvis pro salute corporis, pro virtutis são mortos; todavia, para a saúde do corpo, o exer-
exercitio, pro regulari et ecclesiastica disciplina cício da virtude e a disciplina religiosa e eclesiásti-
possint et debeant multa non negata dimitti, quia, ca, muitas coisas, mesmo se não proibidas, podem e
iuxta Apostolum, “omnia licent, sed non omnia devem ser deixadas; pois, segundo o Apóstolo, “tudo
expediunt” [1 Cor 6,12; 10,23]. é lícito, mas nem tudo é útil” [1Cor 6,12; 10,23].
Firmiter credit, profitetur et praedicat, “nullos A Igreja crê firmemente, confessa e anuncia que
extra catholicam Ecclesiam exsistentes, “nenhum dos que estão f o r a d a I g r e j a c a t ó l i -
non solum paganos”1, sed nec Iudaeos aut haereti- c a , não só os pagãos”1, mas também os judeus ou
cos atque schismaticos, aeternae vitae fieri posse hereges e cismáticos, poderá chegar à vida eterna,
participes, sed in ignem aeternum ituros, “qui para- mas irão para o fogo eterno “preparado para o diabo
tus est diabolo et angelis eius” [Mt 25,41], nisi ante e para os seus anjos” [Mt 25,41], se antes da morte
finem vitae eidem fuerint aggregati, tantumque va- não tiverem sido a ela reunidos; <ela crê> tão im-
lere ecclesiastici corporis unitatem, ut solum in ea portante a unidade do corpo da Igreja, que só para
manentibus ad salutem ecclesiastica sacramenta pro- aqueles que nela perseveram os sacramentos da Igreja
ficiant, et ieiunia, eleemosynae ac cetera pietatis offi- trazem a salvação e os jejuns, as outras obras de
cia et exercitia militiae christianae praemia aeterna piedade e os exercícios da milícia cristã podem ob-
parturiant. “Neminemque, quantascumque eleemo- ter o prêmio eterno. “Nenhum, por mais esmolas que
synas fecerit, etsi pro Christi nomine sanguinem tenha dado, e mesmo que tenha derramado o sangue
effuderit, posse salvari, nisi in catholicae Ecclesiae pelo nome de Cristo, poderá ser salvo se não perma-
gremio et unitate permanserit”2. necer no seio e na unidade da Igreja católica”2.
[Seguem-se os decretos para os gregos e os Armênios].
1352 Verum quia in suprascripto decreto Armenorum Mas, já que no decreto para os armênios acima
non est explicata forma verborum, quibus in c o n - apresentado não se fala da fórmula que a santa Igreja
s e c r a t i o n e corporis et sanguinis Domini sacro- romana, confirmada pela doutrina e pela autoridade
sancta Romana Ecclesia, Apostolorum Petri et Pau- dos Apóstolos Pedro e Paulo, sempre usou na c o n -
li doctrina et auctoritate firmata, semper uti con- s a g r a ç ã o do corpo e do sangue do Senhor, julga-
suevit, illam praesentibus duximus inserendam. In mos dever apresentá-la aqui. Eis a fórmula usada
consecratione corporis Domini hac utitur forma ver- na consagração do corpo e do sangue do Senhor:
borum: “Hoc est enim corpus meum”; sanguinis “Este é o meu corpo”; e naquela do sangue: “Este
vero: “Hic est enim calix sanguinis mei, novi et é o cálice do meu sangue, da nova e eterna aliança
aeterni testamenti, mysterium fidei, qui pro vobis et – mistério da fé –, derramado por vós e por muitos
pro multis effundetur in remissionem peccatorum”. para a remissão dos pecados”.
*1351 1 Fulgêncio de Ruspe, De fide seu de regula fidei ad Petrum 38, n. 81 (CpChL 91A, 757 / PL 65, 704A [= n. 79]).
2 Ibid. 39, n. 82 (CpChL 91A, 757 / PL 65, 704B [= n. 80]).
372
Panis vero triticeus, in quo sacramentum confici- Quanto ao pão de trigo com que se realiza o sa-
tur, an eo die, an antea decoctus sit, nihil omnino cramento, absolutamente não importa que tenha sido
refert; dummodo enim panis substantia maneat, feito no mesmo dia ou anteriormente; enquanto per-
nullatenus dubitandum est, quin post praedicta ver- manecer a substância do pão, não há dúvida algu-
ba consecrationis corporis a sacerdote cum inten- ma de que, depois das mencionadas palavras da
tione conficiendi prolata, mox in verum Christi consagração, pronunciadas pelo sacerdote com a
corpus transsubstantietur. intenção de realizar o sacramento, ele será logo tran-
substanciado no verdadeiro corpo de Cristo.
Quoniam nonnullos asseritur q u a r t a s n u p t i a s Diz-se que alguns não admitem as q u a r t a s n ú p - 1353
tamquam condemnatas respuere, ne peccatum, ubi c i a s , julgando-as condenadas; mas já que não se
non est, esse putetur, cum secundum Apostolum deve considerar pecado o que não o é, recordando
mortuo viro mulier sit ab eius lege soluta, et nuben- que, segundo o Apóstolo, pela morte do marido a
di, cui vult, in Domino habeat facultatem [cf. Rm mulher fica livre e, no Senhor, tem faculdade para
7,2; 1 Cor 7,39], nec distinguat, mortuo primo, esposar quem quiser [cf. Rm 7,2; 1Cor 7,39], sem
secundo vel tertio, declaramus non solum secundas distinção entre a morte do primeiro, do segundo ou
ac tertias, sed et quartas atque ulteriores, si aliquod do terceiro marido, declaramos que, na ausência de
canonicum impedimentum non obstet, licite con- impedimentos canônicos, é lícito contrair não só
trahi posse. Commendatiores tamen dicimus, si ul- segundas e terceiras núpcias, mas também quartas
terius a coniugio abstinentes in castitate permanse- e outras. Julgamos, todavia, mais louvável perma-
rint, quia, sicut virginitatem viduitati, ita nuptiis necer na castidade, abstendo-se de outras núpcias,
castam viduitatem laude ac merito praeferendam porque como a castidade é preferível à viuvez, as-
esse censemus. sim a casta viuvez é, com louvor e mérito, preferí-
vel às núpcias.
373
rint, certum competens pretium in numerata pe- das ou como rendas, um determinado preço em
cunia secundum temporis qualitatem, prout ipsi dinheiro em função do tempo, segundo os ven-
vendentes et ementes in contractibus super his dedores e os compradores tinham combinado
inter se firmaverunt, et recipere soliti fuere, illa entre si nos contratos, obrigando-se eficazmente
ex domibus, terris, agris, praediis, possessioni- ao pagamento das entradas e rendas das casas,
bus et hereditatibus praedictis, qui in huiusmo- terrenos, campos, capital, propriedades e he-
di contractibus expressi fuerunt, praedictorum ranças mencionados nos contratos, em favor dos
solutione redituum et censuum efficaciter obli- vendedores,
gantes, in illorum vendentium favorem,
hoc adiecto, acrescentando,
quod ipsi pro rata, qua huiusmodi per eos recep- que estes, ao restituírem aos supraditos compra-
tam dictis ementibus restituerent in toto vel in dores, total ou parcialmente, o dinheiro deles
parte pecuniam, a solutione redituum seu censuum recebido, de acordo com a cota restituída, have-
huiusmodi restitutam pecuniam contingentium riam de ser inteiramente liberados e isentos do
liberi forent penitus et immunes, pagamento das entradas ou das rendas que se
referissem a esse dinheiro restituído,
sed iidem ementes, etiamsi bona, domus, terrae, os compradores, ao invés, também se esses bens,
agri, possessiones et hereditates huiusmodi pro- casas, terras, propriedades e heranças com o trans-
cessu temporis ad omnimodae destructionis sive correr do tempo fossem reduzidos ao vexame de
desolationis reducerentur opprobrium, pecuniam completa destruição ou ruína, não poderiam pedir
ipsam etiam agendo repetere non valerent. o dinheiro, nem mesmo mediante ação judiciária.
1356 Apud aliquos tamen haesitationis versatur scru- Alguns porém, permanecem no escrúpulo e na
pulus, an huiusmodi contractus liciti sint censendi. incerteza se semelhantes contratos devam ser
Unde nonnulli, illos usurarios fore praetendentes, considerarados lícitos. Pelo que não poucos, adu-
occasionem quaerunt reditus et census huiusmodi zindo o motivo que <tais contratos> são usurários,
ab eis debitos non solvendi. … procuram a ocasião para não pagar as entradas ou
rendas por eles devidas. …
1357 Nos igitur … ad omne super his ambiguitatis Nós, portanto … para tirar toda a dúvida sobre
tollendum dubium, praefatos contractus licitos iuri- estas ambigüidades, em virtude da autoridade apos-
que conformes et vendentes eosdem ad ipsorum tólica, com base no presente <escrito>, declaramos
solutionem censuum et redituum iuxta dictorum os supraditos contratos lícitos e conformes ao direi-
contractuum tenores, remoto contradictionis obsta- to, e que aqueles vendedores, afastado assim o obs-
culo, efficaciter teneri, auctoritate Apostolica prae- táculo da contradição, são eficazmente obrigados
sentium serie declaramus. ao pagamento dessas entradas e rendas segundo o
teor dos mencionados contratos.
374
(3) Deum quoque alium mundum ab isto creasse, (3) Também: Deus criou um outro mundo além 1363
et in eius tempore multos alios viros et mulieres deste, e no seu tempo muitos outros homens e
exstitisse, et per consequens Adam primum homi- mulheres existiram, e como conseqüência Adão não
nem non fuisse. foi o primeiro homem.
(4) Item Iesum Christum non pro redemptione (4) Igualmente: Jesus Cristo padeceu e morreu 1364
ob amorem humani generis, sed stellarum necessi- não para a redenção, por amor do gênero humano,
tate passum et mortuum esse. mas por uma necessidade das estrelas.
(5) Item Iesum Christum, Moysen et Mahometem (5) Igualmente: Jesus Cristo, Moisés e Maomé têm 1365
mundum pro suarum libito voluntatum rexisse. dirigido o mundo de acordo com a vontade deles.
(6) Necnon eundem Dominum nostrum Iesum (6) E assim também, o mesmo nosso Senhor Je- 1366
illegitimum, et in hostia consecrata non quoad hu- sus é ilegítimo e está presente na hóstia consagra-
manitatem, sed divinitatem dumtaxat exsistere. da, não quanto à humanidade, mas somente quanto
à divindade.
(7) Extra matrimonium luxuriam non esse pecca- (7) A luxúria fora do matrimônio é pecado so- 1367
tum, nisi legum positivarum prohibitione, easque mente porque proibido pelas leis positivas, e por
propterea minus bene disposuisse, et sola prohibi- isso elas dispuseram menos bem <as coisas>, e só
tione ecclesiastica se fraenari, quominus Epicuri pela disposição eclesiástica ele se refreou de seguir
opinionem ut veram sectaretur. como verdadeira a opinião de Epicuro.
(8) Praeterea rem auferre alienam non esse pec- (8) Além disso: Apoderar-se de uma coisa de ou- 1368
catum mortale etiam domino invito. trem, mesmo contra a vontade do dono, não é pecado.
(9) Legem denique Christianam per successionem (9) Por último: A lei cristã terá o seu fim pela 1369
alterius legis finem habituram, quemadmodum Lex entrada de uma nova lei, como à lei de Moisés foi
Moysi per Legem Christi terminata fuit. posto fim pela lei de Cristo.
375
376
(3) Item ad Hebr. 10, ubi Apostolus inquit: “Um- (3) Igualmente, em Hb 10, onde o apóstolo diz: 1393
bram habens lex futurorum bonorum” et “non ipsam “Tendo a Lei a sombra dos bens futuros” e “não a
imaginem rerum” [Hbr 10,1], innuere videtur, quod realidade mesma das coisas” [Hb 10,1], parece in-
propositiones Veteris Legis, quae erant de futuro, dicar que as palavras da lei antiga que se referiam
nondum habebant determinatam veritatem. ao futuro, não tinham ainda uma precisa verdade.
(4) Item, quod non sufficit ad veritatem proposi- (4) Igualmente, não é suficiente para a verdade 1394
tionis de futuro, quod res erit, sed requiritur, quod de uma palavra referente ao futuro que a coisa exis-
inimpedibiliter erit. tirá, mas se requer que existirá sem possibilidade
de impedimento.
(5) Item necesse est dicere alterum duorum: aut (5) Igualmente é necessário dizer uma das duas: 1395
quod in articulis fidei de futuro non est praesens et ou que nos artigos de fé referentes ao futuro não
actualis veritas, aut quod significatum eorum per está presente e atual a verdade, ou que não pode ser
potentiam divinam non potuit impediri. impedido pelo poder divino o que dão a conhecer.
[C e n s u r a :] scandalosae et a catholicae fidei [C e n s u r a :] escandalosas e desviantes dos ca- 1396
semita deviae. minhos da fé católica.
1398: Bula “Salvator noster” a favor da igreja de São Pedro em Saintes, 3 ago. 1476
Diferente das outras bulas até aqui emitidas, nesta é concedida a aplicação de uma indulgência plenária aos defun-
tos ao modo de sufrágio. Dado que esta concessão foi objeto de uma interpretação errônea e abusiva, Sixto IV, em outra
bula (*1405-1407), explicou-lhe o sentido. R. Peraudi, cônego de Saintes e comissário papal para a concessão dessas
indulgências, escreveu sobre a Bula “Salvator Noster” uma Summaria declaratio, à qual se referem as posteriores
instruções sobre as indulgências.
Ed.: Archives historiques de la Saintonge et de l’Aunis 10 (1882) 64 / N. Paulus, in: HJb 21 (1900) 649s, nota 4 /
idem, Geschichte des Ablasses im Mittelalter 3 (Paderborn 1923) 382, nota 3.
377
rint, ut praefertur, pro relaxatione poenarum valere durante tal decênio, Nós queremos que esta indul-
ac suffragari. gência plenária ao modo de sufrágio [cf. *1405s]
valha para a remissão das penas e para proveito das
mesmas almas do purgatório em prol das quais –
como é pressuposto – desembolsaram a supradita
quantia de dinheiro ou capital.
378
Virginis meritis et intercessione divinae gratiae mesma Virgem imaculada e ofereçam as missas e
aptiores. os outros ofícios divinos para isto instituídos na
Igreja de Deus e deles participem, para se torna-
rem, pelos méritos e intercessão da mesma Virgem,
cada vez mais aptos à graça divina.
379
et eleemosynas et indulgentiam per modum suffra- modo de sufrágio, dado que sabemos bem que as
gii longe distare; sed eam “perinde” valere diximus, orações e as esmolas são extremamente diferentes
id est, per eum modum, “ac si” id est per quem da indulgência ao modo de sufrágio; mas Nós dis-
orationes et eleemosynae valent. Et quoniam ora- semos que ela tem valor “assim também”, isto é,
tiones et eleemosynae valent tamquam suffragia daquele modo, “como se”, isto é, do modo pelo qual
animabus impensa, Nos, quibus plenitudo potesta- as orações e as esmolas têm valor. E, visto que as
tis ex alto est attributa, de thesauro universalis Ec- orações e as esmolas têm valor como sufrágios ofe-
clesiae, qui ex Christi Sanctorumque eius meritis recidos às almas, Nós, a quem foi atribuída do alto
constat, Nobis commisso, auxilium et suffragium a plenitude do poder, desejando oferecer auxílio e
animabus purgatorii afferre cupientes supradictam sufrágio ás almas do purgatório, do tesouro que
concessimus indulgentiam, ita tamen, ut fideles ipsi resulta dos méritos de Cristo e dos seus Santos, a
pro eisdem animabus suffragium darent, quod ip- Nós confiado pela Igreja universal, concedemos a
sae defunctorum animae per se nequeant adimplere. supradita indulgência, mas de tal modo que os fiéis
Haec in scriptis Nostris sensimus et sentimus … ofereçam por aquelas almas o sufrágio que as mes-
mas almas dos defuntos não são capazes de cum-
prir em vantagem própria. Eis o que nos Nossos
escritos temos entendido e entendemos …
1407 Ut igitur sanctum et laudabile desiderium hoc Como, portanto, este Nosso santo e louvável de-
Nostrum a nullo potest iure damnari, etiam intentio sejo não pode ser de boa mente condenado por nin-
et sana mens, quae non nisi ad apertum bonum in- guém, também não deve ser atacada por causa de
tendit, impugnari per ambiguitatis medium non ambigüidade a intenção e a reta razão que procura
debet, cum secundum theologicae disciplinae ratio- unicamente um bem evidente, dado que, segundo a
nem quaecumque propositio dubium intellectum in lógica da doutrina teológica, qualquer proposição
se continens semper in eo sensu sit accipienda, in que contenha em si um significado duvidoso deve
quo vera redditur locutio. sempre ser compreendida naquele sentido no qual
se torna uma afirmação verdadeira.
Quamobrem … praesentium tenore motu proprio Portanto … em virtude do presente <escrito>, de
decernimus et declaramus, in quibuscumque scrip- própria vontade estabelecemos e declaramos que,
tis Nostris semper Nostrae intentionis fuisse et nunc em todos os Nossos escritos, esta sempre foi e ain-
esse: ipsam plenariam indulgentiam per modum da agora é a Nossa intenção: a indulgência plenária
suffragii animabus in purgatorio exsistentibus con- concedida ao modo de sufrágio às almas que se
cessam sic valere et suffragari, quemadmodum encontram no purgatório tem valor e favorece no
communis Doctorum schola eas valere et suffragari modo em que o comum ensinamento escolástico dos
concedit. Doutores admite que elas <as indulgências> tenham
valor e aproveitem.
380
(2) Peccata mortalia quoad culpam et poenam (2) Os pecados mortais, quanto à culpa e à pena 1412
alterius saeculi absque confessione, sola cordis no outro mundo, são cancelados sem a confissão,
contritione, com a mera contrição do coração,
(3) pravas vero cogitationes sola displicentia (3) os maus pensamentos, porém, já com o mero 1413
deleri. desprazer.
(4) Quod confessio secreta sit, necessario non (4) Não é exigido de modo necessário que a con- 1414
exigi. fissão seja secreta.
(5) Non peracta paenitentia, confitentes absolvi (5) Aqueles que se confessam não devem ser ab- 1415
non debere. solvidos sem que tenha sido cumprida a penitência.
(6) Romanum Pontificem purgatorii poenam (6) O Romano Pontífice não pode perdoar a pena 1416
remittere, do purgatório,
(7) et super his, quae universalis Ecclesia statuit, (7) nem dispensar daquilo que foi estabelecido 1417
dispensare non posse. pela Igreja universal.
(8) Sacramentum quoque paenitentiae, quantum (8) O sacramento da penitência, além disso, quan- 1418
ad collationem gratiae, naturae, non autem institu- to à concessão da graça, existe por natureza, e não,
tionis Novi vel Veteris Testamenti exsistere. ao invés, por instituição do Novo ou do Antigo
Testamento.
[C e n s u r a :] Pro potioris cautelae suffragio, [C e n s u r a :] Em prol de maior cautela, Nós de- 1419
omnes et singulas propositiones praedictas falsas, claramos que as proposições referidas, todas juntas
sanctae catholicae fidei contrarias, erroneas et scan- e singularmente, são falsas, contrárias à fé católica,
dalosas et ab evangelica veritate penitus alienas, errôneas e escandalosas e de todo estranhas à ver-
sanctorum quoque Patrum decretis et aliis Aposto- dade evangélica, contrárias também aos decretos dos
licis constitutionibus contrarias fore ac manifestam santos Padres e às outras constituições apostólicas,
haeresim continere … declaramus. e contêm manifesta heresia …
381
modi assertiones praedicatorum eorundem et alio- são e segura ciência, em virtude da autoridade apos-
rum quorumlibet qui affirmare praesumerent, eos, tólica, com base no presente escrito, reprovamos e
qui crederent aut tenerent, eandem Dei genitricem condenamos como falsas e errôneas e de todo es-
ab originalis peccati macula in sua conceptione tranhas à verdade as afirmações de tal gênero, da-
praeservatam fuisse, propterea alicuius haeresis labe queles pregadores e de todos os outros que ousa-
pollutos fore vel mortaliter peccare, aut huiusmodi ram afirmar que os que crêem e afirmam que a
officium conceptionis celebrantes seu huiusmodi genitora de Deus foi preservada no seu concebi-
sermones audientes alicuius peccati reatum incur- mento da mancha do pecado original são por isso
rere, utpote falsas et erroneas et a veritate penitus manchados pela heresia e pecam mortalmente, ou
alienas, editosque desuper libros praedictos, id con- que os que celebram este ofício da Conceição
tinentes, quoad hoc auctoritate Apostolica tenore ou que ouvem tais sermões incorrem em delito de
praesentium reprobamus et damnamus; … simili pecado; e <reprovamos e condenamos> também os
poenae ac censurae subiicientes eos, qui ausi fue- livros acima referidos que foram publicados com
rint asserere, contrariam opinionem tenentes, vide- este conteúdo; … e a semelhante pena e censura
licet gloriosam Virginem Mariam cum originali submetemos aqueles que ousarem afirmar que os
peccato fuisse conceptam, haeresis crimen vel pec- defensores da opinião contrária – isto é, que a Vir-
catum incurrere mortale, cum nondum sit a Roma- gem Maria foi concebida com o pecado original –
na Ecclesia et Apostolica Sede decisum … incorrem no delito de heresia ou em pecado mortal,
dado que <a questão> não foi ainda decidido pela
Igreja romana e pela Sé Apostólica…
382
tinentibus, quamvis eis pleno iure non subessent, que lhes pertencem conjunta ou separadamente –
benedictionem sollemnem, post Missarum, Ves- também se não subordinadas a eles com pleno
perarum et Matutinarum sollemnia, dummodo direito –, a benção solene depois das Missas,
in benedictione huiusmodi aliquis antistes vel Vésperas e Matinas solenes, desde que tal benção
Apostolicae Sedis legatus praesens non foret, não seja presenciada por algum bispo ou legado
elargiri, … da Sé Apostólica, …;
obtenta valerent, … concessum fuerit …: … sejam válidas.
Nos qui Ordinem ipsum prae ceteris in visceribus Nós, que com amor afetuoso circundamos esta Or-
gerimus charitatis et illum intendimus non minoribus dem antes de todas as outras e entendemos honrá-
gratiis et privilegiis quam praedecessores Nostri la com graças e privilégios não menores de quanto
fecerunt, decorare, tuis in hac parte supplicationi- tenham feito os Nossos predecessores, inclinados
bus inclinati, tibi et successoribus tuis, ac dictis aos teus pedidos neste assunto, a ti e a teus suces-
abbatibus aliorum quatuor monasterium praedicto- sores e aos referidos abades dos outros quatro mos-
rum nunc et pro tempore exsistentibus, ut de cetero teiros dos quais acima, agora e pelo tempo em que
perpetuis futuris temporibus, estiverem no cargo: que doravante e para sempre
no futuro vós possais e eles possam
praedicta et quaecumque alia vestimenta ac or- … abençoar as antes nomeadas e qualquer outra
namenta ecclesiastica … benedicere, et calices veste e ornamento eclesiástico, consagrar os cá-
consecrare … ac altaria … in quibuslibet locis lices… e os altares … em qualquer lugar da refe-
dicti Ordinis, chrismate sacro prius ab aliquo rida ordem, com o sagrado crisma recebido de
catholico antistite recepto consecrare, et etiam qualquer bispo católico, e também outorgar a
benedictionem sollemnem post Missarum, Vespe- solene benção depois das Missas, Vésperas e
rarum et Matutinarum sollemnia … elargiri, ac, Matinas solenes; e para que os monges da referi-
ne monachi dicti Ordinis pro suscipiendis Sub- da ordem não sejam constrangidos a correr cá e
diaconatus et Diaconatus ordinibus extra claus- lá fora do mosteiro para poder receber as ordens
trum hinc inde discurrere cogantur, tibi et suc- do subdiaconado e do diaconado, a ti e aos teus
cessoribus tuis, ut quibuscumque dicti Ordinis sucessores, para qualquer monge da dita ordem,
monachis, aliis vero quatuor abbatibus praefatis bem como aos outros quatro supraditos abades e
ac eorum successoribus, ut suorum monasterio- aos seus sucessores, para os religiosos dos seus
rum praedictorum religiosis, quos ad id idoneos mosteiros acima referidos, àqueles que vós tiver-
repereritis, S u b d i a c o n a t u s et D i a c o n a t u s des julgado idôneos para isto, c o n f e r i r, de res-
o r d i n e s huiusmodi alias rite c o n f e r r e , … to segundo a regra, estas o r d e n s d o s u b d i a -
conado e do diaconado…
libere et licite possitis et possunt, auctoritate Apos- livremente e de modo lícito, em virtude da autori-
tolica et ex certa scientia tenore praesentium de dade apostólica e por segura convicção, com base
speciali dono gratiae indulgemus. no presente escrito, por especial dom da graça, o
concedemos.
383
384
Ed.: MaC 32, 905E-907A / HaC 9, 1773D-1774E / BullTau 5, 622a-623b / BullCocq 3/III, 408b-409a / COeD3
62617-62730. – Reg.: J. Hergenröther, Regesta Leonis X (Freiburg 1884) n. 15297.
Usura e montepios
Nonnullis enim magistris et doctoribus dicenti- Alguns mestres e doutores, de fato, sustentam que 1442
bus eos montes non esse licitos, in quibus aliquid não são lícitos aqueles montepios, nos quais, passa-
ultra sortem pro libra, decurso certo tempore, per do certo tempo, os administradores exigem, dos
ministros huius montis ab ipsis pauperibus, quibus próprios pobres que recebem empréstimo, além do
mutuum datur, exigitur, et propterea ab usurarum capital algo a mais por cada libra <emprestada>;
crimine … mundos non evadere, cum Dominus deste modo, não escapam da culpa de usura … já
noster, Luca Evangelista testante [Lc 6,34s], aperto que nosso Senhor, segundo o testemunho do
nos praecepto obstrinxerit, ne ex dato mutuo quid- evangelista Lucas [Lc 6,34s], nos obrigou por um
quam ultra sortem sperare debeamus. Ea enim preceito claro não esperar nada mais que o capital,
propria est usurarum interpretatio, quando videlicet quando concedemos um empréstimo. Acontece, de
ex usu rei, quae non germinat, nullo labore, nullo fato, usura em sentido próprio quando, do uso de
sumptu nullove periculo lucrum fetusque conquiri uma coisa que não produz nada, se procura ter lu-
studetur. … cro e ganho sem fadiga e sem perigo. …
Aliis vero pluribus magistris et doctoribus … Mas outros mestres e doutores … se pronunciam 1443
conclamantibus pro tanto bono tamque rei publicae … a favor de um bem tão grande, tão necessário à
pernecessario, modo ratione mutui nihil petatur comunidade, contanto que não se peça e não se
neque speretur; pro indemnitate tamen eorumdem espere nenhuma compensação pelo empréstimo.
montium, impensarum videlicet ministrorum eorum- Dizem eles que este montepios, para não sofrerem
dem ac rerum omnium ad illorum necessariam con- dano – ou seja, para financiar as obras necessárias,
servationem pertinentium, absque montium huius- para o salário dos empregados e para tudo o que
modi lucro, idque moderatum et necessarium ab his, serve a seu sustento –, podem receber e exigir, da-
qui ex huiusmodi mutuo commodum suscipiunt, queles que de tal empréstimo tiram vantagem, uma
licite ultra sortem exigi et capi posse nonnihil lice- soma modesta e reduzida ao estritamente necessá-
re, cum regula iuris habeat, quod qui commodum rio além do capital, com a condição de não tirarem
sentit, onus quoque sentire debeat1, praesertim si nenhum lucro; isto, em virtude do princípio pelo
Apostolica accedat auctoritas. Quam quidem sen- qual quem recebe uma vantagem deve também sen-
tentiam a felicis recordationis Paulo II, Sixto IV, tir o peso1, sobretudo se existir a aprovação da au-
Innocentio VIII, Alexandro VI et Iulio II Romanis toridade apostólica. E eles demonstram que esta
Pontificibus praedecessoribus Nostris probatam … opinião foi aprovada pelos Romanos Pontífices nos-
esse ostendunt. sos predecessores, Paulo II, Sisto IV, Inocêncio VIII,
Alexandre VI e Julio II, de feliz memória. …
Nos super hoc … opportune providere volentes, Nós … querendo oportunamente tomar providên- 1444
alterius quidem partis, iustitiae zelum, ne vorago cias quanto a isso, reconhecendo o valor do zelo
aperiretur usurarum, alterius, pietatis et veritatis pela justiça que mostra a primeira parte, que quer
amorem, ut pauperibus subveniretur, utriusque vero evitar a ameaça da usura, e apreciando o amor pela
partis studium commendantes, … sacro approbante piedade e a verdade que manifesta a segunda parte,
Concilio, declaramus et definimus, montes pietatis que quer ir em auxílio dos pobres, louvando porém
antedictos per respublicas institutos et auctoritate o empenho de ambas as partes, … com aprovação
Sedis Apostolicae hactenus probatos et confirmatos, do sagrado Concílio declaramos e definimos que os
referidos montepios constituídos pelas autoridades
públicas e até agora aprovados e confirmados pela
Sé Apostólica,
in quibus pro eorum impensis et indemnitate ali- nos quais, em razão de seus gastos e indeniza-
quid moderatum ad solas ministrorum impensas ção, para as simples despesas dos empregados e
et aliarum rerum ad illorum conservationem, ut demais coisas necessárias para sua manutenção,
*1443 1 Regulae iuris, in: Bonifácio VIII, Liber Sextus Decretalium V Appendix, regula 55 (Frdb 2,1123).
385
praefertur, pertinentium, pro eorum indemnitate como acima dito, só para sua indenização, se exija
dumtaxat, ultra sortem absque lucro eorundem uma modesta compensação além do depósito, sem
montium recipitur, lucro para os mesmos montepios,
neque speciem mali praeferre nec peccandi incenti- não parecem apresentar mal algum nem constituem
vum praestare neque ullo pacto improbari, quin incentivo ao pecado, nem devem de maneira alguma
immo meritorium esse ac laudari et probari debere ser condenados, mas, ao contrário, tal tipo de em-
tale mutuum et minime usurarium putari … . préstimo é meritório e deve ser louvado e aprovado,
e de modo algum deve ser considerado usura … .
Omnes autem …, qui contra praesentis declara- Todos, pois, … que no futuro ousarem pregar
tionis et sanctionis formam de cetero praedicare seu ou discutir, quer a viva voz, quer por escrito, no
disputare verbo vel scriptis ausi fuerint, excommu- sentido contrário à decisão aqui formulada, quere-
nicationis latae sententiae poenam … incurrere mos que incorram na excomunhão de pronunciada
volumus … sentença …
1447-1449: Decreto “Cum postquam”, ao cardeal Caetano de Vio, legado do Papa, 9 nov. 1518
A prática das indulgências, que na Alemanha foi objeto de graves deformações, tinha proporcionado a Martinho
Lutero a ocasião de tornar públicas, em 31 out. 1517, 95 teses sobre as indulgências (ed. de Weimar 1 [1883] 229-238).
386
Como resposta ao acontecido, esta bula quer expor a reta doutrina da Igreja sobre as indulgências. A autoridade dou-
trinal da bula é sublinhada por Leão X na carta de acompanhamento “Aos suíços” de 30 abr. 1519 (ed. L.R. Schmidlin,
Bernhardin Sanson, der Ablassprediger in der Schweiz 1518-1519 [Solothurn 1898] 30s):
“O poder do Romano Pontífice de conceder indulgências, de acordo com a veraz definição da Igreja romana, que
decretamos dever ser por todos conservada e pregada … como procurareis sem restrição ver e o observar deste escrito
que vos mandamos para subscrever. … Procurareis aderir com firmeza à veraz definição da santa Igreja romana e desta
Santa Sé, que não permite erros”. (“Romani Pontificis potestatem in huiusmodi indulgentiarum concessione iuxta Romanae
Ecclesiae veram definitionem, quam ab omnibus teneri et praedicari debere … decrevimus, prout ex ipsis litteris, quas
vobis consignari mandamus, plene videre et servare curabitis. … Verae determinationi sanctae Romanae Ecclesiae et
huius Sanctae Sedis, quae non permittit errores, firmiter adhaerebitis”).
O cardeal Caetano de Vio, a quem esta bula era destinada, inseriu, em 1522, a parte mais importante do texto no
seu Comentário a Tomás de Aquino, Summa theologiae III, q. 48, a. 5 (ed. Leonina 11 [1903] 469).
Ed.: quanto a Caetano, cf. supra / J. Le Plat, Monumentorum ad historiam Concilii Tridentini spectantium amplis-
sima collectio 2 (Lovaina 1782) 23s / repetido apud N. Paulus, in: ZKTh 37 (1913) 395s / W. Köhler, Dokumente zum
Ablaßstreit von 1517 (Tübingen – Leipzig 1902) 158s (n. 36).
As indulgências
… Ne de cetero quisquam ignorantiam doctrinae … Para que doravante ninguém possa alegar o 1447
Romanae Ecclesiae circa huiusmodi indulgentias et desconhecimento da doutrina da Igreja de Roma a
illarum efficaciam allegare aut ignorantiae huius- respeito das indulgências e sua eficácia ou se des-
modi praetextu se excusare, aut protestatione con- culpar com o pretexto de tal desconhecimento, nem
ficta se iuvare, sed ut ipsi de notorio mendacio ut recorrer a um protesto sem fundamento, e para que,
culpabiles convinci et merito damnari possint, per ao invés, tais pessoas possam ser denunciadas como
praesentes tibi significandum duximus, Romanam claramente mentirosos e daí merecidamente conde-
Ecclesiam, quam reliquae tamquam matrem sequi nadas, com o presente <escrito> julgamos dever
tenentur, tradidisse: levar a teu conhecimento o que ensinou a Igreja de
Roma, que as outras Igrejas são obrigadas a seguir
como a uma mãe:
Romanum Pontificem, Petri clavigeri successo- O Romano Pontífice, sucessor de Pedro, detentor 1448
rem et Iesu Christi in terris vicarium, potestate cla- das chaves e vigário de Jesus Cristo na terra, em
vium, quarum est aperire regnum caelorum tollendo virtude do poder das chaves que servem para abrir
illius in Christi fidelibus impedimenta (culpam sci- o reino dos céus, livrando os fiéis de Cristo dos
licet et poenam pro actualibus peccatis debitam, impedimentos (a saber, a culpa e a pena devidas
culpam quidem mediante sacramento paenitentiae, pelos pecados atuais: a culpa, mediante o sacramento
poenam vero temporalem pro actualibus peccatis da penitência, a pena temporal devida segundo a
secundum divinam iustitiam debitam mediante ec- justiça divina pelos pecados atuais, mediante a in-
clesiastica indulgentia), posse pro rationabilibus dulgência eclesiástica), tem o poder de conceder,
causis concedere eisdem Christi fidelibus, qui cari- por causas razoáveis, haurindo da superabundância
tate iungente membra sunt Christi, sive in hac vita dos méritos de Cristo e dos Santos, indulgências
sint, sive in purgatorio, indulgentias ex superabun- aos fiéis cristãos, que pela caridade que os une são
dantia meritorum Christi et Sanctorum; ac tam pro membros de Cristo, quer se encontrem em vida, quer
vivis quam pro defunctis Apostolica auctoritate in- estejam no purgatório; e ao conceder a indulgência,
dulgentiam concedendo, thesaurum meritorum Iesu quer aos vivos quer aos mortos, em virtude da apos-
Christi et Sanctorum dispensare, per modum abso- tólica autoridade, ele dispensa, segundo seu costu-
lutionis indulgentiam ipsam conferre, vel per mo- me, os tesouros dos méritos de Jesus Cristo e dos
dum suffragii illam transferre consuevisse. Santos, confere a própria indulgência a modo de
absolvição ou aplica-a a modo de sufrágio.
Ac propterea omnes, tam vivos quam defunctos, E por isso, todos os que, vivos ou defuntos, con-
qui veraciter omnes indulgentias huiusmodi conse- seguiram verdadeiramente todas essas indulgências
cuti fuerint, a tanta temporali poena, secundum di- são liberados da pena temporal, devida segundo a
vinam iustitiam pro peccatis suis actualibus debita divina justiça pelos pecados atuais, que correspon-
liberari, quanta concessae et acquisitae indulgen- de à indulgência concedida e adquirida.
tiae aequivalet.
387
1449 Et ita ab omnibus teneri et praedicari debere sub E Nós, em virtude da autoridade apostólica e pelo
excommunicationis latae sententiae poena … auc- teor do presente <escrito>, decretamos que assim
toritate Apostolica earumdem tenore praesentium deve ser sustentado e pregado por todos, sob pena
decernimus. de excomunhão de pronunciada sentença.
388
4. Imperfecta caritas morituri fert secum neces- 4. A caridade imperfeita do moribundo traz ne- 1454
sario magnum timorem, qui se solo satis est facere cessariamente consigo um grande temor, que, só de
poenam purgatorii, et impedit introitum regni1. per si, é suficiente para contrair a pena do purgató-
rio e impede a entrada no reino1.
5. Tres esse partes paenitentiae: contritionem, 5. Que as partes da confissão sejam três: contri- 1455
confessionem et satisfactionem, non est fundatum ção, confissão e satisfação, não está fundamentado
in sacra Scriptura nec antiquis sanctis christianis na Sagrada Escritura nem nos antigos santos douto-
doctoribus1. res cristãos1.
6. Contritio, quae paratur per discussionem, colla- 6. A contrição suscitada pelo exame, pela recapi- 1456
tionem et detestationem peccatorum, qua quis tulação e pela detestação dos pecados, com a qual,
recogitat annos suos in amaritudine animae suae [cf. na amargura de sua alma, a pessoa reflete sobre os
Is 38,15], ponderando peccatorum gravitatem, mul- anos de sua vida [cf. Is 38,15], ponderando a gravi-
titudinem, foeditatem, amissionem aeternae beati- dade, o grande número, a torpeza dos pecados, a
tudinis, ac aeternae damnationis acquisitionem, haec perda da felicidade eterna e conseqüentemente a
contritio facit hypocritam, immo magis peccatorem1. eterna condenação, tal contrição torna hipócrita, até
mais pecador ainda1.
7. Verissimum est proverbium et omnium doctri- 7. Muito verdadeiro e bem superior à doutrina 1457
na de contritionibus huc usque data praestantius: ‘De que até hoje todos propõem sobre a contrição é o
cetero non facere, summa paenitentia: optima pae- provérbio: “Não mais fazê-lo é a suma penitência;
nitentia, nova vita’1. a melhor penitência, uma vida nova”1.
8. Nullo modo praesumas confiteri peccata ve- 8. Não deves presumir de modo algum confessar 1458
nialia, sed nec omnia mortalia, quia impossibile est, os pecados veniais e nem mesmo todos os mortais,
ut omnia mortalia cognoscas. Unde in primitiva porque é impossível que conheças todos os pecados
Ecclesia solum manifesta mortalia confitebantur1. mortais. Por este motivo na Igreja primitiva se con-
fessavam somente os pecados mortais manifestos1.
9. Dum volumus omnia pure confiteri, nihil aliud 9. Quando queremos confessar tudo de modo 1459
facimus, quam quod misericordiae Dei nihil volu- completo, não fazemos outra coisa senão isto, que
mus relinquere ignoscendum1. não queremos deixar à misericórdia de Deus nada
para perdoar1.
10. Peccata non sunt ulli remissa, nisi remittente 10. A ninguém são perdoados os pecados se não 1460
sacerdote credat sibi remitti; immo peccatum ma- crê que lhe são perdoados pelo sacerdote que ab-
neret, nisi remissum crederet: non enim sufficit re- solve; antes, o pecado permaneceria se ele não o
missio peccati et gratiae donatio, sed oportet etiam acreditasse perdoado: de fato, não bastam a remis-
credere esse remissum1. são do pecado e o dom da graça, mas é preciso
também crer que foi perdoado1.
11. Nullo modo confidas absolvi propter tuam 11. Não deves confiar de modo algum que sejas 1461
contritionem, sed propter verbum Christi: “Quod- absolvido pela tua contrição, mas pela palavra de
cumque solveris” etc. [Mt 16,19]. Hinc, inquam, Cristo: “Tudo o que desligares” etc. [Mt 16,19].
confide, si sacerdotis obtinueris absolutionem, et Nisto, eu digo, confia: se obtiveste a absolvição
crede fortiter te absolutum, et absolutus vere eris, do sacerdote e crês firmemente que foste absolvi-
quidquid sit de contritione1. do, terás a absolvição de verdade, seja qual for a
contrição1.
389
1462 12. Si per impossibile confessus non esset con- 12. Se, por um absurdo, aquele que se confessa
tritus, aut sacerdos non serio, sed ioco absolve- não estivesse contrito, ou então o sacerdote não
ret, si tamen credat se absolutum, verissime est absolvesse com seriedade, mas por brincadeira, se
absolutus1. todavia ele se crê absolvido, com toda certeza esta-
rá absolvido1.
1463 13. In sacramento paenitentiae ac remissione 13. No sacramento da penitência e na remissão
culpae non plus facit Papa aut episcopus, quam da culpa, o Papa ou o bispo não fazem nada a mais
infimus sacerdos: immo, ubi non est sacerdos, aeque que um simples sacerdote: mais, onde não houver
tantum quilibet Christianus, etiamsi mulier aut puer sacerdote, um simples cristão pode fazer o mesmo,
esset1. mesmo que fosse mulher ou criança1.
1464 14. Nullus debet sacerdoti respondere, se esse 14. Ninguém deve responder ao sacerdote se está
contritum, nec sacerdos requirere1. arrependido, e o sacerdote não o deve perguntar1.
1465 15. Magnus est error eorum, qui ad sacramenta 15. É grande o erro daqueles que se apresentam
Eucharistiae accedunt huic innixi, quod sint confessi, ao sacramento da Eucaristia confiando no fato de
quod non sint sibi conscii alicuius peccati mortalis, se terem confessado, de não ter consciência de ne-
quod praemiserint orationes suas et praeparatoria: nhum pecado mortal, de terem feito, antes, orações
omnes illi iudicium sibi manducant et bibunt. Sed pessoais e preparatórias: todos estes comem e be-
si credant et confidant, se gratiam ibi consecuturos, bem a própria condenação. Mas, se crêem e con-
haec sola fides facit eos puros et dignos1. fiam que conseguirão a graça, esta fé basta para
torná-los puros e dignos1.
1466 16. Consultum videtur, quod Ecclesia in communi 16. Parece aconselhável que a Igreja determine,
Concilio statueret, laicos sub utraque specie com- em concílio geral, que os leigos devem comungar
municandos: nec Bohemi communicantes sub utra- sob as duas espécies; e os boêmios, que comun-
que specie sunt haeretici, sed schismatici1. gam sob as duas espécies, não são hereges, mas
cismáticos1.
1467 17. Thesauri Ecclesiae, unde Papa dat indulgen- 17. Os tesouros da Igreja, de onde o Papa conce-
tias, non sunt merita Christi et Sanctorum1. de as indulgências, não são os méritos de Cristo e
dos Santos1.
1468 18. Indulgentiae sunt piae fraudes fidelium, et 18. As indulgências são piedosos enganos dos fiéis
remissiones bonorum operum; et sunt de numero e diminuições das boas obras; e são a contar entre
eorum, quae licent, et non de numero eorum, quae as coisas que são permitidas, mas não entre as que
expediunt [cf. 1 Cor 6,12; 10,23]1. são úteis [cf. 1 Cor 6,12; 10,23]1.
1469 19. Indulgentiae his, qui veraciter eas consequun- 19. As indulgências, para aqueles que as adquirem
tur, non valent ad remissionem poenae pro peccatis verdadeiramente, não têm valor para a remissão da
actualibus debitae apud divinam iustitiam1. pena devida à justiça divina pelos pecados atuais1.
1470 20. Seducuntur credentes indulgentias esse salu- 20. Enganam-se aqueles que crêem que as indul-
tares et ad fructum spiritus utiles1. gências são salutares e úteis para o bem do espírito1.
1471 21. Indulgentiae necessariae sunt solum publicis 21. As indulgências são necessárias só para as
criminibus, et proprie conceduntur duris solummo- culpas públicas e são no sentido próprio concedidas
do et impatientibus1. somente aos duros de coração e aos insensíveis1.
390
22. Sex generibus hominum indulgentiae nec sunt 22. Para seis categorias de homens as indulgên- 1472
necessariae nec utiles: videlicet mortuis seu mori- cias não são nem necessárias nem úteis, a saber,
turis, infirmis, legitime impeditis, his, qui non com- para os mortos ou os moribundos, para os doentes,
miserunt crimina, his, qui crimina commiserunt, sed para os legitimamente impedidos, para aqueles que
non publica, his, qui meliora operantur1. não cometeram pecados, para aqueles que comete-
ram pecados mas não públicos, para aqueles que
fazem coisas melhores1.
23. Excommunicationes sunt tantum externae 23. As excomunhões são somente penas exterio- 1473
poenae nec privant hominem communibus spiritua- res e não privam o homem das comuns orações
libus Ecclesiae orationibus1. espirituais da Igreja1.
24. Docendi sunt Christiani plus diligere excom- 24. É preciso ensinar aos cristãos mais a amar a 1474
municationem quam timere1. excomunhão que a temê-la1.
25. Romanus Pontifex, Petri successor, non est 25. O Romano Pontífice, sucessor de Pedro, não 1475
Christi vicarius super omnes totius mundi ecclesias é o vigário de Cristo à testa de todas as Igrejas do
ab ipso Christo in beato Petro institutus1. mundo inteiro que o próprio Cristo constituiu na
pessoa do bem-aventurado Pedro1.
26. Verbum Christi ad Petrum: “Quodcumque 26. A palavra de Cristo a Pedro: “Tudo o que 1476
solveris super terram” etc. [Mt 16,19] extenditur desligares sobre a terra” etc. [Mt 16,19] se estende
dumtaxat ad ligata ab ipso Petro1. somente às coisas ligadas por Pedro mesmo1.
27. Certum est, in manu Ecclesiae aut Papae pror- 27. É certo que não está de todo na mão da Igreja 1477
sus non esse statuere articulos fidei, immo nec leges ou do Papa estabelecer os artigos de fé e menos
morum seu bonorum operum1. ainda as leis concernentes à moral ou às boas obras1.
28. Si Papa cum magna parte Ecclesiae sic vel 28. Mesmo se o Papa com uma grande parte da 1478
sic sentiret, nec etiam erraret; adhuc non est pecca- Igreja pensasse de tal ou tal maneira e sem entrar
tum aut haeresis, contrarium sentire, praesertim in no erro, ainda não seria pecado ou heresia pensar o
re non necessaria ad salutem, donec fuerit per contrário, sobretudo em coisas não necessárias para
Concilium universale alterum reprobatum, alterum a salvação, até que um concílio universal reprove
approbatum1. uma e aprove a outra opinião1.
29. Via nobis facta est enervandi auctoritatem 29. Está aberto para nós o caminho para esvaziar 1479
Conciliorum, et libere contradicendi eorum gestis, a autoridade dos concílios e contradizer livremente
et iudicandi eorum decreta, et confidenter confiten- as coisas que fizeram, para julgar os seus decretos
di quidquid verum videtur, sive probatum fuerit, sive e confessar com confiança qualquer coisa que pare-
reprobatum a quocumque Concilio1. ça verdadeira, pouco importa que tenha sido apro-
vada ou reprovado por algum concílio1.
30. Aliqui articuli Iohannis Hus condemnati in 30. Alguns artigos de João Hus condenados no 1480
Concilio Constantiensi sunt christianissimi, verissi- Concílio de Constança são cristianíssimos, muito
mi et evangelici, quos nec universalis Ecclesia pos- verdadeiros e evangélicos, e nem mesmo a Igreja
set damnare1. universal os poderia condenar1.
31. In omni opere bono iustus peccat1. 31. Em toda boa obra o justo peca1. 1481
391
1482 32. Opus bonum optime factum est veniale pec- 32. A boa obra feita do melhor modo é pecado
catum1. venial1.
1483 33. Haereticos comburi est contra voluntatem 33. É contra a vontade do Espírito que os hereges
Spiritus1. sejam queimados1.
1484 34. Proeliari adversus Turcas est repugnare Deo 34. Combater contra os turcos é opor-se a Deus,
visitanti iniquitates nostras per illos1. que visita as nossas iniqüidades por meio deles1.
1485 35. Nemo est certus, se non semper peccare mor- 35. Por causa do secretíssimo vício da soberba.
taliter, propter occultissimum superbiae vitium1. ninguém tem certeza de não estar sempre pecando
mortalmente1.
1486 36. Liberum arbitrium post peccatum est res de 36. Depois do pecado <de Adão>, o livre-arbítrio
solo titulo; et dum facit, quod in se est, peccat o é só de nome; e enquanto faz o que é de de sua
mortaliter1. índole, peca mortalmente1.
1487 37. Purgatorium non potest probari ex sacra Scrip- 37. O purgatório não pode ser provado mediante
tura, quae sit in canone1. a Sagrada Escritura contida no cânon1.
1488 38. Animae in purgatorio non sunt securae de 38. As almas do purgatório não estão seguras da
earum salute, saltem omnes: nec probatum est ullis própria salvação, ao menos nem todas; e não está
aut rationibus aut Scripturis, ipsas esse extra statum provado por nenhum argumento racional, nem pela
merendi vel augendae caritatis1. Escritura, que elas se encontram fora da condição
de merecer a caridade ou de crescer nela1.
1489 39. Animae in purgatorio peccant sine intermis- 39. As almas do purgatório pecam de modo con-
sione, quamdiu quaerunt requiem et horrent poenas1. tínuo sempre que procuram repouso e têm horror
das penas1.
1490 40. Animae ex purgatorio liberatae suffragiis vi- 40. As almas libertadas do purgatório pelos su-
ventium minus beantur, quam si per se satisfecissent1. frágios dos que estão vivos gozam menor felici-
dade que se tivessem cumprido a satisfação por si
mesmas1.
1491 41. Praelati ecclesiastici et principes saeculares 41. Os prelados eclesiásticos e os príncipes secu-
non male facerent, si omnes saccos mendicitatis lares não fariam mal se eliminassem todas as saco-
delerent1. las da mendicância1.
1492 [C e n s u r a :] Praefatos omnes et singulos arti- [C e n s u r a :] Todos e cada um dos artigos ou
culos seu errores tamquam, ut praemittitur, respec- erros acima elencados, Nós os condenamos, afasta-
tive haereticos, aut scandalosos, aut falsos, aut pia- mos e de todo rejeitamos, respectivamente como he-
rum aurium offensivos, vel simplicium mentium réticos, escandalosos, falsos, ofensivos para os ou-
seductivos, et veritati catholicae obviantes, damna- vidos piedosos ou como enganando as mentes dos
mus, reprobamus, atque omnino reicimus. simples e contrários à fé católica.
392
O privilégio da fé
Super eorum [Indorum Occidentalium] vero ma- Com referência ao matrimônio deles [dos índios 1497
trimonium hoc observandum decernimus, ut, qui ocidentais], Nós deliberamos que se deve observar
ante conversionem plures iuxta eorum mores habe- o seguinte: os que antes da conversão tinham, se-
bant uxores, et non recordantur quam primo acce- gundo seu costume, mais esposas e não se recor-
perint, conversi ad fidem, unam ex illis accipiant, dam qual tomaram primeiro, quando se convertem
quam voluerint, et cum ea matrimonium contrahant à fé, tomem uma entre elas, aquela que quiserem, e
393
per verba de praesenti, ut moris est; qui vero recor- com ela contraiam matrimônio, com as palavras
dantur, quam primo acceperint, aliis dimissis, eam pronunciadas presencialmente, como de costume;
retineant. aqueles ao invés que se recordam de qual tomaram
por primeiro devem guardar esta e deixar as outras.
Período bolonhês: Sessões 9ª-10ª, mar. 1547 – (fev. 1548) set. 1549
Discussões sobre o sacramento da penitência, da extrema-unção, da ordem e do matrimônio; nenhum decreto
obrigatório. Em fev. 1548, o concílio foi provisoriamente suspenso, em 13 set. 1549 formal e definitivamente.
394
Haec sacrosancta oecumenica et generalis Triden- Este sacrossanto Sínodo ecumênico e geral de 1500
tina Synodus, Trento,
in Spiritu Sancto legitime congregata, in ea prae- legitimamente reunido no Espírito Santo, sob a
sidentibus eisdem tribus Apostolicae Sedis lega- presidência dos três legados da Sé apostólica,
tis, magnitudinem rerum tractandarum conside- considerando a importância dos assuntos a tratar,
rans, praesertim earum, quae duobus illis capiti- especialmente os compreendidos nos dois temas
bus de exstirpandis haeresibus et moribus refor- da extirpação das heresias e da reforma dos cos-
mandis continentur, quorum causa praecipue est tumes, pelos quais foi primordialmente reunido;
congregata,
… Symbolum fidei, quo sancta Romana Ecclesia … julgou por bem expressar, com as mesmas pala-
utitur, tamquam principium illud, in quo omnes, qui vras com que é lido em todas as Igrejas, o Símbolo
fidem Christi profitentur, necessario conveniunt, ac da fé em uso na santa Igreja romana, como aquele
fundamentum firmum et unicum, contra quod por- princípio no qual todos os que professam a fé em
tae inferi numquam praevalebunt [cf. Mt 16,18], to- Cristo convergem necessariamente e como o fun-
tidem verbis, quibus in omnibus ecclesiis legitur, damento sólido e único, contra o qual as portas dos
exprimendum esse censuit. infernos não prevalecerão jamais [cf. Mt 16,18].
[Segue o Credo niceno-constantinopolitano: *150]
395
Sacrorum vero librorum indicem huic decreto Para evitar dúvidas a respeito dos livros reconhe-
adscribendum censuit, ne cui dubitatio suboriri cidos por este Concílio, julgou oportuno acrescen-
possit, quinam sint, qui ab ipsa Synodo suscipiuntur. tar a este decreto o elenco. São os seguintes:
Sunt vero infra scripti.
1502 Te s t a m e n t i Ve t e r i s : Quinque Moisis, id est Do A n t i g o Te s t a m e n t o : cinco de Moisés, isto
Genesis, Exodus, Leviticus, Numeri, Deuterono- é: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronô-
mium; Iosue, Iudicum, Ruth, quatuor Regum, duo mio; Josué, Juizes, Rute, quatro dos Reis, dois dos
Paralipomenon, Esdrae primus et secundus, qui di- Paralipômenos, de Esdras o primeiro e o segundo
citur Nehemias, Tobias, Iudith, Esther, Iob, Psalte- (que é chamado de Neemias), Tobias, Judite, Ester,
rium Davidicum centum quinquaginta psalmorum, Jó, o Saltério de Davi com cento e cinqüenta sal-
Parabolae, Ecclesiastes, Canticum Canticorum, Sa- mos, Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos,
pientia, Ecclesiasticus, Isaias, Ieremias cum Baruch, Sabedoria, Eclesiástico, Isaías, Jeremias com Baruc,
Ezechiel, Daniel, duodecim Prophetae minores, id Ezequiel, Daniel, os doze profetas menores, isto é:
est Osea, Ioel, Amos, Abdias, Ionas, Michaeas, Oséias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miquéias, Naum,
Nahum, Habacuc, Sophonias, Aggaeus, Zacharias, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias; dois
Malachias; duo Machabaeorum primus et secundus. dos Macabeus, primeiro e segundo.
1503 Te s t a m e n t i N ov i : Quatuor Evangelia, secun- Do N o v o Te s t a m e n t o : quatro Evangelhos,
dum Matthaeum, Marcum, Lucam, Ioannem; Actus segundo Mateus, Marcos, Lucas, João; os Atos dos
Apostolorum a Luca Evangelista conscripti, quatuor- Apóstolos, escritos pelo Evangelista Lucas, quatorze
decim epistolae Pauli Apostoli, ad Romanos, duae cartas do Apóstolo Paulo, aos Romanos, duas aos
ad Corinthios, ad Galatas, ad Ephesios, ad Coríntios, aos Gálatas, aos Efésios, aos Filipenses,
Philippenses, ad Colossenses, duae ad Thessaloni- aos Colossenses, duas aos Tessalonicenses, duas a
censes, duae ad Timotheum, ad Titum, ad Philemo- Timóteo, a Tito, a Filêmon, aos Hebreus; duas car-
nem, ad Hebraeos; Petri Apostoli duae, Ioannis tas do Apóstolo Pedro, três do Apóstolo João, uma
Apostoli tres, Iacobi Apostoli una, Iudae Apostoli do Apóstolo Tiago, uma do Apóstolo Judas e o
una, et Apocalypsis Ioannis Apostoli. Apocalipse do Apóstolo João.
1504 Si quis autem libros ipsos integros cum omnibus Se, porém, alguém não receber como sagrados e
suis partibus, prout in Ecclesia catholica legi con- canônicos esses livros em sua integridade, com todas
sueverunt et in veteri vulgata latina editione haben- as suas partes, tal como costumavam ser lidos na Igre-
tur, pro sacris et canonicis non susceperit, et tradi- ja católica e estão contidos na antiga edição latina da
tiones praedictas sciens et prudens contempserit: Vulgata, e desprezar, ciente e propositadamente, as
anathema sit. tradições antes mencionadas: seja anátema.
1505 Omnes itaque intelligant, quo ordine et via ipsa Portanto, entendam todos de que maneira e por
Synodus post iactum fidei confessionis fundamen- que via este Sínodo procederá, depois de ter posto
tum sit progressura, et quibus potissimum testimo- o fundamento da confissão de fé, e de que testemu-
niis ac praesidiis in confirmandis dogmatibus et nhos e meios usará principalmente, para confirmar
instaurandis in Ecclesia moribus sit usura. os dogmas e restaurar os costumes da Igreja.
396
sitionibus pro authentica habeatur, et quod nemo por nenhuma razão, pode ter a audácia ou a presun-
illam reicere quovis praetextu audeat vel praesumat ção de rejeitá-la [cf. *3825].
[cf. *3825].
Praeterea ad coercenda petulantia ingenia decer- Além disso, para refrear certos talentos petulan- 1507
nit, ut nemo, suae prudentiae innixus, in rebus fidei tes, estabelece que ninguém, confiando no próprio
et morum, ad aedificationem doctrinae christianae juízo, ouse interpretar a Sagrada Escritura, nas maté-
pertinentium, sacram Scripturam ad suos sensus con- rias de fé e de moral que pertencem ao edifício da
torquens, contra eum sensum, quem tenuit et tenet doutrina cristã, distorcendo a Sagrada Escritura se-
sancta mater Ecclesia, cuius est iudicare de vero gundo seu próprio modo de pensar contrário ao sen-
sensu et interpretatione Scripturarum sanctarum, aut tido que a santa mãe Igreja, à qual compete julgar do
etiam contra unanimem consensum Patrum ipsam verdadeiro sentido e da interpretação das sagradas
Scripturam sacram interpretari audeat, etiamsi huius- Escrituras, sustentou e sustenta; ou ainda, contra o
modi interpretationes nullo umquam tempore in consenso unânime dos Padres, mesmo que tais inter-
lucem edendae forent. … pretações não devam vir a ser jamais publicadas. …
Sed et impressoribus modum in hac parte, ut par Mas querendo, como é justo, impor uma norma 1508
est, imponere volens … statuit, ut posthac sacra sobre este ponto aos editores, … <o Concílio> es-
Scriptura, potissimum vero haec ipsa vetus et Vulga- tabelece que, de agora em diante, a Sagrada Escri-
ta editio quam emendatissime imprimatur, nullique tura, principalmente a antiga edição Vulgata, seja
liceat imprimere vel imprimi facere quosvis libros impressa segundo a versão mais correta; e que a
de rebus sacris sine nomine auctoris, neque illos in ninguém seja lícito imprimir ou mandar imprimir
futurum vendere aut etiam apud se retinere, nisi pri- quaisquer livros sobre questões sagradas sem o nome
mum examinati probatique fuerint ab Ordinario … do autor, nem no futuro vendê-los ou também só
guardá-los, a não ser que antes tenham sido exami-
nados e aprovados pelo Ordinário…
397
haec de ipso peccato originali statuit, fatetur ac estabelece, professa e declara quanto segue sobre o
declarat: pecado original:
1511 1. Si quis non confitetur, primum hominem Adam, 1. Se alguém não admite que o primeiro homem
cum mandatum Dei in paradiso fuisset transgressus, Adão, tendo transgredido no paraíso a ordem de
statim sanctitatem et iustitiam, in qua constitutus Deus, perdeu imediatamente a santidade e a justiça
fuerat, amisisse incurrisseque per offensam praeva- nas quais tinha sido constituído, e que, por este
ri cationis huiusmodi iram et indignationem Dei at- pecado de prevaricação, incorreu na ira e na indig-
que ideo mortem, quam antea illi comminatus fue- nação de Deus e, por isso, na morte com que Deus
rat Deus, et cum morte captivitatem sub eius potes- lhe havia ameaçado anteriormente e, com a morte,
tate, “qui mortis” deinde “habuit imperium, hoc est na escravidão sob o poder daquele que depois “teve
diaboli” [Hbr 2,14], totumque Adam per illam prae- o domínio da morte” [Hb 2,14], isto é, o diabo; e
varicationis offensam secundum corpus et animam que o Adão inteiro por aquele pecado de prevarica-
in deterius commutatum fuisse [cf. *371]: anathe- ção mudou para pior, tanto no corpo como na alma
ma sit. [cf. *371]: seja anátema.
1512 2. “Si quis Adae praevaricationem sibi soli et non 2. “Se alguém afirma que a prevaricação de Adão
eius propagini asserit nocuisse”, acceptam a Deo prejudicou a ele só e não à sua descendência”; que
sanctitatem et iustitiam, quam perdidit, sibi soli et perdeu somente para si e não também para nós, a
non nobis etiam eum perdidisse; aut inquinatum santidade e a justiça recebidas de Deus; ou que,
illum per inoboedientiae peccatum “mortem” et manchado pelo pecado de desobediência, ele trans-
poenas “corporis tantum in omne genus humanum mitiu a todo o gênero humano “só a morte” e as
transfudisse, non autem et peccatum, quod mors est penas “do corpo, e não também o pecado, que é a
animae”: anathema sit, “cum contradicat Apostolo morte da alma”: seja anátema; “pois contradiz o
dicenti: ‘Per unum hominem peccatum intravit in Apóstolo, que afirma: ‘Por causa de um só homem
mundum, et per peccatum mors, et ita in omnes o pecado entrou no mundo e com o pecado a morte,
homines mors pertransiit, in quo omnes peccaverunt’ assim também a morte atingiu todos os homens, e
[Rm 5,12]” [*372]. nele todos pecaram’ [Rm 5,12]” [*372].
1513 3. Si quis hoc Adae peccatum, quod origine unum 3. Se alguém afirmar que este pecado de Adão,
est et propagatione, non imitatione transfusum que é um só quanto à origem e a todos transmitido
omnibus inest unicuique proprium, vel per huma- por propagação, não por imitação, pertence a cada
nae naturae vires, vel per aliud remedium asserit um como próprio, pode ser tirado com as forças da
tolli, quam per meritum unius mediatoris Domini natureza humana ou com outro remédio que não os
nostri Iesu Christi [cf. *1347], qui nos Deo recon- méritos do único mediador, nosso Senhor Jesus
ciliavit in sanguine suo [cf. Rm 5,9s], “factus nobis Cristo [cf. *1347], que nos reconciliou com Deus
iustitia, sanctificatio et redemptio” [1 Cor 1,30]; aut no seu sangue [cf. Rm 5,9s], tornado por nós justi-
negat, ipsum Christi Iesu meritum per baptismi sa- ça, santificação e redenção [1Cor 1,30]; ou nega
cramentum, in forma Ecclesiae rite collatum, tam que este mérito de Jesus Cristo é aplicado, tanto
adultis quam parvulis applicari: anathema sit. aos adultos como às crianças, mediante o sacramento
do batismo devidamente administrado segundo a
maneira da Igreja: seja anátema.
Quia “non est aliud nomen sub caelo datum ho- Porque “não há outro nome dado aos homens
minibus, in quo oporteat nos salvos fieri” [Act 4,12]. debaixo do céu pelo qual devamos ser salvos” [At
Unde illa vox: “Ecce agnus Dei, ecce qui tollit pec- 4,12]. Daí esta palavra: “Eis o cordeiro de Deus, eis
cata mundi” [Io 1,29]. Et illa: “Quicumque baptiza- o que tira o pecado do mundo” [Jo 1,29], e a outra:
ti estis, Christum induistis” [Gal 3,27]. “Todos vós que fostes batizados em Cristo, vos
revestistes de Cristo” [Gl 3,27].
1514 4. “Si quis parvulos recentes ab uteris matrum 4. “Se alguém negar que as crianças devam ser
baptizandos negat”, etiam si fuerint a baptizatis pa- batizadas recém saídas do útero materno”, mesmo
rentibus orti, “aut dicit, in remissionem quidem se nascidas de genitores batizados, “ou então sus-
peccatorum eos baptizari, sed nihil ex Adam trahe- tenta que são batizados para a remissão dos peca-
re originalis peccati, quod regenerationis lavacro ne- dos, mas que não herdam de Adão nada do pecado
cesse sit expiari” ad vitam aeternam consequendam, original que seja necessário purificar com o banho
398
“unde fit consequens, ut in eis forma baptismatis in da regeneração” para conseguir a vida eterna; “e,
remissionem peccatorum non vera, sed falsa intelli- em conseqüência, para elas a forma do batismo para
gatur: anathema sit. a remissão dos pecados não deve ser considerada
verdadeira, mas falsa: seja anátema.
Quoniam non aliter intelligendum est id, quod De fato, aquilo que diz o Apóstolo: ‘Por causa de
dicit Apostolus: ‘Per unum hominem peccatum in- um só homem o pecado entrou no mundo e com o
travit in mundum, et per peccatum mors, et ita in pecado a morte, assim também a morte atingiu to-
omnes homines mors pertransiit, in quo omnes pec- dos os homens, e nele todos pecaram’ [Rm 5,12]”
caverunt’ [Rm 5,12], nisi quemadmodum Ecclesia não deve ser entendido em outro sentido que não o
catholica ubique diffusa semper intellexit. Propter sentido em que a Igreja católica, difundida por toda
hanc enim regulam fidei”, ex traditione Apostolo- a parte, sempre o entendeu. Por esta norma de fé,
rum, “etiam parvuli, qui nihil peccatorum in seme- segundo a tradição apostólica, “também as crianças
tipsis adhuc committere potuerunt, ideo in remis- que ainda não puderam cometer por si pecado al-
sionem peccatorum veraciter baptizantur, ut in eis gum, são verdadeiramente batizadas para a remis-
regeneratione mundetur, quod generatione contra- são dos pecados, para que nelas seja purificado por
xerunt” [*223]. “Nisi enim quis renatus fuerit ex regeneração o que contraíram por geração” [*233].
aqua et Spiritu Sancto, non potest introire in reg- “Pois se alguém não nasce da água e do Espírito,
num Dei” [Io 3,5]. não pode entrar no reino de Deus” [Jo 3,5].
5. Si quis per Iesu Christi Domini nostri gratiam, 5. Se alguém nega que pela graça de Jesus Cris- 1515
quae in baptismate confertur, reatum originalis pec- to, nosso Senhor, conferida no batismo, é tirada a
cati remitti negat, aut etiam asserit, non tolli totum condição de réu <proveniente> do pecado original,
id, quod veram et propriam peccati rationem habet, ou sustenta que tudo o que tem verdadeiro e pró-
sed illud dicit tantum radi1 aut non imputari: ana- prio caráter de pecado não é tirado, mas apenas
thema sit. rasurado1 ou não imputado: seja anátema.
In renatis enim nihil odit Deus, quia “nihil est Pois naqueles que renasceram, Deus não encontra
damnationis iis” [Rm 8,1], qui vere “consepulti sunt nada para odiar, porque não há nenhuma condena-
cum Christo per baptisma in mortem” [Rm 6,4], qui ção [Rm 8,1] para aqueles que “mediante o batismo
“non secundum carnem ambulant” [Rm 8,1], sed foram verdadeiramente sepultados com Cristo na
veterem hominem exuentes et novum, qui secun- morte” [Rm 6,4], os quais “não caminham segundo a
dum Deum creatus est, induentes [cf. Eph 4,22-24; carne” [Rm 8,1], mas despojados do homem velho e
Col 3,9s], innocentes, immaculati, puri, innoxii ac revestidos do novo, criado segundo Deus [Ef 4 22,24;
Deo dilecti filii effecti sunt, “heredes quidem Dei, Col 3,9s] se tornaram inocentes, imaculados, puros,
coheredes autem Christi” [Rm 8,17], ita ut nihil sem mancha, filhos diletos de Deus, “herdeiros de
prorsus eos ab ingressu caeli remoretur. Deus e co-herdeiros de Cristo” [Rm 8,17]; de modo
que absolutamente nada os impede de entrar no céu.
Manere autem in baptizatis concupiscentiam vel Este santo Sínodo professa e retém contudo que
fomitem, haec sancta Synodus fatetur et sentit; quae nos batizados permanece a concupiscência ou o
cum ad agonem relicta sit, nocere non consentien- combustível; mas, sendo esta deixada para o com-
tibus et viriliter per Christi Iesu gratiam repugnan- bate, não pode prejudicar os que não lhe dão con-
tibus non valet. Quin immo “qui legitime certaverit, sentimento e que a ela opõem virilmente resistên-
coronabitur” [2 Tim 2,5]. Hanc concupiscentiam, cia com a graça de Jesus Cristo. Antes, “não recebe
quam aliquando Apostolus “peccatum” [cf. Rm 6,12- a coroa senão quem tiver lutado segundo as regras”
15; 7,7 14-20] appellat, sancta Synodus declarat, [2Tm 2,5]. Esta concupiscência, que algumas vezes
Ecclesiam catholicam numquam intellexisse, pec- o Apóstolo chama “pecado” [cf. Rm 6,12-15; 7,7.14-
catum appellari, quod vere et proprie in renatis 20], a Igreja católica nunca entendeu – assim de-
peccatum sit, sed quia ex peccato est et ad pecca- clara o santo Sínodo – que seja chamada “pecado”
tum inclinat. Si quis autem contrarium senserit: no sentido de, nos regenerados, ser verdadeira e
anathema sit. propriamente pecado, mas porque tem origem no
pecado e inclina ao pecado. Se alguém opinar o
contrário: seja anátema.
*1515 1 Cf. Agostinho, Contra duas epistulas Pelagianorum I 13, n. 26 (CSEL 60, 445 / PL 44, 562).
399
1516 6. Declarat tamen haec ipsa sancta Synodus, non 6. Este santo Sínodo declara, contudo, que não é
esse suae intentionis, comprehendere in hoc decre- sua intenção incluir neste decreto, no qual o assun-
to, ubi de peccato originali agitur, beatam et imma- to é o pecado original, a bem-aventurada e imacu-
culatam Virginem Mariam Dei genitricem, sed ob- lada virgem Maria, genitora de Deus, mas que se
servandas esse constitutiones felicis recordationis devem observar sobre este ponto as constituições
Sixti Papae IV, sub poenis in eis constitutionibus do Papa Sisto IV, de feliz memória, sob pena das
contentis, quas innovat [*1400 *1425s]. sanções nelas previstas e que <este Sínodo> renova
[*1400; 1425s].
Proêmio
1520 Cum hoc tempore, non sine multarum animarum Como, nestes anos, foi divulgada, com dano para
iactura et gravi ecclesiasticae unitatis detrimento, muitas almas e grave detrimento para a unidade da
erronea quaedam disseminata sit de iustificatione Igreja, uma doutrina errônea sobre a justificação,
doctrina: ad laudem et gloriam omnipotentis Dei, este sacrossanto Sínodo ecumênico e geral de Tren-
Ecclesiae tranquillitatem et animarum salutem sa- to, para louvor e glória de Deus onipotente, para a
crosancta oecumenica et generalis Tridentina syno- tranqüilidade da Igreja e pela salvação das almas,
dus … exponere intendit omnibus Christifidelibus … propõe-se expor para todos os fiéis cristãos a
veram sanamque doctrinam ipsius iustificationis, verdadeira e sã doutrina sobre a justificação que
quam “sol iustitiae” [Mal 4,2] Christus Iesus, “fidei Cristo Jesus, “sol de justiça” [Ml 4,2 ou 3,20], “au-
nostrae auctor et consummator” [Hbr 12,2], docuit, tor e consumador da nossa fé” [Hb 12,2], ensinou,
Apostoli tradiderunt et catholica Ecclesia, Spiritu os Apóstolos transmitiram e a Igreja católica sob a
Sancto suggerente, perpetuo retinuit; districtius inhi- inspiração do Espírito Santo sempre conservou,
bendo, ne deinceps audeat quisquam aliter credere, proibindo absolutamente que de agora em diante
praedicare aut docere, quam praesenti decreto sta- alguém ouse crer, pregar ou ensinar diversamente
tuitur ac declaratur. de quanto fica estabelecido e proclamado no pre-
sente decreto.
400
[can. 5] esset, viribus licet attenuatum et inclina- tal condição, embora o livre-arbítrio não tivesse sido
tum [cf. *378]. de modo algum extinto neles [cân. 5], mas somente
atenuado em sua força e inclinado [cf. * 378].
401
cro regenerationis [can. 5 de baptismo] aut eius voto do Evangelho, não pode acontecer sem o banho da
fieri non potest, sicut scriptum est: “Nisi quis rena- regeneração [cân. 5 sobre o batismo] ou sem o
tus fuerit ex aqua et Spiritu Sancto, non potest in- desejo dele, como está escrito: “Se alguém não re-
troire in regnum Dei” [Io 3,5]. nascer da água e do Espírito Santo, não poderá entrar
no reino de Deus” [Jo 3,5].
402
De hac dispositione scriptum est: “Accedentem Desta disposição está escrito: “Quem se aproxi- 1527
ad Deum oportet credere, quia est et quod inquiren- ma de Deus deve crer que ele existe e recompensa
tibus se remunerator sit” [Hbr 11,6], et: “Confide, aqueles que o buscam” [Hb 11,6]; e: “Confia, filho,
fili, remittuntur tibi peccata tua” [Mt 9,2; Mc 2,5], os teus pecados te são perdoados” [Mt 9,2; Mc 2,5];
et: “Timor Domini expellit peccatum” [Sir 1,27], e: “O temor do Senhor cancela o pecado” [Eclo
et: “Paenitentiam agite, et baptizetur unusquisque 1,27]; e: “Fazei penitência, e cada um de vós se
vestrum in nomine Iesu Christi in remissionem pec- faça batizar no nome de Jesus Cristo, para remissão
catorum vestrorum, et accipietis donum Spiritus dos vossos pecados; e recebereis o dom do Espírito
Sancti” [Act 2,38], et: “Euntes ergo docete omnes Santo” [At 2,38]; e: “Ide, portanto, e ensinai a todas
gentes, baptizantes eos in nomine Patris et Filii et as nações, batizando-as em nome do Pai e do Filho
Spiritus Sancti, docentes eos servare quaecumque e do Espírito Santo, ensinando-lhes a observar tudo
mandavi vobis” [Mt 28,19s], denique: “Praeparate o que vos ordenei” [Mt 28,19s]. Finalmente: “Pre-
corda vestra Domino” [1 Sm 7,3]. parai vosso coração para o Senhor” [1Sm 7,3].
*1529 1 Ambrósio de Milão, De Spiritu Sancto I 3, n. 42 (PL 16 [1866] 743A); Agostinho, Carta 98 ao bispo Bonifácio, cap.
9s (CSEL 34/II, 5319 12 20 53212 / PL 33, 364); Inocêncio III, ver *769 788.
2 Cf. Agostinho, De Trinitate XIV 12, n. 15 (W.J. Mountain – Fr. Glorie: CpChL 50A [1968] 442s / PL 42, 1048).
403
Cap. 8. Quo modo intelligatur, impium per Cap. 8. Como se entende que o ímpio é
fidem et gratis iustificari justificado pela fé e gratuitamente
1532 Cum vero Apostolus dicit, iustificari hominem Quando o Apóstolo diz que o homem é justificado
“per fidem” [can. 9], et “gratis” [Rm 3,22 24], ea “pela fé” [cân. 9] e “gratuitamente” [Rm 3,22.24],
verba in eo sensu intelligenda sunt, quem perpetuus estas palavras se devem entender segundo o sentido
Ecclesiae catholicae consensus tenuit et expressit, que o perpétuo consenso da Igreja católica sustentou
ut scilicet per fidem ideo iustificari dicamur, quia e expressou, a saber: que dizemos ser justificados pela
“fides est humanae salutis initium”1, fundamentum fé porque “a fé é o princípio da salvação humana”1,
404
et radix omnis iustificationis, “sine qua impossibile o fundamento e a raiz de toda justificação, “sem a
est placere Deo” [Hbr 11,6] et ad filiorum eius qual é impossível agradar a Deus” [Hb 11,6] e che-
consortium pervenire; gratis autem iustificari ideo gar à comunhão dos seus filhos; é dito que somos
dicamur, quia nihil eorum, quae iustificationem prae- justificados gratuitamente, porque nada do que pre-
cedunt, sive fides, sive opera, ipsam iustificationis cede a justificação, seja a fé ou as obras, merece a
gratiam promeretur; “si enim gratia est, iam non ex graça da justificação, “pois, se é por graça, não é
operibus; alioquin (ut idem Apostolus inquit) gratia pelas obras; de outro modo (como diz o mesmo
iam non est gratia” [Rm 11,6]. Apóstolo), a graça não é graça” [Rm 11,6].
Cap. 9. Contra inanem haereticorum fiduciam Cap. 9. Contra a vã confiança dos hereges
Quamvis autem necessarium sit credere, neque Embora seja necessário crer que os pecados não 1533
remitti, neque remissa umquam fuisse peccata, nisi são perdoados nem o foram jamais senão gratuita-
gratis divina misericordia propter Christum: nemi- mente pela divina misericórdia por causa de Cristo,
ni tamen fiduciam et certitudinem remissionis pecca- contudo se deve dizer que os pecados não são ou
torum suorum iactanti et in ea sola quiescenti pec- foram perdoados a ninguém que se gabe da con-
cata dimitti vel dimissa esse dicendum est, cum apud fiança e da certeza da remissão de seus pecados e,
haereticos et schismaticos possit esse, immo nostra sem mais, permaneça tranqüilo nela. Isto pode acon-
tempestate sit et magna contra Ecclesiam catholi- tecer entre os hereges e cismáticos, antes, acontece
cam contentione praedicetur vana haec et ab omni neste nosso tempo, e essa confiança vã e afastada
pietate remota fiducia [can. 12]. de toda piedade é pregada com grande veemência
contra a Igreja católica [cân. 12].
Sed neque illud asserendum est, oportere eos, qui Também não se deve afirmar que é necessário 1534
vere iustificati sunt, absque ulla omnino dubitatio- que os verdadeiramente justificados estejam de
ne apud semetipsos statuere, se esse iustificatos, ne- modo absoluto e sem qualquer hesitação interior-
minemque a peccatis absolvi ac iustificari, nisi eum, mente convencidos da própria justificação e que
qui certo credat, se absolutum et iustificatum esse, ninguém está absolvido dos pecados e justificado, a
atque hac sola fide absolutionem et iustificationem não ser que creia firmemente ter sido absolvido e
perfici [can. 14], quasi qui hoc non credit, de Dei justificado e que a absolvição e a justificação se
promissis deque mortis et resurrectionis Christi effi- realizam somente pela fé [cân. 14], como se o fato
cacia dubitet. Nam sicut nemo pius de Dei miseri- de não crer isso significasse duvidar das promessas
cordia, de Christi merito deque sacramentorum vir- de Deus e da eficácia da morte e da ressurreição de
tute et efficacia dubitare debet: sic quilibet, dum Cristo. Pois, como nenhum piedoso deve duvidar
seipsum suamque propriam infirmitatem et indis- da misericórdia de Deus, dos méritos de Cristo, do
positionem respicit, de sua gratia formidare et ti- valor e da eficácia dos sacramentos, assim cada um
mere potest [can. 13], cum nullus scire valeat cer- refletindo sobre si mesmo e sua própria fraqueza e
titudine fidei, cui non potest subesse falsum, se desordem pode recear e temer quanto a seu estado
gratiam Dei esse consecutum. de graça [cân. 13], já que ninguém pode, com uma
certeza de fé à qual nenhum erro subjaz, saber se
obteve a graça de Deus.
Cap. 10. De acceptae iustificationis incremento Cap. 10. O aumento da justificação recebida
Sic ergo iustificati et “amici Dei” ac “domestici” Assim, portanto, justificados e tornados “amigos” 1535
[Io 15,15; Eph 2,19] facti, “euntes de virtute in e “familiares de Deus” [Jo 15,15; Ef 2,19], enquan-
virtutem” [Ps 83,8], “renovantur (ut Apostolus in- to “crescem de virtude em virtude” [Sl 84,8], “re-
quit) de die in diem” [2 Cor 4,16], hoc est, morti- novam-se (como diz o Apóstolo) de dia em dia”
ficando membra carnis suae [cf. Col 3,5] et exhi- [2Cor 4,16], isto é, mortificando os membros de
bendo ea arma iustitiae in sanctificationem [cf. Rm sua carne [cf. Cl 3,5] e oferecendo-os como armas
6,13 19] per observationem mandatorum Dei et Ec- da justiça para a santificação [cf. Rm 6, 13.19] pela
clesiae: in ipsa iustitia per Christi gratiam accepta, observância dos mandamentos de Deus e da Igreja,
cooperante fide bonis operibus [cf. Iac 2,22], cres- crescem e tornam-se mais justos na mesma justiça
cunt atque magis iustificantur [can. 24 et 32], sicut recebida pela graça de Cristo, cooperando a fé para
405
scriptum est: “Qui iustus est, iustificetur adhuc” [Apc as boas obras [cf. Tg 2,22] [cân. 24 e 32], como
22,11], et iterum: “Ne verearis usque ad mortem está escrito: “Aquele que é justo justifique-se mais”
iustificari” [Sir 18,22], et rursus: “Videtis, quoniam [Ap 22,11], e ainda: “Não hesites até a morte para
ex operibus iustificatur homo et non ex fide tan- ser justificado” [Eclo 18,22]; e de novo: “Vedes que
tum” [Iac 2,24]. Hoc vero iustitiae incrementum o homem é justificado pelas obras e não somente
petit sancta Ecclesia, cum orat: “Da nobis, Domi- pela fé” [Tg 2,24]. Este aumento da justiça pede a
ne, fidei, spei et caritatis augmentum”1. santa Igreja quando reza: “Aumenta em nós, Senhor,
a fé, a esperança e a caridade”1.
406
non compatiatur, ut et glorificetur [cf. Rm 8,17]. par dos sofrimentos de Cristo para participar tam-
Nam et Christus ipse (ut inquit Apostolus), “cum bém de sua glória [Rm 8,17]. Pois o próprio Cristo
esset Filius Dei, didicit ex his, quae passus est, oboe- (como diz o Apóstolo), “mesmo sendo Filho, apren-
dientiam, et consummatus factus est omnibus ob- deu a obediência pelas coisas que padeceu e, torna-
temperantibus sibi causa salutis aeternae” [Hbr 5,8s]. do perfeito, tornou-se causa de salvação eterna para
todos que lhe obedecem” [Hb 5,8s].
Propterea Apostolus ipse monet iustificatos dicens: Por isso, o mesmo Apóstolo adverte aqueles que
“Nescitis, quod ii, qui in stadio currunt, omnes qui- foram justificados, dizendo: “Não sabeis que nas
dem currunt, sed unus accipit bravium? Sic currite, corridas no estádio todos correm, mas um só con-
ut comprehendatis. Ego igitur sic curro, non quasi quista o prêmio? Correi de modo a conquistá-lo.
in incertum, sic pugno, non quasi aërem verberans, Eu, portanto, corro, mas não como quem corre sem
sed castigo corpus meum et in servitutem redigo, meta; luto, mas não como quem bate no ar; antes
ne forte, cum aliis praedicaverim, ipse reprobus castigo o meu corpo e o reduzo à escravidão, para
efficiar” [1 Cor 9,24-27]. Item princeps Apostolo- que não suceda que depois de ter pregado aos ou-
rum Petrus: “Satagite, ut per bona opera certam ves- tros venha eu mesmo a ser reprovado” [1Cor 9,24-
tram vocationem et electionem faciatis; haec enim 27]. Do mesmo modo Pedro, príncipe dos Apósto-
facientes non peccabitis aliquando” [2 Pt 1,10]. los, diz: “Procurai tornar sempre mais segura a vossa
vocação e a vossa eleição. Se fizerdes isto, não
pecareis jamais” [2Pd 1,10].
Unde constat, eos orthodoxae religionis doctri- Assim consta que vão contra a doutrina ortodoxa 1539
nae adversari, qui dicunt, iustum in omni bono ope- aqueles que dizem que o justo peca, ao menos ve-
re saltem venialiter peccare [can. 25; cf. *1481s], nialmente, em toda boa obra [cân. 25; cf. *1481s],
aut (quod intolerabilius est) poenas aeternas mere- ou (coisa ainda mais insuportável) que merece as
ri; atque etiam eos, qui statuunt, in omnibus operi- penas eternas; e também aqueles que sustentam que
bus iustos peccare, si in illis, suam ipsorum socor- em todas as boas obras os justos pecam, se, supe-
diam excitando et sese ad currendum in stadio co- rando nelas a sua apatia e exortando a si mesmos a
hortando, cum hoc, ut in primis glorificetur Deus, correr no estádio, em primeiro lugar, além da glória
mercedem quoque intuentur aeternam [can. 26 31], de Deus, olham também para o prêmio eterno [cân.
cum scriptum sit: “Inclinavi cor meum ad faciendas 26 e 31], pois está escrito: “Inclinei o meu coração
iustificationes tuas propter retributionem” [Ps para cumprir os teus preceitos, por causa da recom-
118,112], et de Moyse dicat Apostolus, quod “aspi- pensa” [Sl 119,112]. E de Moisés o Apóstolo diz
ciebat in remuneratione” [Hbr 11,26]. que “olhava para a recompensa” [Hb 11,26].
407
nem, hic salvus erit” [Mt 10,22; 24,13] (quod qui- crito: “Quem perseverar até o fim, será salvo” [Mt
dem aliunde haberi non potest, nisi ab eo, qui po- 10,22; 24 13] (dom que não se pode receber senão
tens est eum, qui stat, statuere [cf. Rm 14,4], ut per- da parte de quem tem o poder de sustentar aquele
severanter stet, et eum, qui cadit, restituere), nemo que já está em pé [cf. Rm 14,4], para que persevere,
sibi certi aliquid absoluta certitudine polliceatur, e de reerguer aquele que cai). Ninguém, quanto a
tametsi in Dei auxilio firmissimam spem collocare este dom, imagine alguma coisa com absoluta cer-
et reponere omnes debent. Deus enim, nisi ipsi illius teza, embora todos devam nutrir e guardar firmíssima
gratiae defuerint, sicut coepit opus bonum, ita per- esperança no auxílio de Deus. Pois, se não falharem
ficiet [cf. Phil 1,6], operans velle et perficere [cf. quanto à sua graça, Deus, como começou a boa obra,
Phil 2,13; can. 22]. assim também a levará a termo, operando o querer
e o realizar [Fl 2,13; Cân. 22].
Verumtamen qui se existimant stare, videant, ne Todavia, aqueles que crêem estar em pé cuidem
cadant [cf. 1 Cor 10,12], et cum timore ac tremore de não cair [cf. 1Cor 10,12] e realizem a própria
salutem suam operentur [cf. Phil 2,12], in labori- salvação com temor e tremor [cf. Fl 2,12], nas fadi-
bus, in vigiliis, in eleemosynis, in orationibus et gas, nas vigílias, nas esmolas, nas orações e nas
oblationibus, in ieiuniis et castitate [cf. 2 Cor 6,5s]. ofertas, nos jejuns e na castidade [cf. 2Cor 6,5s].
Formidare enim debent, scientes, quod in spem [cf. Sabendo que foram regenerados na esperança da
1 Pt 1,3] gloriae et nondum in gloriam renati sunt, glória [cf. 1Pd 1,3], mas não ainda na glória, devem
de pugna, quae superest cum carne, cum mundo, temer pela batalha que ainda resta contra a carne,
cum diabolo, in qua victores esse non possunt, nisi contra o mundo, contra o diabo, da qual não podem
cum Dei gratia Apostolo obtemperent dicenti: “De- sair vencedores, se não obedecerem, com a graça
bitores sumus non carni, ut secundum carnem viva- de Deus, às palavras do Apóstolo: “Somos devedo-
mus. Si enim secundum carnem vixeritis, moriemi- res, mas não à carne, para vivermos segundo a car-
ni. Si autem spiritu facta carnis mortificaveritis, ne; pois, se viveis segundo a carne, morrereis. Se,
vivetis” [Rm 8,12s]. ao contrário, no Espírito fazeis morrer as obras da
carne, vivereis” [Rm 8,12].
Cap. 14. De lapsis et eorum reparatione Cap. 14. Os pecadores e sua recuperação
1542 Qui vero ab accepta iustificationis gratia per pec- Aqueles, pois, que, pelo pecado, decaíram da
catum exciderunt, rursus iustificari poterunt [can. graça da justificação depois de tê-la recebido, po-
29], cum excitante Deo per paenitentiae sacramen- derão novamente ser justificados [cân. 29], se,
tum merito Christi amissam gratiam recuperare movidos por Deus, procurarem recuperá-la pelo
procuraverint. Hic enim iustificationis modus est sacramento da penitência pelo mérito de Cristo.
lapsi reparatio, quam “secundam post naufragium Esta forma de justificação é a reparação daquele
deperditae gratiae tabulam”1 sancti Patres apte nun- que caiu, aquela reparação que os santos Padres
cuparunt. Etenim pro iis, qui post baptismum in chamaram, com uma expressão feliz: “a segunda
peccata labuntur, Christus Iesus sacramentum insti- tábua depois do naufrágio que é a perda da gra-
tuit paenitentiae, cum dixit: “Accipite Spiritum Sanc- ça”1. De fato, para aqueles que caem em pecado
tum; quorum remiseritis peccata, remittuntur eis, et depois do batismo, Cristo Jesus instituiu o sacra-
quorum retinueritis, retenta sunt” [Io 20,22s]. mento da penitência, quando disse: “Recebei o
Espírito Santo, àqueles a quem perdoardes os pe-
cados, lhes serão perdoados, e àqueles a quem os
retiverdes, lhes serão retidos” [Jo 20,22s].
*1542 1 Tertuliano, De paenitentia 4, 2; cf. 12, 9: “De duabus humanae salutis plancis” (“As duas tábuas da salvação humana”:
CpChL 1 [1954] 32610; 34035s / FlP 10, 14 28 / PL 1, 1343B 1360A); Jerônimo de Estrídon, Carta 84 a Pamáquio e
Oceano, cap. 6 (CSEL 55, 1285s / PL 22, 748), do mesmo, Carta 130 a Demetríades, cap. 9 (CSEL 56, 1894s / PL 22,
1115), dali assumida em Graciano, Decretum, p. II, cs. 33, q. 3, c. 72 (Frdb 1, 1179) e em Pedro Lombardo, Sententiae,
l. IV, dist. 14, c. 1-2 (Specilegium Bonaventur. 5 [Grottaferrata 1981] 315-318); Jerônimo de Estrido, Commentarii in
Isaiam [3, 8-9] II (M. Adriaen: CpChL 73 [1963] 5121s / PL 24 [1865] 66C); Panácio de Barcelona, Carta 1 a Sempro-
niano (resp. Sympromannus), cap. 5 (PL 13, 1056A); Pseudo-Ambrósio (= Nicetas de Remesiana?), De lapsu virginis
consecratae 8, n. 38 (PL 16 [1866] 395B).
408
Unde docendum est, christiani hominis paeniten- É preciso, portanto, ensinar que a penitência do 1543
tiam post lapsum multo aliam esse a baptismali, cristão depois da queda é de natureza muito diferen-
eaque contineri non modo cessationem a peccatis, te da penitência batismal e consiste não só em ces-
et eorum detestationem, aut “cor contritum et humi- sar de pecar e em detestar os pecados, ou seja, num
liatum” [Ps 50,19], verum etiam et eorundem sacra- “coração contrito e humilhado” [Sl 51,19], mas tam-
mentalem confessionem, saltem in voto et suo tem- bém na confissão sacramental dos mesmos – ao
pore faciendam, et sacerdotalem absolutionem, menos no desejo de fazê-la a seu tempo – e na ab-
itemque satisfactionem per ieiunium, eleemosynas, solvição do sacerdote; e igualmente na satisfação,
orationes et alia pia spiritualis vitae exercitia, non por jejum, esmolas, orações e outras práticas piedo-
quidem pro poena aeterna, quae vel sacramento vel sas de vida espiritual, não certamente por causa da
sacramenti voto una cum culpa remittitur, sed pro pena eterna, que, junto com a culpa, é perdoada
poena temporali [can. 30], quae (ut sacrae Litterae mediante o sacramento ou o desejo do sacramento,
docent) non tota semper, ut in baptismo fit, dimittitur mas por causa da pena temporal [cân. 30]: esta, de
illis, qui gratiae Dei, quam acceperunt, ingrati Spi- fato (como ensina a Sagrada Escritura), nem sempre
ritum Sanctum contristaverunt [cf. Eph 4,30] et é perdoada totalmente, como no batismo, àqueles
templum Dei violare [cf. 1 Cor 3,17] non sunt veriti. que, esquecidos da graça que de Deus receberam,
contristaram o Espírito Santo [cf. Ef 4,30] e não
temeram violar o templo de Deus [cf. 1 Cor 3,17].
De qua paenitentia scriptum est: “Memor esto, Desta penitência está escrito: “Recorda-te, por-
unde excideris, age paenitentiam, et prima opera fac” tanto, de onde caíste, converte-te e cumpre as obras
[Apc 2,5], et iterum: “Quae secundum Deum tristitia de antes” [Ap 2,5]; e de novo: “A tristeza que é
est, paenitentiam in salutem stabilem operatur” [2 segundo Deus produz um arrependimento que leva
Cor 7,10], et rursus: “Paenitentiam agite” [Mt 3,2; à salvação estável” [2Cor 7,10]; e ainda: “Fazei
4,17], et: “Facite fructus dignos paenitentiae” [Mt penitência” [Mt 3,2; 4,17], e: “Produzi frutos dig-
3,8; Lc 3,8]. nos da penitência” [Mt 3,8; Lc 3,8].
Cap. 15. Quolibet mortali peccato Cap. 15. Com qualquer pecado mortal
amitti gratiam, sed non fidem se perde a graça, mas não a fé
Adversus etiam hominum quorumdam callida Contra as malignas invenções de alguns, que, 1544
ingenia, qui “per dulces sermones et benedictiones “com falar suave e elogios enganam os corações
seducunt corda innocentium” [Rm 16,18], asseren- dos simples” [Rm 16,18], é preciso afirmar que não
dum est, non modo infidelitate [can. 27], per quam só pela infidelidade [cân. 27], pela qual se perde a
et ipsa fides amittitur, sed etiam quocumque alio própria fé, mas também por qualquer outro pecado
mortali peccato, quamvis non amittatur fides [can. mortal se perde a graça, já recebida, da justificação,
28], acceptam iustificationis gratiam amitti: divinae embora não se perca a fé [cân. 28]. Com isto defen-
legis doctrinam defendendo, quae a regno Dei non de-se o ensinamento da lei divina, que exclui do
solum infideles excludit, sed et fideles quoque for- reino de Deus não somente os infiéis, mas também
nicarios, adulteros, molles, masculorum concubito- os fiéis fornicadores, adúlteros, efeminados,
res, fures, avaros, ebriosos, maledicos, rapaces [cf. sodomitas, ladrões, avaros, bêbados, caluniadores,
1 Cor 6,9s], ceterosque omnes, qui letalia commit- cobiçosos [cf. 1Cor 6,9s] e todos os outros que
tunt peccata, a quibus cum divinae gratiae adiumento cometem pecados mortais, dos quais com o auxílio
abstinere possunt et pro quibus a Christi gratia se- da graça poderiam abster-se e por causa dos quais
parantur [can. 27]. são separados da graça de Cristo [cân. 27].
409
labor vester non est inanis in Domino” [1 Cor boa obra, “sabendo que a vossa fadiga não é vã no
15,58]; “non enim iniustus est Deus, ut obliviscatur Senhor” [1Cor 15,58]; “pois Deus não é injusto, es-
operis vestri et dilectionis, quam ostenditis in no- quecendo a vossa obra e o vosso amor, que demons-
mine ipsius” [Hbr 6,10], et: “Nolite amittere confi- trastes em seu nome” [Hb 6,10]; e: “Não abandoneis
dentiam vestram, quae magnam habet remuneratio- a vossa confiança, que terá grande recompensa” [Hb
nem“ [Hbr 10,35]. Atque ideo bene operantibus 10,35]. Por isso, àqueles que agem bem “até o fim”
“usque in finem” [Mt 10,22; 24,13] et in Deo spe- [Mt 10,22; 24,13] e esperam em Deus, ponha-se dian-
rantibus proponenda est vita aeterna, et tamquam te dos olhos a vida eterna, como graça prometida
gratia filiis Dei per Christum Iesum misericorditer misericordiosamente aos filhos de Deus pelo Cristo
promissa, et “tamquam merces”1 ex ipsius Dei pro- Jesus, e “como recompensa”1 que, segundo a pro-
missione bonis ipsorum operibus et meritis fideliter messa de Deus mesmo, será fielmente outorgada em
reddenda [can. 26 et 32]. Haec est enim illa corona razão de suas boas obras e de seus méritos [cân. 26
iustitiae, quam post suum certamen et cursum re- e 32]. Pois esta é a coroa de justiça que o Apóstolo
positam sibi esse aiebat Apostolus, a iusto iudice dizia estar-lhe reservada depois do seu combate e da
sibi reddendam, non solum autem sibi, sed et om- sua corrida, para ser-lhe entregue pelo justo juiz, e
nibus, qui diligunt adventum eius [2 Tim 4,7s]. não somente a ele, mas também a todos aqueles que
amam seu advento [2Tm 4,7s].
1546 Cum enim ille ipse Christus Iesus tamquam ca- O próprio Cristo Jesus, como a cabeça aos mem-
put in membra [cf. Eph 4,15] et tamquam vitis in bros [cf. Ef 4,15] e a videira aos sarmentos [cf. Jo
palmites [cf. Io 15,5] in ipsos iustificatos iugiter 5,15], transmite continuamente a sua força àqueles
virtutem influat, quae virtus bona eorum opera sem- que são justificados, força que sempre precede,
per antecedit, comitatur et subsequitur, et sine qua acompanha e segue as suas boas obras e sem a qual
nullo pacto Deo grata et meritoria esse possent [can. estas não poderiam, de modo algum, agradar a Deus
2]: nihil ipsis iustificatis amplius deesse credendum e ser meritórias [cân. 2]. Por isso, deve-se crer que
est, quominus plene illis quidem operibus, quae in não falta mais nada aos justificados para que se
Deo sunt facta, divinae legi pro huius vitae statu possa pensar que, com as obras feitas em Deus,
satisfecisse, et vitam aeternam suo etiam tempore quanto possível nesta vida, satisfizeram plenamen-
(si tamen in gratia decesserint [cf. Apc 14,13]) con- te à lei divina e mereceram verdadeiramente obter,
sequendam vere promeruisse censeantur [can. 32], a seu tempo, a vida eterna [cân. 32] (contanto que
cum Christus Salvator noster dicat: “Si quis biberit morram na graça [cf. Ap. 14,13]). Com efeito, diz o
ex aqua, quam ego dabo ei, non sitiet in aeternum, Cristo, nosso Salvador: “Quem bebe da água que
sed fiet in eo fons aquae salientis in vitam aeter- eu lhe darei, não terá jamais sede, mas a água que eu
nam” [Io 4,14]. lhe darei se tornará nele fonte de água que brota
para a vida eterna” [Jo 4,14].
1547 Ita neque propria nostra iustitia tamquam ex no- Desse modo nem se exalta a nossa justiça como
bis [cf. 2 Cor 3,5] propria statuitur, neque ignoratur se viesse de nós [cf. 2Cor 3,5], nem se ignora ou se
aut repudiatur iustitia Dei [cf. Rm 10,3]; quae enim recusa a justiça de Deus [cf. Rm 10,3]. Pois esta
iustitia nostra dicitur, quia per eam nobis inhaeren- mesma justiça, que é chamada nossa porque, ine-
tem iustificamur [can. 10 et 11], illa eadem Dei est, rente a nós, nos justifica [cân. 10 e 11], é de Deus,
quia a Deo nobis infunditur per Christi meritum. porque infusa em nós por Deus por causa dos mé-
ritos de Cristo.
1548 Neque vero illud omittendum est, quod, licet bonis Também não se deve esquecer que, embora a
operibus in sacris Litteris usque adeo tribuatur, ut Sagrada Escritura atribua tanta importância às boas
etiam qui uni ex minimis suis potum aquae frigidae obras que o Cristo chega a prometer uma recom-
dederit, promittat Christus, eum non esse sua mer- pensa a quem der um copo de água fresca a um dos
cede cariturum [cf. Mt 10,42; Mc 9,41], et Aposto- seus mais pequenos [cf. Mt 10,42; Mc 9,41] e o
lus testetur, “id quod in praesenti est momentaneum Apóstolo testemunha que “o que agora é para nós
et leve tribulationis nostrae, supra modum in subli- tribulação momentânea e ligeira produz em nós um
mitate aeternum gloriae pondus operari in nobis” peso eterno de glória sobremodo sublime” [2Cor
410
[2 Cor 4,17]: absit tamen, ut christianus homo in se 4,17], jamais um cristão deve confiar ou gloriar-se
ipso vel confidat vel glorietur et non in Domino [cf. em si mesmo e não no Senhor [cf. 1Cor 1,31; 2Cor
1 Cor 1,31; 2 Cor 10,17], cuius tanta est erga om- 10,17], cuja bondade para com todos é tão grande
nes homines bonitas, ut eorum velit esse merita [can. que ele quer que o que são seus dons se torne mé-
32], quae sunt ipsius dona [cf. *248]. ritos para eles [cf. *248].
Et quia “in multis offendimus omnes” [Iac 3,2; E porque todos nós pecamos em muitas coisas 1549
can. 23], unusquisque sicut misericordiam et boni- [Ti 3,2; cân. 23], cada um deve ter diante dos olhos
tatem, ita severitatem et iudicium ante oculos ha- não só a misericórdia e a bondade como também a
bere debet, neque se ipsum aliquis, etiam si nihil severidade e o juízo, e não se julgar por si mesmo,
sibi conscius fuerit, iudicare, quoniam omnis ho- mesmo que não tenha consciência de culpa algu-
minum vita non humano iudicio examinanda et ma. Pois toda a vida dos homens deve ser examina-
iudicanda est, sed Dei, qui “illuminabit abscondita da e julgada, não segundo o juízo humano, mas se-
tenebrarum, et manifestabit consilia cordium, et tunc gundo o de Deus, que “porá às claras os segredos
laus erit unicuique a Deo” [1 Cor 4,4s], “qui”, ut das trevas e manifestará as intenções dos corações;
scriptum est, “reddet unicuique secundum opera então cada um receberá seu louvor de Deus” [1Cor
sua” [Rm 2,6]. 4,4s]; “que”, como está escrito, “retribuirá a cada
um segundo as suas obras” [Rm 2,6].
Post hanc catholicam de iustificatione doctrinam Depois desta exposição da doutrina católica so- 1550
[can. 33], quam nisi quisque fideliter firmiterque bre a justificação [cân. 33], que é preciso aceitar
receperit; iustificari non poterit, placuit sanctae fiel e firmemente para poder ser justificado, pare-
Synodo hos canones subiungere, ut omnes sciant, ceu oportuno ao santo Sínodo acrescentar os seguin-
non solum quid tenere et sequi, sed etiam quid vi- tes cânones, para que todos saibam não só o que
tare et fugere debeant. devem crer e seguir, mas também o que devem evitar
e de que devem fugir.
411
1555 Can. 5. Si quis liberum hominis arbitrium post Cân. 5. Se alguém disser que o livre-arbítrio do
Adae peccatum amissum et exstinctum esse dixerit, homem depois do pecado de Adão se perdeu e ex-
aut rem esse de solo titulo, immo titulum sine re, tinguiu, ou que é só coisa de mero nome, e até mes-
figmentum denique a satana invectum in Ecclesiam: mo nome sem conteúdo, enfim, uma ficção intro-
anathema sit [cf. *1521 *1525 *1486]. duzida na Igreja por Satanás: seja anátema [cf. *1521
1525 1486].
1556 Can. 6. Si quis dixerit, non esse in potestate ho- Cân. 6. Se alguém disser que não está em poder
minis vias suas malas facere, sed mala opera ita ut do homem tornar maus os próprios caminhos, mas
bona Deum operari, non permissive solum, sed etiam que é Deus que opera o mal como o bem, não so-
proprie et per se, adeo ut sit proprium eius opus mente permitindo-o mas também querendo-o com
non minus proditio Iudae quam vocatio Pauli: ana- vontade formal e direta, de modo que tanto a trai-
thema sit. ção de Judas como a vocação de Paulo propria-
mente podem ser consideradas obra sua <de Deus>:
seja anátema.
1557 Can. 7. Si quis dixerit, opera omnia, quae ante Cân. 7. Se alguém disser que todas as obras fei-
iustificationem fiunt, quacumque ratione facta sint, tas antes da justificação, de qualquer modo que te-
vere esse peccata vel odium Dei mereri, aut quanto nham sido feitas, são verdadeiramente pecados ou
vehementius quis nititur se disponere ad gratiam, que merecem o ódio de Deus, ou que, quanto mais
tanto eum gravius peccare: anathema sit [cf. *1526]. alguém se esforça para dispor-se à graça, tanto
mais gravemente peca: seja anátema [cf. *1526].
1558 Can. 8. Si quis dixerit, gehennae metum, per quem Cân. 8. Se alguém disser que o medo do inferno,
ad misericordiam Dei de peccatis dolendo confugi- pelo qual, lamentando os pecados, nos refugiamos
mus vel a peccando abstinemus, peccatum esse aut na misericórdia de Deus ou nos abstemos de pecar,
peccatores peiores facere: anathema sit [cf. *1526 é pecado ou torna ainda pior os pecadores: seja
*1456]. anátema [cf. *1526 1456].
1559 Can. 9. Si quis dixerit, sola fide impium iustifi- Cân 9. Se alguém disser que o ímpio é justificado
cari, ita ut intelligat, nihil aliud requiri, quo ad ius- pela fé só, no sentido de que não se requer nada
tificationis gratiam consequendam cooperetur, et além desta para cooperar na consecução da graça da
nulla ex parte necesse esse, eum suae voluntatis justificação, e que não é de modo algum necessário
motu praeparari atque disponi: anathema sit [cf. que ele se prepare e se disponha com um ato de sua
*1532 *1538 *1465 *1460s]. vontade: seja anátema [cf. *1532 1538 1465 1460s].
1560 Can. 10. Si quis dixerit, homines sine Christi Cân. 10. Se alguém disser que os homens são
iustitia, per quam nobis meruit, iustificari, aut per justificados sem a justiça de Cristo pela qual ele
eam ipsam formaliter iustos esse: anathema sit [cf. mereceu por nós; ou que por esta <justiça> são
*1523 *1529]. formalmente justos: seja anátema [cf. *1523 1529].
1561 Can. 11. Si quis dixerit, homines iustificari vel Cân. 11. Se alguém disser que os homens são
sola imputatione iustitiae Christi, vel sola peccato- justificados ou pela mera imputação da justiça de
rum remissione, exclusa gratia et caritate, quae in Cristo ou pela mera remissão dos pecados, excluí-
cordibus eorum per Spiritum Sanctum diffundatur das a graça e a caridade, que são derramadas em
[cf. Rm 5,5] atque illis inhaereat, aut etiam gratiam, seu coração pelo Espírito Santo [cf. Rm 5,5] e se
qua iustificamur, esse tantum favorem Dei: anathe- tornam a eles inerentes; ou também <se disser> que
ma sit [cf. *1528-1531 *1545s]. a graça com que somos justificados é só favor de
Deus: seja anátema [cf. *1528; 1531 1545s].
1562 Can. 12. Si quis dixerit, fidem iustificantem ni- Cân. 12. Se alguém disser que a fé que justifica
hil aliud esse quam fiduciam divinae misericordiae não é outra coisa que a confiança na divina miseri-
peccata remittentis propter Christum, vel eam fi- córdia que perdoa os pecados por causa de Cristo,
duciam solam esse, qua iustificamur: anathema sit ou que esta confiança sozinha justifica: seja anáte-
[cf. *1533s]. ma [cf. *1533s].
1563 Can. 13. Si quis dixerit, omni homini ad remis- Cân. 13. Se alguém disser que, para obter a re-
sionem peccatorum assequendam necessarium esse, missão dos pecados, para todos é necessário crer,
412
ut credat certo et absque ulla haesitatione propriae com certeza e sem vacilar por causa da própria
infirmitatis et indispositionis, peccata sibi esse re- fraqueza e falta de disposição, que os pecados lhe
missa: anathema sit [cf. *1533s *1460-1464]. são perdoados: seja anátema [cf. *1533s 1460
1464].
Can. 14. Si quis dixerit, hominem a peccatis ab- Cân. 14. Se alguém disser que o homem é absol- 1564
solvi ac iustificari ex eo, quod se absolvi ac iustifi- vido dos pecados e justificado pelo fato mesmo de
cari certo credat, aut neminem vere esse iustificatum, se crer com certeza absolvido e justificado, ou que
nisi qui credit se esse iustificatum, et hac sola fide ninguém é realmente justificado, senão quem crê
absolutionem et iustificationem perfici: anathema que está justificado, e que por esta fé sozinha se
sit [cf. ut supra]. opera a absolvição e a justificação: seja anátema.
[cf. ut supra].
Can. 15. Si quis dixerit, hominem renatum et Cân. 15. Se alguém disser que o homem renasci- 1565
iustificatum teneri ex fide ad credendum, se certo esse do e justificado é obrigado pela fé a crer que se
in numero praedestinatorum: anathema sit [cf. *1540]. encontra com certeza no número dos predestinados:
seja anátema [cf. *1540].
Can. 16. Si quis magnum illud usque in finem Cân. 16. Se alguém disser, com absoluta e infa- 1566
perseverantiae donum [cf. Mt 10,22; 24,13] se cer- lível certeza, que ele terá certamente o grande dom
to habiturum absoluta et infallibili certitudine dixe- da perseverança final [cf. Mt 10,22; 24,13], a me-
rit, nisi hoc ex speciali revelatione didicerit: ana- nos que o tenha sabido por uma especial revelação:
thema sit [cf. *1540s]. seja anátema [cf. *1540].
Can. 17. Si quis iustificationis gratiam non nisi Cân. 17. Se alguém disser que a graça da justifica- 1567
praedestinatis ad vitam contingere dixerit, reliquos ção é concedida somente aos predestinados à vida e
vero omnes, qui vocantur, vocari quidem, sed gra- que todos os outros que são chamados, decerto são
tiam non accipere, utpote divina potestate praedes- chamados, mas , enquanto predestinados ao mal pelo
tinatos ad malum: anathema sit. poder divino, não recebem a graça: seja anátema.
Can. 18. Si quis dixerit, Dei praecepta homini Cân. 18. Se alguém disser que, também para o 1568
etiam iustificato et sub gratia constituto esse ad homem justificado e constituído em graça, os man-
observandum impossibilia: anathema sit [cf. *1536]. damentos de Deus são impossíveis de observar: seja
anátema [cf. * 1536].
Can. 19. Si quis dixerit, nihil praeceptum esse in Cân. 19. Se alguém disser que no Evangelho nada 1569
Evangelio praeter fidem, cetera esse indifferentia, é prescrito senão a fé, que as outras coisas são in-
neque praecepta, neque prohibita, sed libera, aut diferentes, nem prescritas, nem proibidas, mas li-
decem praecepta nihil pertinere ad Christianos: vres, ou que os dez mandamentos não dizem res-
anathema sit [cf. *1536s]. peito aos cristãos: seja anátema. [cf. * 1536s].
Can. 20. Si quis hominem iustificatum et quan- Cân. 20. Se alguém disser que o homem justifi- 1570
tumlibet perfectum dixerit non teneri ad observan- cado, por mais perfeito que seja, não é obrigado a
tiam mandatorum Dei et Ecclesiae, sed tantum ad observar os mandamentos de Deus e da Igreja, mas
credendum, quasi vero Evangelium sit nuda et abso- somente a crer, como se o Evangelho fosse somen-
luta promissio vitae aeternae, sine condicione te uma simples e absoluta promessa da vida eterna,
observationis mandatorum: anathema sit [cf. *1536s]. não condicionada pela observância dos mandamen-
tos: seja anátema [cf. *1536s].
Can. 21. Si quis dixerit, Christum Iesum a Deo Cân. 21. Se alguém disser que Deus deu aos 1571
hominibus datum fuisse ut redemptorem, cui fi- homens Cristo Jesus como redentor, no qual devem
dant, non etiam ut legislatorem, cui obediant: ana- confiar, e não também como legislador ao qual de-
thema sit. vem obedecer: seja anátema.
Can. 22. Si quis dixerit, iustificatum vel sine spe- Cân. 22. Se alguém disser que o homem justifi- 1572
ciali auxilio Dei in accepta iustitia perseverare pos- cado pode perseverar na justiça recebida sem um
se, vel cum eo non posse: anathema sit [cf. *1541]. especial auxílio de Deus; ou que, com este <auxí-
lio>, não o pode: seja anátema [cf. *1541].
413
1573 Can. 23. Si quis hominem semel iustificatum di- Cân. 23. Se alguém disser que o homem, uma vez
xerit amplius peccare non posse1, neque gratiam justificado, não pode mais pecar1, nem perder a gra-
amittere, atque ideo eum, qui labitur et peccat, num- ça, e que, conseqüentemente, quem cai e peca nun-
quam vere fuisse iustificatum; aut contra, posse in ca foi verdadeiramente justificado; ou, ao contrário,
tota vita peccata omnia etiam venialia vitare, nisi ex que o homem pode por toda a vida evitar todo peca-
speciali Dei privilegio, quemadmodum de beata Vir- do, mesmo venial, sem que seja por especial privi-
gine tenet Ecclesia: anathema sit [cf. *1537 1549]. légio de Deus, como a Igreja crê a respeito da bem-
aventurada Virgem: seja anátema [cf. *1537 1549].
1574 Can. 24. Si quis dixerit, iustitiam acceptam non Cân. 24. Se alguém disser que a justiça recebida
conservari atque etiam non augeri coram Deo per não é conservada e tampouco aumentada diante de
bona opera, sed opera ipsa fructus solummodo et Deus com as boas obras, mas que estas são meros
signa esse iustificationis adeptae, non etiam ipsius frutos da justificação obtida e não também causa
augendae causam: anathema sit. [cf. *1535]. do seu aumento: seja anátema [cf. *1535].
1575 Can. 25. Si quis in quolibet bono opere iustum Cân. 25. Se alguém disser que, em cada boa obra,
saltem venialiter peccare dixerit, aut (quod intole- o justo peca ao menos venialmente ou (coisa ainda
rabilius est) mortaliter, atque ideo poenas aeternas mais intolerável) mortalmente, e, portanto, merece
mereri, tantumque ob id non damnari, quia Deus ea as penas eternas, mas que não é condenado, só
opera non imputet ad damnationem: anathema sit. porque Deus não lhe imputa para condenação aque-
[cf. *1539 1481s]. las obras: seja anátema. [cf. *1539 1481s]
1576 Can. 26. Si quis dixerit, iustos non debere pro Cân. 26. Se alguém disser que os justos não de-
bonis operibus, quae in Deo fuerint facta [cf. Io vem, pelas boas obras feitas em Deus [cf. Jo 3,21],
3,21], exspectare et sperare aeternam retributionem aguardar e esperar de Deus a eterna recompensa por
a Deo per eius misericordiam et Iesu Christi meri- sua misericórdia e pelo mérito de Jesus Cristo, se,
tum, si bene agendo et divina mandata custodiendo operando o bem e observando os divinos manda-
usque in finem perseveraverint [cf. Mt 10,22; 24,13]: mentos, tiverem perseverado até ao fim [cf. Mt
anathema sit [cf. *1538s]. 10,22; 24,13]: seja anátema [cf. *1538s].
1577 Can. 27. Si quis dixerit, nullum esse mortale Cân. 27. Se alguém disser que não há nenhum
peccatum nisi infidelitatis, aut nullo alio quantum- pecado mortal senão o da falta de fé, ou que ne-
vis gravi et enormi praeterquam infidelitatis pec- nhum pecado, por grave e enorme que seja, pode
cato semel acceptam gratiam amitti: anathema sit fazer perder a graça recebida – salvo o da falta de
[cf. *1544]. fé –: seja anátema [cf. *1544].
1578 Can. 28. Si quis dixerit, amissa per peccatum gra- Cân. 28. Se alguém disser que, perdida a graça pelo
tia simul et fidem semper amitti, aut fidem, quae pecado, juntamente se perde sempre também a fé; ou
remanet, non esse veram fidem, licet non sit viva que a fé que resta não é verdadeira fé, por não ser
[cf. Iac 2,26], aut eum, qui fidem sine caritate habet, viva [cf. Tg 2,26]; ou que aquele que tem a fé sem a
non esse Christianum: anathema sit [cf. ut supra]. caridade não é cristão: seja anátema [cf. ut supra].
1579 Can. 29. Si quis dixerit, eum, qui post baptismum Cân. 29. Se alguém disser que quem caiu depois
lapsus est, non posse per Dei gratiam resurgere; aut do batismo, não pode levantar-se pela graça de Deus;
posse quidem, sed sola fide, amissam iustitiam re- ou então que pode recuperar a justiça perdida, mas
cuperare sine sacramento paenitentiae, prout sancta só pela fé, sem o sacramento da penitência, como a
Romana et universalis Ecclesia, a Christo Domino santa Igreja romana e universal, instruída por Cris-
et eius Apostolis edocta, hucusque professa est, to o Senhor e pelos Apóstolos até agora professou,
servavit et docuit: anathema sit [cf. *1542s]. observou e ensinou: seja anátema [cf. *1542s].
1580 Can. 30. Si quis post acceptam iustificationis Cân. 30. Se alguém disser que a qualquer peca-
gratiam cuilibet peccatori paenitenti ita culpam dor penitente, depois que recebeu a graça da justi-
remitti et reatum aeternae poenae deleri dixerit, ut ficação, é perdoada a culpa e cancelado o débito da
nullus remaneat reatus poenae temporalis, exsolven- pena eterna, de modo tal que não lhe fique débito
dae vel in hoc saeculo vel in futuro in purgatorio, algum de pena temporal para descontar neste mun-
*1573 1 Alusão ao erro de Joviniano, dos begardos e das beguinas: cf. SGTr 5, 44926.
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antequam ad regna caelorum aditus patere possit: do ou no futuro, no purgatório, antes que lhe sejam
anathema sit [cf. *1543]. abertas as portas do Reino dos Céus: seja anátema
[cf. *1543].
Can. 31. Si quis dixerit, iustificatum peccare, dum Cân. 31. Se alguém disser que o homem justifi- 1581
intuitu aeternae mercedis bene operatur: anathema cado peca quando opera o bem em vista da eterna
sit [cf. *1539]. recompensa: seja anátema [cf. *1539].
Can. 32. Si quis dixerit, hominis iustificati bona Cân. 32. Se alguém disser que as boas obras do 1582
opera ita esse dona Dei, ut non sint etiam bona ip- homem justificado são dons de Deus, a ponto de não
sius iustificati merita, aut ipsum iustificatum bonis serem também méritos do homem justificado; ou que
operibus, quae ab eo per Dei gratiam et Iesu Christi este, com as boas obras por ele executadas pela gra-
meritum (cuius vivum membrum est) fiunt, non vere ça de Deus e pelos méritos de Jesus Cristo (de quem
mereri augmentum gratiae, vitam aeternam et ip- é membro vivo), não merece verdadeiramente o au-
sius vitae aeternae (si tamen in gratia decesserit) mento da graça, a vida eterna e (ao morrer em estado
consecutionem, atque etiam gloriae augmentum: de graça) a entrada na vida eterna, bem como o au-
anathema sit [cf. *1548 1545-1550]. mento da glória: seja anátema [cf. *1548 1545-1550].
Can. 33. Si quis dixerit, per hanc doctrinam ca- Cân. 33. Se alguém disser que, com esta doutrina 1583
tholicam de iustificatione, a sancta Synodo hoc prae- católica da justificação, expressa pelo santo Sínodo
senti decreto expressam, aliqua ex parte gloriae Dei no presente decreto, por alguma parte a glória de
vel meritis Iesu Christi Domini nostri derogari, et Deus ou os méritos de nosso Senhor Jesus Cristo
non potius veritatem fidei nostrae, Dei denique ac ficam reduzidos, e não antes que se ilustra melhor
Christi Iesu gloriam illustrari: anathema sit. a verdade da nossa fé e, enfim, a glória de Deus e
de Cristo Jesus: seja anátema.
Proêmio
Ad consummationem salutaris de iustificatione Para completar a doutrina salutar sobre a justifi- 1600
doctrinae, quae in praecedenti proxima sessione uno cação, promulgada na sessão precedente em consen-
omnium patrum consensu promulgata fuit, consen- so unânime de todos os Padres, pareceu conveniente
taneum visum est, de sanctissimis Ecclesiae sacra- tratar dos santíssimos sacramentos da Igreja. Por eles
mentis agere, per quae omnis vera iustitia vel incipit, começa toda verdadeira justiça, ou, uma vez come-
vel coepta augetur, vel amissa reparatur. çada, aumenta, ou, se perdida, é restaurada.
Propterea sacrosancta oecumenica et generalis Por isso, o sacrossanto Sínodo ecumênico e geral
Tridentina Synodus … de Trento …
ad errores eliminandos, et exstirpandas haereses, para eliminar os erros e extirpar as heresias acer-
quae circa ipsa sanctissima sacramenta hac nos- ca dos santíssimos sacramentos que apareceram
tra tempestate, tum de damnatis olim a Patribus em nossa época, quer provocadas pelas heresias
nostris haeresibus suscitatae, tum etiam de novo antigas, já condenadas por nossos Padres, quer
adinventae sunt, quae catholicae Ecclesiae puritati também como novidades ora lucubradas, que
et animarum saluti magnopere officiunt: perturbam grandemente a pureza da Igreja Cató-
lica e a salvação das almas,
sanctarum Scripturarum doctrinae, apostolicis aderindo à doutrina das santas Escrituras, às tra-
traditionibus atque aliorum conciliorum et Patrum dições apostólicas e ao consenso dos outros Con-
consensui inhaerendo, cílios e dos Padres,
415
hos praesentes canones statuendos et decernendos houve por bem estabelecer e decretar os presentes
censuit, reliquos, qui supersunt ad coepti operis cânones, deixando para publicação <ulterior> os que
perfectionem, deinceps (divino Spiritu adiuvante) ainda restam para se terminar (com a ajuda do Es-
editura. pírito Santo) a obra iniciada.
416
Can. 10. Si quis dixerit, Christianos omnes in Cân. 10. Se alguém disser que todos os cristãos 1610
verbo et omnibus sacramentis administrandis habe- têm poder sobre a Palavra e sobre a administração
re potestatem: anathema sit. de todos os sacramentos: seja anátema.
Can. 11. Si quis dixerit, in ministris, dum sacra- Cân. 11. Se alguém disser que não se requer nos 1611
menta conficiunt et conferunt, non requiri intentio- ministros, quando realizam e conferem os sacramen-
nem, saltem faciendi quod facit Ecclesia: anathema tos, a intenção de, ao menos, fazer o que a Igreja
sit [cf. *1262]. faz: seja anátema [cf. *1262]
Can. 12. Si quis dixerit, ministrum in peccato Cân. 12. Se alguém disser que um ministro em 1612
mortali exsistentem, modo omnia essentialia, quae estado de pecado mortal, suposto que observe todo
ad sacramentum conficiendum aut conferendum o essencial que pertence à execução e colação do
pertinent, servaverit, non conficere aut conferre sa- sacramento, não produz nem confere o sacramento:
cramentum: anathema sit [cf. *1154]. seja anátema [cf. *1154].
Can. 13. Si quis dixerit, receptos et approbatos Cân. 13. Se alguém disser que os ritos recebidos 1613
Ecclesiae catholicae ritus in sollemni sacramento- e aprovados pela Igreja Católica, que se costumam
rum administratione adhiberi consuetos aut contem- empregar na administração solene dos sacramen-
ni, aut sine peccato a ministris pro libito omitti, aut tos podem, sem pecado, ser desdenhados ou omiti-
in novos alios per quemcumque ecclesiarum pasto- dos pelos ministros, segundo seu arbítrio, ou mu-
rem mutari posse: anathema sit. dados em outros novos por qualquer pastor da Igre-
ja: seja anátema.
417
1621 Can. 8. Si quis dixerit, baptizatos liberos esse ab Cân. 8. Se alguém disser que as pessoas batiza-
omnibus sanctae Ecclesiae praeceptis, quae vel das estão livres de todos os preceitos da Santa Igre-
scripta vel tradita sunt, ita ut ea observare non te- ja, sejam escritos ou transmitidos por tradição, de
neantur, nisi se sua sponte illis summittere voluerint: modo que não são obrigadas a observá-los, a não
anathema sit. ser que se queiram submeter a eles espontaneamen-
te: seja anátema.
1622 Can. 9. Si quis dixerit, ita revocandos esse homi- Cân. 9. Se alguém disser que se devem levar os
nes ad baptismi suscepti memoriam, ut vota omnia, homens a lembrar-se do batismo recebido, de for-
quae post baptismum fiunt, vi promissionis in bap- ma que entendam que todos os votos feitos depois
tismo ipso iam factae irrita esse intelligant, quasi do batismo são nulos por força da promessa já feita
per ea et fidei, quam professi sunt, detrahatur, et no próprio batismo, como se pelos votos deprecias-
ipsi baptismo: anathema sit. sem a fé que professam, bem como o próprio batis-
mo: seja anátema.
1623 Can. 10. Si quis dixerit, peccata omnia, quae post Cân. 10. Se alguém disser que todos os pecados
baptismum fiunt, sola recordatione et fide suscepti cometidos depois do batismo são perdoados ou se
baptismi vel dimitti vel venialia fieri: anathema sit. tornam veniais só com a recordação e a fé do batis-
mo recebido: seja anátema.
1624 Can. 11. Si quis dixerit, verum et rite collatum Cân. 11. Se alguém disser que um verdadeiro
baptismum iterandum esse illi, qui apud infideles batismo, validamente conferido, deve ser repetido
fidem Christi negaverit, cum ad paenitentiam con- em quem perante os infiéis negou a fé em Cristo,
vertitur: anathema sit. quando se converter à penitência: seja anátema.
1625 Can. 12. Si quis dixerit, neminem esse baptizan- Cân. 12. Se alguém disser que ninguém deve ser
dum nisi ea aetate, qua Christus baptizatus est, vel batizado a não ser na idade em que Cristo foi bati-
in ipso mortis articulo: anathema sit. zado ou no momento da morte: seja anátema.
1626 Can. 13. Si quis dixerit, parvulos eo, quod actum Cân. 13. Se alguém disser que as crianças, de-
credendi non habent, suscepto baptismo inter fide- pois de receber o batismo, pelo fato de não terem o
les computandos non esse, ac propterea, cum ad ato de fé, não podem ser contadas entre os fiéis e
annos discretionis pervenerint, esse rebaptizandos, que, portanto, é necessário rebatizá-las quando che-
aut praestare omitti eorum baptisma, quam eos non gam à idade da discrição, ou <se disser> que é pre-
actu proprio credentes baptizari in sola fide Eccle- ferível deixar de batizar essas <crianças>, que não
siae: anathema sit. crêem por um ato pessoal, a batizá-las só na fé da
Igreja, seja anátema.
1627 Can. 14. Si quis dixerit, huiusmodi parvulus bap- Cân. 14. Se alguém disser que os que foram ba-
tizatos, cum adoleverint, interrogandos esse, an ra- tizados crianças, ao chegarem à adolescência, de-
tum habere velint, quod patrini eorum nomine, dum vem ser perguntados se querem ratificar o que os
baptizarentur, polliciti sunt, et ubi se nolle respon- padrinhos prometeram em seu nome no momento
derint, suo esse arbitrio relinquendos nec alia inte- do batismo, e, caso respondam negativamente, de-
rim poena ad christianam vitam cogendos, nisi ut vem ser deixados a seu arbítrio e não devem ser
ab Eucharistiae aliorumque sacramentorum percep- obrigados por nenhuma pena, mas apenas afastados
tione arceantur, donec resipiscant: anathema sit. da recepção da Eucaristia e dos outros sacramentos
até que se corrijam: seja anátema.
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Can. 2. Si quis dixerit, iniurios esse Spiritui Sancto Cân. 2. Se alguém disser que, quem atribui algu- 1629
eos, qui sacro confirmationis chrismati virtutem ma força ao santo crisma da confirmação, faz injú-
aliquam tribuunt: anathema sit. ria ao Espírito Santo: seja anátema.
Can. 3. Si quis dixerit, sanctae confirmationis Cân. 3. Se alguém disser que o ministro ordiná- 1630
ordinarium ministrum non esse solum episcopum, rio da santa confirmação não é só o bispo, mas qual-
sed quemvis simplicem sacerdotem: anathema sit quer simples sacerdote: seja anátema [cf. *1318].
[cf. *1318].
Proêmio
Sacrosancta oecumenica et generalis Tridentina O sacrossanto Sínodo ecumênico e geral de Trento 1635
Synodus …, etsi in eum finem non absque peculiari …, embora se tenha reunido, não sem ser especial-
Spiritus Sancti ductu et gubernatione convenerit, ut mente conduzido e orientado pelo Espírito Santo,
veram et antiquam de fide et sacramentis doctrinam para expor a verdadeira e antiga doutrina sobre a fé
exponeret, et ut haeresibus omnibus et aliis gravis- e os sacramentos e para trazer remédio a todas as
simis incommodis, quibus Dei Ecclesia misere nunc heresias e outros gravíssimos danos que ora pertur-
exagitatur et in multas ac varias partes scinditur, bam lamentavelmente a Igreja de Deus e a destro-
remedium afferret, hoc praesertim iam inde a prin- çam em muitas e diversas partes, teve em mente,
cipio in votis habuit, ut stirpitus, convelleret zizania desde o início, principalmente arrancar pela raiz a
exsecrabilium errorum et schismatum, quae inimicus cizânia dos erros e cismas execráveis que, nestes
homo his nostris calamitosis temporibus in doctri- nossos tempos calamitosos, o inimigo semeou [cf.
na fidei, usu et cultu sacrosanctae Eucharistiae Mt 13,25] na doutrina da fé sobre o uso e o culto da
superseminavit [cf. Mt 13,25], quam alioqui Salva- sacrossanta Eucaristia, que, no entanto, nosso Sal-
tor noster in Ecclesia sua tamquam symbolum reli- vador deixou à sua Igreja como símbolo de sua uni-
quit eius unitatis et caritatis, qua Christianos omnes dade e caridade, pela qual quis todos os cristãos
inter se coniunctos et copulatos esse voluit. unidos e articulados entre si.
Itaque eadem sacrosancta Synodus, Por isso, o mesmo sacrossanto Sínodo,
sanam et sinceram illam de venerabili hoc et di- transmitindo a sã e autêntica doutrina sobre este
vino Eucharistiae sacramento doctrinam tradens, venerável e divino sacramento da Eucaristia,
quam semper catholica Ecclesia ab ipso Iesu <doutrina> que a Igreja católica, instruída pelo
Christo Domino nostro et eius Apostolis erudita, próprio nosso Senhor Jesus Cristo e por seus
atque a Spiritu Sancto illi omnem veritatem in Apóstolos e ensinada pelo Espírito Santo, que dia
dies suggerente [cf. Io 14,26] edocta retinuit et após dia lhe traz à mente toda a verdade [cf. Jo
ad finem usque saeculi conservabit, 14,26], sempre guardou e conservará até o fim
do mundo,
omnibus Christi fidelibus interdicit, ne posthac proíbe a todos os fiéis cristãos de ousar, depois
de sanctissima Eucharistia aliter credere, docere aut disto, crer, ensinar ou pregar sobre a santíssima
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praedicare audeant, quam ut est hoc praesenti de- Eucaristia de outro modo do que o explicado e de-
creto explicatum atque definitum. finido no presente decreto.
Cap. 1. De reali praesentia Domini nostri Iesu Cap. 1. A presença real de nosso Senhor Jesus
Christi in sanctissimo Eucharistiae sacramento Cristo no santíssimo sacramento da Eucaristia
1636 Principio docet sancta Synodus et aperte ac sim- Em primeiro lugar, o santo Sínodo ensina e pro-
pliciter profitetur, in almo sanctae Eucharistiae sa- fessa aberta e simplesmente que, no sublime sacra-
cramento post panis et vini consecrationem Domi- mento da santa Eucaristia, depois da consagração do
num nostrum Iesum Christum verum Deum atque pão e do vinho, nosso Senhor Jesus Cristo, verda-
hominem vere, realiter ac substantialiter [can. 1] sub deiro Deus e <verdadeiro> homem, está contido ver-
specie illarum rerum sensibilium contineri. Neque dadeira, real e substancialmente sob a aparência das
enim haec inter se pugnant, ut ipse Salvator noster coisas sensíveis. Pois não há contradição nisto, que
semper ad dextram Patris in caelis assideat iuxta o mesmo nosso Salvador esteja sempre sentado à
modum exsistendi naturalem, et ut multis nihilomi- direita do Pai nos céus, segundo o <seu> modo natu-
nus aliis in locis sacramentaliter praesens sua sub- ral de existir, e que, não obstante, esteja para nós
stantia nobis adsit, ea exsistendi ratione, quam etsi sacramentalmente presente em sua substância, em
verbis exprimere vix possumus, possibilem tamen muitos outros lugares, segundo um modo de exis-
esse Deo [cf. Mt 19,26; Lc 18,27], cogitatione per tência que, embora mal o possamos exprimir em
fidem illustrata assequi possumus et constantissime palavras, podemos reconhecer pelo pensamento ilu-
credere debemus. minado pela fé como possível para Deus [cf. Mt
19,26; Lc 18,27], e no qual devemos crer firmemente.
1637 Ita enim maiores nostri omnes, quotquot in vera Assim todos os nossos antepassados que estavam
Christi Ecclesia fuerunt, qui de sanctissimo hoc na verdadeira Igreja de Cristo e que trataram deste
sacramento disseruerunt, apertissime professi sunt, santíssimo sacramento, professaram muito aberta-
hoc tam admirabile sacramentum in ultima Coena mente que nosso Redentor instituiu este tão admi-
Redemptorem nostrum instituisse, cum post panis rável sacramento na última Ceia, quando, depois de
vinique benedictionem se suum ipsius corpus illis abençoar o pão e o vinho, testemunhou, com pala-
praebere ac suum sanguinem disertis ac perspicuis vras claras e precisas, que lhes estava dando seu
verbis testatus est; quae verba a sanctis Evangelistis próprio corpo e seu sangue. Já que estas palavras,
commemorata [cf. Mt 26,26-29; Mc 14,22-25; Lc referidas pelos santos Evangelistas [cf. Mt 26,26ss;
22,19s], et a divo Paulo postea repetita [1 Cor Mc 14,22ss; Lc 22,19s] e repetidas depois pelo di-
11,24s], cum propriam illam et apertissimam signi- vino Paulo [1Cor 11,23s], comportam aquela signi-
ficationem prae se ferant, secundum quam a Patri- ficação própria e claríssima segundo a qual os Pa-
bus intellecta sunt, indignissimum sane flagitium est, dres as entenderam, é sem dúvida a mais indigna
ea a quibusdam contentiosis et pravis hominibus ad das vergonhas que, por alguns homens contenciosos
fictitios et imaginarios tropos, quibus veritas carnis e perversos, sejam distorcidas, contra o sentir uni-
et sanguinis Christi negatur, contra universum Ec- versal da Igreja, até figuras de estilo fictícias e
clesiae sensum detorqueri, quae, tamquam “columna imaginárias, nas quais se nega a verdade da carne e
et firmamentum veritatis” [1 Tim 3,15], haec ab do sangue de Cristo. Como coluna e fundamento
impiis hominibus excogitata commenta velut sata- da verdade [1Tm 3,15], <a Igreja> repudia como
nica detestata est, grato semper et memori animo satânicas essas invencionices lucubradas por homens
praestantissimum hoc Christi beneficium agnoscens. ímpios, reconhecendo com espírito sempre grato e
fiel este insigne benefício de Cristo.
420
Lc 22,19; 1 Cor 11,24] praecepit suamque annun- bê-lo, celebrássemos “sua memória” [1Cor 11,24]
tiare mortem, donec ipse ad iudicandum mundum e proclamássemos sua morte, até que ele mesmo
veniat [cf. 1 Cor 11,26]. venha julgar o mundo [cf. 1 Co 11,26].
Sumi autem voluit sacramentum hoc tamquam Ele quis que se recebesse este sacramento como
spiritualem animarum cibum [cf. Mt 26,26], quo alimento espiritual das almas [Mt 26,26], com o qual
alantur et confortentur [can. 5] viventes vita illius, se alimentam e fortalecem [cân. 5] os que vivem
qui dixit: “Qui manducat me, et ipse vivet propter pela vida daquele que disse: “Quem me come, vi-
me” [Io 6,57], et tamquam antidotum, quo libere- verá por mim” [Jo 6,58], e <também> como antí-
mur a culpis quotidianis et a peccatis mortalibus doto pelo qual somos libertados das culpas cotidi-
praeservemur. anas e preservados dos pecados mortais.
Pignus praeterea id esse voluit futurae nostrae Além disso, quis que fosse penhor de nossa gló-
gloriae et perpetuae felicitatis, adeoque symbolum ria futura e da perpétua felicidade e, também, sím-
unius illius corporis, cuius ipse caput [cf. 1 Cor 11,3; bolo daquele único corpo do qual ele mesmo é a
Eph 5,23] exsistit, cuique nos, tamquam membra, cabeça [cf. 1Cor 11,3; Ef 5,23], ao qual quis que
arctissima fidei, spei et caritatis conexione adstrictos estivéssemos ligados, como membros, pelos laços
esse voluit, ut idipsum omnes diceremus, nec essent estreitíssimos da fé, da esperança e da caridade, para
in nobis schismata [cf. 1 Cor 1,10]. que todos disséssemos o mesmo, nem houvesse
cisma entre nós [cf. 1Cor 1,19].
*1639 1 Cf. Graciano, Decretum, p. III, dist. 2, c. 32 (Frdb 1, 1324); cf. Agostinho, Quaestiones in Heptateuchum III 84 [ad
Lv 21 ] (J. Fraipont: CpChL 33 [1958] 228 / CSEL 28/II, 305 / PL 34, 712); de modo semelhante em De civitate Dei
X 5 (B. Dombart – A. Kalb: CpChL 47 [1955] 277 / CSEL 40/I, 45218s / PL 41, 282).
421
1641 Quapropter verissimum est, tantundem sub alte- Eis por que é absolutamente verdadeiro que sob
rutra specie atque sub utraque contineri. Totus enim cada uma das espécies está contido exatamente o
et integer Christus sub panis specie et sub quavis mesmo que em ambas <juntas>, pois o Cristo está
ipsius speciei parte, totus item sub vini specie et todo inteiro sob a espécie do pão e sob qualquer
sub eius partibus exsistit [can. 3]. parte desta espécie e igualmente está todo sob a
espécie do vinho e sob suas partes [cân. 3].
*1644 1 A festa de Corpus Christi foi introduzida no ano de 1264: cf. *846°.
422
mortis eius victoria et triumphus repraesentatur. mente divino pelo qual se torna presente a vitória e
Atque sic quidem oportuit victricem veritatem de o triunfo de sua morte. E assim se tornou conve-
mendacio et haeresi triumphum agere, ut eius ad- niente que a verdade vitoriosa festeje seu triunfo
versarii, in conspectu tanti splendoris et in tanta uni- sobre a mentira e a heresia, para que seus adversá-
versae Ecclesiae laetitia positi, vel debilitati et frac- rios, postos diante de tanto esplendor e em meio a
ti tabescant, vel pudore affecti et confusi aliquando tamanha alegria da Igreja universal, debilitados e
resipiscant. derrotados se desanimem, ou, movidos por vergo-
nha e confusão, algum dia se corrijam.
Cap. 7. De praeparatione, quae adhibenda est, Cap. 7. A preparação a ser feita para
ut digne quis sacram Eucharistiam percipiat receber dignamente a santa Eucaristia
Si non decet ad sacras ullas functiones quempiam Se não convém aproximar-se de nenhuma função 1646
accedere nisi sancte, certe, quo magis sanctitas et sagrada a não ser santamente, por certo, quanto mais
divinitas caelestis huius sacramenti viro christiano o cristão descobre a santidade e a divindade deste
comperta est, eo diligentius cavere ille debet, ne sacramento celeste, tanto mais cuidará diligentemen-
absque magna reverentia et sanctitate [can. 11] ad te de aproximar-se dele só com grande reverência e
id percipiendum accedat, praesertim cum illa plena santidade [cân. 11], principalmente quando lemos
formidinis verba apud Apostolum legamus: “Qui no Apóstolo aquelas palavras terríveis: “Quem come
manducat et bibit indigne, iudicium sibi manducat e bebe indignamente, come e bebe a própria conde-
et bibit, non diiudicans corpus Domini” [1 Cor nação, não distinguindo o corpo do Senhor” [1Cor
11,29]. Quare communicare volenti revocandum est 11,29]. Por isso, a quem quiser comungar se deve
in memoriam eius praeceptum: “Probet autem seip- lembrar o preceito: “Que o homem se examine a si
sum homo” [1 Cor 11,28]. mesmo” [1Cor 11,28].
Ecclesiastica autem consuetudo declarat, eam O costume da Igreja declara que é preciso um 1647
probationem necessariam esse, ut nullus sibi cons- exame para que ninguém, por mais contrito que ele
cius peccati mortalis, quamtumvis sibi contritus se considere, se aproxime da sagrada Eucaristia sem
videatur, absque praemissa sacramentali confessio- antes confessar sacramentalmente, caso esteja cons-
ne ad sacram Eucharistiam accedere debeat. ciente de algum pecado mortal.
Quod a Christianis omnibus, etiam ab iis sacerdo- Este costume, o santo Concílio decreta que seja
tibus, quibus ex officio incubuerit celebrare, haec observado perpetuamente por todos os cristãos, tam-
sancta Synodus perpetuo servandum esse decrevit, bém pelos sacerdotes a quem compete celebrar por
modo non desit illis copia confessoris. Quod si neces- ofício, desde que não faltem confessores. Se, por ne-
sitate urgente sacerdos absque praevia confessione cessidade urgente, um sacerdote celebrar sem prévia
celebraverit, quam primum [cf. *2058] confiteatur. confissão, deve confessar-se quanto antes [cf. *2058].
Cap. 8. De usu admirabilis huius sacramenti Cap. 8. O uso deste admirável sacramento
Quoad usum autem recte et sapienter Patres nos- Quanto ao uso, nossos Pais distinguiram reta e 1648
tri tres rationes hoc sanctum sacramentum accipiendi sabiamente três modos de receber este sacramento.
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distinxerunt. Quosdam enim docuerunt sacramen- Eles ensinam que alguns só o recebem sacramen-
taliter dumtaxat id sumere, ut peccatores; alios tan- talmente: são os pecadores; outros só espiritualmen-
tum spiritualiter, illos nimirum, qui voto proposi- te: são aqueles que, comendo em desejo aquele pão
tum illum caelestem panem edentes, fide viva, “quae celeste que lhes é oferecido, com a fé viva “que
per dilectionem operatur” [Gal 5,6], fructum eius et opera pelo amor” [Gl 5,6], sentem seu fruto e utili-
utilitatem sentiunt; tertios porro sacramentaliter si- dade; outros ainda recebem-no ao mesmo tempo sa-
mul et spiritualiter [can. 8]; ii autem sunt, qui ita se cramental e espiritualmente [cân. 8]: são os que se
prius probant et instruunt, ut vestem nuptialem induti examinam e preparam de tal modo que, vestidos
ad divinam hanc mensam accedant [cf. Mt 22,11s]. com a veste nupcial [cf. Mt 22,11ss], se aproximam
desta mesa divina.
In sacramentali autem sumptione semper in Ec- Na recepção sacramental foi sempre costume na
clesia Dei mos fuit, ut laici a sacerdotibus commu- Igreja de Deus que os leigos recebessem a comu-
nionem acciperent, sacerdotes autem celebrantes se nhão dos sacerdotes e que os sacerdotes celebran-
ipsos communicarent [can. 10]; qui mos tamquam tes comungassem por si mesmos [cân. 10], um
ex traditione apostolica descendens iure ac merito costume que, provindo de tradição apostólica, se
retineri debet. deve com razão e direito conservar.
1649 Demum autem paterno affectu admonet sancta Por fim, com afeto paternal, o santo Sínodo exor-
Synodus, hortatur, rogat et obsecrat “per viscera ta, pede e conjura, “pelas vísceras de misericórdia
misericordiae Dei nostri” [Lc 1,78], ut omnes et de nosso Deus” [Lc 1,78], que todos e cada um dos
singuli, qui christiano nomine censentur, in hoc que levam o nome de cristãos, por fim se reúnam e
“unitatis signo”, in hoc “vinculo caritatis”1, in hoc sejam concordes neste “sinal da unidade”, neste
concordiae symbolo iam tandem aliquando conve- “vínculo da caridade”1, neste símbolo de concór-
niant et concordent, memoresque tantae maiestatis dia; que, lembrados da tão grande majestade e do
et tam eximii amoris Iesu Christi Domini nostri, qui tão exímio amor de nosso Senhor Jesus Cristo, que
dilectam animam suam in nostrae salutis pretium, deu sua vida tão cara como preço de nossa salvação
et carnem suam nobis dedit ad manducandum [cf. e nos deu sua carne em comida [Jo 6,48ss], creiam
Io 6,48-58], haec sacra mysteria corporis et sangui- e venerem estes sagrados mistérios de seu corpo e
nis eius ea fidei constantia et firmitate, ea animi sangue com tal constância e firmeza de fé, com tal
devotione, ea pietate et cultu credant et venerentur, dedicação de alma, com tal piedade e culto, que
ut panem illum supersubstantialem [cf. Mt 6,11] possam receber freqüentemente aquele pão super-
frequenter suscipere possint, et is vere eis sit ani- substancial [Mt 6,11]. Que ele lhes seja verdadeira-
mae vita et perpetua sanitas mentis, cuius vigore mente a vida da alma e a saúde perpétua do espíri-
confortati [cf. 3 Rg 19,8] ex huius miserae peregri- to, por cuja força confortados [cf. 1Rs 19,8] consi-
nationis itinere ad caelestem patriam pervenire va- gam chegar da caminhada desta mísera peregrina-
leant, eundem “panem Angelorum” [Ps 77,25], ção à pátria celeste, para aí comerem sem véu al-
quem modo sub sacris velaminibus edunt, absque gum o mesmo “pão dos anjos” [Sl 78,25] que ora
ullo velamine manducaturi. comem sob véus sagrados.
1650 Quoniam autem non est satis veritatem dicere, Mas, porque não é suficiente dizer a verdade, se
nisi detegantur et refellantur errores: placuit sanc- não são postos às claras e refutados os erros, o san-
tae Synodo hos canones subiungere, ut omnes, iam to Sínodo houve por bem acrescentar os seguintes
agnita doctrina catholica, intelligant quoque, quae cânones, para que todos, sendo já conhecida a dou-
ab illis haereses caveri vitarique debeant. trina católica, entendam também de que heresias se
devem precaver e se afastar.
*1649 1 Cf. Agostinho, In Evangelium Iohannis, tract. 26, 13 (R. Willems: CpChL 36 [1954] 26627 / PL 35, 1613).
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divinitate Domini nostri Iesu Christi ac proinde to- com a alma e a divindade de nosso Senhor Jesus
tum Christum; sed dixerit, tantummodo esse in eo Cristo e, portanto, o Cristo inteiro, mas disser que
ut in signo vel figura, aut virtute: anathema sit [cf. só estão como que em sinal ou em figura ou na
*1636 *1640]. eficácia: seja anátema [cf. *1636; 1640].
Can. 2. Si quis dixerit, in sacrosancto Eucharis- Cân. 2. Se alguém disser que, no sacrossanto sa- 1652
tiae sacramento remanere substantiam panis et vini cramento da Eucaristia, permanece a substância do
una cum corpore et sanguine Domini nostri Iesu pão e do vinho juntamente com o corpo e o sangue
Christi, negaveritque mirabilem illam et singularem de nosso Senhor Jesus Cristo, e negar aquela admi-
conversionem totius substantiae panis in corpus et rável e singular mudança de toda a substância do
totius substantiae vini in sanguinem, manentibus pão no corpo e de toda a substância do vinho no
dumtaxat speciebus panis et vini, quam quidem sangue, permanecendo só as espécies de pão e vi-
conversionem catholica Ecclesia aptissime trans- nho – mudança que a Igreja católica chama com
substantiationem appellat: anathema sit [cf. *1642]. muita propriedade transubstanciação –: seja anáte-
ma [cf. *1642].
Can. 3. Si quis negaverit, in venerabili sacramen- Cân. 3. Se alguém negar que, no venerável sacra- 1653
to Eucharistiae sub unaquaque specie et sub singu- mento da Eucaristia, depois da separação <das es-
lis cuiusque speciei partibus separatione facta to- pécies>, está contido o Cristo inteiro sob cada es-
tum Christum contineri: anathema sit [cf. *1641]. pécie e sob cada parte de cada espécie: seja anáte-
ma [cf. *1641].
Can. 4. Si quis dixerit, peracta consecratione in Cân. 4. Se alguém disser que, depois da consagra- 1654
admirabili Eucharistiae sacramento non esse corpus ção, o corpo e o sangue de nosso Senhor Jesus Cris-
et sanguinem Domini nostri Iesu Christi, sed tantum to não estão no admirável sacramento da Eucaristia,
in usu, dum sumitur, non autem ante vel post, et in mas <que estão> somente no uso, enquanto são re-
hostiis seu particulis consecratis, quae post com- cebidos, porém não antes nem depois, e que o ver-
munionem reservantur vel supersunt, non remanere dadeiro corpo do Senhor não permanece nas hóstias
verum corpus Domini: anathema sit [cf. *1639s]. ou partículas consagradas que se guardam ou sobram
depois da comunhão: seja anátema [cf. *1639].
Can. 5. Si quis dixerit, vel praecipuum fructum Cân. 5. Se alguém disser ou que o fruto principal 1655
sanctissimae Eucharistiae esse remissionem pecca- da santíssima Eucaristia é a remissão dos pecados
torum, vel ex ea non alios effectus provenire: ana- ou que dela não provêm outros efeitos: seja anáte-
thema sit [cf. *1638]. ma [cf. *1638].
Can. 6. Si quis dixerit, in sancto Eucharistiae Cân. 6. Se alguém disser que não se deve, no 1656
sacramento Christum unigenitum Dei Filium non santo sacramento da Eucaristia, adorar com culto
esse cultu latriae etiam externo adorandum, atque de adoração, também exterior, a Cristo, Filho uni-
ideo nec festiva peculiari celebritate venerandum, gênito de Deus, e que, portanto, não deve ser vene-
neque in processionibus secundum laudabilem et rado numa solenidade especial, nem levado solene-
universalem Ecclesiae sanctae ritum et consuetudi- mente em procissões segundo o rito e uso louvável
nem solemniter circumgestandum, vel non publice, e universal da Santa Igreja, nem deve ser exposto
ut adoretur, populo proponendum, et eius adorato- ao povo publicamente para ser adorado, e que seus
res esse idololatras: anathema sit [cf. *1643s]. adoradores são idólatras: seja anátema [cf. *1643].
Can. 7. Si quis dixerit, non licere sacram Eucha- Cân. 7. Se alguém disser que não é lícito conser- 1657
ristiam in sacrario reservari, sed statim post conse- var a sagrada Eucaristia no sacrário, mas que deve
crationem adstantibus necessario distribuendam; aut ser necessariamente distribuída aos presentes ime-
non licere, ut illa ad infirmos honorifice deferatur: diatamente depois da consagração; ou que não é
anathema sit [cf. *1645]. lícito levá-la com honra aos enfermos: seja anáte-
ma [cf. *1645]
Can. 8. Si quis dixerit, Christum in Eucharis- Cân. 8. Se alguém disser que Cristo apresenta- 1658
tia exhibitum spiritualiter tantum manducari, et do na Eucaristia só é manducado espiritualmente
non etiam sacramentaliter ac realiter: anathema sit e não também sacramental e realmente: seja aná-
[cf. *1648]. tema [cf. *1648].
425
1659 Can. 9. Si quis negaverit, omnes et singulos Chris- Cân. 9. Se alguém negar que todos e cada um
ti fideles utriusque sexus, cum ad annos discretionis dos fiéis cristãos, de ambos os sexos, tendo chega-
pervenerint, teneri singulis annis saltem in Paschate do aos anos de discrição, são obrigados a comun-
ad communicandum iuxta praeceptum sanctae ma- gar todos os anos, ao menos na Páscoa, segundo o
tris Ecclesiae: anathema sit [cf. *812]. preceito da santa mãe Igreja: seja anátema [cf. *812].
1660 Can. 10. Si quis dixerit, non licere sacerdoti Cân. 10. Se alguém disser que não é lícito ao
celebranti se ipsum communicare: anathema sit sacerdote celebrante dar-se a comunhão a si mes-
[cf. *1648]. mo: seja anátema [cf. *1648].
1661 Can. 11. Si quis dixerit, solam fidem esse suffi- Cân. 11. Se alguém disser que a fé, só, é prepa-
cientem praeparationem ad sumendum sanctissimae ração suficiente para receber o sacramento da san-
Eucharistiae sacramentum [cf. *1646]: anathema sit. tíssima Eucaristia [cf. *1646]: seja anátema.
Et, ne tantum Sacramentum indigne atque ideo E, para que tão grande sacramento não seja rece-
in mortem et condemnationem sumatur, statuit at- bido indignamente e, portanto, para morte e conde-
que declarat ipsa sancta Synodus, illis, quos cons- nação, o santo Sínodo determina e declara que, quem
cientia peccati mortalis gravat, quantumcumque tem a consciência agravada por pecado mortal, por
etiam se contritos existiment, habita copia confes- mais contrito que se julgue, necessariamente deve
soris necessario praemittendam esse confessionem antes se confessar, havendo suficiente número de
sacramentalem. confessores.
Si quis autem contrarium docere, praedicare vel Porém, se alguém ousar ensinar, pregar ou afir-
pertinaciter asserere, seu etiam publice disputando mar pertinazmente o contrário, ou também defendê-
defendere praesumpserit, eo ipso excommunicatus lo em disputa pública, seja ipso facto excomungado
exsistat [cf. *1647]. [cf. *1647].
426
gratia susceptam constanter tuerentur, non fuisset mente a justiça recebida no batismo por benefício e
opus, aliud ab ipso baptismo sacramentum ad pecca- graça sua, não seria necessário outro sacramento
torum remissionem esse institutum [can. 2]. Quo- instituído para remissão dos pecados, diferente deste
niam autem “Deus, dives in misericordia” [Eph 2,4], [cân. 2]. Mas como “Deus, rico em misericórdia”
“cognovit figmentum nostrum” [Ps 102,14], illis [Ef 2,4] “conheceu a fragilidade de nossa origem”
etiam vitae remedium contulit, qui sese postea in [Sl 103,14], quis também conceder um remédio vi-
peccati servitutem et daemonis potestatem tradidis- vificante aos que se entregassem de novo à escravi-
sent, sacramentum videlicet paenitentiae [can. 1], dão do pecado e ao poder do demônio, a saber: o
quo lapsis post baptismum beneficium mortis Christi sacramento da penitência [cân. 1], pelo qual se
applicatur. aplica o benefício da morte de Cristo aos que caem
depois do batismo.
Fuit quidem paenitentia universis hominibus, qui A todos os homens que se manchassem com al- 1669
se mortali aliquo peccato inquinassent, quovis tem- gum pecado mortal, a penitência foi, de fato, neces-
pore ad gratiam et iustitiam assequendam necessaria, sária em todos os tempos para alcançar a graça e a
illis etiam, qui baptismi sacramento ablui petivis- justiça, mesmo àqueles que pediram ser lavados com
sent, ut perversitate abiecta et emendata tantam Dei o sacramento do batismo, para que, tendo expulsa-
offensionem cum peccati odio et pio animi dolore do e reparado a perversidade com o ódio ao pecado
detestarentur. Unde Propheta ait: “Convertimini et e a pia dor da alma, detestassem tão grande ofensa
agite paenitentiam ab omnibus iniquitatibus vestris; a Deus. Por isso, diz o Profeta: “Convertei-vos e
et non erit vobis in ruinam iniquitas“ [Ez 18,30]. fazei penitência de todas as vossas iniqüidades, e a
Dominus etiam dixit: “Nisi paenitentiam egeritis, iniqüidade não causará vossa ruína” [Ez 18,30]. O
omnes similiter peribitis” [Lc 13,3]. Et princeps Senhor também disse: “Se não fizerdes penitência,
Apostolorum Petrus peccatoribus baptismo initiandis todos perecereis do mesmo modo” [Lc 13,3]. E Pe-
paenitentiam commendans dicebat: “Paenitentiam dro, o príncipe dos Apóstolos, recomendando a
agite, et baptizetur unusquisque vestrum” [Act 2,38]. penitência aos que haviam de receber o batismo,
dizia: “Fazei penitência e cada um de vós seja ba-
tizado” [At 2,38].
Porro nec ante adventum Christi paenitentia erat Ora, a penitência não era sacramento antes da 1670
sacramentum, nec est post adventum illius cuiquam vinda de Cristo e tampouco o é depois desta, para
ante baptismum. Dominus autem sacramentum pae- ninguém, antes do batismo. O Senhor, porém, ins-
nitentiae tunc praecipue instituit, cum a mortuis tituiu o sacramento da penitência principalmente
excitatus insufflavit in discipulos suos, dicens: “Ac- naquela ocasião em que, ressuscitado dos mortos,
cipite Spiritum Sanctum; quorum remiseritis pec- soprou sobre os Apóstolos dizendo: “Recebei o
cata, remittuntur eis, et quorum retinueritis, retenta Espírito Santo; àqueles a quem perdoardes os peca-
sunt” [Io 20,22s]. dos, lhes serão perdoados; àqueles a quem os
retiverdes, lhes serão retidos” [Jo 20,22s].
Quo tam insigni facto et verbis tam perspicuis Por esta ação tão insigne e palavras tão claras, o
potestatem remittendi et retinendi peccata, ad consenso de todos os Padres entendeu sempre ter
reconciliandos fideles post baptismum lapsos, Apos- sido comunicado aos Apóstolos e seus legítimos
tolis et eorum legitimis successoribus fuisse com- sucessores o poder de perdoar e de reter os peca-
municatam, universorum Patrum consensus semper dos, para reconciliar os fiéis que caíram em culpa
intellexit [can. 3], et Novatianos remittendi potes- depois do batismo [cân. 3]. E a Igreja católica com
tatem olim pertinaciter negantes, magna ratione muita razão condenou outrora e rejeitou como he-
Ecclesia catholica tamquam haereticos explosit at- reges os novacianos, que pertinazmente negavam o
que condemnavit. poder de perdoar os pecados.
Quare verissimum hunc illorum verborum Do- Por isso, este santo Sínodo, aprovando e aceitan-
mini sensum sancta haec Synodus probans et reci- do este mui verdadeiro sentido daquelas palavras
piens, damnat eorum commentitias interpretationes, do Senhor, condena as interpretações fantasiosas
qui verba illa ad potestatem praedicandi verbum Dei daqueles que, para combater a instituição deste santo
et Christi Evangelium annuntiandi contra huiusmo- sacramento, distorcem aquelas palavras para erro-
di sacramenti institutionem falso detorquent. neamente aplicá-las ao poder de pregar a Palavra
de Deus e anunciar o Evangelho de Jesus Cristo.
427
*1672 1 Gregório de Nazianze, Oratio 39, 17 (PG 36, 356A); João Damasceno, De fide orthodoxa IV 9 (PG 94, 1124C / B.
Kotter: PTS 12 [Schriften 2] 185) = cap. 8290s (na ed. de E.M. Buytaert, S. John Damascene: De fide orthodoxa,
Versions of Burgundio and Cerbanus [New York 1955]).
428
Sunt autem quasi m a t e r i a huius sacramenti ip- Os atos do penitente são como que a m a t é r i a
sius paenitentis actus, nempe contritio, confessio et deste sacramento, a saber: a contrição, a confissão
satisfactio [can. 4]. Qui quatenus in paenitente ad e a satisfação [cân. 4]. Estes mesmos atos são re-
integritatem sacramenti, ad plenamque et perfectam queridos por instituição divina no penitente para a
peccatorum remissionem ex Dei institutione requi- integridade do sacramento e para a remissão plena
runtur, hac ratione paenitentiae partes dicuntur. e perfeita dos pecados e, por este motivo, se cha-
mam partes da penitência.
Sane vero r e s et e f f e c t u s huius sacramenti, Ora, no que se refere à sua força e eficácia, r e a - 1674
quantum ad eius vim et efficaciam pertinet, recon- l i d a d e e e f e i t o deste sacramento é a reconcilia-
ciliatio est cum Deo, quam interdum in viris piis et ção com Deus, que algumas vezes costuma ser acom-
cum devotione hoc sacramentum percipientibus panhada de paz e serenidade da consciência, com
conscientiae pax ac serenitas cum vehementi spiri- veemente consolação do espírito, nas pessoas pie-
tus consolatione consequi solet. dosas que recebem este sacramento com devoção.
Haec de partibus et effectu huius sacramenti O santo Sínodo, ao ensinar esta doutrina sobre as 1675
sancta Synodus tradens simul eorum sententias dam- partes e os efeitos deste sacramento, ao mesmo tem-
nat, qui paenitentiae partes incussos conscientiae po condena as sentenças dos que sustentam que a
terrores et fidem esse contendunt [can. 4]. fé e os terrores da consciência são partes da peni-
tência [cân. 4].
429
tum actu suscipiatur, ipsam nihilominus reconcilia- realmente recebido este santo sacramento, contudo
tionem ipsi contritioni sine sacramenti voto, quod não se deve atribuir esta reconciliação à contrição
in illa includitur, non esse adscribendam. somente, independente do desejo de receber o sa-
cramento, que aliás está contido nela.
1678 Illam vero contritionem i m p e r f e c t a m [can. 5], Quanto à c o n t r i ç ã o i m p e r f e i t a [cân. 5],
quae a t t r i t i o dicitur, quoniam vel ex turpitudinis chamada a t r i ç ã o , porque nasce ordinariamente da
peccati consideratione vel ex gehennae et poena- consideração da torpeza do pecado ou do temor do
rum metu communiter concipitur, si voluntatem inferno e dos castigos, se com a esperança do per-
peccandi excludat cum spe veniae, declarat non dão excluir a vontade de pecar, <o santo Sínodo>
solum non facere hominem hypocritam et magis declara que ela não somente não torna o homem
peccatorem [cf. *1456], verum etiam donum Dei hipócrita e mais pecador [cf. *1456], mas também
esse et Spiritus Sancti impulsum, non adhuc qui- que é dom de Deus e moção do Espírito Santo, que
dem inhabitantis, sed tantum moventis, quo paeni- na realidade ainda não habita no homem penitente,
tens adiutus viam sibi ad iustitiam parat. Et quam- mas somente o move; e ajudado por ele, o penitente
vis sine sacramento paenitentiae per se ad iustifica- se dispõe a alcançar a amizade de Deus no sacra-
tionem perducere peccatorem nequeat, tamen eum mento da penitência. Foi abalados por este temor
ad Dei gratiam in sacramento paenitentiae impe- salutar que os ninivitas fizeram penitência perante
trandam disponit. Hoc enim timore utiliter concussi a aterradora pregação de Jonas e alcançaram a mi-
Ninivitae ad Ionae praedicationem plenam terrori- sericórdia do Senhor [cf. Jn 3].
bus paenitentiam egerunt et misericordiam a Domi-
no impetrarunt [cf. Ion 3].
Quamobrem falso quidam calumniantur catholi- Por isso, é falsamente que alguns caluniam os
cos scriptores, quasi tradiderint, sacramentum paeni- autores católicos como se ensinassem que o sacra-
tentiae absque bono motu suscipientium gratiam mento da penitência confere a graça sem nenhum
conferre, quod numquam Ecclesia Dei docuit nec movimento bom por parte daqueles que o recebem:
sensit. Sed et falso docent contritionem esse extor- isso, a Igreja de Deus jamais o ensinou nem creu.
tam et coactam, non liberam et voluntariam [can. 5]. Mas também ensinam falsamente que a contrição é
extorquida e forçada, não livre e voluntária [cân. 5].
430
sui discussionem conscientiam habent, in confes- que se sentirem culpados, depois de feito um dili-
sione recenseri, etiamsi occultissima illa sint et tan- gente exame de consciência, ainda que sejam os
tum adversus duo ultima decalogi praecepta com- mais ocultos e cometidos somente contra os dois
missa [cf. Ex 20,17; Dt 5,21; Mt 5,28], quae non- últimos preceitos do decálogo [cf. Ex 20,17; Dt 5,21;
numquam animum gravius sauciant, et periculosiora Mt 5,28]. Estes, muitas vezes, ferem mais grave-
sunt iis, quae in manifesto admittuntur. Nam v e - mente a alma e são mais perigosos do que os come-
n i a l i a , quibus a gratia Dei non excludimur et in tidos abertamente. Os v e n i a i s , pelos quais não
quae frequentius labimur, quamquam recte et utiliter somos excluídos da graça de Deus e nos quais caí-
citraque omnem praesumptionem in confessione mos com freqüência, posto que com retidão e utili-
dicantur [can. 7], quod piorum hominum usus de- dade, e sem qualquer presunção, se digam na con-
monstrat: taceri tamen citra culpam multisque aliis fissão [cân. 7], como mostra a praxe de pessoas
remediis expiari possunt. Verum, cum universa tementes a Deus, todavia podem ser calados sem
mortalia peccata, etiam cogitationis, homines “irae culpa e expiados por muitos outros meios. Mas,
filios” [Eph 2,3] et Dei inimicos reddant, necessum como todos os pecados mortais, mesmo os de pen-
est omnium etiam veniam cum aperta et verecunda samento, tornam os homens “filhos da ira” [Ef 2,3]
confessione a Deo quaerere. e inimigos de Deus, é necessário buscar em Deus o
perdão de todos os pecados por meio de uma con-
fissão sincera e humilde.
Itaque dum omnia, quae memoriae occurrunt, Assim, quando os fiéis cristãos se esforçam por
peccata Christi fideles confiteri student, procul du- confessar todos os pecados que lhes vêm à memó-
bio omnia divinae misericordiae ignoscenda expo- ria, certamente os expõem à divina misericórdia para
nunt [can. 7]. Qui vero secus faciunt et scienter que os perdoe [cân. 7]. E os que fazem o contrário
aliqua retinent, nihil divinae bonitati per sacerdo- e calam alguns voluntariamente, nada expõem à
tem remittendum proponunt. “Si enim erubescat bondade divina que possa ser absolvido pelo sacer-
aegrotus vulnus medico detegere, quod ignorat dote. Pois, “se o enfermo se envergonha de mostrar
medicina non curat”1. a chaga ao médico, a perícia deste não poderá curar
aquilo que ignora”1.
Colligitur praeterea, etiam eas c i r c u m s t a n t i a s Daí segue ainda que se deve também e x p l i c a r 1681
i n c o n f e s s i o n e e x p l i c a n d a s esse, quae spe- n a c o n f i s s ã o aquelas c i r c u n s t â n c i a s que
ciem peccati mutant [can. 7], quod sine illis pecca- mudam a espécie do pecado [cân. 7], porque sem
ta ipsa nec a paenitentibus integre exponantur, nec elas os pecados não são cabalmente apresentados
iudicibus inno-tescant, et fieri nequeat, ut de pelo penitente, nem suficientemente conhecidos aos
gravitate criminum recte censere possint et poenam, juízes para fazerem uma apreciação justa sobre a
quam oportet, pro illis paenitentibus imponere. Unde gravidade dos pecados e para impor ao penitente
alienum a ratione est docere, circumstantias has ab uma pena proporcionada. Por isso é alheio à razão
hominibus otiosis excogitatas fuisse, aut unam tan- ensinar que estas circunstâncias foram inventadas
tum circumstantiam confitendam esse, nempe por homens ociosos ou que basta confessar uma só
peccasse in fratrem1. circunstância, a saber, que se pecou contra o irmão1.
Sed et impium est, confessionem, quae hac ratio- Mas também é ímpio dizer que a confissão, de 1682
ne fieri praecipitur, impossibilem dicere [can. 8], certo modo, tal como é mandada, se torna impossí-
aut carnificinam illam conscientiarum appellare1; vel [cân. 8], ou chamá-la de martírio das consciên-
constat enim, nihil aliud in Ecclesia a paenitentibus cias1. Pois consta que na Igreja não se exige outra
exigi, quam ut, postquam quisque diligentius se coisa dos penitentes, senão que, depois de se ter
excusserit et conscientiae suae sinus omnes et late- examinado com diligência e perscrutado todos os
bras exploraverit, ea peccata confiteatur, quibus se recessos e esconderijos da consciência, cada qual
*1680 1 Jerônimo de Estrídon, Commentarii in Ecclesiasten [ad cap. 10, 11] (M. Adriaen: CpChL 72 [1959] 338195s / PL 23
[1865] 1152A).
*1681 1 Cf. M. Lutero, De captivitate Babylonica Ecclesiae: De sacramento paenitentia (ed. de Weimar 6, 54810).
*1682 1 Cf. M. Lutero, Sermão para Domingo de Ramos 1524 (ed. de Weimar 15, 48410-4852); Ph. Melanchton, Apologia
Confessionis Augustanae (1531), art. 11, Nr. 7 (BeKSchELK 25118 51s / CpRes 27, 536); id., Loci communes theologici,
aetas II a (CpRes 21, 493); J. Calvino, Institutio Christianae religionis (1536), cap. 5 (CpRes 29, 158).
431
Dominum et Deum suum mortaliter offendisse confesse aqueles pecados pelos quais se lembrar de
meminerit; reliqua autem peccata, quae diligenter ter ofendido mortalmente a seu Senhor e Deus. Quan-
cogitanti non occurrunt, in universum eadem con- to aos outros pecados, que não vêm à mente de quem
fessione inclusa esse intelliguntur; pro quibus fide- fez esta diligente consideração, entende-se que es-
liter cum Propheta dicimus: “Ab occultis meis mun- tão incluídos de modo geral na mesma confissão. E
da me, Domine” [Ps 18,13]. Ipsa vero huiusmodi é por estes que, confiantes, com o Profeta dizemos:
confessionis difficultas ac peccata detegendi vere- “Purificai-me, Senhor, de meus delitos ocultos” [Sl
cundia gravis quidem videri posset, nisi tot tantis- 19,13]. Ora, a dificuldade de semelhante confissão,
que commodis et consolationibus levaretur, quae com a vergonha de revelar os pecados, poderia pa-
omnibus digne ad hoc sacramentum accedentibus recer assaz penosa, caso não fosse aliviada por tan-
per absolutionem certissime conferuntur. tas e tão grandes vantagens e consolações, que pela
absolvição indubitavelmente se conferem a todos os
que se aproximam dignamente deste sacramento.
1683 Ceterum, quoad modum confitendi secreto apud De resto, quanto ao modo de se confessar secre-
solum sacerdotem, etsi Christus non vetuerit, quin tamente só ao sacerdote, Cristo de fato não proibiu
aliquis in vindictam suorum scelerum et sui humi- que alguém pudesse, para sua própria humilhação,
liationem, cum ob aliorum exemplum tum ob Ec- a fim de tirar vingança dos próprios pecados, con-
clesiae offensae aedificationem, delicta sua publice fessá-los publicamente – com o intuito de dar um
confiteri possit: non est tamen hoc divino praecepto bom exemplo aos outros ou de edificar a Igreja que
mandatum, nec satis consulte humana aliqua lege ofendeu –, mas isso não foi mandado por preceito
praeciperetur, ut delicta, praesertim secreta, publi- divino; nem seria prudente prescrever por uma lei
ca essent confessione aperienda [can. 6]. meramente humana que os pecados, particularmen-
te os ocultos, fossem revelados por uma confissão
pública [cân. 6].
Unde cum a sanctissimis et antiquissimis Patri- Por isso, e mais ainda pelo consenso geral e unâ-
bus magno unanimique consensu secreta confessio nime de todos os santos Padres e dos mais antigos,
sacramentalis, qua ab initio Ecclesia sancta usa est que sempre têm autorizado a confissão secreta, da
et modo etiam utitur, fuerit semper commendata, qual a santa Igreja tem feito uso desde o começo e
manifeste refellitur inanis eorum calumnia, qui eam que ainda hoje em dia emprega, viu-se assim cla-
a divino mandato alienam et inventum humanum ramente refutada a vã calúnia dos que têm a temeri-
esse, atque a Patribus in Concilio Lateranensi [IV] dade de propalar que seja apenas uma invenção hu-
congregatis initium habuisse, docere non verentur mana, alheia ao mandamento divino, e que teve iní-
[can. 8]; neque enim per Lateranense Concilium cio no [IV] Concílio do Latrão por ordem dos Padres
Ecclesia statuit, ut Christi fideles confiterentur, quod ali reunidos [cân. 8]. Pois no Concílio do Latrão a
iure divino necessarium et institutum esse intelle- Igreja não estabeleceu o preceito da confissão para
xerat, sed ut p r a e c e p t u m c o n f e s s i o n i s s a l - os fiéis, sabendo bem que já havia sido estabelecido
t e m s e m e l i n a n n o ab omnibus et singulis, cum e que era necessário por direito divino; ela ordenou
ad annos discretionis pervenissent, impleretur. Unde somente que todos e cada um dos fiéis, ao chegarem
iam in universa Ecclesia cum ingenti animarum fi- ao uso da razão, satisfizessem ao p re c e i t o d a c o n -
delium fructu observatur mos ille salutaris confi- fi s s ã o a o m e n o s u m a ve z p o r a n o . Donde
tendi sacro illo et maxime acceptabili tempore vem que na Igreja universal é observado este costu-
Quadragesimae, quem morem haec sancta Synodus me salutar, com imenso proveito para as almas fiéis,
maxime probat et amplectitur tamquam pium et de se confessar especialmente no santo e favorável
merito retinendum [can. 8; cf. *812]. tempo da Quaresma. Este santo Sínodo aprova intei-
ramente este costume, aceita-o e abraça-o como pie-
doso e digno de ser conservado [cân. 8, cf. *812].
432
penitus alienas doctrinas omnes, quae ad alios quos- verdade do Evangelho todas as doutrinas que perni-
vis homines praeter episcopos et sacerdotes [can. ciosamente estendem o ministério das chaves a
10] clavium ministerium perniciose extendunt, pu- outros homens além dos bispos e sacerdotes [cân.
tantes verba illa Domini: “Quaecumque alligaveri- 10] e supõem, contra a instituição deste sacramen-
tis super terram, erunt ligata et in caelo, et quae- to, que aquelas palavras do Senhor: “Tudo o que
cumque solveritis super terram, erunt soluta et in ligardes sobre a terra será também ligado no céu;
caelo” [Mt 18,18], et: “Quorum remiseritis peccata, e tudo o que desligardes sobre a terra será também
remittuntur eis, et quorum retinueritis, retenta sunt” desligado no céu” [Mt 18,18], e: “Àqueles a quem
[Io 20,23], ad omnes Christi fideles indifferenter et perdoardes os pecados, lhes serão perdoados; a
promiscue contra institutionem huius sacramenti ita quem os retiverdes, lhes serão retidos” [Jo 20,23],
fuisse dicta, ut quivis potestatem habeat remittendi foram dirigidas indiferentemente a todos os fiéis
peccata, publica quidem per correptionem, si cristãos, de modo que qualquer pessoa teria o po-
correptus acquieverit, secreta vero per spontaneam der de perdoar pecados, os públicos, pela correção,
confessionem cuicumque factam. se o repreendido se acomodar, e os ocultos, pela
confissão espontânea, feita a qualquer um.
Docet quoque, etiam sacerdotes, qui peccato <O Sínodo> ensina também que os sacerdotes,
mortali tenentur, per virtutem Spiritus Sancti in or- mesmo que estejam em pecado mortal, não deixam
dinatione collatam tamquam Christi ministros func- de perdoar pecados na qualidade de ministros de
tionem remittendi peccata exercere, eosque prave Jesus Cristo, por causa da força do Espírito Santo
sentire, qui in malis sacerdotibus hanc potestatem que eles recebem na ordenação; e que pensam de
non esse contendunt. modo errado os que afirmam que os maus sacerdo-
tes perdem aquele poder.
Quamvis autem absolutio sacerdotis alieni bene- Embora a absolvição do sacerdote seja a conces- 1685
ficii sit dispensatio, tamen non est solum nudum são de um benefício alheio, contudo não é só o mero
ministerium vel annuntiandi Evangelium vel decla- serviço quer de anunciar o Evangelho, quer de de-
randi remissa esse peccata, sed ad instar actus iudi- clarar que os pecados foram perdoados, mas é uma
cialis, quo ab ipso velut a iudice sententia pronun- espécie de ato judicial, pelo qual o sacerdote, como
tiatur [can. 9]. juiz, pronuncia a sentença [cân. 9].
Atque ideo non debet paenitens adeo sibi de sua Por este motivo, o penitente não se deve lisonjear
ipsius fide blandiri, ut, etiamsi nulla illi adsit con- tanto nem confiar de tal modo em sua fé, que che-
tritio, aut sacerdoti animus serio agendi et vere gue a pensar ser verdadeiramente absolvido diante
absolvendi desit, putet tamen se propter suam so- de Deus, mesmo que não haja contrição de sua parte,
lam fidem vere et coram Deo esse absolutum. Nec nem intenção por parte do sacerdote de agir seria-
enim fides sine paenitentia remissionem ullam mente e de absolver verdadeiramente. Pois a fé sem
peccatorum praestaret, nec is esset nisi salutis suae a penitência não produz a remissão dos pecados; e
negligentissimus, qui sacerdotem ioco se absolven- seria extremamente negligente de sua salvação
tem cognosceret, et non alium serio agentem sedu- quem, percebendo que um sacerdote o absolvesse
lo requireret [cf. *1462]. por mofa, deixasse de procurar com cuidado outro
que agisse com seriedade [cf. *1462].
433
busvis, sed a summis dumtaxat sacerdotibus absol- não pudessem ser absolvidos por quaisquer pessoas,
verentur. Unde merito Pontifices Maximi, pro su- senão só pelos sacerdotes mais elevados. Por isso,
prema potestate sibi in Ecclesia universa tradita, com muita razão puderam os Sumos Pontífices, pelo
causas aliquas criminum graviores suo potuerunt supremo poder que lhes foi confiado em toda a
peculiari iudicio r e s e r v a r e . Igreja, r e s e r v a r ao seu juízo pessoal alguns ca-
sos de crimes mais graves.
Neque dubitandum est, quando omnia, quae a Deo Entretanto, não há dúvida, uma vez que todas as
sunt, ordinata sunt [cf. Rm 13,1], quin hoc idem coisas que são de Deus são ordenadas [cf. Rm 13,1],
episcopis omnibus in sua cuique dioecesi, in aedifi- que isto compete também aos bispos, a cada um na
cationem tamen, non in destructionem [cf. 2 Cor sua diocese, porém para edificação, não para des-
10,8; 13,10] liceat pro illis in subditos tradita supra truição [cf. 2 Co 10,8; 13,10], pela autoridade que
reliquos inferiores sacerdotes auctoritate, praesertim lhes foi dada sobre os demais sacerdotes inferiores,
quoad illa, quibus excommunicationis censura an- principalmente no que diz respeito àqueles <peca-
nexa est. Hanc autem delictorum reservationem con- dos> aos quais está anexa a censura de excomunhão.
sonum est divinae auctoritati non tantum in externa Ora, é consoante com a autoridade divina que esta
politia1, sed etiam coram Deo vim habere [can. 11]. reserva dos pecados tenha vigor não somente no foro
externo1, mas também diante de Deus [cân. 11].
1688 Verumtamen pie admodum, ne hac ipsa occasio- Mas, para que ninguém pereça por este motivo,
ne aliquis pereat, in eadem Ecclesia Dei custodi- com muito zelo sempre se observou na mesma Igreja
tum semper fuit, ut n u l l a sit r e s e r v a t i o i n a r- de Deus que, e m p e r i g o d e m o r t e , nã o h a j a
t i c u l o m o r t i s , atque ideo omnes sacerdotes quos- ne nhuma re s e rva , e por isso todos os sacerdotes
libet paenitentes a quibusvis peccatis et censuris ab- podem absolver a quaisquer penitentes e de quais-
solvere possunt; extra quem articulum sacerdotes quer pecados e censuras; sendo que, fora deste caso,
cum nihil possint in casibus reservatis, id unum pae- os sacerdotes não têm nenhum poder nos casos re-
nitentibus persuadere nitantur, ut ad superiores et le- servados, procurem ao menos persuadir os peniten-
gitimos iudices pro beneficio absolutionis accedant. tes a que busquem os juizes superiores e legítimos
para o benefício da absolvição.
*1687 1 Cf. Ph. Melanchthon, Apologia Confessionis Augustanae 13 (BekSchELK 291 / CpRes 27, 569).
434
violare [cf. 1 Cor 3,17] et Spiritum Sanctum con- Espírito Santo, cientes do que fazem, não recearam
tristare [cf. Eph 4,30] non formidaverint. de violar o templo de Deus [cf. 1Co 3,17] e contris-
tar o Espírito Santo [cf. Ef 4,30].
Et divinam clementiam decet, ne ita nobis abs- Condiz também com a divina clemência que os
que ulla satisfactione peccata dimittantur, ut, occa- pecados não nos sejam perdoados sem alguma sa-
sione accepta, peccata leviora putantes, velut iniurii tisfação, a fim de que, por julgar leves os pecados,
et contumeliosi Spiritui Sancto [cf. Hbr 10,29], in não caiamos em maiores culpas quando se apresen-
graviora labamur, thesaurizantes nobis iram in die ta a ocasião, <mostrando-nos> injuriosos e ultra-
irae [cf. Rm 2,5; Iac 5,3]. Procul dubio enim mag- jantes ao Espírito Santo [cf. Hb 10,29], entesouran-
nopere a peccato revocant, et quasi freno quodam do assim ira para o dia da ira [cf. Rm 2,5; Tg 5,3].
coercent hae satisfactoriae poenae, cautioresque et Estas penas satisfatórias servem certamente para
vigilantiores in futurum paenitentes efficiunt; me- afastar consideravelmente o pecado e constituem
dentur quoque peccatorum reliquiis, et vitiosos ha- como que um freio para reprimir os penitentes, fa-
bitus male vivendo comparatos contrariis virtutum zendo-os mais acautelados e vigilantes para o futu-
actionibus tollunt. ro e curando também as seqüelas do pecado com
atos de virtude que contrariam os hábitos viciosos
adquiridos por uma vida errada.
Neque vero securior ulla via in Ecclesia Dei E nunca na Igreja de Deus se entendeu haver
umquam existimata fuit ad amovendam imminen- caminho mais seguro para afastar o iminente casti-
tem a Domino poenam, quam ut haec paenitentiae go do Senhor do que a prática destas obras de pe-
opera [cf. Mt 3,2 8; 4,17; 11,21] homines cum vero nitência com verdadeira dor de alma [cf. Mt 3,28;
animi dolore frequentent. 4,17; 11,21 etc.].
Accedit ad haec, quod, dum satisfaciendo pati- A isto acresce que, quando satisfazemos pade-
mur pro peccatis, Christo Iesu, qui pro peccatis cendo pelos pecados, fazemo-nos conformes a Cristo
nostris satisfecit [cf. Rm 5,10; 1 Io 2,1s], ex quo Jesus, que satisfez pelos nossos pecados [cf. Rm
omnis nostra sufficientia est [cf. 2 Cor 3,5], confor- 5,10; 1Jo 2,1s], “do qual procede toda a nossa su-
mes efficimur, certissimam quoque inde arrham ficiência” [cf. 2Co 3,5], e daí recebemos uma ga-
habentes, quod, si compatimur, et conglorificabi- rantia altamente segura de que, se padecemos com
mur [cf. Rm 8,17]. ele, com ele seremos glorificados [cf. Rm 8,17].
Neque vero ita nostra est satisfactio haec, quam Também não se deve dizer que esta nossa satisfa- 1691
pro peccatis nostris exsolvimus, ut non sit per Chris- ção, pela qual pagamos por nossos pecados, é tal
tum Iesum; nam qui ex nobis tamquam ex nobis que não seja por Cristo Jesus; pois, não podendo
nihil possumus, eo cooperante, qui nos confortat, coisa alguma por nós mesmos, tudo podemos com
omnia possumus [cf. Phil 4,13]. Ita non habet homo, a cooperação daquele que nos conforta [cf. Fl 4,13].
unde glorietur; sed omnis gloriatio [cf. 1 Cor 1,31; E assim, o homem não tem de que se gloriar, mas
2 Cor 10,17; Gal 6,14] nostra in Christo est, in quo toda a nossa glória [cf. 1Co 1,31; 2Co 10,17; Gl
vivimus [cf. Act 17,28], in quo meremur, in quo 6,14] está em Cristo, “no qual vivemos” [cf. At
satisfacimus, facientes “fructus dignos paenitentiae” 17,28], no qual merecemos, produzindo frutos dig-
[Lc 3,8; Mt 3,8], qui ex illo vim habent, ab illo nos da penitência [cf. Lc 3,8; Mt 3,8], que dele ti-
offeruntur Patri, et per illum acceptantur a Patre ram a sua força, por ele são oferecidos ao Pai e por
[can. 13s]. ele aceitos pelo Pai [cân. 13s].
Debent ergo sacerdotes Domini, quantum spiri- Os sacerdotes do Senhor, portanto, na medida 1692
tus et prudentia suggesserit, pro qualitate criminum sugerida pelo espírito e pela prudência, devem,
et paenitentium facultate, salutares et c o nv e n i e n - conforme a qualidade dos delitos e possibilidades
t e s s a t i s f a c t i o n e s i n i u n g e r e , ne, si forte pec- dos penitentes, impor-lhes s a t i s f a ç õ e s salutares
catis conniveant et indulgentius cum paenitentibus e c o nv e n i e n t e s , para que não se façam partici-
agant, levissima quaedam opera pro gravissimis pantes dos pecados alheios, se por acaso dissimula-
delictis iniungendo, alienorum peccatorum partici- rem os pecados e usarem de demasiada indulgência
pes efficiantur [cf. 1 Tim 5,22]. Habeant autem prae para com os penitentes, impondo-lhes penitências
oculis, ut satisfactio, quam imponunt, non sit tan- muito leves por delitos muito graves [cf. 1Tm 5,22].
tum ad novae vitae custodiam et infirmitatis Atentem sempre a que a satisfação imposta não sir-
medicamentum, sed etiam ad praeteritorum pecca- va somente para resguardar a nova vida e curar da
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torum vindictam et castigationem: nam claves sa- enfermidade, mas também para vindicta e castigo
cerdotum non ad solvendum dumtaxat, sed et ad dos pecados passados; pois os antigos Padres crêem
ligandum concessas [cf. Mt 16,19; 18,18; Io 20,23; e ensinam que as chaves foram concedidas aos sa-
can. 15] etiam antiqui Patres et credunt et docent. cerdotes não somente para desatar, mas também para
ligar [cf. Mt 16,19; 18,18; Jo 20,23; cân. 15].
Nec propterea existimarunt, sacramentum paeni- Nem por isso, contudo, julgaram eles que o sa-
tentiae esse forum irae vel poenarum; sicut nemo cramento da penitência seja o tribunal da ira ou do
umquam catholicus sensit, ex huiusmodi nostris castigo, como também nenhum católico jamais en-
satisfactionibus vim meriti et satisfactionis Domini tendeu que com essas nossas satisfações se obscu-
nostri Iesu Christi vel obscurari vel aliqua ex parte reça ou parcialmente diminua a eficácia do mereci-
imminui; quod dum Novatores intelligere volunt, mento ou satisfação de nosso Senhor Jesus Cristo;
ita optimam paenitentiam novam vitam esse docent o que não querem entender os inovadores, que di-
[cf. *1457], ut omnem satisfactionis vim et usum zem que a melhor penitência é a vida nova [cf.
tollant [can. 13]. *1457] e assim tiram à satisfação toda a força e
utilidade [cân. 13].
*1694 1 Cf. Thomas von Aquin, Summa contra gentiles IV 73 (ed. Leonina 15, 234a18; ed. de Parma 5, 365b).
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vehementius ille omnes suae versutiae nervos in- a vida, não há nenhum tempo em que ele mais vee-
tendat ad perdendos nos penitus, et a fiducia etiam, mentemente estenda os laços de sua astúcia para
si possit, divinae misericordiae deturbandos, quam perder-nos inteiramente e para nos demover, se
cum impendere nobis exitum vitae prospicit. pudesse, da confiança na misericórdia divina, quanto
este, quando vê aproximar-se de nós o fim da vida
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debent, haud obscure fuit illud etiam in verbis prae- isso foi transmitido de forma bastante clara nas
dictis traditum. Nam et ostenditur illic, proprios palavras antes citadas. Pois lá se mostra que os
huius sacramenti ministros esse Ecclesiae p r e s b y - ministros próprios deste sacramento são os p r e s -
t e r o s [can. 4], quo nomine eo loco non aetate se- b í t e r o s da Igreja [cân. 4], nome com que, na-
niores aut primores in populo intelligendi veniunt, quela passagem, se entendem não os mais velhos
sed aut episcopi aut sacerdotes ab ipsis rite ordinati pela idade ou os principais no povo, mas os bispos
per “impositionem manuum presbyterii” [1 Tim ou sacerdotes devidamente ordenados por eles pela
4,14; can. 4]. “imposição das mãos do presbitério” [1Tm 4,14;
cân. 4].
1698 Declaratur etiam, esse hanc unctionem infirmis Declara-se também que esta unção é para ser
adhibendam, illis vero praesertim, qui tam pericu- usada nos enfermos, mas principalmente naqueles
lose decumbunt, ut in exitu vitae constituti videan- que estão doentes de cama com tanto risco que
tur, unde et sacramentum exeuntium nuncupatur. pareçam chegados ao fim da vida, de onde se cha-
Quod si infirmi post susceptam hanc unctionem me de “sacramento dos que partem”. Se os enfer-
convaluerint, iterum huius sacramenti subsidio iu- mos, depois de recebida esta unção, vierem a con-
vari poterunt, cum in aliud simile vitae discrimen valescer, poderão ser de novo ajudados pelo socor-
inciderint. ro deste sacramento, quando caírem em outro se-
melhante perigo de vida.
1699 Quare nulla ratione audiendi sunt, qui contra tam Por isso, de forma alguma se deve dar ouvidos
apertam et dilucidam Apostoli Iacobi sententiam [cf. aos que ensinam, contra o pensamento tão patente
Iac 5,14s] docent, hanc unctionem vel figmentum e claro do Apóstolo Tiago [cf. Tg 5,14s], que essa
esse humanum vel ritum a Patribus acceptum, nec unção é uma criação humana ou um rito aceito pelos
mandatum Dei nec promissionem gratiae habentem Padres, todavia, sem mandato de Deus nem pro-
[can. 1]; et qui illam iam cessasse asserunt, quasi messa de graça [cân. 1]; nem <se deve dar ouvi-
ad gratiam curationum dumtaxat in primitiva Ec- dos> aos que afirmam que ela já não tem vez, de-
clesia referenda esset; et qui dicunt, ritum et usum, vendo ser referida à graça das curas na Igreja pri-
quem sancta Romana Ecclesia in huius sacramenti mitiva; tampouco aos que dizem que o rito e o uso
administratione observat, Iacobi Apostoli sententiae que a santa Igreja romana observa na administra-
repugnare atque ideo in alium commutandum esse; ção deste sacramento é incompatível com o pensa-
et denique, qui hanc extremam unctionem a fideli- mento do Apóstolo Tiago e por isso deve ser troca-
bus sine peccato contemni posse affirmant [can. 3]. do por outro; nem, por fim, aos que afirmam que
tal extrema-unção pode, sem pecado, ser desdenha-
da pelos fiéis [cân. 3].
Haec enim omnia manifestissime pugnant cum Com efeito, tudo isso está em manifesto desacor-
perspicuis tanti Apostoli verbis. Nec profecto Ec- do com as palavras claras de tão grande Apóstolo.
clesia Romana, aliarum omnium mater et magistra, E certamente a Igreja romana, mãe e mestra de to-
aliud in hac administranda unctione, quantum ad das as outras, ao administrar essa unção, não obser-
ea, quae huius sacramenti substantiam perficiunt, va outra coisa – quanto ao que perfaz a substância
observat, quam quod beatus Iacobus praescripsit. desse sacramento – senão o que o bem-aventurado
Neque vero tanti sacramenti contemptus absque Tiago prescreveu. Portanto, não se poderá despre-
ingenti scelere et ipsius Spiritus Sancti iniuria esse zar tão grande sacramento sem enorme impiedade
posset. e sem ofensa do próprio Espírito Santo.
1700 Haec sunt, quae de paenitentiae et extremae unc- É isso que este santo Sínodo ecumênico confessa
tionis sacramentis haec sancta oecumenica Synodus e ensina sobre os sacramentos da penitência e da
profitetur et docet, atque omnibus Christi fidelibus extrema-unção e propõe a todos os fiéis cristãos para
credenda et tenenda proponit. Sequentes autem ca- ser crido e guardado. Além disso, recomenda os
nones inviolabiliter servandos esse tradit, et asseren- cânones seguintes a serem inviolavelmente obser-
tes contrarium perpetuo damnat et anathematizat. vados e para sempre condena e anatematiza quem
afirmar o contrário.
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*1702 1 Contra J. Calvin; cf. sua Institutio religionis christianae (15392) 19, n. 17 (CpRes 29, 1078).
*1704 1 Assim a Confessio Augustana, art. 12 (BekSchELK 66s / CpRes 26, 279); Ph. Melanchthon, Apologia Confessionis
Augustanae, art. 12 (BekSchELK 257s / CpRes 27, 540); id., Disputatio de partibus paenitentiae, n. 3-6 (CpRes 12,
506), e Loci communes, aetas II a, capítulo sobre o pecado contra o Espírito Santo (CpRes 21, 489s).
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1706 Can. 6. Si quis negaverit, confessionem sacramen- Cân. 6. Se alguém negar que a confissão sacra-
talem vel institutam vel ad salutem necessariam esse mental foi instituída e é necessária para a salvação
iure divino1; aut dixerit, modum secrete confitendi por direito divino1; ou disser que o modo de con-
soli sacerdoti, quem Ecclesia catholica ab initio fessar em segredo, só ao sacerdote, que a Igreja
semper observavit et observat, alienum esse ab ins- desde o início sempre observou e ainda observa, é
titutione et mandato Christi, et inventum esse hu- estranho à instituição de Cristo e não passa de in-
manum: anathema sit [cf. *1679-1684]. venção humana: seja anátema [cf. *1679-1684].
1707 Can. 7. Si quis dixerit, in sacramento paeniten- Cân. 7. Se alguém disser que, no sacramento da
tiae ad remissionem peccatorum necessarium non penitência, para a remissão dos pecados não é ne-
esse iure divino confiteri omnia et singula peccata cessário por direito divino confessar todos os
mortalia, quorum memoria cum debita et diligenti pecados mortais de que, feito o devido e diligente
praemeditatione habeatur, etiam occulta, et quae sunt exame, houver lembrança, ou também os ocultos e
contra duo ultima decalogi praecepta, et circums- os que são contra os dois últimos preceitos do de-
tantias, quae peccati speciem mutant; sed eam con- cálogo, bem como as circunstâncias que mudam a
fessionem tantum esse utilem ad erudiendum et espécie do pecado, mas que tal confissão só tem a
consolandum paenitentem, et olim observatam fuisse utilidade de instruir e consolar o penitente e antiga-
tantum ad satisfactionem canonicam imponendam; mente só era observada para se impor a penitência
aut dixerit, eos, qui omnia peccata confiteri student, canônica; ou disser que aqueles que procuram con-
nihil relinquere velle divinae misericordiae ignos- fessar todos os pecados não querem deixar nada à
cendum; aut demum non licere confiteri peccata divina misericórdia para que ela os perdoe; ou fi-
venialia1: anathema sit [cf. ut supra]. nalmente que não é lícito confessar pecados veniais1:
seja anátema [cf. supra].
1708 Can. 8. Si quis dixerit, confessionem omnium Cân. 8. Se alguém disser que a confissão de to-
peccatorum, qualem Ecclesia servat, esse impossi- dos os pecados conforme a observância da Igreja é
bilem, et traditionem humanam a piis abolendam; impossível, sendo uma tradição humana que deve
aut ad eam non teneri omnes et singulos utriusque ser abolida pelas pessoas piedosas; ou que à confis-
sexus Christi fideles iuxta magni Concilii Latera- são não estão obrigados todos e cada um dos fiéis
nensis constitutionem, semel in anno, et ob id sua- cristãos de um e doutro sexo, uma vez por ano,
dendum esse Christi fidelibus, ut non confiteantur conforme a Constituição do grande Concílio do
tempore Quadragesimae: anathema sit [cf. *1682s]. Latrão [cf. *812], e que por isso se devem dissuadir
os fiéis de Cristo de se confessarem no tempo da
Quaresma: seja anátema [cf. * 1682s].
1709 Can. 9. Si quis dixerit, absolutionem sacramenta- Cân. 9. Se alguém disser que a absolvição sacra-
lem sacerdotis non esse actum iudicialem, sed nu- mental do sacerdote não é ato judicial, mas mero
dum ministerium pronuntiandi et declarandi, remissa ministério de pronunciar e declarar que estão per-
esse peccata confitenti, modo tantum credat se esse doados os pecados ao que se confessa, desde que
absolutum, aut1 sacerdos non serio, sed ioco absol- este apenas creia que está absolvido, ou1 o sacerdo-
vat; aut dixerit non requiri confessionem paeniten- te não absolva seriamente, mas por brincadeira; ou
tis, ut sacerdos ipsum absolvere possit: anathema disser que não se requer a confissão do penitente
sit [cf. *1685 *1462]. para que o sacerdote o possa absolver: seja anáte-
ma [cf. *1685; 1462].
1710 Can. 10. Si quis dixerit, sacerdotes, qui in pecca- Cân. 10. Se alguém disser que os sacerdotes que
to mortali sunt, potestatem ligandi et solvendi non estão em pecado mortal não têm poder de ligar e
*1706 1 Cf. M. Lutero, Contra malignum Ecci iudicium … defensio (1519), art. 7 (ed. Weimar 2, 645); J. Calvin, Institutio
religionis Christianae (15392) 9, n. 22 (CpRes 29, 700).
*1707 1 Cf. M. Lutero, Confitendi ratio (1520) 9 (ed. Weimar 6, 163s). Cf. também a censura parisiense do artigo de Lutero
(1521), tit. III sobre a confissão, props. 5-6 (ed. Weimar 8, 278s).
*1709 1 Leia-se também “etiamsi” (“mesmo se”; cf. E. David, in: RömQ 34 [1926] 75-82; SGTr 7, 358, Anm. 3); no esboço
(cap. 10, TheiTr 1, 592a) se lê: “… credat, se esse absolutum, etiam si contritus non sit aut sacerdos non serio, sed
ioco absolvat” (“… crê ser absolvido, mesmo se não está contrito ou o sacerdote não absolve seriamenete, mas por
brincadeira”).
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habere; aut non solos sacerdotes esse ministros desligar; ou que não somente os sacerdotes são
absolutionis, sed omnibus et singulis Christi fideli- ministros da absolvição, mas que a todos e a cada
bus esse dictum: “Quaecumque ligaveritis super um dos fiéis cristãos foi dito: “Tudo o que ligardes
terram, erunt ligata et in caelo, et quaecumque sol- na terra, será ligado no céu, e tudo o que desligar-
veritis super terram, erunt soluta et in caelo” [Mt des sobre a terra, será desligado no céu” [Mt 18,18];
18,18]; et “Quorum remiseritis peccata, remittuntur e: “Àqueles a quem perdoardes os pecados, lhes
eis, et quorum retinueritis, retenta sunt” [Io 20,23], serão perdoados, e a quem os retiverdes, lhes serão
quorum verborum virtute quilibet1 absolvere possit retidos” [Jo 20,23], e que, em virtude destas pala-
peccata, publica quidem per correptionem dumta- vras, qualquer um1 pode absolver os pecados, os
xat, si correptus acquieverit, secreta vero per spon- públicos tão somente pela correção, se o corrigido
taneam confessionem: anathema sit [cf. *1684]. aquiescer, e os ocultos pela confissão espontânea:
seja anátema [cf. *1684].
Can. 11. Si quis dixerit, episcopos non habere Cân. 11. Se alguém disser que os bispos não têm 1711
ius reservandi sibi casus, nisi quoad externam poli- o direito de se reservar casos senão quanto ao foro
tiam, atque ideo casuum reservationem non prohi- externo, e que, por isso, a reserva não impede que
bere, quominus sacerdos a reservatis vere absolvat: o sacerdote absolva verdadeiramente os pecados
anathema sit [cf. *1687]. reservados: seja anátema [cf. *1687].
Can. 12. Si quis dixerit, totam poenam simul cum Cân. 12. Se alguém disser que Deus sempre per- 1712
culpa remitti semper a Deo, satisfactionemque pae- doa toda pena juntamente com a culpa, e que a
nitentium non esse aliam quam fidem, qua appre- satisfação dos penitentes não é outra coisa senão a
hendunt Christum pro eis satisfecisse: anathema sit fé com a qual crêem ter Cristo satisfeito por eles:
[cf. *1689]. seja anátema [cf. *1689].
Can. 13. Si quis dixerit, pro peccatis, quoad poe- Cân. 13. Se alguém disser que, quanto à pena 1713
nam temporalem, minime Deo per Christi merita temporal dos pecados, de nenhum modo se dá –
satisfieri poenis ab eo inflictis et patienter tolera- graças aos meritos de Cristo – satisfação a Deus
tis vel a sacerdote iniunctis, sed neque sponte sus- nem por meio das penas por ele infligidas e acei-
ceptis, ut ieiuniis, orationibus, eleemosynis vel aliis tas pacientemente, nem pelas impostas pelo sacer-
etiam pietatis operibus, atque ideo optimam pae- dote, nem pelas assumidas por vontade própria,
nitentiam esse tantum novam vitam: anathema sit como sejam orações, jejuns, esmolas ou outras
[cf. *1690-1692]. obras de piedade; e que, portanto, a melhor e úni-
ca penitência é a vida nova: seja anátema [cf.
*1690-1692].
Can. 14. Si quis dixerit, satisfactiones, quibus Cân. 14. Se alguém disser que as satisfações com 1714
paenitentes per Christum Iesum peccata redimunt, que os penitentes, por Jesus Cristo, redimem os
non esse cultus Dei, sed traditiones hominum, doc- pecados não são culto a Deus, mas tradições dos
trinam de gratia et verum Dei cultum atque ipsum homens, que obscurecem a doutrina da graça, o
beneficium mortis Christi obscurantes: anathema sit verdadeiro culto a Deus e o próprio benefício da
[cf. *1692]. morte de Cristo: seja anátema [cf. *1692].
Can. 15. Si quis dixerit, claves Ecclesiae esse Cân. 15. Se alguém disser que as chaves da Igreja 1715
datas tantum ad solvendum, non etiam ad ligandum, foram dadas só para desligar e não para ligar, e
et propterea sacerdotes, dum imponunt poenas que, por isso, quando os sacerdotes impõem penas
confitentibus, agere contra finem clavium et contra aos que se confessam, agem contra o fim a que
institutionem Christi; et fictionem esse, quod, vir- servem estas chaves e contra a instituição de Cris-
tute clavium sublata poena aeterna, poena tempora- to; e que é ficção dizer que, extirpada a pena eter-
lis plerumque exsolvenda remaneat: anathema sit na pelo poder destas chaves, ordinariamente res-
[cf. *1692]. ta ainda pagar a pena temporal: seja anátema
[cf. *1692].
*1710 1 Cf. M. Lutero, Grund und Ursach aller Artikel D. Martin Luthers (ed. Weimar 7, 380-385); De captivitate Babylonica
Ecclesiae: De sacramento paenitentiae (ed. Weimarer 6, 547).
441
*1716 1 Cf. Ph. Melanchthon, Apologia Confessionis Augustana 13 (BekSchELK 293 / CpRes 27, 570); J. Calvino, Institutio
religionis Christianae 19, n. 18-21 (CpRes 29, 1078-1081).
442
Proêmio
Sacrosancta oecumenica et generalis Tridentina O sacrossanto ecumênico e geral Concílio de 1725
Synodus …, cum de tremendo et sanctissimo Eu- Trento … julgou dever expor aqui o que diz respei-
charistiae sacramento varia diversis in locis erro- to à comunhão sob ambas as espécies e à comu-
rum monstra nequissimi daemonis artibus circum- nhão das crianças, porque, pelas artes do demônio
ferantur, ob quae in nonnullis provinciis multi a ca- nefasto, se espalharam em diversos lugares vários
tholicae Ecclesiae fide atque obedientia videantur erros monstruosos acerca do sacramento tremendo
discessisse: censuit, ea, quae ad communionem sub e santíssimo da Eucaristia e, por esses erros, em
utraque specie et parvulorum pertinent, hoc loco ex- algumas regiões, muitos parecem ter abandonado a
ponenda esse. Quapropter cunctis Christifidelibus fé e a obediência à Igreja católica. Por isso, proíbe
interdicit, ne posthac de iis aliter vel credere vel a todos os fiéis cristãos que presumam, depois dis-
docere vel praedicare audeant, quam est iis decretis to, crer, ensinar ou pregar sobre o tema de outro
explicatum atque definitum. modo senão o explicado e definido nestes decretos.
Cap. 1. Laicos et clericos non conficientes Cap. 1. Os leigos e clérigos não consagrantes
non adstringi iure divino ad communionem não são obrigados por direito divino a
sub utraque specie comungar sob as duas espécies
Itaque sancta ipsa Synodus a Spiritu Sancto, qui Eis porque o santo Concílio, instruído pelo Espí- 1726
Spiritus est sapientiae et intellectus, Spiritus consilii rito Santo que é o Espírito da sabedoria e da inteli-
et pietatis [cf. Is 11,2], edocta atque ipsius Eccle- gência, o Espírito do conselho e da piedade [cf. Is
siae iudicium et consuetudinem secuta, declarat ac 11,2], e seguindo o juízo e o costume da própria
docet, nullo divino praecepto laicos et clericos non Igreja, declara e ensina que nenhum preceito divino
conficientes obligari ad Eucharistiae sacramentum obriga os leigos e os clérigos não consagrantes a
sub utraque specie sumendum, neque ullo pacto receber o sacramento da Eucaristia sob ambas as
salva fide dubitari posse, quin illis alterius speciei espécies, e que de modo algum se pode duvidar,
communio ad salutem sufficiat. sem lesar a fé, que a comunhão sob uma espécie
lhes seja suficiente à salvação.
Nam etsi Christus Dominus in ultima Coena ve- Pois, se o Cristo Senhor na última Ceia instituiu 1727
nerabile hoc sacramentum in panis et vini specie- e transmitiu aos Apóstolos este venerável sacramen-
bus instituit et Apostolis tradidit [cf. Mt 26,26-29; to sob as espécies de pão e de vinho [cf. Mt 26,26ss;
Mc 14,22-25; Lc 22,19s; 1 Cor 11,24s]: non tamen Mc 14,22ss; Lc 22,19s; 1Cor 11,24s], esta institui-
illa institutio et traditio eo tendunt, ut omnes Chris- ção e transmissão não visam a obrigar todos os fiéis
ti fideles statuto Domini ad utramque speciem cristãos, por determinação do Senhor, a receber
accipiendam adstringantur [can. 1 et 2]. ambas as espécies [cân. 1 e 2].
Sed neque ex sermone illo apud Ioannem sexto Tampouco se conclui corretamente, do sermão no
recte colligitur, utriusque speciei communionem a capítulo sexto de João, que seja ordenada pelo Se-
Domino praeceptam esse [can. 3], utcumque iuxta nhor a comunhão sob ambas as espécies [cân. 3] –
varias sanctorum Patrum et Doctorum interpretatio- de qualquer forma que seja compreendido, segundo
nes intelligatur. Namque qui dixit: “Nisi manduca- as várias interpretações dos santos Padres e Douto-
veritis carnem Filii hominis, et biberitis eius san- res. Pois quem disse: “Se não comerdes a carne do
guinem, non habebitis vitam in vobis” [Io 6,54], Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não
dixit quoque: “Si quis manducaverit ex hoc pane, tereis a vida em vós” [Jo 6,54], disse também: “Se
vivet in aeternum” [Io 6,52]. Et qui dixit: “Qui alguém comer deste pão, viverá eternamente” [Jo
manducat meam carnem, et bibit meum sanguinem, 6,52]. E quem disse: “Quem come minha carne e
habet vitam aeternam” [Io 6,55], dixit etiam: “Pa- bebe meu sangue tem a vida eterna” [Jo 6,55], dis-
nis, quem ego dabo, caro mea est pro mundi vita” se também: “O pão que vos darei é minha carne
[Io 6,52]; et denique qui dixit: “Qui manducat meam para a vida do mundo” [Jo 6,52]. E finalmente quem
carnem, et bibit meum sanguinem, in me manet, et disse: “Quem come minha carne e bebe meu san-
ego in illo” [Io 6,57], dixit nihilominus: “Qui man- gue, permanece em mim e eu nele” [Jo 6,57], disse,
ducat hunc panem, vivet in aeternum” [Io 6,58]. não obstante: “Quem come deste pão viverá eterna-
mente” [Jo 6,58].
443
Cap. 3. Totum et integrum Christum ac verum Cap. 3. Sob cada espécie é recebido o Cristo
sacramentum sub qualibet specie sumi todo e inteiro e o sacramento verdadeiro
1729 Insuper declarat, quamvis Redemptor noster, ut <O santo Sínodo> declara ademais: embora nos-
antea dictum est, in suprema illa Coena hoc sacra- so Redentor, como se disse antes, tenha instituído e
mentum in duabus speciebus instituerit et Apostolis transmitido aos Apóstolos na última Ceia este sa-
tradiderit: tamen fatendum esse, etiam sub altera cramento sob duas espécies, deve-se contudo pro-
tantum specie totum atque integrum Christum ve- fessar que também sob uma só espécie é recebido o
rumque sacramentum sumi, ac propterea, quod ad Cristo todo e inteiro, bem como o sacramento ver-
fructum attinet, nulla gratia necessaria ad salutem dadeiro, e por isso, no que diz respeito ao fruto, os
eos defraudari, qui unam speciem solam accipiunt que recebem uma só espécie não são privados de
[can. 3]. nenhuma graça necessária à salvação [cân. 3].
444
causam pro illius temporis ratione habuerunt, ita tíssimos Padres assim agiram por um motivo lou-
certe eos nulla salutis necessitate id fecisse sine vável, tendo em vista sua época, assim decerto se
controversia credendum est. deve crer sem controvérsia que o fizeram sem que
houvesse necessidade para a salvação.
Cânones sobre a comunhão sob ambas as espécies e sobre a comunhão das crianças
Can. 1. Si quis dixerit, ex Dei praecepto vel ex Se alguém disser que todos e cada um dos fiéis 1731
necessitate salutis omnes et singulos Christi fideles cristãos devem receber, por preceito de Deus ou por
utramque speciem sanctissimi Eucharistiae sacra- necessidade para a salvação, ambas as espécies do
menti sumere debere: anathema sit [cf. *1726s]. santíssimo sacramento da Eucaristia: seja anátema
[cf. *1726s].
Can. 2. Si quis dixerit, sanctam Ecclesiam catho- Se alguém disser que a santa Igreja católica não 1732
licam non iustis causis et rationibus adductam fuis- foi levada por causas justas e razoáveis a fazer os
se, ut laicos atque etiam clericos non conficientes leigos e também os clérigos não consagrantes co-
sub una panis tantummodo specie communicaret, mungar sob a espécie só do pão, ou que errou neste
aut in eo errasse: anathema sit [cf. *1728]. ponto: seja anátema [cf. *1728].
Can. 3. Si quis negaverit, totum et integrum Chris- Se alguém negar que sob a espécie só do pão é 1733
tum, omnium gratiarum fontem et auctorem, sub recebido o Cristo todo e inteiro, fonte e autor de
una panis specie sumi, quia, ut quidam falso asse- todas as graças, porque, como alguns afirmam er-
runt, non secundum ipsius Christi institutionem sub roneamente, não se recebem ambas as espécies se-
utraque specie sumatur: anathema sit [cf. *1726s]. gundo a instituição do próprio Cristo: seja anátema
[cf. *1726s].
Can. 4. Si quis dixerit, parvulis, antequam ad Se alguém disser que a comunhão da Eucaristia 1734
annos discretionis pervenerint, necessariam esse Eu- é necessária às crianças antes que cheguem aos anos
charistiae communionem: anathema sit [cf. *1730]. de discrição: seja anátema [cf. *1730].
Proêmio
Sacrosancta oecumenica et generalis Tridentina Para que se mantenha na santa Igreja católica a 1738
Synodus …, ut vetus, absoluta atque omni ex parte fé e a doutrina antiga, absoluta e sob todos os as-
perfecta de magno Eucharistiae mysterio in sancta pectos perfeita, sobre o grande mistério da Eucaris-
catholica Ecclesia fides atque doctrina retineatur et tia, e se conserve em sua pureza, eliminados os erros
in sua puritate, propulsatis erroribus atque haeresi- e heresias, o sacrossanto Concílio ecumênico e ge-
bus, conservetur: de ea, quatenus verum et singula- ral de Trento, … instruído pela luz do Espírito San-
re sacrificium est, Spiritus Sancti illustratione edoc- to, ensina, declara e decreta que se pregue ao povo
ta, haec, quae sequuntur, docet, declarat et fidelibus fiel o que se segue.
populis praedicanda decernit.
445
consummatio non erat, oportuit (Deo Patre miseri- dócio levítico, não havia <ainda> a consumação,
cordiarum ita ordinante) sacerdotem alium “secun- foi necessário, segundo a disposição de Deus, Pai
dum ordinem Melchisedech” [Ps 109,4; Hbr 5,6 10; das misericórdias, surgir outro sacerdote “segundo
7,11 17; cf. Gn 14,18] surgere, Dominum nostrum a ordem de Melquisedec” [Sl 110,4; Hb 5,6;
Iesum Christum, qui posset omnes, quotquot sanc- 7,11.17; cf. Gn 14,18], nosso Senhor Jesus Cristo,
tificandi essent, consummare [cf. Hbr 10,14] et ad que pudesse levar à consumação e à perfeição to-
perfectum adducere. dos os que deviam ser santificados [cf. Hb 10,14].
1740 Is igitur Deus et Dominus noster, etsi semel se ip- Este nosso Deus e Senhor, embora se houvesse
sum in ara crucis, morte intercedente, Deo Patri obla- de oferecer, uma só vez, a Deus Pai sobre o altar da
turus erat [cf. Hbr 7,27], ut aeternam illis [illic] redemp- cruz por sua morte [cf. Hb 7,27], para realizar para
tionem operaretur: quia tamen per mortem sacerdo- eles [ali] uma redenção eterna, contudo, porque seu
tium eius exstinguendum non erat [cf. Hbr 7,24], sacerdócio não se devia extinguir pela morte [cf.
Hb 7,24],
in Coena novissima, “qua nocte tradebatur” na última ceia, “na noite em que foi entregue”
[1 Cor 11,23], [1Cor 11,23],
ut dilectae sponsae suae Ecclesiae visibile (sicut para deixar à sua dileta esposa, a Igreja, um sa-
hominum natura exigit) relinqueret sacrificium, crifício visível – como a natureza humana exi-
quo cruentum illud semel in cruce peragendum ge –, pelo qual fosse tornado presente aquele sa-
repraesentaretur eiusque memoria in finem usque crifício cruento que se havia de realizar uma só
saeculi permaneret, atque illius salutaris virtus in vez na cruz e seu memorial permanecesse até o
remissionem eorum, quae a nobis quotidie com- fim dos séculos e seu poder salutar fosse aplica-
mittuntur, peccatorum applicaretur: do para a remissão dos pecados que diariamente
cometemos,
sacerdotem secundum ordinem Melchisedech se declarando-se constituído “sacerdote eterno se-
in aeternum [cf. Ps 109,4; Hbr 5,6; 7,17] consti- gundo a ordem de Melquisedec” [cf. Sl 110,4;
tutum declarans, Hb 5,6; 7,17],
corpus et sanguinem suum sub speciebus panis et ofereceu a Deus Pai seu corpo e sangue sob as es-
vini Deo Patri obtulit ac sub earundem rerum sym- pécies de pão e de vinho e, sob os sinais destes, os
bolis Apostolis (quos tunc Novi Testamenti sacer- transmitiu para que os recebessem aos Apóstolos
dotes constituebat), ut sumerent, tradidit, et eisdem (que constituía então sacerdotes do Novo Testamen-
eorumque in sacerdotio successoribus, ut offerrent, to) e, com as palavras: “Fazei isto em meu memo-
praecepit per haec verba: “Hoc facite in meam rial” etc. [Lc 22,19; 1Cor 11,24], ordenou-lhes, a
commemorationem” [Lc 22,19; 1 Cor 11,24], etc., eles e a seus sucessores no sacerdócio, que os ofe-
uti semper catholica Ecclesia intellexit et docuit recessem, como a Igreja católica sempre tem en-
[can. 2]. tendido e ensinado [cân. 2].
1741 Nam celebrato veteri Pascha, quod in memoriam De fato, depois de ter celebrado a Páscoa antiga,
exitus de Aegypto multitudo filiorum Israel immo- que a multidão dos filhos de Israel imolava em
labat [cf. Ex 12], novum instituit Pascha, se ipsum memorial da saída do Egito, instituiu a nova Páscoa
ab Ecclesia per sacerdotes sub signis visibilibus im- a ser imolada pela Igreja por meio dos sacerdotes
molandum in memoriam transitus sui ex hoc mun- sob sinais visíveis em memorial de sua passagem
do ad Patrem, quando per sui sanguinis effusionem deste mundo ao Pai, quando, pela efusão de seu
nos redemit “eripuitque de potestate tenebrarum et sangue, nos remiu e “arrancou do poder das trevas
in regnum suum transtulit” [Col 1,13]. e transportou a seu reino” [Cl 1,13].
1742 Et haec quidem illa munda oblatio est, quae nulla Esta é a oblação pura que não pode ser mancha-
indignitate aut malitia offerentium inquinari potest, da por nenhuma indignidade ou malícia dos que a
quam Dominus per Malachiam nomini suo, quod oferecem, e que o Senhor, por Malaquias, predisse
magnum futurum esset in gentibus, in omni loco que em todo lugar deveria ser oferecida pura a seu
mundam offerendam praedixit [cf. Mal 1,11], et nome, o qual haveria de ser grande entre as nações
quam non obscure innuit Apostolus Paulus Corin- [cf. Ml 1,11]. O Apóstolo Paulo, escrevendo aos
thiis scribens, cum dicit, non posse eos, qui partici- coríntios, refere-se a ele de modo claro, dizendo que
patione mensae daemoniorum polluti sint, mensae os que estão manchados pela participação na mesa
446
Domini participes fieri [cf. 1 Cor 10,21], per men- dos demônios não podem participar da mesa do
sam altare utrobique intelligens. Haec denique illa Senhor [cf. 1Cor 10,21], entendendo em ambos os
est, quae per varias sacrificiorum, naturae et Legis casos por “mesa” o altar. Finalmente, esta é a <obla-
tempore [cf. Gn 4,4; 8,20; 12,8; 22,1-19; Ex: ção> prefigurada pelas imagens diversas dos sacri-
passim], similitudines figurabatur, utpote quae bona fícios no tempo da natureza e da Lei [cf. Gn 4,4;
omnia per illa significata veluti illorum omnium 8,20; 12,8; 22,1-19; Ex passim], pois abrange, como
consummatio et perfectio complectitur. consumação e perfeição, todos os bens que estes
significam.
*1744 1 Cf. Agostinho, Contra Faustum Manichaeum XX 21 (CSEL 25, 56214 / PL 42, 384).
2 Missale Romanum (1962), Rito da missa, depois do lavabo.
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448
Dominum ita fecisse credatur, tum etiam quia e que o Cristo assim o fez, como também porque de
latere eius aqua simul cum sanguine exierit [cf. Io seu lado saiu água juntamente com sangue [cf. Jo
19,34], quod sacramentum hac mixtione recolitur. 19,34], mistério que se recorda nesta mistura. E,
Et cum “aquae” in Apocalypsi beati Ioannis populi como no Apocalipse do bem-aventurado João os po-
dicantur [cf. Apc 17,1 15], ipsius populi fidelis cum vos são chamados “águas” [Ap 17,1.15], represen-
capite Christo unio repraesentatur. ta-se a união do povo fiel com a cabeça, Cristo.
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commemorationem sacrificii in cruce peracti, non comemoração do sacrifício realizado na cruz, porém
autem propitiatorium; vel soli prodesse sumenti; não <um sacrifício> propiciatório; ou que só apro-
neque pro vivis et defunctis, pro peccatis, poenis, veita a quem o recebe e não se deve oferecer pelos
satisfactionibus et aliis necessitatibus offerri debe- vivos e defuntos, pelos pecados, penas, satisfações e
re: anathema sit [cf. *1743]. outras necessidades: seja anátema [cf. *1743].
1754 Can. 4. Si quis dixerit1, blasphemiam irrogari Cân. 4. Se alguém disser1 que pelo sacrifício da
sanctissimo Christi sacrificio in cruce peracto per Missa se comete uma blasfêmia contra o santíssimo
Missae sacrificium, aut illi per hoc derogari: ana- sacrifício de Cristo realizado na cruz, ou que este é
thema sit [cf. *1743]. derrogado por aquele: seja anátema [cf. *1743].
1755 Can. 5. Si quis dixerit, imposturam esse, Missas Cân. 5. Se alguém disser que é uma impostura
celebrari in honorem Sanctorum et pro illorum in- celebrar Missa em honra dos Santos e para obter
tercessione apud Deum obtinenda, sicut Ecclesia sua intercessão junto de Deus, como o faz a Igreja:
intendit: anathema sit [cf. *1744]. seja anátema [cf. *1744].
1756 Can. 6. Si quis dixerit, canonem Missae errores Cân. 6. Se alguém disser que o cânon da Missa
continere ideoque abrogandum esse: anathema sit contém erros e, portanto, deve ser ab-rogado: seja
[cf. *1745]. anátema [cf. *1755].
1757 Can. 7. Si quis dixerit, caeremonias, vestes et Cân. 7. Se alguém disser que as cerimônias, ves-
externa signa, quibus in Missarum celebratione tes e sinais exteriores que a Igreja católica usa na
Ecclesia catholica utitur, irritabula impietatis esse celebração das missas, são antes estimulantes da
magis quam officia pietatis: anathema sit [cf. *1746]. impiedade do que deveres da piedade: seja anátema
[cf. *1746].
1758 Can. 8. Si quis dixerit, Missas, in quibus solus Cân. 8. Se alguém disser que as Missas em que
sacerdos sacramentaliter communicat, illicitas esse só o sacerdote comunga sacramentalmente são ilí-
ideoque abrogandas: anathema sit [cf. *1747]. citas e, portanto, devem ser ab-rogadas: seja anáte-
ma [cf. *1747].
1759 Can. 9. Si quis dixerit, Ecclesiae Romanae ritum, Cân. 9. Se alguém disser que se deve condenar o
quo submissa voce pars canonis et verba consecra- rito da Igreja romana pelo qual se proferem em voz
tionis proferuntur, damnandum esse; aut lingua tan- baixa parte do cânon e as palavras da consagração;
tum vulgari Missam celebrari debere; aut aquam non ou que só se deve celebrar a Missa em língua vul-
miscendam esse vino in calice offerendo, eo quod gar; ou que não se deve misturar água com o vinho
sit contra Christi institutionem: anathema sit [cf. para oferecer no cálice, por ser contra a instituição
*1746 *1748s]. de Cristo: seja anátema [cf. *1746 1748s].
*1754 1 Cf. Urban Rieger, Responsio ad duos libros primum et tertium de Missa Iohannis Eccii (Augsburg 1529) fol. H. 8v.
450
regno calicis usus videatur, sub aliquibus condi- do cálice a alguma nação ou reino, é sob certas
cionibus concedendus sit, et quaenam illae sint, condições que deve ser concedido, e quais se-
jam estas.
in aliud tempus, oblata sibi occasione, examinan- Agora, portanto, querendo providenciar a melhor
dos atque diffiniendos reservaverit: nunc eorum, pro decisão para a salvação daqueles para os quais foi
quibus petitur, saluti optimum consultum volens, solicitado <o cálice>, estabeleceu que toda a questão
decrevit, integrum negotium ad Sanctissimum Do- seja remetida ao Santíssimo Senhor <= o Papa>, e
minum esse referendum, prout praesenti decreto assim o faz com o presente decreto. Ele, com a sua
refert; qui pro sua singulari prudentia id efficiat, singular prudência, faça o que julgar útil à cristanda-
quod utile rei publicae christianae et salutare peten- de e salutar para os que solicitam o uso do cálice.
tibus usum calicis fore iudicaverit.
1763-1778: Sessão 23ª, 15 jul. 1563: Doutrina e cânones sobre o sacramento da ordem
O exame das correspondentes proposições heréticas (cf. as obras indicadas no *1600°) e a redação dos primeiros
esquemas para os cânones tinham sido já iniciados em Bolonha a partir de 2 abr. 1547 (SGTr6,97 308) e, de novo, em
Trento, de 3 dez. 1551 a 21 jan. 1552 (SGTr 7, 375-489; anteprojetos ibid. 460s 483-489).
Os sinodais, em 18 set. 1562, se referiram aos trabalhos precedentes (SGTr 2, 133) e elaboraram novos anteprojetos
para os cânones. Em 13 out. e 3 nov. 1562 antepuseram aos cânones a doutrina sobre o sacramento da ordem (SGTr 8,
38-41; 105-107; outras censuras ibid. 226-241 / TheiTr 2, 151-153; 155s).
Ed.: SGTr 9, 620-622 / RiTr 172-174 / MaC 33, 138B-140D / HaC 10, 135D-138A / COeD3 742-744.
Vera et catholica doctrina de sacramento ordinis Eis, para condenar os erros de nosso tempo, a 1763
ad condemnandos errores nostri temporis, a sancta doutrina verdadeira e católica sobre o sacramento
Synodo Tridentina decreta et publicata sessione [sub da ordem, decretada e publicada pelo santo Concí-
Pio IV] septima. lio de Trento na sessão sétima [sob Pio IV].
451
Nam non solum de sacerdotibus, sed et de diaco- Pois as sagradas Escrituras fazem menção clara
nis sacrae Litterae apertam mentionem faciunt [cf. não só aos sacerdotes, mas também aos diáconos
Act 6,5; 21,8; 1 Tim 3,8-13; Phil 1,1] et, quae [cf. At 6,5; 21,8; 1Tm 3,8-13; Fl 1,1] e, com pala-
maxime in illorum ordinatione attendenda sunt, vras de muito peso, ensinam o que mormente deve
gravissimis verbis docent; et ab ipso Ecclesiae ini- ser considerado em sua ordenação; e é conhecido
tio sequentium ordinum nomina atque uniuscuius- que, desde o próprio começo da Igreja, estiveram
que eorum propria ministeria, subdiaconi scilicet, em uso, embora não em igual grau, os nomes das
acolythi, exorcistae, lectoris et ostiarii in usu fuisse ordens e os ministérios próprios de cada uma delas,
cognoscuntur, quamvis non pari gradu. Nam sub- a saber: do subdiácono, acólito, exorcista, leitor e
diaconatus ad maiores ordines a Patribus et sacris ostiário. Pois o subdiaconado é contado entre as or-
Conciliis refertur, in quibus et de aliis inferioribus dens maiores pelos Padres e Sagrados Concílios,
frequentissime legimus. nos quais lemos freqüentissimamente também acer-
ca das outras, as inferiores.
452
praecipue pertinere, et positos (sicut idem Aposto- ram no lugar dos Apóstolos, e, “postos” (como diz
lus ait) a Spiritu Sancto “regere Ecclesiam Dei” [Act o mesmo Apóstolo) “pelo Espírito Santo, regem a
20,28], eosque presbyteris superiores esse, ac sa- Igreja de Deus” [At 20,28] e são superiores aos pres-
cramentum confirmationis conferre, ministros Ec- bíteros, podendo conferir o sacramento da confir-
clesiae ordinare, atque alia pleraque peragere ipsos mação, ordenar ministros da Igreja e executar mui-
posse, quarum functionum potestatem reliqui infe- tas outras coisas, para as quais os demais, de ordem
rioris ordinis nullam habent [can. 7]. inferior, não têm nenhum poder [cân. 7].
Docet insuper sancta Synodus, in ordinatione Além disso, o santo Sínodo ensina que, na orde- 1769
episcoporum, sacerdotum et ceterorum ordinum nec nação dos bispos, dos sacerdotes e das outras or-
populi nec cuiusvis saecularis potestatis et magis- dens, não se requer consenso, chamado ou parecer
tratus consensum sive vocationem sive auctoritatem do povo, nem de qualquer poder ou magistrado se-
ita requiri, ut sine ea irrita sit ordinatio; quin potius cular, de forma que sem ela a ordenação fosse nula.
decernit, eos, qui tantummodo a populo aut saecu- Pelo contrário, decreta que nenhum daqueles que,
lari potestate ac magistratu vocati et instituti ad haec chamados e constituídos só pelo povo ou pelo po-
ministeria exercenda ascendunt, et qui ea propria der e magistratura secular, escalam ao exercício
temeritate sibi sumunt, omnes non Ecclesiae minis- desses ministérios, ou os arrogam por veleidade
tros, sed fures et latrones, per ostium non ingressos própria, é ministro da Igreja [cân. 8], e que, ao con-
[cf. Io 10,1], habendos esse [can. 8]. trário, eles devem ser considerados ladrões e salte-
adores, já que não entraram pela porta [cf. Jo 10,1].
Haec sunt, quae generatim sacrae Synodo visum Eis o que, em linhas gerais pareceu bem ao santo 1770
est Christifideles de sacramento ordinis docere. His Sínodo ensinar aos fiéis cristãos acerca do sacra-
autem contraria certis et propriis canonibus in hunc, mento da ordem. Ademais, resolveu condenar o que
qui sequitur, modum damnare constituit, ut omnes, for contrário a isso, com cânones certos e próprios,
adiuvante Christo, fidei regula utentes, in tot erro- da maneira que se segue, para que todos, com a
rum tenebris catholicam veritatem facilius agnos- ajuda de Cristo, entre tantas trevas de erros servin-
cere et tenere possint. do-se da regra da fé, possam mais facilmente reco-
nhecer e conservar a verdade católica.
453
copos dicere: “Accipe Spiritum Sanctum”; aut per vão os bispos dizem: “Recebe o Espírito Santo”; ou
eam non imprimi characterem; vel eum, qui sacer- que por ela não se imprime caráter; ou que aquele
dos semel fuit, laicum rursus fieri posse: anathema que foi alguma vez sacerdote pode depois se tornar
sit [cf. *1767]. leigo: seja anátema [cf. *1767].
1775 Can. 5. Si quis dixerit, sacram unctionem, qua Cân. 5. Se alguém disser que a sagrada unção
Ecclesia in sancta ordinatione utitur, non tantum non que a Igreja usa na santa ordenação não só não
requiri, sed contemnendam et perniciosam esse, é requerida, mas deve mesmo ser desdenhada e é
similiter et alias ceremonias: anathema sit. funesta, como, semelhantemente, também as outras
cerimônias <da ordenação>: seja anátema.
1776 Can. 6. Si quis dixerit, in Ecclesia catholica non Cân. 6. Se alguém disser que na Igreja católica
esse hierarchiam, divina ordinatione institutam, quae não há uma hierarquia instituída por disposição
constat ex episcopis, presbyteris et1 ministris: ana- divina e constando de bispos, presbíteros e1 minis-
thema sit [cf. *1768]. tros: seja anátema [cf. *1768].
1777 Can. 7. Si quis dixerit, episcopos non esse presby- Cân. 7. Se alguém disser que os bispos não são
teris superiores; vel non habere potestatem confir- superiores aos presbíteros, ou que não têm o poder
mandi et ordinandi, vel eam, quam habent, illis esse de confirmar e ordenar, ou que o que eles têm lhes
cum presbyteris communem; vel ordines ab ipsis é comum com os presbíteros, ou que as ordens
collatos sine populi vel potestatis saecularis consen- conferidas por eles sem o consenso ou chamado do
su aut vocatione irritos esse; aut eos, qui nec ab ec- povo ou do poder secular são nulas, ou que os que
clesiastica et canonica potestate rite ordinati nec missi nem são devidamente ordenados pelo poder eclesi-
sunt, sed aliunde veniunt, legitimos esse verbi et ástico e canônico nem mandados, mas vêm de ou-
sacramentorum ministros: anathema sit [cf. *1768s]. tra parte, são legítimos ministros da Palavra e dos
sacramentos: seja anátema [cf. *1768s].
1778 Can. 8. Si quis dixerit, episcopos, qui auctoritate Cân. 8. Se alguém disser que os bispos designa-
Romani Pontificis assumuntur, non esse legitimos dos pela autoridade do Romano Pontífice não são
et veros episcopos, sed figmentum humanum: ana- bispos legítimos e verdadeiros, mas criação huma-
thema sit. na: seja anátema.
*1776 1 Na véspera da sessão, foi riscada a palavra “aliis” (“outros”) antes de “ministris” (“ministros”): cf. SGTr 9, 622 nota
1; 3, 69027 69133 (Diário de Gabriel Paleotti).
454
adhaerebit uxori suae, et erunt duo in carne una” e sua mãe e apegar-se-á a sua esposa, e serão dois
[Gn 2,23s; cf. Mt 19,5; Eph 5,31]. em uma só carne” [Gn 2,23s; cf. Mt 19,5; Ef 5,31].
Hoc autem vinculo d u o s t a n t u m m o d o copu- O Cristo Senhor ensinou o mais claramente pos- 1798
lari et coniungi, Christus Dominus apertius docuit, sível que por este vínculo s o m e n t e d o i s se po-
cum postrema illa verba, tamquam a Deo prolata, dem associar e unir, quando citando as palavras
referens dixit: “Itaque iam non sunt duo, sed una acima como proferidas por Deus, disse: “Assim já
caro” [Mt 19,6], statimque eiusdem nexus firmita- não são dois, mas uma só carne” [Mt 19,6], e a seguir
tem, ab Adamo tanto ante pronuntiatam, his verbis confirmou com estas palavras a firmeza de tal vín-
confirmavit: “Quod ergo Deus coniunxit, homo non culo, antes proclamado somente por Adão: “Por-
separet” [Mt 19,6; Mc 10,9]. tanto, o que Deus uniu, o homem não separe” [Mt
19,6; Mc 10,9].
G r a t i a m vero, quae naturalem illum amorem Ora, a g r a ç a que levou à perfeição aquele amor 1799
perficeret, et indissolubilem unitatem confirmaret, natural, confirmou a unidade indissolúvel e santifi-
coniugesque sanctificaret, ipse Christus, venerabi- cou os cônjuges, o próprio Cristo, que instituiu e
lium sacramentorum institutor atque perfector, sua levou à perfeição os veneráveis sacramentos a me-
nobis passione promeruit. Quod Paulus Apostolus receu para nós por sua paixão. Ao que o Apóstolo
innuit, dicens: “Viri, diligite uxores vestras, sicut Paulo acenou, dizendo: “Varões, amai vossas espo-
Christus dilexit Ecclesiam, et se ipsum tradidit pro sas, como Cristo amou a Igreja e se entregou por
ea” [Eph 5,25], mox subiungens: “Sacramentum hoc ela” [Ef 5,25], acrescentando em seguida: “É gran-
magnum est; ego autem dico, in Christo et in Ec- de este sacramento, eu o digo, porém, em Cristo e
clesia” [Eph 5,32]. na Igreja” [Ef 5,32].
Cum igitur matrimonium in lege evangelica Como, portanto, o matrimônio na lei evangélica 1800
veteribus connubiis per Christum gratia praestet: por meio de Cristo supera em graça os antigos ca-
merito i n t e r Novae Legis s a c r a m e n t a a n n u - samentos, nossos Santos Padres, os Concílios e a
m e r a n d u m sancti Patres nostri, Concilia et uni- tradição da Igreja universal sempre ensinaram que,
versalis Ecclesiae traditio semper docuerunt; adver- com razão, d eve s e r c o n t a d o e n t r e o s s a c r a -
sus quam impii homines huius saeculi insanientes, m e n t o s da Nova Lei. Contra isso, homens ímpios
non solum perperam de hoc venerabili sacramento deste século, delirando, não só opinaram deprava-
senserunt, sed de more suo, praetextu Evangelii damente sobre este venerável sacramento, mas,
libertatem carnis introducentes, multa ab Ecclesiae conforme seu costume, introduzindo sob o pretexto
catholicae sensu et ab Apostolorum temporibus pro- do Evangelho a liberdade da carne, afirmaram, por
bata consuetudine aliena, scripto et verbo asserue- escrito e por palavras, não sem grande dano dos
runt, non sine magna Christifidelium iactura. fiéis cristãos, muitas coisas estranhas ao sentir da
Igreja católica e ao costume aprovado desde os tem-
pos dos Apóstolos.
Quorum temeritati sancta et universalis Synodus Desejando opor-se ao desatino deles, <e> para
cupiens occurrere, insigniores praedictorum schis- que seu contágio pernicioso não arraste muitos até
maticorum haereses et errores, ne plures ad se trahat eles, o santo e geral Sínodo julgou que deviam ser
perniciosa eorum contagio, exterminandos duxit, hos exterminadas as heresias e os erros mais importan-
in ipsos haereticos eorumque errores decernens tes dos cismáticos antes citados, decretando contra
anathematismos. eles e seus erros os seguintes anátemas.
455
na esse prohibitum [cf. Mt 19,9]: anathema sit isso não é proibido por nenhuma lei divina [cf. Mt
[cf. *1798]. 19,9]: seja anátema [cf. *1798].
1803 Can. 3. Si quis dixerit, eos tantum consanguinita- Cân. 3. Se alguém disser que somente aqueles
tis et affinitatis gradus, qui Levitico [18,6-18] expri- graus de consangüinidade e parentesco por afinida-
muntur, posse impedire matrimonium contrahendum, de que são descritos no Levítico [18,6-18] podem
et dirimere contractum; nec posse Ecclesiam in impedir de contrair matrimônio ou dirimir o con-
nonnullis illorum dispensare, aut constituere, ut plu- tratado; e que a Igreja não pode dispensar de alguns
res impediant et dirimant: anathema sit [cf. *2659]. desses <graus>, ou estabelecer um número maior
<de graus> impedientes ou dirimentes: seja anáte-
ma [cf. *2659]
1804 Can. 4. Si quis dixerit, Ecclesiam non potuisse Cân. 4. Se alguém disser que a Igreja não podia
constituere impedimenta matrimonium dirimentia estabelecer impedimentos dirimentes do matrimô-
vel in iis constituendis errasse: anathema sit. nio, ou que errou ao estabelecê-los: seja anátema.
1805 Can. 5. Si quis dixerit, propter haeresim, aut Cân. 5. Se alguém disser que o vínculo do matri-
molestam cohabitationem, aut affectatam absentiam mônio pode ser dissolvido pelo cônjuge, por causa
a coniuge dissolvi posse matrimonii vinculum: ana- de heresia, coabitação incômoda ou ausência pro-
thema sit. positada: seja anátema.
1806 Can. 6. Si quis dixerit, matrimonium ratum, non Cân. 6. Se alguém disser que o matrimônio rato
consummatum, per solemnem religionis professio- não consumado não pode ser dirimido pela solene
nem alterius coniugum non dirimi: anathema sit. profissão religiosa de um dos cônjuges: seja anátema.
1807 Can. 7. Si quis dixerit, Ecclesiam errare1, cum Cân. 7. Se alguém disser que a Igreja erra1, quan-
docuit et docet, iuxta evangelicam et apostolicam do ensinou e ensina, segundo a doutrina evangélica e
doctrinam [cf. Mt 5,32; 19,9; Mc 10,11s; Lc 16,18; apostólica [cf. Mt 5,32; 19,9; Mc 10,11s; Lc 16,18;
1 Cor 7,11], propter adulterium alterius coniugum 1Cor 7,11], que o vínculo do matrimônio não pode
matrimonii vinculum non posse dissolvi, et utrum- ser dissolvido por causa do adultério de um dos côn-
que, vel etiam innocentem, qui causam adulterio non juges, e que nenhum deles, nem mesmo o inocente
dedit, non posse, altero coniuge vivente, aliud ma- que não ofereceu pretexto para o adultério, pode
trimonium contrahere, moecharique eum, qui dimis- contrair outro matrimônio enquanto viver o outro
sa adultera aliam duxerit, et eam, quae dimisso cônjuge, e que comete adultério aquele que, abando-
adultero alii nupserit: anathema sit. nando a adúltera, casar com outra, e aquela que, aban-
donando o adúltero, casar com outro: seja anátema.
1808 Can. 8. Si quis dixerit, Ecclesiam errare, cum ob Cân. 8. Se alguém disser que a Igreja erra, quan-
multas causas separationem inter coniuges quoad do determina que, por muitas causas, pode dar-se
thorum, seu quoad cohabitationem, ad certum in- uma separação entre os cônjuges, por tempo deter-
certumve tempus, fieri posse decernit: anathema sit. minado ou indeterminado, no que diz respeito ao
leito ou à coabitação: seja anátema.
1809 Can. 9. Si quis dixerit, clericos in sacris ordinibus Cân. 9. Se alguém disser que os clérigos consti-
constitutos, vel regulares castitatem solemniter tuídos nas ordens sagradas ou os religiosos que fi-
professos, posse matrimonium contrahere, contrac- zeram profissão solene de castidade podem contrair
tumque validum esse, non obstante lege Ecclesiasti- matrimônio, e que o contrato é válido, não obstante
ca vel voto, et oppositum nil aliud esse, quam dam- a lei eclesiástica ou o voto, e que o contrário nada
nare matrimonium; posseque omnes contrahere ma- mais é que desprezar o matrimônio; e que podem
*1807 1 Esta forma mais branda da condenação foi escolhida em vista dos gregos, que seguiam uma p r a x e oposta, mas não
rejeitavam a d o u t r i n a da Igreja latina. – Pio XI alude a este cânon na encíclica “Casti connubii ” de 31 dez. 1930:
“Mas se a Igreja não errou, nem erra, quando assim ensinou e ensina, e se, portanto, é de todo certo que o matrimônio
não pode ser dissolvido, nem mesmo por causa de adultério, é evidente que as outras razões de divórcio, bem mais
fracas, que se costuma alegar, valem ainda muito menos e devem ser consideradas como absolutamente nulas” (“Quod
si non erravit neque errat Ecclesia, cum haec docuit ac docet, ideoque certum omnino est, matrimonium ne ob adulterium
quidem dissolvi posse, in comperto est, reliquas tanto debiliores, quae afferri solent, divortiorum causas multo minus
valere nihilique prorsus esse faciendas”; AAS 1930 (AAS 22 [1930] 574).
456
trimonium, qui non sentiunt se castitatis (etiamsi eam contrair matrimônio todos os que não sentem ter o
voverint) habere donum: anathema sit. Cum Deus dom da castidade (embora tenham feito voto): seja
id recte petentibus non deneget, nec patiatur, nos anátema. Já que Deus não o recusa <o dom> a quem
supra id, quod possumus, tentari [cf. 1 Cor 10,13]. pedir como convém, nem permite que sejamos ten-
tados acima do que podemos [cf. 1Cor 10,13].
Can. 10. Si quis dixerit, statum coniugalem ante- Cân. 10. Se alguém disser que o estado conjugal 1810
ponendum esse statui virginitatis vel caelibatus, et deve ser preferido ao estado de virgindade ou celiba-
non esse melius ac beatius, manere in virginitate to, e que não é melhor e mais valioso permanecer na
aut caelibatu, quam iungi matrimonio [cf. Mt 19,11s; virgindade ou celibato do que unir-se em matrimô-
1 Cor 7,25s 38 40]: anathema sit. nio [cf. Mt 19,11s; 1Cor 7,25s.38.40]: seja anátema.
Can. 11. Si quis dixerit, prohibitionem solemni- Cân. 11. Se alguém disser que a proibição de 1811
tatis nuptiarum certis anni temporibus superstitio- solenidade das núpcias em determinados tempos do
nem esse tyrannicam, ab ethnicorum superstitione ano é uma superstição tirânica, proveniente da su-
profectam; aut benedictiones et alias ceremonias, perstição dos pagãos; ou <se> condenar as bên-
quibus Ecclesia in illis utitur, damnaverit: anathe- çãos e outras cerimônias que a Igreja usa nas núp-
ma sit. cias: seja anátema.
Can. 12. Si quis dixerit, causas matrimoniales non Cân. 12. Se alguém disser que as questões matri- 1812
spectare ad iudices ecclesiasticos: anathema sit [cf. moniais não são da competência dos juizes ecle-
*2598 *2659]. siásticos: seja anátema [cf. *2598-2659].
*1813 1 Assim, p.ex., M. Lutero, De abroganda missa privata III (ed. Weimar 8, 4669-13).
457
tribus continuis diebus festivis in ecclesia inter matrimônio, seja publicamente proclamado três
Missarum solemnia publice denuntietur, inter quos vezes, pelo pároco próprio dos contraentes, em três
matrimonium sit contrahendum; quibus denuntia- dias festivos subseqüentes, na Igreja, durante a ce-
tionibus factis, si nullum legitimum opponatur im- lebração da Missa, entre quem deverá ser contraído
pedimentum, ad celebrationem matrimonii in facie matrimônio; feitas as proclamas, se não se apresen-
Ecclesiae procedatur, ubi parochus, viro et muliere ta nenhum impedimento legítimo, proceda-se à ce-
interrogatis, et eorum mutuo consensu intellecto, lebração do matrimônio em presença da Igreja, na
vel dicat: “Ego vos in matrimonium coniungo, in qual o pároco, interrogados o varão e a mulher e
nomine Patris et Filii et Spiritus Sancti”, vel aliis entendido seu mútuo consentimento, diga: “Eu vos
utatur verbis, iuxta receptum uniuscuiusque provin- uno em matrimônio, em nome do Pai e do Filho e
ciae ritum. do Espírito Santo”, ou use de outras palavras, se-
gundo o rito aceito em cada província.
1815 [R e s t r i c t i o l eg i s ] Quod si aliquando proba- [R e s t r i ç ã o d a l e i ] Se casualmente se suspei-
bilis fuerit suspicio, matrimonium malitiose impe- te que o matrimônio, precedendo tantas proclamas,
diri posse, si tot praecesserint denuntiationes: tunc possa ser impedido de má fé, então se faça só uma
vel una tantum denuntiatio fiat, vel saltem parocho proclama ou, ao menos, se celebre o matrimônio na
et duobus vel tribus testibus praesentibus matrimo- presença do pároco e duas ou três testemunhas;
nium celebretur; deinde ante illius consummatio- depois, antes de sua consumação, façam-se as pro-
nem denuntiationes in ecclesia fiant, ut, si aliqua clamas na Igreja, para que, havendo eventuais im-
subsunt impedimenta, facilius detegantur, nisi pedimentos ocultos, mais facilmente sejam desco-
Ordinarius ipse expedire iudicaverit, ut praedictae bertos; a não ser que o próprio Ordinário julgue ser
denuntiationes remittantur, quod illius prudentiae et conveniente que se omitam as citadas proclamas, o
iudicio sancta Synodus relinquit. que o santo Sínodo deixa a sua prudência e juízo.
[S a n c t i o ] Qui aliter quam praesente parocho, [S a n ç ã o ] Os que tentarem contrair matrimônio
vel alio sacerdote de ipsius parochi seu Ordinarii de outro modo que na presença do pároco – ou de
licentia, et duobus vel tribus testibus matrimonium outro sacerdote, autorizado pelo pároco ou pelo Or-
contrahere attentabunt: eos sancta Synodus ad sic dinário – e de duas ou três testemunhas, o santo Sí-
contrahendum omnino inhabiles reddit, et huiusmodi nodo os torna totalmente inábeis para assim contraí-
contractus irritos et nullos esse decernit, prout eos rem e decreta que tais contratos são írritos e nulos,
praesenti decreto irritos facit et annullat. como pelo presente decreto os faz írritos e os anula.
458
Apud rudem vero plebem difficiliores ac subti- Nas pregações populares dirigidas ao povo rude
liores quaestiones, quaeque ad aedificationem non evitem-se as questões mais difíceis e sutis, que não
faciunt, et ex quibus plerumque nulla fit pietatis levam à edificação e com as quais geralmente não
accessio, a popularibus concionibus secludantur. se incrementa a piedade. Assim também não per-
Incerta item, vel quae specie falsi laborant, evulgari mitam que se divulguem e tratem pontos incertos
ac tractari non permittant. Ea vero, quae ad curiosi- ou que possam parecer falsos. Proíbam ainda, como
tatem quandam aut superstitionem spectant, vel escândalo e estorvo para os fiéis, aquelas questões
turpe lucrum sapiunt, tamquam scandala et fidelium que dizem respeito à curiosidade ou à superstição
offendicula prohibeant. … ou têm sabor de lucro torpe. …
459
460
copo approbata fuerit. Nulla etiam admittenda esse nhuma imagem insólita, sem a prévia aprovação do
nova miracula, nec novas reliquias recipiendas nisi bispo. Tampouco admitam-se novos milagres ou
eodem recognoscente et approbante episcopo. recebam-se novas relíquias senão … com a aprova-
ção do bispo.
Os duelos
Cap. 19. Detestabilis duellorum usus, fabricante Cap. 19. O detestável uso dos duelos, introduzido 1830
diabolo introductus, ut cruenta corporum morte ani- por invenção diabólica para, com a morte sangrenta
marum etiam perniciem lucretur, ex christiano orbe dos corpos, obter também a ruína das almas, seja
penitus exterminetur. Imperator, reges … et quo- totalmente banido do mundo cristão. Imperador, reis
cumque alio nomine domini temporales, qui locum … e senhores temporais, de qualquer título, que con-
ad monomachiam in terris suis inter Christianos cedam em suas terras, entre cristãos, lugar para du-
concesserint, eo ipso sint excommunicati … . elos, sejam automaticamente excomungados … .
Qui vero pugnam commiserint, et qui eorum patri- Os que duelam e seus assim chamados padrinhos
ni vocantur, excommunicationis … ac perpetuae in- incorram na pena de excomunhão … e de infâmia
famiae poenam incurrant et ut homicidae iuxta sa- perpétua; e sejam punidos, segundo os sagrados câno-
cros canones puniri debeant, et, si in ipso conflictu nes, como homicidas e, se morrerem durante o duelo,
decesserint, perpetuo careant ecclesiastica sepultura1. sejam privados para sempre da sepultura eclesiástica1.
*1830 1 Cf. Gregório IX, Decretales l. 5, tit. 13, c. 1-2 (Frdb 2, 804).
461
Ed.: SGTr 9, 1152-1154 / TheiTr 2, 515a-516a / BullTau 7, 244b-246a / BullCocq 4/II, 168a-169a / RiTr 481f / 481s?
MaC 33, 216B-217E / HaC 10, 195A-196D.
*1847 1 Pio IV, Cartas aos legados, 16 jun. 1563 und 14 ago. 1563.
*1848 1 Sessão 25ª, 4 dez. 1563 (SGTr 9, 1108s).
462
super ipsius Concilii decretis quocumque modo absolutamente nenhum tipo de interpretação refe-
edere aut quidquam quocumque nomine, etiam sub rente aos decretos do Concílio, ou estabelecer qual-
praetextu maioris decretorum corroborationis aut quer coisa sob qualquer nome, também com o pre-
exsecutionis aliove quaesito colore statuere. texto de melhor consolidação ou execução dos de-
cretos ou por outro motivo que se alegue.
Si cui vero in eis aliquid obscurius dictum et sta- Se, pois, a alguém parecer que nos decretos tenha 1850
tutum fuisse eamque ob causam interpretatione aut sido dita ou estabelecida alguma coisa mais obscura
decisione aliqua egere visum fuerit: ascendat ad e que por essa razão haja necessidade de alguma
locum, quem Dominus elegit, ad Sedem videlicet interpretação ou decisão, dirija-se ao lugar que Deus
Apostolicam, omnium fidelium magistram, cuius escolheu, a saber: à Sé Apostólica, mestra de todos
auctoritatem etiam ipsa sancta Synodus tam reve- os fiéis, cuja autoridade também o mesmo santo Sí-
renter agnovit1. Nos enim difficultates et controver- nodo tão reverencialmente reconheceu1. Assim Nós
sias, si quae ex eis decretis ortae fuerint, nobis de- nos reservamos aclarar e decidir as dificuldades e
clarandas et decidendas, quemadmodum ipsa quo- controvérsias que por acaso surjam destes decretos,
que sancta Synodus decrevit, reservamus … como aliás o mesmo santo Sínodo determinou …
*1850 1 Sessão 7ª, decreto de reforma, introdução; sessão 25ª, decreto de reforma, cap. 21 (SGTr 5, 99715; 9, 109430).
463
cedi poterunt, modo huiusmodi versionibus tam- e piedosos, a juízo do bispo ou do inquisidor, contanto
quam elucidationibus vulgatae editionis ad intelli- que tais traduções sejam usadas como elucidações
gendam sacram Scripturam, non autem tamquam da edição Vulgata, para compreender a Sagrada Es-
sano textu utantur. critura, não, porém, como texto suficiente em si.
Ve r s i o n e s vero N o v i Te s t a m e n t i ab aucto- Tr a d u ç õ e s do N o vo Te s t a m e n t o feitas por
ribus primae classis1 huius indicis factae nemini con- autores da primeira classe deste Índex1 não sejam
cedantur, quia utilitatis parum, periculi vero pluri- permitidas a ninguém, porque da sua leitura costu-
mum lectoribus ex earum lectione manare solet. Si ma derivar para os leitores bem pouca utilidade e
quae vero annotationes cum huiusmodi quae per- muitíssimo perigo. Mas, se circulam comentários
mittuntur versionibus vel cum vulgata editione cir- publicados com as traduções permitidas ou com a
cumferuntur, expunctis locis suspectis a facultate edição Vulgata, desde que eliminados – pela facul-
theologica alicuius Universitatis catholicae aut dade teológica de alguma Universidade católica ou
Inquisitione generali, permitti eisdem poterunt, qui- pela Inquisição geral – os trechos suspeitos, pode-
bus et versiones. … rão ser permitidos àqueles aos quais <são permiti-
das> também as traduções. …
1854 Regula IV: Cum experimento manifestum sit, si Regra IV: Já que experiência mostra que, se se
sacra B i b l i a v u l g a r i l i n g u a passim sine dis- permite a sagrada B í b l i a e m l í n g u a ve r n á c u l a
crimine permittantur, plus inde ob hominum teme- indistintamente e sem diferença, daí surge mais dano
ritatem detrimenti quam utilitatis oriri, hac in parte que utilidade, por causa da temeridade dos homens,
iudicio episcopi aut inquisitoris stetur, ut cum con- compete, neste ponto, ao juízo do bispo ou do
silio parochi vel confessarii Bibliorum a catholicis inquisidor, com o conselho do pároco ou do confes-
auctoribus versorum lectionem in vulgari lingua eis sor, conceder a leitura dos livros bíblicos traduzidos
concedere possint, quos intellexerint ex huiusmodi em língua vernácula por autores católicos àqueles
lectione non damnum, sed fidei atque pietatis aug- que, segundo sua percepção, possam de tal leitura
mentum capere posse … receber não dano, mas aumento de fé e de piedade.
1855 Regula V: Libri illi, qui haereticorum auctorum Regra V: Os livros que às vezes se publicam por
opera interdum prodeunt, in quibus nulla vel pauca iniciativa de autores hereges, nos quais bem pouco
de suo apponunt, sed aliorum dicta colligunt, cuius- ou nada de próprio acrescentam, mas recolhem di-
modi sunt l e x i c a , c o n c o r d a n t i a e , a p o - tos de outros, como sejam d i c i o n á r i o s , c o n c o r-
p h t h e g m a t a …, si quae habeant, quae purgatio- d â n c i a s , c o l e ç õ e s d e s e n t e n ç a s …, se con-
ne indigeant, illis episcopi … consilio sublatis aut têm coisas que precisam ser purgadas, depois que
emendatis, permittantur. elas forem, sob conselho de bispo, … eliminadas
ou corrigidas, sejam permitidos.
1856 Regula VI: L i b r i v u l g a r i i d i o m a t e d e c o n - Regra VI: L iv r o s e m l í n g u a ve r n á c u l a s o -
t r o v e r s i i s inter catholicos et haereticos nostri b r e a s c o n t r o v é r s i a s entre católicos e hereges
temporis disserentes non passim permittantur, sed de nosso tempo não sejam indiscriminadamente per-
idem de iis servetur, quod de bibliis vulgari lingua mitidos, mas observe-se a seu respeito o que se esta-
scriptis statutum est. beleceu para os escritos bíblicos em língua vernácula.
Qui vero de ratione bene vivendi, contemplandi, Mas os <livros> escritos em língua vernácula
confitendi ac similibus argumentis vulgari sermone sobre o modo de bem viver, de contemplar, de con-
conscripti sunt, si sanam doctrinam contineant, non fessar e assuntos semelhantes, se contiverem a sã
est, cur prohibeantur. … doutrina, não há por que proibi-los. …
1857 Regula VII: Libri, qui r e s l a s c iva s seu obs- Regra VII: Livros que expressamente tratam,
coenas ex professo tractant, narrant aut docent, cum narram ou ensinam c o i s a s s e n s u a i s ou obsce-
non solum fidei, sed et morum, qui huiusmodi nas, já que se deve prestar atenção não somente à
librorum lectione facile corrumpi solent, ratio ha- fé, mas também aos costumes que pela leitura de
benda sit, omnino prohibentur. … tais livros facilmente se corrompem, são absoluta-
mente proibidos. …
*1853 1 No índex de Pio IV obras e autores são divididos em três classes, de acordo com o perigo maior ou menor de indução
ao erro; na primeira estão mencionados só os nomes dos autores, sendo proibidas como suspeitas todas as suas obras.
464
Antiqui vero ab ethnicis conscripti propter ser- Mas os <livros> antigos, escritos por pagãos,
monis elegantiam et proprietatem permittuntur: nulla permitem-se por causa da elegância e propriedade
tamen ratione pueris praelegendi erunt. da linguagem; contudo, por nenhum motivo deve-
rão ser lidos às crianças.
Regula VIII: Libri, quorum principale argumen- Regra VIII: Livros cujo argumento principal é 1858
tum bonum est, in quibus tamen o b i t e r a l i q u a bom, nos quais, porém, o c a s i o n a l m e n t e estão
i n s e r t a sunt, quae ad haeresim seu impietatem, i n s e r i d a s a l g u m a s c o i s a s que tendem à here-
divinationem seu superstitionem spectant, a catho- sia ou impiedade, às artes divinatórias ou à supers-
licis theologis … expurgati concedi possunt. … tição, uma vez que por teólogos católicos … tenham
sido expurgados, podem ser concedidos. …
Regula IX: Libri omnes et scripta geomantiae, Regra IX: Todos os livros e escritos de geomancia, 1859
hydromantiae, aëromantiae, pyromantiae, oneiro- hidromancia, aeromancia, piromancia, oneiroman-
mantiae, chiromantiae, necromantiae, sive inquibus cia, quiromancia, necromancia ou nos quais estão
continentur sortilegia, veneficia, auguria, auspicia, contidos sortilégios, feitiçarias, vaticínios, pressá-
incantationes a r t i s m a g i c a e , prorsus reiiciuntur. gios, encantamentos de a r t e m á g i c a , em absolu-
to não se admitem.
Episcopi vero diligenter provideant, ne a s t r o - Os bispos, além disto, providenciem com diligên-
l o g i a e i u d i c i a r i a e libri, tractatus, indices legan- cia para que não sejam lidos nem possuídos livros,
tur vel habeantur, qui de futuris contingentibus suc- tratados, catálogos da a s t r o l o g i a j u d i c i á r i a ,
cessibus, fortuitisve casibus aut iis actionibus, quae que, com respeito a futuros acontecimentos contin-
ab humana voluntate pendent, certi aliquid eventu- gentes, ou a casos fortuitos, ou a ações que depen-
rum affirmare audent. … dem da vontade humana, ousam afirmar que algo,
com certeza, há de ocorrer. …
Regula X: In librorum aliarumve scripturarum Regra X: Na i m p r e s s ã o de livros ou outros es- 1860
i m p r e s s i o n e servetur, quod in Concilio Latera- critos observe-se quanto foi estabelecido no [V] Con-
nensi [V] sub Leone X, sessione X, statutum est1. cílio do Latrão, na sessão 10ª, sob Leão X1.
[Seguem-se prescrições disciplinares concretas para autores de livros, editores, bibliotecas.]
Ad extremum vero omnibus fidelibus praecipitur, Por último se ordena a todos os fiéis que nin- 1861
ne quis audeat contra harum regularum praescrip- guém ouse ler ou possuir livros contrários ao pres-
tum aut huius indicis prohibitionem libros aliquos crito nestas regras ou à proibição deste Índex. Se
legere aut habere. Quod si quis libros haereticorum alguém ler ou possuir livros de hereges ou escritos
vel cuiusvis auctoris scripta, ob haeresim vel ob falsi de qualquer autor, condenados ou proibidos por
dogmatis suspicionem damnata atque prohibita, heresia ou por suspeita de doutrina errônea, incor-
legerit sive habuerit, statim in excommunicationis rerá imediatamente em sentença de excomunhão. …
sententiam incurrat. …
Profissão de fé tridentina
Ego N. firma fide credo et profiteor omnia et Eu, N.N., com fé firme, creio e confesso todas as 1862
singula, quae continentur in Symbolo fidei [Cons- coisas e cada uma singularmente das que estão
tantinopolitano: cf. *150], quo sancta Romana Ec- contidas no Símbolo da fé [constantinopolitano: cf.
clesia utitur, videlicet: *150] usado pela santa Igreja romana, a saber:
465
Credo in unum Deum Patrem omnipotentem, fac- Creio em um só Deus, Pai onipotente, criador do
torem caeli et terrae, visibilium omnium et invisibi- céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisí-
lium; et in unum Dominum Iesum Christum, Fi- veis; e em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho unigê-
lium Dei unigenitum, et ex Patre natum ante omnia nito de Deus, nascido do Pai antes de todos os sé-
saecula, Deum de Deo, lumen de lumine, Deum ve- culos: Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro
rum de Deo vero, genitum non factum, consubstan- de Deus verdadeiro, gerado, não feito, consubstan-
tialem Patri; per quem omnia facta sunt; qui prop- cial ao Pai; por quem todas as coisas foram feitas;
ter nos homines et propter nostram salutem descen- que por nós homens e pela nossa salvação desceu
dit de caelis, et incarnatus est de Spiritu Sancto ex dos céus e, do Espírito Santo, se encarnou <no seio>
Maria Virgine, et homo factus est; crucifixus etiam da Virgem Maria e se fez homem; que também por
pro nobis sub Pontio Pilato, passus et sepultus est; nós foi crucificado sob Pôncio Pilatos, morreu e foi
et resurrexit tertia die secundum Scripturas, et as- sepultado; e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as
cendit in caelum, sedet ad dexteram Patris, et ite- Escrituras, subiu ao céu, está sentado à direita do
rum venturus est cum gloria iudicare vivos et mor- Pai e de novo virá na glória para julgar os vivos e
tuos, cuius regni non erit finis; et in Spiritum Sanc- os mortos; cujo reino não terá fim; e no Espírito
tum Dominum et vivificantem, qui ex Patre Filioque Santo, Senhor e que dá vida, que procede do Pai e
procedit; qui cum Patre et Filio simul adoratur et do Filho, que com o Pai e o Filho é adorado e glo-
conglorificatur; qui locutus est per Prophetas; et rificado, e falou pelos profetas; e na Igreja una, santa,
unam sanctam catholicam et apostolicam Ecclesiam. católica e apostólica. Professo um só batismo para
Confiteor unum baptisma in remissionem peccato- a remissão dos pecados, e espero a ressurreição dos
rum, et exspecto resurrectionem mortuorum, et vi- mortos e a vida do mundo vindouro. Amém.
tam venturi saeculi. Amen.
1863 Apostolicas et ecclesiasticas t r a d i t i o n e s reli- Firmemente aceito e abraço as t r a d i ç õ e s apos-
quasque eiusdem Ecclesiae observationes et c o n s - tólicas e eclesiásticas e as demais observâncias e
t i t u t i o n e s firmissime admitto et amplector. Item c o n s t i t u i ç õ e s da mesma Igreja. Igualmente acei-
sacram S c r i p t u r a m iuxta eum sensum, quem te- to a Sagrada E s c r i t u r a segundo o sentido que
nuit et tenet sancta mater Ecclesia, cuius est iudicare manteve e mantém a santa mãe Igreja, a quem com-
de vero sensu et interpretatione sacrarum Scriptura- pete julgar sobre o verdadeiro sentido e interpreta-
rum, admitto, nec eam umquam, nisi iuxta unani- ção das sagradas Escrituras, e nunca a aceitarei ou
mem consensum Patrum accipiam et interpretabor. interpretarei a não ser segundo o unânime consen-
so dos Padres.
1864 Profiteor quoque septem esse vere et proprie s a - Professo também que os s a c r a m e n t o s da Nova
c r a m e n t a Novae Legis a Iesu Christo Domino Lei, no sentido verdadeiro e próprio, são sete, ins-
nostro instituta atque ad salutem humani generis, tituídos por nosso Senhor Jesus Cristo e necessá-
licet non omnia singulis, necessaria, scilicet baptis- rios à salvação do gênero humano – embora nem
mum, confirmationem, Eucharistiam, paenitentiam, todos <necessários> para todos –, a saber: o batis-
extremam unctionem, ordinem et matrimonium, mo, a confirmação, a Eucaristia, a penitência, a
illaque gratiam conferre, et ex his baptismum, con- extrema-unção, a ordem e o matrimônio, e que eles
firmationem et ordinem sine sacrilegio reiterari non conferem a graça; dentre eles, batismo, confirma-
posse. Receptos quoque et approbatos Ecclesiae ca- ção e ordem não podem ser reiterados sem sacrilé-
tholicae ritus in supradictorum omnium sacramen- gio. Recebo e aceito também os ritos recebidos e
torum solemni administratione recipio et admitto. aprovados da Igreja católica na solene administra-
ção de todos os sacramentos acima mencionados.
1865 Omnia et singula, quae de peccato originali et de Abraço e aceito tudo e cada ponto singularmen-
i u s t i fi c a t i o n e in sacrosancta Tridentina Synodo te que no sacrossanto Concílio de Trento foi defi-
definita et declarata fuerunt, amplector et recipio. nido e declarado acerca do pecado original e da
justificação.
1866 Profiteor pariter in M i s s a offerri Deo verum, Professo, igualmente, que na M i s s a é oferecido
proprium et propitiatorium sacrificium pro vivis et a Deus, pelos vivos e pelos defuntos, um sacrifício
defunctis, atque in sanctissimo E u c h a r i s t i a e sa- verdadeiro, próprio e propiciatório, e que no santís-
cramento esse vere, realiter et substantialiter cor- simo sacramento da E u c a r i s t i a está verdadeira,
466
pus et sanguinem una cum anima et divinitate Do- real e substancialmente o corpo e o sangue, junta-
mini nostri Iesu Christi, fierique conversionem to- mente com a alma e a divindade de nosso Senhor
tius substantiae panis in corpus, et totius substiantiae Jesus Cristo; e que acontece a transformação de toda
vini in sanguinem, quam conversionem catholica Ec- a substância do pão no corpo e de toda a substância
clesia transsubstantiationem appellat. Fateor etiam do vinho no sangue, transformação que a Igreja
sub altera tantum specie totum atque integrum Chris- católica chama transubstanciação. Confesso também
tum verumque sacramentum sumi. que sob uma só espécie se recebe o Cristo comple-
to e íntegro e o verdadeiro sacramento.
Constanter teneo p u r g a t o r i u m esse, animas- Sustento com constância que existe o p u r g a t ó - 1867
que ibi detentas fidelium suffragiis iuvari; simili- r i o e que as almas ali prisioneiras são ajudadas
ter et S a n c t o s una cum Christo regnantes v e n e - pelos sufrágios dos fiéis; e semelhantemente que os
r a n d o s atque invocandos esse, eosque orationes S a n t o s , que reinam com Cristo, devem ser v e -
Deo pro nobis offerre, atque eorum reliquias esse n e r a d o s e invocados, e que eles oferecem ora-
venerandas. ções a Deus por nós, e que suas relíquias devem ser
veneradas.
Firmiter assero, i m a g i n e s Christi ac Deiparae Declaro firmemente que convém ter e guardar
semper Virginis, nec non aliorum Sanctorum, ha- i m a g e n s de Cristo e da Deípara sempre Virgem,
bendas et retinendas esse, atque eis debitum hono- como também dos outros Santos, e que lhes sejam
rem ac venerationem impertiendam; i n d u l g e n - tributadas honra e veneração; afirmo também que
t i a r u m etiam potestatem a Christo in Ecclesia por Cristo foi deixado na Igreja o poder das i n -
relictam fuisse, illarumque usum christiano populo d u l g ê n c i a s , e que o uso das mesmas é imensa-
maxime salutarem esse affirmo. mente salutar ao povo cristão.
Sanctam catholicam et apostolicam R o m a n a m Reconheço a santa, católica e apostólica I g r e j a 1868
E c c l e s i a m omnium ecclesiarum matrem et ma- r o m a n a como mãe e mestra de todas as Igrejas;
gistram agnosco; Romanoque Pontifici, beati Petri prometo e juro verdadeira obediência ao Romano
Apostolorum principis successori ac Iesu Christi Pontífice, sucessor do bem-aventurado Pedro, prín-
vicario, veram oboedientiam spondeo ac iuro. cipe dos Apóstolos e vigário de Jesus Cristo.
Cetera item omnia a sacris canonibus et oecume- Igualmente acolho e professo, sem sombra de 1869
nicis Conciliis, ac praecipue a sacrosancta Tridenti- dúvida, tudo que pelos sagrados cânones e pelos
na Synodo [et ab oecumenico Concilio Vaticano], Concílios ecumênicos, e principalmente pelo sacros-
tradita, definita ac declarata [praesertim de Romani santo Concílio de Trento [e pelo Concílio ecumêni-
Pontificis Primatu et infallibili magisterio], indubi- co Vaticano], foi transmitido, definido e declarado
tanter recipio atque profiteor; simulque contraria [especialmente a respeito do primado e do magisté-
omnia, atque haereses quascumque ab Ecclesia dam- rio infalível do Romano Pontífice]; e, ao mesmo
natas et reiectas et anathematizatas ego pariter dam- tempo, igualmente condeno, rejeito e anatematizo
no, reicio et anathematizo. tudo o contrário e quaisquer heresias condenadas,
rejeitadas e anatematizadas pela Igreja.
Hanc veram catholicam fidem, extra quam nemo Esta verdadeira fé católica, fora da qual ninguém 1870
salvus esse potest, quam in praesenti sponte profi- pode ser salvo, e que neste momento espontanea-
teor et veraciter teneo, eandem integram et imma- mente professo e sustento segundo a verdade, eu,
culatam usque ad extremum vitae spiritum cons- N.N., prometo, voto e juro, com a ajuda de Deus,
tantissime, Deo adiuvante, retinere et confiteri at- guardá-la e confessá-la integra e imaculada, com
que a meis subditis vel illis, quorum cura ad me in toda a constância, até o último sopro de vida; e
munere meo spectabit, teneri, doceri et praedicari, <prometo> cuidar, quanto depender de mim, que
quantum in me erit, curaturum, ego idem N. spon- ela seja sustentada, ensinada e pregada também por
deo, voveo ac iuro: sic me Deus adiuvet, et haec meus súditos ou por aqueles que em meu ministé-
sancta Dei Evangelia. rio me forem confiados: assim me ajudem Deus e
estes santos Evangelhos de Deus.
[Documento doutrinal de Paulo IV, não pertencente ao corpo dos documentos tridentinos:]
467
468
celeberrimi in Lovaniensi Academia theologi opera, … studio A.P. Theologi [pseudônimo] (Köln [= indicação errada;
de fato: Amsterdam] 1696), pars 2: Baiana 49-57 / DuPlA 3/II (1728) 109b-114b.
As proposições encontram-se na bula original sem numeração; os teólogos as dividiram em 76 ou 79 proposições.
A divisão em 76 proposições foi retomada do próprio Baio por Lensaeus e Roberto Belarmino (que refutou Baio), mas
a divisão em 79 proposições é mais corriqueira; por isso aparece aqui como numeração principal, sendo a de Baio
acrescentada [e n t r e c o l c h e t e s ].
A indicação das fontes que se segue baseia-se no estudo de Édouard van Eijl em que ele investigou o texto da bula,
em RHE 48 (1953) 719-776. Mas há proposições cujas fontes não puderam ser identificadas por van Eijl, por ainda não
estarem publicadas por escrito (assim nas propos. 65-79) ou por se tratar de conclusões livremente formuladas a partir
das premissas de Baio (propos. 61-64).
A’ = Baius, Annotationes in Sorbonae censuram (ed. G. Gerberon, Michaelis Baii … opera [como acima na
referência da bula], pars 2: Baiana 8-32 / H. Lennerz, Opuscula duo de doctrina Baiana, in: TD ser. theol.
24 [Roma 1938] 4-41) [ad propos. 66 67 72 73; cf. também 18 25 27s 32s 39].
B’ = De libero hominis arbitrio eiusque potestate liber 1 (Lovaina 1563) (ed., como as demais obras de Baio: G.
Gerberon, l.c. pars 1), 74-88 [ad 39-41; cf. 37 66].
Ca’, Cb’ = De iustitia [Ca’] et iustificatione [Cb’] libri 2 (Lovaina 1563), 103-146; 147-152 [ad 42s 44].
D’ = De sacrificio liber 1 (Lovaina 1563), 153-167 [ad 45].
E’ = De operum meritis libri 2 (Lovaina 1564/65), 25-44 [ad 1-20].
Fa’, Fb’ = De prima hominis iustitia [Fa’] et virtutibus impiorum [Fb’] libri 2 (Lovaina 1564/65), 45-73 [ad 21-24 26 25 27-30].
G’ = De charitate (Lovaina 1566), 89-102 [ad 31-38].
H’ = De peccato originis (Lovaina 1566), 1-24 [ad 46-58].
J’ = De indulgentiis (Lovaina 1566), 196-204 [ad 59s].
K’ = De oratione pro defunctis (Lovaina 1566), 205-211 [ad 56-58].
*1901 1 E’ I 4.
*1902 1 E’ II 2, tit.
*1903 1 E’ I 1 3 4.
*1904 1 E’ I 2.
*1905 1 E’ I 2.
*1906 1 E’ I 3; cf. 2 9.
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1907 7. Primi hominis integri merita fuerunt primae 7. Os méritos do primeiro homem, <ainda> ínte-
creationis munera; sed iuxta modum loquendi Scrip- gro, foram os dons da primeira criação; mas, segun-
turae sacrae non recte vocantur gratia; quo fit, ut do o modo de falar da Sagrada Escritura, não devem
tantum merita, non etiam gratia, debeant nuncupari1. ser chamados graça; daí se segue que devem ser
chamados unicamente méritos, não também graça1.
1908 8. In redemptis per gratiam Christi nullum inve- 8. Nos remidos pela graça de Cristo, não se pode
niri potest bonum meritum, quod non sit gratis in- encontrar nenhum mérito bom que não tenha sido
digno collatum1. conferido gratuitamente a um indigno1.
1909 9. Dona concessa homini integro et angelo, forsi- 9. Os dons concedidos ao homem integro e ao
tan non improbanda ratione, possunt dici gratia; sed anjo talvez podem ser chamados graça de modo não
quia, secundum usum Scripturae, nomine gratiae ea reprovável; mas, já que, segundo o uso da Escritura,
tantum munera intelliguntur, quae per Iesum male sob o nome de graça se entendem somente os dons
merentibus et indignis conferuntur, ideo neque conferidos por Jesus <Cristo> aos não merecedores
merita neque merces, quae illis redditur, gratia dici e aos indignos, por esta razão, nem os méritos nem
debet1. a recompensa que lhes é dada <ao homem íntegro e
ao anjo> devem ser chamados graça1.
1910 10. Solutionem poenae temporalis, quae peccato 10. A quitação da pena temporal que muitas ve-
dimisso saepe remanet, et corporis resurrectionem zes permanece depois do perdão do pecado e a res-
proprie nonnisi meritis Christi adscribendam esse1. surreição do corpo devem ser propriamente atribuí-
dos somente aos méritos de Cristo1.
1911 11. Quod pie et iuste in hac vita mortali usque in 11. Que, tendo vivido na piedade e na justiça nes-
finem vitae conversati vitam consequimur aeternam, ta vida mortal até o fim da vida, consigamos a
id non proprie gratiae Dei, sed ordinationi naturali <vida> eterna, não deve ser atribuído propriamente
statim initio creationis constitutae iusto Dei iudicio à graça de Deus, mas a um ordenamento natural
deputandum est; neque in hac retributione bonorum estabelecido, por justo juízo de Deus, logo no iní-
ad Christi meritum respicitur, sed tantum ad pri- cio da criação; e nesta retribuição dos bons não se
mam institutionem generis humani, in qua lege consideram os méritos de Cristo, mas somente a
naturali constitutum est, ut iusto Dei iudicio oboe- primeira constituição do gênero humano, na qual
dientiae mandatorum vita aeterna reddatur1. pela lei natural foi estabelecido que, por justo juízo
de Deus, a vida eterna seja concedida à obediência
dos mandamentos1.
1912 12. Pelagii sententia est: opus bonum, citra gratiam 12. É opinião de Pelágio: a boa obra feita fora da
adoptionis factum, non est regni caelestis meritorium1. graça de adoção não é merecedora do reino dos céus1.
1913 13. Opera bona, a filiis adoptionis facta, non acci- 13. As boas obras feitas pelos filhos adotivos não
piunt rationem meriti ex eo, quod fiunt per spiritum adquirem caráter de mérito pelo fato de serem fei-
adoptionis inhabitantem corda filiorum Dei, sed tas em virtude do espírito de adoção que habita nos
tantum ex eo, quod sunt conformia legi, quodque corações dos filhos de Deus, mas só pelo fato de
per ea praestatur oboedientia legi1. serem conformes à lei e porque, por elas, se presta
obediência à lei1.
1914 14. Opera bona iustorum non accipiunt in die 14. As boas obras dos justos, no dia do juízo fi-
iudicii extremi ampliorem mercedem, quam iusto nal, não recebem prêmio maior do que merecem
Dei iudicio mererentur accipere1. receber pelo justo juízo de Deus1.
*1907 1 E’ I 4.
*1908 1 E’ I 4.
*1909 1 E’ I 4.
*1910 1 E’ I 9.
*1911 1 E’ I 9.
*1912 1 E’ II 4, tit.
*1913 1 E’ II 1; cf. 7.
*1914 1 E’ II 9.
470
15. Docet rationem meriti non consistere in eo, 15. Ele ensina: A natureza do mérito não consiste 1915
quod, qui bene operatur, habeat gratiam et inhabi- em que aquele que age bem tenha a graça e o Espírito
tantem Spiritum Sanctum, sed in eo solum, quod Santo habitando nele, mas somente em que obedece
oboedit divinae legi, quam sententiam saepius repetit à Lei divina1. Esta opinião, ele a repete com freqüên-
et multis rationibus probat fere toto libro1. cia e a apresenta de muitas maneiras no livro inteiro.
16. In eodem libro saepius repetit quod non est 16. No mesmo livro, repete com freqüência que 1916
vera legis oboedientia, quae fit sine caritate1. não é verdadeira obediência à Lei a que se realiza
sem caridade1.
17. Dicit sentire cum Pelagio, qui dicunt, esse 17. Ele diz que pensam como Pelágio os que di- 1917
necessarium ad rationem meriti, ut homo per gra- zem que à natureza do mérito pertence necessaria-
tiam adoptionis sublimetur ad statum deificum1. mente que o homem seja elevado pela graça da
adoção ao estado deífico1.
18. Dicit opera catechumenorum, ut fidem et 18. Ele diz: As obras dos catecúmenos, como 1918
paenitentiam ante remissionem peccatorum factam, sejam a fé e a penitência feita antes da remissão
esse vitae aeternae merita; quam vitam non conse- dos pecados, são merecimentos para a vida eterna;
quentur catechumeni, nisi prius praecedentium mas os catecúmenos não conseguirão esta vida, se
delictorum impedimenta tollantur1. antes não forem afastados os impedimentos das
culpas precedentes1.
19. Videtur insinuare quod opera iustitiae et tem- 19. Ele parece insinuar que obras de justiça e tem- 1919
perantiae, quae Christus fecit, ex dignitate perso- perança realizadas por Cristo não adquiriram valor
nae operantis non traxerunt maiorem valorem1. maior pela dignidade da pessoa que as fazia1.
20. Nullum est peccatum ex natura sua veniale, 20. Nenhum pecado é venial por sua natureza, 1920
sed omne peccatum meretur poenam aeternam1. mas todo pecado merece castigo eterno1.
21. Humanae naturae sublimatio et exaltatio in 21. A elevação da natureza humana e sua exalta- 1921
consortium divinae naturae debita fuit integritati ção à participação da natureza divina foi devida à
primae condicionis, et proinde naturalis dicenda est, integridade da primeira condição e, por isso, deve-
et non supernaturalis1. se dizer que é natural e não sobrenatural1.
22. Cum Pelagio sentiunt, qui textum Apostoli ad 22. Pensam como Pelágio os que compreendem 1922
Romanos secundo: “Gentes, quae legem non habent, como referido aos gentios que não têm a graça da
naturaliter ea, quae legis sunt, faciunt” [Rm 2,14] fé o texto do Apóstolo aos Romanos no <capítulo>
intelligunt de gentibus fidei gratiam non habentibus1. segundo: “Os gentios, que não têm a lei, fazem
naturalmente as coisas que são da lei” [Rm 2,14]1.
23. Absurda est sententia eorum, qui dicunt, ho- 23. É absurda a opinião daqueles que dizem que 1923
minem ab initio, dono quodam supernaturali et gra- o homem foi, desde o início, elevado acima da con-
tuito, supra condicionem naturae suae fuisse exal- dição da sua natureza, por certo dom sobrenatural e
tatum, ut fide, spe et caritate Deum supernaturaliter gratuito, para que assim honrasse a Deus sobrena-
coleret1. turalmente pela fé, esperança e caridade1.
24. A vanis et otiosis hominibus, secundum insi- 24. Por homens frívolos e desocupados, em con- 1924
pientiam philosophorum, excogitata est sententia, formidade com a estupidez dos filósofos, foi inven-
hominem ab initio sic constitutum, ut per dona na- tada a opinião segundo a qual o homem desde o iní-
turae superaddita fuerit largitate conditoris sublima- cio foi constituído de modo tal que, por meio de dons
*1915 1 E’ II 1.
*1916 1 E’ II 1.
*1917 1 E’ II 4.
*1918 1 E’ II 6; cf. A’ propos. 11.
*1919 1 E’ II 7.
*1920 1 E’ II 8.
*1921 1 Fa’ 1 4 5 6.
*1922 1 Fa’ 6.
*1923 1 Fa’ 7.
471
tus et ad Dei filium adoptatus, et ad Pelagianismum acrescentados à natureza, fosse, pela generosidade
reicienda est illa sententia1. do Criador, elevado e adotado como filho de Deus;
e esta opinião deve ser remetida ao pelagianismo1.
1925 25. Omnia opera infidelium sunt peccata, [26.] et 25. Todas as obras dos infiéis são pecados [26.]
philosophorum virtutes sunt vitia1. e as virtudes dos filósofos são vícios1.
1926 26. [27.] Integritas primae creationis non fuit 26. [27.] A integridade da primeira criação não
indebita humanae naturae exaltatio, sed naturalis foi uma exaltação indevida da natureza humana, mas
eius condicio, quam sententiam repetit et probat per sua condição natural; e esta opinião, ele a repete e
plura capitula1. demonstra em diversos capítulos1.
1927 27. [28.] Liberum arbitrium, sine gratiae Dei 27. [28.] O livre-arbítrio, sem o auxílio da graça
adiutorio, nonnisi ad peccandum valet1. de Deus, só vale para pecar1.
1928 28. [29.] Pelagianus est error, dicere, quod libe- 28. [29.] É um erro pelagiano afirmar que o livre
rum arbitrium valet ad ullum peccatum vitandum1. arbítrio tem força para evitar qualquer pecado1.
1929 29. [30A.] Non solum “fures” ii sunt et “latrones”, 29. [30A.] “Ladrões” e “assaltantes” não são so-
qui Christum viam et “ostium” veritatis et vitae mente aqueles que negam que Cristo é o caminho e
negant, sed etiam quicunque “aliunde” quam per a “porta” da verdade e da vida, mas também os que
ipsum in viam iustitiae (hoc est ad aliquam iusti- dizem que se pode “chegar” ao caminho da justiça
tiam) “conscendi” [cf. Io 10,1] posse dicunt1, (isto é, chegar a alguma justiça) “por outra parte”
que não por ele [cf. Jo 10,1]1,
1930 30. [30B.] aut tentationi ulli, sine gratiae ipsius 30. [30B.] ou que, sem o auxílio da sua graça, o
adiutorio, resistere hominem posse, sic ut in eam homem é capaz de resistir a qualquer tentação, de
non inducatur aut ab ea non superetur1. forma que não seja nela induzido, nem seja por
ela vencido1.
1931 31. Caritas perfecta et sincera, quae est ex “corde 31. A caridade perfeita e sincera, que vem “de
puro et conscientia bona et fide non ficta” [1 Tim um coração puro, de uma boa consciência e de uma
1,5], tam in catechumenis quam in paenitentibus po- fé não simulada” [1Tm 1,5] pode encontrar-se tanto
test esse sine remissione peccatorum1. nos catecúmenos como nos penitentes, sem a re-
missão dos pecados1.
1932 32. Caritas illa, quae est plenitudo legis, non est 32. A caridade, que é a plenitude da lei, nem
semper coniuncta cum remissione peccatorum1. sempre está unida à remissão dos pecados1.
1933 33. Catechumenus iuste, recte et sancte vivit, et 33. O catecúmeno vive de modo justo, reto e santo,
mandata Dei observat, ac legem implet per carita- observa os mandamentos de Deus e cumpre a lei pela
tem, ante obtentam remissionem peccatorum, quae caridade antes de obter a remissão dos pecados, que
in baptismi lavacro demum percipitur1. se recebe pela primeira vez no banho do batismo1.
1934 34. Distinctio illa duplicis amoris, naturalis vide- 34. A distinção de um duplo amor, a saber: um
licet, quo Deus amatur ut auctor naturae, et gratuiti, natural, pelo qual Deus é amado como autor da
quo Deus amatur ut beatificator, vana est et com- natureza, e outro gratuito, pelo qual Deus é amado
mentitia et ad illudendum sacris Litteris et plurimis como doador da bem-aventurança, é vã e imaginá-
veterum testimoniis excogitata1. ria, e inventada para burlar as sagradas Escrituras e
os múltiplos testemunhos dos antigos1.
*1924 1 Fa’ 8.
*1925 1 Fa’ 5 6; A’ propos. 7.
*1926 1 Fa’ 4, tit.
*1927 1 Fb’ 8, tit.; A’ propos. 4, 1ª parte; propos. 7.
*1928 1 Fb’ 8; A’ propos. 7.
*1929 1 Fb’ 9.
*1930 1 Fb’ 9.
*1931 1 G’ 7.
*1932 1 G’ 7; cf. A’ propos. 10.
*1933 1 G’ 7; cf. A’ propos. 11.
*1934 1 G’ 4.
472
35. Omne, quod agit peccator vel servus peccati, 35. Tudo o que faz um pecador ou um escravo do 1935
peccatum est1. pecado, é pecado1.
36. Amor naturalis, qui ex viribus naturae exori- 36. O amor natural, que provém das forças da 1936
tur, ex sola philosophia per elationem praesumptio- natureza, por alguns doutores é sustentado a partir
nis humanae, cum iniuria crucis Christi defenditur unicamente da filosofia, pela exaltação da presun-
a nonnullis doctoribus1. ção humana, com ofensa da cruz de Cristo1.
37. Cum Pelagio sentit, qui boni aliquid natura- 37. Pensa como Pelágio quem admite algum bem 1937
lis, hoc est, quod ex naturae solis viribus ortum ducit, natural, isto é, que traga sua origem só das forças
agnoscit1. da natureza1.
38. Omnis amor creaturae rationalis aut vitiosa 38. Todo amor da criatura racional ou é a cobiça 1938
est cupiditas, qua mundus diligitur, quae a Iohanne viciosa com a qual se ama o mundo, proibida por
prohibetur, aut laudabilis illa caritas, qua per Spiri- João, ou é aquela caridade louvável com que se ama
tum Sanctum in corde diffusa [cf. Rm 5,5] Deus a Deus, infundida no coração pelo Espírito Santo
amatur1. [cf. Rm 5,5]1.
39. Quod voluntarie fit, etiam si necessario fiat, 39. O que se faz voluntariamente, também se por 1939
libere tamen fit1. necessidade, faz-se, contudo, livremente1.
40. In omnibus suis actibus peccator servit domi- 40. Em todos os seus atos o pecador serve à co- 1940
nanti cupiditati1. biça que o domina1.
41. Is libertatis modus, qui est a necessitate, sub 41. Sob o nome de liberdade não se encontra, nas 1941
libertatis nomine non reperitur in Scripturis, sed Escrituras, a forma de liberdade que significa <li-
solum nomen libertatis a peccato1. vre> da necessidade, mas somente o nome de liber-
dade do pecado1.
42. Iustitia, qua iustificatur per fidem impius, 42. A justiça, pela qual o ímpio é justificado pela 1942
consistit formaliter in oboedientia mandatorum, quae fé, consiste formalmente na obediência aos man-
est operum iustitia, non autem in gratia aliqua ani- damentos que é a justiça das obras, e não numa
mae infusa, qua adoptatur homo in filium Dei et graça infusa na alma pela qual o homem é adotado
secundum interiorem hominem renovatur ac divi- como filho de Deus, renovando-se segundo o ho-
nae naturae consors efficitur, ut, sic per Spiritum mem interior e tornando-se partícipe da natureza
Sanctum renovatus, deinceps bene vivere et Dei divina, para que, renovado assim pelo Espírito San-
mandatis oboedire possit1. to, possa daí em diante viver bem e obedecer aos
mandamentos de Deus1.
43. In hominibus paenitentibus ante sacramentum 43. Nos homens penitentes, antes do sacramento 1943
absolutionis et in catechumenis ante baptismum est da absolvição, e nos catecúmenos, antes do batis-
vera iustificatio, separata tamen a remissione pecca- mo, há verdadeira justificação, separada porém da
torum1. remissão dos pecados1.
44. Operibus plerisque, quae a fidelibus fiunt, 44. A maior parte das obras feitas pelos fiéis por 1944
ut mandatis Dei pareant, cuiusmodi sunt oboedi- obediência aos mandamentos de Deus, tais como
re parentibus, depositum reddere, ab homicidio, obedecer aos pais, restituir um depósito, abster-se
a furto, a fornicatione abstinere, iustificantur qui- do homicídio, do furto e da fornicação, certamente
dem homines, quia sunt legis oboedientia et vera justificam os homens, porque são obediência à lei e
*1935 1 Conclui-se de G’ 5; Belarmino relata que Baio não reconheceu como sua esta propos.
*1936 1 G’ 5.
*1937 1 Apenas segunso o sentido: G’ 5; cf. B’ 10.
*1938 1 G’ 6.
*1939 1 B’ 7; cf. A’ propos. 8.
*1940 1 B’ 6. Belarmino relata que Baio não reconheceu como sua esta propos.
*1941 1 B’ 7.
*1942 1 Ca’ 5.
*1943 1 Ca’ 7; cf. 6.
473
legis iustitia; non tamen iis obtinent incrementa verdadeira justiça da lei; contudo, não lhes obtêm
virtutum1. nenhum aumento das virtudes1.
1945 45. Sacrificium Missae non alia ratione est sacri- 45. O sacrifício da Missa não é sacrifício por outro
ficium, quam generali illa, qua “omne opus, quod razão senão por esta geral: “Toda obra que é feita
fit, ut sancta societate Deo homo inhaereat”1. para que o homem adira a Deus em santa sociedade”1.
1946 46. [46A.] Ad rationem et definitionem peccati 46. [46A.] À natureza e definição de pecado não
non pertinet voluntarium, nec definitionis quaestio pertence o <caráter> voluntário, e <saber> se todo
est, sed causae et originis, utrum omne peccatum pecado deve ser voluntário não é uma questão de
debeat esse voluntarium1. definição, mas de causa e origem1.
1947 47. [46B.] Unde peccatum originis vere habet ra- 47. [46B.] Segue-se que o pecado original tem
tionem peccati sine ulla relatione ac respectu ad natureza de pecado sem nenhuma relação e refe-
voluntatem, a qua originem habuit1. rência à vontade da qual teve origem1.
1948 48. [47A.] Peccatum originis est habituali parvu- 48. [47A.] O pecado original é voluntário pela
li voluntate voluntarium, et habitualiter dominatur vontade habitual do recém-nascido, e habitualmen-
parvulo eo quod non gerit contrarium voluntatis te o domina, porque o recém-nascido não produz
arbitrium1. um ato de vontade contrário1.
1949 49. [47B.] Et ex habituali voluntate dominante 49. [47B.] E, a partir da vontade habitual domi-
fit, ut parvulus decedens sine regenerationis sacra- nante, acontece que o recém-nascido que morre sem
mento, quando usum rationis consecutus erit, ac- o sacramento da regeneração, no dia em que alcan-
tualiter Deum odio habeat, Deum blasphemet et legi çar o uso da razão odiará atualmente a Deus, blas-
Dei repugnet1. femará contra Deus e se oporá à lei de Deus1.
1950 50. [48.] Prava desideria, quibus ratio non con- 50. [48.] Os maus desejos aos quais a razão não
sentit, et quae homo invitus patitur, sunt prohibita consente e que o homem experimenta contra sua
praecepto: “Non concupisces” [Ex 20,17]1. vontade são proibidos pelo preceito: “Não cobiça-
rás” [cf. Ex 20,17]1.
1951 51. [49.] Concupiscentia sive lex membrorum, et 51. [49.] A concupiscência, ou lei dos membros,
prava eius desideria, quae inviti sentiunt homines, e seus maus desejos que os homens sentem contra
sunt vera legis inoboedientia1. sua vontade, são verdadeira desobediência à lei1.
1952 52. [50.] Omne scelus eius est condicionis, ut 52. [50.] Toda ação má é de tal sorte que pode
suum auctorem et omnes posteros eo modo inficere contaminar seu autor e todos os seus descendentes,
possit, quo infecit prima transgressio1. do mesmo modo como os contaminou a primeira
transgressão1.
1953 53. [51.] Quantum est ex vi transgressionis, tan- 53. [51.] No que diz respeito à força da trans-
tum meritorum malorum a generante contrahunt, qui gressão, os que nascem com defeitos menores con-
cum minoribus nascuntur vitiis, quam qui cum traem dos genitores tanto demérito quanto os que
maioribus1. nascem com <defeitos> maiores1.
*1944 1 Cb’ 5.
*1945 1 D’ 5; cf. 2 e 6. – Cita-se Agostinho, De civitate Dei X 6 (B. Dombart – A. Kalb: CpChL 47 [1955] 2781s / CSEL 40,
45425s / PL 41, 283).
*1946 1 H’ 7.
*1947 1 H’ 7.
*1948 1 H’ 7; cf. 10.
*1949 1 H’ 7.
*1950 1 H’ 11.
*1951 1 H’ 15; cf. 11 16.
*1952 1 H’ 13.
*1953 1 H’ 6.
474
54. [52.] Definitiva haec sententia, Deum homini 54. [52.] A proposição apodíctica: “Deus não 1954
nihil impossibile praecepisse, falso tribuitur Augus- ordenou ao homem nada impossível” é erroneamen-
tino, cum Pelagii sit1. te atribuída a Agostinho; ela é de Pelágio1.
55. [53.] Deus non potuisset ab initio talem crea- 55. [53.] Deus não teria podido criar no princípio 1955
re hominem, qualis nunc nascitur1. o homem tal como nasce agora1.
56. [54A.] In peccato duo sunt, actus et reatus; 56. [54A.] No pecado há dois aspectos: o ato e a 1956
transeunte autem actu, nihil manet, nisi reatus sive condição de réu; mas, passado o ato, nada perma-
obligatio ad poenam1. nece senão a condição de réu, ou seja, a obrigação
de sofrer uma pena1.
57. [54B.] Unde in sacramento baptismi aut sa- 57. [54B.] Assim, no sacramento do batismo ou 1957
cerdotis absolutione proprie reatus peccati dumta- na absolvição do sacerdote só é tirada propriamen-
xat tollitur, et ministerium sacerdotum solum liberat te a condição de réu pelo pecado, e o ministério do
a reatu1. sacerdote só liberta da condição de réu1.
58. [55.] Peccator paenitens non vivificatur mi- 58. [55.] O pecador penitente não é vivificado 1958
nisterio sacerdotis absolventis, sed a solo Deo, qui, pelo ministério do sacerdote que o absolve, mas
paenitentiam suggerens et inspirans, vivificat eum somente por Deus, que, sugerindo e inspirando a
et resuscitat: ministerio autem sacerdotis solum rea- penitência, o vivifica e ressuscita; pelo ministério
tus tollitur1. do sacerdote é tirada somente a condição de réu1.
59. [56.] Quando per eleemosynas aliaque paeni- 59. [56.] Quando nós, com esmolas e outras obras 1959
tentiae opera Deo satisfacimus pro poenis tempora- de penitência, satisfazemos a Deus pelas penas tem-
libus, non dignum pretium Deo pro peccatis nostris porais, não oferecemos a Deus uma compensação
offerimus, sicut quidam errantes autumant (nam digna pelos nossos pecados, como alguns afirmam
alioqui essemus, saltem aliqua ex parte, redempto- erroneamente (pois de outro modo seríamos, ao
res); sed aliquid facimus, cuius intuitu Christi satis- menos em parte, redentores); mas fazemos algo em
factio nobis applicatur et communicatur1. vista de que é aplicada e comunicada a nós a satis-
fação de Cristo1.
60. [57.] Per passiones Sanctorum in indulgen- 60. [57.] Pelos sofrimentos dos santos, que as in- 1960
tiis communicatas non proprie redimuntur nostra dulgências nos comunicam, nossos delitos não são
delicta; sed per communionem caritatis nobis eo- propriamente remidos; mas, pela comunhão da ca-
rum passiones impertiuntur, ut digni simus, qui ridade, são aplicadas a nós seus sofrimentos, para
pretio sanguinis Christi a poenis pro peccatis debitis que sejamos dignos de ser libertados das penas de-
liberemur1. vidas aos pecados, pelo preço do sangue de Cristo1.
*1954 1 H’ 12. – Esta propos. ocorre também em Agostinho, De peccatorum meritis et remissione et de baptismo parvulorum
II 6, n. 7: “Por causa destes e de inumeráveis outros testemunhos semelhantes, não posso duvidar que Deus não
ordenou nada de impossível ao ser humano, e que nada é impossível a Deus para ajudar e contribuir para que o que
ele ordena seja feito. E por isso, o homem, se quiser, pode viver sem pecado, com a ajuda de Deus” (“His atque
huismodi aliis innumerabilibus testimoniis dubitare non possum, nec Deum aliquid impossibile homini praecepisse
nec Deo ad opitulandum et adiuvandum, quo fiat quod iubet, impossibile aliquid esse. Ac per hoc potest homo, si velit,
esse sine peccato adiutus a Deo”: CSEL 60, 7814-18 / PL 44, 155). Ora, Agostinho acrescenta, c. 7, n. 8: “Mas, quando
se pergunta se o que pus em segundo lugar é realmente assim, não creio que o seja” (“Si autem, quod secundo loco
posueram, quaeratur, utrum sit, esse non credo”). Baio pensava que a dúvida se referia à frase inteira e não somente
à segunda parte, e que, portanto, ela teria sido formulada no sentido de Pelágio. – Outra frase de Agostinho ainda foi
explicada pelo próprio concílio de Trento selbst (sessão 6ª, cap. 11: cf. *1536) em sentido contrário ao de Baio, a saber
De natura et gratia 43, n. 50: “Deus nada ordena de impossível, mas ao ordenar convida que faças o que podes e a
pedir o que não consegues fazer” (“Non igitur Deus impossibilia iubet, sed iubendo admonet et facere quod possis et
petere quod non possis”: CSEL 60, 27020-22 / PL 44, 271).
*1955 1 H’ 5.
*1956 1 H’ 14; K’ 4.
*1957 1 H’ 16; cf. K’ 4.
*1958 1 H’ 16; cf. K’ 4.
*1959 1 J’ 8.
*1960 1 J’ 8.
475
1961 61. [58.] Celebris illa doctorum distinctio, divi- 61. [58.] É falsa e deve ser rejeitada a famosa
nae legis mandata bifariam impleri, altero modo, distinção dos doutores segundo a qual os manda-
quantum ad praeceptorum operum substantiam tan- mentos da lei divina podem ser cumpridos de dois
tum, altero, quantum ad certum quendam modum, modos: o primeiro, só quanto à substância das obras
videlicet, secundum quem valeant operantem per- prescritas, o outro, quanto a certo modo que as tor-
ducere ad regnum aeternum (hoc est ad modum na capazes de conduzir o agente ao reino eterno
meritorium), commentitia est et explodenda. (isto é, de modo meritório).
1962 62. [59.] Illa quoque distinctio, qua opus dicitur 62. [59.] Também deve ser tida por rejeitável a
bifariam bonum, vel quia ex obiecto et omnibus distinção segundo a qual uma obra é chamada boa
circumstantiis rectum est et bonum (quod moraliter de dois modos: ou porque é reta e boa por seu objeto
bonum appellari consuevit), vel quia est meritorium e todas as circunstâncias (o que se costumou chamar
regni aeterni, eo quod fit a vivo Christi membro per de moralmente bom), ou porque é merecedora do
Spiritum caritatis, reicienda putatur. reino eterno por ser realizada por um membro vivo
de Cristo sob a influência do Espírito de caridade.
1963 63. [60.] Similiter et illa distinctio duplicis iusti- 63. [60.] De modo semelhante também é rejeita-
tiae, alterius, quae fit per Spiritum caritatis inhabi- da, com toda a repulsão e firmeza, a distinção de
tantem, alterius, quae fit ex inspiratione quidem uma dupla justiça: a primeira, que se faz pelo Espí-
Spiritus Sancti cor ad paenitentiam excitantis, sed rito de caridade que habita em nós, a outra, que se
nondum cor inhabitantis et in eo caritatem diffun- faz sob a inspiração do Espírito Santo que leva o
dentis, qua divinae legis iustificatio impleatur, odio- coração à penitência, mas ainda não habita no cora-
sissime et pertinacissime reicitur. ção, nem difunde nele a caridade com que se pode
cumprir a justiça da lei divina.
1964 64. [61.] Denique et illa distinctio duplicis vivi- 64. [61.] Por fim, é igualmente falsa e de todo
ficationis, alterius, qua vivificatur peccator, dum ei incongruente com as Escrituras também aquela dis-
paenitentia et vitae novae propositum et inchoatio tinção de uma dupla vivificação: a primeira, pela
per Dei gratiam inspiratur, alterius, qua vivificatur, qual o pecador é vivificado quando a graça de Deus
qui vere iustificatur et palmes vivus in vite Christo lhe inspira o propósito de fazer penitência e come-
efficitur, pariter commentitia est et Scripturis mini- çar uma vida nova, a segunda, pela qual é vivifica-
me congruens. do quem é verdadeiramente justificado e se torna
um ramo vivo da videira que é Cristo.
1965 65. [62.] Non nisi Pelagiano errore admitti po- 65. [62.] Só pelo erro pelagiano pode-se admitir
test usus aliquis liberi arbitrii bonus sive non malus, um uso bom, ou seja, não mau, do livre-arbítrio, e
et gratiae Christi iniuriam facit, qui ita sentit et faz injúria à graça de Cristo quem assim pensa e
docet1. ensina1.
1966 66. [63.] Sola violentia repugnat libertati homi- 66. [63.] Só a violência repugna à liberdade na-
nis naturali1. tural do homem 1.
1967 67. [64.] Homo peccat etiam damnabiliter in eo, 67. [64.] O homem peca, inclusive de modo a ser
quod necessario facit1. condenado, naquilo que faz por necessidade1.
1968 68. [65.] Infidelitas pure negativa in his, in qui- 68. [65.] A falta de fé puramente negativa, <que
bus Christus non est praedicatus, peccatum est. existe> naqueles aos quais Cristo não foi pregado,
é pecado.
1969 69. [66.] Iustificatio impii fit formaliter per oboe- 69. [66.] A justificação do ímpio se dá, formal-
dientiam legis, non autem per occultam communi- mente, pela obediência à lei e não por oculta comu-
cationem et inspirationem gratiae, quae per eam nicação e inspiração da graça que faça os por ela
iustificatos faciat implere legem1. justificados cumprirem a lei1.
476
70. [67.] Homo exsistens in peccato mortali, sive 70. [67.] O homem que está em pecado mortal 1970
in reatu aeternae damnationis, potest habere veram ou na condição de réu de condenação eterna pode
caritatem; et caritas etiam perfecta potest consistere ter verdadeira caridade; e a caridade, mesmo per-
cum reatu aeternae damnationis. feita, pode coexistir com o estado de réu de conde-
nação eterna.
71. [68.] Per contritionem, etiam caritate perfec- 71. [68.] Pela contrição, mesmo perfeita por for- 1971
tam et cum voto suscipiendi sacramentum coniunc- ça da caridade e unida ao desejo de receber o sacra-
tam, non remittitur crimen, extra casum necessitatis mento, não é perdoado o pecado, sem a recepção
aut martyrii, sine actuali susceptione sacramenti. atual do sacramento – exceto em caso de necessi-
dade ou martírio.
72. [69.] Omnes omnino iustorum afflictiones sunt 72. [69.] Todas as aflições dos justos, sem exce- 1972
ultiones peccatorum ipsorum; unde et Iob et marty- ção, são castigos de seus próprios pecados; assim
res, quae passi sunt, propter peccata sua passi sunt1. também Jó e os mártires sofreram por causa de seus
pecados o que sofreram1.
73. [70.] Nemo, praeter Christum, est absque 73. [70.] Ninguém, a não ser Cristo, está isento 1973
peccato originali; hinc Beata Virgo mortua est prop- do pecado original; também a bem-aventurada Vir-
ter peccatum ex Adam contractum, omnesque eius gem morreu por causa do pecado contraído de Adão,
afflictiones in hac vita sicut et aliorum iustorum e todas as suas aflições nesta vida, como também
fuerunt ultiones peccati actualis vel originalis1. as dos outros justos, foram castigos do pecado atual
ou original1.
74. [71.] Concupiscentia in renatis relapsis in 74. [71.] A concupiscência nos que renasceram e 1974
peccatum mortale, in quibus iam dominatur, pecca- <depois> caíram em pecado mortal, e nos quais ela
tum est, sicut et alii habitus pravi1. agora reina, é pecado, como também as outras más
inclinações1.
75. [72.] Motus pravi concupiscentiae sunt, pro 75. [72.] Os maus impulsos da concupiscência 1975
statu hominis vitiati, prohibiti praecepto: “Non con- são – no estado do homem caído – proibidos pelo
cupisces” [Ex 20,17]; unde homo eos sentiens, et preceito: “Não cobiçarás” [Ex 20,17]; assim, o ho-
non consentiens, transgreditur praeceptum: “Non mem que os sente, mas não consente, transgride o
concupisces”, quamvis transgressio in peccatum non preceito “Não cobiçarás”, embora a transgressão não
deputetur1. lhe seja imputada como pecado1.
76. [73.] Quamdiu aliquid concupiscentiae car- 76. [73.] Enquanto algo da concupiscência car- 1976
nalis in diligente est, non facit praeceptum: “Dili- nal se encontra naquele que ama, ele não cumpre o
ges Dominum Deum tuum ex toto corde tuo” [Dt preceito: “Amarás o Senhor teu Deus de todo teu
6,5; Mt 22,37]1. coração” [Dt 6,5; Mt 22,37]1.
77. [74.] Satisfactiones laboriosae iustificatorum 77. [74.] As satisfações laboriosas dos justificados 1977
non valent expiare de condigno poenam tempora- não são capazes de expiar condignamente a pena tem-
lem restantem post culpam condonatam1. poral que permanece depois de perdoada a culpa1.
78. [75.] Immortalitas primi hominis non erat 78. [75.] A imortalidade do primeiro homem 1978
gratiae beneficium, sed naturalis condicio. não era um privilégio da graça, mas sua condição
natural.
79. [76.] Falsa est doctorum sententia, primum 79. [76.] É falsa a opinião dos doutores, de que o 1979
hominem potuisse a Deo creari et institui sine ius- primeiro homem teria podido ser criado e formado
titia naturali. por Deus sem a justiça natural.
477
1980 [C e n s u r a :] Quas quidem sententias stricto co- [C e n s u r a :] Estas proposições, submetidas a ri-
ram Nobis examine ponderatas, quamquam non- goroso exame na Nossa presença, embora algumas,
nullae aliquo pacto sustineri possent até certo ponto, possam ser sustentadas,
in rigore et proprio verborum sensu ab assertori- no sentido próprio e rigoroso das palavras pre-
bus intento1 tendido pelos que as propõem1,
haereticas, erroneas, suspectas, temerarias, scanda- Nós, com a autoridade dos presentes, as condena-
losas et in pias aures offensionem immittentes res- mos, excluímos e abolimos como heréticas, errô-
pective, ac quaecumque super iis verbo scriptoque neas, suspeitas, temerárias, escandalosas e ofensi-
emissa, praesentium auctoritate damnamus, circums- vas a ouvidos piedosos, bem como todas as coisas
cribimus et abolemus. publicadas a seu respeito, com palavras ou escritos.
Operações de câmbio
1981 Primum igitur damnamus ea omnia cambia, quae Em primeiro lugar, portanto, condenamos todos
f i c t a [sicca] nominantur et ita confinguntur, ut con- aqueles câmbios que são chamados f i c t í c i o s [se-
trahentes ad certas nundinas seu ad alia loca cam- cos] e que assim se configuram: os contraentes fin-
bia celebrare simulent, ad quae loca ii, qui pecu- gem estipular câmbios em certos mercados ou em
niam recipiunt, litteras quidem suas cambii tradunt, outros lugares e, nestes lugares, quem recebe o di-
sed non mittuntur, vel ita mittuntur, ut transacto nheiro emite suas letras de câmbio, mas não as en-
tempore, unde processerant, inanes referantur, aut trega, ou então as entrega de modo que, passado o
etiam nullis huiusmodi litteris traditis, pecunia ibi tempo no qual tinham valor, são devolvidas nulas,
denique cum interesse reposcitur, ubi contractus ou então, mesmo sem emissão alguma de tais le-
fuerat celebratus: nam inter dantes et recipientes tras, reclama-se o dinheiro com lucro, lá onde o con-
usque a principio ita convenerat, vel certe talis in- trato fora estipulado: pois entre os que dão e os que
tentio erat, neque quisquam est, qui in nundinis, aut recebem, desde o princípio tinha sido assim combi-
locis supradictis, huiusmodi litteris receptis solu- nado ou tal era ao menos a intenção, e não há nin-
tionem faciat. guém que, nos mercados ou nos acima menciona-
dos lugares, tendo recebido letras de tal espécie,
efetue o pagamento.
Cui malo simile etiam illud est, cum pecuniae A este mal se acrescenta também <outro> seme-
sive depositi sive alio nomine ficti cambii tradun- lhante: emite-se câmbio fictício a título de dinhei-
*1980 1 A bula original não revela, nem pela pontuação nem doutro modo, se as palavras separadas do contexto em função da
maior legibilidade “in rigore – intento” (“no sentido – propõem”) se ligam ao que precede: “quamquam – substineri
possent” (“embora – ser sustentadas”) [= 1ª interpretação] ou ao que segue: “haereticas …” (“Nós … condenamos …”)
[= 2ª interpretação]; ou seja, se cabe uma vírgula depois de “intento” (“propõem”) [= 1ª Interpretação] ou depois de
“sustineri possent” (“possam ser sustentadas”) [= 2ª interpretação]. Como desta frase depende em que sentido as
proposições de Baio foram condenadas, surgiu a controvérsia sobre o Comma Pianum. Se vale a 1ª interpretação, as
proposições são condenadas assim como estão, in se; é o que sustentam os baianistas. Se vale a 2ª interpretação, são
condenadas no sentido do autor, como é definido explicitamente em relação às proposições de Jansênio (cf. *2012
2020): evidentemente, os adversários de Baio sustentam esta interpretação, precipuamente Juan Martinez de Ripalda,
que escreveu uma obra capital contra Baio: Adversus articulos olim a Pio V et Gregorio XII et novissime ab Urbano
VIII P.P. damnatos libri 2; Ad disputationes de ente supernaturali Appendix et tomus III (Köln 1648); ibid. pg. 7s (sect.
II, n. 11), de Ripalda declara que o Cardeal de Lugo teria encontrado num autógrafo do cardeal que, por ordem de Pio
V redigiu a bula, uma pontuação que correspondesse à 2ª interpretação. Ao menos depois de Jansênio, que repetiu os
erros de Baio, a 2ª interpretação se impôs de modo geral, mas há boas razões para crer que a intenção original estivesse
de acordo com a 1ª interpretação; cf. E. van Eijl, in: RHE 50 (1955) 499-542. Compare-se a censura das proposições
de Eckhart por João XXII (*979): “licet cum multis expositionibus …” (“embora com muitos esclarecimentos …”).
478
tur, ut postea eodem in loco vel alibi cum lucro ro, ou depósito, ou com outro nome, para que, logo
restituantur. depois, seja restituído com lucro, no mesmo lugar
ou em outro.
Sed et in ipsis cambiis, quae r e a l i a appellantur, Mas também nos câmbios chamados r e a i s , às 1982
interdum, ut ad nos perfertur, campsores praestitu- vezes, como nos foi informado, os cambistas pror-
tum solutionis terminum, lucro ex tacita vel expres- rogam o termo preestabelecido de pagamento, en-
sa conventione recepto seu etiam tantummodo pro- quanto é recebido ou até apenas prometido lucro
misso, differunt. Quae omnia nos usuraria esse de- em base de acordo tácito. Declaramos que tudo isso
claramus et, ne fiant, districtius prohibemus. são atos de usura e proibimos, com todo o rigor,
que sejam praticados.
O privilégio de fé
Cum … Indis in sua infidelitate manentibus plu- Dado que … aos índios que permanecem sem a 1983
res permittantur uxores, quas ipsi etiam levissimis fé são permitidas mais esposas, que eles, até por
de causis repudiant, hinc factum est quod recipien- causas levíssimas, repudiam, aconteceu que aos que
tibus baptismum permissum sit permanere cum ea recebem o batismo foi permitido ficar com a espo-
uxore, quae simul cum marito baptizata exsistit; et sa que se batizou junto com o marido; e, como
quia saepenumero contingit illam non esse primam acontece muitas vezes que essa não é a primeira
coniugem, unde tam ministri [sacramentorum] quam esposa, e por isto tanto os ministros [dos sacramen-
episcopi gravissimis scrupulis torquentur, existiman- tos] como os bispos são atormentados por gravíssi-
tes illud non esse verum matrimonium; sed quia mos escrúpulos, pensando que não seja um verda-
durissimum est separare eos ab uxoribus, cum qui- deiro matrimônio, mas, como já ficou extremamen-
bus ipsi Indi baptismum susceperunt, maxime quia te difícil separá-los das esposas com as quais rece-
difficillimum foret primam coniugem reperire: ideo beram o batismo e, sobretudo, porque seria dificíli-
Nos, mo encontrar a primeira esposa, por isso,
statui dictorum Indorum paterno affectu benigne querendo, com paterno afeto, olhar benevolamente
consulere atque ipsos episcopos et ministros ab para a condição dos índios acima referidos e, ao
huiusmodi scrupulis eximere volentes, mesmo tempo, livrar os bispos e os ministros de
tais escrúpulos,
motu proprio et ex certa scientia Nostra ac Aposto- por iniciativa própria, a partir de Nossa ciência se-
licae potestatis plenitudine, ut Indi, sicut praemitti- gura e com a plenitude do poder apostólico, pela
tur, baptizati et in futurum baptizandi cum uxore, presente <constituição>, em virtude da autoridade
quae cum ipsis fuerit baptizata et baptizabitur, re- apostólica, declaramos que os índios, como se dis-
manere valeant, tamquam cum uxore legitima, aliis se antes, que foram batizados e que no futuro serão
dimissis, Apostolica auctoritate, tenore praesentium, batizados, podem permanecer com a esposa que com
declaramus, matrimoniumque huiusmodi inter eos os eles foi batizada ou será batizada, como esposa
legitime consistere. legítima, abandonadas as outras, e que tal matrimô-
nio entre eles é legítimo.
479
O privilégio paulino
1988 Populis ac nationibus nuper ex gentilitatis errore Para com os povos e as nações que, há pouco
ad fidem catholicam conversis expedit indulgere tempo, <saindo> do erro do paganismo se conver-
circa libertatem contrahendi matrimonia, ne homi- teram à fé católica, é conveniente usar de indulgên-
nes, continentiae servandae minime assueti, prop- cia no tocante à liberdade de contrair matrimônio,
terea minus libenter in fide persistant, et alios illo- para não acontecer que os homens, minimamente
rum exemplo ab eius perceptione deterreant. habituados a guardar a continência, por esta razão
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sacerdote absolutionem obtinere, sed etiam licere con- proposição que afirma ser lícito obter a absolvição
fessario absenti peccata sacramentaliter confiteri, de um sacerdote ausente, mas também ser lícito
confessar sacramentalmente os pecados a um con-
fessor ausente,
verbumque “licere” ex adiunctis aliis dilucide e dado que a expressão “é lícito”, a partir de outros
contrahatur ad significandum illicitum quod est dados concomitantes, é claramente utilizada para
contra institutionem et essentiam sacramenti (ut significar que é ilícito o que é contrário à institui-
ipsemet Suárez veritate coactus fatetur), ção e à essência do sacramento (como reconhece o
mesmo Suárez, coagido pela verdade),
merumque figmentum sit, nullum habens in verbis e dado que é mera invenção, sem nenhum funda-
decreti verisimile fundamentum, dicere quod ibi mento plausível nas palavras do decreto, dizer que
damnatur tota illa hypothetica solum copulatim, ali é condenada toda aquela hipótese só conjunta-
videlicet per modum unius, debueritque eadem hy- mente, quer dizer, de modo unitário, e que a mesma
pothetica damnanda concipi cum particula copula- hipótese reprovável deveria ter sido redigida com uma
tiva, et non disiunctiva, ut ex proprietate sermonis partícula copulativa e não disjuntiva, para que, pela
utrumque membrum subiiceret censurae ac dam- exatidão do discurso, ambos os membros caíssem sob
nationi, et non tantum unum vel aliud, censura e condenação e não somente um ou outro,
et inanis sit praetextus arguere ab eo casu, dum e dado que é vão pretexto citar, como argumento
super solis signis datis paenitentiae, relatis sacer- em favor da confissão dos pecados a um sacerdote
doti advenienti, datur iamiam morituro absolutio, ausente, o caso no qual, pelos meros sinais de peni-
ad confessionem peccatorum absenti sacerdoti fac- tência expressos pelo moribundo e relatados aos sa-
tam, cum omnino diversam contineat difficultatem: cerdote ao chegar, logo se dá a absolvição – pois se
trata de uma dificuldade completamente diferente –:
ideo praefati domini censuerunt praedictam P. por isto, os supraditos senhores julgaram que a
Suárez doctrinam aperte pugnare cum definitione referida doutrina do Padre Suárez contradiz aberta-
Sanctissimi. mente a definição do Santíssimo <Padre>.
484
1997a: Discurso dirigido ao legado do rei Filipe III de Espanha, 26 jul. 1611
Junto com a relação sobre a reunião conclusiva que se ocupou da discussão a respeito da graça foi encontrado
também o manuscrito de um discurso de Paulo V dirigido ao legado do rei Felipe III de Espanha; neste se fala detalha-
damente da liberdade de ensino em torno dos auxílios da graça. No documento aqui reproduzido a ortografia italiana
antiga é misturada ao latim.
Ed.: G. Schneemann SJ, l.c. ad *1997°, 295s.
485
gratia di Iddio et può liberamente assentire et dis- arbítrio seja impelido, suscitado e ajudado pela graça
sentire et non entra in questa questione del modo de Deus, e que pode livremente concordar e discor-
che opera la gratia, la quale fu tocca dal Concilio dar; e não entra neste problema do modo como opera
et fu lasciata come inutile et non necessaria, imi- a graça, <problema> abordado pelo Concílio, mas
tando in ciò Celestino primo, che avendo difinito deixado de lado como inútil e desnecessário, imi-
alcuni questioni o proposizioni in questa materia tando nisto Celestino I, que, tendo definido algu-
disse, che alcune altre difficilioris et subtilioris [na- mas questões ou proposições nesta matéria, disse
turae] sicuti non audebat condemnare ita et nolebat depois que algumas outras [de natureza] mais difí-
adstruere [cf. *249]. cil e mais sutil, assim como não ousava condená-
las, também não queria sustentá-las [cf. *249].
486
“S. Petrus et S. Paulus sunt duo Ecclesiae princi- “São Pedro e São Paulo são os dois príncipes da
pes, qui unicum efficiunt”, vel: “sunt duo Ecclesiae Igreja que constituem uma unidade”, ou: “são os
catholicae coryphaei ac supremi duces summa inter dois corifeus da Igreja católica e os chefes supre-
se unitate coniuncti”, vel: “sunt geminus universa- mos unidos entre si por suma unidade”; ou: “são o
lis Ecclesiae vertex, qui in unum divinissime coa- vértice gêmeo da Igreja universal, divinissimamen-
luerunt”, vel: “sunt duo Ecclesiae summi pastores te fundidos em um só”, ou: “são os dois supremos
ac praesides, qui unicum caput constituunt”, pastores e chefes que constituem uma só cabeça”,
ita explicatam, ut ponat omnimodam aequalitatem interpretada de modo a colocar uma completa igual-
inter S. Petrum et S. Paulum sine subordinatione et dade entre S. Pedro e S. Paulo, sem subordinação e
subiectione S. Pauli ad S. Petrum in potestate su- submissão de S. Paulo a S. Pedro no poder supre-
prema et regimine universalis Ecclesiae, mo e no governo da Igreja universal,
haereticam censuit et declaravit. a julgou e declarou herética.
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2005 5. Semipelagianum est dicere, Christum pro 5. É semipelagiano dizer que Cristo morreu e
omnibus omnino hominibus mortuum esse aut san- derramou seu sangue por todos os homens irrestri-
guinem fudisse1. tamente1.
2006 [C e n s u r a :] Propos. 1: temerariam, impiam, blas- [C e n s u r a :] Propos. 1: Nós a declaramos teme-
phemam, anathemate damnatam et haereticam decla- rária, ímpia, blasfema, condenada com o anátema,
ramus et uti talem damnamus. – 2: haereticam … – herética; e como tal a condenamos. – 2 : herética
3: haereticam … – 4: falsam et haereticam … – 5: … –3: herética … – 4: falsa e herética … – 5: falsa,
falsam, temerariam, scandalosam, et intellectam eo temerária, escandalosa e, quando entendida no sen-
sensu, ut Christus pro salute dumtaxat praedestinato- tido de Cristo ter morrido somente para a salvação
rum mortuus sit, impiam, blasphemam, contumelio- dos predestinados: ímpia, blasfema, ultrajante, con-
sam, divinae pietati derogantem et haereticam … trária à divina piedade e herética …
2007 Non intendentes tamen per hanc declarationem Com esta declaração e definição concernente às
et definitionem super praedictis quinque proposi- cinco proposições supracitadas, não entendemos de
tionibus factam approbare ullatenus alias opiniones, nenhum modo aprovar as outras opiniões que estão
quae continentur in praedicto libro Cornelii Iansenii. contidas no acima referido livro de Cornélio Jansen.
488
489
490
2020: Constituição “Regiminis apostolici”, 15 fev. 1665 (1664 segundo o calendário curial)
Para quebrar a resistência dos jansenistas, o rei Luís XIV de França, depois que a declaração de submissão apre-
sentada pela Assembléia do Clero de 1657 tinha ficado sem efeito, pediu ao Papa uma fórmula que deveria ser firmada
por todas as personalidades e mestres eclesiásticos. Alexandre VII emanou uma fórmula que deveria ser firmada dentro
de três meses.
Ed.: DuPlA 3/II, 315b (446b) / BullTau 17, 336b / BullCocq 6/VI 52b-53a.
2021-2065: 45 proposições condenadas nos decretos do S. Ofício de 24 set. 1665 e 18 mar. 1666
A mudança de costumes e o modo de viver mais liberal, sobretudo por parte da nobreza, levou à formulação de
doutrinas morais que se adequavam ao espírito do tempo. Guias espirituais que acolheram estas doutrinas foram cha-
mados “benignistas” ou “laxistas”. Contra estas doutrinas foram executadas ataques sobretudo por parte dos jansenistas,
que procuravam também contrapor-se aos seus adversários em matéria de dogma. As novas doutrinas foram por isso
combatidas sobretudo na Bélgica e na França. A universidade de Lovaina induziu Roma a uma condenação; publicou
duas vezes uma lista de proposições censuradas: em 30 mar. (juntamente com 26 abr.) 1653 (DuPlA 3/II, 267a-268a)
e em 4 mai. 1657 (DuPlA 3/II, 285a–288a). Suas censuras foram acolhidas, em grande parte literalmente, nas conde-
nações de Roma de 1665, 1666 e 1679. A universidade de Paris deu o seu contributo, consignando censuras às obras
de importantes laxistas.
As proposições são condenadas assim como soam. Nos decretos não são citados os autores, porque muitas vezes
as proposições são tiradas do seu contexto e às vezes ampliadas com elementos que não se encontram nos originais, de
modo que na maioria das vezes se deve falar de autores fictícios. Não raramente o autor deve ser desculpado, tendo-se
servido de modos antiquados de argumentar muito comuns em tempos anteriores. Basta, pois, indicar os autores aos
quais uma proposição é atribuída, e com base no trecho alegado se poderá decidir com que direito isso aconteceu.
Ed.: BullTau 17, 387b-389a [= propos. 1-28]; 17, 427b-428a [= propos. 29-45] / BullCocq 6/ VI, 85ab; 110ab /
DuPlA 3/II, 321a-324a / BullLux 6, Appendix 1a-2b / Viva 1 no início (sem indicação de página).
*2021 1 Tommaso Tamburini SJ, Explicatio decalogi (Lyon 1659 e ed. ulteriores) II 3, § 2, n. 2, und II 1, § 1, n. 10.
*2022 1 Cf. Mateo de Moya SJ, que escreveu sob o pseudônimo de Amadeus Guimenius um livro muito controverso, que em
1666 foi posto no Índex e em 16 set. 1680 novamente condenado por Inocêncio XII: Adversus quorumdam expostulationes
contra nonnullos Iesuitarum opiniones morales (Bamberg 1657) 57; à censura de Paris do ano 1665 (DuPlA 3/I, 108-
114) subjaz a ed. de Lião 1664 (aí: 89, n. 5). Em vista da extrema raridade do caso, Paul Laymann SJ, Theolo-
491
2023 3. Sententia asserens, Bullam “Coenae”1 solum 3. A sentença que afirma que a Bula “Coenae”1
prohibere absolutionem haeresis et aliorum crimi- proíbe somente a absolvição das heresias e das
num, quando publica sunt, et id non derogare facul- outras culpas quando são públicas e que isto não
tati Tridentini2, in qua de occultis criminibus sermo derroga a disposição do Concílio de Trento2 que trata
est, anno 1629, 18. Iulii in Consistorio sacrae Con- das culpas ocultas, foi considerada e permitida no
gregationis Eminentissimorum Cardinalium visa et Consistório da sagrada Congregação dos Eminen-
tolerata est. tíssimos Cardeais a 18 de julho do ano de 1629.
2024 4. Praelati regulares possunt in foro conscientiae 4. Os prelados das ordens religiosas podem ab-
absolvere quoscumque saeculares ab haeresi occul- solver qualquer secular, no foro da consciência, isto
ta et ab excommunicatione propter eam incursa1. é, em confissão, de heresia oculta e da excomunhão
por esta contraída1.
2025 5. Quamvis evidenter tibi constet, Petrum esse 5. Embora te conste de modo evidente que Pedro
haereticum, non teneris denuntiare, si probare non é um herege, não és obrigado a denunciá-lo, se não
possis1. te é possível prová-lo1.
2026 6. Confessarius, qui in sacramentali confessione 6. O confessor que na confissão sacramental en-
tribuit paenitenti chartam postea legendam, in qua trega ao penitente um papel a ser lido logo após, no
ad venerem incitat, non censetur sollicitasse in con- qual o incita a um encontro sexual, não deve ser
fessione, ac proinde non est denuntiandus1. considerado como se tivesse seduzido em confissão
e, portanto, não se tem obrigação de denunciá-lo1.
2027 7. Modus evadendi obligationem denuntiandae 7. Um modo de fugir da obrigação de denunciar
sollicitationis est, si sollicitatus confiteatur cum uma sedução consiste em o seduzido se confessar
sollicitante: hic potest ipsum absolvere absque one- com o sedutor: este pode absolvê-lo sem a obriga-
re denuntiandi1. ção da denúncia1.
2028 8. Duplicatum stipendium potest sacerdos pro 8. Um sacerdote pode receber pela mesma Missa
eadem Missa licite accipere, applicando petenti em duplo estipêndio, toda vez que aplicar ao reque-
partem etiam specialissimam fructus ipsimet cele- rente também a parte especialíssima do fruto que
branti correspondentem, idque post decretum Ur- compete ao mesmo celebrante, e isto depois do
bani VIII1. decreto de Urbano VIII1.
2029 9. Post decretum Urbani potest sacerdos, cui 9. Depois do decreto de Urbano, um sacerdote a
Missae celebrandae traduntur, per alium satisface- quem foram confiadas Missas para celebrar pode
*2022 gia moralis (Lyon 1643) III, tract. 3, c. 3, n. 3, dá seu assentimento; certa semelhança de conceito demonstram os
autores mencionados em *2130.
*2023 1 A Bula “Coena” bzw. “In coena Domini” foi chamada assim porque cada ano era lida publicamente nas igrejas
principais na Quinta-Feira Santa. Continha diversas censuras reservadas ao Papa, coletadas já por Alexandre VI (BullTau
5, 394-397) e depois aumentadas; cf. p. ex. Paul III, Constituição “Consueverunt Romani Pontifices”, 13 abr. 1536
(BullTau 6, 218-224).
2 Cf. Concílio de Trento, sessão 24ª, decreto sobre a Reforma, cân. 6 (SGTr 9, 98136-39): aí se cede aos bispos expli-
citamente o poder de absolver em caso de heresia oculta.
*2024 1 Cf. Étienne Bauny SJ, Theologia moralis I: De sacramentis ac personis sacris (Paris 1640; no Índex), tract. 4: De
absolutione, q. 32; cf. Bruno Chassaing OFMRec, Privilegia regularium, quibus aperte demonstratur regulares ab
omni Ordinariorum potestate exemptos esse … (Paris 16543; no Índex 29 mar. 1661) I, tract. 5, c. 3, propos. 3.
*2025 1 Cf. Étienne Bauny SJ, Theologia moralis II: De censuris ecclesiasticis (Paris 1642), tract. 3, disp. 4, q. 18.
*2026 1 A obrigação de denunuciar sedutores na confissão sacramental foi promulgado por Gregório VI, “Universi dominici
gregis”, 30 ago. 1622 (BullTau 12, 729f); cf. especialmente § 7. A frase rejeitada é atribuída principalmente a Tomás
Hurtado CCRRMM: cf. seu Tractatus varii resolutionum moralium (Lyon 1651; obra proibida em 10 jun. 1659 “até
ser corrigida”) I, tract. 4, c. 5, resol. 6; c. 6, resol. 8: ali também propos. 7.
*2027 1 Cf. Tomás Hurtado, l. c. supra.
*2028 1 Urbano VIII, Decreto “Cum saepe contingat”, 21 jun. 1625 (BullTau 13, 336-340); v. § 2 e 4. Este decreto, renovado
pela Congregação do Sto. Concílio 25 jan. 1659 com assentimento do papa se encontra em forma ampliada também
em Inocêncio III, Constituição “Nuper a congregatione”, 23 dez. 1697 (BullTau 20, 806-819). Antes do decreto de
Urbano houve quem opinasse (p. ex. Caetano de Vio, Domingo de Soto e Melchior Cano) que o mesmo sacerdote
poderia aceitar pela mesma missa, de diversas pessoas, um estipêndio duplo por dia, caso necessitasse disso para o
sustento adequado de sua pessoa. Depois do decreto de Urbano VIII, quem se esforçou em defender esta opinião foi
Tomás Hurtado: l.c. ad *2026, I, tract. 2, c. 4, resol. 17, n. 187s; cf. Moya, l.c. ad *2022 (ed. de 1657) 86.
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re, collato illi minori stipendio, alia pane stipendii satisfazer <a incumbência> por meio de um outro,
sibi retenta1. pagando a este uma compensação menor e retendo
para si a outra parte da remuneração1.
10. Non est contra iustitiam, pro pluribus sacrifi- 10. Não é contra a justiça receber estipêndio por 2030
ciis stipendium accipere, et sacrificium unum offer- vários sacrifícios e oferecer um sacrifício só. Nem
re. Neque etiam est contra fidelitatem, etiamsi fere a fidelidade, mesmo se, com promessa confir-
promittam promissione, etiam iuramento firmata, mada por juramento, prometo, ao que paga o esti-
danti stipendium, quod pro nullo alio offeram. pêndio, não oferecer o sacrifício por nenhum outro.
11. Peccata in confessione omissa seu oblita ob 11. Não somos obrigados a manifestar, na con- 2031
instans periculum vitae aut ob aliam causam, non fissão seguinte, os pecados omitidos ou esquecidos,
tenemur in sequenti confessione exprimere1. em confissão, por causa de iminente perigo de vida
ou por outra causa1.
12. Mendicantes possunt absolvere a casibus epis- 12. Os frades mendicantes podem absolver dos 2032
copis reservatis, non obtenta ad id episcoporum pecados que são reservados aos bispos, também se
facultate1. não obtiveram para isto a faculdade dos bispos1.
13. Satisfacit praecepto annuae confessionis, qui 13. Satisfaz o preceito da confissão anual aquele 2033
confitetur regulari episcopo praesentato, sed ab eo que se confessa a um padre regular que, apresenta-
iniuste reprobato1. do a um bispo, foi por este injustamente recusado1.
14. Qui facit confessionem voluntarie nullam, 14. Aquele que voluntariamente faz uma confis- 2034
satisfacit praecepto Ecclesiae [cf. *2155]. são nula satisfaz o preceito da Igreja [cf. *2155].
15. Paenitens propria auctoritate substituere sibi 15. O penitente pode, de sua própria autoridade, 2035
alium potest, qui loco ipsius paenitentiam adimpleat. substituir a si mesmo com um outro que cumpra a
penitência no seu lugar.
16. Qui beneficium curatum habent, possunt sibi 16. Aqueles que têm um benefício de cura po- 2036
eligere in confessarium simplicem sacerdotem non dem escolher como confessor um simples sacerdo-
approbatum ab Ordinario1. te, não aprovado pelo ordinário1.
17. Est licitum religioso vel clerico, calumniato- 17. Um religioso ou um clérigo pode licitamen- 2037
rem gravia crimina de se vel de sua religione spar- te matar um caluniador que ameaça tornar conhe-
gere minantem occidere, quando alius modus de- cidas graves acusações acerca dele ou de sua fa-
fendendi non suppetit: uti suppetere non videtur, si mília religiosa, quando não está à disposição ou-
calumniator sit paratus vel ipsi religioso, vel eius tro modo de defesa; e tal não parece estar à dis-
religioni publice et coram gravissimis viris praedicta posição, por exemplo, quando o caluniador, se não
impingere, nisi occidatur1. for morto, está disposto a atribuir publicamente
e diante de homens respeitáveis, ao mesmo reli-
gioso ou à sua família religiosa, as coisas acima
mencionadas1.
18. Licet interficere falsum accusatorem, falsos 18. É lícito matar um falso acusador, falsas teste- 2038
testes ac etiam iudicem, a quo iniqua certo imminet munhas e também um juiz de cuja parte ameaça
493
sententia, si alia via non potest innocens damnum seguramente uma sentença iníqua, se o inocente não
evitare1. puder evitar o dano por outra via1.
2039 19. Non peccat maritus occidens propria auctori- 19. Não peca o marido que de própria autoridade
tate uxorem in adulterio deprehensam1. mata a esposa flagrada em adultério1.
2040 20. Restitutio a Pio V1 imposita beneficiatis non 20. A restituição imposta por Pio V1 aos que re-
recitantibus non debetur in conscientia ante senten- ceberam um benefício e não recitam <o Ofício> não
tiam declaratoriam iudicis, eo quod sit poena. é devida em consciência antes da sentença declara-
tória do juiz, pois se trata de uma pena.
2041 21. Habens capellaniam collativam, aut quodvis 21. Aquele que tem uma capelania colativa ou
aliud beneficium ecclesiasticum, si studio litterarum qualquer outro benefício eclesiástico, se se dedica
vacet, satisfacit suae obligationi, si officium per ao estudo das letras, pode satisfazer a sua obriga-
alium recitet. ção se recita o Ofício por meio de outro.
2042 22. Non est contra iustitiam, beneficia ecclesias- 22. Não é contra a justiça conferir benefícios ecle-
tica non conferre gratis: quia collator conferens illa siásticos de modo não gratuito: já que o conferente,
beneficia ecclesiastica pecunia interveniente non que confere tais benefícios eclesiásticos, havendo
exigit illam pro collatione beneficii, sed veluti pro intervenção de dinheiro, não o exige pela colação
emolumento temporali, quod tibi conferre non do benefício, mas, de certo modo, pelo emolumento
tenebatur1. temporal que não estava obrigado a conferir-te1.
2043 23. Frangens ieiunium Ecclesiae, ad quod tene- 23. Aquele que quebrar o jejum da Igreja, ao qual
tur, non peccat mortaliter, nisi ex contemptu vel é obrigado, não comete um pecado mortal, salvo
inoboedientia hoc faciat, puta quia non vult se quando o faz por desprezo ou por desobediência, por
subicere praecepto1. exemplo, porque não quer submeter-se ao preceito1.
2044 24. Mollities, sodomia et bestialitas sunt peccata 24. A molícia, a sodomia e a bestialidade são
eiusdem speciei infimae; ideoque sufficit dicere in pecados da mais baixa espécie; por isso na confis-
confessione, se procurasse pollutionem1. são é suficiente dizer que se envolveu em polução1.
2045 25. Qui habuit copulam cum soluta, satisfacit 25. Aquele que teve relação sexual com mulher
confessionis praecepto dicens: Commisi cum soluta livre satisfaz ao preceito da confissão dizendo: co-
grave peccatum contra castitatem, non explicando meti um grave pecado contra a castidade com mu-
copulam1. lher livre – sem explicar que se trata de coito1.
2046 26. Quando litigantes habent pro se opiniones 26. Quando litigantes têm a seu favor opiniões
aeque probabiles, potest iudex pecuniam accipere igualmente prováveis, o juiz pode receber dinheiro
pro ferenda sententia in favorem unius prae alio1. para pronunciar uma sentença a favor de um antes
que de outro1.
*2038 1 Da censura de Lovaina de 1657, propos. 5. Cf. Domingo Báñez OP, De iustitia et iure, q. 46, art. 7, dub. 4, concl. 2;
Cardeal Juan de Lugo SJ, De iustitia, disp. 10, sect. 7, n. 165; Antonio Diana CCRRMM, Resolutiones morales, VIII,
tract. 7, resol. 52; Escobar, l.c. ad *2033, IV, l. 32, sect. 2, c. 5, problema 5 e outros autores.
*2039 1 Moya, l.c. ad *2022 (ed. de 1657) 68.
*2040 1 Pius V, Constituição “Ex proximo Lateranensi”, 20 set. 1571 (BullTau 7, 942s), confirmou a lei aprovada pelo V
Concílio do Latrão, sessão 9ª. Pedro de Soto OP, p. ex., interpretava isso como mera lei penal.
*2042 1 Vincenzo Candido OP, Illustriores disquisitiones morales I, disq. 18, art. 39, dub. 3 ao final (Lyon 1638) 206; Moya,
l.c. ad *2022 (ed. de 1657) 79.
*2043 1 Proposição atribuída a Pedro de Palude OP († 1342), Commentarius in sententias IV, dist. 15, a. 1, concl. 2 e a
Francisco de Zabarella († 1417), Commentarius in Decretales t. II, tit. 46, c. 2 sobre a observância do jejum.
*2044 1 A primeira parte da proposição era de modo geral aceita pelo teólogos de então, com base em Tomás de Aquino, Summa
theologiae II-II, q. 154, a. 11-12 (Ed. Leonina 10, 243s 247s); cf. Caetano de Vio, coment. a q. 154, a. 11, ad dub. 2
(Editio Leonina 10, 245). A segunda parte da proposição foi deduzida como conseqüência por Juan Caramuel de Lobkowicz
SOCist, mas ulteriormente retratada; cf. suas obras Theologia moralis fundamentalis (Frankfurt 1651 e ed. ulteriores)
II, fundam. 57, q. 6, e Theologia moralis ad prima eaque clarissima principia reducta (Leuven 1645) IV, n. 1669.
*2045 1 Da censura de Paris: Moya, l.c. ad *2022 (ed. de 1664) 208, propos. 13; Caramuel, Theologia moralis fundamentalis,
fundam. 25, n. 484 (nas edições antes de 1656).
*2046 1 Da censura de Paris: Moya, l.c. ad *2022 (ed. de 1664) 113, propos. 11; cf. censura de Lovaina, Art. 11, e censura do
sínodo de Namur, ano 1659, art. 13.
494
27. Si liber sit alicuius iunioris et moderni, debet 27. Se um livro é de algum <autor> jovem e 2047
opinio censeri probabilis, dum non constet, reiectam moderno, a opinião deve ser tida como provável
esse a Sede Apostolica tamquam improbabilem1. enquanto não constar que foi rejeitada pela Sé apos-
tólica como improvável1.
28. Populus non peccat, etiamsi absque ulla cau- 28. O povo não peca quando, ainda que sem cau- 2048
sa non recipiat legem a principe promulgatam1. sa, não aceita uma lei promulgada pelo príncipe1.
*2047 1 Cf. Moya, l.c. ad *2022 (ed. de 1664) 27, n. 1, e 191, n. 4 (censura de Paris); no mesmo sentido: Vincenzo Figliucci SJ,
Morales quaestiones de christianis officiis et casibus conscientiae (Lyon 1622) II, tract. 21, c. 4, n. 134, restrictio in n. 136.
*2048 1 Escobar, l.c. ad *2033, I, l. 5, sect. 2, c. 14, problema 13.
*2050 1 Diana, l.c. ad *2038, VIII, tract. 7, resol. 56, e IV, tract. 4, resol. 130; Juan Machado de Chaves, Perfecto confesor y
cura de almas (Barcelona 1641) II, l. 6, p. 8, doc. 5.
*2051 1 Diana, l.c. ad *2038, XI, tract. 2, resol. 57 und 21 § 3.
*2052 1 Cf. Moya, l.c. ad *2022. (ed. de 1657) 105. Este uso deriva de uma carta inautêntica de Gregório I Magno, acolhida
em Graciano, Decretum, p. I, dist. 4, c. 6, § 2 (Frdb 1, 6).
*2053 1 Cf. Diana, l.c. ad *2038, IX., tract. 9, resol. 23.
*2054 1 Caramuel, Theologia moralis fundamentalis (Frankfurt 1651) fundam. 53, n. 1100; logo porém retirou a proposição:
cf. ed. de Lião de 1675s, fundam. 53, n. 2491.
*2055 1 Proposta para discussão em Caramuel, l.c. ad *2055, fundam. 31, n. 502; mais tarde foi acrescentada a resposta certa
(ed. de Lião, n. 764)
*2057 1 Para restringir o número excessivo de indulgências concedidas às ordens religiosas, Paulo V, na constituição “Romanus
Pontifex” de 23 mai. 1606 (BullTau 11, 315-318) revogou todas as antigas indulgências, substituindo-as por um nú-
mero mais reduzido de novas.
495
2058 38. Mandatum Tridentini, factum sacerdoti sacri- 38. A disposição do Concílio de Trento, segundo
ficanti ex necessitate cum peccato mortali, confi- a qual um sacerdote que, por necessidade, celebra o
tendi “quamprimum” [cf. *1647], est consilium, non sacrifício em pecado mortal deve se confessar “o
praeceptum1. mais breve possível”, [cf. *1647] é um conselho,
não um preceito1.
2059 39. Illa particula “quamprimum” intelligitur, cum 39. Com essa expressão “o mais breve” deve-se
sacerdos suo tempore confitebitur. entender que o sacerdote se confessará a seu tempo.
2060 40. Est probabilis opinio, quae dicit, esse tantum 40. É opinião provável a que diz que o beijo dado
veniale osculum habitum ob delectationem carnalem pelo prazer carnal e sensível que provém do beijo é
et sensibilem, quae ex osculo oritur, secluso periculo somente pecado venial, desde que se exclui o peri-
consensus ulterioris et pollutionis. go de um envolvimento posterior e da polução.
2061 41. Non est obligandus concubinarius ad eicien- 41. O concubinário não deve ser obrigado a afas-
dam concubinam, si haec nimis utilis esset ad oblec- tar sua concubina, se ela tiver sido muito útil ao
tamentum concubinarii, vulgo “regalo”, dum, defi- conforto – “regalo”, como se diz – do concubiná-
ciente illa nimis aegre ageret vitam, et aliae epulae rio, caso pela sua ausência ele fosse levado a ter
taedio magno concubinarium afficerent, et alia fa- uma vida assaz penosa, outros comidas lhe provo-
mula nimis difficile inveniretur1. cassem um grande desgosto e uma outra serva fos-
se encontrada como muita dificuldade1.
2062 42. Licitum est mutuanti, aliquid ultra sortem 42. Para quem concede um empréstimo é lícito
exigere, si se obliget ad non repetendam sortem exigir alguma coisa além do capital, se ele se obri-
usque ad certum tempus1. ga a não reclamar o capital até determinado tempo1.
2063 43. Annuum legatum pro anima relictum non 43. Um legado anual deixado a favor de uma alma
durat plus quam per decem annos. não dura mais de dez anos.
2064 44. Quoad forum conscientiae, reo correcto eius- 44. No que respeita ao foro da consciência
que contumacia cessante, cessant censurae1. <= confissão>, uma vez que o réu é corrigido e cessa
a sua obstinação, cessam as censuras1.
2065 45. Libri prohibiti “donec expurgentur”, possunt 45. Os livros proibidos “até que sejam expurga-
retineri usque dum adhibita diligentia corrigantur1. dos” podem ser guardados até que sejam corrigidos
com a devida diligência1.
[C e n s u r a :] ut minimum scandalosae. [C e n s u r a :] como no mínimo escandalosas.
*2058 1 Cf. Enrique de Villalobos OMin, Summa de la teologia moral y canonica (Salamanca 1623) I, tract. 7, diffic. 37, n. 7.
*2061 1 Juan Sánchez, Selectae et practicae disputationes de rebus in administratione sacramentorum praesertim eucharistiae
et paenitentiae passim occurentibus (Madrid 1624; no Índex em 3 dez. 1642), disp. 10, n. 20; igualmente a censura
de Lovaina de 1657, propos. 2.
*2062 1 Cf. Moya, l.c. ad *2022 (ed. de 1664), 160, n. 7; 158, propos. 1 (censura de Paris).
*2064 1 Cf. Diana, l.c. ad *2038, V, tract. 10, resol. 25.
*2065 1 Pierre Marchant OFMRec, Tribunal sacramentale et invisibile animarum in hac vita mortali (Gent 1642 e ed. ulterio-
res) II, tract. 2, tit. 2, sect. 4, q. 3, dub. 5.
496
scandalo inter se contendere, an illa attritio, quae si, de modo violento e não sem escândalo dos fiéis,
concipitur ex metu gehennae, excludens voluntatem se a assim chamada atrição que nasce do medo do
peccandi, cum spe veniae, ad impetrandam gratiam inferno e que exclui a vontade de pecar, unida à es-
in sacramento paenitentiae requirat insuper aliquem perança do perdão requer um certo ato de amor de
actum dilectionis Dei, asserentibus quibusdam, ne- Deus para obter a graça no sacramento da penitên-
gantibus aliis, et invicem adversam sententiam cen- cia – enquanto alguns o afirmam e outros o negam
surantibus, e reciprocamente censuram a sentença contrária –,
Sanctitas Sua … praecipit … ut, si deinceps de Sua Santidade … ordena … que, se deste mo-
materia attritionis praefatae scribent vel libros aut mento em diante, enquanto sobre essa questão nada
scripturas edent vel docebunt vel praedicabunt vel tiver sido definido por esta Santa Sé, escreverem e
alio quovis modo paenitentes aut scholares ceteros- publicarem livros ou escritos, ou pregarem, ou de
ve erudient, non audeant alicuius theologicae cen- qualquer outro modo instruírem os penitentes ou os
surae alteriusve iniuriae aut contumeliae nota taxa- escolares ou outros sobre a matéria da supradita
re alterutram sententiam, sive negantem necessita- atrição, não se atrevem a reciprocamente tachar, com
tem aliqualis dilectionis Dei in praefata attritione nota de qualquer censura teológica ou outra injúria,
ex metu gehennae concepta, quae hodie inter scho- a outra sentença, seja a que nega a necessidade de
lasticos communior videtur, sive asserentem dictae certo amor a Deus na referida atrição suscitada pelo
dilectionis necessitatem, donec ab hac Sancta Sede medo do inferno – que hoje parece a mais comum
fuerit aliquid hac in re definitum. entre os mestres da Escola –, seja a que afirma a
necessidade do supradito amor.
497
consequenter de frequentiore aut quotidiano vitalis humildes; coisas que não estamos em condição de
panis esu potest constitui. perscrutar com os olhos humanos, e portanto não
se pode estabelecer, em cada caso, nada que diga
respeito ao ser digno ou à integridade de cada um,
nem, conseqüentemente, ao mais freqüente ou quo-
tidiano nutrir-se com o pão da vida.
2091 Et propterea quod ad n e g o t i a t o r e s ipsos atti- E, portanto, no que concerne aos que e x e r c e m
net, frequens ad sacram alimoniam percipiendam u m a p r o fi s s ã o , o acesso freqüente à recepção
accessus confessariorum secreta cordis exploran- do sagrado alimento deve ser deixado a juízo dos
tium iudicio est relinquendus, qui ex conscientiarum confessores, que perscrutam os segredos do cora-
puritate et frequentiae fructu et ad pietatem pro- ção; e estes, considerando a pureza das consciên-
cessu laicis negotiatoribus et coniugatis, quod pros- cias, a utilidade da freqüência e o progresso na pie-
picient eorum saluti profuturam, id illis praescribere dade, deverão prescrever, aos leigos que exercem
debebunt. uma profissão e aos casados, aquilo que prevêem
que lhes será mais útil para a salvação.
2092 In c o n i u g a t i s autem hoc amplius animadver- Quanto às p e s s o a s c a s a d a s , prestem maior
tant, cum beatus Apostolus nolit eos “invicem frau- atenção a isto: dado que o bem-aventurado Apósto-
dari, nisi forte ex consensu ad tempus, ut vacent lo não permite que “se privem um do outro recipro-
orationi” [cf. 1 Cor 7,5], eos serio admoneant, tanto camente, senão de comum acordo para dedicar-se à
magis ob sacratissimae Eucharistiae reverentiam oração” [cf. 1Cor 7,5], <os confessores> os admoes-
continentiae vacandum purioreque mente ad caeles- tem seriamente que tanto mais se devem dedicar à
tium epularum communionem esse conveniendum. continência, por respeito da santíssima Eucaristia e
para se dirigirem com mente mais pura à comu-
nhão do banquete celeste.
2093 In hoc igitur pastorum diligentia potissimum Nisto, portanto, a diligência dos pastores se em-
invigilabit, non ut a frequenti aut quotidiana sacrae penhará não tanto em intimidar alguns quanto à
communionis sumptione unica praecepti formula recepção freqüente e quotidiana da santa comunhão,
aliqui deterreantur, aut sumendi dies generaliter nem em estabelecer dias de comunhão geral, mas
constituantur, sed magis quid singulis permittendum, antes julgue se, a si mesma, ou aos párocos, ou aos
per se aut parochos seu confessarios sibi decernen- confessores cabe discernir o que a cada um deve
dum putet; illudque omnino prohibeat, ut nemo a ser permitido; e certamente cuide que ninguém que
sacro convivio, seu frequenter seu quotidie acces- acede ao sagrado banquete de modo freqüente ou
serit, repellatur … quotidiano seja rejeitado.
2094 Proderit etiam praeter parochorum et confessa- Será, pois, útil, além da diligência dos párocos
riorum diligentiam opera quoque concionatorum uti e dos confessores, servir-se também da obra dos
et cum eis constitutum habere, ut cum fideles ad pregadores e fazer com eles um acordo para que
sanctissimi Sacramenti frequentiam (quod facere os fiéis, enquanto se aproximam com freqüência
debent) accesserint, statim de magna ad illud su- do santíssimo Sacramento (coisa que devem fa-
mendum praeparatione orationem habeant, genera- zer), recebam também constantemente uma instru-
timque ostendant, eos, qui ad frequentiorem aut ção quanto à grande preparação para recebê-lo e,
quotidianam salutiferi cibi sumptionem devoto stu- em geral, mostrem que aqueles que são estimula-
dio excitantur, debere, sive laici negotiatores sint, dos por zelo devoto a uma mais freqüente ou quo-
sive coniugati, sive quicumque alii, suam agnosce- tidiana recepção do alimento salutar, tanto os lei-
re infirmitatem, ut dignitate Sacramenti ac divini gos que exercem uma profissão, quanto os casa-
iudicii formidine discant caelestem mensam, in qua dos ou qualquer outro, devem reconhecer a sua
Christus est, revereri; et si quando se minus paratos fraqueza, para que pela dignidade do Sacramento
senserint, ab ea abstinere seque ad maiorem prae- e pelo temor do juízo divino aprendam a honrar a
parationem accingere. … mesa celeste na qual está o Cristo; e que, se algu-
ma vez se reconhecessem menos preparados, dela
se abstenham e se esforcem por uma preparação
melhor. …
498
Porro episcopi et parochi seu confessarii redar- De outra parte, os bispos e os párocos ou confes- 2095
guant asserentes, communionem quotidianam esse sores repreendam aqueles que afirmam que a co-
de iure divino … munhão quotidiana é de direito divino …
*2101 1 Tese de Antuérpia 26 jun. 1673 (Ignace Maillot SJ); Hernando de Castropalao SJ, Opus morale de virtutibus et vitiis
contrariis (Lyon 1631 e ed. ulteriores) I, tract. 1, disp. 2, punctum 5, n. 5.
*2102 1 Juan Sánchez, Selectae et practicae disputationes … (cf. *20611), disp. 44, n. 50; Vincenzo Figliucci SJ, Morales
quaestiones de christianis officiis et casibus conscientiae (Lyon 1622) II, tract. 21, c. 4, n. 130; Thomas Hurtado
CCRRMM, Tractatus varii resolutionum moralium (cf. *20261) I, tract. 3, c. 6, n. 314; Escobar, l.c. ad *2033, I, l. 2,
sect. 2, c. 6, problema 14.
*2103 1 Tamburini SJ, l.c. ad *2021, I 3, § 3, n. 3; “quantumvis tenui” (“por débil que seja”) é equivalente a “minimo gradui
probabilitatis” (“com o menor grau de probabilidade”) na obra de Zaccaria Pasqualigo OTheat, Decisiones morales
(Verona 1641; posto no Índex em 1683 “até ser corrigida”), dec. 20.
*2104 1 Juan Sánchez, l.c. ad *2102, disp. 19, n. 7.
*2105 1 Antoine Sirmond SJ, La défense de la vertu (Paris 1641), traité 2, section 1, chapitre 2-3; tese de Antuérpia 16 abr.
1674 (A. Marchant OMin); cf. Gabriel Vázquez SJ, Commentarius in II partem D. Thomae IV, De poenitentia, q. 86,
a. 2, dub. 6, n. 11: obrigatoriedade do preceito só para o fim da vida.
*2106 1 Figliucci, l.c. ad *2102 a.O. II, c. 9, n. 286f; cf. Escobar y Mendoza, Liber theologiae moralis 24 doctoribus S.I.
reseratus (Lyon 1644 e ed. ulteriores), tract. 5, examen 4, c. 1.
499
2107 7. Tunc solum obligat, quando tenemur iustifi- 7. Este <preceito> obriga somente quando somos
cari, et non habemus aliam viam, qua iustificari obrigados a ser justificados e não temos nenhuma
possumus1. outra via pela qual possamos ser justificados1.
2108 8. Comedere et bibere usque ad satietatem ob 8. Não é pecado comer e beber à saciedade só
solam voluptatem non est peccatum, modo non obsit por prazer, desde que não prejudique a saúde; o
valetudini; quia licite potest appetitus naturalis suis natural apetite, de fato, pode gozar das suas ações
actibus frui1. de modo lícito1.
2109 9. Opus coniugii ob solam voluptatem exercitum 9. O ato conjugal feito só pelo prazer é comple-
omni penitus caret culpa ac defectu veniali1. tamente livre de qualquer culpa e de falta venial1.
2110 10. Non tenemur proximum diligere actu interno 10. Não somos obrigados a amar o próximo por
et formali1. meio de um ato interior e formal1.
2111 11. Praecepto proximum diligendi satisfacere pos- 11. Podemos satisfazer o preceito do amor ao
sumus per solos actus externos1. próximo pelos meros atos externos1.
2112 12. Vix in saecularibus invenies, etiam in regi- 12. Nas pessoas seculares <= leigas> e até nos
bus, superfluum statui. Et ita vix aliquis tenetur ad reis dificilmente se encontra algo de supérfluo para
eleemosynam, quando tenetur tantum ex superfluo sua condição. E assim dificilmente alguém é obri-
statui1. gado a dar esmola, pois é obrigado somente a dar do
que é supérfluo em vista de sua condição social1.
2113 13. Si cum debita moderatione facias, potes abs- 13. Se o fizeres com a devida moderação, podes
que peccato mortali de vita alicuius tristari, et de sem pecado mortal entristecer-te pela vida de al-
illius morte naturali gaudere, illam inefficaci affectu guém e alegrar-te por sua morte natural, pedi-la e
petere et desiderare, non quidem ex displicentia desejá-la com uma disposição de animo não ope-
personae, sed ob aliquod temporale emolumentum1. rante, evidentemente não por desprezo das pessoas,
mas por algum emolumento temporal1.
2114 14. Licitum est, absoluto desiderio cupere mor- 14. É lícito desejar com desejo absoluto a morte
tem patris, non quidem ut malum patris, sed ut bo- do pai, não porém como um mal para o pai, mas
num cupientis; quia nimirum ei obventura est pin- como um bem para aquele que deseja; pois que
guis hereditas1. justamente lhe tocará uma rica herança1.
2115 15. Licitum est filio gaudere de parricidio paren- 15. É lícito para um filho alegrar-se pelo parricídio
tis a se in ebrietate perpetrato, propter ingentes di- do próprio pai que tenha perpetrado em estado de
vitias inde ex hereditate consecutas. embriaguez, por causa das enormes riquezas con-
seguidas pela herança.
*2107 1 Tamburini, l.c. ad *2021 a.O. II 3, § 2, n. 2; cf. ibid. 1, § 1; Juan Azor SJ, Institutiones morales (Lyon 1613 e ed.
ulteriores) I, l. 9, c. 4.
*2108 1 Juan Sánchez, l.c. ad *2102, disp. 2, n. 14.
*2109 1 Juan Sánchez, l.c. ad *2102, disp. 23, n. 25; cf. disp. 6, n. 4.
*2110 1 Francisco de Suárez SJ, De charitate, disp. 5, sect. 4, n. 4 (Opera omnia, hrsg. von C. Berton [Paris 1866ss] 12, 642);
Escobar, l.c. ad *2023, 6/I (ed. de 1663), l. 49, sect. 2, c. 15, dub. 15; Juan Sánchez, l.c. ad *2102, disp. 1, n. 21. Tese
de Antuérpia, como *2105. Os autores apelam a Tomás de Aquino, Summa theologiae II-II, q. 25, a. 8 (Ed. Leonina
8, 204) e a Duns Escoto, comentário às Sentenças, III, dist. 30, § Quantum ad hoc (Ed. Wadding 7/II [Lyon 1639] 672).
*2111 1 Pode ser deduzido das passagens referidas em *2110.
*2112 1 Gabriel Vásquez SJ, Opusculum de eleemosyna (entgre as Opuscula moralia [Alcalá de Henares 1617 e ed. ulterio-
res]), c. 4, n. 14 (= 1ª parte da propos.), e c. 1, dub. 3, n. 27 (= 2ª parte da propos.); Antonio Diana OTheat, Resolutiones
morales (Lyon 1629ss; Veneza 1652s; Roma 1656) IV, tract. 4, resol. 215; Emanuel Sa SJ, Aphorismi confessariorum
ex variis doctorum sententiis collecti (Veneza 1592 e ed. ulteriores; proibida em 7 ago. 1603 “até ser corrigida”), sob
o lema “Eleemosyna”, n. 2; tese de Lovaina, 30 jun. 1670 (Aegidius Estrix SJ).
*2113 1 Tamburini, l.c. ad *2021, V 1, § 3, n. 32; Fernando de Castropalao, l.c. ad *2101, I, tract. 6, disp. 4, punctum 1, n. 10s;
Juan Sánchez, l.c. ad *2102 a.O., disp. 2, n. 9; Mateo de Moya, Selectae quaestiones ex praecipuis theologiae trac-
tatibus (Madrid 1670, 16783), tract. 6, disp. 6, q. 5, n. 8 (literalmente); muitos outros semelhantemente.
*2114 1 Tamburini, l.c. ad *2021, ibid. n. 31 “probabiliter” (“mais provavelmente”).
500
16. Fides non censetur cadere sub praeceptum 16. A fé não é considerada cair sob um preceito 2116
speciale et secundum se1. especial e de per si1.
17. Satis est actum fidei semel in vita elicere1. 17. É suficiente fazer uma só vez na vida um ato 2117
de fé1.
18. Si a potestate publica quis interrogetur, fidem 18. Se alguém é interrogado pelo poder público, 2118
ingenue confiteri ut Deo et fidei gloriosum consulo: julgo glorioso para Deus e para a fé confessar a fé
tacere ut peccaminosum per se non damno1. com franqueza; o calar, não o condeno como peca-
minoso em si1.
19. Voluntas non potest efficere, ut assensus fidei 19. A vontade não pode fazer com que o assenti- 2119
in se ipso sit magis firmus, quam mereatur pondus mento de fé seja mais firme em si mesmo do que
rationum ad assensum impellentium1. mereça o peso das argumentações que levam ao
consentimento1.
20. Hinc potest quis prudenter repudiare assen- 20. Por isso, alguém pode prudentemente repu- 2120
sum, quem habebat, supernaturalem1. diar o assentimento sobrenatural que tinha1.
21. Assensus fidei supernaturalis et utilis ad salu- 21. O assentimento de fé sobrenatural e útil para 2121
tem stat cum notitia solum probabili revelationis, a salvação se funda sobre um conhecimento somente
immo cum formidine, qua quis formidet, ne non sit provável da revelação, unido o mais das vezes ao
locutus Deus1. temor ao medo com que se teme que Deus não te-
nha falado1.
22. Nonnisi fides unius Dei necessaria videtur ne- 22. Somente a fé no único Deus parece necessá- 2122
cessitate medii, non autem explicita Remuneratoris1. ria como necessidade de meio para a salvação, e
não também a <fé> explícita em um Remunerador1.
23. Fides late dicta ex testimonio creaturarum 23. A fé em sentido amplo, que se funda sobre o 2123
similive motivo ad iustificationem sufficit1. testemunho das criaturas ou sobre um argumento
análogo, é suficiente para a justificação1.
24. Vocare Deum in testem mendacii levis non 24. Chamar a Deus como testemunha de uma 2124
est tanta irreverentia, propter quam velit aut possit mentira leve não é falta de respeito tão grave que
damnare hominem1. ele queira ou possa por ela condenar alguém1.
25. Cum causa licitum est iurare sine animo iu- 25. Havendo motivo, é justo jurar sem a intenção 2125
randi, sive res sit levis sive gravis1. de jurar, quer a coisa seja leve, quer grave1.
26. Si quis vel solus vel coram aliis, sive interro- 26. Se alguém, só ou diante de outros, interroga- 2126
gatus sive propria sponte, sive recreationis causa, do ou de sua espontânea vontade, por divertimento
sive quocumque alio fine iuret, se non fecisse ali- ou para qualquer outro fim, jura não ter feito algu-
quid, quod revera fecit, intelligendo intra se aliquid ma coisa que na realidade fez, entendendo porém
aliud, quod non fecit, vel aliam viam ab ea, in qua dentro de si uma outra coisa, que não fez, ou um
*2116 1 Tese de Antuérpia de 16 abr. 1674 (A. Marchant OMin); cf. Tamburini, l.c. ad *2021, II 1, § 1, n. 9; tese de Lovaina
de 30 jun. 1670 (Aegidius Estrix); Moya, l.c. ad *2022 (ed. de 1657) 157.
*2117 1 Tamburini, l.c. ad *2021, II 1, n. 8; tese de Lovaina de 30 jun. 1670 (Estrix); cf. Juan Sánchez, l.c. ad *2102, disp. 41,
n. 32, e mais claramente ainda no índice, verbete “Scrupulosus”.
*2118 1 Tese de Antuérpia de 16 abr. 1674 (A. Marchant OMin).
*2119 1 Aegidius Estrix SJ, Diatriba theologica de sapientia Dei benefica mundi architecta et gubernatrice optima … sive
Manuductio ad fidem divinam … (Antwerpen 1672; posto no Índex em 5 abr. 1674), n. 130 132 = ass. 28 e corolário
(p. 68 70); tese de Antuérpia de 16 abr. 1674 (A. Marchant OMin).
*2120 1 Estrix, l.c. ad *2119, n. 159 = ass. 33, coroll. (p. 83); tese de Antuérpia, como *2119.
*2121 1 Cf. Estrix, l.c. ad *2119, n. 163 = ass. 34 (p. 85).
*2122 1 Frase aparentemente colhida de Estrix, l.c. ad *2119, n. 163-167 = ass. 34 (p. 85-88).
*2123 1 Tese de Lovaina de 30 jun. 1670 (Estrix).
*2124 1 Da censura de Lovaina de 1653, propos. 14.
*2125 1 Tamburini, l.c. ad *2021, III 3, § 2, n. 1; cf. c. 1, § 2-3.
501
fecit, vel quodvis aliud additum verum, revera non modo diferente daquele em que o fez, ou qualquer
mentitur nec est periurus1. coisa verdadeira acrescentada, na realidade não
mente nem é perjuro1.
2127 27. Causa iusta utendi his amphibologiis est, 27. Existe um justo motivo para usar tais duplos
quoties id necessarium aut utile est ad salutem cor- sentidos todas as vezes que é necessário ou útil para
poris, honorem, res familiares tuendas, vel ad quem- a salvação física, a honra, a defesa dos bens fami-
libet alium virtutis actum, ita ut veritatis occultatio liares ou por qualquer outro ato de virtude, a ponto
censeatur tunc expediens et studiosa1. de a ocultação da verdade ser então julgada conve-
niente e oportuna1.
2128 28. Qui mediante commendatione vel munere ad 28. Aquele que foi promovido a uma magistratu-
magistratum vel officium publicum promotus est, ra ou um cargo público por meio de uma recomen-
poterit cum restrictione mentali praestare iuramen- dação ou de um presente poderá prestar o juramen-
tum, quod de mandato regis a similibus solet exigi, to que, por ordem do rei, se costuma pedir de tais
non habito respectu ad intentionem exigentis; quia pessoas, com restrição mental, sem ter em conta a
non tenetur fateri crimen occultum1. intenção de quem solicita; não se está, de fato, obri-
gado a confessar uma culpa escondida1.
2129 29. Urgens metus gravis est causa iusta sacramen- 29. Um grave temor iminente é uma justa causa
torum administrationem simulandi1. para simular a administração dos sacramentos1.
2130 30. Fas est viro honorato occidere invasorem, qui 30. Para um homem de honra é lícito matar um
nititur calumniam inferre, si aliter haec ignominia agressor que o procura ferir com a calúnia, se tal
vitari nequit: idem quoque dicendum, si quis im- vergonha não pode ser evitada de outro modo; a
pingat alapam vel fuste percutiat et post impactam mesma coisa deve-se dizer se alguém dá um tapa
alapam vel ictum fustis fugiat1. ou golpeia com um bastão e em seguida foge de-
pois de ter dado o tapa ou o golpe de bastão1.
2131 31. Regulariter occidere possum furem pro con- 31. Posso, em regra, matar um ladrão para salvar
servatione unius aurei1. uma só moeda de ouro1.
2132 32. Non solum licitum est defendere defensione 32. Não só é lícito defender com defesa mortífe-
occisiva, quae actu possidemus, sed etiam, ad quae ra as coisas que possuímos de modo atual, mas tam-
ius inchoatum habemus et quae nos possessuros bém aquelas sobre as quais temos um direito inicial
speramus1. e das quais esperamos ser logo os possuidores1.
2133 33. Licitum est tam heredi quam legatario, con- 33. É lícito, tanto ao herdeiro como àquele que
tra iniuste impedientem, ne vel hereditas adeatur vel recebe um legado, defender-se contra alguém
legata solvantur, se taliter defendere sicut et ius ha- que de modo injusto impede a entrada em herança
*2126 1 Tomás Sánchez SJ, Opus morale in praecepta decalogi (Venedig 1614; 1625) III 6, n. 15: em vez de “aliam viam”
(“um outro modo”) o autor escreveu “aliam diem” (“um outro dia”). Frase condenada pelo Sínodo de Namur de
1659, art. 10.
*2127 1 Tomás Sánchez, l.c. ad *2126, ibid. n. 19.
*2128 1 Da censura de Lovaina de 1657, propos. 19; muitos interpretam no mesmo sentido a frase em Leonardo Lessius SJ,
De iustitia et iure (Leuven 1605) II 42, dub. 9, n. 48.
*2129 1 Da censura de Lovaina de 1657, propos. 18; Escobar, l.c. ad *2033, I, l. 1, sect. 2, c. 7, problema 26; cf. Juan Sánchez,
l.c. ad *2102 a.O., disp. 35, n. 6.
*2130 1 Da censura de Lovaina de 1657, propos. 4; literalmente em Martinho Becanus SJ, Theologia scholastica II 2, Tract.
[II] de iure et iustitia, in q. 64 D. Thomae, q. 8, concl. 2 (Opera omnia in 2 Bänden [Mainz 1649] 471); cf. Gabriel
Vásquez SJ, Opusculum de restitutione (unter den Opuscula moralia: Cf. *21121), c. 2, § 1, dub. 9, n. 34; Figliucci,
l.c. ad *2102 a.O. II, tract. 29, c. 3, n. 50; Diana, l.c. ad *2112 a.O. II, tract. 15, resol. 15, und V, tract. 4, resol. 4;
Escobar, l.c. ad *2033, IV, l. 32, sect. 2, c. 15, problema 2; e muitíssimos outros, entre os quais o “Doctor Navarrus”
(= Martin de Azpilcueta), Báñez, Azor und Villalobos.
*2131 1 Cf. Luís de Molina SJ, De iustitia et iure (Antwerpen 1609) IV, tract. 3, disp. 16, n. 7; cf. ibid. n. 1.
*2132 1 Da censura de Lovaina de 1653, propos. 13/I; Francesco Amico SJ, Cursus theologicus iuxta scholasticam huius
temporis S.I. methodum (Douai 16402; o t. V foi posto no Índex “até ser corrigico”), V, disp. 36, sect. 8, n. 131
(suprimido na ed. de 1650).
502
benti in cathedram vel praebendam, contra earum ou o cumprimento dos legados, do mesmo modo
possessionem iniuste impedientem1. <como é permitido> ao que tem o direito sobre uma
sé episcopal ou sobre uma prebenda, contra quem
injustamente impede sua posse1.
34. Licet procurare abortum ante animationem 34. É lícito procurar o aborto antes da animação 2134
foetus, ne puella deprehensa gravida occidatur aut do feto, para que a menina descoberta grávida não
infametur1. seja morta ou desonrada1.
35. Videtur probabile, omnem foetum (quamdiu 35. Parece provável que todo feto (enquanto se 2135
in utero est) carere anima rationali et tunc primum encontra no útero) não tenha alma racional e que
incipere eandem habere, cum paritur: ac consequen- comece inicialmente a tê-la quando é parido: como
ter dicendum erit, in nullo abortu homicidium conseqüência se poderá dizer que em nenhum aborto
committi1. se cometerá homicídio1.
36. Permissum est furari, non solum in extrema 36. É lícito roubar não só na necessidade extre- 2136
necessitate, sed etiam in gravi1. ma, mas também na grave1.
37. Famuli et famulae domesticae possunt occul- 37. Os servos e as servas da casa podem roubar 2137
te heris suis surripere ad compensandam ope- dos seus patrões, às escondidas, para compensar
ram suam, quam maiorem iudicant salario, quod seu trabalho que julgarem maior que o salário que
recipiunt1. recebem1.
38. Non tenetur quis sub poena peccati mortalis 38. Ninguém é obrigado sob pena de pecado 2138
restituere, quod ablatum est per pauca furta, quan- mortal a restituir o que tiver sido tirado por meio de
tumcumque sit magna summa totalis1. alguns pequenos furtos, por grande que seja a quan-
tia total1.
39. Qui alium movet aut inducit ad inferendum 39. Aquele que força ou induz um outro a causar 2139
grave damnum tertio, non tenetur ad restitutionem um grave dano a uma terceira pessoa não é obriga-
istius damni illati1. do à reparação deste dano causado1.
40. Contractus mohatra1 licitus est, etiam respec- 40. O contrato de mofatra1 é lícito, mesmo em 2140
tu eiusdem personae et cum contractu retrovendi- relação à mesma pessoa e com um contrato de re-
tionis praevie inito cum intentione lucri2. venda feito desde o início com a intenção de lucro2.
*2133 1 Da censura de Lovaina de 1653, propos. 13/II; Amico, l.c. ad *2132, ibid.
*2134 1 Cf. Francisco Torreblanca y Villalpando, Epitome delictorum sive de magia (Sevilla 1618) II 43, n. 10; id., Iuris
spiritualis practicabilium libri XV (Cordoba 1635), l. XII, c. 16, n. 44; Juan Trullench, Opus morale (Valencia 1640)
II, l. 5, c. 1, dub. 4, n. 1 ao final: concede que a expressão seja “não reprovável” (“non improbabilem”) sei. Cf. também
a censura de Lovaina de 1653, propos. 9, e a censura de Namur de 1659, art. 7.
*2135 1 Esta conclusão, Juan Caramuel a julgou provável, invocandeo a autoridade do médico chefe de Praga, Johannes Marchus,
o qual (no livro publicado em 1635, Idearum operatricium idea) surgiu como representante principal da opinião que
o feto animado não é gestado no útero com uma alma racional diferente da da mãe, mas apenas recebe tal alma
racional quando do parto. Mas já antes da condenação desta proposição Caramuel se distanciou: cf. sua Theologia
moralis fundamentalis II, fundam. 55, q. 6 (ed. de Lião de 1676: n. 2623; ed. de Frankfurt de 1651: n. 1163).
*2136 1 Da censura de Lovaina de 1657, propos. 8. Em Leonardo Lessius SJ, l.c. ad *2128, II 12, dub. 12; Diana, l.c. ad *2112,
V, tract. 8, resol. 23, e XI, tract. 1, resol. 13; Moya, l.c. ad *2022 (ed. de 1664) 282, n. 4.
*2137 1 Da censura de Lovaina de 1657, propos. 9. Cf. Lessius, l.c. ad *2128, II 12, dub. 10; Étienne Bauny SJ, La somme de
péchés qui se commettent en tous états … (Paris 1630; 16395: posto no Índex em 1640) 213.
*2138 1 Da censura de Lovaina de 1653, propos. 16. Cf. Lessius, l.c. ad *2128, II 12, dub. 9; Étienne Bauny, l.c. ad *2137, 220.
Tanto Bauny como a censura de Lovaina no lugar de “pauca furta”(“poucos furtos”) “parva furta” (“furtos pequenos”).
*2139 1 Da censura de Lovaina de 1657, propos. 12. Cf. Lessius, l.c. ad *2128, II 13, dub. 2 und 10; Bauny, l.c. ad *2137
(16436) 307s.
*2140 1 Assim se chama na Espanha uma determinada espécie de retrovenda, que se pode exemplificar assim: Lázaro necessita
urgentemente de dinheiro, p. ex. 100 onças de ouro. Mas, como não encontra ninguém que lhe queira emprestar
dinheiro sem juro, compra do comerciante Crasso uma mercadoria ao preço máximo de 100 onças contra pagamento
a ser efetivado mais tarde, e imediatamente revende essa mesma mercadoria (que Lázaro não precisa) a Crasso ao
preço mínimo de 100 onças, com a condição de que Crasso pague imediatamente essa soma. Segundo a opinião da
maioria dos moralistas, tal contrato era apenas uma forma encoberta de empréstimo a juro.
2 Da censura de Lovaina de 1657, propos. 14. Cf. Moya, l.c. ad *2022 a.O. (ed. de 1664) 163, propos. 2; cf. Lessius,
l.c. ad *2128, II 21, dub. 16.
503
2141 41. Cum numerata pecunia pretiosior sit nume- 41. Dado que o dinheiro à vista tem um valor
randa, et nullus sit, qui non maioris faciat pecuniam maior que o dinheiro disponível no futuro e não há
praesentem quam futuram, potest creditor aliquid ninguém que não atribua valor maior ao dinheiro
ultra sortem a mutuatario exigere et eo titulo ab presente do que ao futuro, o credor pode exigir,
usura excusari1. daquele que recebeu o empréstimo, alguma coisa a
mais que o capital e sob esta alegação ser escusado
de usura1.
2142 42. Usura non est, dum ultra sortem aliquid exi- 42. Não se trata de usura quando se exige alguma
gitur tamquam ex benevolentia et gratitudine de- coisa a mais que o capital como devido por benevo-
bitum, sed solum si exigatur tamquam ex iustitia lência e gratidão, mas somente quando se exige
debitum1. como devido por justiça1.
2143 43. Quidni nonnisi veniale sit, detrahentis aucto- 43. Que coisa a mais senão uma culpa venial
ritatem magnam sibi noxiam falso crimine elidere?1 quando alguém com uma acusação falsa detrai a
grande autoridade de um caluniador que seja dano-
sa para ele?1
2144 44. Probabile est, non peccare mortaliter, qui 44. É provável que não peque de modo mortal
imponit falsum crimen alicui, ut suam iustitiam et aquele que imputa a um outro um crime falso para
honorem defendat. Et si hoc non sit probabile, vix defender a sua retidão e a sua honra. E se esta <opi-
ulla erit opinio probabilis in theologia1. nião> não é provável, então, mal há alguma opinião
provável em teologia1.
2145 45. Dare temporale pro spirituali non est simo- 45. Dar um bem temporal por um bem espiritual
nia, quando temporale non datur tamquam pretium, não é simonia, quando o bem temporal não é dado
sed dumtaxat tamquam motivum conferendi vel como preço, mas somente como para conferir ou
efficiendi spirituale, vel etiam quando temporale sit realizar o <bem> espiritual, ou também quando o
solum gratuita compensatio pro spirituali, aut e temporal é apenas compensação gratuita pelo espi-
contra1. ritual, ou vice-versa1.
2146 46. Et id quoque locum habet, etiamsi temporale 46. E isto acontece também quando o bem tem-
sit principale motivum dandi spirituale; immo poral é o motivo principal da concessão do espiri-
etiamsi sit finis ipsius rei spiritualis, sic ut illud pluris tual; e mesmo quando é a finalidade do mesmo bem
aestimetur quam res spiritualis1. espiritual, a tal ponto que aquele <bem material> é
mais estimado que o bem espiritual1.
2147 47. Cum dicit Concilium Tridentinum1, eos alie- 47. Quando o Concílio de Trento1 diz que pecam
nis peccatis communicantes mortaliter peccare, qui, mortalmente, participando em pecado alheio, os que
nisi quos digniores et Ecclesiae magis utiles ipsi promovem a ofícios eclesiásticos <outros> que não
iudicaverint, ad ecclesias promovent: Concilium vel aqueles que tenham julgado mais dignos e mais úteis
primo videtur per hoc “digniores” non aliud signi- para a Igreja, parece que o Concílio, ou, primeiro,
ficare velle, nisi dignitatem eligendorum, sumpto com este <termo> “mais dignos” queria significar
comparativo pro positivo; vel secundo locutione nada senão a dignidade daqueles que devem ser es-
minus propria ponit “digniores”, ut excludat indig- colhidos, usando o comparativo pelo positivo; ou
*2141 1 Cf. Caramuel, Theologia intentionalis II, disp. 14, n. 799s (Lyon 1664) pg. 183.
*2142 1 Da censura de Lovaina de 1657, propos. 13. Cf. Escobar y Mendoza, Liber theologiae moralis 24 S.I. doctoribus
reseratus, tract. 3, examen 5, c. 1, n. 44 (ed. de Veneza de 1660: pg. 324).
*2143 1 Tese de Lovaina de 1645; cf. também a proposição seguinte.
*2144 1 Da censura de Lovaina de 1657, propos. 3; semelhantemente também a censura de Lovaina de 1653, propos. 6. Cf.
Caramuel, Theologia moralis fundamentalis, ed. antes de 1664, fundam. 55, § 6, n. 2580 (mais tarde Caramuel res-
tringiu: somente segundo o direito natural); no mesmo sentido Sinne Moya, l.c. ad *2022 (ed. de 1664), 87, n. 3,
alegando Domingo Báñez OP, Decisiones de iure et iustitia [comentário a] q. 70, a. 3, dub. 2.
*2145 1 Da censura de Lovaina de 1657, propos. 15/I. Gregor von Valencia SJ, Commentarii theologici (Ingolstadt 1595) III,
disp. 6, q. 16, punctum 3; Escobar, l.c. ad *2033, VII 56, sect. 2, c. 8, dub. 3-5.
*2146 1 Da censura de Lovaina de 1657, propos. 15/II. Cf. Escobar, l.c. ad *2145.
*2147 1 Concílio de Trento, sessão 24ª, decreto sobre a reforma geral, cân. 1 (SGTr 9, 97817).
504
nos, non vero dignos; vel tandem loquitur tertio, segundo, com uma expressão menos apropriada, usa
quando fit concursus. “mais dignos” para excluir os indignos, não porém
os dignos; ou, terceiro, enfim, fala do caso em que
há concurso.
48. Tam clarum videtur, fornicationem secundum 48. Parece tão claro que a fornicação em si mes- 2148
se nullam involvere malitiam, et solum esse malam, ma não envolve nenhuma malícia e é má somente
quia interdicta, ut contrarium omnino rationi disso- porque proibida, que o contrário parece completa-
num videatur1. mente dissonante da razão1.
49. Mollities iure naturae prohibita non est. Unde, 49. A molícia não é proibida pelo direito natural. 2149
si Deus eam non interdixisset, saepe esset bona et Pelo que, se Deus não a tivesse proibido, muitas
aliquando obligatoria sub mortali1. vezes seria boa e alguma vez obrigatória sob pena
de pecado mortal1.
50. Copula cum coniugata, consentiente marito, 50. Uma relação sexual com uma mulher casada, 2150
non est adulterium; adeoque sufficit in confessione quando o marido consente, não é adultério, pelo que
dicere, se esse fornicatum1. é suficiente acusar-se, na confissão, de fornicação1.
51. Famulus, qui submissis humeris scienter adiu- 51. Um servo que dobra as costas para ajudar 2151
vat herum suum ascendere per fenestras ad stupran- consciamente o seu patrão a subir por uma janela
dam virginem, et multoties eidem subservit defe- para estuprar uma menina e muitas vezes o ajuda,
rendo scalam, aperiendo ianuam, aut quid simile transportando a escada, abrindo a porta ou coopera
cooperando, non peccat mortaliter, si id faciat metu para algo semelhante, não peca mortalmente se faz
notabilis detrimenti, puta ne a domino male tracte- isto pelo temor de um notável dano, por exemplo,
tur, ne torvis oculis aspiciatur, ne domo expellatur1. para não ser maltratado pelo patrão, para não ser
olhado de lado, para não ser expulso de casa1.
52. Praeceptum servandi festa non obligat sub 52. O preceito de observar as festas não obriga 2152
mortali, seposito scandalo, si absit contemptus1. sob pena de pecado mortal, uma vez excluído o
escândalo, se não houver intenção de desprezo1.
53. Satisfacit praecepto Ecclesiae de audiendo 53. Satisfaz o preceito da Igreja de ouvir a missa 2153
Sacro, qui duas eius partes, immo quattuor simul a quem ouve duas das suas partes ou também quatro
diversis celebrantibus audit1. juntas de diversas celebrantes1.
54. Qui non potest recitare Matutinum et Laudes, 54. Aquele que não pode recitar as Matinas e as 2154
potest autem reliquas Horas, ad nihil tenetur; quia Laudes, mas pode recitar as outras Horas, não é obri-
maior pars trahit ad se minorem1. gado a nada, porque a parte maior arrasta consigo a
parte menor1.
55. Praecepto communionis annuae satisfit per 55. O preceito da comunhão anual é satisfeito 2155
sacrilegam Domini manducationem [cf. *2034]1. mesmo quando se faz a comunhão de modo sacrí-
lego [cf. *2034]1.
*2148 1 Caramuel, l.c. ad *2141, IV, n. 1904 (literalmente); Theologia moralis ad prima eaque clarissima principia reducta
(Leuven 1645) IV, n. 1598; propos. 48 e 49 se deduzem do princípio segundo o qual Deus poderia ter prescrito
mandamentos que contradissessem os da segunda tábua do decálogo ou até se opusessem a eles. Cf. Theologia inten-
tionalis IV, n. 1960 1963 1965; Theologia moralis … II, n. 1184.
*2149 1 Da censura de Lovaina de 1653, propos. 3/II. Caramuel, Theologia moralis … (Cf. *2148), n. 1603; Theologia inten-
tionalis (cf. *2148) IV, n. 1965 (literalmente).
*2150 1 Da censura de Lovaina de 1653, propos. 3/I; do mesmo modo Caramuel.
*2151 1 Cf. Tamburini, l.c. ad *2021, V 1, § 4, n. 19.
*2152 1 Da censura de Lovaina de 1653, propos. 8.
*2153 1 Da censura de Lovaina de 1657, propos. 17. Cf. sobretudo Escobar, l.c. ad *2142, tract. 1, examen 11, c. 4 (ed. de Veneza
1660: pg. 138); mais prudentemente em sua Theologia moralis (cf. *2033) V/ II, l. 42, sect. 1, c. 2; cf. Juan Azor SJ,
Institutiones morales (Lyon 1613) I, l. 7, c. 3, q. 3; Diana, a. *2112 a.O. II, tract. 17, resol. 18, und VIII, tract. 7, resol. 89.
*2154 1 Castropalao, l.c. ad *2101, II, tract. 7, disp. 2, punctum 6, n. 9; Trullench, l.c. ad *2134, I, l. 1, c. 7, dub. 27, n. 5;
Diana, l.c. ad *2112, IV, tract. 4, resol. 225, e X, tract. 16, resol. 48 (outros 47).
*2155 1 Azor, l.c. ad *2153, I, l. 7, c. 30, q. 12; Francisco Suárez SJ, De eucharistia, disp. 70, sect. 3, n. 2 (Opera omnia, ed/
C. Berton, t. 21 [Paris 1866ss] 550s); Cardeal de Lugo SJ, De eucharistia, disp. 16, sect. 4, n. 83 (Opera omnia, ed.
J.B. Fournials, t. 4 [Paris 1892] 188); tese de Lovaina de 21 jun. 1676 (SJ), These 23.
505
2156 56. Frequens confessio et communio, etiam in his, 56. A confissão e comunhão freqüente, também
qui gentiliter vivunt, est nota praedestinationis1. naqueles que vivem do modo dos pagãos, é um si-
nal de predestinação1.
2157 57. Probabile est, sufficere attritionem naturalem, 57. É provável que a atrição natural seja suficiente,
modo honestam1. com a condição de que seja honesta1.
2158 58. Non tenemur confessario interroganti fateri 58. Não somos obrigados a declarar ao confessor
peccati alicuius consuetudinem1. que interroga a habitualidade de qualquer pecado1.
2159 59. Licet sacramentaliter absolvere dimidiate tan- 59. É lícito absolver sacramentalmente os que se
tum confessos, ratione magni concursus paeniten- confessaram só pela metade, quando há grande
tium, qualis verbi gratia potest contingere in die afluência de penitentes, como por exemplo, pode
magnae alicuius festivitatis aut indulgentiae1. acontecer no dia de qualquer grande festividade ou
indulgência1.
2160 60. Paenitenti habenti consuetudinem peccandi 60. A absolvição não deve ser negada e nem
contra legem Dei, naturae aut Ecclesiae, etsi emen- mesmo adiada a um penitente que peca de modo
dationis spes nulla appareat, nec est neganda nec habitual contra a lei de Deus, da natureza ou da
differenda absolutio, dummodo ore proferat, se do- Igreja, também se não se manifesta nenhuma espe-
lere et proponere emendationem1. rança de correção, contanto que proclame com a boca
o sentimento de dor e o propósito de correção1.
2161 61. Potest aliquando absolvi, qui in proxima oc- 61. Às vezes pode ser absolvido aquele que se
casione peccandi versatur, quam potest et non vult encontra numa ocasião próxima de pecado, que ele
omittere, quin immo directe et ex proposito quaerit pode mas não quer deixar, mas que antes procura
aut ei se ingerit1. de modo direto e de propósito ou a ela se expõe1.
2162 62. Proxima occasio peccandi non est fugienda, 62. Não se deve fugir da ocasião próxima de
quando causa aliqua utilis aut honesta non fugiendi pecado quando se apresenta algum motivo útil ou
occurrit1. justo para não fugir dela1.
2163 63. Licitum est quaerere directe occasionem pro- 63. É lícito procurar de modo direto a ocasião
ximam peccandi pro bono spirituali vel temporali próxima de pecado para o bem espiritual ou mate-
nostro vel proximi1. rial nosso ou do próximo1.
2164 64. Absolutionis capax est homo, quantumvis 64. O homem é capaz de receber a absolvição,
laboret ignorantia mysteriorum fidei, et etiamsi per por mais que sofra de ignorância dos mistérios da
negligentiam, etiam culpabilem, nesciat mysterium fé e mesmo se, por negligência culpável, não co-
sanctissimae Trinitatis et Incarnationis Domini nostri nhece o mistério da santíssima Trindade e da En-
Iesu Christi1. carnação de nosso Senhor Jesus Cristo1.
2165 65. Sufficit illa mysteria semel credidisse1. 65. É suficiente ter crido estes mistérios uma só
vez1.
*2156 1 These de Liege, OFM, ano 1676; do meso modo tese de Namur, OFM.
*2157 1 These de Paris, SJ (Collège Clermont-Ferrand), ago. 1643, igualmente 23 mai. e 6 jun. 1644.
*2158 1 Juan Sánchez, l.c. ad *2102, disp. 9, n. 6.
*2159 1 Da censura de Lovaina de 1653, propos. 4.
*2160 1 Da censura de Lovaina de 1653, propos. 1. Cf. Juan Sánchez, l.c. ad *2102, disp. 9, n. 6; cf. Étienne Bauny SJ,
Theologia moralis I, tract. 4: De poenitentia, q. 22.
*2161 1 Da censura de Lovaina de 1653, propos. 2; Bauny, l.c. ad *2160, I, tract. 4, q. 15; cf. ibid. q. 14; id., La somme des
péchés … (Paris 1643 6) cap. 46.
*2162 1 Esta e a seguinte frase foram ensinadas sobretudo por Leandro de Murcia OFMCap; cf. suas Disquisitiones morales
in Iam Iae S. Thomae (Madrid 1653 1660) II, disp. 1, resol. 16 (mas ele fala do perigo provável de pecar).
*2163 1 Da censura de Lovaina de 1657, propos. 1; cf. além do supra mencionado Leandro de Murcia: Castropalao, l.c. ad
*2101, I, tract. 2, disp. 2, punctum 9, n. 8-9. Opinião semelhante teria sido proposta por Basilius Ponce de León
OESA, Juan de Salas SJ, Tomás Hurtado e Domingo de Soto OP.
*2164 1 Da censura de Lovaina de 1653, Satz 17. Cf. Bauny, Theologia moralis I, tract. 4: De ministro poenitentiae, q. 12.
*2165 1 Cf. Tamburini, l.c. ad *2021, II 1, § 1, n. 3 e 8.
506
*2167 1 Assim insiste igualmente Bento XIV na constituição que se dirige primeiramente aos censores do Sto. Ofício, “Sollicita
ac provida”, de 9 jul. 1753, quando prossegue depois das palavras citadas neste número: “Por isso se deverá refrear
a arbitrariedade dos escritores, os quais, como dizia Agostinho no livro 12 das confissões, cap. 25, n. 34, ‘se apegam
a seu próprio parecer não por estar certo, mas por ser o deles’, de que não apenas reprovam as opiniões dos outros,
mas de maneira vergonhosa chegam a vituperá-las e a desacreditá-las. Não se deve em absoluto tolerar que opiniões
privadas por alguém sejam impostas nos livros como doutrinas certas e definidas pela Igreja e que as opiniões contrá-
rias sejam tachadas como erros …
(§ 24) O angélico Príncipe das escolas e Doutor da Igreja, Santo Tomás de Aquino, … quando necessário, ataca as
opiniões de filósofos e de teólogos que, impulsionado pela verdade, tem de rechaçar. Mas a já conhecida fama deste
tão grande doutor é admiravelmente aumentada pelo fato de que ele, pelo que se vê, nunca menosprezou, ofendeu ou
difamou nenhum de seus adversários, mas, ao contrário, a todos ganhou por sua cortesia e amabilidade …
Os que costumam citar e gloriar-se de tão destacado mestre … devem emular este grande mestre usando de moderação
ao escrever e mostrando sumo respeito para com seus adversários na maneira de tratá-los e de disputar com eles. E
também os outros, que divergem da escola e da doutrina de Santo Tomás, deveriam se esforçar no mesmo sentido. Pois
a Igreja propôs como exemplo diante dos olhos de todos as virtudes dos Santos; e, como o Doutor angélico foi posto
na lista dos Santos, será lícito defender uma opinião divergente da sua, mas de modo algum será lícito adotar um modo
de agir e de disputar que lhe seja contrário” (“Cohibeatur itaque ea scriptorum licentia, qui, aut aiebat Augustinus lib.
12 Confessionum cap. 25 n. 34 “sententiam suam amantes, non quia vera est, sed quia sua est”, aliorum opiniones non
modo improbant, sed illiberaliter etiam notant atque traducunt. Non feratur omnino [a librorum censoribus S. Officii
et S. Cgr. Indicis, ad quos proxime hae bulla destinata est], privatas sententias, veluti certa ac definita Ecclesiae
dogmata, a quopiam in libris obtrudi, opposita vero erroris insimulari …
(§ 24) Angelicus scholarum princeps Ecclesiaeque Doctor, S. Thomas Aquinas … necessario offendit philosophorum
theologorumque opiniones, quas veritate impellente refellere debuit. Ceteras vero tanti Doctoris laudes id mirabiliter
cumulat, quod adversariorum neminem parvipendere, vellicare aut traducere visus sit, sed omnes officiose ac perhu-
maniter demereri … Qui tam eximio uti solent ac gloriari magistro …, ii sibi ad aemulandum proponant tanti Doctoris
in scribendo moderationem, honestissimamque cum adversariis agendi disputandique rationem. Ad hanc ceteri quoque
sese componere studeant, qui ab eius schola doctrinaque recedunt. Sanctorum enim virtutes omnibus in exemplum ab
Ecclesia propositae sunt: cumque Angelicus Doctor Sanctorum albo adscriptus sit, quamquam diversa ab eo sentire
liceat, ei tamen in contrariam in agendo ac disputando rationem inire omnino non licet”: Bento XIV, Bullarium, ed.
de Malinas 10, 252s / BullLux 19 [1758] 63a).
507
Probabilismo e Probabiliorismo
2175 Facta relatione per Patrem Lauream contentorum Tendo sido feita pelo padre Laurea uma relação
in litteris Patris Thirsi González Societatis Iesu, sobre o conteúdo da carta escrita pelo padre Tirso
Sanctissimo Domino nostro directis, Eminentissimi González SJ ao nosso Santíssimo Senhor, os Emi-
Domini dixerunt, quod scribatur per Secretarium nentíssimos Senhores disseram que, pelo intermé-
Status Nuntio Apostolico Hispaniarum, ut significet dio do Secretário de Estado se escreva ao Núncio
dicto Patri Thirso, quod Sanctitas Sua benigne ac- Apostólico da Espanha, para que este comunique
cepit ac, non sine laude perlectis eius litteris, man- ao acima referido padre Tirso que Sua Santidade
davit ut ipse libere et intrepide praedicet, doceat et acolheu com benignidade sua carta e, depois de tê-
calamo defendat opinionem magis probabilem, nec la lido, não sem expressão de louvor, deu ordem
non viriliter impugnet sententiam eorum qui asse- para que o mesmo possa pregar de modo livre e
runt, quod in concursu minus probabilis opinionis intrépido, ensinar e defender por escrito a opinião
cum probabiliori sic cognita et iudicata, licitum sit mais provável, e também vigorosamente combater
sequi minus probabilem eumque certum faciat, quod a opinião daqueles que afirmam que, no confronto
quidquid favore opinionis magis probabilis egerit de uma opinião menos provável com uma mais
et scripserit, gratum erit Sanctitati Suae. provável, que seja conhecida e julgada como tal, é
lícito seguir a menos provável, e para que lhe faça
saber que qualquer coisa que fizer ou escrever em
favor da opinião mais provável será coisa agradável
a Sua Santidade.
2176 Iniungatur Patri Generali Societatis Iesu de ordi- Ao padre geral da Companhia de Jesus, por or-
ne Sanctitatis Suae, ut non modo permittat eiusdem dem de Sua Santidade, deve pois ser imposto que
Patribus Societatis scribere pro opinione magis pro- não somente permita aos padres desta Companhia
babili et impugnare sententiam asserentium, quod escrever a favor da opinião mais provável e comba-
in concursu minus probabilis opinionis cum proba- ter a sentença de quantos afirmam que, em caso de
biliori sic cognita et iudicata, licitum sit sequi mi- conflito entre a opinião menos provável e a mais
nus probabilem; verum etiam scribat omnibus Uni- provável, conhecida e julgada como tal, seja lícito
versitatibus Societatis, mentem Sanctitatis Suae esse, seguir a menos provável; mas escreva também a
508
ut quilibet, prout sibi libuerit, libere scribat pro todas as Universidades da Companhia que o pensa-
opinione magis probabili et impugnet contrariam mento de Sua Santidade é que cada um, como lhe
praedictam; eisque iubeat ut mandato Sanctitatis agradar, escreva livremente a favor da opinião mais
Suae omnino se submittant. provável e impugne a contrária, acima menciona-
da; e que lhes ordene de se submeter em tudo à
ordem de Sua Santidade.
[Additum in autographo S. Officii:] Die 8 Iulii [Adendo no texto autógrafo do S. Ofício:] 8 jul. 2177
1680. Renunciato praedicto Ordine Sanctitatis Suae 1680. Tendo sido relatada por parte do assessor a
Patri Generali Societatis Iesu per Assessorem, res- referida diretiva de Sua Santidade ao padre geral
pondit, se in omnibus quanto citius pariturum, licet da Companhia de Jesus, este respondeu que obede-
nec per ipsum, nec per suos Praedecessores fuerit cerá em tudo no modo mais rápido, também por-
umquam interdictum scribere pro opinione magis que de sua parte e dos seus predecessores jamais
probabili, eamque docere. foi proibido escrever e ensinar a favor da opinião
mais provável.
509
sum Christum, scientes quod non habet aliquid ao invés, na caridade glorifiquem Deus, o nosso
viriditatis ramus boni operis, si non manet in radice Senhor Jesus Cristo, sabendo que o ramo da boa
caritatis. obra não tem nenhum vigor se não permanece na
raiz da caridade.
2184 4. Licet autem nemo a contemplationis gratia, 4. Se bem que ninguém deva ser mantido longe
auxiliante Deo, repellatur, animadvertendum tamen da graça da contemplação, com o auxílio de Deus,
magnopere est per directores animarum, ne omnis os diretores das almas devem todavia ter grande
aetas, gradus, sexus aut condicio ad huius doctrinae atenção para que não toda idade, posição, sexo ou
et exercitii praxim indistincte admittatur, sed prius condição seja indistintamente admitida à pratica
mensuram spiritus, quid ferre quidve agere valeat, desta doutrina e disciplina, mas antes considerem,
assidua observatione pensent, ut alios ad meditatio- com observação assídua, a capacidade do espírito,
nem, alios ad contemplationem, iuxta uniuscuius- o que seja capaz de suportar e de fazer, a fim de
que spiritum, perducant. conduzir uns à meditação, outros à contemplação,
segundo o espírito de cada um.
2185 5. Ut autem doctrina de oratione contemplativa, 5. Para que a doutrina da oração contemplativa
qua fidelium animae ad summam cum Deo unio- com a qual as almas dos fiéis são elevadas à máxi-
nem elevantur, purgatis erroribus, integra et illibata ma união com Deus, eliminados os erros, permane-
permaneat, caveant inprimis contemplativi asserere ça íntegra e pura, guardem-se bem sobretudo os
aut tenere, solius Dei praesentiam in omni loco esse contemplativos de afirmar e de sustentar que a pre-
obiectum contemplationis seu orationis quam quie- sença de Deus só é, em todo lugar, o objeto da
tis vocant: cum omnia meditationis obiecta possint, contemplação ou da oração que chamam <oração>
licet diverso modo, esse obiecta contemplationis; de quietude; porque todos os objetos da meditação
neque pariter audeant asserere, eos numquam qui podem, também se de modo diferente, ser objetos
meditatione se exercent, ad aliquem perfectionis da contemplação; e, igualmente, guardem-se de
gradum ascendere posse, nisi ad contemplationis afirmar que jamais aqueles que se exercitam na
orationem transierint. meditação podem subir a algum grau de perfeição,
se não passarem pela oração contemplativa.
2186 6. Et quia per incarnationem et passionem Domini 6. E já que fomos salvos e livres pela encarnação
nostri Iesu Christi salvati et liberati sumus, caveant e paixão do Senhor nosso Jesus Cristo, guardem-se
contemplativi, ne, voluntarie atque ex industria, eius- os contemplativos de preterir, voluntária e proposi-
dem Domini nostri vitae, gestorum, passionis et talmente, os mistérios da vida, das ações, da paixão
redemptionis mysteriorum obliviscantur aut eorum- e da redenção do mesmo Senhor, ou de afirmar que
dem considerationem inutilem et contemplationis sua consideração é inútil e contrária ao estado da
statui contrariam esse asseverent; immo eorum con- contemplação: antes, ao exemplo de todos os San-
siderationi, ad exemplum omnium Sanctorum, pro tos, se apliquem com zelo à sua consideração, se-
loci et temporis opportunitate sedulo incumbant. gundo a oportunidade do lugar e do tempo.
2187 7. Neque Christi Domini Beatissimaeque eius 7. E tampouco devem afastar da mente e dos
Matris Mariae Virginis ceterorumque Sanctorum, qui olhos, como inúteis para a contemplação, as ima-
cum Deo regnant in caelis et pro nobis in hac lacry- gens e as representações, quer externas como inter-
marum valle constitutis orant, imagines et simula- nas, de Cristo Senhor, de sua Beatíssima Mãe, a
cra, tam externa quam interna, velut contemplatio- Virgem Maria, e dos outros Santos que reinam nos
ni inutilia a mente et oculis removeant; licet ali- céus com Deus e rezam por nós, que estamos neste
quando, in actu contemplationis tantum, et quando vale de lágrimas; ainda que, alguma vez – mas so-
mens nostra caelestibus donis perfusa ad divinarum mente no momento da contemplação, quando a
rerum contemplationem attrahitur, ne anima distra- nossa mente inundada pelos dons celestiais é arras-
hatur, liceat a figuris pro tunc recedere. tada para a contemplação das coisas do céu, para
que a alma não seja distraída – seja bom afastar-se
das figuras naquele momento.
2188 8. Et quia perfectae contemplationis exercitium 8. E já que o exercício da contemplação perfeita
in eo praecipue versatur, ut anima in contemplatio- consiste sobretudo no fato de a alma no próprio ato da
nis actu nihil aliud agat, immo cum pro tunc om- contemplação não fazer nada mais, antes, dado que
510
nium creaturarum oblivione ad Deum aut divina in então na contemplação das mais sublimes virtudes da
sublimium virtutum fidei, spei et caritatis, quibus fé, esperança e caridade, com as quais principalmente
Deus praecipue colitur, consideratione elevetur, se presta honra a Deus, ela é elevada, pelo esqueci-
nullo modo meditativi audeant aut praesumant con- mento de todas as criaturas, a Deus ou às coisas divi-
templativos tamquam otiosos et desides in vulgus nas, de nenhum modo aqueles que se dedicam à me-
sugillare. ditação ousem ou presumam ultrajar, diante do povo,
os contemplativos como ociosos ou preguiçosos.
9. Meminerint praeterea tam contemplativi quam 9. Recordem-se, outrossim, tanto os contempla- 2189
meditativi, minime se exemptos esse ab observatio- tivos quanto os meditativos, que eles não são por
ne praeceptorum Dei et Ecclesiae; immo omnes, nada isentos da observância dos preceitos de Deus
velut servi erga dominos et uxores erga viros suos, e da Igreja; antes, <recordem-se> que todos, qual
stricte teneri ad observantiam mandatorum, quae servos em referência aos patrões e qual esposas em
secundum cuiusque statum servari debent, cum vir- referência a seus maridos, são estritamente obriga-
tus orationis ad humilitatem et oboedientiam, non dos à observância dos mandamentos que devem ser
vero ad superbiam et elationem, perducat. observados segundo o estado de cada um, já que a
virtude da oração conduz à humildade e à obediên-
cia e não, ao invés, à soberba e ao orgulho.
10. Idem pariter docendum et tenendum est de 10. A mesma coisa igualmente deve ser ensinada e 2190
clericis tam saecularibus quam regularibus, pariter- sustentada a propósito dos clérigos, quer seculares
que de monialibus: ne praetextu meditationis sive quer regulares, como também das monjas: não presu-
contemplationis praesumant se ab ecclesiasticis obli- mam jamais, com o pretexto da meditação ou da con-
gationibus, regularibus votis, institutis aut regulis templação, a serem isentos ou livres das obrigações
eximi aut liberari, cum ab eorum observantia, quam- eclesiásticas dos votos regulares, das disposições ou
vis ad aliquem perfectum orandi gradum pervene- das regras, pois que, mesmo se tiverem chegado a
rint, nullo modo probentur exempti. algum nível perfeito de oração, não se devem consi-
derar de nenhum modo dispensados de observá-las.
11. Ab externis autem religionis et pietatis officiis, 11. Saibam pois todos, os contemplativos e os 2191
quae a fidelibus in Ecclesia catholica exerceri so- meditativos, que de modo algum são dispensados
lent, quemadmodum sunt sacramentorum et sacra- dos deveres exteriores da religião e da piedade que
mentalium usus, ecclesiarum visitatio et ieiuniorum costumam praticar os fiéis da Igreja católica, como,
observantia, contionum auditio et reliqua spiritualis por exemplo, o uso dos sacramentos e dos sacra-
sive corporalis misericordiae opera, sciant cuncti, mentais, a visita das igrejas e a observância dos je-
contemplativi aeque ac meditativi, minime esse juns, a audiência das pregações e as outras obras de
exemptos, immo magno fore fidelibus scandalo, si misericórdia espiritual e corporal, mais, que seria
praedictorum mandatorum aliqua ab eis, praetextu um grande escândalo para os fiéis se, com o pretex-
contemplationis seu meditationis, negligantur. to da contemplação ou da meditação, alguns dos so-
breditos preceitos fossem por eles descuidados.
12. Impium prorsus et christiana puritate indig- 12. É absolutamente ímpio e indigno da pureza 2192
num est asserere, non esse resistendum tentationi- cristã afirmar que não se deve opor resistência às
bus, neque imputari contemplativis ipsa peccata, tentações e que não devem ser imputados aos con-
quae ab eis, dum contemplant, committuntur, sub templativos aqueles pecados que por eles são co-
falsa opinione, quod tunc non ipsi contemplativi, metidos enquanto estão em contemplação, sob a fal-
sed diabolus per eorum membra talia operetur. sa opinião de que naquele momento não os pró-
Impium pariter est asserere, huiusmodi peccata non prios contemplativos, mas o diabo pratica tais coi-
esse per contemplativos in sacramento paenitentiae sas por meio de seus membros. É igualmente ímpio
aperienda et Ecclesiae clavibus subiicienda. Impium afirmar que os pecados deste gênero não devem ser
denique, quod simpliciter necessaria sit ad salutem manifestados pelos contemplativos no sacramento
oratio mentalis sive meditativa sive contemplativa. da penitência e submetidos às chaves da Igreja. É
ímpio, enfim, julgar que pela salvação seja neces-
sária simplesmente a oração mental, quer contem-
plativa quer meditativa.
511
512
3. Vota de aliquo faciendo sunt perfectionis 3. Os votos de fazer alguma coisa são um impe- 2203
impeditiva1. dimento para a perfeição1.
4. Activitas naturalis est gratiae inimica, impe- 4. A atividade natural é inimiga da graça e impe- 2204
ditque Dei operationes et veram perfectionem; quia de as operações de Deus e a verdadeira perfeição:
Deus operari vult in nobis sine nobis. pois Deus quer operar em nós, sem nós.
5. Nihil operando anima se annihilat et ad suum 5. Não operando nada, a alma se aniquila e retor- 2205
principium redit et ad suam originem, quae est es- na ao seu princípio e à sua origem, que é a essência
sentia Dei, in qua transformata remanet ac divini- de Deus, e transformada nesta permanece como di-
zata, et Deus tunc in se ipso remanet; quia tunc non vinizada, e Deus então permanece em si mesmo;
sunt amplius duae res unitae, sed una tantum, et porque então não são mais duas coisas unidas, mas
hac ratione Deus vivit et regnat in nobis, et anima tão somente uma, e por este motivo Deus vive e
seipsam annihilat in esse operativo. reina em nós, e a alma se aniquila a si mesma no
ser operativo.
6. Via interna est illa, in qua non cognoscitur nec 6. A via interior é aquela na qual não se conhece 2206
lumen, nec amor, nec resignatio; et non oportet nem luz, nem amor, nem resignação; e não é neces-
Deum cognoscere, et hoc modo recte proceditur. sário conhecer Deus, e assim se procede retamente.
7. Non debet anima cogitare nec de praemio, nec 7. A alma não deve pensar nem no prêmio nem 2207
de punitione, nec de paradiso, nec de inferno, nec na punição, nem no paraíso nem no inferno, nem
de morte, nec de aeternitate. na morte nem na eternidade.
8. Non debet velle scire, an gradiatur cum volun- 8. Não deve querer saber se caminha segundo a 2208
tate Dei, an cum eadem voluntate resignata maneat vontade de Deus ou se permanece ou não resignada
necne; nec opus est, ut velit cognoscere suum sta- com a mesma vontade; e não é necessário que ela
tum nec proprium nihil; sed debet ut corpus exani- queira conhecer seu estado ou seu próprio nada; mas
me manere. deve permanecer como um corpo morto.
9. Non debet anima reminisci nec sui, nec Dei, 9. A alma não deve se lembrar nem de si, nem de 2209
nec cuiuscumque rei, et in via interna omnis refle- Deus, nem de qualquer outra coisa, e na via interior
xio est nociva, etiam reflexio ad suas actiones hu- toda reflexão é nociva, mesmo a reflexão sobre as
manas et ad proprios defectus. próprias ações humanas e sobre os próprios defeitos.
10. Si propriis defectibus alios scandalizet, non 10. Não é necessário refletir se com os próprios 2210
est necessarium reflectere, dummodo non adsit vo- defeitos se causa escândalo para os outros, desde
luntas scanda-lizandi: et ad proprios defectus non que não haja a vontade de escandalizar; e o não
posse reflectere, gratia Dei est. poder refletir sobre os próprios defeitos é uma gra-
ça de Deus.
11. Ad dubia quae occurrunt, an recte procedatur 11. Não se deve refletir sobre as dúvidas que 2211
necne, non opus est reflectere. nos acometem a respeito de procedermos ou não
retamente.
12. Qui suum liberum arbitrium Deo donavit, de 12. Aquele que entregou a Deus o seu livre-arbí- 2212
nulla re debet curam habere, nec de inferno, nec de trio não deve preocupar-se com nada, nem com o
paradiso; nec debet desiderium habere propriae inferno nem com o paraíso; e não deve ter o desejo
perfectionis, nec virtutum, nec propriae sanctitatis, da própria perfeição, nem das virtudes nem da pró-
nec propriae salutis, cuius spem expurgare debet. pria santidade, nem da própria salvação, cuja espe-
rança deve eliminar.
13. Resignato Deo libero arbitrio, eidem Deo 13. Uma vez submisso a Deus o livre arbítrio, 2213
relinquenda est cogitatio et cura de omni re nostra, deve-se deixar a Deus mesmo o pensamento e a
*2203 1 A censura acrescenta: “Condenado entre os erros de Gerardo Segarellis como <proposição> herética dos pseudo-
apóstolos <= apostólicos>, e <concretamente> seu 17º erro, que soa assim: É vida mais perfeita viver sem votos que
com votos” (“Damnata inter errores Gerardi Segarelli, haeretica Pseudo-Apostolorum, et est eius error XVII, qui sic
habet: Perfectior vita est, vivere sine voto quam cum voto”). O modo como foram censuradas as proposições indivi-
dualmente fica claro no Codex Casanata 310.
513
et relinquere, ut faciat in nobis, sine nobis, suam preocupação de cada coisa nossa e deixar que ele
divinam voluntatem. faça em nós, sem nós, a sua divina vontade.
2214 14. Qui divinae voluntati resignatus est, non con- 14. Aquele que se submeteu à vontade divina não
venit, ut a Deo rem aliquam petat; quia petere est deve mais pedir a Deus coisa alguma, porque o pedir
imperfectio, cum sit actus propriae voluntatis et elec- é imperfeição, por ser um ato de vontade e escolha
tionis, et est velle, quod divina voluntas nostrae con- própria, e é um querer que a divina vontade se con-
formetur, et non quod nostra divinae: et illud Evan- forme à nossa e não, ao invés, a nossa à divina; e <a
gelii: “Petite et accipietis” [Io 16,24], non est dic- frase> do evangelho: “Pedi e recebereis” [Jo 16,24]
tum a Christo pro animabus internis, quae nolunt não foi dita por Cristo para as almas interiores, que
habere voluntatem; immo huiusmodi animae eo per- não querem ter vontade; antes, as almas de tal gêne-
veniunt, ut non possint a Deo rem aliquam petere. ro chegam ao ponto de não poder pedir nada a Deus.
2215 15. Sicut non debent a Deo rem aliquam petere, 15. Assim como não devem pedir a Deus coisa
ita nec illi ob rem aliquam gratias agere debent; quia alguma, assim também não devem render graças a
utrumque est actus propriae voluntatis. ele por nada; uma e outra coisa de fato são um ato
da própria vontade.
2216 16. Non convenit indulgentias quaerere pro poe- 16. Não se devem procurar as indulgências pela
na propriis peccatis debita; quia melius est divinae pena devida por causa dos próprios pecados, por-
iustitiae satisfacere, quam divinam misericordiam que é melhor satisfazer à divina justiça do que pro-
quaerere: quoniam illud ex puro Dei amore proce- curar a divina misericórdia: pois aquilo deriva do
dit, et istud ab amore nostri interessato, nec est res puro amor de Deus, isto, ao invés, do amor interes-
Deo grata nec meritoria, quia est velle crucem sado de nós mesmos, e não é coisa agradável a Deus
fugere. nem meritória, porque é um querer fugir da cruz.
2217 17. Tradito Deo libero arbitrio, et eidem relicta 17. Depois que o livre-arbítrio foi entregue a Deus
cura et cogitatione animae nostrae, non est amplius e se deixou a este o cuidado e a preocupação da
habenda ratio tentationum; nec eis alia resistentia nossa alma, não devem mais ser levadas em conta
fieri debet nisi negativa, nulla adhibita industria; et as tentações; e não se deve opor a essas nenhuma
si natura commovetur, oportet sinere ut commovea- resistência senão negativa, sem exercitar nenhu-
tur, quia est natura. ma atividade; e se a natureza se agita, é preciso
deixar que se agite, porque é natureza.
2218 18. Qui in oratione utitur imaginibus, figuris, 18. Quem na oração se serve de imagens, figu-
speciebus et propriis conceptibus, non adorat Deum ras, formas exteriores e conceitos próprios não ado-
in spiritu et veritate [cf. Io 4,23]. ra Deus em espírito e verdade [cf. Jo 4,23].
2219 19. Qui amat Deum eo modo, quo ratio argumen- 19. Quem ama a Deus no modo no qual a razão
tatur aut intellectus comprehendit, non amat verum argumenta e o intelecto compreende, não ama o
Deum. verdadeiro Deus.
2220 20. Asserere, quod in oratione opus est sibi per 20. Afirmar que, na oração, se deve recorrer ao
discursum auxilium ferre et per cogitationes, quan- auxílio do raciocínio e dos pensamentos quando
do Deus animam non alloquitur, ignorantia est. Deus Deus não fala à alma, é ignorância. Deus não fala
numquam loquitur, eius locutio est operatio, et sem- jamais, a sua palavra é o seu agir, e ele sempre age
per in anima operatur, quando haec suis discursibus, na alma quando esta não o impede com os seus
cogitationibus et operationibus eum non impedit. raciocínios, pensamentos e atividades.
2221 21. In oratione opus est manere in fide obscura et 21. Na oração deve-se permanecer na fé obscura
universali, cum quiete et oblivione cuiuscumque e total, no repouso e no esquecimento de qualquer
cogitationis particularis ac distinctae attributorum pensamento particular e distinto sobre os atributos
Dei ac Trinitatis, et sic in Dei praesentia manere ad de Deus e da Trindade, e permanecer assim na pre-
illum adorandum et amandum eique inserviendum; sença de Deus para adorá-lo e amá-lo e servi-lo;
sed absque productione actuum, quia Deus in his mas sem produção de atos, porque Deus nestes não
sibi non complacet. se compraz.
2222 22. Cognitio haec per fidem non est actus a crea- 22. Este conhecimento pela fé não é um ato pro-
tura productus, sed est cognitio a Deo creaturae duzido pela criatura, mas é o conhecimento dado
514
tradita, quam creatura se habere non cognoscit, nec por Deus à criatura, que a criatura não sabe que
postea cognoscit illam se habuisse; et idem dicitur tem; e o mesmo vale para o amor.
de amore.
23. Mystici cum S. Bernardo in Scala Claustra- 23. Os místicos distinguem, com São Bernardo, 2223
lium1 distinguunt quattuor gradus: lectionem, me- na Scala Claustralium1, quatro graus: a leitura, a
ditationem, orationem, et contemplationem infusam. meditação, a oração e a contemplação infusa. Quem
Qui semper in primo sistit, numquam ad secundum permanece sempre no primeiro não passa jamais para
pertransit. Qui semper in secundo persistit, num- o segundo. Quem permanece sempre no segundo
quam ad tertium pervenit, qui est nostra contempla- não chega jamais ao terceiro, que é a nossa contem-
tio acquisita, in qua per totam vitam persistendum plação adquirida, na qual se deve persistir por toda
est, dummodo Deus animam non trahat (absque eo, a vida até que Deus atraia a alma (sem que essa o
quod ipsa id exspectet) ad contemplationem infu- espere) à contemplação infusa; e quando esta cessa,
sam; et hac cessante, anima regredi debet ad ter- deve voltar ao terceiro grau, e neste permanecer, sem
tium gradum et in ipso permanere, absque eo, quod jamais retornar ao segundo ou ao primeiro.
amplius redeat ad secundum aut primum.
24. Qualescumque cogitationes in oratione occur- 24. Quaisquer que sejam os pensamentos que se 2224
rant, etiam impurae, etiam contra Deum, Sanctos, apresentam durante a oração, sejam eles impuros
fidem et sacramenta, si voluntarie non nutriantur ou até contrários a Deus, os Santos, a fé e os sacra-
nec voluntarie expellantur, sed cum indifferentia et mentos, se não são alimentados voluntariamente,
resignatione tolerentur; non impediunt orationem nem voluntariamente afastados, mas suportados com
fidei, immo eam perfectiorem efficiunt, quia anima indiferença e com resignação, não impedem a ora-
tunc magis divinae voluntati resignata remanet. ção da fé, antes a tornam ainda mais perfeita, por-
que a alma assim permanece mais abandonada à
vontade de Deus.
25. Etiamsi superveniat somnus et dormiatur, 25. Também, se sobrevém o sono e se dorme, per- 2225
nihilominus fit oratio et contemplatio actualis; quia manecem todavia em ato a oração e a resignação:
oratio et resignatio, resignatio et oratio idem sunt, pois oração e resignação, resignação e oração são a
et dum resignatio perdurat, perdurat et oratio. mesma coisa; e enquanto perdura a resignação,
perdura também a oração.
26. Tres illae viae: purgativa, illuminativa et uni- 26. As assim chamadas três vias, purificativa, ilu- 2226
tiva, sunt absurdum maximum, quod dictum fuerit minativa e unitiva, são o maior absurdo já falado na
in mystica, cum non sit nisi unica via, scilicet via mística; já que não há mais que uma só via, isto é,
interna. a interior.
27. Qui desiderat et amplectitur devotionem sen- 27. Quem deseja e abraça a devoção sensível não 2227
sibilem, non desiderat nec quaerit Deum, sed seip- deseja nem procura a Deus, mas a si mesmo; e quem
sum; et male agit, cum eam desiderat et eam habere caminha pela via interior age mal quando a deseja
conatur, qui per viam internam incedit, tam in locis e se esforça para tê-la, quer nos lugares sagrados,
sacris quam in diebus solemnibus. quer nos dias de festa solene.
28. Taedium rerum spiritualium bonum est, si- 28. O tédio das coisas espirituais é coisa boa, do 2228
quidem per illud purgatur amor proprius. momento em que com ele se purifica o amor próprio.
29. Dum anima interna fastidit discursus de Deo 29. Quando a alma interior se enfastia dos dis- 2229
et virtutes et frigida remanet, nullum in se ipsa sen- cursos sobre Deus e das virtudes e fica fria sem
tiens fervorem, bonum signum est. sentir nenhum fervor em si mesma, isto é um bom
sinal.
30. Totum sensibile, quod experimur in vita spi- 30. Toda coisa sensível da qual fazemos expe- 2230
rituali, est abominabile, spurcum et immundum. riência na vida espiritual é coisa abominável, ignóbil
e imunda.
*2223 1 Obra que se deve atribuir a Guido II, o Cartucho († 1188); cita-se cap. 1 (PL 184, 475C).
515
2231 31. Nullus meditativus veras virtutes exercet in- 31. Nenhum meditativo exercita as verdadeiras
ternas; quae non debent a sensibus cognosci. Opus virtudes interiores, que não devem ser pelos senti-
est amittere virtutes. dos. É preciso perder as virtudes.
2232 32. Nec ante nec post communionem alia requi- 32. Nem antes nem depois da comunhão se requer
ritur praeparatio aut gratiarum actio (pro istis ani- alguma preparação ou qualquer ação de graças (para
mabus internis), quam permanentia in solita resig- essas almas interiores), a não ser que permaneçam
natione passiva, quia supplet modo perfiectiore na costumeira resignação passiva, porque ela supre
omnes actus virtutum, qui fieri possunt et fiunt in de modo mais perfeito todos os atos de virtude que
via ordinaria. Et si hac occasione communionis in- se possam fazer e se façam na vida ordinária. E se,
surgunt motus humiliationis, petitionis aut gratia- nesta ocasião da comunhão, surgem moções de hu-
rum actionis, reprimendi sunt, quoties non dignos- milhação, de súplica ou de ação de graças, devem
catur, eos esse ex impulsu speciali Dei: alias sunt ser reprimidas, sempre que não se discirna se elas
impulsus naturae nondum mortuae. provêm de um impulso especial de Deus: do contrá-
rio, são impulsos da natureza ainda não morta.
2233 33. Male agit anima, quae procedit per hanc viam 33. A alma que caminha por esta via interior age
internam, si in diebus solemnibus vult aliquo conatu mal se nos dias de festa solene, com um esforço
particulari excitare in se devotum aliquem sensum, particular, quer suscitar em si qualquer sentimento
quoniam animae internae omnes dies sunt aequales, devoto, dado que para a alma interior todos os dias
omnes festivi. Et idem dicitur de locis sacris, quia são iguais, todos são festivos. E o mesmo se deve
huiusmodi animabus omnia loca sunt aequalia. dizer dos lugares sagrados, porque para as almas
desta qualidade todos os lugares são iguais.
2234 34. Verbis et lingua gratias agere Deo, non est 34. Dar graças a Deus com as palavra e a língua
pro animabus internis, quae in silentio manere de- não é coisa para as almas interiores, que devem
bent, nullum Deo impedimentum opponendo, quod permanecer em silêncio, sem opor a Deus impedi-
operetur in illis; et quo magis Deo se resignant, ex- mento algum ativo neles; e quanto mais se resig-
periuntur, se non posse orationem dominicam seu nem em Deus, experimentam que não podem mais
Pater noster recitare. recitar a oração do Senhor, isto é, o Pai-nosso.
2235 35. Non convenit animabus huius viae internae, 35. Para as almas desta via interior não é conve-
quod faciant operationes, etiam virtuosas, ex propria niente que façam ações, mesmo virtuosas, por pró-
electione et activitate: alias non essent mortuae. Nec pria escolha e atividade: senão, não morreriam. E
debent elicere actus amoris erga beatam Virginem, nem mesmo devem produzir atos de amor para com
Sanctos aut humanitatem Christi: quia, cum ista a santa Virgem, os Santos ou a humanidade de Cris-
obiecta sensibilia sint, talis est amor erga illa. to, pois como estes objetos são sensíveis, tal é o
amor para com eles.
2236 36. Nulla creatura, nec beata Virgo, nec Sancti 36. Nenhuma criatura, nem mesmo a bem-aven-
sedere debent in nostro corde: quia solus Deus vult turada Virgem ou os Santos, devem deter-se no nosso
illud occupare et possidere. coração: pois só Deus quer ocupá-lo e possuí-lo.
2237 37. In occasione tentationum, etiam furiosarum, 37. No momento das tentações, mesmo terríveis,
non debet anima elicere actus explicitos virtutum a alma não deve produzir atos explícitos das virtu-
oppositarum, sed debet in supradicto amore et re- des opostas, deve ao invés permanecer no amor e
signatione permanere. no abandono referidos.
2238 38. Crux voluntaria mortificationum pondus gra- 38. A cruz voluntária das mortificações é um peso
ve est et infructuosum, ideoque dimittenda. oprimente e sem fruto, e deve portanto ser eliminada.
2239 39. Sanctiora opera et paenitentiae, quas perege- 39. As obras mais santas e as penitências que os
runt Sancti, non sufficiunt ad removendam ab ani- Santos fizeram não são capazes de remover da alma
ma vel unicam adhaesionem. nenhum apego.
2240 40. Beata Virgo nullum umquam opus exterius 40. A bem-aventurada Virgem jamais praticou ato
peregit, et tamen fuit Sanctis omnibus sanctior. Igi- exterior e todavia foi a mais santa de todos os San-
tur ad sanctitatem perveniri potest absque opere tos. Pode-se, portanto, chegar à santidade sem a obra
exteriore. exterior.
516
41. Deus permittit et vult ad nos humiliandos et 41. Deus permite e quer, para humilhar-nos e 2241
ad veram transformationem perducendos, quod in conduzir-nos a uma verdadeira transformação, que
aliquibus animabus perfectis, etiam non arreptitiis, em algumas almas perfeitas, mesmo não arrebata-
daemon violentiam inferat earum corporibus, easque das, o demônio opere violentamente nos seus cor-
actus carnales committere faciat, etiam in vigilia et pos e faça-lhes cometer atos carnais mesmo enquan-
sine mentis offuscatione, movendo physice illorum to vigiam e sem escurecimento da mente, movendo
manus et alia membra contra earum voluntatem. Et fisicamente as suas mãos e os outros membros con-
idem dicitur quoad alios actus per se peccaminosos: tra a sua vontade. E o mesmo se deve dizer para os
in quo casu non sunt peccata, quia in his non adest outros atos em si pecaminosos: neste caso não são
consensus. pecados, porque neles não há o consentimento.
42. Potest dari casus, quod huiusmodi violentiae 42. Pode-se dar o caso que tais violências com 2242
ad actus carnales contingant eodem tempore ex parte atos carnais aconteçam no mesmo tempo por parte
duarum personarum, scilicet maris et feminae, et de duas pessoas, a saber, homem e mulher, e por
ex parte utriusque sequatur actus. parte de ambos segue o ato.
43. Deus praeteritis saeculis sanctos efficiebat 43. Deus nos séculos passados fazia os santos ser- 2243
tyrannorum ministerio; nunc vero eos efficit sanc- vindo-se dos tiranos; agora, porém, os faz santos
tos ministerio daemonum, qui causando in eis prae- servindo-se dos demônios: pois causando neles as
dictas violentias facit, ut illi seipsos magis despi- violências das quais acima, faz de tal modo que eles
ciant atque annihilent et se Deo resignent. se desprezem e se anulem grandemente a si mes-
mos e se resignem em Deus.
44. Iob blasphemavit, et tamen non peccavit la- 44. Jó blasfemou e todavia não cometeu pecado 2244
biis suis; quia fuit ex daemonis violentia. com os seus lábios, pois foi pela violência do de-
mônio <que isso aconteceu>.
45. Sanctus Paulus huiusmodi daemonis violentias 45. São Paulo padeceu no seu corpo as violên- 2245
in suo corpore passus est; unde scripsit: “Non quod cias desse demônio: por isso está escrito “Eu não
volo bonum, hoc ago; sed, quod nolo malum, hoc faço o bem que quero, mas faço o mal que não
facio” [Rm 7,19]. quero” [Rm 7,19].
46. Huiusmodi violentiae sunt medium magis pro- 46. As violências deste gênero são o meio mais 2246
portionatum ad annihilandam animam, et ad eam ad idôneo para aniquilar a alma e para conduzi-la à
veram transformationem et unionem perducendam, verdadeira transformação e união, e não existe ou-
nec alia superest via: et haec est via facilior et tutior. tra via; e esta é a via mais fácil e segura.
47. Cum huiusmodi violentiae occurrunt, sinere 47. Quando sobrevêm violências de tal gênero é 2247
oportet, ut satanas operetur, nullam adhibendo in- preciso deixar Satanás operar, sem exercitar nenhu-
dustriam nullumque proprium conatum, sed perma- ma operosidade e nenhum esforço pessoal, e o ho-
nere debet homo in suo nihilo; et etiamsi sequantur mem deve permanecer no seu nada; e também quan-
pollutiones et actus obscoeni propriis manibus, et do seguem poluções e atos obscenos com as próprias
etiam peiora, non opus est seipsum inquietare, sed mãos e até coisas piores, não nos devemos perturbar
foras emittendi sunt scrupuli, dubia et timores; quia a nós mesmos, mas há que mandar para longe os
anima fit magis illuminata, magis roborata magisque escrúpulos, as dúvidas e os temores; a alma, de fato,
candida, et acquiritur sancta libertas; et prae omni- fica mais iluminada, mais forte e mais pura, e fica
bus non opus est haec confiteri, et sanctissime fit adquirida a santa liberdade; e sobretudo não é neces-
non confitendo, quia hoc pacto superatur daemon, sário confessar essas coisas, e em não se confessando
et acquiritur thesaurus pacis. é que se age de modo santíssimo, porque deste modo
se vence o demônio e se adquire o tesouro da paz.
48. Satanas, qui huiusmodi violentias infert, sua- 48. Satanás, ele que traz as violências deste gê- 2248
det deinde, gravia esse delicta, ut anima se inquietet, nero, sugere pois que estas são culpas graves, para
ne in via interna ulterius progrediatur: unde ad eius que a alma se turbe e não caminhe mais na via in-
vires enervandas melius est ea non confiteri, quia terior: por isto, para enfraquecer as suas forças, é
non sunt peccata, nec etiam venialia. melhor não confessá-las, porque não são pecados,
nem mesmo veniais.
517
2249 49. Iob ex violentia daemonis se propriis mani- 49. Pela violência do demônio, Jó se manchava com
bus polluebat eodem tempore, quo mundas habebat as próprias mãos ao mesmo tempo em que levantava
ad Deum preces, sic interpretando locum ex capite a Deus orações puras – assim se interpreta o trecho
XVI Iob [cf. Iob 16,18]. do capítulo XVI do livro de Jó [cf. Jó 16,18[17]].
2250 50. David, Ieremias et multi ex sanctis Prophetis 50. Davi, Jeremias e muitos dos santos profetas
huiusmodi violentias patiebantur harum impurarum sofriam tais violências <ligadas> a estas impuras
operationum externarum. ações exteriores.
2251 51. In sacra Scriptura multa sunt exempla violen- 51. Na Sagrada Escritura há muitos exemplos de
tiarum ad actus externos peccaminosos; uti illud de violência e atos exteriores pecaminosos: como aque-
Samsone, qui per violentiam seipsum occidit cum le de Sansão, que pela violência matou a si mesmo
Philistaeis [cf. Idc 16,29s], coniugium iniit cum junto com os filisteus [cf. Jz 14,1-29s], contraiu
alienigena [cf. Idc 14,1-20], et cum Dalila meretrice matrimônio com uma estrangeira [cf. Jz 14,1-20] e
fornicatus est [cf. Idc 16,4-22], quae alias erant fornicou com a meretriz Dalila [cf. Jz 16,4-22],
prohibita et peccata fuissent; de Iuditha, quae Ho- coisas que por si eram proibidas e que teriam sido
loferni mentita fuit [cf. Idt 11,5-19]; de Elisaeo, qui pecado; o de Judite, que mentiu para Holofernes
pueris maledixit [cf. 4 Rg 2,24]; de Elia, qui com- [cf. Jt 1,5-19], o de Eliseu, que amaldiçoou as crian-
bussit duos duces cum turmis regis Achab [cf. 4 Rg ças [2Rs 2,24], o de Elias, que queimou dois gene-
1,10-12]. An vero fuerit violentia immediate a Deo rais com os pelotões do rei Acab [cf. 2Rs 1,10-12].
peracta vel daemonum ministerio, ut in aliis anima- Na verdade, permanece dúbio se foi uma violência
bus contingit, in dubio relinquitur. operada diretamente por Deus ou, ao invés, por meio
dos demônios, como acontece em outras almas.
2252 52. Cum huiusmodi violentiae, etiam impurae, 52. Quando semelhantes violências, mesmo im-
absque mentis offuscatione accidunt, tunc anima puras, ocorrem sem obscurecimento das mentes,
Deo potest uniri, et de facto semper magis unitur. então a alma pode ser unida a Deus e, de fato, é
unida sempre mais.
2253 53. Ad cognoscendum in praxi, an aliqua opera- 53. Para reconhecer na prática se em outras pes-
tio in aliis personis fuerit violentia regula, quam de soas qualquer ação tenha sido uma violência, o cri-
hoc habeo, nedum sunt protestationes animarum illa- tério que tenho a este respeito não são somente as
rum, quae protestantur, se dictis violentiis non con- afirmações daquelas almas que asseguram não ter
sensisse aut iurare non posse, quod in iis consense- de modo algum consentido às referidas violências
rint, et videre quod sint animae, quae proficiunt in ou não podem jurar que nelas tenham consentido, e
via interna; sed regulam sumerem a lumine quo- a constatação de que são almas que progridem na
dam actuali, cognitione humana ac theologica su- via interior; mas eu assumiria o critério de um certa
periori, quod me certo cognoscere facit cum interna luz atual, superior ao conhecimento humano e teo-
certitudine, quod talis operatio est violenta: et certus lógico, que me faz conhecer seguramente, com in-
sum, quod hoc lumen a Deo procedit, quia ad me terior certeza, que determinada ação é violenta; e
pervenit coniunctum cum certitudine, quod a Deo estou certo de que aquela luz vem de Deus, porque
proveniat, et mihi nec umbram dubii relinquit in chega a mim unida à certeza que provém de Deus e
contrarium: eo modo, quo interdum contingit, quod não me deixa nenhuma sombra de dúvida em con-
Deus aliquid revelando eodem tempore animam trário; do mesmo modo no qual às vezes acontece
certam reddit, quod ipse sit, qui revelat, et anima in que Deus, enquanto revela alguma coisa, ao mesmo
contrarium non potest dubitare. tempo torna a alma certa de que é ele mesmo quem
revela e a alma não pode duvidar em contrário.
2254 54. Spirituales viae ordinariae in hora mortis se 54. As pessoas espirituais da via ordinária na ho-
delusos invenient et confusos cum omnibus passio- ra da morte se encontrarão desiludidas e confusas,
nibus in alio mundo purgandis. <e> com todas as paixões a serem purificadas no
outro mundo.
2255 55. Per hanc viam internam pervenitur, etsi multa 55. Por esta via interior se chega, ainda que com
cum sufferentia, ad purgandas et exstinguendas muito sofrimento, a purificar e a extinguir todas as
omnes passiones, ita quod nihil amplius sentitur, paixões, a tal ponto que nada mais se sente, nada: e
518
nihil, nihil: nec ulla sentitur inquietudo, sicut cor- não se sente nenhuma inquietação, como um corpo
pus mortuum, nec anima se amplius commoveri sinit. morto, e a alma não se deixa jamais perturbar.
56. Duae leges et duae cupiditates animae una, et 56. As duas leis e os dois anseios – o da alma e 2256
amoris proprii altera tamdiu perdurant, quamdiu o do amor próprio – duram tanto quanto perdura o
perdurat amor proprius: unde quando hic purgatus amor próprio: daí que, purificado e morto este, como
est et mortuus, uti fit per viam internam, non adsunt acontece pela via interior, não restam mais aquelas
amplius illae duae leges et duae cupiditates, nec duas leis e dois anseios, nem se incorre mais em
ulterius lapsus aliquis incurritur, nec aliquid sentitur qualquer queda, e não se sente mais nada, nem
amplius, ne quidem veniale peccatum. mesmo o pecado venial.
57. Per contemplationem acquisitam pervenitur 57. Pela contemplação adquirida se chega ao es- 2257
ad statum non faciendi amplius peccata, nec morta- tado de não cometer mais nenhum pecado, nem
lia nec venialia. mortal nem venial.
58. Ad huiusmodi statum pervenitur non reflec- 58. A um semelhante estado se chega não refle- 2258
tendo amplius ad proprias operationes; quia defectus tindo mais sobre as próprias ações: porque os de-
ex reflexione oriuntur. feitos nascem da reflexão.
59. Via interna seiuncta est a confessione, a con- 59. A via interior é independente da confissão, 2259
fessariis et a casibus conscientiae, a theologia et dos confessores e dos casos de consciência, da teo-
philosophia. logia e da filosofia.
60. Animabus provectis, quae reflexionibus mori 60. Às almas adiantadas, que começam a morrer 2260
incipiunt, et eo etiam perveniunt, ut sint mortuae, às reflexões e até chegam ao ponto de estarem
Deus confessionem aliquando efficit impossibilem mortas, Deus torna às vezes impossível a confissão
et supplet ipse tanta gratia praeservante, quantam e a supre, ele mesmo, com uma graça de preserva-
in sacramento reciperent: et ideo huiusmodi anima- ção tão grande como a que teriam recebido no sa-
bus non est bonum in tali casu ad sacramentum cramento: e assim, para este gênero de almas, não
paenitentiae accedere, quia id est illis impossibile. é um bem aproximar-se do sacramento da penitên-
cia, porque isto é para elas impossível.
61. Anima, cum ad mortem mysticam pervenit, 61. Quando chega à morte mística, a alma não 2261
non potest amplius aliud velle, quam quod Deus pode querer mais nada senão o que Deus quer, por-
vult, quia non habet amplius voluntatem, et Deus que não tem mais vontade e Deus lha retirou.
illi eam abstulit.
62. Per viam internam pervenitur ad continuum 62. Pela via interior se chega a um estado contí- 2262
statum immobilem in pace imperturbabili. nuo de imobilidade na paz imperturbável.
63. Per viam internam pervenitur etiam ad mor- 63. Pela via interior se chega também à morte 2263
tem sensuum: quin immo signum, quod quis in statu dos sentidos: mais, um sinal de que alguém se en-
nihilitatis maneat, id est mortis mysticae, est, si contra no estado de nulidade, isto é, da morte mís-
sensus exteriores non repraesentent amplius res tica, é que os sentidos exteriores não representam
sensibiles, unde sint ac si non essent, quia non per- mais as coisas sensíveis, que destarte existem como
veniunt ad faciendum, quod intellectus ad eas se se não existissem, dado que não conseguem fazer
applicet. com que o intelecto se aplique a elas.
64. Theologus minorem dispositionem habet 64. O teólogo tem menor disposição para o esta- 2264
quam homo rudis ad statum contemplativi: primo, do da contemplação do que o homem rude: antes
quia non habet fidem adeo puram; secundo, quia de tudo, porque não tem uma fé tão pura, em se-
non est adeo humilis; tertio, quia non adeo curat gundo lugar porque não é tão humilde; terceiro,
propriam salutem; quarto, quia caput refertum ha- porque não cuida tanto da própria salvação; quarto,
bet phantasmatibus, speciebus, opinionibus et spe- porque tem a cabeça cheia de imaginações, repre-
culationibus, et non potest in illum ingredi verum sentações, opiniões e especulações, e a verdadeira
lumen. luz não consegue entrar nele.
65. Praepositis oboediendum est in exteriore, et 65. Aos superiores deve-se obedecer nas coisas 2265
latitudo voti oboedientiae religiosorum tantummo- exteriores, e a extensão do voto de obediência dos
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do ad exterius pertingit. In interiore vero aliter res religiosos atinge somente o externo. Na esfera inte-
se habet, quo solus Deus et director intrant. rior, porém, onde somente Deus e o diretor espiri-
tual podem entrar, as coisas acontecem diversamente
2266 66. Risu digna est nova quaedam doctrina in 66. Digna de riso e nova na Igreja de Deus é certa
Ecclesia Dei, quod anima quoad internum guberna- doutrina segundo a qual a alma, no que respeita ao
ri debeat ab episcopo: quod si episcopus non sit interior, deva ser guiada pelo bispo; e se o bispo
capax, anima ipsum cum suo directore adeat. Novam não for capaz, a alma deve ir a ele acompanhada de
dico doctrinam; quia nec sacra Scriptura, nec con- seu diretor. Doutrina nova digo, dado que nem a
cilia, nec canones, nec bullae, nec Sancti, nec auc- Sagrada Escritura, nem os concílios nem os câno-
tores eam umquam tradiderunt nec tradere possunt: nes, nem as bulas, nem os Santos, nem os autores a
quia Ecclesia non iudicat de occultis, et anima ius têm jamais ensinado, nem podem ensiná-la: porque
habet et facultatem eligendi quemcumque sibi vi- a Igreja não julga das coisas escondidas, e a alma
sum fuerit. tem o direito e a faculdade de escolher quem ela
julgar adequado.
2267 67. Dicere, quod internum manifestandum est 67. Dizer que o foro interior deve ser manifesta-
exteriori tribunali praepositorum, et quod peccatum do ao tribunal externo dos superiores e que é peca-
sit id non facere, est manifesta deceptio: quia Ec- do não fazê-lo é um engano evidente: pois a Igreja
clesia non iudicat de occultis, et propriis animabus não julga das coisas escondidas, e com estes engo-
praeiudicant his deceptionibus et simulationibus. dos e ficções se causa dano às próprias almas.
2268 68. In mundo non est facultas nec iurisdictio ad 68. Não há nenhuma faculdade ou jurisdição no
praecipiendum, ut manifestentur epistolae directo- mundo para prescrever que se manifestem as cartas
ris quoad internum animae: et ideo opus est ani- do diretor espiritual que se referem ao interior da
madvertere, quod hoc est insultus satanae. alma: e por isto é preciso reconhecer que isso é um
assalto do diabo.
2269 [C e n s u r a :] Quas quidem propositiones tam- [C e n s u r a :] Estas proposições, portanto, como
quam haereticas [3 13-15 41-53], suspectas [haeresi heréticas [3 13-15 41-53], suspeitas [próximas da
proximas: 21 23 57 60s; haeresim sapientes: 2 4- heresia: 21 23 57 60s; cheirando a heresia: 2 4-10
10 12 16-19 31s 35s 55s 58] et erroneas [4-6 8-10 12 16-19 31s 35s 55s 58], errôneas [4-6 8-10 13-19
13-19 21s 24 32 35 41-53 58], scandalosas [6s 9-11 21s 24 32 35 41-53 58], escandalosas [6s 9-11 14-
14-20 24s 30-52 54 58-60 63s 66], blasphemas [10 20 24s 30-52 54 58-60 63s 66], blasfemas [10 14s
14s 41-53 60], piarum aurium offensivas [6 30 58], 41-53 60], ofensivas aos ouvidos piedosos [6 30
temerarias [11 14s 17-20 23s 26s 30-35 38s 41-68], 58], temerárias [11 14s 17-20 23s 26s 30-35 38s
christianae disciplinae relaxativas [10 16 21s 24s 41-68], capazes de dissolver a disciplina cristã [10
31 35 38s 41-52 59 65s] et eversivas [68] et seditio- 16 21s 24s 31 35 38s 41-52 59 65s], destrutiva [68],
sas [65] respective … damnavimus … Praeterea … sediciosa [65] respectivamente … as condenamos
damnavimus omnes libros omniaque opera quocum- … Condenamos outrossim todos os livros e todas
que loco et idiomate impressa necnon omnia as obras em qualquer lugar e em qualquer língua
manuscripta eiusdem Michaelis de Molinos. impressas, e também todos os manuscritos do mes-
mo Miguel de Molinos.
520
porém, logo que o Sínodo de Pistóia acolheu os artigos, Pio VI, na Constituição “Auctorem fidei”, os julgou temerários,
escandalosos e nocivos à Sé Apostólica (*2700).
Ed.: CollLac 1, 831d-832b; na própria bula (BullTau 20, 67b-70b) falta o texto dos artigos.
521
ecclesiarum consensione firmatae propriam stabili- Apostólica que possuam apropriada estabilidade os
tatem obtineant. estatutos e os costumes confirmados pelo consenso
de tão grande Sé e das Igrejas.
2284 4. In fidei quoque quaestionibus praecipuas 4. Também nas questões de fé, as funções do
Summi Pontificis esse partes, eiusque decreta ad Sumo Pontífice são privilegiadas e os seus decretos
omnes et singulas ecclesias pertinere, nec tamen dizem respeito a todas e a cada uma das Igrejas,
irreformabile esse iudicium nisi Ecclesiae consen- não sendo, todavia, o juízo irreformável, se não lhe
sus accesserit. acrescer o consenso da Igreja.
2285 [S e n t e n t i a i u d i c i a l i s Bullae:] Omnia et sin- [S e n t e n ç a j u d i c i á r i a da bula:] Todas e cada
gula, quae tam quoad extensionem iuris regaliae, uma das coisas que, nas referidas reuniões do clero
quam quoad declarationem de potestate ecclesiasti- galicano realizadas no ano de 1682, foram tratadas
ca ac quattuor in ea contentas propositiones in e desenvolvidas quanto à extensão do direito régio
supradictis Comitiis Cleri Gallicani anno 1682 ha- ou quanto à declaração sobre o poder eclesiástico e
bitis acta et gesta fuerunt, cum omnibus et singulis as quatro proposições nessa contidas, com todos e
mandatis, arrestis, confirmationibus, declarationibus, cada um dos mandados, arrestos, validações, decla-
epistolis, edictis et decretis a quibusvis personis sive rações, cartas, editos e decretos divulgados e publi-
ecclesiasticis sive laicis, quomodolibet qualificatis, cados por qualquer pessoa, seja eclesiástica ou lei-
quavis auctoritate et potestate, etiam individuam ga, de qualquer modo que for qualificada, exercen-
expressionem requirente, fungentibus, editis seu do qualquer autoridade e poder, mesmo requerendo
publicatis … ipso iure nulla, irrita, invalida, inania, expressão individual, … declaramos, com base no
viribusque et effectu penitus et omnino vacua ab presente <escrito>, que … por força do próprio di-
ipso initio fuisse et esse ac perpetuo fore, nemi- reito, desde o início foram, e são, e para sempre serão
nemque ad illorum seu cuiuslibet eorum, etiamsi nulas, ineficazes, inválidas, sem fundamento, priva-
iuramento vallata sint, observantiam teneri … tenore das de força e de efeito, completa e totalmente vãs,
praesentium declaramus.” e que ninguém é obrigado à observância delas ou de
algumas delas, ainda que munidas de juramento.
522
sa Dei, neque peccatum mortale dissolvens amici- grave, mas não uma ofensa a Deus e nem mesmo
tiam Dei, neque aeterna poena dignum. um pecado mortal, que destrua a amizade de Deus,
nem digno da pena eterna.
[C e n s u r a :] Propos. 1: haeretica. – 2: scanda- [C e n s u r a :] Propos. 1: herética. – 2: escanda- 2292
losa, temeraria, piarum aurium offensiva et erronea. losa, temerária, ofensiva aos ouvidos piedosos e
errônea.
1. In statu naturae lapsae ad peccatum mortale 1. No estado da natureza decaída, para o pecado 2301
[formale] et demeritum sufficit illa libertas, qua mortal [formal] e para o demérito é suficiente aquela
voluntarium ac liberum fuit in causa sua, peccato liberdade que fez com que <o pecado> fosse volun-
originali et voluntate Adami peccantis1. tário e livre na sua causa, o pecado original e a von-
tade de Adão ao pecar1.
2. Tametsi detur ignorantia invincibilis iuris na- 2. Ainda que haja ignorância invencível do direi- 2302
turae, haec in statu naturae lapsae operantem ex ipsa to natural, esta, no estado da natureza decaída, não
non excusat a peccato formali [materiali]1. justifica por si mesma do pecado formal [material]
o operante1.
3. Non licet sequi opinionem [probabilem] vel 3. Não é lícito seguir a opinião [provável] ou a 2303
inter probabiles probabilissimam1. mais provável entre as prováveis1.
4. Christus dedit semetipsum pro nobis oblatio- 4. Cristo se deu a si mesmo em oblação ao Pai 2304
nem Deo, non pro solis electis, sed pro omnibus et por nós, não só pelos eleitos, mas por todos os fiéis
solis fidelibus1. e somente por eles1.
5. Pagani, Iudaei, haeretici aliique huius generis 5. Pagãos, judeus, hereges e outros congêneres 2305
nullum omnino accipiunt a Iesu Christo influxum: não recebem nenhum influxo por parte de Jesus
adeoque hinc recte inferes, in illis esse voluntatem Cristo: disto, portanto, se deduz retamente que ne-
nudam et inermem sine omni gratia sufficienti1. les existe a vontade nua e inerme, sem nenhuma
graça suficiente1.
*2301 1 Tese de Lovaina de 26 jun. 1676 (Franciscus van Vianen); 7 e 8 jul. 1680 (Johannes Lacman); 13 out. 1665 e 4 jun.
1680 (Gerardus van Werm); Gommarus Huygens, Compendium theologiae, i. e. theses ex Summa D. Thomae hebdo-
madatim defensae ab a. 1672-1684 (Leuven 1684?); a raiz já se encontra em Jansênio, Augustinus 2: De statu naturae
lapsae II 2-6.
*2302 1 Tese de Lovaina, 4 fev. 1641 e 28 jan. 1649 (Johannes Sinnich, ou Sinnigh, por muitos considerado o “pai do tucio-
rismo”); 22 nov. 1651 (Libertus Fromont, ou Froidmont, editor das obras de Jansênio); 23 out. 1665 (van Vianen); 12
e 13 jul. 1672 (Macarius Havermans OPraem, Tyrocinium christianae moralis (Antwerpen 16741; 1675 2), tract. 1,
c. 8, § 13, n. 112, na ed. de 1674 pg. 262; Tese de Antuérpia, 13 e 14 jul. 1671 (Johannes Witte). Cf. Sinnich, Saul
Exrex (Leuven 16621; 16652) I 96, § 359-361; 97, § 362 início; 101, § 380; Anonymus, Vindiciae decalogicae de-
sumptae ex Saule Ex-Rege Joh. Sinnichii … (Leuven 1672) 9, e o apêndice da obra: Matthaeus van Vianen, Iuris
naturalis ignorantiae notitia 2.
*2303 1 Cf. Sinnich, Saul Exrex I 95, § 357 (na ed. de 1665: t. 1, 363b). Nesta proposição, as palavras ligeiramente modificadas
do autor formulam o princípio do tuciorismo absoluto.
*2304 1 Tese de Lovaina, 14 ago. 1651 (Chrétien Lupus, ou De Wulf OESA).
*2305 1 Ibid. (Lupus).
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2306 6. Gratia sufficiens statui nostro non tam utilis, 6. Para o nosso estado, a graça suficiente não é
quam perniciosa est, sic, ut proinde merito possi- tão útil, mas antes danosa, a ponto que com razão
mus petere: A gratia sufficienti libera nos, Domine1. possamos pedir: Da graça suficiente livrai-nos, ó
Senhor1.
2307 7. Omnis humana actio deliberata est Dei dilectio 7. Cada ação humana deliberada é amor a Deus
vel mundi: si Dei, caritas Patris est; si mundi, con- ou amor ao mundo: se a Deus, é amor ao Pai; se ao
cupiscentia carnis, hoc est, mala est1. mundo, é concupiscência da carne, isto é, coisa má1.
2308 8. Necesse est, infidelem in omni opere peccare1. 8. O não-crente em cada ação peca necessa-
riamente1.
2309 9. Revera peccat, qui odio habet peccatum mere 9. Comete verdadeiramente pecado aquele que
ob eius turpitudinem et disconvenientiam cum na- tem ódio ao pecado somente por sua torpeza e pela
tura, sine ullo ad Deum offensum respectu1. discordância com a natureza, sem nenhuma consi-
deração por Deus ofendido1.
2310 10. Intentio, qua quis detestatur malum et prose- 10. A intenção com a qual se detesta o mal e se
quitur bonum mere, ut caelestem obtineat gloriam, procura o bem somente para obter a glória celeste
non est recta nec Deo placens1. não é certa e não agrada a Deus1.
2311 11. Omne, quod non est ex fide christiana super- 11. Tudo que não vem da fé cristã sobrenatural,
naturali, quae per dilectionem operatur, peccatum est1. que opera pelo amor, é pecado1.
2312 12. Quando in magnis peccatoribus deficit omnis 12. Quando nos grandes pecadores falta todo
amor, deficit etiam fides: et etiamsi videantur cre- amor, falta também a fé; e mesmo se parecem crer,
dere, non est fides divina, sed humana1. esta não é fé divina, mas humana1.
2313 13. Quisquis etiam aeternae mercedis intuitu Deo 13. Quem serve a Deus, também no intuito do
famulatur, caritate si caruerit, vitio non caret, quo- prêmio eterno, se está desprovido da caridade,
ties intuitu licet beatitudinis operatur1. quantas vezes que aja no intuito da bem-aventuran-
ça, não está livre de vício1.
2314 14. Timor gehennae non est supernaturalis1. 14. O medo da geena não é sobrenatural1.
2315 15. Attritio, quae gehennae et poenarum, metu 15. A atrição que é suscitada pelo medo da geena
concipitur, sine dilectione benevolentiae Dei prop- e das penas, sem amor de benevolência a Deus por si
ter se, non est bonus motus ac supernaturalis1. mesmo, não é um sentimento bom e sobrenatural1.
2316 16. Ordinem praemittendi satisfactionem absolu- 16. Não foi o governo ou a disciplina da Igreja que
tioni induxit non politia aut institutio Ecclesiae, sed introduziu a disposição de fazer preceder a satisfação
ipsa Christi lex et praescriptio, natura rei id ipsum à absolvição, mas a própria lei e prescrição de Cris-
quodammodo dictante1. to, exigindo-o, de certo modo, a natureza da coisa1.
*2306 1 Tese de Lovaina, 14 ago. 1651 (Lupus; citação conceitual); 19 ago. 1652 (Sinnich); 3 jul. 1676 (Huygens); tese do
seminário de Malinas, 4 abr. 1675 (Laurentius Neesen).
*2307 1 Tese de Lovaina, 4 abr. 1661 (Sinnich); 9 jul. 1668 (Andreas Laurent); 14 set. 1669 (Franciscus van Vianen); tese de
Antuérpia, 10 mai. 1675 (Havermans). Uma base para esta proposição se encontra em Jansênio, Augustinus 2: De statu
naturae lapsae III 19.
*2308 1 Tese de Lovaina, como acima (Froidmont, Sinnich, Laurent, Vianen). Cf. Sinnich, Saul Exrex I 96, § 358; 100, § 374.
*2309 1 Tese de Lovaina, 23 mai. 1653 (Froidmont); tese de Lovaina como ad *2307 (Sinnich, Laurent, Vianen); Havermans,
Tyrocinium, tract. 2, c. 4, § 2, n. 41: segunda intenção.
*2310 1 Tese de Lovaina, como ad *2307 (Sinnich, Laurent, Vianen); Havermans, Tyrocinium, ibid. n. 44f: quinta intenção.
*2311 1 Tese de Lovaina, 4 dez. 1652 (Froidmont); tese de Lovaina, como ad *2307 (Sinnich, Laurent, Vianen).
*2312 1 Tesede Antuérpia, 9 mai. 1675 (Havermans); tese de Lovaina, 25 jun. 1676 (Vianen).
*2313 1 Tese de Lovaina, 12 jun. 1676 (Vianen).
*2314 1 Lupus, Dissertatio dogmatica de germano ac avito sensu sanctorum Patrum, universae semper Ecclesiae ac sacro-
sanctae praesertim Tridentinae Synodi circa christianam contritionem et attritionem 15 (Opera omnia 11; na ed. de
Veneza 1729: pg. 236b); tese de Lovaina, 26 set. 1670 (Vianen).
*2315 1 Cf. Havermans, Defensio brevis Tyrocinii moralis theologiae (Köln 1676) 4, § 1 (p. 296ss); tese de Lovaina de 1653
(van Werm); 26 set. 1670 (Vianen); insinuada em Lupus, l.c. ad *2314, 17 (p. 241a).
*2316 1 Cf. Antoine Arnauld, De la fréquente communion (Paris 1643 2) p. 2, c. 8, só conceitualmente, como também as outras
citações de Arnauld; mas a tendência fica clara; id., La tradition de l’Église sur le sujet de la pénitence et de la
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17. Per illam praxim mox absolvendi ordo paeni- 17. Pela praxe de dar logo a absolvição, a regra 2317
tentiae est inversus1. da penitência foi subvertida1.
18. Consuetudo moderna quoad administrationem 18. O costume moderno quanto à administração 2318
sacramenti paenitentiae, etiamsi eam plurimorum do sacramento da penitência, mesmo se a sustenta
hominum sustentet auctoritas et multi temporis diu- a autoridade de muitíssimos homens e a confirma a
turnitas confirmet, nihilominus ab Ecclesia non longa duração no tempo, todavia pela Igreja não é
habetur pro usu sed abusu1. considerado um uso, mas um abuso1.
19. Homo debet agere tota vita paenitentiam pro 19. O homem deve por toda a vida fazer penitên- 2319
peccato originali1. cia pelo pecado original1.
20. Confessiones apud religiosos factae plerae- 20. As confissões feitas com religiosos o mais 2320
que vel sacrilegae sunt vel invalidae. das vezes são sacrílegas ou inválidas.
21. Parochianus potest suspicari de mendicantibus, 21. Um paroquiano pode, em relação aos religio- 2321
qui eleemosynis communibus vivunt, de imponen- sos mendicantes que vivem de esmolas públicas,
da nimis levi et incongrua paenitentia seu satisfac- suspeitar que imponham penitência ou satisfação
tione ob quaestum seu lucrum subsidii temporalis1. muito leve ou incôngrua por pedirem ou ganharem
ajuda temporal1.
22. Sacrilegi sunt iudicandi, qui ius ad commu- 22. Devem ser julgados sacrílegos aqueles que 2322
nionem percipiendam praetendunt, antequam con- pretendem o direito de receber a comunhão antes de
dignam de delictis suis paenitentiam egerint1. ter feito uma penitência condigna por suas culpas1.
23. Similiter arcendi sunt a sacra communione, 23. Do mesmo modo devem ser afastados da santa 2323
quibus nondum inest amor Dei purissimus et omnis comunhão aqueles nos quais não existe ainda o amor
mixtionis expers1. de Deus puríssimo e livre de toda mistura1.
24. Oblatio in templo, quae fiebat a beata Virgine 24. A oferta no Templo oferecida pela bem-aven- 2324
Maria in die purificationis suae per duos pullos turada Virgem Maria no dia da sua purificação, com
columbarum, unum in holocaustum et alterum pro duas pequenas pombas, uma pelo holocausto e a
peccatis, sufficienter testatur, quod indiguerit puri- outra pelo pecado, testemunha de modo suficiente
ficatione, et quod filius, qui offerebatur, etiam ma- que ela precisava de purificação e que o filho que
cula matris maculatus esset, secundum verba legis1. era oferecido, segundo as palavras da lei, era man-
chado também pela mancha da mãe1.
25. Dei Patris [sedentis] simulacrum nefas est 25. Não é lícito para um cristão colocar na Igreja 2325
christiano in templo collocare1. uma imagem de Deus Pai [sentado]1.
*2316 communion (Paris 1653 4), em defesa da obra acima referida: cf. prefácio pg. 90ss; Huygens, Methodus remittendi et
retinendi peccata (Lovaina 1674), q. 3, dub. 3 (só implicitamente); Canones paenitentiales a S. Carolo Borromaeo ex
antiquis Paenitentialibus collecti (Gent 1672) 173s; Aegidius de Gabrielis TOF, Specimina moralis christianae et
moralis diabolicae (Bruxelas 1675; obra que combate o atricionismo e por seu baianismo e jansenismo rígido foi posto
no Índex em 27 set. 1679; foi proibida também sua ed. revisada intitulada: Essais de la théologie morale [Roma 1680],
em 2 set. 1683; ibid. pg. 129, Aegidius nega ter ensinada as propos. 16-18 no sentido absoluto).
*2317 1 Cf. Arnauld, De la fréquente communion, p. 2, c. 11; Gabrielis, l.c. ad *2316, p. 2, § 42 (pg. 154s).
*2318 1 Cf. Arnauld, De la fréquente communion, prefácio; p. 2, c. 18 e 19; Gabrielis, l.c. ad *2317, ibid.
*2319 1 Do ulteriormente proibido Catecismo de Gand (Gent).
*2321 1 Boaventura de La Bassée OFMCap (anteriormente chamado Ludovicus Le Pippre), Theophilus parochialis (ed. anô-
nima, Antwerpen 1635), p. 3, a. 26, et passim.
*2322 1 Cf. Arnauld, De la fréquente communion, Vorrede; p. 1, c. 4; p. 2, c. 13; o livro inteiro se encaminha para esta e a
segunte proposição; Gabrielis, l.c. ad *2316, p. 2, § 20.
*2323 1 Cf. Arnauld, l.c. ad *2322, p. 1, c. 40; p. 3, c. 6 und 9; Gabrielis, l.c. ad *2322 a.O., ibid.
*2324 1 Cf. Inwendighe oeffeningen, om in den gheest te sterven, ed. anônima de um sacerdote do Oratório (Bruxelas 1657),
tradução da obra Pratique intérieure pour mourir en esprit (Paris 1654): exercício do quinto dia; no original flamengo
nem se menciona Maria (adição do redator da proposição), portanto, a frase se referiria apenas à mãe hebraica em
geral; contudo, provocou a suspeita de que o autor quis sugerir implicitamente a propos. 73. de Baio (*1973).
*2325 1 Cf. Jan Hessels (companheiro de Miguel Baio), Brevis et catholica decalogi explicatio (Leuven 1567), c. 64s; alega
o Sínodo de Elvira <= Granada> de ca. de 300, cân. 36, e Agostinho, De fide et symbolo 7.
525
2326 26. Laus, quae defertur Mariae ut Mariae, vana 26. O louvor que se faz a Maria enquanto Maria,
est1. não tem sentido1.
2327 27. Valuit aliquando baptismus sub hac forma 27. Outrora era válido o batismo dado com esta
collatus: “In nomine Patris, etc.”, praetermissis illis: fórmula: “No nome do Pai etc.”, omitido: “Eu te
“Ego te baptizo”1. batizo”1.
2328 28. Valet baptismus collatus a ministro, qui om- 28. É válido o batismo dado pelo ministro que
nem ritum externum formamque baptizandi obser- observa todo o rito exterior e a fórmula do batismo,
vat, intus vero in corde suo apud se resolvit: Non mesmo se, no íntimo do seu coração, afirmar a si
intendo, quod facit Ecclesia1. mesmo: “Não entendo fazer o que faz a Igreja”1.
2329 29. Futilis et toties convulsa est assertio de Pon- 29. Fútil e repetidamente contradita é a asserção
tificis Romani supra Concilium oecumenicum auc- relativa à autoridade do Romano Pontífice sobre o
toritate atque in fidei quaestionibus decernendis concílio ecumênico e a que afirma a infalibilidade
infallibilitate1. no decidir as questões de fé1.
2330 30. Ubi quis invenerit doctrinam in Augustino 30. Quando se encontra uma doutrina claramente
clare fundatam, illam absolute potest tenere et do- fundada em Agostinho, pode-se tê-la por certa e
cere, non respiciendo ad ullam Pontificis Bullam1. ensinar de modo absoluto, sem pensar em nenhuma
bula do Pontífice1.
2331 31. Bulla Urbani VIII “In eminenti” est subreptitia1. 31. A bula de Urbano VIII “In eminenti” foi ob-
tida subrepticiamente1.
2332 [C e n s u r a : Damnatae et prohibitae tamquam] [C e n s u r a : São condenadas e proibidas enquan-
temerariae, scandalosae, male sonantes, iniuriosae, to] respectivamente temerárias, escandalosas, mal-
haeresi proximae, haeresim sapientes, erroneae, soantes, injuriosas, próximas de heresia, com chei-
schismaticae, et haereticae respective. ro de heresia, errônea, cismáticas e heréticas.
*2326 1 Adam Widenfeld, Monita salutaria Beatae Mariae Virginis ad cultores suos indiscretos (Gent 1673; trad. de G. Gerberon,
baiano notável: Lille 1674; posta no Índex “até ser corrigida”); Inwendighe oeffeningen … (cf. *2324).
*2327 1 Tese de Lovaina, 21 abr. 1677 (François Farvacques OESA).
*2328 1 Tese de Lovaina de 1678 (Farvacques); cf. id., Opusculum, in quo de sacramentis Novae Legis generatim agitur (Liege
1680), no qual desenvolve um sistema que é chamado “juridismo extremo” ou “extrincesismo juridista”; opinião
semelhante em Johannes M. Scribonius OMin, Panthalitia, seu Summa totius veritatis theologicae (Paris 1620), disp.
1 de sacramentis, q. 6 e 7.
*2329 1 Alude-se a uma tese de Lovaina de 3 nov. 1685 (Johannes Opstraet?).
*2330 1 Tese de Antuérpia, 8 mar. 1677 (Havermans); Havermans respondeu na sua Defensio … (cf. *2315) 1, § 5 (pg. 112ss).
*2331 1 Tese de Lovaina, 19 out. 1678. Na Bula “In eminenti ecclesiae” (BullTau 15, 92b-102b / BullCoq 6/II, 270b-276b)
emanada em 6 mar. 1642 (1641 no cômputo da Cúria) e publicada em 19 jun. Juni 1643, são confirmadas e extensi-
vamente repetidas as constituições de Pius V, “Ex omnibus afflictionibus” (*1901-1980) e de Gregório XIII, “Provi-
sionis nostrae” (29 jan. 1580), contra Baio; também são citados os decretos do S. Ofício de 1 dez. 1611 e 22 mai. 1625,
pelos quais são submetidas à censura romana todas as obras que tratam dos auxílios da graça e se proíbem algumas
obras que haviam sido publicadas em sentido contrário a esta prescrição.
526
Resp.: Si adsit pactum dissolubilitatis, non esse Resposta: Se existir o pacto de dissolubilidade,
matrimonium neque sacramentum; si vero non adsit, não é matrimônio e nem sacramento; se ao invés,
esse matrimonium et sacramentum. isto não existe, é matrimônio e sacramento.
*2351 1 Cf. a [previamente publicada] Explication des Maximes des Saints sur la vie intérieure, n. 5; ed. original 1697: pg. 10s
(= pg. 125s da ed. crítica de Albert Cherels [Paris 1911]: pg. 118-130).
*2352 1 Art. 2, pg. 24; cf. pg. 23 (Ch. 135).
*2353 1 Art. 3, pg. 53s (Ch. 142).
*2354 1 Art. 5, pg. 50 (Ch. 154).
527
perfecti et beati propter interesse proprium; sed queremos nada para sermos perfeitos e felizes em
omnem perfectionem ac beatitudinem volumus, in vista de nossa vantagem pessoal, mas queremos toda
quantum Deo placet efficere, ut velimus res istas a perfeição e felicidade, na medida em que agrada
impressione suae gratiae1. a Deus fazer com que nós queiramos estas coisas
pelo impulso da sua graça1.
2356 6. In hoc sanctae indifferentiae statu nolumus 6. Neste estado de santa indiferença, não quere-
amplius salutem ut salutem propriam, ut liberatio- mos mais a salvação como salvação nossa, como
nem aeternam, ut mercedem nostrorum meritorum, libertação eterna, como prêmio pelos nossos méri-
ut nostrum interesse omnium maximum; sed eam tos, como o maior de todos os nossos interesses;
volumus voluntate plena, ut gloriam et beneplaci- mas a queremos, com plena vontade, como glória e
tum Dei, ut rem, quam ipse vult, et quam nos vult beneplácito de Deus, como coisa que ele mesmo
velle propter ipsum1. quer e que ele quer que nós queiramos por causa
dele mesmo1.
2357 7. Derelictio non est nisi abnegatio seu sui ipsius 7. O abandono outra coisa não é senão a abnega-
renuntiatio, quam Iesus Christus a nobis in Evange- ção e a renúncia a si mesmo, que Cristo, no Evan-
lio requirit, postquam externa omnia reliquerimus. gelho, requer de nós, depois de termos deixado to-
Ista nostri ipsorum abnegatio non est nisi quoad das as coisas exteriores. Esta abnegação de nós
interesse proprium. … Extremae probationes, in mesmos não se refere a outra coisa senão ao inte-
quibus haec abnegatio seu sui ipsius derelictio exer- resse próprio. … As provas supremas nas quais esta
ceri debet, sunt tentationes, quibus Deus aemulator abnegação ou abandono de si mesmo se deve exer-
vult purgare amorem, nullum ei ostendendo perfu- citar são as tentações, com as quais o Deus zeloso
gium neque ullam spem quoad suum interesse pro- quer purificar o amor, não lhe deixando nenhum
prium, etiam aeternum1. refúgio e nenhuma esperança no que diz respeito
ao interesse próprio, inclusive o eterno1.
2358 8. Omnia sacrificia, quae fieri solent ab anima- 8. Todos os sacrifícios que de costume são fei-
bus quam maxime disinteressatis circa earum aeter- tos pelas almas grandemente desinteressadas no
nam beatitudinem, sunt condicionalia. … Sed hoc que diz respeito à sua eterna felicidade, são condi-
sacrificium non potest esse absolutum in statu ordi- cionais. … Mas este sacrifício não pode ser abso-
nario. In uno extremarum probationum casu hoc luto no estado ordinário. Só no caso das provas
sacrificium fit aliquo modo absolutum1. supremas este sacrifício se torna de algum modo
absoluto1.
2359 9. In extremis probationibus potest animae invin- 9. Nas provas supremas, a alma pode ser inven-
cibiliter persuasum esse persuasione reflexa, et quae civelmente persuadida com uma persuasão reflexa
non est intimus conscientiae fundus, se iuste repro- – que não é o íntimo fundo da consciência – de ter
batam esse a Deo1. sido justamente reprovada por Deus1.
2360 10. Tunc anima divisa a semetipsa exspirat cum 10. Então a alma, dividida em si mesma, morre
Christo in cruce, dicens: “Deus, Deus meus, ut quid com Cristo sobre a cruz, dizendo: “Deus, Deus meu,
dereliquisti me?” [Mt 27,46]. In hac involuntaria porque me abandonaste?” [Mt 27,46]. Neste assalto
impressione desperationis conficit sacrificium ab- involuntário de desespero, ela cumpre o sacrifício
solutum sui interesse proprii quoad aeternitatem1. absoluto do seu interesse próprio no que concerne
à eternidade1.
2361 11. In hoc statu anima amittit omnem spem sui 11. Neste estado, a alma perde toda esperança do
proprii interesse; sed numquam amittit in parte seu interesse próprio; mas não perde jamais, na sua
superiore, id est in suis actibus directis et intimis, parte superior, isto é, nos seus atos diretos e pro-
528
spem perfectam, quae est desiderium disinteressa- fundos, a esperança perfeita, que é o desejo desin-
tum promissionum1. teressado das promessas1.
12. Director tunc potest huic animae permittere, 12. O diretor <espiritual> pode então permitir a 2362
ut simpliciter acquiescat iacturae sui proprii inte- esta alma de aquiescer simplesmente à perda do seu
resse et iustae condemnationi, quam sibi a Deo interesse próprio e à justa condenação que crê a si
indictam credit1. imposta por Deus1.
13. Inferior Christi pars in cruce non communi- 13. A parte inferior de Cristo na cruz não comu- 2363
cavit superiori suas involuntarias perturbationes1. nicou à parte superior as suas perturbações não
voluntárias1.
14. In extremis probationibus pro purificatione 14. Nas provas supremas pela purificação do amor 2364
amoris fit quaedam separatio partis superioris ani- acontece uma certa separação da parte superior da
mae ab inferiore. … In ista separatione actus partis alma, da inferior. … Nessa separação, os atos da
inferioris manant ex omnino caeca et involuntaria parte inferior jorram de uma perturbação de todo
perturbatione: nam totum, quod est voluntarium et cega e involuntária: pois o que é voluntária e inte-
intellectuale, est partis superioris1. lectual flui da parte superior1.
15. Meditatio constat discursivis actibus, qui a se 15. A meditação é composta de atos discursivos 2365
invicem facile distinguuntur. … Ista compositio que se distinguem facilmente uns dos outros. … Esta
actuum discursivorum et reflexorum est propria composição de atos discursivos e reflexivos é o
exercitatio amoris interessati1. exercício próprio do amor interessado1.
16. Datur status contemplationis adeo sublimis 16. Existe um estado de contemplação de tal modo 2366
adeoque perfectae, ut fiat habitualis: ita ut, quoties sublime e perfeito que se torna habitual a tal ponto
anima actu orat, sua oratio sit contemplativa, non que, toda vez que a alma reza, a sua oração é con-
discursiva. Tunc non amplius indiget redire ad me- templativa e não discursiva. Então não há mais ne-
ditationem eiusque actus methodicos1. cessidade de retornar à meditação e aos seus atos
metódicos1.
17. Animae contemplativae privantur intuitu dis- 17. As almas contemplativas são privadas das 2367
tincto, sensibili et reflexo Iesu Christi duobus tem- percepções distintas, sensíveis e reflexas de Jesus
poribus diversis: primo in fervore nascente earum Cristo em dois tempos diferentes: primeiro, no fer-
contemplationis; secundo anima amittit intuitum vor nascente da sua contemplação; segundo, a alma
Iesu Christi in extremis probationibus1. perde a percepção de Jesus Cristo no momento das
provas supremas1.
18. In statu passivo exercentur omnes virtutes 18. No estado de passividade, exercem-se todas 2368
distinctae, non cogitando, quod sint virtutes. In as diferentes virtudes sem pensar que sejam virtu-
quolibet momento aliud non cogitatur, quam facere des. Em qualquer momento não se pensa em outra
id, quod Deus vult, et amor zelotypus simul efficit, coisa senão em fazer o que Deus quer, e ao mesmo
ne quis amplius sibi virtutem velit nec umquam sit tempo o amor zeloso faz com que alguém não quei-
adeo virtute praeditus, quam cum virtuti amplius ra mais a virtude para si, nem seja nunca dotado
affixus non est1. de virtude mais do que quando não está apegado à
virtude1.
19. Potest dici in hoc sensu, quod anima passiva 19. Pode-se também dizer, neste sentido, que a 2369
et disinteressata nec ipsum amorem vult amplius, alma passiva e desinteressada não quer mais nem o
529
quatenus est sua perfectio et sua felicitas, sed so- próprio amor enquanto sua perfeição e sua felicida-
lum quatenus est id, quod Deus a nobis vult1. de, mas só enquanto é o que Deus quer de nós1.
2370 20. In confitendo debent animae transformatae sua 20. Na confissão, as almas transformadas devem
peccata detestari et condemnare se et desiderare detestar seus pecados, condenar a si mesmas e de-
remissionem suorum peccatorum non ut propriam sejar a remissão dos próprios pecados, não como
purificationem et liberationem, sed ut rem, quam própria purificação e libertação, mas como a coisa
Deus vult et vult nos velle propter suam gloriam1. que Deus quer, e quer que nós a queiramos, para a
sua glória1.
2371 21. Sancti mystici excluserunt a statu animarum 21. Os santos místicos excluíram do estado das
transformatarum exercitationes virtutum1. almas transformadas o exercício das virtudes1.
2372 22. Quamvis haec doctrina (de puro amore) esset 22. Embora esta doutrina (a do amor puro) tenha
pura et simplex perfectio evangelica in universa tra- sido indicada em toda a tradição como a pura e sim-
ditione designata, antiqui pastores non proponebant ples perfeição evangélica, os antigos pastores, de
passim multitudini iustorum, nisi exercitia amoris modo geral, à multidão dos justos não propunham
interessati eorum gratiae proportionata1. outra coisa senão os exercícios de amor interessado
proporcionados à sua graça1.
2373 23. Purus amor ipse solus constituit totam vitam 23. O amor puro por si só constitui toda a vida
interiorem; et tunc evadit unicum principium et interior; e assim se apresenta como o único motivo
unicum motivum omnium actuum, qui deliberati et de todas as ações que são deliberadas e meritórias1.
meritorii sunt1.
2374 [C e n s u r a :] … Librum praedictum …, quippe [C e n s u r a :] … O livro acima referido … dado
ex cuius lectione et usu fideles sensim in errores ab que da sua leitura e do seu uso os fiéis podem ser
Ecclesia catholica iam damnatos induci possent, despercebidamente induzidos a erros já condena-
dos pela Igreja católica,
ac insuper tamquam continentem propositiones, e porque além disso contêm proposições, quer no
sive in obvio earum verborum sensu sive attenta sentido óbvio das suas palavras, quer tendo em
sententiarum connexione, temerarias [1s 8 10 15- conta a conexão dos pensamentos, que são res-
20 22], scandalosas [7 10 12 19-21], male sonan- pectivamente temerárias [1s 8 10 15-20 22], es-
tes [4-6 23], piarum aurium offensivas [8 18], in candalosas [7 10 12 19-21], inconvenientes [4-6
praxi perniciosas [2 14 17] ac etiam erroneas [1- 23], ofensivas aos ouvidos piedosos [8 18], per-
7 10s 13 17-19 22s] respective, niciosas na prática [2 14 17] e também errôneas
[1-7 10s 13 17-19 22s],
tenore praesentium damnamus et reprobamus ipsius- pelo teor das presentes, nós o condenamos e o desa-
que libri impressionem … prohibemus. provamos, e proibimos … a publicação deste livro.
530
perturbaret mentem illius? An non sufficeret, si tudo se está moribundo, dado que isto poderia per-
moribundus promitteret fore ut, ubi e morbo conva- turbar a sua mente? Ou não poderia ser suficiente
lescet, instruendum se curet, ut in praxim redigat, que o moribundo prometesse, caso sarasse da doen-
quod ei praescriptum fuerit? ça, de cuidar de se instruir para depois traduzir na
prática o que lhe tiver sido prescrito?
Resp.: Non sufficere promissionem, sed missio- Resposta: A promessa não é suficiente, e o mis-
narium teneri adulto, etiam moribundo, qui incapax sionário é obrigado a explicar a um adulto, mesmo
omnino non sit, explicare mysteria fidei, quae sunt moribundo, que não seja totalmente incapacitado,
necessaria necessitate medii, ut sunt praecipue mys- os mistérios da fé que são necessários por necessi-
teria Trinitatis et Incarnationis. dade de meio, como são particularmente os misté-
rios da Trindade e da Encarnação.
531
absolver alguém que não reconhecesse a obrigação do silêncio obsequioso quanto à condenação de Jansênio (cf. BullTau
21, 80b-81b) que levou Luís XIV a requerer de Clemente XI esta constituição.
Ed.: DuPlA 3/II, 448 / BullTau 21, 235 b / BullLux 8, 36a.
532
Sem dúvida há semelhanças entre afirmações de Agostinho e algumas proposições de Quesnel: In evangelium
Ioannis tractatus, III, 8 (PL 35, 1399 / CpChL 36 [1954] 24) [para a proposição 27s]; Enchiridion 117 (PL 40, 287 /
CpChL 46 [1969] 112) [para a propos. 45]; De praedestinatione Sanctorum 8, n. 13 (PL 44, 970) [para a propos. 17];
De correptione et gratia 14, n. 43 (PL 44, 942) [para a propos. 13]; mas não se deve atribuir à doutrina de Agostinho
uma autoridade sem limites, como afirmam Calvino, Baio e Jansênio.
Ed.: DuPlA 3/II, 462-474 (com o texto francês) / BullTau 21, 568a-574a / BullLux 8, 119a-121b / Viva 2, 1ss /
Clemente XI, Bullarium complectens Bullas … annorum 1701-1721 [ed. anônima como Opera omnia] (Frankfurt/M.
1729) 325-332.
533
2409 9. Gratia Christi est gratia suprema, sine qua 9. A graça de Cristo é a graça suprema, sem a qual
confiteri Christum numquam possumus, et cum qua não podemos nem mesmo confessar Cristo e com a
numquam illum abnegamus. – 1 Cor 12,3: ed. 1693. qual jamais o renegamos. – 1Cor 12,3: ed. 1693.
2410 10. Gratia est operatio manus omnipotentis Dei, 10. A graça é obra da mão de Deus onipotente,
quam nihil impedire potest aut retardare. – Mt 20,34. que nada pode impedir ou retardar. – Mt 20,34.
2411 11. Gratia non est aliud quam voluntas omnipo- 11. A graça não é outra coisa que a vontade oni-
tens Dei iubentis et facientis, quod iubet. – Mc 2,11. potente de Deus, que ordena e faz o que ordena. –
Mc 2,11.
2412 12. Quando Deus vult salvare animam, quocum- 12. Quando Deus quer salvar uma alma, em qual-
que tempore, quocumque loco, effectus indubitabilis quer tempo e em qualquer lugar, o efeito certo se-
sequitur voluntatem Dei. – Mc 2,12. gue a vontade de Deus. – Mc 2,12.
2413 13. Quando Deus vult animam salvam facere et 13. Quando Deus quer salvar uma alma e a toca
eam tangit interiore gratiae suae manu, nulla volun- com a mão interior de sua graça, nenhuma vontade
tas humana ei resistit. – Lc 5,13: ed. 1693. humana lhe resiste. – Lc 5,13: ed. 1693.
2414 14. Quantumcumque remotus a salute sit pecca- 14. Por longe que esteja da salvação, quando Jesus
tor obstinatus, quando Iesus se ei videndum exhibet com a luz salvífica da sua graça se manifesta a ele
lumine salutari suae gratiae, oportet ut se dedat, para ser visto, o pecador obstinado deve submeter-
accurrat, sese humiliet et adoret Salvatorem suum. se, acorrer, humilhar-se e adorar o seu Salvador. –
– Mc 5,67: ed. 1693. Mc 5,67: ed. 1693.
2415 15. Quando Deus mandatum suum et suam ex- 15. Quando acompanha a sua ordem e a sua pa-
ternam locutionem comitatur unctione sui Spiritus lavra exterior com a unção do seu Espírito e a força
et interiore vi gratiae suae, operatur illam in corde interior da sua graça, Deus opera no coração a obe-
oboedientiam, quam petit. – Lc 9,60. diência que pede. – Lc 9,60.
2416 16. Nullae sunt illecebrae, quae non cedant 16. Não há encantos que não cedam aos encan-
illecebris gratiae; quia nihil resistit Omnipotenti. – tos da graça: porque nada resiste ao Onipotente. –
Act 8,12. At 8,12.
2417 17. Gratia est vox illa Patris, quae homines inte- 17. A graça é aquela voz do Pai que ensina os
rius docet ac eos venire facit ad Iesum Christum: homens interiormente e os faz vir a Jesus Cristo:
quicumque ad eum non venit, postquam audivit todo aquele que não vem a ele, depois de ter ouvi-
vocem exteriorem Filii, nullatenus est doctus a Pa- do a voz exterior do Filho, não foi de fato instruído
tre. – Io 6,45. pelo Pai. – Jo 6,45.
2418 18. Semen verbi, quod manus Dei irrigat, semper 18. A semente da Palavra que a mão de Deus
affert fructum suum. – Act 11,21. irriga traz sempre o seu fruto. – At 11,21.
2419 19. Dei gratia nihil aliud est quam eius omni- 19. A graça de Deus não é outra coisa que sua
potens voluntas: haec est idea, quam Deus ipse no- vontade onipotente: é esta a idéia que Deus mesmo
bis tradit in omnibus suis Scripturis. – Rm 14,4: nos deixou em todas as suas Escrituras. – Rm 14,4:
ed. 1693. ed.1693.
2420 20. Vera gratiae idea est, quod Deus vult sibi a 20. A verdadeira idéia da graça é que Deus quer
nobis oboediri, et oboeditur; imperat, et omnia fiunt; que nós lhe obedeçamos, e obedece-se-lhe; ordena,
loquitur tamquam Dominus, et omnia sibi submis- e tudo acontece; fala como Senhor, e tudo lhe é
sa sunt. – Mc 4,39. submisso. – Mc 4,39.
2421 21. Gratia Iesu Christi est gratia fortis, potens, 21. A graça de Jesus Cristo é uma graça forte,
suprema, invincibilis, utpote quae est operatio vo- potente, suprema, invencível, pelo fato de ser a
luntatis omnipotentis, sequela et imitatio operatio- operação de uma vontade onipotente, conseqüência
nis Dei incarnantis et resuscitantis Filium suum. – e imitação da operação de Deus que opera a encar-
2 Cor 5,21: ed. 1693. nação e a ressurreição de seu Filho. – 2Cor 5,21:
ed. 1693.
2422 22. Concordia omnipotentis operationis Dei in 22. A concórdia da onipotente operação de Deus
corde hominis cum libero ipsius voluntatis consen- no coração do homem com o livre consentimento
534
su demonstratur illico nobis in incarnatione, veluti de sua vontade nos é demonstrada na encarnação,
in fonte atque architypo omnium aliarum operatio- como que na fonte e arquétipo de todas as outras
num misericordiae et gratiae, quae omnes ita gra- operações da misericórdia e da graça, que são todas
tuitae atque ita dependentes a Deo sunt, sicut ipsa tão gratuitas e tão dependentes de Deus como a ope-
originalis operatio. – Lc 1,48. ração originária. – Lc 1,48.
23. Deus ipse nobis ideam tradidit omnipotentis 23. Deus mesmo nos deixou a idéia da onipoten- 2423
operationis suae gratiae, eam significans per illam, te eficácia da sua graça, significando-a como a que
quae creaturas e nihilo producit et mortuis reddit produz as criaturas do nada e aos mortos devolve a
vitam. – Rm 4,17. vida. – Rm 4,17.
24. Iusta idea, quam centurio habet de omnipo- 24. A idéia correta que o centurião tem da onipo- 2424
tentia Dei et Iesu Christi in sanandis corporibus solo tência de Deus e de Jesus Cristo, quanto à cura dos
motu suae voluntatis, est imago ideae, quae haberi corpos só com o movimento da sua vontade, é a ima-
debet de omnipotentia suae gratiae in sanandis ani- gem da idéia que se deve ter da onipotência da sua
mabus a cupiditate. – Lc 7,7. graça na cura das almas quanto à cobiça. – Lc 7,7.
25. Deus illuminat animam et eam sanat aeque 25. Deus ilumina a alma e a restabelece, como 2425
ac corpus sola sua voluntate: iubet, et ipsi obtempe- também o corpo, somente com a sua vontade: orde-
ratur. – Lc 18,42. na, e obedece-se-lhe. – Lc 18,42.
26. Nullae dantur gratiae nisi per fidem. – Lc 8,48. 26. Nenhuma graça é dada senão pela fé. – Lc 4,48. 2426
27. Fides est prima gratia et fons omnium aliarum. 27. A fé é a primeira graça e a fonte de todas as 2427
– 2 Pt 1,3. outras. – 2Pt 1,3.
28. Prima gratia, quam Deus concedit peccatori, 28. A primeira graça que Deus concede ao peca- 2428
est peccatorum remissio. – Mc 11,25. dor é a remissão dos pecados. – Mc 11,25.
29. Extra Ecclesiam nulla conceditur gratia. – Lc 29. Fora da Igreja não é concedida nenhuma gra- 2429
10,35 36. ça. – Lc 10,35.36.
30. Omnes, quos Deus vult salvare per Christum, 30. Todos aqueles que Deus quer salvar por meio 2430
salvantur infallibiliter. – Io 6,40. de Cristo são infalivelmente salvos. – Jo 6,40.
31. Desideria Christi semper habent suum effec- 31. Os desejos de Cristo alcançam sempre seu 2431
tum: pacem intimo cordium infert, quando eis illam efeito: ele leva a paz ao íntimo dos corações quan-
optat. – Io 20,19. do a deseja para eles. – Jo 20,19.
32. Iesus Christus se morti tradidit ad liberandum 32. Jesus Cristo entregou-se à morte para livrar para 2432
pro semper suo sanguine primogenitos, id est elec- sempre com seu sangue os primogênitos, isto é os
tos, de manu angeli exterminatoris. – Gal 4,4-7. eleitos, das mãos do anjo exterminador. – Gl 4,4-7.
33. Proh, quantum oportet bonis terrenis et sibi- 33. Oh, quanto deve alguém ter renunciado aos 2433
metipsi renuntiasse, ad hoc, ut quis fiduciam habeat bens terrenos e a si mesmo, para que possa ter con-
sibi, ut ita dicam, appropriandi Christum Iesum, eius fiança, por assim dizer, de se apropriar de Cristo
amorem, mortem et mysteria; ut facit sanctus Pau- Jesus, do seu amor, da sua morte, dos mistérios;
lus dicens: “Qui dilexit me, et tradidit semetipsum como faz são Paulo quando diz: “Ele me amou e se
pro me”. – Gal 2,20. deu a si mesmo por mim”. – Gl 2,20.
34. Gratia Adami non producebat nisi merita 34. A graça de Adão não produzia senão méritos 2434
humana. – 2 Cor 5,21: ed. 1693. humanos. – 2Cor 5,21: ed. 1693.
35. Gratia Adami est sequela creationis et erat 35. A graça de Adão é uma conseqüência da cria- 2435
debita naturae sanae et integrae. – 2 Cor 5,21. ção e era devida à natureza sã e íntegra. – 2Cor 5,21.
36. Differentia essentialis inter gratiam Adami et 36. A diferença essencial entre a graça de Adão e 2436
status innocentiae ac gratiam christianam est, quod do estado de inocência e a graça cristã consiste em
primam unusquisque in propria persona recepisset, que cada um recebe a primeira na própria pessoa,
ista vero non recipitur, nisi in persona Iesu Christi enquanto a segunda não é recebida senão na pessoa
resuscitati, cui nos uniti sumus. – Rm 7,4. de Jesus Cristo ressuscitado, ao qual nós estamos
unidos. – Rm 7,4.
535
2437 37. Gratia Adami, sanctificando illum in seme- 37. A graça de Adão, santificando-o em si mes-
tipso, erat illi proportionata: gratia christiana, nos mo, era proporcionada a ele; a graça de Cristo, san-
sanctificando in Iesu Christo, est omnipotens et tificando-nos em Jesus Cristo, é onipotente e digna
digna Filio Dei. – Eph 1,6. do Filho de Deus. – Ef 1,6.
2438 38. Peccator non est liber nisi ad malum sine 38. O pecador, sem a graça do Libertador, não é
gratia Liberatoris. – Lc 8,9. livre senão para fazer o mal. – Lc 8,9.
2439 39. Voluntas, quam gratia non praevenit, nihil ha- 39. A vontade que não é prevenida pela graça
bet luminis nisi ad aberrandum, ardoris nisi ad se prae- não tem nenhuma luz senão para precipitar, nenhu-
cipitandum, virium nisi ad se vulnerandum, est capax ma força senão para ferir-se, é capaz de todo mal e
omnis mali et incapax ad omne bonum. – Mt 20,34. incapaz de todo bem. – Mt 20,34.
2440 40. Sine gratia nihil amare possumus nisi ad nos- 40. Sem a graça não podemos amar nada senão
tram condemnationem. – 2 Th 3,18: ed. 1693. para a nossa condenação. – 2Ts 3,18: ed. 1693.
2441 41. Omnis cognitio Dei, etiam naturalis, etiam in 41. Todo conhecimento de Deus, mesmo natural,
philosophis ethnicis, non potest venire nisi a Deo; et mesmo nos filósofos pagãos, não pode vir senão de
sine gratia non producit nisi praesumptionem, vani- Deus; e sem a graça não produz nada senão presun-
tatem et oppositionem ad ipsum Deum loco affec- ção, vaidade e oposição ao próprio Deus, ao invés
tuum adorationis, gratitudinis et amoris. – Rm 1,19. de sentimento de adoração e amor. – Rm 1,19.
2442 42. Sola gratia Christi reddit hominem aptum ad 42. Só a graça de Cristo torna o homem capaz do
sacrificium fidei; sine hoc nihil nisi impuritas, nihil sacrifício da fé; sem este não há nada senão a im-
nisi indignitas. – Act 11,9. pureza, nada senão a indignidade. – At 11,9.
2443 43. Primus effectus gratiae baptismalis est face- 43. O primeiro efeito da graça batismal é fazer
re, ut moriamur peccato, adeo ut spiritus, cor, sen- com que morramos para o pecado, de modo que o
sus non habeant plus vitae pro peccato, quam homo espírito, o coração e os sentidos não vivam mais
mortuus habeat pro rebus mundi. – Rm 6,2: ed. 1693. para o pecado, como um homem morto não vive
mais para as coisas do mundo. – Rm 6,2: ed.1693.
2444 44. Non sunt nisi duo amores, unde volitiones et 44. Há somente dois amores, dos quais nasceram
actiones omnes nostrae nascuntur: amor Dei, qui todos os nossos desejos e ações: o amor a Deus,
omnia agit propter Deum, quemque Deus remune- que faz todas as coisas por Deus e que Deus pre-
ratur, et amor, quo nos ipsos ac mundum diligimus, mia, e o amor com o qual amamos a nós mesmos e
qui, quod ad Deum referendum est, non refert et ao mundo, que não refere a Deus o que a Deus deve
propter hoc ipsum fit malus. – Io 5,29. ser referido e por isto se torna mau. – Jo 5,29.
2445 45. Amore Dei in corde peccatorum non amplius 45. Dado que o amor a Deus não reina mais no
regnante necesse est, ut in eo carnalis regnet cupi- coração dos pecadores, necessariamente aí reina a
ditas omnesque actiones eius corrumpat. – Lc 15,13: concupiscência carnal e corrompe todas as suas
ed. 1693. ações. – Lc 15,13: ed. 1693.
2446 46. Cupiditas aut caritas usum sensuum bonum 46. A concupiscência ou a caridade é que tornam
vel malum faciunt. – Mt 5,28. bom ou mau o uso dos sentidos. – Mt 5,28.
2447 47. Oboedientia legis profluere debet ex fonte, et 47. A obediência à lei deve brotar de uma fonte,
hic fons est caritas. Quando Dei amor est illius prin- e esta fonte e a caridade. Quando o amor a Deus é
cipium interius, et Dei gloria eius finis, tunc purum o seu princípio interior e a glória de Deus o seu
est, quod apparet exterius; alioquin non est nisi fim, então é puro o que aparece no exterior; de outro
hypocrisis aut falsa iustitia. – Mt 25,26: ed. 1693. modo não é senão hipocrisia ou falsa justiça. – Mt
25,26: ed. 1693.
2448 48. Quid aliud esse possumus, nisi tenebrae, nisi 48. Que coisa podemos ser nós, sem a luz da fé,
aberratio et nisi peccatum, sine fidei lumine, sine sem Cristo e sem a caridade, senão trevas, senão
Christo et sine caritate? – Eph 5,8. aberração, senão pecado? – Ef 5,8.
2449 49. Ut nullum peccatum est sine amore nostri, ita 49. Como não há pecado sem amor de nós mes-
nullum est opus bonum sine amore Dei. – Mc 7,22 23. mos, assim não há boa obra é sem o amor a Deus.
– Mc 7,22.23.
536
50. Frustra clamamus ad Deum: “Pater mi”, si 50. Em vão gritamos a Deus: “Meu pai”, se não 2450
spiritus caritatis non est ille, qui clamat. – Rm 8,15. é o espírito da caridade que grita. – Rm 8,15.
51. Fides iustificat, quando operatur, sed ipsa non 51. A fé justifica quando opera, mas ela não ope- 2451
operatur nisi per caritatem. – Act 13,39. ra senão pela caridade. – At 13,39.
52. Omnia alia salutis media continentur in fide 52. Todos os outros meios de salvação estão con- 2452
tamquam in suo germine et semine; sed haec fides tidos na fé como no seu germe e semente, mas esta
non est absque amore et fiducia. – Act 10,43. fé não existe sem o amor e a confiança. – At 10,43.
53. Sola caritas christiano modo facit (actiones 53. A caridade opera só de modo cristão (ações 2453
christianas) per relationem ad Deum et Iesum Chris- cristãs) por causa da relação a Deus e a Jesus Cris-
tum. – Col 3,14. to. – Cl 3,14.
54. Sola caritas est, quae Deo loquitur; eam so- 54. É só a caridade que fala a Deus, e só a ela 2454
lam Deus audit. – 1 Cor 13,1. Deus presta ouvido. – 1Cor 13,1.
55. Deus non coronat nisi caritatem: qui currit 55. Deus não dá a coroa senão à caridade; quem 2455
ex alio impulsu et ex alio motivo, in vanum currit. corre levado por outro impulso ou por outro motivo
– 1 Cor 9,24. corre em vão. – 1Cor 9,24.
56. Deus non remunerat nisi caritatem: quoniam 56. Deus não premia senão a caridade, porque só 2456
caritas sola Deum honorat: – Mt 25,36. a caridade honra a Deus. – Mt 25,36.
57. Totum deest peccatori, quando ei deest spes; 57. Falta tudo ao pecador quando lhe falta a es- 2457
et non est spes in Deo, ubi non est amor Dei. – perança; e não há esperança em Deus onde não há
Mt 27,5. o amor de Deus. – Mt 27,5.
58. Nec Deus est nec religio, ubi non est caritas. 58. Não há Deus nem religião onde não há a 2458
– 1 Io 4,8. caridade. – 1Jo 4,8.
59. Oratio impiorum est novum peccatum; et 59. A oração dos ímpios é um novo pecado; e o 2459
quod Deus illis concedit, est novum in eos iudicium. que Deus lhes concede é um novo juízo sobre eles.
– Io 10,25: ed. 1693. – Jo 10,25: ed. 1693.
60. Si solus supplicii timor animat paenitentiam, 60. Se somente o medo do suplício anima a pe- 2460
quo haec est magis violenta, eo magis ducit ad des- nitência, quanto mais violenta ela é, tanto mais
perationem. – Mt 27,5. conduz ao desespero. – Mt 27,5.
61. Timor nonnisi manum cohibet, cor autem 61. O medo segura somente a mão, mas o cora- 2461
tamdiu peccato addicitur, quamdiu ab amore iusti- ção fica tanto tempo abandonado ao pecado quanto
tiae non ducitur. – Lc 20,19. não for guiado pelo amor da justiça. – Lc 20,19.
62. Qui a malo non abstinet nisi timore poenae, 62. Quem se abstém do mal somente pelo temor 2462
illud committit in corde suo et iam est reus coram da pena, o comete no seu coração e é já culpável
Deo. – Mt 21,46. diante de Deus. – Mt 21,46.
63. Baptizatus adhuc est sub lege sicut Iudaeus, 63. O batizado está ainda sob a lei como o judeu, 2463
si legem non adimpleat, aut adimpleat ex solo ti- se não cumpre a lei ou se a cumpre só por temor. –
more. – Rm 6,14. Rm 6,14.
64. Sub maledicto legis numquam fit bonum; quia 64. Sob a maldição da lei não se faz jamais o 2464
peccatur sive faciendo malum sive illud nonnisi ob bem; peca-se, de fato, quando se faz o mal ou tam-
timorem evitando. – Gal 5,18. bém quando se evita-o somente por temor. – Gl 5,18.
65. Moyses, Prophetae, sacerdotes et doctores 65. Moisés, os profetas, os sacerdotes e os dou- 2465
Legis mortui sunt absque eo, quod ullum Deo de- tores da lei morreram sem ter dado a Deus nenhum
derint filium, cum non effecerint nisi mancipia per filho, dado que por temor só produziram escravos.
timorem. – Mc 12,19. – Mc 12,19.
66. Qui vult Deo appropinquare, nec debet ad 66. Quem quiser aproximar-se de Deus não deve 2466
ipsum venire cum brutalibus passionibus neque ir a ele com paixões brutais, nem deve ser condu-
adduci per instinctum naturalem aut per timorem zido pelo instinto natural ou pelo temor, como os
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sicuti bestiae, sed per fidem et per amorem sicuti animais, mas pela fé e pelo amor, como os filhos.
filii. – Hbr 12,20: ed. 1693. – Hb 12,20: ed. 1693.
2467 67. Timor servilis non sibi repraesentat Deum nisi 67. O temor servil não representa Deus senão
ut dominum durum, imperiosum, iniustum, intrac- como um patrão duro, imperioso, injusto e intratá-
tabilem. – Lc 19,21: ed. 1693. vel. – Lc 19,21: ed. 1693.
2468 68. Dei bonitas abbreviavit viam salutis, clauden- 68. A bondade de Deus abreviou o caminho da
do totum in fide et precibus. – Act 2,21. salvação, fechando tudo na fé e na oração. – At 2,21.
2469 69. Fides, usus, augmentum et praemium fidei, 69. A fé, o exercício, o aumento e o prêmio da fé,
totum est donum purae liberalitatis Dei. – Mc 9,22. tudo é dom da pura liberalidade de Deus. – Mc 9,22.
2470 70. Numquam Deus affligit innocentes; et afflic- 70. Deus não aflige jamais os inocentes; e as
tiones semper serviunt vel ad puniendum peccatum aflições servem sempre para punir o pecado ou para
vel ad purificandum peccatorem. – Io 9,3. purificar o pecador. – Jo 9,3.
2471 71. Homo ob sui conservationem potest sese 71. O homem para a sua conservação pode se
dispensare ab ea lege, quam Deus condidit propter dispensar a si mesmo daquela lei que Deus dispôs
eius utilitatem. – Mc 2,28. para sua utilidade. – Mc 2,28.
2472 72. Nota Ecclesiae christianae est, quod sit ca- 72. A característica da Igreja cristã é a de ser
tholica, comprehendens et omnes angelos caeli et católica, compreendendo e todos os anjos do céu, e
omnes electos et iustos terrae et omnium saeculo- todos os eleitos e justos da terra e de todos os sécu-
rum. – Hbr 12,22-24. los. – Hb 12,22-24.
2473 73. Quid est Ecclesia, nisi coetus filiorum Dei 73. Que é a Igreja senão o conjunto dos filhos de
manentium in eius sinu, adoptatorum in Christo, Deus que permanecem no seu seio adotados em
subsistentium in eius persona, redemptorum eius Cristo, subsistentes na sua pessoa, redimidos pelo
sanguine, viventium eius spiritu, agentium per eius seu sangue, vivendo pelo seu espírito, operando pela
gratiam, et exspectantium gratiam futuri saeculi? – sua graça, e que esperam a graça do século futuro?
2 Th 1,1s: ed. 1693. – 2Ts 1,1s: ed. 1693.
2474 74. Ecclesia sive integer Christus incarnatum 74. A Igreja, para melhor dizer, o Cristo comple-
Verbum habet ut caput, omnes vero Sanctos ut to, tem como cabeça o Verbo encarnado, e como
membra. – 1 Tim 3,16. membros, todos os santos. – 1Tm 3,16.
2475 75. Ecclesia est unus solus homo compositus ex 75. A Igreja é um só homem composto de vários
pluribus membris, quorum Christus est caput, vita, membros, dos quais Cristo é a cabeça, a vida, a es-
subsistentia et persona; unus solus Christus compo- sência e a pessoa; um só Cristo, composto de vários
situs ex pluribus Sanctis, quorum est sanctificator. Santos, dos quais é o santificador. – Ef 2,14-16.
– Eph 2,14-16.
2476 76. Nihil spatiosius Ecclesia Dei: quia omnes 76. Não há nada mais espaçoso que a Igreja de
electi et iusti omnium saeculorum illam componunt. Deus: pois a compõem todos os eleitos e os justos
– Eph 2,22. de todos os séculos. – Ef 2,22.
2477 77. Qui non ducit vitam dignam filio Dei et mem- 77. Quem não leva uma vida digna de filho de
bro Christi, cessat interius habere Deum pro Patre Deus e de membro de Cristo, cessa interiormente
et Christum pro capite. – 1 Io 2,24: ed. 1693. de ter Deus por Pai e Cristo por cabeça. – 1Jo 2,24:
ed. 1693.
2478 78. Separatur quis a populo electo, cuius figura 78. Do povo eleito, do qual o povo judeu foi fi-
fuit populus Iudaicus et caput est Iesus Christus, gura e Jesus Cristo é a cabeça, alguém se separa
tam non vivendo secundum Evangelium quam non tanto por não viver segundo o Evangelho quanto
credendo Evangelio. – Act 3,23. por não crer no Evangelho. – At 3,23.
2479 79. Utile et necessarium est omni tempore, omni 79. É útil e necessário em todo tempo, em todo
loco et omni personarum generi, studere et cognos- lugar e a toda espécie de pessoa, estudar e conhecer
cere spiritum, pietatem et mysteria sacrae Scriptu- o espírito, a piedade e os mistérios da Sagrada Es-
rae. – 1 Cor 14,5. critura. – 1Cor 14,5.
538
80. Lectio sacrae Scripturae est pro omnibus. – 80. A leitura da Sagrada Escritura é para todos. – 2480
Act 8,28. At 8,28.
81. Obscuritas sancta verbi Dei non est laicis ratio 81. A santa obscuridade da palavra de Deus não 2481
dispensandi se ipsos ab eius lectione. – Act 8,31. é para os leigos um motivo para dispensar-se de sua
leitura. – At 8,31.
82. Dies Dominicus a Christianis debet sanctifi- 82. O dia do Senhor deve ser santificado pelos 2482
cari lectionibus pietatis et super omnia sanctarum cristãos com leituras piedosas, sobretudo das sagra-
Scripturarum. Damnosum est, velle Christianum ab das Escrituras. É condenável querer tirar o cristão
hac lectione retrahere. – Act 15,21. desta leitura. – At 15,21.
83. Est illusio sibi persuadere, quod notitia mys- 83. É um engano persuadir-se que o conhecimento 2483
teriorum religionis non debeat communicari femi- dos mistérios da religião não deva ser comunicado
nis lectione sacrorum librorum: Non ex feminarum às mulheres mediante a leitura dos livros sagrados.
simplicitate, sed ex superba virorum scientia ortus Não da simplicidade das mulheres, mas da soberba
est Scripturarum abusus, et natae sunt haereses. – ciência dos varões surgiu o abuso das Escrituras e
Io 4,26. nasceram as heresias. – Jo 4,26.
84. Abripere e Christianorum manibus Novum 84. Afastar das mãos dos cristãos o Novo Testa- 2484
Testamentum seu eis illud clausum tenere auferendo mento, ou então conservá-lo fechado, privando-os
eis modum illud intelligendi, est illis Christi os ob- do modo de compreendê-lo, é fechar para eles a
turare. – Mt 5,2. boca de Cristo. – Mt 5,2.
85. Interdicere Christianis lectionem sacrae Scrip- 85. Proibir aos cristãos a leitura da Sagrada Es- 2485
turae, praesertim Evangelii, est interdicere usum lu- critura, de modo particular do Evangelho, é proi-
minis filiis lucis et facere, ut patiantur speciem bir o uso da luz aos filhos da luz e fazer como se
quandam excommunicationis. – Lc 11,33: ed. 1693. sofressem uma espécie de excomunhão. – Lc 11,33:
ed. 1693.
86. Eripere simplici populo hoc solatium iungen- 86. Privar o povo simples da consolação de unir 2486
di vocem suam voci totius Ecclesiae [cf. *2666], a própria voz à voz de toda a Igreja [cf. *2666] é
est usus contrarius praxi apostolicae et intentioni um uso contrário à prática apostólica e à intenção
Dei. – 1 Cor 14,16. de Deus. – 1Cor 14,16.
87. Modus plenus sapientia, lumine et caritate est 87. É uma maneira plena de sabedoria, de luz e 2487
dare animabus tempus portandi cum humilitate et de caridade dar às almas tempo para levar com
sentiendi statum peccati, petendi spiritum paeniten- humildade e sentir o estado de pecado, para pedir o
tiae et contritionis, et incipiendi ad minus satisface- espírito de penitência e de contrição, e para ao
re iustitiae Dei, antequam reconcilientur. – Act 8,9. menos começar a dar satisfação à justiça de Deus
antes de serem reconciliadas. – At 8,9.
88. Ignoramus, quid sit peccatum et vera paeni- 88. Quando queremos ser imediatamente restituí- 2488
tentia, quando volumus statim restitui possessioni dos à posse daqueles bens dos quais o pecado nos
bonorum illorum, quibus nos peccatum spoliavit, et despojou e nos recusamos a carregar a vergonha
detrectamus separationis istius ferre confusionem. dessa separação, ignoramos o que seja o pecado e a
– Lc 17,11.12. verdadeira penitência. – Lc17,11.12.
89. Quartus decimus gradus conversionis pecca- 89. O décimo quarto degrau da conversão do 2489
toris est, quod, cum sit iam reconciliatus, habet ius pecador é o de ter, já estando reconciliado, o direito
assistendi sacrificio Ecclesiae. – Lc 15,23. de assistir ao sacrifício da Igreja. – Lc 15,23.
90. Ecclesia auctoritatem excommunicandi habet, 90. A Igreja possui a autoridade de excomungar 2490
ut eam exerceat per primos pastores de consensu para que a exerça mediante os primeiros pastores,
saltem praesumpto totius corporis. – Mt 18,17. com o consenso ao menos presumido de todo o
corpo. – Mt 18,17.
91. Excommunicationis iniustae metus numquam 91. O temor de uma excomunhão injusta não deve 2491
debet nos impedire ab implendo debito nostro; num- jamais impedir-nos de cumprir nosso dever; nunca
quam eximus ab Ecclesia, etiam quando hominum nós saímos da Igreja, mesmo quando pela iniqüida-
539
nequitia videmur ab ea expulsi, quando Deo, Iesu de dos homens parecemos expulsos dela, se pela
Christo, atque ipsi Ecclesiae per caritatem affixi caridade estamos firmemente unidos a Deus, a Je-
sumus. — Io 9,22 23. sus Cristo e à própria Igreja. – Jo 9,22-23.
2492 92. Pati potius in pace excommunicationem et ana- 92. Suportar em paz a excomunhão e o anátema
thema iniustum, quam prodere veritatem, est imitari injusto, antes que trair a verdade, é imitar são Pau-
sanctum Paulum; tantum abest, ut sit erigere se contra lo; e está muito longe do que seria levantar-se con-
auctoritatem aut scindere unitatem. – Rm 9,3. tra a autoridade ou romper a unidade. – Rm 9,3.
2493 93. Iesus quandoque sanat vulnera, quae praeceps 93. Jesus algumas vezes cura as feridas que a
primorum pastorum festinatio infligit sine ipsius incauta impaciência dos primeiros pastores impõe
mandato. Iesus restituit, quod ipsi inconsiderato zelo sem ordem dele. Jesus restitui o que eles por zelo
rescindunt. – Io 18,11. inconsiderado destróem. – Jo 18,11.
2494 94. Nihil peiorem de Ecclesia opinionem ingerit 94. Nada inculca pior opinião a respeito da Igre-
eius inimicis, quam videre illic dominatum exerceri ja nos seus inimigos que o ver que nela se exerce
supra fidem fidelium, et foveri divisiones propter tirania sobre a fé dos crentes e se fomentam divi-
res, quae nec fidem laedunt nec mores. – Rm 14,16. sões por coisas que não lesam nem a fé nem os
costumes. – Rm 14,16.
2495 95. Veritates eo devenerunt, ut sint lingua quasi 95. As verdades chegaram ao ponto de se torna-
peregrina plerisque Christianis, et modus eas prae- rem um discurso quase estranho para a maior parte
dicandi est veluti idioma incognitum; adeo remo- dos cristãos, e o modo da sua pregação é como um
tus est a simplicitate Apostolorum, et supra com- dialeto desconhecido; está por demais afastado da
munem captum fidelium; neque satis advertitur, simplicidade dos Apóstolos e acima da comum
quod hic defectus sit unum ex signis maxime sen- compreensão dos fiéis; e não se atenta de modo ade-
sibilibus senectutis Ecclesiae et irae Dei in filios quado que este defeito é um dos sinais mais sensí-
suos. – 1 Cor 14,21. veis do envelhecimento da Igreja e da ira de Deus
sobre seus filhos. – 1Cor 14,21.
2496 96. Deus permittit, ut omnes potestates sint con- 96. Deus permite que todas as potências sejam
trariae praedicatoribus veritatis, ut eius victoria contrárias aos pregadores da verdade para que sua
attribui non possit nisi divinae gratiae. – Act 17,8. vitória não possa ser atribuída senão à graça divina.
– At 17,8.
2497 97. Nimis saepe contingit, membra illa, quae ma- 97. Sucede bem freqüentemente que aqueles
gis sancte ac magis stricte unita Ecclesiae sunt, membros que estão unidos à Igreja de modo mais
respici atque tractari tamquam indigna, ut sint in santo e estreito são considerados e tratados como
Ecclesia, vel tamquam ab ea separata; sed “iustus indignos, ou como que separados dela; mas “o jus-
vivit ex fide” [Rm 1,17], et non ex opinione homi- to vive da fé” [Rm 1,17] e não da opinião dos ho-
num. – Act 4,11. mens. – At 4,11.
2498 98. Status persecutionis et poenarum, quas quis 98. O estado de perseguição e de sofrimento que
tolerat tamquam haereticus, flagitiosus et impius, alguém suporta como herege, infame e ímpio é
ultima plerumque probatio est et maxime meritoria, geralmente a última prova e a mais meritória, a que
utpote quae facit hominem magis conformem Iesu torna o homem grandemente conforme a Jesus Cris-
Christo. – Lc 22,37. to. – Lc 22,37.
2499 99. Pervicacia, praeventio, obstinatio in nolendo 99. A obstinação, a presunção, a teimosia em não
aut aliquid examinare aut agnoscere, se fuisse de- querer examinar alguma coisa ou reconhecer ter sido
ceptum, mutant quotidie quoad multos in odorem enganado transformam cada dia, para muitos, em
mortis id, quod Deus in sua Ecclesia posuit, ut in ea odor de morte aquilo que Deus pôs na sua Igreja
esset odor vitae, verbi gratia bonos libros, instruc- para que fosse nela odor de vida, por exemplo, os
tiones, sancta exempla, etc. – 2 Cor 2,16. bons livros, os ensinamentos, os exemplos santos
etc. – 2Cor 2,16.
2500 100. Tempus deplorabile, quo creditur honorari 100. Tempo de pranto e lamentação aquele no
Deus persequendo veritatem eiusque discipulos! qual se crê honrar a Deus perseguindo a verdade e
Tempus hoc advenit. … Haberi et tractari a religio- os seus discípulos! Este tempo chegou. … O ser
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nis ministris tamquam impium et indignum omni considerado e tratado pelos ministros da religião
commercio cum Deo, tamquam membrum putridum, como ímpio e indigno de qualquer ligação com
capax corrumpendi omnia in societate Sanctorum, Deus, como um membro podre, capaz de tudo cor-
est hominibus piis morte corporis mors terribilior. romper na sociedade dos Santos, é para os homens
Frustra quis sibi blanditur de suarum intentionum pios uma morte mais terrível que a morte do corpo.
puritate et zelo quodam religionis, persequendo Em vão alguém se lisonjeia com a pureza de suas
flamma ferroque viros probos, si propria passione intenções ou com algum zelo religioso quando per-
est excaecatus aut abreptus aliena, propterea quod segue com fogo e ferro homens íntegros, se está
nihil vult examinare. Frequenter credimus sacrifi- obcecado pela própria paixão ou arrastado por uma
care Deo impium, et sacrificamus diabolo Dei paixão externa, pelo que não quer examinar nada.
servum. – Io 16,2. Freqüentemente cremos que sacrificamos o ímpio a
Deus enquanto sacrificamos ao diabo um servo de
Deus. – Jo 16,2.
101. Nihil spiritui Dei et doctrinae Iesu Christi 101. Nada se opõe tanto ao espírito de Deus e à 2501
magis opponitur, quam communia facere iuramenta doutrina de Jesus Cristo quanto o fazer juramentos
in Ecclesia; quia hoc est multiplicare occasiones generalizados na Igreja; porque isso é multiplicar
peierandi, laqueos tendere infirmis et idiotis, et effi- as ocasiões de perjúrio, é armar laços aos enfermos
cere, ut nomen et veritas Dei aliquando deserviant e aos ignorantes e fazer com que o nome e a verda-
consilio impiorum. – Mt 5,37. de de Deus, às vezes, sirvam aos planos dos ímpios.
– Mt 5,37.
[C e n s u r a :] … Propositiones praeinsertas tam- [C e n s u r a :] … Nós declaramos, condenamos e 2502
quam falsas, captiosas, male sonantes, piarum au- rejeitamos … as proposições antes insertas, respec-
rium offensivas, scandalosas, perniciosas, temera- tivamente como falsas, fraudulentas, malsoantes,
rias, Ecclesiae et eius praxi iniuriosas, neque in ofensivas aos ouvidos piedosos, escandalosas, per-
Ecclesiam solum, sed etiam in potestates saeculi niciosas, temerárias, ofensivas para a Igreja e para a
contumeliosas, seditiosas, impias, blasphemas, sus- sua atuação, ultrajosas não só para a Igreja mas tam-
pectas de haeresi ac haeresim ipsam sapientes, nec- bém para com os poderes seculares, sediciosas,
non haereticis et haeresibus ac etiam schismati fa- ímpias, blasfemas, suspeitas de heresia e com sabor
ventes, erroneas, haeresi proximas, pluries damna- de heresia, e ainda aptas a favorecer os hereges, as
tas, ac demum haereticas, variasque haereses et po- heresias e também o cisma; errôneas, próximas à
tissimum illas, quae in famosis Iansenii propositio- heresia, repetidamente condenadas e, finalmente,
nibus, et quidem in eo sensu, in quo hae damnatae heréticas, renovando de modo manifesto as diversas
fuerunt, acceptis continentur, manifeste innovantes heresias e especialmente aquelas que estão contidas
respective … declaramus, damnamus et reprobamus. nas famosas proposições de Jansênio, entendidas no
sentido mesmo em que foram condenadas …
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542
aggregationibus nomen dare apud prudentes et pro- tão forte que o aderir a estas associações por parte
bos idem omnino sit ac pravitatis et perversionis dos homens prudentes e honestos é, sem mais nem
notam incurrere; nisi enim male agerent, tanto ne- menos, considerado como contrair a marca da
quaquam odio lucem haberent. Qui quidem rumor maldade e perversão; se de fato não fizessem o mal,
eo usque percrebuit, ut in plurimis regionibus me- não teriam de modo algum um ódio tão grande à
moratae societates per saeculi potestates tamquam luz. Esta fama se difundiu de tal modo que as su-
regnorum securitati adversantes proscriptae ac pro- pracitadas sociedades, pelas autoridades seculares,
vide eliminatae iam pridem exstiterint. faz tempo, em muitas regiões, foram prescritas e
providamente banidas como contrárias à segurança
dos reinos.
(§ 2) Nos itaque (§ 2) Nós portanto, 2512
animo volventes gravissima damna, quae ut plu- meditando no nosso coração sobre os gravíssi-
rimum ex huiusmodi societatibus seu conventi- mos danos trazidos por tais sociedades ou con-
culis nedum temporalis rei publicae tranquillitati ventículos, de modo descomunal, não só à tran-
verum etiam spirituali animarum saluti inferuntur qüilidade do governo temporal, mas também à
atque idcirco tum civilibus tum canonicis mini- salvação espiritual das almas; e <julgando> que,
me cohaerere sanctionibus, por este motivo, de modo algum condizem com
as disposições penais civis ou canônicas,
cum divino eloquio doceamur, … vigilandum visto que a divina palavra nos ensina … que se
esse, ne huiusmodi hominum genus veluti fures deve vigiar para que tal laia de homens não pene-
domum perfodiant, … ne videlicet simplicium tre, como os ladrões, no interior da casa … e não
corda pervertant …, pervertam assim os corações dos simples …,
ad latissimam quae iniquitatibus impune patrandis para barrar o bem amplo caminho que poderia
inde aperiri posset viam obstruendam aliisque de ser aberto pela entrada impune de coisas iníquas,
iustis ac rationabilibus causis Nobis notis como também por outros motivos justos e razoá-
veis por Nós conhecidos,
easdem societates … seu conventicula de “liberi Mu- por conselho de … alguns cardeais e também por
ratori” seu “Francs Massons” aut alio quocumque iniciativa própria … e com base na plenitude do
nomine appellata de nonnullorum … cardinalium poder apostólico, estabelecemos que essas socie-
consilio ac etiam motu proprio … deque Apostoli- dades … ou associações secretas dos “Livres pe-
cae potestatis plenitudine damnanda et prohibenda dreiros” ou “Francs Maçons”, ou com qualquer
esse statuimus … outro nome que sejam chamadas, devem ser con-
denadas e proibidas …
(§ 4) [Mandantur locorum ordinarii et inquisitores, (§ 4) [Sejam encarregados os ordinários dos luga- 2513
ut transgressores] tamquam de haeresi vehementer res e os inquisidores para que, aos transgressores,]
suspectos condignis poenis puniant. como altamente suspeitos de heresia, os punam com
penas adequadas.
543
ex una parte virum et catholicam feminam ex alia, meiramente, seja entre hereges de uma parte e de
aut viceversa, non servata forma a sacro Tridentino outra, seja entre um homem herege de uma parte e
Concilio praescripta [Decretum “Tametsi”, *1813- uma mulher católica da outra, ou vice-versa, sem
1816], utrum valida habenda sint necne, diu mul- que seja observada a forma prescrita pelo sagrado
tumque disceptatum est animis hominum ac senten- Concílio de Trento [Decreto “Tametsi” *1813-1816],
tiis in diversa distractis; id quod satis uberem anxie- foi discutido longe e repetidamente, dividindo-se os
tatis ac periculorum sementem per multos annos ânimos e as opiniões em direções opostas; coisa que
subministravit … por muitos anos acarretou, à saciedade, um excesso
de ansiedade e semeadura de perigos …
2516 (1) … Sanctissimus Dominus noster … hanc (1) … O nosso Santíssimo Senhor <o Papa> …
nuper declarationem et instructionem exarari prae- agora ordenou que seja elaborada esta declaração e
cepit, qua veluti certa regula ac norma omnes Bel- instrução, que todos os bispos da Bélgica, os páro-
gii antistites, parochi earumque regionum missio- cos e os missionários daquelas regiões, bem como
narii, et vicarii apostolici deinceps in huiusmodi os vigários apostólicos, de agora em diante, devem
negotiis uti debeant. utilizar como regra e norma segura em situações
desse gênero.
2517 (2) Primo scilicet, quod attinet ad matrimonia a b (2) Em primeiro lugar, portanto, no que diz res-
h a e r e t i c i s i n t e r se in locis Foederatorum Ordi- peito aos matrimônios celebrados p e l o s h e r e g e s
num dominio subiectis celebrata, non servata for- e n t r e s i nas regiões sujeitas ao domínio dos Esta-
ma per Tridentinum praescripta, licet Sanctitas Sua dos Federados sem observar a forma prescrita pelo
non ignoret, alias in casibus quibusdam particulari- Concílio de Trento, mesmo se Sua Santidade não
bus et attentis tunc expositis circumstantiis Sacram ignora que a Congregação do Concílio, em outro
Congregationem Concilii pro eorum invaliditate res- momento, em alguns casos particulares, e tendo
pondisse, aeque tamen compertum habens, nihil considerado atentamente as circunstâncias então
adhuc generatim et universe super eiusmodi matri- expostas, respondeu a favor da sua invalidade, e
moniis fuisse ab Apostolica Sede definitum, et sabendo igualmente, por outro lado, que nada até
alioquin oportere omnino, ad consulendum univer- agora foi estabelecido pela Sé Apostólica de caráter
sis fidelibus in iis locis degentibus et plura avertenda geral e universal em ordem a semelhantes matrimô-
gravissima incommoda, quid generaliter de hisce nios, e que, de resto, para cuidar de todos os fiéis
matrimoniis sentiendum sit declarare: que vivem naqueles lugares e para eliminar nume-
rosos gravíssimos danos, é absolutamente necessá-
rio declarar o que se deve pensar em geral desses
matrimônios:
… declaravit statuitque, matrimonia in dictis … declarou e definiu que os matrimônios até
Foederatis Belgii provinciis inter haereticos usque agora celebrados entre hereges, nas acima referidas
modo contracta, quaeque imposterum contrahentur, Províncias Federadas da Bélgica, e os que em se-
etiamsi forma a Tridentino praescripta non fuerit in guida serão contraídos, também se na sua celebra-
iis celebrandis servata, dummodo aliud non obstite- ção não foi observada a forma prescrita pelo Con-
rit canonicum impedimentum, pro validis habenda cílio de Trento, contanto que não haja obstáculo de
esse; adeoque si contingat, utrumque coniugem ad outro impedimento canônico, devem ser considera-
catholicae Ecclesiae sinum se recipere, eodem quo dos válidos; e que, portanto, se porventura aconte-
antea coniugali vinculo ipsos omnino teneri, etiamsi cer que ambos os cônjuges retornem ao seio da
mutuus consensus coram parocho catholico ab eis Igreja católica, eles se atenham absolutamente ao
non renovetur; sin autem unus tamtum ex coniugi- vínculo conjugal de antes, também se não foi reno-
bus, sive masculus sive femina, convertatur, neutrum vado por eles o mútuo consenso diante do pároco
posse, quamdiu alter superstes erit, ad alias nuptias católico; e que, se, mais tarde, um somente dos
transire. cônjuges, seja o homem ou a mulher, se converte,
nenhum dos dois pode, enquanto o outro estiver
vivo, contrair outra núpcias.
2518 (3) Quod vero spectat ad ea coniugia, quae pari- (3) No que se refere àqueles matrimônios que nas
ter in iisdem Foederatis Belgii provinciis absque mesmas Províncias Federadas da Bélgica são con-
544
forma a tridentino statuta contrahuntur a c a t h o l i - traídas sem a forma estabelecida pelo Concílio de
c i s c u m h a e r e t i c i s , sive catholicus vir haereti- Trento, p o r c a t ó l i c o s c o m h e r e g e s , seja que
cam feminam in matrimonium ducat, sive catholica um homem católico espose uma mulher herege, seja
femina haeretico viro nubat: dolens imprimis quam que uma mulher católica espose um homem herege:
maxime Sanctitas Sua, eos esse inter catholicos, qui Sua Santidade, antes de tudo grandemente amargu-
insano amore turpiter dementati ab hisce detestabi- rado pelo fato de haver católicos que, torpemente
libus conubiis, quae sancta mater Ecclesia perpetuo enlouquecidos por um amor doentio, não fogem de
damnavit atque interdixit, ex animo non abhorrent toda a alma desses matrimônios detestáveis, que a
et prorsus sibi abstinendum non ducunt, … [anima- santa mãe Igreja sempre tem condenado e proibido,
rum pastores] serio graviterque hortatur et monet, e não acham que devem absolutamente se abster, …
ut catholicos utriusque sexus ab huiusmodi nuptiis exorta e admoesta [os pastores de almas] de modo
in propriarum animarum perniciem ineundis quan- sério e grave para que, na medida do possível, afas-
tum possint absterreant, easdemque nuptias omni tem os católicos de ambos os sexos de contrair se-
meliore modo intervertere atque efficaciter impedi- melhantes matrimônios para ruína das próprias al-
re satagant. mas e façam de tudo para obstaculizar da melhor
maneira tais núpcias e impedi-las de modo eficaz.
At si forte aliquod huius generis matrimonium, Mas no caso em que algum matrimônio deste
Tridentini forma non servata, ibidem contractum iam gênero, não observada a forma do Concílio de Tren-
sit, aut in posterum (quod Deus avertat) contrahi to, já tenha sido contraído por lá, ou eventualmente
contingat, declarat Sanctitas Sua, matrimonium deva ser contraído no futuro (do que Deus nos pre-
huiusmodi, alio non occurrente canonico impedi- serve), Sua Santidade declara que tal matrimônio,
mento, validum habendum esse, et neutrum ex co- não se opondo outro impedimento canônico, deve
niugibus, donec alter eorum supervixerit, ullatenus ser considerado válido, e que nenhum dos dois côn-
posse sub obtentu dictae formae non servatae no- juges, enquanto o outro está vivo, em caso algum
vum matrimonium inire; id vero debere sibi potis- pode contrair novo matrimônio com o pretexto de
sime in animum inducere coniugem catholicum, sive não ter sido observada a forma acima referida; e
virum sive feminam, ut pro gravissimo scelere quod que justamente isto deve sobretudo convencer o
admisit, paenitentiam agat ac veniam a Deo prece- cônjuge católico, seja o homem ou a mulher, pelo
tur, coneturque pro viribus alterum coniugem a vera gravíssimo pecado que cometeu, a fazer penitência
fide deerrantem ad gremium catholicae Ecclesiae e a implorar o perdão de Deus e a tentar, segundo
pertrahere eiusque animam lucrari, quod porro ad as suas forças, atrair o outro cônjuge, desviado da
veniam de patrato crimine impetrandam opportu- verdadeira fé, para o seio da Igreja católica e ga-
nissimum foret, sciens de cetero, ut mox dictum est, nhar a sua alma, o que, aliás, seria utilíssimo para
se istius matrimonii vinculo perpetuo ligatum iri. obter o perdão da culpa cometida, sabendo, além
disso, como acabamos de dizer, que será ligado para
sempre com o vínculo deste matrimônio.
(4) [Idem valet] … etiam de similibus matrimo- (4) [A mesma coisa vale] … também com refe- 2519
niis extra fines dominii eorundem Foederatorum rência a matrimônios semelhantes que, fora dos li-
Ordinum contractis ab iis, qui addicti sunt legionibus mites dos supraditos Estados Federados, foram con-
seu militaribus copiis, quae ab iisdem Foederatis traídos por aqueles que são empregados nos exérci-
Ordinibus transmitti solent ad custodiendas munien- tos ou tropas que os mesmos Estados Federados
dasque arces conterminas vulgo dictas di Barriera: costumam deslocar para vigiar e defender as forta-
ita quidem, ut matrimonia ibi praeter Tridentini for- lezas de fronteira, vulgarmente chamadas de
mam sive inter haereticos utrimque sive inter catho- barrieras [[ital.]]: de modo, porém, que os matri-
licos et haereticos inita valorem suum obtineant, mônios aí iniciados sem a forma do Concílio de
dummodo uterque coniux ad easdem copias sive Trento, seja entre hereges de ambas as partes, seja
legiones pertineat. … entre católicos e hereges, obtenham a sua validade,
com a condição de que ambos os cônjuges perten-
çam a essas tropas ou exércitos. …
(5) Tandem circa coniugia, quae contrahuntur vel (5) Finalmente, no que diz respeito aos matrimô- 2520
in regionibus principum catholicorum ab iis, qui in nios que são contraídos, ou nas regiões dos Príncipes
545
provinciis Foederatis domicilium habent, vel in Foe- Católicos por aqueles que têm domicílio nas Provín-
deratis provinciis ab habentibus domicilium in re- cias Federadas, ou nas Províncias Federadas por
gionibus catholicorum principum, nihil Sanctitas Sua aqueles que têm domicílio nas regiões dos Príncipes
de novo decernendum aut declarandum esse duxit, Católicos, Sua Santidade não julgou haver algo de
volens, ut de iis iuxta canonica iuris communis prin- novo a estabelecer ou a declarar, querendo que, onde
cipia probatasque in similibus casibus alias editas a surgir discussão a esse respeito, se decida segundo
Sacra Congregatione Concilii resolutiones, ubi dis- os princípios canônicos do direito comum e as reso-
putatio contingat, decidatur, et ita declaravit statuit- luções aprovadas em casos semelhantes e em outras
que ac ab omnibus in posterum servari praecepit. oportunidades, notificadas pela Sagrada Congrega-
ção do Concílio; e assim declarou e estabeleceu e
ordenou que no futuro seja por todos observado.
O sacramento da confirmação
2522 § 3 (n. 1). Episcopi Latini infantes seu alios in § 3 (n. 1) Os bispos latinos devem absolutamente
suis dioecesibus baptizatos a presbyteris Graecis confirmar as crianças e os outros que em suas dio-
chrismate in fronte consignatos absolute confirment, ceses foram batizados e marcados na fronte com o
cum neque per praedecessores Nostros neque per sagrado crisma pelos presbíteros gregos, dado que
Nos Graecis presbyteris in Italia et insulis adiacen- nem pelos Nossos predecessores nem por Nós foi
tibus, ut infantibus baptizatis sacramentum confir- concedida ou será concedida aos presbíteros gregos
mationis conferant, facultas concessa sit aut conce- que se encontram na Itália ou nas ilhas vizinhas a
datur; quin immo usque ab anno 1595 a felicis recor- faculdade de conferir às crianças batizadas o sacra-
dationis Clemente VIII, praedecessore Nostro, fuit mento da confirmação; antes pelo contrário, desde
presbyteris Italo-Graecis expresse interdictum, ne o ano de 1595, por Clemente VII de feliz memória,
baptizatos chrismate consignent [*1990]. Nosso predecessor, foi expressamente proibido aos
presbíteros italo-gregos de assinalar com o crisma
os batizados [*1990].
2523 (n. 4) Quamvis confirmati a simplici sacerdote (n. 4) Embora confirmados por um simples sacer-
cogendi non sunt eiusmodi confirmationis sacramen- dote, não devem ser obrigados a receber do bispo o
tum ab episcopo suscipere, si ex tali coactione scan- sacramento da confirmação, se de tal exigência pos-
dala oriri possent: cum sacramentum confirmatio- sam nascer escândalos, dado que o sacramento da
nis eiusmodi necessitatem non habeat, ut sine eo confirmação não comporta uma necessidade tal que
salvus quis esse non possit, monendi tamen sunt ab sem ele não se possa ser salvo; mas devem ser ad-
Ordinariis locorum, eos gravis peccati reatu teneri, moestados, pelos Ordinários do lugar, de que po-
si cum possunt ad confirmationem accedere, illam dem ficar culpados de pecado grave se, podendo
renuunt ac negligunt. aceder à confirmação, a recusam ou negligenciam.
A extrema-unção
2524 § 5 (n. 2) Infirmis … unctio exhibeatur extrema. § 5 (n. 2) Aos enfermos … deve ser dada a extre-
(n. 3) Nec refert, utrum eadem extrema unctio per ma-unção. (n. 3) E não importa se a extrema-unção
unum vel plures presbyteros fiat, ubi huiusmodi é dada por um ou por mais presbíteros, onde vigora
viget consuetudo; dummodo credant et asserant, um tal costume, contanto que creiam que aquele
illud sacramentum, servata debita materia et forma, sacramento, observada a devida matéria e forma, é
ab uno presbytero valide et licite confici. (n. 4) Idem realizado válida e licitamente por um só sacerdote.
sacerdos materiam adhibere formamque pronuntia- (n. 4) O mesmo sacerdote deve cada vez aplicar a
546
re respective debet; ac propterea qui ungit, idem matéria e pronunciar a forma; e, portanto, aquele que
dicat formam respondentem, nec alius unget et alius unge deve dizer ele mesmo a forma correspondente,
formam pronuntiet. e não deve um ungir e outro pronunciar a forma.
547
tantialem Patri secundum deitatem, eundem con- <constituído> de alma racional e corpo, consubstan-
substantialem nobis secundum humanitatem, per cial ao Pai segundo a humanidade, semelhante a nós
omnia nobis similem absque peccato; ante saecula em tudo, menos no pecado; que foi gerado antes dos
quidem de Patre genitum secundum deitatem, in séculos pelo Pai segundo a divindade e nos últimos
novissimis autem diebus eundem propter nos et dias, em prol de nós e de nossa salvação, da virgem
propter nostram salutem ex Maria Virgine Dei ge- Maria, genitora de Deus, segundo a humanidade; que
nitrice secundum humanitatem; unum eundemque o único e o mesmo Cristo Filho Senhor unigênito
Christum Filium Dominum unigenitum in duabus deve ser reconhecido em duas naturezas sem confu-
naturis inconfuse, immutabiliter, indivise, insepara- são, sem mudança, sem divisão, sem separação, sem
biliter agnoscendum, nusquam sublata differentia que jamais seja eliminada a diferença das naturezas
naturarum propter unionem, magisque salva proprie- por motivo da união, antes, salva a peculiaridade de
tate utriusque naturae in unam personam atque subs- uma e outra natureza, concorrentes na única pessoa
tantiam concurrente, non in duas personas partitum e substância; não separado e dividido em duas pes-
aut divisum, sed unum eundemque Filium et Uni- soas, mas o único e o mesmo Filho e Unigênito,
genitum Deum Verbum Dominum Iesum Christum; Deus Verbo, o Senhor Jesus Cristo;
item eiusdem Domini nostri Iesu Christi divini- igualmente, que a divindade do mesmo Senhor
tatem, secundum quam consubstantialis est Patri et nosso Jesus Cristo, segundo a qual é consubstancial
Spiritu Sancto, impassibilem esse et immortalem, ao Pai e ao Espírito Santo, é impassível e imortal, e
eundem autem crucifixum et mortuum tantummo- que ele mesmo foi crucificado e morreu somente
do secundum carnem, ut pariter definitum est in segundo a carne, como foi igualmente definido no
dicta Synodo et in epistola sancti Leonis Romani acima referido Sínodo e na carta do santo Romano
Pontificis [cf. *290-295], cuius ore beatum Petrum Pontífice Leão [cf.* 290-295], pela boca do qual os
Apostolum locutum esse Patres in eadem Synodo Padres no mesmo Concílio proclamaram, em voz
acclamaverunt, per quam definitionem damnatur solene, que tivesse falado o bem-aventurado Apósto-
impia haeresis illorum, qui Trisagio ab angelis lo Pedro – definição com a qual é condenada a ímpia
tradito et in praefata Chalcedonensi Synodo decan- heresia daqueles que ao triságio consignado pelos
tato: ‘Sanctus Deus, sanctus fortis, sanctus immor- anjos e cantado no acima referido Concílio de Cal-
talis, miserere nobis’ [cf. Is 6,3], addebant: ‘qui cedônia: “Santo Deus, santo forte, santo imortal, tem
crucifixus es pro nobis’ atque adeo divinam natu- piedade de nós” [cf. Is 6,3], acrescentavam “que fos-
ram trium personarum passibilem asserebant et te crucificado por nós” e assim declaravam passível
mortalem. e mortal a divina natureza das três pessoas.
2530 C o n s t a n t i n o p o l i t a n a m s e c u n d a m [*421- <Venero> o s eg u n d o < C o n c í l i o > d e C o n s -
438], quintam in ordine in qua praefatae Chalcedo- t a n t i n o p l a [*421-428], quinto na ordem, no qual
nensis Synodi definitio renovata est. foi renovada a definição do supramencionado Con-
cílio de Calcedônia.
2531 C o n s t a n t i n o p o l i t a n a m t e r t i a m [*550- <Venero> o t e r c e i r o < C o n c í l i o > d e C o n s -
559], sextam in ordine, et profiteor, quod in ea c o n - t a n t i n o p l a [*550-559], sexto na ordem, e con-
t r a M o n o t h e l i t a s definitum est, in uno eodem- fesso o que nele foi definido, c o n t r a o s m o n o -
que Domino nostro Iesu Christo duas esse natura- t e l i s t a s : <a saber,> que no único e mesmo Se-
les voluntates et duas naturales operationes indivi- nhor nosso Jesus Cristo há, de modo indiviso, imu-
se, inconvertibiliter, inseparabiliter, inconfuse, et tável, inseparável, inconfuso, duas naturais vonta-
humanam eius voluntatem non contrariam, sed des e duas naturais operações, e que a sua vontade
subiectam divinae eius atque omnipotenti voluntati. humana não é contrária à sua vontade divina e oni-
potente, mas <lhe> está sujeita.
2532 N i c a e n a m s e c u n d a m [*600-609], septimam <Venero> o s e g u n d o < C o n c í l i o > d e N i -
in ordine, et profiteor, quod in ea c o n t r a I c o n o - c é i a [*600-609], sétimo na ordem, e confesso o
c l a s t a s definitum est, imagines Christi ac Deipa- que nele foi definido, c o n t r a o s i c o n o c l a s t a s :
rae Virginis, necnon aliorum Sanctorum habendas <a saber,> que as imagens de Cristo e da Virgem
et retinendas esse, atque eis debitum honorem et Deípara, como também dos outros Santos, devem
venerationem impertiendam. ser mantidas e conservadas e que a elas se deve
demonstrar a devida honra e veneração.
548
549
se, illarumque usum christiano populo maxime sa- i n d u l g ê n c i a s , e que o seu uso é muitíssimo im-
lutarem esse. portante para o povo cristão.
2538 Pariter, quae de p e c c a t o o r i g i n a l i , de i u s t i - Acolho e confesso igualmente as coisas que fo-
fi c a t i o n e , de s a c r o r u m l i b r o r u m tam Veteris ram definidas no acima mencionado Concílio de
quam Novi Testamenti indice et interpretatione in Trento sobre o p e c a d o o r i g i n a l , sobre a j u s -
praefata Tridentina Synodo definita sunt, suscipio t i fi c a ç ã o , sobre o elenco e a interpretação dos
et profiteor. l iv r o s s a g r a d o s , quer do Antigo, quer do Novo
Testamento.
2539 [Iussu Leonis XIII, Decreto S. Congregationis de [Por ordem de Leão XIII, com decreto da Sagra-
Propaganda Fide, 16. Iul. 1878, hic additur: Item da Congregação da Propaganda da Fé, de 16 jul.
veneror et suscipio oecumenicam Synodum Vatica- 1878, foi aqui acrescentado: Igualmente venero e
nam atque omnia ab eadem tradita, definita et acolho o ecumênico Sínodo Vaticano e de modo
declarata, praesertim de R o m a n i P o n t i f i c i s firmíssimo, abraço e professo o que por este foi
p r i m a t u ac de eius i n f a l l i b i l i m a g i s t e r i o , transmitido, definido e declarado, particularmente
firmissime amplector et profiteor.] sobre o primado do R o m a n o P o n t í f i c e e sobre
seu m a g i s t é r i o i n f a l í v e l .]
2540 Cetera item omnia suscipio et profiteor, quae Igualmente acolho e professo todas as outras coi-
recipit et profitetur sancta Romana Ecclesia, simul- sas que a santa Igreja Romana aceita e professa e,
que contraria omnia, et schismata et haereses ab ao mesmo tempo, todas as coisas contrárias, os cis-
eadem Ecclesia damnatas, reiectas et anathematiza- mas e as heresias condenados, rejeitados e ameaça-
tas ego pariter damno, reicio et anathematizo. Insu- dos com o anátema pela mesma Igreja, eu igual-
per Romano Pontifici, beati Petri principis Aposto- mente condeno, rejeito e ameaço com o anátema. E
lorum successori ac Iesu Christi vicario, veram ainda prometo e juro verdadeira obediência ao Ro-
oboedientiam spondeo ac iuro. mano Pontífice, sucessor do bem-aventurado Pedro,
príncipe dos apóstolos e vigário de Jesus Cristo.
Hanc fidem catholicae Ecclesiae, extra quam Esta fé da Igreja católica, fora da qual ninguém
nemo salvus esse potest, … [ut in pro fessione fidei pode ser salvo, … [como na profissão de fé triden-
Tridentina, *1870]. tina *1870].
550
prorsus adigerent atque compellerent; immo etiam absolvição sacramental se não o revelarem; e exi-
complicis eiusdem nedum nomen, sed habitationis gem que lhes seja indicado do mesmo cúmplice não
insuper locum sibi exigerent designari; só o nome, mas também o lugar de residência;
quam illi quidem intolerandam imprudentiam tum e não hesitam seja em mascarar tal intolerável
procurandae complicis correctionis aliorumque bo- imprudência com o ilusório pretexto de corrigir o
norum colligendorum specioso praetextu colorare, cúmplice e de propiciar outros bens, seja em
tum emendicatis quibusdam doctorum opinionibus defendê-la com algumas mendigadas opiniões de
defendere non dubitarent; cum revera opiniones doutores, enquanto na verdade, ao seguir tais opi-
huiusmodi vel falsas et erroneas sequendo, vel veras niões falsas e errôneas ou usurpando-as como ver-
et sanas male applicando, perniciem tam suis quam dadeiras e sãs, procuram o dano para si mesmos e
paenitentium animabus consciscerent, ac sese prae- para as almas dos penitentes e, além disso, se tor-
terea plurium gravium damnorum, quae inde facile nam réus diante de Deus, eterno juiz, de muitos e
consecutura fore praevidere debuerant, reos coram graves danos dos quais deveriam ter previsto que
Deo aeterno iudice constituerent. … facilmente se seguiriam disso. …
(3) [C e n s u r a :] Nos autem, ne in tam gravi ani- (3) [C e n s u r a :] Nós pois, para que em tão gra- 2544
marum discrimine ulla ex parte Apostolico Nostro ve perigo para as almas não pareçamos faltar de
ministerio deesse videamur, neve mentem hac su- algum modo ao Nosso ministério apostólico e para
per re Nostram apud vos obscuram aut ambiguam não permitir que nosso pensamento sobre tal coisa
esse sinamus: notum vobis esse volumus, memora- seja junto a vós obscuro e ambíguo, queremos que
tam superius praxim penitus reprobandam esse, saibais que a praxe acima mencionada deve ser de
eandemque a Nobis per praesentes Nostras in for- todo reprovada e que por Nós, mediante Nosso pre-
ma Brevis litteras reprobari atque damnari tamquam sente escrito em forma de breve, ela é reprovada e
scandalosam et perniciosam, ac tam famae proxi- condenada como escandalosa e perigosa, ofensiva
morum quam ipsi etiam sacramento iniuriosam, para o bom nome dos próximos e também para o
tendentemque ad sacrosancti sigilli sacramentalis próprio sacramento, voltada para a violação do sa-
violationem atque ab eiusdem paenitentiae sacra- crossanto sigilo sacramental e apta a afastar os fiéis
menti tantopere proficuo et necessario usu fideles do uso tão altamente profícuo e necessário do mes-
abalienantem. mo sacramento da penitência.
A usura
(§ 3) 1. [C o n c e p t u s u s u r a e :] Peccati genus (§ 3) 1. [C o n c e i t o d e u s u r a :] Aquele gênero 2546
illud, quod usura vocatur, quodque in contractu de pecado que se chama usura e que no contrato de
mutui propriam suam sedem et locum habet, in eo empréstimo tem sua sede e lugar próprios, consiste
est repositum, quod quis ex ipsomet mutuo, quod nisto, que alguém pretende que do empréstimo –
suapte natura tantundem dumtaxat reddi postulat, que por sua natureza quer a restituição só daquilo
quantum receptum est, plus sibi reddi velit, quam que foi recebido – lhe seja devolvido mais do que
est receptum, ideoque ultra sortem lucrum aliquod, o recebido, e por isso acha que, além do capital, lhe
ipsius ratione mutui, sibi deberi contendat. Omne é devido um certo ganho por causa do próprio em-
propterea huiusmodi lucrum, quod sortem superet, préstimo. Por isso, todo lucro dessa espécie que
illicitum et usurarium est. supere o capital é ilícito e usurário.
2. Neque vero ad istam labem purgandam ullum 2. E para limpar tal mancha não será possível 2547
arcessiri subsidium poterit vel ex eo, quod id lu- encontrar algum recurso no fato de tal lucro não ser
crum non excedens et nimium sed moderatum, non exorbitante e excessivo, mas moderado, não gran-
magnum sed exiguum sit; vel ex eo, quod is, a quo de, mas pequeno, ou no fato de que aquele do qual
id lucrum solius causa mutui deposcitur, non pauper se reclama tal lucro pelo mero empréstimo, não é
551
sed dives exsistat, nec datam sibi mutuo summam pobre, mas rico e tenciona não deixar improdutiva
relicturus otiosam, sed ad fortunas suas amplifican- a quantia que lhe foi dada em empréstimo, mas
das vel novis coëmendis praediis vel quaestuosis empregá-la mui proficuamente para aumentar as
agitandis negotiis utilissime sit impensurus. suas fortunas, ou comprando novas posses ou tra-
tando negócios lucrativos.
Contra mutui siquidem legem, quae necessario É evidente que age contrariamente à lei do em-
in dati atque redditi aequalitate versatur, agere ille préstimo – que necessariamente consiste na igual-
convincitur, quisquis, eadem aequalitate semel po- dade do que é dado e do que é restituído – todo
sita, plus aliquid a quolibet vi mutui ipsius, cui per aquele que, uma vez estabelecida tal igualdade, não
aequale iam satis est factum, exigere adhuc non fique envergonhado de exigir de quem quer que seja,
veretur: proindeque, si acceperit, restituendo erit em virtude desse empréstimo já ressarcido com
obnoxius ex eius obligatione iustitiae, quam com- soma igual à emprestada, ainda alguma coisa a mais:
mutativam appellant, et cuius est in humanis con- e por isso, se recebeu, será obrigado a restituir, pela
tractibus aequalitatem cuiusque propriam et sancte cláusula da assim chamada justiça comutativa, que
servare et non servatam exacte reparare. tem a propriedade não só de garantir escrupulosa-
mente, nos contratos humanos, a igualdade própria
de cada um, como também de fazer reparar com
exatidão quanto não tenha sido mantido.
2548 3. Per haec autem nequaquam negatur, posse 3. Com isto, pois, não se nega que às vezes po-
quandoque una cum mutui contractu quosdam alios, dem concorrer com o contrato de empréstimo alguns
ut aiunt, t i t u l o s , eosdemque ipsimet universim outros assim chamados t í t u l o s , não de todo atinen-
naturae mutui minime innatos et intrinsecos forte tes ou intrínsecos à própria natureza do empréstimo;
concurrere, ex quibus iusta omnino legitimaque e que destes surja uma causa absolutamente justa e
causa consurgat quiddam amplius supra sortem ex legítima permitindo validamente pedir alguma coisa
mutuo debitam rite exigendi. a mais que o capital devido pelo empréstimo.
Neque item negatur, posse multoties pecuniam ab E nem mesmo se nega que alguém possa colocar
unoquoque suam per alios diversae prorsus naturae ou empregar bem o seu dinheiro por meio de outros
a mutui natura contractus recte collocari et impen- contratos – de natureza completamente diferente do
di, sive ad proventus sibi annuos conquirendos, sive empréstimo –, a fim de procurar para si rendas
etiam ad licitam mercaturam et negotiationem exer- anuais ou concluir lícitos negócios comerciais e
cendam honestaque indidem lucra percipienda. justamente destes receber ganhos honestos.
2549
4. Quemadmodum vero, in tot eiusmodi diversis 4. Mas, do mesmo modo que em tais e tantos
contractuum generibus, si sua cuiusque non serva- diversos gêneros de contratos, se não for mantida a
tur aequalitas, quidquid plus iusto recipitur, si mi- igualdade de condições próprias de cada um, é cla-
nus ad usuram (eo quod omne mutuum, tam apertum ro que o que se recebe além do o justo é indício,
quam palliatum, absit), at certe ad aliam veram inius- senão de usura (dado que não há empréstimo nem
titiam restituendionus pariter afferentem spectare claro nem encoberto), certamente de alguma outra
compertum est: ita, si rite omnia peragantur et ad ilegalidade que implica igualmente a obrigação de
iustitiae libram exigantur, dubitandum non est, quin restituir; se assim se procede em todas as coisas
multiplex in iisdem contractibus licitus modus et com honestidade, agindo segundo a balança da jus-
ratio suppetat humana commercia et fructuosam tiça, não há como duvidar que naqueles mesmos
ipsam negotiationem ad publicum commodum con- contratos superabundam muitos modos lícitos e
servandi ac frequentandi. Absit enim a Christiano- maneiras convenientes para conservar e intensificar
rum animis, ut per usuras aut similes alienas iniurias as relações comerciais humanas, bem como a nego-
florere posse lucrosa commercia existiment; cum ciação frutuosa, para o bem público. Estejam de fato
contra ex ipso oraculo divino discamus, quod “ius- os cristãos bem longe de crer que possam florir
titia elevat gentem, miseros autem facit populos comércios lucrativos por meio da usura ou de se-
peccatum” [Prv 14,34]. melhantes danos causados aos outros; sabemos ao
invés, pelo mesmo divino oráculo, que “a justiça
eleva as gentes, e o pecado torna miseráveis os
povos” [Pr 14,34].
552
5. Sed illud diligenter animadvertendum est, fal- 5. Mas para isto é necessário advertir com dili- 2550
so sibi quemquam et nonnisi temere persuasurum, gência que só infundada e temerariamente alguém
reperiri semper ac praesto ubique esse vel una cum se convencerá de que sempre se acham e em toda
mutuo titulos alios legitimos, vel, secluso etiam mu- parte se encontram, junto com o empréstimo, ou-
tuo, contractus alios iustos, quorum vel titulorum tros títulos legítimos ou, excluído o empréstimo,
vel contractuum praesidio, quotiescumque pecunia, outros contratos justos, que permitam licitamente
frumentum aliudve id generis alteri cuicumque cre- com o auxílio desses títulos ou contratos – toda vez
ditur, toties semper liceat auctarium moderatum ultra que se confia, a quem quer que seja, dinheiro, grãos
sortem integram salvamque recipere. ou outra coisa de qualquer gênero – receber um mo-
derado lucro além do capital íntegro e salvo.
Ita si quis senserit, non modo divinis documentis Se alguém pensar assim, não só andará segura-
et catholicae Ecclesiae de usura iudicio, sed ipsi mente contra os divinos ensinamentos e o julgamen-
etiam humano communi sensui ac naturali rationi to da Igreja católica sobre a usura, mas também
procul dubio adversabitur. Neminem enim id sal- contra o humano senso comum e a razão natural.
tem latere potest, quod multis in casibus tenetur Com efeito, ninguém deve ignorar ao menos isto,
homo simplici ac nudo mutuo alteri succurrere, ipso que, em muitos casos, o homem é obrigado a so-
praesertim Christo Domino edocente: “Volenti mu- correr o seu semelhante com um empréstimo puro
tuari a te, ne avertaris” [Mt 5,42]: et quod similiter e simples, como ensina sobretudo Cristo Senhor:
multis in circumstantiis, praeter unum mutuum, al- “Não voltes as costas a quem te pede algo empres-
teri nulli vero iustoque contractui locus esse possit. tado” [Mt 5,42]; e que, igualmente, em muitas cir-
cunstâncias, não pode ter lugar nenhum outro con-
trato autêntico e justo a não ser só o empréstimo.
Quisquis igitur suae conscientiae consultum velit, É preciso, portanto, que cada um que quiser o
inquirat prius diligenter oportet, verene cum mutuo bem da própria consciência indague primeiro aten-
iustus alius titulus, verene iustus alter a mutuo con- tamente se, na verdade, junto com o empréstimo, se
tractus occurrat, quorum beneficio, quod quaerit apresenta um outro justo título, se há verdadeira-
lucrum, omnis labis expers et immune reddatur. mente outro contrato diferente do empréstimo, por
meio do qual seja considerado inocente e imune de
toda mancha o lucro que procura ganhar.
553
delium filii … si nondum habent usum liberi arbi- de infiéis … se não têm ainda o uso do livre arbí-
trii, secundum ius naturale sunt sub cura parentum, trio, segundo o direito da natureza estão sob o cui-
quamdiu ipsi sibi providere non possunt …; et ideo dado dos genitores, por todo o tempo em que não
contra iustitiam naturalem esset, si tales pueri invi- podem prover a si mesmos …; e seria portanto con-
tis parentibus baptizarentur; sicut etiam si aliquis tra a justiça natural, se essas crianças fossem batiza-
habens usum rationis baptizaretur invitus. Esset das contra a vontade dos genitores; como também,
etiam periculosum …” se alguém que tivesse o uso da razão fosse batizado
contra a sua vontade. Seria também perigoso …”
2553 5. Scotus in IV Sententia dist. 4, q. 9, n. 2 et in 5. Escoto, no Comentário às Sentenças IV, dist.
quaestionibus relatis ad n. 2 censuit laudabiliter 4, q. 9, n. 2 e nas questões referidas no n. 2, afir-
posse principem imperare, ut invitis etiam parenti- mou que o príncipe poderia de modo louvável or-
bus Hebraeorum atque infidelium infantuli bapti- denar que as crianças dos judeus e dos infiéis fos-
zentur, dummodo id potissimum prudenter caveatur, sem batizadas também contra a vontade dos genito-
ne iidem infantes a parentibus occidantur. … Prae- res, contanto que se pudesse prudentemente asse-
valuit tamen in tribunalibus sancti Thomae senten- gurar sobretudo que estas crianças não fossem
tia … atque inter theologos canonumque peritos mortas pelos genitores… Todavia a sentença de S.
vulgatior est. … Tomás prevaleceu nos tribunais… e é a <sentença>
mais comum entre teólogos e canonistas …
2554 7. Hoc igitur posito, quod nefas sit Hebraeorum 7. Admitindo, portanto, que é contra o direito
infantes reluctante parentum arbitrio baptizare, nunc natural batizar as crianças dos judeus quando se opõe
iuxta ordinem initio propositum descendere iam a vontade dos genitores, agora, segundo a ordem
oportet ad alteram partem: an videlicet contingere proposta no início, é preciso considerar a segunda
umquam possit occasio aliqua, in qua id liceat et parte, isto é, se pode acontecer alguma ocasião na
conveniat. qual isto seja lícito e conveniente.
2555 8. … Cum id eveniat, ut ab aliquo Christiano He- 8. … Se acontecer que seja encontrada, por um
braeorum p u e r m o r t i p r o x i m u s reperiatur, rem cristão qualquer, uma c r i a n ç a dos judeus p r ó x i -
opinor laudabilem Deoque gratam is certe efficiet, qui m a d a m o r t e , eu penso que faça certamente coi-
salutem puero aqua lustrali praebeat immortalem. … sa louvável e agradável a Deus aquele que com a
água lustral ofereça à criança a salvação imortal. …
2556 9. Si item eveniret, ut puer aliquis Hebraeus 9. Se igualmente acontecesse que uma criança dos
proiectus esset atque a parentibus d e r e l i c t u s , com- judeus fosse enxotada e a b a n d o n a d a pelos geni-
munis omnium sententia est pluribus quoque con- tores, é comum opinião de todos, confirmada tam-
firmata iudiciis, eum baptizari oportere, reclaman- bém por muitíssimas sentenças judiciárias, que esta
tibus etiam repetentibusque parentibus. … deva ser batizada, mesmo se os genitores a recla-
mem e a peçam de volta. …
2557 14. Postquam casus magis obvios exposuimus, 14. Depois de ter exposto os casos mais fáceis,
in quibus nostra haec regula prohibet, Hebraeorum nos quais esta nossa regra proíbe que sejam batiza-
infantes invitis parentibus baptizari, aliquas insuper das as crianças dos judeus contra a vontade dos
d e c l a r a t i o n e s addimus ad hanc regulam perti- genitores, acrescentamos agora algumas d e c l a r a -
nentes, quarum haec p r i m a est: si parentes desint, ç õ e s que se referem a esta regra. A p r i m e i r a é a
infantes vero alicuius Hebraei tutelae commissi fue- seguinte: se não há os genitores e as crianças foram
rint, eos sine tutoris assensu licite baptizari nullo confiadas à tutela de qualquer judeu, elas não po-
modo posse, cum omnis parentum potestas ad tuto- dem de modo algum ser batizadas licitamente sem
res pervenerit. … o consentimento do tutor, dado que todos os pode-
res dos genitores passaram aos tutores …
15. S e c u n d a est, si pater christianae militiae 15. A s e g u n d a é: se o pai aderir à religião cris-
nomen daret iuberetque infantem filium baptizari; tã e ordenar que a criança seja batizada – mesmo se
eum quidem vel matre Hebraea dissentiente bapti- a mãe, judia, for contrária –, ela deve ser batizada,
zandum esse, cum filius non sub matris, sed sub dado que o filho deve ser considerado sob o poder
patris potestate sit habendus. … do pai e não da mãe …
554
16. Te r t i a est: quamvis mater filios sui iuris non 16. A t e r c e i r a é: ainda que a mãe não tenha os
habeat, tamen ad Christi fidem si accedat et infan- filhos sob o seu poder, todavia, se ela aderir à fé
tem offerat baptizandum, tametsi pater Hebraeus re- cristã e apresentar a criança para ser batizada, mes-
clamet, eum nihilominus aqua baptismatis abluen- mo se o pai judeu protesta, não obstante, <a crian-
dum esse. … ça> deve ser lavada com a água do batismo…
17. Q u a r t a est, quod si pro certo habeatur, pa- 17. A q u a r t a é: tendo-se por certo que a vonta-
rentum voluntatem esse infantium baptismati neces- de dos genitores é necessária para o batismo das
sariam, quoniam sub appellatione parentum locum crianças, dado que sob a denominação de genitores
quoque habet paternus avus: … hinc necessario tem ainda um lugar o avô paterno, … segue-se ne-
sequitur, ut, si avus paternus catholicam fidem am- cessariamente que, se o avô paterno abraçou a fé
plexus sit ac nepotem ferat ad sacri lavacri fontem, católica e leva o neto à fonte do banho sagrado,
quamvis mortuo iam patre mater Hebraea repugnet, mesmo se, morto o pai, a mãe judia se opõe, toda-
tamen infans sit absque dubio baptizandus … via a criança deve sem dúvida alguma ser batizada.
18. Fictitia res non est, quod aliquando pater 18. Não se trata de um caso fictício, que um pai 2558
Hebraeus se velle catholicam religionem amplecti judeu em certo momento anuncia querer abraçar a
praedicet ac se ipsum filiosque infantes baptizandos religião católica e se apresenta juntamente com seus
offerat, postmodum vero sui se consilii paeniteat ab- filhos pequenos para serem batizados, e que em
nuatque filium baptizari. Id Mantuae evenit. … Res seguida se arrepende do seu propósito e recusa de
ad examen deducta est in Congregatione S. Officii, fazer batizar o filho. Isso aconteceu em Mântua. …
ac Pontifex die 24. Sept. anno 1699 … decrevit, quod A questão foi levada a exame da Congregação do
“duo filii infantes, alter scilicet triennis, alter quin- S. Ofício, e o Pontífice, em 24 de setembro do ano
quennis baptizentur. Alii, nempe filius octo annorum 1699 … deliberou que “dois filhos crianças, um de
et filia duodecim, collocentur in domo Catechume- três anos e o outro de cinco, devem ser batizados.
norum, si ea Mantuae adsit, sin minus apud piam Os outros, isto é o filho de oito anos e a filha de
honestamque personam ad effectum explorandi ip- doze, devem ser colocados na casa dos catecúmenos,
sorum voluntatem eosque instruendi”… . se tal houver em Mântua, ou, em caso contrário,
junto a uma pessoa piedosa e honesta, com o fim de
verificar a sua vontade e de instruí-los”… .
555
autem forma, adhibeatur. At huic sententiae refra- matéria, e não ao invés a fórmula. A esta opinião se
gatur congregatio S. Officii coram Pontifice habita opõe a congregação do S. Ofício reunida em pre-
die 5. Sept. 1625: sença do Pontífice no dia 5 de setembro de 1625:
2561 “Sacra Congregatio universalis Inquisitionis ha- “A Sagrada Congregação da Inquisição geral, reu-
bita coram Sanctissimo, relatis Litteris episcopi nida na presença do Santíssimo <Padre>, dada lei-
Antibarensis, in quibus supplicabat pro resolutio- tura das cartas do bispo de Antivári, nas quais ele
ne infrascripti dubii: suplicava pela solução da dúvida abaixo descrita:
An, cum sacerdotes coguntur a Turcis, ut bap- Os sacerdotes, quando obrigados pelos turcos
tizent eorum filios, non ut christianos efficiant, a batizar seus filhos, não para que se tornem
sed pro corporali salute, ut liberentur a foetore, cristãos, mas pela saúde do corpo, a fim de que
comitiali morbo, maleficiorum periculo et lupis, sejam livrados do mau odor, da epilepsia, do
an in tali casu possint saltem ficte eos baptizare, perigo de malefícios e dos lobos, podem em
adhibita baptismi materia sine debita forma? tal caso batizar ao menos ficticiamente, usan-
do a matéria do batismo sem a devida forma?
R e s p o n d i t negative, quia baptismus est ianua sa- r e s p o n d e u negativamente, porque o batismo é a
cramentorum ac protestatio fidei, nec ullo modo porta dos sacramentos e profissão da fé, e de ne-
fingi potest”. … nhum modo pode ser simulado”. …
556
obiectis apprime satisfaciant, nec eorum sententia de Jansênio, mas também de Calvino; mas já que
fuerit umquam a Sede Apostolica reprobata, in ea eles respondem de modo plenamente satisfatório
Thomistae impune versantur, nec fas est ulli Supe- às objeções e a opinião deles jamais foi reprovada
riori ecclesiastico in praesenti rerum statu eos a sua pela Sé Apostólica, permanecem os tomistas, nesta
sententia removere. <questão>, sem punição, e não é lícito a nenhum
superior eclesiástico, no presente estado de coisas,
afastá-los da sua opinião.
A u g u s t i n i a n i traducuntur tamquam sectato- Os a g o s t i n i a n o s são acusados como sequa-
res Baii et Iansenii. Reponunt ipsi, se humanae li- zes de Baio e Jansênio. Respondem eles ser defen-
bertatis fautores esse, et oppositiones pro viribus sores da liberdade humana e rechaçam as objeções
eliminant, cumque eorum sententia usque adhuc a com todas as forças, e dado que a opinião deles até
Sede Apostolica damnata non sit, nemo est qui non agora não foi condenada pela Sé Apostólica, não há
videat, a nullo praetendi posse, ut a sua sententia quem não veja que ninguém pode exigir que se afas-
discedant: tem de sua opinião.
S e c t a t o r e s M o l i n a e e t S u a r e s i i a suis ad- Os s e q u a z e s d e M o l i n a e S u á r e z são de-
versariis proscribuntur, perinde ac si essent Semi- nunciados pelos seus adversários como se fossem
pelagiani; Romani Pontifices de hoc Moliniano semipelagianos; ora, como os Pontífices Romanos
systemate usque adhuc iudicium non tulerunt, et até agora não proferiram juízo a respeito do siste-
idcirco in eius tuitione prosequuntur et prosequi ma moliniano, eles prosseguem e podem prosseguir
possunt. na sua defesa.
Uno verbo, episcopi et inquisitores non notas, Numa palavra: os bispos e os inquisidores não 2565
quas doctores inter se digladiantes sibi invicem devem prestar atenção às notas que os doutores ri-
opponunt, attendere debent, sed an notae invicem vais se atribuem mutuamente, mas <inquirir> se es-
oppositae sint a Sede Apostolica reprobatae. Haec sas notas opostas entre si são reprovadas pela Sé
libertati scholarum favet, haec nullum ex propositis Apostólica. Esta favorece a liberdade das escolas, e
modis conciliandi humanam libertatem cum divina até agora não reprovou nenhum dos modos propos-
omnipotentia usque adhuc reprobavit. Episcopi et tos para conciliar a liberdade humana com a onipo-
inquisitores, cum se dat occasio, eodem modo se tência divina. Os bispos e os inquisidores, apresen-
gerant, etiam si uti privatae personae unius potius tando-se a ocasião, adotem a mesma atitude, mes-
quam alterius sententiae sint sectatores. Nos ipsi etsi mo se, como pessoas privadas, preferem uma opi-
uti privati doctores in theologicis rebus uni favea- nião a outra. Nós mesmos, embora como doutores
mus opinioni, ut Summi Pontifices tamen opposi- privados nas questões teológicas sejamos favoráveis
tum non reprobamus nec sinimus ab aliis reprobari. a determinada opinião, no entanto, como Sumos
Pontífices não reprovamos a contrária, nem permi-
timos que seja reprovada por outros.
2566-2570: Breve “Singulare nobis”, ao cardeal Henry, duque de York, 9 fev. 1749
Ed.: Bento XIV, Bullarium (Malinas) 7, 24-26 (ed. antiga t. 3, n. 2).
557
validitatem baptismi. Egregie hoc confirmat Suárez desta no tocante à validade do batismo. De modo
in sua Fidei catholicae defensione contra errores egrégio confirma isso Suárez, na sua Fidei catholi-
sectae Anglicanae lib. I c. 24, ubi probat baptizatum cae defensio contra errores sectae Anglicana, l. I,
Ecclesiae membrum fieri, hoc etiam addens, quod c. 24, onde demonstra que o batizado se torna mem-
si haereticus, quod saepius accidit, infantem lustret bro da Igreja e também acrescenta que, se um here-
impotem ad fidei actum eliciendum, hoc impedi- ge, como acontece freqüentemente, purifica uma
mento non est, quominus ille habitum fidei cum criança ainda incapaz de produzir o ato de fé, esta
baptismo accipiat1. <incapacidade> não impede que ela receba com o
batismo o hábito da fé1.
2568 § 14. Postremo exploratum habemus, ab haereti- § 14. Por último, estamos seguros de que os que
cis baptizatos, si ad eam aetatem venerint, in qua forem batizados por hereges, se chegarem à idade
bona a malis dispicere per se possint atque erroribus de distinguir sozinhos o bem do mal e então aderi-
baptizantis adhaereant, illos quidem ab Ecclesiae rem aos erros daquele que os batizou, são rejeita-
unitate repelli, iisque bonis orbari omnibus, quibus dos da unidade da Igreja e privados de todos aque-
fruuntur in Ecclesia versantes, non tamen ab eius les bens de que gozam os que permanecem na Igre-
auctoritate et legibus liberari, ut sapienter Gonzalez ja, sem serem, todavia, liberados de sua autoridade
disserit in Cap. “Sicut” n. 12 de haereticis1. e de suas lei, como com sabedoria fala González no
cap. “Sicut”, n. 12, a respeito dos hereges1.
2569 § 15. Hoc quidem in transfugis ac perduellibus § 15. Isto, na verdade, o vemos no caso dos de-
observatum videmus, quos leges civiles a fidelium sertores e dos inimigos públicos, que são pelas leis
subditorum privilegiis omnino excludunt. Leges civis completamente excluídos dos privilégios que
quoque ecclesiasticae privilegia clericalia iis cleri- cabem aos súditos leais. Também as leis eclesiásti-
cis non concedunt, qui sacrorum canonum iussa ne- cas não concedem os privilégios clericais àqueles
gligunt. Nemo autem sentit, aut perduelles aut cleri- clérigos que não observam as prescrições dos sa-
cos canonum violatores suorum principum aut prae- grados cânones. Ninguém pensa que, pelo contrá-
latorum auctoritati non subiacere. rio, os inimigos públicos ou os clérigos que violam
os cânones não estejam sujeitos aos princípios ou à
autoridade dos prelados.
2570 § 16. Haec exempla, ni fallimur, pertinent ad § 16. Estes exemplos, se não estamos equivoca-
quaestionem; ut enim illi, sic haeretici Ecclesiae dos, são pertinentes; pois como esses, igualmente
subditi sunt et legibus ecclesiasticis tenentur. os hereges são súditos da Igreja e estão sob as leis
eclesiásticas.
558
Privilégio paulino
Expos.: Saepe contingit, ut ex duobus infidelibus Exposição: Acontece muitas vezes que de dois 2580
alter convertatur ad fidem, alter converti quidem tunc <cônjuges> infiéis um se converte à fé e o outro, que
nolit, consentiat tamen cohabitare cum fideli sine naquele momento não quer se converter, consente
contumelia Creatoris et quin eum pertrahat ad mor- todavia em coabitar com o <cônjuge> crente sem
tale peccatum, immo promittat se quoque fidem ultrajar o Criador e sem levá-lo ao pecado mortal, e
postea amplexaturum, quod ob aliquam specialem até promete que, depois, também ele abraçará a fé,
*2571 1 Cf. A. Reiffenstuel, Theologia moralis, [t. 2:] Supplementum, tract. IX, dist. 3, q. 3, additio II (Veneza 1728) 65.
*2572 1 P. Sporer, Theologiae moralis super decalogum II, tract. V, c. 2, 204 (Salzburg 1722) 174.
*2573 1 P.Th. Milante, Exercitationes dogmatico-morales in propositiones proscriptas a S. P. Alexandro VII, exercitatio II [à
propos. 2 = *2022] (Nápoles 1738) 15s.
559
rationem aliquamdiu differre necessarium ducit. coisa que por algum motivo particular considera dever
Quare fidelis infidelem non dimittit, sed cohabitare diferir por certo tempo. Por isso, o crente não dis-
pergunt ut coniuges, idque ad longum tempus et pensa o não-crente, mas continuam a viver juntos
aliquos etiam annos: at postea infidelis, mutata como cônjuges, e isto, por longo tempo, até por al-
voluntate, non solum converti non vult, sed tentat guns anos: mas em seguida, o não-crente, tendo
fidelem pertrahere ad idolorum cultum, vel disce- mudado de vontade, não só não mais quer se conver-
dit, nec iam consentit habitare cum illo, immo ad ter, mas procura arrastar o <cônjuge> crente ao cul-
alias nuptias ipse transit. to dos ídolos, ou então se separa e não consente mais
em habitar com ele, e até passa para outras núpcias.
2581 Qu.: 1. An in hoc casu possit etiam fidelis de- Perguntas: 1. Neste caso, pode também o cônju-
relictus discedere et ad alias nuptias transire, ha- ge crente abandonado separar-se e passar a outras
beatque hic locum privilegium ab Apostolo promul- núpcias, e cabe aplicar aqui o privilégio promulga-
gatum: “Si infidelis discedit, discedat” [1 Cor 7,15]? do pelo Apóstolo: “Se o não-crente se separa, que
se separe” [1Cor 7,15]?
2582 2. An id solum habeat locum, quando infidelis 2. Isto teria vez somente quando o não-crente se
discedit odio fidei, an etiam quando discedit prop- separa por ódio à fé ou também quando se separa
ter discordias vel aliam causam a fide diversam? por causa de discórdias ou por uma outra causa
diferente da fé?
2583 3. An etiam possit fidelis transire ad alias nup- 3. O crente pode passar a outras núpcias também
tias, quando infidelis quacumque de causa ab eo quando o não-crente por alguma razão se separou
discessit nec sciri potest, vivat adhuc necne. dele e não se pode saber se está ainda vivo ou não?
2584 4. An fidelis, qui ex dispensatione valide contra- 4. O crente que, com dispensa, contraiu valida-
xit matrimonium cum infideli, transire possit ad alias mente o matrimônio com um não-crente, pode pas-
nuptias, si infidelis discedat vel cohabitare nolit vel sar a outras núpcias, se o não-crente se separar, ou
eum pertrahat ad mortale peccatum? não quiser coabitar, ou o arrastar ao pecado?
2585 5. An aliquo, et quanto tempore possit fidelis post 5. Em geral, por quanto tempo um crente depois
conversionem cohabitare cum infideli, quin privetur da conversão pode coabitar com o não-crente, sem
potestate transeundi ad alias nuptias? que seja privado do poder de passar a outras núpcias?
Resp.: Ad 1. In casu de quo agitur: affirmative. Respostas: Ad 1. No caso do qual se trata: Sim.
Ad 2. Cum militet ex parte coniugis conversi favor Ad 2. Dado que o cônjuge convertido tem o pri-
fidei, eo potest uti quacumque ex causa, dummodo vilégio da fé ao seu lado, ele pode fazer uso dele
iusta sit, nimirum si non dederit iustum ac rationa- por qualquer causa, contanto que seja justa, natu-
bile motivum alteri coniugi discedendi, ita tamen, ralmente se ele não deu ao outro cônjuge um justo
ut tunc solum intelligatur solutum iugum vinculi ma- e razoável motivo de separar-se – de modo tal,
trimonialis cum infideli, quando coniux conversus porém, que se considere dissolvido o jugo do vín-
(renuente altero post interpellationem converti) tran- culo matrimonial com o não-crente somente então,
sit ad alia vota cum fideli. quando o cônjuge convertido (recusando-se o ou-
tro, depois de solicitado, a converter-se) passa a
outras núpcias com um crente.
Ad 3. Praemittendam esse interpellationem, qua Ad 3. Antes disso, deve ser feita uma solicitação
intimetur coniugi infideli, an velit converti, a qua pela qual se pede ao cônjuge não-crente se quer se
interpellatione Apostolica Sedes iustis de causis converter, solicitação da qual a Sé Apostólica dis-
dispensat. pensa por motivos justos.
Ad 4. Si fidelis, praevia dispensatione, contraxit Ad 4. Se um crente, com base em dispensa pré-
matrimonium cum infideli, censetur illud contraxisse via, contraiu matrimônio com um não-crente, é de
cum explicita condicione, dummodo nimirum se pensar que ele o contraiu com uma explícita con-
infidelis secum cohabitare velit absque contumelia dição, isto é, contanto que o não-crente queira coa-
Creatoris: quare, si infidelis non servat supradictam bitar com ele sem ofensa ao Criador: pelo que, se o
condicionem, adhibenda sunt iuris remedia ad hoc, não-crente não observa a supradita condição, de-
ut eam servet; alias separari debent quoad torum et vem ser usados os remédios do direito para isto que
560
cohabitationem, non tamen quoad vinculum; quo- a observe; caso contrário, eles devem separar-se no
circa in casu de quo agitur, coniuge infideli supers- que diz respeito ao leito e à coabitação, não todavia
tite, non potest fidelis ad alia vota transire. no que diz respeito ao vínculo; por isso, no caso de
que se trata, enquanto vive o cônjuge não-crente, o
crente não pode passar a outras núpcias.
Ad 5. Conversus ad fidem in ipso conversionis Ad 5. Aquele que se converte à fé, no momento
momento non intelligitur solutus a vinculo matri- mesmo da conversão não é considerado livre do
monii cum infideli adhuc superstite contracti, sed vínculo do matrimônio contraído com o não-crente
tunc acquirit tantummodo ius transeundi ad alias ainda vivo, mas nesse momento tão somente adqui-
nuptias, cum coniuge tamen fideli, idque si coniux re o direito de passar a outras núpcias, porém, com
infidelis renuat post interpellationem converti. Ce- um cônjuge crente, e isto, se o <atual> cônjuge não-
terum tunc solum coniugii vinculum dissolvitur, crente, depois de solicitado, se recusa a converter-
quando coniux conversus transit cum effectu ad alias se. De resto, o vínculo do matrimônio é dissolvido
nuptias. Si autem coniux conversus ante susceptio- somente no momento em que o cônjuge convertido
nem baptismi habeat plures uxores, et prima recusat passa efetivamente a outras núpcias. Se, pois, o
amplecti fidem: tunc legitime potest quamlibet ex cônjuge convertido, antes de receber o batismo, ti-
illis retinere, dummodo fidelis fiat; sed in hoc casu nha mais mulheres e a primeira nega-se a abraçar a
contrahentes mutuum consensum coram parocho et fé, pode então de modo legítimo manter consigo
testibus renovare debent. qualquer outra dentre elas, contanto que se faça cren-
te; mas, neste caso, os contraentes devem renovar o
consentimento diante do pároco e as testemunhas.
561
*2592 1 Eybel se refere à viagem de Pio VII a Viena para visitar o imperador José II na primavera de 1782.
562
An ergo, quod horribile dictu, fanatica fuerit vox Foi, portanto, talvez fanática – coisa horrível de 2593
ipsa Christi claves regni caelorum cum ligandi sol- se dizer – a mesma voz de Cristo que prometeu a
vendique potestate Petro pollicentis [Mt 16,19] …? Pedro as chaves do reino dos céus juntamente com
An fanatica dicenda tot sollemnia totiesque repetita o poder de ligar e de desligar [Mt 16,19] …? Ou
Pontificum Conciliorumve decreta, quibus illi dam- devem talvez chamar-se fanáticos os tantos, e tantas
nati sunt, qui negarent, in beato Petro Apostolorum vezes repetidos, solenes decretos dos Papas e dos
principe successorem eius Romanum Pontificem Concílios, com os quais foram condenados aqueles
constitutum a Deo caput Ecclesiae visibile ac vica- que negavam que, no bem-aventurado Pedro, prín-
rium Iesu Christi, ei regendae Ecclesiae plenam po- cipe dos Apóstolos, o seu sucessor, o Pontífice Ro-
testatem traditam, veramque ab omnibus qui chris- mano foi constituído por Deus cabeça visível da
tiani nomine censentur oboedientiam deberi; atque Igreja e vigário de Jesus Cristo, e que lhe foi confia-
vim eam esse primatus, quem divino iure obtinet, do o pleno poder para governar a Igreja, e que a ele,
ut ceteris episcopis non honoris tantum gradu, sed por todos os que são chamados com o nome de cris-
et supremae potestatis amplitudine antecellat? Quo tãos, é devida verdadeira obediência; e que o poder
magis deploranda est praeceps ac caeca hominis do primado, que recebe por direito divino, é o que
temeritas, qui … [sequentes errores] instaurare stu- o torna superior aos outros bispos, não só pelo grau
duerit … ac per multas ambages insinuarit: de honra mas também pela amplidão do poder su-
premo? Quanto mais deve ser deplorada a desconsi-
derada e cega temeridade de um homem que tenha
procurado reavivar [os seguintes erros] … e tenha
insinuado por meio de muitos equívocos:
quemlibet episcopum vocatum a Deo ad guber- que qualquer bispo é chamado por Deus para o 2594
nationem Ecclesiae non minus quam papam, nec governo da Igreja não menos que o Papa e investi-
minore praeditum esse potestate: Christum eandem do de não menor poder; que Cristo mesmo de sua
per sese Apostolis omnibus potestatem dedisse; parte deu a todos os Apóstolos o poder; que tudo o
quidquid aliqui credant obtineri et concedi solum a que alguns crêem seja obtido e concedido somente
Pontifice, posse idipsum, sive a consecratione sive pelo Pontífice, o mesmo, dependendo quer da con-
ab ecclesiastica iurisdictione pendeat, perinde obti- sagração, quer da jurisdição eclesiástica, pode igual-
neri a quolibet episcopo; mente ser obtido por qualquer bispo;
voluisse Christum Ecclesiam reipublicae more que Cristo quis que a Igreja fosse governada se- 2595
administrari; ei quidem regimini opus esse praeside gundo o uso de uma república; e esta forma de
pro bono unitatis, verum qui non audeat se aliorum governo precisa, para o bem da unidade, de um
qui simul regunt negotiis implicare; privilegium chefe, que porém não ouse intrometer-se nas ativi-
tamen habeat negligentes cohortandi ad sua implen- dades dos outros que juntamente governam, mas
da munia; vim primatus hac una praerogativa con- tenha o privilégio de exortar os negligentes a exe-
tineri supplendae aliorum negligentiae, prospiciendi cutarem suas obrigações; que a força do primado é
conservationi unitatis hortationibus et exemplo; constituída desta única prerrogativa: suprir à negli-
Pontifices nil posse in aliena dioecesi praeterquam gência dos outros e providenciar a conservação da
extraordinario casu; unidade com exortações e exemplo; que os Pontífi-
ces não têm nenhum poder em outra diocese a não
ser em algum caso extraordinário;
Pontificem caput esse, quod vim suam ac firmi- que o Pontífice é um chefe que recebe a sua for- 2596
tatem teneat ab Ecclesia; ça e a sua solidez da Igreja;
licitum sibi fecisse Pontifices, violandi iura epis- que os Pontífices legitimaram para si mesmos o 2597
coporum, reservandique sibi absolutiones, dispen- violar os direitos dos bispos e o reservar para si
sationes, decisiones, appellationes, collationes be- absolvições, dispensas, decisões, apelos, concessões
neficiorum, alia uno verbo munia omnia, quae sin- de benefícios e, numa palavra, todas as outras fun-
gulatim recenset atque velut indebitas ac episcopis ções que <o autor> enumera um por um e denuncia
iniuriosas reservationes traducit. como reservas indevidas, que ferem os direitos dos
bispos.
563
564
fuit de summa religione pie sapienterque sentiens, tempo escondido, não há ninguém, entre os que con-
qui non continuo adverterit, hoc fuisse auctorum sideram a suprema religião pia e sabiamente, que
consilium, ut quae antea per multiplices libellos não tenha logo percebido que a intenção dos autores
pravarum doctrinarum semina sparserant, ea in foi a de compor como num único corpo as sementes
unum velut corpus compingerent, proscriptos dudum das perversas doutrinas que antes difundiram por
errores suscitarent, Apostolicis quibus proscripti sunt meio de múltiplos livretos, de reavivar os erros há
decretis fidem auctoritatemque derogarent. tempo proscritos, de negar a fé e a autoridade dos
decretos apostólicos pelos quais foram proscritos.
[Surgenti malo comprimendo studentes] … Sy- [Procurando deter o mal nascente] … Nós confi-
nodum ab episcopo [Scipione Ricci] editam primum amos em primeiro lugar o encargo de examinar o
quattuor episcopis aliisque adiunctis e clero saecu- Sínodo publicado pelo bispo [Cipião de Ricci] a
lari theologis examinandam commisimus; tum etiam quatro bispos e a outros teólogos escolhidos pelo clero
plurium S. R. E. cardinalium aliorumque episcopo- secular; depois encarregamos também uma congre-
rum congregationem deputavimus, qui totam acto- gação de vários cardeais da Santa Romana Igreja e
rum seriem diligenter perpenderent, loca inter se de outros bispos a avaliar diligentemente toda a série
dissita conferrent, excerptas sententias discuterent. das atas, a conferir os argumentos dispersos entre si
Quorum suffragia coram Nobis voce et scripto edita e a discutir as opiniões recolhidas. Recebemos os
excepimus; qui et Synodum universe reprobandam seus julgamentos expostos a Nós pessoalmente de
et plurimas inde collectas propositiones, alias qui- viva voz ou por escrito; e eles concluíram que o Sí-
dem per sese, alias attenta sententiarum connexione nodo deve ser totalmente reprovado e que muitíssi-
plus minus acribus censuris perstringendas censue- mas proposições por ele aceitas, algumas por si
runt; quorum auditis perpensisque animadversioni- mesmas, outras considerada a conexão das senten-
bus illud quoque Nobis curae fuit, ut selecta ex tota ças, devem ser enquadradas com censuras mais ou
Synodo praecipua quaedam pravarum doctrinarum menos fortes; ouvidas e avaliadas suas observações,
capita, ad quae potissimum fusae per Synodum re- tomamos a providência de fazer redigir, um após
probandae sententiae directe vel indirecte referuntur, outro, segundo ordem determinada, escolhidos de
in certum deinceps ordinem redigerentur, eisdemque todo o Sínodo, os capítulos de certo modo principais
sua cuique peculiaris censura subiiceretur. das perversas doutrinas aos quais principalmente se
referem, direta ou indiretamente, as opiniões a se
reprovar, difundidas por meio do Sínodo, e de esta-
belecer para cada uma delas a sua peculiar censura.
[Ad depellendam subdolam excusationem,] … [Para repelir a enganadora escusa dizendo] …
quod quae alicubi durius dicta exciderint, ea locis que as coisas que em alguma passagem são ditas
aliis planius explicata aut etiam correcta reperian- com maior dureza, em outros lugares se encontram
tur, … non alia potior via inita est, quam ut iis expo- mais claramente explicadas ou até corretas, … es-
nendis sententiis, quae sub latibulo ambiguitatis pe- colheu se como melhor caminho o que consiste em
riculosam suspiciosamque involvunt discrepantiam expor, na explicação das opiniões que sob a capa da
sensuum, perversa significatio notaretur, cui subesset ambigüidade escondem perigosa e suspeita discor-
error, quem catholica sententia reprobaret. … dância de sentidos, o significado perverso ao qual
subjaz o erro que a sentença católica reprova. …
*2601 1 Decreto sobre a graça, a predestinação e os fundamentos da moral (da sessão 3ª) § 1.
565
*2602 1 Carta convocatória. – As proposições 2 e 3 remontam ao sistema doutirinal de Edmund Richer, De ecclesiastica et
politica potestate libellus (Paris 1611, com reedições ulteriores), cujos princípios foram retomados por Febrônio. A
obra foi repetidamente condenada: primeiro, em 1612 pelo Sínodo de Sens dirigido pelo Card. Perron, depois pelo
Sínodo de Aix, 1612; pelo S. Ofício em 10 mai. 1613; pela Congregação do Índex em 2 dez. 1622 e outra vez em
4 mar. 1709.
*2603 1 Decreto sobre a fé e sobre a Igreja (da sessão 3ª) § 8.
*2604 1 Ibid. § 13-14.
566
consilia et suasiones, sed etiam iubendi per leges, sões, mas também de mandar mediante as leis e de
ac devios contumacesque exteriore iudicio ac reprimir e obrigar os desobedientes e contumazes
salubribus poenis coercendi atque cogendi”1: mediante um julgamento exterior e com penas sa-
lutares”1:
inducens in systema alias damnatum ut haere- conduzindo a um sistema já em outra ocasião
ticum. condenado como herético.
Iura episcopis praeter fas attributa Os direitos atribuídos aos bispos além do lícito
6. Doctrina synodi, qua profitetur, “persuasum sibi 6. A doutrina do Sínodo com a qual professa 2606
esse, episcopum accepisse a Christo omnia iura “estar persuadido que o bispo recebeu de Cristo
necessaria pro bono regimine suae dioecesis”1; todos os poderes necessários para o bom governo
de sua diocese”1;
perinde ac si ad bonum regimen cuiusque dioece- como se para o bom governo de cada diocese não
sis necessariae non sint superiores ordinationes spec- fossem necessárias as disposições superiores que
tantes sive ad fidem et mores sive ad generalem dizem respeito à fé, à moral e à disciplina geral,
disciplinam, quarum ius est penes Summos Pontifi- cujo direito está, para toda a Igreja, nas mãos dos
ces et Concilia generalia pro universa Ecclesia: Sumos Pontífices e dos Concílios gerais:
schismatica, ad minus erronea. cismática, no mínimo errônea.
7. Item, in eo quod hortatur episcopum “ad pro- 7. Igualmente: quando se exorta o bispo “a esta- 2607
sequendam naviter perfectiorem ecclesiasticae dis- belecer com diligência um mais perfeito ordenamen-
ciplinae constitutionem”; idque, “contra omnes con- to da disciplina eclesiástica”, e isto, “contra todos
trarias consuetudines, exemptiones, reservationes, os contrários costumes, isenções, reservas que criam
quae adversantur bono ordini dioecesis, maiori glo- obstáculo à boa ordem da diocese, à maior glória
riae Dei et maiori aedificationi fidelium”1; de Deus e à maior edificação dos fiéis”1,
per id quod supponit, episcopo fas esse proprio pelo que se supõe que é permitido ao bispo esta-
suo iudicio et arbitratu statuere et decernere contra belecer e discernir segundo o próprio juízo e arbí-
consuetudines, exemptiones, reservationes, sive quae trio contra os costumes, as isenções, as reservas que
in universa Ecclesia, sive etiam in unaquaque pro- existem em toda a Igreja como em cada região, sem
vincia locum habent, sine venia et interventu supe- a licença e o controle da autoridade hierárquica
rioris hierarchicae potestatis, a qua inductae sunt superior pela qual foram introduzidas ou aprovadas
aut probatae et vim legis obtinent: e obtêm força de lei:
inducens in schisma et subversionem hierarchici induzindo ao cisma e à subversão do governo
regiminis, erronea. hierárquico, errônea.
8. Item, quod et sibi persuasum esse ait, “iura 8. Igualmente: quando declara ser também per- 2608
episcopi a Iesu Christo accepta pro gubernanda suadido de que “os direitos do bispo recebidos de
Ecclesia nec alterari nec impediri posse, et ubi con- Jesus Cristo para governar a Igreja não podem ser
tigerit, horum iurium exercitium quavis de causa alterados nem impedidos, e onde tiver acontecido
fuisse interruptum, posse semper episcopum ac que o exercício destes direitos foi interrompido por
debere in originalia sua iura regredi, quotiescumque qualquer motivo, o bispo pode e deve sempre voltar
id exigit maius bonum suae ecclesiae”1; aos seus originais direitos, todas as vezes que o
requer o bem maior da sua Igreja”1;
in eo, quod innuit, iurium episcopalium exerci- na medida em que indica que o exercício dos di-
tium nulla superiore potestate praepediri aut coer- reitos episcopais não pode ser impedido ou limitado
ceri posse, quandocumque episcopus proprio iudi- por nenhum poder superior, todas as vezes que o
*2605 1 Ibid.; citam-se palavras de Bento XIV, Breve “Ad assiduas” à hierarquia da Polônia, 4 mar. 1755, § 1 (ed. de Malinas
11 [1827] 87).
*2606 1 Decreto sobre a ordem (da sessão 5ª) § 25.
*2607 1 Ibid.
*2608 1 Ibid.
567
cio censuerit, minus id expedire maiori bono suae bispo segundo seu pessoal juízo tiver decretado que
ecclesiae: isso seja menos útil ao bem maior de sua Igreja:
inducens in schisma et subversionem hierarchici induzindo ao cisma e à subversão do governo
regiminis, erronea. hierárquico, errônea.
*2609 1 Carta convocatória; a proposição concorda amplamente com o sistema doutrinal de Richer (cf. *26021).
2 Aério de Sebaste (Armênia) ensinava, em meados do século IV, a perfeita igualdade do poder dos estados episcopal
e presbiteral.
3 Cf. Bento XIV, De synodo dioecesana XIII 1.
*2610 1 Carta convocatória; carta aos vigários diocesanos; discurso ao Sínodo (da sessão 1ª); atas da sessão 3ª.
*2611 1 Discurso ao Sínodo § 8.
568
culari ecclesia vel paucis pastoribus profecta, nulla senta como decretos que provêm de uma Igreja
sufficienti auctoritate suffulta, nata corrumpendae particular ou de uns poucos pastores, não sustenta-
puritati fidei ac turbis excitandis, intrusa per vim, e dos por suficiente autoridade, nascidos para corrom-
quibus inflicta sunt vulnera nimium adhuc recentia1: per a pureza da fé e para excitar as multidões, intro-
duzidos com a força, e pelos quais se infligiram
feridas ainda demasiado recentes1:
falsae, captiosae, temerariae, scandalosae, in falsas, capciosas, temerárias, escandalosas, inju-
Romanos Pontifices et Ecclesiam iniuriosae, debitae riosas aos Romanos Pontífices e à Igreja, derrogando
Apostolicis constitutionibus oboedientiae derogan- à devida obediência às constituições apostólicas,
tes, schismaticae, perniciosae, ad minus erroneae. cismáticas, perniciosas, quanto menos errôneas.
569
*2616 1 Decreto sobre a graça § 4 und 7; Decreto sobre os sacramentos em geral (da sessão 4ª) § 1; Decreto sobre a penitência
(da sessão 5ª) § 4.
*2617 1 Decreto sobre o batismo (da sessão 4ª) § 2.
*2618 1 Decreto sobre a graça § 10.
570
lutem promissam per Christum, ad quod concipien- de uma luz superior em ordem à salvação prometi-
dum homo relictis suis propriis luminibus suppo- da por meio de Cristo e à recepção da qual, supos-
natur sese potuisse movere: tamente, o homem, com as luzes que lhe foram dei-
xadas, teria podido elevar-se:
suspecta, favens haeresi Semipelagianae. suspeita e fomentando a heresia semipelagiana.
*2619 1 Ibid.
2 Cesário de Arles, Sermão 37, 2 (G. Morin, Caesarii Arelatensis Opera omnia 1 [Maretioli 1937] 15527-29 / CpChL 103
[1953] 163 / = Pseudo-Agostinho, Sermão 273 do apêndice, antes Sermo de tempore 61: PL 39, 2257). – Agostinho,
De natura et gratia 43, n. 50 (CSEL 60, 270 / PL 44, 271). – Agostinho, De gratia et libero arbitrio 16, n. 32 (PL 44,
900). – Agostinho, Enarrationes in Psalmos 56, n. 1 (E. Dekkers – J. Fraipont: CpChL 39 [1956] 694 20s / PL 36, 661).
*2620 1 Ibid.
571
pirationem caritatis, qua cognita sancto amore fa- diante a qual operamos com santo amor o que co-
ciamus; hanc esse illam radicem, e qua germinantur nhecemos; tal é a raiz da qual nascem as boas obras;
bona opera; hanc esse gratiam Novi Testamenti, quae tal é a graça do Novo Testamento, que nos livra da
nos liberat a servitute peccati, constituit filios Dei”1; escravidão do pecado, nos constitui filhos de Deus”1;
quatenus intendat, eam solam esse proprie gra- na medida em que entende que a graça de Cristo
tiam Iesu Christi, quae creet in corde sanctum amo- em sentido próprio é só aquela que cria no coração
rem, et quae facit, ut faciamus, sive etiam, qua homo o amor santo e que faz com que nós operemos, ou
liberatus a servitute peccati constituitur filius Dei; então também aquela mediante a qual o homem,
et non sit etiam proprie gratia Christi ea gratia, qua livre da escravidão do pecado, é constituído filho
cor hominis tangitur per illuminationem Spiritus de Deus; e que não seja também graça de Cristo em
Sancti (Trid. sess. VI c. 5 [*1525]) nec vera detur sentido próprio aquela graça mediante a qual o co-
interior gratia Christi, cui resistitur: ração do homem é tocado pela iluminação do Espí-
rito Santo (Concílio de Trento, sessão 6ª, c. 5
[*1525]), e que não exista verdadeira graça de Cristo
à qual se possa resistir:
falsa, captiosa, inducens in errorem in secunda falsa, enganosa, induzindo ao erro condenado
propositione Iansenii damnatum ut haereticum, como herético na segunda proposição de Jansênio e
eumque renovans [*2002]. renovando-o [*2002].
572
quasi in omnibus suis actibus peccator serviat do- como se em todas as suas ações o pecador con-
minanti cupiditati: servasse a concupiscência dominante:
falsa, perniciosa, inducens in errorem a Tridenti- falsa, enganosa, induzindo ao erro condenado
no damnatum ut haereticum, iterum in Baio dam- como herético pelo Concílio de Trento e novamen-
natum art. 40 [*1557 1940]. te condenado em Baio, art. 40 [*1557 1940].
24. Qua vero parte inter dominantem cupidita- 24. Na medida em que entre a concupiscência 2624
tem et caritatem dominantem nulli ponuntur affec- dominante e a caridade dominante não se interpõem
tus medii, a natura ipsa insiti suapteque natura lau- afetos médios, dispostos pela própria natureza e
dabiles1 qui una cum amore beatitudinis naturali- louváveis por sua própria natureza1, os quais juntos
que propensione ad bonum “remanserunt velut ex- com o amor da felicidade e a natural propensão ao
trema lineamenta et reliquiae imaginis Dei”2; bem “ficaram como traços periféricos e resíduos da
imagem de Deus”2;
perinde ac si “inter dilectionem divinam, quae nos assim, como se “entre o amor divino que nos
perducit ad regnum, et dilectionem humanam illici- conduz ao reino e o amor humano ilícito que é con-
tam, quae damnatur”, non daretur “dilectio humana denado” não existisse “um amor humano lícito que
licita, quae non reprehenditur”3: não é proibido”3:
falsa, alias damnata [*1938 2307]. falsa e condenada em outras ocasiões [*1938 2307].
De poena decedentium cum solo originali A pena para aqueles que morrem
só com o pecado original 2626
26. Doctrina, quae velut fabulam Pelagianam 26. A doutrina que rejeita como fábula pelagiana
explodit locum illum inferorum (quem limbi pue- aquele lugar inferior (que os fiéis em toda parte
rorum nomine fideles passim designant), in quo chamam com o nome de limbo das crianças), no
573
animae decedentium cum sola originali culpa poe- qual as almas daqueles que morreram só com o
na damni citra poenam ignis puniantur1; pecado original são punidas com a pena da priva-
ção, sem a pena do fogo1;
perinde ac si hoc ipso, quod, qui poenam ignis re- como se, deste modo, aqueles que excluem a pena
movent, inducerent locum illum et statum medium do fogo introduzissem entre o reino de Deus e a
expertem culpae et poenae inter regnum Dei et dam- condenação eterna aquele lugar e estado interme-
nationem aeternam, qualem fabulabantur Pelagiani: diário privado de culpa e de pena do qual fabulavam
os pelagianos:
falsa, temeraria, in scholas catholicas iniuriosa. falsa, temerária, injuriosa às escolas <teológicas>
católicas.
574
fungentes abstinere hortatur, duobus his tantum das quais exorta a se absterem os párocos que exer-
propositis: cem o ofício de ensinar, limitando a exposição só a
estas duas coisas:
1) Christum post consecrationem vere, realiter, 1) que, depois da consagração, Cristo está verda-
substantialiter esse sub speciebus; deira, real e substancialmente sob as espécies;
2) tunc omnem panis et vini substantiam cessare, 2) que então cessa toda substância de pão e de
solis remanentibus speciebus, vinho, permanecendo somente as espécies;
prorsus omittit ullam mentionem facere transsubs- omite qualquer aceno à transubstanciação ou con-
tantiationis seu conversionis totius substantiae pa- versão de toda a substância do pão no corpo e de
nis in corpus, et totius substantiae vini in sangui- toda a substância do vinho no sangue1, que o Con-
nem1, quam velut articulum fidei Tridentinum Con- cílio de Trento definiu como artigo de fé [*1642
cilium definivit [*1642 1652], et quae in solemni 1652] e que está contido na solene profissão de fé
fidei professione continetur [*1866]; [*1866];
quatenus per inconsultam istiusmodi suspiciosam- enquanto subtrai, mediante esta omissão descon-
que omissionem notitia subtrahitur tum articuli ad siderada e suspeita, o conhecimento quer de um ar-
fidem pertinentis, tum etiam vocis ab Ecclesia con- tigo que diz respeito à fé, quer de uma expressão
secratae ad illius tuendam professionem adversus consagrada pela Igreja para a salvaguarda de sua
haereses, tenditque adeo ad eius oblivionem inducen- confissão contra as heresias e tende a induzir o seu
dam, quasi ageretur de quaestione mere scholastica: esquecimento como se fosse uma questão meramen-
te escolástica:
perniciosa, derogans expositioni veritatis catho- perniciosa, derrogando à exposição da verdade
licae circa dogma transsubstantiationis, favens hae- católica a respeito do dogma da transubstanciação,
reticis. favorecendo os hereges.
575
dam commendat ac praecipit Ecclesia, speciatim a nadas pessoas ou categorias de pessoas, particular-
pastoribus pro suis ovibus, quod velut ex divino mente da parte dos pastores para o seu rebanho,
praecepto descendens a sacra Tridentina Synodo coisa que pelo sagrado Concílio de Trento foi cla-
[sessio XXIII, De reformatione, c. 1] diserte est ramente exposta como proveniente de divino pre-
expressum2: ceito [sessão 23ª, sobre a Reforma, c. 1]2:
falsa, temeraria, perniciosa, Ecclesiae iniuriosa, falsa, temerária, perniciosa, injuriosa à Igreja,
inducens in errorem alias damnatum in Wicleffo induzindo ao erro condenado, em outra ocasião, em
[*1169]. Wyclif [*1169].
*2630 2 Cf. também Bento XIV, “Cum semper oblatas”, 19 ago. 1744, § 2 (ed. de Malinas 2, 306s).
*2631 1 Decreto sobre a Eucaristia § 5.
*2632 1 Ibid.
*2633 1 Ibid. § 6.
576
liberam a subtilitatibus, quae ipsi decursu temporis dignidade de um tão necessário sacramento, livre
adiunctae sunt”1; das sutilezas que se lhe acrescentaram com o pas-
sar do tempo”1;
quasi per ordinem, quo sine peracto canonicae como se pelo ordenamento de administrar costu-
paenitentiae cursu hoc sacramentum per totam Ec- meiramente por toda a Igreja este sacramento sem
clesiam administrari consuevit, illius fuisset dignitas o percurso da penitência canônica a sua dignidade
imminuta: tivesse sido diminuída:
temeraria, scandalosa, inducens in contemptum temerária, escandalosa, induzindo ao desprezo da
dignitatis sacramenti, prout per Ecclesiam totam dignidade do sacramento no modo costumeiro em
consuevit administrari, Ecclesiae ipsi iniuriosa. que é administrado por toda a Igreja, injuriosa para
a própria Igreja.
35. Propositio his verbis concepta: “Si caritas in 35. A proposição formulada com estas palavras: 2635
principio semper debilis est, de via ordinaria ad “Se a caridade em princípio é sempre fraca, é ordi-
obtinendum augmentum huius caritatis oportet, ut nariamente necessário, para obter o aumento desta
sacerdos praecedere faciat eos actus humiliationis caridade, que o sacerdote faça preceder <à absolvi-
et paenitentiae, qui fuerunt omni aetate ab Ecclesia ção> aqueles atos de humilhação e de penitência
commendati: redigere hos actus ad paucas oratio- que em todo tempo foram recomendados pela Igre-
nes aut ad aliquod ieiunium post iam collatam ab- ja: reduzir esses atos a umas poucas orações ou a
solutionem, videtur potius materiale desiderium algum jejum, depois que já foi dada a absolvição,
conservandi huic sacramento nudum nomen paeni- parece mais um desejo material de conservar para
tentiae, quam medium illuminatum et aptum ad este sacramento o simples nome de penitência do
augendum illum fervorem caritatis, qui debet prae- que um meio iluminado e próprio para aumentar
cedere absolutionem; longe quidem absumus ab aquele fervor da caridade que deve preceder a ab-
improbanda praxi imponendi paenitentias etiam post solvição; ora, estamos bem longe de reprovar a pra-
absolutionem adimplendas: si omnia nostra bona xe de impor as penitências para serem cumpridas
opera semper adiunctos habent nostros defectus, mesmo depois da absolvição; se todas as nossas boas
quanto magis vereri debemus, ne plurimas imper- obras estão sempre estreitamente ligadas aos nossos
fectiones admiserimus in difficillimo et magni mo- defeitos, quanto mais devemos recear ter cometido
menti opere nostrae reconciliationis”1; muitíssimas imperfeições na obra de nossa reconci-
liação, tão difícil e de tão grande importância”1;
quatenus innuit, paenitentias, quae imponuntur na medida em que indica que as penitências que
adimplendae post absolutionem, spectandas potius são impostas para serem cumpridas depois da absol-
esse velut supplementum pro defectibus admissis vição devem ser consideradas mais como um suple-
in opere nostrae reconciliationis, quam ut paeniten- mento pelas faltas cometidas na obra da nossa re-
tias vere sacramentales et satisfactorias pro pecca- conciliação do que como verdadeiras penitências
tis confessis; quasi, ut vera ratio sacramenti, non sacramentais e reparatórias pelos pecados confessa-
nudum nomen servetur, oporteat de via ordinaria, dos; como se, para que seja conservada a verdadeira
ut actus humiliationis et paenitentiae, qui imponun- razão do sacramento e não só o simples nome, seja
tur per modum satisfactionis sacramentalis, praece- necessário ordinariamente que os atos de humilha-
dere debeant absolutionem: ção e de penitência impostos mediante a norma da
satisfação sacramental precedam a absolvição:
falsa, temeraria, communi praxi Ecclesiae iniu- falsa, temerária, injuriosa à praxe comum da Igreja
riosa, inducens in errorem haereticali nota in Petro e induzindo ao erro marcado com a nota de heresia
de Osma confixum [*1415; cf. *2316]. em Pedro de Osma [*1415; cf. *2316].
577
dominantis in corde hominis, posse illum merito de Deus dominante no coração da pessoa, esta pode
iudicari dignum, qui admittatur ad participationem ser merecidamente julgada digna de ser admitida à
sanguinis Iesu Christi, quae fit in sacramentis”, participação do sangue de Cristo que se faz nos sa-
subdit, “supposititias conversiones, quae fiunt per cramentos”, e depois acrescenta que “as supostas
attritionem, nec efficaces esse solere nec durabiles”, conversões produzidas pela atrição, de costume, não
consequenter “pastorem animarum debere insistere são nem eficazes nem duráveis” e que, conseqüen-
signis non aequivocis caritatis dominantis, antequam temente, “o pastor das almas deve insistir sobre os
admittat suos paenitentes ad sacramenta”; quae sinais inequívocos da caridade dominante antes de
signa, ut deinde tradit (§ 17), “pastor deducere admitir os seus penitentes aos sacramentos”; sinais
poterit ex stabili cessatione a peccato et fervore in que, como então recomenda (§ 17), “o pastor pode-
operibus bonis”; quem insuper “fervorem caritatis” rá deduzir da estável abstenção do pecado e do fer-
perhibet (De paenit. § 10) velut dispositionem, quae vor nas boas obras”, apresentando ainda o “fervor
“debet praecedere absolutionem”1; de caridade” (Decreto sobre a penitência, § 10) como
disposição que “deve preceder a absolvição”1;
sic intellecta, ut non solum contritio imperfecta, entendida no sentido de que deva ser exigida de
quae passim attritionis nomine donatur, etiam quae modo geral e absoluto, para que a pessoa seja ad-
iuncta sit cum dilectione, qua homo incipit diligere mitida aos sacramentos, e em particular os peniten-
Deum tamquam omnis iustitiae fontem [cf. *1526], tes ao benefício da absolvição, não só a contrição
nec modo contritio caritate formata, sed et fervor imperfeita – corriqueiramente chamada atrição –,
caritatis dominantis, et ille quidem diuturno experi- mesmo quando unida ao amor com o qual o ho-
mento per fervorem in operibus bonis probatus, mem começa a amar Deus como fonte de toda jus-
generaliter et absolute requiratur, ut homo ad sacra- tiça [cf. *1526], e nem mesmo a contrição plasma-
menta et speciatim paenitentes ad absolutionis be- da pela caridade, mas também o fervor da caridade
neficium admittantur: dominante, a saber, demonstrado com prática diu-
turna mediante o fervor nas boas obras:
falsa, temeraria, quietis animarum perturbativa, falsa, temerária, perturbadora da paz das almas,
tutae ac probatae in Ecclesia praxi contraria, sacra- contrária a segura e aprovada praxe da Igreja,
menti efficaciae detrahens et iniuriosa. detraindo a eficácia do sacramento e injuriosa.
578
38. Item, doctrina, qua, postquam Synodus pro- 38. Igualmente a doutrina na qual o Sínodo decla- 2638
fessa est, “se non posse non admirari illam adeo ra “não poder não admirar aquela tão venerável dis-
venerabilem disciplinam antiquitatis, quae (ut ait) ciplina da Antigüidade que (como diz) não tão facil-
ad paenitentiam non ita facile et forte numquam eum mente e talvez jamais admitia à penitência quem,
admittebat, qui post primum peccatum et primam depois do primeiro pecado e da primeira reconcilia-
reconciliationem relapsus esset in culpam”, subiun- ção, tivesse recaído na culpa”, e então acrescenta
git, “per timorem perpetuae exclusionis a commu- que “por temor da exclusão perpétua da comunhão
nione et pace, etiam in articulo mortis, magnum e da paz, mesmo na hora de morte, um grande freio
frenum illis iniectum iri, qui parum considerant será posto aos que consideram muito pouco o mal
malum peccati et minus illud timent”1: do pecado e menos ainda o temem”1:
contraria can. 13 Concilii Nicaeni I [*129], De- contrária ao can. 13 do I Concílio de Nicéia
cretali Innocentii I ad Exsuperium Tolosanum [*129], à decretal de Inocêncio I a Exupério de
[*212], tum et Decretali Caelestini I ad episcopos Tolosa [*212] e ainda à decretal de Celestino I aos
Viennensis et Narbonensis provinciae [*236], redo- bispos da província de Vienne e Narbonne [*236],
lens pravitatem, quam in ea Decretali sanctus Pon- cheirando à perversidade que nesta decretal o San-
tifex exhorret. to Pontífice aborrece.
De indulgentiis As indulgências
40. Propositio asserens, “indulgentiam secundum 40. A proposição que afirma que “a indulgência 2640
suam praecisam notionem aliud non esse quam re- segundo sua exata noção outra coisa não é senão a
missionem partis eius paenitentiae, quae per cano- remissão de uma parte da penitência que ao peca-
nes statuta erat peccanti”1; dor tinha sido designada pelos cânones”1;
quasi indulgentia praeter nudam remissionem como se a indulgência além da simples remissão
poenae canonicae non etiam valeat ad remissionem da pena canônica não valesse também para a remis-
poenae temporalis pro peccatis actualibus debitae são da pena temporal devida à divina justiça por
apud divinam iustitiam: causa dos pecados atuais:
falsa, temeraria, Christi meritis iniuriosa, dudum falsa, temerária, ofensiva para os méritos de Cris-
in art. 19 Lutheri damnata [*1469]. to, há tempos condenada no art. 19 de Lutero [*1469].
41. Item in eo, quod subditur, “scholasticos suis 41. Igualmente, no que é acrescentado, “que os 2641
subtilitatibus inflatos invexisse thesaurum male in- escolásticos cheios das suas sutilezas introduziram o
tellectum meritorum Christi et Sanctorum, et clarae mal-compreendido tesouro dos méritos de Cristo e
notioni absolutionis a poena canonica substituisse dos Santos e substituíram a clara noção da absolvição
confusam et falsam applicationis meritorum”1; por aquela confusa e falsa da aplicação dos méritos”1;
quasi thesauri Ecclesiae, unde Papa dat indulgen- como se os tesouros da Igreja de onde o Papa
tias, non sint merita Christi et Sanctorum: concede as indulgências não sejam os méritos de
Cristo e dos Santos:
579
falsa, temeraria, Christi et Sanctorum meritis iniu- falsa, temerária, injuriosa para com os méritos de
riosa, dudum in art. 17 Lutheri [*1467] damnata. Cristo e dos Santos, há tempos condenada no art.
17 de Lutero [*1467].
2642 42. Item in eo, quod superaddit, “luctuosius ad- 42. Igualmente, no que acrescenta, que “ainda
huc esse, quod chimaerea isthaec applicatio trans- mais funesto que esta quimérica aplicação é que se
ferri volita sit in defunctos”1: tenha querido transferi-la aos defuntos”1:
falsa, temeraria, piarum aurium offensiva, in falsa, temerária, ofensiva aos ouvidos piedosos,
Romanos Pontifices et in praxim et sensum univer- injuriosa aos Romanos Pontífices e à praxe e o sen-
salis Ecclesiae iniuriosa, inducens in errorem hae- tir da Igreja universal, e induzindo ao erro marcada
reticali nota in Petro de Osma confixum [*1416], com a nota de heresia em Pedro de Osma [*1416]
iterum damnatum in art. 22 Lutheri [*1472]. e de novo condenado no art. 22 de Lutero [*1472].
2643 43. In eo demum, quod impudentissime invehitur 43. No que finalmente com grandíssima desones-
in tabellas indulgentiarum, altaria privilegiata etc.1: tidade investem contra as tabelas das indulgências,
os altares privilegiados etc.1:
temeraria, piarum aurium offensiva, scandalosa, temerária, ofensiva para os piedosos ouvidos,
in Summos Pontifices atque in praxim tota Ecclesia escandalosa e ultrajante para os Sumos Pontífices e
frequentatam contumeliosa. a praxe seguida por toda a Igreja.
*2642 1 Ibid.
*2643 1 Ibid.
*2644 1 Decreto sobre a penitência § 19.
*2645 1 Ibid.
580
De censuris As censuras
46. Propositio asserens, “effectum excommunicatio- 46. A proposição afirmando que “o efeito da exco- 2646
nis exteriorem dumtaxat esse, quia tantummodo natura munhão é somente exterior, pois que por sua natureza
sua excludit ab exteriore communicatione Ecclesiae”1; exclui somente da comunhão exterior com a Igreja”1;
quasi excommunicatio non sit poena spiritualis, como se a excomunhão não fosse uma pena espi-
ligans in caelo, animas obligans2: ritual que liga no céu, vinculando as almas2:
falsa, perniciosa, in art. 23 Lutheri damnata falsa, perniciosa, condenada no art. 23 de Lutero
[*1473], ad minus erronea. [*1473], quanto menos errônea.
47. Item, quae tradit, necessarium esse iuxta leges 47. Igualmente, aquela que afirma que é necessá- 2647
naturales et divinas, ut sive ad excommunicationem rio, segundo as leis naturais e divinas, que tanto para
sive ad suspensionem praecedere debeat examen a excomunhão quanto para a suspensão deva prece-
personale; atque adeo sententias dictas ipso facto der o exame da pessoa; e que portanto as sentenças
non aliam vim habere, nisi seriae comminationis sine ditas ipso facto não têm outra força senão de grave
ullo actuali effectu1: ameaça, sem nenhum efeito atual1:
falsa, temeraria, perniciosa, Ecclesiae potestati falsa, temerária, perniciosa, ofensiva ao poder da
iniuriosa, erronea. Igreja, errônea.
48. Item, quae pronuntiat, “inutilem ac vanam esse 48. Igualmente, aquela que proclama que “é inú- 2648
formulam nonnullis abhinc saeculis inductam ab- til e vã a fórmula, introduzida faz alguns séculos,
solvendi generaliter ab excommunicationibus, in de absolver de modo geral da excomunhão nas quais
quas fidelis incidere potuisset”1; os fiéis teriam podido se encontrar casualmente”1:
falsa, temeraria, praxi Ecclesiae iniuriosa. falsa, temerária, injuriosa à praxe da Igreja.
49. Item, quae damnat ut nullas et invalidas “sus- 49. Igualmente aquela que condena como nulas 2649
pensiones ex informata conscientia”1: e inválidas “as suspensões segundo ciência e cons-
ciência”1:
falsa, perniciosa, in Tridentinum iniuriosa. falsa, perniciosa, injuriosa ao Concílio de Trento.
50. Item, in eo, quod insinuat, soli episcopo fas 50. Igualmente, no que insinua que não é permi- 2650
non esse uti potestate, quam tamen ei defert Tri- tido ao bispo sozinho usar do poder, que lhe é toda-
dentinum (sess. XIV, c. 1 de ref.), suspensionis “ex via concedido pelo Concílio de Trento (sessão 14ª,
informata conscientia“ legitime infligendae1: sobre a reforma, c. 1), de impor legitimamente a
“suspensão segundo ciência e consciência”1:
iurisdictionis praelatorum Ecclesiae laesiva. lesiva à jurisdição dos prelados da Igreja.
De ordine A ordem
51. Doctrina Synodi, quae perhibet, in promoven- 51. A doutrina do Sínodo que diz que no promo- 2651
dis ad ordines hanc de more et instituto veteris dis- ver às ordens costumava-se manter o costume e a
ciplinae rationem servari consuevisse, “ut si quis instituição da disciplina antiga: “Se algum dos cléri-
clericorum distinguebatur sanctitate vitae, et dignus gos se distinguia pela santidade de vida e era julgado
aestimabatur, qui ad ordines sacros ascenderet, ille digno de galgar às ordens sagradas, este conforme o
solitus erat promoveri ad diaconatum vel sacerdo- costume era promovido ao diaconado ou ao sacerdó-
tium, etiamsi inferiores ordines non suscepisset: cio, mesmo que não tivesse ainda recebido as or-
neque tum talis ordinatio dicebatur per saltum, ut dens menores; e então tal ordenação não era chama-
postea dictum est”1. da ‘com salto’, como mais tarde foi chamada”1.
581
2652 52. Item, quae innuit, non alium titulum ordina- 52. Igualmente, aquela que aponta que não havia
tionum fuisse, quam deputationem ad aliquod spe- nenhum outro título para a ordenação que a consig-
ciale ministerium, qualis praescripta est in Concilio nação a algum ministério particular, como foi pres-
Chalcedonensi [can. 6]; subiungens (§ 6), quamdiu crito no Concílio de Calcedônia [cân. 6]; acrescen-
Ecclesia sese his principiis in delectu sacrorum mi- tando (§ 6) que, enquanto a Igreja se adaptou a estes
nistrorum conformavit, ecclesiasticum ordinem flo- princípios na escolha dos ministros sagrados, a or-
ruisse; verum beatos illos dies transiisse, novaque dem eclesiástica foi fecunda; que aqueles dias feli-
principia subinde introducta, quibus corrupta fuit zes na verdade já passaram e que foram introduzi-
disciplina in delectu ministrorum sanctuarii1. dos sucessivamente novos princípios, com os quais
se corrompeu a disciplina na escolha dos ministros
do santuário1.
2653 53. Item, quod inter haec ipsa corruptionis prin- 53. Igualmente, coisa que se enumera entre estes
cipia refert, quod recessum sit a vetere instituto, quo, mesmos princípios de corrupção que nos têm afas-
ut ait (§ 5), Ecclesia insistens Apostoli vestigiis ne- tado do antigo costume pelo qual, como diz (§ 5),
minem ad sacerdotium admittendum statuerat, nisi a Igreja que seguia as pegadas do Apóstolo deter-
qui conservasset innocentiam baptismalem: minara não admitir ninguém ao sacerdócio senão
quem tivesse conservado a inocência batismal;
quatenus innuit, corruptam fuisse disciplinam per do momento em que coloca em evidência que a
decreta et instituta: disciplina foi corrompida por meio de disposições
e decretos pelos quais:
1) Sive quibus ordinationes per saltum vetitae sunt; 1) foram proibidas as ordenações “com salto”;
2) Sive quibus pro ecclesiarum necessitate et 2) ou foram aprovados, pela necessidade e a co-
commoditate probatae sunt ordinationes sine titulo modidade das Igrejas, as ordenações sem o título
specialis officii, velut speciatim a Tridentino ordi- de ofício particular, como – especialmente pelo Con-
natio ad titulum patrimonii, salva oboedientia, qua cílio de Trento – a ordenação a título de patrimô-
sic ordinati ecclesiarum necessitatibus deservire nio, salva a obediência, com a qual os que destarte
debent iis obeundis officiis, quibus pro loco ac tem- foram ordenados devem servir às necessidades ecle-
pore ab episcopo admoti fuerint, quemadmodum ab siásticas, assumindo as funções para as quais se-
apostolicis temporibus in primitiva Ecclesia fieri gundo o lugar e as circunstâncias forem convoca-
consuevit; dos pelo bispo, como desde os tempos apostólicos
foi costume na Igreja primitiva;
3) Sive quibus iure canonico facta est criminum 3) ou no direito canônico foi feita uma diferen-
distinctio, quae delinquentes reddunt irregulares; quasi ciação nos delitos que tornam irregulares os que co-
per hanc distinctionem Ecclesia recesserit a spiritu metem um crime, como se por tal diferenciação a
Apostoli, non excludendo generaliter et indistincte Igreja se tivesse afastado do espírito do Apóstolo,
ab ecclesiastico ministerio omnes quoscumque, qui não excluindo em geral e sem distinção, do minis-
baptismalem innocentiam non conservassent1: tério eclesiástico, todos os que não tivessem con-
servado a inocência batismal1:
doctrina singulis suis partibus falsa, temeraria, doutrina falsa em cada uma de suas partes, teme-
ordinis pro ecclesiarum necessitate et commoditate rária, perturbando a ordem introduzida para a ne-
inducti perturbativa, in disciplinam per canones et cessidade e utilidade das Igrejas, injuriosa à disci-
speciatim per Tridentini decreta probatam iniuriosa. plina aprovada pelos cânones e especialmente pe-
los decretos do Concílio de Trento.
2654 54. Item, quae velut turpem abusum notat um- 54. Igualmente aquela que lastima como torpe
quam praetendere eleemosynam pro celebrandis abuso o pretender uma esmola para a celebração
Missis et sacramentis administrandis, sicuti et acci- das Missas e para a administração dos sacramentos,
pere quemlibet proventum dictum “stolae” et gene- como também o receber um provento assim chama-
ratim quodcumque stipendium et honorarium, quod do “de estola” e de modo geral qualquer estipêndio
*2652 1 Ibid. § 5.
*2653 1 Ibid. § 7.
582
suffragiorum aut cuiuslibet parochialis functionis e honorário que tenha sido oferecido por ocasião de
occasione offerretur; sufrágios ou de qualquer função paroquial;
quasi turpis abusus crimine notandi essent minis- como se devessem ser censurados com a acusa-
tri Ecclesiae, dum secundum receptum et probatum ção de torpe abuso os ministros da Igreja enquanto,
Ecclesiae morem et institutum utuntur iure promul- segundo costume e instituição admitida e aprovada
gato ab Apostolo accipiendi temporalia ab his, qui- pela Igreja, fazem uso do direito promulgado pelo
bus spiritualia ministrantur [Gal 6,6]1: Apóstolo de receber coisas temporais daqueles aos
quais proporcionam coisas espirituais [Gal 6,6]1:
falsa, temeraria, ecclesiastici ac pastoralis iuris falsa, temerária, lesiva ao direito eclesiástico e
laesiva, in Ecclesiam eiusque ministros iniuriosa. pastoral, injuriosa à Igreja e aos seus ministros.
55. Item, qua vehementer optare se profitetur1, ut 55. Igualmente, <a doutrina> pela qual declara1 2655
aliqua ratio inveniretur minutuli cleri (quo nomine desejar ardentemente seja encontrado algum modo
inferiorum ordinum clericos designat) a cathedrali- de afastar o clero miúdo (com este nome designa os
bus et collegiatis submovendi, providendo aliter, clérigos das ordens menores) das catedrais e das
nempe per probos et provectioris aetatis laicos, con- igrejas colegiais, providenciando de outra maneira
gruo assignato stipendio, ministerio inserviendi ao ministério de ajudar as missas e os outros ofí-
Missis et aliis officiis velut acolythi, etc., ut olim, cios, como de acólito etc., – por exemplo, com lei-
inquit, fieri solebat, quando eius generis officia non gos de bem e de idade avançada, assinado o côngruo
ad meram speciem pro maioribus ordinibus estipêndio – como há um tempo, assim se diz, esta-
suscipiendis redacta erant; vam acostumados a fazer quando as funções deste
gênero não estavam ainda reduzidas a mera aparên-
cia em vista do recebimento das ordens maiores;
quatenus reprehendit institutum, quo cavetur, ut do momento em que critica um instituto com o
minorum ordinum functiones per eos tantum praes- qual se garante que as funções das ordens menores
tentur exerceanturve, qui in illis constituti adscrip- sejam desenvolvidas e exercitadas somente por aque-
tive sunt2, idque ad mentem Tridentini (sess. XXIII, les que nelas estão constituídos ou delegados2, e isto
c. 17), “ut sanctorum ordinum a diaconatu ad ostia- segundo a intenção do Concílio de Trento (sessão
riatum functiones ab apostolicis temporibus in Ec- 23ª, c. 17), “para que as funções das ordens sagra-
clesia laudabiliter receptae et in pluribus locis ali- das desde o diaconado até o ostiariado, recebidas
quamdiu intermissae iuxta sacros canones revocen- de modo louvável na Igreja desde os tempos apos-
tur, nec ab haereticis tamquam otiosae traducantur”: tólicos e por algum tempo abandonadas em vários
lugares, sejam reintroduzidas por norma dos sagra-
dos cânones e não sejam ridicularizadas pelos here-
ges como inúteis”:
suggestio temeraria, piarum aurium offensiva, sugestão temerária, ofensiva aos ouvidos piedo-
ecclesiastici ministerii perturbativa, servandae quoad sos, perturbadora do ministério eclesiástico, dimi-
fieri potest in celebrandis mysteriis decentiae im- nuindo o decoro a ser observado quanto possível na
minutiva, in minorum ordinum munera et functio- celebração dos mistérios, injuriosa às tarefas e fun-
nes, tum in disciplinam per canones et speciatim ções das ordens menores como também à discipli-
per Tridentinum probatam iniuriosa, favens haere- na aprovada pelos cânones e especialmente pelo
ticorum in eam conviciis et calumniis. Concílio de Trento, favorecendo os insultos e as
calúnias dos hereges contra ela.
56. Doctrina, quae statuit, conveniens videri in 56. A doutrina que declara que parece conveniente 2656
impedimentis canonicis, quae proveniunt ex delictis que jamais se conceda ou admita dispensa nos im-
in iure expressis, ullam umquam nec concedendam pedimentos canônicos que derivam de culpas men-
nec admittendam esse dispensationem1: cionados no direito1:
583
aequitatis et moderationis canonicae a sacro Con- lesiva da eqüidade e da moderação canônica apro-
cilio Tridentino probatae laesiva, auctoritati et iuri- vada pelo sagrado Concílio de Trento, derrogante à
bus Ecclesiae derogans. autoridade e às leis da Igreja.
2657 57. Praescriptio Synodi, quae generaliter et in- 57. A prescrição do Sínodo que, de modo geral e
discriminatim velut abusum reicit quamcumque indiscriminado, refuta como abuso qualquer dispen-
dispensationem, ut plus quam unum residentiale be- sa permitindo conferir à mesma pessoa mais de um
neficium uni eidemque conferatur; item, in eo quod benefício residencial; igualmente porque acrescen-
subiungit, certum sibi esse iuxta Ecclesiae spiritum ta ter por certo, segundo o espírito da Igreja, que
plus quam uno beneficio tametsi simplici neminem ninguém pode usufruir de mais de um benefício,
frui posse1: mesmo se modesto1,
pro sua generalitate, derogans moderationi Tri- por sua generalidade, derrogando à moderação do
dentini (sess. VII, c. 5 et sess. XXIV, c. 17). Concílio de Trento (sessão 7ª, c. 5 e sessão 24ª, c. 17).
584
tiniani”; tum ut “restringat impedimentum affinita- Justiniano”; e então para que “restrinja o impedi-
tis et cognitionis, ex quacunque licita aut illicita co- mento de afinidade e de parentesco derivante de
niunctione provenientis, ad quartum gradum iuxta qualquer relação lícita ou ilícita em quarto grau
civilem computationem per lineam lateralem et segundo a contagem civil na linha lateral e oblíqua;
obliquam; ita tamen, ut spes nulla relinquatur dis- de modo tal, todavia, de não deixar nenhuma espe-
pensationis obtinendae”1; rança de obter uma dispensa”1;
quatenus civili potestati ius attribuit sive abolen- do momento em que atribui ao poder civil o di-
di sive restringendi impedimenta Ecclesiae auctori- reito quer de abolir quer de restringir os impedi-
tate constituta vel comprobata; item qua parte suppo- mentos instituídos e aprovados pela autoridade da
nit, Ecclesiam per potestatem civilem spoliari pos- Igreja, e assim também enquanto supõe que a Igre-
se iure dispensandi super impedimentis ab ipsa ja possa ser privada pelo poder civil do direito de
constitutis vel comprobatis: dispensar a respeito de impedimentos por ela mes-
ma instituídos ou aprovados:
libertatis ac potestatis Ecclesiae subversiva, Tri- subversiva da liberdade e do poder da Igreja,
dentino contraria, ex haereticali supra damnato prin- contrária ao Concílio de Trento, proveniente do
cipio profecta [*1803-1812]. herético princípio acima condenado [*1803-1812].
*2660 1 Petição ao príncipe (da sessão 6ª) e memorial sobre os esponsais …, § 10.
*2661 1 Decreto sobre a fé § 3.
*2662 1 Decreto sobre a oração (da sessão 6ª) § 17.
585
praecisione a divinitate adorari non posse cultu qualquer parte dele, ou também sua humanidade toda,
latriae1; separando-se ou apartando-se a divindade1;
quasi fideles Cor Iesu adorarent cum separatione como se os fiéis adorassem o coração de Jesus
vel praecisione a divinitate, dum illud adorant ut separando-o ou apartando-o da divindade, quando
est cor Iesu, cor nempe personae Verbi, cui insepa- eles o adoram enquanto é o Coração de Jesus, o
rabiliter unitum est, ad eum modum, quo exsangue coração portanto da pessoa do Verbo a quem está
corpus Christi in triduo mortis sine separatione aut unido de modo inseparável, daquele modo no qual
praecisione a divinitate adorabile fuit in sepulcro: o corpo exangue de Cristo, nos três dias da morte,
sem ser separado ou apartado da divindade, perma-
neceu adorável no sepulcro:
captiosa, in fideles Cordis Christi cultores iniuriosa. capciosa, injuriosa aos fiéis que adoram o Cora-
ção de Jesus.
De modo iungendae vocis populi cum voce O modo unir a voz do povo à voz da Igreja
Ecclesiae in precibus publicis nas orações públicas
2666 66. Propositio asserens, “fore contra apostolicam 66. A proposição que afirma que “seria contra a
praxim et Dei consilia, nisi populo faciliores viae praxe apostólica e os projetos de Deus se não fos-
pararentur vocem suam iungendi cum voce totius sem preparadas para o povo vias mais fáceis para
Ecclesiae”1; unir sua voz à voz de toda a Igreja”1;
*2663 1 Decreto sobre a fé § 10; Instrução pastoral sobre o novo culto ao Coração de Jesus (3 jun. 1781), apêndice, n. 32.
*2664 1 Decreto sobre a oração § 14; Carta aos vigários diocesanos (6 dez. 1784), apêndice, n. 34.
*2665 1 Decreto sobre a penitência § 10.
*2666 1 Decreto sobre a oração § 24. – Cf. *2486.
586
intellecta de usu vulgaris linguae in liturgicas entendida sobre o uso da língua vernácula a ser
preces inducendae: introduzida nas orações litúrgicas:
falsa, temeraria, ordinis pro mysteriorum celebra- falsa, temerária, perturbando a ordem prescrita
tione praescripti perturbativa, plurium malorum fa- para a celebração dos mistérios, facilmente gerado-
cile productrix. ra de muitos males.
De proscriptis libris in Ecclesia publice legendis A leitura púbica de livros proibidos na Igreja
68. Laudatio, qua summopere Synodus commen- 68. O louvor com o qual o Sínodo recomenda 2668
dat Quesnelli commentationes in Novum Testamen- vivamente os Comentários ao Novo Testamento de
tum aliaque aliorum Quesnellianis erroribus faven- Quesnel e outras obras – de outros, que aprovam os
tium opera, licet proscripta, eademque parochis erros de Quesnel –, embora proscritas, e as propõe
proponit, ut ea tamquam solidis religionis princi- aos párocos, para que nas suas paróquias as leiam
piis referta in suis quisque paroeciis populo post inteiramente ao povo depois das outras funções,
reliquas functiones perlegant1: como cheias dos sólidos princípios da religião1:
falsa, scandalosa, temeraria, seditiosa, Ecclesiae falsa, escandalosa, temerária, sediciosa, injuriosa
iniuriosa, schisma fovens et haeresim. à Igreja, fomentando o cisma e a heresia.
*2667 1 Apêndice ao Decreto sobre a graça: 12 artigos dirigidos pelo Card. Noailles a Bento XIII, nota a art. 11.
*2668 1 Decreto sobre a oração § 29.
*2669 1 Ibid. § 17.
1 Cf. Bento XIV, Breve “Sollicitudini nostrae” 25-36, 1 out. 1745 (ed. de Malinas 3, 241-249).
*2670 1 Decreto sobre a oração § 17.
587
quo “ita Deus nec in omnibus memoriis Sancto- da providência com a qual “Deus quis assim que
rum ista fieri voluit, qui dividit propria unicuique isso não acontecesse em todas as comemorações dos
prout vult”2. Santos, ele que distribui as coisas próprias a cada
um como quer”2.
2671 71. Item, quae vetat, ne imagines, praesertim 71. Igualmente a <doutrina> que proíbe que as
beatae Virginis, ullis titulis distinguantur, praeter- imagens, especialmente da bem-aventurada Virgem,
quam denominationibus, quae sint analogae myste- sejam distinguidas com qualquer título exceto com
riis, de quibus in sacra Scriptura expressa fit mentio1: denominações que são análogas aos mistérios dos
quais se faz expressa menção na Sagrada Escritura1;
quasi nec adscribi possent imaginibus piae aliae como se não fosse possível atribuir às imagens
denominationes, quas vel in ipsismet publicis pre- outras piedosas denominações que a Igreja aprova e
cibus Ecclesia probat et commendat: recomenda, inclusive nas próprias orações públicas:
temeraria, piarum aurium offensiva, venerationi temerária, ofensiva aos piedosos ouvidos, injurio-
beatae praesertim Virgini debitae iniuriosa. sa à veneração particularmente devida à bem-aven-
turada Virgem.
2672 72. Item, quae velut abusum exstirpari vult mo- 72. Igualmente, a que quer extirpar como abusivo
rem, quo velatae asservantur certae imagines1: o costume pelo qual certas imagens são guardadas
cobertas de véu1:
temeraria, frequentato in Ecclesia et ad fidelium temerária, contrária a um costume em voga na
pietatem fovendam inducto mori contraria. Igreja e introduzido para fomentar a piedade dos fiéis.
De festis As festas
2673 73. Propositio enuntians, novorum festorum ins- 73. A proposição que enuncia que a instituição
titutionem ex neglectu in veteribus observandis et de novas festas teve origem no descuido da obser-
ex falsis notionibus naturae et finis earundem so- vância das antigas e por falsas concepções da natu-
lemnitatum originem duxisse1: reza e do fim dessas solenidades1:
falsa, temeraria, scandalosa, Ecclesiae iniuriosa, falsa, temerária, escandalosa, injuriosa à Igreja,
favens haereticorum in dies festos per Ecclesiam favorecendo a zombaria dos hereges a respeito das
celebratos conviciis. festividades celebradas pela Igreja.
2674 74. Deliberatio Synodi de transferendis in diem 74. A deliberação do Sínodo relativa à transfe-
dominicum festis per annum institutis, idque pro rência para domingo das festas instituídas durante
iure, quod persuasum sibi esse ait episcopo compe- o ano, e isto, em virtude do direito que, segundo
tere super disciplinam ecclesiasticam in ordine ad sua convicção expressa, competiria ao bispo, sobre
res mere spirituales: ideoque et praeceptum Missae a disciplina eclesiástica em ordem às coisas mera-
audiendae abrogandi diebus, in quibus ex pristina mente espirituais, e portanto também de abolir o
Ecclesiae lege viget etiamnum id praeceptum; tum preceito de ouvir a missa nos dias nos quais, com
etiam in eo, quod superaddit de transferendis in base na primitiva lei da Igreja, agora vigora o pre-
Adventum episcopali auctoritate ieiuniis per annum ceito; como também no que acrescenta a respeito
ex Ecclesiae praecepto servandis1; da transferência para o Advento, em virtude da au-
toridade episcopal, dos jejuns a observar durante o
ano com base no preceito da Igreja1;
quatenus adstruit, episcopo fas esse iure proprio do momento em que afirma que está no poder do
transferre dies ab Ecclesia praescriptos pro festis bispo, por direito próprio, transferir os dias prescri-
ieiuniisve celebrandis, aut indictum Missae audien- tos pela Igreja para celebrar as festas ou os jejuns,
dae praeceptum abrogare: ou ab-rogar o preceito prescrito de ouvir a Missa:
*2670 2 Agostinho, Carta (78) aos habitantes de Hipona, cap. 3 (CSEL 34, 33611-13 / PL 33, 269).
*2671 1 Decreto sobre a oração § 17.
*2672 1 Ibid.
*2673 1 Memorial sobre a reforma das festas (da sessão 6ª) § 3.
*2674 1 Ibid. § 8.
588
propositio falsa, iuris Conciliorum generalium et proposição falsa, lesiva aos direitos dos Concí-
Summorum Pontificum laesiva, scandalosa, schis- lios gerais e dos Sumos Pontífices, escandalosa,
mati favens. favorecendo o cisma.
De iuramentis Os juramentos
75. Doctrina, quae perhibet, beatis temporibus 75. A doutrina que diz que nos tempos felizes da 2675
nascentis Ecclesiae iuramenta visa esse a documentis Igreja nascente os juramentos eram considerados tão
divini praeceptoris atque ab aurea evangelica estranhos aos ensinamentos do divino mestre e à
simplicitate adeo aliena, ut “ipsummet iurare sine áurea simplicidade do Evangelho que “o próprio
extrema et ineluctabili necessitate reputatus fuisset jurar, sem uma extrema e inevitável necessidade,
actus irreligiosus, homine christiano indignus”; in- teria sido considerado um ato irreligioso, indigno
super “continuatam Patrum seriem demonstrare iu- de um homem cristão”; e além disso que “a suces-
ramenta communi sensu pro vetitis habita fuisse”; são ininterrupta dos Padres demonstra que os jura-
indeque progreditur ad improbanda iuramenta, quae mentos segundo o sentir comum eram considera-
curia ecclesiastica, iurisprudentiae feudalis, ut ait, dos proibidos”; e que portanto prossegue até à re-
normam secuta, in investituris et in sacris ipsis epis- provação dos juramentos, que, como diz, a cúria
coporum ordinationibus adoptavit; statuitque, adeo eclesiástica, seguindo a norma da jurisprudência feu-
implorandam a saeculari potestate legem pro abo- dal, adotou nas investiduras e até nas sagradas or-
lendis iuramentis, quae in curiis etiam ecclesiasti- denações dos bispos; e que estabelece que deve ser
cis exiguntur pro suscipiendis muniis et officiis et solicitada ao poder secular uma lei para a abolição
generatim pro omni actu curiali1: dos juramentos que são pedidos também nas cúrias
eclesiásticas para receber encargos e ofícios e, em
geral, para todo ato curial1:
falsa, Ecclesiae iniuriosa, iuris ecclesiastici lae- falsa, injuriosa à Igreja, lesiva do direito eclesiás-
siva, disciplinae per canones inductae et probatae tico, subversiva da disciplina introduzida e aprova-
subversiva. da nos cânones.
589
terari umquam potuerit et amitti primitiva notio Igreja se tenha podido jamais esquecer e perder a
ecclesiastici ministerii pastoralisve sollicitudinis: original noção do ministério eclesiástico e da soli-
propositio falsa, temeraria, erronea. citude pastoral:
proposição falsa, temerária, errônea.
2678 78. Praescriptio Synodi de ordine rerum tractan- 78. A prescrição do Sínodo referente à ordem das
darum in collationibus, qua, posteaquam praemisit, coisas a tratar nas conferências com as quais, de-
“in quolibet articulo distinguendum id, quod perti- pois de ter dito que “em qualquer artigo é preciso
net ad fidem et ad essentiam religionis, ab eo, quod distinguir o que pertence ao fim e à essência da re-
est proprium disciplinae”, subiungit, “in hac ipsa ligião daquilo que é próprio da disciplina”, acres-
(disciplina) distinguendum, quod est necessarium centa que “nessa mesma (disciplina) é preciso dis-
aut utile ad retinendos in spiritu fideles, ab eo, quod tinguir, daquilo que é necessário ou útil que os fiéis
est inutile aut onerosius quam libertas filiorum novi guardem no espírito, o que é inútil ou pesado de-
foederis patiatur, magis vero ab eo, quod est peri- mais para que a liberdade dos filhos da nova aliança
culosum aut noxium, utpote inducens ad supersti- o suporte e, mais ainda, o que é perigoso ou nocivo,
tionem et materialismum”1; por induzir à superstição e ao materialismo”1;
quatenus pro generalitate verborum comprehen- dado que pela generalidade das palavras abraça e
dat et praescripto examini subiciat etiam disciplinam expõe ao exame acima descrito também a discipli-
ab Ecclesia constitutam et probatam, quasi Ecclesia, na instituída e aprovada pela Igreja, como se a Igre-
quae Spiritu Dei regitur, disciplinam constituere ja, que é conduzida pelo Espírito de Deus, pudesse
posset non solum inutilem et onerosiorem quam li- estabelecer uma disciplina não somente inútil e
bertas christiana patiatur, sed et periculosam, noxiam, pesada demais para que a liberdade cristã a supor-
inducentem in superstitionem et materialismum: te, mas também perigosa, nociva e induzindo à su-
perstição e ao materialismo:
falsa, temeraria, scandalosa, perniciosa, piarum falsa, temerária, escandalosa, perniciosa, ofensi-
aurium offensiva, Ecclesiae ac Spiritui Dei, quo ipsa va aos piedosos ouvidos, injuriosa para a Igreja e
regitur, iniuriosa, ad minus erronea. para o Espírito de Deus por quem ela é conduzida,
no mínimo errônea.
De tribus regulis, fundamenti loco a Synodo As três regras postas pelo Sínodo como
positis pro reformatione regularium fundamento para a reforma dos religiosos
2680 80. Regula I, quae statuit universe et indiscrimi- 80. A regra I que estabelece universalmente e de
natim: “statum regularem aut monasticum natura sua modo indiscriminado: “a condição regular ou mo-
componi non posse cum animarum cura cumque nástica por sua natureza não pode conciliar-se com
vitae pastoralis muneribus, nec adeo in partem venire o cuidado das almas e com as funções da vida pas-
posse ecclesiasticae hierarchiae, quin ex adverso toral, e sobretudo não pode ter parte na hierarquia
pugnet cum ipsiusmet vitae monasticae principiis”1: eclesiástica, sem colidir frontalmente com os prin-
cípios da própria vida monástica”1,
*2678 1 Ibid. § 4.
*2679 1 Discurso ao sínodo § 2. Alude-se às controvérsias sobre os auxílios da graça e o sistema moral.
*2680 1 Memorial sobre a reforma dos insititutos religiosos (da sessão 6ª) § 9.
590
falsa, perniciosa, in sanctissimos Ecclesiae Patres falsa, perniciosa, injuriosa aos santíssimos Padres
et Praesules, qui regularis vitae instituta cum cleri- e Prelados da Igreja que uniram as instituições da
calis ordinis muneribus consociarunt, iniuriosa, pio, vida regular com as funções da ordem clerical, con-
vetusto, probato Ecclesiae mori Summorumque trária a um piedoso, antigo, aprovado costume da
Pontificum sanctionibus contraria: Igreja e às prescrições dos Sumos Pontífices:
quasi “monachi, quos morum gravitas et vitae ac como se “os monges, aos quais dá prestígio a
fidei institutio sancta commendat”, non rite, nec seriedade dos costumes e a santa disposição de vida
modo sine religionis offensione, sed et cum multa e de fé”, não com direito “se associassem às funções
utilitate Ecclesiae “clericorum officiis aggregentur”2. clericais”, e não somente sem ofensa da religião, mas
também com grande utilidade para a Igreja2.
81. Item, in eo, quod subiungit, sanctos Thomam 81. Igualmente no que acrescenta, que os santos 2681
et Bonaventuram sic in tuendis adversus summos Tomás e Boaventura se envolveram a tal ponto no
homines mendicantium institutis versatos esse, ut tomar a defesa das instituições das ordens mendi-
in eorum defensionibus minor aestus, accuratio cantes contra homens ilustres, que teria sido desejá-
maior desideranda fuisset1: vel nas suas defesas menos ardor e mais cuidado1:
scandalosa, in sanctissimos doctores iniuriosa, escandalosa, injuriosa para os santíssimos dou-
impiis damnatorum auctorum contumeliis favens. tores, favorecendo os ímpios ultrajes de autores
condenados.
82. Regula II, “multiplicationem ordinum ac 82. A regra II, <dizendo> que “a multiplicidade 2682
diversitatem naturaliter inferre perturbationem et e a diversidade das ordens introduz naturalmente
confusionem”; item, in eo quod praemittit § 4, re- desordem e confusão”; igualmente, no que prece-
gularium “fundatores”, qui post monastica instituta de, no § 4: que “os fundadores” das ordens regula-
prodierunt, “ordines superaddentes ordinibus, refor- res que apareceram depois das instituições monás-
mationes reformationibus, nihil aliud effecisse, quam ticas “ajuntando ordens a ordens, reformas a refor-
primariam mali causam magis magisque dilatare”1; mas, nada mais fizeram que ampliar sempre mais a
primitiva causa do mal”1;
intellecta de ordinibus et institutis a Sancta Sede entendida a respeito das ordens e dos institutos
probatis, quasi distincta piorum munerum varietas, aprovados pela Santa Sé, como se a distinta varie-
quibus distincti ordines addicti sunt, natura sua dade das piedosas funções às quais as diversas or-
perturbationem et confusionem parere debeat: dens são consagradas devesse por sua natureza ge-
rar desordem e confusão:
falsa, calumniosa, in sanctos fundatores eorum- falsa, caluniosa, injuriosa aos santos fundadores
que fideles alumnos, tum et in ipsos Summos Pon- e aos seus fiéis seguidores como também aos Su-
tifices iniuriosa. mos Pontífices.
83. Regula III, qua, postquam praemisit, “parvum 83) A regra III, que põe como premissa que “um 2683
corpus degens intra civilem societatem, quin vere pequeno corpo que se encontra no meio da socieda-
sit pars eiusdem parvamque monarchiam figit in de civil, sem fazer verdadeiramente parte dela, e fun-
statu, semper esse periculosum”1, subinde hoc no- dando dentro do Estado uma pequena monarquia, é
mine criminatur privata monasteria, communis ins- sempre perigoso”1, para logo depois com este nome
tituti vinculo sub uno praesertim capite consociata, acusar os respectivos mosteiros unidos com o vín-
velut speciales totidem monarchias, civili reipublicae culo da comum instituição e especialmente sob um
periculosas et noxias: só chefe, como se fossem outras tantas monarquias
particulares, perigosas e danosas para o Estado:
falsa, temeraria, regularibus institutis a Sancta falsa, temerária, injuriosa aos institutos regulares
Sede ad religionis profectum approbatis iniuriosa, aprovados pela Santa Sé para a utilidade da reli-
*2680 2 Papa Sirício, Carta decretal “Directa ad decessorem” ao bispo Himério de Tarragona, 10 fev. 385, cap. 17 (CouE 635
/ PL 13, 1144B). Pode-se acrescentar: Urbano II, no Sínodo de Nimes, jul.1096, cân. 2 und 3 (MaC 20, 934A-935B).
*2681 1 Memorial sobre a reforma dos insititutos religiosos § 9.
*2682 1 Ibid.
*2683 1 Ibid.
591
favens haereticorum in eadem instituta insectatio- gião, favorecendo os insultos e as calúnias dos he-
nibus et calumniis. reges contra os mesmos institutos.
*2684 1 Port-Royal des Champs bei Versailles, mosteiro de monjas cistercienses, principal centro do jansenismo, foi, em 1710,
suspenso e destruído por Luís XIV como castigo por resistir à “Vineam Domini Sabaoth” (*2390).
2 Para esta parte (*2684-2691), cf. Memorial sobre a reforma dos insititutos religiosos § 10.
592
dientiae non admittentur instar communis et stabilis dade, de pobreza e de obediência não sejam admi-
regulae. Si quis ea vota, aut omnia, aut aliqua face- tidos à guisa de regra geral e estável. Se alguém
re voluerit, consilium et veniam ab episcopo postu- quiser fazer esses votos, todos ou alguns deles,
labit, qui tamen numquam permittet, ut perpetua sint, pedirá o conselho e a permissão do bispo, o qual,
nec anni fines excedent; tantummodo facultas dabi- todavia, não permitirá jamais que sejam perpétuos
tur ea renovandi sub iisdem condicionibus; ou que superem o limite de um ano; somente dará
licença de renová-los com as mesmas condições;
Art. VII. Omnem episcopus habebit inspectionem Art. VII. O bispo terá a completa vigilância so- 2690
in eorum vitam, studia, progressum in pietate; ad bre a sua vida, sobre os estudos, sobre o progresso
ipsum pertinebit monachos admittere et expellere, na piedade; ao mesmo caberá a admissão e a expul-
semper tamen accepto contubernalium consilio; são dos monges, ouvido sempre todavia o conselho
dos companheiros;
Art. VIII. Regulares ordinum, qui adhuc rema- Art. VIII. Os regulares das ordens que até agora 2691
nent, licet sacerdotes, in hoc monasterium admitti permanecem, mesmo sendo sacerdotes, poderiam
etiam possent, modo in silentio et solitudine propriae também ser admitidos nesse mosteiro, contanto que
sanctificationi vacare cuperent; quo casu dispensa- no silêncio e na solidão tenham o desejo de ocu-
tioni locus fieret in generali regula n. II statuta, sic par-se da própria santificação; neste caso se dará
tamen, ne vitae institutionem sequantur ab aliis dis- curso a uma dispensa da regra geral estabelecida
crepantem, adeo ut non plus quam una aut ad no n. II, de modo tal, todavia, que eles não sigam
summum duae in diem Missae celebrentur, satis- uma regra de vida em contradição com os outros, a
que ceteris sacerdotibus esse debeat una cum com- tal ponto que não sejam celebradas mais de uma
munitate concelebrare; Missa por dia ou no máximo duas, e aos outros
sacerdotes deva ser suficiente concelebrar junto a
toda a comunidade;
593
sia respectivarum nationum controversiae spectan- que se põe fim, na Igreja das respectivas nações, às
tes ad religionem1; controvérsias a respeito da religião1;
sic intellecta, ut controversiae ad fidem et mores entendida assim, no sentido de que as controvér-
spectantes in Ecclesia quacumque subortae per na- sias a respeito da fé e da moral, que tenham surgido
tionale concilium irrefragabili iudicio finiri valeant; em alguma Igreja, possam ser definidas com um
quasi inerrantia in fidei et morum quaestionibus juízo irrevogável mediante um sínodo nacional,
nationali concilio competeret: como se competisse a um sínodo nacional a infali-
bilidade nas questões de fé e de moral:
schismatica, haeretica. cismática e herética.
594
roris periculum, ut essentia divina distincta in per- soas; com esta troca da fórmula, por força das pala-
sonis putetur, quam fides catholica sic unam in vras, introduz-se furtivamente o perigo de erro, que
personis distinctis confitetur, ut eam simul profitea- consistiria em pensar distinta em pessoas a essência
tur in se prorsus indistinctam. divina, enquanto a fé católica a confessa de tal modo
una em pessoas distintas que ao mesmo tempo a
declara totalmente indistinta em si mesma.
A l t e r u m quod de ipsismet tribus divinis perso- S e g u n d o : o que declara a respeito das mesmas 2698
nis tradit, eas secundum earum proprietates perso- três pessoas divinas, isto é, que elas segundo as suas
nales et incommunicabiles exactius loquendo expri- propriedades pessoais e não comunicáveis, para falar
mi seu appellari Patrem, Verbum et Spiritum Sanc- de modo mais exato, são ditas ou chamadas Pai,
tum: quasi minus propria et exacta foret appellatio Verbo e Espírito Santo, como se fosse menos apro-
Filii, tot Scripturae locis consecrata, voce ipsa Pa- priada e exata a denominação de Filho, consagrada
tris e caelis et e nube delapsa, tum formula baptismi por tantas passagens da Escritura, pela mesma voz
a Christo praescripta, tum et praeclara illa confes- do Pai descida do céu e da nuvem, da fórmula do
sione, qua beatus ab ipsomet Christo Petrus est batismo prescrita por Cristo e daquela belíssima
pronuntiatus; ac non potius retinendum esset, quod, confissão em base à qual, pelo mesmo Cristo, Pe-
edoctus ab Augustino, angelicus praeceptor1 vicis- dro foi declarado bem-aventurado; e não seria pre-
sim ipse docuit “in nomine Verbi eandem proprieta- ferível conservar o que o próprio Mestre Angélico1,
tem importari, quae in nomine Filii”, dicente nimi- instruído por Agostinho, por sua vez ensina, que
rum Augustino2: “Eo dicitur Verbum, quo Filius”. “com o nome do Verbo se introduz a mesma pro-
priedade que com o nome de Filho”, enquanto
Agostinho2, de fato, diz: “Com a mesma razão é
chamado Verbo quanto Filho”.
Neque silentio praetereunda insignis et fraudis Tampouco deve passar em silêncio a temeridade 2699
plena Synodi temeritas, quae pridem improbatam singular e cheia de perfídia do Sínodo, que teve a
ab Apostolica Sede Conventus Gallicani declaratio- audácia não só de elogiar com grandíssimos louvo-
nem [*2281-2285] anni 1682 ausa sit non amplissi- res a declaração da assembléia galicana [*2281-2285]
mis modo laudibus exornare, sed, quo maiorem illi do ano de 1682, há tempos reprovada pela Sé Apos-
auctoritatem conciliaret, eam in decretum de fide tólica, mas também, para assegurar-lhe maior auto-
inscriptum insidiose includere, articulos in illa con- ridade, de incluí-la insidiosamente no decreto intitu-
tentos palam adoptare, et quae sparsim per hoc ip- lado Sobre a fé, de abertamente adotar os artigos
sum decretum tradita sunt, horum articulorum pu- nela contidos e de selar com uma profissão pública
blica et solemni professione obsignare. Quo sane e solene desses artigos aquilo que ao longo deste
non solum gravior longe se Nobis offert de Syno- decreto de modo esparso foi transmitido. Por isso
do, quam praedecessoribus Nostris fuerit de comi- certamente não só se oferece a Nós um motivo muito
tiis illis expostulandi ratio, sed et ipsimet Gallica- mais grave para rechaçar o Sínodo do que tiveram
nae ecclesiae non levis iniuria irrogatur, quam dig- os Nossos predecessores quanto àquelas assembléias,
nam Synodus existimaverit, cuius auctoritas in mas foi também infligida uma não pequena ofensa à
patrocinium vocaretur errorum, quibus illud est mesma Igreja galicana, cuja autoridade o Sínodo
contaminatum decretum. houve por bem chamar em defesa dos erros com os
quais ficou contaminado o decreto.
Quamobrem, quae acta Conventus Gallicani, mox Já que Nosso venerável predecessor Inocêncio XI, 2700
ut prodierunt, praedecessor Noster venerabilis In- por um escrito em forma de breve [Paternae carita-
nocentius XI per Litteras in forma Brevis [“Pater- ti], do dia 18 de abril de 1682, depois mais expres-
nae caritati”] die 11. Aprilis anni 1682, post autem samente Alexandre VIII, na Constituição Inter mul-
expressius Alexander VIII Constitutione “Inter tiplices do dia 4 de agosto de 1690 [*2281-2285],
multiplices” die 4. Aug. 1690 [*2281-2285] pro em virtude de sua função apostólica, reprovaram,
apostolici sui muneris ratione improbarunt, resci- suspenderam, declararam nulas e inválidas essas atas
595
derunt, nulla et irrita declararunt; multo fortius exi- da assembléia galicana, logo que saíram, muito mais
git a Nobis pastoralis sollicitudo, recentem horum fortemente a solicitude pastoral exige de Nós que
factam in Synodo tot vitiis affectam adoptionem reprovemos e condenemos sua recente adoção pelo
velut temerariam, scandalosam ac praesertim post Sínodo, agravada de tantos vícios, como temerária,
edita praedecessorum Nostrorum decreta huic Apos- escandalosa e, sobretudo, depois dos decretos pro-
tolicae Sedi summopere iniuriosam reprobare ac mulgados pelos Nossos predecessores, como suma-
damnare, prout eam praesenti hac Nostra Constitu- mente injuriosa a esta Sé Apostólica; e assim, Nós,
tione reprobamus et damnamus ac pro reprobata et com a presente Nossa Constituição, a reprovamos e
damnata haberi volumus. condenamos e queremos que seja considerada re-
provada e condenada.
596
Ecclesia toto orbe diffusa sit labii unius et sermo- tão grande não seja exposto às corrupções das novi-
num eorundem [Gn 11,1]. dades e para que a Igreja difundida sobre todo a terra
tenha uma só língua e as mesmas palavras [Gn 11,1].
Sane cum in vernaculo sermone creberrimas ani- Na verdade, como na linguagem vernácula cons- 2711
madvertamus vicissitudines, varietates, commutatio- tatamos muitíssimas irregularidades, variações, tro-
nesque, profecto ex immoderata biblicarum versio- cas, por uma excessiva liberdade das traduções bí-
num licentia immutabilitas illa convelleretur, quae blicas seria certamente transtornada aquela imuta-
divina decet testimonia, et fides ipsa nutaret, cum bilidade que se requer dos testemunhos divinos, e
praesertim ex unius syllabae ratione quandoque de a própria fé vacilaria, sobretudo porque a verdade
dogmatis veritate dignoscatur. do dogma às vezes se decide a partir de uma só
silaba.
In id proinde pravas teterrimasque machinatio- Os hereges, pois, tem sempre tido o hábito de
nes suas conferre in more habuerunt haeretici, ut aplicar as suas perversas e odiosíssimas maquina-
editis vernaculis Bibliis (de quorum tamen mira ções para introduzir sub-repticiamente, por meio das
varietate ac discrepantia ipsi se invicem accusant et Bíblias publicadas em língua vernácula (de cuja
carpunt) suos quisque errores sanctiore divini elo- admirável diversidade e discordância eles se acu-
quii apparatu obvolutos per insidias obtruderent. sam e se ofendem reciprocamente), os seus erros
“Non enim natae sunt haereses”, inquiebat S. Au- envoltos no sacratíssimo ornamento da palavra di-
gustinus, “nisi dum Scripturae bonae intelliguntur vina. “As heresias de fato nasceram”, dizia S. Agos-
non bene, et quod in eis non bene intelligitur, etiam tinho, “somente porque as Escrituras, que são boas,
temere et audacter asseritur”1. não são entendidas bem, e o que nelas não é enten-
dido bem é afirmado de modo temerário e audaz”1.
Quod si viros pietate et sapientia spectatissimos Se, pois, nos dói o fato de homens estimadíssi-
in Scripturarum interpretatione haud raro defecis- mos por causa de sua piedade e sabedoria não rara-
se dolemus, quid non timendum, si imperito vul- mente terem faltado na interpretação das Escritu-
go, qui ut plurimum non delectu aliquo, sed teme- ras, que coisa não se deveria temer se ao povo inex-
ritate quadam iudicat, translatae in vulgarem quam- perto, que geralmente julga não com base em dis-
cumque linguam Scripturae libere pervolvendae cernimento, mas com certa temeridade, fossem en-
traderentur? … tregues para ser lidas livremente as Escrituras
traduzidas em qualquer língua vernácula? …
[Provocatur dein ad celebrem Innocentii III epis- [Recorre-se portanto à célebre carta de Inocên- 2712
tolam ad fideles Ecclesiae Metensis: “Arcana vero cio III aos fiéis da igreja de Metz: “Os abscônditos
fidei sacramenta … sapere ad sobrietatem”: *771] mistérios da fé … saber com sobriedade”: *771]. E
At notissimae sunt non mox laudati Innocentii III conhecidíssimas são não só as Constituições do
solum, sed et Pii IV, Clementis VIII et Benedicti acima louvado Inocêncio III, mas também as de Pio
XIV Constitutiones1 … . Sed quae sit Ecclesiae mens IV, Clemente VIII e Bento XIV1 … Qual seja pois
de Scripturae lectione atque interpretatione, noscat o pensamento da Igreja acerca da leitura e da inter-
luculentissime fraternitas tua ex praeclara alterius pretação da Escritura, a Tua Fraternidade o reco-
praedecessoris Nostri Clementis XI Constitutione nheça clarissimamente pela preclara constituição
“Unigenitus”, qua illae doctrinae diserte improban- Unigenitus de outro nosso predecessor, Clemente
tur, quibus utile ac necessarium asserebatur omni XI, com a qual são expressamente reprovadas as
tempori, omni loco et omni personarum generi cog- doutrinas nas quais se afirmava útil e necessário em
noscere mysteria sacrae Scripturae, cuius lectio esse todo o tempo, em todo lugar e para qualquer gênero
pro omnibus adstruebatur, damnosumque esse chris- de pessoas, conhecer os mistérios da Sagrada Escri-
tianum populum ab eadem retrahere, immo Christi tura, pois afirmava-se que sua leitura é para todos e
*2711 1 Agostinho, In evangelium Iohannis, tract. 18, 1 (R. Willems: CpChL 36 [1954] 180 25-29 / PL 35, 1536).
*2712 1 Pio IV, “Dominici gregis custodiae”, 24 mar. 1564 (cf. *1851-1861). Clemente VIII, “Sacrosanctum catholicae fidei”,
17 out. 1595 (BullLux 3, 56b-57b): confirmam-se as regras do Índex de Pio IV. – Bento XIV, Constituição “Sollicita
ac provida”, 9 jul. 1753 (ed. in: Index librorum prohibitorum” [Rom 19113] 19-34 / BullLux 19, 59a-63b / Bento XIV,
Bullarium, ed. de Malinas 10, 237-254).
597
os fidelibus obturari, cum ex ipsorum manibus que é danoso afastar dela o povo cristão, mais, fe-
Novum Testamentum abripiatur [cf. *2479-2485]. char para os fiéis a boca de Cristo, quando se lhes
tira das mãos o Novo Testamento [*2479-2485].
598
ti, et totius substantiae vini in substantiam Sangui- Cristo e de toda a substância do vinho na substância
nis eius necesse esse, praeter Christi verba, eam do seu sangue, é necessário recitar além das pala-
etiam ecclesiasticam precum formulam recitare, vras de Cristo, também aquela fórmula eclesiástica
quam saepe iam memoravimus … de oração que várias vezes já temos recordado …
Usura
Expos.: [Dissentiunt confessarii] de lucro percep- Exposição: [Os confessores têm opiniões diferen- 2722
to ex pecunia negotiatoribus mutuo data, ut ea di- tes] a respeito do lucro tirado do dinheiro dado em
tescant. De sensu Epistolae encyclicae “Vix perve- empréstimo a homens de negócios para enriquecer-
nit” [cf. *2546-2550] acriter disputatur. Ex utraque se. Sobre o sentido da Carta Encíclica “Vix perve-
parte momenta afferuntur ad tuendam eam, quam nit” [cf. *2546-2550] discute-se asperamente. De
quisque amplexus est, sententiam, tali lucro faven- ambas as partes se aduzem motivos para sustentar a
tem aut contrariam. Inde querelae, dissensiones, de- opinião abraçada por cada um, favorável ou contrá-
negatio sacramentorum plerisque negotiatoribus isti ria a tal lucro. Daí litígios, dissensões, negação dos
ditescendi modo inhaerentibus, et innumera damna sacramentos a muitos homens de negócios que vi-
animarum. vem entregues a um tal modo de enriquecimento, e
inumeráveis danos para as almas.
Ut animarum damnis occurrant, nonnulli confes- Para remediar aos danos das almas, alguns con- 2723
sarii mediam inter utramque sententiam viam se fessores pensam em poder seguir uma opinião in-
posse tenere arbitrantur. Si quis ipsos consulat de termediária entre as duas. Se alguém os consulta a
istiusmodi lucro, illum ab eo deterrere conantur. Si respeito de um lucro de tal gênero, tenta dissuadi-
paenitens perseveret in consilio pecuniam mutuo lo. Se o penitente persevera no propósito de em-
dandi negotiatoribus, et obiciat, sententiam tali prestar o dinheiro a homens de negócios e alega que
mutuo faventem multos habere patronos et insuper a opinião favorável a semelhante empréstimo tem
non fuisse damnatam a Sancta Sede non semel ea muitos defensores e que, além disso, não foi conde-
de re consulta: tunc isti confessarii exigunt, ut pae- nada pela Santa Sé, que foi repetidamente consulta-
nitens promittat se filiali oboedientia obtemperatu- da a este respeito, esses confessores exigem que o
599
rum iudicio Summi Pontificis, si intercedat, quale- penitente prometa submeter-se com filial obediên-
cumque sit; nec, hac promissione obtenta, absolu- cia ao juízo do Sumo Pontífice, caso intervenha,
tionem denegant, quamvis probabiliorem credant qualquer que seja <esse juízo>; e, obtida esta pro-
opinionem contrariam tali mutuo. messa, não negam a absolvição, ainda que creiam
mais provável a opinião contrária a tal empréstimo.
Si paenitens non confiteatur de lucro ex pecunia Se o penitente não se confessa a respeito do lu-
sic mutuo data, et videatur in bona fide: isti confes- cro <tirado> do dinheiro de tal modo emprestado e
sarii, etiamsi aliunde noverint ab eo perceptum esse parece de boa fé, esses confessores, mesmo se por
aut etiam nunc percipi istiusmodi lucrum, eum uma outra fonte sabem que ele tirou um lucro de tal
absolvunt, nulla ea de re interrogatione facta, quan- gênero ou mesmo agora o esteja tirando, o absol-
do timent, ne paenitens admonitus restituere aut a vem sem ter feito nenhuma pergunta a respeito,
tali lucro abstinere recuset. quando temem que o penitente advertido se recuse
a restituir tal lucro ou a abster-se dele.
2724 Qu.: 1. Utrum possit horum posteriorum confes- Pergunta: 1. Pode <o bispo> aprovar o modo de
sariorum agendi rationem probare? agir destes últimos confessores?
2. Utrum alios confessarios rigidiores ipsum 2. Pode <o bispo> exortar os outros confessores,
adeuntes consulendi causa possit hortari, ut istorum mais rigorosos, que se consultam com ele, para que
agendi rationem sequantur, donec Sancta Sedes sigam o modo de fazer daqueles, enquanto a Santa
expressum ea de quaestione iudicium ferat? Sé não pronuncia um juízo formal sobre a questão?
Resp. Summi Pontificis: Ad 1. Non esse inquie- Resposta do Sumo Pontífice: Item 1: Não devem
tandos. – Ad 2. Provisum in primo. ser perturbados. – Item 2: Está compreendida na
primeira.
600
1. Utrum sacrae theologiae professor opiniones, 1. Pode um professor de sagrada teologia seguir 2726
quas in sua theologia morali profitetur B. Alphonsus com segurança e ensinar as opiniões que na sua
a Ligorio, tuto sequi ac profiteri possit? teologia moral professa o bem-aventurado Afonso
de Ligório?
2. An sit inquietandus confessarius, qui omnes 2. Se cabe inquietar um confessor que na prática 2727
B. Alphonsi a Ligorio sequitur opiniones in praxi s. do tribunal da santa penitência <= confissão> segue
paenitentiae tribunalis, hac sola ratione, quod a Sede todas as opiniões do bem-aventurado Afonso de
Apostolica nihil in operibus illius censura dignum Ligório, tão somente porque que pela Santa Sé em
repertum fuerit? suas obras não foi encontrado nada digno de censura?
Confessarius, de quo in dubio, non legit opera B. O confessor em questão lê as obras do bem-aven-
Doctoris nisi ad cognoscendam accurate eius doctri- turado doutor somente para conhecer cuidadosamen-
nam, non perpendens momenta rationesve, quibus te a sua doutrina, sem avaliar os motivos ou as ra-
variae nituntur opiniones; sed existimat se tuto age- zões sobre as quais se fundam as várias opiniões,
re eo ipso quod doctrinam, quae nihil censura dignum mas pensa agir de modo seguro pelo mero fato de
continet, prudenter iudicare queat sanam esse, tu- poder prudentemente julgar que a doutrina que não
tam nec ullatenus sanctitati evangelicae contrariam. contém nada censurável é sã, segura e em nada
contrária à santidade evangélica.
Resp. (confirmata a Summo Pontifice 22. Iul. Resposta: (confirmada pelo Papa em 22 jul. 1831):
1831): Ad 1. Affirmative, quin tamen inde repre- Ad 1. Sim, sem que todavia por isto devam ser con-
hendendi censeantur, qui opiniones ab aliis proba- siderados repreensíveis aqueles que seguem as opi-
tis auctoribus traditas sequuntur. niões transmitidas por outros autores aprovados.
Ad 2. Negative, habita ratione mentis S. Sedis Ad 2. Não, tendo em conta o pensamento da Santa
circa approbationem scriptorum Servorum Dei ad Sé a respeito da aprovação dos escritos dos servos
effectum canonizationis. de Deus para conseguir canonização.
Indiferentismo e racionalismo
Alteram nunc persequimur causam malorum Chegamos agora a uma outra nascente transbor- 2730
uberrimam, quibus afflictari in praesens complora- dante dos males pelos quais lamentamos estar afli-
mus Ecclesiam, indifferentismum scilicet, seu pra- ta, no presente, a Igreja, a saber, o indiferentismo,
vam illam opinionem, … qualibet fidei professione ou seja, aquela opinião perversa … <que reza> que
aeternam posse animae salutem comparari, si mo- em qualquer profissão de fé se pode conseguir a
res ad recti honestique normam exigantur. … Atque eterna salvação da alma, desde que os costumes se
ex hoc putidissimo indifferentismi fonte absurda illa conformem à norma do que é reto e honesto. … E
fluit ac erronea sententia seu potius deliramentum, desta bem fétida nascente do indiferentismo brota a
asserendam esse ac vindicandam cuilibet libertatem absurda e errônea sentença, ou melhor, delírio, de
conscientiae. que se deva admitir e garantir para cada um a liber-
dade de consciência.
Cui quidem pestilentissimo errori viam sternit A este erro sobremaneira pestilento prepara o 2731
plena illa atque immoderata libertas opinionum, caminho a plena e desenfreada liberdade de opi-
quae in sacrae et civilis rei labem late grassatur, dic- nião, que para grande dano de Igreja e o Estado
titantibus per summam impudentiam nonnullis, ali- vai grassando, não faltando quem ouse gabar-se
601
quid ex ea commodi in religionem promanare. At com atrevida impudência de que tal licença gera
“quae peior mors animae, quam libertas erroris?” vantagem para a religião. “Mas qual pode ser pior
inquiebat Augustinus1. … morte da alma que a liberdade de erro?” exclama-
va Agostinho1. …
2732 Eos imprimis affectu paterno complexi, qui ad Principalmente, com paterno afeto abraçando os que
sacras praesertim disciplinas et ad philosophicas se aplicam aos estudos filosóficos e mais ainda às
quaestiones animum appulere, hortatores auctores- disciplinas sagradas, inculcai-lhes diligentemente que
que iisdem sitis, ne solius ingenii sui viribus freti se guardem de confiar só nas forças da própria inte-
imprudenter a veritatis semita in viam abeant im- ligência, para não se desviarem das sendas da verda-
piorum. Meminerint Deum esse sapientiae ducem de para o caminho dos ímpios. Recordem-se de que
emendatoremque sapientium [cf. Sap 7,15], ac fieri Deus é o verdadeiro guia da sabedoria e o emendador
non posse, ut sine Deo Deum discamus, qui per dos sábios [cf. Sb 7,15], e que é impossível que sem
Verbum docet homines scire Deum1. Deus conheçamos Deus, o qual por meio do Verbo
ensina aos homens o conhecimento de Deus1.
*2731 1 Agostinho, Carta 105 (anteriormente 166) aos donatistas, cap. 2, n. 10 (CSEL 34/II, 60225s / PL 33, 400).
*2732 1 Ireneu de Lião, Adversus haereses IV 11, n. 3 (ed. W.W. Harvey [Cambridge 1857] 2, 160 / = IV 6, n. 3: PG 7, 987C
f / SouChr 100/II 442-444).
602
[Iudicatum est, auctorem in suis] operibus conte- [Foi julgado que o autor nas suas] obras teceu
xere absurda et a doctrina catholicae Ecclesiae alie- coisas absurdas e estranhas à doutrina da Igreja
na; praesertim vero circa naturam fidei et creden- católica; especialmente a respeito da natureza da fé
dorum regulam, circa sacram Scripturam, traditio- e a norma das coisas a crer, a respeito da Sagrada
nem, revelationem et Ecclesiae magisterium, circa Escritura, da tradição, da revelação e do magistério
motiva credibilitatis, circa argumenta, queis exis- da Igreja, a respeito dos motivos de credibilidade, a
tentia Dei adstrui confirmarique consuevit, circa respeito dos argumentos com os quais a existência
ipsius Dei essentiam, sanctitatem, iustitiam, liber- de Deus foi solidamente provada e confirmada, a
tatem, eiusdemque finem in operibus, quae a theo- respeito da essência, a santidade, a justiça, a liber-
logis vocantur ad extra, necnon circa gratiae neces- dade de Deus e o seu fim nas obras que pelos teó-
sitatem, eiusdemque ac donorum distributionem, logos são chamadas ad extra, como também sobre
retributionem praemiorum, et poenarum inflictio- a necessidade da graça, sua distribuição e a <distri-
nem, circa protoparentum statum, peccatum origi- buição> dos dons, a retribuição dos prêmios e a im-
nale, ac hominis lapsi vires; posição das penas, sobre o estado dos protoparentes,
o pecado original e as forças do homem decaído;
eosdemque libros tamquam continentes doctrinas e foi decretado que devem ser proibidos e conde- 2740
et propositiones respective falsas, temerarias, cap- nados estes livros por conterem doutrinas e propo-
tiosas, in scepticismum et indifferentismum indu- sições respectivamente falsas, temerárias, engano-
centes, erroneas, scandalosas, in catholicas scholas sas, induzindo ao ceticismo e ao indiferentismo,
iniuriosas, fidei divinae eversivas, haeresim sapien- errôneas, escandalosas, injuriosas às escolas católi-
tes ac alias ab Ecclesia damnatas, prohibendos et cas, subversivas da fé divina, com gosto de heresia
damnandos esse censuerunt. e em outras ocasiões condenadas pela Igreja.
Usura
Qu. (9. Sept. 1837): An paenitentes, qui modera- Pergunta (9 set. 1837): Os penitentes que tive- 2743
tum lucrum solo legis titulo ex mutuo dubia vel mala rem recebido um moderado lucro só a título legal
fide perceperunt, absolvi sacramentaliter possint, de um empréstimo em dúbia ou má fé podem ser
nullo imposito restitutionis onere, dummodo de absolvidos sacramentalmente sem que seja imposto
patrato ob dubiam vel malam fidem peccato sincere o ônus da restituição, contanto que se arrependam
doleant et filiali oboedientia parati sint stare man- sinceramente do pecado cometido em dúbia ou má
datis S. Sedis? fé e estejam prontos com filial obediência a se
aterem às prescrições da Santa Sé?
Resp.: Affirmative, dummodo parati sint stare Resposta: Sim, contanto que estejam prontos a
mandatis S. Sedis. se aterem às prescrições da Santa Sé.
603
Abolição da escravatura
2745 … Ad Nostram pastoralem sollicitudinem perti- … Nós sentimos que pertence à Nossa solicitude
nere animadvertimus, ut fideles ab inhumano Ni- pastoral empenhar-nos para afastar radicalmente os
gritarum seu aliorum quorumcumque hominum fiéis do desumano mercado dos negros ou de ou-
mercatu avertere penitus studeamus. tros homens quaisquer.
… Fuerunt subinde ex ipso fidelium numero, qui … Houve até, do número dos próprios fiéis, al-
sordidioris lucri cupidine turpiter obcaecati in dis- guns que, obcecados de modo torpe pela cobiça de
sitis remotisque terris Indos, Nigritas miserosve alios sórdido lucro, em longínquas e remotas terras re-
in servitutem redigere seu instituto ampliatoque duziram à escravidão índios, negros ou outros mise-
commercio eorum qui captivi facti ab aliis fuerant, ráveis; ou, já instituído e desenvolvido o comércio
indignum horum facinus iuvare non dubitarent. dos que foram feito prisioneiros por outros, não he-
sitaram em favorecer o indigno crime destes.
Haud sane praetermiserunt plures gloriosae me- Certamente vários Romanos Pontífices de gloriosa
moriae Romani Pontifices praecessores Nostri re- memória, Nossos predecessores, não deixaram de
prehendere graviter pro suo munere illorum ratio- lastimar gravemente, em virtude de seu ofício, o
nem utpote spirituali ipsorum saluti noxiam et chris- comportamento deles enquanto nocivo para sua
tiano nomini probrosam; ex qua etiam illud consequi própria salvação espiritual e ultrajante para o nome
pervidebant, ut infidelium gentes ad veram nostram cristão; também viam bem que disso adviria por con-
religionem odio habendam magis magisque obfir- seqüência que os povos dos que não têm a fé se-
marentur. [Recoluntur documenta supra indicata.] riam confirmados mais e mais no ódio à nossa ver-
dadeira religião. [São passados para análise os
documentos acima indicados].
2746 Hae quidem praedecessorum Nostrorum sanctio- Essas disposições punitivas e preocupações dos
nes et curae profuerunt, Deo bene iuvante, non pa- Nossos predecessores, com o bom auxílio de Deus,
rum Indis aliisque praedictis a crudelitate invaden- certamente ajudaram não pouco na defesa dos ín-
tium seu mercatorum christianorum cupiditate tu- dios e dos outros dos quais acima, contra a cruelda-
tandis, non ita tamen, ut Sancta haec Sedes de ple- de dos invasores ou a cobiça dos mercantes cris-
no suorum in id studiorum exitu laetari posset, cum tãos, não tanto, todavia, que a Santa Sé pudesse se
immo commercium Nigritarum, etsi nonnulla ex alegrar do pleno sucesso dos seus cuidados, visto
parte imminutum, adhuc tamen a christianis pluri- que, ao contrário, o comércio dos negros, também
bus exerceatur. se por alguma parte diminuiu, todavia até agora é
praticado por certo número de cristãos.
Quare Nos tantum huiusmodi probrum a cunctis Por isso, Nós, querendo afastar esta infâmia tão
christianorum finibus avertere cupientes … aucto- grande de todas as regiões cristãs … em virtude da
ritate Apostolica omnes cuiuscumque condicionis autoridade apostólica, advertimos e esconjuramos
christifideles admonemus et obtestamur in Domino vigorosamente no Senhor todos os cristãos, de qual-
vehementer, ne quis audeat in posterum Indos, quer condição, que ninguém mais ouse no futuro,
Negritas, seu alios huiusmodi homines iniuste vexare aos índios, os negros ou outros homens semelhantes,
aut spoliare suis bonis aut in servitutem redigere maltratá-los injustamente, ou despoja-los dos seus
vel aliis talia in eos patrantibus auxilium aut favorem bens, ou reduzi-los à escravidão, ou auxiliar e favo-
praestare seu exercere inhumanum illud commer- recer outros que fazem tais coisas com eles, ou pra-
cium, quo Nigritae, tamquam si non homines sed ticar aquele comércio desumano, com o qual os ne-
pura putaque animantia forent, in servitutem utcum- gros, como se não fossem homens, mas puros e sim-
que redacti, sine ullo discrimine contra iustitiae et ples animais, reduzidos de qualquer modo à escravi-
humanitatis iura emuntur, venduntur ac durissimis dão, sem nenhuma diferença, contra os direitos da
interdum laboribus exantlandis devoventur … justiça e da humanidade, são comprados, vendidos e
obrigados às vezes a enfrentar duríssimos trabalhos.
604
605
orale et écrite de la sy- par la tradition orale et oral e escrita da sinago- pela tradição oral e es-
nagogue et du christia- écrite de la synagogue ga e do cristianismo. crita da sinagoga e do
nisme. et du christianisme. cristianismo.
2753 3. La preuve de la 3. La preuve tirée des 3. A prova da revela- 3. A prova tirada dos
révélation chrétienne ti- miracles de Jésus-Christ, ção cristã tirada dos mi- milagres de Jesus Cris-
rée des miracles de Jé- sensible et frappante lagres de Jesus Cristo, to, sensível e manifesta
sus-Christ, sensible et pour les témoins oculai- sensível e manifesta para as testemunhas
frappante pour les té- res, n’a point perdu sa para as testemunhas oculares, absolutamente
moins oculaires, n’a force avec son éclat vis- oculares, absolutamente não perdeu a sua força
point perdu sa force à-vis des générations não perdeu sua força e e clareza diante das ge-
avec son éclat vis-à-vis subsequentes. Nous clareza diante das gera- rações seguintes. Nós
des générations subse- trouvons cette preuve en ções seguintes. Nós en- encontramos esta prova,
quentes. Nous trouvons toute certitude dans contramos esta prova na com absoluta certeza, na
cette preuve dans la tra- l’authenticité du Nou- tradição oral e escrita de autenticidade do Novo
dition orale et écrite de veau Testament, dans la todos os cristãos. É por Testamento, na tradição
tous les chrétiens. C’est tradition orale et écrite meio desta dúplice tra- oral e escrita de todos os
par cette double tradi- de tous les chrétiens. dição que devemos de- cristãos. É por meio des-
tion que nous devons la C’est par cette double monstrá-la aos que a re- ta dúplice tradição que
démontrer à ceux qui la tradition que nous de- jeitam, ou que, sem ad- devemos demonstrá-la
rejettent ou qui, sans vons la démontrer à l’in- miti-la ainda, a desejam. ao incrédulo que a rejei-
l’admettre encore, la cédule qui la rejette ou à ta ou aos que, sem ad-
désirent. ceux qui, sans l’admettre miti-la ainda, a desejam.
encore, la désirent.
2754 4. On n’a pas le droit 4. On n’a point le 4. Não se tem o direi- 4. Não se tem o di-
d’attendre d’un incrédu- droit d’attendre d’un to de esperar de um in- reito de esperar de um
le qu’il admette la résur- incrédule qu’il admette crédulo que ele admita incrédulo que ele ad-
rection de notre divin la résurrection de notre a ressurreição de nosso mita a ressurreição de
Sauveur, avant de lui en divin Sauveur, avant de divino Salvador antes de nosso divino Salva-
avoir administré des lui en avoir administré ter-lhe apresentado pro- dor antes de ter-lhe
preuves certaines; et ces des preuves certaines; et vas certas; e estas pro- dado provas certas; e
preuves sont déduites de ces preuves sont dédui- vas são deduzidas da estas provas são dedu-
la même tradition par le tes par le raisonnement. mesma tradição pelo zidas pelo raciocínio.
raisonnement. raciocínio.
2755 5. L’usage de la 5. Sur ces questions 5. O uso da razão pre- 5. Sobre estas diversas
raison précède la foi, et diverses, la raison pré- cede a fé e conduz o questões, a razão prece-
y conduit l’homme par cède la foi et doit nous homem a ela, pela reve- de a fé e deve nos con-
la révélation et la grâce y conduire [cf. *2813]. lação e pela graça [cf. duzir a ela [cf. *2813].
[cf. *2813]. *2813]
2756 6. La raison peut 6. Quelque faible et 6. A razão pode de- 6. Por fraca e obscu-
prouver avec certitude obscure que soit de- monstrar com certeza a ra que se tenha tornado
l’authenticité de la révé- venue la raison par le autenticidade da revela- a razão, por causa do
lation faite aux Juifs par péché originel, il lui res- ção feita aos judeus por pecado original, resta-
Moïse et aux chrétiens te assez de clarté et de Moisés, e aos cristãos lhe bastante clareza e
par Jésus-Christ. force pour nous guider por Jesus Cristo. força para guiar-nos
avec certitude à l’exis- com certeza à existência
tence de Dieu, à la ré- de Deus, à revelação
vélation faite aux Juifs feita aos judeus, por
par Moïse, et aux chré- Moisés, e aos cristãos,
tiens par notre adorable pelo nosso adorável
Homme-Dieu. Homem-Deus.
606
607
Resp. (confirmata a Summo Pontifice): Negative, Resposta (confirmada pelo Papa): Não, confor-
ad formam Decreti [S. Officii] 13. Ian. 1611 [coram me o decreto [do S. Ofício] de 13 de janeiro de 1611
Paulo V]: [sob Paulo V]:
2763 Propositio: Quod nempe sacramentum extremae Proposição: O sacramento da extrema-unção
unctionis oleo episcopali benedictione non conse- pode ser validamente administrado com um óleo não
crato ministrari valide possit: consagrado com a benção episcopal:
Declaratio S. Officii: propositionem esse teme- Declaração do S. Ofício: a proposição é temerá-
rariam et errori proximam. ria e próxima do erro.
2765-2769: Teses subscritas por Louis-Eugéne Bautain por ordem da S. Congregação dos
bispos e dos religiosos 26 abr. 1844
Ed.: E. de Régny, l. c. ad *2751, 337s / B. Gaudeau, l. c. ad *2751, 130 (n. 537-540) (exceto *2769).
A demonstrabilidade da religião cristã e sua indiferença a respeito das formas de governo civil
2765 Nous promettons pour aujourd’hui et pour l’avenir: Nós prometemos para o presente e para o futuro:
1. d e n e j a m a i s e n s e i g n e r que, avec les 1. n ã o e n s i n a r j a m a i s que, só com as luzes
seules lumières de la droite raison, abstraction faite da reta razão, prescindindo da divina revelação, não
de la révélation divine, on ne puisse donner une se possa dar uma verdadeira demonstração da exis-
véritable démonstration de l’existence de Dieu; tência de Deus;
2766 2. qu’avec la raison seule on ne puisse démontrer 2. que só com a razão não se possa demonstrar a
la spiritualité et l’immortalité de l’âme, ou toute autre espiritualidade e a imortalidade da alma, ou toda
vérité purement naturelle, rationnelle ou morale; outra verdade puramente natural, racional ou moral;
2767 3. qu’avec la raison seule on ne puisse avoir la 3. que só com a razão não se possa ter a ciência
science des principes ou de la métaphysique, ainsi dos princípios ou da metafísica, como também das
que des vérités qui en dépendent, comme science verdades que dela dependem, como ciência total-
tout à fait distincte de la théologie surnaturelle qui mente distinta da teologia sobrenatural, que se fun-
se fonde sur la révélation divine; da na revelação divina;
2768 4. que la raison ne puisse acquérir une vraie et 4. que a razão não possa adquirir uma verdadeira
pleine certitude des motifs de crédibilité, c’est-à- e plena certeza dos motivos de credibilidade, isto é,
dire de ces motifs qui rendent la révélation divine daqueles motivos que tornam a revelação divina
évidemment croyable, tels que sont spécialement les evidentemente crível, como o são particularmente
miracles et les prophéties, et particulièrement la os milagres e as profecias e sobretudo a ressurrei-
résurrection de Jésus-Christ; ção de Jesus Cristo;
2769 5. que la religion chrétienne ne puisse s’adapter 5. que a religião cristã não possa adaptar-se a cada
à toute forme légitime de gouvernement politique, forma legítima de governo político, continuando
tout en restant la même religion chrétienne et catho- sempre a mesma religião cristã e católica, comple-
lique, complètement imdifférente à toutes les for- tamente indiferente a todas as formas do regime
mes du régime politique, ne favorisant pas l’une plus político, não favorecendo de fato mais uma que a
que l’autre, et n’en excluant aucune. outra, e não excluindo nenhuma.
608
societates biblicas multiplicatis gravissimi ex tot in- tiplicadas pelas sociedades bíblicas, ou por fraude
terpretum vel imprudentia vel fraude inserantur er- ou por ignorância de tantos intérpretes, de gravíssi-
rores; quos ipsa porro illarum multitudo et varietas mos erros; os quais então são longamente oculta-
diu occultat in perniciem multorum. Ipsarum tamen dos pela própria multidão e variedade daquelas <tra-
societatum parum aut nihil omnino interest, si homi- duções>, para dano de muitos. Mas pouco ou nada
nes Biblia illa vulgaribus sermonibus interpretata importa às ditas sociedades que os homens que vão
lecturi in alios potius quam alios errores dilabantur; ler essa Bíblia traduzida em vernáculo bebam tais
dummodo assuescant paulatim ad liberum de Scrip- ou tais erros, contanto que aos poucos se habituem
turarum sensu iudicium sibimet ipsis vindicandum, a julgar afoitamente o sentido das Escrituras, a des-
atque ad contemnendas traditiones divinas ex Patrum prezar as divinas tradições guardadas diligentemente
doctrina in Ecclesia catholica custoditas, ipsumque pela Igreja segundo a doutrina dos Padres e a repu-
Ecclesiae magisterium repudiandum. … diar o próprio magistério da Igreja. …
Iis in regulis, quae a Patribus a Tridentina Syno- Nas regras redigidas pelos Padres escolhidos pelo 2772
do delectis conscriptae et a Pio IV [*1854] … ap- Concílio de Trento e por Pio IV [*1854] … apro-
probatae Indicique librorum prohibitorum praemis- vadas e antepostas ao Índex dos livros proibidos,
sae sunt, generali sanctione statutum legitur, ut se lê, definido com sanção universal, que não se
Biblia vulgari sermone edita non aliis permitteren- deve permitir a leitura da Bíblia em língua verná-
tur, nisi quibus illorum lectio ad fidei atque pietatis cula a não ser àqueles que se julgue poderem
augmentum profutura iudicaretur. Huic eidem regu- aproveitá-la para aumento da fé e da piedade. A
lae nova subinde propter perseverantes haeretico- esta regra, em seguida restringida com nova caute-
rum fraudes cautione constrictae ea demum aucto- la por causa de contínuas fraudes dos hereges, foi,
ritate Benedicti XIV adiecta declaratio est, ut per- finalmente, por autoridade de Bento XIV, acrescen-
missa porro habeatur lectio vulgarium versionum, tada a declaração de que seja lícita a leitura daque-
quae ab Apostolica Sede approbatae, aut cum an- las traduções vernáculas que tenham sido aprova-
notationibus desumptis ex sanctis Ecclesiae Patri- das pela Sé Apostólica ou publicadas com notas
bus vel ex doctis catholicisque viris editae fuerint. tiradas dos santos Padres da Igreja ou de outros
varões doutos e católicos.
O erro do racionalismo
[Noscitis christiani nominis hostes docere] com- [Sabeis que os inimigos do nome cristão] ensi- 2775
mentitia esse et hominum inventa sacrosancta nos- nam que os sacrossantos mistérios da nossa reli-
trae religionis mysteria, catholicae Ecclesiae doc- gião são imaginações e invenções dos homens, que
trinam humanae societatis bono et commodis ad- a doutrina da Igreja católica é contrária ao bem e às
versari [cf. *2940], ac vel ipsum Christum et Deum vantagens da humanidade [cf. *2940]; e não temem
eiurare non extimescant. Et quo facilius populis renegar até Cristo e Deus. E para iludir mais facil-
illudant atque incautos praesertim et imperitos de- mente os povos e enganar especialmente os incau-
cipiant et in errores secum abripiant, sibi unis pros- tos e inexperientes e arrastá-los consigo para o erro,
peritatis vias notas esse comminiscuntur, sibique inventando que só eles conhecem os caminhos da
philosophorum nomen arrogare non dubitant, pe- prosperidade, não hesitam em arrogar para si o títu-
rinde quasi philosophia, quae tota in naturae verita- lo de filósofos, como se a filosofia, que não consis-
te investiganda versatur, ea respuere debeat, quae te senão no investigar a verdade da natureza, deves-
supremus et clementissimus ipse totius naturae se rejeitar justamente aquilo que Deus, sumo e mi-
auctor Deus singulari beneficio et misericordia ho- sericordioso criador de toda a natureza, por singu-
609
minibus manifestare est dignatus, ut veram ipsi feli- lar benefício e clemência, se dignou manifestar aos
citatem et salutem assequantur. homens, para que conseguissem verdadeira felici-
dade e salvação.
2776 Hinc praepostero sane et fallacissimo argumen- Conseqüentemente, com argumentações mais que
tandi genere numquam desinunt humanae rationis nunca ilógicas e erradas, não deixam um momento
vim et excellentiam appellare, extollere contra sanc- de apelar para a eficácia e a superioridade da razão
tissimam Christi fidem, atque audacissime blaterant, e de elevá-la contra a santíssima fé de Cristo; e vão
eam humanae refragari rationi [cf. *2906]. Quo certe tagarelando, com escandalosa afronta, que tal fé é
nihil dementius, nihil magis impium, nihil contra contrária à razão humana [cf. *2906]. Decerto não
ipsam rationem magis. repugnans fingi vel excogitari se pode imaginar e inventar nada que seja mais
potest. Etsi enim fides sit supra rationem, nulla ta- delirante, mais ímpio e mais contrário à mesmo
men vera dissensio nullumque dissidium inter ipsas razão que tudo isto. Se bem que, de fato, a fé seja
inveniri umquam potest, cum ambae ab uno eodem- superior à razão, todavia nunca se pode encontrar
que immutabilis aeternaeque veritatis fonte, Deo entre elas discrepância ou desacordo algum, pois
optimo maximo, oriantur atque ita sibi mutuam ambas provêm da única e mesma fonte imutável da
opem ferant, ut recta ratio fidei veritatem demons- verdade, Deus ótimo e máximo, e por isso se dão
tret, tueatur, defendat; fides vero rationem ab omni- recíproco auxílio; tanto é verdade que a reta razão
bus erroribus liberet eamque divinarum rerum cog- revela, protege e defende a verdade da fé, enquanto
nitione mirifice illustret, confirmet atque perficiat. a fé livra a razão de todo erro e maravilhosamente
a ilumina com o conhecimento das coisas divinas,
a consolida e a aperfeiçoa.
2777 Neque minore certe fallacia, Venerabiles Fratres, E com certamente não menor falácia, Veneráveis
isti divinae revelationis inimici humanum progres- Irmãos, esses inimigos da revelação divina, exal-
sum summis laudibus efferentes in catholicam re- tando com louvores exagerados o progresso huma-
ligionem temerario plane ac sacrilego ausu illum no, querem, com mui temerária e sacrílega presun-
inducere vellent, perinde ac si ipsa religio non Dei, ção, introduzi-lo na religião católica, como se a
sed hominum opus esset aut philosophicum ali- própria religião não fosse obra de Deus, mas de ho-
quod inventum, quod humanis modis perfici queat mens, e fosse qualquer invento filosófico que se
[cf. *2905]. possa realizar com meios humanos [cf. *2905].
In istos tam misere delirantes percommode qui- Vem perfeitamente a propósito, para aqueles in-
dem cadit, quod Tertullianus sui temporis philoso- felizes delirantes, que Tertuliano reprovava justa-
phis merito exprobrabat: “qui stoicum et platoni- mente aos filósofos de seu tempo “que divulgavam
cum et dialecticum Christianismum protulerunt”1. um cristianismo estóico e platônico e dialético”1.
Et sane cum sanctissima nostra religio non ab hu- E certamente porque a nossa santíssima religião não
mana ratione fuerit inventa, sed a Deo hominibus foi inventada pela razão humana, mas revelada aos
clementissime patefacta, tum quisque vel facile in- homens pela grande clemência de Deus, cada um
telligit, religionem ipsam ex eiusdem Dei loquentis facilmente compreende que a religião recebe toda
auctoritate omnem suam vim acquirere neque ab sua força da autoridade de Deus falante e não po-
humana ratione deduci aut perfici umquam posse. derá jamais ser deduzida ou aperfeiçoada pela ra-
zão humana.
*2777 1 Tertuliano, De praescriptione haereticorum 7, 11 (R.F. Refoulé: CpChL 1 [1954] 19336s / CSEL 70, 10 / PL 2
37s
[1879] 23s).
610
quium” exhibeat [Rm 12,1]. Quis enim ignorat vel de sabedoria ensina o Apóstolo [Rm 12,1]. Quem
ignorare potest, omnem Deo loquenti fidem esse de fato pode ignorar que é preciso ter toda a fé no
habendam, nihilque rationi ipsi magis consentaneum Deus falante e que nada seja mais conforme à razão
esse, quam iis acquiescere firmiterque adhaerere, que assentir e firmemente aderir àquilo que consta
quae a Deo, qui nec falli nec fallere potest, revelata ser revelado por Deus, que não pode ser enganado
esse constiterit? nem enganar?
[M o t i v a c re d i b i l i t a t i s re l i g i o n i s c h r i s - [M o t i v o s d e c re d i b i l i d a d e d a re l i g i ã o 2779
t i a n a e ] Sed quam multa, quam mira, quam splen- c r i s t ã ] Mas estão à disposição muitos admiráveis
dida praesto sunt argumenta, quibus humana ratio e luminosos argumentos pelos quais a razão huma-
luculentissime evinci omnino debet, divinam esse na deve estar perfeitamente convencida que a reli-
Christi religionem et “omne dogmatum nostrorum gião de Cristo é divina e que “cada princípio dos
principium radicem desuper ex caelorum Domino nossos dogmas tomou raiz do alto, do Senhor dos
accepisse”1, ac propterea nihil fide nostra certius, Céus”1, e que portanto não existe nada de mais certo,
nihil securius, nihil sanctius exstare, et quod firmio- de mais seguro, de mais santo que a nossa fé, que
ribus imitatur principiis. se funde sobre mais firmes princípios.
Haec scilicet fides vitae magistra, salutis index, Esta fé, que é mestra de vida e guia de salvação,
vitiorum omnium expultrix ac virtutum foecunda que extirpa todos os vícios e é fecunda mãe e nutriz
parens et altrix, divini sui auctoris et consummatoris de virtude, confirmada pelo nascimento, vida, mor-
Christi Iesu nativitate, vita, morte, resurrectione, sa- te, ressurreição, sabedoria, prodígios e profecias do
pientia, prodigiis, vaticinationibus confirmata, su- seu divino autor e aperfeiçoador Jesus Cristo; que
pernae doctrinae luce undique refulgens ac coeles- refulge em toda parte pela luz da sobrenatural dou-
tium divitiarum ditata thesauris, tot prophetarum trina e é enriquecida com os tesouros das celestes
praedictionibus, tot miraculorum splendore, tot riquezas; <esta fé,> mais que nunca tornada ilustre
martyrum constantia, tot Sanctorum gloria vel ma- e esplendida pelas predições de tantos profetas, pelo
xime clara et insignis, salutares proferens Christi esplendor de tantos milagres, pela firmeza de tan-
leges, ac maiores in dies ex crudelissimis ipsis per- tos mártires, pela glória de tantos Santos; <esta fé,>
secutionibus vires acquirens, universum orbem ter- que revela as salvadoras leis de Cristo e de dia em
ra marique, a solis ortu usque ad occasum, uno dia adquire força até pelas perseguições mais cruéis,
Crucis vexillo pervasit, atque idolorum profligata invadiu o orbe inteiro, por terra e por mar, de onde
fallacia, errorum depulsa caligine triumphatisque nasce o sol até onde se põe, só com o estandarte de
cuiusque generis hostibus, omnes populos, gentes, Cristo; e, debelados os falsos ídolos, dissipadas as
nationes, utcumque immanitate barbaras ac indole, trevas do erro, vencidos todos os inimigos, ilumi-
moribus, legibus, institutis diversas, divinae cogni- nou com a luz do divino conhecimento todos os
tionis lumine illustravit, atque suavissimo ipsius povos, as gentes, as nações – por bárbaros que fos-
Christi iugo subiecit, annuntians omnibus pacem, sem na selvajaria e diversas por índole, costumes,
annuntians bona [cf. Is 52,7]. Quae certe omnia tanto leis e instituições –, e as submeteu ao dulcíssimo
divinae sapientiae ac potentiae fulgore undique jugo de Cristo, anunciando a todos a paz, anuncian-
collucent, ut cuiusque mens et cogitatio vel facile do o bem [cf. Is 52,7]. Em toda parte resplandecem,
intelligat, christianam fidem Dei opus esse. com certeza, tão fúlgidos a divina sabedoria e o di-
vino poder que facilmente entra na mente e no pen-
samento de cada um que a fé cristã é obra de Deus.
[O b l i g a t i o c re d e n d i ] Itaque humana ratio ex [O b r i g a ç ã o d e c re r ] Portanto, a humana 2780
splendidissimis hisce aeque ac firmissimis argumen- razão, percebendo com clareza e evidência, por to-
tis clare aperteque cognoscens, Deum eiusdem fidei dos estes esplendorosos e firmíssimos argumentos,
auctorem exsistere, ulterius progredi nequit, sed quavis que Deus é o autor da mesma fé, não pode avançar
difficultate ac dubitatione penitus abiecta atque remota, além; mas, eliminadas e removidas toda dúvida e
omne eidem fidei obsequium praebeat oportet; cum dificuldade, deve obsequiar esta mesma fé, tendo
pro certo habeat, a Deo traditum esse, quidquid fides por certo que tudo quanto a fé propõe aos homens
ipsa hominibus credendum et agendum proponit. para crer e fazer foi transmitido por Deus.
*2779 1 João Crisóstomo, Interpretatio in Isaiam 1, n. 1 (J. Dumortier: SouChr 304 [1983] 4666-68 / PG 56, 14D).
611
A infalibilidade do Papa
2781 Atque hinc plane apparet, in quanto errore illi É claro, portanto, em quão grande erro se deba-
etiam versentur, qui ratione abutentes ac Dei elo- tem também aqueles que, abusando da razão e jul-
quia tamquam humanum opus existimantes, pro- gando coisa humana as palavras de Deus, têm a au-
prio arbitrio illa explicare, interpretari temere au- dácia de explica-los e interpreta-los a seu arbítrio, se
dent, cum Deus ipse vivam constituerit auctorita- bem que Deus mesmo tenha constituído uma auto-
tem, quae verum legitimumque caelestis suae reve- ridade viva que ensinasse e precisasse o sentido ver-
lationis sensum doceret, constabiliret omnesque dadeiro e legítimo da sua celeste revelação, e deci-
controversias in rebus fidei et morum infallibili disse de todas as questões quanto à fé e os costumes
iudicio dirimeret, ne fideles circumferantur omni com juízo infalível, para que os fiéis não sejam le-
vento doctrinae in nequitia hominum ad circum- vados por todo vento de doutrina, pela malícia com
ventionem erroris [cf. Eph 4,14]. que os homens os induzem ao erro [cf. Ef 4,14].
Quae quidem viva et infallibilis auctoritas in ea Esta viva e infalível autoridade vigora somente
tantum viget Ecclesia, quae a Christo Domino su- naquela Igreja que, edificada pelo Cristo Senhor
pra Petrum, totius Ecclesiae caput, principem et sobre Pedro, de toda a Igreja o chefe, príncipe e
pastorem, cuius fidem numquam defecturam pro- pastor, cuja fé ele prometeu nunca seria abalada,
misit, aedificata suos legitimos semper habet Pon- teve sempre, sem interrupção, os seus legítimos Pon-
tifices sine intermissione ab ipso Petro ducentes tífices, que trazem sua origem do mesmo Pedro, es-
originem, in eius cathedra collocatos et eiusdem tabelecidos na cátedra dele e herdeiros e defensores
etiam doctrinae, dignitatis, honoris ac potestatis da sua doutrina, dignidade, honra e poder.
heredes et vindices.
Et quoniam ubi Petrus, ibi Ecclesia1, ac Petrus E já que, onde está Pedro, aí está a Igreja1, e Pedro
per Romanum Pontificem loquitur et semper in suis fala pela boca do bispo de Roma e, nos seus suces-
successoribus vivit et iudicium exercet ac praestat sores, sempre vive e julga e garante aos que a bus-
quaerentibus fidei veritatem, idcirco divina eloquia cam a verdade da fé, é claro, portanto, que as pala-
eo plane sensu sunt accipienda, quem tenuit ac te- vras divinas devem ser recebidas com o mesmo
net haec Romana beatissimi Petri cathedra, quae, sentimento que anima esta cátedra romana do bea-
omnium Ecclesiarum mater et magistra [*1616], tíssimo Pedro, a qual, mãe e mestra de todas as
fidem a Christo Domino traditam, integram invio- Igrejas [*1616], manteve sempre íntegra e inviola-
latamque semper servavit eamque fideles edocuit, da a fé transmitida pelo Cristo Senhor e a tem en-
omnibus ostendens salutis semitam et incorruptae sinado aos fiéis, mostrando a todos o caminho da
veritatis doctrinam. salvação e a doutrina da incorrupta verdade.
*2781 1 Ambrósio de Milão, In Psalmos 40, n. 30 (CSEL 64, 25019 / PL 14 [1866] 1134B).
*2783 1 Clemente XII, constituição “In eminenti”, 28. April 1738 (Cf. *2511-2513); Bento XIV, constituição “Providas Romano-
rum”, 18 mai. 1751; Pio VII, “Ecclesiam a Iesu”, 13 set. 1821; Leão XII, constituição “Quo graviora”, 13 mar. 1825.
612
*2784 1 Gregório XVI, Encíclica “Inter praecipuas”, 8. Mai 1844 (cf. *2771).
*2786 1 Primeira menção ao comunismo em documento pontifício.
613
Ad 3. Propositio ut iacet, est falsa, nimis laxa et Ad 3. A proposição assim como se encontra, é
in praxi periculosa. falsa, por demais laxa e perigosa na praxe.
614
ret tam venerabilis mater, cui Deus Pater unicum çasse o mais completo triunfo sobre a antiga ser-
Filium suum quem de corde suo aequalem sibi ge- pente; pois a ela, Deus Pai decidiu dar seu Filho
nitum tamquam seipsum diligit, ita dare disposuit, Unigênito, ao qual, do seu coração gerado e igual a
ut naturaliter esset unus idemque communis Dei ele mesmo, ama como a si mesmo – de modo tal
Patris et Virginis Filius, et quam ipse Filius subs- que ele fosse, por natureza, único e idêntico Filho
tantialiter facere sibi matrem elegit, et de qua Spi- comum de Deus Pai e da Virgem; a ela, o mesmo
ritus Sanctus voluit et operatus est, ut conciperetur Filho a tinha escolhido para torná-la sua mãe de
et nasceretur ille, de quo ipse procedit. modo substancial, e o Espírito Santo quis e fez com
que por ela fosse concebido e nascesse aquele do
qual ele mesmo procede.
*2802 1 Vicente de Lérins, Commonitorium primum 23 (R. Demeulenaere: CpChL 64 [1985] 17811s / PL 50, 668A).
615
corde sentiunt, verbo aut scripto vel alio quovis das pela lei, se se atreverem a manifestar oralmen-
externo modo significare ausi fuerint. te, por escrito ou de qualquer outro modo externo,
o que pensam no coração.
Privilégio paulino
2817 … Vetitum omnino est christianam nubere paga- … É de todo proibido que uma cristã espose um
no; quod si, praevia dispensatione disparitatis cul- pagão; se, porém, com prévia dispensa da Santa Sé
tus a S. Sede obtenta, quandoque eiusmodi matri- por disparidade de culto, às vezes acontece que um
616
monium fieri contingat, notum est illud indissolu- semelhante matrimônio se realiza, é claro que este,
bile futurum quoad vinculum, et solum aliquando no que diz respeito ao vínculo, será indissolúvel e
quoad torum posse dissolvi. … Numquam proinde, só às vezes pode ser dissolvido quanto ao leito. …
vivente viro illo infidele, licet concubinario, poterit A mulher cristã portanto, enquanto está em vida esse
christiana mulier secundas inire nuptias. homem não-crente, mesmo se concubino, não po-
derá jamais contrair novas núpcias.
Si vero agatur de uxore pagana alicuius pagani Se, ao invés, se trata da mulher pagã de um pa- 2818
concubinarii, quae convertitur, tunc facta interpella- gão, concubino, que se converte, então, depois de
tione (ut supra), si renuat converti aut cohabitare ter feito o pedido (como acima), e se ele se recusar
absque iniuria Creatoris, ac proinde desinere a con- a converter-se ou a conviver sem ofensa do Criador
cubinatu (qui sine iniuria Creatoris certe haberi ne- e a desistir por isso do concubinato (que certamente
quit), poterit uti privilegio in favorem fidei concesso. não pode existir sem injúria do Criador), poder-se-
á fazer uso do privilégio concedido em favor da fé.
Generatim, si coniugis conversio praecesserit Em geral, se a conversão do cônjuge precedeu o 2819
matrimonium cum infideli, praevia dispensatione matrimônio com a parte não-crente, celebrado com
Apostolica initum, nullo modo illo frui potest privi- prévia dispensa apostólica, de modo algum pode-se
legio in favorem fidei concesso; si vero matrimo- fruir do dito privilégio concedido em favor da fé;
nium praecesserit conversionem, tunc pars conver- se, ao contrário, o matrimônio precedeu a conver-
sa poterit uti eo privilegio, servatis servandis, prout são, então a parte que se converteu poderá usar
dictum est. daquele privilégio, como dito.
Animadvertendum est etiam, quoad impedimen- É preciso também considerar, quanto aos impe- 2820
ta dirimentia, ignorantiam invincibilem aut bonam dimentos dirimentes, que a ignorância invencível ou
fidem haud sufficere, ut valide contrahatur matri- a boa fé não são suficientes para contrair um matri-
monium. Etsi quandoque (quod tamen raro creden- mônio válido. Também se alguma vez aquela igno-
dum est in praxi) illa ignorantia et bona fides excu- rância e boa fé valem para escusar do pecado (o
sare valeat a peccato, tamen numquam efficere po- que, porém, raramente se deve crer na prática), ja-
test matrimonium validum, quod obice dirimente mais poderão tornar válido um matrimônio que foi
fuerit initum. contraído com impedimento dirimente.
Abuso do magnetismo
… Nonnullae iam hac de re a Sancta Sede datae … Sobre este argumento já foram dadas, pela 2823
sunt responsiones ad peculiares casus, quibus repro- Santa Sé, para casos particulares, algumas respos-
bantur tamquam illicita illa experimenta, quae ad fi- tas, com as quais é reprovada a liceidade das expe-
nem non naturalem, non honestum, non debitis me- riências dirigidas a um fim não natural, desonesto, a
diis assequendum ordinantur; unde in similibus casi- se conseguir com meios indevidos; daí, em casos
bus decretum est feria IV, 21. Aprilis 1841: “Usum semelhantes, foi decretado, na quarta-feira 21 de abril
magnetismi, prout exponitur, non licere”. Similiter de 1841: “O uso do magnetismo como foi exposto
quosdam libros eiusmodi errores pervicaciter disse- não é lícito”. De modo semelhante, a S. Congrega-
minantes prohibendos censuit S. Congregatio. ção estabeleceu que sejam proibidos alguns livros
que divulgam com teimosia semelhantes erros.
Verum quia praeter particulares casus de usu Todavia, já que além dos casos particulares era 2824
magnetismi generatim agendum erat, hinc per mo- preciso tratar do uso do magnetismo em geral, na
dum regulae sic statutum fuit feria IV, 28. Iulii 1847: quarta-feira 19 de julho de 1847 foi assim estabele-
“Remoto omni errore, sortilegio, explicita aut im- cido a modo de norma: “Remoto todo erro, sortilé-
plicita daemonis invocatione, usus magnetismi, nem- gio, explícita ou implícita evocação do demônio, o
pe merus actus adhibendi media physica aliunde uso do magnetismo, isto é, o simples ato de usar
617
licita, non est moraliter vetitus, dummodo non ten- meios naturais de outra parte lícitos, não está mo-
dat ad finem illicitum, aut quomodolibet pravum. ralmente proibido, contanto que não leve a um fim
Applicatio autem principiorum et mediorum pure ilícito ou de qualquer modo mau. A aplicação, ao
physicorum ad res et effectus vere supernaturales, contrário, de princípios e de meios simplesmente
ut physice explicentur, non est nisi deceptio omni- físicos a coisas e efeitos verdadeiramente sobre-
no illicita et haereticalis“. naturais, para explicá-las de maneira meramente
física, outra coisa não é senão fraude de todo ilí-
cita e herege”.
2825 Quamquam generali hoc decreto satis explicetur Mesmo se com este decreto geral é suficiente-
licitudo aut illicitudo in usu aut abusu magnetismi, mente esclarecido o que é lícito ou ilícito no uso ou
tamen adeo crevit hominum malitia, ut, neglecto no abuso do magnetismo, aumentou todavia a ma-
licito studio scientiae, potius curiosa sectantes mag- lícia dos homens de tal modo que, abandonando o
na cum animarum iactura ipsiusque civilis societa- lícito amor à ciência e preferindo perseguir curiosi-
tis detrimento ariolandi divinandive principium dades, com grande ruína das almas e dano da pró-
quoddam se nactos glorientur. Hinc somnambulismi pria sociedade civil, se gloriam de ter conseguido
et clarae intuitionis, uti vocant, praestigiis mulier- algum princípio de predição ou de previsão. Daí,
culae illae, gesticulationibus non semper verecun- com as imposturas do sonambulismo e do que cha-
dis abreptae, se invisibilia quaeque conspicere effu- mam clarividência, aquelas mulherzinhas arrebata-
tiunt, ac de ipsa religione sermones instituere ani- das em gestos nem sempre pudicos motejam de ver
mas mortuorum evocare, responsa accipere, ignota alguma coisa invisível e de se entregar a discursos
ac longinqua detegere aliaque id genus superstitiosa sobre a própria religião, de evocar as almas dos
exercere ausu temerario praesumunt, magnum mortos de receber respostas, de descobrir coisas des-
quaestum sibi ac dominis suis divinando certo con- conhecidas e longínquas, e que se atrevem a prati-
secuturae. In hisce omnibus quacumque demum car com audácia temerária outras coisas supersti-
utantur arte vel illusione, cum ordinentur media ciosas de tal gênero, para conseguir com certeza
physica ad effectus non naturales, reperitur deceptio grandes lucros para si e para os seus patrões me-
omnino illicita et haereticalis et scandalum contra diante a adivinhação. Em todas essas coisas, seja
honestatem morum. qual for o artifício ou ilusão utilizada, dado que
meios físicos são aplicados para efeitos não natu-
rais, constata-se fraude de todo ilícita e herege, bem
como escândalo contra a honestidade dos costumes.
618
In compertis pariter habemus, neque meliora ne- Igualmente temos por certo que não são nem
que accuratiora esse, quae traduntur de sacramento melhores nem mais exatas aquelas coisas que são
Ve r b i i n c a r n a t i deque unitate divinae Verbi per- expostas a respeito dos mistérios do Ve r b o e n -
sonae in duabus naturis divina et humana. c a r n a d o e a respeito da unidade da divina pessoa
do Verbo em duas naturezas, a divina e a humana.
Noscimus, iisdem libris laedi catholicam senten- Percebemos que com estes livros é ferida a sen-
tiam ac doctrinam de h o m i n e , qui corpore et ani- tença e a doutrina católica a respeito do s e r h u -
ma ita absolvatur, ut anima eaque rationalis sit vera m a n o , que é composto em totalidade de alma e
per se atque immediata corporis forma. corpo, de tal modo que a alma, e esta racional, é
por si a verdadeira e imediata forma do corpo.
Neque ignoramus, ea iisdem libris doceri et sta- Nem ignoramos que com estes livros são ensina-
tui, quae catholicae doctrinae de suprema D e i l i - das e propostas coisas que são completamente con-
b e r t a t e a quavis necessitate soluta in rebus pro- trárias à doutrina católica a respeito da suprema l i -
creandis plane adversantur. b e r d a d e d e D e u s , a qual é isenta de qualquer
necessidade na criação das coisas.
Atque illud etiam vel maxime improbandum ac E também isto deve ser particularmente reprova- 2829
damnandum, quod Guentherianis libris h u m a n a e do e condenado, que nos livros de Günther o direito
r a t i o n i et p h i l o s o p h i a e , quae in religionis re- de magistério se atribui temerariamente à r a z ã o
bus non dominari, sed ancillari omnino debent, h u m a n a e à fi l o s o f i a , as quais, ao contrário, nas
magisterii ius temere attribuatur, ac propterea om- coisas religiosas não devem dominar, mas de todo
nia perturbentur, quae firmissima manere debent tum servir; e que por isso são perturbadas todas aquelas
de distinctione inter scientiam et fidem, tum de coisas que devem permanecer firmíssimas, seja
perenni fidei immutabilitate, quae una semper at- quanto à distinção entre a ciência e a fé, seja quan-
que eadem est, dum philosophia humanaeque dis- to à perene imutabilidade da fé, que é sempre uma
ciplinae neque semper sibi constant neque sunt a e a mesma, enquanto a filosofia e as disciplinas
multiplici errorum varietate immunes. humanas nem sempre se entrosam e tampouco são
imunes à multíplice variedade de erros.
Accedit, nec ea s a n c t o s P a t r e s reverentia ha- Acrescenta-se que nem os s a n t o s P a d r e s são 2830
beri, quam conciliorum canones praescribunt quam- tratados com aquela reverência que os cânones dos
que splendidissima Ecclesiae lumina omnino pro- Concílios prescrevem e que sem dúvida as mais es-
merentur, nec ab iis in catholicas scholas dicteriis plêndidas luzes da Igreja mereceriam; nem se desis-
abstineri, quae recolendae memoriae Pius VI deces- te daqueles sarcasmos contra as escolas <teológi-
sor Noster solemniter damnavit [*2679]. cas> católicas que Pio VI, Nosso predecessor de
venerada memória, solenemente condenou [*2679].
Neque silentio praeteribimus, in Guentherianis Tampouco passaremos em silêncio o fato de que 2831
libris vel maxime violari sanam l o q u e n d i f o r- nos livros de Günther é profundamente violada a
m a m , ac si liceret verborum Apostoli Pauli oblivisci correta f o r m a d e f a l a r, como se fosse lícito es-
[2 Tim 1,13] aut horum, quae gravissime monuit quecer-se das palavras do apóstolo Paulo [2Tm 1,13]
Augustinus: “Nobis ad certam regulam loqui fas est, ou daquelas que energicamente recorda Agostinho:
ne verborum licentia etiam de rebus, quae his “É para nós norma sagrada o falar segundo uma
significantur, impiam gignat opinionem”1. regra determinada, para que, pela arbitrariedade das
palavras, não nasça também uma opinião ímpia a
respeito das coisas que com elas são significadas”1.
2833: Carta apostólica “Dolore haud mediocri” ao bispo de Breslau, 30 abr. 1860
A carta rechaça a obra escrita (mas jamais publicada) pelo Cônego Johann Baltzer Promemoria de dualismo anthro-
pológico, que repete as afirmações de Günther.
Ed.: ASS 8 (1874) 444 / ASyll 179.
*2831 1 Agostinho, De civitate Dei X 23 (B. Dombart – A. Kalb: CpChL 47 [1955] 297 23-25 / CSEL 40/I, 4851-3 / PL 41, 300).
619
620
at valide baptizatur, et contra, qui baptizatur absque sem a fé e o arrependimento é batizado ilícita, po-
voluntate sacramentum suscipiendi nec licite nec rém validamente, enquanto, ao contrário, quem é
valide baptizatur. batizado sem a vontade de receber o sacramento
não é batizado nem lícita nem validamente.
Hisce praemissis facile erit dignoscere, missio- Com estas premissas será fácil reconhecer que o 2838
narium in proposito casu non bene se gessisse, quan- missionário, no caso apresentado, não procedeu bem
do baptismum administrans adulto moribundo, quando, administrando o batismo a um adulto mo-
eodem calculo habuit dispositiones requisitas ad ribundo, julgou do mesmo valor as disposições re-
baptismum licite administrandum et eas quae ad queridas para a administração lícita do batismo e as
illum valide percipiendum necessario requiruntur. que necessariamente se requerem para poder rece-
In dubio enim, utrum adultus morti proximus suffi- bê-lo de modo válido. De fato, na dúvida se um
cienter instructus sit de fidei mysteriis et ea suffi- adulto próximo da morte esteja suficientemente
cienter crediderit, atque in dubio, utrum ipsum an- instruído a respeito dos mistérios da fé e creia neles
teactae vitae sincere paeniteat, cum mortis necessi- de modo suficiente, e na dúvida se o mesmo esteja
tas urgeat, sacramentum absolute administrare ei sinceramente arrependido da vida passada enquan-
debet absque ulla condicione. In dubio vero, utrum to enfrenta a urgência da morte, deve-lhe absoluta-
ipse vere intendat baptismum suscipere, si praevio mente administrar o sacramento sem nenhuma con-
diligenti examine de hac intentione adhuc dubite- dição. Na dúvida, ao invés, se o mesmo de verdade
tur, baptismus conferri debet sub condicione: dum- entenda de receber o batismo, caso depois de dili-
modo sit capax baptismi. … gente exame prévio ainda haja dúvida quanto a essa
intenção, o batismo deve ser administrado sob con-
dição: contanto que seja capaz de ser batizado …
Praeterea nec bene se gessit missionarius, quan- Além disso o missionário nem mesmo procedeu 2839
do baptismum conferens sub condicione, intendit bem quando, administrando o batismo sob condição,
se non baptizare sepositis bonis dispositionibus in entendeu de não batizar na ausência das boas dispo-
suscipiente baptismum: nam in casu missionarius sições naquele que recebia o batismo: neste caso, de
debet tantum intendere se baptizare quatenus susci- fato, basta que o missionário tenha a intenção de ba-
piens sit capax baptismi, id est illum sincere perci- tizar na medida em que aquele que o recebe seja
pere velit. capaz de ser batizado, isto é, o queira sinceramente.
621
2843 3. Universalia a parte rei considerata a Deo realiter 3. Os universais, considerados do ponto de vista
non distinguuntur. da realidade <objetiva>, não se distinguem realmen-
te de Deus.
2844 4. Congenita Dei tamquam entis simpliciter notitia 4. O conhecimento inato de Deus como ente por
omnem aliam cognitionem eminenti modo involvit, excelência inclui de modo eminente todo outro
ita ut per eam omne ens, sub quocumque respectu conhecimento, a ponto que por ele conhecemos
cognoscibile est, implicite cognitum habeamus. implicitamente cada outro ser, sob qualquer aspec-
to que seja conhecível.
2845 5. Omnes aliae ideae non sunt nisi modificationes 5. Todas as outras idéias outra coisa não são se-
ideae, qua Deus tamquam ens simpliciter intelligitur. não modificações da idéia com a qual Deus é per-
cebido como o ente por excelência.
2846 6. Res creatae sunt in Deo tamquam pars in toto, 6. As coisas criadas estão em Deus como a par-
non quidem in toto formali, sed in toto infinito, te no todo, não certamente no todo formal, mas no
simplicissimo, quod suas quasi partes absque ulla todo infinito, simplicíssimo, que põe fora de si as
sui divisione et diminutione extra se ponit. suas “quase partes”, sem nenhuma sua divisão e
diminuição.
2847 7. Creatio sic explicari potest: Deus ipso actu 7. A criação se pode explicar assim: Deus, com o
speciali, quo se intelligit et vult tamquam distinctum mesmo ato particular no qual se entende e se quer
a determinata creatura, homine v. g., creaturam como distinto de uma determinada criatura, como
producit. por exemplo o homem, produz a criatura.
C e n s u r a S. Officii: Negative. J u l g a m e n t o do S. Oficio: Não.
622
philosophiae provinciam pertinere, rationemque, tra no âmbito da razão humana e da filosofia, e que
dato hoc obiecto, suis propriis principiis scienter ad a razão, uma vez posto este objeto, pode, cientifica-
ea posse pervenire. mente, com seus próprios princípios, chegar até
essas <realidades>.
Etsi vero aliquam inter haec et illa dogmata dis- Também se, depois, o autor introduz alguma dis-
tinctionem auctor inducat, et haec ultima minore iure tinção entre uma e outra categoria de dogmas, atri-
rationi attribuat, tamen clare aperteque docet, etiam buindo os últimos à razão com menor direito, toda-
haec contineri inter illa, quae veram propriamque via ensina clara e abertamente que também estes
scientiae seu philosophiae materiam constituunt. são compreendidos entre os que constituem a maté-
ria verdadeira e própria da ciência e da filosofia.
Quocirca ex eiusdem auctoris sententia concludi Por conseguinte, pela opinião do mesmo autor, 2852
omnino possit ac debeat, rationem in abditissimis pode-se e deve-se, absolutamente, concluir que, nos
etiam divinae sapientiae ac bonitatis, immo etiam mais abscônditos mistérios da divina sabedoria e
et liberae eius voluntatis mysteriis, licet posito re- bondade, até mesmo da sua livre vontade, uma vez
velationis obiecto, posse ex se ipsa, non iam ex posto o objeto da revelação, a razão, por si mesma,
divinae auctoritatis principio, sed ex naturalibus suis e não pelo princípio da divina autoridade, mas por
principiis et viribus ad scientiam seu certitudinem seus naturais princípios e forças, pode alcançar a
pervenire. Quae auctoris doctrina quam falsa sit et ciência, ou seja, a certeza. Não há ninguém que não
erronea, nemo est, qui … non illico videat … veja logo … quanto seja falsa e errônea esta doutri-
na do autor …
Namque si isti philosophiae cultores vera ac sola Na verdade, se esses cultores da filosofia obser- 2853
rationis et philosophicae disciplinae tuerentur prin- vassem os verdadeiros e únicos princípios e direi-
cipia et iura, debitis certe laudibus essent prosequen- tos da razão e da disciplina filosófica, deveriam ser
di. Siquidem vera ac sana philosophia nobilissimum tratadas certamente com os devidos louvores. Jus-
suum locum habet, cum eiusdem philosophiae sit, tamente porque a verdadeira e sã filosofia tem um
veritatem diligenter inquirere humanamque ratio- âmbito muito nobre, dado que é tarefa da filosofia
nem, licet primi hominis culpa obtenebratam, nullo procurar diligentemente a verdade, cultivar reta e
tamen modo exstinctam, recte ac sedulo excolere, cuidadosamente e colocar às claras a humana ra-
illustrare, eiusque cognitionis obiectum ac permul- zão, também se obscurecida pela culpa do primeiro
tas veritates percipere, bene intelligere, promovere, homem e todavia de nenhum modo extinta, e per-
earumque plurimas, uti Dei exsistentiam, naturam, ceber o objeto de sua cognição e multidão de ver-
attributa, quae etiam fides credenda proponit, per dades, compreendê-las corretamente e desenvolvê-
argumenta ex suis principiis petita demonstrare, las, e <quanto a> muitas delas, como a essência, a
vindicare, defendere, atque hoc modo viam munire natureza, os atributos de Deus, que também a fé
ad haec dogmata fide rectius tenenda et ad illa etiam propõe para que sejam acreditadas, demonstrá-las,
reconditiora dogmata, quae sola fide percipi primum reivindicá-las e as defender por meio de argumen-
possunt, ut illa aliquo modo a ratione intelligantur. tos tirados dos seus princípios; e deste modo abrir
Haec quidem agere atque in his versari debet seve- o caminho aos dogmas a serem mais corretamente
ra et pulcherrima verae philosophiae scientia. … sustentados pela fé, inclusive àqueles dogmas mais
obscuros, que só pela fé podem ser percebidos, para
que de certo modo sejam entendidos pela razão. É
isso que a severa e belíssima ciência da verdadeira
filosofia deve fazer e de que se deve ocupar …
At vero in hoc gravissimo sane negotio tolerare De outra parte, não podemos tolerar que nesta 2854
numquam possumus, ut omnia temere permiscean- questão, sem dúvida gravíssima, todas as coisas
tur, utque ratio illas etiam res, quae ad fidem perti- sejam arbitrariamente confundidas e que a razão se
nent, occupet atque perturbet, cum certissimi omni- intrometa e traga confusão também nos assuntos que
busque notissimi sint fines, ultra quos ratio num- pertencem à fé, já que para todos são claros e bem
quam suo iure est progressa vel progredi potest. conhecidos os limites além dos quais a razão ja-
Atque ad huiusmodi dogmata ea omnia maxime et mais, por direito próprio, penetrou, nem pode pene-
apertissime spectant, quae supernaturalem hominis trar. E a estes dogmas pertencem, sobretudo e de
623
elevationem ac supernaturale eius cum Deo com- modo claríssimo, todos aqueles que dizem respeito
mercium respiciunt atque ad hunc finem revelata à sobrenatural elevação do homem e à sua sobrena-
noscuntur. Et sane cum haec dogmata sint supra tural relação com Deus, sendo por isso reconheci-
naturam, idcirco naturali ratione ac naturalibus prin- dos como revelados. E certamente, dado que estes
cipiis attingi non possunt. Numquam siquidem ra- dogmas estão acima da natureza, justamente por isso
tio suis naturalibus principiis ad huiusmodi dogmata não podem ser alcançados pela razão natural e pe-
scienter tractanda effici potest idonea. los princípios naturais. Jamais, portanto, a razão
natural com seus naturais princípios pode tornar-se
idônea a tratar com competência tais dogmas.
Quod si haec isti temere asseverare audeant, Por isso, se esses <filósofos> de modo temerário
sciant, se certe non a quorumlibet doctorum opi- ousam afirmar estas coisas, saibam com certeza que
nione, sed a communi et numquam immutata Ec- não se afastam da opinião de doutores quaisquer,
clesiae doctrina recedere. mas da doutrina comum e jamais mudada da Igreja.
2855 Ex divinis enim Litteris et sanctorum Patrum tra- Consta, de fato, pelas Escrituras e pela tradição
ditione constat, Dei quidem exsistentiam multasque dos santos Padres, que a existência de Deus e mui-
alias veritates ab iis etiam, qui fidem nondum sus- tas outras verdades são conhecidas com a luz da
ceperunt, naturali rationis lumine cognosci [cf. Rm razão natural [cf. Rm 1], mesmo por aqueles que
1], sed illa reconditiora dogmata Deum solum ma- ainda não receberam a fé; mas os dogmas mais
nifestasse, dum notum facere voluit “mysterium, escondidos, só Deus os manifestou, porque quis
quod absconditum fuit a saeculis et generationibus” tornar conhecido “o mistério escondido por séculos
[Col 1,26] … e gerações” [Cl 1,26] …
2856 … Sancti Patres in Ecclesiae doctrina tradenda … Os santos Padres, na doutrina que deve ser trans-
continenter distinguere curarunt rerum divinarum mitida à Igreja, procuraram continuamente distinguir
notionem, quae naturalis intelligentiae vi omnibus a noção das coisas divinas que pela capacidade na-
est communis, ab illarum rerum notitia, quae per tural da inteligência é comum a todos, daquela no-
Spiritum Sanctum fide suscipitur, et constanter do- ção que por meio do Espírito Santo é acolhido na fé;
cuerunt, per hanc ea nobis in Christo revelari mys- e, por conseguinte, ensinaram que, por meio desta,
teria, quae non solam humanam philosophiam, ve- são revelados a nós, em Cristo, aqueles mistérios que
rum etiam angelicam naturalem intelligentiam trans- transcendem não só a filosofia humana, mas tam-
cendunt, quaeque etiamsi divina revelatione inno- bém a inteligência natural angélica, e que, mesmo
tuerint et ipsa fide fuerint suscepta, tamen sacro depois de conhecidas por divina revelação e recebi-
adhuc ipsius fidei velo tecta et obscura caligine ob- das pela fé, permanecem escondidas e envolvidas por
voluta permanent, quamdiu in hac mortali vita pe- obscuro nevoeiro por todo o tempo no qual, nesta
regrinamur a Domino. vida mortal, peregrinamos longe do Senhor.
2857 Ex his omnibus patet, alienam omnino esse a De tudo isso resulta evidente que é totalmente
catholicae Ecclesiae doctrina sententiam, qua idem estranha à doutrina da Igreja católica a opinião que
Frohschammer asserere non dubitat, omnia indis- o mesmo Frohschammer não duvida de sustentar,
criminatim christianae religionis dogmata esse de que todos os dogmas da religião cristã são
obiectum naturalis scientiae seu philosophiae, et indiscriminadamente objeto da ciência natural, ou
humanam rationem historice tantum excultam, modo filosofia, e que a razão humana, desde que histori-
haec dogmata ipsi rationi tamquam obiectum pro- camente educada, logo que estes dogmas sejam
posita fuerint, posse ex suis naturalibus viribus et propostos como objeto à razão, pode em virtude das
principio ad veram de omnibus etiam reconditioribus suas forças e princípios naturais chegar à verdadei-
dogmatibus scientiam pervenire [cf. *2909]. ra ciência de todos os dogmas, também os mais
obscuros [cf. *2909].
2858 Nunc vero in memoratis eiusdem auctoris scrip- Ora, nos escritos mencionados do mesmo autor
tis alia dominatur sententia, quae catholicae Eccle- domina outra opinião que se opõe totalmente à dou-
siae doctrinae ac sensui plane adversatur. Etenim trina e ao modo de sentir da Igreja católica. Com
eam philosophiae tribuit libertatem, quae non scien- efeito, ele atribui à filosofia aquela liberdade que
tiae libertas, sed omnino reprobanda et intoleranda deve ser chamada, não liberdade da ciência, mas
philosophiae licentia sit appellanda. Quadam enim arbítrio da filosofia, totalmente reprovável e intole-
624
distinctione inter philosophum et philosophiam rável. Depois de ter introduzido, de fato, uma certa
facta, tribuit philosopho ius et officium se submitten- distinção entre o filósofo e a filosofia, atribui ao
di auctoritati, quam veram ipse probaverit, sed filósofo o direito e o dever de submeter-se à auto-
utrumque philosophiae ita denegat, ut, nulla doctri- ridade que ele mesmo reconheceu como verdadei-
nae revelatae ratione habita, asserat, ipsam num- ra, mas à filosofia ele proíbe uma e outra coisa, a
quam debere ac posse auctoritati se submittere. ponto de sustentar que, sem absolutamente ter em
conta a doutrina revelada, ela <a filosofia> não deve
e não pode jamais submeter-se a uma autoridade.
Quod esset tolerandum et forte admittendum, si Isso se poderia tolerar e talvez até admitir, se 2859
haec dicerentur de iure tantum, quod habet philoso- tais coisas fossem ditas tão somente do direito que
phia, suis principiis seu methodo ac suis conclusio- a filosofia tem de servir-se dos seus princípios ou
nibus uti, sicut et aliae scientiae, ac si eius libertas métodos e das suas conclusões, como as outras
consisteret in hoc suo iure utendo, ita ut nihil in se ciências, e se a sua liberdade consistisse no fazer
admitteret, quod non fuerit ab ipsa suis condicioni- uso deste seu direito, de modo a não admitir na-
bus acquisitum aut fuerit ipsi alienum. da em si mesma que não tenha sido conquistado
por ela mesma com as suas condições, ou que lhe
seja estranho.
Sed haec iusta philosophiae libertas suos limites Mas tal justa liberdade da filosofia deve reco-
noscere et experiri debet. Numquam enim non so- nhecer e experimentar os seus limites. Jamais, por-
lum philosopho, verum etiam philosophiae licebit tanto, poderá ser lícito, não só ao filósofo como
aut aliquid contrarium dicere iis, quae divina reve- também à filosofia, dizer qualquer coisa em con-
latio et Ecclesia docet, aut aliquid ex eisdem in trário ao que a divina revelação e a Igreja ensi-
dubium vocare propterea, quod non intelligit, aut nam, ou colocar em dúvida algo disso pelo fato de
iudicium non suscipere, quod Ecclesiae auctoritas não entender ou não acolher o juízo que a auto-
de aliqua philosophiae conclusione, quae hucusque ridade da Igreja decidiu emitir a respeito de algu-
libera erat, proferre constituit. ma conclusão da filosofia que até aquele momen-
to era livre.
Accedit etiam, ut idem auctor philosophiae liber- Acrescenta-se também que o mesmo autor rei- 2860
tatem seu potius effrenatam licentiam tam acriter vindica a liberdade, ou melhor, a desenfreada licen-
tam temere propugnet, ut minime vereatur asserere, ciosidade da filosofia de modo tão violento e teme-
Ecclesiam non solum non debere in philosophiam rário, que não teme minimamente sustentar que a
umquam animadvertere, verum etiam debere ipsius Igreja não só não deve jamais censurar a filosofia,
philosophiae tolerare errores eique relinquere, ut ipsa mas deve também tolerar os erros da mesma filoso-
se corrigat [cf. *2911], ex quo evenit, ut philosophi fia e deixar que seja ela a corrigir-se sozinha [cf.
hanc philosophiae libertatem necessario participent *2911], pelo que sucede que os filósofos necessa-
atque ita etiam ipsi ab omni lege solvantur. … riamente sejam participantes dessa liberdade da fi-
losofia e assim também eles mesmos fiquem desli-
gados de toda lei. …
Quocirca Ecclesia ex potestate sibi a divino suo Por isso, a Igreja, em virtude do poder a ela con- 2861
auctore commissa non solum ius, sed officium prae- ferido pelo seu divino fundador, não só tem o direito
sertim habet, non tolerandi, sed proscribendi ac mas sobretudo o dever de não tolerar, mas de pros-
damnandi omnes errores, si ita fidei integritas et crever e condenar todos os erros, se assim o requer a
animarum salus postulaverint, et omni philosopho, integridade da fé e a salvação das almas, e a todo
qui Ecclesiae filius esse velit, ac etiam philosophiae filósofo que quiser ser filho da Igreja, e também à
id officium incumbit, nihil umquam dicere contra filosofia, se impõe o dever de não dizer jamais nada
ea, quae Ecclesia docet, et ea retractare, de quibus contra aquilo que ensina a Igreja e de retratar as coi-
eos Ecclesia monuerit. sas a respeito das quais a Igreja os tiver admoestado.
Sententiam autem, quae contrarium edocet, om- Por outra parte, estabelecemos e declaramos que
nino erroneam et ipsi fidei, Ecclesiae eiusque auc- a opinião que ensina o contrário é de todo errônea
toritati vel maxime iniuriosam esse edicimus et e gravemente ofensiva para a mesma fé, para a Igreja
declaramus. e para sua autoridade.
625
2865-2867: Encíclica “Quanto conficiamur moerore” aos bispos da Itália, 10 ago. 1863
Pio IX une o princípio “Extra Ecclesiam nulla salus” (“Fora da Igreja não há salvação”; cf. *802), que naquele
tempo era usado contra o indiferentismo, ao motivo escusante da “ignorantia invencibilis” (“insuperável falta de conhe-
cimento”). Sobre o uso incondicional deste princípio, cf. *870 1351. Além do texto aqui apresentado, veja *2479 e o
discurso “Singulari quadam” de 9 dez. 1854 (Pio IX, Acta 1/I, 626 / ASyll 125 / CollLac 6, 845d): “Por motivo da fé
é mister, decerto, sustentar que fora da Igreja Apostólica Romana ninguém pode ser salvo …; todavia, deve-se igual-
mente ter por certo que aqueles que sucumbem por falta de conhecimento da verdadeira religião, se não pode ser
superada, diante dos olhos do Senhor não estão comprometidos com culpa alguma por isto” (“Tenendum quippe ex fide
est, extra Apostolicam Romanam Ecclesiam salvum fieri neminem posse …; sed tamen pro certo pariter habendum est,
qui verae religionis ignorantia laborent, si ea sit invincibilis, nulla ipsos obstringi huiusce rei culpa ante oculos Domi-
ni”). Muito brevemente se afirma isso também na Encíclica “Singulari quidem”, aos bispos da Áustria (Pio IX, Acta 1/
II, 517 / ASyll 146). Ver uma ulterior explicação deste princípio no *3866.
Ed.: ASyll 229 / Pio IX, Acta 1/III, 613 / Katholik 43/II (1863) 260.
O indiferentismo
2865 Iterum commemorare et reprehendere oportet Convém novamente recordar e repreender o gra-
gravissimum errorem, in quo nonnulli catholici víssimo erro, no qual se encontram lamentavelmente
misere versantur, qui homines in erroribus viventes diversos católicos, que pensam que chegarão à vida
et a vera fide atque a catholica unitate alienos ad eterna as pessoas que vivem nos erros e afastadas
aeternam vitam pervenire posse opinantur [cf. da verdadeira fé e da unidade católica [cf. *2917].
*2917]. Quod quidem catholicae doctrinae vel ma- Essa <opinião> é decididamente contrária à doutri-
xime adversatur. na católica.
2866 Notum Nobis vobisque est, eos, qui invincibili É conhecido por Nós e por vós que aqueles que
circa sanctissimam nostram religionem ignorantia ignoram invencivelmente a nossa santíssima religião
laborant, quique naturalem legem eiusque praecep- e observam diligentemente a lei natural e os seus
ta in omnium cordibus a Deo insculpta sedulo ser- preceitos – impressos por Deus no coração de todos
vantes ac Deo oboedire parati, honestam rectamque – e que, dispostos a obedecer a Deus, conduzem
vitam agunt, posse, divinae lucis et gratiae operan- uma vida honesta e reta, podem com o auxílio da
te virtute, aeternam consequi vitam, cum Deus, qui luz e graça divina conseguir a vida eterna, já que
omnium mentes, animos, cogitationes habitusque Deus, que perfeitamente vê, escuta e conhece as
plane intuetur, scrutatur et noscit, pro summa sua mentes, as almas, os pensamentos e o comportamen-
bonitate et clementia minime patiatur, quempiam to de todos, de modo algum permite, por sua suma
aeternis puniri suppliciis, qui voluntariae culpae bondade e clemência, que seja punido com eternos
reatum non habeat. suplícios quem não é réu de culpa voluntária.
2867 Sed notissimum quoque est catholicum dogma, Mas é também conhecidíssimo o dogma católi-
neminem scilicet extra catholicam Ecclesiam posse co, a saber, que ninguém pode se salvar fora da
salvari, et contumaces adversus eiusdem Ecclesiae Igreja católica e que não podem obter a salvação
auctoritatem, definitiones, et ab ipsius Ecclesiae uni- eterna aqueles que são obstinadamente contumazes
tate atque a Petri successore Romano Pontifice, cui para com a autoridade e as definições da mesma
vineae custodia a Salvatore est commissa, pertinaci- Igreja, bem como aqueles que são separados da
ter divisos aeternam non posse obtinere salutem. … unidade da mesma Igreja e do Romano Pontífice,
sucessor de Pedro, a quem foi confiada pelo Salva-
dor a guarda da vinha. …
626
627
par est, infallibile et increatum divini intellectus máxima veneração, como é devido, à luz infalível e
lumen, quod in christiana revelatione undique miri- incriada do divino intelecto, que na revelação cristã
fice elucet. Quamvis enim naturales illae discipli- por toda parte reluz maravilhosamente. De fato, tam-
nae suis propriis ratione cognitis principiis nitantur, bém se aquelas disciplinas naturais se apoiam so-
catholici tamen earum cultores divinam revelatio- bre princípios próprios, conhecidos mediante a ra-
nem veluti rectricem stellam prae oculis habeant zão, todavia é necessário que seus cultores católi-
oportet, qua praelucente sibi a syrtibus et erroribus cos tenham diante dos olhos, qual estrela guia, a
caveant, ubi in suis investigationibus et commenta- revelação divina, e com esta a iluminá-los se guar-
tionibus animadvertant posse se illis adduci, ut sae- dem dos escolhos e dos erros, quando nas suas
pissime accidit, ad ea proferenda, quae plus minus- pesquisas e dissertações percebem que eles mes-
ve adversentur infallibili rerum veritati, quae a Deo mos arriscam ser conduzidos por essas <ciências>,
revelatae fuere. como muitas vezes acontece, a proferir algo que
mais ou menos se contrapõe à infalível verdade das
coisas que por Deus foram reveladas.
2878 Hinc dubitare nolumus, quin ipsius conventus viri Não queremos aqui duvidar que os homens da-
commemoratam veritatem noscentes ac profitentes, quela assembléia, conhecendo e professando a ver-
uno eodemque tempore plane reicere ac reprobare dade recordada, ao mesmo tempo tenham querido
voluerint recentem illam ac praeposteram philoso- plenamente rechaçar e reprovar aquele método re-
phandi rationem, quae etiamsi divinam revelatio- cente e errado de fazer filosofia, o qual, mesmo ad-
nem veluti historicum factum admittat, tamen mitindo como fato histórico a revelação, submete
ineffabiles veritates ab ipsa divina revelatione pro- todavia ao crivo da razão humana as inefáveis verda-
positas humanae rationis investigationibus suppo- des propostas pela mesma revelação divina, como se
nit, perinde ac si illae veritates rationi subiectae es- estas verdades estivessem submetidas à razão ou
sent vel ratio suis viribus et principiis posset con- como se a razão com suas próprias forças e princí-
sequi intelligentiam et scientiam omnium superna- pios pudesse alcançar a compreensão e ciência de
rum sanctissimae fidei nostrae veritatum et myste- todas as verdades superiores e dos mistérios da nos-
riorum, quae ita supra humanam rationem sunt, ut sa santíssima fé, que superam a razão humana a tal
haec numquam effici possit idonea ad illa suis vi- ponto que esta jamais poderá tornar-se capaz de en-
ribus et ex naturalibus suis principiis intelligenda tendê-los e de demonstrá-los com suas próprias for-
aut demonstranda [cf. *2909]. ças e a partir de seus princípios naturais [cf. *2909].
2879 … Persuadere Nobis volumus, noluisse obliga- … Nós desejamos persuadir-Nos de que eles não
tionem, qua catholici magistri ac scriptores omnino quiseram restringir a obrigação à qual os mestres e
adstringuntur, coarctare in iis tantum, quae ab os escritores católicos estão de todo vinculados
infallibili Ecclesiae iudicio veluti fidei dogmata ab somente àquelas matérias que pelo juízo infalível
omnibus credenda proponuntur [cf. *2922]. Atque da Igreja são propostas para serem cridas por todos
etiam Nobis persuademus, ipsos noluisse declarare, como dogmas de fé [cf. *2922]. E estamos também
perfectam illam erga revelatas veritates adhaesio- persuadidos de que eles não quiseram declarar que
nem, quam agnoverunt necessariam omnino esse ad a perfeita adesão às verdades reveladas, que reco-
verum scientiarum progressum assequendum et ad nheceram absolutamente necessária para conseguir
errores confutandos, obtineri posse, si dumtaxat um verdadeiro progresso das ciências e para com-
dogmatibus ab Ecclesia expresse definitis fides et bater os erros, possa ser obtida se a fé e o obséquio
obsequium adhibeatur. Namque etiamsi ageretur de se voltam somente para os dogmas definidos ex-
illa subiectione, quae fidei divinae actu est praes- pressamente pela Igreja. De fato, mesmo que se
tanda, limitanda tamen non esset ad ea, quae ex- tratasse daquela submissão que se deve prestar com
pressis oecumenicorum Conciliorum aut Romano- ato de fé divina, ela todavia não se deveria limitar
rum Pontificum huiusque Apostolicae Sedis decre- àquelas coisas que foram definidas com decretos
tis definita sunt, sed ad ea quoque extendenda, quae explícitos, que por meio do magistério ordinário de
ordinario totius Ecclesiae per orbem dispersae toda a Igreja difundida sobre a terra são transmiti-
magisterio tamquam divinitus revelata traduntur das como divinamente reveladas e, portanto, por
ideoque universali et constanti consensu a catholi- universal e constante consenso, pelos teólogos ca-
cis theologis ad fidem pertinere retinentur. tólicos são considerados como pertencentes à fé.
628
Sed cum agatur de illa subiectione, qua ex cons- Mas, dado que se trata daquela submissão com a 2880
cientia ii omnes catholici obstringuntur, qui in qual em consciência são vinculados todos os cató-
contemplatrices scientias incumbunt, ut novas suis licos que se dedicam às ciências de tipo especulati-
scriptis Ecclesiae afferant utilitates, idcirco eiusdem vo, para que proporcionem com seus escritos novos
conventus viri recognoscere debent, sapientibus benefícios à Igreja, por este motivo os homens da-
catholicis haud satis esse, ut praefata Ecclesiae quela assembléia devem reconhecer que para os es-
dogmata recipiant ac venerentur, verum etiam opus tudiosos católicos não é suficiente que acolham e
esse, ut se subiciant tum decisionibus, quae ad doc- honrem os referidos dogmas da Igreja, mas é tam-
trinam pertinentes a Pontificiis Congregationibus bém necessário que se submetam quer às decisões
proferuntur, tum iis doctrinae capitibus, quae com- de doutrina emanadas pelas Congregações Pontifí-
muni et constanti Catholicorum consensu retinentur cias, quer aos capítulos de doutrina que, por comum
ut theologicae veritates et conclusiones ita certae, e constante consenso dos católicos, são tidos como
ut opiniones eisdem doctrinae capitibus adversae, verdades teológicas e conclusões de tal modo cer-
quamquam haereticae dici nequeant, tamen aliam tas que as opiniões contrárias a esses pontos de dou-
theologicam mereantur censuram. trina, também se não podem ser chamadas heréti-
cas, merecem todavia alguma censura teológica.
A unicidade da Igreja
[Societas ad procurandam christianitatis unita- [A sociedade fundada em Londres no ano de 1857 2885
tem Londinii anno 1857 erecta] expresse profitetur, para a promoção da reunificação do cristianismo]
tres videlicet christianas communiones r o m a n o - declara abertamente que as três comunhões cristãs,
c a t h o l i c a m , g r a e c o s c h i s m a t i c a m et a n g l i - a romano-católica, a greco-cismática e
c a n a m , quamvis invicem separatas ac divisas, a a n g l i c a n a , se bem que separadas e divididas
a e q u o tamen i u r e c a t h o l i c u m n o m e n sibi entre si, todavia r e iv i n d i c a m p a r a s i , c o m
vindicare. Aditus igitur in illam patet omnibus i g u a l d i r e i t o , o n o m e c a t ó l i c o . A adesão
ubique locorum degentibus tum catholicis, tum pois a esta é aberta a todos, em qualquer lugar que
graeco-schismaticis, tum anglicanis, ea tamen lege, vivam, sejam católicos, greco-cismáticos ou angli-
ut nemini liceat de variis doctrinae capitibus, in canos, com esta condição todavia, que a nenhum é
quibus dissentiunt, quaestionem movere, et singulis permitido provocar discussões a respeito dos diver-
fas sit propriae religiosae confessionis placita tran- sos capítulos de doutrina nos quais discordam e que
quillo animo sectari. cada um tem o direito de seguir com ânimo tran-
qüilo os princípios da própria confissão religiosa.
Sociis vero omnibus preces ipsa recitandas et sa- Ela prescreve a todos os súditos orações para re-
cerdotibus sacrificia celebranda indicit iuxta suam in- citar, e aos sacerdotes sacrifícios para celebrar se-
tentionem: ut nempe tres memoratae christianae com- gundo a sua intenção, a saber, que as três menciona-
muniones, utpote quae, prout supponitur, Ecclesiam das comunhões cristãs – pois se supõe que consti-
catholicam omnes simul iam constituunt, ad unum tuem, já, todas juntas, a Igreja católica –, se reúnam
corpus efformandum tandem aliquando coeant. … finalmente um dia para formar um só corpo. …
Fundamentum, cui ipsa innititur, huiusmodi est, O princípio sobre o qual esta <sociedade> se 2886
quod divinam E c c l e s i a e c o n s t i t u t i o n e m s u s - funda é tal de r ev i r a r d e c i m a a b a i x o a divi-
q u e d e q u e v e r t i t . Tota enim in eo est, ut suppo- na c o n s t i t u i ç ã o d a I g r e j a . Toda ela se baseia
nat veram Iesu Christi Ecclesiam constare partim de fato nisto, que a verdadeira Igreja de Jesus Cris-
ex Romana Ecclesia per universum orbem diffusa to é formada em parte pela Igreja romana difundida
et propagata, partim vero ex schismate photiano et e propagada por toda a terra, em parte também pelo
629
ex anglicana haeresi, quibus aeque ac Ecclesiae cisma de Fócio e pela heresia anglicana, para as
Romanae “unus” sit “Dominus, una fides et unum quais, como para a Igreja Romana, <supostamen-
baptisma” [Eph 4,5]. … te> haja “um só Senhor, uma só fé e um só batis-
mo” [Ef 4,5].
2887 Nihil certe viro catholico potius esse debet, quam … Nada certamente deve agradar mais ao cora-
ut inter Christianos schismata et dissensiones a ra- ção de um homem católico que o fato de ver extir-
dice evellantur, et Christiani omnes sint “solliciti pados pela raiz os cismas e as dissensões entre os
servare unitatem spiritus in vinculo pacis” [Eph 4,3]. cristãos, e que todos os cristãos sejam “solícitos em
… At quod Christifideles et ecclesiastici viri, hae- conservar a unidade do espírito pelo vínculo da paz”
reticorum ductu, et quod peius est, iuxta intentio- [Ef 4,3]. … Não se pode de modo algum tolerar,
nem haeresi quam maxime pollutam et infectam, porém, que os fiéis cristãos e os homens eclesiásti-
pro christiana unitate orent, tolerari nullo modo cos rezem pela unidade cristã sob a guia de hereges
potest. e, coisa pior ainda, segundo uma intenção profun-
damente manchada e infecta de heresia.
2888 Ve r a I e s u C h r i s t i E c c l e s i a q u a d r u p l i c i A verdadeira Igreja de Jesus Cristo é
n o t a , quam in Symbolo credendam asserimus, constituída por autoridade divina e se reconhece pela
auctoritate divina c o n s t i t u i t u r et dignoscitur: et q u á d r u p l a n o t a que no Símbolo afirmamos
quaelibet ex hisce notis ita cum aliis cohaeret, ut ab como objeto de fé, e cada uma destas notas está tão
iis nequeat seiungi; hinc fit, ut quae vere est et di- unida às outras que não pode ser separada delas;
citur catholica, unitatis simul, sanctitatis et aposto- disto se segue que aquela que é e se diz verdadei-
licae successionis praerogativa debeat effulgere. ramente católica, deve simultaneamente resplande-
cer pela prerrogativa da unidade, da santidade e da
sucessão apostólica.
Ecclesia igitur catholica una est unitate conspicua Ora, a Igreja católica é una, de uma unidade vi-
perfectaque orbis terrae et omnium gentium, ea sível e perfeita em toda a terra e entre todas as
profecto unitate, cuius principium, radix et origo gentes, daquela unidade, sem dúvida, cujo princí-
indefectibilis est beati Petri Apostolorum principis, pio, raiz e origem indefectível é a suprema autori-
eiusque in Cathedra Romana successorum supre- dade e “o primado eminente”1 do bem-aventurado
ma auctoritas et “potior principalitas”1. Nec alia Pedro, príncipe dos apóstolos, e dos seus sucesso-
est Ecclesia catholica, nisi quae super unum Pe- res na cátedra romana. E não há nenhuma outra
trum aedificata in unum conexum corpus atque Igreja católica, senão aquela que, edificada sobre o
compactum [cf. Eph 4,16] unitate fidei et caritatis único Pedro, se eleva pela unidade da fé e da cari-
assurgit. … dade como um único corpo coeso e solidamente
articulado [cf. Ef 4,16]. …
Naturalismo e socialismo
2890 Quoniam, ubi a civili societate fuit amota religio Porquanto, onde a religião foi retirada da socie-
ac repudiata divinae revelationis doctrina et aucto- dade civil e repudiada a doutrina e a autoridade da
ritas, vel ipsa germana iustitiae humanique i u r i s divina revelação, a mesma genuína n o ç ã o da jus-
n o t i o tenebris obscuratur et amittitur, atque in verae tiça e d o d i r e i t o humano obscurece ou se perde
iustitiae legitimique iuris locum materialis substi- e no lugar da justiça e do legítimo direito se subs-
tuitur vis, inde liquet, cur nonnulli certissimis sanae titui a força material, explica-se daí por que alguns,
rationis principiis penitus neglectis posthabitisque com total preterição e desprezo dos certíssimos prin-
audeant conclamare, “voluntatem populi, publica, cípios da sã razão, ousem proclamar que “a vonta-
*2888 1 Ireneu de Lião, Adversus haereses III 3, n. 1 (ed. W. W. Harvey [Cambridge 1857] 2, 9 / PG 7, 849A / SouChr 211,
3226 [= n. 2]).
630
quam dicunt, opinione vel alia ratione manifesta- de do povo, manifestada – como dizem – mediante
tam constituere supremam legem ab omni divino a opinião pública ou de outro modo, constitui a lei
humanoque iure solutam, et in ordine politico facta suprema, desligada de todo direito humano e divi-
consummata eo ipso, quod consummata sunt, vim no; e que na ordem política os fatos consumados
iuris habere”. têm força jurídica, justamente porque consumados”.
Verum ecquis non videt planeque sentit, homi- Ora, quem não vê ou entende claramente que a
num societatem religionis ac verae iustitiae vinculis sociedade humana, quando livre dos vínculos da re-
solutam nullum aliud profecto propositum habere ligião e da verdadeira justiça, não pode, certamen-
posse, nisi scopum comparandi cumulandique opes te, propor-se outro escopo senão o de ganhar e de
nullamque aliam in suis actionibus legem sequi, nisi cumular riquezas, e não pode seguir outra lei nas
indomitam animi cupiditatem inserviendi propriis suas ações senão a indômita cobiça da alma de ser-
voluptatibus et commodis? … vir à própria vontade e aos prazeres? …
Neque contenti amovere religionem a publica Não satisfeitos de remover a religião da socieda- 2891
societate volunt religionem ipsam a privatis etiam de pública, querem também arrancar a religião das
arcere familiis. Etenim funestissimum communismi famílias privadas. De fato, ensinando e professando
et socialismi docentes ac profitentes errorem asse- o funestíssimo erro do comunismo e do socialismo,
runt “societatem domesticam seu f a m i l i a m to- afirmam que a sociedade doméstica, ou seja a f a -
tam suae exsistentiae rationem a iure dumtaxat civili m í l i a , tira toda sua razão de existir somente do
mutuari; proindeque ex lege tantum civili dimanare direito civil; e que por isto somente da lei civil
ac pendere iura omnia parentum in filios, cum pri- derivam e dependem os direitos de todos os pais
mis vero ius institutionis educationisque curandae”. sobre os filhos, em particular o direito de procurar-
lhe instrução e educação.
Quibus impiis opinionibus machinationibusque in Com essas ímpias opiniões e maquinações, esses 2892
id praecipue intendunt fallacissimi isti homines, ut homens enganadores visam principalmente a fazer
salutifera catholicae Ecclesiae doctrina ac vis a com que a salutar doutrina e força da Igreja católi-
i u v e n t u t i s i n s t i t u t i o n e et educatione prorsus ca seja plenamente banida da i n s t r u ç ã o e educa-
eliminetur. ção d a j u v e n t u d e .
*2894 1 Clemente XII, “In eminenti”, 28 abr. 1738 (CdICF 1, 656-658, n. 299; cf. *2511-2513); Bento XIV, “Providas Roma-
norum”, 18 mai. 1751 (Bento XIV, Bullarium, ed. de Malinas. 8, 416s); Pio VII, “Ecclesiam a Iesu Christo”, 13 set.
1821 (BullRCt 15, 446b); Leão XII, “Quo graviora”, 13 mar. 1825 (BullRCt 16, 345-355a).
631
orbis regionibus, ubi eiusmodi aggregationes tole- têm nenhuma força naqueles lugares do mundo onde
rantur a civili gubernio. …” essas confrarias são toleradas pelo governo civil. …”
2895 Neque erubescunt palam publiceque profiteri Nem se envergonham de professar aberta e pu-
haereticorum effatum et principium, ex quo tot per- blicamente um dito e princípio do qual derivam
versae oriuntur sententiae atque errores. Dictitant tantas perversas sentenças e erros. De fato dizem
enim “Ecclesiasticam potestatem non esse iure di- que “o poder eclesiástico não é, por direito divino,
vino distinctam et independentem a potestate civili, distinto e independente do poder civil, e que não é
neque eiusmodi distinctionem – et independentiam possível manter essa distinção e independência, sem
servari posse, quin ab Ecclesia invadantur et usur- que a Igreja invada e usurpe os direitos essenciais
pentur essentialia iura potestatis civilis”. do poder civil”.
Atque silentio praeterire non possumus eorum E não podemos calar da audácia dos que … pre-
audaciam, qui … contendunt “illis Apostolicae Se- tendem “poder negar, sem pecado e sem dano da
dis iudiciis et decretis, quorum obiectum ad bonum profissão católica, o assentimento e a obediência
generale Ecclesiae eiusdemque iura ac disciplinam àqueles juízos e decretos da Sé Apostólica dos quais
spectare declaratur, dummodo fidei morumque dog- se declara que seu objeto visa o bem geral da Igre-
mata non attingat, posse assensum et oboedientiam ja, bem como seus direitos e disciplina – contanto
detrectari absque peccato et absque ulla catholicae que <este objeto> não se refira aos dogmas da fé e
professionis iactura.” … da moral.”…
2896 Itaque omnes et singulas pravas opiniones ac doc- Portanto, com a Nossa autoridade apostólica, re-
trinas singillatim hisce litteris commemoratas auc- provamos, proscrevemos e condenamos todas e cada
toritate Nostra Apostolica reprobamus, proscribimus uma das distorcidas opiniões e doutrinas, uma a uma
atque damnamus, easque ab omnibus catholicae Ec- recordadas nesta carta; e queremos e ordenamos que
clesiae filiis veluti reprobatas, proscriptas atque dam- por todos os filhos da Igreja católica sejam tidas como
natas omnino haberi volumus et mandamus. absolutamente reprovadas, proscritas e condenadas.
2901-2980: Sílabo de Pio IX, ou seja, coleção de erros proscritos em diversos documentos de
Pio IX, emanado em 8 dez. 1864
Pio IX fez anexar à Encíclica “Quanta cura” (cf. *2890-2896), com a mesma data (8 dez. 1864), uma coleção de
80 proposições que ele tinha anteriormente condenado em diversos documentos (cf. o elenco que se segue). Para avaliar
o sentido dos conteúdos e o alcance da condenação importa ter presente o contexto e o caráter do respectivo documento.
Certas proposições de natureza jurídica ou eclesiástico-política são em grande parte ligadas às circunstâncias do tempo.
O silabo foi elaborado por uma comissão de cardeais tendo como base uma instrução pastoral do bispo Gerbert de
Perpignan (1860), cujas 85 proposições, resumidas em 61, reaparecem no silabo. Já anteriormente Pio IX tinha pensado,
diante das solicitações do cardeal Joaquim Pecci (mais tarde Leão XIII), em publicar um tal silabo junto às definições
da Imaculada Conceição. Por aquele momento, porém, não pôde ficar pronto.
Ed.: ASS 3 (1867/68; 18782) 168-176 / ASyll, p. IX-XXIV / Pio IX, Acta 1/III, 701-717 / Katholik 45/I (1865) 13-26.
632
Proposições do sílabo
(os números 1’-32’ colocados no fim de cada proposição remetem ao elenco precedente dos pronunciamentos de Pio IX)
633
2906 6. Christi fides humanae refragatur rationi; divi- 6. A fé em Cristo está em contradição com a ra-
naque revelatio non solum nihil prodest, verum zão humana; e a revelação divina não só não ajuda
etiam nocet hominis perfectioni (1’ 26’). para nada, mas é ainda nociva para a perfeição do
homem (1’ 26’).
2907 7. Prophetiae et miracula in sacris Litteris exposita 7. As profecias e os milagres expostos e narrados
et narrata sunt poetarum commenta, et christianae nas sagradas Escrituras são invenções de poetas, e
fidei mysteria philosophicarum investigationum os mistérios da fé cristã são o resumo das pesquisas
summa; et utriusque Testamenti libris mythica con- dos filósofos; e nos livros dos dois Testamentos estão
tinentur inventa; ipseque Iesus Christus est mythica contidas invenções míticas; e o próprio Jesus Cristo
fictio (1’ 26’). é uma ficção mítica (1’ 26’).
634
16. Homines in cuiusvis religionis cultu viam 16. As pessoas podem encontrar no culto de qual- 2916
aeternae salutis reperire aeternamque salutem quer religião o caminho da salvação eterna e conse-
assequi possunt (1’ 3’ 17’). guir a salvação eterna (1’ 3’ 17’).
17. Saltem bene sperandum est de aeterna illorum 17. Pelo menos se deve ter boa esperança quanto 2917
omnium salute, qui in vera Christi Ecclesia nequa- à eterna salvação de todos os que não se encontram
quam versantur (13’ 28’ [cf. *2865° 2865-2867]). de algum modo na verdadeira Igreja de Cristo (13’
28’ [cf. *2865° 2865-2867]).
18. Protestantismus non aliud est quam diversa 18. O protestantismo não é outra coisa que uma 2918
verae eiusdem christianae religionis forma, in qua forma diferente da própria verdadeira religião cris-
aeque ac in Ecclesia catholica Deo placere datum tã, e nesta, como na Igreja católica, é possível agra-
est (5’). dar a Deus (5’).
§ V. Errores de Ecclesia eiusque iuribus § V. Erros a respeito da Igreja e dos seus direitos
19. Ecclesia non est vera perfectaque societas pla- 19. A Igreja não é uma sociedade verdadeira e 2919
ne libera, nec pollet suis propriis et constantibus perfeita, completamente livre, nem dispõe de seus
iuribus sibi a divino suo fundatore collatis, sed próprios e permanentes direitos, a ela conferidos
civilis potestatis est definire, quae sint Ecclesiae por seu fundador divino, mas compete ao poder
iura ac limites, intra quos eadem iura exercere queat civil definir quais são os direitos da Igreja e os li-
(13’ 23’ 26’). mites dentro dos quais ela pode exercer esses di-
reitos (13’ 23’ 26’).
20. Ecclesiastica potestas suam auctoritatem exer- 20. O poder eclesiástico não deve exercer a pró- 2920
cere non debet absque civilis gubernii venia et as- pria autoridade sem a permissão e o consentimento
sensu (25’). do governo civil (25’).
21. Ecclesia non habet potestatem dogmatice 21. A Igreja não tem o poder de definir de modo 2921
definiendi, religionem catholicae Ecclesiae esse dogmático que a religião da Igreja católica é a úni-
unice veram religionem (8’). ca e verdadeira religião (8’).
22. Obligatio, qua catholici magistri et scriptores 22. A obrigação à qual estão absolutamente vin- 2922
omnino adstringuntur, coarctatur in iis tantum, quae culados os mestres e os escritores católicos se limi-
ab infallibili Ecclesiae iudicio veluti fidei dogmata ta àquelas coisas que pelo infalível juízo da Igreja
ab omnibus credenda proponuntur (30’ [cf. *2879]). são propostas como dogmas de fé para serem acre-
ditadas por todos (30’ [cf. *2879]).
23. Romani Pontifices et Concilia oecumenica a 23. Os Romanos Pontífices e os Concílios ecumê- 2923
limitibus suae potestatis recesserunt, iura principum nicos têm ultrapassado os limites de seu poder, usur-
usurparunt atque etiam in rebus fidei et morum de- pado os direitos dos príncipes e errado também no
finiendis errarunt (8’). definir assuntos de fé e moral (8’).
24. Ecclesia vis inferendae potestatem non habet 24. A Igreja não tem o poder de usar a força, nem 2924
neque potestatem ullam temporalem directam vel algum poder temporal direto ou indireto (9’).
indirectam (9’).
25. Praeter potestatem episcopatui inhaerentem, 25. Além do poder que é inerente ao episcopado, 2925
alia est attributa temporalis potestas a civili imperio ainda <lhe> é atribuído outro poder temporal, ex-
vel expresse vel tacite concessa, revocanda propte- pressa ou tacitamente concedido pela autoridade
rea, cum libuerit, a civili imperio (9’). civil e, portanto, podendo ser revogado pela autori-
dade civil quando lhe aprouver (9’).
26. Ecclesia non habet nativum ac legitimum ius 26. A Igreja não tem direito nativo e legítimo de 2926
acquirendi ac possidendi (18’ 29’). adquirir e de possuir (18’ 29’).
635
2927 27. Sacri Ecclesiae ministri Romanusque Ponti- 27. Os ministros sagrados da Igreja e o Romano
fex ab omni rerum temporalium cura ac dominio Pontífice devem ser absolutamente excluídos de toda
sunt omnino excludendi (26’). administração e domínio das coisas temporais (26’).
2928 28. Episcopis, sine gubernii venia, fas non est vel 28. Aos bispos, sem a permissão do governo, não
ipsas Apostolicas Litteras promulgare (18’). é lícito promulgar nem sequer as próprias cartas
apostólicas (18’).
2929 29. Gratiae a Romano Pontifice concessae existi- 29. As graças concedidas pelo Romano Pontífice
mari debent tamquam irritae, nisi per gubernium devem ser consideradas nulas, se não foram solici-
fuerint imploratae (18’). tadas pelo governo (18’).
2930 30. Ecclesiae et personarum ecclesiasticarum 30. A imunidade da Igreja e das pessoas eclesiás-
immunitas a iure civili ortum habuit (8’). ticas teve origem no direito civil (8’).
2931 31. Ecclesiasticum forum pro temporalibus cleri- 31. O foro eclesiástico para as causas temporais
corum causis sive civilibus sive criminalibus omni- dos clérigos, quer civis quer penais, deve ser aboli-
no de medio tollendum est, etiam inconsulta et re- do, mesmo sem consultar a Sé Apostólica e mal-
clamante Apostolica Sede (12’ 18’). grado as suas reclamações (12’ 18’).
2932 32. Absque ulla naturalis iuris et aequitatis viola- 32. Sem nenhuma violação do direito natural e
tione potest abrogari personalis immunitas, qua cle- da eqüidade pode ser revogada a imunidade pessoal
rici ab onere subeundae exercendaeque militiae pela qual os clérigos são exonerados do peso de
eximuntur; hanc vero abrogationem postulat civilis sofrer e exercer o serviço militar; o progresso civil
progressus, maxime in societate ad formam liberioris de fato exige essa revogação, sobretudo numa so-
regiminis constituta (32’). ciedade constituída em forma de regime liberal (32’).
2933 33. Non pertinet unice ad ecclesiasticam iuris- 33. Não pertence de modo exclusivo, por direito
dictionis potestatem proprio ac nativo iure dirigere próprio e nativo, ao eclesiástico poder de jurisdição
theologicarum rerum doctrinam (30’). dirigir o ensino das disciplinas teológicas (30’).
2934 34. Doctrina comparantium Romanum Pontificem 34. A doutrina dos que comparam o Romano
principi libero et agenti in universa Ecclesia doctri- Pontífice com um príncipe livre e que age na Igreja
na est, quae medio aevo praevaluit (9’). universal é uma doutrina que prevaleceu na Idade
Média (9’).
2935 35. Nihil vetat, alicuius Concilii generalis sen- 35. Nada proíbe que, seja por decisão de algum
tentia aut universorum populorum facto summum concílio universal, seja por um ato de todos os po-
Pontificatum ab Romano episcopo atque Urbe ad vos, o sumo pontificado seja transferido, do bispo e
alium episcopum aliamque civitatem transferri (9’). da urbe romana, a um outro bispo e outra cidade (9’).
2936 36. Nationalis concilii definitio nullam aliam 36. A decisão de um concílio nacional não admi-
admittit disputationem, civilisque administratio rem te nenhuma outra discussão, e a administração civil
ad hosce terminos exigere potest (9’). pode a ela ater-se em seus atos (9’).
2937 37. Institui possunt nationales ecclesiae ab auc- 37. Podem-se instituir Igrejas nacionais subtraí-
toritate Romani Pontificis subductae planeque divi- das e completamente separadas da autoridade do
sae (23’ 24’). Romano Pontífice (23’ 24’).
2938 38. Divisioni Ecclesiae in orientalem atque occi- 38. Para a divisão da Igreja em oriental e ociden-
dentalem nimia Romanorum Pontificum arbitria tal contribuíram os excessivos arbítrios dos Roma-
contulerunt (9’). nos Pontífices (9’).
§ VI. Errores de societate civili tum § VI. Erros a respeito da sociedade civil
in se tum in suis ad Ecclesiam considerada em si mesma ou
relationibus spectata em suas relações com a Igreja
2939 39. Reipublicae status, utpote omnium iurium 39. O Estado, como origem e fonte de todos os
origo et fons, iure quodam pollet nullis circums- direitos, goza de um direito tal que não é circuns-
cripto limitibus (26’). crito por nenhum limite (26’).
636
40. Catholicae Ecclesiae doctrina humanae so- 40. A doutrina da Igreja católica é contrária ao 2940
cietatis bono et commodis adversatur (1’ [cf. bem a aos interesses da sociedade humana (1’ [cf.
*2775] 4’). *2775] 4’).
41. Civili potestati vel ab infideli imperante exer- 41. Ao poder civil, mesmo se exercido por um 2941
citae competit potestas indirecta negativa in sacra; soberano não crente, compete um poder negativo
eidem proinde competit nedum ius quod vocant indireto nas coisas sagradas; portanto, compete-lhe
“exsequatur”, sed etiam ius “appellationis”, quam não só o direito conhecido como “execute-se”, mas
nuncupant, “ab abusu” (9’). também o direito conhecido como “de apelação do
abuso” (9’).
42. In conflictu legum utriusque potestatis ius 42. No conflito entre as leis dos dois poderes 2942
civile praevalet (9’). prevalece o direito civil (9’).
43. Laica potestas auctoritatem habet rescinden- 43. O poder leigo tem autoridade para rescindir, 2943
di, declarandi ac faciendi irritas solemnes conven- declarar e tornar nulas as solenes convenções (cha-
tiones (vulgo “Concordata”) super usu iurium ad madas “concordatas”) acerca do uso dos direitos
ecclesiasticam immunitatem pertinentium cum Sede referentes à imunidade eclesiástica celebrados com
Apostolica initas sine huius consensu, immo et ea a Sé Apostólica, até sem o consentimento e malgra-
reclamante (7’ 23’). do o protesto desta (7’ 23’).
44. Civilis auctoritas potest se immiscere rebus, 44. A autoridade civil pode intrometer-se nas 2944
quae ad religionem, mores et regimen spirituale per- coisas que dizem respeito à religião, aos costumes
tinent. Hinc potest de instructionibus iudicare, quas e ao regime espiritual. Portanto, pode julgar no que
Ecclesiae pastores ad conscientiarum normam pro se refere às instruções que os pastores da Igreja com
suo munere edunt, quin etiam potest de divinorum base em seu ofício publicam como regra das cons-
sacramentorum administratione et dispositionibus ad ciências; e, além disso, pode também decretar so-
ea suscipienda necessariis decernere (7’ 26’). bre a administração dos sacramentos e as disposi-
ções necessárias para recebe-los (7’ 25’).
45. Totum scholarum publicarum regimen, in 45. Todo o governo das escolas públicas nas quais 2945
quibus iuventus christianae alicuius reipublicae ins- se educa a juventude de qualquer nação cristã – com
tituitur, episcopalibus dumtaxat seminariis aliqua exceção somente, de algum modo, dos seminários
ratione exceptis, potest ac debet attribui auctoritati episcopais – pode e deve ser atribuído à autoridade
civili, et ita quidem attribui, ut nullum alii cuicum- civil, e atribuído, além disso, de modo a não reco-
que auctoritati recognoscatur ius immiscendi se in nhecer a qualquer outra autoridade nenhum direito
disciplina scholarum, in regimine studiorum, in gra- de intrometer-se na organização das escolas, no
duum collatione, in delectu aut approbatione ma- regulamento dos estudos, no conferimento dos graus,
gistrorum (7’ 10’). na escolha e na aprovação dos mestres (7’ 10’).
46. Immo in ipsis clericorum seminariis methodus 46. Também nos próprios seminários dos cléri- 2946
studiorum adhibenda civili auctoritati subicitur (18’). gos, o método a seguir nos estudos está sujeito à
autoridade civil (18’).
47. Postulat optima civilis societatis ratio, ut po- 47. A primordial condição da sociedade civil pede 2947
pulares scholae, quae patent omnibus cuiusque e que as escolas populares, abertas a todas as crianças
populo classis pueris, ac publica universim institu- de qualquer classe do povo, e, de modo geral, os
ta, quae litteris severioribusque disciplinis tradendis institutos públicos destinados a ensinar as letras e
et educationi iuventutis curandae sunt destinata, as disciplinas mais rigorosas e a prover na educação
eximantur ab omni Ecclesiae auctoritate, moderatri- da juventude, sejam subtraídos a toda autoridade,
ce vi et ingerentia, plenoque civilis ac politicae auc- regulamentação e ingerência da Igreja, e estejam su-
toritatis arbitrio subiciantur ad imperantium placita jeitos ao pleno arbítrio da autoridade civil e políti-
et ad communium aetatis opinionum amussim (31’). ca, segundo o beneplácito dos soberanos e em con-
formidade com as opiniões comuns da época (31’).
48. Catholicis viris probari potest ea iuventutis 48. Pelos católicos pode ser aceito aquele siste- 2948
instituendae ratio, quae sit a catholica fide et ab Ec- ma de educação da juventude que prescinde da fé
clesiae potestate seiuncta, quaeque rerum dumtaxat católica e do poder da Igreja e que se refere somen-
637
naturalium scientiam ac terrenae socialis vitae fines te, de modo exclusivo ou ao menos prioritário, ao
tantummodo vel saltem primario spectet (31’). conhecimento das coisas naturais e ao âmbito da
vida social terrena (31’).
2949 49. Civilis auctoritas potest impedire, quominus 49. A autoridade civil pode impedir que os bis-
sacrorum antistites et fideles populi cum Romano pos e os fiéis do povo tenham livre e recíproca co-
Pontifice libere ac mutuo communicent (26’). municação com o Pontífice Romano.
2950 50. Laica auctoritas habet per se ius praesentandi 50. A autoridade leiga tem de per si o direito de
episcopos et potest ab illis exigere, ut ineant dioe- apresentar os bispos e pode deles exigir que assu-
cesium procurationem, antequam ipsi canonicam a mam a administração da diocese, antes de receber
Sancta Sede institutionem et Apostolicas Litteras da Santa Sé a instituição canônica e as cartas apos-
accipiant (18’). tólicas (18’).
2951 51. Immo laicum gubernium habet ius deponen- 51. Ademais, o governo leigo tem o direito de
di ab exercitio pastoralis ministerii episcopos, ne- depor os bispos do exercício do ministério pastoral
que tenetur oboedire Romano Pontifici in iis, quae e não está obrigado a obedecer ao Pontífice Roma-
episcopatuum et episcoporum respiciunt institutio- no que se refere à instituição de bispados e bispos
nem (8’ 12’). (8’ 12’).
2952 52. Gubernium potest suo iure immutare aetatem 52. O governo pode, por direito próprio, modifi-
ab Ecclesia praescriptam pro religiosa tam mulierum car a idade prescrita pela Igreja para a profissão
quam virorum professione, omnibusque religiosis religiosa dos homens e das mulheres e pode impor
familiis indicere, ut neminem sine suo permissu ad a todas as famílias religiosas que ninguém seja ad-
solemnia vota nuncupanda admittant (18’). mitido à profissão solene dos votos, sem a sua per-
missão <do governo> (18’).
2953 53. Abrogandae sunt leges, quae ad religiosarum 53. Devem ser revogadas as leis que se referem à
familiarum statum tutandum earumque iura et offi- tutela do estatuto das famílias religiosas e de seus
cia pertinent; immo potest civile gubernium iis deveres e direitos; e mais, o governo civil pode
omnibus auxilium praestare, qui a suscepto religio- auxiliar a todos aqueles que queiram deixar o esta-
sae vitae instituto deficere ac solemnia vota frange- do de vida religiosa iniciado e romper os votos so-
re velint; pariterque potest religiosas easdem fami- lenes; e pode igualmente suprimir por completo as
lias perinde ac collegiatas ecclesias et beneficia famílias religiosas, as igrejas colegiadas e os bene-
simplicia etiam iuris patronatus penitus exstinguere, fícios simples, também com direito de patronado, e
illorumque bona et reditus civilis potestatis adminis- submeter e atribuir os seus bens e lucros à adminis-
trationi et arbitrio subicere et vindicare (12’ 14’ 15’). tração e ao arbítrio do poder civil (12’ 14’ 15’).
2954 54. Reges et principes non solum ab Ecclesiae iu- 54. Os reis e os príncipes não apenas estão isentos
risdictione eximuntur, verum etiam in quaestionibus da jurisdição da Igreja, mas são também superiores
iurisdictionis dirimendis superiores sunt Ecclesia (8’). à Igreja no dirimir as questões de jurisdição (8’).
2955 55. Ecclesia a statu statusque ab Ecclesia seiun- 55. A Igreja deve ser separada do Estado e o
gendus est (12’). Estado da Igreja (12’).
§ VII. Errores de ethica naturali et christiana § VII. Erros a respeito da ética natural e cristã
2956 56. Morum leges divina haud egent sanctione, mi- 56. As leis morais não têm necessidade de san-
nimeque opus est, ut humanae leges ad naturae ius ção divina, e de modo algum é necessário que as
conformentur aut obligandi vim a Deo accipiant (26’). leis humanas se conformem ao direito natural ou
recebam de Deus a força obrigatória (26’).
2957 57. Philosophicarum rerum morumque scientia, 57. A ciência filosófica e moral e também as leis
item civiles leges possunt et debent a divina et ec- civis podem e devem afastar-se da autoridade divi-
clesiastica auctoritate declinare (26’). na e eclesiástica (26’).
2958 58. Aliae vires non sunt agnoscendae nisi illae, 58. Não se devem reconhecer outras forças que
quae in materia positae sunt, et omnis morum dis- aquelas que residem na matéria, e toda a disciplina
ciplina honestasque collocari debet in cumulandis moral e dignidade deve ser colocada em acumular
638
et augendis quovis modo divitiis ac in voluptatibus e fazer crescer de todos os modos as riquezas e na
explendis (26’ 28’). satisfação dos prazeres (26’ 28’).
59. Ius in materiali facto consistit, et omnia ho- 59. O direito consiste no fato material, e todos os 2959
minum officia sunt nomen inane, et omnia humana deveres das pessoas são um nome vazio, e todos os
facta iuris vim habent (26’). fatos humanos têm força de lei (26’).
60. Auctoritas nihil aliud est, nisi numeri et ma- 60. A autoridade não é outra coisa senão a soma 2960
terialium virium summa (26’). do número e das forças materiais (26’).
61. Fortunata facti iniustitia nullum iuris sanctitati 61. A casual injustiça de um fato não comporta 2961
detrimentum affert (24’). nenhum detrimento para a santidade do direito (24’).
62. Proclamandum est et observandum princi- 62. Deve-se proclamar e observar o chamado 2962
pium, quod vocant de noninterventu1 (22’). princípio da não-intervenção1 (22’).
63. Legitimis principibus oboedientiam detracta- 63. É lícito recusar a obediência e também insur- 2963
re, immo et rebellare licet (1’ 2’ 5’ 20’). gir-se contra regimes legítimos (1’ 2’ 5’ 20’).
64. Tum cuiusque sanctissimi iuramenti violatio, 64. A violação de qualquer juramento, por santo 2964
tum quaelibet scelesta flagitiosaque actio sempiter- que seja, ou então qualquer ação perversa e crimi-
nae legi repugnans non solum haud est improban- nosa e que repugna à lei eterna, quando feita por
da, verum etiam omnino licita summisque laudibus amor à pátria, não só não deve ser condenada, mas
efferenda, quando id pro patriae amore agatur (4’). é de todo lícita e deve ser exaltada com grandes
louvores (4’).
*2962 1 A este princípio apelou o imperador Napoleão III da França para não ter de cumprir sua promessa e ajudar Pio IX
contra os piemonteses que estavam invadindo o território dos Estados Pontifícios.
*2966 1 A opinião expressa na segunda parte da proposição encontra-se, p. ex., em Melchior Cano, De locis theologicis VIII
5 (Veneza 1759) 196s.
639
vel non sunt dogmatici vel de hac mutuata potesta- pedimentos dirimentes [cf. *1803s], ou não são
te intelligendi sunt (9’). dogmáticos, ou devem ser entendidos no sentido de
um poder recebido (9’).
2971 71. Tridentini forma [cf. *1813-1816] sub infir- 71. A forma do Concílio de Trento [cf. *1813-1816]
mitatis poena non obligat, ubi lex civilis aliam for- não obriga sob pena de nulidade, quando a lei civil
mam praestituat et velit hac nova forma interveniente prescreve uma outra forma e quer que o matrimônio
matrimonium valere (9’). seja válido com a utilização desta nova forma (9’).
2972 72. Bonifatius VIII votum castitatis in ordinatione 72. Bonifácio VIII por primeiro afirmou que o
emissum nuptias nullas reddere primus asseruit (9’). voto de castidade feito na ordenação torna nulas as
núpcias (9’).
2973 73. Vi contractus mere civilis potest inter Chris- 73. Entre cristãos pode haver verdadeiro matri-
tianos constare veri nominis matrimonium, falsum- mônio em virtude só do contrato civil, e é falso que
que est, aut contractum matrimonii inter Christia- o contrato de matrimônio entre cristãos é sempre
nos semper esse sacramentum, aut nullum esse con- sacramento, ou que o contrato é nulo se se exclui o
tractum, si sacramentum excludatur (9’ 11’ 12’ 23). sacramento (9’ 11’ 12’ 23).
2974 74. Causae matrimoniales et sponsalia suapte 74. As causas matrimoniais e os esponsais, pela sua
natura ad forum civile pertinent (9’ 12’). própria natureza, dizem respeito ao foro civil (9’ 12’).
NB. Huc facere possunt duo alii errores de cleri- N.B. Aqui podem ser tratados outros dois erros,
corum c a e l i b a t u abolendo et de statu matrimo- sobre a abolição do c e l i b a t o dos clérigos e sobre
nii statui v i r g i n i t a t i s anteferendo. Confodiun- o antepor o estado matrimonial ao estado de v i r -
tur, prior in 1’, posterior in 8’. g i n d a d e . São refutados, o primeiro em 1’ e o
segundo em 8’.
640
80. Romanus Pontifex potest ac debet cum pro- 80. O Romano Pontífice pode e deve reconciliar- 2980
gressu, cum liberalismo et cum recenti civilitate sese se e fazer amizade com o progresso, o liberalismo
reconciliare et componere (24’). e a civilização moderna (24’).
O matrimônio civil
(2) S. Paenitentiaria superfluum putat in memo- (2) A S. Penitenciaria considera supérfluo lem- 2990
riam cuiusque revocare, quod est sanctissimae reli- brar a cada um que é dogma conhecidíssimo da
gionis nostrae notissimum dogma, nimirum matri- nossa santíssima religião que o matrimônio é, sem
monium unum esse ex septem sacramentis a Chris- dúvida alguma, um dos sete sacramentos instituí-
to Domino institutis, proindeque ad Ecclesiam dos por Cristo Senhor e que, portanto, a sua gestão
ipsam, cui idem Christus divinorum suorum myste- pertence unicamente à própria Igreja à qual o mes-
riorum dispensationem commisit, illius directionem mo Cristo confiou a distribuição dos seus divinos
unice pertinere, tum etiam superfluum putat in mistérios; além disso, considera também supérfluo
cuiusque memoriam revocare formam a sancta Tri- lembrar a cada um a forma prescrita pelo santo
dentina Synodo praescriptam [Sessio XXIV, De Concílio de Trento [Sessão 24ª, A reforma do ma-
reformatione matrimonii, c. 1: *1813-1816], sine trimônio, c. 1: *1813-1816], sem a observância da
cuius observantia in locis, ubi illa promulgata fuit, qual, nos lugares onde ela foi promulgada, não se
valide contrahi matrimonium nequaquam posset. pode jamais contrair um matrimônio válido.
(3) Sed ex hisce aliisque axiomatibus et catholi- (3) Mas, por estes e outros princípios, e pela dou- 2991
cis doctrinis debent animarum pastores practicas trina católica, os pastores de almas devem elaborar
instructiones conficere, quibus etiam fidelibus id instruções práticas mediante as quais persuadam
persuadeant, quod sanctissimus Dominus noster in também os fiéis disto que o nosso santíssimo Se-
Consistorio secreto 27. Sept. 1852 proclamabat: nhor <o Papa>, no consistório secreto de 27 de
“Inter fideles matrimonium dari non posse, quin uno setembro de 1852, proclamava: “Entre os fiéis não
eodemque tempore sit sacramentum; atque idcirco pode acontecer um matrimônio sem que seja ao
quamlibet aliam inter christianos viri et mulieris mesmíssimo tempo um sacramento; e portanto, entre
praeter sacramentum coniunctionem, etiam civilis cristãos, qualquer outra união de homem e mulher
legis vi factam, nihil aliud esse nisi turpem atque fora do sacramento, mesmo com sanção da lei ci-
exitialem concubinatum”. vil, nada mais é que torpe e funesto concubinato”.
(4) Atque hinc facile deducere poterunt, civilem (4) E daí poderão deduzir facilmente que o ato 2992
actum coram Deo eiusque Ecclesia, nedum ut sa- civil, diante de Deus e de sua Igreja, não apenas
cramentum, verum nec ut contractum haberi ullo não pode, de modo algum, ser considerado sacra-
modo posse; et quemadmodum civilis potestas li- mento, mas nem mesmo contrato; e que o poder
gandi quemquam fidelium in matrimonio incapax civil, como não tem o poder de ligar em matrimô-
est, ita et solvendi incapacem esse; ideoque … sen- nio qualquer fiel, também não tem o poder de
tentiam omnem de separatione coniugum legitimo desligá-lo; e que por este motivo … cada sentença
matrimonio coram Ecclesia coniunctorum, a laica de separação dos cônjuges unidos em legítimo
potestate latam, nullius valoris esse; et coniugem, matrimônio diante da Igreja, promulgada pelo po-
qui eiusmodi sententia abutens alii se personae co- der leigo, não tem valor nenhum; e que o cônjuge
niungere auderet, fore verum adulterum: quemad- que, abusando de uma tal sentença, ousasse unir-se
modum esset verus concubinarius, qui vi tantum a uma outra pessoa, seria verdadeiramente um adúl-
civilis actus in matrimonio persistere praesumeret; tero, como também seria um verdadeiro concubino
atque utrumque absolutione indignum esse, donec aquele que presumisse permanecer no matrimônio
haud resipiscat ac praescriptionibus Ecclesiae se somente em virtude de um ato civil; e que ambos
subiiciens ad paenitentiam convertatur. não são dignos de absolvição até que se arrepen-
dam e voltem à penitência, submetendo-se às pres-
crições da Igreja.
641
2993 (5) [Conceditur tamen ad poenas vitandas, ob (5) [Concede-se, todavia, para evitar as penas,
prolis bonum et ad polygamiae periculum averten- para o bem da prole e para afastar o perigo da
dum, ut] fideles, postquam matrimonium legitime poligamia, que] os fiéis, depois que tiverem con-
contraxerint coram Ecclesia, se sistant actum lege traído um matrimônio legítimo diante da Igreja, se
decretum exsecuturi, ea tamen intentione …, sis- apresentem para o ato imposto pela lei, com a in-
tendo se Gubernii Officiali nil aliud faciant quam tenção todavia de … , ao apresentar-se ao oficial do
ut civilem caeremoniam exsequantur1. governo, não fazer nada mais que realizar uma ce-
rimônia civil1.
*2993 1 Cf. Bento XIV, Breve “Redditae sunt nobis”, 17 set. 1746 (Bento XIV, Bullarium, ed. de Malinas 9, 426-430 =
suplemento n. III).
642
instabilitas apud easdem societates numquam cessat. nunca faltam a essas sociedades tal mobilidade e
Quisque vel facile intelligit … id vel maxime ad- instabilidade. Cada um compreende muito facilmen-
versari Ecclesiae a Christo Domino institutae … te … que isso contrasta grandemente com a Igreja
instituída pelo Cristo Senhor …
Quamobrem ii omnes, qui Ecclesiae catholicae Todos aqueles que não conservam a unidade e a
unitatem et veritatem non tenent, occasionem am- verdade da Igreja católica, abracem portanto o en- 2999
plectantur huius Concilii, quo Ecclesia catholica, cui sejo deste Concílio, com o qual a Igreja católica, da
eorum Maiores adscripti erant, novum intimae uni- qual os antepassados deles faziam parte, dá nova
tatis et inexpugnabilis vitalis sui roboris exhibet ar- prova de sua unidade interna e de sua invencível
gumentum, ac indigentiis eorum cordis responden- força vital; e, correspondendo às necessidades dos
tes ab eo statu se eripere studeant, in quo de sua seus corações, procurem desprender-se daquele es-
propria salute securi esse non possunt. tado no qual não podem estar seguros de sua pró-
pria salvação.
3000-3045: 3ª sessão, 24 abr. 1870: Constituição dogmática “Dei Filius” sobre a fé católica
O projeto “Apostolici muneris” (MaC 50, 59-74 / CollLac 7, 507-518), que fora apresentado aos padres conciliares,
foi rejeitado como demasiadamente amplo e escolar. Renovado desde o chão, foi submetido a nova discussão, em duas
partes, nos dias 1 e 11 mar. 1870. Decidiu-se publicar os quatro primeiros capítulos como uma constituição própria
(MaC 53, 164-160; CollLac 7, 1628-1632c [n. 555]). No dia 14 mar. foi apresentado um projeto melhorado: “Cum
aeternus Dei Filius” (MaC 51, 31-38; CollLac 7, 69-78). Depois do encerramento da discussão geral (18-22 mar.) e da
discussão especial, foi elaborado um texto definitivo, que foi lido solenemente na sessão 3ª, 24 abr., e confirmada pelo
Papa. A segunda parte do projeto, apresentada no dia 11 mar., tratava de Trindade, da criação, da elevação, queda e
redenção do ser humano (Mansi 53, 170-177; CollLac 7, 1632d-1636 [n. 556]). Sob a pressão de numerosos padres
conciliares, que queriam abordar quanto antes a doutrina da infalibilidade do Papa, a segunda parte foi retirada do
programa e não chegou a ser retomada, por causa do adiamento do concílio entrementes decidido.
Ed.: MaC 51, 430-436 / CollLac 7, 250a-256d / Pio IX, Acta 1/V, 180-194 / ASS 5 (1869/ 70) 462-471 / COeD3
80523 -81126.
[O sumário acrescentado aos títulos originais dos diversos capítulos corresponde via de regra à apresentação feita
pelos relatores no concílio.]
Proêmio
… Nunc autem, sedentibus Nobiscum et iudican- … Agora, porém, assentados para julgar conosco 3000
tibus universi orbis episcopis, in hanc oecumeni- os bispos do mundo inteiro, por nossa autoridade
cam Synodum auctoritate Nostra in Spiritu Sancto congregados neste Sínodo ecumênico no Espírito
congregatis, innixi Dei Verbo scripto et tradito, prout Santo, apoiados na Palavra de Deus escrita e trans-
ab Ecclesia catholica sancte custoditum et genuine mitida, conforme a recebemos santamente conser-
expositum accepimus, ex hac Petri cathedra in cons- vada e genuinamente exposta pela Igreja Católica,
pectu omnium salutarem Christi doctrinam profite- decidimos professar e declarar, desta cátedra de
ri et declarare constituimus, adversis erroribus potes- Pedro, diante de todos, a salutar doutrina de Cristo
tate Nobis a Deo tradita proscriptis atque damnatis. – proscritos e condenados, com o poder por Deus a
Nós confiado, os erros contrários.
643
Cap. 1. De Deo rerum omnium creatore Cap. 1: Deus, Criador de todas as coisas
[*3001: O Deus único, perfeito, distinto do mundo. – *3002: O ato criador: sua perfeição, finalidade e efeito. – *3003:
A divina Providência.]
3001 Sancta catholica apostolica Romana Ecclesia cre- A santa Igreja católica apostólica romana crê e
dit et confitetur, unum esse Deum verum et vivum, confessa que há um só Deus verdadeiro e vivo, cria-
creatorem ac Dominum caeli et terrae, omnipoten- dor e Senhor do céu e da terra, onipotente, eterno,
tem, aeternum, immensum, incomprehensibilem, imenso, incompreensível, infinito em intelecto, von-
intellectu ac voluntate omnique perfectione infini- tade e toda perfeição; o qual, sendo uma substância
tum; qui cum sit una singularis, simplex omnino et espiritual una e singular, inteiramente simples e imutá-
incommutabilis substantia spiritualis, praedicandus vel, deve ser pregado como real e essencialmente dis-
est re et essentia a mundo distinctus, in se et ex se tinto do mundo, beatíssimo em si e por si mesmo, e
beatissimus, et super omnia, quae praeter ipsum sunt inefavelmente elevado acima de tudo o que fora dele
et concipi possunt, ineffabiliter excelsus [can. 1-4]. existe ou se possa conceber [cân. 1-4].
3002 Hic solus verus Deus bonitate sua et “omnipo- Este único e verdadeiro Deus, por sua bondade e
tenti virtute” non ad augendam suam beatitudinem “força onipotente”, não para aumentar sua bem-aven-
nec ad acquirendam, sed ad manifestandam perfec- turança ou para adquiri-la, mas a fim de manifestar
tionem suam per bona, quae creaturis impertitur, a sua perfeição pelos bens que prodigaliza às criatu-
liberrimo consilio, “simul ab initio temporis utram- ras, por libérrimo desígnio “criou simultaneamente
que de nihilo condidit creaturam, spiritualem et desde o início do tempo, do nada, ambas as criatu-
corporalem, angelicam videlicet et mundanam, ac ras: a espiritual e a corporal, isto é, a angelical e a
deinde humanam quasi communem ex spiritu et mundana; e em seguida a humana, de algum modo
corpore constitutam” [Concilium Lateranense IV: comum <a ambas>, constituída de espírito e corpo”
*800; infra can. 2 et 5]. [Concílio do Latrão IV: *800; infra cân. 2 e 5].
3003 Universa vero, quae condidit, Deus providentia Ora, tudo o que criou, Deus o conserva e governa
sua tuetur atque gubernat, “attingens a fine usque com sua providência, “alcançando com força de uma
ad finem fortiter et disponens omnia suaviter” [Sap extremidade a outra, e dispondo com suavidade
8,1]. “Omnia enim nuda et aperta sunt oculis eius” todas as coisas” [Sb 8,1]. Pois “tudo está nu e des-
[Hbr 4,13], ea etiam, quae libera creaturarum actione coberto aos seus olhos” [Hb 4,13], mesmo o que há
futura sunt. de acontecer por livre ação das criaturas.
644
tudine et nullo admixto errore cognosci possint1. divinas não é de per si inacessível à razão humana1.
Non hac tamen de causa revelatio absolute necessa- Contudo, não se deve dizer que a revelação é absolu-
ria dicenda est, sed quia Deus ex infinita bonitate tamente necessária por este motivo, mas porque Deus,
sua ordinavit hominem ad finem supernaturalem, em sua infinita bondade, ordenou o homem para o
ad participanda scilicet bona divina, quae humanae fim sobrenatural, isto é, para participar dos bens di-
mentis intelligentiam omnino superant; siquidem vinos, que superam de todo a compreensão humana;
“oculus non vidit, nec auris audivit, nec in cor ho- pois “o olho não viu, nem o ouvido ouviu, nem ace-
minis ascendit, quae praeparavit Deus iis, qui dili- deu ao coração humano o que Deus preparou para
gunt illum” [1 Cor 2,9; can. 2 et 3]. aqueles que o amam” [1Cor 2,9; cân. 2 e 3].
Haec porro supernaturalis revelatio, secundum Esta revelação sobrenatural, pois, segundo a dou- 3006
universalis Ecclesiae fidem a sancta Tridentina Sy- trina da Igreja universal, definida pelo Concílio de
nodo declaratam continetur “in libris scriptis et sine Trento, está contida “nos livros e nas tradições não
scripto traditionibus, quae ipsius Christi ore ab escritas que, recebidas pelos Apóstolos da boca do
Apostolis acceptae, aut ab ipsis Apostolis Spiritu próprio Cristo ou transmitidas como que de mão
Sancto dictante quasi per manus traditae, ad nos em mão pelos próprios Apóstolos sob o ditado do
usque pervenerunt” [*1501]. Qui quidem Veteris et Espírito Santo, chegaram até nós” [*1501]. E estes
Novi Testamenti libri integri cum omnibus suis livros do Antigo e do Novo Testamento, inteiros e
partibus, prout in eiusdem Concilii decreto recen- com todas as suas partes, conforme vêm enumera-
sentur, et in veteri Vulgata latina editione habentur, dos no decreto do mesmo Concílio e se encontram
pro sacris et canonicis suscipiendi sunt. Eos vero na antiga edição latina Vulgata, devem ser aceitos
Ecclesia pro sacris et canonicis habet, non ideo, quod como sagrados e canônicos. E a Igreja os tem como
sola humana industria concinnati, sua deinde auc- tais, não por terem sido redigidos por mero obra
toritate sint approbati; nec ideo dumtaxat, quod re- humana e depois aprovados por sua autoridade, nem
velationem sine errore contineant; sed propterea, somente por conterem a revelação isenta de erro,
quod Spiritu Sancto inspirante conscripti Deum mas porque, escritos sob a inspiração do Espírito
habent auctorem, atque ut tales ipsi Ecclesiae traditi Santo, têm Deus por autor e como tais foram con-
sunt [can. 4]. fiados à mesma Igreja [cân. 4].
Quoniam vero, quae sancta Tridentina Synodus Todavia, já que aquilo que santo Sínodo de Tren- 3007
de interpretatione divinae Scripturae ad coercenda to de modo salutar decretou sobre a interpretação
petulantia ingenia salubriter decrevit, a quibusdam da Sagrada Escritura, para corrigir os espíritos pe-
hominibus prave exponuntur, Nos idem decretum tulantes, por alguns é exposto de modo depravado,
renovantes hanc illius mentem esse declaramus, ut Nós, renovando o mesmo decreto, declaramos que
in rebus fidei et morum ad aedificationem doctri- a sua intenção é que, em matérias de fé e moral
nae christianae pertinentium is pro vero sensu sa- pertencentes ao edifício da doutrina cristã, se tenha
crae Scripturae habendus sit, quem tenuit ac tenet por sentido verdadeiro da Sagrada Escritura aquele
sancta mater Ecclesia, cuius est iudicare de vero que sustentou e sustenta a santa mãe Igreja, à qual
sensu et interpretatione Scripturarum sanctarum; compete decidir do verdadeiro sentido e da inter-
atque ideo nemini licere contra hunc sensum aut pretação das sagradas Escrituras; e que, por conse-
etiam contra unanimem consensum Patrum ipsam guinte, a ninguém é permitido interpretar a mesma
Scripturam sacram interpretari. Sagrada Escritura contrariamente a este sentido ou
também contra o consenso unânime dos Padres.
645
et voluntatis obsequium fide praestare tenemur [can. obrigados a prestar, pela fé, a Deus que se revela,
1]. Hanc vero fidem, quae humanae salutis initium plena adesão do intelecto e da vontade [cân. 1]. Esta
est [cf. *1532], Ecclesia catholica profitetur, virtu- fé, porém, que é o início da salvação humana [cf.
tem esse supernaturalem, qua, Dei aspirante et adiu- *1532], a Igreja a professa como virtude sobrena-
vante gratia, ab eo revelata vera esse credimus, non tural, pela qual, sob a inspiração de Deus e com a
propter intrinsecam rerum veritatem naturali rationis ajuda da graça, cremos ser verdade o que ele reve-
lumine perspectam, sed propter auctoritatem ipsius la, não devido à verdade intrínseca das coisas co-
Dei revelantis, qui nec falli nec fallere potest [cf. nhecida pela luz natural da razão, mas em virtude
*2778; can. 2]. “Est enim fides”, testante Apostolo, da autoridade do próprio Deus que se revela, o qual
“sperandarum substantia rerum, argumentum non não pode enganar-se nem enganar [cân. 2]. Pois,
apparentium” [Hbr 11,1]. segundo o testemunho do Apóstolo, “a fé é a subs-
tância das coisas que se esperam, argumento do que
não aparece” [Hb 11,1].
3009 Ut nihilominus fidei nostrae obsequium rationi Ora, para que, não obstante, o obséquio de nossa
consentaneum [cf. Rm 12,1] esset, voluit Deus cum fé estivesse em conformidade com a razão [cf. Rm
internis Spiritus Sancti auxiliis externa iungi reve- 12,1], quis Deus ajuntar ao auxílio interno do Espí-
lationis suae argumenta, facta scilicet divina, atque rito Santo os argumentos externos de sua revelação,
imprimis miracula et prophetias, quae cum Dei om- isto é, os fatos divinos, e sobretudo os milagres e as
nipotentiam et infinitam scientiam luculenter com- profecias, que, por demonstrarem luminosamente a
monstrent, divinae revelationis signa sunt certissi- onipotência e a ciência infinita de Deus, são da re-
ma et omnium intelligentiae accommodata [can. 3 velação divina sinais certíssimos e adaptados à inte-
et 4]. Quare tum Moyses et Prophetae, tum ipse ligência de todos [cân. 3 e 4]. Foi por isso que Moisés
maxime Christus Dominus multa et manifestissima e os profetas, e principalmente o próprio Cristo Se-
miracula et prophetias ediderunt; et de Apostolis nhor, produziram muitos e bem manifestos sinais e
legimus: “Illi autem profecti praedicaverunt ubique profecias; e dos Apóstolos lemos: “Eles, porém, par-
Domino cooperante et sermonem confirmante tiram e pregaram em toda a parte, cooperando com
sequentibus signis” [Mc 16,20]. Et rursum scriptum eles o Senhor e confirmando a sua palavra com os
est: “Habemus firmiorem propheticum sermonem, sinais que se seguiam” [Mc 16,20]. E em outro tex-
cui benefacitis attendentes quasi lucernae lucenti in to se lê: “Temos palavra profética ainda mais firme,
caliginoso loco” [2 Pt 1,19]. que fazeis bem em ter diante dos olhos, qual lâmpa-
da que brilha em lugar tenebroso” [2 Pd 1,19].
3010 Licet autem fidei assensus nequaquam sit motus Embora, porém, a adesão da fé absolutamente não
animi caecus: nemo tamen “evangelicae praedica- seja um movimento cego da alma, ninguém pode
tioni consentire” potest, sicut oportet ad salutem “consentir à pregação evangélica”, do modo que
consequendam, “absque illuminatione et inspiratione convém para conseguir a salvação, “sem a ilumina-
Spiritus Sancti, qui dat omnibus suavitatem in con- ção e a inspiração do Espírito Santo, que dá a todos
sentiendo et credendo veritati” [Synodus Arausica- suavidade no consentir e no crer na verdade” [Con-
na II: *377]. Quare fides ipsa in se, etiamsi per cílio de Orange II; *377]. Pelo que já a própria fé,
caritatem non operetur [cf. Gal 5,6], donum Dei est, em si, mesmo quando não atuante pela caridade [cf.
et actus eius est opus ad salutem pertinens, quo Gl 5,6], é um dom de Deus, e o seu exercício é uma
homo liberam praestat ipsi Deo oboedientiam gra- obra que pertence à salvação <e> pela qual o ho-
tiae eius, cui resistere posset, consentiendo et coo- mem presta livre obediência a Deus mesmo, con-
perando [cf. *1525s; can. 5]. sentindo e cooperando com a sua graça, à qual
poderia resistir [cf. *1525s; cân. 5].
3011 Porro fide divina et catholica ea omnia credenda Deve-se, pois, crer com fé divina e católica todas as
sunt, quae in verbo Dei scripto vel tradito continen- coisas que estão contidas na palavra de Deus escrita
tur et ab Ecclesia sive solemni iudicio sive ordina- ou transmitida, e que pela Igreja, quer em declaração
rio et universali magisterio tamquam divinitus re- solene, quer pelo Magistério ordinário e universal, nos
velata credenda proponuntur. são propostas a ser cridas como reveladas por Deus.
3012 Quoniam vero “sine fide impossibile est placere Como, porém, “sem a fé é impossível agradar a
Deo” [Hbr 11,6] et ad filiorum eius consortium Deus” [Hb 11,6] e chegar ao consórcio dos seus
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pervenire, ideo nemini umquam sine illa contigit filhos, ninguém jamais pode ser justificado sem ela,
iustificatio, nec ullus, nisi in ea “perseveraverit us- nem conseguir a vida eterna, se nela não “perseve-
que in finem” [Mt 10,22; 24,13], vitam aeternam rar até o fim” [Mt 10,22; 24,13]. Ora, para que
assequetur. Ut autem officio veram fidem amplec- pudéssemos cumprir o dever de abraçar a verdadei-
tendi in eaque constanter perseverandi satisfacere ra fé e nela perseverar constantemente, Deus insti-
possemus, Deus per Filium suum unigenitum Ec- tuiu, por meio de seu Filho Unigênito, a Igreja, e a
clesiam instituit, suaeque institutionis manifestis muniu com as notas manifestas da sua instituição,
notis instruxit, ut ea tamquam custos et magistra para que pudesse ser por todos reconhecida como
verbi revelati ab omnibus posset agnosci. guardiã e mestra da palavra revelada.
Ad solam enim catholicam Ecclesiam ea pertinent De fato, somente à Igreja Católica pertence tudo 3013
omnia, quae ad evidentem fidei christianae credibili- o que, tão numeroso e tão prodigioso, foi por Deus
tatem tam multa et tam mira divinitus sunt disposita. disposto para a evidente credibilidade da fé cristã.
Quin etiam Ecclesia per se ipsa, ob suam nempe Além disso, a Igreja em si mesma, por sua admirá-
admirabilem propagationem, eximiam sanctitatem et vel propagação, exímia santidade e inesgotável fe-
inexhaustam in omnibus bonis foecunditatem, ob cundidade em todos os bens, por sua unidade cató-
catholicam unitatem invictamque stabilitatem mag- lica e invicta estabilidade, é um grande e perpétuo
num quoddam et perpetuum est motivum credibilitatis motivo de credibilidade e um testemunho irrefutável
et divinae suae legationis testimonium irrefragabile. da sua missão divina.
Quo fit, ut ipsa veluti signum levatum in nationes Donde resulta que ela, qual estandarte elevado 3014
[cf. Is 11,12] et ad se invitet, qui nondum credide- no meio das nações [cf. Is 11,12], não só convida
runt, et filios suos certiores faciat, firmissimo niti para junto de si os que ainda não abraçaram a fé,
fundamento fidem, quam profitentur. Cui quidem mas também garante a seus filhos que a fé que pro-
testimonio efficax subsidium accedit ex superna fessam se baseia em fundamento firmíssimo. A este
virtute. Etenim benignissimus Dominus et errantes testemunho acresce o auxílio eficaz da força do alto.
gratia sua excitat atque adiuvat, ut “ad agnitionem De fato, o mui benigno Senhor excita e ajuda com
veritatis venire” [1 Tim 2,4] possint, et eos, quos de sua graça os que vagueiam no erro, a fim de pode-
tenebris transtulit in admirabile lumen suum [cf. 1 rem “chegar ao conhecimento da verdade” [1Tm
Pt 2,9; Col 1,13], in hoc eodem lumine ut perseve- 2,4]; e confirma com sua graça os que transferiu
rent, gratia sua confirmat, non deserens, nisi dese- das trevas à sua luz maravilhosa [1Pd 2,9; Cl 1,13],
ratur [cf. *1537]. para que perseverem nesta mesma luz, não <os>
abandonando senão quando <por eles> abandona-
do [cf. *1537].
Quocirca minime par est condicio eorum, qui per Pelo que, de modo algum, é igual a condição da-
caeleste fidei donum catholicae veritati adhaeserunt, queles que, pelo dom celeste da fé, aderiram à ver-
atque eorum, qui ducti opinionibus humanis falsam dade católica e a <condição> dos que, guiados por
religionem sectantur; illi enim, qui fidem sub Ec- opiniões humanas, seguem uma religião falsa; pois
clesiae magisterio susceperunt, nullam umquam os que receberam a fé sob o magistério da Igreja,
habere possunt iustam causam mutandi aut in du- jamais poderão ter justa razão de alterar ou pôr em
bium fidem eandem revocandi [can. 6]. Quae cum dúvida esta mesma fé [cân. 6]. E por isso, “dando
ita sint, “gratias agentes Deo Patri, qui dignos nos graças a Deus Pai, que nos fez idôneos de partici-
fecit in partem sortis sanctorum in lumine” [Col par na herança dos santos, na luz” [Cl 1,12], não
1,12], tantam ne negligamus salutem [cf. Hbr 2,3], menosprezemos tão grande salvação [cf. Hb 2,3],
sed “aspicientes in auctorem fidei et consummato- mas, “pondo os olhos em Jesus, autor e consumador
rem Iesum” [Hbr 12,2] “teneamus spei nostrae con- da fé” [Hb 12,2], “conservemos firme a profissão
fessionem indeclinabilem” [Hbr 10,23]. da nossa esperança” [Hb 10,23].
647
tionis non solum principio, sed obiecto etiam mento, distintas não só por seu princípio, mas tam-
distinctum: principio quidem, quia in altero natura- bém por seu objeto; por seu princípio, visto que
li ratione, in altero fide divina cognoscimus; obiecto numa conhecemos pela razão natural e na outra, pela
autem, quia praeter ea, ad quae naturalis ratio per- fé divina; e por seu objeto, porque, além daquilo
tingere potest, credenda nobis proponuntur myste- que a razão natural pode atingir, propõem-se-nos a
ria in Deo abscondita, quae, nisi revelata divinitus, crer mistérios escondidos em Deus, que não pode-
innotescere non possunt [can. 1]. mos conhecer sem a divina revelação [cân. 1].
Quocirca Apostolus, qui a gentibus Deum “per E eis porque o Apóstolo, que assegura que os
ea, quae facta sunt” [Rm 1,20], cognitum esse tes- gentios conheceram a Deus “por meio do que foi
tatur, disserens tamen de gratia et veritate, quae per feito” [Rm 1,20], discorrendo, todavia, sobre a gra-
Iesum Christum facta est [cf. Io 1,17], pronuntiat: ça e verdade que vieram a ser por Jesus Cristo [cf.
“Loquimur Dei sapientiam in mysterio, quae abs- Jo 1,17], diz: “Pregamos a sabedoria de Deus em
condita est, quam praedestinavit Deus ante saecula mistério, que está escondida; que, antes dos sécu-
in gloriam nostram, quam nemo principum huius los, Deus destinou para nossa glória, e que nenhum
saeculi cognovit. Nobis autem revelavit Deus per dos poderosos deste mundo conheceu. A nós, po-
Spiritum suum: Spiritus enim omnia scrutatur, etiam rém, Deus <a> revelou pelo seu Espírito; porque o
profunda Dei” [1 Cor 2,7s 10]. Et ipse Unigenitus Espírito tudo penetra, até as profundezas de Deus”
confitetur Patri, quia abscondit haec a sapientibus [1Cor 2,7s.10]. E o próprio Unigênito louva o Pai,
et prudentibus, et revelavit ea parvulis [cf. Mt 11,25]. porque escondeu essas coisas aos sábios e entendi-
dos e as revelou aos pequeninos [cf. Mt 11,25].
3016 Ac ratio quidem, fide illustrata, cum sedulo, pie Decerto, a razão, iluminada pela fé, quando bus-
et sobrie quaerit, aliquam Deo dante mysteriorum ca diligente, pia e sobriamente, consegue, com a
intelligentiam eamque fructuosissimam assequitur ajuda de Deus, alguma compreensão dos mistérios,
tum ex eorum, quae naturaliter cognoscit, analogia, e esta frutuosíssima, quer pela analogia das coisas
tum e mysteriorum ipsorum nexu inter se et cum conhecidas naturalmente, quer pela conexão dos
fine hominis ultimo; numquam tamen idonea reddi- próprios mistérios entre si e com o fim último do
tur ad ea perspicienda instar veritatum, quae pro- homem; nunca, porém, se torna capaz de compreen-
prium ipsius obiectum constituunt. Divina enim dê-los como compreende as verdades que consti-
mysteria suapte natura intellectum creatum sic ex- tuem o seu objeto próprio. De fato, os mistérios
cedunt, ut etiam revelatione tradita et fide suscepta divinos por sua própria natureza excedem de tal
ipsius tamen fidei velamine contecta et quadam modo a inteligência criada, que, mesmo depois de
quasi caligine obvoluta maneant, quamdiu in hac transmitidos por revelação e acolhidos pela fé, per-
mortali vita “peregrinamur a Domino: per fidem manecem ainda encobertos com o véu da mesma fé
enim ambulamus et non per speciem” [2 Cor 5,6s]. e como que envoltos em certa escuridão, enquanto
durante esta vida mortal “somos peregrinos longe
do Senhor, pois caminhamos guiados pela fé e não
pela visão” [2Cor 5,6s].
3017 Verum etsi fides sit supra rationem, nulla tamen Mas, ainda que a fé esteja acima da razão, ja-
umquam inter fidem et rationem vera dissensio esse mais pode haver verdadeira desarmonia entre uma
potest [cf. *2776 *2811]: cum idem Deus, qui mys- e outra [*2776; 2811], porquanto o mesmo Deus
teria revelat et fidem infundit, animo humano que revela os mistérios e infunde a fé, dotou o es-
rationis lumen indiderit, Deus autem negare se ip- pírito humano da luz da razão, e Deus não pode
sum non possit, nec verum vero umquam contradi- negar-se a si mesmo, nem a verdade jamais contra-
cere. Inanis autem huius contradictionis species inde dizer a verdade. A vã aparência de tal contradição
potissimum oritur, quod vel fidei dogmata ad men- nasce principalmente ou de os dogmas da fé não
tem Ecclesiae intellecta et exposita non fuerint vel terem sido entendidos e expostos segundo a mente
opinionum commenta pro rationis effatis habean- da Igreja, ou de se ter em conta de proposições da
tur. “Omnem” igitur “assertionem veritati illumina- razão invenções de opiniões. Por conseguinte, “de-
tae fidei contrariam omnino falsam esse definimus” finimos como absolutamente falsa toda afirmação
[Concilium Lateranense V: *1441]. contrária à verdade da fé iluminada” [Concílio do
Latrão V: *1441].
648
Porro Ecclesia, quae una cum apostolico munere Ademais a Igreja, que juntamente com o mú- 3018
docendi mandatum accepit fidei depositum custo- nus apostólico de ensinar recebeu o mandato de
diendi, ius etiam et officium divinitus habet falsi guardar o depósito da fé, tem também de Deus o
nominis scientiam [cf. 1 Tim 6,20] proscribendi, ne direito e o dever de proscrever a ciência de nome
quis decipiatur per philosophiam et inanem falla- falso [cf. 1Tm 6,20], a fim de que ninguém se
ciam [cf. Col 2,8; can. 2]. deixe iludir pela filosofia e pela vã falácia [cf. Cl
2,8; cân. 2].
Quapropter omnes Christiani fideles huiusmodi Eis por que não só é vedado a todos os cristãos
opiniones, quae fidei doctrinae contrariae esse cog- defender como legítimas conclusões da ciência
noscuntur, maxime si ab Ecclesia reprobatae fue- opiniões reconhecidamente contrárias à fé – sobre-
rint, non solum prohibentur tamquam legitimas tudo se tiverem sido reprovadas pela Igreja –, mas
scientiae Conclusiones defendere, sed pro erroribus ainda estão inteiramente obrigados a tê-las em con-
potius, qui fallacem veritatis speciem prae se ferant, ta de erros que se apresentam com falsa aparência
habere tenentur omnino. de verdade.
Neque solum fides et ratio inter se dissidere num- E não só não pode jamais haver dissensão en- 3019
quam possunt, sed opem quoque sibi mutuam ferunt tre fé e a razão, mas se prestam mútua ajuda [cf.
[cf. *2776 *2811], cum recta ratio fidei fundamen- *2776; 2811], visto que a reta razão demonstra os
ta demonstret eiusque lumine illustrata rerum divi- fundamentos da fé e, iluminada por sua luz, cultiva
narum scientiam excolat, fides vero rationem ab a ciência das coisas divinas, enquanto a fé livra e
erroribus liberet ac tueatur eamque multiplici cog- guarda a razão dos erros, enriquecendo-a de múlti-
nitione instruat. plos conhecimentos.
Quapropter tantum abest, ut Ecclesia humanarum Por isso, a Igreja, longe de se opor ao cultivo das
artium et disciplinarum culturae obsistat, ut hanc artes e das ciências humanas, antes de muitos mo-
multis modis iuvet atque promoveat. Non enim dos as auxilia e promove. Pois não ignora nem des-
commoda ab iis ad hominum vitam dimanantia aut preza as vantagens que delas dimanam para a vida
ignorat aut despicit; fatetur immo, eas, quemadmo- humana; pelo contrário, ensina que, como elas vêm
dum a Deo scientiarum Domino [cf. 1 Sm 2,3] pro- de Deus, o Senhor das ciências [cf. 1Sm 2,3], as-
fectae sunt, ita, si rite pertractentur, ad Deum iuvante sim, quando bem empregadas, conduzem a Deus,
eius gratia perducere. com o auxílio de sua graça.
Nec sane ipsa vetat, ne huiusmodi disciplinae in Nem proíbe que tais disciplinas, cada qual em
suo quaeque ambitu propriis utantur principiis et seu respectivo âmbito, façam uso de seus princí-
propria methodo; sed iustam hanc libertatem agnos- pios e métodos próprios; mas, embora reconhe-
cens, id sedulo cavet, ne divinae doctrinae repugnan- cendo esta justa liberdade, admoesta cuidadosa-
do errores in se suscipiant, aut fines proprios trans- mente que não admitam em si erros contrários à
gressae ea, quae sunt fidei, occupent et perturbent. doutrina divina nem ultrapassem os próprios li-
mites, invadindo e perturbando o que é do domí-
nio da fé.
Neque enim fidei doctrina, quam Deus revelavit, Pois a doutrina da fé, que Deus revelou, não foi 3020
velut philosophicum inventum proposita est huma- proposta como uma descoberta filosófica a ser
nis ingeniis perficienda, sed tamquam divinum de- aperfeiçoada pelas mentes humanas, mas foi en-
positum Christi Sponsae tradita, fideliter custodien- tregue à Esposa de Cristo como um depósito divi-
da et infallibiliter declaranda. Hinc sacrorum quo- no, para ser por ela fielmente guardada e infalivel-
que dogmatum is sensus perpetuo est retinendus, mente declarada. Daí que sempre se deve manter
quem semel declaravit sancta mater Ecclesia, nec aquele sentido dos sagrados dogmas que a santa
umquam ab eo sensu altioris intelligentiae specie et mãe Igreja uma vez tenha declarado, e jamais, nem
nomine recedendum [can. 3]. “Crescat igitur et a título de uma inteligência mais elevada, é permi-
multum vehementerque proficiat, tam singulorum tido afastar-se deste sentido [cân. 3]. “Cresçam,
quam omnium, tam unius hominis quam totius pois, e multipliquem-se abundantemente, tanto em
Ecclesiae, aetatum ac saeculorum gradibus, intelli- cada um como em todos, tanto no indivíduo como
gentia, scientia, sapientia: sed in suo dumtaxat em toda a Igreja, segundo o progresso das idades
649
genere, in eodem scilicet dogmate, eodem sensu e dos séculos, a inteligência, a ciência e a sabedo-
eademque sententia”1. ria, mas somente no gênero <próprio> dela, isto é,
no mesmo dogma, no mesmo sentido e na mesma
sentença”1.
Canones Cânones
1. De Deo rerum omnium creatore 1. Deus, Criador de todas as coisas
[Cân. 1: Contra todos os erros referentes à existência de Deus Criador. – Cân. 2. Contra o materialismo. – Cân. 3s:
Contra o panteísmo e suas formas particulares. – Cân. 5: (a) Contra os panteístas e os materialistas; (b) contra os
gunterianos; (c) contra os gunterianos e os hermesianos.]
3021 1. Si quis unum verum Deum visibilium et invi- 1. Se alguém negar que há um só Deus verdadei-
sibilium creatorem et Dominum negaverit: anathe- ro, criador e Senhor das coisas visíveis e invisíveis:
ma sit [cf. *3001]. seja anátema [cf. *3001].
3022 2. Si quis praeter materiam nihil esse affirmare 2. Se alguém não se envergonhar de afirmar que
non erubuerit: anathema sit [cf. *3002]. além da matéria nada existe: seja anátema [cf. *3002].
3023 3. Si quis dixerit, unam eandemque esse Dei et 3. Se alguém disser que a substância ou essência
rerum omnium substantiam vel essentiam: anathe- de Deus é a mesma que a substância ou essência de
ma sit [cf. *3001]. todas as coisas: seja anátema [cf. *3001].
3024 4. Si quis dixerit, res finitas tum corporeas tum 4. Se alguém disser que as coisas finitas, tanto as
spirituales aut saltem spirituales e divina substantia corpóreas como as espirituais, ou ao menos as espi-
emanasse, rituais, emanaram da substância divina;
aut divinam essentiam sui manifestatione vel ou que a essência divina se faz todas as coisas
evolutione fieri omnia, pela manifestação ou evolução de si mesma;
aut denique Deum esse ens universale seu inde- ou, finalmente, que Deus é o ser universal, ou
finitum, quod sese determinando constituat rerum indefinido, que, determinando-se a si mesmo, cons-
universitatem in genera, species et individua dis- titui a universalidade das coisas, distinta em gêne-
tinctam: anathema sit. ros, espécies e indivíduos: seja anátema.
3025 5. Si quis non confiteatur, mundum resque om- 5. Se alguém não professar que o mundo e todas
nes, quae in eo continentur, et spirituales et mate- as coisas nele contidas, tanto as espirituais como as
riales secundum totam suam substantiam a Deo ex materiais, foram por Deus produzidas do nada se-
nihilo esse productas, gundo toda a sua substância,
aut Deum dixerit non voluntate ab omni necessi- ou disser que Deus criou, não por vontade intei-
tate libera, sed tam necessario creasse, quam neces- ramente livre, mas com a mesma necessidade com
sario amat se ipsum, que se ama a si mesmo,
aut mundum ad Dei gloriam conditum esse nega- ou negar que o mundo foi feito para a glória de
verit: anathema sit. Deus: seja anátema.
*3020 1 Vicente de Lérins, Commonitorium primum 23, n. 3 (R. Demeulenaere: CpChL 64 [1985] 1777-17812 / PL 50, 668A).
650
Deo cultuque ei exhibendo doceatur: anathema ção divina sobre Deus e o culto a ele devido: seja
sit. anátema.
3. Si quis dixerit, hominem ad cognitionem et 3. Se alguém disser que o ser humano não pode 3028
perfectionem, quae naturalem superet, divinitus ser por Deus guindado a um conhecimento e per-
evehi non posse, sed ex se ipso ad omnis tandem feição que superem o natural, mas que pode e deve
veri et boni possessionem iugi profectu pertingere por si mesmo, progredindo sempre, chegar final-
posse et debere: anathema sit. mente à posse de toda a verdade e de todo o bem:
seja anátema.
4. Si quis sacrae Scripturae libros integros cum 4. Se alguém não admitir como sagrados e canôni- 3029
omnibus suis partibus, prout illos sancta Tridentina cos os livros da Sagrada Escritura, inteiros e com todas
Synodus recensuit [*1501-1508], pro sacris et ca- as suas partes, conforme foram enumerados pelo sa-
nonicis non susceperit aut eos divinitus inspiratos crossanto Concílio de Trento [*1501-1508], ou lhes
esse negaverit: anathema sit [cf. *3006]. negar a inspiração divina: seja anátema [cf. *3006].
3. De fide 3. Sobre a fé
[Cân. 1s: Contra a autonomia da razão. – Cân. 3: Contra o fideísmo. – Cân. 4: Contra o agnosticismo e o mitologismo.
– Cân. 5s: Contra os hermesianos.]
1. Si quis dixerit, rationem humanam ita inde- 1. Se alguém disser que a razão humana é de tal 3031
pendentem esse, ut fides ei a Deo imperari non pos- modo independente, que Deus não possa dela exi-
sit: anathema sit [cf. *3008]. gir a fé: seja anátema [cf. *3008].
2. Si quis dixerit, fidem divinam a naturali de Deo 2. Se alguém disser que a fé divina não se distin- 3032
et rebus moralibus scientia non distingui, ac prop- gue do conhecimento natural de Deus e da moral, e
terea ad fidem divinam non requiri, ut revelata ve- que, portanto, para a fé divina não se requer que a
ritas propter auctoritatem Dei revelantis credatur: verdade revelada seja crida por causa da autoridade
anathema sit [cf. *3008]. de Deus que revela: seja anátema [cf. *3008].
3. Si quis dixerit, revelationem divinam externis 3. Se alguém disser que a revelação divina não 3033
signis credibilem fieri non posse, ideoque sola inter- pode tornar-se mais compreensível por meio de si-
na cuiusque experientia aut inspiratione privata homi- nais externos, e que, portanto, os homens devem ser
nes ad fidem moveri debere: anathema sit [cf. *3009]. motivados à fé só pela experiência interna individual
ou por inspiração privada: seja anátema [cf. *3009].
4. Si quis dixerit, miracula nulla fieri posse, proin- 4. Se alguém disser que não pode haver milagres 3034
deque omnes de iis narrationes, etiam in sacra Scrip- e que, portanto, todas as narrações sobre eles, tam-
tura contentas, inter fabulas vel mythos ablegandas bém as contidas na Sagrada Escritura, se devem
esse; aut miracula certo cognosci numquam posse relegar ao reino da fábula e do mito; ou disser que
nec iis divinam religionis christianae originem rite os milagres nunca podem ser conhecidos com cer-
probari: anathema sit [cf. *3009]. teza, nem se pode por eles provar a origem divina
da religião cristã: seja anátema [cf. *3009].
5. Si quis dixerit, assensum fidei christianae non 5. Se alguém disser que o assentimento à fé cris- 3035
esse liberum, sed argumentis humanae rationis ne- tã não é livre, mas resulta necessário dos argumen-
cessario produci; aut ad solam fidem vivam, quae tos da razão humana; ou que a graça de Deus só é
per caritatem operatur [cf. Gal 5,6], gratiam Dei necessária para a fé viva, que opera pela caridade
necessariam esse: anathema sit [cf. *3010]. [cf. Gl 5,6]: seja anátema [cf. *3010].
6. Si quis dixerit, parem esse condicionem fide- 6. Se alguém disser que é igual a condição dos 3036
lium atque eorum, qui ad fidem unice veram non- fiéis e a daqueles que ainda não chegaram à fé única
dum pervenerunt, ita ut catholici iustam causam verdadeira, de sorte que os católicos possam ter
habere possint fidem, quam sub Ecclesiae magis- justa razão para duvidar da fé que abraçaram sob o
terio iam susceperunt, assensu suspenso in dubium magistério da Igreja, suspendendo o assentimento
vocandi, donec demonstrationem scientificam cre- até terem concluído a demonstração científica da
dibilitatis et veritatis fidei suae absolverint: ana- credibilidade e veracidade da sua fé: seja anátema
thema sit [cf. *3014]. [cf. *3014].
651
Epílogo
3044 Itaque supremi pastoralis Nostri officii debitum Por isso, cumprindo o que devemos a nosso su-
exsequentes, omnes Christi fideles, maxime vero premo ofício pastoral, pedimos insistentemente, pe-
eos, qui praesunt vel docendi munere funguntur, per las entranhas de Jesus Cristo, a todos os fiéis cris-
viscera Iesu Christi obtestamur, necnon eiusdem Dei tãos, especialmente aos que presidem ou exercem o
et Salvatoris nostri auctoritate iubemus, ut ad hos ofício de ensinar, e mandamos, com a autoridade do
errores a sancta Ecclesia arcendos et eliminandos, mesmo Deus e Salvador nosso, que invistam empe-
atque purissimae fidei lucem pandendam studium nho e cuidado para eliminar e afastar da santa Igreja
et operam conferant. tais erros e difundir a luz da fé pura e verdadeira.
3045 Quoniam vero satis non est, haereticam pravita- Contudo, como não basta evitar a heresia, a não
tem devitare, nisi ii quoque errores diligenter fu- ser fugindo também daqueles erros que mais ou
giantur, qui ad illam plus minusve accedunt, omnes menos se aproximam dela, lembramos a todos o de-
officii monemus, servandi etiam constitutiones et ver de observar também as constituições e os decre-
decreta, quibus pravae eiusmodi opiniones, quae tos pelos quais esta Santa Sé proscreve e proíbe tais
isthic diserte non enumerantur, ab hac Sancta Sede opiniões perversas, que não vêm aqui expressamente
proscriptae et prohibitae sunt. enumeradas.
3050-3075: 4ª sessão, 18 jul. 1870: primeira Constituição Dogmática “Pastor aeter nus”
sobre a Igreja de Cristo
Um projeto sobre a Igreja, “Supremi pastoris”, abrangendo 15 capítulos e 21 cânones, foi apresentado aos padres
conciliares (MaC 51,539-553; CollLac 7,567-578); continha a doutrina acerca da primazia do Papa (cap. 11), mas não
a da infalibilidade. De acordo com o desejo de muitos, Pio IX pôs a questão da infalibilidade na agenda no dia 7 mar.
1870. Na véspera havia sido preparado o projeto de um capítulo adicional acerca da infalibilidade (MaC 51,701-702A;
CollLac 7,641ab). Durante a discussão desenhou-se uma constituição própria, dividida em quatro capítulos, tratando do
Papa. Elaborou-se, então, um novo projeto, que foi apresentado à sessão plenária da comissão em 9 mai. 1870 (MaC
52,4-7; CollLac 7,1640-43 [n. 558]). Uma versão melhorada foi apresentado ao concílio no dia 13 jul. A definição
ocorreu em 18 jul., na 4ª sessão pública.
Na discussão da infalibilidade, muitos padres manifestaram reserva: tal definição abriria as portas ao abuso do
magistério eclesiástico; o nexo do Papa com a Escritura e a tradição não é bastante seguro; certo número de dados
históricos favorecem uma distinção entre o Papa enquanto doutor universal infalível e o Papa enquanto doutor privado
e falível (cf. *2565). Por causa dessas dificuldades, parte considerável dos padres conciliares se opôs à definição, mas
a maioria foi a favor. Depois que malogrou a tentativa da minoria para, na última hora, levar Pio IX a uma atitude mais
conciliadora, muitos padres abandonaram o concílio antes da sessão decisória de 18 jul.
652
Na opinião pública, a infalibilidade do Papa foi muitas vezes rechaçada porque os chamados “ultramontanos” a
apresentavam de modo exagerado. Louis Veuillot, por exemplo, redator influente do jornal L’Univers, chegara a propor
que se constatasse simplesmente a infalibilidade por aclamação, sem explicação teológica acurada. No dia 11 jul., na
84ª congregação geral, o bispo Vinzenz Gasser, porta-voz da comissão da fé, explicou o sentido e os limites da infali-
bilidade pontifícia quanto a seu sujeito, objeto e ato (MaC 52,1204-1230; CollLac 7,388-420). O secretário do concílio,
o bispo Joseph Fessler, escreveu depois do concílio uma obra volumosa intitulada Die wahre und die falsche Unfehlbarkeit
der Päpste (Viena 18713; ed. fr. Paris 1873), que relata os comentários mais notáveis referentes à infalibilidade.
Ed.: MaC 52, 1330-1334 / CollLac 7, 482-487 / Pio IX, Acta 1/V, 207-218 / ASS 6 (1870/71) 40-47 / COeD3
81129-81639.
*3051 1 Leão I Magno, Sermão 4º sobre seu aniversário [no aniversário de sua eleição como bispo de Roma], cap. 2 (PL
54, 150C).
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Ecclesiae instituit, id eodem auctore in Ecclesia, ção eterna e o bem perene da Igreja, deve pela au-
quae fundata super petram ad finem saeculorum toridade do mesmo constantemente continuar na
usque firma stabit, iugiter durare necesse est. “Nulli” Igreja, que, fundada sobre o rochedo, permanecerá
sane “dubium, immo saeculis omnibus notum est, inabalável até ao fim dos séculos. Decerto, “nin-
quod sanctus beatissimusque Petrus, Apostolorum guém duvida, pois é um fato notório em todos os
princeps et caput fideique columna et Ecclesiae ca- séculos, que o santo e beatíssimo Pedro, príncipe e
tholicae fundamentum, a Domino nostro Iesu Chris- chefe dos Apóstolos, recebeu de nosso Senhor Je-
to, Salvatore humani generis ac Redemptore, claves sus Cristo, Salvador e Redentor do gênero humano,
regni accepit: qui ad hoc usque tempus et semper in as chaves do reino; e ele, até agora e sempre, em
suis successoribus”, episcopis sanctae Romanae seus sucessores”, os bispos da santa Sé de Roma,
Sedis, ab ipso fundatae eiusque consecratae sangui- por ele fundada e consagrada com seu sangue, “vive”
ne “vivit” et praesidet et “iudicium exercet”1. e preside e “exerce o juízo”1.
Unde quicumque in hac cathedra Petro succedit, Daí se segue que todo aquele que sucede a Pedro 3057
is secundum Christi ipsius institutionem primatum nesta cátedra, obtém, segundo a instituição do pró-
Petri in universam Ecclesiam obtinet. “Manet ergo prio Cristo, o primado de Pedro sobre a Igreja uni-
dispositio veritatis, et beatus Petrus in accepta for- versal. “Permanece, pois, o que a verdade ordena; e
titudine petrae perseverans suscepta Ecclesiae gu- o bem-aventurado Pedro, perseverando na fortaleza
bernacula non reliquit”1. Hac de causa ad Roma- de pedra que recebera, não abandonou o timão da
nam Ecclesiam “propter potentiorem principalita- Igreja que uma vez empunhara”1. Por isso, foi sem-
tem necesse” semper fuit “omnem convenire Ec- pre “necessário que” a esta Igreja romana, “por
clesiam, hoc est eos, qui sunt undique fideles”2, ut causa de sua mais forte principalidade, se unisse
in ea sede, e qua “venerandae communionis iura”3 toda a Igreja, isto é, todos os fiéis que há e donde
in omnes dimanant, tamquam membra in capite con- quer que sejam”2, a fim de que nessa Sé, da qual
sociata in unam corporis compagem coalescerent. emanam todos “os direitos da veneranda comu-
nhão”3, unidos como os membros à cabeça, se jun-
tassem na articulação de um só corpo.
[C a n o n .] Si quis ergo dixerit, non esse ex ip- [C â n o n .] Se, portanto, alguém disser não ser por 3058
sius Christi Domini institutione seu iure divino, ut instituição do próprio Cristo, ou seja, de direito di-
beatus Petrus in primatu super universam Ecclesiam vino, que o bem-aventurado Pedro tem perpétuos su-
habeat perpetuos successores: aut Romanum Ponti- cessores no primado sobre a Igreja universal; ou que
ficem non esse beati Petri in eodem primatu suc- o Romano Pontífice não é o sucessor do bem-aven-
cessorem: anathema sit. turado Pedro no mesmo primado: seja anátema.
*3056 1 Discurso do legado papal Filipe na sessão 3ª do concílio de Éfeso, 11 jul. 431 (ACOe 1/I/III, 6027-33, n. 10631 / MaC
4, 1295B-1298A / HaC 1, 1477B).
*3057 1 Leão I. Magno, Sermão 3º sobre seu aniversário, cap. 3 (PL 54, 146B).
2 Ireneu de Lião, Adversus haereses III 3, n. 2 (SouChr 211 [1974] 3226s) = III 3, n. 1 (ed. W.W. Harvey [Cambridge
1857] 2, 9 / PG 7, 849A).
3 Ambrósio de Milão, Carta 11, 4 (PL 16, 986B).
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Pontificem in universum orbem tenere primatum, fice têm o primado sobre todo o orbe e que o mes-
et ipsum Pontificem Romanum successorem esse mo Romano Pontífice é o sucessor do bem-aventu-
beati Petri, principis Apostolorum, et verum Christi rado Pedro, príncipe dos Apóstolos e verdadeiro
vicarium totiusque Ecclesiae caput et omnium Chris- vigário de Cristo, e cabeça de toda a Igreja e pai e
tianorum patrem ac doctorem exsistere; et ipsi in doutor de todos os cristãos; e que a ele, na pessoa
beato Petro pascendi, regendi ac gubernandi uni- do bem-aventurado Pedro, foi entregue por Nosso
versalem Ecclesiam a Domino nostro Iesu Christo Senhor Jesus Cristo o pleno poder de apascentar,
plenam potestatem traditam esse; quemadmodum reger e governar a Igreja universal conforme tam-
etiam in gestis oecumenicorum conciliorum et in bém está contido nas atas dos concílios ecumênicos
sacris canonibus continetur” [*1307]. e nos sagrados cânones” [*1307].
3060 Docemus proinde et declaramus, Ecclesiam Ro- Ensinamos, pois, e declaramos que a Igreja ro-
manam, disponente Domino, super omnes alias or- mana, por disposição divina, tem o primado do poder
dinariae potestatis obtinere principatum, et hanc Ro- ordinário sobre todas as outras, e que este poder de
mani Pontificis iurisdictionis potestatem, quae vere jurisdição do Romano Pontífice, que é verdadeira-
episcopalis est, immediatam esse: erga quam cuius- mente episcopal, é imediato; e a ela estão obriga-
cumque ritus et dignitatis pastores atque fideles, tam dos, por dever de subordinação hierárquica e de
seorsum singuli quam simul omnes, officio hierar- verdadeira obediência, os pastores e os fiéis de
chicae subordinationis veraeque oboedientiae obs- qualquer rito e dignidade, tanto cada um em parti-
tringuntur, non solum in rebus, quae ad fidem et mo- cular, como todos em conjunto, não só nas coisas
res, sed etiam in iis, quae ad disciplinam et regimen referentes à fé e aos costumes, mas também nas
Ecclesiae per totum orbem diffusae pertinent; ita ut, que se referem à disciplina e ao regime da Igreja
custodita cum Romano Pontifice tam communionis espalhada por todo o orbe; de tal forma que, guar-
quam eiusdem fidei professionis unitate, Ecclesia dada a unidade de comunhão e de fé com o Roma-
Christi sit unus grex sub uno summo pastore [cf. Io no Pontífice, a Igreja de Cristo seja um só rebanho
10,16]. Haec est catholicae veritatis doctrina, a qua sob um só pastor supremo [cf. Jo 10,16]. Esta é a
deviare salva fide atque salute nemo potest. doutrina da verdade católica, da qual ninguém pode
se desviar, sem perda da fé e da salvação.
3061 Tantum autem abest, ut haec Summi Pontificis Este poder do Sumo Pontífice, porém, está muito
potestas officiat ordinariae ac immediatae illi epis- longe de embargar aquele poder ordinário e ime-
copalis iurisdictionis potestati, qua episcopi, qui diato de jurisdição episcopal pelo qual os bispos,
positi a Spiritu Sancto [cf. Act 20,28] in Apostolo- que constituídos pelo Espírito Santo [cf. At 20,28]
rum locum successerunt, tamquam veri pastores sucederam os Apóstolos, como verdadeiros pasto-
assignatos sibi greges singuli singulos pascunt et res apascentam e regem os seus respectivos reba-
regunt, ut eadem a supremo et universali pastore nhos; antes, é confirmado, corroborado e vindicado
asseratur, roboretur ac vindicetur, secundum illud pelo pastor supremo e universal, segundo o dizer
sancti Gregorii Magni: “Meus honor est honor uni- de são Gregório Magno: “A minha honra é a honra
versalis Ecclesiae. Meus honor est fratrum meorum da Igreja universal. Minha honra é o sólido vigor
solidus vigor. Tum ego vere honoratus sum, cum dos meus irmãos. Então sinto-me verdadeiramente
singulis quibusque honor debitus non negatur”1. honrado, quando não se nega a honra que é devida
a cada um”1.
3062 Porro ex suprema illa Romani Pontificis potesta- Além disso, do supremo poder do Romano Pon-
te gubernandi universam Ecclesiam ius eidem esse tífice de governar toda a Igreja resulta o direito de,
consequitur, in huius sui muneris exercitio libere no exercício deste seu ministério, comunicar-se li-
communicandi cum pastoribus et gregibus totius vremente com os pastores e rebanhos de toda a
Ecclesiae, ut iidem ab ipso in via salutis doceri ac Igreja, para que estes possam ser por ele instruídos
regi possint. Quare damnamus ac reprobamus illo- e dirigidos no caminho da salvação. Pelo que con-
rum sententias, qui hanc supremi capitis cum pas- denamos e reprovamos as sentenças daqueles que
toribus et gregibus communicationem licite impe- dizem poder-se impedir licitamente esta comunica-
*3061 1 Gregório I Magno, Carta a Eulógio de Alexandria (D. Norberg: CpChL 140A [1982] 55264-66 [= Registrum epistolarum
VIII 29] / MGH Ep. 2, 3128-30 [= Registrum epistolarum VIII 29] / PL 77, 933C [= Registrum epistolarum VIII 30]).
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diri posse dicunt aut eandem reddunt saeculari po- ção do chefe supremo com os pastores e rebanhos,
testati obnoxiam, ita ut contendant, quae ab Apos- ou a subordinam ao poder secular, a ponto de afir-
tolica Sede vel eius auctoritate ad regimen Eccle- marem que o que é determinado pela Sé Apostólica
siae constituuntur, vim ac valorem non habere, nisi em virtude da sua autoridade para o governo da
potestatis saecularis placito confirmentur. Igreja, não tem força nem valor, a não ser depois de
confirmado pelo beneplácito do poder secular.
Et quoniam divino Apostolici primatus iure Ro- E, porque o Romano Pontífice preside a Igreja 3063
manus Pontifex universae Ecclesiae praeest, doce- Universal em virtude do direito divino do primado
mus etiam et declaramus, eum esse iudicem supre- apostólico, também ensinamos e declaramos que ele
mum fidelium, et in omnibus causis ad examen é o juiz supremo dos fiéis, podendo-se, em todas as
ecclesiasticum spectantibus ad ipsius posse iudicium coisas que pertençam ao foro eclesiástico, recorrer
recurri [cf. *861]; Sedis vero Apostolicae, cuius ao seu juízo [cf. *681]; mas também que a ninguém
auctoritate maior non est, iudicium a nemine fore é lícito pôr em questão o juízo desta Santa Sé, e
retractandum, neque cuiquam de eius licere iudica- que ninguém pode julgar de seu juízo, visto que
re iudicio [cf. *638-642]. Quare a recto veritatis não há autoridade acima dela [cf. *638-642]. Por
tramite aberrant, qui affirmant, licere ab iudiciis Ro- isso, estão fora do reto caminho da verdade os que
manorum Pontificum ad oecumenicum concilium afirmam ser lícito apelar dos juízos dos Romanos
tamquam ad auctoritatem Romano Pontifice supe- Pontífices ao concílio ecumênico, como autoridade
riorem appellare. acima do Romano Pontífice.
[C a n o n .] Si quis itaque dixerit, Romanum Pon- [C â n o n .] Se, pois alguém disser que ao Roma- 3064
tificem habere tantummodo officium inspectionis vel no Pontífice cabe apenas o ofício de inspeção ou
directionis, non autem plenam et supremam potes- direção, mas não o pleno e supremo poder de juris-
tatem iurisdictionis in universam Ecclesiam, non dição sobre a Igreja universal, não só nas matérias
solum in rebus, quae ad fidem et mores, sed etiam referentes à fé e aos costumes, mas também nas
in iis, quae ad disciplinam et regimen Ecclesiae per que se referem à disciplina e ao governo da Igreja
totum orbem diffusae pertinent; aut eum habere espalhada por todo o orbe; ou que ele só goza da
tantum potiores partes, non vero totam plenitudi- parte principal deste supremo poder e não de toda
nem huius supremae potestatis; aut hanc eius po- a plenitude; ou que este seu poder não é ordinário
testatem non esse ordinariam et immediatam sive e imediato, quer sobre todas e cada uma das Igre-
in omnes ac singulas ecclesias sive in omnes et sin- jas, quer sobre todos e cada um dos pastores e fiéis:
gulos pastores et fideles: anathema sit. seja anátema.
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bo Ecclesiam meam’ [Mt 16,18], haec, quae dicta pedra edificarei a minha Igreja’ [Mt 16,18], não pode
sunt, rerum probantur effectibus, quia in Sede Apos- ser preterida, o que foi dito é comprovado pelo efei-
tolica immaculata est semper catholica reservata re- to, pois na Sé Apostólica sempre se conservou ima-
ligio, et sancta celebrata doctrina. Ab huius ergo culada a religião católica e foi celebrada santa a
fide et doctrina separari minime cupientes […] spe- doutrina. Assim, não desejando absolutamente se-
ramus, ut in una communione, quam Sedes Aposto- parar-nos desta fé e desta doutrina […], esperamos
lica praedicat, esse mereamur, in qua est integra et merecer encontrar-nos na única comunhão pregada
vera christianae religionis soliditas”1 [*363-365]. pela Sé Apostólica, na qual está sólida e íntegra a
verdadeira religião cristã”1.
3067 Approbante vero L u g d u n e n s i C o n c i l i o s e - Ora, com a aprovação do I I C o n c í l i o d e
c u n d o Graeci professi sunt: “Sanctam Romanam L i ã o , os gregos professaram que “a santa Igreja
Ecclesiam summum et plenum primatum et princi- romana possui o supremo e pleno primado e prin-
patum super universam Ecclesiam catholicam obti- cipado sobre toda a Igreja católica, <primado> que
nere, quem se ab ipso Domino in beato Petro Apos- com verdade e humildade reconhece ter recebido,
tolorum principe sive vertice, cuius Romanus Pon- com a plenitude do poder, do próprio Senhor, no
tifex est successor, cum potestatis plenitudine rece- bem-aventurado Pedro, príncipe ou cabeça dos
pisse veraciter et humiliter recognoscit; et sicut prae Apóstolos, do qual o Romano Pontífice é o suces-
ceteris tenetur fidei veritatem defendere, sic et, si sor; e assim como está obrigada a defender, mais
quae de fide subortae fuerint quaestiones, suo de- que as outras, a verdade da fé, assim também de-
bent iudicio definiri” [*861]. vem ser definidas por seu juízo as questões que
surgirem a respeito da fé [*861]”.
3068 F l o r e n t i n u m denique C o n c i l i u m definivit: O C o n c í l i o d e F l o r e n ç a , enfim, definiu
“Pontificem Romanum […] verum Christi vicarium “que o Romano Pontífice […] é verdadeiro vigário
totiusque Ecclesiae caput et omnium Christianorum de Cristo, cabeça de toda a Igreja, pai e o doutor de
patrem et doctorem exsistere; et ipsi in beato Petro todos os cristãos; e que nosso Senhor Jesus Cristo
pascendi, regendi ac gubernandi universalem Ec- transmitiu a ele, na pessoa do bem-aventurado Pe-
clesiam a Domino nostro Iesu Christo plenam po- dro, o pleno poder de apascentar, reger e governar
testatem traditam esse” [*1307]. a Igreja universal” [*1307].
3069 Huic pastorali muneri ut satisfacerent, praedeces- Procurando corresponder a este múnus pastoral,
sores Nostri indefessam semper operam dederunt, os nossos predecessores sempre dedicaram infati-
ut salutaris Christi doctrina apud omnes terrae gável empenho à propagação da salutar doutrina de
populos propagaretur, parique cura vigilarunt, ut, Cristo entre todos os povos da terra, e com igual
ubi recepta esset, sincera et pura conservaretur. solicitude vigiaram para que, onde fosse recebida,
Quocirca totius orbis antistites, nunc singuli, nunc também fosse guardada pura e sem alteração. Pelo
in Synodis congregati, longam ecclesiarum consue- que os bispos de todo o orbe, ora em particular, ora
tudinem et antiquae regulae formam sequentes, ea reunidos em sínodos, seguindo o longo costume das
praesertim pericula, quae in negotiis fidei emerge- Igrejas e a forma das antigas regras, têm referido a
bant, ad hanc Sedem Apostolicam retulerunt, ut ibi esta Sé Apostólica principalmente os perigos que
potissimum resarcirentur damna fidei, ubi fides non surgiam em assuntos de fé, a fim de que os danos
potest sentire defectum1. da fé se ressarcissem especialmente aí, onde a fé
não pode sofrer quebra1.
Romani autem Pontifices, prout temporum et re- Os Romanos Pontífices, conforme lhes aconse-
rum condicio suadebat, nunc convocatis oecumeni- lhava a condição dos tempos e das circunstâncias,
cis Conciliis aut explorata Ecclesiae per orbem ora convocando concílios ecumênicos ou auscultan-
dispersae sententia, nunc per Synodos particulares, do a opinião de toda a Igreja dispersa pelo orbe, ora
nunc aliis, quae divina suppeditabat providentia, por sínodos particulares ou empregando outros
*3066 1 Citação abreviada do Libellus fidei do papa Hormisdas (*363-365); marcadas com […] as omissões não assinaladas
no próprio texto da constituição.
*3069 1 Bernardo de Claraval, Carta 190, ou Tractatus contra errores Abaelardi, ao papa Inocêncio II, Prefácio (Opera 8, ed.
J. Leclercq – H.M. Rochais [Roma 1977] 179s / PL 182, 1053D).
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adhibitis auxiliis, ea tenenda definiverunt, quae sa- meios que a divina providência lhes proporcionava,
cris Scripturis et apostolicis traditionibus consenta- definiram que se devia sustentar aquilo que, com o
nea, Deo adiutore, cognoverant. auxílio de Deus, reconheceram ser conforme às
sagradas Escrituras e às tradições apostólicas.
Neque enim Petri successoribus Spiritus Sanctus Pois o Espírito Santo não foi prometido aos su- 3070
promissus est, ut eo revelante novam doctrinam cessores de Pedro para que, por revelação sua, ma-
patefacerent, sed ut, eo assistente, traditam per Apos- nifestassem uma nova doutrina, mas para que, com
tolos revelationem seu fidei depositum sancte custo- sua assistência, conservassem santamente e expu-
dirent et fideliter exponerent. Quorum quidem apos- sessem fielmente a revelação transmitida pelos
tolicam doctrinam omnes venerabiles Patres ample- Apóstolos, ou seja, o depósito da fé. E, decerto,
xi et sancti Doctores orthodoxi venerati atque secuti esta doutrina apostólica, todos os veneráveis Pa-
sunt; plenissime scientes, hanc sancti Petri Sedem dres abraçaram-na e os santos ortodoxos Doutores
ab omni semper errore illibatam permanere, secun- a veneraram e seguiram, plenissimamente conscien-
dum Domini Salvatoris nostri divinam pollicitatio- tes de que esta Sé de são Pedro sempre permane-
nem discipulorum suorum principi factam: “Ego ceu intacta de todo erro, segundo a divina promes-
rogavi pro te, ut non deficiat fides tua: et tu aliquan- sa de nosso Senhor <e> Salvador feita ao chefe dos
do conversus confirma fratres tuos” [Lc 22,32]. seus discípulos: “Eu roguei por ti, para que tua fé
não desfaleça; e tu, uma vez convertido, confirma
teus irmãos” [Lc 22,32].
Hoc igitur veritatis et fidei numquam deficientis Foi, portanto, este carisma da verdade e da fé in- 3071
charisma Petro eiusque in hac cathedra successori- defectível, concedido divinamente a Pedro e a seus
bus divinitus collatum est, ut excelso suo munere in sucessores nesta cátedra, a fim de que desempenhas-
omnium salutem fungerentur, ut universus Christi sem seu sublime encargo para a salvação de todos,
grex per eos ab erroris venenosa esca aversus, cae- para que assim todo o rebanho de Cristo, afastado
lestis doctrinae pabulo nutriretur, ut, sublata schis- por eles do pasto venenoso do erro, fosse nutrido
matis occasione, Ecclesia tota una conservaretur, com o pábulo da doutrina celeste, para que assim,
atque suo fundamento innixa, firma adversus inferi removida toda ocasião de cisma, se conservasse unida
portas consisteret. a Igreja universal e, apoiada no seu fundamento, se
mantivesse firme contra as portas do inferno.
At vero cum hac ipsa aetate, qua salutifera Apos- Mas, como nestes nossos tempos, em que mais 3072
tolici muneris efficacia vel maxime requiritur, non do que nunca se precisa da salutar eficácia do mi-
pauci inveniantur, qui illius auctoritati obtrectant, nistério apostólico, se encontram não poucos a con-
necessarium omnino esse censemus, praerogativam, testar sua autoridade, julgamos absolutamente ne-
quam unigenitus Dei Filius cum summo pastorali cessário afirmar solenemente esta prerrogativa que
officio coniungere dignatus est, solemniter asserere. o Filho Unigênito de Deus se dignou juntar ao su-
premo ofício pastoral.
Itaque Nos traditioni a fidei christianae exordio Por isso, Nós, apegando-nos à tradição recebida 3073
perceptae fideliter inhaerendo, ad Dei Salvatoris desde o início da fé cristã, para a glória de Deus
nostri gloriam, religionis catholicae exaltationem et nosso Salvador, para exaltação da religião católica
christianorum populorum salutem, sacro approban- e a salvação dos povos cristãos, com a aprovação
te Concilio, docemus et divinitus revelatum dogma do Sagrado Concílio, ensinamos e definimos como
esse definimus: dogma divinamente revelado:
Romanum Pontificem, cum ex cathedra loquitur, O Romano Pontífice, quando fala ex cathedra – 3074
id est, cum omnium Christianorum pastoris et isto é, quando, no desempenho do múnus de pastor
doctoris munere fungens pro suprema sua Aposto- e doutor de todos os cristãos, define com sua supre-
lica auctoritate doctrinam de fide vel moribus ab ma autoridade apostólica que determinada doutrina
universa Ecclesia tenendam definit, per assistentiam referente à fé e à moral deve ser sustentada por toda
divinam ipsi in beato Petro promissam, ea infallibi- a Igreja –, em virtude da assistência divina prome-
litate pollere, qua divinus Redemptor Ecclesiam tida a ele na pessoa do bem-aventurado Pedro, goza
suam in definienda doctrina de fide vel moribus daquela infalibilidade com a qual o Redentor quis
instructam esse voluit; ideoque eiusmodi Romani estivesse munida a sua Igreja quando deve definir
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Pontificis definitiones ex sese, non autem ex con- alguma doutrina referente à fé e aos costumes; e
sensu Ecclesiae, irreformabiles esse. que, portanto, tais declarações do Romano Pontífi-
ce são, por si mesmas, e não apenas em virtude do
consenso da Igreja, irreformáveis.
3075 [C a n o n .] Si quis autem huic Nostrae definitio- [C â n o n .] Se, porém – o que Deus não permi-
ni contradicere, quod Deus avertat, praesumpserit: ta –, alguém ousar contradizer esta nossa definição
anathema sit. seja anátema.
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Ex quo est, quod Innocentius IV, in c. 2 De bap- Por isso mesmo, Inocêncio IV afirma, no De
tismo n. 9 ait, validum esse baptisma collatum a baptismo, cap. 2, n. 9, que um batismo é válido se
saraceno, de quo notum est, non credere per immer- ele é conferido por um sarraceno, do qual se sabe
sionem aliquid fieri nisi madefactionem, dummodo que ele crê que pela imersão apenas se fica molha-
intenderit facere, quod ceteri baptizantes faciunt. do, desde que tenha a intenção de fazer o que fa-
zem os outros que batizam.
Conclusio Responsi: Ad 1. Negative: quia non Conclusão da resposta: Quanto a 1. Não: pois,
obstante errore quoad effectus baptismi non exclu- apesar do erro quanto aos efeitos do batismo, não é
ditur intentio faciendi quod facit Ecclesia. – Ad 2. excluído a intenção de fazer o que a Igreja faz. –
Provisum in primo. Quanto a 2. Respondido em 1.
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Alle diese Sätze entbehren der Begründung und Todas estas teses carecem de fundamento e estão
stehen mit dem Wortlaute wie mit dem richtigen, definitivamente em contradição com o texto e com
durch den Papst, den Episkopat und die Vertreter o sentido das declarações do Concílio do Vaticano
der katholischen Wissenschaft wiederholt erklärten repetidamente esclarecido pelo Papa, pelo episco-
Sinn der Beschlüsse des Vaticanischen Concils pado e pelos representantes da ciência católica.
entschieden im Widerspruch.
[R i c h t i g e L e h re : ] Allerdings ist nach diesen [D o u t r i n a c e r t a :] Sem dúvida, depois destas 3113
Beschlüssen die kirchliche Jurisdictionsgewalt des decisões o poder de jurisdição eclesiástica do Papa
Papstes eine potestas suprema, ordinaria et imme- se configura como uma potestas suprema, ordinaria
diata <= höchste, ordentliche und unmittelbare et immediata <= poder supremo, ordinário e ime-
Gewalt>, eine dem Papst von Jesus Christus, dem diato>, um poder de governo supremo dado ao Papa
Sohne Gottes, in der Person des hl. Petrus verlie- por Jesus Cristo, Filho de Deus, na pessoa de S.
hene, auf die ganze Kirche, mithin auch auf jede Pedro, e que se estende diretamente sobre a Igreja
einzelne Diöcese und alle Gläubigen sich direct inteira, portanto também sobre cada diocese e so-
erstreckende oberste Amtsgewalt zur Erhaltung der bre todos os seus fiéis, afim de conservar a unidade
Einheit des Glaubens, der Disciplin und der Regie- da fé, da disciplina e do governo da Igreja, não uma
rung der Kirche, und keineswegs eine bloss aus simples atribuição que se resume em alguns direi-
einigen Reservatrechten bestehende Befugnis. Dies tos reservados. Mas esta não é uma doutrina nova;
ist aber keine neue Lehre, sondern eine stets aner- é uma verdade reconhecida da fé católica, … re-
kannte Wahrheit des katholischen Glaubens …, wel- centemente explicada e confirmada pelo Concílio
che das Vaticanische Concil gegenüber den Irrtü- do Vaticano … contra os erros dos galicanos, dos
mern der Gallicaner, Jansenisten und Febronianer jansenistas e dos febronianos. De acordo com esta
… neuerdings erklärt und bestätigt hat. Nach dieser doutrina, o Papa é bispo de Roma, mas não bispo
Lehre der katholischen Kirche ist der Papst Bischof de nenhuma outra cidade ou diocese, nem bispo de
von Rom, nicht Bischof irgendeiner anderen Stadt Breslau, nem de Colônia etc. Ora, na sua qualidade
oder Diöcese, nicht Bischof von Köln oder Breslau de bispo de Roma, ele é ao mesmo tempo Papa,
u.s.w. Aber als Bischof von Rom ist er zugleich isto é, pastor e chefe supremo da Igreja universal,
Papst, d. h. Hirt und Oberhaupt der ganzen Kirche, cabeça de todos os bispos e fiéis, e seu poder papal
Oberhaupt aller Bischöfe und aller Gläubigen, und não aflora apenas em determinados casos excepcio-
seine päpstliche Gewalt lebt nicht etwa in bes- nais, mas tem validade e força sempre e em todo
timmten Ausnahmefällen erst auf, sondern sie hat lugar. Nesta sua posição, o Papa deve velar para
immer und allezeit und überall Geltung und Kraft. que cada bispo cumpra seu dever em toda a exten-
In dieser seiner Stellung hat der Papst darüber zu são de seu encargo, e se um bispo é impedido disso
wachen, dass jeder Bischof im ganzen Umfang ou se uma necessidade qualquer o exige, o Papa
seines Amtes seine Pflicht erfülle, und wo ein Bis- tem o direito e o dever, não na qualidade de bispo
chof behindert ist oder eine anderweitige Notwen- da diocese, mas na qualidade de Papa, de ordenar
digkeit es erfordert, da hat der Papst das Recht und tudo o que for necessário para a administração da-
die Pflicht, nicht als Bischof der betreffenden Diö- quela diocese.
cese, sondern als Papst, alles in derselben anzuord-
nen, was zur Verwaltung derselben gehört. …
Die Beschlüsse des Vaticanischen Concils bieten As decisões do concílio do Vaticano não ofere- 3114
ferner keinen Schatten von Grund zu der Behaup- cem sombra de pretexto para dizer que o Papa se
tung, es sei der Papst durch dieselben ein absoluter tornou um soberano absoluto e, em virtude de sua
Souverän geworden, und zwar vermöge seiner Un- infalibilidade, “um soberano perfeitamente absolu-
fehlbarkeit ein “vollkommen absoluter, mehr als ir- to mais que qualquer monarca absoluto do mun-
gendein absoluter Monarch in der Welt”. Zunächst do”. Em primeiro lugar, o âmbito do poder eclesi-
ist das Gebiet, auf welches sich die kirchliche Ge- ástico do Papa é essencialmente diferente daquele
walt des Papstes bezieht, wesentlich verschieden sobre o qual se estende a soberania temporal dos
von demjenigen, worauf sich die weltliche Souve- monarcas; também não contestam os católicos em
ränität des Monarchen bezieht; auch wird die volle nenhum lugar a soberania do príncipe local no
Souveränität des Landesfürsten auf staatlichem âmbito do Estado. Mas, abstração feita disso, a
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Gebiete von Katholiken nirgends bestritten. Aber qualificação de monarca absoluto também não se
abgesehen hiervon kann die Bezeichnung eines aplica ao Papa nos assuntos eclesiásticos, visto que
absoluten Monarchen auch in Beziehung auf kirch- ele está sob o direito divino e ligado às disposições
liche Angelegenheiten auf den Papst nicht ange- estabelecidas por Cristo para a sua Igreja. Ele não
wendet werden, weil derselbe unter dem göttlichen pode modificar a constituição dada à Igreja por seu
Rechte steht und an die von Christus für seine Kir- divino fundador como um legislador temporal pode
che getroffenen Anordnungen gebunden ist. Er kann modificar a constituição do Estado. A constituição
die der Kirche von ihrem göttlichen Stifter gegebe- da Igreja é fundada, em todos os seus pontos essen-
ne Verfassung nicht ändern wie der weltliche Ge- ciais, sobre uma disposição divina fora de alcance
setzgeber eine Staatsverfassung ändern kann. Die da arbitrariedade humana.
Kirchenverfassung beruht in allen wesentlichen
Punkten auf göttlicher Anordnung und ist jeder
menschlichen Willkür entzogen.
3115 Kraft derselben göttlichen Einsetzung, worauf das Em virtude desta mesma instituição divina que
Papsttum beruht, besteht auch der Episkopat; auch fundamenta o papado existe também o episcopado,
er hat seine Rechte und Pflichten vermöge der von o qual também tem seus direitos e deveres em vir-
Gott selbst getroffenen Anordnung, welche zu än- tude da disposição estabelecida por Deus mesmo,
dern der Papst weder das Recht noch die Macht hat. que o Papa não tem o direito nem o poder de modi-
Es ist also ein völliges Missverständnis der Vatica- ficar. Portanto, absolutamente não entende as deci-
nischen Beschlüsse, wenn man glaubt, durch die- sões vaticanas quem acredita que por causa delas “a
selben sei “die bischöfliche Jurisdiktion in der päps- jurisdição episcopal é absorvida pela jurisdição pa-
tlichen aufgegangen”, der Papst sei “im Princip an pal”, que o Papa “se substituiu, em princípio, a cada
die Stelle jedes einzelnen Bischofs getreten”, die bispo individualmente”, que os bispos são “apenas
Bischöfe seien nur noch “Werkzeuge des Papstes, seus instrumentos, seus funcionários, sem responsa-
seine Beamten ohne eigene Verantwortlichkeit”. … bilidade própria”. … No que concerne, especifica-
Was insbesondere die [letztere] Behauptung betrifft, mente, a esta [última] afirmação, … só a podemos
… so können wir dieselbe nur mit aller Entschie- recusar com toda determinação; realmente não é na
denheit zurückweisen; es ist wahrlich nicht die ka- Igreja católica que foi acolhido o princípio imoral e
tholische Kirche, in welcher der unsittliche und des- despótico segundo o qual a ordem do superior dis-
potische Grundsatz, der Befehl des Obern entbinde solve irrestritamente a responsabilidade pessoal.
unbedingt von der eigenen Verantwortlichkeit, Auf-
nahme gefunden hat.
3116 Die Ansicht endlich, als sei der Papst “vermöge Enfim, a opinião de que o Papa, “em virtude de
seiner Unfehlbarkeit ein vollkommen absoluter Sou- sua infalibilidade, é um soberano perfeitamente
verän”, beruht auf einem durchaus irrigen Begriff absoluto” se apóia num entendimento absolutamente
von dem Dogma der päpstlichen Unfehlbarkeit. Wie errôneo do dogma da infalibilidade papal. Como o
das Vaticanische Concil es mit klaren und deutlichen enunciou com termos claros e distintos o Concílio
Worten ausgesprochen hat und die Natur der Sache do Vaticano e como resulta da própria natureza da
von selbst ergibt, bezieht sich dieselbe lediglich auf coisa, ela se refere apenas a uma qualidade do su-
eine Eigenschaft des höchsten päpstlichen Lehramts: premo magistério do Papa: este se estende exata-
dieses erstreckt sich genau auf dasselbe Gebiet wie mente sobre o mesmo âmbito que o magistério in-
das unfehlbare Lehramt der Kirche überhaupt und falível da Igreja e está ligado ao conteúdo da Sa-
ist an den Inhalt der Hl. Schrift und der Überliefe- grada Escritura e da Tradição, como também às de-
rung sowie an die bereits von dem kirchlichen Leh- cisões doutrinais anteriormente proferidas pelo ma-
ramt gegebenen Lehrentscheidungen gebunden. gistério eclesiástico. No exercício do poder do Papa
Hinsichtlich der Regierungshandlungen des Papstes nada é por isso modificado.
ist dadurch nicht das Mindeste geändert worden.
b) Carta apostólica “Mirabilis illa constância”, aos bispos da Alemanha, 4 mar. 1875
3117 … Gloriam Ecclesiae vos continuastis, Venerabi- … Vós destes continuidade a esta glória da Igre-
les Fratres, dum germanum Vaticani Concilii defi- ja, veneráveis irmãos, quando tomastes a iniciativa
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nitionum sensum a vulgata quadam circulari epistola de expor o verdadeiro sentido dos decretos do Con-
captiosa commentatione detortum restituendum cílio do Vaticano – capciosamente distorcido numa
suscepistis, ne fideles deciperet et, in invidiam circular amplamente divulgada –, para que não fos-
conversus, ansam praebere videretur machinationi- se entendido erroneamente pelos fiéis e, odiosamente
bus obiiciendis libertati electionis novi Pontificis. falsificado, favorecesse as maquinações para entra-
Equidem ea est perspicuitas et soliditas declaratio- var a liberdade na escolha de um novo Papa. A cla-
nis vestrae, ut, cum nihil desiderandum relinquat, reza e solidez de vossa declaração é realmente tanta
amplissimis tantum gratulationibus Nostris occasio- que, não deixando nada a desejar, ela Nos ofereceu
nem suppeditare deberet; nisi gravius etiam testi- ensejo para amplíssimas congratulações; mas a no-
monium exposceret a Nobis versuta quarundam tícia mentirosa de alguns periódicos exige de Nós
ephemeridum vox, quae, ad restituendam refutatae um testemunho mais expressivo de Nossa aprova-
a vobis epistolae vim, conata est lucubrationi vestrae ção, pois, para restabelecer a força da circular que
fidem derogare, suadendo, emollitam et minime vós refutastes, a dita notícia tentou recusar crédito a
propterea respondentem huiusce Sedis Apostolicae vossas explicações, inculcando que a doutrina do
menti probatam a vobis fuisse conciliarium defini- Concílio foi por vós edulcorada e de modo algum
tionum doctrinam. correspondesse à intenção desta Sé Apostólica.
Nos itaque vafram hanc et calumniosam insinua- Nós rechaçamos, portanto, essa pérfida e caluniosa
tionem ac suggestionem reiicimus; cum declaratio insinuação e sugestão; como vossa declaração re-
vestra nativam referat catholicam ac propterea sacri presenta a genuína sentença católica – que é tam-
Concilii et huius Sanctae Sedis sententiam luculentis bém a do sagrado Concílio e desta Santa Sé –, com
et ineluctabilibus rationum momentis scitissime mu- argumentos acertados e irrefutáveis adequadamente
nitam et nitide sic explicatam, ut honesto cuilibet fundada e com brilho explicada, conseguindo mos-
ostendere valeat, nihil prorsus esse in impetitis de- trar a qualquer pessoa honesta que nas definições
finitionibus, quod novum sit aut quidquam immutet contestadas nada há que seja novo ou modifique algo
in veteribus relationibus quodque obtentum aliquem nas relações de sempre, ou possa oferecer algum
praebere possit urgendae vexationi Ecclesiae … pretexto para oprimir ainda mais a Igreja. …
665
3123 3. Hinc transsubstantiatio seu conversio totius 3. Daí que a transubstanciação ou conversão de
substantiae panis in substantiam corporis Christi toda a substância do pão na substância do corpo de
Domini nostri explicari potest hac ratione, quod nosso Senhor Jesus Cristo pode ser explicada da
corpus Christi, dum fit substantialiter praesens in seguinte maneira: o corpo de Cristo, ao tornar-se
Eucharistia, sustentat naturam panis, quae hoc ipso substancialmente presente na Eucaristia, sustenta a
et absque alia sui mutatione desinit esse substantia, natureza do pão, que deixa de ser substância pelo
quia iam non est in se, sed in alio sustentante; adeo- mero fato e sem outra mutação de si, porque já não
que manet quidem natura panis, sed in ea cessat está em si, mas em outro sustentante; e, portanto,
formalis ratio sub stantiae; et ideo non duae sunt permanece efetivamente a natureza de pão, mas
substantiae, sed una sola, nempe corporis Christi. acaba nela a razão formal de substância, e, por
conseguinte, não são duas substâncias, mas uma só,
a saber, a do corpo de Cristo.
3124 4. Igitur in Eucharistia manent materia et forma 4. Assim, pois, na Eucaristia permanecem a ma-
elementorum panis; verum iam in alio supernatura- téria e a forma dos elementos do pão; mas, como
liter exsistentes rationem substantiae non habent, sed existem já em outro sobrenaturalmente, não têm
habent rationem supernaturalis accidentis, non quasi mais razão de substância, mas têm razão de aciden-
ad modum naturalium accidentium afficerent cor- te sobrenatural, não como se afetassem o corpo de
pus Christi, sed eo dumtaxat, quod a corpore Chris- Cristo à maneira dos acidentes naturais, mas só
ti modo, quo dictum est, sustentantur. enquanto são sustentados pelo corpo de Cristo, do
modo acima dito.
Resp.: Prout hic exponitur, tolerari non posse. Resp.: Como aqui exposta, não pode ser tolerada.
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cuius quasi a priori, ut aiunt, baptismus sit iterum vel a todos os casos, obrigando quase que a priori,
conferendus. como dizem, a conferir novamente o batismo.
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llitas magis magisque turbetur neve societas maius tra eles, a fim de que não se perturbe mais e mais a
exinde detrimentum capiat. Cumque res eo devene- tranqüilidade da ordem ou, por isso, a sociedade sofra
rint, ut nulla alia spes salutis affulgeat, docet, chris- dano maior. E quando a situação chega a termos em
tianae patientiae meritis et instantibus ad Deum que não brilha mais outra esperança de saída, ensina
precibus remedium esse maturandum. que há de acelerar-se o remédio com os méritos da
paciência cristã e com a insistente oração a Deus.
Quod si legislatorum ac principum placita aliquid Mas se os decretos dos legisladores e príncipes
sanciverint aut iusserint, quod divinae aut naturali sancionarem ou mandarem algo que repugna à lei
legi repugnet, christiani nominis dignitas et officium divina ou natural, a dignidade e o dever do nome
atque Apostolica sententia suadent, oboediendum cristão bem como a sentença apostólica persuadem
esse magis Deo quam hominibus [Act 5,29]. … que é preciso obedecer a Deus antes que aos ho-
mens [At 5,29].
3133 Publicae autem ac domesticae tranquillitati ca- Por outro lado, a sabedoria católica, apoiada nos
tholica sapientia, naturalis divinaeque legis praecep- preceitos da lei divina e natural, com grande pru-
tis suffulta, consultissime providit etiam per ea, quae dência proveu também à tranqüilidade pública e do-
sentit ac docet de i u r e d o m i n i i et p a r t i t i o n e méstica por seu sentir e doutrina acerca do d i r e i t o
b o n o r u m , quae ad vitae necessitatem et utilita- d e p r o p r i e d a d e e da r e p a r t i ç ã o d o s b e n s
tem sunt comparata. Cum enim socialistae ius pro- adquiridos para as necessidades ou utilidades da vida.
prietatis tamquam humanum inventum naturali ho- Enquanto os socialistas denunciam o direito da pro-
minum aequalitati repugnans traducant, et commu- priedade como invenção que repugna à igualdade
nionem bonorum affectantes, pauperiem haud aequo natural das pessoas e, propugnando a comunidade
animo esse perferendam, et ditiorum possessiones dos bens, julgam que não se deve pacientemente
ac iura impune violari posse arbitrentur: Ecclesia suportar a pobreza e que se pode violar impunemente
multo satius et utilius inaequalitatem inter homi- a propriedade e os direitos dos ricos, a Igreja, com
nes, corporis ingeniique viribus naturaliter diversos, mais acerto e utilidade, reconhece a desigualdade
etiam in bonis possidendis agnoscit, et ius proprie- entre as pessoas, desiguais por natureza de corpo e
tatis ac dominii, ab ipsa natura profectum, intactum de espírito, bem como na posse de bens, e ordena
cuilibet et inviolatum esse iubet; novit enim furtum que cada qual tenha intacto e inviolado o direito de
ac rapinam a Deo, omnis iuris auctore ac vindice, propriedade e domínio que vem da própria nature-
ita fuisse prohibita, ut aliena vel conspicere [con- za. Pois a Igreja sabe que o furto e a rapina de tal
cupiscere] non liceat, furesque et raptores, non secus modo são proibidos por Deus, autor e vindicador de
ac adulteri et idololatrae, a caelesti regno excludan- todo direito, que não é lícito nem sequer olhar com
tur [cf. 1 Cor 6,9s]. desejo [cobiçar] o bem alheio, e que os ladrões e
raptores, bem como os adúlteros e idólatras, são
excluídos do reino celeste [cf. 1Cor 6,9s].
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potissimum virtute et auxilio Dei exspectandum est, mos antes de tudo esperar da onipotente força e
ut mortalium mentes … resipiscant. auxílio de Deus que as mentes dos mortais … vol-
tem à razão.
Sed neque spernenda neve posthabenda sunt na- Mas também não devemos menosprezar ou ne-
turalia adiumenta, quae divinae sapientiae benefi- gligenciar os auxílios naturais postos à disposição
cio … hominum generi suppetunt; quibus in adiu- dos homens por benevolência da sabedoria divi-
mentis rectum philosophiae usum constat esse prae- na …; e entre estes auxílios consta como principal
cipuum. Non enim frustra rationis lumen humanae o reto exercício da filosofia. Com efeito, não em
menti Deus inseruit; et tantum abest, ut superaddita vão Deus infundiu a luz da razão na mente humana;
fidei lux intelligentiae virtutem exstinguat aut im- e está longe da verdade <dizer que> que a luz da fé
minuat, ut potius perficiat, auctisque viribus, habi- acrescentada à inteligência extinga ou diminua sua
lem ad maiora reddat. … força; ao contrário, ela a aperfeiçoa e, aumentando
suas forças, a capacita para coisas maiores. …
Ac primo quidem philosophia, si rite a sapienti- Em primeiro lugar, se exercida de modo certo 3136
bus usurpetur, i t e r ad v e r a m fidem quodammo- pelos sábios, a filosofia é capaz de aplanar e de
do sternere et munire valet, suorumque alumnorum consolidar de algum modo o c a m i n h o que con-
animos ad revelationem suscipiendam convenienter duz à v e r d a d e i r a fé e de preparar os ânimos de
praeparare. … seus discípulos a receber a revelação. …
Et sane benignissimus Deus in eo quod pertinet E de fato, Deus, na sua extrema bondade, no que
ad res divinas, non eas tantum veritates lumine fidei respeita às coisas divinas não apenas manifestou
patefecit, quibus attingendis impar humana intelli- pela luz da fé as verdades que a inteligência não
gentia est, sed nonnullas etiam manifestavit, rationi pode alcançar por si mesma, mas manifestou tam-
non omnino impervias, ut scilicet, accedente Dei bém algumas que não são totalmente impenetráveis
auctoritate, statim et sine aliqua erroris admixtione à razão, para que, pelo respaldo da autoridade divi-
omnibus innotescerent. Ex quo factum est, ut quae- na, sejam rapidamente e sem mistura de erro reco-
dam vera, quae vel divinitus ad credendum propo- nhecidas por todos. Assim se dá que algumas ver-
nuntur, vel cum doctrina fidei arctis quibusdam vin- dades, quer divinamente reveladas ou estreitamen-
culis colligantur, ipsi ethnicorum sapientes, naturali te vinculadas ao ensinamento da fé, foram conheci-
tantum ratione praelucente, cognoverint, aptisque das à luz só da razão natural por filósofos pagãos e
argumentis demonstraverint ac vindicaverint. … por eles demonstradas e defendidas com argumen-
tos apropriados. …
Haec autem vera, vel ipsis ethnicorum sapienti- Ora, é sumamente oportuno converter estas ver-
bus explorata, vehementer est opportunum in reve- dades conhecidas pelos sábios dentre os pagãos em
latae doctrinae commodum utilitatemque converte- vantagem e utilidade para a fé revelada, para que
re, ut reipsa ostendatur, humanam quoque sapien- assim seja mostrado que também a sabedoria hu-
tiam, atque ipsum adversariorum testimonium, fi- mana e até o testemunho dos adversários dão apoio
dei christianae suffragari. … à fé cristã.
Solidissimis ita [ope philosophiae] positis funda- Estando, pois, solidamente fincados estes funda- 3137
mentis, perpetuus et multiplex adhuc requiritur phi- mentos [com a ajuda da filosofia], requer-se o uso
losophiae usus, ut sacra t h e o l o g i a n a t u r a m , constante e múltiplo da filosofia também para que
h a b i t u m , i n g e n i u m q u e verae s c i e n t i a e s u s - a sagrada t e o l o g i a receba e vista a n a t u r e z a , a
c i p i a t atque induat. In hac enim nobilissima dis- f o r m a e a í n d o l e de uma verdadeira ciência. Pois
ciplinarum magnopere necesse est, ut multae ac nesta nobilíssima disciplina é sumamente necessário
diversae caelestium doctrinarum partes in unum que as muitas e diversas partes das doutrinas divinas
veluti corpus colligantur, ut suis quaeque locis con- sejam coligadas como num só corpo, de modo que,
venienter dispositae, et ex propriis principiis deri- situadas cada qual no seu devido lugar e deduzidas
vatae apto inter se nexu cohaereant; demum ut de seus próprios princípios, sejam unidas por um nexo
omnes et singulae suis iisque invictis argumentis adequado; enfim, que todas e cada uma sejam con-
confirmentur. firmadas por argumentos próprios e invencíveis.
Nec silentio praetereunda aut minimi facienda est Tampouco se pode silenciar ou minimizar o co-
accuratior illa atque uberior rerum quae creduntur nhecimento mais exato e mais rico das realidades
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cognitio et ipsorum fidei mysteriorum, quoad fieri que são cridas, bem como essa inteligência um pou-
potest, aliquanto lucidior intelligentia, quam Augus- co mais clara, na medida do possível, dos próprios
tinus aliique Patres et laudarunt et assequi studue- mistérios da fé, que Agostinho e os outros Padres
runt, quamque ipsa Vaticana Synodus [Constitutio louvaram e procuraram adquirir, e que o próprio
de fide catholica, c. 4: *3016] fructuosissimam esse Sínodo Vaticano [Constituição sobre a fé católica,
decrevit. … cap. 4; *3016] julgou altamente fecunda.
3138 Postremo hoc quoque ad disciplinas philosophi- Por fim, cabe igualmente às disciplinas filosófi-
cas pertinet, v e r i t a t e s d iv i n i t u s t r a d i t a s re- cas proteger religiosamente a s v e r d a d e s d iv i -
ligiose t u e r i , et iis qui oppugnare audeant resiste- n a m e n t e t r a n s m i t i d a s e resistir àqueles que as
re. Quam ad rem, magna est philosophiae laus, quod ousem combater. Quanto a isto, é grande elogio para
fidei propugnaculum ac veluti firmum religionis mu- a filosofia ser considerada baluarte e como que fir-
nimentum habeatur. “Est quidem”, sicut Clemens me fortaleza da religião. “É verdade”, atesta Clemente
Alexandrinus testatur, “per se perfecta et nullius in- de Alexandria, “que a doutrina do Salvador é perfei-
diga Servatoris doctrina, cum sit Dei virtus et sapien- ta e que não lhe falta nada, pois é força e sabedoria
tia. Accedens autem graeca philosophia veritatem de Deus. E, ao juntar-se a ela, a filosofia grega não
non facit potentiorem; sed cum debiles efficiat so- torna a verdade mais poderosa, porém, visto que
phistarum adversus eam argumentationes et propul- enfraquece os argumentos dos sofistas contra ela e
set dolosas adversus veritatem insidias, dicta est afasta as capciosas insídias contra a verdade, pode
vineae apta sepes et vallus”1. … ser chamada cerca e muro da vinha”1. …
*3138 1 Clemente de Alexandria, Stromata I 20 (PG 8, 817AB [gr.]; 818B [lat.] / O. Stählin [GChSch 52 (15)] 2, 6329-642
[= § 100, 1]).
*3139 1 Caetano de Vio, Comentário a Tomás de Aquino, Summa theologiae II-II, q. 148, a. 4 (Ed. Leonina 10, 174b).
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concessu quaesitam, sed auctoris sui voluntate di- como próprio e que não tem sua origem numa con-
vinitus adeptam. … cessão da parte dos homens, mas que fora divina-
mente concedido pela vontade de seu fundador. …
Simili modo ius matrimonii aequabile inter om- Semelhantemente foi estabelecido um direito de
nes atque unum omnibus est constitutum, vetere inter matrimônio igual e o mesmo para todos, pela supres-
servos et ingenuos sublato discrimine1; exaequata são da antiga distinção entre servos e livres1; os di-
viri et uxoris iura; etenim, ut aiebat Hieronymus2, reitos de homem e mulher foram equiparados; com
“apud nos, quod non licet feminis, aeque non licet efeito, como disse Jerônimo2, “entre nós, o que não
viris, et eadem servitus pari condicione censetur”: é lícito às mulheres tampouco o é aos homens, e
atque illa eadem iura ob remunerationem benevo- vale o mesmo serviço na mesma condição”: e fo-
lentiae et vicissitudinem officiorum stabiliter firma- ram permanentemente consolidados estes mesmos
ta; adserta et vindicata mulierum dignitas; vetitum direitos por meio da recíproca benevolência e dos
viro poenam capitis de adultera sumere iuratamque mútuos deveres; foi garantida e vindicada a digni-
fidem libidinose atque impudice violare. dade das mulheres; foi proibido ao marido castigar
com pena de morte a adúltera, bem como violar por
comportamento libidinoso e impudico a fidelidade
que jurou.
Atque illud etiam magnum est, quod de potestate Também isto é importante, que a Igreja tenha li-
patrumfamilias Ecclesia, quantum oportuit, limita- mitado, na devida medida, o poder do pai de famí-
verit, ne filiis et filiabus coniugii cupidis quidquam lia, para que não seja em nada diminuída a justa li-
de iusta libertate minueretur; quod nuptias inter cog- berdade dos filhos e filhas que se querem casar; que
natos et affines certis gradibus nullas esse posse de- decretou nulos os casamentos entre consangüíneos e
creverit, ut nimirum supernaturalis coniugum amor afins em certos graus, a fim de que o amor sobrena-
latiore se campo diffunderet; quod errorem et vim tural dos esposos se difunda num campo mais vasto;
et fraudem, quantum potuit, a nuptiis prohibenda que tenha procurado afastar do matrimônio, na me-
curaverit; quod sanctam pudicitiam thalami, quod dida do possível, a violência e a fraude; que tenha
securitatem personarum, quod coniugiorum decus, desejado que se guardem intactas a santa pudicícia
quod religionis incolumitatem sarta tecta esse vo- do tálamo, a segurança das pessoas, o decoro dos
luerit. Denique tanta vi, tanta providentia legum di- cônjuges, a incolumidade do compromisso religio-
vinum istud institutum communiit, ut nemo sit re- so. Finalmente, com tanto vigor, tanta providência
rum aequus existimator, quin intelligat, hoc etiam legal, <a Igreja> fortificou esta divina instituição,
ex capite quod ad coniugia refertur, optimam esse que não há juiz eqüitativo que não reconheça que
humani generis custodem ac vindicem Ecclesiam … também no que se refere ao matrimônio a Igreja é a
melhor guardiã e protetora do gênero humano.
3145 Neque quemquam moveat illa tantopere a Rega- Tampouco convence a ninguém a tão badalada
listis praedicata distinctio, vi cuius contractum nup- distinção, feita pelos regalistas, em virtude da qual
tialem a sacramento disiungunt, eo sane consilio, separam do sacramento o contrato matrimonial, com
ut, Ecclesiae reservatis sacramenti rationibus, con- a intenção, na verdade, de que, reservado à Igreja o
tractum tradant in potestatem arbitriumque princi- que abrange do sacramento, o contrato passe ao
pum civitatis. poder e arbítrio dos chefes de Estado.
Etenim non potest huiusmodi distinctio, seu ve- Com efeito, dessa maneira não pode ser aceita
rius distractio, probari; cum exploratum sit, in ma- tal distinção, ou melhor, dissociação; como é segu-
trimonio christiano contractum a sacramento non ro que no matrimônio cristão contrato e sacramento
esse dissociabilem; atque ideo non posse contrac- são indissociáveis, não pode existir contrato verda-
tum verum et legitimum consistere, quin sit eo ipso deiro e legítimo fora do sacramento. Pois o Cristo
sacramentum. Nam Christus Dominus dignitate sa- Senhor enriqueceu o matrimônio com a dignidade
cramenti auxit matrimonium; matrimonium autem de sacramento; ora, o matrimônio é o próprio con-
est ipse contractus, si modo sit factus iure. trato, se realizado legitimamente.
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Huc accedit, quod ob hanc causam matrimonium Acresce que o matrimônio é sacramento porque 3146
est sacramentum, quia est sacrum signum et efficiens sinal sagrado que produz a graça e representa a
gratiam, et imaginem referens mysticarum nuptia- imagem das núpcias místicas de Cristo com a Igre-
rum Christi cum Ecclesia. Istarum autem forma ac ja. Ora, a forma e figura destas <núpcias> se expri-
figura illo ipso exprimitur summae coniunctionis me com esse mesmo vínculo de suprema união pelo
vinculo, quo vir et mulier inter se conligantur, quod- qual estão ligados marido e mulher e que não é senão
que aliud nihil est, nisi ipsum matrimonium. Itaque o próprio matrimônio. É, portanto, evidente que todo
apparet, omne inter christianos iustum coniugium matrimônio legítimo entre cristãos é em si e por si
in se et per se esse sacramentum: nihilque magis sacramento, e nada se afasta mais da verdade que
abhorrere a veritate, quam esse sacramentum decus fazer do sacramento uma espécie de ornamento
quoddam adiunctum, aut proprietatem allapsam acrescentado ou uma propriedade agregada extrin-
extrinsecus, quae a contractu disiungi ac disparari secamente, que pode, segundo o arbítrio humano,
hominum arbitratu queat. ser dissociada e separada do contrato.
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parare reipublicae, quod aut ipsorum ingenio aut be aos povos que adotem o tipo de regime político
maiorum institutis moribusque magis apte conveniat. que melhor se adapte à sua índole ou às instituições
e costumes de seus antepassados.
3151 Ceterum ad p o l i t i c u m i m p e r i u m quod atti- No mais, no que respeita à a u t o r i d a d e p o l í -
net, illud a Deo proficisci recte docet Ecclesia. … t i c a , a Igreja ensina com razão que ela provém de
Deus. …
Qui civilem societatem a libero hominum consen- Os que pretendem que a sociedade civil tenha
su natam volunt, ipsius imperii ortum ex eodem fonte nascido do livro consenso dos homens e buscam
petentes, de iure suo inquiunt aliquid unumquem- nesta fonte a origem do domínio como tal, dizem
que cessisse et voluntate singulos in eius se contu- que cada pessoa cedeu uma parte de seu direito e
lisse potestatem, ad quem summa illorum iurium que todos se colocaram voluntariamente debaixo do
pervenisset. Sed magnus est error non videre, id quod poder daquele que ficou com a totalidade desses
manifestum est, homines cum non sint solivagum direitos. Mas é grande erro não ver, como é mani-
genus, citra liberam ipsorum voluntatem ad natura- festo, que os homens – já que não são de espécie
lem communitatem esse natos: ac praeterea pactum, solívaga – nasceram para a comunidade natural in-
quod praedicant, est aperte commenticium et fictum, dependentemente de sua livre vontade; e ademais,
neque ad impertiendum valet politicae potestati tan- tal pacto que proclamam é evidentemente fantasio-
tum virium, dignitatis, firmitudinis, quantum tutela so e fictício, incapaz de outorgar ao poder civil tan-
reipublicae et communes civium utilitates requirunt. ta força, dignidade e firmeza quanto exigem a tute-
Ea autem decora et praesidia universa tunc solum la do Estado e o bem comum dos cidadãos. Ao con-
est habiturus principatus, si a Deo, augusto sanctis- trário, o poder só disporá dessas qualidades e ga-
simoque fonte, manare intelligatur. … rantias se se entende que emana de Deus, sua fonte
augusta e santíssima. …
3152 Una illa hominibus causa est non parendi, si quid Uma só razão tem os homens para não obedecer:
ab iis postuletur, quod cum naturali aut divino iure a saber, se algo lhes é pedido que repugne ao direi-
aperte repugnet: omnia enim, in quibus naturae lex to natural ou divino; pois é divinamente proibido
vel Dei voluntas violatur, aeque nefas est imperare mandar ou fazer qualquer coisa em que seja viola-
et facere. Si cui igitur usuveniat, ut alterutrum malle da a lei natural ou a vontade de Deus. Se, portanto,
cogatur, scilicet aut Dei aut principum iussa negli- ocorre a alguém dever escolher entre desobedecer
gere, Iesu Christo parendum est reddere iubenti ao mandamento de Deus ou ao do governante, deve
“quae sunt Caesaris, Caesari, quae sunt Dei, Deo” obedecer a Jesus Cristo, que ordena dar “a César o
[Mt 22,21], atque ad exemplum Apostolorum ani- que pertence a César e a Deus o que pertence a
mose respondendum: “Oboedire oportet Deo magis Deus” [Mt 22,21], e, ao exemplo dos Apóstolos, deve
quam hominibus” [Act 5,29]. … vigorosamente responder: “É preciso obedecer a
Deus antes que aos homens” [At 5,29].
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A liberdade de atacar obras que foram retiradas de processo pela Congregação do Índex
Qu.: 1. Utrum libri ad S. Indicis Congregationem Pergunta: 1. Livros que foram denunciados junto 3154
delati et ab eadem dimissi seu non prohibiti, cen- à Sagrada Congregação do Índex e por ela foram
seri debeant immunes ab omni errore contra fidem retirados <do processo> ou não foram proibidos,
et mores. devem ser considerados isentos de todo erro contra
a fé e a moral?
2. Et quatenus negative, utrum libri dimissi seu 2. Si a resposta é negativa, os livros que foram 3155
non prohibiti a S. Indicis Congregatione, possint tum retirados <do processo> pela Sagrada Congregação
philosophice tum theologice citra temeritatis notam do Índex ou não foram proibidos, podem ser im-
impugnari. pugnados tanto filosoficamente como teologicamen-
te sem incorrer em temeridade?
Resp. (confirmata a Summo Pontifice, 28. Dec.): Resp. (confirmada pelo Papa em 28/12): Quanto
Ad 1: Negative. – Ad 2: Affirmative. a 1: Não. – Quanto a 2: Sim.
Os “franco-maçons”
Simulare et velle in occulto latere, obligare sibi Viver na dissimulação e querer se esconder nas 3156
homines tamquam mancipia, tenacissimo nexu nec trevas, acorrentar a si homens à maneira de escra-
satis declarata causa, alieno addictos arbitrio ad vos, pelos laços mais fortes e sem razão suficiente-
omne facinus adhibere …: immanitas quaedam est, mente aclarada, usá-los entregues a arbítrio alheio
quam rerum natura non patitur. Quapropter societa- para todo tipo de ação … : aí está uma monstruo-
tem de qua loquimur cum iustitia et naturali hones- sidade que a natureza das coisas não atura. A razão
tate pugnare, ratio et veritas ipsa convincit. … e a verdade bastam, pois, para provar que a socie-
dade de que falamos está em contradição com a
justiça e a natural honestidade. …
Ex certissimis indiciis, quae supra commemora- De fato, das certíssimas provas que acabamos de
vimus, erumpit illud, quod est consiliorum suorum recordar aparece qual é a última intenção de seus
ultimum, scilicet evertere funditus omnem eam projetos, a saber: destruir desde os fundamentos toda
quam instituta christiana pepererunt disciplinam a disciplina religiosa e política que nasceu das ins-
religionis reique publicae, novamque ad ingenium tituições cristãs e substituí-la por uma nova, de acor-
suum exstruere, ductis e medio n a t u r l i s m o fun- do com as idéias deles, e cujos fundamentos e leis
damentis et legibus. são extraídos do n a t u r a l i s m o .
Haec quae diximus aut dicturi sumus, de secta Tudo quanto dissemos ou que nos propomos di- 3157
Massonica intelligi oportet spectata in g e n e r e suo zer deve ser entendido da seita maçônica encarada
et quatenus sibi cognatas foederatasque complecti- g e n e r i c a m e n t e e enquanto abrange outras so-
tur societates, non autem de sectatoribus earum s i n - ciedades que são para ela irmãs e aliadas, porém
g u l i s . In quorum numero utique possunt esse nec não de cada um dos seus adeptos i n d iv i d u a l m e n -
pauci, qui quamvis culpa non careant quod sese t e . Entre eles, com efeito, podem se achar não
istius modi implicuerint societatibus, tamen nec sint poucos que, embora não isentos de culpa por se
flagitiose factorum per se ipsi participes et illud haverem filiado a semelhantes sociedades, não par-
ultimum ignorent quod illae nituntur adipisci. Si- ticipam pessoalmente dos seus atos criminosos e
militer ex consociationibus ipsis nonnullae fortasse ignoram o escopo final que elas se esforçam por
nequaquam probant conclusiones quasdam extre- alcançar. Do mesmo modo ainda, pode suceder que
mas, quas, cum ex principiis communibus necessa- alguns dos grupos associados de modo nenhum
rio consequantur, consentaneum esset amplexari, nisi aprovem as conclusões extremas a que, na base dos
per se foeditate sua turpitudo ipsa deterreret. … princípios comuns, logicamente deveriam aderir, se
a torpeza por si mesma não <os> assustasse por
sua fealdade. …
675
3158 Nomen sectae Massonum dare nemo sibi quapiam Ninguém deve pensar que lhe seja permitido, por
de causa licere putet, si catholica professio et salus qualquer razão que seja, afiliar-se à seita maçônica,
sua tanti apud eum sit, quanti esse debet. se a profissão católica e sua salvação tanto valem
para ele quanto devem valer.
Os “franco-maçons”
3159 (3) Ne quis vero errori locus fiat, cum diiudican- (3) Para que não haja lugar para erro ao determi-
dum erit, quaenam ex his perniciosis sectis censu- nar-se quais dessas perniciosas seitas estão subme-
rae, quae vero prohibitioni tantum obnoxiae sint, tidas a censura e quais apenas a proibição, certo é,
certum imprimis est, excommunicatione latae sen- em primeiro lugar, que estão punidos com excomu-
tentiae mulctari massonicam aliasque eius generis nhão latae sententiae a seita maçônica e outras sei-
sectas, quae … contra Ecclesiam vel legitimas po- tas da mesma espécie, que … maquinam contra a
testates machinantur, sive id clam sive palam fece- Igreja ou os poderes legítimos, ora fazendo-o no
rint, sive exegerint sive non a suis asseclis secreti oculto, ora publicamente, ora exigindo ou não de
servandi iuramentum. seus sequazes o juramento de guardar o segredo.
3160 (4) Praeter istas sunt et aliae sectae prohibitae (4) Ao lado destas, há outras seitas proibidas e
atque sub gravis culpae reatu vitandae, inter quas que devem ser evitadas, sob pena de culpa grave,
praecipue recensendae illae omnes, quae a sectato- entre as quais se contam principalmente todas aque-
ribus secretum nemini pandendum et omnimodam las que exigem de seus adeptos, por juramento, que
oboedientiam occultis ducibus praestandam iureiu- a ninguém revelem o segredo e que prestem total
rando exigunt. Animadvertendum insuper est, ades- obediência a chefes ocultos. Além disso, é mister
se nonnullas societates, quae, licet certo statui ne- advertir que existem algumas sociedades que, em-
queat, pertineant necne ad has, quas memoravimus, bora não se possa determinar com certeza se estão
dubiae tamen et periculi plenae sunt tum ob doctri- entre as mencionadas ou não, todavia são duvido-
nas quas profitentur, tum ob agendi rationem, quam sas e cheias de perigo, ora por causa das doutrinas
sequuntur ii, quibus ducibus ipsae coaluerunt et que confessam, ora por causa do modo de proceder
reguntur. … seguido por aqueles sob cuja guia se reúnem e são
dirigidas. …
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Ad 2. et 3. Quatenus ex condicto fiat, item non Quanto a 2 e 3: Na medida em que for combina-
posse et excommunicationem incurri. do, também não pode, e incorre em excomunhão.
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perio civili potest haberi inferior aut eidem esse ullo assim seu poder é o mais eminente de todos e não
modo obnoxia. pode ser considerado inferior ao poder civil, nem,
de modo algum, lhe ser subordinado. …
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tionum licentiam cum ratione pugnare: officia reli- tidão; que a liceidade das revoluções é contrária à
gionis nullo loco numerare, vel uno modo esse in razão; que contar por nada as obrigações da reli-
disparibus generibus affectos, nefas esse privatis ho- gião ou adotar atitude igual diante dos diversos gê-
minibus, nefas civitatibus: immoderatam sentiendi neros <de religião> é inadmissível para as pessoas
sensusque palam iactandi potestatem non esse in privadas, inadmissível para os Estados; que a liber-
civium iuribus neque in rebus gratia patrocinioque dade ilimitada de pensar e de expressar publicamente
dignis ulla ratione ponendam. o que se pensa não faz parte dos direitos do cidadão
nem deve ser de modo algum contado entre as coi-
sas que se devam favorecer ou proteger.
Similiter intelligi debet, Ecclesiam societatem Deve-se entender igualmente que a Igreja, não 3171
esse, non minus quam ipsam civitatem, genere et menos que o Estado, é uma sociedade perfeita por
iure perfectam: neque debere qui summam imperii gênero e direito; e os que exercem a suprema auto-
teneant, committere, ut sibi servire aut subesse ridade não devem se atrever a forçar a Igreja para
Ecclesiam cogant, aut minus esse sinant ad suas res que lhes sirva ou esteja submetida, nem permitir
agendas liberam, aut quicquam de ceteris iuribus que seja cerceada sua liberdade par cumprir o que
detrahant, quae in ipsam a Iesu Christo collata sunt. deve fazer, nem que se lhe tire nenhum dos demais
direitos que lhe foram outorgados por Jesus Cristo.
In negotiis autem mixti iuris, maxime esse se- Ora, nos assuntos de direito misto, corresponde 3172
cundum naturam, itemque secundum Dei consilia grandemente à natureza, bem como aos desígnios de
non secessionem alterius potestatis ab altera, mul- Deus, não a separação de um e outro poder, e muito
toque minus contentionem, sed plane concordiam, menos o conflito entre eles, mas, manifestamente, a
eamque cum causis proximis congruentem, quae concórdia, e esta, de acordo com as causas próximas
causae utramque societatem genuerunt. que deram origem a uma e outra sociedade.
Haec quidem sunt, quae de constituendis temperan- Eis, pois, o que a Igreja católica ensina sobre a
disque civitatibus ab Ecclesia catholica praecipiuntur. constituição e regime dos Estados.
679
3177 Atque illud quoque magnopere cavere Ecclesia E também quanto ao seguinte a Igreja sói ter o
solet, ut a d a m p l e x a n d a m fi d e m catholicam maior cuidado: que ninguém seja f o r ç a d o c o n -
n e m o i nv i t u s c o g a t u r, quia quod sapienter Au- t r a s u a vo n t a d e a abraçar a fé católica, pois com
gustinus monet: “Credere non potest homo nisi sabedoria admoesta Agostinho: “O homem só pode
volens”1. crer voluntariamente”1.
3178 Simili ratione nec potest Ecclesia libertatem pro- Na mesma linha, a Igreja não pode aprovar aquela
bare eam, quae fastidium gignat sanctissimarum Dei liberdade que gera desprezo das leis santíssimas de
legum debitamque potestati legitimae oboedientiam Deus e pretende eximir da obediência devida à
exuat. Est enim licentia verius quam libertas: rectis- autoridade legítima. Tal é, na verdade, antes licen-
simeque ab Augustino “libertas perditionis”1, a Pe- ça que liberdade, acertadamente chamada por Agos-
tro Apostolo “velamen malitiae” [1 Pt 2,16] appella- tinho de “liberdade da perdição”1 e, por Pedro Após-
tur: immo, cum sit praeter rationem, vera servitus tolo, de “véu da malícia” [1Pd 2,16]; mais, já que
est: “qui” enim “facit peccatum, servus est peccati” está fora do razoável, é uma escravidão: pois “quem
[Io 8,34]. Contra illa germana est atque expetenda comete o pecado é escravo do pecado” [Jo 8,34]. A
libertas, quae, si privatim spectetur, erroribus et essa se contrapõe a liberdade genuína e que se deve
cupiditatibus, teterrimis dominis, hominem servire perseguir, aquela que, no que respeita ao âmbito
non sinit: si publice, civibus sapienter praeest, fa- privado, não permite que o homem seja escravo dos
cultatem augendorum commodorum large ministrat erros e paixões, que são os mais terríveis tiranos; e
remque publicam ab alieno arbitrio defendit. que, quanto ao âmbito público, governa os cida-
dãos com sabedoria, proporciona facilidade de au-
mentar amplamente seus bens e defende o Estado
de ingerência alheia.
3179 Atqui honestam hanc et homine dignam liberta- Ora, essa liberdade honesta e digna do homem, a
tem Ecclesia probat omnium maxime, eamque ut Igreja a aprova mais que todos e nunca cessou de
tueretur in populis firmam atque integram, eniti et se empenhar e de se esforçar para conservá-la fir-
contendere numquam destitit. me e intacta entre os povos.
*3177 1 Agostinho, In evangelium Iohannis, tract. 2 (R. Willems: CpChL [1954] 36, 26014 / PL 35, 1607).
*3178 1 Agostinho, Carta 105 aos donatistas, cap. 2, n. 9 (CSEL 34/II, 60125 / PL 33, 399).
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nitentem, sive sponte sive ex interrogatione pruden- como para qualquer outro pecado grave, todo peni-
ter facta, confessum de onanismo, reprehendere, non tente que, espontaneamente ou em conseqüência de
secus ac de aliis gravibus peccatis, … nec illum ab- uma prudente interrogação, confessou o onanismo
solvunt, nisi sufficientibus signis monstret se dolere … e que não o absolvem si ele não mostrou, por
de praeterito et habere propositum non amplius ona- sinais suficientes, que ele sente dor por aquilo que
nistice agendi. – [Remanent vero sequentia dubia:] aconteceu e está decidido a não mais agir de modo
onanístico. – [Restam contudo as seguintes dúvidas:]
Qu.: 1. Quando adest fundata suspicio, paeniten- Pergunta: 1. Quando existe suspeita de que um 3186
tem, qui de onanismo omnino silet, huic crimini esse penitente, que se cala totalmente quanto ao onanis-
addictum, num confessario liceat a prudenti et dis- mo, se entrega a tal crime, é permitido ao confessor
creta interrogatione abstinere, eo quod praevideat, abster-se de uma interrogação prudente e discreta,
plures a bona fide exturbandos, multosque sacra- porque prevê que diversas pessoas deveriam ser
menta deserturos esse? – Annon potius teneatur con- perturbadas em sua boa fé e muitas desistiriam dos
fessarius prudenter ac discrete interrogare? sacramentos? – Ou, ao contrário, o confessor é obri-
gado a interrogar de maneira prudente e discreta?
2. An confessarius, qui sive ex spontanea confes- 2. Um confessor que constata, a partir de uma 3187
sione sive ex prudenti interrogatione cognoscit pae- confissão espontânea ou de uma interrogação pru-
nitentem esse onanistam, teneatur illum de huius dente, que o penitente é onanista, é obrigado de
peccati gravitate, aeque ac de aliorum peccatorum admoestá-lo a respeito da gravidade desse pecado,
mortalium, monere … eique absolutionem tunc so- como também a respeito dos outros pecados mor-
lum impertiri, cum sufficientibus signis constet eum- tais … e de dar-lhe a absolvição somente se fica
dem dolere de praeterito et habere propositum non claro por suficientes sinais que ele sente dor pelo
amplius onanistice agendi? que aconteceu e que ele está decidido a não mais
agir de modo onanista?
Resp.: Ad 1. Regulariter negative ad primam par- Resp.: Quanto a 1: Como regra geral quanto à
tem; affirmative ad secundam. primeira parte, não; quanto à segunda, sim.
Ad 2. Affirmative, iuxta doctrinam probatorum Quanto a 2: Sim, segundo a doutrina dos autores
auctorum. comprovados.
Cremação de cadáveres
Qu.: 1. An licitum sit nomen dare societatibus, Pergunta: 1. É lícito inscrever-se numa socieda- 3188
quibus propositum est, promovere usum comburen- de cujo fim é promover a prática de queimar os ca-
di hominum cadavera? dáveres humanos?
2. An licitum sit, mandare, ut sua aliorumve ca- 2. É lícito mandar que se queimem os cadáveres
davera comburantur? próprios ou de outros?
Resp. (confirmata a Summo Pontifice): Ad 1. Resp. (confirmada pelo Sumo Pontífice): Quanto
Negative, et si agatur de societatibus Massonicae a 1: Não, e em se tratando de sociedades afiliadas
sectae filialibus, incurri poenas contra hanc latas. – à seita maçônica, incorre-se nas penas contra estas
Ad 2. Negative. proferidas. – Quanto a 2: Não.
Divórcio civil
Expos.: A nonnullis Galliarum episcopis sequen- Expos.: Alguns bispos da França propuseram à 3190
tia dubia S. Romanae et Universalis Inquisitioni pro- Sagrada Congregação romana e universal da Inqui-
posita sunt: In epistola S. R. et U. Inquisitionis 25. sição as seguintes dúvidas: “Na carta da Sagrada
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Iunii 1885 ad omnes in Gallica dicione Ordinarios Congregação romana e universal da Inquisição, de
circa civilis divortii legem ita decernitur: “Attentis 25 jun. 1885, dirigida a todos os Ordinários da juris-
gravissimis rerum, temporum ac locorum adiunctis dição francesa, decreta-se assim acerca da lei do di-
tolerari posse, ut qui magistratus obtinent et advoca- vórcio: “Considerando as circunstâncias gravíssimas
ti causas matrimoniales in Gallia agant, quin officio da matéria, do tempo e dos lugares, pode-se tolerar
cedere teneantur”, condiciones adiecit, quarum se- que os magistrados e os advogados na França tratem
cunda haec est: “Dummodo ita animo comparati sint as causas matrimoniais, sem serem obrigados a reti-
tum circa valorem et nullitatem coniugii, tum circa rar-se de seu cargo”; acrescentou as condições, das
separationem corporum, de quibus causis iudicare quais esta é a segunda: “Conquanto tenham tal dis-
coguntur, ut numquam proferant sententiam, neque posição de ânimo, quer acerca da validade ou nuli-
proferendam defendant vel ad eam provocent vel dade do matrimônio, quer acerca da separação dos
excitent divino aut ecclesiastico iuri repugnantem.” corpos, causas que são obrigados a tratarem, que
nunca profiram, pleiteiem, solicitem ou sustentem
sentença contrária ao direito civil ou eclesiástico”.
3191 Qu.: 1. An recta sit interpretatio per Gallias diffusa Pergunta: 1. É correta a interpretação, difundida
ac etiam typis data, iuxta quam satisfacit condicio- na França, inclusive em textos impressos, segundo
ni praecitatae iudex, qui, licet matrimonium aliquod a qual satisfaz à supradita condição o juiz que,
validum sit coram Ecclesia, ab illo matrimonio vero mesmo se um matrimônio é valido para a Igreja,
et constanti omnino abstrahit, et applicans legem prescinde totalmente de tal matrimônio verdadeiro
civilem pronuntiat, locum esse divortio, modo so- e constante e, aplicando a lei civil, sentencia que há
los effectus civiles solumque contractum civilem lugar para o divórcio, conquanto ele intente inte-
abrumpere mente intendat, eaque sola respiciant riormente romper somente os efeitos civis e o con-
termini prolatae sententiae? Aliis terminis, an sen- trato civil e só a estes se refiram os termos da sen-
tentia sic lata dici possit divino aut ecclesiastico iuri tença? Em outros termos: uma sentença assim dada,
non repugnans? pode-se dizer que ela não é contrária ao direito di-
vino ou eclesiástico?
3192 2. Postquam iudex pronuntiavit locum esse divor- 2. Depois que o juiz sentenciou que há lugar para
tio, an possit syndicus (gallice: le maire) et ipse so- o divórcio, pode o prefeito municipal (em francês:
los effectus civiles solumque civilem contractum le maire), contemplando somente os efeitos civis e
intendens, ut supra exponitur, divortium pronuntiare, o contrato civil, como acima exposto, declarar o
quamvis matrimonium validum sit coram Ecclesia1. divórcio, ainda que o matrimônio seja válido pe-
rante a Igreja?1
3193 3. Pronuntiato divortio, an possit idem syndicus 3. Declarado o divórcio, pode o mesmo síndico
coniugem ad alias nuptias transire attentantem civi- unir civilmente com outro o cônjuge que tenta con-
liter cum alio iungere, quamvis matrimonium prius trair novas núpcias, embora o primeiro matrimô-
validum sit coram Ecclesia vivatque altera pars? nio seja válido perante a Igreja e a outra parte es-
teja viva?
Resp. (confirmata a Summo Pontifice): Negative Resp. (confirmada pelo Papa): Não, quanto a
ad 1, 2 et 3. 1, 2 e 3.
*3192 1 Menos rigorosa é a resposta da S. Penitenciaria de 24 set. 1887, que permite que, num caso especial, um prefeito (que
ao recusar-se perderia o cargo), depois de julgado procedente pelos juízes civis um divórcio, profira sentência de
divórcio civil, desde que 1) defenda publicamente a doutrina católica acerca do matrimônio, de que só os juízes
católicos são competentes em assuntos matrimoniais, e que, 2) na própria sentença, falando como funcionário público,
declare publicamente que seu pronunciamento só alcança os efeitos civis e o contrato civil; e que, de resto, o vínculo
matrimonial permanece de todo firme diante de Deus e da consciência (“catholicam doctrinam de matrimonio deque
causis matrimonialibus ad solos iudices ecclesiasticos pertinentibus palam profiteretur, 2. ipsa sententia et tamquam
magistratus loquens publice declaret, se solos effectus civiles solumque contractum civilem spectare posse, aliunde
vinculum matrimonii omnino firmum remanere coram Deo et conscientia”: Revue des Sciences Ecclésiastiques 60
[Amiens 1889/II] 476).
682
Cremação de cadáveres
Quoties agatur de iis, quorum corpora non pro- Toda vez que se trata daqueles corpos que não 3195
pria ipsorum, sed a l i e n a v o l u n t a t e cremationi são queimados por vontade própria, mas por v o n -
subiiciantur, Ecclesiae ritus et suffragia adhiberi pos- t a d e a l h e i a , podem suprir-se os ritos e sufrágios
se tum domi tum in ecclesia, non autem usque ad da Igreja, ora em casa, ora no templo, mas não no
cremationis locum, remoto scandalo. Scandalum ve- lugar da cremação, evitando-se todo escândalo.
ro removeri etiam poterit, si notum fiat, crematio- Aliás, o escândalo pode também ser evitado divul-
nem non propria defuncti voluntate electam fuisse. gando-se que a cremação não foi escolhida por von-
tade própria do defunto.
At ubi agatur de iis, qui p r o p r i a v o l u n t a t e Mas, se se trata de pessoas que por v o n t a d e 3196
cremationem elegerunt, et in hac voluntate certo et p r ó p r i a escolheram a cremação e nesta vontade
notorie usque ad mortem perseverarunt, attento perseveraram, certa e notoriamente, até a morte,
Decreto feria IV 19. Maii 1886 [*3188] agendum atendido o decreto de quarta-feira 19 de maio de
cum iis iuxta normas Ritualis Romani, tit. “Quibus 1886 [*3188], deve-se proceder com eles segundo
non licet dare ecclesiasticam sepulturam”. In casi- as normas do Rituale Romanum, tít. “A quem não
bus autem particularibus, in quibus dubium vel se pode dar sepultura eclesiástica”. Em casos parti-
difficultas oriatur, consulendus erit Ordinarius … . culares, em que pode surgir dúvida ou dificuldade,
consulte-se o Ordinário … .
O vinho da missa
Qu.: [Utrum ad periculum corruptionis vini prae- Pergunta: [Para evitar o perigo de o vinho se 3198
cavendum remedia quae sequuntur sint licita et estragar, os meios citados a seguir são lícitos e qual
quodnam praeferendum:] deve ser preferido?]
1. Vino naturali addatur parva quantitas “d’eau- 1. Acrescente-se ao vinho uma pequena quanti-
de-vie”; dade de aguardente.
2. Ebulliatur vinum ad 65 altitudinis gradus. 2. Ferva-se o vinho até 65°C.
Resp.: Praeferendum vinum prout secundo loco Resp.: Prefira-se o vinho conforme exposto na
exponitur. segunda alternativa.
683
*3201 1 A’ 4, 6, n. 2.
*3202 1 Ibid.
*3203 1 A’ 4, 18s, n. 15; 3, 344, n. 1423.
*3204 1 A’ 4, 8, n. 5s.
*3205 1 A’ 1, 241, n. 298.
*3206 1 A’ 2, 150, n. 848.
*3207 1 Ibid. A’ 1, 445, n. 490.
*3208 1 A’ 1, 396, n. 454.
*3209 1 A’ 3, 73, n. 1235; 1, 229s, n. 287s.
684
10. Esse virtuale et sine limitibus est prima ac 10. O ser virtual e sem limites é a primeira e mais 3210
simplicissima omnium entitatum, adeo ut quaelibet essencial de todas as entidades, de sorte que qual-
alia entitas sit composita, et inter ipsius componen- quer outra entidade é composta, e entre seus compo-
tia semper et necessario sit esse virtuale. – Est pars nentes está sempre e necessariamente o ser virtual.
essentialis omnium omnino entitatum, utut cogita- – É parte essencial de todas as entidades, sem exce-
tione dividantur1. ção, como quer que se dividam pelo pensamento1.
11. Quidditas (id quod res est) entis finiti non 11. A qüididade (o que a coisa é) do ente finito 3211
constituitur eo, quod habet positivi, sed suis limiti- não se constitui pelo que tem de positivo, mas por
bus. Quidditas entis infiniti constituitur entitate, et seus limites. A qüididade do ente infinito se cons-
est positiva; quidditas vero entis finiti constituitur titui pela entidade e é positiva; a qüididade, pelo
limitibus entitatis, et est negativa1. contrário, do ente finito é constituída pelos limites
da entidade e é negativa1.
12. Finita realitas non est, sed Deus facit eam 12. A realidade finita não existe, mas Deus a faz 3212
esse addendo infinitae realitati limitationem. – Esse existir acrescentando limitação à realidade infini-
initiale fit essentia omnis entis realis. – Esse, quod ta. – O ser inicial se torna a essência de todo ser
actuat naturas finitas, ipsis coniunctum, est recisum real. – O ser que realiza em ato as naturezas finitas
a Deo1. e que está unida a elas é cortado de Deus1.
13. Discrimen inter esse absolutum et esse rela- 13. A diferença entre o ser absoluto e o ser re- 3213
tivum non illud est, quod intercedit substantiam inter lativo não é aquela que existe entre substância e
et substantiam, sed aliud multo maius; unum enim substância, mas outra muito maior; porque um é
est absolute ens, alterum est absolute nonens. At absolutamente ente, o outro, absolutamente não-
hoc alterum est relative ens. Cum autem ponitur ens ente. Mas este segundo é relativamente ente. Ora,
relativum, non multiplicatur absolute ens; hinc ab- quando é posto um ente relativo, não se multiplica
solutum et relativum absolute non sunt unica sub- o que é absolutamente; daí, o absoluto e o relativo
stantia, sed unicum esse; atque hoc sensu nulla est não são absolutamente uma substância única, mas
diversitas esse, immo habetur unitas esse1. um ser único, e neste sentido não há diversidade
de ser, antes, há unidade de ser1.
14. Divina abstractione producitur esse initiale, 14. Por divina abstração se produz o ser inicial, 3214
primum finitorum entium elementum; divina vero primeiro elemento dos entes finitos; mas pela divi-
imaginatione producitur reale finitum seu realitates na imaginação se produz o real finito, ou seja, to-
omnes, quibus mundus constat1. das as realidades das quais o mundo consta1.
15. Tertia operatio esse absoluti mundum crean- 15. A terceira operação do ser absoluto que cria 3215
tis est divina synthesis, id est unio duorum elemen- o mundo é a síntese divina, isto é, a união dos dois
torum: quae sunt esse initiale, commune omnium elementos, que são o ser inicial, comum princípio
finitorum entium initium, atque reale finitum, seu de todos os seres finitos, e o real finito, ou me-
potius diversa realia finita, termini diversi eiusdem lhor, os diversos reais finitos, términos diversos
esse initialis. Qua unione creantur entia finita1. do mesmo ser inicial. Por esta união são criados
os entes finitos1.
16. Esse initiale per divinam synthesim ab intelli- 16. O ser inicial, que por meio da divina síntese 3216
gentia relatum, non ut intelligibile, sed mere ut es- é relacionado, pela inteligência, com os termos
sentia, ad terminos finitos reales, efficit, ut exsistant finitos reais, não como inteligível, mas meramente
entia finita subiective et realiter1. como essência, faz com que existam os entes finitos
subjetiva e realmente1.
685
3217 17. Id unum efficit Deus creando, quod totum 17. A única coisa que Deus faz ao criar é pôr
actum esse creaturarum integre ponit: hic igitur actus integralmente todo o ato do ser das criaturas; este
proprie non est factus, sed positus1. ato, pois, não é propriamente feito, mas posto1.
3218 18. Amor, quo Deus se diligit etiam in creaturis 18. O amor com que Deus se ama também nas
et qui est ratio, qua se determinat ad creandum, criaturas, e que é a razão pela qual se determina a
moralem necessitatem constituit, quae in ente per- criar, constitui uma necessidade moral que, no ser
fectissimo semper inducit effectum: huiusmodi enim perfeitíssimo, induz sempre o efeito; porque só entre
necessitas tantummodo in pluribus entibus imper- diversos entes imperfeitos tal necessidade deixa
fectis integram relinquit libertatem bilateralem1. integral liberdade bilateral1.
3219 19. Verbum est materia illa invisa, ex qua, ut di- 19. O Verbo é aquela matéria invisível da qual,
citur Sap 11,18, creatae fuerunt res omnes universi1. como se diz em Sb 11,18, foram criadas todas as
coisas do universo1.
3220 20. Non repugnat, ut anima humana generatione 20. Não é contraditório a alma humana multipli-
multiplicetur, ita ut concipiatur, eam ab imperfecto, car-se por geração, de modo a ser concebida como
nempe a gradu sensitivo, ad perfectum, nempe ad progredindo do imperfeito, isto é, do grau sensiti-
gradum intellectivum, procedere1. vo, ao perfeito, isto é, ao grau intelectivo1.
3221 21. Cum sensitivo principio intuibile fit esse, hoc 21. Quando o ser se torna objeto de intuição para
solo tactu, hac sui unione, principium illud antea o princípio sensitivo, só por este contato, por esta
solum sentiens, nunc simul intelligens, ad nobilio- sua união, aquele princípio, antes só sentiente, ago-
rem statum evehitur, naturam mutat, ac fit intelli- ra juntamente inteligente, se eleva a um estado mais
gens, subsistens atque immortale1. nobre, muda de natureza e se converte em inteli-
gente, subsistente e imortal1.
3222 22. Non est cogitatu impossibile, divina potentia 22. Não é impossível pensar que possa aconte-
fieri posse, ut a corpore animato dividatur anima cer, pelo poder divino, que a alma intelectiva se
intellectiva, et ipsum adhuc maneat animale; mane- separe do corpo animado e este, todavia, continue
ret nempe in ipso, tamquam basis puri animalis, sendo animal; pois permaneceria ainda nele, como
principium animale, quod antea in eo erat veluti base do puro animal, o princípio animal que antes
appendix1. estava nele como apêndice1.
3223 23. In statu naturali anima defuncti exsistit perin- 23. No estado natural, a alma do defunto existe
de ac non exsisteret; cum non possit ullam super se com se não existisse; ao não poder exercer reflexão
ipsam reflexionem exercere, aut ullam habere sui alguma sobre si mesma ou ter consciência de si mes-
conscientiam, ipsius condicio similis dici potest sta- ma, pode-se dizer que sua condição é semelhante ao
tui tenebrarum perpetuarum et somni sempiterni1. estado de trevas perpétuas e de sono sempiterno1.
3224 24. Forma substantialis corporis est potius effec- 24. A forma substancial do corpo é antes efeito
tus animae atque interior terminus operationis ip- da alma e o termo interior de sua operação; portan-
sius: propterea forma substantialis corporis non est to, a forma substancial do corpo não é a alma mes-
ipsa anima. – Unio animae et corporis proprie con- ma. – A união da alma e do corpo consiste propria-
sistit in immanenti perceptione, qua subiectum in- mente na percepção imanente pela qual o sujeito
tuens ideam, affirmat sensibile, postquam in hac eius que intui uma idéia afirma o sensível, depois de
essentiam intuitum fuerit1. haver nela intuído sua essência1.
3225 25. Revelato mysterio Sanctissimae Trinitatis, 25. Uma vez revelado o mistério da Santíssima
potest ipsius exsistentia demonstrari argumentis Trindade, sua existência pode demonstrar-se por
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mere speculativis, negativis quidem et indirectis, argumentos puramente especulativos, embora nega-
huiusmodi tamen, ut per ipsa veritas illa ad philo- tivos e indiretos, contudo tais que, por eles, aquela
sophicas disciplinas revocetur, atque fiat propositio mesma verdade entra nas disciplinas filosóficas e
scientifica sicut ceterae: si enim ipsa negaretur, se torna proposição científica como as demais; pois
doctrina theosophica purae rationis non modo in- se ela fosse negada, a doutrina teosófica da razão
completa maneret, sed etiam omni ex parte ab- pura não só ficaria incompleta, mas, cheia de ab-
surditatibus scatens annihilaretur1. surdos, se aniquilaria1.
26. Tres supremae formae esse, nempe subiectivi- 26. As três supremas formas do ser, a saber, sub- 3226
tas, obiectivitas, sanctitas, seu realitas, idealitas, mo- jetividade, objetividade e santidade, ou realidade,
ralitas, si transferantur ad esse absolutum, non pos- idealidade, moralidade, se se transferem ao absolu-
sunt aliter concipi nisi ut personae subsistentes et to, não podem ser concebidas de outra maneira se-
viventes. – Verbum, quatenus obiectum amatum, et não como pessoas subsistentes e vivas. – O Verbo,
non quatenus Verbum, id est obiectum in se subsis- enquanto objeto amado, não enquanto Verbo, ou
tens per se cognitum, est persona Spiritus Sancti1. seja, objeto em si subsistente e conhecido por si, é
a pessoa do Espírito Santo1.
27. In humanitate Christi humana voluntas fuit 27. Na humanidade de Cristo, a vontade humana 3227
ita rapta a Spiritu Sancto ad adhaerendum Esse foi de tal modo arrebatada pelo Espírito Santo para
obiectivo, id est Verbo, ut illa Ipsi integre tradiderit aderir ao ser objetivo, isto é, ao Verbo, que ela en-
regimen hominis, et Verbum illud personaliter as- tregou a este integralmente o governo do ser huma-
sumpserit, ita sibi uniens naturam humanam. Hinc no, e o Verbo o assumiu de modo pessoal, unindo
voluntas humana desiit esse personalis in homine, assim consigo a natureza humana. Daí, a vontade
et cum sit persona in aliis hominibus, in Christo humana deixou de ser pessoal no homem e, enquan-
remansit natura1. to nos outros homens é pessoa, em Cristo permane-
ceu natureza1.
28. In christiana doctrina Verbum, character et 28. Na doutrina cristã, o Verbo, caráter e face de 3228
facies Dei, imprimitur in animo eorum, qui cum fide Deus, se imprime na alma daqueles que recebem
suscipiunt baptismum Christi. – Verbum, id est cha- com fé o batismo de Cristo. – O Verbo, ou seja, o
racter, in anima impressum, in doctrina christiana, caráter impresso na alma, na doutrina cristã, é o Ser
est Esse reale (infinitum) per se manifestum, quod real (infinito) manifesto por si mesmo, e que nós
deinde novimus esse secundam personam Sanctis- depois ficamos conhecendo como sendo a segundo
simae Trinitatis1. pessoa da Santíssima Trindade1.
29. A catholica doctrina, quae sola est veritas, 29. Não consideramos de modo algum alheia à 3229
minime alienam putamus hanc coniecturam: In eu- doutrina católica, que é a única verdadeira, a se-
charistico Sacramento substantia panis et vini fit guinte conjetura: No sacramento da Eucaristia a
vera caro et verus sanguis Christi, quando Christus substância do pão e do vinho se converte em verda-
eam facit terminum sui principii sentientis, ipsam- deira carne e verdadeiro sangue de Cristo, quando
que sua vita vivificat: eo ferme modo, quo panis et Cristo a faz termo de seu princípio sentiente e a
vinum vere transsubstantiantur in nostram carnem vivifica com sua vida, quase do mesmo modo como
et sanguinem, quia fiunt terminus nostri principii o pão e o vinho se transubstanciam verdadeiramen-
sentientis1. te em nossa carne e sangue, porque se fazem termo
de nosso princípio sentiente1.
30. Peracta transsubstantiatione, intelligi potest 30. Realizada a transubstanciação, pode-se enten- 3230
corpori Christi glorioso partem aliquam adiungi in der que ao corpo glorioso de Cristo é acrescentada
ipso incorporatam, indivisam pariterque gloriosam1. uma parte que a este se incorpora, indivisa <dele>
e de igual modo gloriosa1.
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3231 31. In sacramento Eucharistiae vi verborum cor- 31. No sacramento da Eucaristia, em virtude das
pus et sanguis Christi est tantum ea mensura, quae palavras, o corpo e o sangue de Cristo estão pre-
respondet quantitati (“a quel tanto”) substantiae sentes somente na medida que responde à quanti-
panis et vini, quae transsubstantiatur: reliquum cor- dade (“a quel tanto”) da substância do pão e do vinho
poris Christi ibi est per concomitantiam1. transubstanciados; o resto do corpo de Cristo está
aí por concomitância1.
3232 32. Quoniam qui “non manducat carnem Filii 32. Posto que quem não come a carne do Filho
hominis et bibit eius sanguinem, non habet vitam do homem e não bebe seu sangue não tem a vida
in se” [Io 6,54], et nihilominus qui moriuntur cum em si [Jo 6,54], e, todavia, os que morrem com o
baptismate aquae, sanguinis aut desiderii, certo batismo de água, de sangue ou de desejo, certa-
consequuntur vitam aeternam, dicendum est, his qui mente conseguem ter a vida eterna, deve-se dizer
in hac vita non comederunt corpus et sanguinem que aos que não comeram nesta vida o corpo e o
Christi, subministrari hunc caelestem cibum in fu- sangue de Cristo, este pão é administrado na vida
tura vita, ipso mortis instanti. – Hinc etiam Sanctis futura, no momento mesmo da morte. – Por isso,
Veteris Testamenti potuit Christus descendens ad Cristo, ao descer aos infernos, pôde dar-se em co-
inferos se ipsum communicare sub speciebus panis munhão aos Santos do Antigo Testamento, sob as
et vini, ut aptos eos redderet ad visionem Dei1. espécies de pão e vinho, afim de torná-los aptos
para a visão de Deus1.
3233 33. Cum daemones fructum possederint, putarunt 33. Como os demônios tomaram conta do fruto,
se ingressuros in hominem, si de illo ederet; con- pensavam que, se o homem dele comesse, eles en-
verso enim cibo in corpus hominis animatum, ipsi trariam no ser humano; pois convertido aquele ali-
poterant libere ingredi animalitatem, id est in vitam mento em corpo animada do ser humano, eles po-
subiectivam huius entis, atque ita de eo disponere deriam entrar livremente em sua animalidade, isto
sicut proposuerant1. é, na vida subjetiva deste ente, e assim dispor dele
como se haviam proposto1.
3234 34. Ad praeservandam B. Virginem Mariam a labe 34. Para preservar a bem-aventurada Virgem Ma-
originis, satis erat, ut incorruptum maneret mini- ria da mancha de origem, bastava que permaneces-
mum semen in homine, neglectum forte ab ipso se incorrupta uma porção mínima do sêmen mas-
daemone, e quo incorrupto semine de generatione culino, por descuido casual do demônio, e deste sê-
in generationem transfuso, suo tempore oriretur men incorrupto transmitido de geração em geração
Virgo Maria1. nasceria a seu tempo a Virgem Maria1.
3235 35. Quo magis attenditur ordo iustificationis in 35. Quanto mais se examina a ordem da justifi-
homine, eo aptior apparet modus dicendi scriptura- cação no ser humano, mais exato se revela o modo
lis, quod Deus peccata quaedam tegit aut non im- de falar espiritual de que Deus cobre ou não imputa
putat. – Iuxta Psalmistam [Ps 31,1] discrimen est os pecados. – Segundo o salmista [Sl 32,1], há di-
inter iniquitates, quae remittuntur, et peccata, quae ferença entre as iniqüidades que se perdoam e os
teguntur: illae, ut videtur, sunt culpae actuales et pecados que se cobrem: aquelas, ao que parece, são
liberae, haec vero sunt peccata non libera eorum, culpas atuais e livres, estes são pecados não-livres
qui pertinent ad populum Dei, quibus propterea dos que pertencem ao povo de Deus e que, por isso,
nullum afferunt nocumentum1. não sofrem dano deles1.
3236 36. Ordo supernaturalis constituitur manifestatio- 36. A ordem sobrenatural se constitui pela mani-
ne esse in plenitudine suae formae realis; cuius com- festação do ser na plenitude de sua forma real; o
municationis seu manifestationis effectus est sen- efeito desta comunhão ou manifestação é o senso
sus (“sentimento”) deiformis, qui inchoatus in hac (“sentimento”) deiforme que, começado nesta vida,
*3231 1 B’ 286s.
*3232 1 B’ 238, lição 74.
*3233 1 B’ 191, lição 63.
*3234 1 B’ 193, lição 64.
*3235 1 G’ livro 1, cap. 6, Art. 2.
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vita constituit lumen fidei et gratiae, completus in constitui a luz da fé e da graça, e, completado na
altera vita constituit lumen gloriae1. outra, constitui a luz da glória1.
37. Primum lumen reddens animam intelligentem 37. A primeira luz que torna inteligente a alma é 3237
est esse ideale; alterum primum lumen est etiam o ser ideal; a segunda primeira luz é também o ser,
esse, non tamen mere ideale, sed subsistens ac já não puramente ideal, mas subsistente e vivo: aque-
vivens: illud abscondens suam personalitatem os- la esconde sua personalidade e manifesta só sua
tendit solum suam obiectivitatem: at qui videt objetividade; mas quem vê a segunda (que é o Ver-
alterum (quod est Verbum), etiamsi per speculum et bo), vê Deus, ainda que em espelho e enigma1.
in aenigmate, videt Deum1.
38. Deus est obiectum visionis beatificae, in quan- 38. Deus é objeto da visão beatífica enquanto é 3238
tum est auctor operum ad extra1. autor das obras ad extra1.
39. Vestigia sapientiae ac bonitatis, quae in crea- 39. Os vestígios da sabedoria e bondade que bri- 3239
turis relucent, sunt comprehensoribus necessaria; lham nas criaturas são necessários para os que con-
ipsa enim in aeterno exemplari collecta sunt ea Ip- templam <no céu>, pois reunidos no exemplar eter-
sius pars, quae ab illis videri possit (“che è loro no, são a parte do mesmo que pode por eles ser
accessibile”), ipsaque argumentum praebent laudi- visto (“che è loro accessibile”), e oferecem o argu-
bus, quas in aeternum Deo Beati concinunt1. mento para os louvores que os bem-aventurados
cantam a Deus eternamente1.
40. Cum Deus non possit, nec per lumen gloriae, 40. Como Deus não pode, nem mesmo por meio 3240
totaliter se communicare entibus finitis, non potuit da luz da glória, comunicar-se totalmente a seres
essentiam suam comprehensoribus revelare et finitos, não pode revelar nem comunicar sua essên-
communicare, nisi eo modo, qui finitis intelligentiis cia aos que contemplam <no céu>, a não ser de modo
sit accommodatus: scilicet Deus se illis manifestat, acomodado a inteligências finitas: isto é, Deus se
quatenus cum ipsis relationem habet, ut eorum crea- manifesta a elas enquanto está em relação com elas
tor, provisor, redemptor, sanctificator1. como seu criador, provisor, redentor, santificador1.
[C e n s u r a , confirmata a Summo Pontifice: S. [C e n s u r a , confirmada pelo Sumo Pontífice: O 3241
Officium] propositiones … in proprio auctoris sen- S. Ofício] julgou que as proposições … no sentido
su reprobandas ac proscribendas esse iudicavit, prout próprio do autor devem ser reprovadas e proscri-
hoc generali decreto reprobat, damnat, proscribit … tas, como este decreto geral as reprova, condena e
proscreve …
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omnia alia deflectere, fallacesque bonorum imagi- pode também seguir uma direção totalmente oposta
nes persecutus, ordinem debitum perturbare et in e, perseguindo enganosas ilusões de bens, perturbar
interitum ruere voluntarium. … a devida ordem e correr à sua voluntária perdição. …
3246 Libertatem nemo altius praedicat nec constantius Ninguém preconiza com mais força a liberdade,
asserit Ecclesia catholica, quae [id] … tuetur ut nem a afirma com mais constância, que a Igreja
dogma. Neque id solum: sed contradicentibus hae- católica, que considera [isso] … dogma. E não só
reticis … [nominantur Manichaei, adversarii Con- isso: contra os hereges que negam isso … [mencio-
cilii Tridentini, Iansenistae, Fatalistae] patrocinium nam-se os maniqueus, os adversários do concílio
libertatis Ecclesia suscepit hominisque tam grande de Trento, os jansenistas, os fatalistas], a Igreja as-
bonum ab interitu vindicavit. sumiu a defesa da liberdade e salvou da perda tão
grande bem do ser humano.
A lei natural
3247 Cur homini lex necessaria sit, in ipso eius arbi- A primeira razão por que a lei é necessário para
trio, scilicet in hoc, nostrae ut voluntates a recta o ser humano deve ser procurada, como em sua raiz,
ratione ne discrepent, prima est causa, tamquam in no seu livre-arbítrio, isto é, na exigência de que as
radice, quaerenda. … nossas vontades não divirjam da reta razão.
Talis [lex] est princeps omnium lex naturalis, quae Tal [lei] é a lei natural, a mais eminente de to-
scripta est et insculpta in hominum animis singulo- das, escrita e gravada no coração de cada ser huma-
rum, quia ipsa est humana ratio recte facere iubens no, pois a própria razão humana ordena fazer o bem
et peccare vetans. Ista vero humanae rationis praes- e proíbe pecar. Mas esta prescrição da razão huma-
criptio vim habere legis non potest, nisi quia altio- na só pode ter força de lei porque é voz e intérprete
ris est vox atque interpres rationis, cui mentem li- de uma razão mais elevada, à qual se devem sub-
bertatemque nostram subiectam esse oporteat. Vis meter nosso espírito e nossa liberdade. Ora, a força
enim legis cum ea sit, officia imponere et iura tri- da lei, a saber, de impor os deveres e de afirmar os
buere, tota in auctoritate nititur, hoc est: in vera direitos, repousa inteiramente sobre a autoridade,
potestate statuendi officia describendique iura, item ou seja: sobre um poder verdadeiro de estabelecer
poenis praemiisque imperata sanciendi: quae qui- deveres e de determinar direitos e até de sancionar
dem omnia in homine liquet esse non posse, si por penas e recompensas o que for ordenado; e tudo
normam actionibus ipse suis summus sibi legislator isso, evidentemente, não poderia existir no ser hu-
daret. Ergo consequitur, ut naturae lex sit ipsa lex mano se se atribuísse a si mesmo, como legislador
aeterna, insita in iis qui ratione utuntur, eosque supremo, a norma suprema de seus atos. Daí resul-
inclinans ad debitum actum et finem, eaque est ipsa ta ser a lei natural a própria lei eterna, inscrita nos
aeterna ratio Creatoris universumque mundum que têm o uso da razão, inclinando-os ao ato e ao
gubernantis Dei. fim devidos; ela é a própria razão eterna de Deus,
criador e governante de todo o universo.
A lei humana
3248 Quod ratio lexque naturalis in hominibus singu- O que em cada ser humano fazem a razão e a lei
lis, idem efficit in consociatis lex humana ad bo- natural, o mesmo faz, nos que vivem na sociedade,
num commune civium promulgata. a lei humana, promulgada para o bem dos cidadãos.
Ex hominum legibus aliae in eo versantur quod Entre essas leis humanas há algumas cujo objeto
est bonum malumve natura … . Sed istiusmodi consiste no que é bom ou mau por natureza … .
decreta nequaquam ducunt ab hominum societate Ora, é claro que tais mandamentos não têm origem
principium, … sed potius ipsi hominum societati na sociedade humana, … mas antes precedem a
antecedunt, omninoque sunt a lege naturali ac prop- própria sociedade humana, remontando totalmente
terea a lege aeterna repetenda. … à lei natural e, daí, à lei eterna. …
Alia vero civilis potestatis praescripta non ex Outras prescrições, as da lei civil, ao contrário,
naturali iure statim et proxime, sed longius et obli- emanam do direito natural não imediata e proxima-
que consequuntur, resque varias definiunt, de qui- mente, mas remota e indiretamente, e definem vá-
690
bus non est nisi generatim atque universe natura rias coisas que a natureza dispõe de maneira apenas
cautum. … Iamvero peculiaribus hisce vivendi re- geral e global. … Ora, é nessas regras de vida par-
gulis prudenti ratione inventis legitimaque potesta- ticulares, encontradas pela razão prudente e intima-
te propositis lex humana proprii nominis contine- das pela legítima autoridade, que consiste a lei hu-
tur. … Ex eo intelligitur, omnino in aeterna Dei lege mana no sentido próprio do termo. … Daí se enten-
normam et regulam positam esse libertatis, nec sin- de que na lei eterna de Deus se encontra, totalmen-
gulorum dumtaxat hominum, sed etiam communi- te, a norma e a regra da liberdade, não apenas para
tatis et coniunctionis humanae. os homens individualmente, mas para a comunida-
de e a sociedade humanas.
Igitur in hominum societate libertas veri nominis Em conseqüência disso, numa verdadeira socie- 3249
non est in eo posita, ut agas quod lubet, … sed in dade humana, a liberdade não consiste em cada um
hoc, ut per leges civiles expeditius possis secun- fazer o que bem entende, … mas nisto, que, por
dum legis aeternae praescripta vivere. Eorum vero meio das leis civis, se possa viver mais facilmente
qui praesunt, non in eo sita libertas est, ut imperare de acordo com as prescrições da lei eterna. E para
temere et ad libidinem queant, … sed humanarum os governantes, a liberdade não consiste em que
vis legum haec debet esse, ut ab aeterna lege mana- possam mandar temerária e arbitrariamente, … mas
re intelligantur nec quidquam sancire, quod non in a eficácia das leis humanas consiste em serem en-
ea, veluti in principio universi iuris, contineatur. tendidas como emanadas da lei eterna, e em não se
sancionar nada que não esteja contido nesta como
no princípio de todo direito.
691
cedere atque impunita relinquere, quae per divinam autoridade humana não consegue impedir a existên-
tamen providentiam vindicantur, et recte”1. cia de males particulares, não pode senão “permitir e
deixar impunes muitas coisas que são, contudo, cas-
tigadas pela providência divina, e a justo título”1.
Verumtamen in eiusmodi rerum adiunctis, si com- Mas em tais circunstâncias, se, por causa do bem
munis boni causa, et hac tantum causa, potest vel comum e só por ele, a lei humana pode e deve to-
etiam debet lex hominum ferre toleranter malum, lerar o mal, nunca, porém, poderá aprová-lo ou
tamen nec potest nec debet id probare aut velle per querê-lo por si mesmo. Pois o mal, se em sua es-
se: quia malum per se cum sit boni privatio, repug- sência é privação de um bem, é contrário ao bem
nat bono communi, quod legislator, quoad optime comum, que o legislador deve buscar e defender
potest, velle ac tueri debet. Et hac quoque in re ad tanto quanto está nas suas possibilidades. Também
imitandum sibi lex humana proponat Deum neces- neste ponto a lei humana deve propor-se a imitação
se est, qui in eo quod mala esse in mundo sinit, de Deus, que, ao permitir a existência do mal no
“neque vult mala fieri, neque vult mala non fieri, mundo, “nem quer que se faça o mal nem quer que
sed vult permittere mala fieri, et hoc est bonum”2. não se faça, mas o que quer é permitir que o mal se
Quae Doctoris Angelici sententia brevissime conti- faça, e isso é bom”2. Nesta sentença do Doutor
net de malorum tolerantia doctrinam. Angélico está contida, em poucas palavras, toda a
doutrina sobre a tolerância do mal. …
*3251 1 Agostinho, De libero arbitrio I, n. 41 (CSEL 74, 141s), = I 5, n. 13 (PL 32, 1228C).
2 Tomás de Aquino, Summa theologiae I, q. 19, a. 9 ad 3 (Ed. Leonina 4, 247b).
692
Craniotomia
In scholis catholicis tuto doceri non posse, lici- Nas escolas católicas não se pode ensinar de modo 3258
tam esse operationem chirurgicam, quam “cranio- seguro que a operação chamada “craniotomia” é
tomiam” appellant, sicut declaratum fuit die 28. Maii lícita, conforme declarado em 28 de maio de 1884,
1884, et quamcumque chirurgicam operationem bem como qualquer outra operação cirúrgica que
directe occisivam fetus vel matris gestantis. mataria diretamente o feto ou a mãe grávida.
693
cum altero communicationem. Quocirca si sponsum relação mais íntima de todas, e por sua natureza
Virgini Deus Iosephum dedit, dedit profecto non compreende a recíproca comunhão de bens. Assim,
modo vitae socium, virginitatis testem, tutorem ho- se Deus deu José por esposo à Virgem, certamente
nestatis, sed etiam excelsae dignitatis eius ipso co- não só o constituiu companheiro da sua vida, teste-
niugali foedere participem. munha de sua virgindade, defensor de sua honesti-
dade, mas também, em razão dessa mesma aliança
conjugal, o fez partícipe de sua sublime dignidade.
Similiter augustissima dignitate unus eminet in- Igualmente supera todos os outros em elevadíssi-
ter omnes, quod divino consilio custos Filii Dei fuit, ma dignidade porque, por desígnio divino, foi elei-
habitus hominum opinione pater. Qua ex re conse- to para ser o custódio do Filho de Deus, na opinião
quens erat, ut Verbum Dei Iosepho modeste subesset, dos homens tido por pai. Daí resultava que o Verbo
dictoque esset audiens omnemque adhiberet hono- de Deus era humildemente submisso a José, dava
rem, quem liberi adhibeant parenti suo necesse est. ouvido à sua palavra e lhe prestava toda a honra
que os filhos devem a seu pai.
3261 Iamvero ex hac duplici dignitate officia sponte Desta dupla dignidade profluíam espontaneamen-
sequebantur, quae patribusfamilias natura praescrip- te os deveres que a natureza prescreve aos pais de
sit, ita quidem, ut domus divinae, cui Iosephus família, de modo que José, sendo chefe da família
praeerat, custos idem et curator et defensor esset divina, era também seu custódio, seu administrador
legitimus ac naturalis. Cuiusmodi officia ac munia e seu defensor legítimo e natural. E tais deveres e
ille quidem, quoad suppeditavit vita mortalis, reve- encargos, com efeito os cumpriu no decurso de sua
ra exercuit. … vida mortal. …
3262 Atqui domus divina, quam Iosephus velut potes- Ora, a casa divina que José como que com poder
tate patria gubernavit, initia exorientis Ecclesiae paterno dirigiu, continha em germe a Igreja nascen-
continebat. Virgo sanctissima quemadmodum Iesu te. Como a Virgem santíssima é genitora de Jesus
Christi genitrix, ita omnium est christianorum ma- Cristo, assim também é mãe de todos os cristãos,
ter, quippe quos ad Calvariae montem inter supre- que engendrou no Calvário em meio aos infinitos
mos Redemptoris cruciatus generavit; itemque Iesus sofrimentos do Redentor, do mesmo modo, Jesus
Christus tamquam primogenitus est christianorum, Cristo é como que o primogênito dos cristãos, que,
qui ei sunt adoptione ac redemptione fratres. pela adoção e pela redenção, lhe são irmãos.
3263 Quibus rebus causa nascitur, cur beatissimus Pa- Destas realidades nasce a razão por que o beatís-
triarcha commendatam sibi peculiari quadam ratio- simo Patriarca sente que lhe está de modo peculiar
ne sentiat multitudinem christianorum, ex quibus confiada a multidão dos cristãos que constituem a
constat Ecclesia, scilicet innumerabilis isthaec per- Igreja, a saber, a inúmera família espalhada por toda
que omnes terras fusa familia, in quam, quia vir a terra, sobre a qual, como esposo de Maria e pai de
Mariae et pater est Iesu Christi, paterna propemo- Jesus Cristo, exerce uma autoridade como que pa-
dum auctoritate pollet. Est igitur consentaneum et ternal. É, portanto, consentâneo e plenamente de
beato Iosepho apprime dignum, ut sicut ille olim acordo com a dignidade do bem-aventurado José
Nazarethanam familiam, quibuscumque rebus usu- que, assim como em outro tempo costumava prote-
venit, sanctissime tueri consuevit, ita nunc patroci- ger conscienciosamente a família de Nazaré com
nio caelesti Ecclesiam Christi tegat ac defendat. tudo que fosse preciso, agora com seu patrocínio
celeste proteja e defenda a Igreja de Cristo.
O vinho da missa
3264 In pluribus Galliae partibus, maxime si eae ad Em muitas regiões da França, especialmente no
meridiem sitae reperiantur, vinum album, quod in- sul, o vinho branco que serve para o incruento sa-
cruento Missae sacrificio inservit, tam debile est crifício da Missa é tão fraco e sem força, que não
694
ac impotens, ut diu conservari non valeat, nisi pode ser conservado muito tempo, se não for mis-
eidem quaedam spiritus vini (spirito alcool) quan- turado com certa quantidade de álcool.
titas admisceatur.
Qu.: 1. An istiusmodi commixtio licita sit? Perguntas: 1. Tal mistura é lícita?
2. Et, si affirmative, quaenam quantitas huiusmo- 2. Se é lícita, que quantidade desse material es-
di materiae extraneae vino adiungi permittatur? tranho pode ser acrescentada ao vinho?
3. In casu affirmativo, requiriturne spiritus vini 3. Em caso afirmativo, é preciso que seja álcool
ex vino puro seu ex vitis fructu extractus? extraído de vinho puro, ou seja, de uva?
Resp. (confirmata Summo Pontifice, 31. Iul.): Resp. (confirmada pelo Sumo Pontífice em 31
Dummodo spiritus (alcool) extractus fuerit ex ge- jul.): Conquanto o espírito (álcool) seja realmente
nimine vitis, et quantitas alcoholica addita una cum destilado do fruto da videira e a quantidade de ál-
ea, quam vinum, de quo agitur, naturaliter continet, cool acrescentado juntamente com a que o vinho
non excedat proportionem duodecim pro centum, em questão possui naturalmente não exceda a pro-
et admixtio fiat, quando vinum est valde recens, nihil porção de 12 porcento, e a mistura se faça quando
obstare, quominus idem vinum in Missae sacrificio o vinho é ainda muito novo, nada impede que o
adhibeatur. mesmo seja usado no sacrifício da Missa.
695
tanto ius est illud validius, quanto persona humana de família. Mais ainda: este direito adquire tanto
in convictu domestico plura complectitur. Sanctis- maior força quanto mais responsabilidade recebe a
sima naturae lex est, ut victu omnique cultu pater- pessoa humana na sociedade doméstica. É lei sa-
familias tueatur, quos ipse procrearit: idemque illuc grada da natureza que o pai de família cuide da
a natura ipsa deducitur, ut velit liberis suis, quippe alimentação e de todo o sustento dos que gerou; e
qui paternam referunt et quodam modo producunt a própria natureza o leva a querer adquirir e provi-
personam, acquirere et parare, unde se honeste pos- denciar para seus filhos, que representam e de certo
sint in ancipiti vitae cursu a misera fortuna defen- modo prolongam a pessoa paterna, os meios para,
dere. Id vero efficere non alia ratione potest, nisi no curso incerto da vida, defender-se honestamente
fructuosarum possessione rerum, quas ad liberos da miséria. Mas isso, ele não o conseguirá de outro
hereditate transmittat. … modo senão pela posse de bens produtivos que pos-
sa transmitir aos filhos por via de herança. …
3267 Iusta p o s s e s s i o pecuniarum a iusto pecuniarum A justa p o s s e das riquezas se distingue do justo
usu distinguitur. Bona privatim possidere, quod uso das riquezas. A propriedade privada, como já
paulo ante vidimus ius est homini naturale: eoque vimos acima, é de direito natural para o homem; o
uti iure, maxime in societate vitae, non fas modo exercício deste direito, sobretudo para quem vive
est, sed plane necessarium. … em sociedade, é coisa não só permitida, mas tam-
bém absolutamente necessária. …
At vero si illud quaeratur, qualem esse u s u m b o - Agora, se se pergunta em que deve consistir o
n o r u m necesse sit, Ecclesia quidem sine ulla du- u s o d o s b e n s , a Igreja responderá sem hesitação
bitatione respondet: “Quantum ad hoc, non debet alguma: “A esse respeito, o homem não deve con-
homo habere res exteriores ut proprias, sed ut com- siderar as coisas exteriores como <suas> particula-
munes, ut scilicet de facili aliquis eas communicet res, mas sim como comuns, de tal sorte que facil-
in necessitate aliorum. Unde Apostolus dicit: ‘Divi- mente dê parte delas aos outros nas suas necessida-
tibus huius saeculi praecipe … facile tribuere, com- des. É por isso que o Apóstolo disse: “Ordena aos
municare’ [1 Tim 6,17s]”1. Nemo certe opitulari aliis ricos deste século … que prontamente distribuam e
de eo iubetur, quod ad usus pertineat cum suos tum ponham em comum” [1Tm 6,17s]1. Ninguém de-
suorum necessarios: immo nec tradere aliis, quo ipse certo é obrigado a aliviar o próximo privando-se do
egeat ad id servandum, quod personae conveniat, que é necessário para o uso seu ou dos seus, e nem
quodque deceat. … Sed ubi necessitati satis et de- mesmo a suprimir algo do que as conveniências ou
coro datum, officium est de eo, quod superat, gra- o decoro impõem à sua pessoa. … Mas, uma vez
tificari indigentibus. “Quod superest, date eleemo- atendidos a necessidade e o decoro, é obrigação
synam” [Lc 11,41]. Non iustitiae, excepto in rebus gratificar os pobres com o que sobra: “Do que so-
extremis, officia ista sunt, sed caritatis christianae, bra dai esmolas” [Lc 11,41]. Isso é um dever, não
quam profecto lege agendo petere ius non est. Sed de justiça, exceto nos casos de extrema necessida-
legibus iudiciisque hominum lex antecedit iudicium- de, mas de caridade cristã, cujo cumprimento não
que Christi Dei, qui multis modis suadet consuetu- se pode urgir por ação legal. Mas tem prioridade
dinem largiendi … et collatam negatamve iudicatu- sobre as leis e os juízos humanos a lei e o juízo do
rus [Mt 25,34s]. Cristo de Deus, que nos persuade de muitas manei-
ras o costume de dar esmola … e julgará da prática
ou eventual negação [Mt 25,34s].
*3267 1 Tomás de Aquino, Summa theologiae II-II, q. 66, a. 2 (Ed. Leonina 9, 85b).
696
est homini opus ad vitam tuendam: vitam autem precisa do fruto do trabalho para proteger a vida;
tueri ipsa rerum, cui maxime parendum, natura iubet. ora, proteger a vida é o que manda a natureza das
coisas, à qual se deve obedecer maximamente.
Iamvero si ex ea dumtaxat parte spectetur, quod Ora, ao se encarar o trabalho somente por seu 3269
p e r s o n a l i s est, non est dubium, quin integrum lado p e s s o a l , não há dúvida de que o operário
opifici sit pactae m e r c e d i s angustius finire mo- possa, a seu talante, definir a taxa do s a l á r i o em
dum: quemadmodum enim operas dat ille volunta- nível baixíssimo; pois assim como dispõe volunta-
te, sic et operarum mercede vel tenui vel plane nulla riamente de seu trabalho, pode voluntariamente con-
contentus esse voluntate potest. tentar-se com um salário escasso ou quase nulo.
Sed longe aliter iudicandum, si cum ratione per- Mas é mister julgar de modo diferente, quando ao 3270
sonalitatis ratio coniungitur necessitatis, cogitatio- caráter de personalidade se junta o de necessidade,
ne quidem, non re, ab illa separabilis. Reapse manere que no pensamento se pode abstrair, mas na realida-
in vita, commune singulis officium est, cui scelus de não. Efetivamente, ficar em vida é dever univer-
est deesse. Hinc ius reperiendarum rerum, quibus sal de cada um, e faltar a ele é crime. Daí nasce
vita sustentatur, necessario nascitur: quarum rerum necessariamente o direito de procurar as coisas com
facultatem infimo cuique non nisi quaesita labore que a vida se sustenta; e para quem é de classe mais
merces suppeditat. Esto igitur, ut opifex atque herus baixa a possibilidade disso provém do salário do seu
libere in idem placitum, ac nominatim in salarii trabalho. Sendo assim, ainda que o operário e o
modum consentiant: subest tamen semper aliquid ex patrão façam livremente um contrato e cheguem
iustitia naturali, idque libera paciscentium voluntate inclusive a combinar o preço do salário, sempre
maius et antiquius, scilicet alendo opifici, frugi qui- subjaz algo que vem da justiça natural, maior e mais
dem et bene morato, haud imparem esse mercedem antiga que a livre vontade dos contratantes, a saber,
oportere. Quod si necessitate opifex coactus, aut mali que o salário não deve ser insuficiente para assegu-
peioris metu permotus duriorem condicionem rar a subsistência do operário sóbrio e honrado. Mas
accipiat, quae, etiamsi nolit, accipienda sit, quod a se, constrangido pela necessidade ou forçado pelo
domino vel a redemptore operum imponitur, istud receio de um mal maior, o operário aceita condições
quidem est subire vim, cui iustitia reclamat. … mais duras, que, mesmo não querendo, ele deve
aceitar porque lhe são impostas pelo patrão ou em-
pregador, então é isto certamente sofrer uma violên-
cia contra a qual a justiça eleva seu clamor. …
Mercedem si ferat opifex satis amplam, ut ea se O operário que receber um salário suficiente para 3271
uxoremque et liberos tueri commodum queat, faci- atender ao sustento próprio e de sua mulher e fi-
le studebit parsimoniae, si sapit, efficietque, quod lhos, se for prudente, facilmente se aplicará a ser
ipsa videtur natura monere, ut detractis sumptibus, parcimonioso e seguirá o conselho que parece dar-
aliquid etiam redundet, quo sibi liceat ad modicum lhe a própria natureza, a saber, que, depois de pa-
censum pervenire. … gos os gastos, fique sobrando um pequeno pecúlio
que lhe permita adquirir um modesto capital. …
Non tamen ad haec commoda perveniri nisi ea Todavia, só é possível chegar a esse proveito com
condicione potest, ut privatus census ne exhauriatur a condição de que o capital privado não seja es-
immanitate tributorum et vectigalium. Ius enim gotada pela exorbitância de tributos e impostos.
possidendi privatim bona cum non sit lege homi- Com efeito, como o direito da propriedade priva-
num, sed natura datum, non ipsum abolere, sed tan- da não emana das leis humanas, mas da natureza,
tummodo ipsius usum temperare et cum communi a autoridade pública não o pode abolir, mas so-
bono componere auctoritas publica potest. Faciat mente regulá-lo e conciliá-lo com o bem comum.
ergo iniuste atque inhumane, si de bonis privato- Por isso, ela age de modo injusto e inumano quan-
rum plus aequo, tributorum nomine, detraxerit. … do, sob o nome de tributos, subtrai demais dos bens
dos particulares. …
3272-3273: Carta “Pastoralis Officii” aos bispos da Alemanha e da Áustria, 12 set. 1891
Ed.: ASS 24 (1891/92) 204-206 / Leão XIII, Acta, Roma 11, 284-287 / CdICF 3, 378-380 (n. 612).
697
O duelo
3272 … Utraque divina lex, tum ea quae naturalis ra- … Ambas as leis divinas, a que é promulgada
tionis lumine, tum quae Litteris divino afflatu pers- pela luz da razão natural e a que consta nas Letras
criptis promulgata est, districte vetant, ne quis ex- escritas por inspiração divina, proíbem estritamen-
tra causam publicam hominem interimat aut vulne- te que alguém, fora de causa pública, mate ou fira
ret, nisi salutis suae defendendae causa, necessitate uma pessoa, a não ser forçado pela necessidade em
coactus. At qui ad privatum certamen provocant vel defesa da vida própria. Ora, os que provocam ao
oblatum suscipiunt, hoc agunt, huc animum vires- duelo ou aceitam a provocação têm com intenção,
que intendunt, nulla necessitate adstricti, ut vitam e a isto orientam seu ânimo e forças, tirar ou ao
eripiant aut saltem vulnus inferant adversario. menos ferir a vida do adversário, sem serem obri-
gados por necessidade alguma.
Utraque porro divina lex interdicit, ne quis teme- Além disso, ambas as leis proíbem desprezar te-
re vitam proiciat suam, gravi et manifesto obiciens merariamente a vida própria, expondo-a a grave e
discrimini, cum id nulla officii aut caritatis magna- manifesto perigo, quando não aconselha isso nenhu-
nimae ratio suadeat; haec autem caeca temeritas, ma razão de dever ou de magnânima caridade; e tal
vitae contemptrix, plane inest in natura duelli. temeridade cega, desprezadora da vida, entra mani-
festamente na natureza do duelo.
Quare obscurum nemini aut dubium esse potest, Por isso, a ninguém pode ficar escuro ou duvi-
in eos, qui privatim proelium conserunt singulare, doso que sobre os que privadamente travam com-
utrumque cadere et scelus alienae cladis et vitae pro- bate singular pesa duplo crime: o voluntário risco
priae discrimen voluntarium. Demum vix ulla pes- de causar dano ao outro e à vida própria. Final-
tis est, quae a civilis vitae disciplina magis abhorreat mente, mal existe calamidade que mais se afaste
et iustum civitatis ordinem pervertat, quam permis- da disciplina da vida civil e que mais perturbe a
sa civibus licentia, ut sui quisque assertor iuris pri- ordem do Estado que dar aos cidadãos a licença de
vata vi manuque et honoris, quem violatum putet, cada qual se constituir, por força e mão privada,
ultor exsistat. … em vindicador do direito e vingador da honra que
julgue ofendida. …
3273 Neque illis, qui oblatum certamen suscipiunt, iusta Àqueles que aceitam a provocação não pode ser-
suppetit excusatio metus, quod timeant se vulgo vir de justa desculpa o temor de passarem diante do
segnes haberi, si pugnam detrectent. Nam si officia povo por covardes, por se negarem à luta. Pois se
hominum ex falsis vulgi opinionibus dimetienda os deveres dos homens se devessem medir pelas
essent, non ex aeterna recti iustique norma, nullum falsas opiniões da multidão e não pela norma eter-
esset naturale ac verum inter honestas actiones et na do que é reto e justo, não haveria nenhuma dife-
flagitiose facta discrimen. Ipsi sapientes ethnici et rença natural e verdadeira entre as ações honestas e
norunt et tradiderunt, fallacia vulgi iudicia spernen- os feitos ignominiosos. Os próprios sábios pagãos
da esse a forti et constanti viro. Iustus potius et souberam e ensinaram que o homem forte e constan-
sanctus timor est, qui avertit hominem ab iniqua te deve desprezar os juízos falazes da multidão. Ao
caede eumque facit de propria et fratrum salute contrário, temor justo e santo é aquele que afasta o
sollicitum. Immo qui inania vulgi aspernatur iudi- homem de causar uma morte injusta e o torna solí-
cia, qui contumeliarum verbera subire mavult, quam cito pela salvação própria e de seus irmãos. A ver-
ulla in re officium deserere, hunc longe maiore at- dade é esta: quem despreza os vãos juízos da mul-
que excelsiore animo esse perspicitur, quam qui ad tidão, quem prefere sofrer os açoites da afronta a
arma procurrit lacessitus iniuria. Quin etiam, si recte faltar minimamente ao seu dever, esse demonstra
diiudicari velit, ille est unus, in quo solida fortitudo ter maior e mais elevado ânimo que aquele que,
eluceat, illa, inquam, fortitudo, quae virtus vere ferido por uma injúria, recorre às armas. E, a julgar
nominatur et cui gloria comes est non fucata, non corretamente, só naquele é que brilha a sólida for-
fallax. Virtus enim in bono consistit rationi consen- taleza – aquela fortaleza, dizemos, que de verdade
taneo, et nisi quae in iudicio nitatur approbantis Dei, leva o nome de virtude e que vai acompanhada de
stulta omnis est gloria. glória que não é vã ou enganadora. Pois a virtude
consiste no bem segundo a razão, e, se não se ba-
seia no juízo e aprovação de Deus, toda glória é vã.
698
Cremação de cadáveres
Qu.: 1. Utrum liceat sacramenta morientium mi- Perguntas: 1. É permitido administrar os últimos 3276
nistrare fidelibus, qui massonicae quidem sectae non sacramentos a fiéis que, embora não pertencendo à
adhaerent nec eius ducti principiis, sed aliis rationi- seita maçônica nem guiados pelos princípios desta,
bus moti corpora sua post mortem cremanda man- porém movidos por outros motivos, ordenaram que
darunt, si hoc mandatum retractare nolint? seus corpos fossem queimados depois de sua mor-
te, se não quiserem retirar esta ordem?
*3274 1 Tomás de Aquino, Summa theologiae III, q. 30, a. 1 (Ed. Leonina 11, 315b).
699
3277 2. Utrum liceat pro fidelibus, quorum corpora non 2. É permitido oferecer publicamente o sacrifício
sine ipsorum culpa cremata sunt, Missae sacrificium da Missa, ou eventualmente aplicá-lo de modo pri-
publice offerre vel etiam privatim applicare, item- vado, por fiéis que, sem culpa de sua parte, foram
que fundationes ad hunc finem acceptare? cremados; e, de modo semelhante, aceitar funda-
ções para este fim?
3278 3. Utrum liceat cadaverum cremationi cooperari, 3. É permitido cooperar com a cremação dos cor-
sive mandato ac consilio, sive praestita opera, ut pos, quer dando ordem ou conselho, quer contribuin-
medicis, officialibus, operariis in crematorio inser- do com sua ajuda, como no caso de médicos, fun-
vientibus? Et utrum hoc liceat saltem, si fiat in qua- cionários e operários que cumprem seu serviço num
dam necessitate aut ad evitandum magnum damnum? crematório? Ou isso é permitido, ao menos, se feito
em caso de necessidade e para evitar grave perigo?
3279 4. Utrum liceat taliter cooperantibus ministrare 4. É permitido dar os sacramentos aos que assim
sacramenta, si ab hac cooperatione desistere nolunt cooperam, se não querem terminar essa cooperação
aut desistere non posse affirmant? ou afirmam não podê-lo?
Resp.: Ad 1. Si moniti renuant, negative. Ut vero Resp.: Quanto a 1.: Se depois de admoestação
fiat aut omittatur monitio, serventur regulae a pro- recusam: não. Para saber se é preciso que haja ou
batis auctoribus traditae, habita praesertim ratione não admoestação, sejam observadas as regras for-
scandali vitandi. necidas pelos autores comprovados, evitando-se
sobretudo o escândalo.
Ad 2. Circa p u b l i c a m Missae applicationem, Quanto a 2.: Quanto à a p l i c a ç ã o pública da
negative; circa p r i v a t a m , affirmative. missa: não; quanto à aplicação p r iva d a ; sim.
Ad 3. Numquam licere formaliter cooperari man- Quanto a 3.: Nunca é permitido cooperar formal-
dato vel consilio. Tolerari autem aliquando posse mente por ordem ou por conselho. Todavia pode-se
materialem cooperationem, dummodo 1. crematio tolerar, às vezes, uma cooperação material desde
non habeatur pro signo protestativo massonicae que, 1. a cremação não seja considerada sinal de
sectae; 2. non aliquid in ipsa contineatur, quod per expressão da seita maçônica; 2. nisso esteja contido
se directe atque unice exprimat reprobationem ca- nada que de per si exprima direta e unicamente a
tholicae doctrinae et approbationem sectae; 3. ne- rejeição da doutrina católica e a aprovação da seita;
que constet, officiales et operarios catholicos ad opus e, 3. não conste que os funcionários e operários ca-
adstringi vel vocari in contemptum catholicae reli- tólicos são constrangidos ou chamados a este traba-
gionis. Ceterum quamvis in hisce casibus relinquen- lho por desprezo da religião católica. De resto, tam-
di sunt in bona fide, semper tamen monendi sunt, bém se, em tais casos, devem ser deixados em sua
ne cremationi cooperari intendant. boa fé, eles devem, contudo, sempre ser exortados
para que procurem a não cooperar com a cremação.
Ad 4. Provisum in praecedenti. Et detur decre- Quanto a 4.: Foi esclarecido no que precede. E
tum 15. Dec. 1886 [*3195s]. seja indicado o decreto de 15 de dezembro de 1886
[*3195].
700
tiana laudavit usurpavitque antiquitas, maxime co- tigüidade cristã recomendou e usou, e, sobretudo,
dicum primigeniorum. Quamvis enim, ad summam os códices originais. Pois, se quanto ao cerne as
rei quod spectat, ex dictionibus Vulgatae hebraea et expressões da Vulgata deixam transparecer bem o
graeca bene eluceat sententia, attamen si quid am- sentido do grego e do hebraico, todavia, se algo aí
bigue, si quid minus accurate inibi elatum sit, “ins- tiver sido traduzido de modo menos acurado, será
pectio praecedentis linguae”, suasore Augustino1, proveitoso “o exame da língua original”, como acon-
proficiet. … selha Agostinho1. …
… Patrum doctrinam Synodus Vaticana amplexa … O Concílio Vaticano abraçou a doutrina dos 3281
est, quando Tridentinum decretum de divini verbi Padres, quando, renovando o decreto do Concílio
scripti interpretatione renovans hanc illius mentem de Trento sobre a interpretação da palavra divina,
esse declaravit, ut “in rebus fidei et morum, ad ae- declarou que este teve a intenção de que “em maté-
dificationem doctrinae christianae pertinentium, is rias de fé e moral, que pertencem ao edifício da
pro vero sensu sacrae Scripturae habendus sit, quem doutrina cristã, se tenha por sentido verdadeiro da
tenuit ac tenet sancta mater E c c l e s i a , cuius est Sagrada Escritura aquele que sustentou e sustenta a
iudicare de vero sensu et interpretatione Scriptura- santa mãe I g r e j a , à qual compete decidir do ver-
rum sanctarum; atque ideo nemini licere contra hunc dadeiro sentido e da interpretação das sagradas Es-
sensum aut etiam contra unanimem consensum crituras; e que, por conseguinte, a ninguém é per-
Patrum ipsam Scripturam sacram interpretari” mitido interpretar a mesma Sagrada Escritura con-
[*1507 3007]. trariamente a este sentido ou também contra o con-
senso unânime dos Padres” [*1507 3007].
Qua plena sapientiae lege nequaquam Ecclesia Por esta lei plena de sabedoria a Igreja não retar- 3282
pervestigationem scientiae biblicae retardat aut da nem impede a investigação da ciência bíblica,
coercet; sed eam potius ab errore integram praestat, mas antes a preserva livre de erro e contribui gran-
plurimumque ad veram adiuvat progressionem. Nam demente para seu verdadeiro progresso. Pois a cada
p r i v a t o cuique d o c t o r i magnus patet campus, m e s t r e p a r t i c u l a r abre-se um amplo campo no
in quo, tutis vestigiis, sua interpretandi industria qual sua arte de interpretar, seguindo passos segu-
praeclare certet Ecclesiaeque utiliter. In locis qui- ros, se pode empenhar de maneira brilhante para
dem divinae Scripturae, qui expositionem certam et proveito da Igreja. Decerto, nas passagens da divi-
definitam adhuc desiderant, effici ita potest ex suavi na Escritura que ainda esperam por uma exposição
Dei providentis consilio, ut quasi praeparato studio certa e definida, pode assim acontecer que por uma
iudicium Ecclesiae maturetur; in locis vero iam de- espécie de estudo preparatório amadureça o juízo
finitis potest privatus doctor aeque prodesse, si eos da Igreja; doutra parte, nas passagens já definidas,
vel enucleatius apud fidelium plebem et ingenio- o mestre particular pode igualmente ser de provei-
sius apud doctos edisserat vel insignius evincat ab to, quer explicando com maior clareza ao povo fiel
adversariis. … e dissertando mais ingeniosamente perante os
doutos, quer argumentando de modo mais insigne
contra os adversários. …
In ceteris a n a l o g i a f i d e i sequenda est, et Em tudo o mais deve-se seguir a a n a l o g i a d a 3283
doctrina catholica, qualis ex auctoritate Ecclesiae f é e tomar como norma suprema a doutrina católi-
accepta, tamquam summa norma est adhibenda. … ca, tal como é aceita pela autoridade da Igreja. …
Iamvero sanctorum P a t r u m , quibus “post Apos- Ora, também os P a d r e s , por obra dos quais, “que 3284
tolos sancta Ecclesia plantatoribus, rigatoribus, aedi- depois dos Apóstolos plantaram, regaram, edifica-
ficatoribus, pastoribus, nutritoribus crevit”1, summa ram, apascentaram e alimentaram, a Igreja cresceu”1,
auctoritas est, quotiescumque testimonium aliquod têm suma autoridade sempre que de modo unânime
biblicum, ut ad fidei pertinens morumve doctrinam todos explicam um texto como pertencendo à dou-
uno eodemque modo explicant omnes: nam ex ipsa trina da fé ou da moral; pois deste seu consenso
eorum consensione, ita ab Apostolis secundum ca- aparece claramente que assim foi transmitido pelos
tholicam fidem traditum esse nitide eminet. … Apóstolos segundo a fé católica. …
*3280 1 Agostinho, De doctrina christiana III 4, n. 8 (J. Martin: CpChL 32 [1962] 8221s / PL 34, 68).
*3284 1 Agostinho, Contra Iulianum Pelagianum II 10, n. 37 (PL 44, 700).
701
Neque ideo tamen viam sibi [exegeta] putet obs- Nem por isso, contudo, deve [o exegeta] pensar
tructam, quominus, ubi iusta causa adfuerit, inqui- que o caminho lhe está obstruído e que não pode,
rendo et exponendo vel ultra procedat, modo prae- havendo justa causa, ir mais longe nas suas inves-
ceptioni illi ab Augustino sapienter propositae reli- tigações e exposições, desde que siga religiosamente
giose obsequatur, videlicet a litterali et veluti obvio o prudente preceito dado por Agostinho de em nada
sensu minime discedendum nisi qua eum vel ratio se apartar do sentido literal e evidente, a não ser
tenere prohibeat vel necessitas cogat dimittere2. … que alguma razão o impeça de sustentá-lo ou algu-
ma necessidade o obrigue a abandoná-lo2.
3285 Ceterorum interpretum catholicorum A autoridade dos outros intérpretes
est minor quidem auctoritas; attamen, quoniam c a t ó l i c o s é certamente menor; contudo, visto que
Bibliorum studia continuum quendam progressum os estudos bíblicos conheceram na Igreja um con-
in Ecclesia habuerunt, istorum pariter commentariis tínuo progresso, deve-se honrar também os comen-
suus tribuendus est honor, ex quibus multa oppor- tários destes <autores>, pois deles pode tirar-se opor-
tune peti liceat ad refellenda contraria, ad difficilio- tunamente muita coisa para refutar o contrário e re-
ra enodanda. solver o que é mais difícil.
*3284 2 Cf. Agostinho, De Genesi ad litteram VIII 7, n. 13 (CSEL 28, 241 / PL 34, 378).
*3286 1 Recomenda-se o método crítico também na carta apostólica de Leão XIII “Vigilantiae studiique” de 30 out. 1902 (ASS
35 [1902/03] 236 / EnchB n. 142).
*3287 1 Cf. Agostinho, De Genesi ad litteram imperfectus liber c. 9, n. 30 (CSEL 28, 48113 / PL 34, 233).
702
oblata: “Quidquid, inquit, ipsi de natura rerum ve- como o teólogo deve se comportar, eis aqui em
racibus documentis demonstrare potuerint, ostenda- resumo a regra que ele <Agostinho> sugere: “Tudo
mus nostris Litteris non esse contrarium: quidquid o que eles puderem demonstrar, com argumentos
autem de quibuslibet suis voluminibus his nostris verdadeiros, sobre a natureza das coisas”, diz ele,
Litteris, id est catholicae fidei, contrarium protule- “mostremos que não contradiz as nossas Escritu-
rint, aut aliqua etiam facultate ostendamus aut nulla ras; tudo, porém, que apresentarem em qualquer
dubitatione credamus esse falsissimum” 2. de seus escritos como contrário às nossas Escritu-
ras, ou seja, à fé católica, demonstremos de algum
modo ou creiamos sem vacilar que é absolutamen-
te falso”2.
De cuius aequitate regulae in consideratione sit Quanto ao acertado desta regra, é preciso consi- 3288
primum, scriptores sacros seu verius “Spiritum Dei, derar primeiro que os autores sagrados, ou, mais
qui per ipsos loquebatur, noluisse ista (videlicet in- exatamente, “o Espírito de Deus que por eles falava
timam adspectabilium rerum constitutionem) doce- não queria ensinar aos homens essas coisas (a sa-
re homines, nulli saluti profutura”1; quare eos, po- ber, a constituição íntima das coisas sensíveis), que
tius quam explorationem naturae recta persequan- não aproveitam para a salvação”1; por isso, mais
tur, res ipsas aliquando describere et tractare aut que procurar uma precisa investigação da natureza,
quodam translationis modo aut sicut communis ser- descrevem e tratam ocasionalmente essas coisas quer
mo per ea ferebat tempora hodieque de multis fert por algum modo de metáfora, quer como costuma-
rebus in quotidiana vita ipsos inter homines scien- va fazer a linguagem comum daquele tempo, e ain-
tissimos. Vulgari autem sermone cum ea primo pro- da hoje costuma, a respeito de muitas coisas da vida
prieque efferantur, quae cadant sub sensus, non dis- cotidiana, inclusive entre os cientistas mais erudi-
similiter scriptor sacer (monuitque et Doctor Ange- tos. Ora, como a linguagem popular exprime pri-
licus) “ea secutus est, quae sensibiliter apparent”2, meira e propriamente o que cai sob os sentidos, não
seu quae Deus ipse, homines alloquens, ad eorum doutro modo o autor sagrado (como observou tam-
captum significavit humano more. bém o Doutor Angélico) “descreve a coisa que apa-
rece aos sentidos” 2, ou seja, o que o próprio Deus,
ao falar aos homens, expressou de modo humano,
para ser por eles entendido.
Quod vero defensio Scripturae sanctae agenda Ora, da necessidade de defender valorosamente a 3289
strenue est, non ex eo omnes aeque sententiae tuen- Sagrada Escritura não é preciso concluir que devem
dae sunt, quas s i n g u l i P a t r e s aut qui deinceps ser mantidas por igual todas as opiniões que emiti-
interpretes in eadem declaranda ediderint: qui prout ram, ao explicá-la, c a d a u m d o s P a d r e s ou os
erant o p i n i o n e s a e t a t i s , in locis edisserendis, interpretes que lhes sucederam: pois ao explicar de
ubi physica aguntur, fortasse non ita semper iudica- acordo com a s i d é i a s d a é p o c a as passagens
verunt ex veritate, ut quaedam posuerint, quae nunc que tratavam de fenômenos físicos, talvez não sem-
minus probentur. pre explicaram de acordo com a verdade, emitindo
afirmações que hoje já não são tão aceitáveis.
Quocirca studiose dignoscendum in illorum in- Por isso é mister discernir cuidadosamente, nas
terpretationibus, quaenam reapse tradant tamquam suas interpretações, o que ensinam como realmente
spectantia ad fidem aut cum ea maxime copulata, pertencendo à fé ou intimamente ligado a ela, o que
quaenam unanimi tradant consensu; namque “in his ensinam em consenso unânime; pois “no que não é
quae de necessitate fidei non sunt, licuit Sanctis necessário para a fé, os Santos podiam opinar de
diversimode opinari, sicut et nobis”1, ut est S. Tho- modo diverso, bem como nós”1, segundo a opinião
mae sententia. Qui et alio loco prudentissime ha- de S. Tomás. O qual, em outro lugar, diz com a
bet: “Mihi videtur tutius esse, huiusmodi, quae máxima prudência: “Parece-me mais seguro que
*3287 2 Agostinho, De Genesi ad litteram I 21, n. 41 (CSEL 28, 314-9 / PL 34, 262).
*3288 1 Agostinho, De Genesi ad litteram II 9, n. 20 (CSEL 28, 468-10 / PL 34, 270s).
2 Tomás de Aquino, Summa theologiae I, q. 70, a. 1 ad 3 (Ed. Leonina 5, 178b).
*3289 1 Tomás de Aquino, Super IV libros Sententiarum II, dist. 2, q. 1, a. 3, solutio (ed. de Parma 6, 405b / R. Busa, Opera
omnia 1 [1980] 130).
703
philosophi communiter senserunt et nostrae fidei non coisas desse gênero, que os filósofos pensaram de
repugnant, nec sic esse asserenda ut dogmata fidei, modo comum e que não repugnam à nossa fé, não
etsi aliquando sub nomine philosophorum introdu- devem ser afirmadas como dogmas de fé, embora
cantur, nec sic esse neganda tamquam fidei contra- às vezes podem introduzir-se sob o nome de filóso-
ria, ne sapientibus huius mundi occasio contemnendi fos; e tampouco devem ser rechaçadas como con-
doctrinam fidei praebeatur”2. trárias à fé, para não dar aos sábios deste mundo
pretexto para menosprezar a doutrina da fé”2.
Sane, quamquam ea, quae speculatores naturae Na verdade, embora o intérprete deva demons-
certis argumentis certa iam esse affirmarint, inter- trar que nada que os cientistas naturais declaram
pres ostendere debet nihil Scripturis recte explica- verificado com argumentos seguros se opõe às Es-
tis obsistere, ipsum tamen ne fugiat, factum quan- crituras corretamente entendidas, não se deve es-
doque esse, ut certa quaedam ab illis tradita, postea quecer, todavia, que às vezes tem acontecido que
in dubitationem adducta sint et repudiata. … coisas por eles ensinadas como certas depois foram
postas em dúvida e rejeitadas. …
3290 Haec ipsa deinde ad cognatas disciplinas, ad Tudo isso será bom aplicá-lo também às discipli-
h i s t o r i a m praesertim, iuvabit transferri. nas afins, sobretudo à h i s t ó r i a .
*3289 2 Tomás de Aquino, Responsio ad lectorem Vercellensem de articulis 42, Prefácio (Opusculum 10 da ed. romana; =
opusculum 22 na ed. de Mandonnet 3 [Paris 1927] 197; = opusculum 9 na ed. de Parma 16, 163b).
704
confirmata denique atque expressius declarata in por fim, confirmada e mais expressamente declara-
Concilio Vaticano, a quo absolute edictum: “Veteris da no Concílio Vaticano, que promulgou sem res-
et Novi Testamenti libri … Deum habent auctorem” trição: “Os livros do Antigo e do Novo Testamento
[*3006]. Quare nihil admodum refert, Spiritum Sanc- … têm Deus por autor” [*3006]. Por isso não tem
tum assumpsisse homines tamquam instrumenta ad sentido dizer que o Espírito Santo se tenha servido
scribendum, quasi, non quidem primario auctori, sed de homens como de instrumentos para escrever,
scriptoribus inspiratis quidpiam falsi elabi potuerit. como se, não certamente ao autor primeiro, mas aos
Nam supernaturali ipse virtute ita eos ad scriben- escritores inspirados, tivesse podido escapar algo
dum excitavit et movit, ita scribentibus adstitit, ut errado. Pois foi ele mesmo quem, por virtude so-
ea omnia eaque sola, quae ipse iuberet, et recte mente brenatural própria, de tal modo os impeliu a escre-
conciperent et fideliter conscribere vellent et apte ver, de tal modo os assistiu ao escreverem, que
infallibili veritate exprimerent: secus non ipse esset deviam conceber no seu espírito corretamente e
auctor sacrae Scripturae universae. … querer consignar com propriedade e expressar com
verdade infalível o que ele ordenasse; senão, não
seria ele o autor de toda a Sagrada Escritura.
Atque adeo Patribus omnibus et Doctoribus per- A tal ponto todos os Padres e Doutores estavam
suasissimum fuit, divinas Litteras, quales ab hagio- plenamente convencidos de que as divinas Letras,
graphis editae sunt, ab omni omnino errore esse tais como foram publicadas pelos hagiógrafos, es-
immunes, ut propterea non pauca illa, quae contrarii tavam absolutamente livres de todo erro, que …,
aliquid vel dissimile viderentur afferre …, non sub- com não menor sutileza que consciência religiosa,
tiliter minus quam religiose componere inter se et se empenharam em compor e conciliar entre si as
conciliare studuerint; professi unanimes, libros eos não poucas coisas … que pareciam conter alguma
et integros et per partes a divino aeque esse afflatu, contradição ou dessemelhança; eram eles unânimes
Deumque ipsum per sacros auctores elocutum nihil em professar que aqueles livros, no conjunto e em
admodum a veritate alienum ponere potuisse. cada uma de suas partes, procediam por igual da
divina inspiração, e que o próprio Deus, que havia
falado pelos autores sagrados, absolutamente nada
podia ter dito que fosse alheio à verdade.
Ea valeant universe quae idem Augustinus ad Vale em geral o que o mesmo Agostinho escre-
Hieronymum scripsit: “… Si aliquid in eis offendero veu a Jerônimo: “… Se tropeço nestas Letras em
Litteris, quod videatur contrarium veritati, nihil aliud algo que pareça contrário à verdade, não duvidarei
quam vel mendosum esse codicem, vel interpretem de que ou o manuscrito está alterado, ou o tradutor
non assecutum esse quod dictum est, vel me mini- não alcançou o que foi dito, ou que eu mesmo não
me intellexisse non ambigam”1. … entendi nada”1. …
... Permulta enim ex omni doctrinarum genere sunt … De fato, de todo tipo de ciências têm sido 3294
diu multumque contra Scripturam iactata, quae nunc, alegadas, durante muito tempo e em grande quanti-
utpote inania, penitus obsolevere; item non pauca dade, contra a Escritura, coisas que agora ficaram
de quibusdam Scripturae locis (non proprie ad fidei totalmente superadas como vazias; assim também
morumque pertinentibus regulam) sunt quondam foram uma vez propostas à interpretação não pou-
interpretando proposita, in quibus rectius postea vidit cas coisas (não pertencentes propriamente à regra
acrior quaedam investigatio. Nempe opinionum da fé e da moral), nas quais a ulterior investigação
commenta delet dies; sed “veritas manet et invalescit mais adequada permitiu uma visão mais aguda. Com
in aeternum”1. efeito, o tempo apaga as falsas opiniões, mas “a
verdade permanece e recobra forças eternamente”1.
*3293 1 Agostinho, Carta (82) a Jerônimo, cap. 1, n. 3 (CSEL 34, 3548-11 / PL 33, 277).
*3294 1 3 Esdras 4, 38.
705
Aborto
3298 Expos.: Titius medicus, cum ad praegnantem gra- Expos.: O médico Tício, ao ser chamado a assis-
viter decumbentem vocabatur, passim animadver- tir uma mulher grávida, gravemente enferma, per-
tebat, lethalis morbi causam aliam non subesse prae- cebia com freqüência que não havia outra causa de
ter ipsam praegnationem, hoc est fetus in utero prae- enfermidade mortal senão a própria gravidez, isto
sentiam. Una igitur, ut matrem a certa atque immi- é, a presença do feto no útero. Assim restou-lhe
nenti morte salvaret, praesto ipsi erat via, procuran- apenas um caminho para salvar a mãe de uma morte
di scilicet abortum seu fetus eiectionem. Viam hanc certa e iminente, a saber, provocar o aborto ou ejeção
consueto ipse inibat, adhibitis tamen mediis et ope- do feto. Ele costumava seguir ordinariamente este
rationibus, per se atque immediate non quidem ad caminho, usando, todavia, meios e procedimentos
id tendentibus, ut in materno sinu fetum occiderent, que de per si não intendem a matar o feto no útero
sed solummodo ut vivus, si fieri posset, ad lucem materno, mas a fazê-lo sair à luz, se possível vivo,
ederetur, quamvis proxime moriturus, utpote qui ainda que para morrer proximamente, por estar to-
immaturus omnino adhuc esset. talmente prematuro.
Iamvero lectis, quae die 19. Augusti 1889 sancta Depois que leu o que a Santa Sé, em 19 de agosto
Sedes ad Cameracensem archiepiscopum rescripsit: de 1889, respondera ao arcebispo de Cambrai, <a
“tuto doceri non posse” licitam esse quamcumque saber> que “não se pode ensinar de modo seguro”
operationem directe occisivam fetus, etiam si hoc que é lícito qualquer operação que mate diretamen-
necessarium foret ad matrem salvandam: dubius te o feto, mesmo se isso for necessário para salvar a
haeret Titius circa liceitatem operationum chirurgi- mãe, Tício ficou em dúvida quanto à liceidade das
carum, quibus non raro ipse abortum hucusque pro- operações cirúrgicas com as quais ele mesmo até
curabat, ut praegnantes graviter aegrotantes salvaret. agora não raras vezes provocava o aborto, para sal-
var a vida às grávidas gravemente enfermas.
Qu.: Titius petit: Utrum enuntiatas operationes in Pergunta: Tício pergunta se pode com segurança
repetitis dictis circumstantiis instaurare tuto possit. realizar as operações explicadas em vista das repe-
tidas circunstâncias supraditas?
Resp. (confirmata a Summo Pontifice, 25. Iul.): Resp.: (confirmada pelo Sumo Pontífice em 15
Negative, iuxta alia decreta diei scilicet 28. Maii jul.): Não, de acordo com outros decretos, a saber,
1884 et 19. Aug. 1889. de 18 de maio de 1884 e de 19 de agosto de 1889.
706
707
luntate libera effectarum pertinet genus: quocirca constituição da Igreja pertence ao gênero das coi-
ad id, quod revera gestum est, iudicatio est omnis sas que procedem da livre vontade; por isso, toda a
revocanda, exquirendumque non sane, quo pacto una questão deve se voltar para o que de fato foi feito,
esse Ecclesia queat, sed quo unam esse is voluit, e não é preciso inquirir de que modo a Igreja pode
qui condidit. ser una, mas de que modo aquele que a fundou quis
que fosse una.
3303 Iamvero, si ad id respicitur, quod gestum est, Pois bem, quando se considera o que foi feito,
Ecclesiam Iesus Christus non talem finxit formavit- Jesus Cristo não concebeu nem formou a Igreja de
que, quae communitates plures complecteretur ge- modo que compreendesse uma pluralidade de comu-
nere similes, sed distinctas neque iis vinculis alli- nidades semelhantes em seu gênero, porém distintas
gatas, quae Ecclesiam individuam atque unicam e não ligadas por aqueles vínculos que tornaram a
efficerent eo plane modo, quo “Credo unam … Ec- Igreja indivisível e única, ao modo como professa-
clesiam” in Symbolo fidei profitemur … mos no Símbolo da fé “Creio uma … Igreja” …
Sane Iesus Christus de aedificio eiusmodi mysti- Assim, quando Jesus Cristo fala deste edifício
co cum loqueretur, Ecclesiam non commemorat nisi místico, somente recorda uma única Igreja, que
unam quam appellat suam: “aedificabo Ecclesiam chama sua: “edificarei a minha Igreja” [Mt 16,18].
meam” [Mt 16,18]. Quaecumque praeter hanc co- Qualquer outra que se imagine fora desta, como não
gitetur alia, cum non sit per Iesum Christum condi- foi fundada por Jesus Cristo, não pode ser a verda-
ta, Ecclesia Christi vera esse non potest. … deira Igreja de Cristo. …
Itaque partam per Iesum Christum salutem simul- Assim, portanto, a salvação que Jesus Cristo ad-
que beneficia omnia, quae inde proficiscuntur, late quiriu para nós e, juntamente, todos os benefícios
fundere in omnes homines atque ad omnes propa- que dela procedem, a Igreja deve difundi-los am-
gare aetates debet Ecclesia. Quocirca ex voluntate plamente e os propagar para todas as idades. Por
auctoris sui unicam in omnibus terris in perpetuita- isso, segundo a vontade de seu autor, é necessário
te temporum esse necesse est. … que ela seja única para a terra toda em toda a dura-
ção do tempo. …
3304 Illud accedit, quod Ecclesiam Filius Dei mysti- A isso acresce que o Filho de Deus decretou que
cum corpus suum decrevit fore, quocum ipse velut a Igreja fosse seu corpo místico, ao qual ele se uniria
Caput coniungeretur, ad similitudinem corporis como a Cabeça, à semelhança do corpo humano que
humani quod suscepit. … Sicut igitur mortale cor- ele assumiu. … Pois como ele assumiu um corpo
pus sibi sumpsit unicum, quod obtulit ad cruciatus mortal único, que entregou ao sofrimento e à morte
et necem, ut liberationis humanae pretium exsolve- para pagar o preço da libertação da humanidade,
ret, sic pariter unum habet corpus mysticum, in quo assim ele tem igualmente um único corpo místico,
et cuius ipsius opera facit sanctitatis salutisque ae- no qual e por meio do qual ele faz os homens par-
ternae homines compotes: “Ipsum (Christum) dedit ticipar da santidade e da salvação eterna: “(Deus)
(Deus) caput supra omnem Ecclesiam, quae est constituiu-o (Cristo) cabeça de toda a Igreja, que é
corpus ipsius” [Eph 1,22s]. Dispersa membra atque o seu corpo” [Ef 1,22s]. Membros dispersos e sepa-
seiuncta non possunt eodem cum capite, unum si- rados não podem unir-se a uma mesma cabeça para
mul effectura corpus, cohaerere. Atqui Paulus “Om- formar ao mesmo tempo um só corpo. Ora, Paulo
nia autem” inquit “membra corporis cum sint mul- diz: “Todos os membros do corpo, embora sejam
ta, unum tamen corpus sunt: ita et Christus” [1 Cor muitos, são contudo um só corpo: assim também
12,12]. Propterea corpus istud mysticum “compac- Cristo” [1Cor 12,12]. Por isso, diz ele, este corpo
tum” ait esse “et connexum”. “Caput Christus: ex místico é “unido e articulado”: “Cristo é a cabeça,
quo totum corpus compactum, et connexum per e a partir dele todo o corpo é unido e articulado por
omnem iuncturam subministrationis, secundum todas as junturas de mútuo apoio, segundo a opera-
operationem in mensuram uniuscuiusque membri” ção proporcionada a cada um dos membros” [Ef
[Eph 4,15s]. Quamobrem dispersa a membris cete- 4,15s]. Por esta razão, se alguns membros se afas-
ris siqua membra vagantur, cum eodem atque unico tam dos outros membros, não podem estar unidos à
capite conglutinata esse nequeunt. … única e mesma cabeça. …
Est igitur Ecclesia Christi unica et perpetua: qui- A Igreja de Cristo é, portanto, única e perene:
cumque seorsum eant, aberrant a voluntate et praes- quem se separa dela aparta-se da vontade e do pre-
708
criptione Christi Domini relictoque salutis itinere ceito do Cristo Senhor e, deixando o caminho da
ad interitum digrediuntur. salvação, caminha para a perdição.
At vero qui unicam condidit, is idem condidit Ora, aquele que a fundou única, a fundou também 3305
u n a m : videlicet eiusmodi, ut quotquot in ipsa fu- u n a , ou seja, de tal natureza que quantos houves-
turi essent, arctissimis vinculis sociati tenerentur ita sem de formar parte dela estariam doravante unidos
prorsus, ut unam gentem, unum regnum, corpus por vínculos tão estreitos que formariam um só povo,
unum efficerent: “unum corpus et unus spiritus …” um só reino, um só corpo: “um só corpo e um só
[Eph 4,4]. … Tantae autem inter homines ac tam espírito …” [Ef 4,4]. … Mas o necessário funda-
absolutae concordiae necessarium fundamentum est mento de tão grande e tão absoluta concórdia entre
convenientia coniunctioque mentium. … os homens é a concórdia e união dos espíritos. …
[In hunc finem] instituit Iesus Christus in Eccle- [Com esta finalidade] Jesus Cristo instituiu na
sia v i v u m , a u t h e n t i c u m , idemque p e r e n n e Igreja um m a g i s t é r i o v iv o , a u t ê n t i c o e p e -
m a g i s t e r i u m , quod suapte potestate auxit, spiri- r e n e , que dotou de sua própria autoridade, instruiu
tu veritatis instruxit, miraculis confirmavit, eiusque com o espírito da verdade, confirmou por milagres
praecepta doctrinae aeque accipi ac sua voluit gra- e cujos preceitos e doutrinas severamente ordenou
vissimeque imperavit. fossem aceitos como seus.
Quoties igitur huius verbo magisterii edicitur, Quantas vezes pela palavra deste magistério for
traditae divinitus doctrinae complexu hoc contineri declarado que isto ou aquilo faz parte do conjunto
vel illud, id quisque debet certo credere verum esse: da doutrina transmitida da parte de Deus, cada qual
si falsum esse ullo modo posset, illud consequatur, deve crer com certeza que isso é verdade; pois se
quod aperte repugnat, erroris in homine ipsum esse de alguma maneira pudesse estar errado, se segui-
auctorem Deum: “Domine, si error est, a te decepti ria daí – o que seria um absurdo – que Deus mesmo
sumus”1. … seria o autor do erro no homem: “Senhor, se é um
erro, é por ti que fomos enganados”1.
Sicut ad unitatem Ecclesiae, quatenus est coetus Do mesmo modo que a unidade da Igreja, en- 3306
fidelium, necessario unitas fidei requiritur, ita ad quanto sendo a assembléia dos fiéis, requer neces-
ipsius unitatem, quatenus est divinitus constituta sariamente a unidade da fé, assim também, para sua
societas, requiritur iure divino u n i t a s r eg i m i n i s , unidade enquanto instituída por Deus, se requer de
quae unitatem communionis efficit. … direito divino a u n i d a d e d e g o v e r n o , que rea-
liza a unidade da comunhão. …
Si Petri eiusque successorum plena ac summa Do fato de ser pleno e soberano o poder de Pedro 3307
potestas est, ea tamen ne putetur sola. Nam qui Pe- e de seus sucessores não se deve deduzir, porém, que
trum Ecclesiae fundamentum posuit, idem elegit seja o único. Pois aquele que constituiu Pedro como
“duodecim … quos et Apostolos nominavit” [Lc fundamento da Igreja também escolheu “doze … aos
6,13]. Quo modo Petri auctoritatem in Romano quais deu o nome de Apóstolos” [Lc 6,13]. Assim,
Pontifice perpetuam manere necesse est, sic e p i s - do mesmo modo que a autoridade de Pedro deve
c o p i , quod succedunt Apostolis, horum potestatem permanecer perpetuamente no Romano Pontífice,
ordinariam hereditate capiunt, ita ut intimam Ec- assim os b i s p o s , que sucedem os Apóstolos, her-
clesiae constitutionem ordo episcoporum necessa- dam deles o poder ordinário, de sorte que a ordem
rio attingat. Quamquam vero neque plenam neque episcopal necessariamente faz parte da constituição
universalem ii neque summam obtinent auctorita- íntima da igreja. E ainda que a autoridade dos bispos
tem, non tamen vicarii Romanorum Pontificum não seja plena, nem universal, nem soberana, não
putandi, quia potestatem gerunt sibi propriam, devem ser considerados meros vigários dos Roma-
verissimeque populorum quos regunt, antistites nos Pontífices, pois possuem uma autoridade que lhes
ordinarii dicuntur. … é própria e são chamados segundo toda a verdade
prelados ordinários dos povos que governam. …
709
3308 Sed episcoporum ordo tunc rite, ut Christus iussit, Ora, quanto à ordem dos bispos, deve-se pensar
colligatus cum Petro putandus, si Petro subsit eique que então está devidamente unida a Pedro, como
pareat; secus in multitudinem confusam ac pertur- Cristo ordenou, quando está submissa e obedece a
batam necessario delabitur. Fidei et communionis ele; caso contrário, necessariamente, se dilui numa
unitati rite conservandae, non gerere honoris causa multidão confusa e perturbada. Para conservar de-
priores partes, non curam agere satis est; sed omni- vidamente a unidade de fé e comunhão, não basta
no auctoritate est opus vera eademque summa, cui desempenhar uma primazia honorífica ou assumir
obtemperet tota communitas. … o cuidado; é de todo necessária a verdadeira auto-
ridade, e esta suprema, à qual deve obedecer a co-
munidade inteira. …
Hinc illae de beato Petro singulares veterum lo- Daí as singulares expressões dos antigos a res-
cutiones, quae in summo dignitatis potestatisque peito do bem-aventurado Pedro, que preconizam
gradu locatum luculenter praedicant. Appellant pas- brilhantemente que ele foi posto no mais alto grau
sim “principem coetus discipulorum”, “sanc-torum de dignidade e poder. Chamam-no a cada passo
Apostolorum principem”, “chori illius coryphaeum”, “príncipe do colégio dos discípulos”, “príncipe dos
“os Apostolorum omnium”, “caput illius familiae”, santos Apóstolos”, “corifeu de seu coro”, “boca de
“orbis totius praepositum”, “inter Apostolos pri- todos os Apóstolos”, “cabeça daquela família”, “pos-
mum”, “Ecclesiae columen”. … to à frente de todo o orbe”, “primeiro entre os Após-
tolos”, “vértice da Igreja”. …
3309 Illud vero abhorret a veritate et aperte repugnat Isto, porém, se afasta da verdade e contradiz aber-
constitutioni divinae, iurisdictioni Romanorum Pon- tamente a constituição divina: afirmar que os bis-
tificum episcopos subesse singulos ius esse, univer- pos, de direito, estão submissos à jurisdição dos
sos ius non esse. Haec enim omnis est causa ratio- Romanos Pontífices individualmente, mas não, de
que fundamenti, ut unitatem stabilitatemque toti po- direito, todos <juntos>. Com efeito, toda a razão de
tius aedificio quam partibus eius singulis tueatur. … ser e a natureza do fundamento consiste em assegu-
rar primeiro a unidade e a estabilidade de todo o
edifício e não só de cada uma de suas partes. …
Hanc vero, de qua dicimus, in ipsum episcopo- Este acima mencionado poder sobre o mesmo
rum collegium potestatem … agnoscere ac testari colégio dos bispos … a Igreja nunca deixou de re-
nullo tempore Ecclesia destitit [Allegantur inter alia conhecê-lo e atestá-lo. [São alegados, entre outros,
*641 1445]. … *641 1445].
Sane claves regni caelorum uni creditas Petro, As sagradas Escrituras atestam que só a Pedro
item ligandi solvendique potestatem Apostolis una foram confiadas as chaves do reino dos céus, e tam-
cum Petro collatam sacrae Litterae testantur; at vero bém que o poder de ligar e desligar foi confiado
summam potestatem sine Petro et contra Petrum aos Apóstolos juntamente com Pedro; mas em par-
unde Apostoli acceperint, nusquam est testatum. … te nenhuma se encontra atestado que os Apóstolos
tivessem recebido o poder soberano sem Pedro e
contra Pedro. …
Neque vero potestati geminae eosdem subesse Também não cria confusão no governo que os
confusionem habet administrationis. Tale quicquam mesmos súditos estejam submissos a um poder gê-
suspicari primum sapientia Dei prohibemur, cuius meo. Que suspeitemos coisa semelhante nos proíbe
consilio est temperatio isthaec regiminis constituta. em primeiro lugar a sabedoria de Deus, por cujo
Illud praeterea animadvertendum, tum rerum ordi- desígnio foi constituída esta organização do gover-
nem mutuasque necessitudines perturbari, si bini no. Convém observar, além disso, que se perturba-
magistratus in populo sint eodem gradu, neutro al- riam a ordem das coisas e as relações mútuas, se
teri obnoxio. Sed Romani Pontificis potestas summa num povo houvesse duas magistraturas de grau igual,
est, universalis, planeque sui iuris: episcoporum vero sem que uma dependesse da outra. Mas o poder do
certis circumscripta finibus nec plane sui iuris: “In- Romano Pontífice é supremo, universal e totalmen-
conveniens est, quod duo aequaliter super eundem te sui iuris, o dos bispos, porém, circunscrito a cer-
gregem constituantur. Sed quod duo, quorum unus tos limites e não plenamente sui iuris: “É inconve-
alio principalior est, super eandem plebem consti- niente que dois estejam em grau igual à frente do
tuantur, non est inconveniens, et secundum hoc super rebanho. Mas não é inconveniente que sejam cons-
710
eandem plebem immediate sunt et sacerdos paro- tituídos sobre o mesmo povo dois, dos quais um
chialis et episcopus et papa”1. está acima do outro, e assim estão sobre a mesma
população tanto o pároco como o bispo e o papa”1.
Romani autem Pontifices, officii sui memores, Ora, os Romanos Pontífices, recordando-se de seu 3310
maxime omnium conservari volunt, quidquid est in poder, acima de tudo querem conservar o que foi
Ecclesia divinitus constitutum: propterea quemad- na Igreja divinamente constituído: por isso, assim
modum potestatem suam ea, qua par est, cura vigi- como defendem sua própria autoridade com o devi-
lantiaque tuentur, ita et dedere et dabunt constanter do cuidado e vigilância, assim se esforçaram e sem-
operam, ut sua episcopis auctoritas salva sit. Immo pre se esforçarão para que seja salvaguardada a au-
quidquid episcopis tribuitur honoris, quidquid ob- toridade dos bispos. Mais, o quanto de honra e obe-
sequii, id omne sibimet ipsis tributum deputant. diência é tributado aos bispos, tudo isso conside-
ram como tributado a si próprios.
O vinho da Missa
Expos.: … Uva his in locis adeo debilis et aquo- Expos.: … Nesta região a uva é tão fraca e aquo- 3312
sa est, ut ad tolerabile vinum habendum aliquid sa que, para obter um vinho aceitável é preciso
sacchari e planta quam vulgo “canna de assugar” misturar ao mosto um pouco de açúcar tirado de
appellamus, musto admisceri debeat. … Cognita uma planta que vulgo chamamos “canna de assú-
Responsione Sanctae Romanae et Universalis In- gar”. … Depois de tomar conhecimento da … res-
quisitionis … 25. Iun. 1891 lata, dubitationes ortae posta da S. Inquisição romana e universal, de 15 de
sunt: junho de 1891, surgiram dúvidas:
Qu.: Utrum sic confectum vinum pro s. Missae Pergunta: O vinho assim fabricado pode ser uti-
sacrificio tuto adhiberi valeat? lizado de modo seguro para o santo sacrifício da
missa?
Resp. (confirmata a Summo Pontifice, 7. Aug.): Resp. (confirmada pelo Sumo Pontífice em 7
Loco sacchari extracti e canna saccharina, vulgo ago.): No lugar do açúcar extraído da cana de açú-
“canna de assugar”, addendum potius esse spiritum car, vulgo “canna de assúgar”, é preferível acres-
alcool, dummodo ex genimine vitis extractus fuerit centar álcool, com a condição apenas que seja ex-
et eius quantitas, addita cum ea quam vinum de quo traído do fruto da vinha e que sua quantidade, acres-
agitur naturaliter continet, haud excedat proportio- centada à que o vinho em questão contém natural-
nem 12 pro centum; huiusmodi vero admixtio fiat, mente, não exceda a proporção de 12 porcento; esta
quando fermentatio tumultuosa, ut aiunt, deferves- mistura todavia deve ser feita quando a chamada
cere inceperit. fermentação tumultuosa começa a descansar.
O vinho da missa
Qu.: 1. Utrum … vinis [exportandis] praesertim Perguntas: 1. Pode-se … acrescentar aos vinhos 3313
dulcibus, pro eorumdem conservatione, tantum spi- [a exportar], especialmente aos vinhos doces, tanto
ritus seu “alcool” ex uva deprompti addi queat, ut espírito ou “álcool” de uva que sua gradação alco-
ad 17 circiter vel 18 vis alcoolicae gradus incres- ólica sobe até 17 ou 18 graus, sem que por isso
cant, quin cessent exinde esse materia apta pro s. deixem de ser matéria adequada para o sacrifício
Missae sacrificio? da missa?
*3309 1 Tomás de Aquino, Super libros IV Sententiarum l. IV, dist. 17, q. 3, a. 3 solutio 5 (ad qc. 5) 3 (ed. de Parma 7, 800a /
R. Busa, Opera omnia 1, 539).
711
2. Utrum licitum sit ad s. Missae sacrificium con- 2. É permitido, para oferecer o sacrifício da santa
ficiendum uti vino ex musto obtento, quod ante Missa, usar vinho produzido com mosto que antes
fermentationem vinosam per evaporationem igneam da fermentação foi condensado por evaporação so-
condensatum est? bre o fogo?
Resp. (confirmata a Summo Pontifice, 7. Aug.): Ad Resp. (confirmada pelo Sumo Pontífice, em 7
1. Dummodo … spiritus extractus fuerit ex genimine ago.): Quanto a 1. Enquanto … o espírito for extra-
vitis, et quantitas alcoolica adiungenda una cum ea ído da planta da vinha e a quantidade alcoólica a
quam vinum de quo agitur naturaliter continet, non ser acrescentada à que o vinho em questão possui
excedat proportionem 17 vel 18 pro centum, et ad- naturalmente não exceder 17 ou 18 porcento, e a
mixtio fiat, quando fermentatio tumultuosa, ut aiunt, mistura se fizer quando a chamada fermentação
defervescere inceperit, nihil obstare, quominus idem tumultuosa começa a descansar, nada impede que
vinum in Missae sacrificio adhibeatur. este vinho seja usado no sacrifício da Missa.
Ad 2. Licere, dummodo decoctio huiusmodi fer- Quanto a 2.: Isso é permitido se o cozinhar não
mentationem alcoolicam haud excludat, ipsaque exclui a fermentação alcoólica e a fermentação pode
fermentatio naturaliter obtineri possit et de facti ser, e de fato é, obtida naturalmente.
obtineatur.
712
propria ordinationis presbyteralis, videlicet “Accipe como forma própria da ordenação presbiteral, a
Spiritum Sanctum”, minime sane significant defi- saber: “Recebe o Espírito Santo”, de modo algum
nite ordinem sacerdotii vel eius gratiam, et potesta- significam definidamente a ordem do sacerdócio ou
tem, quae praecipue est potestas “consecrandi et sua graça ou poder, que principalmente é o poder
offerendi verum corpus et sanguinem Domini” “de consagrar e oferecer o verdadeiro corpo e san-
[*1771], eo sacrificio, quod non est “nuda comme- gue do Senhor” [*1771], naquele sacrifício que não
moratio sacrificii in cruce peracti” [*1753]. Forma é “mera comemoração do sacrifício realizado na
huiusmodi aucta quidem est postea iis verbis: ad cruz” [*1753]. Decerto, essa forma foi depois au-
officium et opus presbyteri; sed hoc potius convincit, mentada com as palavras: para o ofício e obra de
Anglicanos vidisse ipsos, primam eam formam fuis- presbítero; mas isto mostra mais ainda que os pró-
se mancam neque idoneam rei. Eadem vero adiectio, prios anglicanos perceberam que a forma anterior
si forte quidem legitimam significationem apponere era defeituosa e imprópria. Ora, este acréscimo, se
formae posset, serius est inducta, elapso iam saecu- eventualmente pudesse ter dado à forma seu legíti-
lo post receptum Ordinale Eduardianum: cum prop- mo significado, foi introduzida tarde demais, quan-
terea, hierarchia exstincta, potestas ordinandi iam do já passara um século desde a adoção do Ordinale
nulla esset. … Eduardianum; quando, então, se extinguiu a hierar-
quia, já não existia nenhum poder de ordenar.
De consecratione episcopali similiter est. Nam O mesmo vale para a ordenação episcopal. Pois 3317
formulae “Accipe Spiritum Sanctum” non modo se- à fórmula “Recebe o Espírito Santo” não apenas
rius annexa sunt verba “ad officium et opus episco- tarde demais foram acrescentadas as palavras “para
pi”, sed etiam de iisdem, ut mox dicemus, iudican- o ofício e obra de bispo”, mas também, como logo
dum aliter est quam in ritu catholico. Neque rei diremos, estas palavras devem ser entendidas de
proficit quidquam advocasse praefationis precem outro modo que no rito católico. Tampouco vale
Omnipotens Deus: cum ea pariter deminuta sit ver- invocar a oração do prefácio Omnipotens Deus, já
bis, quae summum sacerdotium declarent. que também nela se cortaram as palavras que indi-
cam o sacerdócio supremo.
Sane nihil huc attinet explorare, utrum episcopa- Na verdade, não há por que verificar aqui se o
tus complementum sit sacerdotii, an ordo ab illo episcopado é complemento do sacerdócio ou uma
distinctus: aut collatus, ut aiunt, per saltum, scilicet ordem distinta deste; ou se, conferido por salto,
homini non sacerdoti, utrum effectum habeat nec- como dizem, a alguém que não é sacerdote, produz
ne. At ipse procul dubio, ex institutione Christi, ad seu efeito sim ou não. Mas, sem sombra de dúvida,
sacramentum ordinis verissime pertinet, atque est por instituição de Cristo, <o episcopado> pertence,
praecellenti gradu sacerdotium; quod nimirum et em toda a verdade, ao sacramento da ordem e é o
voce sanctorum Patrum et rituali nostra consuetudi- sacerdócio no mais alto grau; e por esta razão é
ne summum sacerdotium, sacri ministerii summa chamado efetivamente, tanto pela voz dos santos
nuncupatur. Padres como por nosso costume ritual, sacerdócio
supremo, suma do sagrado ministério.
Inde fit ut, quoniam sacramentum ordinis verum- Daí resulta que, por ser totalmente banido do rito
que Christi sacerdotium a ritu Anglicano penitus anglicano o sacramento da ordem e o verdadeiro
extrusum est, atque adeo in consecratione episcopali sacerdócio de Cristo e porque, conseqüentemente,
eiusdem ritus nullo modo sacerdotium confertur, na consagração episcopal desse rito não se confere
nullo item modo episcopatus vere ac iure possit de modo algum o sacerdócio, igualmente de modo
conferri: eoque id magis, quia in primis episcopa- algum se pode conferir o episcopado de verdade e
tus muniis illud scilicet est, ministros ordinandi in de direito; tanto mais, porque entre os primeiros
sanctam Eucharistiam et sacrificium. ofícios do episcopado está o de ordenar ministros
para a santa Eucaristia e o sacrifício.
Ad rectam vero plenamque Ordinalis anglicani Para a reta e plena avaliação do Ordinale angli- 3317a
aestimationem, praeter ista per aliquas eius partes cano, além do que tem sido apontado em algumas
notata, nihil profecto tam valet quam si probe aes- de suas partes, nada vale tanto quanto considerar
timetur quibus adiunctis rerum conditum sit et pu- atentamente em que condições foi composto e pu-
blice constitutum: Longum est singula persequi, blicamente posto em vigor. Leva muito tempo
713
neque est necessarium: eius namque aetatis memoria enumerá-las todas, e também não é necessário; com
satis diserte loquitur, cuius animi essent in Eccle- efeito, a história daquele tempo diz com bastante
siam catholicam auctores Ordinalis, quos adscive- clareza quais foram os sentimentos em relação à
rint fautores ab heterodoxis sectis, quo demum Igreja católica dos autores do Ordinale, os apoios
consilia sua referrent. que buscaram entre as seitas heterodoxas e a fina-
lidade que perseguiam.
Nimis enimvero scientes quae necessitudo inter Sabendo muito bem, de fato, que vínculo há en-
fidem et cultum, inter legem credendi et legem tre fé e culto, entre a regra da fé e a regra da oração,
supplicandi intercedat, liturgiae ordinem, specie deformaram de muitos modos a ordem da liturgia
quidem redintegrandae eius formae primaevae, ad no sentido dos erros dos inovadores, e isso, com o
errores Novatorum multis modis deformarunt. Qua- pretexto de reintegrar sua forma primitiva. Por isso,
mobrem toto Ordinali non modo nulla est aperta em todo o Ordinale, não há nenhuma menção clara
mentio sacrificii, consecrationis, sacerdotii potesta- ao sacrifício, à consagração e ao poder do sacerdo-
tisque consecrandi et sacrificium offerendi; sed te de consagrar e de oferecer o sacrifício; mas to-
immo omnia huiusmodi rerum vestigia, quae supe- dos os vestígios de tais realidades, que existissem
ressent in precationibus ritus catholici non plane nas orações do rito católico não integralmente re-
reiectis, sublata et deleta sunt de industria, quod jeitadas, foram supressos e apagados com o esmero
supra attigimus. que acima mencionamos.
3317b Ita per se apparet nativa Ordinalis indoles ac spi- Assim se manifestam por si mesmos a índole ori-
ritus, uti loquuntur. Hinc vero ab origine ducto vitio, ginal e o espírito, como dizem, do Ordinale. Ora,
si valere ad usum ordinationum minime potuit, ne- dado que trazia tal defeito desde a origem e não podia
quaquam decursu aetatum, cum tale ipsum perman- valer de modo algum para o uso das ordenações,
serit, futurum fuit ut valeret. Atque ii egerunt frus- também não podia ser válido nos tempos ulteriores,
tra qui inde a temporibus Caroli I conati sunt ad- visto que permaneceu tal qual. E se esforçaram em
mittere aliquid sacrificii et sacerdotii, nonnulla dein vão os que, desde os tempos de Carlos I, tentaram
ad Ordinale facta accessione1, frustraque similiter introduzir algo do sacrifício e do sacerdócio, me-
contendit pars ea Anglicanorum non ita magna, re- diante alguns acréscimos feitos ao Ordinale1, e igual-
centiore tempore coalita, quae arbitratur posse idem mente se esforça em vão aquela parte não muito
Ordinale ad sanam rectamque sententiam intelligi grande de anglicanos, recentemente organizada, que
et deduci. pensa que o próprio Ordinale pode ser entendido e
reconduzido a uma compreensão sadia e reta.
Vana, inquimus, fuere et sunt huiusmodi conata: Tais intentos, dizemos, foram e são em vão; e se
idque hac etiam de causa, quod, si qua quidem ver- também algumas palavras no Ordinale anglicano,
ba, in Ordinali anglicano ut nunc est, porrigant se tal como está agora, se apresentam com um sentido
in ambiguum, ea tamen sumere sensum eumdem ambíguo, não podem todavia ter o mesmo sentido
nequeunt quem habent in ritu catholico. Nam se- que têm no rito católico. Com efeito, um vez muda-
mel novato ritu, ut vidimus, quo nempe negetur vel do o rito com o qual é negado ou corrompido o
adulteretur sacramentum Ordinis, et a quo quaevis sacramento da ordem, retirado dele qualquer con-
notio repudiata sit consecrationis et sacrificii, iam ceito de consagração ou de sacrifício, já não tem
minime constat “Accipe Spiritum Sanctum”, qui consistência nenhuma o “Recebe o Espírito Santo”,
Spiritus, cum gratia nimirum sacramenti, in ani- pois o Espírito é infundido na alma com a graça do
mam infunditur: minimeque constant verba illa “ad sacramento; e não têm consistência alguma as pala-
officium et opus presbyteri” vel “episcopi” ac si- vras “para o ofício e obra de presbítero” ou “de
milia, quae restant nomina sine re quam instituit bispo” e outras semelhantes, que continuam <me-
Christus. … ros> nomes sem a realidade que Cristo instituiu. …
3318 Cum hoc igitur intimo formae defectu coniunctus A este defeito íntimo de forma está ligado o de-
est defectus i n t e n t i o n i s , quam aeque necessario feito de i n t e n ç ã o , pois esta é igualmente postula-
postulat, ut sit sacramentum. De mente vel inten- da como necessária para que haja sacramento. A
*3317b1 Nos anos 1661-1662 foram introduzidas algumas adaptações no rito; assim, o acréscimo destas palavras: “para o
ministério e a função do sacerdote” ou “do bispo”.
714
tione, utpote quae per se quiddam est interius, Ec- Igreja não julga sobre o propósito ou intenção en-
clesia non iudicat: at quatenus extra proditur, iudi- quanto sendo, em si, algo interior; mas, desde que
care de ea debet. Iamvero cum quis ad sacramen- se manifesta exteriormente, deve julgar. Pois bem,
tum conficiendum et conferendum materiam for- quando alguém, para administrar e conferir um sa-
mamque debitam serio ac rite adhibuit, eo ipso cen- cramento, empregou séria e devidamente a matéria
setur id nimirum facere intendisse quod facit Ec- e forma requeridas, precisamente por isso se julga
clesia. Quo sane principio innititur doctrina quae que teve a intenção de fazer o que faz a Igreja. Sobre
tenet, esse vere sacramentum vel illud quod minis- este princípio se apoia justamente a doutrina de que
terio hominis haeretici aut non baptizati, dummodo é verdadeiramente sacramento o que é administra-
ritu catholico, conferatur. do – desde que segundo o rito católico – por minis-
tério de alguém que seja herege ou não batizado.
Contra, si ritus immutetur, eo manifesto consilio, Ao contrário, se o rito é mudado para introduzir
ut alius inducatur ab Ecclesia non receptus, utque outro, não aprovado pela Igreja, e para excluir o
id repellatur quod facit Ecclesia et quod ex institu- que faz a Igreja e, pela instituição de Cristo, perten-
tione Christi ad naturam attinet sacramenti, tunc ce à natureza dos sacramento, então está claro que
palam est, non solum necessariam sacramento in- não só falta a intenção necessária ao sacramento,
tentionem deesse, sed intentionem immo haberi mas que até foi incluída uma intenção contrária ao
sacramento adversam et repugnantem. sacramento e incompatível com ele.
… [Consultores S. Officii] ad unum consensere, … [Os consultores do S. Ofício] foram unânimes 3319
propositam causam iam pridem ab Apostolica Sede em reconhecer que a causa proposta faz tempo foi
plene fuisse et cognitam et iudicatam. … [Verum conhecida e julgada pela Sé Apostólica. … [Mas
optimum duximus] eamdem rem auctoritate Nostra nos tem parecido melhor] que isso seja novamente
rursus declarari … . declarado em virtude de nossa autoridade … .
Itaque … [Pontificum praedecessorum decreta] Assim, portanto, … confirmando ou como que
confirmantes ac veluti renovantes, auctoritate Nos- renovando por nossa autoridade [os decretos dos
tra, motu proprio, certa scientia pronuntiamus et Pontífices que nos precederam], por iniciativa pró-
declaramus, ordinationes ritu Anglicano actas irri- pria e de ciência certa pronunciamos e declaramos
tas prorsus fuisse et esse omninoque nullas. que as ordenações feitas no rito anglicano têm sido
e são absolutamente inválidas e totalmente nulas.
*3320 1 Tomás de Aquino, Summa theologiae III, q. 26, a. 1 (Ed. Leonina 11, 285b).
715
3321 Nemo etenim unus cogitari quidem potest, qui Com efeito, é impossível conceber alguém que,
reconciliandis Deo hominibus parem atque illa ope- para a reconciliação da humanidade com Deus, te-
ram vel umquam contulerit vel aliquando sit collatu- nha realizado ou possa jamais realizar obra igual à
rus. Nempe ipsa ad homines in sempiternum ruentes que ela realizou. De fato, é ela que, aos homens
exitium Servatorem adduxit, iam tum scilicet cum que corriam para a perda eterna, deu o Salvador, a
pacifici sacramenti nuntium ab Angelo in terras alla- saber, quando por seu consentimento admirável
tum admirabili assensu “loco totius humanae natu- acolheu “em nome de toda a natureza humana”1 o
rae”1 excepit; ipsa est, “de qua natus est Iesus” [Mt anúncio do Mistério da paz que o anjo veio trazer à
1,16], vera scilicet eius mater, ob eamque causam terra; ela é aquela “da qual nasceu Jesus” [Mt 1,16],
digna et peraccepta ad Mediatorem mediatrix. a sua verdadeira mãe, sendo, por este motivo, a digna
mediadora plenamente aceita junto ao Mediador.
Inseminação artificial
3323 Qu.: An adhiberi possit artificialis mulieris fe- Pergunta: Pode-se praticar a fecundação artifi-
cundatio? cial da mulher?
Resp. (confirmata a Summo Pontifice, 26. Mart.): Resp. (confirmada pelo Sumo Pontífice, em 26
Non licere. mar.): Não é permitido.
A Trindade
3325 Periculum [errandi de Trinitate] … ex eo fit, ne O perigo [de errar sobre a Trindade] … provém
in fide aut in cultu vel divinae inter se Personae de que se confundem entre si, na fé ou na piedade,
confundantur vel unica in ipsis natura separetur; … as Pessoas divinas ou de que se divide sua única
Quare Innocentius XII, decessor Noster, sollemnia natureza; … Por isso, nosso predecessor Inocêncio
quaedam honori Patris propria postulantibus omni- XII negou radicalmente o pedido daqueles que soli-
no negavit. Quod si singula Incarnati Verbi myste- citavam alguma solenidade em honra do Pai. De fato,
ria certis diebus festis celebrantur, non tamen pro- se há certos dias festivos para celebrar os diversos
prio ullo festo celebratur Verbum secundum divi- mistérios do Verbo Encarnado, não há festa própria
nam tantum naturam: atque ipsa etiam Pentecostes para celebrar o Verbo segundo somente a sua natu-
sollemnia non ideo inducta antiquitus sunt, ut Spi- reza divina; e também a própria solenidade de Pen-
ritus Sanctus per se simpliciter honoraretur, sed ut tecostes não foi introduzida desde antigamente para
eiusdem recoleretur adventus sive externa missio. honrar o Espírito Santo por si somente, mas recorda
Quae quidem omnia sapienti consilio sancita sunt, sua vinda ou missão externa. Tudo isso foi estabele-
ne quis forte a distinguendis Personis ad divinam cido por sábio conselho para evitar que alguém, ao
essentiam distinguendam prolaberetur. Quin etiam distinguir as Pessoas, introduzisse distinção na es-
Ecclesia, ut in fidei integritate filios contineret, sanc- sência divina. Mais: a Igreja, a fim de conservar seus
tissimae Trinitatis festum instituit, quod Iohannes filhos na integridade da fé, instituiu a festa da San-
XXII [a. 1331] deinde iussit ubique agendum. … tíssima Trindade, que João XXII [em 1331] mandou
Multaque rem confirmant. Cultus enim, qui sanctis celebrar por toda parte. … E muitas coisas confir-
Caelitibus atque Angelis, qui Virgini Deiparae, qui mam isso. De fato, o culto que se presta aos Santos
Christo tribuitur, is demum in Trinitatem ipsam e aos Anjos, bem como à Virgem Deípara e a Cristo,
redundat et desinit. … no fim redunda e termina na própria Trindade. …
716
Aptissimeque Ecclesia ea divinitatis opera, in Com grande propriedade a Igreja costuma atri- 3326
quibus potentia excellit, tribuere Patri, ea, in quibus buir ao Pai as obras em que brilha o poder, ao Filho,
excellit sapientia, tribuere Filio, ea, in quibus ex- as em que brilha a sabedoria, ao Espírito Santo, as
cellit amor, Spiritui Sancto tribuere consuevit. Non em que brilha o amor. Não que não sejam comuns
quod perfectiones cunctae atque opera extrinsecus às Pessoas divinas todas as perfeições e todas as
edita Personis divinis communia non sint; sunt enim obras realizadas ad extra; pois “são indivisas as obras
“indivisa opera Trinitatis, sicut et indivisa est Trini- da Trindade, como indivisa é a essência da Trinda-
tatis essentia”1, quia, uti tres Personae divinae “in- de”1, porque, assim como as três Pessoas divinas
separabiles sunt, ita inseparabiliter operantur”2: ve- “são inseparáveis, agem de modo inseparável”2; mas
rum quod ex comparatione quadam et propemodum porque existe certa relação e como que afinidade
affinitate, quae inter opera ipsa et Personarum pro- entre as obras e as propriedades das Pessoas, são
prietates intercedit, ea alteri potius quam alteris atribuídas, ou, como se diz, apropriadas, antes a uma
addicuntur sive, ut aiunt, appropriantur: “Sicut si- do que a outra: “Assim como nos servimos da ana-
militudine vestigii vel imaginis in creaturis inventa, logia do vestígio ou da imagem achada nas criatu-
utimur ad manifestationem divinarum Personarum, ras para tornar manifestas as diversas Pessoas, as-
ita et essentialibus attributis; et haec manifestatio sim fazemos também com os atributos divinos; e
Personarum per essentialia attributa appropriatio esta manifestação das Pessoas por meio dos atribu-
dicitur”3. tos essenciais se chama apropriação”3.
Hoc modo Pater, qui est “principium totius Dei- Deste modo o Pai, que é “princípio de toda a
tatis”4, idem causa est effectrix universitatis rerum Trindade”4, é a causa eficiente de todas as coisas,
et Incarnationis Verbi et sanctificationis animorum, da Encarnação do Verbo e da santificação das al-
ex ipso sunt omnia: ex ipso, propter Patrem. Filius mas; dele são todas as coisas: dele, porque é o Pai.
autem, Verbum Imago Dei, idem est causa exem- Já o Filho, Verbo Imagem do Pai, ele é a causa
plaris, unde res omnes formam et pulchritudinem, exemplar, da qual todas as coisas refletem a forma
ordinem et concentum imitantur; qui exstitit nobis e a beleza, a ordem e a harmonia; ele que é para
via, veritas, vita, hominis cum Deo reconciliator, nos o caminho, a verdade e a vida, aquele que re-
per ipsum sunt omnia: per ipsum, propter Filium. concilia o homem com Deus, por ele são todas as
Spiritus vero Sanctus idem est omnium rerum cau- coisas: por ele, por ser o Filho. O Espírito Santo,
sa ultima, eo quia sicut in fine suo voluntas lateque então, ele é a causa última de todas as coisas, por-
omnia conquiescunt, non aliter ille, qui divina bo- que, assim como a vontade e todas as coisas em
nitas est ac Patris ipsa Filiique inter se caritas, arca- geral encontram repouso em seu fim, assim ele, que
na ea opera de salute hominum … complet et per- é a bondade e a caridade que reina entre o Pai e o
ficit, in ipso sunt omnia: in ipso, propter Spiritum Filho, … completa e termina os mistérios em vista
Sanctum. da salvação do homem; nele são todas as coisas:
nele, porque é o Espírito Santo.
*3326 1 Cf. Agostinho, De trinitate I 4, n. 7 e 5, n. 8 (W.J. Mountain – Fr. Glorie: CpChL 50 [1968] 35s / PL 42, 824).
2 Ibid. I 4, n. 7 (CpChL 50, 3623s / PL 42, 824C).
3 Tomás de Aquino, Summa theologiae I, q. 39, a. 7 (Ed. Leonina 4, 407ab).
4 Agostinho, De trinitate IV 20, n. 29 (CpChL 50, 200122 / PL 42, 908D).
717
Divini autem Spiritus opera non solum conceptio Por obra do Espírito divino não apenas se reali-
Christi effecta est, sed eius quoque sanctificatio zou a concepção de Cristo, mas também a santifi-
animae, quae unctio in sacris libris nominatur [Act cação de sua alma, que nos livros sagrados se cha-
10,38]: atque adeo omnis actio “praesente spiritu ma a unção [At 10,38]; e assim toda a sua ação “se
peragebatur”1 praecipueque sacrificium eius sui: realizava em presença do Espírito”1, em particular
“Per Spiritum Sanctum semetipsum obtulit imma- o sacrifício que fez de si mesmo: “Por meio do
culatum Deo” [Hbr 9,14]. Espírito Santo se ofereceu a si mesmo sem mácula
a Deus” [Hb 9,14].
Ista qui perpenderit, nihil erit ei mirum, quod cha- Quem contemplar isto não achará estranho que
rismata omnia almi Spiritus in animam Christi todos os carismas do Espírito tenham inundado a alma
affluxerint. … Itaque Spiritus Sancti et praesentia de Cristo. … Assim a aparição sensível do Espírito
conspicua super Christum et virtute intima in anima Santo sobre Cristo e sua ação invisível na alma dele
eius duplex eiusdem Spiritus praesignificatur missio, representavam a dupla missão do Espírito Santo, a
ea nimirum, quae in Ecclesia manifesto patet, et ea, que se torna manifesta na Igreja e a que se exerce
quae in animis iustorum secreto illapsu exercetur. por uma vertente secreta nas almas dos justos.
*3327 1 Basílio Magno, De Spiritu Sancto 16, § 39 (SouChr 17 [Paris 1947] 181 / PG 32, 139C [lat.]; 140C [gr.]).
718
Atque hoc affirmare sufficiat, quod cum Christus Espírito Santo. Bastará afirmar que, si Cristo é a
Caput sit Ecclesiae, Spiritus Sanctus sit eius Ani- Cabeça da Igreja, o Espírito Santo é sua Alma: “O
ma: „Quod est in corpore nostro anima, id est Spi- que em nosso corpo é a alma, o Espírito Santo o é
ritus Sanctus in Corpore Christi quod est Ecclesia”1. no Corpo de Cristo, que é a Igreja”1.
*3328 1 Agostinho, Sermão 267 (antes 186) no dia de Pentecostes I 4, n. 4 (PL 38, 1231D).
*3329 1 Leão I Magno, Sermão 77 (antes 75) sobre Pentecostes III 1 (PL 54, 412A).
*3330 1 Tomás de Aquino, Summa theologiae I, q. 8, a. 3 (Ed. Leonina 4, 87b).
719
ab ipso et diligitur; cum vel duce natura bonum não está presente apenas como nas coisas, mas muito
sponte amemus, cupiamus, conquiramus. Praeterea mais é por ele conhecido e amado; porque, guiados
Deus ex gratia insidet animae iustae tamquam in pela natureza, amamos espontaneamente o bem, o
templo, modo penitus intimo et singulari; ex quo desejamos e buscamos. Além disso, por causa da
etiam sequitur ea necessitudo caritatis, qua Deo graça, Deus habita na alma do justo como no tem-
adhaeret anima coniunctissime, plus quam amico plo, do modo mais íntimo e singular; e disso segue
amicus possit benevolenti maxime et dilecto, eoque também essa necessidade da caridade pela qual a
plene suaviterque fruitur. alma intimamente adere a Deus, mais que um ami-
go a um amigo altamente benévolo e dileto, e nele
se deleita plena e suavemente.
3331 Haec autem mira coniunctio, quae suo nomine Ora, ainda que esta admirável união – que recebe
inhabitatio dicitur, condicione tantum seu statu ab o nome de inabitação, e que só por sua condição ou
ea discrepans, qua caelites Deus beando complecti- estado é diferente daquela união com a qual Deus
tur, tametsi verissime efficitur praesenti totius Trini- envolve os habitantes do céu, dando-lhes a bem-
tatis numine, “ad eum veniemus et mansionem apud aventurança – seja produzida muito realmente pela
eum faciemus” [Io 14,23], attamen de Spiritu Sanc- presença da divindade da Trindade inteira – “nós
to tamquam peculiaris praedicatur. Siquidem divi- viremos a ele e faremos nele a nossa morada” [Jo
nae et potentiae et sapientiae vel in homine improbo 14,23] –, ela é atribuída de modo particular ao Espí-
apparent vestigia; caritatis, quae propria Spiritus ve- rito Santo. E se os vestígios do poder e da sabedoria
luti nota est, alius nemo nisi iustus est particeps. divina se manifestam até no homem perverso, nin-
guém a não ser o justo participa da caridade que é,
de certo modo, a característica própria do Espírito.
720
cii 18. Sept. 1850 ad episcopum Perthensem; id est: creto do S. Ofício de 18 de setembro de 1850 ao bispo
“Si antea dederint signa velle baptizari, vel in prae- de Perth, isto é: “Se antes tiverem dado sinais de
senti statu aut nutu aut alio modo eandem disposi- quererem ser batizados, ou no presente estado mani-
tionem ostenderint, baptizari posse sub condicione, festarem a mesma disposição por sinais ou de outro
quatenus tamen missionarius, cunctis rerum adiunc- modo, podem ser batizados sob condição, na medida
tis inspectis, ita prudenter iudicaverit”. todavia em que, consideradas todas as circunstâncias,
o missionário com prudência assim julgar”.
721
lex inferior Evangelii; immo multo praestantior, da existir ou sequer ser pensada. A Lei do Evange-
quia id cumulate perfecit, quod illa inchoarat. lho não é inferior à Lei antiga; ao contrário, é bem
Iamvero sacrificium in Cruce factum praesignifi- mais eminente, já que levou à plenitude de maneira
cabant sacrificia in Testamento veteri usitata, mul- mais eminente o que esta <Lei antiga> havia inicia-
to ante quam Christus nasceretur: post eius ascen- do. Ora, os sacrifícios em voga no Antigo Testa-
sum in caelum idem illud sacrificium sacrificio mento significavam já de antemão o sacrifício con-
eucharistico continuatur. Itaque vehementer errant, sumado na cruz, muito antes que Cristo nascesse;
qui hoc perinde respuunt, ac si veritatem virtutem- depois de sua ascensão ao céu, este mesmo sacrifí-
que sacrificii deminuat, quod Christus, cruci suffi- cio é continuado pelo sacrifício eucarístico. Por isso,
xus, fecit; “semel oblatus ad multorum exhaurien- os que a este rejeitam enganam-se imensamente,
da peccata” [Hbr 9,28]. como se ele diminuísse a verdade e a força do sa-
crifício consumado por Cristo pregado na cruz,
“oferecido uma vez por todas para tirar os pecados
de muitos” [Hb 9,28].
Omnino perfecta atque absoluta illa expiatio Esta expiação pelos mortais foi de todo perfeita
mortalium fuit; nec ullo modo altera, sed ipsa illa e absoluta, e não é outra, mas esta mesma que está
in sacrificio eucharistico inest. Quoniam enim sa- presente no sacrifício eucarístico. Como, de fato, o
crificalem ritum comitari in omne tempus religioni rito sacrifical devia sempre estar ligado à religião,
oportebat, divinissimum fuit Redemptoris consilium, foi o desígnio do Redentor que o sacrifício, consu-
ut sacrificium, semel in Cruce consummatum, per- mado uma vez por todas sobre a cruz, se tornasse
petuum et perenne fieret. Huius autem ratio perpe- perpétuo e perene. A razão desse caráter perpétuo,
tuitatis inest in sacratissima Eucharistia, quae non porém, é inerente à santíssima Eucaristia, que não
similitudinem inanem memoriamve tantum rei apresenta apenas uma vã semelhança ou comemo-
affert, sed veritatem ipsam, quamquam specie dis- ração da realidade, mas a realidade mesma, embora
simili, proptereaque huius sacrificii efficientia sive em forma diferente; e por isso toda a eficácia deste
ad impetrandum sive ad expiandum ex morte Christi sacrifício, seja para impetrar, seja para expiar, pro-
tota fluit. vém inteiramente da morte de Cristo.
722
Id porro … quam improbando sit consilio exco- Com que intuito reprovável tudo isso … foi ex-
gitatum, haud longo sermone indiget; si modo doc- cogitado, não precisa de muito discurso para mostrá-
trinae ratio atque origo repetatur, quam tradit Ec- lo; basta recordar a natureza e a origem da doutrina
clesia. Ad rem Vaticana Synodus: “Neque enim … ensinada pela Igreja. A respeito disso, o Concílio
recedendum” [*3020]. … Vaticano diz: “Pois a doutrina … jamais … é per-
mitido afastar-se deste sentido” [*3020]. …
Aetatum vero praeteritarum omnium historia tes- A história de todas as épocas passadas é testemu- 3341
tis est, Sedem hanc Apostolicam, cui non magiste- nha de que esta Sé Apostólica, à qual foi confiada
rium modo, sed supremum etiam regimen totius Ec- não apenas o magistério, mas também o governo
clesiae tributum est, constanter quidem “in eodem supremo da toda a Igreja, permaneceu firme “no
dogmate, eodem sensu eademque sententia” [cf. mesmo dogma, no mesmo sentido e na mesma sen-
*3020 cum nota] haesisse; at vivendi disciplinam ita tença” [cf. *3020 e nota]; mas, quanto à disciplina
semper moderari consuevisse, ut, divino incolumi de vida, sempre procedeu com tal moderação que,
iure, diversarum adeo gentium, quas amplectitur, mantido incólume o direito divino, jamais descon-
mores et rationes numquam neglexerit. Id si postulet siderou os costumes e modos dos povos tão diver-
animorum salus, nunc etiam facturam quis dubitet? sos que ela abraça. Quem duvidará que também
agora ela o fará, se assim o exige a salvação das
almas?
Non hoc tamen privatorum hominum arbitrio Ora, isso não deve ser determinado pelo arbítrio
definiendum, qui fere specie recti decipiuntur; sed dos indivíduos particulares, que normalmente se
Ecclesiae iudicium esse oportet. … enganam com a aparência do bem, mas é mister
confiar isso ao juízo da Igreja. …
Externum magisterium omne ab iis, qui christia- Todo o magistério externo é rechaçado como su- 3342
nae perfectioni adipiscendae studere velint, tam- pérfluo e até como menos útil pelos que pretendem
quam superfluum, immo etiam minus utile reicitur: aplicar-se a alcançar a perfeição cristã: agora, di-
ampliora, aiunt, atque uberiora nunc quam elapsis zem, o Espírito Santo infunde nas almas dos fiéis
temporibus in animos fidelium Spiritus Sanctus in- mais amplos e abundantes carismas que nos tem-
fluit charismata, eosque medio nemine docet arca- pos passados e os ensina e conduz, sem intermédio
no quodam instinctu atque agit. … de ninguém, por certo misterioso instinto. …
723
Christianas autem virtutes alias temporibus aliis Ora, só considerará as virtudes cristãs adaptadas
accommodatas esse is solum velit, qui Apostoli ver- umas a uns tempos e outras a outros quem não re-
ba non meminerit: “Quos praescivit, hos et praedes- corda as palavras do Apóstolo: “Aos que ele conhe-
tinavit conformes fieri imaginis Filii sui” [Rm 8,29]. ceu de antemão, também os predestinou a tornarem-
se conformes à imagem de seu Filho” [Rm 8,29].
Magister et exemplar sanctitatis omnis Christus O mestre e modelo de toda santidade é Cristo, a
est; ad cuius regulam aptari omnes necesse est, cuja regra se devem adaptar todos aqueles que de-
quotquot avent beatorum sedibus inseri. Iamvero, sejam ser acolhidos nas moradas dos bem-aventu-
haud mutatur Christus progredientibus saeculis, sed rados. Ora, Cristo não muda com o progredir dos
“idem heri et hodie et in saecula” [Hbr 13,8]. Ad séculos, mas “é o mesmo ontem, hoje e sempre”
omnium igitur aetatum homines pertinet illud: “Dis- [Hb 13,8]. Para os homens de todas as idades vale,
cite a me, quia mitis sum et humilis corde” [Mt pois, esta palavra: “Sede discípulos meus, porque
11,59]; nulloque non tempore Christus se nobis sou manso e humilde de coração” [Mt 11,29]; em
exhibet “factum oboedientem usque ad mortem” todo tempo, Cristo se apresenta a nós “fazendo-se
[Phil 2,8]; valetque quavis aetate Apostoli senten- obediente até a morte” [Fl 2,8]; e em todo tempo é
tia: “Qui sunt Christi, carnem suam crucifixerunt válida a sentença do Apóstolo: “Os que pertencem
cum vitiis et concupiscentiis” [Gal 5,24]. … a Cristo crucificaram a carne com seus vícios e seus
maus desejos” [Gl 5,24].
3345 Ex quo virtutum evangelicarum veluti contemp- Por causa desta espécie de desprezo das virtudes
tu, quae perperam passivae appellantur, pronum erat evangélicas erroneamente chamadas passivas, foi
sequi, ut r e l i g i o s a e etiam v i t a e d e s p e c t u s fácil resultar que também o m e n o s p r e z o d a v i d a
sensim per animos pervaderet. Atque id novarum r e l i g i o s a aos poucos invadisse os corações. E que
opinionum fautoribus commune esse, conicimus ex isso seja comum aos promotores das novas idéias
eorum sententiis quibusdam circa vota, quae ordines conjeturamos de algumas de suas opiniões sobre os
religiosi nuncupant. Aiunt enim illa ab ingenio votos professados pelas ordens religiosas. Dizem,
aetatis nostrae dissidere plurimum, utpote quae com efeito, que tais votos se apartam muitíssimo
humanae libertatis fines coerceant; esseque ad do gênio de nossa época, na medida em que restrin-
infirmos animos magis quam ad fortes apta; nec gem o campo da liberdade humana; que convêm
admodum valere ad christianam profectionem mais aos ânimos fracos do que aos fortes; que não
humanaeque consociationis bonum, quin potius valem muito nem para o progresso cristão nem para
utrique rei obstare atque officere. … o bem da sociedade humana, mas antes a ambos se
opõem e os prejudicam. …
3346 Ex his igitur, quae huc usque disseruimus, patet, Assim, de quanto aqui expusemos resulta com
… non posse Nobis opiniones illas probari, quarum clareza … que por Nós não podem ser aprovadas
summam A m e r i c a n i s m i nomine nonnulli essas idéias, que no seu conjunto por várias pessoas
indicant. são designadas com o nome de a m e r i c a n i s m o .
724
num devios agat vel dissensio a caritate seiungat, pertencem à Igreja, mesmo se o erro de suas opi-
sed complectitur etiam quotquot numerantur chris- niões as afasta longe dela ou a dissensão os separa
tianae fidei expertes, ita ut verissime in potestate da caridade; mas abraça igualmente todos os que
Christi sit universitas generis humani. são considerados fora da fé cristã, de modo que bem
verdadeiramente o inteiro gênero humano está no
poder de Cristo.
Nam qui Dei Patris Unigenitus est eandemque Com efeito, aquele que é o Unigênito de Deus
habet cum ipso substantiam, “splendor gloriae et Pai e tem em comum com ele a mesma substância,
figura substantiae eius” [Hbr 1,3], huic omnia cum “resplendor de sua glória e figura de sua substân-
Patre communia necesse est proptereaque quoque cia” [Hb 1,3], possui necessariamente tudo em co-
rerum omnium summum imperium. Ob eam rem mum com o Pai, portanto também o domínio sobe-
Dei Filius de se ipse apud Prophetam “Ego autem” rano sobre todas as coisas. Por isso o Filho, no pro-
effatur “constitutus sum rex super Sion montem feta, diz de si mesmo: “Eu, porém, sou constituído
sanctum eius. – Dominus dixit ad me: Filius meus rei sobre Sião, seu monte santo. – O senhor disse-
es tu, ego hodie genui te. Postula a me, et dabo tibi me: Tu és meu Filho, hoje eu te gerei. Pede-me, e
gentes hereditatem tuam, et possessionem tuam ter- te darei como tua herança as nações, e como tua
minos terrae” [Ps 2,6-8]. Quibus declarat, se potes- posse os confins da terra” [Sl 2,6-8]. Por estas pa-
tatem a Deo accepisse cum in omnem Ecclesiam, lavras declara que recebeu de Deus poder não ape-
quae per Sion montem intelligitur, tum in reliquum nas sobre a Igreja inteira, representada pelo monte
terrarum orbem, qua eius late termini proferuntur. Sião, como também sobre o restante do orbe terres-
Quo autem summa ista potestas fundamento nitatur, tre, até onde se estendem seus confins. e o funda-
satis illa docent: “Filius meus es tu”. mento no qual se apoia este poder está claramente
expresso nas palavras: “Tu és meu filho”.
Hoc enim ipso quod omnium Regis est Filius, Pelo fato de ser o Filho do Rei de todas as coisas,
universae potestatis est heres: ex quo illa “Dabo tibi é herdeiro do poder universal: por isso as palavras:
gentes hereditatem tuam”. Quorum sunt ea similia, “Te darei como tua herança as nações”. Semelhantes
quae habet Paulus Apostolus: “Quem constituit he- a estas são as palavras de Paulo Apóstolo: “A quem
redem universorum” [Hbr 1,2]. constituiu herdeiro de todas as coisas” [Hb 1,2].
Illud autem considerandum maxime, quid affir- Deve-se ter presente sobretudo o que, acerca de 3351
maverit de imperio suo Iesus Christus … suis ipse seu domínio, Jesus Cristo afirmou … com suas
verbis. Quaerenti enim Romano praesidi “Ergo rex próprias palavras. Ao governador romana que lhe
es tu?” sine ulla dubitatione respondit: “Tu dicis perguntava: “Portanto, tu és rei?”, respondeu sem
quia rex sum ego” [Io 18,37]. Atque huius magni- hesitar: “Tu o dizes, eu sou rei” [Jo 18,37]. A gran-
tudinem potestatis et infinitatem regni illa ad Apos- deza desse poder e a infinitude desse reinado são
tolos apertius confirmant: “Data est mihi omnis claramente confirmadas por estas palavras dirigidas
potestas in caelo et in terra” [Mt 28,18]. Si Christo aos Apóstolos: “A mim foi dado todo o poder no
data potestas omnis, necessario consequitur, impe- céu e na terra” [Mt 28,18]. Se a Cristo foi dado
rium eius summum esse oportere, absolutum, arbi- todo o poder, segue-se necessariamente que seu
trio nullius obnoxium, nihil ut ei sit nec par nec domínio deve ser soberano, absoluto, não sujeito a
simile; cumque data sit in caelo et in terra, debet ninguém, de modo que nada lhe é igual ou seme-
sibi habere caelum terrasque parentia. lhante; e como <este poder> foi dado no céu e na
terra, céu e terra devem lhe estar submissos.
Re autem vera ius istud singulare sibique pro- De fato, exerceu este direito que lhe é singular e
prium exercuit, iussis nimirum Apostolis evulgare próprio, quando aos Apóstolos ordenou pregar sua
doctrinam suam, congregare homines in unum cor- doutrina, reunir pelo banho da salvação os homens
pus Ecclesiae per lavacrum salutis, leges denique no único corpo da Igreja, e finalmente, impor leis
imponere, quas recusare sine salutis sempiternae dis- às quais ninguém se pode subtrair sem pôr em pe-
crimine nemo posset. rigo a própria salvação eterna.
Neque tamen sunt in hoc omnia. Imperat Christus Nisto, porém, não está tudo. Cristo impera não 3352
non i u r e tantum n a t i v o , quippe Dei Unigenitus, só em virtude de um d i r e i t o n a t ivo , por ser o
sed etiam q u a e s i t o . Ipse enim “eripuit nos de Unigênito de Deus, mas também por um <direito>
725
potestate tenebrarum” [Col 1,13] idemque “dedit a d q u i r i d o . Pois ele “arrancou-nos do poder das
redemptionem semetipsum pro omnibus” [1 Tim trevas” [Cl 1,13] e “deu-se a si mesmo em reden-
2,6]. Ei ergo facti sunt “populus acquisitionis” [1 ção por todos” [1Tm 2,6]. Portanto, “povo adquiri-
Pt 2,9] non solum et catholici et quotquot christia- do” [1Pd 2,9] para ele tornaram-se não somente os
num baptisma rite accepere, sed homines singuli católicos e quantos receberam validamente o batis-
et universi. … mo, como também os homens todos e cada um. …
Cur autem ipsi infideles potestate dominatuque Tratando do assunto, Santo Tomás indica por que
Iesu Christi teneantur, causam sanctus Thomas ra- e como os infiéis estão sujeitos ao poder e à sobe-
tionemque edisserendo docet. Cum enim de iudiciali rania de Jesus Cristo. Quando, de fato, se pergunta
eius potestate quaesisset, num ad homines porriga- se seu poder de juiz se estende ou não a todos os
tur universos, affirmassetque “iudiciaria potestas homens, e tendo respondido que “o poder judicial
consequitur potestatem regiam”, plane concludit: deriva do poder régio”, conclui com clareza: “To-
“Christo omnia sunt subiecta quantum ad potesta- das as coisas estão sujeitas a Cristo quanto ao po-
tem, etsi nondum sunt ei subiecta quantum ad exse- der, mesmo se não lhe estão sujeitas quanto ao exer-
cutionem potestatis”1. Quae Christi potestas et im- cício do poder”1. Este seu poder e domínio sobre os
perium in homines exercetur per veritatem, per ius- homens, Cristo o exerce pela verdade, pela justiça
titiam, maxime per caritatem. e, sobretudo, pela caridade.
A matéria do batismo
3356 Expos.: Plures medici in nosocomiis aut alibi casu Expos.: Vários médicos, nos hospitais e em ou-
necessitatis infantes, praecipue in utero matris, tras ocasiões, costumam batizar as crianças em caso
baptizare solent aqua cum hydrargyro bichlorato de necessidade, especialmente no útero materno, com
corrosivo (gallice: chloride de mercure) permixta. água misturada com cloreto de mercúrio (em fran-
Componitur fere haec aqua solutione unius partis cês: chloride de mercure). Esta água se compõe
huius chloreti hydrargici in mille partibus aquae, aproximadamente da solução de uma parte deste
eaque solutione aquae potio venefica est. Ratio vero, cloreto com mil partes de água, e por isso essa so-
cur hac mixtura utantur, est, ne matris uterus morbo lução é venenosa para beber. A razão por que se usa
afficiatur. esta mistura é para evitar a infecção do útero da mãe.
Qu.: 1. Estne baptisma cum huiusmodi aqua Pergunta: 1. O batismo administrado com esta
administratum certo an dubie validum? água é certa ou dubiamente válido?
2. Estne licitum ad omne morbi periculum vitan- 2. É lícito administrar o sacramento do batismo
dum huiusmodi aqua sacramentum baptismatis com esta água, para evitar todo perigo de doença?
administrare?
3. Licetne etiam tum hac aqua uti, quando sine 3. É lícito usar esta água também quando, sem
ullo morbi periculo aqua pura adhiberi potest? nenhum perigo de doença, se pode usar água pura?
*3352 1 Tomás de Aquino, Summa theologiae III, q. 59, a. 4 ad 2 (Ed. Leonina 11, 545b).
726
Resp. (confirmata a Summo Pontifice, 23. Aug.): Resp. (confirmada pelo Sumo Pontífice, 23 ago.):
Ad 1. Providebitur in 2. Quanto a 1: Tratado sob 2.
Ad 2. Licere, ubi verum adest morbi periculum. 2. Quanto a 2: É permitido caso exista verdadei-
ro perigo de doença.
Ad 3. Negative. 3. Quanto a 3: Não.
727
“Si quis manducaverit ex hoc pane, vivet in aeter- duziu a receber … o pão vivo que quis dar a eles.
num …” [Io 6,52]. Gravitatem porro praecepti ita … “Se alguém comer deste pão, viverá eternamen-
ipse convincit: “Amen, amen, dico vobis, nisi man- te …” [Jo 6,51]. Ele mesmo confirma a importân-
ducaveritis carnem Filii hominis et biberitis eius cia desse preceito: “Amém, amém, digo-vos, se não
sanguinem, non habebitis vitam in vobis” [Io 6,54]. comerdes a carne do Filho do homem e beberdes o
seu sangue, não tereis a vida em vós” [Jo 6,53].
3361 Absit igitur pervagatus ille error perniciosissimus Longe de nós, portanto, aquele erro perniciosís-
opinantium, Eucharistiae usum ad eos fere aman- simo dos que opinam que a participação da Euca-
dandum esse, qui vacui curis angustique animo con- ristia deve ser reservada aos que, livres de cuidados
quiescere instituant in quodam vitae religiosioris e de ânimo restrito, se instalam num propósito de
proposito. Ea quippe res, qua nihil sane nec excellen- vida mais religiosa. Pois esta realidade, mais exce-
tius nec salutarius, ad omnes omnino, cuiuscumque lente e salutar da qual decerto não existe, diz res-
demum muneris praestantiaeve sint, attinet, quot- peito a todos sem restrição, qualquer que seja seu
quot velint (neque unus quisquam non velle debet) encargo e dignidade, desde que queiram – e nin-
divinae gratiae in se fovere vitam, cuius ultimum guém deve não querer – alimentar em si a vida da
est adeptio vitae cum Deo beatae. graça divina, cujo fim é a aquisição da vida bem-
aventurada junto a Deus.
3362 … Vel signa ipsa quibus huiusmodi constat sa- … Até os signos nos quais consiste este sacra-
cramentum peropportuna coniunctionis incitamenta mento são estímulos muito oportunos de união. A
sunt. Qua de re sanctus Cyprianus: “… Quando Do- respeito disso diz são Cipriano: “… Quando chama
minus corpus suum panem vocat de multorum gra- seu corpo de pão, constituído pela união de muitos
norum adunatione congestum, populum nostrum grãos, o Senhor indica a união de nosso povo por
quem portabat indicat adunatum; et quando sangui- ele sustentado; e quando chama o vinho o seu san-
nem suum vinum appellat de botris atque acinis plu- gue espremido e reunido de muitos cachos e uvas,
rimis expressum atque in unum coactum, gregem significa igualmente nosso rebanho articulado de
item nostrum significat commixtione adunatae mul- uma multidão levada à unidade”1.
titudinis copulatum”1.
Similiter Angelicus Doctor2 ex Augustini sen- Do mesmo modo o Doutor Angélico2 comenta
tentia haec habet: “‘Dominus noster corpus et san- assim a sentença de Agostinho: “‘Nosso Senhor nos
guinem suum in eis rebus commendavit, quae ad legou seu corpo e sangue nestas realidades que reú-
unum aliquid rediguntur ex multis; namque aliud, nem algo do que é múltiplo, pois uma, o pão, cons-
scilicet panis, ex multis granis in unum constat, ta de muitos grãos, a outra, o vinho, se recolhe de
aliud, scilicet vinum, in unum ex multis acinis con- muitas uvas’3, e por isso Agostinho diz, em outro
fluit’3, et ideo Augustinus alibi dicit: ‘O sacra- lugar: ‘Ó sacramento da piedade, ó signo da unida-
mentum pietatis, o signum unitatis, o vinculum de, ó vínculo da caridade’4”.
caritatis’4”.
Quae omnia confirmantur Concilii Tridentini sen- Tudo isso é confirmado pela sentença do Concí-
tentia, Christum Eucharistiam Ecclesiae reliquisse lio de Trento <que diz> que Cristo deixou a Euca-
“tamquam symbolum eius unitatis et caritatis, qua ristia à Igreja “como símbolo de sua unidade e ca-
Christianos omnes inter se coniunctos et copulatos ridade, pela qual quis todos os cristãos unidos e
esse voluit … symbolum unius illius corporis, cuius articulados entre si … símbolo daquele único corpo
ipse caput exsistit …” [*1635 1638]. Idque edixe- do qual ele mesmo é a cabeça …” [*1635 1638].
rat Paulus: “Quoniam unus panis, unum corpus mul- Isso também o disse Paulo: “Visto que há um só
*3362 1 Cipriano de Cartago, Carta (69) a Magno 5 (CSEL 3/II, 7546-11 / PL 3, 1189 [= cap. 6]).
2 Tomás de Aquino, Summa theologiae III, q. 79, a. 1 (Ed. Leonina 12, 218a).
3 Agostinho, In evangelium Iohannis, tract. 26, n. 17 (R. Willems: CpChL 36 [1954] 2688-11 / PL 35, 1614).
4 Ibid., 13 (CpChL 36, 26626s / PL 35, 1613).
728
ti sumus, omnes qui de uno pane participamus” pão, nós, <embora> muitos, somos um só corpo,
[1 Cor 10,17]. … que participamos de um só pão” [1Cor 10,17]. …
Mutuae praeterea inter vivos caritatis gratia, cui Além disso, a graça da mútua caridade entre os 3363
a sacramento eucharistico tantum accedit roboris et vivos, que do sacramento eucarístico recebe tanta
incrementi, Sacrificii praesertim virtute ad omnes força e incremento, se difunde especialmente em
permanat qui in Sanctorum communione numeran- virtude do Sacrifício entre todos os que são conta-
tur. Nihil est enim aliud Sanctorum communio … dos na comunhão dos Santos. Pois a comunhão dos
nisi mutua auxilii, expiationis, precum, beneficio- Santos não é outra coisa … senão a mútua comuni-
rum communicatio inter fideles vel caelesti patria cação de auxílio, expiação, preces e benefícios en-
potitos vel igni piaculari addictos vel adhuc in terris tre os fiéis, quer estejam de posse da pátria celeste,
peregrinantes, in unam coalescentes civitatem, cuius quer retidos no fogo da expiação, quer ainda pere-
caput Christus, cuius forma caritas. grinos na terra, crescendo até formar uma só cida-
de, cuja cabeça é Cristo e cuja forma é a caridade.
Hoc autem fide est ratum, etsi soli Deo Sacrifi- Ora, pela fé está confirmado que o augusto sacri-
cium augustum offerri liceat, tamen etiam honori fício, ainda que só a Deus possa ser oferecido, con-
Sanctorum in caelis cum Deo regnantium, qui illos tudo pode ser celebrado em honra dos Santos que
coronavit, celebrari posse ad eorum patrocinium reinam nos céus com Deus, que os coroou, para
nobis conciliandum atque etiam, ut ab Apostolis que nos seja concedido seu patrocínio e, também,
traditum, ad labes fratrum abolendas, qui, iam in como o ensinaram os Apóstolos, para que sejam
Domino mortui, nondum plane sint expiati. … abolidas as manchas dos irmãos que, já mortos no
Senhor, ainda não alcançaram a perfeita expiação.
Ipsum [sacramentum Eucharistiae] denique est Este [sacramento da Eucaristia], finalmente, é 3364
velut anima Ecclesiae, ad quod ipsa sacerdotalis gra- como a alma da Igreja, e para ele está dirigido a
tiae amplitudo per varios ordinum gradus dirigitur. amplitude da graça sacerdotal em seus vários graus.
Indidemque haurit habetque Ecclesia omnem virtu- Daí também a Igreja haure e mantém toda a sua
tem suam et gloriam, omnia divinorum charisma- força e glória, todas os ornamentos dos dons divi-
tum ornamenta, bona omnia: quae propterea sum- nos e todos os bens; por isso dedica o maior cuida-
mam curarum in eo collocat, ut fidelium animos ad do a instruir e a conduzir os corações dos fiéis a
intimam cum Christo coniunctionem per sacramen- uma íntima união com Cristo por meio do sacra-
tum Corporis et Sanguinis eius instruat et adducat. mento de seu Corpo e Sangue.
729
men, pro ea quam diximus dolorum atque aerum- e os homens. Contudo, por causa desta supradita
narum Matris cum Filio communione, hoc Virgini comunhão de dores e angústias entre Maria e o Fi-
augustae datum est, ut sit „totius terrarum orbis lho, foi dado à augusta Virgem ser “junto a seu Filho
potentissima apud unigenitum Filium suum media- unigênito a muito poderosa mediadora e advogada
trix et conciliatrix”2. de todo o orbe terrestre”2.
Fons igitur Christus est, “et de plenitudine eius A fonte, portanto, é Cristo, “e de sua plenitude
nos omnes accepimus” [Io 1,16]; “ex quo totum todos nós recebemos” [Jo 1,16], “e a partir dele todo
corpus compactum et connexum per omnem iunc- o corpo, unido e articulado por todas as junturas de
turam subministrationis … augmentum corporis mútuo apoio, … realiza o aumento do corpo para
facit in aedificationem sui in caritate” [Eph 4,16]. sua edificação na caridade” [Ef 4,16]. Ora, Maria
Maria vero … “aquaeductus”3 est aut etiam collum, … é o “aqueduto”3, ou também, o pescoço pelo qual
per quod corpus cum capite iungitur 4 … . o corpo está unido à cabeça4.
Patet itaque abesse profecto plurimum, ut nos Assim é claro que estamos longe de atribuir à
Deiparae supernaturalis gratiae efficiendae vim Deípara uma força que produza a graça sobrenatu-
tribuamus, quae Dei unius est. Ea tamen, quoniam ral, a qual provém de Deus só. Mas ela, como su-
universis sanctitate praestat coniunctioneque cum pera todos em santidade e união com Cristo e foi
Christo atque a Christo ascita in humanae salutis associada por Cristo à obra da salvação humana, de
opus, de congruo, ut aiunt, promeret nobis, quae congruo, como dizem, nos merece o que Cristo
Christus de condigno promeruit, estque princeps mereceu de condigno, e é a ministra principal da
largiendarum gratiarum ministra. distribuição das graças.
*3370 2 Pio IX, Bula “Ineffabilis Deus”, 8 dez. 1854 (CollLac 6, 843a).
3 Bernardo de Claraval, Sermão na natividade de Maria: De aquaeductu, n. 4 (Opera 5, ed. J. Leclerq – H.M. Rochais
[Roma 1968] 27710 / PL 183, 440).
4 Cf. Bernardino de Sena, Quadragesimale de evangelio aeterno, sermo 51, art. 3, a. 1: A plenitude da graça “está em
Cristo como na cabeça, que faz <a graça> influir; em Maria, como no pescoço, que a conduz a todo o corpo da Igreja”
(“in Christo ut in capite influente; in Maria ut in collo toti corpori Ecclesiae transfundente”: Opera omnia 4 [Quarracchi
1956] 55123).
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est de dispositionibus, quibus ad frequentem et quo- que disposições eram necessárias para aceder à co-
tidianam communionem accedere oporteat, atque alii munhão freqüente e cotidiana, e uns mais que os
prae aliis maiores ac difficiliores tamquam necessa- outros foram urgindo condições maiores e mais di-
rias expostularunt. Huiusmodi disceptationes id effe- fíceis. Tais discussões levaram a que pouquíssimos
cerunt, ut perpauci digni haberentur, qui ss. Eucha- fossem consideras dignos de receber a santíssima
ristiam quotidie sumerent et ex tam salutifero sacra- Eucaristia diariamente e haurissem de tão salvífico
mento pleniores effectus haurirent, contentis ceteris sacramento frutos mais plenos, enquanto os demais
eo refici aut semel in anno aut singulis mensibus, vel se contentavam em alimentar-se dela uma vez ao
unaquaque ad summum hebdomada. Quin etiam eo ano ou cada mês ou, no máximo, cada semana. Mais,
severitatis ventum est, ut a frequentanda caelesti chegou-se a tal severidade, que ficavam excluídos
mensa integri coetus excluderentur, uti mercatorum, da mesa celestial grupos inteiros, tais os comercian-
aut eorum, qui essent matrimonio coniuncti. tes ou os que estivessem unidos pelo matrimônio.
3377 Nonnulli tamen in contrariam abierunt sententiam. Muitos, porém, entraram na sentença contrária.
Hi arbitrati communionem quotidianam iure divino Julgaram que a comunhão diária fosse de direito
esse praeceptam, ne dies ulla praeteriret a commu- divino, para que não passasse um dia sem comun-
nione vacua, … etiam feria VI in Parasceve Eucha- gar, … e achavam que até na sexta-feira Santa se
ristiam sumendam censebant et ministrabant1. devia receber a Eucaristia, e a administravam1.
3378 Ad haec Sancta Sedes officio proprio non defuit Quanto a isso, a Santa Sé não faltou para com
[cf. *2090-2095 2323]. … Virus tamen Iansenianum, seu dever [cf. *2090-2095 2323]. … Mas o vírus
quod bonorum etiam animos infecerat, sub specie jansenista, que, sob a aparência do respeito e da
honoris ac venerationis Eucharistiae debiti, haud veneração devida à Eucaristia, havia infectado as
penitus evanuit. Quaestio de dispositionibus ad fre- almas das pessoas bem dispostas, não havia desa-
quentandam recte ac legitime communionem Sanc- parecido totalmente. A questão da disposição para
tae Sedis declarationibus supervixit; quo factum est, freqüentar reta e legitimamente a comunhão sobre-
ut nonnulli etiam boni nominis theologi raro et po- viveu aos pronunciamentos da Santa Sé; e assim
sitis compluribus condicionibus quotidianam com- aconteceu que até teólogos de bom renome pensa-
munionem fidelibus permitti posse censuerint. ram que só raramente e com muitas condições os
fiéis poderiam ser admitidos à comunhão diária.
3379 Concilii Congregatio … statuit et declaravit: A Congregação do Concílio … determinou e
declarou:
1. Communio frequens et quotidiana … omnibus 1. A comunhão freqüente e diária … deve estar
Christifidelibus cuiusvis ordinis aut condicionis aberta a todos os fiéis cristãos, de qualquer ordem
pateat, ita ut nemo, qui in statu gratiae sit et cum ou condição, de modo que ninguém que esteja em
recta piaque mente ad s. mensam accedat, impediri estado de graça e aceda com intenção reta e piedo-
ab ea possit. sa à sagrada mesa, possa ser impedido dela.
3380 2. Recta autem mens in eo est, ut qui ad s. men- 2. Ora, a reta intenção consiste nisto, que quem
sam accedit, non usui aut vanitati aut humanis ra- acede à sagrada mesa não o faça por vaidade ou por
tionibus imdulgeat, sed Dei placito satisfacere velit, razões humanas, mas queira satisfazer o desejo de
ei arctius caritate coniungi ac divino illo pharmaco Deus, bem como unir-se mais estreitamente a ele
suis infirmitatibus ac defectibus occurrere. pela caridade e socorrer suas enfermidades e defei-
tos com o remédio divino.
3381 3. Etsi quam maxime expediat, ut frequenti et 3. Embora seja sumamente importante que os
quotidiana communione utentes venialibus pecca- diariamente comungantes estejam livres de peca-
tis, saltem plene deliberatis, eorumque affectu sint dos veniais, ao menos dos completamente voluntá-
*3377 1 Cf. decreto da Congregação do Concílio 12 fev. 1679 (*2095 e *2090°), referente ao movimento eucarístico que
floresce na Itália setentrional e sobretudo na Espanha nos séculos XV e XVI. A conclusão de que se deve garantir a
comunhão na Sexta-Feira Santa foi propugnada sobretudo por Antonio Velásquez Pinto CCRRMM, Tesoro de los
Cristianos (Madrid 1662). Em sentido contrário, o acima referido decreto havia defendido o costume romano, mas
depois da reforma do ordo da Semana Santa foi assumido o uso que antes tinha sido recusado: cf. o decreto da
Congregação dos Ritos “Maxima Redemptionis” de 16 nov. 1955, instrução n. 19 (AAS 47 [1955] 846).
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expertes, sufficit nihilominus, ut culpis mortalibus rios, nem estejam inclinados a eles, todavia é sufi-
vacent, cum proposito, se numquam in posterum ciente que não tenham pecado mortal e o propósito
peccaturos. … de no futuro não mais pecar. …
4. … Curandum est, ut sedula ad sacram com- 4. … Deve-se procurar que preceda à santa co- 3382
munionem praeparatio antecedat et congrua gratia- munhão uma cuidadosa preparação e siga uma con-
rum actio inde sequatur iuxta uniuscuiusque vires, veniente ação de graças, segundo a possibilidade,
condicionem ac officia. condição e deveres de cada um.
5. … Confessarii consilium intercedat. Caveant 5. … Peça-se o conselho do confessor. Os con- 3383
tamen confessarii, ne a frequenti seu quotidiana fessores, porém, cuidem de não desviar da comu-
communione quemquam avertant, qui in statu gra- nhão diária ninguém que se encontre em estado de
tiae reperiatur et recta mente accedat. … graça e <a ela> aceda com reta intenção.
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quae iuxta Romanarum Congregationum decisiones serão contraídos em qualquer província ou lugar do
vi irritanti capitis “Tametsi” certo hucusque subiecta Império alemão, mesmo naqueles <lugares> que se-
fuerunt, non servata forma Tridentina iam contracta gundo as decisões das Congregações romanas até
vel (quod Deus avertat) in posterum contrahenda, agora estiveram certamente submetidas à força diri-
dummodo nec aliud obstet canonicum impedimen- mente do capítulo “Tametsi”, queremos sejam tidos
tum, nec sententia nullitatis propter impedimentum por absolutamente válidos, e expressamente o de-
clandestinitatis ante diem festum Paschae huius anni claramos, definimos e decretamos, desde que não
legitime lata fuerit et mutuus coniugum consensus tenha havido em contrário nenhum outro impedimen-
usque ad dictam diem perseveraverit, pro validis to canônico, nem tenha ocorrido legítima sentença
omnino haberi volumus idque expresse declaramus, de nulidade por impedimento de clandestinidade
definimus atque decernimus. desde o dia de Páscoa deste ano e tenha durado até
esse dia o mútuo consentimento dos cônjuges.
3388 III. Ut autem iudicibus ecclesiasticis tuta norma III. E, para que os juízes eclesiásticos tenham uma
praesto sit, hoc idem iisdemque sub condicionibus norma segura, declaramos, definimos e decretamos
et restrictionibus declaramus, statuimus ac decerni- a mesma coisa, com as mesmas condições e restri-
mus de m a t r i m o n i i s a c a t h o l i c o r u m , sive hae- ções, quanto aos m a t r i m ô n i o s d o s n ã o c a t ó -
reticorum sive schismaticorum, inter se in iisdem l i c o s , quer hereges quer cismáticos, que até agora
regionibus non servata forma Tridentina hucusque foram contraídos ou doravante serão contraídos
contractis vel in posterum contrahendis; ita ut, si nestas regiões sem observar a forma tridentina; de
alter vel uterque acatholicorum coniugum ad fidem sorte que, se um dos cônjuges ou ambos se conver-
catholicam convertatur, vel in foro ecclesiastico terem à fé católica, ou no foro eclesiástico surgir
controversia incidat de validitate matrimonii duo- controvérsia sobre a validade do matrimônio de dois
rum acatholicorum cum quaestione validitatis ma- não católicos ligada à questão da validade do ma-
trimonii ab aliquo catholico contracti vel contrahendi trimônio contraído ou a contrair com um católico,
conexa, eadem matrimonia ceteris paribus pro om- esses matrimônos, em paridade de condições, de-
nino validis pariter habenda sint. … vem ser tidos por absolutamente válidos. …
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niis utriusque Testamenti collective sumptis, perpe- conta os muitos testemunhos de um e outro Testa-
tua consensione populi iudaici, Ecclesiae quoque mento considerados no seu conjunto, a permanente
constanti traditione nec non indiciis internis, quae convicção do povo judeu, a tradição constante da
ex ipso textu eruuntur, ius tribuant affirmandi, hos Igreja, bem como os indícios internos tirados do
libros non M o y s e n h a b e r e a u c t o r e m , sed ex próprio texto, dão direito a afirmar que esses livros
fontibus maxima ex parte aetate mosaica posterio- não têm M o i s é s c o m o a u t o r, mas foram com-
ribus fuisse confectos? postos de fontes na sua maior parte posteriores à
época mosaica?
Resp.: Negative. Resp.: Não.
Qu. 2: Utrum mosaica authentia Pentateuchi talem Pergunta 2: Será que a autenticidade mosaica do 3395
necessario postulet redactionem totius operis, ut Pentateuco exige necessariamente uma redação tal
prorsus tenendum sit, Moysen omnia et singula de toda a obra que se deve pensar sem restrição que
manu sua s c r i p s i s s e vel amanuensibus d i c t a s - Moisés o e s c r e v e u todo, com todos os seus por-
s e ; an etiam eorum hypothesis permitti possit, qui menores, seja de próprio punho, seja d i t a n d o a
existimant, eum opus ipsum a se sub divinae inspi- seus amanuenses? Ou pode-se admitir a hipótese
rationis afflatu conceptum alteri vel pluribus scri- dos que pensam que Moisés encomendou a escritu-
bendum commisisse, ita tamen, ut sensa sua fideli- ra da obra por ele concebida sob inspiração divina
ter redderent, nihil contra suam voluntatem scribe- a outro ou outros, de tal modo, porém, que expres-
rent, nihil omitterent; ac tandem opus hac ratione sassem fielmente seus pensamentos, nada escreves-
confectum, ab eodem Moyse principe inspiratoque sem contra sua vontade, nada omitissem e que, fi-
auctore probatum, ipsiusmet nomine vulgaretur? nalmente, a obra assim composta, aprovada por Moi-
sés, seu principal e inspirado autor, fosse divulgada
sob o seu nome?
Resp.: Negative ad primam partem; affirmative Resp.: Não, quanto à primeira parte; sim, quanto
ad secundam. à segunda.
Qu. 3: Utrum absque praeiudicio mosaicae au- Pergunta 3: Pode-se conceder, sem detrimento da 3396
thentiae Pentateuchi concedi possit, Moysen ad autenticidade mosaica do Pentateuco, que Moisés,
suum conficiendum opus f o n t e s a d h i b u i s s e , para compor sua obra, s e v a l e u d e f o n t e s , ou
scripta videlicet documenta vel orales traditiones, seja, de documentos escritos ou de tradições orais,
ex quibus secundum peculiarem scopum sibi pro- das quais, segundo o fim peculiar que se propusera
positum et sub divinae inspirationis afflatu nonnulla e sob o sopro da inspiração divina, colheu algumas
hauserit eaque ad verbum vel quoad sententiam coisas e as inseriu em sua obra, ora literalmente,
contracta vel amplificata ipsi operi inseruerit? ora resumidas ou ampliadas quanto ao sentido?
Resp.: Affirmative. Resp.: Sim.
Qu. 4: Utrum salva substantialiter mosaica Pergunta 4: Pode-se admitir, salva a autenticida- 3397
authentia et integritate Pentateuchi admitti possit, de mosaica essencial e a integridade do Pentateuco,
tam longo saeculorum decursu nonnullas ei m o d i - que talvez, em tão prolongado processo multisse-
f i c a t i o n e s o b v e n i s s e , uti: additamenta post cular, tenham a c o n t e c i d o nele a l g u m a s m o -
Moysi mortem vel ab auctore inspirato apposita vel d i f i c a ç õ e s , como: adições feitas depois da mor-
glossas et explicationes textui interiectas, vocabula te de Moisés ou acrescentadas por um autor inspi-
quaedam et formas e sermone antiquato in sermo- rado, ou glosas ou explicações inseridas no texto,
nem recentiorem translatas, mendosas demum lec- vocábulos ou formas de língua antiga transpostas
tiones vitio amanuensium adscribendas, de quibus fas para linguagem mais moderna, enfim, lições erra-
sit ad normas artis criticae disquirere et iudicare? das que se devem atribuir a defeito de amanuenses,
as quais licitamente podem ser discutidas e julga-
das de acordo com as normas da crítica?
Resp.: Affirmative, salvo Ecclesiae iudicio. Resp.: Sim, salvo o juízo da Igreja.
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1. Ecclesiastica lex, quae praescribit subicere 1. A lei eclesiástica que manda submeter a pré- 3401
praeviae censurae libros divinas respicientes Scrip- via censura os livros que tratam das divinas Escri-
turas, ad cultores critices aut exegeseos scientificae turas não se estende aos estudiosos de crítica ou de
Librorum Veteris et Novi Testamenti non extenditur. exegese científica dos livros do Antigo e do Novo
Testamento.
2. Ecclesiae interpretatio sacrorum Librorum non 2. A interpretação que a Igreja faz dos livros sa- 3402
est quidem spernenda, subiacet tamen accuratiori grados com certeza não deve ser desprezada, mas
exegetarum iudicio et correctioni. está sujeito ao juízo mais apurado e à correção dos
exegetas.
3. Ex iudiciis et censuris ecclesiasticis contra li- 3. Das sentenças e das censuras eclesiásticas fei- 3403
beram et cultiorem exegesim latis colligi potest, tas contra a exegese livre e mais erudita pode-se
fidem ab Ecclesia propositam contradicere historiae, concluir que a fé proposta pela Igreja contradiz a
et dogmata catholica cum verioribus christianae história, e que os dogmas católicos não se podem
religionis originibus componi reipsa non posse. realmente conciliar com as verdadeiras origens da
religião cristã.
4. Magisterium Ecclesiae ne per dogmaticas qui- 4. O magistério da Igreja não pode determinar o 3404
dem definitiones genuinum sacrarum Scripturarum sentido genuíno das sagradas Escrituras, nem se-
sensum determinare potest. quer por definições dogmáticas.
5. Cum in deposito fidei veritates tantum revela- 5. Como no depósito da fé estão contidos somen- 3405
tae contineantur, nullo sub respectu ad Ecclesiam te as verdades reveladas, não cabe à Igreja, sob
pertinet iudicium ferre de assertionibus disciplina- nenhum respeito, julgar sobre as asserções das dis-
rum humanarum. ciplinas humanas.
6. In definiendis veritatibus ita collaborant dis- 6. Na definição das verdades colaboram de tal 3406
cens et docens Ecclesia, ut docenti Ecclesiae nihil modo a Igreja discente e a docente, que à Igreja
supersit, nisi communes discentis opinationes docente só resta sancionar as opiniões comuns da
sancire. discente.
7. Ecclesia, cum proscribit errores, nequit a fide- 7. Ao proscrever os erros, a Igreja não pode exi- 3407
libus exigere ullum internum assensum, quo iudicia gir dos fiéis assentimento interno algum para que
a se edita complectantur. abracem as sentenças por ela pronunciadas.
8. Ab omni culpa immunes existimandi sunt, qui 8. Os que não dão importância às reprovações da 3408
reprobationes a Sacra Congregatione Indicis aliisve Sagrada Congregação do Índex ou às outras Con-
Sacris Romanis Congregationibus latas nihili gregações romanas devem ser considerados imunes
pendunt. de toda culpa.
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21. Revelatio, obiectum fidei catholicae consti- 21. A revelação que constitui o objeto da fé cató- 3421
tuens, non fuit cum Apostolis completa. lica não ficou completa com os Apóstolos.
22. Dogmata, quae Ecclesia perhibet tamquam 22. Os dogmas que a Igreja apresenta como reve- 3422
revelata, non sunt veritates e caelo delapsae, sed sunt lados não são verdades que caíram do céu, mas uma
interpretatio quaedam factorum religiosorum, quam certa interpretação de fatos religiosos que a mente
humana mens laborioso conatu sibi comparavit. humana elaborou para si com laborioso esforço.
23. Exsistere potest et reipsa exsistit oppositio 23. Pode existir, e de fato existe, oposição entre 3423
inter facta, quae in sacra Scriptura narrantur, eisque fatos narrados na Sagrada Escritura e os dogmas da
innixa Ecclesiae dogmata; ita ut criticus tamquam Igreja que neles se apoiam; de sorte que o crítico
falsa reicere possit facta, quae Ecclesia tamquam poderá rejeitar como falsos fatos que a Igreja acre-
certissima credit. dita como certíssimos.
24. Reprobandus non est exegeta, qui praemissas 24. Não se deve reprovar o exegeta que estabele- 3424
adstruit, ex quibus sequitur, dogmata historice falsa ça premissas das quais se segue que os dogmas são
aut dubia esse, dummodo dogmata ipsa directe non historicamente falsos ou duvidosos, desde que com
neget. isso não negue diretamente os dogmas mesmos.
25. Assensus fidei ultimo innititur in congerie 25. O assentimento da fé se apóia, em última 3425
probabilitatum. instância, num conjunto de probabilidades.
26. Dogmata fidei retinenda sunt tantummodo iuxta 26. Os dogmas de fé devem ser mantidos somen- 3426
sensum practicum, id est tamquam norma praecepti- te no sentido prático, isto é, como norma preceptiva
va agendi, non vero tamquam norma credendi. do agir, não porém como norma do crer.
Cristo
27. Divinitas Iesu Christi ex Evangeliis non pro- 27. Pelos evangelhos não se prova a divindade de 3427
batur; sed est dogma, quod conscientia christiana e Cristo; é um dogma que a consciência cristão dedu-
notione Messiae deduxit. ziu da noção de Messias.
28. Iesus, cum ministerium suum exercebat, non in 28. Quando Jesus exerceu seu ministério, não fa- 3428
eum finem loquebatur, ut doceret se esse Messiam, lou com a finalidade de ensinar que ele era o Messi-
neque eius miracula eo spectabant, ut id demonstraret. as, nem intentaram demonstrar isso os seus milagres.
29. Concedere licet, Christum, quem exhibet 29. É lícito conceder que o Cristo mostrado pela 3429
historia, multo inferiorem esse Christo, qui est obiec- história é de muito inferior ao Cristo que é objeto
tum fidei. da fé.
30. In omnibus textibus evangelicis nomen Filius 30. Em todos os textos evangélicos o título Filho 3430
Dei aequivalet tantum nomini Messias, minime vero de Deus eqüivale apenas ao título de Messias e não
significat Christum esse verum et naturalem Dei significa de modo algum que Cristo seja verdadeiro
Filium. e natural Filho de Deus.
31. Doctrina de Christo, quam tradunt Paulus, 31. A doutrina sobre Cristo que Paulo, João e os 3431
Ioannes et Concilia Nicaenum, Ephesinum, Chal- Concílios de Nicéia, de Éfeso, de Calcedônia ensi-
cedonense, non est ea, quam Iesus docuit, sed quam nam não é a que Jesus ensinou, mas que acerca de
de Iesu concepit conscientia christiana. Jesus concebeu a consciência cristã.
32. Conciliari nequit sensus naturalis textuum 32. Não é possível conciliar o sentido natural dos 3432
evangelicorum cum eo, quod nostri theologi docent textos evangélicos com aquele que nossos teólogos
de conscientia et scientia infallibili Iesu Christi. ensinam a respeito da consciência e da ciência in-
falível de Cristo.
33. Evidens est cuique, qui praeconceptis non 33. Para qualquer um que não é levado por idéias 3433
ducitur opinionibus, Iesum aut errorem de proximo preconcebidas é evidente que ou Jesus professou
messianico adventu fuisse professum, aut maiorem um erro sobre a vinda messiânica próxima ou a
partem ipsius doctrinae in Evangeliis synopticis maior parte de sua doutrina contida nos Evange-
contentae authenticitate carere. lhos sinópticos carece de autenticidade.
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3434 34. Criticus nequit asserere Christo scientiam nullo 34. O crítico não pode conceder a Cristo uma ciên-
circumscriptam limite nisi facta hypothesi, quae cia não circunscrita por limite algum, a não ser na
historice haud concipi potest quaeque sensui morali hipótese, que não se pode conceber historicamente
repugnat, nempe Christum uti hominem habuisse e que repugna ao senso moral, de que Cristo como
scientiam Dei et nihilominus noluisse notitiam tot homem teve a ciência de Deus e que, apesar disso,
rerum communicare cum discipulis ac posteritate. não quis pôr em comum com seus discípulos nem
com a posteridade o conhecimento de tantas coisas.
3435 35. Christus non semper habuit conscientiam suae 35. Cristo não teve sempre consciência de sua
dignitatis messianicae. dignidade messiânica.
3436 36. Resurrectio Salvatoris non est proprie factum 36. A ressurreição do Salvador não é propriamente
ordinis historici, sed factum ordinis mere superna- um fato de ordem histórica, mas um fato meramen-
turalis nec demonstratum nec demonstrabile, quod te sobrenatural, nem demonstrado nem demonstrá-
conscientia christiana sensim ex aliis derivavit. vel, que a consciência cristã paulatinamente dedu-
ziu de outros <fatos>.
3437 37. Fides in resurrectionem Christi ab initio fuit 37. A fé na ressurreição de Cristo de início não
non tam de facto ipso resurrectionis, quam de vita se referia tanto ao próprio fato da ressurreição quan-
Christi immortali apud Deum. to à vida imortal de Cristo junto a Deus.
3438 38. Doctrina de morte piaculari Christi non est 38. A doutrina sobre a morte expiatória de Cristo
evangelica, sed tantum paulina. não é evangélica, mas apenas paulina.
Os sacramentos
3439 39. Opiniones de origine sacramentorum, quibus 39. As opiniões sobre a origem dos sacramentos
Patres Tridentini imbuti erant quaeque in eorum de que estavam imbuídos os Padres tridentinos, e
canones dogmaticos procul dubio influxum habue- que sem dúvida influíram nos seus cânones dogmá-
runt, longe distant ab iis, quae nunc penes historicos ticos, estão muito distantes das que agora, com ra-
rei christianae indagatores merito obtinent. zão, prevalecem entre os estudiosos da história do
cristianismo.
3440 40. Sacramenta ortum habuerunt ex eo, quod 40. Os sacramentos tiveram sua origem no fato de
Apostoli eorumque successores ideam aliquam et que os Apóstolos e seus sucessores, persuadidos e
intentionem Christi, suadentibus et moventibus cir- movidos pelas circunstâncias e pelos acontecimen-
cumstantiis et eventibus, interpretati sunt. tos, interpretaram alguma idéia e intenção de Cristo.
3441 41. Sacramenta eo tantum spectant, ut in mentem 41. Os sacramentos não têm outro fim senão evo-
hominis revocent praesentiam Creatoris semper car na mente do homem a presença sempre benéfi-
beneficam. ca de Cristo.
3442 42. Communitas christiana necessitatem baptismi 42. A comunidade cristã introduziu a necessida-
induxit, adoptans illum tamquam ritum necessarium de do batismo, adotando-o como rito necessário e
eique professionis christianae obligationes annectens. acrescentando-lhe a obrigação da profissão cristã.
3443 43. Usus conferendi baptismum infantibus evo- 43. O costume de conferir o batismo às crianças
lutio fuit disciplinaris, quae una ex causis exstitit, foi uma evolução disciplinar e constituiu uma das
ut sacramentum resolveretur in duo, in baptismum causas por que este sacramento se dividiu em dois:
scilicet et paenitentiam. batismo e penitência.
3444 44. Nihil probat ritum sacramenti confirmationis 44. Nada prova que o rito do sacramento da con-
usurpatum fuisse ab Apostolis: formalis autem dis- firmação foi usado pelos Apóstolos; ora, a distin-
tinctio duorum sacramentorum, baptismi scilicet et ção formal dos dois sacramentos, a saber, batismo
confirmationis, haud spectat ad historiam christia- e confirmação, nada tem a ver com a história do
nismi primitivi. cristianismo primitivo.
3445 45. Non omnia, quae narrat Paulus de institutio- 45. Nem tudo o que Paulo relata a respeito da
ne Eucharistiae [1 Cor 11,23-25], historice sunt instituição da Eucaristia [1Cor 11,23-25] deve ser
sumenda. considerado histórico.
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46. Non adfuit in primitiva Ecclesia conceptus 46. Na Igreja primitiva não existia o conceito de 3446
de christiano peccatore auctoritate Ecclesiae recon- cristão pecador reconciliado pela autoridade da Igre-
ciliato, sed Ecclesia nonnisi admodum lente huius- ja, mas a Igreja mui lentamente se foi acostumando
modi conceptui assuevit. Immo etiam postquam a este conceito. Mais: mesmo depois de reconheci-
paenitentia tamquam Ecclesiae institutio agnita fuit, da como instituição da Igreja, a penitência não era
non appellabatur sacramenti nomine, eo quod ha- chamada pelo nome de sacramento, porque era tido
beretur uti sacramentum probrosum. por sacramento ignominioso.
47. Verba Domini: “Accipite Spiritum Sanctum; 47. As palavras do Senhor: “Recebei o Espírito 3447
quorum remiseritis peccata, remittuntur eis, et quo- Santo: a quem perdoardes os pecados, lhes serão
rum retinueritis, retenta sunt” [Io 20,22s], minime perdoados, a quem os retiverdes, lhes serão retidos”
referuntur ad sacramentum paenitentiae, quidquid [Jo 20,22s] de modo algum se referem ao sacra-
Patribus Tridentinis asserere placuit. mento da penitência, pouco importa o que disseram
os Padres de Trento.
48. Iacobus in sua epistola [Iac 5,14s] non inten- 48. Tiago, em sua epístola [Tg 5,14s], não tem a 3448
dit promulgare aliquod sacramentum Christi, sed intenção de apresentar algum sacramento de Cris-
commendare pium aliquem morem, et si in hoc more to, mas de recomendar um costume piedoso, e se
forte cernit medium aliquod gratiae, id non accipit neste costume talvez veja algum meio de graça, não
eo rigore, quo acceperunt theologi, qui notionem et o toma com aquele rigor com que o consideraram
numerum sacramentorum statuerunt. os teólogos que estabeleceram a noção e o número
dos sacramentos.
49. Coena christiana paulatim indolem actionis 49. Quando a ceia cristã foi tomando paulatina- 3449
liturgicae assumente, hi, qui Coenae praeesse con- mente o caráter de ação litúrgica, os que costuma-
sueverant, characterem sacerdotalem acquisiverunt. vam presidir a ceia adquiriram caráter sacerdotal.
50. Seniores, qui in Christianorum coetibus invi- 50. Os anciãos que desempenhavam o encargo 3450
gilandi munere fungebantur, instituti sunt ab Apos- de vigiar nas assembléias dos cristãos foram cons-
tolis presbyteri aut episcopi ad providendum neces- tituídos pelos Apóstolos presbíteros ou bispos para
sariae crescentium communitatum ordinationi, non atender à necessária organização das comunidades
proprie ad perpetuandam missionem et potestatem crescentes, não propriamente para perpetuar a mis-
Apostolicam. são e poder apostólicos.
51. Matrimonium non potuit evadere sacramen- 51. O matrimônio só conseguiu tornar-se sacra- 3451
tum novae legis nisi serius in Ecclesia; siquidem, ut mento da nova Lei bem tardiamente na Igreja; com
matrimonium pro sacramento haberetur, necesse efeito, para que o sacramento fosse tido como sa-
erat, ut praecederet plena doctrinae de gratia et sa- cramento, era necessário que precedesse toda a
cramentis theologica explicatio. explicação teológica da doutrina da graça e dos
sacramentos.
A constituição da Igreja
52. Alienum fuit a mente Christi Ecclesiam cons- 52. Foi alheio à mente de Cristo constituir a Igre- 3452
tituere veluti societatem super terram per longam ja como sociedade que devia durar sobre a terra por
saeculorum seriem duraturam; quin immo in mente longo decurso de anos; mais, na mente de Jesus es-
Christi regnum caeli una cum fine mundi iamiam tava prestes a chegar o reino do céu juntamente com
adventurum erat. o fim do mundo.
53. Constitutio organica Ecclesiae non est immu- 53. A constituição orgânica da Igreja não é imu- 3453
tabilis; sed societas christiana perpetuae evolutioni tável; mas também a sociedade cristã, como a so-
aeque ac societas humana est obnoxia. ciedade humana, é sujeita a contínua evolução.
54. Dogmata, sacramenta, hierarchia, tum quod 54. Os dogmas, os sacramentos, a hierarquia, tanto 3454
ad notionem tum quod ad realitatem attinet, non sunt no que concerne à noção quanto à realidade, não
nisi intelligentiae christianae interpretationes evo- são senão interpretação e desenvolvimento do pen-
741
lutionesque, quae exiguum germen in Evangelio samento cristão que, com acréscimos externos, au-
latens externis incrementis auxerunt perfeceruntque. mentaram e aperfeiçoaram o exíguo germe latente
no Evangelho.
3455 55. Simon Petrus ne suspicatus quidem umquam 55. Simão Pedro nem sequer jamais suspeitou que
est, sibi a Christo demandatum esse primatum in por Cristo lhe fora confiado o primado na Igreja.
Ecclesia.
3456 56. Ecclesia Romana non ex divinae providentiae 56. Não foi por ordenação divina, mas pelas meras
ordinatione, sed ex mere politicis condicionibus condições políticas que a Igreja romana se tornou
caput omnium Ecclesiarum effecta est. cabeça de todas as Igrejas.
3457 57. Ecclesia sese praebet scientiarum naturalium 57. A Igreja se apresenta hostil ao progresso das
et theologicarum progressibus infensam. ciências naturais e históricas.
742
C e n s u r a Summi Pontificis: “Sanctitas Sua De- C e n s u r a do Sumo Pontífice: “A Sua Santidade 3466
cretum Eminentissimorum Patrum adprobavit et aprovou e confirmou o decreto dos Eminentíssimos
confirmavit, ac omnes et singulas supra recensitas Padres e mandou que todas e cada uma das propo-
propositiones ceu reprobatas ac proscriptas ab om- sições acima elencadas sejam por todos reprovadas
nibus haberi mandavit.” e proscritas.”
Noivado e matrimônio
D e s p o n s a l i b u s . I. Ea tantum sponsalia ha- D o s n o i v a d o s . I. São tidos por válidos e sur- 3468
bentur valida et canonicos sortiuntur effectus, quae tem efeitos canônicos somente aqueles noivados que
contracta fuerint per scripturam subsignatam a par- foram contraídos por meio de escritura firmada pelas
tibus et vel a parocho aut loci Ordinario, vel saltem partes e pelo pároco ou pelo Ordinário do lugar ou,
a duobus testibus. … pelo menos, por duas testemunhas. …
D e m a t r i m o n i o . III. Ea tantum matrimonia D o s m a t r i m ô n i o s . III. São válidos somente 3469
valida sunt, quae contrahuntur coram parocho vel aqueles matrimônios que são contraídos diante do
loci Ordinario vel sacerdote ab alterutro delegato et pároco, ou diante do Ordinário do lugar, ou diante
duobus saltem testibus… . de um sacerdote delegado por um destes dois, e ao
menos duas testemunhas.
VII. Imminente mortis periculo, ubi parochus vel VII. Se existe iminente perigo de morte, quando 3470
loci Ordinarius vel sacerdos ab alterutro delegatus não se pode ter o pároco ou o Ordinário do lugar ou
haberi nequeat, ad consulendum conscientiae et (si outro sacerdote delegado por um deles, para atender
casus ferat) legitimationi prolis matrimonium con- à consciência e (se for o caso) à legitimação da prole,
trahi valide ac licite potest coram quolibet sacerdo- o matrimônio pode válida e licitamente ser contraído
te et duobus testibus. diante de qualquer sacerdote e duas testemunhas.
VIII. Si contingat, ut in aliqua regione parochus VIII. Caso aconteça que, em alguma região, não 3471
locive Ordinarius aut sacerdos ab eis delegatus, pode haver nem pároco, nem Ordinário do lugar, nem
coram quo matrimonium celebrari queat, haberi non sacerdote por eles delegado, perante o qual se pode-
possit eaque rerum condicio a mense iam perseveret, ria celebrar o matrimônio, e esta situação se prolon-
matrimonium valide ac licite iniri potest emisso a gar já por um mês, o matrimônio pode lícita e vali-
sponsis formali consensu coram duobus testibus. damente ser contraído quando os esposos emitirem o
consentimento formal diante de duas testemunhas.
XI. § 1. Statutis superius legibus tenentur omnes XI. § 1. À leis acima estabelecidas estão obriga- 3472
in catholica Ecclesia baptizati et ad eam ex haeresi dos todos os batizados da Igreja católica e os que a
aut schismate conversi (licet sive hi sive illi ab cadem ela se tenham convertido da heresia ou do cisma
postea defecerint), quoties inter se sponsalia vel (mesmo se estes ou aqueles se afastaram dela pos-
matrimonia ineant. teriormente), sempre que entre si contraírem noiva-
do ou matrimônio.
§ 2. Vigent quoque pro iisdem de quibus supra § 2. Vigoram também para os mesmos católicos 3473
catholicis, si cum acatholicis sive baptizatis sive non acima ditos, se contraírem noivado ou matrimônio
baptizatis, etiam post obtentam dispensationem ab com não católicos, batizados ou não, também de-
impedimento mixtae religionis vel disparitatis cul- pois de obtida dispensa do impedimento de religião
tus, sponsalia vel matrimonium contrahunt; nisi pro mista ou disparidade de culto; a não ser que para
aliquo particulari loco aut regione aliter a S. Sede algum lugar ou região particular tenha sido estatuído
sit statutum. de modo diferente pela Santa Sé.
§ 3. Acatholici sive baptizati sive non baptizati, § 3. Os não católicos, batizados ou não, quando 3474
si inter se contrahunt, nullibi ligantur ad catholi- contraem <noivado ou matrimônio> entre si, não
cam sponsalium vel matrimonii formam servandam. estão obrigados em nenhum lugar a guardar a for-
ma católica do noivado e do matrimônio.
743
744
Haec porro divini indigentia, quia non nisi cer- Ora, como essa carência do divino é sentida so-
tis aptisque in complexibus sentitur, pertinere ad mente em certas circunstâncias propícias, não pode
conscientiae ambitum ex se non potest; latet au- de per si pertencer ao âmbito da consciência; ocul-
tem primo infra conscientiam, seu, ut mutuato ta-se, ao invés, primeiro debaixo da consciência, ou,
vocabulo a moderna philosophia loquuntur, in como dizem com vocábulo tirado da filosofia mo-
subconscientia. … derna, no subconsciente. …
In eiusmodi enim sensu modernistae non fidem De fato, nesse mesmo sentimento os modernistas 3478
tantum reperiunt; sed, cum fide inque ipsa fide, prout não encontram somente a fé, mas, com a fé e na
illam intelligunt, revelationi locum esse affirmant. mesma fé, do modo como a entendem, o afirmam
… [599] Cum fidei Deus obiectum sit aeque et também como o lugar da revelação. … Sendo Deus
causa, revelatio illa et de Deo pariter et a Deo est; ao mesmo tempo objeto e causa da fé, essa revela-
habet Deum videlicet revelantem simul ac revela- ção é acerca de Deus e também provinda de Deus;
tum. Hinc autem, Venerabiles Fratres, affirmatio illa isto é, tem a Deus ao mesmo tempo como revelante
modernistarum perabsurda, qua religio quaelibet pro e revelado. Segue-se daqui, Veneráveis Irmãos, a
diverso aspectu naturalis una ac supernaturalis di- absurda afirmação dos modernistas, segundo a qual
cenda est. Hinc conscientiae ac revelationis promis- toda a religião, sob diverso aspecto, é igualmente
cua significatio. Hinc lex, qua conscientia religiosa natural e sobrenatural. Segue-se daí a promíscua
ut regula universalis traditur, cum revelatione peni- significação que dão aos termos consciência e reve-
tus aequanda, cui subesse omnes oporteat, supre- lação. Daí a lei que faz da consciência religiosa, a
mam etiam in Ecclesia potestatem, sive haec doceat, par com a revelação, a regra universal à qual todos
sive de sacris disciplinave statuat. … se devem sujeitar, inclusive a própria autoridade da
Igreja, seja quando ensina, seja quando legisla em
matéria de culto ou disciplina. …
Incognoscibile, de quo loquuntur, non se fidei Aquele incognoscível, de que falam, não se apre- 3479
sistit ut nudum quid aut singulare; sed contra in senta à fé como que nu e isolado, mas, ao contrário,
phaenomeno aliquo arcte inhaerens, quod, quamvis intimamente unido a algum fenômeno que, embora
ad campum scientiae aut historiae pertinet, ratione pertença ao campo da ciência ou da história, assim
tamen aliqua praetergreditur. … Tum vero fides, ab mesmo, de certo modo, transpõe os seus limites. …
incognoscibili allecta, quod cum phaenomeno iun- Então a fé, atraída pelo incognoscível, que vai unido
gitur, totum ipsum phaenomenon complectitur ac ao fenômeno, abraça o próprio fenômeno inteiramente
sua vita quodammodo permeat. e o penetra de certa maneira com sua própria vida.
Ex hoc autem duo consequuntur. Primum, quae- Donde se seguem duas coisas. A primeira é uma
dam phaenomeni transfiguratio per elationem scili- certa transfiguração do fenômeno, por uma espécie
cet supra veras illius condiciones, qua aptior fiat de elevação das suas verdadeiras condições, pela
materia ad induendam divini formam, quam fides qual se torna mais apto, enquanto matéria, para
est inductura. Secundum, phaenomeni eiusdem receber o divino. A segunda é uma certa desfigura-
aliquapiam, sic vocare liceat, defiguratio inde nata, ção, digamos, resultante de que, tendo a fé subtraí-
quod fides illi loci temporisque adiunctis exempto do ao fenômeno os seus adjuntos de tempo e de
tribuit, quae reapse non habet; quod usuvenit prae- lugar, lhe atribui o que em realidade não tem; o que
cipue, cum de phaenomenis agitur exacti temporis, particularmente se dá em se tratando de fenômenos
eoque amplius, quo sunt vetustiora. Ex gemino hoc de tempos passados, e isto tanto mais quanto mais
capite binos iterum modernistae [600] eruunt cano- remotos. Destes dois pressupostos, os modernistas
nes, qui alteri additi iam ex agnosticismo habito deduzem outros tantos cânones que, unidos a um
critices historicae fundamenta constituunt. terceiro já deduzido do agnosticismo, constituem a
base da crítica histórica.
Exemplo res illustrabitur, sitque illud e Christi Isso pode ser esclarecido com um exemplo que 3480
persona petitum. In persona Christi, aiunt, scientia concerne à pessoa de Jesus Cristo. Na pessoa de
atque historia nil praeter hominem offendunt. Ergo Cristo, dizem, a ciência e a história não acham mais
vi primi canonis ex agnosticismo deducti ex eius do que um homem. Portanto, em virtude do primei-
historia quidquid divinum redolet, delendum est. ro cânon deduzido do agnosticismo, da história des-
Porro vi alterius canonis Christi persona historica sa pessoa se deve riscar tudo o que tem sabor de
745
transfigurata est a fide: ergo subducendum ab ea, divino. Ainda mais, por força do segundo cânon, a
quidquid ipsam evehit supra condiciones historicas. pessoa histórica de Jesus Cristo foi transfigurada pela
Demum vi tertii canonis eadem persona Christi a fé; logo, convém despojá-la de tudo o que a eleva
fide defigurata est: ergo removenda sunt ab illa acima das condições históricas. Finalmente, a mes-
sermones, acta, quidquid, uno verbo, ingenio, sta- ma foi desfigurada pela fé, em virtude do terceiro
tui, educationi eius, loco ac tempori, quibus vixit, cânon; logo, se devem remover dela as falas, as ações,
minime respondet. … tudo enfim que não corresponde ao seu caráter, con-
dição, educação, lugar e tempo em que viveu. …
3481 Religiosus igitur sensus, qui per vitalem imma- O sentimento religioso, que por imanência vital
nentiam e latebris subconscientiae erumpit, germen surge dos esconderijos do subconsciente, é pois o
est totius religionis ac ratio pariter omnium, quae gérmen de toda a religião e a razão de tudo o que
in religione quavis fuere aut sunt futura. … tem havido e ainda haverá em qualquer religião. …
[601] In sensu illo, inquiunt, quem saepius nomi- Nesse sentimento, dizem, que tantas vezes já men-
navimus, quoniam sensus est, non cognitio, Deus cionamos, precisamente porque é sentimento e não
quidem se homini sistit; verum confuse adeo ac conhecimento, Deus de fato se apresenta ao homem,
permixte, ut a subiecto credente vix aut minime dis- mas de modo tão confuso que em nada ou mal se
tinguatur. Necesse igitur est aliquo eundem sensum distingue do próprio crente. Faz-se, pois, mister lan-
collustrari lumine, ut Deus inde omnino exiliat ac çar algum raio de luz sobre aquele sentimento, de
secernatur. Id nempe ad intellectum pertinet, cuius maneira que Deus se apresente fora e distinto do cren-
est cogitare et analysim instituere; per quem homo te. Ora, isto é obra da inteligência, à qual somente
vitalia phaenomena in se exsurgentia in species cabe o pensar e o analisar, e por meio da qual o ho-
primum traducit, tum autem verbis significat. Hinc mem a princípio traduz em representações mentais
vulgata modernistarum enuntiatio: debere religiosum os fenômenos de vida que nele aparecem e depois os
hominem fidem suam cogitare. … manifesta com expressões verbais. Segue-se daí esta
amplamente divulgada expressão dos modernistas: o
homem religioso deve pensar à sua fé. …
3482 In eiusmodi autem negotio mens dupliciter ope- Neste empenho, a inteligência procede de dois
ratur; primum, naturali actu et spontaneo, redditque modos: primeiro, por um ato natural e espontâneo,
rem sententia quadam simplici ac vulgari; secundo exprimindo sua noção por uma proposição simples
vero, reflexe ac penitius, vel, ut aiunt, cogitationem e comum; depois, com reflexão e penetração mais
elaborando, eloquiturque cogitata secundariis sen- íntima, ou, como dizem, elaborando o seu pensa-
tentiis, derivatis quidem a prima illa simplici, lima- mento, exprime o que pensou com sentenças secun-
tioribus tamen ac distinctioribus. Quae secundariae dárias, derivadas por certo daquela primeira con-
[602] sententiae, si demum a supremo Ecclesiae cepção simples, porém mais limitadas e distintas.
magisterio sancitae fuerint, constituent dogma. Estas sentenças secundárias se forem finalmente
sancionadas pelo supremo magistério da Igreja,
constituirão o dogma.
3483 Sic igitur in modernistarum doctrina ventum est Deste modo, pois, na doutrina dos modernistas,
ad caput quoddam praecipuum, videlicet ad o r i g i - chegamos a um dos pontos mais importantes, que é
n e m d o g m a t i s atque ad ipsam d o g m a t i s n a - a o r i g e m d o d o g m a e mesmo a n a t u r e z a d o
t u r a m . Originem enim dogmatis ponunt quidem d o g m a . A origem do dogma, eles a põem naquelas
in primigeniis illis formulis simplicibus, quae quo- primitivas fórmulas simples que, sob certo aspecto,
dam sub respectu necessariae sunt fidei; nam reve- devem ser consideradas como necessárias para a fé,
latio, ut reapse sit, manifestam Dei notitiam in cons- pois que a revelação, para ser verdadeiramente tal,
cientia requirit. Ipsum tamen dogma secundariis requer uma manifesta noção de Deus na consciên-
proprie contineri formulis affirmare videntur. … cia. O dogma mesmo, porém, ao que parece, é pro-
priamente constituído pelas fórmulas secundárias. …
Formularum eiusmodi non alium esse finem quam A finalidade de tais formulas não é outra senão
modum suppeditare credenti, quo sibi suae fidei de fornecer ao crente um modo de dar razão de sua fé.
rationem reddat. Quamobrem mediae illae sunt in- São, portanto, intermediárias entre o crente e sua
ter credentem eiusque fidem: ad fidem autem quod fé; mas no que se refere à fé, são notas inadequadas
746
attinet, sunt inadaequatae eius obiecti notae, vulgo a seu objeto, comumente chamadas símbolos; no
symbola vocitant; ad credentem quod spectat, sunt que respeita ao crente, são meros instrumentos.
mera instrumenta.
… Obiectum autem sensus religiosi, utpote quod … Ora, como seu objeto consiste no absoluto,
absoluto continetur, infinitos habet aspectus, quo- este sentimento religioso apresenta infinitos aspec-
rum modo hic, modo alius apparere potest. Simili- tos, dos quais pode aparecer, hoje um, amanhã ou-
ter homo, qui credit, aliis uti potest condicionibus. tro. Da mesma sorte aquele que crê pode passar por
Ergo et formulas, quas dogma appellamus, vicissi- diversas condições. Por isso, também as fórmulas
tudini eidem subesse oportet ac propterea varietati que chamamos dogmas devem estar sujeitas a vi-
esse obnoxias. Ita vero ad intimam evolutionem dog- cissitudes e por isso estão sujeitas a mudança. As-
matis expeditum est iter. sim, pois, temos o caminho aberto à íntima evolu-
ção do dogma.
747
tibus locutus, Christi vitam spectans prout iterum a crentes e considerando a vida de Cristo enquanto
vivitur a fide et in fide. é revivida pela fé e na fé.
3486 Ex his tamen fallitur vehementer, qui reputet posse De muito se enganaria quem, a partir daí, julgas-
opinari, fidem et scientiam alteram sub altera nulla se poder opinar que a ciência e a fé não estão sub-
penitus ratione esse subiectam. Nam de scientia missas uma à outra. Isso se pode dizer com certeza
quidem recte vereque existimabit; secus autem de quanto à ciência, mas quanto à fé deve-se dizer que,
fide, quae non uno tantum, sed triplici ex capite não por um só, mas por três motivos, está sujeita à
scientiae subici dicenda est. ciência.
Primum namque advertere oportet, in facto quo- Efetivamente é de notar, em primeiro lugar, que
vis religioso, detracta divina realitate quamque de em todo fato religioso, tirada a realidade divina e a
illa habet experientiam, qui credit, cetera omnia, experiência que o crente tem da mesma, tudo o mais,
praesertim vero religiosas formulas, phaenomeno- e principalmente as fórmulas religiosas, não sai do
rum ambitum minime transgredi, atque ideo cadere campo dos fenômenos; cai portanto sob o domínio
sub scientiam. … da ciência. …
Praeterea, quamvis dictum est Deum solius fidei Ainda mais, se se diz que Deus é objeto só da fé,
esse obiectum, id de divina quidem realitate conce- isto se deve admitir quanto à realidade divina, não
dendum est, non tamen de idea Dei. Haec quippe porém quanto à idéia de Deus. Esta de fato está
scientiae subest; quae dum in ordine, ut aiunt, logico submetida à ciência, a qual, enquanto filosofando
philosophatur, quidquid etiam absolutum est attin- na ordem que chamam lógica, também alcança o
git atque ideale. Quocirca philosophia seu scientia que houver de absoluto e ideal. É, pois, direito da
cognoscendi de idea Dei ius habet eamque in sui filosofia ou da ciência indagar acerca da idéia de
evolutione moderandi et, si quid extrarium invase- Deus, dirigi-la na sua evolução, corrigi-la quando
rit, corrigendi. Hinc modernistarum effatum: evo- se lhe misturar qualquer elemento estranho. Com
lutionem religiosam cum morali et intellectuali com- base nisto os modernistas sustentam que a evolução
poni debere; videlicet, ut quidam tradit, quem ma- religiosa deve ser coordenada com a evolução mo-
gistrum sequuntur, eisdem subdi. ral e intelectual, ou seja, como ensina um dos seus
mestres, deve ser-lhes subordinada.
Accedit demum, quod homo dualitatem in se ipse Acresce, enfim, que o homem não suporta uma
non patitur: quamobrem credentem quaedam inti- dualidade em si mesmo; por conseguinte, o crente
ma urget necessitas fidem cum scientia sic compo- experimenta uma íntima necessidade de harmoni-
nendi, ut a generali ne discrepet idea, quam scientia zar de tal sorte a fé com a ciência, que ela não se
exhibet de hoc mundo [608] universo. Sic ergo oponha à idéia geral que a ciência forma do univer-
conficitur, scientiam a fide omnino solutam esse, so. Conclui-se, pois, que a ciência é de todo inde-
fidem contra, utut scientiae extranea praedicetur, pendente da fé; esta, ao contrário, embora se decla-
eidem subesse. me que é estranha à ciência, deve-lhe submissão.
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litatis esse symbolicas. Hinc s y m b o l i s m u s realidade divina são simbólicas. Segue-se daqui o
theologicus. … simbolismo teológico. …
[611] Fidei autem cum multa sint germina, prae- Ora, como são muitos os frutos da fé, sendo os 3488
cipua vero Ecclesia, dogma, sacra et religiones, Libri principais a Igreja, o dogma, as coisas sagradas e o
quos sanctos nominamus, de his quoque quid mo- culto, os Livros que chamamos sagrados, também
dernistae doceant, inquirendum. a respeito destes devemos saber o que dizem os
modernistas.
Atque ut d o g m a initium ponamus, huius quae E começando pelo d o g m a , já foi dito qual seja
sit origo et natura iam supra indicatum est [cf. sua origem e natureza [cf. *3482]. Nasce de algum
*3482]. Oritur illud ex impulsione quadam seu ne- impulso ou necessidade que o crente experimenta
cessitate, vi cuius qui credit in suis cogitatis elabo- de elaborar o seu pensamento, a fim de tornar sem-
rat, ut conscientia tam sua quam aliorum illustretur pre mais clara a sua consciência e a de outrem.
magis. Est hic labor in rimando totus expoliendoque Consiste todo esse trabalho em esquadrinhar e polir
primigeniam mentis formulam, non quidem in se a primitiva fórmula da mente, não por certo em si
illam secundum logicam explicationem, sed secun- mesma e segundo seu desdobramento lógico, mas
dum circumstantia, seu, ut minus apte ad intelligen- segundo a circunstância ou, como de modo pouco
dum inquiunt, vitaliter. Inde fit ut, circa illam, s e - inteligível dizem, vitalmente. O resultado disto é que,
c u n d a r i a e quaedam, ut iam innuimus, sensim como já dissemos, ao redor da mesma se vão for-
enascantur f o r m u l a e [cf. *3482s]; quae postea in mando f ó r m u l a s s e c u n d á r i a s [cf. *3482s], que
unum corpus coagmentatae vel in unum doctrinae mais tarde, sintetizadas e reunidas em um único edi-
aedificium, cum a magisterio publico sancitae fue- fício doutrinal, quando ratificadas pelo magistério
rint utpote communi conscientiae respondentes, di- público como correspondentes a consciência comum,
cuntur dogma. Ab hoc secernendae sunt probe theo- são chamados dogmas. Destas devem cuidadosamen-
logorum commentationes. … te distinguir-se as reflexões dos teólogos. …
[612] De c u l t u s a c r o r u m haud foret multis Do c u l t o d i v i n o não haveria muito que dizer, 3489
dicendum, nisi eo quoque nomine s a c r a m e n t a ve- se sob este nome não se apresentassem também os
nirent; de quibus maximi modernistarum errores. s a c r a m e n t o s , a respeito dos quais muito erram
Cultum ex duplici impulsione seu necessitate oriri os modernistas. Pretendem que o culto resulta de
perhibent. … uma dupla necessidade. …
Altera est ad sensibile quiddam religioni tribuen- A primeira é conferir à religião algo sensível, a
dum, altera ad eam proferendam, quod fieri utique outra é proferi-la, coisa esta que não se poderia
nequaquam possit sine forma quadam sensibili et realizar sem alguma forma sensível nem atos con-
consecrantibus actibus, quae sacramenta dicimus. secratórios, que chamamos sacramentos. Para os
Sacramenta autem modernistis nuda sunt symbola modernistas, porém, os sacramentos são meros sím-
seu signa, quamvis non vi carentia. Quam vim ut bolos ou signos, bem que não destituídos de eficá-
indicent, exemplo ipsi utuntur verborum quorundam, cia. E para indicar essa eficácia, servem-lhes de
quae vulgo fortunam dicuntur sortita, eo quod vir- exemplo certas palavras que, como vulgo se diz,
tutem conceperint ad notiones quasdam propagan- vingaram, por terem conseguido a força de divul-
das robustas maximeque percellentes animos. Sicut gar certas idéias de grande eficácia, que muito im-
ea verba ad notiones, sic sacramenta ad sensum pressionam os ânimos. E assim como aquelas pala-
religiosum ordinata sunt: nihil praeterea. Clarius vras são destinadas a despertar as noções, assim
profecto dicerent, si sacramenta unice ad nutriendam também os sacramentos com relação ao sentimento
fidem instituta affirmarent. Hoc tamen tridentina religioso; e nada mais. Certamente falariam mais
Synodus damnavit: “Si quis dixerit, haec sacramenta claro se <logo> afirmassem que os sacramentos
propter solam fidem nutriendam instituta fuisse, foram instituídos tão-somente para nutrirem a fé.
anathema sit” [*1605]. Mas isso foi condenado pelo Concílio de Trento:
“Se alguém disser que esses Sacramentos só foram
instituídos para nutrir a fé, seja anátema” [*1605].
[S a c r o s L i b r o s ] ad modernistarum scita [O s L i v ro s s a g r a d o s ] segundo a mente dos 3490
definire probe quis possit syllogen experientiarum modernistas, bem se poderia defini-los como uma
non cuique passim advenientium, sed extraordina- coleção de experiências, não por certo das que de
749
riarum atque insignium, quae in quapiam religione ordinário ocorrem a qualquer pessoa, mas das ex-
sunt habitae. … traordinárias e das mais elevadas que se têm dado
em alguma religião. …
Quamvis experientia sit praesentis temporis, posse Embora a experiência pertença ao tempo presen-
tamen illam de praeteritis aeque ac de futuris mate- te, pode assim mesmo receber matéria do passado e
riam sumere, prout videlicet [613], qui credit, vel do futuro, enquanto o crente pela lembrança revive
exacta rursus per recordationem in modum praesen- o passado como se fosse o presente, ou já vive do
tium vivit, vel futura per praeoccupationem. Id au- futuro por antecipação. Isso explica como os livros
tem explicat, quomodo historici quoque et apoca- históricos e apocalípticos podem ser computados
lyptici in Libris sacris censeri queant. entre os Livros sagrados.
Sic igitur in hisce Libris Deus quidem loquitur Assim pois, nestes Livros, Deus fala por meio do
per credentem; sed, uti fert theologia modernista- crente; mas, como diz a teologia modernista, só por
rum, per immanentiam solummodo et permanentiam imanência e permanência vital.
vitalem.
3491 Quaeremus, quid tum de i n s p i r a t i o n e ? Haec, Perguntamos, pois, que é feito da i n s p i r a ç ã o ?
respondent, ab impulsione illa, nisi forte vehementia, Respondem eles que esta não se distingue, a não ser
nequaquam secernitur, qua credens ad fidem suam talvez por uma certa veemência, da necessidade que
verbo scriptove aperiendam adigitur. Simile quid o crente experimenta de manifestar oralmente ou por
habemus in poetica inspiratione; quare quidam escrito a própria fé. Nota-se aqui certa semelhança
aiebat: “Est Deus in nobis, agitante calescimus illo”1. com a inspiração poética; e neste sentido alguém
Hoc modo Deus initium dici debet inspirationis disse: “Deus está entre nós, e agitados por ele nós
sacrorum Librorum. nos inflamamos”1. Deste modo é que Deus deve ser
dito a origem da inspiração dos Livros sagrados.
3492 [D e E c c l e s i a imaginantes] ponunt initio eam [Nas suas representações da I g re j a ] afirmam
ex duplici necessitate oriri, una in credente quovis, que ela é fruto de uma dupla necessidade; uma, no
in eo praesertim, qui primigeniam ac singularem crente, principalmente naquele que, tendo tido algu-
aliquam sit nactus experientiam, ut fidem suam cum ma experiência original e singular, precisa comuni-
aliis communicet; altera, postquam fides commu- car a outrem a própria fé; a outra, depois que a fé se
nis inter plures evaserit, in collectivitate ad coales- tornou comum a muitos, na coletividade, para se
cendum in societatem et ad commune bonum tuen- reunir em sociedade e conservar, dilatar e propagar
dum, augendum, propagandum. Quid igitur Eccle- o bem comum. Que é, pois, a Igreja? É um parto da
sia? Partus est conscientiae collectivae seu conso- consciência coletiva, isto é, da coletividade das cons-
ciationis conscientiarum singularium, quae vi per- ciências individuais que, por força da permanência
manentiae vitalis a primo [614] aliquo credente vital, estão todas pendentes de algum primeiro crente,
pendeant, videlicet, pro catholicis a Christo. a saber – para os católicos –, de Cristo.
3493 [617] Principium [explicandi modernistice fidem] [Quanto à explicação modernista da fé] têm eles
hic generale est: in religione, quae vivat, nihil va- por princípio geral que, numa religião viva, nada há
riabile non esse atque idcirco variandum. Hinc gres- que não seja mutável e que não deva mudar-se de
sum faciunt ad illud, quod in eorum doctrinis fere fato. Por aqui abrem caminho para uma das suas
caput est, videlicet ad evolutionem. Dogma igitur, principais doutrinas, que é a evolução. O dogma, a
Ecclesia, sacrorum cultus, libri, quos ut sanctos Igreja, o culto, os livros que veneramos como sagra-
veremur, quin etiam fides ipsa, nisi intermortua haec dos e até mesmo a própria fé, se não as quisermos
ommia velimus, evolutionis teneri legibus debent. coisas mortas, devem sujeitar-se às leis da evolução.
750
opinio, eos praeiudicatis imbui philosophiae opina- bidos de preconceitos filosóficos e para que pare-
tionibus nec esse propterea, ut aiunt omnino obiec- çam, como dizem, completamente objetivos. Em
tivos. Verum tamen est, historiam illorum aut criti- verdade, porém, a sua história ou crítica não fala
cen meram loqui philosophiam; quaeque ab iis in- senão filosofia e as suas deduções procedem por
feruntur, ex philosophicis eorum principiis iusta ra- bom raciocínio dos seus princípios filosóficos. …
tiocinatione concludi. …
Primi t r e s huiusmodi h i s t o r i c o r u m aut c r i - Os t r ê s primeiros c â n o n e s desses tais h i s t o -
t i c o r u m c a n o n e s , ut diximus, eadem illa sunt r i a d o r e s o u c r í t i c o s , como dissemos, são aque-
principia, quae supra ex philosophis attulimus: ni- les mesmos princípios que acima deduzimos dos fi-
mirum a g n o s t i c i s m u s , theorema de t r a n s f i g u - lósofos, isto é, o a g n o s t i c i s m o , o teorema da
r a t i o n e rerum per fidem, itemque aliud, quod de t r a n s f i g u r a ç ã o das coisas pela fé, e igualmente
d e f i g u r a t i o n e [622] dici posse visum est. Iam o outro, que Nos pareceu poder denominar-se o da
consecutiones ex singulis notemus. d e s f i g u r a ç ã o . Examinemos já, em separado, as
conseqüências.
Ex a g n o s t i c i s m o historia non aliter ac scien- Segundo o a g n o s t i c i s m o , a história, bem como 3495
tia unice de phaenomenis est. Ergo tam Deus quam a ciência, só trata de fenômenos. Por conseguinte,
quilibet in humanis divinus interventus ad fidem tanto Deus como qualquer intervenção divina nas
reiciendus est, utpote ad illam pertinens unam. causas humanas deve ser relegado para a fé, como
Quapropter, si quid occurrat duplici constans ele- de competência exclusiva desta. Se, pois, se apre-
mento, divino atque humano, cuiusmodi sunt Chris- senta uma causa em que intervier duplo elemento,
tus, Ecclesia, sacramenta aliaque id genus multa, isto é, o divino e o humano, como Cristo, a Igreja,
sic partiendum erit ac secernendum, ut, quod hu- os sacramentos e coisas semelhantes, devem sepa-
manum fuerit, historiae, quod divinum, tribuatur rar-se e discriminar-se tais elementos, de tal modo
fidei. Ideo vulgata apud modernistas discretio inter que o que é humano passe para a história, o que é
Christum historicum et Christum fidei, Ecclesiam divino para a fé. É este o motivo da distinção que
historiae et Ecclesiam fidei, sacramenta historiae et costumam fazer os modernistas entre um Cristo da
sacramenta fidei, aliaque similia passim. história e um Cristo da fé, entre uma Igreja da his-
tória e uma Igreja da fé, entre sacramentos da histó-
ria e sacramentos da fé, e assim por diante.
Deinde hoc ipsum elementum humanum, quod Em seguida, esse mesmo elemento humano que 3496
sibi historicum sumere videmus, quale illud in vemos o historiador tomar para si, tal qual se mani-
monumentis apparet, a fide per t r a n s f i g u r a t i o - festa nos monumentos, deve ser tido como elevado,
n e m ultra condiciones historicas elatum dicendum pela fé, por t r a n s f i g u r a ç ã o , acima das condi-
est. Adiectiones igitur a fide factas rursus secernere ções históricas. Convém, portanto, separar de novo
oportet, easque ad fidem ipsam amandare atque ad os acréscimos feitos pela fé e restituí-los à mesma fé
historiam fidei: sic, cum de Christo agitur, quidquid e à história da fé: assim se deve proceder, tratando-
conditionem hominis superat sive naturalem, prout se de Cristo, em tudo o que excede a condição do
a psychologia exhibetur, sive ex loco atque aetate, homem, quer a natural apresentada pela psicologia,
quibus ille vixit, conflatam. seja a que resulta do lugar e tempo em que viveu.
Praeterea ex tertio philosophiae principio res Além disso, em virtude do terceiro princípio filo- 3497
etiam, quae historiae ambitum non excedunt, cribro sófico, também as coisas que não saem fora das
veluti cernunt, eliminantque omnia ac pariter ad condições da história, eles as passam como que pelo
fidem amandant, quae ipsorum iudicio in factorum crivo e eliminam, relegando-o à fé, tudo o que a seu
logica, ut inquiunt, non sunt vel personis apta non juízo não entra na lógica dos fatos nem é conforme
fuerint. Sic volunt Christum ea non dixisse, quae à índole das pessoas. Assim, querem que Cristo não
audientis vulgi captum excedere videntur. … tenha dito aquelas coisas que parecem não estar ao
alcance da multidão dos ouvintes. …
[623] Ut autem historia ab philosophia, sic criti- Ora, assim como a história recebe da filosofia as 3498
ce ab historia suas accipit conclusiones. C r i t i c u s suas conclusões, assim também a crítica as recebe
namque … monumenta partitur bifariam. Quidquid da história. O c r í t i c o … divide todos os docu-
post dictam triplicem obtruncationem superat, reali mentos em duas partes: tudo o que sobrar depois da
751
historiae assignat; cetera ad fidei historiam seu in- tríplice desconstrução acima referida, ele o atribui
ternam ablegat. Has enim binas historias accurate à a história real; a outra parte, ele entrega à história
distinguunt; et historiam fidei, quod bene notatum da fé, ou seja, à história interna. Eles põem grande
volumus, historiae reali, ut realis est, opponunt. empenho em distinguir estas duas histórias; e, note-
Hinc, ut iam diximus, geminus Christus: realis al- se bem, contrapõem a história da fé à história real,
ter, alter, qui numquam reapse fuit, sed ad fidem enquanto real. Daí resulta, como já vimos, um du-
pertinet. … plo Cristo; um real, e outro que, na realidade, nun-
ca existiu, mas pertence à fé. …
Monumentis, ut diximus, bifariam distributis, Feita, como dissemos, a divisão dos documentos
adest iterum philosophus cum suo dogmate vitalis em duas partes, apresenta-se de novo o filósofo com
immanentiae; atque omnia edicit, quae sunt in Ec- o seu princípio de imanência vital, e prescreve que
clesiae historia, per vitalem emanationem esse tudo o que se acha na história da Igreja deve ser
explicanda. explicado por emanação vital.
752
vitam fecunditatemque Ecclesiae id genus fuisse guições, os embates, bem como a vida e fecundi-
monstratum fuerit, ut, quamvis evolutionis leges in dade da Igreja, foram tais que – embora na história
eiusdem Ecclesiae historia incolumes appareant, non da Igreja apareçam sem restrição as leis da evolu-
tamen eidem historiae plene explicandae sint pares; ção – não bastam para uma explicação cabal desta
incognitum coram stabit, suaque sponte se offeret. história, o incógnito estará à frente e se apresenta-
rá por si mesmo.
Sic illi. In qua tota ratiocinatione unum tamen Assim dizem eles. Contudo, em todo esse racio-
non advertunt, determinationem illam germinis pri- cinar há uma coisa que não percebem: que aquela
migenii deberi unice apriorismo philosophi agnos- determinação do germe primitivo é fruto exclusi-
tici et evolutionistae, et germen ipsum sic gratis ab vo do apriorismo do filósofo agnóstico e evolu-
eis definiri, ut eorum causae congruat. cionista, e que o próprio germe é por ele definida
tão gratuitamente que <de fato> está de acordo com
sua causa.
753
dam sagacitate et naturalis ingenii acumine, coni- conjeturando-o a partir do que já acontecera ante-
ciendo praenuntiasse? riormente, graças a certa feliz perspicácia e à agu-
deza da inteligência natural?
Resp.: Negative. Resp.: Não.
3506 Qu. 2: Utrum sententia, quae tenet, Isaiam cete- Pergunta 2: A sentença que afirma que Isaías e
rosque prophetas vaticinia non edidisse nisi de his, os demais profetas pronunciaram predições apenas
quae in continenti vel post non grande temporis do que havia de acontecer imediatamente ou depois
spatium eventura erant, conciliari possit cum vati- de não muito tempo, pode reconciliar-se com as
ciniis, imprimis messianicis et eschatologicis, ab predições, sobretudo messiânicas e escatológicas,
eisdem prophetis de longinquo certo editis, necnon certamente pronunciadas a grande distância pelos
cum communi sanctorum Patrum sententia concor- mesmos profetas, bem como com a sentença dos
diter asserentium, prophetas ea quoque praedixisse, Santos Padres que concordemente afirmam que os
quae post multa saecula essent implenda? profetas predisseram coisas que se cumpririam de-
pois de muitos séculos?
Resp.: Negative. Resp.: Não.
3507 Qu. 3: Utrum admitti possit, prophetas non modo Pgt. 3: Pode-se admitir que os profetas, não só
tamquam correctores pravitatis humanae divinique como corretores da maldade humana e pregoeiros
verbi in profectum audientium praecones, verum da palavra divina para proveito dos ouvintes, mas
etiam tamquam praenuntios eventuum futurorum, também como anunciadores de coisas que aconte-
constanter alloqui debuisse auditores non quidem ceriam no futuro, constantemente se dirigiam não a
futuros, sed praesentes et sibi aequales, ita ut ab ouvintes futuros, mas a presentes e contemporâneos,
ipsis plane intelligi potuerint; proindeque secundam de modo que podiam ser entendidos plenamente por
partem libri Isaiae (cap. XL-LXVI), in qua vates estes; e portanto, que a segunda parte do Livro de
non Iudaeos Isaiae aequales, at Iudaeos in exilio Isaías (caps. 40–46), na qual o profeta não dirige
Babylonico lugentes veluti inter ipsos vivens allo- sua consolação aos judeus contemporâneos de Isaías,
quitur et solatur, non posse ipsum Isaiam iamdiu mas aos judeus entristecidos no exílio babilônico,
emortuum auctorem habere, sed oportere eam ig- como se vivesse entre eles, não pode ter como au-
noto cuidam vati inter exsules viventi assignare? tor o próprio Isaías, morto muito tempo antes, mas
que se deve atribuí-la a algum profeta desconheci-
do que vivia no meio dos exilados?
Resp.: Negative. Resp.: Não.
3508 Qu. 4: Utrum, ad impugnandam identitatem Pergunta 4: Pode-se, para impugnar a identidade
auctoris libri Isaiae, argumentum philologicum, ex do autor do Livro de Isaías, atribuir tanta força ao
lingua stiloque desumptum, tale sit censendum, ut argumento filológico tirado da linguagem e do es-
virum gravem, criticae artis et hebraicae linguae tilo, que obrigue um homem sério e instruído na
peritum, cogat in eodem libro pluralitatem aucto- crítica e na língua hebraica a reconhecer no dito
rum agnoscere? livro a pluralidade de autores?
Resp.: Negative. Resp.: Não.
3509 Qu. 5: Utrum solida prostent argumenta, etiam Pergunta 5: Existem argumentos sólidos, mesmo
cumulative sumpta, ad evincendum Isaiae librum considerados cumulativamente, para demonstrar vi-
non ipsi soli Isaiae, sed duobus, imo pluribus auc- toriosamente que o Livro de Isaías não deve ser atri-
toribus esse tribuendum? buído a um só autor, mas a dois ou até mais autores?
Resp.: Negative. Resp.: Não.
754
trium priorum capitum libri Geneseos excogitata et dos com aparência científica para excluir o s e n t i -
scientiae fuco propugnata sunt, solido fundamento d o h i s t ó r i c o l i t e r a l dos três primeiros capítu-
fulciantur? los do livro do Gênesis?
Resp.: Negative. Resp.: Não.
Qu. 2: Utrum, Pergunta 2: Será que, 3513
non obstantibus indole et forma historica libri Ge- não obstante o caráter e forma histórica do Livro
neseos, peculiari trium priorum capitum inter se et do Gênesis, o peculiar nexo dos três primeiros ca-
cum sequentibus capitibus nexu, multiplici testimo- pítulos entre si e com os capítulos seguintes, o tes-
nio Scripturarum tum Veteris tum Novi Testamenti, temunho múltiplo das Escrituras tanto do Antigo
unanimi fere sanctorum Patrum sententia ac tradi- como do Novo Testamento, a opinião quase unâni-
tionali sensu, quem, ab Israëlitico etiam populo me dos Santos Padres e o sentido tradicional, o qual,
transmissum, semper tenuit Ecclesia, transmitido já pelo povo de Israel, foi sempre man-
tido pela Igreja,
doceri possit: praedicta tria capita Geneseos conti- se pode ensinar que: os três supraditos capítulos do
nere non r e r u m v e r e g e s t a r u m n a r r a t i o n e s , Gênesis contêm, não r e l a t o s d e c o i s a s r e a l -
quae scilicet obiectivae realitati et historicae verita- m e n t e a c o n t e c i d a s , ou seja, correspondentes à
ti respondeant; sed vel fabulosa ex veterum populo- realidade objetiva e à verdade histórica, mas fábu-
rum mythologiis et cosmogoniis deprompta et ab las tiradas das mitologias e cosmogonias dos povos
auctore sacro, expurgato quovis polytheismi errore, antigos, acomodadas pelo autor sagrado à doutrina
doctrinae monotheisticae accomodata; vel allegorias monoteísta, depois de expurgadas de todo erro de
et symbola, fundamento obiectivae realitatis desti- politeísmo; ou também alegorias e símbolos desti-
tuta, sub historiae specie ad religiosas et philoso- tuídos de fundamento na realidade objetiva, propos-
phicas veritates inculcandas proposita; vel tandem tas, sob a aparência de história, para inculcar as
legendas ex parte historicas [568] et ex parte ficti- verdades religiosas e filosóficas; ou enfim lendas,
tias ad animorum instructionem et aedificationem em parte históricas e em parte fictícias, livremente
libere compositas? compostas para instrução ou edificação das almas?
Resp.: Negative ad utramque partem. Resp.: Não para ambas as partes.
Qu. 3: Utrum speciatim sensus litteralis historicus Pergunta 3: De modo especial, pode-se pôr em 3514
vocari in dubium possit, ubi agitur de factis in eis- dúvida o sentido literal histórico quando, nos men-
dem capitibus enarratis, q u a e c h r i s t i a n a e r e - cionados capítulos, se trata de fatos narrados que
l i g i o n i s f u n d a m e n t a a t t i n g u n t : uti sunt, in- atingem os fundamentos da religião cris-
ter cetera, rerum universarum creatio a Deo facta in t ã , como são, entre outros, a criação de todas as
initio temporis; peculiaris creatio hominis; formatio coisas feitas por Deus no princípio do tempo; a
primae mulieris ex primo homine; generis humani peculiar criação do ser humano; a formação da pri-
unitas; originalis protoparentum felicitas in statu meira mulher a partir do primeiro homem; a unici-
iustitiae, integritatis et immortalitatis; praeceptum dade da linhagem humana; a felicidade original dos
a Deo homini datum ad eius obedientiam proban- primeiros pais no estado de justiça, integridade e
dam; divini praecepti, diabolo sub serpentis specie imortalidade; o mandamento imposto por Deus ao
suasore, transgressio; protoparentum deiectio ab illo ser humano para testar sua obediência; a transgres-
primaevo innocentiae statu; nec non Reparatoris são, por persuasão do diabo sob aparência de ser-
futuri promissio? pente, do mandamento divino; a perda, por nossos
primeiros pais, do primitivo estado de inocência,
bem como a promessa do Reparador futuro?
Resp.: Negative. Resp.: Não.
Qu. 4: Utrum in i n t e r p r e t a n d i s illis horum Pergunta 4: Na i n t e r p r e t a ç ã o daquelas pas- 3515
capitum l o c i s , q u o s P a t r e s et D o c t o r e s d i - sagens, desses capítulos, que o s S a n t o s P a d r e s
v e r s o m o d o i n t e l l e x e r u n t , quin certi quip- e n t e n d e r a m d e m o d o s d i v e r s o s , sem ensi-
piam definitique tradiderint, liceat, salvo Ecclesiae nar nada de modo certo ou definido, é lícito a cada
iudicio servataque fidei analogia, eam, quam quis- um seguir ou defender a sentença que prudentemente
que prudenter probaverit, sequi tuerique sententiam? aprovar, resguardado o juízo da Igreja e observada
a analogia da fé?
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tantam vim habeant, ut P s a l t e r i i t o t i u s u n i c u s Davi, têm tanto peso que D av i deve ser tido por
a u c t o r D a v i d haberi debeat? único autor de todo o saltério?
Resp.: Negative. Resp.: Não.
Qu. 2: Utrum ex concordantia textus hebraici cum Pergunta 2: Pode-se argüir, com razão, da con- 3522
graeco textu Alexandrino aliisque vetustis versioni- cordância do texto hebraico com o texto grego ale-
bus argui iure possit, t i t u l o s p s a l m o r u m hebrai- xandrino e com outras versões antigas que os t í t u -
co textui praefixos antiquiores esse versione sic dicta l o s d o s s a l m o s postos à frente do texto hebreu
LXX virorum; ac proinde si non directe ab auctori- são mais antigos que a chamada versão dos Seten-
bus ipsis psalmorum, a vetusta saltem iudaica tradi- ta; e que, portanto, derivam, se não diretamente dos
tione derivasse? próprios autores dos salmos, pelo menos da antiga
tradição judaica?
Resp.: Affirmative. Resp.: Sim.
Qu. 3: Utrum praedicti p s a l m o r u m t i t u l i , Pergunta 3: Os supraditos t í t u l o s d o s s a l m o s , 3523
iudaicae traditionis testes, quando nulla ratio gravis testemunhas da tradição judaica, podem com pru-
est contra eorum genuinitatem, prudenter possint in dência ser postos em dúvida, quando não há nenhu-
dubium revocari? ma razão grave contra sua autenticidade?
Resp.: Negative. Resp.: Não.
Qu. 4: Utrum, Pergunta 4: Será que, 3524
si considerentur sacrae Scripturae haud infrequen- levando em conta os freqüentes testemunhos da
tia testimonia circa naturalem Davidis peritiam, Sagrada Escritura sobre o talento de Davi, ilustrado
Spiritus Sancti charismate illustratam, in componen- pelo carisma do Espírito Santo, para compor cantos
dis carminibus religiosis, institutiones ab ipso con- religiosos, as instituições por ele fundadas para o
ditae de cantu psalmorum liturgico, attributiones canto litúrgico dos salmos, as atribuições de salmos
psalmorum ipsi factae tum in Veteri Testamento, tum a ele, feitas no Antigo e no Novo Testamento, ou
in Novo, tum in ipsis inscriptionibus, quae psalmis também nos títulos que de antigamente foram ante-
ab antiquo praefixae sunt; insuper consensus Iudaeo- postos aos salmos, além da convicção dos judeus,
rum, Patrum et Doctorum Ecclesiae, dos Padres e dos Doutores da Igreja,
prudenter denegari possit, p r a e c i p u u m Psalterii se pode negar com prudência que D av i é o a u t o r
carminum D av i d e m e s s e a u c t o r e m , vel con- p r i n c i p a l dos cânticos do Saltério; ou, ao contrá-
tra affirmari pauca dumtaxat eidem regio Psalti rio, afirmar que só uns poucos salmos devem ser
carmina esse tribuenda? atribuídos ao cantor régio?
Resp.: Negative ad utramque partem. [355] Resp.: Não, para ambas as partes.
Qu. 5: Utrum in specie denegari possit Davidica Pergunta 5: Pode-se negar, especificamente, a
origo eorum psalmorum, qui in Veteri vel Novo Tes- origem davídica daqueles salmos que no Antigo e
tamento d i s e r t e s u b D av i d i s n o m i n e citantur, no Novo Testamento são citados e x p r e s s a m e n t e
inter quos prae ceteris recensendi veniunt psalmus c o m o n o m e d e D a v i , entre os quais devem
2 “Quare fremuerunt gentes”; psalmus 15 “Conser- ser mencionados sobretudo o salmo 2 “Quare fre-
va me, Domine”; psalmus 17 “Diligam te, Domine, muerunt gentes”, o salmo 15 “Conserva-me, Domi-
fortitudo mea”; psalmus 31 “Beati, quorum remissae ne”, o salmo 17 “Diligam-te, Domine, fortitudo
sunt iniquitates”; psalmus 68 “Salvum me fac, mea”, o salmo 31 “Beati quorum remissae sunt
Deus”; psalmus 109 “Dixit Dominus Domino meo”? iniquitates”, o salmo 68 “Salvum me fac Deus”, o
salmo 109 “Dixit Dominus Domino meo”?
Resp.: Negative. Resp.: Não.
Qu. 6: Utrum sententia eorum admitti possit, qui Pergunta 6: Pode-se admitir a opinião dos que 3526
tenent, inter psalterii psalmos nonnullos esse sive sustentam que entre os salmos do saltério há alguns,
Davidis sive aliorum auctorum, qui propter rationes de Davi ou de outros autores, que, por razões litúr-
liturgicas et musicales, oscitantiam amanuensium gicas ou musicais, por distração dos amanuenses
aliasve incompertas causas in plures fuerint d iv i s i ou por outras causas desconhecidas foram d iv i d i -
vel in unum c o n i u n c t i ; itemque alios esse psal- d o s em diversos <salmos> ou j u n t a d o s em um
mos, uti “Miserere mei, Deus”, qui ut melius apta- só; igualmente, que há outros salmos, como o
rentur circumstantiis historicis vel solemnitatibus po- “Miserere mei, Deus”, que, para adaptá-los melhor
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IV. Obligatio praecepti confessionis et communio- IV. A obrigação do preceito da confissão e comu- 3533
nis, quae puerum gravat, in eos praecipue recidit, qui nhão que incumbe à criança recai principalmente
ipsius curam habere debent, hoc est in parentes, in sobre aqueles que devem cuidar dela, isto é, seus
confessarium, in institutores et in parochum. Ad pa- pais, confessor, educadores e pároco. Todavia, ao
trem vero, aut ad illos, qui vices eius gerunt, et ad pai, ou a quem o substitui, e ao confessor cabe,
confessarium, secundum Catechismum Romanum, segundo o Catecismo Romano, admitir a criança à
pertinet admittere puerum ad primam communionem. primeira comunhão.
VI. Puerorum curam habentibus omni studio VI. Os que tomam conta das crianças devem pro- 3534
curandum est, ut post primam communionem iidem curar com todo o empenho que depois da primeira
pueri ad sacram mensam saepius accedant, et, si fieri comunhão elas se aproximem da sagrada mesa com
possit, etiam quotidie, prout Christus Iesus et mater freqüência e até diariamente, se possível, como o
Ecclesia desiderant [cf. *3375-3383], utque id agant desejam Jesus Cristo e a Mãe Igreja [cf. *3375-
ea animi devotione, quam talis fert aetas. … [583] 3383], e que o façam com aquela devoção da alma
que sua idade permitir. …
VII. Consuetudo non admittendi ad confessionem VII. O costume de não admitir as crianças à con- 3535
pueros, aut numquam eos absolvendi, cum ad usum fissão ou de nunca absolvê-las, uma vez que chega-
rationis pervenerint, est omnino improbanda. ram ao uso da razão, é totalmente reprovável.
VIII. Detestabilis omnino est abusus non minis- VIII. Totalmente detestável é o abuso de não 3536
trandi Viaticum et extremam unctionem pueris post administrar o viático e a extrema-unção às crian-
usum rationis eosque sepeliendi ritu parvulorum. ças, depois do uso da razão, e de enterrá-las segun-
do o rito dos párvulos.
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aut iis de rebus scribenti seponendam prius esse creve sobre esta matéria deve inicialmente prescin-
opinionem ante conceptam sive de supernaturali dir de toda idéia preconcebida seja da origem so-
origine catholicae traditionis, sive de promissa di- brenatural da tradição católica, seja da promessa
vinitus ope ad perennem conservationem uniuscuius- divina de ajuda para a conservação perene de cada
que revelati veri; deinde scripta Patrum singulorum uma das verdades reveladas; e que, além disso, os
interpretanda solis scientiae principiis, sacra qualibet textos de cada um dos Padres só devem ser inter-
auctoritate seclusa, eaque iudicii libertate, qua pro- pretados à luz dos princípios científicos, excluída
fana quaevis monumenta solent investigari. qualquer autoridade sagrada, e isso, com a mesma
autonomia crítica com que se costumam examinar
quaisquer documentos profanos.
In universum denique me alienissimum ab errore De maneira geral, enfim, declaro-me totalmente 3548
profiteor, quo modernistae tenent in s a c r a t r a d i - contrário ao erro pelo qual os modernistas afirmam
t i o n e nihil inesse divini, aut, quod longe deterius, que na s a g r a d a t r a d i ç ã o nada há de divino ou,
pantheistico sensu illud admittunt, ita ut nihil iam muito pior, só o admitem em sentido panteísta, de
restet nisi nudum factum et simplex, communibus sorte que apenas subsistiria o fato puro e simples,
historiae factis aequandum: hominum nempe sua in- análogo aos fatos comuns da história, de alguns ho-
dustria, solertia, ingenio scholam a Christo eiusque mens com seu esforço, inteligência e engenho con-
Apostolis inchoatam per subsequentes aetates tinuarem nas épocas posteriores a escola iniciada
continuantium. por Cristo e seus Apóstolos.
Proinde fidem Patrum firmissime retineo et ad Mantenho portanto firmissamente e manterei até 3549
extremum vitae spiritum retinebo, de charismate o último alento de minha vida a fé dos Padres no
veritatis certo, quod est, fuit eritque semper in “epis- carisma certo da verdade, que está, esteve e sempre
copatus ab Apostolis successione”1; non ut id te- estará na “sucessão do episcopado, desde os Após-
neatur, quod melius et aptius videri possit secun- tolos”1; não para que se mantenha o que possa pa-
dum suam cuiusque aetatis culturam, sed ut “num- recer melhor e mais acomodado à cultura de cada
quam aliter credatur, numquam aliter” intelligatur época, mas para que “nunca se creia de outro modo,
absoluta et immutabilis veritas ab initio per Apos- nunca de outro modo” se entenda a verdade abso-
tolos praedicata2. luta e imutável pregada desde o princípio pelos
Apóstolos2.
Haec omnia spondeo me fideliter, integre since- Tudo isto prometo observar fiel, integra e since- 3550
reque ser[672] vaturum et inviolabiliter custoditu- ramente e guardar inviolavelmente sem de nada
rum, nusquam ab iis sive in docendo sive quomo- jamais me afastar, quer no ensino, quer de outro
dolibet verbis scriptisque deflectendo. Sic spondeo, modo, por palavras ou escritos. Assim prometo,
sic iuro, sic me Deus adiuvet et haec sancta Dei assim juro, assim me ajudem Deus e estes santos
Evangelia. Evangelhos de Deus.
3553-3556: Carta “Ex quo, nono” aos delegados apostólicos em Bizâncio, na Grécia,
no Egito, na Mesopotâmia etc., 26 dez. 1910
Ed.: AAS 3 (1911) 118s.
Non minus temere quam falso huic opinioni fit Não menos temerária que falsamente se dá entra- 3553
aditus, dogma de processione Spiritus Sancti a Fi- da a esta opinião: que o dogma da processão do
lio haudquaquam ex ipsis Evangelii verbis proflue- Espírito Santo da parte do Filho não deriva de modo
re, aut antiquorum Patrum fide comprobari; algum das próprias palavras do Evangelho, nem se
prova pela fé dos antigos Padres;
pariter imprudentissime in dubium [119] revoca- do mesmo modo, com a maior imprudência, põe- 3554
tur, utrum sacra de Purgatorio ac de Immaculata se em dúvida que os sagrados dogmas do purgató-
*3549 1 Cf. Ireneu de Lião, Adversus haereses IV 40, n. 2 (ed. W.W. Harvey [Cambridge 1857] 2, 236 / = IV 26, n. 2: SouChr
100/II, 718 / PG 7, 1053C).
2 Cf. Tertuliano, De praescriptione haereticorum 28 (R.F. Refoulé: CpChL 1 [1954] 209 / CSEL 70, 34 / PL 2, 47).
761
*3556 1 Contra esta concepção já Bento XII (*1017) e Pio VII (*2718); além disso, Clemente VI, Carta “Super quibusdam”
a Consolator, katholikos dos Armênios, 29 set. 1351 (BarAE ao ano 1351, n. 11), Bento XIII, instrução ao Patriarca
dos melquitas e Antioquia, 31 mai. 1729 (CollLac 2, 439-441), e Bento XIV, Breve “Singularis Romanorum”, 1 set.
1741 (CollLac 2, 488d-492b).
762
Qu. 2: Utrum traditionis suffragio satis fulciri Pergunta 2: Deve-se considerar suficientemente 3562
censenda sit sententia, quae tenet, Matthaeum et apoiada na tradição a sentença que sustenta que
ceteros Evangelistas in scribendo p r a e c e s s i s s e Mateus p r e c e d e u os demais evangelistas no es-
et primum Evangelium p a t r i o s e r m o n e a Iudaeis crever, e que escreveu o primeiro evangelho na l í n -
palaestinensibus tunc usitato, quibus opus illud erat g u a p á t r i a então usada pelos judeus da Palesti-
directum, conscripsisse? na, aos quais foi dirigida a obra?
Resp.: Affirmative ad utramque partem. [295] Resp.: Sim, para ambas as partes.
Qu. 3: Utrum redactio huius originalis textus Pergunta 3: A redação desse texto original pode 3563
differri possit ultra t e m p u s eversionis Ierusalem, ser situada no t e m p o depois da queda de Jerusa-
ita ut vaticinia, quae de eadem eversione ibi legun- lém, de modo que as predições que nele se lêem
tur, scripta fuerint post eventum; aut, quod allegari sobre essa queda tenham sido escritos posteriormen-
solet Irenaei testimonium1, incertae et controversae te; ou o testemunho que se costuma alegar de Ire-
interpretationis, tanti ponderis sit existimandum, ut neu1, de interpretação incerta e controversa, deve
cogat reicere eorum sententiam, qui congruentius ser considerado de tanto peso que obrigue a recha-
traditioni censent, eamdem redactionem etiam ante çar a opinião daqueles que, mais de acordo com a
Pauli in Urbem adventum fuisse confectam? tradição, crêem que a dita redação estava terminada
já antes da chegada de Paulo a Roma?
Resp.: Negative ad utramque partem. Resp.: Não, para ambas as partes.
Qu. 4: Utrum sustineri vel probabiliter possit illa Pergunta 4: Pode-se sustentar, ao menos como 3564
modernorum quorumdam opinio, iuxta quam provável, a opinião de alguns modernos segundo a
Matthaeus non proprie et stricte Evangelium com- qual Mateus não teria composto própria e estrita-
posuisset, quale nobis est traditum, sed tantummo- mente o Evangelho que nos foi transmitido, mas
do c o l l e c t i o n e m aliquam d i c t o r u m seu ser- somente certa c o l e ç ã o d e d i t o s ou discursos
monum Christi, quibus tamquam fontibus usus es- de Cristo, da qual se haveria servido como fonte
set alius auctor anonymus, quem Evangelii ipsius outro autor, anônimo este, ao qual consideram re-
redactorem faciunt? dator do Evangelho mesmo.
Resp.: Negative. Resp.: Não.
Qu. 5: Utrum ex eo, quod Patres et ecclesiastici Pergunta 5: Pelo fato de os Padres e autores ecle- 3565
scriptores omnes, immo Ecclesia ipsa iam a suis siásticos todos, e mais, a própria Igreja desde seu
incunabulis unice usi sunt, tamquam canonico, berço, usarem unicamente como canônico o texto
graeco textu Evangelii sub Matthaei nomine cogniti, grego do Evangelho conhecido sob o nome de
ne iis quidem exceptis, qui Matthaeum Apostolum Mateus, sem exceção daqueles que expressamente
patrio scripsisse sermone expresse tradiderunt, cer- ensinaram que o Apóstolo Mateus havia escrito em
to probari possit, ipsum E v a n g e l i u m g r a e c u m língua pátria, pode provar-se com certeza que o
identicum esse quoad substantiam cum Evangelio próprio E v a n g e l h o g r e g o é idêntico, quanto à
illo, patrio sermone ab eodem Apostolo exarato? substância, com o Evangelho que o Apóstolo Ma-
teus compôs em sua língua pátria?
Resp.: Affirmative. Resp.: Sim.
Qu. 6: Utrum ex eo, quod auctor primi Evangelii Pergunta 6: Do fato de que o autor do primeiro 3566
scopum prosequitur praecipue dogmaticum et apo- evangelho persegue principalmente um fim apolo-
logeticum, demonstrandi nempe Iudaeis Iesum esse gético e dogmático, a saber, demonstrar aos judeus
Messiam a prophetis praenuntiatum et a Davidica que Jesus é o Messias anunciado de antemão pelos
stirpe progenitum, et quod insuper in disponendis profetas e nascido da estirpe de Davi; e que, além
factis et dictis, quae enarrat et refert, non semper disso, nem sempre conserva a ordem cronológica
ordinem chronologicum tenet, deduci inde liceat, na disposição dos fatos e ditos que narra e relata,
ea non esse ut v e r a r e c i p i e n d a ; aut etiam affir- pode deduzir-se que tais ditos e fatos não precisam
mari possit, narrationes gestorum et sermonum ser c o n s i d e r a d o s v e r d a d e i r o s ; ou pode-se
Christi, quae in ipso Evangelio leguntur, alteratio- também afirmar que os relatos dos ditos e discursos
*3563 1 Ireneu de Lião, Adversus haereses III 1, n. 2 (ed. W.W. Harvey [Cambridge 1857] 2, 3-6 / SouChr 211 [1974] 22-24 /
PG 7, 844s).
763
nem quamdam et adaptationem sub influxu prophe- de Cristo que se lêem nesse mesmo Evangelho so-
tiarum Veteris Testamenti et adultioris Ecclesiae freram alteração e adaptação sob a influência das
status subiisse, ac proinde historicae veritati haud profecias do Antigo Testamento e do estado mais
esse conformes? avançado da Igreja; e que, por conseguinte, não está
de acordo com a verdade histórica?
Resp.: Negative ad utramque partem. Resp.: Não, para ambas as partes.
3567 Qu. 7: Utrum speciatim solido fundamento des- Pergunta 7: Devem, com razão, considerar-se
titutae censeri iure debeant opiniones eorum, qui in especialmente destituídas de sólido fundamento as
dubium revocant authenticitatem historicam duorum opiniões daqueles que põem em dúvida a autentici-
priorum capitum, in quibus g e n e a l o g i a et i n f a n - dade histórica dos primeiros capítulos, nos quais se
t i a C h r i s t i [296] narrantur, sicut et quarumdam narra a g e n e a l o g i a e i n f â n c i a d e C r i s t o ,
in re dogmatica magni momenti sententiarum, uti bem como a de algumas sentenças de grande im-
sunt illae, quae respiciunt primatum Petri [Mt 16,17- portância em matéria dogmática, como são as refe-
19], formam baptizandi cum universali missione rentes ao primado de Pedro [Mt 16,17-19], à fór-
praedicandi Apostolis traditam [Mt 28,19s], profes- mula do batismo com a missão dos Apóstolos ao
sionem fidei Apostolorum in divinitatem Christi [Mt anúncio universal [Mt 28,19-20], à profissão de fé
14,33], et alia huiusmodi, quae apud Matthaeum dos Apóstolos na divindade de Jesus Cristo [Mt
peculiari modo enuntiata occurrunt? 14,33] e a outros coisas semelhantes, que em Ma-
teus ocorrem expressas num estilo particular?
Resp.: Affirmative. Resp.: Sim.
I. Autor, data de composição e verdade histórica dos Evangelhos segundo Marcos e Lucas
3568 Qu. 1: Utrum luculentum traditionis suffragium, Pergunta 1: A voz claríssima da tradição, mara-
inde ab Ecclesiae primordiis mire consentiens ac vilhosamente unânime desde os inícios da Igreja e
multiplici argumento firmatum, confirmada por múltiplos argumentos,
nimirum disertis sanctorum Patrum et scriptorum a saber, pelos testemunhos expressos dos Santos
ecclesiasticorum testimoniis, citationibus et allusio- Padres e dos autores eclesiásticos, pelas citações e
nibus in eorumdem scriptis occurrentibus, veterum alusões presentes nos escritos dos mesmos, pelo uso
haereticorum usu, versionibus Librorum Novi Tes- dos antigos hereges, pelas versões dos livros do
tamenti, codicibus manuscriptis antiquissimis et Novo Testamento, por quase todos os códices ma-
pene universis, atque etiam internis rationibus ex nuscritos mais antigos e também por razões inter-
ipso sacrorum Librorum textu desumptis, nas tiradas do próprio texto dos Livros Sagrados,
certo affirmare cogat, M a r c u m , Petri discipulum obriga a afirmar com certeza que M a r c o s , discí-
et interpretem, L u c a m vero medicum, Pauli adiu- pulo e intérprete de Pedro, e L u c a s , médico, auxi-
torem et comitem, revera Evangeliorum, quae ipsis liar e companheiro de Paulo, são realmente os a u -
respective attribuuntur, esse a u c t o r e s ? t o r e s dos Evangelhos que respetivamente lhes são
atribuídos?
Resp.: Affirmative. Resp.: Sim.
3569 Qu. 2: Utrum rationes, quibus nonnulli critici Pergunta 2: As razões que alguns críticos alegam
demonstrare nituntur, postremos duodecim v e r s u s para demonstrar que os doze últimos v e r s í c u l o s
E va n g e l i i M a r c i [Mc 16,9-20] non esse ab ipso d o E va n g e l h o d e M a r c o s [Mc 16,9-20] não
Marco conscriptos, sed ab aliena manu appositos, foram escritos pelo próprio Marcos, mas acrescen-
tales sint, quae ius tribuant affirmandi, eos non esse tados por mão alheia, são tais que dão direito a
ut inspiratos et canonicos recipiendos; vel saltem afirmar que não devem ser aceitos como canônicos
demonstrent, versuum eorumdem Marcum non esse e inspirados; ou pelo menos demonstram que Mar-
auctorem? cos não é o autor destes versículos?
Resp.: Negative ad utramque partem. Resp.: Não, para ambas as partes.
764
Qu. 3: Utrum pariter dubitare liceat de inspira- Pergunta 3: De modo análogo pode-se duvidar 3570
tione et canonicitate narrationum Lucae de i n f a n - da inspiração e canonicidade das narrativas de Lu-
t i a C h r i s t i [Lc 1-2]; aut de a p p a r i t i o n e A n - cas sobre a i n f â n c i a d e C r i s t o [Lc 1–2] ou da
geli Iesum confortantis et de sudore san- a p a r i ç ã o d o a n j o q u e c o n f o r t a J e s u s que
g u i n e o [Lc 22,43s]; vel solidis saltem rationibus t r a n s p i r a s a n g u e [Lc 22,43s], ou pode-se ao
ostendi possit – quod placuit antiquis haereticis et menos demonstrar razões sólidas – tese grata aos
quibusdam etiam recentioribus criticis arridet – antigos hereges e também do gosto de alguns críti-
easdem narrationes ad genuinum Lucae Evangelium cos recentes – que essas narrativas não pertencem
non pertinere? ao autêntico Evangelho de Lucas?
Resp.: Negative ad utramque partem. Resp.: Não, para ambas as partes.
Qu. 4: Utrum rarissima illa et prorsus singularia Pergunta 4: Os documentos, raríssimos e total- 3571
documenta, in quibus Canticum “M a g n i fi c a t ” [Lc mente singulares, nos quais o cântico “M a g n i f i -
1,46-55] non beatae Virgini Mariae, sed Elisabeth c a t ” [Lc 1,46-55] não se atribui à bem-aventurada
tribuitur, ullo modo praevalere possint ac debeant Virgem Maria, mas a Isabel, podem e devem de
contra testimonium concors [464] omnium fere algum modo prevalecer contra o testemunho con-
codicum tum graeci textus originalis, tum versio- corde de quase todos os códices, tanto do texto grego
num, necnon contra interpretationem, quam plane original como das versões, e também contra a inter-
exigunt non minus contextus, quam ipsius Virginis pretação que manifestamente exigem tanto o con-
animus et constans Ecclesiae traditio? texto quanto o ânimo da própria Virgem e a cons-
tante tradição da Igreja?
Resp.: Negative. Resp.: Não.
Qu. 5: Utrum, quoad o r d i n e m c h r o n o l o g i - Pergunta 5: Quanto à o r d e m c r o n o l ó g i c a 3572
c u m E va n g e l i o r u m , ab ea sententia recedere fas d o s E va n g e l h o s , é lícito afastar-se da sentença
sit, quae, antiquissimo aeque ac constanti traditio- que, corroborada pelo antiqüíssimo e constante tes-
nis testimonio roborata, post Matthaeum, qui om- temunho da tradição, atesta que depois de Mateus,
nium primus Evangelium suum patrio sermone cons- que escreveu como primeiro de todos seu Evange-
cripsit, Marcum ordine secundum et Lucam tertium lho em língua pátria, Marcos escreveu por segundo
scripsisse testatur; aut huic sententiae adversari vi- e Lucas por terceiro; ou deve-se pensar que a esta
cissim censenda sit eorum opinio, quae asserit, sentença se opõe por sua vez a opinião daqueles
Evangelium secundum et tertium ante graecam primi que afirmam que o segundo e o terceiro Evange-
Evangelii versionem esse compositum? lhos foram compostos antes da tradução grega do
primeiro Evangelho?
Resp.: Negative ad utramque partem. Resp.: Não, para ambas as partes.
Qu. 6: Utrum t e m p u s c o m p o s i t i o n i s E va n - Pergunta 6: É lícito diferir a d a t a d e c o m p o - 3573
g e l i o r u m M a r c i et L u c a e usque ad urbem Ie- s i ç ã o dos E v a n g e l h o s d e M a r c o s e d e
rusalem eversam differre liceat; vel, eo quod apud L u c a s até a destruição da cidade de Jerusalém; ou
Lucam prophetia Domini circa huius urbis eversio- pode-se sustentar, pelo fato de a profecia do Senhor
nem magis determinata videatur, ipsius saltem Evan- acerca da destruição desta cidade parecer mais cir-
gelium obsidione iam inchoata fuisse conscriptum, cunstanciada em Lucas, que pelo menos o Evan-
sustineri possit? gelho deste foi escrito quando o cerco da cidade já
estava iniciado?
Resp.: Negative ad utramque partem. Resp.: Não, para ambas as partes.
Qu. 7: Utrum affirmari debeat, Evangelium Lu- Pergunta 7: Deve-se afirmar que o Evangelho de 3574
cae praecessisse librum A c t u u m A p o s t o l o r u m ; Lucas precedeu o livro dos A t o s d o s A p ó s t o -
et cum hic liber, eodem Luca auctore [Act 1,1s], ad l o s e que, visto que este livro, que tem o mesmo
finem captivitatis Romanae Apostoli fuerit absolu- Lucas por autor [At 1,1s], foi terminado no fim do
tus [Act 28,30s], eiusdem Evangelium non post hoc cativeiro romano do Apóstolo [At 20,30s], seu Evan-
tempus fuisse compositum? gelho não foi composto depois desta data?
Resp.: Affirmative. Resp.: Sim.
Qu. 8: Utrum, prae oculis habitis tum traditionis Pergunta 8: Tendo presentes tanto os testemunhos 3575
testimoniis, tum argumentis internis, quoad fontes, da tradição como os argumentos internos em relação
765
quibus uterque Evangelista in conscribendo Evan- às fontes de que ambos os Evangelistas se serviram
gelio usus est, in dubium vocari prudenter queat para escrever seu Evangelho, pode-se com prudên-
sententia, quae tenet M a r c u m i u x t a p r a e d i c a - cia pôr em dúvida a sentença que afirma que M a r-
tionem Petri, Lucam autem iuxta prae- cos escreveu segundo a pregação de Pedro,
d i c a t i o n e m P a u l i scripsisse; simulque asserit, e Lucas, segundo a pregação de Paulo, e
iisdem Evangelistis praesto fuisse alios quoque fon- que ao mesmo tempo afirma que os mesmos Evange-
tes fide dignos, sive orales sive etiam iam scriptis listas tiveram à disposição também outras fontes fide-
consignatos? dignas, tanto orais como já consignadas por escrito?
Resp.: Negative. Resp.: Não.
3576 Qu. 9: Utrum dicta et gesta, quae a Marco iuxta Pergunta 9: Os ditos e fatos que, com acuração e
Petri praedicationem accurate et quasi graphice como que graficamente são narrados por Marcos
enarrantur, et a Luca assecuto omnia a principio segundo a pregação de Pedro e por Lucas, que de-
diligenter per testes fide plane dignos, quippe qui pois de ter investigado tudo cuidadosamente desde o
ab initio ipsi viderunt et ministri fuerunt sermonis princípio, por meio de testemunhas totalmente fide-
[Lc 1,2s], sincerissime exponuntur, plenam sibi eam dignas, que pessoalmente viram desde o início e se
f i d e m h i s t o r i c a m iure vindicent, quam eisdem tornaram ministros da palavra [Lc 1,2s], com a maior
semper praestitit Ecclesia; an e contrario eadem facta sinceridade são expostas, reclamam com razão para
et gesta censenda sint historica veritate, saltem ex si aquela plena f é h i s t ó r i c a que sempre lhes pres-
parte, destituta, sive quod scriptores non fuerint tou a Igreja; ou, pelo contrário, tais ditos e fatos
testes oculares, sive quod apud utrumque Evange- podem ser considerados como desprovidos, pelo
listam defectus ordinis ac discrepantia in succes- menos em parte, de verdade histórica, quer porque
sione factorum haud raro [465] deprehendantur; sive os escritores não foram testemunhas oculares, quer
quod, cum tardius venerint et scripserint, necessa- porque em um ou outro evangelista se surpreendem
rio conceptiones menti Christi et Apostolorum ex- não raramente defeitos de ordem e discrepância na
traneas aut facta plus minusve iam imaginatione sucessão dos fatos, ou ainda porque, chegando e es-
populi inquinata referre debuerint, sive demum quod crevendo num momento ulterior, forçosamente tive-
dogmaticis ideis praeconceptis, quisque pro suo ram de referir concepções estranhas à mente de Cristo
scopo, indulserint? e dos Apóstolos ou fatos já mais ou menos contami-
nados pela imaginação popular; ou, finalmente, por-
que cada um segundo sua finalidade mostrou con-
descendência com idéias dogmáticas preconcebidas?
Resp.: Affirmative ad primam partem; negative Resp.: Sim, para a primeira parte; não, para a
ad alteram. segunda.
766
testimonio nec historico argumento, facile amplec- testemunho algum da tradição, nem em argumen-
tuntur hypothesim vulgo “duorum fontium” nuncu- to histórico algum, facilmente abraçam a hipótese
patam, quae compositionem Evangelii graeci chamada das “duas fontes”, que pretende expli-
Matthaei et Evangelii Lucae ex eorum potissimum car a composição do evangelho grego de Mateus e
dependentia ab Evangelio Marci et a collectione sic do evangelho de Lucas por sua dependência, so-
dicta sermonum Domini contendit explicare; ac bretudo, do evangelho de Marcos e da chamada
proinde eam libere propugnare valeant? coleção dos ditos do Senhor, e podem então
defendê-la livremente?
Resp.: Negative ad utramque partem. Resp.: Não, para ambas as partes.
I. Autor, data de composição e verdade histórica do livro dos Atos dos Apóstolos
Qu. 1: Utrum, perspecta potissimum Ecclesiae Pergunta 1: Em vista sobretudo da tradição da 3581
universae traditione usque ad primaevos ecclesias- Igreja universal, que remonta até os primeiros auto-
ticos scriptores assurgente, attentisque internis ra- res eclesiásticos, e levadas em conta as razões in-
tionibus libri Actuum sive in se sive in sua ad ter- ternas do livro dos Atos – considerado ora em si
tium Evangelium relatione considerati et praeser- mesmo ora em relação com o terceiro evangelho –
tim mutua utriusque prologi affinitate et connexio- e, antes de tudo, da mútua afinidade e conexão de
ne [Lc 1,1-4; Act 1,1s], uti certum tenendum sit, ambos os prólogos [Lc 1,1-4; At 1,1s], deve ter-se
volumen, quod titulo Actus Apostolorum, seu por certo que o volume que se intitula Atos dos Após-
Pra1jeiw Aposto1
3 lvn, praenotatur, L u c a m Evan- tolos ou Pra1jeiw Aposto1
3 lvn, tem o Evangelista
gelistam habere a u c t o r e m ? Lucas por autor?
Resp.: Affirmative. Resp.: Sim.
Qu. 2: Utrum criticis rationibus, desumptis tum ex Pergunta 2: Por razões críticas, encontradas ora 3582
lingua et stilo, tum ex enarrandi modo, tum ex uni- na linguagem e estilo, ora no modo de narrar, ora
tate scopi et doctrinae, demonstrari possit, librum na unidade de finalidade e de doutrina, pode-se de-
Actuum Apostolorum u n i dumtaxat a u c t o r i tribui monstrar que o livro dos Atos dos Apóstolos deve
debere; ac proinde eam recentiorum scriptorum sen- ser atribuído a u m s ó e m e s m o a u t o r ; e, por-
tentiam, quae tenet, Lucam non esse libri auctorem tanto, a sentença dos autores modernos, segundo a
unicum, sed diversos esse agnoscendos eiusdem li- qual Lucas não é o único autor do livro e que se
bri auctores, quovis fundamento esse destitutam? deve reconhecer diversos autores no livro, carece
totalmente de fundamento?
Resp.: Affirmative ad utramque partem. Resp.: Sim, para ambas as partes.
Qu. 3: Utrum, in specie, pericopae in Actis cons- Pergunta 3: As famosas perícopes nos Atos, nas 3583
picuae, in quibus, abrupto usu tertiae personae, in- quais de repente o uso da terceira pessoa é interrom-
ducitur p r i m a p l u r a l i s (“Wir-Stücke”), unitatem pido e introduzida a p r i m e i r a p e s s o a d o p l u -
compositionis et authenticitatem infirment; vel po- r a l (“Wir-Stücke”), debilitam a unidade de composi-
tius historice et philologice consideratae eam con- ção e a autenticidade, ou deve-se antes dizer que, his-
firmare dicendae sint? tórica e filologicamente consideradas, a confirmam?
Resp.: Negative ad primam partem; affirmative Resp.: Não para a primeira parte, sim para a
ad secundam. segunda.
Qu. 4: Utrum ex eo, quod liber ipse, vix mentio- Pergunta 4: Do fato de que o próprio livro, mal 3584
ne facta bienni primae romanae Pauli captivitatis, mencionado o biênio do primeiro cativeiro romano
abrupte clauditur, inferri liceat, auctorem volumen de Paulo, logo é encerrado, pode-se inferir que o
alterum deperditum conscripsisse, aut conscribere autor escreveu um segundo volume perdido ou que
intendisse, ac proinde tempus compositionis libri teve a intenção de escrevê-lo, e que, portanto, a data
Actuum longe possit post eamdem captivitatem de composição do livro dos Atos pode ser atrasada
differri; vel potius iure et merito retinendum sit, até muito tempo depois do dito cativeiro; ou deve-
767
II. Autor, integridade e data de composição das Cartas pastorais do Apóstolo Paulo
3587 Qu. 1: Utrum, prae oculis habita Ecclesiae tradi- Pergunta 1: Tendo presente a tradição da Igreja,
tione inde a primordiis universaliter firmiterque que persevera universal e firmemente desde suas ori-
perseverante, prout multimodis ecclesiastica monu- gens, como de muitas maneiras o atestam antigos
menta vetusta testantur, teneri certo debeat, episto- memoriais eclesiásticos, deve-se sustentar com cer-
las, quae pastorales dicuntur, nempe ad Timotheum teza que as Epístolas chamadas pastorais, a saber,
utramque et aliam ad Titum, as duas a Timóteo e a única a Tito,
non obstante quorumdam haereticorum ausu, qui não obstante o atrevimento de certos hereges, os
eas, utpote suo dogmati contrarias, de numero pau- quais, por ser elas contrárias à doutrina deles, sem
linarum epistolarum, nulla reddita causa, eraserunt, alegar nenhuma razão as riscaram do número das
epístolas paulinas,
ab ipso Apostolo Paulo fuisse conscriptas et inter foram escritas pelo próprio Paulo e sempre conta-
g e n u i n a s et canonicas perpetuo recensitas? das entre as autênticas e canônicas?
Resp.: Affirmative. Resp.: Sim.
768
769
haesitare liceat, eam non solum inter canonicas – é lícito duvidar que ela deve ser contada não so-
quod de fide definitum est –, verum etiam i n t e r mente entre as canônicas – coisa definida de fé –
g e n u i n a s Apostoli Pauli epistolas certo recensere? mas também entre as a u t ê n t i c a s epístolas do
Apóstolo Paulo?
Resp.: Negative. Resp.: Não.
3592 Qu. 2: Utrum argumenta, Pergunta 2: Os argumentos
quae desumi solent sive ex insolita nominis Pauli que se costumam tirar, ora da insólita ausência do
absentia et consueti exordii salutationisque omissio- nome de Paulo e da omissão do costumeiro exór-
ne in epistola ad Hebraeos – sive ex eiusdem linguae dio, ora da pureza da língua grega, da elegância e
graecae puritate, dictionis ac stili elegantia et da perfeição da dicção e do estilo, ora do modo como
perfectione, – sive ex modo, quo in ea Vetus Tes- se alega o Antigo Testamento e a partir dele se ar-
tamentum allegatur et ex eo arguitur, – sive ex diffe- gumenta, ora de certas diferenças que se pretende
rentiis quibusdam, quae inter huius ceterarumque existem entre a doutrina desta carta e a das demais
Pauli epistolarum doctrinam exsistere praetenduntur, epístolas de Paulo,
aliquomodo eiusdem paulinam originem infirmare têm força para infirmar de alguma maneira sua ori-
valeant; an potius perfecta doctrinae ac sententia- gem paulina; ou será que, antes, a perfeita harmo-
rum consensio, admonitionum et exhortationum si- nia de doutrina e sentenças, a semelhança de adver-
militudo, necnon locutionum ac ipsorum verborum tências e exortações, assim como a consonância de
concordia a nonnullis quoque acatholicis celebrata, locuções e das próprias palavras – louvada até por
quae inter eam et reliqua Apostoli gentium scripta diversos não-católicos – que se observa entre ela e
observantur, eamdem paulinam originem commons- os demais escritos do Apóstolo dos gentios, demons-
trent atque confirment? tram e confirmam a origem propriamente paulina?
Resp.: Negative ad primam partem; affirmative Resp.: Não quanto à primeira parte, sim quanto à
ad alteram. segunda.
3593 Qu. 3: Utrum Paulus Apostolus ita huius episto- Pergunta 3: O Apóstolo Paulo de tal modo deve
lae auctor censendus sit, ut necessario affirmari ser considerado autor desta epístola que seja neces-
debeat, ipsum eam totam non solum Spiritu Sancto sário afirmar não só que ele a concebeu e expres-
inspirante concepisse et expressisse, verum etiam sou, integralmente, por inspiração do Espírito San-
ea forma donasse, qua prostat? to, mas também que ele mesmo lhe deu a forma em
que foi conservada?
Resp.: Negative, salvo ulteriori Ecclesiae iudicio. Resp.: Não, salvo ulterior juízo da Igreja.
770
putasti Angelico Doctori satis adhaerere, qui universas de Thomae doctrina theses perinde proponendas censeant, ac
tutas ad dirigendum normas, n u l l o s c i l i c e t o m n i u m a m p l e c t e n d a r u m t h e s i u m i m p o s i t o o ffi c i o . Eius-
modi spectantes regulam, possunt Societatis alumni iure timorem depo-nere, ne eo quo par est obsequio iussa non
prosequantur Rom. Pontificum, quorum ea constans sententia fuit, ducem ac magistrum in theologiae et philosophiae
studiis S. Thomam haberi opus esse, integro tamen cuique de iis in utramque partem disputare, de quibus possit soleatque
dispu-tari“; Acta Romana S.I. 9 [1917] 318s; ZKTh 42 [1918] 206).
Cf. também, a este respeito, Pio XI, Encíclica “Studiorum ducem”, 29 jun. 1923 (*3666); Pio XII, Alocução a
seminaristas, 24 jun. 1939 (AAS 31 [1939] 246); Alocução aos membros da Ordem dominicana, 22 set. 1946 (ASS 38
[1946] 387); Alocução aos membros da Universidade Gregoriana por ocasião de seu 400º aniversário, 17 out. 1953
(AAS 45[1953] 684-686); 2º Concílio Vaticano, Decreto “Optatam totius”, 28 nov. 1965 (AAS 58 [1966] 713-727).
Ed.: AAS 6 (1914) 384-386.
771
et actus ordinis essentiae, materiae et formae nomi- da ordem da própria essência, recebem os nomes
nibus designantur. de matéria e forma.
3609 9. Earum partium neutra per se esse habet, nec per 9. Nenhuma dessas partes tem o ser por si só,
se producitur vel corrumpitur, nec ponitur in prae- nem se produz ou se corrompe por si, e tampouco
dicamento nisi reductive ut principium substantiale. se põe em predicamento <= categoria>, a não ser
por redução como princípio substancial.
3610 10. Etsi corpoream naturam extensio in partes 10. Embora a extensão em partes integrais seja
integrales consequitur, non tamen idem est corpori uma conseqüência da natureza corpórea, não é o
esse substantiam et esse quantum. Substantia quippe mesmo, para um corpo, o ser substância e o ser
ratione sui indivisibilis est, non quidem ad modum quantidade. A substância é, por seu próprio con-
[385] puncti, sed ad modum eius quod est extra ceito, indivisível, não, porém, à maneira de um
ordinem dimensionis. Quantitas vero, quae exten- ponto, mas dos seres estranhos à ordem da dimen-
sionem substantiae tribuit, a substantia realiter são. A quantidade, origem da extensão na subs-
differt, et est veri nominis accidens. tância, se distingue realmente desta e é verdadeiro
acidente.
3611 11. Quantitate signata materia principium est in- 11. A matéria caraterizada pela quantidade é o
dividuationis, id est numericae distinctionis, quae princípio da individuação, ou seja, da distinção
in puris spiritibus esse non potest, unius individui numérica – impossível nos espíritos puros – entre
ab alio in eadem natura specifica. um indivíduo e outro dentro da mesma espécie.
3612 12. Eadem efficitur quantitate, ut corpus circums- 12. Esta mesma quantidade faz com que o corpo
criptive sit in loco, et in uno tantum loco de qua- esteja de modo circunscrito num lugar, e, qualquer
cumque potentia per hunc modum esse possit. seja a potência, só pode estar num único lugar.
3613 13. Corpora dividuntur bifariam: quaedam enim 13. Os corpos se dividem em duas categorias, a
sunt viventia, quaedam expertia vitae. In viventi- dos viventes e a dos que carecem de vida. A forma
bus, ut in eodem subiecto pars movens et pars mota substancial dos viventes, chamada alma, requer certa
per se habeantur, forma substantialis, animae nomi- disposição orgânica, ou seja, partes heterogêneas,
ne designata, requirit organicam dispositionem seu para que haja no mesmo sujeito uma parte essen-
partes heterogeneas. cialmente movente e outra, movida.
3614 14. Vegetalis et sensilis ordinis animae nequaquam 14. As almas de ordem vegetativo e sensitivo não
per se subsistunt, nec per se producuntur, sed sunt podem subsistir em si mesmas nem ser produzidas
tantummodo ut principium quo vivens est et vivit, para si mesmas, mas existem somente como princí-
et cum a materia se totis dependeant, corrupto com- pio pelo qual existe e vive o composto vivente; e
posito, eo ipso per accidens corrumpuntur. por causa de sua total dependência da matéria, quan-
do o composto se corrompe, per accidens corrom-
pem-se <também> elas.
3615 15. Contra, per se subsistit anima humana, quae, 15. A alma humana, ao contrário, subsiste em si
cum subiecto sufficienter disposito potest infundi, mesma, é criada por Deus e infusa no corpo desde
a Deo creatur, et sua natura incorruptibilis est atque o momento em que está suficientemente preparada;
immortalis. e por sua natureza é incorruptível e imortal.
3616 16. Eadem anima rationalis ita unitur corpori, ut 16. A mesma alma racional se une ao corpo a
sit eiusdem forma substantialis unica, et per ipsam ponto de ser sua única forma substancial, e por ela
habet homo ut sit homo et animal et vivens et cor- o homem recebe que seja homem, e animal, e vi-
pus et substantia et ens. Tribuit igitur anima homini vente, e corporal, e substância, e ente. Por conse-
omnem gradum perfectionis essentialem; insuper guinte, a alma dá ao homem todos os graus de per-
communicat corpori actum essendi, quo ipsa est. feição essenciais e, além disso, comunica ao corpo
o próprio ato de ser com o qual ela existe.
3617 17. Duplicis ordinis facultates, organicae et inor- 17. Da alma humana dimanam, por resultância
ganicae, ex anima humana per naturalem resultan- natural, duas ordens de faculdades, as orgânicas e
tiam emanant: priores, ad quas sensus pertinet, in as inorgânicas; as primeiras, às quais pertence o sen-
composito subiectantur, posteriores in anima sola. tido, têm seu sujeito no composto; as últimas, só na
772
Est igitur intellectus facultas ab organo intrinsece alma. Por isso, o intelecto é uma faculdade intrin-
independens. secamente independente do organum.
18. Immaterialitatem necessario sequitur intellec- 18. A intelectualidade é, daí, necessariamente 3618
tualitas, et ita quidem, ut secundum gradus elonga- imaterial, e isto, de tal sorte que os graus de afasta-
tionis a materia sint quoque gradus intellectualita- mento da matéria são também os graus de intelec-
tis. Adaequatum intellectionis obiectum est commu- tualidade. O objeto próprio da intelecção é, em geral,
niter ipsum ens; proprium vero intellectus humani o ser mesmo; o <objeto> próprio do intelecto hu-
in praesenti statu unionis, quidditatibus abstractis a mano, no presente estado de união, está nas qüidi-
condicionibus materialibus continetur. dades abstraídas das condições materiais.
19. Cognitionem ergo accipimus a rebus sensibi- 19. Recebemos, portanto, nosso conhecimento das 3619
libus. Cum autem sensibile non sit intelligibile in coisas sensíveis. Como, porém, o sensível não é
actu, praeter intellectum formaliter intelligentem inteligível em ato, deve se admitir na alma, além do
admittenda est in anima virtus activa, quae species intelecto formalmente intelectivo, uma força ativa
intelligibiles a phantasmatibus abstrahat. [386] que abstrai as espécies inteligíveis da imagem <sen-
sível> que aparece.
20. Per has species directe universalia cognosci- 20. Por meio dessas espécies <inteligíveis> co- 3620
mus; singularia sensu attingimus, tum etiam intellec- nhecemos os universais; com os sentidos atingimos
tu per conversionem ad phantasmata; ad cogntio- o que é singular, e também, com o intelecto, pela
nem vero spiritualium per analogiam ascendimus. atenção dada às imagens que aparece; ao conheci-
mento das coisas espirituais, porém, subimos pela
analogia.
21. Intellectum sequitur, non praecedit, voluntas, 21. A vontade segue, não precede o intelecto, e 3621
quae necessario appetit id quod sibi praesentatur ela necessariamente deseja o que se-lhe apresenta
tamquam bonum ex omni parte explens appetitum, como o bem que sob todo aspecto satisfaz seu de-
sed inter plura bona, quae iudicio mutabili appetenda sejo, porém escolhe livremente entre diversos bens
proponuntur, libere eligit. Sequitur proinde electio que por juízo variável se apresentam como desejá-
iudicium practicum ultimum; at quod sit ultimum, veis. A escolha segue, portanto, ao último juízo
voluntas efficit. prático, e que seja o último, é a vontade que o faz.
22. Deum esse neque immediata intuitione perci- 22. Conhecemos a existência de Deus não por 3622
pimus, neque a priori demonstramus, sed utique a intuição imediata, nem por demonstração a priori,
posteriori, hoc est, “per ea quae facta sunt” [Rm mas a posteriori, ou seja, “pelas criaturas” [Rm 1,20],
1,20], ducto argumento ab effectibus ad causam: conduzindo o argumento do efeito até as causas;
videlicet, a rebus quae moventur et sui motus prin- isto é, partindo das coisas que se movem e não
cipium adaequatum esse non possunt, ad primum podem ser seu próprio adequado princípio de mo-
motorem immobilem; a processu rerum mundana- vimento, até chegar a um primeiro motor imó-
rum e causis inter se subordinatis ad primam cau- vel; da produção das coisas mundanas por causas
sam incausatam; a corruptilibus quae aequaliter se subordinadas entre si, até uma causa primeira não
habent ad esse et non esse, ad ens absolute neces- causada; das coisas corruptíveis que tanto podem
sarium; ab iis quae secundum minoratas perfectio- ser como não ser, até o ente absolutamente neces-
nes essendi, vivendi, intelligendi, plus et minus sunt, sário; daquilo que segundo diminutas perfeições do
vivunt, intelligunt, ad eum qui est maxime intelli- ser, viver, compreender, ora mais, ora menos é, vive
gens, maxime vivens, maxime ens; denique, ab or- e entende, até aquilo que maximamente compreen-
dine universi ad intellectum separatum, qui res or- de, maximamente vive, maximamente é; finalmen-
dinavit, disposuit, et dirigit ad finem. te, da ordem do universo até o intelecto separado
que ordenou e dispôs as coisas e as dirige ao fim.
23. Divina essentia, per hoc quod exercitae ac- 23. A essência divina, visto que seu ser se iden- 3623
tualitati ipsius esse identificatur, seu per hoc quod tifica com sua atualidade exercida, ou seja, porque
est ipsum Esse subsistens, in sua veluti metaphysi- é o próprio Ser subsistente, nos é proposta, em sua
ca ratione bene nobis constituta proponitur, et per como que metafísica razão, como bem constituída
hoc idem rationem nobis exhibet suae infinitatis in para nós, e por causa disso nos desvela a razão de
perfectione. sua infinitude na perfeição.
773
3624 24. Ipsa igitur puritate sui esse, a finitis omnibus 24. Pela própria pureza de seu ser, Deus se dis-
rebus secernitur Deus. Inde infertur primo, mundum tingue de todas as coisas finitas. Daí se segue, em
nonnisi per creationem a Deo procedere potuisse; primeiro lugar, que o mundo não pode proceder de
deinde virtutem creativam, qua per se primo attin- Deus a não ser por criação; em segundo lugar, que
gitur ens in quantum ens, nec miraculose ulli fini- a força criadora, pela qual em primeira instância é
tae naturae esse communicabilem; nullum denique atingido o ente como ente, nem mesmo por milagre
creatum agens in esse cuiuscumque effectus influe- pode ser comunicada a uma natureza finita; e, fi-
re, nisi motione accepta a prima Causa. nalmente, que nenhum agente criado pode exercer
alguma influência no ser a não ser pela moção re-
cebida da Causa primeira.
774
puit, avide autem ubivis nova conquirit: in ratione bor de antigo, mas busca avidamente qualquer novi-
loquendi de rebus divinis, in celebritate divini cul- dade em qualquer domínio: no modo de falar das
tus, in catholicis institutis, in privata ipsa exercita- coisas divinas, na celebração do culto divino, nas
tione pietatis. Ergo sanctam haberi volumus eam instituições católicas, e até no exercício privado da
maioram legem: “Nihil innovetur nisi quod tradi- piedade. Queremos portanto que seja respeitada aque-
tum est” [*110]; quae lex tametsi inviolate servan- la lei de nossos antepassados: “nada se inove além
da est in rebus fidei, tamen ad eius normam diri- do que foi transmitido” [*110]; ora, se esta lei deve
genda sunt etiam, quae mutationem pati possunt, ser observada inviolavelmente em matéria da fé, tam-
quamquam in his ea quoque regula plerumque va- bém deve servir de norma para tudo o que pode estar
let: Non nova, sed noviter1. sujeito a mudança, sendo que nisto geralmente vale
a regra: Não novidades, mas de maneira nova1.
*3626 1 Alude claramente a Vicente de Lérins, Commonitorium I 22 ao final: “Ensina o que aprendeste, para que ao dizê-lo
de modo novo, não fales coisa nova” (“Eadem tamen, quae didicisti, doce, ut cum dicas nove, non dicas nova”: PL 50,
667 / R. Demeulenaere: CpChL 64 [1985] 17729s).
775
Patrum, imprimis sancti Iohannis Chrysostomi, dos Padres, antes de tudo de S. João Crisóstomo,
tum in patrio idiomate, tum in epistolis Paulinis versadíssimo tanto em sua língua pátria quanto nas
versatissimi, cartas de Paulo,
liceat tamquam longius petitam et solido fundamen- é lícito rechaçar como rebuscada e desprovida de
to destitutam reicere interpretationem in scholis fundamento sólido a interpretação, tradicional nas
catholicis traditionalem (ab ipsis quoque novatori- escolas católicas (mantida também pelos inovado-
bus saeculi XVI retentam), quae verba sancti Pauli ras do século XVI), que explica as palavras de S.
in cap. IV epist. 1 ad Thessalonicenses, vv. 15-17, Paulo no cap. 4 da 1ª Epístola aos Tessalonicenses,
explicat, quin ullo modo involvat affirmationem vv. 15-17, sem implicar de maneira alguma a afir-
Parousiae tam proximae, ut Apostolus seipsum suos- mação de uma Parusia tão próxima que o Apóstolo
que lectores adnumeret fidelibus illis, qui supersti- se conte a si mesmo e seus leitores entre os fiéis
tes ituri sunt obviam Christo? que sairão, sobreviventes, ao encontro de Cristo?
Resp.: Negative. Resp.: Não.
776
mariti permittat ex gravi causa, quae eam excusat, mitindo o pecado do marido, porém, por uma razão
quoniam caritas, qua illud impedire teneretur, cum que a escusa; pois o amor, que a obrigaria a impedi-
tanto incommodo non obligat. lo, cessa de obrigar na presença de tal detrimento.
b) At si maritus committere cum ea velit Sodo- b) Mas se o marido quiser cometer com ela o
mitarum crimen, cum hic sodomiticus coitus actus crime dos sodomitas, visto o ato dos sodomitas ser
sit contra naturam ex parte utriusque coniugis sic contra a natureza por parte de ambos os cônjuges
coeuntis isque doctorum omnium iudicio graviter que assim se unem, e que isso, segundo o juízo de
malus, hinc nulla plane de causa ne mortis quidem todos os doutores é um ato gravemente perverso, a
vitandae licite potest uxor hac in re impudico suo mulher, por nenhuma razão de todo, nem mesmo
marito morem gerere. para evitar a morte, pode nesta coisa ceder a seu
marido impudico.
*3635 1 À resposta de 15 nov. 1941, no mais idêntica, o S. Ofício acrescenta neste lugar: “(segundo as circunstâncias da
situação e das pessoas) ao menos implicitamente” [“(pro rerum et personarum adiunctis) saltem implicite”; Il Monitore
Ecclesiastico (1942) 114].
*3636 1 Na mesma resposta de 1941 esta sentença sobre o escândalo soa: “Sempre se deve cuidar de evitar o escândalo e
inclusive a suspeita de interconfessionalismo. Ora, quanto menos perigo no esperar, mais se deve exigir a explícita
retratação dos erros e a profissão da fé católica” (“Semper autem curandum est, ut scandalum et vel suspicio intercon-
fessionalismi evitentur. Quo minus autem est periculum in mora, eo magis explicita retractatio errorum et fidei catho-
licae professio exigi debent”).
777
3639 2. Si negative, utrum sufficiant ad resistentiam 2. Se não, bastam para a resistência passiva da
passivam ex parte mulieris cohonestandam rationes mulher razões de peso igual que as para o caso de
aeque graves ac pro onanismo naturali (sine instru- onanismo natural (sem instrumento), ou, ao contrá-
mento) vel potius omnino necessariae sint rationes rio, são necessárias razões de extrema gravidade?
praegravissimae?
3640 3. Utrum ut tutiore tramite tota haec materia evol- 3. Para que esta doutrina seja desenvolvida e
vatur et edoceatur, vir talibus utens instrumentis, ensinada segundo caminhos mais seguros, o homem
oppressori vere debeat aequiparari, cui proinde mu- que usa tais instrumentos deve ser equiparado a um
lier eam resistentiam opponere debeat, quam virgo opressor, ao qual a mulher deve, portanto, oferecer
invasori? a mesma resistência que uma virgem a um intruso?
Resp.: Ad 1. Affirmative. – Ad 2. Provisum in Resp.: Para 1: Sim. – Para 2: Incluído em 1. –
primo, – Ad 3. Affirmative. Para 3: Sim.
O espiritismo
3642 Qu.: An liceat per Medium, ut vocant, vel sine Pergunta: É lícito assistir a sessões ou manifesta-
Medio, adhibito vel non hypnotismo, locutionibus ções espíritas, com intervenção do assim chamado
aut manifestationibus spiritisticis quibuscumque médium ou sem médium, usando ou não a hipnose,
adsistere, etiam speciem honestatis vel pietatis prae- mesmo apresentando aparência de honestidade ou
seferentibus, sive interrogando animas aut spiritus, de piedade, quer interrogando as almas ou espíri-
sive audiendo responsa, sive tantum aspiciendo, tos, quer escutando suas respostas, quer ora só olhan-
etiam cum protestatione tacita vel expressa, nullam do, mesmo com tácito ou expresso protesto de não
cum malignis spiritibus partem se habere velle. querer nada em comum com os espíritos malignos?
Resp. (confirmata a Summo Pontifice, 26. Apr.): Resp.: (confirmada pelo Papa em 26/04): Não,
Negative in omnibus. para todas as partes.
778
Doutrinas teosóficas
Qu.: An doctrinae, quas hodie theosophicas di- Pergunta: As doutrinas que hoje são chamadas 3648
cunt, componi possint cum doctrina catholica; ideo- teosóficas podem conciliar-se com a doutrina cató-
que an liceat nomen dare societatibus theosophicis, lica; e, portanto, é permitido aderir às sociedades
earum conventibus interesse, ipsarumque libros, teosóficas, assistir às suas reuniões e ler seus livros,
ephemerides, diaria, scripta legere. revistas, jornais e escritos?
Resp. (confirmata a Summo Pontifice, 17. Iul.): Resp.: Não quanto a tudo.
Negative in omnibus.
*3650 1 Cf. Jerônimo, Tractatus sive Homilia in Psalmos 88, 3 (G. Morin: CpChL 78 [1958] 40676s / G. Morin, Anecdota
Maredsolana, tom. 1, vol. 3/III [Maredsous 1903] 5323).
779
proponendum; voluntatem praeterea movere atque ad de “em nome de Deus”, também move sua vontade
scribendum impellere; ipsi denique peculiariter e o impele a escrever e, finalmente, o assiste de modo
continenterque adesse, donec librum perficiat. peculiar e permanente até que complete o livro.
780
rorem incidere posse: “At nefas omnino fuerit aut do: “É de todo ilícito limitar a inspiração a determi-
inspirationem ad aliquas tamtum s. Scripturae pa- nadas partes da Sagrada Escritura ou admitir que o
nes coangustare aut concedere sacrum ipsum erras- próprio autor sagrado tenha errado” [*3291].
se auctorem” [*3291].
Neque minus ab Ecclesiae doctrina … ii dissen- Da doutrina da Igreja divergem … não menos os 3653
tiunt, qui p a r t e s S c r i p t u r a r u m h i s t o r i c a s que pensam que as p a r t e s h i s t ó r i c a s d a s E s -
non factorum absoluta inniti veritate arbitrantur, sed c r i t u r a s não se apoiam na verdade absoluta dos
tantummodo relati va, quam vocant, et concordi fatos, mas no que chamam a <verdade> relativa e
vulgi opinione: idque non verentur ex ipsis Leonis na opinião concorde do povo em geral; e não recei-
Pontificis verbis inferre, propterea quod principia am deduzir isso das próprias palavras do Pontífice
de rebus naturalibus statuta ad disciplinas historicas Leão, porque este disse que se pode aplicar às dis-
transferri posse dixerit [cf. *3290]. Itaque conten- ciplinas históricas os princípios estabelecidos quanto
dunt, hagiographos, uti in physicis secundum ea às ciências naturais [cf. *3290]. Por conseguinte pre-
quae apparerent locuti sint, ita eventa ignaros rettu- tendem que, assim como no domínio físico os ha-
lisse, prouti haec e communi vulgi sententia vel giógrafos falaram segundo o que aparecesse, assim
falsis aliorum testimoniis constare viderentur, ne- também relataram acontecimentos sem conhecê-los,
que fontes scientiae suae indicasse neque alioram como parecessem constar pela comum opinião do
enarrationes fecisse suas. … povo ou pelos testemunhos errôneos de outros, e
que nem indicaram as fontes de seu conhecimento
nem tornaram seus os relatos de outros. …
[397] [Alii] nimis facile ad citationes, quas vo- [Outros] remetem facilmente demais a citações 3654
cant implicitas, vel ad narrationes specietenus his- que chamam implícitas ou a narrações só aparente-
toricas confugiunt; aut genera quaedam litterarum mente históricas; ou pretendem encontrar nos livros
in libris sacris inveniri contendunt, quibuscum inte- sagrados gêneros literários com os quais não se pode
gra ac perfecta verbi divini veritas componi nequeat; reconstituir a íntegra e perfeita verdade da palavra
aut de Bibliorum origine ita opinantur, ut eorun- divina; ou ensinam tais opiniões acerca da origem
dem labet vel prorsus pereat auctoritas. da Bíblia que a autoridade delas cai ou se desfaz
totalmente.
O coito interrupto
Qu.: 1. An tolerari possit, confessarios sponte sua Pergunta: 1. Pode-se tolerar que os confessores 3660
docere praxim copulae dimidiatae, illamque suadere ensinem por iniciativa própria a prática da cópula
promiscue omnibus paenitentibus, qui timent, ne dimidiada e a aconselhem indistintamente a todos
proles numerosior nascatur? os penitentes que receiam que lhes nasce prole
demasiada?
2. An carpendus sit confessarius, qui, omnibus 2. Deve-se censurar um confessor que, depois de 3661
remediis ad paenitentem matrimonio abutentem ter experimentado todos os remédios para afastar
ab hoc malo avertendum frustra tentatis, docet deste mal um penitente que abusa do matrimônio,
exercere copulam dimidiatam ad peccata morta- lhe ensina a praticar a cópula dimidiada para assim
lia praecavenda? evitar todo pecado mortal?
3. An carpendus sit confessarius, qui in circums- 3. Deve-se censurar um confessor que, nas cir- 3662
tantiis sub 2 copulam dimidiatam paenitenti aliun- cunstâncias descritas em 2, aconselha a cópula
de notam suadet vel paenitenti interroganti, num hic dimidiada ao penitente que este conhece de alhu-
781
modus licitus sit, respondet simpliciter licere abs- res; ou que, ao penitente que lhe pergunta se esta
que ulla restrictione seu explicatione? prática é lícita, responde simplesmente que é lícita,
sem nenhuma restrição ou explicação?
Resp. (confirmata a Summo Pontifice, 23. Nov.): Resp. (confirmada pelo Sumo Pontífice em 23/11):
Ad 1. Negative. – Ad 2 et 3. Affirmative. Para 1: Não. – Para 2 e 3: Sim.
*3665 1 Trata-se da encíclica“Aeterni Patris” de Leão XIII, de 4 ago. 1879 (cf. *3139s), do motu proprio “Doctoris angelici”
de Pio X de 29 jun. 1914 (cf. *3601°) e da encíclica “Officiorum omnium” de Pio XI do 1 ago. 1922 (AAS 14 [1922]
449-458).
782
As “Bestimmungs-Mensuren”
Qu.: An declarationes S. Congregationis Concilii Pergunta: As declarações da S. Congregação do 3672
anni 1890 [9. Aug.] et 1923 [10. Febr.], quibus Concílio dos anos 1890 [9 ago.] e 1923 [10 fev.],
mensurae in universitatibus Germaniae usitatae quae pelas quais são atingidos por penas eclesiásticas os
speciali nomine “Bestimmungs-Mensuren” vocantur, duelos de estudantes costumeiros nas universidades
poenis ecclesiasticis subiiciuntur, illas tantum men- da Alemanha, chamados “Bestimmungs-Mensuren”,
suras respiciant, iuxta nonnullorum recentiorum concernem, segundo a opinião de alguns autores re-
sententiam, quae cum periculo gravis vulneris com- centes, somente os duelos nos quais se luta com
mittuntur, vel etiam complectantur eas, quae [138] perigo de ferida grave, ou incluem também os que
sine periculo gravis vulneris fiunt in casu? ocorrem sem perigo de ferida grave?
Resp. (confirmata a Summo Pontifice, 20. Iun.): Resp. (confirmada pelo Sumo Pontífice em 20
Negative ad primam partem, affirmative ad alteram. jun.): Não para a primeira parte, sim para a segunda.
Ut translata verbi significatione “rex” appellaretur Que Cristo seja chamado “rei” no sentido meta- 3675
Christus ob summum excellentiae gradum, quo in- fórico, em virtude do sumo grau de excelência pelo
ter omnes res creatas praestat atque eminet, iam diu qual ele se distingue entre todas as criaturas e as
communiterque usu venit. Ita enim fit ut regnare is ultrapassa, vem de um uso de longa data e comum.
in mentibus hominum dicatur …, in voluntatibus Assim se pode dizer que ele reina nas mentes hu-
783
item hominum … . Cordium denique rex Christus manas … ou também nas vontades dos homens … .
agnoscitur … . Enfim, Cristo é reconhecido rei dos corações.
[596] Verum, ut rem pressius ingrediamur, nemo Todavia, para penetrar mais a fundo neste assun-
non videt, nomen potestatemque regis, propria qui- to, não há quem não perceba que o nome e poder
dem verbi significatione, Christo homini vindicari de rei, no sentido próprio do termo, devem ser atri-
oportere; nam, nisi quatenus homo est, a Patre po- buídos a Cristo em sua humanidade; com efeito, só
testatem et honorem et regnum accepisse [cf. Dn enquanto homem é que se pode dizer que ele rece-
7,13s] dici nequit, quandoquidem Dei Verbum, cui beu do Pai o poder e a honra [cf. Dn 7,13s], porque
eadem est cum Patre substantia, non potest omnia é impossível que o Verbo de Deus, enquanto da
cum Patre non habere communia, proptereaque ip- mesma substância do Pai, conseqüentemente não
sum in res creatas universas summum atque abso- tenha tido tudo em comum com o Pai o supremo e
lutissimum imperium. absoluto domínio sobre todas as coisas criadas.
(Mostra-se a partir da Sagrada Escritura que Cristo é rei, sobretudo segundo Nm 24,19; Sl 2; Sl 45[44],7; 72[71],7s;
Is 9,6s; Jr 23,5; Dn 2,44; 7,13s; Zc 9,9; Lc 1,32s; Mt 28,18; Ap 1,5; 19,16; Hb 1,2.)
3676 [598] Quo autem haec Domini nostri dignitas et Ora, em que f u n d a m e n t o se baseia esta digni-
potestas f u n d a m e n t o consistat, apte Cyrillus dade e poder de nosso Senhor adverte acertadamente
Alexandrinus animadvertit: “Omnium, ut verbo Cirilo de Alexandria: “Para dizê-lo numa só pala-
dicam, creaturarum dominatum obtinet, non per vim vra, o Senhor recebe o domínio sobre todas as cria-
extortum, nec aliunde invectum, sed essentia sua et turas, não porque o tivesse arrancado pela força ou
natura”1; scilicet eius principatus illa nititur unione adquirido por outro meio, mas por sua próprio es-
mirabili, quam hypostaticam appellant. Unde conse- sência e natureza”1; ou seja, sua realeza se funda-
quitur, non modo ut Christus ab angelis et homini- menta naquela maravilhosa união que se chama
bus Deus sit adorandus, sed etiam ut eius imperio hipostática. Donde se segue que Cristo não apenas
Hominis angeli et homines pareant et subiecti sint: deve ser adorado por anjos e homens, mas também
nempe ut vel solo [599] hypostaticae unionis nomi- que anjos e homens devem obedecer e estar sujei-
ne Christus potestatem in universas creaturas obtineat. tos a seu império de Homem: pois a título somente
da união hipostática, Cristo obtém o poder sobre
todas as criaturas.
At vero quid possit iucundius nobis suaviusque Mas, por outra parte, que pensamento mais grato
ad cogitandum accidere, quam Christum nobis iure e mais suave podemos ter que o de Cristo imperan-
non tantum nativo, sed etiam quaesito, scilicet re- do sobre nós, não só por direito da natureza, mas
demptionis, imperare [cf. *3352]? Servatori enim também pelo direito adquirido, isto é, pela <obra
nostro quanti steterimus, obliviosi utinam homines da> redenção [*cf. 3352]? Oxalá todos os homens,
recolant omnes: “Non enim corruptibilibus auro vel tão inclinados a esquecer, recordassem que preço
argento redempti estis …, sed pretioso sanguine custamos ao nosso Salvador: “Pois não fostes res-
quasi agni immaculati Christi et incontaminati” [1 gatados com coisas perecíveis como ouro ou prata
Pt 1,18s]. Iam nostri non sumus, cum Christus “pre- …, mas com o precioso sangue de Cristo, como de
tio magno” [1 Cor 6,20] nos emerit; corpora ipsa cordeiro sem defeito e mancha” [1Pd 1,18s]. Pois
nostra “membra sunt Christi” [ibid. 15]. já não pertencemos a nós mesmos, mas Cristo nos
comprou “por alto preço” [1Cor 6,20]; nossos pró-
prios corpos “são membros de Cristo” [ibid. 15].
3677 Iamvero, ut huius v i m et n a t u r a m principa- Ora, para declarar em poucas palavras a f o r ç a e
tus paucis declaremus, dicere vix attinet, triplici a n a t u r e z a deste principado apenas falta dizer
eum potestate contineri, qua si caruerit, principa- que se encontra num tríplice poder, sem o qual di-
tus vix intelligitur. … Est catholica fide creden- ficilmente se entende o principado. … Deve ser crido
dum, Christum Iesum hominibus datum esse uti- com fé católica que Cristo Jesus foi dado aos ho-
que Redemptorem, cui fidant, at una simul legisla- mens como Redentor no qual confiar e, ao mesmo
torem, cui obediant [Concilium Tridentinum, ses- tempo, como legislador ao qual obedecer [Conc. de
sio VI, can. 21: *1571]. Ipsum autem evangelia non Trento, sessão 6ª, cân. 21]. Ora, os Evangelhos não
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tam leges condidisse narrant, quam leges condentem tanto nos narram que ele deu leis, quanto no-lo apre-
inducunt. … sentam como legislador. …
Iudiciariam vero potestatem sibi a Patre attribu- Que o poder judicial lhe foi outorgado pelo Pai,
tam ipse Iesus Iudaeis, de sabbati requiete per mi- o próprio Jesus o proclama ante os juízes que o
rabilem debilis hominis sanationem violata crimi- acusam de violar o repouso do sábado por causa da
nantibus, denuntiat: “Neque enim Pater iudicat maravilhosa cura de um homem enfermo: “Pois
quemquam, sed omne iudicium dedit Filio” [Io também o Pai julga a ninguém, mas deu todo o juízo
5,22]. In quo id etiam comprehenditur – quoniam ao Filho” [Jo 5,22]. Nisto está compreendido – por
res a iudicio disiungi nequit –, ut praemia et poenas ser coisa inseparável do juízo – que ele imponha
hominibus adhuc viventibus iure suo deferat. por direito próprio prêmios e penas aos homens que
vivem até hoje.
At praeterea potestas illa, quam exsecutionis vo- Além disso, deve-se atribuir a Cristo o poder
cant, Christo adiudicanda est, utpote cuius imperio chamado executivo, pois é necessário que todos
parere omnes necesse sit, et ea quidem denuntiata obedeçam a seu império, sancionado com a impo-
contumacibus irrogatione suppliciorum, quae nemo sição de penas contra os refratários, das quais nin-
possit effugere. guém pode escapar.
[600] Verumtamen eiusmodi r e g n u m praecipuo Todavia, que este r e i n o é principalmente e s p i - 3678
quodam modo et s p i r i t u a l e esse et ad spiritualia r i t u a l e se estende sobre o âmbito espiritual, as
pertinere, cum ea, quae ex Bibliis supra protulimus, palavras que acima alegamos da Bíblia o mostram
verba planissime ostendant, tum Christus Dominus com toda a clareza, e o modo de agir do Cristo Se-
sua agendi ratione confirmat. Siquidem non una data nhor o confirma. Pois foi assim que, em mais de
occasione, cum Iudaei, immo vel ipsi Apostoli, per uma ocasião, visto que os judeus e até os próprios