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EDIPUCRS - Cole¢io Meméria das Letras 41-GIL, Fernando C. © Romance da Urbanizago. 1999, 148 p. 2-GOLIN, Cida. Memérias de Vida e Criagdo. 1999, 219 p. ‘Os petidos devertc ser encaminhados & EDIPUCRS AY. Ipiranga, 6681 - Prédio 33 ‘Caia Postal 1429 '90619-200 Fort Alegre — RSVBRASIL ‘hp/ultra. puss bvedipucrs E-mail edipuers@puers.bt FonefFax: (51) 320.3523 Aquisigao da linguagem numa abordagem psicolingtiistica: por uma teoria da aquisigao da linguagem como processo Leticia Maria Sicuro Corréa PUCK} LIntrodusso ssa mesa-redonda, 20 colocar lado-alado o que ¢ apre- ‘entado como abordagens inalista, sie intoracionste piclin. ‘$itcn para o estudo da aquisigdo da linguagem, pose sugen= ‘um contraste de posicionamentos epistemolagicor para 0 ra famento tesrico da aquisiglo da linguagem. Comego, ent, por cesclarecer que o que foi gut identficado como aberdagem poo. Inghisticn para 0 extudo da aquisigéo da linguayem € lena ‘mente compativel com uma postura fortamente inatst, que fupte haver, na programagio biolégica do scr humari, © cor flat de uma tera de grands fe lnguaseaturas (Gran tica Universal (GU), como parte da faculdade humana de lin uagem (Chomsky, 1965; 1997), Este modo de abordagen Pode, nao obstante, ser compativel com sima perspectiva epis- temol6gica » partir da qual se minimizem as pre-condigdes e=- Pecifcamente inguisticas para a aquisigio de lingues ou se as formulem de forma distnta das teoriae de GU correntes. Tndependentemente co posicionamento epistemaligico ue a oriente. uma teoria da aquisigio da linguagem deve ser capaz.de explicar ()ofato de qualquer crianea ser, em principio, ‘Larose je: Per Age, 94, 3, 27, copie os 1000. 2 de adguiris qualquer Ungua —o que remete bs bases baolgicas ds inguagen humana i) o mado como as diferentes Angoes Homenas peciern ner adidas (oo ura dada lng vom a ser idenstcada) —o que Femete, mas especcamente, Is propriedades © o modo de operecto de un aparat dedi dou alaptado ao procesamente de materal lnguitiese As condigdes necesiias para qu eee material sea procesad (0 que pode envalverdetrinados partes interacionaiey (i) a Sectgdes que se maniestam no desempent ingtco de Griangaenquano se process 8 aquingi ox identcagao de tna lingun Esa altxagbes no #80, conf, funcdo excuava de rmudangas do ext de corhomentolinisic decane Torna se portanto, neessénadisngir alo que, no dese pent lingutsticn da ciangs, see's tum dade estado deco. hecimentoLinguisien do que decore de fatres relatives #0 procesamento de erunciado ingetacon Une tora da aga Sito da ingsager quests it) deve sor artealada com cima teria que de conta do desenvalvimento de hebilidaes Ce procebaamento lingitstico Una abordagum psiolingwstica para a equisigio da linguagem ver a0 eneontro deste objetvos, Contes cone ceber 0 proceso de aquisgto da linguagem sob a pespeciv do processamentolinghisin, assim cme em conde ar ‘dos dados do desompenho lingustico de cena a partt de tam modelo de procestament. Consse, Pos, em iearporat ta tera priceinguftca ao estado de aqui da linge sem como process. Nedma presenta, procuro caractviar o que entendo como serio as bates tericas de uma tiona da equsgso de lingagam tomada como proceso. Apresents urn beve hist co do trtamento da xqisigao da linguagem sob ume perspec tiva psicolngaiticae aponto para ifcuades que veo como imerentss 8 eonsbigho do. Eto de Linge de Cron, Como campo de invenpostovinculado ao etude do deena ‘mento ds eianga. Remeto do trabalho que ven condasindy com vistas lidar com ens icdades, © aponto para 0 ue the parece serum camino promiesor para a apstrogo de wa trrla da aquligt dalinguagem como proces. 20 Laban de Hse + Lata Ma Suro onda 2, Ocstudo da aquisigio da linguagem como processo © cstudo da aquisieSo da linguagem numa abordagem peicolingtistiearequer um duplo sport teérico— par um lado, tima teonalingistica que permitacaracterizar o estado inca! do processo de aquisicio da linguagem e prover um modcle de lingua corresponciente ao estado adulto , por outro, uma teria psicoingiistiea que apreserte um mela procalimental do esta- do estivel de desenvolvimento linguistico a ser atingido, ou sca, de um modelo que dé conta do mao como enunciades Tingiiticos sio processados pelo adultoe apresente as proprie: ddades a serom atnibuidas a um sparato processador de ling BE aticulagto entre turiaslingitica © peiclingistcn procsuposta nesse ipo de abordagem é, no entanto, de diff Fealizagao. Nos ancs 60, a Psicologia procarou buscar na Lin- filistica as bases tadricas para lidar com 0 processamento da linguagem.Faltou, contud, lever em conta a mediagso neces. séria entre modelos formais de gramética eos modelos algort rmicos ou procedimentais dos processos de produgao e compre- ensto da linguagem a serem propastos (ck. Fed, Bever & Gar- ‘ett 1974). Os desenvolvimentos da Peicolingistica, 2 partir de ‘entdo, lovaram a\um temporério afastamento da teocia lings tica, a qual se dstanciava da preocupacio imediata de prover tum modelo de competencia passvel de ser incorporade a um ‘modelo de performance, so tentar resolver o problema de con- liar aieqict dezritica (prover um modelo tapaz de gerar a5 ‘senteneas da lingua e sornente elas) com ado explanatrin {prover um modelo de conlsecimentalinglistico que satistaca a soncligtes de aprendiabiidade) (cf. Gresnan, 1978). Assim, no {que conceme 8 aquisicio da linguagem, a pesquiss de orienta: sf psicolinghistica eonduzida nos anos 70 buscou a forma ho de esiratégias de aquisigao de linguas fundadas em prt Fequistos cogritivos! ou sob a forma de procedimentos de and- "© que fol caractrtzado por Bever como eerie porspis “a forma do _tamatiss peda ser hoje concede term de sana ete ag tre Astemaydedesempeno we inriae hg tn da prac, iplieaiaetaiaiibi iieiiaiaiaa cai lise lingistica, os quais se apresentavam, no entante, teorica ‘mente pouco motivados (cf. Bever, 1970; Slobin, 1973). Por outro lado, 0 estudo da aquisicio da linguagem vinculado exclusivamente & teoria lingifsien vollava-se para a avaliagso da competéneia linguticx da crianga, no que concer” ne & incorporagdo das regras da gramatica de uma dada linge. Esses estucos, alm de incorrerem em dificuldades metodologi- ‘28 por desconsiderarem as demandas cognitivas que tarefas de rodugSo ¢ de compreensao podem apresentar 8 erianga (ct Corrés, 1996), encontravam-se mal direcionados, uma ver que 4 teoria linguistica de entio no distinguia claramente o que po- deria ser atribuido a um sistema responsavel pela capacidade _gerativa das linguas humanas (sistema computacional) do que deveria ser caracterizado como conhecimento a ser especitica- ‘mente adquirido (hoje caracterizado em termos de facto de pardmetros (cf. Kato, nesse volume)). As dificuldades vineuladas 3 trajetoria histériea dessas teorias resultaram, por um lado, num distanciamento entre © estudo da aquisicdo da linguagern que parte do problema legico formulado pela teoria linguistica e o extudo da aquisigae da linguager como procescoe, por outro, numa dissociaglo entre 0 estudo do processamento linguistico, tal como conduzide pelo, adulto, eo estudo da aguisigao da linguagem. Dessa forma, uma abordagem psicolinguistica para a aquisigao da linguagem rndo é predominante quando dacos do desemperho lingstico de eriangas a80 analisadios, 3.0 Fatudo da Linguagem da Crianga © estudo da aquisiglo da linguagom néo necessaria ‘mente remete ao problema da identificagao cle uma lingua pela rianga. O terme linguagen, passivel de ser entendido como lingua ow como forma de expressio por meio da lingua (ou por ‘Outros sistemas semiolégicos) admite que sejam formulation diferentes tipos de questdes relacionadas a0 desenvolvimento dia erianca, Assim sendo, nem todo o estudo identifieado come sstudo da aguisigao da linguagem, que love em conta dados de desempenho linguistico da erianca, busea atender aos objetivos (ll) acima enumerados, 30 Late He « Late da Ss Coma (© conjunto dos estudos que lidam com questées relacio- rnadas blinguagem da erianga constitui um campo de investiga- ‘glo sem identidade tedriea definida, o qual é usualmente ident. feado como Estudo da Linguagem da Crianca (ELC). ‘ncontra-se presente, nesse Ambito, uma tendéncia que fomou forma nos anos 8), na qual oestudo da aguisigao da lin guager incorpora a idéia de processamento linguistico. Trata- ae de teorias ce aquisicao da linguagem que incorporamn o cor ceito de bootstrapping (Gesencacleamento ou alavancagem), con siderando 0 medo como o seconhecimenta de unidades pross- dieas pode promover a delimitacao de tnidades sintaticas © lexieais (Christophe & Dupo, 1996; Jusczyk, 1997: Mehler et al, 1988), 0 modo como 0 processamento de natureza sintética pode facilitar a aquisiczo de categorias semanticas (Gleitman, 1994 )e vice-versa (Pinker, 1987) Grande parte do ELC encontra-se, contudo, mais dire: tamente vinculada 3 tradicao do estudo do desenvolvimento da ianga, uma tradicio escenciaimente deseritiva que, quando teorica, apresonta uma orientagio generalista’ (Bates & Mac. Whinney, 1982; Kamilofi-Smith, 1985; 1987). Nesses estudos, ‘observa-se uma falta de clareza quanto ao que tomar como pro blema de aquisigio ou como questio de desenvolvimento. A ‘itagso abaixo, de um artigo de Karmilofé-Smith (1987), é bern ilustrativa deste ponto, “God Lamalyse the general eognitive processes inooived in cutputling long spans of connected utte- tances. & S-phase model will be applisd to these pro cesses in langtuage acquisition as well ae t the pro- cess of ehiidven’s sotoing of physics problem.) rmavels of language acquisitions must tclude a level of analysis which cam capture certain-eross domain Processes, rather than. be merely restricted to the spe- cfc domain of languages” ‘Karmilgf Sith, 1987, p.187.) {Oierme gel remete a enfin que asumso haver presi comuns 4 ferent dominios da cogeuci «tori de deseniviment qo pro ior a ceacterzago do fase xagios etutuaiment deinido, gue se ‘manera om certs dominion coi ‘Aepinighe Oalquagern mises ebittaniin peisctegthiien.. 44 Agua ds Tnguagem em (1) pode remetee 20 period de tempo durante o qual se process #aguisigo de sma lingua ‘¢0 detervolvimento das diferentes capacidades ¢ hablidades ‘que possam se manifesta na producio do diseuro ou a ese Conjunto de proceso, consieredon de forma indiferencada NNesse conjunto, 8 autora considera ser posoivelidentificar a ‘manifestaao de processos cognitvos geras, Le. presentes em ‘drios dominion da ogni, o= quai determinariam a forma como o conhesimento seria representado. Language om (3) Pa rece. por autro lado, dizer respeito & lingua. Assim sendo, em (2) slautora parece requerer de modelos ou teoras voltadon ara a aquisgso da linguagem, no sentido de ngua, a tneorporagio de ur nivel de endive capas de eaptarprocesson que te aplicariam a diferentes dominios cogritives © que, no caso da linguagem, estariam manifestos na produgso. de ‘enunciados concatensdos Observese que teorias da aquisigto da linguagem que lidam coma identifeagao de uma lingua 10 tem de dar conta do modo como a crianga estabelece a concatenagio entre snunciados na produgio do discuso, visio’ que essa coneatenagio nio ¢ feta por meio de relagoes gue possam oer ‘cluswvamente dofnidas em termos gramsticain. Mais do que fuma teria de gramdtica que iia apresentar princpios qe restringem a interpretagio de expressbes refeondiais © de for ‘as pronominais mas nfo a determina, serie necessria ma teoria da produgio de enunciados (correspondentes a seten- ¢2s) no discurso para orientar a andlse do modo como a eran Cetabelece eo concatenacio. Embora esse pose ser um pro- ‘lema para uma teoia do desenvolvimento linguistic, no que concerne a habilidades discursvas, nao sera um probloma para teorias voltadas para a aquisigSo de linguas, das quais um tr- tamento pera ese problema é demandaco Xammiloff Smith parece partir de uma concep de in- sua segundo a qual conheeimento gramatical incorpora @ r= Presentagdo das fungBes gue formas lingusticas deempenham no discurso. (cf. Kamiloff Smith, 3979). Contudo, essa eoncep- so € assumide de forma intutva, prétesrica, dado que tm ‘modelo de ingua (de natureza cogniiva), que materialize cesas relagous, no €apresentado, Nao ¢ caro, po, de que manera 0 conhecimento em questo seria representado, Desse modo, con- 22 Lee doje» Leta Maia Be Conta ‘hundem-se questtes teoricas — questdes relativas a0 desenvol- ‘yimento de habilidades manifestas na produsao do discurso e QucetOes relativas 20 modo como eonhecimento lingieico a postamente requerido por essashabilidades seria representado. ‘A identificagio entre aquisicao da linguagem © desen- volvimento linglistico, oriunda da tradicéo “evolutiva” absor ida pelo ELC tom, dessa forma, dificultado tanto 0 estudo da faquisiggo da Linguagem, no sentido de aquisigso de conheci- mento lingéistico, quanto 0 estudo do desenvolvimento lin _gilstico, Torna-se necassario, pois, distinguir esses termos. 3.4. Aquisigio e desenvolvimento [Aquisiggo remete a conhecimento — conhecimento do texica, do que hd de espectico na morfologia sintaxe de uma [ingua, ou mesmo das fngbos que ma dada forma lingistica parle exercer quando do uso da lingua no dscurso, como 0 con {che Kerrilft-Smith (1979; 1987; 1992), emora este ponto re Gqueira qualiicagso. Por wm lado, ab fung6es asumidas por Lime forma lingtistica no discurso nao necsseariamente depen. drm do acesao = um determinad tipo de conhecimento repre- ‘entado, como tenho argumentado, no que se refer as Fungdes do pronome reerencial (Corre, 1995a; 199%; 1996). Por outro Indo, parece hover dissociagio entre o modo de representacto de conhecimento de natureza furcional econlvecimento de na tureca gramstieal, como sugere a dissociagio entre habilidades lependentes de cada tipo de conhecimento em condigses normals (ef Smith & simpli 199). Alem disso, os falantes da Lingua parecer nao ter ntuigces a rspeite de funcbes diseurs. vas de orma semelhante hs intuigbes que tim sobre a lingua (et KamulofSith, 1992). Assim sendo, ainda que fungtes de formas lingulsticas possam ser ropresontadas como conhes- mento, essa representacio sus aquisigho pareee estar disso- dada de conhecimento de natureza lesiale gramatical ‘Desenvolvimento remete 20 desencadcamento de um Programa bioldgico e, como tal transcorre em fungio de um ‘ronograma maturacional que pode, no obstante, ser aflado Por fatores contingencinis (cf. Kandel, Schwartz & fess, 1991. ‘Um programa bilégico impie resrigies & forma como 0 co sheeimento pode ser representado e pode determinar © curso ‘esta valrgeagon rune atonioen scolagiicn. de sua aquisigio, Neste sentido, o extudo da aqui rhecimentorelativo a uma lingua pode ser incorporado 30 es fudo do desenvolvimento lingistico. Contudo, nem tudo 0 que E passivel de desenvolvimento e que se encontra manifesto no Jdesempenho lingsistico requsr aquisigso de conkecimento, O ‘desempenho lingostico do adulto pode, em prinefpio, exjuerer f@ dovenvolvimento do que seria 0 sistema computacional co- ‘mam as diferentes linguas (Chomsky, 1995), do sistema de Imeméria adaptado 20 processamento da lingusgem (Gatlercole & Baddeley, 1%), dente outro recursos necessitios 8 produ- ‘so ed compreensio da linguagern. © trabalho que vento conduzindo nos ultimos anos tem sido motivado por problemas decorrentes ca falta de clareza quanto ao que onstitul um problema de aquisieio da lingua gem, quando aquicieso da linguagem e desenvolvimento lin {uislico sio tomados como equivalents © aproximados do que entendido, numa eoncepgio generalist, como desenvelvi- mento cognitive. Detive-me, em particular, na questto das for sas pronominais 4, A questio das formas pronominais Formas pronominais aprosentam-

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