Você está na página 1de 1

Irmã Bernardete,

Talvez lhe tenham dito que há na Escola um perigoso descrente que acha que não há
espíritos que não os dos vivos; que quando o pai, a avó e os tios lhe morreram, não os
quis ver; e que diz sem pudor que acredita em deus mas que não concebe que
qualquer um deles, pessoa ou deus, possa alcançar o outro.

Esse perigoso descrente, chora com egoísmo a falta que a irmã Angelita fará na sua
vida. Se ainda que a espaços e sempre de forma breve a visse, era com imensa alegria
que se sentava ao seu lado e com ela comentava a vida, o ser bom para os outros, os
tempos idos da sua meninice e o seu comprometimento com deus e com o próximo. E
consigo, minha irmã, como sempre se surpreendeu com a jovialidade e com a mente
aberta com que o aturava, traço marcante duma irmandade que devia pautar o
destino da fé cristã.

Esse perigoso descrente promete-lhe não deixar morrer a irmã Angelita. Recordará,
enquanto lhe for permitido recordar, os sorrisos, as admirações, os gestos e os olhares
afetuosos da irmã Angelita e da sua inseparável mana Bernardete. Manterá em si, sob
a forma de memória candente, a acha que as duas nele acenderam.

Até uma segunda, ao almoço.

Pedro

Você também pode gostar