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Ouvi dizer que estás arrependido,

Que, diante das trevas, pediu desculpas.


Estou tranquilo, calmo como um vulcão,
Então, respiro fundo, medito e digo: não.

Não quero tuas desculpas.


Que sinta o peso da culpa na nuca,
Para que andes curvado
Olhando para a rua em que nos massacraram.

Quero que se afogue em suas mentiras


Até soluçar verdades que te encarem
Com a força de um açoite de luz,
Até que possas ver o que não via.

Quero que toda manhã olhe tuas mãos


Empapadas do sangue dos nossos;
E que toda a água dos oceanos seja pouco,
Para ver-te esfregando as mãos como um louco.

Quero que se cale, que ao tentar falar


As palavras saiam de tuas entranhas
Como cactos, rasgando teu silêncio cúmplice
Como catarros mortos como tua alma.

Não quero tuas desculpas, seu arrependimento.


Quero mestre Moa vivo abraçando Marielle,
Quero que árvores mortas pelo fogo
Chorem lágrimas vivas para o céu.

Quero todos os anos que as crianças não viveram,


Quero que haitianos mortos saiam de suas tumbas
Para cobrar justiça de certos generais brasileiros.
Quero de volta os anos roubados pelo bloqueio.

Quero que jovens chilenos voltem para casa


Com cheiro de empanada e sabor de vinho,
E abracem calorosamente seus amores,
Que os beijarão com carinho.

Se não podeis me dar isso,


Ora… que te cales, e sofras.
É muito menos do que tu
Sabes que merece.
Mauro Iasi
SBC, outubro de 2019.

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