Você está na página 1de 13

Capı́tulo 4

Clobber em Grafos1

O Impartial Solitaire Clobber (ISC), nesta tese chamado de Clobber, é um jogo


realizado com somente um jogador, e as regras são as seguintes: dado um grafo
G = (V, E), para cada vértice v ∈ V , posicionamos uma pedra preta ou branca.
Um movimento consiste em pegar uma pedra de qualquer cor localizada em um
vértice v e “comer” uma outra da cor oposta, localizada em um vértice adjacente a
v, ocupando o seu lugar. O vértice v é então removido do grafo. O jogador não é
obrigado a alternar jogadas com pedras brancas e pretas, e o jogo termina quando
ele não consegue mais se movimentar, isto é, não é possı́vel comer mais pedras. O
objetivo do jogo é minimizar o número de pedras que restam no grafo. Na Figura 4.1
apresentamos um exemplo do jogo Clobber, onde o número nas setas representa a
ordem do movimento. Por conveniência, durante esta tese, podemos frequentemente
dizer que “o vértice v1 come o vértice v2 ”, ao invés de falar de suas correspondentes
pedras.
3 4

1 2

Figura 4.1: Um exemplo do jogo Clobber.

Definimos Φ uma configuração de um grafo G = (V, E) como um mapeamento


Φ : V → { t, d}. Uma configuração Φ de G é dita monocromática se cada
1
Resultados publicados em [18].

23
vértice de G recebe a mesma cor, i.e., Φ(v) = d (resp. Φ(v) = t) para cada
v ∈ V . Caso contrário, Φ é não-monocromática. Por exemplo, a configuração
checkerboard (ou alternada) dtdtdtdtdt é uma configuração não monocromática.
Se existir uma sucessão de movimentos que deixe no máximo k pedras no grafo, di-
zemos que (G, Φ) é k-redutı́vel. O valor de reducibilidade rv(G, Φ) é o menor
inteiro k para o qual (G, Φ) é k−redutı́vel. Dada uma configuração Φ, a configuração
complementar Φ̄ é obtida da seguinte forma: para todo v ∈ V , se Φ(v) = d (respec-
tivamente Φ(v) = t) então Φ̄(v) = t (respectivamente Φ̄(v) = d). Veja um exemplo
na Figura 4.2. Verificamos claramente que (G, Φ) é k-redutı́vel se, e somente se,
(G, Φ̄) é k-redutı́vel. Consequentemente, os resultados encontrados para (G, Φ) se
aplicam a entrada (G, Φ̄).
u e u e u e

e u u e

Figura 4.2: Uma configuração Φ e sua complementar Φ̄.

A seguir, mostramos a prova apresentada em [19] de que o Problema Clobber


é um problema NP-completo. Esta prova consiste na redução do problema de decisão
Caminho Hamiltoniano ao Problema Clobber. Estes dois problemas são
apresentados abaixo:

Problema Caminho Hamiltoniano


Instância: um grafo G = (V, E)
Questão: G contém um caminho Hamiltoniano?

Problema Clobber - ISC


Instância: (G, Φ), onde G é um grafo e Φ é um mapeamento Φ : V → { t, d}
dos vértices de G que atribui a cada vértice uma pedra preta ou branca
Questão: (G, Φ) é 1−redutı́vel?

De forma a reduzir o Problema Caminho Hamiltoniano ao Problema


Clobber, precisamos construir, em tempo polinomial, uma instância particular
(G, Φ) do Problema Clobber a partir de uma instância genérica G′ = (V ′ , E ′ )

24
do Problema Caminho Hamiltoniano. Seja (G, Φ) a instância particular do
Problema Clobber tal que G = G′ e Φ(v) = t, para algum vértice v ∈ V (G), e
Φ(u) = d, para todo u ∈ V (G) \ {v}. Essa configuração é claramente 1−redutı́vel
se e somente se existe um caminho Hamiltoniano entre o vértice v e algum outro
vértice de V (G). Como o Problema de Caminho Hamiltoniano foi provado
ser NP-Completo para grafos em geral [7], e em particular para grafos grade (i.e.,
subgrafos induzidos da grade) [20], o Problema Clobber é um problema NP-
completo considerando estes grafos.
O Clobber vem sendo investigado por vários autores [4, 10, 19, 21, 22]. Demaine
et al. [4] estudaram o Clobber em grades retangulares com configurações alternadas.
Algumas questões extremais foram investigadas por Blondel et al. [22], por exemplo,
dado um grafo G, qual o valor máximo de rv(G, Φ) dentre todas as configurações
não-monocromáticas? Os autores provaram que para um caminho (respectivamente
para um ciclo) de tamanho n, este valor é ⌈ n2 ⌉ (respectivamente ⌈ n3 ⌉) [22]. O valor
de reducibilidade de qualquer configuração em um caminho ou em um ciclo de
tamanho n pode ser computado em tempo linar O(n) [22], já em uma árvore, existe
um algoritmo com complexidade O(n3 ) [21]. Em [10], Dorbec et al. provaram que
qualquer configuração em um grafo Hamming é 1−redutı́vel, exceto para hipercubos
que são 2−redutı́veis.
Neste capı́tulo, mostramos que o jogo Clobber com uma configuração não-
monocromática Φ pode ser reduzido a uma única pedra, quando G é uma potência de
caminho Pnr , r ≥ 3; quando G é uma potência de ciclo Cnr , r ≥ 2; e também quando
G pertence a algumas subclasses de grafos circulantes. Além disso, provamos que,
considerando-se r = 2, (Pnr , Φ) é 2−redutı́vel.

4.1 Clobber em potências de caminho e algumas


classes de grafos circulantes
Seja Φ uma configuração não-monocromática. Os resultados a seguir, Lemas 3 e 5,
estabelecem que (Pn2 , Φ) é 2−redutı́vel. Em ambos os lemas, consideramos n ≥ 4.
O caso não-monocromático onde n = 2 é trivial e os casos não-monocromáticos
onde n = 3 são apresentados na Figura 4.3. Em todos os resultados, consideramos

25
0, 1, . . . , n − 1 como a ordem da esquerda para direita dos rótulos dos vértices de
Pnr , r ≥ 2.

Lema 3. Seja Φ uma configuração não-monocromática de Pn2 , onde os quatro pri-


meiros vértices são não-monocromáticos, então (Pn2 , Φ) é 1−redutı́vel.

Demonstração. Seja Φ uma configuração de Pn2 tal que os quatro primeiros vértices
sejam não-monocromáticos, isto é, Φ(0)Φ(1)Φ(2)Φ(3) é diferente de dddd e tttt.
Provaremos, por indução em n, que (Pn2 , Φ) é 1-redutı́vel. Se n ≤ 2, então vemos
claramente que o Lema 3 é verdadeiro. A partir de agora faremos referência à
Figura 4.3, onde x representa um vértice já removido do grafo após uma jogada e o
número nas setas indica a ordem do movimento.
2
1
1 1
2 2 1
R1( ): R2: R3( ):
R1( ):
x x x
x x x x

2 3 1 3 1
1 2 2
R3( ): R4( ): R4( ):
x x x x x x x x

Figura 4.3: Regras para jogar nos vértices iniciais.

Primeiramente, vamos assumir Φ(0)Φ(1)Φ(2) = tdd. Aplicamos a regra R2.


2
Este movimento leva a uma configuração Φ′ em Pn−1 que satisfaz Φ′ (0) 6= Φ′ (1) e
concluı́mos pela hipótese de indução. Agora vamos assumir que Φ(0)Φ(1)Φ(2) = dtd.
Se Φ(3) = t, então aplicamos R3( d). Caso contrário, se Φ(3) = d, aplicamos R3( t).
Em ambos os casos, concluı́mos pela hipótese de indução.
Agora considere Φ(0)Φ(1)Φ(2) = ddt. Seja n ≥ 7. Suponha que Φ(3) = t. Se
Φ(4)Φ(5)Φ(6) 6= ddd, então aplique R1( d). Mova a pedra do vértice 1 para o vértice
3 e aplique a hipótese de indução. Se Φ(4)Φ(5)Φ(6) = ddd, então aplique R1( t).
Mova a pedra do vértice 4 para o vértice 3. Mova a pedra do vértice 1 para o vértice
3, do 3 para o 5 e concluı́mos pela hipótese de indução. A solução para os casos
onde n = 4, n = 5 e n = 6 é apresentada nas Figuras 4.4 e 4.5.
Agora suponha Φ(3) = d. Se Φ(4)Φ(5)Φ(6) 6= ttt, então aplique R1( t).
Mova a pedra do vértice 1 para o vértice 3 e aplique a hipótese de indução. Se
Φ(4)Φ(5)Φ(6) = ttt, então aplique R1( d). Mova a pedra do vértice 4 para o vértice
3. Mova a pedra do vértice 1 para o vértice 3, do 3 para o 5 e concluı́mos novamente

26
4 3
1 2

1 3
3 2 2 1 4

(a) Caso n=4. (b) Caso n=5.

Figura 4.4: Casos n = 4 e n = 5 com Φ(0)Φ(1)Φ(2)Φ(3) = ◦ ◦ • •.


5 4 2 3 5
1 3 2 1 4

3 4 3
2 1 5 2 1 4 5

Figura 4.5: Casos n = 6 com Φ(0)Φ(1)Φ(2)Φ(3) = ◦ ◦ • •.

pela hipótese de indução. Os casos onde n = 4, n = 5 e n = 6 são apresentados nas


Figuras 4.6 e 4.7.
1 3
2 4

2 4
3 1 1 3 2

(a) Caso n=4. (b) Caso n=5.

Figura 4.6: Casos n = 4 e n = 5 com Φ(0)Φ(1)Φ(2)Φ(3) = ◦ ◦ • ◦.

1 3 1 3 4
2 4 5 2 5

1 3 5 4 5
2 4 3 1 2

Figura 4.7: Casos n = 6 com Φ(0)Φ(1)Φ(2)Φ(3) = ◦ ◦ • ◦.

Finalmente, assuma Φ(0)Φ(1)Φ(2) = ddd. Por hipótese, temos Φ(3) = t. Seja


n ≥ 8. Suponha que Φ(4) = d. Se Φ(5)Φ(6)Φ(7) 6= ttt, então aplique R4( t). Mova
a pedra do vértice 2 para o 4 e aplicamos a hipótese de indução. Se Φ(5)Φ(6)Φ(7) =
ttt, então aplique R4( d). Mova a pedra do vértice 5 para o vértice 4. Mova a pedra

do vértice 2 para o 4 e do 4 para o 6, e conclua pela aplicação da hipótese de indução.


Os casos onde n = 5, n = 6 e n = 7 são apresentados na Figuras 4.8 e 4.9.

27
3 1 4
2 5

3 1 4 2
2 5 4 3 1

(a) Caso n=5. (b) Caso n=6.

Figura 4.8: Casos n = 5 e n = 6 com Φ(0)Φ(1)Φ(2)Φ(3)Φ(4) = ◦ ◦ ◦ • ◦.


3 1 4 4 2 5
2 5 6 3 6 1

4 2 5 6 4
5
3 1 6 1 2 3

Figura 4.9: Casos n = 7 com Φ(0)Φ(1)Φ(2)Φ(3)Φ(4) = ◦ ◦ ◦ • ◦.

Agora suponha Φ(4) = t. Se Φ(5)Φ(6)Φ(7) 6= ddd, então aplique R4( d). Mova
a pedra do vértice 2 para o vértice 4 e aplicamos a hipótese de indução. Se
Φ(5)Φ(6)Φ(7) = ddd, então aplique R4( t). Mova a pedra do vértice 5 para o vértice
4. Mova a pedra do vértice 2 para o vértice 4 e do 4 para o 6, e aplicamos a hipótese
de indução. Finalizamos a prova verificando os casos onde n = 5, n = 6 e n = 7
representados nas Figuras 4.10 e 4.11.

3
5 4 2 1

3 1 4 3 1 4
2 2 5

(a) Caso n=5. (b) Caso n=6.

Figura 4.10: Casos n = 5 e n = 6 com Φ(0)Φ(1)Φ(2)Φ(3)Φ(4) = ◦ ◦ ◦ • •.

Como as potências de caminho Pnr são subgrafos geradores das potências de ciclo
Cnr , r ≥ 2, então, dada uma configuração não-monocromática Φ de Cnr , é sempre
possı́vel encontrar um subgrafo Pn2 em Cnr , r ≥ 2, cuja configuração possui os quatro
primeiros vértices são não-monocromáticos. Aplicando o Lema 3, concluı́mos que
todas as potências de ciclo Cnr , r ≥ 2, são 1-redutı́veis. O Corolário 4 a seguir

28
4 2 5 6 4
3 1 6 5 3 2 1

4 2 3 1 4
6 5 3 1 2 5 6

Figura 4.11: Casos n = 7 com Φ(0)Φ(1)Φ(2)Φ(3)Φ(4) = ◦ ◦ ◦ • •.

estende este resultado para uma subclasse de grafos circulantes.

Corolário 4. Seja Φ uma configuração não-monocromática de G = C(n, A),


{1, 2} ⊆ A, então (G, Φ) é 1-redutı́vel.

O mesmo argumento não é válido para potências de caminho com configurações


não-monocromáticas onde os quatro primeiros vértices são monocromáticos. De fato,
(Pn2 , Φ) não é sempre 1-redutı́vel. Veja, por exemplo, o grafo P10
2
com configuração
tttttddddd. Pelo Lema 3, resolvemos todos os casos da Tabela 4.1 com exceção das

linhas 1 e 16. Estes casos foram estudados no Lema 5 a seguir.

Casos Φ(0) Φ(1) Φ(2) Φ(3)


1 d d d d

2 d d d t

3 d d t d

4 d d t t

5 d t d d

6 d t d t

7 d t t d

8 d t t t

9 t d d d

10 t d d t

11 t d t d

12 t d t t

13 t t d d

14 t t d t

15 t t t d

16 t t t t

Tabela 4.1: Tabela com as possibilidades de Φ.

29
Lema 5. Seja Φ uma configuração não-monocromática de Pn2 , onde os quatro pri-
meiros vértices são monocromáticos, então (Pn2 , Φ) é 2-redutı́vel.

Demonstração. Seja Φ de uma configuração de Pnr composta por quatro blo-


cos monocromáticos maximais B1 , B2 , B3 e B4 tal que |B1 | ≥ 4 e
|Bi | ≥ 0, para i ∈ {2, 3, 4}. Sem perda de generalidade, assumimos que
Φ(v) = t, para todo v ∈ B1 ∪ B3 ; e Φ(u) = d, para todo u ∈ B2 ∪ B4 . A
partir de agora, faremos referência às Figuras 4.12 a 4.18. Representamos por
(v1 → v2 → v3 → . . . → vi−1 → vi ) a sequência de movimentos (jogada) da pedra
do vértice v1 para o vértice v2 , do v2 para o v3 , . . ., do vértice vi−1 para o vértice vi .
Nesta demonstração consideraremos |B1 | = 4. O caso |B1 | > 4 é análogo.

Propriedade 6. Se |B2 | = 1 então (Pn2 , Φ) é 1-redutı́vel.

Demonstração da Propriedade: Seja |B2 | = 1. Se |B3 | = 0 (i.e. n = 5), então


mova a pedra branca de B2 de forma a comer todas as pedras de B1 para a esquerda
até o vértice 0 (veja Figura 4.12(a)). Observamos que se |B3 | = 0, então |B4 | = 0,
pois B2 é um bloco monocromático maximal. Se |B3 | ≥ 2, então temos a seguinte
jogada: (4 → 2 → 0 → 1 → 3 → 5). Encontramos uma configuração Φ′ onde os
quatro primeiros vértices são não-monocromáticos e concluı́mos pela aplicação do
Lema 3 no grafo restante (veja Figura 4.12(b)).

2 4 1 5
3
4 3 2 1 ...
0 1 2 3 4 5 6 7
0 1 2 3 4
B1 B2 B3
B1 B2

(a) |B3 | = 0. (b) |B3 | ≥ 2.

Figura 4.12: Casos |B2 | = 1 para Pn2 .

Agora considere |B3 | = 1. Se |B4 | = 0 (i.e. n = 6), então mostramos que


Pn2 é 1−redutı́vel através da seguinte jogada: (4 → 5 → 3 → 2 → 1 → 0). Veja Fi-
gura 4.13(a). Se |B4 | = 1, então realize as seguintes jogadas (6 → 5 → 3 → 1 → 2)
e (0 → 2 → 4), representadas na Figura 4.13(b). Se |B4 | > 1, então as jogadas
serão: (7 → 5 → 3 → 1 → 2) e (0 → 2 → 4 → 6 → 8). Encontramos uma confi-
guração Φ′ onde os quatro primeiros vértices são não-monocromáticos e concluı́mos

30
pela aplicação do Lema 3 no grafo restante (veja Figura 4.13(c)).

2 5 3 2
6
5 4 3 1 4 1

0 1 2 3 4 5 0 1 2 3 4 5 6
B1 B2 B3 B1 B2 B3 B4

(a) |B4 | = 0. (b) |B4 | = 1.

5 3 6 2 7 1 8
4
...
0 1 2 3 4 5 6 7 8
B1 B2 B3 B4

(c) |B4 | > 1.

Figura 4.13: Casos |B2 | = 1 e |B3 | = 1 para Pn2 .

Propriedade 7. Se |B2 | = 2 e |B3 | 6= 1, 2 então (Pn2 , Φ) é 1-redutı́vel.

Demonstração da Propriedade: Seja |B2 | = 2. Se |B3 | = 0 (i.e. n = 6),


então temos as seguintes jogadas: (3 → 4) e (5 → 4 → 2 → 1 → 0). Veja a
Figura 4.14(a). Se |B3 | > 2, então temos a seguinte jogada: (7 → 6) e
(5 → 3 → 0 → 1 → 4 → 6 → 8). Encontramos uma configuração Φ′ onde os qua-
tro primeiros vértices são não-monocromáticos e concluı́mos pela aplicação do Lema
3 no grafo restante (veja Figura 4.14(b)).
3 5 2 6 7
3
4 1 2 4 1
5
...
0 1 3 4 5 6 7 8
0 1 2 3 4 5
B1 B2 B3
B1 B2

(a) |B3 | = 0. (b) |B3 | > 2.

Figura 4.14: Casos |B2 | = 2 para Pn2 .

Propriedade 8. Se |B2 | = 2 e (|B3 | = 1 ou |B3 | = 2) então (Pn2 , Φ) é 2-redutı́vel.

Demonstração da Propriedade: Seja |B2 | = 2. Considere o grafo Pn2 e a seguinte


jogada: (3 → 4) e (5 → 4 → 2 → 1 → 0). Se |B3 | = 1 ou |B3 | = 2, a partir do
vértice 6, encontramos um configuração Φ′ onde os quatro primeiros vértices são

31
não-monocromáticos e concluı́mos pela aplicação do Lema 3 no grafo restante, a
partir do vértice 6 (veja Figura 4.15).

3
5 4 1 2
...
0 1 2 3 4 5 6
B1 B2 B3

Figura 4.15: Caso |B2 | = 2 e (|B3 | = 1 ou |B3 | = 2) para Pn2 .

Propriedade 9. Se |B2 | > 2 então (Pn2 , Φ) é 2-redutı́vel.

Demonstração da Propriedade: Considere as seguintes jogadas:


(4 → 2 → 1 → 0) e (3 → 5). Visto que |B2 | > 2, a partir do vértice 5, encontramos
uma configuração Φ′ onde os quatro primeiros vértices são não-monocromáticos e
concluı́mos pela aplicação do Lema 3 no grafo restante, a partir do vértice 5 (veja
Figura 4.16).
1 4
3 2
...
0 1 2 3 4 5
B1 B2

Figura 4.16: Caso |B2 | > 2 para Pn2 .

Isso conclui a prova do Lema 5.

Teorema 10. Seja Φ uma configuração de Pnr , r ≥ 3, (Pnr , Φ) é 1-redutı́vel.

Visto que Pn2 é um subgrafo de Pnr , r ≥ 3, então quando os quatro primeiros


vértices são não monocromáticos, pelo Lema 3, Pnr , r ≥ 3 é 1−redutı́vel. Pelo Lema
5, os únicos casos que precisamos analisar são os encontrados nas Propriedades 8 e
9, que tratamos a seguir.
Considere a configuração da Propriedade 8 (|B1 | ≥ 4, |B2 | = 2 e (|B3 | = 1 ou
|B3 | = 2)), e as seguintes jogadas: (4 → 1 → 0 → 2), (3 → 5) e (2 → 5). Como
|B3 | = 1 ou |B3 | = 2, a partir do vértice 5, encontramos uma configuração Φ′ onde
os quatro primeiros vértices são não-monocromáticos e concluı́mos pela aplicação
do Lema 3 no grafo restante (veja Figura 4.17).

32
3 1
2
...
0 1 2 3 4 5
B1 B2 B3
5
4

x x x ...
0 1 2 3 4 5

Figura 4.17: Caso |B2 | = 2 e (|B3 | = 1 ou |B3 | = 2) para Pnr , r ≥ 3.

Considere a configuração da Propriedade 9 (|B1 | ≥ 4 e |B2 | > 2), e as seguin-


tes jogadas: (4 → 1 → 0 → 2) e (3 → 2 → 5). A partir do vértice 5, encontramos
uma configuração Φ′ onde os quatro primeiros vértices são não-monocromáticos e
concluı́mos pela aplicação do Lema 3 no grafo restante (veja Figura 4.18).
3 1
2
...
0 1 2 3 4 5
B1 B2
5
4
x x x ...
0 1 2 3 4 5

Figura 4.18: Caso |B2 | > 2 para Pnr , r ≥ 3.

O próximo resultado baseia-se na propriedade de grafos circulantes apresentada


no Lema 1.

Teorema 11. Seja Φ uma configuração não-monocromática do grafo circulante G =


C(n, A) com {d, 2d} ⊆ A e gcd(n, d) = 1, então (G, Φ) é 1-redutı́vel.

Demonstração. Visto que gcd(n, d) = 1, pelo Lema 1, G é composto de apenas uma


componente conexa e vamos mostrar que G = Cn2 . Considere uma nova enumeração
dos vértices de C(n, A) tal que todo vértice que estiver a distância d em G estará
a distância 1 no novo grafo e todo vértice que estiver a distância 2d em G, estará
a distância 2 no novo grafo. Portanto, todo C(n, {d, 2d}) com gcd(n, d) = 1 é
isomorfo a C(n, {1, 2}). Agora vamos considerar dois vértices adjacentes xi , xi+1
de C(n, {1, 2}) tal que Φ(xi ) 6= Φ(xi+1 ) e vamos cortar C(n, {1, 2}) ao longo da
aresta xi−1 xi de forma a obter um subgrafo Pn2 , cuja configuração contém os quatro
primeiros vértices não-monocromáticos xi xi+1 xi+2 xi+3 . Concluı́mos a prova pela
aplicação do Lema 3. Veja um exemplo na Figura 4.19.

33
0 14 0 3
16 1
15 2
11 6

14 3 8 9

13 4 5 12

12 5 2 15

11 6 16 1
10 7 13 4
9 8 10 7

(a) C(17, {3, 6}). (b) C(17, {1, 2}).

Figura 4.19: O grafo C(17, {3, 6}) é isomorfo ao C(17, {1, 2}).

Além disso, mostramos a seguir que existem configurações de grafos circulantes


que não são 1-redutı́veis.
Seja G um grafo bipartido com bipartição (S0 , S1 ). Seja o conjunto S0 (res-
pectivamente S1 ) definido como branco (respectivamente preto), e seja Φ uma con-
figuração em G. Uma pedra de G é dita conflitante se sua cor difere da cor do
conjunto a que pertence. Denotamos por δ(G, Φ) o seguinte parâmetro:

δ(G, Φ) = número de pedras + número de pedras conflitantes

Demaine et al. [4] mostraram que δ(G, Φ) mod 3 nunca muda durante o jogo e
provaram o seguinte teorema.

Teorema 12 (Demaine et al., 2004 [4]). Se uma configuração Φ de um grafo bipar-


tido G é tal que δ(G, Φ) ≡ 0 mod 3, então (G, Φ) não é 1-redutı́vel.

Isto implica que qualquer configuração Φ de um grafo bipartido G tal que (G, Φ)
é 1-redutı́vel satisfaz δ(G, Φ) 6≡ 0 mod 3. Baseado em configurações alternadas e
usando δ, provamos a seguinte proposição:

Proposição 13. Seja G = C(n, {1, d}) um grafo circulante, com n par e d ı́mpar,
então existem configurações não-monocromáticas Φ de G tais que (G, Φ) não é 1-
redutı́vel.

Demonstração. Verificamos, pelo Teorema 2, que G = C(n, {1, d}), com n par e
d, ı́mpar é bipartido. Dependendo do valor de n, mostramos que (G, Φ) não é
1-redutı́vel.

34
(i) Se n = 6l, l > 0, então, seja Φ uma configuração alternada. Neste caso, não
temos pedras conflitantes, então δ(G, Φ) = n. Verificamos que δ(G, Φ) ≡ 0
mod 3.

(ii) Se n = 6l + 2, l > 0, então seja Φ′ uma configuração definida por Φ′ (i) = Φ(i)
para todo i ∈ {1, . . . , n − 1} tal que Φ′ (0) = Φ(1). Neste caso, temos uma
pedra conflitante. Logo, δ(G, Φ′ ) = n + 1 ≡ 0 mod 3. Veja um exemplo na
Figura 4.20.

(iii) Se n = 6l + 4, l > 0, então seja Φ′ a configuração definida por Φ′ (i) = Φ(i)


para todo i ∈ {2, . . . , n − 1} tal que Φ′ (1) = Φ(2) e Φ′ (0) 6= Φ(2). Agora
temos duas pedras conflitantes. Portanto, δ(G, Φ′ ) = n + 2 ≡ 0 mod 3.

Nestes três casos, pelo Teorema 12, (C(n, {1, d}), Φ) não é 1-redutı́vel.

0 0
S0 S1
7 1 7 1
1 0

3 2
6 2 6 2
5 4

7 6
5 3 5 3

4 4

Figura 4.20: Exemplo para n = 6l + 2, l = 1, d = 3.

35

Você também pode gostar