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Rovista Critica de Ciéncias Sociais N25 Fovorcire 1998 FORTUNATA PISELLI Universidade de Trento Mulheres migrantes: uma abordagem a partir da teoria das redes O artigo avalia a contribuipao analitica do conceito de rede para o estudo dos movimentos migratérios e em par- ticular das trajectorias das mulheres. Na primoira parte, analisam-se as abordagens mais importantes do fend= meno migratério (as correntes quan- titativas @ de estudos do caso) subli- nhando-se 08 seus objectives, caracte- sticas € imitagées. De seguida, cis- cutem-se os contributes mais interes- santes da teoria das redes, de for ma a avaliar a contnbuipao especifica desia ebordagem. Pretende demons- trar-se que 0 Concelto de rede € part cularmente adequado para a andlise das migrapées co ponio de vista da diferenge sexual: para reconstruir as trajectorias das mulheres, as inami- cas das suas escolhas do ponto de partida a0 ponto de chegada; para iden-tificar 0 papel das mulheres nas estratégias de reprodugao econémica, cultural € social dos grupos éinicos. Estucando a morfologia @ 0 conteuido das interacgées, a tooria das redes permite identificar 0 peso das mulhe- Tes nas redes (a sua centralidade ou marginalidade em termes locais ou globats). 103 fT objectivo deste artigo proceder a uma avaliagéo do contributo analitico do conceito de rede no estudo dos movi- mentos migratérios, com particular relevo para a migragao feminina. Apesar do uso crescente da metafora da rede na linguagem e na imagética colectivas, s6 recentemente ela se tornou parte integrante das Ciéncias Sociais, ¢ s6 muito rara- mente tem sido aplicada ao estudo dos movimentos migrat6- rios. E certo que 0 conceito e a imagem da «rede social» tem presidido a numerosos estudos sobre a emigragaéo, mas o seu USO tem-se cingido quase exclusivamente a uma dimen- ‘40 metaférica. Ou seja, nao se tem dado um contetido espe- cifico as caracteristicas morfolégicas e interaccionais das redes sociais, nem se tem feito qualquer tentativa no sentido de as relacionar com o comportamento dos individuos que estéo no seu centro. Por outras palavras, néo tem havido uma utilizagao exacta e limitada dos métodos estatisticos e matematicos. Mas 0 que pretendem os analistas das redes significar com a sua constante insisténcia no concreto e na necessi- 104 Fortunata Piselli As abordagens tradicionais quantitativa dade de uma fundamentagao em instrumentos matematicos rigorosos? Qual a utilidade tedrica do conceito de rede? Ou, perguntando de outro modo, que novas hipéteses poderemos nés formular e testar se optarmos por aplicar tal conceito? E mais especificamente, qual o ganho analitico do conceito de rede na andlise da diferenga sexual? O grau de éxito de um dado conceito analitico depende, como é dbvio, da medida em que consegue ou nao canalizar a atengdo para a analise e a explicagao de processos e de comportamentos até entZo investigados sem éxito com recurso a outros conceitos dispo- niveis. Assim, para responder as questdes acima colocadas, irei proceder do modo que se segue. Na primeira parte deste artigo passo brevemente em revista as tradigdes mais impor- tantes da investigagao relativa aos movimentos migratérios, apontando-Ihe os respectivos objectivos, caracteristicas e lacunas. De seguida deter-me-ei sobre alguns dos resultados mais importantes obtidos pela aplicacao do conceito de rede, com vista a identificar 0 contributo especifico desta aborda- gem quando comparada com as abordagens tradicionais e a ensaiar uma avaliagdo das suas possibilidades futuras. Os movimentos migratdrios tém constituido uma area de investigagdo central em numerosas disciplinas, desde a hist6- ria aos estudos demograficos, passando pela sociologia, eco- nomia, antropologia, etc. Dentro de cada uma destas areas disciplinares 0 tema tem, como é evidente, sido investigado de maneiras que diferem consoante os quadros de referéncia teérico-conceptuais, as perspectivas, os objectos de andlise, os métodos e as técnicas utilizados. Dito isto, digamos que com respeito aos movimentos migratérios é possivel identi car duas abordagens principais. Na sua generalidade, estas andlises da emigragao — de tipo hist6rico, estatistico-demogréfico, econdmico e sociolé- gico — reconstroem o fenémeno do ponto de vista quantita- tivo e procuram extrair sinteses e comparagées. Analisam a evolugao e as tendéncias da emigracao, a dimensao dos flu- xos migratorios, as caracteristicas sdcio-demograticas dos emigrantes, os respectivos destinos, os aspectos de novi- dade e de continuidade relativamente a periodos histéricos anteriores, e as consequéncias demograticas (como o enve- Ihecimento, a feminizagao) registadas na zona de partida. Estudam a evolugao historica da area migratoria, a estrutura ocupacional das populagGes nas areas de emigracao e imi- gragao, a distribuigao das perdas e ganhos, ou seja, os movi- mentos de entrada @ saida nas diversas areas, os movimen- tos de curta e longa distancia, a distribuigao regional, a forga atractiva das grandes cidades, etc. Dentro desta linha de investigagao, alguns inquéritos sécio-psicolégicos de grande escala tém vindo a tratar os problemas da insergao e integragao dos emigrantes nos seus novos contextos sécio-politicos. Dada a escala da investiga- do em causa, os autores dos estudos utilizam procedimen- tos de amostragem rigorosos e recorrem a técnicas quantita tivas baseadas em questionarios. Entrevistam um universo (geralmente amplo) de pessoas ¢ aplicam métodos de and- lise quantitativa que vém sendo cada vez mais aperteigoados ao longo dos anos. O objective é estabelecer correlagdes entre, por um lado, certos niveis de adaptagao/integracao, e por outro lado, varias categorias de entrevistados, classifica- dos segundo combinagoes de caracteristicas comuns (quer caracteristicas de base genética, como a idade, 0 sexo, oua etnia, quor caractoristicas do cariz social, como o estatuto s6cio-econémico, o nivel de instrugdo, ou as conviegses poli- ticas). Também os economistas se tém interessado pelos aspec- tos quantitativos da migragao, prestando uma atengao parti- cular a relagao entre emigracéo e desenvolvimento econd- mico. Por outras palavras, estudam a emigracao na sua rela- 20 com os processos de industrializagao, urbanizagio e despovoamento das zonas rurais e montanhosas (que esto na origem dos efeitos chamados de «atracgao»/«repulsao»); analisam o peso que as remessas dos emigrantes tém para a balanga de pagamentos do seu pais de origem, salientando a contribuigdo destes para os rendimentos das familias nas zonas de éxodo; estudam as consequéncias da emigracao nos padrGes de cultura e consumo, assim como os seus efei- tos no mercado de trabalho e na estrutura de classes tanto da regiao de origem como da regio de chegada, com vista a identificar as implicagdes que a emigragdo tem sobre a diné- mica e o sentido do desenvolvimento econémico!. Por norma, estes estudos debrugam-se sobre os movi- mentos migratorios como um todo, sem fazer distingdo entre ’ Existe uma vasta bibliografia sobre esta matéria. Para uma visao actuall- zada do contexto italiano, ver Reyneri, 1996, Mulheres migrantes 105 106 Fortunata Piselli as componentes masculina e feminina dos fiuxos de migra- ¢40. Quando se detém sobre as varidveis relativas a dife- tenga sexual, analisam as caracteristicas e tendéncias da migragao feminina de modo a fazer sobressair as diferengas estatistico-demograficas resultantes da comparagao com as migragdes masculinas de um ponto de vista geral, e isso com a intengdo Ultima de determinar se a migragao feminina tem uma dimensao maior ou menor do que a migragao masculina; se se desenvolveu antes ou depois dela; e se as mulheres ‘emigram por motivos de reunificagéo familiar ou independen- temente deste factor. Alguns estudos sobre imigrantes exte- tiores € Comunidade Europeia salientam a fragilidade destes no mercado de trabalho e o facto de serem relegados para empregos nao qualificados, em condi¢gdes muito inferiores as Pprevistas nos contratos de trabalho. No entanto, pouca ou nenhuma referéncia tem sido feita A presenga e as condic¢des laborais das mulheres trabalhadoras exteriores 4 C.E., as quais se vém frequentemente forgadas a trabalhar em condi- g6es ainda mais precdrias do que sucede com os homens. Tais lacunas dependem, em parte, dos paradigmas inter- pretativos que orientam estes estudos. Com efeito, os movi- mentos migratorios explicam-se em termos de modelos inter- pretativos genéricos que dao énfase a factores externos sem levarem em devida consideragao o contexto referencial, as prdticas sociais e © papel dos respectivos protagonistas. E assim que os movimentos migratérios s&o recorrentemento explicados como sendo consequéncia, ora da divisdo interna- cional do trabalho, ora de alterages na estrutura da procura nacional ou internacional, ora de um desenvolvimento desi- gual, ora de desequilibrios no mercado do trabalho, etc. Nesta perspectiva, considera-se que os destinos dos migran- tes dependem de condigées externas tais como, entre outras, a densidade populacional, as oportunidades de emprego e os estimulos econémicos. O comportamento social dos migran- tes 6 encarado como resultado de atributos colectivamente partilhados. Nenhum destes modelos interpretativos 6 capaz de explicar certas persisténcias nem a prépria diversidade existentes ao nivel local, tal como nao explica a ocorréncia de diferentes respostas a um mesmo estimulo exterior, nem a variabilidade das praticas sociais, nem os desvios aos mode- los propostos. As andlises quantitativas, apoiadas em fontos estatisticas secundarias ou na observagao directa, ttm o mesmo objec- tivo: chegar a uma descrig&o objectiva e rigorosa do fend- meno no seu conjunto, no pressuposto de que s6 pode ser considerado como cientifico aquilo que 6 mensurdvel, aquilo que se pode medir em niveis percentuais e que se encontra em estados © condigées de algum modo «fotogrataveis». E claro que o conhecimento de tipo quantitativo sobre as migragées é importante, e estes estudos tém conduzido com éxito andlises do fenémeno nos seus contornos gerais, bem como dos problemas a ele associados e das suas implica- gdes econémicas, dando ao mesmo tempo uma ideia da pre- senga feminina nos fluxes migratorios. Contudo, ao ignora- rem as estratégias e os contextos referenciais ¢ ao reduzirem os casos em obsorvagao as varidveis que os tomam homo- géneos e mecanicamente similares, eles introduzem erros de interpretagdo que nao se revelam de imediato; além disso, constroem elos causais que se pode vir a verificar serem arbitrérios, e avangam por meio de generalizagdes que se Poderao vir a mostrar totalmente infundadas. Atente-se, por exemplo, na correlacao estabelecida entre emigracao e sub- desenvolvimento, ou entre emigragao © proletarizagao, ou ainda nas generalizagdes sobre 0 comportamento de certos grupos étnicos, sem que seja feita qualquer disting&o entre os problemas especificos de cada sexo. Ao contratio dos estudos atrés mencionados, estes cingi- ram a sua 4rea de pesquisa a uma Unica comunidade (a comu- nidade de partida ou de chegada), analisando a emigragéo no seu contexto relacional e ecolégico. Para tanto tragaram o qua- dro das normas e das praticas sociais dentro das quais os indi- viduos e as familias funcionam, desenvolvendo uma anlise interaccional e dinamica. Com isso a atengao foi redireccio- nada para as componentes subjectivas, para as estratégias individuais € para os grupos familiares, delineando-se ao mesmo tempo os contornos dos mecanismos e das dinamicas migratérias envolvendo relacdes de parentesco e estratégias alargadas de sobrevivéncia e de mobilidade social. E dbvio que 0 fenémeno emigragao é infiuenciado pelas mudangas ocorridas nas condigSes exteriores; porém, a investigagao tem tornado igualmente claro que os factores objectivos nem sem- pre funcionam no mesmo sentido e que podem influenciar tanto os individuos como os grupos de maneiras diversas. Dizendo de outro modo, deu-se énfase ao entrelagamento entre os condicionamentos externos 0 papel decisivo desom- penhado pelos actores sociais nos processos de mudanga. Mulheres migrantos (b) Estudos de caso 107 108 Fortunata Piselli Estes estudos nao concebem as migragdes de uma forma autonoma e independente. Pelo contrario, examinam 0 seu desenvolvimento dinamico através de uma sequéncia de acontecimentos relacionados entre si. Para tal foram reconsti- tuidas historias de vida, reconstruiram-se trajectrias e genea- logias, destacando-se os factores que influenciam as esco- Ihas (como por exemplo a presenga de parentes ¢ amigos) e atendendo-se aos diversos modos como as mesmas «oportu- nidades» podem ser aproveitadas por individuos ou por gru- pos inteiros. Em vez de reduzir os casos as varidveis, que os tornam homogéneos e mecanicamente similares, as aborda- gens deste tipo procuraram compreender 0 significado das excepgdes e das irregularidades verificadas nas distribui- des estatisticas e nos desvios A norma. O objectivo nao é tanto produzir resultados passiveis de generalizagéo, mas sim desenvolver modelos interpretativos que permitam a formulagao de novas hipdteses. Em resumo, estes estudos vieram alterar a escala da observacao, estreitando 0 campo da investiga¢ao a uma Unica comunidade por forma a intro- duzir um elemento de complexidade e a verificar até que ponto os modelos interpretativos propostos sao passiveis de generalizagao. A produtividade analitica dos estudos de caso 6 ampla- mente confirmada pelos resultados obtidos. Alguns destes resultados vieram alterar certos aspectos do modelo cons- truido para descrever e interpretar a emigragao, mostrando que muitas das hipdteses actuais sobre esta realidade sao infundadas, ou pelo menos obrigando-as a reajustar 0 seu enfoque. Referirei, a propésito, um exemplo retirado da minha investigagao sobre a emigracao numa comunidade do Mezzogiorno italiano (Piselli, 1981). Uma visao largamente divulgada na bibliografia existente sobre 0 assunto 6 a de que existe uma relagdio préxima entre emigragao e proletarizagao. Assim, ouve-se correntemente defender que a primeira é consequéncia da alienagao dos produtores relativamente aos meios de producao e que ela prdpria, por seu turno, faz exa- cerbar essa alienagao. A minha investigagao — subsequente- mente confirmada por estudos levados a efeito noutros espa- gos? — mostra que esta hipdtese ndo tem a validade geral que normalmente Ihe é atribuida. De facto, no que respeita a emigracao de longa distancia (ou ultramarina), que predomi- ? Entre os estudos sobre a emigragéo noutras comunidades do Mezzo- giomo italiano, ver Barazzatti, 1989; Minicuci, 1989; ¢ Scartezzini et al, 1994, nou até & Segunda Guerra Mundial, pode dizer-se que nao sé a correlagéio é duvidosa, como também que, se alguma cor- relagao é discernivel, ela é de tipo negativo. Com efeito, a emigragao ultramarina, devido aos altos custos e aos tiscos que acarretava, constitula um empreendimento de grande vulto, pelo que apenas teve a ver com aqueles que se revela- vam capazes de suportar tais custos e riscos: os estratos intermédios da populagao em termos de idade e de condigao social — ou soja, aqueles que jé haviam atingido a maiori- dade ou que estavam prestes a atingi-la: gente do campo, pequenos agricultores, artesdos, pequenos comerciantes. As estruturas de parentesco ofereciam os meios e os incentivos necessarios para se emigrar. S6 um agregado ou um grupo familiar suficientemente alargado e coeso estava em condi- gdes de mobilizar, quer os recursos materiais necessarios para pagar a viagem ao emigrante, quer a ajuda necessaria para o/a integrar no local de imigragao e para Ihe sustentar a familia, que por norma ficava a viver no pais de origem durante um periodo de tempo relativamente longo. Pelo con- trario, entao, foi sé a partir do inicio da década de 1960, altura em que os custos € os riscos envolvidos baixaram con- sideravelmente, que a emigragao — com destino ao Norte da Italia e aos paises da Europa Ocidental — passou a incluir estratos mais baixos no que se refere a idade e a posicao social, ou seja, os jovens e o proletariado. E foi, portanto, somente neste periodo que a proletarizagao, tanto passada como presente, comegou a alimentar de um modo significa- tivo 0 fendmeno da emigragdo. Este exemplo mostra que 0 que temos perante nés nao é unicamente um evidente problema de contextualizagao; ha também que encontrar uma explicagaéo e um sentido. Ha indi- cadores formais que podem ser idénticos mas que ocultam por completo padrées diferentes; os mecanismos que geram @ mantém a emigragao mudam ao longo do tempo e na sua relagao com todo um conjunto complexo das varidveis econd- micas, politicas e sociais. E tal mudanga nao pode ser expli- cada unicamente em termos de causas externas, sem levar em devida conta 0 papel activo da adaptacao, das respostas e das escolhas dos actores sociais. Mas qual tem sido o contributo analitico destes estudos para a andlise da diferenca sexual? E certo que as andlises da emigragdo baseadas na ideia de comunidade vieram resti- tuir um papel importante as mulheres, pondo em evidéncia a sua participagao activa nas estratégias, nas escolhas e nas Mulheres migrantes 109 110 Fortunata Piselli A teoria das redes politicas dos grupos familiares. Mas é precisamente sobre os grupos familiares e de parentesco que a andlise tem recaido, em detrimento das mulheres enquanto sujeitos concretos que fazem as suas escolhas e tragam as suas estratégias. A isto deve ainda acrescentar-se quo, nao obstante os seus gran- des contributos para o conhecimento do fenémeno da migra- go, os estudos de caso tém também as suas falhas. Antes de mais, porque sao passiveis de introduzir distorgdes que, nao sendo visiveis no plano imediato, podem vir a causar erros de interpretac4o. Por outro lado, por exemplo, o tama- nho da comunidade é tomado como um dado adquirido ou estabelecido aprioristicamente, facto que 6 redutor na medida em que se torna extremamente dificil definir os limites de uma comunidade. Além disso, a complexidade social que os estudos de caso tém o mérito de evidenciar nem sempre é formalizada, ou ent&o é-o apenas parcialmente. Os estudos que recorrem a teoria das redes tém procu- rado introduzir complexidade e formaliza-la & custa de um realismo crescente. Destacam a riqueza da dinamica que 6 inerente intoracgdo social ¢ procuram formalizar a comple- xidade transformando a ideia de rede num conceito analitico a que se pode aplicar a teoria matematica dos grafos. Para tal, fazem ancorar as suas andlises no individuo enquanto centro de uma rede de relagées multiplas, enquanto unidade indispensavel de andlise de uma sociedade complexa e caracterizada pela heterogeneidade, pelo conflito e pela flui: dez. Com base no individuo e nas respectivas redes relacio- nais, reconstroem o tecido das relagdes sociais e econdmi- cas, as trajectérias e os canais da mobilidade social, bem como as dinamicas de conflito e mudanga. A emigragao, por definigéo, poe os individuos em con- tacto com mundos cultural, social e politicamente diferentes e leva-os a participar na vida e na cultura de grupos diversos, entre os quais sao constantemente instados a escolher. O homem ou a mulher migrante move-se entre esferas sociais tertitoriais diferentes, numa dimensdo que abarca uma plura- lidade de linguagens e significados. Tem identidades varias, € age tendo em vista multiplos propésitos. A rede revela-se uma ferramenta analitica particularmente capaz de agarrar esta realidade fluida e em constante mutagdo, por forma a investigar as interacgdes entre, por um lado certos grupos étnicos e sociais, e por outro as relagdes miltiplas, ambiguas € contraditérias que as pessoas mantém com os respectivos contextos de referéncia. Para uma avaliag&o mais minuciosa deste tipo de abordagem, procederei de seguida a uma ana- lise dos mais significativos estudos em que o conceito de rede € utilizado na analise dos movimentos migratérios. Refiro-me ao trabalho de Margaret Grieco intitulado Keeping it in the Family (1987), e a The Migration Process, de Prina Werbner (1990). No seu livro, Grieco apresenta os resultados de um inqué- rito levado a cabo ao longo de dez anos em varias regides e sectores industrializados de Inglaterra caracterizados por pro- cessos migratérios intensos, demonstrando que a familia e os lagos de parentesco constituem o principal factor de recruta- mento e organizagao da forca de trabalho das fabricas. Dois desses estudos revestem-se de particular relevancia para o tema do presente artigo. O primeiro diz respeito a historia de uma familia desde que se fixou num bairro de Londres até as suas subsequentes ramificagdes por diversas regides indus- triais de Inglaterra (Kent, Hampshire, Essex). O segundo caso relaciona-se com a emigragao de um grupo de trabalha- dores escoceses para as siderurgias de Corby, no Northamp- tonshire. Grieco acompanha as diversas etapas dessa emi- grag&o em cadeia através de grupos de familiares, desore- vendo-a nas suas mais pequenas ramificagdes pelo sector da industria. Nestes dois estudos Grieco mostra o papel dominante desempenhado pelas relagdes de parentesco ao nivel do mercado de trabalho pouco qualificado. Os lagas de paren- tesco «fortes» constituem o factor principal de acesso ao emprego e de mobilidade dentro dele’. Além disso, o regresso as terras de origem — caso as oportunidades do trabalho diminuam — é igualmente facilitado e regulado pelas redes de parentesco. Margaret Grieco estuda nao sé a morfologia das relagdes de parentesco mas também a natureza e o contetido destes lagos, salientando a importancia de que as obrigagées reci- procas se revestem no que respeita ao auxilio prestado pelos parentes na procura de emprego. A investigagao feita por Prina Werbner 6 ainda mais com- plexa. Durante muitos anos Werbner levou a efeito um estudo 5 Grieco contesta @ hipétese de Granovetter sobre a “orga dos lagos débeis’, isto é, sobre a importancia dos conhecimentos pessoais ro acesso a0 emprego € na mobiidade de um grupo de profissionals liberals € de gestores da cidade de Boston (Granovettor, 1994). Mulheres migrantes 111 112 Fortunata Piselli aturado sobre uma comunidade de imigrantes paquistaneses de Manchester, detendo-se simultaneamente sobre trés pro- cessos relacionados entre si: a circulagao da mao-de-obra migrante, a fixagao de residéncia e a reprodugao do grupo étnico. Para além destes, a autora aborda também temas nao teferidos por Grieco como, por exemplo, a dimensao cultural Werbner centra-se nas redes egocentradas e reproduz as vérias fases da formagéio da comunidade paquistanesa de Manchester. Partindo de individuos em posigées estratégi- cas, reconstrdi as trajectérias, as rotas migratérias, e as dina- micas de escolha desde o lugar de partida até ao lugar de chegada, e associa-os a determinados grupos definidos em termos de emprego, parentesco e casta. Descreve a morfolo- gia das redes que, através de continuidades e fracturas, foram ganhando forma em Manchester, do local de trabalho aos bairros; ¢ analisa as situagdes de crise e de conflito que levaram a reconfiguragéio do mapa das relagdes sociais. Em resumo, a andlise que propde desenvolve-se em duas dimensdes relacionadas entre si: uma econdmico-social € outra cultural. Quanto a primeira, Werbner acompanha os dois principais processos que caracterizam a fixacéo dos paquistaneses na cidade de Manchester: a expanséo em direcg&o a novas areas e novas actividades, e os diversos padrées de fixago de residéncia e de mobilidade que a caracterizam. Werbner descreve as estratégias de acumula- 940 de capital dos primeiros emigrantes e reconstréi as «cadeias de negécios» montadas por imigrantes da mesma regio de origem que haviam logrado entrar com éxito em certos sectores especificos do comércio. A autora identifica ainda 0 entrelagamento dos condicionalismos econémicos com as relagées sociais: os negécios assentam na confianga e na reputacao pessoal, so regulados por normas — cultu- ralmente sancionadas — relativas a obrigacdes familiares e a lagos rituais, e so controlados por apertadas redes de ami- zades e conhecimentos pessoais. A familia, a casta, a ami- zade e as redes étnicas sao essenciais para se compreender a evolugdo dos negocios, o tempo necessario para alguém se poder estabelecer, a disponibilidade inicial de m&o-de-obra e de capital, bem como os padrées de mobilidade e de diferen- ciagao econdmica. Quanto a segunda dimensao da analise, Prina Werbner estuda as estratégias por meio das quais 0 grupo étnico se teproduz ¢ — nao obstante estar em constante transforma- ¢ao — consolida e revitaliza a sua cultura. O grupo étnico reproduz-se através de um sistema culturalmente bem demarcado de ofertas @ de servigos prestados em determina- dos momentos ritualisticos ou cerimoniais. A economia da dadiva define uma comunidade moral de incidéncia local: ela estabelece relagées sociais vinculativas entre membros da comunidade que por sua vez representam agregados domés- ticos e grupos familiares mais alargados. Os imigrantes ritua- lizam as suas telagdes de reciprocidade e, através de pre- sentes e ofertas, estabelecem importantes relagdes de con- fianga (fundamentais como meio de regulacao e suporte da actividade comercial), que em muitos casos tém origem ja em Manchester. Aqui ressalta a centralidade e especificidade do papel das mulheres na economia da dadiva. Em Manchester, e tal como no Paquistao, sao de facto as mulheres quem gere essa pratica de dar presentes, e sao as mulheres quem controla as redes extra-domésticas e quem, através dos presentes, alarga as relagdes familiares para além da rede dos parentes e amigos pertencentes & mesma aldeia. As mulheres fazem, deste modo, a ponte entre circuitos dife- rentes e desempenham um papel chave na reprodugao social do grupo étnico e na promogao da cultura que lhe é caracte- ristica. O fenémeno migragao nao se limita a suscitar 0 problema da reformulagao e da redefinicgdo dos comportamentos e categorias econémicas. Com efeito, os imigrantes véem-se também na necessidade de «re-situar» num novo contexto todas as suas categorias culturais e simbdlicas. O ritual reali- zado fora do seu contexto «natural» tem de ser reinventado. E de facto, os rituais das ofertas e sacrificios, assim como os rituais de casamento, exemplificam bem o processo de reno- vagao simbdlica e de recontextualizagao que tem lugar na comunidade paquistanesa local. Os casamentos sao acorda- dos em resposta a padrdes emergentes de estratificagéo social ao nivel local, e nao ja — ou nao exclusivamente — na base de obrigagdes impostas pelo parentesco e pela per- tenga a uma dada casta. Com isto assiste-se a0 surgimento de contradigdes entre a aceitag&o de novos modelos de com- ortamento, a aquisigéo de uma nova escala de valores, e a jiagéo na ordem antiga, leal tradigéo. Tais contradicdes sao geradoras de conflitos e tensdes. A anélise de numero- s0s «dramas sociais» feita por Werbner desempenha um papel fundamental na explicagao do processo de recontex- tualizagao ¢ faz ressaltar as persisténcias, as adaptagies, as infracgdes © as estratégias de reparacéo desencadeadas Mulheres migrantes 113 114 Fortunata Piselli pelo grupo étnico por forma a reafirmar a solidariedade e a ‘sua identidade cultural. Os trabalhos de Grieco e Werbner demonstram a impor- tancia do contributo tedrico-metodolégico que a andlise por redes pode dar para o estudo dos movimentos migratorios. Na esteira de outros trabalhos importantes (como seja o estudo classico de Granovetter), aquelas autoras adoptam uma posigao critica relativamente as teorias dominantes (Par- sons, sobretudo), para as quais a moderniza¢ao e a industria- lizagao, aliadas aos processos de mobilidade e ao alastra- mento de critérios de contratacao de indole meritocratica e universalista, terdo tornado os lagos familiares ¢ pessoais irrelevantes no mercado do trabalho e nos processos de mobilidade geografica. Grieco e Werbner demonstram que o parentesco e a etnia sao factores cruciais na organizagao da emigragao e do emprego, e isso nao em contextos «atrasa- dos» mas, precisamente, no cerne das sociedades industriali- zadas mais avangadas. Ambas péem em evidéncia os efeitos que os processos de interacgao de pequena escala tém sobre os macro-fend- menos, bem como a inadequagao das teorias econémicas para explicar a dindmica do mercado de trabalho e da emi- gragao. Ambas mostram a importancia da rede social em que os individuos se integram para terem acesso a recursos «externos» como 0 trabalho e as estratégias de mobilidade geogrdfica. Assim, elas estabelecem um elo entre os niveis de analise micro e macro, além de que produzem resultados de grande importancia para as teorias econémicas relativas ao mercado de trabalho e a emigragao. Mas é no Ambito especificamente metodolégico que a anélise por redes se revela mais proveitosa, pois permite a exploragao de areas e a obtengao de resultados que seriam inacessiveis com os instrumentos actualmente a nossa dispo- sigdo. De facto, vemos hoje emergir destes estudos uma complexidade de escolhas e de relagdes que rompe com a ideia de uma unidade de elementos aparentemente monoli cos © que vem corrigir certas nogdes que j4 foram pilares centrais de modelos anteriores. Deter-me-ei agora sobre algumas dessas novas escolhas e relagdes, embora deva salientar que as observagées que se seguem foram suscita- das mais pela leitura que fiz dos livros em causa do que pelas conclusdes explicitamente retiradas pelas respectivas autoras, de forma que s6 a mim devera caber a responsabili- dade por qualquer eventual exagero. Mulheres migrantes 1. O conceito de comunidade geografica de partida encon- tra-se ultrapassado, tendo sido substituido pelo de area de solidariedade real (nao postulada) de onde parte o emigrante. Em vez de ser tomado como certo e sem dis- cussao, 0 espago de partida ou chegada é tratado de maneira a averiguar do efectivo enraizamento/desenrai- zamento dos emigrantes. E a dimensao e a duragao das. redes de solidariedade que expressam e fortalecem as identidades sociais, as fronteiras e as relagdes de per- tenga, e que, por conseguinte, definem e redefinem a 115 dimensao territorial. 2.Os objectos concretos da investigacao sao os lacos pessoais e 0 papel que desempenham na mobilidade e nas mudangas sociais, mas utilizando uma abordagem que difere da maioria dos estudos sociolégicos sobre as redes sociais*. Primeiro que tudo, em contraste com a abordagem que tende a aglomerar todos os tipos de vinculos numa categoria Unica, a andlise por redes traga uma distingao entre lagos de parentesco e lagos de amizade, entre lagos fortes e lagos débeis, além de que define as caracterfsticas e os contetdos das rela- des mais diversas. Em segundo lugar, enquanto os estudos sociolégicos sobre as relagdes pessoais se limitavam a coligir dados respeitantes aos lacos indivi- duais dos entrevistados, centrando-se assim exclusiva- mente em ligagdes de tipo dual, a abordagem por redes analisa também os lagos indirectos e reconstréi as cadeias de conex4o intragrupal e a totalidade do sis- tema relacional em que se integram as relagdes duais. 3. A andlise por redes sublinha a complexidade e o entre- lagamento das esferas formais e informais da economia, a importancia das varidveis sociais através das quais se desencadeia 0 processo econémico, e ainda as inter- relagdes entre unidades de produgao, instituigdes, terri- tério e@ grupos étnicos. Defrontamo-nos, assim, com espagos miltiplos e diversos sistemas de troca: o sis- tema de dadiva e as relagdes de mercado; formas unila- terais e bilaterais de dadiva; formas concorrenciais que so definidoras de relagdes de desigualdade; e formas equilibradas que sao definidoras de situagdes de igual- dade, de amizade e de «circuitos de confianga». 4 Estes aspectos da anélise por redes foram examinados por Michael Eve em dois artigos: “Is Network Analysis Interested in Networks?” e "Is Friendship a Sociological Topic?” 116 Fortunata Piselli 4. No processo da construgo identitaria explora-se ainda a ocorréncia de descontinuidades. Por definigao, os emigrantes movimentam-se entre mundos cultural e socialmente diferentes, vivendo situagdes de risco e incerteza que ameagam a sua continuidade biogrdtica, a sua coeréncia e os seus modelos de referéncia. No Novo contexte proporcionado pelo pais de imigracao, nenhum dos indicadores que anteriormente lhes defi- niam o estatuto e a identidade continua a ter sentido. Os emigrantes so, portanto, forgados a modificar pro- fundamente as suas identidades em fungao desse novo padrao de relagées. Tém que rever as suas Categorias de pertenca e de lealdade, redefinir a sua situagao e adaptar-se a um campo simbdlico que é novo. Mas também procuram defender e reafirmar os seus valores e preferéncias e os seus cédigos de reconhecimento especificos, assim como encontrar sentido e continui- dade na seu vivéncia social e defender os limites da sua cultura propria e da sua identidade colectiva. Mais do que numa «cultura» — entendida como um conjunto de valores partilhados que influenciam e orientam o comportamento dos individuos e que podem ser estu- dados independentemente destes —, os emigrantes revéem-se em numerosas e diversas culturas que sao caracterizadas por uma pluralidade de linguas e signifi- cados e atravessadas por canais de comunicagao, que se encontram em mutag&o permanente e que so podem ser entendidas em termos da actividade criativa de pessoas ligadas a identidades varias e que perse- guem objectivos multiplos. Q quadro teérico-metodolégico que ressalta mais ou menos explicitamente dos estudos de Grieco e de Werbner acha-se, por tudo isto, muito distante dos paradigmas domi- nantes do estruturalismo norte-americano, o qual reformulou as descriges do mundo social em termos «relacionais» por forma a descrever a morfologia e a estrutura em termos sin- crénicos. As problematicas abordadas por Grieco e especial- mente por Werbner tém muito mais directamente a ver com Os métodos e hipdteses da Escola de Manchester®. 0 con- 5 Para uma anilise critica dos contributes tedrico-metodolégicos da Escola de Manchester, ver Arrighi e Passerini, 1976; Hannerz, 1990; Piselli, 1995; 0 0 numero especial da Rivista Jlaliana ci Sociologia, de Marco de 1996. ceito de rede tal como é aplicado em Manchester é uma fer- ramenta metodolégica que nos permite observar a complexi- dade e a tiqueza dos lacos e da dinamica da interacgao e os processos pelos quais os espagos e as formas sociais se constroem, partindo de um ponto de vista situacional e dia- crénico e de um quadro interpretativo que postula a mudanga social enquanto processo de diferenciag&o e divergéncia e que salienta a descontinuidade e a diferenga na historia. A tarefa do investigador consiste, por isso, nao em estudar as relagdes existentes entre as unidades do sistema social e fixa-las segundo modelos estdticos, mas antes em analisar processos, em analisar a dinamica individual da interaccao, 0s movimentos do sistema social e os respectivos mecanis- mos de mudanga. E nisto que o conceito de rede se revela mais fecundo e que cumpre o seu potencial analitico de uma maneira mais completa. E 6 precisamente nesta promissora direc¢&o que se orientam alguns estudos em curso sobre o fendmeno da migragao. Gostaria de referir, no caso da Italia, a investigagao realizada por Francesca Decimo sobre grupos de mulheres imigrantes somalis em Ndpoles e noutros con- textos urbanos®. O estudo de Decimo, baseado no modelo de Werbner, opera uma deslocagao decisiva do nivel das formas para 0 da dinamica da interaccdo, insistindo na variabilidade dos padrées e praticas sociais e observando em termos con- figuracionais os movimentos @ as mudangas registadas nas. redes, Em conclusao, direi que, no presente estado dos estudos sobre a realidade da migragao que recorrem ao conceito de rede, no 6, obviamente, possivel apresentar uma explicagao minuciosa e cabal do fenémeno. E necessaria a realizacao de mais estudos, tanto a um nivel empirico como a um nivel mais tedrico e abstracto. Mas da explanagao atras desenvol- vida resulta evidente que a abordagem por redes so afigura uma metodologia particularmente adequada ao estudo da diferenga sexual. Com efeito, ela permite ao investigador deli- near a morfologia e o contetdo (material e simbdlico) da esfera relacional feminina, bem como analisar a experiéncia feminina enquanto centro da rede relacional, das relacdes entre a esfera privada e as instituigdes; permite analisar a telacao entre a mulher e 0 grupo de referéncia primario (a familia, os parentes, etc.), bem como os caminhos e as tra- © Decimo, 1994. Alguns dos resultados deste trabalho foram publicados em Dacimo, 1996. Mulheres migrantes 117 118 Fortunata Piselli jectorias das mulheres migrantes e a mobilidade feminina no que respeita ao grupo familiar; e torna possivel ainda a identi- ficagao de valores e de papéis especificos das mulheres nos canais de comunicagao e de troca entre dominios sociais diferentes, nas situacao de crise e de conflito para onde con- vergem e onde se condensam todas as formas e niveis, todas as persisténcias e descontinuidades dos processos de mudanga social e cultural. . Tradugao de Angela Maria Moreira Referéncias Bibliograficas Arrighi, G.; Passerini, L. (orgs) Barazzetti, D. Decimo, Francesca Docimo, Francesca Granovetter, M Grieco, Margaret Hannerz, U Minicuci, M. Piseli, Fortunata (org.) Piseli, Fortunata, Reyneri, E. Rivista Italiana di Sociologia Scartezzini, R.; Guidi, Rs Zaccaria, A.M. Werbner, Prina 1976 1989 1994 1996 1994 1987 1990 1989 1995 1981 1996 1996 1994 1990 Mulheres migrantes La politica della parentela. Milao: Fettrinelli. L’ombra de! paese. Reggio Calabria: Cangemi. Mogadiscio-Napoli. | percorsi migratori delle somale, Tese de licenciatura, Faculdade de Sociologia, Napoles. «Reti di solidarieta e strategie economiche di donne somale immigrate a Napoli», Studi Emigrazione 123. Getting a Job. Cambridge, Mass.: Harvard University Pross (2a edigao, University of Chicago Press) [1974]. Keeping in the Family. Londres e Nova lorque: Tavistock Publications. Esplorare la citta: Antropologia della vita urbana, Bolonha: I Mulino [1980]. Quie aftrove. Miléo: Franco Angeli. Reti, L'analisi di network nelle scienze sociali, Roma: Don- zell Parentela ed emigrazione. Turim: Einaudi. Sociologia de! mercato del lavoro. Bolonha: Il Mulino. Rivista Italiana di Sociologia 37: 1 (numero especial, Margo). Tra due mond, Milao: Franco Angeli. The Migration Process. Nova lorque, Oxtord e Munique Berg 119

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