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Morfologia
Material Teórico
Processos de Formação de Palavras no Português
Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin
Processos de Formação
de Palavras no Português
• Introdução;
• Processo de Composição;
• Palavras Compostas: Descrição e Funcionamento;
• Derivação;
• Alguns Exemplos de Análise;
• Derivação Regressiva.
OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Refletir sobre a questão da definição de palavra;
• Compreender, analisar e refletir sobre os processos de formação de palavras no
Português: composição e derivação.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.
Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.
Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.
Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;
No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam-
bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE Processos de Formação de Palavras no Português
Introdução
Para darmos início ao nosso estudo sobre a formação de palavras no Português,
precisamos, num primeiro momento, pensar na definição de palavra.
“As palavras são, pois, unidades menores que a frase e maiores que o fonema”
(CUNHA; CINTRA, 2008, p. 89)
O problema é que essa definição se confunde com a definição de frase que, se-
gundo os mesmos autores, é a “menor unidade comunicativa”.
Aí mora o problema, porque, se pensarmos bem, uma frase pode ser consti-
tuída por uma única palavra e uma palavra também pode ser constituída de um
único fonema.
(1)
– Você saiu cedo hoje?
– Saí.
(2)
– Sua festa é amanhã?
– É.
Isso comprova como a noção de palavra e frase, dadas pela Gramática Tradi-
cional, se confundem. Essa discussão pode ser observada no Capítulo 1 do livro
Para conhecer a Morfologia, indicado no Material Complementar desta Unidade.
Confira lá a indicação completa.
Para o linguista Bloomfield, por exemplo, a palavra é uma “forma livre mínima”.
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A esse respeito, afirma Margarida Basílio, em sua obra Formação e classes
de palavras no Português do Brasil, que também está indicada para leitura no
Material Complementar:
Forma livre é aquela que pode por si só constituir um enunciado, ao
contrário da forma presa, ou afixo, que só pode ocorrer em conjunto
com outra. A palavra é, então, a forma livre mínima, isto é, a forma livre
que não pode ser subdividia em formas livres, embora possa conter uma
forma livre (BASÍLIO, 2018, p. 17)
A forma dependente, apesar de não estar presa, estabelece uma relação de com-
plementaridade com a outra palavra.
Palavra morfológica:
Margem esquerda (morfema prefixal) + Núcleo (morfema radical) + Margem
direita (morfema sufixal) (CASTILHO, 2019, p. 54).
Vamos lá?
Está preparado(a)?
Processo de Composição
A composição é o processo de formação de palavras por meio da reunião de
dois ou mais radicais, que passam a exprimir conceito novo e único e, não raro,
desvinculado do sentido de cada um de seus componentes.
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UNIDADE Processos de Formação de Palavras no Português
Há, também, os compostos formados por radicais latinos e gregos, que só ocor-
rem em palavras compostas, como “psicologia”. Estes, geralmente, pertencem à
Linguagem Científica ou Literária.
Tabela 1
Radical Radical =
AMOR PERFEITO AMOR-PERFEITO
PSIC(O)- -LOGIA PSICOLOGIA
Conhecer os principais radicais gregos e latinos usados para formar palavras em nossa Lín-
Explor
gua é muito importante para a atribuição de sentidos e para a ampliação de nosso repertório
lexical. Para ter acesso a uma lista desses radicais, acesse e explore os seguintes links:
• Radicais gregos e latinos: http://bit.ly/326KGHr
• Prefixos: http://bit.ly/2P6YMU9
Palavras Compostas:
Descrição e Funcionamento
Vimos que a composição é um dos processos, e não o único, de formar palavras
compostas.
Isso posto, vamos começar por responder a uma pergunta importante: como
reconhecemos palavras compostas?
Reconhecimento e Propriedades
Vale observar que os elementos das palavras compostas podem ser escritos sem
hífen, como em “girassol”, separados por hífen, como em “amor-perfeito”, ou sepa-
rados e sem hífen, como em “estrada de ferro” e “dia a dia”.
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Isso nos traz, portanto, outra questão: se não podemos ter como base a escrita,
ou seja, uma marca na escrita, como o hífen, como saberemos se a palavra é ou
não composta?
Veja só: como essas propriedades são as mesmas que normalmente são atribu-
ídas a palavras simples, vamos fazer um teste, comparando uma palavra simples e
outra composta, para verificar se ambas têm as mesmas propriedades.
Vamos lá?
• 1ª propriedade: a ordem é fixa.
Veja: “desleal” é formado pelo prefixo des- + “leal”, mas não podemos inverter
essa ordem em “leal” + des-.
des- leal
leal des-
Figura 1
estrada de ferro
ferro de estrada
Figura 2
• 2ª propriedade: não se pode inserir um elemento entre os componentes
da palavra.
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UNIDADE Processos de Formação de Palavras no Português
Figura 3
Figura 4
• 3ª propriedade: os elementos não podem ser substituídos.
Veja: não podemos substituir des- por in-, por exemplo, formando “inleal”.
in- leal
Figura 5
estrada de aço
Figura 6
• 4ª propriedade: não se pode suprimir nenhum elemento.
Da mesma forma, em “viajei pela estrada de ferro” não se pode suprimir qual-
quer elemento, como em “viajei pela estrada” ou “viajei pelo ferro”.
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viajei pelo ferro
Figura 7
Kehdi (2003, p. 42) acrescenta que um composto, como “estrada de ferro”, equi-
vale a uma palavra simples, pois, em um enunciado, ele pode ser substituído por
uma única palavra (e não necessariamente por um grupo de palavras).
Isso significa que uma palavra composta é formada a partir de uma frase ou de
parte dela. Por exemplo, palavras como “saca-rolhas”, “beija-flor” e “ganha-pão”
formaram-se a partir de expressões como “objeto que saca rolhas”, “ave que beija
a flor” e “ofício com que se ganha o pão”.
Lapa (1975, p. 92) apresenta visão idêntica, que exemplifica com a palavra
“mancheia” (de “mão” + “cheia” = “punhado”), conforme segue:
Ao princípio, dir-se-ia: “Tinha as mãos cheias de flores”. Depois, pela fre-
quência do emprego e um pouco de imaginação, os dois termos fizeram
corpo um com o outro e começou a dizer-se: “Atirou-lhe mãos cheias de
flores”. Os dois nomes andam hoje intimamente soldados; a tal ponto que
já mão-cheia se diz e escreve simplesmente mancheia (destaques do autor).
Nem sempre é fácil estabelecer essa relação entre os elementos da palavra com-
posta. Tomando-se, por exemplo, “peixe-espada”, não temos dificuldade em perce-
ber que se trata de um peixe que tem forma semelhante à de uma espada.
Já “dama-da-noite” não é uma mulher de vida noturna, e não há nada nos ele-
mentos que formam a palavra que nos permita entender que se trata de uma flor.
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UNIDADE Processos de Formação de Palavras no Português
Figura 8
Fonte: Getty Images
O linguista francês Bernard Pottier propôs o conceito de lexia, que pode nos
ajudar a entender os compostos. Uma lexia é uma “unidade lexical memorizada”.
Pode ser uma palavra simples, um composto, uma expressão, ou seja, qualquer
item do léxico que trazemos, na memória, como um todo significativo.
Que tal ouvir a música “Pé com pé”, do grupo musical Palavra Cantada? Acesse o link:
Explor
https://youtu.be/EmvwcSr_L5Q
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Importante! Importante!
Aproveite para refletir sobre a importância do uso das “lexias” com a palavra “pé” para a
construção não só da sonoridade, mas da ludicidade musical e o trabalho com a produção
de sentidos na Língua.
Esse tipo de fenômeno visa a alcançar um efeito cômico por meio da reunião de
palavras, como em “chocólatra”, (de “chocolate” + “alcoólatra”).
Nos compostos em que não ocorre perda de fonemas, diz-se, por oposição à
aglutinação, que se trata de justaposição.
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UNIDADE Processos de Formação de Palavras no Português
Pode-se afirmar que o “pé de cabra” é assim designado porque tem a extremi-
dade dividida – como a pata do animal, e não existe outro substantivo para nomear
essa ferramenta.
Por quê?
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Tipos de Palavras Compostas
As palavras compostas por composição podem se formar a partir do agrupa-
mento de palavras das diferentes classes.
A Gramática Tradicional nos apresenta 10 classes de palavras, e você pode saber mais sobre
Explor
Vamos ver, a seguir, que as palavras compostas podem ser formadas por:
• Dois substantivos: bicho-preguiça, Decreto-lei;
• Substantivo + adjetivo: baleia-azul;
• Substantivo+preposição + substantivo: castanha-de-caju;
• Dois adjetivos: luso-brasileiro, azul-marinho;
• Adjetivo + substantivo: verde-bandeira;
• Verbo + substantivo: beija-flor;
• Verbo + preposição + substantivo: louva-a-deus;
• Verbo + verbo: perde-ganha;
• Verbo + conjunção + verbo: leva e traz;
• Verbo + advérbio: pisa-mansinho;
• Advérbio + adjetivo: sempre-viva;
• Numeral + substantivo: segunda-feira;
• Pronome + substantivo: Vossa Excelência;
• Dois pronomes: aqueloutro;
• Frase substantivada: estou-fraca (mesmo que galinha d’angola), deus nos acuda etc.
Adotar uma postura investigativa diante da Língua é ideal para quem vai estar
em sala de aula. É essencial ampliar o escopo de conhecimento e ter material para
que os alunos possam explorar as informações também e fazer pesquisas confiáveis.
Para isso, você pode acessar nossa Biblioteca Digital e comparar duas Gramáti-
cas Tradicionais clássicas da nossa Língua: a de Celso Cunha e de Lindley Cintra,
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UNIDADE Processos de Formação de Palavras no Português
Podemos, portanto, ter como base o plural de grupos sintáticos para compre-
endermos a flexão de plural dos compostos. Em outras palavras, consideraremos
como referência o modo como grupos de palavras semelhantes às palavras com-
postas se flexionam no plural dentro de uma frase. Utilizaremos alguns exemplos
da seção anterior.
Veja:
Figura 9 – “Bichos-preguiça”
Fonte: Getty Images
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Em alguns casos, a relação entre os substantivos pode ser de coordenação, isto
é, eles têm valor equivalente. Tomemos, por exemplo, a frase:
Nas palavras compostas formados por substantivos ligados por preposição, so-
mente o primeiro elemento flexiona-se.
Observe a frase:
Veja:
Figura 10
Fonte: Getty Images
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UNIDADE Processos de Formação de Palavras no Português
Observações:
• Compostos que se escrevem juntos flexionam-se como palavras simples, como
“vaivém” (plural: “vaivéns”);
• Em compostos de adjetivo + adjetivo, como “luso-brasileiro”, flexiona-se o últi-
mo elemento: “luso-brasileiros”;
• Em “jaquetas azul-marinho”, o adjetivo composto não varia, pois “marinho”
refere-se a “azul” e não a “jaqueta”. O mesmo vale para “azul-celeste”;
• Em “meninos surdos-mudos”, os dois elementos flexionam-se, pois a relação
entre eles é de coordenação (surdos e mudos), como em “decretos-leis”;
• Advérbios são palavras invariáveis, o que justifica os plurais “pisa-mansinho”,
“sempre-vivas”;
• Os substantivos formados por verbo repetido, como “corre-corre” admitem
duas formas de plural: “corre-corres” e “corres-corres”;
• As frases substantivadas são invariáveis:(a) “estou-fraca” – (as) “estou-fraca”, (o)
“deus nos acuda”– (os) “deus nos acuda”.
São muitas formas diferentes para conhecer os plurais das palavras compostas do Português,
Explor
não é mesmo? Mas lembre-se de que sempre é possível consultar gramáticas, sites e o VOLP
– Vocabulário Ortográfico de Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras na
Internet, no link: http://bit.ly/2HASacq
Plural dos substantivos compostos: http://bit.ly/2STtgdq
De toda maneira, a partir deste nosso estudo, você já tem assegurados alguns
recursos que vão ajudá-lo(a) a seguir uma determinada lógica de como funciona a
flexão de plural das palavras compostas no Português, não é mesmo?
Derivação
Como vimos no início deste Material, o processo da composição para a forma-
ção de palavras compostas envolve a presença de dois ou mais radicais.
Lembra-se da fórmula?
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Por não constituírem enunciados sozinhos, os afixos estão entre as chamadas
formas presas.
Vamos a elas?
Derivação Prefixal
A derivação prefixal é o processo que consiste na formação de palavras com-
postas por meio da adição de um prefixo.
Tabela 2
Prefixo Radical =
DES- LEAL DESLEAL
Existem prefixos, no entanto, que não alteram a classe da palavra a que se pren-
dem, nem acrescentam significado. Por exemplo, os verbos “ajuntar” e “avoar” são
formados pelo acréscimo do prefixo a- aos verbos “juntar” e “voar”. O sentido dos
verbos derivados, porém, é exatamente o mesmo dos primitivos.
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UNIDADE Processos de Formação de Palavras no Português
O argumento é que alguns prefixos, como a-, ante-, com- (con-, co-), contra-, de-,
entre-, sob-, sobre-, tras-, também são preposições; e outros, como ab-, ad-, en- (e-,
em-), ex-, in- (posição interior), intro-, ob-, pós-, pro-, sub-, trans-, retro-, per-, justa-,
circun-, ultra-, super-, extra-, têm origem em advérbios e preposições do latim.
Além disso, pode-se afirmar que os prefixos têm maior autonomia do que os
sufixos. Por exemplo, pós-, em “pós-graduação”, tem uma função equivalente à de
um advérbio (= depois da graduação), o que não ocorreria com um sufixo como -al,
por exemplo, em “nacional.
Por outro, há autores que defendem a ideia de que a prefixação é um caso de de-
rivação e argumentam que prefixos como re-, di-, dis- e in- (negação) não têm pre-
posições correspondentes, nem jamais foram preposições ou advérbios em latim.
Além disso, acrescentam que os prefixos não se comportam mais como preposi-
ções e que a análise deve considerar, apenas, a realidade atual da Língua, ou seja,
um recorte para a análise sincrônica.
Há, ainda, quem defenda que alguns prefixos formam palavras compostas e ou-
tros formam palavras derivadas, de acordo com o seu “grau de aderência”.
Para chegarmos aos elementos constitutivos de cada palavra, como você sabe,
formamos pares, que, nos casos citados são “antever”/“ver”, “inativo”/“ativo” e
“vice-reitor”/“reitor”.
Tabela 3
Prefixo Radical =
ANTE- VER ANTEVER
IN- ATIVO INATIVO
VICE- REITOR VICE-REITOR
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Para expressar ideia de intensidade, podemos optar por derivados prefixais ou
sufixais (além de outros recursos). Por exemplo, de “interessante”, formam-se “su-
perinteressante” e “interessantíssimo”.
Prefixo + radical
Interessantíssimo
Radical + sufixo
Figura 11
Sobre o emprego do hífen na escrita de algumas palavras que contêm prefixos, como “vice-
Explor
Siga-nos!!!
Derivação Sufixal
A derivação sufixal consiste no acréscimo de um sufixo ao radical. Os sufixos
ocupam sempre posição posterior ao radical. Tomando-se, por exemplo, a palavra
“clareza”, podemos formar o par “clareza”/“claro”, a partir do qual deduzimos a
presença do radical “clar-” e do sufixo -eza.
Tabela 4
Radical Sufixo =
CLAR- -EZA CLAREZA
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UNIDADE Processos de Formação de Palavras no Português
Assim como -eza, há outros sufixos que formam substantivos a partir de adjeti-
vos, como -ez, que forma “nitidez”, a partir de “nítido” (nitid- + -ez), -dão, do qual
se obtém “vastidão”, a partir de “vasto” (vast- + -[i]dão) etc.
Então, por que essas duas últimas formas não se tornaram realidade da Língua?
Agora, cabe outra questão: se “clareza” faz parte da norma e não das outras pos-
sibilidades, por que existe “claridade”, que também é um substantivo formado a par-
tir do adjetivo “claro”? Isso não seria incoerente com o que acabamos de afirmar?
Por isso, dizemos que há claridade no quarto (e não clareza) e que há clareza em
uma explicação (e não claridade).
Outra questão importante a respeito dos sufixos (e também dos prefixos) é que
eles podem ser produtivos ou improdutivos. São produtivos os sufixos que formam
efetivamente novas palavras.
Para comprovar essa baixa produtividade, basta pensar, formamos mais diminu-
tivos com –inho ou –ículo?
Ah, percebeu que versículo é o nome que damos a pequenos trechos bíblicos e
não a versos pequenos?
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Pois... o mais importante é perceber que são os falantes da Língua que determi-
nam a produtividade ou não de prefixos e sufixos, e não a Gramática Normativa.
O importante é você saber que para saber mais precisa acessar os links, fazer as
leituras indicadas no Material Complementar e buscar novas referências.
O que deve ficar gravado em sua mente é que formamos palavras para atender
nossas necessidades de comunicação e, assim, todo falante da Língua é detentor do
sistema estrutural dessa Língua e, embora muitas vezes nem se dê conta disso, esse
falante é capaz de formar novas palavras dentro desse Sistema.
Derivação Parassintética
Vimos, até agora, que, para chegar aos elementos mórficos de uma palavra,
é preciso formar um par, a partir do qual a palavra é dividida em dois elementos
(radical e sufixo, por exemplo).
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UNIDADE Processos de Formação de Palavras no Português
Isso não vale para o caso da derivação parassintética (ou parassíntese), e só nes-
se caso, pois as palavras formadas por esse processo devem ser divididas em três
elementos, vez que ocorre acréscimo simultâneo de prefixo e sufixo.
Vamos a um exemplo?
Veja:
Tabela 5
Prefixo Radical Sufixo =
EN- TRIST- -ECER ENTRISTECER
A resposta é não.
Por quê?
Veja: dizer que algo é indispensável equivale a dizer que se trata de uma coisa
não dispensável, de onde se conclui que a palavra é formada por in- + “dispensá-
vel” (do par “indispensável” / “dispensável”); e isso faz dela, portanto, um caso de
derivação prefixal. Se quisermos prosseguir, vamos retomar a palavra “dispensá-
vel”, que serviu de base para a análise anterior.
Alguma coisa que é dispensável é algo que se pode dispensar, o que nos leva a
outro par: “dispensar”/“dispensável”, donde concluímos que “dispensável” é uma
derivação sufixal, formada por “dispensa(r)” + -vel.
Há autores que mencionam -ável como sufixo. Não o fazemos, assim como Houaiss (2001),
Explor
por uma razão de economia de descrição, a mesma que nos levou a não considerar -zinho(a)
um sufixo. Esse raciocínio não nos parece adequado porque nos obriga a considerar quatro
ou, talvez, cinco sufixos em vez de um, ou seja, -ável (dispensável), -ével (delével), -ível (com-
bustível), -óvel (móvel) e -úvel (solúvel). Na nossa análise, o “a” de “dispensável” é a vogal
temática do verbo “dispensar”.
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Essa explicação nos ensina que muitas palavras que aparentemente são forma-
das por derivação parassintética são, na verdade, resultado de uma derivação pre-
fixal seguida de uma derivação sufixal ou vice-versa.
Tabela 6
PREFIXO RADICAL SUFIXO =
SUB- TERR- -ÂNEO SUBTERRÂNEO
DES- ALM- -ADO DESALMADO
Fique atento(a), pois, no radical, para perceber que a partir dele é possível acres-
centar outros prefixos e sufixos separadamente e formar novas palavras.
Pelo que vimos nesta Unidade até agora, se buscamos responder à pergunta
“Por que se formam palavras?”, os argumentos aqui apresentados nos parecem
suficientes para dar resposta a esse questionamento.
Na verdade, a pergunta correta não é essa; mas outra, ou seja, como explicamos
a presença do prefixo na derivação parassintética?
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UNIDADE Processos de Formação de Palavras no Português
A situação fica mais difícil ainda se pensarmos em algumas das nossas “Línguas
irmãs”, o Italiano, o Espanhol, o Galego e o Francês, todas “filhas do latim”.
Em Português, temos a palavra “salada”, cujo radical é “sal” (do latim sal, salis,
idem). A mesma palavra latina deu origem a salade em Francês. Até aí, temos ca-
sos de derivação sufixal.
Por que palavras de mesmo significado foram formadas sem prefixo em Portu-
guês e Francês e com prefixo em Italiano, Galego e Espanhol?
A resposta só pode ser que, mesmo que haja a ideia de movimento para dentro
(pôr sal em algo), o prefixo é dispensável.
Ainda que recorrêssemos ao Latim (o que não nos cabe na nossa análise, que é
sincrônica), não teríamos uma explicação plausível.
Pois é... ela é a resposta que nos resta, ou seja, a presença do prefixo em
alguns derivados e a sua ausência em outros são possibilidades do sistema e algu-
mas são normatizadas.
Sendo assim, vale sempre lembrar: o que vai nos dizer por que uma possibilida-
de se realiza e outra não (e, em poucas vezes, mais de uma) é a norma linguística,
porque ela está autorizada pela tradição e está acima da vontade individual de cada
falante de uma determinada Língua.
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Cabe acrescentar que nem sempre o prefixo é desnecessário à formação de
palavras por derivação parassintética. Em “subterrâneo” e “desalmado”, está claro
que os prefixos acrescentam significado ao todo, porém esses casos são minoria.
“inadiável”/“adiável”.
Desse par, podemos deduzir que “inadiável” é formada pelo prefixo in- + “adiá-
vel”. O processo de formação da palavra é, portanto, a derivação prefixal.
“adiar”/“adiável”.
Deduzimos, então, que se trata de uma derivação sufixal: “adia(r)” + o sufixo -vel.
Prosseguindo um pouco mais, temos “adiar”, que se liga à palavra “dia”, pois
“adiar” é “transferir (algo) para outro dia”.
“dia”/“adiar”.
“arborização”/“arborizar”.
Aqui, podemos recorrer a outra palavra que tenha o mesmo radical de “arbori-
zar”, como “arborescer”, formando o par
“arborizar”/“arborescer”.
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UNIDADE Processos de Formação de Palavras no Português
Veja que para determinar o tipo de derivação é importante fazer os pares e não
se satisfazer com uma análise primeira e superficial! As palavras pedem tempo
para observá-las.
Derivação Regressiva
Como vimos, os processos de derivação prefixal, sufixal e parassintética en-
volvem o acréscimo de afixos e, por isso, também são chamados processos de
derivação progressiva.
Said Ali (1964) considerava que a derivação regressiva, muitas vezes, era o re-
sultado de um erro de raciocínio, o que a partir das Teorias da Linguística Moderna
pode ser refutado, vez que hoje sabemos que são os usos que fundam a Língua.
Por ora, vamos procurar entender como isso ocorre. Veja: há palavras primitivas
que causam a falsa impressão de conter sufixos. A partir delas, supõe-se que se
chegará à palavra primitiva retirando-se esse sufixo e, assim, forma-se uma palavra
por derivação regressiva.
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verdade, é uma palavra primitiva – seja um caso semelhante aos anteriores, e, daí,
conclui-se, equivocadamente, que a palavra é formada a partir de “boteco”.
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UNIDADE Processos de Formação de Palavras no Português
Veja:
1. Telefonei a meu amigo hoje;
2. Realizei o telefone a meu amigo hoje.
No último caso, nota-se que “telefone” não expressa uma ação, pois o enun-
ciado 4 não é aceitável. Subentende-se que “telefone” não pode expressar a ação
de telefonar, pois ele é um substantivo concreto. Ademais, sabe-se que à ação de
telefonar corresponde o substantivo “telefonema”.
Com esse teste, concluímos que “venda” é uma palavra formada por derivação
regressiva de “vender”; mas, no outro caso, “telefonar” é que é formado a partir
de “telefone”.
Esses casos parecem estar esclarecidos, mas, infelizmente, essa solução tem
suas limitações, já que, algumas vezes, é difícil determinar se a palavra é formada
por derivação regressiva ou não.
Nesse caso, a palavra parece expressar claramente uma ação, dado que o subs-
tantivo “visita” em 5 corresponde ao verbo “visitar” em 6.
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No enunciado 7, a palavra “visita” está empregada de modo a exprimir não uma
ação, mas o agente da ação, aquele que realiza a visita, o visitante, tendo, portanto,
um sentido concreto.
Alguns autores defendem a ideia de que a palavra deve ser considerada como
formada por derivação regressiva quando puder ser usada com sentido verbal,
como “venda” no exemplo 1.
Consideramos que essa posição pode causar outro problema, porque nos levaria
a considerar que “visita” é formada por derivação regressiva em 5 e palavra primi-
tiva em 7.
Nos casos de dúvida, pode-se afirmar, no entanto, conforme Basílio (1987), que
é mais interessante considerar que a palavra é formada por derivação regressiva,
uma vez que o número de substantivos formados a partir de verbos é muito maior
que o número de verbos formados a partir de substantivos.
Ainda assim, há casos em que é fácil eliminar qualquer dúvida. Por exemplo, “em-
barque” só pode ser uma palavra formada a partir de “embarcar”, porque contém
o prefixo em-, que está presente no verbo, o que caracteriza uma derivação sufixal.
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UNIDADE Processos de Formação de Palavras no Português
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Livros
Para conhecer a Morfologia
Para compreender melhor a abordagem da Morfologia, a partir dos estudos estrutura-
listas, sugerimos a leitura do capítulo “O Estruturalismo de Mattoso Câmara Jr.”, no se-
guinte E-Book, disponível em nossa Biblioteca Virtual: SILVA, Maria Cristina Figueiredo;
MEDEIROS, Alexandre Boechat. Para conhecer a Morfologia. São Paulo: Contexto,
2016. p. 27- 62 (E-Book).
Iniciação aos Estudos Morfológicos: Flexão e Derivação em Português
Para compreender melhor os processos de flexão e derivação, leia o capítulo “Das
semelhanças entre flexão e derivação”, no seguinte E-Book, disponível em nossa Biblioteca
Virtual: GONÇALVES, Carlos Alexandre. Iniciação aos estudos morfológicos: flexão
e derivação em Português. São Paulo: Contexto, 2011. p. 71-88 (E-Book).
Formação e Classes de Palavras no Português do Brasil
Para se aprofundar nos processos de formação das palavras no Português do Brasil, leia
os capítulos 1-2 (Para que serve o léxico e Dissecando a palavra, respectivamente), do
seguinte livro, disponível em E-Book em nossa Biblioteca Virtual: BASÍLIO, Margarida.
Formação e classes de palavras no Português do Brasil. São Paulo: Contexto,
2018, p. 7-19 (E-Book).
Palavras de Classe Aberta e Palavras de Classe Fechada
Por fim, fique com a seguinte dica: Lembra-se de que falamos em palavras de inventário
aberto e palavras de inventário fechado? Pois é, aqui vão duas obras importantes para
consultar e que estão disponíveis em nossa Biblioteca Virtual: ILARI, Rodolfo (org.,).
Palavras de classe aberta. São Paulo: Contexto, 2014 e ILARI, Rodolfo (org.). Palavras
de classe fechada. São Paulo: Contexto, 2015.
Leitura
Cruzamento Vocabular: um Subtipo da Composição?
Você já ouviu palavras como namorido ou boa-drasta? Para saber mais sobre a dinami-
cidade da Língua no processo de formação de novas palavras por composição, leia o
seguinte Artigo Científico: ANDRADE, Katia Emmerick; RONDININI, Roberto Bote-
lho. Cruzamento vocabular: um subtipo da composição? DELTA, São Paulo, v. 32, n.
4, p. 861-887, dez. 2016.
http://bit.ly/326py43
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Referências
BASÍLIO, M. Teoria Lexical. São Paulo: Ática, 1987.
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