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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA MINAS GERAIS


IFMG – CAMPUS CONGONHAS

Ensaios Mecânicos
Aula 10: Ensaios de impacto

Rodrigo Rangel Porcaro


Mestrando em Engenharia de Materiais (REDEMAT)
Engenheiro Metalurgista (UFOP)

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ENSAIO DE IMPACTO - CONCEITO

• O ensaio de impacto se caracteriza por submeter o


corpo ensaiado a uma força brusca e repentina, que
deve rompê-lo.

• É bem melhor saber quanto o material resiste a uma


carga dinâmica numa situação de ensaio do que
numa situação real de uso.
INTRODUÇÃO - Impacto
INTRODUÇÃO - Impacto
Os navios Liberty

Titanic
A Fratura:
Exemplo: Fratura frágil do transatlântico TITANIC,
12/04/1912.
Queda do Concorde, 25/07/2000
Queda do Concorde, 25/07/2000
Queda do ônibus espacial Columbia, 01/02/2003
Queda do ônibus espacial Columbia, 01/02/2003
FRATURA

• Por que falham os materias?


– Projeto inadequado;
– Influência do meio;
– Fratura dúctil X frágil.

• Importância dos Princípios da mecânica de


fratura
Fratura

 É a separação de um corpo sólido em duas ou mais


partes devida à uma tensão aplicada.

 Etapas da fratura:
– Nucleação de trincas
– Propagação de trincas
– Ruptura do cdp
Fratura

 Dois modos de fratura: dúctil e frágil 


depende da capacidade do material em absorver energia
até a ruptura, podendo este experimentar deformação
plástica.
Fratura - Materiais Metálicos

Ocorre normalmente de maneira dúctil há um aviso do material


antes do rompimento

É caracterizada pela ocorrência de deformação plástica significativa,


antes e durante a propagação das trincas.

 superfícies de fratura apresentam aspecto fibroso (dúctl) ou granular


(frágil).
Metais dúcteis à temp. ambiente B é o modo mais comum
A = (Au, Pb)

A B C

Fratura tipo cone em Al Fratura frágil em aço


Fratura - Materiais metálicos
 O rompimento de um material metálico pode ocorrer de maneira dúctil
por meio de fratura:
- transgranular (crescimento plástico-fratura em taça ou cone)
- intergranular (presença de vazios nos contornos de grão)
- formação de um pescoço (deformação plástica)
- cisalhamento
Fratura taça-cone
Pescoço Coalescimento de
Trincas

microcavidades Fratura final por


Propagação de cisalhamento Fibras
trincas arrancadas indicando
deformação plástica.

Dimples Dimples
esféricos Parabólicos

Carregamento-Tração Carregamento-Cisalhamento
Fratura - Materiais metálicos
 A fratura frágil é caracterizada pela rápida propagação da trinca, sem
deformação plástica aparente.
 Se ocorrer de maneira frágil (geralmente T muito baixas):
- clivagem
- intergranular
Fratura - Materiais metálicos
 A fratura frágil acontece sem aviso prévio e as consequências
podem ser desastrosas.

A tendência para ocorrência de fratura frágil aumenta com:

- diminuição da temperatura
- aumento da taxa de deformação
- estado triaxial de tensão (entalhe)
Fratura - Materiais metálicos

Microestrutura de um aço inoxidável: corrosão no contorno de grão provocando a fratura


intergranular pelo excesso da temperatura no tratamento térmico em aço inoxidável 316L.
Fratura - Materiais metálicos

Superfície de fratura por clivagem de aço carbono em uma válvula de alívio de pressão.
A fratura foi atribuída à corrosão sob tensão (~250X)
Superfície de Fratura Frágil
Origem da trinca

Marcas de sargento
em forma de V

Origem da trinca

Nervuras radiais em
formato de leque
ENSAIO DE IMPACTO
ENSAIO DE IMPACTO - CONCEITO
• A resposta do material sob impacto poderá ser dúctil ou frágil;

• Uma trinca promove concentração de tensões muito


elevadas, o que faz com que a maior parte da energia produzida
pela ação do golpe seja concentrada numa região localizada da
peça, com a consequente formação da fratura frágil.

• A existência de uma trinca, por menor que seja, muda


substancialmente o comportamento do material dúctil.
Cobre comercialmente puro. Fratura e mecanismo de fratura dúctil.
Aço baixo carbono na temperatura ambiente. Fratura e mecanismo de
fratura dúctil.
Latão. Fratura e mecanismo de fratura frágil.
Aço baixo carbono a –190oC. Fratura e mecanismo de fratura frágil.
ENSAIO DE IMPACTO - DESCRIÇÃO
• O ensaio de impacto consiste em medir a
quantidade de energia absorvida por uma amostra
do material, quando submetida à ação de um esforço
de choque de valor conhecido.

• O choque ou impacto representa um esforço de


natureza dinâmica, porque a carga é aplicada
repentina e bruscamente.
ENSAIO DE IMPACTO - DESCRIÇÃO
• No impacto, não é só a força aplicada que conta.
Outro fator é a velocidade de aplicação da força.
Força associada com velocidade traduz-se em
energia.
Ensaios de Impacto

 Charpy
 Izod

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ENSAIO DE IMPACTO - DESCRIÇÃO
Ensaios de Impacto

 INFORMAÇÕES OBTIDAS:

- Energia Absorvida: medida diretamente pela


máquina
- Contração Lateral: quantidade de contração em
cada lado do corpo de prova fraturado
- Aparência da fratura: determinação da
porcentagem de fratura frágil
ENSAIO DE IMPACTO - DESCRIÇÃO
 De acordo com o Sistema Internacional de Unidades (SI),
a unidade de energia adotada é o Joule.
 A máquina é dotada de uma escala, que indica a posição
do pêndulo, e é calibrada de modo a indicar a energia
potencial.
 A fórmula de energia potencial (Ep) é:
Ep = m x g x h
m = massa
g = gravidade
h = altura
ENSAIO DE IMPACTO - DESCRIÇÃO
CORPOS DE PROVA

• Nos ensaios de impacto, utilizam-se duas classes de


corpos de prova com entalhe: o Charpy e o Izod.
CORPOS DE PROVA
CORPOS DE PROVA

• Os corpos de prova Charpy compreendem três


subtipos (A, B e C), de acordo com a forma do
entalhe.
Tipo A é o mais utilizado.
CORPOS DE PROVA
CORPOS DE PROVA

 As diferentes formas de entalhe são necessárias para


assegurar que haja ruptura do corpo de prova,
mesmo nos materiais mais dúcteis.
 O corpo de prova Charpy é apoiado na máquina e o
Izod é engastado, o que justifica seu maior
comprimento.
 A única diferença entre o ensaio Charpy e o Izod é
que no Charpy o golpe é desferido na face oposta ao
entalhe e no Izod é desferido no mesmo lado do
entalhe.
CORPOS DE PROVA

Charpy Izod
IMPACTO EM BAIXAS TEMPERATURAS
• A temperatura, especificamente a baixa
temperatura, é um fator de extrema importância no
comportamento frágil dos metais.

• A temperatura influencia muito a resistência de


alguns materiais ao choque.
IMPACTO EM BAIXAS TEMPERATURAS
POLÍMEROS
São frágeis à baixas temperaturas porque a rotação dos
átomos na molécula requer energia térmica
A maioria dos polímeros apresentam transição dúctil-
frágil que é geralmente abaixo da ambiente

MATERIAIS CFC
Permanecem dúcteis (não apresenta transição
dúctil-frágil) porque nesta estrutura há muitos
planos de escorregamento disponíveis
EX: Alumínio e suas ligas e cobre e suas ligas

MATERIAIS HC
São frágeis porque nesta estrutura há poucos planos de
escorregamento disponíveis
Alguns materiais HC apresentam transição dúctil-frágil
Ex: Zinco
IMPACTO EM BAIXAS TEMPERATURAS
Aço inoxidável
MATERIAIS CCC
Apresentam uma transição
de frágil para dúctil em
função da temperatura
zinco

AÇOS LIGADOS
Alguns aços apresentam
temperatura de
transição mais baixa
Aço baixo carbono
IMPACTO EM BAIXAS TEMPERATURAS
IMPACTO EM BAIXAS TEMPERATURAS
• Temperatura de transição: faixa de temperatura
relativamente pequena na qual a energia absorvida
pelo corpo de prova cai apreciavelmente.

• A temperatura de transição é aquela em que ocorre


uma mudança no caráter da ruptura do material,
passando de dúctil a frágil ou vice-versa.
IMPACTO A BAIXAS TEMPERATURAS
IMPACTO EM BAIXAS TEMPERATURAS

• A faixa de temperatura de transição compreende o


intervalo de temperatura em que a fratura se
apresenta com 70% de aspecto frágil (cristalina) e
30% de aspecto dúctil (fibrosa) ou 70% de aspecto
dúctil e 30% de aspecto frágil.
• A definição dessa faixa é importante porque só
podemos utilizar um material numa faixa de
temperatura em que não se manifeste a mudança
brusca do caráter da ruptura.
IMPACTO EM BAIXAS TEMPERATURAS
Exemplo: Queda do Challenger
28/01/1986
Exemplo: Queda do Challenger
28/01/1986

Falha dos anéis de vedação dos motores.


Exemplo: Queda do Challenger
28/01/1986

A - steel wall thickness 12.7 mm,


B - base O-ring gasket,
C - backup O-ring gasket,
D - Strengthening-Cover band,
E - insulation,
F - insulation,
G - carpeting,
H - sealing paste,
Falha dos anéis de vedação dos motores. I - fixed propellant
Exemplo: Queda do Challenger
28/01/1986

Clivagem! Alvéolos!
IMPACTO EM BAIXAS TEMPERATURAS
• Os metais que têm estrutura cristalina CFC, como o
cobre, alumínio, níquel, aço inoxidável austenítico
etc., não apresentam temperatura de transição, ou
seja, os valores de impacto não são influenciados
pela temperatura.

• Por isso esses materiais são indicados para trabalhos


em baixíssimas temperaturas, como tanques
criogênicos, por exemplo.
FATORES QUE INFLUENCIAM A
TEMPERATURA DE TRANSIÇÃO
O intervalo de transição é influenciado por certas
características como:
• Tratamento térmico - Aços-carbono e de baixa liga são
menos sujeitos à influência da temperatura quando
submetidos a tratamento térmico que aumenta sua
resistência;
• Tamanho de grãos - Tamanhos de grãos grosseiros
tendem a elevar a temperatura de transição, de modo a
produzir fratura frágil em temperaturas mais próximas à
temperatura ambiente. Tamanhos de grãos finos abaixam
a temperatura de transição;
FATORES QUE INFLUENCIAM A
TEMPERATURA DE TRANSIÇÃO
Grãos grossos

Grãos finos
FATORES QUE INFLUENCIAM A
TEMPERATURA DE TRANSIÇÃO
A soldagem feita nesses navios Liberty provou o crescimento excessivo de grão.

II Guerra Mundial - Setor Naval - estruturas dos navios eram soldadas para economizar
tempo na montagem durante a época de guerra. Os efeitos da temperatura, dos
concentradores de tensão e de tensões residuais não eram bem compreendidos.
Um exemplo clássico de acidentes provocados por fratura dessa época são os navios
da série Liberty, que tinham o dever de cruzar o Oceano Atlântico ao menos uma vez e
deixar suprimentos na Europa, porém muitos deles acabavam afundando antes de
cumprir esse objetivo, alguns fraturavam em alto mar e outros atracados no porto.
Mais precisamente, foram construídos 4694 navios da série Liberty, dentre os quais
1289 apresentaram algum tipo de fratura, de modo que 233 delas foram catatróficas,
e ainda, 19 navios partiram-se ao meio.
FATORES QUE INFLUENCIAM A
TEMPERATURA DE TRANSIÇÃO
 Encruamento - Materiais encruados, que sofreram
quebra dos grãos que compõem sua estrutura,
tendem a apresentar maior temperatura de
transição;
 Impurezas - A presença de impurezas, que fragilizam
a estrutura do material, tende a elevar a
temperatura de transição;
 Elementos de liga - A adição de certos elementos de
liga, como o níquel, por exemplo, tende a melhorar a
resistência ao impacto, mesmo a temperaturas mais
baixas;
FATORES QUE INFLUENCIAM A
TEMPERATURA DE TRANSIÇÃO

P, Cr, Mo, O, Si, N : aumentam temp.


transição

Ni : reduz temp. transição


FATORES QUE INFLUENCIAM A
TEMPERATURA DE TRANSIÇÃO
 Processos de fabricação - Um mesmo aço, produzido
por processos diferentes, possuirá temperaturas de
transição diferentes;
 Retirada do corpo de prova - A forma de retirada
dos corpos de prova interfere na posição das fibras
do material. As normas internacionais geralmente
especificam a posição da retirada dos corpos de
prova, nos produtos siderúrgicos, pois a região de
onde eles são retirados, bem como a posição do
entalhe, têm fundamental importância sobre os
valores obtidos no ensaio.
FATORES QUE INFLUENCIAM A
TEMPERATURA DE TRANSIÇÃO
Fractografia
FATORES QUE INFLUENCIAM A
TEMPERATURA DE TRANSIÇÃO
FRACTOGRAFIA
Fractografia
Fractografia
Fractografia
Ensaio de Impacto
Exercícios
1. Por que a fratura frágil dos metais é perigosa?

2. Quais fatores aumentam a tendência dos metais em sofrer fratura frágil?

3. Qual é o objetivo do ensaio de impacto?

4. Qual (is) propriedade é medida no ensaio de impacto? Descreva o ensaio


com suas palavras.

5. Quais são as vantagens de usar corpo de prova Charpy em relação ao Izod?

6. Suponha que você trabalhe em uma empresa que faz tratamento térmico em
aços. Um dos engenheiros da empresa teve a seguinte ideia para
economizar: substituir o aço inox austenítico (CFC) dos tanques criogênicos
de nitrogênio (-195,8°C) por um aço inox ferrítico (CCC) de menor custo.
Como o técnico em mecânica da empresa, o que você diria ao engenheiro?

7. O que influencia na temperatura de transição dúctil frágil dos aços?

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