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ARRET - O Passado Do Planeta
ARRET - O Passado Do Planeta
DAL COL
Título Original: ARRET - O DIÁRIO DA VIAGEM
Registrado na Fundação Biblioteca Nacional sob nº 224.272
ISBN nº 85-901892-1-X
Código de barras nº 9788590189213
OBSERVAÇÕES:
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AO MESTRE, COM CARINHO
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J. A. DAL COL
ARRET
O AMANHÃ DA TERRA
O PASSADO DO PLANETA
ÍNDICE
DEDICATÓRIA
INTRODUÇÃO
O APARECIMENTO DE OLINTHO
A profecia do Homem do Cavalo Branco
O país de Olintho antes da sua ascensão
A chegada de Olintho ao governo
As primeiras ações
A reforma agrária e as agrovilas
Outras das principais realizações
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Os novos NTCA e a preparação para o trabalho
As atividades das juntas de governo
O início dos trabalhos nos NTCA
A construção e ocupação das habitações familiares
A mudança de mentalidade
DEDICATÓRIA
INTRODUÇÃO
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Visão geral
Nos anos anteriores àquele grande acontecimento, a situação geral dos
povos que viviam nos diversos países daquele planeta não era diferente do atual
padrão terrestre. Lá também havia diferenças sócio-econômicas entre os povos que
viviam nos países mais desenvolvidos, emergentes e subdesenvolvidos, bem como,
entre os habitantes desses países. Se comparados ao nível de costumes, rendas e
de comportamento social, a maioria dos habitantes do planeta tinha um modo de
vida semelhante àquele vigente nos países mais desenvolvidos da Terra nos idos
de 1960. De maneira geral, a população vivia tranqüila e segura, pois os crimes e
delitos rotineiros na atualidade terrestre constituíam um fato incomum em Arret.
Lá não havia o crime organizado, a máfia, o narcotráfico e a grande
maioria dos delitos comuns em nosso planeta, pois as legislações e costumes
sociais arretianos tinham forte fundamento religioso, como acontece em alguns
países do nosso globo. As transgressões legais eram encaradas como um “pecado
grave” e punidas com severidade. Na maioria dos casos, os condenados não
tinham o direito de recorrer às cortes superiores e eram punidos imediatamente.
Além da severidade das leis, a população tinha um alto grau de consciência
religiosa e uma visão quase fanática daquilo que as religiões terrestres denominam
como “pecado”.
Em razão da consciência religiosa e do menor grau de desigualdade
social entre os países arretianos, uma significativa parcela da população tinha um
bom nível de qualidade de vida e um razoável grau de atividades culturais e de
lazer, centradas nas práticas esportivas, na música, nas danças folclóricas e de
salão, além de passeios e viagens turísticas nos fins-de-semana ou nas férias. A
seguir, serão detalhados os principais aspectos do planeta e da sociedade arretiana
da época.
Raças e preconceitos
Havia quatro raças bem definidas e uma quinta composta por
cruzamentos delas. A mais representativa tinha a pele morena clara, cabelos
escuros e olhos predominantemente castanhos. Era seguida por uma raça de pele
bem clara, com cabelos quase sempre loiros ou ruivos e olhos verdes ou azuis. O
terceiro lugar era ocupado por uma raça amarela e alta, como os nossos chineses.
A quarta apresentava um tipo de pele semelhante à dos mulatos brasileiros, com
cabelos encaracolados ou crespos e olhos escuros. Os mestiços eram mais
parecidos com os atuais habitantes do planeta. Em Arret nunca existiu escravidão
como aqui conhecemos e o chamado trabalho forçado estava restrito a prisioneiros
de guerra ou a delinqüentes abrigados em colônias agrícolas. Os membros das
duas primeiras raças conviviam em harmonia e sem preconceitos entre si, pois
freqüentavam os mesmos locais de lazer e se casavam livremente. Quase toda a
riqueza e poder econômico estavam concentrados nas mãos dessas duas raças, as
quais controlavam os grandes negócios e atividades do planeta.
Seus membros desprezavam os componentes das raças amarela e
mulata que, por sua vez, demonstravam preconceitos raciais entre si. Os mestiços
eram aceitos pelas demais raças e não eram preconceituosos. Seus membros eram
espalhados por quase todos os países e formavam um povo bonito, alegre e festivo,
sem apego a radicalismos religiosos e sociais. Ao contrário do padrão terrestre, as
cinco raças arretianas não viviam isoladas ou mais concentradas em alguns países
ou regiões do planeta. Apesar de haver maior nível de concentração em bairros,
cidades e até em alguns países, lá era possível encontrar grupos representativos de
todas elas em quase todos os locais, pois Arret era mais globalizado que a
atualidade terrestre.
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Formas de governo
Nos seis continentes equatoriais, em uma pequena parte do continente
polar norte e em inúmeras ilhas de grande porte, havia uns 450 países e territórios
independentes. Cerca de 250 deles adotavam um regime democrático com eleições
em todos os níveis executivos e legislativos. Uma parte dos países democráticos
adotava um regime semelhante ao nosso parlamentarismo, com um primeiro
ministro e sem a figura do presidente da república. Mais de uma centena de países
eram monarquias parlamentaristas compostas por um rei e por um primeiro
ministro. Os demais tinham governos totalitários, controlados por um ditador ou por
uma junta militar.
Com pequenas variações, os países tinham um governo federativo,
governos estaduais ou provinciais e, nos maiores, governos municipais. O direito ao
voto não era obrigatório, era conquistado aos 21 anos e somente por pessoas com
certo grau de instrução, ou nível de renda, ou por aqueles que pertenciam à classe
empresarial. Quase todos os países democráticos tinham eleições majoritárias e
legislativas semelhantes ao padrão terrestre e com apenas um turno, onde os mais
votados eram os eleitos. As monarquias e governos totalitários indicavam os demais
níveis do executivo e nesses países havia apenas eleições legislativas ou para o
primeiro ministro.
Relações internacionais
Havia um certo padrão nas relações entre os países em função da força
que representava a ONU arretiana, criada cerca de 150 anos antes da grande
transição e formada por representantes de todas os países e territórios
independentes. Ela atuava como um poder legislativo e judiciário a nível global, pois
sua amplitude operacional abarcava os mais variados setores da sociedade
planetária. Suas propostas eram aprovadas ou rejeitadas em assembléia e cada
membro tinha um voto de valor variável, definido através de uma fórmula que levava
em conta a população, o nível de atividades econômicas e vários indicadores
sociais. Se algum país não seguisse suas recomendações, ficava sujeito a vários
tipos de sansões econômicas, incluindo o bloqueio do acesso aos satélites de
comunicação geridos por aquele poderoso organismo.
Apesar desse rigor, ela agia com neutralidade e não interferia nos
princípios de soberania de seus membros, inclusive nos casos das freqüentes
guerras entre eles, quando procurava evitar ou abreviar os conflitos por meios
diplomáticos, sem aplicar sansões diretas, a menos que a contenda prejudicasse
outros países não envolvidos. Apesar dos arretianos nunca terem se envolvido em
guerras do tipo mundial e nunca terem produzido armas de destruição em massa ou
bombas de alto poder destrutivo, eles eram um povo altamente belicoso e sempre
havia países em guerra pelos mais diversos motivos. Além de expansão territorial e
econômica, o maior provocador de conflitos eram as questões religiosas,
semelhantes àquelas que ocorrem em alguns países da Terra.
As guerras, apesar de sempre existirem em todos os continentes
arretianos, ocorriam com maior freqüência em dois deles, um dos quais era o
campeão em número de conflitos. A maioria dos países que formavam esses
continentes era governada por dinastias reais, ditadores, ou juntas militares e seus
habitantes apresentavam um alto grau de fanatismo religioso. Apesar das guerras
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entre muitos deles, as relações entre a maioria dos países eram intensas ao nível
de comércio exterior, intercâmbio de tecnologias e exploração espacial, pois em
quatro continentes havia um mercado comum muito ativo, iniciado na quinta década
anterior à grande transição.
Agricultura
Como toda a população era vegetariana, a agricultura ocupava uma
porção significativa do solo e era bem distribuída por todo o planeta. Havia uma
grande quantidade de pequenas propriedades familiares que praticavam uma
agricultura orgânica bastante diversificada e voltada para a produção de verduras,
legumes e frutas. Também criavam peixes que faziam parte da dieta alimentar de
uma parcela significativa da população. Havia grandes propriedades voltadas para
a monocultura de alguns tipos de cereais, onde utilizavam máquinas sofisticadas e
projetadas para os mais variados tipos de serviços.
Os agricultores formavam uma classe com bom nível de renda e muito
respeitada pelos habitantes das zonas urbanas, que não os viam com “matutos ou
caipiras”. Eles tinham um modo de vida bastante confortável, pois dispunham de
muitas das facilidades encontradas nas cidades, como a energia elétrica, a telefonia
e a televisão. A eletrificação rural era quase toda oriunda da energia solar, cujo uso
era bastante difundido em todo o planeta, inclusive nas zonas urbanas. O
associativismo era uma realidade em quase todos os países e os agricultores,
especialmente os familiares, se reuniam em grandes cooperativas que
desempenhavam diversas funções e forneciam apoio técnico em todas as fases do
processo produtivo, além de recolher, armazenar e comercializar a produção e
distribuir os lucros aos seus associados. Essas cooperativas também mantinham
escolas, postos de saúde, clubes recreativos, colônias de férias e outras atividades
em conjunto com os poderes públicos.
Indústria
Todos os países contavam com parques industriais significativos,
diferenciados pelo menor ou maior desenvolvimento tecnológico de seus
equipamentos e produtos. Como regra geral, os países eram auto-suficientes
quanto as suas necessidades básicas e isso ocorria em função das constantes
guerras que envolviam muitos deles, durante as quais não podiam depender de
suprimento externo. Os países mais desenvolvidos tinham indústrias altamente
robotizadas e produziam todos os tipos de bens, especialmente os de alta
tecnologia, como os eletrônicos, aviões e outros. Nos mais pobres, suas indústrias
se limitavam à produção dos bens de consumo básico, máquinas e ferramentas
utilizadas pela suas respectivas populações.
Ao contrário daquilo que acontece na Terra, a produção industrial
primava pela qualidade e durabilidade dos bens produzidos. Os produtos
descartáveis ou de baixa duração, limitavam-se àqueles que tinham esse tipo de
vocação, como barbeadores, copos descartáveis e escovas dentais. Em função do
grande mercado comum que vigorava em quatro dos seis continentes, a produção
industrial seguia padrões rígidos de qualidade e a competitividade era baseada na
versatilidade, utilidade e durabilidade de cada produto, onde o preço era objeto de
uma criteriosa análise de custo e benefício por parte dos consumidores. A
sociedade arretiana não era dada a modismos, mesmo com relação a roupas e
aparelhos eletrônicos. Os novos modelos eram lançados somente quando
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apresentavam aperfeiçoamentos significativos ou uma utilidade real que atendesse
uma nova necessidade daquela exigente e conservadora sociedade de consumo.
Era comum um modelo de veículo permanecer inalterado durante anos ou décadas,
a exemplo daquilo que presenciamos com relação a alguns veículos produzidos em
nosso país nas décadas passadas.
Educação e cultura
A ONU arretiana também estabelecia um padrão educacional mínimo e
todos os países mantinham um sistema com cursos gratuitos até o equivalente à
nossa oitava série, quando os alunos dominavam a língua pátria, a matemática e
outras matérias básicas, além de uma forte noção de direitos, deveres e cidadania.
Os professores eram bem preparados, exigentes e respeitados pelos alunos, pelos
pais e pela sociedade em geral. Quase todos os países ofereciam uma educação
básica de qualidade e o nível de analfabetismo era insignificante em todo o planeta.
Muitos países estendiam o ensino gratuito ao nível seguinte e ofereciam vários
cursos profissionalizantes de nível médio. Alguns mantinham a gratuidade nos
cursos de graduação e para acesso a eles não havia vestibulares, pois os alunos
eram selecionados a partir de notas médias obtidas nos cursos públicos inferiores.
Como as vagas não eram suficientes para todos, somente os mais esforçados e
bem preparados podiam estudar em universidades públicas.
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Porém, em todos os países havia escolas básicas, de nível médio e
universidades particulares voltadas para as classes mais abastadas, as quais
também eram freqüentadas por alunos das classes sociais inferiores que recorriam
a financiamentos governamentais, renovados a cada ano, desde que os alunos
fossem aprovados. Os pagamentos eram exigidos a partir do segundo ano após o
término do curso de graduação, em parcelas mensais e com descontos
proporcionais à média das notas obtidas. Em todas as escolas havia avaliações
periódicas e ao final de cada ano letivo. Os certificados de conclusão especificavam
as notas obtidas em cada matéria e as médias gerais para acesso aos níveis
superiores e para obtenção de descontos, no caso de financiamento
governamental. As notas e as médias também eram consideradas para acesso ao
mercado de trabalho e esse costume obrigava os alunos a serem aplicados,
disciplinados e altamente competitivos.
Quase toda a população tinha um leque variado de atividades culturais
que se confundiam com as de lazer, descritas mais abaixo. A música era uma das
principais paixões dos arretianos de todas as classes sociais e apresentava
gêneros semelhantes àqueles que existiam na Terra nos idos de 1960. Porém, em
todos os países havia uma predileção por músicas de três tipos básicos: clássico,
romântico e regional. Os arretianos também apreciavam a dança em grandes
salões onde predominavam as canções românticas ao estilo das grandes
orquestras dos anos 50 a 70 do nosso século passado. As televisões apresentavam
noticias, filmes e muitos programas musicais e de variedades. O cinema era muito
ativo em variados gêneros, predominando as produções referentes a feitos bélicos
daquela época ou do passado arretiano, além de filmes religiosos. O teatro, com
peças cômicas, românticas, dramáticas, musicais ou religiosas, era bastante
elitizado e voltado para as camadas mais abastadas.
Transportes
A maioria das cidades arretianas tinha três ou mais séculos de idade e
ruas estreitas nas áreas centrais que dificultavam e até impediam o tráfego de
veículos particulares, os quais, geralmente, eram impedidos de circular nessas
áreas. Naquelas onde o tráfego era liberado, esses veículos pagavam pedágios
caros e acessíveis apenas às classes mais abastadas. Nas cidades mais novas e,
principalmente naquelas construídas segundo o padrão definido pela ONU arretiana
nos 100 anos anteriores à grande transição, havia total liberdade de circulação, com
prioridade para os veículos coletivos da eficiente rede de transportes públicos. Em
muitas cidades antigas de médio ou grande porte e em quase todas as novas, havia
uma rede de trens subterrâneos e aéreos de grande velocidade e totalmente
integrados aos demais veículos de transporte coletivo.
A maior parte dos carros particulares era de pequeno porte,
acomodavam de dois a cinco passageiros e eram movidos por motores elétricos
acionados por eficientes baterias, cuja autonomia média era superior a 100
quilômetros. Elas eram recarregadas, tanto pela energia elétrica convencional,
como por sofisticadas e eficientes células fotovoltaicas que formavam uma boa
parte da carenagem desses veículos. Muitos deles tinham três rodas e
acomodações para dois a três passageiros, substituindo as nossas motocicletas
que lá não existiam. De maneira geral, a frota de veículos particulares era
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proporcionalmente menor que a terrestre e concentrada nos países desenvolvidos
ou emergentes. Porém, todas as famílias tinham um ou mais triciclos com um a
quatro assentos e respectivos pedais, pois os arretianos não utilizavam bicicletas de
duas rodas.
Os veículos particulares e outros de maior porte, incluindo as máquinas
agrícolas, tinham motores a explosão e utilizavam diversos tipos de combustíveis
provenientes de óleos fósseis ou vegetais, além de alguns tipos de gases, incluindo
o hidrogênio, o qual era direcionado, prioritariamente, ao transporte de cargas e de
passageiros. Quanto ao transporte aéreo, contavam com uma grande frota de
aviões de diversos tamanhos, com formato tubular ou elíptico. Havia pequenos
aviões com hélices acionadas por motores a explosão e outros movidos a jato. Os
maiores utilizavam propulsores a jato e muitos atingiam velocidades superiores à do
som. Esses supersônicos guardavam alguma semelhança com o “Concord” e o
ônibus espacial americano. Como fruto das atividades espaciais que atingiram
grande desenvolvimento nos anos anteriores à grande transição, alguns países
estavam testando protótipos de aviões sem asas que se sustentavam e se
deslocavam através de um novo princípio, semelhante àquele utilizado pelas naves
arretianas da atualidade.
Para realizar viagens turísticas a pequenas localidades ou a áreas
florestais, os arretianos também utilizavam helicópteros de diversos portes
oferecidos por várias locadoras, pois a habilitação para pilotar pequenos aviões e
helicópteros era tão comum em Arret, como a habilitação de motociclista na Terra.
Como muitos motoristas também pilotavam pequenas aeronaves, havia muitas
companhias que alugavam esses aparelhos, com as mesmas facilidades que aqui
alugamos carros. Os transportes marítimos intercontinentais eram voltados para
cargas, limitando o transporte de passageiros ao turismo costeiro, realizado por
navios de vários portes. Quase todos os arretianos das classes mais abastadas
possuíam lanchas ou iates em alguma das inúmeras marinas existentes em todas
as localidades turísticas marítimas ou fluviais. Como acontecia com os carros e
aviões, nesses locais havia locadoras que ofereciam lanchas e outros
equipamentos para a prática de esportes aquáticos, os quais eram uma paixão
entre os arretianos de todas as classes sociais.
Comunicações
A rede de comunicações era suportada por satélites interligados que
cobriam todo o planeta e era operada, administrada, mantida e aprimorada pela
ONU arretiana desde os cinqüenta anos anteriores à grande transição. As tarifas
eram calculadas para cobrir os custos com uma pequena margem de lucro, pois a
exploração desses serviços era a principal fonte de recursos para manter a
estrutura operacional daquele poderoso organismo e seus inúmeros programas
sociais a nível planetário. Em cada país foi criada uma empresa estatal ou privada
para operar uma concessão que incluía a transmissão de voz, dados e imagens. No
decorrer dos vinte anos seguintes, todos os países abandonaram a telefonia fixa
que existia no planeta há quase dois séculos e implantaram um sistema móvel sem
restrições de áreas, regiões ou países.
Com isso todos os arretianos passaram a ter acesso a um serviço
telefônico abrangente, de boa qualidade e a baixo custo, pois era acessível aos
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usuários de todas as classes sociais. Os serviços eram pré-pagos através de
cartões com tarja magnética, os quais eram vendidos em todos os estabelecimentos
comerciais e podiam ser inseridos em qualquer telefone. Com essas facilidades e o
baixo custo dos serviços, quase todos os habitantes tinham um telefone móvel
desde a infância e seu número era mantido por toda a sua vida, como uma espécie
de identidade pessoal.
Mais de um terço das famílias do planeta e todas as empresas também
dispunham das mesmas facilidades para comunicação entre seus computadores
através de uma rede semelhante à nossa Internet, implantada e utilizada de
maneira crescente desde os 45 anos anteriores à grande transição. A ONU
arretiana era o provedor principal e em cada país havia um provedor secundário
que era a mesma empresa estatal ou privada que detinha a concessão de telefonia.
A ligação do computador ao provedor era realizada com a mesma tecnologia da
telefonia móvel. Apesar de resolver uma grande variedade problemas sem sair de
casa ou do local de trabalho, a Internet arretiana não era tão abrangente e aberta
como a nossa. Nela não havia “sites” de pornografia ou de assuntos banais e nem
vírus que danificavam programas de computadores.
O rádio foi implantado no planeta com a telefonia fixa e havia uma
grande quantidade de emissoras presentes em quase todas as pequenas cidades
do planeta. Como na Terra, o rádio sempre teve grande aceitação junto aos
arretianos, mesmo após o surgimento da televisão e da rede de computadores. A
televisão funcionava somente com canais por assinatura e, além daqueles com
programação variada, havia canais especializados em notícias de interesse geral,
esportes, documentários, filmes, programas religiosos e atividades governamentais.
Em cada país, a ONU arretiana fornecia concessões para funcionamento de até
três canais com o mesmo tipo de programação, segundo critérios por ela definidos.
Quase todos os arretianos tinham um ou mais aparelhos de televisão e as taxas de
assinatura eram bastante acessíveis, pois havia pacotes para atender todas as
faixas de renda, inclusive, para acesso a canais de outros países.
Além da rede de computadores, do rádio e da televisão, em cada país
havia uma quantidade maior ou menor de jornais, revistas e periódicos adquiridos
por assinatura, ou em livrarias e estabelecimentos comerciais. Somente as grandes
cidades dispunham de jornais diários e tanto eles, como as revistas e periódicos,
podiam ser acessados pela Internet arretiana. Lá não havia bancas de jornal como
aqui conhecemos e sim muitas livrarias que vendiam uma infinidade de livros sobre
os mais variados assuntos, predominando os religiosos. Todos os livros também
podiam ser adquiridos em versão eletrônica através da rede de computadores e
podiam ser lidos em computadores convencionais ou em equipamentos portáteis
que simulavam um livro, armazenavam dezenas ou centenas deles e permitiam
diversas interações com o texto.
Tecnologia
A nível geral, a tecnologia arretiana era bem superior à terrestre do final
do século vinte e somente com relação a alguns produtos eletrônicos populares
havia alguma semelhança com os seus similares terrestres de alta tecnologia e
ainda pouco acessíveis ao grande público. Na informática, produziam sofisticados
computadores de grande porte e pessoais, extremamente compactos, possantes e
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de baixo custo, pois já dominavam uma tecnologia com alto índice de
miniaturalização que, entre nós, ainda encontra-se em estágio inicial de pesquisa e
é conhecida como nanotecnologia. Ao nível de software aplicativo, havia uma
infinidade de programas educacionais e outros que controlavam, executavam ou
auxiliavam na execução das mais variadas atividades. Os programas educacionais
abrangiam todos os ramos do conhecimento e, além de excelentes recursos
gráficos, utilizavam avançados conceitos de inteligência artificial, eram bastante
amigáveis, obedeciam a comandos de voz e dispensavam, em muitos casos, o uso
de outros dispositivos de entrada de dados.
A tecnologia estava presente em outros ramos da ciência e era bastante
utilizada na medicina. Além de sofisticados aparelhos de análise e diagnóstico,
realizavam implantes de alguns órgãos mecânicos de alta eficiência, como era o
caso do coração. Também dominavam o código genético contido no DNA humano e
preparavam medicamentos e vacinas, de uso genérico ou personalizado para
combater as mais diferentes enfermidades, pois lá não havia nenhuma doença
incurável. Apesar dos arretianos não praticarem a clonagem humana, em função
das fortes pressões religiosas, eles produziam clones de vários animais e tinham
completo domínio da genética vegetal. Nesse ramo da ciência, combinavam
espécies, criavam novas variedades mais resistentes e aumentavam ou diminuíam
seus teores de vitaminas, proteínas e outros princípios ativos. Nessa mesma linha,
produziam uma grande variedade de sementes geneticamente modificadas.
Na área espacial dominavam uma tecnologia de propulsão, sustentação
e deslocamento que não utilizava foguetes e guardava alguma semelhança com
aquela utilizada pelas naves arretianas da atualidade. Essa tecnologia permitia
longas viagens e com isso, já haviam enviado missões tripuladas a dois planetas
vizinhos. Também realizavam vôos regulares às suas três luas, onde mantinham
bases de estudo e pesquisa, especialmente na maior, que dispunha de atmosfera
respirável, vida animal e vegetal. Os arretianos já haviam detectado a existência de
vida inteligente em dois planetas do seu sistema estelar e estavam se preparando
para enviar missões tripuladas quando sobreveio a grande transição.
Urbanismo e habitações
Cerca de sessenta por cento da população vivia em áreas urbanas e
poucas cidades tinham mais de 500 mil habitantes. A grande maioria abrigava uma
população inferior a 50 mil. Dentre as maiores, algumas ultrapassavam a casa dos
cinco milhões e a maioria delas tinha uma população situada entre um e três
milhões de habitantes. Todas as cidades implantadas ou ampliadas nos 100 anos
anteriores à grande transição obedeceram a um novo padrão urbano definido pela
ONU arretiana e apresentavam baixo nível de adensamento populacional. Seus
habitantes residiam em casas térreas ou assobradadas de madeira, construídas em
terrenos fartamente arborizados, com um mínimo de vinte metros de frente e
cinqüenta de fundo. Dez desses terrenos formavam uma quadra e elas eram
divididas por alamedas com muitas árvores e flores. Um conjunto variável de
quadras residenciais, comerciais e de serviços formava um bairro e estes, uma área
de expansão urbana ou uma nova cidade.
Mesmo sem os variados contrastes que observamos em nosso planeta,
Arret também apresentava vários modelos urbanos. Havia uma grande quantidade
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de cidades planejadas e construídas segundo o padrão definido pela ONU
arretiana, o qual lembrava o plano piloto de Brasília. Esse padrão era utilizado para
criar novas cidades ou para expandir as já existentes. Por outro lado havia cidades
e povoados antigos que apresentavam ruas estreitas e edificações de todos os
tipos, tamanhos e formatos. Nas áreas centrais das médias e grandes cidades havia
muitos prédios suportados por colunas metálicas e paredes que utilizavam materiais
leves e a madeira, tanto ao natural, como em placas industrializadas. Eles eram
destinados a atividades comerciais ou de serviços e apresentavam diversos
tamanhos, formatos e alturas. Em Arret não havia favelas e quase toda a população
urbana residia em casas próprias. O percentual de desabrigados e daqueles que
moravam em condições precárias era insignificante e somente sensível em algumas
regiões interioranas dos países mais pobres. Toda a população rural morava em
casas próprias ou naquelas oferecidas pelos proprietários das terras aos seus
trabalhadores.
Esportes e lazer
Em função do menor grau de desigualdades sociais entre os diversos
povos, havia um razoável leque de atividades de lazer à disposição de uma
significativa parcela da população. Essas atividades estavam relacionadas com as
práticas esportivas, a televisão, o cinema, o teatro, a música, as danças folclóricas e
de salão, além de passeios e viagens turísticas de fins-de-semana ou de férias.
Porém, como também acontece em nosso planeta, somente as classes mais
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abastadas tinham acesso a pacotes, equipamentos e tipos diferenciados de
entretenimentos. Esse seleto grupo freqüentava os melhores hotéis e centros de
lazer do planeta, além de ter acesso a espetáculos culturais e esportivos somente
ao alcance das elites. Tirando essa pequena parcela de privilegiados, a maior parte
da população tinha várias opções de lazer, tanto culturais, como esportivas. O
restante tinha um leque de opções restritas à televisão, cinemas, espetáculos
musicais populares, esportes de massa e balneários públicos.
Apesar dos arretianos daquela época terem mais opções de lazer que a
humanidade terrestre, havia um maior nível de racismo e de elitismo das estruturas
turísticas de quase todos os países. Havia uma nítida separação entre as duas
raças dominantes e as demais. Além desse problema racial, em muitos países
também havia separações entre os seguidores das principais correntes religiosas,
parecendo torcidas organizadas que não se juntavam em um mesmo local. Outro
fator que restringia as atividades de lazer era motivado pela política de férias e de
descanso semanal adotada em vários países.
De maneira geral, as opções de lazer não se afastavam muito do atual
padrão terrestre, apesar de sua maior socialização. Havia grandes e luxuosas
estruturas nos mais diversos pontos do planeta, incluindo algumas localizadas na
lua que tinha atmosfera respirável. Havia praias e balneários marítimos e fluviais em
quase todos os países, além de uma grande rede de teatros, cinemas, salões de
bailes, restaurantes, museus e locais específicos para as mais variadas práticas
esportivas. Muitos dos esportes de massa da época eram semelhantes aos nossos
e igualmente competitivos. Alguns eram muito violentos e guardavam alguma
semelhança com as nossas lutas marciais e antigos combates de gladiadores, ou
entre cavaleiros medievais. Na maioria das modalidades esportivas, os atletas e
suas torcidas apresentavam um elevado grau de fanatismo e de animosidade com
relação aos seus adversários. Apesar da grande variedade, os esportes com maior
número de adeptos eram os aquáticos, predominando a natação e o mergulho
praticado por todas as classes sociais.
Religião
Com raras exceções localizadas em poucos países, a religião era
praticada com alto grau de fanatismo e muita intransigência, tanto entre as diversas
correntes religiosas, como com relação a falhas de comportamento dos seus
membros. Os cultos e cerimônias religiosas eram realizados em edificações
próprias, geralmente grandes e luxuosas, com uma arquitetura mais ou menos
padronizada e correspondente a cada uma das cinco corrente religiosas principais e
suas vertentes mais significativas. Quase todos os dirigentes e membros das
diversas correntes tinham uma visão diferenciada da Lei Divina, de Deus, dos seus
Messias planetários e de seus vários mensageiros.
Muitos países também utilizavam textos de seus livros sagrados como lei
civil e penal, os quais definiam os diversos tipos delitos, ou de “pecados”. Muitos
deles eram considerados como transgressões graves e, além de “serem cobrados
após a morte”, também eram pagos em vida com o desprezo da sociedade e outros
inconvenientes mais graves, como a mutilação de órgãos e a pena de morte. Com
poucas exceções, os arretianos apresentavam um alto grau de animosidade e uma
grande dureza de coração com relação àqueles que não praticavam o seu credo
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religioso. Esses povos apresentavam um comportamento semelhante àquele que
envolve os judeus e os palestinos sem, contudo, envolver o nível de atentados e de
violência que esses povos praticam.
Em Arret havia cinco grandes correntes religiosas com inúmeras
ramificações e, em sua maioria, elas eram antagônicas e concorrentes entre si.
Uma delas era semelhante ao nosso Cristianismo, pois havia sido criada após a
última aparição de Ahelohim, o Messias planetário, como o nosso Jesus. Apesar de
seguir o mesmo livro sagrado, essa corrente apresentava duas vertentes básicas,
uma com poucas subdivisões e outra com uma infinidade de denominações,
semelhante aos nossos Evangélicos. Nos cinqüenta anos anteriores à grande
transição, essa vertente apresentou um grande crescimento, tanto ao nível de
adeptos, como de denominações e de templos. Esse processo sofreu uma grande
aceleração em função do novo sistema de comunicações implantado pela ONU
arretiana, quando quase todos os habitantes passaram a contar com um ou mais
aparelhos de televisão em suas casas.
Com isso, os “evangélicos” arretianos multiplicaram suas denominações
e construíram tantas igrejas nos mais diversos recantos do planeta, sendo difícil
encontrar uma pequena cidade que não tivesse 5 a 10 delas, de denominações
diferentes e concorrentes entre si. As discussões entre seus membros eram
acirradas e, em algumas delas existia tamanho grau de fanatismo, que seus
adeptos praticavam muitas barbaridades em nome de Deus e de Ahelohim.
Algumas dessas denominações formavam grandes impérios econômicos e
possuíam igrejas em quase todos os países, além de estações de rádio, canais de
televisão, jornais, revistas e portais na Internet, dominando completamente a rede
de comunicações necessárias à expansão de suas atividades. Algumas das mais
poderosas estavam também inseridas no sistema financeiro, como acionistas
minoritários ou majoritários de bancos e outras entidades desse sistema.
O APARECIMENTO DE OLINTHO
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Fernando Collor também criou grandes novidades, como o seqüestro da
poupança popular, suas camisetas com mensagens dominicais, demonstrações
de juventude e esportividade, além de abrir as portas de sua intimidade
palaciana e pessoal. Ele tornou-se o primeiro presidentes a ser deposto pela
mobilização popular dos “caras pintadas” e motivou o início de um ciclo
crescente de CPI’s sobre a corrupção.
As coisas novas ou incomuns continuaram acontecendo. Novamente o vice-
presidente assumiu. Itamar Franco criou o Plano Real e escolheu um sociólogo
para implantá-lo, quando tudo estava definido e ajustado pelos ministros da
fazenda que o antecederam. Com isso, Fernando Henrique conseguiu eleger-se
presidente e, depois de negociar com o congresso a aprovação da reeleição
para cargos executivos, assumiu seu segundo mandato em meio a uma grande
crise do sistema financeiro internacional, o qual nos motivou a escrever um livro
sobre a profecia do “Homem do Cavalo Branco”, conforme está registrado em
Arret - O Diário da Viagem.
É interessante observar que a primeira metade do texto, até a frase “irão
derrubar a viga mestra da confusão”, não requer interpretação, pois não apresenta
dificuldades para identificação dos personagens, situação no tempo e
acontecimentos correlatos. Porém, a partir da frase seguinte o texto apresenta
sérias dificuldades para interpretação. Assim como o longo período do regime militar
é referenciado apenas como “o período crítico”, a frase “então muita coisa nova vai
acontecer” parece também abarcar um longo período de tempo que inclui os
parágrafos seguintes e a seguir comentados, até o aparecimento do “homem
franco, sincero e leal”.
Muitos homens, mulheres e crianças já sofreram e continuam sofrendo as
conseqüências justas e injustas dos erros provocados pelos governos anteriores
e pela própria situação internacional. A distância entre ricos e pobres vem
aumentado a cada ano e a qualidade da educação e da saúde vem piorado,
assim como, vem aumentado o número de desempregados e daqueles que
vivem abaixo da linha da pobreza.
É difícil afirmar que, após os anos de chumbo do regime militar, o regime foi
“combatido e até abalado”, principalmente, se a frase for analisada pela ótica
convencional. Porém, se analisada de uma maneira ampla e sob a ótica do
“então, muita coisa nova vai acontecer”, a frase pode ser interpretada de uma
maneira válida.
Assim como o terrorismo e as guerrilhas representam alto nível de insegurança
para a população e, conseqüentemente, para a nação, o crime organizado, o
narcotráfico, as invasões lideradas pelos movimentos dos sem-terras e sem-teto
representam situações semelhantes e até mais graves que o terrorismo e as
guerrilhas dos anos de chumbo, pois todos que vivem no campo ou nas cidades
estão sujeitos às suas ações.
Juntamente com a criminalidade crescente e suas variadas facetas
representadas por roubos, assaltos e seqüestros associados ao narcotráfico que
provoca o desencaminhamento, a morte de tantos jovens, a insegurança e a
desestabilização de muitas famílias pode ser interpretada como um combate e
abalo do regime, pois as famílias formam a base da sociedade de um país.
25
Durante os longos anos do regime militar não ocorreram tantas mortes e
seqüestros como nos últimos anos de reinado do crime organizado e do
narcotráfico, cuja atuação, abrangência e poder aumenta a cada ano. Algumas
autoridades e repórteres já associaram o fato a um poder paralelo a ser
combatido como se fosse uma guerrilha urbana, inclusive, defendendo a
convocação das forças armadas, como já aconteceu em alguns estados do
nosso país.
Porém, não é difícil constatar que o Brasil está se tornando um país respeitado
pelas grandes nações e que a maioria dos homens que governaram nosso país,
ou foram o esteio da situação até o final do período ditatorial, já foram
”chamados a prestar contas a Deus”.
Apesar de que sempre estiveram em atividade, os elementos da natureza estão
começando a agir de maneira crescente, abrangente e inusitada em todos os
locais do planeta. São cada vez mais freqüentes as notícias sobre ondas de
calor em locais normalmente frios, enchentes em locais predominantemente
secos ou a situação inversa, além de ressacas, furações, maremotos, quebras
de safras agrícolas e populações famintas, “não só no Brasil, mas também no
mundo”.
Mesmo com esses indicadores de anormalidade, ainda não é prudente acreditar
que até o final do ano de 1999, o “sol, as enchentes e o frio já criaram fome e
desespero, não só no Brasil, mas também no mundo”.
Cremos que estamos atravessando esse período e, por essas e outras razões
podemos afirmar que até o advento do presidente Fernando Henrique Cardoso,
nenhum dos governantes anteriores, incluindo ele mesmo, representaram ou
eram o “Homem do Cavalo Branco”. Ainda não chegamos “no final de tudo”, ou
no fundo do poço.
Durante os quatro anos que restam ao seu governo, ou ao do seu sucessor, essa
situação poderá se consolidar e abrir caminho para o aparecimento do homem
que “dará uma nova personalidade nos destinos do Brasil, corrigindo injustiças e
fazendo voltar a confiança e a esperança no futuro do Brasil”.
Além daquilo que a profecia descreve sobre o seu personagem central,
existem poucas informações orais ou escritas sobre esse ser extraordinário.
Resumimos abaixo aquelas que conseguimos acessar ao longo dos últimos vinte e
quatro anos. Elas foram obtidas em livros canalizados, como aqueles ditados por
Ramatis, ou através de outras mensagens espirituais, além de inúmeras conversas
com dezenas de pessoas e sensitivos que tinham alguma informação a respeito.
Registraremos apenas aquelas que atenderam a um critério de concordância geral.
Trata-se de um ser de elevada hierarquia espiritual que atua nas linhas do poder
e da justiça, especialmente, a da justiça, pois ele é um arcanjo dessa linha.
Ele não pertence à hierarquia espiritual da Terra e já dirigiu mundos com governo
planetário, como o arretiano.
Seu advento será precedido por um crescente interesse pelas questões de
justiça e punições de crimes de diversas naturezas, especialmente, os de
corrupção ativa e passiva.
Sua chegada ao governo se dará por caminhos diferentes dos padrões até então
vigentes, podendo ser através de um “golpe de estado”, ou pela eleição ou
26
indicação de alguém que não apresenta as condições usuais que elegeram seus
antecessores.
Ele se tornará um líder interno e externo, muito querido pelo povo brasileiro,
especialmente pelos mais humildes.
Sua missão é preparar o Brasil e o povo brasileiro para a transição planetária,
exemplificando, para os demais países da Terra um novo padrão de governo
centrado na justiça social e na fraternidade.
Apesar das dificuldades para análise e interpretação da parte final da
profecia, sua primeira parte é surpreendente e nos obriga a raciocinar a respeito
das suas possibilidades e significados ainda ocultos. Em última análise, é alentador
saber que poderemos ter um presidente “franco, sincero e leal” que “dará uma nova
dimensão e personalidade nos destinos do Brasil, corrigindo injustiças e fazendo
voltar a confiança e a esperança no futuro”. Somente por essas razões, vale à pena
acreditar que, mesmo que o Brasil e o mundo cheguem ao fundo do poço, existe a
esperança de um futuro melhor. Considerando que Olintho é o provável “Homem do
Cavalo branco” e que, assim sendo, os destinos do Brasil será colocado em suas
competentes mãos pelas “Forças Supremas que habitam o Cosmos”, é importante
conhecer uma parte do trabalho que ele realizou em Arret durante os três anos
anteriores à grande transição, durante ela e nos dez anos seguintes, onde foi o “fiel
da balança” junto a todos os povos daquele planeta.
32
Todas as câmaras legislativas e partidos políticos seriam extintos e substituídos
por uma representação popular sediada em cada município, com poderes
legislativos e fiscalizadores nos três níveis executivos e judiciários.
Esses parlamentares seriam eleitos dali a seis meses e seguiriam novos critérios
para registro de candidaturas, campanha eleitoral e desempenho de suas
funções legislativas e fiscalizadoras, de maneira a representar efetivamente a
vontade popular.
Os resultados do referendo e da eleição foram anunciados no final da
noite e o dia seguinte, equivalente a um domingo, foi marcado por comemorações
em todo o país. Em pouco mais de uma semana foram indicados todos os
governadores, prefeitos e demais colaboradores das três esferas de governo. As
posses gerais foram realizadas no segundo sábado seguinte à realização do
referendo. A do governo federativo acorreu às oito horas da manhã, a dos governos
estaduais às dez e a dos governos municipais ao meio dia. Assim procederam para
que todos pudessem acompanhar as solenidades ao vivo ou pela televisão e
tivessem o restante do fim de semana para descansar e festejar, pois esse era o
espírito daquele povo alegre e fraterno que adorava festividades e estava muito feliz
e confiante no futuro.
A solenidade de posse do governo federativo foi presenciada por uma
grande multidão, além de toda a população que acompanhava o acontecimento
pela televisão. Depois de empossado e antes de iniciar seu discurso, Olintho pediu
a proteção divina e a colaboração da população para a grande tarefa que tinha pela
frente, convidando a todos para se darem as mãos e acompanhá-lo em uma oração
muito popular em seu país, equivalente ao “Pai Nosso”. Aqueles que assistiam pela
televisão procederam da mesma forma e foi um momento marcante na mente de
todos os habitantes, pois, além da emoção e da grande onda de energia positiva
gerada pela população, aconteceu um fenômeno incomum assim que terminaram a
oração.
Logo que Olintho começou a relatar as linhas mestras do seu programa
de governo, surgiu no horizonte, em frente ao palanque, uma grande nave elíptica
seguida de outras seis menores, formando uma ponta de flecha, ou a letra “V”. Elas
estacionaram a uns dois quilômetros da grande praça a uma altitude de uns mil
metros, a fim de não causar pânico na multidão. Olintho e todos que estavam no
palanque foram os primeiros a perceber a aproximação e, quando elas
estacionaram, ainda não tinham sido percebidas pela multidão.
Ele interrompeu seu discurso, começou a falar sobre aqueles que
denominava como “amigos das estrelas” e pediu para que todos mantivessem a
calma e observassem as naves sem medo, pois eram amigos de todos que ali
estavam. A multidão ficou surpresa e maravilhada com aquele acontecimento e
manteve um estado de ânimo positivo, pois esses avistamentos não eram um fato
incomum no planeta e muito menos naquele país. Enquanto isso, a formação
começou a se aproximar piscando um conjunto de luzes que acompanhava uma
suave melodia religiosa muito conhecida por todos, tal qual a nossa “Ave Maria”. O
deslocamento durou uns três minutos e todos, além de emocionados, pareciam
estar hipnotizados durante esse tempo.
Quando as naves ultrapassaram o palanque, fizeram uma manobra de
verticalização, quando a letra “V” ficou visível por alguns segundos. Depois,
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voltaram à posição inicial com a ponta ligeiramente inclinada para baixo e voltada
para a multidão, permitindo que fossem vistas sem desviar a atenção do palanque.
Assim permaneceram durante uns vinte minutos que durou o discurso de Olintho.
Quando ele terminou e fez um agradecimento aos “amigos das estrelas”, as naves
voltaram a piscar suas luzes e a tocar a mesma melodia enquanto se deslocavam
até o ponto onde estacionaram inicialmente. Depois de lá permaneceram por alguns
segundos, desfizeram a formação e desapareceram em grande velocidade.
Esse fato também foi visto e noticiado pelas televisões de todo o planeta,
tornando a posse de Olintho um acontecimento mundial que, além de gerar
simpatias e ajudas em vários momentos, auxiliou no entendimento de diversas
ações polêmicas tomadas no seu primeiro ano de governo, além de abrir caminho
para transformá-lo em um líder planetário. A partir daquele dia, os contatos com
ufólogos do mundo inteiro se intensificaram de maneira crescente, o que facilitou
bastante a ação dos “amigos das estrelas” por ocasião da grande transição que iria
ocorrer dali a três anos.
As primeiras ações
Olintho deu continuidade aos projetos desencadeados pela junta de
transição e três deles tinham alta prioridade e mereceram especial atenção durante
o seu primeiro ano de governo, pois completavam ações iniciadas anteriormente. O
primeiro foi o projeto de racionalização da estrutura do governo federativo e dos
demais, objetivando a redução da máquina estatal e de seus custos até a base da
pirâmide e, principalmente, a sua agilidade e objetividade. Esse projeto envolveu
um grande conjunto de simplificações legislativas e gerou muitos benefícios para as
empresas e para a população. O segundo criou uma série de incentivos e canalizou
um grande volume de recursos para o desenvolvimento das atividades produtivas,
geração de empregos e expansão das exportações, privilegiando o setor agrícola.
O terceiro englobava uma série de ações de curto e médio prazo, voltadas para a
melhoria da qualidade de vida da população, especialmente da mais carente.
Esse projeto, além das ações próprias dos três níveis de governo, contou
com a parceria e a colaboração de empresários, entidades religiosas, filantrópicas e
de uma parcela significativa da população de melhor poder aquisitivo, quando foram
reformados e ampliados inúmeros centros de lazer urbanos, como parques e
equipamentos voltados para atividades esportivas e culturais. Para ser concluído
em um tempo maior, Olintho começou a reestruturar os sistemas de assistência
médica, de previdência social, de educação e habitação, privilegiando as pequenas
cidades e a zona rural, além de iniciar um novo projeto de reforma agrária baseado
em agrovilas. No início do segundo semestre do seu governo ocorreram as eleições
para as câmaras legislativas que passaram a funcionar em novos moldes, sem
espírito de corpo, negociações para obter governabilidade e outros aspectos que
prejudicavam a máquina governamental e a sociedade como um todo.
Quando essas câmaras começaram a funcionar, definiram um projeto de
reestruturação do poder judiciário e de simplificação e consolidação de toda a
legislação então existente. O objetivo era permitir que qualquer caso fosse julgado
com a rapidez alcançada durante os primeiros meses de funcionamento das juntas
provisórias, para que a demora e a impunidade deixasse de ser a principal causa da
criminalidade e da corrupção. Vale ressaltar que as questões de justiça eram a
34
principal marca da personalidade de Olintho e que elas lhe custaram críticas
internas e externas durante o seu primeiro ano de governo.
Isso aconteceu em decorrência da maneira rápida e sumária com que as
cortes judiciais vinham agindo desde o advento das juntas provisórias e também
pela extinção das câmaras legislativas estaduais e federais. Apesar de não existir
torturas ou desrespeito aos diretos humanos, vários países e diversos organismos
internacionais acabaram criticando e associando o governo de Olintho a um regime
totalitário, pois seu governo ainda mantinha uma infinidade de pessoas corruptas
que eram qualificadas por esses organismos como “presos políticos”. Ele também
sofreu a desaprovação de uma pequena e influente parcela da população interna
que se sentiu prejudicada pelas diversas ações iniciadas pelas juntas e continuadas
em seu governo, especialmente aquelas voltadas para a melhoria das condições de
vida da população mais pobre e diminuição das desigualdades sociais.
No final do primeiro ano, quando todos os grandes e pequenos corruptos
estavam julgados, condenados e seus bens ilícitos bloqueados ou revertidos aos
cofres públicos, uma nova legislação permitiu que qualquer preso fosse transferido
para outro país que o aceitasse para lá viver em liberdade. Esses condenados
podiam vender ou levar seus bens de direito e permaneceriam fora do país até o
final do cumprimento de suas penas originais. Essa legislação calou as críticas
internas e, principalmente, as externas, pois muitos países que criticavam o governo
de Olintho foram os primeiros a recusar os vistos de entrada para esses
delinqüentes, justificando a decisão com os mais variados pontos-de-vista. Mesmo
assim, muitos ganharam a liberdade e o mesmo aconteceu com vários condenados
por outros crimes. Com isso, muitas penitenciárias foram desativadas e as novas
admissões diminuíam a cada dia, à medida que melhorava as condições sociais, a
qualidade de vida da população e aumentava a confiança do povo no governo.
45
A convocação e o treinamento de voluntários
Cerca de duas semanas antes do início da grande transição e de
maneira bastante discreta, os espaciais começaram a contatar moradores e
moradoras dos centros urbanos e das zonas rurais com o objetivo de informá-los a
respeito dos acontecimentos e motivá-los a participar como voluntários durante os
trabalhos de resgate e outros que seriam realizados após aquele acontecimento.
Essas pessoas representavam uma parte daquelas que acreditavam na sua
ocorrência eminente, na existência dos amigos das estrelas e que, por diversos
motivos, apresentavam condições ideais para se ausentarem durante os cinco dias
anteriores ao acontecimento. Em sua maioria, eram pessoas de 40 a 60 anos de
idade, constituídas por casais ou pessoas viúvas ou solteiras, todas sem filhos ou
com filhos adultos e independentes.
Utilizando diversos meios, todas foram avisadas para permanecerem em
seus locais de origem ou para se dirigirem a pontos específicos em um determinado
dia e horário, a fim de terem um contato físico com os seres espaciais e suas naves.
Como a grande maioria estava apenas familiarizada com avistamentos na
atmosfera, encararam o convite como uma oportunidade excepcional, pois iriam
conhecer o interior de uma nave. Essas pessoas não foram informadas sobre os
motivos reais da convocação, pois o comando da frota de apoio a Arret assim
procedeu para não alarmá-las e para manter o mais absoluto sigilo sobre a
eminência dos acontecimentos.
Em relação aos mais de 10 bilhões de habitantes da época, elas
representavam uma pequena parcela da população arretiana, pois seu número
girava em torno de 23 milhões. Eram pessoas oriundas de todos os locais do
planeta e, no dia e horário combinado, foram recolhidas por uma infinidade de
pequenas naves e levadas para outras maiores que representavam cada pais, com
o pretexto de conhecerem uma nave-mãe e outras pessoas que receberam o
mesmo tipo de convite. Essas grandes naves tinham porte e acomodações para
todos os convidados e, conforme chegavam, foram divididos em grupos
representativos de um mesmo estado ou região e levados para salas de
treinamento que nelas havia. Lá foram informados sobre a eminência dos
acontecimentos e como poderiam colaborar, se assim o desejassem, pois ninguém
estava obrigado a participar da operação.
Algumas pessoas desistiram por diversos motivos e logo foram liberadas
e reconduzidas aos respectivos locais de origem com a promessa de guardarem
segredo total sobre os acontecimentos. Cerca de 22 milhões de voluntárias e
voluntários se comprometeram a participar da operação e lá permaneceram com a
finalidade de receber o treinamento necessário para colaborar nos trabalhos de
resgate e acomodação de um terço da população que sobreviveria aos
acontecimentos. Esse percentual, com pequenas variações, representava um
padrão universal e aplicável a todos os planetas de nível primário, cuja humanidade
apresentava as mesmas características morais, espirituais e de conscientização
presentes no conjunto do povo arretiano.
O treinamento foi iniciado na manhã seguinte e se estendeu por três
dias. Ele começou com uma visão geral dos acontecimentos previstos, realizada
através de projeções holográficas que simulavam os diversos tipos de ações
destrutivas dos elementos da natureza programadas para ocorrer em cada região
46
ou local específico do planeta. As imagens, quase reais, causaram um choque
inicial em todos os grupos, pois superavam suas expectativas com relação ao grau
de destruição física das mais diversas edificações e instalações planetárias. Porém,
todos reagiram bem e ninguém desistiu do compromisso, pois eram seres cujos
espíritos estavam preparados e qualificados para aquele tipo de operação. Durante
esses dias, todos receberam informações detalhadas sobre os trabalhos que
realizariam, os cuidados necessários, os equipamentos e recursos de alta
tecnologia que teriam à disposição e sobre as quantidades de pessoas que seriam
resgatadas em cada uma das fases que dividiram a grande operação.
Dentre os trabalhos programados, o primeiro deles exigia uma ação
rápida e objetiva dos grupos de voluntários e referia-se à montagem parcial dos
núcleos de sobrevivência para abrigar cerca de 500 milhões de pessoas que seriam
resgatadas antes do início dos acontecimentos. Elas seriam abrigadas em 733.000
núcleos de sobrevivência espalhados por todos os países e locais do planeta. Para
realizar essa grande tarefa em poucas horas, contariam com diversos materiais e
equipamentos de alta tecnologia, além do apoio de uma nave e de sete espaciais,
os mesmos que treinaram cada grupo de 30 voluntárias e voluntários encarregados
da montagem parcial de cada núcleo.
Critérios utilizados
A razão de dividir as três horas principais da grande transição em fases
distintas teve dois motivos básicos. O primeiro decorreu da crescente abrangência,
variedade, combinação e grau de intensidade destrutiva dos quatro elementos da
natureza. O segundo, do critério adotado pela Hierarquia Espiritual Arretiana, que
priorizou o resgate das pessoas que necessitavam de menor exposição aos
acontecimentos. Começaram por aquelas que escolheram o caminho do amor e
conquistaram níveis mais elevados de consciência espiritual ao longo de suas vidas
e, por essa razão, alguns foram resgatados antes do início dos acontecimentos,
como foi descrito anteriormente. Gradativamente foram resgatando aquelas que
priorizaram a conquista de objetivos materiais em suas vidas e escolheram o
caminho da dor. Essas pessoas necessitavam vivenciar os acontecimentos em
diversos graus de intensidade para que pudessem, pela dor própria e pelo amor e
carinho que receberam quando foram resgatadas, tratadas e abrigadas, despertar
para uma realidade e um modo de vida diferente daquele que praticavam.
Em função das informações que detinham sobre cada habitante, os
responsáveis pela Hierarquia Espiritual Arretiana previam o desencarne de dois
terços da população do planeta, totalizando quase sete bilhões de pessoas. Dentre
os que pereceram havia uma grande maioria de pessoas reprovadas no exame de
seleção e uma minoria de seres missionários e outros com bom nível evolutivo que
já estavam aprovados quando nasceram no planeta. Essas pessoas, pelos bons
trabalhos que realizaram nas vidas, décadas e anos anteriores, retornaram ao plano
espiritual porque foram poupadas de realizar os trabalhos de reconstrução e
normalização da vida planetária. Por outro lado, dentre os sobreviventes havia uma
grande maioria de pessoas que obtiveram as notas necessárias para aprovação e
uma parte que estavam ligeiramente abaixo da “nota mínima”. A essas pessoas foi
dada uma última oportunidade para obter a aprovação através da dor, da perda, da
renuncia e de outros aceleradores evolutivos que vivenciaram durante a grande
transição e no restante de suas vidas. Conforme o comportamento que
assumissem, poderiam ser aprovadas ou reprovadas.
Como regra geral, todos que foram resgatados após o início dos
acontecimentos necessitavam de um choque menor ou maior, conforme o nível de
conscientização ou de desenvolvimento espiritual de cada um, ou em outras
palavras, conforme a nota obtida no exame de seleção. Os mais conscientes foram
60
resgatados antecipadamente ou após a primeira hora do início dos acontecimentos.
Os demais, nas horas e dias seguintes. Independentes do sofrimento a que foram
submetidos, todos receberam apenas a dose mínima do remédio necessário. Como
toda regra tem exceções, entre os regatados havia pessoas de excelente nível
espiritual cujos espíritos preferiram permanecer com seus familiares, parentes ou
amigos que precisavam receber choques de diversos tipos. Esses seres
renunciaram a direitos conquistados em anos, décadas ou vidas anteriores para dar
um exemplo e com isso, ajudar outras pessoas a conquistar ou consolidar seus
diretos de ingressar na nova escola planetária. Elas assim agiram por amor aos
seus irmãos cósmicos e ao Pai celestial que, nesses casos, permitia que Seu filho
ou filha passasse por sofrimentos desnecessários.
Em função da complexidade das avaliações individuais, coube aos
responsáveis pela Hierarquia Espiritual Arretiana a análise e a definição da situação
e do destino final de cada habitante. Foram eles que tomaram as providências
necessárias para manter as pessoas vivas ou não, sem ou com ferimentos de
diversas gravidades, livres para serem resgatadas rapidamente ou presas aos
escombros em profundidades variáveis. Muitos desses resgates foram feitos nos
dias seguintes à grande transição e deram muito trabalho aos espaciais e
voluntários. Também coube à Hierarquia Espiritual Arretiana transferir para outros
planetas de expiação e de provas todas as pessoas que pereceram durante os
acontecimentos e foram reprovadas no exame de seleção. Ao comando da frota de
apoio a Arret coube efetuar os resgates conforme os critérios definidos pelos
mentores do planeta. Para isso realizaram gigantescas operações para resgatar os
sobreviventes, sanear o planeta e permitir a sustentabilidade, continuidade e
desenvolvimento da nova sociedade planetária, conforme será descrito a seguir.
63
O abrigo dos sobreviventes e as novas operações
Antes da chegada dos sobreviventes resgatados após o início da grande
transição, a população média de cada núcleo de sobrevivência era inferior a 700
pessoas. Quando foi concluído o teletransporte das pessoas encaminhadas pelas
grandes naves, sua população média subiu para 1.700. Todas chegaram em
pequenos grupos constituídos por famílias parciais ou completas, parentes e
amigos que moravam em um mesmo bairro ou local específico. A recepção e
alojamento desses sobreviventes nos iglus aconteceram de maneira rápida e
ordeira, pois todos chegaram convenientemente vestidos, alimentados e bem
informados a respeito do comportamento que deveriam assumir durante os dias
seguintes. Assim que todos foram abrigados, os espaciais tomaram uma série de
providências para desencadear duas novas operações de grande porte.
A primeira foi iniciada em seguida e teve o objetivo de reforçar o efetivo
humano e material dos núcleos de sobrevivência para prestar atendimento e apoio
material a um grupo superior a um bilhão de sobreviventes que moravam em
pequenas cidades e agrupamentos rurais localizados em suas proximidades. Em
função da sua dispersão geográfica e do baixo adensamento populacional, esses
locais foram os que sofreram menos danos físicos e por isso apresentavam um
número proporcionalmente maior de sobreviventes, se comparados com as demais
áreas urbanas. A segunda operação foi programada para ser realizada nos
escombros dos centros urbanos onde foram realizados os resgates anteriores,
assim que as condições de segurança fossem asseguradas. Diferente das demais,
essa operação foi a mais difícil e arriscada de todas, pois objetivava localizar e
retirar quase 600 milhões de sobreviventes presos ou soterrados em profundidades
variáveis.
Essas duas operações envolveram as grandes naves estacionadas e
todas as demais que participaram dos resgates anteriores. Além delas, contaram
com o reforço de inúmeras outras naves de pequeno ou médio porte e naves
cargueiras destinadas ao recolhimento de cadáveres, remoção, transporte e
destinação de entulhos. Também contaram com todos os espaciais que
participaram dos resgates anteriores e outros que concluíram os trabalhos de
monitoramento ou de resgate e abrigo de uma infinidade de animais, pássaros e
peixes que corriam riscos de extinção, além de uma grande quantidade de
voluntários arretianos, constituídos por quase todos que faziam parte do grupo
inicial e todos aqueles que foram recrutados durante os resgates anteriores. No
total, essas operações envolveram mais de 10 milhões de naves e um número
superior a 200 milhões de pessoas, entre espaciais e voluntários arretianos.
64
Todos os voluntários foram treinados durante os dias anteriores à grande transição
e estavam preparados para o outro grande trabalho que tinham pela frente.
Assim que os novos tripulantes foram embarcados, as seis naves
levantaram vôo em duplas constituídas por uma nave de apoio e uma nave
cargueira. Obedecendo a um esquema de prioridades fornecido pelo comando da
frota de apoio a Arret, cada dupla se dirigiu ao local que estava mais sujeito ao
agravamento das condições climáticas ou que apresentava um número maior de
sobreviventes. A maioria desses locais eram pequenas cidades, povoados e
agrupamentos rurais que sofreram ações de média para alta intensidade dos
elementos da natureza e apresentavam um nível de sobrevivência superior a 50 por
cento, especialmente, nas agrovilas implantadas no país de Olintho e em alguns
outros. Mesmo assim, todos esses locais perderam suas edificações, pois aquelas
que não foram destruídas apresentavam sérios riscos de desabamento.
Quando as naves chegavam a esses locais, a maioria dos sobreviventes
estava reunida em uma praça ou área aberta, o que facilitou os contatos iniciais.
Algumas pessoas trabalhavam nos escombros de residências e edificações
públicas à procura de parentes e amigos, sendo que a maioria dos mortos e feridos
já havia sido retirada dos escombros. Os trabalhos ainda continuavam em muitos
locais por falta de maquinário adequado para remoção de entulhos. A fim de não
causar pânico e outros problemas aos sobreviventes, os espaciais definiram uma
estratégia peculiar para facilitar os contatos.
Três dos voluntários iniciais desceram através de raios transportadores,
enquanto a nave permanecia imóvel e invisível a uns trinta metros de altura. A
descida era lenta e podia ser notada por todos que estivessem observando o ponto
onde a nave estava estacionada, pois o raio transportador tinha uma certa
luminosidade que podia ser facilmente notada nos locais onde já era noite. Como
medida de segurança, os voluntários utilizaram roupas especiais fabricadas com um
tecido tão resistente quanto um colete à prova de balas. Além disso, desciam dentro
de uma extensão do campo de forças da nave que os protegia até contra explosões
de alto impacto. A estratégia funcionou muito bem por duas razões básicas. Na
primeira, os contatos foram facilitados em razão de muitos dos voluntários serem
conhecidos pela população local e, na segunda, prevaleceram motivos de ordem
espiritual, pois a maioria dos sobreviventes era constituída por pessoas simples,
religiosas e que acreditavam nas profecias sobre o final de ciclo evolutivo e na
intervenção de seres divinos durante esses acontecimentos. Elas encararam a
descida dos voluntários como um fenômeno de natureza e de ajuda divina, o que
não deixava de ser verdadeiro.
Depois dos contatos e explicações iniciais, as naves se tornaram visíveis
e os trabalhos foram logo iniciados na grande maioria dos locais. Porém, em alguns
com alta concentração de adeptos de correntes religiosas de natureza fanática, os
contatos foram dificultados e até impedidos em vários casos. Quando isso
acontecia, os voluntários informavam que voltariam depois de atenderem outros
locais e eram “puxados” lentamente para a nave que permanecia invisível até que o
contato fosse bem sucedido. Sempre obtinham sucesso na segunda tentativa, tanto
em função do agravamento das condições climáticas, como pelo instinto de
sobrevivência e outros fatores, como a “manifestação” ou o “arrebatamento” dos
voluntários.
65
Após os contatos iniciais todos receberam informações a respeito dos
acontecimentos e foram divididos em três grupos básicos liderados por espaciais e
voluntários: aqueles que recolheriam e encaminhariam os feridos, os que
trabalhariam na montagem do núcleo de sobrevivência local e aqueles que
auxiliariam nos resgates que ainda precisassem ser realizados nos escombros
existentes em cada local. Todos os feridos com maior gravidade foram
imediatamente teletransportados para as grandes naves e, nos casos em que havia
resistência ou preocupação para encaminhá-los sozinhos, foram acompanhados por
um ou mais de seus familiares ou amigos. O segundo grupo foi dividido em várias
equipes que receberam as explicações, equipamentos e materiais necessários para
montagem do núcleo de sobrevivência em locais que comportavam as instalações
necessárias. Esses trabalhos obedeceram à mesma estratégia e seqüência
utilizadas para montagem dos primeiros núcleos de sobrevivência e foram
realizados em um tempo muito menor, em função da quantidade de sobreviventes
que se engajaram nos trabalhos.
Em paralelo e apoiados pela nave cargueira e por equipamentos
especiais semelhantes àqueles que foram utilizados na grande operação de resgate
nos escombros das grandes cidades, descrita mais abaixo, o terceiro grupo realizou
os resgates das pessoas vivas ou mortas que estavam presas ou soterradas nos
escombros. Como havia um tempo previsto para atender cada local, os espaciais
requisitavam a ajuda de outras naves quando se tornava necessário e elas
apareciam em poucos minutos. A prioridade inicial era o resgate dos sobreviventes
e, em seguida, a retirada dos cadáveres. Como na maioria dos locais não havia
grandes ou altas edificações, os resgates foram realizados rapidamente e
concluídos juntamente com a montagem do núcleo de sobrevivência. Os feridos
que necessitavam de algum tipo de tratamento foram igualmente teletransportados
para as grandes naves, acompanhados ou não por parentes ou amigos. Os mortos,
tanto aqueles resgatados inicialmente pelos moradores, como os demais, tiveram
um destino comum. Os corpos foram identificados, colocados e lacrados em urnas
especiais e individuais.
Essas urnas foram produzidas com uma resina plástica flexível que
adquiria consistência assim que era lacrada e inflada com um gás que conservava o
corpo por vários meses ou anos, como se estivesse embalsamado. Depois que os
espaciais e voluntários se retiraram para atender outro local, os familiares e amigos
realizaram uma rápida cerimônia fúnebre e colocaram as urnas em uma barraca
própria, simulando um enterro. Posteriormente elas foram recolhidas pelos
espaciais e depositadas em um outro local, onde poderiam ser identificadas e
sepultadas conforme o costume de cada família, quando a vida planetária voltasse
à normalidade. Quase todos os parentes e amigos dos mortos aceitaram a
proposta, pois entenderam a gravidade da situação e o risco de epidemias a que
ficariam sujeitos em função da falta de tempo e de locais nos cemitérios para
enterrar os mortos. Quando não aceitavam, as urnas foram colocadas em um outro
tipo de barraca para que os parentes realizassem o sepultamento assim que as
condições atmosféricas fossem favoráveis.
Quando os trabalhos foram concluídos, todos receberam roupas,
alimentos e itens de higiene e limpeza para os sete dias seguintes, dentro dos
mesmos critérios utilizados nos núcleos de sobrevivência iniciais. Como não havia
66
previsão de naves estacionadas em cada um desses locais, os espaciais e os
voluntários procuraram deixar os sobreviventes seguros quanto ao apoio que
continuariam recebendo nas horas e dias seguintes. Além de visitas diárias, cada
iglu também contava com um intercomunicador de áudio e vídeo que permitia o
contato entre eles e com os especiais responsáveis pelo núcleo de sobrevivência
mais próximo, a qualquer hora do dia ou da noite. Esses cuidados deixaram todos
completamente seguros quanto à possibilidade e rapidez para qualquer
atendimento.
Quanto aos pequenos agrupamentos rurais, a proposta dos espaciais
previa a transferência das famílias para o núcleo de sobrevivência mais próximo,
podendo ser um daqueles inicialmente instalado ou qualquer outro montado durante
aquela operação, pois todos tinham iglus adicionais para essa finalidade. Porém,
respeitavam a decisão dos sobreviventes, mesmo que o local não apresentasse as
condições ideais. A grande maioria aceitou a proposta e quando isso não
aconteceu, foi montada toda a infra-estrutura necessária, como nos demais
núcleos.
Em menos de seis horas, toda uma população constituída por mais de
1,3 bilhões de pessoas estava abrigada e protegida do frio e da poluição
atmosférica. Todos os novos núcleos foram visitados nos sete dias seguintes e
alguns o foram mais de uma vez no dia. As visitas adicionais ocorreram em função
de chamados, ou quando algum ferido recebia alta. O retorno dessas pessoas
constituía um motivo de grande alegria para seus parentes e amigos, além de
surpreendê-los com a rapidez e a excelente recuperação que apresentavam. Os
feridos elogiavam o tratamento carinhoso que receberam no interior das grandes
naves, além de descrever vários detalhes que maravilhavam seus ouvintes e
estreitava os laços de simpatia com os espaciais e voluntários.
68
Enquanto as naves de apoio aguardavam o término dos trabalhos da
nave cargueira e a obtenção das condições de segurança para o desembarque das
equipes, utilizaram esse tempo para confirmar ou levantar novos dados e atualizar o
banco de dados da nave com informações sobre localizações, profundidades e
níveis de sinais vitais dos sobreviventes que havia em cada setor. A coleta e a
análise desses dados foi realizada por um sofisticado equipamento instalado nas
cabines de comando de cada nave. Ele também existia em versão portátil destinada
aos trabalhos nos escombros, semelhante ao perfurador que será descrito mais
abaixo. Esse equipamento, que chamaremos de analisador, desempenhava dois
importantes grupos de funções.
A primeira fornecia um diagnóstico detalhado das condições físicas de
cada pessoa com atividade cerebral, como se fosse o resultado de uma avaliação
médica criteriosa e embasada em sofisticados exames clínicos. Ele analisava a
aura, também conhecida como o corpo vital que envolve cada pessoa, e definia os
níveis de atividades cerebrais, cardíacas e de outros órgãos importantes à
manutenção da vida, mesmo que o sobrevivente estivesse em estado de coma.
Também detectava a pressão sangüínea e todos os tipos e gravidades de
ferimentos existentes no seu corpo físico, tanto externo como internamente, pois
tudo se refletia no corpo vital. A segunda função utilizava as coordenadas do local
onde havia sinais vitais e definia sua profundidade, tipos de entulhos existentes no
caminho até o local onde um ou mais sobreviventes estavam confinados. A partir
desses dados, levantava um perfil completo da área e definia o melhor caminho
para acesso ao sobrevivente, permitindo avaliar as dificuldades de cada resgate.
Antes de relatar os trabalhos no solo, vamos descrever outros equipamentos e
recursos utilizados para facilitar os resgates e aumentar a segurança das equipes.
Apesar do imenso volume de escombros removidos pelas naves
cargueiras, eles representaram uma pequena parte daqueles que existiam em cada
setor, pois elas removiam apenas os entulhos superficiais e suficientes para liberar
os sobreviventes e cadáveres presos na superfície ou próximos dela. Todos os
sobreviventes que estavam soterrados em profundidades maiores, de até algumas
dezenas de metros, foram resgatados através de perfurações realizadas por um
equipamento especial que chamaremos de perfurador, pois não havia tempo
suficiente para remover todos os escombros sem aumentar o número de mortos. Os
sobreviventes foram teletransportados do local onde se encontravam, diretamente
para as grandes naves através de outro extraordinário equipamento denominado
como teletransportador manual.
O perfurador era um equipamento flutuante de formato tubular, com uns
80 centímetros de diâmetro e quase dois metros de altura. Em sua base havia um
orifício circular de uns trinta centímetros de diâmetro que emitia um feixe de raios
que desmaterializava os materiais e corpos inanimados que estivessem em seu
caminho e os rematerializava no local onde fosse instalado um outro equipamento
de diâmetro e altura menor, igualmente flutuante. O perfurador se movimentava e
atuava sob comando do analisador, o qual controlava a profundidade do furo com
precisão milimétrica. Os raios não desmaterializavam partes de corpos humanos
que apresentassem sinais vitais e, nesses casos, sua precisão era tamanha que
desmaterializava até finas camadas de poeira e de outros materiais que estivessem
69
sobre o corpo do sobrevivente, sem nele causar queimaduras ou qualquer sinal
visível.
O teletransportador manual era constituído por uma esfera com uns vinte
centímetros de diâmetro, presa a um longo cabo flexível que saía da base de um
equipamento tubular semelhante ao perfurador. Esse equipamento mantinha uma
comunicação sem fios com a nave de apoio e nele havia uma tela, microfones e
fones de ouvido para comunicação com o sobrevivente ou grupo deles. A parte
inferior da esfera projetava uma luz amarelada e tinha alto-falantes, microfones,
dutos para injeção de oxigênio e, principalmente, um extraordinário dispositivo de
teletransporte. A descida da esfera era monitorada através da tela do equipamento
e, quando iluminava um sobrevivente que estava consciente, transmitia instruções
simples sem citar o teletransporte ou outros dados que pudessem alarmá-lo.
Quando ele estava inconsciente, iniciavam imediatamente o seu resgate. Mediante
comando do operador, a parte inferior da esfera abria em forma de guarda-chuva e
projetava uma energia que teletransportava cada sobrevivente para o interior das
grandes naves estacionadas. Para que isso acontecesse, bastava que uma parte
do seu corpo fosse atingida por aquela energia.
As atividades sobre os escombros foram iniciadas quando as condições
mínimas de segurança foram asseguradas e permitiram o estacionamento da nave
de apoio a alguns centímetros da superfície para desembarcar as equipes de
trabalho e os equipamentos necessários. Uma nave de pequeno porte contava com
oito equipes compostas por um espacial e um voluntário arretiano. Uma de médio
porte tinha o dobro desses recursos e, nos dois casos, metade deles permaneciam
descansando no interior da nave a fim de viabilizar o esquema de rodízio. Em
seguida a nave subia alguns metros e modificava seu escudo protetor para um
formato de guarda-chuva, dentro do qual os espaciais criavam uma atmosfera
purificada e imune às ventanias ainda muito freqüentes naqueles momentos. O
ambiente ficava bem iluminado e a nave podia se movimentar à vontade sem
desfazer o guarda-chuva, o qual podia ser ampliado ou reduzido rapidamente,
conforme as necessidades do trabalho.
Além da nave de apoio e dos equipamentos acima descritos, as equipes
utilizavam roupas especiais altamente resistentes e confortáveis que não rasgavam
e protegiam o corpo inteiro. Também dispunham de flutuadores individuais,
lanternas, óculos para proteção dos olhos e visão noturna acoplados a aparelhos de
respiração e purificação do ar, além de um equipamento semelhante a uma lanterna
que anulava o peso de qualquer material. Bastava projetar seu foco sobre ele
removê-lo como se fosse um isopor. Esses e outros recursos auxiliaram os
trabalhos e permitiram cumprir os objetivos programados.
Os trabalhos no solo foram guiados pelos analisadores portáteis que se
deslocavam automaticamente à procura de sinais vitais e paravam sobre o local
onde havia um ou mais sobreviventes soterrados. Ali coletavam várias informações,
atualizavam seus bancos de dados e transmitiam as alterações para o computador
da nave e para o perfurador que, em seguida, se posicionava no local e abria
rapidamente o acesso até o sobrevivente, pois avançava mais de dois metros por
minuto, independente dos materiais existentes em seu caminho. Assim que o
acesso ficava pronto, a esfera do teletransportador manual era introduzida no local
e rapidamente realizava o teletransporte do sobrevivente para a ala de recepção
70
das grandes naves ou para a sua ala hospitalar, conforme a gravidade dos seus
ferimentos. Quando as equipes que trabalhavam em cada setor concluíam os
resgates referentes a um determinado nível de prioridades, reiniciavam o mesmo
processo para resgatar os sobreviventes soterrados em profundidades maiores e
assim sucessivamente, até resgatarem todos os sobreviventes.
Nas primeiras 24 horas foram resgatadas mais de 250 milhões de
pessoas e as demais o foram nos dias seguintes, em números decrescentes a cada
hora, pois as dificuldades eram cada vez maiores e as chances de encontrarem
sobreviventes eram cada vez menores. Muitos daqueles que foram resgatados nos
últimos dias e horas, estavam sob montes de escombros superiores a 50 metros.
Cada um deles, ou os pequenos grupos que se encontravam próximos consumiram
horas de trabalho, apesar do uso intensivo de equipamentos da mais alta tecnologia
e da maior experiência, organização e eficiência das equipes, pois os trabalhos
foram iniciados com um certo tumulto e baixa produtividade decorrentes da
insegurança dos voluntários e do desconhecimento da tecnologia que tinham à
disposição.
Mesmo assim, foram resgatadas todas as pessoas que apresentavam
sinais vitais em todos os locais do planeta, incluindo muitas que estavam em estado
terminal, pois todas foram consideradas como sobreviventes e igualmente
teletransportadas para a ala hospitalar das grandes naves. A maioria dos
resgatados durante os cinco dias e noites dessa longa operação foram
teletransportados sem que os voluntários conhecessem sua real situação física e
emocional. No final dos trabalhos, as naves fizeram uma varredura fina em todos os
locais onde poderiam ser detectados sinais de vida humana e como não foram
encontrados, deram por encerrada a operação.
A maioria das 600 milhões de pessoas resgatadas nos escombros
apresentava ferimentos de todos os tipos e gravidades e, mesmo com os recursos
da avançada medicina dos espaciais, muitos não resistiram e acabaram falecendo
nas horas e dias seguintes. Vale ressaltar que os hospitais das naves tinham
recursos para manter a vida e restaurar a integridade física de qualquer paciente,
pois podiam até substituir partes ou um corpo completo que estivesse danificado
por qualquer tipo de ferimento. Porém, esses recursos não podiam ser utilizados
naquela ocasião sem interferir com a Lei e a Justiça Divina, a causa primária de
todos os acontecimentos da grande transição. Dos quase 500 milhões que
sobreviveram, a maioria apresentou recuperação total, apesar de que muitos
sofreram perdas físicas, representadas por pernas, braços, pés ou mãos.
Antes do início da grande transição, Arret contava com 10,2 bilhões de
habitantes e, durante as três horas em que os elementos da natureza mostraram
todos os seus poderes destrutivos, ou saneadores, pereceram imediatamente,
cerca de 4,5 bilhões de pessoas. Nas horas e dias seguintes, até o final do quinto
dia, quando a operação de resgate nos escombros foi encerrada, entre os
cadáveres que foram recolhidos pelas naves cargueiras, somados àqueles que não
resistiram aos ferimentos e permaneceram soterrados sob os escombros, mais
aqueles que morreram nos hospitais das grandes naves, pereceram outros 2,3
bilhões, totalizando cerca de 6,8 bilhões de habitantes. Mesmo com todos os
esforços empreendidos por uma grande equipe de espaciais de várias procedências
estelares e voluntários arretianos auxiliados por milhões de naves de todos os tipos
71
e tamanhos, conseguiram resgatar e manter com vida cerca de 3,4 bilhões de
pessoas, pois esse era o número definido pelos responsáveis pela Hierarquia
Espiritual Arretiana e independia dos esforços e da vontade de trabalho dessa
grande e maravilhosa equipe. Apesar do esquema inicial prever revezamentos a
cada seis horas, todos os grupos se empenharam por mais de 12 horas seguidas,
tomando apenas sucos e dispondo de poucas horas para higiene pessoal,
alimentação e descanso.
Os resgates realizados nos escombros somente foram possíveis em
função da boa vontade de todos os envolvidos e, principalmente, pelos avançados
recursos tecnológicos que tinham à disposição. Esses recursos evitaram muitos
acidentes graves durante os desmoronamentos que afetaram todas as equipes que
trabalhavam nas áreas centrais dos grandes centros urbanos. Mesmo utilizando
flutuadores de acionamento automático, roupas especiais e equipamentos de
proteção individual, uns 200 mil voluntários e 50 mil espaciais sofreram ferimentos
de maior gravidade. Muitos deles não morreram porque, nesses casos, os médicos
espaciais podiam utilizar todos os recursos da avançada medicina que praticavam,
incluindo a substituição parcial ou total do corpo original por clones perfeitos. A fase
mais intensa e perigosa dos trabalhos ocorreu durante os três dias de escuridão
total que se seguiu aos acontecimentos. A única claridade fora dos locais
iluminados pelas naves ficou por conta dos incêndios que se alastraram pelas áreas
florestais e periferias das grandes cidades, geralmente constituídas por casas de
madeiras.
76
O recolhimento de outros seres mortos
Atingindo grandes proporções em relação aos cadáveres humanos,
havia um número incalculável de carcaças de animais, pássaros, répteis e peixes
mortos em todos os lugares do planeta. Assim que cada nave cargueira encerrou os
trabalhos de recolhimento e destinação de cadáveres humanos nas regiões sob sua
responsabilidade, os espaciais desencadearam outra grande operação de
saneamento planetário. Ela foi iniciada a partir dos arredores dos núcleos de
sobrevivência e, até o final do sétimo dia após a grande transição, se estendeu até
os mais remotos locais do planeta, abrangendo todas as suas terras rios e mares.
Essa operação foi realizada sem necessidade de pouso das naves
cargueiras, tanto daquelas que liberavam as carcaças que estavam presas ou
soterradas próximas à superfície, como daquelas que efetuavam os recolhimentos
através de sensores e raios transportadores especiais que cobriam uma área bem
mais larga que aqueles utilizados durante os resgates de seres humanos. Eles
funcionaram como uma espécie de esteira rolante que coletava uma grande
quantidade de pequenas carcaças a cada passada. Quando esses raios de “banda
larga” passavam por uma lagoa onde havia uma grande quantidade de peixes
mortos, todas as carcaças atingidas por eles eram transportadas para o interior da
nave, deixando uma larga faixa de água completamente limpa.
Quando as naves atingiam sua capacidade de carga, todas as carcaças
eram depositadas em grandes ou pequenas fendas secas abertas por terremotos
em camadas com até dois metros de altura, alternadas com outro tanto de entulhos
pulverizados. Como no caso dos cadáveres de humanos, esses procedimentos
foram repetidos até que a última camada de carcaças atingisse o nível de quatro a
cinco metros abaixo da superfície do solo, os quais foram preenchidos com terras
férteis recolhidas nas proximidades. Com isso, os espaciais fecharam mais uma
grande quantidade de fendas e evitaram uma série de riscos para os sobreviventes.
88
Elas teriam quartos, banheiros, sanitários, lavanderia, sala de estar, varanda e uma
cozinha sem fogão, enquanto não fossem desativados os refeitórios coletivos.
As edificações comunitárias e residenciais seriam padronizadas em
todos os NTCA e construídas com madeiras cortadas e preparadas com maquinário
fornecido pelos espaciais, obedecendo a um projeto de fácil execução por pessoas
inexperientes. Sua execução envolvia 4 a 6 meses de trabalho e previa a
construção de residências com 1 a 4 dormitórios para atender as diversas situações
familiares. Elas seriam agrupadas em setores com casas do mesmo tamanho e
quantidade de dormitórios. Em cada setor seria construído um restaurante
comunitário com capacidade para servir refeições a todos os seus moradores. Cada
setor também contaria com praças, espaços para implantação de áreas de lazer e
para expansões futuras que permitissem construir novas residências para acomodar
até o dobro da população inicial. Os depósitos de alimentos e de artigos de higiene
e limpeza, oficinas, almoxarifados de materiais de trabalho, postos de saúde,
escolas e outros equipamentos comunitários seriam agrupados e construídos em
um ponto central do NTCA. As áreas de lazer seriam implantadas nas proximidades
de rios, lagos, cachoeiras e outros atrativos naturais.
Após um rápido intervalo apresentaram o plano para desenvolvimento
das atividades agrícolas, enfatizando os tipos de trabalhos previstos e o apoio que
forneceriam para agilizar as atividades e otimizar a produção. Todos os núcleos
teriam áreas próprias para fruticultura, criação de abelhas, horta e áreas de cultivo
de cereais. De maneira geral, todos os NTCA teriam o mesmo perfil produtivo, pois
o clima do planeta não mais apresentaria grandes variações. O projeto também
demarcava todas as áreas onde seriam desenvolvidas as diferentes atividades
agrícolas. Depois, abriram espaço para perguntas, esclareceram as dúvidas e
informaram que, na manhã seguinte, suas naves e equipamentos especiais
começariam os trabalhos de abertura de ruas e nivelamento das áreas destinadas à
construção das edificações de uso comum e para implantação da horta comunitária.
Cada família recebeu uma pasta contendo o projeto completo do NTCA e
questionários para definir as áreas de trabalho de cada um, dentro de uma ordem
de habilidades e de interesses individuais que permitisse a cada um se envolver
com a atividade que mais gostava de executar. Os questionários deveriam ser
preenchidos e entregues no final da manhã seguinte para tabulação e separação
inicial dos grupos de trabalho. Os espaciais também esclareceram que os grupos
poderiam ser alterados e recompostos no decorrer dos dias para melhor atender e
acomodar os interesses individuais. No final, informaram que na parte da tarde
seriam realizadas reuniões com cada grupo para transmitir novas informações e
acertar ao detalhes necessários para dar início aos trabalhos.
Na manhã do dia seguinte, o décimo quarto, os espaciais iniciaram os
trabalhos programados enquanto as famílias conversavam e preenchiam os
questionários que incluíam os parentes em tratamento nas grandes naves. Os
questionários foram entregues antes do horário combinado e foram rapidamente
tabulados e ajustados juntamente com aqueles preenchidos pelas famílias que
ainda se encontravam nas naves que abrigavam as autoridades e chegariam na
manhã seguinte. No início da tarde os espaciais emitiram as listas com os
componentes dos grupos de trabalho e com eles fizeram reuniões que continuaram
89
durante todo o dia seguinte, quando foram acertados os detalhes e a estratégia
básica de desenvolvimento das atividades.
Após o jantar do décimo quinto dia, os espaciais fizeram uma reunião
com todos os moradores para apresentar outros detalhes do projeto de construção
das edificações coletivas e da sua seqüência de execução. As diversas atividades
seriam iniciadas no dia seguinte em frentes paralelas voltadas para as novas
captações, reservatórios e redes de água potável, depósitos de alimentos, de
artigos de higiene e limpeza, cozinhas, restaurantes, almoxarifados de materiais de
trabalho e oficinas. Conforme as frentes de trabalho fossem adiantando ou
concluindo suas atividades, seriam iniciadas as atividades agrícolas voltadas para
implantação da horta comunitária e preparação de mudas de árvores frutíferas.
Como as demais, essa reunião foi realizada simultaneamente em todos os NTCA
espalhados pelo planeta e incluiu os moradores dos pequenos núcleos e
agrupamentos rurais. Elas geraram uma onda de euforia e otimismo que criou um
ambiente de extrema cooperação, camaradagem e irmandade entre os
sobreviventes.
Eles eram pessoas originárias das mais variadas profissões, religiões e
níveis sócio-econômicos no período anterior à grande transição. Entre elas havia
detentores de grandes fortunas convivendo em igualdade de condições com outras
que viviam do fruto de seus parcos salários. Havia pessoas famosas e muitas
totalmente anônimas, assim como, grandes empresários e trabalhadores braçais. A
partir do décimo sexto dia, com pequenas exceções, todos se esforçaram e
procuraram se transformar em operários de diversas especializações que moravam
em iglus com o mesmo tipo de conforto e um modo de vida muito simples, em
estreito contato com a natureza e com os seus novos amigos arretianos e das
estrelas.
97
Os mais hábeis, normalmente representados pelas pessoas mais
simples e oriundas das classes operárias, ensinaram os menos hábeis, quase
sempre representados por pessoas que pertenciam às classes patronais ou
executivas. Era interessante observar um marceneiro ou carpinteiro de profissão,
sendo o mestre e o líder natural de um grupo de antigos empresários, executivos ou
funcionários de pequenas e grandes corporações. Da convivência harmoniosa
dessas diferenças, nasceu, se desenvolveu e se solidificou a igualdade, a
fraternidade e a irmandade entre os sobreviventes, transformando os valores
individuais em valores coletivos que foram forjados a partir dos acontecimentos
dolorosos da grande transição. Esses valores se desenvolveram com as pequenas
e grandes alegrias que todos tiveram no decorrer dos dias e meses seguintes,
quase sempre motivadas por detalhes e acontecimentos singelos que marcaram
indelevelmente o coração e a mente da maioria dos sobreviventes.
A construção e a ocupação das habitações familiares, juntamente com
outros trabalhos realizados com a colaboração dos amigos das estrelas, incluindo
aqueles que foram realizados exclusivamente por eles para fornecer os materiais de
construção, acabamento e mobiliário das casas, fizeram parte do plano divino que
foi definido para modificar radicalmente e para melhor, o modo de vida do povo
arretiano. Os espaciais foram o grande exemplo de dedicação incondicional e de
amor aos seus irmãos arretianos, sem o menor interesse por recompensas ou
reconhecimentos pessoais de qualquer espécie. Para dar uma idéia da
complexidade e do grau de envolvimento das pessoas com esse trabalho, vamos
descrever as características básicas do projeto e as principais atividades
desenvolvidas durante a construção das habitações familiares, ressaltando ou
complementando informações anteriores.
As residências foram agrupados em setores constituídos por casas com
a mesma quantidade de dormitórios do tipo suíte, variando de 1 a 4. Todas foram
construídas em terrenos com 1.000 metros quadrados, sendo 20 metros de frente e
50 de fundo. A madeira foi a matéria-prima utilizada nos alicerces, na estrutura e
nas paredes. As plantas foram padronizadas em todos os NTCA e tinham, além de
uma quantidade variável de dormitórios, uma sala de estar, uma cozinha
incompleta, uma lavanderia e varanda na frente e em uma das laterais. A metragem
quadrada de cada suíte era igual em todas as casas e a dos demais cômodos e da
varanda eram proporcionais à quantidade de dormitórios. Essas habitações eram
simples e funcionais, incluindo o mobiliário que também era padronizado para cada
um dos 4 tipos de residências. Seus componentes foram confeccionados com
madeiras de lei e apresentavam variações de tamanho, ou de quantidade,
proporcionais a cada tipo de habitação. Apesar das cozinhas não disporem de
fogão, conservador de alimentos e eletrodomésticos, elas foram projetadas para
comportar essas utilidades no futuro, quando houvesse uma completa normalização
da vida planetária.
Tomando por base a estratégia utilizada no país de Olintho para
construção das habitações, vamos descrever seus procedimentos principais, os
quais foram orientados, auxiliados e apoiados na parte técnica e logística pelos
espaciais, suas máquinas e equipamentos de alta tecnologia e eficiência. O projeto
previa sua execução por pessoas com pouca ou nenhuma experiência e, para
98
minimizar a ocorrência de dúvidas ou erros durante a sua execução, os amigos das
estrelas prepararam plantas detalhadas de cada fase e gabaritos de diversos tipos.
Os trabalhos foram iniciados com a demarcação dos setores e dos
terrenos. Em seguida, abriram as ruas, avenidas e executaram os serviços de
terraplanagem, nivelamento e compactação do piso destinado aos alicerces de
cada tipo de edificação. Na etapa seguinte abriram os buracos para fixação dos
pilares de madeira de sustentação dos alicerces. Esses serviços foram realizados
pelos espaciais, suas naves e máquinas extremamente rápidas e eficientes. Assim
que esses trabalhos foram concluídos, realizaram um sorteio para definir as famílias
que morariam em cada setor e terreno específico, com a finalidade de motivar os
sobreviventes, criar a afinidade energética e permitir a definição das cores de
acabamento das residências e do respectivo mobiliário. Com essas informações, os
espaciais prepararam as tintas necessárias a cada tipo de acabamento.
Assim que as cores de acabamento foram definidas, foi iniciada a grande
operação de construção das residências que contou com a participação de todos os
adultos, incluindo, em algumas fases, as crianças com mais de doze anos. Os
trabalhos foram desenvolvidos em regime de mutirão e os homens trabalharam em
expedientes diários de 12 a 14 horas. Os participantes foram divididos em grupos
homogêneos, a partir da escolha individual quanto ao tipo de trabalho que cada um
mais conhecia e gostava de executar. As construções foram iniciadas com a fixação
dos pilares de madeira para colocação das vigas de apoio do assoalho e das
colunas de sustentação das paredes e do telhado. Em seguida um outro grupo
colocou o vigamento de suporte do assoalho, aprumou e fixou as colunas de
madeira para sustentação das paredes e do telhado. Em paralelo, um novo grupo
instalou a rede de água e esgoto, deixando as tubulações na altura apropriada para
instalação de torneiras, tanques, lavatórios, chuveiros e vasos sanitários, com todas
as terminações de água fria devidamente lacradas e testadas contra vazamentos.
Também em paralelo, outro grupo montou as paredes utilizando tábuas
com encaixes do tipo macho e fêmea, com 20 centímetros de altura e 120 de
comprimento. Essas tábuas foram encaixadas nas colunas de sustentação e, nos
lugares destinados a portas ou janelas, encaixaram peças apropriadas para
instalação desses itens por uma outra equipe após a colocação do assoalho.
Quando as paredes atingiam a altura apropriada, colocaram as peças de
acabamento e sustentação do madeiramento do telhado. Essas peças foram
aparafusadas nas colunas de sustentação das paredes e, quando todo o conjunto
foi fixado, a estrutura da casa ficou travada e ponta para receber o madeiramento
do telhado.
Em seguida, outro grupo colocou e fixou o madeiramento do telhado,
deixando a residência pronta para ser coberta por outra equipe. O telhado era
formado por placas com doze milímetros de espessura, pouco mais de um metro de
largura e comprimento variável, as quais formavam a cobertura e o forro interno.
Elas foram confeccionas nas indústrias instaladas nos continentes polares e eram
compostas por plásticos, borrachas e outros materiais que as tornavam altamente
resistentes, impermeáveis, refratárias e leves. Elas tinham encaixes precisos que
foram unidos com uma resina própria e, em pontos específicos, foram substituídas
por outras placas especiais. Umas tinham células fotovoltaicas para geração de
energia elétrica de baixa voltagem e outras tinham a finalidade de aquecer água até
99
o ponto de fervura. Um terceiro tipo era um reservatório para 150 a 600 litros de
água quente, conforme o tamanho de cada residência.
Assim que todas as placas foram instaladas, outra equipe colocou o
assoalho de madeira e arremates laterais em todos os cômodos, exceto nos Box
dos banheiros, onde instalaram um piso formado por uma única placa de material
plástico. Em seguida, enquanto uma nova equipe colocou os acabamentos laterais
do teto, uma outra instalou e fixou as portas e janelas. Assim que esses trabalhos
foram concluídos, uma outra equipe instalou as canalizações de água quente com
tubulações aparentes. Em seguida, outra equipe instalou o tanque da lavanderia, a
pia da cozinha, os lavatórios, sanitários, chuveiros e suas ligações com a rede de
esgoto. Em paralelo, outra equipe instalou as baterias para acumulação da energia
gerada pelas células fotovoltaicas, executou as instalações elétricas e colocou as
lâmpadas especiais de baixo consumo, alta luminosidade e longa duração.
Assim que os trabalhos acima foram concluídos, outra equipe se dedicou
à pintura externa e interna, nas cores definidas pelos futuros usuários. Em seguida,
uma nova equipe limpou o assoalho de madeira e outra o recobriu com uma resina
plástica fosca e antiderrapante que o impermeabilizou completamente e destacou
suas cores originais. Quando o piso secou e adquiriu sua resistência máxima, outro
grupo instalou o mobiliário padrão nas cores definidas pelo futuro usuário, deixando
a casa pronta para ser habitada. O mobiliário era constituído pelos itens abaixo e
suas quantidades e dimensões foram padronizadas em função da quantidade de
dormitórios e da área construída.
Armário modular em cada quarto, com duas divisões básicas.
Camas solteiro com duas gavetas e de casal com quatro, ambas com baú na
cabeceira. Em cada quarto havia uma cama de casal no centro, ou duas de
solteiro nas laterais.
Colchões de espuma de alta densidade que foram resgatados durante as
operações específicas ou fabricados pelos espaciais nas indústrias instaladas
nos continentes polares.
Sofás para duas e para quatro pessoas, com estrutura de madeira e almofadas
de espuma.
Mesa de sala e cadeiras para 4 a 10 ocupantes.
Mesa de cozinha com 6 cadeiras, independente do tamanho da residência, além
de armário na pia e armário vertical de tamanho compatível com cada tipo de
residência.
Armários de banheiro, sendo um menor com espelho sobre o lavatório e outro
maior para artigos diversos.
Bancos de madeira com encostos instalados na varanda, com 4 a 12 lugares.
Apesar das residências serem padronizadas e cada setor ser formado
por habitações de um mesmo tipo ou tamanho, seu conjunto e suas cores externas
bastante variadas deixavam cada setor e o próprio NTCA com um aspecto
harmonioso, alegre, bonito e organizado, especialmente depois que concluíram o
ajardinamento das residências, as calçadas e o plantio de árvores nos canteiros das
ruas. Com isso, os NTCA se tornaram muito diferentes das antigas cidades
arretianas que apresentavam casas e prédios de todos os tipos e tamanhos, redes
elétricas e várias outras coisas que as tornavam parecidas com o atual padrão
terrestre.
100
A mudança de mentalidade
O conforto que os habitantes dos NTCA experimentaram nas novas
habitações, a fartura e a qualidade dos alimentos por eles produzidos, as diversões
coletivas nas ainda precárias estruturas de lazer e a satisfação por terem realizado
tantas coisas que nunca fizeram antes e em tão pouco tempo, dentre outros fatores
simples e importantes, redobrou a confiança no futuro e o apreço que a grande
maioria nutria pelos amigos das estrelas desde os dias da grande transição. Além
da constante e desinteressada dedicação, eles sempre cumpriam o que prometiam
e nenhum arretiano jamais se sentiu enganado por eles em nenhum momento.
Mesmo a decrescente minoria que ainda criticava o novo modo de vida e também
não confiava plenamente nos espaciais, não encontrava motivos lógicos ou
objetivos para justificar qualquer coisa contra eles junto à grande maioria.
Além disso, o relacionamento cordial e respeitoso que mantinham com
os sobreviventes, sem a mínima demonstração do poder e da supremacia
tecnológica e espiritual que todos os sobreviventes sabiam que eles detinham,
creditava aos espaciais um respeito e uma autoridade moral que os capacitava
como conselheiros nas mais diversas questões individuais, familiares ou coletivas.
Por essas razões eles foram requisitados, de maneira crescente, para fazer
preleções diversas, especialmente sobre os mais variados aspectos da Lei Divina.
De maneira didática, gradativa, objetiva e sem margens para contestações lógicas,
transmitiram os conceitos mais importantes e profundos sobre a realidade espiritual.
Essas preleções contribuíram decisivamente para acelerar e consolidar as drásticas
mudanças que ocorreram no comportamento social, afetivo e no pensamento
religioso da população, além de acelerar a materialização do ideal de irmandade e
fraternidade, pois a grande maioria começou a mudar radicalmente o seu modo de
pensar anterior e de encarar o seu novo modo de vida.
O que aconteceu naquele período foi o resultado de um longo processo
de maturação de idéias individuais e coletivas que finalizou com o advento da
grande transição. Os sobreviventes começaram a entender que o seu novo modo
de vida, apesar de simples, era muito melhor que aquele que vivenciaram
anteriormente como pessoas ricas ou pobres, famosas ou desconhecidas.
Começaram a entender o significado de uma coisa que buscaram sob as mais
diversas faces e somente a encontraram por breves momentos. Essas pessoas
começaram a sentir, vivenciar, praticar e entender a real natureza daquele
sentimento que denominavam como felicidade e entendiam que somente podiam
alcançá-la com riquezas e poderes materiais. Nessa nova fase de suas vidas, eles
não precisavam de carros, riquezas, títulos universitários e outras coisas que
diferenciavam as pessoas e pelas quais lutaram e se sacrificaram para atingir o
ponto onde supunham encontrar a felicidade e viam que, uma vez alcançado, o
ponto sempre se deslocava para um referencial mais alto que exigia novas lutas e
sacrifícios ainda maiores.
Nos NTCA, trabalhando como operários da construção civil, como
lavradores e outros ofícios, todos se sentiam iguais e felizes com as pequenas
coisas do dia-a-dia, como nunca experimentaram anteriormente. Ficavam felizes ao
contemplar a germinação das sementes na horta, em saborear os produtos
colhidos, ou durante o banho em uma cachoeira. Com isso, começaram a
101
questionar seus antigos valores e concluíram que a maioria das lutas que
empreenderam no passado foram em vão e na direção errada, pois raramente
experimentaram mais que algumas horas ou dias da tranqüilidade, segurança,
alegria e felicidade que vivenciaram desde os primeiros dias da grande transição,
especialmente durante a construção e após a ocupação das residências. Nos NTCA
não circulava dinheiro, não havia assaltos, assassinatos, patrões, empregados,
doutores, operários, pobres ou ricos. Todos eram sobreviventes de uma grande
catástrofe que destruiu a antiga estrutura planetária e ceifou a vida de dois terços
de sua população.
Todos estavam começando uma nova fase de suas vidas e uma nova
era planetária em harmonia com seus semelhantes, com a natureza e felizes como
as crianças, com as quais conviviam estreitamente e não mais em algumas horas
da noite e dos fins-de-semana, como acontecia anteriormente. Muitas vezes as
crianças trabalhavam em igualdade de condições com os adultos e até em
superioridade, a exemplo do que acontecia durante o plantio e colheita de verduras
e legumes na horta comunitária. Nessas atividades elas produziam mais que os
adultos em função da flexibilidade de seus corpos mais adaptados para trabalhos
ao nível do solo. Esses fatos e vários outros dominaram as conversas naqueles
dias do sexto mês e levaram os moradores a falar cada vez menos a respeito da
tragédia representada pela grande transição e a centrarem suas conversas nos
benefícios que ela representou, pelos bons frutos que produziu em um tempo tão
curto.
104
formação e plantio de novas mudas de arvores frutíferas, ornamentais e silvestres,
além da decoração dos NTCA e melhoria ou ampliação dos locais de lazer.
O início do segundo ano foi uma continuação do semestre anterior, com
grande incremento da produção de cereais, verduras e legumes, além da colheita
de algumas frutas de produção rápida plantadas no ano anterior. Ao longo desse
ano foram concluídos os trabalhos voltados para o embelezamento e decoração
dos NTCA, como o plantio de flores e folhagens em todas as residências, praças e
jardins comunitários. Também aprimoraram as estruturas de lazer e construíram
muitas pontes em vãos inferiores a cinco metros, pois as maiores foram instaladas
pelos especiais durante os trabalhos de normalização dos acessos terrestres. As
pontes e estradas ampliaram as opções de lazer aos domingos e permitiram iniciar
os contatos entre os núcleos próximos através de triciclos e de pequenos veículos
elétricos recuperados pelos espaciais. Eles destinaram um veículo para cada grupo
de 15 moradores, o qual foi utilizado em regime de rodízio. Esses veículos tinham
um raio de ação de 100 quilômetros e suas baterias podiam ser recarregadas pela
luz “solar” ou por geradores especiais que os amigos das estrelas instalaram em
todos os NTCA. Cada morador recebeu um triciclo com um a quatro assentos, de
maneira que quase todas as famílias contavam com um de cada tipo.
No decorrer do segundo ano foram construídas escolas em todos os
núcleos para ensinar um variado conjunto de matérias teóricas e práticas, além da
língua já utilizado pelo antigo mercado comum e que não era o idioma oficial em
nenhum país, a exemplo do nosso Esperanto, atendendo recomendações de um
organismo planetário criado no ano anterior e que será detalhado no item seguinte.
No final do segundo ano, aquele organismo concluiu o planejamento para
construção de novos Núcleos de Trabalho Comunitário Industrial, batizados como
NTCI, os quais foram construídos e habitados por uma parte dos moradores dos
NTCA de alta produtividade, com foi o caso da maioria daqueles localizados no país
de Olintho. Em muitos NTCA a população foi reduzida em até trinta por cento, sem
prejudicar o desenvolvimento das atividades agrícolas, ou aumentar o trabalho
diário, ou diminuir o descanso semanal.
Entre o terceiro e o quinto ano, as atividades desenvolvidas nos NTCA e
NTCI sofreram alterações significativas e seus moradores se dedicaram a
complementar, aprimorar, expandir e racionalizar suas atividades. O novo modo de
vida voltou a se estabilizar e uma parte significativa da produção industrial já era
realizada pelos arretianos. Nesse período foram intensificados os contatos entre os
núcleos próximos, especialmente por jovens e adolescentes. Em decorrência do
aumento significativo dessas visitas, todos os núcleos sofreram expansões em suas
áreas residenciais, principalmente a partir do quinto ano, quando muitos jovens, ou
pessoas solteiras, ou viúvas se casaram. No sexto ano foram construídos hospitais
em todos os núcleos, priorizando a maternidade que passou a ser incentivada em
todo o planeta. Até o final da primeira década, a vida transcorreu dentro de um
regime de normalidade e houve um aumento crescente de NTCI para desenvolver
novas atividades industriais que tornaram os arretianos completamente auto-
suficientes. Apesar de menos intenso, o regime de trabalho diário continuou sendo
de 10 a 12 horas, com descanso aos domingos.
105
A nova ONU e o início da unificação dos países
O segundo ano marcou um estreitamento das relações entre os
dirigentes de todos os países e esse importante passo foi facilitado em razão dos
espaciais terem inaugurado, no final do ano anterior, um grande centro de
convenções na grande ilha de Agartha, onde funcionava a sua principal base de
operações desde os primeiros dias da grande transição. O local tinha inúmeras
salas, pequenos auditórios e um maior com capacidade para 21 mil pessoas
sentadas. A ilha sempre esteve localizada em águas internacionais e era um
santuário ecológico mantido e freqüentado por cientistas de inúmeros países. Por
essa razão, o centro de convenções era um local neutro e indicado para reuniões
de caráter geral, pois a integridade e imparcialidade dos amigos das estrelas eram
inquestionáveis.
Sua inauguração ocorreu em uma manhã de domingo e nela estavam
presentes todos os coordenadores das juntas federativas e estaduais. A cerimônia
foi acompanhada pela população do planeta através de telões instalados pelos
espaciais em todos os núcleos e contou com palestras do comandante da frota de
apoio a Arret e de representantes de cada um dos cinco continentes habitados,
previamente escolhidos pelos coordenadores das juntas federativas
correspondentes. O comandante fez uma palestra sobre os objetivo daquele centro
e propôs uma agenda com diversos temas a serem discutidos nos dias seguintes.
Quando os representantes continentais falaram, o embrião da unificação planetária
estava em suas mentes, pois todos o colocaram como um objetivo a ser atingido em
um futuro próximo.
Na parte da tarde as delegações conheceram os detalhes do centro de
convenções e após o jantar os coordenadores das juntas estaduais retornaram ao
aos seus locais de origem. Os três dias seguintes foram reservados para reuniões e
discussões de temas de alto interesse para o futuro do planeta, cabendo aos
espaciais a mediação das reuniões e o fornecimento do apoio logístico, inclusive,
de tradução simultânea. Durante esses dias, os dirigentes das juntas federativas
foram divididos em grupos temáticos e reunidos em auditórios menores. Suas
conclusões foram apresentadas e discutidas em reuniões plenárias no grande
auditório e, no final, chegaram a muitas conclusões e resolveram uma infinidade de
pequenos e grandes problemas que afetavam diversos países. Além disso,
definiram um calendário para realização de reuniões semelhantes a cada três
meses.
Como principal conclusão, decidiram recriar, em novas bases, um
organismo multilateral semelhante à nossa ONU, em substituição àquele que lá
existia antes da grande transição. O novo organismo foi definido com o objetivo de
levantar, discutir e propor soluções para todas as questões de interesse comum e
preparar o caminho para o governo planetário, começando pela unificação de
países vizinhos e de um mesmo continente. Seu plenário seria composto por
representantes de todos os países, em torno de 450, e suas decisões teriam poder
normativo a nível setorial e planetário. A nova ONU teria atuação permanente e os
representantes de cada país residiriam na ilha de Agartha com suas famílias e
outras cinco de seus respectivos auxiliares, onde formariam um núcleo residencial
com formato circular, a ser construído no entorno do centro de convenções. O
106
núcleo seria dividido em setores representativos de cada continente e estes em
quadras específicas para comportar as famílias de cada país. Apesar dessa divisão
lógica, formariam um único núcleo com restaurantes e serviços de uso comum, a
exemplo daquilo que ocorria nos NTCA.
Além da utilização da estrutura já existente, seriam construídos
escritórios de trabalho para comportar as delegações de cada país, localizados
entre o núcleo residencial e o centro de convenções. Também contariam com o
assessoramento de espaciais especialistas em questões governamentais, cabines
de teletransporte com acesso às naves dos dirigentes de seus respectivos países,
além de um “pool” de naves de vários portes para deslocamentos a qualquer região
do planeta. A infra-estrutura para abrigar as famílias e permitir o início das
atividades do novo organismo foi construída em menos de quatro meses e
obedeceu aos mesmos padrões adotados nos NTCA. O núcleo residencial foi
ocupado nos dias seguintes por cerca de 8.000 pessoas, representando as famílias
dos membros titulares e de seus auxiliares. Os assessores espaciais continuaram
morando nas naves de apoio e a nova ONU arretiana iniciou suas atividades após
uma rápida solenidade coordenada pelo comandante da frota de apoio a Arret e
contou com a presença de todos os coordenadores das juntas federativas e
estaduais.
Os familiares dos membros do novo organismo logo sentiram
dificuldades para incrementar seus relacionamentos em função das barreiras
representadas pelas diversos idiomas natais. Esse fato causou um isolamento das
famílias e um grande choque em todos os membros do novo organismo. Para
solucionar esse problema, resolveram definir como língua oficial da Ilha de Agartha,
a mesma que utilizavam no antigo mercado comum. No decorrer das discussões,
extrapolaram o objetivo a nível planetário e decidiram recomendar o ensino da
linguagem em todos os núcleos agrícolas e industriais do planeta, pois o caminho
para a unificação planetária estava aberto e esse era o principal objetivo da criação
daquele organismo. Essa foi a primeira proposta aprovada pelo novo organismo e
imediatamente posta em pratica pelos dirigentes de todos os países, pois em cada
NTCA havia uma ou mais pessoas que conheciam a nova língua.
Como havia muitas na ilha de Agartha, em pouco mais de seis meses
todos se comunicavam através dela, o que fomentou a integração entre os
moradores e significou um grande passo em direção à unificação planetária, pois
em pouco tempo desapareceu a sensação de que pertenciam a países distintos. Os
habitantes do país de Olintho comemoraram a entrada do terceiro ano utilizando a
nova língua como idioma oficial que, no decorrer daquele ano, foi adotado pelos
demais países daquele continente. Apesar do entusiasmo inicial, o engajamento e o
uso diário da nova língua ainda demorou alguns anos para ser falada e escrita por
todos os habitantes do planeta, mais por força do hábito, do que por outras razões.
Como outro grande fruto das atividades iniciais da nova ONU, foram
reestruturadas as juntas de governo federativas e extintas as estaduais de todos os
países. Juntamente com essa iniciativa, criaram uma pequena estrutura semelhante
às juntas federativas em todos os NTCA, para facilitar as comunicações e agilizar o
andamento dos trabalhos, denominada como Coordenação Administrativa.
Também estabeleceram um sistema de eleições para todos esses cargos, com
mandatos de quatro anos e reeleições sucessivas. A primeira eleição geral ocorreu
107
no final do segundo ano e quase todos os dirigentes federativos que se
candidataram foram confirmados em seus cargos, como foi o caso de Olintho. Com
isso, as juntas estaduais foram extintas e seus membros e suas respectivas famílias
foram residir e trabalhar nos NTCA que escolheram.
Além da força normativa que a nova ONU representava, a extinção das
juntas estaduais e a criação de coordenações administrativas em cada NTCA, vinha
sendo discutida pela maioria dos coordenadores estaduais e demais membros
desde meados do ano anterior, em função de três fatores principais.
A normalização das atividades em todos os NTCA e o decrescente uso de naves
para locomoções, as quais continuavam, juntamente com seus comandantes e
tripulantes, à disposição das juntas estaduais.
A necessidade de uma coordenação local em cada NTCA para aliviar o trabalho
dos espaciais que atuavam em cada um deles e de muitos moradores que, além
de desempenharem atribuições afetas a todos os moradores, eram
constantemente acionados para resolver diversos tipos de problemas, ou para
tomar decisões ou administrar situações que afetavam a comunidade.
O crescente desejo dos membros das juntas estaduais de residir no solo e ter a
mesma qualidade de vida dos moradores dos NTCA, especialmente quando
tinham filhos pequenos ou adolescentes.
As juntas federativas foram reduzidas para um máximo de 33 membros e
foram mantidas as 450 naves principais como gabinete de trabalho e residência
familiar. Os especialistas em questões governamentais foram limitados aos
tripulantes das naves e todos os voluntários arretianos foram com suas famílias
morar nos NTCA que escolheram. Com isso, a quantidade de naves de pequeno
porte para locomoção caiu drasticamente e ficou restrita às novas necessidades dos
membros das juntas federativas. Essas mudanças abriram caminho para outras
maiores e no decorrer do segundo ano foi concluído e aprovado um planejamento
global para construção de Núcleos de Trabalho Comunitário Industrial, os NTCI.
Esse projeto foi incentivado pelos espaciais que se comprometeram a
doar todos os equipamentos necessários e a ministrar o treinamento para capacitar
os arretianos a assumir a produção de uma série de produtos industrializados e de
outros bens que integrariam as linhas de produção nos anos seguintes. Essa
disposição dos amigos das estrelas foi motivada pela nova maneira de pensar do
povo arretiano que, em sua maioria, assimilou completamente as lições impostas
pelos acontecimentos da grande transição e já pensavam e agiam de uma maneira
impessoal e completamente diferente daquela que praticavam anteriormente.
Os critérios para construir e instalar os novos núcleos foram simples e
objetivos. À medida que as safras agrícolas de cada país apresentassem
excedentes, eles seriam eletivos para implantação de NTCI e, dentro deles, as
regiões mais produtivas, de cujos NTCA seriam recrutadas e selecionadas as
famílias para construir, residir e produzir nos novos núcleos, pois a saída dessas
famílias não representaria trabalho adicional para aqueles que permaneceriam nos
locais de origem. Cada NTCI foi projetado para produzir uma linha específica de
produtos e previa expansões futuras das áreas residenciais, industriais, de lazer e
de serviços públicos. Os candidatos e suas famílias foram selecionados em função
da formação anterior, habilidades e desejos individuais e familiares. Todas as
famílias selecionadas foram abrigadas em naves apropriadas durante a fase de
108
construção dos NTCI para abrigar até 2.000 pessoas, entre adultos e crianças, em
um período compreendido entre quatro e seis meses. Exceto a área industrial, as
demais seguiram os mesmos padrões existentes nos NTCA, inclusive quanto aos
restaurantes comunitários.
Durante os meses que duraram as construções, todos os novos
industriários receberam treinamento teórico e prático no interior das naves e em
instalações congêneres que os espaciais mantinham em diversos locais do planeta.
Os primeiros NTCI foram concluídos no início do terceiro ano e tiveram sua
produção direcionada para a industrialização de alimentos, artigos de vestuário,
cama, mesa e banho, peças de madeiras e outros equipamentos para construção e
mobiliário, além de uma infinidade de ferramentas de trabalho e utilidades
domésticas. Assim que cada NTCI foi concluído e as residências ocupadas, os
espaciais iniciaram a instalação e os testes operacionais dos equipamentos
industriais, sempre auxiliados pelos novos operários. As fábricas entraram em
operação com total acompanhamento dos espaciais e, após algumas semanas,
quando os arretianos se sentiram seguros e dominaram a técnica de operação e de
manutenção dos equipamentos, a maioria dos amigos das estrelas se retiraram
para instalar novos NTCI, deixando um grupo de apoio em uma nave estacionada,
como ocorria em todos os NTCA. Em alguns locais, eles permaneceram por um
tempo maior e somente partiram quando a produção atingiu o nível máximo,
O processo de industrialização se estendeu até o final do décimo ano,
quando os excedentes de mão-de-obra agrícola permitiram a implantação de toda a
infra-estrutura necessária à auto-suficiência do planeta. Permaneceram ativas e
ainda operadas pelos espaciais, apenas as industrias básicas instaladas nos
continente polares e em algumas ilhas isoladas. Durante o segundo ano também
foram iniciados alguns movimentos para unificação de países, começando pelo
continente onde se localizava o país de Olintho. No final do terceiro ano, a metade
dos países daquele continente foram unificados e Olintho foi indicado como seu
governante. Em outros três continentes ocorreram unificações mais acanhadas,
mas o movimento continuou ativo e de maneira crescente. No início do quinto ano
todos os países do continente de Olintho foram unificados e ele foi eleito o primeiro
governante continental.
Uma das suas primeiras medidas foi construir um núcleo para abrigar a
estrutura habitacional e administrativa do novo governo. Ele foi rapidamente
construído e logo os membros do primeiro governo continental voltaram a viver no
solo com suas famílias. Essa iniciativa motivou outros coordenadores de juntas
federativas e daquelas formadas por grupos de países a tomarem iniciativa
semelhante. A competente administração de Olintho gerou um grande aumento na
produção agrícola e industrial do seu continente, a qual implicou em uma redução
na jornada de trabalho no decorrer do sexto ano, para não gerar excedentes não
aproveitáveis no restante do planeta. A jornada foi diminuída para dez horas diárias
e incluiu o dia de sábado no descanso semanal. Esses resultados influenciaram os
demais países de outros três continentes parcialmente unificados e os processos se
intensificaram com a criação do segundo governo continental no final do oitavo ano,
elevando para mais de 200 o número de países unificados em todo o planeta. Não
fosse a sua morte ocorrida no final do décimo ano, esse processo teria sido
concluído em um tempo bem menor que aquele que foi gasto.
109
A morte de Olintho
Ele faleceu em decorrência de um ataque cardíaco fulminante, às
vésperas de completar sessenta e quatro anos, durante uma visita de rotina a um
núcleo industrial. Olintho vinha sendo alertado pelos seus médicos para diminuir o
seu ritmo e horário de trabalho desde quando assumiu a presidência de seu país,
três anos antes da grande transição. Depois, os espaciais continuaram com a
mesma recomendação, pois não podiam interferir no seu livre arbítrio. Durante
quase quatorze anos ele trabalhou intensamente para melhorar a qualidade de vida
das populações que governou como um missionário. Ele nunca tirou férias e poucos
foram os fins de semana que aproveitou para descansar. Quando faleceu, era a
pessoa mais admirada e respeitada no planeta, incluindo os dirigentes e habitantes
dos países mais problemáticos. Por isso, ele era uma espécie de embaixador dos
amigos das estrelas e dos demais dirigentes juntos a esses povos. Ele também era
visto como uma espécie de pai, amigo ou irmão de todas as pessoas que viviam em
seu país de origem e no continente que governou durante mais de cinco anos.
Desde quando Olintho assumiu a presidência do seu país, no período
anterior à grande transição, ele sempre foi o exemplo de tudo que deu certo e
produziu os melhores resultados com o menor esforço e no menor tempo possível.
A notícia da sua morte paralisou o planeta, pois o comando a frota de apoio a Arret
divulgou o fato a todas as naves sediadas nos núcleos, como sempre acontecia
com notícias de interesse geral, a exemplo das deliberações da nova ONU,
unificações de países e uma série de outras novidades que sempre eram
divulgadas nos restaurantes coletivos e nas demais áreas sociais. Fazia quase uma
década que a grande maioria dos habitantes não tinha razões para tristezas, pois a
nova vida planetária apresentava um número crescente de fatos positivos que só
geravam alegrias e confiança em um futuro ainda melhor. A morte de Olintho
entristeceu todos os habitantes do planeta a população, pois foi sentida como a
perda um parente querido ou de um grande amigo. Como todos queriam prestar a
ele a sua última homenagem e não havia condições para tal, os espaciais
sortearam um morador de cada núcleo e o levaram à ilha de Agartha para, em
nome dos demais, prestar suas homenagens àquele grande homem.
Seu corpo foi preparado para suportar a longa homenagem que recebeu
no centro de convenções durante doze dias e noites, quando foi visitado por quase
4 milhões de pessoas. Os espaciais montaram telões nas praças que circundavam
os restaurantes coletivos, para que a população acompanhasse as homenagens
após o jantar. Também transmitiram a cerimônia que ocorreu no dia do seu
sepultamento quando todas as atividades planetárias foram paralisadas. Ele foi
enterrado em um local da ilha de Agartha onde atualmente é o centro de um jardim
localizado no lado direito da entrada principal do Palácio da Harmonia, a atual sede
do governo planetário. No jardim do lado esquerdo está enterrado o corpo de
Hórhium, o segundo governante do planeta, tido pelo povo arretiano como uma
nova manifestação de Olintho.
A cerimônia simples foi precedida por um emocionado discurso do
comandante da frota de apoio a Arret e foi presenciada por todos os coordenadores
das atuais e das primeiras juntas de governo criadas após a grande transição.
Olintho foi substituído por Nunzain um dos membros da sua junta de governo
110
continental e também um de seus maiores amigos e grande colaborador desde os
primeiros dias da grande transição, quando coordenou os esforços que levaram à
construção dos NTCA de seu país em tempo recorde. Ele também era um
trabalhador incansável, muito competente, querido e respeitado pelos povos do seu
continente. Nunzain era uma pessoa dotada de grande sabedoria e senso de
justiça, possuindo, de maneira geral, as qualidades básicas do seu grande amigo e
mestre Olintho.
111
continuaram sendo tratados pelos espaciais, a exemplo de transplantes ou
reconstituições de órgãos lesados por acidentes.
No final da segunda década havia escolas de primeiro e de segundo
graus para todas as crianças e jovens. Elas utilizavam um sistema de ensino
participativo que valorizava a convivência social e a vocação dos alunos,
semelhante ao projeto implantado parcialmente por Olintho no período anterior à
grande transição. Os alunos que concluíam o segundo grau podiam residir e
continuar seus estudos em cidades universitárias que foram construídas em pontos
estratégicos do planeta, as quais ofereciam cursos de formação e de
especializações nos áreas da medicina, agronomia e engenharia. Esses alunos
visitavam seus familiares nos fins-de-semanas e nos períodos de férias, através
cabines de teletransporte que havia nessas universidades e nas naves de suporte
que havia em todos os núcleos.
O período compreendido entre os anos 21 e 40 encerrou o ciclo básico
de apoio aos sobreviventes e deu início à fase preparatória para implantação do
governo planetário. Esse período abrangeu a morte de Nunzain, no ano 38, três
anos após a unificação do último e mais problemático dos continentes. Ele foi
substituído por Thauro, um administrador e estrategista brilhante que foi o principal
articulador e coordenador dos trabalhos de preparação do governo planetário. Uma
série de acontecimentos marcou o transcorrer desses anos decisivos na nova
história arretiana.
Alguns meses após a unificação do último continente, no início do ano
35, a ONU arretiana foi novamente reestruturada e cada continente foi representado
por 21 equipes, cada uma delas especializada em uma área específica, como
educação, saúde, habitação, planejamento, produção agrícola, distribuição e lazer.
Com isso, a nível planetário, cada área era composta por dezenas de especialistas
e um grupo decisório formado por 7 coordenadores que representavam cada
continente. Cada grupo decisório formava um conselho deliberativo setorial que
atuava sob a coordenação de um de seus membros. Esses 21 conselhos formavam
a ONU arretiana, a qual era dirigida por um coordenador geral, escolhido dentre os
integrantes dos diversos conselhos setoriais.
No ano 36 os governos continentais foram reestruturados e divididos em
regiões com extensão territorial definida em função da quantidade de habitantes por
quilômetro quadrado. Cada continente, região e núcleo agrícola ou industrial tinha
uma coordenação geral e coordenações específicas ligadas a cada uma das 21
divisões setoriais da nova ONU. A coordenação geral do governo continental era
exercida por um presidente e as setoriais, por 21 ministros, cada um deles
respondendo por uma área específica, formando uma estrutura padronizada e
harmônica em todo o planeta.
Juntamente com a reestruturação dos governos continentais, a nova
ONU estabeleceu um conjunto de normas definidas a partir dos princípios da Lei
Universal, tendo o amor, a igualdade, a irmandade entre os povos e a paternidade
Divina como a base fundamental. Essa nova constituição planetária revogou todas
as legislações específicas de cada continente e se transformou em um código de
conduta que englobou os aspectos religiosos, sociais, morais, políticos, civis e
criminais, apesar de ainda comportar algumas exceções para acomodar tradições e
costumes vigentes em cada continente. Ela formava um pequeno volume,
112
denominado como “A Lei de Deus”, cujo conteúdo permaneceu inalterado até o final
do primeiro século.
A idéia dessa iniciativa nasceu do crescente anseio popular sentido nos
anos anteriores e teve como base as mudanças ocorridas no comportamento e no
pensamento religioso, pois ninguém mais se dizia membro ou defendia quaisquer
das antigas correntes religiosas. A grande maioria dos arretianos já formava um
único rebanho e seguia a um único pastor, representado por Ahelohim, o Messias
planetário. Ahelohim não mais era visto como aquele que motivou o surgimento de
uma das grandes correntes religiosas do passado, mas como aquele que sintetizou
todos os seus precursores e demonstrou a redentora face da paternidade divina e
da irmandade universal. Todos passaram a dar importância a uma religiosidade
vivenciada e demonstrada pelos atos práticos e pelas pequenas atitudes do dia-a-
dia, conforme os amigos das estrelas sempre falavam e exemplificavam em todas
as suas ações, desde o advento da grande transição.
A nova constituição planetária entrou em vigor no início do ano 37 e
todos os códigos legais, livros sagrados e outros que tratavam de assuntos
semelhantes, bem como, aqueles que não contribuíam para o progresso espiritual,
foram reciclados e transformados em cadernos e livros didáticos. Como decorrência
da nova constituição, muitas profissões exercidas antes da grande transição foram
oficialmente extintas, inclusive pelo fato de terem caído em desuso desde aquele
acontecimento. A nova estrutura e modo de vida não mais necessitavam de juízes,
promotores, advogados, corretores, comerciantes, cartorários, despachantes,
policiais, investigadores, soldados, bancários, administradores de investimentos,
lobistas, membros do legislativo e uma infinidade de outras profissões e ocupações.
Ao longo desses 40 anos, os sobreviventes e aqueles que nasceram
durante esses anos tinham outros valores individuais e coletivos. Todos respeitavam
seus semelhantes e procuravam não fazer a eles aquilo que não queriam deles
receber. Muitos, além de agir dessa nova maneira, estavam um passo adiante e
procuravam fazer qualquer coisa que pudesse deixar uma pessoa mais alegre ou
feliz. No decorrer dos 20 anos anteriores houve um completo amadurecimento da
irmandade planetária e os antigos costumes e valores, mesmo ainda presentes em
uma parcela insignificante da população, tinham sido esquecidos pela esmagadora
maioria que vivia uma nova realidade, sob um novo céu e uma nova terra.
No final do ano 40, todo o planeta já falava e escrevia em uma única
língua, as fronteiras eram livres e os arretianos podiam residir em qualquer
continente que escolhessem. Os controles de trocas que alguns países do último
continente unificado mantinham entre si tinham desaparecido e todos colocavam
seus excedentes à disposição dos espaciais para distribuição aos povos que deles
necessitavam. Agiam assim pelo simples prazer de ajudar seus irmãos que
moravam em locais de menor produtividade, ou que ainda não se esforçavam o
suficiente, por não terem assimilado o novo modo de vida planetário. Entendiam
que, assim como os espaciais deram idênticas condições a todos que sobreviveram
à grande transição, deveriam proceder da mesma maneira com seus irmãos menos
conscientes, deixando para o Pai Celestial a decisão quanto ao destino que teriam
quando deixassem a matéria. Aqueles que nasceram nos anos anteriores à grande
transição, ou após a sua ocorrência, tinham uma mentalidade fraterna e estavam
preparados para a grande mudança que era a unificação total do governo
113
planetário. Essas pessoas eram mais espiritualizadas e trabalhavam para o
desaparecimento das poucas barreiras ainda existentes.
Assim como aconteceu desde os dias seguintes à grande transição, os
governos continentais continuaram sendo apoiados pelos espaciais, especialmente
na área de transportes, pois suas naves e uma pequena quantidade de cabines de
teletransporte, representavam a única opção de carga ou para deslocamentos de
pessoas em distâncias superiores a 200 quilômetros. Desde o início do processo de
industrialização e com o crescente aumento das transferências de pessoas dos
núcleos agrícolas para os industriais, a população passou a deixar sua residência e
respectivos móveis para outros moradores e receber outra do mesmo padrão no
novo local. As atividades de lazer, apesar de intensas, continuavam sendo
praticadas somente nos finais de semana, o qual já incluía o sábado em todo o
planeta. O ritmo de trabalho ainda era intenso, em torno de 10 horas diárias, pois os
arretianos assumiram uma série de atividades ligadas à educação, saúde e
produção industrial. Desde a grande transição as férias anuais foram abolidas e
todos encaravam qualquer tipo de trabalho como mais uma atividade de lazer.
A população cresceu consideravelmente e, no final do ano 40, o planeta
já contava com quase 6 bilhões de habitantes, constituídos por muitas crianças e
jovens, o que motivou a construção ou ampliação de escolas dos três graus de
ensino. Em conseqüência, houve uma grande expansão nos núcleos então
existentes e muitos atingiram o seu plano de lotação inicial. Com isso, construíram
muitos outros, especialmente nos dois continentes polares, cujas terras eram
especialmente férteis. Nessa época os NTCA e NTCI deixaram de ser denominados
como tal e passaram a serem referenciados como cidades agrícolas ou industriais.
No final do ano 40, alguns estudantes que se destacavam nos diversos cursos de
graduação eram levados a outros planetas para complementar seus conhecimentos
e aprender novas tecnologias.
O período preparatório
Esse período de 9 anos foi de grande importância na história arretiana e
culminou com a instalação do governo planetário. Mais importante que esse
acontecimento foram as suas conseqüências, pois desencadeou outras coisas
altamente positivas que, em sua maioria, não faziam parte dos sonhos da
população e nem daqueles que trabalharam incansavelmente para implantar o
governo planetário. No início do ano 41, os dirigentes continentais e a quase
totalidade da população almejava a criação do governo planetário. O entendimento
de todos era que ele representaria muito mais que uma administração centralizada.
Entendiam que ele representaria, principalmente, a consolidação da irmandade, da
fraternidade e da igualdade entre todos os povos, pois na prática, já havia uma
certa centralização administrativa, em função do suporte que os espaciais forneciam
indistintamente aos povos de todos os continentes, dos procedimentos
padronizados definidas pela ONU, das fronteiras livres e do idioma único, dentre
várias outras coisas.
No início do ano 42, em continuidade ao processo de transferência de
tecnologia, os espaciais começaram a equipar a ONU e os governos continentais
114
com sofisticados computadores, sistemas integrados e banco de dados que antes
só existiam em suas naves. O banco de dados mantido e atualizado pelos espaciais
foi substancialmente ampliado a partir de um detalhado levantamento das
necessidades básicas da população, relacionadas com habitação, alimentação,
vestuário, saúde, educação e lazer, dentre outras consideradas como fundamentais
para o bem-estar, conforto e qualidade de vida, além de particularidades e
expectativas dos habitantes de cada continente. A finalidade desse banco de dados
era facilitar o planejamento das necessidades da população e tornar os governos
continentais independentes desse tipo de apoio dos amigos das estrelas. A
administração do sistema e do banco de dados ficou sob a responsabilidade da
ONU arretiana, sediada na ilha de Agartha, onde foram instalados os computadores
ou servidores principais. O acesso para consultas e atualização seletiva do banco
de dados foi descentralizado em diversos níveis, desde a administração continental
até os núcleos administrativos, operacionais e de serviços existentes em cada
cidade agrícola ou industrial. Esse grande e ramificado sistema foi o embrião da
nova Internet arretiana.
A ONU era um organismo muito respeitado em todo planeta desde a sua
criação e, com o passar do tempo adquiriu maior agilidade, poder e amplitude de
atuação, principalmente após sua última reestruturação ocorrida no ano 35. Ela
atuava como um organismo que definia critérios de conduta e padrões a nível geral
e, nesse aspecto, antecedeu o governo planetário. Sua estrutura colegiada e
flexível permitia avaliar assuntos específicos de cada continente sem perder a visão
da coletividade planetária e por essa razão suas deliberações eram sempre
acatadas e colocadas em prática, pois todos os seus membros agiam com o mais o
mais alto espírito público. Entre os anos 42 e 48, ela definiu regras e procedimentos
que motivaram os governos continentais a implantar os mais variados projetos
voltados para viabilizar o governo planetário. Com isso, todos os pequenos e
grandes problemas foram equacionados e resolvidos, incluindo soluções
particularizadas para atender reivindicações específicas de uma pequena parcela
da população concentrada no último e mais problemático dos continentes
unificados.
Nos seis meses finais do ano 48, os governantes continentais e suas
equipes intensificaram as reuniões com grupos de trabalho da ONU e, com a
assessoria dos amigos das estrelas, definiram o projeto básico para estruturação do
governo planetário, envolvendo sua forma de atuação e critérios para escolha do
presidente, ministros e demais membros. Os seis meses seguintes foram gastos em
reuniões informativas no centro de convenções da ilha de Agartha, envolvendo os
dirigentes continentais, regionais e municipais, todas, com milhares de
participantes. O objetivo dessas reuniões era levar o mesmo nível de informações a
todos e, ao mesmo tempo, detectar e resolver qualquer tipo de problema que ainda
não tivesse sido levantado e equacionado. No final, o projeto foi considerado como
aprovado, com as seguintes características principais.
A estrutura organizacional seguiria o padrão vigente na ONU e nos governos
continentais.
O governo planetário ficaria sediado em Agartha e utilizaria, além da estrutura do
centro de convenções, aquela utilizada pela ONU arretiana, a qual seria
desativada.
115
Os recursos humanos e materiais alocados nos governos continentais seriam
parcialmente aproveitados, pois a nova estrutura necessitava de menor
quantidade desses recursos.
Nos dias seguintes à eleição e posse do presidente e seus ministros, seriam
extintos todos os cargos incompatíveis com a nova estrutura e empossados
todos aqueles que dela fariam parte. Os demais iriam viver e trabalhar em
cidades agrícolas ou industriais de sua livre escolha.
Os sete dirigentes continentais, incluindo o coordenador geral da ONU seriam
candidatos natos à presidência do governo planetário. Os demais membros
seriam candidatos a ministro, de acordo com a área de atuação de cada um
deles.
O presidente e seus 21 ministros seriam escolhidos por votação secreta dos
dirigentes continentais e seus ministros. Também votariam, o coordenador geral
da ONU e os coordenadores dos seus 21 conselhos setoriais.
Como todos se conheciam muito bem, não haveria campanha e a escolha seria
realizada com base nos méritos individuais, no trabalho que realizaram e na
forma como aceitavam e cumpriam a Lei Divina.
O período de mandato seria até o final da vida de cada um, a menos que
renunciassem por vontade própria.
A eleição seria realizada no centro de convenções de Agartha e seria transmitida
para todo o planeta através de telões que os espaciais instalariam em cada
cidade.
O centro de convenções seria ocupado pelos eleitores, demais membros da
ONU e coordenadores regionais de cada continente. Os demais lugares seriam
ocupados por pessoas oriundas de todas as regiões do planeta, sorteadas em
quantidades proporcionais aos seus habitantes.
Finalmente, marcaram o dia da eleição para meados do ano 49, em um dia
equivalente a um sábado, às 8 horas da manhã.
Com isso foram satisfeitos os anseios da quase totalidade da população.
Porém, ainda restaram alguns problemas que envolviam uma pequena parcela da
população que rejeitava a idéia da irmandade planetária, se esquivava do trabalho
comunitário sempre que podia e exagerava na utilização dos bens distribuídos ou
retirados gratuitamente nos mercados públicos, sem nenhum tipo de controle. Como
essas pessoas pertenciam à geração anterior à transição e, nos últimos anos, seu
número foi drasticamente reduzido, os idealizadores do projeto chegaram a um
consenso que deveriam defini-lo sem critérios de exceção, dando a todos os
mesmos direitos e deveres, mesmo àqueles que não cumpriam com suas
obrigações sociais. Assim procederam, pois entendiam que a Lei Divina se
encarregaria de fazer o devido ajuste no tempo apropriado.
122
Essas novas cidades contavam com um centro de lazer e um grande
parque, como os parques do encontro existentes em todas as atuais cidades
arretianas. Os balneários e outros locais de lazer não urbanos, para uso nos fins de
semana e nas férias anuais, começaram a ser estruturados e construídos durante
esse período, como uma das conseqüências da nova estrutura de transportes de
passageiros. Durante os 20 anos seguintes, a estrutura do planeta passou por
grandes transformações positivas e todos os arretianos experimentaram uma nova
fase de grandes progressos em todas as áreas. A transição planetária tornou-se um
acontecimento histórico que passou a ser lembrado como uma benção divina que
motivou a transformação do planeta e o novo modo de vida do povo arretiano.
Thauro faleceu na metade do ano 96, depois de realizar um grandioso
trabalho desde os primeiros meses do seu governo. Ele, seus ministros e demais
colaboradores, seguiram à risca as palavras de Ahelohim e fizeram tudo o que foi
possível para incrementar a irmandade planetária e melhorar a qualidade de vida da
população. Não mediram esforços, fizeram enormes sacrifícios individuais e
exerceram seus mandatos por amor ao Pai Celestial e a seus irmãos de todos os
recantos do planeta, iniciando um processo que foi seguido e aprimorado pelos
demais governantes ao longo dos séculos. No início do ano 90, Thauro convidou
Hórhium e sua equipe principal para trabalhar com ele e seus ministros, dando
início a outro costume que foi seguido por todos os demais governantes. Desde os
20 anos anteriores, todos os arretianos sabiam que Hórhium seria o novo
governante e que ele era uma nova manifestação de Olintho, cuja figura singular
nunca foi esquecida pela população.
Thauro, que o tinha como mestre e como o exemplo que sempre seguiu,
foi obrigado a inverter os papéis durante os anos que o teve como colaborador e
dedicado discípulo, como Hórhium sempre fazia questão de frisar e de se colocar.
Thauro morreu tranqüilo e feliz, tanto pela consciência do dever cumprido, como por
saber quem era o seu substituto. Foi assim que a nova equipe de governo,
anunciada por Ahelohim, em meados do ano 49, deu continuidade aos trabalhos em
andamento e realizaram muitos outros. Hórhium era o mais velho de sua equipe de
ministros, pois estava com 61 anos, com a aparência de 40. Ele viveu 142 anos e
governou Arret durante quase 81, pois seu governo foi iniciado na metade do ano
96 e se estendeu até o final do ano 176. Naquela época, a idade média da
população já passava dos 120 e muitas pessoas viviam 130 anos ou mais, com
perfeita saúde e disposição. Essa longevidade decorria de uma alimentação
equilibrada e de excelente qualidade, do tipo de vida que levavam, bastante ativa e
feliz, além da avançada medicina transmitida pelos espaciais, que já atuava no
corpo vital e tinha um caráter eminentemente preventivo.
Além de dar continuidade aos trabalhos de Thauro, Hórhium utilizou os
três anos e meio que fechavam o primeiro século, para efetuar um novo e grande
levantamento de dados e planejar as atividades do seu governo. Como parte das
comemorações do primeiro centenário da grande transição ele e sua equipe
ofereceram ao povo uma nova versão da constituição planetária, editada no final do
ano 36. Como seu conteúdo permaneceu inalterado durante mais de 60 anos,
estava necessitando de uma revisão, pois a sociedade planetária passou por
profundas alterações durante esse período e muitos dos temas que tratava foram
definidos para acomodar situações particulares de alguns povos da época. A nova
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versão foi substancialmente reduzida e escrita em linguagem simples e direta,
tornando ainda mais claros os principais postulados da Lei Divina. Ele continuou
titulado como “A Lei de Deus” e manteve o seu poder de resolver todos os
problemas e situações que envolviam a comunidade planetária. Esse extraordinário
livro, que também era a Bíblia que todos seguiam, sofreu pequenas alterações ao
longo dos séculos e permaneceu como livro de cabeceira do povo arretiano, lido
entendido e praticado por todos os habitantes com mais de 7 anos.
Obrigado por ler este livro. Se gostou, esperamos que se junte aos
sonhadores e sonhadoras que propagam um ideal de vida semelhante ao arretiano.
Com isso ajudaremos a materializar o sonho representado pela vida, pela obra,
pelas palavras e pelo exemplo de Jesus.
Apesar dos direitos autorais deste livro estar devidamente protegido e
registrado na Fundação Biblioteca Nacional, conforme dados na página dois deste
livro, você pode ceder cópias a seus amigos e amigas, pois nosso maior desejo é
divulgar a mensagem nele contida.
BIOGRAFIA DO AUTOR
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