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| (PSSSCSCSSSCSCSCSOTCTCVTvTvTvsewvswssrssseree Dados de Catalogagtio na Publicagio (CIP) Internacional (Camara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Consetho Episcopal Latino-Americano. c766p Pastoral da juventude: sim 2 civilizagio do amor, / Conselho Episcopal Latino-Americano, CELAM; (tradu- go. Isabel Fontes L. Ferreira; revisfo José Joaquim So- Sral). — So Paulo: Paulinas, 1987. TSBN 85-05-0082 7 {. Igreja — Trabalho com jovens I. Titulo. 87-1607 cDD-2557 Indice para catélogo sistemstico: 1. Pastoral da juventude: Cristianismo 255.7 Conselho Episcopal Latino-americano CELAM PASTORAL DA JUVENTUDE sim @ civilizagao do amor 28 edic&io Luiz Anténio Acervo pessoal EDIGOES PAULINAS —————eEeEGee__e_ CONTEUDO Pastoral javenit — af ala clilizacién del amor Pastoral juvenil — sf a la civilize © Consejo Episcopal Latino-americano — CELAM, Bogoté, 1987 Tradugio Isabel Fontes L. Ferreira Revisso Joxs Joaquim Sobral @D HOIDES PAULINAS. | ‘Teube(aoeee (Pep BA FAX (om 5757408 Rus De Pinto Fern, 183 (atr7 SK0 PAULD = SP ‘END. TELEGR.: PAULINOS EDICOES PAULINAS — SAO PAULO, 1987 ison seosaoaa-7 \S0N wa-8508-7 ~ caionde APRESENTACAO .. PRIMEIRA PARTE MARCO DE REALIDADE INTRODUCAO.. at) 7 37 Visio pastoral da juventude latino-americana Percurso histérico da Pastoral juvenil latino-americana... SEGUNDA PARTE MARCO DOUTRINAL.. INTRODUCAO.. Fundamentos teolégicos da Pastoral da juventude construtora da civilizaco do amo! Identidade da “‘civilizacéo do amor’. Pastoral da juventude para construir a “civilizagZo do amor"......+0seeses. 108 TERCEIRA PARTE MARCO OPERACIONAL OU ATUANTE......... 113 INTRODUGAO..... Critérios operativos para a evangelizacao no mundo juvenil. Processos de educacao na fé e de conscientizacao.... 115 117 Pedagogia da ago pastoral... 7 CONCLUSAO ......-seeseecseneseer . 211 5 Meee seeggeee ae syeeegeseeeeseaseseseeee? SIGLAS E ABREVIATURAS AA — Apostolicam Actuositatem, Vaticano II: Decreto sobre 0 apostolado dos leigos AG — Ad Gentes, Vaticano Il; Decreto sobre a ativida- de missionéria da Igreja CD — — Christus Dominus, Vaticano Il: Decreto sobre 0 minus pastoral dos bispos na Igreja CELAM — Conselho Episcopal Latino-americano DM — — Documento de Medellin, Conclusées da Il Con- feréncia Geral do Episcopado Latino-americano (Colémbia, 1968) DP — Documento de Puebla, Conclusées da Ill Confe- réncia Geral do Episcopado Latino-americano (México, 1979) DV — Dei Verbum, Vaticano II: Constituigo dogmati- ca sobre a revelacao divina EN — Evangelii Nuntiandi, Paulo VI: Exortacao apost6- lica sobre a evangelizag&o no mundo contempo- raneo GEN — Gente nova (Focolarinos) Gs — Gaudium et Spes, Vaticano Il: Constituicdo pas- toral sobre a Igreja no mundo de hoje JAC — Juventude Agraria Catdlica JEC — Juventude Estudantil Catolica JECI — Juventude Estudantil Catélica Independente JIC — Juventude Independente Catdlica JOC — Juventude Operaria Catélica JUC = Juventude Universitéria Catolica LE — Laborem Exercens, Joao Paulo II: Carta enciclica sobre 0 trabalho humano LG — Lumen Gentium, Vaticano II: Constituiggo sobre © ser e missio de lgreja MCU — Movimento Cristo Unido MIEC ~~ Movimento Independente dos Estudantes Cat6- licos MOAC — Movimento Operdrio de Ac%o Catélica PO — Presbyterorum Ordinis, Vaticano ||: Decreto so- - bre o ministério e a vida dos presbiteros — Populorum Progressio, Paulo VI: Carta enciclica a sobre 0 progresso e desenvolvimento dos povos — Sacrosanctum Coneilium, Vaticano I: Constitui- fs go sobre a sagrada liturgia EJ — Secedio da Juventude (CELAM) APRESENTACAO. Os que trabalham em Pastoral da Juventude, hoje, nto podem ignorar 0 que esté acontocenda: 6 modemismo ost em crise, ha claros sinais indicadores de sua decadéncia, a América Latina 6 proclamada como uma esperanga, e boa parte de sua forca repousa em seus valores crist&os; no No- ‘vo Mundo surge 0 jovern novo, a quem Puebla langou desa- fio, convidando-o a ser o agente construtor de nova civiliza- 40, @ Civilizagdo do Amor. O livro, que apresentamos aos que trabalham com a ju- ventude, foi elaborado com a ilusdo de ser colaboragio vali- da para o advento desta nova época, que indubitavelmente esté nas mos dos jovens: Eles a dessjam, encaram as col- sas com mente nova, eles so ‘"forca dinamizadora da socie- dade e da Igreja”. Quem sio os autores Este & trabalho realizado por muitos. Taivez resida af parte do seu mérito, porém, ao mesmo tempo, alguns de seus de- feitos. Mas, de qualquer maneira, sendo todas elas pessoas ‘comprometidas com a direcdo da pastoral da juventude latino- americana, conferem ao livro valor e autoridade. Sob a iniciativa e a coordenago da SEJ intervieram, na elaboragao do livro, os responséveis nacionais pela pastoral da juventude (bispos, sacerdotes e leigos) dos seguintes pai- ses: Argentina, Bolivia, Brasil, Colombia, Costa Rica, Chile, El Salvador, Guatemala, Honduras, México, Panamé, Para- guai, Peru, Republica Dominicana, Uruguai e Venezuela. Estas pessoas, tomando como base livro anterior, publi- cado pelo CELAM, Elementos para um Diretério de Pastoral Organica da Juventude, realizaram seu trabalho em trés eta- pas, a saber: Elaborago do esquema, contetidos e redagdo final. Nas duas primeiras etapas adotou-se o seguinte proces- 0: uma reflexo participativa de cada pais, confronto por gru- See oe oe Baan neenemoneenennnen os de paises, trabalho de triagem, discusso e consenso ge- ral. Uma vez chegados a este ponto, designou-se uma co- missio redatora integrada por: Dom José Dimas Cedefio Responsavel pela SEJ.. Dom Carlos Alberto Nicolini. Dom Aloisio Sinésio Bohn. Padre Jorge Boran.. BOLIVIA -MEXICO -BOLIVIA -PERU COLOMBIA, Srta. Tere Lanzagorta.... Sr. Juan Pablo Moreno. St. Daniel Infante... @ padre Oscar Osorio Jaramillo, Secretério Executivo da SEJ... Propésitos do livro O livro se prop6e servir de instrumento para a Pastoral Organica. A pastoral da juventude em pouco tempo realizou répi- do percurso. Comecando com tudo 0 que a Igreja fez nos sé- culos passados, no campo das escolas e das universidades © por meio das Congregagées religiosas, passando pelos mo- vimentos marianos, pela aco catélica especializada, pelos ‘grupos de encontros e pelos movimentos internacionais, hoje Se sente a necessidade do que estamos chamando de Pasto- ral Orgénica da Juventude, que proporcione resposta aos se- guintes questionamentos: a. Falta de proposta global Os assessores e assistentes da juventude se perguntam: @ que se deve a inconstancia dos jovens dentro dos grupos? A Pastoral Organica da Juventude oferece resposta: sem in- tercambio de experiéncia, sem cobertura de organismo que thes proporcione ajudas e contatos com realidade global, os Grupos param e retrocedem, A falta deste intercdmbio pro. voea dispersdo e isolamento. A Pastoral Orgénica da Juven- 10 tude apresenta uma proposta global que integra e abre gran- des horizontes: a Construgao da Civilizagdo do Amor. ». Para onde se encaminha a pastoral da juventude? Talvez muitos orientadores da pastoral juvenil saibam res- ponder as perguntas “que” esto fazendo e “como o esto fazendo. Mas, dificilmente, dé-se resposta apropriada a per- gunta “para que” se est4 fazendo. A Pastoral Organica da Juventude acha que no 6 suficiente responder que se tra- balha em beneficio do jovem ou para fortalecimento da Igre- ja: afirma que a tarefa da pastoral da juventude tem como finalidade a mudanga, a transformagao das realidades terre- nas (AA 7). ¢. Como superar a improvisagéo Outra das grandes limitagdes em que tropeca hoje a pas- toral juvenil é a improvisacao. Por toda parte surgem inici vas, mas muitas delas obedecem a inspirac6es “carisméticas”, a conversdes emocionais, resultado da captaglo de mensa- gem evangélica abstrata, desligada das condic&es conoretas da vida social, econémica, politica e cultural dos jovens. A Pastoral Orgénica da Juventude propée sério planeja- mento dentro dos topicos visando encarar a realidade, refle- tir sobre esta realidade diante dos valores evangélicos transformé-la pela forca do Espirito de Jesus, Destinatérios do livro O CELAM acredita prestar importante servigo a todos ea cada um dos bispos do continente, oferecendo-Ihes este instrumento que os ajudaré a coneretizar a opgao preferen- cial pelos que devem ser os agentes privilegiados da cons- trugo da nova sociedade. Sem apoio decidido do bispo, ne- nhum setor pastoral caminharé adequademente. Para as pérocos, que dever atender cuidadosamente aos jovens e adolescentes, mas que geralmente se veem sem li- nhas orientadoras para o exercicio deste dever. Desejamos que o presente livro chegue a todas as paréquias do conti- nente. " Muito especialmente, oferecemo-lo aos assistentes e ani- madores dos grupos jovens, que necessitam ter 0 conheci- mento mais amplo que thes seja possivel, a fim de saber até ‘onde e por que caminhos vai progredindo e avangando a pas- toral da juventude hoje. Bogota. D. E. Colémbia, abril de 1987 12 Primeira Parte MARCO DE REALIDADE 13 dou: INTRODUCAO A juventude no pode ser considerada de modo abstra- to, jd que sua realidade esta condicionada pelo meio ambiente que a cerca. Fazer uma reflexo sobre as Linhas Orientadoras da Pas- toral da Juventude na América Latina exige, pois, olhar atento 0s “gritos e clamores” que surgem da realidade social, ecle- sial e juvenil do continente no momento atual. Nao se trata de estratégia valida para assegurar melho- res éxitos futuros na aco evangelizadora. & a convicgdio de fé da presenga ativa de Deus, Senhor da Historia, movendo através do Espirito os coragdes dos homens, para que esta hist6ria continue avangando rumo a realizagao de seu proje- to libertador: 0 Reino de Deus. Encarar a histéria e a realidade com olhos de pastores 6 portanto, discernir “as interpelacdes de Deus nos sinais dos tempos, a dar testemunho, a anunciar € a promover os valores evangélicos da comunhéo e da participacao, e a de- nunciar tudo 0 que, em nossa sociedade, vai contra a filia- ‘go, que tem sua origem em Deus Pai, e contra a fraternida- de dos homens em Cristo Jesus” (cf. DP 18). ‘A pastoral de juventude quer ser, assim, resposta “que leve em conta a realidade social dos jovens do continente” {DP 1187) e que, a partir desta realidade, Ihes ofereca os ele- mentos necessérios para o aprofundamento de sua fé e para 5 Me Anat Comuerter-ne orn fatores de mudanga nesta Sociedade, Neste marco do realidada aproventam-se: 8) uma viséio pastoral do contexto latino-americano, ins- pirada na anélise feita pelos bispos, reunidos na Ill Assem- biéia Geral (Puebla); ) uma viséo pastoral da juventude latino-americana, que situe os jovens @ suas caracteristicas nos diversos setores @ ambientes em que vivem e em que se desenvolvem nos dife- entes paises do continente; ] uma visio histérica do trabalho realizado pela lgreja com os jovens e do enfoque dentro do qual se tem procura- do ajudé-los a enfrentar os desafios que se lhes tém apre- sentado nas ultimas décadas, 1. VISAO PASTORAL DA REALIDADE LATINO-AMERICANA 1, O CONTEXTO LATINO-AMERICANO 1.1. O contexto socioeconémico Por toda parte se comenta a grave situagéio econémica que @ América Latina atravessa. Nos primeiros anos da dé- cada de oitenta, encontramo-nos diante da maior recessio 8 experimentada pela regitio depois da grande dos anos trinta, cujas conseqiiéncias na queda do produto interno bru- to, no controle da inflaco, na diminuig&o das reservas e na impossibilidade de enfrentar 0 pagamento da divida externa ainda nao foram superadas, apesar das medidas aplicadas. Esta crise econémica vivida pela América Latina atinge, com particular énfase, a juventude. Constatam-se alguns pontos positives: a) 0 progresso econémico, que o continente aleangou, demonstra que seria possivel erradicar a extrema pobreza ¢ melhorar a qualidade de vida de nosso povo (cf. DP 21); b) 0 desenvolvimento do processo de industrializaciio, que permite substituir algumas importagdes e adotar tecno- logias avancadas com capacidade de produzir, tanto para o mercado nacional quanto para o internacional, 7 (Paes eseesaeanaeaeanseseeseeaeseenaneneases Subsistem, porém, alguns problemas: a) 0 permanente crescimento da distancia entre ricos e pobres, originada numa sociedade organizada em fungio do lucro e do actmulo da riqueza (cf. DP 28, 133, 494); b) a concentraco, nas méos de poucos, da proprieda- de empresarial, rural e urbana, concentracao que nao permi- te convivéncia humana, digna e fraterna (cf. DP 1263, 1154); ¢) a pobreza generalizada, que adquire na vida real “‘ros- tos bem concretos”: criangas atingidas pela pobreza mesmo antes de nascer; jovens desorientados por néo encontrarem lugar na sociedade, frustrados por falta de oportunidades de capacitagdes e de ocupacao; indigenas e afro-americanos vi- vendo marginalizados e em situagdes desumanas; campone- ses abandonados; operarios mal pagos; sub-empregados e desempregados; populagdes marginais e conglomerados ur- banos; idosos marginalizados pela sociedade (cf. DP 31-39); d) a divida externa e o servico decorrente da mesma, que cada dia aumenta a impossibilidade de recuperacéo eco- némica em nivel de nagGes e de continente, j4 que os em- préstimos internacionais se realizam quase sempre em con- digdes desfavordveis; e) a. compra de armas, que mobiliza parte importante dos recursos, que deveriam estar orientados para programas sociais, Evidenciam-se, também, algumas tendéncias: a) & modernizagao e a tecnificaco com forte crescimen- to econdmico, de um lado; e a pauperizacio e exclusto cres- cente das grandes maiorias da vida produtiva, de outro (cf. DP 1207); b) a fria tecnocracia que aplica modelos de desenvolvi- mento nao participativos, que exigem dos setores mais po- bres um custo social desumano (cf. DP 50); ¢) a busca de novas formas de produgao, mais solidé- rias e comunitérias, que permitam aos mais pobres enfrentar 18 com melhor éxito as conseqiiéncias dos sistemas econdmi- cos vigentes. Mantém-se vivas, enfim, algumas aspiracGes: a) a nova ordem econémica internacional mais justa (cf. DP 129); b) a mudancas estruturais que assegurem melhor situa- ‘40 para as grandes maiorias (of. DP 134); ©) a distribuigio mais justa dos bens e oportunidades pa- ra todos (cf. DP 133); d) a sobriedade compartihada mais do que a riqueza crescente no compartilhada (cf. DP 130); @) 20 trabalho remunerado com justi © sustento decente dos membros da far © qual permita (cf. DP 133); f) & possibilidade de participar na produgao e comparti- Ihar dos progressos da ciéncia e da técnica, bem como de acesso & cultura @ ao lazer digno (cf. DP 136). 1.2. 0 contexto sociocultural ‘Segundo 0 diagnéstico de Puebla, “os valores de nossa cultura esto ameagados” (Mensagem aos Povos, 2).. O efeito desta crise cultural manifesta-se particularmente nos jovens. Constatam-se alguns pontos positivos: a) os claros progressos da educagdo (cf. DP 23): a edu- cacao média chega hoje a proporeao muito alta da popula- co total, e a educagao superior experimentou répida trans- formago quantitativa; b) o anatfabetismo diminuiu, embora em grau ainda in- suficiente, nas regides de populago autéctone e campone- sa (cf. DP 60); c) a existéncia de valores socioculturais cristdos (cf. DP 70). 19 Mas subsistem alguns problemas: a) a dependéncia cultural (cf. DP 53 b) a agressiio a identidade e aos valores proprios de nossa cultura, através de contetidos educativos e de forma de vida importados e afastados da realidade latino-americana, trans- mitidos sobretudo através dos meios de comunicagao sot (cf. DP 53); c) a inversio de valores humanos e crist&os, que foram substituidos pelos {dolos do ter, do poder e do prazer (cf. DP 54, 491); 4) 0 materialismo individualista e coletivista (cf. DP 55); @) © consumismo, que, com sua ambicdo desenfreada de ter mais, no permite & pessoa estar aberta a solidarieda- de e a participacdo fraterna (cf. DP 66); #) 0 progresso educativo que se converte, com freqlién- cia, em frustrago para os jovens que, uma vez preparados, ndo tém oportunidade de realizacao em trabalho de acordo com seu nivel de qualificagao profissional; 9) a deterioragéio da honradez publica e privada (cf. DP 58); h) a manipulago da informago e o uso indevido dos meios de comunicagdo social (cf. DP 62); Mantém-se, também, algumas tendéncias: a) a crescente interesse pelos valores autéctones e pelo respeito devido as comunidades indigenas (cf. DP 19); b) auma sociedade mais aberta e pluralista, que, no en- tanto, ficard sujeita a influéncia cada vez maior dos meios de comunicagao social (cf. DP 128); c) a uma vida social que corresponda cada vez mais aos modeles buscados pela tecnocracia e ndo aos anseios por uma ordem internacional mais justa (cf. DP 129); 2 d) a uma educacdio a servigo do sistema dominante, ma- nipulada pelas ideologias, alheia a nossa cultura latino-ame- ricana, e que faz dos jovens um meio, e nao 0 sujeito do pro- cesso educativo (cf. DP 1021). Mantém-se vivas, enfim, algumas aspiracées: a) & busca de qualidade de vida mais humana (cf. DP 132); b) a libertaco integral, que nao se esgote na existéncia temporal e que se projete para a comunhiio com Deus e com os irmaos (cf. DP 141); c) & educago libertadora, que promova e desenvolva a Pessoa do jovem, e o capacite para se integrar ativamente ‘como protagonista da construcao de uma Sociedade Nova que respeite mais os valores e os direitos da pessoa humana; ) ao reconhecimento, por parte dos Estados, do direi- to dos indigenes de manter suas proprias culturas; @) a participacdo nos progressos da ciéncia e da técnica modernas, € & promogao da cultura popular (cf. DP 136); 1.3. O contexto sociopolitico A ctise econédmica e social manifesta-se também como crise politica, j4 que os conflitos tendem a se agravar, o que influi diretamente na vida e na aco dos jovens. Constatam-se alguns pontos positiv a) a tomade de consciéneia do homem latino-americano a respeito de sua dignidade e de seu direito a participaco politica e social (cf, DP 18); ‘i b) a proliferactio de organizagées comunitarias (cf. DP 18); ) a realidade de um povo jovem que procura capacitar- se @ organizar-se; d) 0 progresso dos sistemas democriticos ne maioria dos paises do continente; 2 BRABEAEEKAAARAARAAEARARRALRALAARAARARBASAE: @) a sensibilidade despertada em torno do valor e do res- psito aos direitos humanos. No entanto, subsistem alguns problema: a) a freqiiente violagiio destes mesmos direitos huma- nos (cf. DP 41); b) a permanéncia, em alguns paises, dos abusos de po- der tfpicos dos regimes de forca, com suas seqilelas de ar- mamentismo e de condicionamentos por parte do poder mi: litar (cf. DP 42, 500, 1263); c) a manuteng&o, neles, de formas de repressao siste- mitica e seletiva (cf. DP 42); d) as angistias com a violéncia da guerrilha, o terroris- mo e os seqiiestros (cf. DP 43); @) a existéncia de sistemas democraticos ainda dema- siado ““formais", em que néo se dé oportunidade a real parti- cipag&o, em que pequenos grupos manipulam os centros de poder'e decisdo, © em que nfo se atendem as reclamacées @ exigéncias das grandes maiorias populares; f) a desconfianga diante de toda forma de organizacao popular, e os entraves que sao postos por parte dos gover- Nos no sentido de impedir que tais formas possam levar avante ‘suas propostas de mudanga e de melhoras para os setores. mais necessitados; 9) a crescente desmobilizacao e desarticulac&o das or- ganizagdes populares em paises que passaram de ditaduras res para governos democraticos; h) a atencdo prioritéria dada por muitos governos aos organismos de seguranca e defesa, aumentando, assim, a cor- rida armamentista no continente, e deixando de lado a satis facdo das aspiracdes e necessidades populares; i) a-influéncia dos grandes centros de poder mundiais, que exigem ages politicas em troca de beneficios econémi 0s, e que lutam por situar nossos paises dentro de suas res- pectivas zonas de influéncia, 2 Manifestam-se, também, algumas tendéncias: a) & maior integrag&o de nossos povos latino-americanos (cf. DP 137) e & revalorizago dos projetos da Grande Patria; b) ao crescimento das organizagées populares para de- fesa de seus direitos, maior participagdo e obtenciio de be- neficios; cc) & maior participacao nos problemas politicos; d) & busca de estratégias de mudana nfo violentas ¢ apoiadas em amplo consenso; e) a certa frustrago dos jovens diante des dificuldades experimentadas pelas novas democracias. Mantém-se vivas, enfim, algumas aspiracdes: a) & convivéncia social fraterna, em que se fomentem e se protejam os direitos humanos, em que as metas que de- vem ser alcancadas se decidam por consenso e nao pela for- a ou pela violéncia (cf. DP 134); b) a que cada um seja considerado como pessoa respon- sAvel e como sujeito da historia, capaz de participar e de op- tar livremente, em todos os niveis (cf. DP'135-136); c) a “uma sociedade em que haja maior igualdade, jus- tiga e participagdo de todos os niveis” (DP 1207); ) ao apoio e defesa dos sistemas democraticos diante de todas as outras formas messianicas e ndo participativas de solucionar os problemas de nossos povos latino-america- nos. 1.4. O contexto familiar A situacio econémica, cultural, pol ¢ sos povos tem grande ressonéncia na vida familiar. Constatam-se alguns pontos positivos: a) a presenga, nas pardquias'e nas dioceses, de fami- lias, verdadeiras “igrejas domésticas”, em cujo seio se vive 23 Shr ahem ttt ee i 116, fe occa on HHhOw awe dA foatamUunho de Compreen fic matua @ da amor ao proximo (ef. DP 94); b) A porlodada eom que muitos noivos 8 proparam pa- fs © cagnnent # com que procuram dar 4 sua celebragio verdaduiro sentido arlatiio (of, DP 679); 0) 8 protica da paternidade responadvel, vivida como fru- to do roto discernimento do cawal 6 nfo da opinido de outras: pevsoon, da moda ou dos impulsos guiados pelo instinto ou pelo capricho; ¢ a disciplina consciente e livre da sexualida- de vivida por amor a Cristo, cujo rosto aparece no rosto da crianga que se deseja e se traz livremente a vida. Mas subsistem alguns problemas: a) a crise econdmica, o empobrecimento crescente, a situagio de desemprego que afeta seriamente a estabilidade familiar (cf. DP 576); b) 0 egoismo, o isolamento, o desejo exagerado de bem- estar, 0 divorcio legal ou de fato, que destréi e desagrega as familias (cf. DP 94); ) a influéncia do planejamento familiar que, movido por compromissos internacionais, leva a imposic&es antinatalis- tas, a esterilizagbes humanas, a abortos provocados e a ex- perigncias que no levam em conta a dignidade da pessoa humana (cf. DP 575-577), influéncia que faz sentir seus efei- tos principalmente na familia rural e suburban; d) o impacto causado nas familias pela aco da porno- grafia, do alcoolismo, das drogas, da prostituic&o, do tréfico de brancas e do problema das mies solteiras e das criangas abandonadas (cf. DP 577); e) a deterioracio dos valores familiares bésicos que de- sintegram a comunhéo familiar (cf. DP 57). Manifestam-se, também, algumas tendéncias: a) a reafirmagdo da estabilidade dos vinculos familiares, quando ac familias do testemunho e mostram como se amam (ef. DP 586); 24 1) ao desenvolvimento de pantoral familiar env ambien’ to do confianga 0 de verdade, em que se verifique a integra- ¢giio dos valores naturais da farnitia com a f6, © em que se rea- \izo discornimento cristo das circunstancias para a tomada do decisées (ct. DP 600); __¢) 4 crescente tomada de consciéncia da influéncia da familia como corpo social primdrio em que se desenvolve o Processo educativo e formativo do jovem (cf. DP 1173). Mantém-se vivas, enfim, algumas aspiracées: a) a0 enriquecimento e sistematizago de teologia da fa- milia para facilitar seu conhecimento a para ar © aprofundam - mo “Igreja doméstica” (cf. DP 601); ree b) a afirmacéio de que em toda i a r pastoral familiar se di verd considerar a familia como sujeito e agente insubstitul. vel de evangelizacao e como base da sociedade (cf. DP 602): cc) a insisténcia necessidade de educ os ‘cago para todos ‘os membros da familia na justi¢a e no amor, a fim de que Possam ser agentes de transformacdio (cf. CP 604) e, assim a familia seja auténti it peers Seja auténtica promotora do desenvolvimento (cf. a) & promoeao de educagao sexual oportuna e integral, como parte ir De copa? importante da educacdo progressiva no amor lf, 1.8. O contexto demogrético A América Latina é um dos setores de 6 L lo mundo Populaedo juveril entre 15 6 25 anos & mais numerosa: verses senta quase 20% da populacio total, : Constatam-se alguns pontos positives: a) maior sensibilidade diante dos valores da vida; ') tarefa organizada de defesa da vida contra toda fe ma de atentado contra ela: a tortura, conti 5 1, 0 aborto, a eutand: ©s controles artificiais da natalidade: ae 25 BOSEEEAEBHARAKRAREAMAMAeee eee ~~~ ~~ ¢) 0 amor a vida constatado, especialmente, entre os se- tores mais pobres.do povo latino-americano. Subsistem, porém, alguns problemas: a) 0 acelerado crescimento demografico, que agrava a marginalizago social, cultural ¢ econémica (cf. DP 71); b) o crescimento urbano, que provoca desequilibrio en- tre a populagéo e 0 emprego, favorece a emigraggo do jo- vem para a cidade, fortalece nela os cinturdes de miséria e promove o envelhecimento nas zonas rurais; ¢) as campanhas antinatalistas, propiciadas por institui- ges internacionais e pelos proprios governos, que atentam contra a moral e a vida familiar (cf. DP 71); d) as migrac6es internas e externas, que trazem consi- go um sentido de erradicacéo que pode levar facilmente & marginalizacao (cf. DP 71). Manifestam-se, também, algumas tendéncias: a) a ritmo acelerado de aumento da populacao e de sua concentracdo nas grandes cidades, agudizando, assim, os pro- blemas para a prestacdo dos servicos basicos de moradia, hos- pitais, escolas etc. (cf. DP 71); b) a uma populacdo que seré majoritariamente jovem, © que encontraré dificuldades de acesso aos postos de tra- balho (cf. DP 71, 127) e de integracao na sociedade; ¢) a grandes competicées urbanas (cf. DP 71, 127, 1207); d) & pretensao de limitar cada vez mais a populagio “so- bretudo nos paises pobres”” (DP 130) Mantém-se vivas, enfim, algumas aspiracdes: a) & diminuig&o dos indices de mortalidade infantil ¢ & melhoria dos servicos de sade, especialmente em nivel pre- ventivo; b) & consecugio de niveis decorosos de vida para as grandes maiorias latino-americanas; 26 c) & satisfacaio das necessidades bésicas de toda vide humana, que permita aos latino-americanos desenvolver suas possibilidades intelectuais, culturais, artisticas etc. 1.6. O contexto ecolégico Constatam-se alguns pontos positivos: a) maior sensibilidade em face da problematica ecoldgi- ca e da sua importéncia para a melhoria do nivel de vida dos, latino-americanos; b) “volta & natureza”, operada por muitos, como resposta &s conseqiiéncias do mundo demasiado tecnificado e plane- jado das cidades e dos ambientes de trabalho; c) 0 desenvolvimento dos setores da educaciio fisica, do esporte, da recreac&o, do encontro com a natureza etc. Mas subsistem alguns problemas: a) a exploragao irracional dos recursos da natureza (cf. DP 139); b) a crescente contaminagao ambiental e 0 desequiibrio ecolégico (cf. DP 138); c) 0 esgotamento dos recursos naturais por causa de uma industrializagao descontrolada e da tendéncia consumista dos paises mais desenvolvidos; d) os desastres naturais, como inundag6es, terremotos, secas @ outros, que nos Uitimos tempos atingiram diversos paises do continente; e) a contaminaco e a ameaga que representam os pro- gramas e as experiéncias nucleares, que continuam sendo mantidos pelos paises desenvolvidos, Manifestam-se, também, algumas tendéncias: a) & crescente deterioracdo da relagfio do homem com a natureza pela explorago irracional de seus recursos e pela contaminacao ambiental (cf. DP 134); 27 b) & industrializagio dexcontrolada ¢ 4 alarma a nizagéo (cf. DP 496); ae rere ¢) & consciéncia da limitagao dos recurso 1s do planeta © da necessidade de sua racionalizagao (cf. DP 130). Mantém-se vivas, enfim, algumas aspiracdes: a) volta de relacdo mais cordial entre o homem e a na- tureza, que 0 faca sentir-se realmente como senhor da cri go que desenvolve suas potencialidades; b) a0 aproveitamento mais justo e racional dos bens d: natureza para proveito de todos. 2 2, VISAO PASTORAL DA IGREJA LATINO-AMERICANA. __ Allgreja consolidou, na América Latina, um. - fética, evangelizadora e libertadora. A Igreja bite tuigdo e como Povo de Deus — torna-se crivel quando esta atenta e acompanha os processos histéricos e sociais que se vao desenvolvendo no seio do povo, com atitude profética de andincio e dentincia. A opedio pelos pobres se complementa com a opedo pelos jovens. Como respostas aos sinais dos tempos, estas op¢des representam exigéncia e programa para a encarnagao sociologica da Igreja na América Latina. Constatem-se alguns pontos positives: a) a tomada de consciéncia de : 2 i que, estimulada por sua asp Seles Dee iaete arate pees e imovel diante das exigéncias de um mund [- danga (cf. DP 84); aa _._ b) oer escutada em clima de mais liberdade e com sen- tido critico, como conseqiléncia do trabalho de conscienti- jo dos agentes de pastoral e das mudangas culturais, so- ciais, econémicas, politicas’e técnicas que esto ocorrendo no continente (cf. DP 76-77); c) osurgimento de uma juventude que, pela acd urgimente , Pela ago de al- ‘gumas familias, de instituigdes educativas e de grupos juve- ris, vive sua fé no compromisso com © proximo, particular mente com © pobre (cf. DP 96); d) as comunidades eclesiais de base que amadureceram, se multiplicaram e se converteram em focos de evangeliza- do @ em promotores de libertacdo (cf. DP 96) vivendo a op- 80 preferencial pelos pobres; @) 0 florescimento de grupos eclesiais de leigos, homens ‘e mulheres, que refletem & luz do Evangelho sobre a realida- de que os cerca e buscam formas originais de expressar sua #6 na Palavra de Deus e de pd-la em pratica (cf. DP 99); f) a vivéncia da comunhio, no sem vazios e deficién- cias, em diversos niveis, como as familias cristiis, as comu- nidades eclesiais de base, as pardquias, as dioceses em par ticular, as dioceses integradas em nivel regional e nacional nas Conferéncias Episcopais e no CELAM em nivel latino- americano (cf. DP 104-107); 9) a putificagéo de costumes simplesmente ritualistas na liturgia e sua celebraco em pardquias renovadas e em gru- pos reduzidos, com participacdo pessoal e ativa; e o lugar dado & proclamacio da Palavra, com o que a vida crista vai ganhando em esclarecimento e em profundidade (cf. DP 101); h) o aumento das vocagées, tanto em nivel sacerdotal quanto de religiosos ¢ leigos; e @ presenca cada vez maior destes leigos comprometidos na transformagao do mundo nos diferentes ministérios. Mas subsistem alguns problemas: a) 0 indiferentismo religioso, que passou a ser proble- ma enraizado em grandes setores de intelectuais e de profis- Ssionais, da juventude e até da classe operdria (cf. DP 79); b) a proliferacdo de seitas, que suscita confusdo nos in- tegrantes do povo de Deus (cf. DP 80); ) a ignorancia religiosa em todos os niveis, a qual leva muitos a prescindir dos principios morais — pessoais ou so- ciais — e se fechar no ritualismo e em mera pratica social 23 THKLKLKAAK LATTA TATTATTLALTE TCL LATTTiitef de certos sacramentos como sinal de sua pertenga a Igreja (cf. DP 81-82); d) a secularizagao, que reivindica legitima autonomia nas tarefas e realizag6es terrenas e que pode contribuir para pu- tificar as imagens de Deus e da religio, tem levado as vezes & perda de valor do religioso ou a secularismo que volta as costas para Deus e nega a sua presenca na vida piiblica e na sociedade; e) as tensdes provocadas dentro da propria lgreja por gru- Pos que ou enfatizam “o espiritual’” de sua misao, descui- dando-se dos trabalhos de promocao social, ou querem con- verter a miss&o da Igreja em mero trabalho de Promogio hu- mana (cf. DP 90). Manifestam-se, também, algumas tendéncias: a) & publicaeo de documentos sobre a justica social, a criagdo de organismos de solidariedade com os que sofrem, & dentincia de abusos e arbitrariedades, bem como a defesa dos direitos humanos, a apoiar a ope de sacerdotes e reli- giosos pelos pobres e marginalizados, a suportar em seus membros a perseguicdo e, &s vezes, a morte como testemu- nho de sua missao profética: tudo isto como sinais de uma ‘tomada de consciéncia da missao da Igreja como seguidora de Cristo (cf. DP 92); b) @ superac&o gradual, mediante a pratica do didlogo aberto @ construtivo, das dolorosas tensdes doutrinais, pas- torais e psicolégicas entre agentes pastorais de diferentes ten- déncias (cf. DP 102); ¢) busca do caminho da unidade desejada através da idade ecuménica, expressa no diélogo e nos esforcos con- juntos pela promocéo humana (cf. DP 108); d) & revalorizagao da religiosidade popular, que, apesar de seus desvios e ambigilidades, expressa a identidade reli- giosa de um povo, e que, ao se purificar de eventuais defor- mages, oferece um lugar privilegiado para a evangelizacao (cf. DP 109); 30 ) 20 crescimento e desenvolvimento das comunidades eclesiais de base e de todas as formas de vida comunitéria e solidaria, sobretudo nas zonas rurais e populares; f) & vivéncia de uma fé cada vez mais comprometida com a historia dos homens, e expressa no compromisso com a transformagio das estruturas injustas. Mantém-se vivas, enfim, algumas aspiracdes: a) a responder ao clamor pela justi¢a, clamor cada vez mais claro, crescente, infrutifero e, em certas ocasiées, amea- cador (cf. DP 87-89); b) & construc&o, com todos os homens, de uma socie- dade mais fraterna e justa, que ajude os latino-americanos 2 passar de situacdes menos humanas a situagdes mais hu- manas; ) a uma Igreja cada vez mais missionéria, anunciadora do Evangelho do Reino de Deus, soliddria com os mais po- bres e necessitados, comprometida com a luta pela liberta- 640 integral dos povos letino-americanos d) a maior participagao leiga e a maior grau de protago- nismo nela, por parte dos pobres e dos jovens; e) a.uma Igreja incentivadora da construcdo da Civiliza~ 80 do Amor (cf. Mensagem aos Povos, 8). 3. SINAIS DE AMEAGA E SINAIS DE ESPERANCA Esta € a realidede latino-americana. Nela vive, crescem e se desenvolvem os jovens lati- no-americanos. Neste mundo complexo, guiados pela fé no Senhor Je- sus @ luz de sua mensagem proclamada no Evangelho, animamo-nos a descobrir a luta cotidiana pela construcao do Reino, manifestada nestas angdstias e esperancas (cf. GS 1) que serio apontadas a seguir. 31 3 a) A ameaca nuclear ‘Ajuventude néo pode sentir-se tranqiila quando perce- be que as ogivas nucleares estao apontadas, ameagadoras, para 0 seu rosto. O desastre cosmico pode acontecer a qual- quer momento pela decisdo de um sé homem ou por algum acontecimento acidental, dada a descontrolada corrida ar- mamentista que muitos paises continuam empreendendo. Co- mo diz um esoritor latino-americano, neste momento da his- t6ria o potencial nuclear equivale a seguinte situaco: é co- mo se cada ser humano estivesse sentado sobre um barril com mais de quatro toneladas de dinamite, E, mesmo que este desastre nuclear nao venha a ocor- rer, verio-nos obrigados, muitas vezes, como paises pobres, ‘a comprar e consumir os produtos afetados pelos “escapa- mentos” de radioatividade que os paises ricos produzem e cujas conseqiéncias depois no querem afrontar. Sinais de ameaca b) 0 perigo em que se encontra 0 espago ecolégico Durante muito tempo, a humanidade viveu com a ilusio de que 0 planeta possufa recursos infinitos. Hoje sabemos que 0 aniquilamento macigo da natureza constitui um dos ma- les mais consideraveis que a humanidade faz a si mesma, no 36 no plano econémico, mas também nia ordem moral e cul- tural, e que muito poucos ainda se preocupam com det ¢) O descontrolado progresso tecnolégico Paradoxalmente, esta humanidade, dispondo de tantos recursos, ficou presa na armadilha que ela propria preparou. ‘A revolucao tecnolégica rompeu a harmonia e 0 equilibrio do homem moderno. E verdade que alguns povos alcangaram niveis de bem-estar inimaginaveis; mas, a0 mesmo tempo, no nos preocupamos com a reflexo e a sabedoria indispe- saveis para fazer bom uso da ciéncia e do poder. Chegaram a ser construldos sistemas complexos para dominar o plane- ta, mas, simultaneamente, tem-se dificuldade de controlé-los de modo adequacio ¢ de proporcionar condigées de vida digna as duas tergas partes dos habitantes da terra. d) A distancia entre ricos e pobres A crescente distancia entre ricos e pobres, Salientada por Puebla, 6 qualificada como escAndalo e contradig&io com ser cristo; 0 luxo de poucos diante da miséria de muitos, como insulto as grandes massas necessitadas do continen- te; e esta situaco desumana, como fruto de algumas estru- turas econémicas, sociais e politicas que, se ndo se modifi- carem, chegardo a niveis intoleraveis. e) A divide externa ‘A juventude pergunta-se hoje até onde nos vai levar a injusta relagdo econdmica, que permite aos paises industria- lizados subvalorizar e minimizar as matérias-primas que pro- duzimos e sobrecarregar os custos dos produtos elaborados que importamos e que, associada a outros fatores, faz pesar sobre 0s paises pobres uma insuportavel divida externa que poe em perigo a estabilidade democratica, 0 direito ao de- senvolvimento e a propria vida dos povos, que atenta contra ‘a sua soberania e se transforma em novo mecanismo de opres- so que mantém a dependéncia. 1A violencia A realidade da violéncia atinge diariamente a vida dos povos latino-americanos. Enquanto alguns a idolatram e afirmam que sé ela cons- titui o caminho valido para a libertacéo, outros a criticam, mas mantém uma sociedade estruturalmente injusta, que atenta contra os direitos humanos e que se volta contra os mais fra- cos, 0 que representa — de fato, também — uma situacdo de violéncia institucionalizada. A Igreja, ao convidar & busca de solugées para as cru- ciantes situacdes de injustica do continente, lembra que “toda violencia gera inexoravelmente novas formas de opresséo de escravidao" (DP 532). g) O desemprego generalizado O trabalho humano ¢ o lugar em que o homem se ex- pressa como tal, atende as suas necessidades e busca a rea- 33 eet] geeeeecceccecrcrceaertereercerereeeererere lizag&o de suas aspiragées. O trabalho 6, também, a chave de toda a questdo social, que inclui os negécios e tarefas so- cioeconémicos, politicos ¢ culturais, No entanto, a juventude observa com preocupactio a for- ma mediante a qual cada dia mais se véo estreitando os es- acos que possibilitam a consecugao de trabalho digno e pro- missor, a0 mesmo tempo que se multiplicam as dificuldades impostas ao acesso a tal mercado. A) O tréfico de drogas problema da droga vem-se convertendo, pouco a pou- co, em fenémeno mundial, que, para alguns, constitui um dos sinais de uma contracultura juvenil. Este mal, em qualquer de suas trés etapas — cultivo, utilizac&io ou comercializago — um dos grandes atentados contra a sociedade e priori- tariamente contra a juventude. i) A desorientagio Diante da avalanche de oferecimentos do consumismo € do materialismo, de ideologias de cunhos diferentes, da se- dugao exercida pelos meios de comunicacao social e pelos modelos que Ihe sto apresentados, o jovem sofre uma situa- 40 de desorientacao e uma perda de sua consciéncia de pes- oa que se realiza no seio de um povo e dentro de uma hist6- ria. Ele cai facilmente na massificacdio e renuncia a toda for- ma de participaco que Ihe possa permitir contribuicaio cria- tiva para a realizag8o de modelos de vida e de desenvolvi mento autenticamente humanos. 3.2. Sinais de esperanca Nem todos, porém, so sinais de angistia. A juventude latino-americana, estimulada pela esperan- a que Ihe infunde a presenga viva do Senhor Ressuscitado, considera que ha oportunidades para a renovacdo e 0 otimis- Mo, @ que a utopia da “Civilizacao do Amor’ é possivel e he dé motivagdes suficientes para enfrentar esta série de males que a angustia, 34 Esta atitude se apdia em certos sinais de esperanca ob- servados no continente: a) Um continente jovem A América Latina 6 um continente jover,; que comeca a afirmar a sua identidade como fruto de rica mesticagem cultural, em que convergem as trés grandes racas: branca, negra e indigena; com vocaco unitéria originada em sua con- figurago étnica, em sua heranga ibérica, em sue lingua, em sua religido e em suas lutas comuns pela liberdade de ontem e de hoje. A propria expressiio numérica da juventude na América Latina jé 6, por si mesma, sinal de vida e de esperanca. Por isso, a Igreja vé na juventude uma enorme forga re- novadora, é sente-se refletida nela (cf. DP 1178). b) A f6 cristé como elemento identificador de sua cultura A América Latina possui um “radical substrato catoli- co” (DP 7). Sua historia & (ria crist&, e a fé 6 0 ponto de referéncia obrigatério nos marcos mé portantes de seus cinco séculos de existéncia, a maior forca em seu presente e a maior esperanca para o futuro. 1 Por isso, a Igreja Catélica, através da pastoral juvenil, quer apresentar-se aos jovens como sinal ¢ instrumento do Reino justo, pacifico e caridoso anunciado por Jesus, e quer ser ela mesma, também, sinal que manifeste de modo visivel o que Deus esté realizando silenciosamente na hist6ria dos homens. c) Um continente aberto “a0 novo” A época em que vivemos apresenta-se como radicalmen- te diversa dos tempos passados, jé que sua caracteristica de maior realce 6 a mudanga, a mobilidade, o dinamismo. ‘A América Latina sente a vocagdo que tem néo s6 de estar presente, mas também de promover o surgimento de nova cultura, na hora em que se tragam as linhas de nova 6poca da histéria humana e os povos procuram organizagoes sociais mais fraternas e mais justas. 35 Por lan, « jutuja latino arnerioana Yee wants ebeannacle a ult Plivente [Un taNOH I one Y EYanielity, partioularnety (0 hae fame an) ques Gann HHEiTrONH valli Fortin, Hogue ay (unit 0 homer organlzou KoUN voloren 6 HUA GonvIvériCle para dat lugar a sintoses haven!” (DP avd), A forge dow pobroa A Aininica Uanina apdla-no om sua propria situagio da 20 para estimular a Gonstrugto do uma nova socladada, ‘A pobreza faz descobrir novos © mais auténticos valo- 109, infundo Snimo o enorgia para superar situag6os, abro para ‘4 comunicagaid com os outros @ leva a sentir que a forga mo- ral pode chegar a ser mais eficaz do que a propria forea fisica. Por isso, a Igreja latino-americana faz opeao preferen- cial pelos pobres, nao em virtude de improvisago emotiva ‘ou retérica, mas como resposta & realidade do continente e em coeréncia com a mensagem do Evangelho (cf. DP 1132). pol e) Uma nova imagem do joven Diante da descrenca de muitas geragSes, adultas e tam- bém jovens, a America Latina vai dando luz novo modelo de ser jovern, caracterizado por crescente desejo de partici- aciio na sociedade como protagonista de sua vida e de sua histéria, por uma rebeldia capaz de empreender as aces mais audaciosas que o levem & conquista dos ideais a que aspira, por anseios de liberdade que se tém expressado através da luta contra os regimes opressores e totalitérios do continen- te, e pela busca decidida e pertinaz de novos estilos de vida comunitarios @ solidérios, em que no se acha ausente sua sede de transcedéncia. Por isso, a Igreja latino-americana faz opgio preferen- cial pelos jovens (cf. DP 1132) ¢ thes ““faz um veemente ape- lo para que nela busquem o lugar de sua comunhéo com Deus e com os homens, a fim de construir ‘a Civilizagio do Amor’ e de edificar e paz na justiga” (DP 1188). 98 M1, VIGAO PASTORAL DA JUVENTUDE LATINO-AMERICANA, 1. QUE SE ENTENDE POR “JUVENTUDE"? 1.1, A juventude, uma idade A juventude & a idade de pessoa em crescimento, que busca sua definic&o pessoal e social. £ fase de ascenséo, de crescimento, rica em promessas de renovaco e em reservas de entusiasmo para a humanidade. Ja se disse que a juventude 6 idade de “transigéo’. Deve-se entender, porém, que transi¢o néo significa algo pouco importante, algo “que ja vai pasar’, £ momento de transig&o, mas determinante de sua forma futura. Crescimento, assimilac&o de valores, integraco de sua personalidade, educaco e formago sao constantes da vida do joven desde o seu nascimento, mas s&o as realidades que Por isso, 0 tempo da juventude tem valor proprio, néo de simples “passagem', mas de tomada de posi¢go e de de- cisio diante da vida. 1.2, A juventude, estado de opgo O que melhor define a juventude é o fato de ser a épo- ca da vida em que pessoa se sente na necessidade e na 37 ELECT TTI TTT TTT TAT CCC CLT TiF ices: urgéncia de optar para se definir. A crianga certamente op- ta, mas por meio de decisdes répidas e cambiantes, deter- minadas pela fantasia e pelo desejo de imitacdo da vida dos adultos: suas decis6es ndo sdo propriamente “pessoais”, mas influenciadas. O adulto jé optou por uma forma de vida: to- do 0 seu problema reside na realizacao integral das opgdes. feitas. O jovem, em mudanca, sente-se na encruzilhada da opeao. 1.3. A juventude, atitude diante da vida De forma mais ampla, poder-se-la definir a juventude co- mo atitude diante da vida (DP 1167), condicao espiritual, a tude psicolégica: Atitude diante da vida que se poderia dé nir como ‘a faculdade de alegrar-se com o que comeca, de der-se sem recompensa, de renovar-se e de partir novamen- te para novas conquistas” (Mensagem do Concilio aos Jo- vens, 6). 2. A JUVENTUDE, REALIDADE SOCIOLOGICA 2.1 A juventude, “novo corpo social’ “Antes havia jovens, hoje ha juventude”, Esta afirmacdio, hoje comumente aceita, expressa grafi- ‘camente como 0 munds juvenil se transformou em novo corpo social, como o afirma Medellin (cf. DM 5,1). Hoje, os jovens formam um corpo, uma unidade especial dentro da socieda- de. Nao se trata de unidade juridica, cultural, politica...: trata- se de unidade sociolégica e, portanto, menos apreensivel e controlavel, porém mais importante, porque anterior as ou- tras; e, em todo caso, impde-se como fato. Até agora, 0s jovens estavam presentes na sociedade na- turalmente; mas sua existéncia e sua presenga se dilula nos diversos corpos sociais: adultos, familia, centros docentes, trabalho etc. S6 se chegava a eles através de tais corpos. Hoje, esta dispersao social terminou € os jovens se cristalizaram em novo corpo social, distinto dos outros e delimitado com bas- tante clareza: eles tem autonomia e consisténcia proprias. 38 € este o resultado da socializacao dos grupos juvenis, da mentalidade que vao criando neles os meios de comuni- cago social, o sistema educativo, a familia etc, Pode-se con- cluir, pois, que 0 problema da juventude deixou de ser pri- mordialmente um enunciado biolégico e psicolégico, para pas- sar a ser um enunciado sociolégico. 2.2. A juventude, novo “grupo de presséo” Por se haver transformado em novo corpo social, a ju- ventude passou a sef, em conseqiiéncia disto, novo grupo de press, forca que n&o somente & esperanca do futuro, mas realidade atuante no presente da vida do continente la- tino-americano, A rapidez de sua ascensfo, que a levou a ocupar posi- g6es-chave dentro da comunidade; sua concep¢ao do mun- do e da vida, sua preparacdio e sua propria atuaco que inci- de direta e rapidamente na conducao dos paises; seu desen- volvimento como corpo cada vez mais determinado com idéias e valores préprios, com comportamentos e atitudes comuns diante da vide, com linguagem e aspiracées que a identifi- cam claramente em relac&o com os outros setores sociais ¢ que a converteram em grupo sociologicamente influente, in- clusive com “‘subcultura” propria, so algumas das razSes que poderiam ser aduzidas como indicativas desta nova forca so- cial presente na América Latina. Esta influéncia social da juventude cresce, aliés, pelo fa- to de estar presente nos diversos meios sociais: camponés, operario, classe média, ricos, marginalizados etc. As situagSes sociais, que esto agindo sobre o ntimero cada vez maior de jovens na América Latina, e pressionando- os fazem-nos também ficar cada vez mais conscientes da si- tuacdo da injustica do mundo em que vivem e de suas aspi- ragdes comuns pela libertago e pela promog&o humana do continente. 2.3. A juventude, dinamizadora da sociedade A juventude, inserida no mundo latino-americano, sente- se chamada a desempenhar uma misstio que Puebla inter- 39 pretou — ao destacar o seu papel — como dinamizadora do corpo social e do corpo eclesial (cf. DP 1186) e como renova- dora da cultura latino-americana que, de outro modo, enve- Iheceria (cf. DP 1169). Como dinamizadores do corpo social, os jovens recebe- ram do Concilio clara miso quando ele Ihes disse: ““Cons- truam com entusiasmo um mundo melhor do que o de seus antepassados"’ (Mensagem aos Jovens, 6). Este imperative tem seu fundamento no fato de que os jovens séo gente no- va, com idéias e inquietacdes novas e, portanto, com capa- cidade de infundir fora nova ao organismo social, e de lutar contra 0 egoismo, a violéncia e o édio. Como forga renovadora da Igreja, esta encontra também nos jovens um desafio para sua propria renovagdo: “A Igreja vé na juventude da América Latina um verdadeiro potencial nae Yesen aDIae futuro de sua evangelizagao” (DP 1186). Apresenta-se, entéo, um contraste entre a aspirac&o da juventude que deseja “ser mais” e a da sociedade em que , que valoriza e avalia o homem mais pelo “ter” do que pelo “ser”. Isto nele provoca conflito cujo resultado é o cha- mado “fenémeno do vazio", que ocorre tanto em nivel pes- soal, quanto em nivel social. Este vazio gera, por sua vez, trés atitudes facilmente reconheciveis: revolta, frustrago ou esperanca. a) Revolta Diante dos problemas que a juventude descobre na so- ciedade em que esta inserida, ela costuma assumir posic&es de revolta demolidora, de mediocridade consciente ou de re- volta construtiva. Alguns setores muito dinamicos da juventude, enfastia- dos pela civiliza¢ao de consumo (cf. DP 1177), pressionados pelas diversas ideologias, especialmente as mais radicaliza- das (cf. DP 1170), e manipulados no politico pelo idealismo natural (cf. DP 1172), manifestam-se por meio de revolta de- mofidora, rompendo radicalmente com o passado e até com © sistema vigente, para incorrer, quase sempre, no em au- t8ntica ibertaglo, mas em novas formas de alienacdo. Grandes maiorias se acomodam as estruturas atuais perdem sua capacidade dinamizadora juvenil (cf. DP 1170). So vitimas de todas as formas de evasao: erotismo, droga, alcoolismo etc. (cf. DP 1171). Muitos deles vivem comoda- mente, aceitando as formas burguesas da sociedade e dei- xando-se levar pelo indiferentismo religioso (cf. DM 5,3). As- sumem atitude de meaiocridade consciente. Hé niicleos, enfim, bem representativos, de jovens que, nesta situagéo, orientam criativamente sua revolta para 0 es~ forgo de “construir um mundo de paz, justica e amor” (DP 1177). Eles tém legitimas inquietacSes politicas e conscién- cia de poder social (cf. DP 1172); entre eles, no poucos tem encontrado a alegria da entrega a Cristo, nao obstante as va- riadas e duras exigéncias da cruz (of. DP 1177). No coragdo do mundo juvenil, mesmo nos que dentro dele se acham desorientados, esconde-se um inconformis- mo que revela, no fundo, a necessidade de Deus. b) Frustracao = ‘A juventude latino-americana est cheia de anseios de realizago. Aspira a ’ser”, a comprovar que o “ter” somente no a satisfaz. No entanto, a sociedade em que vive e se desenvolve responde-lhe com relativismo e ceticismo na busca da ver- dade; com hiprocrisia e manipulaco, com visbes distorcidas do amor e da liberdade, assim como com posi¢ées de res- sentimento e de 6dio que a impedem de orientar retamente seus ideais. Os meios de comunicacao social ameacam continuamen- te sua sede de autenticidade quando a convidam ao hedo- nismo e ao consumismo. A desintegracéo familiar nela pro- voca desequilbrios afetivos. A injustiga a atinge e ameca con- verté-la em seu protagonista. Finalmente, o atefsmo reinan- te convida-a a reniincia a tudo aquilo que da sentido a vida, "3 certeza da existéncia de um Deus justo e bom’ (Mensa- gem do Coneflio aos Jovens, 4). 4 PETHCLKTT AIT LILATTALALELCCTLLITIIIt: ¢) Esperanca Ao lado destas frustragdes, porém, constata-se que uma parte da nova geraco latino-americana é portadora de valo- res e de esperancas que so garantia de superac&io de mui- tos males que no momento afligem o nosso continente: ela tem grande capacidade de sentido critico; espirito de risco que a leva a compromissos e situacBes radicais; capacidade ctiativa com respostas novas ao mundo em mudanca, que aspira a melhorar sempre como sinal de esperanca; aspira- ¢80 mais esponténea e forte pela liberdade... sinal de jubilo © de felicidade; sensibilidade diante dos problemas sociais ¢ exigéncia de autenticidade e de simplicidade que rejeita com revolta uma sociedade invadida pela hiprocrisia e pelos anti valores (cf. DP 1168). Tudo isto constitui sinal vivo de esperanca e, ao mesmo tempo, exigéncia para a Igreja e a sociedade, no sentido de que possa chegar a ser verdade o que o Concilio Vaticano ll disse: “Pode-se pensar, com toda razfo, que o porvir da humanidade esta nas méos dos que saibam dar as geracbes. futuras motivos para viver e motivos para esperar” (GS 31), 3. SETORES DA JUVENTUDE Vamos assinalar alguns deles. 3.1. A juventude camponesa Compreende os jovens que vivem no campo, quer se de- diquem a trabalhos agricolas, quer vivam, estudem ou tre- balhem em algum povoado. Encontra-se em situac&o ambigua, porque, apesar da im- porténcia que o trabalho do campo e seus produtos possuem ara as economias da América Latina, as estruturas tradicio- ais do seu setor e os condicionamentos da sociedade a im- pedem de intervir como grupo social coerente no proceso de desenvolvimento, Algumas caracteristicas deste setor so: = 0 periodo juvenil no mundo camponés 6 muito breve, jé que os jovens bem cedo assumem responsabilidades do 42 mundo adulto, tanto com seu trabalho quanto com seu ‘casamento e sua nova familia. Eles no tm as mesmas possibilidades de se expressar @ progredir em comparaco com cs que vivern nas zonas urbanas. A ndio-posse da terra, o alto custo dos insumos agricolas, © baixo prego pago pela produgao e a falta de politicas governamentais para o desenvolvimento do campo fazem que os jovens facilmente abandonem a terra e emigrem para as cidades em busca de melhores oportunidades, A escolaridade no mundo camponés tem aumentado, em- bora grande niimero de jovens ainda no consiga chegar ao ensino médio e sejam muito poucos os que ingressam na universidade. Os programas ediicativos propiciados ao mundo campo- nés no correspondem aos seus valores culturais nem as suas necessidades bésicas de desenvolvimento de suas comunidades. A familia continua sendo a salvaguarda e potencial bési- co para 0 desenvolvimento e o crescimento dos jovens do ‘campo; mas a situagéo social geral, politica e econdmi- a, incide sobre ela de tal maneira que, paulatinamente, a familia se vei desagregando, e sofre, ento, as conse- aiéncias da emigracao. As organizagées politicas e sociais que existem no meio camponés correspondem normalmente aos interesses dos partidos politicos governantes e dos patrées, donos e se- nhores das terras, quase sempre associados ou represen- tantes dos primeiros. Nas comunidades camponesas so vividos, com grande autenticidade, valores humanos muito profundos, como A religiosidade popular e um espirito cristo muito enrai- zado dao as pessoas do campo uma sabedoria e uma es- piritualidade que as caracterizam por sua confianca em Deus, sua honestidade, sua valorizacio e compreensdo dos 43 proprios sofrimentos e, sobretudo, dos sofrimentos dos outros. — E preciso valorizar também o sentido contemplativo e rea- lista das pessoas do campo. — Os jovens do campo esto abertos ao comunitério @ 20 cooperative. Sua vivencia e valorizaco da pobreza e do sacrificio os fazem capazes de experiéncias validas em coo- perativas ou empresas comunitérias que possam ser gui das por critérios realmente humanos e ndo meramente eco- nomicistas. — Osjovens do campo, enfim, como outros, so facilmente tentados pela luta das guerrilhas e pelo dinheiro obtido através do tréfico de drogas. 3.2. A juventude do meio popular urbano O meio popular urbano tem composicdo diferenciada e ‘complexa. Vai-se formando na periferia da cidade e vai-se in- tegrando nela através da formaggo de novos bairros. Os jovens que compéem esta realidade s&o fruto de um proceso de exclusao social, que 6 ““mudanga estrutural atra- vvés da qual diveisos conjuntos sociais, que ocupavam ou de- sejavarn fundamentalmente ocupar posic&es institucionaliza- das no sistema social, so expulsos delas ou vdem bloquea- do 0 acesso as mesmas, permanecendo compulsoriamente & margem do sistema’ (cf. CEPAL, ‘Juventude e exclusdo social”, maio de 1985). Este processo de urbanizaco, por no coincidir com o aumento da criacio de empregos, tem provocado o grande fendmeno do desemprego, do subemprego e do emprego dis- fargado, como o servigo doméstico, os servicos pessoais ou ‘© comércio ambulante. Algumas caracteristicas deste setor sao: — Estes jovens vivem mais perto da pobreza e de tudo 0 que ela implica como caréncia de bens materiais e falta de al- ternatives futuras. ~ Diante da deteriorago salarial, eles se vem obrigados a trabalhar, muitas vezes, em subempregos, para aumentar 2 renda familiar. Com esta responsabilidade, transformam se em “adultos prematuros”, véem truncadas suas aspi- rages de formacdo e ficam impossibilitados de melhorar suas condig6es de vida. O trabalho, além disto, 6 escasso e instével. — A evasio escolar esta relacionada com este ingresso pre- coce no mundo do trabalho, ou com a impossibilidade de custear os estudos. Mas, além disto, tem muito a ver com 8 falta de correspondéncia entre a realidade que vivem que Ihes caberd viver e os conhecimentos e orientagdes dados pelos estabelecimentos de ensino. — Outro grave problema que enfrentam é 0 da moradia. As moradias urbanas na América Latina, em alto nivel, nfo satisfazem as necessidades bésicas das familias. Uma gran- de porcentagem da populacdo no possui moradia pré- ria, e muitos jovens nao viver em seu ambiente familiar. — A melor parte dos jovens do setor urbano popular no est4 ligada a organizagdes juvenis formais, jA que fica dificil combinar 0 estudo com as longas horas didrias que dedi- cam ao trabalho para poder conseguir seu magro sustento. — Estas situaces levam-nos, a mitido, a formas de evasiio. ‘ou de compensagao, que podem ser o alcoolismo e a de- linquéncia, — Neste setor urbano popular vai surgindo também uma “no- vidade” que comeca na periferia e que seré capaz de trans- formar a sociedade individualista e excludente dos meios urbanos. Como setor, cresce e insiste para entrar na vida social. — Existem nele grandes possibilidades de educagéo popu- lar que parta da experiéncia do préprio povo, ~ A solidariedade e a organizagao popular que conseguem espertar, por meio de experiéncias positivas de escolas € restaurantes populares, mostram um movimento. que sera capaz de gerar formas novas de participaciio e convivencia. — Os centros de bairro e as capelas sfio lugares de grande atrago para estas novas experiéncias comunitérias popu- lares. 45 feeteeecececeerctaretececerrittis!s 3.3. A juventude estudantil A ninguém escapa a importancia do setor estudantil. Es- tudar 6 um direito, mas conseguir isto, hoje, é também um privilégio. Os jovens estudantes do curso secundario, de ensino mé- dio ou primeiro grau, est&o em condigdes de assimilar mais facilmente as correntes sociais e politicas que animam seu proprio ambiente. Chegam a se associar aos universitarios nas manifestacdes a favor da transformacdio social e politica da sociedade e de seu proprio ambiente educativo, 0 Movimento Estudantil tem passado por um processo hist6rico em que se podem destacar trés momentos: momen- to de auge, na década de 1960, marcado por protagonismo de debate e participagiio critica nos movimentos populares, sociais, de grémios e politicos; por momento de crise, na dé- cada de 1970, marcado por dispersao e perda de peso na con- juntura sociopolitica da América Latina, causadas tanto pela repress quanto por suas proprias contradic®es internas; Por momento de ressurgimento, nesta década de 1980, mar- cado pelo aparecimento de novos canais de participag&o, em- bora sem chegar a ser porta-voz e vanguarda nas mudancas socials. Algumas caracteristicas deste setor sao: — 0 incremento dé ntirnero de jovens que completam seus estudos secundérios, ocorrido nos diltimos anos. — Oinicio deste ciclo abre os jovens ao senso critico, a quietacdo social e as primeiras experiéncias de participa- 80 ativa. — Nestes anos de passagem de ditaduras para aberturas de- mocrditicas, os estudantes secundarios parecem apaticos @ desorganizados, com muito pouca capacidade de acdo dentro da estrutura éscolar e académica. A causa desta apatia pode ser encontrada no que significou a submis- so da educacao as determinacées e ordens dos regimes que aplicaram politicas de Seguranga Nacional, 0 que trou- xe, como conseqiiéncia, uma educago mediocre e dis- tanciada da realidade que ndo prepara os jovens para a vida e para seus compromissos na sociedade. 46 — Os jovens que vo concluindo seus estudos de segundo grau experimentam sentimento de frustrac&o que os de- sanima em sua voca¢o de estudo ou em sua peo pro- fissional, j4 que, muito provavelmente, quando termina- rem seu curso, néo encontraréo oportunidades para tra- balhar. — Muitos jovens tém hoje formacdo e qualificago profissional ‘que superam as necessérias para poder desempenhar bem a funco que Ihes cabe em sous locais de trabalho, res- tando-lhes, portanto, a possibilidade de se aplicarem quer em atividades expressivas ou culturais, quer na participa- co politica. — Apassagem dos jovens por estas experiéncias dificeis os faz abrir-se a novas formas de convivéncia social. A ex- periéncia solidéria ou comunitaria e 0 encontro com si- tuagdes de maior pobreza os estimulam a querer novas formas de sociedade e novos modelos de educac&o. — 0 sentido da f6, nos jovens estudantes, torna-se mais vi- vo © mais critico quando motiva, também, 0 seu compro- misso e a sua solidariedade. 3.4. A juventude universitéria A universidade & a etapa superior dos estudos, em que os jovens que optaram por vocagao profissional, pelo estu- do, pela pesquisa ou pela projecio social, se formam para o servico e a diregdo da sociedade em seus diversos campos. ‘A juventude universitaria é a que mais facilmente pode viver 0 fenémeno “juventude”’, porque possui Ambito vital & relacional em que podem desenvolver ages proprias de sua condigdo juvenil, como as assembléias, as concentragdes, a participaco gremial e a participagao nos conselhos acadé- micos das diversas faculdades e no conselho superior. Neste meio universitério, toma-se mais forte e mais ple- no © Movimento Estudantil que comeca na etapa dos estu- dos secundérios (fins do primeiro grau e todo o segundo grau). Algumas caracteristicas deste setor séo: — 0 processo de crescimento do sistema universitério, nas 47 Uiltimas décadas, permitiu 0 acesso ao ensino superior a jovens provenientes dos setores da classe média da so- ciedade e também, embora em menor porcentagem, a jo- vens die setores populares. — Osetor universitario encontra-se, atualmente, marcado pela inseguranga, Para muitos jovens, o futuro profissional & incerto; conseguem seu diploma universitério e depois nao arranjam emprego nem colocaao profissional na socie- dade. Nao séo poucos os que com titulo universitario se jados a aceitar outros empregos e trabalhos di ferentes da profisséo a que se habilitaram e, muitas ve~ zes, até melhor remunerados do que os profissionais. — Os Movimentos Estudantis também sofrem as conseqién- cias das crises universitarias e politicas do pais. Muitas or- ganizagdes gremiais e politicas universitérias que antes ha- viam sido importantes protagonistas, veem-se hoje desar- ticuladas e necessitadas de novos canais de participacdo. — Surgem, assim, novas organizagdes estudantis e novas fo mas de trabalho politico e cultural, como aces de proje- 0 social em bairros marginalizados e meios populares, . educagao do povo, grupos de estudo e de pesquisa his- torica, politica e social, revistas etc. Em muitos destes esforcos é notéria a vontade que tém 08 universitérios de vincular Sua atividade intelectual e pollti- ca com as organizacdes populares, razdo pela qual esta pro- jegdo social se apresenta como chave para'a revitalizaclo da funcdo universitéria e a humanizag&o das profissdes. Nao obstante, muitos esforgos, que buscam mudanga radical das situagdes injustas que se vive, por vias pacffi- cas e realmente democraticas, sdo rotulados de “subversivos”. — Encontra-se, hoje em dia, também neste setor université- rio, abertura aos valores espirituais e religiosos. Os cris- tos tém uma identidade no meio universitério, que Ihes 6 reconhecida pela forga do evangelho que séo capazes 4g testemunhar e pela forca das opgdes que a lgreja latino- americana fez no sentido de maior aproximagao dos mais, pobres, da luta pela justiga e pelos direitos humanos, da 48, defesa da vida, da promogiio social e da transformacao das estruturas e situa¢ées injustas. 3.5. A juventude trabalhadora A grande massa de juventude trabalhadora compée-se_ de operérios, empregados e artesdos; a respeito deles Pue- bla diz que “por sua pobreza se véem obrigados a trabalhar como pessoas maiores” (DP 1176). Seu numero aumenta cada vez mais. A maior parte de- les so forcados a servir de “méio-de-obra barata’ sem espe- cializagao; vivem inseguros diante das transformacdes que © progresso da técnica propicia ao trabalho industrial; acham- ‘se expostos ao desemprego continuo; so economicamente fracos e incapazes de realizago vocacional verdadeira. Estes jovens enfrentam uma situa¢do dificil: desejam ter uma posig&io melhor do que a de seus pais, mas se véem qua- se que obrigados a levar a mesma vida que eles. Trabalham unicamente para ganhar a vida. ‘A formaco de seu futuro estilo de vida se acha circuns- crita ao que seu bairro thes oferece como possibilidades de participagao comunitéria e solidaria, Algumas caracteristicas deste setor sao: — 0s jovens continuam vivendo situaco critica por causa do baixo nivel salarial, da falta de emprego e da instabili- dade neste. A isto ainda se acrescenta 0 fato de que seu trabalho é menos valorizado do que o capital e, portanto, muitos jovens — especialmente as mulheres — slo ex: plorados de diversas formas, com tratamentos desiguais @ desumanizantes. — 0s jovens trabalhadores demonstram ter esplrito solidé- rio @ espirito de luta, e tém trajetéria histérica que abran- ge todos 0s paises da América Latina, embora ainda — em alguns deles — as leis trabalhistas sejam aplicadas ar- bitrariamente e se vejam com maus olhos as organizagtes sindicais, que sto limitadas ou reprimidas, ao passo que ‘© mesmo néo acontece com as associagSes, grémios ou sindicatos patronais de industriais ou de comerciantes. 49 rerererteretereterecececererttteee: — A luta do Movimento Operdrio desenvolveu, na socieda- de e em particular nos proprios operérios, a consciéncia de que costituem um setor que seré decisivo na nova con- figurago de nossa cultura ‘Atualmente, 0 Movimento ja superou a fase de suas lu- tas reivindicatorias e se tornou voz e protagonista das mu- dangas, mediante pronunciamentos sociais e politicos de maior radicalidade e alcance. , ele 6 expresso viva e valida do Movimen- to Popular, e constitu uma escola de educacfo popular. Sua solidariedade projetou-o na vida comunitéria, impeliu-o para ela, para os bairros e para a defesa dos direitos de todos. = 0s jovens do setor trabalhador estéio tendo ativa partici pagilo em suas organizagées sindicais, onde, por sua aber- tura social e sua consciéncia de classe, conseguiram va- lorizar seu trabalho e oferecer sua capacidade de deciséo para as grandes transformages da sociedade, de modo tal que isto os dignifica e enobrece. — 0s sofrimentos, as repressdes e o sentido de luta deram 0s operdrios espirito popular auténtico na aco pela ver- dade e pela justica, embora, em alguns casos, a politiza- 80 exasperada das ciipulas sindicais distorga a finalida- de de sua organizacdo. — Neste setor, nota-se, também, a presenga valiosa de diri- gentes cristdos, lticidos e comprometidos, fidelissimos & sua causa e impregnados de espirito evangélico, que es- to desempenhando a sua missdo de maneira integrada e decidida. Eles so 0 frutd maduro de longa trajetéria pastoral ju- venil operdria, que aésinalou novas formas de trabalho e pro- ducdo, que estimula nova maneira de projetar a familia, o com- panheirismo e sua fungao social através de empresas comu- nitérias de pequenoé grupos ou cooperativas artesanais, de produgo ou de corisumo, que promovem valiosa experién- ia de contraternidade, 3.6. A juventude em situagées criticas Hé grupo importante de jovens que se encontram em situagBes sociais conflitivas, como 0 uso de drogas, a delin- qiéncia, a prostituig&o, 0 homossexualismo, @ vagabunda- gem pelas ruas, todas elas situagbes que levam & desumani- zaglo e marginalizag&o pessoais e social Este setor oferece particular desdgio a sociedade e & pas- toral juvenil, por causa das dificuldades especificas que en- cerra, @ porque supera os alcances de uma pedagogia e de uma pastoral ordinarias. Algumas caracteristicas deste setor sto: a) Os viciados Entende-se por “‘viclados”” os dependentes da droga ou de bebidas aloodlicas. Apresentam-se como descuidados, desequilibrados, doentes, irresponséveis, demonstrando alegria aparente, iso- lados, as vezes agressivos, angustiados. Mentem facilmente e costumam ter dupla personalidade. Provém, geralmente, de familias em conflito, socialmente marginalizadas, e mostram-se despreocupados com os pro- blemas politicos e sociais. Muitos abandonam os estudos. ‘Tém grande amor a liberdade, sobretudo a liberdade de aco e parecem nao ter preconceitos quanto as normas e for- malidades sociais, que contam pouco ou nada para eles. Demonstram respeito pelos valores religiosos populares. ‘Alguns reconhecem a sua situacdo, criticam a falsidade desta sociedade, tendem a se agrupar ¢ a conviver em gru- pos, so sensiveis amizade e gostam muito da miisica e do artesanato. b) Os delinqdentes Parecem preguicosos, irresponsaveis, vaidosos e agres- sivos, pois atacam com habilidade. Recorrem a violencia pa- ra conseguir seus objetivos. ‘Nao tém projeto de vida. So pessoalmente inconstan- tes, vivers em grande mobilidade social e formando “bandos”. 51 Siio ambiciosos e vidos por dinheiro para se vestirem com elegancia. > Apresentam-se desmotivados diante dos temas politicos e sociais. of Freqiientemente sofrem com conflitos familiares. Mui- tos deles sto obrigados por suas familias a roubar para tra- zer algum dinheiro para casa. Outros so explorados por adul- tos inescrupulosos. A vida como “luta” endurece-os ¢ os torna rudes para ‘suportar golpes e sacrificios. No entanto, muitas vezes, com- padecem-se © comovem-se com os que mais sofrem. Demonstram seus sentimentos mais intimos quando o sofrimento pessoal os atinge, levando-os a experimentar a dor de sua sorte e de seu fracasso, Nestas circunstdncias, costu- mam aparecer suas convicgdes religiosas como esperanca de salvagdo. c) As prostitutas As jovens entram na prostituigao, principalmente, por causa da ma situagéo econdmica pessoal e familiar, e, sobre- tudo, por falta de trabelho. Algumas vezes, so obrigadas por suas familias a se pros- tituirem; outras so convidadas por pessoas que freqiientam maus ambientes e que comecam a explord-las, enganando- as com presentes, afagos ou promessas, até que se sintam presas por dividas ou outras “obrigagdes” com os proxene- tas. Tem uma psicologia dualista, pois dissociam seu “tra- balho" da vida e do ambiente em que vivem. Geralmente rompem com suas familias; facilmente per- dem sua identidade de mulher e costumam ter moral muito permissiva, Marginalizam-se do social e do politico, Mostram com verdade sous sentimentos religiosos e vi- veri momentos flutuantes de culpabilidade. Muitas destas jovens se convertem em mies solteiras , ent8o, man'festam grande senso de maternidade, pois cui- dam do seus filhinhos com muito esmero. Esta surgindo cada vez mais, sobretudo nas cidades, a exploragao da prostituicdo masculina, por parte de “damas’” inescrupulosas e de bom nivel econdmico-social, d) Os homossexuais Muitos jovens chegaram a esta situagio porque, quan- do criancas, foram rejeitados por causa de seus modos pou- Co viris. Outros porque, desde criancas, apresentaram esta inclinagao e, em seu processo educativo, no Ihes foram pro- Piciadas as ajudas necessérias para definir claramente sou comportamento, © ambiente social atual, erotizante, desinibido e permis- sivo, vai criando um clima de aceitaco destes comportamen. tos, que supera os condicionamentos da constituicdo biofi- sica e hormonal de tais jovens, As modas ¢ as atividades artisticas favorecem o homos- sexualismo em certos ambientes de liberalidade social, Os jovens que tém inclinago para representar papéis fe- mininos costumam possuir também qualidades muito desen. volvides para as expressdes artisticas e espirituais, Em am. biente contemplativo e religioso, eles se sentem bem. Geralmente so apreensivos, trabalhadores, fiéis @ ab- negados, Cada vez com maior freqiiéncia esté aparecendo, nos Gi- timos tempos, a experiéncia homossexual feminina. @/ Os jovens da rua Sao adolescentes e jovens abandonados a sua sorte, me= ninos que viver na rua. Nao tém familia que thes dé segu: ranca. Sobrevivem fazendo pequenos trabalhos, pedindo esmola ©u roubando. Podem chegar a ser mendigos, vagabundos ou delingiientes. ‘Tém grande senso de sua autonomia e liberdade e apre- ciam grandemente, entre eles, o grupo, a amizade e a solida- riedade, Sdo muito sensiveis e capazes de grande ternura, Mostram-se abertos ao religioso, embora desconhecam teoricamente esta realidade: sé ficam sabendo alguma coisa © a apreciam, quando visitam as igrejas ou nelas se refugiam. ‘tapprereereeeeccacerececetaass.2e Organizam-se em bandos, que se localizam em determi- nados pontos da cidade, onde exercem seu “dominio territo- rial”. 3.7. A juventude indigena A cultura latino-americana deve muito de seu caréter as culturas indigenas, que se revelaram depois do descobrimento e da conquista do continente, A sobrevivencia destas culturas constitui desatio para a pastoral evangelizadora, no s6 porque al ocorreu uma for- ma peculiar de mestigagem religiosa através do contato com a religifo dominante — a catélica — mas ainda porque o atra- 80 € 08 prejuizos socioeconémicos, de que seus povos so alvo, esto exigindo uma conscientizagdo libertadora que n&o Pode deixar de levar em conta o componente religioso de tais etnias. Se, em tempos passados, a evangelizagio dos aborigi- nes contava com a destruig&o de suas culturas, para facilitar a transmisséo da Mensagem — com o que isto supunha em matéria de abusiva imposic&o de modelos de sinais bem opos- tos — hoje, a “pastoral indigenista”, seguindo o Vaticano Il, procura ver “‘por que caminhos a fé pode chegar a inteligén- cia, tomando em considerac&o a filosofia ou a sabedoria dos povos”’ (AG 22), A Igreja, hoje como ontem, quer ser “a voz dos que no podem faler ou dos que séo obrigados a silenciar, para ser consciéncia das consciéncias, convite & ago, para recupe- rar 0 tempo perdido, que freqiientemente 6 tempo de sofri- mentos prolongados e de esperancas nfo satisfeitas’” (Jotio. Paulo II, aos indigenas e camponeses em Culiacdn, México). Sendo 0s indigenas os primeiros habitantes e proprieté- rios de nossas terras, nossa civilizac%o, hoje, tem que reco- nhecer seus direitos a justa demarcagdo das terras que Ihes. pertencem, seu direito a espaco vital que seja base, no so- mente de sua sobrevivéncia, mas também da conservacdo de sua identidade como grupo humano, como verdadeiro po- vo, como verdadeira naco, cujo patriménio cultural e parti- cipaggo social do a América Latina um vigor natural, con- seguindo manté-la numa transparéncia humana de relagdes 54 entre suas racas e culturas que a enriquecem em fecundide- de espiritual dentro de suas expressées religiosas, populares e fraternais. Algumas caracteristicas deste setor so: — Os povos indigenas da América Latina mostram um sen- tido de unidade familiar ou tribal que os caracteriza em sua solidariedade e em seus valores comunitarios, levando- 08 a lutar contra a desagregacdo e 0 individualism que lhes impéem as condutas da sociedade ocidental. — Tem senso religioso, mediante o qual manifestam relagtio transcendente com Deus em suas préprias vidas e em sua relac&o com a natureza e com as coisas. Por isso, t8m va- lores muito genuinos, como a contemplaco, a piedade, sabedoria popular, as festas e a arte, que expressam sua mais intima e fecunda vivéncia espiritual. — Amaioria destes povos, despojados de suas terras, mar- ginalizados e vivendo em situagdes desumanas, apresenta- se como a mais pobre entre os pobres da América Latina. — Ocorre hoje, em muitas consciéncias de latino-americanos, © despertar de crescente interesse pelos valores autécto- nes e pelo respeito @ originalidade das culturas indigenas e de suas comunidades. — Constitui grande desafio para os jovens indigenas, a de- fesa da identidade e da cultura de seus povos e de sua integrag&o com outras culturas e com outros niveis de de- senvolvimento social. Neles, nos outros jovens, a América Latina pode en- contrar pessoas que se comprometam com a construgio de uma Civilizacéo do Amor, conseguindo a integracao de to- dos como “‘povos de irméos”, sem que isto implique nivela- mento e uniformidade, sem que enfraqueca, absorva ou el mine as diferentes culturas (cf. DP 427). Il, PERCURSO HISTORICO DA PASTORAL JUVENIL LATINO-AMERICANA Para organizar hoje uma pastoral de juventude eficaz, n&o partimos da estaca zero. Servimo-nos da experiéncia do tra- balho da Igreja com a juventude, no pasado. O passado é importante. Com ele devem-se aprender os erros @ acertos. Uma pastoral sem meméria historica estaria condenada a re- petir os mesmos erros. A recuperac&o da memoria histérica 6 importante para que a pastoral tenha raizes profundas de identidade propria. Para cada época, a Igreja elabora um instrumento teéri- co diferente destinado a evangelizag&o da juventude. Os mo- dos de pensar e de se comportar mudam de uma geracdo para outra e, portanto, o instrumento teérico que motiva uma época ndio serve necessariamente para outra. 1. ESCOLAS E UNIVERSIDADES CATOLICAS Talvez a Igreja nunca tenha investido tanto em um setor do Povo de Deus, em termos de recursos humanos e finan- ceiros, como o fez no século passado com a juventude. Co- mo ingtrumento privilegiado para chegar a ela, a Igreja mon- tou giande rede de escolas universidades catélicas. Muitas ngregagdes religiosas foram fundadas para trabalhar com wentude. Este instrumento de evangelizaco teve grande cla na formecdo de varias garages de cristéos, sobre- tudo em época em que o Estado nao proporcionou escolas para os pobres. Hoje em dia, por diversos motivos, este re- curso se apresenta como instrumento de evangelizagiio limi- tado e insuficiente. 2. MOVIMENTOS MARIANOS. Momentos como a Congrega¢ao Mariana, as Filhas de Maria e a Legido de Maria tiveram forte influéncia na forma- g8o das geracées antes do Concilio Vaticano II. Nestes mo- vimentos havia a perticipacdio de jovens, sempre, porém, de- baixo da tutela dos adultos. Eram movimentos com espiri- tuslidade e aco apostdlica, incluindo visitas a bairros e fa- milias como servico de assisténcia ou de misséo popular. Depois da renovacdo conciliar alguns destes Movimen- tos, como as Comunidades de Vida Crist (ex-Congregacao Mariana) se reformaram assumindo estruturas mais comuni- ‘arias e participativas, com formacao em catequese mais vi- vencial @ na promocdio humana através da ajuda e da acdo social. Muito significativas também, neste periodo, foram as ini- ciativas de apostolado mantidas pelas ordens religiosas, na maioria dos casos, motivadas pela preocupacdo com as vo- cages e pelo desejo de fazer participar da espiritualidade de seu carisma as familias dos alunos e ex-alunos. 3. A ACAO CATOLICA Na década de 1930-1940, difundiu-se nas igrejas da Amé- rica Latina, com maior ou menor vigor, a Ago Catélica Ge- ral, com seus diversos ramos, em idade e sexo, partindo da inspiracao do papa Pio XI e segundo seu modelo italiano. Foi um movimento leigo que marcou a Igreja em todo ‘0 mundo, durante um longo periodo de quatro décadas. ‘A tomada de consciéncia do fenémeno chamado de “descristianizagdo" exigia revitalizaco e impulso coesivo por parte de todas as forcas vivas da Igreja com vistas & recris- tianizacdo das sociedades, fundamentalmente em suas éreas urbanas. 87 ttreeetteerererreccrcccccrrnretece O objetivo fundamental desta “aco era integrar o lai- cato militante, preservando-o das influéncias secularizantes das ideologias e politicas da época, bem como formé-o nu- ma consciéncia sotial de participacdo nos ambientes da so- ciedade aonde os sacerdotes nao chegavam e onde, através do seu testemunho, a mensagem evangélica a Doutrina So- cial da Igreja fizeram experiéncias de organizacées sociais que defenderam a promocao dos direitos humanos da Cidade de Deus” — e, portanto, também os da Igreja — na vida so- cial, artesanal e politica da sociedade. Sem a menor duivida, a Aco Catélica Geral significou uma sementeira e escola multiplicadores na formac&o, parti- cipagdo e promocéo dos leigos na vida e na missao da Igre- je. Foi como que a matriz fundadora, no século XX, dos di- namismos de organizaco dos leigos com fins apostélicos. Acompanhou e fecundou os tempos de superacio de uma face exessivamente clerical da figura eclesial pela aber- tura & nogiio de “‘Corpo Mistico’’ e pela dinamica de estudos eclesiolégicos e de experiéncias pastorais que prepararam 0 Concilio Vaticano II. No entanto, em fins da década de 1950 parece esgotar. se 0 seu ciclo de maior pujanga. Nao houve uma reflexdo es- tudada, na América Latina, sobre sua crise. Nao bastaria a marca ou rétulo de “pré-conciliar”” para justificar isto, pois em alguns paises como Argentina e México ela conserva sua vigéncia e ainda 6 apreciada e considerada como renovado esforgo de difusao e de revitalizacdo, como principal interlo- cutora de todo 0 apostolado leigo organizado. Poder-se-ia afirmar que a crise da Aco Cat6lica tem sua origem numa desarticulacdo, dispersdio e isolamento, bem co- mo em tentativas e experiéncias diversas de novos nicleos associativos; @, ainda em insuficiente reviséo e projectio da pastoral organica de movimento de apostolado leigo, sobre cuja necessidade o Documento de Puebla adverte. 4. MOVIMENTOS DA ACAO CATOLICA ESPECIALIZADA Em fins da década de 1940, comecam a se difundir na américa Latina os movimentos leigos conhecidos como “’mo- vimentos de ambiente’, surgidos em linha de continuidade e de ruptura simultaneamente com a Acdo Catdlica Geral A mistica apostélica de tais movimentos provém da to- mada de consciéncia da especificidade e da necessidade de “humanizacéio" e de “evangelizacao" de diversos meios so- ciais, que no haviam sido suficientemente “‘cristianizados"” ‘ou que sofriam particularmente o impacto de tal “descristi nizagdo". 'Nascidos na Europa — Franga ou Bélgica — difundem- se na América Latina a Juventude Operaria Catdlica (JOC), a Juventude Agraria Catélica (JAC), a Juventude Estudantil Catélica (JEC), a Juventude Universitéria Catélica (JUC), ‘a Juventude Independente Catdlica (JIC ou MIAMSI). A JOC mais tarde se diversificara, assumindo caracteristicas propries através do Movimento Operdrio de Aco Catélica (MOAC), assim como 0s universitérios formarao 0 Movimento Cristo Universitario (MCU) para reunir os militantes que passam a fazer parte do mundo adulto e que se abrem a outras expe- riéncias e compromissos. O sentido da especificidade 6 dado pelo fato de os ope- rérios evangelizarem os operarios, os estudantes evangeliza- rem os estudantes etc., como haveriam de recomendar tam- bém os Gitimos Pontifices. Um tenovado plano evangelizador procede deles, basea- do, de um lado, na fungao da problematica concreta, da soli- dariedade e dos desafios de diversos grupos sociais (estudan- tes, camponeses, operérios...) ¢, de outro, na colocagéo em pratica de nova sensibilidade e pedagogia pastoral que enfa- tiza 0 testemunho cristéo na “diéspora’, adota métodos ten- dencialmente “indutivos” para a evangelizacéo, dé priorida- de & temética do “compromisso” com a promogaio coletiva do meio e com a perspectiva da transformacao social. Organizam-se em pequenas comunidades (equipes de base) para a revisdo, a luz da fé, da ago dos militantes no 59 “molo'’, protendendo superar todo e qualquer “divércio en- ‘ue a fé @ @ vide" (pedagogia ativa, formagao na acio e fun- damentalmente “revisdo de vida’). Estes movimentos contaram, em geral, com seu momen- to de ascenso pujante no decorrer da preparaciio e difustio do espirito conciliar na Igreja da América Latina. Ofereceram boa colaboracéo para renovadas intuigdes teoldgicas e sen- sibilidades pastorais e uma experiéncia histérica que serviu de base para a op¢do preferencial pelos pobres, para a con- cepao da Igreja como ““povo organizado e caminho de li- bertagao”, para a reflexo que depois se desenvolveria na Teo- logia da Libertagdo. Sua historia nos anos 60 se acha marcada por duplo em- bate, De um lado, sua intencdo de assumir o desafio de uma presenca como fermento da Igreja nos setores sociais mais dinamicos do convulsionado processo sociopolitico latino- americano desses anos. De outro lado, sua participaco cri- tica na dinémica das transformagdes pastorais na Igreja, ori ginadas pelo impulso renovador do Concilio Vaticano Il ¢ pe- los documentos de Medellin, Em fins da década, os movi- mentos chegam a viver momentos culminantes ¢ de crise, em que entra em jogo a sua propria existéncia. A densidade e 0 grau de critica dos desafios, que tais movimentos quiseram assumir neste contexto eclesial e se- cular to tumultuado, superavam sua capacidade de “diges- to", “assimilagao” e “‘crescimento”. Faltou, certamente, maior acompanhamento pastoral, as- sim como sua impaciéncia se agudizou sob a forma de crise de comunh&o eclesial, acentuada pelos rit mos lentos do pro- cesso de renovagao eclesial e do andamento de uma pasto- ral de conjunte Ficaram, igualmente, abalados pelo torvelinho das radi- calizagdes das contradigdes nas sociedades latino-americanas, em processo muito politizado e ideologizado, que iriam ofus- car a sua intencionalidade e o horizonte evangelizador, ao mes- mo tempo que foram objeto da aco direta das forcas repres- sivas até bem pouco tempo. Estes movimentos, passada a crise, continuam sua aco al em muitos paises da América Latina, e alguns de- Jes, como a JEC e a MIEC-JECI, com coordenago em nivel do continente; e com desafio tanto mais grave quanto maior urgéncia e necessidade desperta a exigéncia de presenca coe- rente @ incisiva nestes espacos “funcionais” to determinantes na emergéncia urbano-industrial da América Latina. 5. OS MOVIMENTOS DE ENCONTRO A desarticulacao dos movimentos de Ago Catélica pro- vocou retrocesso significativo na trajetéria da pastoral juve- nil. Depois de 1969, nasceram com grande rapidez numero- 80s movimentos de jovens. Estes movimentos promoveram encontros de jovens, em grande parte inspirados nos Cursi thos de Cristandade. Os encontros empregavam metodolo- gia de impacto emocional, colocavam como raiz do proble- ma social 0 egoismo pessoal, mas n&o despertavam no jo- vem a consciéncia critica diante do problema social. O surgi- mento e 0 crescimento dos Movimentos de Encontro coinci- dem, na maioria dos paises, com época de grande fechamento politico. Alguns aspectos positivos destes Movimentos de Encon- tro foram: sua capacidade para reunir jovens em grande nd- mero, para mudar uma imagem negativa do jovem diante da Igreja e para aproximé-lo da hierarquia. Foram responséveis, em grande parte, pelo surgimento dos grupos de jovens nas paréquias. Em muitos lugares, a partir de fins da década de 1970, ‘0s Movimentos de Encontro entraram em crise, ao passo que em outros lugares, onde ainda exercem influéncia, o desafio reside em saber como adapté-los a uma realidade politica e social diferente e como inseri-los em uma pastoral de juven- tude organica dentro da Igreja local. 6. OS MOVIMENTOS INTERNACIONAIS A partir de 1880, ha o crescimento de novos Movimen- tos Intemacionais, como Cursilhos de Cristandade, Focola- res, Renovacao Carismatica, Catecumenal, Encontros Matri- moniais (Encontros de Casais com Cristo), Comunhio e Li- 61 ttereerterrrererrarererererrarerere: bertacdo. Alguns deles realizam trabalho especifico também com jovens, como, por exemplo, os movimentos GEN (ala jovern dos Focolares), Renovaco Carismética, Comunhéo e Libertago (grupos universitarios e de alunos do segundo grau). Estes movimentos se afastam de organizacées ante- riores como a Ago Catélica, no sentido de que a espirituali- dade se torna finalidade muito mais acentuada do que a mis- so no mundo eo trabalho em prol de sua transformacdo. Algumas caracteristicas destes movimentos séo: — Os movimentos, em geral, nao despertam suficientemente em seus membros uma consciéncia critica diante da rea- lidade. — Os movimentos so internacionais. Recrutam seus proprios quadros, dirigentes e sacerdotes, independentemente das Igrejas locais. Com freqiiéncia, esto ausentes do plane- jamento pastoral das Igrejas locais, pois dispdem de seu planejamento proprio, partindo de orientages em nivel in- ternacional. A referéncia dos movimentos nao 6 o mundo das Igre~ jas locais com suas contradi¢Bes, seus problemas especifi- cos, seus conflitos entre grupos explorados e exploradores. Sua principal referéncia é uma classe média homogénea e transnacional. — Nos movimentos, quase tudo é trazido do “centro”. A li- teratura, por exemplo, é quase sempre produzida no pais de origem e traduzida na lingua dos outros patses. — Os movimentos crescem rapidamente, devido a eficién- ia superior 4 das pastorais locais. Utilizam os recursos & meios de comunicagao modemos e as téonicas de dire- ¢o de empresas. A eficiéncia garante autonomia na or- ganizaco das atividades. — 0s movimentos souberam dar resposta as aspiracdes de libertacdio interior da classe média urbana que no se sente atraida pelo ambiente de frieza e de anonimato de muitas paréquias. Souberam criar ambiente receptivo e acolhe- dor, de amizade e de comunicagdo humana. Souberam 62 despertar experiéncia religiosa profunda que se apresen- ta como libertadora do eu e criadora de comunidade en- tre pessoas afins, As op¢8es profissionais e politicas de seus membros néo séo questionadas. — 0 éxito dos movimentos decorre de sua capacidade para usar duas forgas psicol6gicas importantes: a experiéncia de conversao que leva a adesdo ao movimento, e a expe- riéncia de fraternidade que deixa a pessoa com a sensa- ‘fo de que néio esté sozinha, mas que conta com o apoio efetivo de outros. Os movimentos conseguem atrair e convencer a juven- tude da classe média, pois Ihe oferecem mensagem adapta- da a sua condi¢ao, sabem aproveitar as terriveis fraquezas in- telectuais e psicolégicas da nova geragdo, sabem transmit Ihe alegria, emogdo e felicidade — quase a Unica coisa que tal geracdo busca. Sabem dar-Ihe seguranga e identidade, es- tabelecer comunhdo e participacdo entre eles. — Nao insistem em muita formagao teolégica. A mensagem 6 simples e compreensivel para os leigos, e eles mesmos podem habilitar-se rapidamente a repeti-la. Acentua-se mais a emotividade e a sensibilidade do que a intelectua- lidade. — 0 surgimento e 0 crescimento dos movimentos interna- cionais é um dos fenémenos pastorais mais importantes dos tltimos anos, e no pode ser ignorado por uma pas- toral de conjunto. Trata-se de sério desafio para a pastoral orgénica de ju- ventude o saber como se relacionar com tais movimentos, como levé-los a perceber que a salvagdo esta em descobrir um amor que nao se limita a pequenos dramas pessoais familiares, mas que, principalmente e acima de tudo, é com- promisso com o drama da humanidade; saber como levé-los a avaliar continuamente a metodologia e 0 contetido de sua mensagem a fim de ser resposte libertadora e transformado- ra para a realidade latino-americana, Vale a pena lembrar a orientagéo do Conecilio Vaticano Il: “‘Nestes grupos merecem especial consideracio os que cultivam a unidade intima en- 63 tre a vida pratica dos membros e a fé que eles professam, e enfatizam tal unidade”. E ainda: “Nem sempre sera opor- tuno transferir para outras nagdes formas instituidas em ou- tras”. 7. 0 CELAM E A PASTORAL DE JUVENTUDE NA AMERICA LATINA No més de agosto de 1968, reuniu-se em Medellin (Co- l6mbia) a Il Conferéncia Episcopal Latino-americana. Tal as- sembléia, estimulada pela importéncia que o papa Paulo VI deu, no discurso inaugural, ao tema da juventude quando afir- mou que “ digno do maximo interesse e de imensa utilida- de", dedicou o Documento n.5 de suas conclusdes a Pasto- ral da Juventude, Foi a primeira vez que se elaborou, em ni- vel de América Latina, um documento oficial da Igreja sobre © assunto. Desta maneira, Medellin se tornou a fora gera- dora e renovadora do processo de pastoral de juventude que continua hoje espalhando-se pelo continente. Em fevereiro de 1976, 0 CELAM criou a Seco de Ju- ventude, como resposta a uma das quatro prioridades assi- naladas em seu primeiro Plano Global. Posteriormente, em 1979, alll Conferéncia, reunida em Puebla (México), no mais se limitaré a fazer da juventude uma prioridade, mas ha de encaré-la como uma ope&o preferencial ao lado da opcaio que fez pelos pobres (cf. DP 1132). 0 primeiro objetivo que se propés a Sepo de Juventu- de foi descobrir os grandes problemas e as grandes tendén- cias do mundo dos jovens, com vistas a realizar uma reflexo teolégica e imprimir na pastoral juvenil do continente orien- tacao clara e coerente, estimulando assim o surgimento de: uma pastoral juvenil organica. Fruto desta reflexdo foi a deciséio de Puebla de propor 2 juventude, como meta e como proposta global, o desafio de construir a Civilizago do Amor,” A partir da Conferéncia de Puebla, a Seco de Juventu- es passou ao terreno prético, procurando que as inimeras i cies por toda parte no campo da pastoral ju- srganicidade, Com tal fim e em colaborago com as diferentes instancias pastorais do continente, preparou, pu blicou e difundiu, em 1982, o livro Elementos para um Dire- trio de Pastoral Juvenil. No periodo de 1982-1986, a Seco de Juventude esteve comprometida com os seguintes objetivos: — Fortalecer e estimular a idéia de que a pastoral juvenil nao deve limitar-se apenas & evangelizactio do jovem, nem a0 servigo da Igreja, mas, além disto, deve levar o jovem a comprometer-se com a transformago da sociedade; — fazer que a pastoral juvenil seja pastoral de compromisso no “presente” e nao no “futuro”, que nunca chega para ojovem; — apresentar 0 desafio da construgdo da Civilizago do Amor ‘como proposta para dar organicidade e coeréncia a toda a pastoral juvenil do continente. Como meio principal para conseguir tais objetivos, a Se- 80 de Juventude promoveu o Encontro Anual de Respon- séveis Nacionais de Pastoral Juvenil em que participam o bispo representante da Conferéncia Episcopal de cada pais para o setor de Juventude, o Secretariado Executivo Nacional e um ee uma jovem comprometidos neste campo da acdo pas- toral. J4 se realizaram quatro encontros, com as seguintes ca- racteristicas: — 0 primeiro, realizado em novembro de 1983, contou com a participago de oito paises. Fez-se um primeiro esboco dos elementos a serem levados em conta na formulacao da proposta da Civilizago do Amor; — © segundo, realizado em outubro de 1984, contou com a Participacao de dez paises. Preparou-se uma colaboraco para o Ano Internacional da Juventude, como abordagem do tema da Civilizagao do Amor, concretizando-se a pu- blicagdo intitulada “Juventude, igreja e Mudanga”. Aprofundou-se, além disto, a temética da Civilizag&io do Amor, publicando-se, neste sentido, 0 Credo e o Decélogo da Civilizagéo do Amor; 65 TERATTALATATAAAAATAtareceesasssses rere errr ree eee rrr ewww www ree eer eS — 0 terceiro, realizado em novembro de 1985, contou com a participacio de doze paises. Fez-se avaliacao das ativi- dades desenvolvidas durante o Ano Internacional da Ju- ventude; comecou-se a trabalhar em um esboco de “ retério” que contivesse algumas linhas orientadoras co- muns para a aco da pastoral de juventude na América Latina; comecou-se o estudo e o aprofundamento das pas- torais juvenis dos diversos meios especificos e enviou-se Mensagem 20s jovens sob o titulo de Como Jovens Cris- 180s Latino-americanos aos Jovens da América Latina; — o quarto, realizado em outubro de 1986, contou com a par- ticipago de quinze paises. Trabalhou-se na redag&o do presente “diretério”’; aprofundou-se o estudo iniciado so- bre a Pastoral Juvenil nos Meios Especificos; e atendeu- se & preparago de algumas iniciativas, como um poss'- vel Concilio Latino-americano de Jovens, a realizago de um Curso de Assessores em nivel latino-amaricano, a ce- lebraggo da II Jornada Mundial da Juventude com 0 pa- pa Joo Paulo Il, em Buenos Aires (1987); © enviou-se uma Carta aos Jovens da América Latina. 8. A PASTORAL DE JUVENTUDE ORGANICA A Pastoral de Juventude Organica é 0 novo instrumen- to tedrico que comega a surgir em quase todos os paises da ‘América Latina, a partir da segunda metade da década de 70, € que substituiu os Movimentos de Encontro de cunho local ou nacional. Esta pastoral surge a partir de necessida- de sentida pela coordenacgo dos grupos paroquiais em vé- rios niveis. Em muitos paises, comeca-se a organizar a coor- denacdo da paréquia, por setor (ou zona), por diocese, por regio e em nivel nacional. A coordenacdo nacional 6 nor- malmente feita através de encontros nacionais (com delega- dos das coordenadoras de instdncias inferiores e represen- tantes das pastorais especificas), uma Comisséo Nacional, cursos e seminérios nacionais, Dia Nacional da Juventude, subsidios etc. 'Hé quatro fatores que provocaram o surgimento deste no- vo instrumento teérico: a) A dispersio eo isolamento _ A maioria das iniciativas de trabalho com os jovens fica limitada ao ambito de uma pardquia, de uma cidade, e algu- mas delas de uma “‘capela'”. Em pouco tempo, estes grupos, sem maiores recursos, esgotam suas possibilidades de cres- cimento e de realimentaciio. Sem intercambio com outras ex- periéncias e sem.a cobertura de organismo que lhes propor- cione ajudas e condigées de contato com uma realidade glo- bal, elas se esgotam e retrocedem. Para a vitalidade de qual- quer experiéncia neste campo, é indispensavel a comunica- 80 com outras tentativas ¢ realizacées. Os encontros com jovens de outros ambientes, setores e lugares, em reuniées de coordenacao, cursos, assembléias etc., abrem horizontes mais amplos e impedem que os jovens absolutizem a propria experiéncia, grupo ou movimento. A falta deste intercambio foi uma das causas da curta existéncia de mui ciativas, como também foi a causa de tais iniciativas se fe- charem em tomo de siglas e de rotulos. 5) A falta de objetives claros Ao lado desta disperséio empobrecedora, também foi mui- to preocupante a falta de clareza de muitos a respeito dos objetivos de sua aco. Muitos sabiam dizer muito bem “o que” estavam fazendo e “como” o faziam, mas poucos conseguiam Gefinir claramente “para que” o faziam, isto 6, 0 objetivo de sua acho. __- N&o € dificil atrair, agrupar, fazer vibrar e despertar os jovens para a amizade, para os valores da fé e do Evangelho. O problema surge depois, quando no hé mais novidade al- guma. A medida em que as coisas comegam a repetir-se, minui a motivacao. A existéncia mais ou menos efémera de muitas iniclativas se deve a esta falta de objetivos claros. impossivel permanecer fiel a si mesmo em meio a situaces continuamente em transformag&o, quando néio se tem luci- dez sobre 0 que se quer ou que se busca. co) A improvisacao f ae ma p ; Outro fator que levou ao surgimento de u ganica de juventude foram as limitag&es percebidas em uma pastorel baseada na improvisacdo. Os sinais desta improvisaggo tém sido: 4 iniciati inspiragdes “carismaticas” no — Asiniciativas baseadas em inspiracoes “carism: poucas vezes desprovidas de critérios objetivos, fundamen- tados na reflexo teol6gica e no conhecimento eritico da realidade. O resultado 6, com freqiiéncia, uma mensagem fevangélica abstrata, desligada das condicdes concretas da vida social, econémica, politica e cultural dos jovens. i feréncias, cursos € — 0 apelo de cunho emocional em cont retires, provocand “conversées"’ imaturas e prematuras, que leva muitos jovens a posteriores desilusdes ou a uma religiosidade quase fanatizada. Ui i forme lideran- — A falta de uma pedagogia libertadora que forme | ‘gas com visio critica da realidade e que leve os jovens a Se comprometerem com a transformagao desta mesma rea- lidade, partindo de motivagao de fé. de avaliacdo cons- — A falta de processo de planejamento e tante que permita a inser¢o nas linhas comuns merece- doras de énfase. _ A falta de participagio dos jovens como protagonistas do proceso. Por outro lado, esta busca no se pode efetuar sem a participagtio dos que realizam experiéncias concretas neste campo: os proprios jovens. Sem a sua participagdo, corre-se 6 risco de elaborar “normas diretrizes’” desvinculadas dos pro- blemas reais que se enfrentam na aco pastoral. Cai-se no antigo dualismo: de um lado, uma teoria pastoral “qui aie mente pura”, elaborada por ‘‘peritos e especialistas’’; e, de ‘outro, uma praxe pastoral cheia de boa vontade e prédiga em sactificios, porém incapaz de definir os objetivos de seu es- forgo e de avaliar sua fidelidade aos fins da ago evangeliza- dora. Ha urgente necessidade de que 08 préprios jovens se- jam escutados e sejam co-responsabilizados na elaboraco de tais diretrizes. Nao 6 raro encontrar movimentos ¢ outras iniciativas muito generosas, das quais os jovens so puramente “objetos”. Tudo foi feito “para” os jovens, mas nada fol feito “por” eles nem “com” eles. d) As CEBs e a Pastoral de Conjunto Outro fator que teve influéncia importante no surgimento de uma pastoral de juventude orgénica foi a evoluco da pro- pria pastoral da Igreja. Depois do Concilio Vaticano II, Medellin e Puebla, a Igreja da América Latina vem acentuando cada vez mais a impor- t€ncia das pequenas comunidades eclesiais de base e a ne- cessidade de somar as forcas pastorais em uma pastoral de conjunto. A pastoral orgénica da juventude, portanto, é o re- flexo da caminhada da Igreja nos ltimos anos, & medida que parte de pequenos grupos de base nas comunidades e pro- cura evitar @ dispersio por meio de pastoral planejada. A guisa de CONCLUSAO, pode-se estabelecer que esta falta de pedagogia e de metas claras esté sendo superada a medida que a pastoral organica de juventude se consolida @ fortifica em todos os niveis (desde os paroquiais até os na- cionais). As reuni6es de coordenaco, os cursos e assembléias de avaliag&o e programago esclarecem, cada vez com maior nitidez, um instrumento teérico capaz de motivar e evangeli- zar a juventude de hoje. Nos ltimos anos divulgaram-se muitos documentos, in- formativos e subsidios, elaborados pela pastoral de juventu- de em todos os niveis. Este diret6rio é exemplo deste esfor- 0 que se evidencia em toda parte, A pastoral orgénica de juventude procura aproveitar 0 melhor em termos de contetido e de pedagogia do que hou- ve e ainda existe na Acdo Catélica Especializada e nos Movi- mentos de Encontro, levando em conta, além disto, a neces- sidade de adaptacdo a um novo contexto de Igreja e de so- ciedade. 69 tfereretecececetecetecececececeecse Segunda Parte MARCO DOUTRINAL n INTRODUGAO Na primeira parte deste Documento sobre as Linhas Orientadoras da Pastoral para a América Latina, escutamos @ atendemos os “gritos e clamores"’ que a juventude latino- americana dirige a seus Pastores, a Igreja e a Deus. Desta realidade brota a necessidade de uma reflexao teo- légica que ajude a corresponder adequadamente a sua trans- formacao conforme os critérios evangélicos, em que cremos como “palavra de vida” Este MARCO DOUTRINAL pretende iluminar a dimen- so pessoal e social do jovem latino-americano. Ambas as dimens®es encontrargo luz de discernimento e de interpreta- ¢&o no Evangelho de Jesus. A pastoral juvenil, atenta aos sinais dos tempos e ao ca- minho de #6 ¢ de evangalizacio que tem percorrido na Amé- rica Latina, quer assumir como seu, mais uma vez, 0 convite do papa Paulo VI para a construgao da Civilizaedo do Amor, que serd para os jovens “uma forma do seguimento de Cris- to” e manifestago do Reino de Deus, que “passa pelas rea- lizages humanas” (cf. DP 193). Esta tarefa dé prioridade ndo s6 & participagio dos cris- tos, mas também convida todos os homens que desejam construir um mundo mais justo e mais fraterno. A Igreja na América Latina viu nos jovens sua esperan- ga (cf, DP 1186), confiou-thes a tarefa de transformar a so- B ~wywrr rrr rrr rrr rrr re wvewewwwvwr rrr rrwe ciedade e a propria Igreja; néio como os Gnicos agentes de mudanea, mas como seus colaboradores essenciais, AA juventude esté disposta a corresponder generosamente @ este chamado. Dard a esta tarefa o melhor de si, suas ca- Pacidades, seus valores, o frescor do novo, sua propria vida. Neste Marco Doutrinal, propdem-se alguns tracos fun. damentais ou chaves referentes @ Nova Sociedade e ao Evan. gelho, que iréo definir ou distinguir esta proposta da Civiliza- a0 do Amor. % |. FUNDAMENTOS TEOLOGICOS DA PASTORAL DA JUVENTUDE CONSTRUTORA DA CIVILIZAGAO DO AMOR 1. JESUS CRISTO, MODELO, FORGA E PASCOA DO POVO DE DEUS A verdade sobre Jesus Cristo, que se apresenta aos jo- vens na América Latina, precisa acentuar alguns tracos do mistério de Cristo, “Deus-conosco”, com vistas a constru. $80 da Civillzagéio do Amor, como realidade que pretende ser manifestaco evangélica do Reino de Deus na Nova Socie. dade que se anuncia e esta sendo gerada no alvorecer do novo século, A enfatizaco destes tragos nfo pretende, de maneira alguma, utilizar determinada imagem do Senhor, mas formar na consciéncia e no coragao dos jovens a figura de Jesus de Nazaré que compartilha da vide, das esperancas 6 das an. Gistias de seu povo e mostrar que ele & 0 Cristo orido, pro- clamado @ celebrado pela Igreja (cf. DP 176ss). 1.1. Jesus Cristo, pessoa comprometida com seu povo Jesus, 0 Cristo, o Filho de Deus feito homem, para anun- ciar 0 designio do Pai “encarna-se” na vida dos homens, En- ‘tra no tempo, na hist6ria, nasce em Belém, vive em Nazaré, Percorre a Palestina, assimila a cultura e a tradigdo de seu Povo, compartitha das angistias e das esperancas de sua gents, Ve Serecere S Sue tows = Sees SS sc (SSTUISD com 5 wee Ge Se AO SS Sears ce ibersc3q, ‘Connscsdor G2 situacSo Ge opressSo que ests vivia, Ele entra em diélogo e em confronto com os diversos 9Fupos politicos e religiosos (cf. Mc 7,1-23; Le 13,18); mas nao se identifica com nenhum deles. A proposta de Jesus supe- ra seus programas. A diferenca entre Jesus e estes grupos é profunda. Eles s¢ afirmavam, no sistema social e politico judaico, absoluti. zando sua monarquia, o templo e a religiio como fatores de poder, que se revelariam fortes e eficazes com a vinda do Mes- sias diante dos outros povos e nacées. Jesus, repelindo a tentago de poder, bem como todo © qualquer recurso a violéncia, mostra que a raiz dos males est nos préprios fundamentos das instituicSes que os ho- mens criaram, porque elas Ihe revelam que s&o instrumentos de seu anseio exagerado de prestigio, de posse e de poder, trés ambigSes que despertam no homem a rivalidade, o édio © a violéncia, Jesus critica nestes grupos religiosos dirigentes do po- vo de Israel o haverem feito da Lei um idolo, esvaziando seu espirito; de haverem tirado do povo 0 amor a prattica religio- sa, de se haverem esquecido de que as instituicées esto a servigo do homem para a sua vida e o seu bem na justica © ha fraternidade (cf. Mt 23,4-5). 1.2. Jesus Cristo anuncia 0 Reino de Deus Jesus 6 0 “Filho de Davi", prometido, o Filho de Davi bendito, que vem em nome do Senhor. A ele Deus entrega 9 trono do verdadeiro poder e da gléria verdadeira. Jesus 6 aquele que &, o Rei de Israel, o Rei do Mundo. Ele é o Rei © 0 Reino. Ele prociama o Reino do Pai. Por ele o Reino vem @ nés, por ele nés entramos no Reino. ‘$6 entendemos o Reino a partir do que fez e viveu Je- sus. Entendemos Jesus pelo que ele pregava: o Reino, © Reino de Deus nao é um lugar, no é “o espiritual’’, no € “um destino”: o Reino de Deus é “o novo", 6 “o senti- do”, 6 “a vida”, 6 | O Reino de Deus ¢ nove ordem, onde hé nove maneirs, maneira de viver (cf. Mt 5,1-12; Le 6,20-23; Le 4,16-22; Le 718-23). : Temos que perguntar a Jesus 0 que é o Reino de Deus. Jesus 6 a resposta de Deus as interrogacées do homem, 0 1ué do homem. poriNesus nfo prege a si mesmo, Das 122 vezes que se fala do Reino de Deus nos Evangelhos, 90 aparecem nos labios de Jesus. 2 Em Jesus realiza-se 0 que se esperava. Jesus é a “to- pia” de Deus, “O Reino de Deus esté perto” (Me 1,15), “O Reino de Deus ja est entre vés" (Le 17,20-21). O REINO st 0 Reino de Deus é todo 0 proceso iniciado por Jesus e confiado & Igreja, pelo qual o homem, pessoa, @ comul dade, se vai abrindo progressivamente a “‘presenca’” sobera- na, e que tudo invade, de Deus, até o dia em que Cristo ha de “entregar a Deus Pai o Reino... para que Deus seja tudo em todos” (1Cor 15,24-28). J Este Reino de Deus tem etapas diversas: preparago, ins- tauracdo ¢ realizaco plena ou apice. Joéio Batista 0 pré- anuncia e prepara. Também Jesus continuou esta prepara- do. Assim o fizeram os Apéstolos e os “setenta e dois disci- uulos”. ee paieth Instauragso do Reino nesta terra dura toda 8 historia: desde a manha do Evangelho até o entardecer da humanida- (cf. Mt 20,21). Sates es coats desea So taste Celtis i : "0 Reino de Deus vem sem comegam seus empreendimentos: “0 fe se fazer sentir... porque... j& esté entre vos" (Le 17,20-21). ‘A comprovagao de que ele ja esté presente no mundo 6 dada pelas obras salvificas realizadas por Jesus: “os sur- dos ouvem, os cegos vem, os mudos falam, os presos sho libertados, os pobres s4o evangelizados” (cf. Le 4,16-22); sa- ‘cramentos, que se acham entre nés como sinais de sua vida doada para que tenhamos vida, s&o sinais ativos de sua pre- senga salvifica. 7 enaaaaaaad eswerrerwer ry eee ewer www eer Um dia havera a realizagao plena, o pice, do Reino, po- rém no mais nesta histéria, mas na Patria do Céu, na Pés- coa definitiva, 0 Reino de Deus ¢ dom: Deus dé a sua presenca, sua solidariedade, sua justica, seu amor, que devem ser pedidos na oraggo. Mas sua instauraco exige 0 esforgo do homem. Reino 6 como sementeira que, para obter bom rendi- mento, deve ser bem feita: escolher a semente, limpar o ter- reno, lavrar e semear (cf. Mt 13,1-23), © Reino 6 como semente pequena, pujante de vitalida- de, @ que Deus da um crescimento extraordinario, mas que se espera que 0 camponés salba esconder no sulco (cf. Mt 13,21-32).. O Reino de Deus é como uma colher de fermento, que precisa que a mulher a misture com a farinha (cf. Mt 13,33). A obra de Jesus foi um dar gratuitamente a todos os ho- mens o dom de Deus; mas foi também suscitar a coopera- « 0 do homem para receber esta graca. De modo que tudo fosse igualmente dom gratuito de Deus e tudo fosse, a0 mes- mo tempo e & sua maneira, obra livre do homem. Assim, para entrar no Reino & necesséria a conversao do corago (ef. Mc 1,15), € preciso nascer de novo (cf. Jo 3,3-21), 6 preciso recebé-lo com coraco de crianga (cf. Mc 10,16). Para entrar no Reino de Deus 6 preciso ter amor: amor a Deus e aos irm&os (cf. Mc 12,28-34). Reino de Deus produz uma vida nova. 0 homem se sente atraido e preso pelo que produz. Dai custar-Ihe tanto expressar-se na Fé, © cristo 6 aquele que reproduz o que Jesus fez e vi- veu, @ por isso, 6 chamado e criar formas novas do que ele fez e faz em nés. Jesus veio e chama-nos para tornar-nos 0 que ele 6. Nosso esforco consiste em nos tornarmos todos filhos no Filho; nisto consiste a nossa realizagao histéorica e a nossa santidade: vermo-nos como irmaos em Jesus de Na- zaré. Jesus deu a sua vida por este Projeto-vontade do pai. Doou-nos o seu Espirito, como fruto da Pascoa, que faz de nosso agir na verdade, na justica, no amor e na paz, fermen- B to do Reino, que proclama: “ ‘Cristo vivel’ para a vida do mun- do”, 1.2. Alguns tragos da pessoa de Jesus Reino de Deus é “ordem nova", & a “Terra Prometi- da" onde se vive a comunhdo com Deus, com os irmaos & com as coisas. A experiéncia do encontro com Jesus, com seu estilo de vida, com sua pessoa, permitir-nos-4 reprodu- zir formas historicas novas de cristianismo, O seguimento de Jesus produziré em nés “nova vida’ para reconstruir hoje a Igreja como proposta do Reino de Deus para uma “ordem nova’ Trata-se de busca que visa a reinterpretar a Igreja, par- tindo da “‘pratica'’, dos pobres, como propunham os bispos de Medellin e de Puebla. Isto significa hoje algo de muito con- creto: ir periferia, ir 4 base, ir aonde nao hé poder, porque “pobre” significa “‘sem poder”. Os tracos da pessoa de Jesus inspirardo @ pastoral de juventade aquele aprendizado que consiste no seguimento de Cristo no caminho do tornar-se discipulo, a fim de poder discernir na vida de cade dia que “sistema” se vai introdu- zindo em‘cada um, como acontece na organizag&o social, e vai fazendo a vida perder as dimensdes do projeto de Deus. A Pessoa de Jesus 6 a evangelizacdio do Reino. ‘Observemos alguns trecos dominantes da pessoa de Je- sus, que melhor esclarecam a realidade latino-americana © que possam tornar mais viva a sua presenca, hoje, para os jovens. 1.3.1. Jesus vai ao encontro des pessoas Percorrendo o Evangelho para nos encontrarmos com Je- sus, descobrimos que ele oferece a cada um daqueles com quem se encontra um tratamento pessoal, atento a situacao que seu interlocutor vive. Olha-o e escuta-o, penetra na in- quietaciio do seu coracao e tem uma resposta para o homem. COferece um caminho de amizade a cada pessoa, ques- tiona-a e reorganiza seu projeto de vida. No manipula for- malidades sociais para avaliar as pessoas (raga, posigao so- 79 i) ny ata ia Oe NAW fae aoMpedo de ran ylialie aie ey Pal (ae ivy #2) ‘alo 10) eto) cto AA 4) Hel FAQ, temp Unt, Agel cada poauoa vont Fovgniauietn, a cate Un a Dp tne, 1.3.2, Josus 6 homem de liberdade.e de libertaglio Jesus mostrd-se livre entre os grupos polltico-religiosos, do sua 4poca, livre diante de seus sistemas de poder, de seus costumes e das leis que impuseram aos outros homens. Este espirito de liberdade nasce nele do fato de se saber Filho de Deus, que veio para fazer a vontade do pai, para a libertagdo e a salvatdo dos irméios. Porque ele veio “para li- bertar 9s presos e os oprimidos” (Le 4,18; ef. im 8,21; Jo 36; GI 5,1), 1.3.3. Jesus cria vinculos de comunidade 0 encontro que cada pessoa tem com Jesus se traduz por compromisso com a comunidade, Nao ocorre uma rela- 40 apenas em beneficio de si mesma. Jesus, que 6 “0 ho- mem para os outros'” induz seu interlocutor a s6-lo também.- “Onde dois ou trés estiverem reunidos em meu nome, ali es- tou eu no meio deles’” (Mt 18,20). E na comunidade, no ser- vigo aos outros, que se compreende o projeto da salvacéo. “‘Buscai, em primeiro lugar, 0 Reino de Deus e a sua justiga, @ todas essas coisas vos seréo acrescentadas” (Mt 6,33). Jesus é quem cria um novo tipo de relagées, faz-nos ir- mos entre todos os homens. E ele quem cria as condicdes para que nasga a Igreja, evangelizadora do Reino (of. At 2,42). A comunidade 6 0 lugar da “‘meméria” de Jesus. 1.3.4. Jesus é homem “auténtico’” A autenticidade 6 a transparéncia da pessoa tal como & coerente consigo mesma. E virtude exigente que os jovens sempre reciamiam e que descobrem em Cristo, como no exem- plo mais claro, A proposta que Jesus faz a todos os que o seguem & grande, dificil, exigente, E a razio por que cria impacto, por 80 qu lt gain tl Can lk Donal rrewter ane WO Vial take (at MIL Thy a Reds inate qe Bl Tay ea prdpra pousoa de Jeeut, su8 cobréncla, sua auloridade que impressionavam as pessoas e as atraiam para segui-lo (cf. Le 422-24), ; Assim falavam: “Verdadeiramente este homem era jus- to” (Lc 23,47); “Mestre, sabemos que és veraz e ensinas 0 caminho de Deus com franqueza... (Mt 22,16). E 0 proprio Jesus dé testemunho de si: “Meu testemu- nho 6 verdadeiro porque sei de onde vim" (Jo 8,14; cf. Jo 8,46; Jo 14,6). “Dou-vos a minha paz, nfo como o mundo a da" (Jo 14,27; cf. Jo 16,33). 1.3.5. Jesus “entrenta 0 contlito” Jesus propde nova maneira de ser e de agit. Propde “o novo" na experiéncia de Deus, fora da institucionalizacdo do poder, fora do que “o mundo” hoje esta fazendo. Isto gera repulsa, rejei¢o, cria conflito, obriga a enfrentar as diversas instncias de poder do seu tempo. Jesus conheceu a difamacdo, a critica, a perseguic#o e a ameaca de morte. Sua prisdo, tortura, condenag&o e cru- cifixio $6 se entendem como conseqiiéncia de sua pratica e de sua vida. S6 se entendem pelo amor e pela fidelidade ao Pai e missdo “para a qual havia sido enviado”. A cruz expressa, de um lado, a rejei¢fo humana, e, de outro, 4 acei- taco sacrifical de Jesus. Jesus adverte seus discipulos de que terdo a mesma sorte e prepara-os para ela (cf. Jo 12,25-26; Le 21,12.19). 1.3.6. Jesus, homem de oraeao, unido ao Pai Toda a vida de Jesus 6 constante louvor e referéncia 20 Ele busca a vontade do Pai como seu “alimento” (Jo 4,34; cf. Le 2,49), Esta unio com o Pai, esta abertura ao Pai, 6 a condi¢éo para viver uma vida nova “em Deus’, em Deus como Pai (ef. Jo 14,1-31) Esta abertura a Deus Pai como Jesus a vive e como a propée a seus discipulos, & a condi¢do para néo cair em “re 81 THAeeerheereeeeaeaaeeteaccenearenae|ce ducionismos”, em “‘tentagées” de parcializar ou privatizar 0 Reino, confiando unicamente nas proprias forcas, apropriando.. se dos processos e claudicando diante da cruz. © Pai 6 a razo da esperanca, a tristoza se converterd om jabilo (cf. Jo 16,20). A vida 6 a Gléria do Pai (Jo 13,315), 1.3.7. Jesus, homem entusiasta Jesus € homem das Bem-aventurancas. Mostra joviali- dade e maturidade de espfrito, que mantém o animo firme om meio das dificuldades e das provacdes. Jesus ama a vida © cr8 na amizade (cf. Jo 11,32-38). Tem palavras de console © de esperanca para todos (cf. Le 12,29-26). Jesus nfo se apresenta como homem “superior” — quando o querem tratar assim, foge (cf. Jo 6,15) — mas co- mo um filho do povo, que necesita dos outros e quer com. partilhar a vida com eles, E Visto como pessoa entusiasta e alegre, Jesus tem ami- 908, como Lazaro, Marta e Maria, os Doze e outros... Gosta Ge admirar @ natureza e del tirar os exemplos que usa na pre- ge¢8o do que significa a “vida verdadeira”. Anda muito; vai a6 a beira dos rios e ao lago para pescar com seus discipu- los; agrada-Ihes a quietude da noite, Vai a festas e participa da refeig&o com ricos pobres: no se recusa a comer nam a beber. s E “otimista em relacdo ao futuro’, sabe ver 0 bom que existe no coracao das pessoas (cf. Mc 10,21), aprecia a ter. nura das criancas (cf, Mc 10,14). Sem deixar de sofrer com 2 dureza de coragao de muitos outros, compromete-se com 2 sorte dos pobres e dos simples (cf. Mt 25,31-45), 1.3.8. Jesus é 0 homem do perdio Jesus disse que viera dar a vida eterna a todos os que fanem nele (of. Jo 3,14-18), pedindo apenas a converso pro. funda a Deus e aos irmfos, Ele se dirigi aos pecadores para salvé-los e no teve me- AO de estar entre eles, apesar das criticas que esta atitide Ihe acarretou, 82 Jesus perdoou a muitos que se arrependeram e prome- teram mudar de vida, como Zaqueu (cf, Le 19,1-10), Madalo- na (cf. Jo 8,3-11) e o paralitico (cf. Le 5,18-26). Disse que sou Pai quer que todos os homens se salvem © esté disposto a perdoar sempre, como aquele que perdoou ao seu filho prédigo (cf. Le 15,11-31), Pede a seus discipulos que sejam capazes de perdoar sempre e todas as vezes que seja necessério, para se parece- rem com o Pai do Céu (cf. Mt 18,21; Mt 5,48). No Pai-nosso, Jesus ensina que 6 preciso perdoar para ser perdoados (cf. Mt 6,12), Jesus se mostra bondoso e acolhedor com os pecado- res; perdoa-os, mas quer que se tornem justos, reparem os. Prejulzos causados, se arrependam e mudem de vida. Jesus erdoa para reconciliar 0 homem com Deus e liberta-lo do Pecado que é a fonte de toda opressiio, injustica e discrimi. nacdo (of. Ef 417-31), 1.4, Jesus dé sentido e esperanca 4 caminhada do povo que sotre 0 povo de Israel foi aprendendo gradativamente as liges de Deus, seu mestre. Aprendeu no sofrimento e na luta, no arrependimento e na conversao, nas batalhas e nas derrotas, nos exilios € nos retornos, voltando da idolatria para o verda- deiro Deus, que nao s&o as armas nem os cavalos, nem as riquezas nem 0 poder que podem dar ao povo a liberdade ea paz. 'srael, levado como escravo a Babilénia, descobre, no exilio, a presenca de Deus em sua vida. E com o Deus vivo descobriu de novo o Projeto de Deus que tanto entusiasma- ra seus antepassados. Foi no abandono do exilio que o povo refrescou a meméria e recordou com saudade a grande ex- periéncia de um povo livre, sem opressores e sem oprimidos, Esta meméria levou-o a descobrir que “o proprio povo 6 ser- vo de Javé", que entre sofrimentos e esperancas é portador do Projeto de Deus: uma sociedade feliz, de relagdes frater- nas, de participacao e de paz. Neste Servo Sofredor, cantado por Isafas (cf. Is 53), a Biblia anunciava aquele “que nao veio para ser servido, mas 83 wrt vila la nndi d wo M ug yi can ctv a aa wr se,presentou Goma homem de doves, trl por nosso rregado com os nossos pecados. Unni sao Seno os ever annie todos os pecados da humanidade, experimentou o maximo de sofrimento, Ven- cendo as tentagdes do poder dominador e da gléria, optou pelos pobres © oprimidos. Tornando-se servo de todos, ven- cravidéio. ‘ Sor ener, calade’e Gor lonideda tum julgamento in- justo e covarde. Mas no cedeu em nada a furia de seus opres- sores, caminhando até a morte de cruz e o sepulero. A pon- to de 0 soldado romano, representando 0 poder que o mata- ra, teconhecer a verdade: ““Verdadeiramente este homem era justo” (Le 23,47). Jesus ressuscitou e caminha com o seu Pov. a Lain = A salda de Jesus do sepulcro significa que quem poe sua confanca nele no fcaré no sepulero etero. 0 sepulero esta vencido. A opressfo esta vencida. A vida 6 vitoriosa. Em Jesus, a morte, a opresso, a deseperanca esto enterradas. Natureimente, a plenitude da vitoria 6 dom de Deus. Neste mundo andamos sempre na imperfeig8o, enquanto o Reino de Deus, por Cristo, “‘néo for tudo em todos” (cf. 1Cor 15,28). 1.5.A converséio dos seguidores de Jesus “Assim Jesus, de modo original, proprio, incomparavel, exige um seguimento radical que abrange o homem todo e todos os homens, que envolve todo'o mundo e o cosmo to- do. Esta radicalidade faz que a conversdo ela processo nun- ca encerrado, tanto em nivel pessoal quanto em nivel social. Porque, se o Reino de Deus passa por realizagSes historicas, no se esgota nem se identifica com elas” (DP 193). A superagao do pecado se realiza através de converséo a Deus, quo nos faa superar as falas Imagens dle, para descobi,finalmente, © Deus das ber-aventurangas, ¢ Deus de nosso Senhor Jesus Cristo. Isto traz consigo @ rejei¢go de todos os valores trensformados em iolos:riqueza, Sexo, poder, que dificultam o culto ao Unico Deus verdadelro, A mesmo tempo, esta converséo implica a passagem de um cris- 84 Hanning foto do pritions 4 win crlstlanisino de compromiase vital, Junto corn a conversio a Deus deve realizar-se, como expresso garantia da mesma, uma converséo ao proximo Gus leve ao reconhecimento de sua dignidade de flho de Deus € de nosso irméo. Isto acarreta necessariamente “radical con. versdo a justica e ao amor, para transtormar, a partir do seu intimo, as estruturas da sociedade pluralista, para que res. Peitem e promovam a dignidade da pessoa humana elhe en. Sejem a possibilidade de realizar a sua vocaco suprema do comunhéo com Deus e dos homens entre si” (DP 1206), A conversao leva ao cumprimento da vontade de Deus Que no & outra coisa sendo a realizacdo de seu Projeto de Salvaggo, em que o amor a ele e a0 proximo séo inseparde Weis: Este Ultimo — o amor ao préximo — precisa ser expres: 50 de acordo com as exigéncias do mundo atual que pedo uma Perspectiva politica do amor. Porque os meios do amor individual so cada vez mais limitados, Ha necessidade de atuar sobre as instituigBes econdmi- cas, Politicas, nacionais e internacionais. Hé necessidade do trabalhar pela transformagao das mentalidades e das estru- turas. Somente através deste esforco, a conversdo se expres. sara através de amor vivo ¢ eficaz. Esta eficdcia do amor cris. to requer que se corresponda “aos desafios ¢ aos proble- Mas graves que surgem em nossa realidade latino-americana... Fa exige de nés coeréncia, cratividade, coragem e entrega total. Nossa conduta social constitui parte integrante de noses seguimento de Cristo” (DP 476). O mesmo Documento Episcopal recorda-nos com firmeza 9 que implica o cumprimento da vontade de Deus hoje para a América Latina e, Portanto, a superacdo do Pecado e a con- versio auténtica: “O Evangelho nos deve ensinar, em face dias realidades em que vivemos imersos, que nao se pode atualmente, na América Latina, amar de verdade o irmao, nem Portanto a Deus, sem que o homem se comprometa em vel pessoal e, em muitos casos, até em nivel estrutural com © servico @ a promocao dos grupos humanos e dos estratos Sociais mais pobres e humilhados, arcando com todas as con, 85 aaeeteete seqiiéncias que se seguem no plano destas realidades tem- porais’” (DP 327). 2. AIGREJA, SINAL DE ESPERANCA DO MUNDO NOVO Na Igreja, 0 Reino de Deus encontra expresso peculiar, ja que ela é seu sinal perceptivel, seu instrumento privilegi do, seu germe e principio, 2 medida que vive o Evangelho e, dia apés dia, se vai edificando como Corpo de Cristo. A Igreja ndo deixa de ser mistério de 6, por herdar em sua histéria o mistério de Cristo e de seu Espirito, e porque nela o Reino encontra sua expresso consciente e institucio- nalizada. Mas, ela é também a resposta humana organizada que os seguidores de Jesus deram ao dom de Deus. Por isso 6, sem divisdo nem confusdo, a um tempo divina e humana, Participando da fraqueza de todo o humano e da gloria de todo 0 divino. Desde 0 comeco da hist6ria latino-americana, ela est capilarmente presente no meio do povo. As vezes, foi ctim- plice na colonizagao desintegradora das culturas autéctones, mas também foi promotora de liberdade e solidaria com a li bertacdo. Nos ultimos decénios, diante da crescente degra- dagdo da vida do povo, ela se conscientizou de que sua mis- so 6 a evangelizagao libertadora. ‘A melhor maneira de evangelizar os pobres 6 permitir que 08 proprios pobres se tornem Igreja @ ajudem toda a Igreja a ser Igreja pobre e dos pobres. E mister que a Igreja seja Po- vo de Deus que caminha, que se articula em comunidades vivas e se organiza para a acdo. ‘Assim como apresentamos alguns tragos de Cristo para que os jovens 0 encontrem perto deles, assim a Igreja tem de ser apresentada com novos sinais e vivéncias, que a tor- nem crivel diante deles, como a eleita e amada por Deus, para dar 20 mundo vida e esperanca novas. 2.1. Igreja libertadora e profética A Igreja quer ser fiel a Jesus Cristo, de quem recebeu a miso de evangelizar e, ao mesmo tempo, quer ser fiel 20 povo latino-americano a que foi enviada. A Igreja foi fundada por Cristo para prolongar sua en- carnaco na histéria. Ela sabe que sua vocaco e sua luta consistem em evangelizar, isto 6, em levar a Boa Nova a to- dos os ambientes da humanidade e, com sua influéncia es- piritual, transformar interiormente @ renovar a mesma huma- nidade (cf. EN 18). A Igreja vive e sofre solidaria com a dor da opressdo dos mais pobres e humildes da América Latina. Vé como escan- dalo e contradic&o com o ser cristo a crescente distancia entre ricos e pobres. Por isso, como Jesus, comprometida com seu povo € com o Evangelho de Deus, anuncia a todos os homens a pes- soa e a mensagem de Jesus Cristo: 0 Reino de justica, de verdade, de amor, de paz ¢ de santidade. Ela proclama um novo caminho de santidade: os novos santos da promogiio da dignidade humana, da reconciliaco, da fraternidade e da esperanca (cf. Jodo Paulo II, Discurso aos Bispos do Peru, 2 de fevereiro de 1985). 2.2. Igreja que anuncia e denuncia A Igreja no quer ficar fora da histéria da América Lati- na e deseja manter intima comunh&o com a sorte de seu po- vo. Est atenta as mudancas que se operam no continente @ quer estar presente com a luz do Evangelho. Diante das injusticas ¢ das desigualdades sociais, a igreja ergue sua voz para denunciar com firmeza 0 mistério da ini qiiidade. Descobre os projetos ocultos dos que sio criado- res de opresstio e anuncia com palavras e préticas 0 ideal e uma sociedade de irmaos. Quer apresentar a todos os homens o Evangelho da |i- bertacdo que é salvacdo para os que sofrem opressao e re- dencéio para os que cometem a injustica ‘A Igreja sabe que este tarefa de libertacdo, de justica e de paz, representa um confronto com os poderes deste mun- 87 do, @ sabe que a espera a mesma sorte de seu Mestre: a ir compreensio, a persegui¢go e a cruz. 2.3. Igreja, lugar de comunhdo e participagao A Igreja foi proclamada pelo Concilio Vaticano Il como sinal e instrumento da comunh&o dos homens com Deus & dos homens entre si (cf. LG 1). Tem o grande desafio de viver e pregar a unidade, ca- racteristica fundamental dos discipulos de Jesus (cf. Jo 17,22), até conseguir a comunhio de todos os homens na fraterni- dado universal. Uma Igreja, que vive em comunhéo como Povo de Deus, se sente interpelada e questionada pelos desejos de par pagiio dos jovens. Ela propria deseja constituir “um exemplo de modo de convivéncia, onde consigam unir-se a liberdade ea solidariedade, onde a autoridade se exerca com o espiri- to do Bom Pastor, onde se viva uma atitude diferente diante da riqueza, onde se ensaiem formas de organizaggo e estru- turas de participagao, capazes de abrir caminho para um ti- po mais humano de sociedade, e, sobretudo, onde inequivo- camente se manifeste que, sem radical comunhéo com Deus ‘em Jesus Cristo, qualquer outra forma de comunhdo pura- mente humana acaba tornando-se incapaz de sustentar-se @ termina fatalmente voltando-se contra o proprio homem" (DP 273). E assim que, na América Latina, aparecem as Comuni dades Eclesiais de Base, como novo modo de ser Igreja, co- munhao e participacdo, as quais, unidas e em comunhao com seus pastores, constituem a base real para que a Igreja soja, de fato, 0 Povo de Deus em marcha. 24. Igreja, Povo de Deus A Igroja, Povo de Deus, 6a expresso de uma experién- cia comunitéria de viver a f8. 0 Povo de Deus é Povo univer- sal, Familia de Deus na terra, Povo Santo, Povo que peregri- na na histéria, Povo enviado. E Povo que ndo entra em luta com nenhum outro povo e que pode encarnar-se em todos, para introduzir em suas hist6rias o Reino de Deus, para fazer de todos 68 povos um Povo de Irmaos (1Pd 2,9 € 10). Para ser Povo de Deus, os cristéos precisam primeira- mente constituir um povo, isto 6, uma articulag&o de comu- nidades vivas que elaboram sua consciéncia, projetam sua caminhada e se organizam para sua ac&io. Quando este po- vo, pela f6, pelo batismo e pela pratica do Evangelho, entra na Igreja, concretiza-se como Povo de Deus hist6rico que aqui, na América Latina, cada vez mais esté assumindo as carac- teristicas da cultura e da religiosidade popular. Nesta caminhada do Povo de Deus e no seio das comu- nidades, surgem os varios ministérios e servicos para aten- der as diversas necessidades religiosas e humanas, redefinem- se as funcdes € 0 estilo de atuagio dos agentes pastorais © conjuntamente se assumem as tarefas da evangelizagao. As- sim, a Igreja se manifesta missionéria e como sinal de liber- tao&o integral que Deus quer para seus filhos; ainda: como © instrumento adequado para a sua implementagéo na his- toria. 2.5. Igreja, Familia de Deus A Igreja, como “Familia de Deus”, é visdo da Igreja que se acha bem préxima do homem latino-americano, que tem alta estima pelos valores da familia e que busca ansioso, diante da frieza do mundo moderno, a maneira de salvé-los. Os jovens tém um primeiro nivel de inser¢&o social na familia. Ela os forma como pessoas, educa-os na fé e converte-os em promotores de desenvolvimento, Para a Igreja, a familia é imagem dela mesma, a “Igreja doméstica’. A familia 6 imagem de Deus que, “em seu mistério mais intimo n&o é solidao, mas familia” (Joo Paulo II, Homilia de Puebla). A familia é alianca de pessoas as quais se chega por vocagio amorosa do Pai a uma comunhio de vida e de amor, cujo modelo é o amor de Cristo a Igreja. Esta Igreja doméstica cultiva o espirito de amor e de ser- vigo. Nela encontram seu desenvolvimento pleno as quatro dimens6es da pessoa: a patemnidade, a filiacdo, a fraternida- de e a nupcialidade. Estas mesmas relagdes séo vividas na Igreja: experiéncia de Deus como Pai; experiéncia de Cristo como irmao; experiéncia de filhos no, com o @ pelo Filho; 89 seeerenrertrrcerraetenecaerterernerereet experiéncia de Cristo como esposo da Igreja. Séo quatro fa- ces do amor humano (cf. DP 583). Esta Igreja doméstica, convertida it , pela forga libertadora do Evangelho, aparece como “a escola do mais rico huma- nismo' (Gs 52) e peregrina com Cristo e, comprometida com ele, pde-se a servigo da Igreja, Povo de Deus, dando-Ihe a vida de seus filhos e tornando presente neles e por eles, na ve do mundo, o amor de Deus e a vida da fé, a fim de con- Duir para o progresso, para a vida comunitari - cicio da justica e da paz. Baer sip, 2.6. lgreja comprometida e solidaria © Concitio Vaticano Il convida a Igreja a assumir, a fazer suas, as alegrias e esperancas, as tristezas e as angtistias, so- bretudo dos pobres e dos que mais sofrem (cf. GS 1). AA Igteja quer ser fiel a solidariedade de Cristo, ensinada na parabola do Bom Samaritano e expressada em muitos de SeUS gestos, que expressam o mistério de sua encamacdo, paixéo e morte, para solidarizar-se com a sorte dos homens ® torné-los solidérios entre si, nele, na vida do novo Adéo. A lgreja, em sua caminhada junto ao povo latino-ameri- cano, vai engontrando muitos homens e jovens caidos & b ra do caminho e no pode passar ao largo: ela quer parar e levanté-los, quer restitu-los a vida. Dai nascem as suas preo- cupagdes e tarefas de promocfo ¢ assisténcia, de solidarie- dade e de caridade, de verdadeira pastoral social comprome- tida e atenta as situacdes de sofrimento, de pobreza, de opres- so, de necessidade de nossa gente, sobretudo dos desam- parados e dos marginalizados. Para tornar efetiva é verdadeira esta solidariedade, a lgreja necessita da generosidade, do vigor e da coragem dos jovens que, com ela, podem criar situagdes novas de fraternidade e de servico, 27. Igreja que celebra a vida © homem necessita de uma parada em meio aos afaze- res didrios. Ndo se pode viver pressionado pelas preocupa- 96es, pelos trabalhos, pelas reunides, pelos conflitos, pela luta 90 para viver e sobreviver... © homem precisa parar de vez em quando, periodicamente, para respirar, sorrit, meditar, rezar. © homem necesita do siléncio, do descanso. Também precisa das festas, As pessoas do povo, mesmo as mais mo- destas, as tém. So momentos de alegria, de expansao, de celebracdo. Conhecemos um povo quando participamos de suas festas. ‘A Biblia ensina, desde sua primeira pagina, o descanso semanal. Foi o que fez 0 proprio Deus:, “no sétimo dia des- cansou’" (Gn 2,2), No povo judeu foi e continua sendo sa- grado 0 sétimo dia, 0 sébado: dia dedicado & oragio © a0 descanso. (© homem, no individual ¢ no coletivo, pode esquecer esta lei; porém, esta 6 a lei. Quando ndo se vive o descan- so, a festa, a orago, pouco a pouco 0 ser humano se desa- ‘grega, desumaniza-se, destréi-se. ‘A Igreja mudou 0 sabado pelo domingo, recordando a ressurreigao do Senhor, Mudou o dia; mas 0 sentido da lel 60 mesmo: "Ouvir missa todos os domingos e festas de guar- da’, Nao se trata de mera norma externa, mas de necessida- de do cristo para manter a sua fé. A vida 6 luta... Precisa: mos do encontro e do péo da vida que nos une e nos reani ma, celebrando a meméria do sacrificio de salvagao, preci- samos celebrar a Pascoa de Cristo, nossa vida em Cristo, co- mo ele mesmo o mandou: “’Fazei isto em meméria de mim” (Le 22,19). ‘Assim, a Missa 6 festa; um povo som festas no 6 povo. A Igreja tem suas festas. Todas elas se concentram na Euca- ristia, A Ceia do Senhor é a antecipaciio da grande festa a {que o Pai nos convida: a festa da criacdo inteira, quando ven- cidos 0 pecado e a morte, vivemos a liberdade ea alegrria ple- nas. Nossas comunidades crists sabem celebrar sua vida e suas lutas, sua fé e sua unidade fraterna, nas celebracBes, na ritualizago da vida sacramental, em seus cantos, em sua misica, em suas variadas formas de criatividade religiosa para expressar sua alegria, sua dor, sua peniténcia, sua esperan- a, sua fé, seu amor, sua aco de gracas e sua libertacio, jf tealizada em alguns pequenos acontecimentos, que mos- 1 rey, che Haines enti nntesisActA, A EN HiSAM Hl Heong etonintives cies Os Joven, hie Me psa tisiilaninne te mm valvede Aw apoio fnO}m Totlve ee Gora inttAn te, jade ae ite patella ation ha Liturgla @ has aalabragdas das comunidades, para dal ax pressio viva ¢ atual, encarnada e inteligivel, a estes momen- tos de celebragéio da vida do Povo de Deus. 2.8. Igreja jovem com os jovens A Igreja espera dos jovens sua colaboracéio rejuvenes- cedora (cf. DM 5,10). A Igreja confia neles. A igreja vé os jo- vens como renovadores da cultura (cf. DM 5,11; DP 1169), renovadores da vida e estimulo para a sua propria juventude. “A juventude € simbolo da Igreja, chamada a constante re- novagfo de si mesma, ou ‘seja, a incessante rejuvenescimento” (DM 5,12). A Igreja mostra-se entusiasmada diante da possibilida- de de entrar em comunhéo com os jovens e de vé-los ativos © atuantes na comunidade eclesial, pois vé em suas atitudes @ manifestaco dos sinais dos tempos (cf. DM 5,13), vé que eles anunciam valores que renovam as diversas épocas da his- t6ria; vé os jovens como grupo social cada vez mais decisivo no processo de transformagdio do continente, A Igreja abre-se aos jovens como lugar de encontro com Cristo amigo, que os ola e os chama (cf. Mc 10,21); lugar de encontro com os irmos, em particular com outros jovens; caminho de encontro com o Pai. Os jovens devem sentir que @ lgreja ¢ lugar de comunhio e de participacao, A Igreja aceita com alegria os jovens em seu seio e em Suas estruturas ativas, aceita suas criticas, porque sabe que 6 limitada em seus membros, procura torné-los gradativamen- te capazes de assumir sua propria edificagéo como Corpo de Cristo até seu envio como testemunhas e missionérios, es- cialmente da grande massa juvenil (cf. DP 1184), Nela, os jovens sentem a presenga de um povo novo, © das bem-aventurangas, sem outra seguranca a no ser a de Cristo, um povo de coragio humilde e simples, contem- plative, capaz de discemir evangelicamente a novidade do Rei- no a A pty hg bt ‘tes inn slutty ficy hes etrrienny paeibek CEN HANGHHeTE ease (anit yeabaneaee ‘ow este vn onstage es cdne reais sandy Heater tb nth He Mlldnts 2.9. Igreja com Maria ; A \greja, incentivadora de uma civilizagao do amor, cuja construcdo requer singular estilo de vida, pode apresentar sua propria Me, Maria, como modelo de realizaco pessoal e ecle- sial, que aceitou com humildade e confianca a Palavra de Deus e fez de sua vida disponibilidade total e fiel ao Amor. E, por isso, ela pode estar hoje ao lado dos jovens, como esteve a0 lado de seu Filho no momento da cruz, em todas as mortes @ ressurreic&es deste dificil caminho. ‘Ao mesmo tempo, sua presenga em corpo e alma nos céus 6 sinal de esperanca que anima os jovens confianca @ & fidelidade até 0 fim, estimulando-os a viver com alegria da f€ na construgo da Civilizagéo do Amor, figura do Reino de Deus para estes tempos novos. ; “O Magnificat é espelho da alma de Maria. Neste poe- ma conquista 0 seu cume a espiritualidade dos pobres de Javé © 0 profetismo da Antiga Aliana. E 0 céntico que anuncia ‘© novo Evangelho de Cristo. £ 0 prelidio do Sermo da Mon- tanha. Ai Maria se nos manifesta vazia de si apropria e depo- itando toda @ sua confianga na miseric6rdia do Pai. No Mag- nificat manifesta-se como modelo ‘para os que néo aceitam passivamente as circunsténcias adversas da vida pessoal ¢ social, nem so vitimas da alienagdo, como se diz hoje, mas que proclamam com ela que Deus exalta os hurniides: 2, se for 0 caso, derruba os poderosos de seus tronos...’ (Jo&0 Paulo Il, Homitia de Zapopan, 4)" (DP 297). 3. 0 HOMEM NOVO, SONHO DE UMA HUMANIDADE DE LIBERTADOS A Igreja se situa diante do homem que, sem dizer pala- vra, a questiona sobre o sentido da vida, da dor e da morte. A Igreja procura compreendé-lo, responder-the, dar-the vida. RETRATATRATATATTVARALALTLLTATABAIWAT 2 2 Proclama diante do mundo “a altissima vocago do ho- mem’ ¢a “semente divina” que nele “foi plantada desde o comego. Propée-lhe 0 que ela possui como proprio: viséo glo- bal do homem e da humanidade” (PP 13). A resposta da lgreja é sempre Cristo, na plenitude de sua mensagem e de sua vida. A salvacao esta nele, feita palavra © sacramento, feita ago e testemunho. Somente a luz do Verbo Encarnado — “imagem de Deus invisivel e primogénito de toda a criac&o” (CI 1,15) — pode esclarecer-se 0 mistério do homem. “Cristo, Novo Ado, 6 a propria revelac&o do mistério do Pai e de seu amor, mani- festa plenamente o homem ao proprio homem e lhe revela sua altissima vocac&o” (GS 22). Jesus revelou ao homem o mistério de seu proprio ser: ohomem 6 filho de Deus e participa da vida divina pela ago do Espirito Santo. E, nesta vida de Deus, todos nés desco- brimos a verdadeira fraternidade, pois todos nés somos thos do mesmo Pai, sua imagem e semelhanca. Desta visdo crista surge 0 homem novo, criado, amado e redimido por Deus em Cristo Jesus. Ele vive uma vida no- va capaz de gerar nova vida numa sociedade nova feita de itméos, filhos do mesmo Pai. Esta visdo crista impregna de espirito e encaminha para a sua realizagdo final um sonho do homem e da sociedade, sonho que anima os homens a se moverem em busca de sua propria transformago e a renovarem a sociedade em seus fundamentos. Os cristdos créem que este sonho pertence a realidade total, porque jé 0 esto realizando antecipadamente em Je- sus Cristo, que criou em si mesmo uma nova humanidade (cf. Ef 2,15). Delineamos os tracos dominantes deste homem e des- ta sociedade que jé se acha em formacdio e progresso. © ho- mem que assim 6 gerado apresenta-se como: 3.1. Homem solidério ‘Como 0 bom samaritano, ele se inclina sobre os que cai- ram a fim de levantar-se com eles; no ha luta por libertago 94 que no seja também sua luta, atento como se acha as mais diversas formas de apoio até assumir todas as suas conse- aiiéncias, por mais pesadas e dificeis que sejam. 3.2, Homem profético Com lucidez critica denuncia os mecanismos que criam opressio, detecta as desculpas e escusas que se ocultam por tras dos projetos dos grupos dominantes, anuncia com sua palavra e com sua vida o ideal de uma sociedade de irmos @ de iguais, e jamais negocia com a verdade. 3.3, Homem comunitério ‘Aberto 8 comunicacdo e a convivencia, cria vinculos de reciprocidade e de participagao através de intimeras relacoes comunitarias, que permitem a plena realizac&o pessoal de to- dos e de cada um, evitando a atomizagao ou a massificagao, que no deixam a pessoa ser nem se expressar com espon taneidade, riqueza espiritual e entrega servical. E ento que ele se compromete realmente com os ou- tros, que compartilham do mesmo ideal, e que ele empenha neste ideal todas as suas energias e gasta com generosidade sua vida. 3.4, Homem livre Ele procura libertar-se de esquemas ou de ilusdes impos- tas, a fim de ficar livre para criar, junto com outros, as for- mas mais adequadas de vida, de trabalho, de ser cristo; es- forca-se por ser livre de si mesmo, a fim de estar mais livre e disponivel para os outros e até disposto a morrer como tes- temunha da justica do Reino de Deus que se faz hist nobre luta dos oprimidos em defesa do direito, da dignidade e da vida. 3.5. Homem jovial Ele assume com jovialidade as tenses e os conflitos que, em si mesmo, nas estruturas da sociedade e dentro da Igre- ja, suscita uma clara definig%io em favor dos pobres e de sua libertagao. 95 RUNNER eh os WH, Hominy eninanpntive Avian i Weil ther atl 1 weaitites oh eitatunvtndt, des alas garttytita Ne toned Aietetvtiey Flaten Gertie teen, WL 18, a belehwayey 6 & CONVIVENcla fralerna, Come Jesus, sabe recolher-se para rezar com corago aberto, contemplar @ pre- senga de Deus na natureza e na hist6ria dos homens, espe- Gialmente na luta e na caminhada dos mais humildes. Ele apre- cia a ternura das criancas, a coragem do militante e, sem ser- vilismo, 6 magnanimo diante dos adversérios. 3.7. Homem de utopia Nao descansa com os sucessos; néio desanima com os fracassos. Traduz a esperanca escatologica do Reino de Deus em esperancas historicas no Ambito pessoal, social, de saci. de, de trabalho, de cultura. A pequena utopia de que todos comam pelo menos uma vez ao dia; a grande utopia de uma Sociedade sem exploracdo e organizada com a participacdo de todos; ¢, finalmente, a utopia absoluta de comunhéo com Deus numa crie¢go totalmente redimida, vivem no coragao de quem se compromete com a libertagao integral. Assim, 0s esforcos do homem serdo recompensados pelo dom de Deus de “um céu novo e uma terra nova”, que se iniciam nesta hist6ria com Cristo Jesus, “~Deus-conosco”, 6 Continua na eternidade como Reino de libertados, como ir. mos ¢ irmas, na casa do Pai. il, IDENTIDADE DA “CIVILIZAGAO DO AMOR” O mundo se divide hoje em dois grandes sistemas que englobam a vida dos homens: o capitalismo liberal e o mar- xismo. Ambos jé se demonstraram incapazes de gerar homens novos. Pelo contrério, neles, diversos modos de escravidao. Proliferam e levam o homem a se tornar inimigo do homem. Diante de situacdo tio angustiante, a Igreja apresenta um ideal por se realizar: a Civilizacéo do Amor. Mas a pergunta surge quase espontaneamente: que 6? um novo sistema alternativo entre o capitalismo liberal e 0 coletivismo marxista? uma inspiragdo? um sonho? E importante esclarecer esta questo. Trata-se de con- seguir definig&o ou, pelo menos, descri¢&o acabada que es- clarega a identidade da proposta. 1. UMA PROPOSTA A Civilizagiio do Amor néo é novo partido politico dos cristdios. Tampouco é anseio de hegemonia da Igreja sobre 0s povos da América Latina. Esta Civilizagio 6 “o conjunto de condicées morais, civis, econdmicas, que permitem é vi- da humana melhor condicéo de existéncia, plenitude racio- nal, um feliz destino eterno’ (Paulo V1) Consideramos urgente receber 0 desatio dos bispos em Puebla € 0 dos diltimos pontifices. A realidade angustiante 97 preeeertececeersrsercecceceseseses: TTT rT errr rrr rrr rere weer eee eee eee eS de muitos homens que habitam nossos territérios reclamam- na. A Igreja apresenta-a como ideal por se realizar. Em primeiro lugar, devemos afirmar que no se trata de sistema técnico e organico a que a Igreja possa aderir. N5o é missdo da Igreja preparar uma proposta elaborada. Isto antes missdo de toda a sociedade e, nela, os cristios deve trabalhar com pluralismo quanto aos meios, visando a cons- trugdio de uma nova sociedade. Esta sociedade requer, sem sombra de dividas, novas instituig6es e estruturas, que sejam a expresso auténtica da consciéncia coletiva dos povos. A Civilizagfo do Amor é convite a reconhecer que o Reino de Deus cresce na América Latina entre os pobres e sofredo- res, Embora seja pequeno como o gréio de mostarda, esta- mos certos de que chegard a ser arvore onde os passaros fa- ro seus ninhos. E, ao mesmo tempo, compromisso criador que nos transforma em construtores ativos de novos modos de convivéncia e de relagées humanas. Cremos verdadeira- ‘mente que s6 0 amor pode ser a base desta nova Civilizac&o. A Civilizago do Amor & esforco sério de leigos e de pas- tores, para viver o Evangelho no apenas no émbito pessoal, ‘mas também no corpo social. Neste sentido, cremos que é a maior alternativa para os sistemas e estilos que se ofere- cem hoje aos jovens latino-americanos. Eles siio sistemas ma- terialistas e alienantes, que no valorizam o homem nem o respeitam em seus direitos. A Givilizago do Amor cré que o estilo de vida inaugura- do por Jesus € proclamado nas bem-aventurancas 6 0 mais humano e atual. Viver com 0 estilo de Jesus em nossa América Latina, viver com seus critérios e valores, cremos que é algo que da- ¥4 origem a mudangas profundas na consciéncia coletiva dos Povos, de maneira que surjam ao mesmo tempo novas @ mais justas estruturas sociais. A Civilizago do Amor no 6 entio, uma ideologia. E, antes, cosmovisdo. E estilo novo, porque se propde hoje ao nosso continente. € antigo, porque se inspira na pa- lavra e na pessoa de Jesus. E atua/, porque corresponde as necessidades vitais do homem. E estilo que questiona 0 crente 98 € que é proposto igualmente ao no crente. E pessoal por- que nos leva a viver como “‘homens novos”. E é social, por- que procura enraizar-se na propria vivéncia do povo, Numa palavra: 6 a construc&o de nova sociedade sobre a base de nova cultura. E 0 ataqui frontal a injustica social que inspira a exploragao do homem pelo homem e é 0 desafio para criar lacos fraternos e solidérios entre os povos. Tudo isto corresponde ao principio evangelizador da in- terioridade: os homens e os povos mudam em suas convic- Ses, em suas transformactes espirituais, de acordo com as. mudangas econémicas e politicas. Mas n’o esquecem que as estruturas humanas condicionam também a vida e a con- duta do homem. A Civilizagao do Amor no € sonho adivel para o futu- 10, De fato, muitos jovens e muitas comunidades a vivem dia- riamente em nossa terra. Mas ela ndo é tarefa de um dia, nem sequer de uma geracdo. £ vocagao diéria e permanente. E critério inspirador e é realizacdo no tempo. As normas do direito, as leis que estruturam nossa convivéncia, a aco politica, as relaces trabalhistas, os projetos de cada pais de- vem ir refletindo a escala de valores que a Civilizag&o do Amor apresenta e defende. As estruturas econdmicas e politicas podem ser julga- das e medidas de acordo com a proximidade ou a distancia que mantém em relacdo a esta Civilizaco nova que realiza a justia de cunho personalizante e comunitério, Em sintese, a Civilizago do Amor é ou serd realidade quando haja ou houver, quando se propicia ou se propiciar “go conjunto de condicionamento morais, civis, econdmicos, que permitam & vida humana ter melhor condic&o de exis- téncia, plenitude racional, um feliz destino eterno”. 2. DESCRICAO DA PROPOSTA 2.1, Afirmagéo dos grandes valores Diante da construgao de uma sociedade de comunhéio e de participagao, nés, cristéos, dizemos: 99 2.1.1. Sim & comunhao Numa sociedade dividida pelo interesse e pelo ddio, se- porada em classes sociais, que necessita do desperdicado po- dor unificador da juventude, os jovens, centralizados em Cris- to, podem trabalhar pelo surgimento da nova sociedade me- diante a solidariedade, a fraternidade e o sentido de comuni dade, 2.1.2, Sim a perticipacao A juventude deve comprometer-se com um esfor¢o que garanta o direito de todos ao trabalho, cultura, & aco poli- tica e a todos os beneficios que decorrem da organizactio so- cial. 2.1.3. Sim verdade ...de Jesus Cristo, porque ela é a Gnica que nos faz ple- namente pessoas, conforme o que devemos ser dentro do Plano de Deus. 2.1.4, Sim a justica Porque ela é um direito que Deus confiou a todos os ho- mens e mulheres para que vivam autenticamente como it- mos, filhos do mesmo Pai 2.1.5, Sim a liberdade. Porque 6 dom inerente a condig&o humana e fator in- pensdvel para o progresso dos povos. 2.1.6. Sim 4 paz A paz que “no mera auséncia de guerra, que ndo se reduz apenas 20 equilibrio de forcas adversas, que no surge de hegemonia despética”’ (GS 78), mas que se constrdi ca- da dia pelo esforgo em prol da fraternidade, com os bons re- sultados obtidos através da solidariedade ¢ com a luta pela justiga. iz 7. Sim ao amor ‘Amor que 6 a manifestagdio do proprio Deus, a melhor energia transformadora de homens e povos, que leva a en- trega de si mesmo, traduzindo-se por meio de respeito e de promogdo dos mais fracos, de possibilidades reais de expres- sar-se, de influir nas decis6es, de receber os beneficios pro- duzidos por todos. 22, Rejei¢éo de tudo 0 que oprime o homem Por isso, rejeitamos o pecado como forca de ruptura pes- soal, social e com Deus, que avilta o homem; e dizemos: 2.2.1. Nao ao egoismo Em suas miltiplas formas: primazia do individuo sobre a comunidade, organizagdo de mecanismos econdmicos de competicao e de luta contra os outros, em vez de coopera- go em harmonia com os outros, O egoismo constitul rara ilusdo para chegar 4 nova sociedade, e 6 a nega¢o da uto- pia crista que se baseia no amor. 2.2.2, Nao a exploracéo De alguns homens por outros, de alguns setores por ou- tros, de algumas na¢Ses por outras. 2.2.3. Nao é injustica A injustiga que fere @ dignidade humana, quebra a har- monia social ¢ nega uma civilizagao que se quer construir so- bre o amor. Diante da injustica crescente, devem ser levadas em conta as necessidades elementares dos homens e das mu- Iheres pobres que formam a maior parte de nossa sociedade. 2.2.4. Nao & violéncia Trata-se tanto de metodologia para chegar & nova so- ciedade, quanto da forma de sustentat-se no poder e do efeito de um sistema opressor que gera desigualdades extremas. © Documento de Puebla mostra-nos quais elementos in- clui este reptidio a violéncit 101 PFEFSFFFFSFSSSFSSSSSSHSSCHSSCSSSSSSSSSHSST: — As divisbes absolutas e as muralhas psicolégicas que se- param violentamente os homens, as instituigdes e as co- munidades nacionais, Isto quer dizer: toda ideologia que se baseia na desconfianca no outro, no édio social ou de classe, na prepoténcia nacional, religiosa ou cultural — A corrida armamentista, que nao s6 gera desconfianga ¢ mais violéncia e morte, mas que é causa, também, de psi- cose politica que pe a primazia na “defesa” e ndo no de- senvolvimento das pessoas e comunidades que pretende defender. — Avioléncia institucionalizada, tanto estrutural quanto re- volucionéria, subversiva ou repressiva. A violéncia estru- tural que provoca exploracdo, miséria, fome e mortes co- tidianas 6 a negago mais flagrante do Evangelho do Amor numa sociedade que se diz cristé; mas, igualmente, a vio- lancia como arma de libertacdo significa a ruptura das fra- ternidades, o estimulo dos édios e das vingangas: é a des- confianca definitiva no poder transformador do amor e dos métodos néio-violentos que o amor gera (cf. DP 531-534), 2.2.5. Nao aos desatinos morais Justamente uma das causas de nossos males sociais se concentra na “crise de valores moras”: “a corrupeao publi- cae privada, a ganancia do lucro desmedido, a venalidade, a falta de esforco, a caréncia de sentido social, de justica vi vida e de solidariedade, a fuga de capitais e de cérebros” (DP 69). 2.3. As prioridades da Civilizago do Amor A Civilizac&io do Amor define-se mais pelo positive que anuncia do que pelo negativo que rejeita. Por isso, é impor- tante reafirmar que qualquer modelo de desenvolvimento, qualquer projeto histbrico de sociedade anunciado por ela, levaré em conta as seguintes prioridades: 102 2.3.1. Prioridade da vida sobre qualquer outro valor ou interesse Sé Deus é dono de nossa existéncia, que devemos ad- ministrar, pondo-a a servico dos outros. Por este motivo, ninguém pode dispor da vida alheia, nem impor aos outros qualquer tipo de maus tratos, pois se deve respeitar a-dignidade dos filhos de Deus. Defenderemos a vida humana de cada homem e de to- dos os homens, em todos os momentos de sua existéncia: seremos incansdveis lutadores pelos Direitos Humanos. Nosso Deus é 0 Deus da vida, que se fez um de nés “para que tivéssemos a vida, e a tivéssemos em abundancia” (Jo 10,10). 2.3.2. Prioridade da verdade sobre toda estratégia e eficiéncia Em um continente onde a mentira, a manipulacao.das pessoas, a caltinia etc. foram e sfio armas comuns por parte de grupos interessados em,que:no se conheca a Verdade, 08 jovens cristos querem praticd-la a cada momento, em cada circunstancia e situago, mesmo sabendo que isto nem sem- pre traz resultados positivos.imediatos. Eles, porém, o far8o com a fé posta naquele que disse: “Eu sou 0 Caminho, a Verdade e a Vida’ (Jo 14,6) e que nos assegurou: “A Verdade vos libertaré’” (Jo 8,32). 2.3.3. Prioridade da pessoa sobre todo poder ou projeto Queremos que tudo esteja a servico do homem, em pecial, dos mais pobres. Por 0, toda autoridade, todo sis- tema econémico e toda ideologia ndo nos servem quando se colocam 4 margem, acima ou contra as pessoas. ‘Tera que defender todos os homens, porque todo ho- mem foi criado para o homem, e nenhum fdolo — nem o ter, nem o prazer, nem o poder poderdo superpor-se ao sacta- mento de Deus na histéria, pois a tespeito do homem o pro- prio Jesus disse: “O homem néio foi feito para o sébado, mas © sdbado para o homem’” (Mc 2,27), e: “Tudo 0 que fizerdes a um estes meus irmaos, por mais insignificante que pare- 2, a mim o fareis” (Mt 25,40). 103 2.3.4, Prioridade do testemunho sobre as palavras Os jovens no aceitam o palavreado vazio e rejeitam a hipocrisia com que vém sendo enganados: as falsas promes- 828 e as vas ilusdes. Para superar o divércio fé-vida, para dar prioridade ao testemunho sobre o discurso oral, porque se considera o que se faz superior ao que se diz, e porque se quer superar a in- coeréncia entre 0 que se professa e 0 que se vive, 6 que o jovem faz a opgo por viver e testemunhar a nova Civiliza- 80 nas comunidades e nos meios de aco no mundo. Jesus disse: “Nem todo aquele que diz: Senhor, Se- hor... mas aquele que faz a vontade de meu Pai” (Mt 7,21) € que constréi o Reino e passa a fazer parte dele, 2.3.8. Prioridade da realidad sobre todo projeto preconcebido Deus chama e espera a resposta dentro da realidade, que se transforma, assim, no ponto de partida do aniincio que ‘se quer empreender a fim de propagar a Civilizacao do Amor. Por isso, rejeita-se todo e qualquer enunciado ou apre- sentagdo que nfo leve em conta as necessidades reais dos povos; rejeita-se todo confronto de idéias que nfo se refira a realidades concretas do homem e que no busque verda- deiras solucdes para os problemas reais da vida. Neste nivel tem papel importante a oped pelo pobre, & medida que se 8 prioridade a sua realidade em face dos interesses de qual- quer grupo ou partido, ou as conveniéncias das ideologias. 2.3.6. Prioridade da ética sobre a técnica O mito do desenvolvimento tecnolégico ja demonstrou ser incapaz de solucionar os problemas da humanidade. Mui tas vezes até, esta técnica tem sido usada contra o homem, para sua destruigfio moral e fisica. Por isso, ueremos priorizar a ética evangélica que nos vai mostrando de que modo devemos por a técnica a servico da nove Civilizag&o. Desta forma, os avangos da ciéncia e da técnica ficargo a servico da liberdade, do amor e da paz. 104 2.3.7. Prioridade da fé e do trascendente sobre toda tentativa ou intuito de minimizar 0 homem Deus e seu amor libertador esto presentes na historia, tornando-a, assim, histéria da salvacio. : ‘O homem, feito a sua imagem e semelhanca, 6 chama- do ao absoluto, realidade que deve conquistar com seus com- promissos coneretos histéricos, vividos e animados pelo amor. Qs jovens deverdo descobrir sua origem e seu destino, para poderem chegar & plenitude em Cristo e defenderem, assim, a vocacao transcendente de cada pessoa chamada a ser sujeito e nao vitima de sua grandeza. Devertio descobrir © sentido da vida e do compromisso libertador. 2.3.8. Prioridade do trabalhador e do trabalho sobre o capital e a empresa Fol o pecado que provocou a situagdo em que se cons- tata haver entre os homens “ricos cada vez mais ricos € po- bres cada vez mais pobres" (Jodo Paulo Il), Este pecado social introduziu-se nas relagdes injustas en- tre os que so chamados a viver uma vocago de irmaos @ constitui o principal obstéculo a realizagéo do projeto de Deus, da Civilizac&io do Amor, de que todos sé chamados a parti- cipar com igualdade de dons, j4 que estes foram destinados pelo Senhor para o bem de todos. ee eceesenerederaTAaaaaeenrasessss Ill, PASTORAL DA JUVENTUDE PARA CONSTRUIR A “CIVILIZAGAO DO AMOR” A anilise da realidade latino-americana; a pessoa de Je- sus, Modelo, Forga e Péscoa do Povo de Deus; a misséo da Igreja, sinal e esperanga do mundo novo; 0 projeto do ho- mem novo, sonho de uma humanidade de libertados, e o de- safio da construggo da Civilizagdo do Amor sao os elemen- tos que determinam a definicSo, os objetivos e as caracteris- ticas da Pastoral que queremos promover na América Lati- na: uma PASTORAL DE JUVENTUDE CONSTRUTORA DA CIVILIZACAO DO AMOR. 1. A PASTORAL NA IGREJA ___ Jesus, enviado do Pai, veio salvar o que se achava per- dido e reunir o que estava disperso (cf. Mt 18,11; Ef 1,10). Pas- sou fazendo 0 bem a todos e a cada um dos que encontrava em seu caminho. Viveu a situacao de seu tempo e se identi ficou com a dor de todos para tornd-los participantes da vi- da divina e integré-los em seu Reino. Pastor por exceléncia (cf. Jo 10,1-16), formou seus apés- tolos e discfpulos para guiar e acompanhar o processo de nas- cimento, crescimento e expansao de sua Igreja, 8 qual trans- mitiu sua miss&o (cf. Mt 28,17-20) e 0 cuidado de todos os homens e de todos os povos. Cuidou de seus apéstolos e discipulos particularmente @ como grupo. Atendeu a suas necessidades concretas & 106 ensinou-lhes, com sua pratica, como deviam viver 0 servico 08 outros em suas necessidades historicas coneretas. Ele mesmo curou enfermos, libertou muitos de sua ignorancia, exigiu de outros que dessem mais de si, conscientizou os que Ihe abriram o coracdo, perdoou agdes concretas e chamou 3 conversio. Esta mesma tarefa e missdo a Igreja retoma hoje, para ser mensageira e realizadora da alianca de Deus com os ho- mens. Ocupa-se deles procurando ir a seu encontro em to- das as suas necessidades e situacées. Ajuda-os a desenvol- verem suas qualidades de acordo com sua vocagao pessoal a servigo da comunidade humana. Com esta ago “pastoral”, a Igreja prolonga o cuidado que Jesus teve com as pessoas de seu tempo e atualiza hoje sua ago, pondo-a em pratica Dai nasce a miss&o da Igreja. Com todos os seus mem- bros, ices @ meios, ela é chamada a ser o instrumen- to para que Deus faca chegar a libertacdo a seu povo e para ‘que a comunidade humana descubra sua misao neste mundo segundo os planos de Deus Pai. Para atender a to diferentes necessidades, a Igreja tem aces pastorais diferenciadas, isto é, servicos e meios, pes~ ‘soas para ajudar e prestar atendimento nas diversas situaces que se apresentam. Assim, existe a pastoral da familia, a dos meios de comunicacio social, 2 da educago, a da cultura, ada catequese... Uma delas é a pastoral da juventude. 2. A PASTORAL DA JUVENTUDE 2.1. Definig&0 Desta maneira, “a pastoral da juventude é a acdo da Igreja por meio da qual ela ajuda os jovens a descobrir, assimilar ‘e comprometer-se com a pessoa de Cristo e com sua men- ‘sagem, de sorte que, transformados em homens novos, in- tegrando sua fé e sua vida, se convertam em agentes privile- giados que colaborem na construcao da Civlizacdo do Amor’. Esta aco 6 processo de acompanhamento, que a co- munidade eclesial realiza, principalmente através da presen- 107 ¢a de assessores capacitados, para o joven, com o jovem 70 jovem, para a comunidade, com a comunidade e na co- munidade. Neste processo, criam-se as condicdes para que © jovem descubra e fortaleca suas relagdes fundamentais de encontro consigo mesmo, com os outros, com o mundo e com Deus. E, portanto, um desafio para toda a /greja. Toda a Igreja evangeliza os jovens. Nao se trata de uma pastoral de juven- tude que s6 atenda aos jovens. Trata-se de uma alternativa nova em que a Igreja, como tal, se compromete, com seu apoio ¢ orientacdo, para que os jovens possam ser os pro- motores e realizadores da mudanga na América Latina, e pa- ra que — neles e com eles — se possam ir dando os passos. necessérios & construgao da Civilizago do Amor. A Pastoral de Juventude sera assim a expressfio conoreta da miso pastoral da comunidade eclesial atenta & evange- lizagdo dos jovens. Evangelizacio dos jovens que sera, tam- bém, Boa Nova para a Igreja e programa de transformacao da sociedade e da vida dos homens. 2.2. Objetivos da Pastoral de Juventude _ _ Por isso, a pastoral de juventude 6 processo e projeto. E caminho. . A exper riéncia desta caminhada levou a definir este pro- jeto por meio de objetivo que assim se expressa: promover encontro pessoal e comunitério com Cristo vivo, para que os Jovens, uma vez evangelizados, se comprometam com a bertaggo do homem e da sociedade, levando vida de comu- nhéo e participac&o (cf. DP 1166). Este objetivo geral assinala a linha de trabalho de toda @ ago pastoral no campo juvenil. — Promaver implica, ao mesmo tempo, convocar e acom- panher, ‘A Pastoral de Juventude é convite a descobrir o sentido da vida através de entrega, missao e servigo. Esta convoca- 80 & chamado feito por alguns jovens que convidam outros. jovens, 6 chamado da comunidade Igreja, é chamado de Cristo 108 para viver com sentido vocacional de humanizacao, em al- gum dos estados de vida que especificam a resposta ¢ a op- G80 pessoal, E chamado a viver o trabalho, o estudo, a pro- fissio numa vocagao de servigo comunitario e solidario. O acompenhamento define a atitude pedagdgica da pas- toral juvenil que quer realmente acompanhar, estar perto, ai mar e promover 0 protagonismo dos jovens. E atitude pasto- ral libertadora, que personaliza e responsabiliza os jovens por suas proprias experiéncias. — A Pastoral da Juventude quer ser processo que leva 0 jo- vem a se encontrar pessoal e comunitariamente com Cristo vivo, que revela 0 amor libertador do Pai que se experi- menta no Espirito presente na comunidade, na Igreja ¢ nos sacramentos, fazendo-o viver a realidade e os fatos de to- dos os dias, as pessoas e os lugares que freqiienta com sinais de uma historia de amor que relaciona Deus com ‘os homens como filhos, € os homens entre si como irmaos. — O encontro pessoal e comunitario com Cristo & para que 0 jovem se evangelize, isto é, se descubra, viva, testemu- nhe e anuncie o estilo de vida de Jesus. € a propria vida de Jesus, entregue e doada em sua Pascoa. Ea novidade de Jesus entregue e doada no Evangelho. ‘A vida e 0 novo correspondem muito as aspiragSes dos jovens. E, como Jesus 6 resposta a estas aspiracées, a vida @ 0 novo so razo e objeto da pastoral juvenil. ‘Assim, em Cristo, os jovens podem descobrir o sentido de suas vidas, e, partindo da situacio dos outros jovens, po- dem assumir 0 projeto de Cristo de “‘irmanacao”, de “‘con- fraternizagao”, de rompimento com a légica do “eu”, para en- trar na légica de Jesus, descobrindo na aproximacaio dos ou- tros, no contato com estes, em seus companheiros e ami- gos, nos pobres e nos que se acham caidos & beira do cami ho (cf. Le 10), 0 préximo, o outro, de quem nascem os la- Gos de fraternidade, de “irmandade”. Nesta experiéncia, os jovens descobrem nova maneira de ser, de pensar, de agir, de viver, de amar. Trata-se de pro- posta de “nova ordem’, de mudanga, de reconstrugao com © fim de compreender de novo e melhor o homem e o mundo. 109 ess Este “estilo de vida de Jesus” torna-se hoje “estilo de vida dos jovens’’: converte-se em discipulado, em misséo, Tudo isto constitui processo lento, pastoral de conver- stio, que leva 4 mudanea da raiz e das motivacées profundas das pessoas, que exige atitude de muita escuta e atencio, de paciéncia e de aproximacao, como a que Jesus adotou, para poder conseguir, na medida da fidelidade a tais atitu- des, 0 que ele conseguiu. — Este processo de encontro e conversio se concretiza de- pois na doaciio e no servico prestado & multiplicacgo da presenca do Reino de Deus, como tarefa, como missSo muito clara e precisa: realizar a libertagao do homem e da sociedade, levando vida de comunhéo e participacéo. Li- bertacio do homem e da sociedade que implica visao nova do homem como filho de Deus e da sociedade como po- vo de irmaos. Surge assim 0 compromisso social, politico, pastoral e evangelizador de servir a vida, de apoié-la e estimuld-la em todas as suas expressées, respeitando-a e dela cuidando em todos os seus momentos e em todos os seus direitos, orga- nizando-a naquela convivéncia que seja verificago, lugar, am- bito, praxe da verdade, da justi¢a, da paz, do amor que, em suas expressdes mais auténticas, tornem presentes 0 homem, em sua dignidade e vocacao, e Deus, “tudo em todos”, co- mo Pai de todos. 2.3. Caracteristicas da Pastoral de Juventude Por tudo isto, quetemos para a América Latina, uma pas- toral de juventude construtora da Civilizagao do Amor, qui — Tenha 0 jovem como seu principal protagonista; desde 0 Concilio Vaticano Il, vem-se recuperando a vistio do leigo como participante ativo no ser e na missio da Igreja, cha- mado pelo batismo a viver sua vocacdo crist como com- promisso evangelizador com 0 mundo (cf. AA 23): “'sin- tam os jovens que este chamado é dirigido a eles de ma- neira especialissima. Recebam-no com entusiasmo e mag- nanimidade. € 0 préprio Senhor que os convida” (AA 33) 110 E a Igreja latino-americana retomou 0 assunto em Me- deliin: A Igreja vé na juventude a constante renovacao da vida da humanidade” (DM 5,10) e fez dela opcao preferencial em Puebla: “A Igreja evangelizadora faz um veemente apelo para que os jovens nela busquem o lugar de sua comunh3o com Deus e os homens, a fim de construir a Civilizacdo do Amor e edificar a paz na justica. Convida-os a que se com- prometam eficazmente numa acdo evangelizadora que néo exclua ninguém, de acordo com a situacdo em que vive, € tendo predilegao pelos mais pobres’’ (DP 1188). — Assuma o jovem em sua realidade pessoal, social @ cultu- ral: denunciando a massificagao, a despersonalizagao e a utilizagzio ideolégica que 0 jovem vive; correspondendo a suas inquietacdes e projetos no desejo de um futuro dig- 1no ¢ solidério para todos; valorizando e assumindo, na op- co pelo Evangelho, tudo 0 que construa a sua pessoa. — Apresente ao jovem um Cristo “amigo” e “companheiro de caminho”: ajudando-o a descobrir 0 Projeto de Jesus, a identificar-se com ele e a optar por seu seguimento; as- sumindo-o como “estilo de vida" que define sua identi- dade de jovem: confrontando continuamente com ele seus valores, decisées e compromissos juvenis; e promovendo a vivéncia de uma espiritualidade centralizada neste ‘'se- guimento” de Jesus. — Fomente a vivéncia comunitéria da fé: sequindo os pas- sos da pedagogia de fé usada por Jesus; promovendo a integrag&o de pequenas comunidades eclesiais de base, e fomentando a vida sacramental e de oracdio encarnada na historia. — Eduque o jovem para ser “fator de mudanea’’ na socieda- de: facilitando 0 conhecimento critico da realidade e a to- mada de consciéncia de sua misao transformadora; aju- dando a descobrir e a corresponder a sua responsabilida- de crista com vistas & sua op¢ao vocacional; procurando que todas as suas ages sejam personalizadoras e criado- ras de consciéneia critica, e estimulando a busca de for- mas eficazes de compromisso, partindo da opcao prefe- m1 ! rencial pelos pobres e tendo em vista a construgio da Ci- in... mca ! vilizagzio do Amor. / — Eduque para a comunhéo e a participacaio mediante tra- !ho dle pastoral de conjunto: promovendo encontros e igs de experiéncias; planejando, revendo e ava- liando juntos as tarefas; fomentando a coordenagao em | L nivel interno e com outros setores e niveis da pastoral de conjunto em ambito local e nacional, renovando cons- tantemente a busca de fidelidade & Mensagem de Jesus @ a0 Homem de hoje. Terceira Parte MARCO OPERACIONAL fh | 113 112 Eferererererreesreaeaaaaeereerereee INTRODUCAO Forjar discipulos de Jesus e comunidades eclesiais ju- venis, na perspectiva da Civilizacfio do Amor, exige que a pas- toral de juventude do continente v semeando a fé, a espe- ranga e a caridade no caminho dos jovens e do povo latino- americano que busca sua libertacdo. Nesta terceira parte, apresentamos a forma de transmi- tir, intacta e viva, a mensagem do Evangelho, para que soja acolhida pelos jovens, e seja capaz de gerar processos de con- verso, entusiasmando-os na tarefa que hoje Ihes propomos: construir a Civilizago do Amor. Sdo necessérios, pois, critérios que tornem operante esta acdio evangelizadora no mundo juvenil, que traduzam as preo- cupagées principals da Igreja diante dos jovens, ¢ que aju- dem 0 discernimento sobre 0 modo como evangelizar no hoje da América Latina Queremos dirigit-nos aos agentes de pastoral da juven- tude, em particular, aos ANIMADORES e ASSESSORES, para que, no acompanhamento do processo de educacio para fé dos jovens, saibam diferenciar as etapas a serem vividas em ‘cada experiéncia e saibam manter o ritmo nas intmeras des- cobertas que o jovem iré fazendo na relagao entre fé-e-vida, na propria educaggo de sua fé e na relagdo fé conscientiza- edo. Optamos por uma pedagogia da aco que articule as di- versas etapas do processo; que garanta a assimilago dos con- 116 I i ' A eee tetidos; que, no dinamismo das comunidades de jovens, aju- de a descobrir o sentido e a necessidade de vinculé-las a um processo social e eclesial que implique organizaedo, coorde- nacido, planejamento, acompanhamento e capacitagso. Uma pedagogia da acd, livre libertadora, que também seja expressdo de nova espiritualidade vivida no processo pas- cal dos povos da América Latina. 116 |. CRITERIOS OPERATIVGS PARA A EVANGELIZACAO NO MUNDO DA JUVENTUDE O chamado de Deus tem sempre por objeto contar com alguém para fazé-lo portador da Boa Nova da salvago para 0s outros, para o povo, para a humanidade. Este antincio é& transmitido através das proprias aces do mensageiro, trans- formado pela palavra e pela forca de Deus em testemunha, e também mediante as palavras que, no momento oportuno, mostram ou do a perceber o sentido salvifico das agGes. Esta comunicacdo da salvagdo de Deus, feita com a palavra e com © gesto histérico, & evangelizer. ‘A aco da Igreja no mundo juvenil deve gerar um “‘im- pulso novo, capaz de criar tempos novos de evangelizacéo” (EN 2), “e, ao mesmo tempo, transformar interiormente, re- novar a propria humanidade. A Igreja evangeliza quando, uni- camente pela forga divina da Mensagem que proclama, pro- cura converter simultaneamente @ consciéncia pessoal @ co- letiva dos jovens, a atividade em que eles se acham compro- metidos, sua vida e ambientes concretos” (cf. EN 18). Hoje em dia, podemos afirmar que 0 percurso hist6rico da pastoral juvenil na América Latina fez que a Igreja se en- contre apta para anunciar o Evangelho com convicgao, liber- dade de espitito e eficiéncia (cf. EN 4). Cumprir seu dever de mensageiros da Boa Nova converteu-se em programa de vida e de aco, mais ainda quando se trata de estimular os jovens em sua tarefa de evangelizadores. 17 1. “Al DE MIM, SE EU NAO EVANGELIZAR!” (1Cor 9,16) ‘“Evangelizar constitui a tarefa e a vocagao préprias da Igreja, sua identidade mais profunda. Ela existe para evange- lizar’” (EN 14). Por isso, “a apresentaco da mensagem evan- gélica no constitui algo de cunho facultativo. Esta mensa- gem é necesséria. E capaz de suscitar, por si mesma, a f6, uma {6 que tem seu fundamento na presenca de Deus (cf. 1Cor 2,5). Merece que o apéstolo Ihe dedique todo o seu tern- po, todas as suas energias e que, se necessério, Ihe consa- gre até sua propria vida” (EN 5). A juventude é uma época que exige respostas e deci- ‘sdes; néio 6 somente tempo de preparacdo, ja é tempo de rea- izaco, tem que ser vivido intensamente. E tempo de salva- 40 em que Deus chama e deve receber resposta. Deus cha- ma 0s jovens, no por seus méritos ou qualidades especiais, que eles mal tiveram tempo de manifestar, mas sua propria e soberana iniciativa, por seu amor que é sempre “primeira” (1Jo 4,19). Com freqiiéncia, os jovens experimentam e interpretam sua juventude como fraqueza, fragilidade, como simples etapa de preparac&o pard responsabilidades posteriores na idade aduita. Convertem sua juventude em desculpa para adiamen- tos, deixando para mais tarde as decisdes importantes (cf. Jr 1,6). Mas Deus quer contar com os jovens, ele transforma sua juventude — que, aparentemente, para eles 6 fragilidade — em fortaleza, e chama-os para assumir uma miss&o, com- prometendo-se com uma resposta responsavel e desde logo exigente: acolher seu Reino de libertacdo, como graga e mi sericérdia; mas simultaneamente, procura conquisté-lo para a forca, a fadiga, o sofrimento, para uma vida conforme o Evangelho, para a reniincia e a cruz, para 0 espirito das bem- aventurancas, mediante conversdo radical, transformacao pro- funda da mente e do coracao (cf. EN 10). Os jovens sao cha- mados a santidade. Neste contexto é que devemos receber as palavras de Jodo Paulo Il em sua Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 1985: “Nao tenham medo de sua propria juventude e dos profundos desejos de felicidade, de verda- 18 de, de beleza e de amor eterno que voces abrigam em si mes- mos. Nao tenham medo de comprometer a sua vida com a paz € a justi¢a, pois sabem que o Senhor esta com vocés @ em todos os seus caminhos”” 1.1. Preocupagées principais da evangelizagéo na América Latina Para responder a este desafio na situaco atual da ju ventude latino-americana, Puebla apresenta trés preocupa- Ses particulares que precisam estar presentes na evangeli- zacao: _ 4) Penetrar ¢ assumir, mediante a Boa Nova, a realida- de integral dos jovens para a redenco das antigas e novas estruturas (cf. DP 343). O Evangelho é uma mensagem que deve atingir toda a vida do jovem. b) Promover a dignidade do jovem ea libertagéo de to- das as suas escraviddes e idolatrics (of. DP 344). A evangel zacdo traz consigo uma mensagem de vida: portanto, a igre- Ja deve ser defensora da vida e construtora da paz’ _¢) fee {com 0 vigor do Evangelho os centros de de- cisdo e os modelos de vida social e politica que afe jovens (cf. DP 345) nepiesscopeae 1.2, Critérios e sinais de evangelizagao auténtica e viva AA fidelidade a mensagem de que somos servidores, ¢ aos jovens a quem devemos transmit-la intacta e viva, 6 0 eixo Central da evangelizacdo (cf. EN 4). O evangelizador neces. sita de critérios e de sinais que permitam discernir 0 que efe- tivamente corresponde a vontade do seu Senhor (cf. DP 370), aig: URI? aPresenta-nos os seguintes critérios fundamen- ais: a) A Palavra de Deus, contida na Biblia e na tradicao vi F 3 ao vi- va da lgreja, deve ser a alma da evangelizacdo. Deve ser lia € interpretada dentro da fé viva da Igreja (cf. DP 372) b) A fé do Povo de Deus 6 a fé da Igreja universal que Se vive e se expressa concretamente em suas comunidades 19 ti nere' rticulares. Mas uma comunidade eee que cor 7a em si mesma a fé da loreia univerea, super bai ularidade, na f6 da Igreja total (cf. a io da comuni - “Q magistério da Igreja... No seio de en. Oe tans da deceto.e interpretardo eutentica Srfal da doutrina da fe da moral; 6 0 servico da supsssor one dos bispos, ‘sucessores dos apéstolos de Pedro... e dos bispos, ma da verdade’" (DP 374). sae 4) "0s tebiogos prestam um servco importante a i izam a doutrina e es orientagdes do magisterio ‘ime sinese do cortexto mais amp aduzar-3 finguagem adaptada ao tempo’ (DP 375). f e) “Todos participamos da miso peel mes seu ciscerniment, isto é 0 julzo a respelto tenticidade e a regulamentacdo do seu autoridade da Igreja” (DP 377). da Igreja. de sua au- compete & 2. PASTORAL DA ALEGRIA E DA ESPERANCA ‘América Latina sente-se intima e realmente “A Igreja na ite. Esteve, durante qua~ ytinen' éria com todo 0 povo do cont cuanto que Stine trl, so lado womans coraeo, fo poe ‘agora, nesta encruzilhada d: DP 2. ro com pano do fundo as aspiracbes € os sotinentce ee irmaos Se a eee een ‘sci i verdades centrais da. para longetzados, evangeizem o contbuam para 2 ibeiaea inragrl do home e ce sciededs (cf. DP 169, 186, 168) Dee ira, a pastoral juvenil sera a Laeat 2 ena Dest ranga, que transmite a mensagem iusosa do sa Nagios um mundo multas vez triste, oprmido Yancado em busca de sua libertago (DP 1208). oisas 21. Suscitara fé no Deus que faz novas ie papers is periéncia da fé crista, ¢ crer jovem, na experiéncia da fé Deus Se ee A juventude de Deus nBO a reconhecoms pe, fas na sua eteridade, que o faz permanentem nas n 120 9.@ todos os tempos e idades, mas também em sua ‘odas as coisas. O Apocalipse ter- i ent&o um céu novo e uma no- va terra... Ele enxugard toda légrima dos seus olhos, pois nun. Ca mais haverd morte, nem luto, nem clamor, e nem dor ha. verd mais. Sim! As coisas antigas se foram!” (Ap 21,1.4-6), Deus é aquele que faz tudo ficar novo e que chama histéria, os tempos ¢ as pessoas a uma permanente novide, de. E 0 Deus do futuro: “Eu sou aquele que &” (Ex 3,14), Ee. te 6 seu nome verdadeito, revelado por ele mesmo, 22, Anunciar a verdade sobre Jesus Cristo Salvador Cristo, nossa esperanga, esté no meio de nés, como en- viado do Pai, animando com seu Espirito a Igreja 6 oferecen. do 20 jovem de hoje sua palavra e sua vida, para leva lo & libertacdo integral e a reconciliar-se com o Pai (cf, DP 166) Cristo 6 0 cumprimento de todas as promessas. Sua vi. da entre nés se resume no antincio do Reino de Deus, como sinal da presenea nova e renovadora de Deus na historia, No centro da histéria humana fica, assim, implantado o Reino de Deus, resplandecente na face de Jesus Cristo ressuseite, do, iniciando a histéria nova que levaré todos os homens a ‘ser homens novos segundo o Evangelho (cf. DP 197), 2.3. Com a forga do Espirito (Le 4,14) No 6 casualidade o fato de 0 grande comeco da evan- ‘aco ter tido lugar na manha de Pentecostes, sob o so. pro do Espirito, € ele que, hoje como nos primérdios da Igre- J@, age em cada evangelizador que se deixa possuir vo Espirito do Senhor esté sobre mim’ (Lc 4,16) — 6 conduzir Por ele. Ser testemunhas do Det ining coin estas palavras: us da vida exige de nés mudar coPele 2680 do Espirito Santo — 0 “coracdo de pedra em coragaio de carne’ (Ex 36,26), implica pér a confianga em Deus ue “dé forga ao fatigado, confere energia ao invalido’. Ate 0s ovens se cansam, se fatigam, tropecam e vacilam: mas “0s que esperam no Senhor renovam suas forpas, abrem sees Como as éguias, correm sem se cansar, andam sem se fati gar” (Is 40,29-31), 121 e TUATALCLTALTITTITt Eeeerercrerrereri1t Deus chama os jovens a manterem em si espirito novo e jovem, sem cansagos prematuros, sem se tornarem velhos antes do tempo. Deus no aceita a resignacao nem o deses- pero, porque so portadores de morte. Convida antes os jo- vens a serem homens e mulheres que déem testemunho da esperanca e da vida. Viver a juventude como cristaos é aven- ‘turar-se a “‘nascer de novo" e comprometer-se profeticamente com a tarefa de tornar novas todas as coisas pelo amor. 2.4. Anunciar a verdade sobre a Igrej 0 Povo de Deus, sinal e servico de comunhao “Cristo que sobe até 0 Pai e se oculta aos olhos da hu- manidade, continua evangelizando visivelmente através da Igreja, sacramento de comunho com os homens no unico Povo de Deus, peregrino da historia” (DP 220). Mas a Igreja, a0 mesmo tempo, continua sendo evangelizada através dos tempos. A Igreja é sinal e instrumento do Reino. Nela se mani festa o que Deus esta realizando, silenciosamente na hist6- ria. Ela 6, também, 0 instrumento que introduz o Reino entre (os homens para estimulé-los a buscar sua meta definitiva (cf. DP 227). “Maria 6 para a Igreja motivo de alegria e fonte de inspi ragao, por ser ela a estrela da evangelizacao e a Mae dos po- vos da América Latina’ (DP 168). 2.8. Anunciar a verdade sobre 0 homem: a dignidade humana Entre tantas visdes distorcidas sobre a pessoa humana, “a Igreja tem o direito e o dever de anunciar a todos os po- Vos a visdo cristé da pessoa humana” (DP 306). “O homem, por sua dignidade de imagem de Deus, me- rece nosso compromisso em favor de sua libertacdio e reali- zago total em Cristo Jesus” (DP 169). “Professamos, pois, que todo homem e toda mulher, por mais insignificantes que parecam, tém em si a nobreza inviolavel que eles proprios e 0s outros devem respeitar e fazer respeitar, incondicionalmen- te” (DP 317). 122 Esta dignidade importa em captar e fazer ecoar 0 gran- de ideal de nossos povos: a liberdade! “‘Liberdade que é a um tempo dom e tarefa. Liberdade que nao se alcanca ver- dadeiramente sem libertacdo integral” (DP 321). “A liberdade implica sempre aquela capacidade que to- dos temos, em principio, de dispor de nés mesmos, a fim de irmos construindo uma comunhéo e uma participagdo que se hao de plasmar em realidades definitivas, em trés planos insepardveis: a relaco do homem com o mundo como se- nhor, com as pessoas como irm&o e com Deus como filho” (DP 322) Existe intima relago entre evangelizago e promogao hu- mana, Nao é possivel esquecer, na obra da evangelizacéo, as situacées extremamente graves em que se desenvolve a vida dos jovens latino-americanos: a injustica, a opressio, a pobreza, a violéncia etc. Abandoné-los nestas condigées de fragilidade seria negar-nos a proclamar o mandamento novo. 3. JOVENS PORTADORES DE BOAS NOTICIAS Deus fez os jovens, na histéria, portadores de boas no- ticias para seu povo: Gededo, Davi, Ester, Jeremias... Maria, escolhida para ser a m&e de Jesus, em quem nos deu o que ele 6 pessoalmente no Evangelho. Hoje também, o Senhor chama os jovens para serem os evangelizadores do mundo juvenil, oferece-Ihes a possibilidade de situar suas vidas no proceso da histéria da salvaco, forjando um projeto de vi- da coerente € plena. 3.1. O jovem evangelizador do jovem Ao falar do protagonismo do jovem na Igreja, situamo- lo como sujeito e destinatario da miss&o que ela realiza. Os jovens, como diz 0 Coneilio Vaticano II, “devem converter- se nos primeiros e imediatos apéstolos dos jovens, exercen- do 0 apostolado pastoral entre seus préprios companheiros, levando em conta 0 meio social em que vivern” (AA 12). (0 jovem tem a capacidade de se comunicar e chegar a ‘outros jovens, aceita com maior facilidade os valores através de seu grupo de coeténeos do que através do “sermao dos 123 adultos", A atitude paternalista de muitos adultos, as respostas “prontas”, arrasam o esforco do jovem para pensar e andar por si mesmo. Segundo os adultos, aos jovens compete es- cutar e obedecer; seu papel nao é 0 de falar nem o de pedir aces, muito menos o de tomar decisdes e o de assu- nir responsa! ,intervindo e comprometendo-se. Mais ainda: quando se trata de jovens mulheres e de setores po- pulares, seu lugar é a casa e as tarefas domésticas. Os jo- vens devem acatar o que se diz e esperar que chegue sua idade adulta. Evangelizar, partindo da condi¢&o dos jovens, 6 anun- iar, nos compromissos assumidos e na vida cotidiana, que fs Ga vive ama 03 jovens ¢ que: para eles um futuro di ferante, sem f t ginelizagdes, em que a vida plena seja fruio vel a todos. Por isso, somos testemu- nhas da esperanca, comprometemo-nos a mudar as condi- des de vida em nossa sociedade e procuramos “aprimorar a histéria”. Esta 6 a alegria que experimentamos e queremos compartilhar com outros jovens. Integrando o jovem na missao da Igreja como sujeito e como destinatario, surge o principio de que uma auténtica pastoral de juventude 6 “para’’ e “com os jovens. Com eles @ partindo deles, a Igreja evangeliza a juventude em geral, a grande massa juvenil — a dos jovens organizados, vincula- dos ou nd a Igreja — @ & pessoa do jovem em particular. A pastoral juvenil tem como destinatério todo o mundo ju- venil: nenhum jovem deve ficar & margem de sua aco. ‘A América Latina 6 continente majoritariamente jovem, e nela existe uma infinidade de grupos e organizacdes juve- nis que constituem instancias privilegiadas para a pastoral ju- venil. Deve promové-los e apoid-los em sua busca e em suas lutas justas por um mundo melhor. 3.2. Despertar liderangas proféticas A Igreja quer formar jovens que sejam fermento do Evan- gelho na sociedade, e nao jovens “fermentados”’ por uma so- cledade em que o poder, o ter e o prazer so os valores su- premes. Portanto, a pastoral juvenil deve criar condig6es reais 124 em que os jovens possam exercer lideranga, com capacida- de de pensar, de dirigir, de tomar decisGes, de errar e de apren- der com seus erros. Em nossa sociedade, com tantos sintomas de cansago e de esgotamento, os jovens, e principalmente os que pro- cedem de setores pobres, com sau inconformismo e com sua critica unida sua imensa capacidade de esperanca e de uto- pia, podem ser os herdeiros da vocagdo confiada ao profeta: "A partir de hoje, eu te dou autoridade sobre as nagées e so- bre os reinos, para extirpar e destruir, para perder e derrubar, para reconstruir e plantar’ (Jr 1,10). Para construir de novo e partindo da raiz, requerem-se imaginagdo e compromisso reais, ilusdio e empenho diante da construgo de organizacées juvenis, comunidades oristis etc., onde se possam nao sé questionar e transformar o ceti- cismo e a mentira de outros, mas também ser criticos e exi- gentes com a propria capacidade de auto-engano e de evasio. 3.3. Juventude e projeto de libertagéo Com freqiiéncia, nfo se esperam dos jovens auténtica preocupacio e interesse pela situaco de seu povo. Interpre- tam-se suas perguntas como sendo curiosidade e intromis- s&o inoportuna, desqualificando-as facilmente. No entanto, o que Deus nos quer dizer 6 que toda vida humana desde a juventude — mais radicalmente: “antes que tu houvesses nascido” — tem sentido e este sentido passa pela relago com os outros e pelo servico aos outros, senti- do que é posto em pratica mediante a busca e 0 compromis- so com a libertacao e que se realiza na articulagao com o pro- jeto de todo um povo. A pretensio de realizaco pessoal cen- tralizada em si mesmo, no simples aproveitar a vida, sem ser capaz de transcender-se e entregar-se a uma causa mais u versal, constitui a grande tentaco que leva ao fracas. “Quem quer salvar a sua vida perdé-la-A” (Mc 8,35). E 0 gran- de risco de viver a juventude somente em funcao dela mes- ma, de ser jovem por ser jovem e para ser jovem. Deus nos chama a descobrir o sentido de nossa propria realiza¢o humana, como pessoas e como jovens, no proje- 125 EKeLeeeleeleeeeeeeaeeeeeceeer&ee«ee+e¢eert: wvvwvewvvwerwwr ewww eer ewer ee to de libertacao do povo todo. Deus nao quer vidas fecha- das em si mesmas, porém vidas em fungdo e a servigo dos outros. 3.4. Opgao preterencial pelos jovens ¢ pelos pobres A opcdo preferencial pela evangelizagao dos jovens em Puebla nao pode ser entendida em contraposic&o com a op- 40 preferencial pelos pobres. A primeira expressa uma pas- toral fundamentada na importancia do mundo juvenil para 0 futuro da América Latina; a segunda encontra sua ralz no amor preferencial de Dous pelos pobres e na vida e na mensagem do proprio Jesus. Nao s4o dois campos de aco pastoral al- ternativos. A op¢ao pelos pobres assinala o sentido e o con- tetido de toda ago evangelizadora. Para a pastoral de juven- tude, a opedo preferencial pelos pobres também é lei evan- aélica. ‘A opeao preferencial pelos pobres abre & “opedo prefe- rencial pelos jovens”” uma perspectiva de solidariedade efeti- va com os jovens do continente, e, especialmente, com os dos bairros populares, com os do campo e com os das co: munidades nativas separadas. Nao é crist nem auténtica uma aspiracao a felicidade que simultaneamente ndo se compro- meta com a transformacdo desta sociedade que nega a maic- ria dos jovens a possibilidade de realizar-se pessoal e social- mente. Por outro lado, porém, inserir-se no caminho e no proje- to dos pobres nao significa renunciar a dar sentido a propria vida, no & negago do anseio de realizac&o pessoal. Pelo contrério, o que Jesus apresenta é nova maneira de buscar a felicidade e de encontrar sentido que dé plenitude e reali- zagdo a nossas vidas. E maneira nova, cristd, de viver a ju- ventude. 3.5. Fome de Deus, SIM! Fome de pio, NAO! Ser jovem na perspectiva do seguimento de Jesus sig- progredir em sabedoria, crescer em estatura e tornar significativa nossa vida diante de Deus e diante dos homens. E fazer de nossa vida uma experiéncia espiritual, experiéncia de gozo pleno. 126 Esté surgindo hoje, na América Latina, nova maneira de viver a f€ numa experiéncia vital e concreta de relac&o com © Senhor, que se vai expressando mediante espiritualidade que se alimenta do seguimento de Jesus e da pratica da li- bertac&o dos pobres. E a partir dai que nos introduzimos em um processo de amadurecimento na fé que seja capaz de fa- zer desaparecer a foe de po e de aumentar a fome de Deus em nosso continente. Dentro desta perspectiva, 0 processo de educagiio da {6 no pretender, em primeiro lugar, transmitir determina- das idéias, porém, antes, suscitar determinadas maneiras de viver: a fé, 0 compromisso solidario, a pertenca eclesial, a ex- periéncia comunitaria, a pobreza evangélica e o modo de com- preender a fé... Hoje, na América Latina, é necessario conseguir chegar & sintese entre contemplacdo e profecia, reconhecendo que no existe uma sem a outra. Nao evitar a possibilidade e a necessidade de estar “face a face” com o Senhor, nem dei- xar de explicitar, de maneira permanente em nossa vida, a experiéncia de Deus que se manifesta na vida cotidiana e na luta do povo. 127 Il, PROCESSOS DE EDUCAGAO NA FE & DE CONSCIENTIZACAO 1. APRESENTACAO DO PROCESSO. Podemos distinguir trés etapas basicas na pastoral de ju- ventude de hoje: NUCLEACAO, INICIACAO e MILITANCIA. As trés etapas podem ser entendidas como meios efica- zes para construir a Civilizagéo do Amor, anunciada por Pau- lo Vi e reafirmada pelo Documento de Puebla. 1.1. Nucleacéo Constata-se a incapacidade dos instrumentos tradicio- nais de pastoral para chegar de maneira eficaz & juventude de hoje. A estrutura paroquial, os colégios catdlicos, as au- las de religido, os exercicios de piedade revelam cada vez me- thor que so inadequados para resolver os atuais problemas da evangelizago da juventude. O jovem aceita hoje a religiéo eadere a Jesus Cristo somente a medida que est4 motivado e convencido da validez ¢ da importancia que tém para a sua vida. Uma fé sociolégica nao mais consegue a adesdo da ju- ventude. A pastoral de jovens tem que enfrentar o desafio tio bem apresentado pelo tedlogo Bonhéeffer: “Como anun- ciar Deus a um mundo que se tornou adulto?”” Uma pedagogia mais adaptada aos jovens da atualida- de vem sendo esbogada a partir das experiéncias dos tltimos anos da pastoral de juventude. Nesta pedagogia, 0 pequeno 129 PROCESSO DE NUCLEACAO grupo de jovens se torna instrumento privilegiado de evan- gelizago. Ao mesmo tempo que o jovem recusa @ aula de religido, entusiasma-se com a idéia do grupo de jovens. Mais, adiante explicaremos a maneira de realizar 0 processo de evan- gelizacao por meio de grupos de jovens. Os principais Jugares de nucleacdo sao: elo feclesial ‘Grupos paroquiais rupos de base (Meio universitério ‘Meio secundério (2° grau) leio rural (organismos intermedisrios) leio popular urbano (organismos intermediérios) leio operdrio ‘Meio de situagSes cr ‘Meio indigena Baseados na espontaneidade Convites pessoais incontros atequese permanente reparaco & Confirmagao tc. \ Dois lugares eos especificos Ad, icas Instrumentos de nutleacéo AN 1.1.1. Na comunidade eclesial ‘A quase totalidade de grupos de jovens que existem hoje tem sido nucleada através das paréquias e comunidades de base, Para tal fim, utiliza-se uma variedade de meios: — O mais comum é o método do “contato pessoal”. Um jo- vem convida outro: “"Vamos até |4. Vocé vai ver como iré gostar”. O jovem tem capacidade para motivar e entusias- mar outros jovens e tem capacidade que o adulto no pos- sui. — Convites gerais feitos nas missas dominicais. 130 — Encontros de jovens. — Cursos de preparacdo para a Confirmacao. Estes cursos realizam-se com muitas dinémicas e com a participagdo dos jovens, de tal maneira que vo sendo nucleados em grupos fixos durante a preparaco. Os lacos afetivos cria- dos durante 0 curso asseguram a continuacao dos gru- pos depois da Confirmacdo. Esta também pode servir de pista para resolver o problema de milhares de jovens que ‘s&o confirmados todos os anos nas dioceses, e que de- pois de receber 0 “sacramento da maturidade crista” ndo aparecem mais na lgreja. 1.1.2. Nos meios especificos As pastorais de juventude especifica tém dois lugares de nucleacdo. Alguns grupos se formam partindo de um pro- cesso de iniciago nas comunidades. Outros, a partir dos pro- prios meios onde o jovem vive, como 6 0 caso, por exemplo, de alguns grupos de pastoral universitaria, pastoral da juven- tude trabalhadora etc. ‘A nucleago no préprio meio realiza-se normalmente em trés fases: a) Descoberta Estamos diante de um grupo de estudantes, de jovens trabalhadores, de jovens participantes em trabalhos de bair- ros populares ou no campo. Entramos nele e procuramos saber: — quais so os lideres do grupo, = sobre quem exercem influéncia, — que tipo de influéncia exercem, — quais so os lideres em poténcia. * Esta é a primeira parte da descoberta. Mas 6 necessa- , também, conhecer o lider como pessoa. E a parte mais importante da descoberta. Aproximar-se dele procurando ga- nhar confianea; manter contatos com ele no colégio, no bairro, nas diversdes, em toda a sua vida: e o testemunho cristo vai exercer atracdo sobre ele. Chegaré 0 momento em que 131 poderd estabelecer-se com ele didlogo franco. Entiio, ja es- tamos na segunda fase da nucleagao. ) Conquista io digiogo franco levaré 0 “nucleando” a maior aber- «ula, @ ele seré orientado no sentido de se comprometer com algum trabalho, sem que necessariamente seibe que esté tea- lizando um trabalho de pastoral especifica. Acompanhar-se- 4 seu trabalho, mostrando sempre novas perspectivas em sua aco como lider no meio, sua miss&o e sua responsabilida- de, Despertar-se-do assim nele a consciéncia do outro, a ne- cessidade do trabalho em equipe e procurar-se-4, com isso, mostrar-Ihe que ndo esté s6, que também ha outros dispos- tos a assumir compromisso para a construgo de um mundo melhor. O testemunho faré que descubra Deus e caminhe para ele. Na etapa da conquista, o grupo de militantes estuda se © lider tem ou no vocaco para entrar em seu grupo espect- fico, isto 6, se é capaz de trabalhar ou de aprender a traba- har em equipe e segundo os métodos da pastoral. Convém fazé-lo sentir a necessidade de pertencer a algum grupo com as caracteristicas dos da pastoral especifica. c} Integragaio na pastoral especitica Pelos contatos @ pelo trabalho realizado, o lider que esta sendo nucleado jé terd entrado em contato com outros inte- grantes da pastoral. Nestes encontros ele iré sentindo que todos estao trabalhando com 0 mesmo objetivo e numa es- trutura organizativa que ajuda a concretiza-los: 6 disto que ele est necessitando. + N&o se deve manipular nem impor a pastoral, mas fazer que o jovem sinta a necessidade de um grupo com as carac- teristicas dos grupos da pastoral. Somente depois 6 que se poderd convidé-lo, efetivamente, para fazer parte do grupo a que pertencem os que dele se aproximaram, qu de algum ‘outro grupo militante que se esteja iniciando. ‘Os novos membros vo-se compromatendo coma trans- formago de seu meio e, assim, vao sendo evangelizados no 132 contato com os assessores, nas reuniées de grupos, nos cur- sos, nas celebragdes. Este tipo de trabalho realiza-se somente com os lideres j@ formados. Ha lideres em potencial que esto esperando que sua lideranca se desenvolva, mas que ainda nao tiveram opor- tunidade de fazé-lo. Toda a vida dos jovens do meio especifico deve ser mo- tivo de ocasido para a nucleac&io. Podem-se empregar os meios e as dinémicas de que cada pastoral dispée. Mas, lem- brando-se sempre de que a melhor nucleaco 6 a que se faz na ago, em um trabalho, porque, assim, se poderd realizar melhor a pedagogia de formagao na aco. Toda nucleacdo deve comecar, realizat-se e terminar com um trabalho. 1.2, Iniciacdo Na atual pastoral de juventude hé jovens com niveis de consciéncia e de pritica j4 bastante diferentes. Portanto, num projeto de pastoral de juventude deve-se organizar um pro- cesso de formagdo que tome em consideragao os passos pe- dagégicos necessérios para levar os jovens a um compromisso com Jesus Cristo e com o homem de hoje. O novo instrumento teérico, que chamamos de pastoral de juventude, evangeliza os jovens através de proceso de edu- cago NAO FORMAL. Aqui est4 uma das grandes dificuldades de muitos assi- tentes adultos, sacerdotes, religiosas, professores etc., que trabalham com jovens em pastoral de juventude fora de uma instituicao formal. 7 Percebem que é possivel sair da institui¢So para traba- Ihar com grupos de jovens, mas continuam com a mesma mentalidade da instituicao. E bem diferente a situagdo de um assistente que esteja todos os dias com o mesmo hordrio, na mesma sala, dando uma aula de 40 minutos a alunos sen- tados, olhando para ele em filas retas, da situagdo de quem inicia um trabalho com grupos de jovens na paréquia, onde ele mesmo precisa reunir os jovens, motivé-los e animé-los pata que continuem participando das reunides. Ouvem-se muitas reclamagGes na Igreja a propésito da falta de formagdo dos jovens que, portanto, precisam encon- 133 stererece: trar quem Ihes dé tal formacdio, Esta queixa de muitos sacer- dotes, religiosas, leigos adultos, bispos, com freqiiéncia ¢ feita partindo de uma mentalidade de instituicao. Com isto, su- bentende-se que esta formago deve ser dada, quase que ex- clusivamente, através de sermées, conferéncias, aulas, pa- lestras etc., e que a formacdo tedrica deve ser o ponto de partida. N&o se leva em conta a necessidade de formacao na aco; nem tampouco o fato de que a doutrina — 0 con- ceitual — 6 o ponto de chegada e néo o ponto de partica em processo de educa¢io no formal. Em muitos lugares, a pastoral de juventude nao conse- gue afirma-se por causa da atitude institucional da Igreja lo- cal, sobretudo em nivel de pardquias. E preciso compreen- der que os jovens vivem uma fase etéria voltada para a aven- tura da liberdade, da espontaneidade, da flexibilidade e uma etapa de rebeldia em face da institucionalizacao. Os assistentes, formados para atuar em proceso insti- tucional, 6 podem acertar fora da instituicéo no momento em que percebem que a mentalidade, as atitudes e as regras sio diferentes, Portanto, para funcionar fora de uma institui- co, requerem-se certa habilidade e mentalidade novas, que podem ser adquiridas por meio de cursos, leituras etc. Mas, sobretudo, na pratica, trabalhando com os jovens em situa- ges ndo formais. ‘A experiéncia da Igroja em seu trabalho com a juventu- de, nos diltimos anos, tem mostrado que uma catequese pa- ra a juventude tem bom éxito no contexto de uma pastoral mais ampla, que procura atender o maior numero possivel de necessidades, caréncias e aspiracBes do jovem. As carén- cias doutrinais nao sao as Gnicas caréncias que o jovem tem. No passado, pensava-se que para evangelizar o jovem bastava “ensinar @ religido”, e que 0 joven evangelizado era aquele que sabia religio e que participava de certo ntimero de atos litdrgicos. A experiéncia de muitos lugares tem dito que, na realidade, as caréncias doutrinais e sacramentais 86 podem ser compensadas quando, em primeiro lugar, certo nlimero de outras caréncias proprias do joven séo atendidas. Esta comprovado que 0 jovem se acha aberto a conhecimento sistemético dos dados bésicos da fé e a vivéncia da liturgia 134 quando a doutrina ¢ a celebraco da fé se apresentam no con- texto da vida. O assistente deve desenvolver sobretudo @ capacidade de escutar os jovens em reunides e assembléias de avaliacio para poder estimular junto a eles a pratica de uma pastoral ‘que corresponda a suas verdadeiras necessidades. E preciso estar-se disposto a perder tempo com os jovens participan- do com eles de conversas informais. Tudo faz parte do processo de educacio e de evangeli zago informal (nao formal). Nao se nega a importdncia que tem, para a formacdo dos jovens, a contribuicao de adultos com boa capacidade para apresentar a Mensagem de maneira magisterial e siste- matica. S6 se quer afirmar que isto ndo basta. Hoje é funda- mental o desenvolvimento e a qualificacdio de nova figura de assistente adulto e de jovem coordenador, que tenha cari ma para abranger os jovens em processo de evangelizacao menos formal, menos rigido e menos institucionalizado. Trata-se de assistente que no espera que os jovens se ream para, depois, trabalhar com eles, mas que parte de uma metodologia de nucleagao de grupos jovens, para de- pois acompanha-los em um processo de iniciac&o para que cheguem a militancia. 0 processo de iniciagao da pastoral de juventude 6 im- portante para nao queimar etapas pedagégicas necessérias para levar a militancia. E preciso partir do nivel de motiva- 80, de consciéncia e de adestio a Jesus Cristo dos jovens que entram nos novos grupos, e néo de uma situagao de dié- lise. 0 desconhecimento ou a rejeicdo deste processo leva ‘a um vanguardismo que atrasa 0 andamento da pastoral. E comum encontrar assistentes adultos e jovens coordenado- res que se obstinam a comecar partindo de onde eles estéo @ ndo de onde os jovens se encontram. € falta de pedago- gia, em um proceso de educacao nao formal, nao partir das motivagdes dos jovens, para levé-los depois a assumir sua so de cristos na comunidade e na sociedade. Em outro ca- pitulo, aprofundaremos esta pedagogia no processo de ini- ciagdo. 135 1.3. Militéncia O proceso de militancia é 2 etapa em que o jover des- perta para compromisso sério, E 0 momento da converséo Que se manifesta em “obras” de maturidade vocacional, de responsabilidade, de coragem para assumir a dimenséio mis- ia da 76. salavra “militancia’” vem da Ado Catélica specializada e foi zambém um termo usado pela prépria Igreja quando falava de “Igreja militante”. Significa ser combative. Podemos distinguir trés critérios de militancia: — Motivacdo madura de 18. O jovem sabe com clareza que “"a f sem obras 6 morta”, A adeséo a Jesus Cristo vai mais fundo do que a adesdo a qualquer ideologia. Em momen- tos de dificuldade, de desanimo, & a f em Jesus que o sustenta e Ihe dé forca para perseverar. — Compromisso. 0 jovem ndo esté brincando de fazer pas- toral de juventude. Assume compromisso real. Pode-se contar com ele. — Dimensiio libertadora e transformadora. Trata-se de jovem que pensa, que sabe analisar as situagdes e acontecimen- tos & sua volta, partindo de critérios objetivos, que sabe elaborar discurso coerente, que tem consciéncia critica e que nao se deixa manipular_nem enganar. E lider. © jovem pode exercer sua militancia em dois lugares: — ad intra — na comunidade eclesial: trabalhando em cate- quese, liturgia, preparacfo para a Confirmacdo, militan- ‘ia interna na propria pastoral de juventude como coor- denador, festas da comunidade e fazendo opcdo por uma vida de especial consagracao; — ad extra — nos meios especificos do jover: em seu local de estudo, moradia ou trabalho. A quisa de CONCLUSAO pode-se afirmar: Uma eficaz pastoral de juventude precisa prestar aten- do © dar acompanhamento especifico as trés etapas pelas quais 0 jovem passa: nucleacao, iniciag&o e mi 198 A nucleagao & sempre um dos objetivos de nossa acao. Mas 6 apenas um deles. O que queremos que o jovem seja fermento do Evangelho na comunidade e em seus meios es- pecificos. Para esta tarefa, sdo necessérios quadros de pes- soas capacitadas, de lideres, de novos membros. Os novos grupos so 0 sangue que corre na pastoral impedindo que ela envelheca e permaneca fixa em suas posigSes. Quando no se formam grupos noves, as liderangas se transformam em elites isoladas da massa dos jovens e incapazes de dialo- gat com ela. Paulatinamente, vo morrendo e ficam reduzi- dos a situacao de ineficiéncia. Bom acompanhamento e boa pedagogia no processo de iniciag&o asseguram ao jovem a possibilidade de passar pe- las diversas etapas da educacdo na fé e da conscientizaco para chegar & militancia. Os jovens que passam para a militéncia, sobretudo nos meios especfficos, necessitam de acompanhamento especia- lizado, pois os desafios e as dificuldades so muito diferen- tes das que ocorrem nos grupos que ainda se encontram no processo de iniciacao. Mais adiante falaremos destas pastorais. 2. SISTEMATIZACAO DO PROCESSO DE EDUCAGAO NA FE, NA ETAPA DE INICIACAO Neste capitulo explicar-se-&o com mais detalhes as eta- pas de educagéo na f6 e de conscientizagio no PROCESSO DE INICIACAO, Esta sistematizago faz-se a partir da rica experiéncia da Acdo Catdlica Especializada, em matéria de acompanhamento @ de avaliacdo constantes das experiéncias da pastoral de ju- ventude nos tiltimos anos, e do processo de evanglizacao de outras pastorais da Igreja. A falta de clareza destas etapas e destes objetivos a curto, médio e longo prazos, incluldos nelas, por parte de muitos assistentes e coordenadores de jovens, tem sido uma das causas principais da superficiali- dade e da crise de muitos grupos de jovens. Embora coorde- nadores de grupos hajam passado por estas etapas, com fre- qliéncia, nao tém maior consciéncia disto. 137 SAHKAKAHHSKRATAAAARAAAH ATA AAee: Podemos descrever estes passos da seguinte maneira: 2.1. Descoberta do grupo DESCOBERTA DO GRUPO 0 jovem sai do seu isolamento e descobre a importan- cia do grupo de jovens. O grupo 6 o instrumento privilegiado de evangelizacéo. Ai, 0 jovem se sente a vontade, no meio de outros jovens que tém os mesmos problemas, a mesma linguagem, os mesmos valores. Encontra espaco onde pode desafogar seus problemas e expressar suas idéias. Os outros jovens escutam o que ele quer dizer. Ele se sente valorizado. ‘Assume pequenas responsabilidades. Com freqiiéncia, em ou- tros ambientes da vida, no é escutado nem valorizado. Co- mega a ter a sensagao de auto-realizacfo, a tomar conheci mento de sua capacidade, de seus talentos, dos dons que pode pér a servico dos outros. A participago no grupo pro- move sua maturidade afetiva e é forma de exercicio para sua liberdade. & o primeiro espaco de sou despertar para a tarefa da construcao da Civilizagao do Amor. Nesta primeira etapa, deve-se partir das aspiracdes e das necessidades dos jovens que se esto iniciando no grupo e no das necessidades sentidas como mais urgentes pelo as- sistente ou pelo coofdenador jovem. O erro cometido por mui- - tos assistentes adultos, nesta etapa, consiste em pensar que 8 jovens esto no grupo porque querem aprofundar sua fé ou lutar pela justica social. Pesquisas realizadas demonstram que @ grande maioria dos jovens entra no grupo porque fo- ram levados por amigos com a promessa de encontrar am- biente agradavel de amizade, a presenca de jovens de ambos (8 sexos, ou para escapar do ambiente desagradavel de casa, Por conseguinte, a amizade, os problemas pessoais, a necessidade de ser valorizado, de sentir-se til, de descobrir 138 Jesus Cristo como amigo, e a busca de sentido para a vida ‘sdo os enfoques importantes desta primeira etapa. No cami- nho do grupo, os jovens vao descobrindo sua propria digni- dade como filhos de um mesmo Pai e reconhecem no outro a presenca de um irmdo. A Palavra de Deus dé novo e mais profundo sentido aos valores que o jovern considera impor- tantes. Bett ‘Alids, 6 importante ter em conta, nesta primeira fase, a primeira origem do jover. A \uta pela sobrevivéncia de mui- tos jovens das classes populares, por exemplo, coloca no se- undo plano as necessidades psicoldgicas. E dificil satisfa- zer estas necessidades, se, em primeiro lugar, nao se oferece a menor garantia para as necessidades materials basicas, co- mo alimentacdo, vestuario, moradia. fi ‘A medida que se parte do que motiva os jovens, estes vio aceitando o desafio de passar para a etapa seguinte. 2.2. Descoberta da comunidade e do problema social DESCOBERTA DA COMUNIDADE E DO PROBLEMA SOCIAL DESCOBERTA DO GRUPO ‘A medida que o jovem participa da Missa da comunida- de, das festas, de cursos e da vida da comunidade, e mante- nha contato com os adultos, ele vai descobrindo a /greja co- mo comunidade. 139 Antes rejeitava a Igreja porque a identificava com a ins- tituigdo, com a hierarquia. A critica que muitos jovens fazem 4 Igreja revela que eles nao se consideram parte da Igreja. A vivencia desta Igreja como comunidade dé uma visto mais ampla de Igreja. Esta fase se vé dificultada em muitas paro- sias em que o sacerdote e os adultos no valorizam os jo- ens ou se fechain a eles. Ai encontramos um dos primeiros obstdculos & evangelizagdo dos jovens. Uma Igreja institu- cional que nao é, primeiramente e antes de mais nada, uma Comunidade de fé, que mostre o amor de Deus, é estranha para o jovem. Neste primeiro momento, é importante diferenciar os gru- pos de adolescentes dos grupos de jovens, pois a problemé- tica de cada nivel ou fase etaria 6 muito diferente. O proces- so de evangelizagfio deve adaptar-se as necessidades de ca- da uma delas. — O adolescente est4 pasando por uma fase de “exploso corporal”, de descoberta do sexo, de afetividade. Est sain- do da fase infantil, em que aceitava passivamente as afir- mages e os modelos dos adultos. Agora, comeca a ser capaz de lidar com idéias abstratas, de ter suas proprias, ideias, de discordar dos pais e de outros adultos. Percebe as incoeréncias falsidades de muitos dos modelos que Ihe foram apresentados. Ha rejeicdo diante da autoridade @ de tudo “o que vem de cima”. E um periodo de auto- afirmagaio, de grandes alternancias — de altos e baixos {por vezes se considera “dono do mundo’, pensando que pode tudo e que sabe tudo; em outros momentos, “esta na fossa’’ e acha que um fracassado). Hé uma grande lacuna afetiva em sua vida. Tem muitas dividas sobre sua auto-imagem; ndo sabe se os outros gostam ou nfo dele. — 0 jovem, por sua vez, embora ainda viva muitas destas caracteristicas, encontra-se em etapa de maior equilibrio emocional ¢ com maior experiéncia da vida. A vida co- mecou a the ensinar que no se pode simplificar tudo, que nem tudo é “branco ou preto’’. Mostra-se menos agressi- Vo, porque jé adquiriu maior confianga em si mesmo. 140 ‘Ao mesmo tempo, comega @ erguer seu olhar para ver ‘© que se passa fora do grupo e da comunidade. De um lado, a descoberta da mensagem de Jesus na Biblia (0 Bom Sa- maritano, o Mandamento Novo ete.), e, de outro lado, a des- coberta do problema social fazem surgir nele o sentimento da compaixfo. Percebe a sua volta pessoas com problemas muito piores do que os seus e capta que os assuntos discuti- dos nas reunides do grupo séo mais importantes. Comeca a discutir o custo de vida, o problema da fome, dos menores abandonados, da corrupodo. Cristo é encarado como alguém que se identifica com os mais pobres e com os marginaliza- dos. O sentimento de compaixdo leva a desenvolver ago em favor dos pobres. Nesta segunda etapa, sua visio do problema social ain- da 6 descritiva e ingénua e as acbes so assistencialistas: cam- panhas para ajudar os pobres, visitas a orfanatos, hospitals, presidios. .. Os problemas s&o considerados isoladamente uns dos outros. N&o ha viséo global, estrutural da sociedade, Nao hd consciéncia critica. Muitos jovens mais criticos cometem 0 erro de despre- zar e isolar os que esto nesta fase. Nao se dio conta de que se trata de fase natural, sobretudo quando nao ha acompa- nhamento pedagégico adequado. O problema n&o esté no fato de estarem nesta etapa, mas no de freqiientemente per- manecerem nela. Os jovens passam a uma etapa menos in- génua & medida que as acdes vo sendo avaliadas criticamen- te, usando 0 método Ver-Julgar-Agir. 0 lado positivo desta aciio 6 0 contato que o jovem tem com 0 sofrimento humano. Seus problemas pessoais pare cem pequenos em comparacdio com o mar de sofrimentos e de dor que existe a seu redor. E sensivel & marginalizagao de grandes setores da populaco. Os problemas pessoais pas- sam a ser vistos dentro de maior dimenséo. Ele comeca a superar o que a “Gaudium et Spes” cha- ma de maior erro dos tempos modernos: 0 divércio entre a féea vida Cristo aparece como modelo. Os grandes idolos fabri- cados pela sociedade de consumo so deixados de lado gra- 141 Sercenetecertertererterteeaetcerr2ereeeee: dualmente. Jesus vai-se convertendo no modelo central e pe- de amor concreto que leva a ages concretas. Aqui se realiza o primeiro despertar vocacional no senti- do amplo definido por Paulo VI: “A vocacdo signfica ter ca- pacidade para escutar as vozes inocentes dos que sofrem, dos que ndo tém paz, comodidades, orientac&o nem amor...” Aqui também se pode situar um dos pontos de contato en- tre a pastoral de juventude e a pastoral vocacional. 23. Descoberta de uma estrutura organizativa mais ampla DESCOBERTA DE UMA ESTRUTURA ORGANIZATIVA, MAIS AMPLA DESCOBERTA DA COMUNIDADE E DO PROBLEMA SOCIAL DESCOBERTA DO GRUPO PROCESSO DE INICIAGAO O grupo de jovens que permanece isolado esgota bem depressa suas possibilidades de crescimento e comega a re- petir-se. A medida que descobre uma pastoral organizada que ossibilite 0 contato com outros jovens em niveis cada vez ‘mais amplos, através de reunides de coordenacdo, de assem- biéias, de cursos, de retiros, de congressos, de festivais, de caminhadas, de atividades recreativas, 0 jovem vai-se moti- vando para comprometer-se cada vez mais. Hoje, a pastoral de juventude tem uma estrutura organizativa que vai desde 8 grupos de base nas comunidades até uma coordenaco latino-americana que facilita este intercmbio em todos os 142 niveis. Nesta participagdo, o jovem sente-se protagonista: a pastoral juvenil 6 dele, ndo dos adultos. Esta participaco con- tribui para o seu crescimento pessoal em todas as dimensdes da vida. i Os jovens tornam-se, assim, ‘‘os primeiros ¢ imediatos apéstolos dos jovens, realizando 0 apostolado no meio deles e através deles” (AA 13) mediante tais atividades. Em conta- to com os outros jovens, cresce rapidamente sua conscién- cia critica e se amplia sua visio de fé. Em contato com ou- ros grupos, cresce a percepcao de uma /greja viva, atuante, de uma fé inserida na realidade. O jovem percebe que “injustica organizada’’, como a que Medellin citava, s6 pode ser superada por ago organizada. Sente a forga que a juventude organizada tem para mudar as coisas. Sente que a sua participago junto com os outros, representa uma tentativa em busca da nova sociedade que ansela construir. > 2.4. Descoberta das causas estruturais DESCOBERTA DAS CAUSAS. |ESTRUTURAIS. DESCOBERTA DE UMA ESTRUTURA ORGANIZATIVA MAIS AMPLA DESCOBERTA 2) | oa comunioane D0 PROBLEMA SOCIAL DESCOBERTA DO GRUPO. PROCESSO DE INICIACAO PASTORAL DE JUVENTUDE GERAL, 143, Nesta etapa, o jovem comeca a fazer uma andlise mais ciontiiea da soctedade. Descobre que o pobre nao & pobre porque quet, ou porque néo trabalhe o suficiente, oF porque pera eda, mas porque na maioria dos casos, @ vita de rca organizacto social injusta, Descobre que hé duce clas- ume Orga rentais na sociedade e que hé relagao de explora: gdo entre clas. “Ha ricos cada vez mais ricos & custa de po- free cada vez mais pobres” (Joo Paulo IN). Comega a ser superada a separacto entre a 16 @ 2 vida. A religido considerada mais dentro dos acontecimentos. ere se questbes viteis, discutem-se problemas da 6s. cola (qualidade do ‘ensino, diretor, centro civico, tendéncias col oimento estudanti, problemas com professores), Pre Plomes do bairro (fevelas, barracos, postos de sade, Rese go de esgotes, transporte, isolamento das pessoe, falta de Srganizaggo), problemas de trabalho (desemprego, falta de estabilidade no empr Os jovens discutem sobre politica, econo! capitalismo, comunismo, socialismo. "A medida que se passa a ver a religio desta manera vai-se adquirindo experiencia do papel libertador da fe cist. Dependendo da capacidade do grupo, aprofunda-se @ relagaio existente entre o econdmico, 0 polttice, oideolégico @.0 religioso. Passa-se. da reflexdo de textos isolados da Bi- bila para um estudo sistematico através de cursos © confe- a epclas. Procuram-se técnicos que ajudem @ conhece’ Te Thor a Doutrina Social da Igreja e os mecanismos de organi: zagao da sociedade. bs jovens véem com maior clareza o que significa, om termos ae fe erst, 2 vocaesi espectfica do leigo na vide S0- cial e politica do pats. ‘Comegam agora a praticar as agdes transformadoras, 10 sentido de que [é podem partir da compreanséo dos proble- ee cisis, Aiguns dos jovens, sobretudo nas grandes © irae ee Garticipam, nos momentos fortes, dos movimentes populares, como assembléias, apoio a greves, apoio a sindi- oor eronteréncias, programas de rédio (sobretudo no inte- rior). rego, greves, leis trabalhistas, sindicatos). mia, multinacionais, ‘A agio transformadora, als, ndo aconteve somente MS tes morrentos fortes. Aqui esté 0 perigo de se considers 2 aedo transformadora como algo grande, © de néo se valori- acho Mpquenes ages: 0 trabalho cotidiano de mudane de zitias, de ajuda mtu, de conscientizago, de apoio 2c ginalizados. Toda ago, por pequena que sei, 6 transforma- ga partir do momento que seje avaliada critiearorte, Par (od de viséo mais global e estruturel da sociedade, oe ta altura, os jovens percebem que uma pastoral va- ga.e indefinida nao resolve os problemas. Hite entrevéem a realidade a partir da ética das classe® populares. Percebem que a viséo da sociedade © partir de Guem se acha na cuipula, no épice da piramide social, 6 mui- I Giferente da visdo de quem esté na base. Mesmo sendo to incio popular, o jovem ndo v8 a realidade dentro da otica oe ee aeee, mas dentro da ideologia dominante neie fie: oe oe eae conta de que nBo é pobre por culpa propria. AW. tes, envergonhava-se de que os outros soubessem que 27 pobre, conhecessem sua casa © @ profissdo de sc pai. Ago- coevercebe que é vitima de uma situagdo social injust®, ae re eva aosumir sua classe e ser solidério com 08 esfor"08 races populares para se organizar na construc de uma dae oie mats usta e mais fraterna, a Civilzagao do Am” ‘Desperta @ consciéncia critica. O Jovem percebe due S18 reivindionebes sfo dieitos, ndo favores; © que a justion & 9- to da negociac&o, mas, sobretudo, da pressio social. Des- to re. de maneira existencial, arealidade anunciada por JoBo Paulo II: «im pobreza 6, antes de mais nada, consequéncia 428 Vinlbeso do trabalho humano. Sendo o trabalho a chave vat jel da questo social, é fundamental no sUBES- corer a importancia da mobilizacao solidéria dos te Lalnadores como tais, na luta pelo reconhecimento de pajignidade e da dignidade do seu trabalho, através Se suas organizagées proprias” (LE, 3.18.20). sacramento da presenca de Jesus Cris~ ‘al de sua espiritualidade. “Em verda- 145 O pobre, como to, torna-se 0 eixo Cem ere Pee teecacekekeekeeseeeeeeaeeaenreeeee: de vos digo: cada vez que o fizestes a um desses meus ir- mos mais pequeninos, a mim o fizestes”’ (Mt 25,40). Se 0 jovem é de classe média ou alta, percebe a neces- sidade de ser solidério com a causa das classes populares e de trabalhar com elas usando o método de Paulo Freire. Isto significa ter coragem de deixar que os jovens do meio popu- lar sejam sujeitos da agao pastoral e nao mantidos numa de- pendéncia paternalista. Esta andilise estrutural surge a partir das reflexes sobre os acontecimentos da vida e de algumas teorias transmiti- das, ao mesmo tempo, através de conferéncias e palestras. Conhece-se Jesus Cristo encarnado na vida e nos conflitos do povo. A Igreja possui uma dimensio libertadora. Os jo- vens captam a mensagem crist como libertacao de tudo que oprime o homem (cf. DP 354). Os jovens das diversas classes sociais que chegam a es- ta etapa tém algo em comum: a solidariedade na mesma lu- ta contra a opresséo. ‘A mudanca requer todo um processo inesgotavel de pro- fundas transformagdes a curto, médio e longo prazos, que no ocorrem espontaneamente nem por boa vontade: envolve a participacdo do maior numero possivel de pessoas e de for ¢as que integram a sociedade. A transformagdo da sociedade tem alguns atores princi pais, os setores populares e 0 setor de jovens em geral, pois so 0s mais afetados pela situagdo atual. Os setores pobres, médida que adquirem consciéncia da problematica que vivem, de suas potencialidades e valo- res, @ em que assumem participacao ativa e protagonismo social e politico. A juventude, por seu néimero e por suas ca racteristicas especificas, é elemento dinamizador do corpo social 4 medida que se envolve em tarefas construtoras da nova sociedade, e & medida que articula o processo popular emancipador. ‘A participagdio implica a hecessidade de promover os gru- pos humanos marginalizados, para que adquiram conscién- cia de seus direitos, se autovalorizem e assegurem uma so- ciedade pluralista com canais de comunicacao que permitam a livre expresso das diversas tendéncias e mecanismos que 146 levem a determinacdes tomadas por consenso (cf. DP 132-136). Para conseguir participaco ativa é necesséria, entre ou- tras coisas, a seguinte série de passos: conscientizacdo pol tica, promogo e organizagSo dos setores populares, tensdes sociais construtivas (diversos tipos de pressdio e de mobiliza- ‘¢fo), € mecanismos efetivos de participacao e pluralismo. 2.8, Descoberta da militancia transformadora DESCOBERTA DA MILITANCIA, ‘OPCAO VOCACIONAL DESCOBERTA DAS CAUSAS ESTRUTURAIS AO PROCESSO DE MILITANCIA My x, S| 8 ul g 3| DESCOBERTA ela ) | DE UMA ESTRUTURA a) si ORGANZATIVA 3° ‘o} MAIS AMPLA ak iz DEScOREATA a 8 DA COMUNIDADE a el E100 PROBLEMA 2c Be SOCIAL e 3g DESCOBERTA f DO GRUPO Este é 0 momento do amadurecimento da opedo voca- cional no sentido amplo do termo. & 0 momento de viver a 147 socerde comum de batizado prestando algum servico espe- cifico na comunidade eclesial ou como fermento do Reino no corago da sociedade. Aqui, hé outro ponto de contato importante entre a pastoral vocacional ¢ pastoral de juventude. 2.6. Descoberta das etapas percorridas fe me s BE oem @ PROJETO DE DEUS—> Erm, 5 Iisa’ tera Fhos LS ion aa a DESCOBERTA 3! DE ETAPAS 2 PERCOARIDAS 3 DESCOBERTA 3! DA MILITANCIA Shiceeh OPCAO Si VOCACIONAL Gos DESCOBERTA Sls, DAS CAUSAS Sak ESTRUTURAIS sive DESCOBERTA gw DEUMA.ESTRUTURA g 6 ORGANIZATIVA, 3| 3 MAIS AMPLA al Bt DESCOBERTA a} 3! DA COMUNIDADE za 2 E DO PROBLEMA | & ‘SOCIAL é o DESCOBERTA 9 Do GRUPO Muitos assistentes © coordenadores de jovens ndo sa- bem como levar os jovens a passarem da fase de iniciacdo militancia, porque nao tém consciéncia destas etapas pe- las quais eles mesmos passaram. Por este motivo, as vezes, queimam-se etapas e a pastoral no progride. As lideranga que nao passam por esta Ultima etapa so normalmente eli- tistas, no tém paciéncia com os novatos, falam de educa- Gao libertadora, porém impdem suas idéias. Mudam de teo- ria, mas continuam com as praticas antigas da sociedade de 148 dominagao que combatem. A incapacidade de passar desta etapa a outra leva ao isolamento @ a ineficiéncia. A descoberta das etapas percorridas acarreta coordena- ¢6es maduras com boa pedagogia. OBSERVAGOES 1. As etapas do proceso de iniciagéio até agora descri- tas, no so compartimentos estanques, Foram aqui separa- das por motivos de clareza. Na vida real, alias, podem ocor- rer varias ao mesmo tempo. Cada uma exerce influéncia so- bre a outra, e entrelacam-se. Nao podemos determinar ante- cipadamente o prazo para passar de uma etapa para outra, ois cada grupo tem sua propria historia, que deve ser res- peitada. 2. Nem todo grupo chega etapa final. Muitos se des- fazem 4 nas etapas iniciais por falta de boa coordenacao, as- sessoria e metodologia. A principal fraqueza nesta caminha- da 6 a superficialidade de muitas reunides do grupo, em que falta preparacdo, método e boa coordenacao. 3. A experiéncia dos dltimos anos tem demonstrado que raras vezes um grupo completo passe & militancia. O cresci- mento nos grupos é normalmente desigual. Alguns avancam ‘com maior rapidez do que outros em termos de consciéncia critica e compromisso. Nao se satisfazem com a superficiali- dade das reunides provocadas pelos elementos que “nao que- rem nada com ninguém”. Os mais comprometidos, freqiien- temente, rompem com o grupo. Continuam ligados a pasto- ral de juventude enquanto participam de tarefa de coordena- 40. Quando terminam seu mandato, afastam-se dela e, con- sequientemente, da Igreja, quando nfo tiveram a possibilida- de de participar de novo grupo de militantes ou de contar com o apoio de uma pastoral de juventude especifica. 4. Aqui foi descoberto o processo de iniciagéio a partir de grupos paroquiais. Seria necesséria uma adaptaggo des- tas etapas de grupos iniciados, partindo do meio especifico do jovem, para 0 caso de grupos formados na escola, na uni- 149 “etertereetrrececertarereee SSTIVIV FTV versidade, no local de trabalho. O processo de iniciagio dos grupos no préprio meio é muito mais curto do que o dos gru- pos nucleados nas paréquias e comunidades de base. Os gru- os iniciados nos préprios meios come¢am com certo grau de consciéncia moral, Nao sao jovens que entram apenas para namorar ou para aumentar 0 circulo de amigos. Querem al- go mais. Embora o nivel de consciéncia politica e social des- tes jovens seja avancado, seu nivel de cultura religiosa e seu compromisso de fé séo bastante embrionérios. O trabalho de educagdo na fé encontra mais obstéculos por se tratar de eta- pa critica e com idéias mais fixas. Com os grupos que se iniciam nas comunidades suce- de, com freqiiéncia, o contrario. Enquanto 0 trabalho de cons- cientizagéio 6 mais dificil, o de educagdo na fé encontra me- nos obstéculos. 3. PASTORAIS DE MILITANCIA 3.1, Militéncia interna na comunidade eclesial A maioria dos jovens que passam pelo processo de ini- ciagdo para a militéncia assumem servicos necessérios ao for- talecimento da comunidade eclesial, tais como: militancia in- terna na propria pastoral de juventude, coordenagdo, cate- quese, cursos de preparagao para a Crisma, festas da comu- nidade, participacio nos conselhos da comunidade, boletim paroquial, programa de radio, circulos biblicos, comunidades eclesiais de base, novena de Natal, campanhas de fraterni- dade... © compromisso com 4 comunidade ocorre, para muitos jovens, em etapas anteriores. Nesta etapa, assume-se o com- promisso com mais naturalidade e com visio libertadora de seu papel na sociedade e na Igreja. Este 6 o momento em que se situa a pedo por uma vo- cacao de especial consagracéo como sacerdote, religiosa ou religioso. A vocacao de especial consagractio na vivencia da vocacio comum de batizados e em contexto mais amplo do despertar dos ministérios. Aqui se vé o erro de alguns “re- 150 crutadores” vocacionais que procuram “pescar” vocacées sem haver antes realizado um trabalho pastoral concreto com 0 jovem. E necessario, em primeiro lugar, suscitar as voca- Bes em comunidades onde o povo jé evangelizado tem con- tato com a Palavra de Deus, celebra sua fé e confronta a fé com a realidade da sociedade em que vive. Em meio destes ministérios ou servigos surgem pessoas que querem dedicar toda a sua vida, de maneira completa, ao servico da evange- lizagdo. 3.2, Militéncia interna na prépria pastoral de juventude Este tipo de militancia freqtientemente esquecido, mas tem grande importancia. Parte dos jovens que passam pelo processo de iniciagdo assumem militancia interna dentro da prépria pastoral de juventude, participando de coordenacées ‘em varios niveis, colaborando na preparacéio de materiais de estudo e reflexdo, de boletins, cursos, retiros, seminérios, fes- tivais etc., ou transformando-se em assessores ou assisten- tes leigos E muito importante que alguns jovens se dediquem ao fortalecimento da organizacéo interna da propria pastoral de juventude & promogao de atividades que ajudem a forma- co integral de seus membros. A militancia interna na comunidade eclesial e na pasto- ral de juventude, entretanto, s6 tem sentido quando feita em vista da misséo no mundo. 3.3. Militincia externa na sociedade Ao perceber o sofrimento humano de grandes setores da sociedade e ao confronté-lo com a centralidade do amor no cristianismo, o jovem dé outro passo a frente: descobre que este amor deve ser histérico e eficaz. Descobre que ha necessidade de militncia fora da co- munidade eclesial, pois as estruturas injustas que devem ser superadas estéo fora da comunidade. Dai nasce a conscién- cia da necessidade da organizac&io do povo. Ele também tem consciéncia de que nao se pode ser cris- tdo somente durante duas ou trés horas por semana, ou se- 151 ja, nas horas em que ele esta na comunidade. O cristdo deve ser “‘luz’’ e “sal"’ em seu proprio meio. A evangelizacdo deve ser feita a partir da vida, como afirma o Documento de Me- dellin. Com a crescente abertura da Igreja para a dimensio so- cial da f@ e com a maior liberdade politica conquistada em orande parte do rica Latina, eumenta cada 2z mais © ndmero de jovens que passam para 2 militéncia em seus meios especificos de bairro popular, ambiente rural, trabalho, universidade, escola, ou nos organismos interme- diérios destes meios, tais como: movimentos populares, as- sociacées de bairro, movimentos de defesa da mulher, do ne- 970, sindicatos, associagdes de trabalhadores, partidos poll- ticos, movimentos estudantis, grémios estudantis... Na militancia feita nos meios especificos, epresentam- se trés etapas progressivas: a) No dia-a-dia: contatos pessoais nos meios espe: cos que implicam a presenca dos valores do Reino a cada dia, em todos os ambientes em que o militante vive e se mo- vimenta. Esta atuago vé-se, muitas vezes, subestimada, b) Pequenas lutas: participacéio em mobilizagdes para so- nar problemas concretos dentro dos meios especificos, lucie c) Organismos intermedidrios: supe participagdo mais constante, por assim dizer, permanente, nestas organizages, dentro dos meios especificos, sendo assim fermento para nova sociedade. jovem percebe que o projeto global de uma nova so- Ciedade surge através dos organismos intermediarios. Em no- me do Evangelho, os cristdos deve iluminar pela f@ os pro- jetos histéricos, politicos, econémicos e culturais. Por outro lado, a Igreja como instituicéo, néo esté presa diretamente ‘2. Um projeto hist6rico ou a uma ope&o partidérria. Estes pro- jetos sio elaborados nos organismos intermediérios que go- zam de autoriomia prépria. 152 3.4. A passagem da iniciacéo para a militéncia -se resumir as etapas da passagem do proceso Pode de iniciaggo A militancia da seguinte maneira: ETAPAS DA PASSAGEM. eT Coardenages ‘em nivel diocesan ragional e nacional Inercdmbio entre grupos: Grupos miltantes Espacos de encontro para os miltentes Miltancia isolada (sem apoio pastoral) no fim do mendato da coordenacio Rompimento com 0 geupo de iniciacSo, e milténcia isolada, embora as vezes Tigada & coordena¢o Grupos de Base de iniciago ‘em paréquias ou em CEBS —_—_ oro a ero Or rr el > 153 PETRA KELERETELEAAAAAAERAAATA ATE 3.5. Necessidade de estrutura organizativa propria Se, de um lado, a pastoral no deve passar por cima das tapas pedagégicas no processo de iniciago, tampouco po- de ignorar, de outro lado, a necessidade urgente de oferecer acompanhamento especifico aos jovens que passam mili- téncia. Em muitos lugares, estes jovens tém sido abandone- dos pela Igreja por causa de sua atividade questionadora. A Igreja deve enfrentar o desafio de apresentar 0 Evangelho tam- bém a.um jovem critico, pois, do contrario, perdemos os ele- mentos mais dinémicos que terdo papel importante na his- t6ria que prossegue com ou sem a Igreja. Perdemos anos de preparacao com estas liderancas, e voltamos a formar gru- pos para repetir a mesma atitude. Perdemos a oportunidade de preparar quadros cristdos que podem ser 0 fermento nos organismos intermediérios de onde sairé a sociedade nova do amanhi. Corremos o risco de admitir, na pratica, que o Evangelho 86 pode servir de resposta a um jovem alienado e passivo. Portanto, estes jovens tm que encontrar, na pastoral, espaco em que se sintam entre iguais, onde possam refletit sua nova prética com outros que tém o mesmo nivel de cons- iéncia e de compromisso. Necessitamos, neste segundo mo- mento da pastoral de juventude, montar uma estrutura de acompanhamento através de coordenacées proprias, curses, subsidios, grupos de militantes que usam a metodologia da “Revisio de Vida" e da ”Revisio da Pritica’. E neste segundo momento da pastoral de juventude que ‘surge 2 pastoral de juventude dos meios especificos com seus vérios ramos: pastoral de juventude universitaria, pastoral de juventude estudantil, pastoral de juventude do meio popular urbano, pastoral de juventude trabalhadora, pastoral de ju- ventude rural e pastoral de juventude de situagdes criticas. ‘A resposta tem que ser dada em novo contexto de Igreja, de pastoral de conjunto, e em novo contexto social. A nao aceita¢do deste desafio de organizar uma estru- tura de acompanhamento em nivel de militancia, significaria a interrupgao de uma pastoral de preparaco de lideres que 154 depois serio absorvidos pelos grupos extremistas de direita juerda. é eae portanto, uma estrutura de apoio que dé continuidade ao projeto de evangelizacaio motivado pelo pro- cesso de iniciagfio e que dé ao jovem critérios de discerni- mento diante das diversas ideologias com que se encontra ic jue vive. ‘ ne rp momento que pomos limite ao crescimento politico e social do jovem na pastoral, eli amos NOssos melhores elementos. Trata-se de um principio pedagdgico importante: © ser humano cresce a medida que enfrenta novos desafios. Procedemos como 0 professor que pede ao aluno, ao termi- nar o ano escolar, que repita 0 curso para ajudar outros alu- nos. O aluno deseja enfrentar o desafio de um curso de nivel superior. bane Esta necessidade de acompanhamento é particularmente importante no caso dos jovens que exercem militéncia nos meios especificos, j& que os que exercem militancia interna, embora se afastem da pastoral de juventude, continuam sendo acompanhados pela propria comunidade, o que néo aconte- ce com os outros. 155 PROCESSO DE NUCLEACAO ASTORAL OE JUVENTUDE GERAL 0 PROCESSO DE EDUCAGAO DA FE E E DE CONSCIENTIZACAO nocess0 DE MALMANCIA rracts80 OF INCACAD DeseDRERTA ‘eeTOueRTA (cio Grupos peroqulas ecient “——— Grupos de bese Meio universitrio Dois lugdres. ae ‘Melos especfficos Instrumentos de nucleacto intermedirios) ‘Meio popular urbano (organismos intermedisrios) ieio operario leio de situacbes criticas leo indigena wseados na espontaneidade Convites pesscais ncontros. “atequese permanente Preparacdo & Confirmagao ‘ete. ataererete: Coorenstes Navones COrpeianos de Desi | tnetoe | nance. | nere.| re Nae. | Eneitae Seeoeee Unieritiio| Seca | Runt | Pepude Ut.) Oprio Coornntne Ocean | | | Renieaete weet aga “COMO?” ETAPAS E ELEMENTOS PEDAGOGICOS visko | DE “ONDE” DE i SE QUER CONJUNTO CHEGAR SIsvIVFTVTIe 4, PASTORAL DA JUVENTUDE DE MEIOS ESPECIFICOS Organiza-se, aqui, 0 segundo momento da pastoral de juventude: uma pastoral especializada para cada meio. ‘A pastoral de juventude especifica compe-se de varios ramos especializados: a pastoral de juventude universitaria, 2 pastoral de juventude estudantil, a pastoral de juventude do meio popular urbano, a pastoral de juventude trabalhado- ra, a pastoral de juventude rural e @ pastoral de juventude de situacées criticas, Os nomes destas pastorais variam de um pals para outro, € os termos aqui usados ainda nao sdo ad- mitidos universalmente. Cada pastoral especifica tem sua autonomia propria em relacdio a pastoral de juventude geral, embora todas se man- tenham ligadas a ela através da pastoral organica. Mais adiante, aprofundaremos 0 contetido e a metodo- logia de cada pastoral especifica. 4.1, Fundamentagéo teolégica das pastorais especificas “€ no mundo que 0 leigo encontra seu campo especifi- co de ago. Pelo testemunho de sua vida, por sua palavra oportuna e sua a¢do concreta, o leigo tem a responsabilida- de de ordenar as realidades temporais para pé-las a servico da instauracao do Reino de Deus. No vasto e complexo mundo das realidades temporais, algumas exigem especial atengdo dos leigos: a familia, @ edu- cago, as comunicacées sociais. Entre essas realidades temporais, nao se pode deixar de ientar com énfase especial a atividade politica. Esta abar- ca vasto campo, desde a acdo de votar, passando pela mil tancia e lideranca em algum partido politico, até o exercicio de cargos piblicos em diversos niveis” (DP 789-791). “Para o cristao ndo basta a dentincia das injusticas; a ele se pede que seja verdadeiramente testemunha e agente da justia” (Jo&o Paulo II, Alocucao aos operarios, em Gua- dalajara).. E importante evitar uma viséio da Igreja que separe os jovens que se comprometem com a comunidade dos que se 159 | \ ' i comprometam com a sociedade. A militancia interna na co- munidade eclesial deve ter como finalidade fortalecer uma Igreja ad extra. A Igreja no existe para si mesma, porém pa- ra ser fermento do Reino no mundo. Fortalecemos os minis- térios ern vista da misstio. A militancia na comunidade tem como fim constituir uma Igreja que seja sinal do Reino. Devemos evitar, por outro lado, a falsa idéia de que 0 com- promisso “extra-eclesial” do jover significa afastamento da Igreja institucional. 0 jovem continua sendo Igreja em seu meio especifico, e seu compromisso com ele deve implicar retorno A Igreja institucional. “Por outro lado, 0 leigo deve trazer ao conjunto da Igreja a sua experiéncia de participa- do nos problemas, desafios e urgéncias do seu ‘mundo se- Gular’ — de pessoas, familias, grupos sociais ¢ povos — pa- ra que a evangelizagiio eclesial se enraize com vigor” (DP 796). ‘Sua militancia externa tem como fim colaborar com a construgéo histérica do Reino. ‘Alguns jovens e grupos exercem militancia tanto dentro quanto fora da Igreja. Normalmente, aliés, fica dificil manter ‘uma dupla militincia devida a pouca disponibilidade de tem- po dos jovens. Também ha grupos “‘mistos” em que alguns militam fora da Igreja institucional, ao passo que outros, do mesmo grupo militam nela. No caso do compromisso unica- mente fora da Igreja institucional, a comunidade continua sen- do o lugar de celebrag&o e de aprofundamento da fé. 4.2, Especificidade de cada pastoral ‘As Pastorais de Meios Espectficos, iluminadas pela men- sagem do Evangelho, devem dar resposta eficaz aos varios desafios que se apresentam nestes meios em que vive 0 jo- ver, Sao pastorais especializadas que tm como finalidade ‘a construeao da Civilizagéo do Amor em seu préprio ambiente natural, como antecipacéo do Reino definitivo. 4.2.1. Pastoral de Juventude universitéria a. Objetivo geral Ser nova presenca evangelizadora no meio universitério, que, como sinal do Reino de Deus, convoque os estudantes 160 a viver comunitariamente sua fé como leigos e universitarios, ‘a confronté-la com a ciéncia ea cultura para um compromis- ‘so com a transformacao da universidade em sociedade nova. b. Prioridades 4. Servir a vida e & verdade como responsabilidade é ca. A universidade nao desenvolve uma opsao pela vida co- mo forma privilegiada de viver a caridade crista em perma- nente sensibilidade diante dos problemas sociais, politicos, feconémicos, culturais e religiosos proprios da realidade latino- americana, marcada por uma cultura de morte e de domina- Gao. 2. Democratizacao. 0 crescimento do sistema universi- trio no constitui aumento ou intensificagao em sua demo- cratizaco, j4 que os setores populares continuam excluidos das possibilidades de acesso a ela. Em lugar de promover 0 desenvolvimento auténtico da juventude, dé-se uma educa- 80 a servico do sistema dominante, que manipula os jovens &m favor de projetos sociopoliticos nem sempre aceitaveis, convertendo-os em meio e ndo no sujeito do projeto educa- tivo. 3. Nova presenca evangelizadora na universidade. Na atual situagdo da América Latina, a Igreja pode perder a uni- versidade como lugar decisivo para iluminar e esclarecer as mudangas de estruturas que a evangelizagao do ambiente in- telectual e universitério implica (cf. DP 1058). 4, Didlogo. Levar muito a sério a universidade como es- paco de confronto entre fé e ciéncia, fé e cultura, fé e desen- volvimento tecnolégico. E, simultaneamente, assumi-la co- mo possibilidade de viver a f@ como risco, como confronto, como luta. ©. Campos de aco 4) Os processos de mudanga social. Uma pastoral inte- grada nos processos de mudanga em que os jovens vao dan- do sua colaboragaio em solidariedade com as diversas formas 161 ELE KLKHKCLHLAETATALERATAAIAATAAAAATELNee: de organiza¢ao popular, os novos movimentos sociais, as no- vas formas de ago politica, experiéncias democraticas etc. 2) Os meios de comunicaco social. Presenca e utiliza- aio dos meios de comunicacio, em suas diversas formas, que ampliem as possibilidades de vinculagio, escuta e participa- 0 dos jovens universitérios cristdos na experiéncia jubilosa do seguimento de Cristo. 3) O académico e o intelectual. A tendéncia para a es- pecializacao do saber e as tentativas de privatizagao da uni- versidade so desafios na promogéo de uma visio global da pessoa humana e na vontade de diminuir a distancia entre saber académico e saber popular. 0 rigor cientifico e a exce- Jéncia académica devem melhorar sua qualidade, de maneira que representem instrumentos de servicos eficazes para nos- sos povos. d. Pistas de acho 1. Estrutura interna da Pastoral Universitaria — Onde existe pastoral universitéria organizada, devemos contribuir para o seu fortalecimento, formando novos gru- pos de militants, favorecendo o intercémbio entre os gru- pos, a formagao integral de seus membros, capacitando coordenadores e assessores para que possam dar acom- panhamento adequado aos grupos. — Onde nao existe pastoral de juventude universitaria, 6 im- portante incentivar a formagtio de grupos de universits- rios que tenham atua¢do no meio e que reflitam sobre es- ta atuacdo a luz da 16. — Amedida que 0 crescimento dos grupos militantes o exi- ja, deve-se organizar uma estrutura de acompanhamen- to, com coordenago propria, que garanta espagos de ava- liaedo, planejamento e aprofundamento através de cursos, seminarios, retiros, subsidios, livros, etc. com o fim de es- clarecer enlnciados e questionamentos que vo surgin- do com a pritica. 162 — Esta infra-estrutura deve oferecer condicées para a forma- 40 integral dos jovens e assessores, e para a sua integra- io na pastoral mais ampla e organica da juventude e na pastoral de conjunto de toda a Igreja. A coordenacao e 0s encontros também contribuem para sistematizar 0 ca- minho da pastoral juvenil universitaria. — Aluz da fé, os militantes devem assumir um compromis- soa fim de dar respostas as grandes anguistias que se apre- sentam em seu meio (cf. Primeira Parte). 2. Oferecer servigos pastorais combinando a convoca- 80 maciga com o acompanhamento pessoal e comunitario, que permitam a celebrago da f8, o amadurecimento desta experiéncia de fé vivida no compromisso e no desenvolvimen- to de uma espiritualidade vigorosa: — Promovendo a imprensa pastoral (periédicos, murais letins, volantes, revistas, cartazes). — Oferecendo servicos de formaciio e reflexao (dias de re- flexo, retiros, painéis, palestras, cursos de formacao teo- légica).. — Convidando para celebracées da fé (missas universitérias, paraliturgias, via-sacra). — Organizando e apoiando comunidades cists université- rias, como lugares de acompanhamento e de amadureci- mento da fé, ¢ como niicleos evangelizadores no meio uni- — Implementando a metodologia da Revisao de Atos e Fa- tos da Vida, como instrumento pedagégico da educacao na fé, 3.1. Conhecer o meio universitério e a juventude univer- sitéria de maneira critica e cientifica: — Elaborando diagnéstico da juventude universitaria, dan- do especial énfase ao fator religioso no jovem e no meio universitario, a suas atitudes e valores. — Fazendo reflexio com agentes pastorais e especialistas so- bre o tema da universidade hoje na América Latina. 163 4, Promover e apoiar os jovens universitérios no sentido de que tomem consciéncia de seu papel histérico e do fato de serem cles sujeitos ativos na transformaco das estrutu- ras injustas: — Estimulando a’participago dos universitérios cristéos nas organizacdes estudantis e nas estruturas como lugares pri vilegiados para a transformaciio da universidade e a cons- truco da Civilizagao do Amor. 4.2.2. Pastoral de Juventude Estudantil a. Objetivo geral Acompanhar os jovens estudantes em seu processo de formagao humano-cristé, de modo a |hes permitir que per- cebam e vivam 0 comunitério em intima relacao com Cristo, com seus irméos e com o mundo, animando-os a descobrir seus valores e a ser agentes transformadores do meio edu- cativo estudantil de maneira a gerarem comunidades evan- gelizadoras e a serem protagonistas da construgao da nova sociedade, A Pastoral de Juventude Estudantil pretende ser movi- mento de lideres estudantis para @ massa estudantil b. Campos de agéo 1. Pastoral do aluno. E importante distinguir a pastoral do aluno, da pastoral da juventude estudantil. A pastoral do aluno é feita dentro do marco teérico da escola e tem como agente a propria comunidade educativa (que deve ser agen- te de toda aco pastoral da escola) e da qual o aluno é parte integrante; ao passo que a pastoral da juventude estudantil se processa dentro de marco teérico préprio, e tem como agente gs proprios jovens, assessorados pelos adultos. A au- téntica pastoral do aluno deveré ser propulsora de uma pas- toral da juventude estudantil. A qualidade da pastoral do aluno revelar-se-é através do ntimero de alunos que se comprome- tem com a Pastoral de Juventude Estudantil 164 A Pastoral de Juventude Estudantil deve propiciar a par- ticipagdio ativa dos jovens estudantes em sua propria educa- 980, para que esta seja formadora e libertadora, evite a mas- sificago e desperte o espirito critico. 2. 0 bairro. Geralmente, todo jovem tem sua turma ou grupo natural de amigos, com quem costuma reunir-se no bar ou na casa de algum deles. Ai, 0 jovem se sente dono de si mesmo, pois néo se vé obrigado as exigéncias da familia ou da escola. Embora es- tes grupos nem sempre atuem de maneira construtiva, de- verdo ser utilizados como meio de exercer maior influéncia na formacao do estudante, Alguns militantes desempenham atividades transforma- doras nos bairros populares, assim fazendo conexo entre a escola e 0 projeto popular. 3. As organizagées estudantis. Organizagdo estudantil & aquela que procura reunir os estudantes em toro de ativi dades culturais, recreativas ou sociais, sem ter caréter poll co (como atividades desportivas, teatro etc.). 4. A politica estudantil, O estudante no pode ignorar 08 grémios estudantis e o movimento estudantil que sao ho- je formas vivas da atual conjuntura histérica. Muitas destas entidades sao entregues nas méos de es- tudantes universitarios e de profissionais. & preciso que os estudantes trabalhem pela democratizagao destas entidades, para que seus 6rgdos realmente sintonizem com os interes- ses do meio estudantil. . Pistas para a aco 1. Estrutura interna da pastoral estudantil — Onde existe pastoral de estudantes organizada, devemos contribuir para o seu fortalecimento, formando novos gru- pos de militantes, favorecendo o intercaémbio entre os gru- pos, a formacao integral dos membros, capacitando as- ssessores e coordenadores para que possam dar acompa- nhamento adequado aos grupos. 165 ELEKLAKEKHHTAHLATAAAAAAAALAAAETAEEE: — Onde nao existe pastoral de juventude para estudantes, & importante incentivar a formaco de grupos de estudan- tes que tenham atuago no seu meio e que reflitam sobre esta atuacao & luz da fé. — A medida que 0 crescimento dos grupos militantes 0 exi- ja, deve-se organizar uma estrututura de acompanhamen- to, com coordenacdio propria, que garanta espagos de ava- liagdo, planejamento e aprofundamento através de cursos, seminarios, retiros, subsidios, livros etc., com o fim de es- clarecer os enunciados e questionamentos que vo sur- gindo na pratica Esta infra-estrutura deve oferecer condicées para a for- mago integral de jovens e assessores, ¢ para a integrago na pastoral mais ampla e orgdnica de juventude, ¢ na pasto- ral de conjunto de toda a Igreja. A coordenagao e os encontros também contribuem pa- ra sistematizar o caminho da pastoral de juventude estudanti. — Aluz da fé, os militantes devem assumir um compromis- so para dar respostas as grandes angiistias que se apre- sentam em seu meio (cf. Primeira Parte). 2. Formar a consciéncia critica dos jovens, de tal ma- neira que eles questionem constantemente a realidade e seu trabalho a luz do Evangelho, descobrindo 0s sinais de vida e de morte que hé neles e convertendo-se em construtores de nova sociedade: — Incentivando os jovens a participar ativamente de suas or- ganizacSes estudantis. — Oferecendo-Ihes elementos de anélise da realidade. — Estudando as diversas ideologias. — Organizando encontros ¢ dias de reflexo, como meios de formaco, que Ihes permitam analisar criticamente a rea- lidade. 3, Formar integralmente assessores, de preferéncia lei- gos, com mentalidade e atitudes evangélicas, que animem fe acompanhem os jovens em seu processo de formacao na f€ e de compromisso crescente: 166 - Organizando cursos de formacdo. — Apresentando a comunidade a situago do joven estu- dante. — Mostrando em que consiste o papel do assessor ou assis- tente. — Dando aos jovens a possibilidade de participar da eleic&o de seus assessores. 4.2.3, Pastoral de Juventude no meio popular urbano a. Objetivo geral ‘Acompanhar e formar jovens que, em comunidade ecle- sial e com profundo amor a Jesus Cristo e a seu povo, apren- dem a discernir, partindo de realidade popular e marginal, a vontade libertadora do Pai, e que se acham comprometidos com as organizacées de mudanca (movimentos populares, associagées de bairro, grupos de educagao popular, partidos politicos com ética popular...), como caminho para a cons- truco da Civilizagao do Amor. b. Prioridades 1, Estabelecer critérios de relaco com os movimentos populares, movimentos sindicais, partidos politicos, movimen- to estudantil e com os proprios movimentos pastorais sem pretender esgotar ou substituir as perspectivas de cada um. 2. Enfrentar a marginalizagao de dimensdes proprias da evangelizagao como a adesdo explicita a Jesus Cristo, as ex- pressées litdrgicas, a vida de oraco, a participacao eclesial, © aprofundamento da fé etc. 3. Definir o carater de eclesialidade dos niicleos pasto- rais relacionados com os organismos intermediérios: suas nhas fundamentais de espiritualidade e suas expresses turgicas. 167 1. Estrutura interna da pastoral do meio popular urbano. Onde existe pastoral de juventude do meio popular urba- no organizada, devemos contribuir para o seu fortaleci- mento, formando novos grupos de militantes, favorecen- do 0 intercémbio entre os grupos, a formagao integral dos membros, capacitando coordenadores ¢ assessores para que possam dar acompanthemento adequado aos grupos. > pastoral do meio popular urbano, 6 im- vo. tante incentivar a formag&o de grupos do meio popu- lar urbano que tenham atuacdo no proprio ambiente e que reflitam sobre esta atuaco a luz da fé. — A medida que o crescimento dos grupos de militantes o exija, deve-se organizar uma estrutura de acompanhamen- to, com coordenaco propria, que garanta espacos de ava- liagdo, planejamento e aprofundamento, através de cur- 808, seminarios, retiros, subsidios, livros etc., com o fim de esclarecer os enunciados e questionamentos que vo surgindo na pratica. Esta infra-estrutura deve oferecer condigdes para a for- macio integral dos jovens e assessores, e para sua integra- do na pastoral de juventude mais ampla e organica e na pas- toral de conjunto de toda a Igreja. A coordenagao e os encontros também contribuem pa- ra sistematizar 0 caminho da pastoral de juventude no meio urbano popular. — Aluz da fé, 08 militantes devem assumir compromisso que dé respostas as grandes angdstias que se apresentam em seu meio (cf. Primeira Parte). 2. Criar espacos de formagao que integrem ordenada- mente elementes das Ciéncias Sociais e da Teologia, elemen- tos que permitam fazer uma anélise da realidade e nela des- cobrir a tarefa que compete aos jovens cristdos. 3. Favorecer espacos de reflexo que permitam aos jo- vens descobrir suas ralzes, sua consciéncia de classe © seu papel social e evangelizador dentro do meio popular. 168 4, Incentivar os jovens que no pertencem a grupos de bairro, a organizagdes nem a outras entidades, a descobrir a experiéncia comunitéria como promotora de seu crescimento pessoal com vistio mais ampla da realidade, e Deus presente e atuante em sua propria vida. 5, Assessorar grupos de jovens da pastoral de juventu- de geral em bairros da periferia 4.2.4, Pastoral de juventude operéria a. Objetivo geral Partindo da opgdio preferencial pelos jovens pobres, evan- gelizar os jovens trabalhadores no proprio mundo do traba- Iho, para que se convertam em agentes construtores de no- va Sociedade, justa e fraterna, pré-andncio do Reino de Deus. b. Prioridades 1. Fomentar a a¢do profética nos jovens trabalhadores, a fim de que anunciem o Reino e denunciem o anti-reino. 2. Possibilitar a tomada de consciéncia do porqué de sua realidade, para que participem de “movimentos de solidarie- dade dos homens de trabalho e de solidariedade com os ho- mens do trabalho” (LE 8). ©. Pistas de acéio 1, Estrutura interna da pastoral operdria — Onde existe pastoral de juventude do mundo do trabalho organizada, devemos contribuir para seu fortalecimento, formando novos grupos de militantes, favorecendo 0 in tercémbio entre os grupos, a formacdio integral de seus membros, capacitando coordenadores e assessores a fim de que possam dar acompanhamento adequado aos gru- pos. existe pastoral de juventude do mundo do tra- importante incentivar a formagao de grupos no meio trabalhista, grupos que tenham atuago no ambiente e reflitam sobre esta atuacdo a luz da f& 169 ELKLLLALHAAAKAALAATAALALAKEAAAATAIAT — A medida que 0 crescimento dos grupos militantes o exi- ja, deve-se organizar uma estrutura de acompanhamen- to, com coordenaco propria, a qual garanta espacos de avaliacdo, planejamento e aprofundamento, através de cur- sos, seminarios, retiros, subsidios, livros etc., com o fim de esclarecer os enunciados e questionamentos que véo surgindo na pratica. Esta infra-estrutura deve oferecer condigdes para a for- mago integral dos jovens e assessores, e para a sua integra- cdo na pastoral de juventude mais ampla e organica, e na pas- toral de conjunto de toda a Igreja. A coordenacio e os encontros também contribuem pa- ra sistematizar 0 caminho da pastoral de juventude trabalha- dora. — A luz da fé, os militantes devem assumir um compromis+ 0 para dar resposta as angiistias que se apresentam em seu meio (cf. Primeira Parte). 2. Sensibilizar toda a comunidade em face da importincia de presenga eclesial no mundo do trabalho e convidar para uma solidariedade com a causa dos trabalhadores. 3. Promover encontros de informaciio, formaciio e refle- xo em niveis regionais e nacionais, sobre a realidade do mun- do do trabalho e suas exigéncias pastorais, assim como so- bre os contetidos da fé (Cristologia, Eclesiologia, Teologia, ia etc). 4.2.6. Pastoral de juventude rural a. Objetivo geral Acompanhar 0 jovem camponés em seu crescimento pes- soal ¢ comunitério 8 luz do Evangelho, ajudando-o a redes- cobrir sua identidade, seus valores religiosos e a tomar cons- ciéncia de seus direitos sobre a terra, a fim de abrirem, junto com outros jovens e com adultos camponeses, canais de ex- pressao e de organizacao, transformando-se em agentes de ‘mudenga, semeadores da esperanca de uma sociedade mais justa e fraterna. 170 b. Prioridades 1. Formar agentes especializados neste setor. 2. Conscientizar os camponeses de sua situagéo. 3. Propiciar organizacao prépria, tanto eclesial quanto inserida na sociedade. 4, Favorecer a tomada de consciéncia de sua identida- de cultural, de sua classe e dos direitos 4 posse da terra em que trabalha. 5. Formar para os valores da familia. 6. Articular suas relagées: zona urbana-zona rural, ho- mem-mulher, 0 pessoal-o comunitério, campo-producio na- cional, e camponés-bem comum. ¢. Pistas de acéo 1. Estrutura interna da pastoral rural — Onde existe pastoral de juventude rural organizada, deve- mos contribuir para o seu fortalecimento, formando no- vos grupos de iniciago e de militantes, favorecendo o in- teredmbio entre os grupos, a formago integral de seus membros, capacitando coordenadores e assessores a fim de que possam dar adequado acompanhamento aos gru- pos. — Onde nao existe pastoral de juventude rural, é importante incentivar a formagio de grupos de militantes, que tenham atuagao no meio e que reflitam sobre esta atuaco a luz da fé. — A medida que o crescimento do grupo de militantes 0 exija, deve-se organizar uma estrutura de acompanhamento, ‘com coordenacdo propria, que assegure a avaliacao, pla- nejamento e aprofundamento, através de cursos, semind- rios, retiros, subsidios, livros etc., com o fim de esclare- cer os enunciados e questionamentos que vio surgindo na pratica. 1m Esta infra-estrutura deve oferecer condigdes para a for- mago integral dos jovens e assessores e para sua integra- a0 em pastoral de juventude mais ampla ¢ organica, ¢ na pestoral de conjunto de toda a Igreja. ‘A coordenaggo e os encontros também contribuem pa- sistematizar 0 caminho da pastoral de juventude rural. — Aluz da fé, os militantes devem assumir compromisso para dar respostas as grandes angiistias que se apresentam em seu meio (cf. Primeira Parte). Observaciio A pastoral de juventude é diferente das outras pastorais neios especificos, por causa de sua separac&io geografi- ca e de sua problematica bastante diversa da problematica urbana, Na vida cotidiana, ha menos separacdo entre jovens @ adultos. As distdncias entre as familias so maiores. Nas capelas, ocorre o mesmo processo de iniciacao que se verifi ca com os grupos das paréquias urbanas. No entanto, ainda no se conseguiu vet com clareza como se fara a coordena- 0 dos grupos de iniciag&o das capelas com os grupos de mmilitantes que tém compromisso transformador com os sin- dicatos rurais, com as cooperativas e com movimentos po- pulares. 2, Favorecer no jovem camponés a tomada de conscién- cia de sua identidade cultural, para aumentar os valores das comunidades rure = Conhecendo e resgatando os valores culturais das comu- nidades rurais. * organizando festivais: can¢&o, poesia, dancas, baile, tea- to, artesanato; * conhecendo as ralzes culturais, as expressdes @ os cos- tumes. — Valorizando as peculiaridades de cada povo * conhecendo sua historia; © promovendo intercémbios de comunidades rurais; ‘* promovendo campanhas educativas de valorizagéio do ser campongs. 172 — Valorizando e purificando a religiosidade popular * promovendo uma catequese que ilumine a religiosida- de popular por meio de elementos evangélicos; * aproveitando os elementos tipicos da comunidade, nas celebragées de fé. 3. Promover a participaco do joven nos organismos in- termedidrios existentes ou a serem criados, para que se con- verta em fator de mudanga: — Incentivando a busca de formas eficazes de compromis- so transformador * educando a consciéncia social e politica; * descobrindo suas possibilidades de colaboraco para a sociedade; * criando experiéncias comunitérias e instdncias de orga- nizacao proprias; * educando para a importéncia da presenca de todos, a fim de que, participando, contribuam para a consecu- 980 de fins comuns — Promovendo a consciéncia da dignidade igual e dos direi- tos iguais da pessoa humana * conhecendo a doutrina social da Igreja; * denunciando as injustigas contra a pessoa humana. 4.2.6. Pastoral de juventude de situagées criticas a. Objetivo geral Evangelizar os jovens em situagdes criticas (téxicos, de- finqiiéncia, prostituic3o, homossexualismo, ociosidade pelas ruas), desenvolvendo modelo educativo-pastoral que corres- ponda & sua realidade, que os acompanhe em seu processo de reintegrac&o pessoal e social e os comprometa com a cons- trug&o da clvilizago do amor. b. Prioridades 1, E necessério e até indispensavel que a pastoral de ju- ventude integre em seus programas, a aten¢ao dispensada a estes setores da juventude. 173 ATAU AKKKKAAKLLETe: 2. Capacitar e preparar agentes de pastoral, adultos ¢ jovens, para esta tarefa. 3. Informar, sensibilizar e conscientizar a Igreja diante de tal problema. 4, Implementar programas de prevengao relativos a es- ta problematica, a nivel familiar, de educadores e de orga zacées sociais. ©. Pistas de acéo 1. Informar e sensibilizar toda a comunidade eclesial so- bre a necessidade de atender aos jovens em situacdes criticas: — Favorecendo 0 conhecimento destes jovens através de bliografias basicas, semindrios, encontros, utilizac&o dos meios de comunicacio social etc, — Criando e/ou apoiando centros e grupos para atendimen- to e acompanhamento destes jovens em seu proprio am- biente. 2. Integrar, na pastoral de juventude organica, o setor dos jovens em situag6es criticas: — Eliminando os preconceitos que se costuma ter quando se trata de entrar em contato com tais jovens. — Propiciando-Ihes acolhida fraterna que os ajude em sua recuperaco. 3. Propiciar a forma¢&o de agentes pastorais para aten- der aos jovens em situagses criticas: — Realizando cursos especi — Formando equipes de trabalho. — Promovendo experiéncias concretas de servico. 4. Elaborar linhas pedagégicas apropriadas para a inser- 80 social e/ou eclesial destes jovens: — Integrando a familia, os adultos e os outros jovens neste trabalho de recuperacdo e de reintegracao. — Criando espacos e organizando atividades em que os jo- vens se sintam responsaveis pelas tarefas comunitarias. 174 — Motivando e incentivando as qualidades de servico dos jovens. 4.2.7. Observacées finais 1. Os grupos de base no proceso de iniciaco retinem de dez a vinte jovens, ao passo que os grupos de militéncia nas pastorais especificas, freqiientemente, tm numero re- duzido de membros, chegando as vezes a ter somente cinco integrantes. 2. A experiéncia dos iltimos anos tem demonstrado que 08 jovens que participam da coordenagao da pastoral de ju- ventude geral siio os que normalmente passam para 4 pas- toral de juventude especifica, pois s40 mais idealistas e com- prometidos, e tem contato com idéias diferentes através de Cursos e reuniées. Esta passagem, aliés, é provocada por uma desmobilizago e, em alguns lugares, por um retrocesso da pastoral de iniciag&o. Enquanto em alguns casos os coorde- nadores saem sem preparar e sem encaminhar outros lideres Para ocuparem 0 seu cargo, em outros lugares, os jovens con- tinuam na coordenagdo da pastoral geral, mas sem tempo para se dedicarem a ela devido a urgéncia e a quantidade de compromissos que assumem em seu proprio meio. E neces- sério, portanto, prever a substituicdio destes lideres. No caso de um jovem querer manter a dupla militancia, deve-se dar prioridade 4 coordenac&o da pastoral de juventude geral. 3. Embora cada pastoral especifica tenha a sua propria coordenaciio e estrutura de acompanhamento a grupos mi tantes, ha muita unio entre elas. Muitos jovens exercem mi: litncia em varios meios ao mesmo tempo, por exemplo, grupo de universitarios que também a exercem em bairro popular; ou jovens do curso secundario que, além do trabalho esco- lar, esto comprometidos com 0 movimento operario e que, mais tarde, passam a universidade. A experiéncia mostra que é dificil manter militncia em varios meios ao mesmo tempo, devido ao pouco tempo de que o jovem dispée, sobretudo quando trabalha para pagar seus estudos e, quase sempre, se vé obrigado a dar prioridade a um dos meios, para nao 175 ‘eat ein weiVASN eNMNREILAD athe «1 Maat A RL ed RAR reatiaente, 4. Como o numero das pastorais de meios especificos varia de um pats para outro, os participantes do IV Encontro Latino-americano de Responsaveis Nacionais de Pastoral Ju- venil resolveram concentré-las em seis, que aparecem com ‘os elementos nucléadores mais importantes. 5. As Pastorais de Meios Especificos e os Movimentos Especializados devem estar atentos ao risco de néo cair em paralelismo relativamente a Pastoral de Juventude ampla e Organica ou da Pastoral de Conjunto de toda a Igreja. 6. 0 compromisso do jovem com seus meios especifi- cos no deve levé-lo a afastar-se da comunidade eclesial. Esta deve ser, pelo menos, o lugar de celebrago, de reviséio, de questionamento e de aprofundamento de seu compromisso através de experiéncia real de comunidade crista. A adeso a0 programa de vida de Jesus “‘néo pode permanecer abs- trata e desencarnada", porém deve manifestar-se mediante’ “a entrada visivel na comunidade dos fiéis” (EN 23). 7. As Pastorais de Melos Especificos so novas na maioria dos paises do continente e, por isso, é necessério acumular ‘mais experiéncia antes de apresentar modelos mais definitivos, 176 aes one oe todos os meios de formacao e ~ Compromisco transforedor de teaasd, "= O assessor deve prestar especi di cial atencdo a estes grupos, para que possam ser, efetivamente, os ani me oa ie e, 0 animadores da comu- b. Coordenacao diocesana A pastoral de juventude deve estar abs I de ju erta & pastoral dio- cesana e nela inserida. Por isso, em cada diocese, deve exis- tir um organismo de pastoral de juventude que seja instru- mento de reflexdo, planejamento, execugo e avaliagdio do desenvolvimento organico da pastoral de juventude, e como 202 coordenador de todas as expressdes juvenis.que se manifes- tem na diocese. ‘A equipe diocesana deve ser formada por um delegado do bispo — sacerdote, religioso ou leigo — e por jovens re- presentantes dos grupos de base. E conveniente que tam- bém nela se integrem representantes de movimentos ou de organizagdes, de maneira a favorecer a existéncia de uma so. Unica pastoral de juventude como expresso do esforco evangelizador da juventude desta Igreja particular. ‘A equipe deve estar impregnada, como Jesus, de forte espirito de servico, ter visdo clara da realidade diocesana ser formada por pessoas capazes de criar comunhio e parti- cipago. Suas fungdes principais séo: — oferecer apoio, orientacdo, acompanhamento e coorde- rnagdo as equipes de juventude paroquiais existentes, e pro- mover a criagao de outras novas; — manter comunicagao direta com a pastoral de conjunto ‘e com 0 Organismo Episcopal de Juventude em nivel na- clonal, levando a voz da diocese e fazendo chegar a esta a coordenacdo e a ago pastoral determinada para estes niveis. ¢. Coordenagao nacional E urgente, em nosso continente, a criago ou consoli- daciio dos Organismos Especificos de Pastoral de Juventu- de dependentes das Conferéncias Episcopais de cada pais. Este organismo deve ser entidade de servico, promocio, coordenagio e animago da pastoral de juventude em nivel nacional, a fim de convidar e convocar para uma tarefa co- mum os tesponséveis diocesanos, os responsaveis por mo- vimentos, associagSes e congregacées religiosas que traba- ham no campo juvenil. Este organismo tem responsabilida- de muito grande na criag&o do espirito de igreja entre todos os seus membros, as: como de apoiar e incentivar a pre- senca e a participagdo de todos na pastoral organica. Seu obetivo geral seré promover, animar e assessorar 0s planos e programas de pastoral juvenil das igrejas particula- 203 res de cada pais e sua articulagao em pastoral organica em nivel nacional. Suas principais fungées s&o: manter contato continuo com os bispos, assessores e or- ganismos diocesanos de pastoral de juventude; — suscitar a criago destes organismos diocesanos onde eles no existam; — assessorar ¢ servir as dioceses na elaboracao dos respec- tivos planos de pastoral de juventude; — promover encontros interdiocesanos, para favorecer a ajuda mitua e a unificagao de objetivos e critérios; — organizar e promover cursos de formaclo para assesso- res e animadores — promover encontros, em escala nacional, de movimentos, Centros e instituic8es que trabalham em nivel da juventude; — criar centros de investigacdo e documentacdo sobre a pro- blemética e as tendéncias do mundo juvenil de cada pais; — oferecer publicagSes @ ajudas pedagégicas para assesso- res e animadores dos grupos; — fortalecer a integraco da pastoral de juventude do conti- nente, sendo interlocutor do CELAM e dos organismos juvenis neste nivel, em outros paises; — facilitar recursos econémicos para a aco pastoral. @., Coordenagéo latino-americana Considerando-se que o continente latino-americano tem problematicas mais ou menos comuns, assim como também s8o comuns seus anseios e esperancas, urge fazer crescer uma coordenacdo latino-americana nas principais linhas do trabalho pastoral. Esta coordenacao ¢ factivel através da Seco de Ju- ventude (SEJ) do CELAM. 5.6. Planejamento. ‘Sem planejamento, hé dispersdo de forgas, frustragao e desénimo. Ha choque continuo e superposigao de ativida- 204 des. Desgastam-se energias inutilmente. E necessario, por- tanto, planejar. Planejamento, mais do que algo imposto “de cima para baixo', é processo de tomada de decisdes que deve integrar © maior numero possivel de jovens. Pelo planejamento, 0 jo- ver se projeta para o futuro e as decisées que se tomam tém gerantia de continuidade. planejamento deve partir sempre da re vern e do tipo de realidade em que ele vive (ver); deve ilumi- nar esta realidade com as luzes da fé e da mensagem do Evan- gelho (julgar) pare decidir, depois, as atividades que serdo rea- lizedas para mudar tal realidade (agit). 0 processo de planejamento — sobretudo quando se po- de realizar através de assembléias de varios dias, as quais per- mitam apresentaciio da realidade ampla, busca e aprofunda- mento do juizo sobre ela e dos critérios de aco para trans- formé-la — muda a mentalidade das pessoas que participam @ favorece a formacdo de consensos nos modos de desen- volver a tarefa pastoral, Muitas vezes, o processo em si é muito mals importante do que as decisdes que se tomam. ‘Um planejamento anual deve incluir as seguintes ati dades: — as reunides de coordenacao; — os movimentos de revistio de vida; — 08 cursos de formacdo (que incluem os aspectos psico- afetivos, sociais, politicos, espirituais e pastorais); — 0s momentos de celebracdo da 16; — as assembiéias ou encontros anuais de avaliago e plane- jamento; — os momentos de agdes em nivel de massas m festivais musicais, caminhades, congressos ete. amplas: Através do planejamento, facilitam-se a distribuigao de responsabilidades e a participago mais ativa dos jovens, evita- se 0 actimulo de atividades simultaneas, e as energias de to- dos os agentes pastorais so canalizadas de maneira mais ra- ional. 205 CECE adataaaeeeeaaetaaees 5.7. Avaliagéo A avaliago 6 outro elemento metodolégico importan- te, Através dela se vao ajustando cada vez melhor os pasos € se vai aperfeicoando a aco. Sem avaliacd — continuam-se repetindo os mesmos erros; — @ aco deixa de ser transformadora endo estimula novas aces e, portanto, 0 grupo se cansa, esgota-se e morte; — nfo se valorizam os xitos nem se tira experiéncia dos fra- cassos. Para que se possa fazer boa avaliacdo é necessario que se descubram os problemas e que lhes déem solugdes ade- quadas. A avaliagao nao é eficaz quando apenas se enume- ram as dificuldades sem apresentar solucdes precisas para elas. Por isso, é preciso levar em conta todas as sugestdes. € pistas valiosas oferecidas, Uma boa avaliago, também, deve ser bem preparada e planejada com antecedéncia, baseando-se em uma série de enunciados fundamentais como: que se fez?, como se fez?, que nao se fez?, por que nao se fez?, como corrigir os erros? A avaliagao também segue o método do ver-julgar-agir- rever: causas, problemas, conseqiiéncias (ver), aprofunda- mento dos critérios cristos (julgar), pistas de solugao (agit). 5.8. Agentes de pastoral de juventude 5.8.1. A comunidade juvenil A comunidade juvenil 6 considerada agente de pastoral juvenil medida que vive a experiéncia de comunidade-povo de Deus-Igreja fraterna-Igreja Corpo de Cristo. Neste sentido, todos nés somos iguais pela f6 e pelo ba- tismo, ¢ todos esto unidos a Cristo. O Espirito esta presen- te em todos: no grupo e na comunidade, todos s8o envia- dos, todos so responsdveis pela Igreja, todos séo chama- dos a dar seu testemunho profético. “Cada um recebe de Deus 0 seu carisma, uns de um mo- do, outros de outro” (1Cor 7,7); “a cada um 6 dada a mar festacdo do Espirito Santo para a utilidade do bem comum’" 206 (1Cor 12,7; 1Pd 4,10); e cada membro é complementar e est a servico dos outros (cf. Rm 12,5). &i , O animador animador é um jovern chamado pelo Senhor, na Igre- ja, para assumir, na comunidade, 0 servigo de orientar, coo denar e ajudar a crescer no processo comunitério que os jo vens escolheram. Por isso, ele trabalha estreitamente unido ao assessor, tem clareza nos objetivos que a comunidade fixou para si, sabe detectar suas necessidades e harmonizar a vida do grupo. ‘Tem mais consciéncia da realidade em que vive e de seu compromisso com Cristo na Igreja. Procura dar testemunho do Evangelho e é capaz de entusiasmar e compartilhar sua fé com os outros. 0 animador nao é chefe nem lider, nem dirigente. E ser- vo dos seus irméos. Por isso, nao impe, mas dialoga. Nao ensina, mas busca em comum. Nao assume todos os car- gos € tarefas, mas sabe confiar responsabilidades. Nao se apropria da palavra, mas procura a participagdo dos outros. N&o exalta sua personalidade nem busca adesdes, mas co- nhece os integrantes de sua comunidade e doa-se-Ihes com amizade. Sabe acolher, respeitar e inspirar confianga, Procura man- ter acompanhamento pessoal para cada um. E franco e sim- ples. Reconhece e tem consciéncia de seus préprios erros ¢ limitagdes. A forga e a confianga do animador nao devem estar con- centradas tanto em seus conhecimentos e qualidades pes- soais, porém mais no Espirito do Senhor ao qual convém es- tar sempre atento para receber suas inspiragées. 5.8.3. O assessor O assessor 6 cristéo maduuro, disposto a servir os jovens com a experiéncia de sua vida, que desejoso de comparti- Ihar com eles sua vivencia do Evangelho sua descoberta de Cristo, : ‘A qualidade de assessor nao se obtém tanto por meio de cursos realizados, porém antes por meio de experiéncia 207 dee fé to profunda que sente necessidade de comunicar. Por isso, embora faltem muitas qualidades humanas ou se tenham muitas limitagdes, o que 6 imprescindivel e essencial é a pré- pria experiéncia do Senhor e o testemunho de vida evangéli- ca que 0 assessor consiga transmitir. O assessor no 6 0 “dono” da comunidade juvenil, mas seu servo, Longe de controlar a atividade dos jovens ou de impor seus critérios, 6 chamado a favorecer a iniciativa, aju- dar o crescimento, despertar a criatividade, orientar a busca e auxiliar os jovens a olharem a realidade que os rodeia. Para isso necessita ter amplo conhecimento dos jovens e de sua realidade pessoal, familiar e ambiental, saber mais escutar do que falar, ter uma base de conhecimentos teol6- gicos que !he permita dar orientacgao. Realiza seu trabalho principalmente com os animadores, em coordenagao com as equipes de assessores regionais & em comunh&o com os pastores. E fundamental que seu sen- tido de igreja seja transparente. Em geral, os sacerdotes ou religiosos 6 que tm desem- penhado esta tarefa; mas, em muitos lugares do continente, vem-se notando a presenca cada vez mais numerosa de lei gos (adultos, casados, jovens), o que constitui realmente si nal animador. Em alguns lugares, chega-se até a considerar isso como ministério que surge como necessidade da comu- jade e 20 qual a comunidade tem obrigagao de correspon der. 5.8.4. O péroco Eo pastor da comunidade cristd situada em determina- do territério diocesano. A Igreja pede “que ele atenda cuida- dosamente aos adolescentes e jovens’ (CD 30; PO 6). 0 p: roco procurara, entdo, ser auténtico servidor e amigo dos jo- vens. ‘Sua preocupacao com a pastoral juvenil deveré manifes- tar-se especialmente através dos seguintes empenhos: integré-la na pastorel organice e na tarefa evangelizadora de toda a comunidade; 208 — favorecer a realizado da op¢do preferencial da Igreja pe- los jovens dentro de sua comunidade paroquial; — preocupar-se com o assessoramento e com a animagio dos grupos e comunidades juvenis; — acolher e apoiar as iniciativas dos jovens, facilitando sua realizaco. 5.8.5. O bispo Ele 6 0 pastor e mestre da comunidade (cf. CD 2), que serve em determinado territério diocesano. E, portanto, o pri- meiro responsével pela tarefa evangelizadora do Povo de Deus. Compete-Ihe orientar, seguindo o estilo do Bom Pastor, ‘0s processos pastorais de sua diocese, escutar e discernir com toda a comunidade 0 projeto do Senhor sobre seu povo. De maneira especial, deve ser presenca animadora para a pastoral de juventude em sua diocese, tendo que acompa- nhé-la com a preocupagao preferencial que a Igreja Ihe pede. E tarefa sua também convidar seus colaboradores (pé- rocos, sacerdotes, religiosos, dirigentes, leigos) para compar- tilhar deste servico da pastoral de juventude, solicitando o interesse e o apoio deles. Dispensara particular ateng&o a for- maco dos assessores em todos os niveis, promovendo sua capacitagao para melhor acompanhamento dos jovens. 209 EREACCHATATATALALALTALATALALATITGAL CONCLUSAO Este documento, “Pastoral de Juventude, Construtora da Civilizagao do Amor”, elaborado utilizando as colabora- ges de diversos paises da América Latina nos Ill e IV En- contros de Responsdveis Nacionais de Pastoral de Juventu- de, celebrados em Bogota em 1985 e 1986, com os auspicios a animacao da Se¢ao de Juventude do CELAM, represen- ta nova etapa no caminho latino-americano da pastoral de juventude. Pretende ir unindo esforcos e constitui significativa aju- da aos agentes pastorais no acompanhamento da evangeli zaco dos jovens e no desafio que eles tém que enfrentar na transformac&o do continente. Jogo Paulo II, em sua Mensagem para o Dia Mundial da Juventude, no Domingo de Ramos de 1987, diz aos jo- vens: ‘A construcdo de uma civilizago do amor requer tém- eras fortes e perseverantes, dispostas ao sacrificio e empe- nhadas em abrir novos caminhos de convivéncia humana, su- perando divisées e materialismos opostos. E esta uma res- Ponsabilidade dos jovens de hoje, que sergio os homens e as mulheres de amanhi, nos albores do terceiro milénio cristo”. Desejamos que estas orientagSes possam ser compart thadas por todas as dioceses da América Latina, para forta- lecer a sua pastoral de juventude, bem como. esperamos que elas ajudem a difundir o Reino de Deus mediante a renova- go e a transformagao de nossos povos. 211 INDICE Contetido ... Siglas ¢ abreviaturas. Apresentagao.. eon Primeira Parte: Marco de realidade.. Introdugao 1. VISAO PASTORAL DA REALIDADE LATINO-AMERICANA..... 1. O contexto latino-americano... .1. 0 contexto socioeconémico. AAD 1.2, O contexto sociocultural. 19 1.3. O contexto sociopolitico. 21 1.4. O contexto familiar. ze 1.8. O contexto demogréfico. 1.6. O contexto ecolégico.. 2. Visio pastoral da Igreja latino-americana 3. Sinais de ameaga e sinais de esperanca. 3.1. Sinais de ameaga. 3.2, Sinais de esperanc: See YE ERHLKHKHLAAATAKTTATAATATAERAAATALETET: Wt. VISAO PASTORAL DA JUVENTUDE LATINO-AMERICANA.. 1. Que se entende por juventude?. 1.1. A juventude, uma idade. 1.2. A juventude, estado de opeao. 1.3. A juventude, atitude diante da vida 2. A juventude, realidade sociolégic 2.1. A juventude, “novo corpo social”. 2.2. A juventude, novo “grupo de pressao 23. A juventude, dinamizadora da sociedade. 3. Setores da juventude... 3.1. A juventude camponesa 3.2. A juventude do meio popular urbano. 3.3, A juventude estudantil 3. 3.6.A Juventude em situagées criticas 3.7. A juventude indigena. Wl, PERCURSO HISTORICO DA PASTORAL JUVENIL LATINO-AMERICANA. 1, Escolas e universidades catélicas. 2. Movimentos marianos.. RA26SSREK SVSB BURG 8 i a Acéo Catélica. 5 . Movimentos da Ago Catdlica E bl ostieu nanan as anaemic ee Gi se) Os tay rately es een 81 7. OCELAM e a Pastoral da Juventude na Am. Latina... 64 8. A Pastoral de Juventude Organica. 66 Segunda Parte: Marco doutrinal.. 71 Introdugao . B J. FUNDAMENTOS TEOLOGICOS DA PASTORAL DA JUVENTUDE CONSTRUTORA DA CIVILIZACAO DO AMOR.. 75 4, Jesus Cristo, modelo, forga e Pascoa do povo de Deus... 75 1.1. Jesus Cristo, ‘ pessoa comprometida com seu povo.. 1.2, Jesus Cristo anuncia 0 Reino de Deu: 13, Alguns tacos da pessoa de Jesus. 1 Jesus vai ao encontro das pessoas. 113.2. Jesus ¢ homem de liberdade @ de libertacao.. 1.3.3. Jesus cria vinculos de c 1.3.4. Jesus 6 homem “auténtico” 1.3.5. Jesus “enfrenta o conflito” 1/36, Jesus, homem de oragdo, unido ao Pai.. 81 82 1.3.7. Jesus, homem entusiasta.. 1.3.8. Jesus 6 o homem do perdéo... 1.4, Jesus dé sentido e esperanca 2 caminhada do povo que sofre.. 83 1.5. A convers&o dos seguidores de Jesus. 84 2. A Igreja, sinal de esperanca do mundo novo. 86 2.1, lgreja libertadora e profética 87 2.2. Igreja que anuncia e denuncia. 87 23. lgreja, lugar de comunhio e participacso....... 88 24, Igreja, Povo de Deus.. i 88 25. lgreja, Familia de Deus. 89 2.6. Igreia comprometida e solidéria. 90 2.7. Igreja que celebra a vida. 90 2.8. Igreja jovem com os jovens. 92 2.9. Igreja com Maria . 3 3. 0 homem novo, sonho de uma humanidade de libertados. 93 3.1. Homem solidario. 94 3.2, Homem profético.. 1 95 3. Homem comunitario: 95 3.4. Homem livre. 95 jc . 6 3.5. Homem jovial. 3.6. Homem contemplativo. 3.7. Homem de utopia. UU, IDENTIDADE x DA “CIVILIZAGAO DO AMOR”. 1. Uma proposta... 2. Descrig&o da proposta. . Rejeicdo de tudo o que oprime o homem 2.2.1. No a0 egoismo 2.3. As prioridades da civilizagao do amor 2.3.1. Prioridade da vida sobre qualquer outro valor ou interesse.... 2.3.2. Prioridade da verdade sobre toda estratégia ou eficiéncia. - 103 2.3.3. Prioridade da pessoa ‘sobre todo poder ou projeto.... - 103 2.3.4. Prioridade do testemunho sobre as palavras 104 2.3.5. Prioridade da realidade sobre todo projeto preconcebido.. Prioridade da ética sobre a técnica. . Prioridade da f€ e do transcendente toda tentativa ou intuito de minimizar o homem. i 2.3.8, Prioridade do trabalhador e do trabalho sobre 0 capital e a empresa. + 105 23, 23 105 Wl, PASTORAL DA JUVENTUDE PARA CONSTRUIR A “CIVILIZACAO DO AMOR: + 106 1. A pastoral da Igreja ++ 106 2. A Pastoral da Juventude.. . 107 2.1, Definigéo.. . 107 2.2. Objetivos da 108 - 110 Terceira Parte: Marco operacional... 113 115 Introducao .. 1. CRITERIOS OPERATIVOS PARA A EVANGELIZACAO NO MUNDO JUVENIL...... 117 1. “Ai de mim, se eu nao evangelizar” (1Cor 9,16)..... 118 1.1. Preocupagées principais da evangelizago na América Latin 1.2. Critérios e sinais auténtica @ viva... 2. Pastoral da alegria e da esperanca. 2.1. Suscitar a f8 no Deus que faz novas todas as coisas... 2.2. Anunciar a verdade sobre Jesus Cristo Salvador. 23. Com a forca do Espirito (Le 4,14 24. Anunciar a verdade sobre a Igreja, © Povo de Deus, sinal ¢ servico de comunhdo... 122 2.8. Anunciar a verdade sobre 0 homem: 4 dignidade humana... 3. Jovens portadores de boas noticias. 3.1. 0 jovem evangelizador do jovem. 3.2. Despertar liderancas protéticas. 3.3, Juventude @ projeto de libertagao.. 3.4. Opeao preferencial pelos jovens e pelos p. 3.5. Fome de Deus, SIM! Fome de pao, NACI. 119 119 EEPLATCATAAATALTTALATATTATTATAET TITS! PSS SHSHSTISHSFIFSISDSSSOSSSSSSSFISs sss MM. PROCESSOS DE EDUCAGAO WA FE E DE CONSCIENTIZAGAt A 1. Apresentac&o do processo. 1.1, Nucleagaio 1.2, Iniciagao 1.3. Militéncia .... 2. Sistematizaco do proceso de educacio na fé, nha etapa de iniciagao corganizativa mais ampla. Descoberta das causas estruturais. Descoberta da militéncia transformadora. 2.6. Descoberta das etapas percorridas... 3. Pastorais de militancia. 3.1. Militéncia interna na comunidade eclesia 3.2. Militéncia interna na prépria pastoral de juventude. 3.3. Militéncia externa na sociedade. 3.4. A passagem da iniciagéio para a militénc 3.5. Necessidade de estrutura organizativa prépria. 4. Pastorais de juventude de meios espectficos. 4.1. Fundamentagéo teolégica das pastorais especificas.... 4.2. Especiticidade de cada pastoral. 4.2.1. Pastoral de Juventude universitaria. Pastoral de Juventude estudantil . 164 Pastoral de Juventude no meio popular urban ney -- 167 4.2.4, Pastoral de Juventude operaria.. 169 4.2.5. Pastoral de Juventude rural 4.2.6. Pastoral de Juventude de situagdes critica 4.2.7. Observagées fin 170 173 175 IM, PEDAGOGIA DA AGAO PASTORAL. 1. Tragos da pedagogia pastoral... 1.1. A pedagogia pastoral deve ser experiencial. . A pedagogia pastoral deve ser transformadora e libertadora. : 179 pedagogia pastoral deve ser comunitéria..... 180 pedagogia pastoral deve ser coerente @ testemunhal. 1.5. A pedagogia pastoral deve ser participativa..... 180 2. A comunidade juvenil — opeao pedagégica de evangelizacao. 2.1. 0 sentido da comunidade juvenil 2.2. Dinamismo da vida comunitérié 2.3. Momentos da vida comunitéria.. 3, Espiritualidade da Pastoral de Juventude. 3.1. A “experiéncia” de JOSUS.....1...00000000 Dimensées da espiritualidade do seguimento de Jesus. 3.2.1. Animada pela oraéc&o pessoal e comunitaria.. , 3.2.2. Alimentada pela Palavra do Pai..... 3.2.3. Vivida em comunidad 3.2.4. Vive os valores do Reino. 3.2.5. Expressa na op¢do pelos pobres. 3.2.6. Projetada com espi missionario. 3.2.7. Em busca de novo humanismo.. 3.2.8. Seguindo 0 estilo de Maria € em unio com ela. 3.2.9, Celebrada na Litu 178 178 181 181 184 186 189 189 190 .. 191 191 4, Jovens integralmente formados............ . 192 5. Elementos e recursos para uma Pastoral de Juventude orgénica. 5.1. Niveis de a¢ao pastoral. : 5.2, Grupos-massa — QrUpOs-b882......r..er0reeerees 195 5.3. A comunidade juvenil 5.4. Organizacao.. 5.5. Coordenacao.... ie 201 5.6. Planejamento 5.7. Avaliacao.. 5.8. Agentes de Pastoral de Juventude 5.8.1. A comunidade juveni 5.8.2. O animador. 5.8.3. O assessor 5.8.4. 0. paroco.. 5.8.5. O bispo, BSSEsee concLusAo.. - - a al - - a al Ll sal - cl - :

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