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A ROBÓTICA NO ENSINO APRENDIZAGEM

ANUÁRIO DA PRODUÇÃO DE
INICIAÇÃO CIENTÍFICA DISCENTE
Vol. 13, N. 18, Ano 2010

Camila Nogueira Mancilha


Prof. Antonio Rodolfo Siqueira
Prof. Antônia Lucineire de RESUMO
Almeida
Esta pesquisa tem por objeto a robótica no processo de ensino-
Curso: aprendizagem baseada nos quatro pilares da educação: aprender
Pedagogia a ser, aprender a agir, aprender a fazer e aprender a pensar.
Pretende-se revelar o caráter interdisciplinar da utilização da
FACULDADE ANHANGUERA DE robótica, despertar o interesse do alunado na construção do
JACAREÍ conhecimento e ainda possibilitar que os alunos se tornem
sujeitos corresponsáveis do aprendizado. O estudo propõe
também a discussão sobre a robótica no mundo globalizado,
diante da emergência tecnológica, a fim de que os alunos possam
Trabalho apresentado no 10º aprender e apreender conceitos e vivências eficazes para a
Congresso Nacional de Iniciação constituição da cidadania. O estudo apresenta levantamento
Científica – CONIC
bibliográfico, aplicação de projeto em instituição de ensino
público e privada, análise e relato das constatar. Espera-se que
este trabalho, por meio da análise, possa mostrar a importância
do uso da robótica na aprendizagem eficaz, com visão
interdisciplinar, produzir reflexões críticas e disseminação da
ideia aos educadores e instituições de ensino.

Palavras-Chave: Robótica, Interdisciplinaridade, Aprendizagem,


Tecnologia.

Anhanguera Educacional Ltda.

Correspondência/Contato
Alameda Maria Tereza, 4266
Valinhos, SP - CEP 13278-181
rc.ipade@aesapar.com

Coordenação Trabalho realizado com o incentivo e


Instituto de Pesquisas Aplicadas e fomento da Anhanguera Educacional
Desenvolvimento Educacional - IPADE

Publicação: 1 de novembro de 2012 333


334 A robótica no ensino aprendizagem

1. INTRODUÇÃO

Com base na premissa de que a robótica pode proporcionar uma aprendizagem eficaz,
ampla e contextualizada, este estudo aborda a sua utilização no aprender e apreender do
aluno de forma interessante, diversificada e com viés interdisciplinar. A inserção da
robótica no cotidiano e currículo escolar possibilita que o aluno se enxergue como
corresponsável pelo seu aprendizado e como sujeito criativo, reflexivo e crítico dentro do
seu contexto de vida.

A inclusão da robótica perpassa também o trabalho com projetos tecnológicos, o


que significa preparar o educando para desempenhar funções numa sociedade cada vez
mais tecnológica. A adoção da robótica no ensino, seja na forma de apresentação, ou no
processo de criação, dimensiona de forma adequada à realidade das comunidades
escolares, incorporando novas tecnologias sem deixar de preservar identidades culturais.

Utilizar a robótica no processo de aprendizagem, a partir do alinhamento com


outras disciplinas, do olhar interdisciplinar e inclusão da tecnologia, pode tornar prático o
dia-a-dia das escolas, no qual o aprender a fazer, utilizando o concreto por meio das
montagens dos protótipos, promove ao aluno a criatividade, a inovação e a atuação
efetiva deste aluno como sujeito que constrói seu conhecimento.

Esta pesquisa tem como pressuposto intensificar a idéia de que a robótica pode se
tornar um instrumento importante e rico no processo de aprendizagem, com
dinamicidade, inovação, percepção e ampliação da visão do aluno no contexto em que
vive. Pretende-se ainda apresentar relato de vivências com a robótica em instituições de
ensino pública e privada, a fim de disseminar a idéia e partilhar as percepções com
educadores e instituições.

2. OBJETIVOS

Diante da necessidade de aprendizagem eficaz este estudo tem como objetivo geral:

š Analisar a utilização da robótica como um instrumento importante, rico e


diversificado no processo de aprendizagem.
š Como objetivos específicos o presente trabalho pretende:
š Identificar o caráter interdisciplinar da utilização da robótica no ambiente
escolar;
š Discutir e elaborar conceitos de várias áreas do conhecimento a partir do
uso e inserção da robótica no ambiente educacional;
š Elaborar e disseminar considerações sobre o assunto proposto aos
educadores e instituições de ensino, com viés interdisciplinar.

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3. METODOLOGIA

Para a realização de um projeto de pesquisa há necessidade de planejamento e


organização das etapas que o compõe, a fim de possibilitar que o pesquisador desenvolva
uma investigação coerente, coesa, ética e relevante. Dessa forma, neste estudo, como
metodologia, será realizado um levantamento bibliográfico preliminar, que segundo Gil
(2009) “pode ser entendido como um estudo exploratório”.

Além do levantamento bibliográfico haverá descrição da experiência de


utilização de material voltado para ensino da robótica. Em seguida, pretende-se relatar
um projeto de robótica a ser aplicado simultaneamente em instituição pública e privada,
no Ensino Fundamental para comparação das possibilidades e dos desafios encontrados
na aplicação do mesmo em ambas as instituições.

Por fim, traçar análise a partir dos estudos e das vivências com relato das
mesmas, no decorrer da aplicação dos projetos propostos. Pretende-se analisar de forma
qualitativa as vivências nos campos de observação e elaborar considerações sobre a
pesquisa com delineamento do resultado deste estudo para posterior contribuição à
educadores e instituições de ensino.

4. DESENVOLVIMENTO

4.1. Contexto Educacional

As características atuais da educação, coerentes com a formação de um cidadão futuro


instrumentalizado para protagonizar o seu momento podem se resumir nos seguintes
fatores: autonomia, seletividade, planejamento, interação social, coletividade,
flexibilidade, criatividade e resiliência. Há evidências de que essas são as condições
básicas para se atingir o sucesso nesse novo século.

A educação deve transmitir, de fato, cada vez mais saberes e o saber fazer
evolutivos, adaptados à atual sociedade do conhecimento, pois são bases das
competências do futuro. Simultaneamente, compete-lhe encontrar a assinalar as
referências que impeçam as pessoas de ficar submergidas nas ondas de informações, que
invadem espaços públicos e privados e as levem a orienta-se para projetos de
desenvolvimento individuais e coletivos. À educação cabe fornecer, de algum modo, os
mapas de um mundo complexo e constantemente agitado e, ao mesmo tempo, a bússola
que permita navegar através dele.

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Ao levar em consideração a complexidade da educação, como afirma Moran


(2004), cabe discutir os novos papéis assumidos pelo docente e pelo aluno. No passado, o
professor era o detentor do saber e o aluno era apenas um “receptor” de conteúdos. Na
atualidade, o docente assume papel de fomentador e mediador do aprendizado e o aluno
é corresponsável pelo próprio aprendizado.
O educador atualizado é aquele que não só executa com competência sua profissão, mas
que corre em busca de renovação. A tarefa fundamental é, portanto socializar
conhecimento, disseminando informações e culturas, não só transmitindo, mas
reconstruindo. A aprendizagem é sempre acontecimento de reconstrução social e
política, e não é só reprodutivista, pois tem-se o compromisso de fazer o aluno aprender
através do conhecimento e da prática. (HAMZE, s/d)

No contexto em que o docente é mediador do processo de aprendizagem e o


aluno corresponsável por seu aprendizado, a perspectiva educacional, neste ínterim, cabe
ao fato de proporcionar um processo com conteúdos contextualizados à sociedade da
aprendizagem, a fim de promover o aprender com significação e continuidade.

Torna-se necessário pensar em práticas, métodos e recursos diversificados que


agucem a curiosidade e incentive o aluno, a fim de formar cidadãos aprendentes,
competentes, habilidosos, autônomos, críticos, criativos e qualificados para o atual
contexto mercadológico. Trata-se de aliar à prática um caráter inovador, interdisciplinar e
rico em possibilidades. “Nesse sentido, os professores proporcionam aos alunos uma
aprendizagem simultânea dos saberes e dos métodos comuns a várias disciplinas. Assim,
a interdisciplinaridade reordena conhecimentos diversos e provoca um conhecimento
novo” (MAHEU, 2003, s/p).

Além de quebrar paradigmas o educador precisa proporcionar abordagens


diversificadas, fato que exige desse profissional uma atitude comprometida e uma
formação contínua. Dominar conteúdos não é a questão mais importante, há necessidade
de diversificar a prática pedagógica.

Perrenoud (2000, p. 26), afirma que a verdadeira “competência pedagógica”


consiste “de um lado, relacionar os conteúdos a objetivos e, de outro, a situações de
aprendizagem”. Ainda sob a ótica docente torna-se imprescindível discorrer a
necessidade de trabalhar com resolução de problemas, em especial no contexto da
matemática. Tajra (2001, p. 37) cita dois aspectos, entre vários, que o docente deve
assumir:
Aprender a aprender: cabe ao educador provocar perturbações, desequilíbrios e limitar o
próprio desequilíbrio por meio de situações-problema que devem ser superadas pelos
alunos e por fim construir seu conhecimento, sua aprendizagem. [...] Educador-
educando: o educador está sempre aprendendo; ele passa a assumir um papel de
pesquisador que está sempre em processo de mudança e de aquisição de novos estágios
do saber.

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Ressalta-se então, a necessidade de aprendizagem significativa e contínua


também para o docente, cuja prática eficaz depende da competência profissional, que
engloba várias habilidades. Perrenoud discorre sobre os novos profissionais e enfatiza que
o docente precisa ter um “planejamento didático” e sugere ainda que o professor analise
as situações vividas para, se necessário, modificá-la ou adaptá-la à necessidade de
aprendizagem, fazendo avaliações dos conhecimentos construídos ao longo do processo
de aprendizagem (PERRENOUD, 2000, p. 35).

4.2. A Robótica em Projetos com Perspectiva Interdisciplinar

A robótica tem grande potencial como ferramenta interdisciplinar, visto que a construção
de um novo mecanismo, ou a solução de um novo problema, frequentemente extrapola a
sala de aula. Na tentativa natural de buscar uma solução, o educando questiona o
educador de outras disciplinas que pode ajudá-lo a encontrar o caminho mais indicado
para a solução do seu problema.

Entretanto, trabalhar com Robótica requer entendimento sobre a importância do


da realização de projetos na educação e da interdisciplinaridade. De acordo com
Vasconcellos (1999) o projeto prevê um conjunto de ações que auxiliam os educandos a
avançarem em seus processos de aprendizagem. Tais ações são norteadas pelo
desenvolvimento de competências/habilidades que permitem que os alunos operem com
noções/conceitos relacionadas às diferentes áreas do conhecimento escolar.

A característica básica de um projeto é ter um objeto compartilhado por todos os


envolvidos, que se expressa num produto final em função do quais todos trabalham e que
terá, necessariamente, destinação, divulgação e circulação social interna e externa na
escola.

Além disso, os projetos permitem dispor do tempo de forma flexível, pois o


mesmo tem a duração necessária para conquistar o objetivo. Para sua execução,
entretanto, é preciso planejar, prever, dividir responsabilidades, aprender conhecimentos
específicos relativos ao tema em questão, desenvolver capacidades e procedimentos
específicos, usar recursos tecnológicos, aprender a trabalhar em grupo agindo de acordo
com as normas, valores e atitudes esperadas, controlar o tempo, dividir e redimensionar
as tarefas e avaliar os resultados em função do plano inicial. Essas são atitudes
desenvolvidas no ensino de robótica por meio de projetos.

No contexto da elaboração e aplicação de projetos insere-se a


interdisciplinaridade como forma de diferenciação e inovação da prática docente e da

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interrelação professor-aluno-aprendizado. Entretanto, a interdisciplinaridade ainda é


confundida com uma simples fusão de disciplinas e práticas docentes. Maheu (2003) em
relação à interdisciplinaridade, afirma que há necessidade de interrelação:
Não significa, tampouco, a integração de conteúdos, mas a inter-relação entre as
disciplinas, em se considerando seus objetivos e metodologias próprias. Interrelacionar
não é integrar, globalizar, perdendo-se de vista a especificidade de cada objeto de
conhecimento. Uma ação pedagógica interdisciplinar requer, antes de tudo, uma atitude
interdisciplinar. E, no limite, interdisciplinaridade faz-se, antes, entre os indivíduos
para, só depois, concretizar-se na inter-relação entre as disciplinas.

Sabe-se, porém, que tanto o termo como seu entendimento é superior à ideia de
junção de disciplinas, trata-se de atitude, ação inovadora, algo de novo com potencial de
ressignificação, de construção ampla e contextualizada.
O que se designa por interdisciplinaridade é uma atitude epistemológica que ultrapassa
os hábitos intelectuais estabelecidos ou mesmo os programas de ensino. Nossos
contemporâneos estão sendo formados sob um regime de especialização, cada um em
seu pequeno esconderijo, abrigado das interferências dos vizinhos, na segurança e no
conforto das mesmas questões estéreis. Cada um por si e Deus por todos (...) (GUSDORF
apud FAZENDA, 1991)

A visão interdisciplinar é então a “conversão da inteligência”, (FAZENDA, 1991),


para uma mudança de postura. A autora complementa que “o ensino interdisciplinar
nasce da proposição de novos objetivos, novos métodos, de uma nova pedagogia, cuja
tônica primeira é a supressão do monólogo e a instauração de uma prática dialógica”.

Em relação à práxis interdisciplinar nota-se algo inovador pela proposta


oferecida pelo pensamento interdisciplinar que é unificador e não fragmentado. Com a
visão de totalidade do ser humano e de seu processo de aprendizagem e atuação, propõe-
se na atual perspectiva educacional projetos interdisciplinares, que segundo Maheu (2003)
“possui uma linha de trabalho integradora que pode agregar um objeto de conhecimento,
um projeto de investigação, um plano de intervenção”.

A autora ainda discorre sobre o trabalho, a partir de projetos interdisciplinares,


no tocante à contextualização do conhecimento com fundamental relação entre os
conhecimentos prévios dos alunos, novos conteúdos e construção da aprendizagem e
apreensão da mesma para um conhecimento efetivo e com significado.
Quando os alunos participam da tomada de decisão a respeito de um tema ou de um
projeto, é possível que constituam relações entre os novos conteúdos e os conhecimentos
que já possuem, conseguindo aprendizagens mais significativas, comparando,
criticando, sugerindo ajustes, novas relações e organizações, abrindo portas para a
interferência em uma realidade, desencadeamento novas ações e, construindo um
compromisso com uma cidadania ativa (IBID, 2003).

Sabe-se que o atual contexto educacional exige mudança de postura por parte de
todos os envolvidos neste processo e nas adaptações à sociedade da aprendizagem, a fim
de que projetos interdisciplinares, como a Robótica, possam fazer parte da grade
curricular escolar na intenção de propiciar o desenvolvimento integral do aluno e a

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cidadania. Portanto, a robótica, assume o papel de uma ponte que possibilite religar
fronteiras anteriormente estabelecidas, agindo como um elemento de coesão dentro do
currículo das escolas.

4.3. A Robótica e o Processo de Aprendizagem

Falar de robótica remete à tecnologia e suas ramificações como elétrica, eletrônica,


informática e mecânica. Trata-se da utilização dessas variantes, embasadas por conceitos e
técnicas científicas. No contexto educacional, além do caráter técnico-científico, a robótica
é agregada à prática pedagógica como diferencial no processo de ensino-aprendizagem.

De acordo com informações da Revista Lego Education (2003, s/p):


A Robótica pedagógica é uma aplicação desta tecnologia, que garante aos educando a
vivência de experiências semelhantes às que realizarão na vida real e oferece
oportunidades para propor e solucionar problemas difíceis mais do que observar formas
de solução.

Consegue-se, com o uso desta nova tecnologia, expandir o ambiente de


aprendizagem com proposta de atividades lúdicas, de forma desafiadora e criativa, na
qual se passa a programar a máquina para controlar objetos concretos criados a partir de
kits “Lego”. Este tipo de atividade possibilita explorar e verificar hipóteses, formalizar
conhecimentos intuitivos e a unir um instrumento de aprendizagem a um de lazer.

Em outras palavras, a Robótica é uma aplicação da tecnologia na área


pedagógica, sendo mais um instrumento que oferece aos alunos a oportunidade de
aprender vivenciando experiências semelhantes à vida real. Na prática pedagógica de
robótica o conhecimento é construído pela criança (aluno) que tem a capacidade de
elaborar teorias e rearranjar os conhecimentos existentes e, com base em suas experiências
de mundo, pode propor estratégia inovadora com a Robótica Educativa.

A inserção de atividades de robótica na sala de aula é fator dinâmico, cujos


saberes e interconexões mentais dos alunos são levados em consideração. Trata-se de
despertar a motivação na utilização de situações-problemas com a intenção de estimular a
participação ativa e criativa do aluno.

O ensino da robótica tem a intenção de possibilitar que o aluno construa e


reconstrua o conhecimento matemático de forma interdisciplinar, haja vista que esta
proposta prevê a utilização de várias ciências. Abrange conteúdos de raciocínio lógico,
interpretação de dados sequenciais e desafios requeridos na matemática e língua
portuguesa, além de utilizar outras disciplinas, temas atuais e de acordo com a faixa etária
do aluno.

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Todos os temas abordados nas propostas de construção em robótica estão


relacionados às disciplinas citadas, enriquecendo a aprendizagem e o desenvolvimento
das habilidades e competências. Utilizam-se ainda conceitos sólidos sobre o mundo e a
realidade. Trata-se de transformar um aprendizado meramente técnico em interação
ampla, contextualizada e significativa com o mundo em que o aluno vive e dessa forma
humanizar a visão tecnicista da robótica.

5. A PRÁTICA PEDAGÓGICA NOS PROJETOS DE ROBÓTICA

A abordagem nos projetos em relação à robótica é baseada em situações-problemas, em


que os alunos aprendem a trabalhar em equipe, a fim de encontrar soluções criativas e
idéias novas para os problemas propostos. Nas instituições, a proposta acerca da
utilização da robótica dá-se como uma nova ferramenta de ensino, baseada na
metodologia de projetos em um cenário motivador, no qual os alunos se tornam
protagonistas da sua aprendizagem.

Trabalhar a robótica, especialmente com peças e caixas criadas e fornecidas pela


“Lego” possibilita articular as operações mentais, acomodar e construir conhecimento a
partir da prática. Sobre o material Lego, segundo Papert (2002) trata-se de “um exemplo
[...]. E o que se aprende fazendo fica muito mais enraizado dentro do subsolo da mente do
que o que qualquer pessoa possa nos contar”.

Na prática de robótica, a partir das caixas da “Lego” e da proposta de construção,


pretende-se trabalhar sequências organizadas e contextualizadas com a realidade dos
alunos. A Revista Lego Education (2003), que acompanha a caixa citada, possui orientações
que propõe um prática dividida em quatro fases, como apresentado no Quadro 1.

Quadro 1 - Fases da Prática de um Projeto com Robótica.


Fase Ação
Contextualiza Conexão dos conhecimentos prévios do aluno com os novos e inserir uma atividade
r relacionada com o mundo real.
Construir Executar montagens relacionadas com o mundo real, baseadas em um modelo (passo-a-
passo) ou uma situação-problema sem plano de montagem.
Nesta fase os alunos são levados a pensar sobre como funcionam suas montagens, de
Analisar maneira a experimentar, observar, analisar e corrigir possíveis erros para validar o
projeto.
Continuar A fase continuar está baseado no natural desejo no ser humano em conhecer mais
Fonte: Projeto de Educação Tecnológica - Manual Didático Pedagógico

Para a realização do projeto na íntegra, além das intenções descritas no quadro


acima, utiliza-se uma metodologia própria da caixa “Lego”, que tem a intenção de

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promover o trabalho em equipe, em que cada um dos seus componentes tem uma função
específica e atuante.

A metodologia é estruturada pelo professor mediador como fator de organização


pedagógica para participação do alunado, para interação da equipe e para a resolução da
situação-problema que é colocada como desafio. Cabe ressaltar que a proposta da Lego
Education propõe funções aos participantes (alunos), que o docente pode utilizar
conforme o período, ou seja, Ensino Fundamental I e II. Segundo Lego Education (2003) as
funções a serem desempenhadas pelos alunos são apresentadas no Quadro 2.

Quadro 2 - Metodologia e Estrutura.


Coordena a contagem das peças no início e fim do
Organizador
trabalho. Registra o trabalho em relatórios.
Coordenação das montagens e organização de seus
Construtor
companheiros para que eles participem.
Ensino
Elabora o relatório da equipe sobre a experimentação das
Fundamental Relator
montagens e o desenho do projeto
I
Apresentador Apresenta a montagem e o funcionamento.

Líder de Equipe /
Coordena atividade, apresentar o projeto e elabora relatório.
Apresentador / Relator
Ensino Verifica materiais para a atividade, distribui e solicita
Fundamental Organizador
materiais quando necessário.
II
Construtor Executa as montagens e auxilia o organizador.
Programador Elabora programa, controla e automatiza a montagem.
Fonte: Lego Education (2003)

A equipe formada também é trocada a cada quatro atividades ou ao final de cada


bimestre, este fato contribui para o desenvolvimento e socialização dos alunos.

6. VIVÊNCIA DA ROBÓTICA NA ESCOLA

Nas aulas de robótica, ao realizar os projetos e os jogos, os educando entram em contato


com diferentes fontes de informações. Isso lhes proporciona diferentes visões da
realidade, os leva a utilizar diferentes linguagens e enfoques e, a confrontar e contrapor
opiniões. O jogo na área de robótica busca facilitar o aprendizado do educando e
trabalhando o concreto, consequentemente o educando assimilará “brincando” o
conteúdo.

Atualmente a robótica oferece à educação a ludicidade. Com o ensino por meio


de solução problemas, a disciplina de robótica proporciona ao educando se defrontar com
situações reais e concretas e tem muitas alternativas tanto para compreender o problema,

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perceber suas implicações, como para pensar em alternativas de solução. È importante


que o sujeito se disponha a penetrar na realidade e que inicie o estudo sobre ela. Com este
instrumento o educador pode se transformar em um grande pesquisador e conhecedor da
realidade junto com o aluno e superar uma didática segmentada e da atual intenção de
aprendizagem.

No ensino por meio de solução problemas, a avaliação é diária no contato com o


educador, na sua experiência e na análise que realiza junto com o educador. Ela também
se mostra uma alternativa muito válida para os educadores que desejam competência
técnica e sensibilidade para com o real para se trabalhar com os seus educando na prática
na sala de aula.

6.1. O Campo de Pesquisa e as Etapas da Robótica

Diante do contexto da robótica em sala de aula faz-se necessário esmiuçar a vivência desta
prática. Este estudo tem a pretensão de relatar a vivência com a prática da robótica em
unidade escolar pública e privada, com alunos do ensino fundamental. O período de
observação a ser relatado a seguir compreende o ano letivo de 2009, o primeiro semestre
de 2010 e o primeiro bimestre do segundo semestre de 2010. Percebeu-se após vivência
deste período a premissa da ação docente eficaz que precisa envolver os alunos no
projeto, a fim de que este possa desencadear o resultado proposto e esperado - a
aprendizagem - criando condições de gerenciar esses conhecimentos.

O trabalho começa com entendimento da estrutura “Lego Education”, o


reconhecimento das caixas, dividido pela modalidade de ensino. O trabalho com robótica
envolve um conjunto de atividades integradas, a serem realizadas em torno de um eixo,
cujo tempo pode variar e ser trabalhado por bimestre, semestre ou pelo período de um
ano.

Para as aulas de robótica há uma sequência didática a seguir que começa com a
formação das equipes e durante o ano letivo são formadas equipes diferentes a cada
bimestre. No primeiro e terceiro bimestre as equipes são formadas pelos próprios alunos,
e no segundo e quarto bimestre o professor escolhe as equipes, lembrando que as equipes
podem ter no máximo quatro pessoas por causa das funções (relator, organizador,
construtor e programador), o rodízio dos alunos nas equipes tem o propósito de fazer com
que todos realizem uma função, pois a cada aula seguinte o aluno muda de função na
equipe.

Qualquer aula de robótica se inicia com uma situação problema que pressupõe
considerar algo em determinada direção, que dá um significado de superação de

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obstáculos nas dimensões lógicas, social, histórica, educacional, profissional e humana. O


material pedagógico é dividido por ciclo, sendo: Ensino Fundamenta I (ciclo I – 1º ano ao
5º ano) e Ensino Fundamental II (ciclo II – 6º ano ao 9º ano). Os conteúdos programáticos
selecionados estão ligados a quatro eixos estruturais: o aprender fazendo, a comunicação,
a cidadania e a tecnologia.

São entregues aos alunos as revistas de acordo com a série e apresenta-se a


proposta da aula, logo em seguida se entregam as caixas com as respectivas fichas de
identificação (nome da equipe e a função dos integrantes). Após a contextualização, cada
aluno com sua função e a equipe como um todo devem iniciar a construção do protótipo
com o qual possam vivenciar o concreto. Nesta fase de construção eles farão montagens
relacionadas com a situação problema proposta pela contextualização, ocorrendo nesse
momento uma constante interação entre mente/mãos, proporcionando um ambiente de
aprendizagem do dia a dia.

Os modelos são montados com motores, sensores, peças, tudo controlado por um
computador com softwares (NXT) que determinam a função do protótipo desejado. Há
atualmente empresas que fabricam e comercializam os chamados kits educacionais, como
a Solbet e a EdaCom, que oferecem kits versáteis e fáceis de montar, com componentes
reutilizáveis que possibilitam um ciclo de montagem e desmontagem dos mesmos. Esses
kits oferecem fiação, componentes, base, garra, conexão para porta do microcomputador,
software etc., e ainda orientação, de caráter interdisciplinar, como é oferecido pela
EdaCom.

Cabe ressaltar que dependendo dos objetivos almejados, pode-se variar o modo
da aplicação desta metodologia robótica. Dessa forma, se estabelece previamente todos os
passos para a confecção de um modelo, o que sugere que já se sabia exatamente como
seria o produto final; ou pode-se dar mais liberdade ao educando, para que o mesmo
possa construir o dispositivo de acordo com suas idéias, como estímulo à criatividade.
Neste contexto, ao restringir a forma ou os passos para a construção é importante inserir
conteúdo de diversas disciplinas.

No momento da construção o professor/mediador ajuda o aluno a utilizar seu


potencial, construir sua autonomia e desenvolver a auto-regulação de suas ações por meio
de uma atitude interdependente.

6.2. A Interrelação dos Pilares da Educação com a Robótica

Conforme afirma Hargreaves (2004), a “sociedade da aprendizagem”, na qual o mundo


está inserido na atualidade, prima pela aquisição de saberes, de forma ampla e

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contextualizada, que permiti compreender melhor o ambiente sob os seus diversos


aspectos, favorece o despertar da curiosidade intelectual, estimula a sentido crítico e
permite compreender o real, mediante a aquisição de autonomia na capacidade de
discernir.

Já o relatório da UNESCO (1996) salienta a necessidade de se desenvolver “uma


sociedade educativa”, dessa forma, torna-se “verdade que toda a vida pessoal e social
oferece oportunidades de progredir no saber e no saber fazer”. Em tempo, o relatório
elaborado por este órgão ainda ressalta “pilares” que precisam ser alcançados na
educação: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a ser e aprender a conviver
(DELORS, 1999).

No atual contexto educacional faz-se necessário estabelecer a interrelação entre


os pilares da educação e a robótica no processo de aprendizagem, conforme Quadro 3.

Quadro 3 - Relação Aprender a Conhecer – Função Organizador (Robótica).


Pilar da Educação Robótica

Aprender a Agir/Conhecer Função: Organizador

Este tipo de aprendizagem não visa somente à aquisição de O organizador nas aulas de robótica é o
um repertório de saberes codificados, mas antes o domínio responsável pelo kit Lego, ele coordena a
dos próprios instrumentos do conhecimento pode ser contagem das peças no inicio e fim do
considerado, simultaneamente, como um meio e como trabalho.
uma finalidade da vida humana.

Esta questão assemelha-se ao “aprender a conhecer”, citado por Delors (1999) no


relatório extraído da UNESCO, que relacionada com a robótica é identificada com a
função do organizador do trabalho. Trata-se de pensar na robótica como meio, porque
tem a pretensão de fazer com que o aluno compreenda o mundo em que vive e finalidade
pela pretensão de desenvolver no alunado o prazer pela compreensão dos fatos, pela
necessidade de conhecer e descobrir e de agir.

O próximo quadro demonstra a relação entre o aprender a fazer e a função do


construtor na robótica, conforme Quadro 4.

Quadro 4 - Relação Aprender a Fazer – Função Construtor (Robótica).


Pilar da Educação Robótica
Aprender a Fazer
Função: Construtor
Aprender a agir e aprender a fazer é indissociável. Mas, a segunda
O construtor nas aulas de robótica é
aprendizagem está mais estreitamente ligada à questão da formação
o responsável pela
profissional: como ensinar o educando a pôr em prática os seus
montagem/construção do protótipo.
conhecimentos e, também, adaptar a educação ao cotidiano.

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Torna-se relevante discorrer que o atual mercado de trabalho exige pessoas


competentes, habilidosas e com atitude, dessa forma o aprender a fazer não pode apenas
ter o simples significado de preparar alguém para uma determinada tarefa material, antes
é necessário fazê-lo compreender e contextualizar o ambiente em que está inserido e
despertar a pro-atividade e a participação ativa na sua atuação profissional.

Como consequência dessa exigência mercadológica e social, o processo de


aprendizagem deve evoluir e possibilitar a construção do conhecimento pelo aluno. A
função do construtor na robótica é proceder com a construção do protótipo, função esta
relacionada à educação, que também deve permitir o desenvolvimento da autonomia, da
iniciativa e da criatividade como forma de construir conhecimento. O Quadro 5 discorre
sobre isso.

Quadro 5 - Relação entre Aprender a Conviver e a Função Programador (Robótica)


Pilar da Educação Robótica
Aprender a conviver
Função: Programador
Esta aprendizagem representa atualmente um dos maiores
O programador é o responsável pela
desafios da educação que é a integração entre as pessoas.
programação que controlará e
Sabe-se que o ser humano precisa conviver em grupos e
automatizará o protótipo usando o NXT.
respeitar as diferentes diferenças entre as pessoas.

Observa-se na atualidade a individualidade e a supervalorização de alguns


grupos da sociedade em detrimentos de outros, alimentando, dessa forma, preconceitos
desfavoráveis em relação aos outros. Nota-se ainda, o crescimento da competitividade e
da concorrência que atinge todo e qualquer ramo da sociedade, fato que também induz ao
individualismo, aumentando a diferença entre os mais favorecidos e os pobres.

Nas aulas de robótica é possível mostrar que as diferenças podem ser deixadas
de lados, pois no mesmo espaço comum existem diferentes grupos, que devem realizar
um trabalho de equipe, no contexto igualitário, com objetivos comuns. Neste contexto, os
preconceitos e a hostilidade latente podem desaparecer e dar lugar a uma cooperação
serena e até a amizade. A educação deve utilizar, por meio da robótica, duas vias
complementares: a descoberta progressiva do outro e, ao longo de toda a vida, a
participação em projetos comuns, que parece ser um método eficaz para evitar ou resolver
conflitos em sala de aula e na vida do aluno. O Quadro 6 apresentado demonstra.

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346 A robótica no ensino aprendizagem

Quadro 6 - Relação entre Aprender a Ser e Função Relator/Líder (Robótica).


Pilar da Educação Robótica
Aprender a Ser Função: Relator/Líder
A educação deve contribuir para o desenvolvimento total da O líder da equipe fica responsável por
pessoa, espírito e corpo, inteligência, sensibilidade, sentido apresentar para a classe o protótipo
estético, responsabilidade pessoal, espiritualidade. Todo o pronto, como funciona, para que serve,
ser humano deve ser preparado, especialmente graças à bem como a opinião da equipe e as
educação que recebe na juventude, para elaborar dúvidas ao professor.
pensamentos autônomos e críticos e para formular os seus
próprios juízos de valor, de modo a poder decidir, por si
mesmo, como agir nas diferentes circunstâncias da vida.

Mais do que nunca a educação parece ter, como papel essencial, a função de
conferir a todos os seres humanos a liberdade de pensamento, discernimento, sentimento,
imaginação e escolha de que necessitam para desenvolver os seus talentos e
permanecerem, tanto quanto possível, donos do seu próprio destino. Ressalta-se, neste
ínterim, o desenvolvimento da cidadania plena e efetiva, a fim de que o aluno possa ter
atitude positiva no mundo em que está inserido e assim construir e modificar sua própria
história.

7. RESULTADOS

A Robótica está sendo uma estratégia no ensino-aprendizagem, buscando facilitar o


aprendizado do educando e trabalhando o concreto. Atualmente, o trabalho com robótica,
é aplicado na maior parte em instituições privadas, onde envolve um conjunto de
atividades integradas, a serem realizadas em torno de um eixo, durante um determinado
tempo (bimestre).

A prática em uma instituição estadual é um pouco diferente de uma instituição


privada, começando pelo número de alunos em cada sala, o primeiro contato com o
material, pois tudo é novidade para o alunado e, embora pareça difícil, o trabalho com
robótica em instituição pública é possível.

7.1. Aplicação da Robótica em Instituição Pública

As atividades de robótica foram aplicadas no Ensino Fundamental, ciclo I, 5º ano, em uma


Instituição Estadual do município de Jacareí, no total de quatro aulas. A sala que serviu de
campo de pesquisa com a utilização da robótica tem 32 alunos, porém as atividades foram
aplicadas por amostragem com 16 alunos, pela falta de material (Kit Lego).

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De início é possível notar a dificuldade deste tipo de trabalho pela falta do


material específico ou, pelo menos, genérico em unidades escolares públicas. Há, neste
contexto, a necessidade de investimentos ou parceria com empresas que podem fornecer
ou patrocinar o Kit específico.

A vivência realizada na escola foi iniciada com a parte teórica e explicativa do


que significa a Robótica, a apresentação do Kit Lego com o conceito tecnológico e de que
forma se utiliza (Projeto de Educação Lego Zoom). Neste momento de apresentação
também foi frisada a importância do trabalho em equipe para desenvolver ciência e
tecnologia, por isso, foi aplicado uma dinâmica de interação das equipes.

Em seguida houve a separação das equipes formadas pelo professor da sala.


Ressalta-se que os grupos foram formados de forma mista, com alunos com facilidade no
aprendizado, visual, sinestésico e alunos com dificuldade, um em cada grupo. A primeira
atividade aplicada foi “Meu primeiro Robô” (Fascículo Introdutório – Lego Education), pois
foi o primeiro contato com o material de robótica. O objetivo inicial foi introduzir o estudo
da Robótica, seguindo uma nova metodologia, que se decompõe em outro objetivo
específico o “ponto de referência”, contextualizando, raio, relâmpago e trovão.

A segunda atividade foi a Locomotiva, na qual a contextualização foi relacionada


a motores ecológicos, Co2 e a terra, abrangendo, dessa forma, a disciplina de ciências e
geografia, com os objetivos de discutir os temas da evolução dos meios de transporte,
mencionar os tipos de energia utilizada no meio de transporte e orientá-los sobre os
perigos do gás carbônico;

A montagem do protótipo chutador foi a terceira atividade com o objetivo de


demonstrar que o trabalho em equipe faz a diferença, que a união faz a força. A
contextualização foi à importância da atividade física.

A quarta e última atividade aplicada foi a construção da torre, com o objetivo de


desenvolver a qualidade pessoal e o reconhecimento das próprias limitações,
contextualizando os avanços tecnológicos no mundo. Esta atividade foi interessante, pois
o grupo teve um desafio de construir a torre mais alta, onde todos se preocuparam na
competição e no crescimento da torre esquecendo a estrutura, ou seja, a base da torre.
Tendo em vista o maior envolvimento do aluno, transformando o abstrato em concreto,
saindo do imaginário para o real e facilitando o aprendizado dando ênfase ao conteúdo
da série.

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348 A robótica no ensino aprendizagem

7.2. Experiência com a Robótica em Instituição Privada

A vivência com a Robótica em uma instituição privada ocorre desde o ano de 2009, sendo
que para esta pesquisa optou-se pelo relato da experiência do segundo semestre de 2009,
do primeiro semestre de 2010 e do primeiro bimestre do segundo semestre de 2010.

A priori faz-se necessário enfatizar que em relação à aplicação da robótica em


escola particular observa-se que os educando tem outra visão em relação à Robótica, além
de terem facilidade de acesso a diversas ferramentas tecnológicas, a instituição apóia e
oferece a disciplina de robótica. Cabe salientar que esse novo instrumento é utilizado em
várias disciplinas com aplicação de teoremas/hipóteses, simulações e até mesmo em
campeonatos internos realizados com o objetivo de chamar atenção da comunidade para
alguns assuntos da atualidade.

No ano de 2010 já foram realizados dois eventos na instituição envolvendo a


Robótica com assuntos da atualidade. O primeiro ocorreu no primeiro semestre e o
assunto abordado foi Energia Renovável, esse campeonato interno envolveu as séries do
ciclo II (6º Ano ao 9º Ano), formando oito equipes de dez alunos e uma das regras era que
cada equipe teria um membro de cada série. Os educando assistiram um filme que
retratava a tragédia ocorrida na Usina de Chernobyl para fazerem uma resenha
relacionando o documentário com o tema do campeonato (energia renovável). O objetivo
do campeonato, além de fazer a interação entre as séries, foi uma forma de chamar
atenção deles para o consumo abusivo de energia e abordar as maneiras de produzir
energia sem causar grandes danos ao meio ambiente.

No segundo semestre ocorreu uma Feira Educacional e Cultural, na qual houve


um campeonato de robótica com o tema Qualidade de Vida. Esse evento é separado por
disciplinas onde o produto final é uma exposição com os trabalhos. A Robótica trabalhou
diretamente com as disciplinas de matemática e ciências. Dentro do tema trabalhamos
com a Qualidade de Vida de Pessoas com Deficiência Física com proposta de possibilitar e
garantir um aprendizado efetivo e transformador de atitudes e hábitos de vida. Os alunos
fizeram montagens de protótipos informando sobre as dificuldades encontradas na cidade
para um portador de necessidades especiais, transmitindo o conceito de inclusão.

A instituição privada observada facilita esse tipo de trabalho, pois todo o aluno
tem seu material para as aulas de robótica (revista, Kit Lego, sala de informática) e a
participação dos pais e da comunidade é de noventa por cento, na qual a motivação e o
reconhecimento são essenciais para resultados satisfatórios.

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7.3. Análise das Impressões nos Campos de Pesquisa

Trata-se de um trabalho interdisciplinar no sentido de possibilitar a integração dos alunos


com a tecnologia e com diversas disciplinas, fato que promove um caráter inovador e
eficiente, e que ainda possibilita a participação efetiva dos professores das diversas
disciplinas.

Como exemplo das disciplinas integradas pela robótica nesta pesquisa encontra-
se a: a matemática, com o conteúdo a ser explorado pelos cálculos, figuras geométricas e
ângulos; artes, com o conteúdo de estética do trabalho; português, com elaboração de
relatório (escrita); ciências e geografia, com a conscientização sobre o meio ambiente,
reciclagem, emissão de gases poluentes etc.; temas transversais, com assuntos sobre
realidade social, diversidade, meio ambiente, responsabilidade social, etc.

A disciplina de robótica não é um método, mas sim uma concepção da educação


e da escola que leva em conta a aprendizagem do mundo em que vive, tornando-o mais
próximo da realidade, em seu próprio meio, levando sempre em consideração a enorme
produção de informação que caracteriza a sociedade atual e a aprender a dialogar de uma
maneira crítica com todos esses fenômenos.

Neste contexto, o educador precisa planejar uma série de atividades organizadas


e direcionadas para a meta preestabelecida, de forma que, a organização dos conteúdos
em torno de projetos, favoreça o desenvolvimento das atividades de ensino e
aprendizagem. Esta práxis favorece ainda a compreensão da multiplicidade de aspectos
que compõem a realidade, uma vez que permite a articulação de contribuições de
diversos campos de conhecimento.

Independente se a instituição é pública ou privada, as aulas de robótica sempre


serão interessantes e envolventes para os educando, pelo fato de trabalhar a criatividade,
o lúdico, liberdade de expressão e o respeito às diferenças. Os educandos entram em
contato com diferentes fontes de informação e isso lhes proporciona diferentes visões da
realidade, os leva a utilizar diferentes linguagens e enfoques e a confrontar e contrapor
opiniões.

Trabalhar o progresso das aulas de Robótica é o planejamento, ou seja, planejar


uma atividade que faz parte do trabalho pedagógico em benefícios para o educando, visa
uma educação por contenção, via de situações-problemas, o aluno cria uma maior
compreensão do mundo. O objetivo desse tipo de ensino é fazer com que o aluno fique
mais competente para agir sobre a realidade. Através do trabalho em equipe com a
participação de todos, certamente os resultados alcançados serão satisfatórios.

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350 A robótica no ensino aprendizagem

A única ressalva é sobre o fato da escola pública não disponibilizar os mesmos


materiais que a instituição privada disponibiliza, dificultando a inserção desta prática nos
ambientes educacionais públicos, embora haja, mas pequenas experiências resultados
significativos na questão da aprendizagem efetiva e contextualizada.

A escola e os educadores precisam buscar as reais necessidades do aluno e com


isso garantir avanços progressivos e contínuos na aprendizagem dos mesmos. Sabe-se
que, na educação, um grande desafio é formar um cidadão íntegro, competente,
habilidoso e inserido, de forma efetiva, na sociedade. A robótica possibilita uma
aprendizagem ampla e permanente, porque promove a criatividade, a busca, a iniciativa e
atitude ao aluno, além de formação humanizada. Segundo Madalena freire: “A matéria
prima do educador não é o conhecimento, mas a pessoa humana que conhece.”

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A utilização da robótica no ambiente escolar tem como objetivo, ampliar a concentração,


raciocínio, cooperação e organização dos alunos. Além disso, desencadeia um processo e
uma vivência interdisciplinar, promove a idéia do trabalho em equipe, a necessidade de
respeito com o próximo, da responsabilidade social, a linguagem tecnológica e os avanços
provenientes da era tecnológica.

A proposta da Robótica no Ensino Aprendizagem traz uma visão humanista


diante de um contexto tecnicamente racional. Faz com que as tecnologias ganhem espaço
efetivo na educação, possibilitando o desenvolvimento de competências e a aprendizagem
do alunado, de forma criativa, estratégica, interativa e de extensão social.

É evidente que a robótica, como fator inovador e interdisciplinar de


aprendizagem, necessita da mediação e práxis docente eficaz, bem como da participação
do aluno como corresponsável pela construção e desenvolvimento de seu aprendizado.
Vê-se, dessa forma, a importância dos projetos de robótica no ambiente escolar, como
ferramenta no processo de ensino-aprendizagem, como possibilidade real, diferenciada e
inovadora de um processo educacional que visa o aprender e apreender dos conteúdos e
vivências necessários à formação de um ser humano digno e atuante no meio em que está
inserido.

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REFERÊNCIA ELETRÔNICA
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