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DIREITO DAS COISAS

Referência: Donizetti e Quintella, Gonçalves, Menezes, Rizzardo,


Stolze,Tartuce.

CONDOMÍNIO

É comum serem confundidos os institutos do Condomínio


Geral e do Condomínio Edilício. Pode-se dizer, de maneira
simples, que um (condomínio edilício) é espécie do outro
(condomínio geral).

CONDOMÍNIO GERAL

Condomínio Geral se caracteriza pelo fato de existir,


simultaneamente, dois (ou mais) direitos de propriedade incidindo
sobre um mesmo bem, móvel ou imóvel. Como forma de ilustração,
basta dar o seguinte exemplo: 2 irmãos, não tendo dinheiro para
comprar 2 veículos (um para cada), se cotizam e adquirem um só
para ambos.

Ou seja, ambos são condôminos do carro; e não, como muitos


pensam, sócios de um carro. Condomínio não é sociedade,
condôminos não são sócios. O primeiro instituto (condomínio) é
próprio dos direitos reais (previsto nos
artigos 1314 a 1330 do Código Civil; já o segundo (sociedade) é
típico do direito empresarial (ver artigos 981 e seguintes do Código
Civil).

Conceito de Condomínio Geral: é a sujeição de uma coisa, divisível


ou indivisível, à propriedade simultânea e concorrente de mais de
uma pessoa.

Este é o condomínio GERAL, pois existe o condomínio EDILÍCIO


(em edifícios).

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No condomínio temos mais de um sujeito ativo, que são os
proprietários, exercendo o domínio sobre um mesmo objeto, móvel
ou imóvel, divisível ou indivisível (ex: carro, barco, casa, roupa,
apartamento, fazenda, terreno, etc.).

Trata-se de uma propriedade simultânea e concorrente, de modo que


todos são donos ao mesmo tempo (por isso é simultânea), e todos
podem usar a coisa toda (por isso é concorrente), dentro dos limites
da convivência harmônica.

Esta harmonia é difícil, tanto que os romanos chamavam o


condomínio de “mater discordiarum” (mãe das discórdias), e
realmente basta a gente se lembrar de como é complicado dividir um
carro/roupa com um irmão, pra gente saber como o condomínio é
inviável.

Um direito amplo/complexo/importante como a propriedade não dá


para ser exercido por mais de uma pessoa sobre a mesma coisa, e
é por isso que veremos como a lei facilita e incentiva a extinção do
condomínio.

Mas a lei permite o condomínio e para isto criou-se uma ficção


jurídica, de modo que cada condomínio na verdade só é dono de uma
fração ideal, de uma cota (ex: 50% se são dois donos, 33% se são
três donos, ou 30% pra um e 70% pra outro, etc.).

Embora cada um seja dono de uma cota, para viabilizar o condomínio


pode usar a coisa toda (art. 1314).

O condomínio é uma exceção à regra pela qual toda propriedade


é exclusiva (art. 1231).

O condomínio também impede o exercício pleno da propriedade,


trata-se de um limite à propriedade, pois embora cada condômino
possa usar a coisa toda (art. 1314), é preciso respeitar a vontade dos
outros condôminos (parágrafo único do art. 1314).

Não confundam comunhão com condomínio; esta é espécie e aquela


é gênero, então todo condomínio será uma comunhão, mas nem toda
comunhão será condomínio.

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A comunhão é de qualquer direito (ex: pai e mãe têm o direito em
comunhão de educar os filhos), enquanto condomínio é apenas do
direito de propriedade.

Espécies de condomínio:

a) voluntário: quando duas ou mais pessoas adquirem um


mesmo bem, ou quando duas ou mais pessoas exercem
composse e todas adquirem a propriedade da coisa pela
usucapião.

b) forçado: ocorre sem, ou mesmo contra a vontade dos


sujeitos: ex: doação a várias pessoas, herança para vários filhos,
os muros e árvores comuns (artigos 1327, § 1º do 1297, 1282),
etc.

Direitos e deveres dos condôminos:

– utilização livre e defesa da coisa conforme sua destinação (art.


1314), cujo limite é o direito dos demais condôminos (parágrafo único
do art. 1314), resolvendo-se os impasses por maioria de votos (art.
1325).

– arcar proporcionalmente com as despesas para conservação da


coisa (art. 1315).

– os frutos da coisa devem ser divididos entre os condôminos, e o


condômino que causar dano à coisa deve indenizar os demais
(artigos 1319, 1326).

– a qualquer momento o condômino pode pedir a divisão ou


alienação da coisa (art. 1320 e §§); esta regra se justifica para
extinguir o condomínio, fonte de muitas discórdias.

Assim, se dez pessoas têm um barco e uma delas quiser vender, sua
vontade vai prevalecer sobre a dos outros nove, e a coisa será
vendida para dividir o dinheiro, salvo se estes nove quiserem comprar
a parte do que quer vender (art. 1322).

Ressalto que o art. 1325, que trata do poder da maioria, não


prevalece em caso de venda, mas apenas em casos de

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administração (ex: explorar uma fazenda para pecuária ou
agricultura, alugar, emprestar, etc., art. 1323).

Para vender basta um querer, para administrar, prevalece a


vontade da maioria.

– dar preferência a outro condômino quando alguém quiser vender


sua cota em coisa indivisível; se a coisa é divisível (ex: terreno
grande) não precisa dar essa preferência (art. 504).

Administração do condomínio: é fundamental, pois uma coisa com


muitos donos termina ficando acéfala (sem chefe) e o caos se instala.
Hierarquia e direção são muito importantes para o sucesso de
qualquer negócio.

Se os condôminos não se entendem, vão gastar com advogado e


processo na Justiça, e o juiz nomeará um interventor remunerado
pelos condôminos.

Melhor acordo ruim do que briga boa, reflitam!

Extinção do condomínio: se dá por duas formas:

a) divisão da coisa: quando a coisa é divisível (ex: uma fazenda


grande), então a qualquer momento, em ação imprescritível, o
condômino pode pedir a divisão e cada um fica com a propriedade
exclusiva de uma parte proporcional a seu quinhão;

b) alienação da coisa: seja a coisa divisível ou indivisível, pode ser


alienada a qualquer tempo para se dividir o dinheiro e acabar com o
condomínio, fonte de discórdias.

CONDOMÍNIO EDILÍCIO

O condomínio edilício, por sua vez, refere-se exclusivamente aos


imóveis onde coexistem partes comuns e partes exclusivas, por
exemplo: num edifício residencial, o apartamento é propriedade

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exclusiva e partes como elevadores, piscinas, portaria etc., são
partes comuns, sendo que cada condômino é dono de seu
apartamento mais uma fração ideal nas partes comuns.

Este é o condomínio em edifícios, conjuntos residenciais,


loteamentos fechados e clubes de campo.

O aumento da população urbana, o alto preço do solo nas cidades e


a moderna tecnologia de engenharia fizeram crescer a importância
do condomínio em edifício, e o direito não poderia deixar de regulá-
lo.

Não só nas metrópoles, mas nas cidades de médio porte já se veem


vários edifícios.

Além do novo CC, a matéria está regulada pela lei 4.591/64.

No condomínio edilício existe duplicidade de direitos reais:

1) propriedade plena e exclusiva dos apartamentos, lojas, casas e


garagens;

2) condomínio das áreas comuns, disciplinada pela vontade coletiva


prevista em convenção e regimento interno, como portaria, escada,
circulação, playground, piscina, salão de festas, etc., com uma fração
ideal para cada condômino (art. 1331, §§ 1º e 2º).

Personalidade: o condomínio edilício não é uma pessoa jurídica e


nem é pessoa física, sua personalidade é anômala (quer dizer
diferente, que foge às regras normais), e o novo CC manteve essa
dúvida, apesar do condomínio celebrar muitos contratos na vida
moderna.

No fundo, o condomínio está mais perto de ser uma pessoa jurídica


do que uma pessoa física, sendo representado pelo síndico (artigos
1347, 1348). Ao síndico cabe também administrar o condomínio e
prestar contas à assembleia geral.

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Instituição: surge o condomínio pela vontade das partes (art. 1332),
sendo muito comuns os condomínios por incorporação (trata-se de
um contrato de direito comercial que prevê a construção de um
edifício para a venda dos apartamentos; é o que fazem as
construtoras em toda a cidade; ver lei 4.591/64, a partir do art. 28).

Regulamentação: além da lei, a vontade coletiva que predomina nos


condomínios edilícios está sujeita a uma convenção e a
um regimento interno.

A convenção é mais ampla, dispõe sobre questões fixas de formação


e funcionamento do condomínio (art. 1334), e para ser mudada se
exige aprovação de 2/3 dos votos dos condôminos (art. 1351).

Já o regimento interno deve ser feito separado e dispõe sobre


questões menores, dinâmicas (ex: funções do zelador, cachorro sair
pela garagem, uso da piscina, carrinho de feira só pelo elevador de
serviço, etc. e pode ser alterado por maioria simples presente na
assembleia convocada para este fim.

Direitos e deveres dos condôminos: os direitos estão no art. 1335


e os deveres são obedecer a convenção e o regimento interno, além
do art. 1336.

Dívidas antigas de condomínio são de responsabilidade do atual


dono, é obrigação real do art. 1345, que vincula a coisa, e não a
pessoa do devedor.

Fazer seguro é obrigatório, seu edifício tem seguro (art.1346)?

O descumprimento dos deveres implica em sanções variadas


previstas na lei e na convenção.

O § 1º do art. 1336 é criticado por estimular a inadimplência, porque


só permite uma multa de 2% para a contribuição condominial paga
em atraso, assim vários edifícios fixam altos valores e dão desconto
quem pagar na data.

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É modo de burlar a lei: não se pune quem paga atrasado,
apenas se valoriza quem paga na data, que acham?

Ainda uma sanção grave para o condômino que descumpre suas


obrigações ou tem comportamento antissocial está no art. 1337 e
parágrafo único, assegurada ampla defesa.

Obras no condomínio: art. 1341; percebam que as benfeitorias


úteis sempre exigem prévia autorização.

Assembleia Geral: é o Poder Legislativo do condomínio, enquanto


o síndico representa o Poder Executivo. A Assembleia Geral é a
última instância do condomínio.

Todos os condôminos têm que ser convocados para as assembleias


(art. 1354).

Existem assembleias ordinárias (todo ano, art. 1350), e


extraordinárias (sempre que houver necessidade, art. 1355), que
decidem por maioria, conforme as frações ideais (art. 1352 e
parágrafo único).

Extinção do condomínio:

1) por perecimento do bem (art. 1357).

2) por desapropriação do edifício (art. 1358).

3) por venda de todas as unidades a uma só pessoa, caso todas as


pessoas queiram vender; aqui é o contrário do condomínio geral, pois
para vender é necessário o consentimento de todos, enquanto no
condomínio geral basta um querer vender para se impor aos demais
(art. 1320).

Em suma, condomínio geral aplica-se a qualquer coisa (móvel


ou imóvel) que possua mais de um dono e condomínio edilício
apenas aos edifícios (residenciais ou comerciais) nos quais se

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identifique partes que são propriedade exclusiva e partes que
são propriedade comum.

PROPRIEDADE INTELECTUAL

É de extrema importância o estudo da propriedade intelectual bem


como o registro destas criações intelectuais como fonte de riqueza.

Ótimo mercado de trabalho ao jovem advogado atuar com registro e


proteção intelectual, pois as marcas, invenções e demais criações da
inteligência representam muito dinheiro.

Até o século passado, rico era quem possuía terra, petróleo e ouro.
Agora tecnologia, direito do autor, softwares, invenções, patentes,
robótica valem muito mais.

O PIB (produto interno bruto) de um país é formado também pelo seu


patrimônio intelectual, intangível (que não se toca), e não apenas
pelos seus bens corpóreos (tangíveis); a riqueza de um país está
atualmente ligada à tecnologia e à informação que ele dispõe.
Marcas valem milhares de vezes mais que as fábricas e bens que
elas possuem.

Isto porque a fidelidade do consumidor por uma marca não tem


preço, ou melhor, tem um alto preço, afinal a marca é extremamente
importante para a empresa chegar ao consumidor num mercado tão
competitivo como o atual.

É após a criação da marca, do produto, da invenção que pode vir o


sucesso da empresa, mas não basta apenas criar, é
preciso proteger a obra intelectual através do registro.

Propriedade Intelectual

A propriedade intelectual é objeto de estudo do Direito Privado


e tem duas espécies:

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1) a propriedade industrial (direito do inventor) e 2) os direitos
do autor. Ambos são criações do espírito e precisam de proteção
pois a propriedade é um direito muito importante, responsável pelo
desenvolvimento da sociedade.

Já sabemos que quanto mais se protege a propriedade, mais as


pessoas têm estímulo para trabalhar, produzir, gerar empregos,
recolher impostos, trazendo riqueza para a sociedade como um todo.

São exemplos de propriedade incorpórea os direitos do autor,


os direitos do inventor e o fundo de comércio (ex: a clientela de
um restaurante, assim quando o estabelecimento é vendido o
comprador paga pelas instalações físicas, mesas, cadeira, terreno,
casa, e também pelo sucesso/clientela daquele restaurante entre os
consumidores que têm o hábito de parar ali).

A propriedade corpórea é um direito permanente (dura para sempre),


já a propriedade intelectual (direito do autor e do inventor) só é
protegida temporariamente, afinal a coletividade também precisa fruir
daquela invenção, daquela ideia, daquele livro, daquela música.

Os Direitos do Autor são protegidos durante a vida do seu criador e


por até setenta anos após a sua morte, quando caem em domínio
público; já os direitos do inventor/criador da marca duram por apenas
dez anos (mas podem ser renovados por outros dez anos
indefinidamente); por sua vez a patente de invenção vale por no
máximo vinte anos.

Mais detalhes sobre os prazos/características de proteção ao direito


do inventor vocês verão em Direito Comercial.

A propriedade industrial interessa assim ao Direito Comercial


(Empresarial), e tem por objeto as patentes de invenção, os modelos
industriais, as marcas de fábrica ou comércio, o nome comercial, o
desenho industrial e a repressão da concorrência desleal, sendo
protegida pelo art. 5o, XXIX da CF e pela lei 9.279/96; ao nosso redor,
em qualquer ambiente, há sempre vários objetos que não se
encontram na natureza e foram inventados pelo homem para
satisfazer suas necessidades e compensar suas limitações (ex: ar
condicionado, microfone, celular, computador).

Já os direitos do autor (DA) interessam ao Direito Civil, sendo


garantido pelo art. 5o, XXVII, da CF e pela lei 9.610/98 e os DA se

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diferenciam da propriedade industrial (DI – direito do inventor)
por dois motivos:

I – o Direito do Autor decorre basicamente das obras intelectuais no


campo literário, científico e artístico (ex: livros, conferências,
músicas, filmes, fotografias, desenhos, pinturas, software, entre
outros – ver art. 7o da LDA); já o Direito do Inventor (ou propriedade
industrial) tem por objeto as patentes de invenção, os modelos
industriais, as marcas de fábrica ou comércio, o nome comercial, o
desenho industrial e a repressão da concorrência desleal (vide art.
5o, XXIX da CF e lei 9.279/96).

II – o registro da obra intelectual no campo do Direito do Autor não


constitui (apenas presume) a autoria (art. 18 da LDA), ao contrário da
propriedade industrial, onde a formalidade do registro válido importa
na atribuição do direito ao titular do invento (modelo ou marca) de
usá-lo com privilégio; o Direito do Autor nasce da criação e da
utilização da obra, e não do seu registro.

A lei autoral protege a inteligência, a criação do espírito, e não a


formalidade do registro. O registro é importante, mas não é
imprescindível como é no Direito do Inventor.

Em nosso país, a concessão de patentes de invenção e o registro


das marcas é feito pelo INPI – Instituto Nacional de Propriedade
Industrial, uma autarquia federal, com sede no Rio de Janeiro, cujo
objetivo é promover a criatividade pela sua proteção.

Já o registro facultativo das obras autorais é feito em lugares variados


conforme art. 19 da lei 9610.

Da importância da propriedade intelectual para o país

Nosso país precisa investir em tecnologia nas empresas e nas


universidades. Mais até nas empresas pois nas universidades os
estudos limitam-se ao campo teórico, enquanto nas empresas os
inventos são colocados na prática do mercado de consumo, com
exportação.

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As faculdades brasileiras se comunicam pouco com as empresas,
isso decorre da desconfiança da academia com o empreendedor, o
que é lamentável.

Como o Estado é grande em nosso país, o empresário de sucesso é


visto como alguém que tem relações nebulosas com os políticos.
Enquanto nos EUA um empresário de sucesso gera orgulho, aqui
gera desconfiança…

A aproximação das universidades com as empresas é fundamental


para o Brasil melhorar a tecnologia, ganhar mercado e se
desenvolver.

Uma universidade isolada do mercado até pode gerar conhecimento,


mas não produz tecnologia; é missão das faculdades fornecer
recursos humanos qualificados para o trabalho nas empresas.

Vamos combater então esse preconceito e visão ultrapassada da


academia brasileira contra o empreendedor.

Conclusão

Nesse mundo automatizado do séc. XXI, cada vez mais a riqueza


depende de criatividade, informação e tecnologia, ao invés de
territórios e petróleo, como no passado.

A propriedade intelectual, incorpórea, é mais valiosa do que os bens


materiais.

O país rico é aquele que detém tecnologia e a transforma em riqueza,


desenvolvendo produtos inovadores para exportação.

Desenvolvido o produto ou criada a marca, o passo seguinte é


investir no registro para a proteção legal, o reconhecimento
internacional e o recebimento dos devidos royalties, permitindo mais
pesquisas e trazendo mais riquezas.

Estudem Propriedade Intelectual (= direito do inventor + direito do


autor), saibam fazer registro de marcas, patentes, invenções, livros,
músicas, programas de computador e tenham uma opção para sua
monografia de final de curso, e para toda sua vida na advocacia.

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O direito do autor também é objeto de propriedade, e por isso
devemos estudar este semestre, afinal o Direito do Autor faz parte do
patrimônio incorpóreo das pessoas.

Histórico: o direito do autor vem desde meados do século XV, com


a invenção da imprensa por Gutemberg e a sua evolução ocorreu no
século XIX com várias leis, chegando aos dias atuais, com a adesão
do Brasil aos tratados internacionais.

A Convenção de Roma, de 1961, com vigência a partir de 1964, é


administrada pela Organização Internacional do Trabalho – OIT,
Unesco e OMPI – Organização Mundial de Propriedade
Intelectual www.wipo.int (WIPO – World Intellectual Property
Organization) e dá proteção aos artistas intérpretes ou executantes,
os produtores de fonogramas e aos organismos de radiodifusão.

Já o tratado TRIPS, sigla inglesa para ADPIC – Associação de Direito


e Propriedade Intelectual e Cultural, é o responsável pelo impacto da
propriedade intelectual no comércio: a pirataria, as novas tecnologias
e a globalização dos mercados, incluindo os softwares como obras
literárias.

O Tratado da OMPI (WIPO) de 1996 veio fortalecer a agenda digital


e o campo da internet, e alguns de seus artigos foram incorporados
no Brasil pela lei 9610/98 do direito do autor.

Fundamento: é muito importante proteger o DA pois premia a


criatividade, estimula as pessoas a pensar/criar/trabalhar mais, e no
final toda a sociedade ganha com aquele ótimo livro, aquela bela
música, aquele filme emocionante, aquele eficiente programa de
computador.

Se o DA não fosse protegido, a sociedade até teria mais liberdade


para usar as obras, em compensação os autores não teriam
recompensa financeira e as criações seriam reduzidas/atrofiadas.
Proteger e remunerar o autor estimula a cultura, a educação e a
tecnologia de um país.

O DA tende a se tornar uma matéria autônoma (como o Direito do


Consumidor e o Direito do Trabalho, filhos também do Direito Civil),
pois cada vez se mostra mais complexo neste mundo moderno com

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transmissões via satélite, máquinas copiadoras, avanço da
informática e da robótica (art. 29, X da LDA 9610/98).

Nosso ordenamento considera os direitos autorais coisas móveis (83,


III do CC e 3º da lei 9610).

Requisitos: para ser protegida, uma obra precisa


de criatividade (inteligência), originalidade (ser diferente de outra)
e exteriorização (uma obra desconhecida inexiste para o direito). São
obras protegidas aquelas do art. 7º da lei 9610; ao contrário, não são
protegidas aquelas do art. 8º.

Mesmo com tantos incisos nestes dois artigos, surgem


controvérsias em saber se uma obra é ou não protegida diante do
vasto campo de criação intelectual.

Conceito: direito autoral é o direito de propriedade que tem o autor


da obra literária-artístico-científica de ligar seu nome às produções
de seu espírito/alma/criatividade/inteligência, explorando-as
economicamente.

Neste conceito, percebemos que o DA se divide em dois:

1) o direito moral, que é o direito do autor de ligar seu nome à obra;

2) o direito patrimonial, que é o direito do autor de explorar


economicamente a obra. (art. 22 da Lei 9610).

1 – Direito moral do autor: art. 24 da lei 9610, que consiste no direito


à paternidade (incisos I, II e VII), direito ao inédito (III), direito à
integridade (IV), direito à modificação (V) e direito ao arrependimento
(VI). Os direitos morais duram para sempre (art. 27 – acrescentem
neste artigo as expressões “impenhoráveis, absolutos e
imprescritíveis”).

2 – Direito patrimonial do autor: diz respeito à repercussão


econômica do uso da obra, ou seja, refere-se à venda, publicação,
reprodução, execução, tradução e divulgação da obra (art. 28 da Lei
9610).

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O autor pode vender seu direito patrimonial, assim músicos vendem
suas canções na internet, autores vendem seus livros às editoras,
fotógrafos vendem fotos às revistas, etc. (art. 49 da Lei 9610).

O direito patrimonial se transfere com a herança.

Em qualquer caso, o direito patrimonial não dura para sempre, mas


apenas por 70 anos (art. 41 da Lei 9610), depois as obras caem em
domínio público, ou seja, todos podem
usar/copiar/exibir/distribuir/divulgar sem pagar, mas sempre
respeitando o direito moral que é permanente (art. 45 da Lei 9610).

Assim eu posso distribuir músicas de Mozart, mas não posso dizer


que a música é de minha autoria.

Registro: já sabemos que o registro da obra intelectual é importante,


mas no DA o registro não é imprescindível como no Direito do
Inventor (= Propriedade Industrial), vejam o art. 18 da LDA.

Isto porque a lei autoral protege a criatividade das pessoas e não a


formalidade/solenidade do registro.

A obra nasce da alma/inteligência do artista, e não do registro. Já as


invenções sempre precisam de patentes e as marcas sempre
precisam de registro por uma questão de maior segurança
internacional.

Onde se faz o registro da obra autoral?

Em vários lugares, a depender da espécie da criação, conforme art.


19 da Lei 9610.

Mas se você cria uma música/livro e não registra, precisa pelo


menos utilizá-la (dar publicidade) para querer gozar da proteção da
lei.

Imaginem que uma pessoa humilde compõe uma música e toca em


festas populares, aparece então um artista famoso registra e lança

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essa música como sua, o autor poderá protestar e terá muitas
testemunhas em seu favor.

Por outro lado, criar e não divulgar/usar a obra, e nem registrá-la,


assim fica difícil protegê-la.

Limitação aos DA: o que se pode fazer sem desrespeitar o DA?

Os artigos 46 a 48 respondem, bem como o art. 8º da Lei 9610.

Conheçam estes artigos e não violem o DA.

Direitos conexos: Os direitos conexos (próximos/relacionados) aos


direitos autorais são os direitos dos intérpretes e executantes das
obras, conforme art. 89 da Lei 9610.

Ex: existem muitos personagens de novela que são criados pelos


escritores, mas que fazem mais sucesso pela interpretação dos
atores.

Então se diz que o escritor tem o direito autoral, e o ator o direito


conexo, ambos protegidos pela lei, afinal o ator é o veículo para a
divulgação do personagem.

Proteção ao DA: quem protege os direitos autorais é o ECAD –


Escritório Central de Arrecadação e Distribuição.

O ECAD não tem lucro para si e sim para os autores associados (art.
97). Pode haver várias associações de autores, mas o ECAD é um
só (art. 99).

O ECAD fiscaliza e arrecada para os autores.

Sanções: quem viola o DA fica sujeito a sanções de ordem civil e


penal (art. 101).

No Direito Penal, é crime violar direito do autor (art. 184 do CP).

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No Direito Civil as sanções são várias, então um autor que se
sentir prejudicado, civilmente pode:

a) pedir ao juiz indenização material e moral contra quem


reproduziu/divulgou sua obra sem autorização;

b) pedir a busca e apreensão de cópias falsas;

c) pedir ao juiz que impeça ou suspenda a divulgação de obra sem


autorização (artigos 102, 103, 108 e 110 da Lei 9610).

Chama-se contrafação a reprodução não autorizada de obra


intelectual, e a pior espécie de contrafação é o plágio, que é a
apresentação de obra alheia como própria.

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