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CURSO: PCP PLANEJAMENTO E CONTROLE DA PRODUÇÃO

SENAI CFP MONSENHOR JERONIMO MANCINI

CASE – MERCEDES BENZ EM JUIZ DE FORA


A fábrica de automóveis da Mercedes em Juiz de Fora opera, desde sua implantação, com
altos níveis de ociosidade. O modelo produzido inicialmente, chamado Classe A, não foi bem-
sucedido comercialmente, pois seus volumes de venda nunca atingiram os patamares esperados
pela empresa.
Fiascos históricos: o maior mico da Mercedes-Benz
(Rafaela Borges,2017, Estadão)

Na quarta e última reportagem da série Fiascos históricos, o tema é uma marca de luxo e aquele
que foi um de seus maiores erros. Trata-se da primeira geração do Classe A, lançada para ser o
primeiro compacto da Mercedes-Benz.
Na época, a ideia era concorrer com modelos como Volkswagen Golf. Depois, veio também o
Audi A3. Esses carros são, essencialmente, hatches médios – considerados compactos em
alguns mercados.
O primeiro problema apareceu nesse quesito. O Classe A não era um hatch tradicional. Ele
estava mais para minivan.
Lançado na Europa em 1997, o Classe A passou por um grande vexame já no primeiro ano. Em
uma reportagem realizada por uma revista sueca, ele capotou no chamado “teste do alce”, que
avalia a capacidade do carro de fazer mudanças repentinas de trajetória.
O centro de gravidade mais alto que o de hatches comuns contribui para essa falta de
equilíbrio. Por causa desse incidente, o Classe A passou a receber sistema eletrônico de
estabilidade que nunca, jamais, poderia ser desligado. À época, o assunto foi levado bastante a
sério pela marca. Mas, hoje, a Mercedes-Benz trata o fiasco do “teste do alce” com um toque de
humor. Sempre que o presidente mundial da montadora, Dieter Zetsche, fala sobre o Classe A
em um evento automotivo, no telão atrás do executivo aparece rapidamente a imagem de um alce
– algo como uma mensagem subliminar. As gargalhadas da audiência são inevitáveis.
O outro problema do Classe A foi a concorrência. Os hatches médios têm uma pegada esportiva,
atraindo um tipo de cliente mais jovem que o de sedãs, por exemplo. A Mercedes,
tradicionalmente, é uma marca que cativa um público mais maduro.
Com o Classe A, no entanto, a estratégia era atrair os jovens. Porém, as minivans não têm
grande apelo com esse tipo de consumidor. São carros que conquistam mais quem tem família e
precisa de espaço.
A INVESTIDA NO BRASIL
O Classe A foi o modelo escolhido pela Mercedes-Benz para produzir, pela primeira vez, carros
de passeio em território brasileiro. Foi construída exclusivamente para esse veículo uma fábrica
na cidade mineira de Juiz de Fora.
O modelo seria o primeiro automóvel da Mercedes-Benz produzido fora da Alemanha, o que
mostrava que a marca estava apostando forte no Brasil. Era o auge das “newcomers”,
montadoras que passaram a fabricar carros no País a partir do fim da década de 1990.
A produção começou em 1999 e, inicialmente, veio a versão A160, com motor de apenas 99 cv.
Um ano depois, a Mercedes-Benz lançou por aqui o Classe A topo de linha, A190, com 125 cv.
O Classe A, porém, não agradou o brasileiro. Ele era um Mercedes-Benz de entrada, mas nem
por isso barato. Na época, falava-se, no País, que mais pessoas poderiam realizar o sonho de ter
o desejado carro com estrela no capô (ou na grade, nesse caso), em alusão ao logotipo da
Mercedes.
A estrela oferecida aos menos abonados – e nem tão menos abonados assim, já que o carro não
era nada popular -, porém, não agradou. O Classe A era sofisticado, mas não tinha o tipo de
sofisticação que se espera de um Mercedes. Os motores eram fracos e a marca sempre foi
conhecida pelos sedãs de luxo, não por um monovolume com estilo careta. Além dos motores
fracos, o Classe A tinha também um câmbio automatizado de uma embreagem, ou
semiautomático. Algo como os que equipam hoje modelos como Mobi, Uno e Gol.
O automatizado da Mercedes, porém, era ainda menos sofisticado. O carro não tinha pedal de
embreagem, mas o motorista era obrigado a trocar as marchas pela alavanca.
Além disso, o modelo tinha uma manutenção complicada e cara. O cliente que o modelo almejava
não estava acostumado com isso. Com tudo isso, o primeiro Classe A foi um grande fracasso. A
Mercedes esperava, no auge da produção, fazer 70 mil unidades por ano. As vendas totais do
modelo, em toda a sua trajetória, chegaram a 63 mil exemplares.
A conjuntura brasileira, porém, auxiliou o fracasso. A primeira metade dos anos 2000 foi ruim para
a indústria do País, com quedas nas vendas. A Audi, que deixou de produzir o A3 por aqui no
mesmo ano em que a Mercedes tirou o Classe A de linha (2005), também não nacionalizou a
segunda geração do carro. A partir daquele ano, tanto Audi quanto Mercedes voltaram à condição
de importadoras, que só abandonariam a partir de 2015, mas com outros carros – A3 Sedan e
Q3, no caso da primeira, e Classe C e GLA, no da segunda. A fábrica de Juiz de Fora foi
desativada e, posteriormente, passou a produzir CLC para exportação. Esse modelo chegou a ser
vendido no Brasil, mas em baixos volumes.
Na volta à condição de fabricante de carros de passeio, a Mercedes-Benz não usou a planta de
Juiz de Fora, que, após o fim do CLC, foi adaptada para produção de caminhões. A nova planta é
em Iracemápolis, no interior de São Paulo.
Quanto ao Classe A, ele teve segunda geração na Europa, também lançada como monovolume.
Esse carro nem chegou a vir ao Brasil.
O modelo voltou ao País apenas na terceira geração, a atual. Com ela, o Classe A passou a ser,
finalmente, um hatch médio com aptidão para encarar A3 e o BMW Série 1, lançado
posteriormente.
A decisão: Instalar uma fábrica para a produção do Classe A em Juiz de Fora, MG
O erro: Superdimensionou o mercado e trouxe um modelo que não caiu no gosto (e
no bolso) dos brasileiros
O preço: 500 milhões de dólares em prejuízo

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