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IL “Fh + oS || Um Olhar Psicanalitico ao Transtorno de Ansiedade Generalizada: uma aproximacao empirica sobre sua conceitualizacao Atgo 16 05a onardo Siman pela sua claboragio na anise de dados ea Renatsjungean pela a ‘Andrés Roussos Ignacio Etchebarne Juan Martin Gémez Penedo Santiago juan, Univensidade de aeigano, CONICET + _|| za! a Um Olhar Psicanalitico ao Transtomo de Ansiedade Generalizada: 1 Introducéo im conceito nuclear nos A ansiedade [ou “anglistia’, segundo a traducao'] senvolvimentos psicanaliticos. © marcado interesse por esta nogéo datada fun- dagao propria desse marco teérico e encontra sua explicacao no fato de que aquele conceito, tal como afirmado por Freud (1926, p. 136), é"o fenémeno fun- damental e principal do problema da neurose”. Porém, o conceito de ansiedade nao é de uso exclusivo da psicandlise. Posteriormente aos trabalhos freudianos, foi incluido em diversos modelos explicativos e marcos de referéncia que abor- darn a patologia mental a partir de enfoques nao psicanaliticos, Dessa formna, ao longo dos anos, a noco de ansiedade tem tomado novas e vari- adas formas, diferentes graus de relevancia, ¢ diferentes posicionamentos na canceitualizagda psicopatolégica em fungao dos diversos marcos de referéncia que a inclufram no seu seio, Assim, pode-se observar a existéncia de um trans- torno como o Transtorno de Ansiedade Generalizada ~TAG (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2001), Surgido da psiquiatria com uma dbvia refe- réncia aos conceitos psicanaliticos classicos a respeito da ansiedade, 0 TAG, po- rém, nfo se subsome neles, excedendo-os pela incorporagio de outras nogdes oriundas de marcos tedricos nao psicanaliticos Avelevancia de investigar a aproximagao psicanalitica ao TAG 6 baseada, por urn ado, no fato de que 0 quadro mencionado esté inclutdo entre os transtomos de ansiedade mais prevalentes e pode ser considerado como o transtomo de ansie~ dade paradigmético, Em virtude disso, seu estudo poderia ser uma contribuicao para a compreensao do fenémeno da ansiedade em geral (ROEMER; ORSILLO, BARLOW, 2004). Por sua vez, atualmente existern variados debates em tomo da natureza do transtomo, suas caracteristicas diferenciais, sua validade diagnéstica € sua compreensio psicopatolégica, entre diversos marcos teéricos que refine tanto clinicos quanto pesquisadores (para mais detalhes sobre esse ponto, ver ETCHEBARNE, JUAN; GOMEZ PENEDO; ROUSSOS, 2017). Esses debates apresen- tam urn desafio na hora de pensar como diversos marcos teéricos (nesse caso, 0 psicanalitico) conceituam os fenémenos de ansiedade generalizada . ‘Tal como aegumenta Hanns em se diciondvio de temas alemfes de Freud a pala Ange fi teadusida ao eastelnana tanto por angistia, seguinde a conente ftancesa que utliza 6 terme Arabs {quanto por ansiedade, corn rlagRo a palavra ete, orunda da traducio argloan’ Isa levis cons Gerar ambas as palavras do espanhol como sinénimas qua remacem 2 um mesmo significado orginal (HANNS, 2001, Por esse motivo, no presente trabalho sto utlzados es conceitos de angistia © ansedade come nogées homelogive's, scrbuindosnes um significaée cour a TT | || EC + Andrés Roussos et al Por iitimo, também se toma relevante indagar como a tradigao psicanalitica ~ que historicamente tem rejeitado os diagnésticos descritivos, como os do sis ima DSM - aborda desde a sua propria perspectiva pacientes potencialmente diagnosticaveis com TAG. De fato, constitui uma area de incerteza a forma como ‘os psicanalistas pensar os pacientes que cumprem com os critérios desse qua~ aro. Dentro de tal contexto, o objetivo do presente estuda € questionar o modo coma psicanalistas especialistas conceituam aquilo que o DSM-IV-TR (2001) define como ‘TAG, Com tal firn, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com psicana- listas experientes, utilizando para a anélise dos dados um método de andlise qualitative estruturado, detalhado adiante. 2 O conceito de Transtorno de Ansiedade Generalizada e sua evolucao no sistema de diagnéstico descritivo DSM © Manual de Diagnéstico e Estatistica dos Transtornos Mentais (DSM, sigia em. inglés) surge em 1952, desenvolvido pela Associagao Americana de Psiquiatria (American Psychiatric Association). A partir do século XIX, a psiquiatria moder- na mostrou interesse crescente pelas nomenclaturas diagnésticas. 0 DSM apa~ rece em resposta a esse interesse, com o objetivo de criar uma classificagao diagnéstica sistematica (FERRARI ct al., 2008). Como Ferrari e seus colaborade- res afirmam (2008), no inicio, o DSM teve fortes influéncias da psicanilise e da psiquiatria dindmica, apesar de estas nao representarem a sua principal base teérica, Com a aparigio progressiva de novas edigdes do manual, foram sendo introduzidas modificagdes nos quadros, mudando tambémn suas posicdes teéri- cas ¢ episternolégicas, Nas tiltimas décadas, houve uma mudanca na direcao de critétios biolégicos e médicos, impulsionados pelo avanco de disciplinas como a psicofarmacologia e as neuraciéncias (FERRARI et al., 2008). Apesar de existirem diversas criticas a0 manual, sua influéncia foi aumentando no ambito da saiide mental ¢ da psiquiatria, consolidando-se como o sistema de classificagio predo- minante nessas areas (FERRARI et al., 2008), A seguir, sio apresentadas as definiges do TAG nos sucessivos DSM para propor- cionar uma visao geral do conceita e sta evolusao, Cabe mencionar aqui que o TAG tem sido o tanstome de ansiedade com maio- res modificagdes na histéria do sistema DSM. Tal fato ilustra as dificuldades his- toricas na delimitagio do TAG _|| za! a Um Olhar Psicanalitico ao Transtomo de Ansiedade Generalizada: No DSM-I (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 1952) eno DSM-II (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 1968), os transtornos de ansiedade dos atuais sis- temas de classificacao estavatn integrados nas categorias de transtomnos psiconeurdticos © neurose, respectivamente. Na primeira versio do DSM, a sintornatologia do TAG estava localizada em um quadro denominado Reagdes de Ansiedade. As principais caracteristicas dessa patologia eram a existéncia de uma angiistia difusa, nao circunserita a nenhuma situacao ou objeto, como no caso das fobias, e a falta de um mecanismo de defesa patognoménico. Como no TAG atual, esse quadro apresentava uma forte associagao com uma variada sintomatologia fisica Dentro do DSME-II,0 que hoje é denominado TAG era descrito como uma sindrome neurética chamada Neurose de Ansiedade, em relacdo aa conceito freudiano de idéntico nome (FREUD, 1898). Essa sindrome, como as Reagées de Ansiedade (DSM- 1, 1952), era descrita principalmente a partir da presenga de uma ansiedade nao ligada a uma situacdo especifica ou a um objeto determinado (DSM-Il, 1968) © DSM-III (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 1980), diferentemente das versées anteriores, representou uma tentativa de construcao de uma classifica- Gio ateérica? Por esse motivo, a partir desse manual, os fendmenos sintomati- cos anteriormente agrupados e1n tomo do conceito psicanalttico de neurose (no- gio eliminada do DSM-II) ficaram distribuidos em trés categorias: (a) Transtor- nos Somatoformes, (b} Transtomos Dissociativos ¢ (c} Transtomos de Ansiedade Nessa classificagao, aparece pela primeira vez o'TAG, localizado dentro dos Esta- dos de Ansiedade, um dos dois principais subgrupos que integravam, junto com, as Fobias, a classificarao dos Transtomos de Ansiedade. Embora nessa verséo do, manual 0 TAG nao apareca definido explicitamente como uma categoria residu- al, diversos autores (BROWN; O'LEARY, BARLOW, 2001; SANDIN; CHOROT, 1995) consideram que o fato de que a sua utilizacao diagnéstica estivesse apenas pres- crita frente & auséncia de sintomatologia de outros transtornos de ansiedade acabava convertendo o transtorno, na pratica clinica, em uma categoria diagnéstica da mencionada natureza Segundo Brown, O'Leary ¢ Barlow (2001), sé no DSM-III-R (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 1984), 0 'TAG abandona a condicao de diagnéstico residual, sendo definido como ui transtorno caracterizado pela presenga de ansiedade ou preocupagao excessivas e/ou pouco realistas, associadas a pelo ‘Gconcelto de aeéricoreferete x0 fata de no consider enum matco tio psicopatléyica pacifico para a construpio daste esquema classifica basrand-se em um citric estaisco associat Poxém, a presuncio dessa condicio estatistica bem pedevia ser considerada uma concepgioteérica em st a TT | || EC + Andrés Roussos et al menos duas situagdes. Acrescentavam-se sintomas de tensao motora, de hiperatividade do sistema nervoso auténomo ¢ sintomas de alerta e exploracao ‘Tanto no DSM-IV (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 1294) como no DSM- IV-TR (2001), o principal sintoma que caracteriza o TAG é a presenga de ansieda- de e preocupasao excessivas (expectativa apreensiva) em tomo de urna grande diversidade de situacdes (durante mais da metade dos dias por um periodo mini- mo de seis meses). A ansiedade e a preocupacaa devern exceder as possibilida- des de controle do individuo, sendo acompanhadas por pelo menos trés sinto- mas da seguinte lista: inquietagao, dificuldade de concentracao, fadiga, inritabilidade, distirbios do sono e tens#o muscular. Os sintornas devemn provo- car mal-estar clinicamente significativo ou deterioragio social, ocupacional ow ‘em outras areas importantes na vida do sujeito, TAGE um transtomo de curso crénico, com flutuagdes a0 longo da vida e com um aumento marcado na sua intensidade em perfodos de estresse. De acordo com 0 DSM-IV-TR (2002), 0 nivel de prevaléncia anual {incidéncia) do TAG é de 3%, enquanto a prevaléncia global é de 5%. A respeito da sua comorbidade, se- gundo Goisman e colaboradores (apud GABBARD, 2002), quase 90% dos pacientes com TAG apresentam comorbidade com algum outro tyanstorno psiquidtrico Sandin e Chorot (1995) consideram que 0 TAG € o transtomo de ansiedade com, maior taxa de comorbidade, tendo 21% de comorbidade com Depressio Maior 11% com Transtomo do Panico, 8% com TOC, 6% com Agorafobia, 6% com Fobia especifica ¢ 6% com Fobia Social Conforme os dados prelitninares apresentados pela American Psychiatric Association (2010) sobre 0 DSM-5, 0 TAG manteria os critérios diagnésticos do DSM-IV-TR, incluindo, ainda, a associaggo de wna ou mais das seguintes condu- tas: (1) procrastinacao no agir ou na tomada de decisdes; (2) evitagao de situa- Bes nas quais os resultados negativos so temidos; (3) um uso marcado de tem- po ¢ esforgo na preparagao para situagSes nas quais se esperamn resultados n {gativos; e (4) buscas repetitivas de reasseguramento no ambiente por causa da preocupagao, Por outro lado, 0 rascunho do DSM-5 propde renomear o transtor no como “ansiedade ou preacupacao generalizadas” 3 Conceitualizacées psicanaliticas contemporaneas do TAG Sao escassos os desenvolvimentos teéricos ou empfricos que abordamn 0 TAG a partir do marco psicanalitico, Embora historicamente haja uma resisténcia por parte dos psicanalistas a considerarem esse quadro como uma entidade patolé- _|| za! a Um Olhar Psicanalitico ao Transtomo de Ansiedade Generalizada: gica em si mesma, nos tiltimos anos, alguns grupos de psicanalistas comegaramn aaceité-lo como um quadro diagnéstico valido (GABBARD, 2002). Cabe destacar que a tnaioria dos trabalhos sobre 0 TAG a partir desse marco teérico provérn, principalmente de psicanalistas de origem norte-americana de diferentes esco- las tedricas. A equipe de Crits-Christoph (CRITS-CHRISTOPH, 2002; CRITS- CHRISTOPH; WOLF-PALAGIO; FICHER; RUDICK, 1995; CRITS-CHRISTOPH et al., 1996; CRITS-CHRISTOPH et al., 2005) desenvolveu uma conceitualizagao psicodinamica para o TAG com base em um conjunto de descobrimentos oriun- dos de variados estudos empiricos (SORKOVEC, 1994, BORKOVEC; ROBINSON, PRUZINSKY, DEPRESS, 1983; MOLINA; ROEMER; BORKOVEC; POSA, 1992; entre outros). A partir desses estudos, os autores afirmam que a preocupacao no TAG tem, em termos psicodindmicos, uma funcio defensiva, podendo até mesmo ser conceituada como um mecanismo de defesa (CRITS-CHRISTOPH, 2002). Esse ‘mecanismo operaria com a finalidade de que um contetido ameagador nao fosse acessivel & consciéncia, evadindo assim uma experiéncia excessivamente tau- mética para o aparelho psiquico, Inchisive os autores propdemn que a ideia de considerar a preocupagio como uma fungao defensiva aparece ja presente em. Freud (1926), ao descrever a angiistia sina. Por outro lado, Crits-Chiristoph e co- laboradores (1996), com base no estudo realizado por Lichtenstein ¢ Cassidy, afit- mam a existéncia de uma estreita associagdo entre TAG e apego inseguro. Por sua vez, citando Borkavec, esses autores afitmamn existir una relagao entre even tos traumaticos e o aparecimento do TAG. Outra contribuigao fundamental para a compreensao psicanalitica do TAG & dada pelo Manual Diagnéstico Psicodinamico (PDM TASK FORGE, 2006), que introduz wma nova maneira de pen- sar os pacientes que apresentam esse transtorno. McWilliams e colaboradores (2008) acreditamn que muitos individuos diagnosticados com TAG seriamn melhor compreendidos dentro de um transtorno de personalidade ansioso (Fixe P do PDM). Nesse sentido, a ansiedade operaria como um fator psicolégico organizador da experiéncia e, por essa razao, nao seria considerada umn padrao sintomatico (Cixo $ do PDM), érea na qual se situa o resto dos transtornos de ansiedade des- critos pela DSM-IV-TR. Cabe assinalar aqui que, tanto do ponto de vista teérico- clinico psicanalitico oferecido pelo DSM quanto do ponto de vista descritivo ofe- a0s outros trans ido pelo PDM, o TAG ocupa um lugar especial com rela tornos de ansiedade. Na descrigéo do transtomo de personalidade ansioso, o PDM mantém a ideia freudiana de angiistia livremente flutuante (FREUD, 1895). Outra hipétese psicodinamica apresentada no manual é a ideia de que a ansiedade futuante ‘oculta contetidos que geram ansiedades mais profundas, em consonéncia corn a TT | || EC + Andrés Roussos et al as ideias ja citadas de Borkovec e Crits-Christoph. A partir dessa hipétese, segue- se 0 argumento de que o TAG nao implicaria uma falha grave nas defesas, 4 que a preocupagao seria una fortna de evadir ansiedades que traumatizariam 0 apa- relho psiquico. 0 enfoque do PDM apresenta uma conceitualizagao dimensional do TAG (diferente do enfoque categorial do DSM}, ern virtude do qual o transtor- no de personalidade ansiosa pode apresentar diferentes intensidades de an dade, desde o polo neurético até o polo limitrofe € psicético, o que conforma diferentes apresentagdes clinicas de uma mesma organizacaa psicopatol6gica No nosso meio, a esses esforgos por compreender psicodinamicamente o TAG pode-se acrescentar o artigo de Juan, Etchebame, Gétnez Penedo e Roussos (2010) que procura deixar claras as influéncias psicanaliticas na nocao de TAG, aprofundando-se nas relagies entre esse transtorno e a nogaa freudiana da neu- rose de angtistia, e apresentando as contribuigdes dos sistemas diagnésticos psicodinamicos (como o mencionado PDM) ¢ as investigagdes empiricas na com- preensao do transtomo ¢ sua abordagem, No mesmo trabalho, os autores afit= mam que as contribuicdes psicanaliticas contemporaneas superam a nocio freudiana de "neurose de angistia’, atribuindo ao TAG a condigao de ura trans tomo de personalidade © considerando que 0 estado de ansiedade livremente Autuante ndo se limita a sua m4 uamitagdo de lenses atuais, mas a conflitos inconscientes ou déficits préprios da estrutura, Por outro lado, outorga-se a0 transtornoa forma de um funcionamento estavel, endo a condicao de uma crise aguda 4 Objetivos desta pesquisa’ O presente estudo tem como objetivo geral questionar como os psicanalistas experientes conceituatn 0 que 0 DSM-IV-TR (2001) definiu como Transtome de Ansiedade Generalizada (TAG). Nesse sentido, os objetivos especificos serio: (2) questionar que sinais e sintornas os psicanalistas atribuemn a esse transtorno; (2) 05 fatores etiolégicos; (3) os mecanismos de defesa; (4) ¢ as anglistias predomi- nantes que os terapeutas The atribuem; (8) a estrutura subjacente que Ihe atti- buem; (6) ¢ suas opinides sobre a validade ou vigincia do TAG ou de patologias de raiz psicanalitica que poderiam ser consideradas equivalentes conceituais, desse quadro (como no caso do conceite de newrose de angistia). : ‘ste esto @ desenvelvizo no imbito de um programs de pesquisa sctre aconcetualizagio e bordagem clinica do TAG, desenvelvio pela Equipe de Invesugacio em Psiclogia Clinica (EPS). Ese ‘stud fo. ralzade com finaneiamento do subsiio URACYT 2002008100081 programagao 2010-2012 _|| za! a Um Olhar Psicanalitico ao Transtomo de Ansiedade Generalizada: 5 Métodos Para o presente estudo observacional, foram entrevistados psicanalistas expe- rientes, procurando-se analisar ¢ sistematizar a informagao a respeito das suas conceitualizagées sobre o fenémeno de ansiedade generalizada, Como sera ex- plicado em detalhe adiante, a andlise de dados foi feita de acordo com os eritéri- 05 do Método de Pesquisa Qualitativa Consensual (COR ~ Corsersual Qualitative Research), desenvolvido por Ill, Thompson e Nutt-Williams (1997). 6 Grupo de participantes 6.1 Delineamento do grupo de participantes © seguinte estudo utiliza um método de amostragem por conveniéncia, Pela natureza do trabalho, nao havia um mimero de participantes a prior, mas que foi estabelecido com base na estabilidade dos dados (ver procedimentos). 0 niimero final de participantes foi de 10, sendo utilizadas duas entrevistas para a verifica- cio da estabilidade anteriormente mencionada (ver procedimentos). Os participantes do estudo foram psicanalistas experientes, e cada sujeito sele- cionado devia ser formado em psicologia ou medicina, possuir mais de 20 anos de experiéncia clinica ¢, ainda, cumprir algum dos trés pardmetros propostos por Eells et al. (2011) para definir a condigio dos especialistas, a saber 1. ter participado de uma ou mais apresentacées cientificas em congressas psi- canallticos, 2. ter realizado varias publicagdes cientificas em tomo de temas relacionados & psicanslise; 3. ter desenvolvido o seu préprio modelo tesrico dentro do enfoque psicanaliti- co, 6.2 Caracteristicas do grupo de participantes utilizados Entre os 10 psicanalistas entrevistados, seis so psiquiatras e quatro, psicélogos. Cinco dos participantes pertencem exclusivamente & Associagao Psicanalitica de Buenos Aires (APdeBA), dois & Associacao Psicanalitica Argentina (APA) e um & Sociedade Argentina de Psicanélise (SAP). Um dos participantes pertence con- juntamente as duas tltimas nstituigdes mencionadas, Tanto a APdeBA quanto a a TT | || EC + Andrés Roussos et al APA.€ a SAP so sociedades que fazem parte da Intemational Psychoanalytical Association (IPA). Cabe destacar que, embora um dos participantes da pesquisa nao pertenga a nenhuma das instituigdes associadas & IPA, nao foram encontra~ das, nos resultados, diferencas destacaveis entre este e os outros psicanalistas do grupo analisado. A média de anos de experiéncia clinica dos participantes foi de 39,7, corn um desvio padrao de 7,5. 0 terapeuta mais experiente tinha 49 anos de pratica psicanalitica, enquanto 0 menos experiente tinha 21 anos de prittica da psicandlise 7 Procedimentos Onze dos 15 psicanalistas contatados aceitaramn participar da pesquisa. Urn dos participantes foi excluido do estudo por nao cumprir os critérios de incluso anteriormente descritos. Apés a sua aprovagao, foram organizadas e realizadas centrevistas individuais semiestruturadas com cada um dos 10 participantes, para investigar as conceitualizagdes dos mesmos sobre o fendmeno da ansiedade ge- neralizada. No inicio de cada uma das entrevistas, os sujeitos foram informados de que estava & sua disposicio uma versio resumida dos critérios diagnésticos do DSM-IV-TR para TAG, ante o eventual desconhecimento parcial ou total do quadro € de sews sinais e/ou sintomas (pelo menos no formato DSM). A partir das transcrigdes das entrevistas, os dados foram analisados de forma qualitativa de acordo com os critérios do modelo GQR. O modelo COR é caracte- rizado como um método de pesquisa qualitativa, criado para a pesquisa em psi- cologia clinica © modelo CQR foi escolhido por varias razdes: em primeito lugar, o CQR tem intimeras aplicagées no campo da psicologia clinica no Ambito internacional (para mais informagao sobre esse ponto, ver HILL et al., 2005). Em segundo lugar, 0 inétodo oferece uma estrutura de andlise sistemética de dados que pode ser implantada com relativa facilidade, Em terceiro lugar, 0 modelo de CQR nao re- quer un treinamento muito extenso para sua aplicacao. Finalmente, trata-se de uma metodologia flexivel ¢ adequada para o estudo do fendineno clinico, que integra diversas contribuigdes de outros modelos relacionados & pesquisa e des- taca 0 valor qualitativo dos dados (para tnaior detalhe sobre a estrutura do mo- delo e sua aplicagao, ver JUAN, GOMEZ PENEDO; ETCHEBARNE; ROUSSOS, no prelo) Seguindo 0 esquema proposto pelo CQR, para analisar os dados da presente pes- quisa foi estabelecido um grupo primério de anélise, cujos membros foram dois, estudantes avangados do curso de psicologia, sendo designado um estudante de _|| za! a Um Olhar Psicanalitico ao Transtomo de Ansiedade Generalizada: doutorado como auditor do estudo, A necessidade de incluir varias pessoas no Uuabalho se deve & importncia fundamental que 0 CQR atribui & construgio de consenso entre os diferentes individuos na hora da andlise de dados. 0 consenso é considerado pelo modelo uma forma privilegiada de gerar informagao qualita- tiva relevante e significativa. © consenso, por sua vez, inclui implicitamente a riqueza do intercambio sistematico dos membros da equipe de pesquisa, Alérn disso, 0 modelo considera 0 consenso como uma maneira de limitar os desvios individuais dos investigadores Para a andlise dos dados, foram realizados os seguintes passos prescritos pelo COR + escolhida uma entrevista, selecionada aleatoriamente, cada membro do grupo primario dividiu, exaustivamente, o seu contetido em diferentes areas tematicas, criando o que Hill, Thompson e Nutt-Williarns (1997) chamaram de Dominios. Em cada um desses dominios foi colocado um titulo que representasse fielmente a sua natureza. A seguir, os membros do grupo primério acordaram sobre quais erain os dominios pertinentes e os fraginentos da entrevista que correspondiam a cada um. Ao concordar sobre os dominios de toda a entrevista, o grupo prima- rio enviou a sua produgio ao auditor designado, Posteriormente, as sugestdes ‘05 comentarios deste foramn transmnitidos ao grupo primatio, que discutiu e acor- dou as mudancas consideradas relevantes. Finalmente, o auditor e 0 grupo pri- mério trocaratn opinides sobre como deveria ser a versao final dos dominios. ‘A seguir, apresenta-se, a modo de exemplo, um dos dominios identificados e dois de seus respectivos fragmentos de material DOMINIO: velagdes estabelecidas entre o diagnéstico de TAG e « nosologla pal jcanaiitica Entrevistador: "Vocé considera que o'TAG tem alguma relagao com @ neurose de angistia?” Psicanalista # 4: "Sim. ‘Totalmente. Absolutamente, Mas é toda uma érea diferen- ciada, assiin como estabelecido nos critérios da psiconeurose de transferéncia Corresponderia mais com as neuroses atuais, Neurose de angiistia, Se eu ni conhecesse o DSM-IV e me mantivesse em uma fidelidade ou anacronismo freu- diano, seria uma neurose atual ou neurose de angistia” a TT | || EC + Andrés Roussos et al E:"Vocé considera que esse quadro pode ser atribuido a alguma das estruturas dlissicas? P #4: "Nao, porque para mim a ansiedade em geral é uma questo transversal. De qualquer condigéo psicopatoldgica, ou de quase todas” + A seguir, foram criadas as ideias nucleares (HILL; THOMPSON; NUTT-WILLIAMS, 1997), definidas como frases que sintetizam o sentido dos diferentes pardgrafos, e/ou frases do material, de cada dominio, de cada entrevista. Para isso, foram, realizados passos idénticos aos da criagio dos domfnios, mas focando na abstya- sao das ideias nucleares A seguir, é apresentado win exemplo retirada da anélise, a fim de ilustrar os processos de criagao das ideias nucleares Exagmento da entrevista #1: Psicanalista 1 #: "Nao, porque a partir da psicandlise a nocao de ansiedade é tratada de duas maneiras, Isso [em relaco ao TAG] ficaria dentro do que é cha- mado de ansiedade difusa, ansiedade ancbjetal, inclusive alguns elementos da angistia automética, claramente diferenciados do que é charnado de ansiedade como sinal de alarme. E isso estaria presente em todos os casos, mesmo nos psiconeuréticos” Ideias nucleares criadas a partir do material > OTAG & caracterizado por ansiedades difusas. > OTAG é caracterizado por ansiedades anobjetais, > Etn relacdo & diferenciacdo que a psicandlise estabelece entre ansiedade au- tomatica e sinal, pode-se argumentar que o TAG apresenta alguns elementos da ansiedade automdtica claramente diferenciados dos da ansiedade como sinal de alarme, > No TAG, so encontradas ansiedades presentes em outros quadros, inclusive em quadros psiconeuréticos + Tendo conclaido a andlise de dominios ¢ as ideias nucleares de um total de oito enirevistas (n - 2}, a equipe extensa de trabalho (grupo primario e auditor) reuniu-se para realizar uma andlise cruzada, criando Categorias que agrupassem _|| za! a Um Olhar Psicanalitico ao Transtomo de Ansiedade Generalizada: as ideias nucleares semelhantes de diferentes entrevistas em conjuntos signifi- calivos. A seguir, foi registrada a frequéncia de aparecimento de cada categoria, ao longo dos 10 participantes, classificando-as etn termos de Gerais, Tipicas ou Variantes, tal como é proposto por Hill e colaboradores (2005). Segundo os auto- s, as Categorias Gerais s4o aquelas que esto presentes em todas as entrevistas ‘ou ern todas as entrevistas menos uma. As Tipicas séo aquelas observadas ern mais da metade dos casos, sem atingir a quantidade necesséria para ser Gerais. E as Vaviantes sao aquelas identificadas em mais de urna das entrevistas analisa- das e que nao superam a metade dos casos. Aquelas categorias que aparecem apenas em uma entrevista ndo so usadas para anélise posterior, + 0 nimero de participantes, como jé foi mencionado, niio foi determinado a priori, mas surgiu como fruto da Verificacdo da Estabilidade dos dados, proposto na estrutura do modelo CQR. A verificagao por estabilidade implica que, numa and- lise prinnéria, quando se considera que a quantidade de individuos selecionades poderia ser suficiente, estuda-se a totalidade dos participantes recothidos até a data, com a excegao de dois casos (n~ 2). Posteriormente, em uma anilise secun- déria, analisam-se os casos que haviain sido deixados de lado na primeira anéli- se, Depois, integram-se os dados da analise secundaria & andlise primaria, obser- vando se, a partir disso, existem alteragées quantitativas ou qualitativas impor- tantes na estrutura dos resultados. Frente a modificagdes menores, pode-se di- zer que os dadios sao estveis e, por conseguinte, que os dados sao representati- vos do grupo analisado. Assim, uma vez acabada a anilise das oito entrevistas, foi feita uma anilise das duas restantes, para verificar a estabilidade dos resultados e concluir se o tarna- nnho da amostra escolhida era o adequado ou deviam ser adicionados mais parti- cipantes. Devido & auséncia de alteracoes significativas na estrutura dos domf- nios e das categorias, ao integrar os resultados das anglises primaria e secunda ria, foi estabelecido que o mimero de participantes era adequado. Atingida a ver. so final das categorias, foram estudadas as relagoes entre as mesmas transdominio e trans-sujeito, 8 Resultados Os resultados apresentados a seguir surgiram da andlise da totalidade do grupo de participantes (n = 10), integrando os resultados da andlise priméria (n-2)¢ da anélise secundaria (n = 8+2), a TT | || es Andrés Roussos et al 8.1 Dominios gerados A seguir, apresentam-se os dominios identificados na anlise de dados associa dos aos objetivos especificos desta pesquisa. ‘Nome do dominio Objetivo especifico ao qual corresponde Sinais e/ou sintomas presentes ‘no TAG, além da ansiedade ou da preocupasao Pungo e/ou caracteristicas da "1 preocupacao no T Eticlogia no TAG #2 Mecanismos de defesa classicos presentes no TAG, nao 3 relacionados & preacupacao Tormas de apresentacao predominantes da anglistia e/ou 4 ansiedade no TAG Relagdes estabelecidas ente co diagnéstico de TAG e a #5 nosologia psicanalitica Validade e/ou vigindia do %6 diagndstico de TAG ‘Tabela 1, Dominios surgidas do material e suas respectivas relagdes com os abjetivos e pecifices da pesquisa 8.2 Ideias nucleares geradas Tomando os fragmentos de cada dominio, foram criadas ideias nucleares, ident ficando os diferentes conceitos presentes em cada porcao do material. A anélise dos dados resultou em um total de 725 ideias nucleares, distribuidas nos sete domnin 1s de interesse. A seguir, so apresentados exemplos ¢ leares identificadas na entrevista #5 em relagao a cada um dos objetivos especificos da pesquisa _|| a Um Olhar Psicanalitico ao Transtorno de Ansiedade Generalizada Primeiro objetivo: em pacientes dia sveis com TAG, observa-se uma série de sintomatologia ansiosa ligada a uma expectaliva ansiosa e negativa do futu- Segundo objetivo: o terapeuta considera importante p partir do conceito de séries complementares de Freud nsar a etiologia doTAG a Terceito objetivo: os mecanismos de defesa presentes no TAG ¢ de personalidade do paciente com TAG »pendem do tipo Quarto objetivo: em pacientes diagnosticéveis com TAG, predominam as angas- tas pela perda do objeto, Quinto objetive: TAG enco: psiconewrose. -se dentro do que Freud descreveu como Sexto objetivo: o terapeuta considera o'IAG um quadro diagnéstica valid. 8.3 Categorias geradas, A partir da andlise das 10 entrevistas, surgiram 97 categorias conceituais. A se- guir, serdo apresentadas, ordenadas em fungao dos objetivos da pesquisa, aqui las categorias Upicas (presentes em 6, 7 ou 8 participantes) e gerais (presentes em 9 ow 10 participantes). Brimeiro objetivo = Tipica (7): 0 TAG é caracterizado pela presenga de sintomas corporais e/ou psicossométicos (varias somatizagoes, fatigabilidade, tensao muscular) preocupacao poderia funcionar como urn mecanisino de defesa ica ( Segundo objetivo fator interveniente na = Tipica (6): etivlogia do TAG as dificuldades no apego poderiam ser um ‘Terceiro objetivo = Tipica (6): o TAG nao apresenta um mecanismo de defesa patognoménico. || es Andrés Roussos et al !: no TAG, séo observadas ansiedades primitivas (entre outras ansic- dades psicéticas, de perda de objeto e invasivas). ti = Geral (9): © TAG 6 fortemente relacionado com a nogéo de Neurase de Angti Ua, em particular, ou de Neurose Atual, em geral 1 Geral (9): 0 TAG é associado com as psiconeuroses, ern geral e com a Histeria de Angiistia e as Fobias, em particular. 1 Tipica (7): o TAG atravessa diferentes estruturas psicopatolégicas da nosologia psicanalitica = Tipica (6): 0 TAG é associado com o espectro borderline e os transtomos narci- sistas, Sexto objetivo » Tipica (7): 0 TAG, enquanto diagnéstico descritivo, € insuficiente para a conceitualizacdo psicanalitica porque néo € uma entidade psicopatolégica si = Tipica (6): 0 TAG nao é utilizado como categoria diagnéstica e/ou nao é consi- derado um quadro diagnéstico vilido, 9 Conclusées da pesquisa Ao analisar os resultados pertencentes ao sexto objetivo especifico, observa-se que urna das ideias mais prevalentes e relevantes, identificada ao longo dos par- ticipantes, a de considerar 0 TAG, do ponto de vista da psicanélise, um quadro ou sindrome que nao representa em si uma entidade psicopatolégica. Sete parti- cipantes considerarain que 0 TAG é uma constelacao de sintornas que pode estar incluida em diferentes formas de organizacao psiquica, sendo sua condicao de diagnéstico descritivo insuficiente - do ponto de vista da psicandlise - para a conceitualizacaa de umn paciente ¢ 0 estabelecitnento de tratatnento diferencia do. Essa ideia levou individuos do grupo de andlise (seis participantes dos sete que sustentam a ideia anterior) a considerarem que o TAG nao é um quadro diagnéstico valido, afirmando que é simplesmente uma coletanea de sinais ¢ sintomas que inclui pacientes muito diferentes (ver Figura 1) _|| a Um Olhar Psicanalitico ao Transtorno de Ansiedade Generalizada Em relagao aos resultado: jo TAG como do quinto objetivo, apesar de a ideia fendmeno ansestrutural representar uma categoria tipica, nos par ‘rain identificadas associacoes especificas entre 0 TAG ¢ alguns quadros 4 nosologia psicanalitica, como a neurose de angistia, a histeria de angistia e 0 borderline. Portanto, emn fungi dos resultados, pode-se considerar que aquilo que © DSM tipifica como TAG é percebido pelos psicanalistas como um transtor agudo, ao modo das neuroses de angiistia/neurose atuais: prodrdmico ou comelative &s psiconeuroses; ou fazendo parte propria dos quadros horderlin. mo um estado sintomatologia ‘OTAG enquante dagndstce desrtiv, €inswicente para conceitualizgio psicanaliva,devido a0 fto de nfo set ums entidade picopatalgiea em mesma 9), ‘OAC nt € wilizado como caregara 6 iagnéstca e/au no #consigerado umn valde (6) sqeadre diagno Figura 1. Diagrama de Venn que representa arelacio e sas do dominio ‘valida de e/ou vigéncia do diagndstico de TAG" A tendéncia particular de associar 0 TAG com as neurose de angiistia encontra liografia sobre o tema. Roemer, Orsillo e Barlow (2002) afirmam que 0 TAG é herdeiro da nocao de neurose de angiistia, Por sua vez, Juan, Etchebame Gémez Penedo e Roussos (2010) destacam a importdncia do concei de angiistia na criacgio do quadro de TAG, sem esquecer a existéncia de buigdes de outros rmarcos tedricos no desenvolvimento de mesmo Outra relagao particular foi encontrada entre a ideia de associar 0 TAG as nel ses de anglistia e, por sua vez, & histeria de angiistia, Tal como mostrado na Figura 2a, 8 dos 10 participantes concordaram em relacionar 0 TAG com os dois qu Essa associagao consistente com as afirmagées do proprio Fi sintomatologia priméria, tanto da neurose de angiistia quanto angtistia (leia-se expectativa angustiada}, é idéntica, apesar de se diferenciarem dica entze histeria de angistia, neurose de angiistia e TAG 6 wad (1910}, que afirmou que a da histeria de a TT | || es Andrés Roussos et al -m termos de eticlogia ¢ tratamento necessério, Dessa forma, poder-se-ia consi- derar consistente, a partir do ponto de vis 0 TAG, enquanto a te6rico, associar de forma conjunta mstelacao de sintomas que atravessa diferentes estruturss, com dois quadros que, embora os sintornas manifestos sejam semelhantes, sia rte de diferentes patologias desde o ponto de vista dindmico, Por sua ve7, tal omo é demonstrado na Fi 05 participantes 6 observada uma estreita relagdo entre essas tis categorias (TAG associado com neurose de angiistia, TAG associado com histeria de angistia e TAG como fendmeno transestrut priconewzoses, ema gel, © fom Histria de Angista, ‘ef particular 9) fy 6 4 WP Figura 2a, Diagrama de Venn que representa a relagio entre duas categorias do dominio “Relagées estabelecidas entre o diagnéstico de T 3G € a nasologia psicanalitica’ ria de Angst Newoves Atle (9 Figura 2b, Diagrams de Ve | Yepresentande a relagio 5 categorias do dominio “Relagées estabelecidas ntre o diagnéstico de TAG e a nosologia psicanalitica” Por outro lado, « grande parte dos psicanalistas se identificou urna liga (lustrada na Figura 2c) entre a categoria que associa o TAG aos quadros borderline e as outras lés categorias mencionadas recentemen TAG ¢ os quadros borderline (por déficits na estrutura Essa associagao entre 0 da personalidade} marca _|| a Um Olhar Psicanalitico ao Transtorno de Ansiedade Generalizada ‘um ponto de acordo com as teorias psicodinamicas acima citadas que, na atua- lidade, conceituam © TAG como um lanstorno de personalidade. Para resumir esses result nome valentes ado urn fe- jos, pode-se afirmar que 0 TAG é con: tolégica que pode estar presente tanto em quadros equi- neurose de angistia quanto em quadros psiconeuréticos ou borderline, quanto na ¢! Psconeuroses, am geal. ¢ om Hsteria de Angst, areal 6) liens ‘OAK é associa cam @ euroees de An Newrases Anas (9 Figura 2c, Diagrama de Venn que representa a relago entre quatto categorise do domin “Relagées estabelecidas entre o diagndstico de TAG e a nosologia psicanalitica” F 1EPODE ESTAR PRESENTE EW DIFTRENTES ‘QUADROS PSICOPATOLOICOS L ESTRUTURAS NEDROSEDEANGOSTIAT | [ HISTERIA DE ANGUSTIA {UADROS BORDERLINE Figura 3. Representagio da conceitualiza nlise clinica, a par 10 nosologica da TA os resultados da pesquisa. na perspectiva da psica- a TT | || EC + Andrés Roussos et al Por outro lado, é importante destacar que o fato de se considerar 0 TAG um even- to Lransversal nao impediu que os psicanalistas experientes identificassem al- gumas caracteristicas particulares que observam em pacientes que retinem os critérios diagnésticos. Entre outras associagées, uma das mais recorrentes foi estabelecida entre o TAG ¢ a presenga de ansiedades primitivas, no marco do quarto objetivo espectfico desta pesquisa, Os psicanalistas afirmaram a existé) cia, no mencionado transtomo, de ansiedades invasivas, de desintegracio e por perda do objeto, Ainda seis dos psicanalistas do estudo afirmaram o nexo entre o ‘TAG e angiistia flutuante, Dessa forma, a ansiedade generalizada que se mani- festa no TAG poderia ser pensada, psicodinamicamente, a partir do conceito clés- sico de angiistia futuante introduzido por Freud na caracterizacao da neurose de angistia (FREUD, 1895) e da histeria de angiistia (FREUD, 1909), definido como uma angiistia nao ligada a um elemento especifico, que passa de um objeto a outro, Outro dado importante a destacar é que quatro dos cinco participantes que associaram o TAG a angustias lutuantes também o fizeram com as angis- ‘tas primitivas (ver Figura 4) No TAG obverse angieoas primitives 7 ‘Aansiedade no TAG /G 7 caractenaada por ser ara \3( 4 \ a Figura 4, Diagrama de Venn que representa a relagio entre categorias do dominio "Formas de apresentagao predominantes da angistia e/ou da ansiedade no TAG’ Uma possivel hipdtese para entender essa relacio é que as angistias primitivas subjazem no que fenomenologicamente é observado como uma angistia flu- tuante, estabelecendo um nexo de causalidade das primeiras com a segunda. 0 funcionamento errético da angistia flutuante poderia representar uma forma de evadir a conexéo do sujeito com aquelas angistias profundas, por meio de uma ligagio transitéria de uma porsdo limitada de ansiedade a objetos vari veis. Os desenvolvimnentos freudianos sobre a anguistia sinal (FREUD, 1926) pode- riam acrescentar base teérica a essa hipétese. Quanto ctiologia do TAG, com relagao ao segundo objetivo espectfico do estudo, a tinica categoria tipica identificada é aquela que considera que os conflitos no _|| a a TT | Um Olhar Psicanalitico ao Transtorno de Ansiedade Generalizada ee apego (apego insegurc) seriam um fator etiologico importante na hora de pensar usa do TAG, Essa ideia € consoante com os estudos de Crits-Christoph e cola- boradores, citados anteriormente Entve essa categoria © aquela que liga o TAG com angtistias primitivas, eviden- cia-se uma estreita relagio, ilustrada na Figura 5. A partir dessa relacao, pode-se sugerir a existéncia de uma relacio causal entre ambos os fenémenos, sem a possibilidade de afirmar, com cert co do nexo {ver Figura 6) No TAG cbeervam-ce Te dicldades no apege ansedades primitivas 7) pderam ser ur for no TAG’ Angistias Primitivas 7 (nee) — > — Apego Figura 6. Representagio da relagao enlue o apego inseguro e as ansiedades primitivas no TAG. Quanto aos resultados do primeiro objetivo especifico, os participantes conee daram em identificar os sintomas fisi caracteristicos e destacaveis 5 e/ou psicossomaticos como os mais transtorno, depois da preocupagao crénica i Andrés Roussos et al Embora no marco do terceiro objetivo especifico existisse algum consenso em anstorno lansversal, nao tem urn relagao a que 0 TAG, por sua condigio de mecanismo de defesa patognomsnico, os resultados do primeire objetivo espect- fico mostram que sete clinicos concordaram que a preocy atualmente o trago distintive do tanst nismo de defesa. Assimn, a preocupacao um funcionamento defensive que tenta evadir a lembranga ou a conexao com eventos trauméticos, ao focar a sua atengao em um evento insignificante, atr vés do ato de se crita (slo - considerada no—poderia funcionar como um meca ‘ica do paciente estaria associada a cocupar, Gracas a essa ideia, ganha mais sentido a ja de associagao entre o TAG, as angiistias primitivas e a anglstia futuante, A partir da teoria defensiva da preocupagao, poder-se-ia conceituar 0 que é visto como uma angistia flutuan que procura limitar a er natureza traum e, nfio ligada, como o resultado de uma fungao defensiva géncia de ansiedades primitivas ligadas a eventos de ‘ica. O mecanismo psiquico aqui presente mos quantitativos, em diversos obje- ‘aria associada também & j& mencionada nosao freudiana do porgies tos, Essa hip de angiistia sinal. Como foi dito na introdugio, a hipétese de que a preocupasio no TAG poderia atuar como un mecanismo de defesa ou de evitagdo aparece formulada e apoiada empiricamente em alguns estudos de diferentes marcos teéricos, unsiedade, limitadas e: Por sua vez, como mostrado na Figura 7, trés dos participantes que considera- ram a pre (cao no TAG urna fungéo defensiva concordaram em argumentar fa preocupacio teria as caracteristicas de um mecanismo de deslocamento mais difuso (no cristalizado) que o das fobias. B prepa plea A peccimao ‘mecanismo de detesa (7) 3 J ‘mais massivo ¢ difuso que 0 Figura 7, Diagrama de Venn que representa a relagio entie categoria do dominio s/ou caracteristicas da preocupagao no TAG 10 Discussao Com base nos resultados obtidos, podemos afirmar que, embora a maioria dos te em varios _|| za! a Um Olhar Psicanalitico ao Transtomo de Ansiedade Generalizada: quadros ou estruturas, os psicanalistas participantes puderam identificar algu- mas caracteristicas diferenciais dos pacientes com TAG. Isso significa que eles puderamn dotar o'TAG com certo grati de especificidade, No entanto, cabe desta- car a limitada quantidade de categorias gerais e tipicas encontradas ao longo do estudo, Esse dado poderia supor um escasso acordo teérico entre os psicanalis- tas a respeito do fenémeno da ansiedade generalizada. Uma possivel explicagao para essa tendéncia poderia surgir do fato de que o TAG, enquanto tal, nio faz parte das nosologias psicanaliticas, pelo qual nao poderia intervir diretamente como conceito organizador das reflexdes e inferéncias clinicas dos terapeutas desse marco teérico. Seria posstvel considerar, entdo, que os sinais e sintomas do TAG nao sao conceituados pelos psicanalistas experientes como caracteristicas marcantes dos pacientes inclufdos na sua casuistica, mesmo quando eles apre. sentem a fenomenclogia propria do TAG, conforme tipificado pelo DSM. Ainda, por nao fazer parte do seu marco tedrico, é possivel que grande parte das conceitualizagdes dos participantes sobre o TAG tenha sido realizada de forma intuitiva e assistematica, no momento em que as entrevistas eram realizadas dando lugar a algumas contradigées, néio muito significativas, que ocorreram, entte 0s participantes (contradigdes intrassujeito). Ainda, o fato de que 0 TAG seja considerado um epifenémeno sintomatico possibilita compreendé-lo a par- Ur de diferentes posicionamentos tebrico-psicanaliticos © trabalho realizado abre algumas perguntas para futuras pesquisas empiricas sobre a natureza do TAG e a sua conceptualizagio a partir do ponto de vista da psicandlise: 0 TAG apenas uma constelagao de sintomas cuja etiopatogenia depende da estrutura ou da patologia na qual surge ou, pelo contrério, ¢ um, quadro patolégico com detertninadas caracteristicas psicodinémicas espect cas, que pode se manifestar em diferentes estruturas com diferentes aparéncias, conservando, entretanto, caracteristicas especificas? Outra questo surgida na pesquisa é se existe ou nao alguma relacao entre as formas de apego inseguro e as angiistias primitivas, identificadas pelos terapeutas em pacientes com TAG. Caso essa relacio exista, caberia pensar a possibilidade de se estabelecer algumna rel patologia jo de causalidade entre ambos os elementos da Diversas pesquisas futuras seriamn relevantes para corroborar, refutar, enrique- cer ou modificar algumas das hipéteses aqui propostas, Estudos empiricos sobre a suposta relagdo entre apego inseguro e ansiedades primitivas no TAG seriam relevantes. Seria importante, ainda, acumnular mais evidéncias em favor das teo- rias defensivas ou evitativas da preocupagao, j4 que os estudos que sustentam, essas hipéteses so escassos. a TT | || EC + Andrés Roussos et al ‘Além disso, para ampliar os conhecimentos sobre a forma como os psicanalistas, pensam os pacientes com TAG, seriam importantes futuras pesquisas empiricas que estudem os processos diagnésticos ¢ as abordagens na pratica clinica de pacientes diagnosticdvais com esse transtorno A Psychoanalytic View on Generalized Anxiety Disorder: an empirical approach to its conceptualization Abstract The sim of the present paper is to investigate how expevienced paychosnalyste deti= ne generalized anxiety discrder (GAD), as outined in the DSM-IV-TR (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2001}, Semistructured interviews were performed with psychoanalysts wh ‘met expertise eriter’a (EELLS et al, 2011) in order to assess their ideas about the possible logic factors, defense mechanisms, prevailing anxieties related to ths disorder, signs and symptoms associated with t,he undenlying swucture ascribed to GAD, as wel as their opinions about its validity or duration. The Consensual Qualitative Reseatch (COR), developed by Hi, ‘Thompson and Nutt-Williams (1967), was used for qualitative data analysis. The analysis indicated associations between GAD and Freudian notions about anxiety neurosis (FREUD, 1895) and amxety hystera (FREUD, 1909), primtive anxieties and defense mechanisms, and insecure attachment. Also, there was a tendency to regarci GAD as a phenomenon with several psychic structures, observed both in neurotic anxiety and in borderline disorders. This paper raised some questions and allowed making several assumptions about the nature of GAD fiom a paychcanalytic standpoint, indicating the need of empirical research studies in the future to shed further light upon the association between this disorder and che key concepts of the psychoanalytic theoretical framework Keywords. Anxiety Neurosis Disorder. snsensual Qualitative Research (COR). Generalized Anxiety Una Mirada al Trastorno de Ansiedad Generalizada Desde el Psicoanélisis: aproximacién empfrica acerca de su conceptualizacién Resumen: £] presente trabajo busca indagar la forma en que psicoanalistas ex: conceptualizan aquello que el DSM-IV-TR (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2001) de- fine como Trastome de Ansiedad Generalizada [TAG). Se levaron 4 cazo entrevistas semi- ‘estructuradas a psicoanalistas que cumpliesen ctiterios de expeuticia (EELLS et al, 2012), en, las que ae relevaron sus ideas vespecto de los posioles factores etiolégicas, mecanismos de defensa y angustias predominantes presentes en el trastomo; los signes y sintomas que asociacién al mismo, Ia estructura subyacente que le adjudicar; y sus opiniones acerca de Ia valigea o vigencia del cuado. Para el andlisis cualitativo de los datas se utliaé el Método de Investigacién Cualitativa Consensual (CQR, por su sigla en inglés) desarrollage por Hill, ‘Thompson y Nust-Willams (1997) A party del andlsis se encontraron agociaciones entie el ‘TAG y las nociones freudianas de Neurosis de Angustis (FREUD, 1895) e Histevia de Angustia (FREUD, 1908), ansiedades y mecanismos de defensa primitivos y apego inseguro. A su vez, se ‘oservé una tendencia a Considerar all TAG camo un fenémeno trans-estrctaral, presente tanto en estructuras neurdticas como borderline, El trabajo realizado abrié algunos imterrogantes y permitié elaborar diversas hipdtesis acerca de Ia naturaieza del TAG desde el ‘enfogue paicoanalitico,planteando la necesidad de vealizar investigaciones empiticas a futu _|| a a a TT | Um Olhar Psicanalitico ao Transtorno de Ansiedade Generalizada Ee ro para desentratay ef vinculo entre este trastorno y los conceptos fundamentales de] marco tedrico psicoanatitice Palabras clave: Metodo le de ansiedad generalizada westigacion cualitativa consensual, Neurosis de Angustia, Trastorna Referéncias AMERICAN 25YCEIATRIC ASSOCIATION, DSM-5 Development. 2010. Documenta fletrénico, Disponivel em: , Manual Diagnéstice ¢ Estatistice de Transtornes Mentais. Washington, BG APA, 12 Manual Diagnéstico ¢ Estatistico de Transtornes Mentais. 2 ed. 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