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GERHARD P SCHREIBER USINAS | -HIDRELETRICAS oA eel yo r 312i ‘Autor: SCHREIBER, Gerhard Titulo: Usinas iid ESE ek vrrsssa0 1 INTRODUCAO No Brasil inda nao existe um livro em lingua portuguesa que trate da pratica de como projeter usinas hidreldtricas. Para preencher essa lacuna, 0 autor foi incentivado por muitos coleges engenheiros 9 escrever aste livro, apolando-se no apenas na literatura exis Tente, mas também na sua exporiéncia de 45 anos em projetos e constzugio de usinas hidrelétrieas. O objetivo especial deste trabalho 6 0 ensino a estudantes e enge- heiros jovens que queiram dedicar-se a este ramo dal engenharia, como coordenadores de projetos. Com essa intangéo, © livro limitar-se-8 & dascricao dos métodos préticos que se aplicam no projeto do conjunto e dos orgies integrantes da obra, A teoria seré citada somente onde se tore indispensével, fezendo-se ceferéncia, @ iterature especializads. O presente trabalho considera rincipalmente as circunstincias que prevalecem no Brasil. Fatos muito importantes em outros palses sero desprezados, por exemplo, a influéncia de terremotos © 0 congelamento dos ios, a densa populacdo que proibe e inundagao de vestas éreas e, consequentemente, 8 cfiagho de grandes reservatorios, ete, O intuito prin cipal do autor 6 levar a aplicardo de teora na pritica 9 projetos hidvelétricas Na elaboracdo do projeto, o engenheiro sempre deve ter em mente a futura operacéo da usina. Por esse motivo, S80 preferiveis solugées mais simples @ mais soguras @, conseqiientemente, mais econdmices na foperacéo, mesmo que os custos resultantes sejam Deve ser mencionado outro fato muita importante para se conseguir uma obra eficiente, O projeto de uma Using hidrelética abrange varios ramos da Engenharia como Hidrologia, Hidrdulica, Geologia Aplicada, Me- cBnica dos Solos e das Roches, Estética, Mecdnica, Elewicidade, Arquitetura, ete, Um s6 homem no pode ser especializado em todas essas ciéncias e por isso 0 | talhado, que com projeto € 0 resultado dos estudos de uma equipe de engenhoitos, iderada por um coordenador que deve ter certos conhecimentos em todos os setores. Tais conhe: cimentos podem ser adquiridos, em geral, apenas pela prética. O coordenador deve ser 0 primus inter pares @ cada integrante da equipe poders vetar uma solucéo {ue crie dificuldades insuperaveis. ou solugdes antiaco dmicas no seu setor. Se for possivel 0 coordenador daveré acompanhar © projeto desde 0 inicio. A partir dessa concepréo geral, 0 presente tre batho foi elaboredo para ajudar 0 coordenador de um projeto, geraimente um engenhelro civil, @ por isso sempre serdo feitas referbncias a0 trabalho de espe- Cialistas, principalmente quando existe ampla literatura sobre 0 problema especial em questéo. Apenas, quando faltam publicagbes correspondentes ou s30 dificilmente scessiveis, so apresentadios doscricies © métodos de céleulo mais detalhados Cabem aqui mais algumas observagbes. Proposi- talmente 0 nimero das figuras para ilustrar 0 que é dito no texto foi reduzido ao indispensavel. As figuras com muitos detalhes induzem o projeusta 2 copiar os exem- pos, em vez de pensar e desenvolver as proprias ida. ‘Achamos mais oportuno primeiramente imaginar a con- cepgdo de uma obra @ 56 depois disso vetficar de que modo outros projetistas resolveram ou resolveriam 0 problema © presente trabalho descreve © desenvolvimento do projeto desde 0 planejamento geral, passando para © projeto de viabilidade, até 0 projeto definitive, que serve para a obtencdo da concessto do aproveitament hidrdulice, mas no abrange 0 projeto executive de nde a confeceio dos desenhos de ‘execugée com base nos dados definitivos fomecidos pelos fabricantes dos equipementos. CONTEUDO Apresentagio Prefécio 1, INTRODUCAO. 2. PLANEJAMENTO 3. DADOS BASICOS E DEFINICOES 3.1, Dados bésicos 3.2. Tinos de aproveitamentos hidrelétricos — definicdes 4, ESTUDOS HIDROLOGICOS E ENERGETICOS 4.1. Generalidades 4.2. Estudos hidrolégicos 4.21, Dados hidrolégicos e sua obtencao 4.2.2. Tracado da curva-chave 4.2.3, Avaliacdo da enchente maxima provavel 4.2.4, Avaliago da sedimentag3o dos sdlidos 4.3, Estudos energéticos 4.3.1, Generalidades 432. Método das curvas de duragio, aplicado nas usinas a fio dégua 4.3.3, Método das descargas totalizadas, aplicado nas usinas com grande reservatério regu larizador 4.3.4, Consideracées gerais e conclusdes 4.4, Poténcia instalada 4.41, Diagrama de carga 4.4.2. Suprimento do diagrama de carga polas usinas elétricas 4.4.3, Determinacdo da poténcia instalada 48, Observacies gerais, 5, ESTUDOS TOPOGRAFICOS E GEOLOGICOS 6.1. Estudos topograficos 5.2. Estudos geolégicos 6.2.1, Generalidades 6.2.2. Geologia regional 5.2.3. Geologie locel 5.2.4. Materiais para @ construgso 6. PROJETO DOS ORGAOS COMPONENTES DE UM APROVEITAMENTO HIDRELETRICO 6.1. Generalidades 6.2. Barragens 6.2.1, Generalidades 6.2.2. Fixac’o definitiva do eixo da barragem 6.2.3. Diretrizes para a escola do tipo da barragem 6.2.4, Tratamento da rocha de fundacao 62.5. Tratamento do solo de fundacao 8.2.6. Barragens de concreto 6.2.7. Baragens de terra e de enrocamemo x ill 7 W7 v7 7 18 23 28 27 28 31 37 38 38. 38 40, 42 42 42 42 42 42 43 44 44 44 44 44 45 46 48 63. 63, Vortedouros 6.3.1. Fixagko da descarga de projeto 6.3.2. Dimensionamento do vertedouro 6.3.3. Dissipagdo da energia 634 Arranjo geral do vertedouro com o dissipador 6.3.5, Comportas do vertedouro 6.3.6. Comportas de emergéncia (stop-/ogs) 6.3.7. Consideracdes gerais ¢ conclusbes 6.4, Descarges de fundo 6.4.1, Definigéo, finalidade ¢ localizaco 6.4.2. Compartas @ vélvulas de descarga de fundo 6.8. Tomadas d'égua 6.5.1. Finalidade © tipos de tomadas d’ague 6.5.2. Equipamentos de tomadas d'égua 6.5.3. Perdas de carga nas tomadas d'agua 6.6, O1ga0s adutores 6.6.1. Generalidades 6.6.2. Canais ou téneis com lamina d'égue live 6.6.3. Tubulacdes 6.6.4, Tuneis sob presséo 6.7. Chaminés de equilibrio 6.7.1. Funedo da chaminé de equilibrio 67.2. Funcionamento @ as diversas formas das chaminés de equillbrio 6.73. Observagdes ctiticas sobre os diversos tipos de chaminés de equilibrio 6.7.4. Dimensionamento das chaminés de equilibrio 68. Equipamento dos drgaos adutores e das chaminés de equilibrio 6.9. Casas de forca 6.9.1. Genoralidades 6.9.2. Turbinas 6.9.3. Geradores 6.9.4, Arranjo geral da unidade geradore 6.9.5. Transformadores principais, 6.9.8. Equipamento auxiliar 6.9.7. Projeto da casa de force 7. USINAS REVERSIVEIS OU DE ACUMULACAO POR BOMBEAMENTO 7.1. Generalidades ‘alidade das usinas reversiveis 7.21. Papel das usinas reversiveis no suprimento do diagrama de carga 7.2.2. Ourras finalidades das usinas reversiveis 7.2. Projeto de uma usina hidrelétrica reversivel 7.3.1. Generalidades 7.3.2. Maquinas das usinas reversiveis 7.3.3, Turbinas reversiveis 8. PROVIDENCIAS PARA A CONSTRUCAO. 8.1. Fases de construgdo e desvio do rio 82. Ensecadeiras 8.3, Célculos hidraulicos 8.3.1. Generalidades 8.3.2. Ensecadeiras para a primeira fase de construg3o 8.3.3. Ensecadeiras para 0 desvio na segunda fase de construcso 8, VIABILIDADE ECONOMICA 0 PROJETO 9.1, Generalidades 123 149 150 151 176 77 7 178 195 198 200 203 210 218 218 218 220 220 22 222 226 226 227 227 227 228 228 230 230 9.2. Investimentos 9.2.1. Custa da consttucso 8.2.2. Custo dos tabalhos preparatorios 8.2.3. Desapropriagdes © indenizacées 9.2.4. Despesas gerais 9.2.5. Imprevistos 9.2.6. Juros do capital investido na construgso Despesas anuais 9.3.1. Despesas anuais indiretas 8.32. Despesas anuais diretas Producéo de energia e 0 prego de custo do kwh SUPLEMENTO. Volume de berragens de terra ou enrocamento Volume de barragem da concreto Volume de concreto de um bloc da casa de forca Peso do rotor da turbina Francis Peso de comportas e pontes rolantes 234 234 236 236 235 236 APRESENTAGAO A_ENGEVIX SA, — Estudos @ Projetos de En- ‘genharia tomou & iniciativa de promover a edigSo desta obra, Usinas hidrelévicas, de autoria do engenheiro Gortiard Paul Schreiber. que exerceu. com proficiéncia, © cargo de Diretor de Planejamento dessa empresa de Cconsulteria por largo periodo de tempo, até que, para nosso pesar, vaio a falacer em 8 de setembro de 1977. N3o se tata de uma homenagem péstums, & qual © Autor faria juz por tantos titulos. E que a edicso deste trabalho foi patrocinada pela ENGEVIX ainda em vida do Autor, que subscreveu o contrato de edigao @ di Figiu os tabalhos iniciais, chegando a rever as pi meiras proves Em verdade, a ENGEVIX tomou essa louvéve! ini- ciatva, antes, @ acima de tudo. por considerar, de um Jado, que a obra do Autor encerra uma experiéncia profissional de alto nivel técnico, @ por entender. de out lado, que a bibliogratia nacional de livros tecnicos @ catente em relagdo @ estudos e projetos especiall- ‘zados versando sobre usinas hidrelétricas. De resto, como bem assinala 0 Autor em sua ‘obra, no capitulo “Introducso", nosso pais dispbe de lum potencial energético estimado por volta de 150 miles de quilowatts, cujo aproveitamento & imperative para que possamos superar o obstéculo com que nos defrontamos, face & escasser de petrbleo na atval con- junture energética mundial. A dependéncia da energia proveniente do petrdleo deve baixar. 0 periodo de 1976/1986 de 43,3% para 37.1%, © 0 aproveitamento da energia hidreletica, nesse mesmo periodo de tempo. eve aumentar de 23.8% para 31.8%, 0 que significa ‘que serfo necessérios vultosos investimentos para que. implementando aquelas projegdes. obtenha-se a incor Doragdo de mais 27 milhbes de quilowatts ao potencial energética atualmente aproveitado. Esses dados expres- sivos bem dimensionam a medids do esforco © da tenacidade que nosso pals ter8 de despender, no de- ccénio 1976/1886. em relago 3 impiementagdo de es tudos @ projetos de usinas hidrelétricas. Sem duvida, ‘esses consideracdes valorizam, sob mais um aspecto, & felevancia da iniciativa da ENGEVIX, pois, como se veritica, a divulgagao da obra do Autor, relacionando-se ‘cam © aproveitamento da energia hidreiérica, insere-se no context global de um tema de grande atualidade. Afigura-se-nos de valiosa utlidade, para o conhe- cimanto dos leitores desta obra, que sejam prestados suméios esclarecimants sobre a contribuicde do Autor 208 estudos e projetos de usinas hidrelétricas realizedos fem nosso pals. Até 0 inicio da década de 1960, os grandes em- proendimentos hidreléticos brasileiros foram projetados or consultoras estrangeiras, podendo destacar-se os entdo promovidos pela Light @ pela Bond-and-Share, empresas concessionarias de servicos publicos aqui se- diadas. Ao longo do curso da década de 1950, a Com- pankia Hidrelétrica do Séo Francisco — CHESF pro- cedeu aos estudos, projetos e construgio da Usina de Paulo Afonso, 20 mesmo passo em que a entéo Usinas Eletricas do Paranapanema S.A. — USELPA promoveu 0s estudos, projetas © construgio de usinas destinados a0 aproveitamento do Rio Paranapanema, Foi o aus: picioso advento da participagéo das empresas brasi leiras de consuitoria em empreendimentos hidreléticos de aito- port. A essa época, participavamos de uma excelente equipe de engenheiros brasileiros que vinha especie lizando-se, desde 1940, na elaboracio de estudos e projetos de engenharia em geral, e que. por isso mes: mo, ja desfrutava de reconhecide capacitacdo protis- sional. E coube s essa equipe técnica a responsabilidade de realizar 0s estudos e projetos para o aproveitamento energetic do Rio Paranspanema, Para o desempenho de to relevantes services, fo! promovido, no exterior, © recrutamento de técnicos gue. com alta especializacao em estudos © projetos hidrelétricos, pudessem vir trabalhar no pais. De uma rigorosa solego, resultou @ contratagzo de um grupo do excelentes técnicos estrangeiros, entre os quais fi urava 0 Autor. A nossa equipe de engerheiros brasiletos foi in- corporado esse grupo de técnicas estrangeitos, entéo selecionedos e contratados e, dessa integragdo, adveic a formacdo de uma equipe de engenheiros, do mais ‘alto nivel técnico, Vale registrar que essa equipe téc- rica assim formada veio insttumentar, mais tarde, em 1965, quando de sua fundaclo, 2 constituicio @ o suporte técnico da ENGEVIX. ‘Ao Autor, pela sua valorizacao profissional, coube chefiar @ elaboracdo do plano geral do aproveitarento fenergético do Rio Paranapanema, bem como a la oracdo dos estudos de viabilidade técnica e dos os tudos © projetos do aproveitamento de Salto Grande, Jurumirim, Piraju, Xavantes. Ourinhos e Capivara. Por igual, teve a atribuicdo de cheliar os estudos de via- bilidade técnica do aproveitamento de Tr8s Maras, Dols limos ¢ Pirapora, no Rio Séo Francisco. E ainda esteve a seu cargo chefiar a slaboracdo do plano gerai para © aproveitamento integral das cabecoiras do Rio Urugual

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