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de Carvalho
Marcia Cristina de Oliveira Dias1
Introdução
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Artigo apresentado como requisito parcial de disciplina do curso de Ciências Sociais. 2013.
Os autores
O período de transição do sistema político imperial para o republicano foi uma fase
de mudanças socioeconômicas e política. A abolição da escravatura, imigração e o êxodo
rural e regional foram alguns dos fatores responsáveis pelo repentino e expressivo
crescimento demográfico. O crescimento demográfico aliado ao desemprego agravava os
problemas relacionados à habitação e saúde. O surto de varíola e febre amarela, ocorrido em
1891, associado aos episódios de malária e tuberculose fez com que a taxa de mortalidade
alcançasse o patamar de 52 mortes por mil habitantes. O Rio de Janeiro era considerado um
lugar altamente insalubre a ponto de o governo inglês conceder adicional de insalubridade a
seus diplomatas baseados na cidade. Este foi um período marcado pelas ideias de
modernidade importadas da Europa, em geral ideias positivistas baseadas no lema de ordem e
progresso. Por outro lado, a mudança de sistema político fez surgir a noção de pátria e o
conceito de cidadania. Surgiram várias correntes políticas – anarquismo, liberalismo,
positivismo e socialismo. Num cenário de tantas mudanças estruturais, as elites dominam o
cenário e se utilizam de estratégias para reduzir a possibilidade de participação política
popular, criando uma aparência de apatia, de desinteresse político, de povo bestializado.
Segundo dados do censo eleitoral, o povo era realmente apático em relação à política, havia
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pouquíssimos eleitores – apenas 20% da população. No entanto, a história do Brasil mostra a
intensa participação popular nas questões políticas. Fraude eleitoral e intimidação – presença
de capangas nos locais de votação – são algumas das explicações para a pequena participação
popular nos processos eleitorais e a consequente ausência de partidos políticos. A participação
política da população ocorria por meios não oficiais – greves, arruaças e movimentos
populares. (CARVALHO, 1987).
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Setores militares ligados ao governo militar de Floriano Peixoto
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Esta expressão foi adotada pelos opositores do governo e da vacinação.
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cidade – bondes quebrados, iluminação arrancada, ataques à delegacia de polícia e ao quartel
da cavalaria. A noite foi de terror – enquanto o povo e a polícia se enfrentavam, ladrões
aproveitavam para roubar. Foram inúmeras as prisões, pessoas feridas e mortas. Nos dias
seguintes os conflitos continuaram se estendendo por todo o Rio de Janeiro. Fábricas,
delegacias, agencia funerária, espaço publico foram atacados e destruídos. A polícia pedia à
população “pacifica” que não saíssem de suas casas de modo que a polícia pudesse usar de
todo rigor partindo do pressuposto de que somente os “desordeiros” estariam na rua. No dia
14, os militares – majores Gomes de Castro e Pinto de Andrade – que estavam entre os líderes
da Revolta forma presos. A Revolta continuou mesmo sem a liderança dos militares e o
governo do Rio recebeu apoio das forças policiais de São Paulo e Minas Gerais. Enquanto a
polícia enfrentava os manifestantes nas ruas da cidade, a marinha ameaçava atacar pelo mar e
grande parte da população fugia aterrorizada, com medo de bombardeios.
Dia 16 de novembro foi decreto estado de sítio. O mesmo jornal – jornal O Paiz –
que havia se referido a Oswaldo Cruz como “cientista desligado das realidades do país”
agora se referia manifestantes como anarquistas. Este jornal se referiu ao local onde os
manifestantes se encontravam como “o ultimo reduto dos anarquistas” ou “Porto Azul –
indivíduos desclassificados, facínoras [...], acobertados com a capa de marítimos e de
trabalhadores da estiva” (CARVALHO, 1987, p. 109). À tarde Marinha e Exército
avançaram contra “Porto Azul”, porem quando lá chegaram não havia mais ninguém e
descobriu-se que a tão temida artilharia pesada não existia. Dia 18 a cidade já estava
praticamente normalizada. Numa das últimas ações da polícia – dia 23 de novembro – foi a
invasão com 180 policiais ao Morro da Favela – atual Morro da Providência – que à época
contava com apenas 100 casebres, como não encontraram ninguém a quem prender, no
caminho de volta pararam nos cortiços e fizeram algumas prisões. Ao fim da Revolta mais de
700 pessoas haviam sido espancadas e presas na Ilha das Cobras. Segundo o presidente
Rodrigues Alves o grupo de manifestantes era composto por “desordeiros e desclassificados
de toda espécie” (SEVCENKO, 1984, p. 54). Pelo que se pode depreender das palavras do
chefe de polícia, a Revolta da Vacina acabou por fazer parte da reforma higienista de
Oswaldo Cruz, ou seja, a revolta foi o pretexto para a realização de uma limpeza social. A
polícia se referia aos manifestantes do mesmo modo que se referiam aos ratos.
Basta lembrar, [...] que a autoridade se julgou obrigada a pedir aos cidadãos
pacíficos, aos homens de trabalho, se reconhecessem às habitações para que
as ruas pudessem ser varridas, pelo emprego de medidas extraordinárias, dos
elementos vivos de destruição e de morte que as infestavam, dominando-as
com as armas homicidas. Cogitou-se mesmo de sufocar a desordem a
metralha (SEVCENKO, 1984, p. 53).
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Várias foram as versões sobre as motivações para a Revolta, no entanto pode-se
classificá-las, de modo mais geral, em duas – a dos que simpatizavam com o movimento e a
dos apoiadores do governo. Os simpatizantes da Revolta identificavam o povo como
participante consciente e disposto a lutar contra as arbitrariedades do governo. Os apoiadores
do governo não acreditavam na capacidade de organização política da classe popular e o
governo não admitia que a maior parte da população pudesse ter se insurgido contra sua
autoridade.
Conclusão
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Bibliografia
CARVALHO, José Murilo de. Os Bestializados: o Rio de Janeiro e a República que não foi.
São Paulo: Companhia das Letras, 1987.
MUNDO EDUCAÇÃO. Disponível em
<http://www.mundoeducacao.com/historiadobrasil/revolta-vacina.htm>. Acesso em 30/08/13.
REVISTA DE HISTÓRIA. Disponível em
<http://www.revistadehistoria.com.br/secao/entrevista/nicolau-sevcenko>. Acesso em
30/08/13.
SEVCENKO, Nicolau. A Revolta da Vacina: mentes insanas em corpos rebeldes. São Paulo:
Ed. Brasiliense, 1984.