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UMA INTRODUÇÃO À CRÍTICA DE ADORNO À MÚSICA POPULAR

Luís Gustavo Guadalupe Silveira


Mestrando em Filosofia Social e Política
Universidade Federal de Uberlândia/UFU
Bolsista da FAPEMIG

Resumo: A crítica da racionalidade contemporânea realizada pelo pensador Theodor W.


Adorno abrangeu também temas da Filosofia da Arte, sem perder de vista a
preocupação com a Filosofia Social, marca da Teoria Crítica. A análise da Indústria
Cultural ocupou lugar importante em sua filosofia, entendida como um dos mecanismos
de alienação no sistema capitalista e de abrandamento do ímpeto revolucionário. A
Indústria Cultural realiza sua função ao criar necessidades artificiais de consumo e criar
vínculos sociais em torno deste mesmo consumo, ao promover momentos de
relaxamento e descanso do trabalho penoso e monótono para revigorar os indivíduos
para aquele mesmo trabalho, ao reforçar imagens estereotipadas e conservadoras, de
fácil acesso a todos, ao reprimir e recalcar a imaginação oferecendo cultura sem esforço,
ao impregnar o ócio com os elementos da lógica mecanizada do trabalho, ao tratar a
cultura como mercadoria. Como produção cultural que faz parte deste contexto, a
música popular foi analisada por Adorno em diversos textos, dos quais serão
especialmente alvo de atenção “Sobre a música popular” (1941) e “O fetichismo na
música e a regressão da audição” (1963). Este trabalho tem o objetivo de apresentar
algumas idéias do filósofo sobre a música popular, sua relação com o
ouvinte/consumidor e as conseqüências de sua audição, explicando alguns conceitos
centrais de sua análise: estandardização, pseudo-individuação, identificação, regressão
da audição, fetichismo na música, despeito. No presente momento, em que as únicas
questões aparentemente relevantes sobre a música popular dizem respeito à pirataria, ao
preço elevado dos CDs e DVDs, à internet e ao mp3, uma visita aos textos de Adorno
pode trazer aos artistas, produtores de cultura e ouvintes uma perspectiva mais profunda
sobre a mercantilização da arte.

Propor uma crítica à Indústria Cultural parece ordinariamente enfrentar


resistências “intransponíveis” a um desenvolvimento sério: soa como intelectualismo
elitista ou a defesa de certos produtos culturais mais “elaborados”, em detrimento de
outros dirigidos às massas; soa pessimista e desajustada, coisa de artista frustrado ou de
quem não entende nada de arte popular; soa como um discurso vazio, que por um lado
“chuta cachorro morto”, pois criticar a fábrica de lixo cultural é fácil e, por outro, é
desnecessário, pois não vai mudar nada, já que a indústria do entretenimento veio pra
ficar. Quase sempre, a crítica degenera em coleção de juízos de valores sobre os
produtos culturais, do tipo “isso é bom, isso é ruim”. O objetivo do presente trabalho é
enriquecer a discussão sobre a Indústria Cultural, em especial sobre a música popular,
2

introduzindo a perspectiva do pensamento do filósofo e compositor alemão T. W.


Adorno (1903-1969) sobre o tema. Ao apresentar as teses do autor desenvolvidas em
algumas de suas obras, este trabalho visa instigar um debate mais profundo e amplo
sobre a Indústria Cultural e a mercantilização da arte musical. Para tanto, utilizando
uma linguagem mais acessível aos não iniciados em filosofia, visto ser um trabalho de
caráter introdutório, trabalhará somente conceitos-chave na teoria do filósofo sobre a
cultura de massa (estandardização, pseudo-individuação, identificação, regressão da
audição, fetichismo na música, despeito etc.), e ilustrará a teoria com exemplos atuais1.
Ao criticar a racionalidade contemporânea2, apontando sua regressão em direção
ao pensamento mítico (hierarquização, repetição, antecipação etc.), Adorno abrangeu
também temas da Filosofia da Arte, sem perder de vista a preocupação com a Filosofia
Social, marca da Teoria Crítica – este movimento filosófico procurava entender, entre
outras coisas, os motivos da não superação do sistema capitalista, da frustração das
expectativas sobre o potencial revolucionário do proletariado. Neste contexto, a análise
da Indústria Cultural ocupou lugar importante na filosofia de Adorno, entendida como
um dos mecanismos de alienação no sistema capitalista e de abrandamento do ímpeto
revolucionário.
As relações de produção no sistema capitalista são marcadas por grande
contradição, pois enquanto o indivíduo se imagina livre, na vida concreta ele está preso
a um cotidiano exaustivo e que não gratifica seu trabalho. A individualidade prometida
pela forma burguesa de vida nunca se realizou de fato: a idéia de uma individualidade
autodeterminada pela razão livre entra em conflito com o constante esforço para a
“reprodução da própria existência no trabalho repetitivo, monótono, inexpressivo, sem
criatividade dos trabalhadores...”3. A jornada de trabalho é motivo de esgotamento
físico e emocional. Para exercer bem as funções socialmente adequadas, ou seja,
produtivas, muitos desejos pessoais têm que ser adiados, reprimidos. Mesmo que se
satisfaça o sentimento de realização pessoal pelo dinheiro e status, a satisfação em ser si
mesma é minada o tempo todo. No mundo do trabalho, não há um reforço da própria

1
Cf. DIAS, Maria Regina T. Idéias de uma sociologia da indústria fonográfica. In: LASTÓRIA, Luiz A.
C. N. et al. (orgs). Teoria crítica, ética e educação. Campinas: Autores Associados; Piracicaba:
UNIMEP, 2001, p. 193-216.
2
Cf. ADORNO, T. W., HORKHEIMER, W. Dialética do esclarecimento. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
2006.
3
FREITAS, Verlaine. Indústria cultural: o empobrecimento narcísico da subjetividade. In: Kritérion,
Revista de Filosofia, v. 46, n. 112, jul./dez.. 2005. p. 334.
3

identidade individual, um espelho no qual recuperar o amor pela própria imagem4. Além
disso, alienado da totalidade pelas relações de produção, caracterizadas pela extrema
divisão do trabalho, o sujeito busca incessantemente aquilo que o conectará à
universalidade, que o fará sentir-se parte de uma coletividade5. É aqui que surge a
necessidade pessoal de algo que ofereça a realização da individualidade e sua inserção
no coletivo, que ao mesmo tempo contemple a necessidade social da manutenção da
ordem6; é a Indústria Cultural que realiza esta função. Todavia, se por um lado ela é
capaz de aumentar a coesão social e contribuir para a manutenção do sistema capitalista,
por outro lado ela frustra a realização pessoal que promete aos indivíduos, pois esta é
uma promessa que ela não pode cumprir: o que ela faz, no fundo, é promover e produzir
em série bens culturais para satisfazer ilusoriamente necessidades geradas pelo trabalho
e para manter nos consumidores a carência por novos produtos, enganando as pessoas
sobre a satisfação de suas necessidades. Seus produtos passam a idéia de satisfação de
necessidades legítimas, próprias dos indivíduos como seres livres (que podem escolher),
mas todas as opções são pensadas segundo o princípio da compra, que as torna todas
mercadorias iguais7. A expressão “liberdade de escolha”, para Adorno, significa na
verdade a liberdade de escolher sempre a mesma coisa8.
Assim, a Indústria Cultural realiza sua função ao criar necessidades artificiais de
consumo e criar vínculos sociais em torno deste mesmo consumo; ao promover
momentos de relaxamento e descanso do trabalho penoso e monótono para revigorar os
indivíduos para aquele mesmo trabalho; ao reforçar imagens estereotipadas e
conservadoras, de fácil acesso a todos; ao reprimir e recalcar a imaginação oferecendo
cultura sem esforço; ao impregnar o ócio com os elementos da lógica mecanizada do
trabalho; ao tratar a cultura como mercadoria9. E entre estas mercadorias culturais se
encontra a música.
Em seus textos “Sobre a música popular” (publicado originalmente em 1947) e
“O Fetichismo na Música e a Regressão da Audição” (de 1963), Adorno apresenta uma
análise minuciosa da música como produto da Indústria Cultural e das razões de sua

4
Id. Adorno & Arte Contemporânea. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. p. 18.
5
Id. 2005, p.338.
6
Cf. SILVA, Rafael Cordeiro. A atualidade da crítica de Adorno à indústria cultural. In: Revista
Educação e Filosofia, v.13, n.25, jan./jul.1999. p. 39.
7
FREITAS, 2003, p. 18.
8
ADORNO, T. W., HORKHEIMER, W., 2006, p. 138.
9
ADORNO, T. W. A indústria cultural. In: COHN, Gabriel (org). Adorno: Sociologia. 2. ed. São Paulo:
Ática, 1994, p. 93.
4

influência sobre os ouvintes. Segundo o filósofo, o traço distintivo desta música é a


estandardização, ou seja, a padronização que vigora como regra geral de produção e de
audição da música. Os padrões musicais populares desenvolveram-se originalmente pela
competição. Quando surgia um sucesso, apareciam centenas de músicas imitando o hit.
Assim, os padrões foram se cristalizando10 – quem não segue as regras é excluído11. A
música popular precisa atender a duas demandas: primeiramente, deve oferecer
estímulos que provoquem a atenção do ouvinte; em segundo lugar, o material tem que
ser reconhecido por todos como música “natural” (tonal etc.). Aquilo que não se
conforma a esta linguagem musical é barrado – o extravagante só é tolerado se puder se
reenquadrar na “linguagem natural”. Para o consumidor, a música deve ser
“estimulante” por desviar-se do “natural” institucionalizado, mas deve manter a
supremacia do natural contra os desvios. O apelo dos produtos da Indústria Cultural está
nesta “fuga” da rotina, que é ilusória: o descanso segue a lógica do trabalho mecanizado
(repetição) e tem como única função revigorar para o mesmo trabalho. Nas palavras de
Adorno:

A diversão é o prolongamento do trabalho sob o capitalismo tardio. Ela é


procurada por quem quer escapar ao processo de trabalho mecanizado, para se
pôr de novo em condições de enfrentá-lo. Mas, ao mesmo tempo, a
mecanização atingiu um tal poderio sobre a pessoa em seu lazer e sobre a sua
felicidade, ela determina tão profundamente a fabricação das mercadorias
destinadas à diversão, que esta pessoa não pode mais perceber outra coisa senão
as cópias que reproduzem o próprio processo de trabalho. O pretenso conteúdo
não passa de uma fachada desbotada; o que fica gravado é a seqüência
automatizada de operações padronizadas. Ao processo de trabalho na fábrica e
no escritório só se pode escapar adaptando-se a ele durante o ócio. Eis aí a
doença incurável de toda diversão. O prazer acaba por se congelar no
aborrecimento, porquanto, para continuar a ser um prazer, não deve mais exigir
esforço e, por isso, tem de se mover rigorosamente nos trilhos gastos das
associações habituais. O espectador não deve ter necessidade de nenhum
pensamento próprio, o produto prescreve toda reação...12

É criada uma ilusão de individualidade, chamada de pseudo-individuação, uma


aparência de livre-escolha e mercado aberto da cultura de massa, que está na base da
estandardização – os ouvintes ignoram que o que eles escutam é “pré-digerido”, pois é

10
A música que logra sucesso comercial é regravada repetidamente, às vezes com o mesmo arranjo
original. No Brasil, por exemplo, não são raros também os casos de versões nacionais, com letras em
português, de sucessos estrangeiros. Pode acontecer, inclusive, de um sucesso internacional ter mais de
uma versão diferente em português.
11
Id. Sobre a música popular. 1994, p. 121.
12
ADORNO, HORKHEIMER, 2006, p. 113.
5

apresentado segundo normas rígidas que controlam todo tipo de espontaneidade. Assim,
Adorno classifica os hábitos de audição contemporâneos de regressivos, pois não há
autonomia individual na relação com a música popular, que é aceita sem resistência13.
Na música, até os improvisos seguem uma norma14. Como não é preciso fazer esforço
para ouvir as músicas padronizadas, é a distração que orienta os hábitos de audição15.
Ocorre uma pseudo-individuação sociológica (e não técnica) até das peças musicais ao
se enfatizar os tipos de música e os conjuntos que tocam, o que configura uma técnica
de rotulação que “providencia marcas comerciais de identificação para diferenciar” o
que não é diferente16. As próprias letras das músicas não passariam de slogans
comerciais17. Como, em decorrência da estandardização (exigida pelo mercado), as
músicas são semelhantes entre si e devido ao fato de serem mercadorias (sem vínculo
real com os indivíduos além do comércio), a Indústria Cultural lança mão de alguns
artifícios para dar relevância às canções e incentivar o seu consumo, conferindo um
caráter fetichista à música, que passa a ser gostada como se possuísse existência própria
e criando a ilusão de identificação entre o ouvinte e a música. A promoção é um deles: a
repetição incessante de um hit nas rádios (e atualmente na TV) quebra a resistência ao
musicalmente idêntico e as reações habituais tornam-se automatizadas18. Não só as
músicas são promovidas desse modo, mas as personalidades e os estilos também. A
repetição dá ao hit importância psicológica, força a recordação, impõe o material
musical, complementando a estandardização. Assim, qualquer música pode ser um
“sucesso”, desde que tenha o apoio das agências de divulgação e promoção, tenha um
detalhe diferente19 das outras e a mesma estrutura dominante. Todavia, a Indústria
Cultural enfrenta um desafio intransponível: as gravadoras querem hits ao mesmo
tempo idênticos e diferentes20: “a música deve ser sempre nova e sempre a

13
ADORNO, T. W. O fetichismo na música e a regressão da audição. In: ________. Textos Escolhidos.
São Paulo: Nova Cultural, 2000. p. 95.
14
No texto “A indústria cultural” (1994), Adorno afirma que o modelo dos dramas da Indústria Cultural,
no qual o personagem se mete em confusões somente para sair delas em seguida, de volta à ordem
“natural” das coisas, tem seu correlato na música de entretenimento, quando se entra em apuros [jam]
rítmicos, que logo em seguida se desfazem com o retorno do compasso certo.
15
Id., 1994, p. 136.
16
Ibid., p. 124.
17
Id., 2000, p. 92.
18
O termo utilizado no meio da promoção musical que ilustra este processo é “música de trabalho”:
aquela faixa do disco que será promovida, quer dizer, repetida inúmeras vezes nas rádios e nos programas
de TV para servir de propaganda para o disco.
19
Os detalhes diferentes podem ser um estilo musical “inovador” ou um artista “novo”, muitas vezes
descobertos por meio de caça-talentos, festivais ou programas de auditório.
20
ADORNO, 1994, p. 126.
6

mesma”21. Todavia, sem esforço não se escapa à monotonia do sempre-idêntico na


música – a fuga então é impossível e isto gera a atitude de falta de atenção na música
popular.
A fim de romper provisoriamente com esta distração, outro requisito é uma certa
“riqueza” (floreios e exageros estereotipados para chamar a atenção), um som redondo –
requisito ligado à comercialização do entretenimento. Não sem razão, este glamour leva
a um comportamento infantil. A música e a letra imitam a linguagem infantil: incessante
repetição de sílabas (“lá lá lá”, “aê, aê, aê” etc.), limitação de uma melodia a bem
poucos tons, harmonia propositadamente errônea, certos coloridos musicais
superadocicados – tratar adultos como crianças para relaxar os esforços da vida adulta.
Esta linguagem infantil também simula uma inferioridade das agências promotoras da
música e um domínio dos ouvintes sobre o material musical (quando na verdade, o que
acontece é o ouvinte ser dominado pela cultura massificada).
Os hábitos de audição giram em torno do reconhecimento – basta repetir algo até
torná-lo reconhecível para torná-lo aceito. Para entender o hit, Adorno afirma que é
preciso analisar teoricamente os processos envolvidos na transformação da repetição em
reconhecimento, e do reconhecimento em aceitação. O filósofo apresenta uma divisão
esquemática dos componentes da experiência do reconhecimento no momento da
audição da música22: a) a experiência vaga de estar lembrando de algo – “Eu devo ter
ouvido isso em algum lugar...”; b) momento em que ocorre a identificação propriamente
dita – “É isso!”; c) substituição por rotulação, quando o nome da música aparece na
memória, ligando a experiência individual à coletividade social na qual o hit é
compartilhado – “Esse é o hit tal!”; d) a auto-reflexão, o pensamento se volta para o
próprio ouvinte no ato de identificação – “Oh, eu sei disso, isso faz parte de mim!”. O
indivíduo que se sente sufocado pela torrente de músicas sente alívio e triunfo no
instante em que é capaz de identificar algo; e) transferência psicológica da autoridade de
reconhecimento para o objeto – “Ora, o hit tal é bom mesmo!”. É a tendência de
transferir a gratificação da posse para o próprio objeto e atribuir a ele (em termos de
gosto) o prazer da posse que tenha alcançado. Isto é incrementado pela promoção, que
faz da música um fetiche: ela reveste a música de qualidades que na verdade se devem
aos mecanismos de identificação. O valor social inerente ao hit está envolvido na

21
Id., Moda intemporal – sobre o jazz. In: ________. Prismas: crítica cultural e sociedade. São Paulo:
Ática, 1998, p. 123.
22
Id., op. cit., p. 132 et seq.
7

transferência da gratificação da propriedade para o objeto (que passa a ser “gostado”). A


partir da identificação e subsunção do hit, ele se torna um objeto, fixo e permanente,
para o ouvinte. Isso faz dele sua “propriedade” – está na sua memória, ele pode
reproduzi-lo à vontade e tem controle sobre a música, podendo manipulá-la à vontade23.
O ouvinte fica feliz por ter aquilo que todo mundo tem – ilusão do valor, base da
avaliação do ouvinte acerca do material musical. O ouvinte passa a ter a ilusão de
grandeza (“eu possuo uma instituição pública”).
Mas existe uma característica deste processo que levou Adorno a crer que a
aceitação da música não se dá de forma totalmente passiva: a ambivalência dos hábitos
de audição. O “gostar” de determinado hit ou de certo artista está sempre a um passo de
degenerar em fúria e despeito24. Aquilo que é moda agora, amanhã corre o risco de ser
ridicularizado25. Como a mercadoria musical é aceita e “gostada” devido à imposição
que é feita pelas agências de promoção, e porque os ouvintes no fundo sentem que estão
sendo enganados pela Indústria Cultural, assim que esta pressão se arrefece, o despeito
pode surgir26. Isto é um sinal de que os ouvintes precisam transformar as ordens
externas em ordens internas – eles têm que se forçar a aceitar. Daí a importância da
reflexão sobre a Indústria Cultural e sobre o papel da música popular. Quanto mais
estivermos conscientes deste contexto, talvez maiores as chances de libertação do prazer
controlado. Se a aceitação necessita da vontade é porque há ainda alguma vontade viva,
que sob certas circunstâncias, pode ser forte o suficiente para livrar os indivíduos das
influências impostas. “Para se transformar em um inseto27, o homem precisa daquela
energia que eventualmente poderia efetivar a sua transformação em homem.”28.

Referências

ADORNO, T. W. A indústria cultural. In: COHN, Gabriel (org). Adorno: Sociologia.


2. ed. São Paulo: Ática, 1994. p. 92-99. (Coleção Grandes Cientistas Sociais, 54)

________. Sobre a música popular. In: COHN, Gabriel (org). Adorno: Sociologia. 2.
ed. São Paulo: Ática, 1994. p.115-146. (Coleção Grandes Cientistas Sociais, 54)

23
Alguns exemplos são aquelas pessoas que têm o habito de assoviar ou cantarolar alguma peça familiar,
a popularidade dos karaokês e similares, e o deleite que acompanha tal exibição.
24
ADORNO, 2000, p. 102.
25
É comum o sentimento de “Como eu pude gostar disso?!” que às vezes acompanha quem revisita os
gostos e modismos do passado não muito distante.
26
Id., 1994, p. 144.
27
Referência ao termo inglês jitterbug, que nomeia os fãs mais entusiasmados de música popular norte-
americana, que se comportam como insetos sem vontade própria.
28
Ibid., p. 146.
8

________. Moda intemporal – sobre o jazz. In: ________. Prismas: crítica cultural e
sociedade. São Paulo: Ática, 1998. p.117-130.

________. O Fetichismo na Música e a Regressão da Audição. In: ________. Textos


escolhidos. São Paulo: Nova Cultural, 2000. p. 65-108. (Coleção Os Pensadores)

ADORNO, T. W., HORKHEIMER, W. A indústria cultural: o esclarecimento como


mistificação das massas. In: ________. Dialética do esclarecimento. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar, 2006. p. 99-138.

DIAS, Maria Regina T. Idéias de uma sociologia da indústria fonográfica. In:


LASTÓRIA, Luiz A. C. N. et al (orgs). Teoria crítica, ética e educação. Campinas:
Autores Associados; Piracicaba: UNIMEP, 2001. p. 193-216.

FREITAS, Verlaine. Adorno & Arte Contemporânea. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
2003. (Coleção Passo-a-passo, 17)

________. Indústria cultural: o empobrecimento narcísico da subjetividade. In:


Kritérion, Revista de Filosofia, v. 46, n. 112, p. 332-344, jul./dez. 2005.

SILVA, Rafael Cordeiro. A atualidade da crítica de Adorno à indústria cultural. In:


Revista Educação e Filosofia, v. 13, n. 25, p. 27-42, jan./jul. 1999.

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