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ECLESIOLOGIA

Por: Helio Clemente

O fundamento desse estudo é sempre a Escritura e os documentos


correspondentes: A Confissão de Fé de Westminster e os princípios do
calvinismo, vejamos abaixo um texto de A. Kuyper e a descrição da Igreja
de Deus conforme a Confissão de Fé:

A Igreja de Deus

CFW: Capítulo XXV, Seção I – A Igreja de Deus

“A Igreja Universal, que é invisível, consta do número total dos eleitos que
já foram, dos que agora são e dos que ainda serão reunidos em um só corpo
sob Cristo, seu cabeça; ela é a esposa, o corpo, a plenitude daquele que
cumpre tudo em todas as coisas”.

A Igreja de Deus é católica, ou seja, universal, um corpo único constando de


seus eleitos de toda a raça e nacionalidade que existem, em uma determinada
época (o Reino de Deus consta de todos eleitos que existiram, existem ou
existirão em todos os lugares e em todos os tempos). Nenhuma denominação,
raça ou nação tem a exclusividade da igreja, somente Deus conhece seus
eleitos.

Outra definição pode ser: A Igreja é constituída pelos eleitos justificados e o Reino pelo número total de
eleitos (ver os Decretos Eternos).

Todavia, essas definições não são realmente precisas e não causam nenhum problema doutrinário em suas
diversas interpretações.

Kuyper: “Portanto, tudo que é possível para nós sobre a terra é primeiro,
uma comunhão mística com aquela Igreja verdadeira por meio do Espírito,
e em segundo lugar, o gozo das sombras que estão se manifestando na
cortina transparente diante de nós. Consequentemente, nenhum filho de
Deus deveria imaginar que a verdadeira Igreja está aqui na terra”.

A igreja local

Kuyper: “Como tal, ela se apresenta para nós em diferentes congregações


locais de crentes, grupos de confessores, vivendo em alguma união
eclesiástica em obediência às ordenanças do próprio Cristo. A Igreja na
terra não é uma instituição para a dispensação da graça, como se fosse uma
despensa de medicamentos espirituais. Não há ordem mística, espiritual,
dada com poderes místicos para operar com uma influência mágica sobre
os leigos”.

Termos bíblicos

No Velho Testamento são usadas duas palavras para designar a igreja:


“qahahl” e “edhah”. O uso geral dessas palavras é o seguinte: “qahahl”
significa a reunião do povo em um local previamente combinado e “edhah”
indica a reunião dos representantes do povo, ou a organização social dos
chefes que representavam o povo de Israel, podendo estar reunidos ou não.

Na Septuaginta, também, de forma geral, a palavra “qahal” é traduzida por


“ekklesia” e “edahal” por “sunagoge”. Essas palavras usadas na Septuaginta
foram adotadas no Novo Testamento, onde “ekklesia” passou a significar a
reunião dos crentes e “sunagoge” exclusivamente a igreja dos judeus, tanto
a reunião dos representantes ou do povo, mas também o local onde se
realizavam essas reuniões.

O termo “ekklesia” foi usado no Novo Testamento primeiramente por Jesus,


indicando as pessoas que se reuniam em torno dele como o seu mestre e
Senhor.

Mateus 16,18: “Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre essa pedra


edificarei a minha Igreja (ekklesia), e as portas do inferno não prevalecerão
contra ela”.

Essa palavra “ekklesia” pode indicar várias situações, como por exemplo: A
igreja na casa de uma pessoa, a igreja local, um grupo de igrejas em uma
região, a igreja como uma congregação de todos os que professam a Cristo
em todo o mundo, ou ainda a totalidade de todos os cristãos professos. No
caso dos eleitos, é também chamada a Igreja de Deus ou a Igreja Universal,
que se confunde com o Reino de Deus ou o Reino dos Céus em um
determinado período.

Nota: O Reino de Deus se compõe de todos os eleitos em todos os tempos, a Igreja de Deus, os eleitos em
um tempo determinado. Essas definições podem variar, mas dentro do mesmo conceito.

A igreja na história:

Durante o primeiro século da igreja não havia organização ou hierarquia das


igrejas locais, mas com o surgimento de várias heresias e com a corrupção
que grassava, surgiu a necessidade de organização da igreja. Cipriano, bispo
de Cartago, foi quem definiu a organização episcopal de igreja no século III
de nossa era.

Essa organização foi confirmada pelo imperador Constantino, no início do


século IV, quando assumiu a chefia da igreja. Essa definição permaneceu na
Igreja de Roma, praticamente sem mudanças, até o concílio de Trento, no
século XVI, mas nenhuma mudança fundamental foi acrescida.

Conforme Cipriano a verdadeira igreja era universal, ou católica, a


autoridade dos bispos era apostólica, derivada dos apóstolos por sucessão
episcopal e a igreja era a depositária da graça e do poder de Deus,
distribuindo a graça, o perdão e a salvação por intermédio dos sacerdotes e
dos sacramentos. De acordo com essa ideia, prevalecente até os dias de hoje
na igreja de Roma, as bênçãos da graça e da salvação chegam aos homens
somente por meio das ordenanças e sacramentos da igreja.

Os atributos da igreja como instrumento da graça de Deus e das bênçãos da


salvação distribuídas por Deus através da igreja, eram considerados, pela
igreja de Roma, como um atributo próprio da igreja, através de seu corpo de
sacerdotes.

Dessa forma, a igreja se coloca entre Deus e os homens como a distribuidora


dessas bênçãos e castigos, negando dessa forma, a comunhão direta entre
Deus e os crentes e colocando entre eles uma mediação humana e anticristã,
negando a suficiência e unicidade do trabalho de Cristo. Pode-se ver
claramente na definição da igreja romana abaixo, que a unicidade do trabalho
mediatório de Cristo é negada de forma declarada.

A definição da igreja romana é a seguinte:

“A congregação de todos os fiéis que, sendo batizados, professam a mesma


fé, participam dos mesmos sacramentos e são governados por seus legítimos
pastores, sob um chefe visível na terra”.

Em contraposição a isso, Jesus declara no evangelho do apóstolo João que


ele é o único caminho e o único mediador entre Deus e o homem.

João 14,6: “Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida;


ninguém vem ao Pai senão por mim”.

A doutrina da igreja na Reforma


Os reformadores rejeitaram a ideia de uma igreja rigidamente hierárquica,
com um sacerdócio infalível e dotado de poderes sobrenaturais, que
dispensam a salvação por meio de ordenanças e sacramentos. Eles
consideravam a igreja verdadeira como a comunhão espiritual daqueles que
foram chamados por Cristo, que se tornavam sacerdotes mediante o
testemunho cristão.

Distinguiam também os aspectos visíveis e invisíveis da igreja, admitindo


que, na igreja visível, o joio e o trigo, que são os verdadeiros crentes e os
religiosos formais, estarão misturados até a ceifa, que é o Juízo Final. O
conceito da igreja protestante afasta-se da ideia da exteriorização da igreja e
define a igreja como a comunhão dos santos, a reunião dos eleitos de Deus,
como expresso nos documentos da Reforma:

Segunda Confissão Helvética: “A igreja é uma assembleia de fiéis,


convocada e reunida do mundo, uma comunhão de todos os santos, isso é,
daqueles que verdadeiramente conhecem e retamente adoram e servem o
verdadeiro Deus em Jesus Cristo, o Salvador, pela Palavra do Espírito
Santo, e que pela fé participam de todos os benefícios gratuitamente
oferecidos mediante Cristo”.

Confissão Belga: “Cremos e professamos uma só Igreja católica ou


universal, que é uma congregação de verdadeiros crentes cristãos, todos
esperando sua salvação em Jesus Cristo, sendo lavados por seu sangue,
santificados e selados pelo Espírito Santo”.

CFW, Capítulo XXV, Seção I – A Igreja de Deus: A Igreja Católica ou


Universal, que é invisível, consta do número total dos eleitos que já foram,
dos que agora são e dos que ainda serão reunidos em um só corpo sob
Cristo, seu cabeça; ela é a esposa, o corpo, a plenitude daquele que cumpre
tudo em todas as coisas.

Efésios 1,22-23: “E pôs todas as coisas debaixo dos pés, e para ser o cabeça
sobre todas as coisas, o deu à igreja, a qual é o seu corpo, a plenitude
daquele que a tudo enche em todas as coisas”.

A Igreja Universal, ou Igreja de Deus, é composta somente de eleitos,


somente Deus conhece seus filhos. Nenhuma denominação ou seita detém a
exclusividade da igreja.

A Igreja Universal

A Igreja Universal pode ser tida como o número de eleitos vivos, em uma
determinada época, o que a difere do Reino, que é constituído por todos os
eleitos em todos os tempos. Nenhuma denominação, raça ou nação tem a
exclusividade da igreja, somente Deus conhece seus eleitos.

A Igreja Universal tem os seus membros em diversas denominações cristãs


em todo o mundo, ou mesmo fora delas, mas não se determina
particularmente por nenhuma delas. Na Igreja de Deus existem somente os
eleitos, essa igreja é invisível e não perceptível, sendo composta apenas dos
eleitos que já foram, estão sendo e serão chamados e justificados por Deus
em Cristo em um determinado período.

2 Crônicas 2,6: “No entanto, quem seria capaz de lhe edificar a casa, visto
que os céus e até os céus dos céus o não podem conter? E quem sou eu para
lhe edificar a casa, senão para queimar incenso perante ele?”.

Os participantes de igreja Universal não são manifestos aos sentidos, não é


possível estabelecer os limites entre o mundo, a igreja local e a Igreja de
Deus. A luz de Deus está oculta, para que a honra e a glória pertençam a
Deus e não aos homens.

2 Coríntios 4,6-7: “Porque Deus, que disse: Das trevas resplandecerá a luz,
ele mesmo resplandeceu em nosso coração, para iluminação do
conhecimento da glória de Deus, na face de Cristo. Temos, porém, esse
tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e
não de nós”.

CFW, Capítulo XXV, Seção II – A igreja visível: A Igreja Visível que


também é católica ou universal sob o Evangelho (não sendo restrita a uma
nação, como antes sob a Lei) e consta de todos aqueles que pelo mundo
inteiro professam a religião cristã, juntamente com seus filhos; é o Reino do
Senhor Jesus, a casa e família de Deus, fora da qual não há possibilidade
ordinária de salvação.

1 Coríntios 12,12-13: “Porque, assim como o corpo é um e tem muitos


membros, e todos os membros, sendo muitos, constituem um só corpo, assim
também com respeito a Cristo. Pois, em um só Espírito, todos nós fomos
batizados em um corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres.
E a todos nós foi dado beber de um só Espírito”.

A igreja visível: A igreja visível é constituída de todas as igrejas, ditas


cristãs, locais, de todas as nações, que professam o cristianismo. A igreja não
detém o poder de salvar ou perdoar quem quer que seja, a igreja chama o
pecador em e por Cristo e somente através da pregação fiel da Palavra.
A igreja visível pode ser definida como: O número total de pessoas que, em
todas as épocas e nações, receberam o batismo em uma igreja cristã e seus
filhos. A igreja visível é definida fisicamente e a Igreja de Deus
espiritualmente, de forma que nem mesmo os anjos a conhecem, somente
Deus conhece sua igreja, que será revelada na volta de Cristo.

Romanos 8,19-21: “A ardente expectativa da criação aguarda a revelação


dos filhos de Deus. Pois a criação está sujeita à vaidade, não
voluntariamente, mas por causa daquele que a sujeitou, na esperança de que
a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade
da glória dos filhos de Deus”.

A igreja visível é constituída de muitas denominações, muitas delas espúrias,


outras falsas e algumas poucas (muito poucas) que procuram se manter fiéis
à Palavra. A igreja visível é representada nas parábolas de Jesus como o reino
temporal de Deus - o campo onde crescem o joio e o trigo, ou a rede que
retém todos os tipos de peixes - tanto o joio como os peixes ruins somente
serão separados no Dia do Juízo, até lá eleitos e réprobos conviverão dentro
da igreja visível.

Mateus 13,47-49: “O reino dos céus é ainda semelhante a uma rede que,
lançada ao mar, recolhe peixes de toda espécie. Arrastam-na para a praia
e, assentados, escolhem os bons para os cestos e os ruins deitam fora. Assim
será na consumação do século: sairão os anjos, e separarão os maus dentre
os justos”.

CFW, Capítulo XXV, Seção III – As ordenanças: A essa igreja católica


(Universal) Visível Cristo deu o ministério, os oráculos e os sacramentos de
Deus, para ajuntamento e aperfeiçoamento dos crentes nessa vida, até o fim
do mundo, e o faz segundo a sua promessa, tornando-os eficazes para esse
fim pela sua própria presença e Espírito.

1 – Efésios 4,11-13: “E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para
profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, com
vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço,
para a edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade
da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à
medida da estatura da plenitude de Cristo”.

A igreja local é constituída por ministros ordenados de acordo com as normas


de cada denominação, conforme sua constituição e normas de fé.
Infelizmente as profecias bíblicas se cumprem com exatidão: A apostasia
toma conta de igreja. Cada vez mais as igrejas se afastam do conhecimento
bíblico, inventando novas normas que são preceitos de homens – o retorno a
Roma está em andamento.

2 Timóteo 4,3: “Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina;


pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças,
como que sentindo coceira nos ouvidos”.

Mateus 24,24-25: “Porque surgirão falsos cristos e falsos profetas operando


grandes sinais e prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos.
Vede que vo-lo tenho predito”.

Marcos 13,21-22: “Então, se alguém vos disser: Eis aqui o Cristo! Ou: Ei-
lo ali! Não acrediteis; pois surgirão falsos cristos e falsos profetas,
operando sinais e prodígios, para enganar, se possível, os próprios eleitos”.

A igreja de Laodicéia é a última das sete igrejas do Apocalipse, ela é tida


como representante da igreja moderna, veja a atualidade dos sentimentos dos
crentes e o que diz Jesus a essa igreja - as mais duras palavras dirigidas aos
cristãos em toda a bíblia.

Apocalipse 3,16-17: “Assim, porque és morno e nem és quente nem frio,


estou a ponto de vomitar-te da minha boca; pois dizes: Estou rico e abastado
e não preciso de coisa alguma, e nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável,
pobre, cego e nu”.

Os meios de graça

Os meios de graça determinados biblicamente são os seguintes: A pregação


e a leitura da Palavra, o louvor, a oração e os sacramentos. Os únicos
sacramentos instituídos por Cristo são a Ceia do Senhor e o Batismo, nenhum
outro sacramento deve ser aceito pelos cristãos.

Lucas 22,19: “E, tomando um pão, tendo dado graças, o partiu e lhes deu,
dizendo: Isso é o meu corpo oferecido por vós; fazei isso em memória de
mim”.

Mateus 28,19: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações,


batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”.

Todo o crente é um sacerdote e tem um mandato cultural a cumprir, esse


mandato é constituído pelo testemunho de Cristo e a pregação do evangelho
- essas são obrigações inalienáveis de todo crente. Atualmente o
conhecimento do evangelho e o testemunho verbal têm sido esquecidos, os
novos crentes acreditam que darão o testemunho do evangelho de Cristo
através de sua própria justiça e santidade refletidas em uma vida de alto
padrão moral.

Esses crentes farisaicos reduzem Cristo a um mero exemplo de vida, mas as


ordenanças da igreja continuam e continuarão sempre as mesmas: O
testemunho e a pregação. Esse testemunho somente pode ser dado através do
conhecimento de Cristo, como darão testemunho daquele que não
conhecem?

João 17,3: “E a vida eterna é essa: que te conheçam a ti, o único Deus
verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste”.

Não havia discordância doutrinária entre os luteranos e calvinistas, mas a


diferença entre eles era basicamente na organização da igreja, enquanto
Lutero esperava transformar a igreja de Roma, os calvinistas (protestantes)
lutavam por construir uma nova igreja, livre e separada da igreja romana.

A essa época a igreja de Roma havia chegado a um estado de corrupção e


degradação inimagináveis, que persiste até os dias atuais. O conceito dos
reformadores a respeito do papado católico era de extrema reprovação, como
se pode ver na Confissão de Fé de Westminster a esse respeito:

Confissão de Fé de Westminster - Capítulo XXV, Seção VI – Cristo e a


igreja: Não há outro Cabeça da Igreja senão o Senhor Jesus Cristo; em
sentido algum pode ser o Papa de Roma o cabeça dela, mas ele é aquele
anticristo, aquele homem do pecado e filho da perdição que se exalta na
igreja contra Cristo e contra tudo o que se chama Deus.

2 Tessalonicenses 2,3-4: “Ninguém, de nenhum modo, vos engane, porque


isso não acontecerá sem que primeiro venha a apostasia e seja revelado o
homem da iniquidade, o filho da perdição, o qual se opõe e se levanta contra
tudo que se chama Deus ou é objeto de culto, a ponto de assentar-se no
santuário de Deus, ostentando-se como se fosse o próprio Deus”.

Cristo, o Cabeça da igreja

O fundador da igreja e o Cabeça supremo e absoluto é Jesus Cristo, a


Escritura afirma esse fato, que jamais será negado por qualquer cristão
verdadeiro. Cristo nunca deixou ordenado a constituição de um vigário e
representante sobre a terra, essa reivindicação da igreja de Roma é
abominação perante Deus e não pode ser aceita em hipótese alguma.
As igrejas da Alemanha e Inglaterra reconhecem em seus governantes
políticos a supremacia sobre a igreja, não existe nenhum fundamento ou base
escriturística para sustentar essas heresias das Igrejas-Estado.

Mateus 23,8: “Vós, porém, não sereis chamados mestres, porque um só é


vosso Mestre, e vós todos sois irmãos”.

O governo da igreja é feito unicamente através da Palavra, a igreja que não


é fiel à Palavra de Deus não é fiel a Cristo. A presença de Cristo na igreja,
serve, tanto para cegar os réprobos quanto para preservar seu povo, de onde
se pode concluir que a obrigação da igreja é pregar a Palavra e louvar a Deus.
Somente através da Palavra, os eleitos de Deus recebem a graça que há em
Cristo e tem sua preservação na comunhão do Espírito.

Mateus 28,19-20: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações,


batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os
a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco
todos os dias até à consumação do século”.

O QUE É A IGREJA VERDADEIRA?

1– A Igreja de Deus ou a Igreja invisível

A verdadeira Igreja é o Reino, constituída por todo povo de Deus em todas


as épocas da história da humanidade, o total dos eleitos, essa é a igreja
Invisível a que se referiam os reformadores. Somente a essa Igreja pertence
a promessa de Jesus: “As portas do inferno não prevalecerão contra ela”.

Essa Igreja pode ser conhecida, também, como o número total de eleitos em
um determinado momento da história. Dessa forma, ela se diferencia do
Reino de Deus, que é a soma de todos os eleitos de todos os tempos.

Para essa Igreja Jesus também disse: “Eis que estarei convosco todos os dias
até a consumação dos séculos”.

Efésios 3,10-11: “Para que, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus se


torne conhecida, agora, dos principados e potestades nos lugares celestiais,
segundo o eterno propósito que estabeleceu em Cristo Jesus, nosso Senhor”.

2– A Igreja Local
São denominações “cristãs” onde os crentes se reúnem, teoricamente, para
glorificação e adoração de Deus. Esse é o significado da grande maioria das
referências à igreja no Novo Testamento (ekklesia).

Filipenses 4.15: “E sabeis também vós, ó filipenses, que, no início do


evangelho, quando parti da Macedônia, nenhuma igreja se associou comigo
no tocante a dar e receber, senão unicamente vós outros”.

A Igreja invisível é a Igreja que pode ser vista unicamente por Deus, pois
somente Ele conhece seus filhos. A igreja local é a igreja física, como ela é
vista pelos homens: Todos aqueles que professam a Cristo, sinceros ou
hipócritas. Nessa igreja o joio e o trigo estarão sempre misturados, apesar de
que, a clara doutrina bíblica afirma que os falsos conversos, bem como os
declaradamente ímpios, devem ser excluídos da igreja sem hesitação.

3– A igreja Universal

Todo o povo de Deus existente no mundo em uma determinada época, esse


sentido ocorre ocasionalmente no Novo Testamento.

Gálatas 1,13: “Porque ouvistes qual foi o meu proceder outrora no


judaísmo, como sobremaneira perseguia eu a Igreja de Deus e a devastava”.

4– A Igreja dentro da igreja

A separação dentre toda congregação visível dos eleitos e dos réprobos


dentro da igreja, o joio e o trigo, esse é o padrão do reino, conforme palavras
de Jesus.

Mateus 13,30: “Deixai-os crescer juntos até à colheita, e, no tempo da


colheita, direi aos ceifeiros: ajuntai primeiro o joio, atai-o em feixes para
ser queimado; mas o trigo, recolhei-o no meu celeiro”.

Não existe, nas igrejas locais, uma igreja pura, em meio à congregação
existem pessoas que não professam, de fato, a fé cristã e cuja profissão de fé
será desmascarada no último dia.

Mateus 7,22-23: “Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor!


Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não
expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então,
lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que
praticais a iniquidade”.
A unicidade da igreja

A unidade da igreja não é aparente nas diversas denominações, a unicidade


da Igreja provém unicamente do Espírito Santo que atua nos crentes
verdadeiramente justificados dentro de cada denominação, unindo-os através
do fundamento único estabelecido por Deus: Jesus Cristo.

Efésios 1,22: “E pôs todas as coisas debaixo dos pés, e para ser o cabeça
sobre todas as coisas, o deu à igreja”.

A santidade (separação) da Igreja

Somente os eleitos, dentro das igrejas, são separados por Deus. A santidade
da Igreja de Deus provém de dois fatos: O primeiro é a separação do mundo,
o segundo é o fato que, Deus imputa, aos seus filhos, pecadores, a justiça
perfeita de Cristo, santificando-os dessa forma.

Efésios 1,4: “Assim como nos escolheu nele antes da fundação do mundo,
para sermos santos e irrepreensíveis perante ele...”.

A Igreja é universal (católica)

A palavra “católica” significa totalidade, no sentido bíblico implica em que


a Igreja de Deus é universal e independe das denominações, distinguindo-a
da igreja local e das heresias surgidas ao longo do tempo.

“Católico”: Esse é outro termo infeliz, mas adotado universalmente pelos protestantes. O problema desse
termo é que ele está intimamente associado à igreja de Roma.

O principal sentido da universalidade, na igreja primitiva, é que estava aberta


a todos, sem distinção, diferente do judaísmo e do gnosticismo
predominantes.

Mateus 11,28: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e


sobrecarregados, e eu vos aliviarei”.

A igreja é apostólica

A igreja é apostólica, no sentido em que os apóstolos foram testemunhas do


ministério de Jesus e constituídos em autoridade por ele, tornando-se dessa
forma, os legítimos propagadores da Palavra em sua época. A pretensa
tradição da renovação apostólica na chefia da igreja romana é uma farsa
indefensável, o primeiro papa foi, na realidade, o imperador Constantino.
A definição do cânon bíblico: A condição para que os livros do Novo
Testamento fossem considerados canônicos era a de terem sido escritos pelos
apóstolos ou pessoas ligadas diretamente a eles (Marcos e Lucas).

Por outro lado, a apostolicidade da igreja não significa uma sucessão física
de ministros a partir dos apóstolos, como já dissemos acima. Essa não é uma
doutrina bíblica, trata-se de tradição de homens e deve ser repudiada com
firmeza. Ademais, quando o imperador Constantino assumiu a chefia da
igreja cristã, esse elo, inexistente, teria sido quebrado.

A igreja primitiva não tinha chefia definida antes do imperador Constantino.


Depois de Constantino, a igreja foi liderada por vários imperadores romanos,
distanciando-se cada vez mais de uma possível sucessão apostólica.

Algum apóstolo foi nomeado chefe dos outros?

Marcos 16,14-15: “Finalmente, apareceu Jesus aos onze, quando estavam à


mesa, e censurou-lhes a incredulidade e dureza de coração, porque não
deram crédito aos que o tinham visto já ressuscitado. E disse-lhes: Ide por
todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura”.

Pode-se verificar no verso acima, que a ordem para evangelização foi dada
a todos os apóstolos indistintamente, nenhum deles foi nomeado acima ou
submisso a qualquer um dos outros, essa sempre foi a tônica dos ensinos de
Jesus, como se pode constatar nesse outro verso abaixo, quando Jesus
repreende os apóstolos por procurarem a primazia entre os outros.

Preste bastante atenção ao final desse verso e veja se a existência de um


vigário de Cristo com primazia entre todos os cristãos faz sentido:

Marcos 10,42-44: “Mas Jesus, chamando-os para junto de si, disse-lhes:


Sabeis que os que são considerados governadores dos povos têm-nos sob
seu domínio, e sobre eles os seus maiorais exercem autoridade. Mas entre
vós não é assim; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós,
será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós será servo
de todos”.

A igreja militante

Durante sua existência terrena a igreja é chamada de militante, pois tem o


dever de empreender uma guerra sem tréguas contra as doutrinas estranhas
ao evangelho, principalmente dentro da própria igreja, combatendo
vigorosamente as heresias e falsas doutrinas que surgem.
O que se pode observar ao longo da história do cristianismo é que a igreja
está em constante degradação. Apesar dos grandes movimentos de
avivamento que ocorreram em épocas determinadas da história, a igreja
visível caminha, a olhos vistos, para a apostasia e para o mundanismo.
Todavia, apesar de chocante, isso não deve causar surpresa ao cristão, pois
Jesus nos adverte quanto a esses últimos tempos.

Mateus 24,24-25: “Porque surgirão falsos cristos e falsos profetas operando


grandes sinais e prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos.
Vede que vo-lo tenho predito”.

Lucas 18,8: “Digo-vos que, depressa, lhes fará justiça. Contudo, quando
vier o Filho do Homem, achará, porventura, fé na terra?”.

Nesses últimos tempos em que a igreja atravessa, a sã doutrina tem dado


lugar a todo tipo de fábulas e invenções, tanto para agradar o ego humano,
quanto para o crescimento material da igreja, essa é a tônica da igreja atual.

2 Timóteo 4,3: “Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina;


pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças,
como que sentindo coceira nos ouvidos”.

A igreja triunfante

A igreja triunfante pode ser definida como a reunião das almas dos crentes
que se encontram no céu, ou como a reunião final de todos os crentes após o
Dia do Julgamento, onde todos os eleitos de todas as épocas da história da
humanidade estarão finalmente reunidos a Cristo em seu estado glorificado,
onde o pecado e a corrupção estarão definitivamente banidos e os filhos de
Deus revelados em caráter definitivo.

Romanos 8,19-22: “A ardente expectativa da criação aguarda a revelação


dos filhos de Deus. Pois a criação (*) está sujeita à vaidade, não
voluntariamente, mas por causa daquele que a sujeitou, na esperança de que
a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade
da glória dos filhos de Deus. Porque sabemos que toda a criação, a um só
tempo, geme e suporta angústias até agora”.

(*) Criação: Almas no estado intermediário e os anjos e seres espirituais eleitos.

A igreja e a Palavra:
Calvino diz que, na Igreja de Deus, a Palavra deve ser pregada e ouvida em
toda sua pureza. Isso soa hoje como uma utopia, pois infelizmente a igreja
local tem se degenerado a tal ponto que é possível esperar ouvir de tudo em
uma igreja, menos a Palavra em sua pureza, pois essa se tornou ofensiva aos
crentes modernos.

João Calvino: “Onde quer que vejamos a Palavra de Deus pregada e ouvida
em toda a sua pureza e os sacramentos ministrados segundo a instituição de
Cristo, não há dúvida de que existe uma Igreja de Deus”.

O crente e a igreja

A igreja não é detentora do poder de salvação, somente Deus justifica os seus


eleitos, e aqueles que receberam o dom da fé recebem a Cristo, que para eles
se torna a vida eterna. O relacionamento do crente com Cristo é pessoal e
não está vinculado a nenhuma denominação em particular, a esse respeito
Charles Hodge afirma em sua Teologia Sistemática (pag. 778):

Charles Hodge: “A vida do crente não é uma vida corporativa, condicionada


a uma união com alguma organização externa chamada igreja, porque todo
aquele que invoca o nome do Senhor, ou seja, todo aquele que lhe rende
culto religioso e espera nele como seu Deus e salvador, será salvo, quer em
uma masmorra, quer solitário em um deserto”.

OS SACRAMENTOS

Confissão de Fé de Westminster - Capítulo XXVII, Seção I – Os


sacramentos: Os sacramentos são santos sinais e selos do pacto da graça
instituídos diretamente por Deus para representar Cristo e os seus
benefícios e confirmar o nosso interesse nele, bem como para colocar uma
diferença visível entre os que pertencem à Igreja e o resto do mundo, e
solenemente engajá-los ao serviço de Deus em Cristo de acordo com sua
Palavra.

1 Coríntios 10,16: “Porventura, o cálice da bênção que abençoamos não é


a comunhão do sangue de Cristo? O pão que partimos não é a comunhão do
corpo de Cristo?”.

Os sacramentos são somente sinais visíveis do pacto da graça. Pelos votos e


juramentos assumidos na aplicação dos sacramentos, os crentes se
comprometem a obedecer as regras de fé da denominação que assumem.

Os sacramentos
Os termos sacramento e Trindade, não ocorrem diretamente na bíblia, o seu
uso era voltado a obrigações e juramentos relativos a compromissos de
negócios ou militares, que eram comuns na Antiguidade. Em seu uso
religioso sacramento provém do grego - ‘mysterion’; o que era desconhecido
e agora foi revelado - ordenanças que foram reveladas pela Escritura: O
batismo e a Ceia do Senhor.

Os sacramentos constituem-se em um sinal externo visível e a graça interior


implícita somente para os eleitos. Os sacramentos são instituídos porque os
sinais do pacto no Velho Testamento, que foram instaurados diretamente por
Deus - respectivamente a circuncisão e a páscoa - foram substituídos pelo
batismo e pela Ceia, instituídos por Cristo.

Colossenses 1,26: “O mistério que estivera oculto dos séculos e das


gerações; agora, todavia, se manifestou aos seus santos; aos quais Deus
quis dar a conhecer qual seja a riqueza da glória desse mistério entre os
gentios, isso é, Cristo em vós, a esperança da glória”.

Os sacramentos somente são sinais da graça nas pessoas justificadas por


Deus. A graça é aplicada, nos eleitos, independentemente de qualquer
sacramento, somente a justiça de Cristo salva o pecador, nenhum ritual da
igreja poderá salvar àquele que não foi ordenado por Deus.

Atos 13,48: “Os gentios, ouvindo isso, regozijavam-se e glorificavam a


palavra do Senhor, e creram todos os que haviam sido destinados para a
vida eterna”.

O batismo na Igreja Primitiva

A igreja primitiva considerava o batismo, de forma geral, como ligado ao


perdão dos pecados e ao novo nascimento, tudo indica que eles acreditavam
na regeneração batismal. Todavia, os pais da igreja consideravam que uma
disposição positiva da alma era necessária à regeneração, e não atribuíam ao
batismo uma posição de necessidade para a iniciação da nova vida, mas o
batismo era visto como um ato de consumação dessa nova vida em Cristo.

O batismo infantil, dos filhos dos crentes, era bastante comum nos primeiros
séculos da era cristã, sendo que o modo do batismo, por imersão, por
derramamento ou aspersão não era considerado como diferencial, o modo do
batismo não estava em discussão nos primeiros séculos da igreja. A partir do
segundo século, surgiu a ideia de que o batismo infantil era de extrema
necessidade, sendo que as crianças não batizadas eram consideradas
perdidas.

A unicidade do batismo também foi um princípio estabelecido a partir do


segundo século, sendo que todas as pessoas batizadas em nome do Pai, e do
Filho, e do Espírito não deveriam ser rebatizadas.

O batismo na igreja Romana

A igreja Romana, depois do imperador Constantino, passou a considerar os


aspectos externos do batismo como um ato eficiente, aplicado pela igreja,
para a salvação dos fiéis. Os aspectos espirituais e interiores do batismo, bem
como a ação do Espírito foram relegados ao esquecimento e por fim
abandonados em função da atribuição salvadora e santificadora atribuída à
igreja e seus sacerdotes.

O batismo após a Reforma

A igreja luterana não desfez totalmente a ideia da igreja romana com relação
ao batismo, eles consideravam a água do batismo como dotada de
propriedades milagrosas pelas quais o pecado original é removido. No caso
de adultos essa ação milagrosa era dependente da fé do crente batizado, mas
no caso de infantes havia dúvida se Deus infundia a fé na criança antes do
batismo ou se a fé era propiciada pelo próprio ato do batismo.

Os calvinistas defendem que o batismo não produz a fé e não traz a salvação,


mas é apenas um ato de confirmação pública da fé em Cristo, que fortalece
os crentes, mas não é necessário para a fé e a salvação de forma absoluta,
apesar de ser uma obrigação para todo o crente e sua família.

Quanto às crianças, a consideração de Calvino era de que os filhos de pais


crentes são participantes da nova aliança, devendo receber o batismo para
confirmação dessa aliança. Pela doutrina da predestinação e dos Decretos
Eternos de Deus, adotados pelas igrejas calvinistas, a fé das crianças não é
levada em consideração no ato do batismo, pois a fé não é causa da salvação,
mas consequência dela. A ideia predominante no batismo infantil é que o
batismo é um ato espiritual e sua ação é interna, agindo na alma do crente de
forma contínua durante toda a sua vida.

Veja abaixo uma citação de Louis Berkhof bastante esclarecedora sobre o


batismo infantil em Israel, já em tempos que precedem a destruição do
templo, antes do ano 70 de nossa era. As crianças eram batizadas à
solicitação dos pais, sendo os meninos até 13 anos e idade e as meninas até
os 12 anos.

Louis Berkhof: “De acordo com as autoridades judaicas citadas por Wall
em sua História do Batismo Infantil (History of Infant Baptism), esse batismo
tinha que ser ministrado na presença de duas ou três testemunhas. As
crianças cujos pais recebiam esse batismo, desde que nascidas antes da
administração do rito, também eram batizadas, à solicitação do pai,
contanto que não fossem de idade (os meninos, treze anos e as meninas
doze), mas se fossem de idade, somente à solicitação delas próprias”.

A fórmula batismal

Nem todos os batismos cristãos descritos no Novo Testamento utilizam a


mesma fórmula batismal, mas independentemente dessa diversidade, usada
na época apostólica, a igreja sentiu a necessidade de unificar a forma do
batismo com o fim de evitar abusos e heresias. Dessa forma foi adotada a
indicação contida na ordenação de Jesus em Mateus: “Batizando-os em nome
do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”. Essa fórmula batismal tornou-se
definitiva, sendo utilizada na igreja até os dias de hoje.

A Ceia do Senhor

A Ceia e os rituais do Velho Testamento

Os sacrifícios da velha dispensação eram geralmente acompanhados de


refeições das quais participavam os sacerdotes e os ofertantes, esse costume
era próprio das ofertas pacíficas, a gordura era queimada no altar e o restante
do animal era distribuído entre os sacerdotes e os ofertantes, que faziam no
mesmo local as refeições que provinham do sacrifício. Essas refeições
simbolizavam o fato de que o sacrifício era aceito por Deus e representava
uma comunhão, estabelecida por esse ato, entre Deus e o seu povo. Pode-se
ver, nesse ritual, a origem da Ceia do Senhor na antiga religião israelita.

Por esse mesmo motivo, os israelitas eram proibidos de participar das ceias
comemorativas e sacrificiais dos outros povos, pois isso representava
adoração a outros deuses. Esses sacrifícios não se confundem com a Páscoa
judaica, pois a Páscoa era uma celebração independente das outras e tinha o
significado de expiação, diferente das ofertas pacíficas que traziam em si o
significado do perdão e da comunhão resultante.

A Ceia na igreja primitiva


Na era apostólica a ceia era, na verdade, uma festividade onde os
participantes traziam a comida e a bebida de sua casa. No decorrer do tempo,
esses materiais trazidos pelos participantes passaram a ser abençoados pelo
sacerdote com orações de ação de graças e aos poucos essas oblações e
oferendas passaram a ser um sacrifício levado a efeito pelo sacerdote, sendo
consagrados pela oração de ação de graças.

Os pais da igreja primitiva discordavam quanto à presença de Cristo nessa


cerimônia, alguns criam na transformação dos elementos, recebendo a
presença física de Cristo, como ainda hoje na igreja romana
(transubstanciação) ou luterana (consubstanciação), outros afirmavam
somente a presença simbólica de Cristo.

A realidade da Ceia como a conhecemos hoje foi definida por Agostinho no


século V de nossa era, segundo ele, o pão e o vinho constituem-se apenas
nos sinais do sacramento e a coisa significada: A presença simbólica e
espiritual de Cristo na Ceia, não deixando por isso de ser real. Todavia,
Agostinho negava a transubstanciação – a transformação dos elementos.

A doutrina da transubstanciação foi adotada oficialmente pela igreja de


Roma no Concílio de Latrão em 1215 d.C. e a forma final foi definida no
Concílio de Trento (1643 d.C.) onde a igreja romana afirma a presença real
de Cristo na substância do sacramento.

A Ceia na Reforma

Os reformadores não aceitaram a doutrina da transubstanciação nem da


consubstanciação. Os luteranos insistiam na presença física de Cristo nos
elementos, de forma diferente da igreja romana, a consubstanciação, pela
qual Cristo estaria fisicamente com os elementos, mas, não havendo a
transformação desses elementos.

Calvino negou a presença física de Cristo no sacramento, mas afirmou a


presença espiritual, todavia real, de Cristo durante a celebração, trazendo à
essa celebração virtude e eficácia provindos dessa presença espiritual de
Cristo no sacramento.

Confissão de Fé de Westminster - Capítulo XIX, Seção I – A origem da


Santa Ceia: Na noite em que foi traído, nosso Senhor Jesus instituiu o
sacramento do seu corpo e sangue, chamado Ceia do Senhor, para ser
observado em sua Igreja até ao Fim do mundo, a fim de lembrar
perpetuamente o sacrifício que em sua morte ele fez de si mesmo; selar aos
verdadeiros crentes os benefícios provenientes desse sacrifício para o seu
nutrimento espiritual e crescimento nele e a sua obrigação de cumprir todos
seus deveres para com Cristo; e ser um vínculo e penhor da sua comunhão
com ele e de uns com os outros, como membros do seu corpo místico.

Mateus 26,26-28: “Enquanto comiam, tomou Jesus um pão, e, abençoando-


o, o partiu, e o deu aos discípulos, dizendo: Tomai, comei; isso é o meu
corpo. A seguir, tomou um cálice e, tendo dado graças, o deu aos discípulos,
dizendo: Bebei dele todos; porque isso é o meu sangue, o sangue da nova
aliança, derramado em favor de muitos, para remissão de pecados”.

A Santa Ceia foi estabelecida por Jesus em comemoração ao seu sacrifício.

A Santa Ceia deve ser celebrada até a consumação do século.

Os símbolos da Ceia

A Santa Ceia é realizada em memória de Cristo, para lembrar sua morte até
que ele venha novamente. O ato comer o pão e beber o vinho é uma
lembrança do pacto da graça, pelo qual, Cristo mantém sua promessa de
salvação e confirma a comunhão com os eleitos. O pão representa a carne de
Cristo e o vinho o seu sangue, porém de forma espiritual, e qualquer
representação material nesse sentido é idolatria e abominação perante Deus.

1 Coríntios 11,23-26: “Porque eu recebi do Senhor o que também vos


entreguei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão; e,
tendo dado graças, o partiu e disse: Isso é o meu corpo, que é dado por vós;
fazei isso em memória de mim. Por semelhante modo, depois de haver ceado,
tomou também o cálice, dizendo: Esse cálice é a nova aliança no meu
sangue; fazei isso, todas as vezes que o beberdes, em memória de mim.
Porque, todas as vezes que comerdes esse pão e beberdes o cálice, anunciais
a morte do Senhor, até que ele venha”.

A CEIA E A IGREJA

Jesus foi traído por um de seus apóstolos, que participou do ministério de


Jesus, expulsou demônios, fez milagres em seu nome, e participou da Ceia a
seu lado. Isso mostra a realidade da igreja atual, o mundo não ameaça a
igreja, mas ela tem se degenerado em seitas e heresias por ação dos falsos
mestres no seio dessa mesma igreja.

Todas as denominações, mesmo as tradicionais, estão se corrompendo no


seio do arminianismo (livre-arbítrio), do dispensacionalismo, da teologia
relacional, da igreja com propósitos e muitos outros destinados tão somente
à prosperidade material e ao culto do ego. Nem todos participam da ceia em
homenagem e gratidão a Cristo, mas engrandecendo e honrando a si mesmo;
todo aquele que participa da ceia indignamente, come e bebe condenação
para si.

1 Coríntios 11,27: “Por isso, aquele que comer o pão ou beber o cálice do
Senhor, indignamente, será réu do corpo e do sangue do Senhor”.

Aplicação da Ceia

A Santa Ceia deve ser dirigida por um ministro ordenado, que deverá orientar
a liturgia e abençoar os elementos antes de distribuí-los, participando
pessoalmente da cerimônia. A participação na ceia é restrita às pessoas
presentes ao ato e batizadas em uma denominação evangélica respeitável. A
Santa Ceia tem deve unir a congregação em torno dessa comemoração, os
membros impedidos de estar presente, por motivos justos, poderão ser
representados por um oficial da igreja devidamente ordenado e habilitado.

Os participantes da Ceia: A Ceia é somente para pecadores arrependidos,


que reconhecem sua condição corrompida pela queda e se confessam
incapazes de conseguir, por si mesmos, mérito para salvação, confiando
unicamente no sacrifício de Cristo. Todo aquele que acredita em seus méritos
próprios para conseguir a salvação, come e bebe desonra para si e para sua
família ao participar da Ceia do Senhor.

Exclusões na Ceia: As crianças e os incapazes não têm permissão para


participar da Ceia, visto não terem condições de preencher os requisitos
exigidos. Somente os crentes, presentes na igreja na hora da Ceia, têm o
direito de participar. Os descrentes e as pessoas não batizadas não devem
participar da Ceia, assim como todos aqueles que recusam ou desconhecem
a profissão de fé da igreja não tem o direito de participar.

Confissão de Fé de Westminster - Capítulo XXIX, Seção VIII – Bênção


e maldição: Ainda que os ignorantes e os ímpios recebam os elementos
visíveis desse sacramento, não recebem a coisa por eles significada, mas,
pela sua indigna participação, tornam-se réus do corpo e do sangue do
Senhor para a sua própria condenação; portanto, como são indignos de
gozar comunhão com o Senhor, são também indignos da sua mesa, e não
podem, sem grande pecado contra Cristo, participar desses santos mistérios
nem a eles ser admitidos, enquanto permanecerem nesse estado.
1 Coríntios 10,21: “Não podeis beber o cálice do Senhor e o cálice dos
demônios; não podeis ser participantes da mesa do Senhor e da mesa dos
demônios”.

Os réprobos, religiosos ou não, podem participar fisicamente da Ceia, mas


sem benefício espiritual. Somente os eleitos recebem os benefícios
espirituais da Ceia.

Bênção e maldição

A pregação do evangelho tem dupla função: Salva os escolhidos e condena


os réprobos, da mesma forma, os sacramentos trazem a comunhão apenas
aos eleitos de Deus. Os não eleitos, não recebem os benefícios espirituais dos
sacramentos, antes condenam a si mesmos pela participação indigna nesses
atos. Somente os escolhidos por Deus, aceitam integralmente o evangelho,
recebem a salvação e participam dignamente dos sacramentos.

Atos 16,14-15: “Certa mulher, chamada Lídia, da cidade de Tiatira,


vendedora de púrpura, temente a Deus, nos escutava; o Senhor lhe abriu o
coração para atender às coisas que Paulo dizia. Depois de ser batizada, ela
e toda a sua casa, nos rogou, dizendo: Se julgais que eu sou fiel ao Senhor,
entrai em minha casa e aí ficai. E nos constrangeu a isso”.

AS MARCAS DA IGREJA

O que distingue uma verdadeira igreja é a pregação fiel da Palavra e a


aceitação e obediência a ela como regra de vida e fé para todos os crentes. A
correta administração dos sacramentos e a disciplina na igreja são
dependentes e consequentes da observação da Palavra de Deus. A correta e
fiel pregação da Palavra é a mais importante marca da igreja visível; da
Palavra fiel dependem a correta ministração dos sacramentos e a disciplina,
pois esses são consequência da observância da Palavra e não o contrário.

Não se deve, jamais, firmar a Palavra de Deus em base de atos humanos, mas
os atos humanos devem ser restritos à Palavra de Deus, esse é o evangelho
de Cristo e qualquer atitude em contrário é abominável perante Deus e
perante os cristãos verdadeiros.

Se a observância da Palavra é a marca fundamental da igreja, a fuga ou


falseamento da verdade inabilita uma igreja de ser considerada cristã. Por
esse motivo, a necessidade da disciplina eclesiástica é muito mais importante
com relação às questões doutrinárias do que com relação ao comportamento
moral dos crentes.
Os membros de uma denominação cristã que ignoram, confundem ou
negam os artigos de fé da igreja devem ser disciplinados com decisão e
energia, em casos de resistência excluídos da congregação.

A vocação missionária da igreja:

As instruções que Jesus deixou à igreja foi a de pregar o evangelho a toda


criatura em todos os lugares do mundo. A igreja cristã distingue-se de todas
as religiões existentes pela sua vocação missionária, é função e obrigação da
igreja propagar o verdadeiro evangelho em todo o mundo.

Mateus 28,18-20: “Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a


autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de
todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito
Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E
eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século”.

AS OBRIGAÇÕES DA IGREJA

A igreja tem o poder espiritual, que é exercido em nome de Cristo e pela


operação do Espírito, e o poder ministerial que deve ser exercido
estritamente de acordo com a Palavra. Esse poder ministerial é derivado de
Cristo e da Palavra e cria mais obrigações do que direitos, para a igreja. Essas
obrigações, que provém do poder da igreja, são as seguintes:

1 - Zelar pela preservação da Palavra: Na igreja fiel, a Palavra deve estar


acima de todos os interesses pessoais, financeiros ou sociais dos eclesiásticos
ou da congregação.

1 Timóteo 1, 3-4: “Quando eu estava de viagem, rumo da Macedônia, te


roguei permanecesses ainda em Éfeso para admoestares a certas pessoas, a
fim de que não ensinem outra doutrina, nem se ocupem com fábulas e
genealogias sem fim, que, antes, promovem discussões do que o serviço de
Deus, na fé”.

2 - Ministração correta dos sacramentos: Os sacramentos devem ser


ministrados de acordo com as instruções de Cristo e da Palavra, sendo que
os únicos sacramentos ordenados por Nosso Senhor são o batismo e a Ceia
do Senhor.

Mateus 28,19: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações,


batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”.
Lucas 22,19: “E, tomando um pão, tendo dado graças, o partiu e lhes deu,
dizendo: Isso é o meu corpo oferecido por vós; fazei isso em memória de
mim”.

3 – As regras de fé da igreja: Todas as denominações precisam dar uma


definição clara e objetiva das regras de fé e símbolos da igreja, estabelecendo
de forma inequívoca a identidade da denominação e a profissão de fé a ser
assumida pelos crentes que fazem ou farão parte da membresia da igreja.
Essas confissões de fé têm o intuito de preservar o equilíbrio espiritual dos
crentes servindo de baliza e julgamento em questões doutrinárias.

A profissão de fé: A grande maioria das igrejas evangélicas exige do crente,


no ato do batismo, uma profissão de fé aceitando sem reservas a Escritura e
as regras de fé da igreja como normas de fé e vida a partir daquele momento.
Infelizmente, os crentes, de forma generalizada, não levam a sério essa
profissão de fé, seja por ignorância ou por descaso, transformando as igrejas
atuais em uma diversidade de crenças digna de admiração, pois como é
possível conviver de forma doutrinariamente sadia em meio a tantas crenças
diversas?

Atos 15,24-29: “Visto sabermos que alguns que saíram de entre nós, sem
nenhuma autorização, vos têm perturbado com palavras, transtornando a
vossa alma, pareceu-nos bem, chegados a pleno acordo, eleger alguns
homens e enviá-los a vós outros com os nossos amados Barnabé e Paulo,
homens que têm exposto a vida pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo.
Enviamos, portanto, Judas e Silas, os quais pessoalmente vos dirão também
essas coisas. Pois pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não vos impor
maior encargo além dessas coisas essenciais: que vos abstenhais das coisas
sacrificadas a ídolos, bem como do sangue, da carne de animais sufocados
e das relações sexuais ilícitas; dessas coisas fareis bem se vos guardardes.
Saúde”.

4 – Disciplina: Estabelecer e cuidar da disciplina dentro da igreja, do ponto


de vista moral, mas principalmente no aspecto doutrinário, visto que o dano
provocado pelas falsas doutrinas e heresias dentro da igreja é
incomparavelmente mais danoso que o desvio moral e social, sendo
usualmente a causa e origem de outros desvios.

Gálatas 5,9-10: “Um pouco de fermento leveda toda a massa. Confio de vós,
no Senhor, que não alimentareis nenhum outro sentimento; mas aquele que
vos perturba, seja ele quem for, sofrerá a condenação”.
DA NECESSIDADE DOS CREDOS E CONFISSÕES

A Escritura é o único padrão de autoridade para o crente, visto que é a


Palavra de Deus. Todavia, a interpretação e compreensão da Escritura deve
ser buscada pelo homem com diligência e aplicação, orando sempre pela
revelação através do Espírito de Deus. Para preservar a sã doutrina e auxiliar
os crentes na compreensão da Palavra, a igreja preparou, ao longo dos
séculos, credos e confissões que se destinam a preservar as doutrinas e
práticas da vida cristã conforme a Escritura.

As heresias que surgem no seio da igreja são justamente caracterizadas por


esses desvios doutrinários e práticos nas doutrinas básicas da Escritura. O
grande perigo das heresias e falsas doutrinas é que elas têm aparência de
piedade e são agradáveis ao ego humano.

Por esses motivos, a elaboração dos credos e confissões é uma questão de


preservação da Igreja, para que não sejam pregadas doutrinas contraditórias
gerando confusão entre os crentes. É preciso reforçar que nenhum escrito
humano, após a definição do cânon bíblico é superior à Palavra, os credos e
confissões somente são válidos quando estritamente de acordo com a
Escritura.

As regras de fé: Todas as denominações têm sua constituição, onde constam


as regras de fé da igreja, bem como os credos e confissões adotados. Todos
os membros e oficiais da Igreja devem fazer obrigatoriamente uma profissão
de fé assumindo compromisso com a constituição, os credos e as confissões
adotadas pela Igreja.

O Sínodo da Igreja Presbiteriana dos E.U.A. adotou os documentos de


Westminster como padrões de doutrina na igreja em 1.729. Em 1.788, o
Sínodo ratificou esses documentos com pequenas alterações que não
implicam mudanças significativas.

Igreja Presbiteriana do Brasil:

A Constituição da IPB foi promulgada em 20/07/1950, em 1988 o Supremo


Concílio da IPB modificou a Constituição da Igreja adotando como única
regra de fé e prática, além da Escritura, os documentos de Westminster.
Essas decisões da IPB passam a ter obrigatoriedade e força normativa. O
artigo 44 obriga os membros e oficiais ordenados às regras de fé adotadas. O
artigo 28 afirma que os presbíteros e diáconos assumem compromisso em
sua crença na Sagrada Escritura como a Palavra de Deus, na lealdade à
Confissão de Fé, aos Catecismos de Westminster e à Constituição da Igreja.
Da mesma forma, a IPI - Igreja Presbiteriana Independente - também adota
a Confissão e os Catecismos de Westminster como as únicas regras de fé da
igreja além da Escritura.

OS CREDOS

1 – O Credo Apostólico: Na verdade, esse credo não foi escrito pelos


apóstolos, mas composto pelas igrejas cristãs ao final do segundo século.
Esse credo é um sumário da Fé Cristã e era exigido aos novos membros que
se filiavam ao cristianismo.

Credo Apostólico: “Creio em Deus o Pai, Todo-Poderoso, criador do Céu


e da Terra; e em Jesus Cristo, seu unigênito filho, nosso Senhor; o qual foi
concebido pelo Espírito Santo, nasceu da Virgem Maria, sofreu sob Pôncio
Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado; desceu ao Inferno; ressuscitou
dos mortos ao terceiro dia; subiu ao céu e sentou-se à destra de Deus o Pai,
Todo-Poderoso, donde há de vir para julgar os vivos e os mortos. Creio no
Espírito Santo; na Santa Igreja Católica (universal); na comunhão dos
santos; no perdão dos pecados; na ressurreição do corpo; e na vida eterna.
Amém”.

Desceu ao Hades:

A expressão “desceu ao inferno” não existia inicialmente, ela foi


acrescentada após o terceiro século como substitutiva de “morto e
sepultado”. No Credo de Atanásio aparece como “desceu às regiões
inferiores”, também como substituição da palavra “sepultado”. Até o século
VI essas expressões apareciam alternadamente nas versões dos credos.
Somente após o século VII essas expressões começaram a aparecer
conjuntamente: “morto e sepultado” ao mesmo tempo com “desceu ao
Hades”.

A “Descida ao Inferno” na tradição reformada:

A descida ao inferno representa os tormentos que Jesus Cristo sofreu na cruz


ao receber a ira divina que suportou em lugar dos eleitos em referência à dor
espiritual resultante do abandono de Deus na hora de sua morte. Na cruz do
calvário Cristo tomou sobre si as punições que eram devidas a todo povo de
Deus em todas as épocas do mundo.

2– O Credo Niceno:
Esse credo foi formulado com base no Credo dos Apóstolos com as seguintes
características:

-As cláusulas relativas à divindade de Cristo foram discutidas no Concílio


de Nicéia, na Bitínia, em 325 d.C.

-A cláusula ‘Filioque’ foi acrescida pelo concílio da Igreja Ocidental, em


Toledo, Espanha, em 569 d.C.

- As cláusulas relativas à divindade e à pessoa do Espírito Santo foram


acrescidas no Segundo Concílio de Constantinopla, em 581 d.C.

Em sua presente forma ele é o credo de toda a Igreja Cristã Ocidental, sendo
que a Igreja Grega rejeita a última fórmula acrescida (Filioque).

Credo Niceno: “Creio em um só Deus, o Pai, Todo-Poderoso, criador dos


Céus e da Terra e de todas as coisas, visíveis e invisíveis, e em um só Senhor
Jesus Cristo, o unigênito filho de Deus, gerado de seu Pai antes de todos os
mundos, Deus de Deus, Luz de Luz, o próprio Deus do próprio Deus, gerado,
não feito, sendo de uma só essência com o Pai; por meio de quem todas as
coisas foram criadas; que por nós homens, e para nossa salvação, desceu
do Céu e encarnou-se pelo poder do Espírito Santo na Virgem Maria, e fez-
se homem, e também por nós foi crucificado sob Pôncio Pilatos. Sofreu e foi
sepultado; e ao terceiro dia ressurgiu, segundo as Escrituras, e subiu ao Céu
e sentou-se à mão direita do Pai. E virá segunda vez com glória para julgar,
tanto os vivos quanto os mortos, cujo reino não terá fim. E creio no Espírito
Santo, Senhor e Doador da vida, o qual procede do Pai e do Filho (Filioque),
que juntamente com o Pai e o Filho é adorado e glorificado; o qual falou
pelos profetas. E creio numa só Igreja Católica e Apostólica; reconheço um
só batismo para remissão dos pecados; e espero pela ressurreição dos
mortos e a vida no mundo por vir”.

Geração: Esse é um termo infeliz, que pode ser confundido com a criação de uma nova pessoa. Deus, o Pai
e o Filho e o Espírito são co-eternos e auto-existentes na essência da divindade, o termo “geração” se refere
a funções na economia da Trindade e significa a relação de filiação eterna entre o Pai e o Verbo.

HERESIAS NA IGREJA PRIMITIVA

Esses credos e confissões se destinavam também a combater e esclarecer as


heresias que surgiram na igreja primitiva. As principais foram relativas à
natureza de Cristo e à negação da Trindade Divina. Essas heresias admitem
algumas variações; no resumo abaixo serão apresentadas as principais
variantes.
-Arianismo: Deus o Pai criou o Filho, que por sua vez, criou o Espírito
formando três deuses distintos em poder e natureza.

-Sabelianismo: Deus o Pai, manifesta-se de três formas diferentes conforme


a história da humanidade, como o Pai no VT, como o Filho na vinda de Jesus
e depois da morte de Cristo como o Espírito Santo.

- Apolinário: Afirmou que Jesus não possuía uma alma racional humana, o
Verbo de Deus seria a alma de Jesus.

- Adocianismo: Jesus era um homem comum que foi adotado pelo Pai após
sua morte.

- Monarquismo: Existe somente Deus o Pai.

- Marcionismo: O Deus cristão é somente o Deus do Novo Testamento.

- Priscilianismo: Jesus não era real, mas uma aparição (gnosticismo).

- Docetismo (gnosticismo): Jesus não veio em carne, o corpo de Jesus era


falso.

-Nestorianismo: Jesus era constituído por duas pessoas distintas, a divina e


a humana. Essa ideia foi condenada no Concílio de Éfeso, em 431 D.C., mas
foi, junto com o eutiquianismo a heresia mais poderosa surgida na igreja.

Eutiquianismo: A natureza divina absorveu a natureza humana de Cristo


constituindo uma só natureza. Essa ideia foi condenada no concílio da
Calcedônia, em 451 D.C.

- Orígenes: Defendia a existência prévia das almas.

CREDO DE CALCEDÔNIA (451 d.C.):

"Todos nós, com voz uníssona, ensinamos a fé num só e mesmo Filho, Nosso
Senhor Jesus Cristo, sendo o mesmo perfeito na divindade e o mesmo
perfeito na humanidade, o mesmo verdadeiramente Deus e verdadeiramente
homem, com alma racional e com corpo, da mesma substância do Pai quanto
à divindade e quanto à humanidade da mesma substância que nós, em tudo
semelhante a nós menos no pecado; o mesmo que desde a eternidade é
procedente do Pai por geração quanto à divindade e o mesmo que quanto à
humanidade nos últimos tempos foi gerado pela Virgem Maria, Mãe de
Deus, por nós e nossa salvação; sendo um só e mesmo Cristo, Filho, Senhor,
Unigênito, que nós reconhecemos como existente em duas naturezas, sem
confusão, sem mutação e sem divisão, sendo que a diversidade das naturezas
nunca foi eliminada pela união, ao contrário, a propriedade de cada uma
das naturezas ficou intata e ambas se encontram em uma só pessoa e uma
só hipóstase. O Filho não foi dividido ou separado em duas pessoas, mas é
um só e o mesmo a quem chamamos de Filho, Unigênito, Deus, Verbo,
Senhor, Jesus Cristo, como desde o início a respeito dele falaram os profetas
e o próprio Jesus Cristo nos ensinou e como nos foi transmitido pelo Símbolo
dos Padres".

A IMPORTÂNCIA DE CALCEDÔNIA

As modernas religiões que se intitulam “cristãs” têm adotado um Cristo tão


diverso do Jesus Cristo histórico descrito na bíblia, que, dificilmente podem
ser chamadas cristãs: Jesus é tido como um mero homem, um grande mestre,
uma pessoa de alto desenvolvimento espiritual através de muitas
reencarnações, uma manifestação de Deus sem realidade humana, uma
pessoa com natureza divina, o próprio Deus que abriu mão de seus atributos
(kenosis), uma figura sem realidade histórica criada pela imaginação dos
apóstolos (kerigma) e por aí vai, não existe limite para a imaginação desses
pretensos religiosos.

Mas quem é esse Jesus Cristo bíblico que faz parte da história da igreja e o
qual devemos aceitar conforme as Escrituras, os credos milenares da igreja
e as confissões reformadas? Se não conhecemos a realidade da pessoa e
natureza de Cristo, facilmente incorremos no erro de adorar a outrem (como
diz Agostinho) com consequências terríveis e inimagináveis: O inferno de
fogo eterno.

Só existe um Cristo verdadeiro, quem não está com ele é contra ele.

Mateus 12,30: “Quem não é por mim é contra mim; e quem comigo não
ajunta espalha”.

Veja a profundidade da afirmação acima, Jesus não diz: “Está contra mim”,
ele diz: “É contra mim”, a condenação não é temporária, é definitiva.

Por que isso? Quem não conhece Jesus Cristo não pode produzir bons frutos,
é sobre isso que Jesus adverte nos evangelhos.

Lucas 3,9: “E também já está posto o machado à raiz das árvores; toda
árvore, pois, que não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo”.
Os verdadeiros cristãos da atualidade jamais poderão sobrevalorizar os
credos da Igreja, os quais vieram a se firmar no concílio de Calcedônia, no
ano de 451 d.C.

É preciso regredir alguns anos no tempo para analisar as situações que


levaram a igreja a colocar essas definições da pessoa de Cristo em forma dos
credos elaborados.

A primeira ameaça de grande porte à pessoa de nosso bendito Senhor foi


trazida à luz pelo bispo Ário, de Antioquia. Essas ideias de Ário tiveram
origem na teologia adocianista de Paulo de Samosasta; segundo Ário, Cristo
havia sido criado pelo Pai. Uma criatura, superior aos anjos, mas não
consubstancial com o Pai, ou seja: Uma mera criatura!

Ário havia negado a divindade de Cristo, segundo ele, haviam três deuses
distintos, o Pai, em uma categoria superior, depois Cristo e o Espírito Santo
como seres criados.

Ário afirmara que houve um tempo em que o Filho não existia. Ao negar a
divindade de Cristo, o bispo Ário introduziu na igreja o politeísmo, com a
existência de três deuses distintos entre si. Essa heresia foi condenada no
Concílio de Nicéia, no ano de 325 d.C. Nesse concílio, o bispo Ário e todos
os seus seguidores foram desligados da igreja para sempre.

Credo Niceno: “Creio em um só Deus, o Pai, Todo-poderoso, criador dos


Céus e da Terra e de todas as coisas, visíveis e invisíveis, e em um só Senhor
Jesus Cristo, o unigênito filho de Deus, gerado de seu Pai antes de todos os
mundos, Deus de Deus, Luz de Luz, o próprio Deus do próprio Deus, gerado,
não feito, sendo de uma só substância com o Pai; por meio de quem todas
as coisas foram criadas...”.

Existem, na verdade, alguns termos que pedem definição mais precisa,


vejamos:

- Adocianismo: Jesus era um homem de grande virtude que foi adotado por
Deus como filho, e, por seus méritos nessa vida, foi alçado à divindade.

- Trindade Ontológica: Esse termo diz respeito à natureza da Trindade


Divina – Três pessoas (homousias) distintas, auto-existentes e eternas na
essência da divindade.

- Trindade Econômica: Esse termo diz respeito às funções de cada uma das
pessoas divinas na redenção do homem (e anjos).
Dessa forma, quando o Credo diz que o Filho foi gerado, não se refere à
pessoa do Verbo, mas a funções, que também não foram criadas, pois
existem de forma simples, eterna, e imutável na economia da Trindade – O
Pai e o Filho e o Espírito Santo.

Assim sendo, o Credo não está dando a entender que o Verbo foi gerado, no
sentido de criação, mas está afirmando que o Verbo é o Filho eternamente,
não houve jamais uma situação em que o Filho não existisse. A relação de
filiação entre a primeira e a segunda pessoa da Trindade é eterna, imutável e
auto existente, tanto quanto a própria Trindade, tanto quanto o próprio Deus.

Todavia, após o Concílio de Nicéia, muitos perigos continuaram a ameaçar


a concepção da pessoa de Cristo, o mais sério veio de Apolinário, ele julgou
necessário encontrar uma explicação para a união das naturezas de Cristo em
uma única pessoa. A forma que ele encontrou foi negar a realidade da
humanidade de Cristo.

Apolinário afirmou que a natureza do homem era tricotômica em sua


natureza, ou seja, o homem seria constituído de corpo, alma e espírito, onde
a alma seria o princípio da vida animal e o espírito o elo de ligação com
Deus. Segundo ele, a natureza divina do verbo absorveu o espírito de Jesus,
formando um ser híbrido que não era homem nem Deus.

Apolinário teve muitos seguidores, e por isso, a igreja reuniu-se novamente


em Constantinopla, no ano de 381 d.C. proclamando a perfeição da
humanidade e da divindade de Cristo, banindo Apolinário e seus seguidores
do convívio da igreja.

Após o Concílio de Constantinopla, não houve a paz esperada, surgindo


novas contestações sobre a pessoa e natureza de Jesus, apresentando-se duas
grandes heresias opostas que colocavam em jogo os credos anteriores: O
monofisismo de Eutiques e a dupla personalidade de Nestório.

Nestorianismo: Existem em Jesus duas pessoas distintas: O Homem Jesus e


o Logos divino.

Monofisismo ou Eutiquismo: Em Jesus só há uma natureza e uma só


pessoa, a natureza divina absorveu a natureza humana.

O Nestorianismo já havia sido condenado no Concílio de Éfeso em 431 d.C.,


mas voltara com força e o monofisismo de Eutíquio ameaçava a verdadeira
pessoa de Jesus, negando a realidade da sua natureza humana.
Para combater essas heresias poderosas, reuniu-se a igreja novamente no
Concílio de Calcedônia, que se definiu rigorosamente contra as duas
naturezas e contra a fusão das naturezas.

Credo de Calcedônia: “Todos nós, com voz uníssona, ensinamos a fé num


só e mesmo Filho (uma única pessoa – o Verbo de Deus), Nosso Senhor
Jesus Cristo, sendo o mesmo perfeito na divindade e o mesmo perfeito na
humanidade, o mesmo verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem,
com alma racional e com corpo, da mesma substância do Pai quanto à
divindade e quanto à humanidade da mesma substância que nós, em tudo
semelhante a nós menos no pecado...”.

Por tudo isso, você que se confessa cristão e quer realmente dar significado
à sua crença, essa é a pessoa que você deve venerar e adotar como o único e
verdadeiro mediador entre Deus e o homem: Jesus Cristo, verdadeiro homem
e verdadeiro Deus em uma única pessoa – O Verbo de Deus.

Essa é uma decisão milenar da igreja, corroborada posteriormente pelo


Credo de Atanásio, pelas Institutas e por praticamente todas as confissões
reformadas dos séculos XVI e XVII. Quem acredita em outro Jesus, que não
é esse de Calcedônia, não pode ser chamado cristão em hipótese alguma.

O nome da pessoa, na antiguidade, trazia em seu bojo toda a realidade do ser


e da natureza da pessoa. Veja a importância do nome, e consequentemente
da pessoa de Jesus no verso abaixo.

João 3,18: “Quem nele crê não é julgado; o que não crê já está julgado,
porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus”.

Essas palavras de Isaías, abaixo, são atribuídas a Cristo pelo apóstolo Paulo,
veja a importância que é dada ao nome de Deus.

Isaías 45,23: “Por mim mesmo tenho jurado; da minha boca saiu o que é
justo, e a minha palavra não tornará atrás. Diante de mim se dobrará todo
joelho, e jurará toda língua”.

Isaías 42,8: “Eu sou o SENHOR, esse é o meu nome; a minha glória, pois,
não a darei a outrem, nem a minha honra, às imagens de escultura”.

Isaías 48,9: “Por amor do meu nome, retardarei a minha ira e por causa da
minha honra me conterei para contigo, para que te não venha a exterminar”.
Em Malaquias, Deus se manifesta contra os sacerdotes que desprezam o seu
nome.

Malaquias 1,6: “O filho honra o pai, e o servo, ao seu senhor. Se eu sou pai,
onde está a minha honra? E, se eu sou senhor, onde está o respeito para
comigo? — diz o SENHOR dos Exércitos a vós outros, ó sacerdotes que
desprezais o meu nome. Vós dizeis: Em que desprezamos nós o teu nome?”.

“Minha honra não darei a outrem...”.

Se Deus preza tanto o seu nome, é que ele preza sua verdadeira natureza,
assim como àquele a quem enviou, essa é sua honra. Deus não aceita
adoração que não seja dirigida a Ele, em o nome de Jesus, exatamente
conforme eles são revelados na Escritura.

Resumindo, o Credo de Calcedônia não é um ponto inicial para a procura da


verdadeira natureza de Cristo, mas um ponto final que deve ser respeitado e
defendido com ardor pelos cristãos de todas as épocas.

Não nos cabe articular ou concluir absolutamente nada após Calcedônia:


Estacionar em Calcedônia! Paramos por aqui.

Extra calvinisticum:

A natureza divina de Cristo é onipresente e não está encerrada no corpo


humano, existindo cosmicamente, fora da natureza humana assumida pelo
Verbo, mas sendo pessoalmente ligada a ela, sem assunção, mistura ou
confusão (ver Communicatio Idiomatum).

Cristo - uma só pessoa com duas naturezas: divina e humana, perfeito


homem e perfeito Deus. Essa definição foi aprovada nos concílios de Éfeso
e Calcedônia, posteriormente, foi composto o Credo Atanasiano, que explica
extensivamente todas as afirmações de Calcedônia. Segue abaixo a
transcrição das partes relativas à natureza de Cristo.

O credo de Atanásio

Credo Atanasiano (27 a 47): “Mas é necessário à eterna salvação que se


creia também fielmente na encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Portanto, constitui fé genuína que creiamos e confessemos que Nosso Senhor
Jesus Cristo é tanto Deus como Homem. Ele é Deus, gerado desde a
eternidade da substância do Pai; é homem nascido no tempo, da substância
de sua mãe. Perfeito Deus, perfeito homem, subsistindo de uma alma
racional e carne humana. Igual ao Pai no que respeita à sua divindade,
menor do que o Pai com relação à sua humanidade. O qual, embora seja
Deus e homem, não é dois mas um só Cristo. Mas um, não pela conversão
da sua divindade em carne, mas por sua divindade haver assumido sua
humanidade. Um, não, de modo algum, pela confusão de substâncias, mas
pela unidade de pessoa. Pois assim como corpo e alma constituem um só
homem, assim Deus e homem constituem um só Cristo. O qual sofreu por
nossa salvação, desceu ao Hades, ressuscitou dos mortos ao terceiro dia.
Ascendeu ao céu, sentou à direita de Deus Pai onipotente, de onde virá para
julgar os vivos e os mortos”.

CREDOS E CONFISSÕES DAS DIFERENTES DENOMINAÇÕES

A IGREJA DE ROMA: APÓS A INSTAURAÇÃO DA REFORMA O PAPA PAULO III


CONVOCOU O CONCÍLIO DE TRENTO (1545 A 1563), OS CÂNONES E DECRETOS DO CONCÍLIO
DE TRENTO CONSTITUEM A MÁXIMA NORMA DOUTRINAL DA IGREJA ROMANA. OS CÂNONES
EXPLICAM CADA DECRETO E AO MESMO TEMPO CONDENAM A DOUTRINA PROTESTANTE
RELATIVA AOS TÓPICOS ABORDADOS. NESSE CONCÍLIO FORAM ADOTADOS PELA IGREJA
ROMANA OS LIVROS APÓCRIFOS QUE PASSARAM A FAZER PARTE DA BÍBLIA CATÓLICO
ROMANA. DEPOIS DISSO VÁRIAS BULAS E DOCUMENTOS PAPAIS FORAM IMPOSTOS COMO
PADRÕES DE FÉ DESSA IGREJA. COM RELAÇÃO À PESSOA DE CRISTO A IGREJA ROMANA
ADOTA O MESMO PADRÃO DE CALCEDÔNIA.

A IGREJA GREGA: NO INÍCIO DO SÉCULO VII A IGREJA OCIDENTAL E A IGREJA


ORIENTAL, CONHECIDA COMO IGREJA GREGA, FORAM SE DISTANCIANDO ATÉ SUA
COMPLETA DIVISÃO NO SÉCULO XI. A IGREJA GREGA AUTODENOMINOU-SE IGREJA
ORTODOXA PORQUE OS CREDOS EXISTENTES NA IGREJA FORAM PRODUZIDOS NO ORIENTE.
A BASE DOUTRINAL DA IGREJA GREGA SÃO OS CREDOS JÁ MENCIONADOS. A IGREJA GREGA
ABRANGE A GRÉCIA, OS CRISTÃOS DO IMPÉRIO TURCO E A GRANDE MAIORIA DOS CRISTÃOS
RUSSOS. ELA POSSUI TAMBÉM CONFISSÕES MODERNAS: “CONFISSÃO DE GENADIUS”, DE
1543 D.C. E A CONFISSÃO ORTODOXA” DE PEDRO MOGILAS, DE 1642 D.C.

A REFORMA

A REFORMA ORIGINOU-SE DA IGREJA OCIDENTAL, NO INÍCIO DO SÉCULO XVI, ELA DIVIDIU-


SE EM DOIS RAMOS PRINCIPAIS, CONFORME DESCRITO ABAIXO: A IGREJA LUTERANA E AS
IGREJAS REFORMADAS OU CALVINISTAS.

A IGREJA LUTERANA: AS IGREJAS LUTERANAS ABRANGEM OS PROTESTANTES DA


ALEMANHA, A MAIORIA DAS PROVÍNCIAS BÁLTICAS DA RÚSSIA, DINAMARCA, NORUEGA,
SUÉCIA E AMÉRICA. SEUS CREDOS E CONFISSÕES SÃO:

OS CATECISMOS MAIOR E MENOR DE MARTINHO LUTERO: PREPARADOS POR LUTERO


EM 1529 D.C.

A CONFISSÃO DE AUGSBURG: O ÚNICO PADRÃO ACEITO POR TODAS AS LUTERANAS, FOI


ELABORADA POR LUTERO E MELANCHTON E APRESENTADA À DIETA IMPERIAL EM
AUGSBURG, CIDADE ALEMÃ SITUADA NA BAVIERA, NO ANO DE 1530 D.C. ESSA É A MAIS
ANTIGA CONFISSÃO PROTESTANTE.

A APOLOGIA DA CONFISSÃO DE AUGSBURG : FOI ELABORADA POR MELANCHTON E


SUBSCRITA PELOS TEÓLOGOS LUTERANOS EM 1537 D.C., EM ESMERALCADE.

OS ARTIGOS DE ESMERALCADE (OU ESMALCADE - SCHMALKALDISCHER BUND):


ELABORADA POR LUTERO E SUBSCRITA PELOS TEÓLOGOS LUTERANOS EM ESMERALCADE,
NA ALEMANHA, NO ANO DE 1537.

A FÓRMULA DA CONCÓRDIA: PREPARADA POR ANDREAS ALTHAMER E OUTROS


TEÓLOGOS, EM VISTA DE CONTROVÉRSIA SURGIDAS QUANTO À GRAÇA DIVINA E A VONTADE
HUMANA NA REGENERAÇÃO E À PRESENÇA DE JESUS NA EUCARISTIA. APESAR DESSA
CONFISSÃO SER MAIS DESENVOLVIDA QUE A DE AUGSBURG ELA NÃO É ACEITA
UNIVERSALMENTE PELAS IGREJAS LUTERANAS.

AS IGREJAS REFORMADAS OU CALVINISTAS

A IGREJA REFORMADA, OU CALVINISTA, FOI CONSTITUÍDA INICIALMENTE NA ALEMANHA


PELAS IGREJAS QUE ADOTARAM O CATECISMO DE HEIDELBERG, MAIS AS IGREJAS
PROTESTANTES DA SUÍÇA, FRANÇA, HOLANDA, INGLATERRA E ESCÓCIA, OS BATISTAS
INDEPENDENTES DA INGLATERRA E AMÉRICA E VÁRIOS RAMOS DA IGREJA PRESBITERIANA
DA INGLATERRA E AMÉRICA. OS ARTIGOS E CONFISSÕES DA IGREJA REFORMADA SÃO OS
SEGUINTES:

AS TRÊS FORMAS DE UNIDADE

- O CATECISMO DE HEIDELBERG: PREPARADO POR ZACHARIAS URSINO E CASPER


OLEVIANO EM 1562. SEU PROPÓSITO FOI O DE ASSEGURAR HARMONIA NO PALATINATO (O
ESTADO GERMÂNICO) E ASSEGURAR O FUNDAMENTO PARA INSTRUÇÃO RELIGIOSA NAS
PRÓXIMAS GERAÇÕES.

- A CONFISSÃO BELGA: PREPARADA EM 1561, SURGIU DA PERSEGUIÇÃO TRAZIDA SOBRE


OS REFORMADOS NA BAIXA ESCÓCIA POR PHILIP II. ESSA PERSEGUIÇÃO PRODUZIU UM
NÚMERO DE MÁRTIRES QUE “EXCEDEU O DE QUALQUER OUTRA IGREJA PROTESTANTE
DURANTE O SÉCULO DEZESSEIS, E TALVEZ ATÉ O DE TODA A IGREJA PRIMITIVA SOB O IMPÉRIO
ROMANO”. FOI PREPARADA POR GUIDO DE BRÉS COM A AJUDA DE ADRIEN DE SAVARIA, H.
MODETUS E G. WINGEN. FOI APRESENTADA A PHILIP II NA ESPERANÇA DE GANHAR
ALGUMA TOLERÂNCIA PARA A FÉ CALVINISTA.

- OS CÂNONES DE DORT: O SÍNODO DE DORT FOI CONSTITUÍDO POR PROFESSORES,


PASTORES E PRESBÍTEROS DA IGREJA DA HOLANDA, DEPUTADOS DAS IGREJAS DA
INGLATERRA, ESCÓCIA, HESSE, BREMEN, PALATINADO E SUÉCIA, NO PERÍODO DE 1618 A
1619. ESSE SÍNODO FOI UMA RESPOSTA AOS REMONSTRANTES ARMINIANOS CONFIRMANDO
CATEGORICAMENTE A SOBERANIA DE DEUS E A INCAPACIDADE DO HOMEM NA SALVAÇÃO.

ESSAS TRÊS CONFISSÕES CONSTITUEM A CHAMADA: “TRÊS FORMAS DE UNIDADE”.


A SEGUNDA CONFISSÃO HELVÉTICA: PREPARADA POR HEIRICH DE BULLINGER E
PUBLICADA EM 1566. POR FREDERICO III DA PALATINA (ALEMANHA). FOI TAMBÉM
ADOTADA PELAS IGREJAS REFORMADAS DA SUÍÇA, FRANÇA E ESCÓCIA.

OS TRINTA E NOVE ARTIGOS DA IGREJA DA INGLATERRA: PREPARADOS POR


CROMWELL E RIDLEY EM 1551, REVISADOS POR ORDEM DA RAINHA ELISABETH EM 1552.
ESSES ARTIGOS SÃO NITIDAMENTE CALVINISTAS E SÃO ADOTADOS PELAS IGREJAS
EPISCOPAIS. OS TRINTA E NOVE ARTIGOS DEVERIAM CONSTITUIR A BASE DA CONFISSÃO DE
FÉ DE WESTMINSTER, MAS DEPOIS DE UM INÍCIO COMPLICADO, A ASSEMBLEIA DECIDIU-SE
POR UMA NOVA CONFISSÃO.

A CONFISSÃO E OS CATECISMOS DE WESTMINSTER

ESSES SÃO OS PADRÕES DOUTRINAIS DE TODAS AS IGREJAS PRESBITERIANAS DE ORIGEM


INGLESA E ESCOCESA, ADOTADOS TAMBÉM PELAS IGREJAS PRESBITERIANAS DOS EUA E
BRASIL.

A CONFISSÃO DE WESTMINSTER, O CATECISMO MAIOR (1648) E O CATECISMO MENOR


(1647) FORAM REDIGIDOS NA INGLATERRA, NA ABADIA DE WESTMINSTER, POR
CONVOCAÇÃO DO PARLAMENTO. A ASSEMBLEIA FUNCIONOU DE 1/7/1643 A 22/2/1649. O
OBJETIVO PRIMÁRIO ERA A REVISÃO DOS TRINTA E NOVE ARTIGOS DA IGREJA DA
INGLATERRA. TRABALHARAM NO TEXTO DA CONFISSÃO 121 TEÓLOGOS E 30 LEIGOS
NOMEADOS PELO PARLAMENTO (20 DA CASA DOS COMUNS E 10 DA CASA DOS LORDES), 8
REPRESENTANTES ESCOCESES, 4 PASTORES E 4 PRESBÍTEROS.

OS PRINCIPAIS DEBATES NÃO FORAM DE ORDEM TEOLÓGICA, POIS HAVIA UNIDADE QUANTO
À DOUTRINA DA SALVAÇÃO, EMBORA HOUVESSE DIVERSIDADE QUANTO À ECLESIOLOGIA, A
ORDEM NA IGREJA. NESSE PONTO, HAVIAM QUATRO PARTIDOS: EPISCOPAIS,
INDEPENDENTES (CONGREGACIONAIS), PRESBITERIANOS E ERASTIANOS (ERASTUS DE
HEIDELBERG) , ESSES ÚLTIMOS, DEFENDIAM QUE A AUTORIDADE FINAL DA IGREJA DEVERIA
SER DO ESTADO E QUE O TRABALHO DO PASTOR DEVERIA SER SOMENTE DE ENSINO.

OS CATECISMOS DE WESTMINSTER: O BREVE CATECISMO FOI ELABORADO PARA INSTRUIR


AS CRIANÇAS; O CATECISMO MAIOR, ESPECIALMENTE PARA A EXPOSIÇÃO NO PÚLPITO, MAS
NÃO EXCLUSIVAMENTE. ELES SUBSTITUÍRAM EM GRANDE PARTE OS CATECISMOS E AS
CONFISSÕES MAIS ANTIGOS ADOTADOS PELAS IGREJAS REFORMADAS DE FALA INGLESA.
APESAR DE A TEOLOGIA DOS CATECISMOS E DA CONFISSÃO DE WESTMINSTER SER A
MESMA, SENDO POR ISSO SEMPRE ADOTADOS OS TRÊS, OS MAIS USADOS SÃO O CATECISMO
MENOR E A CONFISSÃO.

ESSES DOCUMENTOS DE WESTMINSTER FORAM APROVADOS PELA ASSEMBLEIA GERAL DA


IGREJA DA ESCÓCIA. ELES TIVERAM E TÊM GRANDE INFLUÊNCIA NO MUNDO DE FALA
INGLESA, MÁXIMA ENTRE OS PRESBITERIANOS, EMBORA TAMBÉM TENHAM SIDO ADOTADOS
POR DIVERSAS IGREJAS BATISTAS E CONGREGACIONAIS. NO BRASIL, ESSES CREDOS SÃO
ADOTADOS PELA CONSTITUIÇÃO DA IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL, PRESBITERIANA
INDEPENDENTE E PRESBITERIANA CONSERVADORA.

A CONFISSÃO DE SAVOY: CROMWEL CONVOCOU UMA CONVENÇÃO CONGREGACIONAL


EM SAVOY NA INGLATERRA, EM 1658, APROVOU PARTE DA CFW E REDIGIU UMA NOVA
CONFISSÃO. ESSA CONFISSÃO, NO ENTANTO, É TÃO PRÓXIMA DA CFW QUE OS
INDEPENDENTES MODERNOS TÊM ABANDONADO SEU USO E ADOTADO A CFW. TODAS AS
ASSEMBLEIAS, QUE SE REUNIRAM NA INGLATERRA, APÓS A CFW, TEM ENDOSSADO OU
ADOTADO A CFW EM SUA FÉ.

O USO DE CATECISMOS E CONFISSÕES REFORMADOS

LIMITES: OS CREDOS EVANGÉLICOS, NO QUE SE REFERE À FORMULAÇÃO DOUTRINÁRIA,


SÃO RELEVANTES. DEPRECIÁ-LOS, É UMA NEGAÇÃO PRÁTICA DA DIREÇÃO QUE, NO
PASSADO, O ESPÍRITO SANTO DEU À IGREJA. OS CREDOS SÃO UMA RESPOSTA DO HOMEM À
PALAVRA DE DEUS E SUMARIZAM OS ARTIGOS ESSENCIAIS DA FÉ CRISTÃ. OS CREDOS
PRESSUPÕEM A FÉ, MAS NÃO A GERAM; ESSA É OBRA DO ESPÍRITO SANTO, ATRAVÉS DA
PALAVRA.

OS CREDOS E CONFISSÕES NÃO SUBSTITUEM A ESCRITURA, MAS ESCLARECEM E DIRIGEM O


CONHECIMENTO ALICERÇADO EM DOIS MIL ANOS DE DESENVOLVIMENTO DA DOUTRINA. A
QUESTÃO REAL ENTRE A IGREJA E OS IMPUGNADORES DOS CREDOS É QUESTÃO ENTRE A FÉ
PROVADA DO CORPO COLETIVO DO POVO DE DEUS E O JUÍZO PRIVADO E A SABEDORIA NÃO
AUXILIADA DO CONTESTADOR.

OS CREDOS NÃO ESTABELECEM O LIMITE DA FÉ, ANTES A NORTEIAM. AS ESCRITURAS


SEMPRE SERÃO MAIS RICAS QUE QUALQUER PRONUNCIAMENTO ECLESIÁSTICO, POR MAIS
BEM ELABORADO E FIEL QUE SEJA. A FIRMEZA E VIVACIDADE DA TEOLOGIA REFORMADA
ESTÃO JUSTAMENTE EM BASEAR FIELMENTE SEU SISTEMA EM TODO O DESÍGNIO DE DEUS,
ATRAVÉS DA SUA PALAVRA.

A IDEIA DE CREDOS E ESTUDOS DOUTRINÁRIOS DESAGRADAM A MUITAS PESSOAS, QUE OS


IMAGINAM COMO DESNECESSÁRIOS À VIDA CRISTÃ. NESSA PERSPECTIVA, A DOUTRINA TEM
POUCO VALOR; O QUE IMPORTA É A “VIDA CRISTÔ COM ÊNFASE NAS SENSAÇÕES E
EXPERIÊNCIAS, ENCERRANDO A PALAVRA DE DEUS EM UM EVANGELHO PURAMENTE ÉTICO
E SOCIAL, TRANSFORMANDO CRISTO EM UM MERO EXEMPLO DE VIDA.

OS FUNDAMENTOS DA IGREJA

O apóstolo Paulo compara a igreja a um edifício e descreve os fundamentos


do edifício: Os profetas, os apóstolos e Jesus Cristo, que é a pedra
fundamental. Em cima desse alicerce o edifício cresce para se tornar o
templo de Deus. Da mesma forma os crentes, em todos os tempos, também
crescem moldados nesses fundamentos.

Efésios 2,20-22: “Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas,


sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular; no qual todo o edifício, bem
ajustado, cresce para santuário dedicado ao Senhor, no qual também vós
juntamente estais sendo edificados para habitação de Deus no Espírito”.

O verdadeiro crente não se converte ao entrar no templo, a preparação do


crente é uma obra da graça de Deus; antes de receber a fé e o arrependimento,
o crente é chamado, justificado e preparado através do Espírito para o
ingresso no Templo. Os crentes eleitos, somente esses, são as pedras que
edificam o templo, elas não são preparadas no local, mas chegam todas
preparadas previamente para serem colocadas na construção, como relatado
figuradamente no Velho Testamento durante a construção do Templo de
Salomão.

1 Reis 6,7: “Edificava-se a casa com pedras já preparadas nas pedreiras,


de maneira que nem martelo, nem machado, nem instrumento algum de ferro
se ouviu na casa quando a edificavam”.

Deus forneceu a Moisés instruções detalhadas quanto à construção do


templo, essas instruções foram especificadas em todos os pormenores, assim
também a preparação dos crentes é uma obra grandiosa levada a efeito pelo
Espírito Santo. Silenciosa e continuamente o Espírito atua na vida dos eleitos
de Deus, transformando seus corações, infundindo neles a fé em Cristo e o
arrependimento para remissão dos pecados. O crente assim transformado não
é meramente um membro de uma igreja local, mas um verdadeiro filho de
Deus chamado para receber a justiça perfeita que há em Cristo.

2 coríntios 3,3: “Estando já manifestos como carta de Cristo, produzida pelo


nosso ministério, escrita não com tinta, mas pelo Espírito do Deus vivente,
não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne, isso é, nos corações”.

Essa obra do Espírito não é percebida de imediato, em um momento de sua


vida a pessoa fica insatisfeita consigo mesma, com sua vida, aparecem novos
interesses, novas propostas, novas aspirações. Isso fica claro nas palavras de
David Martin Lloyd Jones:

Lloyd Jones: “Ser cristão é estar sujeito a uma energia e um poder que está
acima do nosso entendimento”.

Esse é o milagre do novo nascimento, não é visível, não é perceptível, mas é


real. O cristão nascido de novo é alguém que só pode ser entendido pelos
verdadeiros cristãos, igualmente modelados pelo Espírito. O chamado e a
preparação dos filhos de Deus são fatos, e Jesus revela como isso acontece.

João 3,7-8: “Não te admires de eu te dizer: importa-vos nascer de novo. O


vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para
onde vai; assim é todo o que é nascido do Espírito”.

Mesmo os ateus tem uma noção inconsciente do novo nascimento, veja


abaixo uma declaração do dramaturgo inglês George Bernard Shaw, ateu
convicto:
Bernard Shaw: “A verdadeira virtude não consiste em evitar o pecado, mas
em não desejá-lo”.

A Igreja de Deus: Enfim, a verdadeira Igreja é constituída de crentes


justificados, que crêem apenas nas doutrinas bíblicas, que acreditam somente
na justiça perfeita de Cristo para sua salvação e que regem suas vidas pela
Palavra, fora isso não há Igreja de Deus.

A ORGANIZAÇÃO DA IGREJA (LOCAL)

A igreja local é um corpo organizado e constituído, conforme as diferentes


denominações que a constituem, a Igreja de Deus não é passível de qualquer
providência da parte dos homens.

A igreja local, por sua vez, é constituída por ministros que são ordenados
conforme normas específicas. As decisões extraordinárias são tomadas por
assembleias com atribuições e poderes definidos conforme as regras de cada
denominação.

Existem basicamente quatro tipos de governo nas igrejas:

- Erastiano ou estatal: De acordo com esse sistema a igreja é submissa ao


estado, o chefe da igreja é o chefe de Estado e todos os ministros são
funcionários do estado. O governo da igreja, a disciplina e as punições são
exercidas pelo estado, cabendo aos ministros apenas a instrução religiosa e a
pregação da Palavra. As igrejas anglicana e luterana adotaram esse sistema
de governo.

- Episcopal: Quando sua organização é hierárquica entre os ministros e até


mesmo entre as igrejas, sendo a autoridade local e regional exercida por
ministros nomeados por autoridades eclesiásticas superiores. Os ministros
são diferenciados em cargos e funções, conforme uma hierarquia
estabelecida entre eles, e por sua vez, todos são subordinados a um ministro
geral que detém toda autoridade da igreja. Como exemplos: A igreja romana
e a ortodoxa.

- Congregacional: Conforme esse sistema, todas as igrejas locais são igrejas


completas e independentes, sua administração se faz através de assembleias
da congregação não se submetendo a nenhuma outra autoridade senão a sua
própria congregação. Os ministros da igreja são funcionários cuja função é
o ensino, a pregação e a administração da igreja. Como exemplos: Os batistas
e os congregacionais.
- Presbiteriano: Quando o governo e organização da igreja é efetuado por
uma assembleia de oficiais ordenados da igreja. Essa forma de governo foi
desenvolvida durante a Reforma Protestante, principalmente na Suíça e na
Escócia, sendo hoje adotada nas igrejas presbiterianas em todo mundo. Essa
forma de organização e governo consiste em vários concílios, começando
pelo concílio dos pastores e presbíteros da igreja local, seguindo-se o
Presbitério Regional formado por pastores e presbíteros representantes das
igrejas locais, acima desse, os Sínodos com autoridade sobre os Presbitérios
Regionais e sobre todos esses o Supremo Concílio como instância máxima
de apelação e decisões sobre os assuntos internos e externos da igreja.

Os meios de graça

Todas as bênçãos provenientes da salvação têm sua origem na graça de Deus,


unicamente pelas virtudes dos méritos de Cristo. Da mesma forma, os meios
de graça, são providos por Deus para aperfeiçoamento dos crentes durante
sua vida terrena. Berkhof considera como meios de graça somente a Palavra
e os sacramentos, Hodge inclui a oração.

Para efeitos desse estudo serão considerados como meios de graça: A


Palavra, a oração e os sacramentos. Em uma avaliação rigorosa, todos os
meios de graça provêm da observação e conhecimento da Palavra, e o
Espírito somente realiza a conversão por meio dela.

A igreja não é um meio de graça, nem tampouco uma distribuidora das


bênçãos de Deus, que são devidas aos méritos de Cristo e operadas pelo
Espírito. Deus faz chover sua chuva sobre bons e maus, mas as bênçãos
salvíficas são distribuídas pelo Espírito, somente naqueles que estão unidos
eternamente a Cristo (ver união mística).

Esses meios de graça não se referem à graça comum, pela qual Deus opera a
manutenção do universo, mas são meios da graça especial e salvadora, pela
qual Deus chama e aperfeiçoa seus eleitos, em Cristo e os regenera, através
do Espírito, ao longo de toda sua vida terrena.

Os meios de graça não agem de forma milagrosa ou excepcional, mas atuam


de forma contínua durante toda a vida do crente, preservando sua salvação,
fortalecendo sua fé e propiciando o crescimento na graça, que se traduz no
conhecimento de Deus, no amor aos irmãos e na fé em Cristo. Esses fatos,
somados, conduzem a um inevitável compromisso e mudança de vida que
consolida a salvação.
Além desses aspectos positivos, o crescimento na graça tem a função
principal de trazer ao crente a consciência de sua condição decaída e de sua
total incapacidade para conseguir ou preservar sua salvação. Calvino diz que,
se não sentimos uma profunda insatisfação com nossa natureza pecaminosa,
não estamos no caminho da salvação.

João 16,7-8: “Mas eu vos digo a verdade: convém-vos que eu vá, porque, se
eu não for, o Consolador não virá para vós outros; se, porém, eu for, eu vo-
lo enviarei. Quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e
do juízo”.

A Reforma e os meios de graça:

Os meios, utilizados pelos crentes e pela igreja, não têm o poder de transmitir
a graça de Deus ou de infundir a santidade. Esses meios não são, de tal forma,
indispensáveis à salvação que Deus não possa realizá-la à parte deles. A
salvação é fruto exclusivo da vontade de Deus em Cristo e Ele não necessita
obrigatoriamente da igreja, de seus ministros ou dos meios de graça para
realizar a salvação.

Lucas 23,40-43: “Respondendo-lhe, porém, o outro, repreendeu-o, dizendo:


Nem ao menos temes a Deus, estando sob igual sentença? Nós, na verdade,
com justiça, porque recebemos o castigo que os nossos atos merecem; mas
esse nenhum mal fez. E acrescentou: Jesus, lembra-te de mim quando vieres
no teu reino. Jesus lhe respondeu: Em verdade te digo que hoje estarás
comigo no paraíso”.

Todavia e apesar disto, os meios de graça são divinamente ordenados e


operados pelo Espírito, quando corretamente usados, em respeito e conexão
com a Palavra de Deus.

Os meios de graça não devem, em nenhuma hipótese, ser relegados como


coisa de somenos importância, mas tratados e aplicados com o devido
respeito em consonância com a Palavra, sendo necessários e próprios da
liturgia de toda igreja cristã e de seus membros em todo o mundo.

Quanto aos sacramentos, eles são uma representação visível da Palavra, e


por esse motivo, devem ser ministrados exatamente de acordo com essa
Palavra.

A LEI E O EVANGELHO
A lei é tudo aquilo que revela a vontade de Deus em forma de mandamento
ou proibição, enquanto o evangelho se refere à obra de reconciliação de Deus
com os seus eleitos, em e por Cristo.

Tanto a lei quanto o evangelho manifestam-se ao longo de toda a Escritura,


no Velho e Novo Testamentos. A obra de reconciliação de Deus com seus
eleitos, em qualquer dispensação, é realizada somente através da redenção
adquirida por Cristo, pois apesar do ato da redenção ser realizado no tempo,
o Decreto que a determina é eterno e tem validade em todas as épocas da
história da humanidade.

Apocalipse 13,8: “E adorá-la-ão todos os que habitam sobre a terra,


aqueles cujos nomes não foram escritos no Livro da Vida do Cordeiro que
foi morto desde a fundação do mundo”.

A lei é uma obra que prepara a recepção do evangelho, pois pela lei o homem
toma consciência de sua condição pecaminosa. A lei traz a consciência do
pecado e da incapacidade humana, criando a necessidade de um redentor,
isso já é um fato no livro de Gênesis; quando Deus expulsa Adão e Eva do
paraíso, coloca inimizade entre a mulher e Satanás e promete o redentor: A
semente da mulher que irá esmagar a cabeça da serpente.

Gênesis 3,15: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência


e o seu descendente. Esse te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar”.

Pode-se ver esse fato bastante claro na Epístola aos Hebreus, onde a Lei é
descrita como um estado preliminar do evangelho.

Hebreus 7,18-19: “Portanto, por um lado, se revoga a anterior ordenança,


por causa de sua fraqueza e inutilidade (pois a lei nunca aperfeiçoou coisa
alguma), e, por outro lado, se introduz esperança superior, pela qual nos
chegamos a Deus”.

Hebreus 9,15: “Por isso mesmo, ele é o Mediador da nova aliança, a fim de
que, intervindo a morte para remissão das transgressões que havia sob a
primeira aliança, recebam a promessa da eterna herança aqueles que têm
sido chamados.

Arminianismo:

Os arminianos (pelagianos), defensores do livre-arbítrio, não aceitam a graça


salvadora de Deus. Afirmam a necessidade da obediência evangélica e da fé
como mérito próprio, voltando, dessa forma, à doutrina das obras.
Transformam Cristo em um mero exemplo de vida e a bíblia como um livro
de histórias para incentivar o crescimento moral do homem. Não são cristãos
em hipótese alguma.

Dispensacionalismo:

Os dispensacionalistas apresentam a lei e o evangelho como opostos


absolutos, negando a divindade de Cristo, a Trindade Divina, a onisciência
de Deus e afirmando a possibilidade dos crentes do Velho Testamento terem
sido salvos pela obediência à lei e a realização de boas obras. Não são
cristãos em hipótese alguma.

O cristão está livre das leis cerimoniais e civis que eram voltadas
exclusivamente ao povo judeu, mas a lei moral de Deus continua sendo
determinante nas obrigações dos homens. Nenhuma pessoa é capaz de
cumprir a lei, mas a lei moral é a meta do cristão, que apesar de reconhecer
sua incapacidade, caminha sempre guiado pela lei e pelo evangelho.

Jesus resumiu essa lei moral em dois mandamentos que representam as


obrigações dos homens perante Deus e os seus semelhantes.

Lucas 10,27: “A isso ele respondeu: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o
teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu
entendimento; e: Amarás o teu próximo como a ti mesmo”.

Observe que, Jesus introduz nesses mandamentos, já existentes, o


“entendimento”, ou seja, a necessidade do conhecimento. Essa é uma
condição negada, direta ou indiretamente, pela nova igreja cristã, que se
dedica a enaltecer uma vida de alto padrão moral, resultando em um
moralismo vazio e o cultivo das aparências como regra de vida.

O uso da lei na Escritura:

A lei tem três utilizações principais na Escritura:

- O uso político: Atende ao propósito de restrição do pecado e promoção da


justiça.

Vemos abaixo, no livro do profeta Samuel, um claro exemplo de que a lei se


destinava à obediência, tanto de reis como do povo em geral, essa era uma
forma de limitar o poder dos soberanos e trazer o povo a uma obediência
superior àquela demandada pelos homens.
1 Samuel 15,22: “Porém Samuel disse: Tem, porventura, o SENHOR tanto
prazer em holocaustos e sacrifícios quanto em que se obedeça à sua
palavra? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar, e o atender,
melhor do que a gordura de carneiros”.

- O uso pedagógico: Traz ao homem a convicção do pecado e da consciência


de sua incapacidade em cumprir as exigências da lei.

O apóstolo Paulo aborda essa questão de forma clara na Carta aos Romanos,
onde ele explica que a função principal da lei é trazer o conhecimento do
pecado.

Romanos 3,20: “Visto que ninguém será justificado diante dele por obras
da lei, em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado”.

- O uso didático: Apresenta a lei moral como norma de vida para o crente.
O fato que o cumprimento perfeito da lei é impossível ao homem, não
impede que a lei seja colocada como meta na vida do crente.

Jesus afirma claramente que a lei moral continua sendo a norma de vida do
crente na Aliança da Graça.

Mateus 5,17: “Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim
para revogar, vim para cumprir”.

Os oráculos da igreja de Cristo

Os oráculos da igreja de Cristo são esses meios de graça determinados


biblicamente: A pregação e a leitura da Palavra, a oração e os sacramentos.

Os únicos sacramentos instituídos por Cristo são: A Ceia do Senhor e o


Batismo. Todos os outros sacramentos são invenções humanas e não devem
ser aceitos pelos cristãos.

A Palavra - João 5,39: “Examinai as Escrituras, porque julgais ter nelas a


vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim”.

A Ceia - Lucas 22,19: “E, tomando um pão, tendo dado graças, o partiu e
lhes deu, dizendo: Isso é o meu corpo oferecido por vós; fazei isso em
memória de mim”.

O Batismo - Mateus 28,19: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as


nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”.
As ordenanças

As ordenanças podem ser consideradas como o mandato cultural de todos os


crentes:

- O testemunho de Cristo e a pregação do evangelho.

Nos dias atuais, a irracionalidade tomou conta da igreja cristã, o


conhecimento do evangelho e o testemunho verbal têm sido relegados ao
esquecimento. Os novos crentes acreditam que darão o testemunho do
evangelho de Cristo através de sua própria justiça e santidade refletidas em
uma vida de alto padrão moral.

Esses crentes, cada dia mais farisaicos, reduzem Cristo a um mero exemplo
de vida, mas as ordenanças da igreja continuam e continuarão sempre as
mesmas: O testemunho verbal e a pregação - nenhum preceito humano pode
se sobrepor à Palavra de Deus.

Isaías 8,20: “À lei e ao testemunho! Se eles não falarem desta maneira,


jamais verão a alva”.

As ordenanças e o conhecimento

Todavia, se o conhecimento é relegado, como darão testemunho daquele que


não conhecem? Como fica a missiologia da igreja confiada às mãos de quem
não conhece o evangelho real? Isso tem resultado em um número
inimaginável de falsos conversos, que acreditam mais no poder do homem
que na soberania de Deus.

João 17,3: “E a vida eterna é essa: que te conheçam a ti, o único Deus
verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste”.

Cristo, o Cabeça da igreja

A igreja foi feita para Cristo e não Cristo para a igreja

Jesus Cristo é o fundador da igreja e o Cabeça absoluto dela, ele jamais


deixou ordenada a constituição de um homem para ser seu representante
sobre a terra, essa reivindicação da igreja de Roma é apóstata e abominável
perante Deus e não deve ser aceita em hipótese alguma.
O mesmo se pode dizer a respeito dos ministros, carismáticos ou não, que se
interpõem entre o crente e Deus. Na verdade esse é um problema que existe
por causa dos frequentadores das igrejas, que acreditam no poder dos homens
antes da soberania de Deus.

As igrejas-Estado da Alemanha e Inglaterra reconhecem em seus


governantes políticos a supremacia sobre a igreja, a ponto de transformar
essa afirmação em Artigo de Fé na Igreja da Inglaterra.

Não existe nenhum fundamento ou base escriturística para sustentar essas


heresias da igreja de Roma, das Igrejas-Estado e dos modernos crentes que
se dizem cristãos.

Mateus 23,8: “Vós, porém, não sereis chamados mestres, porque um só é


vosso Mestre, e vós todos sois irmãos”.

Cristo governa a igreja através da Palavra, a igreja que não é fiel à Palavra
não é fiel a Cristo. Cristo está presente na igreja, tanto para cegar os réprobos
quanto para preservar seu povo até o final dos séculos, a obrigação da igreja
e de todos os seus ministros não é agradar a homens, mas somente pregar a
Palavra e louvar a Deus.

Lucas 12,49: “Eu vim para lançar fogo sobre a terra e bem quisera que já
estivesse a arder”.

Somente através da Palavra, o povo escolhido por Deus, o Pai, recebe a graça
pela justiça perfeita que há em Cristo e tem sua preservação eterna na
comunhão do Espírito Santo.

Mateus 28,20: “Ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho


ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do
século”.

A igreja e o Estado

A suprema autoridade para o crente é a Escritura, estando acima do Estado,


da igreja e de seus concílios. Dessa forma, a obediência do crente às leis civis
e militares constituídas pelo Estado, e também às normas da igreja local, fica
sempre restrita à Palavra de Deus, assim como as obrigações familiares,
sociais e todas as coisas que fazem parte da vida do crente em todas as
situações.
Mateus 10,37: “Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim não é
digno de mim; quem ama seu filho ou sua filha mais do que a mim não é
digno de mim”.

É sempre preciso considerar que a igreja e o Estado são instituições


diferentes, a igreja não deve interferir nos assuntos de Estado e vice-versa.
Todavia, a igreja local está limitada tanto às leis civis, relacionadas à sua
atividade, bem como à Palavra e às normas de fé estipuladas pela
representação da denominação a que pertence.

Mateus 22,21: “Responderam: De César. Então, lhes disse: Dai, pois, a


César o que é de César e a Deus o que é de Deus”.

A autoridade da igreja

A autoridade da igreja sob o ponto de vista negativo

- A autoridade da igreja nunca está acima da Escritura, todas as decisões,


normas e Decretos das igrejas através de sua constituição, leis, concílios e
sínodos devem se submeter à Escritura em primeiro lugar.

- Os sínodos e concílios da igreja não têm o direito de interferir ou influenciar


quaisquer decisões do Estado.

- Os poderes dos sínodos e concílios são meramente declarativos, em função


da Palavra de Deus, não tem caráter legal ou executivo do ponto de vista
civil.

Sob ponto de vista positivo

- Compete aos sínodos, concílios e congregações:

- Formular, adotar ou alterar a constituição e legislação para o governo da


igreja, bem como estabelecer as regras de fé da igreja e formular ou adotar
credos e confissões para dirigir doutrinariamente a igreja.

- Estabelecer, modificar ou adotar regras para o culto público, louvor e


aplicação dos sacramentos.

- Decidir sobre questões de fé, doutrina e problemas de consciência.

- Examinar e julgar casos de disciplina, problemas administrativos e


patrimoniais da igreja.
- Ensinar e exigir aos membros e oficiais da igreja a obediência e
cumprimento dos deveres com relação às autoridades civis, lembrando
sempre que a Escritura é a regra máxima de fé do cristão, e a lei civil deve
ser respeitada e obedecida quando não em contradição ou negação da Palavra
de Deus.

Caso os membros ou oficiais da igreja procedam em desacordo com a


legislação vigente no país de origem ou no país em que eles se encontram,
adotando atitudes de flagrante desrespeito ao patrimônio, à moral ou aos
bons costumes, eles não devem ser protegidos pela igreja, mas entregues às
autoridades competentes para julgamento.

Oficiais da igreja no Novo Testamento

- Apóstolos: A rigor, somente os doze escolhidos diretamente por Jesus,


mais o substituto de Judas e Paulo são considerados apóstolos. A tarefa
realizada pelos apóstolos foi estabelecer os fundamentos da Palavra e da
igreja em todo o mundo.

- Profetas: O Novo Testamento fala da existência de profetas na igreja


primitiva, eles possuíam o dom de profecias para ensinamento e revelação
de mistérios e de acontecimentos futuros. Esse dom de profecias não tem
mais sentido após o fechamento do cânon bíblico.

- Evangelistas: O Novo Testamento refere-se também aos evangelistas, que


acompanhavam e auxiliavam os apóstolos, sendo também por esses
designados para missões especiais. É o caso de Timóteo, Tito, Marcos e
Filipe.

- Presbíteros: Os presbíteros eram encarregados do governo e administração


da igreja, eram os pastores que presidiam o rebanho que estava a seus
cuidados – Tiago, o irmão do Senhor.

- Mestres: No início da igreja não havia necessidade de mestres, o rebanho


era pequeno e os apóstolos estavam presentes, mas com o crescimento da
igreja surgiu a necessidade desses oficiais que se dedicavam ao ensino da
Palavra, aliviando a função dos presbíteros.

- Diáconos: Os diáconos eram encarregados da administração da igreja, em


particular das obras sociais, das ofertas recebidas e de sua distribuição entre
os fiéis e os pobres.
A SITUAÇÃO DA IGREJA LOCAL NOS TEMPOS ATUAIS

A igreja com propósitos

A igreja evangélica, apesar do crescimento físico, está em franca decadência


doutrinária, vários fatores têm contribuído para isso, seguem abaixo os
principais, ambos interligados e decorrentes um do outro: A modernidade, o
movimento de crescimento na igreja e a pós-modernidade (irracionalismo).

- A modernidade e o movimento de crescimento da igreja

A modernidade é o sistema do mundo, produzido pelo progresso tecnológico


e científico. O movimento de crescimento na igreja é a utilização das
ferramentas da modernidade no crescimento físico e econômico da igreja -
O mundo dentro da igreja, ou a igreja no mundo, como preferir.

É preciso, todavia, esclarecer a diferença entre a modernização, que é um


processo natural que tem origem nas inovações tecnológicas e científicas, e
o modernismo, que é um sentimento de sedução pelo brilho do mundo. A
modernização é uma consequência inevitável do progresso, enquanto o
modernismo (e o pós-modernismo) são manifestações do ego humano
inflado pela sedução do mundo.

Marcos 4,19: “Mas os cuidados do mundo, a fascinação da riqueza e as


demais ambições, concorrendo, sufocam a palavra, ficando ela infrutífera”.

Os evangélicos modernistas de hoje não estão mais separando o mundo da


igreja, estão abraçando o mundo e uma dessas principais manifestações é o
movimento de crescimento das igrejas. O início desse movimento pode ser
identificado com Donald Mc Gravan, professor do Seminário Fuller e
fundador do Instituto do Crescimento da Igreja.

As igrejas substituíram a verdade bíblica por entretenimento, os membros e


os atuais ministros são doutrinariamente ignorantes, porque na igreja com
propósitos a Palavra constrange os membros, que buscam na igreja,
prosperidade, bem-estar material, alívio psicológico e não suportam a sã
doutrina.

Os novos evangelistas estão sendo treinados para seguir o consenso do


grupo, conforme o conceito da dialética (*) hegeliana e técnicas gerenciais
mundanas, dirigidos por líderes que não tem nada a ver com a Palavra e os
preceitos de Deus.
(*) A dialética é o conceito segundo o qual não existe uma verdade absoluta como revelado pela Escritura,
mas afirma que a verdade é relativa e muda conforme a cultura e a época histórica. Por isso, essa verdade
relativa deve ser buscada no consenso do grupo, e à medida que o grupo chega a um consenso, essa nova
verdade será contestada gerando um novo conceito. Esse processo se repete indefinidamente ao longo do
tempo, estabelecendo sempre novos conceitos e novas verdades, sempre sujeitos a mudanças e novas
avaliações.

Lloyd Jones: “Podemos ir adiante e dizer que certamente não há nada que
seja tão completamente tolo e calamitoso quando pensamos na Igreja, como
pensar na igreja em termos de tamanho e de número. Mas esse é o
pensamento determinante hoje. Entretanto, como isso é anti escriturístico!
Nós cantamos em nossos hinos: “poucos fiéis”. A Bíblia está repleta de
ensinamentos sobre a doutrina do remanescente, Deus não opera por meio
de grandes batalhões, Ele não se interessa por números; Ele está interessado
na pureza, na santidade, em vasos aptos e próprios para o uso do Senhor.
Não devemos concentrar a nossa atenção em números, e sim na doutrina,
na regeneração, na santidade, na compreensão de que esse edifício é um
templo santo no Senhor, uma habitação de Deus”.

O movimento de crescimento da igreja não tem o suporte de teólogos de


expressão dentro do cristianismo, mas de discípulos mundanos do culto à
personalidade. A ideia é que o sucesso gera mais sucesso, a metodologia na
frase abaixo de um dos discípulos mais famosos do movimento é a de seguir
o líder.

Win Am: “Treinandos que saem de igrejas vitoriosas e têm sido treinados
por homens que são eles próprios multiplicadores de igrejas, são geralmente
eficazes”.

Os aderentes desse movimento apresentam exemplos bíblicos e históricos de


liderança: Neemias, Paulo, Calvino, Lutero. Nada pode ser mais equivocado,
esses líderes cristãos nunca foram apologistas de: “Siga o líder”.

A ideia de todos os verdadeiros líderes cristãos de todas as épocas é: “Siga


Cristo”.

Quando os religiosos passam a depositar sua confiança em outros homens no


lugar de Cristo e consideram isso normal, existe de fato, um grande problema
na igreja.

Mateus 23,8: “Vós, porém, não sereis chamados mestres, porque um só é


vosso Mestre, e vós todos sois irmãos”.

O conceito de liderança também é estendido à igreja local através da igreja


líder, que será uma igreja que tem conseguido sucesso numérico e financeiro;
será que era isso que Jesus pretendia quando fundou sua igreja? O erro
fundamental do movimento é asseverar que o crescimento da igreja está
vinculado aos ministros seguirem os passos de um líder de crescimento, ora,
quem provê o crescimento (real) da igreja é Deus.

1 Coríntios 3,6: “Eu plantei, Apolo regou; mas o crescimento veio de Deus”.

Segue abaixo mais uma declaração de um dos especialistas do movimento,


George Barna:

George Barna: “Muitas pessoas julgam o pastor não pela sua capacidade
de pregar, ensinar ou aconselhar, mas pela sua capacidade de fazer a igreja
funcionar tranquila e eficientemente. Na essência ele é julgado como um
homem de negócio”.

Na igreja com propósitos, espera-se do pastor, que assuma uma posição


gerencial em relação à igreja, como se fosse o diretor geral de uma empresa.
O movimento de crescimento é uma aliança de líderes comprometidos com
a meta de crescimento físico da igreja. É um fato que esses líderes usam o
nome de Cristo, usam-no, porém, em contrariedade com a Escritura.

A premissa fundamental do movimento é que os esforços e resultados na


evangelização podem ser medidos, a eficácia pode ser avaliada através das
estatísticas das pessoas convertidas. Tudo isso, só pode ser feito pelo método
científico, pois não existe possibilidade bíblica para essa avaliação, somente
Deus conhece aqueles que foram realmente convertidos.

E o mote do movimento é que o crescimento da igreja deve ser buscado


através do nome de Cristo transformado em uma estratégia de marketing.
Isso não é somente herético, como blasfemo, o método científico não pode
jamais ser usado para avaliar a real conversão e a obediência aos
mandamentos de Cristo.

Mateus 15,9: “E em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos


de homens”.

O que o movimento de crescimento pretende é encontrar o melhor método


gerencial para ser utilizado, o movimento usa um esquema de marketing
secular, onde um líder dinâmico e convincente procura outras pessoas que
sejam dinâmicas e convincentes, essas pessoas recebem os conceitos do líder
e o crescimento se desenvolve.
Nenhum crente pode negar que o crescimento da igreja é necessário, mas
qual crescimento? Material ou espiritual? Seguindo líderes carismáticos ou
seguindo Cristo?

O problema está na definição dos termos: O que é a igreja para esses líderes
e o que é a Igreja de Deus para os cristãos. Os grandes exemplos do
movimento, Billy Graham, Mc Quilkin e Peter Wagner colocam a ênfase da
evangelização na vontade do homem, como afirma Peter Wagner: “O
objetivo do evangelismo é persuadir homens e mulheres...”. Ora, todos
sabem que o objetivo do evangelismo é levar a Palavra, nenhum pregador
tem a capacidade de persuadir, somente Deus pode fazer isso.

Mateus 23,15: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque rodeais o


mar e a terra para fazer um prosélito; e, uma vez feito, o tornais filho do
inferno duas vezes mais do que vós!

Uma pergunta que fica no ar é a seguinte: Como evangelizar onde os meios


justificam os fins, sem uma confissão comum, sem uma base doutrinária
estabelecida? O que é evangelização afinal, sentar a pessoa na igreja?

A meta estabelecida parece ser a seguinte: Apropriar-se de seus dízimos.

Uma meta de crescimento físico não pode substituir uma confissão


doutrinária, existe no movimento de crescimento da igreja uma confissão
doutrinária comum? A resposta é: Não!

OS 40 DIAS DE COMUNIDADE DE RICK WARREN

A Torre de Babel, esse é o exemplo que Rick Warrren cita como modelo
ideal do que os homens podem conseguir trabalhando em equipe. Em 30 de
Outubro de 2004, na Igreja da Comunidade de Saddleback, condado de
Orange/CA - USA, foi pela primeira vez louvado, no meio eclesiástico, o
exemplo da torre de Babel.

Em sua pregação o pastor Rick Warren apresentou a Torre de Babel como


um modelo e exemplo do que os membros das igrejas conseguiriam se
trabalhassem em conjunto: Os quarenta dias de comunidade. Essa promoção
da torre de Babel como modelo desejável foi levada a setecentas igrejas ali
reunidas e repassadas por muitas delas.

Os meios justificam os fins, o treinamento a liderança e a vontade dos


homens determinam o destino da igreja, essa é a ideia difundida pelo
movimento. Todo o significado profético e histórico da construção da Torre
foi abandonado, ele afirmou que a equipe reunida para construção da torre,
sob a liderança de Ninrode trabalhou em perfeita sintonia, devendo ser
tomada como exemplo para os quarenta dias de Comunidade.

Somente abandonando por completo a revelação bíblica, alguém poderia


tomar a maior abominação do orgulho contra Deus em todos os tempos como
exemplo a ser seguido por cristãos. Enxergar a igreja como uma empresa
voltada para o crescimento físico é desprezar completamente todos os
ensinamentos de Nosso Senhor e certamente, tal como a Torre, um claro
exemplo de rebelião obstinada contra Deus.

Gênesis 11,4: “Disseram: Vinde, edifiquemos para nós uma cidade e uma
torre cujo tope chegue até aos céus (*) e tornemos célebre o nosso nome,
para que não sejamos espalhados por toda a terra”.

(*) “Chegue até aos céus”: Expressão característica de um projeto desmesurado, que pretende ultrapassar
todos os limites.

Nota teológica da Bíblia de Genebra: “Eles foram movidos pelo orgulho e ambição, preferindo sua própria
glória que a glória de Deus”.

As cidades da Mesopotâmia tinham um templo, com uma torre em forma de


pirâmide com degraus, chamada zigurate. Nesse relato, a torre de Babel não
aparece como um templo ou símbolo religioso; é antes, expressão da soberba
humana que se propõe construir uma civilização para a sua própria glória
sem consideração a Deus.

Isaías 14,13-14: “Tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu; acima das
estrelas de Deus exaltarei o meu trono e no monte da congregação me
assentarei, nas extremidades do Norte; subirei acima das mais altas nuvens
e serei semelhante ao Altíssimo”.

As lendas hebraicas contam que Sem, após o episódio da Torre de Babel,


matou Ninrode, esquartejou-o e enviou os pedaços aos seus parceiros na
construção da Torre para que jamais ousassem novamente desafiar o poder
de Deus.

Os princípios dos 40 dias de comunidade estão baseados na formação e


funcionamento de pequenos grupos dentro da igreja, com metas definidas
em termos numéricos e materiais conforme métodos empresariais modernos.
Isso está muito longe dos ensinamentos de Cristo, quantas dessas pessoas
que “aceitam” a Jesus são salvos?

Mateus 7,14: “Porque estreita é a porta, e apertado, o caminho que conduz


para a vida, e são poucos os que acertam com ela”.
Cornélius Van Till: “O liberalismo e o modernismo podem ser facilmente
reconhecidos, pois negam as origens sobrenaturais da fé. É uma filosofia
naturalista que rejeita a transcendência de Deus e de Jesus Cristo, e coloca
a confiança na bondade humana e em seus movimentos progressivos. É uma
fé humanista que vê o indivíduo e a sociedade como o foco da religião
organizada”.

Esse princípio de liberalidade na autoridade religiosa é baseado em um Jesus


humanizado, despido de suas qualidades históricas e divinas. Esse Cristo
moderno reconstruído pela ideologia do movimento modernista não é o
Senhor e Salvador a cujo caráter Deus moldará seus filhos, o cristianismo
histórico é totalmente contrário ao pragmatismo.

A busca da comunidade são os desejos e anseios das pessoas, os sermões


serão simples, curtos e voltados à satisfação pessoal dos ouvintes, sermões
simpáticos, com assuntos selecionados para agradar aos ouvintes. O que diz
o apóstolo Paulo a esse respeito?

Atos 20,26-27: “Portanto, eu vos protesto, no dia de hoje, que estou limpo
do sangue de todos; porque jamais deixei de vos anunciar todo o desígnio
de Deus”.

A estratégia do movimento de crescimento da igreja é baseada em um


sistema gerencial moderno nos moldes empresariais; a fé evangélica deve ser
prática, deve competir com programas sociais e de autoajuda, deve prometer
riqueza, saúde e felicidade.

Essa proposição do pragmatismo é tanto adequada para Testemunhas de


Jeová, Espíritas, Mórmons, Maçons e Católicos Romanos quanto para a
igreja evangélica. Será que alguma coisa desse tipo pode ser considerada
cristã?

Mateus 22,16: “E enviaram-lhe discípulos, juntamente com os herodianos,


para dizer-lhe: Mestre, sabemos que és verdadeiro e que ensinas o caminho
de Deus, de acordo com a verdade, sem te importares com quem quer que
seja, porque não olhas a aparência dos homens”.

Outro exemplo muito claro do pragmatismo versus a Palavra de Deus é visto


na passagem do homem de Deus de Judá, esse homem recebeu instruções
para executar certa tarefa e voltar sem comer ou beber. Outro profeta,
envolvido pelo pragmatismo, convenceu o homem de Deus a comer e beber,
porque era realmente uma situação de praticidade e de conforto para o
homem de Deus, que aconteceu?

1 Reis 13, 17-24: “Porque me foi dito pela palavra do SENHOR: Ali, não
comerás pão, nem beberás água, nem voltarás pelo caminho por que foste.
Tornou-lhe ele: Também eu sou profeta como tu, e um anjo me falou por
ordem do SENHOR, dizendo: Faze-o voltar contigo a tua casa, para que
coma pão e beba água. (Porém mentiu-lhe.) Então, voltou ele, e comeu pão
em sua casa, e bebeu água. Estando eles à mesa, veio a palavra do SENHOR
ao profeta que o tinha feito voltar; e clamou ao homem de Deus, que viera
de Judá, dizendo: Assim diz o SENHOR: Porquanto foste rebelde à palavra
do SENHOR e não guardaste o mandamento que o SENHOR, teu Deus, te
mandara, antes, voltaste, e comesse pão, e bebeste água no lugar de que te
dissera: Não comerás pão, nem beberás água, o teu cadáver não entrará no
sepulcro de teus pais. Depois de o profeta a quem fizera voltar haver comido
pão e bebido água, albardou para ele o jumento. Foi-se, pois, e um leão o
encontrou no caminho e o matou; o seu cadáver estava atirado no caminho,
e o jumento e o leão, parados junto ao cadáver”.

O pacto de Deus com os homens é unilateral e só depende de Deus, não


depende de quem quer ou de quem corre, mas de manifestar Deus sua
misericórdia, a aliança de Deus não é construída com pragmatismo, mas com
obediência à Palavra.

Benjamin B. Warfield: “É muito claro que aquele que modifica os ensinos


da Palavra de Deus, no menor particular, numa citação de qualquer opinião
formada pelo homem, já se apartou do fundamento cristão, e já é, em
princípio, um herege”.

O Pós-modernismo:

Não há muito o que falar sobre o pós-modernismo, o reflexo desse


movimento, que vem após o modernismo, é pior que os anteriores e se
manifesta no irracionalismo que tomou conta da igreja. Não existem mais
verdades: a tolerância, o inclusivismo e o movimento ecumênico são as
metas da nova igreja, que serve para todas as crenças e modismos. Dessa
forma, a escritura é considerada radical e ofensiva, a pregação é de tolerância
para todas as crenças, a verdade não importa mais.

Essa última posição tem dominado a moderna igreja, que se destrói dentro
de si mesma. Todos os ataques do mundo à igreja resultaram em
fortalecimento e crescimento doutrinário, mas essas novas versões acima,
vieram para ficar e destruir.
Qual o ensino de Jesus?

O que ensina Nosso Senhor? Jesus nunca se preocupou com os números de


seus discípulos, sua preocupação era sempre com a fidelidade à doutrina, a
firmeza e consistência daqueles que foram escolhidos para o seguir.

Mateus 8,19-22: “Então, aproximando-se dele um escriba, disse-lhe:


Mestre, seguir-te-ei para onde quer que fores. Mas Jesus lhe respondeu: As
raposas têm seus covis, e as aves do céu, ninhos; mas o Filho do Homem
não tem onde reclinar a cabeça. E outro dos discípulos lhe disse: Senhor,
permite-me ir primeiro sepultar meu pai, Jesus, porém, disse-lhe: Segue-me,
e deixa aos mortos sepultar os seus mortos”.

Lucas 9,61-62: “Outro lhe disse: Seguir-te-ei, Senhor; mas deixa-me


primeiro despedir-me dos de casa. Mas Jesus lhe replicou: Ninguém que,
tendo posto a mão no arado, olha para trás é apto para o reino de Deus”.

Jesus está dizendo: Pense no que realmente quer, avalie sua posição, Jesus
procura seguidores com consistência e não pessoas deslumbradas.

Lucas 14,28: “Pois qual de vós, pretendendo construir uma torre, não se
assenta primeiro para calcular a despesa e verificar se tem os meios para a
concluir?”.

Quando se analisa seriamente o evangelho, vê-se que Jesus mais rejeitava


pessoas que as chamava. Quando Jesus enviou os setenta e dois discípulos,
eles voltaram deslumbrados e entusiasmados com seu próprio poder, Jesus,
porém, refreando a vaidade deles, confirmou decididamente a doutrina da
predestinação: “Ninguém poderá vir a mim, se pelo Pai não lhe for
concedido”. Seus discípulos, ouvindo isso, revoltaram-se e o abandonaram.

João 6,65-66: “E prosseguiu: Por causa disto, é que vos tenho dito: ninguém
poderá vir a mim, se, pelo Pai, não lhe for concedido. À vista disso, muitos
dos seus discípulos o abandonaram e já não andavam com ele”.

Quando os discípulos abandonaram Jesus, ele ficou preocupado e procurou


agradar aos apóstolos para que eles também não o abandonassem?

João 6,67: “Então, perguntou Jesus aos doze: Porventura, quereis também
vós outros retirar-vos?”.
Jesus nunca fez um apelo, nenhum dos apóstolos jamais fez um apelo sequer,
quem chama é Deus. Quando a soberania de Deus é abandonada para
construir uma igreja de números, somente se pode construir uma igreja
mundana, essa igreja não tem nada a ver com Nosso Senhor.

De forma totalmente contrária, pouquíssimos ministros da Palavra se


atrevem a proclamar as verdades do evangelho nos dias atuais, pois é mais
fácil agradar aos homens que agradar a Deus.

Quando Jesus partiu desse mundo, deixou atrás de si um pequeno número de


discípulos, sem formação religiosa, rudes e incultos, para continuar sua obra,
a qualidade básica dessas pessoas era a fidelidade ao evangelho. Esse é o
método de Jesus, o líder cristão é moldado conforme o caráter de Cristo. Se
o pretenso líder age sem conformidade com Cristo não é um líder cristão de
forma alguma, pode ser um gerente excepcional, um grande administrador,
um líder popular, mas nunca um líder cristão.

Os líderes cristãos são chamados por Deus na eternidade, não se fazem nesse
mundo.

Romanos 8,29: “Porquanto aos que de antemão conheceu, também os


predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele
seja o primogênito entre muitos irmãos”.

Os maiores períodos de avivamento da história do cristianismo foram: A


Reforma, o grande reavivamento na Inglaterra no século XVIII e a igreja dos
puritanos na América.

Nenhum desses períodos caracterizou-se por um crescimento gerencial da


igreja ou por uma metodologia de captação da simpatia dos homens, pelo
contrário, era extremamente complicado ser reformado em meio à
perseguição da igreja de Roma e os príncipes aliados, e também muito difícil
ser admitido como membro da igreja ao tempo dos puritanos. Segue abaixo
mais uma citação de Lloyd Jones:

David Martin Lloyd Jones: “Deus só pode habitar numa Igreja pura - não
necessariamente numa Igreja grande, mas numa Igreja pura, pura na
doutrina e pura na vida. Pode parecer surpreendente, mas não hesito em
asseverar, mesmo hoje, que o maior problema da Igreja atualmente é que
ela é grande demais”.

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