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Derrube as paredes que aprisionam vocé! TIN UREN CR et OT USTs Dr. Bruce Thompson e Barbara Thompson => Coraca Dr. Bruce Thompson e Barbara Thompson <>) Editora Jocum SOBRE O AUTOR ilhares de pessoas em diversas partes do mundo tém sido abencoadas pelo ministério do Dr. Bruce Thompson. Sua série de palestras sobre 0 sofrimento e traumas emocionais e seus efeitos sobre a personalidade tem levado alivio, libertacao e cura a muitos lideres, leigos e obreiros cristaos. Agora, com a publicagio de “Paredes de Meu Coragio”, abre-se a possibilidade de muitos mais conhecerem essas maravilhosas verdades. Todo lider cristao precisa inteirar-se das revelagdes que Deus tem confiado ao Dr. Bruce Thompson, pois por meio delas aprendera a compreender melhor aqueles com quem trabalha. Todo aquele que tem o anseio de servir a Deus precisa ler este livro. Nele aprendera a conhecer melhor a si mesmo, suas desilusdes, seu sentimento de inseguranca, seus sonhos; descobrird também como pode servir ao Senhor de modo mais eficiente. Seria muito proveitoso as igrejas e institutos biblicos adotarem esta obra como livro-texto em cursos sobre vida crista. Seu contetido é perfeitamente biblico, e trard beneficios praticos de valor incalculavel a quantos 0 lerem. Recomendo sua leitura a todos. Floyd McClung Jt. Diretor Executivo de Operacdes Internacionais JOCUM, AGRADECIMENTOS uero agradecer, primeiro, a meus dois filhos, Michael e Lionel, por sua jparticipacdo neste projeto que exigiu uma razoavel parcela de nosso tempo. Em segundo lugar, desejo expressar profunda gratido a minha espos® Barbara, que trabalhou longas horas no computador escrevendo, rees- ctevendo e revisando o texto. Meredith Nee Puff que fez uma valiosa contribui- cdo através de sua edicao e critica literaria. Dale Buehring, diretor da Crown Ministries International, e sua esposa Evie, foram um constante incentivo para nds, 0 apoio de que precisavamos quando poderfamos ter desistido no meio do caminho. Ademais, seu vasto conheci- mento de producao e marketing tem sido uma béngio. Larry Wright e a equipe do Procla-media que se juntou aos Buehrings para revisar e completar a segunda edicao. Estendo um agradecimento especial a Jean Darnell por seu ministério pro- fético em relagao 4 nossa vida. Minha gratidao ao pessoal da Faculdade de Aconselhamento e Assisténcia Mé- dica, que além de orar por nosso trabalho, néo poupou esforcos para a feitura deste livro. Por fim, quero agradecer a Loren e Darlene Cunningham, bem como a junta diretora da Universidade das NagGes, pelo seu precioso estimulo e pelas béngaos que recebemos no convivio com eles, e que resultaram na producao desta obra. PREFACIO 0 inicio da década de 70, eu e minha esposa, Barbara, trabalhamos du- rante algum tempo num posto missionario de uma localidade remota, no norte de Gana, Africa. Além de prestar servico num leprosario e num pequeno hospital, comecamos a realizar um trabalho de assisténcia médica iti- nerante. Visitavamos aldeias onde permaneciamos varios dias em contato direto com 0 povo do lugar. Dessa forma, pudemos conhecer bem a vida rural africana. F foi com essa experiéncia que tivemos ocasido de enxergar a ciéncia médica por uma perspectiva nova. Vimo-nos nao apenas cuidando das enfermidades daque- la gente, mas também buscando meios de preveni-las em meio ao seu contexto fisico. E em pouco tempo, estavamos envolvidos numa empolgante experiéncia: © tratamento do ser humano em seu todo. Além de cuidar dos males do corpo, lidavamos ainda com suas caréncias emocionais e espirituais. Regressando a Nova Zelandia em 1973, resolvemos continuar empregando o mesmo principio, e fundamos uma clinica para tratamento do ser humano integral, contando, entio, com a colaboragéo de uma equipe de pastores. Ali vimos intimeros pacientes sendo curados e abencoados. Mais tarde transferimo-nos para Kailua-Kona, no Hawai, indo trabalhar com a JOCUM, uma organizacao missionaria internacional e interdenomina- cional, onde criamos um ministério de aconselhamento espiritual. Desse mi- nistério nasceu, em 1976, a Faculdade de Aconselhamento e Assisténcia Mé- dica, uma das sete Faculdades que compdem a Universidade das Nagdes, da JOCUM, que atualmente esta sendo implantada em outras partes do mundo. Os conceitos que exponho neste livro e ministro no curso da Faculdade sao fruto de experiéncias vividas na Africa, na Nova Zelandia e no Hawai. O que aprendi devo aos meus pacientes, orientadores e alunos; foram todos meus mestres. Meu Mestre supremo, todavia, tem sido o Espirito Santo. Meu livro de consulta é a Biblia, inspirada por Deus e util para solucionar todo tipo de problema que afeta o ser humano. 10 - Parepes po Meu Coracao | Bruce Tompson Lemos em Provérbios 4:23 que tudo de mais vital para o homem procede do seu coracao. Conscientemente ou nao, todos nds sabemos dese fato, e por isso erguemos paredes, muros de protecao ao redor dele. Acontece, porém, que tal protecao é enganosa, e muitas vezes essa tentativa de auto-defesa acaba se transformando nas muralhas de um carcere pessoal interno que aprisiona nossa verdadeira personalidade. Ao término deste estudo estaremos vendo o que é a personalidade madura, integral, delineada na Biblia, que Deus deseja que cada um de nds alcance. Es- pero que, de posse dessas verdades e buscando a maturidade plena em Cristo, o leitor possa experimentar essa transformacao. Se sentir que est tendo dificuldade para fazer a aplicagao na pratica de alguma das questdes aqui debatidas, sugiro que consulte um pastor ou conse- lheiro crente de sua confianga. E agora uma palavra a meus paciente e amigos com quem tanto aprendi. Podem estar certos de que ao narrar experiéncias para ilustrar os ensinamen- tos, tivemos 0 cuidado de manter em sigilo a identidade de cada um. Modifi- camos nomes e circunstancias para que ninguém seja reconhecido, e venha a tornar-se alvo de constrangimentos. E se alguém se identificar num ou noutro fato narrado, lembre-se de que muitas pessoas esto vivenciando problemas e provacdes semelhantes aos seus. E €a vocés, meus pacientes e alunos, que dedico este livro, a todos que, em busca da vida e da verdade, desencadearam o processo de descoberta dos conceitos aqui expostos. “Até que finalmente todos creiamos do mesmo modo quanto nossa salvagiio e ao nosso Salvador, 0 Filho de Deus e todos nos tornemos amadurecidos no Senhor. Sim, crescermos a ponto de que Cristo ocupe completamente todo 0 nosso ser” (Ef 4:13). Bruce R. T. Thompson INDICE Primetra Parte: O CoLarso DA PERSONALIDADE 1. SOBRE MINHA CABECA. 2. ALGUMA COISA ESTA FORA DE PRUMO.. 3. ASSOLADOS POR TEMPESTADE 4. UVas VERDES... 5. PAREDES DE PROTECAO DECORRENTES DA REJEICAO.. 6. PAREDES DE PROTECAO DECORRENTES DA REVOLTA... 7. CADA UM COM SUA PROPRIA MANEIRA DE VIVER.. 8. ATRAS DAS PAREDES... SEGUNDA Parte: A RESTAURACAO DA PERSONALIDADE 9, RECONSTRUINDO OS ALICERCES.. 10. DEsCOBRINDO QUEM E 0 PAL... TL. O PADRAO ESTABELECIDO POR DEUS. 12. O CORAGAO ATORMENTADO. 13. DERROTANDOO INIMICO. 14. UMNovo comEco... 15. SURGE UM NOVO CARATER... Parte I O COLAPSO DA PERSONALIDADE “Ah! meu coragio! meu coragio! Eu me contorco em dores. Oh! As Paredes do Meu Coracio! Meu coragio se agita! Niio posso calar-me, porque ouves, 6 minha alma, o som da trombeta, oalarido de guerra.” Jeremias 4.19 1 SOBRE MINHA CABECA estacionamento em direcao ao consultério, senti gotas de suor se forma- rem em minha testa. Nuvens escuras se acumulavam pelo céu, prenun- ciando outra tempestade tropical. “Com a chuva, pelo menos essa sensacao de umidade diminui”, pensei. Notei que o dia havaiano, normalmente claro e brilhante, tornara-se meio escuro, e 0 ar parado, denso, parecendo esperar com certa expectativa que a tempestade desabasse. A atmosfera estava permeada pelo perfume das flores que me chegava as narinas com forca inebriante. Abri a porta do consultério e entrei, gozando a agradavel sensagao de um ambiente mais fresco. Peguei a agenda para ver o que teria pela frente no restante do dia. O primeiro da lista era Larry Coombs, um novo paciente. Chegou as duas horas em ponto. Era alto e magro, e tinha cabelos castanho- escuros bem penteados. Cumprimentei-o e observei que ficou a remexer ner- vosamente na roupa. Tinha o irritante habito de morder o bigode. Embora nao houvesse muita claridade no consultério, fiquei surpreso por ele nao fazer nem uma tentativa em remover 0s dculos escuros. “Como vou conseguir romper toda essa reserva?” Pensei. O que poderia dizer para levar aquele homem a relaxar e “baixar um pouco a guarda”? E: uma tarde quente e timida de abril. Atravessando apressadamente 0 UMA SITUACAO DIFICIL Aesposa de Larry era nossa cliente havia ja alguns meses. Era crente, mas encontrava-se 4 beira de um colapso nervoso. O marido bebia muito e consu- mia drogas. Além de corroer a renda deles, isso estava destruindo 0 relaciona- 16 - Parepes bo Meu Coragao | Bruce THOMPSON mento do casal. Eu e ela estvamos orando por Larry. Dois dias antes, ela havia me telefonado muito animada, informando que ele afinal consentira em ter uma entrevista comigo. Agora, olhando para ele ali, afundado numa de nossas poltronas, a cabeca virada para um lado, pus-me a matutar no que poderia fazer para ajudé-lo. Entao comecei a dirigir-lhe algumas perguntas. ~ Larry, seu pai conversava, brincava com vocé? Ele o disciplinava? Ele resmungou qualquer coisa forcando-me a me inclinar para diante na tentativa de ouvir 0 que dizia. Passaram-se alguns minutos e afinal ele se levantou, como se nao estivesse mais aguentando ficar parado, e se pos a caminhar de um lado para outro. Foi entao que descarregou uma torrente de palavras. ~ Meu pai! Ah! Ele nunca se interessou por mim. Vivia me xingando e me derrubando no chao. Nunca sabia quando ele ia estourar! Desabafou, puxando de leve o bigode. Nao me lembro nem uma vez de ele ter dito que me amava. Ainda andando para ld e para c4 no pequeno consultério, continuou: ~ Recordo de uma ocasido em que eu... é... roubei um negécio, uma coisa insignificante. Meu pai ficou tao irado que me levou a delegacia e me deixou preso la uma semana. Disse que queria me dar uma ligdo. Foi o fim para mim. Jurei que nunca mais iria confiar nele. Ele continuava com os dculos escuros, mas pelo que podia ver do seu rosto, percebi que assumira uma expressdo marmorea; dura e fria. ~ Quantos anos vocé tinha quando isso aconteceu? Uns doze ou treze. Observei que Larry mantinha os punhos cerrados ao falar. E continuou. ~ Ele foi muito injusto, muito injusto mesmo. S6 pensava em si. Assim que dei um jeito, fugi de casa. Sentou-se na cadeira, voltando a atitude fechada de antes. Fiz mais algumas tentativas de levé-lo a falar mais, mas foram todas intiteis. Convenci-me de que ele nao iria confiar-me mais nenhum dado. Minha secretédria bateu de leve a porta, informando-me que o cliente seguinte jé havia chegado. ~ Nosso tempo por hoje esta esgotado, Larry, falei tentando reprimir um sentimento de frustragao. Uma breve expressio de alivio Ihe veio as feicdes. O rapaz ergueu-se e ca- minhou para a porta. Parre I | SOBRE MINHA CABECA - 17 - Gostaria de conversar mais com vocé. - Tudo bem, resmungou ele e saiu. Encontrando-me sozinho no consultério, estudei as anotacdes que fizera enquanto ele falava. Sua atitude fortemente defensiva ao revelar-me aqueles fatos, me deixara preocupado. Como poderia ajudar aquele homem? Eu havia circundado algumas palavras como inseguro, temeroso, ansioso e humilhacao. A contida ansiedade de Larry me fizera reviver uma dolorosa experiéncia que tive quando estava com apenas oito anos de idade. RECORDACOES AMARGAS A cena me veio 4 mente com grande nitidez. Tive a sensacéo de que ocorrera no dia anterior. Lembrei-me da minha professora do quarto ano, uma mulher alta, carrancuda, de cabelo bem curto ja meio grisalho. Nao era nem um pouco amiga. Certo dia, ela me pediu que fosse ver as horas em outra sala. O relégio era bem grande, os ponteiros gratidos de cor ne- gra, faceis de ver. Parecia uma tarefa muito simples. Mas no momento em que seguia pelo corredor largo, de repente me dei conta de um fato: nao sabia ver as horas. Fiquei olhando para o enorme reldgio, sentindo-me invadir por uma onda de pavor. Nao poderia nunca confessar a verdade diante da classe. Passei al- guns minutos ali parado, em luta comigo mesmo. Por fim tive uma idéia: po- deria inventar uma hora qualquer e talvez acertasse. Quando entrei de volta na sala, todos os olhares se voltaram para mim, aguardando a resposta. ~ Ah... é seis horas. Resmunguei. A professora olhou-me uns instantes sem compreender. Afinal, comecou a sorrir e as risadinhas contidas de meus colegas viraram sonoras gargalha- das. Senti o rosto avermelhar-se. Meus labios tremiam. Limpando as maos suadas na camisa, corri para a carteira e procurei esconder-me atras de meus objetos. Para piorar as coisas, ela passou a utilizar essa falha minha para divertir a classe. E quanto mais isso acontecia, mais medroso e retraido eu me tornava. Por fim, todas as vezes que tinha de participar de qualquer atividade em classe, sentia dores no estomago. Sempre que eu cometia um erro, ela me batia na mao com a régua. Passei a ter pavor daquela mulher. Nao conseguia nem olhar para 0 seu rosto. 18 - ParEDEs Do Meu Coracao | Bruce THOMPSON ALGO EM COMUM Relembrando meu sofrimento, pude compreender melhor a luta de Larry, pois percebi alguns pontos andlogos entre a minha histéria e a dele. Ambos tivéramos dificuldade com uma figura de autoridade excessivamente austera, de quem esperavamos receber um pouco de amor e compreensio, mas recebé- Tamos apenas injustiga e sofrimento. Eu levara anos para libertar-me daqueles temores que me faziam tremer feito vara verde. Ainda admirado com a se- melhanca das situag6es, guardei as anotagdes, preparando-me para o cliente seguinte. Uma semana depois, Larry voltou. E, apesar de o ambiente nao estar ilumi- nado demais, insistiu em conservar os culos escuros. Lé fora, 0 céu cartegado de nuvens pesadas impedia que a luz solar clareasse 0 aposento. Dessa vez, ele se mostrava menos temeroso e nao téo agitado. Sentado numa cadeira ao lado da minha, pds-se a conversar, ligeiramente mais desinibido. Ainda percebia nele certa inquietacao interior, mas pelo menos nao andava de um lado para outro como uma fera enjaulada. Larry revelou-me que, ainda bem jovem, se tornara hippie, adotando uma vida caracterizada por promiscuidade e uso de narcéticos, chegando até a inje- tar drogas na veia. Com pouco tempo, precisou praticar pequenos delitos para “sustentar” o vicio. Nesse perfodo, nao tinha relacionamentos duradouros; encerrava um e logo comecava outro. Agora, porém, casado e com um filho, estava tentando aprender a confiar nas pessoas. Mas sempre que alguém o contrariava ou decepcionava, tinha acessos de raiva. Inclinei-me para a frente eindaguei: ~ Como vocé se sente com tudo que esta lhe acontecendo? Ele se remexeu um pouco, tamborilando os dedos nervosamente nos bracos da cadeira. ~ Muito sozinho, replicou. Tenho sentido forte depressio e medo. Tenho medo de fazer alguma coisa contra minha esposa e meu filho num dos meus acessos de raiva. Acenei afirmativamente, concordando e ele continuou falando. Ao fim da consulta, estavamos ambos um pouco mais tranquilos. Encerrei com uma oracao. Em seguida estendi a mao e apertei-lhe de leve o braco. Tive a im- pressao de vé-lo esbocar um rapido sorriso no momento em que prometia que iria voltar. Pare I | SOBRE MINHA CABECA - 19 ‘Assim que saiu, recostei-me na cadeira e pus-me a pensar no que acabara de ouvir. O problema de Larry era o mais dificil com que jé me defrontara até en- t&o; um tremendo desafio. A vida dele achava-se como que fragmentada. Sera que conseguiria reunir os pedagos para formar um todo harménico? Era como se ele fosse um quebra-cabecas e minha tarefa, colocar cada peca em seu lugar. “Senhor, preciso de ti!” Clamei. “Preciso de ti para destrancar a porta desta vida antes que ela se feche definitivamente.” Naquele momento, eu ainda nao sabia que estava para iniciar um grande aprendizado, inaugurando uma nova fase em meu ministério. EM BUSCA DE SOLUCOES Por ocasiao da terceira consulta de Larry, eu ja tinha alguma coisa para dizer-lhe. Havia orado muito apés a tiltima entrevista e sentia que Deus estava para revelar-me alguns aspectos bésicos de seus problemas. — Oi! Como vai o senhor? Disse ele ao entrar. Em seguida, deixou-se cair na cadeira e recostou-se nela soltando um pe- queno suspiro. ~Vou bem Larry, obrigado! Repliquei. Tive de exercer um enorme autocontrole para nao extravasar a onda de sa- tisfacdo que sentira ao vé-lo téo mais descontraido. E continue: — Como passou a semana? - Melhor. Respondeu. Tenho pensado muito no que conversamos aqui. Até cheguei a conversar com minha esposa sobre algumas dessas coisas. Pusemo-nos a falar sobre relacionamentos e perguntei-lhe se ja tinha tido um bom relacionamento afetivo antes. Ele abanou a cabeca. —Nio. Respondeu. $6 depois que conheci minha esposa. E explicou que ela se mantivera fiel ao lado dele, decidida a nao abandona- Jo, acontecesse 0 que acontecesse. Como nao o criticava nem condenava como outros faziam, ele sentiu, pela primeira vez na vida, que ali estava alguém que oamava. ~ £ muito dificil aceitar isso. Continuou. Sempre me vi como um estorvo para todo mundo; achava que ninguém estava nem ai para mim. Prosseguimos conversando sobre a afeigao de sua esposa e da importancia dela para Larry. Em dado momento, com gestos lentos, ele ergueu a mao e tirou os 6culos escuros. Era a primeira vez que via seus olhos. Eram castanho- 20 - PareDes po Meu Coragao | Bruce Tompson escuros, quase negros. Naquele instante estavam cheios de lagrimas e tinham uma expressao contemplativa. Abria-se a primeira brecha em sua couraca! Minha vontade era pular e gri- tar de alegria mas me contive. Limitei-me a fazer uma silenciosa oracdo de agradecimento a Deus. Em seguida, ele falou do distanciamento que tinha dos pais e de algumas dificuldades que tivera também com a esposa. Entdo levan- tei-me e me dirigi ao quadro-negro que havia no consultério. Ainda pensando no peso da influéncia paterna para Larry, peguei um pe- daco de giz e me pus a tracar algumas linhas. Nao sabia exatamente o que iria fazer. Mas, de repente, meus pensamentos comecaram a tomar forma. Tracei uma linha no angulo de 45 graus, representando as experiéncias de tejeigao que ele sofrera. Passamos a rememorar juntos essas circunstancias penosas e per- cebi entao que sua revolta, seu envolvimento com drogas e com o crime eram uma reacao a rejeicao sofrida. A partir do alto dessa linha, tracei outra linha em Angulo, desenhando assim um “V” invertido. Essa segunda, representava sua atitude de rebeldia. (Veja figura abaixo) REJEICAO REBELDIA Pare I | SOBRE MINHA CABECA - 21 Conversamos sobre o desenho e foi entéo que percebi que havia uma li- gaciio entre as diversas figuras de autoridade presentes na vida dele. Larry sofrera rejeicdio por parte do pai. O fato de haver passado uns dias na cadeia havia marcado profundamente o seu espirito. Ele jurara que nunca mais con- fiaria no pai. Agora percebiamos as consequéncias disso: ele nao conseguia confiar em mais ninguém. Assumindo uma atitude de revolta e adotando uma vida de imoralidade, crime e vicio, ele simplesmente dava expressao a rejeigao sofrida. O rapaz inclinou-se um pouco para a frente e virou os olhos para 0 quadro. Neles brilhava uma centelha de esperanga. —E! Isso tem légica! exclamou sorrindo levemente. Pus-me a folhear a Biblia, procurando textos que confirmassem 0 que eu acabara de dizer. Mas minha mente fervilhava de idéias. Algumas pecas do quebra-cabecas da vida do Larry e da minha ja comecavam a encaixar-se no lugar. Nao havia diivida de que eu descobrira um fato importantissimo relacio- nado coma influéncia das figuras de autoridade na vida humana. Depois que encerramos a consulta e Larry foi embora, minha secretaria co- mentou a mudanca do semblante eo olhar mais alegre dele. Senti-me exultante! O PROCESSO DE CURA Nas semanas seguintes, Larry compareceu regularmente ao consultério. En- tao, pouco a pouco, fui apresentando a ele, com atitude firme e incisiva, o plano divino para o homem, revelado na Biblia. E ele comecou a transformar-se. Seus olhos desanuviaram e uma nova paz passou a permear seu ser, substituindo a inquietacao de antes. Orientei-o no processo do arrependimento, mostrando- Ihe que era responsdvel pelas decisdes que tomara e que o haviam langado nos abismos do desespero. ~ Arrepender, expliquei, é assumir a responsabilidade pela nossa propria conduta, tomar a firme decisdo de dar as costas a todas as praticas autodestru- tivas e adotar atitudes corretas, santas e construtivas. Em seguida aconselhei-o a orar e ler as Escrituras diariamente para que pudesse conservar aquilo que Deus, em sua misericdrdia, lhe concedera. Na tiltima sessao de aconselhamento, Larry achava-se inteiramente mu- dado. Seu espirito recebera 0 toque divino e o antigo tormento interior dera lugar a paz. 22 - Parepes Do Meu Coracao | Bruce THomPson UM NOVO DESAFIO O problema de Larry e de outros que me procuravam solicitando acon- selhamento constituia um grande desafio para mim. Como poderia auxiliar aquele homem e todos os outros que tinham dificuldades semelhantes? Que recursos poderia utilizar? Pus-me entao a estudar cada vez mais as Escrituras a procura de solugdes e outras revelagdes. Certo dia descobri um fato maravilhoso relacionado com 0 desenho que eu tinha feito no quadro naquele dia. No capitulo sete de Amés, 0 profeta compara Israel a um muro torto quando aferido pelo prumo divino. Procurei a palavra no diciondrio e numa concordancia biblica, e descobri que 0 prumo é um instrumento que os pedreiros utilizam para alinhar paredes e muros, fazendo-os perfeitamente verticais. Meditando nessa figura, conclui que as linhas que eu tracara para represen- tar a revolta de Larry ea rejeigdio que sofrera, nao passavam de falsos prumos humanos. Nenhum se alinhava com o plano original de Deus - 0 prumo divino ~ que se situa no meio dos dois falsos prumos humanos. Na verdade, fora esse plano que Larry estivera procurando, mas nao conse- guira encontrar. E como nao o encontrara, passara a alinhar a vida pelos falsos prumos da rejeicao e revolta que tinham sido forjados a partir das atitudes do pai e de outras figuras de autori- dade. Quando ele comegou a vir ao meu consultério, sua vida era como uma parede torta, prestes a desabar sobre ele. Mais ou menos na mesma ocasido, eu estava para fazer uma importante descoberta. Uma idéia que, sem que eu me desse conta, vinha germinando em mi- nha mente havia muitos anos. As experiéncias vividas por Larry haviam funcionado como uma espécie de interruptor que acen- deu a luz nos quartos escuros do meu passado. Parte I | SOBRE MINHA CABEGA - 23 O mar brilhava e reluzia, com um reflexo luminoso de varios tons. O dia estava quente ¢ lindo; 0 céu azul muito claro. Achava-me sentado sobre uma rocha de lava, batendo os pés numa poca de agua formada pela maré e absor- vendo os fortes raios do sol havaiano. Meus filhos brincavam na pequena faixa da praia, construindo castelos de areia. Minha mente agitada perpassava velozmente os meandros de minha vida. No dia anterior eu dissera a Larry que nao havia mais necessidade de ele voltar ao consultério. Mas, isso nao significava o fim, e sim, 0 comeco de uma nova existéncia para ele. Compreendi que eu também estava iniciando a busca de maiores revelacdes. O trabalho com Larry me incentivara a examinar minha propria vida por um novo angulo. Entao ali, sentado ao sol, deixei que meus pensamentos e recordacdes me conduzissem de volta ao passado. SENHOR, QUE FAREI DE MINHA VIDA? Converti-me com a idade de treze anos, através do ministério de uma orga- nizacdo de evangelizacao de criancas. Um ano depois, quando me encontrava em um acampamento batista na regiéo de Cambridge, Nova Zelandia, Deus comecou a falar ao meu coracéo chamando-me para a obra missionaria. Os anos basicos da escola, em preparacio para o vestibular, tinham-me parecido intermindveis. E agora que me encontrava no ponto de decisao, ainda nao sabia 0 que iria fazer de minha vida. A idéia de entrar para a universidade nao me entusiasmava muito. Por isso até levei um susto quando um amigo me pergun- tou se eu pensara na possibilidade de fazer medicina. ~ Medicina! Repliquei rindo. Vocé esta brincando! E demorado demais e eu estou enjoado de estudar! Mas durante varias semanas, aquele comentario ficou como que martelando em minha mente. E quando eu lia a Biblia, alguns textos pareciam destacar-se na pagina. Ou entao, outras pessoas faziam comentarios que vinham confirmar certas conviccGes interiores. Afinal descobri que as trés matérias que eu escolhera a0 acaso e que eram exigidas para o vestibular - biologia, quimica e fisica - eram exatamente as de que precisaria no curso de medicina. Era Deus dando-me con- firmacées claras de que me chamava para ser médico, algo totalmente contrario a minha vontade. Pensara em ir direto para o campo missiondrio sem fazer mais nenhum curso. Mas nao, eu deveria ser missiondrio médico. 24 - ParEDEs Do Meu Coraao | Bruce THoMPson Iniciei os estudos preparatérios na universidade para ingressar na facul- dade de medicina. E estudei muito. Estudava de manha até a noite. A con- corréncia com outros candidatos era um grande desafio. A porcentagem dos que seriam classificados era muito pequena. Por isso néo me surpreendi muito quando verifiquei que nao havia passado. Aceitei aquilo como sendo normal e decidi que na préxima iria ser aprovado. E mais uma vez passei horas e horas estudando aplicadamente para fazer o exame no final do ano. Assim que as provas se encerraram, pus-me a esperar 0 resultado com ansiedade. Os acontecimentos que se seguiram ficaram in- delevelmente gravados em minha mente. Com muita animacao e expectativa, atravessei as ruas da cidade em minha motoca, em direcdo a universidade. La chegando, ja encontrei um bom grupo de estudantes diante das listas afixadas ao mural. Corri os olhos rapidamente pelos nomes, procurando o meu. P- Q -R-S-T- Thompson? Cadé meu nome? Horrorizado me dei conta de que nao constava na lista. Isso significava entao que fora reprovado mais uma vez. A IMPLACAVEL DOR DA REJEICAO Fiquei petrificado. Esforcando-me para reprimir uma forte vontade de cho- rar, compreendi que embora tivesse feito boas provas, ainda assim nao conse- guira o ntimero de pontos suficiente para participar do escalao superior. Sai dali com passos arrastados e 0 coracdo pesado. Em meu interior rugia uma tempestade. “Sou um fracassado! E jé sabia disso hé muito tempo. Sou um burro! Nao tenho jeito mesmo!” Minha mente era um torvelinho de pensamentos de condenacao e auto- piedade. Eu devia desistir dessa tentativa inuitil e partir logo para o campo mis- siondrio. Entao todas as atitudes negativas que durante anos e anos vinham se acumulando em mim, como que se levantaram naquele momento, para refor- car minha sensacao de que era um fracassado, de que nao tinha valor. Aquele sistema todo, parecia tao injusto. Eu estudara tanto! Estudara mais que muitos dos meus colegas cujos nomes constavam na lista. Na verdade, depois vim a descobrir que fora aprovado. Mas naquele momento eu me sentia arrasado. “Por que sera que nao fui aprovado?” Sentei-me as margens do riacho que cortava o campus e desabafei minha frustracéo clamando a Deus. Pare I | SOBRE MINHA CABECA - 25 “Oh Deus, onde é que o Senhor esta? O Senhor nao se importa nem um pouco comigo?” Batendo 0 péno chao para extravasar a forte sensacao de derrota que sentia, comecei a culpé-lo por tudo. “Bu s6 fiz esse exame porque o Senhor me chamou. Agora me abandonou?” Passei varias semanas questionando Deus e seu cardter. Como J6, exigia uma explicagio. Se ele nao me desse uma boa justificativa, entao eu teria todo o direito de parar de estudar e ir direto para o campo missionario. Talvez fosse esse mesmo 0 passo mais acertado. Minha sensagao era a de que agora encur- ralara Deus num canto e dali ele nao poderia escapar. Resolvi entao que o cer- to era mesmo parar. Assim estaria poupando-me de longos anos de cansativo estudo. Eu jé estava comecando a sentir-me satisfeito com a decisao tomada quan- do, certa noite, Deus “saiu do canto” e me falou de forma poderosa. Estava orando e ele me mostrou que nao poderia usar-me no campo missionario, en- quanto eu nao tivesse aprendido a lico mais importante que ele tinha para ensinar-me: “obedecer é mellior do que sacrificar”. SUBMISSO A VONTADE DE DEUS Aos poucos fui aprendendo que Deus estava mais interessado em minhas qualificacGes espirituais do que em titulos que pudesse ter. Ordenava-me que obedecesse. Entao, com 0 coracao pesado, voltei a sujeitar-me a disciplina de estudar. E durante os seis anos que se seguiram, debrucei em cima dos livros, dis- posto a conseguir meu objetivo a qualquer custo. E de fato, foi enorme a sen- sagao de vitéria e triunfo no dia em que aos 28 anos, consegui afinal o diploma de médico. Apés anos e anos de muito estudo, finalmente atingia minha meta. Agora, enfim, poderia ser missionario médico. Durante um ano trabalhei com a JOCUM; uma missao interdenominacional e viajei para varios paises do mundo, realizando um ministério evangelistico. Afinal paramos em Gana, na Africa Ocidental. Ali as portas se abriram para co- laborarmos com a Cruzada de Evangelizagiio Mundial. O interesse principal dessa missio - alids 0 mesmo da JOCUM - ¢ pregar a povos nao evangelizados. Nes- se pais, eu e Barbara, minha esposa, desenvolvemos um ministério médico iti- nerante. Ali diariamente, nos viamos diante do desafio de comunicar a mensa- 26 - PareDes Do Meu Coragao | Bruce THOMPSON gem do Evangelho a tribos primitivas, cujo principal objetivo de vida é procurar alimento e Agua para sua sobrevivéncia. Em nosso esforgo para comunicarmos a mensagem, descobrimos, pelo exercicio da medicina, o meio de conquistar 0 afeto deles. Resultado: depois de algum tempo, vimos varias igrejas serem fundadas e se desenvolverem naquela regiao onde antes nao existia nenhuma. Quatro anos depois, regressamos a Nova Zelandia para passar um ano des- cansando - ou era 0 que pensavamos. Mas, 0 que aconteceu foi que, depois de pouco tempo, jé me encontrava trabalhando numa movimentada clinica geral, dando consultas uma atrés da outra. Sempre que me deparava com um caso mais dificil - 0 que acontecia com frequéncia - orava silenciosamente, pedindo a Jesus que me auxiliasse a fazer um diagnéstico correto e prescrever 0 trata- mento mais adequado. Mas, minha maior frustragio era saber que se muitos daqueles pacientes nao corrigissem certas praticas de vida, mais cedo ou mais tarde a enfermidade voltaria. Certo dia pude falar dessa minha frustracao aos lideres da igreja que frequen- tévamos. Eles ofereceram entio as dependéncias do templo para estabelecermos nele um centro de satide e aconselhamento. Mas nao apenas isso: varios membros do seu pessoal poderiam trabalhar conosco no empreendimento. Instalamos 0 trabalho e com pouco tempo ele cresceu tanto que tive de largar a clinica particu- lar para me dedicar em tempo integral a esse novo ministério médico, Quando pareciamos estar atingindo o auge da realizacio, Deus interrompeu esse ministé- rio - que julgéramos ser a nossa missio de vida - e nos chamou para o Hawai. Os lideres da igreja, ainda que relutantes, confirmaram o chamado. E assim, um ano e meio apés havermos iniciado o trabalho, embarcamos num jato da Companhia Aérea Nova Zelandia e partimos para Honolulu. NOVOS HORIZONTES “Bem vindos a Kona!” Os sons de uma ondulante musica polinésia enchiam a cabine do aviao. Sempre sorrindo, a comissaria de bordo fez varios movimentos coma alavanca da porta de saida e abriu-a. “Kona, Hawai!” Murmurei comigo mesmo. “Mas isso aqui nao pode ser Kona. Parece mais que aterrissamos na lua!” Espiando pela janelinha do aviao, vi intrigado, uma vasta regio de rocha vulcénica. Da pista de pouso erguiam-se brilhantes ondas de calor. Mais ao Pare I | SopRE MINHA CABECA - 27 longe, avistei uma montanha. A direita, 4s aguas célidas do Pacifico batiam na sinuosa linha costeira. Tentando controlar as emocoes, minha esposa procurava segurar nosso filho Mi- chael de trés anos, cheio de energia, que exigia de nds atencao constante. Peguei no colo o Lionel, entdo com um ano e trés meses e encaminhei-me para a saida. Quem nos visse desembarcar naquele dia de janeiro de 1976, nunca poderia su- por que iriamos passar mais de dez anos no Hawai, muito menos nds! Nossa igreja em Palmerston North, Nova Zeléndia, nos concedera uma licenga de trés anos para que eu pudesse implantar um programa de assisténcia médica na JOCUM. Oplano era criar uma unidade médica mével que pudesse ser facilmente trans- portada para um navio ou levada a qualquer parte do mundo. Mas, pouco tempo depois, descobri que Deus tinha outros planos para mim. Apés algumas tentativas respaldadas de dar inicio a esse tipo de trabalho, recebi uma carta da Junta Estadual de Medicina informando que para habilitar-me a exercer minha profisséo no Estado do Hawai, teria que fazer residéncia médica durante trés anos num hospital licen- ciado do Estado e depois submeter-me novamente as provas finais. Fiquei confuso, nao entendia mais nada. Ali estava eu, com esposa e dois filhos, a quilémetros de distancia da minha terra, certo de que obedecia a uma orientacao de Deus e agora as portas se fechavam na minha cara. Para piorar as coisas, Barbara, convencida de que nossa ida para lé fora um erro, afirmava constantemente que eu havia passado a frente de Deus. E agora, esse novo problema provocou nela forte irritacao. “timo!” exclamou. “Nesse caso, podemos arrumar as malas e voltar para casa!” Para ela, o Hawai nao era nenhum paraiso e a JOCUM, ainda em fase de organizacao, lutava para se firmar. Esses fatos fortaleciam sua conviccao de que tinhamos cometido um erro ao largar um ministério solidificado e gratificante na Nova Zelandia. PERSEVERANDO Minha indecisao era grande. Ora pensava uma coisa, ora outra. Seré que ouvi- ramesmo a voz de Deus ou tudo ndo passara de uma ilusao? Deveriamos voltar para nossa terra? Ou quem sabe Deus é que tinha outros planos para nés? Nos momentos em que a luta se intensificava, eu pensava na orientacao que Deus me dera e nas circunstancias do momento. Entretanto, apesar daquele tumulto de 28 - Parepes po Meu Coracao | Bruce THOMPSON vozes € argumentos que me chegavam aos ouvidos, a firme conviccao inte- rior persistia, dando-me forcas para continuar. Afinal, com muita luta, tomei a decisao de ficar e navegar em meio A tormenta, esperando que vez por outra encontrasse “placas de sinalizagao” que nos apontassem 0 rumo certo. Esses sinalizadores demoraram muito a aparecer e nesse meio tempo, a im- pressao era de que tudo estava afundando. Ao contrario de nossa experiéncia na Nova Zelandia, onde nos achavamos plenamente envolvidos no trabalho cristéo, ali nao tinhamos nem ministério, nem clinica médica. Além de todas essas dificuldades, nosso filho Michael softeu um acidente e quase morreu. Brincando com alguns amigos, ele bateu contra um balatistre apodrecido e caiu de uma altura de mais de seis metros sobre um piso cimentado. Corremos com ele para o hospital, temendo o pior. Ele sofrera fratura do cranio e apresentava um grande hematoma no olho direito. Mas, muitos amigos, tanto no Hawai Como em nossa terra, oraram por ele. Para alivio nosso, ele se recuperou rapi- damente, sem sofrer nenhuma sequela. Uma vez estabelecidos na JOCUM, fizemos servicos diversos dentro do seu ministério em expanséo e ai foram surgindo os sinalizadores. Foi entao que comecamos a enxergar os designios de Deus para nés no Hawai. Certo dia, quando conversévamos com Loren Cunningham, o diretor ge- ral da misso e com sua esposa Darlene, falamos do promissor ministério de aconselhamento que tinhamos na Nova Zelandia. Quando lhes dissemos que Deus havia nos mostrado claramente que o ministério basico era o de aconse- Thamento e que a assisténcia médica era apenas uma complementacao para ele, Loren sugeriu que ordssemos juntos sobre o assunto. E todos nés, um apés 0 outro, recebemos fortes indicagdes de que, naquele momento, o Senhor estava determinando a criagéo de um novo ministério dentro da JOCUM. Barbara e Darlene lembraram de Isafas 54:2-3, que fala sobre uma expansao do ministé- tio, “alongando as cordas ¢ firmando bem as estacas”. Era como se Deus estivesse nos dizendo que 0 ministério iria ultrapassar nossas expectativas. Depois de visitarmos diversas clinicas de aconselhamento dos Estados Uni- dos e de termos conseguido mais duas pessoas para nos auxiliarem, abrimos nossa primeira clinica em Kona, em janeiro de 1977. Foi nela que trabalhamos com Larry Coombs e outras pessoas com problemas semelhantes. E foi ali também que Deus comecou a nos dar certas tevelacdes que uti- lizariamos para destrancar as portas ocultas existentes no coragéo de muitos Parte I | SopRE MINHA CABECA - 29 pacientes. E pouco depois, ele nos inspirou a realizar seminarios sobre acon- selhamento cristo, onde ensinarfamos esses principios a outros, espalhando a mensagem por todo o mundo. Apés alguns anos, esses semindrios cresceram tanto que acabaram se transformando em cursos da Universidade Crista Para o Pacifico e Asia, da JOCUM, conferindo inclusive diplomas aos seus graduados. Mais tarde, eles foram levados a outros paises, sob a forma de cursos de exten- sao da universidade. Neste livro, apresento 0 ensinamento biblico acerca da cura e da satide ple- na que aprendi na propria Biblia e em meu ministério. Venha fazer comigo esta viagem de descoberta do seu verdadeiro eu, a luz da mais confidvel obra de referéncia sobre a vida humana - 0 Prumo Divino. 2 ALGUMA COISA ESTA FORA DO PRUMO ‘0 século VIII a.C, durante o reinado de Uzias, rei de Ni= a nacao de Israel experimentou uma crescente onda de prosperidade e paz. Entretanto, juntamente com o enriquecimento, ocorreu também um rapido declinio dos padrdes morais que acabou minando a sociedade. Uma horren- da onda de injustica social veio obscurecer a visio do povo, e ele perdeu o senso de direcao que lhe era dado por Deus. E, para essa arena de desafios, Deus chamou Amés (Am 7-7,8), um pastor e colhedor de figos, confiando-lhe a tarefa de defender sua causa. A missao do profeta seria denunciar a cortupgio social e religiosa existente e advertir 0 povo de que 0 castigo divino era iminente. Seu nome, Amés, deriva de um verbo da lingua hebraica que significa “carregar um peso”.' No caso de Moisés, Deus utilizara uma vara para revelar a0 povo suas verdades e seu sistema de valores. Com Amés, ele fez uso de um prumo. A MEDIDA AFERIDORA DE DEUS Na sua forma mais simples, o prumo é uma peca de metal suspensa por um fio. Na outra ponta do fio é afixado um pe- daco de madeira de formato cilindrico de mesmo didmetro. Os pedreiros utilizam 0 prumo ao construir paredes e muros, para OPRUMO FIGURA1 32- PareDEs DO Meu Coracao | Bruce THOMPSON que nao fiquem tortos. Devido a forca da gravidade, 0 peso do metal pende sempre para o centro da terra (ver figura 1). Para os construtores, esse instru- mento simples mas muito importante, tem um valor incalculavel. Eles sabem que para a construcao sair firme e segura, as paredes e vigas precisam estar perfeitamente na vertical, alinhadas pelo prumo. Se nao houver esse cuidado, 0 prédio pode desabar. Com o enriquecimento do povo de Israel veio a decadéncia moral. Entao Deus comparou a nagéo a uma parede fora de prumo, prestes a cair. Para mos- trar 0 quanto ela estava torta, ele colocou diante do povo o prumo da lei. Era uma adverténcia de que a qualquer momento a nacao poderia ruir e que seus inimigos iriam espalha-los como se fossem os tijolos de uma parede desmoro- nada. Ena verdade, Deus nunca deixou de aferir pelo prumo de sua Palavra a vida daqueles que chamou para serem 0 seu povo. Ele continua a fazé-lo co- nosco nos dias de hoje, para que possamos conhecer a verdade e aprender o caminho que nos conduz a uma vida de firmeza e estabilidade. APERGUNTA BASICA Vivemos numa época em que a maioria das pessoas nao tem consciéncia desse prumo que é a Palavra de Deus. No entanto, a maior indagagao da so- ciedade continua sendo esta: “O que é a vida e como devemos vivé-la?” Esse interesse se revela pelo grande ntimero de estudantes que procuram os cursos de psicologia de nossas universidades e pela onda cada vez maior de pessoas que buscam experiéncias no plano do existencialismo, do ocultismo, da chama- da “nova consciéncia”, das drogas e de outras formas de ilusao. Essa grande pergunta pode ser dividida em quatro partes. A primeira delas €a pergunta fundamental da ontologia: “Quem sou?” Para esclarecer e definir melhor a resposta, vamos examinar quatro tipos de personalidade. O COMPORTAMENTO PASSIVO Em primeiro lugar, temos o individuo que se apresenta vestido com uma “armadura” como ilustrado na figura 2. Que idéias nos vm a mente quando nos deparamos com esse tipo de personalidade? Varias pessoas que olharam a figura 2 deram as respostas que se seguem: Parte I | ALGUMA COISA ESTA FORA DO PRUMO - 33 FIGURA 2 —defensivo - vwulnerdvel ~ temeroso ~ passivo —cego -surdo e mudo -solitario - deprimido ~desamparado ~desesperado Aquele que veste essa armadura encontra-se numa crise de identidade. Nega- se a encarar a pergunta: “Quem sou?” E provavel que jé tenha feito tentativas de respondé-la, sem o conseguir. Por isso, em vez de encarar seriamente a questéo € 0 trauma que a resposta pode criar, tal individuo se esconde dentro de uma armadura e assim se protege de tudo que possa ameacar sua identidade. 34- PaEDES DO Meu Coracdo | BRUCE THOMPSON ACOMPORTAMENTO AGRESSIVO Outro tipo de personalidade que tem problema com a mesma questao é a representada pela mulher munida de arco e flecha, como mostra a figura 3. Analisando esse tipo humano, alguns dos tracos de carater que nos vém a mente sao os seguintes: ~ agressivo ~ critico ~negativo -defensivo ~rancoroso ~ inseguro -solitario ~ temeroso FIGURA3 Parre I | ALGUMA COISA EST FORA DO PRUMO ~ 35 Essa mulher com 0 arco e flecha nas maos, ilustra outra forma pela qual 0 ser humano reage diante de uma crise de identidade. Em vez de adotar uma atitude defensiva e passiva, ela assume uma posicao mais agressiva. Aqueles que se aproximam dela sao logo advertidos a manterem distancia, senao serao feridos, O fato dea flecha nao estar montada no arco, significa que na verdade, ela nao deseja agredir, mas o fara, caso seja necessario. Se aproximados esses dois tipos, em alguns aspectos eles poderiam até ter um relacionamento harm6nico. A mulher poderia atirar as flechas a vontade ele se consolaria, ao saber que ha alguém por perto para atenuar um pouco a dor da solidao. O proceso de comunicacao entre eles seria caracterizado ape- nas pelo tic-tic-tic das flechas batendo na armadura e nenhum dos dois ficaria ferido. Infelizmente esse ¢ 0 retrato do nivel a que chegam alguns casamentos e outros tipos de relacionamentos. ONDE COMECA A IDENTIDADE Esses dois tipos de personalidade representam os individuos que nao con- seguiram saber que sao. Mas, entao, como podemos encontrar a resposta dessa importante pergunta? Se quisermos comecar a resolver nossa ontologia pessoal e responder a grande indagacao: “Quem sou?”, precisamos voltar as nossas origens. Oen- sino biblico sobre a origem do homem 6 o seguinte: “No principio criou Deus...” (Gn 1:1) Mais adiante, a Biblia dé outra revelacao sobre nossas origens, quando Moisés pede a Deus que se identifique para que ele o diga a nagéo de Israel. E o Senhor responde dizendo: “Eu sou o que sou” e diz também: “Mostrarei ser 0 que mostrarei ser” (Ex 3:13,14). Outra revelacéo sobre a identidade nos vem de Jesus, 0 Filho de Deus, no Novo ‘Testamento, Falando sobre si mesmo e sua miss4o entre os homens, ele afirmou: “Eu sou o caminho, ea verdade, ea vida; ninguém vem ao pai sendio por min” (Jo 14:6). Vamos meditar um pouco nessas duas passagens. Na primeira, Deus diz que toda identidade comega nEle. Se quisermos saber quem somos, inicialmen- te temos de compreender quem ele é. Deus é 0 comeco de tudo e todo 0 nosso ser anseia estar com ele (SI 42:1-2). Na segunda, Jesus se apresenta como 0 caminho para o homem, conhecer a Deus. Ele é 0 Embaixador de Deus. Portanto, acha-se em condicées de nos con- 36 - PareDes po Meu Coracdo | Bruce THOMPSON duzir ao Pai. Entao para comecarmos a encontrar a resposta da questao basica da vida: “Quem sou?”, temos de iniciar por ai, OS COMPONENTES DA IDENTIDADE Para respondermos corretamente a pergunta: “o que é a vida e como deve- mos vivé-la?”, precisamos antes considerar trés outras questées que sio desdo- bramentos dessa, As duas primeiras so as seguintes: 1. De onde viemos? 2, Para onde vamos? Blas se acham relacionadas com nossa histéria e com nosso destino final, sendo associadas ao termo teleologia. A teologia aponta para um desejo inato no ser humano de ter um propésito, uma direcao na vida. Sem um propésito na vida, nao chegaremos a nada. A Biblia expressa essa questdo nos seguintes termos: “Nao havendo profecia 0 povo se corrompe" (Pv 27:18). A mentalidade que prevalece hoje de esperar tudo do governo tem sua origem, em grande parte, no fato de os homens nao obterem Tespostas adequadas para essas duas per- guntas. Por isso nao tém metas de vida, nem assumem seu papel no mundo. 3.0 que tem valor para mim? Essa terceira pergunta acha-se associada ao termo axiologia ou 0 estudo dos conceitos de valor. Todos possuimos o que se chama “sistemas de valores” que € constituido de tudo aquilo em que investimos a vida, 0 trabalho, tempo e dinheiro. Consideramos tais coisas importantes e devido ao valor que lhes atri- buimos, investimos tudo nelas. £ muito comum haver um hiato entre o nosso sistema de valores “intelectual ou da cabeca” eo “do coracao ou da persona- lidade”. O primeiro é expresso naquilo que dizemos e 0 segundo, naquilo que fazemos. E é do coracao que procedem nossas atitudes e conceitos vitais, COMO PODEMOS SABER? Uma questao de importancia fundamental em telacdo a essas trés pergun- tas éa seguinte: “como podemos saber?” Com que lentes olhamos para o mun- Parre I | ALGUMA COISA EST FORA DO PRUMO - 37 AS PERGUNTAS FUNDAMENTAIS DA VIDA ..Como posso saber?... EPISTEMOLOGIA .». Quem eu sou? ... ONTOLOGIA «» De onde eu venho e para onde vou? ... TELEOLOGIA .. O que tem valor para mim? AXIOLOGIA FIGURA4 38 - Parepes po Meu Coracao | Bruce THOMPsoN do? Todos queremos saber como podemos ter certeza se nosso conhecimento 6 verdadeiro ou nao. Essa é a pergunta da epistemologia. N6s, os cristios, acreditamos que Deus nos revelou a verdade. E como ja mencionamos em Joao 14.6, Jesus afirmou que ele é a verdade. Entao, a res- posta para todas as perguntas sobre a vida e sobre como devemos viver estio contidas na revelagao que Deus nos da de si mesmo, pela sua Palavra e por seu Filho, Jesus. Essa revelagao é 0 prumo divino. DESCOBRINDO A NOSSA VISAO DO MUNDO Quando comecamos a obter algumas Tespostas para as perguntas funda- mentais da existéncia, principiamos a descobrir também nossa visio de mundo. Todos nés possuimos uma visio do mundo que, resumidamente, seria uma declaragéo dos conceitos em que cremos e das razées Por que cremos neles, Se quisermos amplié-la, exporemos também nosso conceito sobre as origens, natureza e destino da humanidade e do mundo e sobre 0 papel do homem no mundo e seu propésito nele. As respostas dessas perguntas fundamentais variam muito de uma pessoa para outra, inclusive entre os filsofos. A resposta de cada individuo depende grandemente da lente epistemoldgica através da qual ele enxerga 0 mundo. Daremos a seguir, resumidamente, alguns pontos de vista filos6ficos que foram se desenvolvendo na humanidade através dos séculos. Todos esses sistemas de Pensamento possuem adeptos na sociedade hoje. * MONOTEISMO: Existe um s6 Deus, Pai de todos nds. * POLITEISMO: Existem muitos deuses, cada um com sua propria area de dominio e poder. * ATEISMO: Nao existe deus nenhum. A idéia de Deus nao passa de uma criagao da imaginacao humana. * HUMANISMO ATEISTA: Se existe um deus, esse deus é 0 proprio ho- mem. O Homem é deus. * RACIONALISMO ATEISTA: Exercitando sua divindade, o homem apon- ta.a razdo como o tinico meio para se conhecer a verdade. * EXISTENCIALISMO ATEISTA: O homem dé um salto ndo-racionalista a planos situados fora da mente, para buscar ali um sentido pessoal para sua Parte I | ALGUMA COISA ESTA FORA DO PRUMO - 39 existéncia. indiretamente, isso é um reconhecimento, por uma perspectiva racional que o ser humano nao consegue ser Deus. * OCULTISMO: O homem entra no mundo invisivel, ndo-sensorial, com 0 objetivo de descobrir sua identidade e encontra-se com outro deus que se intitula “o principe deste mundo” ou Satands. Ele é tao astuto que muitos dos seus stiditos nem mesmo créem nele e no entanto o servem. Todas essas visdes de mundo - com exce¢éo da primeira, 0 monoteismo - mostram o homem distanciando-se do “Eu sou”, em busca de respostas. No po- liteismo, ele considera divindades as entidades criadas que fazem parte da sua vida, isto é, 0 sol, as arvores, o vento, etc. No ateismo, ele diz para 0 “Eu sou”: “Tu nao és”. Consequentemente 6 obrigado a concluir: “O tinico “Eu sou” que existe, com certeza sou eu”, isto 6, o homem. Com Deus fora de cena, o proprio homem tenta ser deus, no pensamento do humanismo e do racionalismo ateistas. No existencialismo, vemos 0 ser humano afastar-se do racionalismo, desli- gar-se das questdes centrais da vida e buscar outra forma de dar sentido a sua existéncia. Mas ele logo esgota seus recursos interiores de auto-identificacao e dai, para entrar no mundo dos espiritos e descobrir outra forga ou influéncia é apenas um passo. Sem o perceber, ele acaba penetrando nos dominios do “deus deste século” (I Co 4:4) e cai rapidamente no ocultismo. ‘Afinalidade de todo esse proceso é atrair o homem, fazer com que saia dos bracos de um Deus cheio de amor e se torne prisioneiro de Satands, passando aser escravo dele. No coracao de todo ser humano existe um vazio no formato de Deus, Se ele nao o preencher com Deus, viverd num vacuo espiritual. O PROPOSITO DE DEUS Pelo breve apanhado que acabamos de apresentar ¢ facil perceber por que tantas pessoas estdo passando por crises de identidade e ao mesmo tempo que tentam desesperadamente uma resposta para as perguntas fundamentais da vida. Assim que colocamos “Eu sou” fora de nossa vida, perdemos contato com aquele que nos revela “Quem sou”. Foi exatamente isso que sucedeu ao povo de Israel nos dias do profeta Amés. Quando eles resolveram que Deus nao seria mais sua fonte de vida, o Senhor colocou Amés em cena no objetivo de conduzi-los de volta a condicao anterior, quando seu Deus era Jeovd, e a verdade divina, seu prumo. 40 - PareDes Do Meu Coracao | BRucE THoMPson Anacao de Israel havia se afastado tanto de Deus que ele os comparou a uma parede torta, fora de prumo que poderia desabar a qualquer momento (Am 7:7-8). A figura 5 - um prumo perfeitamente vertical junto a uma parece torta - ilustra de forma contundente, a diferenca entre uma visao de mundo em que Deus ocupa o centro do quadro e outra em que ele nao esta presente. Algumas dessas diferencas séo as seguintes: ~ valores absolutos versus valores relativos ~ lei de Deus versus opiniao pessoal ~ ordem versus caos ~ liberdade versus jugo Se nao tivermos Deus como nosso ponto de referéncia, perderemos a vida e tudo que ela poderia nos proporcionar. MANTENDO A PERSPECTATIVA CERTA Alguns anos atrés, quando eu estava trabalhando na Polénia, aprendi uma licdo valiosa sobre a necessidade de mantermos um ponto de referéncia corre- to. Préximo ao lugar onde eu estava hospedado havia uma floresta. Amante da natureza que era, logo me vi tentado a fazer nela uma caminhada de oracao. Sai bem cedo, aproveitando 0 frescor matinal daquele dia de verao. Suspirei de satisfacao ao ver os raios de sol filtrados Por entre as copas das arvores parcial- mente desfolhadas. Caminhando pela mata em comunhao com Deus, deixei-me envolver pela beleza do lugar e daquele que tudo criara. E claro que nao me preocupei com quest6es tao insignificantes como marcar 0 ponto em que entrara e prestar atengao na direcdo que seguia. 56 depois de dar algumas voltas pelos intimeros trilhos que cortavam o lugar, foi que me dei conta de um fato: estava perdido! Consciente de minha insensatez, mas confiante de que ainda me lembrava vagamente de algumas coisas, comecei a procurar caminhos por onde me parecia haver pasado. O resultado foi que me tornei ainda mais confuso, pois ia me embrenhando na floresta cada vez mais desconhecida para mim. Uma sensacio de total impoténcia e a consciéncia cada vez mais nitida de que estava perdido foram tomando conta de mim, Parte I | ALGUMA COISA FST4 FORA DO PRUMO - 41 Ja nao reconhecia nenhum ponto de referéncia que pudesse ajudar-me a sair daquele dilema. Todas as arvores e trilhos pareciam exatamente iguais. Nao via nenhum sinalizador absoluto pelo qual pudesse orientar-me. Nao ti- nhaa minima idéia de para que lado deveria caminhar; tudo era relativo, ja que desconhecia minha localizagéo. Achava-me total e completamente perdido! Em meio a esse terrivel dilema, compreendi que meus recursos haviam se esgotado. Olhei para 0 alto, por entre as arvores e avistei lé em cima, partes do céu que se mostrava carregado de nuvens. Entao ocorreu-me um pensamento muito simples: “Ele esta vendo onde me encontro. Por que nao lhe peco ajuda?” Deixara para o fim a melhor fonte de informacéo. 42 - ParEDES DO Meu Coracao | BRucE THOMPSON Entao, seguindo orientagdes de Deus, pus-me a seguir primeiro um trilho e depois outro. Aquilo acabou se tornando uma agradavel aventura com meu Pai celestial. E assim, ele me conduziu até a saida da floresta, onde encontrei 0 caminho para regressar a casa. E claro que voltei andando depressa, mas 0 maior anseio do meu coracao era louvar a Deus por sua fidelidade. Depois dessa experiéncia, consegui compreender melhor aqueles que se sentem totalmente perdidos e sem diregao. Apercebi-me do quanto é absurdo 0 fato de as pessoas 86 pedirem a Deus que lhes aponte 0 caminho certo j no fim da vida ou quando ja esto perecendo na “floresta da perdicao”. AS PAREDES DO MEU CORACAO Embora Deus nos compare a uma parede, o grande desafio af nao é a pare- de em sie sim, 0 coragao em torno do qual a parede foi erguida. Esse coragéo precisa ser transformado. E assim como Deus aferiu com seu prumo a nagao ju- daica, afere também nosso coragio. No livro de Provérbios (Pv 4:23), encontra- mos uma ordenanca no sentido de que guardemos bem 0 coragéo porque dele procedem as fontes da vida. Mas nossa tendéncia tem sido cuidar da mente e do intelecto, como se as questdes mais importantes da vida dependessem da educacao que recebemos. Contudo, estudando Provérbios, vemos claramente que nao é assim. 0 QUE EO “CORACAO” O termo coracao é empregado na Biblia com varios sentidos. No hebrai- co existem diversas palavras para designar coracao. Entre elas encontramos os termos “Jeb” e “lebab”. Examinando o contexto em que cada uma se inse- te, descobrimos que 204 vezes, elas se acham associadas 4 “mente”. Em 195 passagens, 0 sentido delas é relacionado com a “vontade” e em 166, com as “emocoes”. O uso mais frequente do termo, em 257 textos , tem relacdo com 0 homem interior, com a “personalidade”? O termo grego que significa coracao é kardia, de onde derivam também a palavra “cardiaco” e outras. Pelo breve estudo que fizemos, podemos ver que a “personalidade” engloba todo o nosso ser interior, isto é, a alma e 0 espirito. Eé a personalidade, 0 que envolve os aspectos do nosso homem interior passiveis de transformacao, que Deus afere com seu prumo, responsabilizando-nos por tudo que cultivamos em nossa vida. Parre I | ALGUMA CoIsA ESTA FORA DO PRUMO - 43 CONCLUSAO Os socidlogos tém dado muita énfase a controvérsia “heranga genética ver- sus meio ambiente”, muito em voga hoje em dia. Os que defendem a tese da “heranga genética” afirmam que a conduta do homem ¢ determinada pelo que ele traz ao nascer e portanto, ndo pode ser modificada. Os adeptos do “meio ambiente” pregam que nossa conduta é determinada pelo ambiente em que vivemos e tendo sido adquirida, pode ser modificada. A maioria dos que entendem isso, reconhecem que podemos mudar a nds mesmos, e nao apenas isso, precisamos desesperadamente mudar a nds mes- mos se quisermos sobreviver. A mudanga mental pode nao resultar em uma vida transformada mas uma mudanca no coracao certamente o fara. Da mesma forma que um construtor utiliza 0 prumo para verificar se uma construcao se acha em condigdes de ser habitada, Deus faz uso de seu prumo para verificar como estd indo a construgao da nossa vida. O grau de inclinacao que ela apresentar em relacdo aos padres divinos revela 0 grau de insegu- ranga, instabilidade e vulnerabilidade que experimentaremos nos momentos criticos. O fato é que assim que comecamos a alinhar nossa vida pelo prumo divino, iniciamos a maravilhosa aventura de descobrir “quem somos”. 44 - Parepes po Meu Coracao | Bruce THomPson Notas ‘Nova Biblia de Referéncia Scofield. * New Bible Dictionary (Novo Dicionério Biblico). Editor, J. D. Douglas, Eer- dmans, Grand Rapids, 1962. 3 ASSOLADOS POR TEMPESTADES furecida. Fiquei a ouvi-la pacientemente. Era uma senhora de cabelos brancos, com mais de trinta anos de casada e que afinal comecava a desabafar sentimentos que vinha guardando havia j4 um bom tempo. Cerca de vinte anos antes, seu marido tivera um romance extra-conjugal. Arrependera-se sinceramente e procu- rava acertar tudo. Mas, no decorrer dos anos, diividas e temores alojaram-se no coracao daquela esposa e foram crescendo lentamente, como um cdncer. Agora ela nao tinha mais dtivida, ele cometera adultério de novo, pois vivia distribuin- do abracinhos para todas as mulheres que encontrava. —Algumas, quando ele cumprimenta, fica segurando a mao delas por muito tempo. Até jé o peguei criando fantasias com minhas roupas de baixo. Anne relatou que quando o confrontara, ele ficara irritado e muito magoa- do, dizendo que tudo nao passava de imaginagao dela. Mas ela tinha certeza, sabia muito bem que ele estava tendo um caso com alguém, embora 0 negasse para ela. Orei com Anne e prometi que iria trabalhar no problema. Conversei com 0 marido e com duas das senhoras que ela julgava estarem envolvidas com ele. Entio a verdade comecou a vir tona. Quando o marido de Anne lhe fora in- fiel, ela fez um esforco muito grande para voltar a confiar nele. Agora, os filhos estavam criados e cada um tomara seu rumo. Ela passava muito tempo em casa sem ter 0 que fazer. E com mais tempo para pensar, acabou ficando parandica, F: 6 um hipécrita! Fala mentira uma atrds da outra! Dizia Anne en- 46 - PareDEs Do Meu Coracdo | Bruce THOMPSON passando a suspeitar de qualquer atencao, por menor que fosse que o marido dispensasse a alguém do sexo oposto. Na entrevista seguinte, pela conversa que tivemos, ficou bem claro que ela havia se enganado profundamente. O temor de ser traida de novo obscurece- Ta sua percepcao dos fatos. Ela se deixara levar pelo engano a tal ponto que se tornou incapaz de realizar-se plenamente no casamento e de descobrir sua identidade, o seu “quem sou”. Sua “fala interior” — aquilo que dizia para si mesma ~ havia se tornado um “falso profeta” que a induzia, cada vez mais, ao engano e desespero. S6 poderia libertar-se, se reconhecesse isso e passasse a alinhar sua vida pelo prumo divino. Todos nds, em nossa busca de sentido para a vida, precisamos estar atentos a fal- 80s prumos ou aos caminhos que por vezes seguimos. E impressionante a facilidade com que nos deixamos seduzir por desvios que nos afastam da “estrada principal’. Em muitos casos, 0 que consideramos “bom senso” deveria ser, na verdade, chama- do de “ledo engano”. Frequentemente, nossa prépria razo nos ilude. FALSOS PROFETAS Os falsos profetas que podem estar tanto dentro de nés como fora, constituem uma constante ameaca para 0 povo de Deus. No livro de Ezequiel (Ez 13:15,16), Deus manifesta sua ira contra aqueles que acintosamente proclamam mensagens e vises que afirmam ser divinas mas que na verdade nao o sao. Influenciados Por suas mentiras, os israelitas haviam se tornado como paredes fracas e insegu- ras, ainda que caiadas. Enquanto os falsos profetas aplaudem os seus feitos, Deus os adverte de que esta prestes a desabar sobre eles uma forte tempestade que ird Temover a caiagao e derrubard no chao, suas frageis e falsas paredes. Essa metéfora é uma ampliagao da idéia apresentada em Amés (Am 7:7-8), que j4 mencionamos, onde eles s4o comparados a uma parede. Na figura 6, vemos um individuo escondido atrés da fragil parede do medo que ele pro- prio ergueu para se proteger. E bem provavel que essa pessoa tenha sofrido algum trauma interior e no quer mais se mostrar tao vulneravel. Entretanto, enquanto se esconder atras dela, nao conseguiré desfrutar de amizades profun- das, sinceras e muitas vezes, sentir solidao. Pode inclusive viver periodos de intensa depressio, e abrigar arraigados ressentimentos, amarguras e até ddio contra aqueles que 0 magoaram. Pare I | ASsOLADOS POR TEMPESTADES - 47 DEUS Como foi que ele apren- deu a erguer paredes téo y precarias? Quem o conven- ceu de que necessitava delas e lhe ensinou a construi-las é com 0s tijolos das atitudes e sentimentos negativos? Os “falsos profetas”. Tenho t constatado com frequéncia que esse tipo de compor- tamento é inspirado por “falsos profetas” que lhes OUTROS dirigem palavras duras e insensatas, palavras que Deus nunca pronunciou. De forma sutil ou direta, com seu exemplo e influéncia, FIGURA 6 eles constrangem a quem 0s ouve a construir paredes de medo e desconfianga. Em muitos casos, apresentam-se até como mensageiros do Deus todo poderoso. Mas quem sao esses “falsos profetas” e que bases utilizam para nos enganar tanto assim? . OS PAIS ‘As primeiras profecias falsas que ouvimos podem vir de nossos pais. Infeliz- mente, todos os pais, até mesmo os melhores, se nao tiverem vivendo de acordo com os desfgnios divinos, passam aos filhos uma imagem errada de Deus e de suas verdades. E como hoje em dia os pais nao esto criando os filhos dentro dos parametros biblicos, ha muita gente por ai precisando ser “recriada”. Julie, por exemplo, passou a vida toda ouvindo a mae dizer: “Vocé é uma menina terrivel! Deus nao gosta de voce!” Nao 6 de admirar, portanto, que ela odiasse a si mesma e durante muitos anos, tenha softido profundas crises de depressao. Ela acreditou nas mentiras impiedosas quea mée dizia sobre ela propria e sobre Deus. Crescera ouvindo falsas profecias. 48 - Parepes bo Meu Coracao | Bruck THOMPSON Em outro caso, certo homem tentava estimular o filho a estudar mais, usan- do xingamentos constantes: ~ “Seu burro! Estipido! Vocé é um caso perdido!” Judah owvia isso todos os dias. Quando o conheci, estava com trintae poucos anos. Chorando, contou como os “rétulos” que o pai lhe impingira tornaram-se realidade em sua vida. Abandonou os estudos e passou a consumir drogas e bebidas alcodlicas na tentativa de sufocar o sentimento de auto-condenacao que o atormentava. Aquelas palavras negativas haviam destruido sua autocon- fianca. E ele nunca se formou, embora possuisse um QI bem acima da média e pudesse até ter feito um curso universitrio. Quando alguém comenta a aparéncia, a capacidade ou o futuro de uma crianca em sua presenca, ela internaliza literalmente tais palavras e 0 co- mentario tem mais peso quando quem o faz sio os Pais, as pessoas mais importantes para ela. Muita gente nao sabe disto mas para os pequeninos, 0s pais séo como “Deus”. Eles aceitam as palavras dos pais como certas ¢ irrevogaveis. Se eles fizerem afirmacées falsas e sem amor sobre 0 filho, po- dem prejudicar seriamente o desenvolvimento emocional dele, impedindo que tenha uma vida normal. PROFESSORES Também os professores podem deixar profundas marcas no espirito da crianca, mediante acusacdes falsas ou atitudes erradas, Certa vez, proferi uma palestra em determinada escola para um grande grupo de alunos do segundo grau. Falei sobre a pureza moral e sua importincia para nés. A certa altura, no- tei que alguns membros do pessoal da escola se mostravam um pouco incomo- dados. Mais tarde, soube que varios professores, inclusive o diretor, prometiam boas notas e referéncias honrosas aos alunos, em troca de “favores” sexuais, Desnecessario dizer que nunca mais fui convidado para falar naquele colégio. Os professores estavam transmitindo aos alunos a idéia de que a imoralidade era o caminho certo para se vencer na vida. Obviamente aqueles professores corruptos nunca discutiam questdes como as complicacdes de um gravidez indesejada e as doencas sexualmente trans- missiveis. Mas... mais tarde, uma das meninas que haviam engravidado, reve- Jowa verdade aos pais e outras fizeram 0 mesmo. Felizmente, esses professores foram processados e varios deles obrigados a se demitirem. Parte I | AssoLAbOs Por TEMPESTADES - 49 COLEGAS O homem dos nossos dias, na tentativa de gozar plena liberdade, esté tro- cando o legalismo pelo liberalismo. E 0 aspecto da vida humana em que se vé isso com maior clareza é 0 da sexualidade. Os jovens estao sofrendo tremendas pressGes para praticarem o sexo antes do casamento. O colega “falso profeta” argumenta que é perfeitamente Ifcito um casal de namorados ter relagdes se- xtiais em seus encontros e afirma que quem nao consente em ter intimidades sexuais néo pode dizer que ama. Express6es tais como “sexo por diversao”, “amor livre” e outras, estao se tornando comuns e aceitas na sociedade. ANational Academy of Sciense' (Academia Nacional de Ciéncias) apresentou um relatorio em que se revelam os resultados dessa pressao do colega “falso rofeta”. Nos Estados Unidos, 64% dos rapazes e 44% das mocas adolescentes até 18 anos so sexualmente ativos. O problema ¢ que tais falsos profetas nao alertam os jovens para as implica- goes da pratica da imoralidade. Nao conversam sobre a necessidade de se res- ‘onsabilizarem pela crianca que poderao ter nos bragos nove meses depois. Nao avisam que poderao sofrer dor e desconforto pelo resto da vida se contrafrem her- es ou poderio ser estéreis em consequéncia da clamidiase. Isso sem mencionar o perigo cada vez maior de se contaminarem com o virus da AIDS e morrerem. A academia apresenta os seguintes dados com relacao a novos casos dessas trés moléstias sexualmente transmissiveis:* DST 1986 1987 1988 Herpes 250 a 500.000 250 a 500.000 250 a 500.000 Clamidiase 4.500.000 4.500.000 4.500.000 AIDS 13.097 20.620 (até 10/10) 25.021 Os jovens que praticam 0 sexo desregradamente, ignoram esses fatos ou eferem nao atentar para eles por os considerarem verdadeiros “desmancha- rrazeres”. O argumento deles é: “Se é bom, por que nao fazer?” O pensamento mais popular na sociedade, hoje, é: “Cada um vive como quer! Nao seja um chato! Arranje alguém!” Ouvindo esse tipo de mensagem, grande parte dos nossos adolescentes es- to sendo levados ao erro. Precisamos urgentemente de jovens que atuem como profetas da verdade, que proclamem a verdadeira vida, a vida abundante. 50 - Parepes po Meu Coragao | Bruce THoMPson GOVERNO Existem muitos governantes que também assumem o papel de “falsos profetas”, pois pregam idéias errdneas aos seus cidadaos, chegando mesmo a empregar a forca para que estes as aceitem. Eles podem ser capitalistas ou co- munistas, democratas ou ditatoriais, mas estabelecem e aplicam leis que preju- dicam 0 povo. E, se aparece alguém que nao faz concessdes ao erro, tais lideres procuram denegrir seu carter. Quando o povo de Israel decidiu rejeitar a teocracia nos dias de Samuel, estava criando condigdes para que falsos profetas os conduzissem a todo tipo de erro e problema. E Samuel os avisou a respeito disso. “Este serd o direito do rei que howver de reinar sobre vés: Ele tomard os vos- s0 fillhos e os empregaré no servico dos seus carros e como seus cavaleiros, para que corram adiante deles e os pord; uns por capities de mil e capities de cin- quenta; outros para lavrarem os seus campos e ceifarem as suas messes ¢ outros para fabricarem suas armas de guerra e aparelhamento dos seus carros. Tomara 4s vossas filhas para perfumistas, cozinheiras e padeiras. Tomaré o melhor das vossas lavouras e das vossas vinhas e dos vossos olivais eo dard aos seus servi- dores... Também tomard... os vossos jumentos... Dizimart 0 vosso rebanho e vés Ihe sereis por servos” (I Sm 8:11-14,16,17). Mas 0 povo se negou a dar-lhe ouvidos e continuou insistindo em ter um rei como as outras nagdes. Deus disse a Samuel que nao era a ele, 0 profeta, que eles estavam rejeitando mas sim, a Deus, nao querendo que o Senhor reinasse sobre eles. E exatamente como Samuel havia predito, esses reis e “falsos profetas”, en- traram em cena para lhes causar muita infelicidade. O mesmo acontecerd conos- co, se dermos ouvidos a outros profetas que nao os verdadeiros servos de Deus. AMIDIA Os veiculos de comunicacao de massa talvez sejam 0 mais sinistro e malig- no “falso profeta” dos nossos dias. Ele instala seu altar dentro de quase todos os lares do mundo desenvolvido. Diariamente, as familias se sentam diante dele, para prestar-Lhe culto, ouvindo-o exaltar, de forma sutil mas incisiva, uma vida de violéncia, lascivia e crimes. O Dr. William Dietz’ estima que a média das criangas em idade escolar nos Estados Unidos, passa de onze a vinte e seis Parre I | ASSOLADOS POR TEMPESTADES - 51 horas semanais em frente da tevé e assiste a doze mil atos de violéncia por ano. Outras pesquisas revelam que os programas em hordrio nobre, apresentam em média, cerca de treze cenas de violéncia por hora e que nos desenhos anima- dos, esse dado é ainda mais elevado. E, infelizmente, as principais reportagens dos jornais, muitas vezes sao uma reproducao da violéncia que vemos nos filmes mostrados no cinema e na tevé. Um rapaz, extremamente revoltado com a vida, com magoas profundas devido a rejeigdes sofridas, apareceu numa das ruas centrais de uma cidade grande. Vestia-se com roupas de cowboy, inclusive com o chapelao de aba larga, botinas de couro e esporas. Em cada lado do quadril, carregava um revlver de seis tiros. Parou na frente do trafego, fez um movimento rapido e cinematografico com as maos, sacou as armas e pds-se a atirar indiscreta- mente contra 0s carros. Instalou-se 0 caos. Todo mundo corria atabalhoadamente de um lado para outro tentando proteger-se. Alguns passavam entre os veiculos, procurando es- capar dos tiros. Enquanto isso, 0 rapaz exibia um maligno sorriso de satisfacao, pelo poder que exercia com aqueles revélveres cuspindo chumbo. Essa cena nao foi extraida do roteiro de um filme. O fato aconteceu numa das principais cidades dos Estados Unidos, alguns anos atras. Quando a policia conseguiu cercar 0 cowboy convenceu-o a jogar as armas no chao e o prendeu. Mais tarde ele foi sentenciado a prisao perpétua. Os produtores dos meios de comunicagio de massa nao fazem idéia do quanto eles afetam a sociedade com suas histrias s6rdidas, jé que suas fanta- sias sempre acabam se transformando em tragédias da vida real. Mas, a caneta desses falsos profetas, produz ainda outras mensagens falsas, apregoando, entre outras mentiras, a bondade inerente ao ser humano que se choca frontalmente com o que Deus diz. E hoje, as locadoras e clubes de video, que nao estao sujeitas as leis da cen- sura, sao veiculos pelos quais qualquer um é passivamente condicionado pelos falsos profetas da midia. AIGREJA E SUA LIDERANCA Uma coisa que a hist6ria da igreja tem nos ensinado é que nao aprendemos nada com as ligdes do passado. Parece que continuamos repetindo os mesmos ertos, geracéio apés geracao. Os lideres atingem o dpice da fama, para logo 52 - Parepes po Meru Coracao | Bruce THOMPSON depois, cairem vergonhosamente. Nao ha dtivida de que a igreja também tem tido seu quinhao de falsos profetas. A Biblia contém muitos exemplos de falsos profetas que desviaram e desen- caminharam 0 povo de Israel. Ezequiel fala de profetas loucos que seguiam seu proprio espirito, tinham visdes falsas e adivinhacdes mentirosas e diziam: “O Senhor disse... quando o Senhor nao os entvion a dizer " (Ez 13:3,6). A igreja tem di- vergido tanto na proclamagao da verdade que quem esta de fora, acha melhor nao se associar a ela. Certos “cristaos” se reuniram no alto de um monte, em determinada data, a espera de que Jesus os arrebatasse mas acabaram desiludidos. Outros “cris- taos”, enganados, estao seguindo certos lideres e desembocando em suicidio coletivo. Ainda outros, agarrando-se a cura pela fé, acabaram morrendo de uma enfermidade que poderia ter sido curada pela medicina moderna. Mais recentemente, temos visto os tele-evangelistas pregarem contra 0 pe- cado e todo tipo de imoralidade e eles acabarem envolvidos neles. De modo geral, a igreja tem apresentado ao mundo uma mistura tao grande de mensagens que nao é de se admirar que muitos nao tenham mais interesse em ir aos cultos, nem para ouvir os verdadeiros profetas proclamarem a pala- vra divina. OCORACAO No livro de Jeremias, o profeta aponta 0 corago como uma das principais fontes de profecias falsas (Jr 17:9,10). Mas, nem sempre 0 vemos como tal. Ali- as, muitas pessoas s4o desencaminhadas por sua “voz tranquila, silenciosa”. Embora a maioria confie no proprio coragao, julgando-o confidvel e digno de crédito, a Biblia afirma que ele é enganoso. Ele emite sinais falsos e enganosos, sem que nos demos conta disso. Alguns chegam mesmo a dizer: “E, sea gente nao sentir no coracao que é verdade, entao é melhor nao acreditar”. Esse falso conceito, confere ao coracao, a perigosa condicao de autoridade suprema e assim, muitos séo enganados. Todos esses falsos profetas, e ainda outros, nos aconselham a erguer pare- des de protecio e até nos ensinam o processo. Eles argumentam que essa 6 a unica maneira de nos protegermos contra os perigos da vida e afirmam: “Sem tais paredes, ninguém sobrevive!” Pare I | ASsSOLADOs POR TEMPESTADES - 53 Mas precisamos aprender a fazer distingao entre a voz enganosa dos falsos profetas e a dos verdadeiros que sao enviados por Deus. Se nao o fizermos, quando nos sobrevierem as tempestades nas adversidades, as paredes que construimos irao ruir. TEMPESTADES Ezequiel afirma que ventos tempestuosos, saraivada e chuva de inundar, dariam com impeto contra as paredes para derrubé-las (Ez 13:9-16). Vejamos alguns tipos de tempestades que podem assolar as muralhas de protecao que erguemos para nds: — problemas de satide -perda de um ente querido - divércio — problemas financeiros ~ drogas ~alcoolismo ~delinquénciana familia - problemas no trabalho Quando reunimos todos os componentes da metafora de Ezequiel, enten- demos a mensagem central do texto. Como ocorre com muitas pessoas, 0 in- dividuo da figura 6 elaborou seu proprio sistema defensivo, ai simbolizado pela parede. Em seu estado de cegueira, nao enxerga sua vulnerabilidade, nem percebe que a parede o impede de ter relacionamentos afetivos profundos. O que acontecerd se ele ouvir o evangelho e se converter? Sera que tudo vai mudareela desaparecera? Nao necessariamente. O que acontece é quea luz acen- derd ¢ ele se conscientizard de que vem se escondendo por tras de uma parede. Sua primeira reacdo sera clamar a Deus pedindo seu auxilio. Mas no mesmo instante, comeca a se formar a tormenta. E quanto mais ora, mais ela se inten- sifica. De repente, um tijolo se solta e cai bem perto dele. E outros continuam caindo. Afinal, toda a parede desaba. Primeiro ele fica alarmado, depois, teme- roso. Por fim, sente-se totalmente arrasado. Assim que a poeira assenta, ele pode assumir uma das duas atitudes se- guintes: ficar revoltado, sacudindo o dedo no rosto de Deus, dizendo que ele é injusto, infiel, arbitrario e que nao o ama, ou abaixar a cabeca, 0 rosto molhado de lagrimas provenientes de um corago quebrantado e contrito que o Senhor nunca despreza. Na primeira atitude, ele se levanta e reconstrdi paredes mais 54 - Parepes po Meu Coragao | Bruce THomPson grossas ¢ fortes, enquanto que na segunda, ele se ergue do meio daquele entu- ho de tijolos e entra numa nova vida, livre das paredes do passado. O saldo de uma tempestade para quem esta buscando vida é de grande importancia! O que foi que aprendemos na tltima tempestade que nos so- breveio? Ou sera que precisaremos passar por outra, para que aprendamos a ligdo dela e tomemos 0 rumo certo? O ENGANADOR-MOR De todos os falsos profetas, o mais astucioso e mentiroso é 0 proprio Liicifer que nas Escrituras é muitas vezes comparado a uma serpente. Em Amés 5.19, o profeta mostra a estratégia que Lticifer usa contra as paredes da nossa perso- nalidade, na tentativa de roubar nossa heranca. Se deixarmos nossa imaginacdo ampliar um pouco 0 fato narrado nesse texto, poderemos enxergar a seguinte cena: De madrugada, antes do alvorecer, os campos ainda molhados de orvalho, um lavrador sai de casa e caminha apressadamente por uma estradinha, sen- tindo no rosto o ar fresco da manha. A cabega fervilha de idéias sobre 0 que tem de fazer no dia que se inicia. De repente, ao atravessar um pequeno arvoredo, tem a sensacio de que ha algo por perto. Entéo, com os sentidos agucados ao maximo, fica escutando atentamente para ver se consegue perceber algum rui- do que o permita descobrir 0 que ou quem esta ali. Mas nao ouve nada. Tudo é siléncio. Da um suspiro de alivio e recomeca a caminhar. Subitamente um ledo forte, de juba longa sai do meio das arvores e vem em sua diregio. © homem gira nos calcanhares e com adrenalina circulando pelo organismo, volta corren- do pelo caminhozinho. Tao logo perceba ja ter deixado o animal para trés, para para recobrar o félego e acalmar-se um pouco. Afinal, decide ir de novo para 0 campo mas nao pela mesma estradinha. Segue pelo leito de um rio seco, sinuoso e pedregoso. O sol jé desponta no céu, expulsando as tiltimas sombras da noite. Em passos répidos, o lavrador vai andando por entre pedras ¢ rochas. No momento em que acaba de fazer uma curva, horrorizado, vé bem a sua frente, barrandoa passagem, um grande urso. Urrando ameacadoramente, 0 animal se empina nas patas traseiras, movimen- tando as dianteiras. Apavorado, o lavrador fica uns instantes paralisado mas consegue virar-se e volta correndo pelo leito do rio. Afinal, reconhece que nao da mais para ir trabalhar no campo, pelo menos nesse dia Parre I | ASSOLADOS POR TEMPESTADES - 55 FIGURA7 56 - PareDes Do Meu Coracao | Bruce THompson Entra em casa exausto e esgotado, encosta-se 4 parede para recuperar as forcas. Assim que relaxa e baixa a guarda, surge na parece uma cobra. E com um bote rapido, ela enterra as presas no braco dele. Aquele homem conseguira escapar dos inimigos externos, 0 ledo e 0 urso mas foi vencido pela serpente sorrateira que estava dentro de casa. Nessa me- tafora, 0 leo e 0 urso simbolizam nossos inimigos externos, enquanto a cobra representa um inimigo interno que nos ataca por meio da nossa personalidade. CONHECIMENTO Parre I | AssOLADOS POR TEMPESTADES - 57 Como ja vimos, as paredes representam nossa personalidade. E atuando sobre elas que o inimigo tem as melhores oportunidades de destruir relacio- namentos, casamentos, familias, igrejas e até a sociedade. Se compreendermos bem como somos e como as coisas se passam em nosso interior, poderemos fazer com que nossa personalidade esteja a nosso servico, em vez de estarmos escravizados as instaveis manifestagdes do nosso ego. Algumas pessoas tém uma personalidade tao emparedada que acabam prisioneiras das paredes do seu coracao, como vemos na figura 8. Infelizmente, para muitos crentes, so verdadeiras as palavras de uma personagem de certo cartoon que afirmou: “J encontramos 0 inimigo: somos nds!” Cada vez que repetimos determinada atitude negativa, ela se solidifica um pouco mais, tornando-se um hébito. E € assim que vamos acrescentando tijolos a parede. Vez por outra, sofremos traumas emocionais téo fortes que chegamos a “emparedar” toda uma drea de nosso ser, com 0 objetivo de evitar que nos magoem de novo. Essa parede pode nos proteger até certo ponto, mas também isola parte da nossa personalidade, prejudicando nossa capacidade de amar, de confiar em outros ede ter bons relacionamentos. E quanto maior fora area “isolada”, mais sérios serao os sintomas e é mais dificil saber como somos e por que temos as reagdes que temos. Essa situagio pode ainda criar condigdes para se estabelecer em nés uma base enga- nosa, capaz. de nos imobilizar e impedir o desenvolvimento do nosso ser. A Biblia diz que se conhecermos a Verdade, ela nos libertaré (Jo 8:32). Quan- to mais verdade incorporarmos ao nosso ser, mais livres seremos, com mais possibilidade de viver como Deus deseja. CONCLUSAO Neste capitulo, vimos que as paredes que construimos para nos proteger podem acabar nos aprisionando, destruindo em nds a propria esséncia da vida. Entio, se nao devemos erguer paredes e muito menos confiar que por tras de- las estamos seguros, como vamos nos defender das tempestades que além de derrubar as paredes, destroem também nosso proprio ser? E essa importante pergunta que vamos responder nos capitulos que se seguem. 58 - ParEDES Do Meu Coragao | Bruce THompson Noras ‘National Academy of Science, 10 de dezembro de 1986. *Os calculos sobre herpes e clamidiase sao do Centro de Controle de Enfermi- dades, de Atlanta, Gedrgia. Os ntimeros sobre o avanco da AIDS sao fornecidos pelo AIDS Weekly Surveillance Report (Boletim de observacao semanal da AIDS) de 15 de outubro de 1988. > William Dietz, ex-presidente da Forga-Tarefa da Crianga e Televisio, um de- partamento da Academia Americana de Pediatria. 4 UVAS VERDES “Os pais comeram uvas verdes e os dentes dos filhos é que embotaram” (Ez 18:2 — Antigo provérbio israelita). ‘0 capitulo anterior, abordamos a questao das tempestades que assolam aalma eas mentiras dos falsos profetas que tentam nos convencer de que precisamos erguer paredes de protecao. Mencionamos que os pais podem ser falsos profetas e comentamos a influéncia que eles exercem sobre 0s filhos. O provérbio que transcrevemos acima enfoca 0 mesmo processo, embora de uma perspectiva diferente. As uvas verdes séo os pecados dos pais, e os dentes embotados so os efeitos que eles deixam nas geracdes posteriores (Nm 14:18). Mas, por intermédio do profeta Ezequiel, Deus ordenou ao povo de Israel que parasse de citar esse provérbio, pois ele se tornara um pretexto para nao assu- mirem a responsabilidade por seus erros. Em outras palavras, eles culpavam seus antepassados pelos seus proprios pecados, sendo que Deus responsabiliza cada individuo pelas suas escolhas. Para entendermos melhor 0 que Deus est ensinando, vamos examinar uma pesquisa! efetuada por um departamento militar dos Estados Unidos, com fi- lhos de militares entre 3 e 18 anos de idade. A equipe de psicdlogos e socidlo- gos que realizou o trabalho, confirmou a existéncia da “sindrome da auséncia da figura paterna”, em criancas cujos pais estavam afastados delas, devido a missdes militares. Eles constataram que a primeira reacao desses filhos era se- melhante 4 daqueles cujos pais haviam morrido. Observaram que os sintomas mais frequentes entre eles eram: 60 - PaAREDES Do Meu Coracao | Bruce THOMPSON 1. Revolta 5. Medo 2. Negacao e fantasia 6. Desordens funcionais 3. Tentativas de reencontro 7. Regressdo 4, Sentimento de culpa Aanalisando esses dados, comecei a observar que tais reacdes esto tela- cionadas com os principais sintomas das patologias sociais dos nossos dias. E possivel que essas atitudes nunca sejam resolvidas e que esses problemas continuem até a fase adulta. 1. Suponhamos, por exemplo, que 0 exército dos Estados Unidos envie de- terminado soldado para longe de casa e que ele permanega seis meses nessa missdo, vindo em casa poucas vezes e por pouco tempo. A principio, o filho se sente profundamente magoado com a separacao. Nesse caso, pode reprimir a tristeza, internalizando-a ou entao extravazando-a com atitudes de revolta e ira. A internalizacao da magoa torna o individuo susceptivel a distirbios emo- cionais, ao passo que o extravasamento pode gerar desvios sociais. As criangas que ainda bem pequenas, se mostram temperamentais, mais tarde podem vir a praticar crimes ou atos de violéncia. SENTIMENTO DE REVOLTA— ~-- CRIME 2. Quando a dor da separacao torna-se insuportavel, pode surgir entéo a segun- da reacao mencionada, negacao e fantasia. A crianca nega a separacao e imagina encontros com 0 pai € se vé conversando com ele. Tal atitude pode leva-la a criar ohabito de auto-ilusio, desencadeando um ou mais distirbios da personalidade. —~ DISTURBIOS DA PERSONALIDADE NEGACAO E FANTASIA —~ 3. Outra reagio observada nessas criangas foi o anseio de ver o pai. Elas ficam importunando a mae e como um disco estragado, indagavam varias e varias vezes: “Mae, quando é que meu pai chega?” E as maes respondiam diversas vezes, dizendo o dia e a hora da chegada, mas isso nao adiantava nada. Dai a pouco, ela perguntava de novo. Por fim, a mae perdia a paciéncia e ficava exasperada com 0 filho. Pare I | Uvas veRpes - 61 Nao hé ditvida de que essa constante ansia de estar com 0 pai se deve a ne- cessidade que a crianga tem do relacionamento pai/filho. Esse problema pode vir a ser refletido na vida adulta, quando ele procurard se agarrar demasiadamente as pessoas do seu relacionamento. Se ao crescer, ele continuar sentindo a mesma ansiedade de estar com 0 ente querido, pode tornar-se doentiamente possessivo. Vemos esse distirbio presente em muitos casamentos. Esposas indagando ao marido tudo que aconteceu a ele durante o dia ou maridos que desenvol- vem um temor parandico de perder a esposa. Esse temor leva-o a querer sa- ber pormenores das atividades dela. Toda pessoa que foi rejeitada ou sofreu mdgoas profundas, tem a tendéncia de tornar-se possessiva em todos os seus relacionamentos. Entretanto, sempre que adotamos atitudes possessivas num relacionamento, nds 0 asfixiamos. TENTATIVAS DE REUNIR -—----—- ATITUDE POSSESSIVA 4, A crianca cujo pai esta ausente, pode ter sentimentos de culpa falsos ou verdadeiros. Ela pode culpar-se pela auséncia paterna, sentir-se indigna, achar que nao tem valor, cultivar complexo de inferioridade e passar a acreditar que nunca poderd ser amada. Esse sentimento de culpa constitui um fardo pesado demais para uma crianca e segundo creio é uma das principais causas das mais sérias formas de depressao. Esse sentimento de culpa pode acentuar-se e agravar-se ainda mais quando ela se comporta mal. Sem a presenca do marido para dar-lhe apoio moral e dis- ciplinar 0 filho, a mae sente-se incapaz de reprimir a conduta errada da crianga. Sem disciplina ou recebendo uma disciplina deficiente, a crianca nao tem como aliviar seu sentimento de culpa e a conduta indesejada se enraiza. SENTIMENTO DE CULPA ~——--—~ REBELIAO Em seguida, sob 0 peso da culpa, a crianca volta contra si e pode adotar atitudes masoquistas. A autopunigio tende a aliviar um pouco o sentimento de culpa e a enfraquecer seu anseio de revolta mas ai surgem as seguintes reacdes: --- DEPRESSAO DELINQUENCIA INTERNALIZACAO DO SENTIMENTO DE CULPA. EXTRAVASAMENTO DO SENTIMENTO DE CULPA 62 - Parepes Do Meu Coracdo | Bruce THompson 5. Outro disttirbio evidenciado por filhos de pais ausentes 6 0 medo. Eles se agarram possessivamente a mae e choram por qualquer motivo. Nunca querem perdé-la de vista, j4 que a mae € 0 tinico elemento de segu- ranca que lhes resta. Esses temores nao resolvidos tém dominado a vida de muita gente hoje, tanto nos paises desenvolvidos como nos subdesen- volvidos. Muitos passam a ingerir tranquilizantes na va tentativa de conter a crescen- te onda de neuroses que os dominam. Hé pessoas tomando comprimidos para dormir, acordar, para comer mais, controlar 0 apetite, para obter mais energia e assim por diante. ABiblia diz que havera homens que desmaiarao de medo (Lc 21:26). Ja esta comprovado que a tensao e ansiedade constantes podem causar problemas car- diacos e varios outros distiirbios. MEDO — -- NEUROSES 6. As desordens funcionais sao reacdes do organismo a uma continua inter- nalizagao de problemas nao resolvidos. Os observadores descobriram isso, em crianginhas que jé haviam adquirido o controle anal e uretral e sofreram um retrocesso. Houve inclusive, criancas mais crescidas que para vergonha delas, voltaram a urinar na cama 4 noite, recebendo com isso muita Tepreensdo ma- terna. Outras passaram a engolir 0 alimento vorazmente. Todos esse exemplos, revelam como as fungdes organicas podem ser afeta- das pela internalizacao das pressGes emocionais. Talvez seja por esta razao que 0s clinicos de hoje estéo descobrindo que 80% dos seus pacientes, apresentam distirbios com elementos psicossomaticos. Na maioria dos casos, eles tratam apenas dos sintomas, enquanto que os problemas causadores da enfermidade nao sao questionados nem corrigidos. DESORDENS FUNCIONAIS ——~ DISTURBIOS PSICOSSOMATICOS 7. Algumas das criancas pesquisadas, apresentaram 0 fendmeno da re- gtessio comportamental. O trauma da separacio foi tao intenso que elas se tornaram retraidas, recusando fungGes vitais como comer, brincar, relacionar com outros, etc. Algumas iam para um canto e ficavam encolhidas na posigio Parte I | UVAS VERDES - 68 fetal. Isso indica medo e inseguranca profundos que provocam nelas 0 desejo de retornar ao estagio fetal, no ventre materno, onde elas tinham uma vida relativamente segura. No caso do trauma da separacao ser continuado, a crianca pode tornar-se psicotica e optar por viver num mundo de fantasia, em vez de enfrentar a do- lorosa realidade. REGRESSAO ----———— PSICOSES REACAO DA SINTOMA CRIANCA SOCIAL eSentimentodeRevolta = Crime « Negacao e Fantasia = Disttrbio de Personalidade « Ansia de ver => — Possessividade ¢Sentimentode Culpa > — Internalizacao - Depressdo Extravasamento - Delinquéncia ¢ Medo => Neuroses * Desordens Funcionais > — Disttrbios Psicossomaticos . * Regressao => _ Psicoses FIGURA9 64 - ParEDEs DO Meu Coracao | Bruck THOMPSON Analisando os sintomas dos males apresentados na figura 9, veremos que ai estao relacionados todos os problemas sociais de hoje. Com isso, podemos con- cluir que os conflitos nao resolvidos na infancia, geram no individuo padroes de comportamento imaturos na fase adulta. O apéstolo Paulo fala disso quando afirma: “Trmios, vocés ja esto tomando mamadeira hd muito tempo. Crescam! Meu desejo é que larguem logo o leite e passem a comer carne.” (I Co 3:1,2 - Pariifrase do autor). Muitos psic6logos, psiquiatras e outros terapeutas, reconhecem que o gran- de desafio que a sociedade apresenta hoje é ajudar os adultos a “crescerem”, tanto interior como exteriormente. Podemos apreciar a crianca que ha em cada um de nés mas ¢ errado deixar que ela assuma 0 comando. A pesquisa militar a que nos referimos, faz mencdo apenas do pai ausente. Mas pensemos em situagdes em que ele é alcodlatra e maltrata a familia ou pratica abertamente a imoralidade ¢ a infidelidade. O impacto negativo e de- preciativo que isso causa numa crianca é ainda mais traumético e pode deixé- la acorrentada a infancia pelo resto da vida. A auséncia da mae poderia ter o mesmo efeito, principalmente em criancas bem pequenas. Entao as uvas verdes representam os problemas ou falhas dos pais, eo em- botamento dos dentes tudo aquilo que afeta negativamente o desenvolvimento dos filhos. A Biblia identifica esse processo, como a iniquidade dos pais que Deus vi- sita filhos até a terceira e quarta geracdo (Nm 14:18). Eo que hoje a sociopato- logia chama de “padrées hereditarios”. Essa questo traz de volta uma contro- vérsia popular, a culpa é da heranga genética ou da criagdo recebida? Nossos problemas sao herdados ou adquiridos? Se forem adquiridos, entéo podem ser modificados e o individuo pode ser responsabilizado por seus ertos. A pesquisa aponta ainda alguns dos principais fatores que levam os ho- mens a erguerem paredes que sao reacGes aos erros dos pais. No Salmo 103, encontramos 0 antidoto de Deus para esse embotamento dos dentes. “Mas a misericérdia do Senhor é de eternidade a eternidade, sobre os que o temem ea sua justiga sobre os filhos dos filhos” ($1 103:17). Parte I | Uvas VERDES - 65 F 0 desejo de Deus que os homens prover o doce sabor das uvas maduras para que os dentes dos filhos nao se embotem. Ele quer que os pais passem aos filhos e aos filhos dos filhos a salvacao, a longanimidade e a justica divina. Esse éseu plano e seria assim que ele diria aquele provérbio: “Se os pais recorrerem a Deus e acatarem seus designios, passarao a invocar suas béncdos sobre seus descendentes”. A rejeigao pode ser passada, consciente ou inconscientemente, de uma ge- racio para outra. Voltando ao nosso pensamento inicial, podemos ilustré-lo da seguinte maneira: Vemos na ilustracéo abaixo que se Deus é a nossa figura de autoridade, recebemos amor e aceitacao. Mas, quando é o homem que ocupa esse lugar, 0 que recebemos muitas vezes ¢ ddio (dissimulado ou frontal) e rejeicéo. O fator que determina o angulo compreendido entre o “prumo humano" eo “divino” chama-se “caréncia afetiva”. A linha vertical do amor e da aceitacio divina é 0 fio do prumo de Deus e representam a disposicao e 0 desejo dele para conos- FIGURA DE AUTORIDADE DEUS AMOR ~_ ACEITACAO CARENCIA AFETIVA REJEICAO 66 - PareDes Do Mu Coracéo | Bruce THoMPson co. A linha obliqua do édio e da rejeicio humana ¢ o fio do prumo humano, segundo 0 qual o homem vai construindo sua vida, em vez de seguir 0 prumo divino. O angulo existente entre os dois fios pode entao ser descrito, em termos de uma “caréncia afetiva”. Quanto maior a abertura desse Angulo, maior a falta do amor divino. Para considerarmos alguns dos efeitos que essa caréncia pode provocar em 1nés, vamos colocar esses fatos sob a forma de uma equacio biblica: NOS - AMOR =? Que resposta vocé encontrou para a questao acima? Sera que da para res- ponder sem primeiro definir 0 amor? O amor é um termo tio desgastado hoje em dia que pode ser aplicado a qualquer coisa, desde amar a Deus até a um caozinho de estimacao. Para nosso estudo aqui, vamos definir 0 amor com base no termo grego Agape, que significa um interesse e dedicagao profundos por alguém e que pode nos levar até a dara vida por ele. E a mais elevada forma de amor do qual todos nds precisamos. Quanto maior for a caréncia afetiva de uma pessoa, maior sera a probabilidade dela se sentir um nada, um zero a esquerda. Para ela, a vida tem muito pouco valor, se é que tem. NOS - AMOR = ZERO Sermos amados nos confere senso de valor préprio. Sentimos que temos valor. Todo aquele que nao é amado ou é maltratado, Tejeitado e pisado, sofre do problema de baixa auto-estima. O amor frequentemente e de forma errada é confundido com lascivia. A diferenga é que na lascivia buscamos o prazer em alguém e no amor ocorre 0 oposto. Amar implica em dar de nés mesmos a alguém e partilhar com esta pessoa nossa vida, com o objetivo de aumentar 0 seu bem-estar, proporcionan- do-lhe o maior bem possivel. O lema da lascivia é: “Me da!” O do amor é: “Eu Ihe dou!” Com isso, podemos montar outra equagio semelhante & mencionada acima que ter os seguintes termos: NOS + LASCIVIA = ZERO Pare I | UvAS VERDES - 67 Muitas pessoas tentam compensar sua caréncia afetiva entregando-se desenfreadamente a lascivia. Um jovem que nao se sente amado pelos pais, por exemplo, pode ter relacdes sexuais muiltiplas, acreditando poder preen- cher dessa forma sua necessidade de amor. Uma filha que nao se sente amada, entrega seu corpo a varios homens, na tentativa de compensar sua sede de afeicdo. Todavia, tanto um como outro, estarao recebendo apenas lascivia. Sua caréncia afetiva continua inalterada. UM EXEMPLO DE CARENCIA AFETIVA Gita era uma jovem muito bonita, de olhos castanhos e cabelos castanho- avermelhados. O primeiro fato que notei nela foi que nao conseguia encarar ninguém de frente. Mantinha os olhos voltados para o chao e deixava transpa- recer uma profunda tristeza. Ela assistira as nossas palestras sobre O Prumo Divino e fora uma das muitas pessoas que tinham ido a frente solicitando oragao. Agora estava sentada na ponta da cadeira, cabisbaixa, 0 cabelo caindo sobre o rosto. Chorava convulsi- vamente, 0 corpo sacudido pelo pranto, as lagrimas gotejando no colo. Tive de agucar ouvidos para ouvi-la. A jovem explicou que nao se relacionava bem com os pais. Ambos profis- sionais liberais bem-sucedidos na vida e que esperavam que ela seguisse 0s passos deles. Quando crianga, eles nunca haviam dado a ela demonstracdes afetivas, a nao ser um rapido beijo no rosto, vez por outra. A tinica relacao afetiva que tivera foi com sua boneca. Passava horas e horas com ela, extrava- sando no brinquedo, sua afeicao acumulada. Por fim, a boneca ficou muito suja eestragada. Certo dia, o pai entrou no quarto dela e disse uma noticia que para ela foi pavorosa: ~ Eu e seu mae estivemos conversando, iniciou ele. Resolvemos comprar para vocé uma boneca nova e jogar esta fora. Horrorizada, a menina se agarrou a boneca, gritando histericamente: — Nao! Nao quero uma boneca nova! Uma noite, enquanto ela dormia, o pai foi ao quarto, pegou a boneca, co- locou uma nova em seu lugar e atirou no incinerador a que ela tanto amava. Quando a menina acordou no dia seguinte, ficou arrasada. Nao quis saber da nova boneca, nem tocou nela. 68 - Parepes Do Meu Coracao | Bruce THOMPSON FIGURA DE AUTORIDADE FIGURA 10 REJEICAO REVOLTA O incidente veio aumentar ainda mais 0 distanciamento entre Gita e seus pais. Na adolescéncia, comecou a procurar amor da forma errada. Apds uma longa série de casos amorosos, ela acabou descambando para a prostituicao. Nada mais lhe restava, achava-se imersa na solidao, profundamente necessita- da de uma mensagem do Senhor. Quando nos colocamos na presenca de Deus, recebi uma revelacao: Gita se tornara como uma bonequinha sequiosa de amor. Ao dizer isso a ela, voltou a chorar. Em seguida, 0 Senhor me deu outra mensagem para ela. Parte I | Uvas VERDES - 69 FIGURA DE AUTORIDADE 3, PASSIVO / AGRESSIVO 1. PASSIVO 2. AGRESSIVO — Deus acaba de adoté-la como a “bonequinha” dele! Falei. Ele vai amé-la mais do que vocé amava sua boneca. ‘Ao sentir o amor de Deus envolver todo o seu ser, seu pranto mudou. Ago- 1a, chorava de alegria e nao de tristeza pela vida sofrida e destrocada que le- vara até entio. A partir desse dia, passou a ter uma nova perspectiva de vida. Entregar-se & lascivia no objetivo de satisfazer anseios emocionais s6 serve para aumentar a caréncia afetiva e 0 sentimento de desvalorizacao. E quando a vida nao tem valor, perde-se a vontade de viver. Gita tinha norteado sua existéncia pelo prumo humano da rejeigao que acabou tornando seu principal ponto de referéncia na vida. Numa atitude constante de passividade, vivia es- perando ser rejeitada. Mas, suponhamos que alguém nao aceite a rejeigdo como seu referencial basico. Nesse caso, tal individuo usara outro prumo humano, a revolta (fi- gura 10). 70 - PareDES Do Meu Coracao | Bruce THOMPSON Quando é a revolta que predomina, o individuo assume uma atitude agressi- vae luta para anular o sentimento de rejeigao com que convive ha tanto tempo. E pode haver ainda outros, com personalidade passivo/agressiva, isto é, ora sio dominados pela rejeicao, ora pela revolta, dependendo da situagao. Vemos entao que pode haver trés tipos de reacao, conforme ilustrado na figura da pagina 69. Um desses trés tipos de atitude, uma vez arraigado na vida do individuo, torna-se como uma raiz de onde brotam distorgdes da personalidade. E cada uma dessas distorgdes constitui um tijolo a mais nas paredes que erguemos em nosso coracao. No proximo capitulo, continuaremos a analisar a metdfora do livro de Amés, para conhecermos outros fatos sobre o que se passa atrds dessas paredes. Notas ‘Armand M. Nicholi M.D., “Fractured Family", em Christianity Today, de 25 de maio de 1979. Arquivos da psiquiatria geral. 5 PAREDES DE PROTECAO. DECORRENTES DA REJEICAO formam verdadeiros labirintos. As casas tém todas as formas e tama- nhos. Certa vez, quando eu caminhava numa dessas ruelas com um amigo holandés, ele apontou uma fileira de construgGes perigosamente incli- nadas. Algumas construgées haviam sido demolidas e as que ficaram, tinham uma inclinacao tao acentuada que precisaram ser apoiadas em escoras. Em alguns casos, a diferenca entre a base da construcao e o teto era de quase dois metros. Ja vimos a metafora que Deus apresentou a Amés. Seu povo era como uma parede fora de prumo, semelhante aquelas casas de Amsterda. Se uma pessoa sofre rejeico por um prolongado periodo de tempo, isso pode gerar distorces psicolégicas tio sérias e perigosas como as daquelas casas. Vamos entao, exa- minar essas distorgdes tijolo a tijolo. N: cidade de Amsterda, na Holanda, existem becos e ruelas antigas que EMOCOES Cada um dos tijolos que empregamos para construir as paredes do nosso coragio, constitui um empecilho para que nossa personalidade se desenvolva da maneira como Deus planejou. Ao ler a lista de “tijolos”, assinale aqueles que vocé identifica em si mes- mo. Isso ser muito proveitoso mais adiante, quando examinarmos os passos 72 PAREDES DO Meu Coracdo | Bruck THOMPSON FIGURA DE AUTORIDADE + TRISTEZA * AUTO-COMPAIXAO * AUTO-DEPRECIAGAO * DEPRESSAO *APATIA * COMPLEXO DE INFERIORIDADE + INSEGURANCA * SENSO DE INAPTIDAO + SENTIMENTODECULPA + APAGADO * MORRENDO + EXTINTO © + DESANIMADO “© DESESPERADO REJEICAO oe SUICIDIO FIGURA 11 amonomnm Parte I | PAREDES DE PROTEGAO DECORRENTES DA REJEICAO - 73 para a correcao do problema. A primeira categoria de distorg6es a ser anali- sada est relacionada com as emogGes que exercem um papel importantissi- mo em nossa vida. ¢ TRISTEZA Podemos definir a tristeza como “um sentimento de pesar, de infelicidade; demonstragéo ou causa de sofrimento”'. Muitas vezes a tristeza pode obscure- cer toda a personalidade de uma pessoa. Foi o que aconteceu a Mark. Era um homem alto e magro, de cabelos louros e profundos olhos azuis. Tinha o semblante muito triste, o que acabava dando a ele, uma aparéncia feia. Conversei com ele durante varias horas e descobri a razéo do seu profundo pesar. Quando mais jovem, Mark se revelara um excelente atleta, com perspectiva inclusive, de representar seu pais nos jogos olimpicos. Toda a sua existéncia passara a gitar em torno desse objetivo. Um dia se envolyeu com uma jovem. Pouco depois do casamento, a esposa comecou a reclamar das longas horas que ele dedicava ao treinamento e pressionou- o tanto, que afinal, ele desistiu do seu sonho para salvar o casamento deles. Pouco tempo depois, Mark descobriu que sua esposa fora infiel. Esse fato, mais a desilusao de nao poder correr na Olimpiada eram as causas da sua profunda tristeza. E normal uma pessoa ficar triste durante algum tempo, por exemplo, quan- do perde o cnjuge na meia-idade. Mas, se alguém se mantém assim por peri- odos prolongados, a tristeza torna-se crénica. De modo geral, se um individuo conserva esse tipo de pesar constante e doentio é porque continua alimentando no espirito um sonho nao realizado ou uma expectativa frustrada, Pelo relato de Mark, percebi claramente que era esse 0 seu caso. E aquela tristeza persistente vinha roubando sua alegria de viver e o sentimento de realizacao pessoal. A Biblia chama essa tristeza de “veste de espirito angustiado” (Is 61:3). Em todos esses anos, tenho aconselhado intimeras pessoas com problema semelhante ao do Mark - langaram mao do tijolo da tristeza para construir suas paredes. Uma delas, uma jovem que teve sua primeira experiéncia sexual em um relacionamento incestuoso. Outra, foi uma senhora que perdeu o mari- do que constantemente lhe era infiel. Outra ainda, foi uma moa que desejava muito ser médica, mas nunca conseguiu entrar para a Faculdade de Medicina. Em casos como esses, a tristeza é uma emocao substitutiva que adotamos como 74 - PaREDES DO Meu Coracao | Bruce THOMPSON forma de reagir a seguidos atos de rejeigéo da parte de alguém que é impor- tante para nds. Em momentos de tristeza, precisamos buscar Deus Pai, nossa verdadeira fonte de consolo em meio ao sofrimento. Quando Mark voltou ao consultério, oramos para que ele fosse liberto da- quela tristeza. E assim que ele entregou tudo a Deus, comecou a libertar-se daquelas emocdes predominantes e recebeu curae consolo divino. + AUTO-COMPAIXAO Além de ser uma pratica negativa, a auto-compaixao é pecado também. Quanto mais nos entregarmos a esse tipo de atitude, mais nos habituaremos a recorrer a ele nos momentos de adversidade. Aquele que pratica a auto-compaixao est sempre procurando consolar-se de alguma decepcao sofrida. Quando a situagao se torna desesperadora, ele passa a procurar o consolo de outros, manipulando-os para que “reforcem” sua auto-compaixao. Em pouco tempo, esse individuo passa a ter na alma um abismo profundo que nada nemninguém preenche. Nao consegue encarar seu problema nem solucioné-lo. A auto-compaixao, além de revelar que o individuo sofreu algum tipo de rejeigao ainda intensifica-a. Aquele que é dominado por ela, tem dificuldade de enxergé-la. O remédio biblico para a cura da auto-compaixao crdnica e da introspecgao negativa é a pratica de acdes de graca. + AUTO-DEPRECIACAO Atualmente, é impressionante o ntimero de pessoas que abrigam sentimen- tos negativos contra si mesmas. Algumas os experimentam apenas esporadi- camente. Para outras, porém, o problema ja se tornou crénico, distorcendo sua personalidade. Aauto-depreciagao é a atitude de voltarmos contra nés mesmos por termos sofrido rejei¢do da parte de alguém. Uma das tarefas mais dificeis para um conselheiro ¢ justamente ajudar as vitimas desse mal a serem libertas dele. Assim que conheci Inez, fiquei impressionado com sua personalidade exu- berante. Antes de fazer nosso curso de aconselhamento da JOCUM, ela traba- lhara num ministério de reabilitacao. Agora, era uma dos trinta alunos provenientes de varios paises do mun- do todo que tinham o propésito, nao apenas de fazerem nosso curso de trés meses sobre técnicas de aconselhamento, mas também, o de tornarem-se pes soas bem ajustadas. Pane I | PAREDES DE PROTECAO DECORRENTES DA REJEIC&O - 75 0 Entdo, como é? Hoje vocé esté a meu favor, ou contra As raizes do ddio de si mesmo Quando 0 curso jé ia adiantado, de repente, Inez entrou em profunda depressao. Estava sofrendo de insénia e comecou a ouvir vozes. Lenta- mente foi atingindo um estado de intensa ansiedade. Passou a fazer acon- selhamento regularmente com dois membros do nosso pessoal mas nao permitia que ninguém atravessasse as paredes que construira e atras das quais se escondia. Mas, continuamos tentando ajuda-la e pouco a pouco ela foi nos revelando as profundas e dolorosas experiéncias que vivera na infancia. E, pela primeira vez, extravasou a dor que sentia por ter de viver atras daquelas paredes. Relatou que quando adolescente, seu pai combinara com um tio dela para que lhe desse aulas de ténis. Apés algumas semanas, esse tio comegou a mo- lesté-la sexualmente. As emocdes que experimentou foram tao fortes que néo teve condicdes de superé-las. E mais, nao tinha coragem de revelar o fato aos pais, pois achava que eles nunca acreditariam nela. Além de abrigar um forte ressentimento contra 0 tio, passou a ter magoa também de seu pai, por ter pro- videnciado para que fosse treinar com ele. Com relacao a si mesma, sentia-se impura, e abrigava sentimentos de culpa e de auto-depreciagao. 76 - PareDes Do Meu Coragao | Bruce THOMPSON Todo 0 pessoal da escola intercedia regularmente por ela. E, afinal, um dia, no momento em que oravamos pelos alunos, ela também foi a frente e ficou parada, fechando e abrindo os punhos, num gesto nervoso. Todos voltaram a atencao para ela. Via-se claramente que a moca passava por intensa luta interior. De re- pente, ela se virou para a classe e se pds a falar lentamente e em tom firme: ~ Detesto isso aqui! Afirmou. Detesto vocés todos. Tenho édio de Deus! Odeio a mim mesma! Odeio meus pais! Terminou o desabafo e ficou parada, enquanto nds, chocados pelo que ela dissera, permanecemos em siléncio tentando entender as palavras. A nao ser por uns solucos que ouviamos aqui e ali, reinava um siléncio profundo. Orava- mos em espirito, buscando a orientagao de Deus. Um fator de libertacao Foi entao que um rapaz de nome Derek veio falar comigo. Disse-me que sentia que Deus lhe ordenava que fizesse algo e explicou-me do que se tratava. Queria saber se eu confirmava a orientagao. Senti que ele estava certo, respondi sim, que 0 fizesse. Ele se aproximou de Inez e ficou diante dela, a frente da classe. Falou para ajovem: — Quero representar seu pai aqui e pedir que me perdoe. Vocé me perdoa? Ela o fitou com expressao de frieza e indiferenga, lutando para controlar suas emocdes. ~Me perdoe! Falou Derek de novo. Siléncio. E 0 rapaz pediu perdao pela terceira vez. Como ela continuava sem dar resposta, ele desatou num choro sentido, experimentando naquele instante a tristeza de Deus para com o sofrimento de sua filha. O grupo permanecia inter- cedendo em espirito. Afinal, Inez rompeu o siléncio. ~Euo perdéo, papai. Disse em voz contida. Houve uma longa pausa e por fim, ela voltou a falar: ~Papai, perdoe-me pelo ddio que guardei contra o senhor. Assim que ela pronunciou essas palavras de rentincia ao rancor, abragou 0 colega em prantos. E suas lagrimas como que lavavam todo o ressentimento, amargura e ddio que durante tantos anos tinham estado encerrados em seu coracao, formando uma parede. Depois, ela expressou perdao para seus fami- Pare I | PAREDES DE PROTECAO DECORRENTES DA REJEIGAO - 77 liares e para consigo mesma, recebendo também o perdao de Deus. Foi assim que foi liberta da sua auto-depreciagaio. Quando aquele semestre se encerrou, quase todos os sintomas haviam desaparecido. Mais tarde ela me escreveu uma carta nos seguintes termos: “Naquele dia que Derek falou comigo na frente da classe, Deus me trouxe 4 mente 0 texto de Isaias 38.15,16. Compreendi que a causa da minha ins6nia era a amargura que abrigava contra meu pai e que vi- via tentando disfarcar. Eu me tornara hipécrita no relacionamento com 0s outros, principalmente a respeito das emocGes. Interiormente sentia uma coisa e por fora manifestava outra. Deus me mostrou que para me libertar, teria que fazer uma confissao sincera do que havia em meu co- racdo, com relac&o as pessoas e a vida. Foi por isso que externei meu Odio daquela forma.” Nos meses que se seguiram, Inez foi experimentando cada vez com maior clareza o amor e a compaixao de Deus por ela e passou por profundas mudan- cas! Quando regressou & sua patria, reconciliou-se com seu pai. Mais tarde, devido a essa experiéncia, teve oportunidade de auxiliar jovens que também haviam sofrido abusos sexuais. Hoje em dia, os casos de incesto esto se tornando muito comuns, cons- tituindo uma das principais causas do ddio de si mesmo. Como todo tipo de lascivia, 0 incesto abala fortemente o senso de valor proprio de quem é vitima dele. E 0 tipo de ofensa que mais causa esse mal. Nesse caso, a auto-deprecia- 40 é mais intensa porque o individuo se sente traido por um membro da pré- pria familia. A experiéncia é tao aviltante para 0 jovem, que ele passa a abrigar sentimentos de auto-acusacao, a ter ddio de si mesmo. Quando essas emogdes nao sao resolvidas, dao origem a auto-depreciacao. * DEPRESSAO Faz muitos anos que a depressao € o principal distirbio emocional nos Es- tados Unidos. Ea incidéncia dessa moléstia esté aumentando muito, principal- mente entre 0s jovens. Mas o que vem a ser a depressao e como devemos entendé-la a luz do pru- mo divino? A melhor e mais simples explicacéo que pode ser dada sobre a 78 - PareDes Do Meu Coracao | Brucr THOMPSON depressao é que se trata da reacao que temos frente a alguma perda sofrida. Inicialmente percebemos um declinio da vitalidade e da energia ¢ nos senti- mos tristes e cansados. O segundo estagio é o desinteresse pela vida social Afastamos até dos amigos mais chegados. Cai o ritmo das atividades no tra- balho, em casa e tudo nos parece sombrio, desesperador. Quase nao surgem idéias novas e quando alguma ocorre, parece pouco clara, sombria. Encon- tramos dificuldade para a concentragao. Somos assediados por sentimentos de culpa, seguidos de perto por auto-condenagio e auto-depreciacao. Entao ocorre a insénia. Até certo ponto ¢ normal sentirmos deprimidos vez por outra. Mas se essas crises se tornarem frequentes e prolongadas, talvez seja preciso tomarmos al- gumas medidas para buscar a solucao do problema. Um fato muito simples que serve para ilustrar isso é um carro enguicando que comeca a perder forca. O motor “engasga” e fica rateando. Obviamente, paramos, damos uma espiada no motor e vemos 0 que hé de errado. E claro que quando o desempenho do carro deixa a desejar, logo nos conscientizamos de que ali ha algum problema e damos um jeito de conserté-lo. Mas quando ficamos deprimidos, na maioria das vezes nos limitamos a um antidepressivo, tentando apagar a “luzinha vermelha” que a natureza esta fazendo piscar den- tro de nds. O que muitas vezes ignoramos é que a depressao é basicamente uma men- sagem que nosso organismo nos envia. Ele esta nos comunicando que em nds ha alguma coisa errada que precisa ser corrigida. Um medicamento pode al- terar nosso humor superficialmente mas nao afeta nosso espirito. Na maioria dos casos, o que precisamos fazer, se quisermos evitar o retorno da depressao é corrigir 0 erro. Assim como a alegria é indicio de vida, assim também, a depressdo é a indicagao de que algo esta morrendo ou faltando em nosso interior. Alguns dos distirbios orgdnicos ou hereditarios que afetam o humor, podem ser causados pela caréncia de substancias bioquimicas, que nesse caso, precisam ser repostas para 0 organismo. Contudo, essa deficiéncia é responsavel por apenas 5% dos distirbios mentais em nossos dias. A depressio pode ser provocada por uma complexa associagao de fatores fisicos e mentais, sendo portanto de dificil tra- tamento. Contudo, quem ignora a conduta moral do paciente, nao esté fazendo uma andlise completa dos fatos. Parte I | PAREDES DE PROTECAO DECORRENTES DA REJEIGAO - 79 ¢ APATIA Aapatia - “uma existéncia sem emocao; mente indolente; sem sentimento”? 6 um dos arquiinimigos da vida. Alids, ela é a fase inicial do processo de per- da do interesse pela vida. A Biblia fala de muitas pessoas que tinham “espirito de entorpecimento”(Rm 11:8). E esse horrendo “elixir” do inimigo pode ser oca- sionado por desilusdes e adversidades. A igreja hoje sofre de apatia. Nao vem desempenhando sua fungao de “sal da terra”, nem tem feito sua “luz” brilhar. Por isso esta sendo invadida pelo mundo. Em alguns casos é dificil distinguir entre igreja e mundo. Certo dia, fui visitar uma senhora chamada Lydia e foi ai que descobri como 0 caos se instala na vida de uma pessoa. E nao apenas isso. Vi também 0 que acontece quando a apatia domina. A pia estava cheia de vasilhas. Havia livros, sapatos e roupas espalhados pelo chao. Méveis e demais utensilios estavam cobertos por uma camada de poeira. E no meio de toda aquela confusao, estava Lydia, cabelos despenteados, roupa em desalinho, assistindo a televisao. — Olhe s6 para ela! Exclamou 0 marido ja desesperado. Faz dias que esta assim. Parece que nao se importa com mais nada. Aapatia é causada por sentimentos e idéias de rejeigao e fracasso. O indivi- duo pensa: “De que adianta me esforar? Nunca vou dar em nada mesmo. Vou ser sempre assim!” INTELECTO Outra categoria de tijolos que empregamos para construirmos nossas pare- des est relacionada com os processos mentais e com as atitudes deles resultan- tes. Lembrando ao leitor para continuar marcando aqueles que vocé percebe existirem em sua vida. * COMPLEXO DE INFERIORIDADE Aqueles que dizem: “ Vocé nao é melhor do que eu’, na verdade nao pensam assim. Se pensassem, nao diriam. Um cao Sao Bernardo nao diria isso a um cachorrinho de pelticia, um filésofo muito menos o diria aumiletrado... O que essa afirmacao externa de fato é aquela incémoda, dolorosa e inquietante sensacao de que se é inferior...” C. S. Lewis, The Screwtape Letters (Cartas do Inferno). 80 - ParEDES Do Meu Coracao | Bruce THOMPSON O intelecto é uma das principais areas que satands manipula. O complexo de inferioridade abala profundamente a mente do individuo e paralisa sua ca- pacidade de raciocinar com clareza. Quem sofre frequentes atos de rejeigao aca- ba se convencendo de que ¢ inferior aos outros. Assim que chega a essa conclu- sao, comeca a elaborar razdes ilusérias para explicar seu conceito equivocado. “Sou gordo demais.” “Sou magro demais.” “Sou baixo.” “Sou alto demais.” “Meu nariz é muito grande.” “Sou muito burro.” E por ai vai... Eu cultivei durante algum tempo um profundo sentimento de inferioridade devido a humilhacao que sofri quando crianca na sala de aula. Como narrei no primeiro capitulo, a professora fez questo de acentuar o fato de que eu era um dos poucos que nao sabiam ver as horas e por causa disso, conclui que era infe- rior aos colegas. Querendo me proteger, passei a participar cada vez menos das aulas. E s6 muitos anos depois, compreendi por que havia adotado essa atitude de passividade e me sentia inseguro todas as vezes que era forgado a participar. Todos nés que nos convencemos de que somos inferiores aos outros, seja por que razao for, nos tornamos presas faceis do diabo, que passa a nos intimi- dar. O complexo de inferioridade e a incredulidade andam de maos dadas para destruir nossa confianca. Os dois juntos nos roubam as vitérias que poderia- mos obter pela fé. * INSEGURANCA Ainseguranca é outra deficiéncia muito comum em nossos dias, sendo cau- sado por males modernos como familias divididas ou com disfungées. con- sequéncia direta da caréncia afetiva e dos atos de rejeigao sofridos na infancia. Por outro lado, o senso de seguranga esta diretamente relacionado com o amor. Pesquisas t8m demonstrado que as criancas criadas num ambiente sem amor, tendem a revelar profundo sentimento de inseguranga. Entre esses casos esto os de criancas geradas numa gravidez indesejada, filhos rejeitados por nao se- rem do sexo que os pais queriam, pais excessivamente ocupados ou voltados 86 para seus prdprios interesses, pais autoritarios e exigentes que dao aos filhos Parre I | PAREDES DE PROTECAO DECORRENTES DA REJEIGAO - 81 pouco carinho e raras demonstragGes de apreco. Esses so apenas alguns exem- plos de atitudes que podem criar no individuo, sentimentos de inseguranca. > SENSO DE INAPTIDAO Existe em inglés uma musica popular que diz o seguinte: “Vocé nao presta, nio presta, no presta para nada.” Infelizmente, sempre que ougo essa cantiga, Jembro-me de um colega de infancia, cujo pai vivia dizendo isso a ele. Um dos mais sérios problemas de quem sofre tejeicio € 0 considerar-se in- capaz, fracassado. O individuo experimenta um constante senso de inaptidao e ouve uma voz interior constantemente afirmando: “Nio valho nada. Nunca serei nada na vida. Tudo que faco sai errado.” Muitas pessoas vivem obcecadas pelo medo de errar e quando erram, nao conseguem se reerguer e muito menos sabem tirar ligdes daquela experiéncia negativa, Elas desmoronam, jé que foram condicionadas a crer nas mensagens que foram comunicadas a elas, na inféncia. As palavras que ouvimos tém o incrivel poder de nos edificar ou nos des- truir, Se fracassamos numa situagio qualquer na infancia, logo somos taxados de “incompetentes”. Esse rdtulo vai nos acompanhando pela vida. Se experi- mentarmos outros fracassos, vamos sendo convencidos de que somos realmen- te “uma negacao”. E af comecamos a acreditar que nem mesmo a graca de Deus pode nos alcangar. SENTIMENTO DE CULPA Afinal, o sentimento de culpa é um terrivel mal ou um bem precioso? De- vemos aceité-lo ou rejeité-lo? Vejamos uma ilustracio simples que pode escla- recer mais essa questao. Imaginemo-nas viajando de carro por um lugar belissimo, verdejante, ten- do ao fundo montanhas altissimas com picos cobertos de neve. De repente, uma luzinha é acessa no painel do veiculo. Damos uma olhada para ela, mas preferimos ignoré-la e seguimos em frente na esperanca de que dai a pouco ela se apague. Entretanto, ela continua acesa e nossa irritagdo vai aumentando. Afinal, nao contendo mais a raiva, pegamos um martelo no porta-luvas e bate- mos no painel até que a luzinha afinal se pague. Aliviados por constatar que ela nao mais nos perturbard, continuamos dirigindo, desfrutando das belezas da natureza que temos diante de nds. Mas, de repente, 0 carro “morre”. 82 - Parepes Do Meu Coracao | Bruck THomPson Essa luzinha que acende, representa nosso “culpémetro”, um engenhoso sistema de adverténcia, um alarme interior que todos nés possuimos para nos poupar dos sofrimentos e nos livrar, até da morte. Ele pode “acender” a qual- quer momento do dia ou da noite, principalmente 4 noite, quando estamos cansados e nossa capacidade de defesa esté em niveis mais baixos. Cabe a ns entéo, decidir que atitude adotaremos em telacao a ele. Podemos abafa- lo, reprimi-lo ou desviar a atencao dele e dessa forma tentar apaga-lo. Mas podemos também “parar o carro no acostamento” para fazermos um exame da nossa conduta e desse modo sabermos 0 que esse alerta tema nos dizer. As teorias da psicologia freudiana tentaram abafar o sentimento de culpa, visando reduzir a sensibilidade do “culpémetro”. Freud acreditava que tanto o NOSSO suiperego como as mensagens que ele dirige ao ego e ao id sao constituidos principalmente, de pregacGes idealistas dos nossos pais. Ninguém conseguiria viver de acordo com os padrdes propostos por eles. Essa idéia deu origem a muitos conceitos populares, e por causa disso a sociedade hoje esta cheia de gente que sofre de depressao ou tem atitudes de rebeldia, devido a reprimidos sentimentos de culpa. Entretanto, se acatarmos e compreendermos de maneira adequada, os avi- 50s que nos vém do sentimento de culpa e efetuarmos as corregdes necessarias, podemos recuperar 0 equilfbrio emocional, desfrutando melhor a vida. Essa 6a grande vantagem do sentimento de culpa, quando temos a Percepcao e reagao correfas diante dele. Dessa forma, ele se torna para nés, placas sinalizadores que nos indicam a diregao a seguir. ESPIRITO A tltima categoria de tijolos usada para a edificacao da personalidade, diz tespeito a area do nosso ser pelo qual nos relacionamos com o mundo espiritu- al ou sobrenatural. A “Nova Era” com suas correntes correlatas, como a “nova consciéncia” e 0 “pensamento novo”, vém dando grande énfase ao fato de que o homem é um ser espiritual. A ciéncia médica, com seu movimento holistico, esta pondo em relevo as emogdes, numa tentativa de utilizar os poderes e re- cursos da alma, para a cura das enfermidades. ADra. Elizabeth Kubler-Ross, reconhecida internacionalmente como auto- ridade em questdes relacionadas com a morte, tem realizado Pesquisas com Pare I | PAREDES DE PROTEGAO DECORRENTES DA REJEIGAO - 83 médiuns para tentar conhecer melhor 0 assunto. Embora esses métodos sejam duvidosos, evidenciam o fato de que existe hoje um anseio por conhecer 0 s0- brenatural. O fato é que, apés varias décadas de um racionalismo cético, o homem esta voltando sua atengao para o espirito. A Biblia, o mais antigo e mais fidedigno documento que trata do espirito, afirma o seguinte: “O espirito do homem (0 fator da personalidade que provém diretamente de Deus) é a lampada (a vela) do Senhor, qual esquadrinha todo 0 mais itatimo do corpo" (Po 20:27). A figura da vela ¢ perfeita e se encaixa muito bem nesse contexto. Quando alguém escolhe o prumo da rejeigio em vez. do prumo de Deus, comega a viver na posicdo inclinada, destorcida, e isso afeta negativamente seu espirito. Quando eu e minha esposa trabalhavamos na Africa como missionérios, en- contramos ali um mal que nao conseguimos debelar, nem com nossos melhores medicamentos. Alguns rapazes, no vigor da vida, sem nenhuma enfermidade aparente, simplesmente deitavam e morriam. A nosso pedido, o intérprete pro- curou conhecer a vida pregressa daqueles jovens e descobriu que todos tinham sido vitimas de maldigées de feiticeiros poderosos que os condenara a morrer em determinada data. O que se passou no espirito daqueles mocos € muito bem ilustrado pela cha- ma de uma vela. Tao logo 0 individuo acatava e cria no seu destino, a “chama de sua vela” ia ficando fraca e em seguida comecava a agonizar. Por fim, ela se extinguia como fora predito. Essa ilustracéo aponta trés tijolos existentes na parede da rejeicao: ¢ APAGADO... ¢ MORRENDO... « EXTINTO... Tenho visto algo semelhante ocorrer com doentes em hospitais. E verdade que ha os que se recusam a morrer. Mas outros entram nesse proceso, sem esbocar a menor resisténcia. Jé observei varios casos assim. Uma pessoa sofre rejeicio por diversas vezes e acaba se convencendo de que é “rejeitével”. Imediatamente, as emogoes vem afirmar essa idéia e seu espirito torna-se como que prisioneiro dela. Comega a perder as esperancas. Entéo sobrevém nele o.... 84 - Parepes bo Meu Coracao | Bruce THOMPSON * DESANIMADO Para ilustrar a natureza desse tijolo, quero contar uma historinha. O inimigo montou uma banca no mercado para vender suas mercadorias. O artigo com Prego mais caro era um instrumento de aparéncia bem estranha. Alguém per- guntou a Satands para que servia aquilo, e ele replicou: “Bo desanimo, minha arma mais eficiente. Vou trabalhando numa pessoa com esse elemento, até que ela acabe chegando ao...” * DESESPERADO E, rindo satisfeito, ele continuo a revelar sua estratégia operacional. “Assim que ela cai em desespero nao é mais pareo para mim. Torna-se mi- nha escrava e prisioneira. E como me sinto feliz quando levo os crentes a se desesperarem com seu ministério, sua familia, seus problemas financeiros, com tudo enfim! Depois basta um empurraozinho no momento certo e a oposicéo que eles fazem ao meu reino termina para sempre.” Em seu imortal classico evangélico O Peregrino, Jodo Bunyan descreve em cores vividas, a triste situagao de Cristiio e Esperanga (nomes ficticios ) quando caem em poder do Gigarite Desespero. Este os espanca e depois os lanca num calabouco fétido, sugerindo a eles que se matem. “Para que desejam viver”, indaga em tom zombeteiro, “se a vida é tao cheia de amarguras?” Motivos do desespero Era tarde da noite. Fui para a cama, dando um largo bocejo. Nesse instante, 0 telefone tocou. “Bruce, vem ca depressa. Dion foi preso!” O susto me despertou na mesma hora. Nao conseguia acreditar. Além de ser crente, membro de uma igreja da cidade, Dion era um amigo muito queri- do. Enquanto me aprontava nervosamente, preparando-me para ir a delegacia, meu pensamento era um s6: “Deve haver algum engano.” Chegando a delegacia, j4 encontrei alguns dos lideres da igreja e eles me deram detalhes da prisdo do nosso amigo. Anteriormente, sua espo- sa havia conversado comigo a respeito das tendéncias homossexuais do marido. E agora dois policiais tinham armado um flagrante para ele num local ptiblico e em seguida Ihe deram voz de prisio, sob a acusagao de Parte I | PAREDES DE PROTEGAO DECORRENTES DA REJEICAO ~ 85 delito grave. (No pais onde o fato ocorreu, a pratica do homossexualismo é considerada delito). Conseguimos a libertacao dele na mesma noite. Quando ele se aproximou de nés, cabisbaixo e de ombros cafdos, percebemos que sentia-se um homem arrasado. A expressao do seu semblante era de desespero. Na semana seguinte, eu e mais outra pessoa, passamos a reunir com Dion regularmente. Devido ao forte sentimento de auto-condenacéo que 0 domina- vae a humilhacao de haver sido descoberto, Dion caira no abismo do desespe- 10 eno da depressao. O jornal da cidade publicou um artigo sordido relatando 0 incidente ¢ isso o deixou num desalento téo profundo que s6 pensava em suicidio. Mas todos os dias, eu e 0 outro amigo iamos Asua casa, sentavamos e ordva- mos com ele. A principio ficamos como os amigos de J6, sem saber 0 que dizer ou como comecar: “E eles permaneceram sete dias em siléncio, tomados de tristeza e empatia por 6” (J6 2:11-13). Ao contrario dos amigos de J6, porém, assim que abrimos a boca, sabia- mos muito bem do que deviamos falar: pecado e arrependimento. O pecado do nosso amigo j4 era puiblico. Nossa maior batalha foi com sua profunda auto-compaixao e auto-condenacao. Estava convencido de que cometera um. pecado imperdoavel e mais cedo ou mais tarde, cairia no inferno para viver em tormento eterno. Vendo que nao conseguiamos demové-lo de suas idéias de suicidio, nosso nico recurso era orar mais intensamente com ele. Certo dia, quando perseve- ravamos em intercessao, aconteceu algo que nos reanimou. Jé estévamos oran- do com Dion havia uma hora quando notamos que ele comecou a chorar de maneira diferente. Suas lagrimas nao eram mais de auto-piedade mas de alivio e libertacdo. De repente tivemos a impressao de que ele estava se enxergando sob uma nova perspectiva. Afinal disse entre lagrimas: “Mba Pai!” (Pai amado!) A partir dai, Deus em sua graga e misericordia, comegou a vir ao encontro dele e a reavivar a chama da vela do seu espirito quase morto. Isso marcou 0 inicio de uma nova fase. Dion abandonava uma vida de lascivia e perversao sexual para entrar numa existéncia de amor e verdade. Depois disso, ainda vivemos momentos dificeis, ajudando-o a atravessar os meses seguintes mas a batalha mais dura ja tinha sido ganha. Com o vicio da 86 - PaREDES Do Meu Coragao | Bruce THompson lascivia sob controle, Dion viu sua comunhao de amor com Deus crescendo a cada dia, Passava mais tempo em oracao e em meditacao das Escrituras. Foi entaéo que Deus lhe deu uma revelacao! Antes, ele estava servindo a Deus por dever, como um escravo serve a seu senhor, em vez de servi-lo por devocao, como um filho serve ao pai. Antes, seu relacionamento com Deus era frio, teolégico. Nao experimentava um amor vibrante por Deus. Mas com 0 Passar do tempo, passamos a ver essa vitalidade restaurada, na medida em que ele conhecia 0 “Aba Pai”. CONCLUSAO Quem alinha sua existéncia pelo prumo humano da Tejeicao, sofre um gran- de dano que pode até roubar-lhe a vida. Nessa situacao, os individuos mais agressivos podem nao aceitar passivamente a rejeicéo e adotar uma atitude reacionaria, alinhada pelo prumo da revolta. Aquele que se nega terminante- mente a seguir o prumo da rejeicao, pode estar se enveredando pelo caminho que o levard a aceitar 0 da revolta. No capitulo seguinte, vamos examinar mais detidamente essa questao. APLICACAO PRATICA * Releia a explanagao de cada tijolo que vocé assinalou. * Procure descobrir que circunstancias o levaram a colocar esses tijolos na sua parede. * Eles ainda afetam sua vida? * O que poderd fazer para corrigir essas distorcdes? Notas "The Concise Oxford Dictionary of Current English, Oxford University Press, 1954, “The Consise Oxford Dictionary, op. cit. 6 PAREDES DE PROTECAO DECORRENTES DA REVOLTA um revoltado que chegou aos extremos. Pertencente ao povo nuibio, uma tribo némade, na infancia mudava constantemente de um lugar para o outro, acompanhando a mae. Nunca soube quem foi seu verdadeiro pai. Na Uganda, os ntibios eram do nivel mais baixo da mais baixa classe social. Por- tanto, a atitude da sociedade para com ele, obviamente, sempre foi de rejeicdo. JA adulto, entrou para o exército e foi subindo de posto. Ai ele se insurgiu contra a rejeicdo de que sempre fora vitima e passou a seguir o prumo da revol- ta. Para compensar sua origem humilde e a falta de estudo, assumiu um com- plexo de superioridade. Tornou-se um combatente obcecado, com um espirito fortemente competitivo, disposto a empregar qualquer meio para alcancar suas ambiges politicas. Imitando Adolfo Hitler, a figura histérica que mais admira- va, a partir de 1971, Amin assumiu atitudes temerarias, sendo responsavel pela tortura e morte de mais de 100.000 patricios. Idi Amin externava sua agressividade, principalmente na forma sddica como torturava seus “inimigos” antes de atiré-los aos crocodilos. Seu espirito controlador e possessivo manifestava-se em sua forte determinacao de vencer pela forca bruta, astiicia e engano. Além disso, seu orgulho pessoal nao conhecia limites. Escreveu varias car- tas rainha da Inglaterra oferecendo seus préstimos para solucionar problemas politicos e econdmicos do Reino Unido. Chegou ao ciimulo de se oferecer para ser assessor da rainha! Tinha atitudes tao defensivas em relagdo & sua auto- IE Amin Dada, o antigo governante de Uganda é um exemplo classico de 88 - Parepes po Meu Coragao | Bruce THompson FIGURA DE AUTORIDADE + HOSTILIDADE * PRESUNCAO * SOFISTICACAO * EUFORIA/ DEPRESSAO * COMPLEXO DE SUPERIORIDADE * COMPETITIVO * DOMINADOR +RIGIDO * MANIPULADOR * OBSTINADO * NAO ENSINAVEL * CONCEPCOES ILUSORIAS + RESSENTIMENTO * AMARGURA *cRiTICO + ESPIRITO DE CONTROLE °. + POSSESSIVIDADE q omonoss REVOLTA as FIGURA 12 HOMICIDIO Parte I | PAREDES DE PROTECAO DECORRENTES DA REVOLTA - 89 ridade que era incapaz de dialogar com qualquer um que questionasse seu poder. Criou um “governo por decreto”, e qualquer pessoa que o interpelasse ou discordasse da sua posicao era eliminado. Esse era 0 tinico recurso que sabia utilizar para silenciar quem quisesse questionar sua autoridade. Foi atribuido a ele a seguinte afirmacao: “Eu, eu mesmo, me considero a mais importante figura politica do mundo! Isso prova quanta ilusao ele alimentava com relacao a prdpria grandeza, sem contar seu espirito dominador, manipulador, obstinado e presuncoso. ” EMOGOES Agora, entao, examinaremos a parede da revolta, tijolo a tijolo. Como fize- mos no estudo da parede da rejei¢ao, sugiro ao leitor que assinale os tijolos que reconhece que estejam presentes em sua personalidade. Inicialmente, veremos os relacionados com as emocées. ¢ HOSTILIDADE Certa vez, eu estava aconselhando um senhor de meia idade no Japao e fiz mengio de seu relacionamento com 0 pai. Ele saltou da cadeira, soltou um grito estridente e com um golpe de caraté, quase partiu a mesa ao meio. A simples lembranca do pai fizera com que sua magoa que se achava encerrada no fun- do do seu ser, viesse a tona, sob a forma de hostilidade. A raiva nao somente bloqueava sua profunda magoa mas ainda impedia o desenvolvimento da sua personalidade. A raiva pode ser exteriorizada de maneira positiva mas 0 extravasar da agressividade pode ser muito perigoso. A raiva, muitas vezes, tem origem em méagoas sofridas. Se uma pessoa é continuamente magoada, sua raiva também ser continua. Quem vive enfurecido, provavelmente abriga algum conflito in- terno nao resolvido ou uma magoa profunda ainda nao sarada. Quando um individuo nao encontra meios de externar essa raiva de forma aceitavel, ela se aprofunda. Esse processo pode gerar um comportamento instavel. Primeiro ele se controla excessivamente. Depois tem fortes explosdes de cdlera. Nesses casos, as emogdes podem acumular-se de tal maneira que a pessoa, ou se sente profundamente deprimida, ou entao abriga uma raiva explosiva, a tinica forma de extravasamento que conhece. Quando alguém insiste em reprimir continua- 90 - Parepes Do Meu Coracao | Bruce Timpson mente sentimentos dolorosos, eles poderao ser manifestados mais tarde, sob a forma de doengas mentais ou disttirbios psicossomaticos. * PRESUNCAO Amelhor definicao de presungao €: qualidade de quem é desdenhoso, indi- ferente aos outros, revelando alto grau de vaidade pessoal e egocentrismo. O presuncoso geralmente enfrenta o problema da solidao. Todos os que poderiam ser seus amigos se mantém distantes dele, devido a sua atitude desdenhosa e pelos comentarios depreciativos que faz. Esta atitude de julgar-se superior aos outros afasta as pessoas, que se sentem menosprezadas e diminuidas. Muitas vezes 0 presuncoso procura aumentar seu senso de valor as custas dos outros, e assim perde a companhia deles. * SOFISTICACAO Em alguns casos, esse tijolo pode ser chamado de “pseudo sofisticagao”. Geralmente € 0 individuo egocéntrico e presungoso que busca a sofisticacao. Derivado do termo “sofisma”, que significa um argumento falso com objetivo de enganar uma pessoa, sofisticar significa alterar alguém ou alguma coisa, a ponto de priva-la da sua simplicidade inerente, com o objetivo de enganar. Significa ainda, modificar algo com fins de adulterd-lo ou torné-lo artificial." Entre as muitas pessoas a quem aconselho, as que parecem ser altamente sofisticadas, na verdade sao artificiais e falsas. Dao a impressao de serem equi- libradas e tranquilas, procuram manter um ar de independéncia e autocon- fianga, tentando mostrar que est tudo sobre controle. No fundo, porém, séo inseguras, sofrem do complexo de inferioridade e de diversos tipos de fobias. A presuncao e essa “pseudo sofisticagao”, muitas vezes criam s¢rios empe- cilhos para que tenhamos bons relacionamentos afetivos. A primeira impressio que temos dos outros, com frequéncia provoca em nés uma reagdo muito forte, positiva ou negativa. De onde vém estes sentimentos fortes? Sera que podemos confiar nessas impressées? Gostaria de dar minha opiniao pessoal sobre isso. Eu creio que sempre que conhecemos uma pessoa, nosso “computador” cere- bral faz associagao entre ela e alguém que conhecemos no passado. A reacao que teremos para com esse novo conhecido poder ser favoravel e positiva ou entao fria e hostil. Vai depender do relacionamento que tivemos com a outra pessoa. Sea Jembranca for negativa, nossa tendéncia serd ignorar esse individuo. Relutaremos Parte I | PAREDES DE PROTECAO DECORRENTES DA REVOLTA - 91 em relacionar com ele. Se porém, a lembranca for positiva, prontamente tentaremos iniciar um relacionamento. O que nao reconhecemos porém, é que quanto mais tentarmos evitar um relacionamento, mais dificuldade teremos para cultivé-o. No entanto, se nos empenharmos em superd-lo, veremos que isso nos dard as melhores oportunidades de crescermos e resolvermos a magoa do passado. O erro do nosso computador interno é que ao passarmos aquela informa- do, ele nao faz distingao entre o individuo que conhecemos no passado e o de agora. Infelizmente, ao receber tal “mensagem”, agimos como se ele estivesse nos dando toda a verdade. Esse é apenas um exemplo do quanto esse nosso “computador” é falho. Precisamos aprender a atualizar e interpretar adequa- damente o “velho programa”. EUFORIA E DEPRESSAO Em 1973, Joshua Logan, o talentoso diretor e produtor teatral americano disse 0 seguinte: “A depressao € aterrorizante. Contudo a euforia, sua irma gémea é ainda pior. Embora, a principio possa parecer bastante atraente, 4 medi- da que vai aumentando, nos coloca em perigo maior do que quando nos encontravamos nas profundezas da depressao .” Logan fez esta afirmacao numa palestra proferida perante a Associagiio Mé- dica Americana, onde falou sobre seus 30 anos de luta com a mudanca de humor, da euforia para a depressao. E normal experimentarmos pequenas variagdes de humor diante dos con- flitos ou pressdes. As crises que nos ocorrem séo como um quebra-molas numa estrada, e do mesmo modo como os amortecedores do carro fazem 0 movi- mento de molejo, assim também nosso humor sobe e desce. Isso é normal. Da mesma forma como 0 carro acaba se acomodando ao peso que leva, também nds nos acomodamos as tensdes, a nao ser que elas atinjam um grau extremo. Nesse caso, nosso humor pode atingir um alto grau de ansiedade e euforia ou cair para um estado depressivo. Mas ele pode ainda oscilar agitadamente entre os dois estados. Se essas oscilacdes de humor se agravarem muito, podem cau- sar um colapso do controle emocional, 0 que é chamado de psicose. As medi- das preventivas para esse estado seriam repouso e solucao do conflito interior. 92 - Parepes Do Meu Coracao | Bruce THOMPSON INTELECTO Asegunda categoria que desejo considerar é a que se acha relacionada com nossos problemas na area de pensamentos e as atitudes que dela resultam. Continue marcando os “tijolos” que reconhece serem presentes na sua vida. ¢ COMPLEXO DE SUPERIORIDADE Encontramos este tijolo com mais frequéncia no mundo académico, que em muitos casos, tornou-se uma espécie de casta. Muitas vezes, as pessoas que possuem altas qualificagdes 6 relacionam com membros de classes inferiores em relacao a questées basicas. Aqueles que constantemente exibem uma ati- tude de superioridade, na verdade o fazem, para compensar sentimentos de inferioridade. Sempre que “rebaixam” alguém, sentem- se elevados. Em geral, este recurso de se julgar ‘melhor que os outros nao passa de uma ten- tativa de compensar um doloroso e reprimido sentimento de inferioridade. Tais sentimentos podem ter sidos gerados por uma criagéo muito rigida ou por zom- barias de companheiros de infancia. Mas, 0 fato é que a superioridade contribui muito para isolar o individuo, inviabilizando bons relacionamentos com outros. * COMPETITIVO Para um observador desavisado, Graham dava a impressao de estar no auge da sua vida e ministério, achando-se muito bem ajustado. Certo dia, quando estava no meu consultério, ao mencionar 0 tempo, a energia e 0 esforgo que dedicara ao servico cristéo comegou a chorar. Sentia-se exausto, a beira de um colapso nervoso. E agora, percebia que quase tudo que fizera, fora apenas para conquistar a admiracao das pessoas, e até mesmo de Deus. Como chegara a este ponto? Que circunstancias o haviam levado a viver de forma tao estressante? Como muitas pessoas, ele fora vitima de uma criagao errdnea. $6 era amado erecebia demonstracdes de apreco quando procedia corretamente. O amor dos pais por ele era condicionado a uma série de exigéncias e padrdes, como por exemplo tirar boas notas na escola, ter um excelente desempenho nos esportes eem outras areas da vida. Contudo, mesmo quando seu desempenho era 0 me- lhor possivel, eles ainda o criticavam muito e as demonstracdes de apreco eram raras. Ao incentiva-lo, usavam termos que davam a entender que ele poderia ter se saido melhor. Parte I | PAREDES DE PROTECAO DECORRENTES DA REVOLTA - 98 Quantas e quantas vezes ele ouvira a frase: “Nenhum filho meu pode tirar essas notas na escola!” Oconceito que formou foi o de que sem um bom desempenho em tudo, nao seria amado. Esse amor condicionado leva a crianca a estabelecer metas e pa- drées inatingiveis. E por causa desse tipo de criacao que muitos adultos vivem tentando aprimorar seu desempenho na vida, apenas para receber aprovagao e amor dos outros. Algumas pessoas agem deste modo, até para com Deus. Trabalham para ele no desejo de conquistar um amor jé plena e liberalmente oferecido ao homem, mas que elas ainda nao se apropriaram dele. Alguns anos atras, Deus me revelou que era muito importante que eu desse demonstracées de afeto aos meus filhos Michael e Lionel nos momentos em que nao estivessem fazendo nada de especial. Entéo, quando os via sentados no chao, montando seus brinquedos de armar, dos quais tanto gostavam, ou lendo um livro, eu os abracava e falava para eles o quanto os amava, simples- mente pelo fato de serem meus filhos. Fiz isso durante varios anos. Acredito que quando eles tornaram-se adultos, compreenderam que eu, seu pai, 0s amava, nao pelo que eles pudessem fazer mas sim, pelo que eles eram e sao. * DOMINADOR Hoje em dia, muitas mulheres estao assumindo 0 papel de lideranca no lar e passando a dominar todo 0 relacionamento conjugal. Este tipo de situagao existente nos casamentos modernos esté sendo alvo da atengao e dos estudos dos socidlogos. O que vem provocando esta mudanga na familia? Esta dominacao femini- na é fruto de sentimentos de inseguranca, que por sua vez sdo causados por caréncia afetiva. Os maridos, ou nao sabem, ou ja se esqueceram como amar a esposa. £ verdade que eles tém desejo por ela, mas parecem ignorar a dife- renga entre lascivia e amor. Esses dois conceitos tm sido empregados como sinénimos, quando, de fato, s4o quase anténimos, opostos. Quando o homem s0 se relaciona com a esposa na base da lascivia, ela se sente usada tornando-se insegura. O resultado é um forte sentimento de frustragao que pode até causar frigidez. Numa tentativa de evitar 0 problema, ela procura manipular 0 con- juge de forma que ele entenda sua necessidade de ser amada. Eventualmente, essas estratégias de dominacdo podem destruir o relacionamento do casal, 0 que ocorre em muitas familias hoje. 94 - PareDes Do Meu Coracao | Bruce THOMPSON *RIGIDO Rigido é “o que é duro, nao flexivel e que nao se dobra”? Certa vez, um aluno meu demonstrou claramente na sala esta distorcao da personalidade. O episddio se deu num periodo de debate apés uma aula expositiva. Ele levantou ese pds a externar sua opiniao sobre o assunto, de forma bem eloquente. Seus colegas logo se manifestaram, alguns discordando dele com toda sinceridade. Fiquei em siléncio, observando a tensao que se formara e permitindo que a dis- cussao continuasse. Notara que o jovem se mantinha inflexivel, firme em sua opiniao, sem acatar os argumentos dos outros. Afinal, ele fez uma tiltima e de- sesperada argumentacao em voz bem alta e saiu da sala de forma intempestiva. Sua identidade pessoal achava-se intimamente ligada as suas opinides e por isso ele nao podia tolerar a idéia de que elas estivessem erradas. Aceitar 0 fato de que outros tinham opinides contrarias as suas, seria 0 mesmo que admitir que estava errado, 0 que depreciaria bastante seu senso de valor. Outros individuos associam sua seguranca a certas estruturas fixas em casa, no trabalho ou na escola. $6 de pensar que elas possam ser modificadas, eles tém reacdes fortes. O fato é que esta inflexibilidade bloqueia nosso desenvol- vimento. Um exemplo deste tipo de distorgao é a atitude do marido que nao admite que a esposa ao arrumar a casa mude de lugar sua poltrona de assistir a televisao. Qual é a reagéo quando as estruturas da nossa vida sio modificadas ou removidas? Sera que nosso senso de identidade pessoal se acha associado a ambientes familiares? * OBSTINADO A Biblia relata a hist6ria de uma mula obstinada (Nm 22:21-33). No fim des- cobrimos que o verdadeiro obstinado era Balaao, o dono do animal. Ele selou a montaria bem cedo pela manhé e partiu para uma longa viagem. Ainda nao tinha andado muito, quando de repente, a jumenta se afastou da estrada, enve- redando pelo campo. Irritado, o homem espancou o animal para fazé-lo voltar ao caminho. Mas ela bateu num muro de pedras, comprimindo nele o pé do seu dono. Novamente ele a espancou. O que ele nao sabia é que ela agia assim, porque na estrada havia um anjo com a espada desembainhada, A jumenta des- viou do caminho trés vezes para evitar que seu dono fosse atingido pela espada do anjo. Nas trés vezes ele a espancou. Por fim ela cau com o homem ainda em Parte I | PAREDES DE PROTECAO DECORRENTES DA REVOLTA - 95 seu dorso e ele ameacou maté-la. De repente os olhos de Balado se abriram e ele avistou, a sua frente, 0 anjo do Senhor, ainda com a espada na mao. Como vimos através da histéria de Balaao, a ferrenha teimosia humana é um dos maiores problemas de Deus. Muitas vezes, a obstinacao tem origem na inseguranca que nos domina ao depararmos com situagdes desconhecidas. O resultado é que passamos a nao confiar em Deus e a nao obedecé-lo. Ela pode também ser fruto de habitos que formamos no decorrer da vida ou de atitudes que adquirimos devido as figuras de autoridade que abusaram da sua posicéo em relacao a nds. + NAO ENSINAVEL Algumas pessoas relutam em admitir que aprenderam algo novo. Para elas, isso implica em se diminuirem, pois 0 senso de identidade delas esté associado ao conhecimento que possuem. Quando enfrentam um problema, em vez de extrairem dele alguma licao, modificando 0 que for necessério, elas se vem numa crise de identidade. A historia de Igreja esté marcada por divisdes cau- sadas por este espirito de resisténcia ao aprendizado. A Biblia nao afirma que a nossa unidade se consolidara quando obtivermos unanimidade em questoes doutrindrias. O que ela diz é que “nada podert nos separar do amor de Cristo”. Eo amor e nao o conhecimento que nos ajuda a aprender uns com os outros. Pelo amor podemos comunicar verdades uns para os outros, e assim, “crescer até a estatura de Cristo”, que é 0 tinico que tudo sabe e conhece. ESPIRITO Aiiltima categoria de tijolos pertence 4 esfera do espirito, a parte do homem pela qual ele se relaciona com 0 mundo invisivel ou sobrenatural. Continue marcando os “tijolos” que vocé reconhece serem presentes em sua vida. * CONCEPCOES ILUSORIAS Uma idéia errada que se enraiza em nossa mente pode vir a tornar-se um falso conceito. Uma senhora de meia-idade que fora traida pelo marido teve muita dificuldade de perdod-lo. A todo instante, imaginava-o tendo casos com outras mulheres, Por causa da sua desconfianca seu casamento quase desmo- ronou, apesar das suas suspeitas terem fundamento. Se néo corrigirmos estes 96 - ParEDES Do Meu Coragao | Bruce THOMPSON falsos conceitos, eles podem se tornar uma parandia, psicose, sendo necessario, até mesmo, um acompanhamento terapéutico especializado. ¢ RESSENTIMENTO E AMARGURA O ressentimento brota no nosso coragao quando nos recusamos a perdoar quem nos magoa. Sempre que alguém nos ofende ou magoa, seja através de uma palavra, gesto ou uma reacao forte, temos a alternativa de perdod-lo ou nao. Se optarmos pelo perdao, Deus pode perdoar nossos pecados mas se der- mos lugar ao ressentimento, estaremos bloqueando o perdao divino e abrindo a porta do coragao para que entre a amargura A Biblia adverte que tenhamos 0 cuidado de nao permitir em nossa vida nenhuma raiz de amargura, pois por ela muitos podem ser contaminados (Hb 12:15). Deixando a amargura brotar em nosso coragao, estamos abrigando uma erva daninha de raiz muito forte. E se permitirmos que est erva seja enraizada, ela alastrard e tomara conta dos nossos coracGes, contaminando nossas mentes, espiritos e corpos. Na horta da nossa casa no Hawai, temos lutado muito com um tipo de mato que é uma verdadeira praga. Podemos arrancé-lo sem grandes dificuldades quando ainda esta pequeno, com cinco ou seis centimetros de altura. Porém, se 0 deixarmos crescer, nao conseguimos mais extrai-lo. Sua raiz é longa e cheia de nédulos e precisa-se usar uma picareta para corté-la. Amar implica em perdoar uns aos outros. Quem guarda rancor passa a ter um espirito endurecido, amargurado. A amargura tem destruido muitos casa- mentos, familias, sociedades e nao desejamos que venha nos destruir também. Além disso, ela predispde nosso organismo a doencas mentais e fisicas que s6 poderao ser totalmente curadas, se primeiro nos dispusermos a perdoar nosso ofensor. * cRITICO Aatitude negativa de critica nos leva ao descontentamento, e isso mata em nds a gratidao. Consequentemente, nossa aten¢aio se volta para nds sob a forma de auto-piedade. As vezes tentamos mascarar nossa tendéncia a depreciar os outros, dizendo que nossa critica é “construtiva”. Na verdade, porém, o que ocorre é exatamente 0 contrario, pois sua origem é destrutiva. A critica exacer- bada é uma pratica negativa, capaz de arrasar os outros. Precisamos aprender Parre I | PAREDES DE PROTECAO DECORRENTES DA REVOLTA - 97 a reconhecer a diferenca entre 0 “pensamento critico”, que é algo que aguca nossa percepcio das coisas, e 0 “espirito de critica”, cuja tinica funcao ¢ retalhar nosso proximo. « ESP{RITO DE CONTROLE E POSSESSIVIDADE Estes dois tijolos que também podem estar presentes nas paredes do coragao humano esto intimamente associados. Um produz 0 outro. Quando nos senti- ‘mos inseguros e magoados, tentamos exercer controle sobre alguém, na tentativa de manter uma posicao de dominio. Mas, ao utilizarmos este recurso continua- mente, nos tornaremos cada vez mais possessivos € tenderemos a querer deter- minar toda a vida da outra pessoa. Essa conduta equivocada, constitui um perigo mortal para os relacionamentos, pois asfixia a individualidade do outro. * MANIPULACAO Vamos examinar agora, aquele que talvez seja 0 pior de todos os tijolos da nossa parede, A manipulagéo é um traco maligno e destrutivo da personalida- de, que tem o potencial de fingir amar, mas que na realidade, bloqueia e destroi amor, Por isso é uma das principais causas dos conflitos no casamento e da desintegracao das familias. Podemos definir a manipulacéo como a tentativa de controlar pessoas ou circunstancias, por meios indiretos, simulados. O Dicionario Webster fala da manipulacao como algo insidioso. Ela é: Traigoeira: espera a hora certa de encurralar a vitima. Sedutora: é perigosa mas ao mesmo tempo atraente. Sutil: vai envolvendo gradativamente, para que s6 seja percebida depois que estiver bem enraizada, Possui um efeito gradual, porém cumulativo. A manipulacao em contraste com 0 amor 1. Por natureza, a manipulagéo’ é um ato desonesto. O amor, ao contrario, opera na base da sinceridade. Aquele que usa de manipulacdes ¢ desonesto, pois emprega estratagemas, manobras, gestos falsos e encenacdes. As vezes fica dificil saber como aquele individuo 6, de fato. O manipulador esta continu- amente se arriscando. A pessoa que ama, porém, sente-se livre, sempre em paz consigo mesma. Pode ser auténtica e totalmente sincera com os outros. 98 - Parepes po Meu Coracao | Bruce THomPsoN 2. 0 segundo aspecto da manipulacao é a visdo imperfeita dos fatos. O ma- nipulador tem uma visao parcial das coisas, enxerga apenas 0 que quer enxer- Sat, ouve apenas o que lhe interessa. Mesmo que alguém exponha para ele os fatos, de forma bem clara, em termos concretos, ele nao ouviré uma palavra do que € dito. Todo seu pensamento converge para o proveito que pode tirar da situagao e por isso, sua consciéncia fica cauterizada. Jaa pessoa que ama, consegue manter uma ampla diversidade de interesses e receber impressdes de diversas fontes. Ela nao se acha presa nas coisas. Sua atitude calma, permite que aprecie a natureza, a mtisica, as artes, as belezas do mundo. 3.0 terceiro aspecto da manipulacao é 0 exercicio do controle. O manipula- dor vive como se estivesse sempre jogando xadrez, tendo como objetivo supre- mo, dar um xeque-mate no adversario. Precisa obter o controle da situacao a qualquer preco e por isso esta sempre estd concentrado no jogo da vida. Aquele que ama, ao contrario, néo sente necessidade de controlar nada. E livre para se expressar e vive sem tensdes. 4, Um quarto aspecto da manipulagao é a desconfianca. O individuo com espirito manipulador, tem muita dificuldade em confiar nos outros e em decor- réncia disso nao consegue confiar nem em si, Esta sempre maquinando algo para manter o dominio, o controle da situagao em seu relacionamento com os outros. Ja a pessoa que ama, goza de bons relacionamentos, pois sente-se A vontade para confiar. Infelizmente muitos jovens quando se casam, jé o fazem, com idéias de ma- nipulagéo. Um rapaz casa com uma moca pensando apenas em ser amado por ela ou a moga casa com o rapaz, para receber amor e seguranca. Ambos sao movidos pelo desejo de manipular. O que é um péssimo alicerce para o relacio- namento conjugal. 5. O que é 0 amor? Qual a definigao biblica de amor? Amar é iniciar um relacionamento como objetivo de dar. Jéna manipulagao, busca-se um relacio- namento 0 objetivo de receber. Por que “Deus amou 0 mundo de tal maneira” que tecebeu? Nao! “Por que Deus amou 0 mundo de tal maneira que dew seu filho unigé- nito” (Jo 3:16). Nosso conceito de amor esté tio distorcido que nossa intencao ao Parre I | PAREDES DE PROTECAO DECORRENTES DA REVOLTA - 99 amar alguém é obter dele alguma coisa. O pensamento geral é: “Preciso de uma esposa ou esposo”. Mas, nao é essa a motivacao que Deus determinou para o casamento. Ela destoa do prumo divino do amor. O conceito de amor esta completamente distorcido em nossa sociedade. A midia tem nos bombarde- ado com conceitos sobre algo que ela chama de amor mas que na verdade, nao passa de lascivia. . MANIPULACAO AMOR 1. Age com desonestidade [ Age com sinceridade 2. Visdo distorcida pelo interesse Visio clara e aberta 3. Manter 0 controle Mantém a liberdade 4, Inspirada na desconfianga Livre para confiar 5. A esséncia é receber Aesséncia é dar Tipos de Manipuladores Vamos analisar aqui, quatro tipos de manipuladores: 1. Manipulador ativo O tinico pensamento desse individuo é manter 0 controle da situagéo a qualquer preco. Quer ser o “maioral” e estar por cima em tudo. Vive ressal- tando seus pontos fortes e nunca reconhece suas fraquezas. No relacionamento com 0s outros, sempre aparece como 0 mais forte, procurando tirar vantagem, todas as vezes que puder. 2. Manipulador passivo Esse é mais dificil de ser detectado pois sua estratégia de manipulacao é dissimulada. Seu objetivo nao é exercer o controle, mas sim, evitar ofender os outros. Para isso, assume 0 papel do sofredor, do carente e muitas vezes utiliza 0 tijolo da auto-piedade, com 0 objetivo de se passar por “coitadinho” e assim obter 0 que deseja. Demonstra-se infeliz e nesta condicao, manipula os outros para satisfazer sua caréncia afetiva. Enquanto 0 manipulador ativo se impoe para obter o que deseja, 0 passivo abdica de algo com a mesma finalidade. Certa vez, tive a oportunidade de ver uma ilustragéo viva dessas situacdes. Fomos visitar uns amigos e levamos conosco nossa cachorrinha Sheba. Quan- 100 - PaREDEs DO Meu Coracao | Bruck THOMPSON do estavamos alegremente cumprimentando os amigos, de repente, ouvimos um forte rosnado atras de nds. Nos viramos e vimos Sheba toda entesada, a cauda em pé, os pélos ericados de irritagao. A frente dela, estava o grande cao negro dos nossos amigos, a imagem da docilidade, deitado no chao, as patas dianteiras erguidas e a lingua para fora. Instantes depois, os dois ja estavam brincando, correndo um atras do outro e foi assim o tempo todo em que esti- vemos la. Evidentemente, Sheba assumira a posigao de comando ¢ 0 outro a de comandado. Pelo menos nessa ocasiao. 3, Manipulador competitivo O terceiro tipo de manipulador é 0 competitivo. Esse é um pouco mais ver- satil. As vezes age como 0 dominador e em outras, como sofredor, dependendo da situacao. E s6 uma questéo de mudanga de tatica. E mais habilidoso e chega a ser um profissional na arte de criar formas de manipulagio. Seu objetivo é ganhar, seja em que posigao for. Todos os demais so seus competidores. 4, Manipulador indiferente E distinguido dos outros porque ele nao gosta dos que estéo por cima e dos que estao por baixo, nem se importa de ser 0 “maioral” nem o “softedor”. Até diz que nao se importa com posigdes. De fato, ele nao gosta de pessoas, € esta preparado a dizer que nao se importa com o jogo delas. Mas, quando afirma isso, na verdade, est4 manipulando a si mesmo de forma sutil. Nega-se a admitir 0 que sente, enganando-se. Na realidade, ele se importa e interessa sim pelo que acontece ao seu redor, mas ao negar e reprimir esses sentimentos, manipula a si proprio. B faz tudo isso em nome do amor. Esse tipo de atitude é uma arma sutil e poderosa para destruir relacionamentos. Os manipuladores estao sempre em aco. E como se estivessem em um eter- no jogo de xadrez. Submetem-se a tensdes e pressdes numa Ansia constante de atingir seus objetivos. O que seré que estao buscando e nunca conseguem obter? Se seguirmos a linha do prumo humano da rejei¢ao até o fim, descobriremos que o ato supremo da auto-rejeicao é 0 suicidio, e o crescente indice de mortes por suicidio é alarmante. Aquele porém que opta pelo prumo humano da revolta e que adota essa atitude como norma de vida, tem grande probabilidade de algum dia, cometer um homicidio por extravasar sua raiva nos outros e nao em si. Pane I | PAREDES DE PROTECAO DECORRENTES DA REVOLTA - 101 TIPOS DE MANIPULADORES FIGURA DE AUTORIDADE 2. Passivo 3. Competitivo Tende ase aproximar do ‘Tende ase aproximar do Modelo de Autoridade Modelo de Autoridade 1 1 1 1 i t bajulando : competindo t 1 Soo Jb.t\o----- 1 1 ' 4, Indiferente 1 1. Ativo Tende a se afastar do Hi ‘Tende a se afastar do Modelo de Autoridade ! ‘Modelo de Autoridade isolando-se 7 criticando, 1 1 t t REJEICAO 6 REBELIAO AUNICA OPCAO Mas alguém pode achar que essas opgdes de seguirmos 0 prumo humano da rejeigiio ou o da revolta nos deixa sem saida. Nao existe nenhuma outra alternativa? Existe sim. A verdadeira: o prumo divino. Mas vamos devagar! Primeiro é bom conhecer todas as implicagdes a respeito dela. Se optarmos pelo prumo divino s6 para escapar do suicidio ou do homicidio, precisamos Jembrar que estamos abragando a alternativa de sermos crucificados. “Bela alternativa!” Diré alguém. Mas o que significa “ser crucificado”? Na esséncia, se nos dispusermosa viver segundo o prumo divino, temos que aceitar a cruz, de Cristo. Temos que crucificar 102 - Parepes po Meu Coracao | Bruce THOMPSON 0s desejos carnais e impuros que nos inspiram a sempre fugir de algo que nos desagrada. Temos que nos dispor a sermos purificados quanto aos velhos desejos e seguirmos Os novos, em verdade e amor, fazendo perecer na cruz 0 egoismo, egocentrismo, a lascivia e a gandncia, para que Cristo viva em nos. “Quem acha a sua vida, perdé-la-d. Quem, todavia, perde a vida por minha causa, acha-la-d” (Mt 10:39). No proximo capitulo, veremos como as paredes que erguemos, determinam 0 tipo da nossa personalidade. Veremos ainda, o quanto essas paredes afetam 0 individuo, a familia e a sociedade. APLICACAO PRATICA Reveja os tijolos que vocé reconhece em sua vida. Como eles foram parar ai nas paredes do seu coraao? Consegue lembrar que situacao deu origem a eles? Medite sobre as circunstancias que causaram o aparecimento desses tijolos. Como eles 0 afetam? Notas "The Concise Oxford Dictionary, op. cit. *The Concise Oxford Dictionary, op. cit. 5Everett L. Shostrom, Man the Manipulator (Homem 0 manipulador), Abing- don Press, Nashville. 7 CADA UM COM SUA PROPRIA MANEIRA DE VIVER por vezes, pode nos deixar meio deprimidos, principalmente quando nos conscientizamos de quanto tempo eles vém bloqueando nossas vi- das. As paredes, obviamente, simbolizam nosso sistema de defesa, bem como 0 tipo de personalidade que vai se formando, a partir de uma base de rejeicao ou revolta. Neste capitulo, vamos examinar quatro tipos de personalidades e ver como e por que elas adquirem tais feigdes. Esses quatro nao sao os tinicos tipos de personalidades existentes, mas sao os mais comuns em nosso meio. Ao estudar a formacdo do carater, devemos lembrar que a personalidade é constitufda de tracos hereditarios e tracos adquiridos. A polémica em torno da questao “heranga versus meio ambiente” demonstra que nem sempre é facil distinguir os tracos fixos da personalidade dos que sao varidveis. Entretanto, as Escrituras nos fornecem algumas orientacdes claras a respeito destas questoes. Neste estudo, estaremos examinando os aspectos adquiridos ou suscetiveis a mudaneas, que Paulo menciona em Efésios 4.13, onde ele fala que “precisamos crescer até chegarmos a estatura da plenitude de Cristo.” B= analise dos tijolos das paredes que erguemos em torno do coracao, 1. APERSONALIDADE “CORDATA” ‘A personalidade cordata tem como referéncia de vida o prumo da rejeicao, e por isso procura estar cercada de importantes figuras de autoridade com 0 ob- jetivo de satisfazer suas caréncias emocionais. Para entendé-la melhor, vejamos algumas das atitudes que assume: 104 - PareDes Do Meu Coracao | Bruce THomrson APERSONALIDADE =~ “CORDATA” eZ FIGURA 13 “Eu o ajudarei naquilo que vocé quiser.” “Estarei a seu dispor a qualquer hora.” “Estarei sempre ao seu lado.” “Sempre demonstrarei apreco por vocé.” “Orarei por vocé fielmente, todos os dias.” Mas por outro lado, ela quer da figura de autoridade, o seguinte: “Preste atencao em mim.” “Demonstre apreco por mim.” “Seja bom comigo.” Pare I | CADA UM COM SUA PROPRIA MANEIRA DE VIVER - 105 “Ouca o que tenho a dizer.” “Tenha Interesse por mim.” “Quando eu precisar de vocé, venha socorrer-me.” “Nao me tejeite, nem me decepcione.” Essas pessoas podem ser excelentes assistentes e auxiliares. Geralmente sao individuos eficientes e ativos, sensiveis e carinhosos, sempre um passo a frente do lider. Os tipos de trabalho que mais os atraem sao 0 aconselhamento ou atividades que lhes permitam servir os outros. Asatitudes do cordato podem ser resumidas em duas frases: ~"“Farei o que vocé quiser!” —“Por favor, me ame!” Todavia, o cordato pode representar muitos perigos, nao s6 para si, mas também para aqueles com quem relaciona. Ele busca acima de tudo, a satisfa- Gao da sua caréncia afetiva e da sua necessidade de aceitagao. Para isso, nao he- sita em sacrificar certos principios e até a verdade. Eo tipo de pessoa que tende a procrastinar e a agradar mais aos homens do que a Deus. Devido ao seu forte desejo de ser aceito e amado é vulnerdvel ao pecado da imoralidade. Se sofre uma desiluséo com a figura de autoridade, mesmo que tudo nao passe de fruto da sua imaginacdo, ele pode mergulhar fundo numa depressio ou rejeicao. E quanto mais isso acontece, mais ele se retrai e sua capacidade de confiar nos outros ¢ reduzida. Muitos dos nossos lideres tém sucumbido diante desse laco sutil que é a personalidade cordata, em relacao aos outros ou a eles mesmos. Encontramos na pessoa de Saul, um exemplo de personalidade cordata (I Sm 15:24). Apés obter uma grande vitéria contra os amalequitas, 0 rei Saul desobedeceu a ordem divina para que destruisse os inimigos. Buscando a acei- taco e o reconhecimento humano, ergueu no monte Carmelo um monumento em sua propria homenagem. Como tinha temor dos homens e queria a apro- vagio deles, nao teve temor de Deus e nem o obedeceu. Essa atitude de com- placéncia, acarretou a perda do reino, em decorréncia de um gradual e infeliz declinio da sua lideranga. Quando um individuo de personalidade cordata sofre muitos reveses, pode comecar a assumir outro tipo de personalidade. 106 - PareDes Do Meu Coracao | Bruce THOMPSON 2, A PERSONALIDADE “DERROTISTA” “Ninguém liga mais para mim!” “Ninguém me pée a par do que esta acontecendo!” “Ninguém mais tem tempo para conversar comigo!” “Ninguém me visita mais!” “Ninguém vem orar por mim quando estou abatido ou doente!” “Ninguém gosta de mim!” Quem convive com este tipo de individuo, mais cedo ou mais tarde vai ouvir essas queixas. A grande luta dessa pessoa é saber que ¢ querida e titil aos outros. Ainda hé outras falas tipicas dessa personalidade: “Nao adianta tentar mais!” “J fracassei tantas vezes!” “Sou um fracassado mesmo!” “Nunca vou conseguir nada!” “Vou ser sempre assim!” “Nao consigo mais viver assim!” “Nao da mais!” “Desisto!” “O Deus, por que o Senhor nao dé um jeito em tudo isso?” Essa atitude negativa nao é incomum na sociedade de hoje. As duas frases que melhor caracterizam esse tipo sao: ~“Ninguém me ama!” ~ “Desisto!” Certo dia, entrou em nossa clinica, um rapaz aparentemente jovem mas que andava arrastando os pés. Estava to encurvado e desalentado que parecia bem mais velho. Aproximou-se cabisbaixo, com passos pesados e correu os olhos pelo aposento. Respondeu com voz abafada as perguntas que fizemos a ele, sempre com um sim ou um néo. Por mais que tentéssemos ajuda-lo, nada do que diziamos Parecia ter efeito sobre ele. Era como se estivesse vestido com uma armadura impenetravel que bloqueava todas as nossas tentativas de vencermos suas bar- Parre I | CADA UM COM SUA PROPRIA MANEIRA DE VIVER - 107 A PERSONALIDADE “DERROTISTA” » FIGURA 14 reiras emocionais. Apés uma longa sessao de aconselhamento, comecamos a achar que ele era um caso perdido. Ha anos abrigava um sério conflito interior, gerado pelo fato de ter se entregado a lascivia. Quando afinal nos procurou, encontrava-se tao deprimido e enterrado em si que tivemos a impressdo de que nao havia mais nada que pudéssemos fazer. Sua crise tornara-se crdnica. Para sobreviver na vida real, 0 rapaz se refugiara num mundo de fantasias, sob a forma de uma psicose maniaco-depressiva. Vi nele, um exemplo de uma grande verdade da Palavra de Deus: “O salério do pecado é a morte” (Rm 6:23). Vejamos o caso de Susan. Devido a uma enfermidade na infancia, ela ficara com um pequeno defeito fisico. Das recordagées que tinha, guardava a im- 108 - Parenes Do Meu Coracao | Bruce THomPson pressio de que sempre fora alvo da zombaria dos amiguinhos. Por causa disso, esforava-se o tempo todo para agradar os pais, professores e coleguinhas, com 0 objetivo de conquistar deles 0 amor e a aceitacao dos quais tanto necessitava. Como era uma moga bonita, casou muito jovem, teve seis filhos, um apés 0 outro. Depois de algum tempo, o esforgo que fazia para agradar ao marido e aos filhos tornou-se uma verdadeira batalha. Em vez da aprovacio que ela tanto desejava, sé recebia criticas. Por mais que se esforcasse, o marido nunca estava satisfeito. Para ele, a comida estava crua ou cozida demais, as roupas nunca tinham sido passadas ou dobradas com perfeigéo, a casa estava sempre mal arrumada... Nada do que ela fazia parecia satisfazé-lo e nunca reconhecia nada do que ela fazia para agradé-lo. Com o decorrer dos anos, pouco a pouco, Susan passava mais e mais tempo assistindo televisdo, deixando para o marido os servicos da casa. Como suas tentativas de agradé-lo tinham sido ignoradas, ela se retraiu, trocando sua ati- tude de pessoa “cordata” pela armadura da personalidade “derrotista”. Outro exemplo deste tipo de individuo é Moisés. Ele nasceu e foi criado sofrendo rejeicao. Afinal, ao ser repelido por pessoas do seu povo, teve que fugir para salvar sua pele. Quarenta anos depois, Deus o chamou para libertar os filhos de Israel da escravidao, e ele teve a reacéo tipica de sua personalidade: “Nao dou conta!” (Ex 4:1,10,13) Como acontece coma personalidade “cordata”, 0 referencial do tipo “derro- tista”’ é 0 prumo da rejeicéo. Porém, ao invés de voltar-se para a figura da auto- tidade como faz 0 cordato, esse segundo tipo afasta-se das pessoas, recusando qualquer tipo de ajuda. Em muitos casos, depois de ter sofrido e de ter sido magoado pelas figuras de autoridade, tais individuos vao pouco a pouco, per- dendo a confianca que depositam nos outros. Nao aceitam nem a possibilidade de vivenciar outra experiéncia dolorosa e por isso refugiam-se sob a armadura. Quanto maior a profundidade das magoas sofridas, mais impenetravel sera sua armadura. Eles chegam ao ponto de dizer: “Nao vou deixar mais ninguém me magoar.” Mas, deixando as personalidades marcadas por rejeicao, que sao passivas, vejamos agora as que so marcadas pela revolta, que sao ativas. Analisaremos mais dois tipos de personalidades. A primeira delas, em sua telagao com a fi- gura de autoridade é mais agressiva do que seu correspondente, a “cordata”. Parte I | CADA UM COM SUA PROPRIA MANEIRA DE VIVER - 109 3, A PERSONALIDADE “COMPETITIVA” Essa personalidade ¢ a que mais tem relacéo com nossa era humanista e com a atual busca de amor e aceitacao. A personalidade competitiva, talvez seja a mais comum, presente nas culturas ocidentais. £ normal esse tipo de individuo dizer o seguinte: “Sou capaz de fazer isso ai, melhor do que qualquer um!” “Tenho resposta para tudo. Ess6 perguntar.” "Vou mostrar para vocé como se faz isso!” “Sou a pessoa mais indicada para fazer isso.” A PERSONALIDADE “COMPETITIVA” FIGURA 15 110 - PareDes po Meu Coracao | Bruce THOMPSON “Tirar férias é pura perda de tempo.” “Pare com esse sentimentalismo!” “Seja forte! Nao deixe transparecer para os outros suas fraquezas!” Mas por outro lado, tal individuo gosta também de ouvir palavras de apro- vaca, afirmacao, e para isso poderé comunicar verbalmente ou nao os pedidos abaixo: “Viu como executo bem meu trabalho?” “Ja notou como tenho excelentes talentos e habilidades?” “Percebe como sou indispensdvel?” “Nao vai elogiar o meu trabalho?” “Diga-me que sou perfeito e me fard feliz!” “Nunca me diga que me considera um fracasso.” O que ele esta querendo dizer €: “Nao tenho defeitos, portanto vocé nao tem outra alternativa sendo me amar.” “Vocé precisa de mim e do meu trabalho, portanto me ame!” Desde a infancia, ele vem sendo sutilmente condicionado a ter a idéia de que para ser amado e receber aprovacao dos outros, precisa vencer sempre e ‘nao apenas isso, tem que esforcar para se superar. Um exemplo classico deste tipo de personalidade é 0 “evangelista imatu- 10”, Ele chega a uma cidade, exibindo uma energia sobrehumana, exige um tratamento cinco estrelas - 0 melhor hotel, os melhores restaurantes, telefone com linha direta - para a igreja Pagar a conta. Ao pregar, entrega mensagens vigorosas, produzindo uma fé entusiastica. Depois que vai embora e a poeira assenta, alguns fatos vém a tona. Na sua Passagem magoou muitos obreiros que agora sentem-se explorados e manipulados. Essa personalidade competi- tiva usa as pessoas para realizar seus projetos. Na visao dela, o ser humano é dispensdvel, o projeto nao. Esse individuo pode acabar sofrendo do mal tipico de um super empreendedor, entre um momento e outro de grande desempe- nho sente-se deprimido e vulnerdvel. Imaginemos um grupo de atletas correndo numa maratona. Um deles tenta vencer logo a prova, partindo em alta velocidade, deixando os outros Para tras. A certa altura cai no chao, exausto. Contudo, revine a energia res- Parte I | CADA UM COM SUA PROPRIA MANEIRA DE VIVER - TI tante e repete 0 processo. Percorre outro trecho em grande velocidade e mais adiante, novamente cai. Depois de varias tentativas, sua resistencia comeca a diminuir. Afinal, os outros corredores 0 alcancam e ultrapassam-no. Ago- ra, ao invés dele ser o primeiro colocado, é 0 tiltimo. Termina a competicao exausto, frustrado e desesperado. A personalidade competitiva, assim como esse atleta e o evangelista imatu- 10, pode softer estresse, tornando-se vulneravel as doencas fisicas e mentais. A maioria das adversidades em seu ministério, como a desestruturacao da sua fa- milia ou a ruina financeira, sao alertas de Deus, tentando chamar sua atencao. Ali vai ele, cavalgando velozmente pelas trilhas do evangelho quando, entao Deus, como que o laca, derruba-o no chao e diz: “Sera que agora posso dar uma palavrinha com voce?” Nao estou querendo dizer que Deus ¢ o causador de todas as enfermidades e reveses, mas sem ditvida, ele ird aproveitar 0 impacto dessas crises para pro- duzir as transformacées necessarias. Um exemplo biblico da personalidade competitiva é Jaco (Gn 27-30). Cha- mado “suplantador”, Jacé roubou do seu irmao Esatt 0 direito primogenitura. Apés ter feito isso, enganou seu pai, ja idoso, com 0 objetivo de conseguir a béncdo do primogénito. Em seguida, foi obrigado a fugir para nao ser morto. Os vinte anos que passou em Hara também nao lhe trouxeram muitas alegrias, j4 que ali, se defrontou com um manipulador igual a ele, seu tio Labao. Depois de passar varios anos competindo e tentando vencer, viu todos os seus recursos esgotados. No meio da viagem através da qual reencontraria seu irmao, sua constante luta contra Deus atinge o épice quando tem um confronto com 0 anjo do Senhor. Exteriormente, ele sai da luta com um defeito fisico mas em seu inte- rior estava renovado. Jacé que antes era um manipulador e um empreendedor, agora é “Israel” que significa “Principe com Deus’! Os pais de Bill s6 demonstravam amor e aceitagao quando ele ia bem nos es- tudos e no esporte. Assim que 0 rapaz converteu, transferiu para 0 seu relacio- namento com Deus, o profundo condicionamento imposto pelos pais. Tornou- se pastor e devotou extrema dedicacao ao servico cristao, pensando conquistar assim, 0 amor e a aprovacio de Deus. Com o tempo, perdeu a satide e seu relacionamento familiar deteriorou. Certa vez, durante uma de suas frequentes crises depressivas, cometeu imoralidade com uma obreira “cordata” que dese- java agradé-lo e ao mesmo tempo satisfazer sua propria caréncia afetiva. M12 - ParEDes Do Meu Coragao | Bruce THoMPson Algumas caracteristicas das pessoas com personalidade competitiva sao: ~Acostumaram a pensar desde crianca: “Tenho que sair bem em tudo!” ~ 86 recebiam aprovacao quando eram bem sucedidas. ~ Tém muito medo de errar. ~Gostam de elogios, mas nao sabem recebé-los com naturalidade. ~Seu senso de valor esta baseado no que os outros vao pensar delas. ~ Precisam fazer um esforco mental para aceitar o fato de que outros po- dem amé-los. — Nao sabem receber criticas. ~ Estao constantemente na defensiva. ~ Tém dificuldade para serem espontaneos. ~ Em qualquer situacao, querem sempre saber quais os regulamentos que as regem. ~Ao receber um presente, sentem-se constrangidas a retribuf-lo. ~ Estao constantemente se esforgando para fazer alguma coisa. ~ Tém muita dificuldade para controlar sua obsessao na tentativa de supe- rar 0s outros. ~ Tém muita dificuldade em cultivar relacionamentos profundos. 4. A PERSONALIDADE CRITICA Hi ainda mais uma personalidade formada a partir do prumo humano da tevolta. Nele, o individuo se afasta da figura de autoridade, de forma mais agressiva. Sao aqueles que dizem: “Viu como meu desempenho é nota dez?” “Vou te ensinar a fazer isso.” “Tenho certeza de que estou com a razao.” “Prestem atencao no que eu digo.” “Sou eu quem manda aqui.” Outra faceta da personalidade critica é fazer afirmagdes mais duras, de condenagao. “Vocé nunca vai melhorar, nao 6?” “Vocé é um caso perdido. Nao tem jeito mesmo!” Pare I | CADA UM COM SUA PROPRIA MANEIRA DE VIVER - 113 A PERSONALIDADE “CRITICA” FIGURA 16 “Voce é um burro. Olha 86 a estupidez que vocé disse!” “Vocé nao faz nada certo!” “Vocé sempre atrapalha tudo, nao é?” “A culpa é toda sua!” O que eles esto querendo dizer, na verdade é: “Sei que nao sou benquisto mas vocé também nao é!” “Nao hd amor no mundo para mim, estou sofrendo por causa disto, e vocé vai sofrer comigo.” Tid - PareDEs Do Meu Coracao | BRUCE THOMPSON Um exemplo de personalidade critica é o da “profetisa imatura”. Todos os domingos, “Id esté ela” com sua aljava cheia de flechas ej com 0 arco em po- sicdo para dispara-las. Durante o culto, muito bem informada sobre a vida de todos, atira seus dardos com grande preciso e eficiéncia, pois entende que sua missdo é manter todo mundo na linha, inclusive o pastor. Além de lidar com essa atitude da profeta, esse ministro tem que passar a semana toda, removen- do as pontas das flechas que ela lancou nas ovelhas, curando as feridas causa- das por elas. Ele mesmo, as vezes € alvo das suas flechadas. Principalmente se Os sermédes nao estiverem do jeitinho que devem estar, segundo sua opiniao. Obviamente, recebe muitos protestos mas encara essa “perseguicgao” como “os- 80s do oficio”, algo que vem confirmar que suas setas esto atingindo o alvo. A personalidade que se expressa dessa forma tem em seu interior alguns Pressupostos muito significativos. Primeiro, ela perdeu a fé no amor. Sofreu tantas desilusées em seus relacionamentos que chegou a conclusao de que nao merece ser amada e por isso desistiu de amar. Depois, ao contrério do “der- rotista”, que passivamente se esconde dentro de uma armadura, ela tem uma teacao mais agressiva. Ao atacar outros, seu intuito é convencé-los de que eles também nao merecem amor. Acredita firmemente que se ela esta sofrendo, os outros também devem sofrer. Amie de John o criou da mesma forma como tinha sido criada, disciplinan- do 0 filho com atos de rejeigao. O menino aprendeu a diferenca entre certo e errado pela frieza que ela adotava sempre que ele fazia algo que a desagradava. Em decorréncia disso, John passou a ter uma péssima imagem de si, nascendo dai um complexo de inferioridade que o acompanhou durante toda a vida. A correcao efetuada por meio de atos de rejeicao causa forte sofrimento emocional a crianca. O pai ou a mae que utiliza esse recurso esta destruindo 0 senso de valor que a crianca tem de si, perdendo a motivacao para viver. A correcao tem que estar de maos dadas com o amor. Se a mae de John tivesse agido com amor, ele nao ficaria magoado com o castigo. Judas, 0 traidor de Jesus (Jo 12:4) é 0 exemplo perfeito da personalidade critica, Levado pela atitude critica e negativa que assumira em relacdo a Jesus e aos discipulos, condenou a mulher que ungiu os pés de Jesus e também acusou o Mestre de permitir tal desperdicio. Esse espirito critico 0 levou a trair 0 Filho de Deus. Sua amargura e auto-depreciacao, finalmente o impeliram a tirar a propria vida em um surto de remorso. Parre I | CADA UM COM SUA PROPRIA MANEIRA DE VIVER - 115 TIPOS DE PERSONALIDADES FIGURA DE AUTORIDADE Cordato } Competitivo Tendea se aproximar do TTendea se aproximar do Modelo de Autoridade Modelo de Autoridade bajalando competindo Derrotista Critico Tende a se afastar do Tende ase afastar do Modelo de Autoridade Modelo de Autoridade isolando-se criticando REJEICAO REBELIAO CONCLUSAO Vamos comparar esses quatro tipos de personalidades, com as quatro for- mas de manipulacao que apresentamos no capitulo seis: Apersonalidade cordata corresponde ao manipulador passivo. A personalidade derrotista corresponde ao manipulador indiferente. 116 - PareDEs Do Mu Coracdo | Bruce THomson Apersonalidade competitiva corresponde ao manipulador competitivo. Apersonalidade critica corresponde ao manipulador ativo. Se alguém desejar identificar seu tipo de personalidade, deve lembrar de que nds nao nos limitamos a um s6. Eu, por exemplo, inicialmente era cor- dato. Depois, buscando suprir minha caréncia afetiva, passei a ter algumas caracteristicas do competitivo. Tem sido muito proveitoso para mim, conhe- cer os “qués” e “por qués” da minha vida e compreender que Deus ainda nao concluiu sua obra no meu coracao. Os quatro perfis analisados, revelam a existéncia de constantes tensdes in- teriores. Quem se encaixa em qualquer uma dessas categorias, pode estar so- frendo de um ou mais distirbios emocionais que nao apenas o debilitam mas podem tirar-lhe a vida. Tais distirbios vao desde problemas de pele até graves derrames cerebrais e ataques cardiacos. Muitos dos nossos problemas de or- dem fisica, podem ser sinais emitidos pelo organismo, indicando a presenga de males mais profundos na estrutura da personalidade. Até este momento, estivemos analisando as paredes dos nossos coragdes e 0s tijolos que utilizamos para construi-las. Neste capitulo, vimos quatro tipos de personalidades muito conhecidas. Todas com fortes tendéncias para edificar paredes. Agora vamos dar uma olhada no que ha por tras dessas paredes. Exa- minaremos entao, um dos mais terriveis e malignos “tumores” presente, tanto na igreja como no mundo. APLICACAO PRATICA Que tipo de personalidade vocé reconhece ser a sua? Procure descobrir 0 que deu origem a ela e fez com que se desenvolvesse. Pense sobre os aspectos do seu cardter que sao falhos e prepare uma estra- tégia para modificé-los. Tente reproduzir mentalmente, o que poderd acontecer quando vocé trocar essas falhas por pontos positivos. 8 ATRAS DAS PAREDES comer demais é maior do que o das que morrem pela falta de comida e inanic&o. Alids, a maioria das pessoas cava 0 seu tdmulo com os préprios dentes!” Ml ; — as estatisticas, o ntimero de pessoas que morrem por Essa afirmacio feita por um dos meus professores da faculdade de medi- cina ao introduzir uma aula sobre obesidade permanece gravada na minha meméria. Nesses anos em que tenho praticado a medicina, tanto em paises desenvolvidos como em nacdes em desenvolvimento, lembro-me dela com fre- quéncia e me vejo obrigado a concordar com ele. O desejo humano, tanto nas suas formas manifestas como nas dissimula- das, tem causado grandes males ao homem desde a sua criacao. A serpente comecou com Eva e o fruto proibido. De 14 para cd, através dos séculos, essa mesma cena vem se repetindo... Vamos, entao, olhar por uma fresta da parede, para ver como os lfderes israelitas seguiram essa “tradicao”. Chutando algumas pedrinhas pelo chao, o profeta Ezequiel caminhava apressadamente pelo atrio do templo. A cada passo seu, erguiam-se no ar pe- queninas nuvens de poeira. Ao longe, ouviu-se 0 latido de um cao, quebrando por instantes 0 silencio pesado e quase agourento que cercava os imensos blo- cos de pedras da enorme construgao. Erguendo a cabeca, 0 profeta examinou a parede um pouco mais. Havia alguma coisa estranha ali. Seré que ela estava co- mecando a ruir ou uma das pedras fora removida? Ezequiel apressou 0 passo, aproximou-se dela e avistou um buraco. Curioso, encostou 0 rosto nas pedras aquecidas pelo sol e espiou pela abertura. Imediatamente afastou-se, desvian- 118 - Parepes Do Meu Coracao | Bruce THomPson do os olhos da cena, se sentindo abalado! Que cena seria aquela que empalide- cera 0 rosto bronzeado do profeta? Escondidos por tras daquelas paredes, os lideres de Israel realizavam uma orgia idélatra (Ez 8:6-12). Adorando a imagem de Aserate, deusa dos cananeus, eles se entregavam em atos de lascivia, em flagrante desobediéncia a Deus, dando as costas a verdadeira religiao de Israel. A melhor anilise do desejo é a que encontramos em I Joao 2.15-16. A Biblia ensina ai que a concupiscéncia da carne e a concupiscéncia dos olhos levam a autodestruigao. A concupiscéncia dos olhos é 0 desejo reprimido que penetra na mente, através da “porta” da visio. Ela esta relacionada com a tentacdo en- quanto a concupiscéncia da carne é 0 ato de cedermos a esse desejo que depois passa a nos influenciar e a nos controlar. ODESEJO Como € que somos envolvidos pelos habitos carnais tao prejudiciais a nossa vida e satide, podendo até nos destruir? Facamos como Ezequiel. Vamos olhar dentro das paredes erigidas em torno do corago humano, onde praticamos a idolatria e outros pecados secretos. Nosso objetivo ao erguer tais paredes é nos proteger dos inimigos que po- dem nos atacar. Esses inimigos, reais ou imaginarios, nos influenciam a ponto de determinar as reages que teremos diante da vida. Mas 0 que se passa no interior dessas paredes? Como é que caimos na armadilha dos habitos carnais? Vejamos uma ilustracdo que pode nos ajudar a responder a essas perguntas. Allinha marcada com a letra “A” na figura 17, representa 0 prumo da rejei- do que o individuo sofreu por parte de uma importante figura de autoridade. Trata-se de uma linha obliqua que “entorta” toda a vida do individuo. A pri- meira emocao que ele tera que enfrentar depois de sofrer a rejeigao é a magoa oua dor interior. O paciente que apresenta esse tipo de dor em minha clinica geral constituia para mim um desafio maior do que o que falava sobre suas dores fisicas. A maioria dos pacientes demonstrava sofrer mais com a dor interior do que com a dor fisica. Parecia que eu tinha pouquissimos recursos para proporcionar a eles, 0 alivio desejado. Em busca de solucdes, comecei a sondar aqueles que demonstravam com mais clareza o sofrimento interno. Descobri que muitos deles, principalmente as mulheres, faziam frequentes visitas 4 geladeira. Ob- servei ainda outras praticas semelhantes e foi assim que enxerguei totalmente Page I | ATRAS DAS PAREDES - 119 MOVIMENTO DA FUGA OSCILANTE FIGURA DE AUTORIDADE A, REJEIGAO SOFRIDA POR PARTE DE UMA FIGURA DE AUTORIDADE B.FUGA C.RETORNO REBELIAO SOFRIMENTO PRAZER (Dor e medo) (Falso conforto) FIGURA 17 120 - Paes Do Meu Coraao | Bruce THomPsoN uma nova area de conhecimento. Sempre que indagava alguém como enfrenta- va o sofrimento interior, as respostas eram: “Comeco a comer mais.” “Bebo mais.” “Saio para fazer umas compras.” “Tomo drogas.” “Saio e arranjo uma aventura sexual.” “Tomo um porte.” Para fugir do sofrimento, esses pacientes buscavam alivio em algum tipo de prazer. Chamo a isso “movimento pendular da fuga”, ilustrado na figura 17.0 que eles nao sabiam, porém, era que o prazer é apenas tempordrio e que passado aquele momento, o sofrimento volta, iniciando assim, 0 mesmo ciclo. A linha “B” da figura 17, representa 0 prumo com o movimento de afastar-se da dor e ir em diregao ao prazer. A linha “C” indica a volta ao sofrimento e 0 reinicio do ciclo. Certo dia, vi esse processo vivido na pratica, quando veio ao meu consult6- rio uma senhora de meia idade. A primeira coisa que disse foi que estava com excesso de peso, o que constatei apenas de olhar para ela. Em seguida me pediu que desse a ela uma receita “magica” para emagrecer. Expliquei que precisava de mais informacies sobre ela e sua familia. Fiquei sabendo entao que o marido era alcodlatra e que as coisas que ele fazia a envergonhava e aborrecia muito. Percebia-se claramente que tanto ela como 0 marido haviam passado por grandes sofrimentos e que a tinica diferenca entre eles era o tipo de prazer que cada um tinha escolhido para sentirem-se aliviados. Agora, 0 proprio prazer ocasionava mais sofrimento, ja que ela engordava excessivamente e 0 marido padecia de moléstias causadas pelo alcool. Além disso, a familia toda passava necessidade. Eles ilustravam bem a concupiscén- cia da carne e a concupiscéncia dos olhos as quais Joao fez referéncia. ANOREXIA NERVOSA Outra condicio que ilustra 0 “movimento pendular da fuga” é a anorexia nervosa. Trata-se de um distirbio mais comum em mocas que devido a algum trauma emocional param de alimentar a ponto de quase morrerem de inanicao. A maior parte das jovens com esse problema sao provenientes das familias ricas, cuja grande preocupagio é obter sucesso na vida. Esses pais costumam Pare I | Arras Das PAREDES - 121 “cobrar” muito dos filhos, fazendo exigéncias que estao acima da capacidade dos jovens, privando-os das demonstragGes de amor enquanto estes ndo atingi- rem sua expectativas. Muitas vezes isso leva a filha a fazer um esforco desespe- rado para atingi-las. Tal esforco, em muitos casos, é motivado pelo remorso ou sentimento de culpa, decorrente do fato de nao ter conseguido agradar os pais. Isso causa uma penosa sensacao de vazio e dor, levando-a a buscar o prazer através da comida. Passado o instante de satisfacao, elas se véem dominadas pelo temor de engordar e portanto sofrerem nova rejeicao. Nesse ponto, ge- ralmente a jovem procura um lugar a parte, onde possa provocar 0 vémito ou entio faz uso de laxantes para expelir as calorias ingeridas. Assim, na tentativa de evitar criticas, a jovem entra em um ciclo de engano, come as escondidas, vomita e nega tudo. Infelizmente, 20% das que tém esse problema, morrem de inanigao ou das complicagdes causadas pela mesma. Ainda 20% delas, tém grande dificuldade de romper esse ciclo da fuga do sofrimento para 0 prazer causado pelo desejo interno de receber a aprovacao de outros. APETITE DESCONTROLADO No meu caso, devido 4 zombaria que sofri pela professora ainda na infan- cia, me tornei viciado em duas formas de prazer. A primeira delas, comer. A comida para mim era como um “pico”. Se nao comesse na hora que precisava, ficava nervoso e irritado. Quando comia, engolia o alimento apressadamente como um animal. O outro falso alivio que eu utilizava como “analgésico emocional” era o meu mundo de fantasia. Com base em algumas historias sujas e lascivas que ouvira na escola, criei minha prépria colegio de fantasias obscenas, no afa de conseguir alivio. E como sempre acontece, o prazer era de curta duracao. Em pouco tempo, minha mente se tornara uma verdadeira lata de lixo. Depois que me converti, esses dois vicios foram minha grande batalha espiritual. Mais tar- de fiquei sabendo que sexo e comida sdo duas formas muito comuns de fuga e com frequéncia estao relacionadas entre si. Assim como temos apetite por comida e por bebida, temos também para 0 sexo. Em nossos dias, a promiscuidade, a imoralidade e 0 homossexualismo esto desenfreados, apesar da ameaga da AIDS. Pelo fato da lascivia ser tao difundida, muitos casais nao estdo cultivando o verdadeiro amor em sua forma mais elevada. 122 - PareDEs Do Meu Coracdo | Bruce THomrson A Biblia ensina que na lascivia 0 individuo exige e se impde em relacao ao outro, ao passo que no amor, ele se sacrifica pelas necessidades do outro. O desejo se apropria, ndo importa o preco a ser Pago, a0 passo que o amor da, seja qual for o preco a pagar. O impulso de satisfazer um desejo que é mais primitivo e mais efémero, em geral, suplanta a meta de buscar um bom relacio- namento que é mais sensivel e requer mais tempo para se concretizar. A industria da droga, seja a receitada ou a adquirida ilegalmente, se tor- nou um negécio multibilionario. Muita gente hoje vive entorpecida, ou por drogas receitadas ou pelas auto-aplicadas. Muitos jovens e adolescentes, tentando fugir do sofrimento emocional que nao conseguem suportar, esto perdendo a juventude e a propria vida, devido a essa armadilha que é 0 desejo pelas drogas. PRAZER E DOR O Dr. Richard Solomon, professor de psicologia da Universidade da Pensilu@- nia, efetuou uma pesquisa encomendada pelo Instituto Nacional de Satide Mental dos Estados Unidos sobre o “Preco do Prazer e os Beneficios da Dor”. Nela, ele explica que um estimulo incondicional, na maioria das vezes, ocasiona trés fe- némenos basicos: 1. Uma experiéncia prazerosa 2. Uma pratica viciadora 3. Uma libertagao penosa O trabalho dele foi intitulado “Teoria do Processo dos Opostos na Moti- vacao Adquirida”. Essa teoria oferece uma explicacdo bem plausivel sobre a origem das praticas viciadoras, desencadeadas por eventos dolorosos ou pra- zerosos. Em sua experiéncia, ele trabalhou com o vicio de drogas, relaciona- mentos sociais, desejos sensoriais e estimulos aversivos.' Entre as conclusdes a que chegou, encontram-se as seguintes: 1. O vicio em um ato prazeroso geralmente é provocado pelo fend- meno oposto ao sofrimento. 2. Tanto o desenvolvimento como 0 alfvio desse sofrimento sio de natureza lenta. Pare I | ATRAS DAS PAREDES - 123 3. O processo dos opostos se fortalece pela repeticao continuada em intervalos de tempo. 4, A repeticao continuada de uma pratica prazerosa reduz bastante a sensacao de prazer por ela proporcionada, tornando quem pratica po- tencialmente vulneravel a novos agentes de sofrimento. O glutio, por exemplo, esta sempre lutando com as doencas resultantes da obesidade. O individuo sexualmente promiscuo pode contrair doengas vené- reas. O estudo realizado por Solomon vem enfatizar 0 que ja dissemos sobre a interacao prazer/dor. Quanto mais viciados nos tornamos em atos prazerosos, mais nos expomos ao sofrimento. O Dr Solomon admite que sua teoria contém aspectos de moral puritana, talvez ele esteja se referindo ao ensino biblico que diz que “devemos exercer autocontrole em tudo” (I Co 9:25). Muitos conselheiros cristéos sabem levar o individuo ao arrependimento do seu pecado mas nao tratam do sofrimento basico que 0 levou ao vicio. Ocor- re entao, que sem os beneficios do seu “analgésico” emocional, 0 sofrimento é intensificado. Entao ele volta 4 mesma pratica prazerosa de antes, ou entao procura outra. Em parte, essa é a razio por que tantas pessoas libertas voltam para seus antigos vicios. Se o problema do sofrimento nao deve ser resolvido com uma pratica pra- zerosa, como devemos solucioné-lo? Daremos a resposta nas paginas seguintes. ASOBERBA DA VIDA No texto de I Joao 2.15-16, encontramos um segundo elemento - “a soberba da vida” - que também procede do mundo e nao do Pai. No jardim do Eden, 0 diabo langou mao da “dobradinha” do orgulho e da concupiscéncia para mar- car um gol no jogo da vida. Adao e Eva mostraram que nao conseguiram resis- tir as taticas astuciosas e enganosas do orgulho e da concupiscéncia. Desde en- tio, o homem vem sofrendo na mao desses dois males. Os campos da Historia estio amontoados de vidas que foram abatidas por eles, comprovando 0 que a Biblia diz: “A soberba precede a ruina ea altivez do espirito, a queda” (Pu 16:18). Examinando a figura 18, notamos que o movimento da linha “A” é resulta- do de uma rejeicao sofrida por parte de uma figura de autoridade. Neste caso, em vez das emocdes serem o campo de batalha do problema, é a mente que 124 - PaREDEs Do Meu Coragao | Bruce THOMPsoN MOVIMENTO DA LUTA OSCILANTE FIGURA DE AUTORIDADE A.REJEICAO SOFRIDA POR PARTE DE UMA FIGURA DE AUTORIDADE B. LUTA CONTRA O SOFRIMENTO. > r COMPLEXO DE COMPLEXO DE INFERIORIDADE SUPERIORIDADE FIGURA 18 Parte I | ATRAS DAS PAREDES - 125 sofre o ataque, sendo invadida por sentimentos de inferioridade. A maioria das pessoas, em uma ou em outra fase da vida, se vé em luta com esse problema. Mas cada um reage de forma diferente. Os individuos mais passivos dao crédi- to a esses sentimentos e os interiorizam, procurando viver da melhor maneira possivel dentro das circunstincias. Os mais agressivos, porém, os renegam e tentam provar que nao sao inferiores e que na verdade, séo superiores. Como vemos 0 movimento da linha “B” na figura 18. Um bom exemplo desse comportamento é 0 humanismo ateu/secular, 0 mais forte movimento filoséfico dos nossos dias. Numa extrema manifes- taco de orgulho, o humanista secular rejeita Deus e tenta substituir a figu- ra divina por si mesmo. Mas ainda tem que reconhecer que 0 ser humano possui sérias limitagdes. Para compensar tais limitacdes, ele se desloca para a posicao de superioridade, na tentativa de provar sua propria divindade. Inicialmente, esse pensamento filos6fico se apresenta sob a forma de trata- mento mais humano. Mas, essa corrente de pensamento, que levada a extre- mos pode ser considerada a “filosofia do super -homem”, logo dé lugar aos sentimentos de frustracao. Ela vé 0 homem como um produto que precisa ser aperfeicoado a qualquer prego. Portanto, ele s6 tem valor se atingir a perfeigao em tudo. Seguindo essa tese, seus defensores apdiam medidas como a eutandsia, 0 aborto seletivo e os bancos de esperma, que sob seu ponto de vista, so métodos logicos para eliminarem os deficientes, obtendo entao, uma espécie superior. E por causa da influéncia do humanismo secular no pensamento da socie- dade ocidental que muitas pessoas esto caidas a beira do caminho da vida, vi- timas de casamentos desfeitos, familias divididas e perda da satide. Os efeitos destrutivos dessa filosofia sao incalculaveis. VIDAS DESTRUIDAS Mas houve quem se rebelasse contra essa filosofia, como por exemplo, os hippies da década de 60. Adotando um estilo de vida que julgavam melhor para o ser humano, davam uma importancia toda especial ao individuo e & humanidade. Infelizmente, 0 movimento se degenerou, partindo para 0 abuso das drogas, a imoralidade e 0 modismo alimentar. Muitos dos jovens que ali buscavam a liberdade, terminaram numa prisdo ainda mais impiedosa. Veja- mos 0 exemplo de um casal. 126 - PareDes po Meu Coracao | Bruce THomPson Quando conheci Peter e Trish, eles moravam em uma cabana em cima de uma arvore. Trish estava gravida do primeiro filho e usava roupas de gestan- te. Peter, de cabelos longos e barba, também estava vestido com uma tiinica folgada e muito suja. Do seu corpo emanava um odor forte e desagradavel. Pouco depois desse primeiro contato, Peter me procurou na clinica de aconse- Ihamento. Chegando ao meu consultério, ele sentou no chao, as pernas cruza- das & moda oriental, as abas da tunica larga emboladas entre as pernas. Ao seu lado, no chao, colocou o manuseado bornal de pano. Tinha os olhos vidrados, como se estivesse ligeiramente drogado. No decorrer da consulta que durou uma hora, volta e meia enfiava a mao no bornal de pano e pegava pedacos de cogumelo e os mastigava ruidosamente. Mais tarde fiquei sabendo que estava comendo o que os hippies chamavam de “cogumelo magico”. Esse vegetal que é cultivado em estrume de gado era tao forte que produzia efeitos alucinantes, semelhantes aos do LSD. Entéo compreendi por que seus olhos estavam vidra- dos e porque era dificil comunicar com ele. Dirigi a ele varias perguntas, mas respondeu as mesmas sempre “filoso- ficamente”. O cheiro no ar estava tao forte, que quando Barbara entrou para auxiliar-me, chegou a sentir nduseas e teve que ficar com 0 lenco no nariz 0 tempo todo. Depois ela confessou que nao entendera nada do que ele dissera. Era como se ele estivesse num planeta e ela em outro. Nao admire que naque- le dia nao tivéssemos obtido nenhum progress. Nos meses que se seguiram, Barbara conseguiu travar amizade com Trish e foi entao que ficamos a par da historia de Peter. Peter tinha 20 anos, era casado e servia na forca aérea, quando foi envia- do para a ilha de Guam. Sua tarefa era elaborar 0 mapa meteoroldgico para os bombardeios B-52 e informar aos pilotos sobre as condicdes climaticas que encontrariam no Vietna, em suas missdes de bombardeio. Ele sempre fora con- trario 4 guerra e por isso, quando seu casamento acabou, ficando sem lagos familiares que o prendessem, abandonou a forca aérea. Foi entéo que deu ini- cio a longa e penosa caminhada hippie que o conduziu ao sudoeste asidtico e finalmente ao Hawai. Alf ele desperdicou os melhores anos da sua vida, va- gando pela ilha, mergulhado em filosofias orientais e continuamente drogado. Conheceu Trish, uma jovem solitdria e desnorteada e convidou-a para viver com ele. Mas quando os conhecemos, ambos jé estavam desiludidos com tudo, cansados daquela vida desregrada. Parte I | ATRAS DAS PAREDES - 127 Deus os resgatou de maneira notavel, salvando 0 casal daquela filosofia e forma de vida traicoeiras. Hoje eles estao casados e felizes. Peter é um homem mudado. Fez um curso na faculdade e tornou-se um eficiente professor. Ahistéria deles é a mesma de intimeros jovens desiludidos que resolveram abandonar as velhas tradic6es, pensando em um rompimento com a sociedade eacabaram descobrindo que as novas idéias eram mais destrutivas e sutilmen- te estavam sendo conduzidos a uma filosofia e a uma existéncia depravadas. SER “O MELHOR” A QUALQUER CUSTO Nem todo mundo, porém, assume uma atitude de franca revolta. Alguns preferem lutar com todo empenho para ser “o melhor” em alguma coisa. Du- rante muitas décadas, varias pessoas sonharam em ser um dos primeiros as- tronautas a pisar na lua. Era uma fantéstica meta de vida que exigiria muita preparacao, esforco e desempenho incomum. Um homem se dispés a pagar esse preco, visando eliminar seu complexo de inferioridade. E conseguiu ser esse astronauta. A principio, se regalou com as glorias recebidas. Mas depois, se deu conta de como aquela honra era efé- mera, fruto da sua corrida em busca de gloria e aceitacao. E que logo, outros astronautas realizaram a mesma facanha e ele comecou nao somente a perder a fama, mas também a ver o declinio de sua auto-imagem que estivera “em alta” devido ao evento. A caminhada na lua nao servira para compensar sua caréncia afetiva, e as velhas lutas voltaram ainda mais intensas. Sentindo-se afligido pelo antigo complexo de inferioridade, ele comecou a beber, pensando assim em aliviar o sofrimento. E foi entao que teve inicio a sua queda no alcoolismo. Sao incontaveis os exemplos de pessoas que aparentemente subiram na vida, e uma vez no pice, descobriram que sua caréncia afetiva havia se inten- sificado devido a solidao. A soberba da vida é 0 que chamo de “movimento pendular da luta’. O individuo luta, se esforca e empenha incansavelmente para provar sua superioridade e assim ser aceito pelos outros. Esse tipo de mentalidade nao admite fracasso e para ele os fins justificam os meios. Na figura 19, temos outra etapa desse “movimento pendular da alma.” Vemos como o medo e 0 desejo sao elementos catalisadores da oscilagao emo- cional: fugimos da dor para o prazer. J4 vimos como o homem tenta aliviar 0 sofrimento interior lancando mao do prazer, e que quando a pratica desse pra- zer se torna um vicio, um ato compulsivo, passa a ser refém da concupiscéncia. 128 - Parepes Do Meu Coracao | Bruce THompson MOVIMENTO PENDULAR FIGURA DE AUTORIDADE ROMANOS 7:21-24 EMOCOES DOR PRAZER FUGA _y MEDO : DESEJO MENTE COMPLEXO DE INFERIORIDADE COMPLEXO DE SUPERIORIDADE = > RAIVA ORGULHO VONTADE CONFUSAO REJEICAO REVOLTA ESQUIZOFRENIA “DOENCA MENTAL” FIGURA 19 Pare I | ATRas Das PAREDES - 129 Nessa condicao, 0 individuo pode também sentir medo de perder esse prazer, de ficar escravizado a ele ou ambos, como ocorre no alcoolismo. Em segundo lugar, o orgulho e a raiva podem ser os catalisadores de um movimento pendular da mente. Por exemplo, um individuo pode estar lutan- do para subir de posicao na firma onde trabalha, mas sua verdadeira intencao é provar que nao ¢ inferior aos outros, e sim superior. E 0 orgulho se manifestan- do. Um dia é despedido, e passa a se sentir profundamente ferido em seu amor proprio. Entéo desloca-se para 0 outro lado, e o que experimenta agora € rai- va. Embora controle-se exteriormente, tao logo chega em casa, descarrega sua agressividade interior nos familiares. Qualquer um de nés esta sujeito a isso, quando movidos pelo orgulho nos deslocamos em diregio a superioridade. Mais tarde, diante de um revés e com 0 orgulho ferido, veremos 0 sentimento de inferioridade nos dominar de novo. Além disso, iremos extravasar a raiva e a agressividade nos nossos entes queridos. Nesse ponto, 0 terceiro elemento da alma, a vontade, fica bastante enfra- quecida. Sea vontade for manipulada durante algum tempo pela mente e pelas emogées, é estabelecido em nds um estado de confusao. A tensao e a exaustdo aumentam, gerando instabilidade e algum tipo de colapso, como ilustrado na figura 20. Em cada um desses movimentos pendulares da alma, quer ocorra pelas emocées, mente ou vontade, o desejo, o medo, o orgulho, a raiva e outros ingredientes vao minando as paredes da personalidade até derrubé-las total ou parcialmente. Quando ultrapassamos 0s limites toleraveis de tensao e pressio, entramos na Area de colapso. f entéo que as paredes que erguemos podem tuir, deixando de exercer controle sobre nossa vida, isto é, sobre as fungdes do corpo, da mente e do espirito. Tiago em sua epistola, faz referéncia ao “animo dobre” (Tg 1:6-8), que no origi- nal significa “alma dobre”. Ele quer dizer que o individuo possui “alma dupla” ou dois conjuntos de mente, emogdes e vontade. Poderiamos dizer que ele tem duas mentes, uma em guerra contra a outra. Vemos isso na figura 20. A rejeigao seria uma dessas mentes, e a revolta a outra. Ficarmos oscilando entre uma e a outra nos torna cada vez mais instaveis aumentando as possibilidades de sofrer- mos um colapso. Assim, nosso equilibrio mental e emocional se torna precario. O contexto da palavra “animo dobre” do livro de Tiago revela que a causa do problema ¢ a incredulidade e que 0 “homem de animo dobre” é “inconstante 130 - PaREDEs Do Meu Coracao | Bruce THOMPSON O ULTIMO MOVIMENTO PENDULAR FIGURA DE AUTORIDADE IJOAO 2:17 O MUNDO PASSA REJEICAO REVOLTA DUPLO ANIMO (TIAGO 1:7,8) FIGURA 20 ; Parte I | ATRas DAS PAREDES - 131 em todos os seus caminhos”. Podemos inferir pelo emprego do vocdbulo “todos”, que tanto a doenga mental quanto 0 colapso nervoso, podem ser causados por esses movimentos pendulares da alma, ocasionados pelo desejo, medo, orgu- lho e raiva. Entao, caimos numa oscilagéo constante, de forma desarvorada e frenética, como mostra a figura 20. Deus tem outro método para derrubar essas paredes de rejeicao e revol- ta, um método mais eficaz, restaurador. Continuando a analisar 0 modo como Deus operou em seu povo de Israel, veremos que quando nossas velhas pare- des tombam, ele constréi novas. APLICAGAO PRATICA Procure relembrar algumas das experiéncias penosas da sua vida. Explique como vocé contornou o softimento interior e que consequéncias colheu. Como vocé tem resolvido 0 problema do aumento de tensao? 132 - PaREDES Do Meu Coragao | Bruce THomPsoN Nota ‘Richard L. Solomon, “The Oponent-Process Theory of Acquired Motivation”, American Psychologist, agosto de 1980. Parte II A RESTAURACAO DA PERSONALIDADE “Naguele dia se entoara este cintico na terra de Juda: Temos uma cidade forte. Deus the pie a salvacio por muros e baluartes.” Isaias 26:1 9 RECONSTRUINDO OS ALICERCES “E 9 Senhor abaixaré as altas fortalezas dos seus muros; abaté-las- e derri- bé-las-4 por terra até ao po”(Is 25:2). “Naquele dia se entoard este cintico na terra de Juda: Temos uma cidade forte: Deus Ihe pae a saloagio por muros e baluartes"(Is 26:1). lerguemos em nossas vidas, apresentando uma temética nova que ain- da nao haviamos mencionado. Deus esta nos dizendo que nao quer nos deixar desprotegidos, a mercé de tudo que o inimigo das nossas almas deseja atirar contra nés. Pelo contrario, ele deseja nos dar um novo muro chamado “saloagio”, cujos portées se chamam “lowvor” (Is 60:18), no intuito de nos prote- ger da perdicéo e destruicao. Nesta parte do nosso estudo, veremos como os muros da salvacao sao er- guidos em nossa vida, depois que desmoronam as paredes da rejeigéo e da revolta ¢ o entulho ter sido devidamente removido. Para vermos como Deus opera em nossas vidas, vamos recordar al- guns fatos da histéria do povo de Israel, comegando pela ocasiao em que 0 teino foi dividido. O diagrama da figura 21 fornece uma sucinta visdo dos eventos. Oreino de Israel nao deu ouvidos as ungidas mensagens de Amés e Oséias e por essa causa foi levado para 0 exilio. Ea nacao de Juda, apesar de testemu- (@) textos acima resumem de forma magistral a questao das paredes que 136 - ParEDes po Meu Coracao | BRucE THOMPSON OS PROFETAS MENORES 931 a.C. 722 586 536 400a.C. RESTAURACAO DOIS REINOS UMREINO EXILIO DO REINO ISRAEL | JONAS (NINIVE) AMOs OSEIAS t OBADIAS (EDOM) NAUM(NINIVE) 1 JOEL MIQEIAS . SOFONIAS EXILIO HABACUQUE VOLTA DO EX{LIO AGEU ZACARIAS MALAQUIAS FIGURA 21 Pare II | RECONSTRUINDO 08 ALICERCES - 137 nhar o que acontecera ao outro reino e de ter sido também advertida por profe- tas cheios do poder de Deus, ainda assim nao se arrependeu. Em conseqiiéncia disso, tanto Israel como Judd, amargaram muitos anos de escravidao sob 0 jugo babildnico. Durante o exilio dos judeus, ocorreram algumas mudangas histéricas. Primeiro, o poderio da Babilénia foi esfacelado e arrasado diante do irresis- tivel avanco do império persa. Depois, 0 clamor dos exilados entre 0 povo escolhido, dolorosamente castigado, chegou aos ouvidos de Deus. E ele aten- deu a esse clamor, levantando Ifderes que os guiassem de volta a terra dos seus antepassados. O Primeiro deles foi Ciro, um rei gentio que se sentiu tocado por Deus, para proclamar um edito nos seguintes termos. Deveria ser construfdo em Je- rusalém um templo ao Senhor e precisariam de pessoas para a execugdo da tarefa. Para facilitar a empreitada, Ciro devolveu a eles os tesouros que foram roubados do templo. E foi assim que 42.360 israelitas voltaram a Jerusalém sob alideranga de Zorobabel e varios outros. Vejamos 0 que aconteceu depois desse evento, que talvez tenha sido o mais importante movimento migratério de um grupo humano que o mundo jé viu! Imagine 0 que essa gente deve ter sentido, quando cansados e sujos da via- gem, chegaram a terra dos seus ancestrais e encontraram ali um montao de ru- inas. Esdras 3:1-6, narra a reuniao de todos em Jerusalém, como um sé homem, para o primeiro grande evento daqueles dias — edificar o altar. Para que eles pudessem adorar a Deus teriam que fazer antes o sacrifi- cio pelos pecados do povo, como reconhecimento de que a adoracao 6 é aceitavel ao Senhor depois que é resolvido o problema do pecado. O altar € 0 lugar onde nos reconciliamos com Deus, onde comegamos a assumir a culpa pelos nossos pecados e a experimentar a redengao. Com suas diver- sas ofertas, em especial a oferta voluntéria, 0 altar simboliza a consagrac4o a Deus. Eles ergueram um novo altar, exatamente no lugar do antigo. Esse ato significava que restauravam e restabeleciam 0 antigo culto do qual parti- ciparam seus pais. Os exilados reconheciam que se quisessem ter sucesso na reconstrucao do templo, precisariam da béngio, da graca e do poder de Jeova. E 0 altar nao era importante s6 para os exilados, mas para nds também. 138 - ParEDEs Do Meu Coracao | Bruce THOMPSON Ele é lugar de: O ALTAR Confissdo Sacrificio Arrependimento Perdao Expiacao Aceitagao Libertagao Cura Protegao Sangue No momento em que recebemos a Cristo como Salvador, chegamos ao altar. . Contudo, isso nao significa que nunca mais pecaremos. : FIGURA 22 Nos pecamos, sim, mas mui- tas vezes deixamos de voltar ao altar. Por causa disso, os “pecadinhos” vao se acumulando em nossas vidas, e nao confessados, ocasionam separagao entre ns e Deus. Depois de algum tempo, ja nao conseguimos mais ouvir a voz do Senhor e nosso amor por ele comeca a declinar. E, como acontece a muitos de nds hoje, 0 povo de Israel aprendeu essa ligdo de maneira penosa. O mato cresce de tal forma em volta do altar que este quase desaparece no meio dele. Para encontré-lo de novo, precisamos utilizar um facio. Para que ocorra um avivamento, primeiro é preciso que nos arrepen- damos, confessemos nossos pecados e voltemos ao altar. Assim tornaremos a gozar de plena comunhao com Deus. Todos nés, cada vez que pecarmos, precisaremos caminhar por aquela co- nhecida estradinha que nos leva ao altar, Deus nos conclama a sermos santos como ele é santo (I Pe 1:15) e sem santidade ninguém verd 0 Senhor (Hb 12:14). Uma vez levantado 0 altar, sob a lideranca de Zorobabel, os filhos de Israel edificaram 0 templo do Senhor (Ed. 3:7-13). O templo é 0 local onde adoramos a Deus, onde gozamos da comunhio com ele e uns com os outros. Parre II | RECONSTRUINDO 08 ALICERCES - 139 Da mesma forma que precisamos erigir um altar em nosso coracao, precisa- ‘mos também de um templo, uma area dedicada somente a Deus. Precisamos de um “espaco” onde abandonamos tudo e entramos em sua presenga para adoré-lo e estar em siléncio diante dele. E ai que nos fortalecemos e temos nossas forcas restauradas, aprofundando o relacionamento com ele. Como ocorreu aos filhos de Israel, o templo tem uma importancia muito grande para nés também. E lugar de: Adoracao Agoes de graga Comunhao Contribuigéo Oragéo Testemunho Sacramento Pee Deus manifestar sua presenca’..:°!" Gozo . ees Santidade: : Poder Ungio - OTEMPLO FIGURA23 10 - Parepes po Meu Coracao | Bruck THomrson Cada um desses aspectos revela que o templo era o lugar onde os fiéis se encontravam na presenga de Deus. Os homens que ministravam no templo, nem sempre conseguiam se manter de pé, tao intensa era a manifestagao da presenca de Deus, algo que nds hoje s6 podemos imaginar. Assim que os exilados concluiram 0 lancamento dos alicerces 0 povo exul- tou jubilosamente. Muitos deles gritaram, alguns cantaram e ainda outros cho- raram. Fizeram tanto barulho que seu vozerio era ouvido a grande distancia (Ed 3:11). Por que aquela gente demonstrou tal comocao? Porque sabiam que o templo significava a presenca de Deus entre eles novamente. Os exilados que tinham conhecido 0 templo construido pelo rei Salomao, choraram sentidamente, an- siosos pelo momento em que a presenca do Senhor voltaria a ser manifestada entre eles, com poder e graca. Como esta 0 seu templo pessoal? Encontra-se em ruinas, precisando urgente- mente de uma restauracao? Seré que vocé o negligenciou e abandonou Por causa de outras ocupacées, permitindo que seja depredado? Até que ponto vocé consi- dera importante experimentar a presenca de Deus em seu templo diariamente? Muitas vezes ficamos tao envolvidos na obra de Deus que nao temos tempo para ele. Precisamos entender que ele sé aceita a obra das nossas maos se ela for fruto de uma comunhao de amor com ele. E s6 no templo podemos estabelecer, cultivar, nutrir e fortalecer essa comunhao. Entretanto, com muita facilidade acabamos perdendo essa prioridade da comunhao com Deus. HA alguns anos, eu estava dirigindo um seminirio de estudos em Penang, na Malasia, e Deus me levou a examinar essa questdo, mostrando-me que eu estava incorrendo nesse erro. Penang é chamada de “A pérola do Oriente” ou “A cidade dos mil templos” e desde muito tempo tem sido uma fortaleza da idolatria. Como na Malésia proselitar fiéis é proibido por lei, tivemos que obter uma licenga especial para que eu ministrasse 0 estudo as centenas de pessoas que fizeram nosso semind- tio. Em uma noite de muito calor, jé préximo do final do trabalho que durara uma semana, fiz um apelo para que viessem a frente aqueles que desejassem que ordssemos por eles. Na Malésia, as culturas malésia, chinesa e indiana esto misturadas. Isso produz uma grande beleza visual, pela diversidade do vestudrio usado pelo povo. Naquela noite, senti um imenso vazio interior que nem a beleza da cena Parre II | RECONSTRUINDO 08 ALICERCES - 141 parecia amenizar. Vi uma bela mulher indiana chorando e comecei a orar por ela, mas nao consegui sentir nada. Nao me via tocado pelo sofrimento dela. A mulher explicou que era divorciada e estava sofrendo a dor e a magoa da sepa- racao, Embora eu percebesse que Deus operava em sua alma, minha sensagao era de que estava desligado de tudo, distante dela. Horas depois, de volta ao luxuoso quarto de hotel, senti que embora as reunides tivessem sido muito abencoadas, havia alguma coisa errada. Vira 0 Espirito Santo libertando muita gente mas eu permanecia frio e indiferente. Por qué? Ajoelhei ao lado da cama e pedi a Deus que me revelasse a causa da minha dureza e indiferenca. J4 era quase meia-noite, e estava muito cansado pela semana de trabalhos, mas decidido a orar. Afinal ouvi dele: “Bruce, vocé tem estado téo ocupado com meu trabalho que nao tem mais tempo para mim.” De repente, lembrei que os tltimos meses tinham sido to cheios com semi- narios, consultas e com o ministério, que havia negligenciado o altar da comu- nhao com ele. Meu trabalho se tornara um idolo para mim e eu passara mais tempo no santuario dele do que aos pés do Senhor. Vi claramente que Deus, por sua graca, continuara a abencoar a ministragao da sua palavra, por meu intermédio. Pelo fato de ter negligenciado a comunhao com ele, ficara como que “de fora”, apenas assistindo a tudo. Com lagrimas de artependimento, me humilhei diante dele e achei graca para retornar ao templo do meu coracao e ali, aguardar o maravilhoso fortale- cimento que vem da presenca e do gozo do Senhor. Depois disso, comecei a notar que sd poucos os crentes que reconhecem que a presenca de Deus é um elemento vital para as suas vidas. No livro de Salmos, Davi fala de “como sao felizes e bem-aventurados aqueles que habitam na casa do Senhor e na sua presenca!” Esses desfrutam do gozo, do conforto e das forcas dados por Deus, bem como de tudo que precisam para 0 trabalho dele. Quem negligencia 0 templo, a comunhao intima com Deus, corre 0 risco de comecar a adorar outros “deuses”, de cometer erros graves e de se perder emum labirinto de idolatria e religiosidade. $6 0 contato com a presenca divina nos habilita a reveld-lo a outros. Como aconteceu na época de Esdras, precisamos primeiro retornar arrepen- didos ao altar de Deus e depois ter 0 cuidado de nao abandonar seu templo. 142 - PareDes po Meu Coracao | Bruce THompson O MURO DA SALVACAO ESDRAS = RECONCILIACAO REDENCAO + PRINCIPAL PEDRA ANGULAR: FIGURA 24 Parte II | RECONSTRUINDO 0s ALICERCES - 143 Desde os dias da igreja primitiva, 0 cristao pode dar esses dois passos com base na obra expiatoria realizada por Cristo na cruz. Jesus é a “principal pedra angular” (1 Pe 2:4-8). Precisamos fazer dessa “pedra angular” nosso altar e templo constantemente. Enquanto nao dermos ao Senhor 0 lugar de prioridade que ele deve ocupar em nossas vidas, nao poderemos experimentar a salvago, nem crescer espiri- tualmente. Em resumo, olhando a figura 24, vemos que 0 alicerce do muro da nossa salvacao é a pedra da redencao. "Assim diz 0 Senhor Deus: “Eis que eu assentei em Sido uma pedra, pedra ja provada, pedra preciosa, angular, solidamente assentada; aquele que crer niio foge. Farei juizo a regra, € justica 0 prumo; a saraiva varrerd o reftigio da mentira e éguas arrastario 0 esconderijo" (Is 28:16,17). Esse texto fala de uma tempestade, destruindo o reftigio das mentiras e as paredes da rejeicao e revolta. Removidas essas paredes é colocada no lugar delas, uma “pedra angular” provada e firme, sobre a qual podemos construir 0 mudo da salvacao. Agora ele pode ser edificado com toda seguranca, perfeita- mente vertical, alinhado pela justiga e aferido pelo prumo divino. No capitulo seguinte, veremos como podemos erguet 0 muro da salvacao. APLICACAO PRATICA Como tém sido aplicados em sua vida o papel e a funcao do altar? Como vocé pode melhorar sua comunhao intima com Deus? Faca um planejamento nesse sentido. Medite sobre os alicerces da sua fé. 10 DESCOBRINDO QUEM ENOSSO PAI da cidade santa ainda se achavam em ruinas. Para realizar a tarefa de reerguer as muralhas de protecao da cidade, Deus chamou Neemias. Ele deveria liderar 0 terceiro e tiltimo grupo de israelitas que partiria da Pérsia, regressando a patria. Onome “Neemias” significa “consolador e conselheiro” e fala da obra do Es- pitito Santo que se coloca ao nosso lado para nos fortalecer e guiar, no caminho de Deus. No contexto social, Neemias foi copeiro, construtor de muros e governador. Mas no sentido espiritual, ele nos conclama a beber do célice do Senhor, a edificar as paredes da salvaco e a nos preparar para governar e reinar com Jesus. O capitulo 9 de Esdras fala de reconciliacao, enquanto 0 de Neemias mostra 0 povo de Israel retomando a heranca que fora dada a eles por Deus. Neemias era 0 copeiro do rei da Pérsia e encontrava-se em Susa, no palacio de inverno, quando recebeu noticias muito desalentadoras. As muralhas de Jerusalém estavam em ruinas e 0 povo vivendo atormentado. Embora estivesse muito distante da patria, ele ficou téo preocupado que passou quatro meses aflito, orando pela situacao. Entio faco a seguinte pergunta: Qual seria a nossa reacao diante de uma mensagem que Deus nos envia por intermédio de um emissario seu? Levamos aquela palavra a sério como fez Neemias? Acredito que na maioria das vezes, nem percebemos que ele estd nos falando ou pior, se percebemos, alguns dias depois j4 esquecemos do que ele nos disse. Segundo o relato, Neemias passou A gora o templo de Jerusalém estava reconstruido, mas os muros ao redor 146 - PareDes Do Meu Coracao | Bruce THOMPSON quatro meses buscando a Deus e s6 depois recebeu uma resposta. Enquanto buscava ao Senhor, ele louvava e exaltava sua fidelidade a sua alianca e sua miseric6rdia para com os que guardam seus mandamentos (Ed 5:1). Como é possivel que sabendo da destruicéo da sua patria, ele pudesse ter essa reacdo positiva de louvar a Deus? Certamente ele tinha um bom conhecimento da natureza e do carter divino, jé que, apesar de estar diante de circunstancias aparentemente desesperadoras, podia louvar a Deus por sua fidelidade. CONHECER A REALIDADE O fato de Neemias louvar a Deus em meio a uma situagio dificil nao signifi- ca que ele estivesse negando a realidade da mesma. O que ele fez foi submeté- Ja ao Deus que é a realidade e supera qualquer problema. Ao adorar e exaltar a Deus pelo que ele é, Neemias estava trazendo para dentro daquela conjuntura adversa o Deus que tudo pode! As Escrituras revelam que Deus habita no meio dos louvores do seu povo. Assim, quando 0 adoramos, ele vem até nés e habita em nosso meio. Tao logo principiamos a vé-lo e tocd-lo, nossa fé é revitalizada, acendendo em nds a es- peranca. Entao, temos uma visao correta da situacao; o que antes parecia tao di- ficil, agora tem o tamanho reduzido, assumindo suas verdadeiras proporcées. Quando Neemias comecou a louvar e adorar a Deus, seu coracao se encheu de fé e ele viu a restauragéo das promessas do Senhor e 0 povo de Deus ali- nhando a vida pelo prumo divino. Desse modo, viveu experiéncias semelhan- tes as de J6: “Ew te conhecia s6 de ouvir mas agora os meus olhos te véem"(J6 42:5). O que serd que J6 quis dizer com isso? Quis dizer que ouvira muitas coisas a respeito de Deus e procurara viver de acordo com o que ouvira. Depois que fora provado, tivera uma visio melhor de si e em meio a uma forte convicgao de pecado, arrependeu no po ena cinza. Entao clamou: “Agora meus olhos “espirituais” te véem!” O que ele queria dizer era que conhecia 0 Deus Pai por um angulo di- ferente e maravilhoso. Agora estava em condic¢ao de receber a revelacao. E Deus deseja nos levar, todos nés, a ter essa condigao. Mas, muitas vezes, nés 86 a atingimos em meio as circunstancias dificeis, como no caso de J6 e Nee- mias. Se quando estivermos atravessando um deserto, cultivarmos a atitude de louvar a Deus, também receberemos dele a revelacao da qual necessita- mos para sermos aprovados no teste. Parre IE | DescopriNDo QUEM € Nosso Pat - 147 Na figura 25 temos a pedra fundamental —a redencao, sendo Cristo, a prin- cipal pedra angular! Fortificando 0 muro da salvacio, temos sete barras de fer- ro. Como vimos no exemplo de Neemias, a primeira dessas barras que estao fixas na base é a da revelacao. Arevelacao nao se restringe a um conhecimento novo ou a uma compreen- sdo mais profunda das coisas de Deus. Na verdade, trata-se de um claro discer- nimento das coisas espirituais, cujo impacto no coragao do homem ¢ tao forte que opera nele uma transformacao. O requisito basico para alguém receber uma revelacdo nao é seu QI, mas a obediéncia 4 Palavra de Deus! Uma crianga que tiver um coracéo aberto diante de Deus, pode receber maior revelagao do que um professor bacharel em teologia. Segundo o Salmo 119:97-100, um jovem que obedece aos mandamentos de Deus, pode obter mais revelagdes do que seus mestres, seus inimigos e do que os idosos. Por outro lado, a desobediéncia leva um individuo a cair em erros e fecha para ele a porta da revelacao. COMUNHAO INTIMA COM 0 PAI Em Joao 14:1-6, Jesus fala para seus discipulos a respeito da sua partida. Como na mente daqueles homens, a missao do Mestre seria derrubar o tiranico jugo romano e estabelecer seu proprio reino, eles ficaram profundamente per- turbados pela revelacao de que ele partiria em breve. E agora, o que seria dos seus sonhos ambiciosos? Tomé quebrou o siléncio, informando a Jesus sobre “o pé” em que estava a situacao. Depois de informados sobre sua partida, como poderiam saber para onde ele iria e como chegar la? E 0 Senhor desfaz todo mal entendido dizendo: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai seniio por mim" (Jo 14:6). Mas os discfpulos nao compreenderam nada. O que o Senhor queria dizer com aquilo? Ele explicou que iria para outro lugar, para um reino celestial e nao terreno, onde estaria com 0 Pai. Queria ensind-los que nao deveriam parar “no caminho”, mas prosseguir até o destino que é a comunhao intima com 0 Pai. Jesus é 0 caminho que nos conduz ao Pai, a quem nds também precisamos conhecer. Seu desejo nao é nos salvar para depois ficarmos drfaos, nao! O Pai deseja desfrutar uma comunhao intima conosco (Jo 14:21,23). Juntamente com Jesus, ele deseja vir morar em nés que somos o seu templo, na condigéo de nosso Amigo e Pai. Esse fato, que para os discipulos, até aquele momento, fora apenas conhecimento, agora era tevelacio. Antes, isso que estivera presente 18 - Parepes po Meu Coragao | BRucE THOMPSON O MURO DA SALVACAO NEEMIAS = RESTAURACAO ESDRAS = RECONCILIACAO FIGURA 25 Parte II | Descoprinpo QueM é Nosso Pat - 149 apenas em suas mentes, naquela hora passava a ser parte integrante da vida de cada um deles. Por que as vezes é tao dificil ir ao Pai por meio de Jesus? Por que tantos permanecem drfaos, mesmo sabendo que Jesus esta ansioso para que nos tor- nemos filhos ou filhas do Pai por seu intermédio? Durante esses anos em que tenho trabalhado com o aconselhamento, tenho percebido que as pessoas se mostram temerosas, inibidas, cheias de dtividas ou com outros tipos de bar- reitas ao amor do Pai. A experiéncia que narro a seguir, pode nos ajudar a entender isso. BARREIRAS Uma jovem chamada Lydia, estava fazendo 0 curso de discipulado da JO- CUM. Nas primeiras semanas manteve-se sempre silenciosa e muito atenta as aulas. Certo dia, demos a oportunidade aos alunos para darem seus testemu- nhos perante a classe e Lydia logo se dispés a falar: “Sou de uma familia grande, somos oito filhos”, principiou ela em voz su- ave mas clara. Estavamos num galpao aberto e todos silenciaram para ouvi-la. A quietude reinante era perturbada apenas pela algazarra dos passaros nos coqueiros. “Quando eu ainda era adolescente, minha mae adoeceu e 0 diagnéstico foi cancer em fase terminal”, continuou ela. “Tive que parar de estudar para cui- dar da casa. Fiquei muito chateada por nao poder terminar os estudos e me formar com meus colegas. Alguns meses depois, minha mae morreu e como eu era a mais velha, tive que assumir a tarefa de cuidar dos outros irmaos. En- frentei uma luta muito grande para compreender por que Deus deixara minha mde morrer, mas todos os dias papai lia a Biblia para nds e isso me confortava.” Aqui, a jovem fez uma pausa e correu os olhos pelo galpao lotado. Certa noite, meu pai me chamou para ir ao quarto dele”, continuou ela he- sitante. “Disse para mim que uma das minhas novas atribuigGes seria tomar 0 lugar da minha mae como companheira.” Lydia limpou algumas lagrimas e explicou com voz sufocada que entéo comegara a ter uma relacdo incestuosa com o pai. Dava para perceber que todos 08 presentes se sentiam fortemente abalados com a revelacdo. Algum tempo depois ela engravidou e o pai disse que a crianca seria como um irmaozinho ou irmazinha para eles. 150 - Parepes po Meu Coracao | Bruce THOMPSON Ainda durante a gravidez, em conversa com uma das irmas mais novas, Lydia ficou sabendo que ela também estava sexualmente envolvida com o pai. Ambas desejavam confiar nele, mas se viam atormentadas por um forte complexo de culpa. Quanto mais conversavam, pior se sentiam. O periodo da gravidez para Lydia foi marcado por uma densa nuvem de sentimentos de vergonha e culpa, anulando qualquer tipo de alegria que pudesse sentir em telacdo ao fato de tornar-se mae. “Comecei a ter raiva do meu pai”, prosseguiu ela. “Mas depois de um pe- riodo de revolta contra ele, ficava como que numa montanha russa, num mo- mento sentia ddio por ele e em outro, amor. Comecei a experimentar um desejo cada vez mais forte de fugir, de largar para tras aquelas pressdes conflitantes que me deixavam confusa e deprimida.” A moga explicou que seu pai percebera seu conflito interno e tentou domina- la, ora com ameacas verbais, ora com promessas de recompensas. Sua tinica sa- tisfagao era o profundo amor que sentia por Joey, seu filhinho recém-nascido que assim que cresceu um pouco mais, foi informado de que era seu irmaozinho. Afinal, a jovem chegou a um ponto em que a situagao se tornou insupor- tavel. Fez uma trouxinha com alguns pertences e pegou uma pequena quantia em dinheiro que ajuntara secretamente durante algum tempo, ja prevendo que a fuga seria inevitavel. Ai sua cabeca se encheu de dtividas. Era a batalha entre 0 pavor de ficar e 0 sentimento de culpa que a dominava quando pensava em ir embora. Seus irmaos haviam sofrido tanto com a morte da mae! Agora a “outra” mae que tinham desapareceria subitamente, levando 0 “irmaozinho” mais novo. “Como é que eu poderia fazer uma coisa dessas? Por outro lado, como po- deria ficar?” Lydia disse isso chorando, revivendo a dor que sentira. E foi solucando que ela contou que pegara o filho e saira silenciosamente de casa, deixando o lugar onde vivera. Viajou para outra parte do pais, onde ficou morando com uma antiga colega da escola. Assim que arranjou um emprego, alugou seu prdprio apartamento. S6 entao escreveu ao pai, explicando por que fugira e dizendo que ela e 0 “ir- mao” estavam bem. Em seguida, Lydia contou como fora parar na escola da JOCUM. Contudo, ainda lutava com um profundo e intermindvel sentimento de culpa. Temia que Pagre II | DrscopriNpo Quem € Nosso Pat - 151 as pessoas soubessem da sua triste histéria e rejeitassem tanto a ela como ao Joey, que agora estava entrando na adolescéncia. Nao conseguia se livrar de uma entranhada sensacao de impureza e tinha sentimentos de 6dio contra si e contra 0 pai. Ouvindo-a narrar sua historia, pensei, maravilhado, em como ¢ forte a alma humana, capaz de sobreviver a uma agressdo dessa natureza! Mais uma vez tornou-se claro para mim, o quanto é importante 0 papel dos pais para os pe- quenos e inocentes que aparentemente nao tém outra escolha, senéo suportar 0 gosto amargo das “uvas verdes” dos seus progenitores. Mas 0 que nao sabiamos, enquanto ouviamos seu testemunho, era que 0 dnibus que o filho dela tomara para ir a escola havia estragado e que ele nao fora. Curioso para saber 0 que sua “irma” estava estudando, ele ficara por ali. Espantado ao ver que ela subira plataforma para falar, ele se escondera atras de umas plantas e ali se acomodara. Os momentos seguintes foram os mais emocionantes da sua vida! Pela pri- meira vez, ele ficava a par de todos os fatos. Ouvindo a “irma”, Joey compre- endeu 0 mistério que envolvia os primeiros anos da sua vida. Lagrimas de dor ealivio vieram aos seus olhos. Quando sua mae terminou, ele nao conseguiu controlar-se mais e correu para a plataforma. Abragou a moga que se mostrava fortemente abalada, continuando a abracd-la, enquanto ambos choravam. Ven- doa mie e filho se “encontrarem” pela primeira vez, muitos dos presentes no galpao choravam, quebrando o siléncio que reinara ali até aquele momento. Finalmente, Joey olhou para a mae, ainda chorando e disse: “Sempre senti que havia alguma coisa de muito especial entre mim e vocé! Agora sei por qué. Eu te amo, mamae!” O CORACAO FERIDO DO PAI Enquanto os dois choravam abracados, 0 proprio Deus os envolveu com seu amor paterno. Entao, um dos nossos diretores que estava prdximo deles, sentiu que Deus dava a ele uma mensagem para os dois. Disse que “o Pai também estava chorando de tristeza, pela maneira como aquele homem havia desfigurado a imagem da paternidade divina e pela agonia que isso causava aambos”. E naquele momento, continuou nosso diretor, “Deus desejava dizer a eles que seu amor era puro e imaculado e nunca causaria a eles, nenhum so- frimento”. Todos nds que presenciévamos a cena sentimos que pisdvamos em 152 - PareDes po Meu Coragao | Bruce THOMPSON terra santa. Estavamos vendo 0 Deus Pai assumindo a paternidade para mae e filho, levando-os a conhecer a realidade do seu cardter e a beleza do seu amor. E assim, Lydia teve um conhecimento pessoal do Pai e isso mudou toda sua vida. Tal foi essa transformacao, que mais tarde ela fundou um poderoso ministério para vitimas de incesto. Chegou inclusive a dar seu testemunho em programas de radio e televisdo, falando de como Jesus a levara ao Pai e como a restaurara por meio do seu amor. Tempos depois ela se casou com um rapaz crente. Como tem acontecido a muitos de nés, a imagem que Lydia tinha da pa- ternidade fora seriamente maculada pela lascivia. Por isso, ela ficara com uma visdo também distorcida de Deus Pai. Nao existe ninguém neste mundo que tenha sido mais difamado, mais mal representado que Deus Pai. Ele tem sido alvo de mentiras e falsas acusacée. E, naturalmente, tudo isso é engendrado por Satands. O Senhor atribuiu aos pais terrenos a missao de representar a sua paternidade. Entretanto, eles cometem todo tipo de erro, desde ignorar os fi- hos até espancé-los até a morte. Nao admira que o conceito de paternidade esteja tao aviltado hoje em dia. Em capitulos anteriores, mencionamos que as pessoas podem sofrer de ca- réncia afetiva devido a aplicagéo de um falso prumo humano em suas vidas. Pois bem. Quando Jesus nos leva ao Pai, essa lacuna é preenchida e podemos experimentar a seguranca do amor divino, sem que busquemos 0 amor em ou- tros. Mas, se tivermos uma imagem distorcida de Deus Pai devido as experién- cias negativas e dolorosas, nossa caréncia afetiva ira aprofundar-se ainda mais. IMAGENS DISTORCIDAS Compreendi 0 quanto precisamos conhecer 0 verdadeiro cardter do Pai quando aconselhei uma jovem senhora chamada Molly. Embora ela e 0 mari- do fossem crentes dedicados, tinham decidido ficar separados por uns tempos devido aos conflitos conjugais. Ela me explicou que quando tinha oito anos de idade, seus pais separaram e ela ficara com 0 pai. Certo dia, dissera a ele que gostaria de morar por um tempo com a mae também, mas o pai, que nao estava bem de satide, respondeu que se ela fosse, ele morreria. Dividida entre 0 desejo de ir e o temor de que o pai morresse, Molly resolveu deixar para mais tarde. Alguns anos depois, ela foi embora. Mas, para tristeza sua, enquanto estava distante, seu pai morreu. Agora, dominada pelo sofrimento, pela angtistia e Page I | Descoprinpo Quem é Nosso Pat - 153 sentimento de culpa, Molly acreditava que seu pai morrera porque ela se afas- tara dele. CONFIAR NO PAI Durante muitos anos, a imagem que Molly tinha da paternidade divina fora inspirada em seu proprio pai. Por isso, em vez de confiar em Deus Pai, tinha medo dele. Assim que casou, todos seus temores e desconfiancas vieram atona. Embora empregasse um vocabulério cristao correto, notava-se que suas palavras provinham da cabeca e nao do coragao. Lemos em Provérbios 23:7 que como imaginamos em nosso cora¢ao, assim somos. Nao é em nossa cabeca que Deus aplica o seu prumo e sim, em nosso coracao, pois é ele quem determina a forma como viveremos. Quando Molly concluiu seu relato, estava claro que sua falta de confianca havia afetado seriamente 0 relacionamento com seu marido. Entao oramos e permanecemos na presenca do Senhor, aguardando sua direcao. Ele nos mos- trou que 0 pai dela, ao usar a chantagem emocional, havia manipulado o amor da filha. Depois, com grande mansidao, o Pai falou ao coracao de Molly. Mos- trou-lhe que ela adotara uma atitude de desconfianga em relagao a tudo e ago- ra, precisava assumir a responsabilidade por essa reacio errada, perdoando o pai ea simesma. E ela o fez. Arrependeu-se e chorou. Deus penetrou no fundo do seu ser e curou a magoa profunda que havia em seu espirito. O que acontecera aquela jovem senhora? Ela conhecia Jesus e o Espirito Santo, mas enxergava o Pai, pelas lentes distorcidas da imagem do seu pai ter- reno. No dia em que oramos, Deus a libertou dos seus temores e desconfiangas e assim teve inicio para ela, a maravilhosa aventura que é conhecer Deus Pai! Inclusive, seu casamento foi restaurado. Como sucedeu a Lydia e a Molly, todos n6s, ao iniciarmos nossa caminhada crista, criamos nossas préprias imagens do Pai. E possivel que nossa mae te- nham morrido de cancer quando éramos pequenos ou que nossos pais tenham se separado e tenhamos sido criados por outras pessoas. Pode ser também que tenhamos convivido com uma mae alcodlatra ou com um pai que era um exem- plo de homem trabalhador mas nunca tinha tempo para cultivar conosco o relacionamento pessoal de que tanto precisavamos. Entao, vivendo em situagdes iguais a essas ea intimeras outras, que tipo de imagem terfamos de Deus Pai? Que tipo de prumo ha em nosso cora¢ao? 154 - PaREDES DO Meu Coracao | Brucr THOMPSON Conversando com as pessoas as quais aconselho, tenho sentido que 0 prumo pelo qual elas alinham suas vidas é bem diferente do prumo de Deus, no que tange ao cardter e a natureza dele. NOSSA MAIOR NECESSIDADE: O RELACIONAMENTO COM 0 PAI Aimagem que eu tinha de Deus Pai era que ele nunca me aceitaria ou de- monstraria apreco por mim, o que destoa totalmente do prumo divino. Devido a certas experiéncias, dei crédito as mentiras dos falsos profetas, até o dia em que Deus falou profundamente ao meu coracao, abrindo caminho para eu co- nhecer melhor o Pai. $6 entao, passei a experimentar um verdadeiro senso de seguranga ¢ libertacao. Todos nés precisamos ter um conhecimento pessoal do cardter e da natureza de Deus Pai. E verdade que sabemos muitos fatos sobre ele, muitas coisas tem sido escritas a seu respeito. Mas, sera que o conhecemos nos nossos coragdes? Até onde ele é real para nds? Ser que de fato, temos com ele um profundo relaciona- mento em amor, que nos € mais importante do que qualquer outra coisa na vida? Jesus quer que conhecamos 0 Pai, e se permitirmos que ele no-lo revele, te- remos um conhecimento real dele em nossos coracGes e em nossas vidas. Certa vez, Neemias permitiu que Deus, pelo seu Espirito revelasse a ele 0 estado do seu prdprio coracao. Depois entao, ele passou a ter um conhecimento correto do coracao do Pai. Assim como Neemias precisou ter esse conhecimento para desempenhar a misséo da qual Deus 0 incumbira, nés também precisamos conhecé-lo, para cumprirmos os seus propésitos para nds. Se quisermos ver 0 muro da salvacao edificado em nés, precisamos procurar conhecer 0 Pai celeste. Nosso Deus Pai se entristece profundamente com os fatos que causam dis- torgdes em sua imagem. O plano dele era que sua imagem fosse refletida de maneira perfeita, por meio de sucessivas geragdes de familias e nacdes. Mas, usando de meios sutis, enganosos, Satands, 0 pai da mentira, virou contra Deus 0 coragao dos proprios filhos dele. Muitos expressam abertamente suas des- confiangas, descrencas, ressentimentos e ddio contra Deus. Alguns inclusive, negam sua existéncia. Entretanto, Jesus continua sendo “o caminho” para nos guiar a “verdade” ea “vida” de Deus nosso Pai. Quando seguramos sua mao, permitindo que ele nos conduza a uma profunda comunhao com a terna paternidade divina, nossos temores e insegurancas comegam a ser dissipadas. Parre II | Descoprindo Quem é Nosso Pat - 155 Salmo 139 revela bem a verdadeira natureza do nosso Deus Pai. Nele esto delineadas belissimas facetas da natureza do Pai celeste que é justo em todos os seus caminho e benigno em todas as suas obras. De acordo com esse texto, ele €: ONIPOTENTE Todo-poderoso | _S1139:1-4 | [__ONIPRESENTE | _Estéem shape 911395 ONISCIENTE Sabe todas as coisas S1139:13-14 _| ONIPESSOAL ‘Ama a todos [51 139:15-18 Meditando sobre a natureza de Deus, ficamos obrigatoriamente extasiados com sua magnitude. Se pudéssemos dar uma conferida em sua agenda para as réximas 24 horas, nés nos sentirfamos simplesmente deslumbrados. E se pu- déssemos ser mais especificos, veriamos que ele sabe até 0 ntimero dos cabelos das nossas cabecas (e ele tem que estar sempre recontando!) Entretanto, alguém poder indagar: “Por que um Ser com uma agenda tao cheia, se preocuparia com todos os complicados detalhes da minha vida?” Eu essoalmente, s6 vejo uma razao, seu amor por nds € tao grande e profundo que ele nao deixa escapar nenhum pormenor. Deus deseja que o vejamos como ele é de fato, e quer revelar para cada um de nés seu verdadeiro ser! Nos é que, muitas vezes, néo estamos preparados ‘ara recebermos essa revelacao! Ele esta com o coracao ferido, face a crueldade dos pecados dos pais. Seu grande anseio € acolher seus filhos para revelar a eles seu verdadeiro cardter. Depois da revelacéo, segue-se outra etapa. Se o muro da salvacao de cada um nao tiver essa outra faceta, a revelacdo pode se tornar para nds motivo de orgulho e pedra de tropeco. Continuando a estudar os muros da salvacao, no proximo capitulo, focalizaremos a condicao basica para que experimentemos mudancas em nossa maneira de viver. APLICACAO PRATICA Como era a imagem de Deus Pai que vocé formou quando era crianca? Como é a imagem que vocé tem dele agora? Procure lembrar os principais momentos em que teve conhecimento sobre a paternidade divina. 11 O PADRAO ESTABELECIDO POR DEUS demonstrar que uma vara esta torta nao é denunciando 0 fato, nem ficar discutindo a respeito dele. O melhor a fazer é colocar ao lado des- sa vara, outra perfeitamente reta. Neste capitulo, examinaremos outra faceta do padrao estabelecido por Deus, sua vara reta, que representa 0 indestrutivel amor de Cristo e tudo que esse amor abrange. “Arrependei-vos porque esta préximo o reino dos céus” (Mt 3:2). Essas palavras ressoavam com grande clareza e poder, eletrizando as multiddes que acorriam ao deserto, provenientes das localidades proximas ou de pontos distantes. Aquela figura austera, cujo vestudrio era tecido de pélos de camelo nao media palavras quando desafiava todos a viverem segundo os padrées estabelecidos por Deus. Neemias, por exemplo, adotara esses padres centenas de anos an- tes, ao receber a desagradavel noticia que sua patria estava devastada. Depois de jejuar e orar, ele teve uma revelacao da sua condigao, expressando seu arre- pendimento com estas palavras: “Faco confissio pelos pecados dos filhos de Israel que temos cometido contra ti; pois eu e a casa do meu pai temos pecado” (Ne 1:6). Ja vimos que ao edificar 0 muro da salvacao do qual fala Isaias 60:18, precisa- mos fixar na pedra angular algumas barras de ferro para dar sustentacao, esta- bilidade e durabilidade a essa construcao. No capitulo anterior, verificamos que a primeira delas é a revelagio. Examinaremos agora a segunda, 0 arrependimento. Notemos que no proceso de arrependimento, Neemias citou também os pecados que ocasionaram a ida dos seus antepassados para 0 exilio. Também Om D. L. Moody afirmou certa vez que a melhor maneira de 158 - Parepes bo Meu Coracao | Bruce THOMPSON nés, precisamos procurar saber quem sao nossos ancestrais, que, segundo creio, nao seriam apenas os antepassados de fato, mas ainda, as figuras de autoridade que afetaram nossa vida de forma significativa. Alguém poderia indagar se 0 fato de Neemias se arrepender por seus ante- passados teria algum valor, ja que a maioria deles aquela altura estavam mor- tos. E que quando ele estava na presenca do Senhor, além de ter uma revelacéo sobre o Deus Pai, foi conscientizado também dos seus pecados e dos pecados dos seus pais. Mas nao os culpou nem acusou outros. Pelo contrario, reconhe- ceu que “Deus visita 0 pecado dos pais nos filhos e nos filhos dos filhos” (Nm 14:18). Compreendeu que “seus ancestrais haviam comido uvas verdes e os dentes dos filhos estavam embotados”. O que ele poderia fazer? Assumiu a respon- sabilidade nao apenas dos seus préprios pecados mas também dos pecados do seu povo. Foi com essa atitude que buscou a Deus. Com esse gesto, ele estava tipificando Jesus, fazendo o que ele mais tarde faria na cruz quando le- vou sobre si nossos pecados, para que pudéssemos ser libertos. Se nds também praticarmos esse principio biblico, poderemos mudar nao somente nossa vida, mas ainda a de geracdes que estao para nascer. Se os avés de Neemias tivessem arrependido dos seus pecados, nem eles, nem as geracGes posteriores, teriam sido levadas ao exilio da Babilénia, onde permaneceram por varios anos no cativeiro. S6 0 arrependimento, isto é, a mu- danca total da nossa maneira de viver, pode operar uma verdadeira transfor- macdo em nossas vidas. Podemos definir 0 verdadeiro arrependimento como uma firme decisio interior, uma mudanca de pensamento. O termo grego usado no Novo Tes- tamento que em nossa lingua é traduzido como “arrepender” é “metandia”, ¢ significa “mudar de idéia”". Trata-se, portanto, de uma decisdo e nao de uma emogao. No Velho Testamento, 0 termo hebraico mais traduzido como “arrepender”, ao pé da letra significa “virar, voltar’. Enquanto o Novo Testamento da énfase ao fato de que ele é um proceso interior, 0 termo usado no Velho Testamento ressalta 0 gesto exterior que reflete a mudanca interior. Portanto, o arrependi- mento é uma mudanca da idéia interior que resulta em um ato exterior de virar ou voltar, isto é, passar a mover na direc&o contraria. A figura 26 mostra a relacdo do arrependimento com as paredes de tejeicao e revolta. Com ja mencionamos, nés construimos essas paredes na tentativa Pare II | O pADRaO ESTABELECIDO POR Deus - 159 de nos proteger das diversas agressdes que sofremos na vida. Quando nos ar- rependemos de nossos pecados, as paredes caem, e assim podemos edificar 0 muro da salvacio seguindo o prumo divino. Que associagao tem o problema da rejeicao com os pecados de nossos pro- genitores? Nos nao somos culpados pelos atos de rejeicao sofridos na infancia. ARREPENDIMENTO pt------ = j-——---454 H 1 ! \ | f \ I FIGURA 26 160 - PareDes Do Meu Coracao | BRUCE THOMPSON Entretanto, se adotarmos um estilo de vida baseado nessas atitudes negativas e depreciativas de outros para conosco, ai jé seremos responsabilizados. Entio, a batalha natural de sair da incredulidade e chegar a fé passa a ser um conflito entre a verdade divina e o condicionamento que recebemos pela criacao. O VALOR DO SER HUMANO Para ilustrar essa dinamica, consideremos o valor de um telogio Casio. O valor desse objeto ¢ igual ao preco que pagamos por ele, como de resto 60 valor de todos os artigos que compramos. Mas qual seria o valor de uma vida? Ou mais especificamente, qual é o valor da sua vida? Certa vez fiz essa pergunta num seminério de estudos para médicos, reali- zado na Suica. E um dos médicos presentes disse: ~ Eu valho $20 Francos Suicos mais as obturacdes de ouro. Em seguida explicou que as pesquisas revelam que é isso que o corpo hu- mano vale. Todos nés rimos, mas logo em seguida outro disse: ~ Nao, nao. Nés valemos dois milhées, pois nés, os suigos, trabalhamos muito! O Dr. Haroldo J. Morovitz, um professor universitario que leciona biofisica, calculou o valor médio de um grama de ser humano e chegou a conclusao de que se vale $6.000.015,44 délares. Entao, ele proprio é “o homem de seis milhdes de délares”. Entretanto, depois de ter feito essa pesquisa sobre o valor médio do homem, o Dr. Morovitz concluiu: “Mas como poderfamos reunir as células para formar tecidos, e os tecidos para formar 6rgaos, e os 6rgaos para formar uma pessoa?” A propria idéia de realizar essa empreitada nos deixa atordoados. Assim é anulada a possibilidade de colocar a questio em termos financeiros, Estamos diante do fato de que o ser humano nao tem preco. Partindo de uma simples € pequena porcao de matéria organica, chegamos a essa gloriosa conclusio filoséfica: cada pessoa ¢ infinitamente preciosa! O salmista chegou 4 mesma conclusao quando cogitava sobre a maneira como tinha sido “tecido” no ventre da sua mae: “Por modo assombrosamente maravilhoso me formaste” (S] 139:14), Se quisermos saber 0 valor real da nossa vida, temos de atentar para 0 preco que foi pago por cada um, e para quem a comprou. A Biblia revela que nao somos nossos, pois fomos comprados por preco (I Co 6:19,20). Nossos calenda- tios confirmam o fato de que Cristo morreu ha quase 2000 anos, deu sua vida Parre II | O paDRao ESTABELECIDO POR Deus - 161 numa cruz horrenda para nos comprar, e pagou com seu proprio sangue, para nos salvar do pecado e da morte. Nao existe moeda que tenha o valor do prego pago por ele. As Escrituras afirmam: “Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a propria vida em favor dos seus amigos” (Jo 15:13), Diante desse fato, cada um de nés deve entender esta verdade: Nosso valor é inestimavel. COMPREENDAMOS NOSSO VALOR “Ao irméo, verdadeiramente, ninguém o pode remir, nem pagar por ele a Deus o seu resgate. Pois a redengio da alma deles é carissima e cessaré a tenta- tion para sempre” (SI 49:7,8). Deus declara af em termos claros que nem toda a riqueza do mundo seria suficiente para comprar um de nds. $6 0 sangue de Jesus vale isso. Portanto, aos olhos de Deus, nés valemos mais do que toda a riqueza deste mundo. En- tio, quando alguém afirma que nao tem valor e que ¢ inferior ou indigno, néo esta expressando 0 que Deus pensa. Quando pergunto aos alunos se eles reconhecem que 0 valor de cada um é inestimavel, poucos respondem afirmativamente. Se indago quantos deles j4 disseram internamente que seu valor ¢ incalculavel, o nimero dos que dao uma resposta positiva é ainda menor. O que isso demonstra? Demonstra que a incredulidade existente em nossos coragdes, nega a visto de Deus sobre o valor de cada um. O pecado que mais pesa no processo de rejeicao é esse falso conceito, ou incredulidade. A maioria das pessoas tem mais facilidade para aceitar 0 condicionamento que vem dos pais e da sociedade - mais 0 reforco que as profundas emogoes dao a esse pensamento - do que crer no amor de Deus por nés. Dando crédito a tais mentiras, na realidade estamos cometendo o pecado da incredulidade. A descrenca que abrigamos no coragao, ainda que nao manifesta, nega a afir- macao divina de que nosso valor individual é inestimavel! Isso faz com que 0 amor dele nos pareca mera teoria, algo distante dos nossos coragoes. Dando ré- deas soltas a incredulidade, estamos, de fato, concordando com o velho prumo humano da rejeigio e pondo de lado o prumo divino. O que determina o valor de um individuo nao é seu sucesso na vida, suas realizacGes, seu desempenho profissional, seus empreendimentos e nem mes- 162 - ParEDES DO Meu Coragao | Bruce THOMPSON mo o nuimero de pessoas que o amam e o respeitam. O valor de cada um de nés baseia-se tinica e exclusivamente na seguinte declaragao de Deus: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira..."(Jo 3:16). Nada pode modificar esse fato. O PECADO DA INCREDULIDADE A incredulidade nasceu no jardim do Eden quando Satands descobriu um meio de enganar Eva, levando-a a duvidar de Deus. Até hoje a incredulidade continua insidiosa. Ainda é 0 pecado basico, a pedra fundamental sobre a qual se assenta a parede da rejeicéo. Tanto a personalidade do “Cordato” quanto a do “Derrotista” que analisamos no capitulo sete, apdiam-se na base da incre- dulidade. Aos olhos de Deus, o pecado da incredulidade é tao grave que toda uma geracao de israelitas foi considerada indigna de entrar na terra prometida que seria sua heranca, por ter sido incrédula (Hb 3:16-19). Apenas Josué e Calebe creram. Os outros duvidaram do poder de Deus e morreram no deserto. E hoje, muitos crentes deixam de receber sua heranga pela mesma razéo, a incredulidade. A vida deles é uma verdadeira peregrinacao no deserto. Véem- se constantemente importunados por dtividas, desconfiancas, desanimo, auto- rejeigdo e até auto-depreciagao. Incapazes de atingir suas metas, de realizar seus sonhos e desejos, encontram-se perdidos no deserto da desilusio e da diivida. O PECADO DA REBELIAO Quando uma pessoa adota a revolta como base para sua vida, a parede que ela constrdi é a da tebelido, cuja pedra angular ou o pecado basico é 0 orgulho. As personalidade do “Competitivo” e do “Critic” apdiam-se sobre a soberba da vida. O orgulho é a atitude de nao querermos ser vistos como realmente somos e também de nos mostrarmos como ndo somos. “Deus resiste ao soberbo” (I Pe 5:5) e chegard o dia em que o “abaterd’’ (Is 2:12). Algumas pessoas tém a impressao de que Deus esta contra elas; mas nao apenas isso, ele resiste a elas também. Na verdade, ele esta resistindo ao orgulho que elas abrigam no coragio. Tomemos por exemplo o caso de Jack. Depois que ele converteu e entregou seus negécios a Deus, passou por varias crises. Surgiram conflitos entre ele ea esposa e seu relacionamento familiar deteriorou. A vida dele foi de mal a piore sofreu um duro revés que afetou tanto a familia como seus negocios. Jack com- Parte II | O paprao ESTABELECIDO PoR Deus - 163 preendeu que Deus estava tocando na questao do orgulho que regia diversos aspectos da sua vida. Assim que ele se dispds a cooperar com Deus ¢ nao dar lugar ao orgulho, as circunstancias comecaram a mudar. Em pouco tempo, Jack encontrou uma nova perspectiva de vida. Essa verdade que ele aprendeu é importantissima para a nossa caminhada com Deus. Ele se dispés a humilhar- see assim, deu o primeiro passo para ser liberto dos falsos pramos humanos. Se quisermos saber se 0 orgulho esté dominando a nossa vida, devemos responder com toda sinceridade as seguintes perguntas: — Como reagimos quando outra pessoa é escolhida para ocupar uma posigio que desejévamos, ou quando 0 talento e as realizacdes da mes- ma ofuscam os nossos? Sentimos inveja? Ficamos com raiva? —Toda vez que nos dispomos a fazer uma autocritica sincera, acaba- mos reconhecendo que temos pontos falhos. Como reagimos quando é a outra pessoa quem aponta um ponto fraco nosso? Qual é a nossa reacdo ao sermos criticados? Ficamos ressentidos, hos- tilizamos e criticamos quem nos criticou? Temos pressa em nos justificar? Se identificamos algum aspecto de nossa vida assentado sobre a pedra an- gular do orgulho, precisamos fazer o mesmo que Jack, adotar uma atitude de humildade. A humildade é a disposigao de deixar que os outros nos vejam como somos, sejam quais forem as consequéncias. E ela a chave que abre as portas para que a graca de Deus opere livremente em nossas vidas (1 Pe 5:5,6). Ter humildade é levar uma vida transparente diante da “luz” e da “verdade”, ambas tem 0 poder de nos libertar. O QUEE A HUMILDADE A humildade é uma qualidade do amor. “Se dissermos que anmamos a Deus, mas ndo amarmos nosso irmio ou irmé, como pode permanecer nele (em nds) 0 amor de Deus?”(I Jo 3:17). Assim como meu amor por Deus é evidenciado no amor que tenho por meus irmaos, assim também minha humildade para com Deus se manifesta em meu relacionamento com os outros. Nossa reacao instintiva em relacdo a humildade é rejeita-la, nos retraindo diante dela. Nao temamos abracé-la. Pelo contrario, devemos estar dispostos a deixar que os outros nos vejam como realmente somos. 164 - Parepes Do Meu Coracao | Bruce THOMPSON Certo dia quando eu estava orando, perguntei a Deus: “Senhor, por que tenho tanta dificuldade em deixar que os outros me vejam como sou, ja que diante de ti é facil mostrar-me abertamente?” As palavras seguintes vieram mansamente ao meu pensamento: “E porque voce teme mais aos homens do que a mim.” Fiquei surpreso, mas tive que admitir que era verdade. Tinha receio de que me rejeitassem ou me magoassem. Por isso, muitas vezes resistia ao impulso de me mostrar como era de fato por medo do que os outros iriam pensar ou dizer de mim. Foi entéo que aprendi que sem a verdadeira humildade, sem a dispo- sigao de deixar que os outros nos vejam como realmente somos, nao havera um verdadeiro arrependimento. INCREDULIDADE ce FIGURA 27 Parte II | O PADRaO ESTABELECIDO POR Deus - 165 O termo grego traduzido por humildade é “tapeinos”, que significa “de espirito prostrado, degradado, rebaixado”*. Ninguém gosta de se rebaixar, mas para sermos humildes, precisamos aceitar a idéia de nos rebaixarmos. Quem é que goza da presenca de Deus? Diz 0 Salmo 51:17 que ¢ “aquele que tem um coragio compungido e contrito”. Sdo esses que “habitam com Deus num alto e santo lugar”, pois é exatamente quando nos curvamos ou nos rebaixamos é que Deus pode nos exaltar. O arrependimento é um processo continuo. Precisamos nos manter em constante atitude de quebrantamento diante de Deus com respeito a pecaminosidade dos nossos coracoes. Como podemos viver cada dia nesse estado de espirito? Esta é a resposta: “Confessai, pois, os vossos pecados uns aos outros, orai uns pelos ou- tros, para serem curados. Muito pode, por sua eficicia, a sitplica do justo” (Tg 5:16). Precisamos buscar ao Senhor, em atitude de humildade, arrependidos de nossa incredulidade e orgulho (e dos frutos produzidos por esses pecados). Depois, medida que formos abrindo 0 coracdo e a vida diante de uma outra pessoa, Deus ir processando uma extraordindria cura em nés. Mas 0 primeiro passo € a disposicao de nos expor, de confessar nossos erros, falhas e pecados a alguém em quem confiamos. E claro que em se tratando de questées dificeis, e mais sérias ¢ aconselhavel procurarmos uma pessoa que tenha se preparado para o aconselhamento cristéo especializado; alguém que creia no poder da oracio e que creia que Deus pode nos curar e nos restaurar. Vimos, entdo, que 0 desafio que Neemias nos apresenta ¢ que finquemos fundo a barra do arrependimento na pedra fundamental da redencao. Para que 0 processo de cura e restauracao seja continuo, é essencial que “andemos sem- pre na luz” uns com os outros. Mas existem outras importantes barras de reforco que precisamos utilizar na edificacéo do nosso muro da salvacao, se quisermos uma estrutura que re- sista as tempestades e intempéries da vida. No proximo capitulo veremos como o processo do arrependimento pode transformar nossas vidas e por intermédio da f6, fazer fluir para nds as béngaos de Deus! 166 - PaREDES DO Meu Coragao | Bruce THOMPSON APLICACAO PRATICA Procure relembrar aspectos da sua vida em que a incredulidade e 0 orgulho tém predominado. Em seguida, medite no valor que o arrependimento teve nesses e em outros aspectos. Notas 'W.E. Vine, The Expanded Vine's Expository Dictionary of New Testament Wor- ds, Minneépolis, Bethany Publishers, 1984. ?Vine's Expository Dictionary, op. Cit. 12 O CORACAO ATORMENTADO gora que jé analisamos a fase inicial do arrependimento, vamos estuda- Jo como um processo que transforma todo nosso viver. Veremos que 0 arrependimento biblico é mais abrangente do que qualquer outro tipo de transformagao de vida. Compreenderemos ainda que ao exercitarmos fé, acionamos a chave que abre as comportas das béncaos de Deus para nés! O primeiro elemento basico do arrependimento esta relacionado com a cruz, Jesus disse: “Se alguém quer vir apds mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome sua cruz e siga-me” (Lc 9:23). A maioria das pessoas nunca aceitam 0 apelo divino para que aplique essa verdade em suas vidas. O que o Senhor quis dizer quando fez essa declaracao? Veremos na figura 28, como o velho homem pode chegar a ser um novo homem. Adio representa a sintese da incredulidade e do orgulho que herdamos ou desenvolvemos na vida. A tinica maneira de nos livrarmos desses dois pecados, bem como de todos os outros que Cristo levou sobre si é pregando-os na cruz. Para isso, temos que nos considerarmos mortos para eles. Depois, em lugar da incredulidade, acatamos a declaragao divina acerca do nosso verdadeiro valor, e pela fé nos apropriarmos da verdade a nos- so respeito. Por fim, passamos a aplicé-la na vida pratica. Tiago afirma que “a fé sem obras é inoperante” (Tg 2:20). A mera aceitagao mental da verdade sem uma aplicacao didria na vida pratica nao adianta nada. £ muito importante a operagao da fé. Ela nos transfere do prumo da rejeicao para a auto-aceitagao e para o senso de valor proprio que estéo alinhados pelo prumo de Deus. Se oalicerce sobre o qual estamos firmados é 0 orgulho, as cha- 168 - PaReDEs Do Meu Coragao | Bruck THOMPSON ADAO HUMILDADE HIGURA 28 p NOVO EF 4:24 HOMEM Pane Il | O coracéo ATORMENTADO - 169 ves para sairmos dele séo a humildade e a confisséo. A confiss4o dos pecados traz a luz questdes mais profundas do coracao, ea humildade mantém aberta a porta das nossa vida para que nela opere uma transformagao verdadeira. Vi- vendo na luz perante os outros, aplicamos um golpe mortal na raiz do orgulho. Quando temos a humildade de confessar pecados, anulamos 0 controle que orgulho exerce sobre nds. O apelo que esta diante de nds é que “nos despojemos dos velhos e indesejaveis trajes do orgulho e da incredulidade, e nos revistemos do traje novo e desejdvel” (Cl 3:3-10). Contudo nao é a uma gindstica mental que nos referimos, e sim, a uma operagdo do poder de Deus em nés que processara a transformacao, por intermédio da vitoria conquistada na cruz! Aquele que exercita a fé na obra consumada por Cristo obtém a vitoria! Assim que comecamos a promover essas mudancas, defrontamos com re- sisténcias interiores, como vemos na figura 29. Nessa ilustracao, a maquina representa 0 espirito; o vagao de carga, a mente; e 0 carro que leva os operarios, » Be <@ ARREPENDIMENTO 10 KM r << VIDA20KM vocé Néo ACHA QUE NA VERDADE ESTA QUERENDO IR PARA O SUL? PECADO 10KM => FIGURA 29 170 - PareDes Do Meu Coracao | Bruce THomPson as emogées. O maquinista do comboio é Satands, que vai sentado no compar- timento das emogées, procurando explorar ao maximo o existencialismo do nosso mundo ocidental. Ele nos manipula de maneira magistral, tentando nos convencer a sermos guiados pelas emocdes em vez de nos orientarmos pela verdade e pelos bons principios. As emocdes so importantes e valiosos sina- lizadores, mas como gerenciadoras, tornam-se extremamente perigosas. Deus nos dotou com emogGes para que as uséssemos sempre sob controle e nao para que elas se tornassem nossos feitores. EMOCOES DESCONTROLADAS Quem nunca viu casos como 0 de um rapaz que saiu de casa intempesti- vamente, pegou a motocicleta e partiu a toda velocidade fazendo um barulho infernal? No dia seguinte, os jornais publicam o resto da histéria, com a se- guinte manchete: “Quatro mortos em colisao de alta velocidade”. Da mesma forma, quando nos deixamos controlar pelas emogoes, corremos 0 risco de nos envolvermos em sérios acidentes. Aqui no ocidente, toda hora vemos as tragicas consequéncias desse mal que sao as emogGes descontroladas. Em muitos paises, o suicidio é a principal causa de morte entre os jovens. A depressio esta atingindo proporcées epidémicas, dando mostras dos danos que ela pode causar a uma sociedade que da a ela liberdade de acao. Na ilustracao da figura 30, podemos compreender bem a forte resisténcia que sofremos quando decidimos arrepender ou dar meia volta O primeiro trem, no alto, 0 qual poderfamos denominar de “trem hu- manistico”, mostra nossa condicéo quando deixamos que as emogdes as- sumam controle. O de baixo, representa a posigéo do equilfbrio que dese- jamos e que alcancamos quando 0 nosso espirito é guiado pelo Espirito Santo e as emogdes passam para 0 vagao de trés. Mas 0 que acontece du- rante a transicaéo? Como mostra o desenho do trem que esta fazendo a curva, as emogées fi- cam “arrepiadas” como um gato acuado num canto, arreganham os dentes, tentam arranhar e rosnam ameacadoramente, procurando se defenderem. Se nao tomarmos providéncias para a interrupco do processo, elas podem até provocar um colapso nervoso. E que se tornam inseguras e irritadas com a possibilidade da perda do controle sobre nés. Pagre I | © coragdo ATORMENTADO - 171 OS TRENS DA VIDA .Vo GUNT :N ~ ESP. = ESP{RITO M_ = MENTE bp EM. = EMOCOES YS ES. = ESP{RITO SANTO LJ f Ci EM. y FIGURA 30 Analisando o termo hebraico que é traduzido como “arrepender-se”, en- tendemos melhor 0 porqué disso. A palavra “nawkham”, ao “pé da letra”, significa “suspirar, gemer, ofegar e tremer”. Todos esses vocdbulos sugerem uma profunda e exaltada revolta. Resumindo, é isso 0 que se passa com as emocées durante a fase do arrependimento. Mas depois que finalmente fa- zemos a curva e nos submetermos ao dominio do Espirito Santo, elas experi- mentam grande alegria! 172 - PareDes Do Meu Coragao | Bruce THOMPSON O TREM RACIONALISTA M |—_-p Omesmo ocorre com o “trem racionalista” cuja maquina éa mente. Quando nos propomos a nos arrependermos, travamos uma dura batalha com a raz4o que resiste ao arrependimento. Ai o temor de parecermos ridiculos, infantis ou insensatos, constitui um forte entrave a mudanga. Existe ainda, uma terceira composicao errada, aquela em que 0 espirito hu- mano é a maquina e nao esta sob a influéncia do Espirito Santo mas de outros espiritos. Chamaremos a este de “trem espiritualista ou do ocultismo”. Quando 0 individuo nessa situacao se arrepende, pode necessitar da oracéo para ser liberto do dominio dos deménios e as vezes, a oposigio do inimigo pode ser violenta e explosiva. Embora tenhamos mostrado separadamente esses trés aspectos: emocdes, mente e espirito, cada um representado pelo seu “trem”, na verdade, hd si- tuagdes em que eles podem estar associados de diversas formas. Precisamos atender ao apelo de Joao Batista para que nos arrependamos, pois esta prdxi- mo 0 reino dos céus (Mt 3:2) e assim possamos experimentar uma verdadeira transformagao de vida! Quanto mais alinharmos nossa vida pelo prumo divi- no, mais vida real teremos. LIBERTACAO ATRAVES DO PERDAO No intuito de buscar essa transformacao, vamos examinar agora outro im- portantissimo aspecto do arrependimento. Sem ele, na verdade, nao existe ar- rependimento. No primeiro capitulo do livro de Neemias, temos o relato de um Parre II | O coRacao ATORMENTADO - 173 O TREM ESPIRITUALISTA oT DN yy C-CY" C—O) CSE notavel relacionamento entre um escravo e um rei, entre um judeu e seu senhor gentio, entre um oprimido seu opressor. Quando Neemias recebeu as noticias a respeito de Jerusalém, sentiu profun- da tristeza. Ao comparecer & presenca do rei, essa tristeza ainda transparecia em seu semblante. Em sua funcao de copeiro real, tinha que levar ao monarca um bom vinho e alegria. Deixando transparecer sua tristeza diante do rei, ele corria o risco de ser morto, mas 0 amor por seu povo era maior do que a preo- cupacio com sua seguranca pessoal. Assim que 0 rei Artaxerxes percebeu seu semblante contristado, pediu explicacoes. O que aconteceu em seguida demonstra que o rei tinha um profundo amor por seu copeito Neemias. Ao falar das condigdes em que se encon- trava Jerusalém, nao apenas dispensou Neemias do seu servico no palacio, além disso, deu a ele permissao para fazer a restauragéo da Cidade Santa e providenciou o material necessario para a obra. Tudo isso revela nao so- mente que a mao de Deus estava sobre Neemias, mas mostra também 0 que se passara no coracdo desse servo. Nao havia divida de que ele ja havia perdoado de todo coragio seus inimigos, a ponto de servir leal e fielmente ao seu rei, Ele tinha isentado de culpa seus opressores, perdoando-os dos pecados cometidos contra sua gente. Em seu coracao nao existia mais ne- nhum resquicio de ressentimento ou amargura. A libertacao pelo perdao, portanto, é outra barra de reforgo que temos de fixar profundamente na pedra fundamental da redencao. 174 - Paves Do Meu Coragao | Bruce THOMPSON O MURO DA SALVACAO NEEMIAS = RESTAURACAO ESDRAS = RECONCILIACAO FIGURA 31 Parte II | O coragao ATORMENTADO - 175 Ao perdoarmos alguém uma falta cometida contra nds, estamos isentando essa pessoa de nos pagar e de fazer qualquer reparacao pelo erro, até mesmo de nos pedir perdao. Quando perdoamos a um ofensor de todo coragao, ao mes- mo tempo experimentamos uma libertacao interior. Vejamos um fato veridico que ilustra essa verdade. Em nossos cursos de aconselhamento da JOCUM, sempre damos aos alu- nos oportunidade para seus testemunhos pessoais. Certo dia, uma mulher de nome Kay, com seus quarenta e sete ou quarenta e oito anos, comecou a falar sobre sua vida. Minutos depois parou e ficou em siléncio. Eu e outro dirigente aproximamos dela e comecamos a orar em espirito. De repente, ela comegou a tremer, a nos xingar e até a nos agredir. Percebemos imediatamente que nao se tratava apenas de uma crise de nervos, mas que ali atuavam influéncias demonfacas. Oramos com intensidade, porém suas reacdes pioraram. Como nao conseguiamos ver mudanga em sua atitude, decidimos ter uma conversa com ela apés a aula. Mais tarde, quando estavamos orando, um de nds recebeu uma palavra de conhecimento vinda do Senhor, revelando que Kay nao queria perdoar sua mae. Quando a indagamos a respeito da questao, ela admitiu que abrigava, de fato, uma raiz de amargura no coragdo e em seguida comegou a gritar: “Eu te odeio! Eu te odeio! Eu te odeio!” Era como se a made dela estivesse presente ali. ABERTURA PARA PERDOAR Continuamos a conversar, e por fim, Kay consentiu em perdoar sua mae. Oramos de novo e imediatamente ela foi liberta dos “verdugos” que estavam escondidos atras do seu rancor contra a mae. No Evangelho de Mateus, Jesus narra a histéria de um homem (Mt 18:21- 35) que foi perdoado de uma divida de $10 milhdes, mas que nao agiu da mes- ma forma com uma pessoa que também lhe devia. Quando voltava para casa, encontrou 0 colega que devia a ele a insignificant quantia de $20. Em vez de usar de misericérdia com o seu devedor assim como seu credor havia feito, 0 mandou para a cadeia. Quando seu credor soube disso, cancelou o ato gene- Toso que praticara, entregando-o aos verdugos até que pagasse os $10 milhdes que devia a ele. Agora estava preso ndo por causa da sua divida original mas por sua hostilidade e seu espirito rancoroso. Jesus concluiua parabola afirman- 176 - Pees Do Meu Coracao | Bruce THOMPSON LIBERTACAO PELO PERDAO /. DEUS Ss N, ; cH ofu NIM M3 \ By F I %, aN I]. o: s|D STA A} D C E FIGURA 32 NS J " EU FIGURA DE AUTORIDADE do que Deus faré 0 mesmo conosco se nao perdoarmos nossos irmaos de todo O coragao. Com base nessa histéria, podemos concluir que o rancor constitui um ali- cerce sobre o qual é construido o tormento interior. Deus nao nos criou para guardarmos ddio, rancor e ressentimento. Se insistirmos em cultivar tais senti- mentos, estaremos expostos e padeceremos de enfermidades de natureza espi- ritual e fisica. Vejamos uma ilustraco clara na figura 32. Parte II | O CoRAcao ATORMENTADO - 177 COMO NOS TORNAMOS REPLICAS Vemos nessa ilustragdo que uma atitude de rancor muitas vezes tem sua origem em uma injustica que sofremos na inféncia, seja ela real ou imaginaria. Chegando a adolescéncia, podemos ter uma imagem negativa dessa figura de autoridade que traz reflexos sobre essa fase da nossa vida. Para tirarmos os olhos dessa figura de autoridade terrena, olhando entao s6 para Deus, precisaremos antes nos humilhar e confessar nosso pecado. Temos que confessar esse ressentimento a Deus e perdoar nossos ofensores incondi- cionalmente. £ assim que comecamos a ser libertos e a mudarmos 0 alvo das nossas atengdes. Quando eu trabalhava na clinica de aconselhamento no Hawai, fui procura- do certo dia por um rapaz chamado Neville. Era recém-casado, porém jé estava tendo problemas no relacionamento com a esposa. Chorando, confessou que havia odiado e desprezado seu pai, pois este bebia muito, o que causara a des- truicdo da familia. Agora, constatava horrorizado e atdnito que se via lutando com 0 mesmo problema do pai, a bebida. Sempre que condenamos alguém, estamos fazendo um julgamento dessa pes- soa e algo muito perigoso ocorre. Depois de algum tempo, passamos a cometer © mesmo erro que condenamos no outro. Um exemplo disso é 0 caso de Jane. Ela fora vitima de incesto e julgava os homens, como se todos tivessem a mesma atitude referente ao sexo. Achava que todos eles viam as mulheres como meros objetos que poderiam usar e abusar, apenas para a satisfacao dos seus desejos. Passado algum tempo, a situacao inverteu. Ela se tornou prostituta pasando a usar e a abusar dos homens, tornando-se igual aqueles que detestava. Seu res- sentimento e julgamento acabaram funcionando como um bumerangue, isto é, voltaram para ela pois se convencera de que todos os homens eram iguais e de que tinham a mesma tara. Amor, para ela, era apenas luxtiria. AUNICA SOLUCAO Como jé dissemos, a tinica solucao para se interromper essa espiral destru- tiva é humilhar e confessar. Primeiro temos que reconhecer nossos ressenti- mentos abertamente e com toda sinceridade. Em seguida, precisamos perdoar 0s ofensores sem reservas. Quando expressamos verbalmente esse perdao, 0 que é um passo muito dificil, podemos estar iniciando o processo para perdod- los de todo coragao! 178 - Parees po Meu Coracao | Bruce THOMPSON UMA VISAO CORRETA DE DEUS Ky) SK FIGURA DE AUTORIDADE 1. VENDO A FIGURA DE AUTORIDADE 2. VENDO DEUS NA FIGURA DE AUTORIDADE 3. VENDO DEUS CORRETAMENTE, FIGURA 33 Muitas vezes, 0 aspecto mais dificil nessa questao ¢ perdoar a nés mesmos. Mas, quando conseguimos fazé-lo e ao chorarmos amargamente, as feridas do coraciio cicatrizam. E verdade que tais cicatrizes nunca desaparecem totalmen- tee as manchas das lagrimas que caem no delicado tecido das nossas emocdes, em geral séo permanentes. Entretanto, quem se obstina em nao perdoar, sem 0 saber, est optando por uma vida atormentada. Parte II | O CoRacao ATORMENTADO - 179 Mesmo depois de havermos tomado a decisao de perdoar, ainda haverd a possibilidade de lutarmos para nao projetarmos em Deus nossos temores ¢ desconfiancas, como ilustra a figura 33. Muitas pessoas tém uma forte tendén- cia a criarem uma imagem de Deus baseada nas figuras de autoridade terrenas (linha 2). Em vez de buscarmos conhecer e compreender a Deus através do es- pelho da “figura de autoridade”, precisamos olhar diretamente para ele (linha 3), Assim veremos 0 reflexo das nossa verdadeira imagem. Quanto mais virmos a Deus como ele é, mais 0 amaremos e nos tornaremos parecidos com ele (figura 32). E uma libertagdo que obtemos quando perdoa- ‘mos as pessoas incondicionalmente ou como disse Jesus, quando “perdoamos sefenta vezes sete” vezes! Como vimos entao, se recusarmos a perdoar os nossos ofensores, 0s “verdu- gos” podem nos atormentar e até nos destruir. No préximo capitulo, veremos esses “verdugos” em conflito com Neemias, que com habilidade e sabedoria divina conseguiu desarmé-los seguidas vezes. APLICAGAO PRATICA Examine sua vida e veja em que tipo de trem vocé tem embarcado. Relembre algumas experiéncias de arrependimento. Jase sentiu atormentado por ter guardado rancor de alguém? Como foi sua libertacao? 13 DERROTANDO O INIMIGO salvagio ¢ 0 proprio Liicifer. Algumas pessoas 0 véem como mera cria- cdo da imaginagao humana. Outros o retratam como 0 senhor deste mundo e que um dia serd adorado como tal. Seja qual for a visio que temos dele, o certo é que Satanés continua sendo um adversario temivel, com uma s6rdida folha corrida. A Biblia afirma claramente que ele est vivo e em plena atividade no mundo. Ele segura em suas garras uma multidao de seguidores, que com a aproximacao do fim desta era, prestaré a ele cada vez mais obedi- éncia, conferindo-lhe maior autoridade. E seré nessa ocasiéo também que “0 amor de muitos cristaos esfriara” (Mt 24:11-13). Quando Neemias resolveu obedecer ao chamado de Deus para reconstruir os muros de Jerusalém, também teve que enfrentar a astticia do inimigo. Estu- dando os problemas com os quais defrontou, reconheceremos muitas das es- tratégias que Satands emprega para atrapalhar e frustrar os projetos que Deus confiara a seu servo. Veremos, entao, que outra barra de reforco a ser colocada na principal pedra angular € a identificngio das estratégias satiinicas. Em nossa uta contra Satands, antes de mais nada, precisamos aprender a reconhecer suas estratégias, para que assim possamos frustrar suas operacoes. N= maior adversdrio na iniciativa para a reconstrucao dos muros da RAIVA E MEDO Em Neemias 4:1-7, encontramos os principais agentes de Satands: Sambalé, Gesém e Tobias. Quando esses homens souberam da intengao de Neemias, de 182 - PareDes Do Meu Coracao | Bruce THompson O MURO DA SALVACAO NEEMIAS = RESTAURACAO ESDRAS = RECONCILIACAO DENTIFICACAO DAS ESTRATEGIAS SATANICAS —l O LIBERTACAO PELO PERDAO ARREPENDIMENTO REVELACAO FIGURA 34 Parte II | DERROTANDO © INIMIGO - 183 reedificar os muros, ficaram encolerizados. Foram procuré-lo e 0 bombardea- ram com ameacas e acusacdes. Embora muitos dos que o tinham precedido ou viriam depois dele, tivessem cedido diante do medo e da intimidacao, Neemias permaneceu firme e nao se deixou demover. “Quem teme ao homem arma ciladas, mas 0 que confia no Senor esta seguro" (Po 29:25), Neemias, além de crer nessa verdade e confiar no Senhor, praticou a mesma. Como fez com Neemias, Satands ir desencadear sua firia contra nds, por intermédio dos entes queridos, falhas no equipamento para o trabalho, de cir- cunstancias adversas, do governo, de enfermidades, de um colapso nervoso ou fisico e de diversas outras maneiras. Mas nés temos varios exemplos extraordi- narios - como 0 de José, J6 e principalmente Jesus - de que Deus pode reverter a célera de Satands para proveito divino. No caso de Estevao, por exemplo, ele foi apedrejado por um grupo de homens enfurecidos, incitados pelo préprio Satanés. Se ele pudesse prever o poder espiritual que aquele fato iria desenca- dear, teria pensado duas vezes! E que presenciando a cena estava Saulo - que depois seria 0 apdstolo Paulo -e Estevéo demonstrou um perdao tao extraordi- nario ao morrer, que abalou profundamente a vida do jovem fariseu! “Porque Deus no nos tem dado espirito de covardia, mas de poder, amor e de mode- ragio” (II Tm 1:7). Satands tenta nos derrotar por meio da intimidagao, mas 0 que confia no Senhor, vé 0 inimigo como um ledo desdentado, incapaz de devord-lo. ZOMBARIA Outra estratégia do inimigo é a zombaria, propria do individuo que reprime sua agressividade. Os adversarios de Neemais zombaram dele e 0 atormenta- ram, acusando-o falsamente de estar insurgindo contra o rei Artaxerxes (Ne 2:19) que na verdade, j4 havia dado permissio para a realizacao do projeto. Sambala chegou ao ctimulo de acusar Neemias, de esiar tentando subornar Deus (Ne 4:1- 3). Era um ataque sutil as proprias bases de Neemias, semelhante a tatica que Satands empregaria com Jesus mais tarde, tentando-o no deserto, quando citou as Escrituras de forma ardilosa (Mt 4:3,6). Satands usa a verdade, distorcendo-a sua maneira, e com esse artificio tem conseguido dividir a igreja e enfraquecé-la, destruindo sua unidade, como sutilmente tentou fazer com Neemias. Enquanto Sambal zombava deles, dizendo que seus esforcos eram intiteis, Tobias tentava depreciar a habilidade e a capacidade do povo. Mas ele esque- cera de que a maioria daqueles homens vivera anos em cativeiro, sujeitos a 184 - PareDes Do Meu Coracao | Bruce THomrson trabalhos forcados, fabricando tijolos e erguendo paredes. Para o “acusador dos irmaos”, a verdade nao tema minima importancia. Seu objetivo ao zombar de nds é instalar em nossos coracées incredulidade e dtividas, no intuito de frustrar a realizacao dos propésitos e planos de Deus para nds. Nas viagens que faco a diversos paises, ministrando semindrios e palestran- do em escolas, tenho visto muito as acdes de Satands. Uma certa experiéncia, porém, ficou marcada na minha mem6ria: No desejo de ser amada, Maida “caira nas malhas” da lascivia. Se envol- vera em miiltiplos relacionamentos com homens, colhendo muito sofrimento. Infelizmente tenho visto intimeras pessoas com esse problema, levando para o leito nupcial um “excesso de bagagem” ~ as experiéncias sexuais do passado. Para conseguirem um relacionamento intimo satisfatorio com seu cénjuge, pre- cisam antes “livrarem-se” desse peso do passado. Quando convertem, levam 0 “excesso de bagagem’” para o relacionamento com Cristo, o que pode compro- meter seriamente a comunhao delas com Deus. Foi o que ocorreu com Maida, e nds explicamos isso a ela. Enquanto oravamos para que fosse liberta dos problemas que trouxera do passado, de repente, ela teve uma convuls4o. O que aconteceu em seguida foi prova incontestavel de que esta- va endemoninhada e de que os deménios lutavam para mantéa sob controle, Ela Ostentava nos labios uma expressiio de zombaria e a voz estranha que emitia, nos ridicularizava, menosprezando nossas tentativas de liberté-la. De vez em quando soltava uma risada de deboche e escérnio que nos dava arrepios na espinha. A essa altura haviamos compreendido que Satanés estava profundamente instalado em sua vida e nao sairia sem oferecer resistencia. Durante varias semanas, eu e mais duas pessoas do meu grupo, continuamos a orar com ela, em sessdes de aconselha- mento. Todas as vezes em que o inimigo se manifestava e zombava de nés, acon- selhdvamos a moga, a assumir a sua posi¢ao em Cristo e renunciar a atuacao dos deménios em sua vida. Pouco a pouco ela foi sendo fortalecida espiritualmente, e finalmente conseguiu exercitar uma firme autoridade sobre o poder das trevas, CONFUSAO E MENTIRAS Outra estratégia que o “pai da mentira” gosta de empregar para nos de- sequilibrar e nos colocar fora de aco é lancar sobre nds confusao e mentiras. Em Neemias 4:8, Sambalé, Gesém e Tobias entraram em acordo com outros povos da vizinhanca para se infiltrarem entre os construtores judeus, langando Parte Il | DerrorANDO © INIMIGO - 185 confusao e mentiras. A despeito de todas as tentativas, Neemias resistiu firme- mente as mentiras deles. Continuou confiando em Deus, trabalhando até que fosse concluida a reconstrucao dos muros. Precisamos reconhecer que Satands € 0 autor da confusdo. Sempre que percebermos que nuvens de confusdo se acumulam sobre a nossa cabeca, es- peremos que o vento do Espirito de Deus sopre, dispersando essas nuvens, simplesmente deixando que o sol volte a brilhar e iluminar nossos caminhos. Olivro de Neemias narra como uma profetisa chamada Noadia e varios outros (Ne 6:14), usando falsas profecias, tentaram intimidé-lo para que abandonasse a missao que Deus lhe confiara de reconstruir as muralhas de Jerusalém. Como ja mencionamos em capitulos anteriores, Satanés pode usar falsos profetas tentando nos desviar da verdade. Esse tipo de ataque tem um for- te potencial destrutivo, principalmente quando nos atinge por intermédio do cOnjuge, dos pais ou de um irmao da igreja. Por vezes, podemos sentir 0 que Jé deve ter sentido quando em meio a pior crise da sua vida, ouviu sua esposa sugerir a ele: “Amaldigoa o teu Deus e morre" (J6 2:9). Outro procedimento que nao devemos querer imitar é do jovem profeta so- bre o qual é mencionado em I Reis 13. Em vez de obedecer a risca ao que Deus ordenara a ele, deu ouvidos a palavra de um profeta mais velho e por causa disso caiu nas garras de um leao. Precisamos ter discernimento, vigiar e orar para nao nos desviarmos do caminho certo. FALSOS AMIGOS Outra cilada que o inimigo pode utilizar sao as falsas amizades que fazemos com facilidade, e que com a mesma facilidade nos traem. O sacerdote Eliasabe traiu Neemias numa ocasido em que fez uma viagem. Eliasabe cedeu a Tobias, inimigo de Neemias, um espacoso comodo no templo, para que ele o utilizasse como quarto (Ne 13:4-9). Essa historia revela uma classica estratégia de Satands. Ele se aproveita da nossa ligacdo com as coisas do mundo, para através disso estabelecer uma base sua em nosso coracao. Nao podemos amar a Deus e ao mundo, pois a amizade do mundo é¢ inimizade com Deus (IJo 2:15,16). Ao chegar de viagem, com todo vigor, Neemias reprovou imediatamente a concessao que Eliasabe fizera a Tobias. Pegou os seus pertences, atirando-os na rua. Precisamos estar cientes de que nao podemos ter misericérdia ao lidar com 186 - PareDes po Meu Coracao | Bruce THOMPSON O MURO DA SALVACAO NEEMIAS = RESTAURACAO ESDRAS = RECONCILIAGAO il n RENUN 4 J IDENTIFICACAO DAS ESTRATEGIAS SATANICAS [ Il ‘AO PELO PERDAO Dia -REDENCAO — PRINCIPAL FIGURA 24 Parte I | DeRROTANDO © INmMIGO - 187 as infiltracdes do inimigo, nem fazer concessies. Ele néo tem 0 menor interesse por nés. O grande intuito de Satands, um adversario sempre disposto a nos de- vorar, é que sejamos apanhados em suas armadilhas. Ele tem destruido muitos crentes e até ministérios poderosos através de associagdes com falsos amigos. INFLUENCIA DEMONIACA A meta suprema de satands é nos endemoninhar. Para isso, nos leva a con- descender com 0 maior niimero possivel de instituigdes, pessoas e desejos. O termo “endemoninhar” é traducdo literal do vocdbulo grego daimonizomai, que significa ser influenciado ou controlado por unt deménio.' Dessa fora, Satands entra no coracao de uma pessoa e assume 0 controle do seu ser. Quanto mais espago dermos a ele em nossa vida, mais campo ele tera e mais autoridade exercera. Assim que percebermos que ha alguma presenca demoniaca em nds, tenhamos a mesma atitude de Neemias: retomar os espacos a ele concedidos, nao acei- tando mais, nem por um instante, a idéia de fazer tais concess6es. “Guardemos com toda diligéncia nossos coragdes, pois dele procedem as fontes da vida" (Pu 4:23). RENUNCIA Agora que ja identificamos algumas estratégias saténicas contra as quais temos de nos precaver, precisamos saber como agir com 0 inimigo assim que descobrirmos sua atuacao em nossa vida. Como ja mencionamos, o primeiro passo no sentido de anular a atividade saténica ¢ reconhecer sua operacdo em nés. O segundo é renunciar essa atuagao. A rentincia é, entao, a barra de reforgo que fixaremos a seguir na pedra fundamental. NEEMIAS ESPEROU DEUS Desde o primeiro instante em que Neemias ficou a par da situacao de Je- rusalém, buscou ao Senhor através do jejum e da oragao. Mais tarde, quando soube que os inimigos tramavam para derroté-lo, comecou imediatamente a orar e criou um sistema de vigilancia contra eles (Ne 1:4; 4:9). Certa vez, esses inimigos, desejosos de afasta-lo dali, subornaram Semaias para convencé-lo a esconder-se no templo. Mas Neemias percebeu a trama e entregou seus adversarios nas maos do Senhor. A que altura de uma crise clamamos ao Senhor, se ¢ que clamamos? Pre- cisamos buscar ao Senhor imediatamente, como fez Neemias. Seja qual for a 188 - Parees po Meu Coracao | Bruce THOMPSON situacao, temos de recorrer ao Ser mais poderoso que existe! O inimigo pode até estar acima de nds em relagao a astticia, mas nao é pareo para 0 nosso Deus! NEEMIAS PROSSEGUIOU NO TEMOR DO SENHOR Os inimigos de Neemias tentaram intimida-lo e atemorizé-lo para que pa- rasse de construir as muralhas de Jerusalém (Ne 6:8-14). Mas ele confiara sua vida ao Senhor e nao temeu. Pelo contrario, tinha medo era de nao estar fazen- do a vontade de Deus. Nao temia a homens. Tinha temor era de Deus, tendo plena certeza de que o Senhor atribuira a ele uma tarefa. “Quem teme ao homem arma ciladas, mas 0 que confia no Senhor estd seguro” (Pv 29:25). Se temermos a alguém ou a alguma coisa mais do que ao “Deus sublime e Todo Poderoso”, cairemos em uma armadilha, que é 0 respeito humano. Se dermos mais valor 4s opiniGes, conselhos e avaliagées humanas ou aos conceitos que fazemos a nosso respeito e das situacées, do que a Deus, ja estaremos presos nas malhas do temor a homens. A tinica solucao para o problema do temor é Deus. “O te- mor do Senhor é 0 principio da sabedoria” (Pv 1:7). Pelo que vemos nas Escrituras, Neemias deu varias demonstracdes de que era um homem sébio. Sera que temos caido nessa armadilha que é o temor a homens, sendo desta forma, derrotados por ela? Quem se deixa dominar por esse temor, “no fundo” acredita que aquilo ou aquele a quem teme é maior e mais poderoso do que Deus. E, obviamente, ninguém ou coisa alguma é maior ou mais po- deroso que o Senhor. NEEMIAS PROSSEGUIU TRABALHANDO. Sambal e Tobias ficaram fortemente irados quando souberam que Nee- mias estava preocupado com o bem-estar dos judeus (Ne 4:1-7). A despeito de toda oposicao recebida, continuou a reconstruir dos escombros, as mura- thas de Jerusalém, antes tao altas e seguras. Permaneceu firme, nao permitiu que 0 afastassem do trabalho que Deus o incumbira de realizar. Nem mesmo a zombaria e a agitacao dos inimigos conseguiram deté-lo. Deixou 0 problema nas maos de Deus e continuou trabalhando, incentivando seus cooperadores a fazerem o mesmo. Nem a ameaca de guerra impediu a continuacio da obra (Ne 4:21), Num esforgo conjunto, tendo em vista a construcéo dos muros, me- tade dos homens que estavam com ele empunhavam a lanca, para 0 caso da ocorréncia de um ataque, e a outra metade fazia o servico. Parte II | DERROTANDO © INIMIGO - 189 Também nés, precisamos estar preparados para guerrear e trabalhar ao mesmo tempo, pois 0 nosso inimigo nao se detém diante de nada, com o obje- tivo de impedir que Deus edifique sua igreja. Mas chegard o dia em que até as forcas do inferno sucumbirao diante do poder do Deus vivo! Precisamos seguir 0 exemplo de Neemias, que apesar de enfrentar circuns- tancias adversas e ter ouvido recomendacées contrarias, continuou trabalhan- do na busca do seu objetivo. Sejamos “firmes, inabaldveis e sempre abundantes na obra do Senhor ..."(I Co 15:58). NEEMIAS POS GUARDAS CONTRA O INIMIGO “Porém nds orantos ao nosso Deus e, como proteciio, pusemos guarda contra eles de diae de noite... Nem eu, nem meus irméos, nem meus mogos, nem os homens da guarda que me seguiam largdoamos as nossas vestes; cada um se deitava com as armas a sua direita" (Ne 4:9,23). Além de esperar no Senhor, Neemias tomou as providéncias necessarias para evitar que qualquer coisa ou pessoa viesse impedi-los de realizar a von- tade de Deus. O inimigo pode apresentar-se como um anjo de luz ou como um leo que ruge, mas sua intencao é sempre de interromper a obra que Deus esta realizando em nés, ou em outros por nosso intermédio. Por falta de vigilancia, muitos tém sido derrotados pelas astutas ciladas do diabo. Mas podemos fazer como Neemias: vigiar e orar para nao cairmos em tentacao. NEEMIAS RECUSOU A ASSOCIAR-SE A ELE Os homens que resistiram a Neemias eram um horonita, um amonita e um ara- be (Ne 2:19). Eles ridicularizaram e zombaram dos judeus, acusando-os de insur- reigéo. Tudo isso, com o objetivo de atemorizé-los, para que paralisassem o servico. E qual foi a reacéio de Neemias? Apartou-se deles. Afirmando que eles no tinham parte, nem direito na cidade, e portanto nao poderiam participar da- quela empreitada. Ele se negou a entrar em disputa com seus acusadores. Algum tempo depois, vendo Tobias alojado no templo, Neemias teve uma atitude radical (Ne 13:7-9). Ao remover do templo os pertences de Tobias, esta- va mais uma vez, recusando-se a conviver com seus adversrios e se livrando da influéncia daqueles homens malignos. Existe a hora de entrar em confronto, e a hora de nos apartarmos para evi- tarmos a influéncia do mal em nossa vida. Aqueles que se expdem a um convi- 190 - Paves po Meu Coracao | Bruce THOMPSON vio desnecessario com seu grupo social acabam se curvando a influéncia dele. Até 0 rei Saul cedeu diante das pressdes sociais e por causa disso perdeu a posigao de lideranga que ocupava em Israel (I Sm 14:13-15). Outros reis e jui- zes também nao romperam a associagao com 0 inimigo, e como consequéncia desse erro nao realizaram a missao proposta para a vida deles. “Ha 0 momento de abracar e outro de afastar do abraco" (Ec 3:5). Nosso constante desafio na vida 6 aprender a discernir qual a reacdo correta diante das circunstancias que vive- mos no momento. NEEMIAS GUERREOU Os inimigos dos judeus ameacaram mata-los caso continuassem a recons- truir as muralhas. Contudo, j4 sabemos que tais ameacas nao intimidaram Neemias. Pelo contrério, fizeram com que ele se preparasse para a luta. Ele determinou que metade dos homens e até algumas familias permanecessem de guarda, todos armados, enquanto outros se dedicavam ao servico, munidos de espadas. Vemos que além de Neemias estar firmemente decidido a realizar a obra, reconhecia que tinha que guerrear. Tinha consciéncia de um fato que todos precisamos reconhecer - estamos em guerra. Temos um inimigo que deseja nos derrotar e que s6 nos dara trégua se aceitarmos os seus termos. A tinica ma- neira de vencermos esse combate é tornando-nos soldados de primeira linha. Portanto é necessario nos revestirmos com a “armadura de Cristo”, nunca nos embaragarmos “com os negécios desta vida”, mas empenhar apenas em “vi- giar, combater e edificar sob 0 comando dele” (II Tm 23,4). Como nossa guerra nao é travada no plano fisico, mas no mundo es- piritual, invisivel, temos que utilizar armas adequadas para esse tipo de combate. Paulo ensina que “tais armas ndo sito carnais mas poderosas para des- truir fortalezas” (II Co 10:3-5). Examinemos algumas delas e vejamos como temos que maneja-las. O NOME DE JESUS Quando empregamos o nome de Jesus na guerra espiritual, estamos nos co- locando em posicao de combate, ao lado das forcas dele. Estamos lutando pela verdade, justica e retidao. “O poder do nome dele é superior a todo 0 poder do inimigo” (Lc 10:19; Fp 2:9,10; Ef 1:21). Parre II | DeRROTANDO © INIMIGO - 191 O SANGUE DE JESUS Em Apocalipse 12.11, temos a seguinte afirmacao: “Eles, pois, 0 vertceram por causa do sangue do Cordeiro”. Isso faz referéncia a grande vitéria que Jesus con- quistou na cruz sobre 0 pecado, a morte eo diabo. Ele derramou seu sangue em nosso lugar, nos dando condicées legitimas para sermos libertos do dominio do diabo. Jesus derramou seu sangue por nés ea vista dele, o inimigo foge. A PALAVRA DO TESTEMUNHO A outra arma mencionada em Apocalipse 12.11 pela qual temos vitéria é a “palavra do testemunho”. Na ocasido em que Jesus passou quarenta dias em jejum, no deserto, demonstrou o poder da Palavra ao replicar as tentagdes do diabo (Mt 4:1-11). Ele brandiu a Palavra com grande habilidade, como se ela fosse uma espada. Resistindo as tentacdes de Satanés, forcou-o a “pater em. retirada’. A Palavra de Deus é a verdade. Quando cremos nessa Palavra e a confessamos diante do inimigo, essa verdade nos liberta (Jo 8:32). A ARMADURA DE DEUS Em Efésios capitulo 6, Paulo ensina que temos que nos revestirmos com toda a armadura de Deus, para que possamos ficar firmes na guerra, contra 0s poderes das trevas. Cada peca dessa armadura é importante! O capacete da saluagio. A couraca da justica O cinto da verdade. O calgado do evangelho. Oescudo da fe. A espada do Espirito. Se nos revestirmos diariamente com essa armadura e aprendermos a uti- liza-la, conseguiremos fazer o inimigo recuar todas as vezes que ele vier para nos atacar. Hi alguns anos, eu e mais algumas pessoas, estavamos orando por um se- nhor idoso que tinha uma tendéncia suicida. Uma simples oragao, de repente, desencadeou uma situacéo apavorante, em que 0 inimigo se revelou como 0 terrivel algoz que ele é. O homem se ergueu de um salto, dew um urro horrendo 192 - Parepes Do Meu Coracao | Bruce THOMPSON € pos-se a emitir sons guturais, com o rosto desfigurado pelo ddio. Pegou uma cadeira, ergueu-a bem no alto e veio avancando em nossa direcao. O ambiente logo ficou tenso. Uma das pessoas presentes ficou paralisada de pavor, mas 0s outros lancaram mao das armas de guerra espiritual. Comecamos a clamar pelo sangue de Jesus ea afirmar o poder do seu sangue, e em um dado instante, quando o homem estava a poucos passos de nés, parou, como que detido por maos invisiveis. A cadeira tombou no chao e com um grito estridente, caiu sobre o tapete, chorando convulsivamente como uma crianca. Ajoelhamos ao seu lado e ele confessou que vinha levando uma vida de adultério. E ali, na presenca do Senhor, arrependeu dos seus pecados. Concor- damos em orar em seu favor e ele rejeitou a atuacéo do inimigo em sua vida. Finalmente obteve a libertacdo que desejava. Soubemos depois que continuou vivendo vitoriosamente, resistindo ao dominio do maligno sobre ele, e se viu livre da insénia, da depressao e das idéias de suicidio. Nao ha dtivida de que o diabo é um adversario fortissimo, como vimos pelos ataques desferidos contra Neemias. No préximo capitulo, analisaremos ainda, outro método empregado por ele a injustiga. Sofrer uma injustica, seja ela real ou imagindria, sempre é muito penoso, principalmente quando vinda de pessoas que confiamos. Satands sabe fazer uso dessa espada e jé tem retalha- do muitas pessoas com sua lamina. Veremos entao, como além de evitar esses golpes do inimigo, podemos também chegar a desarmé-lo. APLICACAO PRATICA Recorde os principais ataques de Satands dos quais vocé foi alvo. Tente dis- cemnir as situagdes em que vocé reagiu da maneira certa e as que vocé caiu na cilada do inimigo. Relembre situagdes em que lancou mao das mesmas estratégias de Neemias para derrotar o diabo. Nora 'Vine's Exposity Dictionary, op.cit 14 UM NOVO COMECO friam muitas injusticas, tanto dos seus compatriotas como das pessoas de fora (Is 1:5,6). Obviamente, isso causava muito sofrimento e dor. A mudanca de um lugar para outro nao implica necessariamente em uma trans- formagao espiritual. Pouco depois que os exilados regressaram a patria, viram ressurgir em seu convivio social as velhas injusticas de antes. Em Neemias 5:1-7, lemos que um grupo de judeus nobres e ricos agia com ex- cessiva usura, cobravam juros altissimos, agravando ainda mais, a dificil situagdo dos exilados. Exigindo pagamento com juros exorbitantes, forgavam os pobres no apenas a hipotecarem suas terras mas também venderem os filhos para com- prarem mantimento para a propria sobrevivéncia. Alguns jé tinham vendido as filhas para saldar dividas. Foi entéo que 0 povo ergueu um angustiado clamor. E este doloroso brado de “Injustica!” tem ecoado através dos séculos, em muitas nacdes do mundo. Foi o clamor que subiu da terra, acusando Caim que movido por inveja e citime, derramara 0 sangue de Abel. O mesmo cla- mor ecoou dos judeus que pereceram no horrendo holocausto, nas maos dos carrascos de Hitler. E partiu também dos cambojanos que se viram ameacados de extincao, apés duas ondas de massacres perpetrados pelos exércitos do Pol Pot e dos Vietcongues. O mesmo grito vem hoje dos afegaos que escaparam da morte, mas sio forcados a viverem como refugiados e renegados. N: exilio, além de lutarem muito pela sobrevivéncia, os israelitas so- O CLAMOR DOS NOSSOS CORAGOES Talvez esse clamor esteja também em nossos coragGes. Sempre que pensamos em injustica, precisamos lembrar trés principios fundamentais relativos a essa questo: 194 - PareDEs Do Meu Coragao | Bruce THOMPSON 1. Deus justo em todos os seus caminhos. 2, Satands é injusto em todos os seus caminhos. 3.0 homem ¢ injusto em muitos dos seus caminhos, O proprio homem, hoje, tem sido cruel com seus semelhantes, praticando sérias injusticas. Muitos esto dominados por uma insacidvel séde de poder e de posses, corrompidos pela gandncia e pela concupiscéncia. Véem os seres humanos apenas como “coisas” para serem usadas e depois descartadas. Esse comportamento obsessivo/compulsivo vem atingindo proporgdes epidémicas, trazendo sofrimento para muita gente. “O espirito firme sustém o homem na sua doenca mas 0 espirito abatido quem o pode suportar?” (Pu 18:14). O que significa estar com o espirito abatido e como isso nos afeta? Esse dolo- 1080 abatimento do coragéo ou espirito é causado por atitudes, gestos ou palavras sem nenhuma compaixéo que ouvimos dos outros. Podemos descrevé-lo como uma dor crénica, constante, a qual sentimos no fundo do nosso ser. Quem nunca experimentou essa profunda dor no coracao, pode se considerar muito feliz! O individuo de personalidade passiva manifesta sinais do espirito abatido sob a forma de auto-piedade, auto-condenacao, introspeccdo morbida, auto-de- preciagao, depressio e até tendéncias suicidas. J4 a personalidade mais agres- siva, torna-se irritada, critica, acusadora, hostile até mesmo violenta, para com 0s que estao mais préximos. Tais sintomas, muitas vezes, sao indicios de um “espirito abatido” que sob tal sofrimento, influencia negativamente a pessoa. O abatimento de espirito, depois de certo tempo, pode comprometer a estrutura da nossa vida, tornando-nos incapazes de desenvolver bons relacionamentos com outros, destruindo inclusive a capacidade que o proprio espirito tem para sustentar 0 homem na enfermidade. Como, entao, podemos sanar esse sofrimento que é quase insuportavel? Existe algum modo de derrotarmos esse “ladrao” que nos rouba a vida? Es- tudos feitos calculam que gastamos cerca de 50% das nossas energias mentais @ emocionais tentando abafar os sofrimentos do passado. Como podemos ser libertos disso e iniciarmos uma vida plena? Sera que poderemos apagar nossas lembrancas ou renovar e reprogramar nossa memdria? Parte Il | Um Novo comeco - 195 OS FATOS GRAVADOS NO CORACAO Para entendermos melhor a funcao do cérebro, vamos examinar algumas pesquisas realizadas pelo Dr. Wilder Penfield, um neurocirurgiao da Univer- sidade McGill, de Montreal, Canada.’ Ao efetuar cirurgias do cérebro em pa- cientes que sofriam de epilepsia focal, o Dr. Penfield fez algumas descobertas impressionantes a respeito da meméria e das emogGes! Os pacientes tinham recebido apenas anestesia local e estavam plenamente conscientes. Em dado momento, ele estimulou com uma corrente elétrica fraca 0 cértex, ou camada externa, do lobo temporal do cérebro. As reagées foram notaveis! Alguns eventos do passado assim como as emo- Ges a eles associadas, vieram do subconsciente para o consciente e os pacientes reviveram tudo, com todos os detalhes. O Dr. Penfield concluiu que os aconte- cimentos do passado estao inseparavelmente ligados as emocées a eles relacio- nados, como que “gravados em fita” e arquivados no cértex do lobo temporal. O estimulo elétrico nado apenas fez com que os pacientes recordassem estes eventos, mas que os revivessem em pensamento. Outros estudos realizados posteriormente revelaram que os estimulos externos que recebemos no dia-a-dia podem ter 0 mesmo efeito, isto é, trazer ao consciente os eventos do passado (inclusive os eventos da vida uterina) e as emogoes a eles relacionadas. Entao, como devemos agir quan- do vem ao nosso consciente um desses eventos acompanhado de suas emogdes? Ser que podemos ser curados dos sofrimentos do passado e aliviarmos a dor que causam? Para obtermos mais informacdes sobre 0 assunto, consultemos 0 maior compéndio sobre a vida humana que é de autoria do nosso Criador. Por intermédio do apéstolo Paulo, Deus nos instrui para que sejamos trans- formados “pela renovagfio da vossa mente” (Rm 12.2) e renovados “no espirito do vosso entendimento” (Ef 4:23). O que é 0 “espirito do nosso entendimento” e como se aplica isso em nossas vidas? Vincent define-o como “o mais elevado principio de vida do homem, pelo qual a razio humana, o érgio do pensamento e do conhecimento moral, se informa”? Entao, sofrer uma renovacdo nessa area no significa mudar de opi- nido ou de doutrina. Ele explica: “Quando somos renovados no “espirito do entendimento” séo modificados tanto as tendéncias da mente como o “conteti- do” dos pensamentos”. 196 - PaREDEs Do Meu Coracao | Bruck THOMPSON O MURO DA SALVACAO NEEMIAS = RESTAURACAO ESDRAS = RECONCILIACAO RENOVACAO RENUNCIA IDENTIFICACAO DAS STRATEGIAS SATANICAS TL ‘AO PELO PERDAO ARREPENDIMENTO]| REVELACAO ye ae ee * REDENCAO PRINCIPAL PEDRA ANGULAI FIGURA 36 Parte II | Um Novo comeco - 197 ARENOVACAO DO CORACAO Com base no que expusemos e nos textos examinados, concluimos que a barra de reforco que colocaremos a seguir na pedra fundamental é a renovacao. O processo de renovacao ¢ vital para a cura dos males do espirito humano. “Porque assim diz 0 Senor: Teu mal é incurdvel, a tua chaga é dolorosa”. O Senhor estd se referindo ao fato de que o homem, em sua prdpria forca, néo pode solu- cionar o problema. Ele diz em seguida: “Porque te restaurarei a satide e curarei as tuas chagas, diz o Senhor” (Jr 30:12,17). Entao, como é que Deus cura nossas chagas e nos renova no espirito do entendimento? Qual é a nossa parte nesse proceso? Analisemos a palavra renovar. Um dos diversos termos gregos que sao tra- duzidos como “renovar” em nossa lingua é anakaintoo. Segundo o dicionario de termos do Novo Testamento, o Vine's Expository Dictionary of New Testament Words, 0 vocdbulo anakainoo é constituido de dois elementos; ana e kainos. O prefixo ana significa “voltar atrés, repetir” e kainos significa “novo”. Nao com 0 sentido de “recente”, mas de “diferente”.* Portanto, “renovar” significa “tornar novo outra vez” ou ter um novo passado. E verdade que nao podemos modificar os acontecimentos passa- dos, mas podemos mudar as reagGes ¢ as atitudes causadas por eles e que ainda afetam o espirito do nosso entendimento. Além disso, essa palavra pode designar a cura das magoas do passado, dando origem a um novo vi- ver! Assim, pela renovagao das nossas mentes, como afirma Romanos 12:2, podemos ser modificados e transformados, livres das influéncias destruti- vas, tanto do passado quanto do presente. ACURA DO CORACAO Algumas pessoas tém indagado se a cura do coracao seria de fato um con- ceito biblico. Parece que o salmista nao tinhia dtividas a esse respeito, pois re- fletindo sobre a restauracao de Jerusalém e o retorno dos exilados, ele diz o seguinte: “O Senthor ... sara os de coragio quebrantado ¢ Ihes pensa as feridas" (SI 147:3). Segundo o livro de Apocalipse, no trono de Deus nasce um rio cristalino em cujas margens est plantada a arvore da vida. As folhas dessa arvore “sao para cura dos povos” (Ap 22:2). Nio ha diivida de que Deus deseja mesmo sarar os feridos e quebrantados. Alguém ja disse que ‘a igreja ¢ 0 tinico exército que mata os seus feridos”, e infelizmente, vez por outra, isso acontece de fato. Mas, a mesma solucao que 198 - ParEDEs Do Meu Coragao | Bruce THOMPSON ~-FIGURADE | AUTORIDADE | DOR PRAZER FERIDAS PECADO S A N T I D A D E FIGURA 37 Deus oferece para 0 pecado, ele dé também para o sofrimento: 0 madeiro em que Cristo foi levantado. Do mesmo modo que “as folhas da arvore da vida”, como diz Apocalipse, trazem cura, a “arvore” de Cristo, a cruz, nos traz restau- racao! Nela, ele foi ferido para curar nossas feridas. Nosso “remédio” é a cruze a obra que Cristo realizou nela é a chave para a cura de todas as nossas aflicdes, mesmo as mais profundas. Para compreendermos esse mistério, vamos estudar um pouco a redencao por Cristo realizada, na descricao de Isaias 53:5 e I Pedro 2:24. Pagre I | Um Novo comeco - 199 “Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressées e moido pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados”. “Carregando ele mesmo em seu corpo, sobre 0 madeiro, os nossos pecados, para que nds, mortos para os pecados, vioamos para a justi¢a; por suas chagas, fostes sarados”. Esses textos revelam dois aspectos importantes do ministério da cruz, rela- cionados com 0 estudo que ja fizemos sobre 0 desejo e sobre 0 movimento pen- dular entre a dor e 0 prazer. Na figura 37, temos a ilustragao desse movimento. Primeiro buscamos o prazer lascivo do pecado e entéo passamos ao sofrimento interior, causado pelas magoas dele resultantes. Esse constante vai e vem da dor para o prazer s6 é encerrado na cruz, onde somos purificados dos nossos pecados e curados das nossas chagas. Tais fardos sao pesados demais para nds e nao precisamos carregé-los. Se insistirmos em leva-los, seremos arrasados pela vergonha e pela dor do pecado, bem como pelo sentimento de culpa e pela amargura causada por nossas feridas. Jesus veio ao mundo para que, pela sua morte na cruz, pudéssemos ter vida! Ele suportou a injustiga, a aflicao e a dor da cruz, para levar sobre seu corpo as nossas injusticas, e assim, oferecer cura aos feridos de espirito. O PROCESSO DE RENOVACAO Agora que j4 examinamos alguns dos principios que regem o processo de renovacio, vejamos 0 que acontece quando os aplicamos na pratica. Que me- didas podemos tomar para nos apropriarmos dessa “cura do coracéo”? Como podemos comecar a caminhar em diregao a satide total e a santidade? RECONHECER O SOFRIMENTO Negar 0 sofrimento interior é uma forma de auto-manipulago. Quando tentamos reprimir uma magoa, estamos internalizando energias emocionais doentias que podem causar em nés depresséo ou algum outro disttirbio de natureza psicossomética. E importante reconhecer e aceitar 0 fato de que softe- mos e admitir isso. Algumas pessoas acreditam que o crente tem que chegar ao ponto de nao sentir o sofrimento, mas isso seria uma forma “super-espiritual” 200 - PareDes Do Meu Coracao | Bruce THomPson de reprimir a dor e tem 0 mesmo efeito que a negacao da mesma. Quando Je- sus chegou diante do tumulo de Lazaro (Jo 11:35), ele sofreu e chorou. Tempos depois, no jardim do Getsémani, sentiu uma agonia tal que, além de chorar, suou gotas de sangue (Lc 22:39-45). Esta claro, entao, que nao é pecado sofrer. A maneira como reagimos ao sofrimento é que pode ser pecado. CRER Na cruz, Cristo levou sobre si nossas dores e tristezas. Precisamos crer que ele quer e pode levar nossas dores e tristezas hoje também. “Porque pela graca sois salvos, mediante a fé e isto no vem de vés, é dom de Deus" (Ef 2:8). Assim como confiamos em Deus para sermos salvos do pecado, da mesma forma, precisa- mos dar um passo de fé e crer que ele nos cura. Quem estiver tendo problemas com a incredulidade, pode vencer essa luta sujeitando as cogitacdes da carne & luz da verdade da Palavra de Deus. E possivel que alguém esteja se perguntando: “Sera que Deus pode me modificar e renovar esse aspecto da minha perso- nalidade? Eu ja sou assim ha tanto tempo!” Claro que pode! E é pela fé que obtemos a vitéria! CONFESSAR Romanos 10:9,10 declara que com a boca confessamos a respeito da salva- do ou cura, Mas é preciso que confessemos tanto 0s nossos pecados como as nossas magoas, assumindo a responsabilidade por tudo que ocorre em nossas vidas. E muito facil responsabilizar outras pessoas pelos nossos sofrimentos, jogar a culpa nos pais, professores e até nos vizinhos. E claro que os pais nao séo perfeitos. les também sao responsaveis por seus proprios atos. O fato é que embora os erros deles possam deixar marcas em nossa personalidade, nés também precisamos assumir a responsabilidade por nossos pecados. Antes de iniciarmos a oragao de confissao, precisamos relembrar todas as experiéncias dolorosas. A cura é responsabilidade do Espirito Santo. Portan- to, é importante deixar que ele nos conduza nesse processo, em vez de tentar observar técnicas elaboradas por homens. Oremos demoradamente pelas di- versas etapas e fases das nossas vidas, deixando que o Espirito Santo, de for- ma sobrenatural, va nos revelando, os acontecimentos importantes. Ele pode apontar para nds, fatos da nossa vida intra uterina, da infancia, adolescéncia, Parte II | Um Novo comeco - 201 das nossas amizades, do casamento, etc. Em alguns casos, a certa altura do pro- cesso, pode ocorrer uma manifestacéo emocional que, alids é uma boa ocasiao para pedirmos a cura. Uma confissao feita com lagrimas, pode ser mais que uma catarse do problema. Se exercitarmos fé, ao expressarmos nosso sofrimen- toa Deus dessa forma, as recordacdes penosas serao substituidas pelo balsamo restaurador do amor de Jesus! Se apresentarmos a Cristo as feridas profundas dos nossos coracées, ele pode leva-las sobre si. DESEJAR INTENSAMENTE A CURA A experiéncia tem me ensinado que para nosso espirito ser curado é pre- ciso que o desejemos intensamente. Existem aqueles que preferem continuar com 0 sofrimento emocional para receberem cuidado e atencao. No fundo, nao querem ficar livres daquela mégoa. Podem até fazer uma ora¢ao de libertacao, mas sem 0 menor desejo de serem curados. Na realidade, néo querem abrir mao dessa “dorzinha” com a qual conquistam a atengao dos outros. Temem ser postos de lado ou esquecidos. Muitos passam de um conselheiro para outro, repetindo com todos 0 mesmo proceso e por fim comegam a se convencer de que seu problema nao tem solugo. O que acontece, na verdade é que nao querem reconhecer que nao desejam encontrar a solugio. “Bem aventurados os que tém fome e séde de justica, porque serio fartos” (Mt 5:6). Na maioria dos casos, 86 quando estamos aflitos ou diante de uma crise séria é que sentimos sede! EXERCITAR A PIEDADE Em Timéteo 4:7,8, Paulo afirma que o exercicio fisico ¢ pouco proveitoso mas oespiritual nos traz muito proveito. Temos, portanto, que exercitar a piedade. No contexto da cura ou renovacdo do espirito, esse exercicio consistiria na remogéo das velhas reagdes que temos diante da vida, adotando, entao, reacdes novas. “Quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homemt, que se corrompe segundo as concupiscéncias do engano, e vos renoveis no espirito do vosso en- tendimento, e vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justica e retido procedentes da verdade” (Ef 4:22-24). Na pratica, como é que nos despojamos do velho homem e nos revestimos do novo? Em seu livro Rational Christian Thinking (O Pensamento Cristéo Ra- 202 - PareDes Do Meu Coragao | Bruce THomPson cional), o Dr. Gary Sweeten explica como formamos nosso sistema de idéias e como 0 modificamos.* Ele diz que, primeiro, passamos por um “evento inicial’, seguido de uma “emogao resultante” que, por sua vez, desencadeia uma “acdo decisiva”. Com base nessa reacao em cadeia, criamos um sistema de conceitos em torno do evento inicial. Sao esses os passos pelos quais formamos condutas habituais. Vejamos um exemplo. 1, Evento inicial: Suponhamos que um menino vai andando pela rua e de repente, um cachorto preto corre atrés dele, avanca e rasga sua calca. 2. Emocao resultante: O incidente produz nele medo, ansiedade e tensao. 3. Aco decisiva: A crianga sai correndo, fugindo do cachorro. Esse é um tipo de experiéncia traumatica para a crianca. Ao chegar a fase adulta, a pessoa ainda pode ter um sistema de conceitos. 4, Sistema de conceitos: Em consequéncia do que aconteceu a ele na infan- cia, 0 adulto pensa que todos os cachorros pretos sao agressivos e perigosos. Sempre que avista um cio com tais caracteristicas, revive todas as emocdes associadas ao evento, sentindo novamente, o desejo de fugir correndo. Se ele quiser modificar suas emogées e sua conduta diante dos cachorros pretos, primeiro tera que modificar seu conceito sobre eles. $6 conseguir se libertar da experiéncia inicial, se conseguir aceitar o fato de que ha muitos ca- chortos pretos que sdo mansos e déceis. Entao, poderé ter emocdes e reacdes diferentes relacionadas aos caes. Assim também, podemos nos despojar das nossas velhas reacdes adqui- ridas, revestindo-nos das novas, se ocuparmos a mente com as verdades da Palavra de Deus, crendo nelas com o coracio e confessando-as verbalmente. [Ver “Aplicacao Pratica”, no final deste capitulo] Voltemos a I Timéteo 4:7 e observemos que somos nés os que nos exercita- mos a piedade. Nés nos despojamos do velho e nos revestimos do novo: ~Temos que falar a verdade. ~ Temos também que controlar a ira. ~ Quem furtava, nao pode furtar mais. ~Devemos dominar a lingua. ~Temos que ser benignos uns com os outros . Se quisermos viver isso na pratica, a renovagio do espirito tem que ser sem- pre acompanhada de arrependimento e confissio de pecados, senao terd curta Pare II | UM Novo como - 203 duracdo. Os israelitas desejavam que Deus curasse suas feridas, mas ele res- pondeu que nao sabia o que fazer com eles (Os 6:1-4), comparando o arrependi- mento do povo a uma nuvem e ao orvalho da madrugada que logo desaparece. Dessa maneira, como poderia abencod-los? Um dos maiores desafios de Deus nao é 0 desejo que temos de recebermos os dons da sua graca, e sim a nossa relutancia em nos tornarmos semelhantes a ele. Se a cura nao for acompanhada da atitude de despojamento do velho homem e do revestimento do novo, ela nao sera duradoura, $6 manteremos o crescimento espiritual e obteremos uma cura genuina se nos exercitarmos na piedade. PERDOAR Deus quer que perdoemos uns aos outros de todo coragao, assim como ele, em Cristo, nos perdoou (Ef 4:32). Mas nés, na maioria das vezes, preferimos deixar que o ressentimento e a amargura nos dominem. A ilustragao mais classica desse fato é a hist6ria do credor incompassivo, registrada em Mateus 18:23-35. Esse homem, cujo senhor lhe perdoara um grande débito, recusou perdoar uma quantia muito menor que outro homem lhe devia, mandando-o para a cadeia. O que muitos nao compreendem é que aquele servo, nunca recebeu no cora- do, o perdao incondicional do seu senhor. Recebeu apenas aquilo que pedira, uma extensao do prazo para pagar sua enorme divida. Como nao recebera 0 perdao de coragéo, nao conseguira perdoar. O “nao perdoado” também nao perdoa; 0 “no aceito” também nao aceita. Por isso ele nao foi capaz de perdoar um débito insignificante mandando seu devedor para a cadeia. Ha muitas pessoas que afirmam que Deus os perdoou, mas na verdade, nao acolheram 0 perdao no coracao, e por isso néo experimentam a libertacao. Tém prazer em “colecionar” ofensas, guardam todo tipo de irritacao, injiiria e desprezo que sofrem. Vao arquivando todos os erros cometidos contra eles, es- crevendo no verso de cada um 0 nome do devedor. Emaranhados nessa rede de mégoas, magoam os outros. Nao sentindo que seus pecados foram perdoados, tém muita dificuldade de perdoar outros. Ao se enxergarem como fracas ¢ in- competentes, causam decepgdes aos outros. Acreditando que foram rejeitadas, rejeitam outros. E assim por diante. O ato de “perdoar a nés mesmos” s6 tem valor, depois que recebemos 0 perdao de Deus. Se nao acolhermos o perdao de Deus no coracio, nao conse- 204 - ParEDEs DO Meu Coracao | Bruce THOMPSON guitemos perdoar de todo 0 corago, nem a nés, nem outras pessoas. Temos que levar para Deus nossa vergonha e sentimento de culpa, para dessa forma, obtermos seu perdao. Se nao o fizermos, seremos como aquele rapaz que fora condenado a priséo perpétua e depois teve sua sentenca revogada, mas ao che- gar 4 porta da prisao, nao conseguia caminhar em direcao a liberdade. Para sermos curados, temos que aprender a perdoar a nds mesmos, liberalmente, de todo coracao! CRESCER Oapéstolo Paulo nos desafia a largar o “leite”, passando a ingerir “alimen- to sdlido” que é verdadeiro alimento espiritual! (Hb 5:11-14). O que ele esta dizendo é “cresca!”, conclamando-nos para crescermos até a estatura de Cristo, falando a verdade em amor, uns para os outros. Certas pessoas falam verdades que magoam. Ja outras, tentam amar em siléncio, mantendo-se caladas. Para crescermos espiritualmente, precisamos das duas coisas, com equilibrio. As velhas feridas que ainda estao abertas podem deixar cicatrizes horrendas em nossa personalidade e retardar nosso crescimento espiritual e no cardter. AUXILIAR OUTROS Na mesma medida que recebemos, assim também devemos dar. Deus pro- mete que nossa cura brotara rapidamente se libertarmos os cativos, alimentar- mos os famintos, dermos abrigo aos que nao tém teto, cobrirmos o nu e nos oferecermos aos outros em sacrificio de amor (Is 58:8). Certa vez, na Africa, um cirurgiéo viveu uma experiéncia curiosa. Ele havia operado um homem, e todos os dias os seus parentes iam ao hospital para ver o corte cirdrgico. Afinal, para impedir uma infeccao e garantir a cicatrizago do corte, 0 médico fez uma bandagem definitiva com um abertura, uma espécie de “janela”. Algumas pessoas sio como os parentes daquele paciente, esto sempre introspectivas querendo ver a todo momento as feridas do coracdo. Sempre que nosso “Grande Médico” nos submeter a uma cirurgia espiritual, deixemos com ele a fase de recuperacao. O Senhor promete nos curar a medida que atendermos as necessidades dos pobres e oprimidos. “. entfio a tua luz nasceré nas trevas, e a tua escuridao seré como o meio- dia. O Senor te guiard continuamente, fartaré a tua alma até em lugares dridos, Pagre II | Um Novo comego - 205 ¢ fortficard os teus ossos; serds como um jardim regado, e como um manancial, cujas éguas jamais faltam’ (Is 58:10,11). Todas essas agdes que acabamos de analisar sio muito importantes no pro- cesso de renovacao. Nossa cura s6 brotar se nos empenharmos, de fato, em aplicé-las em nossas vidas. Agora jé fixamos na pedra fundamental seis barras de reforgo que nos dao condigdes para construirmos um forte muro da salvacao. No titimo capitulo, estaremos fincando a tiltima delas e depois iremos completar a construcao des- se muro da salvacao estabelecendo as portas do louvor. APLICACAO PRATICA Procure lembrar alguns eventos da sua vida que provocaram traumas emo- cionais e pense um pouco sobre eles. Que emogées ou condutas indesejaveis, eles desencadearam e que perma- necem até hoje? Que falsos conceitos vocé adotou em consequéncia de cada evento? Se vocé reconhece que precisa de mudanga e quer muito mudar, tome as seguintes providéncias: Permita que Deus cure a lembranca do acontecido. Ore a Deus, rejeitando os velhos conceitos. Em seguida, aceite e confesse em voz alta, para Deus e para voce conceitos verdadeiros, diferentes dos que tinha. Faca isso varias vezes por dia (Rm 10:9,10). ee 206 - PaREDES DO Meu Coracao | Bruce THOMPSON Notas "Memory Mechanisms, A. M. A. Archives of Neurology and Psychiatry. °Marvin vincente, Word Studies in the New Testament, vol 3, Eerdmans, Grand Rapids, MI. °Vine's Expository Dictionary, op. cit. ‘Gary Sweeten, Alice Petersen e Dorothy Geverdt, Rational Christian Thinking, Christian Information Commitee, Cincinnati, 1986. 15 SURGE UM NOVO CARATER Ultima barra de reforco a ser fixada na pedra fundamental é a que nos possibilita colocar argamassa entre os tijolos, e assim edificar o muro da alvacao, Trata-se da barra da reconstrugao. Esse termo sugere a idéia de que o muro continuard a ser construfdo, jé que a salvaco € 0 processo de imergirmos mais e mais em Jesus. Nossa meta é a que Paulo definiu na sua carta aos Galatas: “Nao sow eu quem vive, mas Cristo vive em mim” (GI 2:20). Em Neemias 2:18, encontramos o seguinte: “E Ihes declarei como a boa mio do meu Deus estivera comigo, e também as palavras que o rei me falara. Entao dis- seram: Disponhamo-nos, e edifiquemos. E fortaleceram-se as mios para a boa obra”. Assim Neemias e seus companheiros comecaram a reconstrucéo das mura- Ihas. E um pouco adiante, diz 0 texto que quando ja estavam quase termi- nando, nao havia mais nenhuma brecha nelas (Ne 6:1). Faltava-lhes apenas, assentar os portdes. Antes de analisarmos 0 simbolismo das muralhas de Jerusalém, agora total- mente reconstruidas, examinemos seus portdes, 0 que eles representam e 0 que significam para nés, ao serem instalados no muro da salvacao. As portas de Je- rusalém eram os pontos de entrada ou safda da cidade. Por elas transitava tudo que era vital 4 manutencao e ao bem-estar dos seus habitantes. Muitas vezes, guardas ficavam nessas portas, atentos a todos que passavam, verificando se todos ou tudo que entrava e safa estavam de acordo com a disposigao dos ma- gistrados. Examinemos, entio, as caracteristicas dessas portas, comparando-as aos elementos que constituem as portas de acesso a nossa vida. O MURO DA SALVACAO NEEMIAS = RESTAURACAO ESDRAS = RECONCILIACAO 208 - PareDes Do Meu Coracdo | Bruce THOMPSON ' ( ‘ nn n RECONSTRUGAO [ RENOVACAO RENUNCIA| IDENTIFICACAO DAS | STRATEGIAS SATANICAS TL_T REVELACAO FIGURA 38 LIBERTACAO PELO PERDAO | ‘ ARREPENDIMENTO T Parre Il | SuRGE UM Novo CARATER - 209 A VIGILANCIA DOS PORTOES Se os portées de uma cidade estiverem quebrados ou nao forem protegidos e bem vigiados, o inimigo pode facilmente entrar, saquear, roubar e destruir tudo. Muitas pessoas tiveram a vida saqueada e até destruida porque nao pu- seram vigias nos portées dos olhos e dos ouvidos. Por outro lado, se as portas estiverem enferrujadas e continuamente fechadas, sempre debaixo de tranca, nao haverd como retirar 0 lixo da cidade, e assim, corre-se 0 risco de produzir epidemias, trazendo morte. Além disso, se nao entrarem pelos portdes agua e 0s alimentos necessérios, a crise se agravara. Precisamos dar atencao aos por- tes da nossa vida, pois aquilo que entrar por eles, ou deixar de sair, podera dominar e até corromper nossos coracdes. A Biblia nos adverte: "Sobre tudo 0 que se deve guardar, guarda o teu coragao, porque dele procedem as fontes da vida” (Po 4:23). Como as portas sao as vias de acesso ao coragio, se quisermos guarda-lo, estejamos atentos a elas. Na figura 39, temos a listagem das portas de Jerusalém, citadas em Neemias 3. A lista menciona os nomes das portas e dos voluntarios que trabalharam no assentamento delas, e também denuncia os nobres que acharam que tal traba- Tho seria desonroso para eles. Vamos analisar cada uma dessas portas, estudando o significado do seu nome e sua aplicacéo em nossas vidas hoje. PORTA DAS OVELHAS - ENTRADA “Jesus, pois, Ihes afirmou de novo: Eu sou a porta das ovelhas... Se alguém entrar por mim, seré salvo; entraré e saird e achara pastagem” (Jo 10:7,9). Continuando a ler 0 capitulo 10 de Joao, veremos que Jesus faz um contraste entre a sua fungéo de “Bom Pastor” e a atitude dos ladrées e salteadores que procuram destruir as ovelhas. Ele afirma que os ladrdes nao entram pela porta da salvacao mas sal- tam o muro em outra parte, na intengao de roubar a vida e a heranga daqueles que estiverem desprotegidos e desatentos. Da mesma forma, temos que entrar na vida pelo portao das ovelhas, pois de outra forma no poderemos tomar posse da nossa heranca. Com a redengao consumada por Jesus na cruz, ¢ por esse portao que podemos entrar e sair para ter comunhao com 0 Pai. E preciso dar a Jesus esse lugar em nossos coracies, para que ele reine como Senhor e Salvador. O portao das ovelhas significa a “entrada” em nossa heranga. 210 - ParEDes Do Meu Coracao | Bruce THOMPSON AS PORTAS DE JERUSALEM OVELHAS —— ENTRADA PEIXE EVANGELISMO VELHA DESPOJAMENTO VALE ——— REAVALIACAO MONTURO —— REMOCAO DO LIXO FONTE PLENITUDE AGUAS PURIFICACAO CAVALOS DESEMBARACAR DOS FARDOS ORIENTAL —— PROFECIA GUARDA ——— GUERRA ESPIRITUAL FIGURA 39 PORTA DO PEIXE - EVANGELISMO Na primeira vez que Jesus viu André, Pedro, Tiago e Joao, eles estavam lan- cando as redes no mar da Galiléia. O Senhor os chamou para que 0 seguissem, com a promessa de fazer deles pescadores de homens (Mt 4:18-22). Imediata- mente largaram as redes e 0 seguiram. Parre I | SURGE UM NOVO CARATER - 211 E hoje Jesus nos dirige 0 mesmo chamado, prometendo fazer de nds pes- cadores de homens. A porta do peixe simboliza a Grande Comissao dada por Jesus em Mateus 28:18-20, para irmos ao mundo todo e pregarmos 0 evangelho a toda tribo e nacao. Em cada oportunidade que tivermos, devemos testemu- nhar as boas novas de Jesus Cristo. A Biblia diz: “O que ganha almas é sabio” (Po 11:30). Tenhamos sempre em mente o imenso valor de uma alma perdida. Até mesmo um recém-convertido pode levar outros ao conhecimento do seu novo “Amigo e Salvador”. Nosso principal interesse na Universidade Cristi para o Pacifico e Asia (Univer- sidade das Nacées - JOCUM), onde sou diretor da Faculdade de Aconselhamento e Assisténcia Médica é levar o evangelho de Jesus Cristo 4 nossa geracao. Os cursos de graduacdo e doutorado sao organizados tendo em vista esse objetivo. Nossa meta é sempre ganhar os perdidos, desde o trabalho de assisténcia mé- dica até os cursos teoldgicos. No ensino do evangelismo, estamos aprendendo o que é uma atuacao progressiva, comecando por uma necessidade palpavel, para depois chegar ao problema mais profundo, a necessidade eterna do cora- cao do homem. PORTA VELHA - DESPOJAMENTO A porta velha simboliza o nosso “velho homem”, com sua maledicéncia, ira, linguagem obscena e maldade. Temos que nos despojar desse velho “eu” nao regenerado, afasté-lo e nos livrar dele (Cl 3:8,9). Depois, entéo, vamos nos revestir do novo homem, renovados segundo a imagem daquele que 0 criou: “. € vos revestistes do novo homem que se refaz para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o criow” (Cl 3:10). Muitas vezes, é nesse ponto, na hora de nos despojarmos do velho homem que interrompemos o processo de renovacao. Se nao nos dispusermos de todo 0 coracao a nos desvestir dele, no cresceremos. As equacdes que se seguem ilustram essa verdade: Desvestir — Revestir = Sem mudanga Revestir - desvestir = Falsa mudanca Desvestir + Revestir = Verdadeira mudanga Muitos de nés fraudamos a nés mesmos, promovendo uma falsa mudanca, passando anos e anos, uma luta desnecessaria. Podemos até experimentar uma verdadeira mudanca, mas enquanto no crucificamos com Cristo nosso velho 212 - Parepes Do Mru Coracao | Bruce THomPson homem, destruindo assim 0 poder que ele tem de nos escravizar ao pecado (Rm 6:6), tal mudanca nao sera duradoura. Como o préprio Jesus, nés também nos retraimos diante da cruz. Entretanto, ele deixou bem claro que se nao cruci- ficarmos a carne diariamente nao poderemos ser seus discipulos. Se tentarmos viver a vida cristé sem abracar a cruz, sem nos despojar do velho homem, tro- pegaremos e cairemos. PORTA DO VALE- REAVALIACAO “Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, néo temerei mal nenhum, porque tu ests comigo ..."(S1 23:4). Nesta vida, todos nés passamos pelos vales da tribulacéo e das provacies. Neles, é que descobrimos como nosso coracao realmente é. Em 1980, quando chegava ao seu auge a fuga dos refugiados da Campu- chéia (antigo Camboja) e do Vietna, eu trabalhava em um hospital de refugia- dos, na fronteira da Tailandia com a Campuchéia. Certo dia, quando fazia a ronda matinal na clinica médica, vi dois médicos americanos chegando cansados e abatidos. Explicaram que tinham sido man- dados para um pequeno hospital em Campuchéia, onde cobririam a folga de outro médico. Mas foram impedidos sob a mira de armas de chegarem até 14, e também nao conseguiam dormir a noite por causa dos tiroteios constantes. Concluiram que o melhor aspecto da coragem era a sensatez e depois de pas- sarem apenas um ou dois dias naquele pais, desistiram, e cruzaram a fronteira de volta a Tailandia. Enquanto os escutava penalizado, ouvi uma voz suave em meu coracao, di- zendo-me para que eu me oferecesse para ir no lugar deles. Certo que era a voz de Deus, obedeci, dizendo a eles que iria para 14. No mesmo instante, comecei a atravessar 0 meu “vale da sombra da morte”. Com a possibilidade de ser preso ou morto pelos vietcongues, poderia nunca mais ver minha esposa e meus filhos. Logo que tive consciéncia disso, comecei a chorar e uma dura batalha pas- sou a ser travada em meu interior. Quem eu amava mais? Deus ou minha fa- milia? Seré que de fato, amava Deus de todo coracao? Sera que poderia confiar nele? Ele estava comigo? Minha disposigao de obedecer estava sendo testada eeu sabia disso. Voltei ao pequeno e attavancado quarto onde estava alojado e comecei a escrever uma cartinha para meus familiares: “Meus queridos e amados...” De tepente, comecei a chorar incontrolavelmente, as lagrimas caiam sobre a folha Parre II | SURGE UM Novo cARATER - 213 de papel ao pensar que talvez nunca mais os visse. Tinha plena consciéncia de que deveria obedecer a Deus e ir. Minhas emogées e 0 coragéo angustiado protestavam. Talvez isso significasse que nao era para eu ir. Quem sabe era para permane- cer onde estava? Concluf a carta manchada de lagrimas. Pedi a um amigo que a enviasse e quando conversava com ele, comecei a chorar novamente. Mais uma vez me senti confrontado pelas possiveis consequéncias da obediéncia. Fiz uma avaliagao do “prego” e decidi obedecer indo substituir aquele médico na Campuchéia. Afinal, o que aconteceu? Deus esteve comigo e me protegeu. Depois que sai, o hospital foi bombardeado, mas o Senhor me trouxe de volta, sao e salvo para o Hawai, onde se encontrava a minha familia. Foi assim que aprendi por mim mesmo que esses momentos de provagao servem para fortalecer nossas decisdes, purificar nossos coragGes, intencdes € que os vales de lagrimas tornam-se uma viagem para Sido. “Passando pelo vale drido, faz dele um manancial ...Vao indo de forca em forga ...” (SI 84:6,7). PORTA DO MONTURO - REMOCAO DO LIXO “Mas, o que para mim era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo. Sim, de- veras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senthor: por amor do qual, perdi todas as coisas ¢ as considero como refugo para ganhar a Cristo” (Fp 3:7,8). Est claro que Paulo nao era de “juntar lixo”. Removia da sua vida e jogava fora tudo que nao tivesse valor. Parece que alguns de nés, vamos juntando tanto lixo em nossa caminhada que ele acaba nos atrapalhando. Ficamos amar- rados aos nossos pertences e nos esquecemos de que pertencemos a Cristo em primeiro lugar. O apéstolo se desembaragava de qualquer peso, inclusive do pecado, para que nada o impedisse de conquistar o grande prémio da vida! Sempre que tropecarmos em algum desses embaracos, precisamos pegé-lo e atird-lo a porta do monturo, e deixé-lo la. Os grupos de assisténcia médica da JOCUM que trabalham nas Filipinas, costumam ministrar num enorme aterro sanitario que ha em Manila. Milhares de favelados vao para 14, escavando o lixo com pequenas picaretas 4 procura de algo que possam reutilizar. Muitos de nés também somos assim. Estamos sempre tentando escavar 0 lixo de nossa vida, na esperanca de poder reutiliza- Jo. Mas precisamos deixar essas coisas e remové-las de uma vez por todas. 214 - PaREDES Do Meu Coracdo | Bruce THomPson PORTA DA FONTE - PLENITUDE “Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Quem crer em mim, como diz a Escritu- 1a, do seu interior fluirio rios de agua viva” (Jo 7:37,38). Nesse texto, Jesus se refere ao Espirito Santo que ird fluir do nosso interior como tios de aguas vivas se formos a Porta da Fonte e permitirmos que ele encha as nos- sas vidas. Jesus sabia que sem a plenitude do Espirito Santo os discipulos nao te- riam poder para testemunhar nem para realizar as obras dele. Entao, ordenou que aguardassem em Jerusalém 0 cumprimento da promessa de plenitude (At 1:4). Por isso encontramos em todo o livro de Atos o relato das realizagdes do Espirito Santo, operando por intermédio daqueles que se coloram em suas maos. Além disso, a Palavra de Deus ordena que continuemos a “nos encher” do Espirito, em vez de nos embriagarmos com os vinhos do mundanismo (Ef5:18). Quem passa de largo pela porta da fonte s6 poderd servir a Deus com suas proprias forcas, que sao totalmente inadequadas para as muitas lutas que enfrentaré no servigo do Senhor. “Néo por ‘forca nem por poder, mas pelo meu Espirito, diz o Senhor dos Exércitos” (Zc 4:6). PORTA DAS AGUAS - PURIFICACAO “Maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, para que a santificasse, tendo-a purificado por meio da lavagem com gua pela palavra, para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mécula, ruga, nem coisa semelhante, porém, santa e sem defeito” (Ef 5:25-27). Apalavra de Deus é uma agua que nos putifica. Precisamos tomar “banhos didrios” nas verdades de Deus, memorizando-as e meditando nelas. E a medi- da em que 0 fizermos, nossos coracées sero purificados das sujeiras do pecado que diariamente acumulamos. Quando eu estudava medicina, em uma de minhas férias trabalhei assen- tando “bocas de lobo” nas ruas. Nao demorei muito para perceber que as bocas dos homens com quem trabalhava eram tao “sujas” quanto os esgotos que esté- vamos tampando. Alguns dias depois, me dei conta de que a linguagem deles comecava a invadir a minha mente também. Preocupado, clamei a Deus e ele me instruiu para que fizesse uma memorizacao intensa das Escrituras. Depois disso, sempre que um palavrao vinha 4 minha mente, eu o substituia por um versiculo biblico. Com isso aptendi que a Palavra de Deus é tao poderosa que além de manter a minha mente e coracao limpos durante 0 horario de trabalho, atuava como espada afiada, neutralizando os ataques do inimigo! Pare IT | SURGE UM Novo CARATER - 215 PORTAS DOS CAVALOS - DESEMBARACAR DOS FARDOS “Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados e ew vos aliviarei” (Mt 11:28). Os cavalos sao excelentes animais de carga e através dos séculos o homem tem conseguido realizar muitas coisas utilizando esse recurso. Portanto, é na porta dos cavalos que nos desembaracamos dos fardos do pecado, da ansie- dade, do sentimento de culpa, das magoas e de intimeras coisas, colocando-as nas mos do Senhor Jesus! Em Mt 11:29, vemos que ele promete trocar nossos pesados fardos por seu jugo leve. Apesar disso, muitos crentes insistem em continuar carregando desnecessariamente aquele peso. No entanto, Jesus de- seja remové-lo de nés, dando a cada um o leve jugo de aprender a obedecé-lo, confiando a ele todas as nossas preocupacées. A Palavra diz também que néo devemos andar ansiosos por coisa alguma, mas orar, entregando tudo nas maos dele (Fp 4:6). Na maioria das vezes, nos esquecemos disso e nos entregamos as preocupagées e 86 oramos quando enfrentamos crises. “Obseroai as aves do céu: niio semeiam, nao colhem, nem ajuntam em celeiros, contudo vosso Pai celeste as sustenta. Porventura nao valeis vés muito mais do que as aves? Qual de vds, por mais ansioso que esteja, pode acrescentar um c6vado ao curso da sua vida?” (Mt 6:26,27). Quanto mais fardos carregamos, menos usufruimos da vida. Ainda resta um descanso para cada um de nés. “Temamios, portanto, que sendo-nos deixada a promessa de entrar no descanso de Deus, suceda parecer que algum de vds tenha falhado ... Nos, porém, que cremos, entramos no descanso” (Hb 4:1,3). PORTA ORIENTAL - PROFECIA Grande parte das profecias biblicas focaliza o Oriente Médio. Precisamos en- tender tais mensagens para intercedermos melhor por Israel. Os eventos histori- cos relacionados a Jesus e aos judeus confirmam 0 fato de que as profecias biblicas sio fidedignas. Precisamos estudar mais essa questdo para compreendermos ple- namente as profecias relacionadas ao futuro e orarmos pela realizagao dos pro- positos de Deus, para o encerramento desta era e o estabelecimento da proxima. “Yertha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu” (Mt 6:10). PORTA DA GUARDA - GUERRA ESPIRITUAL “Sobre os teus muros, 6 Jerusalém, pus guardas que todo o dia e toda a noite jamais se calariio; 06s 0s que fareis lembrado o Senhor, nao descanseis, nem deis a ele descanso até que restabeleca Jerusalém ea portha por objeto de lowvor na terra”(Is 62:6,7). 206 - Parepes po Meu Coracéo | BRUCE THOMPSON Nesses versiculos, temos 0 maior desafio apresentado 4 igreja em nossos dias. Se nds, pela oracao, nao entrarmos na batalha travada nas regides celestes, nao teremos a menos chance de derrotar todo o arsenal que Satands tem prepa- rado para investir contra a igreja. Deus nos municiou com armas que nao s4o carnais, mas poderosas para derrubar as fortalezas do inimigo (II Co 10:3-5). Se nao as utilizarmos, perderemos a batalha. Umas das principais necessidades da igreja hoje sao intercessores que nao déem descanso a Deus até que ele atenda suas peticées. Nés da JOCUM, ja compreendemos que s6 poderemos cumprir a tarefa que Deus deu a missao se nos dedicarmos diariamente a intercessao. Assim também, a igreja s6 experi- mentaré um avivamento espiritual quando um bom ntimero de “guardas”, ho- mens e mulheres, se dispuserem a batalhar nos lugares celestiais, pela oracao, jejum e pela fé. E como individuos, s6 veremos 0 cumprimento das promessas de Deus para nés, se regularmente nos empenharmos na oracao e na batalha espiritual. Vigiemos, oremos e permanecamos firmes! Quando olhamos novamente para a porta das ovelhas, vemos que se todas as outras portas estiverem em seus devidos lugares, operando corretamente no muro da salvacao, podemos entrar por essa primeira porta e usufruir de uma gloriosa e bendita comunhao com Jesus. “Depois de fazer sair todas as que pertencem, vai adiante delas, e elas 0 seguem porque reconhecem a sua voz" (Jo 10:4). Aquele que sabe que Jesus vai adiante dele e reconhece a sua voz entre as muitas que chegam aos seus ouvidos, leva a vida mais gloriosa e gratificante que existe! Se nos dispusermos a obedecé-lo, podemos gozar desse privilégio. Encontramos outra referéncia a portas, no Salmo 24, onde Davi afirma que somente os limpos de méos e puros de coracao poderao estar na habitacdo de Deus. Diz ainda que precisamos estar buscando continuamente a sua face para que possamos permanecer em sua presenga. O salmista conclui com o refrao: “Levantai, 6 portas, as vossas cabecas, levantai-vos, 6 portais eternos, para que entre o Rei da Gloria. Quem é 0 Rei da Gloria?..."(S1 24:7,8). Precisamos assentar nossas portas, na muralha, na posicdo certa, abrindo caminho para que entre o Rei da Gloria, pois a pergunta de Davi continua a ecoar: “Quem 6 0 Rei da Gloria?” Encontramos a resposta quando assentamos os tijolos, um sobre 0 outro, para concluir 0 muro da salvagao. Parte II | SURGE UM Novo CARaTER - 217 O MURO DA SALVACAO “DOMINIO PROPRIO“ ‘\\_MANSIDAG 7 \, / \FIDELIDADE! ‘BONDADE! BENIGNIDADE LONGAMINIDADE 7 / ALEGRIA | FIGURA 40 “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu seu Filho unigénito, para que todo o que nele cré nao pereca, mas tenha a vida eterna(Jo 3:16). Esse texto revela quem é 0 Rei da Gléria! Pelo glorioso plano de Deus para aredencdo do homem, esta claro que a pedra fundamental sobre a qual é cons- truido o muro da salvacao € 0 amor, pois Deus é amor! Cristo realizou o sacri- 218 - Pareves po Meu Coracao | Bruce THOMPSON ficio supremo para que nds nao perecamos. Enquanto nao experimentarmos esse amor nao poderemos concluir o mudo da salvacao. “Espere Israel no Senhor, pois no Senhor ha misericérdia, nele, copiosa redencio” (51 130.7). ORei da Gloria é: amor, alegria, paz, longanimidade, mansidio, benignidade, bondade, fidelidade, mansidao dominio préprio. O tinico que corresponde a essa descrigao ¢ o Rei da Gléria! E quando esse Rei passa a residir em nossos coracdes e assume o controle de nossa vida, co- mecamos a nos tornar semelhantes a ele. Entéo, o muro da salvagao comega a tomar forma na totalidade de nossa personalidade. “Até que todos cheguemos a unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, @ perfeita varonilidade, a medida da estatura da plenitude de Cristo” (Ef 4:13). CONCLUSAO Espero que enquanto analisavamos o processo de reconstrucao das paredes dos nossos coracdes de acordo com o prumo divino, Deus tenha operado em sua vida de forma toda especial. Jé vimos que o inimigo muitas vezes nos engana, e consegue levar-nos a erguer as instaveis paredes da rejeicao e revolta aferidas pelos falsos prumos humanos. Mas, para que possamos derrubar tais paredes e construir em seu lugar muros firmes e resistentes, alinhados pelo prumo divino, temos antes de nos arrepender do orgulho e da incredulidade, e remové-los de nossa vida. O muro da salvagao reflete a verdadeira imagem e natureza de Deus. A medida que continuamos a edificar nossa vida de acordo com 0 prumo divino, vamo-nos tornando filhos e filhas de Deus. Parte II | SURGE UM NOVO CARATER - 219 Quando persistimos em erguer as paredes de nosso coragéo pelo prumo divino, descobrimos que as fontes dele se enchem e transbordam de salvacao. E ai passamos a gozar de plenitude e santidade antes desconhecidas para nés, e logo os outros comecaram a vir a nés em busca dessas fontes para beberem de suas aguas vivas. A Biblia diz que os olhos do Senhor passam por toda a terra procurando aqueles cujo coracao seja totalmente dele, ou esteja alinhado com 0 prumo di- vino (II Cr 16:9). Precisamos tomar a decisao de deixar que Deus construa nossa vida. Assim, além de sermos fortalecidos, abencoados e recebermos nossa he- ranca espiritual em plenitude, seremos também usados por Deus para revelar ao mundo a gloria de sua imagem e para realizar seus propésitos em relacao a terra. Veremos entao, que nossa vida sera como a cidade de que fala Isaias, uma cidade forte e fulgurante de gloria. “O tuaflita, arrojada com a tormenta e desconsolada! Eis que eu assentarei as tuas pedras com argamassa colorida, e te fundarei sobre safiras. Farei os teus baluartes de rubis, as tuas portas de carbiinculos, e toda a tua muralha de pedras preciosas” (Is 54:11,12). Bibliografia Tomas Verney e John Kelly, The Secret Life of the Unborn Child, Summit Books, Nova Iorque, 1987. The Amplifield Bible, Zondervan, Grand Rapids, 1965 Gary Sweeten, Alice Peterson, Dorothy Gevert, Rational Christian Thinking, Christian Information Committee, Cincinatii, 1987. Willian Backus e Maria Chapian, Fale a verdade consigo mesmo, Editora Beta- nia, Belo Horizonte, 1989. Floyd McClung, The Father Heart of God, Harvest House Publishers, Eugene, Or, 1985. Charles R. Solomon, The rejection syndrome, Tyndale House, wheaton, 1982. David A. Seamands, Cura para os traumas emocionais, Editora Betania, Belo Horizonte, 1984. Lawrence J. Crabb Jr., Effective Biblical Counseling, Zondervan, Grand Rapi- ds, 1977. Gary R. Collins, Christian counselig, Word Books, Waco, 1980. Everet L. Shostrom, Man, the Manipulator, Abingdon Press, Nasville, 1967. Tom Marshall, Free indeed, Orama Christian Fellowship Trust, Ausckland, New Zealand, 1975, 1984. Leanne Payne, Broken image, Crossway Books, Westchester, 1981. William Backus, Telling the Truth to Troubled People, Bethany House Publi- shers, Minnedpolis, 1985. > A Editora que vocé sempre quiz, agora no Brasil aA VISITE NOSSO SITE E CONHEGA NOSSO CATALOGO DE LIVROS www.editorajocum.com.br PBMC) UN ReO LENS COUP Met ea ea Ce NSU eae (41) 3657-2708 eo) » 2 i ee. >) Editora Jocum Impressao, Acabamento e Distribuicao: Grafica e Editora Jocum Brasil Fone / Fax: 55 41 3657-2708 | 3657-5982 E-mail: loja@jocumpr.com.br wwweditorajocum.com.br Este livro foi composto e impresso pela Editora Jocum Brasil, na fonte Palatino-Roman Cn, em papel Off Set 70 g/m2. ee Paredes doMeuCoragao | i

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