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Os Sistemas Táticos
O termo sistema tático é utilizado para descrever o posicionamento dos jogadores em
quadra de acordo com a função exercida por cada um. Este posicionamento tático está
intimamente relacionado às ações dos adversários (Balbino, 2001; Bayer, 1994; Bota &
Colibaba-Evulet; 2001). É importante lembrar que a dinâmica do futsal é muito complexa e a
troca de funções entre os jogadores é constante, pela exigência de uma intensa movimentação.
As equipes costumam modificar seu sistema tático dentro de uma mesma partida, em virtude
de possível ineficiência diante do sistema utilizado pelo adversário.
Sistema pioneiro, surgido na década de 1950 (Lucena, 1994), que se caracteriza pelo
posicionamento de dois jogadores na meia quadra defensiva e de outros dois na meia quadra
ofensiva. É um sistema bem simples e que exige pouca movimentação dos jogadores. Os dois
de trás são responsáveis pela defesa enquanto os dois da frente, pelo ataque (Lucena, 1994;
Mutti, 1994; Souza, 1999). Ocorrem poucas trocas de posições, e conseqüentemente, de
funções. É um sistema mais estático em relação aos outros. Segundo Souza (1999), este
sistema é mais utilizado em faixas etárias menores, devido ao baixo nível de complexidade e
facilidade de execução. Mas equipes de alto nível também o utilizam em determinados
momentos de um jogo.
O sistema 3x1 é responsável pela nomenclatura das posições adotadas no futsal. Além do
goleiro temos o fixo, os alas (direito e esquerdo) e o pivô. É um sistema de movimentações
bem mais complexas que o anterior (Garcia & Failla, 1986; Lucena, 1994; Mutti, 1994; Santana,
2001; Souza, 1999).
O pivô tenta "despistar" ou "tomar a frente" do seu marcador para receber a bola de seus
companheiros na meia-quadra ofensiva. Os alas e o fixo realizam movimentações para criarem
espaços onde a bola possa ser lançada ao pivô, que joga de costas para o gol adversário e, por
isso, tenta dominar e preparar a bola para seu companheiro ou, dependendo da situação, girar
em cima de seu marcador para finalizar a gol. Esta movimentação realizada pelo fixo e pelos
dois alas é denominada rodízio. Com o rodízio uma equipe mantém a posse de bola até o
momento ideal de tocá-la ao pivô ou finalizar (Lucena, 1994; Mutti, 1994; Souza, 1999).
Originado pela mudança na regra que possibilitou a utilização do goleiro para a armação das
jogadas. O posicionamento dos jogadores de linha é bem próximo do sistema 2x2. A mudança
é que o goleiro deixa a área e posiciona-se entre os dois defensores, sendo o último homem.
Os dois atacantes ocupam a meia-quadra ofensiva e se cruzam à frente do goleiro adversário,
atrapalhando sua visão. Os defensores também se posicionam na meia-quadra ofensiva, logo
após a linha divisória para receberem a bola e ainda terem a opção de passe para o goleiro 6 .
Defensores e atacantes também trocam de posição para confundir a defesa adversária. Neste
sistema o goleiro deve possuir boa técnica com os pés.
4. Os Sistemas Defensivos
Para auxiliar a explicação destes diferentes sistemas defensivos a quadra será dividida em
três áreas e as duas primeiras áreas em três zonas, conforme a figura 1.
A escolha por um destes sistemas defensivos depende das características dos jogadores da
equipe, do sistema tático utilizado pelo adversário e da situação do jogo. Por estes motivos
torna-se importante o treino de todas as variações defensivas.
Fig.1 -A quadra é dividida em três ÁREAS e as duas primeiras áreas em três ZONAS
A marcação individual caracteriza-se pelo confronto direto entre dois jogadores, o chamado
homem-a-homem (1x1). Há uma definição prévia de marcação, onde cada jogador fica
responsável pela marcação de um adversário (Mutti, 1994), fato que "força" o virtuosismo
técnico, o individualismo. O posicionamento da equipe defensora é em função dos jogadores
adversários. Esta marcação pode ser realizada na quadra toda ou somente na meia-quadra
defensiva.
Pontos positivos:
Pontos negativos:
Sua utilização ocorre quando a equipe está em desvantagem no placar e o jogo está próximo
do fim; quando a equipe adversária apresenta dificuldades de movimentação ofensiva
(capacidade técnica e/ou tática inferior) a fim de pressionar para não deixá-los jogar; ou
quando um time possui um elenco de jogadores ágeis, rápidos e em ótima forma física (Mutti,
1994).
Cada jogador fica responsável por um adversário e o "persegue" por toda a quadra, pra
onde quer que ele se desloque (marcação homem-a-homem). É importante esperar a reposição
de bola do goleiro para depois avançar pressionando, pois o avanço prematuro facilitará o
lançamento de bola do goleiro para o pivô diretamente.
É uma marcação parecida com a marcação pressão, porém os defensores não invadem a
Área 3 (Ataque). Eles esperam os adversários na Área 2 encostando, seguindo e diminuindo o
espaço dos atacantes a partir daí.
Somente o homem de posse da bola é pressionado (Mutti, 1994). Isto diminui o desgaste
físico dos defensores em relação à marcação pressão, mas aumenta o tempo de reação dos
atacantes.
Cada defensor fica responsável por um adversário (homem-a-homem também), mas, além
disso, precisa fechar o meio (Zona C2) quando não estiver marcando o homem da bola.
Às vezes podem ocorrer trocas de marcação, em virtude do rodízio da equipe adversária,
mas estas devem ser bem comunicadas pela equipe.
É uma marcação utilizada quando a equipe adversária apresenta rápida e complexa
movimentação, tem bons passadores, ótima técnica e condução de bola, um bom nível de
treino ou quando o placar é desfavorável aos adversários.
Pontos Positivos:
Pontos Negativos:
Possibilita o chute de longa distância;
Aumenta o tempo de posse de bola do adversário;
Encobre parcialmente a visão do goleiro.
Marcação utilizada contra equipes que utilizam o sistema tático 3x1 ou 3x2.
O ala esquerdo cobre as zonas E1 e E2. O ala direito a zona D1 e D2. Já o fixo e o pivô
cobrem uma área cada um, C1 e C2 respectivamente. (Fig. 2)
Os alas devem fazer o "balanço" como os laterais do futebol de campo, ou seja, em caso de
bola na ala oposta, eles recuam até sua zona correspondente na Área 1. Já quando a bola
estiver na sua ala, eles avançam à Área 2. Exemplo: bola na ala direita - ala direito zona D2 /
ala esquerdo zona E1. Bola na ala esquerda - ala direito zona D1 / ala esquerdo zona E2.
O pivô deve fechar o meio (zona C2) impedindo que a bola seja lançada ao pivô adversário.
Se isto acontecer ele deve voltar e fazer sanduíche no adversário, juntamente com o fixo do
seu time. O fixo, além de estar preocupado com o pivô adversário, precisa estar sempre atento
à cobertura dos outros jogadores, pois é o último homem
Os jogadores posicionados na Área 2 fazem uma movimentação pendular: enquanto um vai
na bola, o outro fecha o meio (intercessão entre as zonas E2 e D2) aquém da linha do primeiro
(Fig. 3). Já os dois posicionados na Área 1, mantém suas posições e encostam nos adversários
que "adentram" sua zona.
Fig 3. Movimentação pendular.
5. Metodologia sugerida
A igualdade numérica força cada marcador a acompanhar um jogador adversário por todo o
espaço delimitado. Se eles não o fizerem, ou melhor, não definirem a marcação, pararem ou
marcarem somente a bola, os atacantes levarão vantagem, já que um ficará livre.
No 1x1 a única opção é o confronto direto. É o atacante contra o defensor, a forma mais
simples de marcação. Já no 2x2 e 3x3 acontecem algumas trocas de marcação pela
movimentação dos atacantes, com isso os defensores precisam responder rapidamente às
situações problemas que se apresentam.
Para a Marcação Zona, os jogos reduzidos utilizados são os de superioridade numérica: 4x2;
3x2; 3x1; 2x1; 4x3; 5x3; e 5x4. Lembrando que no 5x3 e no 5x4 o quinto elemento deve ser o
goleiro. O 4x3 e o 5x3 são situações que ocorrem em jogos onde uma das equipes tem um
jogador expulso.
A superioridade numérica forçará a Marcação Zona, pois os defensores não podem sair
pressionando o portador da bola a qualquer momento, fato que facilitaria a ação dos atacantes.
Eles precisam fechar os espaços e esperar o momento certo de "dar o bote"7 . Assim a
movimentação dos defensores ficará pautada mais em função do deslocamento da bola do que
dos adversários (Zona).
Os jogos reduzidos com dois defensores (3x2 e 4x2) facilitam a aprendizagem da Marcação
Quadrado, já que os defensores utilizarão a movimentação pendular (Fig. 4).
Fig 4. Movimentação pendular no 3x2
A Marcação Losango é melhor trabalhada nas demais situações, com ênfase na
movimentação do pivô na Zona C2 (2x1 e 3x1) ou na marcação triangular realizada em
conjunto pelo pivô e os dois alas (4x3 e 5x3) ou, ainda, na transformação do triângulo em
losango com a adição do fixo (5x4) (Fig. 5).
Variações podem ser feitas para alterar a dinâmica e os objetivos das atividades. O espaço
de jogo pode ser reduzido para facilitar a ação dos marcadores ou aumentado para dificultá-las.
O tempo de jogo pode ser aumentado para enfocar o trabalho de movimentação dos atacantes
ou diminuído para exigir uma finalização rápida.
Todos os jogadores devem passar por todas as posições em todos as situações treinadas.
Para ajudar na compreensão das diferentes formas de marcação, o treinador deve parar o
treino na ocorrência de algum fato significante e discuti-lo com os jogadores, dando dicas e
esperando que eles mesmos encontrem a resposta. A utilização da prancheta magnética
também é uma ótima ferramenta auxiliar. A visualização de fatos ocorridos, da delimitação das
zonas e de simulações na mesma, possibilita e facilita a tomada de consciência por parte dos
jogadores quando eles estiverem dentro da quadra. Posteriormente pode-se realizar na quadra
as movimentações feitas na prancheta.
6. Considerações finais
O treinamento baseado na repetição de gestos precisa ser repensado no caso dos esportes
coletivos. Repensado e não negado. O treino técnico é muito importante para melhorar a
performance do atleta, mas nos jogos desportivos coletivos, ele deve vir em menor escala,
dando espaço para o desenvolvimento da inteligência tática.
Nesta questão, a abordagem centrada nos jogos condicionados proposta por Garganta não
deve se restringir somente ao âmbito escolar, mas também ser utilizada no âmbito do
treinamento esportivo. Principalmente porque a relação treinador-atleta não deixa de ter
similaridades com a relação professor-aluno e o aspecto educacional nunca deixará de existir.
Esta imprevisibilidade é a essência dos jogos desportivos coletivos e também precisa ser a
essência dos treinamentos. Os jogadores precisam ter suporte para resolver os problemas que
eles encontram na ação de jogar. Não basta somente falar aos jogadores a forma como eles
irão se portar em quadra. Eles precisam vivenciar.