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XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO

Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção


Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.

AUTOMAÇÃO PARA O AUMENTO DA


PRODUÇÃO EM EMPRESA DO SETOR
ALIMENTÍCIO: UM ESTUDO DE CASO
Vianey Santos de Carvalho (Faccat)
vianeycarvalho@gmail.com
ALEXSON BORBAS GUARNIERI (Faccat)
a.guarnieri@hotmail.com
Samuel Schein (Faccat)
samuelschein@hotmail.com

O estudo de caso apresentado foi realizado numa indústria do ramo


alimentício situada na cidade de Santo Antônio da Patrulha/RS. A
empresa apresentava um gargalo no setor de embalagens, onde o
processo era desenvolvido manualmente. A capaciidade produtiva
estava muito abaixo da demanda, devido à ineficiência deste setor. A
produção diária ficava restrita ao rendimento dos colaboradores e a
empresa arcava com um custo desnecessário de horas extras. O
objetivo principal do projeto é aumentar a produtividade do setor de
embalagem da fabricação da rapadura tipo mandolate. O trabalho
realizado teve o foco específico na automação do setor em estudo,
visando à ocupação do tempo ocioso e um conseqüente aumento na
produção. Para desenvolver algo que pudesse suprir esta necessidade
foram realizadas cronometragens no setor de embalagem. Em seguida
elaborou-se uma pesquisa sobre tecnologias existentes que
desenvolvesse este mesmo tipo de processo de forma automatizada.
Após encontrar um modelo considerado adequado para o projeto,
verificou-se a viabilidade para implantação do mesmo, tendo-se como
meta principal o aumento da produção e a qualidade na padronização
do produto final. Após a implantação do sistema automatizado,
constatou-se os resultados esperados inicialmente. Obteve-se um
aumento considerável na produtividade e reduziu-se o tempo ocioso do
processo. Logo, diminuiu-se o número de funcionários do setor, os
quais foram remanejados para outros postos de trabalho.

Palavras-chaves: Automação, Processo, Embalagem, Produção.


XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.

1. Introdução
O crescimento da economia global juntamente com o avanço do mercado competitivo
gerou uma demanda expressiva pela necessidade de desenvolver novas tecnologias. Essa
combinação se tornou fundamental para garantir às empresas uma parcela significativa entre
os melhores (Lastres et al, 1999).
Os processos produtivos em geral proporcionam a oportunidade de colocar em prática
essas melhorias através de sistemas cada vez mais automatizados. A implantação de novas
tecnologias é fundamental para o desenvolvimento industrial e o consequente crescimento
econômico, e torna-se inevitável para o sucesso de qualquer empresa ou indústria. Diante
disso, as indústrias terão que se enquadrar à ideia de que a automatização de processos em
diferentes setores industriais é fundamental para o sucesso (Mendes, 2006).
Segundo Nantes e Machado (2005) o setor alimentício vem apresentando um
crescimento constante nos últimos anos. Porém em pequenas e médias empresas alguns
processos ainda são conduzidos pela mão de obra humana. O sistema artesanal muitas vezes
acaba parando no tempo.
Porém, a competição neste setor se dá nas práticas gerenciais. Existe uma grande
relação entre esforços de gestão e valor da produção. É necessária uma capacidade
empreendedora direcionada, principalmente, para a atualização de técnicas de gestão de
matéria-prima e equipamentos (Ferraz et al, 1995).
Silva & Plonski (1999) apontam a gestão da tecnologia como importante diferencial de
competitividade entre as empresas. Diante disso, podemos perceber a importância da
automação na indústria alimentícia.
A mudança no setor de embalagens, além de gerar um ganho considerável para a
produção, pode agregar certo valor devido à qualidade externado produto final. Young (2002)
apud Pelegrini (2005) relata que o consumidor percebe de uma maneira especial o valor
proporcionado pela embalagem de um produto.
O presente trabalho teve por objetivo automatizar o setor de embalagens de uma
indústria de alimentos, visando o aumento da produção e a qualidade nas características
físicas do produto final. Também se teve a preocupação em manter os colaboradores que
sobraram no setor e reaproveitá-los em outras tarefas dentro da empresa.
Primeiramente o artigo apresenta as mudanças no setor alimentício agregadas à
tendência na automação de processos. No final são apresentados os resultados obtidos com a
implantação do projeto e suas consequentes melhorias.

2. Estudo do caso
O método do processo de embalagem anterior à implantação do modelo era realizado
de forma 100% manual. O produto era cortado por uma máquina e distribuído nas mesas
através de bandejas plásticas. Cada funcionário disponibilizava de uma quantia de embalagem
plástica tipo celofane (folha plástica transparente extremamente fina, feita de hidrato de
celulose). O produto (mandolate) era embalado manualmente, de maneira que o funcionário
enrolava o doce na embalagem, dobrando as pontas que sobravam. No final, os doces eram

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colocados num pacote plástico formando uma embalagem com 10 unidades conforme mostra
a figura 1.

Fonte: www.dacolonia.com.br
Figura 1 – embalagem com 10 unidades

Como esse processo era o gargalo da produção, gerou-se a necessidade de implantar


alguma melhoria que aumentasse a produtividade do setor.
Após um estudo sobre tecnologias que pudessem suprir esta necessidade, constatou-se
que a aquisição de uma máquina embaladora seria uma ótima alternativa para o problema.
Assim, deu-se início a cronometragem do processo de embalagem para obter resultados sobre
a viabilidade do investimento.
A implantação da máquina foi considerada viável, pois os números obtidos na
cronometragem do processo manual eram baixos em relação aos resultados da máquina e não
estavam atendendo a demanda.
Logo após a obtenção e análise dos resultados foi realizada a aquisição da máquina
para que o novo processo fosse colocado em prática.

2.1. A empresa
O estudo realizado foi implantado numa indústria do ramo alimentício, localizada na
cidade de Santo Antônio da Patrulha/RS. A empresa considerada de pequeno porte possui
aproximadamente 23 funcionários. Dentre a linha de produtos, produz a rapadura tipo
mandolate.

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A rapadura que é de origem açoriana e típica da região nordestina também se tornou


muito consumido no Rio Grande do Sul, tendo a cidade de Santo Antônio como um dos
grandes produtores. Possui uma demanda crescente em todo o País, conforme gráfico de
vendas abaixo.

Figura 2 – Gráfico do faturamento anual

Dos 23 funcionários, 13 fazem parte da fabricação do doce tipo mandolate sendo que
08 são responsáveis somente pelo setor de embalagens. Os demais são distribuídos na
fabricação de outros produtos da linha. Nos últimos 04 anos a empresa teve um aumento de
64,2% nas vendas anuais, números estes que poderiam ser maiores se a capacidade produtiva
fosse superior.

2.2. O processo
A fabricação da rapadura tipo mandolate possui os seguintes processos: tacho,
batedeira, mesa de forma, mesa de corte, embalagem e encaixotamento. O fluxograma é
mostrado na figura 3.

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Figura 3 – Fluxograma de processos

De todos os postos de trabalho constatou-se através de um mapeamento da produção,


que o posto nº 05(embalagem) era o gargalo da produção e que seria necessária uma melhoria.
Assim poderíamos aumentar a produtividade e fazer o fluxo produtivo seguir normalmente. O
posto de trabalho contava com oito colaboradores que desenvolviam toda a embalagem
manualmente. Cada colaborador embalava em média 286 unidades/hora, totalizando numa
produção diária de 8,8 horas o número aproximado de 20.160 unidades. A indústria possuía
uma carteira de vendas superior a esses números e devido à baixa produtividade e a pequena
estrutura, a qual impossibilitava o aumento de funcionários, arcava com altos valores
referentes à hora extras. O gráfico abaixo mostra o percentual de cada atividade dentro do
tempo total do ciclo de produção do produto.

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Figura 4–Gráfico dos tempos por postos de trabalho

O setor de embalagem era o posto de trabalho que possuía mais funcionários e mesmo
assim ocupava aproximadamente 1/3 do ciclo do processo.

2.3. A tecnologia
A automação se deu através da aquisição de uma máquina embaladora, composta por
uma esteira onde os produtos são depositados e carregados até o eixo giratório que faz o corte
da embalagem conforme o tamanho pré-determinado. A máquina possui um eixo que serve de
suporte para a bobina da embalagem. O eixo giratório que faz o corte possui duas navalhas em
posição de 180° (relação da posição entre as navalha no mesmo eixo). O corte é feito através
do aquecimento das navalhas e o fechamento da embalagem através da fusão do plástico. A
velocidade da esteira e a temperatura das navalhas são controladas pelo operador através de
um painel digital que fica localizado na parte superior direita da máquina.

Fonte: http://www.embalabrasilrs.com.br
Figura 5 – Máquina embaladora (painel/eixos)

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Fonte: http://www.embalabrasilrs.com.br
Figura 6 – Máquina embaladora (esteira)

Com a aquisição do sistema o número de funcionários do setor de embalagens foi


reduzido para 04. Um operador ficou na função de abastecimento da esteira e os outros 03
ficaram na parte final da embalagem, onde as barras são colocadas em pacotes com 10
unidades.

3. Resultados obtidos
Os resultados obtidos após o primeiro mês de funcionamento da máquina foram
considerados satisfatórios pela gerência da empresa. O número de funcionários do setor de
embalagens foi reduzido para 04 e a produção diária passou para 28.800 unidades, tendo um
aumento significativo de 42,9%. Através disso, constatou-se que o valor investido na
aquisição da máquina teria um retorno em 4,5 meses.
Os funcionários que sobraram do posto de trabalho foram divididos e aproveitados nos
demais postos, priorizando o balanceamento da linha para que fossem evitados estoques
intermediários.

N.° Funcionários Prod./h (média) Unidade/horas Unidades/dia*


Antes 08 286,25 2290 20160
Depois 04 818,2 3273 28800

Tabela 1 – Resultados da análise


* Dia considerado 8,8 horas.

4. Conclusão
Com a automação do setor de embalagens, obteve-se um resultado positivo relativo a
ganhos de produtividade, destacando-se um aumento diário de aproximadamente 43%. Dentre

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os resultados apresentados pela implantação da máquina também podemos citar o


aproveitamento de 04 funcionários em outros setores da empresa e a redução de horas extras.
Também foi constatado um ganho na higiene e na qualidade final do produto, devido à
padronização da embalagem da máquina. Isso demonstra a importância da automação nos dias
atuais e confirma o crescimento de resultados positivos para as empresas que investem em
novas tecnologias. Outro fator considerado positivo foi a rendimento pessoal de todos os
membros da equipe devido às melhorias implantadas.
Através disto, conclui-se que a melhoria implantada só trouxe benefícios para a
empresa, além de fornecer experiência para automatização de outros processos.

Bibliografia
EMBALA BRASIL http://www.embalabrasilrs.com.br < acessado em 12 de novembro de 2011>.
FERRAZ, J. C., KUPFER, D., HAGUENAUER, L. Made in Brazil: desafios competitivos para a indústria.
Editora Campus Ltda. Rio de Janeiro/RJ – Brasil., 1995.
LASTRES, H., ALBAGLI, S. Informação e globalização na era do conhecimento, Editora Campus Ltda. Rio
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MENDES, J. Fatores condicionantes de sucesso das pequenas e médias empresas na região metropolitana de
Curitiba e sua contribuição para o desenvolvimento local – Dissertação de Mestrado – Organizações e
Desenvolvimento Local – UNIFAE – Centro Universitário. Orientador: Prof. Dr. Antoninho Caron. Curitiba/PR
– Brasil, 2006.
NANTES, J. F. D.; MACHADO, J. G. C. F. Aspectos Competitivos da Indústria de Alimentos no Brasil -
Workshop Identificação de Gargalos Tecnológicos na Agroindústria Paranaense. Curitiba/PR – Brasil, 2005.
PELEGRINI, A. V. O processo de modularização em embalagens orientado para a customização em massa:
uma contribuição para a gestão do design – Dissertação de Mestrado – Universidade Federal do Paraná.
Orientadora: Profª. Drª. Virginia Borges Kistmann. Curitiba/PR – Brasil, 2005.
SILVA, J. C. T.; PLONSKI, G. A. Gestão da tecnologia: desafios para pequenas e médias empresas. Revista
Produção. ABEPRO, v.9, n.1, p.23-30. Rio de Janeiro, 1999.

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