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30/08/2018 O Fascismo e o Marxismo Cultural

Revolução e Marxismo Cultural

O Fascismo e o Marxismo Cultural


Karl Marx já havia identi cado uma problemática cultural na alienação do
proletariado, ao dizer que a religião é o ópio do povo. Isso foi analisado de
forma mais sistemática por Antonio Gramsci, que vivenciou toda a crise
teórica do comunismo após a Primeira Guerra.

Esta crise do marxismo, por sua vez, gerou dois lhos: o fascismo e o
marxismo cultural, cada um deles com uma proposta bastante clara para
chegar aos seus objetivos de dominação.

Como visto na aula anterior, Marx já havia identificado uma problemática cultural na alienação
do proletariado, ao dizer que a religião é o ópio do povo. Isso foi analisado de forma mais
sistemática por Antonio Gramsci, que vivenciou toda a crise teórica do comunismo após a I
Guerra. Esta crise do marxismo gerou 2 filhos: o fascismo e o marxismo cultural, cada um
deles com uma proposta bastante clara para chegar aos seus objetivos de dominação.

O fascismo, que também é um filho bastardo do comunismo, foi o caminho encontrado por
Mussolini e Hitler para implantar a revolução em suas nações. Ambos queriam a mesma coisa
que Lênin e Stálin, ou seja, uma sociedade sem mercado livre, “justa", com “igualdade" e um
estado forte, obtido através de uma ditadura totalitária. Achavam que a ideologia de classe
não era um chamariz atraente o suficiente para fomentar a revolução marxista. Hitler e
Mussolini perceberam, na I Guerra, um sentimento patriótico que levou o povo a lutar, a
defender os “interesses burgueses" e criaram o fascismo: enquanto o marketing de Stálin falava
do proletariado, do trabalhador, da lógica de classes, Hitler e Mussolini falavam dos
sentimentos nacionais, de raça, ou seja, dos princípios norteadores do fascismo.

Por outro lado Antonio Gramsci, grande propugnador do marxismo cultural, colocou como
projeto para a implantação do socialismo e do marxismo a destruição lenta e gradativa da
cultura ocidental. A esse processo Gramsci chamou de “modificação do senso comum". Para
que houvesse o predomínio da mentalidade marxista, não havia a necessidade de uma grande
estrutura que sustentasse o saber. Bastava apenas uma ideologia convincente, numa espécie de
jogo de marketing. Para o marxismo, sem sombra de dúvida, não existe a verdade, mas um jogo
de marketing [1].

Como visto, tanto o fascismo como o marxismo cultural faziam basicamente as mesmas coisas
com a simples diferença de usar uma propaganda diferente para alcançar os mesmos objetivos.
A mentalidade revolucionária funciona assim, “metamorfoseando" seu marketing de acordo
com a época. Por exemplo, Stálin pretendia implantar o socialismo através de uma sociedade
ateia, marcada pela perseguição à Igreja; os novos marxistas perceberam que perseguir a Igreja

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30/08/2018 O Fascismo e o Marxismo Cultural

é algo sempre danoso ao ideal revolucionário, pois quanto mais cristãos são mortos, mais
mártires são criados e mais forte fica o cristianismo. Com o passar do tempo perceberam que o
caminho mais seguro para mudar a mentalidade do mundo é o de entrar na Igreja e mudá-la,
desde dentro [2].

Os marxistas sabem que a Igreja é sustentada por uma lógica burguesa, que tem “apego" ao
certo e ao errado, ao moral e ao imoral e usarão isso contra ela. Eles não têm uma opinião
clara sobre qualquer tema: quando algo ajuda a revolução, são favoráveis; quando atrapalha,
abominam [3].

Exatamente por isso, o marxismo tem um sistema racional versátil, revolucionário e


dialético. Gramsci já alertava para a não existência do bem ou do mal, tendo como um de seus
inspiradores a figura de Maquiavel, ao dizer que tudo aquilo que Maquiavel fez a favor do
Príncipe, precisava ser feito a favor do partido comunista. Existe aquilo que é oportuno, aquilo
que ajuda ou não a revolução. Tudo o que existe de realidade racional é fruto de uma criação
humana. Não existe verdade, que determine um agir.

Isso é bastante coerente da parte dos marxistas, pois só haveria uma ordem a ser seguida no
agir se houvesse um intelecto criador. Como são ateus, defendem que o intelecto criador não
existe e, portanto, não há ordem a ser seguida ou verdade que determine o agir humano.

Só para esclarecer esta ideia, dizer que a ordem que existe no mundo não é obra de um Criador
não foi mérito dos marxistas. Por incrível que pareça, a visão tradicional de que a ordem que
existe no mundo é criacional, racional foi combatida por obra de um cristão piedoso chamado
Immanuel Kant.

Para Kant, o mundo em si, os objetos, o númeno [4], o que está fora da mente humana é
irracional, caótico. O que realmente existe é desconhecido, pois o homem só tem acesso a um
fenômeno, que é compreensível ao intelecto graças às categorias mentais que condicionam (e
possibilitam) o pensamento. Na Crítica da Razão Pura, por exemplo, Kant mostra que a ordem
da física newtoniana não está no númeno, na coisa em si e também não foi colocada nas coisas
pelo Criador. Na verdade, a ordem foi imposta à realidade pelo intelecto. A física de Newton
funciona não porque o mundo é assim, mas porque a mente humana a fez assim. Kant, assim,
é um grande exemplo de paralaxe cognitiva [5]. Resumindo, para Kant a realidade é
absolutamente caótica e irracional. Quem cria a racionalidade é o intelecto humano.

O marxista também pensa dessa forma, não por concordar com o pensamento kantiano, mas
por afirmar que a ordem imposta ao mundo irracional é a que traduz o interesse de uma classe,
especificamente, o da classe burguesa. Segundo o marxismo, existe uma superestrutura
(baseada na religião judaico-cristã, na filosofia grega e no direito romano) que justifica o
status quo, a situação opressora na qual a sociedade se encontra. Esta superestrutura cria

uma cultura que busca defender seus interesses de classe. As pessoas, inoculadas por esta
cultura, passam também a defender os interesses da classe burguesa.

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Concluindo, é necessário entender que os agentes da luta cultural possuem visões de mundo
diferentes. Assim, para que a revolução cultural aconteça é necessário incutir na cabeça dos
cristãos a ideia de que o cristão não odeia nada, de que ele deve defender a paz custe o que
custar. A Igreja, à medida que vai assimilando as ideias revolucionárias, passa a ser uma
sociedade igualitária e que, por engenharia social, quer implantar, neste mundo, uma terra
sem males [6]. Os marxistas sabem que sem transformação da religião numa força socialista, a
revolução não irá acontecer.

Referências

1. Existe uma coisa muito importante que é sempre preciso ter diante dos olhos: para se
compreender bem o pensamento marxista, é necessário ter a certeza de que a
verdade não existe. Enquanto houver xação na verdade, na lógica, não será possível
compreender ou ser um bom marxista. O marxista vê o mundo a partir da
irracionalidade. E isso é uma demonstração de certa coerência, pois, já que, segundo a
sua loso a, Deus não existe, tudo o que existe é irracional.

2. A Igreja Católica tradicional é uma instituição hierárquica, com uma economia (ação)
sacramental que tem por nalidade última levar o homem para o céu. Para destruí-la, é
necessário transformá-la numa sociedade igualitária, sem uma economia sacramental,
transformando tudo numa engenharia social, buscando imanentizar a escatologia. O
céu foi trazido para este mundo pelos marxistas.

3. Por exemplo, os homossexuais: na Rússia são abominados, pois atrapalham na


implantação da mentalidade do homo sovieticus, homem forte, que possibilita a
revolução; no Ocidente, são essenciais, pois são usados como meio para destruir a
ética judaico-cristã.

4. Segundo o dicionário Michaelis: substantivo masculino (do grego νοούμενoν,


noûmenon) Filos 1 A coisa em si, por oposição ao fenômeno ou às coisas tais como
aparecem e são conhecidas.2 Fato concebido pela consciência, mas não con rmado
pela experiência. 3 Objeto cuja existência é abstrata e problemática.

5. A paralaxe (do grego παράλλαξις, alteração) cognitiva é o deslocamento, na obra de um


pensador, entre o eixo da especulação teórica e o da experiência concreta que ele tem
da realidade. Tal conceito é apresentado pelo lósofo Olavo de Carvalho, tanto em
seus escritos (cf. http://www.olavodecarvalho.org/semana/040710globo.htm) como em
seu programa Trueoutspeak (cf. trecho do programa do dia 19 de fevereiro de 2007
postado no youtube: http://www.youtube.com/watch?v=EjaTyPbVxog). Exatamente por
isso, o pensamento kantiano é inconciliável com a mensagem cristã.

6. Quando o papa João Paulo II se encontrou com o padre Ernesto Cardenal, ministro de
um governo comunista, repreendeu veementemente o padre diante das câmeras de

todo o mundo. O padre defendia a existência de duas igrejas: uma popular e outra
romana, da hierarquia. A romana propaga a ideologia do magistério, com uma
superestrutura imperialista e opressora. A outra igreja, do padre Ernesto Cardenal,

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seria uma igreja popular, que, na verdade não existe, mas é simplesmente instrumento
de implantação da ideologia partidária.

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