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Prof. Ms. Waldir de Pinho Veloso Prof. Ms.

Waldir de Pinho Veloso


A Arte de Falar em Público A Arte de Falar em Público

A ARTE DE FALAR EM PÚBLICO que seja qualificada como uma observação acaciana – que o ser humano é o
melhor retrato da comunicação. E, dos que vivem em sociedade, é o único que
fala, escreve e é capaz de articular um texto oral ou escrito.
O que pode causar alguma preocupação inicial quanto ao ato de falar
Sumário. 1 Introdução; 2 O ato de Falar em Público; 2.1 A Qualidade do Público; 3 Oratória; 3 O Início; 4 A em público ou de escrever um texto merece a análise por dois ângulos. O
Iniciação do Falar em Público; 5 A Preparação Geral para o Falar; 5.1 As Questões Pessoais; 5.2 A Qualidade da primeiro é quanto à falta de costume, o que pode causar apreensão e até
Fala; 5.3 Postura; 6 O Início do Falar; 6.1 Exercícios, Auto-Ajuda e Orações Iniciais; 7 O Desenvolvimento do mesmo nervosismo. Também o costume de falar com alguns vícios faz com
Falar; 7.1 Durante a Apresentação; 7.2 As Perguntas e a Participação da Platéia; 8 O Encerramento do Falar; 9 que o acadêmico ou a pessoa em geral não se preocupe em corrigir tais erros,
Conclusão; 10 Bibliografia sobre a Arte de Falar em Público; 11 O Autor; 12 Referências e Citações por considerá-los pertencentes à lista do que se pode chamar de correto.
Bibliográficas. Em termos profissionais, cada vez mais o mundo se apresenta ávido
em receber pessoas mais capacitadas. A graduação, a pós-graduação, o
estágio, o trabalho voluntário e o estudo continuado são, sempre em um
crescente que marca, as exigências do mercado. E o destaque está entre os
candidatos que têm conhecimento do idioma em quantidade e qualidade, já
que muitos dizem ter o conhecimento técnico.
1 INTRODUÇÃO
Para ocupar um local de destaque, portanto, há necessidade de
algumas preocupações.
No presente trabalho, em tom de ensaio, as questões propostas são
Em diversos momentos, pessoas são chamadas ao palco para o exercício
quanto ao ato de falar em público. E a visão a ser exposta é a de que se trata
de situações para as quais não houve preparação prévia. Em outras
de uma arte de possível desenvolvimento.
oportunidades, há o aviso com antecedência e, ainda que mentalmente, há a
formatação das idéias. Em todas as ocasiões, porém, o que fica dito naquele
momento pode marcar positiva ou negativamente. Ou cair no esquecimento. Tudo
2 O ATO DE FALAR EM PÚBLICO
dependerá da qualidade – positiva ou negativa – da fala. Ou da inexpressividade
do discurso.
Em termos de ascensão profissional, um texto amorfo ou com redação
Se o ato de falar em público é da profissão que o Acadêmico utilizará
sofrível é o mais devastador dos “cartões de visita”. A fala desordenada e
quando findar a sua graduação, a arte quanto às técnicas deve ser
desprovida de conteúdo significativo é o maior chamariz para o “não” que a vida
desenvolvida com a maior brevidade possível. Por profissões que têm a
oferece a todos. Uma apresentação inarticulada carrega, em si, a reprovação.
oratória como predominância ou qualidade mínima, pode-se lembrar da
Por outro lado, a feitura de um trabalho escolar pode ser suficiente para
advocacia, do magistério e da política partidária. O advogado precisa
uma boa nota. Especialmente quando há limitação quanto à elaboração. Nestes
argumentar em todos os momentos. O professor vive de explicar aos seus
casos, a digitação bem cuidada, a formatação – incluindo margens apropriadas e
pupilos o que quer transmitir em termos de melhor ensinamento – inclusive,
escolhas dos tipos e tamanhos certos das letras da impressão – e a própria
como espelho de comunicador. A vida do político está estritamente dependente
apresentação visual são suficientes.
do seu poder de dialogar e convencer pelo seu diálogo.
Há vezes, porém, que o resultado ou a avaliação do trabalho escolar se dá
Em todas as profissões, porém, a argumentatividade é da essência
não somente com a sua entrega ao professor e, sim, com a apresentação em
mínima. Saber argumentar para convencer é essencial e claramente explicável
público da pesquisa feita. Também há oportunidades de apresentação de
para um vendedor balconista. Qualquer profissional de nível superior, porém,
resultados de pesquisas acadêmicas em Congressos, Seminários e outros eventos
deve saber argumentar sobre os seus projetos, seus trabalhos, suas propostas
de divulgação de trabalhos acadêmicos. Outras vezes, um simples aviso em sala
de trabalho. Não importa, portanto, qual a profissão escolhida: sempre haverá
de aula requer algumas preocupações quanto à comunicação.
necessidade de saber expor, para o público, algo relacionado ao que o curso
Para todos esses eventos, a questão do costume de falar em público passa
superior ensinou – ou tentou ensinar. O tamanho do público é, quase sempre,
a ter grande importância para o acadêmico, o candidato a uma vaga ou,
menos importante do que a qualidade do público.
simplesmente, ao ser humano em toda a sua plenitude. Deve-se lembrar – ainda
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cultura, mas a cultura é mais imprescindível do que a escolaridade. Por outro


lado, a escolaridade sem cultura é inócua porque não prepara o aluno para a
2.1 A QUALIDADE DO PÚBLICO vida, para o mundo, para os desafios que as sinuosas situações lhe
apresentarão.
Em resumo essencial: a arte de falar em público é fruto do exercício,
Quase sempre, o fator determinante para que uma pessoa se sinta mais da repetição, do treino. Não há segredo ou dica maior do que o exercício
ou menos à vontade na hora de expor uma idéia, uma fala ou apresentar um continuado.
trabalho, é o público a quem a fala é destinada. Se se trata de uma apresentação Deve-se deixar claro que há cursos especiais de oratória que têm como
de uma proposta de trabalho a um grupo supostamente importante, e se a função ensinar, normalmente com prática, como falar bem em público. Nos
contratação do trabalho é de muita importância para o proponente, há técnicas cursos de oratória, a parte teórica se desdobra em como se portar no palco ou
especiais como se vestir bem e formalmente, apresentar um porta-fólio contendo palanque, como se vestir e como impostar a voz de forma a convencer. Na
outros trabalhos anteriormente já desenvolvidos e, sobretudo, impressionar pela versão prática, a leitura de textos, o treinamento de discursos e, sobretudo, a
comunicação que convence de que há qualidade a ser envolvida no análise do professor a cada momento da exposição por parte do aluno.
desenvolvimento do trabalho proposto. Em cursos de oratória, vários tópicos são estudados. Entre os quais, a
Há vezes, porém, que a platéia pode ser considerada não muito exigente. postura do falante, como falar de forma a segurar a atenção da platéia, como
Mas, é grande. E assim, agradar a todos, ou a média dos presentes, passa a ser a reanimar os membros da platéia em determinados momentos, e até a
meta perseguida. Em aulas, por exemplo, a sala cheia é motivante. Mas, uma indicação de correção da voz com a procura de uma pessoa especializada,
aula com poucos alunos permite o enfoque de alguns temas transversais e até a como um fonoaudiólogo ou um professor especial para ensinar a dominar a
oportunidade de maior e mais demorada participação dos poucos presentes. No própria voz. Neste último ponto, os artistas de televisão quase sempre foram
fim, o prazer para quem conduz uma apresentação em sala de aula pode ser freqüentadores de aulas especiais.
compensada pela qualidade do público em face da quantidade inicialmente Além dos cursos presenciais especializados em oratória, há vasto
esperada. material para ensino remoto que inclui livros, DVD’s, fitas e outras técnicas.
Em qualquer hipótese, porém, não há dúvidas de que a pessoa que se Todos esses meios são muitíssimo válidos porque sempre trazem uma
dispõe a falar em público deve dominar algumas técnicas de importância. inovação, uma adaptação às novas situações e, sobretudo, a experiência dos
expositores em setores diversos. A soma deste conhecimento é de grande
importância para quem quer se fazer bom aluno na arte da oratória.
3 ORATÓRIA Há técnicas simples, extremamente simples, porém, que não
dependem de cursos de oratória para ser observadas. Uma delas, a de que
falar – ou cantar, quando é o caso – em pé faz com que a voz seja exposta de
A oratória é a arte de falar em público. É uma arte porque pode ser forma mais qualificada.
desenvolvida. Se fosse um dom, apenas quem o tivesse como qualidade inata
poderia exercê-lo. Sendo uma arte, pode ser desenvolvida. Fazer-se orador é
tarefa própria da observação de regras básicas e da repetição. Principalmente, a 4 A INICIAÇÃO DO FALAR EM PÚBLICO
repetição, que pode ser qualificada como a base do conhecimento. O exercício
constante faz de qualquer pessoa um pregador, um orador, uma pessoa que
convence pelo modo de expor as idéias. Em tudo na vida, sempre há uma primeira oportunidade. Em se
A arte pode ser manifestada, também, em simples conversa com amigos, tratando de falar em público, o melhor início é na sala de aula, em presença
em família e em sala de aulas. Há perguntas em sala de aulas que são maneiras dos colegas. Há diversos motivos pelos quais os colegas são os ouvintes mais
indiretas de afirmar, convencer, argumentar. importantes. Um dos motivos é a lembrança de que, em uma sala de aulas,
O desenvolvimento da oratória se dá a cada momento. A escolaridade todos são iguais porque todos são alunos. Depois, deve-se lembrar que,
ajuda, mas não é ponto essencial. Há pessoas que convencem pelo falar sem ter quando se trata da apresentação de um trabalho escolar, a mesma situação
grande graduação escolar. A graduação escolar é maneira de aquisição de

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vivida por um colega foi vivida por outros ou ainda o será. E isso deixa os colegas multiplicidade de suportes físicos se deve a possível desconhecimento
menos críticos em relação a quem está falando. dos equipamentos disponibilizados para fazê-los funcionar);
Grande participação pode ter o professor. Não basta incentivar as falas • preparar material substituto para o caso de o material ou o
individuais dos alunos. É preciso e extremamente necessário que exija que os equipamento mais apropriado sofrer falha ou pane (ter sempre folhas
colegas respeitem as opiniões das pessoas que estão falando. impressas para serem entregues, caso a projeção cause problemas);
Sem dúvidas, a sala de aula, na apresentação de trabalhos acadêmicos, é • também faz parte do item “material” o ato de conferir, previamente,
o ambiente mais apropriado para o desenvolvimento das técnicas de falar em sobre o local, a luminosidade, a escolha do melhor lugar no palco para
público. Sobretudo, com a lembrança de que falar em público é questão de se situar durante a fala e até mesmo a distância segura que venha
autodomínio, autoconfiança e conteúdo a ser exposto. Quem sabe o que faz, sabe evitar tropeços físicos ou mesmo vir a cair do ou no palco;
o que fala. Falar sobre o que está na experiência de vida traz a certeza de que não • sendo discurso escrito, deve-se numerar as folhas de forma que, em
haverá tropeços. havendo uma mistura, a ordem seja facilmente será recuperada;
Quando se pensa em ambientação, a sala de aulas é um pequeno público. • tanto em discurso escrito quanto em anotações de tópicos a serem
Um conjunto de salas de uma mesma escola já é um público mais avantajado, seguidos, para seqüência lógica da exposição, as letras devem ser
mas ainda conhecido. O melhor mesmo é iniciar em sala de aulas, chegar a um grandes e destacadas por bons espaços entre as linhas; também a
auditório em que se reúnem diversos colegas e, depois, galgar o mundo. Após o impressão deve ser forte até mesmo porque pode ser que, por motivos
domínio em frente aos pequenos públicos, a mudança para um número maior de inesperados, o local em que se ficará para fazer a leitura ou a fala não
pessoas é tão natural quanto enfrentar os mesmos e velhos ouvintes. tenha boa iluminação;
• a colocação de microfones deve ser previamente testada e a regulagem
destes e outros equipamentos deve ser confiada a pessoas capazes e,
5 A PREPARAÇÃO GERAL PARA O FALAR não, como improviso por parte do palestrante (especialmente, se não é
exímio no setor);
• saber, previamente, qual o tempo disponível para a apresentação, e,
Antes de cada oportunidade do mergulho no ato de falar, ou seja, antes com base nesse tempo, preparar o material e treinar a apresentação
de cada manifestação em palco ou mesmo perante colegas em sala de aula, deve- perante pessoas da confiança ou com gravação para análise de
se tomar algumas providências. Além de trazerem a certeza de que haverá correção de erros;
sucesso na condução do tema a ser exposto, impregnam o orador de • treinar a fala, conferindo se o tempo da exposição confere com o
tranqüilidade e o centram unicamente no ato de falar e o livram dos apegos às destinado ao tema; corrigindo os erros sanáveis e, de sobra, tendo
formas materiais. total conhecimento da ordem seqüencial da fala, além da certeza de
Um conselho válido é o conhecimento, prévio, do tema a ser discutido. que todo o assunto está concretizado no conhecimento;
Falar sobre assunto sem a segurança de quem o domina completamente é fator • vestir-se adequadamente para o ambiente, com a utilização de roupas
que contribui para a própria pessoa já se sentir a antecipada derrota. Ao que não exijam atenção do palestrante, pois cabe a este o foco
programar uma fala para determinado tempo, sempre é bom ter outros exclusivo na apresentação.
argumentos prontos, para o dobro do tempo projetado inicialmente.
Primeiramente porque o conhecimento adicional é capaz de abrilhantar uma Sobre microfones, alguns detalhes. Quando o enunciado se der por
exposição oral. Em segunda oportunidade, pode ser que, por qualquer motivo, o meio de texto escrito, a melhor modalidade de microfone é o de lapela, porque,
tempo seja expandido de última hora (por exemplo, faltou o outro orador da ao deixar as mãos livres, há maior segurança do material. Um pacote de folhas
sessão) e o centro das atenções seja em único locutor. que cai pode trazer uma desordem descomunal e vexatória. O microfone de
As questões técnicas também merecem destaque neste item. Entre as pedestal também oferece segurança, ficando o microfone de mão com a última
sugestões, destacam-se: colocação em termos de praticidade. De outra face, este último modelo é
• preparar o material e fazer teste sobre o seu funcionamento (tudo, bastante aconselhável para a fala quando o locutor se movimenta no palco
previamente) e em suportes diversos como pen drive, DVD e disquete (a (certamente, sem texto para leitura integral).

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Normalmente, os microfones captam a voz com qualidade somente algumas amostras da qualidade socioeconômica dos ouvintes. Também se
quando colocados com sua parte central exatamente em frente à boca. Se a parte analisa, neste momento, se na platéia há crianças mescladas a adultos ou se é
de onde sai o fio – nos que têm fios – ficar mais próximo do peito e a voz chegar ao constituída de jovens.
microfone em sua lateral, normalmente não há captação de voz. Os microfones Obviamente, se a fala é destinada a vestibulandos, haverá uma
são projetados para ser colocados em linha que forme um ângulo de 90 graus predominância de jovens, mas não significa que pessoas adultas não estejam
com a cabeça e a boca, para não captar barulhos extras como objetos que caem no local. Até mesmo porque a busca por cultura não contém limites de idade.
ou de pessoas próximas. Se se tratar de um texto escrito, deve-se treinar a leitura ou o ato de
A exceção fica para os microfones de gravação em estúdios que, por passar as folhas com os tópicos, antes do início da apresentação. Se a técnica
natureza, devem captar todos os sons próximos, como os diversos instrumentos, a ser utilizada for a projeção de transparências diapositivas (eslaides, que
os vocais e a sonorização como um todo. Por último, ao iniciar o contato com o podem ser também pelo sistema powerpoint) com explicação a cada cena,
microfone, não é de boa técnica que este receba pancadas iniciais para deve-se evitar a leitura completa do que está sendo projetado, e, sim, um
conferência se expande o som em boa qualidade. O mais comum é que uma comentário, com outras palavras que complementam o que já está escrito.
pessoa tenha feito a instalação correta do microfone. E, dependendo do caso, Preferencialmente, que haja complementação com dados importantes e que
caberia ao palestrante ter feito o teste antecipadamente e, não, na hora da demonstrem e comprovem o entrosamento do palestrante com o tema exposto.
apresentação. A técnica de projeção de diapositivos (eslaides, powerpoint ou outros
Na volta aos tópicos sobre a preparação do ambiente e do que falar, o elementos da multimídia) é muitíssimo interessante quando há gráficos,
prévio treinamento da fala pode ser feito em frente a um espelho, perante uma estatísticas e percentuais que são resultados de pesquisas. Nestes casos, as
câmera ou outro método de gravação para posterior análise. Melhor ainda é o ilustrações completam o visual, agradam a todos, prendem a atenção. E, em
treinamento perante um grupo de amigos (os amigos não criticam, e, por sobra, sendo técnicas inovadoras, servem, até mesmo, de bom exemplo para outros
ainda indicam os melhoramentos necessários). membros da platéia utilizarem quando chegar a vez de também participarem
Adicionalmente, deve-se evitar, nos dias que antecedem a apresentação de fala em público.
em público, e sempre que possível, bebidas e outros alimentos gelados. Deve-se ter em mente que quem se expõe em público poderá vir a
Especialmente por parte de quem tem por profissão fazer uso constante da voz, servir de exemplo pelo lado bom – e, neste caso, copiado – ou pela forma
como professores, oradores e pronunciadores de discursos. E, poucos minutos negativa. Nesta última forma, quem deve tirar proveito com os erros alheios é
antes de entrar em ação, deve-se comer uma maçã ou um pedaço de pão de sal o ouvinte, para evitar que também faça tropeços quando estiver como foco das
com manteiga (em últimos casos, margarina). atenções.
Há observações que são aplicadas por analogia em outros segmentos. Os
tenores, as sopranos e os cantores líricos como um todo costumam estar sempre
com um lenço especial ou uma espécie de toalha enrolada no pescoço. Querem, 5.1 AS QUESTÕES PESSOAIS
com isso, apenas manter a garganta sempre aquecida. Nada mais. E a explicação
é que as cordas vocais têm que estar em temperatura apropriada para que a voz
seja qualificada. Assim, quem utiliza sempre dos recursos vocais para o exercício Comumente, ouvem-se explicações desnecessárias por parte de
da profissão e as pessoas que vão falar em público devem se preocupar em oradores. Justificar um atraso, uma voz embargada ou outra situação pode
manter aquecido o pescoço. Uma camisa com gravata já é uma ajuda capaz. Para até chamar a atenção do público para uma qualidade ainda não percebida.
as mulheres, o cachecol em épocas ou locais mais frios. Para todos, alguns Dizer, por exemplo, que a garganta está inflamada pode passar a impressão de
exercícios ou práticas preparatórias, como as citadas anteriormente. que não houve a preocupação necessária para com o momento e que,
Outra informação complementar é ligada à preparação em relação ao portanto, os ouvintes são desimportantes. Pedir desculpas prévias por um
ambiente propriamente dito. Ao chegar primeiramente ao ambiente, ganha-se nervosismo que sequer foi demonstrado (ainda) somente mostrará que há
com a familiaridade com o local e com as primeiras pessoas que chegarem. Uma nervosismo. Erro fatal é alguém anunciar que se trata da primeira vez que
conversa particular com as primeiras pessoas que chegam pode trazer, além da está enfrentando o público (não de trata de a oportunidade número um na
segurança do que os ouvintes buscam com a palestra, um conhecimento do nível localidade, e, sim, a primeira vez propriamente dita).
cultural dos ouvintes, algumas posições assumidas pela platéia e também

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Não é incomum ouvir, em início de apresentações, o próprio orador avisar tratado. Estudar o tema, preparar-se para a exposição e conhecer além do que
não se preparou o suficiente. Um erro crasso. Dentre as impropriedades mais será falado. Com este trio, pode-se ter a certeza de que praticamente nada
comuns, pessoas são previamente escolhidas para falar sobre um livro e, em dará errado. E a certeza de que tudo dará certo já consolida ponto dos mais
público, declaram que não o leram. Outras vezes, pessoas são chamadas de importantes.
improviso à frente e, como desculpas antecipadas pelo auto-anunciado fracasso, Ao desenvolver a palestra, as palavras devem ser bem pronunciadas e
falam que desconhecem o assunto. Quando se trata de distribuição anterior da todo tipo de gíria e palavras de baixo nível deve ser eliminado por completo.
função, o que se espera é a responsabilidade. Se o fato for de surpresa, o que se Palavrões não cabem em qualquer falar, ainda que informal. O linguajar deve
espera é a manifestação do conhecimento geral e de mundo, além das rápidas estar apropriado para todos os presentes. Se a fala é sobre um tema que já
análises que se pode fazer do tema. deve ser do conhecimento de todos, deve-se lembrar que o palestrante estará,
Se o convite é de última hora (no sentido de hora do evento), e há que se obrigatoriamente, trazendo inovações, sob pena de não ter valor o que está
falar sobre um livro, basta ler algumas partes, rapidamente. Se a surpresa ser falando. Portanto, ainda que o público seja selecionado, o uso de jargões –
quanto a um comentário de um filme projetado, como exemplo, que as palavras palavras ou frases conhecidas praticamente por um segmento ou profissão –
se limitem ao que foi apresentado a todos – afinal, o restante da platéia também precisa ser muito bem medido e comedido.
viu e ouviu somente o que o analista acompanhou e não exigirá tanta Igualmente, não se deve optar por estrangeirismos. Há determinados
manifestação técnica. Mesmo assim, um conhecimento de mundo – uma segmentos que são mais propícios a entender termos em outras línguas, como
comparação, um breve histórico ou uma adaptação a um momento – encaixar-se- as áreas de tecnologia. Mas, buscar substituir uma palavra em bom Português
á muitíssimo bem. por outra em outro idioma é a utilização do estrangeirismo, sempre
Também não deve o palestrante tentar justificar com questões pessoais condenado. Quando não há o substituto em língua pátria para uma expressão
como pequenos inconvenientes ou incômodos. As explicações de cunho pessoal não integrante do léxico, o termo em outra língua deve ser precedido ou
somente se mostram convenientes se são do tamanho de uma perda irreparável sucedido de uma explicação plausível.
ou uma doença forte. O ouvinte quer ouvir palavras, encanto, comunicação. Não, Na exposição, as palavras jamais devem ser de manifestações de
as reclamações da parte do palestrante. preconceito ou que possam ferir os sentimentos de pessoas – por suas famílias
Há, pelo menos em termos de maioria, uma posição que pode ser – ou integrantes de algumas corporações. Dizer, por exemplo, que todo
assumida pelo palestrante. Colocar-se contra parte da platéia é desaconselhável. profissional de um determinado setor tem tal comportamento poderá até
Por isso, é altamente pernicioso anunciar-se grande torcedor de um time de agradar a uns poucos, mas sempre podem estar presentes os integrantes
futebol porque sempre haverá opositores entre os ouvintes. A crítica a desses segmentos. E sempre há, em todos os lugares, parentes ou amigos de
governantes deve circunscrever-se a uma palestra em uma convenção político- todas as castas.
eleitoral de um partido político de oposição declarada. A pronúncia mais adequada é a de quem fala toda a palavra, sem
A auto-apresentação exige qualidade especial ao ser exposta. Dizer bem emendar as sílabas finais de um termo com as sílabas iniciais ou únicas das
de si próprio pode levar o ouvinte a concluir que está em frente a um convencido. próximas palavras. É preferível pronunciar pausadamente expressões como “a
Se, por outro lado, o palestrante quer demonstrar muita modéstia no início do lagoa azul” do que, apressadamente, falar algo que tanto pode ser “alagoa”
falar, pode levar o ouvinte a concluir, prematuramente, que não terá nada a quanto “lagoazul”. A pronúncia, porém, não deve ser artificial e
aprender com aquela pessoa tão simples e banal. descompassada com a própria pessoa que fala. Por exemplo, é normalíssimo,
em todo o Brasil, que se diga “di” quando se escreve “de”. Em um discurso
solene, deve-se evitar a pronúncia “di”, mas ao falar “dê” não pode haver
5.2 A QUALIDADE DA FALA ênfase tamanha que demonstre artificialidade ou fique com aparência de
leitura feita por crianças em séries iniciais.
É obrigação de quem se expõe em público preocupar-se com a
Algumas informações sobre a fala devem ser observadas. A primeira delas pronúncia das palavras de forma correta. Não apenas quanto à gramática,
é que, quando há o domínio do que será dito, a confiança trará naturalidade na mas também pela pronúncia das palavras de forma inteira. Não é aconselhável
exposição e, assim, sobrará espaço para outras preocupações. Logo, o primeiro eliminar letras de certas palavras, o que, além de dar o tom coloquial ao que
ponto para que a enunciação possa fluir intensamente é o domínio do tema a ser deve ser solene, mostra despreparo lingüístico. Palavras como “estão”,

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“primeiro”, “pensando” e outras, não podem ser pronunciadas como “tão”, se no papel e deixar de olhar para o ouvinte é tida como atitude de desprezo
“primêru” e “pensânu”. E os vícios de linguagem precisam ser completamente da parte mais importante e motivo da existência do falar em público.
abolidos, pois em um discurso, uma palestra ou em uma simples apresentação E se o assunto é alegre, a face deve exprimir o contentamento como
em sala de aulas, deve-se evitar as frases que não comunicam nada. São complemento do que está escrito. Em momentos fúnebres, por seu turno, a
exemplos negativos as perguntas inócuas como “né?” “ceintendeu?” e outras. O emoção não deve estar entremeada de risos e, taxativamente proibidas,
policiamento das próprias expressões acontece quando se passa a prestar piadas.
atenção na repercussão que a fala deve ter. Comumente, na fala cotidiana, há Como todo texto, ainda que não escrito, somente há coerência quando
palavras que são repetidas a todo instante. E, às vezes, fora do contexto. Quando há uma seqüência lógica. A exposição é lógica quando tem um início
se trata de falar em público, deve-se cuidar com a máxima deferência para que explicativo do porquê da fala, um desenvolvimento que possa acrescentar
não haja estes vícios. conhecimento aos ouvintes e uma conclusão que convence. Inclusive, que
Obviamente, o estoque de palavras que o locutor domina – e as encaixa convence que valeu a pena ter ouvido.
bem e na hora exata – dará maior qualidade ao texto exposto. No mundo
globalizado da atualidade, dominar a Língua Portuguesa de maneira mais ampla
pode significar a diferença entre atingir o topo ou, quando muito, ficar na base. E 5.3 POSTURA
pode representar o divisor de caminhos que quedam para o submundo ou alçam
para o auge. Conhecer a norma culta – o chamado Português padrão ou escolar – Os três últimos parágrafos anteriores poderiam estar locados no
e utilizá-la apropriadamente é o mínimo que o mercado atual exige de um presente tópico. É que misturam fala com postura. Mas, se aqui estivessem,
candidato a um posto. Fora deste contexto, as reservas de vagas são de empregos haveria necessidade de referência a eles também no segmento anterior. Logo,
cada vez menos valorizados e, pior ainda, que estão sendo extintos de forma uma parte mostra-se como complemento da outra.
incontornável. Grande parte do ganho em uma apresentação em público vem do
Ainda quanto à fala, o seu tom, em princípio deve ser o mais apropriado modo com que o ocupante do centro das atenções se comporta naquele local
para as condições locais. Por exemplo, se há o uso de microfone, o normal é que a de destaque. Este local pode ser uma tribuna, um tablado, um palco. Pode ser
altura da voz seja a de uma conversa pessoal. Se o ambiente é grande e não há também o fato de estar em pé na frente dos colegas de sala ou na frente das
microfone, ou este não expande o som com qualidade, há necessidade de altear câmeras de televisão – um caso típico de solidão imediata e presença de
um pouco a voz. Há momentos, porém, que a fala exige empolgação, como nos enorme público de forma mediata.
discursos. Nestes momentos, a elevação do tom é de boa técnica. Para todos estes momentos, o corpo deve fazer parte da comunicação.
Se o palestrante notar que algum grupo da platéia está se dispersando, Quando a fala é em pé, a atenção deve centrar-se na forma firme de estar no
há técnicas como altear a voz ou manter o olhar mais direcionado para o lado em palco, ainda que atrás de uma tribuna. Quando quem fala está sentado, não
que o grupo ocupa. se deve escorar na mesa ou mostrar-se muito à vontade (no sentido de
Considerando, por fim, que a fala é a exteriorização do conhecimento desleixadamente) em cena. Deve haver preocupação com as mãos – que não
gramatical, deve-se levar em consideração o conhecimento das palavras a serem podem ficar em bolsos. Os braços não podem ficar cruzados ou como escoras
escritas ou pronunciadas de improviso. Quase sempre, é importante não utilizar em paredes ou tribuna.
de palavras muito fora da realidade, as chamadas palavras rebuscadas. Algumas As pernas devem suportar o corpo de forma uniforme. Devem estar
construções eruditas, porém, dão bom acabamento aos dizeres. As citações de não muito separadas por questão estética e não juntas para dar equilíbrio
autores clássicos sempre fornecem qualidade ao texto escrito ou falado. A maior. Jamais se deve colocar o peso do corpo ora sobre uma das pernas e ora
cautela, porém, deve imperar, pois se o palestrante tem dizeres cotidianos não sobre a outra.
condizentes com o que está lendo – principalmente, em discursos lidos – pode Quanto aos ombros, há duas observações. Deixá-los caídos pode
levar os conhecidos membros da platéia a concluir que o texto não é de autoria de passar a idéia de extrema humildade – e quem quer ouvir pensa que irá
quem o pronuncia. aprender algo com o palestrante e pensa também que este aprendizado não
Ao ler um texto escrito, deve-se ter a preocupação de sempre estar com os virá de pessoa humilde ao extremo – mas a elevação demasiada dos ombros e
olhos também direcionados ao público ouvinte, motivo, aliás, do discurso. Fixar- da cabeça demonstra arrogância e convencimento. Ingredientes suficientes
para trazer o desinteresse por parte do público.

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colocar um ponto polêmico. As partes que podem trazer contradições somente


devem aparecer em momento de maior discussão ou profundidade da matéria.
6 O INÍCIO DO FALAR E, como dito, o momento é de início e não do desenrolar do tema.

Motivos de preocupações várias, o início de uma fala serve como uma


primeira impressão. Para bem impressionar, deve-se exercer os dons em 6.1 EXERCÍCIOS, AUTO-AJUDA E ORAÇÕES INICIAIS
quantidades próprias e específicas. O exagero na demonstração de confiança pode
ser interpretado como convencimento e menosprezo pelo ouvinte. Por outro lado,
o excesso de humildade pode ser interpretado como desconhecimento sobre o Há cursos especiais, quase sempre ligados à área da neurolingüística,
assunto a ser explicado. Na fase intermediária, o ponto de equilíbrio é a que preparam os oradores para o relaxamento, o pensamento positivo e a
sobriedade, a tranqüilidade autêntica. auto-ajuda nos momentos iniciais de uma oração em público. As técnicas são
A saudação aos ouvintes já deve ser uma forma de aproximação e variadas e, como quase tudo em auto-ajuda, tendem mais a levar a pessoa a
cumplicidade do ouvinte para com o falante. Para despertar e prender a atenção se sentir dotada de uma tranqüilidade que vem de si própria. Há exercícios
de quem ouve, algumas técnicas podem ser observadas. Variam de ocasião para físicos, porém, que escapam destas falsas ajudas, como movimentar braços,
ocasião e entre estilos de pessoas, de público-alvo e de faixa etária dos ouvintes. fazer simples alongamentos e o ato de balançar o pescoço por alguns minutos.
As condições planejadas para o início devem ser seguidas à risca. Outros movimentos, ainda na fase dos exercícios prévios, têm
Somente cabem improvisos quando houver um imprevisto não controlável (como utilidade, como esfregar suavemente as mãos (mas, jamais ficar esfregando
a falha em equipamento) ou quando o orador já domina por completo as técnicas mãos durante a fala, em demonstração de nervosismo) ou mesmo ocupar-se
de apresentação em público. conversando com alguém que não esteja com predisposição à feitura de
Dar início reconhecendo as qualidades do auditório pode ser uma boa críticas: se possível, com alguém que traga positividade, confiança e
recomendação quando há grande quantidade de pessoas. Se o público é segurança. Respirar profundamente é exercício excelente até para as cordas
diminuto, tentar mostrar que a qualidade supera a quantidade pode demonstrar vocais.
que havia a expectativa de outro público e que, portanto, aquele povo presente No setor da auto-ajuda propriamente dita – e sem qualquer influência
foge do padrão esperado. física, mas meramente esotérica – não é demais pensar positivamente,
Quando se está em uma localidade diferente do local onde vive, uma prevendo a certeza da vitória e o reconhecimento pelos integrantes da audição.
referência a algum fato ou família da região pode trazer uma aproximação. Pode. E, considerando que em naufrágios não há nem um ser humano que
Há vezes que a referência a uma família de políticos pode trazer desagrado a se diga ateu, sempre é recomendável um pedido aos anjos e santos, buscando
outra família partidariamente adversária. E, em vez de aproximar, causa uma má uma intercessão junto a Deus.
impressão desde a primeira vista. Ao caminhar para o palco, faça-o com segurança, com passos firmes e
Entre os ouvintes poderá estar grande parte dos que gostariam de ouvir com cuidado para não tropeçar ou cair de lugares mais elevados (as
referências a ilustres figuras regionais ou cujos temas abordados guardam “pegadinhas” correm o mundo todo, sendo sucesso na televisão; e mostram
semelhança com o que será exposto. Muitas pessoas preferem mostrar que estão pessoas caindo de passarelas em momentos em que são destaques e centro
adorando a cidade e sua gente, quando as vêem pela primeira vez, ou que já as das atenções). Ao tomar o lugar na mesa, tribuna ou na frente dos colegas de
conhece e têm o privilégio de uma nova presença, quando estão repetindo a visita. sala, pense em manter a calma e a segurança nos primeiros momentos e, por
Neste último caso, é uma forma discreta de mostrar competência: houve novo natureza, controlará o restante do tempo. Repete-se: somente nos primeiros
convite porque agradou da vez anterior. momentos há uma atenção especial quanto à firmeza e segurança necessárias.
Antes do início da palestra propriamente dita, há duas técnicas de O tempo se encarrega do restante. E com qualidade. Especialmente, quando
demonstração de que o palestrante conhece o tema a ser exposto. Uma delas se tem treino.
consiste em ter um resumo do currículo lido por um anfitrião ou mesmo a auto-
apresentação do palestrante. Outra forma é fazer um pequeno resumo, como
introdução do que será abordado com profundidade durante a fala, sem jamais

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7 O DESENVOLVIMENTO DO FALAR atenção do palestrante será a sua arte de falar. E, de fato, será uma arte bem
executada.
Durante a exposição, deve-se tomar água, para hidratação das cordas
Feita a introdução, vem a parte que é o motivo da exposição. Hora de o vocais. Claro, água não gelada.
palestrante mostrar por que está em local de destaque em relação aos demais. Quando a fala é improvisada, deve-se ter em mãos uma folha com
Em termos acadêmicos, há sempre um porquê de o palestrante estar anotações dos tópicos, para acompanhamento do seu desenvolver. Os
ocupando a tribuna. Neste ponto, há o desenvolvimento do tema proposto, com lembretes da ordem da articulação das idéias podem estar impressos ou na
exibição de multimídia ou a fala de modo a causar impacto positivo. Para tela de um computador portátil. É dispensável esta técnica apenas e tão-
conseguir esta positividade, além da grandeza do tema a ser abordado, deve-se somente quando há projeção de eslaides, com as técnicas da denominada
também utilizar de recursos de oratória, demonstração de segurança na multimídia, pois cada transparência projetada é um aviso do momento certo
exposição e completo conhecimento do tema em desenvolvimento. para a explicação seqüenciada da fala.
Caso na introdução tenha sido feito um sumário do tema a ser abordado, Deve-se frisar que se deve evitar fazer leitura do que está em mãos ou
vale pegar as últimas informações expostas e começar daí o aprofundamento do do conteúdo da projeção, exceto em se tratando de números ou frases
falar. A retomada, que liga a introdução a este meio ou desenvolvimento, pode ser atribuídas a pessoas cujos pensamentos vêm completar a apresentação. Ou de
feita com uma frase curta na qual se encerra o resumo do tema a ser tratado. discurso escrito.
Dependendo de condições como público-alvo e grau de ineditismo do Se for um discurso escrito previamente, não é aconselhável completar
tema tratado, uma retrospectiva histórica do tema é necessária para a situação a ordem escrita com falas improvisadas, porque demonstra que a escrita não
da matéria. Mesmo não necessária no contexto, alguma referência à história recebeu as preocupações prévias, necessárias e suficientes. Logo, o
sempre causa uma boa ligação do aparecimento do assunto e a sua importância entendimento pode ser no sentido de que houve desprezo para com os
em permanecer aceso até o presente. Sempre que possível, as informações devem ouvintes e presentes. As lembranças de última hora costumam ser
ser desconhecidas ou pretensamente desconhecidas da platéia, sob pena de não entremeadas de omissões de nomes, fatos e histórias complementares. Se não
lhes ser acréscimo de saber. foi motivo de atenção inicial, não deve sê-lo de última hora.
Quando se trata de uma pesquisa, a partir do presente momento é que Especialmente em textos escritos, a improvisação adicional
aparecem todos os detalhes revelados com o estudo. Histórico, evolução, correspondente a acréscimos fora do tema. Estas mudanças não devem
comparação, quantidade, importância e outros tópicos do estudo devem ser ocorrer mesmo em não sendo o texto escrito, e, para isto, é só manter a linha
expostos com exatidão e consciência. Sempre que possível, com gráficos, textos, inicialmente traçada.
ilustrações, fotografias e outros meios de levar a todos as informações que – Ainda em se tratando de discurso escrito, lembrar que a platéia não
preferencialmente – só a pesquisa que está sendo exposta conseguiu mostrar. A está com o texto em mãos. Logo, se houver um erro corrigível, é quase sempre
hora é a de mostrar depoimentos de pessoas pesquisadas, os números mais aconselhável tentar corrigir sem voltar e pronunciar o que está escrito do
importantes que foram descobertos e qual o melhor caminho que deve ser que ultrapassar o momento apresentando solução de improviso (exemplo: se
trilhado, por parte de quem quiser entre os presentes, para a reconstrução da está escrito “está” porque a frase complementar encontra-se no singular e, por
pesquisa. erro, pronunciou-se “estão”, é mais fácil passar toda a frase restante para o
Ainda em termos de pesquisa, a apresentação do problema exigirá a plural ou acrescentar uma outra situação a seguir e de forma a justificar o
amostra de qual a solução a que se chegou. plural do que dizer “desculpem-me, quero dizer ‘estão’”). Se, ainda no exemplo,
o texto continha o verbo “está” porque a referência é à Faculdade, e houve a
pronúncia pluralizada “estão”, pode-se falar “a Faculdade e seus acadêmicos”
7.1 DURANTE A APRESENTAÇÃO e continuar a frase como se a parte “e seus acadêmicos” estivesse previamente
preparada e escrita com antecedência.
Em caso de equívocos, tentar agir com naturalidade é a receita
Estando tudo previamente preparado e conferido, haverá tranqüilidade da própria. Quase sempre, a correção traz maior prejuízo do que a explicação que
parte do palestrante. Não havendo preocupações extraordinárias, o centro da foi exposta de forma não correta. A correção tem o poder de chama a atenção
para quem não estava necessariamente entrosado com a exata seqüência. E se

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alguém estava prestando atenção, pode ser que não domine o tema a ponto de Há importância também quanto aos gestos – também por isso, a
notar o equívoco. Por último, se alguém percebeu o erro, ao notar que o orador liberdade para as mãos. Mais do que necessário, o casamento de gestos e
continua agindo com naturalidade, entenderá que ocorreu apenas um equívoco palavras deve ser perfeito. A moderação deve imperar. Gesticular é arte que se
na pronúncia, um fato inconsciente, e que, de fato, não é um erro e, sim, apenas aprende em cursos de oratória. E chega-se a este ponto com duas técnicas
uma troca de palavras na hora de expressar. Em sala de aula, por estar de frente especiais: a primeira, tendo conhecimento do tema e dominando o assunto
para alunos ou colegas com quem se convive por um semestre ou um ano, quase com profundidade, o que fará sobrar tranqüilidade ao palestrante para ação
sempre é válida a correção. O próprio tempo se encarregará de mostrar que houve com maior naturalidade. A segunda técnica é o treino da arte de discurso,
uma simples falha ao expor e, não, um erro. sendo uma delas a observação, por filmes, dos próprios pronunciamentos,
No desenvolver da exposição, deve-se calcular bem o tempo da para tentar corrigir as falhas que aconteceram.
apresentação em comparação com o tempo que foi disponibilizado. A principal O uso de equipamento tecnológico é ideal para ajudar na fixação, por
função é não terminar antes e não extrapolar o tempo ou ter que resumir a parte parte do participante passivo, dos temas desenvolvidos. Quando se trata de
final para não ultrapassar o marco temporal. Mas, em caso de sobra de tempo, um trabalho em sala de aula, feito pelo professor ou pelos colegas em
pode-se utilizar de técnicas como fazer um pequeno resumo com a naturalidade Seminário, a entrega de uma folha ou a anotação dos tópicos ou esquemas no
de quem já previra esta feitura, além de colocar-se à disposição para quadro já fazem as vezes de equipamentos tecnológicos. É que os alunos já
questionamentos. estão preparados para gravarem algumas explicações, copiarem outras e
Se a apresentação permitir, pode-se utilizar de recursos tecnológicos completarem as demais por suas próprias conclusões.
como forma de diversificação, mesclando textos com cenas de filmes, Em uma palestra, com tema distinto, sempre cabe o uso da tecnologia.
apresentação de gráficos coloridos ou animação como demonstrativos do que está Há estudos que revelam que uma exposição apenas verbal é esquecida no
sendo exposto. Sempre é necessário fazer os chamados créditos às frases, cenas e terceiro dia por 90% dos que estavam presentes, sendo que, destes presentes,
ilustrações alheias. Assim, se o texto desenvolvido não é escrito mas há uma alguns sequer entenderão a exposição no exato momento em que está sendo
projeção de uma frase em um telão, até por cumprimento da lei, deve aparecer o mostrada. Se houver uso de tecnologia como mostrar filmes, gráficos,
nome do autor da frase. ilustrações, músicas e outros recursos relacionados ao tema exposto, supera
Legalmente, por sinal, a exposição de recursos como cena de cinema, em 65% o grau de percepção, aprendizado e fixação. E por muito maior tempo.
demonstração de gráficos e outros estudos, deve ter a prévia autorização do Os objetivos dos efeitos visuais se escoram em um tripé composto de destaque
autor. Se for o caso, com o pagamento dos direitos autorais. para as informações, fixação e lembrança posterior e acompanhamento do
A fala deve manter o máximo respeito pelo público. A polidez e a desenrolar da apresentação.
educação devem imperar. O público merece ser olhado de frente. E o assunto a Principalmente, o tamanho das letras deve ser de forma a permitir a
ser exposto deve ser transmitido de forma a expor o máximo conhecimento visualização por todos da platéia. Mais um motivo para conhecer,
adicional possível. Afinal, repetir o óbvio e consabido não é motivo de estar em previamente, o local, com a lembrança de que mesmo que haja espaço
um palco, local de destaque. Somente quem tem conteúdo deveria se expor para sobrando em lugares mais próximos do telão, sempre há os ouvintes que se
falar. E esta observação tanto vale para o palestrante quanto para o professor em posicionam em locais distantes. E também a eles devem chegar a visão das
seu dia a dia e, em ocasiões de apresentação de trabalhos escolares, para os letras. Por sinal, em cores variadas, porém discretas.
alunos que estiverem fazendo técnicas de Seminário Acadêmico (apresentação de
trabalhos escolares).
Se o microfone estiver fixo em um pedestal, as mãos do palestrante 7.2 AS PERGUNTAS E A PARTICIPAÇÃO DA PLATÉIA
devem ficar livres. O mesmo quanto aos modelos de fixação em lapela ou que se
encaixam na cabeça.
Caso haja pane no microfone ou outro equipamento, por seu turno, e não Há tipo de palestra que permite a discussão do tema. Normalmente, a
haja operadores presentes para a adequação, vale a criatividade do palestrante. melhor técnica é, ao iniciar a exposição, explicar ao público que a
E, neste momento, o domínio da platéia pode até ser feito com bom humor (que apresentação será desenvolvida de forma corrida, sem interrupções e, ao fim,
pode até chegar a uma piadinha discreta e que se encaixa com a situação, o que será aberta a oportunidade para debates.
tornará diferente a situação de constrangimento inicial).

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Preferencialmente, as perguntas devem ser dirigidas de forma escrita. Se há um texto escrito e um discurso é pronunciado, deve-se dar uma
Isto evita que pessoas tomem o microfone para fazer longos discursos e, também, ênfase maior na entonação e impostação da voz para que todos se voltem
que em vez de perguntas, façam apenas manifestações. Também a forma escrita exclusivamente para o texto em lume. Se há comentário sobre eslaides, deve-
fará com que o intermediário ou o próprio palestrante faça um filtro das formas se reservar algum recurso de chamar a atenção – de forma natural, sem que a
das perguntas, una uma pergunta a outra se há semelhança entre elas e, própria fala se encarregue de dizer que pede a atenção de todos – que
sobretudo, evite repetição de questionamentos. culminará no ato final a ponto de requerer aplausos de uma forma quase
Quem está fazendo uma apresentação de um trabalho acadêmico ou uma natural. É hora de receber os aplausos não porque está livrando os ouvintes,
palestra deve, também, estar preparado para quaisquer perguntas, por parte da mas porque aquela audição foi lucrativa para estes ouvintes.
platéia, dentro ou próximo do tema. E, nas respostas, é preferível dizer que não Alguns recursos próprios são a retrospectiva do que ficou exposto, em
domina completamente aquela parte do que tentar dizer que conhece o que, de uma forma de um extrato do que de mais relevante ficou tratado.
fato, não sabe sobre o tema. Deve-se lembrar que quem expõe uma questão Entre as últimas palavras, um agradecimento pela oportunidade, com
complexa já detém conhecimento do assunto em grande quantidade e somente reconhecimento da boa qualidade do auditório. E é o momento de deixar entre
sentirá satisfação na resposta se ela vier a lhe acrescentar algo. Assim, deve-se os ouvintes algum questionamento que deverá pautar o comportamento de
ter um conhecimento adicional sobre o tema, e, de preferência, um conhecimento todos daquele momento em diante. O bom falante é o que consegue mudar a
geral – que se obtém com constante e ilimitada leitura – para buscar socorro em trajetória da vida do ouvinte, conduzindo-o ou reconduzindo-o ao caminho que
frases que se encaixam na explicação. foi mostrado na palestra. Não significa, obrigatoriamente, um desvio de rota.
Quando há participação dos ouvintes, com perguntas, complementos e Pode ser uma nova maneira de ver e de se referir a um assunto ou,
observação, aparece o melhor momento para ajustar e segurar os ímpetos, simplesmente, pode ser um acréscimo de conhecimento entre o já detido pelos
controlar as respostas e dosar a fala a seguir. Principalmente se a resposta presentes na audição.
comportar explicações fora da programação, o autocontrole, a paciência, a É desejável que não haja repetição de frases prontas e já tantas vezes
inteligência, o raciocínio rápido, a memória e a capacidade de contornar situações ditas. Dizer, ao fim de um discurso “tenho dito” ou algo como “era o assunto
desagradáveis se mostram. pelo qual eu vim falar” ou ainda “não sei se agradou, mas era somente o que
tinha a dizer” são, caracteristicamente, fora de propósito. O próprio
agradecimento deve ser no meio de uma frase de demonstração da satisfação e
8 O ENCERRAMENTO DO FALAR da felicidade pelo momento. Dizer “obrigado” ao fim é interpretado pelos
estudiosos como desaconselhável com a explicação de que se alguém foi
convidado a dar uma palestra, quem se sente “obrigado a retribuir” é o
A figura da comparação é a de um livro. Se as primeiras palavras ou os ouvinte. Em outras palavras, quem é convidado a falar deve ocupar um
primeiros capítulos não trouxerem elementos que prendam o leitor, haverá destaque bem maior do que o ouvinte, tanto é que este ouvinte é que deve ter
desistência. Se as palavras iniciais não forem bem expostas, o leitor se dito o prazer de ouvir. Não, o contrário.
dispersará. Se as idéias não forem bem expostas no início, não prenderá o leitor
para chegar ao meio.
Também o fim de um livro deve ser motivo de lembrança por parte do 9 CONCLUSÃO
leitor. Um fim classificado como insosso pode comprometer todo o desenrolar do
texto.
Na fala, o mesmo acontece. Há grande importância do início para que O texto presente chega ao fim. Não, o seu estudo. Há práticas a serem
haja a atenção dos ouvintes. O desenvolvimento deve trazer um conteúdo capaz insertas e há pesquisas a serem feitas.
de acrescentar ao ouvinte, sob pena de este entender que perdeu tempo com a Hora, porém, de lembrar uma frase que faz parte da música “Coração
palestra. Tranqüilo”, de autoria de Walter Franco e que diz: “Tudo é uma questão de
Mas, sem dúvidas, o fim é o momento marcante e que determinará, manter/ a mente quieta/ a espinha ereta/ e o coração tranqüilo”.
inclusive, se o ouvinte recomendará a outrem assistir as falas daquela pessoa que
já foi ouvida.

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Um conselho final vem do Professor Wanderlino Arruda: “Deve-se falar O’BRIEN, Dominic. Falar em público: técnicas e dicas simples para memorizar
em pé, para que todos o vejam; alto, para que todos o ouçam; pouco, para que discursos rapidamente. São Paulo: Publifolha, 2005.
todos o aplaudam”.
PASSADORI, Reinaldo. Comunicação essencial. São Paulo: Gente, 2007.

POLITO, Reinaldo. Assim é que se fala. Prefácio de Márcio Thomaz Bastos. 27.
10 BIBLIOGRAFIA SOBRE A ARTE DE FALAR EM PÚBLICO ed. São Paulo: Saraiva, 2005.

______. Como falar corretamente e sem inibições. 111. ed. São Paulo: Saraiva,
Há diversos meios de ensinar, validamente, como falar em público. Como 2006.
já anotado, variam de cursos em fitas, CD’s, DVD’s, e, principalmente, a forma
impressa. ______. Como falar de improviso e outras técnicas de apresentação. 11. ed. São
Há vários motivos para que os livros estejam entre os mais firmes e Paulo: 2006.
valiosos entre os meios ou suportes físicos. Inicialmente porque a substituição
total do impresso por outros suportes ainda não é uma realidade mundial. ______. Vença o medo de falar em público. 28. ed. São Paulo: Saraiva, 2005.
Também porque diversos meios adicionais como DVD são acréscimos que
acompanham os livros. ______. Recursos audiovisuais nas apresentações de sucesso. 11. ed. São
Há, portanto, predominância da modalidade impressa para a arte de Paulo: Saraiva, 2006.
ensinar a fazer bons discursos, escrever corretamente, redigir sem traumas um
texto a ser apresentado visual, oral ou graficamente. Por isso, a seguir, serão ______. Seja um ótimo orador. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2005.
mostrados alguns nomes de livros, com seus autores e fontes de edição, que
tratam do tema ora em destaque. ______. Superdicas para falar bem em conversas e apresentações. São Paulo:
Poderiam estar apresentados em forma de parágrafos. Houve a escolha do Saraiva, 2006.
formato científico de fazer referência, como um exercício a mais por parte dos
estudantes de cursos superiores. POWELL, John; BRADY Loretta. Arrancar máscaras e abandonar papéis: a
Portanto, a seguir, alguns livros que tratam do assunto. O campeão em comunicação pessoal em 25 passos. Tradução de Bárbara Theoto Lambert.
publicações e edições renovadas é Reinaldo Polito. Há, de outra forma, pessoas São Paulo: Loyola, 1994.
que estão merecendo destaque na atualidade. Algumas, unicamente por
competência. Outras, porque têm cursos de oratória sediados nos grandes
centros e, nestes, há a divulgação do material em formato de livro. Há ainda
outros autores que aparecem como destaque porque suas editoras têm espaços 11 O AUTOR
publicitários insertos em programas de televisão como se fossem notícias, o que
ajuda a divulgar os trabalhos. Waldir de Pinho Veloso é Advogado, Professor Universitário nas
Como já frisado, em alguns livros a seguir indicados, o material impresso Faculdades Santo Agostinho e escritor. Autor, dentre outros, dos livros
– o livro, propriamente dito – vem acompanhado de outros suportes físicos para “Comentários aos Direitos Reais no Código Civil”, “Filosofia do Direito” e
condução de outras tecnologias, como CD’s e DVD’s. “Como Redigir Trabalhos Acadêmicos: Monografias, Dissertações, Teses e
TCC”, todos pela Editora IOB Thomson, de São Paulo.

BORGES, Samuel. Pequeno manual de comunicação oral e marketing pessoal. São


Paulo: United Press, 2007.

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12 REFERÊNCIAS E CITAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS

A citação de qualquer parte deste trabalho deverá, obrigatoriamente,


indicar o autor e a fonte. De conformidade com a NBR 6.023/2002, da Associação
Brasileira de Normas Técnicas, este ensaio deve aparecer com as seguintes
referências:

VELOSO, Waldir de Pinho. A arte de falar em público. Disponível em:


<http://www.waldirdepinhoveloso.com/artigos/aartedefalarempublico.pdf>.
Acesso em: (colocar a data como 10 set. 2007).

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