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FÓRMULAS E Emissão: 26/5/2010


Por: Luiz A. P. Monteiro

SUBFÓRMULAS Revisão:
Por:

5 – Fórmulas e Subfórmulas Página 79


5 – Fórmulas e Subfórmulas Página 80
5.1 Introdução

A lógica matemática tem como objetivo modelar o raciocínio humano,


partindo de frases declarativas (proposições).
Ela estuda
• como raciocinar com afirmações que podem ser verdadeiras ou
falsas
• como construir a partir de um certo conjunto de hipóteses
(proposições verdadeiras em um determinado contexto) uma
demonstração de que uma determinada conclusão é verdadeira no
mesmo contexto.
A lógica matemática não visa o conteúdo das proposições, mas sim a
relação formal entre as proposições e seus respectivos valores.

Observe as seguintes proposições


P1: 3<5 e 3>1
cada proposição, é composta por duas proposições
P2: 3<5 e 3>4
elementares, que não dependem de outras.
P3: 3<5 ou 3>4
P4: Pedro não é médico  nesta proposição, para atribuir um
valor lógico é necessário avaliar antes se de fato Pedro é médico

Assim, a lógica matemática pode ser dividida em


• lógica sentencial
• lógica de predicados.

5.2 Lógica sentencial (ou proposicional)

A lógica sentencial estuda argumentos que não dependem da estrutura


interna das sentenças.
Exemplo:
Observação:
P1: Se Deus existe, então a felicidade eterna é possível.
P2: Deus existe. A sentença ‘se Deus existe,
a felicidade eterna é
C: Logo, a felicidade eterna é possível.
possível’ é formada a partir
A validade da conclusão C depende do modo pelo qual as sentenças P1 e
de duas outras sentenças
P2 são conectadas, mas não depende da estrutura interna das sentenças. A
‘Deus existe’ e ‘a felicidade
forma lógica de P1 deixa isso claro:
eterna é possível’,
P1: Se A, então B.
conectadas pelo operador
P2: A.
lógico se...então.
C: Logo, B.

5.3 Lógica de predicados


A Lógica de Predicados estuda argumentos cuja validade depende da
estrutura interna das sentenças.
Exemplo:
P1: Todos os brasileiros são felizes.
P2: Todos os cariocas são brasileiros
C: Logo, todos os cariocas são felizes

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A forma lógica de P1 é a seguinte:
P1: Todo A é B.
P2: Todo C é A.
C: Logo, todo C é B.

Felizes
A primeira premissa do argumento P1 diz que o conjunto dos indivíduos
Brasileiros
que são brasileiros está contido no conjunto dos indivíduos felizes. A
Cariocas segunda, diz que todos os cariocas estão ‘dentro’ do conjunto dos
brasileiros. É fácil concluir então que todos os cariocas são felizes. Essa
conclusão se segue das premissas.

Se no lugar de “Todo” fosse usada uma outra palavra (por exemplo:


“algum”) a conclusão seria completamente diferente, ou seja o valor da
conclusão depende da estrutura interna das sentenças.
P1: Todo A é B.
P2: Algum A é C.
C: Logo, algum B é A.

Observar que para analisar o argumento precisamos analisar a estrutura


interna das sentenças “ Todos os brasileiros são felizes” e ‘todos os
cariocas são brasileiros’ e não apenas o modo pelo qual sentenças são
conectadas umas às outras.

O que caracteriza a lógica de predicados é o uso dos quantificadores


“todo”, “algum” e “nenhum”. É por esse motivo que a validade de um
argumento da lógica de predicados depende da estrutura interna das
sentenças.

Usualmente o estudo da lógica começa pela lógica sentencial.

5.4 O Problema da Linguagem Natural

A Linguagem Natural (ou corrente), mesmo quando expressa na forma


gramatical correta, é imprecisa, ambígua e fonte de equívocos (ver anexo
C) pois para expressar uma idéia ou um conceito:
• Línguas diferentes possuem termos diferentes
• Mesmo uma mesma língua se utiliza de vários termos
• Um mesmo termo de uma língua pode ter sentidos conceituais
diferentes

Portanto a Linguagem Natural não é apropriada para estudos que se


baseiam em uma representação bem definida e que não gere distorções ou
mais de uma interpretação. Não é adequada ao tratamento científico.

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5.5 As Linguagens Formais

São objetos matemáticos que procuram retratar de forma concisa o que é


dito na linguagem corrente através de regras de formação precisas e de
um único sentido.

Em um sistema formal S, o papel da intuição é tornado mínimo, de forma


que as derivações realizadas no seu âmbito não utilizem nada além do que
explicitamente é declarado na sua descrição. São os mais adequados ao
tratamento científico.

O modo usual de se descrever um sistema formal é através da,


especificação de sua linguagem L fornecendo-se:

(i) O alfabeto básico de L, que em geral consta de uma quantidade


contável (finita ou enumerável) de símbolos primitivos de L.
Exemplos:
O alfabeto da língua portuguesa é P = {a, b, c, ..., z}.
O alfabeto dos números naturais N = {1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 0}

(ii) Expressão/fórmula de L que é uma seqüência finita de símbolos de


L, e convenciona-se que são escritos na horizontal, da esquerda para a
direita etc., seguindo as convenções usuais de escrita;
Exemplo:
Se a, b e c são símbolos, então abcb é uma expressão/fórmula
utilizando estes símbolos

(iii) A gramática de L que é um conjunto de prescrições que permitem


determinar, em geral por um procedimento efetivo, quais dentre as
expressões de L serão as 'bem formadas', que serão as fórmulas de S (na
verdade, da linguagem L de S).
Nota:
Assim, os componentes básicos de uma Linguagem Formal são
Mais sobre o assunto
• Um alfabeto - conjunto de símbolos utilizados na linguagem pode ser visto em
• Fórmulas
• Uma gramática - conjunto de regras de formação de expressões e Autômatos e
Linguagens
fórmulas Formais

Alfabeto Gramática Fórmulas

O objetivo principal do estudo dos sistemas formais é o de dar um


siginificado preciso à noção de prova, ou demonstração.

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5.6 A Linguagem Proposicional

É um exemplo de linguagem formal usada no estudo da lógica.


Só trata das sentenças ou proposições que podem assumir um único valor
(ou verdadeiro ou falso), portanto, de expressividade bem limitada.

5.6.1 O Alfabeto da Linguagem Proposicional

Na linguagem LLP (Linguagem da Lógica Proposicional), o alfabeto é


composto pelos seguintes elementos:

(a) Conjunto de símbolos primitivos, ou variáveis - Conjunto infinito (isso


não ocorre na língua portuguesa) e contável P de símbolos proposicionais
denominados átomos ou variáveis proposicionais: P = {p0, p1, p2,...};

(b) Elementos de pontuação: “(“ e “)”.

(c) Símbolos para verdade e falsidade: V = 1 = verdadeiro e F = 0 = Falso

(d) Conjunto de operadores /conectivos lógicos:


• Conectivo Unário : ¬ (negação, NÃO);
• Conectivos Binários: ∧ (conjunção, E), ∨ (disjunção, OU), →
(implicação SE...ENTÃO), ↔ (bicondicional)

5.6.2 Formulas ou Proposições Atômicas e Compostas

Nota: Formulas atômicas ou Proposições atômicas – são as palavras da


Nem toda concatenação Lógica Proposicional, formadas pela concatenação de símbolos do alfabeto
de símbolos resulta em (cuja regra é fornecida pela gramática da língua). Chama-se proposição
uma proposição simples ou atômica aquela que não depende de outras
atômica.
Fórmulas ou Proposição compostas – são proposições formadas
pela combinação de proposições atômicas usando conectivos lógicos. É um
conjunto de palavras que expressam um pensamento completo acerca de
um objeto.

5.6.3 Gramática da Lógica Proposicional

É o conjunto de regras de formação, que especifica as relações válidas


entre os símbolos do alfabeto. Através de regras de derivação ou de
indução são estabelecidas as “fórmulas bem formadas”, i.e., os "teoremas"
do sistema formal.

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Fórmulas bem formadas da linguagem (fbfs; ou em inglês well
formed formulas - WFF) – são definidas indutivamente na gramática
formal. Assim, uma fórmula bem formada (fbf) é
• qualquer fórmula atômica (caso básico da indução) ou Nota:
• qualquer fórmula que pode ser construída a partir de fórmulas Uma definição por
atômicas, usando conectivos de acordo com as regras da gramática
indução possui um caso
(casos indutivos).
básico e um ou vários
Seja: LLP = conjunto das fórmulas proposicionais chamadas de fórmulas casos indutivos ou
bem formadas com as seguintes regras de formação: passos

(i) Caso Básico: todos os símbolos proposicionais que estão em LLP (P⊆ LLP)
são chamados de fórmulas ou proposições atômicas ou átomos;
(ii) Caso Indutivo 1 (para conectivo unário): se A ∈ LLP , então ¬A ∈ LLP;
(iii) Caso Indutivo 2 (para conectivos binários): se A,B ∈ LLP , então [(A ∧
B)∈ LLP , (A∨ B) ∈ LLP e (A → B) ∈ LLP]

Exemplo: se p, q, r são símbolos proposicionais deduz-se então que:


• p, q, r são fórmulas da LLP;
• ¬p e ¬¬p também são fórmulas da LLP;
• (p∧q), (p∨(p∨¬q)), ((r∧¬p)→¬q), e etc., também são fórmulas da
LLP

5.7 Ordem Hierárquica de Pareação

Considere a seguinte proposição: p → q ∧ r


Tal proposição admite duas interpretações:
• (p → q) ∧ r
• p → (q ∧ r)
Para se evitar a ambigüidade na interpretação das fórmulas, convencionou-
se o uso de parênteses (separadores “(“ e “)”) segundo uma ordem
hierárquica:
• Os mais externos podem ser omitidos;
• O uso repetido dos conectivos ∧ e ∨ dispensa o uso de parênteses
(preferência pela esquerda);
• O uso repetido do conectivo → também dispensa o uso de
parênteses (preferência pela direita);
• A precedência dos conectivos é dada por ¬, (∧ ou ∨ ), → e ↔.
• Se aparecer operador fora dessa ordem  usar parênteses

Exemplos:
a) p ∧ q ↔ r → s  (p ∧ q) ↔ (r → s)
b) p → q ∧ r  p → (q ∧ r)
c) ¬p ∧ q = ((¬p) ∧ q) ≠ ¬(p ∧ q)
d) ¬p ∨ q ∧ r  ¬p ∨ (q ∧ r)
e) p ∨ q ∧ r = p ∨ (q ∧ r) ≠ (p ∨ q) ∧ r
f) p ∨ ¬q → r = (p ∨ (¬q)) → r ≠ p ∨ ((¬q) → r)
g) ¬p ∨ q ↔ q = ((¬p) ∨ q) ↔ q

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5.8 Expressando Idéias como Fórmulas Proposicionais

As fórmulas proposicionais permitem a representação dos atributos do


mundo real na visão da lógica proposicional (expressa em apenas dois
estados da verdade).

Considere um vocabulário básico composto por:


• Símbolos: criança, jovem, adulto e idoso
• Atributos (atividades das pessoas ao longo da vida): estudante,
trabalhador, professor e aposentado

Com esse vocabulário básico, pode-se expressar algumas idéias por meio
de fórmulas proposicionais, como mostrado a seguir:

a) Uma pessoa ou é criança, ou jovem, ou adulta, ou idoso.


pessoa → (criança ∨ jovem ∨ adulto ∨ idoso)

b) Um jovem ou trabalha ou estuda


jovem → trabalha ∨ estuda

c) Não pode haver criança aposentada


¬(criança ∧ aposentada)

5.9 Subfórmulas

Através do processo de indução sobre uma estrutura de fórmulas ou


simplesmente indução estrutural, define-se a noção Subf(A) (conjunto de
subfórmulas de uma fórmula A) da seguinte forma:

1. Caso Básico: A = p Subf(p) = {p}  uma fórmula sempre é


subformula de si mesma
2. Caso Indutivo 1: A = ¬B.  Subf(¬B) = {¬B} ∪ Subf(B);
3. Caso Indutivo 2: A = B ∧ C  Subf(B ∧ C) = {B ∧ C}∪ Subf(B) ∪
Subf(C);
4. Caso Indutivo 3: A = B ∨ C  Subf(B ∨ C) = {B ∨ C}∪ Subf(B) ∪
Subf(C);
5. Caso Indutivo 4: A = B → C  Subf(B → C) = {B → C}∪ Subf(B) ∪
Subf(C).

Uma outra forma de expressar os três últimos casos indutivos seria definir
Nota: os operadores como parâmetros de uma expressão mais genérica:
Como não se representa
elementos repetidos em Para • ∈ {∧, ∨, →}, Se A = B • C Então :
um conjunto, as Subf(A) = {A} ∪ Subf(B) ∪ Subf(C)
subfórmulas iguais não Por exemplo:
são expressas
Seja A = (p ∨ ¬q) → (r ∧ ¬q), então o conjunto Subf(A) é :
{A, p ∨ ¬q, p, ¬q, q, r ∧ ¬q, r}

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Exemplo:
Seja A = (p ∨ ¬q) → (r ∧ ¬q), então:
Subf(A) = {A} U {Subf((p ∨ ¬q) → (r ∧ ¬q))}
Subf(A) = {A} U {p ∨ ¬q} U {Subf(p ∨ ¬q)} U {r ∧ ¬q} U {Subf(r ∧ ¬q)}
Subf(A) = {A, p ∨ ¬q} U {p, ¬q} U {Subf(¬q)} U {r ∧ ¬q} U {r, ¬q} U
{Subf(¬q)}
Subf(A) = {A, p ∨ ¬q, p, ¬q} U {q} U {r ∧ ¬q, r, ¬q}
Subf(A) = {A, p ∨ ¬q, p, ¬q, q, r ∧ ¬q, r}

5.10 Tamanho de Fórmulas (Complexidade)

O tamanho ou complexidade de uma fórmula A:


• É representado por |A|
• É um número inteiro positivo
• Corresponde ao número de símbolos que ocorrem na fórmula,
excetuando-se os separadores “(“ e “)”

Definindo-se tamanho pelo método de indução estrutural sobre uma


fórmula, tem-se os seguintes casos básico e indutivos:
• Caso básico: |p| = 1, ∀ p , p ∈ P  toda fórmula atômica tem
tamanho igual a 1
• Caso indutivo 1: |¬A| = 1 + |A|  tratamento para conectivos
unário
• Caso Indutivo 2: |A•B| = 1 + |A| + |B|, para • ∈ {∧, ∨, →} 
tratamento para conectivos binários

Exemplo:
Seja A = (p ∨ ¬q) → (r ∧ ¬q), então a complexidade de A é calculada da
seguinte forma:

|(p ∨ ¬q) → (r ∧ ¬q)| = 1 + |p ∨ ¬q| + |r ∧ ¬q| Nota:


¬q| + 1 + |r| + |¬
= 1 + 1 + |p| + |¬ ¬q| Quando subfórmulas
= 3 + |p| + |¬q| + |r| + |¬q| ocorrem mais de uma
= 3 + |p| + 1 + |q| + |r| + 1 + |q| vez elas devem ser
= 5 + |p| + |q| + |r| + |q| mantidas na contagem,
=5+1+1+1+1 como ocorreu com ¬q.
=9

5.11 Exercícios Propostos

5.11.1 Elimine, se possível, os parêntesis:


a) (p ∨ q) → ( ( ¬ p) ∧ r)
b) ( ¬ p) ↔ (q ∨ ( ( ¬ r) → s))

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5.11.2 Simplificar as seguintes fórmulas, removendo os parênteses
desnecessários:
a) (p ∧ q)
b) ((p ∧ q) ∨ (r ∧ s))
c) (p → (q → (p ∧ q)))
d) ¬(¬(p ∧ (q ∧ r)))
e) ¬(p ∧ (q ∧ r))
f) ((p ∧ (p → q)) → r)

5.11.3 Dar o conjunto de subfórmulas das fórmulas a seguir. Notar que os


parênteses implícitos são fundamentais para decidir quais são as
subfórmulas:
a) ¬p → p
b) p ∧ ¬r ∨ r ∧ ¬s
c) q → p → r → p ∨ q ∧ r
d) p ∨ ¬q ∧ r ∨ s
e) p ∧ ¬ (p → ¬q) ∨ ¬q

5.12 Para saber mais

[1]Keller, Vicente, Bastos, Cleverson L. – Aprendendo Lógica – Editora


Vozes; Petrópolis; 2007
[2] Copi, Irving Marmer.- Introdução à Lógica - Editora Mestre Jou; São
Paulo; 1978
[3] McInerny, D.Q. – Use a lógica: um guia para o pensamento eficaz –
Editora Best Seller; Rio de Janeiro; 2006

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