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PMR 2420 – Mecânica Computacional

MONTAGEM DO SISTEMA GLOBAL


Antes do sistema global ser montado, deve-se estabelecer um esquema de numeração global para
especificar a topologia do sistema. A tabela abaixo define a conectividade dos elementos da malha da
figura da página 55. Como trata-se de um caso unidimensional o esquema de numeração pode parecer
trivial, mas para problemas de duas ou três dimensões é o único meio de se especificar quais nós
pertence a quais elementos.

TOPOLOGIA DO SISTEMA PARA O ESQUEMA DE SEGMENTAÇÃO POR ELEMENTOS FINITOS DO PROBLEMA DA PÁGINA 55

Numeração dos nós


Elementos Local Global
1 1 1
2 2
2 1 2
2 3
3 1 3
2 4
4 1 4
2 5

Uma vez que a topologia é fixada, a equação do elemento pode ser escrita para cada elemento
usando coordenadas globais. Pode-se então adicioná-las uma a uma para montar o sistema global. O
processo é ilustrado abaixo:
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CONDIÇÕES DE CONTORNO
Note que quando as equações são montadas as condições de contorno se cancelam. Dessa maneira, o
resultado final de [F] nas equações acima tem condições de contorno presentes apenas no primeiro e no
último nó. Como T1 e T5 são dados, essas condições naturais nas extremidades das barras, dT(x1)/dx e
dT(x5)/dx, são incógnitas do problema. Portanto as equações podem ser reescritas como:

SOLUÇÃO
A solução para a equação acima é a seguinte:

dT
(x1 ) = 66 T2 = 173.75 T3 = 245 T4 = 253.75
dT
(x5 ) = −34
dx dx

PÓS PROCESSAMENTO
Os resultados podem ser exibidos graficamente. A figura abaixo mostra a comparação dos resultados da
solução do problema pelo MEF e da solução exata. Note que o MEF acompanha a tendência geral da
solução exata e, nesse caso fornece uma solução exata nos nós. Entretanto há uma discrepância no
interior de cada elemento devido à natureza linear das funções de forma.
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PROBLEMAS BIDIMENSIONAIS
Embora o desenvolvimento matemático aumente consideravelmente, a extensão dos conceitos do MEF
de uma para duas dimensões é imediata. Deve-se seguir os mesmos passos apresentados até agora.

DISCRETIZAÇÃO
Em duas dimensões utilizam-se basicamente dois tipos de elementos simples: triângulos e quadriláteros.
Nossa análise será limitada a elementos triangulares do tipo apresentados na figura abaixo.

y
2

MATRIZ DO ELEMENTO
Analogamente ao caso unidimensional, o próximo passo é desenvolver as equações para aproximar a
solução dentro do elemento. Para um elemento triangular, a solução mais simples é uma função
polinomial de 1a ordem:

u(x,y) = a0 + a1,1 x + a 1,2 y (32)

sendo u(x,y) a variável de estado, ai,j, os coeficientes e x e y, as variáveis independentes. Os valores


dessa função u nos nós do triângulo (x1,y1), (x2,y2) e (x3,y3) são:

u1 = a0 + a1,1 x1 + a1,2 y1
u2 = a0 + a1,1 x2 + a1,2 y2 (33)
u3 = a0 + a1,1 x3 + a1,2 y3,

ou em forma matricial:

1 x1 y1   a 0   u1 
1 x  
 2 y 2   a1,1  = u 2  ,
1 x3 y 3  a1, 2  u 3 

cuja solução é
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a0 =
1
[u1 (x2 y3 − x3 y 2 ) + u 2 (x3 y1 − x1 y3 ) + u3 (x1 y 2 − x2 y1 )]
2 Ae

a1,1 =
1
[u1 (y 2 − y3 ) + u 2 (y3 − y1 ) + u3 (y1 − y 2 )] (34)
2 Ae

a1, 2 =
1
[u1 (x3 − x2 ) + u 2 (x1 − x3 ) + u3 (x 2 − x1 )]
2 Ae

sendo Ae a área do elemento triangular, dada por:

Ae =
1
[(x2 y3 − x3 y2 ) + (x3 y1 − x1 y3 )+ (x1 y2 − x2 y1 )] (35)
2
As equações (34) podem ser substituídas em (32). Após agrupamento de termos, chega-se a:

u = N1u1 + N2u2 + N3u3 , (36)


sendo

N1 =
1
[(x2 y3 − x3 y2 ) + (y2 − y3 )x + (x3 − x2 )y ]
2 Ae

N2 =
1
[(x3 y1 − x1 y3 ) + (y3 − y1 )x + (x1 − x3 )y ]
2 Ae

N3 =
1
[(x1 y2 − x2 y1 ) + (y1 − y2 )x + (x2 − x1 )y ]
2 Ae

Como no caso unidimensional, a equação (36) fornece uma maneira de se estimar valores de u
internos ao elemento com base nos valores nodais. A figura abaixo mostra as funções de forma e as
funções de interpolação. Note que a soma das funções de interpolação é sempre igual a 1.

Analogamente ao caso unidimensional, há vários métodos


disponíveis para se desenvolver as equações nos elementos baseado na
EDP e nas funções de aproximação. As equações resultantes são
consideravelmente mais complicadas que a (26). Entretanto, como as
funções de aproximação são normalmente polinômios de ordem 1, os
termos da matriz elementar final consistirão de polinômios de ordem
baixa e constantes.

CONDIÇÕES DE CONTORNO E MONTAGEM DO SISTEMA GLOBAL

A imposição das condições de contorno e a montagem dos sistema


global também ficam mais complicadas quando o MEF é aplicado em
problemas bi e tridimensionais. Entretanto, como com a construção da
matriz do elemento, a dificuldade se concentra mais na mecânica do
processo que na complexidade conceitual. Por exemplo, o
estabelecimento da topologia dos sistema que era trivial para uma
dimensão torna-se um passo importantíssimo em duas e três dimensões.
Em particular, a escolha de um dado esquema de numeração irá definir a
estrutura de banda da matriz global e portanto a eficiência com a qual
ele poderá ser resolvido. A figura abaixo mostra um esquema de
numeração que foi desenvolvido para a solução, pelo MEF, de um
problema de uma placa aquecida.
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TOPOLOGIA DO SISTEMA PARA O ESQUEMA DE SEGMENTAÇÃO


POR ELEMENTOS FINITOS DO PROBLEMA AO LADO

Numeração dos nós


Elementos Local Global
1 1
1 2 2
3 7
1 1
2 2 7
3 6
1 2
3 2 3
3 8
etc.

APLICAÇÃO DO MÉTODO DE RESÍDUOS PONDERADOS E GALERKIN EM


DUAS DIMENSÕES

Seja a equação de Poisson em duas dimensões, sendo T a função temperatura:

∇ 2 T + f ( x, y ) = 0

~
Solução aproximada: T

Substituindo na equação de Poisson resulta o resíduo:


~
∇ 2 T + f ( x, y ) = R

Aplicação do M.R.P. e Galerkin (Wi = Ni):

∫∫Ae
N i R dA = 0 , i =1, 2, ..., m, sendo m, o número total de nós.

Então

∫∫Ae
( ~
)
N i ∇ 2T + f ( x, y ) dA = 0 , i =1, 2, m

∫∫Ae
( ~
)
N i ∇ 2T dA = − ∫∫ N i f ( x, y ) dA
Ae

Para se obter a forma fraca, aplica-se o Teorema de Green (integração por partes vetorial):

∫∫ u∇ v dS = ∫ u (∇v )⋅ n d" − ∫∫ (∇u ) ⋅ (∇v )dS


2 & T
S C S

Então
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∫∫Ae
~ 2 ~ &
Ce
( )
N i ∇ T dA = ∫ N i ∇T ⋅ n d" − ∫∫ (∇N i ) ⋅ ∇T dA
T ~
Ae
( )
O primeiro termo do lado direito corresponde a uma integral de linha sobre o contorno de cada
elemento, sendo que:
~
( )
~ & ∂T
∇T ⋅ n =
∂n

b j  &
~ 3
(∇T~ )⋅ n& = ∑ (∇N )⋅ n&T
3 3
1
T = ∑ N jT j ⇒ j j = ∑T j c  ⋅ n
j =1 j =1 2 Ae j =1  j

Esse termo fornece a condição de contorno natural do problema (condição de Neumann, ou derivada
normal).

Do segundo termo resultará a matriz de rigidez (“stiffness matrix”) do elemento, que para elementos
triangulares de primeira ordem possui solução analítica, como segue:

Ni =
1
[ai + bi x + ci y ],
2 Ae

a1 = x 2 y 3 − x3 y 2 , b1 = y 2 − y3 , c1 = x3 − x 2
a 2 = x3 y1 − x1 y3 , b2 = y 3 − y1 , c 2 = x1 − x3
a 3 = x1 y 2 − x 2 y1 , b3 = y1 − y 2 , c3 = x 2 − x1

1 bi  ~ 3 ~ 3 1 3
b j 
∇N i = T = ∑ N jT j ⇒ ∇T = ∑ ∇N j T j = ∑T c 
2 Ae ci 
, j
j =1 j =1 2 Ae j =1  j

 1  3 b j    1  b1  b3  


∫∫A (∇N i ) ⋅ (∇T )dA = ∫∫A 
 b2 
T ~
[bi ci ]⋅  ∑ T j   dA = ∫∫  2 [bi
 j =1 c j 
ci ]⋅  T1   + T2   + T3   dA
 e c3  
2
e e
 4 Ae    
Ae 4 A
 c1  c 2 

O termo dentro do integrando não depende de x e y, podendo ser colocado para fora da integral, e
∫∫ dA = Ae . Portanto a expressão acima fica:
Ae

 b1  b2  b3  


1
[bi ci ]⋅  T1   + T2   + T3    =
1
[T1 (bi b1 + ci c1 ) + T2 (bi b2 + ci c2 ) + T3 (bi b3 + ci c3 )].
4 Ae    c1  
c 2  
c 3 4 A e

Para cada elemento triangular, i = 1, 2, 3, e tem-se três equações, como segue:

 1
 [T1 (b1b1 + c1c1 ) + T2 (b1b2 + c1c2 ) + T3 (b1b3 + c1c3 )]
 4 Ae
 1
 [T1 (b2 b1 + c2 c1 ) + T2 (b2 b2 + c2 c2 ) + T3 (b2 b3 + c2 c3 )]
 4 Ae
 1
 [T1 (b3b1 + c3 c1 ) + T2 (b3b2 + c3 c2 ) + T3 (b3b3 + c3 c3 )]
 4 Ae
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que escritas em forma matricial ficam:

b1b1 + c1c1 b1b2 + c1c 2 b1b3 + c1c3  T1 


1 
b2 b2 + c 2 c 2 b2 b3 + c 2 c 3  ⋅ T2  , sendo 1, 2 e 3 os vértices de cada triângulo da malha
4 Ae 
 sim. b3 b3 + c3 c3  T3 
de elementos finitos.

O vetor de carregamento dado por:

∫∫ Ae
f ( x, y ) N i dA ,

admitindo que f(x,y) é constante dentro de cada elemento e vale f, fica:

∫∫Ae f ( x, y ) N i dA = f ∫∫Ae N i dA = 2 Ae ∫∫Ae (ai + bi x + ci y )dA = 2 Ae ∫∫Ae ai dA + ∫∫Ae bi xdA + ∫∫Ae ci ydA =
f f

=
f
2 Ae
[ f
] [
ai Ae + bi X Ge Ae + ciYGe Ae = ai + bi X Ge + ciYGe
2
]
onde:
x + x + x3 y + y 2 + y3
X Ge = 1 2 ;YGe = 1
3 3
Substituindo na equação acima e após alguma álgebra, temos que:
1
fAe  
∫∫Ae f ( x, y ) N i i=1,2,3 dA = 3 1 .
1
ou seja, o carregamento uniforme é distribuído eqüitativamente pelos nós do elemento no caso do
elemento triangular.

Somando-se o termo de contorno, que dá as condições de contorno naturais do problema, chega-se a:

1
fAe    1 3
b j  & 
1 N i

3   ∫Ce  2 Ae
+ ∑ T c j  ⋅ n  ⋅ d" (37)
1 j =1  j 

Como a normal n aponta sempre para fora do elemento, para elementos internos ao domínio,
com suas arestas não pertencendo ao contorno externo, ou seja, na interface entre dois elementos, o
segundo termo acima se anula. Ele permanecerá apenas nas arestas que estão sobre o contorno externo
do domínio. Se o contorno externo C do domínio é isolado termicamente do meio externo, ou seja, não
há troca de calor com o exterior, então a integral acima é nula, e sobra apenas o primeiro termo.
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MONTAGEM DA MATRIZ GLOBAL


A montagem da matriz global é realizada de forma expedita a partir das matrizes de cada
elemento finito, de maneira análoga ao caso unidimensional.
Para cada um dos elementos associamos duas numerações para seus vértices: uma global,
resultante da numeração seqüencial de todos os vértices do domínio, e outra local, de 1 a 3, seguindo o
sentido horário, como mostrado na figura abaixo.

y
2
s

r 1
t

Duas matrizes serão construídas: a matriz de rigidez e o vetor de carregamento locais do


elemento, como descrito no item anterior. A matriz do elemento é transportada para a matriz global de
dimensão m×m (sendo m o número total de nós do domínio) seguindo a relação de correspondência
entre as numerações local e global, isto é, o elemento (1,1) da matriz local é somado ao elemento (r,r)
da matriz global; o elemento (1,2) é somado ao elemento (r,s), e assim sucessivamente. A matriz
resultante, assim como a matriz local, resulta simétrica. O exemplo a seguir ilustra esse processo.

1 3 5

2 4

1 3

2 4 6

Numeração local 1 2 3
Elemento 1 1 2 4
Elemento 2 1 4 3
Elemento 3 3 4 6
Elemento 4 3 6 5
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A figura a seguir mostra as configurações da matriz global e do vetor de carregamento para o


problema acima.
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INTRODUÇÃO DAS CONDIÇÕES DE CONTORNO DE DIRICHLET


Após a montagem do sistema global de equações algébricas torna-se necessária a imposição das
condições de contorno no problema do tipo Dirichlet, ou seja, valores conhecidos de T em alguma
porção do contorno do domínio, o que não foi realizado até então.

Para impormos tal condição devemos efetuar algumas alterações no sistema original de modo
que, após a solução desse sistema, resulte nos vértices de triângulos situados nas fronteiras o valor de T
imposto.

Seja p um nó cujo valor de T é conhecido e vale T . Para que após a solução do sistema
tenhamos Tp = T basta fazermos na matriz global e no vetor de ações as seguintes alterações. Sendo Kij
um termo genérico da matriz de rigidez e Fj um termo genérico do vetor de carregamento, faz-se:

Kpp = 1, Kpj = 0 e Fp = T , para j ≠ p

O procedimento anterior elimina a simetria da matriz global, o que não é interessante do ponto
de vista da solução do sistema. Para se recuperar a simetria basta fazer:

Fjnovo = Fjantigo − Kjp .T ,


Kjp = 0, para j ≠ p

Como exemplo, suponhamos que o nó 4 do exemplo anterior tenha um valor de T conhecido


igual a T . O sistema de equações após a introdução das condições de contorno será ( Φ = T no
esquema):

T1
T2
T3
T4 T
T5
T6

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