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2010 Documento não oficial

gradiente,
divergência e
rotacional
(revisitados)

Prof. Carlos R. Paiva


[GRADIENTE, DIVERGÊNCIA E ROTACIONAL
Prof. Carlos R. Paiva (REVISITADOS)]

NOTA PRÉVIA

Os apontamentos que se seguem não são um texto matemático: não se procura, aqui, o
rigor de uma formulação matemática. O que se procura, nestas notas abreviadas sobre
os três operadores diferenciais – gradiente, divergência e rotacional – é, antes de mais,
a formação de uma intuição. O objectivo é o de, deste modo, fazer com que as equações
de Maxwell – que são escritas em termos de rotacional e divergência – possam ser mais
do que fórmulas com uma pura existência formal, evitando-se assim que o seu conteúdo
físico permaneça vago e nebuloso.

Apesar de uma interpretação em termos mecânicos poder ser considerada


filosoficamente ambígua – no sentido em que o campo electromagnético não deve ser
interpretado, e.g., como um fluido (como, de resto, o próprio Maxwell o fez amiúde) –
não resta qualquer dúvida de que uma tal interpretação física ajuda a construir uma
intuição útil – desde que esta precisão filosófica fique clara desde o início.

Assim, no caso da divergência, os conceitos de «fonte» e de «sorvedouro» são


fundamentais para se entender, em electrostática, o papel das cargas eléctricas positivas
e negativas, respectivamente. No caso do rotacional, a ideia de colocar um torniquete
(constituído por uma espécie de roda com pás) – em que o movimento rotativo depende
do momento angular transmitido ao dispositivo – parece, também, fundamental para
distinguir, e.g., o campo eléctrico conservativo em regime estacionário (onde  E  0 )
do campo eléctrico em regime não-estacionário (regulado pela equação de Maxwell-
Faraday,  E   B  t ). No caso do gradiente, a ideia de um declive associado a
um conjunto de curvas de nível, é também fundamental – de forma a entender que este
operador diferencial nos informa, e.g., sobre qual a encosta de uma montanha que é
mais íngreme (e, portanto, menos recomendável para uma subida mais acessível).

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Comecemos por recordar a definição dos operadores diferenciais gradiente, divergência


e rotacional num sistema de coordenadas cartesianas rectangulares. Para tal
consideremos a base ortonormada   e1 , e2 , e3  , i.e., tem-se

1, m  n
em  en   mn  
0, m  n

e, nesta base do espaço vectorial 3


, definamos o operador nabla  tal que

  
  e1  e2  e1 .
x y z

Sejam     x, y, z  um campo escalar  : 3


 e F  F  x, y, z  um campo

vectorial F : 3
 3
tal que

F   Fx , Fy , Fz   Fx  x, y, z  e1  Fy  x, y, z  e2  Fz  x, y, z  e3 .

Definem-se, então, os operadores diferenciais:

  
gradiente    e1  e2  e3 ,
x y z
 Fx  Fy  Fz
divergência    F    ,
x y z
  F  Fy    Fx  Fz    Fy  Fx 
rotacional  F   z   e1     e2     e3 .
 y z   z x   x y 

Como mnemónica usa-se, ainda, a definição alternativa de rotacional em termos do


«determinante» formal

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e1 e2 e3
  
F   11 e1  12 e 2  13 e3
x y z
Fx Fy Fz

em que

 Fz  Fy
11   ,
y z
 Fx  Fz
12   ,
z x
 Fy  Fx
13   .
x y

Definições

Um campo vectorial F diz-se conservativo quando existe um campo escalar  tal


que F   . Diz-se, neste caso, que  é o potencial associado a F .
Um campo vectorial F diz-se solenoidal quando  F  0 .
Um campo vectorial F diz-se irrotacional quando  F  0 .

Facilmente se verificam as seguintes identidades:

     F   0,
      0.

Por exemplo,

   Fz  Fy     Fx  Fz     Fy  Fx 
    F           
x y z  y z x  z x y 
  2 Fz  2 Fz    2 Fx  2 Fx    Fy  Fy 
2 2

        
 x y  y x    y z z  y   z x xz 
0

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uma vez que

 2 Fz  2 Fz
 ,
x  y  y x
 2 Fx  2 Fx
 ,
 y z z  y
 2 Fy  2 Fy
 .
z x x z

Assim, se um campo F é solenoidal, existe um campo vectorial A tal que F   A .


Por outro lado, se o campo F é irrotacional, então é conservativo. Ou seja,

F  0  F   A,
 F  0  F  .

Também de define o operador laplaciano 2    . Tem-se,

 2  2  2
 2    ,
 x2  y 2  z 2
 2F    2 Fx  e1    2 Fy  e2    2 Fz  e3 .

Demonstra-se que

   F      F   2F .

Vejamos, agora, a definição de derivada direccional do campo escalar   x, y, z  ao

longo de uma dada direcção. Seja, então, u  ux e1  u y e2  uz e3 um vector constante que

caracteriza a direcção em causa. O correspondente vector unitário û (em que uˆ  1 ) é

dado por

u ux e1  u y e2  uz e3
uˆ    ax e1  a y e2  az e3 ,
u ux2  u y2  uz2

em que

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ux uy uz
ax  , ay  , az  .
ux2  u y2  u 2 ux2  u y2  u 2 ux2  u y2  u 2

Seja agora dado um ponto P0  x0 , y0 , z0  e seja P  x, y, z  um ponto tal que

x  x0  s ax
y  y0  s a y
z  z0  s a z

em que s  0 é um parâmetro que mede a distância entre o ponto P e o ponto P0 ,

tendo-se (note-se que P  P0  P0 P ) portanto

P0 P  P  P0   x  x0  e1   y  y0  e2   z  z0  e3  s  ax e1  a y e2  az e3   s uˆ .

Nestas condições, a derivada direccional de  ao longo da direcção u é

d   dx  d y  dz   
    ax  ay  az
ds  x ds  y ds  z ds  x y z

d
   uˆ .
ds

Por exemplo: se   x 2 y  x z e u  2 e1  2 e2  e3 , vem uˆ   2 e1  2 e2  e3  3 e ainda

   2 x y  z  e1  x 2 e2  x e3 , de forma que

d 4 x y  2 z  2 x2  x
   uˆ 
ds 3

a que corresponde, e.g., um valor d  d s  5 3 para o ponto 1, 2,  1 . Em geral,

notando que se tem

d
  cos  ,
ds

onde  é o ângulo entre o vector  e o vector unitário û , infere-se que a derivada


direccional d  d s é a projecção do gradiente ao longo da direcção u . O valor

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máximo da derivada direccional obtém-se quando   0 , i.e., quando a direcção de u


coincide com a direcção de  . O gradiente dá-nos, portanto, o valor máximo da
derivada direccional do campo  no ponto em causa. Fazendo, ainda, d r  uˆ d s vem

d     d r .

Quando se considera um deslocamento dr sobre uma superfície de nível

  x, y, z   0 , é d   0 pelo que   d r  0 , donde se tira que   d r : a

direcção dada por  é, assim, ortogonal à superfície de nível   0 . No caso

específico em que     x, y  , as linhas de força do campo vectorial  são as

trajectórias ortogonais das curvas de nível   0 .

EXEMPLO 1

Consideremos o campo de temperaturas absolutas (i.e., medidas em graus Kelvin)


T  x, y, z   x 2  y 2  x yz  273 . Vejamos, então, qual a direcção em que a temperatura

cresce mais rapidamente quando se considera o ponto  1, 2, 3 . Tem-se

T   2 x  y z  e1    2 y  x z  e2  x y e3

e, no ponto em questão, obtém-se T  4 e1  7 e2  2 e3 , a que corresponde a direcção


de máximo crescimento da temperatura. Com efeito,

d
   42  7 2  2 2  69
ds

dá-nos precisamente a taxa desse crescimento máximo. Note-se, porém, que a


transferência de calor se dá na direcção q   T , i.e., das temperaturas mais altas para
as temperaturas mais baixas. Em electrostática, por razões análogas, escreve-se
E    , i.e., as linhas de força do campo eléctrico dirigem-se dos potenciais mais
altos para os potenciais mais baixos.

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EXEMPLO 2
Consideremos, agora, a superfície x3 y 2 z  1 . Comecemos por determinar o vector

unitário n correspondente à respectiva normal no ponto P0 1,  2, 3 . Como a direcção

da normal é determinada por  (dado que o gradiente é perpendicular às superfícies


  x, y, z   0 ), tem-se

  3 x2 y 2 z e1  2 x3 y z e2  x3 y 2 e3 ,

 36 e1  12 e2  4 e3 9 e1  3 e2  e3 9 e1  3 e2  e3
 n    .
 362  122  42 92  32  12 91

A equação da linha recta normal à superfície no ponto r0 é (com v   n )

r  t   r0  v t , v  9 e1  3 e2  e3 .

Logo, fazendo
r  x e1  y e2  z e3
P0  x0 , y0 , z0  r0
r0  x0 e1  y0 e2  z0 e3

a equação da normal será


x  x0  vx t
x 1 y  2 z  3
 y  y0  v y t    .
9 3 1
z  z0  v z t

O plano tangente, por sua vez, é o lugar geométrico dos vectores


u  P0 P  P  P0   x  x0  e1   y  y0  e2   z  z0  e3

que são perpendiculares ao vector v  91 n  9 e1  3 e2  e3 , i.e., tais que

u  v  0  9  x  x0   3  y  y0    z  z0   0

pelo que a respectiva equação será

9  x  1  3  y  2    z  3  0 .

EXEMPLO 3

Consideremos as equações de Maxwell.

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B
E  0
homogéneas  t
B  0
D
H  J
não-homogéneas  t
D  

Em regime estacionário é B  t   D  t  0 pelo que o campo eléctrico é


conservativo (pois  E  0 e, consequentemente, E    ) e a densidade de
corrente eléctrica J é solenoidal (pois  H  J e, consequentemente,  J  0 ). Note-
se que – apenas em regime estacionário – é que, em rigor, se podem definir tensão e
corrente eléctricas pois, apenas neste caso, quer a lei das malhas quer a lei dos nós (dos
circuitos) são válidas. No vácuo, sem fontes do campo (i.e,   0 e J  0 ), tem-se

D  0 E E  0

B  0 H H  0

de forma que

H
  E   0      E       E    2E   2E
t
  H    2E
E      E     0          H     
  H  0  t 
0
t
0 0
 t2
t

1  2E
 2E  0 .
c2  t 2

Esta última equação é a equação (de d’Alembert) de propagação das ondas


electromagnéticas no vácuo. Com efeito, a velocidade da luz no vácuo é
c  299 792 458 ms 1 (valor exacto, por definição) e é dada por

1
c
 0 0

onde 0  4  107 H m1 , de modo que

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1
0   8.854187817 1012 F m1 .
0 c 2

Analogamente, vem
     H       H    2 H   2 H
 E   2H
     H    0      0    E     0 0 2
 t  t t

1 2H
 2 H  0 .
c2  t 2

Ou seja, no vácuo verifica-se sempre


 2 1 2   E 
  2 2    0.
 c  t  H 

Introduzindo o operador dalembertiano

1 2
2
 2 
c2  t 2

a equação de d’Alembert escreve-se, então, nas duas formas alternativas


2
E  0,
2
H  0.

EXEMPLO 4
Consideremos o campo vectorial
 y e1  x e2
F ,  x, y    0, 0  .
x2  y 2

A intensidade deste campo é constante e dada por

x2  y 2
F   1,  x, y    0, 0  .
x2  y 2

Facilmente se verifica que se trata de um campo solenoidal pois


 Fx xy

x
x  y2 
2 3

 Fx  Fy
 F    0.
 Fy xy x y

y
x  y2 
2 3

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Porém, este campo que não é conservativo:

e1 e2 e3
      x    y 
F        e3
x y z   x  x 2  y 2   y  x 2  y 2  
Fx Fy 0

1
 F  e3 .
x  y2
2

O laplaciano deste campo vectorial é dado por


2F  2 Fx e1  2 Fy e2

de forma que

 2 Fx  2 Fx y  y  2 x 
2 2
3 x2 y y
 Fx 
2
   
 x2  y 2
x  y 
2 2 5
x  y 2
x  y 
2 5 2 2 3

 2 Fy  2 Fy 3 x y2 x x  2 y 2
x
2

 2 Fy     
 x2  y2
x  x  y  x  y 
5 2 5 2 3
2
 y2 2 2

y e1  x e2
 2F  .
x 2
y 2 3

Note-se que, como  F  0 , se tem

e1 e2 e3
   y e1  x e2
2F        F    
x y z
x  y2 
2 3

1
0 0
x2  y 2

o que, naturalmente, confirma o resultado anteriormente obtido. Num campo solenoidal


as linhas de força são fechadas. Isto significa que não existem pontos que sejam
«fontes» ou «sorvedouros» do campo. Num campo vectorial F  x, y  uma curva

y  y  x  diz-se uma linha de força se, em cada ponto  x0 , y0  , o vector F  x0 , y0  é

tangente à curva. Assim, num campo vectorial


F  x, y   Fx  x, y  e1  Fy  x, y  e2 ,

as linhas de força respectivas satisfazem a equação diferencial

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d y Fy  x, y 
 .
d x Fx  x, y 

No exemplo em análise, vem então


dy x 1 2 1
  y dy   x dx  y   x2  k ,
dx y 2 2

onde k  0 é uma constante de integração. Logo, fazendo c 2  2 k , obtém-se

x2  y 2  c2 .

Isto mostra que as linhas de força são circunferências centradas na origem.

EXEMPLO 5
Consideremos, agora, o campo vectorial
x e1  y e2
F ,  x, y    0, 0  .
x2  y 2

Trata-se, tal como o exemplo anterior, de um campo vectorial de amplitude constante,


com F  1 . Notemos, para começar, que se trata de um campo irrotacional:

e1 e2 e3
     y    x 
F      
x y z x  x 2  y 2   y  x 2  y 2 

Fx Fy 0
xy xy
 
x  y2  x  y2 
2 3 2 3

 0.

Isto significa que este campo vectorial é conservativo: existe um potencial   x, y  tal

que F   , i.e.,
 x
Fx      x, y   x2  y 2    y 
x x y
2 2

 y d
Fy     0    y   0
y x2  y 2 dy

   x, y   x2  y 2  0 .

Admitindo então que   0, 0   0 , infere-se que 0  0 e, portanto,

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  x, y   x2  y 2 .

Este campo não é solenoidal:


 Fx  Fy y2 x2 1
F      .
x y
x 
2 3
x 
2 3 x  y2
2
2
y 2
y

Note-se que
 F            2  0 .

Logo, como o campo não é solenoidal, as linhas de forças são abertas. Com efeito, estas
satisfazem a equação diferencial
dy y dy dx  y
    ln y  ln x  k  ln    k  y  ek x
dx x y x x
em que k é uma constante de integração. Mas então, introduzindo c  ek , infere-se que
as linhas de força são as rectas que passam pela origem, i.e.,
y cx .

Com efeito, as equipotenciais serão as circunferências   x, y   a  0 , i.e., tais que

x2  y 2  a2 .
Como o campo é irrotacional, tem-se
 1 
   F       F    2F  0   2F      F     
 x 2  y 2 

  1    1 x e1  y e2
 2F    e1   e  .
x  x 2  y 2  y  2  2
x y   
2 2 3
  x 2
 y

A origem  x, y    0, 0  é o ponto onde se localiza a fonte do campo. Se, em vez deste

campo, se tiver o campo


x e1  y e2
GF ,  x, y    0, 0  ,
x2  y 2

a origem corresponderia, então, a um sorvedouro de G pois


1
G   .
x2  y 2

Consideremos, agora, um vector constante u , tal que

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u ux e1  u y e2
u  ux e1  u y e2  uˆ   .
u ux2  u y2

A derivada direccional de  ao longo do vector u é então dada por


d x e  y e2 ux e1  u y e2 x ux  y u y
   uˆ  F  uˆ  1  
ds x2  y 2 ux2  u y2 x 2
 y 2  ux2  u y2 

um que s é a coordenada medida ao longo do eixo correspondente a u . Por exemplo, se

u  e1  e2 é uˆ   e1  e2  2 e, consequentemente,

d x y
 .
ds 2  x2  y 2 

Assim, e.g., no ponto  x, y   1,1 obtém-se

d
1, 1  1 .
ds

O valor máximo da derivada direccional é precisamente  e corresponde a F  1

em qualquer ponto. Já a derivada direccional ao longo de u , calculada no ponto

 x, y   1, 0 , assume o valor


d 1
1, 0   .
ds 2

EXEMPLO 6
Vamos agora comparar o rotacional dos seguintes campos vectoriais:

v a  x, y      y e1  x e 2  ,
 y2 
v b  y   v0 exp   2  e 2 ,
 b 
 x2 
v c  x   v0 exp   2  e 2 .
 a 
Tem-se

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  v a  2  e3 ,
  v b  0,
2x  x2 
  v c   v0 2 exp   2  e3 .
a  a 
O primeiro campo vectorial, v a , tem um rotacional que é dirigido segundo o eixo z :

podemos imaginar que se trata de um fluido, em movimento, em que cada ponto tem,
em função do tempo, as coordenadas
x  t   a cos  t  ,
y  t   a sin  t  .

Assim, o campo vectorial da velocidade é, efectivamente, dado por


dx dy
v a  x, y   e1  e2  a   sin  t  e1  cos  t  e2      y e1  x e2  .
dt dt
Note-se que a intensidade deste campo de velocidades é constante e dada por

va  x, y   v a  x, y   a  sin 2  t   cos2  t   a  .

As linhas de força deste campo v a são tais que

dy x 1 2 1
  y d y   xdx  y   x2  k
dx y 2 2

 2k  c 2  x2  y 2  c2 .

Um torniquete, formado por uma roda hidráulica com pás (i.e., um roda de palhetas),
colocado em qualquer ponto do fluido irá rodar sempre com a mesma velocidade
angular  . Já no caso do campo de velocidades vb  y  , em nenhum ponto o torniquete

irá rodar: em qualquer ponto a velocidade do fluido dirige-se, sempre, segundo y , i.e.,
as linhas de força são as rectas
d y vb
  dx 0  xc .
dx 0

Finalmente, no terceiro caso, em que se considera o campo de velocidades v c  x  , o

torniquete roda com uma velocidade angular que depende da coordenada x : apesar de a
velocidade linear estar sempre orientada ao longo do eixo y , o fluido exerce um
momento angular que não é nulo e, assim, provoca a rotação de uma roda de palhetas
(excepto quando x  0 , caso em que o momento angular se anula).
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EXEMPLO 7
Consideremos o campo vectorial
F   x  c1 z  e1   c2 x  3z  e2   x  c3 y  c4 z  e3 .

Determinemos as constantes c1 , c2 , c3 e c4 de forma que este campo vectorial seja

simultaneamente irrotacional (e, portanto, conservativo) e solenoidal. Como,

e1 e2 e3
     F  Fy    Fx  Fz    Fy  Fx 
F   z   e1     e2     e3
x y z  y z   z x   x  y 
Fx Fy Fz

 Fz  Fx  Fy
 c3  c1  c2
y z x
 Fy  Fz  Fx
 3 1 0
z x y

  c3  3 e1   c1 1 e2  c2 e3  0 .
Logo, se o campo é irrotacional, deverá ter-se
c1  1
c2  0  F   x  z  e1  3 z e2   x  3 y  c4 z  e3
c3  3

de modo que o campo será ainda solenoidal desde que


Fx Fy Fz
F     1  0  c4  0  c4  1 .
x  y z
Ou seja, deverá ter-se:

F   x  z  e1  3 z e2   x  3 y  z  e3 .

Admitamos, agora, que o respectivo potencial  é tal que F    . Nestas condições,


vem

 1
Fx  x  z      x 2  x z    y, z 
x 2
  1
Fy  3 z     3 z     x2  x z  3 y z    z 
y y 2
  d
Fx  x  3 y  z    x  3y   x  3y  z
z z dz

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d 1
  z    z 2  0 .
dz 2
Portanto, deve ter-se
1 1
   x2  x z  3 y z  z 2  0 .
2 2
Admitindo, então, que o potencial é nulo em  0, 0, 0  , infere-se por fim que

  x, y, z  
2
 z  x2   z 3 y  x  .
1 2

EXEMPLO 8
Um campo vectorial F  F  x, y, z  diz-se um campo de Beltrami se existir uma

constante real   0 tal que

F     F  .

Isto significa que um campo de Beltrami é paralelo ao seu próprio rotacional. Para um
certo valor próprio  , um campo de Beltrami é o campo próprio do operador
rotacional. Uma definição alternativa para um campo F de Beltrami é a seguinte:
F    F   0,

uma vez que F  F  0 . Note-se que, em rigor, não é necessário que  seja uma
constante para que F seja um campo de Beltrami: o que é necessário, apenas, é que
F   F  , i.e., que se tenha F    F   0 . Comecemos por verificar que um campo

de Beltrami é necessariamente solenoidal. Com efeito, no caso em que  é uma


constante, vem
  F       F   0 .

Portanto, as linhas de força de um campo de Beltrami são fechadas. Consideremos, a


título de exemplo, o campo
F  z   Fx  z  e1  Fy  z  e2 .

Facilmente se verifica que

e1 e2 e3
d d Fy dF
F  0 0  e1  x e 2
dz dz dz
Fx Fy 0

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pelo que, para ser um campo de Beltrami, terá de verificar as condições

d Fy d 2 Fx Fx z z
Fx     0 Fx   cos     sin  
dz d z2  2    
 
d Fx d 2 Fy Fy z z
Fy    0 Fy   cos     sin  
dz d z2 2    

 z  z   z  z 
 F    cos     sin    e1   cos     sin    e2 .
           

Note-se que um campo de Beltrami tem um rotacional que também é um campo de


Beltrami. De facto, seja G   F em que F é um campo de Beltrami. Então,
1 1
F     F    G   G   F   G  G    G 
 
o que prova a afirmação.

EXEMPLO 9
São exemplos importantes de campos de Beltrami as ondas electromagnéticas com
polarizações circulares ortogonais. Para uma onda (no vácuo) com PCD (polarização
circular direita) o campo eléctrico escreve-se

E  z, t    E exp   i  t  
E0
E  z    e1  i e2  exp  i k0 z   Ex  z   E y  z 
2

de forma que

e1 e2 e3
d d Ey d Ex E
  E  0 0  e1  e 2  k0 0  e1  i e 2  exp  i k0 z 
dz dz dz 2
Ex Ey Ez

 PCD   E  k0 E

o que prova que, efectivamente, se trata de um campo de Beltrami. Analogamente, para


uma onda com PCE (polarização circular esquerda), vem

E  z, t    E exp   i  t  
E0
E  z    e1  i e2  exp  i k0 z   Ex  z   E y  z 
2

e, consequentemente,

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e1 e2 e3
d d Ey d Ex E
  E  0 0  e1  e 2   k0 0  e1  i e 2  exp  i k0 z 
dz dz dz 2
Ex Ey Ez

 PCE   E   k0 E .

EXEMPLO 10
Consideremos, agora, o campo de Beltrami
 z e1  e2
F .
1 z2

Comecemos por notar que

e1 e2 e3
d d Fy dF 1   ze e 
F  0 0  e1  x e 2    1 2

dz dz dz 1 z2  1 z 2
 
Fx Fy 0

1
 F   F .
1 z2

Portanto, neste caso, trata-se de um campo de Beltrami F     F  em que  não é

uma constante pois


   1  z 2  .

A definição geral de um campo de Beltrami F é, portanto, a de que se deve ter

F    F   0

o que se verifica neste exemplo. O campo é, ainda neste caso, solenoidal. Com efeito,
tem-se
 Fx  Fy  Fz
F    0
x y z

e as linhas de força do campo satisfazem, no plano z  z0 , a equação diferencial

d y Fy  z0  1 1
   y  x   xc .
d x Fx  z0  z0 z0

No plano z  0 as linhas de força correspondem a d x  0 , i.e., às rectas x  c .


Notemos que, em geral, se tem
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  G      G   G    .

Assim, no caso geral em que     x, y, z  , obtém-se

  
  e1  e2  e3 .
x y z

No caso concreto deste exemplo, em que    1  z 2  , vem simplesmente

d
  e3   2 z e3 .
dz
Assim, neste caso,
1
G  F   F 1
1 z2     G   G       F     
1 z2 
  G      F   0

 Fx e1  Fy e2     2 z e3    0 .
1
    G   
1 z2  

Este resultado coincide, como não podia deixar de ser, com o facto de se ter
 Fx  Fy
F     F    G    F    0     G  .
x  y

EXEMPLO 11
Consideremos, agora, a questão seguinte: em que condições é que a forma diferencial
d   F  dr
corresponde a uma forma diferencial exacta? Por definição, uma forma diferencial (ou
simplesmente uma diferencial) é exacta desde que F   , i.e., desde que o campo
vectorial F  x, y, z  seja irrotacional ou conservativo:

  
F e1  e2  e3 .
x y z
Logo, em geral, para se ter uma diferencial exacta

d   F  d r  Fx  x, y, z  d x  Fy  x, y, z  d y  Fz  x, y, z  d z

é necessário que

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  Fx  Fy
Fx  
x y x
  Fx  Fz
Fy   
y z x
  Fy  Fz
Fz  
z z y

uma vez que se tem


 2  2
 ,
 y x x  y
 2  2
 ,
z x x z
 2  2
 .
z  y  y z

Isto é equivalente a dizer que  F  0 . Consideremos, a título de exemplo, a forma


diferencial
d    2 x y  z 3  d x  x 2 d y   3 x z 2  1 d z .

Notando que, neste caso, se tem

e1 e2 e3
  
F     3 z 2  3 z 2  e 2   2 x  2 x  e3   6 z 2 e 2 ,
x y z
2 x y  z3 x2 3 x z2 1

infere-se que F não é conservativo e, consequentemente, a diferencial em causa não é


exacta. Já a forma diferencial
d    2 x y  z 3  d x  x 2 d y   3 x z 2  1 d z ,

em que se tem

e1 e2 e3
  
F     3 z 2  3 z 2  e 2   2 x  2 x  e3  0 ,
x y z
2 x y  z3 x2  3 x z2 1

é uma forma diferencial exacta. Para determinar o potencial   x, y, z  neste caso, tem

de verificar-se então

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
 2 x y  z3
x   x 2 y  x z 3    y, z 
 
 x2  x2   x2    y, z     z 
y y
 d
  3 x z2 1   x2 y  x z3    z    3 x z 2    3 x z 2 1
z dz

d
  1     z   0 .
dz
Conclui-se, deste modo, que o potencial procurado é dado por
  x, y, z   x 2 y  x z 3  z  0 .

Por vezes, na literatura, uma diferencial exacta é também designada por forma
diferencial de Pfaff – em memória do matemático Johann Friedrich Pfaff (1765-1825).

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