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Aawer-l Anna Maria Martinez Corréa A REVOLUCAO MEXICANA 1910-1917 au we yee ee brasiliens. 1983 40 anos de bons livros Copyright © Anna Maria M. Corréa Capa. 123 (antigo 27) Artistas Graficos Revisdo: José W. S, Moraes Silvana C. Leite Universidade Estadual de Maringa Sistema de Bibiotecas - 3CE HH NU iaRingd 5 editora brasiliense s.a. 01223 — r. general jardim, 160 s&0 paulo — brasil — INDICE 7 México 10 Oestabelecimento da ditadura porfirista seaeee 1S As diversidades regionais no México pré-revolu- cionério B O operariado e a Revolugao . 37 A luta pela derrubada da ditadura porfirista . 4 O desencadeaménto da Revolugaéo 48 A organizagao do poder revolucionério 61 O golpe contra Madero — “La decena tragica"’ 72 O movimento constitucionalista . 76 A Convencao de Aguascalientes . 86 A luta contra Villa e Zapata 92 A Constituig¢ao de 1917. . Consideracées finais Indicagées para leitura INTRODUGAO numa forga adormecida na terra (Artaud, Antonin, Mensagens Revolucion’- tas, p. 69) A Revolucio Mexicana, desencadeada a partir de 1910 e que mobilizou grandes contingentes popu- , lacionais, atingindo amplos setores sociais, € consi- derada por um grande ntimero de historiadores como i a maior comogao social ocorrida na América Latina desde as guerras da independéncia. Antecedendo mesmo a revolugdo chinesa e a revolucdo russa, des- pertou a atengao de liderangas politicas de varios “La explosién revolucionaria es una portentosa. + tou sa ; P paeen paises latino-americanos, que passaram a ver nesse fiesta em la que el mexicano, borracho de si mismo, conoce al fin, en abrazo mortal, al otro mexicano” oe ae am modcle a set mee Ultrapassando “Paz, Octavio, El laberinto de la soledad.) mesmo Oespago da na, Bevolueao, Mexicaiia, foi uma revelagdo para o mundo, uma movimentagao inesperada. Entretanto, os caminhos percorridos pelos revo- ee | Anna Maria Martinez Corréa A Revolucdo Mexicana: 1910-1917 lucionérfos levaram-nos a resultados que nem sem- pre coincidiram com as propostas iniciais de luta, ou talvez, com aquilo que se idealizara a principio. O final desconcertante, que, talvez por isso mesmo, no tenha sido aceito como tal por seus idealizadores, sendo transfigurado num constante refazer do movi- mento, permitiu a criacdo do fetiche ‘da Revolugao Mexicana que nao se conclui, que se transforma num processo nao-acabado, cada vez mais distante das massas, iransformando-se num instramento de ma- nipulagdo deltas. A emergéncia de uma multiplicidade de lide- rangas, legitimas ou no, contradit6rias, desencon- tradas por vezes, permitiu a hegemonia de um grupo que, investindo-se de legitimidade, passou a ver co- mo inimigos antigos companheiros de luta. Assumin- do 0 poder, os vitoriosos passaram a falar em nome dos “revolucionarios”, cristalizando sua palavra nu- ma peca institucional, a Constituigdo de 1917, fazen- do da lei sua bandeira de vit6riae seu escudo contra as investidas dos opositores. Entretanto, a Constituicdo de 1917 nao representa apenas a vit6ria de um setor que se tornou hegeménico. Ela tem uma hist6ria que nao é apenas do povo mexicano. Ela traz em seu bojo artigos que tratam das relacdes entre 0 capital e o trabalho. A incorporagao dessa legislagio 4 Consti- tuicéo Mexicana de 1917 s6 é compreensivel levando- se em conta a luta travada anteriormente pela classe trabalhadora em nivel mundial. £ importante ainda constatar a forma pela qual essa legislacao foi incor- Porada ao texto institucional. Antes de_significar uma vitéria do trabalho sobre o capital significou a incorporagao daquelas determinagies legais soba ‘gide do capital. Por essas razbes, 1917 representa 0 final_de_um determinado tipo de luta. Resta saber como um movimento, que contou com a mobilizagao de amplos Setores day classes subalteriias, com argu- mentacao suficiente para sensibilizar tais setores, ue acarretou um imithao de mortes, teve como resul- tado priitieiro uma pega institucional que, se de um lado’ garantia direito a trabalhadores rurais e urba nos, tendo neste particular uma postura insvadora, por outro lado, inibia seu acesso ao poder, impe- dindo a ampliagao da luta social, ou seja, impedindo a radicalizagao das propostas iniciais. A Revolugao Mexicana: 1910-1917 Boy mundial “-piiscadas nas co O PROCESSO DE IMPLANTACAO DO CAPITALISMO NO MEXICO. “Yo soy luz; en mi nombre se ve! Pues con la luz Que bajé Todo el abismo encendi...’ (Reed, p. 302) Ao se fazer 0 estudo da Revolugao Mexicana uma primeira constatagao faz-se necessaria, A Revo- lugo M de ser entendida considerant Seas particularidades da sociedade mexicana dentro de um processo global-existente num determinado estagio do desenvolvimento do capitalismo em nivel As ofigens da Reyolugdo Mexicana devem ser ‘das do processo de desenvolvimento « io México em Tins do século X Porfirio Diaz (1876-1911) cional, de « “elite crioulz descendentes dos colonizadores espanhdis, mas dife- tindo deles pelo fato de terem nascido na América. A | eia base res | trabalhaderes e: i A economia mexicana de maicr expresso estava voltada, desde os inicios da colonizacio, a atividade extrativa, particularmente 4 produgao do agtcar, do do café e do fumo, com a finalidade de expor- tag. Havia, no entanto, de forma generalizada, uma produgao artesanal de tecidos, de cerAmica ete. em pequena quantidade, para 0 consumo interno, produgao que se encontrava dispersa por grande parte do territério mexicano, Ao lado das grandes plantagées de cana-de-agtcar havia também uma agricultura arcaica, voltada para 0 autoconsumo, enfrentando uma série de problemas, como a pro- cura de solos ardveis e, particularmente, a procura . da Agua. Em meados do século XIX 0 México apresen- tava-se juridicamente como um Estado, politica- mente independente, em vias de organizagao, dentro dos principios liberais. A dificuldade da transforma- ¢40 do México num Estado nacional residia na di vAncia entre uma ideologia liberal, fundada em prin- 12 Anna Maria Martinez Corréa der tinh: cipios expostos por Quesnay. Rousseau, Jefferson, Adam Smith e Stuart Mill, de poder impessoal do Estado, fundado nas garantias individuais, na exis- téncia de direitos individuais, e uma sociedade pro- fundamente marcada pelas diferengas sociais. O po-, um_carater local, concentrado numa classe social, a “elite crioula"’, que:fora responsavel pelo movimento de independéncia, nao havendo,_no, entantc, uma organizagio propriamente_nacional. Mesmo a “elite crioul” no representava uma_uni- dade picwamente concretizada, uma vez. que seus.in- teresses estavam ainda muito presos a questdes to- cais. A propria circulacao interna de mercadoriases- va marcada pelas diferencas regionais e era dificul- tada pela existéncia de barreiras internas. Em razao dessa situagao assistiu-se, durante as décadas de 1850 e 1860, a um esforgo das “elites crioulas’’ numa tentativa de fazer do México uma nao, entendida essa medida como uma unido de esforcos desenvolvidos por esse mesmo grupo para a implantags de interesses comuns. A politica liberal, institucionalizada na Constituigio de 1857,’ tinha esse carter. Essa politica demonstrow a tentativa de centralizagao, de unificacao de uma sociedade diver- sificada e na qual o poder encontrava-se disperso. Reside .ai 0 aspecto aparentemente contradit6rio _ desse diploma legal ao pretender leis gerais para uma ide diversfcada. A Constitniedo de 1857_em ar.a.desi- gualdade na me aren ‘qué restringiu 0 poder a ‘elite crioula”> J 7A verunuyuy mmexeunu. 172001747 a9 A implantagao do Estado, conforme o que fora proposto pela Constituigao de 1857, nao se fez tran- auilamente, uma vez. que, para que fosse garantido o poder & “elite criouia"’, nativa, era necessario pri- meiramente que se efetivasse 0 proceso iniciado com | aindependéncia, no sentido de afastar dos centros de poder os setores que tradicionalmente dispunham do podet pelas ligagdes com o estatuto colonial. Essa luta, que se convencionou chamar de Reforma, re- presentou a tentativa de implantacao definitiva do poder das “elites crioulas” em detrimento dos anti- 08 setores ligados ao passado colonial. Esses setores _ cram representados por entidades ligadas 4 domi ¢40 colonial, especialmente a Igreja. Esta instituicao | ‘eve a particularidade de manter sua autonomia, uma vez que sua forma de organizacao garantiaa inte. gridade de seu poder. Quanto a propriedade territo- rial, por exemplo, a Igreja tinha consolidado 0 seu di- reito de “‘maos mortas”, permanecendo incélume no momento em que 0 poder da metrépole espanhola era abalado com 0 processo das independéncias. Uma vez efetuada a independéncia, a “elite crioula” assumiu 6 poder na América e passou a contestar a legitimidade do poder da Igreja sobre as cnormes porgdes de terras que ela havia acambar- cado. Desde entio iniciou-se a luta pela incorporagio das terras da Igreja ao patriménio do Estado em vias de organizagao. O grupo que assumiu esse papel era constituido pelos liberais que tinham em mente a formagio de um Estado dentro dos princfpios consti- tucionais. Com esse objetivo, esse grupo elaborou a at 44 Anna Maria Martinez Correa Constituigao de 1857, lutou contra a Igreja, contra a dominac&o estrangeira, indisp6s-se com as comuni- * dades indigenas e pretendeu a todo custo implantar 0 Estado Liberal, percorrendo com essas tentativas, sempre causadoras de conflitos, as décadas de 1850 ¢ 1860 e inicios da década de 1870. Em. fins da década de i870.e inicios.da década de 1880 a conjuntura mundial provocou alteragdes profundas que atingiram igualmente a sociedade mexicana. A partir da segunda revolugao industrial, o-capitalisino, em sua fase monopolista, acelerou, de neira sem precedentes, 0 consumo de matérias- primas ¢ de produtos agropecuarios, revolucionande os meios de transporte, provocando mudancas na periferia e obrigando a uma racionalizagao maior na organizacdo da produgid. A insergio da América Latina na divisio internacional do trabalho nessa fase monopolista apressou a “‘modernizacio”, a ne- cessidade da substituicao do antigo pelo novo. A grande expansdo dos centros dinamicos do‘ capital permitiu que se iniciasse para a América Latina a realizacdo de investimentos em bens de capital. Tais investimentos encontraram na América Latina a me- diacao do Estado, interessado na sua viabilizagdo, e de uma classe social que facilitou a realizac&o desses investimentos, na medida em que ela propria era beiieficiada. Essas novas exigéricias do capital provocaram mudangas na América. No caso particular do México, © governo de Porfirio Diaz criou condigdes neces- sarias para que se processassem tais investimentos. ———— & | { O ESTABELECIMENTO } DA DITADURA PORFIRISTA cu digo que havia justia naquele época. Evverdade que estévames quase que em estado de excravidio, mas don Porfirio era don Post. sige seu governo-era um verdadeiro govern (Lewis, Oscar, Pedro Martinez, p. 146) Porfirio Diaz, mestigo de origem humilde, nas- ceu em Oaxaca, em 1830. Desde muito jovem pa cipou de-movimentos guerrilheiros contra o presi- dente Sant’Ana. Integrado no exército participou da luta contra a dominacdo francesa. Manifestou-se contra a reeleig&o de Judrez e Lerdo. Justamente em nome do liberalismo, combatendo a reeleigéo de Lerdo, chegou ao poder, depois de um movimento armado. Seu projeto de revolugao ficou conhecido através do Plano de Tuxtepec, de 1876. De posse do poder, foi reeleito por 10 vezes, tendo exercido a pre- sidéncia de 1876 a 1911, com apenas uma interrup- Ee 40, ao‘final do primeiro periodo. Ao assumir 0 poder, Porfirio Diaz deparou-se com osério problema das maltiplas facgdes internas e com uma instabilidade politica acentuada, num am- biente politico tumultuado. O trabalho que se propés desenvolver foi no sentido da pacificagdo dos animos mais exaltados, da conciliagao dos descontentes, da unificagio do México a fim de-se’ fazer“dele uma nacio. O principio de sua politica ficou conhecido portunoe manté-i S. de distribuigao de favores. Aos “indisciplinados”, rebéldes, bandidos, esmagava com 0 peso de sua autoridade.. Para isso. sOube organizar a as forcas ar- ficar” as regides mais sensiveis. Serviu-se do pretexto da insubordinacao dos indios yaquis e dos maias para desenvolver eontra eles uma politica de exter- minio. Criou ainda o sistema de ley fuga, ou seja, de exterminio de marginais. Essa lei consistia em retirar da prisdo individuos considerados indesejaveis, eli- minando-os simplesmente, mediante simulagao de fuga. Conseguiu-se assim uma paz imposta pelo terror.- Q.governo de Porfirio Diaz corresponde ao pe- riodo de “modernizagao" do México. Durante este governo foram descol Califérnia, Sonora, Chihuahua e Durango. Foram perfurados os primeiros pogos_de petréleo ¢ cons- tiruidas as primeiras centrais hidrelétricas. Os portos foram reaparelhados; iniciaram-se as comunicagdes telegraficas, pondo a capital em comunicagio com regides distantes. Intensificou-se a atividade banca- ria. -y Q capitalismo monopolista, interessado em rea- lizar seus investimentos nos paises latino-ameri nos, colocou A disposigao do governo mexicano pode- ros0s capitais. Os investimentos realizaram-se atra- vés da exportagao de bens de produg20, com a cons- trugdo de uma rede ferrovidria associada ao aparelho portufric, criando assim condigves favoréveis ao transporte, particularmente, de minérios. A. rede fer- roviéria,cuja_estrutura foi orientada_basicame iti’ Nao apenas que se acelerasse a circulacao, como ainda a formagio de um mercado interno, va- lorizando as propriedades pela facilidade de acésso a ‘regides antes isoladas. A expansao da rede ferrovia- ria a es$as Legibes significou.o_avanco do capital para regides praticamente inexploradas. A par do significado econdmico da rede ferro- viaria, no sentido de facilitar a evasao do minério na diregao dos portos ou, mais diretamente, na dire- ¢20 dos centros metalirgicos dos Estados Unidos, ti- nha ela na Cidade do México seu ponto nodal, 4 ma- neira de uma teia de aranha, facilitando contato da capital, o que vale dizer do poder instituido, com re- gides mais distantes. P6de ela assim significar igual- mente a forte concentragao de poder politico ampa- 410 r Anna Marta marunez Correa Tada pelo. crescimento econdmico propiciado pelo avango do capital e garantido pela organizacio de um aparetho de forga em condicbes de manter a inte- gridade do poder central. Os investimentos norte-americanos no México dirigiram-se basicamente as minas, as ferrovias e A exploracao do petréleo. Os capitais ingleses foram inyestidos nds ferrovias, na industria téxtil, na de alimentos ena siderurgia. Quanto ao setor rural, o capital dinamizava em- preendimentos agrarios com a introdugao de técnicas fovas € com uma politica vioienta de expropriacao e de colonizacao. Do ponte de vista da técnica foram Tealizadas melhorias, como drenagens, irrigagdc ¢ plantagdes permanentes. A acumulacdo resultante desse processo de “‘modernizagao” favoreceu a cen- tralizagio do Estado eo seu fortalecimento. Acrescente-se a essa politica a instalagao de es- tages agrondmicas, meteorolégicas, laboratérios e Publicacdes técnicas que vieram beneficiar a produ- ¢40 para a exportacao: algodao, fibras, fumo, aciicar € a produgao de pulque para o consumo interno. Essa politica, no plano ideolégico, foi orientada pelo pensamento positivista que, em nome da cién- cia, ditava as regras para a ago politica no sentido do progresso material, da racionalizagio da produ- 40, a cargo de um grupo politico conhecido, durante 0.-periodo: porfirista, pela designacao de “cienti- ficos”. Para atender a esses novos investimentos era . hecessaria a criagdo de contingentes de trabalhado- A Kevolugao Mexicana: 1y91U-191/ aw tes “livres”, isto é, despojados, em condigées de ofe- recer sua forca de trabalho nas minas, na atividade agropecuaria, transportes e comercializagio..A. par disso era necessdrio, para que se tornasse vidvel forma de investimento, evitar que os .dentes de contingentes imigratérios ti propriedade da te ferra, yrestando_para eles apenas 0 recurso de oferecer no mercado a sua forga de tra- baiho, Com esse objetivo processou-se a monopoliza- go da terra pelos grandes investidores de capital. A legistagdo 2 respeito da redistribuicio das terras teve exaiamente essa finalidade. Na década de 1880 0 capital contava com con- dicdes melhores para impor suas exigéncias. Foi assim que 0 Estado mexicano passou a desenyolver lima polifica de colonizagio_ mai: gressiva para a ‘Siiilantacao. definitiva do capital no campo. Si Objetivos residiam na incorporagao de terras pelo ca- ito m_que este, em nivel em _funcio_da divisto_ internacional do «. trabalho, fazia novas exigéncias quanto < Bee mento de_mercadorias_¢ de matérias-primas. Por_ outro lado, a descoberta de novas minas metilicas sinha, de certa maneira, comprovar a idé lizagio do México como regiao fornecedora de riquezas, tal como havia sido divulgado por Humboldt em seu livtO Ensaio Politico sobre o Reino da Nova Espanha, cuja edicAo tardia na Inglaterra contribuiu para cha. mar a atengio a respeito desse pais nesse momento. E justamente nesse contexto histérico que se situa 4 politica agraria do porfirismo. Essa politica efetuou-se a partir da promulgacao das leis que fica- ram conhecidas com o nome de Leis dos Baldios, de 1893 a 1902. Seu objetivo era promover o desenvol- vimento da agricultura. Cadastrando terras, difun- diu a privatizagio da propriedade fundidria e acele- rou a incorporagdo de terras que permaneciam ainda fora dos limites da exploragao do capital. A primeira lei desse tipo foi promulgada a 15 de dezembro de 1893. De acordo com essa lei, 0 Estado mexicano partia do principio da necessidade, para a ampliacio da ziqueza, do estabelecimento de uma politica de colonizacic, significando isso uma distri- buigdo de terras, consideradas improdutivas, a colo- nos em condicdes de torna-las rentaveis. Para isso determinava a lei que fossem demarcados, medidos, divididos ¢ avaliados os terrenos baldios ou de pro- priedade nacional que houvesse na Republica, no- meando para isso comissdes de engenheiros necessé- rios (Silva Herzog, El Agrarismo, p. 113). As fragdes de terras nao poderiam ultrapassar 2500 hectares. Uma vez localizados, medidos e di didos,-os terrenos seriam entregues a colonos nacio- nais ou esirangeiros que os solicitassem. As compras. deveriam efetuar-se conforme a avaliacao feita pelos engenheiros e aprovada pela Secretaria do Fomento em bénus resgataveis em 10 anos, a partir do se- gundo ano de estabelecimento do colono, ou venda a vista por um prazo menor. A terra poderia ser cedida gratuitamente quando fosse solicitada pelo colono, mas para uma extens%o nao superior a 100 hectares. O titulo de propriedade s6 seria dado quando ficasse comprovada sua manutencio em poder do colono e seu cultivo no todo ou em pelo menos um décimo, durante cinco anos consecutivos. Para’ a realizacio efetiva da colonizacio 0 Es- tado autorizou a organizagao de companhias para a verificagao, medig&o e divisio de terras. O primeiro passo a ser dado pelas companhias seria indicar 0 ‘“erreno considerado em condigdes de ser colonizado, to é, o que seria “baldio”. A autorizae3o para esse trabalho seria dada pelo juiz da localidade onde se encontrava 0 terreno. Para compensar os gastos as companhias receberiain, como pagamento, até um iergo dos terrenos ou do seu_valor; n3o poderiam, ainda, vendé-los aestrangeiros. Essa lei foi modificada pela de 25 de margo de 1894, Esta wiltima tinha por finalidade fixar 0 objeto da colonizagao, ou seja, as terras sobre as quais _ deveriam recair as leis de colonizacao: baldios, de- masias, excedéncias, terrenos nacionais. A lei retirou a imposic&o de povoar e cultivar, bem como a proi- bigdo de vender a estrangeiros as terras que cabiam as companhias demarcadoras. A argumentagao utili- zada pelos porta-vozes das companhias era de que esse tipo de exploragao econémica s6 seria possivel . num clima total de liberdade; quaisquer restigte, " poderiam dificultar as transacdes imobiliarias. | _De 1890 a 1906, as companhias se apropriaram, a titulo de honorarios, de 16 800 000 hectares. A aco ir em f att icano, sendo a 4rea medida equiv: lente a quarta parte desse territ6rio. bee = oe Anna maria Marunez Correa A aplicacdo das leis dos baldios fundava-se na argumentagao de que a propriedade seria reconhe- cida desde que houvesse um titulo compativel corres- pondente. Essa determinagao legal afetava particu larmente as comunidades indigenas, nem sempre possuidoras de tal instrumento legal. Atingia tam- bém proprietarios individuais portadores de titulos, mas cuja’s posses haviam avancado para além dos li- mites legais. Havia a possibilidade de legalizacao das posses tanto para os indios comunitarios como para 0s proprietarios individuais. Entretanto, as condigdes reais de legalizac3o nao eram as mesmas. Os indios ¢ Os pequenos camponeses nem sempre puderam con- tar com reclifsos para a legalizagao de suas terras. Resultou dai a extingao sistematica das,comunidades uma busca desenfreada, por parte das companhias, “de apropriagao de terras, Na tentativa de salvar suas terras, alguns indios comunitarios chegaram a orga- nizar suas préprias companhias, entrando, no en- tanto, numa luta desigual. —» Grande parte da tematica da Revolueao Mexi- cana enyolve a questao agraria. A motivacao_pela luta-esteve_geralmente ligada a restituigao das pro- priedades usurpadas durante essa fase expansionista ou a Téparticao das grandes propriedades. A questo da restituiao das propriedad “entanto, nao é “um tema novo na Historia Mexicana, pois 0 senti- Mento de usurpacéo remonta ao periodo colonial. Desde a:fase da conquista espanhola o problema é ‘colocado. Por esse motivo, muitas vezes 0 apelo A uta teve um carter de volta ao passado. -— AS DIVERSIDADES REGIONAIS NO M 2XICO PRE-REVOLUCIONARIO “A paz reinava... nos desertos do norte de So- nora... nas cidades... nas sujas e infectas ruas de Veracruz... nas fazendas de gado... nas agrandes fazendas onde os camponeses aravam ‘terra com suas juntas de bois e seus arades de madeira:.. nas missdes..."” (Brenner & Leighton, The Wind that Swept Mexico, p. 117) Uma das tarefas assumidas pelo governo de Por- Diaz Havia sido a transformacao do México mim Estado moderno, no estilo dos Estados europeus do “momento. Para isso seria preciso continuar a agao de homogeneizagio j4 desenvolvida desde algum tempo pela colonizagao. No entanto, em fins do século XIX € inicios do’ século XX, 0 grande capital impunha na centralizagdo maior do poder, uma “pacifica- 40" e€ que o México se transformasse numa nacio “civilizada” a fim de assegurar plena garantia aos investimentos do mesmo capital. No cumprimento dessa tarefa Porfirio Diaz deparou-se com sérias difi- culdades resultantes da existncia de uma sociedade profundamente diferenciada e, além do mais, mar- cada por ampla diferenciagao regional. A legislagao agraria do periodo porfirista afetou todo o territério mexicano, tendo no entanto adqui- tide feigbes diferentes conforme as diferentes regides. Deum medo geral, nesse momento histérico, a pro- priedade da terra no México caracterizava-se pela concentragdo em maos de poucos deneficidrios, Cita- se ¢ exemplo do general Terrazas que, nessa ocasiao, possuia 1S fazendas perfazendo um total de 1828 355 hectares. Porém,_a critica maior recaia na concessi0 de terras a individuos e a companhias estrangeiras. nas proximidades da fronteira do norte, pondo em risco a propria integridade do territ6rio. *€ Para se compreender.a natureza_ do movimento volucionario, bem como a atuagao de suas lide- rangas, é importante considerar as diferencas regio- hais, basicamente_as diferencas entre o.norte.c.o sul. Os estados do norte foram atingidos por essa politica, tendo-se formado grandes propriedades em detrimento de comunidades indigenas ou de peque- nas propriedades camponesas. A questo da reforma agraria esteve presente nas propostas das liderancas révoluciondrias do norte. Tanto Obregén como Villa, ambos comandantes de grupos revoluciondrios do norte, em seus planos de ago utilizaram-se, como be A NevucURUY MEXICURA: LYLULLS 25 1 1 t me motivagao, da necessidade de apropriagao de terras por parte dos camponeses. Desde 0 inicio da coloni- za¢ao o norte do México fora regiao privilegiada para a expansao. Criadores, agricultores, comerciantes, soldados e missiondrios langaram-se A conquista dos imensos espagos, quase que vazios. De inicio 0 po- voamento organizou-se em fungéo da mineracao. Durante a época porfirista a expansio foi retomada num ritmo intenso. Com a descoberta das novas minas durante 9 periode porfirista, a migragdo para o norte adquirint intensidade nunca vista. Inicialmente eram os metais preciosos que atraiam os pioneires, mas, a partir da década de 1890, teve inicio a busca dos metais necessarios As novas exigéncias da indiistria, particularmente 0 cobre, e a busca de combustiveis, como 0 carvao e, depois, o petréleo, A expansio da atividade mineradora criou a necessidade de fornecimento de alimentos e da cria- gG0 de animais para os trabalhos nas minas. Dai a multiplicidade dos ranchos para garantir a subsis- téncia do pessoal envolvido na mineracio na regio de Sierra Madre Ocidental. Em torno das atividades mineradoras propria- mente ditas, da agricultura e da criagdo de gado em vias de modernizagao, surgiram igualmente ativi- dades artesanais, industriais e de servigos que deram a0 norte um aspecto diferente das regides propria- mente agricolas do pais. Assim, 0 norte, formado pelos Estados do Coahuila, Chitmahna, Durango, Nuevo Le6n, Sinaloa e Sonora, nao se apresentava es 7 geuores ware “a saps L cto dino uma regifio homogénea. Ao lado das regides de agricultura e de criagdo tradicionais encontravam-se bém Areas em pleno processo de modernizacao, como as regides mineiras. ‘A modernizagao dessas regides trouxe para elas um forte contingente de estrangeiros: ingleses nas minas, franceses nas minas e na hotelaria, espanhéis no cbmércio e na agricultura, japonesese chineses no pequeno comércio e, principalmente,’ norte-ameri- canos na diregao das empresas, como técnicos, ope- rérios qualificados, ¢ nas ferrovias. A presenga de estrangeiros explica o forte sentimento nacionalista a Revelugzo nesse local. Nao se tratava apenas de ‘apropriacdo ji dis Yerras © tia _administragao_das empresas, mas também cc contra a presenga cor inte de uma mas ‘ontato direto com os trabalha- de estraiigeiros dores miexicanos, convivendo com eles, embora ocu- pando postos que Ihes ram inacessiveis. Langada nesses espacos, fracamente ocupados, na esperanga de fazer fortuna gragas a descoberta de um rico fildo ou de se tornar simplesmente proprie- téria-de um rancho ou de um pequeno negécio ou de ganhar salarios mais elevados, a populagao do norte parecia mais heterogénea e mais independente do que a de qualquer outra regiao mexicana. As condigdes de vida eram dificeis nessa area de grandes altitudes, releyo acidentado, clima rigoroso, sofrendo interfe- réncias de indios apaches e comanches vindos dos Estados Unidos. Para fazer frente a essa insegu- ranga, os homens andavam armados e adquiriram 0 habito da defesa propria (Kavier-Guerra, p. 799). Em inicios do século XX ocorreram modifica- ges importantes pela implantaco nessa regiao de grandes companhias mineradoras, pela constituica0 de grandes propriedades de estrangeiros ¢ pela cons- \ plrugdo de ferrovias. Essas empresas quase sempre .“ estavam voltadas para mais de uma atividad fas companhias snineradoras,-na_maioria dos.¢: <|,,, tdquiriam amplas extenstes di 2 o |) Para a criagdo de gado ¢ adquiriam també lizagao dos servigos jocais, 0% iy ntados pelas empresas, que deveriam prover os empregados. Estes teriam de -Zes OS pregos eram bastante él ova & ponto de se criar 1 uma situagao freatiente de ei enc - “trabalho, Enquanto ndo saldasse sua divida ele néo poderia deixar aquele trabalho, ficando réatizido a uma especie de'Seryidao.. a Os Estados de Sinaloa, Coahuila ¢ Zacatecas, de forte porcentagem de populagdes mineiras ¢ de grande niimero de empresas, nas quais a populago mineradora estava dispersa e representando uma massa considerdvel, foram justamente os Estados mais atingidos pela Revolug40._O centro das ati * dades revolucion4rias nao se encontra nas grandes concentracSes_m 2 Patni seni ou arnt ane cuss en = criagao recente, mas sim na zona de.contato das.pe- quenas minas, ranchos ¢ aldcias com as grandes, pro- priedades. Particularmente o Estado de Chihuahua reunia condigdes para uma explosio revolucionaria. % Os grupos revolucion4rios que se formaram em s de aldeias neentes a uma mes- ‘ HK cChifuahua eran iniclalmente morador ‘3 determinadas, geralmente pert jo ma familia ou ligados por reivindicagdes ‘anteriores. © Esses grupos exerceram a fungio de niicleos dos quais as populacées marginais das zonas minciras comegaram a se aproximar. Defe ivindica- goes comuns de caiater politico ea distribuigdo.de ‘ie! Essa populacio sem raizes, numa zona montanhosa de acesso dificii, estava dis- ponivel para se integrar ao movimento, revoluciona- “Tio. Acrescente-se a isso uma longa tradig&o de opo- sigdo e de revolta propagadas entre os trabaihadores das_minas pelas liderangas anarquistas. Por outro lado, formaram-se grupos guerrilheiros constituidos por uma populacao pioneira. Esta reunia-se em torno de persoflalidades que dispunham de grande presti- io ou de‘autoridade no seu meio e que tinham uma solida-rede de relacdes f $ Ou profissionais na mesma tegido. Os melhores exemplos dessas lide- faitigas s#0 dados por Pascual Orozco e Pancho Villa. Orozco era da localidade de San Isidro, ligado por ‘lacos familiares a mineradores da regido. Esses con- tatos-eram garantidos ainda em razdo de seu traba- Iho de criador de mulas para’ o transporte da prata. Entretanto, lider que alcancou maior popula- de e que justamente por esse motivo mais se iden: A Kevolugao mexicana: 1910-1917 a | tifica com a RevolugZo Mexicana foi isco Vi Doroteu Arango era seu_nome_verdadeiro, 0 qual. mudou para Francisco Villa, ou Pancho como se di no México, em homénagem a um heréi popular d seu tempo. Recebeu os apelidos dé “Cetitauro do ‘Norte"’,“O amigo dos pobres”, “O Napoleio do | México”, “General Invenciyel”, “Inspirador da Bra- | vura € do Patriotisnio”, #Esperanca da Reptblica Indigena'}/entre outros. “Aos dezesseis anos matov iim "Rincionario do governo que, segundo se diz. | havia violade sua irma. Foj obrigado a viver foragido | nas montanhas, tendo de roubar para scbreviver. | Para isso chegou a formar um bando de ladrdes de gado, atacando as grandes fazendas da regiao. Nun- ca havia freqiientado escola. Aprendeu a ler j4 du- rante a Revolucio. Sua vida anterior 4 Revolugao esta ; envolta em fantasias das narrativas populares. Foi idealizado como uma espécie deRobin Hood; que roubava dos ricos para distribuir aos pobres. jera bastante diferente, embora a disponibilidade para a luta tivesse sido a mesma. Regiao de povoamento mais antigo, foi bastante atin. gida pela politica agréria do porfirismo, de forma Particular, o Estado de Morelos. Nessa regido as terras piiblicas que restavam haviam sido vendidas aos grandes produtores de agu- “car. A nova_legislagdo—suprimiu—antigos. titulos de terras ¢ direitos_sobre Aguas e1 itas aldeias. E para conseguir fazer valer seus direitos sobre essas TY A situacao dull He aNeruyue neater, L2LU-07E 31 antigas comunidades, os grandes produtores de agi- ear puderam contar com 0 poder dos tribunais locais. A iegido de Morelos pode servir de exemplo para demonstrar como o sistema da grande proprie- dade territorial foi reforgado por essa legislacao. Os grandes produtores de Morelos, a partir de 1880, em razdo da demanda internacional, comegaram a im- portar mAquinas curopéias; para que os engenhos comecassem a modificar a técnica de produgdo, tor- nando-se mais rentaveis (Melville, p. 34). Havia uma série de obstaculos que precisariam ser contornades, come, per exemplo, a concorréfcia do acécar de beterraba. O crescimento da produce do agicar em nivel internacional, acompanhado de precos vanta- josos, estimulava esses investimentos. A construg%io de ferrovias reforgou esse processo e anunciava um amplo sucesso econdmico constatado na redugio dos custos do transporte.-O uso do vapor nas moendas permitiu acs proprietérios aumentar a capacidade de suas fabricas. As novas maquinas utilizadas com a forca do vapor propiciaram a fabricagZo de um agi- car'de qualidade superior e em maior quantidade. Novas maquinas passaram a ser utilizadas no trans- porte da cana, facilitando a carga de grandes volu- mes:do campo para os engenhos e destes até a ferro- via. Enquanto alguns engenhos foram modernizados, outros, jé ultrapassados do ponto de vista da técnica, foram fechados e as propriedades convertidas em fornecedoras de cana para os engenhos centrais. Em razdo do exposto, a estrutura de produgao sofren alteragdes. As mercadorias resultantes — agi- -— car, melado e dleool — sofreram uma diferenciagao no processo produtivo. Enquanto o melado ¢ 0 dleool atendiam ao consumo interno, o agticar visava basi- camente 0 mercado externo. A mudanca fundamen. tal com tais indvacdes tecnolégicas ocorreu na pro- dug&o do agticar enquanto produto de exportacao. AS novas exigéncias obrigaram a um aumento da produgio da cana-de-acicar, significando esse ay- io @ extensao da drea utilizada ou melhoria da produtividade, o due significava a utilizaga giveis. Gra, os mananciais haviam sido apropria- Gos pelos grandes proprietérios. Havia, no entanto, alguns mananciais remanescentes, mas que eram distantes dos engenhos. Por esse motivo foram ado- tadas varias estratégias de desenvolvimento, a fim de garantir uma produgo maior, dentro dos limites impostos pela escassez da agua. Uma das solugdes foi investir na construgiio de agudes e de canais de irri- gac&o, aumentando, dessa maneira, a area aprovei- tavel para a producdo da cana ou utilizando proces- sos de racionalizacao do uso da Agua ou de rotacdo de culturas (arroz/cana). Predominou, no entanto, @ pratica da extensdo das culturas (Melville, p. 36). Qs resultados foram complexos, A utilizacag novas_maguinas reduziu a necessidade de um di “grande numero de trabalha dores. A instalagdo das nOVas maquinas atraia, num primeiro momento, um” grande numero de carpi reiros. Passada a fase inicial’ da inistalacdo, eram dispensados e tinham de se deslocar a procifa de Outros trabalhos. Os antigos trabalhadores dos enge- inteiros, marceneiros e fer- 2 D2n2y % dos by 4. Alina mri mas sisce verre dio en ASS “IS Cee OL da 4 i : TSESEG da oo “neses locais Doty OLS, CO ries nhos, por sua vez, eram desempregados, obrigados a aceitar tarefas agricolas ou emigrar para outras re- gides, onde seus conhecimentos pudessem ser util A populacao a tradicional culti rras para a produgao de cana e de alimentos, expansio da.cultura canavieira passou a ‘avancar 2 essas terras €, para sua conquista, todos os re- rsos foram adotades. Para isso 0s produtores de cana apoiaram-se no Estado ¢ serviram-se do recurso ia fei para impor sua dominacao sobre as terras. ‘Ad mesmo tempo que os produtores de agticar promoviam o crescimento econdmico de suas empre- sas, formava-se uma classe de camponeses antag6- nica ao seu projeto sociopolitico. Ainda que a redis- tribuigdo das oportunidades de trabalho se amoldas- se As novas exigéncias do desenvolvimento capita- lista, n&o se ajustava as necessidades. dos campo- _ ram oles a viver em suas aldeias, trabalhavam em grupos. de assalariados. Morelos produzia acticar @ Brroz em quantidade, mas tinha de importar arti- gos de primeira necessidade, e 0 custo de vida era quase tao alto quanto na Cidade do México. Dessa maneira, apesar de seus salarios nAo serem baixos, A mevoiugue mextcuna: 1910-0917 Emiliano Zapata em desenho de Posada e em fotografia da época. 3S 34 Anna muri marine: Corres AA Revonige mexicana: 1740-1717 comparativamente aos de outras regides, contraiam altas dividas. Eram, entao, obrigados a deixar as aldeias e a se fixar nas fazendas como trabalhadores permanentes. Por volta de 1909 0 sistema de dominagio dos produtores de agiicar do sul do México, particular- mente da regiio de Morelos, preparava-se para se consolidar. Os moradores das aldeias estavam debi- litados; seus dirigentes presos ou atemorizados. M L- tos componeses pepe. sad, muitas aldeias Suma aes fo precisa “a teeasldede de + espago para a ga da propria sobrevivéncia indi- [3 vidual e da Tamifia. Havia, ainda, a con i Te da usurpaga ‘O'sentiment da usurpac4o represen- >; tado pela expulsio da terra que, desde tempos i Ly moriais, pertencia As populacdes locais pre os camponeses de Morelos a aceitarem_a_proposta ‘Fevolicionaria de lutar pela_restitnicao_das_terras usurpadas. Havia, ainda,outro aspecto.importante, dades policiais de seu distrito, 0 que o obrigou a esconder-se durante algum tempo. De volta a aldeia, passou a ter uma certa ascendéncia sobre os jovens de sua idade, desenvolvendo uma atuagao politica marcante. Zapata havia herdado de seus pais uma parte de terras e algum gado. Possuia uma casa de adobe € terra, © que, de acordo com os padroes lotais, signi- ficava que nao era um homem pobre; também nao era trabalhador assalariado. Trabalhava sua terra e era parceiro auma fazenda préxima e, quando dimi- ouia 0 trabaiho, exercia as fungdes de muleteizo ¢ de vendedor de cavalos. Nesse oficio, nao s6 adquiriu o gosto pelos cavalos, mas também a vaidade de mon- tar um belo animal. Nos dias festivos gostava de apresentar-se totalmente de branco, calgando botas de boa qualidade e cavalgando seu cavalo com arreios de prata. Na Cidade do México sua vestimenta negra chamara a atengao principalmente devido a seu co- lete com uma grande 4guia bordada nas costas (Wo- mack, p. 5). O nome Zapata em Anenecuilco era conhecido qual seja, a_existéncia.de.uma forte lideranca local tradicionalmente como pertencente a politicos ilus- daa Fepresentada pelos moradores que se sentiam lesados tres que, desde a independéncia, Reforma e inter- “> pela politica porfirista. Foi nesse grupo que se pro- yencdo estrangeira, sempre haviam estado na defesa 4 jetou a lideranga de Emiliano Zapata. Emiliano Zapata nasceu por volta de 1879, em Anenecuilco, uma aldeia de Morelos junto ao rio Ayala, que deveria contar, em 1909, com 400 habi- tantes (Womack, p. 1). Perdeu os pais aos 16 anos e logo em seguida enfrentou problemas com as autori- dos camponeses locais. Emiliano, continuando a tra- dicao de sua familia, foi, aos 30 anos, eleito pres dente do Conselho local. ‘A 12 de setembro de 1909 reuniram-se os chefes de familia de Anenecuilco para a escolha do novo presidente do Consetho. © antigo presidente preve- nia que os tempos estavam mudando e que exigiam gente nova. Os velhos j4 haviam dado sua ajuda a comunidade, havendo necessidade de renovar, pois as velhos juizes deveriam ceder seus lugares aos “guerreiros”, uma vez que os tempos que se aproxi- mavam seriam particularmente dificeis. Para gover- har seu povo nesses novas tempos, foi escolhide Emi- ligno Zapata. Emergia, assim, uma lideranga local, adequada aos novos momentos que se abriam. LL i SO OPERARIADO E A REVOLUCAG “Y vais a ser vosotros, obreres, la fuerza de sa revoluci6n. ‘ (Flores Magén, Ricardo, Regeneraci6n, p. 230) A Revolugio_] Mexicana é vista como um _movi- nto que mobilizou amplas massas do setor rural. Grande parte tematica da Reyolugao Mexicana ‘Tundada na quest4o agraria. Nem 6, podenios afirmar ter ela so Silva Herzog, Jestis — La ‘Révolution Mexicaine. Trad. «de Raqiel Thiercelien. Paris, Maspero, 1968, p. 7. entros de decisao, onde se concentrava 9 poder. A populaedo operdria, concentrada em al- guns desses centros, teve igualmente uma_partici- “ia _Revolucdo Mexicana. fApenas, aS. icas_ préprias’e pelo_niimero_mais_redu- do, bem como pela” concentracio,_era_mais__ ~ sf opera 2 Anna Maria Martinez Corréa A Revolugao mexicana: 1910-191/ 2 vulneravel do que a populacao camponesa, tendo sua rolada pela agao refor- A organizagiio operaria mexicana teve inicio som a propria industrializagaio do México, a partir da segunda metade do século XIX. A_populacao estavaconcentrada_particularmente nos w ceniros de mineragao. As maiores concentracbes ¢s- favam nia Cidade do México, em Veracruz, Monter- rey, San Luis de Potosi, Tampico, Toluca ¢ Pachuca. | A motivagio da organizagas ogerdria esteve ligada, desde seu inicio, & lata, por melhores condiites de jae de-trabatho. Da mesma. forma que os campo- neses, os operarios mexicanos também tinham suas reivitidicacoes a fazer. Essas reivindicagoes, por forga da propria atuacao politica da classe operari imorporadas as programas dos clubes dos partidos que comecaram a ser organizados no As primeiras formas de organizagao tiveram 0 carater de sociedades mutualistas, de socorros mii- tuos e de dentincias da exploracao dos trabalhadores, passando em seguida A organizagao sindical. Quanto as formas de atuag&o manifestaram-se através de movimentos grevistas. A aco grevista era acompanhada pela aco jornalistica liderada princi- palmente por anarquistas. Esse tipo de ago passou a se generalizar no México, a partir de 1865, quando ocorreu-uma greve na localidade de San Ildefonso, numa industria téxtil. A partir dai as greves torna- ram-se freqiientes, acarretando uma aco repressiva, _—--——_- © que significava o cerceamento da ago das lideran- cas, prisdes e empastelamento de jornais. As greves que tiveram uma importancia maior pela sua intensidade, pelo significado de seus propé- sitos e pela sua repercussao foram as de Rio Branco e Cananea, localidades do norte do México, nas proxi- midades da fronteira com os Estados Unidos. Essas greves tiveram uma importancia poifiica muitd gran- de em virtude da acao de jornalistas anarguistas que tiveram a preocupacao de dar divulgagao ao que se ava naquelas indistriss, Através da imprensa os narquistas divuigaram a situagao de exploragao em e vivia o trabalhador mexicano e sua situagdo de inferioridade em relag3o ao trabalhador norte-ame- ricano. Desde inicios do século XX, os sindicatos opera- rios j4 organizados constituiam alvo da acio alicia- dora de liderancas politicas. Esse tipo de ago adqui- ri uma expressao particular com a criago da Casa det Obrero Mundial (COM), instituicéo que congre- gava uma variedade de sindicatos operdrios. A tenta- tiva de manipulacio da COM, num rmomento diffcil da hist6ria do operariado mexicano, momento de desemprego, alta do custo de vida, inflacio, compro- nicten sensivelmente a participacdo da classe ope- raria na Revolugao Mexicana. © que se discute nesse particular 6 a desvincu- da ) movimento dos traba- ‘Turais. Um, dos pontos mais sensiveis da ‘Revolugdo Mexicana reside justamente nese a- _pecto, No momento da derrubada da ditadura porfi- palo ol way eee Shes IE ages De reye Operario mexicano achava Anne mura muruner Correa = rista, alianca operdrio-camponesa existiu e foi posi- tiva. Posteriormente, porém, as liderangas auténticas do operariado mexicano foram afastadas mediante prisdes, deportacdes e mortes. Por sua vez, os poli- ticos reformistas passaram a desenvolver uma aco desagregadora daquela alianca. Desfeita a alianca operdrio-eamponesa, -afasta- das as principais Tiderancas com a adesdo de setores d® operariado aos grupos reformistas, o moyimenfo descaracterizado. En- fretanto, apesar de a ado ser desvirtuada, pode if & constancia dc movimento operatio mexi- cano a incluso no texto constitucional de_grande parte de suas reivindicacdes. | | A LUTA PELA DERRUBADA DA DITADURA PORFIRISTA “Ay, ay, ay, ay! canta y no llores, porque cantando, se alegran, cielite lindo, los corazones...” As contradigdes geradas pela politica desenvol- vida por Porfirio Diaz, que resultou na transfor- magao do México num Estado capitalista com carac- teristicas definidas, permitiram a emergéncia de sé- rios descontentamentos patenteados em problemas, como a, proletarizacdo do homem do campo, reivin-- dicagdes camponesas de terras e solicitagZo da revo- gacio de leis que se traduziam em prejuizos ao ho- mem do campo. Nas regides industriais, a propria concentracao operdria obrigava 4 convivéncia daque- les que, sentindo problemas comuns, buscavam so- lugdes coletivas ao sentir a exploragao do trabalho. A “modernizacao” do México empreendida durante © periodo porfirista havia gerado um grande niimero de desempregados, de subempregados, de “foras-da- lei”, criando uma massa disponivel a partic contingentes armados. — Da mesma forma, na propria barguesia mexi- cana havia sinais de descontentamentos. Essa bur- guesia-ndo se apresentaya de maneira uniforme. O rapido crescimento econdmié dd México durante esse periodo havia permitido a ascensio de um setor mais progressista que, em razo particularmente dos contatus com outros canitros mais adiantados, passon a adotar uma postura-criiva em relagae a politica desenvolvida por Poriirio Diaz e, particularmente, 20 grupo dos “cientificos, Esse grupo podia ainda sen- tir a forte tensao social que pesava sobre a sociedade mexicana, antevendo os riscos a que estariam sujei- tos diante do agravamento dessas tensdes. Por outro lado, pelo contato que mantinha com outros paises, idealizava uma “democracia liberal” para 0 México. Camilo Arriaga e Francisco I. Madero represen- - tavam esse grupo. Diaz Soto y Gama, Juan Sardbia, Rivera e Ri- cardo Flores Mag6n representavam os intelectuais pequeno-burgueses familiarizados com os problemas da maioria dos mexicanos, influenciados pelas obras anarquistas e socialistas, e defendiam a formacao de uma coligaco com outras classes de maneira a en- volver operarios e camponeses. Os irmaos Flores Magén tiveram uma posigio muito bem definida ~“dentto desse grupo, Eles representavam muito bem 0 grupo de intelectuais procedentes da pequena bur- A Kevotugao Mextcana: 1910-1917 43 ~ $$$ eS—i=*ds guesia, cuja atuag&o passava inicialmente pela uni- versidade através do movimento estudantil e, poste- tiermente, pela ago jornalistica. Todas essas tensdes e novas posturas politicas seriam canalizadas por uma forga politica na busca de uma solugio que aos poucos foi se revelando — @ conquista do poder. Inicialmente essa forga foi representada pelos Clubes politicos, forma de orga- uizacho possivel, dentro das limitagdes do momento. O Circulo Liberal Ponciano Arriaga, organizado em San Luis de Potos{ e dirigido por Camilo Arriaga ¢ juan Sarébia é win exemplo deles, Esses clubes repre- | sentavam 0 inicio de uma organizacao politica que, posteriormente, seria consubstanciada em partido, A forma de luta encontrada foi a da agao jornalistica ¢ de reunides isoladas de inicio, saindo depois as ruas através de passeatas e comicios. A produgao jorna- iistica, apesar de suas limitagdes, destacou-se com El Hijo del Ahuizote, de Juan Sardbia; Excelsior, de Santiago de la Hoz; Regeneracién, de Ricardo Flores Magén; El Diario’ del Hogar, de Filomeno Mata, e outros, ~ © movimento politico adquiriu mais forca, no entanto, com a criagdo de um partido politico. A 30 de agosto de 1900, em San Luis de Potosi, Camilo Arriaga publicou 0 manifesto Invitacién al Partido ‘Liberal, langando assim as bases do partido. Dentro do Partido Liberal Mexicano (PLM) eram conhecidas as desavengas entre seus componentes, geralmente intelectuais de diversos estratos sociais, que estavam dispostos a formar 'novas coligacdes politicas, que Anna mara mariner Correa compreendiam diferentes classes para se oporem a Porfirio Diaz e oferecerem reformas politicas e so- ciais. Como Camilo Arriaga, Diaz Soto y Gama, Juan Sarabia e Ricardo Flores Magén foram repre- sentantes de um certo tipo de intelectuais. A proposta de Arriaga continha uma reafir- macio do liberalismo do século XIX, retomando a critica a agdo da Igreja ¢ iniciando: uma oposicad a Porfirio Diaz. Assim, tornou-se freqiiente 0 apelo ao passado, a necessidade da restaurago da Constitui- 557. Dai 0 aspecto contradit6rio de partido. Para que se efetivasse 0 novo seria preciso restaurar 0 velho, que havia sido descartado pela politica auto- ritéria de Porfirio Diaz. Sem se aventurar numa pro- posta totalmente nova, o que estava presente era a idealizagio da democracia sonhada por Benito Jua- rez na época da Reforma. Mesto as propostas mais avangadas, como a dos irmaos Flores Magén, esta- vam marcadas por essa idealizagao do passado. Ao sair da priso, onde estivera algum tempo “por ter participado do movimento estudantil, Ri- ““eardé Flores Mag6n fundou, juntamente com seu -irmao;, um jornal com o sugestivo titulo de Rege- neracion. O Clube Liberal, fundado por Camilo Ar- “iaga;” langou o jornal’ Renacimiento. Da mesma forma, o primeiro Congresso Liberal, realizado a $ de‘fevereiro de 1901,,teve o sentido de comemorar a ““Gonstituinte de 1857, retomando a ideologia liberal. Iniciando seu trabalho politico, o Partido Libe- ral Mexicano publicou, em margo de 1901, 0 Mani- festo ala Nacién denunciando a estrutura politica do México, exigindo a formacao de partidos politicos e criticando, ainda, a participacdo dos “cientificos” num governo personalista e antidemocratico. Como resposta, seus membros foram excomungados pela Igreja e condenados por Porfirio Diaz. Na Cidade do México os liberais fundaram a Asociacién Liberal Reformista. Porfirio Diaz, pas- sando a ofensiva, fechou os clubes. Jesus e Ricardo Flores Magén, em razdo de artigos publicados em Regeneracién, foram presos. Apesar da prisio dos dois lideres, seus companheiros continuaram o tra balho ne jornal, que acabou empasielado. Toda essa acho do governo nao diminuiu a intensidade de movi- mente da oposig¢ao, que programou para novembro. + de 1901 séu segundo Congresso. Os temas em debate seriam a'Reforma Agraria, 0 problema dos indios yaquis, o regime de trabalho nas grandes fazendas e 9 controle das riquezas da nag&o pelos estrangeiros. Poucos dias antes da realizagio do Congreso, a poli- cia invadiu a sala'de reunides, fez uma série de pri- sdes e 0 Congresso foi cancelado. Numa demonstra- go de forga, o Estado porfirista fechou, em um ano, 42 jornais e 50 jornalistas foram presos. Postos em liberdade, os liberais retomaram suas atividades. No entanto, a repeticio do processo de aprisionamento impediu a circulagao sistematica dos jornais. Os lideres Mag6n, Soto y Gaia e Arriaga escolheram 0 exilio e, dos Estados Unidos, passaram aos poucos a dirigir 0 movimento de oposicio a dita- dura de Porfirio Diaz. O tema a que se apegaram os MevVew, i lal PL NEYULUYMY srkeAMeU, C2 4U-L 24 A campanha sofreu violenta repressio com prisdes arbitrarias, supressdo da liberdade de expresso e de reuniao, com freqiientes assassinatos. Aos poucos, conclufa-se que seria dificil chegar a0 poder pelos meios legais. Somente com o uso da forca isso seria possivel. Projetou-se assim a idéia de revolugao, en- tendida aqui como tomada do poder por uma ago violenta, fora dos princfpios legais. A idéia foi lan- cada inicialmente por Ricardo Flores Magén. Reto- mando em San Antonio (Texas) a publicacdo de Regeneracién, reorganizou ¢ Clube Libetal, rom- pendo com o grupo de ©: Arriaga. Depois de escapar de uma tentaliva de assassinato, Ricardo mu- dou-se para Saint Louis (Missouri), passando a pre- gar a necessidade de uma revolugdo a fim de se con- seguir “Reforma, Liberdade ¢ Justica”, sendo preso pelos agentes da Pinkerton. “® A 12 de julho de 1907,_0 Partido Liberal Mex \.cano publicou seu programa, em Saint Louis, Mis- sour consistinds be sourl, consistindo_basicamente dos seguintes iten Simandato presidencial de 4 anos; ndo-recle >; elimi- “iacao do servigo militar obrigalério; abolicao da pena de inorie; multiplicacao das escolas primérias; n ; melhoria salarial para os professo! obrigatoriedade aos estrangeiros de se naturalizarem a0. adquirir propriedades; restrigdes 4 imigracao; imposi¢&o de impostos a Igreja. Qi anto as relacdes capital-trabalho: jornada maxim de® : estabélécimento de um egulamentacio_ dos. servi fabricas de manter boas condigbes de salubridade balho; obrigagao de propiciar o bem-estar do tra- bathadof Part 6s Trabslhade “minas, obriga- gio de fornecer acomodagbes higiénicas, pagando indenizagao em casos de acidente: atendesiem a:essa determinagao teriam suas terras . Distribuicdo de terras aqueies que ne- ssitassem delas. CriagZo de um Banco Agricola. Modificagao no sistema de impostos. Clausula espe- ciaf — nao-reconhecimento da divida cont a pela ditadur: ae O Mani festa de 1907 bontém, de modo geral, as reivindicagdes basicas da RevolugZo que permane- ceram durante todo 0 periodo de luta e que sio retomadas a partir das discussdes da Assembléia Constituinte de 1916-1917. A comparacao dos dois documentos — 0 Manifesto e a Constituigéo Mexi- cana de 1917 — dé a medida do avango ou do recuo das pretensdes revoluciondrias. A Kevoiugao Mexicana: 191-1917 49 O DESENCADEAMENTO DA REYOLUCAO “La Cucaracha, la Cucaracha, yano puede caminar, Porque no tiene, p ‘marijuana que fumai ee falta No quadro politico descrito anteriormente, uma * noticia teve repercussao notavel. Em janeiro de 1908, ~ Porfirio. Diaz, em entrevista concedida ao jornalista norte-américano James Creelman, deu a conhecer sua intengao de deixar o poder. A’ divulgacio dessa noticia abriu possibilidades de organizagao das for- ¢as politicas que aspiravam ao poder. Emergiram assim as liderangas, para a disputa do poder com a /FegreanizacZo dos partidos politicos, agora com um objetivo imediato. Entre os nomes que se projetaram nesse mo- mento encontrava-se 0 de Francisco I. Madero, que ao final de 1908 publicou um livro com 0 titulo de La Sucesién Presidencial en 1910. El Partido Nacional Democratico. Francisco I. Madero era natural de Parras (Coa- huila), onde nasceu a 30 de outubro de 1873 numa familia de grandes proprietérios territoriais (Cum- berland, Madero.y la Revolucién Mexicana, p. 41). Foi educado iniciaimente por professores particu- lares e depois matriculou-se numa escola de jesuftas de Saltillo e. em seguida, numa escola catdlica de Bal ‘ore. Aos 14 anos foi A Franga para estudar co- ‘io € economia, Em 1892, em Berkeley (BUA), especializou-se no-estudo da agricultura. De volta ao México, em 1893, passou longo tempo em visita as extensas propriedades de sua familia, procurando entender as condigdes econdmicas da Tegido. Na Franga havia se definido pelo espiritismo e, de volta a0 México, passou a se dedicar apaixonadamente ao tema, chocando-se nesse particular com a opiniao dos ‘‘cientificos” da época. A partir de seus estudos e da observago pessoal das condigdes sdciais existen- tes no México, Madero concluiu que o tinico cami- tho para seu pais serla_a pratica da demonic, Sits dida esta 0s HHOIGES do MboralsiO ceetee a cialmente em nivel local, de politica municipal e estadual em Nuevo Le6n. Em seu livro, La Sucesién Presidencial en 1910, dedicado “aos heréis da nossa patria, aos jornalistas independentes e aos bons m xicanos”, Madero cri- tica a administragao de Porfirio Diaz, resguardando, 5 Anna marta marunez Coren 51 no entanto, a pessoa deste. Expde, também, suas idéias a respeito do que supunha dever ser a demo- cracia mexicana. De maneira particular discute a questao da nao-reeleigaio ¢ do sufrégio universal. O livro ¢ dirigido particularmente a classe média, con- vidando-a a dirigir um mi ito régenerador. Con- Sat tém uma proposta de pa possibilidade de se realizar um a Esie ocuparia a Presidén- cia e um membic do PND ccuparia’ a Vice-Presi- déncia. O projeto de Madero de formar um partido politico tomou forma em 22 de maio de i909, quando foi fundado 0 Partido Antirreeleccionista (Nunes, p. 70). Este partido englobava principalmente elemen- tos de classe média: intelectuais independentes, pro- fissionais liberais.e a nova classe mercantil e de in- dustriais do norte e do nordeste. O Partido langou Madero como candidato A Presidéncia e Vazquez Gémez & Vice-Presidéncia. Sua plataforma consistia em: n&o-reeleicao, sufragio direto, liberdade politica ~ eliberdade de imprensa, liberdade de ensino, melho- ria das condicbes de vida do operario, fundacao de colénias agricolas, tentativa de solugdo para 0 pro- blema dos indios, luta contra os monopélios e privi- légios, incentivo a grande e, particularmente, a pe- quena agricultura, a irrigago, mexicanizagao do pessoal das ferrovias, reforma do Exército, reforgo das boas relaces com paises estrangeiros, particu- larmente da América Central, invéstimentos piiblicos ints), A entrada de Madero no México (in Posada's Popular Mexican P; 33 ‘atima de um regime despotico em _beneficio do pais, impostos repartidos eqiiitati- vamente. Madero, na companhia de Roque Estrada, ini- ua campanha eleitoral viajando pelo pais. De inicio, poucas pessoas acorriam para ouvi-lo, mas, em pouco tempo, a cada comicio compareciam mul- tides. A campanha desencadeada por-Madero con- tinha uma critica A administracio de Porfirid Diaz qualificada de lcucura pela imprensa porfirista, que passou a ridicularizar Madero. 0 porfiri i a apoiado pelo clero gracas & ago, assim como também pelas ais poderosas do pais: banquei- iéfciantes e grandes proprieta- forcas econémica ros, industriais, sucesso popular de Madero, a: Garam a se preocupar (Silva Hei “Ge la Revolucién Mexicana, vol. 1, p. 120). De inici criaram dificuldades para a realizacao de comicios, até quando Madero e Roque Estrada foram apri- sionados; em San Luis de Potosi, a 7 de junho de 1910, sob a-acusagao de iiicitar-o"povo a rebeliao. \ i de A partir dai aumentou mais ainda a pop Madero, que apareceu aos olhos do povo como uma, Madero e Roque Estrada foram libertados a 22 de julho, depois de 45 diasde prisio, liberdade sob fianga por interferéncia sudos.pais de Madero, com a ajuda de José Ives de Limantour, entao ministro da Fazenda, ‘As eleigbes, que ocorreram_a 26 de junho_de 1910" se desenvolveram numa atmosfera de. paz imposta_pelo terror — a prisio de Madero e Roque Estrada sio pro —“deray tia a Porfirio ‘tava programada para setembro a comemo- ragdo do centendrio da independéncia do México, como um grande acontecimento internacional. O México mostraria para o mundo o seu crescimento econdmico, sendo a capital totalmente remodelada e construidos paviihdes para ostentar uma feira inter- nacional. Seria a apoteose da ditadura, antes que | Porfirio Diaz deixasse o poder, o que ja estava pre- isto para breve, por insinuagao de préprio presi- dente ou mesmo em razio de sua avancada idade. Por ocasitio'das festas do centenério da inde- pendéncia, os partidarios de Madero organizaram uma manifestaco que foi violentamente reprimida. Foram efetuadas varias prisdes na noite de 5 para 6 de outubro. Madero fugiu de San Luis de Potosi, dirigindo-se a San Antonio, no Texas._No exilio, Madero redigiu o Plano de'San Luis de Potost, da- tado de 5 de outubro de 1910, qué vei0 a sera plata- formrda Revoligae Mexicana, No Plano de San Luis, Madero reafirmava 0 »sto_anitériormente_em_sua_campanha politica: sufragio direto, nao-reelei¢do presidencial. Ja nes altura Ticara claro que nao seria possivel. A ‘oposicao, ascender ao poder por vias legais, colocando-se o problema di i ni defini do-se entay- Madero} ' A data da insurreicao ficou marcada para 20 de L novembro. Sem trazer grandes modificacdes em rela-

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