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Sustentabilidade
Uma edição especial, com artigos e entrevistas exclusivas,
para celebrar o Dia Mundial do Meio Ambiente
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ED I TORIAL
CARTA-CONVITE
Para estimular ações em prol da proteção ao ambiente, a de de marcas e produtos da empresa, até um leve e didá-
Organização das Nações Unidas instituiu, em 1974, o dia 5 tico artigo sobre aquecimento global, assinado pela en-
de junho como Dia Mundial do Meio Ambiente. genheira ambiental especialista em mudanças climáticas,
Mariana Fieri. Ainda na categoria artigos, tanto Viviane
E a gente com isso? Bem, para quem ainda acha que o Mansi, diretora de Comunicação e Sustentabilidade da
tema é responsabilidade de especialistas em sustentabili- Toyota na América Latina, quanto Leonardo Lima, diretor
dade, esta revista chegou em boa hora. Para quem já está de desenvolvimento sustentável e compromisso social do
ciente de que essa é uma pauta importante para todos, a McDonald’s, nos agraciam com textos que manifestam
hora também é agora. Explico: nossa ideia é justamente crenças e fazem chamados importantes para que a susten-
promover um grande encontro entre iniciantes e escola- tabilidade seja um tema de todos.
dos, para que a sustentabilidade alcance o patamar que ela
precisa e assim, de fato, observarmos mudanças significa- E não paramos por aí. Além de apresentar pontos de
tivas em prol de uma qualidade de vida melhor para todos. vista diferentes de executivos imersos no universo cor-
porativo, esta edição especial também agrega o papel do
Pretensiosos? Talvez. Até porque nem mesmo uma pu- empreendedorismo e dos negócios sustentáveis nessa dis-
blicação de 500 páginas daria conta de cobrir tudo que é cussão. Essa parte do conteúdo foi 100% construída no for-
relevante quando o assunto é proteção do meio ambiente. mato de entrevista, para que os desafios e os ensinamen-
Mas preferimos nos autointitular “sonhadores”, porque tos desses empreendedores cheguem ainda mais vivos até
se de um lado sonhamos com um mundo em que a susten- você. Queremos que os sabores da Frutos da Amazônia e
tabilidade é parte integrante de nossa atitude como seres os cheiros da Papel Semente mostrem a você a lógica do
humanos, de outro sabemos que toda longa jornada co- comércio justo, e que os planos da Shizen e da Utopies no
meça com um primeiro passo. E eis nosso primeiro passo: Brasil encham seu coração de esperança, assim como en-
lançar uma publicação totalmente diferente das edições cheram os nossos aqui na redação.
extras anteriores, falando de respeito, consciência e tra-
balho coletivo. Mais do que um editorial, esta é uma carta-convite. Um
convite para que você se abra para a sustentabilidade e
Aqui você vai encontrar uma coletânea de artigos escri- para todos os temas que ela abriga. Sonhando grande e
tos por especialistas no assunto, cada qual com seu ponto começando pequeno, juntos podemos mudar a realidade
de vista, sobre como devemos ampliar a discussão sobre do mundo.
sustentabilidade. Assim, temos desde um case reconhe-
cido internacionalmente como o da Natura, escrito por Gabi Teco
Keyvan Macedo, responsável pela área de sustentabilida- Editora-executiva
EXPEDIENTE
HSM - THE POWER OF KNOWLEDGE HSM Management é uma publicação mensal da HSM,
Chief Executive Officer: Guilherme Soárez de ISSN 1415-8869, agora gerenciada pela Qura Editora.
Head de conteúdo: Poliana Reis Abreu O conteúdo dos artigos é de responsabilidade dos autores.
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E
u era criança ainda, mas lembro como se apenas a questão de meio ambiente. Ela é mais complexa
fosse hoje quando a maior revista sema- e, como tudo o que é assim, exige um olhar mais aberto, in-
nal do país chegou à casa da minha avó na- clusivo e generoso sobre o que nos cerca.
quele domingo. Fazia sol lá fora, num dia A sustentabilidade, como um todo, vale a pena ser discu-
iluminado, o que me fez pensar que as coisas tida. E nossa geração de líderes tem uma responsabilidade
podiam ser diferentes dali pra frente. Ela devia ter umas extra – não parece ser possível passar o bastão para a próxi-
duzentas páginas. Era pesada, tinha um globo no centro da
capa e tratava da Eco-92, mencionada como “a maior con-
ferência ecológica da história”. Viviane Mansi é diretora de Comunicação e Sustentabilidade
Vinte anos se passaram e precisamos de um novo even- da Toyota na América Latina, diretora da ABRH e faz parte do
Conselho Editorial da HSM. Em 2018, foi eleita Top Voice pelo
to – Rio+20 – para tentar resolver questões críticas. Não
LinkedIn no Brasil.
foi suficiente. Assim como de fato não é suficiente discutir
A
cada dia que passa – e o tempo segue o Dessa forma, vivemos como avestruzes que passam todo
mesmo, ou seja, o dia continua com suas o tempo ciscando para sua nutrição, e não nos damos conta
24 horas –, temos a impressão de que ele de que o entorno está mudando muito rápido e que possi-
passa mais rápido e que não damos conta do velmente vai faltar alimento para sua própria sobrevivência.
que temos de fazer. Somos levados a trabalhar focados em nossa atividade,
Uma agonia toma conta de todos, porque a velocidade em seja ela qual for, achando que do restante alguém vai dar
que vivemos exige ] que cada vez façamos mais e em menos
tempo. Nosso cérebro trabalha mesmo quando não quere-
Leonardo Lima, diretor de Desenvolvimento Sustentável e
mos, porque fica difícil desligar, sabendo que cada segundo
Compromisso Social do McDonald’s Brasil
conta e que fará falta no final.
rever nossos
resolveremos os problemas urgentes que enfrentamos
como sociedade, mas jogamos luz onde aparentemente
sistemas de só há escuridão.
Também acredito que temos de rever nossos sistemas
educação, de educação, pensando no olhar para frente e não pelo re-
trovisor, com sistemas de educação arcaicos. E, principal-
pensando mente, precisamos educar para viver e entender o mundo
atual. Tenho trabalhado com modelos de educação nos
em olhar quais os educandos saem conscientes de sua responsa-
de educação é responsável.
Temos uma grande responsabilidade, hoje e amanhã.
Gerar impacto
positivo na sociedade
e no meio ambiente
é um desafio coletivo
A SUSTENTABILIDADE ESTÁ NO DNA DA NATURA E A JORNADA PARA SER UMA EMPRESA
CARBONO NEUTRO NOS TROUXE UMA SÉRIE DE DESAFIOS E APRENDIZADOS.
COM COMPROMISSO E METAS CLARAS, OS RESULTADOS TAMBÉM APARECERAM,
É CLARO. ENTRETANTO, POR MAIS QUE NOSSAS PRÁTICAS SEJAM REFERÊNCIA
NO BRASIL E NO MUNDO, PRECISAMOS ATUAR DE FORMA ECOSSISTÊMICA
PARA, JUNTOS, CONTERMOS AS AMEAÇAS AMBIENTAIS. | POR KEYVAN MACEDO
mudanças nos padrões Foi nesse cenário de alerta que a Natura assumiu o com-
promisso de se tornar uma empresa Carbono Neutro, em
de comportamento, 2007, com o objetivo de promover uma redução contínua
potencializar
vendo iniciativas de baixo carbono com impactos so-
cioambientais positivos. É uma iniciativa que está em
efeito estufa
No Brasil, estima-se que 3 milhões de domicílios de-
pendem de lenha para cozinhar. Os fogões eficientes
são pensados para produzirem o máximo de calor com
menor quantidade de lenha e não deixar que a fumaça
se alastre no ambiente das casas e no pulmão das famí-
lias que o utilizam, beneficiando quase 11 mil domicí-
lios na região, impactando principalmente mulheres e
Atuação ecossistêmica crianças. A economia de tempo que seria gasto na coleta
de lenha chega a 18 horas semanais.
Em 2017, celebramos 10 anos do Programa Carbo- Outro destaque é a iniciativa do Instituto Socioam-
no Neutro e ampliamos nossa atuação. Em uma parce- biental, que engaja indígenas e produtores rurais na
ria inédita com o Itaú Unibanco, apoiado pelo Instituto recuperação das áreas de cabeceiras do Parque Indíge-
Ekos Brasil, lançamos a Plataforma Compromisso com o na do Xingu, no Mato Grosso, o que ajuda a deter o as-
Clima, cujo objetivo é estimular novos parceiros e forne- soreamento das nascentes do rio. Para isso, o programa
cedores a neutralizar suas emissões, por meio de projetos adotou um sistema de plantio de muvuca (mistura de
nas áreas de energia, agricultura, floresta e tratamento de sementes) e agilizou a formação de uma rede de cole-
resíduos, entre outros. Optamos por unir esforços em um tores que comercializa as sementes e gera renda para
edital conjunto, pois acreditarmos que juntos podemos suas comunidades.
gerar impacto positivo na sociedade e no meio ambiente, Esses projetos geram, assim, impactos socioambien-
já que esse é um desafio coletivo. Estamos certos de que tais que vão além da compensação de carbono. No total,
não chegaremos a esse impacto de forma isolada. os impactos sociais e ambientais gerados pelos projetos
A Plataforma busca ainda otimizar recursos, ao com- equivalem a um montante valorado em R$ 1,6 bilhão
partilhar conhecimentos e boas práticas na seleção de de impacto positivo desde o início do Programa Carbo-
projetos socioambientais, conectando-os aos investi- no Neutro, sendo que em média para cada R$ 1 inves-
dores, ao mesmo tempo em que contribui para viabili- tido são gerados R$ 31 de benefícios para a sociedade
zar iniciativas de mitigação dos efeitos climáticos, am- (SROI, 2012). Resultado que contempla os aspectos de
pliando também os benefícios para o meio ambiente e saúde humana, desenvolvimento comunitário, servi-
para a sociedade. Em 2019, mais duas empresas, B3 e ços ecossistêmicos e mudanças climáticas. Os investi-
Lojas Renner, passaram a fazer parte da Plataforma. mentos são relativos apenas aos custos desembolsados
Juntos, realizamos no início de junho a segunda edi- pela Natura na compra dos créditos de compensação.
ção do “Diálogos sobre nova economia”, reunindo em- Para cada tema avaliado foi realizado o mapeamento
presas, organizações e especialistas para debater os dos impactos causados. Os métodos de valoração tra-
desafios e as oportunidades no combate às mudanças duzem a percepção de valor do impacto gerado para as
climáticas. Os debates projetaram o tema no contexto pessoas e o planeta.
Aquecimento global:
as empresas
e o nosso papel
ACOMPANHANDO NOTÍCIAS E ARTIGOS SOBRE AQUECIMENTO GLOBAL, FICO
SEMPRE COM UM MISTO DE SENTIMENTOS. SE POR UM LADO OBSERVO FELIZ
QUE O TEMA ESTÁ EM PAUTA E QUE A DISCUSSÃO ESTÁ SENDO AMPLIADA,
POR OUTRO ME OCORRE QUE MUITAS EMPRESAS E PESSOAS AINDA NÃO
DESPERTARAM PARA O FATO DE QUE ESSE ASSUNTO É RESPONSABILIDADE
DE CADA UM DE NÓS. POR ISSO RESOLVI ESCREVER ESTE ARTIGO: ELE É
DIDÁTICO, EDUCATIVO ATÉ. MAS MINHA CRENÇA É DE QUE AS GRANDES METAS
DEPENDEM DAS PEQUENAS ATITUDES E ESSE DESPERTAR COLETIVO PRECISA
ACONTECER. HÁ URGÊNCIA E JÁ ESTAMOS ATRASADOS. | POR MARIANA FIERI
C
om 4,5 bilhões de anos e uma população
de aproximadamente 7,2 bilhões de habi-
tantes, nosso planeta Terra, formado por
cinco oceanos e seis continentes, rechea-
dos das mais diversas formas de vida, a cada
ano manda mais sinais de que não está nada bem. Uma
das maiores preocupações ambientais da nossa geração é
o aquecimento global e as mudanças climáticas. As notícias
de desastres ambientais relacionados ao clima são cada vez
mais frequentes, e protestos ocorrem no mundo todo co-
brando a participação de líderes governamentais a toma-
rem atitudes e criarem iniciativas que ajudem a controlar
esse problema.
sociedade, além pouco tempo, muitas vezes apenas para tomar um ca-
fezinho.
Prosperidade local
ELISABETH LAVILLE, DA CONSULTORIA FRANCESA UTOPIES, FALA
SOBRE O DESENVOLVIMENTO DE ECONOMIAS LOCAIS E APONTA
CAMINHOS PARA AS EMPRESAS BRASILEIRAS QUE DESEJAM ADOTAR
UMA ESTRATÉGIA PROATIVA NESSE NOVO CONTEXTO. | POR GABRIELLE TECO
D
epois de se formar na Escola de Negó- 2018, uma joint venture firmada com a consultoria em
cios HEC, em 1988, Elisabeth Lavil- sustentabilidade brasileira Rever Consulting, deu ori-
le criou a Utopies em 1993, um think- gem à Utopies Brasil.
-tank e consultoria especializada em de- Em entrevista para HSM Management, Laville fala
senvolvimento sustentável, reconhecida sobre o desenvolvimento de economias locais e apon-
como uma das pioneiras para estratégias de negócios ta caminhos para as empresas brasileiras que desejam
sustentáveis na França. A Utopies também está em pri- adotar uma estratégia proativa nesse novo contexto.
meiro lugar no ranking francês de melhores consulto-
rias de sustentabilidade desde 2011 e nas 25 principais 1. Como o fortalecimento de estratégias de econo-
consultorias francesas para estratégias de marketing mias locais está relacionado à redução dos impac-
(revista Décideurs), e top-20 no ranking mundial dos tos ao meio ambiente? Poderia explicar um pouco a
principais parceiros de relatórios (CorporateRegister. conexão entre esses dois assuntos?
com). Ela também se tornou a primeira empresa fran-
cesa a obter a certificação B Corp, em janeiro de 2014. Quanto mais uma cidade ou região for capaz de forne-
Elisabeth Laville e seu time de 50 pessoas têm tra- cer respostas locais a suas necessidades também locais,
balhado em estratégias e gestão de responsabilidade melhor para o meio ambiente. Isso acontece, em pri-
corporativa para diversos clientes globais, como Ben meiro lugar, porque, se você produzir localmente o que
& Jerry’s, Danone, Carrefour, Sodexo e L’Oréal. Mar- é consumido localmente, precisará de menos impor-
cas brasileiras também figuram nessa lista, pois, desde tações, o que significa menos caminhões nas estradas
é fomentar novos
quisa da Kantar feita em 44 paí-
ses, as marcas locais correspondem a
4. Sabemos que você vem com frequência ao Brasil e focarmos apenas na globalização, perderemos uma di-
que tem uma empresa sediada em São Paulo. Quais mensão fundamental. No entanto, pelo que tenho visto
são as oportunidades aqui no país para trabalhar a no Brasil, marcas que produzem localmente nem men-
temática, e como isso pode ajudar a solucionar os cionam isso para os consumidores locais, como se fosse
grandes desafios socioambientais brasileiros? irrelevante para o mercado. Mas não acho que seja ir-
relevante quando lidamos com desafios ambientais e
econômicos. Vejo espaço para as marcas serem mais
O Brasil tem problemas de desemprego e pobreza, proativas e traçarem estratégias para maximizar a pro-
mas também é um país grande, com marcas fortes e dução ou a geração de impacto local.
dinâmicas que fabricam muitos bens e produtos, con-
siderando alimentos, cosméticos, têxteis ou produtos 5. Para as empresas que se interessam em trilhar
industriais. Eu diria que promover o “feito no local” esse caminho, quais seriam as recomendações prá-
(Made in Brazil, Made in Rio, Made in Ceara etc.) seria ticas para construir um caso de sucesso?
muito relevante para explicar aos consumidores que
eles, de fato, escolhem, todos os dias, de acordo com o Acredito que há dois elementos fundamentais para
que compram, o mundo, o país e a região em que que- qualquer empresa que queira iniciar um trabalho mais
rem morar. Se eu comprar um produto local, sei que direcionado ao desenvolvimento local: 1. Engajamen-
o dinheiro vai ficar na comunidade e circular melhor, to e inovação entre as partes interessadas locais, em
criando empregos para minha família e meus amigos, todos os horizontes, tais como ONGs sociais e am-
mais locais prósperos, mais conexões entre as pessoas bientais, autoridades locais, grupos de cidadãos lo-
e, portanto, mais coesão social, o que torna a comuni- cais, instituições de ensino, startups e incubadoras,
dade mais resiliente em situações de crise. empresas locais pequenas ou grandes; 2. Metas cor-
Essa lógica não significa não importar ou não expor- porativas radicais, a fim de impulsionar a mudança
tar mais: não se trata de escolher entre a globalização e inspirar outras pessoas, como decidir mudar para
ou o local, mas sim ter o melhor dos dois mundos. Hoje, 100% de energia renovável produzida localmente, tor-
como eu disse, um terço da geração de riqueza local de- nar-se uma empresa 100% circular, definir uma meta
pende da força da própria economia local, portanto, se de resíduo zero etc.
“Queremos ser a
empresa de energia
para os Millennials”
BRUNO SUZART, BRASILEIRO QUE DESEMBARCOU NO JAPÃO EM 2016
PARA TRABALHAR NA SHIZEN ENERGY, HOJE RETORNA AO NOSSO
PAÍS COMO COUNTRY MANAGER E FALA SOBRE ESTRATÉGIA E IMPACTO
SOCIAL NO PROCESSO DE GERAÇÃO DE ENERGIA RENOVÁVEL.
produzimos e
capital (o capital no
Japão é relativamente
consumimos energia, barato), mudanças regu-
latórias incentivando a ins-
tornando possível talação de novas usinas, o fato
trazer de volta a de ser um mercado relativamente
novo, em que nem todos os investidores
produção de energia e outros participantes do mercado de infraestru-
para os locais tura têm capacidade ou incentivo o suficiente para entrar, e,
obviamente, o fato de eu ser brasileiro. Isso passa batido às
onde há demanda, vezes, mas a disponibilidade de conexões pessoais em novos
em um modelo mercados é um catalizador importantíssimo para o desen-
volvimento de negócios. Em suma, alto potencial no merca-
descentralizado do, ainda muito do know-how da indústria para ser desco-
berto, e poucos players internacionais, de forma que nossa
intervenção pode gerar bastante valor. O Brasil foi o segundo
do sem medo de contaminação, e por aí vai. Na verdade, as mercado em que decidimos investir. Hoje temos projetos na
fontes renováveis abriram caminho para uma revolução na Indonésia e desenvolvimentos na Malásia, no Vietnã, nas
forma como produzimos e consumimos energia, tornando Filipinas, nas Ilhas Salomão, nos Estados Unidos e outros.
possível trazer de volta a produção de energia para os locais De forma similar, e apesar de Brasília ser estrategicamen-
onde há demanda, regressando a um modelo descentrali- te importante, do ponto de vista de track record, decidimos
zado. Esse tipo de investimento faz justamente o que temos instalar nosso primeiro projeto em Brasília por conta da dis-
tentado criar com o nosso trabalho: conectar o capital global ponibilidade de conexões pessoais, que acarretaram na cria-
e impactar positivamente as comunidades, gerando novas ção de uma parceria com uma empresa local, que foi coin-
oportunidades de emprego e negócios. É uma nova econo- vestidora no processo. Enxergamos Brasília como uma das
mia a ser construída. E, claro, há o aquecimento global. Que- localidades com maior potencial de instalação fotovoltaica,
remos fazer o possível e o impossível para aplacar os efeitos ainda, como quase todo o Brasil, inexplorada.
do processo, e descarbonizar a nossa produção de energia é
um passo necessário. 3. Como será a operação brasileira da Shizen? O modelo
de negócio será similar ao que há hoje no Japão?
2. A Shizen está chegando no Brasil. Conte-nos como foi
o processo de decisão para a entrada no país e por que No Japão, onde começamos, há um incentivo por parte
escolheram Brasília como primeira cidade a receber esse do governo chamado Feed-in Tariff. Basicamente o gover-
investimento. no força as concessionárias de energia a assinar contratos
de vinte anos com as novas usinas de geração renovável, a
Já chegamos! Temos uma subsidiária, parceiros, e uma preços fixos. Isso gera um nível de segurança suficiente para
usina fotovoltaica que acaba de ser conectada ao sistema em que desenvolvedores construam e investidores decidam ad-
Brasília. Há poucos mercados com capacidade acima de al- quirir projetos. O Japão iniciou em 2012 com uma tarifa pró-
guns gigawatts para desenvolvimento de nova geração re- xima de R$ 1,50 por cada kWh, que é bastante alta. Hoje, sete
novável no mundo, e dentro dos mercados não membros da anos depois, há mais de 70 GWp instalados no Japão. Para
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econô- efeito de comparação, o Brasil tem 2 GWp instalados em
mico (OCDE), o Brasil é o que está na melhor posição para energia solar. Hoje o preço do Feed-in Tariff no Japão está
Papel Semente:
o lixo que floresce
ANDRÉA CARVALHO, SÓCIA-FUNDADORA DA PAPEL SEMENTE, CONTA OS DESAFIOS
PARA EMPREENDER NO BRASIL UM NEGÓCIO QUE, HÁ DEZ ANOS, ERA NOVIDADE
POR AQUI: PRODUTOS FEITOS A PARTIR DE PAPEL RECICLADO “CRAVEJADO”
DE SEMENTINHAS DE FLORES, HORTALIÇAS E TEMPEROS. | POR GABRIELLE TECO
Quando a floresta
vale mais em pé
IOLANE TAVARES DECIDIU TRABALHAR COM OS SABORES DA AMAZÔNIA NUMA
ÉPOCA EM QUE A MODA ERA CONSUMIR PRODUTOS IMPORTADOS. NÃO FOI
FÁCIL. MAS ASSOCIANDO SABOR, ESTÉTICA E O IMAGINÁRIO DA FLORESTA,
A FRUTOS DA AMAZÔNIA APOSTOU NO RESPEITO AO PRODUTOR E AO MEIO
AMBIENTE, E PROVOU QUE É POSSÍVEL MANTER UM MODELO DE NEGÓCIOS EM
QUE TODOS GANHAM: A EMPRESA, A SOCIEDADE E A NATUREZA. | POR GABRIELLE TECO
asta uma espiada rápida no e-com- de 1990, a abertura econômica fez quebrar por aqui a
B
merce da Frutos da Amazônia para os onda dos produtos importados. Entre chocolates suí-
olhos se encherem de cores e a imagina- ços e latas de biscoitos finos, bombons de cupuaçu não
ção, de sabor. Entre biscoitos, geleias e tinham vez. Mas ela persistiu, ainda bem. Vinte e cinco
bombons de taperebá, graviola e outros anos depois, a Frutos da Amazônia continua expandido
recheios brasileiríssimos, é possível enxer- sua atuação, promovendo também o desenvolvimento
gar a floresta por outra perspectiva: aquela em que ela sustentável das comunidades ribeirinhas e cooperati-
vale mais em pé do que no chão. Se hoje essa brasilida- vas que manejam a floresta sem degradá-la. Confira a
de toda está em alta, Iolane Tavares é prova de que nem seguir a entrevista que Iolane Tavares concedeu a HSM
sempre foi assim. Quando fundou a Frutos na década Management.
Quando cheguei em São Paulo nos anos 1990, iniciei com meu objetivo
amigas uma produção caseira de bombons só como passa-
tempo. Eu sentia saudades dos sabores da minha terra, que é sempre foi
Belém do Pará, e não encontrava no mercado local produtos
que utilizassem os ingredientes daquela região. Esse víncu- oferecer o
lo afetivo e cultural, aliado à oportunidade de explorar essa
riqueza de sabores, me levou a criar a Frutos da Amazônia verdadeiro sabor
em 1994.
da amazônia,
2. O que levou você a trabalhar diretamente com
comunidades de Belém do Pará? conservando
Sou assistente social e essa minha formação me levou a o que há de mais
trabalhar com as populações tradicionais da região, tais
como as mulheres que trabalhavam quebrando castanhas precioso nela:
nas usinas, e também com comunidades ribeirinhas.
a floresta
3. Como foi o início do negócio? As pessoas se mos-
travam abertas a provarem sabores diferentes?
empresa para outro Meu sonho é levar a Frutos da Amazônia para outro
que norteia toda 9. Quais conselhos você daria para outros empreen-
a nossa história: dedores que desejam atuar em negócios sustentá-
veis?
respeitar a Construir uma cadeia confiável de fornecimento e de
natureza e encantar relacionamento para que todos ganhem é fundamen-
o paladar tal, mas tenha claro que isso não é romance. É preciso
ter competitividade e dar lucro como qualquer negó-
cio. .