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Do autor Being (esa), UBA 1985, Lands Fabuloma (poe), UEA, 1986, Lands ‘Powmas Angoaror (poesia), UEA, 1989, Luanda Tanto Amor poesia), UEA, 1969, anda Cag do Noo Tempo (pose), VEA, 199%, Lands ormaismae Pt eee), UEA, 1931, Luanda (0 cacador de Nuvons (poesia), UEA, 193, Loans Timi & uneciaspoesa),INALD, 197, snd Nengso Honrss do Premio Sagrada Esperang 1997 Imitagdo de Serie & Simone de Bacto Corts), 1" 4. ‘UEA, 1998, Luanda 2 ed, Eatoral Caminho, 1989 Mena Honross do Pino Sonangol de trata 1956 Joao Melo Imitacio de Sartre & Simone de Beauvoir CAMINIO 1 Pemas de imbondeiro, pernas de imbondeiro. Na verdde (ecordo), comecc! por ver © teu sori alar- YYemente belo, imenso como um enorme sol pecams oso alegta despudorada e, no entanto, ingens, puro ese, elucdado pelo hémido frescor dos teus dentes cmoldurando a boea vermetha, de onde brotva, como tuma violent explosio, a gargalhada libidinosa;conti- ddo, 0 que, antes de mais nada, as minhas mos $6 ‘ram compels 2 tocar, movidas por um impo al ver migico, talvexativieo, sel, foram as tots pera lises como um sonho, mas compactas (0 que me ca sou uma sensacdo angustinte de abundincis), Mais Tembrangas: como se fosse um devs, enfiel as mos de Baixo do teu vestido, acaricie-te demorsdamente a3 coxas fortes e grossa, apalpe-as, eliaque-as, até per sera nogao do tempo; com @ mesina comogao com ‘que, em ocasides posteriores, e chamel mata putinha ‘ou minha vaquinka, murmurel:pernas de imboadeio, ppernas de imbondeiro (riuafane, sorriste, antes de Abries completamente as peras, para faciltares a ope ol 0 raglo; eu podia sents as mios mergulhando aténitas thas tuas izes), Dois anos depois, casimo-acs | | 2 ‘Ves como estou?, perguntas. Mas & outa pergunta | ‘que me eatihaga 0 tebro: como & que alguém que se \ pretende revolocionérlo pode watar assim a sua propria Fulher? Eu respondia,cinicamente: a revolugio foi fea | pelos revolucionitios disponives (itagso de Beech). Nessa ales, eu tina comegado a doris fora de cas. [Na impossibilidade de me arancares as vsceas, tu que- bravas a loa. O soctalismo comega dentro de casa, choravas, com todo 0 peso da Logica, que sabia int DMarxista de merda! isso o teu marsizmo?.. A tas per plexikdades, eu opunha aquilo a que podedamos che Ina, provavelmente, a humanizacao dos eissios: sabes ‘Que 0 proprio Marx comia todas as empregadas domés- tleas que the apareciam pela frente”. coitado do En ies, depois, € que Unk de perihar os froos dessas tines. Por falar em frutos: por que @ que esas cae (es, digamos asim, heterodoxas dos pais do marcsmo {ne deixavam sempre um sabor de mécta pede na boca? 3 affcanae’ Tanto eu como tu somos dois anima usba- ‘nos, temos uma formagio europeizada (malt colonia Tismo), a8 noseas raze eatdo mcrgulbadas num limbo sombrio qualquer nossa experiencia rural limitise a tins piqueniquesceallados no Km 8, um poveo antes } ‘de Vana, onde fms comer exjs eom os mifdos e mals | imams amiga Gamo, pore gos prec oe fe instalou uma empresa estangeit precisamente no | IMTAGKO De Aka SHORE DE HEAL Jocal dos nossos pacatos piqueniques). Mas, depois da Independénca, uma doenga estranha ascolou a cidade ‘shomens comezaram a aranje muitas mulheres igo: Publicamente) e auibuem iss 2 aflvéncia irevogavel ‘a tradigdo Prjou-se, concomantemente, 0 habito de ddar as mulheres designagoes carieatas, como Luanda ‘Um, Luanda Dots, ec.) NGO cr, os, por fla de et imulos externas que eu deixava de apeler & poderosa orca da tadigao para dar 28 mishae facadas no mat :mdnio, como diz'0 outro (eu pespric®); como lembra Barthes, a moda € uma coisa fodida (com perdio da ma palavea, meu amor, apesar de 36 pensada),scja como for, sempre achet rdicula a wblizagao deste pretexto eruzo dos pesimetos urbanos,entendes? Enfim, avez toxasessas rcordagoes,associades e clucubragBes nao ppussem di hoses desesperada de ma boa desculpa pa "2 explcar a mim proprio por que estou agule por tudo guile que — eu sei vat acontecer a seguir. Antes que eu tvesse tempo de entender, ibertaste-te das Toupae ‘que zm agora ates pés, completamente intel, como se aises do interior do poema do Jorge de Lima. Or teusolhos esto raiados de sangue. Bstts bela, queria, ‘iminosamente bela, 4 ‘Tenho um amigo que diz: s monogamia & 4 coisa mais antinatural que existe. Talvez, penso.Tenbo vigjado lum pouco veo: € rao 6 homem que nao tena mais do fque'uma mulher, os europeus e americanos (refi me tos de oxgem anglo-sxoniea), qe tém a mania que ko mais esperts do que todos nés (epois de terem cizma- ‘do as nossas ewvilzagoes, dato), preferem excamotear c= ‘ss relagves pecadoras, possivelmente com medo do Infemo que eles proprios inventarmy entetanto, med cde que se val etrando nos tropicos, ai elagies verse solo sno tomando mats aberas, mals permissves,escancarads, ‘mesmo; hi muito tempo, por exemplo, li wma entrevista {de um fazendeiro brasileiro que meoravs com quazo mu theres na mesma cise sabi, amor, que na Corba hé tum pesrador madeirense que vive com vias mulheres ‘80 mesmo quinal, como um autntico soba? O Zé tem ‘azio, portnto: a monogamia nfo & natural. 86 que © {ajo munca me responde quand Ihe pergus: por, pi, fe ze tu mulher quiser ter vésios homens? Problema fngustante: a poligamia confunde-se, pelo menos na ‘nossa epoca, com © machismo — por iso € inj ‘Amor, jt dormiste com alguém desde que nos separd ‘moe, pergunto, O que & que tu achas?, concordas que também preciso de afeto? Talvez, pens. 5 Dissete vail cas, logo, preciso de conversar com tig Sor, no sei porqué, pensando na canglo do An- ‘dt: vamos senta/alar um bocado.. quanto eves ‘asados, rramente conversivamos. Por que @ que ces tacis ce dio melhor quando debam de slo? Aqul ext ‘mor, agor, diluides todos os sessentimentos ¢ incom prenses no poco sem fundo do esquecimento, sere, ‘mas com os sentidos alert par iminéncia que se dese ‘ha, como a brota onda aproximando-se da artebents ‘0. Quando cheguel,aiastete a mim como uma planta faints embeaste deste verso), colaste 0 tu corpo a0 ‘meu, belaste-me com voraciade, engolino solregame tee fases que eu tinha prepansdo, Depo, depos 6 espantoso como sempre nos entendemos sexual- mente (penso), Seen veo como t ets? Vo, sim, que eA DE SaRERE 8 SIMONE MIO fia, a, como weal... Tnhas acabado de sair de dentto ‘do poema do Jorge de Lima, nuinha (nto tinhas nada {debaixo a sia, como ev gost) e, num impulso sti, ‘subiste para a mesa de marmore da cozinha, onde esti ‘vamos. Fhaste daramente 0 meu fosio com teus alos ‘explicios, abit infintamente as pernas ¢, com os de ‘dos, comecaste a acaricia-e com temura, sem deixar de ‘lhar-me, Nada diss, naquele momento, era obsceno. (© meu penis tremia como os canaviais da Catumbela, quando te pent 7 Muitas vezes dscutimos rsco de burcratizagto da relagio conjugal A rotina, 0 grande inimigo dos casas € 2 roling, procurava eu ensinar. Tu reconhecas: de vez fem quando também me canso do teu oso, mas iso ni igier dizer que ev aceite que tena das mulheres..O5 Drincpios, or teus sagrados principio, ietavarme cu, pena interormente Mas t parecasadvinhar os mews ‘Pensaments: € uma questo de principio, querido, essa ‘ania de todos vocés terem mats do que uma muler ‘orcas das ais adgbesaficanas,comigo no pepal sem qualquer pau al, s6 gosta de saber se 005 livros onde wots estadam 0 marxiemo Iso est previ ‘0. Como um eslminaso apanhado em flagrant delito ‘0 um jogador de poker beiea da derrota, ev costuma- vv sempre em ais creunstAncay, recomer 2 ua ead ‘desesperada:calmamente, procutando apareatar a mals ‘esta imparcialidade, contava-te a hitia do Jean-Paul Santee da Simone de Beawwoit, que viviam em apara- rentos separados e foram muito felizes. Contudo, 20 verte fir (esse rs0 frontal que me perturbou tanto no dia em que nos conhecemes), meta rabo ene as per- nas: ex em, esta bem, en sou 0 Pedro et, Ana. oto mo 8 No quit, Volta para cis, meu amor, eu f no aguen to mais, pedes. A minha mao percorte 0 eu corpo saci do, com prazet, mas eu sinto uma estianha agonia no pelo, ao sei se quer ear ou parti, apenas tenho uma Yontade enorme de chorar. © que acs de minha lee, pengunto. Qual idea? Aquela de iitarmos 0 Sarre ¢ Simone de. Quem conga a chrar st, 9 io me disseste nada, mas eu sek eta fol a hima vvex que fzemos amor. Por iSf0, antes de sal, resolve (Como se discurasce para ti) guardar para sempre 0s bor da tua pele em todas as minhas extremidades. Na 1a, 0 calor ¢insuportive, © sol de Luanda, em Abel, € ‘uma cob fod, a

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