José Carlos Reis: Formado em História pela Universidade Federal de Minas Gerais
(1981), mestrado em Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais, mestrado,
doutorando e pós doutorando em Filosofia pela Université Catholique de Louvain. É pós-doutor pela École des Hautes Études en Sciences Sociales e pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ênfase em Teoria da História e História da Historiografia, atuando principalmente nos seguintes temas: epistemologia, temporalidade, historiografia brasileira, historiografia francesa, pensamento histórico alemão.
A Biografia de Capristano de Abreu é muito importante no reconhecimento do lugar
inovador de sua produção historiográfica, a origem familiar de Capristano não pertence ao bipolarização senhor-escravo, sua família é de pequenos produtores, cujo pedaço de terra conseguiu através de uma surpreendente benesse de um reinol, de interminável trabalho braçal, não para o mercado internacional, mas para os próprios moradores daquela propriedade, escravos e familiares iguais, sob o olhar vigilante de um pai muito severo. Em 1875, Capristano recusou o futuro familiar no Nordeste e partiu par o Rio de Janeiro com 700 mil réis da venda de uma escravo herdado e uma carta de José de Alencar com recomendação, ele vivera até 1927, principalmente de seu cargo publico, bibliotecário e professor, sendo sua apesar de inovador e elogiada era pequena e composta de textos curtos.
Capristano nasce na época de publicação da História Geral do Brasil de Varnhagen,
como leitor e crítico, orienta sua produção como inovadora em relação a Varnhagen. Essa inovação não é apenas resultado de uma origem social impar entre os intelectuais da época, mas também de um ambiente intelectual brasileiro após 1870. Aumentam em prestigio obras alemãs e inglesas, para rivalizar com a produção francesa, após o desfecho da guerra franco-prussiana. O ambiente social brasileiro se intricou, e a situação da monarquia era fragilizada.
A intelectualidade brasileira do final do século XIX se incomoda com a distancia entre a
realidade e o que estava sendo produzido. Cresce preocupações ‘cientificistas’, após a Guerra do Paraguai a nova geração, a qual Capristano pertence e tem interesse no povo e na formação étnica, pensou a sociedade e a história como submetidas a leis gerais, e por isso passiveis do conhecimento objetivo, abandonando as verdade religiosas, tradicionais e filosóficas. O pensamento brasileiro no final do século XIX não era unânime, existia o historicismo, defendendo inexistência de um mecanismo explicativo abrangentes do todo humano e social, opondo-se ao cientificismo.
Capristano transparece a confusão da discussão intelectual brasileira no período. Os
analistas de sua obra concordam em linhas gerais que Capristano vindo de Recife, predominantemente historicista com ‘Escola de Recife’, teria entrado em contato com autores positivistas no Rio de Janeiro. Capristano será um dos iniciadores de um movimento para “Redescobrir o Brasil”, atribuindo ao povo o papel de sujeito de sua história, e agente de seu futuro, sendo pioneiro na procura de uma identidade do povo brasileiro . Em Capítulos de História Colonial ele não faz uma história político- administrativa ou biográfica, ele vê a história como um conjunto complexo de fenômenos humanos, como historicista o conceito de cultura sobrepõe o de raça, pensando um Brasil mais mameluco que mulato, mais sertanejo que litorâneo. Ele coloca o colonizador isolado no interior do Brasil, cercado pelos nativos e a terra, que constitui um ‘homem novo’, o brasileiro.
Capítulos de História Colonial é uma nova abordagem modesta e inovadora da história
do Brasil, se contrapondo a ‘síntese’ de Varnhagen em cinco volumes indiscutivelmente erudita, Capristano divulga com simplicidade a história do Brasil para seu povo quando a história nacional era desprezada. Capristano monta a história da luta dos brasileiros pela independência, alçando o povo e consequentemente os indígenas ao papel de protagonismo, sendo brasileiro o europeu diferenciado pelo clima e pela miscigenação. Ele faz uma história social e econômica do povo, identificando essa população ainda desagregada e sem identificação no período colonial e mesmo imperial, ele revela o crescimento gradual do desejo e processo de diferenciação brasileira, onde Varnhagen valoriza a supremacia lusitana e aplaude a continuidade dos valores europeus. Capristano elogia a ‘rebelião brasileira’.
A obra capítulos da história colonial começa com dois capítulos ‘estatisticos’,
oferecendo detalhes específicos. No primeiro capítulo, Antecedentes Indígenas, ele realiza uma descrição geográfica, são descritos os habitantes nativos, os indígenas, em seus hábitos, língua e religião. Assim no primeiro capitulo ele apresenta a natureza e os índios, os elementos primitivos aos quais serão acrescentados os europeus e os africanos, descritos no segundo capítulo, Elementos Exóticos, colocando-se na perspectiva indígena ele inverte a lógica utilizada por Varnhagen em sua própria obra de descrição, na qual o alienígena era o índio e não o europeu que desembarcava. O segundo capítulo é dedicado a descrição da situação dos portugueses, ele descreve a passagem de Portugal da Idade Média para Moderna no século XVI, as disputas entre poder secular e o poder religioso dominante, a hierarquia social. Ele caracteriza o diminuto populacional português ao descrever seu caráter, antecipando G. Freyre e S.B. de Holanda, sendo suas particularidades responsáveis por uma população tão pequena espalhar-se por tantos lugares. Após os portugueses, conquistador e colonizador, o segundo elemento alienígena é o negro, de quem faz uma descrição bastante abstrata, ele descreve a robustez mais adequada ao trabalho rude que o índio, a docilidade e alegria contraposta ao taciturno português, ele não dá muita atenção ao negro, concentrando-se no branco e no índio ou mesmo o resultado de sua miscigenação o mameluco sertanejo.
No terceiro capítulo, Os Descobridores, o autor trata da movimentação relativos
‘descobrimento’, as motivações geográficas, religiosas, militares e comerciais que levaram os portugueses a procurar rotas comerciais marítimas de acesso as Indias, algo impossível pelas teorias cosmográficas da época, tanto Portugal quanto Espanha tentam as vias ocidental e meridional, chegando nas Índias os portugueses e na America os espanhóis, ele reconhece a presença espanhola anterior no Brasil, mas a considera sem consequência. Ele descreve a aventura de Cabral, a celebração da missa e o hasteamento da cruz, a carta de Caminha, os encontros dos aventureiros com índios hostis, o comercio de pau-brasil causa da instalação de feitorias. Ele descreve a mestiçagem como algo desejado pelas índias, que desejavam filhos da ‘raça superior’, e inevitável aos colonos, degredados, desertores e náufragos, os quais se tornavam índios, os combatiam ou se adaptavam sem perder a identidade européia. Junto aos portugueses outros elementos alienígenas, franceses, holendeses e ingleses ameaçavam os interesses portugueses, com o fracasso de outras medidas, como fortalezas, tratados e diálogos, a única solução foi ocupar a terra.
Formou-se o sistema monumental de capitanias hereditárias, chefiado pela pequena
nobreza, a autoridade real cedida aos donatários mantinha os colonos sob controle e protegia a costa e povoava por miscigenação, mas levou muitos donatários a falência. Para unificar as entidades separadas das capitanias o rei criou uma capitania real com a qual chegaram os primeiros jesuítas. Com as capitanias e o Governo Geral o domínio português sobre o Brasil se fortaleceu, mesmo com o trono de Portugal sob o domínio Espanhol a vitoria portuguesa não foi comprometida, ao receber ajuda espanhola para o domínio da Amazônia e expulsão dos franceses do Norte e Nordeste.