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O costureiro e sua grife: contribuigdo para uma teoria da magia* Pierre Bourdieu comYvette Debaut “Se pudermos mostrar que, na magia considerada em sua toralidade, reinam forcas semelbantes aquelas que agem na religido, teremos demonstrado dessa maneira que a magia tem um cardter coletivo idéntico ao da religido, $6 nos restard, entiio, fazer ver como essas forcas coletivas foram produzidas, nao obstante 0 isolamento em que, segundo parece, se encontram os magos, € seremos levados a conceber a tdéia de que esses individuos ltmitam-se a se apropriar das forgas coletivas.” (Marcel Mauss, Esquisse d'une théorie générale de la magie) *-Lecounerteret sa gif contribution aie théort dela magia", Actes dela recherche en sckences sociales, faneira da 1975, n. 78 76. “Traducdo da Proj. Dra. Maria da Grace Jactntho Setton, docente da Faculdade de tducasito 0 (pesquisadora do Micleo de Apoto aos Estudos de Gradua dla Universidade de So Pato, Reviaito de Cuitherme joo de Frestas Teteira fducagao em Revista, Belo Horizonte, n? 34, dez/2001 - ss vv ere eee da magia contribuigdo para uma teoria O costureiro e sua grife © campo da alta costura deve sua estrutura & distribuicao desigual, entre as diferentes “maisons”, da espécie particular de capital que € 0 futor da concorréncia neste campo e, uo mesmo tempo, a condigao da entrada em tal competicao. As caracteristicas distintivas das diferentes instituicdes de producdo e difusio, assim como as estratégias que elas utilizam na luta que as opse dependem da posigito que ocupam nessa estrutura, A “direita” e a “esquerda” E assim que as instituigdes que ocupam posigdes polares neste campo, ou seja, de um lado 5 empresas dominantes em determinado momento - como, atualmente, Dior ou Balmain - ¢, de outro, as que mais recentemente entraram na concorréncia - wis como, Paco Rabanne ou Ungaro -, se opdem em quase todas as relagdes designadas como pertinentes pela ldgica especifica do campo!. Por um lado, os muros brancos e o tapete cinza, os monogramas, as vendedoras de “uma certa idade", das velhas "maisons” de prestigio ¢ de tradicfo, situadas nos santuarios da rive droite, tais como a rue Francois Ie a avenue Montaigne; por outro, o metal branco e ouro, as “formas” ¢ os “volumes” implacavelmente modernos, além dos vendedores audaciosamente santro- pezianos** das “boutiques’ de vanguarda, implantadas na area “chique” da rive gauche *, ou seja, rue Bunaparie © rue du Cherche-Mid? austeridade no luxe e a elegincia sébria, Em um polo, a a “grande classe”, que convém a0 “capitalista da velha cepa” - como disse Marx - ¢, mais precisamente, as mulheres com idade *candnica” das fragdes mais elevadas e estabelecids, hd mais tempo, na alta burguesia; no outra, as audacias um tanto agressivas e espalhafatosas de uma arte dita “cle pesquisa” que, pela lei da concorréncia - isto & a dialética da distingdo -, pode ser levada a proclamar 06 mau gosto", por um desses exageros a perfeicio” © a “necessidade do “artistas” que convém a tal posigiv, Por # Lima oposigia andioga seencontra no campo ca Ite coir IN. aloes do caboeireires de grande prestgi, entre Cuta eAlesandre, em uc predomina aclegiincia teem ett tanto astro, por uns tad por otro, Joan-touis Bavt que pretande oferecer, som distinge de clases seus penteades “audacious “Aaj dsomatbarca do que se passa em ntaghova teat aera ou cinemas, ave pace nem semprton sentido poognce- asst, Sar Laurent pens rks “wwe gauche’ em Paris uma, naree de Toamon (60 aire) septa, naavenue Viewor Hugo (769 barn) € @ trceira, na rue dt Faubourg Saint-tonor’ (80 bairro). Ocorve que, em epasicée as “maisons (radtetonais,estabelecidas nos santucris ravive det. 4 maior parte dos costurcires de wanguarda ¢ 4 staid ds estas "mudeltas ten su rari 1 “boutiques” na tive gaucve TR: Referéncia a cidade de Saint-Treper, dete do Medcrraneo, eputada iestancia desires IR Rive rote f= margen: deta 2, a frase seule, sive gauche f« margom esquendal do tio Sens Fducagao em Revista, Belo Horizonte, n° 34, dez/2001 um lado, a preocupagao em conservar e explorar uma clientela restrita e antiga que s6 se conquista pela tradicao; por outro, a esperanca de converter novos clientes, através de uma arte que pretende estar “20 alcance das massas” - isto é, € ninguém poderi se enganar neste caso, ao alcance das novas fragdes dia burguesia ou, 0 que vem a ser quase © mesmo, que pretende ser cultural e economicamente acessivel aos jovens clas fragdes antigas. O fato de a ideologia populista de abertura as “massas” se encontrar em um campo, onde o esquecimento das condicbes de acesso aos bens oferecidos € mais dificil que alhures, tende a sugerie que ela deva ser sempre compreendida como uma estratégia nos conflitos internos de um campo: os ocupantes de uma posicio dominada em um campo especializado podem ter interesse, em certas conjunturas, em utilizar a bomologia estrutural entre as oposicées internas de um campo ¢ a ultima oposi¢io entre as classes para apresentar a procura por uma. clientela, no sentido econdmico ou politico do termo (aqui, a das parcelas dominadas do subcampo dirigente da classe dominante, nova burguesia e os jovens ca antiga burguesia), sob 2 aparéncia arogantemente democratica de abestura “as massa , denominagao eufemistica ¢ imprecisa atribufda as classes dominadas. Educagio em Revista, Belo Horizonte, n° 34, dez/2001 Entre © pélo dominante e o pélo dominado, entre o luxo austere da ortodoxia ¢ 0 ascetismo ostensivo da heresia, os diferentes costureiros se distribuem segundo uma ordem que permanece praticamente invariivel, quando Jhes aplicamos critérios tio diferentes como antigitidade da “maison’ © a importincia de seu faturamento, 0 prego dos objetos oferecidos e o ntirmero de provas, a intensidade das cores ¢, hoje, © espaco reservado as calcas nas colecdes, As posigdes na cstrutura da distribuicie do capital especifico se exprimem nas estratégias tanto estéticas, quanto Para alguns, as este tegias de conservacio que visam manter intacto 0 capital acumulado (o “renome da qualidade") contra os efeitos da translaga do campo € cujo sucesso depende, o evidentemente, da importancia do capital possuido ¢ também da aptidiio de seus. detentores, fundadores ¢, sobretudo, herdeiros, em gerir racionalmenre reconversio, sempre arriscada, do capital simbélico em capital econémico. Para outros, as estratégias de subversio, que tendem a desacreditar os detentores do mais sélido capital de legitimidade, @ remeté-tos ao cldssico e, em seguida, ao desclassificado, colocando em questio (pelo menos, objetivamente) suas norms estéticas ¢ apropriando-se de sua clientela presente ou, em todo caso, O costureiro e sua grife: contribuicdo para uma teoria da magia O costureiro e sua grife: contribuigdo para uma teoria da magia 10 fytura, por meio de estratégias comerciais que niio poderiam ser utilizadas pelas “maisons” tradicionais, sem compro- meterem sua imagem de prestigio e exclusividade, Entre todos os campos de produgio de bens de luxo, a alta costura é aquele que deixa transparecer mais claramente um dos principios de divisio da classe dir oposigio entre diferentes faixas evirias, ente - ou seja, o que estabelece indissociavelmente caracterizadas como classes endinheiradas ¢ detentoras de poder -, além de introduzir no campo da moda certas divisdes secundarias Segundo uma série de equivaléncias que se encontram em todos os dominios, jovem se opée a mais idoso, como pobre se opde a rico, mas também como moderno se opde a tradicional ou como “aberto", “antenado” politicamente, se opde a conservador € tradicionalista, e, finalmente, no dominio do gosto ¢ da cultura, como “intelectual” se opoe a *burgués”. Assim, & semelhanca das grandes “maisons” de costura ou dos saldes de cabeleireiros de grande prestigio, os proprios comerciantes de peles possuem quase sempre uma loja destinada aos jovens que se distingue por praticar pregos mais baixos ou “mais jovens”, como se diz, as vezes, nesse meio. A logica do campo deixa clato 0 principio de todas as equivaléncias, ou seja, a identificagao entre idade e dinheiro. De fato, a loja - destinada aos jovens - de uma “maison" situada no polo dominante apresenta quase todas as caracteristicas das lojas situadas no pélo dominado desse campo: desde os espelhos e araras de aluminio até vendedoras freqiientemente de short, tudo na “maison” cle Miss Dior, como nas de Ted Lapidus ou Paco Rabanne, tende a mostrar que se pode ser “tradicional e, ao mesmo tempo, ‘moderna, em suma, burguesa e estar na moda”, como afirma, sem ironia, um panegirista? Segundo esta légica, um “burgués” pobre, isto 6, um “intelectual’, seja qual for sua idade bioldgica, eqitivale a um jovem “burgués”: alids, eles tém muitas coisas em comum, auddcias na indu- mentdria, hoje, cabelos longos, 58, Sebroadere] Matignon, Le Godt du luxe, Pari, Rall 1972, Omesmoduseurso, produto det mesma opesigao, Se eacontna em Frangoise Dorin (ie tournant, Paris, Fillierd, 1973, p24}: “Existemn aqueles que podemes dlenominar, se voc’ quiser, pascadistns, conseevadlores, quedecidiram, de umavesportodas, quae muendo atuat estaria completamente lrtco, que pessamtpela vide com uma venda nes oltos ¢ceras ‘Quits"*mos cuvcdos..).Os ‘utr apeles que peganam o trem quando el pati item a bid no presente, adotaram as aovas icias, 80m Clavel e Marcuse, se interessane polas novas formas de expressio corporal, vio aos teatras da pertferia, acompanham a evolugdo das Maisons de Ia culture, gostam da miisica dodecafinica ¢ da excultura ‘contemporaned, en: sumia, estdo no mesmo plano das ovens" Educacao em Revista, Belo Horizonte, n° 34, dezi2001 gostos fantasistas, idétas politicas simbolicamente avancadas ¢, origem de tudo isso na opinido do “burgués”, a falta relativa de dinbeiro, Os “jovens” definidos - isto 6, grosso modo, 0 conjunto dos dominantes dominados -, ndo conseguem negar a hierarquia do dinbeiro e da idade @ nao ser constituindo, de forma _deciséria, outras formas, menos custosas, da vida de Mediante um considerdvel investimenio de tempo e de capital cultural, 0s artistas (2, em menor grau, os intelectuais) podem se apropriar por um bom prego - isto assim tuxo 6, antes que tais formas sejam ¢onsagradas, portanto, valorizadas do ponto de vista simbélico e, no fim, econémico, por esse apropriagéo ~ de todos os bens da vanguarda, cafés ou restaurantes “populares”, objetos antigos e, sobreiudo, obras de espontdneas (as que encontramos no “mercado das pulgas”) ov produzidas por profissionais, oferecendo assim aos produtores de vanguarda uma fracdo de sua clientela em curto prazo. O estilo de vida “artista” que transfigura a pobreza em disting@o€ refinamento encerra a negagdo do estilo de vida “burgués”, desvalorizado por sua propria venalidade; e 0 gosto “artista” que transforma em obra de arte tudo 0 arte, Educagao em Revista, Belo Horizonte, n° 34, dez/2001 que loca — nem que se trate, como ocarre nos dias de hoje, de simples dejetos -, remete ao passado, ao ultrapassado, ao démodé, ao velho (que no 6 0 antigo), com seus aios de violéncia, 0 gosto "burgués” contra o qual se coloca. Isto significa que, uma vex mals, as faixas etdrias constituem, & semelhanga de qualquer sistema de classificacao, fatores de disputa simbélica entre as classes ou, pelo menos, como vemos aqui, entre as camadas de classe que, de forma bastante desigual, tém interesse no wiunfo dos valores _freqilentemente associados @ juventude e a velbice. No campo da moda, como em todos ‘08 outros campos, s40 os recém-chegados que, a semelhanga do que ocorre no boxe com o desafiante, “fazer 0 jogo”. Os dominantes agem sem riscos: nao tm necessidade de recotrer a estratégias de blefe ou enaltecimento que sio outras tantas maneiras de confessar sua fraqueza. “No estilo classico - diz um decorador -, é relativamente facil criar o belo, enquanto © estilo de vanguarda € muito mais exigente” (Y. Taleron, Dépéche-Mode, janeiro de 1973). Essa € uma lei geral das relagées entre os dominantes © os pretendentes. A nao ser que mude radicalmente o terreno - 0 que, por definiclo, nao ocorre com cle - 0 pretendente empenha-se a parecer teoria da magia igdo para uma O costureiro e sua grife: contribu gia contribuigdo para uma teoria da ma; Ocostureiro e sua grife: 12 pretensiosa: de fato, tendo que mostrar demonstrar a legitimidade de suas pretensoes, tendo que prestar provas porque nie possu’ todas as credenciais exigidas, “ele exagera”, como se diz, denunciando-se, perante aqueles que s6 precisam ser o que sio para serem como convém, pelo proprio excesso de sua conformidade ou de seus esforgos no sentido da conformidade, Isso pode ser a hipercorrecio da linguagem pequeno- burguesa ou o brilho demasiado acentuado do intelectual da primeira geragio ea obstinagao fascinada e, de antemao, vencida com que procura ocupar os terrenos em que no se sente o a vontade - tais como, a arte e a literatura -, ow ainda as referéncias pedantes aos autores canénicos que denunciam o autodidata Cabsoluto ou relativo) em suma, as audacias que submetem o novo-rie acusagio de ma gosto, pretensao, vulgaridade ou, simplesmente, de arrivismo ou avidez, erro particularmente imperdoavel em um universo que professa o desprendimento. “Como criador, nunca fui um promotor de roupas ‘césmicas', nem de vesiidos esburacados. (Yues Saint- Laurent, Elle, 6 de setembro de 1972). “E um absurdo. O short é para as quadras de esporte ow para as ferias. Nao; em relagdo ao short, ele nao entende: é antifeminino. Nao é feito para os jovens; alids, jd tem 20 anos*. Que, em 1971, a gente sirva ‘Riz Amer” nas ruas & vulgar, Ou entdo, ele nada conbece a respeito de criagéo, nem de Paris"(Pierre Cardin, Elle, 22 de fevereiro de 1971). Ip. 10 e 11 do original francés} ESTILO E ESTILO DE VIDA A decoraglo da moradia dos costureitos de grande prestigio. BALMAIN: 0 GOSTO PELO ANTIGO “Esta bela residéncta € um verdadeiro muse onde, hd trinta anos, 0 costureiro coleciona pecas raras e@ objetos preciosos. No pequeno salao atapetado com veludo de linho azul, as mesas sao em laca de Kien-Long, incrustades de madrepérola; por sua vez, as estatuetas chinesas sdo em terra cozida da época Tang.” “O quarto: desenbos de L. Fini, bustos de Henrique IV e de Sully” “As cristaletras do saldo contém uma colecdo de Tanagra.” “A escadaria: quadros de mestres menores franceses do século XIX.” + Exemplo sipico da estratégia do dominant, cago ‘equivatente é possivel encontrar em: todes os campos: ‘pegar na palavra dos dominados pure iyyi-los 4 seus _proprtos principlos ou tontar esmcé-fos em set proprio terreno, “ultrapasse-fs pols esquerdea “¢NT: Tito de um filme da cada dle 70 wobreceindachinas ‘oautur fz alisio® pobreza dos que, a fa, samishon. bee .: Educacdo em Revista, Belo Horizonte, n° 34, dezi2001 GIVENCHY: O CLASSICO NO MODERNO “No quarto de amigos (que, na realidade, & um pequeno apartamento), 0 costureiro Hubert de Givenchy decidiu que tudo fosse branco, do tapele ao ieto, das paredes ao baldaquino. Nesse ambiente monacal, alguns méveis moderos de aco e plistico.” “Em frente da cama e entre asestantes de tivros, um quadro de Vasarély. Em cima da mesa, uma poca de seda chinesa do século XVIII.” "A cama de dossel esté coberta por una grossa colcha de linbo sedoso, Por cima: um icone grego. Méveis de Knoll.” CARDIN: O MODERNO BARROCO “Seu saldo cria um pouco 4 sensagao de uma floresta virgem com seus enormes ficus (Ficus decora} e¢ esse filedendro erubescens. Para o jardim de inverno de seu apartamento, situado no quai Anatole France, Pierre Cardin escolbeu poitronas de plastico branco com almofadas revestidas de la azul. A estdtua € de Carpeaux. No chao, piso de marmore cinza escuro,” “Pierre Cardin instalow um verdadeiro pequeno museu consagrado a caixas: possut mais de duzentas. Iniciada ba vinte anos, suet colegdo se enrigueceu em cada ume de suas viagens: caixas para tabaco ortundas da Rissia em madeira preta com patsagens na tampa; caixas de prata, etc.” COURREGES: A PREFERENCIA PELO MODERNO E PELO MODERNISMO “As tdbuas do soalbo sao de sicémoro branco curtido, 0 conjunto da cozinha dad a impressdo de ter sido modelady em uma pega ttnica de cobre, poltronas © sofas estéo revestidas de 1a branca tricotada, Do ponto de vista da cor, portanto, unicamente 0 branco eo tom da madeira naturel. O recanto descanso é, ao mesmo tempo, quarto e banhetro. A cama, toda branca com dots colchées, esté embutida em um estrado que dissimula encaixes para os travesseiros. Por tras, 0 grande lavabo duplo, com pias modeladas em massa de porcelana, da continuidade a banbeira.” HECHTER: O DFSLEIXO OBRIGATORIO “O saldo, iluminado por uma grande hata envidracada, esté dividide em varios niveis de argamassa, cobertos por tapere Educacao em Revista, Belo Horizonte, n° 34, dezi2001 . ... . beet e eee eee O costureiro e sua grife: contribuicio para uma teoria da magia 13 a z g 3 g 3 £ 3 s a 8 & 3 3 a = 8 8 & 8 3 a a £ g & fo) 14 branco. O primeiro nivel estd situado @ volta da lareira, O segundo, mais elevado 70 cm, serve de sofa: esta coberto por varias peles, entre elas, a de um wrso, ¢ almofadas. O terceiro nivel contém a biblioteca, Neste cémodo, ndo existem moveis.” As breves anotacées sobre a decoragio dos apartamentos de alguns costureiros de grande prestigio manifestam um verdadeiro sistema de oposicdes que, em sua ordem, reproduz o sistema das posigées ocupadas por eles no campo da alta costura. Os dois extremos - Balmain, o sobrevivente; e Hechter, 0 pretendente - opdem-se praticamente em todos os aspectos. Por um lado, a elegancia e a opuléncia, o luxo ascético que define a burguesia tradicional: o centro ¢ o simbolo deste universo € 0 salao, ao mesmo tempo, lugar de recepgao destinado & conversagao - cujo estilo ¢ tom sio definidos pela propria qualidade da decoragio ¢ dos assentos, austeras poltronas Luis XV - e pecas de exibicdo, ou seja, os troféus culturais do proprietirio, méveis ¢ outros objetos antigos, tudo perfeitamente legitimo: desde as estatuetas chinesas da época Trang até os quadros dos mestres menores franceses do século XIX, Mesmo classicismo, mesmo ascetismo afetado opulento em sua indumentaria (colete, lenco de enfeite quase_ invisivel, etc.) Na outra extremidade do espectro, © desleixo rebuscado do modelista que posa praticamente deitado no chito ¢ rodeado pela mulher e filhos (e nao, sozinho e em pé), com uma desenvoltura afetads =a semelhanga de sua indumentiria de estudante afortunado, gola role, colete de tric6, etc. Tipo de ateli¢ de artista, aberto para o exterior por uma vasta baia envidracada e sem méveis, ambiente no qual as almofadas e as peles servem de assento, tendo como tinica decoragiio as plantas e um quadro da vanguarda anterior, esta decoracto de decorador impée as discusses metafisico-politicas entre “companheiros” sobre a pintura da ‘vanguarda, cinema ov a poluigio, lo imperativamente quanto o saHio azul e ouro de Balmain remetia & discreta conversagio entre pessoas distintas ¢ conhecedoras de arte ¢ literatura, A oposigio entre vazio e pleno, passado acumulado e tabula rasa, ostentagio do luxo ¢ exibiclio do despojamento, € um dos prinefpios a partir dos quais se engendram intimeras distingdes que estabelecem a separagao entre os estilos € os estilos de vida da antiga burguesia ¢ os da nova, assim como os de seus costureiros, Educagao em Revista, Belo Horizonte, n° 34, dez/2001 Seguindo a preferéncia da moda pelo estilo tradicional mais castigo, 2 decoragio do apartamento de Givenchy combina sistematicamente o mais clissico da vanguarda com os quadros de Vasarély ou os méveis de Knoll, as reinterpretagdes modernas de temas ou motivos classics com a cama de dossel em renda de linho branco ¢ as obras antigas, seda chinesa ou icone grego. Nao obstante as aparéncias, ele opde- se bem menos ao “estilo classico e afetado* de Balmain do que 20 moderno barroco de Cardin, cuja ambigio artistica se exprime ou se traduz nfo s6 em sua preferéncia (compartilhada com Daniel Hechter e com intimeros “artistas lfricos" - por exemplo, Aznavour - e artistas de cinema) por este tipo de Acapulco doméstico, 0 “jardim de inverno”, ou pelas colecées de “caixas”, mas também em sua indumentéria que pretende evocar a sobrecasaca acinturada do artista romantico. Quanto a Courréges, seu apartamento manifesta - inclusive, no seu quarto, seu banheiro ou sua cozinha, espacos igualmente dignos em seu entendimento de serem oferecidos ao olhar do visitante -, sua vontade revolucionaria de fazer tabula rasa (“ele arrasa com tudo") e, por si, ex nibilo, repensar tud : a distribuigio no espago das fangdes ¢ formas, assim como os materiais, as cores, em fungiio dos tinicos Educagio em Revista, Belo Horizonte, n? 34, dez/2001 imperativos que sio 0 conforto ¢ a eficacia, além de uma “filosofia" sistemética da existéncia que se exprime também em suas escolhas de costureiro ou em sua indumentéria - calgas € botas brancas, blusio turquesa, boné com longa viseira vermelho brilhante. Dai, vem a oposi¢io que, em todo campo € em todas as dimensées do estilo e do estilo de vida, estabelece uma separagio entre as estratégias estéticas dos dominantes e as dos pretendentes os dominantes que s6 precisam ser o que sao, sobressaem e distinguem-se pela fecusa ostensiva das estratégias vistosas de distingao. E assim que, para os costureiros que ocupam uma posicio dominante no mundo da moda, basta se deiarem levar pelas estratégias negativas que lhes so impostas pela concorréncia dos pretendentes para se ajustarem diretamente as demandas da burguesia antiga que, por uma relagio homéloga as audacias espalhafatosas da nova burguesia, é reenviada 2 mesma recusa da énfase* Esta oposi¢ao se observa tanto nos objetos produzidos pelos costureiros, quanto nas 4 Analisaremos mats adiante, ao abordarmos 0 caso de Courreges, outro exemplo desias harmonias preestabolecidas,fundadas na bomologia entre campo da produgioeo campo do.constima de bens de huxo (0 campo da classe dommanie) que conshtwem realizngses aradigméticas da relagéo que se estabelece entre 0 campo da prodsegio das bers sims Carte, itera, flosofa, etc.}¢0 campo da classe dirigente teoria da magia contribuigdo para uma O costureiro e sua grife: 15 © costureiro e sua grife: contribuicdo para uma teoria da magia 16 declaragées de intencio proferidas por eles a respeito de sua produgio, Ela se encontra até no estilo do discurso de celebracao, cuja retérica € tanto mais sobriamente descriti 1, quanto mais clevado, do ponto de vista social, € 0 pliblico a quem ele se dirige: os artigos de moda nas revistas mais luxuosas (Vouue, Jardin des Modes), assim como publicidade das revistas dle luxo, limitam- se sempre a demonstrar ou descrever, evocar ou sugerir (por exemplo, a referéncia A arte permanece sempre alusiva}, enquanto as revistas menos cotadas, mais diretamente destinadas & nova burguesia — que, aids, as produz -, tais como Elle ¢ Marie Claire, dio a conhecer sem subterfigios seu segredo porque a pretensio 2 distinglo s6 pode revelar a verdade objetiva tanto da pretensao, quanto da distingio. Em cada época, os costureiros atuam no interfor de um universo de imposi¢oes explicitas (por exemplo, as que se referem as combinacdes de cores ou a0 comprimento dos vestidos) ou implicitas (tal como a que, até uma data recente, excluia as calgas das colecdes). O jogo dos recém-chegados consiste, quase sempre, em romper com certas convengées em vigor (por exemplo, introduzindo misturas de cores ou de materiais, até ento, excluidos), mas dentro dos limites da conveniéncia e sem colocat em questo a regra do jogo © o proprio jogo. Eles estdo comprometidos com a liberdade, a fantasia ¢ a novidade (freqiientemente, identificadas com a juventude), enquanto as instituicdes dominantes tém em comum 2 recusa dos exageros ¢ a busca da arte na recusa dt afetagio e do efeito, isto é na dupla negacao, litotes, understatement, “equilibrio" ¢ “refinamento”. “0 que é que impede uma roupa de ser bonita? - O negécio e 0 deialbe vistoso que ‘come” 0 modelo e 0 desequilibra, - Eo detalbe, quando & que é perfeito? - Quando ndo se da por ele. - Serd que isso é a negacao do acessério de choque? - Certamente, mas essa 6 a definigéo do refinamento" (Entrevista de Marc Bohan, Director artistico da “maison” Christian Dior,). A linguagem de Dior tem a certeza trangia da ortodoxia que, em nome da medida ¢ da elegdncta recusa as pretensdes intelectuais da afetacao: " Respondo, assim, as mulheres que compram meus modelos. Elas recusam ter ‘demais’, mas querem parecer ‘mais’ sem 0 demonstrarem (2. Os modelos que apresentamos Educagao em Revista, Belo Horizonte, n° 34, dez/2001 sdo feitos para agradar e ndo para impor linbas abstratas ow imaginacdes de laboratério em nome «de um maldito estilo elevado que seria, antes, 9 matt gosto de hoje. - O que é que 0 sv. rejeita na costura de laboratsrio? - Essa palavra me irrita, A Alta Gostura, tal como a entendo, nao é 0 produto de wm laboratério destinado a algumas cobaias, mas trabalhar com material movedigo feito para viver em pessoas de verdade... e at viver bem, ou seja, viver melhor. - Viver methor? + Sim, sem essa vulgaridade que é 0 que ba de mais bobo ¢ mais feio. ~ B80 existe? - Por toda parte, exceto quando se Irata do verdadeiro luxe "(Entrevista de Marc Bohan). “O que me apaixona é vestir as mulheres para embelezd-las. CE, alias, 0 que, de forma bastante explicita, elas me pedem para eu fazer!). O que me obriga, automa- licamente, a rejeitar de propor-thes qualquer bizarrice que corra o risco de tornar-se um disfarce. Existem audécias, exageros, gue podem ser divertidos, alegres, engracados, mas, mesmo assim, gratuitos. Hstow querendo dizer que tudo isso ndo acrescenta nada...) Pessoalmente, desconsidero ox efettos de surpresa ou de choque. A elegdncia nao 6 0 choque, mas o refinamento” (Carven, in Claude Gézan, La mode, phénoméne humain, Paris, Privat, 1967, pp. 133-134) Essa linguagem - a da arte que se respeita e respeita seu piiblicu -, esta muito préxima daquela de um marchand de quadros que, no campo das galerias, ocupa uma posigdo homdtoga: por exempio, A Drowant quando denuncia as “fulsificacdes” @ outros “métodos imaginados pelos falsos artistas para enganar”, ou seja, “os efeitos de emocdo viva ¢ stibita” ¢, sobretudo, “a excitacdo da curiosidade” que “consisie em provocar a surpresa, de maneira a absorver 0 espirito © mascarar a falta da verdadeira arte. Tudo isso € combinado de maneira que se deva adivinar o sentido como ocorre nas charadas: fica-se intrigado... 6 uma forma de se distratr, parece dificil, até mesmo, gonial..."(A. Drouanl, Catalogue de Ja galerie Drovant, 1967, p. 105). A linguagem da exelusividade, autenticidade ¢ refinamento, com seus componentes especificos - sobriedade, clegancia, equilibrio ¢ harmonia -, a vanguarda opde o rigor ou a auddcta, € Educagao em Revista, Belo Horizonte, n° 34, dez/2001 6 sv vv ee ee ee ee © costureiro e sua grife: contribuigao para uma teoria da magia teoria da magia do para uma 5 8 & iro e sua gril O costurei 18 sempre a liberdade, a jovialidade ¢ a fantasia. Ted Lapidus (publicidade): “Quando vejo minbas roupas na rua, sei que venci. A Costura & como & cangdo: 0 éxito & estar sendo cantarolado por todo mundo ¢...). Um costureiro ndo veste clientes, mas subjetividades: as inquietagées, ternuras, ansiedades de uma massa de homens e mulheres. A alta -costura & um laboraidrio, 0 ‘Le Mans* da indumentdrta’- a gente faz pesquisas, experiéncias ¢..). Trata- se da prova da rua”. Com os estilistas, o discurso toma voluntariamente um ar de esquerda: Christiane Bailly: "Bim ume muther, néo me interesso por sua idade, mas ‘por sett grau de liberdade” “Aos 16 anos, ela fazia suas préprias roupas, contra a corrente da alta castura, rebelando-se contra @ rigidez, as aplicagbes, 0 “belo promovido" por Dior, contra tudo 0 gue afoga, torna a mulher deselegante ¢ a coloca em uma redoma’ (Elle, 15 de abril de 1974). E esse campo que tem sua direita sua esquerda, seus conservadores ¢ seus revolucionarios, tem também sev centro, sou lugar neutro, representado aqui por Saint Laurent que atrai para si os elogios undnimes por meio de uma arte que une, de acordo com uma hibil dosagem, as qualidades polares (classica, sutil harmoniosa, sdbria, delicada, disereta, equilibrada, bonita, fina, feminina, moderna, adaptivel a todos os estilos de mulher}; que recupera as inovacées espalhafatosas dos outros para transformd- las em audicias aceitiveis ‘ele Ianca as calgas em larga escala que, no fundo, nao haviam obtido éxito com Courréges por set um pouco complicado”; que transforma as revoltas da vanguarda em liberdades legitimas, & maneira de Le Monde que publica Asterix em histGrias em quadrinhos CE ele o liberty, os bilts, que é uma saia maravilhosa, o blazer”); @ que nao hesita em declarar; “E preciso vir para a rua” (in Claude Césan, op. cit., 129). E podemas deixar a ultima palavra a revista Nouvel Observateur, que conhece 0 assunto: “O responsavel por ‘abertura a essa esquerda’ é precisamente, um antigo grande costureiro, ou seja, Yves Saint- Laureat"(Wouvel Observateur, 18 de outubro de 1971). Mas, os pretendentes nio esto sem recursos; podem acumular capital de autoridade especifico ao levarem a sério os valores as virtudes exaltados pela “NR: Ahi no cercullo da prova auomobilistica ‘24h dis Mans" que se realiza nas proxtinidadds da vidacte dele Mans 200 kn a oaste de Pari Educagao em Revista, Belo Horizonte, n° 34, dez/2001 representacao oficial da atividade legitima © ao oporem a fé intransigente do convertido ao fervor de instituigao caracteristico dos guardiies da ortodoxia. As concessées dos dominantes, que pactuam com o iéculo e negociam o capital simbélico que acumularam em ganhos temporais, econ6micos ¢ politicos (condecoragées, academias, etc.), os pretendentes opéem o sacrificio absoluto a arte € as audcias desinteressadas da afetagio, granjeando assim, pouco a pouco, os servigos de uma parcela do aparelho de celebracio. “GJ Sou simplesmente um catalisador e capto 0 que esté no ambiente. H4, naturalmente, um toque pessoal nagutlo que faco, mas empreendo mudangas freqien- *temente — alids, isso corresponde & minba vontade: ndo me interessa. como alguns (necessariamente com menos éxito), ‘repetir-me’. Ndo tenho problemas de marca, ndo procuro promover uma grife e pouco me importa nao set conhecido grande ptiblico (..) Confecciono um grande ntimero de pelo modelos para filmes. Vesti Mia Farrow, Girardot, Stéphane Audran ©... Do mesmo modo que eu detestaria vestir uma fulana de tal’ tenho prazer em vestir uma atriz, uma cantora” (Karl Lagerfeld, Déepéche- ‘Mode, julho/agosto de 1972), Educagao em Revista, Belo Horizonte, n° 34, dez/2007 » 6. ees = Os recém-chegados reintroduzem, jacessantemente, no campo um ardor € um rigorismo de reformistas. Eles podem mesmo assumir ares de revohicionarios no momento em que suas disposigoes de quase artistas de origem burguesa encontram um reforgo na necessidade de perseguir uma clientela tentada a denunciar 0 contrato tacito de delegagdo que confere aos costureiros 0 monopélio. da “criagio" (ela prépria usa roupas inspiracls na moda vigente entre 1920 e 1960). E a concorréncia dos pretendentes que, continuamente, impele os dominantes a um respeito relative pelos valores oficiais do campo, exatamente aqueles em nome dos quais se excrce sua autoridade especifica; ¢ através dela que se exerce o controle do campo sobre uso de poderes demititgicos fornecidos por ele. E.as profissées de vitude ts quais 08 historidgrafos gostam de se referir CO que fiz de mais dificil na minba vida ~ dizia Chanel -, foi me recusar a ganhar dinheiro”; “Pierre Balmain é um dos numerosos costureiros que s6 aceitaram explorar comercialmente sua grife por amor @ sua profissio”) representam a Gnica maneira impecivel de obedecer a necessidade do campo, como € testemunhado por esta declaracio em que Courréges invoca, simultaneamente, ‘os imperativos categéricos do amor pela atte € os imperativos hipotéticos da gestio teoria da magia do para uma O costureiro e sua grife: contr 2 & $ E s 4 Zz 5 g E § c & S & = 2 z 8 2 & g o g 2 3 z g 3 20 econémica racional: "S6 me tornei patrao ¢ industrial em fungdo de amor que tenho pelo que faco, Minha motivagdo ndo é ganhar dinheiro, Bu poderia conseguir wm enorme faturamento promovendo uma politica de facilidade, mas 1880 seria a custa de uma deterioragao a curto prazo de minha marca e de uma perda de controle sobre meus produtos” (Dépéche Mode, marco de 1974), Assim, © controle utiliza: io do capital especifico cabe aos proprios mecanismos que asseguram sua produgio e reprodugio, além de tenderem a detérminar sua distribuicgio entre os diferentes agentes que estao em concorréncia para se apropriarem dleles, Por um processo andlogo aquele que faz com que, no campo universitirie ou, @ fortiori, cientitico), 2 concorréncia entre os dominantes © os pretendentes pelo monopélio das relagdes autorizadas com © grande ptiblico desemboca em um controle de todas as formas de barganba da autoridade especifica (vulgarizacio, jornalismo, etc.), « concorrén ia pelo monopélio da legitimidade toma a forma de um controle cruzado que, como se em relaglo A comercializagdo da de grife”, nada tem a ver com a imposi externa ou interna de uma norma ética; “virtues” exaltadas por cada campo - “amor a aqui, profissio” ‘desprendimento”; € la, “espirito cientifico” ‘objetividade” - so apenas a forma que toma a submissio A necessidace propria do campo, isto é, a perseguigho de interesses que @ prdpria I6gica do campo interdiz de reconhecer, a nfio ser sob a forma trreconbecivel de “valores +... + Educagio em Revista, Belo Horizonte, n° 34, dez/2001 exe ep e100) ewin ered oeSinq quod :ayu ens 9 owjaanysoo O Sy foe Laat | S¥EYIND SIGNVYD SVC SUINV (Lwenaed) WANISOD VLIV Vd OdWv2 O 21 Educacao em Revista, Belo Horizonte, n° 34, dezi2001 - ee oe O costureiro e sua grife: contribuigéo para uma teoria da magia 22 A lei fundamental deste campo, principio de sua estrutura e mudanga, 1é- se diretamente no diagrama (Gravura a 1) em que as “maisons’ de costura, - distribuidas (da esquerda para a direita) segundo a data de sua fundagio -, so representadas por dois circulos concéntricos, proporcionais: um (com traco mais acentuado) relativo ao faturamento alcancado, enquanto 0 outro se refere a0 ntimero de empregados. A importincia do capital especifico, cujo faturamento, que € sua forma reconvertida, representa um bom indice, cresce com certa regularidade de ucordo com a antigiidade da ‘maison’, mas somente até certo ponto, marcado aqui por Dior, a partir do qual tende ao declinio, chegando ao desaparecimento puro e simples. Certas bizarrices aparentes resultam simplesmente do fato de que a fonte utilizada (*17 couturiers : leurs structures économiques”, in Dépéche- Mode, n. 683, marco de 1974) apresenta lacunas. E assim que Givenchy e Saint- Laurent (a quem se atribut - em pontilhado - um faturamento bipotésico) Possuem, sent divide, somas bem superiores (proporcionalmente, é claro) ao ntimero de seus empregados, a ‘maneira das outras “maisons” situadas em posigdes intermedidrias que, como veremos, opdem-se todas sob este ponto de vista - com excegdo de Courrdges - as “maisons” mais antigas. No que concerne ao faturamento relativamente importante de alguns recém-chegados {Lapidus e Scherrer), esforgar-nos-emos por explicar, mais adiante, sua posicao A antigiidade nao € 0 principio exclusivo das hierarquias: cada “geragio” esté dominada por um costureiro (Chanel, Dior, Courréges, ete.), aquele mesmo que, como se diz, marcou epoca ao introdurir, na historia relativamente auténoma da moda, a mptura iniciadora de um novo estilo. E l6gico que esses “fundadores* detém um capital de legitimidade especifico - isto €, de distingao pertinente - mais importante que os simples “seguidores" ou que os “criadores” que conseguiram uma “marca” distiativa sem chegarem a impé-la a seus concorrentes (obrigando-os, pelo menos, como faz 0 costureiro dominante, a posicionar-se em. relagio a eles). Este capital, simbolizado por seu nome( “Jeanne Lanvin, um nome de prestigio") pode converter-se em capital econdmico sob certas condigdes e dentro de certos limites, em particular, temporais - aqueles que definem a duragiio do renome. As ‘maisons" mais antigas que sobreviveram ndo ocupam posicées correspondentes @ sua antigiidade, qualquer que seja 0 capital de prestizio que, em determinado momento, tenham Fducagiio em Revista, Belo Horizonte, n? 34, dez/2001 possufdo (como Chanel que ressurgiu em 1954). De fato, em um campo regido pela concorréncia para a obtengédo do monopélio da legitimidade especifica, isto & para alcancar 0 poder exclusivo de constituir e impor simbolos de distingdo legitimos em matéria de vestudrio, a relagdo entre a antigitidade ¢ 0 capital s6 pode manter-se deniro de certos limites e mediante estratégias que, babilmente, explorem as leis da economia especifica do campo. As "masons" que sobreviveram & morte de seus fundadores sé se perpetuaram com a exploracdo industrial da “grife” (sob a forma de perfumes, no caso de Patou e Ricci) Do mesmo modo, os observadores estéo deacordo para exaliar a “racionalidade” excepcional (pelo menos, para esta “geragao”) da gosto da empresa Dior. “A ‘maison’ Dior estd admiravelmenie bem organizada, 0 que nem sempre acontece; na alia costura, as individuos sdo' muito pessoats, a coisa ficou muito individual, Dior abre em 1947, cri wma maison! do nada (...). A ongantzagéio da “matson’ vat fazer-se perceptivel muito rapidamente. O sr. Boussac & um industrial. Os empregados da ‘maison’ Dior encontram-se em um contexto social, talvez, um pouco diferente das outras ‘masons’ porque Jacques Rouél, responsdvel pela administracao, tem uma formagdo social muito desenvolvida, O sr. Dior dedica-se exclusivamente & criagao e esta tivre dos encargos materiais, das preocupagées administrativas. Boussac organiza colénias de férias, no Norte, pare os filbos dos fanciondrios, Extste um verdadeiro contexto social. Ha um restauvante da empresa, Desde 0 inicio, foi criado 0 comité da empresa* com wm espirito social, chegando a ser favorecido em relacao ao sindicato” (Entrevista com uma jornalista de moda, marco de 1974) A tuta pela dominagio neste campo conduz necessariamente os pretendentes a submeter a discussiio os esquemas de produgio ¢€ avaliagdo ortodoxes, procluzidos € impostos pelas instituigdes dominantes; diferentemente das mples variantes ou variagdes produzidas pela utilizagdio dos esquemas de invengio em vigor € que, s¢ja qual for sua liberdade aparente, s4o outras tantas reafirmacées da autoridade das instituicées dominantes, as revolucdes especificas tm por efeito desacreditar antigos principios de “NR: Na Frange, Gygdo composte por representantes cetos poles funiciondrios ¢ preside petolirior dea enipresa: tem atribuigées consultivas ou de controle no que diz respeito as quests profissinais, econdmieas soctats, of Le Peat Larousse illusire, Paris, 2000, Educagao em Revista, Belo Horizonte, n° 34, dez/2001 . - - - -- see © costureiro e sua grife: contribuicdo para uma teoria da magia 23 teoria da magia igdo para uma O costureiro e sua grife: contribui 24 ptodugio ¢ avaliagio, fazendo aparecer um estilo - que devia uma parte de sua autoridade e prestigio A sua antighidade ( “maison’ de tradigao’, “‘maison’ fundada em...”, etc.) - como démodé fora de uso, ulteapassado. Marcar uma época é reenviar todos aqueles que marcaram €poca ao status mais ou menos honorifico, mas sempre irreal e, como se diz, honoririo, que cada campo, segundo suas prdprias tradigdes, oferece aos antig dominantes; é fazer histéria inscrevendo na série de rupturas que definem a periodizagdo especifica de um campo uma nova ruptura que remete a histéria 4 precedente periodizacio e determina a translagao de toda a cstrutura; é, por fim, sujeitar-se a ser, mais cedo ou mais tarde, remetido & histéria por uma ruptura que obedece aos mesmos principios e as micsmas determinagdes especificas de toclas as precedentes. “Fazer moda” nao € somente desclassificar a moda do ano anterior, mas desclassificar os produtos daqueles que faziam moda no ano anterior, portanto, desapossi-los de sua autoridade sobre « moda, As estratégias dos reeém-chegados, que sto também os mais jovens, tendem a rejeitar para 0 passado os mais velhos e estes colaboram com a tanslagko do campo que desemiocard em sua desclassificacio (ou, aqui, em scu desaparecimento) pelas estratégias que utilizam para assegurar sua posico dominante que é também a mais proxima do declinio. Nao nos seria possivel compreender @ estrutura e a dindmica da campo da moda se aceitdssemos a “explicagdo” comum pelo “conflito de geracoes”, iautologia destinada a funcionar como virtude dormitiva, que se impoe com uma insisténcta particular em um campo onde a concorréncia adquire, de modo mais visivel do que em qualquer ouira parte (devido &@ brevidade dos ciclos), @ forma de uma querela entre antigos @ modernos, entre velbos & Jjovens. “Por um lado. os tltimos monstros sagrados, herdeiros dos valores do bom gi sto, de um mundo que desapareceu. Para eles, acantonados em seus saldes atapetados, trata-se de uma luta imitil contra uma época cuje modo de vide ¢ aspiragces escapam a sua compreensdo; alguns nem estado conseguindo sobreviver « tal situagdo Por outro lado, os novos profissionais audaciosos: 08 Saint-Laurent, Courreges, Ungaro, para citar somente os mais Jovens, que reinventaram, cada um a sta maneira, a costura. Entre estes dois extremos distribuem-se os costureiros gue, mais ou menos cedo, com muita ou pouca babilidade, acabaram por se adaptar"(Dépéche-Mode, marco de 1974). ‘Ha, pelo menos, cinco que pensam wee . + +» Educacdo em Revista, Belo Horizonte, n° 34, dez/2001 sero primeira (ou o timo, o que significa a mesma coisa) dos grandes costureiros” fille, 21 de fevereiro de 1972). A translagao que afeta todo o campo € a resultante de estratégias antagonistas e nio deve ser descrita ou compreendida como um simples proceso mecdnico: isto se vé claramente no movimento pelo qual alguns costureiros nao cessam de antigas a fim de abandonar “maisons” fundarem suas prdprias empresas, escapando assim do declinio coletivo por um movimento individual, na contramio do movimento que afeta a empresa € 0 campo em seu conjunto, Como mostra o diagrama (Gravura n. 1) no qual as flechas (acompanhadas, quando necessirio, pelo nome da pessoa em questo) desenham as trajet6rias dos costurciros ou dos “responsiveis pela criago”, 0 itineriirio mais simples é 0 dos costureiros que deixam a “maison” onde trabalham para fundarem sua prépria “maison”: € 0 caso de Christian Dior e de Pierce Balmain que deixam juntos a “maison” Lelong que fechard suas portas em 194 de Saint Laurent que sai da “maison” Dior, em 1962; ou de Laroche em 1958. Outros seguem um camin‘io com varias etupas, que abandona Des como Cardin que, em 1946, passa de Paquin para Dior, deixando esta “maison” em 1949; ou Givenchy que vai de Lelong Educagio em Revista, Belo Horizonte, n° 34, dez/2001 para Piguet, (1946), em seguida, para Jacques Fath (1948) e, finalmente, para Schiaparelli (1949) que ele abandona, em 1952, para fundar sua prépria “maison” As vezes, a dispersio faz-se em duplas e em dois tempos: Givenchy ¢ Philippe Venet deixam juntos Schiaparelli, em 1932, para fundarem a “maison” Givenchy que Philippe Venet deixa em 1962 para criar sua propria “maison”; da mesma forma, Courréges ¢ Ungaro deixam juntos Balenciaga para fundarem a ‘maison” Courréges que Ungaro deixa em 1965, No caso de Paco Rabanne, Christ une Bailly ¢ Emmanuelle Khanh, as flechas foram desenhadas em pontilhado: com efeito, nenhum deles participava diretamente da “criagao”. Paco Rabanne era fornecedor de acessérios - é por isso que ele pode estar ligado simultaneamente 4 muitas “maisons”- enquanto Ch, Bailly e E. Khanh eram manequins. Este mecanismo tende, como se ve, a assegurar a mudanga dentro da continuidade: de fato, tudo se passa como sea posse de um capital que s6 pode ser conguistado na relagiio com as “maisoas” antigas constituisse a propria condicao das rupturas bem-sucedidas, Os recém- chegados si, na maior parte das vezes, da magia O costureiro e sua grife: contribuicao para uma teoria teoria da magia contribuiggo para uma O costureiro e sua grife 26 desertores das “maisons’ estabelecidas que devem seu capital inicial de autoridade especifica & sua pas agem anterior por uma grande “maison (sempre lembrada em suas biogratias). Em razdo do seu modo de aquisicao especifica ¢ de sua propria natureza, esse capital que, em suc esséncia, consiste na familiaridade com certo meto ena qualidade conferida pelo fato de pertencer a ele, ndo pode contrariar a crenga carismdtica da autocriagao do criador. Assim, a propésito de Lison Bonfils - antiga manequim de Dior, ex- redatora de moda da revista Elle, ligada, entre outros costureiros, @ Paco Rabanne - pode-se escrever: “Ela tem 0 estilo no sangue” (Elle, 15 de abril de 1974), Ou, a propésito de outra estitista, Emmanuelle Khan, antiga manequim de Balenciaga, ligada a Courreges que, em 1957, desenbou seu vestido de casamento - ela casou-se com Quasar - quando 0 costureiro ainda estava na “maison” Balenciaga; a Paco Rabanne, fornecedor de acessértos part Balenciaga © que criou os acessérios para sua primeira colegdo; a Givenchy e Philippe Venet: "Ela foi manequim na “maison Balenctaya, mas a alta costura nito a fascinava; proferiu fazer roupas com a ajuda dos empregados e, sem que o tivesse previsto, criow o tailleur do futuro, maledvel, leve, sem tela nem enfeites” (Blle, 15 de abri de 1974) Tudo parece indicar que este capital inicial sera tanto mais importante, quanto mais elevada for a posigio ocupada pelo recém-chegade em uma “maison” de maior prestigio: assim, Cardin ¢ Laurent, os doi int principais concorrentes atuais de Dior, passaram por esta “maison em divida, paradoxaimente, o capital de autoridadee de relagées(pelo menos, tanto quanto de compeiéncia), adquirido ao fregientar as “maisons" antigas, coloe:. © costureiro de vanguarda ao abrigo da condenagao radical de que seria passivel por suas audacias heréticas. Isso é verdadeiro em qualquer campo. Basta lembrar a hist6ria particularmente tipica do memorando de Lord Rayleigh: um artigo sobre certos paradoxos da eletrodinamica que, sem o nome do autor, ele tinha enviado a British Association fot inicialmente rejeitado; em seguida, ao ser conhecido o nome do autor, foi aceito m ditvida, com abundantes desculpas®. § algo de semelhante se passa no campo religioso no qual nao se pode, contudo, invocar os imperativos da acumulagio: 0 profeta, como assinalou Max Weber, sai freqientemente da corporacao dos sacerdotes, da qual ele faz parte desde nascenga ou por formacio. Se a relacio entre o grau de consagracéo e de antigiiidade sé se mantém dentro de limites temporais 7. Kubn, Tue Since of Scientific Rewuhations, Chica, ‘The University of Chicago Pres, 1982, p. 152. Fducagao em Revista, Belo Horizonte, n° 34, dez/2007 relativamente reduzidos - ow seja, um espaco de trinta anos necessario para que as “maisons” mais consagcadas cheguem a seu apogeu - é porque, sem chivida, a moda, & semelhanca da cancio, da fotografia, do romance popular e de todas as “artes médias’, situa-se no tempo de curta duragio dos bens simbélicos pereciveis € porque ela s6 pode exercer um efeito de distinc’o servindo-se, sistematicamente, das diferengas temporais, portanto, da mudanga A bomologia - que aproxima as priticas ¢ os discursos de agentes que ocupam posigdes bomélogas em canipos diferentes - nao exclut as diferengas assoctadas & posigéo que os diferentes campos, enquanto tais, ocupam na hierarquia da legitimidade, Basta que um costureiro recém-chegado ao cume da hierarquia de seu campo tente transferir seu capital para um campo artistico, como fez Cardin com seu ‘espaco", para que 0 campo de categoria superior se mobilize para fazer lembrar as hierarquias. Aos atagues dos especialistas das artes legitimas, Cardin 56 tem a opor a reafirmagao de sua autoridade especifica de costureiro: ‘Melhor do que ninguém, sou de distingutr a fettira da beleza ¢ nado admito que pessoas incultas pretendam fazé-lo, Conkego 0 mundo inteiro. Através de minha atividade, tive a oportunidade de ver 0 que se fazia de melhor em todo lugar e fiz por Paris o que ninguém ainda tinba ousado ou consegutdo fazer”. Ho critico de arte que cita estas declaragdes contenta-se em recusar esta transferencta ilegitima de capital: “is uma forma de mostrar auddcia em um dominio em que a bumildade deveria sempre prevatecer. Centamente, todos ficam contentes peio Sato de que a dangarina do sr. Cardin ser uma prostituta, em vez de um tate privado, mas 0 argumento acaba por se desgastar. Estamos & espera de qualidade e ndo de presungio” (Patrick d’Elme, “Cardin niest-il qu'une griffe?”, in La Galerie, outubro de 1971, pp. 66-67). As referéncias as artes nobres ¢ legitimas - pintura, escultura, literatura - que fornecem a maior parte de suas metdforas prestigiosas @ descricdo das roupas e um grande niimero de seus temas & evocagao da vida aristocrdtica que, se presume, & simbolizada por elas, constituem outras tantas homenagens gue a “arte menor” presta as artes matores. Do mesmo modo, a tendéncia dos antiqudrios de grande prestigio para “ysurparem” o nome da galeria é uma forma de reconbecer a hierarquia que, no comércia dos objetus de arte, se estabelece entre as “antigitidades” - produzidas por astesios e vendidas por antiquarios ~ ¢ as obras de arte, € “insubstitutveis", produzidas por micas artistas vendidas em galerias: 0 mesnto se passa também com o desvelo manifestado pelos costureiros ao Educagao em Revista, Belo Horizonte, n° $4, dezi2001 . . . . . « O costureiro € sua grife; contribuigdo para uma teoria da magia 27 O costureiro e sua grife: contribuigao para uma teoria da magia 28 afirmarem sua participagdio na arte ou, na falta desta, no mundo artistico Cas brochuras de Satnt-Laurent limitam-se praticamente a falar de suas criagées para o teatro}, con: a assisténcia de todo 0 aparetbo de celebracdo (especialistas em relagées ptiblicas, jornalistas de moda, etc.) “O esplendor da alia costura faz-se sentir de varias maneiras. por exemple, Sauget ou Auric que criaram bales, cujos figurinos foram, por cosiuretros. Vocé tem um mogo muito famoso que fax figurines para teairo ¢ halés, sobreiude, para o balés de Monte Tome, fregitentamente, concebidos Carlo, que é André Lavasseur, antigo colaborador de Christian Dior. Yves Saint-Laurent é um excelente desenbista de figurinos para teatro, entre outros, para a revista de Zizi Jeanmarie no Casino de Paris. E uma dimenstio que vai bastante além de um vestido, enquanto roupa. Cocteau desempenhou também um papel muito importante” E, na seqtiéncia da entrevisia, essa jornalista de moda declara: “ku me lembro quando Dior apresentou sua linba reta, a linha H: fomos procurar figurinos de Clouet em livros de trajes para lado reto..."CEntrevista com uma jornaliste de moda, mar¢o de 1974) mostrar este muito A semelanga do autor de romances policiais a respeito do qual nada nos autoriza a pensar que, um dia, possa ser considerado um “classico”, 0 costureiro participa de uma arte que ocups um lugar inferior na hierarquia da legitimidade antistica; ora, em sua pritica, ele no pode deixar de levar em consideragdo a imagem social do futuro de seu produto: “The stories in this book certainly had no thought of being able to please unyone ten years after they were written. The mystery story is a kind of writing that need not dwell in the shadow of the past and owes little if any allegiance to the cult of the classics"?, “Criagao” sazonal de produtos de estacao, a atividade do costureiro € 9 opesto exato da atividade do escritor ou do artista legitimo na medida em que ele poder esperar teracesso a uma consagracdo duradoura (ou definitiva) a nao ser que saiba rejeitar 98 hucras € os sucessas imediatos ~ porém, tempordrios - da moda: « lei da distingio que, neste universo, se afirma abertamente, toma a forma de uma Tuptura obrigatéria, eletuada com dasa fixa, 2 partir dos cinones do ano anterior » -R Ghandier, Poacls are a Nuisance, Harmemdsieorth, Penguin Boos, 1973, “buroduction 9. * A maior parte da produgao de romances e ensaios obediocem ao rie sazenal da “rontrée® teria’, cons suas conferinclas ce empronsa, sus prémies, ole. en emciclo que nao é diferente daguele des arigasde mada Cemborcas instoncias co lepitimacéi de cute dlaragde, comy as academias, posse prolongar igeiramente a cexitdncia dle seus prochutos?.A parvela da proceed le ciclo largo de eico curto na proctugdo total de sen auctor ow de une editor &, sem diivida, um dos metkores Iindicadores de sua pesigdo smserinaca o diaerinica 89 campo da produced irerdria, Fducagao em Revista, Belo Horizonte, n° 34, dez/2001 Os préprios “revoluciondrios* nlio podem escapar da lei comum que reenvia a ‘tiltima moda” ao “démodé” ¢ condena © “criador” a se “renovar": assim, © privilégio dos costureiros de maior prestigio - por exemplo, Chanel ~ consiste em fazer parar, durante um momento, 0 tempo da moda, forma suprema de distingdlo, Pelo fato de que © valor material e simbstico dos bens da LObjeto Benico Gmovel, movel nidquina, eletrodoméstico) valor [nen de'traca tempo 3. Objeto Wenico ou simbslico fort de uso constinuider em antigatidade

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