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Postado há em 21st, June 2017.

Atualizado há em 21/6/17

Orçamento base zero


Heráclito é considerado um dos mais importantes filósofos pré-
socráticos
Autor(a): Andriei José BeberFonte: O Autor

Heráclito é considerado um dos mais importantes filósofos pré-


socráticos. Nasceu em Éfeso, por volta de 540 a.C. Tornou-se conhecido
como o “pai da dialética”. É dele uma das mais importantes
contribuições filosóficas do mundo antigo: “nada é permanente, exceto a
mudança”. Utilizando o exemplo de um rio, Heráclito ilustrou sua teoria:
ninguém se banha duas vezes no mesmo rio. Por meio desse exemplo, ele
quis dizer que, no instante em que se entra em um rio, águas novas
imediatamente substituirão aquelas nas quais a pessoa imergiu.
Entretanto, ainda assim, o próprio rio é sempre descrito como coisa fixa
e imutável. Em razão da crise econômica que o Brasil atravessa, a
escassez de recursos públicos torna-se mais intensa, exigindo soluções
para seu melhor aproveitamento. Adverte o professor Delfim Netto que o
orçamento federal, assim como todos os orçamentos no Brasil, tem
caráter geológico. Ele assevera que, para estar no orçamento desse ano,
basta que o gasto tenha figurado no orçamento do ano anterior, que por
sua vez foi “carregado” do ano que o precedeu, por indução regressiva.
Essa falta de flexibilidade do orçamento pode inibir a inovação e a
criatividade.
O Orçamento Base Zero (OBZ) é uma ferramenta estratégica utilizada na
elaboração do planejamento orçamentário para um determinado período
a partir de uma base zerada, ou seja, sem levar em consideração as
receitas, custos, despesas e investimentos de exercícios anteriores, a
famosa “base histórica”. Empregando a experiência desenvolvida pela
empresa Texas Instruments, o então governador do estado da Geórgia e
posteriormente presidente dos EUA, Jimmy Carter, implantou, em 1973, a
técnica do OBZ no setor público. Por meio desse conceito, não há
“direito adquirido” no orçamento.
Diferentemente do orçamento tradicional (incremental), ao forçar as
atividades a serem classificadas de acordo com a prioridade, o OBZ
fornece uma base sistemática para a alocação de recursos, exigindo que
cada atividade seja justificada a partir da análise custo-benefício. Cada
despesa é tratada como uma nova iniciativa e, a cada ano, é necessário
provar as necessidades de orçamento, competindo com outras
prioridades e projetos. O OBZ amplia a visão estratégica dos gestores da
organização. Além disso, auxilia na identificação de orçamentos inflados,
elimina processos que não agregam valor, aumenta a motivação dos
gestores ao oferecer maior autonomia e responsabilidade no processo
decisório, aperfeiçoa a coordenação e a comunicação. A ênfase é na
eficiência, não se preocupando com as classificações orçamentárias,
mas com o porquê de se realizar cada despesa.
Um equívoco muito comum é a crença que o OBZ se aplica,
exclusivamente, aos gastos e despesas. Contrariamente, permite
benefícios em qualquer etapa da gestão orçamentária. Todavia, como
toda ferramenta estratégica, a necessidade de grande envolvimento dos
gestores pode constituir-se em uma limitação. Ao reconstruir do zero, a
cada ano, tende a tornar-se um processo oneroso, complexo e demorado,
cujo sucesso, em alguns casos, é hipotético. Permanece, não obstante, o
ensinamento de Heráclito, “tudo muda”. E o orçamento também deve
mudar.
Andriei José Beber é professor doutor da IBE-FGV, especialista nas áreas
de Finanças, Gestão e Governança

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