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Planejamento e Controle de Produção (PCP) em uma microempresa

do setor calçadista: Um estudo de caso


Cleiton Eduardo dos REIS 1; Gabriel Luis KRUMENAUER 2; José de SOUZA 3
Recebido: 21/02/16 • Aprovado: 26/03/2016
RESUMO

O Planejamento e Controle de Produção (PCP) de uma microempresa participante do ramo calçadista é o objeto de estudo
deste trabalho. Foram analisados dados da industrialização e da manufatura dos produtos com a utilização de
cronometragem das operações. Com o modelo de PCP foi montado o roteiro de produção e a estrutura de produto, para
assim poder encontrar possíveis gargalos de produção e gerenciar os insumos utilizados. Como resultado obteve-se
melhora na eficiência e consequente redução de custos, obtidos através do balanceamento da linha produtiva e de um
rigoroso controle de materiais, classificados pela curva ABC de estoques.
Palavras-chave: Planejamento e Controle de Produção (PCP); Cronometragem; Eficiência; Classificação ABC de estoques.

2. Referencial teórico
2.1. Estruturação da Indústria Calçadista e a sua Relação com a Terceirização
Segundo Garcia (2001), a indústria calçadista não existe sem a participação de muitos fornecedores, todos com fundamental
importância no desenvolvimento da cadeia produtiva. Inicia pela pecuária de corte, de onde provém o couro, e passa pelo
setor químico, de máquinas e equipamentos, de vestuário e de serviços (subcontratações ou terceirizações).
O processo produtivo do calçado é complexo e dividido em setores que não variam muito de empresa para empresa, porém,
dependendo do porte, podem todos fazerem parte da mesma organização. A Tabela 1presenta as principais características
de cada etapa:

3. Cenário de aplicação da metodologia


A empresa a ser estudada é uma microempresa do ramo calçadista, mais especificamente uma terceirizada, popularmente
conhecida como atelier. Sendo assim é uma empresa contratada de uma organização maior, e presta serviços a sua
contratante, no caso serviços de costura de calçados, sendo o ganho real da empresa obtido com a exploração da mão de
obra de seus colaboradores. Com esse breve relato, pode-se identificar que a empresa não vende nem programa sua
produção, apenas manufatura o que a contratante lhe fornece. Neste caso quem vende o produto e programa a produção é a
organização de maior porte, que utiliza os serviços da terceirizada para ter um apoio e suporte na manufatura de seus
pedidos.
Para um melhor entendimento do funcionamento do ciclo de produção no atelier de costura a ser estudado, está simbolizado
na Figura 1 seu ciclo completo em todas as fases de processamento.

4. Desenvolvimento e resultados
Para iniciar a análise da empresa, foi definida a estrutura de produto para um determinado modelo de calçado com maior
volume de produção, identificada na Figura 2.

A estrutura de produto identifica os itens do produto e suas dependências entre si, proporcionalmente ao seu uso (TUBINO,
2009).
Conforme modelo proposto por Hayes & Wheelwright (1979), a empresa é classificada pela estrutura de produto, tendo um
produto principal, de destaque, com outros produtos semelhantes, mas com volume de produção mediano. A estrutura de
processo é configurada pela linha de montagem, o que gera o fluxo contínuo do processo.
Com a tomada de tempos é possível identificar o número de pessoas e postos de trabalho em dado modelo de calçado, e
através de cálculos chegar na capacidade produtiva da linha de produção. O roteiro de produção do determinado modelo de
calçado está demonstrado na figura 3.
Tubino (2009) ainda relata que o roteiro de produção além de mostrar os insumos aplicados nos processos, informa quais
processos antecedem cada etapa da produção. O roteiro de produção informa as fases de reposição dos itens.
Para iniciar a análise da empresa, primeiramente foi realizado o gerenciamento da mão de obra empregada, simbolizada no
roteiro de produção através do centro produtivo. Trata-se do tempo total de produção do modelo de calçado acima
estruturado e roteirizado. Nesse estudo de tempos e movimentos, tem-se o cálculo de pessoas necessário e exato para atingir
uma eficiência de 100%. Todavia ao analisar o estudo de tempos e movimentos viu-se que as pessoas não estavam bem
distribuidas nas operações, sendo utilizadas pessoas além do necessário para a produção planejada. Em primeiro momento
percebeu-se que a empresa estava sendo pouco produtiva para suprir os gastos com a mão de obra empregada, com uma
eficiência de 77,79%, valor muito aquém do esperado para uma empresa terceirizada que tem como ganho principal a
exploração de mão de obra de seus colaboradores, situação apresentada na tabela 3 e na tabela 4.
Como a empresa necessitava aumentar sua produção para suprir a demanda de mercado, ao invés de demitir funcionários,
optou-se por remanejar a mão de obra. Como pode-se ver, na tabela 5 houve o acréscimo de uma coluna – Tarefas
Precedentes – para verificar a possibilidade de deslocamento de tarefas, podendo assim agrupar mais de uma operação para
mais pessoas, acabando com a ociosidade no decorrer da linha produtiva.
Comparando as situações apresentadas, podemos observar no gráfico 1 que a empresa passou a operar de uma eficiência
de 77,79%, para 97,23%, com a mesma quantia de mão de obra e com apenas algumas trocas de local de operações.
Houve assim o acúmulo de algumas tarefas, fazendo com que não houvesse ociosidade de mão de obra no processo
produtivo, sendo assim finalizada a gestão de pessoas e aumento da eficiência de produção para este produto neste setor.

Outro fator importantíssimo na produção de calçados são os insumos empregados na fabricação, como já vimos na estrutura
de produto na figura 2. A ferramenta utilizada para a gestão desses insumos disponibilizados em estoque fora a Classificação
ABC de Estoques, e posteriormente a Curva ABC de Estoques.
Para dar início ao processo de gestão dos insumos, foram listados os materiais, cada um com uma identificação alfabética,
mostrando o valor unitário de cada item, seu respectivo consumo mensal, totalizando o montante monetário total mensal,
vistos na tabela 7.
Após essa etapa os itens são colocados em ordem decrescente conforme o valor monetário total que caracterizam, e ao
lado somado o percentual acumulado de cada item informado, como é visto na tabela 8. Com o percentual acumulado
identifica-se as classes que cada item pertence, conforme autores referenciados neste trabalho.

Pode-se ver no gráfico 2 que os quatro primeiros itens correspondem a praticamente 70% do montante total, sendo os itens
de classificação A. Com a tabela 8 foi possível passar para a empresa estudada os insumos de seu estoque que merecem
atenção maior. Esses itens não podem faltar no estoque, todavia também não podem ser comprados em excesso, caso
contrário resultariam em elevado montante que significaria dinheiro parado na forma de estoque, ficando exposto ao tempo
e a possibilidade de passar a ser um item sem uso no processo produtivo.
No gráfico 2 finalmente observa-se a Curva ABC composta, com todos os itens utilizados no processo produtivo,
simbolizados individualmente em colunas azuis em ordem decrescente. A linha vermelha simboliza a Curva ABC, que
mostra a participação de todos os itens com valores cumulativos, formando assim uma curva crescente até chegar a 100%,
fechando então o valor total de todos os insumos empregados no processo mensalmente.

Com a Curva ABC composta no gráfico 2 ainda identifica-se no gráfico 3 a Classificação ABC dos estoques, que subdividem
os itens em suas devidas classes, como dizem os autores que referenciam este trabalho: itens da classe A correspondem
a 70%; itens da classe B correspondem a 20%; e itens de classe C significam 10% do montante monetário total de insumos,
simbolizados em vermelho.

5. Conclusão
Após o término deste trabalho verificou-se a necessidade e a importância da utilização de conceitos e técnicas acadêmicas
aliadas às práticas de gestão utilizadas pelas empresas, pois através de estudos realizados observou-se que a empresa
terceirizada operava com uma eficiência bem abaixo da esperada, 77,79%, e após utilização de técnicas adotadas, como
estabelecimento de estrutura de produto e roteiro de produção obteve-se um resultado de 97,23%.
Outra situação também abordada foi o dimensionamento e classificação dos estoques através da utilização da Classificação
ABC de Estoques e da Curva ABC, onde se tornou possível a visualização do tamanho dos estoques, a necessidade média
mensal, e talvez o mais importante a valoração monetária deste ativo imobilizado tão importante para as organizações.
Porém é importante salientar, que um PCP completo não é possível ser implantado na empresa pesquisada, visto que ela se
trata de um atelier de calçados, sendo assim ela não vende os produtos os quais manufatura, e sim vende o serviço de mão
de obra terceirizada, desta forma ela apenas cumpre o que vem determinado pela organização contratante.
Outro fator que merece consideração é de que os estudos feitos são puramente teóricos, realizados com base em dados
fornecidos pela empresa e observações de campo, não havendo tempo nem disponibilidade da organização estudada no
momento para aplicação prática. Para trabalhos futuros sugere-se um estudo mais aprofundado e minucioso em relação ao
roteiro de produção, visto que ainda existem oportunidades de se melhorar os percentuais de eficiência em 2,77%, e propõe-
se que futuramente a pesquisa venha a ser posta em prática, pois é notável o grande benefício que tal aplicação pode trazer
à empresa.

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