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Igreja Presbiteriana do Mutuá
07 de março de 2020
Aplicando o ensino
No treinamento de hoje vamos abordar o desafio de criar conexões entre o
conteúdo do ensino e a vida das pessoas a quem estamos ministrando. É essencial lembrar-
se que nosso desafio não é apenas informar as mentes, mas desafiar o coração e as mãos
daqueles a quem ensinamos.
Ou seja, para que nosso ensino possa de fato ser transformador precisamos ir além
do domínio do conteúdo: precisamos conhecer as vidas daqueles a quem ministramos e
criar conexões ricas e verdadeiras entre o conteúdo e as vidas de nossos alunos.
A questão é: como podemos fazer isso? Vamos utilizar 3 movimentos básicos:
aprender a ouvir, aprender a fazer as perguntas certas e aplicar o ensino na vida de nossos
alunos.
1
COVEY, Stephen. Os 7 hábitos das pessoas altamente eficazes – 53a Edição. Rio de Janeiro: BestSeller, 2015, p.292
2
THISELTON, Anthony C. The Two Horizons: New Testament Hermeneutics and Philosophical Description with Special
Reference to Heidegger, Bultmann, Gadamer, and Wittgenstein – Grand Rapids: Eerdmans, 1980, 484p.
1
profundo e direto. O Mestre aplicou o princípio “ouvir e então comunicar” de forma
maravilhosa.
Paulo também aplicou o mesmo princípio em seu ministério, pois o apóstolo dos
gentios era capaz de adaptar a maneira como apresentava o Evangelho tendo em vista o
conhecimento que possuía de seu público.3 Em Antioquia da Pisídia Paulo apresentou a
Jesus Cristo dentro de uma sinagoga e por isso invocou vários elementos da fé judaica,
apresentando Jesus como o Messias esperado nas Escrituras do Antigo Testamento (At
13.13-49).
Já em sua passagem por Atenas Paulo apresentou a Mensagem diante de um
público pagão e politeísta, gregos que adoravam a diversas divindades e que, portanto,
não possuíam o mesmo pano de fundo cultural dos judeus. Nesta ocasião (At 17.16-34)
Paulo apresentou a Mensagem por meio de doutrinas mais universais como a criação, a
revelação geral de Deus no mundo criado e chega até a citar poetas gregos que eram
conhecidos do seu público (v.28).4
Howard Hendricks afirma que “a maneira como os alunos aprendem deve
determinar a maneira como ensinamos”.5 Hendricks chama esse princípio de lei do ensino,
o que nos leva a entender que devemos primeiro compreender nosso público, conhecê-lo
para sermos eficazes no ensino.
É importante lembrar que não se trata, de maneira alguma, de permitir que o
público controle o conteúdo da mensagem como nos alerta Martin Lloyd-Jones,6 mas de
permitir que as necessidades e peculiaridades do público sejam consideradas para que
aquele que ensina possa adaptar a forma e o método, sem alteração do conteúdo do
Evangelho ou da doutrina cristã. Ou seja, a contextualização tem a ver com a forma e não
com o conteúdo, como afirma Keller.7
3
KELLER, Timothy. Center Church: Doing balanced, Gospel-centered ministry in your city. Grand Rapids: Zondervan,
2012, 395p.
4
LONGENECKER, RICHARD N.: The Acts of the Apostles. In: GAEBELEIN, F. E. (org.): The Expositor’s Bible Commentary: John
and Acts. vol. 9. Grand Rapids, MI : Zondervan Publishing House, 1981, p. 476
5
HENDRICKS, Howard. Ensinando para transformar vidas. Venda Nova-MG: Editora Betânia, 1991, p.39
6
LLOYD-JONES, Martin. Pregação e Pregadores. São José dos Campos-SP: Editora Fiel, 1976, p.115
7
KELLER, Timothy. Center Church: Doing balanced, Gospel-centered ministry in your city. Grand Rapids: Zondervan,
2012, p.89
8
KELLER, Timothy J.; THOMPSON, J. Allen. Manual para Plantação de Igrejas. Nova Iorque: Centro de Plantação de
Igrejas, 2002, p.90
2
2- Qual é o nível econômico do público com o qual vou me comunicar? Quais temas
são mais relevantes para essa faixa social? Existem questões que podem ser sensíveis para
essas pessoas?
3- Qual é o nível educacional do público com o qual vou me comunicar? Quais temas
são mais relevantes para essa faixa educacional? Qual a linguagem apropriada para este
público? Existem questões que podem ser sensíveis para essas pessoas?
4- Qual é a situação do meu público em relação à religião? São pessoas religiosas
ou aversas à religião? São pessoas que partilham de um pano de fundou cristão ou de
outra religião? Existem questões que podem ser sensíveis para essas pessoas?
5- Quais são as esperanças, anseios e aspirações do meu público? O que eles estão
buscando na vida? Quais realidades tendem a substituir o verdadeiro Deus em seus
corações?
6- Quais são os medos, temores e preocupações do meu público? O que eles estão
evitando?
7- Existem padrões de pecado visíveis na vida do meu público? Quais as causas
deste padrão de pecado? É o momento adequado para abordar esse pecado? Como vou
abordar esse pecado e conduzi-los ao Evangelho?
8- Qual é o momento existencial do meu público? Existe alguma tensão,
preocupação ou tema que esteja em proeminência neste momento? Como posso
aproveitar esse momento para comunicar o Evangelho?
9- Em relação ao Evangelho, quais aspectos do Evangelho e das Escrituras o meu
público aceita? Que aspectos ele rejeita?
Por meio dessas perguntas podemos compor um quadro do nosso público e
compreender que temas, doutrinas, textos, histórias e métodos mais se adequam aos
ouvidos daqueles aos quais desejamos comunicar.
Por fim, Tim Keller nos lembra que existem três caminhos para a razão:9
1- Conceitual: neste caminho as pessoas raciocinam mais em termos de lógica e
análise intelectual. O comunicador pode ser altamente eficaz utilizando proposições
racionais que apelem para o intelecto do seu público, levando-o a tomar decisões com
base no discurso lógico e racional.
2- Relacional Concreto: as pessoas tomam decisões mais em termos de
relacionamentos e prática, o que faz com que o comunicador utilize mais em seu discurso
aspectos da tradição (as pessoas tendem a aceitar aquilo que a sua comunidade aceita) e
aspectos práticos. Esse público será cativado se for convencido de que o que está sendo
ensinado é prático e se o comunicador mostrar “por que fazer” e “como fazer”.
3- Intuitivo: este público chega a conclusões por meio de “insights” e experiência,
o que faz com que histórias narrativas que utilizam emoção, simbolismo e inspiração sejam
mais poderosas do que argumentos lógicos ou intelectuais.
É importante perceber as implicações destes diferentes caminhos para a
comunicação, pois utilizar uma abordagem totalmente racional para um público mais
relacional e concreto não será totalmente eficaz. Essa é mais uma maneira de tentarmos
9
KELLER, Timothy. Center Church: Doing balanced, Gospel-centered ministry in your city. Grand Rapids: Zondervan,
2012, p.122
3
perceber o quanto é importante conhecer bem o público para quem vamos ensinar a fim
de que possamos continuar com o próximo processo: o planejamento do ensino.
3. Aplicando o conteúdo
A aplicação é basicamente trazer o conteúdo bíblico para o mundo contemporâneo,
dizendo às pessoas o que o sentido do texto tem para nos dizer hoje e agora. Sidney
Greidanus afirma que o ensino da Bíblia só está completo quando “significado essencial e
real [do texto bíblico] seja manifesto e aplicado às necessidades atuais dos ouvintes, como
ele existe na mente do escritor bíblico em particular e como ele existe à luz de todo o
contexto da Escritura”.10 Ou seja, interpretar o sentido do texto bíblico é o meio do
caminho, é a metade do trabalho, pois agora que ajudamos nosso ouvinte a compreender
o sentido do texto bíblico em seu contexto original somos desafiados a dizer o que o texto
quer falar conosco hoje e agora!
A aplicação é a resposta à pergunta: “E daí? O que eu faço com isso?”. Neste
sentido é essencial – repito, essencial! – não deixar vago ou implícito o que o texto quer
dizer ao seu ouvinte. A aplicação é a ponte que faz com que o texto bíblico, que parece
falar em uma voz distante quando explicamos o seu sentido original, grite com uma voz
contemporânea, atual, relevante e profética.
Se falharmos na aplicação, vamos estar transformando as Escrituras em uma obra
de museu, falando sobre coisas do passado, velharias que não tem nada a ver com os
desafios e angústias do nosso tempo.11 Isso tornará seu ensino distante e entediante.
Robinson coloca de maneira perfeita quando diz: “Devemos esquecer-nos de falar
às eras, e falar agora, para nossos próprios dias”.12 Ou seja, não ensine a Bíblia e deixe as
coisas em termos universais e abstratos, mas traga seu ensino para o mundo real e atual e
acrescento algo à citação de Robinson: não tente falar com todas as pessoas, mas fale com
as pessoas que estão diante de você! Lembre-se de utilizar o conhecimento que você tem
do seu público para aplicar o texto, batendo na veia das questões que são importantes
para quem está te ouvindo.
Como podemos aplicar? Em primeiro lugar, retorne às perguntas da seção para
descobrir como aplicar o texto. Em segundo lugar, faça a conexão entre o texto e os
dilemas, angústias, perguntas, questões e pecados do seu ouvinte. Agora é o momento
de responder à questão “E daí?” e dizer claramente o que o texto quer dizer hoje e agora.
Em terceiro lugar, mostre como as pessoas podem aplicar o que você está
ensinando na prática. Agora é a hora de sugerir mudanças de atitude, mudanças de
comportamento, formas práticas de aplicar o conteúdo, deixando claro ao seu ouvinte
como viver o que você está ensinando. Não deixe seu ouvinte ir para casa sem um desafio
prático, sem ter algo que ele possa colocar em ação, pois o que as pessoas não colocam
em prática não lança raízes em seus corações.
10
GREIDANUS, Sidney. The Modern Preacher and the Ancient Text: Interpreting and Preaching Biblical Literature. Grand
Rapids: Eerdmans, 1988, p. 26.
11
ROBINSON, H. W. Pregação Bíblica: o desenvolvimento e a entrega de sermões expositivos. São Paulo: Shedd
Publicações, 2002, p.29
12
ROBINSON, H. W. Pregação Bíblica: o desenvolvimento e a entrega de sermões expositivos. São Paulo: Shedd
Publicações, 2002, p.29
4
Quero fazer uma última observação sobre o ponto anterior: é claro que existem
temas e doutrinas que são difíceis de imaginar como podemos colocar em prática, como
“Soberania de Deus”, mas o fato é que toda verdade revelada nas Escrituras nos desafia
a viver de uma forma diferente. Note como Paulo fala sobre verdades universais e amplas
em Ef 1 e convoca os efésios pessoas a viverem de acordo com essas verdades em Ef 4. É
um bom exemplo de que toda doutrina bíblica deve moldar não apenas nossa mente, mas
deve transformar nossa prática.
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