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O letor te ‘quisas com perspectiva socal sobre misicaem lingua portugue- sa. A Historia esté bem representada na pres comos trabalhos de Marc Hertzman, Anais Fléchet e Gustavo Alonso. Masa discipina quatitativamente mais presente neste livro é a Sociologia: ses trabalhos num total de onze. Esta é talvez uma das caracteristicas que mais singularza a presente Ficas, sem que io jamais incorresse no ponto de fusio dos estudos das duas corrents, Assim, uma “semiética marxsta”podia concorcer com um *mansizma socoldgice estraturaista” na explcagSo de um fico evento; isso nBo significava prontamente que ambos os lados entrariam em cooperagdo, ou que ao menos fosse desenvovido um pedro de Intercimbio cosrente em termos centfico-flosofico entre tle. Continuavam a existr as “sociologias,“histéias”e “antropolo: bias" da arte, com base nos pressupostos tedric de cada uma dessas tlscplinas, apoiados ~ ou nfo ~ no paradigma cientfico de época, © a5 demaiscisciplinas“estétcas’, também embasadas - ov no 0s ‘mesmos paradigmas. HH, como se no astasse, um complicador em todo esse de senrolar de cisdes,auséncias e mal-entendidos que tomaram a tareta das cidncias socials histricas dura einacabada; vou além:talvez este ‘sj principal complicador Ao se tomar como abjetoa musica, mals hermética das artes, o argumentadeslindado até aqui faz mals sentido ainda. Em comparagio com a iteratura, por exemplo, que empress ‘como signficante a mesma linguagem 0 snalist, sea ele qual for, 2 risica ¢ mil vezes mals exigente em termos ténicos. Obvio que hé bismos estruturals separando uma obra da outra em todas as mani- festagdes artisteas, como a0 Se comparar um texto de um eseitor/ jomalsta com um do James loyce, e que camnadas de signficagto pre Sentes no exemplar mais elaborado demandam certa erudigdo ou © Conhecimento de um especialista pare sua decifrarso. No entanto, 0 sotilogo, historia, antropslogo atento erelatvamente culto, com horas de investimenta em letras de producGes itrérias, em estu dos terri © estéticos apropria-se de ferramentas que o permitré0 tempregar uma leturaimanente, analisando elementos correlatos 208, dos concementes 2s estudosIiterdrios. Se nosso hipatetico socilogo (antropéiogo etc) conseguiré ou nfo aproveltr seu conhecimento de Sociologia (Antropologia etc.) € estabelecer com sucesso uma cone 22 omit cerbariFemande aos Sandon (Orgs) so consistente ent 05 dolstpos de saberes ~ cientifco/his6r (oe esti -, isso & outra histéra; imports 0 fato de que apenas boa vontade, uma boa formagéo cultural eelgum tempo despendido ‘fo suficlentes para que ele tame nota do crucial no campo de est os iRerérios, armando-se de um arsenal que, em tese, 0 capacte 2 {orrelacionar seus saberes “externas” com um escrutinio “interno”. 0 mesmo ze passa com as artes plsticas,pietéricas, cinematogrfias, ‘otegrfias, corporals,paéticaset., por mas spares, eufemizadase autorrelacionadas que tendam ase tornar as priicas ¢ obras de cada tm desses universs. interessante ressatar que os estudos que logra- ram concatenar ambos os modas de andlse, 0 “centfico” e o“estt- (0% $80 rar0s, 0 que reforc ahipétese de que a natureza dafrontelra {que separa or dois campos “inimigos” de estudas € tanto poltico-eco- mica quanto légica ~0 que jd hauls sido ressaltado pela Escola de Frankfut Haj vista nfo haver grande percalgo tecnico, como fl cio, ‘que obstaculzasse desde 0 inclo dos estudos em ciéacas humanas ‘intercimbio entre os modos de apreensio “estétco” e “centico’ cespacificamente nesse imbito, ‘i com respeito exlusivo & masica, 0 cendro muda drastica mente Seriam necessérios anos de aprenelzado para que um nedhito, rdquirsse a competénela minima de compreender os sinais eas com binagBes que cadificam as préticas, excita e composiclo musial. No «que as demais manifestagbes artistica selam inferores, mas simples (v0 que quer que seja em relagdo 8 misiea; ocoreesimplesmente que a5 convengées musicals, dferentemente de todas as outras, se desen- \olvem em autro “alfabeto", com “gramstia’, "sintaxe”, “morfologia” fe “fonolagia" completamente destoantes da Inguagem ordinéria. A ‘esse grande empecilho some-s ainda o fate de que, paraacorreta de codificagio de melodia, harmonis ertmo, &necessério 0 que Weber chamava de “carisma’, ou seja, uma qualidade intrinseca a0 indviduo, ja existenca ou no ¢ um tanto inexplicavel. Nesse caso, estamos falando de um ouvide musical, ouseja, de uma espécie de auclgto que pode ser “ecucada” a duras penas, €verdade, e que sejapassvel de ‘aptar as nuances © demals elementos exgides para a confecglo das, corretas escritae litura musical ‘Tendo repertoriada breve e incompletamente alguns dos di lemas que envolvem a (ni) construgio especifica de um paradigma isa eens soa pare gramacto 23 assentado nas céncias socials e histérieas que d margem aos seus praticantes de relizarem pesquises com a mesma seguranca e destre- za que seus clegaso fazer em outras reas etemticas,pass0.8.pre- Sentar o que este lira page fornecer de novidade em relagdo 20 pa norama que integra os estudos Sobre musica Digo j desde aqui que, Gecerto, este livro no salucionaré as questées apresentadas acima, rem se prope excusivamente a iss. No entanto, os textos reunidos {uardam a consciéncia de que tas problemas exstem, e seus autores incomodamse explcitamente com iss9, principio para que em algum momento eles venham a ser ultrapassados. O confronto com uma bi blografianativa e internacional ampla, que envolve desde as produ Bes dos classos até ax mais recentes da Sociologia, Antropologia€ Fistia da arte eda cultura (Max Weber, Erich Auerbach, Piere Bour dieu, Norbert Elias, Bernard Lahite, Antoine Henoion, Quentin Sin ner, Nathalie Heinich, Michael Baxandall, Raymond Wiliams, Howare Becker ete) dé a certeza de que, 20 menos, uma contribugSo inécita cesté sendo ofertada & academia brasileira. Contando com artigos de Jovens professores cus intutos se compatiblizam em buscar a inova- {do na abordagem {in}disponivel para idar com o objeto musical nas Ciencias Socais, crouse um exemplar raro de coleténea nesta rea, cus consisténcia © unidade podem ser aestadas tanto pelo modo de ‘preensdo do material analsado quanto pela patina de motivagbes tepistemaldgics e metodalégicas as mais atuas, ‘Assim, apés as “aporias”terem sido apresentadas,parte-se para a tentative de lidar com elas em diversas frentes, por meio do Confronto em variados contexts esituarbes. Olivo se divide em duas pertes: na primeira, hd a primatia de textos cujs interesses voltam se mais bs questBex metodolégicas,hstéricase epistemolggieas nas Cidncis Socais, No quer dizer que 0s artigos embrenhern-se apenas pelas veredas das discusses metateéricas ou metodoldgicas, despe- fads de qualquer situagd0 ou exemplo empircos; antes, a partir de stuagBes especifics, aponta-se pare questOes metodolégias ou ge nealbgieas que conformam, geralmente a surdina, os pontos de vista de todos os engajadas na compreensdo da dindmica do universo mu sical. Na segunda parte, 05 artigos voltamse mals ao exame de deter: mminados géneros musicals, movimentando as anliseshistrice,socio- Tégieae antropolgica no intento de clrificarprocessos de imbricagao 24 mit ceboriFemanée & Cals Sendon (Og) desses géneros com fatores e conceitos que a0 longo do tempo os vémn tlrigindo, Nao que no haja, da mesma forma que nos textos compe- rents da primeira parte, um esforso de reflex tedrica ou metodol- fea explicit; ozorre que a intencéo principal colocsnalinha de frente 6s prSprios g2neros musicals e seus personagens centras Abrindo primera parte da coletines, Frederica Barros, em Sociologia da Misiea: entre 0 rigor histories e a citia de arte’ ataca logo de cara o que ver sendo anunciado 2 longo de todo este {eta de apresentagio: empreende uma andlse das teariasevstentes apontando para as contribugées estabelecidas, os limites e 05 con: ‘tos entabulados entre a Histéra, a crtca musicale 2 sociologla da misiea, Novas solugSese inspiracdes que possam emancipar as cisbes, de todos esses campos sio relevadas, em um esforga profi e sin- ‘etico de galear um novo estado das artes. A seguir, Marc Hertzman, fem "Fore de mada e sem lugar ioe cultura na formagao da Escola, Usplana (1960-70), procura responder, com muita criatvidade na ‘montagem do argumento, a uma questio crucial para este compo: 0 porgu® de a misica, enquanto objeto terse apresentade de mancirs fomletamente marginal usto no momento quigé 0 mals rico de cons ttuigdo das Ciéncas Sociais nacionais: 0 da fundagdo da denomina 4a Escola Uspiana de Sociologa, bem como as possves decorténcias desse fto para os estudos sobre misics no Brasil. Anas Fléchet, em "Msicae relagBes internacionais:O Conselho internacional da Ms: ca, a Unesco € a Guerra Fria’, busca compreender, langando mao de farta documentacéo inédlta, a constiuigdo do Conselho internacional {de Misica da Unesco. Fléchet toca o cerne de uma questa clssica: ‘0 modo pelo qual as artes eas instituigdes que 2 abrigam podem vir 1 aleangar certos pardmetros de Independéncia relativa em uma con- Junture arelada fortemente &cndmica politica, no caso, aderivada da {Guerra Fra, Omit Cerboncini Fernandes, em "Margeando a cultura: 0 samba eo choro em sua bibiografa prépri’,tensionaanalticamente (0 us0.e o emprege indscriminado de determinado tipo de bibliografia ruiteutlizada nos estudos sobre misica popular: abibliografia nat ‘a, eriunda dos agentes engajados nos jogos e dsputas do campo. AS tensées entre bibliograia académica e native, as colaboratées e pos siblidades de controle cienifico e metodoldgico nessa dreasio tema tizados,sobretudo em relagdo a0 que ocorreu com o samba eo choro Mina elie soils pae garage 25 ae lange do século XX. Charles Kirschbaum, fnalzando a primera par te, em "Uma aplicacbo de métodos quantitativos para Misia e Cin clas Secias redes eestilos no jaz2,escrave sobre as possibilidades de tescolha entre métadas quantitative e qualtatvos nas anlises sobre msiea popular. Tomando como exemplos algumas stuagGes tiicas do jaze no s6ulo XX, Kirschbaum ealoga com vastabibliogratia nter- hacional no intento de demonstrar © quanto saber lidar com dads Cbjetivos pode auxliar na empreitada de esclarecimento das redes de relagdes que estruturam esse amo de estudos, quase que completa ‘mente dominado no Brasil por problemstias qualtatvase histérices {que lgnoram por completo qualquer artfcio quantitative proveniente de outros dominios Iniciando a segunda parte da coleténea, Felipe Trtta,em "O ‘popular na misicatelevisive: 0: casos de Chelas de charme e Aven. dd Bras trabalha um tema muito cao 3 atualidade: com proprieds de tedrica e movimentando muitas fontes, ele desvenda © medo pelo ‘qual determinada esttica “popular” musical ncrustou-se nas novelas de grande sucesso, comandando quase que todo o arranjo do enredo, da consttugio de seus personagens e de suas narrativas. 0 cirulto social que envolve dvetsas insu e personagens paralelosass0- ‘ma com nitidez, destraldando assim 0 modo pelo qual uma determi nada espécie de musica “globalizada” péde ser difundiéa e adaptads a realdades locals e nacionais. Gustavo Alonso, em “O sertdo univer Sitio a seu turn, tata de tema também inusitado,atual e muito pouco estudado: 0 denominado sertanejouniversitiro,aesttica que Ihe da respeit ea genealogla de sua constituicdo enquanto “genero" expacificg, Tematizando os grandes sucessos do momento, fazendo Uso de andlise de entrevstas de artistas, revitas et, ele compte um cenétio sociologlomente muita interessante, que quase ninguém da academia tomava a sério antes de suas competent e esclareced: fas assergbes. Arthur Coelho Bezerre, em “Modernism, tropidlia rmanguebeat: antropofagia muslal brasileira em tres aos", por outro lado, retorna a um tema aparentemente j6 multo sualzado, porém, com uma embocadura completamente original: ele busca trac uma teenie de linha de continuidade entre © que vila a ser uma esteica {ue ultrpassa geragBes no Brasil e como ela tera vindo a se imiscuir ‘na misica popular em determinados contextos sélo-hstéreos:&an- 26 oma ov ena 6 Clos Sno (Ore) tropofagia. Fernando de Jesus Rodrigues, em “Estruturas socials do amor do sexo e as emogbes exético-dangantes no pagode balano”, {eslinda provocante andliselancando mo de materials pouco empre fides, como 05 videos musieas,sobretudo os fliados a0 denominado “pagode baiano", Ele visualize os respectivos padres de sewalidade associados com a pritcae a fruigso em espetaculos filmados e div: fados em meios virtuais. Um panorama desconcertante em diversos Ambitos € rerado dal, desfazendo mitos e pudores que até mesmo académicos cismam am manter. Elder Maia, em “Arte, técnica, mer ‘ado e memoria: 0 género musical allo” ealiza um estudo escorado na Histéria social eno que hé de melhor disponvel em termos de so clologarelaconal, ade Norbert Elias, no intento de éesnaturalizar di ‘versas questSes dadas de barato pela bibliografia académica eo senso ‘comum: como se deu a ascensio da bali enquanto génera ea idela ‘que ele acarceta de sertdo, uma criagdo que envolve dlversos agentes ‘emeios de dvulgarso na segunda metade do século XX. Marina Bay Frydberg, em "E chore quem guise chorar’; uma experiéncia etna: fica do ensino da misica popular, por fim, nos dé uma mostra de ‘eximia etnogratialevadaa cabo na Escola Portail de Musica do Rio de Janeiro, temple de eifusSo,ensinoe, 20 mesmo tempo, contemplagso do choro, Por melo de relatos de campo e exame de entrevista rea lnadas com os prinipais personagens daquele recinte @engrenagem da manutenco de determinada espécie de tradiso na misica vern 3 ‘ona com mult nities © forca expressive, Este lvro se originou dos debates que integraram as apresen- tagQes do | Simpésio Internacional Musica e Ciencias Soca Teoria, Método eFronteras, evento realizado entre as dis 2022 de nove. bro de 2013 na instituto de Clencias Humanas da Universidade Federal de uiz de Fora, e que contau com apaio financeio e institucional ds Coordenagio de Aperfeigoamente de Pessoal de Nivel Superior (Capes) do Programa de Pés-GraduacSo em Ciéncias Socials da Universidade Federal de Juiz de Fora (PPGCSO-UFF). Agradeco imensamentea todas 235 pessoas que abragaram a dela e tomaram parte na organizagio do evento = um sucesso de piblicoe erica, do inicio ao fim - e que, por conseguinte, 0 tornaram possivel, dentre os quas os alunos de pbs: ‘graduagao Baltazar Astoni Sena lullane Roche Lara, José Wellington de Souza, Fabio Ricardo Ribeiro dos Anjos, Joana Brite de Lima, Jacque. isa tc son poe sgrracio 27 line Dias da Siva, Ricardo Galsine Maciel, Virginia Rodrigues Strack, Lal de Oliveira, Astrid Sarmento Cosac,e 0s graduandos Bruna Candia Saad e Thiago Romeu Alexandre. Eles ainda me auxllaram na revisio fe adequagio dos textos originals. Agradeco, por fir, a todos 0s pales trantes que gentimente cederam seus textos para Integrar este lvro, cule fnanciamento ocorre por conta do PPGCSO-UFIFe da Editora da Universidade Federal de Juz de Fora Olivo dedicado a trés pessoas multo especais:&professore ‘Marta Mendes da Rocha, que me estimulou e axliou desde o inicio a levar a eabo ‘idea de realizar um simpdsio “desde o zero"; Celia e a0 Paulino. Sem eles, nada csso teria sentido. Referéncias ORKHENMER Moe Ters dal tor cit. GEMIAMIN Were aos ‘eather S80 Pau: Abt Cut 1983 p 11761, (ClepD Os Parades, 8 HOMIE: REVUE FRANCAISE DANTHROPOLOGIE. Musique et Anthropol Par tess CRS cM: Seta Fang dthnomusetopen 171172, afer 2008 APOUTANG, Marco, tra & Musik: Nii url de mise popular Belo Stoel, Geo, Pctologiche and etnologiche Suen Uber Musk Franka Salvia, 198, \WALt0RT, Leopoldo. odio. in WEBER Mn Os fundarentsrocanos 0 WEBER, Mox 0: fandomertos recone solilor da mine. So Pal: Esp, 28 omits carsoncn erande & Cro Santa Ors) PARTE | Musica, Método e Histéria Sociologia da miisica: entre o rigor historicista e a critica de arte? Frederico Barros Em certo sentido, ottulo deste texto pode levar um ctor de savsado a esperar algo que apenas indiretamente far parte de minhas preoeupaeSes prinelpals.Pioralnds, minha deia de pensar a sacolo fa da misies como posicionada entre uma perspectiva historcsta€ critica de arte pode sugerrimpliitamente que ambas so antagéni- fas, algo que arica a me colocar em striae apurasdiante de muitos Ge meus colegas nas duas areas. Anal, muitos poderso argumentar =e com 1a230~ que a critica de arte que praticam se nutre da pesquisa histrica mais rigorosa, ou que, por outro lado, fl preciso consular ‘voit bbllograiana rea da critica Iiteria, musical ou de ates visuals para se elaborar um dado trabalho cujas questdese concustes se al- tinam inequivacamente as Ciéncias Socials, Lnge de querer, agua rnetar ou marca diferenca em relagdo a esses colegas, minha intencao « precsamente a de me juntar a eles, rfletindo sobre algumas df ‘uldades epossives Solugdes para certs impasses de nosso trabalho. ‘as, final, qual 6, enti, meu objetivo ao propor que pen: semas a sociologla da musica nesses termos? Gostaria de falar aqui do lugar da andlse musical no trabalho sociolégco sobre musica, etabe: lecendo aquelas duas perspectivas~ a da critica de ate ea do histor tismo ~ como ndo muito mais do que pontos de eferénca provsérios, para que possamos encontrar um “gar de entrada” e uma aborda: tem para a dscplina € caro que, quando falo em “histriismo sim plesmente, torna-se dif saber a que me refiro, o mesmo valendo ara. nocdo vaga de “rica de arte". No entanto, aqui me interessam ruite mais algo como posturasgeras nas respecivas empreitadas 60 aque abordagens especiicas, cada uma com suas iiossincrasiasteér- «as, dentro do que cada um desses “guarda-chuvas" poderiaabrigar. ‘A questdo € que os dols problemas — 0 lugar da anise © 3 Gecatbnica e a misica nacionalista brasileira e de outros pases; mi: sleas “populares urbanas” brasileira dos Estados Unidos e, em graus variados, de paises come Argentina, Franga tla e Cuba; 0 “folcore brasileiro tonal e modal etc. Além disso, cada uma dessas misiast nha seus locas privlegiados de producdo e crulaclo, como rao, ‘orquesteas, institugBes de ensino, bares, cassinos, gaficrasesalas de ‘concerto, trazendo jé dentro de si uma sérle de “marcas, cbdlgos € modes de fazer proprios a elas e aos espacos onde eram produzidase veiuladas. Tu isso persist em sua prépra constitu e, na medi da em que constitl as obras de Guerra-Peve, leva para dentro dessas, bras algo daquelas "marcas". ‘Como saiemos, a musca que Guera-Peixe vin criando desde ‘fim dos anos 1940, quando comesou a tentative de nacionalizar seu do- decafonismo, era prneipalmente destnada is sas de concertos eescrits Tas, dese peruntar sen seat do mero; ses las de uma mise "cloral no ganar now fora rnd po asa das vas desde Af ‘al se realsme sodas pron sige como uma “elgya0 2 oo cla ds, an arcuaéa 3 oma slag ds om 2resporta do Olsen caplata ‘= Congresses pes Pa Raslme Socialists, ver Arbex (2012); sobre venguardas, ver Cahina 0987. Mise ec soca para lagramasto 35 para instrumentos dessa tratio" Porém, era mica realzada por urn ompostor que e encantrava em muits sentido na perfriado mundo focidental e que, mas importante anda, se sentia como tel, Para os a tistas da epoca, so signficava que no Bras no hava propriamente uma tradigio de masca de concerto, uma escola nacional ou qualquer coisa do tio, e que, por consequlncl, os campositores brasleros que prece Geran os maderistas ram vists como pratcantes de uma mises “ev ropeizada”~ mesma aqueles que & nutram algum tipo de nacionalsmo. Desse modo, bea parte dos esfrgos ds primeos modernists se voltou paraa casio dessa “‘misicabrasler", oque poderaserfeto, segundo o fue se pensava, parti da incorporagie de elementos propos da cultura Go paisa uma msiea que continual a ser Feita nos moles da misica de concerto europea (TRAvAs508, 1997, princpalmente cap. 4 5). O curio Sa perceber que em grande parte eles tater ndo divergssem quanto a fond tragar alin que dhide os “elements proprios da cultura do pas” aqueles que Ihes so exteriores. A maoreiscordancia entre eles pareca, ‘sero significado cncreto da dela de “incorprar elementos baslieos", tfoiesteo principal alo que os compostores da geraco de Guerra-Pebe fescoheram para atacar aqueles que os atecederam (Es, 2004), ‘Guerra-Peine buscava, eno, fazer misiea de concerto Inco porando os elementas que entendia como “nacionals” de uma ma reir que jlgava set mais consequente e rgorose do que os compe: sitores brasleros anteriores faziam, dlagnostcando na misica dos modernists da primeira geracdo falta de “organicidade” entre 0 ma- terlaloriginado do “oleore”e o tratamento que ele recebia.Diante isso, determinava ele, quem quisesse realmente produzir uma més TE aver se cial sia em termos namie, ada 2 produtidade ‘Spoc (eanosn Drv, 1989. ete) uso concere Uriel Oa ages, quende ero o Bras wea toe 9 ‘uate com ox pales europe © Movimento Madesista Bras fo! Ipul STnaso pincipsivente or ene sentiment 30 Sure retovgze dos rss de npn pra sss ates, tna, dni, 3 part ds pesqusas as vanguard ropes quent, Sapam spars do ore” e ds dermis els relacionados 40 tora, quond se pasiou a contra que oa ster eur ene as (rndes ngs do murda ae ese cae de dar wr conto rsp, espe ‘mete sua nese cncet de ngBes(HAWISOS, 1997, MONS, 1575}. 36 bnivceoncin emande & Cro Sano Ors) nn Se carnacionaite que tvesse sentido socal deveria conhecer a undo a5 roniestacbes cuturais brasiras sobre as qual pretend trabalhar, Tonjugando esse conhecimenta com uma ténica composicional sida para que he fozse possivlciar uma mislea nacionaista que “Fotogrs- fassearisticamente ofolelore”, em vez de copie (EGG, 2004; FARIA Jn, 1997; GUERRA- Pere, 1986-1985 (1873), Neste sentido, dversos elementos da musica de Guerra-Peie so perceptivels no s6 como um encontro entre a musica “oleérica” {2 misiea de concerto, mas também trazem "marcas" diferencias de trasigbes mals expecifieas, No entanto, Guerta-Pele dediou indicios, ide que em suas pecas tentou evitar a criacao de um efeto de “co! cha de retahos", mesmo a0 incorporar elementos diversos de origens, ddspares, 0 que é corroborado peas critias que far = certa falta de organcidade que ele pareca enxergar nas obras dos nacionalistas da primeira geragfo (BARROS, 2013, especialmente o cap. 1}, ‘Como se pode ver, 0 desafio é conseguir mapear como Guerra-Peie fata para todos esses elementos se coadunarem sa tisfatorlamente, € aqui surge um problema que ado se resolve pela investigagaa puramente sociol6glea, mas que tempouco é de natu reza unleamente musicalgiea, visto que € preciso dar conta, por texemplo, do universo de debates e dsputas em que Guerra-Peixe festava encedade para que possamos entender que opgbes musicas, fram consideradas validas e par qué. Assim, conforme nos aprox! ramos de suas obras, s maneira especifica pela qual Guerra-Peixe “ineorporava elementos brasiliras” vai ganhando contornos mais nitides, tornando-se perceptivel que em cada pera os elementos ue @ formam, ainda que dispares, tendem a assumir uma feicdo prdpria que em certa medida responde 3s necessidades daquela obra, A questio & que a prdpria percepcdo —histérca e geografca mente localizada, evidente ~ do que sio “necessidades da obrat também precisa ser reconstrulda, Em vista disso, pouco se acres- conta 8 andlise a0 se fazer referéncla simplesmente a0 unverso de Drigem dos elementos presentes em uma pesa, Ao mesmo tempo, diseutir a técnica de um compositor como se essa fosse um dado absolute ou, em estreita relagdo com isso, pensé-la simplesmente 105 termes da milsica de concerto europea, dificulta a percepgio, {e que ndo ha como redusiros tas “elementos brasleiros” presen tes al ao papel que desempenham em termes forma. iopamesso 37 2Voltando a analise Voltando ao assunte que nos ocupa aqu, como se v8, dosar ‘2s explicagio ciassicamente socioldgies com a explicagao "interna" colocs o problema de decir quando recorrer acada uma dela. H& ue se reconhecer que todo trabalho intelectual depende do arbi- trio do pesquisador; porém, para além da importincia em si de se minimizar 0 arbitrério © quanta for possvel,& ciel escapar a sen- sagio de que, em um caso como o do exemplo acima, nao hé 0 que tomar como gula para elegermas as causas explicativas. Ou melhor, aqullo que nos guia fica na penumbra, debando passar uma série de pressupostos no declarados travestidos de objetividade - o que inevitével em alguma medida "Mas, nto, podemos perguntar: e se encontréssemos uma forma tnica de explicagéo em que se recorre a cada uma e a todas 3s dimenséesindistintamente, na qual se passa de uma dimensSo 3 outa sem solugdo de continuidade?” Nesse caso, ave fosse possivel de ender menos do arbiteo do pesquisadar,fazendo de abordagem his ‘Brie rigorosa ao mesmo tempo candigSo e ponto de chegada da em pret O desafio, no entanto, é realizar isso concretamente a cada asso da investgacao, e dois dos principals iscos que se corre nesse tesforge de conjugarinvesigagio histérica e sociolgica com atencSo ‘as estruturas musicals so: (3) rlegar a anise musical a uma posiglo de mera canfirmagio do que jé se sabe, servindo na maximo como forma de maizar e espectficar um conhecimento que js se poss (2) absolutzar a ands, isto &, perder de vista sua historicidade. Em relagda ao primero ponto, vale observar que pouras so ‘5 obras de um artista que podem figura como "manifestos” de sua arte, Hi problemas deorganizacSo formal, de estruturacdo de referen ‘lal eteico ede gosto que entram em jogo na constugdo das obras som que o atista tena total controle ou cansciéncia deles.além dis- 50, i a dlficuldade de se considerar que determinada obra ou fase da 17 er Renmin (2007, p64). if areas rela ene 0 qu sar ten {etndo apr dase is ealguns resupotr sobre a rego ere natrezs © ‘Sueno abl de Antone Hennion (2007, 995), Buna Ltour (207) eM ‘len ech (2008), ne outs 8 i catncn eran Clo Sono [Os rv carrera de um artista serla a mals caracerstica de sua produgio, sen fo ali que poderiamas encontrar suas “abras-manifest’. Parece-me ais seguro, ent, evitar consderar que as obras “revelam concreta- ‘mente’, ou "a pritica’, o que o composite estava querendo der 20 fazer suas afrmagBes de carster mals normativo ou programdtio. Em tes disso, talves sea mais interessante observé-as como aqullo que artista produziu movido por certasideis;colocando paras préprio tim conjunto especifice de problemas com o qual teve que lidar tra buthando dentro de determinadas tacigdes com certos meios a sua disposigloe tendo em torna de sas tai obras que oinfueneiaram onsciente& Inconstientemente. Procacenda assim, percebe-se que hina criagéo artistca uma éimensio que est fora do controle do cia dor, eo interesse de conhecer os ciscursos produsidos pelo prénrio ‘compositor sobre sua arte talvezesteja mals em perceber as desconti> huidedes entre o que oarita enuncia eo que ele relia, abrindo at, 2 partir dal, possbilidades de compreender o socal na arte mals na ‘medida eM que ele se torna visivel como aquilo que, de t30 natural ado au presente, no consegue ser contornado no momento criador. Jem relacdo 20 segundo ponto ~ a hstorcizacso da anise = este precsard ser desenvolvido mals detidamente 20 longa do texto, ‘mas guarda uma relacS0 importante com o problema apontado act ‘ma, Paradoxalmente, a dificuldade que acabel de apontar “ler” uma bra trando dela conclusbes do tipo “o auto disse que se devia fazer 4X; em sua prética ele juntou ¥ com 2; ent, iso significa que, de seu onto de vista, para fazer X deve-sejuntar Ye 2"~ embora cre 0 pro- blemas ja discutdos, acaba minimizando © que precisa ser apontado agora, visto que, de certo mode, usa-se o prérla autor da obra como referencial ecritéio para 2 andise. Entretanto, ainda assim persiste uma dlmenséo intinsecamente dil de controlar no trabalho anal tica, que € em boa medida inerente 2 qualquer esforco interpretatvo, mas que éexacerbade se cedermos&tentagio de tratar as obras como ago que a andlise nos hablitavia a “ler” dicetamente, quase coma se fossem "textos" escritos em nossa prépria época. Pode-se argumentar que toda analise € parcial e que o que estou apontando aqui é um problema intrinseco a0 prépro trabalho analitic, logo, estamos diane de alge que precsames simplesmente Aaceitar, um barulne com o qual se tem que aprender a dormi, por a Mise otc soca pare igramasto 38 sim diver, fs0 &verdade até certo ponto, mas» questo é que talver seia possivel tentar ser mais rigoroso do ponte de vista histéico, par tindo daguilo que sabemos que importava na percepgo de uma obra musical em seu contexto de origem pata poder analisi-la, ‘Mas como proceder, ent ciante do paradoxo de que, 20 mesmo temp em que ponte os problemas de se tomar e discurso do préprio compositor como gua para aandlse de suas obras, ahrmo que seria desejvel obteralgum conhecimento, mesmo que precio, da- ‘ullo que pade ter guiado 0 compositor no momento em que produzia Sua msi? Primeiramente,é preciso distinguir como um compos: tor vé sua produso no momento de criagio dagullo que esse mesma compositor dz sobre seu trabalho, especialmente quando 0 faz em re traspecto. A questio aquin3o é ahistéra posterior da obra~que ests fora do controle de quem a produiu -, mas smo fato de que, como J adiante, seria no minimo uma ingenuidade raconalstaacreditar {que 0 compositor cia plenamente consciente dos elementos que ests ‘mobilzande, Tere ocasiso de valtara isso com mais vagar earmado d= melhores instrumentos para uiscutir 9 ponto, mas é importante obser. var que uma andise "sociomusicolgica” se benefiiaria muito de uma forma de estudar as obras que pudesse contar com um conhecimento dos problemas, categorias, métodos, materials, téenicas composcio rai, entre otras coisas, que se faiam presentes no contexto de ria- (fo de uma obra que estejamos analisando, evitando assim despender ‘nergias tratando de relagBes Internas que, embora possam estar pre sentes, tém pouce iteresse de um ponto de vista sociolgico por nfo teremimportaneia no pensamento musical do contexto que temes 0b investgagdo. Em resume, é preciso evitar fazer andise musical como alguém que se propsea ler hoje um texto do séeulo XVI confiante de ‘ue, pelo simples fato de conhacer a lingua em que 0 texto fol escrito, serd possi! compreender tudo que seu autor estaa dizendo, 3 Alguns pressupostos metodolégicos ‘Um dos encaminhamentos dados a0 problema pode ser en- contrado no trabalho de histriadores como Quentin Skinner e Joh 40. po carson Fa fe Cros Sandro [Or y pocock, que, @m linhas muito gerals, rabalham tentando “reconstrur fe motivoseinlengdes dos autores, atribulrsignfcados particulares a fuss elocugdes e distingulr letras aceitaves de leturs inceltavels, de textos Iterdrios ou floséficos'. Dito de outra maneir,trata-se de (arto modo da perspectiva de “oprovimarse” de um texto a luz do Conhecimento, por exempl, das quest6es a que seu autor poderia es {ar espondendo ao eserevélo, em verde simplesmente procuraren- tender da melhor maneirso significado das palaras que o compiem {seivnen, 2002, p. 90%). Nao serd possvelresenhar neste esparo a complendade dos _argumentos que embasam o método de trabalho desses pesquisado- res, mas ainda a5sim podemas nos apoiar em algumas das proposes de Skinner, que, baseado na teora dos atos de fala de Austin trabalho 2 relagdo complexa entceIntengOes © convengdes que tomam parte ha pradu¢io de qualquer ato ilocucionéro historicamente situado, 0 debate se estabelece principalmente com 0 new criticism ea sua dela ta "alia Intencional"; com a chamada estética da recepcéo, mals, preocupads com a “realizaglo do texto levada a cabo pela letor"; € fom algo que pode ser enquadrado, em um sentida amplo, coma cit a posmoderna, indo da dela da “morte do autor’, de Barthes Fou ‘aul, 30 trabalho de Jacques Derrida, entre outros Skinner observa que parte dos argumentos contra 2 preoct page com motvos intengBes autorals se basela no pressuposto de ‘que informagdes dessa natureza no dever “contaminar” nossa res: posta « uma obra e que, portanto, deve-sela lidar com os prprios textos 56 com els (SINNER, 2002, p. 94-95) Segundo os advogados, essa posicdo, por se trata de fatres Yextemos’, eles no formariam parte da estrutura da obra, pols, primeir: ndo & possivel recuperar asintengbes de determinado autor; segundo: alnda que seja possive ‘ecuperar informagies dessa ordem, preocupacSes com as intencSes por tris de um texto poder aetararespostaaele de maneiraindese= jada, talvez até mesmo estabelecendo um padeéo de julgamento das ‘obras com base nso, o que seria inadaquada; por fim, em tercero lugar, esse tipo de informagio éIrelevante quando o abjetvo ¢ es- 15 Povo mais dias, ver Stoner (2002, 1-93), sobre a nogo de oneengo, ‘ram Mary (200) e Becker [2006 pncpalmente. 256 Se, ec. 2 Mises ecltacts sols pareagraacio 4 tabelecero significado de um texto, que a tarefa mais importante | =e interessante ~ seria a de investigar os signiiadas “publicos” que Lum texto val aduirindo ao longa da tempo (SkinneR, 2002, p. 95-56, Alm asso, se um artista realmente foi bem sucedida na realzacdo de uma obra, seus mativose intengGes deveriam poder ser encontrados “dentro” do proprio texto A répliea 20s argumentos resenhados acima serve para Skin- ner avangar sua proposta de interpretaglo,partindo da percepeio de ‘que caractriar“intengBes" como algo privado a que no se pode ter acesso ¢ignorar em que medida as intengBes presentes em qualquer ato de comunicapéo bem sucedido s30, 20 menos em tese, publica- mente “legivels, Saber discern em uma stuagio especiica qual o significado que um determinado gesto possui ndo éadivinhar o que se passe na cabeca daquele que realiza esse gesto, € apenas compreen- ‘de, de acorde com uma série de outros elementos presentes naque la stuagéo, qual € a conveneao que ests sendo explorada, pois se os signficades podem ser entendidosintersubjetivamente, “as intencées subjacentes as performances s30 necessariamente entidades com umn cater essenclalmente piblic” (SKanweR, 2002, p. 97)" Dante csso, pode-se repicar que essa compreensio intersub jetva no seria possvel na caso da miisia por esta no possuirsquele ‘ive fundamental de significado a que acedemas por mela de nosso co: nhcimento habitual da inguagem, através de gramsticas, dionétos & asim por dlante®, Assim, a referencialidade estaia eternamente vedada ‘musi e, portato, tudo que pudessemos teorzar sobre suainterpreta> ‘0 part dai no teria sentido. Ademis, pode se pergutar se @com- posigda musial~ que € a dimensSo do fazer musical que me ocupa aqui odie realmente ser considerada um ato de comunicaco. 1 ara evar pore ofa de minha argument, tel 6a me contentar em hen asnlede pssgen gue nese pa Ser emreence uns ireson {eidocunan pared diesen entre motor so, condgbesartecedenter © ‘Sou una explo plan pra scrap deur obra decert ip, um "20, fjconcretiayao ea realtor dele promi, ou ej aul que seine tengso eee, qu cane na prpriintenrs de ater algo caso am que set ena0, lui sma cratersien a ropa obra 4A pose esatlecer una rela aul om 2 dscsso qe él Straus 2032) fesse smc seal na lee aber de Oc econ. 42 caronc erandes & Clos onion Os) _Adlecussdo sobre o tema & extensa e lnfllamente no poders ser reseninada aqui. Vale assinalay, no entanto, que a idela de que 2 ia aera incepaz de qualquer referencalidade comeca em sua for wha moderna na século XIK europeu, com Eduard Hanslck, chegando Jténossos cis alternando momentos de maior ou menor prestigo a0 Tango de histéra”. Como se verdadiante a forma de andlise ensaiada ‘uui nos permite simplesmente “pula” essa questio, indo detamen- {eas construges simultneas de som e senda, vista que exste no so comunicagao ~ embora no da mesma manera que na Iiteratura ~, Como também existem, de certo moda, as intengBes do compositor, © [mbes dependem das convencées em determinado contexto para Se fealarem em sentido amplo. A principio, mesmo se um artista for {asseo5 limites dessas convengBes a0 ponto de nBo esperar nem que Sous pares diretos compreendessem o que ele fa, pode-sesupor que te pr6pra ~ que é mais um dos atores envalvidas naquele contexto— compreende o que ests fazendo, 'A propria possibldade de entender uma obra musical até certo ponte coma um ata comunicative depends justamente da ela lo entre convengées e intengBes e o papel que elas desempenham fa ciagio aritca. O pressupasto aqui é menos de que o compos: tor aga delveradomente de acorde com convenges ~ 0 que pode acontecer também, é claro ~e mais de que seu “ouvido" serio dtimo critéso‘ pati do qual ele julgao que produz, Cada vez que o compo: sitoravala coma soa um trecho que acabou de escrever,decdindo se ‘ai apagé-lo ou debxilo no papel; sempre que precisa trabalhar uma idea ja iniciada , entdo, procura a melhor forma de desenvol\é-la; ao escrever um tema e harmonizélo; em cada um desses momentos ‘em diversos outros, 0 compositor parte dos referencias que possul, ou seja, parte do seu “ouvido",e nesse panto © que chamariamos de “social” Inevtavelmente “entra” na composigSo. ‘A questio € que se concordarmos que os “receptores” de uma obra assoclam-na 0 tempo todo a outras obras e, por conse: ‘quéncia, associam-na também aqullo a que associam essas outras, ‘obras, temas que concordar que © préprio compositor também faz Fars oma dcusto mute prvina dessa em ess seni, ver MeClry Mates cline sac paadarmasto 43 fo mesmo, fechando-se um circulo em que fea claro como ele, cue também é um agente Inserido em um determinado contesto, inte rmedela ~ com base em seu ouvido ~ a relagdo entre essas dimen: ses que tradiionalmente se poderiam chamar “externa” e “inter- na", fazendo com que elas de fato se encontcem. Um compositor pode jugar que estd criando algo que soa familar © que, por iso, teré boa aceltago de um palblico que eleconsidere conservador, por fexemplo, Esse julgamento ¢ feito com base nos referencias que 0 Compositor possui e que foram se frmando aos poucos, entre outras cols, pelo processo de educacso musical que ele recebeu; pelos iéneros de musica com os quais travou contato; pelo valor relat- ‘yo eo “lugar” que por diversas vias aprendeu a atribuir a cada um esses géneros; pela que ele sente que é 0 valor que sua época e, mals especticamente, certos grupos em seu meio social atribuem a Geterminados estos, gEneros,formagées Instrumentais, temsticas fete, AdimensSe socal intrinseca 20 ato da criagdoartstica ver date nos forgaa reconhecer que as clésscasleituras externa e interna no passam de uma separagao arbtriia ou, quando muito, “didétca" ‘Aiemar que a musica €inevtavelmente parte da esfera social ro sentido em que vem sendo dlscutido aqui néo significa, entetan ta, dizer que as associagdes que cada ator fax da musica com o social selam necessariamente claras, diets, simples, conscientes ou univo as para ele prdprie, © muito menos significa que ums obra pode ser “decodifieada”facimente. Muito pelo cotriro, esto em jogo aimal> ‘ipl significads e formas de sentir a misica em relasdo aos quais € bastante df exabelecer uma avalacso definitive completa. NO tentanta, aber seja possvel proceder a partir de elementos especti- os, abrindo gradualmenteo foco a0 n0s apolarmes sobre uma série e percensbes, leituras e compreensBes por varesfragmentdrias que se mapela eacrescenta a dacumentacao, ou por melo de um trabalho de cardter mais etnogrsfco. ‘Um problema que surge, no entanto, & de como preencher ‘2 lacuna entre aquilo que mapeamos como tendéncias gerais de recengao em um dado contexto e as intencdes especificas de um compositor a0 elaborar uma dada obra”Tomando 0 ouvide como BE Svar RR 218 eq fo rede pets mesa a, asa dos {44 ons errs Frandas & Calor Ssndon (8) T critério, conforme venho sugerindo, © problema em boa media se ‘tsole, pols #2 pode prescindir de cansiderar que haja umo inten Cronalidade completa na base do esforgo composiional. Quando fe percebe que ne préprioaparato perceptive do artista jd esté em: putida a dimensio “Socal”, chegamos a uma cutiosa ¢ até salutar indistingSo na qual de fato no importa tanto saber se algo fo feito Intencionalmente ou ndo. Da mesma manelra que acontece com as chamadas dimensbes “externa” e “interna, 2 indistincao entre ® intencional e 0 ndo intencional é garantida pela relagHo entre 0 fuuide e a5 convengies em um contexte determinada, implicanda por issa mesmo a possibidade de também se considerar 3 masiea, 20 menos em certa medida, como um ato de comunicacéo. ‘Assim, por exemplo, quando um compositor designa trom petes trombones para tocarem em forissimo 9 primeira tema da titima movimente de uma sinfonia que esté compondo, tema esse em uma tonalidase mator, construldo em cima de um arpejo da tonic, € Ai no considerar que ele quis dar um cardterheroic,tiunfal ou 20 menos sugesi algo grandioso, Conscientemente au néo, ele esté mo: bizando alge canvencional no contexto amplo da misica de concerto ‘cidental Para crar algo que soe assim, nosso compositor hipatetico no precisa necessariamente ter chegado @ um nlvel de racionaliago to tipo “quero criar um cima heraico, prtanto escreveret umn tema fem tonalidade maior, baseado em trades, e vou divlo a0s metas” ‘Mesmo que tenha agida conscientemente em alguma medida, o que Importa é que ele também poderia ter chegado a0 mesmo resulted simplesmente imaginando determinada stuacia ou "clima’, © expe rimentando combinagBes de notase de inseumentos até produzir © Som que Ihe parecesse mais adequado em relacdo a0 que tiaha em mente. sso funciona, porque o que os misicoscostumam chamar de ‘wide, ue & decerta made socal, hes serve de eério pare julgar 0 que esto fazendo”. 2. oso de tudo tea rei edt que un comporr pode pretender 36 ‘ocr completamente slo 2 tudo 0 que hi de “externa” ude socal ee lima obra sem nem mam avait con el 08 sudo sgum outed ou ‘tv. verdad est um erp comet e em documenta dso, ue ® humado "srs intra do ps Segue Guerra Ms strane a mane Masens eines soca para dagrmasto 45 © plo “involuntério’ ou sea, aquelas situagdes em que al 2uém compe misica muito similar a algo preexistente que Ihe era ‘completamente desconhecido,Frequentemente sb vindo a tomar co- Inecimenta disso quando terceirs Ihe apontam a fato™, mostra bem como isso funciona €ilusério realizar um cdlculo de analise combi- hatéria simples para estimar a probabldade de que uma sequéncia de notas se tepita, pois as chances de repetiglo so muito matores 0 que simplesmente a quantidade de combinagées possveis entre hotas e duragdesexistentes dentra de nossaligia de compassos sub divididos em doi, trés ou quatro tempos também divsiveis. Mesmo ‘io agos dor aco eros em tas pesusesCOnpostlora prceeeram fara chegar ai abesios bastante fevelara quero ao que ex send dieu ‘do aq O serine intel funconav cm bate em ua regular mt certo forte matin" de todos ot parmetor do rom muses (hand do porto de ‘ta dagusescompostore| devandoominmo de mortem ara deco co pte: Teariamen, lo gwranoa ands uma cerns uname 2 pep com lsum una ste do rlgde re-etabelcs GOUs, 1967, prncslmente 2: Considratonginrale e hOu, 3987, op. 45), Mal que deserve 0: pro nso a lembrr que un dos arguments em favor ea ado de tl deca Compesionl ee o goat Sever tear fe bol aaa cdo mae, ‘Sando are tags una nova stan, Pra aieanar exes objets, el rec Sbvretiaesubjetngade de compontor do moment crate haved a Oe aneo ‘ides de qe eva subjtiade consuls daar secs de ado europa, oconpostor dc porns “vangago que fre seusenso esc, near mews seu oui 0 tara ivandoa de ot, sium gra, cha tact orto, teria toor ox parimetos ea ura maa defo” 9composao frusealose fazer vtercom tse em uma gs emboamedié utdnoma,etando (ues compost aes rca erindo nove porrisdase Se us fever reecupayts completamente dferenar ss que amar presente abalo, uM Serepet da cae moss! qu, nese set, ¢ bastante prxira da ue et Serving de ressupot pare min argument, 24 Tanta seta dew suagto posal que so conhaiss ahr caor em fue compasiovs dexonfaram de mela que es weram 3 aber muta Se ‘envi, como gue pons, achando gue pram eno unde, los incon ‘nts No aro, rer so masram sus cages psoas pra, ere tandoher se aulllnertofanzr aes ocasomals clare sea ester, sob $l Pel earn lata no documento artoloy tr acodad0 na maa $= lima nate com a mela proms, perguntando e nos ds subsoqueres sues ‘hovers agus congo as ouster tana ales de es de eu {46m cartarcn Ferandet & Calo Sendon (Ors) yr considerando estruturas mals complexas, como compassos mistos ou sopdilses impares, a situacio muda pouco, pols essas so menos gmuns,enquante 2 possbildade de uma estrutura se repetir se deve Jbstemente a0 fato de que quem compe nfo combina aleatoriamen- fe, mas escolhe. F no momento em que escolhe, escothe baseado ee pans preterénclas © em como dasaja que soa. De fato, a idela de TTonwangi" & ainda insuficente para explcar iso. Tratase, multas ‘eves, de realmente ia busca de algo que face sentido dentro de um texto ou de uma tradi¢do.€ verdade que, por outro lado, junto dessa procuta por soar dentro da que se tem comoum estilo ou de associaro om a elementos classicamente tidos como extramusicals, pode existe também uma procura pel inesperado,e isso coloca um novo proble mma. Mas se pode argumentar aqui que va deregra esse inesperado é tuperado dentro de certos marcos, como se houvesse uma tentativa dd dosarinelitismo e familaridade, Partcipar de algo e, uma ver conhecdo al iferencarse; & disso que se trata (BARROS, 2033, Intro: duo e p. 227 et seq): Pode-se pensar em um compositor como aquele (que “interage” em sons com autras compositor e com o mundo que tem em torno desis partic de seu “arsenal” ténico-musical, um arsenal ‘ue, creo e "objetivo" €composto também do “feito” clssfiador 63 percepsio dos agentes~ inclusive do prépro compositor, & car. Assim, fesse arsenal sfte tempo todo adie, deslocamentos, valariagBes € desvalorizaées, a0 mesmo tempo em que possulaiguma undade que the f2rante seu carder de racicgo ou de mode de fazer. De qualquer mod, 0 ato é que difclment faré sentido ten tar estabelecer para cada compasso de uma obra uma “questéo” espe: clic 8 qual e compositor estaria respondendo, Por um lado, pode-se "Yabathar com questbes amplas,entendendo 3 pari dato fato de um arteta compor de determinada maneita, empregar determinados ma terials €traalhilos em conjunto com certos temas e processos. Por ‘eutro lad, talversejapossivel encontrar uma forma de solar elemen: {os trat-ios como unidades passives de serem comparadas ou ass0- cada a outros elementos ~ musicals ou nfo ~presentes em seu con texto de orger. Assim, poderlamos ver “em agSo” as "associagbes” € 15 Pa um samp bastante Husa, ver Behe (208, specimerteonclo éoc.2. Misia lentes seals are dagraario 47 “elasiticapdes" que © ouvido fate, ent, a partir dal, construir uma compreensio hsticae socoldgies das obras de arte que no perca de vista suas caractersticas mais propriamente “artistas” “Abre-se camino para analisar as obras de uma manelra his- toricamente mais rigoros, minimizando o isco que o analista core de, por vezes iar perdido dlante de uma multiplicidade de relagbes possiveis de tragar.Tentando recuperar 0 "horzonte artistic” de uma 0ca, ouniversa de problemas com que o artista estava se batendo,e pensando a criagio do artista dentro desses marcos, & possvel realizar {ima anélse musical ao mesmo tempo mals resrita © mats revelado ‘com maior grau de “contre” e euitande o risco do anacronismo, ‘Temos aqui alga que aparece também na igo que Antoine Hennion- toma de Michae! Baxandal (1991), afrmando que se deve interditar 0 estabelecimento de conexdes que nenfum “intermediio®identificé- vel no conterto que se est investigando tenia estabelecido (HENNION, 2007, p. 179). 6 assim podemos evitar “voos" interpretatives que, ainda que possam fazer sentido, sS0dficels de veriiar. 4 Voltando a analise - 2 ‘ma pergunta que se pode fazer, no entanto, & come proce- der para realizar uma andlse musical que d8 conta dos problemas & Gifculdades que foram apontados acima. Algumas sugestdes nesse sentido podem ser encontradas.em Mimesis, a obra mas conhecida do ‘lglg judeuralemo Erich Auerbach (2004). "Farinatae Covalsnte’, ‘ capitulo em que o autor trata de Dante Alighieri, tem inicio, como de costume, com a transricéo de um trecho da obra a ser analsade, no €as0 0 décima canta do “Inferno”, de A divina comeédia. Segundo Auerbach, al Virgo e Dante caminhavam “por um estreito caminho, centre ataldes abertos e ardentes" (AUERBACH, 2004, p. 153) quando ‘iveram sua conversa Interrompida por um dos condenados, um flo- rentino chamado Ferinata degli Uberti que, reconhecendo o sotaaue tosceno de Dante, chamou-o para saber sobre o destino de sua cidade ‘Auerbach segue descrevendo o que se passs na cena e discutindo 0 48 itera Frans & Caro Sandon (1) desenrolar 62 a¢80 até chegar 20 ponto que nos interessa aqul. Ao ehinnat 0 que se 68 entre Dante e Cavalcante, outro condenado do Inferno que os interrompe para pedir informagSes sobre oflho Guido, Mesinda era vivo era amigo de Dante, Auerbach observa 0s proced: thentos aristicos com que o poeta models o tom de acordo com cada Goro sertratado na cena Pare fazer com que sso aparega com malor area, observa remos mais peto as passagers nas quas a cena muds. Fa rinataintercompe os ue passam eonversando com as pala \rat0 Tose, che per lnc del foco vate va. toe uma invocarto, um votstve Inttaduido por o,seguldo por uma rato relative que, comparade com 3 ivocapz, bastante pesadae crregada de contd, e que sé depots €sepuids pela oracto volte, carregada também de ortesa grave € Feservada; no est do: Toscano, detdm te. mas: Toscano, fugue. querasegnarte a ear neste lugar Afermula "Stu ‘ue. &extremament slene, © provém do esto elevado {a epopeisentiga;Dant tem 9 seu som nos ouvidos, sim ‘como guatdou o som de tanta clsa de Virgo, wicano ou Esto; nfo acredte que, antes del, tenha sido empress da rua ing vulgar medieval. Masel 3 emproga 3 su ‘maneia: de forma extremamenteInvocadora,semelnante {auelausadana Anegudade apenas em sipicaselosse, na rar relat, de conaiéeextremamante condensaco sentimento ea sta de Farinatapeante 0 transeunte testi cancentrados pela tte defines perl it de foco ten val, viv, cos parlande onesto de ume manel Bo ding- rica, que o mesre Vigo, se howvsse realmente ouvido ‘ites polovas eran assustado mals pofurdmente do {ue Dante no poems. As orgBeselatiasaue Vg unta {os voraties, sina que sejam perfetamente elas eharmo- rita, nose, nem de longe, to agudamenteconcentradas {emoionantes.(AUERSACH, 2008p. 153-156), € dif pensar em uma andlse mals insigante © bem real. 2ada ~ a0 menas para maus fins ~ do que a que € mostrada nesse ‘wecho de Mimesis, Isso aparece desde o momento em que Auerbach aponta para o efeito dos “escuros sons emo’ de O Tosco" (AUERBACH, 2004, p. 153), ressaltando 2 prépria qualidade do som das vogais © isa eens seas poe gramacbo 43 sugerindo © peso, a gravidade e a escuriddo com que Farnata fala, até 0 momento em que ele “rastreia” as origens de uma forma frasa, ostrando como Dante pode ter chegado Squela construgso dentro da traci ou tradigdes a que estavaigado. € importante reparar que, ‘como Auerbach observa, Dante nio ctou nem repetiy uma formula conhecida, ele empregou a tal férmula proveniente da epopela antiga ‘de maneiraprépria, Assim, hd uma “ireduibiidade” de cada elemen tona andlse, que, no entanto,carrega um “peso” para dentro da obra, tum peso que vam daquiloa que esse elemento es lgado. ‘Mas 0 passo mals revelador & a prépriapossiblidade que se abre para encontrar relagdes de filagio, de eco e de transformacto, buscando similaridades e tentando perceber lgacBes suts por melo de um conhecimento das tradigBes a que a obra sob andlse est lig da, Ao observa, por exemplo, que determinado elemento em Oante & construido em relagéo cam uma férmula do estilo elevado da epopsia. antiga, Auerbach mostra que no & necessirio restringr-se 20 signif ado, mesmo quando se esté analisando Iteratura, pols nas préprias, testruturas de uma obra existe tado um espaco de investigacdo de in ter-relagdes ede implicagées mituas. De mesmo medo que Auerbach faz no trecho discutido at ‘ma, pade-se tomar elementos do discurso musicale submeté-los a um {tatamento em que, referenciand-0s a um “funda” mais eral, conse aque-se comesar a desdobrar uma série de relagdes que servem para limentar a andlse. Uma figura melédica ou rtmica, par exemple, ou determinadas texturas, um ostinato especico, mesmo a propria exis téncia de um ostinato em determinada obra, tudo is0 pode ser com= preendido sacologicamente, 0 ponto é que é preciso tomar elemen- tas que se sabe significatvos para = maneira como o alscurso musical estruturado ne contexta de origem da obra que se esta enalisanco, partindo da para tentar conhecer come se tenis a perceber aqueles elementos no contexto pertinente E dificil e arriseado tentar definir de antemo e de maneira eral o que podem ser esses elementos, mas em principio pode-se dizer que eles se tornam mais faces de trabathar na medida em que so, falando em umn nivel estrutural mais mlcrosc6pico, delimitaveis f continues, podendo ser Isolados e, entéo, relacionados com 50. pit carn Farandes Cro Sando [O) ‘outros elementos similares jd conhecldos naquele contexto*, Nao Imaporta tanto se 0s elementos j6 conhecidos 20s quais se val rela ‘Gonar aquele que se tem em mEos so os mais antigos ou mesmo cr originals em determinada tradigdo; «que importa é tentar reve- far na andlse 0s diversos universos de referéncia contidos em uma tora, Mals do que apontar uma suposta origem para o elemento fue nos ocupa na andlise, 0 que esté em jogo € a possibilidade de sntingulro pertencimento a determinado canjunto de relacbes, omo quem di sto pertence a um conjunto, 0 mesmo conjunto @ {que pertence dado elemento de outra peca F clara que, como toda forma de andlse, aque esté sendo sugerda também favorece alguns aspectos em detrimento de outros. esse modo, pela observarso de elementos especicos e delmitados demos comecar a tragaralgumaslgacBes entre uma obra e deter Ininados conjuntos de priticas musicais que, nafalta de termo melhor, podem ser pravsoriamente chamados de “tradigSes” EssastradigBes podem abarcar desde modos de faze, pricas e tdenieas até agrupar renlos instrumentals, expagas onde se pratiea a musica preferéncias por determinadas sonaridades e mesmo algo como “sensblidades’ ‘queso bastante dices de definir~e mais ainda de deimitar~ mas ‘que inegavelmente tém um papel importante em como amisica é par- ‘cabida Assim, uma ver que se admite que as diversas tradicdes coexls- tentes em um determinado contexto possuem, cada uma delas, uma "earga social”, toma-se possvel buscar nos elementos musicals ind [B oideldque se pon wan por rnb dectresa preciso, ox temos conse Toor do vocebulvo mstloges, nda om yur, modo, podria ince, pri Soete,eearrdocome qu exter dustin Mas poretespose-seestar dare de tn erin de teres “sides” de arenas estos proprias a um gtne Fev ua aco qe vem 8 tons em ovo content e que acabam sendo ae ‘edesgna por um erro mats espectic. esses caso tesa posvel core Sides um tnt prolemstis de pet muse sue adc cates pode sere "relacaruimete so mesmo temp em gue rors Seu ie de elmer nah !Stl Tate do asin anda gue de mone ancamente suet em B35 ann, 27 Una cags ave ceramene no ¢ vnvoa em aioli, masque ands asim ‘ont co ura consderavel 6 partihamet, um pouco so modo ds crwen s2 cagBes de come aquela misica se estruturava“soclalmente” na medi. da em que se esteuturava musicalmente, @ parti de coniguragdes es. pectcaselocalizadas de elementos orginados de tradigSes diferentes {que convivem em uma mesma obra musical ‘Uma andlse desse tipo tem o problema de tender 2 refor- aro caréter de coeréncia e homogeneidade dos contextos sobre os, {uals se lanca o oar, uma limitago que demanda o culdado con- tinuo de trabalhar tentando compensé-la. Para isso, ¢ importante ter em mente que, dependendo do artists que se esté estudando, 6 preciso lidar n30 com uma tnica tradigSo ou um Unico cénone, ‘mas sim com a convivéncia de diversas tradicBes, “subtradicbes" & até mesmo algo como "contratradigées". Além disso, & importante ‘yatar o terme “tradigSo" de maneirahistérica e sobretudo relaco nal, nunca como algo fixo eu essencializado. Logo, entender uma obra a partir da dela de tradig3o € véla em certa medida como in- tegrando um corpus que a antecedeu caso em que a obra é como aque uma “floragdo” ~ ou que a sucedeu ~ casa mais aro e afl de elimitar em que 2 obra, em geral junto de algumas outras, é algo come 0 iniclo de uma nova "ramificarso". Ao falar no iniclo de uma nova ramificaglo, entSo, hé que se atentar para o fato de que no se esté postulanda um inicio absoluto, mas sim algo como um nove braco de um tronco antigo: uma tradigsa sempre pode ser parte de algo maiar e nenhum tronco é um inicio absolute, mas tem uma histéria em que, 2 partir de certo ponto de vist, faz sentido consi- erélo como uma nova ramifieagd0, Quando se flexbliza a ideia de tradigo 20 ponte de poder considerar que caracteristicas suas vio por vezes ganhando 20s poucos generaidade a ponto de bifurcar fu de transfermar o trance de que faziaparte~e mesmo assim isso semare dependendo do grau de especficidade ou, a0 contréri, de igeneralidade que cada andlise concreta demands ~, ai se tem uma ogo de tradigdo com utildade analitca, 52 bmi cartons Ferandet Calo Sandon (15) 50 peso da Historia ‘quando falei do “peso” que cada elemento traz para dentro ade uma obra, nfo se tatava de mero pressuposto teérico. Tratava-se, fo contro, 2 algo empirco ou a0 menos de uma decorrencia de ima percepso anterlor ¢ mais geal. Tampouco as convencBes men- Uionadas algunas paginas ards sio algo puramente arbitdrlo, como fe pode dedusi. 0 ponto fundamental aqui é que, embora no seja 0 {aso de retornar @ uma discussio sobre causas pelmelras, a percep- {Go do material musical no algo restabelecido contextualmente 2 oda momenta, “éo zero"™, Quando dlzemos que algo ¢ histérco ou fue “se desenvolveu hstoricamente”, sso no significa apenas negar fuaeteridade e desnaturalzio, Dizer que algo tem histro significa fdzer que teve Um Inia e que certamente tera um fim - 20 mencs coma conhecemas-, mas também significa que ele foi se construin do sobre uma sérle de configuracdeslocalizaas,fragmentaris, pa- cil, frouras, mas que vao 2es poucos somando-se, compensando-se fesobrepondo-se e~0 que & mais importante ~ ganhando solide: em ‘rude dessa propria “sedimentacdo” histérica, N3o hd como define de antemo ou com base em algumalel geal qual o “peso relative” de ‘ada um desses elementos. No & possivelfazé-o sendo com base no {que os propris atores e suas obras nos ézem, importante, entdo, conhecer as prefeéncias musicals da época, do piblicoe dos atores mais préximas do compositor, que & 0 ‘que 8 letra contextual visa anos dar, de modo a tentarreconsttuir 0 "ouvido" de uma épaca de maneira similar 8 que Michael Baxandal reconstitulo olhar da Renascenga®. Procedendo nessas bases, pode- ‘mos ver uma obra como uma espécie de “condensado de forgas”cuja composigi especifiea€indefinivel em si, mas que pode ser avaliada “Iocalmente", com base no “ouvido” do compositor, ouvido esse, came 1 Parma otra de Ser poi a 9, ve Reber (1995, a. 6) Honan (zoo, p. 387188) tombe evant uma cute aferenance oretvema do ‘ecblof do ralstnsme do histrsdor ao arte ue tora om pentax imparts 2 "er Sandal 1001p 78 et seq). Pra uma dscssbo de Board od ‘specicamene pao potlma que nos cup, ver Henn (2007, 17-181. iia eens soa pare agramarto $3 Ji foi dito algumas vezes, formado nas convengBes de sua époce © em tudo que dé sustentagdo 2 essasconvencées, HS dese ter sempre em mente que se estéestudando como ‘as pessoas fazem musica Trata-se de um compositor ou grupe de com. positres;trata-se de ouvintes menos ou mais interessados;trata-se Ge obras que s8o produto da eriagio de seres humanes especfcas, locallzadoshistérca geograficamente,confrontados com determina dos problemas, Assim, come fi dito no iniclo,focese nas obras sim plesmente porque nelas esté nosso Interesse, mas as obras no so hem documentos da istéria nem documentos para a Historia ou para 8 Sociologia e a Musicolgla; elas so parte do que faz a Historia das cosas ¢, evdentemente, tm ura hstéria. Por isso também ndo ajuda fem nada tragar paralelismos puro e simples entre estruturas musicals te estruturas socials, Estabelecer arse tipo derelagio €colocar um pos tulado no lugar do que se quer explicar,j8 que quando se analsa algo ocilogicamente, ceio que o que em geralfazemos é mostrar como ‘aqullo se constitu, tentando entender quas s40 as freas fundamen- tals que atuam sobre sua gestacso e que o mantém “vvo", ou sele, presente na realidade soca Diante do que fo expasto acim algum ltr ou letorapoderia perguntar se estou sustentando que o trabalho com misies nas Ciéncias Sociais estara, eno, vedado aqueles que néo se julgam habiltadosare- lear andse musica propriamante dit, ume sentra tentadoaretrucr, perguntand a esse interlocutor maginério qual misica xatamente Ihe & tstranha 30 ponto de the ser impesivel articular um dscurso sobre ee 0 tipo de anise proposto aqu é muito mais ums busca de filo para elementos encontrados nas abras do que ums andse puramente ten: © 0 que veo tona de especifico da musicologia tradicional se deve principalmente a fat de meu proprio trabalho estar voltado para uma Isles que, de alguma forma, ligase a tradigSo intelectual que produsiu ezsa musicolaga. Para outras musica, 2 fra de andlse muito provavel mente sera outa, esomente @prdpria pesquisa pode fornecersugestbes sobre como reall, para onde dreconaro oar, quais elements sto mals prenhes de significado etc. Como espero ter deixado claro, as Cigncias Sociais real 2aram avancos de importincia Inestimével na area, muitas vezes, renunciando justamente a "p6r a5 mos sobre” as famosas “obras 4 on catoncn erandet & Cro Sandon Or) ; i i i em si Desse modo, © objetivo deste texto js estaria plenamente eMrmprido s© 25 linhas acima servissem ao menos de ineentho 9 Gproximacio e & colaboracdo entre musicloges, centistas sociais, historiadares e criteos, evando a que pensemos concretamente formas efetivas para o trabalho interdisciplinar. Referéncias oofN9,TheadorM orodution #9 the Scisogy of Mui Ne Yr: Satury Pres 976 0089, Tod Wes ara scooped mise n:_ Tetosescohios ‘fopuo: Aes cura, 1880, (Cle30 0s Rersadores «a. ‘00RNG, Theodor. 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A port dea carbo intelectual anterior ‘pode ser evista Sob ootharengente do prosinal aco ‘mio, pla reconheida devosdo no decor da verdode @ ‘ne busco perseverante da dsting do ego em ord ‘20 especilita (RUG, 201, p 195-196). ‘ua frase acima, Marla Arminda do Nascimento Aeruda des reve como, na formagio de novas disciplinas e novos modos de | pensar, estudiosos tendem a fechar frontlras para ditinguirse de ‘utes, E55 fol 0 caso dos socilogos e antropélogos da Univers: dade de SSo Paulo, que abalavam tantos paradigms e idelas fun | damentais sobre © Brasil nos anos 1960 e 1970 e 20 longo do ca- minho estabeleceram a famosa "Escola Uspiana Nest artigo, no {ual lavo em consideragdo tal escola, junto a0 desejo de que esta cletinea aponte nova pistas para se estudar @ misica no boje das Ciéncas Socais, a frase de Arruda tem uma dupla importancia = n0s ajuda a entender a evolugio das Ciéncias Socials no Brasil e | tar para os perigos que advém em qualquer evolugSo de um campo de estudos 3 rer ie aratecer nds opr do Spin eran vite porte transformado meu “portugués" em algo leghel. Tabém agradeso 8 | Unveriade ede ces do Fora e3 Univers ads noe pelo poo franc | Bae poston peau rename nate arte. ‘58st cereoncn Famandos Cro Senden (Ors) sia enc sos poe gracto 58 Seria difellimaginar um congresse liderado por Florestan Femandes, o renomada “mestre” da dita escola sociol6gia pauls tana, com 9 mesmo titulo e meta do encontro que deu vida a este Tivo. Se aidela de um semindrio sobre “Misica e Ciencias Socias hos anos 1960 e 1970 ni tera sido plenamente absurda, com cer- texe provocarla multe oposigSa entre pessoas como Florestan, que via nas Cléncias Sciais algo mutto distinto de que veer os parti- Cipantes deste volume, Isso nfo quer dizer que nossos trabalhos nio dialoguem ou no devam muito a Florestan e seus disipulos. Palo contro, seria impossivel existirem esses dlélogos sem as ba- ses deinadas por ele e por outros de sua geracéo. Mas no proceso de consolidar ¢ insttucionalizar o ensino e a pritica da Sociclogia no Brasil, Florestan e outros cerraram circulas em torno deles para se distinguirem de outros campos de estudos jd exstentes, como assinala Arruda. Dentro de uma perspective histérica e em meio ‘a0 ambiente de nosso simpésio, a auséncia do objeto musical nas Ciencias Socias das anos 1960 ¢ 1970 € no minima notével, CComecel a pensar nisso ha alguns anos, quando assist! @ um congress0 na Brown University sobre “o futuro dos estudas braslei- ros" Fai na mesma época em que Fernando Henrique Cardoso, ex ‘rientando de Florestane figura principal no crescimento da esco- Ja paulitana, encontrava-se em Brown. Um dia, eu 0 encontrel nos corredores da universidade. Aépoca, eu era doutorando, terminava minha tese sabre a histérla do samba e o mercado musical, € nos poucos segundos em que estive junto a ele perguntel se Florestan tinha trabathada ou feito entrevistas com masicos em Sao Paulo. A resposta do excpresidente fol curta: "No. Do que eu lembro, no. ssa breve conversa, pouco mais do que uma pequens anedota ainda simboliza 0 lugar da musica e o olhar socilbglco-antropol ico presente nas obras de Cardoso, Florestan e outros. ‘Aexcesio mas importante, etalez mais interessante, &oIvro Cor, profissao e mabiidade: a negro eo rédio de Sto Paulo, puscado por Joo Baptista Borges Perera em 1967 e reditado apenas um quarto de stcuo depois, em 2001 Persia fez graduagio en) Génclas Socials Aplica- das na USP (1958), onde também realizou mestrado (1964) e doutorado (1366) em Anteopologia. Antes de chegar&univrsiade, trabalhou como ‘etre locator de rédo em Ro Pardo (Divs, 2007). Por vrios mat 60 its carbonc aan & Caro Senden (Or t yos.a obra de Pela é Unica Importantee, décadas depois de ter sido ett ainde nos ajuda a pensar sobre as posses elagBes entre misica fe cincas Soca Talver aspecto mais chocente do iro particularmente no contesto atual, exemplificado com este volume, em que académicos Ge vrios amos das Ciencias Sociais debrucam-se sobre a musica ~€a posturaquase antimusical de Persia, Ele conclu a Introdugio com as Seguintespalavas: ste wabaiho nfo tem a menor preoeupagbo de rela his tra do dio ou da mie, Os mura striae porventura consegudos foram esborados pare neles se projtado, em ao-elevo,ofendmieno que cnsttio objeto central desta Investigapio: moblidade de pretos nas empresas ratiofni cede S30 Pavia Pentna, 2003, 39) uma perspectva surpreendente em um lito que tra "ré- 4 loge na titulo, ainda mais notéve se considerado junto & capa {a segunda edicSo, que dominada por um microfone (a capa da pr ‘meitaedicio & mais simples, sem adornamento). A frente, reterno as anos 1960 e 1970 pars considerar com mals detalhe 8 motivagio pot {14s do alerta com que Perera termina @ introducio, Mas antes de perguntar por que ele insistia|em que o veo ndo fosse sobre misica, devemos entender os prinipas temas e argumentos do lira 1 Mdsica e mercado Em seu livro, Pereira perguntou a trabalhadores do ridio como se defniam dentro da hierarquia social palistana, Ele realizou entrevistas, compllou dados quantitatves e financeiros e distribuiu ‘uestionéries, tudo pare entender “a mobildade de pretos nas em: ress radiofncas de Sdo Paulo” e “apreender microscopicamente 05 rocessos de interapio social entre prtos e brancos”(PEaciRs, 2001, 39), Em outras palavras, sua metodologla eas metas de sua pesaul $3 foram semelhantes 3s de Fernandes e outros & época, que queriam Mise crs soc para dagramasto 61 ‘eee eee tt emer ulnar métodos “clentfces”e quanttatves para compreender ren. terpretar as relagbes racials e socials ‘A pesquisa e a andlise demoraram anos para serem comple tadas. Perera inclu 0 projeto em 1958 e o conclu em 1968 (PeRey FA, 2001, . 1), Ele e seus assistentes conversaram com todo tipo de trabalhador na esfera radiofOnca,focalizanda em quatro grupes de emissoras de radio em Sao Paulo, com suas doze estagbes, onde entre. \istaram estrelas do rédio, executives, adminstradores, técnica, por. teiro, funcondrios da impeze e calouros, artistas semiprofissionais {que abriam uma janela privlegiada 3 questdo da mobilidade, que tan to interessava a Pereira. Ele defn os calouros como “individuos que brocuram insstente e inteneionalmente profissionalizar-se no campa radiofénica” (PEREIRA, 2001, p. 33-34). Apesar do fato de que muitos les se achavam em um “estado crbnico e quase definitwo de pré ‘profissionalzaglo" os calouros continuavam a procurar a “categorza 0 social através da [sual profissdo ideal (PEREIRA, 2001, p. 128-133}. Para muitos, trabalho no rddlo epresentava uma oportuniade para transformar a sua vida e ade sua familia. Muitos descreveram a espe- ranga de ganhar uma casa, educacdo, roupa nova e féias para eles e seus familiares Um calouro explicou como 0 rio tornou “conhecido", Ou 11a, falande sobre a dferenga entre os dois empregos que tina disse: ‘No panto onde lve carro sou qualquer um. Ninguém me liga Eu também no lige pare ningum, mas fico pensando no momento em gue 9 loewtor fla 0 meu name @ evento (reanto [| Mao tennovaidades e nem aia de ninguém, ‘6 quero vier minha vids. Mas quando o auitrio (pati) me aplaude eu snto a cabesa "ira parece que sou outa, parece que estou crescendo, & como se ev estvesse me vit {anda [Pencia, 200,p. 129). Ofoco- aénfase que Pereira deu sos aspectos econémices dor io si impressionantes, nfo sé dentro do contexto em que ele esceveu, ‘mas ainda hoje. Se nos anos 1960¢ 1970a mesic fo, multas vezes, "ele ada” estore de follore, meio século depois écomur dstinguir misica fe cultura de outros temas mals "séios. Ese Perel, por um lado, 50 tinha mutointeresse na musica, a maioria dos acadéricos que estudam 62 omits carn emande evs Sandro fOrs) ‘amis, por eutt, no tem muito interesse nos detalheseperspectivas ‘aneatvseecontmicos que fscinavam Pereira” 1 livro também & importante porque adate uma perspect- completamente contréria as afirmagGes comuns sobre misica, raga weonomia. Percebe-se essa diferenga através de dois exemplos, © Simei & de Sérlo Cabral. Anos antes, quando era comunist, ele Eostumava deer que estudar misica popular brasileira era algo com- Getamente radical. Cabral publicou a primeira edicSo do lv Escolas fe samba em 1974, e nele tentou dar vor 20s protagonistas das es ols e 2 outros que ele enxergava as margens ds sociedade (CABRAL, 1974), O mesmo intento é evidente em um histéia bem conhecida sobre Sergio Porto €Cartola, que se assemelha de manele interessan- te com o alouto entrevstado por Pereira, quem também lavaa carro. Carola trabahhava na Zona Sul do Rlo de Janeir, onde Sérgio Porto 0 ‘encontrou por acaso na década de 1950 e ficou determinado a aux filo, Esse objetivo ~ ajuda misicas marginalizados~ defnia multe 9 trabalho que Cabral, Sérgio Port Hermini Belo de Carvalho e autros personagens perseguiam. Em 2008, Cabral publicou © primeira lira Senifieatvo sobre Ataulfo Alves, artista que ocupava uma posigdo so: ‘aleiferente de Cartla (CAsRa, 2008). Na introduce ao livo, Cabral tece um comentiio interessanisimo, © muito franco, para explicar porque demorau tanto escrever a biografia de Alves. Depais de che: {ara Rio ese estabelecer como um gigante no mundo musical, Alves ‘onsegulu manter uma vida confortvel na music. Ele tnka grande alido por carros, em forte contraste com as hstvias de Cartolae do ‘alouro, entrou no excusivista Automével Club do Brasil. Ao escrever, sobre Aaulfo, Cabral deseava corr lacunas do passad, Por tantos ‘anos tendo atuado como jornalsta, Cabral explicou que preferiu de- Aicar seu tempo e energia 20s miscos em situagdes fnanceras bem mais dlcadas do que as de Alves, Cabral escreveu Precisove corgi uma fala que percorre os meus $0 anos de jornalimo dacieado 8 misce popular aslo, expe- alente go sab, Nao me esquec de Ataulonesse meio 31 Com cates, ets man. Eire uo, vor Fnari 2O05; emandes {noo} artaman 2013); Kuehssum (2033 Lpes 2003} MeCane 208) Sando. oon Misa eens seis pera hegrargbo 63 seule. Maso me dediquel a fee) tanto quarto me de fuel, por exemplo, 2 Carola, Nelson Covoquinho, 28 Kes f Ismael Siva. Mais tarde, deveabel que mish pediegs por este quarteta se devia exclsivemente 2 um Ingénus pretensdo de que, com mins cbnicase repertagens les passariam atrabahar mais ganhar dah. Atal, com fanto talento quanto eles, no precisa dss. Const pela Radio Nacional, aparecia em programas de tleisi, Decca o Gas fatendo shows © era presen obrigntris fas cosas noturnas mais elegontes.. Mo prectava de mim, (abn, 2008, .7,grifo nos). Assim, Cabral nos ajuda a vsualza 9 exsténcia de um marca «que também referenciava oambito intelectual a partir do qual Perera escrevia- um pensamento de esquerda, de orientagdo mais ou me- ros marxista, que via na msica popular, e especialmente na stuacio {dos misicos negros, 0 poder devastador do capitalism e o feito de- letério do mercado, que podla destruir qualquer expressto "pura" & “autentica”. © argumento de Pereira ~ de que misica e radio si0 er. feras econémicas que representam a possibiidade de ascensBo e mo: bilidade ~ ndo € necessariamente contrério & perspectva de Cabral dos anas 1960 e 1970, mas & muito mais parecido com a perspectva de Cabral de 2009, que reconhece a natureza econdmica da misica ‘no como algo ebviamente ou necessariamente mau. Nesse sentido, vemos Perera escrevendo em cooperarSo, mas também em conflto, ‘om jotnalistas esquerdlstas coma Cabral, ue, apesar de terem uma ‘orientagdo politica semelhante de Perera, ejeltavam a dela ceatral do seu trabalho a de que 3 indistra eo dinheira poderiam fazer algo mais do que destrura misia “pura” e “auténtic’ 2 Roger Bastide e o desafio da cultura Também hé outro contexto que precisamos considerar para compreendermos melhor o trabalho de Pereira. Sua banca examinado ‘a paca acadeira de Antropologia da Faculdade de Filosofia, Ciénciase (64 oni certs Frances & Calo Sendon fre Letras da USP oi composta por Florestan Fernandes, Egon Schaden, Oe tio lanni, Gracy Nogueira e Ruy de Andrada Coelho [PeReiRa, 2002}, tin 1968, meses depois de publicar oro, Pereira recebeu uma carta Ehgratulatrla de outro membro famoso da USP, Roger Bartide, que ‘igo resdia na Franca. Bastide felictou Perera pelo lvro,e dsse:"€ ‘Reelnte [10 I com grande interesse"™. Bastide aproveitou a opor- {eniade para comentar sabres traletéra das Ciéncas Socials no Bra- file aimportancia do trabalho de Pereira nessa trajetéra: No Basi nites com a antropolgiacutural e 05 ee rmentossobreviventes da cultura real. Faxiasenecessiria luma reagdo ooo grande mérito da escola socilélea de So Paula passa da cbtervag do dominio ds culture para 6 dos estruturas sodas. Trtauase de uma tarafa urgent Mas, 20 assim procadermc, fn levedos a neglgenciar © dominio de cultura, Fars necesirioreintrodualoma "ore biemaea”donegro brasileiro. Mas essa ¢ uma cura nova, rnosega de urbanisegto eda marginalzagio do negro, Sem (vida [sil shai alguns artigos] sobre o tema dos sam has vinevlados 8 urbarizagio e 8 malandragam. Alegre ‘ue tna “ecuperado” a perspec eulturalsta ene bom Serie dotermo, na medida em que se apiasobreestudo dainfraestotura soa (Pentin, 2001p. 2526). Nia carta de Bastide se vé uma grande disparidade entre a apr sergio que Pereira faz do seu préprio lvoe a interpretacio dele feito poe Baste, Para Basti, ordi & misica e cultura em um sentido res tuto e deve ser estudado por meio da metodolagla “cultura ‘Maso que ere essa “perspectiva culturalista"? Basti definiy 10 termo uma década antes em seu lv Socilogia do fallore bras: lero, uma colecao de esritos reunidos pela “aplcagio de um mesma sistema de conceltos ede um mesma método, 0 socildgico”(Besnbe, 1953, ntrocugdo]. No lvo,Bastde nao sé intenta defini as franteras a Socioioga, mas também as do foelore, um campo de estudos en: ‘s2jado em umaluta com autros ramos das Ciéncas Sociis, Nessa uta, 52 Pa eeabes sore Paria ea frmagdo de Anropoions a US, vr sla eras 2003, 232 Rear cera cmfrancts, vada na segue ei do tio Car prof ‘mobi Penn, 2003 Mise ens soa para sramacbo 65 CC CC CC Er Sociologia © Antropologia, ideradae por Fernandes, concuistram ume clara vitéria contra os estudos de felelore, que, depois do fim dos anos 1960, seriam permanentemente marginalizados™ Para Bastide, existiam bons e maus estudos de flcore, def idos em parte pela diferenga entre a interpretago *restrita",exem, plificada por estudiosos norte-americanos que entendiam 9 flelore ‘como “tragigo ora", “sentido mais ample que Ihe atvibuer tanto (0s europeus como os sul-americanas, © que engloba of costumes ¢ 13s festa, bem como as lendas eos provérbios.O foleore € a cultura inteira do Tok (BasTioe, 1959, introduce). Seguinda a decisSo do primeira Cangresso Nacional do Folelore, em que partieipou coma re- presentante da USP edelegado ds Comissio de Séo Paulo, Sastide de- fini follore “como um ramo da Antropologia,o que estuda a cultura em oposicdo 8 cultura ervaita”(BasTivg, 1959, ntroduséo). 0 "porta dl vista culturalita” tina “tantos perigos como vantagens", visto no trabalho de “certosclenistas dos Estados Unidos", a quem fltava uma borientagSo manvsta¢, como resultado, nfo compreendiam a relacto dlalétca entre cultura e sociedad, “0 folelore nfo futua no ar Ba tide entonou. °Sé existe encarnado numa socedade, e estudé-o sem levar em conta essa sociedade & condenar-se a apreender the apenas a superficie” (Basrioe, 1959, introducto). A perspectiva abracada por Pereira & muito parecida com os bons” estudos canforme definidos par Bastide,e vale 8 pena dizer ue, até hoje, Pereira cita com o maior respeit 0 seu débito profis- sional e intelectual em relacko a Batide eFlorestan Fernandes", Quer dizer, no parece que Perera considerasse seu trabaho coma resposta ou critica a Bastde ou Fernandes. Mesmo assim, € claro que Pereca tampouce definia seu objeto como flciore; aparentemente, ele « Bas- tide tinham opinibes distintas sobre a rlacdo estabelecida entce m= Sica dio e cultura. © que se sabe & que Pereira jamais diia que seu Tae Waris aura Voor de Cato Cale Rosle ds Pao Vitens {0980p 75525 Redolo da Paid vanena (157) 35 Chand dis xempissem 201, cesrave rarer negro em S80 Pl t= tito por Basti eFenandes) cma spine pexque sociales abe a et {ao acl [po Bei) E quatoans arts chomou Fernodes de" gran mest’ te soclogos ges a acbes socal rene fle sare vine dap igartan te ae Par «Fernandes. Ds 20071 625668 e Fernandes (208), Fees, (aon. (6 Dt cerboncn erandes Carlos Sandon (Ore) i ‘enudo tess ago a Ver com os “elementos sobrevivntes da cultura ica" mencionados por Baste Hee eg rabalhos de Bastide nfo se enconta evidnca de que aie cissingusse mica, cultura e rio. Para ee, of ts elementos, fermam parte do mesmo bole. Mas importante ea, no entanto,adi- Reena entre 08 pos de estudos cultural Em Socologi, ese Tas avez o eto brasileiro encontre neste preticoo caréter de um weifesto. De um manifesto ant-euturalista € até certo ponto, no Trenganara. Ea bem minha intengéo mostrar 0 perigo de encertar 0 fakiore numa Antropologia nfo sociolégica” (Baste, 195). Pereira, {bora tenha provavelmentetomado cincia da primeira parte do ca- pitulo"Dialéica culture-estruture™(Bastoe, 1958) desenvohido por Este (1955) em sua pesquisa sobre religi, nfo definiu em Cor prfissdo e mobldede 0 fenémeno dio da mesma forma pela qual fstde oer. Oecerto, Pereira embasou-se na daética de Bastide, mas te debrucava sobre 0 rio como um espago de trabalho comparvel 8 toma fabrica®, Para Bastide, era dif entender as nuangas do estudo de Peele, e ainda mais compicadolocalizar a misica fora de uma ‘asta e mal dfiidaesfera cultural Pereira ndo rechagou a categoria de “euturaista’ Oe fato, no Inia do vo ele dsserta brevemente sobre os benetcios da “abords gem cuturalista” (Penna, 2001, p. 30) Ao longo do texto, noentant, ‘al muito slam do conceito, especilmente quando analsa as est: tura das empresas radfBnieas eo papel ds calouros dento deas ‘ale a pena lembrara segunda palara no ttle ~o ivr é, no fund, sobre raga eprofssto, um concelto que no cabe faciimente dentro do esquema deserito por Bastde, Pereira ainda demonstra que 05 ca louras ecupavam dois lados da dis efetuada entre consumidor e rodutor.O desejo de tornar-seprofisional’oloraocalouronasron- teas de dois mundos: dos ouvintese dos radiata”. Dentro “desta situagdo de ambivalncia’, Perera desinda nove pistas de andlise n30 apenas quando trata dos trabalhadres negros, mas também quando Imerg na histria da inastaizas3o e da "modernzarso"(PERIR, 2003, p. 34, p. 48) le no buscava “elementos sobreviventes da cu Seon at que mando Persia ¢ ae aem de cra sua pra ris ‘rcaco eve altura eestutura que laa em Soca dalle bresieve Ma cits soci paradgragio 67 tra areas” ~ queria, antes, estudar a histéria do capitalism &a so. cedade brasileira contemporanes. ese 0 desencontro entre Gastide Perera na apresentacso da primera edigdo de Cor, profisséo e mobildade, escits por Egon Schaden (ScwADEN, 1967, p. 9-11), Para Schaden, o texto de Perera ‘reflete bem a personaldade cientfica de sev autor’. Pereira not nha Interesse em “coptagbes teércas desigadas da realidade emp. ‘ies’. Ro contrdto, ele lidava com assuntos “que digam respeito a5 ‘mundo séelo-cultual conereto que 0 rodea[.-Adiscussfo 6, assim, marcada pela fmeza e pela sensibildade” (ScHADeN, 1967, p. 9-10) © resufado, Schaden escreveu, fol 0 de uma “obra de valor que se crescents a uma srl jf considerdvel de recente vestiges sste tmiticas, de soiélogos e antropSlogos, sobre a stuardo do contingen- tenegra nasociedade brasleira de nassos das” (SCHADEN, 1967, p. 10) Coneluindo, ele dese: “e] um livre que, nio obstante a sua natureza cestritamente centfies, se destina nao apenas a especaitas, mas a {quantos desejam ter uma vsso mais usta e mais satisftoria da eal dade séco-cultural brasileira” (ScHADEN, 1967, p. 13). Para Schaden, certamente para Pereira, 0 lvo fol menos um reivindicagdo do cultu- ralsmo deserito por Bastide,e mais uma obra felta no mesmo espirto de outros “cientstas” que estudaram raga esociedade. ‘Em uma entrevista concedida na vrada deste século, Pere + comentau a complexa elagdo exstente entre Cor, profisstio € mo- bilidade © of padrBes académicos da época (PeREIRA, 2002-2003, p. 62-65). Na entrevista, ele lembra como, 20 fnal da década de 1960, viajou de ado entre o io de Janeiro e So Paulo com Carlos Guilhe: ‘me Motta, outro aluno da USP. Motta dssea seu colega"Voc® & muito Corajoso 20 s¢ doutorar com um tema duplamente fora de moda: 0 hegre o radio” (PEREIRA, 2002-2008, p. 63). Refletinde sobre a con versa décadas depos, Pereira concordou, dizendo que se no tivesse ‘coragem, certamente,ndo escreveria um texto que foi nas palavas de ‘Mota, “fora de moda’. Perera disse: (estado do negro no transcorrer da cade de 0, consti: ‘eno grande ra de uma socotgla que sepatcava ma Maria Antonis tendo ent Roger Bartdee,prinepakment, Flores tan Femandes (1, Oepoe cesses ertudos como que 2 chara 6 iv carbon eran to Santor) 110303 pelo foot projto da Unesco comerou a se extrac. Empouco tempo a socblogl part para exports ours ereas cuvertentestematias,deoando o negro ea questzracalora ‘lia derva PERERA 2002 2003 p63 sobre estudos envolvendo 0 tema do rdlo, Pereira enxergou outa trajet6ra ‘se a negro hivia entrada na mada dela ssido em poucos hos, orto, a ent, seauer hola sso cogitado, entre 1s, camo ta série darted academics Er assunt por femal geo, 2 ser ciscusdo epenas em revistas de mene: eos, pubcagSesdescartves que veiculvar, sem malores ‘compromisosinformagbes itel igadas ao lazer So pov © para dlate de homam comum Pensa, 202-2003, 0.64)" como se vé nas palavras de Motta, e como Pereira explic, io fo acl convencer outros de que seu trabalho era to impor” ante quanto 05 dos professores celebrados da USP. Ainda assim, cle percebeu que sua pesquisa absorvia melhor de virios univer. Sos. Em 2003, dise: “Acreditava, como ainda acredito, que a ad Glo dezze esquema teérico pluridiscipinar me permititia reunir no mesmo trabalho a tradigio da antropologia no estudo da cultura e a5 recentes elucidacbes da sociologia no plano das estruturas so as” (Peneina, 2002-2003, p. 65). Mesmo assim, 2 carta de Bastide deixa claro que evista ‘certo dasencontro canceitual entre Pereira e os professores da USP. {Esse desencontro também se manifestou na relagio entre Pereira © Fernandes, que se recusou a ser orientador do dautorado de Perera, Pereira lembrou 6 mesma tive um desacordo com 0 Florestan Fernandes re reflete esse instante de transiggo temstics, Quando ‘aby famora formulate Roberta Schwa sbe at "dea fora Goa Ma, ‘locate Perea, cho mal propria a terminlogla de Mat, ue, unt com 3 Iterpretaca se Pras anos Sept revla coma spor aie orto de Pras 0 tsar fore ugar el ein aro tnt no nr amon erst a ners fe eur ocamnho thao por Bost, eran, Carns ots maser. ent for ema Sens 200, p. 9.32, Maden eine sec par dapumesso 69 ine envegue meu projet de dstorada ee fou ue oe Mo oreare mol tne sobre neq, pos to800 que 3 Florestan Fernandes, democracia racial tha dese esereverj fora eset, Retruguel que sobre o @a “familia negra” ‘peu isuns negutm Rove esc, que sobre come Mlegio de mone erelgbes aca. fonfo sb nto, She Rcesen ste completndasve tse ecstesrs =A iregraydodovnenio na sociedad Se sts, resimente wm tabahesbrergentee marino, da eso na Straorime Aco uc tepensnva qe otabaho del tuts srangemee sues mewn ere nnhum oo tats (aus Manes, 1003, p32) 0 fato de a viséo propugnads por Pereira em Cor, profissto moblidade do caber nos paradigmas empregados por Bastide f outtos ndo quer dizer que olivro deva ser interpretado como um Franiesto contra 2 Escola Uspiana, Ao longo do texto, Perera cta es2 refer 205 trabalhos de outros integrantes da escola, sobretudo os de Basie Fernandes. E, assim como tas autores, Prelra tra em sua pesquisa uma etica contrara hs imagens e defniges mais roman as do sciedade brasileira, O lio termina com a fala de um cantor hegre, ue comenta: "Sé6 depois que eu venci € que percebi que esta- te derrotado desde o comeso |... Antes a gente vive luda, ltando paras lirar da pobreza. Depos [J bem, este & um assunto que eu prefiro nem falar dele.” Nas iltimas inhas do texto, Pereira assinala Se tai radialitas no encaram com pessimismo a sua stag, toda- via, nas suas confidéncias 20 pesquisador, no canseguem esconder © desencanto das que se veem taldos nas suas mals caras expectativas” (Peneina, 2001, p. 253), | ‘esse sentido, as conclustes mals importantes do ro con- ‘cordam com as de Fernandes, em A integracdo do negro na socieda- de de classes, obra-prima na desmisiticagaa de mito de "democracia facial brasileira" (FEANANDES, 19783). Mas ume leitura cuidadosa do texto de Perera ~e das declaracSes dos entrevstados ~ revelam ou- tras ideas e perspectivas que representam nadz menos do que uma refutagdo (mesmo se indreta) de algumas das idelas mais importan Fernandes disse que sera oientador de Pereira, com a cond lo de que ele mudasse 0 assunto, Pereira acsitoue iniciou o projeto {Que Fernandes suger ~estudo de uma pequena comunidade cafeera fo Interior de Sd0 Paulo ~, mas desistiv,saindo do eseritio de Fer- andes apds um encantro tenso e indo diretamente a0 de Schaden, ‘Anos mals tarde, Fernandes citou Pereira em uma nota de rodapé na Introdugdo da versio em inglés de A Jategracdo do negro (2968, p XVI), dizendo que suas conclusdes foram respaldadas pela pesquisa de Persia. Mandou uma cépia do texto a Pereira g, assim, o “desacordo” _acaboU, Na resposta iniil de Fernandes, percebe-se uma negacioa priori do estudo de Pereira. NEo que Fernandes no concordasse com fle. Ocorre que nfo tentau compreender o ponto de vista de seu alu ho. A esse respite podemos dizer que Perera foi simultaneamente Contriro ea favor 20 projeto coletivo de Baste e Fernandes. Ele se cientificou de que seu trabalho fazia pate da tracigdo emergente da UP e, no entant, configurava-se um pouco dstnto: a0 mesmo tem po integrante da escola efora de moda ~ uma ese sem lugar tes (e hoje mais criicadas} do fameso lvro de Fernandes”. Em uma ‘entrevta fita em 1978, Fernandes cessaltou uma forma de depen- dencia intelectual, resultado, em parte, da influéncia de autores eur ous e também dos préprioebraslsirs. "O meu esforgo maior era de ‘iar uma rea de autonomia na produsdo intelectual, na sociolgia, ha antropolaia, em qualquer campo’, ele disse, “E essa autonomia 55 Tevandes e seus alunos aera pesuts em & nero. na cade de ‘ope Faun de Fost, Cencas.eLevas da US? Mises ec soca para loramacto 71 38 ren, pa rane, vr contada por Pero 20D, p 324-326), 70 i carer eondes & car Sanco OS) ‘exit que nes tivéssemos um certo controle Sobre © nosso trabalho intelectual” (FERNANDES, 1878b, p. 4-5), Ele procurava Independencia ro 6 da Europa, mas também do passado e do presente nacional, ‘onde via pulularem trabalosfacos e metodologias Inadequadas. Fe. rnandes comparou GibertoFreyree Casa-grandee senza 30 trabalho ddo Robert Southey, escritor inglés romantico dos séculs XVI e XVI, ‘uj obra Fernandes considerava “uma fraud”. Para Fernandes, 0 pr blema com Southey e Feyre era a fata de método © dominio sobre (0 dados, Sobre Freyree Casa-grandee senaala, Ferandes asseverou aque “ele trabalha com uma ampla documentagso, mas aquela docu ‘entagio no foi post. flan fol integrada, Ente, voe® encontra explcagbes contraditérias, porque no hé o controle do dado” (FER: ‘wanes, 19786, p. 8) ‘Armado com teoria © método “entices, Fernandes buscou ‘acabar com a perspectvafreyreana. Entre outros caminhos que seguiu para concretizari50, ele enfatizou os efelts deletérios da escravdio ‘que, em seu olhar, foram evidentes nas familias afro-raslers. Em sa opinido, a “fala negra" nunca conseguiu adaptarsenem vida urbana, p6s-abolcdo, nem aos padrBes de unidade e coesio que Fer andes assumiu serem os fundamentas da sociedade civlizada e bran ‘cat, Como outros cientistas socais de sua época (especialmente nos Estados Unidos), ele ressltava a presenca de certa“anomia’,defnida fem parte pela cuposta falta de familia nuclear come prove e resultado dos efeitos da escravdo®. Para Fernandes, “apenas uma minora da ‘populardo negra’ encarava a casamento coma um valor social © se ful risca um estilo de vida compativel com a establidade da familia. Integrada” (FeRWANOES, 1978, v 1, p. 202). Sexo “retral solapa e 35. vezes até deturpa a absorg30 de novos padrBes de comportamento, lmpedindo ou retardando a plena configuragao da familia equllibrada €Integrada no ‘meio negro™ (FERNANDES, 19786, v1, p, 153}, Ferman “YO. Conformando com 3 nguagem sociocntiica da época, Fernandes referee a {A Aamaoris dor sous comer sobre o tema enconra sea parte 2 (0s dit rents nel desorganzagia socal do segura ape Feuperaasso «sro ‘a sca) (eeaanoes, 1978 vp. 137-222). {2 VerGlzere Moynihan (1963); Honchard (2950, ‘72. omits ern Frandes Cros Seno (164) extambé rou vos cos "ilo ampaes de mule ice, omens ence com “nulndge etn ot nr ecrsos da tai er ease samba tudo 0 Qo, #54 enantio repto] coo stg soca Ge femuot 3970, 1,915), Imeresente naar © empego 6 plas “malandagem™ tanto no texto de Fernandes, onde figura bastante, como na carta fue Sastid enviou 9 Pereira em 2968, Para os dos autores, mala: Gragem e misica popular eram nsepardvels. Fernandes sublishou Setsténca de homens negros que foram incapazes de manter 0 fEmpregoestavel ou de sustentar suas familias e que se envolveram fam leoo! e fara, assim como mulheres abandonadas e com pour as opsdes prfislonals fora da prostituigdoe criangas sem qualquer tstrutura familar ~contrastando fortemente com as de Cor, profs [00 e mobilidode, No livto de Perera, ox casos “pices” sBo comple- famente contrdrios 20s que se veer na obra de Fernandes. Dentre as pessoas que Perera entrevstou, muitas das quals ocupavam as ‘mesmas camadas socials dos indvidues cam quem Fernandes falou, inislea no era malandragem, era profislo e uma oportunidade de rethorar a situagdo social. Pereira expicava como calouros tenta ‘am tlza suas carreras musicais coma uma forma de ually suas familias, € que 25 familia, por eu turna, concediam multe apoio a suas carrelras. Sobre uma mulher que entrevistou, Pereira di: “Con: frmando 0 depoimento daquels doméstice, que farlaconfidéncias 1 seus Ideals & rms, 0: dads mostram que © candldato & vigor: samente extimulad pela familia ou entio par membros da faa” (Pexeiea, 2001, p. 137-138). Esse contrast entre Fernandes e Pereira flmportante no sé porque Persia oferece uma visio istnta da de Fernandes, mas também porque Perera nos debiou um exemplo de oma incuir a musica dentro de um estudo sociocientico nfo en: ‘quanta carcatura, mas come alge muito mas complexo esofsticado um conjunto de foreas socials, culturalse econdmicas, mise elins sacs pare agremasio 73 4 Invisibilidades ‘Um dos limites de um estudo como 0 de Pereira baseado em entrevistasrealizadas durante um periodo de mals ou menos sete anos ~ é 0 de que ele no possibilta uma visio da biografa ou de toda a trajetéia do indviduo, A esse respeito a esciplina de Histéia tende a abrir horizontes que permanecem encerrados em estudos cloldgicos e antropelégicosfocalizados expliitamente no presente® ‘a longo de suas vidas, artistas como Cartolae Ataulfo Alves no 35 se alteravam entre a sorte eo azar, mas expressavem possblidades dlstntas de seguir uma caeera sso se torna claro na "confssio" de Sérgio Cabral no preticio de sua biografa sobre Alves: a produc in- telectual sobre misicos basleros tem sido influenciada, 30 menos fer parte, por um deselo de destacar os masicos das camadas mais bahar da sociedade. Um resultado de tl Enfase & dado pela dstorgfo das representagBes 6as vidas e carreiras dos artistas defnidos como socilmente “subalternos"™. € 0 processo de “subalterizar” misicas foi, quase sempre, colaborative ~ envolvendo a construcéo de narra: tase definigbes efetuadas em permanente didlogo entre ornaitas, estutiosos, ouvintes, executives e os prdprios miscos~o que lumina ‘mais um contexto fundamental para se compreendero texto de Pere: ae oar uspiano. Um bom exemplo de que fo afiemada acima & conferido por meio da vida e carrelra de Jo30 da Baiana, que nfo possula o mesmo {to musical de outros, mas mantinha um emprego relativamente es: tavel no porto do Rio €, nos anos 1960 e 1970, ganhou nova vsibil- ‘dade grafas, em parte, aos esforgos de jornalistas como Cabral. Em rmuitas acasies, especialmente nessa lima fase de sua vida, quando se encontrava doente e com pouco dineiro, enfatizava os desatis ranceitos atravessados, Em 1966, Joo da Balana concedeu entrevista 30 Museu de Imagem edo Som (MIS), realizads por Herminio Bello de {bor bons exepls de rabaoseslador em otros campos incuie temAnroplag socio Eramurleslogs.Fenande (230) andro (203). {a Teno eabaao brant com eae tra em outer gaa, eam vale aos cnaltar or watslbo ae Fetranse (210 raj (200); Hetman 20008 135.720) Merman 2013). 1A. ote carbon anand & Cato Soadon (Or) cansaho, Aloio Alencar Pinto e Ricardo Cravo Alin. A esl ised reabrale,inusitadamente, dos cienistassocais da époce, 5 en 1 fxadores quiseram posicionarJofo da Baiana na hieraraua social Hestera, Perguntaram-the: “Sua famfia era rica, pobre ou remedia ere Como em muitas vezes de sua vida, odo da Baiana ofereceu uma taresanteresposta que certamente surpreendeu os integrantes do rrrmeu e que claramente nso cabia nas categoras ofertas. “Minha fama no era rica le disse, “mas tia uns recursozinhos porque freus as possulam slguma coisa. Além disso, minha mie faziadoces Up Bahia etinhs empregados vendendo esses doces na rua, fram 4 ds tabueires. Portanto, a norsa conao econémica nfo ers vim” {opud FeaNanos, 1970, p. 61). ‘Tanto pare 05 jornalistas do MS, quanto cientistae sociais como Fernandes, a autoclassfcardo de Joo da Balana era dil de fntender Na busca desenfreada por caso, dados e histérias com af tlidade de eriicar mito da democracia racial ~ ou 0 imperilismo, 0 utoritarismo ea desigualdade-, a atengSo do pesquisador se guava pst 05 cas0s mals estrondozos e dvos de problemas e dsparidades fue, multas vere, foram expressos por melo de termos ecategorias Gemasiado simples erestitos, que no davam conta da capturade mu: ddancase suilaza contdas nas narcativas ideas sugridas por Figura to complexa ¢fascinante quanto Jodo da Balana. Nesse contexto, @ trabalho de Pereira ~ especialmente a €nfase conferda 20s calouros, ‘que ocupavam posigBes ecategorias que no interessavam & maoria os rnalstase estudiosos da época ~far-se ainda mais notivel ’ inisbldade do que podemos denominar de um tipo de “melo-termo" ~ uma vida de “uns recursoinhas", no “ria” tampou- aim” ~ 6 signieante quando levada em consideragS0juntamente am or trabalnos de Fernandes e outras da USP. Conforme Arruda as sinalana citagio que abe este ensaio, a consolidagso de um campo de estudo au de conhecimento, muitasvezes, operase por meio da exclu soe do dese dedstinguir as praticas de hoje das de ontem, No caso a US, os parilpantes enfatizavam o que chamavam de metodologia ‘lentes, Arruda escreve sobre este azzunte: A cigidod profssonaietreave-e nos pressuposts do a ber tleniico.0 conhecimenta pasiou sexs roves eau Masa ein soci par dapumesto 75 tose épor ess ratio que as primelas gerbes de cients rociis, formdss pela Universidade de So Paulo, atribulam, importinea & produgio nortesda pelos cinones cents (env, 2001, . 195). [apesar do pero conferido @ ela por esta escola, 2 prépria Ideia de “metodologiacientifie” em abstrato no algo consensual tla susita todo um debate em torno de sua definigBo. Mesmo assim, a solider © 2 importincia de tal metodologia vem sendo evocadat f reprodudas por décadas a fio no Brasil Em A vocasd0 das cin. clas socais no Brasil, Glauca Vilas B0as descreve a diferenca entre “conhecimento erudite” e ndo erudito: Pode dstnguls [as cine sodas], nlalment, por Integraremo que se denomina conhecmento ero sober trediconalmente constuldo por estodes aprofundsdos e SSstemdteas de um geterminado assunto. O conbecimente ‘rude pressupée 2 fermagio e a teinamenta de um cor po de esudosos, cuiasconaighes especies de estes Pho sentido de que este alstade das arvidades do rabaho ‘manual -surgem com o advento do excadente econérnico Varia de acordo com orgarisagSo da produgso mater aumento da riquers soca (0s apreciadores do conhecimento ervéto formam assim um ‘rape privilegiad, pole elaboram e possuem um saber prestigiado que no € acessivel a todos, & podem buscar orientar ~ através do saber {que produzem ~ 3 conduta de outros grupos socas. Ao consideraras ‘lencias socials como parte integrante do conhecimento erudito, di ferenclamo-las de imediato do conhacimento “vulgar” que pode ser ‘comum 2 todos os membros de uma sociedade. Porém, esss dstingSasnéo sia suficientes para caracterza ‘a5 cinciassociais, No conjunto da tracgio do conhecimento erucit, «las corvivem com outros saberes de qualidade também eltsta como ‘3 experiencia rligiosa a flosofia eo conhecimento das ciéncas nat: raise eatas. As cléncas Solas adquirem identdade dentro daquele {quadro enquanto ideia que trata de explcarao dos fendmenos da vida socal, @ partir da sstematizacdo e classfcagdo de materials emp os, submetides & andise com instrumental teérico cujaelaborasSo 76: tice eran Calor Sandon (Os) evan de um proceso de generalialo. A exatio,» objetiiade rovblidade de veriea3o dos resltados obo, caacteristcas Capi contecmento semen, qlee, pat, tb 2 out VHA 60,2007, 2328) finda que por meio da quifcagf,eetuada no imo pa nfo store apomte pra un detngio das ens Scat lem vrei boseata apenas na dilerenga evsente ene conhecmento ease la esa or elerar una dingo muta pares ie rereanes aside outros empregnvam pre delay ses tapos eetudos Com focona economia dori em gua que ecedam as teetias tas dos cesar ois, ea cota sco deter it [ane conpoate de seu vata reuse eos mato a roles Neeson, tonasedaroqueadecsdePerta ade chit Smeal sore 0 mse dese et ea exha debasears perqus em ead forages quanttatos equal, fof tan andere ord nos anos 1960, concn dent dum capo eee, cra oro de se gaa ou exe do corpus ‘Sateen Cab ica esr que ae coe por ees dpesanages gue, como fo de an, cup una pons ts thins calegras fase comencona = om» de coneumidr ou prot to pobre toma sna ompicadsa vata pests a comprenci pores pares drt dopades tlc, Frater esectmeo neo, Conclusées Se concordarmos que a misiea hoje possui um lugar @ que merece ainda mais no Smbito das Ciéncias Soca, o que exatamente |anhamos quando seguimos os passos de Pereira, ao clamarmas por tengo & musica dentro da érbita da Sociologia e da Antropologia? Etraindo algumas conclusdes dos exemploscitades, sugio 30 menos tes benefcios:primelro, vemos que a relacdo entre cultura e écono- la € muito mais prolifcae dindmica do que o presente nas conse Des eens eselepara agro 77 ragbes de Fernandes, Bastide ee. Para Jodo da Baiana, a misica e a cultura ~ nesse caso comida baiana~ faziom as vezes de veiculos de expressio e também disponibilizavam recursos fnancelros.Percebe. ‘se a mesme situardo nas vidas e entrevista dos calouros, que imag rnavam 0 radio como esfera de exoressdo e de emprego. Er segunda lugar, no ponto em que cultura e trabalho se cruzam encontra-se uma visio 2 respeito de capiallsmo e sociedade distinta daquela apresen- tada em tantostrabalhos sobre pobreza e as camadas mals baias da sociedade, estado “crénico e quase definitvo”assinalado por Pete ra, que posiclonava os calouros entre a pobreza ea fama, dstingue-se | das circunstincias descritas por Fernandes e que, em sua perspectiva, deformava as comunidades negras por as tornarem incapazes de sein. tegrar estruturalmente a um sistema capitalista. historia que Perera narrou nfo ¢ heroica~longe ssa ~, mas as declaraces dos caloures, ‘mesmo os mas pessimistas,refletem importantes aspectos quase au sentes no trabalho de Fernandes. fm terceio lugar, 0 estude cuidadoso de Pereira também ‘movimenta uma verso da "“amilianegra® completamente dstnta da- «quela apresentada par Fernandes outros cientistas socials 63 €poca ‘A“anomia" no se configura em terme ou conceit it~ isso fica caro no livro de Pereira. Mais precsase nteressantess30 as ferramentas e testratégias que as familias ( indviduos) negrasutilzavam para con frontar os legades pesados e duradouros da escravidio e das desigual: dades persistentes em meio &sociedade brasil Interessante refletir na atualidade, quase meio século. pois da publieacso de Cor, profssdo e motilidade, sobre eventua- lidades ensejaces por hist6ras altematvas. Onde estariamos se os argumentos e ideias mais problemsticos da escola uspiana nfo tes 2m sido instucionalizados como padrio de dsciplinas? Qual seriao ‘estada da arte se mals alunos e professores tivessem seguide Pererae deiado de lado pelo menos algumas das partes dosimportantssimos textos de Fernandes e Bastide? Talvez essas perguntas no tenham respostasdefntvas. Mesmo assim, vale a pena refletir sobre elas para ‘compreendermos melhor ofascinioexereldo peas teorias vencedorss, bem como para avaliarmos as possibilidades de transformacées e tran SigBes intelectuais. Nos anos vindouros, tal coma tihamos neste ca ‘minho, da incorporagio real da musica no bojo das Ciéncas Socials, 78 tector Ferman & Cale Sandon (Ores) ‘lea pena retorar@ Persia e aos desaiosadvindos coma produco vat eves horizontes @ com 0 ato de superar o que nos precede Referéncias ‘aio, Pale Ces Eu no sou cachora, Bo: misc papular cafe dtadura far fa Ge ano: Record, 202. 280K, Mato Aina do Nascimento, Merle ecltura SSo Fale no mein ‘a Before 200 astiog, Roger Saigo do fore rose Sto Pave: har 1958, usrive oper FERNANDES Florestan, Branco e negrs em S80 Pal. ed, Sto Fou sob 2008, CaBea,Sepie. Arscolorde rotor qe, coms, quand eporqut la de ano: ‘AGRA, Step. oul Aves a ob Ho Pal: al, 2058, CAVRCANT, Mata Laura Verse Caso VLE, Lis adel ds Pao. To ‘ane tonsa orestnFenander ea margnaliap flor Extudo ft ‘ioe loge loner 3,0 5,9. 7592, 1990 ‘VIS, lc A contri de io apts Gorges era par penser {Scomnescoal waste n= CONGRESSO NACIONAL OE HISTORA DA MID 5. 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Led S80 Paule: Lora Panera, 967 pen Wat ober Ao vencedor or btatar: forma errs e procesto od not ‘niu, us Rodolfo d Patt, Projets emo emosment flrs rasa, Mise cess soca para agramacto 81 Musica e relagdes internacionais: 0 Conselho Internacional da Musica, a Unesco e a Guerra Fria®® ‘Anais Fléchet Se 0 vocabulério das relagBes internacionals se refere com requéneia & musica de forma metaféria, através de expressées onsagradas como 0 “concerto das nagdes", o lugar da misica na pottice internacional foi pauco explorado pelos hstoriadores, mu Ficélogos e esnecialistas de relacdes internacionais até um periodo fecente. Os primeiros estudos sabre a diplomacia cultural, que se (desenvolveram a partir dos anos 1980, prillegiaram outras lingua gens artsticas, tals como literatura, teatro e cinema, para analisar ss relagbes de forca eas aliancasestratégicas entre as nacSes. Esse andro s6veio a mudar com o culture tura, que modificou de ma- era profunda a concepeao e a prética das relacSes internacionais ha década de 1990 (Inivé, 2004, p, 241-256; DuteHy eta, 2010; Su 70; LESSA, 2012) criou as condicdes para uma primeira aproxima- Go entee cientstas politicos, historiadores e musiedlogos. Na Fran {@, foram pioneiros os estudos da musicéloga Myriam Chiménes (2001) sobre a vida musical durante a ocupagao natista (ChiMENES: SiMok, 2013), do histariador Didier Francfort (2004) sobre o pa pel d2 musics na expansio dos nacionalismos europeus antes da Primeira Guerra Mundial, e do musieélogo argentino Esteban Buch (1999] sobre os uros politicos da Wona sinfonia de Beethoven, des de a criagdo em Viena em 1824 até a instcumentalizaglo do regime nazstae finalmente a transformacio em hina da Unido Europea, Nos Estados Unidos, a nog de sound diplomacy fol desenvolida bela historiadora alemd Jessica Gienow-Hecht (2009) em um livra desicado as relagBes musicals transatlintieas, e a historografia da ‘Guerra Fria abriu-se a tematicas musicais na década de 2000, Dez anos depois, a musica ganhou um lugar de destaque na histéria das 15 in rimara verso dase tet punta na esta lass Irtnatne festPaa/Geneven 156, 2010, ses ecencassolspar depres 83 relagdes internacionals com a publicar3o simultanes de dois doss. {5 tematicos nas revistas Diplomatic History e Relations Internation rales (MUSICAL... 2012; Musique Er... 2013; 2014). Sinal dos noves tempos, © simpsio Culture and International History (SIMs. 2014), organizado em Berlim em abril de 2024, contou com um SessHo dedicada & misica, Em 2015, 2 publicacdo simulténea de 1duss colevineas - Music and diplamacy from the early modern era to the present (AHRENOT; FERRAGUTO; MAMIET, 2015) eMusic and in ternational History in the ewentieth century (GIeNOW-HECHT, 2018) = enriqueceu ainda mais 0 campo de pesquise ‘essa altura, 35 pesquisas tem privileiado tts eos tems. 0s. 0 primeira trata das circulagBes dos masicos das obras; analisa papel do mecenatoe das inovacdestécncas na dvulgagdo da mica, them como a permanéncia de fronteiras plitcase clturais que impe- ddema creuagio das misicas (Caimnts, 2008; DUCHESNEAU, 1987; io- 11x, 2002; TOUNIS, 1999). Sob essa perspec, a questo do exo e das rmigragdes musicals chamou aatengio de varios pesqusadores CLAUSE; ‘uivieR, 2009), 0 segundo eixa analisa as polticas publica dos Estador fe das organzapSes interacionaisediscute a nocBe de "diplomacia mux sca”. O jaz, por exemplo, fl utiizado pelo Departamento de Estado norte-mericane durante 3 Guerra Fria como veto de influéneis cultura ‘0 soft power (DAVENPORT, 2009; EcHEN, 2004). No Brasil as caravans musicals organizadas palo Minstrio da Educagio e da Cultura ¢ pela Unio Brasilsira de Compositores entre 1957 ¢ 2965 pariciparam da mesma gia estratégic (FfcHET, 2033, cap. 5). Enfim,o terceico edo € dedicado & misica em tempos de guerra e de paz, Os sons da guerra, ‘as marchas que acompanham 0s Soldados, as operacbes de propagand ‘musical votadas 20 inimigo foram analsadas no quadro das “culture de fuera” (AUDOIN-ROUZEAD et a, 2008; BxAoe, 2011; FAUSER, 2013; Ke "ER, 1997), Masa misiea ol também promovida coma simbolo de paze de reconeliago internacional nos contextos do pos guerra (BOUCHARD, 2013). Nesse aspecto, 3 imagem de Mstislav Rostropovich tocando a se- rabanda da segunde suite para voloncelo de Bach, em uma brecha do Muro de Beri no dia 11 de novembro de 1989, ¢emblemstica, “Be Tat dello ds msicos brass na Europa dant o rage cv tar fm situ vs ala musique popula rélenne en France (ECA 202, " £84 ot ators Fernando Calor Sandon [1s _ncrenga na voragdo universal eno poder pacifico da misica fol principio fundador do Conselho internacional da MUsica (CIM) Pe politica musical da Unesco durante» Guerra Fria. Ciado no dia sSge janeiro de 1543, € ainda ativo hole, 0 CIM tornowsseo principal Spear do pales musical da Unesco a pari da década de 1950°. Cpejorme 0 ato constitutive da Unesco, suas ages visavam promaver im ideal de paz e harmania universal (MAUREL, 2010, p. 15-27), mas ontinhar também objetivos mals concretos, como o apoia 8 criagdo orrempordnes ealizaglo de um repertério mundial das fontes mu is 2 dofesa das misieas tradielonaise 20 aprimeramente do ensi- fo musical, Além dessas missGes, 0 CIM devia servirde elo entre "as reanizagdes musicals nacionas iternacionais do mundo inteiro” & promover uma eflex30 comum sobre acriaclo,o lugar da misica nas focledades 0s "valores universais" da arte musical (CREATION... 1949, pal. No esprito dos seus fundadores, devia ser urn lugar de enconteo tne composites, intérretes e musiedloges ariundos de todos 0 paises, independentemente das fronteiras culturis e das rvalldades polieas entre as nacdes. Néo escapou, porém, as fortes tensées l- fdas 8 Guerra Fra, & descolonizagdo e 3 emergtnca dos paises do terceiro mundo no cenéro internacional e, por iso, cansttui um ob- jeto de exudo de primeira ordem para a historiogratia das rlagBes {ultras internacionas. Quai foram as concepgSes da misica e do papel da arte nas relagBes internacionaispromovidas pelo CIM? Quais foram as margens de acio concrets dessa nova trbuna musical iter- raclonal? Devernos ver no CIM um simples instrumento da Guerra Fria Cultura ou ~@ iss0 no necessariamente contradit6rio ~ um vetor fica de circulacSo das obras e dos repertérios musicais no mundo? ‘A pesquisa realzads no arquivo do CIM e no arquivo Nstérco a Unesco” permite mapear os objtivos estratégicose as principals re: slzacbes da organiza, desde os primeiros projetas em 1945 até o fim presdéncia de Yehudi Menuhin em 1975, As tés primeiras décadas ‘Fsataststanceecote di ver ost ds ote nao Dipole “hsp vowime mcg eso a 29 er 2008, 1 conte os fundos dos cents de esq de Fortenoye Mos, asin come Mase eens oc para laramasto 85 de existénca do CIM constiuiram uma fase de experimentagio € rp. do cescimento. 0 estude desseperiodo, conhecido hoje como “idade de statutes pouco evoluram desde a rio, mas também para analsar a passagem progressiva da conceprio da misica como Hingvagem univer sal dominante no pés-guerra para a promogao da “iversidade musical «avalia a fungo de trlbuna internacional celuindicada pelo CIM erm uy contest fortemente marcado pela Guera Fria, 1 Amisica como arma de paz 1.1.A fundacio do Consetho Internacional da Misica © principio de uma organizacso internacional da musica fot adatado durante a segunda sessio da conferéncia geral da Unesco, reunida na cidade de México, em 1947, a partir de uma proposta dot Estados Unidos e de uma ideia orignal do musicdlogo norte-americe ro Charles Seeger. Desde 1941, este timo dirigia a evi de musica {8 Unio Pan-Americana em Washington (PescATELLo, 1982), onde t ‘ha trabalhado com Vanett Lawler, da Music Educators National Con ferences, ecoma musicélogo brasileiro Lulz Heitor Corréa de Azevedo (Cavaicanen, 201; 20685K:; MARK, 1987; Latas, 1985), que assum, enti, as fungdes de conslheire da Divisio de Artes e Letras, respon: slvel pela misica na Unesco. Em outubro de 1947, Seeger mandou um memoranda sugerindo a cragdo de um “Instituto Internacional da Misicaa seus dolsex-colegas. Concebido corno uma “organizacio de ‘organizagbes", 0 Instituto devia perseguir dversos objetvos: 1) Pro- ‘mover as relagSes internacionas, inter regionase intercultuals entre todas as organizagBes musicals exstentes e entre todos o5 dominios dda music; 2) Reorgat as organizagSes profissionaisatuantes apoiat a criacso de novasestruturas musicals para o progresso das atvidades ‘usleals no mundo; 3) Colaborar com as orgeniagGes internacionae ‘que operam em campos de ardo préximos (teatro, foelre, educacso, FBdio, cinema, ete) 4) Captar Fundos dos Estados, das agéncis inter- 86 on ceronin Feronde & Carlo Sano Or) necessrio para entender funcionamento interno do CIM, jos rernamentas € de todas as insttuigbes privadas relacionadas 20 sevoramento hurneno; 8) Trabalhar junto 30s Estados e agéncias rgovernamentais para a promocdo da paz e dacompreensio mun fia AZEVEDO, 3998, P. 5) No México, porém, astuaglo parecia pouto favorével 8 ado: do de um programa de tl amglitude, conforme explcou Lui Heltor ovr de Azevedo a Charles Seeger em carta datada de 14 de novern- fede 1947 (A2EVE0O, 1998, p. 7). A conferéncs geral da Unesco aca- ove de rejeta dois programas apresentados pela Divsto de Artes © tetas, e 25 decussBes eram vivas em torno da criacSo de um Instituto Internacional de Teatro. Todavia, Lulz Heitor Coreea de Azevedo conse: flu convencer Helen White, da delegacéo norte-americana, 2 apre: Senter uma meno para a criagdo de um Instituto Internacional de Musica, com o apoio de musicos e musicdlogos presentes nas delegs {es nacionas, ais come o compositor mexicano Carlos Chavez. Para feu espanta, o resultado ultrapassou todas as expectatvas: “a mordo {oi opresentada sem provecar nenhuma tempestade[.]; 0 que tinha geradotantasreticencias na sesso anterior tornou-se perfeltamente scitivel" (AZEVEDO, 1998, p. 7). Uma ver aprovado pelo grupo de a balho, 0 projeto fo! adotado em sessio plendria, com voto unnime das delegacBes nacionaispresentes; 0 Secretarlado-Geral ol designa- do para realizar uma investigacéo preliminar sobreo objeto e as moda- Tidades da future organizagio musical internacional (UNESC0, 1948, p. 22), Aprimela fase de negecac$o foi sancionada de maneir favorével pela tercira sesso da conferéncia geral da Unesco, reunida em Bel- ‘ute, em novembro de 1948 (UNEsco, 19492, p. 27), e levou 3 reunigo de um “comité de especialistas” er Pars, entre 25 e 28 de janeiro de 1949, 0 comité era composto por representantes das quatro organiza- es musicals internacionas ativas & época (Sociedade Internacional de Milica Contempordnea, Conselho internacional de MisicaFolelé- ‘ia, Federardo Internacional das Jventudes Musicals e Sociedade In ‘emacional de Musicologa) e por diversas personalidades do mundo musical tas como Charles Seeger eo compositor emusiélogo francés Roland Manuel”. 0 Secretariado da Unesco também estava represen tor repesntde pa comite ge epeclsay, ols deus organizes me ‘at iernaconas ram digs na pecs por ttc |AaS¥E00, 198,08) 0 87 Mise les soca pacar tad, como frances ean Thoms, responsive pelo Departamento dag ‘ABvidades Cuturas, o esrtr ching tn Ytang, chef ds Dio de [tse Letras « luis Heitor Corts de Azevedo, Depois de tes das de dizcusses animadas,o omit fundou oflalmente o Conselho Inter nacona de Misc, cus primeira assembles geal acorreu em Pat, tnt 20 de jancivoe 3 de fevereiro de 1950" Ro abrir evento, 9 diretorgeral a Unesco, omexicana Jaime Tores Bode, declare ‘Armisicalinguagem som palawas e sem concitos, & inte nacional por excelncia. Revels 8 undade da Sensibiidade humans algo das fronteias «das lingua. Grapes ea of homens, Separados por um vocabulério deren, mai profundamente ainda, peas iis, crencas,hébitos © pre foncetes que as palovas expessam, tocam esse fundo omum que representa para o homem a capacicade de ser femocionado par sonsharmoniosose revive, escurando ees lnguagem pura os sentimentos os mals fuptves, os masa: rmovetes, precsemente os masintradtives em palates (cin, 195, 0.14) A missio do CIM era a de une os seres humans g7agas 20 po- ‘der da misie. A harmania no era vista apenas como uma metfora dit relagdesinternacionas era também um instrumento politic para ests belecimento ds paz mundial. Kinds que ut6peo 0 argumento no era to, ingénuo como pareia. A ideia de pr a misica a servo da paz esutaa ‘de uma apreensio crea das poticss musicaisnacionalstasimplements- das pelos Estados na primeira metade do século XX. Lui Heitor Corréa de ‘evedo esclareceu esse ponto em um artigo publeado pelo Courier de "Unesco sob 0 tui “A misica 3 servigo da pa" Em vris piss (demacrdticos ou totalitévio), a masa & sada para fins que ultrapassam os limites de arte pura Ho Basi, o ensino da misca & uma das formas da educcio parities nas escoas pibices do Ditto Federal & arte & fxpresamente posta a0 sevigo do sentiment nalonal. undo 2 adminstragao exclay & um meio com fns deter ‘rinados, que no tem nada a ver com o preter estetico de- sinterestago NesascondigBes, devera& UNESCO renunciar SE Aegan Wate do Unesco, em Pars UMEsc, 1990) {88 om arb Frandes rte Sano Orgs) 2 uslzar a arma musieal no domino da eapbescutusis Internacional? Eldentemente, ro (A2evE00, 1945, p. 7) (0 CIM era uma resposta a0 “canto das nagSes’, segundo a tela expresso de Didier Francfrt, uma reagSo internacional snd vias de instrumentalzag3o politics da misica observada em escala imtjonal, tanto na Europa, quanto nas Américas desde o século XIK [rrawerost, 2008), 412 Objetivos e estatutos [Antes de empregar a “arma musica”, no entanto, era neces sério defini os estatutos da nova organizardo internacional ds musics fem entrar nos detalhes téenicos, dls aspectas chamam a atencSo sos textosofcials da organizagSo. Em primero lugar, oCIM fol definido famo uma ONG independente, mas se beneficiava do estatto con- fuldve junto & Unesco, que a permite colaborarefcalmente e ree. ter dinheira da organiza internacional (MAUREL, 2010, p. 116). Em 1851, por eemplo, a Unesco financiava por volta de 98% do CIM, em im orgemento total de US$14.850. Der anos mas tarde, a relagdo de fependéncla permanecia estrelta, Segunda a diretor do CIM, 0 com postor 8 critco talano Mario Labraca, a subvengio da Unesco era uma questio de vida ou morte” para 0 Conselho (CIM, 1963) fm segundo lugar, os estatutos dfiniam trés categorlas de membros: 1} organizagbesinternacionals de misiea; 2} membres ind \idualseleitos para um periodo de trés anos (dentre elas, Lulz Heltor Corréa de Azevedo, 0 compositor Samuel Barber e auras personalids des do mundo musical; 2) comitésnacionais de misicarepresentando as sociedades de mislea e musiclogia de um determinado pals (CIM, 1951, p, 44-45). A crecdo cabla a um comité de sete membres, um resident e dois vice-presidents, eleitos por assembleiageral a cada teés anos (it, 1951, p. 46). ‘lem dos aspectasInstituclonais,os debates que acompanh- ram a naseimento do CIM permitem identicar as orgens intelectuais a orpanizagdo. Fundado junto & Unesco, 0 CIM procedia de diversas fiacdes,relvindieadas de maneira meis ou menos aberta por seus Mise ene sacar dagamesio 89 deslizadores, Inspirava-se nos programas musicals desenvolvisos pelo Insitute Internacional de Cooperacso Intelectual Cl), 6rg30 consul tivo da Liga das NacBes nas décadas de 1920 e 1930 (Sits, 2013, Em 1988, a Unesco retomou 0 projeto de “eatélogo da musica mun. dal” langado pelo ICI em 1931, eo CIM toxnourse o principal ar ce do programa nos anos seguintes (TOUS Us... 1848, p. 7). Tedava, ' Unido Pan-Americana fol a verdadelrafonte de Insplragko do Civ, ‘ho contréto do I, essa flagdo nda era armada de maneira aberta, mas aparece ntidamente ao se olhar as trajetérias profssonals dos idealzadores do CIN Alem de Charlas Seeger, a stuaglo de Carleton, Sprague Smith foi decisiva no mamento da riaglo do Conselho. Che- f2 do departamento de misica da New York Public Library, ele tha participado da politica de boa vzinhanga como membro do Office of, the Coordinator of Inter-American Affaires (OCIAA) durante a Segun dda Guerra Munalal (SHARD, 2006). Ora, como ber mostrou Jennifer ‘Camabel, 0 comité da miica do OCIAA fol a matrit 6a dlplomacia ‘musical dos Estados Unidos no pésquera (2012, p, 29-39). Ao mesmo tempo, as redes pan-americanas inspraram a politica musical da Unes- 042 criagio do CIM (Patowino, 2015). Charles Seeger, Carleton Spra- fue Smith e Vanett Lawler peles Estados Unidos, Luz Heitor Coréa de Azevedo pelo Brasil, Domingo Santa Cruz pelo Chile (Sana CRU, 1952, p 128-136} todos passaram pela sede da Unido Pan-American fem Washington antes de atuar no CIM, de qual Domingo Santa Cruz assumiu a presidénel entre 1957 e 1959. 1.2.1 Primeiros desenvolvimentos Assim constituldo, © CIM cresceu rapidamente entre 1950 € 1975. O nero de membros aumentou de maneira continua gracas integraso de diversas organizagdesinternacionals (entre elas, a Assc- ‘iagio Internacional de Biblioteca Musicals, aUni30 Internacional dos Editores ea Federacio Europela de Jazz) € a cragao de novos comités nacionais de misica. Em 1951, 0 CIM contava com apenas cinco comi- ts nacionaisrepresentando palses do mundo ocidental: Kia, Palses Baixo, Dinamarca, Austra @ Estados Unidos. Em 1975, ja eram 57 além da Europa Ocidental e dos Estados Unidos, o CIM contava com 90 omis carbon Frandor Caro Senden Or) epresetaci0 da Unido Sovitice © Leste Europeu, América Latina, Grente Médio, Asia e Arica. A expansio geogrfiea contrbuiu para o Shmento do financiamente da Unesco Todavia, a subvenglo da Unesco nfo era sufciente para cobrie ‘as despeses do CIM, dado que varios membros nfo pagavam as cot Jebes © 0 orgamento tomou-se a principal preocupacso do comité ‘ecuto a partir dos anos 1960 (CIM, 1966}. £m 1975, a stuacSo era (ii ea reformas, ugentes Segundo a dred: A experiincia evelou que nunca recebemos mais do que 2/3 das cotzagbes anuls devidas pelos comits acionais. Com feo, uma parte importante das cotnagSesestépendente fs asemblea poral seme se recusou a exclu os comtés faltoros.[.) Chegou 6 tempo para comitt nfo somente {Ge adaruin grande nimero de projets, com tambem de Tevantarfundos. (IM, 1973, p. 1) Para sair do impasse, © comité imaginou reunir os comes, racionals em pools, nas quai 05 “pases rcos" aludariam os "paises pobees” (CIM, 1971, p.2).Contudo,oprojeto de ajuda deta apresen tava o inconvenient de “lembrarocolonialismo cutura” ef rapida- mente abandonado em favor de uma escalaprogressva de contribu ‘fo, estabelaida em fungio do orcamento dos Estados (CIM, 1975b, -4), Por outro lade, © CIM iniciou uma intensaatvidade de lobby na Unesco através dos seus comités macionas. Antes de cada sesso da conferéncia geal,» direcSo mobilzava o5 membros para pressionar as suas espectivas delegagdes nacionas a fim de obter uma resolugao tem favor da misicae o aumento das subvencSes concedidas ds ONGs ‘ura (CIM, 1963). estratégia obteve resultados postivs (Figura 1 ¢,em 1975, 0 CIM era considerade como "a ONG a mais importan- tee. mais stva no dominio cultural” pelo Secretariado da Unesco: “a execucio do programa musical de orgonizaglo denende em logs medida de nossasrelagSes esteltas com 0 Conselho intemacional d2 Misia" (Unesco, 1975), Wise dtc soca para igramacéo 91 ‘rdfico 1 Subvenco atu pala Unesco 20 ‘Conseto internacional de Msc (19511974) PPP AM A oh oh oo {ra Unesc (Unesco a 1974 6.2), 2.Da miisica como linguagem universal a defesa da diversidade musical do mundo 2.1 Agle para a misica Para reallzar os objetvos de paz e harmonia universal da Unesco, 6 CIM promaveu quatro tipas de programas a partir ds dé cada de 1950, Organizou congressosinternacionais de musica e mur sicologia,cujas tematicas,extremamente varadas, seguian as linhas definidas pela Unesco. Apbs a conferéncia sobre educagio musical (Gruxeas, 1953), 0 CM promoveu uma série de encontros no quadro dd Projeto Oriente ~ Oridente da Unesco. Em 1958, organzou um con: stesso internacional na sede da Unesco em Pars, inttulado “O univer so da misica em diferentes culturas.& inguager musical no Oriente 92 omit carbon Ferende Cros Sanda Ors) sno osdente” Os debates foram seguidos por um concerto de gaa, ee presenga dos vilonstas americano e uss, Yehud Menuhin e Gord Oistrakh,respectivamente, e o citarsta indiana, Ravi Shankar, mrseguda, 0 CIM realizou simpésios sobre tema em Terd (2963), salem (1963), Manila (2965) e Tera (1967) (CIM, 19670) Figura 1A misica 3 erica do Projet Orinte-Ocidets enw enn, Ra Shankar «Davis Oirabh (Pars, 24 de outubro de 958) ote: rquvos do CN. tous Fauguet Em segundo lugar, 0 CIM editou publicagdes sobre a musica eolugar da arte musleal nas sociedades contempordneas. Nesse qua: tho, a iniativa de maior porte fol sem divida a ecco de The World of ‘Musi, um perodico blingue (francés e inglés} langado er 1957. Are. ‘sta tinha come objetivo “fornecer 205 mlsicos de todos os patses in formagBes sobre os colegas estrangeiroseinformar os melomanos do ‘mundo intelro sobre as mais recentes manifestagdes musicals" (CIM, Muse eco saci gar cagamario 93 1957, . 1). Passou por vérios formatos ao lango do tempo, Em 1959, uma nova edigdotringue (ings francés e alemao) nasceu, com ap aos maiares,utragBes enovaserdicas sobre a atualdade museg Intemacional. Em 1967, a publcacso deu um passo 8 frente gracas Ccolaboragdo come insituto Internacional de Estudos Comparatveste_ [Misica de Berlin, Agora trimesral,pretendia fornecer “30s amante ceo em 20 fe 201, IONNO, Pada. Nason, hemipheri an global Latin American muse and the mute sion af the Pon American Union, 29394847 Nueo Mundo Mundas ‘ue, 204 Oiprivel em’ ctp/nuevomunge enue or /68052> Aes em 30)en 2016. 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Congresss esimpbsiosnacionas ein teratlonais nos quai @ misica popular dé @ mate”, grupos de traba tho, mesasredondas, vistas académicas e a presenga crescente de pesaukadores especialzados nos departamentos universitaros vlta- toss humanidades complementam o cendrio anunciado, Em meio a tal profusio, faze notéria a presence de um ramo especifico de estuds, ramo esse que chega ase destacar nu ‘mericamente em relacio aos demals: trata-se de trabalhos volta- os. andise de dois géneros musiais urbanas e das personagens ‘ales filados que, por algumas razBes, detém um dmbito préprio 4elegslaio simbélica, publica consumidor e instituigSes.Falo do samba e do choro, geralmente conceituados como 0s mals “tradi- tionais” do Brasil fontes de inspiragdo e legitimidade de manifes ‘ag8es populares diversas, Pude evidenclar em outro trabalho que boa parte da pecullaridade concernente a esses gneros advém do | Como os reatados pea IASPM (International Association forthe Study of Po ular Ws), eto mand cule rmo latino mencano paroscarmeteargansa largess lea. Mine cise paecgramagio 111 proceso de construgio da realidade conduaido por meio da bible. irafia nativa que dsserta especificamente sobre eles ~biblogratis tessa existente jd a partir de meados da década de 1930, anteces sora, partanto, sea de todas as do mesmo matiz voltadas 3 outas, manifestagGes musicas, seja dos estudos de viés centifico entra {dos na misiea (ef, FERNANDES, 2010}. Cabe esclarecer ainda que ta, literatura apresentou ao longo do século Xx um amalgama ée largo, fespectro, indo desde biografias fartas em informagbes pontuais e ‘escassas em reconstrugSes contextuais ou aprofundamento teérico até as relativamente Sofisticadas de um ponto de vista analitico, ‘Com efeito, os autores desses escritos s80 0s mesmos que participam de alguma forma da esfera de reproducSo musical, ou sea, jrnalistas, dlletantes em geral, memorialstas, admiradoreserigidos fm histriadores autodidatas e 0s propos misicos ~ doravante de. nominados de esertoresnatvos, Fee de amadores @interessados no ‘estabelecimento e/ou manutengio das “verdades” que constituem 9 idedrio desse dmbito, todos compartilham, a despeito das diferencas, anotadas, de um tom elegiacoe evocatério, quase hagiogréfico, aot tardos dois gdneros musicals e seus produtores,aranjadores, compe: sitores, cantores etc. E vem 20 caso destacar essa peculiaridade, pois, {al bibiografia possulrelevanca Impar a0 se considerar os trabalhos, académicos: ela fornece a quase totaidade dos dados, fontes e max terials utlizados pelos universitrios em suas pesqusas.Frise-se que ' convivdnela entre esses dois tpos de visdo de mundo ~o académ* {co € 0 nativo que, a principio, everiam se distanciar em termos de Conteido, de material de andlse e de assungio de posturas emostia, ‘ou antiptics concernente ao objeto, se inusttadamente de modo, harmonioso, 0 que termina comprometendo o alcance de concusdes, ‘minimamente cientficas pelos estudos acadmicos. Quero dizer com Jsso que assergées engaladas, jlgamentosiiossincrétcos, conceit (6es claudkantes eachismas emativos em estado bruto emitides pe los nativos s¥0 amidde absorvisos no rol de referércias concushas Aifcimente sio postos em sua devida posiclo, qual se, a de meras, ‘oordenadasinformativas acerca do estado das csputas e dos jogos tenvolvend os agentes em determinados periodo historic e local [H Gie aro que nome rev aos eocumentos ais 8 212. i carsoncn Fo Nie se trata, conforme espero debar claro, de condenar cs exeits natives pelo mattzlaudatério, memorialistco, ou o que fax muito pelo contréri: esses existem @ devem existir enquanto or rutoresvalorativos de nosse cultura e detém, como todo tes (amunho de época, sua serventia ou funcio no concerto da nacso, Gatos, sim, de resaltar que a Iiteratura considerada “menor” ~ @ ous atfices ~quase nunca se alcou 2 objeto de atenclo epistemo- ‘Spes dos clenistas socials, historiadores e demals colegas, que ter ‘Sram englobando conclusies, concetuagdes, tematicas, “tons” € ‘Jaurebes consagradaras em teabalhos que, ates, deveriam primar por um minim dstanciamento abjetvante, quer dizer, por maiores puro €rigor metodologicos. Cera feta, © musicdlogo Gerard Behégue luldamente armou ‘oslot lege, Ay Vasconcelos, Sérgio Cabral, Homem de Mello Tarikde Souza tantos outros foram ou so cronistas da misica popular e alguns ties bons conistas, mas nao verdaderos pesquisedores” (BENAGUE, 206, p. 72-72} Teate-se,3g0r, de ir além dessa constatacso Obvia, mas incvelmente tara isolads no campo de estudos da musica popular lige ver iar no qudo bons cronstas ex personagensarolados © seus semelhantes foram ou sb, mas sim qudo relevantes para aatividade da Construgio da realidade social eles forem ou sio, a ponto, par exemplo, de umn dees ter aleangado legtimidade sufcinte para rede o peticlo de festejado lo académico Sobce samba. esperanca éa de que o ‘rico reflxivo proposto com respeita 8 apreensto e uso das fontesca- ‘inhe no sentido de insprar uma prétcacoriquer,sobretudo quando ‘s¢ Ba com objets “naturlmente” sedutore e envolentes, cso, sem via, da miscaedas ates em gera, ‘euevreatoscrcnsancin ee ruts dela de wrem vate pra procter na aise covets das nuns do universe msl ras mas rere: fami dae “tezes rat” como forte do verde" danse 59 Ts ed Omitera dooms, oe de doors tomas erodefeni pelo vnsogs Hermano Vanna Vash 2008, cj prelate rei por nga Renos do qu Sergi Cabral ise € apenas in url, dete mutos ous, 2 "ees premises qu stam a canes em au ogam nts ons & sad {coratantguag de compromise ator em cemtcos Soret um anoante ‘vl em mitre de socologs dor telecine nee erp fra espa ge mire slings oy anc tens deer death pce empoemiar nove redlogenao 113, bo faz parte dos propbsitos deste artigo, no entant, @ po. lemicsvatia, motivo pelo qual restinjo 30 maxima a citacSo nominal de trabathos que incorram nos equivecos assinalados.Reforco que a ‘estratgia posta em marcha cinge-se a tragar as caracteristcase est, turagSes centrals da IReratura natva no intento de destacar © mod pelo qual os padres em exeme imisculramse na literatura académis, No mais, competentes autores ja se ccuparam em realizar balangos | critics do canjunta da literatura “maior” ~ como os upracitados Mar 2s Napolitano, Santa Naves © Gérard Béhague ~ 20 passo que do da nativa quase ninguém se candidatou, Procuro, start, escrutinar ‘obras que tenham, sobretudo, exercido ascendéncia sobre o mundo ‘académico, Para tanto, subline certos marcadores de conteudo des. sas obras tornados trans-isticos em meio a admiradores am gerale estudiosos, como ainda recansitue brevementestuagBes Socais que ‘tenham dado ensejo ao rrompimenta dos mados de sensbilidade em relevo. 0 periodo varculnada val desde @ década de 1920, Instante em {que assomam of livos “Tundadores” dessa biliografia, até o final da, ‘década de 1970, momento dureo em que ela deségua em um progra- ‘made fomento governamenta, portant ofa, biografias dos ele. tos 20 panteto 6o samba edo chore, 2.0s pioneiros do samba e do choro ‘Agama lterdriamativa que trata dos géneras musicals choroe samba exste de longa data, Embora reunidos sob outras designacSes 420 final do século XIX, 05 viros estlos musics urbanos presentes no Rio de Janeiro ~ mais tarde unificados por meio das denaminacées choro, quando instrumental, © sambs, quando canglo versiicada -, fazlam-se ja nesse interim objetos de pauta de determinados joa: lists oles, partilpes atwos das festas de carnaval e de outras re ries musicals na capital federal (FERNANDES, 2010), Tal protocrtia Ge Gharo wedo para 0 fata de que ta do “susimento,nasciment trompiment’ “geese te. 6os ters muses cho sobs & comple 1 Shrmagio em que me base, de qe vos estos anteriores unifrarste 114 carbone mange Cavs Sano Ore) argu 3 principio deforma esparse, a reboque de artigos nem sempre ‘Miles e publics em meio, muitas vezes, no ortodoxos (COUT- (eer 7006). A faturaessencial esses personagens mistos ~ craistas- i avalescos pozeuidores tanta de acesso as melos de comunicagio ‘Jrepoce, quanto a0s recantos ainda quase desconhecidos das classes ie alta carioca, Le, 08 mottos e corigos~ ea a demarcagao de na nove posigdo com respeito as manifestacSes musicals populares fcandentes:contribuiam, simultaneamente, tanto para dar a cone fer minudéncas sobre os produtores e produsSes populares a um pir pico elasvamente ditintoe dstante do envolvid com esse univers, quanta para normatiza-lo simbolicamente ‘expansio acorida nos melas jornalstios no pésproclama Jo da Replica conjuminada com modificacées de cardter de con- teido, forma de escrta e pauta dos veielos de comunicagto (SooRE, 1898] deram abrigo a eportagensregulares sabre a submundo cultu- ralda cepital, algo até entic jamais entrevsto, Crdnicas poll adea- ‘amas das manifestacdesculturas populares; ambas salam das penas dds mesmos cronistas em questdo, conhecedores desses amblentes indsptos em ratio de muitos deles terem provindo de camadas infe Fores. Krapeta, Peru dos Pés Fries, K-peta, Morcego, dente outros spodos extaragantes,faziam as vezes dos pseudnimos daqueles que faparentavam no querer dar 8 mostra suas verdadeirasidentidades, {aler pela subalternidade do novo ramo de atividade dentro da hie ‘arquia joralistica (FERNANDES, 2010; CouTINHo, 2006). essa conjuntura, tramperam os autores dos primeitoslvos ue tratavam especficamente dos assunts samba e choro®. Em 153, isa de duns somencaturas, Gr respea wo qe pode desi a erm a ‘anete dcamertdos em un tal aivr[eaoes, 2030) Ours wsbes lemons, marty create aue tent dar ont do esr en tera podem sar encontadss om Saran (201), Wink 93), Varna (2008), 1 enbrando gue provaveinente opine bine esto gor um tones ta {arparsonages do canconer popula ban cic teha sia oO cobrece, ot bor do rans carsales Jota Hoge (ret, 1931) atando se nooner, attuned argos estos de or expraem mai agus se ura bea eran, ra nos puna sega sobre o sam, 0 thara au cutos remus or extrait wands plato de sbra em consierS6 te !Nolgumene vlads plo sesdémicos lao serd verge juntos eras Mince ie sos pre igrmagho 115, ‘vem a tona coinidentemente ~ ou ndo ~logo ois de uma vez: Samég 0 hist, seus poets, suas misicas, seus contores, do ornalista, poeta, ‘compositor Orestes Barre, e Na rode de sombe, de un jrnalsta fo lio de "priscas eras’, mais conhecido pela aleunha de Vagalume do qug pelo seu nome de registro, Francisco Guimaraes". Por tris das ingna ‘a desrigBeselegacas presentes nos dol livros, hé pela primeira veg Confronto de tesesdstntas (NAPOLITANO; WassERMan, 2000) versand sobre especifcidades da misica popular urbana braille: erm Barboss, 2 de que o samba serla um procuto genuino da cidade do Rio lane uma expresso da "alma" cariocs em sua totaldade, no importando se dda marto, da cidade, das rcs, dos elscos etc: "0 samba € crloca, A ‘emocio da cidade ast musicale poeticamente definida no samba" (84. 1054, 1978, p12). "Lx] Das misturas que o Rotem, ver a sua miss prdpria—o samba, que ¢ tio nosso come a romanza& italiana, o tango argentino ea cangoneta & de Pais. ..]Ocarloca, als, & oignalments asc, desde as tabas dos seus incos”(BARe0sA, 1978.15). Important frisar que Barbosa, 2 rebogue, asseverava que o samba ndo era balano, tomada de posiglo em primeira mao que nla, fencontrou, aquea altura, semelhantes a ele do ado da Bahia paracon- tradizélo, A enunciagio da célebre contenda em torna de qual seria fo terrtéro "genético" corporicava-se aqui, portanta. Vagslume, em contrapartida, ia além da constatacdo de Barbosa: acreditava que 0 samba provinha exclusivamente dos morros slientando uma espécle ‘de divisionism interno & cidade do Rio de Janeiro e suas zonas de pro: dducdoartistico- populares: Fino legtine dos mortos,o samba, por mals que queram = ndo morters, ndo perderé 0 seu ritmo, Os sambestros, aque s30 os faredores de musicas de samt, rvs dos ma estos. procuram desvid-lo mas, ainda ha gente aos mor {Ewes ponte asso ue dor da abordagem ave ot Vin de Moraes fe {ou com respi s ese personages, Vtando-os como pelos hstoadores ‘damien poplr” ona, 206) Na esha, ma ler ri ‘adores ou seqorviearam 2 ei; conform dean clr, em apenas cons Seas determinaes, que loot estaelter— deforma eons age de pasogem a eboque de suas deserescuturmente despetnsiosis pare rs ners elgsmento ba mises popular. 116 ou carbonds ersndes 6 Ctlos Sando Ors) ros que exge, que pugna, que vela, que mantém e far ‘espsitar a “toads, do samba to nose, Ho bres] (Guisasaes, 1978,» 30), recebese mio snares a igo seme Jo avs toro prevanceret. © aon ego por Vaglame via verdad” dette, pasa ater ua conrapart, Um a ae hoe ha por tem apenas o Sl, eum aremedo Jaeehan Onde mere samba [1 Guan ee pasa ser a9 ae eal pure ster» gaan dos edoese dos ares de vets dos outer (Guat, 1978, p25] Overddelo" mois ples abuinn on saiste nats 6 60M QUE Spas ars pelos de formas murens aun pla eo “Aecamuntra, pelo esvescenca ds lores nce, 90 ps0 me tag" corspondia sos eects nat aise forages ese ercnsvom provers materia, quer dy, a8 aselor Zinomede seem vuln na nasenes entuturscomerisde rerio moses Hoje, o que ingpra os sambistar@ “sambestos” & 2 am bgt do our...) As micas de hole, so muto seme: Inantes umar com 95 outras,diferindo apenas no anda: mento, na mudangs de compasso. Estamos no mpério do Pligio, © samba industiazado, despertou a cobiga e fez $urgir uma nove geagao de autores. de produsées dos futios (GuiMAaKts, 1978, p90) ‘parte o tom passadista ou romantizado de Vagalume, note- se que na década de 1930 havia andes estraturas de sobra para que ‘emergiszem visbes como as retratadas: © mercado musical popular ‘iva, de um lado, uma expan comercial até entdo jamais vista En quanto avangostecnolégicos barateavam os custos de gravard0,novas indstrias fonograicas apertavam no pas, rensformando a antiga at vidade aritica par completo. lem diso, estagées de rio votedas 20 lucro monetrl, logo, a amealhar grandes audiéncias, passavam 3 se multiplicarceleremente a partir de 1932. 0 governo de Getilio \ates, do lado politic, apercebendo-se do potencial comunicative etal manifesta, ndo tardou a se aproximar e/ou a se apropriar nea eens pee dlgromapto 117 dos produtos em voga (MCCANN, 2008). Em meio @ todo ess ind average, Vagalume e Garbosa desempenhavam os papeis de pion ros na sistematizacdo simidlica geral dos caminhos possvels a serem trlhados pelo género, Barbosa fundementou a idela de um samba en ‘quanto representacdo nacional ezine periods hsteica, umn dindmico proceseo de que 2a celta |] [TNNORKO, 2004, p. 263) Embora seus instrumentos analticas sejam questionives na stualidade, sobretudo no universo académico, dado que Tinhords apola-se erm um esquema em que as clases scias ouo pertencime toa elas figuram como realidades explicativas de toda e qualquer pressio artistea, sua obra consist na primeira tentativa de apreet- {der 0 conjunte de transformagSes de longa prato ocorrio na misc popular urbana brasileira. Toda e qualquer Investida native sobre & misica popular brasileira, a pati de entEo,passou a se pautar pelos achados s6ciohistérios de TinhorSo, tornando o jornalist, assim, 0 130 one Corson Fernandes Carlos Sandon Or) {Staovo, 2008), Masi ei so pore dsgramaeso 131 . 194), “L...] esse festival de transgressies ao bom gosto, & oFiginaly ade 1" (Canmo, 2006p 197). assim, iervengtes de Oe 40 famoso ProjetoPinguina,deenbigsessubwenconades den Hermie suatrpe paratodo Opals, SO af De todas as ages no Ambito intelectual visando 3 erg a {20 da memsria dos atte seleconados» maser ee Hermie sremveu concros ce monogate boyfes soba te soma sel em do. Oreo pot aun cea trates nesta longo dos aoe 197080 ge mportnes i {sade era forma por aqeles qe fram tema dee ea ésresiosdo Concho fo MIs, co en 1571 peoprinie eee one Bose Animal ~e agulse tora explctasvneansoue pea, Fanart, cto de ara Lira e ua hog sabre Cunha Sonny 4132 Dwits cartons Frans tos Sondon (Org) fab por ero on sec perce Fr rs naesngnma vin thts Plsnguinha ~ dse ele [cabo da Poca Miltar que tentava rganizara mula aida por vero corpo, segundo Cabal] tos wists oles ~ moray dentro da igre, um doe ugees frais nts aa faced tera. Morreu como Crist, Sabem or qué? Porque, coma esus, quando ele fchoW o oles, ‘hava comecou acai (CABRAL, 1897, . 206). Em seguida, 0 jornalita laureado, que jd havia escrito uma histéria das escolas de samba do Rio de Janeiro, embrenhou-sepelas vidas de Almirante, Eizeth Cardoso, Avi Barroso, Nara Leo, Tom Jo: im, Atif Alves etc, dando margens para que jovens perseguido resda manutencdo ds tradgSo, como Marla Trindade Barbora, Artur 42 Olvera Filho e JoZ0 Batista de Medeiros Vargens, aproveltsem 2 ‘indica da “descoberta” de novos bidgrafos posta em marcha pelo ‘concurs. Os trés autores cltados, professores universitris de es- tabelecimentos de ensino de renome, também constituram extensa obra nos mesmes moldes, alm de galgarem posigSes em instituigdes como 0 MIS-RI ~ Maria Trindade Barbora chegou 8 presidéncia do museu ao final dos anos 1980, Tratava-se aqui dos rebentos de uma rape de classe mela urbana que assumia rmemente um lado da Aisputaideoldgia levada atermo no regime da dtadura militar olado p “povo%, quer diver, das produgBes culturals“auténtcas, “artesa ‘as, “comunitras", em detrimento das “alienacées internacional Misene cine soci pare ingrmasio 133, tas" apoiaas, em tase, peo regime (NAPOLTANO, 200%) A esera ig, date sentimental pontihada de lois Incondcionase desma ‘dos petmanecia como mate central das trabalhos que compare Cartola, Candela, Paulo da Portela, Carlos Cachaca, Luperce Mien Velha Guarda da Portela e outros “autntcos” foram retratados pag oves biderafes, amigos cultres dos biegrafodos~ 20 melhor em Sérgio Cabral, Vogatume e Animal. A sabedoria naa, espontancce de vivéncia verdadeir~ a0 contri dos pudores pequeno-burgue ‘88 slo elementos ressatados em passagem da biografia de Cargy esrita por Mariza Trindade Barboze, em que externa idlicamente at _ | transformagdes que ela, brancae intelectual da Zona Sul carioey sg freu 20 conver com seus iolatrados dos morro esubdrbion Pare conver al redesenhei minha esttica posta pelos | adres europeus de educagsoacadémic, Ate mina oe Se alterou um pouc:fquel menos ria, mals sola, merce radial. vvo entre dois mundos: © moueo eles, aust ‘meu amb]. Masesse mundo me deu Pauiods Pols Imedeu Sia de Olver, sobretudo, me deu Carcls sf ‘trata esses ts Oleiras do samba [| € um dos maces ‘oxguhos da minha vida Sou uma basira melhor por eon dees, conheo a cor ocheia eo om do meu paws & sdue ‘que see assim [1a OuveinA Fino, 2003» eX, E aqui o movimento estrutural que busqueltracar no artigo chege a seu termo: ao se ientificarem de forma imediata como cons ‘ruto carioca nacional popular gestade 20 longo de décadase, malsdo._ Aue isso, 20 stuarem-no nos mais altos posts institucionas govern. ‘mentaisde fusSo cultural, esses dtimas personagens, extremamente dotados em termos sociais para tanto, cumpriam com louver #missS0 iniciada pelos seus antecessores mais humildes.O passado,o presente {20 futuro do samba, do chore e de seus personagens ganhavam una \versdo detinitva,fruto de uma tradicgo que ze empenhou em sobre ver por décadas a fio amoldando-se as canjunturas diversas, seregan do subsidios teércos, conquistando, por fim, uma posigso smbia Becular: ne meiosfo entree ciletanisma ea academia, » Hstéia 2 ‘eméria, Cumpre 20s académicos,e no 20s nativos, objtivarem ta Posi¢do, no intito de no serem tragados de modo inseiente por la, 134 omit carbone Fernanda 6 Cro Santonio) referencias sibtiografia de apoio cuter ect uel in Mu ew a i eran flee Renew Austin Th 23, pec pia martina do ses pa Bast Ltn Amen ecw Rasen OS, tsromas mds Gri. cits Moreira carmen Bidhen ld lara €@ UFR 2008, eNANDES, Dit Carbone A Intlognci da miss popula: “adele” tests eno chore 2010, Tere [Ooitora em saclops-faclde de Flos, [Hvar Cis Humanas, Unerizade de SS Paula, S30 ao, 2010, snes on ct so anna ee Acc, Ban Hla Holo Boa: paplar mas in the ming of modern Bal, rh, Ne: Duke Unversty Pres, 2008 ows, 5, SCHARE, 1 Org). rash w inst do ania 80 Pu. 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Bene rodoer Urs, 2006 TDNHORAO, sé Ramos, Hiri soi miss populr beaks Si Paul 1138 citi Certs Funds & Calor Sandon Ors uma aplicagao de métodos quantitativos para “musica e Ciéncias Sociais”: redes e estilos no jazz CCharles Kischbaum 1 Métodos quanti, para além das apologias Durante © Simpésio Internacional Musca e Cidncas Solas, realizado em Juiz de Fora, em 2013, apresentei as hipdteses centais 05 principals resultados associados 8 minha pesquisa reacionada 3 evolu de redes estilos no jaz (KinscHsaum, no prelo) Durante 2 Gscurso ficou claro para mim que a interlocugo se centrava pine paimente 20 redor dos pressupostos matodaldgices.Especificamente, fem e tratando de um artigo fortemente baseado em métodos quan. ‘tativos, cabe a discussdo sobre o seu papel e sua legtimidade dentro datradigi |& consolidada de estudoshistoriogréficos e quaitatvos na sxademia brasileira Consideremos como valida a tese de que os estudos quan ttatvos na Seciologis devam ser restritos a um conjunto imitado de problemas e questdes. Por exemplo,estudos quantitativos podem ser Stelsna descicdo do grau de desigualdade de uma socledade, maste ‘iam pouca ou nenhura utlidade para fornecer chaves pare interpre taro sentido da acBo de atores socials, ov mesmo para orienta a agd0 ‘otidiana. € nesse sentido que cientistas socials adeptos de estudos ‘qua colocam-se, na melhor das hipéteses, em uma posigao na qualos fstudos quanti sdoirelevantes(CoLNs, 1981; COULON, 1985}. Tents thas de quancficar a cultura levam a pesquisas fégeis © pontihadas de spologis (BieRNAcK, 2012), ‘arias intervencées sugerizam posigesintermediéias. Um Dossvel argumento ronda a ideia de que, com um nimero grande de Cases, apenas 2 reduo e a representacio desses a variveis nos leva- om 8 possibildade de comparé-los, eitando um “transbordamento Mea edn seis peacgramacio 139 cognitive” Em sl, esse argumento 56 se mantém se assumirmos que mesmo problema cognitive que enftenta © pesquisador também en. frentaria o ator social Se esse problema é irelevante para o ators. cial nifo hi uma base forte para argumentar porque devela ser pig itr para o pesguisador, ‘Abbot (2001) sugere que existe um ddlogo entre pesquisa. res quale quant esse dilogo torna-se construtivo quando © conte entre esses pesquisadores leva 20 aprofundamento de cada vertente, Por exemplo, 0s pesquisadores de métodos quanti s80 levados a re formular seus questionérios quando pesquisadores quali evdenciam hiatos de significado. Em contrapartida, avangos nos modelos estate. 9s permitiam entender até que ponto evidéncias vidas para casos partculares se mostram validas para outros casos relevantes (Kins ‘GHBAuM, 2013) Heimer (2001) sugere que a comparacSo entre casos ce. respectiva reducSo 85 variaveis 56 faz sentido quando se assume. 2 exstneia de um grau minima de estabilidade no sistema social em ‘estudo, Em contaste, em momentos de mudanga, no sto “varidves «que agem, mas individuos que s6 podem ser efetivamente entendidos partir da especifcidade epartcuaridade do contextoe stuagao em ‘que se encontram (GROss, 2003) ‘lies30 que eu tomo neste artigo & dstntadessesargumen- tos, Assumo que muitos estudos efetvamentetrazem em sua argumen: taglo afirmagées como “e estilo X aumentou sua populardad” ou “0 estilo Z ating as classes socais mals baba’, ou anda, “o muscoY cau 10 anonimato’, assim por dante; si afrmagBes que pressupdem (1) ‘certs entidades com aigum grau de naturalasioe(2} um conhecimento quantitative sintéticoassoiado a esas entidaes. Ou Sa os atoresso {als produzem e consomem estuds quantitaivos, ainda que os resulta os dessessejam indiretamente comunicados (va opinio}etactamente tomados come verdade. Aina que (em uma utopia?) 05 clentstas soci se autocensurassem eevitassem evocarenidades padres, anda assim, Intermesirios da indistria musi, joralstas, eens de misiese mes: ‘ma os misicos evocariam categoria etendéncias 20 narar sua realidad «ejustifiar suas agbes. Mutas dessa afirmagies so baseadas em doo sis de comparagio‘ecantagem de objetos, que influencim ou mes rmoldam a evolug de campos artistices (ANAND; PETERSON, 2000), 140 cartons eran Cro Santo Ors) Por um lado, poderiamas argumentar que opesquisador qua roto ideal referencia os incividuos pesquisados", ou os arquivos ultados, e assim claramente vinculaofatoa uma fonte, Dessa for faa ofato que se apresenta como objetivo torna-se subjetiv e inde Tide a0 ator social que o produt,efunde, traduseconsome. &« porir fe erépiaoutorizocGo dos atres socials em permitr a camparabilida- fe dos objetas que 0s estudos socildgices podem, por um lodo, expo foros condlgdes de producGo desse canhecimento (por exerplo, on {haindo estudos de genealoglo dos respectivos dlspositvos de culo, fm diresto 2 utlizerso desses dades agregados para identficagbo {i padrdes). Enquanto @ primelro objetivo leva & reexdo critica em relaglo 205 dispositves relacionados @ aco social, segunda linha de lrvestigacSo nos leva 3 produco de conhecimento que pode ser even tualmente consumida pelos atores socials. € nesse sentido que, por ‘pemplo, Bltansk (2011) advoga que a assimeria entre os centstas socks € 05 atores socials ndo deve ser anulada (no sentido de que o tiseurso do entrevstado ganha preeminéncia sobre as andlses do pes: {qusador), mas se deve reconhecer os dstntes paps: 0 pesquisador Secoloca em uma posigSo de coleta e andllse de dados que ndo seiam possvels de serem coletados por nenhum ator isoladamente, CObviamente, essa posi privileglada no é negada por pes ‘qusadores qual (BECKER, 1998)”. No entanto,reiterese 0 posiciona mento de que a produgio de “otalidades” através de dspositwos de comensuragdo quanttatives) pode ser requerida pelos atores socials ‘eeventualmente produzida em f6runs ales 20 crvocitic, ‘Meu argumento pode ser sintetizado da seguinte maneira: ister muitos estudos onde os “padres quanttatives” so evocados {ainda que de forma secundéra} 0 pressuposto da existencla desses Badedes influencia a acéo social dos atores envavidos. Dessa forma, eredito que estudos quantiatives na sociologi da misica deveriom ser fomentados,propciando elementos de contraponto ereflexéo 20s pesqusadores de vertente quali ¢ também aos prépros atores socials ‘ervolidos, Busarel mostrar, a partir do meu estudo da evolugso do 1 Desa arma remove des posvel seus de busa de atria, 28_Nese lv, 0 avo ea um exudo desu autora mo qual enrensta embros ‘ewe deste sess pregncs sea eedaces sols pera dgromarto 141 Jazz, que os métodos quanti necesstam de dilogo com 0s métods ‘vali para que sejam aprimorados e seus resultados possam ser inte. | pretados deforma correta, Em contrapartida, os estudos quali poder ‘Ser benefilados de viras formas pela interlocug30.com estudos quan, tatvos. A incluso dos matetais e métodos quanti nos estudos de ‘idsica eigrd 0 desenvolvimento de cietistas socials especiaizados, No captule que segue, reproduairel em poucas pinceladas os rin pais resultados da pesquisa e, com isso, criarel 0 contexto necessiig, para aprofundar-me nas questées metodologias e epistemolgicas, 2 Foco da pesquisa: estilos musicais e as relacdes entre lideres de banda | pesquisa que condusi segue a seguine proposigso global cevste relagto entre as redes dos lideres de banda € 05 estos que eles tocar, & "varivel” que eu me propus a construire explicr fol a re logéo entre lideres de banda, Enquanto proposigSo ampla, 2 idea de “elagdo" pode abarcar muitas possblidades, Ao mesma tempo em ‘que essa plasticidade do conceto permite que a “soiolgiarelacinal ‘seja um amplo guards-chuva para pesquisas, também introdur orzo de banalzagdo do conceto. € necessrio,portanto,especiicar como 3 construglo do conceto de relagia e sua mensuragio se dé, @ como se relaciona a0 quacro teérico adotado. Nest estudo, propus que os lide res de banda estariam aszociados entre sina media em que houvese sideren "sobrepostos” entre sessSes. Por exemplo, se Duke Elington€ Benny Goodman contrat os mesmos sdemen para tocarem em suis bandas, & posivel que esses lideres de banda estejam inlretamente as soclados. Essa assoiacSo pode se dar em sversas cimensGes: para que lideres de banda comparthem os mesmos musios € necessirio que 0 repertéro eo estilo empregados sejam minimamente coincientes% “Fa Cierra que gua alco ocre por exemple asd Uebop em loco sin, a sgere que sust ma mosangs sen nea. ‘assum teste pein on eagesinterests. 142. oi cartons: Fernandes 6 Cros Sano Ors) ge forme complementat, que lderes de banda com alta reputasdo, com tina quartidade elevada de apresentagbes,consigam ara e compart- thor misicas que se aproximam por esses atibutos, ‘Um dos prinipais desafios no estudo de redes socials se 6 a dstingo entre relagdese interasbes,frequentemente confuncis. fauando extudames relarses, abarcamos desde relacSes de parentes to até relagdes de poder influncia. Enquanto certas relarBes de- jem set reconhecidas pelos atores sociais (por exempl, casamento), fpurasrelagBes podem ser imputadas pelo pesquisador”. Em contra: paride, interacbes cobrem contatos entre atores socials, seja erm "sa- Taesparisenses chés da tarde", encontros em reuni6es, assim por dante. Embora Se posta teorizar que as interacées e as relagBes se infuenciam mutuamente, esses sS0 construtos bastante dstintos. Por tuto lado, 2 interacbes nam sempre dependem ds pré-exsténcia de felagdes entre 05 “interactantes ‘questo teérca que es longe de ser encerrada a investga- cdo ente relates e interardes. A sociologia relational americana (prin Cipalmente sob inluzneia de Goffman) tende a colacar a interagio no ‘apenes como um construto analiticamente distnto das relarées, mas amo uma istanciaassocatva com alto potencal de transformacdo das ‘eles Em oposigo, a scilogiarelacional, sab nfluéncia de Sourieu, tende a minimiar 0 papel das intragBes, rm pares de sua obra, Bout leu caracteria a etnografia que se fina nas interagSes come irelevante {Bouroicu; Wacauanr, 1982) Em outras partes de sua oba, ele concebe 1a interages coma “epfendicas® com respita as relagdes(SOURDIE; ‘acauanr, 1962), Sob essa perspective, estabelecimento das elagBes por exemplo, matrimonias teria pouco a ver com algum elemento for: tuto estaria plenamenteexplicado pels compatibidade enteo habitus os cdnuges, Quando Bourdieu comenta a énfase da Secologia america- na sobre as intrapBese suas potencialdades, conteduaiza essa vertente a invesigago soba Glde ideo. Pare Bourdieu, fz sentido que em 15. Un dos cups mas imgortants¢eriune datos dos campos de Baur i, segundo le psiies em um cing #80, por casas, elo. res sca que no se eonhecom podem est flssonades ene st part do ‘ensue aati do campo. Mise lol soca para clagamacto 143 ‘uma socledade na qualasindividuosacreitem no ita do selmade man 2 aposte tanto na possiblidade de transformacio das fortunasatravis das interardes (ou do notrio "networking" [A questi empiric que perpasta essa discussio temete are lagio entra “relapse “interagBes”. Recentemente, noves estudos vm tentando estabelecer o vinculo entre esses dols construtes, Por ‘exemple, Gibson (2005) mostra como as interagses face a face © pa cdo de conversagio entre participantes de uma reunllo espelha de certa forma as relagdes que esses individuos relataram er question. tio, Para estudiosos da inka bourdieusiana, schados como 0s de Gi on poderiam ser considerados, na melhor das hipsteses, velevates, dado que, de partida, a anise posiciona,o habitus ea trsjetéia dog stores Socials torna a observagdo das interarBes face a face dados que ‘em nada audariam a melhorar nosso entendimento do social ‘Em contaste, minha embacsdura 4 abordagem bourdieusla: ano serd través de seus construtostebricos, mas de seus materia «¢ métodos. De forma pragmatica,sugiro que, se duas teoriasutlizam, (0s mesmos materials e métodes, elas devem ialogar, mesmo que seus conceltos slam incongruentes®. Ou sea, se os materials e méte ‘dos que utilize sko compativels com aqueles utlizades por Bourdiey, serlalegitimo estabelecer 0 didlogo entre a “andlise de redes soci? sua teria dos campos, Emuma pesquisa sobre plateias de museus (BOuRDIEU, 1980), Bourdieu nos sugere que o compartithamento de uma mesma platela pode ser explicado pela posicionamento do teatro no campo de tea, "ros em Paris Teatros da “alta burguesia” compartthavam a mesma platelae, de forma analog, teatros de vanguarda compartiham ente sium piblico distnto, Para substanciar essa afirmaco, Sourdiew nos ‘eprodur a seguintetabels,origindria de um estudo nos anos 1960 de piblico de teatros em Pars”: . 17a Ea erate ants et apt por rig 2000) 20 mostra proxi Sourdiewse arse ase confuncio com adeptos a "escola cana" 144 oi carbons ean Cv Sanco Oe figure 1 Cusamonte ar audi os tears [temporada 29682964), & Bourdieu nos convida a verificar como certos teatros tem maior sobreposicdo de public, enquanto outras “dlades” de teatros bodem ser estabelecidas como nulas, Oe forma andioga, o material ‘ue proponha como base para investigar os ideres de banda se com bata detamente com os dads utlizados por Bourdieu. No lugar de teats, eleja“lideres de banda’ eno lugar de “public”, elelo “mus s,s mecanismos que levamn 9 mesmo pilica a frequentaro mes so teatro poderiam ser os mesmos mecanismos que levamn 05 misl- (os aceitar tocar com os mesmos lderes de banda ‘Uma ver que se aceite a legitimidade dessa analogl, abre-se 3 posiblidade de intvoduair manipulagdes analticas que permitar 14s ‘a andlie dos dados sob a ica de redes socials. Um dos constrateg erecidos pela tradicio de andlize de redes socal €a noc3o de equ Valencia estrtural. Deis Inaividuos s80 “estruturalmente equivlen- tes" se estiverem conectatos aos mesmos individuos (ates), ainda ‘que entre si aciade sejanula (Whe etal, 1976). Ao final des anos 1970, surge a reformulacao da teria bourdieusiana de campo para a idela de compos erganizocionas, onde 2 equivalénca estrutura sera, um construto-chave para investigar @ posi no campo (DiMiacci;, Poweu., 1983) A reagio de Bourdieu a essa eformlagiolevou deseritade seu panfleto sobre como sua teoria devera ser lida nos Estados Unis (L- ‘Mon 2012). €, de forma coreat,provavelmenteseja trv veifcar que sinters embutidas na tora de compos organiacionais nos Estador Unis nfo fia jus & Idea de poscdo que fora originalmente proposta ‘or Bourdieu. Mas se concordarmos com isso, deveriames também re jeitar a andive de audiénciacompartihada por Bourdieu como evidéncia ‘de homologia entre teatros parsienses, Poderfamos argument junto a Lire (2005), que ofato de um marido ir junto com sua esposa 8 pra io significa que ele goste de Sper; ele pode estar apenas cumprindo, sae obrigagBes soca, € 5150 for verdade, se estvermos defronte de indicuos com gostos que ndo sejam necessariamente redutves& ps! 80, entéo, poderiamos entender o que nos revelaria se o mesmo marido ‘requentase, em outras opartunidades,rodas de samba ou bales fk Analticamente iso ns levarla a entender as associa ténues, porém ‘evistentes, entre teatro (ou nesseestudo ideres de banda], onde exit ‘la uma obrepesigio menos evdente de pati De forma mais assert, poderiamos explorar de que forma os campas se modifica no tempo, |ustamenta investigando até que pontoessa5assocagBes trues no se tomam mais importantes, modficanc a gramica das interagbes soca 3.0 contexto da pesquisa: o jazz entre 1930 e 1969 Exctem diversas rates para a escola do jazz como objeto de pesquisa ,espeificamenteaeleico desseperodo par estudo de sua 1146. Certo rand Calor Sendo (Ors _eosBo. Em primelr lugar, o jazz frequentemente ctado como um gt taro musial que realzou uma transigio paca entre 0 "pop" e a “Van {ustda” (BAUMANN, 2007), 0 que rao estilo mais popular entre os joven merleanespassoua serum estilo cultivado tanto em unversidades quan to-em hals de restaurantes &derrocada do jaz levou a vansformacées importantes na estrutura de opertunidades dos misios. Fiqura 2:8 poplatdade doar (medio pel percents de ore standard nol eps pele deh a Ay \ \ » \ ~ : \ \ 44 : ep "eee eRELERELIIOAELEREEREDORUEE DELO Fos Eaborad palo ute, Bourdieu (1985) localiza o jazz como midsbrow. Ess posicdo € acornpanhada de alta heterogeneidade interna de estos einfluéncias, rmarcante principalmente nos anos 1960 (Szwe0, 2000}. Masa ecencas sols pore dloramarto 147 Fleurs: Diigo ds esses de gravee por etl. Forte tavoredo pastor ‘Al&m dessesfatos, & inerente 20 jarz a produgio de misca ‘em bandas que costumam ganhar e perder misicos para outs ban das, formando uma “tela” entre elas. Ou sea, para o entendimento de ‘coma se formam a redes entre muscos jazr éextremamente prop ‘0, porque as gravagbes deixam rastros desss redes socials. Compare 0 jaze com 0 rock, por exemplo. No rock, € multo mais comum ver ‘mos bandas estveis ou solos; em comparagSo.com 0 322, 8 migrstdo, de um misico de um grupo pars outro & bem menor. Se analisarmos futras artes, veifiaremos extcemos: artistas plastics provavelmen- te nunca produzem em grupo (ainda que possamos associé ait culos” “excolae), No outro extrem, na indistria cinematogri, ‘elencos enormes sia mabilzados, quase sem interagio direta entre 0 stor principale os figurantes. € importante resatar que as redes socials ente misicas de rock ce jaze ter sejam,na realidade, muito semelhantes, seo nosso olhar care na totaidade de suas relagSes, que incuem relacdes pessoas de amigade ete Entretanto, a predusSo do jze debe ateftos (buns) Ue 148 nit eros Fernandes & Ct Seno Os) jomor ess interacBes mals sels, Na seo de materiais e metodolo- fo. eolrre Com mor profunddade as implcagBes de tomar os uns Jpn ponta de partida para. mapeamento das redes, ‘4 Métodos e materiais empregados: exposicao e reflexdes ‘As andlses se originaram de duas fontesdeinformaclo. Aim de ter as sessBes de azz, consultelvrias discografasconsolidadas. Para mnseguir 0s estilos dos misicos, consul sitio da AlIMusi™. A segu, ‘exponho alguns desafios no tratament einterpretario desss dados. 4.1 Autilzagio de discografias como fonte de dados Um primeira problema que surge a0 utilizar discogratis diz respite aos citérios de incluso e exclusia, Algumas cscografas, produaidas por musicloges, tendem a ser enviesadas pelos critérios ‘do que o pesquisador entende por jazz. A histria do jazz & acompa: hada pela ceflexio de criticas e historiadores sobre sua definiglo & a tematvas (geralmente malogradas) de estabelecimento de suas froneras (Gent, 1995). Séo conhecidos os depoimentos de misi- ‘a5. que resstiam & imposiao de fronteras 20 jaz por exemplo, John Caltrane) , culosamente, a abordagem de redes surge lustamente paras contrapor a categoriaspré-estabelecidase naturalzadas¢, 20 acompanhar as redes, re-demarcar as fontelras de um mundo artist- ‘0 Emneaves; Gooowin, 1994) ‘Tomei como pressuposto 0 erro de minima Inclusto, Esse pressuposto se funda na ideia de que, 20 analisar dados de cinquenta nos ard,» idea de jazz estaria seclmentada, Utilize! as categorias 38 Doponl em: crawl com>, Aces 8m: 5 en, 2016. 78. abardagr de rdes deers jrtamente deat. Mae ks vara riod abet, Mise eas soa para iagramarto 149 advindas do sto da Allusc para eliminar do banco de dados misicos {que teriam afiiagéo integral a génerosexternos 2022. ‘Outro problema elacionado &utlizacéo de discografias se dg pelo vies da inddstria musical ao limitar nossas observagbes 8s grava (Bes em estilo, Assesses regstiadas em uma discografia fernecem, (0s eréites concedldos 20s musics. Por um lado, nem todas asses, ‘Bes de misiea se dio em estidlos, onde os créditos so propriamen- te repstrados, Multasdelas ocorrem em espagos informa (bares) ¢ mesmo fora do aleance do pablico, como em jam sessions promavidas nas residéncias dos misicos (ANDERSON, 2002). No perfado estudade,, esse problema se mostrou ainda mals sensivel devido a duas greves de ‘isieos durante os anos 1940 € possivel que, em rarlo dessa greves, (0s primeiros dlbuns essoiadas ao bebop tenham chegado ao publica Ssomente no fnal des anos 1640, Dessa forma, temos uma defasagem entre aquilo que presumimas sero real (a erlagio do bebop em jam sessions informe) eo: artefatos observaves através dos dlbuns. 4.2 Categorizagio de misicos (0 fendmeno da categorizacio de misicas em estios vem sen do material da sociologia da misieahé décadas, Por exernpo, iMag fo (1987) salienta que, dependendo do ator social entrevstado, ace tegorizaclo se ditingulrd muito. Representantes da Indisria musical tendem a elaborare aplicar categoria que tenham apelo comercial, ‘a0 mesmo tempo, possam se faciimente dundidas eutlizadas pelos ‘anaie de distrbuigio. Préticas comercais podem gear categorias bas tante desttuidas de significado para misics e critcos. Por exempl, no caso do jaz, a categoria west coast jazz (requentemente evocado como um desenvolvimento do cool, € bastante crticado como um Invengdo mercadoltea ‘essa manera, nas (quase extints) los de music, 2 ore izago dos Ls (COs) em prateeias exige uma “economia cognita” para que 0 consumidor possa ser guiado pelos dspositivos para format |B Por crapl mbor ay Charts ana tocato com miso ea, sus es $30 sempre cesscades como Ra, Pores ato, muscos na meme situs 0 4150- omit cotton Frandes Caro Sandon Ore) sua escola (CAUON; MUMIESA, 2005). Os artistas, em contrapartida, tenderiam 2 elaborar "eategorias de membros Unicos" para sallentar funsingularidade frente 20s outios misiens, Categorias Bo recartes, jh privilege certos aspectos de um objeto, outros fogem da classi tatio, levando-nos a questionar a justficativa em torno dos critérios Ge incusto e excluséo, ea averiguar as relagBes de poder que se mani festom na atvidade de categorizagdo (Bowen; StAR, 1995), para uma shordagem inluenciada por Fourault. Assim, se apeldssemos aos mu feblogos como jules supremes da categeriagio de masicas, pderi- mos questionar, entre a diversas dimensdes de uma obra musical, tual é 8 justifcativa pare a eleicdo de um criteria em detrimente de futos®. NBo conseguimos eliminar a mediagSo dos eitics, que tra- fizem as obras de arte para o grande pablico. Mesmo frente a essas titicns, “categotaslmportamy” ~ mesmo aquelas de erigem comercial podem via ganharaceitacdo pela comunidade de musics e ganhar 8 Sienieagso que infuenca a ago social ‘ho assumir a valdade das eategorias, surgem vitlos desa~ fio de ordem empirica que remetem & confianca que temos nesse material. £m primelro lugar, surge a davia sobre qual categoriza. lo, na histria do jazz, é mais conveniente utilizar € possvel que as {ategorias evocadas eutlzadas pelos misicas no momenta de gra- vago de suas sess6es ou pelos critics ao escrever uma citca 20 sibum selam élferentes daquelas utiizadas pelos musiedlogos nas fécadas seguintes nos livros-texto. Uma das possiblidages aventa> as fol a busca e localitagio de citicas aos dlbuns em magazines da poce que pudessem conter a categorizagdo contempordnea d pro- dio musical. ssa tentativa foi frustrads, uma ver que as erticas poucas verestrazem uma categorizacao explicit dos dibuns, Oessa forma, ful levado a adotar a categorizacdo atual (anacrénica) dos Imusidlogos associados 20 sitio da AllMusle, Ina cu em outros mundorararteos For evel, Die Giese wr tens a ‘Segre "nop 1 Eetema tem ganhade proeminznicom earners de “ecomendaom Ha. como Pando rm gm a ora entre muses tors fons "aja pormala da vaio de ares de eapeto deeds rss Oe or ioe eleado a escitar muses que escapade es pr-eterminaor, farecendo stoiagter muscle com oman de pranludade Mise eines soca paa agernagio 252 ‘Outro problema que surge & a classificacSo dos artistas ng ‘tempo, Como poderiamas fxar um estilo a um artista, quand o ery lo adotado poderia mudar ao longo de sua carreira (um exemple dig fo dessa mudanga se dé com Wiles Oavs}? Podemos raccalizar esse problema: € frequente identifcarmos dlbuns nos qualso music gravy ‘anges seguindo diversos esilos ou até mesmo observar a varagsp Ge esis a0 longo de uma mesma fai. O pressuposto que tomo éde {que a classificagio deve ser, ao maximo possivel, corespondente aoe ‘outros nives de andlse® Para proceder com a classificagdo dos misics, ecuperi ng portal da AlMusc todos os dlbuns gravados pelos lideres de bands de minha base de dads e os esilos correspondentes 20s élbuns. De for. ‘ma “transitive, aplquel para cada musica situado em cada period de ‘neo anas os éstiles correspondents aos Slouns do mesmo perioss, cxze procedimento tz novos problemas e intodur alguns desaos Intratveis. Os aristas mais proificos no lancamento de novos élbuns 2 oF misicos com maior status ganharam maior viibidade e um vo. lume maior de oportunidades de classficagio por parte dos musidle 0% da AllMusic, Em contraste, misicos de menor desteque, que nda lograram ter @oportunidade de langardlbuns comentados por erin, produsiram pesas musicals que no passaram pela categorzac30 dot critics. Em multos casos, os periodos de ‘no abservacéo" (sem lan ‘amento de dlbuns) era cuto, © que possbiltava a simples extensio, dos ltimos estos observados 20 perloda sem observagdo. Se o mix sleoficasse cinco ou mais anes sem langar um dlbum, eu 0 retrava da base nos periodos carrespondentes, assumindo que nada poderia set armado quanto a0 esta do musica nesse periade de tempo. Em a rune catoz older de banda apresentava apenas poucas gravacbes em toda a sua carrera, Nesses casos, consultel biograia e encclopédas de jaz para verificar se havia consenso em rela¢do 20 estilo toca, ato contrério, eu os etrel da base. Essa dscuss30 ¢ ansloga exposh fl acima sobre autlizarso de dscografias. Aqui novamente os mish cos mais produtivos, populares ou de malor eputac3o ganham maior tengo hstoriograic, o que reforca os vieses spontados acima. |W slo se a “reder dor muncor ear dao lotr que a ede "rezaos de cio aos ce sravgbe. 452. Omit Certo Frans Calo Sondon (rst 443 RelagBes a partir de sessOes de gravacdo Nesseestudo, eu tomo as informacées oriundas das sesbes de gravagies em estilo, que rigorosamente s8o “redes de afiiacéo" ‘odes de afllagio” se dstinguem de “redes de adjacdncia™ As redes de adjacencia sbo aquelas nas quals encontramos indviduos (ou ato tes secais) em interac (ou relacSo) deta. Por exemplo, podemnos ‘Tapear quais pales detém relagBes dplomstica entre si, qusis mist os so amigos entre ‘Quando analisamos as relagBes entre os misicos, podemos specular quanto 20 melhor método para estabeleceressasrelacbes, Ua das abordagens poderla ser a entrevista com os rsicas, momen to em que debariamos que cada pessoa identifcasse quem conhece ie Uma das tentatvas em fazt-lo em grande escala foi realized por Heckathorn e Jeff (2001) a partic da utlizagdo do método de bola de eve, em que cada artista cltava outros artistas, e esses eram procu fados pela equipe dos pesquisadares pars continuar o mapeamento das relagdes.Apesar de trazer um mapeamento das relagdes pessoas {que no aio observavels a partir dos créitos das gravacdes, esse mé: todo é bastante caro e impraticivel quando lidamos com periodos de tempe muito longinques. Uma segunda possibildade poderia envol ‘er 9 analice documenta de biografia e entreuistas concedidas. €m cntros de pesquisa sabre o azz, racicados em diversas universidades te mundo, éfrequente encontratmos extensos arquivos de entrevis tas que aunca chegaram a ser publcadas. Muitas dessas entrevistas incluem narratvas de parcelrs, colegas, que pontuarem a tetera. do entrevista, Esse material ainda que riquisimo, tar pelo menos tas complicagbes que impedem sero pont de partida para a cons- trugio de redes socials. Em primeira lugar, 2 forma came a entrevista ‘conéuzida pode levar a maneiras multo dstntas de expiitaydo das ‘elagbes pessoal. Iso fee a confiablidade de comparacéo entre as respostas dos misicos. Em segundo lugar, tant biografias quanto en tvevistas sioTreauentemente reaizadas com misicos mais populares ‘com maior reputagdo,levande a um viés chamado de selegio pelo voriavel dependente;inclu-se na amostta prineipalmente mdsicos que ‘obtveram sucesso, o que nos levaria a uma visio distrcida da forma: ode redes. €nesse sentido que a discografia nos traz ume possbil degemago 153, dade de nos aproximarmos dessas relagdes.Ressoltarel @ seguir quis slo os vieses na incluso desse material na pesquisa, mas, por 0°, vale enfatizar ue, em contrast com as outres possibilidades acim, esa, aternativa nos traz uma visio mals global do jazz, com veses que sg, mais foces de identfcar eiterpretar. _ Entretanto, 3 participagio na mesma groverSo no garente aque exista um contato dlreto, por diversas razées. Em bandas grandes, tra comum que vérlos misicosfossem contratados para apenas um, lpresentacdo,e isso no era suficiente para geraro contato com ou ‘os musicos. Havia também os “muscos de estudio", que detinham, Contratos de longo prazo com as gravadoras e eram chamados para ‘suliar em gravegdes especficas, sem com isso terem qualquer conta to cireto com outros misicos temporaios.& solugso direta para ese problema é estabelecer 0 vincule ene lider © msio inversamente proporcional ao nimera de misicos na sessio, 5 Principais resultados da pesquisa: evolucdo de estilos e redes sociais entre musicos de jazz Nesta seco, eproduzo de forma sucinta os argumentos que aprofundo em Kirechbaum (no pelo). Existem diversos mecsnismas {que sustentam as afirmasdes que apresento, e esses mecanismos pe Geriam ser, em teora,investigados isoladamente. Em primero lugs poderiamos tomar a posiglo “canvencignalst” dos estudos de “mun: dos atistices” (BECKER, 1982; FAULKNER; BECKER, 2008), Segundo esse ‘deta, os atores sociais adotam convengbes que os auxliem em sua co lordenagto, seas convengGes so tomadas come atbitrrias (como pot ‘exemplo, a convengio de conduzir um caro pela esquerda ou diet © po isso ado abertas negociacso. Em sua etnografia de misices de jazz, Faulkner e Becker (2008) luminar situagdes em que os musics ‘egociam @ mésica ou a harmonia que servis coma base da improv ‘saglo. £55 idea nos remete a sugerr que musicas que compartiham ts mesmnoscédigos tenderiam 3 tocar juntos. 1154 iti Crh Frandes& Cos Sandon) ‘Um argumento dstinta poderia ser derivado da teoria dos campos de Bourdieu e da ideia de pasicdes objets no campo, que implcam em diferencas de habitus, capital simbdlica, capital cultural ‘eaptal econémico, A partir desse marca tedrco, os misicos pode- fam tocar juntos, se isso pudesse ser expicado pela compatiblidade te canitais. Especificamente, artistas que se posicionam em regides futénomas de campo tenderiam a evitar tocar com msicos de reides heterBnemas Lizan00, 2006) Esse argumenta se dstngue do conven: tionaista deforma no trivial. Enquanto 0 argumento convencionalis: tatende a enfatizar 0 aspecto horizontal das relarbes, 0 argumento de ‘istingB0" trar um aspecta de verticalidade nas relagdes: o compar tihamento de cédigos no & condicdo sufciente para explicar a inte rasio social. Em contraste,ofereco a hipotese de que a tendéncia de tocar Juntos aumenta entre misicas de vanguarda, ‘Argumento tamibém que, uma vez que uma nava vanguarda surge © 0: esilos de vanguarda anterires 280 amplamente compart Thados pela comunidade de jazz, esses limos perdem forga expliat va na formaro de sessBes, uma vez que S80 incorporados a uma “al 1 de ferramenta” de conhecimentos compartihados Swvo4Er, 1986), Essashipdteses foram testadas para periodo de 1930 1969, incluindo um banco de dados de sessBes de jazz de todo o mundo, Durante esse perode,« jazz deinou de se o estilo mals popular entre 1s jovens (principalmente americanos) para exibit estos high-brow. Conforme sugerido acima, 2 semelhanca de estilo entre dois ideres de banda € crescentemente importante signiicante a0 longo do pe: iodo de andlse; essa vardvel medida como “dlstincia de esto” em ‘ada par de lider de banda) torna-se significant epositva em meados dos anos 1940. Além disso, seguindo as proposes sugeridasacima, no momento de introducéo do estilo, asredes tendem a set mas for: tes entre os misleos que tocam o est. Apés esse primeiro momento deintroducio, a relacdo entre estilo e formagSo de reds decal, suge- indo que tocar o estilo dexa de ser um ftor importante para explicar ® formagdo de redes. A segunda hipétese tamisém foi corrabarada, 13s nao de forma homagénea 20 lango desse periodo, A associagbo ‘mas forte entre esto e redes se deu na época da intraducao do be- op (anos 1840), quando houve uma efetvarevolugdo dentro do az, erariamos que a associacdo entre Free Jazz e a5 redes (inal dos Mises Stes soci paragramasio 155 ‘anos 1960) fosse ainda mais forte, sepuindo a dela de que 0 jazz tq. dria & autonomia ea recsa de estilos comercias(heterénomas). tg fentanto, oefete Free Jazz & mais fraca que o efito bebop. Podemoy interpreta essa quede através de varias (novas) hipsteses. Em compa. ragio com 0s anos 1840, os anos 1960 sofrem de um fragmentatag fe esta (S2WED, 2000), ¢ com is0 hd uma menor possibilidade de ticuagdo (eimposigo) de noves cédigos para o conjunto de misioy, De forma correlata, © movimento de institucionalizagso do jazz com lum estilo high-brow se dé apenas de forma parcial (BAUMANN, 2007, ores, 2002). Embora haja um crescimento enorme de programas aca cdémicos de jazz nas univesidades, e muitos masicos e crtcas ganhem “refiglo” nas universidades frente & diminuicdo da renda oriunda de hows de oz esta institucionalzagdo no alcanca a fora experimen. tada pela misia lisse comum na utlizagso de métodos estatistcos a incluso de ‘varivels de contvol”, Varlvels de controle so incluidas quando 9 autor busce dialogar com a literatura consolidada e no pode igno: rar outros mecenismos que passam competr com as hipéteses pro- postas,Além disso, 0 autor pode sugerirvaridveis avicionals que sia ‘representantes plausveis de mecanismos altenatvos,ainéa que nfo tenham sido apresentadas em trabalhos anteriores, Assim, as vaitves de controle também trazem elementos de construgS0 te6rics ainda ‘que ndo sejam necessariamente ofoco do auto. Em suma, se ashi {eses proposta no sio reetadas a despeito da inclusSo ds valve de cantrole,entio podemos tomar os novos achados como evidéncas a teora propost. "Napesquisa ealizada,incluldlersas aridvels de controleque poderiam afetar os modelos estatisticos etornar algummas das varies ‘entra irelevantes. Ficard claro a0 leltor que algumas ou todas 352 ridveis de controle inclldas tem um signfcado important e poderlam tormar-se 0 foco em um estud alteratio, As varavels demograficas ‘emoregadas foram: raga [ambos lideres de banda brancos ou ambos regres), génera (ambos homens ou ambas mulheres), naclonalidade [ambos amerieanos ou ambos no americancs). A iteratura do jaz ‘bastante rica na documentagdo de clivagens racias, prineipalmente nas Estados Unidos da metade do século XX. alguns autores chegam 8 sugerr que o capital racial deveria ser mats important, enguante 4156- omit certon Frans & Calor Sandon (rs ‘rove aalitea, do que o capital cultura, simbélico ou econdmico (Ko: 0988; LOPES, 2000). Alem dso, hmotivo para suspeltr de que Fete de alguns estos pudesse ser nua ou irelevante quando se incl Frere. Por exemplo, se 0 west coast ou mesma 9 coal se esume 20, jpn tcado por misicos brancos, ou se hard bop se resume ao bebop tpcado por mdsicos negros, avarévelraca deveriando apenas ser mais Bevan, tae possvelmente tornaritelevante a vativel estilo, Em Tomporagt, os estudos relacionados a género, ou estudos que sejam enparativs de coma o jazz se desenwolveu em paises distntos, $80 fm menor almero ou com menor destaque. Ainda assim, pressupus Cle seria importante a incluso dessas variave's, uma ver que se sabe fue o ja2 € predominantemente masculine (com uma partcipacéo tnaor de mulheres na erado swing) e predominantemente american [com uma sensivel diminulgao no pés-guerra). Novamente, poderia- nos esperar ‘elagdesinteressantes entre essasvardves e a varidvels Grestilo. Por exemple, poderiamos vericar se 2 recep do Free azz fora melhar na Europa do que nos Estados Unidos, ou se o estilo New Crean tera recebido uma sobrevida fora dos Estados Unidos. Nes sas stuapdes, poderlamos verlicar que 2 varével New Orleans, por ‘remplo, torar-seiairelevante se incuissemos no mesmo modelo a ‘ervel de origem nacional ds ides de banda, De forma substantive, encantramos a varvel raga, espec camente quando ambos os lideres so negros, aumentando sua Im ortncia até atingir um pico no final dos anos 1960, para depois re- tomar 20s mesmos patamares dos anos 1930. Podemos interpretar ‘esa evolugdo como uma tendéncia dentro do jazz que acompanhou ‘& movimentes da sociedade americana, Se no inicio dos anos 1930 ‘a vantajasa a0s misios negros assocarense 20s musicos brancos (quando estes detisham acessoprivilegiado 8 indistria da music}, ap final dos anos 1950 o jazz espelhava 0 Spice da necessidade de ex: presser a identidade afro-americana através dos simbolos cultural. € ossivel que, depois de aeangadas as princlpais itéras dentro do mo- ‘viento de direltos cvs, tenha diminuidoo iteresse em privilegiar 3 assoclagdo com outros misicos negro. Outraexplicasao plausvel & a Ge que, 30 se tomar mais automa, o exmpo do jazz tenha passado A priilegiar as associagSes radicadas em compartihomento de capital Cultural independentemente da raga das misiens.Outrasexplcagdes Mise otis soca paagrmasio 157 so menos oimstas em relapfo & questo racial. Miscos nego pg diam terse exlado na Europa apés os anos 1950 com objeto gp {ugir do raciemo extent e com so se ssecado Com mscos bag 0s, mas europeus. fora do escapo dessa pesquisa investor ess propesiges suplementares; mes, de pssogem, sD ustomente ey, Indegogtes que surgem dos resultados que acredito constiturem up ‘material ico pora estado histriogrdieos. Ine também dua vrs relacionadas 30 volume de gr ves (espectvamente, a soma ea ferenga das grava¥es dopa lideres| uma varie! da diferenga de tempo no campo enteo: eres da clade. Eas varies dalogam de forma mals deta com tea de Bourdieu. O volume de graagBes pode representa a populaiae 0 capital econdizo de um artista (assumindo,grosso modo, qu artsas anham mais quanto malor 0 mero de sess gravaay ‘sim, poderiamos essumir que, 3 dade delideresapresenta um ata nero de sessbesgravads, € possivel que tenham maior chance de festarem arsociador™ Eas vardvel mostrou-e a mais forte sinfian te em minhasandises no inci das anos 1930. No entoto, la pede forge deforma postin ato final dos anos 1960, mas sempre seman teve como a principal varie de expicago de associaghoentrelieres Esses achados coroboram a dela de que jazz teria igrad de un nero mica popular para a posi mile bron, dado qu a varie desueesso comer!” pee orga, mas nunca dexa de ser dominant ‘Avail de “tempo no campo" inde @ medida em gue oper. de eres entou no campo a0 mesmo tempo. Ou sea, quanto ralora valor dessa varie, menor 0 gop gercionalenre os lieres de bands ‘carota em clos utr stnos FAUUNER, BECKER, 2005 Mae {5 Govaerts ee restuport pers dette deta formas € pone ‘tus uma ese grads por les Osi fore mate manor emesis gue ua ‘srt gra por Carls Wingu, por exempl, Mas na mean eau a= (coeur att, maior ese cach) posers tomar esa vara como vl EM ‘us inastrias cura 5 elagio provavemete fas priate 9 ‘sos em qu acoractrstcerardade”dererpea im ape mls fren eter ‘rap de pragor com nt ater pres oumexman inrricinematg/ca 45 ten vane! tombe copra 9 eft da iterdepenseni enre miss PEE 158. omit Cran Farander & Cro Senor (Ox went, 1970). Poderiamas assum que lees que tenham entrado na i ép0c3 0 campo seguram trajetras mals similares e, portant, ‘ros habvs 330 mais compatives, Segundo ess gia, esperarfamos ‘Se uorto maior o gop geraconal, menor a chance deassocaro entre eres de banda. Esse resultado éobtdoprincipalmente a inicio do pe ovo em andlie (anos 1930), tornando-seirelevante no inicio dos anes fo, pra finalmente mucar de sinal na final dos anos 1860. Ou sea, 20 fal dos anos 1960, quanto maior o "gap gerciona’ maior eraatendén= ade essoc0gao entre os lideres. Coma interpreta essarevesio? Com a trio ragmentago do campo do jazz, tomou-se mas tél oconsenso {ato} em torn de cédigos (estos) comuns,levando os joven eres 3 [gatonlrer-s2 uns dos outros Em contrapartida, esses ovens lidereshe am sia introduzidos 20 campo por seus meses, com os quasseguiam tocando eusutuindo de suasreputacbes para conseguir trabalho em uma India em que ae oportunidades de apresentaglo eram minguantes. Novamente, para termos uma confirmaco de que esses achados corres: pondiam 3 reaidede percebida pelos misicos da epoca, seria necessiio Doandir © escopo da pesquisa pare imvestigar essa ides em biogafas f entrevtas realaadas. 0 ntuito aqui é 0 de mostrar cama as métados [unnttatves podem seri como “surresas” que insigam o pesqusador pear hipdteses a serem posterionmente opofundados. 6 Sintese e consideracdes finais Este artigo pode ser consderado um comentario metodolég: 0 minha investigacio relacionadas redes eestils ne jazz. Busque! Advogar 2 utlizaglo de métodos quanti nas Clénclas Socials aplicadas Amisicaesintetzo essasrazBes em quatro motvos: Os estudos quantitatives ausliam os pesquisadores 3 exam! rar crtcamente tendéncas e padres evocados nas disursos produ tidos em entrevistase registrados em arquivos 5 Ouos mecansmos atemates podem reforar esa tend eres de anda mat cosadado provavalmarte clam vneis as uradoos om seus ‘tabelcer uma onfiguragio mas ete pres banda Misc enn eis pare agagto 159 Acomparagio de casos através de vardves (como raa, en +a, eatilo) permite veriiear qual vardvelé predominant na explcag de alguma varvel de interesse central (no ca50 especico, redesap, Cas); a eluldar que cetasvarivels so irelevantes do ponto eat tistieo, gera-se um cantraponta importante aos discUrs0s natives, ‘Adescoberta de padrbese tendéncias gers surpresas que dem gerar novas hipsteses; essas novas hipéteses podem ser guag para pesquisadores de vertente qualitatva, : ‘A especiiacdo do universo de misicos que inca tanto ng. viduos famosas quanto miscos obscuros permite gerar andlies ma: nos enviesadas;estudos qualitativas podem eleger casos que geraram, resultados incongruentes nos modelos estatistices.Dessa Forms, ose tudos quanttatves podem auxlar os estudos qualtatvos na eligi. os casos para aprofundamento. pour. 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The American Sour of Sob (cago 8,89. 730-780 1576, ERUBAVEL Eiatr The fen: mating thctionsinetryy ite New ore Fie 162. oni carbons eran Cro Sano Ors) PARTE II Musica em acao O “popular” na misica televisiva: os casos de Cheias de charme e Avenida Brasil®” Felipe Trotta ‘Nao é muito diffe constatar a enorme forga militlea da pro- duySoesttica assocada ao universe “popular”, que cada vez mals pe tetra no imaginsrio compartihado em larga escala em dversos paises da America Latina (e além dela). Séo prticas cuturals que circulam porcanais e televsho, internet, festase shows de variados tamanhos, Jorando de alguma forma uma ideia de “popular”, Nesse tubilhéo de imagens, sons e estereétipos sobre o “mundo popular”, a mdsica @certamente um dos artefatas que mais cunde a “estétice da pe- ‘era. Artists como Michel Tel, Aides do Forté, Me. Catra, Gaby ‘amarantos, Anita ou Zeca Pagodino, vinculadas a modos de diet, air ¢ pansar da periferia (em suas vrias acepges soca €territo- ‘as cirelam pela inddstria da cultura acianando sonoridades pen saimentos que frequentemente entram em choque com esquemasin- telctuazados de vide e discurso. No Basi algumas prétieas musicals protagonizam debates aciradas sobre étca e estétce, negociando ensamentos sobre as hierarquas geograticas ¢ classistas de nossas seciedades,Essesdizeres sobre © popular tm assumido importéncia crescente,instituindo models alternatives de sociablidade, de pa tides ticos, articulando debates, enfrentamentos polices, énicas, tsteticos eIdeologicos de vias ordens. Em 2012, duas telenovelas ~ Gheias de charme e Avenida Brasil ~ veiculadas simultaneamente pula Rede Giobo tematizaram ideias sobre o popular em suas tamas, Dersonagens e cangbes. Eubida entre abril e setembro, no horse das ‘Shores, Cheias de charme oferecia com bam humor uma narrative fe tenséo social dleotémica, materializada no desenrolar de confitos, 7 Gieo dma versio mosteade ¢amplida do aria “Entre o Brahe eo hoa emerges mil do pres, pubcada nvevita Goldin 13," 26, er 203 presente pes reabeo apoio do NPE! Universal ea Far oem Genta de Meso Ea), Misiene Seas soca para agromerto 165 entre patroas e empregadas domésticas. Avenida Gri fo exbida ep tre margo e outubro, no horério nobre das 21 horas, © apresentany tum enredo mais complexo, com representardes menos estereotizads fe estanques da pobreza e da desigualdade. O repertérlo musical des {vas novels, por sua ves, fomeceu sonoridades, temas erettes gue ‘omplementaram as tramase permitiram um deslocamento do deba. te sobre o popular das teas para outros espacas de crculagSo cultural como as ros, 0 showbizze as conversascotidianas. 1 Aberturas: 0 of of e Ex-mai love As cangSes que serviram de tema para as aberturas de Cheas de charme e Avenida Bras! apresentam algumas pists interessentes ‘ara, reflexo sobre o popular. Segundo Straw, as aberturas de flmes ‘© outfos produtos auciovisuals funelonam como um “tempo de tan siglo, fazendo possivel uma reorientacio perceptva que leva mem: bros da audlncia do hal luminada da cinema para [.] a sala escurat (straw, 2012, . 119) ou parao soté da sala de estar, simultaneamen. te, roduzem uma especificacSo e condensacdo dos “elementos-chave do texto do filme que se segue (lima, elementos determinantes de iineroe formas gréfcas dominantes) oferecendo um menu de ingre- lentes cuas possves combinagSes produziré ofilme que rd passar* (straw, 2012, p, 119}. 0 mesmo pode ser dito sobre as aberturas de novelas, que preparam o espectadr eanunciam o inicio do programa esse cas0, a misica desempenha um papel fundamental, pois vaza paraalém do campo de visio do aparelho de TV e ocupa outros cémo: dose espag0s da casa, "Vai comesar a novela! ‘Avinheta de abertura de Cheias de charme era composta por uma animagio multicolarida, que, inspirada pelo design de histrias fer quadrinhos, narrava @trama principal da novela: 2 traetéra do, trio musical Empreguetes, formado por trés empregadas domestics (Rosérlo, Pena e Cia}, desde seu encontro atéoestrelato 166 ort carbone France Cav soni (Or) ‘gua 1 ~ Quadros da vanes de sbertra de Cis de charme. | abertura era acompanhada pela cance Exmaifove (do compositor Veloso Dias), gravada pela cantora paraense Gaby Ama- ‘antes, a "rainha do tecnobrega". Na dvertida definigdo de Hermano anna (sempre ele!) 0 teenobrega & [-Jowehobrega com batide mais aclead, eitsé com sons Ge computadores rece um Ktwerk de plo, rodusso sb calor equatoral por quem estou mut cared cmb, tke Renato Ses Blu Caps—endodomina ainda ttalmen- te. recursos do “cut and paste” que hoje esto no base dos safares de preducse musa que podem ser bavados de grax sa ems pats dantemet (Mana, 203) Estretamente assoriado ds prticas de diversto noturna das perilerias de Belém, o proprio estilo musical se torna representante eum “mode de ser perferico” 20 vincula-se a uma reldo perféica na herarquis geograicas do pas (0 Pare sua capital). Com a sono- ‘dade eletrénica que a caracteriza, a misica do tecnobrega encarna sca estén soins para dsramacto 167 elementos que a credenciam de modo bastante dleto para falar, sobre 3 nordo de perfeia. Gaby é amplamente conscientedease processo, Em entrevista & BBC Brasil, incula Sue projegio nacional Intennete &“ascensio da classe Cos canseraores erste do mundo tim muito 8 aprender com esa iberdade postica que a perferia tem de ser fly ‘Sam se preocupar como se a autas pessoas v0 pens Evacredito que exe total verde netsa questo da son soda classe, porque adasse Ctroure congo 05 sus le tos, 0 seu gosto musial sem precisa ter um gosto impos porums gavedors, por urn mid unto 3 es tambem hg 3 popuarizaio da internet, que ajudou com que as pests twessem mais acesbildade a artstas come eu, que ou lume aaeta que deve mut 4 inernet (@BC Bass 2012, ‘A sonaridade de Ex-mal ove estrutura-se sobre 0 mossco do tecnobrega,assocada & levada do bregaestlizado, com uma gultara ac estilo surf muse Meu amor era verdadeio, eu era pata / O meu amorats ut, 0 teu ndo passava de um pedaco de lata / Meu amar de raga, 0 teu simplesmente um vtelata/ Ex mai love, & ‘mal love / Se boar teu amor na vivne/ Ele nem val er Ports de uma letra sngelaeclativa sobre o fim de um el lonamento, podemos destacar dversos elementos que reforgam ceta narrativa ala do “popula, velculado como “periféico”: a plata dos mercados musicals alternatvos (ecandestinos),o erro de inglés 2 inversdo do correto "my exlove") ede grafia eas popularisimas las de "1,99", Na abertura da telenovela, Exmallove a estética visual ‘hose dos quadrinhos animados forneciam, assim, uma ambientarso, ‘bem-humorada e witorisa do popular que ascend na escaa sociale que luta para verse respeitado em suas escolhas e gosto. (ena: Sam Ua, 2012. 168. certo Frandes& Calor Sandon (Org Serna intengio narrativa de Chelas de chorme, 2 abertura de reid Bras explora o univers das estas notunas, “onde dezenas de pezoxs vitas em sihuetasdangam arimadas aminadas por ze cus es vm ds ars @luminosos que fazer ofundo de quacro desfoca Br aoe et al, 2012p. 334). Em aig sobre atelenovea,Rahde eco focadoresidentficam uma inspraelo deta dos fr uminosos com a tatica visual do cinejornal onal 100, especialzado em futebol eexibido Shronte 3s décadas de 1970 e 1980, reforcando a tematic futebolstca sero narativa da novela eda universo “popula” (RAHOE eta, 2022 p, Si), que ere também um ingrelente da tram, A msica de abertura de Avenido rosie wn histo rans: raconal. Ver dangar kuduro foi langada orginalmente no Youtube em 2010 por seu compositor uso-rancés Lucenz, com paticipago especial rapper nova iorquinho Big Al, Com 18 milhaes de acesos em cinco ress, a misieaaleangou sueszo na Europa e ne Canada Em agosto do mesmo ano, a cantor de reggaeton porto-iquenho Don Omar relanga a musica com participa de Lucenzo (com um novo die no Youtube} © acomada a cangio entre os videos mals acessados do site®. No Bras, 0 tanto atino lana 2 misca, em parceria com Dl carioca Daddy Kall sob tule Danga kau. Por esta gravagio, 0 cantor soteu proceso, pois io inhaautorizagio de Lucenzo para interpreta a cangéo. Possivelren: {5 Ei deo de 2014 contagem estar er 5 inde de acess Mase ens sons para dlgramasio 169, te por causa dessa bataha judicial navinheta de abertura da tlenove, © compte prodor msl Uno Kr as G30 90a desconhecido cantor Robson Moura (0 movimento internacional da cancdo ¢ interessante para reflex sobre periferi. © kuduro € um género musical de Angola, que resultado cruzamento de rtmos locas (sungura, kizomba © sem) ‘com o eletrénico do rap e do hip hop. Sendo uma danga atamente erica eligada a festas urbanas jovens, © genera se internacionaloy. através de artistas de certo “pop aternativo", come MLA. 04 préprig ‘Don Omar. A migracSo de Vem dangar kuduro da mesa de cracio de Lueenzo para vralidade do Youtube e dal paraaabertura de Avenida Brasil pode ser entendida como um processo de negociagio de rele ncias tensivas entre centro periferia. © kuduto, 0 reggaeton, o hip hhop €0 funk so préticas musicals nascidas em lugares perifricos de hierarquia geogsfica munelal, que se tornam cosmopoltas través dp compartihamento de uma sensacdo de perifria, ‘Tanto em Ver dancar kuduro quanto em Exmal love, & pox sivel observar uma estatégia de ampliseso da vsibilidade © audi Iidade do “subalterna” através da misiea, processado pelo mercado ‘musical pop transnadional,jover,festvo e noturne. Essa positvaglo da periferia e do popular integra um amplo processo de negocacdes sobre tas representacdes, em franco processo de transformagdes. 2A dicotomia sociogeogréfica das Empreguetes Chelios de chorme tinha come protagonistas tres emaregadas domésticas, que em determinado momento da trama formaram um {rupo musical ese tornaram estreas do showblez. 0 sucesso do tio Empceguetes,formado por Maria da Penha (Tas rato), Mara Apare= ida Isabelle Drummond) e Maria do Roséro Leandra Leal, desperts ra tama uma invejapatolégica na cantora de “eletroferr6" Chayene (Claucia Abreu), que passa a arquitetar planos estapatrdios para bo: cotaracareira de Penh, “Cida" eRosério. Natural de Sobradinho, no Piaul, Chayene & um personagem cmico, caracterizada com roupas £170. cotton Fernandes & Casas SandonOrg) eee ee ca 5 0 pesonogem de Chayene ¢ bastante interests, ois oper em un ton Insole enve a dominaco eo reconcet Nordea, Cajon encana todo ot tutedpo dsoualfeantes que coca © inapnte nacional abr 9 Nerd, eowitenO prego guncro msl evofont, que € ua icra do hovel, tia verso pape lover ar adlonal ner “nove ha meso too, ‘espe lontuid undemenlmente por populate torando eh de {he cera todo seu gst fs guns, catecteranda por, um pean ‘antora Pera, Em 1986, fol gravada pelo cantor Fabio I, em quem Fablén é forte Sen ts sohac ns ergo nate 12. Som tre lncou um OVD com os "grandes sucess musics de novel’ cana nba rare Varco erecta muss, nea én cod para dsgeamasto 171 No trabalho em casa de familias de camadas médias e ata gy populagdo, as empregadas tém contato com cédigosculturaisdistintog ‘de sou meio de origem, 0 que fornece a possibldade de invertgarsa da dindmica desse encontro em que regras, gosto, esétcas com, portamentos 380 comunicados e conftontados BARROS, 2012, p76) Em Cheias de charme, ess tensio & materialzada na oposy 80 entre a condominio de luxo "Casa Grande" © a favela do “Bora, Iho" 0 bairo popular era representado como espago da alegra, de escontragdo e do afeto comunitéro, enquanto 0 condominia de xe lencenava 2 futlidade,o indvidualismo, a corrupsdo e a ostentacio financeira. 0 esquema dicatémico rigido & 0 ambiente socal de eval. slo da tram, que, de modo canvenciona,pauta seu desenvolvments fem torne da dela de mobilidade social através do mérito (RONsiy, 2012}. As tensBes de classe so, portanto, na novela, vvenciadas come ‘enfrentamentos dletos que regularmente tomam forma musical. As sim, pracessamn sentimentos deassimetrias de pader através da iris ‘do deboche. Emblematica nesse processo éacancéo Vide de emare guete [do compositor Quito Ribeiro), musica que estabelece um sata narrative na trama a0 ser veiculada Sob a forma de videoclipe na inter net e detonar aformagio do to Tado si acordo ceo, mar longe do emerego/ Cuando vo to do serigo, quero meu sof /Té sempre cela a condo, eu paso pane, esegoo ch / Auta v8 dete st onde ‘io ha / Quer ver madame aqui no meu lugar /Euaviede te acabr(trando 4 mess do jana) / Leva ida de amp: {uete, eu pgo sete /Fim de semana salto ato e vero que ‘a dar / Um ala compro aparamento vio sciolite / Toes bos vou com meu "eat" var” Asonoridade pop eletrGnica da angio eo estilo canto-falado, Inspiradono funk, da primeira parte da misica mokdam uma ambiénca ‘que estabelece um lugar de fala (ou de canto} para as “empreguetes: ‘ertca 30 cotidiano de explorages e humihagSes das empregadasé ‘acompanhada por um clima festive e nico (explicito na prépria ut ago do suf “ete, resultado da mistura das palavras“empresad Si WRO, Gate. vin He moreguete. negate: Empreguetss. Os grande ‘eetee muss novela Chas de charm ade ane Som Le, 2012 9. 172. its arn erendes Cro Sane Ore.) evperiquete™. Trate-se, 20 mesmo tempo, de um espaga sco esim- poles reconhecido como peifrico a favela, o transporte public, 3 Jorado de trabalho, o trabalho bracal~e over, cosmopolita, festive. interessante que © produtor do videoclipe da cancto na trama sela teton (Fabio Neppo}, amigo de Maria da Penha e dono da lan house fa favela do Borralho. Lon houses, sons eletrénicos@o canto falado do \avato sinificants socialise sonoros desse pertencimento, que exbe lima representacio de periferia come conectads, integrada& socieda- Ueecriica sobre as exclusdes esubmissBes da hlerarqua das classes. ihrsvelinversio da “madame” no lugar da empregoda insere-e na legca binsria da mobildade, matizando © sonho utépico de uma do: rminagdo do dominado. Outro sucesso das Empreguetes, Maras bra eis (Catlos Cola e Michae! Sullivan), executado dezenas de veves furan 3 trama, presenta mesmo programa retérico: "Marias bra Slits, de tudo sou capaz / Maras verdadeiras, Tudo o que voc fzer ‘a fago mals / Maria sem-vergonha, Maras sensuas / Marla vai com $s outtas/ Quero ver voc8 fazer o que ela fa2™. ‘Anarrativa hiperbéica do empoderamento funciona ao mes- mo tempo coma desafia confianca nas capacidades das vias “mar fas’, As "maria", como seus nomes, s¥0 pessoas comuns, populares, trabalhadoras. Os nomes das personagens associam-se ainda aigreas feta religiosas de forte signiicagio popular: Penha, Aparecida Rosi, Trata-se de um "popula" festva e comum, que eivindica va loracio politica e esttiea,reconheclmentoe respeito.€ que, através da misiea~e do mérito-,consegue sua moblidade social ‘Aconscigncie do processo ¢ emblematicamente apresentada ela personagem Resério que, a0 discursar na entrega de um impor- 538 terme perguete€ “uma dassiicoro de mulheres conhecidas por etarem na taurine uae peta coms opt he, | lnportante dear {Ge novia de pngute pode se rlconade bse socal - menaasnueres Se peterano eant, vale essa qu, cova perfoxmatiaro atonad pat fr na logea da ature da nate, @ pose ecoece que a pergueteperpasa 3 Sod cea sac faa stars ov normatiagees eva matures" Sous, 2012 psa. 55 COILA, Calor SULLNAA, Michael Maras rasa. Itrprete:Empreguetes pene scx mod rove Ces cr RS ta Som mise eclincosseceisparedogemato 373 tante premio de misicarecebido pelas Empreguetes na tram, detigg o trafeu& forca da “periferia’ fuacho que agente tam que delcar esse promo para todg ‘rari de peferi que cansarim de esperar um ogo nidade eresoleram mastraro seutrabalo. Se antes acy randochegova na perf, gore a cultura da periera guy ‘hogs na mundo todo através da internet. Pr esses atta, fue agente dedica esse prémio® ssa declaragdo extapola of limites da trama e funciona como uma espécie de editorial musical da novela. No discurso ds per sonagem, a termo “periferia” é utllzado de modo politico, funconan do como elemento agregador de um conjunto populacionalidentifen ‘do com 0 universo “papular interessante observar uma reszondn. ‘la entre o dscurso da personagem fcticiae o da entrevista de Gaby ‘Amarantos (reproduzidaacima}, que também relvindica uma ascenséa da periferia em uma negociagdo com a sociedade em geval. rotam nessas falas ainda outro aspecto importante da circulagdo das misieas periféricas de massa, que & 2 tecnologia. Se em multos momentos da histéra @ acesso a0 consumo tecnalégico funcionou como uma ba reiraintransponivel para os setores de menor poder aquisitvo, 0 atual barateamento dos produtos datas tem possiblitado apropriagées dk versificadas da tecnologia, com acesso amplado. Internat e telenove: lag sBo elementos cuturas que atravessam classes ese apresentam coma disponivels a uma ampla maloria da populagSo™. Contudo, no podemos deixar de notarno ciscurso de Rosirio ¢na prépra histéia da novela certs “ealizarao da internet como portal magico de pes 5095 comuns rumo ao estrelata" (CASTRO, 2012, . 63}, Na trama, Vide de empreguete foi lancada na internet, e fra dela também, através ‘do portal Globo, e teve, de fat, em ambas, um comportamento vk ral, & estatégia transmidiatica da emissora funciona também coma BE Paremapen Rost, canto 19, exbido am 24st, 2012. Dapoie ee ‘hnofeshow gobo com/novels/cheias e-harn/eapo/2032/724/oe0be ‘ora eden ae poes ms Aeseo ems 15 ja 2016 37 vient que so podemasgorr a eterna anda ptaras na quai ‘na regulardade doses eve as ets es eres popes 00 apa! 174. its Certs Fernandes 8 Calo Sandon O18) 3.0 popular no bairro do Divino: pagode e futebol ‘Avenida Bros, diferente de Chelas de charme, caracterza-se fundamentalmente pela forma escorregadia com que as tensbes de clsse so apresentadas, fugindo das dleotomias mais convencionals, Na trams, 2 clésiea oposigao entre “pobres”e “ricos” se desloca para 2s assimetias entre um bairo suburbano fcticio e um Ixdo, sendo um ‘azo rara de representagdo da pobreza extrema na fiegdo teleisva, sinda que tl representagio seja revestda de uma atmosfera "mga" (Fran; Vaz, 2012). 0 *nicleo peifrico, de menor importancia para ‘desenvolvimento da trama desta novela, mora na Zona Sul do Ria de Janeira, lugar nobre, 0 pessoas da chamadia classe alta (A eB), que formam um nici comico" (RasDE etal, 2012, p. 332). Hé, em Aven a Bras, desde o titulo, uma intenedo explicita de negocaro rst a mobildade entre geografiase classes. ‘Gnome é sugestivae, sobretudo para os telespectadores ndo carocas, ele se abre a vias possibidades semantcas:é a via onde sen edéncae cosh para dgtamarso 175 estamos todos nés,brasieiros ~aavenida Brasl&0 Brasl. Nesse ‘ido, a novela €a nossa cara. € também [eto em um cendro nacon ¢ internacional} Brasil como uma avenida, uma via aera parsefe tuto, para novos rum. Pare os moradores da cidade, ou para quem, conhece a geografia do Ri, é uma avenida de mio dupl, que tang segue da Zona Sul para a Zona Norte, quanto da Zona Norte para Zona Sul, Na realidade carocs, € 0 principal acesso rodovirio de bathadores que habitam no subirbio e trabalham na Zona Sul do tg (indo e voltando) RaNoe et al, 2012, p. 7. Em uma das saidas dessa longa avenida, encontrames 0 baie £0 do Divino, locagé principal da novela. O Divino ¢ um lugar préspe. ro, onde se localiza a mansio de Tufdo (Murilo Benicio), exjogador de futebol do Flamengo, que se transforma em homem de negétios,"q bairofctiio também possul 0 salio de beleza de Monalia Helos Perse), exnolva de Tufdo, a loja de Didgenes (Otévio Augusto] « sere do Divine Futebol Clube" [TARAPANOFF; FERNANDES, 2012, p19, ‘onde joga Jrginho, 0 flho adotvo de Tuo. A representa do ba To popular do Divino em Avenida Brasil insere-se em) uma tendéncs da teledramatugia nacional de caacterizaga0 do batro "pobre eos personagens “populares” néo em tramas secundérias, mas como eb central da ago dramtica (RONSIN, 2012, p. 14), Novels como Se ‘ahora do destino (Agulnaldo Siva, 2008), Duos caas (Aguinado Sa, 2007}, Cheias de charme e série como Cidade dos homens (2002), A tio (2006 e Subdrbla (2012) so exemplos de transformagdesna ie ‘ seriada, que pazea a retratar com mais frequéncia 0 “cotalana det Classes C, De no Brasil de maneica séa" YUNaUEIRA, 2008, p16 's localizagao fisica © afetiva do bairro estd moldada sige nificatwamente na articulagSo entre o futebol ¢ a musics. O am biente popular do futebol - mais precisamente, dos jogadores de futebol ~ estabelece um tipo de vinculagSo e de discurso sobre © popular. 0 futebol é uma atividade de lazer que, nas camadas de ‘menor poder aquisitivo da populagio, assume a forma também de uma possibilidade de mobilldade social, obtengao de prestgio es helo, Por essa razdo, a profissio tem grande poder de seduslo entre jovens do sexo masculino de classes balxas, apesar das chan ces relatvamente pequenas de sucesso no mercado futebolistica, 178 nin eros eran 8 Cato vento) 10,2005 p. 15-16) 358 sedugSo € reforgads pela ampla vu (oa dticn 9 origer socal pobre de jogacores de fama intr San, mutes Vers, passando por baiios eelbes de futebol T mactjpantes 20 fietcio Divina, Nas naratvas sobre as trletérias ens na mii exporiva eal del), certo etl Ge ida oro ere cotauio wns ov ofa, 2h 20) sunt, caper ete Romi, fe ot Tot moan el ae weve nalnagen™ tm» 28 ate casita ontoanimante cme toma one aes mg Va 202, cp agi nemrse anda cee nse aos monn ener ato é a eS capkgiopors wm ome dia popbr? oes de Steno morte ra hl cone Heo “pple seetocn egos ¢ ager idl srr om ua i ‘aids re ene desoatres eeuP o oso BE hrf aie jgndores ge tet e wieso do sms e 6 pgode no & town 198, gard Slap Basa ini cheg 3 ara om amg {am osanbs Yoo Canara, oa desu autora, cero emia riios do pas ‘joc. ume ripida sca no portal de ia a Ree Glos, a3, cmproiaasi- osecontante ene te dosjogadores de ftebal eo gnero musa. present Se tlw ha to do pogpds, clean sx preara pra 2 Cop do Neno™ {Bsa}, "Do eagode sr caine nero Moura eg pz no Faeng (2012) Novato, Ronlonha stad» cin pgade com clase ste Pe (2012) san, pogo tel Welington a coahee verses ‘ho” 4/0/2042, “Equant nfo vols 4 uss Halk bate ponte shows 2 uno” (7/1/2013, “iogndores 60 Paes se dveter com gogode Ma Cone ‘go (/1/2014) Beporvl mci lobo com e> AceSso em ab 2016 Masia eens sol pore dlagramarso 177 funcionando coma metonimia de toda a“periteria,vinculada a tray | dda novela e além dela, € sintomatica, nese sentido, 2 uslizagSogq_ samba Meu lugar (Artindo Cruse Mauro Dina) que define o balmy Langada em 2012 pela banda Sorriso Maroto, a cangio assu spe um tom iGnico quando associada &s expresses e hordbes gest Fae teeco, ocompanhado pela evezasuingada do cavaquinho e do tio, Algumas cenas de Lelecoe Tesslia foram sonorizadas com fai cdmicapurada de cuica, ausentenagraverSo da Sorcso Maroto, us includa em um imaginério compartihado do samba edo pagode, Tempre como elemento engracado ou, em alguns casos, ist. Cava iunho, banlo, pandelro e cuica sBo elementos sonoros de uma iden- {cardo de um tipo popular caricatamente representado por Leleco, rmarador do Divino. ‘Masa misiea “popular” do Divino na se encerra nos dominios, samba edo pagode. Uma intesa atmosfera pop over atravessa toda tha sonora de Aven Brasil Nas rnta micas que ntegram os dls (Ds naconaslangados, hd artistas idanticados com o funk (Buchecha, ic Marcinno, MC Kringa, com o sertaneo (Michel Tel, an Santana, JosoLucas e Marcel, Chitdozinho& Xorord) coma misiea romantic a deional ose Augusto, Regineldo Rossi com o fore eltrBnico [Aves oor) além,evidentemente, do pagode (Zeca Pagodin, Soro Ma- ‘oto, Belo, Arlindo Cruz, Grupo Revelagio) Ha espago também para ar- thas identticveis com o rétulo MPS, em sua versio mais "radicional (tera Monte Maria Rta, Rta Lee) e“renavada” (Pedro Lui, Seu Jorge, Preta Gil ¢ pars rolancamentos de sravacdesantgas™ de son Simo- ‘a ald Calon, Serglo Mendes) Talvez 0 exemplo mais sigifcatvo de um processamento do imatindro popular através da misicaseja a eangio Eu quero thy, eu ‘quero tcha(Shyton Fernandes), nterpretada pela desconhecida dupla Sertanela Jodo Lucas e Marcelo, & musica opera uma bem sucedida risura de sertenejo com funk, através de seu refrdo onomatopalce: ‘Omeu ge caminho de Ogum com ans, / tem sa ftéde mann, uma ginga em eaceandar /Omeuliearéeee | ‘ado de uae suo /Esperanca num mundo melhor cea pra comemorar/ © meu ugar tem seus mites eres deg 1 bem pete de Orval Cru, Cascada, Vat Lobe eta 71.0 mau ugar & sorts, € pare prave /O Seu nome & deme fazer Divino ‘A misiafoilangads originalmente por Arlind Cruz, em 2007, ‘em homenagem a0 bairro de Madurelra¢ regravada para a tra dg nvela com a substtugso do nome do bairro por "Divine". O samba lento, acompanhado pelo banjo caractristico do pagode da década ge 11980 [que projetou Alindo Cruz e seu grupo Fundo de Quinta asim ‘como Jorge Aragio, Zeca Pagodinho e Almir Guineto ene outros] eg ‘estilo vocal “malancro” de Arlindo estabelecem um referente sonora « afetivo bastante concreto para o bairro.€ e Diino fitco, inspad nia Madureira real com um forte comércio 6e rua, um botequim de ‘esquina que se abre para convivios comunitiros para diversos stra tos socais do "popular, ainda por cima, por um time de futebol de segunda divisio™. (0 pagode ¢ também tema da relagdo amorosa entre Leleca (Marcos Caruso), pal de TufBo, ¢Tesslia(Oébora Nascimento), bem ‘mals jover do que ele. A ciferenca de idade e 0 perf cSmico de ler leco, com s2us tejetos, gests egirias que localiza constanteme te sua vinculagao ao universo do subtrbio, so os ingredientes que ‘cercam a sua canglo-tema Assim voce mata 0 papal (Nicco Andrade “ni, a aiaialal / Assim voce mata o papai/ Aa, ia a al / Que bocs gostoss eu quero mais / i ai, ai al al ai/ Voc# 18 cheirosa demais™ ee I Einresone roar qu os atstasemasiasconterslads ness slefo de repmasées tim conedo ext como uveso do feb. A pawgao de Seg andes angio Mas ae nod org Beno, clad em avers mementos ‘ao. Sara a um arta de rane pero mo merc musa Navona © Fequenioa os vested Seles Gras na Copa do Mea em 970, ere ehende arcade esta com Pelé. E Wald Clmon parti do CO d novela am oa sia versio stvumartal de Na coda do sabe (gue bot ) ule findoa, maxes que scompankacs 3 bes soma na 30D expe Bem tel 5B GRO, ln; OI, Mauro. Meu ge ntrorete Ainge Cr I: el 100. verdad, o Madura espera Cube encore na pins dso do anita de utsbol estadil ema fecal dso [ne C| do campecna 178 oi carbon erendes Cv Saneol Or) Misene Sins soci paracigrrasto 179 heaven aladdin oe / ale cng ‘ode mundo quer dangar/Uma mina meehamou die" ote tea tha / Pergo sue & so els oe You teens” / Es quer te, ts aero ha Eu ac Tehutche ea chaste acho Naleva,aambiénca da “rote” cenio de um conte para a danca do thu toe teh, sonoidade vores hstorcamente asc do erotemoe 0 010%, musica ests ambiantads em Uma sonordade op que integra abst do funk (orm entoace no "th tha cha) como esto de sertaneo tual. clipe de Eu quer chu eu quero tag foi langada na Youtube em feversiro de 2012 (ates da esta de Ave ‘ida Basi, portant) tvalmente conta com 37 mihdes de acessoxt™ sucesso da musi tem relagS deta com a comemoragio do cen sim gol da carrera do raque Neymar,& épec jogador do Santos, em uma parti conto Palmeiras, em 5 de feverera de 2012. dancar™ 0 tchu tha tho, Neymar ampliow a crculagio 6a mises, “szeitandat {ouabrindo as prtas, do se sabe a0 cert) sua ineisSo na trina dan: vela.0 processa&semelhante ao ocorrige com Mizhel Tel, no Sal de 2011, cuja danga de Ase ev fe pego (Antonio Digs e Sharon Aci} hou pojeio internacional ager uid na comemorasSe eum gol do astro Cistiano Rorlde, do Real Madd Mais uma ver, nesses dl casos, 25 conenes etre miscae futebol se esttetam mizsticmen {© permtndodvugacS em rg exzala de estas ests devia ligades uma negocagSo do “popular” que io est lnerireado een nomicamente, que se apresentan grande mia como detetor dua save qe reinga, com énfase e bom humar, espago erespeta na soredade. Nos gramados, nas tls nas pales, o enfretamentos Sociale esteticos comegam ater mas visibiidadee auctbilgade 4204 Cevemplomaisevidente #0 “tchan” do Grupo GeraSambs (€ ehan, que em 1885 preagoniousuesoasonbros,fortemante basead na swing enarte mba der pop tusno# morn etc de sas danse Der 106 Em malo de 2012, 1oHo Lucas e Mateo graaam um vieodpe “tc é angio, com partis emocl de Nayar tama ineiramete vokads pt 180 omit carbone erand & Cvs Sando Ors 40 popular e a periferia [Aldsia de periferiaarticulada pelo repertéria musica do Dv wede Borralho precisa ser discutida deforma mas detalhada. Tata Me dem termo que vem ganhando notoriedade nas itimas décadas, ‘Sito no Smbito das debates concetuais académicos, quanto nas es fers da midia, da agSo politica e das prticas cultuais. corre que o fevmo €vag0 0 suficiente para ser “encalada” em diversas situaGes, em sempre com sentdes convergentes. ‘Apalava “perferia relerese, inilalmente, a uma dimenséo ecerfica, que € a mais conceitual do terme. € “periféico’ tudo Srulo que esté em aposigdo ao “centeal’, especialmente no que diz Fespeito @espacos de moradiae circulagiafsica: bars, cidades, pa ‘Ges. Nessa oncsglo, reside um julgamento de valor relatvo que da- tqesce 8 medida que Se afasta do centro. Barras periféricos ou paises periféricossio lugares aliados de beneficios, de facidades, de confor- fo, de bem-estar social. Sto ainda indicadores de uma (mi) qualidade devia, estigmatizades em elacso 20 centro, © Borralho é,certamen- te, em uma avaliago imedlata, um lugar de menor valor e prestigio de que o condominio Casa Grande. Os dois operam, na novels, como representagies de espagos que lentifcam, respectivamente, “aglo- trerados de segregados” “aglomerados de privlegadas” (CHAVES, 2007, p60). ‘Mas 0 que est em jogo na utlizarao da idela de perferia & ‘esatamente o tensionamento desas hierarquias ou, pelo menos, de sa rigdee. A dualidade margens-centro sempre foi um dos principals, ‘componentes da identidade periériea e a quebra (ou mesmo apenas 1 aparente quebra} dessa dualdade coincide com a emergéncia do uestionamentodesse tie de dicotomia pela cultura arte teora dos paises dtos subdesenvolvdos (PRYSTHON, 2003, p. 48) ‘ago politica acionada pelo uso do termo perfela & uma ostvagao de um espaco desvalorzado, habitado por pessoas igual mente desvalorizadas nas hierarquiassociais. Assim, a produgdo cu tural do Borralho como metonimia de toda "peiferia") provera umm eslocamente simbdlico nessa hierarquia, 20 ultrapassar os seus lim ince cis sod para dagrmasto 181 tes fisios eobter reconhecimento nacional e internacional”, Atravég dela, processa-se uma valrizagio das pessoas que habitam a perieia cujos gosto, habltes, préticascotcianas, gis, roupas e misicas amy piiicarnse, Nesse ponto,o “periféico” confunde-se intencionalimente com “popular” ‘Ocebate sobre 0“ popular” (com todas suas variates, tai comp pove’,“pebe’,“massas", “classes subsltarnas” etc) sua cultura vem mobllzando pesquisadores de diversas dteas hi dezenas de décadas Stuart Hall (2003) apesenta duas definigdes para a nocdo de “cultura popular” (1) “algo ‘popular’ porque as massas 0 escutam, compram, leem, cansomem e parecem apreci-lo imensamente”(p. 253) (2) "s cultura popular € todas a cisas que o ‘ove! faz ou fer” [p. 256). Aas {98 defnigBes Bo consideradasinsatisft6rias para o autor, pois tendem 3 universalzar as préticas culturas populares, ignorando suas convadigbes fe ambiguidades (HAL, 2003, p, 257). Sob 2 rubrice do “popular” eso inecrtas manifestagdes € ciagdes arisicas exremamente varadsse, ruitas vezes,conftantes, que se unem a part de uma percepts den {erioridace em um contesto de assimetras de poder De fato, as isis ave integram a trae sonoras das novelas (para nos retermos as casos ‘estudadas) apresentam sonoridades e origens altamente diversfiadas, aboréando uma ampla “pluralidade de modos de enstncia do popu. lar” (Maarin-2an8eRo, 2001, p, 323) Ao mesmo tempo, @acionamento de idea de “peferia” funciona como componente aglutnadoy, que no ‘estabelece uma unifrmidade nem apage as contraicdes, mas qu fur ‘ona coma vetor de uma ago estétics comum. O antropdlogo Hermano ‘Vianna, atwista incansivel da valoriaago da musica popular "pric € categérico a aemar que as misicas que realmente colocam 0 povo psa dangar nas festas mae animadas eque so cantadas nas as das grandes Cidade do pals ndo sho as mals tocadas no ido, no aparecem em pro- tramas de televisio, nfo Bo langadas elas grandes gravadoras. “Seus Artistas nf so convidados para os mllhares de debates e semindrios que tliscuter ‘cultura popular’ como se fossem populares demals para rem autentcamente populares” (Viana, 2006, p26) {BP Naporl len do svceto musa a mproguates, formu produ temas ora ogre foot ye Marsan, pe St, ntermedsno por uma cuadoraSensele panda, {82 mii carbon Farandes Cro Sono ‘Vianna talvez sea um bom exemplo do campo de disp tas fortemente marcado pela utopia® (PaystHon, 2003, p. 46), mas feu texto de 2006 nio pode absorver 0 movimento contemporineo {ge amplacdo do aleance de préticas musiais"periféricas' na esfere des grandes produgBes hegembnicas do televisio ¢ da indistle fo- fesrfca nacional. Moviments, inclusive, no qual antrapSloga atu fe forma sistemétia,elaborando,recigindo e fazendo curadorias de programas come Centra! da periferia (2006), Mercado de sucessos [2005) © até mesmo da prépra trilha sonora de Chelas de charme, tomo “eonsultor musical" Atuando na TV Globo hé vias anos, no Nieleo Guel Arraes, Vianna forma como diretor do nicleo ea aiize apresentadora Regina Casé um “via” que instaura, na maior emissora fopais, um “projet de visbldade afirmativa e postiva” da peiferia [coves 2007, p. 73). Alguns programas do nicleo, como o famaso Central da perieric, atuam coma contrapesos ae cepresentagdes hegemonicamente negativas sobre a pobreza na midi, ainda que para iso faca uso das mesmas estratégias narrativas as quais mastr3- sa contrrio: grasso modo, enquanto uma parte da midi de “na favela stem bandido’, Central da perieria rebate com “na favelas6 tem ence boa" (CHavEs, 2007, p. 74), ssa estratgia exemplfica a dindmica de urn campo ne qual 0 debate sobre as desiguakades se desloca de uma mati de deni para uma opoogio fev, quase sempre protagonzada pele produ cut ‘aL O que, muitas vezes, é obiterado no debate € dimensio critica das pritiasfestvas,quase sempre acionada através do humor e da Ironia No unversa musical do rralho © da Divino, duas cangSes exemlificam ‘ese vis rte rive Hume residénco (Tiago Marcela, Malcom Lima, luc Henrique e Ferman, fanaa por Miche! Ted na tha de Avenida Bros Le fe (Barony, Raynner Souza e Adrian), nterpretada por SoH Neto Frederico, na trha de Chelasdecharme, com direto partcipars0 ‘special da cupla na trama da novel, 2 lado das Empreguetes. 1B envevta publads no poral G3, ocompestor Gta Rao conta ue 4 ania do de empregute fo encanta por Hermano Vana isc Sentoes x ports de un lnefing recip pas produ (ont, 202. tbo comfpop artemis notca/2012 6 /erpostor devia de ampregunte. “cntaneve hipaa patontes tm Fo de Hermano, ombem,»sugesao de ‘oles mses Eat vena bers ds novel Misa eines sacs par dagramato 183 Suctradoeeundot® podendogstar/Quancochesor aay ‘Me dB um gta ina frente eu vou cored te Buea Ny temninguem aqui, mas vou debar2lu2 acess / Vout espe, rarna minh humide esdénca/ ra 2 gene fate amor Mas eu te peso 25 um pouguinho de pacers / Acoma y ‘usbrad endo tem cobertor (Hunde residencla) No tenho grana, nto tenho fama / No tenho carat de carona / © meu carte ts bloqueado Eo meu limite tes {ourado/ Sou simples mas eu te garanto/ Eu se zero U/L ee, se eu te pegar voce val ver /LEI8 eit 16 woe jamais val me esquecr (ele. em ambas, a paquera ~ na verdade um const 30 Sexo bas: tantedireto ~@ atravessada por uma autoirona sobre urna ms cond slo financeira,O carro cam defeito ou ausente, a campainha e cama quebradas,o cartao estourado e o celular sem crédito s30 compenss- dos coma promessa de uma boa performance sexual. 0 que & interes sante € essa condigSo servir como ingrediente da sedugo, envohida fem uma atmosters dancante e sensual, As duas cangBes apresentam instrumentagdes semelhantes, com uso da sanfona na introduso eno acompanhamento, volo € uma estrutraritmica que articul sin tas referancas da misica brasileira. Adicionalmente, integra um ‘movimento contemporéneo de enovacdo da misica sertanej, quei- esteem instrumentos acstices, buscando dferenciago do sertanejo das décadas de 1980-1990, que empregaram majortariamente tele 1B MARCEL, Tie, LIMA, los Henrique, U2; FERNANDO. Horie rei irre: Michal Te Aves roa Rade lant Som Ue, 2012. © 10 BARONY Ropes Sous ADRIANN ee prt: oo Neto & Freee Chios de chrme fi de Inco: am ve, 2012 CO. IL eamorte, na fe crgo pus ur abate ma gormnerada cob mo Lee ts montods Sobre um desene mio bastante comary nas peat FPovltes da mundo todo, soca no al hers depose tears, at {eri debe para estat do samba none do ate, batodo Fa roe Sandon’ "parades do revo” (Saono3y, 200) 16 Rami resnee ‘Sema ums eva de rock fms tala] com opi mea que cham “b tito benorassoeano so eprocesamento on basic sab pel ms om ees compas de "mogeiade” (Ct Tne, 2031). 184 oi cerns ersndes Cro Santon [O-s) gosegultaras eléricas (ALONSO, 2011, p.513)-Aestética“perifria” Je misiea sertaneja ea ronzagio sobre uma caréncafinanceita que asta 05 Personagens das cangbes de certo padeBo de consumo supos: Jomente acessivel buscam disocia a Idela de “periferia” da idea de “pobre” processando um estilo de vida popular que no estébasea- gona falta ou na auséncia Todas essas misicas estdo apontando para a necessidade de regocar uma posiglo para o popular periférica que no esigmatize es gostos€ Sua posilo social fazem isso através do humor eda ionia, da sensualidade e da dang, Sdo misicas dancantes que atra- ‘sam terrt6rios geogrficos esimbdlcos, estabelecendo comunica- ses tenses, em um clima festvo. E uma perferia que se impBe no reread, que se valorizae que nose exime de entrar nas disputases- tetas. Eelaro que, para isso, algumas contradgBes @enfrentamentos so camuflados em uma roupagem que unifica todas as “perfrias” fem torno de uma sensopdo de perieria, ostvada. Por outto lado, & possivel notar que essa emergéncia periféica goa dversos tipos de incomedos tensionamentos. As misicas de Cheios de charme e Ave- ‘do Brasil integram um repertéria de grande popularidade, disponivel para. usos vatiadose ocasibes diversas, com vérias gradacées de ade ‘uagio ¢ tensfo.Disponiveis para serem tocadas em festas urbaras, bales © shows, au reprodusidas em altissimo volume em carrs pelas ras postos de gasolina, ou ainda ampliadas em aparelhos porttels fem énibus,praiase tens. Em tals situacBes, provocam adesso alegria, Interacdo e também desconforto,rechaco, dasagrado, nesseimbré- Glo, idelas sobre vivncias econvivncias cletves, sobre segregarBax tock, éinices e simbslicae sf0 elaboradae, nem sempre de forma amigivel. Essa é uma das frcas das masicas de grande populardade: rnegociarposigbes, gosto e pensamentos sobre vida. Com todas suas contradigbese conflitos. Mise ectinces secs paredagemaite 185, Referén Livros e periédicos |ALABARCES, Pablo Pouce: mui popular essen vt Udo eae tan gay fina) rane, Barcelo 12 p12, 208. ALON, Gustine. Combos do sxfoto, 2031. Dssearo [Mestad em Wty Unersa Feder Puminene ter 201. ARR, carl, Represents do serio dméstco na fer eleva. nis, Sora Mar, 1,7. 22,B 658, 2012 LACKING, John Muni, care ond experince, CHea/EUR: CHARS Unity CASTRO, Gla. Chel de care: laze abanadora no pra da br, (beregendo, tery n 27, 5868, foe 2082, HAVES, Sarah Nery. “Ten cro degre Rena Cte 2 seers 207 ‘verte (estado em Comunieay}-Uniersiéae Federal 30a J ae DANO, eo com & prefs. 200. Tes (outorado em AnvopCog Sod ‘niversnde Federal do Ro Grande do Su, Port Alegre, 205. FRANCA, vr YA, Paul 8 Aflac na vera Sa, MERSCHOANIO, A, COURS | Fre Fino (re) Enretnimerta flied ememani. SEe Pa: ‘aro, 2012 au, tua. Notessobre deconstruct do "popu e_Dodspre lo HELA, onal, contagion eden futebol ase Aly oo, Pals Avent eae suet cars ns INTERCOW, 35, 2012, orale 1 Aof Foes intercom 2012 Daperivel em:

Sunes ean mo cto: caso Toxo. dred eae Suan oss arnanhaomenos sens x ovoprame aro etuncicaw me ostingmasne nts comarcomacor sepia errs ks scare cc vei an etn se eset ac ep bel Drte sai or OS ene ne SEES ase wna Snnco are oo puerta 9 pn cangis Go 200 4196: Crbn Fernandes Colas Sonron (rg refletem isso também. € preciso chamar o pico para particpar dos {discos Po sso, grande parte des discos so gravados 20 vivo. Os ar- tists sertanejos quase sempre langam discos no formato “a0 vivo" ou. no formato “acistica” (0 que dé no mesmo, pos invariavelmente hi public}, contendo regravagBes e também novos sucess. As vezes, tim disco & simplesmente “20 viva” sem que o lugar onde fol gravado tela expeciicado. € 0 c350 do disco (van Sontana ao vivo, de 2008. iso acontece pois © DVD/CD foi gravado em varias locagdes.O disco ‘endow! (2003), de Fernanda e Sorocaba, também se intitulava "ao vivo” fo gravado em onze cidades da interior paulista, paranaense © fatarinensa™. 0 disco Miche na bala (2011), que langou 0 sucesso "Ai se eu te nego”, ol gravado em cinco lugares diferentes Sabe-se que em todos os discos gravados ao vivo hi modifi cagbesfeitas depois, em estidlo. Para os Fas compradores de discos, isso pouco importa. O importante é que ele, o pablco estea i. Sim bolicamente, iso € muito importante para o artista que quer se man- ter "perto 605 f85, Por iso, também no importa muito, nesee meio, ‘onde fo gravado © disco. O mais importante na estética éo sertanejo, umiversitério € que 0 publico aparecae interaa. De forma que séore- lasvamente poucos os discos tradicional “de esticho™, Cantar “ao vo" & essenclal para quem se cfundiy através da interme, nici 12a Was dads de Oswaldo Crux (SP, arta Cru do Ro Pardo (SP, Paransgut Tl, gage (SE), aprene (5) Laer (SC) Londina (PR), age (SC), Cont tae), Cambor 5) Franes SP «S80 Rog (?) 18. Mehelna baled grave es Wlood'sCuaba, em 2 desetombro 2011, Une S50 Paul et 28 Se setembro de 2011, Wood's ane cambur em 30, te ssembro ge 201, Sant FH Gouin, er de outubro de 2033 8no noms Demnverdo het, em de outubro de 201. TES mesmo no ato de un diced etic, Mi meloetermos, cama ne ase do {usa consegis cera mis ds dua ona poenterent estas, sto @ ‘ev, Enqusrt a api ana em um modesto pac de ete para @ puso ‘rsces eam em uma saa mo garelé com un esti staves qual por urs [Boos vase aap que cana no pal. Ae vse fen Ae vusln ea omar {eo ena visto que oF ore © taker d reso oe “Labeino um dos eps Sse sc, tend ano enein ox “ert rents. Cent Mera Fe no coseguram her carn irda wn ues eo vd? podem Slogr Camo sa antopogs Sane Sb," ravgsoem ests no esonente ‘rgsto de uma sonaviade da prtarmance ao vivo, Ms im um prcaso ge ci ‘ao musa per se, com sua prepa eta, vores eer (Sh, 2006. Madea elias ace paracagamaio 197 ‘mente sem as mediagBes da indstra cultural tradicional, em cantatg dieto com 0 publica. 0 cantato com as fs ea politica conereta em, lege 8 rades soca tormam o sertaneja unversitrio pico da tua, ‘madermidade da internet ‘Como se vé, 0 papel da indistla cultural no atualsertanejo niversitrio, embora ndo possa ser desconsiderada, tem que ser re latwizada,€ claro que depois que o sertanejo universitrio explodiy ‘com tads forge, sobretudo ap6s 2008, 2 indistria cultural tradicional entrou com tudo. Grandes gravadoras contrataram sertanelos, coloca: ram suas cangBes em novels, fieram-nos aparecer em programas do. ‘minials de TV, Tudo isso no pode ser desconsiderado. Mas a atuatio a intra cultural aver explique mais 3 cansolidacso do género do ‘que. seu nascimenta, Um exemal interessante da entrada da industria cultural ta ional no sertanej universitria So a rilas sonora das novelas da TV ‘Gobo, A rede arocavnha se aproximando dos sertanelos desde O Rel do ‘Gado(1996) e, po desta aberta ao estilo, fl extreramente rida em Incorporar 0 sertanejo unversitrio,colacando logo novos setaneos, nas thas sonora de suas novelas. favorita fi o marco inca. trika Sonora continha um dsc sé com musica sertaneas, vias das danova seragio. Entre no de 2008 e janeiro de 2009, o Bras oi bornbardeado todos os das com cangBes de Chitdrinho &Xor0r, Bruno & Marrone, € Dial, da geragio anterior. Mas também cangées de Victor & Le ("Tem ‘que ser voce", que abriao disco), Jorge & Mateus ("De tanto te querer"}e (César Menott & Fabiano ("Taler") Considerando 2005 como a data de rnoacimento do sertaneo univers, constat-se que a Globo demorou apenas tts anos para essumilas em sua programagio. &gerago da dé cada de 1990 demorou molto mas pra entrar de ver nas has sonoras da rede caioea™. ‘A partir dai a partera fol aberta. Em 2009, na refilmager da rnvelaPoraso, os unversitériosesiveram na abertura de uma novela 1 Eimporavi emtrar que nam stmre a Globo Se mostou posta incor ‘arorsartnejon Agerfi alto, Js anes 1980 encantou dcadade. Durante ‘oom sertasj avira ds dada enr 1987 @ 984 slob langou 2 maseas ‘Setanojes arhas sonore de sar oval Cece de 0 eangaracioai oan {Govas as thas sonore pbs sm oto srax apenas 2 form carats oo! {stansos, endo ft einai Atos, 201), 198 wit certs Frander & Cato Sandon (Ors) speus @ eu no sertdo% de Victor & Leo, fol tocada todos os dias en tre 36 de margo.e 3 de outubro para todo © Bras, Outro exer de tame a Globo no perdeu tempo com a incorporagéo das sertanejos folacragSo de thas sonoras de novela especicas para o género. A {fovoita (2008-2008), Paraiso (2008) e Araguala (2010-2011) tinham he sé com musleas sertanejaz. Sendo que da tila ds novela Paraiso foram lancados nada menos do que trés discos com cangGes sertane~ jos vrias dels 6a nova geragio™. ‘Outro étimo referencil para se ver a entrada da Globo no cenito sertanejo € 2 taletéria do tradicional produtor musial das tras sonoras rurais da Globo, © misico Marcus Vianna. Quando da produsdo da tribe sonora da novela América, em 2005, howe de- Ssentendimentos entre o produtor ea autora da novela, Gloria Perez Vianna, que ficou famoso por faze a tras ruraiscontemplatvas de Panta) (1990), Kia da Siva (1996-1987), 0 clone (2002), cosa das 7 mulheres (2003), dentre outras, entrou em conto com a dirstora ‘ea emissora, que queriam alga male movimentada, Os arranjos ins trumentais e a vocagio de Marcus Vianna para a musica progressiva levaram 2 desentencimentes que culminaram com sua sala. Com 3 saga de Vianna, atria sonora de América fol primeea de uma série You oer uo ain; TUE Asano; THUS: aa T8 rem 3 Lem. Prte Diets Sony si 2003 CD, {10 curuaente prima tee sobre a mise ertanae fl eactaporum ame ‘Man, Alotande Dante ublesds em 2003 omen nor (Us Testes dene 214. it atoncFerandes 8 Ctlos Sandon (Org ee das centenas de tezes sobre sambs, bossa nove, trapealsmo e mica de protest, academia se calou em relagio a0 ginero que, desde sua racionalzagao nos anes 1950, & 0 mais popular do Brasil. Na década de 1970, ainda houve algum interesse da academia brasileira em rela 0 & misica sertanej. Ha duas obras cléssicas sobre o tems, amibas produzidasna USP por socilogos marstas adornianos Em seu livro Capitalisma e treccionalismo, publicado em 1875, lost de Souza Martins escreveu um capitulo chamado “Misi: ‘a sertaneja: a dssimulagdo na linguagem dos humilhados” (Matin, 41975, p, 103-161), Martins via musi sertaneja como expresso Ideoldgica do conservadorismo politico e alienacio do piblico. Para o socilogo da USP, a musica sertaneja era fruto do processo de indus tralzagdo © urbanizag30 do Brasil, que expulsou 0 camponés de sua terra eo proletarizou Este ex-camponés, ao chegar na cidade, passou 4 consumir a mislea da indstvio culture, falseadora ecortuptora dos ‘unico: bene cultures do povo. ‘Seguindo a mesma lina, o socislogo Waldenyr Caldas defen- eu na USP a dissertacio Acorde na aurora masica sertonejae ind twa cultural, em 1977. Segundo Waldenyr Caldas, que tem o mérito de sero primero autor de um luro sobre o tema no Brasil, 0 género era “simples entretenimento azdo pela qual serviu de veielo para “mensagens de cunho ideoligico cada vex mais alienantes”(CALDAS, 1977, p. 23). Radical, Caldas dava seu veredicto "Os laivos debados pelo barbitirico da cancdo sertaneja nublam [..] 0 vversombrio do proletariado paulsta” (CALDAS, 1977, p. 3-4 @ 25, erfo nosto). Para ‘Waldenyr Caldas no hi meio-termo: CO compositor sertanejo na rand malo, desprvide de ‘maior apt intelectual. [e sua misia cal] quase sem te, com rarissimas excegbes, no anedetara, no eu] Cita etd que 0s compositores sertanejos no s¥0 of es ponsveis plas aberragdesenconradss nos tetor 3853s anges (CALS, 1987p. 6567) ‘enantewatabo decompo eoligin seers da ea: rive gor um om fo foes de rid blade quando jhenstaosetanejo unierst, atese Se Dent nf watuha denser o novo esl, cnfundngo-e com oseranee feast anterior, Mise ene acai para ingrrasto 215 Para os mansstas, tanto os uvintes quanto os artistas ser tanejos eran “llenados, eepaliados pea inddstria cultural, Segundo exses pensacores, a gravadoras e empreséros cravam em série as carreras de artistas sertancjos de forma a controlar € manipular 05. ‘uvintes, aternando entre a reinvengio do mesmo e promerso de rmadas passagelas ‘Apart desses veredictos condenatérios, a academia se calou sobre o tema, 0 boo! nacional do género no inicio dos anos 1950, ‘quando duplas como Leandro & Leonardo, Chitéozinho & Kororé & Zexé Di Camargo chegaram a vender trés milhées de discos por ano ‘ada, no animou a academia arever seus pressupostos.O estrondoso sucesso do sertanejo universtirio tampoucoestimulou nossos acadé micas Presos& teorias adornianas formuladas erm meados dos anos 1520-1940, nossos intelectuais parecer querer fechar os olhos para a5 novasrelagdes construldas na segunda metade do século XX, e Petialmente nonove milo, com o desenvolvimento da internet eda tigitalizagao da informacio. O tema foi relegado ajornalisas, que pou 0 Inovaram ne abordagem do tema: também viam a misica sertaneja, ‘como fruto da inddstria cultural e das manipulagBes das gravadoras™, Diante desse quadro, abe refletir melhar sobre o tema, pensar sobre ' representativiade d3 msica sertaneja para se entender a socieda~ de brasileira atual.O sertanejo universitério abre a possiildade de ‘melhor compreendermos © novo mundo que se abre diante de nés & para.o qual as respostas obvias que antes aparentemente funcionavarn ‘agora encantram cada ver mals seus limites Referéncias Livros e periédicos académicos ‘p08, Meador, HORKHEIME, Max. Andis cual eo imine como Isteagto dor moses A lies do excrement lo de ane Jowge dana 198 ‘T_Sio eamplosdesse po de abordagem a obra de each (983, Fete {0385 Nspomocero 1898) Sent Anne 200] eRe |205) 216_Onit carboncn Ferman & Caos Senden ADORNO, Teodor: Cro euturaly ace. arson Ai, 2968 ADORNO, Theodor @fechismo ne miss eeqessto da ato tn ul: ed Calura 1978. 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ruow desempenhando seus movimentos de ndegas,estregando bbumbum na regido pélvies do parceio, que simulava movimentos de penetracdo em meio & danca. Esse, sentindo a exctagdo da suse fm seu préprio corpo, comecou a simular uma situagse de excitarao sexual sadomasoquista, imitande ou efetivamente dando tapas no bbumbum da gata, Ao perceber a situagSo, 0 autor do video gritou: "Vai puta, toma..”. Nz mesma stuaclo, em fragBes de segundos, 0 autor do video atentou para © cantor, que continuava incomodado com a dficuldade de obter da nova parceira movimentos da manelra {que Ihe agradasee. Ele indlcou com gestos que ela deveri se agachar sais Fea dificl compreender se a parceira ndo entendeu o que ele desejav ou se ela ndo deselava o que ele Ihe sugeria. A musica para novamente e, mostrando alguma indeciséo, ele volts-e para a nova parcera e, em meio aos ruidos da pateiae algumas falas inaueves, ‘ouve-se 0 cantor perguntar & garota:"O que voce vai fazer & putaria, voce val fazer”. As pessoas da plate votam a se manifestrruidose mente. A garata gestualmente indica que fia, ainda que restasse em sua felgbo certo recelo sobre o que viria pela frente. O cantor, ento, dis “Eu quero que vockfique de quateo ra mim” As pessoas da pla tela reager, do que d pra apreender apenas 0 ruldo generalzado, 0 Autor do video, durante esse momenta fala: “Youtube, viado, fque i. Quando a garotase agacha,Ficanda “de quatro’ © autor do video fala: "Agora simi” (0 editor do video, nesse momento, intervém sobre ‘registro adicionando a segunte frase: "Pa NAO MANDA RTUR MEF ‘aa. sEU vada! aparece por alguns segundos e desaparece. Em se uids, aparece a frase: AVAOIA FicA.”, desaparecenda para em se fuida ser mostra a frase: "VEuA 0 COMPORTAMENTO OAS MEMINAS QUE Msn een seis pee dlegamarto 251 ee 12 QUE val PARA © pAGODKO") A garota se agacha, fcando de joethos, Depoisavanga 0 tronco para colocaras maos na chio,fcando “de qua- 10", lider da banda comega a cantar a misica, niciande 2 cancio a9 ‘mesmo tempo em que se ajcela atés de sus nova parcelra;aastands lum pouco as covas,encaixa a sua regldo pélicae falca na resiéo do bbumbum da parceira,e segura seucabelofrmemente,simulando uma ‘cavalgada sexual sdica. A garata no rechaga em neahum momentoo cantor; apenas ri como uma performance que relia para o cantor como parte de uma apresentacdo, € no como um ato de busco de pravererdtico-dangante préprio coma outros taler buscaram, se e- tivessem na plates. O cantor reinicia a letra da cang3o pelo redo “surubi, surubio™™, Os movimentos do cantare de sua parceira se intensiicam, eo foco da cémera se drige para outro casal no palo, também intensificando os mesmos movimentes, como detalhe de que cles estavam de pl, iferentemente da cantor e sua parceira,Entetan to, agarataestava inclinada, com as peras afastads, semiagachads, empinando © bumbum para trés, pulando e pendulando o quadril para ‘rentee para tris sobre a reido pévica do repaz; 0s dois fezendo mo vimentos reciprocos de simulagdo de interpenetracéo sexual, 0 ho- ‘mem atras e2 mulher na frente, com 0 homem segurendo os cabelos da garota, Os movimentos de contato da regiéo da pélvis do garoto com a regiéa do bumbur da garota aumentaram, e o garoto fol au rmentando a itensidade com que segurava os cabelos da garota atéo momento em que se desvencihou dele, incomodada com a forma omg ele segurava os seus cabelos,Simultaneamente aos movimentos descritos anteriormente, 0 autor do video fala: "Toma puta, cachor- ra. falando pars 0 videos “A putarla aqul, rapa”, A stuacSo de in TD alata completa da mise esa“aramenina ont, ostss demas /eu re fo a del la 6 fea coro / es vor oracles / evel / Eu Fura Proporta Insocnt,/ eu sls lvl gstar quando o regalo Wer avec todo mond val petra Surabiosuubosuuige € na pala de m30 7 ‘hf, sre vr fae corn nego sara (23) vem fee Oh 8 goto Inia tom demas /o movimento esse /@ assim qu fate gostoso me om demas orovianta€ este, asim que fa [2X / Ear nog, ale fee / 2 do naqulagula wa 5,3 do nag aguta ramao ven net cor nia os [2 / urbe, surat srubSo én pana da mo / Sut ‘ies vm rer com one suru [2 / vem faer UNS, Net SuaboO, In A ronti C0 Stas Verso 209 Sado: | 2003-CD 252_ omits camo Farsndes & Cv Sanon Os) eee a tensidade dos movimentos dos casals se arefece [0 edltor do video, {a0 final de tals movimentos captados pelas imagens geradas pela cd ‘mera, nsere no video mais um texto temporiio, que diza:“DESCULPA ‘GALERA POR ESSA MERDAIIIE56PRA GALERA FICAR SRBENDO QUE BAIKARIA io € 56 No 868. No PacoDko rassén Tem” Apds essa fase, o ed tor sobrepie 0 texto “rte” sobre um funda preto,interrompendo 0 canal de ducio ‘A descricéo analitica do video pretende ser uma representa ‘fo de movimentos @ condutas que nos permite propor models de relacBes humanas sob condigBes de menor submissio aos sentimen: tos decorrentes da sucessio das imagens visadase sons audivels. Com 2 descricdo do material audiovisual, tal como em uma etnografia co: ‘mum, podemos separar os movimentos como se eles acontecessem fa relacionados uns com os autres e, assim, fazer referancia a eles ‘com um detalhamento sufciente para individualiarprticas Uma vex individvalizadas, pademos novamentereintegrd-las soba forma de e- lagBes, em planos nos quais 0 video mencionado ni se mostra ade ‘ado para expressévlos, O video fo feito sem a pretensio de ser uma linguagers compreensiva; mas, para nés, pretende ser rlacionado a cutrasinformacbes ed experiéncia do pesquisadar incorporada com 0 intuito de vertese em modelo de relagio entre eventos Pais bem, incialmente, a situagdo de o cantor da banda cha ‘mar, convidar ou convocar pessoas do piblico para participarem do show dancando coreografis de misieas com condugio para a perfor ‘mance ée gestos erético-sexuais evoea 0 problema dos sentidos que cesses gestos podem ter para os agentes que se apresentam e para Aaqueles que observam, 0 fato de mulheres subiem a0 palco sem ‘quaisquer constrangimentos decorrentes de voléncia fisea e, mals ainda, de muitasdelas disputarem como uma oportunidade o convte ‘do cantor para subit a0 palco em uma stuagio festva que geralmen: te requer pagamento, um beneticio de um conhecido, ou sedugao de algum agente do negdeio para entrar na stuagio, dé-nos a ver que a demonstagio publica de performances dancantes de gestos exéico- ‘sexuais ni € avaliada como um indice de rebabamento de seu valor ‘ou decaimento de seu prestigio por una parte signficativa das mulhe res que frequentam tas eventos, Misia een soca pre agemagbo 253 As situagdes descrtas ocorrem em diferentes festas @ mo- rmentos de diversio que graitam justamente em torno do estimula a dancas nas quais as pessoas agem tendo por referéncia traticbes de estos praticados em situagBes erdteo-sewuals, coma pude observar presenclalmente em diferentes ocasiées, e conforme pode ser vista livremente nas diferentes plataformas de compartlhamento de infor ‘mages cihtais através de videos e sons. Tambiém évisivel através das rmanifestagSes de repdlo e reprovagio de agentes da comunicagio, como joenalistase criticos musica, opiniGes dos mais diferentes ma- ‘Sres em sitios da internet e demas meios.Além do fato de as dangas exétco-sewals serem desempenhadas por mulheres sem quaisquer constrangimentos decorrentes do uso da forga ou ameaga verbal con- tra a vida de qualsquer maneias, as pessoas na plateia no tomaram rnenhuma atitude explictamentevilenta contra elas por terem subido 429 paleae dangado, uma possblidade a se aventar naquelastuacdo, [Nao 530 profissonais sexais ou sequer profssonals de dancas exé ticas™, mas parte do publico que, em slgum momento, pode tera ‘oportunidad de subir 20 palco para expressar dancas previamente conhecidas pelo repertério de coreografias com gestos que simula padticas sexuas. Entretanto, ssinalar que existe um grau e uma dice ‘fo expeciica de evldade, evidenciada na acetagao © a capacidade de suportar as emocées de prazere frustacio com a publicidade de _getoserdtico-semalsrepresentadas em dangas por mulheres e tam 1D Aparar recentement a cians humanas no Gras deiaramse a obsent ‘Scopes sings parece HindoeErunclana 2 questa pra 0 pagoas alana, tne cam aio grau de conn quanta & esto da problomatingo +d oan. Itc dor meals empiicos, tom se Nascent (022 Pioneramerte, or ctor reac ene seualade«pagade foram watatos em Maura (198) ma pris dann Un comune orngdes empires qu posers encontrar sabre gimenta do pagode ede exctao seus as dahas et suc, mes Ua “setae de Over (958) Ha anda una parted sstemstroraa de sien esque que cole que esto em Rodrigues [201 ASocologae 2 noms tit breslear since mate ctntes dense debate Par una revo de ample Iteratar sabres rear ee os tems, nos Estos Unis, er Hana (200) Uma beg que se mosvou mule Ui para pensar models testes estate {gas metoslapns para cat com o problema da deseo de gests Conant © vos em modelos Soceldpeas ram reso 2008) ¢ Woues [004 254. nit Certs Fernandes & Clos Sonor (12) bbém por homens ~ padto de eivildade que fla ainda mals marcada ‘quando comparamos © padrdo social de expressio de tais emogBes tetrevisto na desrigdo acima com 0 encontrado em outrasredes hu rmanas ~ eviderciase que as tensBes e ambivaléncas emociona,ex- pressas como prazerese frustragées, esto presentes e manifestam-se filerentemente de expresses sentimentas de violencia files, de as- tibildade imedlata ou repreenséo pblica que redundassem em ver onha absolute e autorrepddio. Essa tensBes podem ser claramente percebidas na descri¢So quando o cantor, valendo-se de seu poder de lider na condugio da apresentagdo musical-dancante e lando-se em seu carisma diversonal evil, publicamente deprecia a parcel AS attudes ds depreciagio e 0 envergonhamento pubico a que ele a sub mete dio-se nfo porque a garotaesté sendo ousada demais ou extra polando os limites acetos de uma suposta moralidade publica, mas, diferentemente, porque, na avalario do cantor, nBo sera capaz de simular com lberagio e intensidade os gestos erético-dancantes que ‘esejava, Ela nfo fol pressionada por amearasfiscas, mas por acmo: cestagbes dscursvasarrogantes, deixando sufclente margem de esco tha para a jovem continuar a partcipacéo na simulacSo dversional ou ssi submetidaaalgum grau de epresiliaslmbéico-verbal, no fica, Se observarmes com atencdo essa situardo, no se tata de interesses deo cantor ter relagdes sexuais ov simplesmente obter um favor sexual de uma mulher da plata, O lider da banda est orientado pelo sentido do espetacul, pelo impacto que a representacio de atos Ge colt, sem efetivamenterealzéls, eré pars o prazer e excitarBo ‘emocional da patea. O que ele demandava da parce'ra, como em ou- tras situagdes que pude observar, era crlar uma stuacée de impacto ‘excitante pee fato de ele epresentar atossexuais na danga com uma desconhecida, uma pessoa comum da platela, come alga que boa par te do pubico poderiaaprecar ese divert, pela exctagto das emogées com sentido sexual, € mais: ue as mulheres poderiam participar ex pondo habiliades de sedusSo sexval em public, o que éiferente de inctar &prtica de uma orga coletva ou de obrigar pessoas afazerem sexo conta a prSpria vontade. A potencal criagdo de stuagSes como e350 se tornou um padi de desenvolvimento das apresentagies de paged balano como um nepécia de dversio orientado para a satis: fagio daquelas pessoas que pagam e consomem a situacdo na festa Mase e dtc coc paaagramarso 255 ‘Aualmente, 0 fato deserito & apenas um caso especiico que pode ‘bem representar uma regularidade e uma insttucionalizagSo compor. tamental e emocional entre bandas e platelas. Em sintese, podernos depreender a formaglo de uma configuraglo socal de expressio de ‘emogées pela sua regularidade e pela padronizagdo, em diferentes si tuagBes como as descritas. ‘A depreciagio da gavota pelo cantor desencadeou diferentes rmanifestagbes © emogdes na situacio, algumas gozosas, outras des- prazerosae. As crepes dessas manifestagses foram multiple am bivalentes, quando consideradas as emocées apenas de indicus, vidos come embates e ambivaléncias psiquleas; ou dos confltos dos Individuos entre si coma embates interpessoais dscursvos e aberts, sas tensBes slo comune e rotineras em tals apresentagbes,tornan- {do-se um dos focas de nosso interesse™. 0 fato deo video ter sido feito edtado por homens permite-nos ver uma dimens3o da ambiva lencia das tensBes e emogdes que efetivamente est presente nessas, situapBes, mas nio & comumente problematizada. Como parece fear ‘aco na descricéo, tanto © autor do video quanto aquele que ecite éemonstram desconforto e surpresa indignada diante do tratamento dado ds mulheres pelo cantor quanto pelo proprio fato de elas se sub smeterem aele, desempenhando os atos danganteseretca-sexusis. De ‘outro lado, entetanto,hé evidéncias de que héalgum ti de prazer no autor do video pela situacSo de subjugagoe pelo desempenho mi- rético eréico-sewal da garota que simula atos sexvais na coreografia estimulada pela letra (apésxingar 2 garota de cachorra, a0 observéla se abainar, ele de: “Agora sim). Em sintese, o criteria para julgar © sofrimento ea gratificacdo dos agentes envolidos nesse tipo de situa ‘Ho e, com base nessa avalagio, demarcaro desenho da estrutura de oder enovelada nea, requer malar detalhamento das diferentes die (8s do sentda das agdes, combinandlo-as em um modelo de coorde nace mals apo ecoerente™, TA Sobre peracid tenses deextaro como grazer er la 1982). 182. Aiuto sobeconsdorar a Smentao ero sonal como dnc ou erecta em 4 meta, como ince de emaneparo a mulher ins ter ig ‘nas elorosodsbaterprevetes na pin pies jrnale ee datos {eadimor qe azumem examen umn compromisoprévo Binvesteaae do foe do eae emnistas ou de rej 2 doinaao de ganeo. No caso esses 256. Carbon Fandes 8 Cart SendoniOres Muitas adlises adotam modelos de dvisbes sociais em te ‘mos de separacio opesitva entre homens e mulheres que trazem em boutidas uma compreensdo de espécimes machos efEmeas como Uni: ddades absolutamente coerentese fechadas sobre si mesmas - toma das unilateralmente como base para ciferenciar as relagdes de poder fentve seres humanos. Nesse sentido, mostram-se bastante limitadas para apreender como os indviduas estabelecem interdependenciae entre sie, dessa forma, constituem referencias que efetivamente mo: ddam complementaridades e confitosinterpessoas. Perde-se de vista 4 singulacdade dos sentidos que esses modelos podem eaptare, si mmultaneament, fica sombreada o interesse nas redes de presses ar ‘quais esses sentidos possam estar vineulados alm das eombinatérias histérico-soclais que nos permitriam uma viséo mais precisa ds dire ‘Bes do desenvolvimento de rede de iterdependéncias, As relagdes de poder formadas por essas vinculagdes, especialmente quanto aos Sentids relacionadas &sluta por sexo e amo, tém sido compreend das porhabites de percepcio que tendem a reproduzir sem questiona rmentos um modelo de diisfo impermedve eestitico entre homens ‘e mulheres como padrio de conhecimento ede aetagio entre as pes s0as, Ademals,algumas quest&es no ficam adequadamente respon- das, entre tantas que podem ser fitas aos eventos percebidos nessa regio de investimento de sentido, quando se confronta a evidéncia do ‘rescimentoe da vsiblidade de shows e bailes com bandas de pago e, em Salvador e na Brasil através de bandas que aleancaram sucesso tational, organizades em formata de negocios, straindo pessoas que se dirgem efrequentam os eventos de als grupos musicals sem qual- ‘quer coa¢d0 Fics, sob 0 formato de negécios de diversio. ‘Adicionalmente, e no menos importante como aspecto do problema-gua, Indagamo-nos sobre como é possivel compreender © ‘mon santo do model de dearanadar verter da salve do dicarocricu thao de inverter lear esgieador oad rercependines at uss els ‘Sosferwnmentemonucendse Ostia de svlagSo pars arid ls, si, apenaso fun de lores ampere ends ea educa “ena do Ineestendor Os elrgas de dtm oetads pa meg o onsTan rentos sodas envolios nas stutes 35 ormas de grea a0esofrimento ee restates pls agentes 20 mult tinios Para opagde baa eras lavas ome de S3mr (2051) Um exon talon ds deur dretonada pares ans lesa pretsbes humana naporografa nos eos Unico ets Ras (193) Miser Sins sos pure cagramacio 257 See eee ee eee ee oe Sees tte ee ee Seed surgimento de fendmenos aparentemente paradoxais sob uma mesma figurasd0, qual sea, a composiglo de misicas que fazem referencia 2 priticas de seducio e de cota sexual como estimulo emocional e expresso que também contribu para os impulsos de dversio ara ves da misica com suas texturas ritmico-percussivas e 0 aumento da liberdade de mulheres de diferentes clases socials efaivas etrias a frequentarem lvtemente tai eventos sem quaisquer acompanhantes {que pudessem significarvgilncia dos impulsos sexuais? Quai foram as condigdes soiais para que, especialmente a partir de meados dos ‘anos 1990, bandas com propostas musiais e coreogrdtess, porta: Nlamente direcionadas para a excitacéo das emacSes por meio do est rmulo de dangas que simulam prateas de sedugio amorosa e de coito sevual, aumentassem em quantidade massive, passasser a integrar ‘eventos de aversio meccantiiada com pablicas formados por per S095 que professam e expressam diferentes estos sexuas,atralssem individuos que ecupavam distintas posicbes econémicas a parti das «uals recebiam diferentes quantidades de dinheiro como rend men: sal para subsisténciae, especialmente, tvessem alcancado visbilidade em ciferentes espagos de exposigéo publica, altamente integradores de grupos humane com as marcas maisheterogéneas de distingl020- Ca, em plataformas de comunicagto tals como ris, rede comercial de discos, TW, jorals, grandes shows, internet? (O sucesso do “pagode baiana" como género musical-dangan- teem espacos de grande publicidade tornou-se evidéncia do aumento a partcipacdo de padrées expressivos de simulacdo de gestos ert co-sexuas através de dangas na modelagem de fungbes afetvas que ligam pessoas umas as outras em diferentes escalae de cependéncia, rmitua,Entretanto, esse desenvolvimento socal manteve relagio com 8 ocorréncia de outro, 0 do aumento das presses simbélicas, exec das por diferentes fracdes de individuos alcancando diferentes escaas soca, vsando restringl sua publicdade, depreciar pessoas e grupos {que expressam tais gests, ou dicilinar a espago e tempo em que taislinguagens pudessem ser expressas. Enfim, mostraram, através de muitas agbes discursvas, enoveladas a pric no verbals, uma ‘demanda por tomar as suas proprias visbes, multas delas formadas ‘om um restrito contato factual sobre as dindmicas dessas pratcas, como representagdo do sentido edo valor que os frequentadores des 258. nit certo Fronds & Carlo Sandon (Org) ses eventos tinham de si mesmas e, com base nelas, depreender un modelo de sucessio sécioshistorio no qual a expansio desses gests, por si 56, significara declisio humano. Seb os mesmos fundamentos Socais que tornaram possivl a maior visiblidade de gests eréticose- suas, Incltados em eventos de diverséo mercantil musical dangante, ‘umentaram os dacursos de repreensio ¢ de desvalorzacao de tas padrdes expresivos, como se eles signfcassem, por s s6,redugio do vlor humano, mas, particularmente,diminuicSo da dignidede eda es- tima pli das mulheres ‘Como compreender adequadamente as dindmicas socials ‘que entrelagam fenémenos como os descritos anteriarmente,eque, atualmente, s8o tio rotineiras em Salvador, no formate do pagode balan, bem como em outras figuracées citadinas brasileira, tais como 0 funk no Rio de Janeiro, melody (tecnobrega) em Belém, 0 egg, no Maranhio e em Macels, assim como outros géneros em futras capitals brasleiras e em municipios pequenas e médios que conhecem taxas expressivas de concentracéo populacional? Como compreender tals aventos as redes humanas sucessvas em suas préprias dindmieas auténomas, como se os eavalvidos nesses fe rnémenos autenticamente se expressassem em cursos relacionals no intencionados, e que pudessem ser representados em madelos que descamassem as expectativas mitificadoras de valorizagio ou desvalorizaczo que cobrem esses fendmenos? 1 Obstaculos a uma viséo distanciada sobre as fungdes erdtico-sexuais de musicas e dangas como parte das tenses do desenvolvimento humano Antes de tentarmos oferecer dretamente alguns modelos de relasio entre eventos como os deserts, parece:nos necesséro dsc tir as condigBes das prépras tenses sociais em meio as quals se ma- rifestam as batalhassimbélicas entre grupos favordvels e adversarios das tradigBes de gestos erdtico-sewuais presentes nos divertirientos fem toro do pagode baiano. Esas batalhas esto ateladas 8 emer- Misene sins sodas para agomerto 259 nc €&aceitagio massiva de padres gestuas dangantes nos qua ‘So mimetizados ato: de oitoe sedugde como parte da sociedade em {que os contendores vivem, Uma parte da relevanca da propos de modelos socilégices sobre eventos compostos por comparihamento Ge sentidos erético-dangantes advém dos conftos simbélicos entre partidos de argumentagdoe de justificacso normativa que pretendem fer tomados como conhecimenta fidvel para 3 orientago e mobilza- {lo de instituigdes de grande poder de alcance para exercer pressbes Sobre grupos humanos, com os quas esto envolvides e compromissa- os, a exemplo dos aferentestipos de institulgdesestatals, mas tam bhém empreendimentosprivadose religiosos interessados nas fungaes, de comunicaséo. ‘Algo que passa despercebido & que 0 aumento de confitos simblicos sobre o valor das gestos pode ser uma expresso da redu- (lo da desigualdade de poderes entre grupos humanos, espécie de feito de ltas avaliadas genericamente como pertando ur poteneial, {de melhoramenta da humanidade. Seconsiderarmos que, do ponto de vista de quem acredita que aredugio da fome, o aumento do acesso a recursos monetarios ecrelielos,além de malordistibuigdo de aces $0 a bens simbélcos, Incluindo a educagSo afabetizador, humansta técnica, seja algo melhor para as pessoas quando compreendidas fob uma imagem de humanidade genérica, e que 2 ascensfo socal Ge grupos humanas expressa no sucesso e na aceitagdo de bandas fede eventos erdtica-dangantes coma 05 que gravitam em torno do pagode baiano € um dos eventos que sucederam tals processos de ‘desenvolvimento da humanidade”, como podemos compreender 05 descobramentos no intencionados da propria aceitagSo e o esforgo hhumano em torna de ideals e processos nomeados como desenvolv= mento social? 0 que exatamente o5 acversiios de tas géneros mu: ‘eal dangantes temem nessas stuagBes que, no intencionalmente, vieramy a tomar forma & parti de processos anteriores © em cursos dé Gemocratiacdo de fungBes socials e de aumento das ligagbes entre fs grupos cultvadores de expresstes erbtico-dangantes © seus com batentes? Os temores dessessltimos estdo fundados sobre um argo fe detalhado confronto com os fatos? Esse confronto ests direciona {do para a preocupagio cam o eonhecimenta dos enlaces aue possam aprender regularidades de longo prazo, como processos de sucesso 260 pms Cehoni Fernandes & Ca anon (Og) histérice-socia, permitindo-hes um posicionamento sobre tendéncias de desenvolvimento social? Os esforgos nessa dlveg30 alnda 530 tim: dos pare eereditar que es adversiris ou os defensores peremptérios de taisfendmenos nio estejam oxientando-se priritariamente por ostose receias altamente egacéntrcos, em ver de uma busca de coe Fncia. das liferentesdegSes de sentido entrelacados nesses fenéme- nos, ebservando-r, assim, a: desdobramentas de longo prazo, eno 0s pontuais dos desgostos imediatos, As intensastransormagSes conhecias pelo Bras os itimos Cinguenta anos, a evdentes mutagBes em diferentes estrturas sodas Ge cidades brasieiras ainda ndo costumam ser integradas 85 mutagbes dos diferentes padides expressivos e da personaldade dos indviduos. (5 impetes de ivestigacSo de uma dimensio ou de outa se expressam combaivos graus de integra. Anda vemos muitas sombras, 0 invés de lu, sobre 0s corpes dos fenémenos, quando deselamos ter um conhecr mento sobre a transformaglo das estruturas de poder e das correspon. dentes modetagensaftives dos indivi, os qua sustentam 95 dee ‘ionamentos de processos sodas. Multas vezes, de mancira reatva, as pessoas preferem ocasionalmente acrditar que a mudanca € uma liso {de ica, confartando-se com uma imagem de que o poder tem sempre ‘osmesmostiposdelderes, os mesmas recursos expresivos eas mesmas |ustificagies de legtimaclo da dominago. Abrigada sob nomese deals ‘maldados em periodos anteriores, ais como demecraca,autonomia, fe rminismo, aigarquias, corond’s, ditaduras,pataralsmo, eso tipos de conhecimento que clam dificléades para uma ampliacio do saber sobre as transformagSes dos vinculosafetvs que os invduos tem estabele- cdo entre sino Bras, que tem feito mover a ordem dos relaconamen tas humanos e, principalmente, os pontos de vistas a partir dos quas se ‘medem os sfrimentos es gratfiagdes. Mapeare integra as estrturas sociis afetvas das ambivalences expresss nas elacbessocas extn tes nas sociedades urbanas brasliras & uma tatefa ands em curso e de ‘sande monta Tomo como referéncia uma sintese de Norbert Ellas para as- sinalar © aparente paradoxo entre @ aumento das interdependiéncias humanas ea redusiorelatva dos desnveis de pader e oaumento dos confitos e das manifestagdes de frustracdo e sofrimente humana. O autor aponta que: Mises ines soci pare grmerto 262 © fo incessant de novagbes tora sul aU sf tn fides nsouros, a velodadeerescete de usar ney Sica oaneio por enclaves de anqulldede® por sintelog de mutica. Mas, sored, burs e 4 sleH0 do confltosincetones ere erupesheanos ~ el porate fe trapon que tudo podere ser paca ¢ harmonica, Ge outs, aqusles que perurbam » pao ataores eas Smescsiem subvervamente 9 boa vids ss porve ‘oosiare como remicos derebada das loses Go poder tustetereoexabsecimenta de ume urs dem que pa meta maior wenguidade, harmonise ausnca de conte; Sar ov conitosracrrentes. As conrbuges tun. tia dos propioe grupar ou da propia poe, «progr erresponsbiidade pelos confit respactvamente tar bm pelos proceies nfo planeados que s50 a un fogs ttre, esto sim do orzo No evr em con {Ederagd qu jutarnente ails ret dos deren. ‘lsd poder em multor tres da humanicade~ pr mas podersor que exis deren sina som aumenta 2 Inensicae ds tenrbese a requénca dor onitos srt, Pais tenses confitosabertos ete os Eup08 no eto ‘mals as wees onde edesiguaiade des mos de poder Ge pupositerdependentes muito grande encore mma recisments andes stuagio comers mar ema. os rapes com menor poder EA, 2008,» 20202 Parece-nos que algumas das dindmicas que gerarsm 2 for. ‘ulagio dos problemas e das tensGes socials que emergram com 0 ‘pagode baiana em espacos de dscussio publics sobre 2 moraldade/ Imoraldade, 0 valor/desvalor de mulheres e homens eultvadores de tals expresses musicals e dancantes podem ser representadas pele sintese de elagdes de sucessdo indicada por Elias. © sentimento de autodesprestaio de grupos especifios incrustados em clagnésticos de declnio do valor das pessoas erm geval, enovelado com a percepcio do surgimento de tas expressbese a aceitacdo dessas em escala maca pode ser explicado pela redugio das desigualdades de poder no aces 50 a recursos. No caso especiic, um malor grupo de individuos de diferentes fas eras, classes de renda,estilos seuais e de habitus regionals passaram a desempenhar funcbes de produtores, distribu dores ecansumisores musical, alem de evento de diversio dangante 262. omit Cronin erandes 8 Caco Santo Ons) imercantlizados. A misica e a danga ~ como expressbes estruturadas, 4 partir de negécios monetarzados de diverso ~ passaram a ser um modelo expresso de condutas, além de referencias para obtencio, Ge valor para grupos mais diveros. Esse movimento afetou os esta: belecigos tanto na produgio quanto na dstribugde no consumo de versio musical e dangante, am de seus simpatizantes no univer: 50 das comunicagées e do conhecimento universitro. Aetou, igual mente, 2 pasigdes de estabelecidos em um setor de modelager das teigbes humanas, homdlogas aquelas de grupos lideres no universe Ga indstria dos decos e da erica musical, mas que, pelo reduride reconhecimento dessa dimensio da vida no desenvolvimento hums: fo, nfo ganhou tanta reparcussio clentfica, Os grupos dominantes, ‘establzados em um regime especifica de paqueras, namores, case rents, equilorados sob uma balana igualmenteespecifica de poder de expressio de desejos por amor e por sexo, viram-se confrontados por novas inguagens e estos de poder erdico que emerge com bs recentes divertimentos animados por géneros musical-dancantes Indviduos de um desses setores ~ 0 da cities jarnalistica- _musical~ se maniestaram com maior veemncia em relagio a esses ‘movimentos, tanto a mas ancorads no jornalism para o grande pu: Bio quanto e mais vinculada 8 universidade, direconada a pablicos restitos, preocupados com o virtuosiama podticoe instrumental. As posigdes centraram-se incialmente na complexidade musical e poé- tics © no tipo de direcionamento erdtico-sexual das letras e dancas Mas érelevante destacar que era ums critics musical descendente de uma estrutura de transmissSo de simbolos através da qual intelectu- ais dos mas diferentes matizes haviam consolidado uma tradicSo de linguagem, no apenas de conhecimento, mas também de sentimen- to, altamente pressionads pela representacdo de Imagens-de-n6s na- ‘lonals. © elevado envalvimento com sentimentas e com idesis ue fravtavam em torna de um repertério de simbolos sobre o caréter ‘acional-popular do Bras consttuiu niveis de pressio egocéntricas*™ TS Enblendico a ese erste tude ego «frais de Cluber fac em sin boards fica. sua parteaao em document sobre 2 volta dor ror em Portugal ntuld As armas eo pow, a pears com our inerese em enhece 5 fesposts. Interomge 6 eflorore, aunts ‘ete mendes para que Sua mensagem no presse x ies. No programs beta deo, Sanontarse desiree cine els imagens Jo Boo" Mise ins soc purearamato 263 ee eee eee ee ee et ett ttt tet ttc re ee ee sobre amplas e diferentes faxas de intelectuaisbrasileiros, contribu do para que fantasias sentimentas, grandemente distantes do curso ‘dos eventos que pretendiam representa, bloqueassem o interesse por lumma investigaso factual pormenarizada e mais embebida de autoex pressBes decursivase gestuais de pessoas vistas como do "pove" que pudessem ser relacionadas com os modelos socoldgicos de fenéme- nos eulturas popular-nacionais que propunham. ‘O elevado compromisso com o sentimento de pertenca naclo- ‘al-popularImisculu-se partcularmente no acervo de conhecimento isponivel sobre os fenémenos musicals no Bras, tendo ficado a dan ‘2, curiosamente, com um repertriarestitoe dstante das preocu pasGes propriamente sociolégicas. Um des efeitos nBo intenclonados {dessa interpenetracio na constituigso do acervo de conhecimento so- bre a musica brasileira fol a formagao de uma barcerapsiquico-social para perceber aimportincla das lutas amorosa-sexuais entre homens fe mulheres coma parte do constrangimenta sociolgico do deserval- vimento de padres musiais populares. Perdemos de vista que odes! das andlses musicologicas € grandemente envolvido com os ideas de virtuosidade estética de misicos que, historiamente, no Bras, $80 ‘ompartihamentos de sentido majoritariamente masculinos. € que o interesse pela danga e pelos jogos erstico-sewals, de clara conotagio fica para as mulheres, esteve subordinado a uma ética estética de irtuosidade musical, orientada pela paixéo de muitas homens, vividas como tarefas de integracgo & comuniade nacional 2 Linhas gerais da transformacao do samba de roda em pagode a partir dos anos 1970 Assim nos drecionaremos, a seguit, para a concatenacso de eventos visando propor un modelo de sucessia de figuracbes soclais, lentrelagadas a determinados habitos de divertimentos erético-dan ‘fowrava pests aus sob for oar, Hakama marcas do pve rs fl her nrara errs sem gue la esi posed dea ProaNS ‘Stamens sete x mance aera de pov sebepesaas que rao pocam truiestarse tse fats so menconads rm Rider (200322. 254. oni Carbon Farndon & Caro Senden (Org ‘antes em Salvador, ue parecem compor dimensBes da géneze social do pagade baiano contempordneo e das fungdes desempenhadas por tradigBes de expressdes ertico-dversonaisculvadas nessa cidade Propomos relagdes entre as alterarBes nas estruturas de deminagao entre pals eflhos, homens e mulheres, relaconando-ae a mudancas nas estruturas dos mercados de paqueras, namoros e nos padres de expressées ede aallacko de amor sexo, entre os anos 1970205 anos 2000. Essa alteracBes pavecem ter tia grande repercusso sobre os matical, sintaicas © morfolégicas, pols seguem simplesmente 2 fala popular rural. Os poetas escreviam como se falava no serio, ¢, por consequinte, cantava-se coma se fala explorando as caracteristicas da tessitura eda extensBo vocal de Gonzaga pare provacar efeitos so: noro-musicas especfics, como as inflexbes, a afirmagtis, as pausas 298 omit carbons erandes Cro Santo Org) 2 or verbos préprias do sertBo nordestno, duplicando a prosédia po pular-rural e, com isso, alcancando-se efeitos expressivos de grande impacto, imprescindives para 0 éxito artistco e comercalalcangado pelo bald. A propria prosédiae a forma de afabettzagdo tornaram-se objeto de criagio, come no espiituoso ball “ABC do sertio” (2953), ‘mals um éa parceria Gonzage/Dantas. Esse aspecto corresponde 2 um dado da crénica sonoro-musical construlda por Gonzaga, Teele & Dantas, notadamente a partic dos anos 1950, com a producto de no: vas discos, a eragio de programas radiofonios sobre baléo, osertéo nordestio ea cisseminagda de intérpretes e compositores de baido, ‘A incorporagio da prosédla popular-rural tornau-se uma re tulaidade nas cangBes escritas por Dantas e nas Inlexbes acentos ‘riados pelo cantor Luie Gonzaga, Esse aspecto se integrau a uma mi: ruclosa erica do mundo rural nerdestino,evdenclado sobremanelra ‘nas pausas realizadas por Gonzaga, onde o Muxo do canto €interrom: pido em nome de um relat ou cs combinagso de expresses. Essa ‘singularidade reforga ainda mais o cardter dangante-estvo de muitas das cangBes do balio pés-50, quando a figura do sanfoneiro (0 an ‘mador popular dos “Yorrds” na setio) assume materiaidade na re- presentagio cénea ¢lddica do sanfoneiro-vaqueiro-criador-radutor ‘anlmador-erenista, Finalmente, a assungSo da Indumentria adotada por Gonzaga aliada ao seu canto, concorreram para que o bao se foroxlmasse e se tomasse 9 génera musical dos festejs uninos. Essa ‘espace de alquimialico-temdtica nao aconteceu coma resultado de {olpe instantaneo: fo, da mesma made que o proprio género, um ex perimenta gradual, A aprosimagio entre os festjasjuninose o baido Se fez de modo muito singular. Os festejasjuninas, que constitulam tum perio alvssareiro de colhelta e celobragio & meméria dos trés santos catélcos (Sao Pedro, Sdo loo e Santo AntOnio, figuraram na pauta das cangbes compostas por Oantas e iterpretadas por Gonzaga {Como mais umn tema, Tadavia, aos poucos, pass0u ase confundir com © prdprio género, cimentando o seguinte amalgama: ndo se sabe se foi obaldo quem dinamizou os festejs (na cidade e no campo} ou se foram 0: festejs que municaram 0 bai30. Conforme destaca Ferret (1988, p. 128), as ungBes dos aspectos tematicos da festa (0 S60 Joo), dda danga e do amar, correspondem a 50% do repertria gravado por 24 Dantas em parceria com Luiz Gonzaga, assumindo destaque em re- Masene nis secs para dagmazto 299 lacko aos demais temas. Nesse temirio, estacam-se as cangBes "Vem ‘morena" (bai), “Cinturafna” (rote), “Kote das meninas” (roe), "Sa ‘oto antigo” aio), “Notes brasiliras”e "S30 Jodo na rosa [marcha junina). Esta dla fo langada por Gonzaga em juno de 1952 e des nada ao calendériojunino, Da mesma moda que concentrava-2 0 lan. ¢amento das miscascarnavalescas (marchinhas © sambas] em janeiro ‘ fevereto, pouca antes de carnaval, com as marcha juninas, ctaisa- das pelos criadorese sstematizadores do bai, aconteciao mesmo, e cram langadas durante o més de juno. Fica patente, com efeito,quea sutileza dos processos criatos ea espral de experimentardo musical ‘que concorreram para plasmar género bai3o foram acompanhadas € municiadas por multiples aprendizados técnico-atsticos e também por diferentes interesses comercals-publitios Referéncias ALBIN, Rao rave. Cononeo Humberto Tea Ri an: Jobim Music, ALES, ier P Mal. economia mbes culture popular sertoneoaordestn, [ALEVEDO, Ua Calobre de. No tego do le radii cota ro Bi $3$23396b 2002 Tes Dautoras em Ht Scial}-Uniesidae Fede Fur DREYFUS, Dominave, Vis dowojlone 3 sga de Lis Gongs So Fale Ears ELS, Norbert. seclogio de um ol: Moar, lo de aie: orgs 20, 1988, LS, orton. Or odes. Ri de no: rg aha, 1857 Rect: Funda¢so Josquim Nabuco, 1988, ts, Oger Cunha Caxusint, 2 meni fel, So Fala: Corte, 2012 APOUTANG, Marcos ists. Bla Horo: Autnte, 203 ‘fr, Renato, A modern ods brie Sf Paulo: Bases, 1996, 300 mit Grhonn Fernandes Care Sandon (Org) i ROCHA, Amara. Nos anda la modesto rio TV no re de 195081970. Foe anc erplno, 2007 ‘ARO%0, ue Caro; MOREIRA, Vigna, Alo pacona0 Basen stan ode Jano nee Zaha, 200, ‘ode Sto Paulo tara 36, 2008 cia Sulamite 0 serdo em movment: Sesnie {AN Rayman Culture neo: Pa Te, 200 Mise ie so para laramasso 301 “E chore quem quiser chorar”: uma experiéncia etnografica do ensino da musica popular Marina Bay Frydberg 0 choto que dé titulo a este artigo & uma musics de Flivio Henrique e Paulo César Pinheiro, chamada "Choro lure", que canta a tristeza de um amor quando “eal entre as primas eos bordBes do meu vida / via inspiragbo/e 20s poucos se transforma em mais um chero pra cantar / charo popular, @ue val", Fol nesse universo da musica popula, expeciticamente do choro, que eu adentrel em busea de uma texperiéncia etnogréfica, contempordinea © muito préxima das minhas \vEnclas e gostos pessoas, ao mesmo tempo em que muito dstante dos meus saberes e da meu repertéria de conhecimentos. Marcio Goldman (1988), assim como outros antrop6logos, realizaum debate sobre a questéo da dvisio entre sociedades simples € sociedades complexas. 0 principal questionamento de Goldman & Como se classifica uma sociedad em simples ou complex, quale $5038 ‘caracteristcas utlleadas nessa dvsio. Ele transcorre seu pensamen: 10 por viros elementos; por exemplo, a compreensio das sociedades simples como sociedades menares, e das sociedades complexas como sociedades malores, As sociedades simples foram estudadas na inten ‘lo de compreende-las em Sua totalidade. Jas sociedades comple soz, por serem entendidas como maiors, sio anasadas em pequenas parcelas, entendendo um grupo ora como reflexo da Sociedade, are ‘came autbnomo a ela O autor fala também da questio do estude de sociedades simples, como distantes e diferentes da sociedade que © Antropélogo fae parte, e sociedades compleras, como a sociedade do prdprio pesquisador, ou préxima a ela ‘Aquestio dodistanciamenta do pesquisador com oobjetoem seciedodes complexas jf muito debatida na Antropologia.Recorre- se principalmente, d méxima de estranhar o familiar, em oposicse ‘Bo. PINHERO, Fela Car, HENRICUE, Faro chor nen HENRIQUE, Fi; diab, Maia Fa Hewique & Marne Mochod. Rind anes Outer War inet soa pra iagaybo 303 | ‘0 que ocortia nos estudos em sociedades primitivas, nos quais tra. tavase de se familarizar com 0 exstico, Gilberto Velho salienta que essa dstdnca entre pesquisador e abjeto de pesquisa ndo & sempre to clara VetHo, 1980). 0 autor defende que a dstincia espacial nem sempre proporciona uma disténcia real do olhar, tendo em vista que ‘esse, multas vers, permanece cheio de preconceto. 1 2 proximidade possibltada por se estudar a sua prdpria sociedade nem sempre ce presenta uma familridade com 0 objeto de estudo. Formilaridede © poximidade fisca nde sio sindnimos de fonhecimento, asim como vijar milares de quiéme- ‘os nto nos toms lites de nossa soraizass0 com seus esterestios e preconceitos, [J] dentro de nossa pépria rociedede existe, consantemente, esta experiencia de ‘stentamento. A possbldade de partiharmos patie: hi cuturse com of membros de nossa rociesade no nos deve luda respeto da indmeras descontinuidader fciferengas provindas de trajet6ras,experiaciase vi ‘incias especiias (VELHO, 1980, p. 25-6) ‘Quando a Antropologia voltou seus olhos para a propria so ciedade do pesquicador, de forma sistemticae, principalmente, quan do comesou a estudar 2 propria cidade do pesquisador ndo em seus auetos esegregacées, mas sim no seu préprio viinho, fei preciso uma reformulagdo da questio do distanclamento necessario na pesquisa clentfica entre sueito objeto de conhecimento, No estudo de Antro- pologia urbana, em uma parte dos estudes das chamadas sociedades complexas, no se val mals morar com o native; muitas vezes, 0 pes- {ulsador eo native se confundem. Goldman defende que a disténcia ‘que, nas sociedades primitvas, ea espacial ou temporal, passa, nas socledades complevas, 2 ser moral (GOLDMAN, 1998, p. 117. Buscar entender o que significa para 0s jovens de classe mé- dla a escolha da musica como profissao ¢, especifcamente, de géne £05 musicas tradicionais e populares como 0 choro e 0 samba fol 0 {que motivou a minha pesquisa (FavoBERS, 2011). Mals do que isso, almejava compreender como, na cantemporaneidade, jovens musicos ‘atualzavam e eessignificwvam a vadigbo de géneros musicals popu laces, transformando-os em caracteristias identitris © em priticas 304 omit Certo rand & Calo Sando One) | de sociablldade. Para tanto, um dos meus unversos de investigaso etnogréfica foi a Escola Portstl de Musica (EPM),Institulcso stuada ha cidade do Rio de Janeiro, no Brasil, desde 2000, e que tem como ‘objetivo ensinar misica através da linguagem do choroe, consequen- temente, da sua interface com o samba, Apreender 9 experiénca pe agogica da EPM era fundamental para conhecer os caminhas que possibiltavam, através da enzin formal em uma escola transmiss0 dos saberes tradcionaise populares do chor. ‘Adentrei o universa da Escala Portail através de jovens chorbes esambistas de Porto Alegre que am para o IV Festival Nao nal de Choro, organizado pala EPM, em fevereira de 2008, na cidade de S30 Pedra, interior do estado de SBo Paulo, Entel em cantata com 1a Escola Portal de Musica e pedi autrieaco pare a realiagio da mi nha pesquisa durante o festival. Com a pronta anufncia da organizasa0 {da EPM, fi para o IV Festival Nacional de Choro. Durante otrajeto de Sifo Paulo para S30 Pedro, encontre! as primeira pessoas caregando intrumentos musicals ¢ comecel 9 conversar com elas; assim, 0 meu lugar no campo comegou a ser construido, ecom el, a alteridade com (0s meus pesauisados. "No festival, as pessoas estavam vinculadas a0 instrumentos aque tocavam, pais instrumento ajuda na formago das suas identida- des. Sendo assim, uma das primeiras perguntas que se fala 20 conhe- ‘cer pessoas novas no festival e até mesmo no caminho para ele) era sobre que instrumento essa pessoa tocava. Se a respostafosse que no tocava nenhum instrument, a pergunta seguinte era se cantava. Por versa vezes, eu respond! 2 esses questionamentos e 0 fato de no tocar nada, nem cantar, colocave-me em outro lugar naquele evento ‘especfica. A altridade para com o objeto da minhe pesquisa estava senda constulda na oposicgo entre masico (eles) endo miso (eu). 1X medida que ful conhecendo as pessoas no festival, ful construindo um lugar préprio dentro daquele grupo que jé possule lugares previamente definidos: os professores, os alunos, os masicos, 0s flautistas, os pandelritas, 05 cavaquinistas, as cantoras. Por no ‘me encaliar em nenhuma dessascassifieagdes, ve de crar um lugar ‘réprio e novo para as pessoas me colocarem; fui criando minha ds {ncia moral com relagso 20 meu objeto de estudo. Toreb-me, por defingSo deles, ¢pesquisadere, No decorrer do festwal, as pessoas Imisene des soca para dagramario 305 a com quem eu fale Jé me reconheclam como a pesguisodora, aquela ‘pessoa que nfo tocava nenhum Instrumente, mas que estava al para festudar o festival. Eu era a nica que no dominava alinguagem mu. sical, mas que, em contrapartida,estava ali pesquisando no IV Festival Nacional de Choro com a autorizacdo da organizacdo do festival eda Escola Porttl de Misia (meu lugar no campo estava, durante a pesquisa lao ¢ de terminado: eu era 0 pesquisodora que no dominava o céaigo musical, mas poaa asssia qualquer aula, pois nha a legtimdade paral. ssa se tomava visvel através do autoriagio da organizago de que eu podia realizar a pesquisa, entrando esaindo dae aulas © entrevetanco 0: pro- fessores, Entendo que o meu lugar no campo dewse, também, baseado no dominio de um eédigo, 2 Antropoogia, ou de uma comuniddedeor- umentogio, come cham Roberto Cardoso de Oliveira (2000), ervindo como ums forma de reconhecimento de uma pritica em outro local do ‘ber, oV Festival Nacional de Chora ea Escola Prt de Musica ola part da minha experénea etnogétiea do ensino do mi- sica popular a Escola Petit de Misia, tanto na sua sede fica quanto no festival que ea organiza, que pudeidentficar alguns caminhos poss. vols para transposico da cultura aral eda tracicdo do choro para o am biente formal e institucional da escola, Para compreender essa proposta edagégica da EP, €precza canhecer a hstria desta instugdo © do ‘orgbizacio do seu nea fxo do Festival Nacional de Choro. Entender ‘0s procestos de aprenclzagem buscar dentficar como acontece acons- ‘rug do corp, da identdadee da hierarquias entre or musica © seus Instrumentos. 530 esses caminhos de aprendzagem na musica, espedi> camenteno chor, que este artigo vi apresentar 1A Escola Portatil de Musica: histérico e organizagao ‘A Escola Portiti de Musica surgiu da necessidade dos seus Idealizadores, masicos consagrados no cenério musical braslo, ‘ransmitirem aos jovens 0 universo da sia, através da linguagem 306 nit arbors ernndes Cro Sano Ors) {do choro. Conhecimento que esses misicos consagrados também aprenderam quando jovens, no canvvio com chorbes,profisionais © amadares, que consideram como agrande escola de que fazem parte e ra qual fram socaizados no universo musical. Apartr da experiéncia ‘esses misicos, surg a iela da Escola Porat de Musica ede todo 0 seu modo de aprendizagem e de transmissio especiia do universo e a linguagem musical do chor. ‘A proposta da Escola Portitil de Misica est totalmente vin- culada a um ideal de autonomiae valorizagio do choro dentro de urn ‘campo (BOURDIEU, 1996, especificamente, o campo musical. O campo dda misiea, com az suas diversas subdlusbes, caracterza-se por ser um espago de tensées e de disputas por pestigio e reconhecimento. A iealizopto da Escola Portail de Misicaesté baseada na consolidacao {de um campo especifio, 0 do choro, dentro de um universo musical ‘alos, 0 69 msica brasileira, por um lado, eo da misic instrumen- tal, por outro. A proposta da escola esta vinculada &idela de existe uma teoria @ uma prtica espectficas paras misicos que querem to- car choro, e estas sHo transmitidas por meio de uma aprendzagem também caracterlstca: a roda de choro, na gual misicosjovens © ex: perientes tocar juntos. ‘AEscola Port de Misia foi fundada, ainda informalmente, «em 2000, como uma roda de choro aberta a pblic. © objetivo inal era 0 de possbiltar 205 jovensinteressados em choro um primeiro ambiente de socializagio e de aprendizagem desse género musicale da sua linguager especiia a verdad,» escola nfo surgi de dea, a gentento, nfo fai nada mute paneiado fo. Agente tava conversango ‘uma mesa de botequim, de bar, cam uma amiga nossa [J Eclat uma ha, nessa época era muito garota, da mesma dade da minha, mais ou menos a mesma dade, que tava se Intaressando gor fata e que gostava do bom samba, que gosta do chor, mas que nfo tnhe aesso 8 informa [Jammin fina, Ana, da mesma idee, tava mais ou menos oma mesma problema, pesar ete alaformarao em cas, tla fieava muito fora do piso, do melo da escola dela, das tvtrasmeninas de mesma dade tava assim sem ambiente Eslertavam as oss mies reclomando que as fitasestavam tutto problemstcas,estavam muta chatas, aquelenegéci, fo 307 Mikes ott soci para igrams que as meninasestavam sem ambiente, que nfo tnham Siesta rar parar, Ala gente queria apresentar uma ‘viral thm samethangas, tam afiidades. Al essa amiga falou stim, pois, pa, mas vor jf pensou que come eas tm mutas outros? Cartamente tm Qutosgrotos na es Ine suas, Par qua vorés nfo aprovetam sla Funartee {vem una rad de choro pra asses monind connecter, pra fazer ers aproximagdo, pra comer a car um ambien {e? A el fos pensando alr naquele ala mesmo. Porque que voces no fazem umas ofnas Ea iia @ de fazer ofcinas Bula, nfo era aula, er com um sentido de roda de chro, Mavtcotva a mesa, ie fle"Mauric, top fazer sso sim e asim, sdtado de manha? Normalmente & um cis te bobeta,sebado de manna gente va ral" Ea gente omesou fazer ss em agosto, sem propaganda, nti, ‘ra una cls informal sem nada mult sé. Ea viou ape feeeram einguentagotes uma coisa que gete eserava ‘ue fossem ts ou guato,epareceram cinquent,Acabou o tho, na mais decom pessoas procuranco agente. A par ‘dai ot imposselRearmos, a gente montou um cegional 1a em 2000, quando comegot, pater ums pessoa de cada instromanto, Eno era vil, xvaquino, Bando, favta { pandetro, £4, Maule, Pedro Amorim, Celso Siva € 0 ‘vero Coriho, pat do Maul Enzo tina um represen: tante de cada instramento, um egionalformado pr sentar om aqueesgarotose tocar (Lucana Rabelo em entrevista Concedisa 3 autora em 13/2/2008) ‘A busca foi tho grande que fez com que fosse necessério um local maior, que pudesse receber todas as pessoas 8 procura ddesse novo expago de choro. Em 200%, os encontros de choro mu ddaram para @ Escola de Musica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, De cinquenta alunos, a escola passou a atender duzentos, fo que fez com que fosse nacessério chamar novos professores. Em 2004, a Escola Portail de Musica foi transformada em um projeto ‘aprovado pelo Ministerio da Cultura, e se tornou, asim, passive de conseguir verbas através da Lel de Incentivo a Cultura. Esse projeto fei estruturado por Herminio Bello de Carvalho que, mesmo no sendo professor da escola, acompanhou todo o seu proceso de 308 omit eboncnerende & Cros Sana Ors) ee =“ Tl criagio e consolidagio. Ele & uma figura chave para a divulgacio & reconhecimento desse projeto de retomada do chore na Brasil, ‘Quand fol pre UFR que pasiou de cinquent,sestenta me: nines, para duzentos tl, 2 gente teve que chamar mais Bente pra ajuda; eraimpeatievel Ai pssou de ico pros Sores para cio, Emseguids,aumentou endmere de alunos & Dassou pra 12, depois pa 16, e hoje ns temos 24 e sescen tos alunos. Fol aumantande mesmo, ano a ane [1A part 4 2004, 0 Hermfalo Bale de Carano, que accmpanhava & fente, desde 2000, desde primers oficnazinha ib ne Fu rane, tava ncetvando mult: "Mason, sso aul tem que Burentar, no pode sers6 so aqui, no pode stender 56 tsses mening; tem Que lev iso ra outros lugares, tem {ue fater iso no interior do esta, tem queleva prs autos tctados”, Hermini fo! quem fez 0 proto Panguinha, en to, ne verdade, #0 pensamenta dele mesma, de espaihar, ‘de spreqar, dechamar mate gone, de fazer com que 2gu- lo anna um numero maior de pessoas. Vee invenou ese ‘ome: sso tem que er uma cia ave vocés Consiga ca- regar, tem que ser porta” Aleleventou nome de Escola Pods [Luciana Rabella em entrevista concede & autre ‘em 13/2/2008, No inca, o¢ encontros aconteclary somente aos sibads pela rmanhi. Hoje, devi & grande demands, correm aos ssbados pela mo rhe pela tarde nas inetalagdes do Departament de Aves de UNIRI. A Ezcola Portail de Musica possul cera de 1.100 alunas e 35 professores, alm de monitors professoresadjuntos. As auas da escola acontecem fem tés locos, sendo que os alunos possuem sempre um dos booos I ‘res para participa ela racs de chore ofl, que acontece todos os sdba- dos. Essa rade choro&realzada em um auto, onde alguns alunos apenas assstern, mas a maiviasobe eo palco para tocar junto com os prfessores que no esto dando aula naquele hori. Nos outros dois blocos de aula, os alunos tém de realizar uma aula peética do instrumento e outra de apreciario musical, ‘mas também podem fazer cursos avulsos™. As aulas de instrumen- Tot Opamrenio dos cues eto por sams 2038 ovale sees ‘ace dv ofinas de stiumena fo RS 26000, € 0d ofina Se camo FS 350,00 Mise litt see parecigramosto 308

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