Você está na página 1de 17
DEDALUS - Acono - FE AMAA 20500024842 A LINGUAGEM E O OUTRO NO ESPACO ESCOLAR VYGOTSKY E A CONSTRUGAO DO CONHECIMENTO ANA LOCIA HORTA NOGUEIRA "ANA LUIZA B. SMOLKA (orp) (CRISTINA B.F DE LACERDA IVONE MARTINS DE OLIVEIRA MARIA CECILIA RAFAEL DE GOES (ar) ROSELL A. CAGAO FONTANA wot Uh Yohetees ew [A ELABORAGAO CONCEITUAL: A DINAMICA ‘DAS INTERLOCUQOES NA SALA DE AULA. Roseli A. Cagdo Fontana © cotidiano da sala de aula tom sido minha referéncia. A esto inseridos men compromisso e minha vivéneia como professors (dassétiesiniciis da escola de 1° Grau. tenho elaborado, questionado te redimensionado meu trabalho padagégico — na convivencia e nos tdesenconzcs com as exangas, na ideiificagdo e no confronto ene hss mndos de percsher, organizar e objevar o mundo, Dessis felagbes complexas € confliantes emergiram indagagdes que me Garam ap todo dos roca do coneitlapo da cinga no sontexto escolar Interessava-me apreender como @ pritia edveativa escolar, como condigio de produgso da atvidade menial da erianga, medatiza ‘as elaborags e 0 desenvolvimerso dos eonecitos sistematizados. ara tt, toma como pontes de partda os pressupastos dt Pricologia Dialéica de Vyotsky eda Teoria da Enunciagao de Baktuin ‘que, pocurando explicat a atividade mental em sua telagio com 0 oniexto histrico, cultural e institucional, possbiitaram importantes ‘lementos terico-metodolSgloos para o esuklo do processo de ‘onceitualizasio como pritica social, m1 A elaboragio conceitual como pritica social Nessa perspetiva, a elaboragdo conceit éconsiderada como ‘um modo eulturalmentedesenvolvido de cs individos refletirem ‘ognitivamente suas experiéncas, resultant de um process de nilise {abragic)e de sintese (generalizagio) dos dados sensorais, que & ‘medindo ela paaveae nela mateislizado, Como processo psioldgico bistorcamente determinado € culluralmente organizado, a elaboracio eonceitual no se desenvolve faturalmente, Ela & apreendide e objetiva nas condigbes reais de interago nas diferentes instivigbes humana. ‘A crianga, desde seus primeitos momentos de vida, est mers ‘rmum sistema desgnificagbes sociais. Osadultos rocuramatvamente Ineorpordla reserva de ages esignifiados prodzidose acumulados Istoriamente. Pela mediagio do outro, revestids de gestos, ats © palevas, @eianga vl se apropriando (das) e elaborando as formas de [ividadepratca e mental consoidades (¢ emerpentes) de sua cultura, yum processo em que pensamento e linguagem articulam-se tinamicamente. A palavra, com suas fungées designaiva,anaitica © feneralizadors (Lara 1987) mediatiza tooo processo de elaboragao {hs erianga, objetivando-o,integrando direcionando as operasbes rentais envolvidas. ‘Emo a fungao designadora da palavra parega ser constante cemlferentsniveis de dade, pomue seus traos superiiaispermanccem fos mestnos, sua estrutira de generalizaao solre profundas mudancas fo longo do desenvolvimento da erianga. A dieriz dessas mudangas 4 ereseenteindependéneia dos significados em relagdo ao contexto ‘espago-temporal em que foram produzidos ‘amando como indicadores os tips de eateporiss que as riangas ‘usam em diferentes Idides, Vygotsky caracerizou as estruturas de encralizago (nero, complex, conceit ptenciaseeoneitos)," agate re einen cen sero i er yc lige Bp ov atest’ A pm toes ‘Eigen Jo min egal chs latin me ei ‘operon por ongtern oa cade de bs com as ma es ese a a ‘ecm ou nn a nao cpm io A es ce" "ses ea co so oun oe eee ped Ese nino aecade nus ida eco, m., «que implicam variagdes no uso da palavrae que penritem “explicar fs transformagdes na forma de ractoinar que reultam na formagio be eonceitos™ (Vyzoisy, 1987), Essas diferentes formas de pensumento desenvolver-se na crianga, no curso de suis interags Verbais com 0 adult, mediadas prunes sistema ington, que€uilizado deforma diferencioda Per ambos quo Tugs deepens pea plana atid ‘Ao utilizar-se das palaras, o adulto (eliberademente ou no) presenta a eranga signiicados extives e sentidos possiveis no sen ‘grupo social. B na margem das palavras do adulto que a crianga ‘organiza Sua prOpriaelaboragio. A mevdiagio do adulto despeta na 'nente da criang um sistema de processos complexos de eompreensio alva e responsiva, sujeitos & expeiencias e habilidades que ela mina. No curso da uilizago e itemalizacio dessa palavas e das TungGes alas ligodas, a crianga aprende a aplicélas conscente € eliberadamente, direconando 6 proprio pensamento. A coincidncia em termas peiticos entre o “significado” de ‘muitas palavzas para o adult e para crianga, que core porque a tanga aptende desde muito cedo un grande nero de palaves que Sgnificam para ela a mesma coisa que para 0 adulto, no 96 Ines possbiita a comunicagao, como também possbilita& eianga operar om conceitos e praticar © pensamento conceitul anes de ter wna, conscigncia clara da natureza dessas operagoes (Vygotsky, 1987). © papel da escolarizagao bora press de caneinazago sea un proceso Sinica cimegnd, gat deca seceded eden aide tnenial cerrad sobre a vida coiianae expresso que a eas ig, Gh elaoragosstematnads na esol, tendo em visa as eres condigdesexterase interes de clabrago cca Seas STS Nas ineragtes catcianas, a mediagio do adhito acontsce espontanementeno procs de illzag da Hnguager, no cnteto das stages meas Soa palaias sho “objeto de warsmisso a eo Soh snee aioe 23 riticainteressada” (Bakhtin, 1988, p_ 140). Blas esti referidas a lementos presentes nas situagdes. A atenglo de ambos, adulto © ‘tianga, nee context esd centrada ras situagdes ov nos elementos nelasenvolvidos,¢ no nos seus propries alos de pensament. ‘Além disso, como nesse contexto vivencial a maioria das palavras utiliza pela eriangaepeloadultoequivalem funcionalmente, ‘Sho raras as vezes em que abs perceber as iferengas de elaboragio ‘cognitiva entre si Assim, no eotiiano, a influéneia do adulto io ‘Succ a atividade da rina na ormagan de generalizaoes, musa cul J mas interagies escolaizadas, que tém uma orientagio elibera e explicita, no sentido da aquisiao, pela erianga, de ‘conhecimentossstemaiizads, o process € diferente. Nese coexto, ‘crianga ¢ colocada dante da tarefa panicular de entender as bases dos sistemas de concepedes cientficas, que se diferencian, por sua ‘vex das elabarnges conceit espotineas. Os conevtos sisteatizados (cientficos na expresso de Vygotsky sio parte de sistemas explicativos lobais, organizados dent de uma igi socialmente constrida e Feconhecda como legitia, que procura garantir- De coeréneia interna Hi enze eles relagbes de genetlidade e de oquvaléncia complexes, ‘si elaboragdo implica a uilizago de operagaes logicascomparagao, ‘lassificegio, deduydo ete — de transigho de uma penealizagio para tutta peneralizagoes, que slo novas par & rianga ‘Comono contexto escolar as atvidades envolvendoaapreensio os conceitossistematizados sio organzadas de maneira discursiva © Togico-verbal, a relagdo da eranga com 9 conceto & sempre mediada “Tabi hide se considera as caractersticas de que se eveste 1 mediagio da adulto, Ela é consciente e deliberada, 6 planejads. O ‘Adulto procurainduzir a crianga a un tipo de percepeo generalizarte. Por sut vez, a crianga percebe a agio mediadora do adulto, i. ela tem uma imagem do papel do professor e do papel que & esperado dela na insiuigao e procura realizar as atvidades propos. pelo professor, seguindo suas pistase indicagOes. Dai Vygotsky consierae ‘que © aprendizado escolar desempenta um papel decisivo ra. génese 2 tesanotiment eines prin: ses para a cabo ‘cence, hem como na tomada de conscieneia pela erianga de seus rOptios processos meniais (Vygotsky, 1987), uma vez que a inicia nog rudiments da sistematizagio. ma Ee -Apesar dis ciferengasexstentes entre os eoneeltosespontneos ‘eosconcetossstematizados, ambos configura formas deiteleesS0 fvtaginices eexcludentes. No processo de elaborasio da crianga, cles artculamse dialeticamente. Frente a um conceito sistemtizado Gescorltcido # cianga busca signified através de sua aproxinagio ‘cam outs signos jd eanheeides, jelaborados e interalizados. Ela bhusca entaizé-lona expeigneiaconcreta. Domesmo mol, um canceto ‘potineo nebula aproximaadoa um concetosistematizado,coloet-se rium auto quadro de relagbes de geneffizagio. (0s coneceitos espontincos os conceltos sistematizados, astcuendos, ansfonnart-sereiprocarente. Os conecitasespotincas favoreceo confronto dos concetosszematzados com uma sitagio Sonera ean “una oe ert necesras para evalio dds aspectos mais primitivos e elemenares de un eancito, que Ihe tio corpo ¢ vialklade.” (Vygotsky, 1987, p. 91) Os concetos SIstematizades, por se lado eam estruturas para o desenvolvimento ‘dos conceit espontineas em relaio a sistematizago, & consign ‘ea0 uso deliberndo, que sto earacteriticas de umn tipo de percepeio th propia atvidade elect que é novo paraacriangem ade escola. Dai pose afrmar que dinimica da elaboragao conc, 1 pulavra € mediadora da conpreensdo ativa dos conceites © <8 transigdo de uma generalizagdo para eutras generalizae Bes. ‘A dindnica sicio-ideoligica da conceinualizgo ‘Apesar de uma das grandes contibuighes de Vygotsky estar rma anilist da elaboragao conceltval como pritica social imersa nos ontextosinstitcionas,explctando o papel da mediagto pedaséxica dialdgica, Ii uma cimensio dessa prética gue ele no aborda «5 areas ideslogicas ‘Aoanalisaracscola, Vygosky procera dstingui-la da eucaglo cm sentido apo, mae ndo configura essa espeificidade em fermos. Sb ear pore ceupado mira situa histrica dada, que esabelece ‘scontigoes dentro das quis varibilidade de sentids histeieamene posivels) pode ser expressa, artculada e validada ‘Bas andlise € posibiltada por Bakhtin, que numa abordagem cepistemologicamente proxima da de. Vygotsky, a. complementa em termos do redimensionamento. que faz da signifieagao como fat0 ‘sécio-deologic. ns Bakhtin destaca que os sentos de urn paiva a exitem em si mesos, como algo jé dado. Eles sto elaborados nas enuneiages tconerelas (que sio a unidade da lingua, quer se trate do discus interior ou exterior). As enunciagées sio Sempre parte de um dislogo social ininterspto. Os ineroentores tm sempre um horiznte social fe um atdiéneia (mesmo. que potencil) que configoram as tocas ‘verbais de acordo com as diversas esferas da prtica e que delinitam ‘0 que pode ser dio © como pode ser dito. A signifieagio carers ‘consigo as marcas dessas condigies soclas. Como destaea Bakhtin, "a sitwagio social mais imediata eo ‘meio social mais amplo determinam completamente (.) dose interior fa esrutura da eninciaglo socal” © a esruura da atividade mental ‘que € tio social quanto sua objetvagio na enunciagdoconereta(BaKtn, 1986, p. 13), Focalizada a panir do “principio daligico" de Baklvin, 2 palavra revelase sempre mliplae interindividual, Na dindmica das ttocas verbais, todo entnciado referee a pelo menos dois sujeitos frocede de alguem e dirigese a otto alguem."",. € 0 lerterio omum do locutor e do interlocutor” (Bakitin, 1986, p. 113). Ela € roduzidae significa” semprema interapio de vozes que materaizamn Perspectivassociis maltiplas presentes no contexto da interlocugso. ‘Ossentids elaborados so, ent, em pate “sess” em parte do “outro”, Ele so 0 eflto da iteragao entre os iterlocutores. Neles cecoam, Confntantse vozes a que a enunciacio eonereta responde, lantecipa ob ignora, Vozes que Fepresenam perspectivasideolesicas Ssocialmente deinidas [esse movimento polifinico, valores sociais de orientagio Dissuso faces (chem, Mangieness, Oran qe real fs cones sions de pelo 00 hemo, emeceam Pin auras do movimento cms. Tomovse nesesro também redness 0 proceso de inbatho com cs da Nio se tua Je evar oe dos € posronnnte anno Pas ie ea so cose tara ‘frend expen dis sive, imtramecalzado «0 polsnipca bs profesor e 0 exo da cabrio cone dx Slane inpushese wali o decvavinen de cin popes tome’ coipio prs © lareanens das capes spunea, Tum Fedircntorur ln pope proce ecu. ‘Avila dos dado prendidosatafoonago da prépia real qpe saver em ila ste pemi ue fe tupente a pecepglo toed dos problems, con 8 Eero dosti perp cher aa) lane ds ayo 19 subsegientes ¢ foi produzindo modificagses na pritica de pesquisa © tn pica Gocente (dois momentos de producio de eonhecimento) no ‘eso de sou proprio fazerse, ‘As interagBes_professora-pesquisadora, professora-crianga, pesquisadora-riangas foram. se modifieando e, 20 se modificarem, foram modiicando a pesquisa num processo continuo, cuja histeria & parte insepandvel dos resultados obtides,constituind apenas uma das osmas possivels de colocar em pritea a proposia deste esto. Do ‘nesmo modo que as elaboragSes das eriangas,destacads para mle, ‘So tamben uma forma de elaboragio possivel em cada um das ‘Suagoes eonsideradas, podendo ser atculadas de outras manciras em ‘utras condiqbes Blaborande o concelto de cultura 0 episio apresentado a sopuir, neste texto, foi vivenciado numa classe de 3! serie de uma escola municipal de 1® Grau num tai periferieo de Campinas. A classe era composta por 28 aluros, fom igades vatiando de nove a 14 anos. Ali foi desenvolvido, no periodo de um ano leivo, 0 estudo dos processos de elaboragio das onceitos socials pels cians. No curso da pesquisa, o conceito de CULTURA foi o conceit norte, tendo surgido no contesto de um aivdade extraclasse: a Nessa visit, © canceito foi proposto as exingas em das condigdesdistnta, Pimeiramente, f% apesentado oralmente por umn ‘dul ao grupo deeringas, na fora de uma definigao que relaconava ‘ultra crotividade Iurvana. Emseguid, oj possibilitado As eriangas Straves de um conjunto de objetos de diferentes epocase de diferentes culture, organizadas numa exposig. 'A definigdo oral do conceito no foi referida aos objetos expos, do mesmo modo que, durante a observagio dos objets, ‘rena relagao enreo material sclecionado. adefinigd apresentada {oi apontada ‘Apésa visita ao muse, na primeira atvidade que propasemos fs eriangas, a professorn destacou a palavza cultura © perguntou & Clase qual era seu sigificado, procurandoreuni indicadores de como eonctto sstematizado, que havia sido possbilitado a ela, estava Sendo apreendido e elaborado, 130 [esse primeiro momento, a riangasse utilizar basicamente e dois processes para "'dfinit™ © conceit: prodo de fragrentos da defingoapresertada (“cultura “altura tem que ser preservada"™ et); — a claboragio de complexos ” em torno das. situagies vivencadas no Museu (“Cultura € coisa velha, “cultura & coisa de muscu", “cultura é coisa que aio pode por a mio" et). Apes da lferenga entre as estas de elaboragio, ocone do bjetivo do conecito era restrita as elementos disponives no cantexto

Você também pode gostar