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Semântica e Pragmática – aula 07

pressuposição 1
Curso: Licenciatura em Letras
Professor: Vitor Cordeiro Costa
Período: 4º – 2º semestre 2022
São João del-Rei, setembro 2022
IMPLICAÇÕES / INFERÊNCIAS

NOÇÃO MAIS RESTRITA NOÇÃO MAIS ABRANGENTE

ACARRETAMENTO PRESSUPOSIÇÃO IMPLICATURA

POLO + SEMÂNTICO POLO + PRAGMÁTICO

com base em: Márcia Cançado. Manual de Semântica:


noções básicas e exercícios. São Paulo: Contexto, 2012.
Lados semântico e pragmático
(51)Você parou de vender cocaína?
• Sim; eu parei de vender cocaína.
• Não; eu não parei de vender cocaína.
(51 p.) x vendia cocaína antes. PRESSUPOSTO

— Solução: Eu nunca vendi cocaína.


“A pressuposição, à diferença do acarretamento, pode ser
cancelada por isso ela é considerada pragmática. Se ela fosse
uma consequên- cia lógica, não seria possível cancelá-la.”
(Oliveira 2012, p. 79)
Lados semântico e pragmático
“em algum sentido as pressuposições não fazem parte do
con- teúdo assertado [ou seja, característica
pragmática]; entretan- to, é preciso salientar que no
processo pelo qual somos levados a compreender um
conteúdo pressuposto, a estrutura linguísti- ca nos
oferece todos os elementos que nos permitem derivá-lo
[ou seja, característica semântica]”
(ILARI; GERALDI 1987, p. 76)
Definições
“Outra maneira de pensar a pressuposição é que a
pressuposição de uma proposição é uma pré-condição de sua
verdade ou falsidade).” (RIEMER 2010, p. 203)

“Temos pressuposição quando, para atribuirmos um valor de


ver- dade – o verdadeiro ou o falso – a uma sentença,
precisamos assu- mir a verdade de outras sentenças. A
pressuposição é o pano de fundo de outra sentença; sem o
qual, não podemos afirmar nada so- bre a outra.” (OLIVEIRA
2012, p. 79-80)
“A pressupõe B sse B deve ser dada como certa em todo
contexto no
qual A é usada.” (CHIERCHIA 2013 apud SOUZA; PAGANI, 2022)
Teste da família-
P
“A sentença (a) pressupõe a sentença (b) se, e somente se, a
sentença (a), assim como também os outros membros da
família da sentença (a) tomarem a sentença (b) como
verdade.” (CANÇADO 2022, p. 38)

(a) O João parou de fazer caminhada.

(b) O João fazia caminhada.


• Família:
– negação: O João não parou de fazer caminhada.
– condicional: Se o João parou de fazer caminhada...
– interrogativa: O João parou de fazer caminhada?
Aplicações do conceito
• Estudos do discurso
– ajudar na análise de textos de modo a entender seus não ditos,
isto é, as formas de conhecimento que dão origem a manifesta-
ções empíricas verbais e não verbais
• Estudos da literatura
– analisar os dizeres dos personagens e dos narradores
– inferir as visões que fundamentam eventos ou falas narradas,
de modo a alcançar seus não ditos inconscientes, velados,
filosófi- cos, psicológicos ou sociais
• Estudos da argumentação
– ajudar alunos da educação básica a identificá-los, entender (os
próprios argumentos) e usá-la na fala e na escrita
– ensinar argumentadores a usá-lo como estratégia e a lidar com
ele na ponta receptiva
Bibliografia
BEAVER, David; GEURTS, Bart; DENLINGER, Kristie. In: ZALTA, Edward (ed.).
The Stanford Encyclopedia of Philosophy. Stanford: Metaphysics Research Lab, 2021.
Disponível em: https://plato.stanford.edu/archives/spr2021/entries/presupposition/.
CANÇADO, Márcia. Manual de Semântica. São Paulo: Contexto, 2013. p. 37-46.
CHIERCHIA, Gennaro. Semântica. Campinas, SP: Ed. da Unicamp; Londrina: Eduel,
2003. p. 184-193.
CASTILHO, Ataliba. Nova Gramática do Português Brasileiro. 1. ed. 3. reimp. São
Paulo: Contexto, 2014. p. 112-113.
DUCROT, Oswald. O dizer e o dito. Campinas, SP: Pontes, 1987.
OLIVEIRA, Roberta Pires de. Semântica Formal: uma breve introdução. 3. ed. rev.
atual. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2012. p. 79-85.
PORTER, Paul H. What is meaning?. Oxford: Blackwell, 2005.
RIEMER, Nick. Introducing Semantics. Cambridge: Cambridge University Press, 2010.
SOUZA, Luisandro Mendes; PAGANI, Luiz Arthur. Para conhecer Pragmática. São
Paulo: Contexto, 2022.
Semântica e Pragmática – aula 04
hiperonímia, hiponímia e
acarretamento 1
Curso: Licenciatura em Letras
Professor: Vitor Cordeiro Costa
Período: 4º – 2º semestre 2022
São João del-Rei, setembro 2022
Hiperonímia e Hiponímia
• relação de hierarquia e inclusão entre:
– classe = hiperônimo ou superordenado
– membro da classe = hipônimo ou subordinado

• relação assimétrica
“Um procedimento padrão para identificação da
hiponímia se baseia na noção de inclusão de classe: A é
um hipônimo de B se todo A for necessariamente um B,
mas nem todo B for necessa- riamente um A. Por exemplo,
todo carro é um veículo, mas nem todo veículo é um carro,
pois há também ônibus, motos e caminhões. Logo, carro é
um hipônimo de veículo” (RIEMER, 2010, p. 142, trad. minha)
IMPLICAÇÕES

NOÇÃO MAIS RESTRITA NOÇÃO MAIS ABRANGENTE

ACARRETAMENTO PRESSUPOSIÇÃO IMPLICATURA

POLO + SEMÂNTICO POLO + PRAGMÁTICO

com base em: Márcia Cançado. Manual de Semântica:


noções básicas e exercícios. São Paulo: Contexto, 2012.
Acarretamento
• Estudado pelos lógicos desde Aristóteles
• Distinto da noção de implicação material dos lógicos
• Acarretamento semântico ou consequência lógica
(Oliveira 2012, p. 74-76):
– fenômeno ou capacidade de deduzir sentenças de
outras sentenças
– na condição de linguistas, a relação de acarretamento
importa porque nos permite entender melhor a estrutura
semântica das sentenças
– relações de dedução a partir do significado dos termos
– verificar se a verdade de uma ou mais de uma sentença é
uma
decorrência da verdade de outra ou outras sentenças
Acarretamento
(a) João é alto e é um jogador de basquete. Não é acarretamento
(b) O João é um jogador de basquete alto .

• relação assimétrica de inclusão


• definição tripla (Cançado 2012, p. 33):
“Duas sentenças estabelecem relação de acarretamento se:
– a sentença (a) for verdadeira, a sentença (b) também será
verdadeira
– a informação da sentença (b) estiver contida na
informação da sentença (a)
– a sentença (a) e a negação da sentença (b) forem sentenças
contraditórias
descrevem situações impossíveis de acontecer
simultaneamente no mundo
Críticas
• A Semântica Formal exclui o contexto da noção de acarretamento.
Porém, dadas as múltiplas possibilidades de interpretação da frase
esvaziada, a SF acaba por buscar os possíveis contextos de uso para
justificar suas análises.
• Ignora completamente o que os falantes não especialistas conside-
ram como sendo o significado dos itens e das sentenças.
• Surgimento de explicações bizarras – ou, no mínimo, intrigantes.
Exemplo (Cruise 2000, p. 38 e 385, trad. minha):
(xi) (a) X matou Y.
(b) Y não está vivo.
Resposta do autor: “À primeira vista, (a) parece acarretar (b),
mas isso ignora a possibilidade de ressurreição. Estritamente
falando, tudo o que se acarreta é que há um período em que Y se
tornou não vivo.”
Bibliografia
CANÇADO, Márcia. Manual de Semântica. São Paulo: Contexto, 2013. p.
31-37.

CRUSE, Alan. Meaning in language: an introduction to Semantics and


Pragma- tics. Oxford: Oxford University Press, 2000. p. 28-30, p. 38 e p.
250-251.

OLIVEIRA, Roberta Pires de. Semântica Formal: uma breve introdução. 3.


ed. rev. atual. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2012. p. 74-78 e p. 83-84.

PORTER, Paul H. What is meaning?: fundamentals of formal semantics. Ox-


ford: Blackwell, 2005. p. 20 e p. 178-179.

RIEMER, Nick. Introducing Semantics. Cambridge: Cambridge University


Press, 2010.
CANÇADO, Márcia. Manual de Semântica: noções básicas e
exercícios. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2012.
CANÇADO, Márcia. Manual de Semântica: noções básicas e
exercícios. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2012.
Semântica e Pragmática – aula 02
Panorama da Semântica
Curso: Licenciatura em Letras
Professor: Vitor Cordeiro Costa
Período: 4º – 2º semestre 2022
São João del-Rei, agosto 2022
“A semântica é o estudo do significado linguístico [...].
Quase todos concordam com isso. Em geral, também se
con- corda em que a questão básica da semântica é:
‘O que é o significado (meaning)?’. Mas aqui
terminam os pontos em acordo e começam
intermináveis controvérsias ...”
“Aqueles que dizem que o conceito de significado está
em falta estão, eu acho, dizendo que a desagradável
reputação da semântica é devida ao conceito de
significado, assim como a desagradável reputação da
demonologia é devida ao conceito de demônio.”

Jerrold Katz. O escopo da Semântica.


In: DASCAL, Marcelo (org.), 1982, p. 43 e 44.
“O equívoco, parece-me, está na suposição de que
a questão ‘O que é o significado ?’ pode ser
respondida de um modo direto e conclusivo. A
questão é geralmente tratada como se fosse do tipo
de uma questão como ‘Qual é a capital da França
?’, para a qual uma resposta direta e conclusiva
‘Paris’, pode ser dada.
Supõe-se que pode ser obtida uma resposta da
forma ‘Significado é isto ou aquilo’. Mas a
questão ‘O que é o significado ?’ não admite uma
resposta direta, ‘isto ou aquilo’; sua resposta é ,
ao contrário, uma teoria toda.”
Jerrold Katz. O escopo da Semântica.
In: DASCAL, Marcelo (org.), 1982, p. 46.
Perguntas da
Semântica (1)
• O que é o significado – definições? ideias na nossa
cabeça? conjuntos objetos no mundo?
• Todos os significados podem ser definidos com
precisão?
• O que explica as relações entre significados?
• Como os significados das palavras se combinam para
criar os significados das sentenças?
• Qual a diferença entre o sentido literal e o
sentido não literal?
(RIEMER, 2010, p. 2, trad. minha)
Perguntas da
Semântica (I)
• Como os significados se relacionam à mente dos
falantes e a que coisas os significados se referem?
• Qual a conexão entre o que uma palavra significa e
os contextos em que é usada?
• Como os significados das palavras interagem com as
regras e princípios sintáticos?
• Todas as línguas expressam os mesmos significados?
• Os significados mudam?
(RIEMER, 2010, p. 2, trad. minha)
Divisão tradicional de trabalho (1)
Semiose -------------------------- Semiótica
Semiologia
Significado linguístico --------- Semântica
Significado contextual -------- Pragmática
Charles S. Peirce

Ferdinand de Saussure Michel Bréal Gottlob Frege John L. Austin


Divisão tradicional de trabalho (2)
• Habilidade linguística humana é baseada em
conhecimento do falante > linguística estuda
esse conhecimento.
• Conhecimento da língua:
– Gramática = sistema de regras que governa o uso
dos signos da língua
– Nível de análise: semântica
• Significado das palavras e sentenças

(CANÇADO, 2012, cap. 1)


Divisão tradicional de trabalho (2)
• Conhecimento da linguagem:
– uso da língua = emprego da gramática da língua
em situações comunicativas concretas
– Nível de análise: pragmática
• Maneira pela qual a gramática, como um todo, é
usada nas situações
• Nem sempre o sistema semântico
é o único responsável pelo signifi-
cado, interagindo com outros sis-
temas cognitivos.
(CANÇADO, 2012, cap. 1) Noam Chomsky
Dimensão SEMÂNTICA PRAGMÁTICA
menção das sentenças e uso das sentenças e das
Objeto de estudo
das palavras, isoladas de palavras, inseridas em
seu contexto determinado contexto
explicação de aspectos da explicação de como se dão
interpretação que depen- os usos situados da língua
Objetivo de estudo dem apenas do sistema da e com certos tipos de
língua; interpretação das efeitos intencionais:
expressões linguísticas, o - intenção
que permanece constante - uso da expressão
quando certa expressão é - pessoa
proferida. - contexto

Exemplo ‘ser um homem’ (ser ho- ‘ser um homem’ (signifi-


minídeo, do sexo mascu- cação e todas as implica-
lino, bípede...) ções disso)


Existe uma dificuldade de separar uma da outra
(CANÇADO, 2012, cap. 1)
“A rigor, para que existiria a linguagem?
Certamen- te não para gerar seqüências
arbitrárias de símbolos nem para disponibilizar
repertórios de unidades siste- máticas. Na
verdade, a linguagem existe para que as pessoas
possam relatar a estória de suas vidas, even-
tualmente mentir sobre elas, expressar seus
desejos e temores, tentar resolver problemas,
avaliar situações, influenciar seus interlocutores,
predizer o futuro, pla- nejar ações. Se se concebe
a linguagem nestes termos, são completamente
diferentes as perguntas que vale a pena formular.
Um cardápio defensável incluiria as seguintes
questões:”

Margarida Salomão. A questão da construção do sentido e a


revisão da agenda dos estudos da linguagem. Veredas,
Juiz de Fora, v. 3, n. 1, p. 61-79,
1999.
Perguntas da
Semântica (2)
• Qual a contribuição específica da forma linguística para a
construção do sentido?
• Qual a contribuição das semioses concorrentes (vocalização,
postura corporal, expressão facial, disposição espacial do falante)?
• Qual a contribuição das outras bases de conhecimento (modelos
cognitivos, molduras comunicativas, informação contextual)?
• Como o processo de interlocução interfere na seleção das semioses
mobilizadas e na negociação das interpretações relevantes?
• Quais princípios cognitivos regem os processos de produção,
trans- ferência e difusão de informação entre domínios
cognitivos?
(SALOMÃO, 1999, p. 65)
Diversas
Semânticas
• Semântica Formal
• Semântica Cognitiva
• Semântica Lexical
• Semântica da Enunciação
• Semântica Argumentativa
• Semântica Cultural
• Semântica Computacional
Bibliografia
CANÇADO, Márcia. Manual de Semântica. São Paulo: Contexto, 2013.

FERRAREZI JR, Celso; BASSO, Renato. Semântica, semânticas: uma introdução.


São Paulo: Contexto, 2013.

KATZ, Jerrold. O escopo da Semântica. In: DASCAL, Marcelo (org.). Fundamentos


me-
todológicos da lingüística III. Campinas, SP: [s.n.], 1982, p. 43-61.

MARI, Hugo. Os sentidos do significado. Correio: Revista da Escola Brasileira de


Psicanáli-
se, n.18-19, p. 20-49, jan. 1998.

RIEMER, Nick. Introducing Semantics. Cambridge: Cambridge University Press,

2010. SALOMÃO, Margarida. A questão da construção do sentido e a revisão da


agenda
dos estudos da linguagem. Veredas, Juiz de Fora, v. 3, n. 1, p. 61-79, 1999.

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