O espetáculo Depressão busca tratar de forma bem humorada e sensível a
incapacidade dos jovens de falarem sobre e também de lidarem com a depressão. No formato de monólogo de gênero comédia dramática, o espetáculo conta a história de uma adolescente que, de forma atrapalhada, tenta lidar com a enxurrada de exigências que lhe cercam. Escola, vestibular, relacionamento e família e as exigências de atingir padrões que dificilmente serão alcançados de forma totalmente satisfeita lhe colocam em situações que, a princípio, parecem engraçadas, mas que vão dando indicativos de que a menina passa por um sofrimento maior do que sua cabeça adolescente pode suportar. Suas resoluções são criativas e se pautam na reflexão de problemas sociais que ela percebe que acometem não apenas ela, mas também seus amigos, colegas e conhecidos. A peça propõe-se a ser interativa, abrindo espaço para que o público escolha o caminho que o personagem deve seguir. Na entrada, cada espectador recebe duas placas com possibilidade de indicações de ações e, no desenvolvimento do espetáculo, o público poderá fazer uso dessas placas para responder às escolhas do próprio personagem. A única regra a ser manejada pelo ator é de que mesmo sendo o público quem decide a trajetória da peça, não há possibilidade de que o espetáculo desemboque em um caminho em que não se possa falar sobre depressão enquanto possibilidade de tratamento e superação da crise.
Considerada como o “mal do século XXI”, a depressão não tem sintomas
objetivos para um diagnóstico preciso, embora algumas orientações sejam indicadas, por exemplo, pelo DSM-V, um manual de psiquiatria para identificação de transtornos psíquicos. Entretanto a universalidade do DSM-V é questionada por diversos profissionais e abordagens terapêuticas. Além da dificuldade no consenso sobre sintomas, o tabu acerca da temática, muitas vezes abordada como preguiça ou desleixo, torna ainda mais difícil para o sujeito buscar tratamento. Atualmente, a depressão é a principal causa de problemas de saúde e incapacidade em todo o mundo. De acordo com as últimas estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), de 2018, mais de 300 milhões de pessoas vivem com depressão, um aumento de mais de 18% entre 2005 e 2015. A falta de apoio às pessoas com transtornos mentais, juntamente com o medo do estigma, impedem muitas pessoas de acessarem o tratamento de que necessitam para viver vidas saudáveis e produtivas.
Público Alvo
Jovens do ensino fundamental dois e ensino médio
Pais, responsáveis professores e familiares dos jovens
Justificativa
Não há ou há pouco apoio disponível para pessoas com transtornos de saúde
mental, incluindo a depressão. Mesmo em países de alta renda, quase 50% das pessoas com depressão não recebem tratamento. Em média, apenas 3% dos orçamentos de saúde de governo são investidos em saúde mental, variando de menos de 1% em países de baixa renda a 5% em países de alta renda. Assim, trazer o tema utilizando como ferramente o teatro não apenas estimula o debate sobre o problema, como também atua como propulsor para o rompimento com o estigma social que marginaliza as pessoas acometidas pela doença e se faz agente preventivo da doença. O processo criativo nasce da necessidade de tornar visível possíveis sintomas e questões que abordam a vida de um sujeito acometido por essa doença que, a princípio, se faz invisível. A dramaturgia autoral é inspirada e influenciada em autores como o médico Drauzio Varela e o sociólogo Zygmunt Baumann, e nos pressupostos da Organização Mundial de Saúde (OMS) com relação à depressão. Além disso, são utilizados como material de criação relatos de diversos jovens que foram em algum momento diagnosticados com depressão. Nos apropriamos do conceito de “tempo líquido”, por meio do qual Baumann coloca a contemporaneidade como um tempo em que as coisas não foram feitas pra durar. É por esse motivo que relacionamentos iniciam e finalizam rapidamente, aparelhos eletrônicos duram pouco, e as próprias certezas do sujeito não persistem. Há um tempo útil, que em geral é também curto, e o qual nos coloca em uma lógica de precisar, o tempo todo, estar se adequando ao novo, meta que nem sempre é atingida e de forma tranquila para o sujeito. Isso ocorre porque o tempo do sujeito se faz em Kairós (o tempo não cronometrado no relógio), enquanto a contemporaneidade exige um tempo de Cronos, o tempo lógico. A dissonância entre esses tempos e as exigências do mundo líquido e do tempo do sujeito fazem com que ele perceba que nem sempre é capaz de acompanhar e dar conta das exigências, acabando por entrar em um processo de profundo entristecimento. Atentamos: entristecer-se não é patológico até o ponto em que impossibilita a vida. A depressão entra em cena quando o entristecimento se torna tão grande que faz com que o sujeito acredite que perdeu o sentido da vida. Nesse sentido, se atrela ao sentimento de inadequação e de não pertencimento ao mundo – não há lugar para ele, então melhor seria não existir. Não à toa, a maioria dos casos de suicídio se associam a quadros depressivos.
Objetivos
Contribuir com a perspectiva de promoção de saúde conforme os preceitos da
Organização Mundial de Saúde (OMS); Por meio do espetáculo, levar até o adolescente a problematização de situações concernentes à depressão e que geralmente não são faladas; Estimular a reflexão sobre a depressão; Colaborar com a prevenção da doença.
Ficha técnica
Texto e direção: Rodrigo Carvalho
Atuação: Andressa Mattos Revisão técnica de dramaturgia: Psicóloga Ma. Talita Baldin Direção de Movimento: Tatiane Santoro Direção de arte e mídias digitais: Lucas Rodrigo Desenho de Luz: Bruno Caverninha Visagismo: Paula Maggi Figurino: Winda Afefe