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23/04/2012 - 08h25

Degelo há 400 mil anos gerou efeito


gangorra e afundou ilhas
RAFAEL GARCIA
DE WASHINGTON

Um problema que vinha bagunçando as estimativas de aumento do nível do


mar decorrente do aquecimento global acaba de ser resolvido.

O que atrapalhava os cientistas é que um pedaço da crosta terrestre atua como


gangorra: quando o gelo do Canadá derrete muito, tira peso de uma borda da
placa tectônica norte-americana e faz a outra borda descer, afundando no mar
ilhas como as Bahamas e as Bermudas.

Foi isso o que aconteceu 400 mil anos atrás e fez o mar avançar mais de 20
metros de altura nesses arquipélagos.

Na época, o planeta estava em uma era glacial e passou por um intervalo de


aquecimento de 10 mil anos. Geólogos descobriram que o mar tinha avançado
sobre as Bahamas e as Bermudas nesse período. Fósseis de animais marinhos
com essa idade foram encontrados em regiões altas.

Uma elevação de 20 metros no nível dos oceanos, porém, era uma catástrofe
que não estava de acordo com os cálculos dos cientistas. Para que isso
acontecesse, seria preciso um derretimento completo das plataformas de gelo
da Groenlândia e da Antártida.

Mas um estudo em edição recente da "Nature" mostra que o problema foi


mesmo causado pelo "efeito gangorra", que fez as ilhas afundarem mais que o
previsto.

A geóloga Maureen Rayno, da Universidade Columbia (EUA), autora da


pesquisa, concluiu que a inclinação tectônica afundou as Bahamas em 10
metros. Como o derretimento da Antártida Ocidental e da Groenlândia já
tinham adicionado 10 metros ao nível do mar, a impressão é que a água subiu
20 metros.

Segundo Raymo, as Bahamas e as Bermudas deverão enfrentar de novo o


problema com o aquecimento global. "O efeito será menor se considerarmos só
o que vai acontecer neste século, pois o período de aquecimento do estudo é de
10 mil anos."

O último relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança


Climática) estima que o nível do mar deve subir 60 cm até o fim deste século.
Raymo diz que a tendência é que o painel revise essa previsão até para pior.

Num cenário de 1 metro de elevação da água, 145 milhões de pessoas podem


ter de se deslocar, estima um relatório da ONU.

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