Você está na página 1de 7

Notas sobre a questão agrária no Maranhão

Wagner Cabral

@wagner_cabral, do twitter, em 08/maio/2013.

Carta da Semana Social Maranhense (Santa Inês, 02 a 05 de maio de 2013).

Veja a carta elaborada por religiosos, militantes de pastorais e movimentos sociais.

http://t.co/QtGFl5hpJa

Na Semana Social, participei, ao lado do antropólogo Alfredo Wagner Berno de Almeida, da mesa
redonda sobre "Formação histórica do MA", analisando o processo de modernização oligárquica.

Assim, discuti o modelo de desenvolvimento pautado no corredor (enclave) de exportação de


commodities (minério, soja, alumínio, ferro-gusa).

Bem como o papel do Estado (desde a ditadura), em aliança com o grande capital, na implantação dos
chamados "grandes projetos" na região.

Modernização conservadora que contou ainda com o papel ativo da oligarquia Sarney, aliada aos
interesses do capital e do latifúndio.

Aproveitei ainda para fazer um breve balanço das políticas federais dos 10 anos de governo do PT,
mantendo e aprofundando esse modelo no MA.

Assim, tratei desde o impacto do Bolsa Família, até a geração de empregos ao longo do "decênio
glorioso" (assim foi chamado) do governo do PT.

E dos limites da "fórmula 6 + 1" (6 bolsas família distribuídas para cada 1 novo emprego gerado), que
apenas reproduz o modelo existente.

A "fórmula 6 + 1" demonstrou-se eficaz em vários aspectos: aumento do consumo popular/ alta
popularidade e votação de Lula e Dilma (lulismo).

Analisei ainda a brutal concentração da terra e a expansão do agronegócio no MA, desde a Lei de
Terras de Sarney (1969) até a década petista.

Uma lógica que destruiu em grande escala a agricultura familiar (reduzindo a população trabalhadora
do campo).
E inverteu radicalmente as relações entre o campo e a cidade no Maranhão, ao longo das 2 últimas
décadas:

Mas, ainda assim, os trabalhadores rurais constituem cerca de 1/3 da PEA do Maranhão e a QUESTÃO
AGRÁRIA é central em qualquer debate sério.
Por isso, fazer o balanço da "década petista" é falar do fracasso da Reforma Agrária. Em 2012, por
exemplo, tivemos o pior desempenho histórico desde o início do programa no país.

Sem esquecer que, como diz o professor Marcelo Carneiro (sociologia/UFMA), os dados da reforma
agrária em 2004-5-6 foram resultantes da inclusão de antigos assentamentos e áreas de colonização. Em
suma, uma maquiagem.

Ao mesmo tempo em que não fez a reforma agrária, o governo federal ampliou o crédito rural para o
agronegócio :
A agricultura familiar (via PRONAF) recebeu apenas 27,5% do crédito rural na década petista, enquanto
o agronegócio abocanhou 72,5%.

Em 2012, 83.706 contratos do PRONAF (agricultura familiar) receberam R$ 333 milhões, enquanto
apenas 604 contratos do agronegócio obtiveram R$ 571 milhões.

Enquanto cada agricultor familiar recebeu em média R$ 4 mil, cada um dos 604 contratos do
agronegócio recebeu R$ 945 mil em média.

E ainda aparece gente na dita imprensa e política do Maranhão a falar dos "coitadinhos" do
agronegócio de Balsas... Fiquei comovido rsrs

Somente o município de Balsas (centro da soja) recebeu R$ 770 milhões, o equivalente a 9,5% de todo
o crédito rural do MA no período.

E o reduzido conjunto de produtores de soja do sul do MA recebeu mais crédito rural do que centenas
de milhares de agricultores familiares (PRONAF).

Assim, não é por acaso que tanto a oligarquia Sarney (desde sempre), quanto setores da oposição
estão flertando abertamente com o agronegócio.

Roseana Sarney, por exemplo, nesta semana foi alegremente participar do início da colheita da soja no
Baixo Parnaíba.

E por isso, também, o silêncio quase geral em torno do aumento e acirramento dos conflitos no campo
no Maranhão, segundo os dados da CPT (Comissão Pastoral da Terra).

O Maranhão foi, pelo 3o ano consecutivo, o "campeão" em conflitos de terra no Brasil.


Na década petista, os estados com maior número de conflitos de terra no Brasil foram: Pará (1o lugar),
Maranhão (2o lugar), Pernambuco, São Paulo e Bahia.

E na geografia dos conflitos de terra no MA, observa-se claramente sua associação com a expansão do
agronegócio nas diferentes regiões do estado: soja, eucalipto, pecuária, cana de açúcar.

Bem como os conflitos envolvendo quilombolas, áreas indígenas, comunidades tradicionais.


Da mesma forma, quanto aos casos de trabalho escravo registrados no Maranhão.

E, no Maranhão, vemos de tudo: juízes e deputados escravocratas, advogados "progressistas" que


defendem latifundiários e grileiros.

E o SURREAL encontro de lideranças da dita oposição com o bispo responsável pela Pastoral da Terra
(CPT) para falar de.... PEIXE!!!
Da mesma forma, se fala da inflação do preço da farinha, mas nada se comenta sobre a expansão da
soja (que já ocupa 1/3 da área plantada).

Segundo essa lógica, os maranhenses deviam começar a comer soja...

A crise da farinha não é causada apenas pela estiagem, mas também pela dinâmica mais geral do
campo no MA.

Diante desse quadro, não basta falar da relação visceral da oligarquia com esse modelo, mas também
dos muitos "silêncios" da oposição...

E perguntar: quem e o quê, de fato, defendem???

Você também pode gostar