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Introdução à Epidemiologia

Juraci A. Cesar
Divisão de População & Saúde, FURG
Pós-Graduação em Epidemiologia, UFPel
☛ Dos objetivos desta aula:
• Demonstrar a importância da Epidemiologia
para a Saúde Pública e para a prática clínica e
• Mostrar situações de uso.

☛ Do conteúdo desta aula:


• Definição
• Tipos de estudos epidemiológicos
• Área de atuação
• Exemplos de aplicação
• Histórico
Das habilidades do aluno...

• Identificar problemas em Saúde Pública;


• Perceber situações de uso da Epidemiologia e
• Entender a importância da abordagem coletiva
dos problemas (e riscos) em saúde.
FUNDAMENTOS DA EPIDEMIOLOGIA

• Origem:
• Epi: sobre
• Demos: povo, população
• Logia: estudo de
EPIDEMIOLOGIA É A CIÊNCIA QUE ESTUDA...

•“... a distribuição e os determinantes de estados ou eventos


relacionados à saúde em populações específicas, e sua
aplicação no controle desses problemas” (John Last)

• “... a ocorrência de doenças nas populações e os seus


determinantes” (A. Lilienfeld)

• “... a ocorrência de doenças em grupos populacionais”


(Ahlbom & Norel)
EPIDEMIOLOGIA É A CIÊNCIA QUE ESTUDA...

•“... as doenças em relação a populações” (Rose)

• “... o processo saúde-doença em populações humanas”


(Kleinbaum)

• “... a distribuição e os determinantes da freqüência de


doenças no homem” (MacMahon)
DEFINIÇÃO DE EPIDEMIOLOGIA

• Evans reuniu 23 definições e contou quantas vezes


algumas palavras-chave apareciam:
● Doença: 21 vezes
● População, comunidade ou grupo: 17 vezes
● Distribuição: 9 vezes
● Etiologia/determinantes/causas/ecologia: 8 vezes

Estudo da distribuição e dos determinantes do processo


saúde-doença em populações humanas.
O QUE FAZ UM EPIDEMIOLOGISTA?

• Conta
• Classifica
• Compara
• Intervém
ALGUMAS DESCOBERTAS DA EPIDEMIOLOGIA

• Transmissão da AIDS
• Colesterol e doença isquêmica do coração
• Fumo e câncer de pulmão
• Flúor e cáries dentárias
• Sedentarismo e mortalidade cardiovascular
• Amamentação e mortalidade infantil
• Etc...
PRINCÍPIOS DA EPIDEMIOLOGIA (I)

• Ênfase na saúde, mas estuda as doenças;


• Todos os achados se referem a uma população, mas a
aplicação é individual;
• As doenças não ocorrem ao acaso;
• É essencial comparar grupos populacionais.
PRINCÍPIOS DA EPIDEMIOLOGIA (II)

• O conhecimento epidemiológico é essencial para a


prevenção;
• O método epidemiológico tem aplicações em nível
clínico, de planejamento/gerenciamento e de avaliação.

Fator de risco: qualquer fator associado com a ocorrência


da doença, seja:
causal (determinante)
ou não (marcador de risco).
TIPOS DE ESTUDOS EPIDEMIOLÓGICOS
• Estudos descritivos: frequência
• Estudos analíticos: causalidade
● Estudos observacionais
● Estudos experimentais
TIPOS DE ESTUDOS EPIDEMIOLÓGICOS
• Estudos descritivos
● Descrevem frequência de ocorrência de doenças
ou fatores de risco em um determinado tempo e
lugar em uma população específica.
A TRÍADE DOS ESTUDOS DESCRITIVOS

• Lugar
• Tempo
• Pessoas

A Epidemiologia descritiva é importantíssima!


Estudo descritivo
Mortalidade infantil, Pelotas, 1982-2004
TIPOS DE ESTUDOS EPIDEMIOLÓGICOS

• Estudos analíticos
● Tentam estabelecer causalidade
• Podem ser:
● Experimentais
● Observacionais
A TRÍADE DOS ESTUDOS ANALÍTICOS
CLÁSSICOS
• Agente
• Hospedeiro
• Ambiente
TIPOS DE ESTUDOS EPIDEMIOLÓGICOS
• Estudos observacionais
● Estudos transversais
● Estudos de coortes
● Estudos de casos e controles
● Estudos ecológicos

Estudos observacionais apresentam mais problemas


metodológicos do que os experimentais, mas
frequentemente são os únicos passíveis de realização.
TIPOS DE ESTUDOS EPIDEMIOLÓGICOS

• Estudos transversais
● Examinar um grupo de indivíduos,
classificando-os em doentes ou não doentes,
investigando se a presença de doença está (ou
não) associada com a exposição.
ESTUDO TRANSVERSAL
CRIANÇAS MENORES DE CINCO ANOS EM RIO GRANDE, RS,
2004.

Variável Percentual
Número de consultas de pré-natal realizadas:
1 ou mais 94,0%
6 ou mais 74,0%
14 ou mais 8,3%

Trimestre em que iniciou as consultas de pré-natal


Primeiro 65,7%
Segundo 31,0%
Terceiro 3,3%

n=361
TIPOS DE ESTUDOS EPIDEMIOLÓGICOS

• Estudos de coortes
● Classificar um grupo de indivíduos, inicialmente
não doentes, em expostos ou não expostos,
acompanhando-os no tempo para investigar se a
ocorrência da doença está associada com a
exposição inicial.

Os estudos de coorte podem, também, ser


feito com um grupo de indivíduos
doentes?
Estudo de coortes
Ganho de peso durante a gestação e hospitalização por
pneumonia no período pós-neonatal. Pelotas, 1993.

Ganho de peso Razão de odds para hospitalização


durante a por pneumonia no período
gestação pós-neonatal
< 10 kg 1,63 (1,18 – 2,25)
≥ 10 kg 1,00
TIPOS DE ESTUDOS EPIDEMIOLÓGICOS

• Estudos de casos e controles


● Comparar a história de exposição no passado
entre indivíduos doentes e não doentes
Estudo de casos e controles
Aleitamento e mortalidade infantil
Porto Alegre e Pelotas, 1985
TIPOS DE ESTUDOS EPIDEMIOLÓGICOS

• Estudos ecológicos
● Correlacionar as frequências de exposição e de
doença em conjuntos de indivíduos.
ESTUDO ECOLÓGICO
SUICÍDIOS MASCULINOS, RS, 1994-98
Coeficiente de suicídios por 100,000

Índice de desenvolvimento humano


TIPOS DE ESTUDOS EPIDEMIOLÓGICOS

• Ensaios clínicos
● Alocar parte de um grupo de doentes para
receber um tratamento, comparando a evolução
da doença entre tratados e não tratados.
Ensaio Clínico
“Bactrim” na prevenção de recidiva de toxoplasmose ocular.
Erechim, 2002.
TIPOS DE ESTUDOS EPIDEMIOLÓGICOS

• Intervenções comunitárias:
● Alocar parte da população em estudo para
receber uma intervenção preventiva,
comparando a frequência de doença nos grupos
intervenção e controle.
Estudo de intervenção comunitária
Eficácia do aconselhamento nutricional
Pelotas, 2001

• 28 unidades de saúde alocadas aleatoriamente:


● 14 intervenção
● 14 controle

• Intervenção: treinamento dos médicos em


aconselhamento nutricional:
● Aleitamento materno
● Alimentos complementares com alto valor energético e
protéico

• Desfecho principal:
● Crescimento em um período de 180 dias
Estudo de intervenção comunitária
Eficácia do aconselhamento nutricional
Pelotas, 2001
HIPÓCRATES

• 460 AC- 377 AC


• “As doenças têm uma explicação
física e racional”
• “Pai da Medicina”
• Importância do meio ambiente:
ares, águas e lugares
JOHN GRAUNT
• 1620-1674
• “Pai” da demografia
• Desenvolveu as “tábuas
mortuárias”
• Registro Geral da
Inglaterra
TÁBUA DE VIDA DE MORTES EM LONDRES
ADAPTADO DAS OBSERVAÇÕES DE GRAUNT.
Idade Exata Mortes Sobreviventes
0 - 100
6 36 64
16 24 40
26 15 25
36 9 16
46 6 10
56 4 6
66 3 3
76 2 1
80 1 0
Fonte: Hammond e cods., 1979.
PIERRE-CHARLES-ALEXANDRE LOUIS
• 1787-1872
• Pioneiro da “Epidemiologia
Clínica”
• “Nós, médicos, temos que
descobrir e não inventar as
leis nas quais nossa
profissão depende”.
ALEXANDRE-LOUIS:
LETALIDADE DA PNEUMONIA CONFORME O DIA DO EPISÓDIO EM
QUE FOI INICIADO TRATAMENTO COM SANGRIA.

Dia da Doentes Mortos Letalidade


sangria
1-3 24 12 50%
4-6 34 12 35%
7-9 19 3 16%
JOHN SNOW

• 1813-1858
• Pioneiro da Epidemiologia
Analítica;
• Pioneiro da anestesia;
• Introduziu o conceito
epidemiológico de população em
risco;
• É considerado o “pai” da
epidemiologia.
Mortes por cólera em duas áreas de Londres abastecidas
por duas companhias de água no período de 8 de julho a
26 de agosto de 1854.

Companhia População Número de Taxa de mortes


abastecedora em 1851 mortes por por cólera por
de água cólera 1000 habitantes
Southwark 167.654 844 5,0
Lambeth 19.133 18 0,9

Fonte: Snow, 1855.


FUNDAMENTOS DA EPIDEMIOLOGIA
O trabalho de John Snow...
• Estabeleceu os princípios básicos da Epidemiologia:
pessoa (quem), tempo (quando) e lugar (onde);
• Introduziu o uso de medidas globais em Saúde Publica;
• Comparou coeficientes entre subgrupos populacionais;
• Demonstrou a viabilidade de benefícios coletivos;
• Sugeriu associações entre agentes e doenças especificas e
• Estabeleceu os princípios básicos da Epidemiologia
como ciência (daí ser considerado o seu fundador).
USOS DA EPIDEMIOLOGIA
Proporção de homens brancos norte-americanos com idade
entre 65-74 anos com níveis tensionais elevados de acordo
com o critério para HAS.

Pressão sanguínea Percentual da


(sistólica/diastólica) em mmHgª população
≥140/90 53%
≥ 160/95 24%
≥ 170/95 17%
Fonte: Drizd e cols., 1986
ª pressão sistólica e/ou diastólica
USOS DA EPIDEMIOLOGIA
Taxas de mortalidade por cancer de pulmão (por 100.000
habitantes) padronizado por idade conforme o hábito de
fumar e exposições ao asbesto.

Exposição ao Hábito de fumar Morte por câncer de


asbesto pulmão por 100.000
Não Não 11
Sim Não 58
Não Sim 123
Sim Sim 602
Fonte: Hammond e cods., 1979.
USOS DA EPIDEMIOLOGIA

• Na determinação da causalidade das doenças:


• Tabagismo e câncer de pulmão;

• No estudo da história natural das doenças (sobrevida):


• Epidemiologia clínica;

• Nos diagnósticos comunitários de saúde:


• Planejamento de ações, implantação e avaliação de programas;

• Na avaliação de intervenções:
• Eficácia, efetividade e eficiência de tratamentos.
RESUMINDO: A EPIDEMIOLOGIA...
• Estuda a ocorrência de doenças e eventos em saúde e
os seus determinantes em grupos populacionais;
• Lida com causas coletivas mas sua aplicação é
individual;
• Estuda associações entre supostos fatores de riscos e
determinadas doenças, permite estabelecer a etiologia
das doenças, avalia e implementa programas de saúde
e mede o impacto de intervenções;
• Permite comparar taxas e coeficientes de doença e
morte entre subgrupos populacionais e
• Assume que: todo acontecimento em saúde tem alguma
característica epidemiológica (é causal e não casual!) útil e
interessante.

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