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Supremo Tribunal Federal

Ementa e Acórdão

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04/02/2020 SEGUNDA TURMA

AG.REG. NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO 1.126.828 SÃO PAULO

RELATOR : MIN. EDSON FACHIN


REDATORA DO : MIN. CÁRMEN LÚCIA
ACÓRDÃO
AGTE.(S) : CÂMARA MUNICIPAL DE SÃO PAULO
AGTE.(S) : PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE SÃO
PAULO
ADV.(A/S) : PAULO AUGUSTO BACCARIN
ADV.(A/S) : DJENANE FERREIRA CARDOSO
AGDO.(A/S) : PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE
SÃO PAULO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE
SÃO PAULO

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO


EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL. PROCURADOR DISPÕE DE
LEGITIMIDADE PARA INTERPOR RECURSO EXTRAORDINÁRIO
CONTRA ACÓRDÃO DE TRIBUNAL DE JUSTIÇA PROFERIDO EM
REPRESENTAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE EM DEFESA DE
LEI OU ATO NORMATIVO ESTADUAL OU MUNICIPAL.
PRECEDENTES. AGRAVO REGIMENTAL PROVIDO PARA REGULAR
TRAMITAÇÃO DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO.
ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do


Supremo Tribunal Federal, em Segunda Turma, na conformidade da ata
de julgamento, por maioria, em dar provimento ao agravo regimental
para dar curso ao recurso extraordinário, nos termos do voto da Ministra
Cármen Lúcia, Presidente e Redatora para o acórdão, vencido o Ministro
Edson Fachin (Relator). Ausente, justificadamente, por motivo de licença
médica, o Ministro Celso de Mello.

Brasília, 4 de fevereiro de 2020.

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RE 1126828 AGR / SP

Ministra CÁRMEN LÚCIA


Redatora para o acórdão

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04/02/2020 SEGUNDA TURMA

AG.REG. NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO 1.126.828 SÃO PAULO

RELATOR : MIN. EDSON FACHIN


REDATORA DO : MIN. CÁRMEN LÚCIA
ACÓRDÃO
AGTE.(S) : CÂMARA MUNICIPAL DE SÃO PAULO
AGTE.(S) : PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE SÃO
PAULO
ADV.(A/S) : PAULO AUGUSTO BACCARIN
ADV.(A/S) : DJENANE FERREIRA CARDOSO
AGDO.(A/S) : PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE
SÃO PAULO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE
SÃO PAULO

RELATÓRIO

O SENHOR MINISTRO EDSON FACHIN (RELATOR): Cuida-se


de agravo regimental (eDOC 13) interposto em 10.09.2018 (eDOC 21) em
face de decisão monocrática em que não conheci do recurso, nos
seguintes termos (eDOC 10, p. 1-8):

“Trata-se de agravo cujo objeto é a decisão que inadmitiu


recurso extraordinário interposto contra acórdão do Órgão
Especial do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, assim
ementado (eDOC 7, p. 181):

‘Ação direta de inconstitucionalidade — Resolução da


Câmara Municipal de São Paulo que Instituiu décimo terceiro
subsídio aos vereadores, determinou que seus subsídios serão
reajustados anualmente de forma vinculada aos dos servidores
públicos e ainda definiu atualizações para remunerações da
legislatura em curso — Ofensa aos arts. 111; 115, XI, X e XV;
124, §3º; 128; e, 144, da Constituição Estadual — Inviabilidade
de se conceder por resolução gratificação natalina aos

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vereadores, pelo fato de a extensão dos direitos sociais ser feita


apenas aos servidores públicos e não aos agentes políticos sem
vínculo permanente e profissional com a Administração, que
devem receber subsídio em parcela única - Impossibilidade de
vinculação de subsídios dos servidores públicos e agentes
políticos — Desrespeito à anterioridade da legislatura com a
modificação dos subsídios no curso do período vigente — Ação
julgada procedente, para declarar inconstitucionais os arts. 2º,
3º, 4º e 5º, da Resolução n° 06/2011, da Câmara Municipal de
São Paulo.’

Os embargos de declaração foram rejeitados (eDOC 7, p.


211-220).
No recurso extraordinário, interposto com base no art. 102,
III, a, do permissivo constitucional, aponta-se ofensa aos arts. 1º,
caput e III; 7º, VIII; 29, VI; 37, XI; 39, §§ 3º e 4º; 102, I, a; e 125, §
2º, da Constituição Federal.
Nas razões recursais, sustenta-se, preliminarmente, a
usurpação da competência do STF, ante a realização de controle
de constitucionalidade de norma municipal face a preceitos da
Constituição Federal (eDOC 5, p. 15-23).
Quanto à questão de fundo, pugna-se pela
constitucionalidade da norma que estabelece a previsão de
pagamento de 13º subsídio aos vereadores (eDOC 5, p. 23-31).
Aduz-se, ainda, que o ‘artigo 37, X, da Carta Magna não
apenas autoriza, mas até determina, a edição de norma prevendo a
revisão geral ANUAL, também no que toca aos subsídios de que trata
o artigo 39, § 4º, sem qualquer distinção’ (eDOC 5, p. 44), e que ‘Ao
contrário do que afirmado no v. acórdão, a revisão geral anual deve ser
aplicada ao subsídio dos Vereadores durante a legislatura, como assim
determina a Constituição Federal expressamente (art. 37, inciso X)’
(eDOC 5, p. 51).
Em 3.2.2014, a Presidência do TJ/SP admitiu o
extraordinário (eDOC 5, p. 168/169).
Recebidos os autos no Supremo Tribunal Federal, a Sra.
Secretária Judiciária os remeteu de volta à origem, tendo em

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vista o disposto na Portaria GP 138, de 23.7.2009 (DJe 140/2009),


e considerando o tema 484 da sistemática da repercussão geral
(eDOC 5, p. 173).
De volta à origem, o recurso foi sobrestado, e, após o
julgamento do leading case, reapreciado pelo Órgão Especial do
TJ/SP, recebendo o acórdão a seguinte ementa (eDOC 6, p.
220/221):

‘AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE


– Resolução nº 06, de 23 de novembro de 2011, da Câmara
Municipal de São Paulo, que ‘Dispõe sobre a fixação do subsídio
de Vereadores para a 16ª Legislatura 2013/2016, nos termos do
art. 14, inciso VI da Lei Orgânica do Município e art. 29, inciso
VI, alínea "f" da Constituição Federal e dá outras providências’.
– Resolução que dispõe sobre os subsídios dos vereadores para a
legislatura iniciada no ano de 2013 e que estabelece que: 1) os
vereadores farão jus a décimo terceiro subsídio; 2) o
subsídio será corrigido todo mês de março, a partir de 2014, pelo
índice aplicável aos servidores da Câmara Municipal; 3) a partir
de março de 2011, a remuneração fixada em abril de 2007 ficaria
atualizada em 22,67%; e 4) não sendo editada norma de fixação
de subsídio para a legislatura subsequente, será mantido o valor
e a atualização monetária apontados da Resolução em questão -
Acórdão deste Colendo Órgão Especial que julgou
procedente o pedido, para declarar a
inconstitucionalidade dos artigos 2º, 3º, 4º e 5º, da
Resolução nº 06/2011 da Câmara Municipal de São Paulo
– Interposição de Recurso Extraordinário sobrestado
(artigo 1036, do Código de Processo Civil) – Juízo de
adequação (artigo 1040, inciso II, do Código de Processo
Civil) – Julgamento do mérito do RE 650.898, repercussão
geral Tema 484 do Colendo Supremo Tribunal Federal – ‘O
Tribunal, por maioria, apreciando o Tema 484 da repercussão
geral, deu parcial provimento ao recurso extraordinário,
reformando o acórdão recorrido na parte em que declarou a
inconstitucionalidade dos arts. 6º e 7º da Lei nº 1.929/2008, do

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Município de Alecrim/RS, para declará-los constitucionais,


vencidos, em parte, os Ministros Marco Aurélio (Relator),
Edson Fachin, Ricardo Lewandowski e Cármen Lúcia
(Presidente), que desproviam o recurso. Por unanimidade, o
Tribunal fixou as seguintes teses: 1) - ‘Tribunais de Justiça
podem exercer controle abstrato de constitucionalidade de leis
municipais utilizando como parâmetro normas da Constituição
Federal, desde que se trate de normas de reprodução obrigatória
pelos Estados’; e 2) - ‘O art. 39, § 4º, da Constituição
Federal não é incompatível com o pagamento de terço de
férias e décimo terceiro salário’. O Ministro Marco Aurélio
não participou da fixação do segundo enunciado de tese.
Redigirá o acórdão o Ministro Roberto Barroso. Ausente, na
fixação das teses, o Ministro Gilmar Mendes, e, neste
julgamento, o Ministro Celso de Mello. Plenário, 01.02.2017’.
READEQUAÇÃO DO JULGADO – Possibilidade de
concessão do décimo terceiro subsídio a Vereadores da
Câmara Municipal de São Paulo - Compreendeu o Egrégio
Supremo Tribunal Federal ser compatível a concessão do décimo
terceiro subsídio a agente político com o disposto no artigo 39,
§4º, da Constituição Federal, já que esses valores não se referem
à remuneração mensal, no caso, de Vereadores - A Emenda
Constitucional nº 19/1998, que alterou a redação do artigo 39 e
dos seus parágrafos, da Carta Magna, teve como objetivo
estabelecer uma única parcela remuneratória a agentes políticos
(subsídio), simplificando, dessa forma, a folha de pagamento, a
fim de evitar ‘rubricas com os mais diversos nomes, criadas,
muitas vezes, para camuflar aumentos remuneratórios
incompatíveis com a realidade econômica e financeira do Estado.
Não se prescreveu esse modelo para suprimir verbas
comparáveis a que qualquer trabalhador percebe’ (fls. 1109) -
Como ressaltou o V. Acórdão proferido nos autos do Recurso
Extraordinário nº 650898, os agentes públicos não podem ter
uma situação melhor que a de qualquer trabalhador, mas nem
pior. Ademais, o décimo terceiro subsídio será pago em
periodicidade anual e, dessa forma, não repercutirá no valor

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mensal dos subsídios recebidos pelos agentes políticos.


JUÍZO DE ADEQUAÇÃO - Pedido parcialmente
procedente – Afasta-se a declaração da inconstitucionalidade do
artigo 2º da Resolução nº 06/2011, que prevê a fixação de décimo
terceiro subsídio a Vereadores da Câmara Municipal de São
Paulo. Demais questões em que se discute a
inconstitucionalidade da Resolução nº 06/2011 (artigos 3º, 4º e
5º) não foram apreciadas no Recurso Extraordinário nº 650.898,
e, portanto, não foram abrangidas pelo Tema 484.
Em juízo de adequação pautado no preceito do art. 1040,
inc. II, do NCPC , julgo parcialmente procedente o pedido na
Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 0019255-
27.2012.8.26.0000, mantendo a declaração da
inconstitucionalidade dos artigos 3º, 4º e 5º da Resolução nº 06,
de 23 de novembro de 2011, da Câmara Municipal de São Paulo,
porém, afastando a declaração da inconstitucionalidade do artigo
2º da referida Resolução, constante do V. Acórdão deste C.
Órgão Especial (fls. 636 e s.), que prevê a constitucionalidade da
fixação de décimo terceiro salário a Vereadores da Câmara
Municipal de São Paulo, cassada a liminar de fls. 55/59 e 251,
tão somente com relação à suspensão da eficácia deste artigo 2º
desta Resolução nº 06/2011 da Câmara Municipal Paulistana.’

A Presidência do TJ/SP, assentando a admissibilidade do


recurso extraordinário relativamente à parte do acórdão que
não foi reformada, procedeu à remessa dos autos a esta Corte
(eDOC 6, p. 245/246).
É o relatório. Decido.
O recurso não merece conhecimento.
No caso dos autos, a legitimidade ativa e a capacidade
postulatória para a propositura da ação direta de
inconstitucionalidade no âmbito estadual, nos termos da
Constituição do Estado de São Paulo, pertence à ‘Mesa de
Câmara de Vereadores’. Contudo, verifico que o presente
recurso foi interposto pela ‘Câmara Municipal de São Paulo’ e
pelo ‘Presidente da Câmara Municipal de São Paulo’, e não pela

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‘Mesa da Câmara Municipal de São Paulo’, parte legitimada


para sua interposição.
Diante disso, o extraordinário revela-se inadmissível, ante
a ilegitimidade ativa ad causam da parte que o interpôs.
Confiram-se, a propósito, os seguintes acórdãos:

‘EMENTA Agravo regimental. Ação direta de


inconstitucionalidade. Ilegitimidade recursal do Estadomembro
nas ações de controle concentrado de constitucionalidade.
Agravo não provido.
1. A teor da jurisprudência da Corte, a legitimidade
recursal no controle concentrado é paralela à legitimidade
processual ativa, não se conferindo ao ente político a
prerrogativa de recorrer das decisões tomadas pela Corte em sede
de ação direta, seja de modo singular (art. 4º, parágrafo único,
da Lei nº 9.868/99) seja colegiadamente (art. 26 da mesma
legislação). A jurisprudência da Corte não merece qualquer tipo
de revisão, uma vez que espelha a decorrência lógica da previsão,
em rol taxativo, dos legitimados a provocar o processo objetivo
de controle de constitucionalidade e a nele atuar como partes
(CF, art. 103). 2. Agravo ao qual se nega provimento.’ (ADI
1663 AgR-AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, Plenário, DJe
15.8.2013)

‘EMENTA Agravo regimental no recurso extraordinário.


Interposição do apelo extremo por entidade que não figura no rol
dos legitimados a atuar em sede de controle concentrado previsto
na Constituição do Estado de São Paulo. Ausência de
legitimidade para recorrer. Inexistência, ademais, de assinatura
do legitimado ratificando a atuação do procurador judicial.
Inadmissibilidade do recurso extraordinário. Precedentes. 1.
Consoante a pacífica Jurisprudência desta Corte, a legitimidade
recursal no controle concentrado é paralela à legitimidade
processual ativa, de modo que somente tem legitimidade para
atuar nessa sede processual, seja para propor a ação direta, seja
para interpor os recursos pertinentes durante seu

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processamento, a pessoa ou entidade designada no texto


constitucional para essa finalidade. 2. Inexistência, ademais, de
assinatura do legitimado constitucional na petição do recurso
extraordinário ratificando a atuação do procurador judicial, a
impor a manutenção da inadmissibilidade do apelo extremo.
Precedentes. 3. Agravo regimental não provido.’ (RE 868639
AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, DJe 10.8.2017)

Além disso, verifico, ainda, que o recurso extraordinário


foi assinado por pessoa não detentora de legitimidade para a
prática do correspondente ato processual.
A jurisprudência pacífica desta Corte é firme no sentido de
que o procurador da parte legitimada para a propositura de
ações de controle abstrato de constitucionalidade, bem como os
respectivos recursos delas decorrentes, inclusive o recurso
extraordinário, não pode ajuizar as mencionadas ações sem que
as referidas peças processuais estejam subscritas ou ratificadas
pela parte constitucionalmente legitimada, uma vez que é esta
quem dispõe de legitimidade para propositura da ação ou do
recurso.
Confira-se, a propósito, os seguintes precedentes: RE
804.048 AgR, de minha relatoria, Primeira Turma, DJe 6.5.2016;
ADI MC 1.814, Rel. Min. Maurício Corrêa, DJ 12.12.2001; ADI
4.680, Rel. Min. Cármen Lúcia, DJe 17.2.2012; ADI 1.977, Rel.
Min. Sydney Sanches, Tribunal Pleno, DJ 2.5.2003; e RE 658.375
AgR, Rel. Min. Celso de Mello, Segunda Turma, DJe 24.4.2014,
este último assim ementado:

‘AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE


AJUIZADA PERANTE TRIBUNAL DE JUSTIÇA
ESTADUAL (CF, art. 125, § 2º) RECURSOS
EXTRAORDINÁRIOS INTERPOSTOS, EM REFERIDO
PROCESSO DE CONTROLE ABSTRATO, PELO ESTADO
DO AMAZONAS, POR SUA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA
E PELO PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DECISÃO
DO RELATOR QUE NÃO CONHECEU DOS

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MENCIONADOS APELOS EXTREMOS, POR


INTEMPESTIVOS INAPLICABILIDADE, AO PROCESSO
OBJETIVO DE CONTROLE NORMATIVO ABSTRATO DE
CONSTITUCIONALIDADE, DA NORMA EXCEPCIONAL
INSCRITA NO ART. 188 DO CPC, MESMO PARA EFEITO
DE INTERPOSIÇÃO DE RECURSO EXTRAORDINÁRIO
DIRIGIDO AO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL A
QUESTÃO DA LEGITIMIDADE ATIVA (E RECURSAL)
DO PRÓPRIO ESTADO-MEMBRO E DE SEU
PROCURADOR-GERAL, EM SEDE DE FISCALIZAÇÃO
CONCENTRADA DE CONSTITUCIONALIDADE
RECURSOS DE AGRAVO IMPROVIDOS. NÃO HÁ
PRAZO RECURSAL EM DOBRO NO PROCESSO DE
CONTROLE CONCENTRADO DE
CONSTITUCIONALIDADE. - Não se aplica, ao processo
objetivo de controle abstrato de constitucionalidade, a norma
inscrita no art. 188 do CPC, cuja incidência restringe-se,
unicamente, ao domínio dos processos subjetivos, que se
caracterizam pelo fato de admitirem, em seu âmbito, a discussão
de situações concretas e individuais. Precedentes. Inexiste, desse
modo, em sede de controle normativo abstrato, a possibilidade de
o prazo recursal ser computado em dobro, ainda que a parte
recorrente disponha dessa prerrogativa especial nos processos de
índole subjetiva. O ESTADOMEMBRO NÃO POSSUI
LEGITIMIDADE PARA RECORRER EM SEDE DE
CONTROLE NORMATIVO ABSTRATO. - O Estado-membro
não dispõe de legitimidade para interpor recurso em sede de
controle normativo abstrato, ainda que a ação direta de
inconstitucionalidade tenha sido ajuizada pelo respectivo
governador, a quem assiste a prerrogativa legal de recorrer,
nessa específica condição institucional, contra as decisões
proferidas pelo Relator da causa (Lei nº 9.868/99, art. 4º,
parágrafo único) ou, excepcionalmente, contra aquelas
emanadas do próprio Plenário do Supremo Tribunal Federal (Lei
nº 9.868/99, art. 26). Precedentes. AUSÊNCIA DE
LEGITIMIDADE RECURSAL DO PROCURADOR-GERAL

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DO ESTADO EM SEDE DE CONTROLE NORMATIVO


ABSTRATO. - É do governador do Estado, e não do próprio
Estado-membro ou de seu Procurador-Geral, a legitimidade para
fazer instaurar, mesmo em âmbito local (CF, art. 125, § 2º), o
processo de fiscalização abstrata de constitucionalidade e, neste,
interpor os recursos pertinentes, inclusive o próprio recurso
extraordinário. Precedentes.’

No caso dos autos, constata-se que a petição recursal não


restou assinada pelo Presidente da Câmara Municipal, mas
unicamente por Procuradores Legislativos.
Desse modo, também por essa razão, o recurso revela-se
inadmissível, posto que a peça recursal restou subscrita,
exclusivamente, por pessoa não legitimada para a sua
interposição.
Ante o exposto, não conheço do recurso extraordinário,
nos termos do art. 932, III, do Código de Processo Civil.

Nas razões do agravo regimental, preliminarmente, alega-se que tal


entendimento não deve ser aplicado à hipótese dos autos, tendo em vista
que constitui mudança de interpretação por parte deste Supremo
Tribunal Federal, na medida em que não está pacificada, ainda, a questão
envolvendo a legitimidade da Mesa da Câmara dos Vereadores para, em
sede de ação direta de inconstitucionalidade, interpor recurso
extraordinário (eDOC 13, p. 8).
Aponta-se, neste ponto, a pendência de julgamento dos embargos de
divergência por eles opostos no RE 778.446-AgR-EDv, de minha relatoria.
Sustenta-se, assim, que deveria ser oportunizada à parte Recorrente
a regularização do apelo extremo antes do seu não conhecimento, nos
termos dos artigos 932, parágrafo único, e 1.029, § 3º, do Código de
Processo Civil (eDOC 13, p. 8), levando-se em conta que o recurso apenas
foi processado “já sob a égide do Novo Código de Processo Civil” (eDOC 13, p.
9).
Ressalta-se, ainda, que no RE 1.031.986, de relatoria do Min. Gilmar
Mendes, houve reconsideração da decisão, afastando-se a ilegitimidade

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da Câmara Municipal de São Paulo e de seu Presidente (eDOC 13, p. 9).


Além disso, sustenta-se, em síntese, que a decisão impugnada deve
ser reformada, com apoio nos seguintes argumentos (eDOC 13, p. 11-13).

“(...) o Presidente da Câmara Municipal de São Paulo, bem


como o próprio órgão ‘Câmara Municipal de São Paulo’,
figuraram, assim como figuram, nos presentes autos, como
defensores da norma impugnada, em consonância aos termos
do artigo 6º, caput, da Lei Federal nº 9.868/99, devidamente
representados por seus Procuradores Legislativos.
Melhor esclarecendo: não há como serem confundidos os
legitimados ativos, especificamente previstos nos artigos 103 da
Carta Magna, no âmbito federal, e no artigo 90 da Constituição
do Estado de São Paulo, para deflagrar o controle abstrato de
constitucionalidade, que são restritos e detém excepcionalmente
a capacidade processual plena, com os legitimados passivos que
ingressaram no feito visando à defesa da constitucionalidade da
norma impugnada, que detêm apenas capacidade processual
ordinária”.

A parte ora Agravada, devidamente intimada, apresentou


manifestação (eDOC 23), pugnando pela manutenção da decisão atacada,
pois “é sabido que a legitimidade recursal no controle concentrado é paralela à
legitimidade ativa, sendo, portanto, restrita a prerrogativa de recorrer das
decisões em sede de ação direta ao rol de pessoas ou entidades designadas no art.
90 da Constituição Estadual, em simetria ao artigo 103 da Constituição
Federal”(eDOC 23, p. 3-4).
Ao final, conclui que “No caso em tela, a legitimidade, nos termos do art.
90, II da CE e 103, III da CF, é da Mesa da Câmara Municipal, não havendo que
se falar em alteração recente dessas normas que tenha surpreendido o recorrente,
como alegado” (eDOC 23, p. 4) e que é irregular a peça recursal “que não foi
assinada pelos legitimados, de forma a ratificar a atuação do procurador judicial”
(eDOC 23, p. 5).
É o relatório.

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Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. EDSON FACHIN

Inteiro Teor do Acórdão - Página 13 de 24

04/02/2020 SEGUNDA TURMA

AG.REG. NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO 1.126.828 SÃO PAULO

VOTO

O SENHOR MINISTRO EDSON FACHIN (RELATOR): A parte


Agravante não trouxe argumentos suficientes para a reforma da decisão
que se impugna.
Conforme já afirmado na decisão agravada, o Supremo Tribunal
Federal firmou entendimento segundo o qual a legitimidade ativa para a
propositura da ação direta de inconstitucionalidade, bem como dos
recursos dela decorrentes pertence à Mesa da Câmara Municipal, nos
termos da norma do inciso III do art. 103 da Constituição Federal, e, por
simetria, do inciso II do art. 90 da Constituição do Estado de São Paulo.
Logo, afigura-se inadmissível a petição do recurso extraordinário
interposto pela Câmara Municipal de São Paulo e assinada apenas por
procuradores do referido órgão, sem que tenha sido subscrita pelo
Presidente da Mesa da Câmara Municipal de São Paulo. Nesse sentido,
confiram-se, além dos precedentes citados na decisão agravada, os
seguintes julgados de ambas as Turmas desta Corte:

“DIREITO CONSTITUCIONAL E DIREITO


PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO EM RECURSO
EXTRAORDINÁRIO. REPRESENTAÇÃO DE
INCONSTITUCIONALIDADE. LEGITIMIDADE RECURSAL.
INTERPOSIÇÃO DE RECURSO PELA PROCURADORIA DA
CÂMARA LEGISLATIVA. ILEGITIMIDADE ATIVA.
PRECEDENTES. 1. O Supremo Tribunal Federal fixou
entendimento de que a legitimidade recursal no controle
concentrado é paralela à legitimidade processual ativa. 2. A
Procuradoria Legislativa não se confunde com a Mesa da
Câmara Municipal para fins de atuação nos processos de
controle abstrato de constitucionalidade. Precedentes. 3.
Inaplicável o art. 85, §11, do CPC/2015, uma vez que não houve

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Voto - MIN. EDSON FACHIN

Inteiro Teor do Acórdão - Página 14 de 24

RE 1126828 AGR / SP

fixação de honorários advocatícios. 4. Agravo interno a que se


nega provimento” ( RE 859.170-AgR, Rel. Min. Roberto Barroso,
Primeira Turma, DJe 10.12.2018).

“Ementa: AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO


EXTRAORDINÁRIO. INTERPOSIÇÃO EM 15.9.2017. AÇÃO
DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. INTERPOSIÇÃO
DE RECURSO EXTRAORDINÁRIO. COMPETÊNCIA DA
MESA DA CÂMARA MUNICIPAL. NECESSIDADE DE
ASSINATURA DO PRESIDENTE DA MESA. PROCURADORA
DA CÂMARA MUNICIPAL. ILEGITIMIDADE. 1. A
legitimidade ativa para a propositura da ação direta de
inconstitucionalidade, bem como dos recursos dela decorrentes
pertence à Mesa da Câmara Municipal, nos termos da norma do
inciso III do art. 103 da Constituição Federal, e, por simetria, do
inciso II do art. 90 da Constituição do Estado de São Paulo. 2.
Agravo regimental a que se nega provimento, com previsão de
aplicação da multa prevista no art. 1.021, § 4º, do CPC. Sem
honorários, por se tratar de recurso oriundo de ação direta de
inconstitucionalidade.” (RE 1.005.125-AgR, da minha relatoria,
Segunda Turma, DJe 06.02.2018)

Ademais, verifica-se que o recurso extraordinário da parte ora


Recorrente foi interposto em 25.09.2013 (eDOC 5, p. 6), portanto, na
vigência do CPC/1973, sem posterior ratificação. Veja-se, a respeito:

“E M E N T A: RECURSO EXTRAORDINÁRIO –
FISCALIZAÇÃO NORMATIVA ABSTRATA PERANTE O
TRIBUNAL DE JUSTIÇA (CF, ART. 125, § 2º) – APELO
EXTREMO SUBSCRITO APENAS POR ADVOGADO
CONTRATADO PELO PREFEITO DO MUNICÍPIO –
AUSÊNCIA DE QUALIDADE PARA AGIR EM SEDE DE
CONTROLE NORMATIVO ABSTRATO, INCLUSIVE PARA
DEDUZIR OS PERTINENTES RECURSOS – SUCESSÃO DE
ESTATUTOS PROCESSUAIS (CPC/73 E CPC/15) – DECISÃO
IMPUGNADA NO AGRAVO INTERNO PROFERIDA SOB A

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Voto - MIN. EDSON FACHIN

Inteiro Teor do Acórdão - Página 15 de 24

RE 1126828 AGR / SP

ÉGIDE DO CPC/73 QUE SE QUALIFICA COMO ESTATUTO


DE REGÊNCIA APLICÁVEL EM TEMA RECURSAL –
“TEMPUS REGIT ACTUM” – DOUTRINA – CONSEQUENTE
INAPLICABILIDADE DO ART. 1.029, § 3º, DO CPC/15 –
SUCUMBÊNCIA RECURSAL (CPC/15, ART. 85, § 11) – NÃO
DECRETAÇÃO, NO CASO, ANTE A INADMISSIBILIDADE
DE CONDENAÇÃO EM VERBA HONORÁRIA, POR
TRATAR-SE, NA ORIGEM, DE PROCESSO DE CONTROLE
CONCENTRADO DE CONSTITUCIONALIDADE – AGRAVO
INTERNO IMPROVIDO. (RE 993.226-AgR, Rel. Min. Celso de
Mello, Segunda Turma, DJe 19.12.2016).

Destaco, no ponto, fragmento do voto condutor do referido acórdão:

“Registre-se, ainda, que não assiste razão à parte


agravante, que pretende a aplicação ao caso do que dispõe o art.
1.029, § 3º, do CPC/15, eis que a regra legal em questão não
incide na espécie, pelo fato de a decisão impugnada no apelo
extremo haver sido proferida (e, até mesmo , publicada) sob a
égide do anterior Código de Processo Civil (1973)”.

Desse modo, não cabe sequer discutir sobre a possibilidade de


aplicação, ao caso, das normas do § 3º do art. 1.029, bem como do art. 932
do CPC.
Ante o exposto, voto pelo não provimento do presente agravo
regimental, bem como, diante da manifesta improcedência do agravo, nos
termos da fundamentação acima declinada, por aplicar à parte Agravante
multa de 5% (cinco por cento) sobre o valor da causa, nos termos do art.
1.021, § 4º, do CPC, em face de decisão desta Turma na hipótese de
deliberação unânime, condicionando-se a interposição de qualquer outro
recurso ao depósito prévio da quantia fixada, observado o disposto no
art. 1.021, § 5º, do CPC. Sem honorários, por se tratar de recurso oriundo
de ação direta de inconstitucionalidade.
É como voto.

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Voto - MIN. CÁRMEN LÚCIA

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04/02/2020 SEGUNDA TURMA

AG.REG. NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO 1.126.828 SÃO PAULO

VOTO

A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA (PRESIDENTE) - Eu


destaquei, Ministro, porque nós também decidimos isso no Plenário, foi
até em um caso envolvendo o município de Belo Horizonte - enfim, há
muitos outros casos, no qual o entendimento era o de que, para propor
ação direta de inconstitucionalidade, a assinatura é dos legitimados no
art. 103 ou, no caso, nas Constituições Estaduais. Porém, no momento do
recurso, o advogado recorria, até porque a matéria - ainda mais em
recurso extraordinário - era só jurídica. O Presidente da Câmara e o
governador nem têm o conhecimento para isso.
Decidimos isso no Plenário, e tinha ficado assentado lá exatamente
que recursos em ação direta de inconstitucionalidade seriam assinados,
poderiam até vir assinados pelo legitimado e mais o procurador, mas era
essencial a presença do advogado, pelo direito desse de exercer a
advocacia no sentido recursal.
Então, aqui, parece-me haver uma divergência entre o que temos
decidido no Plenário virtual, na grande maioria das vezes, do que consigo
apurar, e o voto Vossa Excelência - Vossa Excelência negou seguimento
em razão da ilegitimidade do procurador.
O SENHOR MINISTRO EDSON FACHIN (RELATOR) -
Exatamente.
A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA (PRESIDENTE) - E
me parece que tinha ficado assentado, até onde mantenho a posição
votada lá, e prevalecido o sentido de que, para ajuizar ação direta,
realmente o legitimado deve ser aquele do 103 ou o que a Constituição
Estadual tenha previsto. No momento do recurso, em embargos ou
agravo, nos Estados, quem recorre é o advogado, nunca é a parte. E
havíamos assentado isso no Plenário.
Portanto, essa decisão de Vossa Excelência destoaria, na minha
compreensão, do assentado no Plenário.

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Voto - MIN. CÁRMEN LÚCIA

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RE 1126828 AGR / SP

Essa é a razão do destaque.

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Esclarecimento

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04/02/2020 SEGUNDA TURMA

AG.REG. NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO 1.126.828 SÃO PAULO

ESCLARECIMENTO
O SENHOR MINISTRO EDSON FACHIN (RELATOR) - Também
temos, aqui, uma divergência de premissa. Entendo que aquela
compreensão - até reproduzo no voto, e não sei se alcancei a proposta de
voto de Vossa Excelência -, mas estou assentando aqui que o Supremo
Tribunal Federal firmou entendimento segundo o qual a legitimidade
ativa para a propositura da ação direta de inconstitucionalidade, bem
como dos recursos dela decorrentes, pertence à Mesa da Câmara
Municipal, nos termos da norma do inc. III do art. 103 da Constituição
Federal, e, por simetria, do inc. 2º do art. 90 da Constituição do Estado de
São Paulo. Logo, afigura-se inadmissível a petição de recurso
extraordinário interposto pela Câmara Municipal do São Paulo e assinado
apenas por procuradores do referido órgão, sem que tenha sido subscrita
pelo Presidente da Mesa da Câmara Municipal. Cito precedentes: o
Recurso Extraordinário 859.170, Relator o eminente Ministro Luís Roberto
Barroso; o Recurso Extraordinário 1.005.125, de minha relatoria; e alguns
outros precedentes que, em meu modo de ver, vão nessa direção.
Portanto, não creio - não é a minha percepção - que isso estaria
moldado àquele paradigma anterior ao que Vossa Excelência se referiu,
tendo que o todo, quer a ação, quer a instância recursal, deverá ter a
presença da Mesa, ou seja, do presidente que a representa, do legitimado.
Desse modo, temos aí uma dissonância de compreensão também.
Contudo, obviamente, Vossa Excelência está prestigiando um conjunto de
valores importantes e também o precedente que indica nessa outra
direção.

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Debate

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04/02/2020 SEGUNDA TURMA

AG.REG. NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO 1.126.828 SÃO PAULO

DEBATE

O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI - A questão


é interessante realmente.
Entendo que a decisão primeira é política - de entrar ou não -,
porque isso compromete, enfim, a própria Câmara, o município. É uma
decisão muito séria, e somente a Câmara, ou o presidente, por seus
órgãos administrativos, no caso a Mesa, poderia tomá-la.
Agora, estou sensibilizado pelo argumento de Vossa Excelência de
que os atos sequenciais não têm natureza política, mas técnica.
A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA (PRESIDENTE) - Nem
pode. Imagina um governador que seja engenheiro propor embargos
declaratórios de uma decisão proferida em ação direta de
inconstitucionalidade.
O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI - É, dentro
do prazo, tempestivamente.
Eu diria que, uma vez tomada a decisão política, os atos
subsequentes de natureza técnica têm que ser tomados, ou
empreendidos, pelo corpo técnico de procuradores, ou advogados, etc.
A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA (PRESIDENTE) -
Advogado é quem recorre.
O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI - Agora, eu
não...
O SENHOR MINISTRO EDSON FACHIN (RELATOR) - Vossa
Excelência me permite?
O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI - Sim.
O SENHOR MINISTRO EDSON FACHIN (RELATOR) - No caso,
obviamente, não estamos entrando nisso, porque aqui é só o tema da
legitimidade. Entretanto, talvez, uma referência breve à matéria de fundo
ajude iluminar um pouco o tema.
Aqui se cuida da questão atinente ao pagamento, ou não, do 13º

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Debate

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RE 1126828 AGR / SP

salário a vereadores.
Eu creio que é uma matéria que, obviamente, tem uma dimensão
não apenas jurídica, mas também político-jurídica do interesse dos
vereadores.
Portanto, seria também um argumento adicional nessa linha que
Vossa Excelência menciona, no sentido de separar as decisões técnicas,
como apresentar uma peça recursal que, obviamente, demonstra o
cabimento do extraordinário - etc. -, de decisões que envolvam também
compreensões político-jurídicas, mas isso adentraria a matéria de fundo,
de qualquer modo.

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Voto - MIN. RICARDO LEWANDOWSKI

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04/02/2020 SEGUNDA TURMA

AG.REG. NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO 1.126.828 SÃO PAULO

VOTO

O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI - Eu


acredito que as duas soluções são interessantes, são palatáveis, são
aceitáveis, do ponto de vista jurídico. Contudo, inclinar-me-ia, do ponto
de vista da praticidade, quer dizer, da vida cotidiana, de como ela de fato
é, ao seguinte: Dado - e me perdoem a expressão menos nobre talvez - o
pontapé inicial ou tomada a decisão política por parte de quem de direito
- o Presidente da Câmara ou a Mesa da Câmara, dependendo, enfim, do
Regimento Interno de cada Câmara de Vereadores -, eu creio que os atos
subsequentes, de natureza técnica, serão levados a efeito pelo corpo
técnico-jurídico.
É assim que votaria; mas, claro, é uma primeira aproximação que
tenho dessa questão.
A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA (PRESIDENTE) -
Talvez possamos levar isso depois ao Plenário.
O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI - Sim.
Acredito que o Ministro Fachin tem realmente argumentos sólidos.
Vamos supor que esta ação, como evidentemente pode parecer que assim
o seja, cause uma comoção política, etc. A continuidade, ou não, a
desistência pode, eventualmente, também compreender uma decisão
política.
Com a devida vênia, hoje discordamos muito, mas sempre por
convicções íntimas e técnicas.
Neste caso, também ousaria a acompanhar a Ministra Cármen,
porque penso que, do ponto de vista da prática, da pragmaticidade, essa
decisão é a mais, enfim, compatível com a realidade dos fatos, tal como
eles são.

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Voto - MIN. GILMAR MENDES

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04/02/2020 SEGUNDA TURMA

AG.REG. NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO 1.126.828 SÃO PAULO

VOTO
O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - Também eu vou pedir
vênia ao eminente Relator, Ministro Fachin, para acompanhar Vossa
Excelência, Presidente.
Aqui, estamos diante de um caso de recurso extraordinário, que é
um recurso, inclusive, de difícil aceitação. Foi uma construção do próprio
Supremo Tribunal Federal a possibilidade de ter um RE contra uma
decisão, normalmente, do Direito municipal, vis a vis, a Constituição
estadual; e daí se vislumbrar, então, a possibilidade de, nessa decisão, ter-
se uma lesão à Constituição Federal, porque só assim caberá recurso.
Quando isso foi construído - da lavra do Ministro Moreira Alves -,
eu chamei a atenção dizendo que isso era um recurso extraordinário tipo
"B".

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Confirmação de Voto

Inteiro Teor do Acórdão - Página 23 de 24

04/02/2020 SEGUNDA TURMA

AG.REG. NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO 1.126.828 SÃO PAULO

CONFIRMAÇÃO DE VOTO

A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA (PRESIDENTE) - O


Supremo até chegou, em 89, 90, a aceitar o cabimento de ação direta
contra lei municipal. Depois, voltou atrás e assentou não ser cabível, mas,
então, cabe quanto à Constituição Estadual, e, quando for norma de
repetição da Constituição Federal, cabe o recurso extraordinário. E aí eu
me lembro de Vossa Excelência, Ministro Gilmar, afirmar isso mesmo.
Este é um RE que tem de provar prequestionamento - e agora ainda
tem prequestionamento -, tudo muito técnico para um governador.
Por isso é que eu, então, peço vênia a Vossa Excelência, Ministro
Fachin, para divergir.

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Supremo Tribunal Federal
Extrato de Ata - 04/02/2020

Inteiro Teor do Acórdão - Página 24 de 24

SEGUNDA TURMA
EXTRATO DE ATA

AG.REG. NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO 1.126.828


PROCED. : SÃO PAULO
RELATOR : MIN. EDSON FACHIN
REDATORA DO ACÓRDÃO : MIN. CÁRMEN LÚCIA
AGTE.(S) : CÂMARA MUNICIPAL DE SÃO PAULO
AGTE.(S) : PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE SÃO PAULO
ADV.(A/S) : PAULO AUGUSTO BACCARIN (138129/SP)
ADV.(A/S) : DJENANE FERREIRA CARDOSO (218877/SP)
AGDO.(A/S) : PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO
PAULO

Decisão: A Turma, por maioria, deu provimento ao agravo


regimental para dar curso ao recurso extraordinário, nos termos do
voto da Ministra Cármen Lúcia, Redatora para o acórdão, vencido o
Ministro Edson Fachin, Relator. Ausente, justificadamente, por
motivo de licença médica, o Ministro Celso de Mello. Presidência
da Ministra Cármen Lúcia. 2ª Turma, 4.2.2020.

Presidência da Senhora Ministra Cármen Lúcia. Presentes à


sessão os Senhores Ministros Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski e
Edson Fachin. Ausente, justificadamente, por motivo de licença
médica, o Senhor Ministro Celso de Mello.

Subprocuradora-Geral da República, Dra. Cláudia Sampaio


Marques.

Ravena Siqueira
Secretária

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