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História digital e jornalismo on-line

por H. Guther Faggion

I - Introdução

Quando falamos sobre Internet, a Rede Mundial de Computadores,


rapidamente pensamos no que há de mais novo em termos de ciência, arte e tecnologia. Fonte
quase inesgotável de conhecimento e pesquisa, a Internet, como a conhecemos hoje,
experimenta uma expansão caracterizada por sua alta velocidade, de maneira desordenada e, até
onde se sabe, anárquica, o que difere este meio de comunicação de todos os outros que já
conhecemos.

Embora a Internet não seja especificamente o objeto de estudo a ser


desenvolvido neste trabalho, trataremos aqui de boa parte da sua história e filosofia. A existência
desse “novo” meio de comunicação implicou e implicará uma série de mudanças no cotidiano
dos seres humanos ao redor do mundo. Qual será a diferença dos nossos dias com o advento de
novas tecnologias, como, por exemplo, o personal computer (computador pessoal), que atualmente
pode ser encontrado em qualquer escritório, em todas as universidades e repartições públicas, em
muitas casas e escolas, no supermercado e na vitrine de inúmeras lojas a preços muito acessíveis
e com facilidades garantidas? Abordaremos aqui a revolução ocasionada pelas máquinas, os
computadores pessoais, na vida diária das pessoas, pois a Internet só se tornou possível graças a
esta invenção patrocinada pelo governo dos Estados Unidos da América e que surgiu do
idealismo de visionários como os engenheiros eletrônicos Engelbert e J. C. R. Licklider
(RHEINGOLD, Howard; Comunidade Virtual, Lisboa: 1996) que se empenharam, na metade
do século XX, em desenvolver um computador capaz de trabalhar por interação de símbolos.

Hoje, os computadores pessoais, assim como os conhecemos, estão


reduzidos a pequenos chips eletrônicos e chegam a pesar menos de dois quilogramas, nas suas
versões portáteis, como os notebooks, por exemplo, capazes de armazenar uma quantidade de dados
surpreendente. Quais são as transformações que estas máquinas causarão daqui para frente em
nossas vidas? Assim como a televisão nos anos 50, ou mesmo o rádio nos anos 30, que
possibilitaram a existência da mídia eletrônica, os computadores são responsáveis por uma
mudança de hábitos e conceitos quando passamos de uma cultura do cálculo na direção de uma
cultura da simulação (Turkle, Sherry: Life On The Screen: The Identity Of The Internet. EUA:
1995).

Se o mundo está sendo culturalmente afetado, quais serão as conseqüências


dessa revolução tecno-sociológica, não apenas das máquinas, mas também da vida e do
pensamento humanos? Como aderir a estas mudanças sem sermos engolidos por ela de forma
voraz e, até mesmo, automaticamente inconsciente? Entender os mecanismos da Internet é
imprescindível para juntarmo-nos a ela de uma maneira consciente, e não apenas levados pelos
modismos e manias, ou uma sensação horrível de desatualização ou alienação.

O que antes parecia apenas mais uma ilusão de um mundo criada pela ficção
científica, é a realidade que podemos vivenciar, mas que não vivemos completamente. O Brasil,
como em todos os lugares do mundo, tem vivido a sua porção da história da Rede Mundial de
Computadores, apesar de nossa realidade socioeconômica não ser tão favorável quanto nos
países desenvolvidos. No entanto, como a tecnologia da informática sofre uma evolução diária e
seu grande poder de atualização torna os preços acessíveis a uma camada cada vez maior da
população, sem contar o desenvolvimento da telefonia e a queda no custo pelos seus serviços —
mais acessíveis, mas por enquanto muito distante de um preço ideal. Abrigamos aqui uma série
de mentes brilhantes no desenvolvimento da Internet e um outro tanto de publicações
especializadas e preocupadas com tal desenvolvimento, que só é possível graças a uma outra
característica marcante da Rede, a amplitude planetária e — o mais importante — simultânea.

Deste ponto, daremos um salto interessante dentro da pesquisa: o


desenvolvimento e a revolução na informação causados pela Internet. Será este o fim do
jornalismo, quando, a partir da Internet, qualquer pessoa pode se tornar um profissional — ou
pelo menos pretendente — da informação, que são os jornalistas? (SHENK, David; Data Smog,
EUA:1997) Quais serão os parâmetros para definirmos o que é ou não o verdadeiro jornalismo
na Internet? Não existe nenhuma maneira de controle sobre esta revolução da informação, aliás
este era o propósito inicial da Rede; sendo assim, analisaremos uma forma adequada e
competente de se fazer um jornalismo online diferenciado do entretenimento ou de uma mera
reprodução do que já existe.

A Internet é, como já dissemos, uma nova mídia e, conseqüentemente, um


novo mercado a ser explorado por outros veículos de comunicação. Quem tem acesso à
Internet, pode ver justamente a expansão, por meio de uma nova formatação de outros produtos
jornalísticos, como um dos principais funcionamentos da Internet. Embora a maior parte dos
conteúdos da Internet — entenda-se aqui conteúdo como o número de websites existentes na Rede
— foram desenvolvidos originalmente para estarem no ciberespaço, podemos ver ou acessar sites
que têm origem “pré-Internet”, ou seja, já existiam como um produto jornalístico e expandiram
suas fronteiras para a Internet, através de uma nova formatação apropriada para o veículo.
Podemos citar alguns casos aqui para ilustrar esse processo. A revista “Veja” e a “Isto É”, ambas
contam com uma versão publicada na Internet, versão esta denominada on-line. Da mesma
forma, o rádio também está na Rede por meio de sites como o da “Jovem Pan” e a televisão com
os sites das emissoras e canais de televisão a cabo: Rede Globo, Record, SBT, MTV, entre outros.

A Internet, este incrível e apaixonante meio de comunicação, tem causado


duas revoluções: a primeira é no âmbito mundial pelo seu potencial de gerar, transportar, sugerir
e disseminar a informação, numa atmosfera democrática e distante da manipulação dos outros
veículos de comunicação de massa; e a segunda revolução da Internet ocorre do ponto de vista
pessoal, transformando a relação homem x máquina, de uma guerra de capacidade de
produtividade e inteligência em uma interatividade quase humana e quase máquina.

Assim, o objetivo deste projeto irá além da proposta de uma nova


formatação para um veículo de comunicação já existente, mas como penetrarmos nesse mundo
virtual de uma forma pensada por essas duas revoluções do nosso tempo, tendo a consciência do
poder da informação e da importância da interatividade. Na primeira parte, realizaremos a
fundamentação teórica sobre Internet e, em seguida, na segunda parte, trataremos do jornalismo
on-line.
II - A Internet

2.1. Introdução

Vivemos hoje, dias em que a ficção passou a ser uma realidade. Por outro
lado, no Brasil, ainda encontramos uma grande parte da população que acredita que o
computador (uma ferramenta útil e prática que conduz a humanidade à Revolução Tecnológica
ou Digital) seja apenas uma máquina de escrever moderna. É justamente neste ponto que
precisamos parar e começar a analisar o processo de evolução da mídia na Internet. Seu
surgimento — se é que podemos dizer assim — tem no computador o embrião tecnológico
responsável pelo nascimento da Rede Mundial de Computadores. Sendo assim, resgatemos um
pouco da história da informática e do computador pessoal, os PC’s, que hoje estão presentes na
vida diária. Será difícil encontrar alguma pessoa em uma cidade de médio a grande porte que
tenha passado pelo menos um dia sem ter qualquer tipo de contato com um computador, exceto
aquelas milhares de pessoas que trabalham praticamente o dia todo diante de um computador.

2.2. Os PC's ou Personal Computers

Essas engenhocas, muitas vezes tão fabulosas, nem sempre foram pequenas
ou rápidas dessa maneira. Esta afirmativa parece um tanto óbvia, mas pode não ser. Por ser uma
máquina que praticamente invadiu o cotidiano do homem comum, os computadores tornaram-
se um artigo de primeira necessidade. Começando pelas grandes corporações até as salas ou
quartos das casas de classe média, este habitante, que outrora parecia tão incomum, tornou-se
quase um membro da família, ou, em casos mais extremos, um cônjuge ou até um amante. As
pessoas passaram a relacionar-se com os seus computadores, só que, é claro, de uma forma
intelectual, devido à possibilidade de interação que existe com os softwares cada vez mais
modernos e surpreendentes e, portanto, cada vez mais vivos.

Tudo o que foi citado acima a respeito dos computadores pessoais, carrega
consigo uma dúvida: quando essa revolução dos computadores começou? Respondendo a esta
pergunta, será possível remontar a história da Internet de uma forma menos cronológica, mais
sociológica e filosófica, dentro do possível, mas acima de tudo, mais interativa.

A idéia do computador, não como máquina, mas como conceito, surgiu,


provavelmente, pela primeira vez em 1950, no idealismo de Douglas Engelbart, um engenheiro
eletrônico norte-americano que havia sido operador de radar durante a Segunda Guerra Mundial.
Segue o relato de Howard RHEINGOLD (1996:87):

“....enquanto guiava o automóvel para se dirigir para o emprego,


Douglas Engelbart começou a matutar em quão complicada a
civilização se tinha tornado. Que fariam esses seres humanos para
gerirem este complexo mundo novo que a tecnologia ajudou a
criar? Engelbart perguntou a si próprio que tipo de ferramentas
utilizamos para nos ajudarem a pensar. “Símbolos” foi a resposta
— aquela que lhe foi ensinada durante a sua formação como
engenheiro. Será que poderíamos usar máquinas para nos
ajudarem a lidar com símbolos? Por que não computadores?
Poderiam os computadores automatizar as tarefas de operação
com símbolos e, assim, ajudar os indivíduos a pensar mais
depressa e melhor sobre os problemas mais complexos? Para a
pessoa certa a linha de raciocínio era inevitável, mesmo em 1950;
nunca deixe de constituir motivo de espanto para Engelbart o fato
de mais ninguém o constatar.”

Engelbart, com a experiência que possuía com radares, e após ouvir falar
sobre computadores, compreendeu que essas máquinas seriam capazes de muito mais do que
condensar a informação em cartões perfurados ou em impressões no papel, elas também
poderiam fazê-lo escrevendo ou desenhando numa tela. “Quando vislumbrei a ligação entre um
écran de raios catódicos, um processador de informação e um meio de representar símbolos
humanos, tudo se encaixou em não mais de meia hora” (RHEINGOLD:87-88).

O computador, ou a sua concepção, entra no novo milênio completando


meio século de existência, após a empreitada de Engelbart, que naquela época, convivia com
menos de uma dúzia de computadores eletrônicos, que tinham dimensões tais e geravam tanto
calor que ocupavam armazéns inteiros e precisavam de um enorme sistema de ar condicionado.
Hoje estas máquinas já recebem a denominação de microcomputadores, e concentram uma
infinidade de utilidades em espaços cada vez menores e são incalculavelmente, mais rápidos. Os
notebooks, por exemplo, são os mesmos personal computers tão compactos que chegam a pesar
menos de 1 Kg.

Essa realidade tecnológica veio para exercer uma influência tal na vida das
pessoas a ponto de hoje o computador não apenas ser o responsável pela solução de problemas
mais complexos, mas também um dos responsáveis por uma nova cultura sobre a qual escreve
Sherry TURKLE (1995:10) em seu livro “Life on the screen: The Identity in the Age of the
Internet” (A Vida na Tela: A Identidade na Era da Internet):

“Este livro descreve como uma nascente cultura da simulação está


afetando nossas idéias sobre a mente, o corpo, o ego e a máquina.
Nós encontraremos sexo virtual e casamento ciberespacial,
psicólogos eletrônicos, insetos eletrônicos, e pesquisadores que
estão tentando construir uma inteligência artificial de uma criança
de dois anos de idade. Crianças biológicas, também, estão nesta
história porque sua diversão com brinquedos eletrônicos as levam
especular se os computadores são inteligentes e o que realmente é
estar vivo.”

A pretensão até aqui não é contar a história da informática ou do


computador pessoal, mas traçar uma linha de conexão entre o passado mais remoto e o presente
intrigante e veloz no qual vivemos, o da Internet. Por enquanto, para termos acesso à Internet,
precisamos de um computador equipado com um modem — que converte a informação da
linguagem do computador para sinais elétricos que percorrem os fios telefônicos; no outro
extremo da linha; outro modem decodifica os sinais, convertendo-os em bits e bytes*(2) novamente
legíveis pelo computador — e uma linha telefônica, o que em breve será superado pelas novas
tecnologias dos telefones celulares, televisores, microondas, aparelhos de fax etc., embora os
computadores não possam ser substituídos tão facilmente.

2.3. Histórico da Internet

A história da Internet começa por volta das década de 60 e 70, quando o


mundo todo acompanhando, com respiração suspensa, o lento desenrolar da guerra fria entre
EUA e a até então, União Soviética: uma guerra de forças que tinha o mundo e a humanidade
como reféns. Esta guerra de superpotências, foi marcada por freqüentes ameaças mútuas de
hecatombe nuclear, jogadas políticas de risco, e rosnar de dentes em cada encontro da cúpula.
Logo, o jogo passou a ser sobreviver e retaliar, se necessário fosse, supondo obviamente que,
dada a perspectiva clara de empate, ninguém atacaria o outro, para não ser retaliado e igualmente
devastado.

Como assegurar comando, controle e comunicação entre inúmeras bases e


silos distribuídos pelo país, em um cenário onde o próprio quartel-general poderia virar fumaça,
as rotas normais de comunicação destruídas etc.?

Tecnicamente, a Internet foi criada pela Defense Advanced Research Projects


Administration ou DARPA (Administração de Projetos de Pesquisa Avançados de Defesa) com o
objetivo de estabelecer um modo para que computadores distantes pudessem transferir
informações e dados e tornar essa comunicação de dados o mais robusta e confiável possível,
conforme descreve Rick STOUT (1997):

“O DARPA queria criar uma rede que fosse suficientemente inteligente para
se recuperar sozinha de problemas como falta de energia, interrupções em
linhas de comunicação — e até de ataque nuclear. O DARPA chamou a
sua Rede de Darpanet.

Depois de um certo tempo o Governo desistiu da idéia de que sua rede era útil
apenas para projetos relacionados à defesa, e ela se tornou conhecida como
Arpanet. Nesse tempo, o governo começou a conectar muitas universidades do
país à Rede. A seguir, gerações de alunos estudaram , usaram e melhoraram o
que hoje é a Internet.

Há apenas sete, a Internet era relativamente desconhecida fora das


comunidades científicas e acadêmicas. Após duas décadas de desenvolvimentos
e melhoramentos, a Internet já estava pronta para se tornar a grande onda do
futuro.”

A partir desse momento, muitos de nós começamos a resgatar em nossas


memórias, lembranças sobre o passado próximo da Internet. Com uma cara nova, menos
“intelectualóide”, a Internet atraiu as pessoas em grande quantidade, por causa da possibilidade
de estar conectada ao mundo inteiro. Trocas de mensagens pelo correio eletrônico, participação
em listas de discussões, conversar com pessoas de diversos países simultaneamente, trocar
programas e dados facilmente eram, e são até hoje, alguns dos motivos para usar os recursos de
transferência da Internet.

Tecnicamente, a Internet não é uma rede de computadores — ela é uma


rede de redes. Redes locais do mundo todo estão ligadas por fios, linhas telefônicas, cabos de
fibra ótica, enlaces de microondas e satélites em órbita. Mas os detalhes de como os dados vão
de um computador para o outro na Internet, são invisíveis para o usuário. Ou como define
Rheingold: “A Rede é o termo informal que designa as redes de computadores interligadas,
empregando a tecnologia de CMC (Comunicação Mediada por Computador) para associar as
pessoas de todo o mundo na forma de debates públicos”. (RHEINGOLD:1997).

Embora a Internet tenha começado como um projeto de pesquisa do


governo norte-americano e tenha sido financiada por impostos durante anos, o governo dos
E.U.A não está mais envolvido nela. Mesmo sendo um dos maiores usuários da Internet, não
financia mais novos desenvolvimentos nem sustenta nenhum dos custos associados à
manutenção da Rede. A Internet é completamente auto-suficiente. Então, podemos perguntar,
de quem ela é, ou quem paga por ela? Não há uma pessoa ou empresa que possua a Internet.
Afinal, os únicos bens a possuir são os fios e enlaces de comunicação que transportam bits e bytes
de uma rede para outra. Essas linhas pertencem a alguém; só que não é uma única empresa ou
indivíduo, mas muitos. Pelo menos esse sempre foi o propósito da Internet, ser um bem
pertencente à humanidade, e que não possa ser controlada por um governo, um indivíduo, uma
corporação. Ben Bagdikian (RHEINGOLD:28) em sua previsão em The Media Monopoly (O
Monopólio da Mídia), diz que na virada do século “cinco a dez gigantes empresariais controlarão a maior
parte dos jornais, revistas, livros, estações de rádio e TV, filmes, discos e videocassetes mais importantes do
planeta”. É o que, com a virada de século, podemos constatar, quando estes novos senhores da
mídia têm o poder de controlar as informações que chegam à maior parte da população,
divulgando principalmente aquilo que é de seu interesse. Ideologicamente, a Internet nasce com
esse objetivo de combater o monopólio da mídia construindo, para isso, uma rede de
informações suficientemente grande, com dimensões planetárias, e anárquica para estar fora de
um possível controle. O que se verifica é o ressurgimento de uma esperança num outro modelo
de sociedade, numa democracia eletrônica (CAMARGO, Nelly de & BECKER, Brasília: 1999).

Com esta nova possibilidade social, as diferenças sociais, raciais e religiosas


não são tão aparentes e a Internet cresce a passos largos; CAMARGO & BECKER escrevem:

“É impossível falar atualmente em Internet sem usar as palavras milhões e


bilhões, de usuários, de sites, de home pages, de horas de uso por mês, de hits
(imagens e textos transferidos) etc. O sinal ‘US$’ pode anteceder, no entanto,
números na ordem de centenas de bilhões: de vendas online, de receitas
corporativas mundiais, de investimento na implantação de imensos shoppings
virtuais, de capital de risco investido, de contratação de franquias virtuais ou
de pagamentos em acordos de fusão de empresas do setor.”

2.4. A World Wide Web


Além da história da Rede Mundial de Computadores, é necessário, aqui,
esclarecer também o que é a World Wide Web (Grande Teia Mundial) que, muitas vezes,
confunde-se com a própria Internet, que por todo o seu assombro tecnológico, teve por muitos
anos, a reputação de ser difícil de aprender, difícil de usar e, simplesmente, pouco atraente,
comparada às belas interfaces dos BBS’s, serviços on-line*(5) e a maioria dos softwares que as pessoas
usam em microcomputadores. Mas a World Wide Web mudou tudo isso. A Web tornou-se
rapidamente a interface gráfica de usuário na Internet, e continua sem rival mesmo em relação aos
serviços on-line norte-americanos, em termos estéticos e de flexibilidade.

Para ter acesso à Web, o futuro usuário usa o browser Web*(6), programas
simples capazes de recuperar “páginas” de textos e imagens de outros computadores da
Internet. Incorporados a essas páginas estão os símbolos, chamados links (vínculos), que dizem
ao seu browser onde encontrar outras páginas relacionadas na Internet. O browser apresenta os
links*(7) de forma diferente do texto vizinho. Quando damos um clique em um link, ele
“carrega” outra página de textos e desenhos. A isso se chama “seguir um link”, e o conceito de
seguir links em páginas relacionadas de informação é chamado de “hipertexto”.

Parte do enorme sucesso da Web, deve-se ao fato de ela ser fácil de usar:
basta dar um clique com o botão do mouse, totalmente intuitivo. Outro segredo da mágica da
Web é a sua simplicidade. As “páginas” da Web são apenas arquivos residentes nas centenas de
milhares de computadores conectados à Internet. Para “servir” as páginas quando elas são
solicitadas por um browser, basta que o computador tenha um programa simples, chamado
servidor Web, essas páginas estarão armazenadas nos chamados provedores, que possivelmente
são também provedores de acesso à Internet. O servidor Web fica esperando e “ouve” os
pedidos dos browsers Web. Quando chega um “pedido”, ele encontra o arquivo solicitado e envia-
o para o browser.

É claro que isso não é tão aleatório quanto pode parecer nesse ponto. Uma
empresa ou organização que queira receber visitantes em seu site define uma página especial,
chamada de home page (ou página de apresentação). A home page é o “tapete de visitas” eletrônico
de uma empresa ou de uma pessoa. Ela informa aos visitantes qual é a organização e o que ela
faz e pode oferecer links para outras páginas relacionadas. Por exemplo, a home page de uma
empresa pode apresentar seu nome e seu logotipo, e oferecer links para outras páginas de seu
computador, com informações sobre produtos, empregados, clientes da empresa etc. Como as
empresas querem mostrar o melhor, elas produzem cuidadosamente seus sites, para serem
atraentes e oferecem informações úteis a possíveis clientes e ao público em geral.

No entanto, a Web não serve apenas para o comércio e, sendo assim, muitas
páginas são dedicadas ao divertimento e outras são completamente fúteis. Porém não podemos
esquecer a concepção da Web do ponto de vista tecnológico e educacional, uma vez que o
embrião da Internet, e conseqüentemente da Web, está completamente ligado à comunidade
acadêmica, sendo que muitas instituições educacionais, governamentais e não-governamentais
dentre outras, também têm a sua presença marcada na World Wide Web. De modo geral, no
entanto, as empresas e organizações levam suas páginas na Web (e seu site como um todo) muito
a sério.

Praticamente, todas as empresas de tecnologia (especialmente as empresas


de hardware e software de computador) reconheceram isso há algum tempo, e a maioria já marcou
presença na Rede. Essas empresas logo perceberam as vantagens de usar a Internet ( e a Web ) e
agora elas fornecem serviços valiosos e sérios por meio de seus websites. Por exemplo, muitas
empresas de software e hardware oferecem suporte técnico em seus sites. Há alguns anos, todos
achavam que os BBSs e a tecnologia de faxback seriam a próxima onda. (Com faxback, a pessoa
disca um número de telefone e navega em um menu automatizado de seleções, para receber de
volta um documento de um fax computadorizado, que explica como fazer algo). O faxback ainda
existe, mas perdeu completamente seu espaço para a Web. É muito mais fácil navegar na interface
visual de um website do que responder a uma voz gerada por computador.

Além disso, muitas empresas de tecnologia colocam seus catálogos de


produtos inteiros on-line. Seguindo “menus de links” de hipertexto, você pode procurar produtos
de seu interesse e, em muitos casos, até solicitá-los on-line. Os clientes, em geral, podem obter
especificações, conhecer produtos previamente requisitados, e até ver como são os produtos de
uma empresa antes de adquiri-los. Para os clientes que já adquiriram produtos, muitas empresas
oferecem atualizações de software gratuitas e novos utilitários e controladores on-line.

De dois anos para cá, mesmo as empresas que nada têm a ver com a
tecnologia de computador, estão correndo para ocupar o seu espaço na Rede. Floristas, lojas de
autopeças, artistas gráficos, consultores, serralheiros, negócios agrícolas, bancos, financeira etc.
— todos estão na Web. Algumas estabeleceram sua presença para melhor servir seus clientes
atuais. Algumas estão na Web para promover seu negócio e vender seus produtos. Outras ainda,
simplesmente oferecem informações e recursos para o público em geral. Existem, também,
aquelas que colocaram na Web uma nova formatação de seu negócio, sem saber exatamente por
que, seguindo apenas uma moda. Mas os novos parâmetros da Web estão mudando esta
situação. O baixo custo de se ter um site Web e as novas tecnologias de segurança desenvolvidas
pelas administradoras de cartões de crédito passam a influir cada vez mais no consumo via
Internet, que pode ser mais barato e até mais rápido.

2.5. A Internet e as mudanças sociais

Para pensarmos sobre a revolução causada pela Internet de uma forma mais
completa, não podemos nos limitar à história ou a números da Rede. Existe uma transformação
sociocultural muito grande e muito presente na vida, até mesmo daqueles que ainda não estão
efetivamente conectados à Rede. Essas mudanças podem estar implícitas. Essa impressão, por
exemplo, de estarmos sempre atrasados ou desinformados, numa busca incessante por um
conhecimento que, por mais inteligentes ou capacitados que sejamos, nunca conseguiremos dar
conta, é uma característica da sociedade no século que se inicia.

Para Pierre Lévy, um dos mais importantes pensadores do mundo


cibernético, o “internauta” está construindo um mundo novo, uma verdadeira comunidade
virtual e global, que está apenas começando a formar sua linguagem, com signos e códigos
particulares e, enfim, uma nova cultura, a Cibercultura (LÉVY, Pierre. Cibercultura. Editora 34, São
Paulo: 1999). “Ciberespaço” e “cultura digital” são termos que quem quiser ter acesso à Internet
deve — ou pelo menos deveria — entender. O termo “ciberespaço” surgiu originalmente pela
primeira vez na novela de ficção científica Neuromancer (Neuromante), de William Gibson. É o
nome por vezes usado para designar o espaço conceptual onde se manifestam palavras, relações
humanas, dados, riqueza e poder dos usuários da tecnologia de Comunicações Mediadas por
Computador (RHEINGOLD: 1996).
Todos os dias surgem novos termos dentro dessa cultura do “ciberespaço”
e, vinculados à cultura global, uma infinidade deles que, para serem citados aqui, precisariam de
um estudo a parte. O que nos vale analisar dentro da “cibercultura” é a relação entre homem e
máquina, levando a uma interatividade planetária que tem dado outro sentido à existência
humana, ou até mesmo mudando conceitos do que é estar realmente vivo, como Sherry
TURKLE e outros cientistas têm discutido ao longo desses anos. É impossível fugir dessa
discussão para entendermos o potencial da informação e seu verdadeiro alcance nos dias de
hoje. Ou se possível, tentando ser menos pretensiosos, traçar um perfil das mudanças
socioculturais, de que apenas começamos a falar acima, afetando o usuário, o receptor e ao
mesmo tempo, emissor desta enxurrada de informações.

Segundo Howard Rheingold (RHEINGOLD, Comunidade Virtual, 1995),


“as CMC têm potencial para mudar as nossas vidas em três níveis distintos, mas fortemente
interdependentes”.

“Primeiramente como seres humanos individuais que somos, temos percepções,


pensamentos e personalidades (já moldados por anteriores tecnologias de
comunicação) que são afetados pelo modo como usamos o meio de comunicação,
e vice-versa. A este nível fundamental, as CMC apelam a certas necessidades
intelectuais , materiais e emocionais que sentimos enquanto organismos vivos
que somos. No que diz respeito à comunicação, os jovens de hoje têm
tendências diferentes relativamente à geração pré-McLuhan. Por exemplo, a
MTV professa uma sensibilidade estética intimamente relacionada com a
linguagem da televisão, caracterizada por seqüências rápidas, imagens
atraentes e efeitos especiais. Neste momento, alguns dos indivíduos que
nasceram na era da televisão e cresceram na dos telefones celulares estão a
migrar para os territórios da CMC que melhor se ajustam às suas concepções
modernas de vida. Como resultado de milhões e milhões de interações online,
existe igualmente um vocabulário próprio das CMC, o qual reflete de certo
modo as alterações da personalidade humana na era da saturação dos media.

O segundo nível de possíveis alterações despelotadas pelas CMC é o nível a


que se desenvolvem as relações interpessoais, as amizades e as comunidades. A
tecnologia de CMC confere uma nova capacidade de comunicação multilateral,
‘de muitos para muitos’. No entanto, a concretização futura desta capacidade
está nas nossas mãos porque somo os primeiros a experimentá-la; o seu futuro
depende do nosso sucesso em aplicá-la. Aqueles de nós que travaram
conhecimento por intermédio da tecnologia de CMC encontram-se diante de
um desafio de construírem em conjunto algo semelhante a uma comunidade.

O terceiro nível da alteração das nossas vidas, o nível político, deriva do nível
médio, o social, pois a política é sempre uma combinação de comunicação com
poder material, e o papel dos meios de comunicação é particularmente
importante para a política nas sociedades democráticas. O conceito da
moderna democracia representativa, como primordialmente concebido pelos
filósofos do Iluminismo, incorporava o reconhecimento de uma teia viva de
comunicação entre os cidadãos denominada sociedade civil ou esfera pública.
Embora as eleições sejam as característica fundamentais mais visíveis nas
sociedades democráticas, supõe-se que as eleições se apoiaram na discussão
entre os cidadãos, em todos os níveis da sociedade, sobre as questões
importantes para a nação.”

Possivelmente, as nossas vidas, como seres humanos individuais, nunca


estiveram tão individualizadas como nos dias da Internet. As maneiras de relacionarmo-nos,
mesmo como indivíduos, tornou-se, aparentemente, mais fria graças ao computador e ao
advento de novas tecnologias. No entanto, se procurarmos pensar de um ponto de vista
diferente do tecnológico, aceitando os computadores como mais do que simples máquinas e a
tecnologia não mais como um terrível monstro, será possível enxergar nestes dois instrumentos,
que parecem um só, um veículo maior de interatividade entre os seres pensantes da Terra. A
possibilidade de relacionarmo-nos numa dimensão interplanetária pode tirar do computador o
estigma de máquina fria ou simples objeto. Se pensarmos que por trás dessas máquinas existem
outros seres humanos interagindo em outras partes distantes do mundo, veremos no
computador o veículo viabilizador de tal comunicação humana, infinitamente melhor e mais
barato do que os próprios telefones.

Ora, para ligarmos para outra pessoa em outro país, temos, como pré-
requisito, de conhecer tal pessoa; em seguida, temos que saber o número do telefone dela;
depois precisamos saber um horário conveniente para entrarmos em contato; e, por último, o
mais significante, temos de estar cientes da exorbitante quantia que teremos de pagar por essas
limitadas horas de conversa que se resumem, ainda, a apenas duas pessoas. Já graças ao
computador conectado à Internet, essa interação de relações interpessoais deixa de ser tão
restrita e cobra apenas um pré-requisito: estar sentado à frente de um computador on line. A
formação de novas comunidades, portanto, ocorre em um nível intelectual, e não mais no plano
físico da concepção de comunidade.

Feita esta análise, precisamos retomar a importância crescente da máquina


em nossas vidas, na formação de comunidades interplanetárias através do bom uso da Internet.
A influência dessa nova mídia em conferir uma capacidade de comunicação multilateral, “de
muitos para muitos”, como define Rheingold, possibilita-nos uma reflexão sobre a sociedade
que nasce neste momento de transição. A sociedade “massificada” volta a ter a oportunidade de
assumir novamente o controle do poder, que até então, estava restrito aos formadores de
opinião do mass media. Os veículos de comunicação de massa detêm o poder sobre a opinião
pública, podendo manipular as políticas atuais segundo os interesses de uma pequena elite que
detém o controle desses veículos de comunicação de massa. Agora, com a Internet (e a Web),
voltamos a vislumbrar o modelo de uma verdadeira sociedade democrática revitalizada pelos
cidadãos, desafiando, graças à CMC, o monopólio dos poderosos meios de comunicação detidos
pela hierarquia política. Essa proximidade do controle da mídia por grupos cada vez mais
restritos é aterrorizante, pois isso significa um governo baseado num totalitarismo mascarado de
democracia, um regime ditatorial que exprime sua força na capacidade de manipular os cidadãos.
A Rede surge neste momento político, portanto, com a utopia de construir uma sociedade mais
civilizada, baseada em interesses mais amplos e humanitários.

Até aqui, podemos entender a importância de se estabelecer os meios de


CMC nesta empreitada do homem na busca de uma sociedade — ironicamente, diga-se de
passagem — mais humana. Torna-se necessário, portanto, entender, mais do que a máquina,
aquele a manipula, o indivíduo ao qual nos referimos como usuário — qualquer cidadão que se
comunica por meio da Internet em um computador conectado à Rede. O internauta é qualquer
um de nós disposto a navegar pela World Wide Web, o qual busca captar e transmitir
informações. A nós, seres humanos, foi incumbida a tarefa de vivermos civilizadamente em
sociedade, formando para isso, comunidades em busca de interesses comuns. Hoje, com o
crescimento exponencial da Rede, os objetivos comunitários começam a ser formulados, também
dentro de um espaço virtual e concretizam-se através de mentes, sendo que o plano físico passa
a estar restrito à máquina. Poderíamos, então, dizer que os computadores, esses objetos
tecnológicos, ganham vida quando se tornam instrumentos da expressão de nosso intelecto?
Parece que sim, graças às condições criadas pelo “ciberespaço”.

2.6. A Internet e a teoria do hipertexto

A idéia de hipertexto foi enunciada pela primeira vez por Vannevar Bush
em 1945, em um célebre artigo intitulado “As We May Think” (Como Deveríamos Pensar). Este
matemático e físico renomado, que havia concebido, nos anos trinta, uma calculadora analógica
ultra-rápida a qual havia desempenhado um papel importante para o financiamento do Eniac - a
primeira calculadora digital – afirma que “a maior parte dos sistemas de indexação e organização de
informações em uso na comunidade científica são artificiais. Cada item é classificado apenas por uma única
rubrica, e a ordenação é puramente hierárquica (classes, subclasses, etc.)”, explica Vannevar Bush, e
continua: “Ora, a mente não funciona desta forma, mas sim através de associações”. A nossa mente está
apta a pular de uma representação para outra ao longo de uma rede intrincada, de maneira muito
mais complexa do que os computadores podem realizar ainda hoje. A evolução dos
computadores e da tecnologia multimídia acompanham este processo na sua evolução seguindo
os caminhos trilhados pelo pensamento de Bush.

No início dos anos 60, Theodore Nelson inventou o termo hipertexto para
exprimir a idéia de escrita/leitura não linear em um sistema de informática. Desde então, Nelson
persegue o sonho de uma imensa rede acessível em tempo real contendo todos os tesouros
literários do mundo, como relata Pierre LÉVY (As Tecnologias da Inteligência. Ed. 34; São
Paulo:1991):

“Tecnicamente, um hipertexto é um conjunto de nós ligados por conexões. Os


nós podem ser palavras, páginas, imagens, gráficos ou parte de gráficos,
seqüências sonoras, documentos complexos que podem eles mesmos ser
hipertexto. Os itens de informação não são ligados linearmente, como em uma
corda com nós, mas cada um deles, ou a maioria, estende suas conexões em
estrela, de modo reticular. Navegar em um hipertexto significa portanto
desenhar um percurso em uma rede que pode ser tão complicada quanto
possível. Porque cada nó pode, por sua vez, conter uma rede inteira.

“Funcionalmente, um hipertexto é um tipo de programa para a organização


de conhecimentos ou dados, a aquisição de informações e a comunicação.”
Atualmente, a Internet tem sido a concretização maior da imaginação de
Vannevar Bush e Theodore Nelson. Poderíamos dizer que o hipertexto é a representação não
linear de nosso pensamento através do computador e possibilitado pela comunicação mediada
por computadores. Os links (ou vínculos) são a consolidação do conceito de hipertexto. A
representação de nossas mentes humanas na Internet dá-se pelos links, que tornam os sites Web
cada vez mais interativos.

Nossa mente funciona por meio de relações de associação entre as várias


representações que temos armazenadas, nosso repertório. Ora, as páginas na Internet têm um
funcionamento semelhante, embora a memória ou repertório dela seja infinitamente mais vasto
e intenso. Quando acessamos a uma página na World Wide Web sobre algum assunto que nos
interessa, vagamos aleatoriamente pela Rede, e somos levados não mais por um raciocínio lógico,
mas navegamos de forma intuitiva e os links, por sua vez, funcionam como uma espécie de onda
que nos leva de um lado para o outro.

Pierre Lévy (1999) classifica a navegação na Web de duas maneiras. A


primeira forma de se navegar é o que ele chama de caçada. Quando temos o objetivo de
encontrar algo específico na Rede, uma pessoa, um artigo, um livro, um CD etc. Para esta
pesquisa, por exemplo, foram acessados sites específicos. Geralmente, o ponto de partida para
este tipo de navegação é algum desses sites de busca: Yahoo!, Altavista, Cadê? etc. Nestes
“buscadores,” digitamos nome ou assunto que procuramos. Em segundos, uma lista de
URLs*(8) estarão em nossa tela, com um pequeno resumo do que cada site contém. Daí basta
ter paciência para procurar em cada um dos endereços relacionados, aquilo que procuramos.

A segunda maneira classificada por Lévy é a pilhagem. Este modo de


navegação pela Web não tem inicialmente, nenhum objetivo claro ou específico. O internauta
deixa-se levar completamente por sua vontade, de maneira intuitiva e interativa. Por exemplo,
quando acessamos um site de música. Lá encontramos o título do último CD lançado por um de
nossos cantores prediletos. Após lermos um pequeno texto sobre o artista, no final encontramos
um link (que pode ser uma palavra ou uma URL grifada). Então pressionamos o botão do mouse
e vamos parar no website do cantor. Lá temos a história completa do artista, toda a sua
discografia, bibliografia, planos etc. Temos ainda a possibilidade de falar com ele através do
correio eletrônico. Após colhermos dados sobre o cantor, entramos em uma seção do seu site
que traz uma lista dos seus links preferidos. Nesta seção, encontramos um endereço que há
muito já conhecemos. Clicamos ali e, em alguns segundos, o novo site abre-se. Sucessivamente,
vamos navegando até nos perdermos completamente.

O que podemos perceber aqui é justamente a funcionalidade da teoria do


hipertexto, o que, em 1945, Vannevar já havia concebido: “Uma vez estabelecida a conexão,
cada vez que determinado item fosse visualizado, todos os outros que tivessem sido ligados a ele
poderiam ser instantaneamente recuperados, através de um simples toque em um botão”. (Lévy,
1991)

2.7.A Internet e a “cibercultura”


É claro que a nossa intenção aqui não é tratar da “cibercultura” na sua forma
plena de existência. Uma vez que a Internet é responsável pelo surgimento do “ciberespaço”,
desenvolver um conteúdo, mesmo que pequeno, sobre a cultura do “ciberespaço” irá enriquecer
muito a nossa compreensão sobre a Internet.

O movimento social do “ciberespaço” tem o seu primeiro resultado prático


a partir do fim dos anos 70, quando os computadores pessoais surgem a um preço acessível para
a população, que poderia utilizá-lo sem nenhum conhecimento específico. Isso graças à “utopia”
de um grupo de californianos denominado Computers for the People (Computador para Todos) que
quis colocar a potência de cálculo dos computadores nas mãos de indivíduos, liberando-os ao
mesmo tempo da tutela dos informatas.

Este movimento social que nasce no meio da contracultura transformou


completamente o significado social da informática. Não há dúvidas de que a aspiração original
do movimento foi recuperada e usada pela indústria. Mas é preciso reconhecer que a industria
também realizou, à sua maneira, os objetivos do movimento.

O crescimento da comunicação baseada na informática foi iniciado por um


movimento de jovens metropolitanos cultos que veio à tona no final dos anos 80. Os atores
desse movimento exploraram e construíram um espaço de encontro, de compartilhamento e de
invenção coletiva, conforme explicação de Pierre LÉVY (1999:126):

“Aqueles que fizeram crescer o ciberespaço são em sua maioria anônimos,


amadores dedicados a melhorar constantemente as ferramentas de software de
comunicação e não os grandes nomes, chefes de governo, dirigentes de grandes
companhias cuja mídia nos satura.

“Símbolo e principal florão do ciberespaço, a Internet é um dos mais


fantásticos exemplos de construção cooperativa internacional, a expressão
técnica de um movimento que começou por baixo, constantemente alimentado
por uma multiplicidade de iniciativas locais.”

Segundo Pierre LÉVY, do mais básico ao mais elaborado, três princípios


orientam o crescimento inicial do “ciberespaço”: a interconexão, a criação de comunidades
virtuais e a inteligência coletiva. Ainda, como Christian Huitema disse muito bem, “o horizonte
técnico do movimento da ‘cibercultura’ é a comunicação universal: cada computador do
planeta, cada aparelho, cada máquina, do automóvel à torradeira, deve possuir um endereço na
Internet. Este é o imperativo categórico da cibercultura”*(8)

“A cibercultura é a expressão da aspiração de construção de um laço social,


que não seria fundado nem sobre links territoriais, nem sobre relações
institucionais, nem sobre as relações de poder, mas sobre a reunião em torno de
centros de interesses comuns, sobre o jogo, sobre o compartilhamento do saber,
sobre a aprendizagem cooperativa, sobre processos abertos de colaboração.”
Está claro, o movimento social e cultural que o “ciberespaço” propaga, um
movimento potente e cada vez mais vigoroso, não converge sobre um conteúdo particular, mas
sobre “uma forma de comunicação não midiática, interativa, comunitária, transversal,
rizomática” (Lévy, 1999). Em resumo, o programa da “cibercultura” é o universal sem
totalidade. Universal, já que a interconexão deve ser não apenas mundial, mas quer também
atingir a compatibilidade ou interoperabilidade generalizada; no limite ideal da “cibercultura”
qualquer um deve poder acessar de qualquer lugar, as diversas comunidades virtuais e seus
produtos; enfim, universal porque a inteligência coletiva diz respeito tanto às empresas, escolas,
regiões geográficas como às associações internacionais.

A “cibercultura” desenvolve-se no “ciberespaço”, que surge como a


ferramenta de organização de comunidades de todos os tipos e de todos os tamanhos em
coletivos inteligentes, mas também como o instrumento que permite aos coletivos inteligentes
articularem-se entre si.

2.8. A identidade na Internet

Ao analisarmos a condição dos seres humanos como usuários, temos que


enxergá-los em sua capacidade de interação com a máquina — neste caso, os
microcomputadores. Podemos ver essa inter-relação em uma análise do livro The Second Self, de
TURKLE *(9):

“Mesmo as discussões mais técnicas sobre os computadores empregam termos


retirados do funcionamento mental humano. Na linguagem dos seus criadores,
os programas têm intenções, esforçam-se ao máximo, são mais ou menos
inteligentes e estúpidos, comunicam uns com os outros e ficam confusos. Este
vocabulário psicológico não deveria surpreender-nos. Muita gente pensa nos
computadores como objetos matemáticos, mas, quando os conhecemos melhor,
apercebemo-nos de que são objetos informativos, manipuladores de símbolos e
de linguagem. Encontramo-nos, inevitavelmente, a lidar com um computador
como faríamos com uma mente, se bem que limitada. É por isso que a
linguagem que floresce em redor dos computadores tem um sabor especial. O
calão do computador é especificamente ‘calão intelectual’.”

Em sua análise ao livro de TURKLE (1989), o professor Dr. Ricardo


Nicola (NICOLA, Ricardo. Cultura Digital: Homem x Máquina. In Comunicação e Mídia, 1999)
começa seu texto dizendo que:

“diante do computador, o ser humano redesenha o mundo externo. O ofício do


artista, agora, organiza-se por meio de etapas. Numa primeira instância, a
estética quantitativa da máquina se assume como crítica da natureza e a
explora, apresentando uma caracterização estatística, por pixels — pontos
por polegadas — na tela e depois por DPI’s — pontos por polegada — na
impressão; em seguida, numa segunda atitude, o equipamento verifica as
relações de ordem e formas perceptíveis no tempo ou no espaço humanos, para
depois, por meio de uma estética aplicada, reduzir esta realidade num mundo
cibernético, efetuando a simulação dos processos de criação (terceira atitude).
Assim, a tecnologia servirá como instrumento (quarta atitude) condicionando
um campo de possibilidades: a arte permutacional (quinta atitude).”

De certa forma, podemos analisar a máquina em nível de uma quase


substituição do corpo humano, uma vez que ainda não temos tecnologia suficiente para
adaptarmos a nossa mente à capacidade operacional do computador. No entanto, filmes de
ficção científica como Matrix (What’s The Matrix?) falam justamente de uma existência em que as
máquinas são absolutamente capazes de dominar e manipular o mundo, com inteligência e
capacidade próprias, capazes de dominar os seres humanos confinando-os ao mundo da
realidade virtual, e alimentando-se, no mundo da realidade física, de suas mentes.

Neste filme, a máquina surge novamente como vilã. O maior inimigo da


humanidade é justamente o que possibilitou a realização do filme em níveis intelectual e
material. Intelectual, porque a sua idéia é baseada na inteligência artificial e a capacidade da
máquina em representar o ser humano; neste caso, a ambição de dominar o mundo e, por sua
vez, o medo de perder este controle. Material, porque graças às técnicas avançadíssimas de
computação gráfica, foi possível a concepção técnica do filme.

Talvez mais difícil do que entender a relação homem/ máquina, seja aceitá-
la. Uma grande parte da população mundial ainda tem aversão ao contato com os
microcomputadores e tem medo da interação que eles nos permitem com a Internet. O medo
desta interação homem/máquina faz com que muitos acreditem que seja realmente difícil
utilizarmo-nos do computador. Muitos ainda resistem em acreditar que os computadores
funcionam nesta relação de duas formas práticas: primeiro, como “facilitadores” na resolução de
problemas mais complexos ou evitando processos de repetição numa velocidade muito maior; e
segundo, permitindo-nos o acesso a uma infinidade de informações e relações interpessoais
através da Rede. A dificuldade de entender um sistema tão simples e pronto para a utilização
intuitiva pode ser, basicamente, proveniente do medo.

Porém, a partir do momento que entendemos as máquinas, como queria


Sherry TURKLE, como uma extensão da nossa personalidade, podemos especular que, por
detrás de cada computador, existe um ser humano; que, por sua vez conectado à Rede, está em
busca de outros seres humanos. Mas, quando falamos de seres tão complexos como nós,
estamos falando de uma busca ainda maior do que a busca por outros seres humanos; a busca
por uma identidade que nos qualifique dentro da Rede. Surge, aqui, o usuário como expressão
maior do significado da existência da Internet e da criação do “ciberespaço” ou mundo virtual,
que liga esses milhões de indivíduos em novos espaços, as comunidades virtuais, que estão
mudando nossa maneira de pensar, a natureza da nossa sexualidade, a forma das nossas
comunidades, nossas muitas identidades (TURKLE, 1995). A noção contemporânea do usuário
surgiu no final dos anos 70 e início da década de 80, referindo-se a pessoas que usam programas
específicos para realizar seu trabalho ou suas tarefas.

Na seqüência, falaremos um pouco sobre as maneiras de nos comunicarmos


na Internet. Mas, por enquanto, o que nos vale é tentar traçar mais profundamente um perfil das
pessoas que estão interagindo na Rede, umas com as outras, como explica TURKLE (1995):
“A um nível, o computador é uma máquina. Ele nos ajuda a escrever, manter
o controle das nossas contas, e comunicarmos com outros. Além disso, o
computador nos oferece novos modelos da mente e um novo meio no qual
projetar nossas idéias e fantasias. Recentemente, o computador se tornou mais
do que uma ferramenta e espelho: Nós somos capazes de viajar através do
espelho. Nós estamos aprendendo a viver em mundos virtuais. Nós podemos
nos achar sozinhos navegando em oceanos virtuais, desvendando mistérios
virtuais e construindo arranha-céus virtuais. Mas amplamente, quando nós
viajamos através do espelho, outras pessoas também estão por lá.

O uso do termos ‘cyberspace’ para descrever mundos virtuais cresceu afora


através da ficção científica, mas para muitos de nós, o ciberespaço é parte de
nossas rotinas na vida cotidiana. Quando nós lemos os nossos correios
eletrônicos ou enviamos mensagens para um boletim eletrônico ou fazemos
reservas de passagens aéreas através de uma rede de computadores, nós estamos
no ciberespaço. No ciberespaço, nós podemos conversar, trocar idéias, e assumir
personalidades de nossa própria criação. Nós temos a oportunidade de criar
novos tipos de comunidades, as comunidades virtuais, nas quais participamos
com pessoas de todo o mundo, pessoas com as quais conversamos diariamente,
pessoas com as quais podemos ter relacionamentos honestamente íntimos, mas
com as quais nunca nos encontraremos fisicamente.”

O que podemos compreender pelo texto de TURKLE é uma espécie de


definição do usuário. Estes usuários somos nós mesmos que, por vezes, podemos nos flagrar na
Internet sendo aquilo que não somos ou representando ser aquilo que gostaríamos de ser. O
sujeito gordo, num passe de mágica, pode se tornar um homem robusto; o calvo, na Internet,
poderá ter aquela cabeleira que sempre sonhou. Ou numa transformação um pouco mais
profunda, o homem pode, pela representação, ser uma mulher, na intenção de pregar uma peça
no seu interlocutor em uma dessas muitas salas de bate-papo espalhadas por inúmeros sites na
Web.

O que parece ser uma simples brincadeira é, na verdade, uma construção


séria de um personagem que, provavelmente, já existe dentro de nós, e que levamos muito a
sério ao assumirmos essa identidade. Frustrações por não aceitarmos aquilo que realmente
somos são superadas na Internet. Neste campo, a pessoa pode ser quem ela desejar ser: bonita,
feia, gorda, magra, homem, mulher etc. Melhor ainda, se pudermos ser, ao mesmo tempo, mais
de uma pessoa. Isso também a Internet permite-nos. Basta termos acesso a mais de uma sala de
bate-papo, para, em uma delas representar um homem viril; em outras, podemos ser uma pessoa
frágil e sensível; e em outra, ainda, podemos nos aproximar daquilo que realmente somos fora
do mundo virtual. Para se ter idéia de como as pessoas têm buscado este tipo de satisfação
pessoal através da Internet, uma pesquisa realizada pela America OnLine (AOL) revelou que
para 77% dos internautas, a Rede melhorou suas vidas (Camargo & Becker, 1999).

O ambiente para que essas representações e, enfim, relações aconteçam, são


os Multi-User Domains (dimensão multiusuário, ou simplesmente MUDs), as salas de bate-
papo, os Newsgroups, o Internet Relay Chat (IRC), o ICQ (I Seek You, ou Eu Encontro Você) etc.
, sobre os quais vamos falar no próximo tópico, além do correio eletrônico, essas são maneiras
que existem na Internet, disponíveis através da World Wide Web, para nos comunicarmos com
pessoas em qualquer outra parte do mundo. Segue trecho do livro de TURKLE (1995:14) sobre
estes ambientes de interação em tempo real:

“MUD’s são exemplos dramáticos de como a comunicação mediada por


computador pode servir como um lugar para a construção e reconstrução da
identidade. Há vários outros. Na Internet, o Internet Relay Chat, comumente
conhecido como ICR) é um outro fórum de bate-papo amplamente usado, no
qual o usuário pode abrir um canal e atrair seus convidados, que conversam
entre si como se estivessem numa mesma sala. Serviços comerciais tais como
America OnLine e Compuserve providenciam salas de bate-papo online que
tem muito do apelo dos MUDs — uma combinação de interação em tempo
real com outras pessoas, anonimato (ou, em alguns casos, a ilusão de
anonimato), e a habilidade de assumir um papel mais próximo ou mais
distante do ‘verdadeiro eu’.”

Essa possibilidade de metamorfose proveniente da Internet é uma realidade


que afeta o cotidiano dos usuários. Esta capacidade de assumir outros personagens, dentro da
Rede, é muito mais do que apenas mentir sobre quem realmente somos. Muito mais do que isso,
é a capacidade que desenvolvemos de construirmos nós mesmos dentro da Rede. Seria, até certo
ponto, uma maneira simplista de definir este procedimento na Internet classificando os usuários
como simples mentirosos, ou talvez, sentirmo-nos mentindo sobre aquilo que somos. Quando
construímos os nossos personagens nas salas de bate-papo, isso nos permite ser muito mais
íntegros do que somos na realidade em que vivemos. Um dos principais motivos de assumirmos
estes papéis que criamos é a facilidade de nos liberarmos, de certo modo, da repressão social que
nos cerca, exercendo nossos “papéis sociais” de acordo com os padrões estabelecidos pela
sociedade. Na Internet, esses padrões podem ser postos de lado. Pensando sob este prisma,
podemos compreender melhor certas pessoas que entram nas salas de bate-papo apenas para
afrontar os participantes da mesma sala, com palavras vulgares e apelos sexuais, às vezes,
anômalos. ???

Ao visitarmos esses ambientes virtuais, munimo-nos de um nick (ou


nickname: apelido), atrás do qual nos escondemos e, ao mesmo tempo, através do qual nos
revelamos. Com o nick, mantemos secreta a nossa identidade: nome, endereço, profissão,
interesses pessoais etc. No entanto, este mesmo nick pode revelar aquilo que desejamos ser
(naquele momento), mas que muitas vezes não somos.

Traçando um paralelo com os super-heróis da ficção, podemos fazer uma


analogia. O jovem repórter do Planeta Diário (Planet Diary), Clark Kent é também o Super-
homem. Ora, nesta situação, qual é o verdadeiro Eu deste habitante de Krypton? Na realidade, o
verdadeiro Eu do jovem extraterrestre é aquele munido com super poderes. Ele é,
incondicionalmente, um “super-homem” graças ao sol amarelo que ilumina o nosso planeta.
Essa é a verdadeira condição de Clark Kent, um homem dotado de força e outros poderes
sobrenaturais como a capacidade de voar ou a visão de raio-X. Mas para viver socialmente bem,
ou seja, sem chamar a atenção para suas características especiais, Clark assume a personalidade
de um jornalista, por trás do qual se esconde para poder se relacionar com as pessoas. Assim é a
Internet, o que para Clark Kent é a sociedade. Da mesma forma, criamos e personificamos
identidades que encobrem a nossa verdadeira identidade.

Não chamaria isso de medo, mas um instinto de preservação. Clark Kent


sabia as conseqüências de revelar sua verdadeira identidade, e a mantinha em segredo não por
medo, mas por conveniência. Outro ponto é que, quando criamos essas novas identidades,
conseguimos descobrir coisas novas sobre nós mesmos. Temos a liberdade de colocarmos para
fora um instinto mais “animalesco” e sentirmo-nos à vontade fazendo isso. Por conseguinte,
sabemos que as pessoas que interagem conosco também estão, ou podem estar, assumindo
identidades diferentes das suas verdadeiras.

Do ponto de vista prático, deslumbrarmos um pouco mais do conceito de


identidade que a Internet revela-nos, confrontando as idéias tradicionais da psicologia e da
sociologia. O que realmente somos, na Internet, é aquilo que somos capazes de construir. Isso
não significa que não podemos ter verdadeiros relacionamentos com outras pessoas na Internet.
Muito pelo contrário.

A Internet tem permitido que as pessoas se relacionem em um nível mais


profundo. Não é em vão que as salas de bate-papo online têm os maiores números de freqüência
e permanência da Rede. Participando deste “jogo” de personalidades, existem milhões de seres
humanos interessados em receber e dar atenção. Por conta disso, milhares de pessoas ao redor
do mundo têm estendido seus contatos com outras pessoas na Rede para muito além do virtual.
Pessoas tornam-se amigas, namoram e casam graças a um primeiro contato na Internet. Outras
se tornam íntimas, mesmo sem ter tido, até hoje, qualquer contato físico. O cinema já traz uma
amostra dessa realidade no filme Mensagem Para Você (You Got Mail, 1998) que conta a história de
um casal que se conhece na Internet e passa a trocar correio eletrônico. Assumem identidades
diferentes daquelas que representam na vida real, e a Internet passa a ser um veículo que lhes
permite expor sua fraquezas, seu medos e seus verdadeiros interesses. Diferente da vida na
sociedade real, em que, sem saber, o destino colocou-os como concorrentes, inimigos. No
mundo real, odeiam-se até a morte; e no mundo virtual, amam-se. Como isso seria possível sem
a Internet, neste modelo de sociedade em que vivemos, cada vez mais veloz, impessoal e que
nos impõe a necessidade de sermos fortes (pelo menos aparentemente)?

Embora o perfil do usuário não seja sempre tão romântico, o filme


analisado acima expõe claramente esta característica do mundo “cibernético” que Turkle (1995)
se dá conta em seu estudo sobre a identidade da Internet, ou seja, dos seus usuários. Essa
identidade revela-se muito mais do que em números de pesquisas quantitativas ou qualitativas,
com um apelo social e psicológico muito forte e essencial: o das relações humanas por meio da
comunicação mediada por computador.

2.9. A Internet e algumas maneiras de se comunicar através da Rede

Quem tem o privilégio do acesso à Internet, pode sentir ou verificar as


possibilidades que este meio coloca-nos à disposição. São vários os recursos utilizados para que
as pessoas comuniquem-se umas com as outras, posto que esse foi o objetivo maior da criação
da Internet.

O e-mail (ou correio eletrônico) é uma das ferramentas mais populares e


eficientes usadas para a comunicação entre as pessoas na Internet. Obviamente, o correio
eletrônico não substituiu os serviços das empresas de correios; no entanto, facilitou a
comunicação de mensagens escritas. Atualmente, existem disponíveis na Internet empresas que
oferecem serviço de Webmail, ou seja, qualquer pessoa pode ter sua “conta” de e-mail mesmo
sem ter um computador ligado à Web. Basta conectar-se à Internet, por exemplo, através de uma
instituição de ensino, acessar ao site de uma dessas empresas, preencher um formulário com suas
informações e escolher um login (um nome que vai caracterizar seu endereço eletrônico na Web.

Outra forma de obter uma conta é por meio de seu provedor de acesso que
vai lhe permitir ter quantas “contas” estiverem estipuladas no seu contrato com a empresa.
Certos provedores oferecem número de contas infinitos e outras já delimitam este serviço entre
uma, cinco e dez contas por contrato. A vantagem de ter uma conta registrada direto no
provedor é a facilidade de acesso à sua caixa postal e à maior segurança. Além disso, muitos
provedores já solucionaram o problema do acesso local à caixa postal através da criação de um
serviço de Webmail, só que restrito aos seus assinantes.

O MUD é uma outra forma de interagir na Internet em tempo real. MUD é


a sigla de Multiple-User Domains ou Dimension (ou dimensão multiusuário). Originalmente
conhecido como Multi-User Dungeon, um MUD é um ambiente baseado em texto no qual os
personagens dos usuários interagem em tempo real. Através de comandos de texto, é possível
andar pelas salas, digitar mensagens para outros personagens, participar de jogos, enigmas ou
combates. MUDs são uma transposição para as redes dos jogos de RPG (Roling Playing Games,
um jogo para o qual um grupo se reúne e cria “personagens” para participarem de uma
aventura).

Os BBS’s (Bulletin Board System), que não têm tradução na Língua


Portuguesa, mas fazendo uma tradução literal, seria “sistema de quadros de mensagem”, ou seja,
sistemas em que um computador central, equipado com diversos modems, serve como base para a
troca de informações, entre os usuário que acessam o BBS a partir de seus computadores
pessoais, usando modems e linhas telefônicas. Numa comparação grosseira,, um BBS seria um
híbrido dos atuais sistemas de correio eletrônico e newsletters, com algumas funcionalidades
adicionais.

Os populares chats, ou salas de bate-papo, são os espaços de maior


permanência na Internet. Por sua facilidade e agilidade, têm atraído um número cada vez maior
de pessoas. O único pré-requisito que o usuário precisa ter é um browser Web. Ao contrário das
outras maneiras de ter contato on-line com outras pessoas em tempo real, o usuário não precisa
fazer o download (ou “baixar” programa da Internet para o computador) de algum programa.
Basta acessar um site Web que preste este tipo de serviço, escolher um nick, ou apelido e,
conforme a gíria utilizada na Internet, “chatear” (conversar com outras pessoas na mesma sala de
bate-papo).

O IRC (Internet Relay Chat) é uma ferramenta virtual que proporciona o


mesmo serviço das salas de bate-papo, citadas acima. A diferença é que o IRC, além de ser um
programa altamente difundido entre internautas de todo o mundo, envolve uma série de
comunidades virtuais. O bate-papo na Internet ocorre graças aos servidores IRC que estão
espalhados pelo Brasil, e pelo mundo afora. Quando o usuário se conecta à Internet, tem a
opção de escolher um canal que seja o mais apropriado para os seus interesses. Uma das
diferenças é que quando o papo com uma pessoa começa a ficar mais interessante, o IRC
permite que um usuário convide o outro para uma conversa em particular (ou pvt). Embora
mais complicado de usar, o IRC foi o precursor dos bate-papos on-line e ainda é um dos recursos
mais usados na Internet. Foi criado em 1988, na Finlândia. Nem o advento da World Wide Web,
nos anos 90, ofuscou sua popularidade.

O ICQ (I Seek You, ou Eu encontro você) é o sistema para comunicação


em tempo real mais utilizado da Rede. Criado pela Mirabilis, uma empresa israelense, o ICQ
ganhou força em 1998 e, vendo o potencial da nova ferramenta, foi comprado pela America
OnLine. Assim como o IRC, o usuário não precisa acessar a Web para manter contato com
outras pessoas. Mais de 60 milhões de pessoas já usam o ICQ ao redor do mundo. Na prática, o
ICQ é um painel de comunicação que se instala na área de trabalho (ou desktop)*(10) do
computador. O programa pode ser adquirido gratuitamente na Internet, é fácil de instalar e usar.
Além disso, o ICQ oferece um número grande de ferramentas com outras utilidades.
Tecnicamente, o usuário do ICQ cria ao longo do tempo, uma lista de amigos. Nesta lista, vão
constar o nick de cada um deles. Quando nos conectamos à Internet, o ICQ informa-nos quem
está plugado na Rede. O programa é altamente interativo e há usuários que o consideram a
essência da Internet, tal a sua versatilidade e utilidade. Apesar de extremamente eficiente, o ICQ
não é comercial — pelo menos até agora. A Mirabilis, empresa que desenvolveu o software, criou
o conceito de mantê-lo eternamente na versão beta (ou de teste), mas com a aquisição da
empresa pela America OnLine, muita coisa ainda pode mudar.

Cada uma dessas maneiras apresentadas acima, relacionam o forte ideal da


Internet: permitir a comunicação entre pessoas de todo o mundo, em tempo real, e a um preço
acessível. O que conta são as relações interpessoais que são criadas ao redor do mundo.

Entender a Internet é um passo fundamental quando falamos em fazer parte


da Rede. Cultura, identidade, história, ciência, tecnologia etc., são partes que constituem este
meio de comunicação, que mistura relacionamentos interpessoais com uma sensação de futuro
que vivemos hoje. “Construir” sites para a Web é mais do que o domínio técnico do computador,
mas a maneira como utilizamos o computador sendo este um prolongamento de nossas
capacidades criativas, intelectuais e de produção. Portanto, conhecer detalhadamente a Internet,
é essencial como fundamentação teórica, para unir teoria e prática na abstração da capacidade
inovadora da Rede, e utilizarmo-nos dela em benefício de algo em que acreditamos. Produzir um
site Web, dentro dos parâmetros estudados acima, pode não ser tão simples quanto parece. Mas
nosso empenho em se teorizar sobre as conseqüências sócio-técnicas da Internet revela-se
necessária no ato de “construirmos” o “ciberespaço”.

Notas:

1. This book describes how a nascent culture of simulation is affecting our ideas about mind,
body self and machine. We shall encounter virtual sex and cyberspace marriage, computer
psychotherapists, robot insects, and researchers who are trying to build artificial two-year-olds.
Biological children, too, are in che scory as their play with computer toys leads them to
speculate about whether computers are smart and what it is to be alive.

Tradução: “Este livro descreve como uma nascente cultura da simulação está afetando nossas
idéias sobre a mente, o corpo, o ego e a máquina. Nós encontraremos sexo virtual e casamento
ciberespacial, psicólogos eletrônicos, insetos eletrônicos, e pesquisadores que estão tentando
construir uma inteligência artificial de uma criança de dois anos de idade. Crianças biológicas,
também, estão nesta história porque sua diversão com brinquedos eletrônicos levam-nas a
especular se os computadores são inteligentes e o que realmente é estar vivo”

2. Bit. Derivado do inglês Binary digIT. Unidade elementar de informação do sistema binários,
assumindo somente os valores 0 e 1. Mediante seqüência de bits pode-se representar todas as
informações descritas e, com um certo grau de aproximação, todos os valores reais.

Byte. Termo equivalente a um octeto binário, ou seja, uma seqüência de oito bits. Esta unidade de
informação é amplamente utilizada na representação de um caracter tipográfico, descrição de
atributos em elementos de imagens ou pacote de informação digital.

3. Matéria publicada na Revista PC Master (ano 3; n.º 5) revela que, segundo pesquisa do
Datafolha, o Brasil tem 8 milhões de internautas que navegam regularmente, mas a maioria
(60%) não acessa a Web nos finais de semana. A pesquisa realizada com pessoas com mais de 16
anos: 1,7 milhão navegam apenas em casa; 2,6 milhões usam a Internet no trabalho; e 3,3
milhões navegam em outros lugares como faculdades, bibliotecas ou casa de amigos.

4. Precisaremos definir melhor o termo online, que dentro da língua portuguesa tem distinções
conceituais: quando on line é escrito separadamente entende-se que a pessoa ou a empresa está
conectada, ou seja, ligada à Internet por uma linha telefônica — ou para os menos ortodoxos, essa
pessoa, empresa ou instituição está plugada. Quando o termo on-line estiver separado por hífen,
classificamos dentro da língua portuguesa como substantivação, por exemplo, fala-se a versão
on-line, e não a versão on line ou online. E, por fim, o termo online escrito junto é classificado na
língua portuguesa como adjetivação, antecipado por um pronome. Como exemplo podemos
citar a America OnLine (AOL) ou o Universo OnLine (UOL).

5. Internet Explorer e Netscape Communicator são os dois browser Web mais usados do mundo.

6. Links: vínculos.
7. Uniform Resource Locator (Localizador de Endereços Uniformes)

8. Christian Huitema, Et Dieu créa l’Internet, Paris, Eyrollers, 1996.

9. O Segundo Eu: os Computadores e o Espírito Humano, de Sherry Turkle, 1989

10. DeskTop: termo do inglês que pode ser traduzido para o português como escrivaninha, mas
na informática, este termo é utilizado para definir a área de trabalho do sistema operacional do
computador.
III - O Jornalismo on-line

É nesse manancial de informações na Internet que surge o seguinte


questionamento: o que realmente é o verdadeiro jornalismo? — eis o ponto exato que diz
respeito ao nosso trabalho na Rede. Haja vista um espaço onde toda e qualquer informação —
de qualidade ou não —pode ser divulgada e as pessoas são atraídas pelos assuntos de seu
interesse e recebem mensagens segundo a sua própria vontade, diferente da tirania que os
grandes veículos de comunicação de massa impuseram à nossa maneira de ver e interpretar o
mundo. Será que estamos próximos do fim dessa profissão? Será que o jornalista está sujeito a
perder o emprego em virtude da Internet e seus mais novos “repórteres, redatores e editores”?

3.1. A facilidade e a popularidade da Internet

Com a possibilidade de novas tecnologias — quando a pessoa necessita de


nada mais que um microcomputador, que já vem com modem instalado, uma linha telefônica e
um provedor de acesso — conectar-se à Internet torna-se cada vez mais fácil e mais popular. Na
realidade, o futuro internauta ou o internauta do futuro não precisará, como nos primeiros anos da
Internet, entre 1992 e 1996, gastar horas ou mesmo dias configurando sua máquina, que estava
conectada a uma linha telefônica analógica, recebendo atendimento de um provedor pouco
especializado e com serviços extremamente restritos. Outra facilidade são os browsers Web,
softwares desenvolvidos especificamente para o uso da Internet e totalmente intuitivos como o
Internet Explorer ou Netscape Communicator, os dois mais populares do mundo. Outro fator que
temos que acrescentar, antes de entrarmos em detalhes na questão do jornalismo on-line, é a
facilidade de se criar um website ou uma home page. É possível criar, por exemplo, uma página
amadora na Internet a partir do Netscape Composer, que vem dentro do mesmo “pacote” do
Netscape Communicator; outro software bem popular é o Front Page Express, da Microsoft, que traz
a mesma facilidade e, ainda mais atual, o programa Dreamweaver, da Macromedia, totalmente
intuitivo e ágil. Com um desses programas, dentre muitos outros mais ou menos sofisticados,
que podem ser adquiridos por preços acessíveis ou até mesmo gratuitamente na Rede, qualquer
pessoa pode construir a sua própria página.

Revistas especializadas publicam constantemente dicas e tutoriais (instruções


ilustradas ou animadas de um programa) acompanhadas pelos próprios programas nas versões
full (completo sem restrições e totalmente gratuito), shareware (compartilhada, para o uso
delimitado pelo fornecedor) e, mais recentemente, a trial version (que veio substituir a versão
shareware, que podia ser facilmente burlada apenas atrasando a data registrada na memória do
computador, coisa muito simples de fazer, deixando de lado as complexas linguagens de
programação. No Brasil, uma modalidade criminosa que se desenvolveu rapidamente no
mercado da Informática foi a “pirataria” de software. Máquinas equipadas com um periférico
instalado que possibilita a gravação de CD’s. Esse tipo de crime cresceu rapidamente pela falta
de uma fiscalização eficiente e pela possibilidade de adquirir um programa estimado entre
US$300 e US$1000, pagando por isso entre R$10 e R$30.

Além da facilidade de conexão, linhas digitais, programas gratuitos e


microcomputadores com preços acessíveis, podemos acrescentar o número de publicações
especializadas que se encontram disponíveis. São dezenas de revistas e jornais especializados em
informática e Internet, suplementos semanais em jornais e revistas da Grande Imprensa, mesmo
os jornais regionais têm seu caderno de informática. O mercado editorial especializado em
informática também cresceu volumosamente, passaram a publicar manuais complexos de software
e hardware para os leigos, livros que discutem psicologia, sociologia e filosofia desta nova era,
sem contar os livros de ficção científica que no Brasil, infelizmente, não têm encontrado
editores e nem público para sua viagens e profecias sobre um novo tempo.

Para se ter uma idéia ainda mais precisa da evolução da Internet em sua
jornada para entrar cada vez mais nos lares, a Internet.br, uma das principais revistas
especializadas em Internet do país, publicou em março de 1999, uma reportagem intitulada
“Internet de Graça”, falando sobre a possibilidade do acesso gratuito à Rede, o que, a curto
prazo, não seria viável por causa dos altos preços dos insumos — máquinas, servidores, links,
Embratel etc. — e das ligações telefônicas. O que aconteceu com a maioria dos provedores de
acesso gratuito todos já sabemos: ou falharam em sua missão e foram à bancarrota, ou
reduziram agressivamente suas atividades. Os EUA, maior potência mundial no acesso à
Internet, viram alguns provedores promissores irem à falência pela falta de recursos e trabalhar
no vermelho. Outro empecilho para tornar este “sonho” realidade, são os ganhos de publicidade
on-line, que ainda permanecem insatisfatórios. O argumento dos provedores é que os valores
pagos pelo acesso telefônico são tão altos que poderiam justificar uma parceria. Isso de fato
ainda não ocorreu porque as companhias telefônicas não enxergaram o bom negócio. Enquanto
isso, a guerra dos provedores está esquentando o mercado, numa batalha de preços e serviços,
além de campanhas de marketing feitas pelos grandes provedores. Com essas promoções e
incentivos, a Internet vai aos poucos, tornando-se mais popular e barateando os custos. O
acesso gratuito à Internet é uma realidade, embora tosca.

Outra reportagem que revela o teor cada vez mais popular da Rede, é
publicada em novembro de 1998, na Internet.br, intitulada “Conversando em Internetês”.
Numa espécie de brincadeira lúdica com o leitor, a matéria traz um box chamado Dicionário
Prático de Internetês, que traduz termos usados nas salas de bate-papo (popularmente conhecidos
como chats) e no ICQ, que estão mexendo com a norma culta da gramática, encurtando palavras,
tirando acentos e aportuguesando termos em inglês. A nova edição do Vocabulário Ortográfico da
Língua Portuguesa incluiu 6.242 novas palavras, muitas oriundas do meio da informática, num
total de 349.817 verbetes cobertos pelo livro. As adições ao livro, lançado em sua primeira
edição em 1981, foram indicadas por uma comissão de lexicografia nomeada pela Associação
Brasileira de Letras (ABL). Para se ter uma idéia mais concreta deste acréscimo à Língua
Portuguesa, entre as novas palavras high-tech estão: deletar, holograma, modem, scanner, robótica
e up-date. O critério para aceitação das novas palavras no vocabulário é o uso corrente por
autores ou a popularização via televisão ou jornais. Vale citar aqui que a reportagem analisada
acima pertence a uma séria chamada Série Humanos 2.0: Como a Rede Está Mudando Sua Vida.

3.2. Mercados Publicitário e Editorial

Definitivamente, a Internet tem vida própria e, até onde se sabe, não tem
um governo. O seu futuro está, aparentemente — e verdadeiramente —, sendo ditado e escrito
pelos internautas. No entanto, esse meio tão anárquico tem o seu lado ditatorial. Em agosto de
1999, a Revista Internet Bussines, fez uma matéria completa intitulada “Evolução ou extinção: onde
sua empresa se encaixa?”, sobre a “lei da seleção natural” da economia digital em detrimento das
velhas práticas. A questão foi levantada em 10 setores para saber que mudanças a Internet traria
para os negócios, tratando o momento como questão de sobrevivência. Para este estudo, dois
setores, publicidade e editorial, valem ser analisados de imediato numa caminhada para os
negócios do mundo digital que parece não ter volta. A Rede tem sido tratada como um assunto
considerado estratégico para todos os setores consultados. A certeza, segundo a reportagem, que
existe no mercado é que, mais do que nunca, é momento para virar o jogo e adaptar-se ao
mundo dominado pela informação rápida transmitida por bits.

No setor de publicidade, um dos mais influenciados pela Internet, as


agências largaram na frente na corrida para entender a nova forma de seduzir o público,
processo semelhante ao que ocorreu quando a televisão apareceu e foram criadas equipes
próprias para esta mídia. Segundo o presidente da Associação de Mídia Interativa (AMI),
Antônio Rosa Neto, 99 foi o ano da consolidação para a Internet posicionar-se firmemente
como mídia que mereça entrar no plano de negócios dos anunciantes. Outro incentivo para a
Internet brasileira: depois do caminho trilhado desde 1996, é possível afirmar que hoje a mídia
Web brasileira é uma das mais criativas, pois cada profissional, à sua maneira, consegue
desempenhar bem essa função.

No mercado editorial, jornais, revistas e editoras reinventam-se para


explorar o poder da mídia on-line. Segundo a “5th media in cyberspace”, da Middleberg Interactive, em
1998, cresceu a produção de conteúdo jornalístico na Web americana. Só 22% dos jornais
utilizam menos de 5% de conteúdo exclusivo na edição on-line. No ano anterior, esse percentual
era de 39%. No caso de revistas, 11% produzem menos de 5% de seu conteúdo na Web, em
comparação aos 27% de 97. Ainda, de acordo com a Newspaper Association of America, 51% dos
usuários de notícia dos EUA acessaram um jornal on-line entre dezembro de 98 e maio de 99.
82% dos leitores na Web também compram a edição impressa com freqüência igual ou maior do
que lêem a versão on-line. 55% dos leitores acompanham os classificados on-line.

Quando o assunto é o mercado de jornais e revistas, a influência da Rede


toma outra dimensão. O jornalismo on-line tem se desenvolvido rapidamente, impulsionado pela
grande demanda por notícias em portais e sites segmentados. O potencial do filão on-line levou a
Reuters, uma das maiores agências de notícias do mundo, a criar uma divisão que combinará
serviços para as mídias TV e Internet. A Agência Estado, por sua vez, é referência em
provimento de conteúdo de sites no Brasil. Popularizada na Web com a marca Agestado, a
empresa fornece notícias atualmente a centenas de provedores. Apesar do foco principal da
empresa ser economia, foi ampliado para noticiários esportivos, gerais e regionais. Como a
Reuters e Agestado, uma diretriz seguida por praticamente todas as grandes empresas de
comunicação no Brasil e no mundo é que novos produtos devem ser pensados também para a
Internet.

3.3. A Internet e os portais

Mas a produção editorial na Rede não está limitada às versões on-line dos
veículos de comunicação de massa que já existem. Os portais cresceram na Rede travando uma
luta que parece incrível dentro da Internet pela audiência. Uma vez que a Internet deveria ser
um veículo de comunicação impossível — ou pelo menos improvável — de ser controlado, isso
espanta. É o que podemos constatar no texto “Dos Portais à Grande Muralha”, publicado na
Revista Brasileira de Comunicação, Arte e Educação. Mas nesta análise dos portais como fonte
de informação na Rede, precisamos entender o que são exatamente esses websites. Segue abaixo a
definição de CAMARGO & BECKER (1999) sobre os portais:

“São páginas da Web, que centralizam serviços gratuitos online, informações


gerais e especializadas e produtos diversos, como e-mail, chats e lojas virtuais.
Do ponto de vista do usuário, o objetivo é facilitar a obtenção de informações e
serviços, o contato social e a aquisição de produtos, via Internet. Já do ponto de
vista dos proprietários das empresas, busca-se gerar uma receita líquida cada
vez maior, através de inserções publicitárias, feitas — como em qualquer
outra mídia — a partir da venda de audiência.

Com a intenção de serem vistos como a porta principal de acesso ao mundo,


este sites foram batizados de ‘portais’, pelos norte-americanos. Além dos
velhos mecanismos de busca, ganharam manchetes com o que consideram as
principais notícias do dia, segundo os grandes veículos de comunicação
principalmente dos EUA e Europa, cotações de ações, meteorologia, placar de
esportes, viagens e turismo, entrada para salas de bate-papo, bibliotecas
virtuais etc.”

Esses portais têm o objetivo de, além de atrair o maior número de usuários,
fazer com que ele permaneça o maior tempo possível no site sem que mude seu curso, mantendo
sua navegação nas propriedades do “portal” que traz um grande número de links (vínculos)
associados.

Segundo um estudo da Universidade de Minesota (EUA), há apenas 8


segundos para que um site capture a atenção do internauta. Se ele resolver ficar, em média, não
passa mais de sete minutos no site, o que agrada pouco aos anunciantes. Uma sala de bate-papo,
então, consegue promover uma permanência maior no site. (CAMARGO & BECKER:1999).
Na realidade, o que existe nos bastidores é uma grande guerra de forças entre os portais, que
têm suas origens nos “buscadores”, espécie de páginas amarelas da Web.

Contudo, estes portais são a transcrição de um momento da economia


globalizada para a Internet, que é caracterizada pelas fusões, incorporações e monopólios. Ou
seja, mesmo a Internet está passando por um período que parece ser bastante intrigante e leva-
nos a perguntar se, de fato, a Internet está assim tão distante de ser controlada, conforme
CAMARGO & BECKER (1999) analisam de maneira crítica:

“Três fatores têm contribuído para a constituição de monopólios na Internet:


1. A convergência de tecnologias, cuja tendência é a unificação de TV,
Internet, telefonia móvel e comunicação via cabo coaxial ou LEO (Low-
Earth-Orbit — Satélite de Órbita Baixa); 2. A corrida pelo controle da
infra-estrutura, seja enquanto telecomunicações (telefonia, cabo, microcédulas,
teleportos, satélites...) ou indústria de informática (produção de software e
hardware); e 3. A busca desenfreada de competitividade dentro da economia
globalizada, onde, cada vez mais, só os gigantes conseguem sobreviver.
É importante destacar, porém, o interesse de todas as grandes companhias pela
Internet. Primeiro, porque o mercado publicitário da Internet foi estimado pela
consultoria Forrester em US$ 1,5 bilhão em 1998 e deverá multiplicar-se por
dez até o ano 2002. Segundo, porque fazer parte do fenômeno Internet
valoriza espetacularmente as ações de qualquer empresa na Bolsa. Exemplo
disso é o fato das ações da AOL valorizarem mais do que a General Motors
ou da atravessadora virtual Amazon.com, que, com quatro anos de vida,
possui uma capitalização maior do que a Boeing, companhia fundada no
início do século, fabricante de metade dos aviões comerciais de todo o mundo e
possuidora de terrenos, hangares, pistas de aterrissagem e milhões de
componentes e ferramentas espalhadas por todas as suas sedes.”

Não precisamos ir muito longe para saber que este processo de


monopolização, que caracteriza uma diminuição na diversidade e que, conseqüentemente,
consiste numa mancha à utopia de uma sociedade mais democrática, pode ser classificada como
um desastre, principalmente para o usuário, que volta a estar sujeito aos interesses das grandes
corporações. Como prova disso o texto de CAMARGO & BECKER cita o fechamento de pelo
menos 20 fóruns de discussão realizados pela América OnLine (AOL), pressionada por
irlandeses pró-britânicos, alegando que “o número de mensagens profanas e ofensivas foi tão
grande que se tornou necessário fechar”. Fica no ar a pergunta: “ora, afinal quem decide o que
é ofensivo a outro assinante? Aí reside o problema”.

3.4. Implicações do Jornalismo On-line

Voltamos, então, à nossa proposta para discutir o presente e pensar o futuro


da Internet como meio de comunicação. Quando acreditamos que a Internet veio para
desbancar o poder das grandes organizações fundadas em empresas de comunicação de massa,
somos assaltados por esse golpe: os grandes veículos de comunicação de massa não estão
perdendo tempo ao construir ou associar suas empresas à Internet. Lutam para assumir o
controle da Rede, o que é um fato desapontador para os mais críticos. Será que novamente o
jornalismo vai estar sujeito aos interesses dos posseiros dos veículos de comunicação de massa?
Será que a Internet está prestes a falhar na sua proposta da construção de uma sociedade
melhor, menos desigual, menos pervertida pelas diferenças sociais, raciais, políticas e religiosas?

“Reduzir o poder dos veículos de imprensa é uma coisa terrível para a


democracia”, diz David SHENK (1997) ao discutir a importância da existência do profissional
da imprensa na era da Internet. O que podemos constatar, logo de início, é a enxurrada de
veículos de comunicação de massa, de todos os segmentos, que estão apostando em uma nova
formatação de sua mídia. Por um lado, alguns já estão disparados na frente e entendem a razão
de estarem na Internet, a importância de conquistar o seu espaço no mundo virtual — onde
também estão seus leitores, ouvintes e telespectadores, que passam a ocupar um novo status, de
usuário —, e reconhecem que a Internet não é um substituto para o que já existe; pelo contrário,
pode contribuir muito na formulação e reformulação do que já existe. Por outro lado, existem
empresas de comunicação que têm o seu espaço na Rede simplesmente por uma questão de
status. Estas empresas estão seguindo uma tendência, e isso é importante. O perigo reside em
partir para o mercado on-line sem reconhecer o verdadeiro potencial dessa nova mídia. Seguem
uma onda, mas não compreendem aquilo que fazem de maneira racional, apenas intuitiva. Para
compreender a Internet, é preciso estar conectado a ela, prestando atenção em sua diversidade.
Construir um site Web precisa ser algo mais do que mera técnica e contar com profissionais aptos
a desenvolver um produto de qualidade. A seguir, David SHENK discute a importância do
profissional de jornalismo nesta era do excesso de informação:

“Jornalistas na era pré-eletrônica atuaram como caçadores-coletores,


visivelmente procurando por alguma coisa que eles pudessem achar.

Embora a informação tenha vindo em superabundância através dos últimos


cinqüenta anos, este papel de caçador-coletor tem sido parcialmente traduzido
como obsoleto. As pessoas têm se tornado seus próprios editores e
transmissores, e novas informações têm se tornado relativamente fáceis de vir à
tona. Na realidade, uma formidável indústria da notícia instantânea tem
emergido na forma de CNN, CNNfn, MSNBC, e agrupado todas as outras
— redes de informação, canais, e instrumentos de notícias, para nos alimentar
com petiscos de notícias por 24 horas diárias.

Mas a indústria das notícias instantâneas supre-nos com entretenimento, não


jornalismo, e tal qual é parte do problema de excesso de informação.
Enquanto a maioria dos assuntos mencionados na atualização de notícias a
cada hora é de grande importância nacional ou internacional, as verdadeiras
pepitas da notícia sendo reportadas são de pequeno ou nada prático ou
intelectual valor.” *(3)

Esta avaliação da notícia nos dias de hoje é necessária e, ao mesmo tempo,


assustadora. Este aglomerado de notícias tende a aumentar cada dia mais graças à Internet. Este
emaranhado de informações por todos os lados tem um valor, muitas vezes, de entretenimento,
dada a situação em que se encontra a nossa sociedade e o homem no seu aspecto mais humano.
Com a sociedade repleta de informações, cada um alimenta o seu interesse superficial com
notícias da maneira que bem lhe satisfaz. Vale notar que a indústria da notícia “fast-food” cresce
conforme a demanda do seu público por este tipo de notícia.

Neste meio tempo, o que vemos crescer é uma aparente redução na


importância do jornalista, quando qualquer pessoa pode fazer aquilo que considera jornalismo,
apenas preocupando-se em enquadrar sua escrita nos moldes normativos da língua. Saem
distribuindo o que Shenk (1997) chama de entretenimento: um monte de fatos contados a partir
de um ponto de vista dramático, não crítico. Os limites entre o dramático e o crítico são tênues;
assim, tanto o emissor quanto o receptor (ambos despreparados), estão à mercê da indústria de
notícias “fast-food”.

A Internet tornou-se uma agravante desta epidemia, pois não pode (nem
deve) haver um controle deste tipo de manifestação pseudojornalística. No entanto, isto não
reduz, de forma alguma, a importância do jornalista. Pelo contrário, reforça a necessidade dos
profissionais de imprensa, como explica SHENK (1999):

“Na verdade, jornalistas são mais necessários no mundo do excesso de


informação. Como um filtro cético-analítico e — agora mais do que nunca —
como um árbitro das reivindicações, a mídia é de uma indispensável utilidade
pública, cada bocado tão vital quanto nossa eletricidade. Em um mundo com
um tanto de informação amplamente maior do que se pode processar,
jornalistas são os mais importantes processadores que nós temos. Eles nos
ajudam a filtrar as informações sem pendermos na direção de uma ou outra
empresa. Ainda, porque a sociedade se tornou fragmentada, é o jornalista que
provê a cola para manter-nos pelo menos parcialmente intactos como uma
unidade comum. Porque para a democracia, como nós a conhecemos, um
desvio midiático seria um desastre.” *(4)

A falta de um jornalista, principalmente no Brasil, não é motivo


preponderante para que um veículo de comunicação exista ou não. O que muitas vezes vale
nesse meio, é a possibilidade de lucro que tal veículo de comunicação vai dar aos seus
proprietários. O que rege os veículos de comunicação — mesmo os grandes, “dotados” de
excelentes jornalistas — são políticas de interesses, em que os principais beneficiários não são os
leitores, mas os posseiros da mídia. É fato consumado que o jornalismo puro não existe.

Isso deveria gerar uma preocupação ainda maior na formação de


profissionais preparados para serem críticos (construtivos) da sociedade. Talvez mais do que
caçadores-coletores de notícias, filtros de informação. Na Internet, qualquer amador que domina
um desses programas para “construção” de sites Web, será seu redator e editor. Não existe
problema algum nisso, obviamente. Problema reside em sites que, além do seu conteúdo próprio,
querem funcionar também como veículos de comunicação. Mas o despreparo, em primeiro
lugar, torna-os reprodutores de notícias. Segundo, quem são os filtros dessas reproduções?
Quais são os parâmetros para avaliar o que é bom ou ruim? O que deve ou não ser divulgado?
Terceiro, que tipo de público o conteúdo deste site pretende atingir? Qual o perfil do seu
usuário? Quem define sua linha editorial? Quarto, que tipo de designe é desenvolvido? Quinto,
que tipo de pesquisas e fóruns são formulados? Qual o termômetro para esses debates e quem
avalia o conteúdo das participações para poder tirar conclusões críticas?

Nesta infinidade de problemas, procuramos formular algumas questões que


deveriam ser solucionadas por jornalistas e, possivelmente, formuladas por estes profissionais da
comunicação. “Os jornalistas não estão limitados às ‘notícias’”, diz SHENK (1997). E continua:
“Jornalistas ajudam a explicar nossas próprias vidas e sociedade.” Se não os jornalistas, quem mais vai expor
fraudes e falhas médicas? Quem mais vai ligar os políticos às suas promessas? Quem mais vai examinar o
designe, o conteúdo e a honestidade dos comerciais? Quem mais vai monitorar o vínculo entre contribuições para
campanhas e favorecimentos políticos? Quem mais vai monitorar a segurança das linhas aéreas, trens e
automóveis? Por esta simples razão, nós todos precisamos desesperadamente dos jornalistas”.

3.5. Internet e Globalização

A Humanidade viu surgir com apreensão o processo de globalização, que,


de certa forma, é conseqüência dos avanços das tecnologias emergentes de comunicação. Custo
e sofisticação só permitiram que entrassem neste jogo, as megaempresas transacionais e o topo
do mercado financeiro.

Na virada do milênio, os homens encontram-se interligados,


independentemente de suas vontades. Mesmo que não nos desloquemos, o mundo chega até
nós através de traços culturas e tecnológicos, que penetram em nossas casas, invadindo nosso
cotidiano. O planeta, antes vasto e tão longínquo, passa a influenciar e a modificar hábitos,
costumes e valores, conseqüência da “cibercultura” que floresce pelo mundo afora.
Nacionalidades não valem mais tanto diante da proeza de poder se tornar um cidadão do
mundo, agora, globalizado. Este reflexo nada mais é do que um dos fenômenos mais discutidos
da atualidade: a Globalização, que ocorre basicamente nos planos econômico e cultural,
causando uma transformação profunda no cenário do planeta neste final de século.

A Globalização é um fenômeno emergente, um processo em construção. É


uma atividade econômica mais avançada e complexa do que a “internacionalização”. Implica um
certo grau de integração funcional entre as atividades econômicas dispersas. O conceito aplica-
se, então, à produção, distribuição e consumo de bens e de serviços, organizadas a parir de uma
estratégia mundial e voltada para o mercado mundial.

A Internet é uma peça fundamental no processo de globalização. Por ela, a


distância passou a ser um fator irrelevante nas transações empresariais e comerciais. Com a
Internet, é possível adquirir matéria-prima, por exemplo, de onde for mais barato, em qualquer
parte do mundo. Atualmente, com a grande evolução dos meios de transportes, um produto
importado sofre acréscimos de 5 a 10% sobre seu valor. Essa comunicação efetiva com todo o
mundo é, também, um “agente facilitador” na instalação de fábricas em países onde a mão de
obra é mais barata.

A Globalização cultural é conseqüência da grande evolução dos meios de


comunicação, num primeiro instante graças ao cinema e à televisão. Agora, num segundo
momento, graças às tecnologias da comunicação mediada por computadores.

As sociedades não são estáticas e o dinamismo da vida coloca-as na


presença umas das outras. Assim, elementos culturais são exportados e importados
constantemente. Os países mais desenvolvidos formaram uma espécie de “centro difusor” de
suas culturas, as quais acabam se impregnando nos países em desenvolvimento. Há até quem
acredite em uma homogeneização do mundo. Mas isto é improvável, pois há áreas isoladas,
mantendo-se repletas de tradições. Além disso, por mais que uma cultura fique permeada por
elementos globalizados, ela sempre manterá uma particularidade. Mas o que é inegável é que as
culturas dos países estão cada vez mais parecidas, formando-se o fenômeno da Globalização
cultural.

Notas:

1. 3Dnow!: Tecnologia utilizada especialmente em jogos para videogames e computadores que


permite uma construção detalhada de ambientes tridimensionais, assim possibilita maior
qualidade e rapidez na movimentação dos personagens dos games.
2. Os populares 486 e Pentium são processadores produzidos pela Intel, que hoje fabrica os
tops de linha Pentium II e Pentium III. Apesar de não ser um computador, o processador
sempre define o nome da máquina em que está instalada e constitui a parte essencial do micro.

3. “Journalists in the pre-elettronic era acted as hunter-gatherers, foraging for virtually anything
they could find.

As information has come into super-abundance over the past fifty years, however, this hunter-
gatherer role has been rendered partially obsolete. People have become their own publishers and
broadcasters, and new information has become relatively easy to come by. In fact, a formidable
instant-news industry has emerged in the form of CNN, CVNfn, MSNBC, and assorted other
all-news networks, channels, and news wires, to feed us news tidbits all dav and all night long.

But the news-flash industry supplies us with entertainment. Not journalism, and as such is part
of the problem of infrormation glut. While most of the subjects mentionad in hourly news
updates are ot great national or international importance, the actual news nuggets being reported
are of little or no practical or intellectual value”.

4. “In fact, journalists are more necessary in the glutted world. As a skeptical analytical buffer
and-now more than ever-as an arbiter of statistical claims, the news media is an indispensable
public utility, every bit as vital as our electricity and gas lines. In a world with vastly more
information than it can process, journalists are the most important processors we have. They
help us filter information without spinning it in the direction of one company or another.
Further, as society becomes splintered, it is journalists who provide the vital social glue to keep
us at least partly intact as a common unit. For democracy as we know it, a bypassed media
would be a disaster.”
IV. Conclusão

Neste estudo sobre a Rede Mundial de Computadores, foi possível trazer à


tona muitas dúvidas que ainda permeiam as mentes de internautas e potenciais internautas. Um
grande contigente de pessoas ainda não sabe exatamente o que é a Internet. Muitos são usuários
da Rede, mas não sabem que a World Wide Web não é a Internet, mas existe dentro desta. Outra
conclusão a que chegamos é que a relação entre computador e Internet foi um ponto muito
importante neste estudo. Ver a importância que os Personal Computers estão exercendo em nossas
vidas é um ato de reconhecimento do momento em que vivemos. Estamos aqui, de certa forma,
contribuindo para escrever um pouco mais da história contemporânea.

A decisão de estudar a Internet não é simples, pois vemo-nos frente a um


mundo novo: o mundo virtual. Imaginemos a possibilidade de encontrar outro planeta habitado
como a Terra. Se fôssemos estudar cada item, cada cultura, diferença geográfica, forma biológica
etc., levaríamos milhares de anos. Esta é uma comparação que gostaria de traçar quando falamos
em Internet — levando em consideração que a Internet existe há menos de três décadas. Outro
desafio que encontrei, no decorrer dessa pesquisa, foi a escassez bibliográfica sobre o assunto.
Muito do material científico mais recente sobre Internet, está em inglês ou francês.

Quando encontramos publicações em português, ou foram publicadas por


editoras lusitanas ou já vivem um certo atraso de dados, lembrando que a evolução diária da
Internet e seus números imprevisíveis contribuem para isso. Neste momento da pesquisa, tive
que recorrer a publicações especializadas em informática e Internet, tais como revistas ou jornais.
A Web também foi fonte de dados para esta pesquisa, porém, o grande volume de informações,
às vezes, atrapalha no momento de selecionarmos somente aquilo que é útil.

Descobrir que a Internet é muito mais do que um computador ligado a


outros — e assim por diante —, deixou-me muito excitado e intelectualmente mais realizado.
Pude vislumbrar (e perseguir), neste estudo, uma visão maior sobre o lado humano da Rede. E,
posso garantir, esse aspecto surpreendeu-me, e muito. Minha esperança é poder sensibilizar
outras pessoas com este trabalho, uma vez que me sinto profundamente mudado por ele e,
conseqüentemente, pela Internet.

Este trabalho, a meu ver, está embebido pelo que considero acompanhar a
trajetória da humanidade. Por uma sociedade melhor? Talvez. Mas certamente, com a busca de
novas alternativas através dessa nova mídia possibilitada pelas CMC. As interconexões pessoais,
as comunidades virtuais e as inteligências coletivas criando uma nova cultura, a “cibercultura”,
cria em mim um estado de êxtase ao poder visualizar um novo momento, de transição. Com este
ensaio, muito mais do que seguirmos uma onda tecnológica ou midiática, procuramos nos
antecipar ao pensamento ou às tendências correntes. Compreender de maneira real aquilo que é
virtual e como “estar” virtual sem deixar de ser real. O novo mundo, agora, não são mais terras a
serem descobertas por navegantes entusiastas dos séculos XIV e XV, são terras virtuais,
“cibernéticas” a serem construídas pela humanidade.

Produzirmos um site Web é muito mais que desenvolvermos um designe bem


elaborado e bonito. Significa unir funcionalidade e beleza à capacidade de criarmos um ambiente
de interação. Tivemos, para isso, que compreender a mudança que existe em nosso público, que
deixa o status de leitor para ocupar uma nova posição, a de usuário. A Internet não é um novo
estilo de mídia — pelo menos por enquanto. Vai contra os padrões decorrentes da comunicação
de massa. Cada pessoa por trás de um computador, reserva para si uma identidade. Ela pode
estar onde bem lhe interessar, deixa de estar passiva frente à informação para colocar-se de
maneira atuante perante ela. Agora, com a Internet e, especialmente a Web, o usuário, muito mais
do que um receptor de informações, é um emissor. Ele recebe e envia mensagens, interage.

Criar um produto, levando em consideração estas transformações humanas,


foi (e é) a intenção ao transferirmos a imprensa para o “ciberespaço”, dando a ela, portanto, sua
formatação on-line. A Web não pára e, por incrível que pareça, ela anda a cada dia numa
velocidade ainda maior. Com o advento de novas tecnologias, a tendência é essa velocidade
aumentar. O poder de transformação também é característica presente na Internet. Assim,
precisamos, daqui para frente, colocarmo-nos numa posição de flexibilidade para
acompanharmos as mudanças da Web e as mudanças pelas quais a sociedade tem passado na
construção da “cibercultura”.

Podemos concluir que a nossa incursão, portanto, na era digital, diz respeito
à nossa participação e atuação na Internet e na Web. Muito mais do que a simples publicação de
um conteúdo preexistente, uma reformulação em nossa concepção de mídia e de público. A
Internet abre uma janela para um novo milênio, uma nova era na qual todos estamos inseridos.
Uns conscientes disso, outros não.
V. Bibliografia

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Este ensaio se apropria do conceito baseado em Copyleft para distribuição do material. Fica
autorizada a distribuição gratuitamente, a reprodução integral ou em partes, desde que citada a
fonte. Deverá ser encaminhada uma cópia ou a URL em que o material foi publicado, para fins
de arquivamento.

Os direitos autoriais para comercialização pertencem a Helber Guther Faggion, conforme


registrado na Biblioteca da Universidade Estadual Paulista (Bauru-SP), no ano de 1999. Não está
autorizada, pelo autor, qualquer forma de comercialização, apenas a distribuição e reprodução
gratuita.

1ª Edição Digital – 2001

Faggion, Helber Guther. História Digital e Jornalismo On-Line. Ensaio. São Paulo-SP:
http://www.nova-e.inf.br Brasil: 2001.

Título original registrado na Biblioteca Estadual Paulista (Bauru – SP):


Site da Revista Adonai. Uma nova formatação Midiática. Bauru-SP: UNESP: 1999. Faggion,
Helber Guther.

E-mail para contato com o autor: gutherf@terra.com.br

Editor: Manoel Fernandes Neto (editor@mfn.com.br)

Revisão: Mara Mellini Jabur (maramellini@bol.com.br)

Quem é Helber Guther Faggion


gutherf@terra.com.br

Jornalista formado pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), com projeto de graduação na
área de Internet. Acompanha o processo de desenvolvimento da Internet comercial desde 1997,
prestando serviços para empresas de Internet e assessoria na área de comunicação para Web
desde 1999.

Como estar na Internet é uma verdadeira reciclagem diária, o jornalista se considera um


profissional apto a desenvolver e aprender com a velocidade que a Internet exige.
Consultor de comunicação, concentra-se na prestação de serviços independentes e parcerias para
desenvolver conteúdo junto a empresas que desenvolvem design, tecnologia e conteúdo voltados
para Internet.

Seus artigos sobre Internet, nova economia, cibercultura e conteúdo podem ser encontrados em
diversos sites e publicações na Web.

Colunista desde novembro de 1999, em outubro de 2000 assume como editor especial da revista
www.nova-e.inf.br, com o objetivo de coordenar ações editoriais de comunicação, amparadas
por conceitos de inovação e vanguarda do projeto editorial. Apelidado na redação de
"combatente de excessos", faz da sua carreira uma declaração de fé no futuro e na ética entre os
homens. Aleluia !! Um profissional de coragem!!!

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