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teoria e prática
1ª Edição
Brasília, 2014
Proibida a reprodução total ou parcial desta obra, de qualquer forma ou por qualquer meio eletrônico,
inclusive através de processo xerográficos, sem permissão expressa dos Editores (Lei 5.988 de 14.12.73, artigos 122-130).
FICHA TÉCNICA
Produção de Suínos: Teoria e Prática
CDU: 636.4(81)
CDD: 636
coordenação técnica
A suinocultura brasileira ocupa posição de destaque no cenário mundial, onde o Brasil é o quarto maior
produtor e o quarto maior exportador de carne suína. A proteína brasileira chega a mais de 70 países, é reco-
nhecida como produto de qualidade por exigentes mercados internacionais e a cadeia produtiva nacional é
competitiva perante seus concorrentes.
Atenta a esse cenário, a Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS), por meio do Projeto Nacio-
nal de Desenvolvimento da Suinocultura (PNDS), junto com o Sebrae Nacional, busca oferecer sua contribui-
ção para o desenvolvimento de uma atividade economicamente viável, ambientalmente correta e socialmente
justa. Pensando nisso, surgiu o desafio de produzir um livro inédito no País, com uma ampla abordagem sobre a
produção de suínos nacional, intitulado Produção de Suínos: Teoria e Prática.
O objetivo é disseminar informação confiável e ser fonte de referência sobre a produção nacional de suí-
nos. Para isso, a ABCS convidou 105 especialistas para serem autores e coautores desse material, que é multi-
disciplinar e se destaca pela profundidade dos conteúdos tratados em seus 21 capítulos segmentados em 109
subcapítulos assinados e aprovados pela coordenação técnica.
O livro aborda diversos aspectos da produção de suínos, como evolução dessa cadeia de produção, con-
ceitos e perspectivas de melhoramento genético, os diferentes sistemas de produção e planejamento, bios-
seguridade e imunidade de rebanho, ambiência e bem-estar animal, gestão de talentos e de informação, trata-
mento de resíduos e evidentemente as estratégias de manejo reprodutivo e nutricional de suínos em todas as
fases de produção. É um livro com uma abordagem prática, feito por profissionais que vivenciam a suinocultura
e agora compartilham conosco seu conhecimento.
A ABCS, como coordenadora editorial, apresenta ao setor essa obra que reúne o conhecimento dos mais
renomados profissionais da cadeia de suínos que produziram conteúdo exclusivo e atualizado para o livro Pro-
dução de Suínos: Teoria e Prática.
Boa Leitura!
Alguns ideais sobrevivem aos tempos, aos avanços e às mais diversas tendências. Mais do que isso, alguns
ideais são capazes de aproximar, unir e motivar pessoas que neles acreditam e com eles se identificam. Acredi-
tar no poder do conhecimento aplicado foi o que impulsionou nossa equipe a empreender a árdua e desafiadora
tarefa de coordenar a produção desta primeira edição do livro “Produção de Suínos: Teoria e Prática”. Acredita-
mos que o conhecimento, para converter-se em agente transformador, precisa ser muito bem compilado, sele-
cionado e, acima de tudo, difundido com responsabilidade.
Ao longo das últimas décadas, a suinocultura avançou de forma notável, tanto em termos tecnológicos
quanto em termos de relevância no contexto mundial da produção de carnes. Neste cenário, percebemos um
crescimento exponencial no volume de conhecimento aplicado à espécie suína, no que tange às áreas de repro-
dução, patologia, epidemiologia, terapêutica, genética, nutrição e demais segmentos do conhecimento técnico
especializado. Dispomos, atualmente, de uma virtuosa diversidade de livros, compêndios, periódicos e publi-
cações diversas, que garantem importante fonte de aprendizado e atualização constantes para as diversas
áreas do conhecimento específico que fundamenta a moderna produção de suínos. No entanto, essa amplitude
observada nas fontes de informação especializada não foi acompanhada pelo desenvolvimento de obras que
consolidem os segmentos fragmentados do conhecimento em um único conjunto consistente, seguro e coe-
rente de informações aplicáveis. É com este ideal em mente que nos reunimos em torno de um propósito maior:
coordenar a produção de um livro que preencha parte desta visível lacuna em nossa comunidade técnica. Que
a concretização deste ideal sirva de referência, de consulta e de aprendizado para estudantes universitários e
profissionais da suinocultura!
A elaboração deste livro contou com a dedicação e colaboração de muitos especialistas, profissionais de
notável e reconhecida competência nos respectivos temas abordados. Com a colaboração destes autores, pro-
duzimos 21 capítulos, abrangendo diversos temas ligados diretamente à produção de suínos. Ao mesmo tempo
em que buscamos inserir os temas mais relevantes e aplicáveis à suinocultura moderna, constatamos também a
impossibilidade em abranger todas as áreas de conhecimento que consideramos relevantes para nossa cadeia
produtiva e para nossa comunidade técnica. Embora saibamos que o escopo desta obra não permite tamanha
abrangência, estamos certos que, nas futuras revisões e edições deste livro, conseguiremos aprimorar e ampliar
esta primeira edição, desenvolvida com responsabilidade e comprometimento em todo seu teor e conteúdo.
Agradecemos à ABCS (Associação Brasileira de Criadores de Suínos) por ter acolhido este projeto de for-
ma tão determinada, viabilizando a conversão do sonho em uma obra concreta e perene. Agradecemos a todos
que fazem parte da cadeia produtiva da suinocultura, em especial aos produtores de suínos que, em última aná-
lise, viabilizam a aplicação prática do conhecimento e acreditam no poder da informação de qualidade. Por fim,
dedicamos este Livro a todos os jovens profissionais da suinocultura que, como nós, buscam no conhecimento
técnico não somente um meio de realização profissional, mas também uma ferramenta para contribuir efeti-
vamente com a sociedade e o meio em que vivem. Que esta obra sirva de estímulo para que sigam em busca dos
seus sonhos e para que acreditem no compartilhamento do conhecimento e da experiência como a mais efetiva
maneira de promover crescimento e transformação.
Equipe Integrall
Se houvesse uma receita para se escrever um excelente livro técnico sobre produção de suínos, asseguro
que todos os ingredientes estariam nessa obra, e com consideráveis doses extras de três elementos que julgo
serem essenciais: EXPERIÊNCIA, CONTEÚDO E CONHECIMENTO.
Essa ousada obra realizada pela Associação Brasileira de Criadores de Suínos (ABCS) em parceria com o
SEBRAE, em prol da suinocultura nacional, reúne em um mesmo livro os principais temas de interesse na pro-
dução de suínos no Brasil. Escrito por especialistas que conhecem profundamente essa atividade, a entidade
compartilha com o leitor o conhecimento adquirido de muitos anos da experiência profissional dos autores.
Os livros atualmente disponíveis no Brasil são, em sua maioria, escritos por professores e pesquisadores
de outros países, e pouco trata da produção de suínos em clima tropical, o que torna ainda mais legítima e
necessária a edição dessa obra. Além disso, os poucos livros de autoria nacional são incompletos ou tratam
apenas de temas específicos, como nutrição animal, manejo ou sanidade e, neste contexto, não permitem uma
abrangência total das complexas técnicas de produção de suínos que esta obra alcança.
Esse livro conta com a relevante contribuição de mais de 100 autores entre professores, profissionais do
setor e pesquisadores, considerados os mais capacitados em suas áreas de atuação nas mais diversas e reno-
madas instituições brasileiras.
A suinocultura nacional dispensa quaisquer apresentações, pois tem demonstrado excelentes e promis-
sores indicadores que permite conquistar uma posição bastante expressiva no comércio internacional, mere-
cendo sempre nosso respeito e admiração pelo que se transformou nessas últimas décadas, tanto do ponto de
vista econômico, quanto em relação ao desenvolvimento social atribuído a essa excepcional cadeia produtiva.
Todo este esforço não resultaria no desenvolvimento econômico e social que vivenciamos se, concomitan-
temente, não houvesse a saúde animal alcançado avanços significativos que permitissem oferecer as garan-
tias exigidas pelos países importadores e pelo nosso mercado interno.
Os avanços mencionados que foram construídos à custa de enormes sacrifícios como esperado em um
país de grande dimensão territorial e importantes diferenças regionais, incluíram não somente a erradicação
de enfermidades de alto impacto econômico, como a febre aftosa, a peste suína clássica e a peste suína africa-
na, mediante a implantação e consolidação gradativa de áreas livres em observância às diretrizes da Organi-
zação Mundial de Saúde Animal (OIE), mas, principalmente, a estruturação de um Serviço Veterinário Oficial
pautado na independência técnica e financeira que permite a sustentabilidade dessas conquistas, mediante a
credibilidade de suas ações e reações.
Ao sustentarmos nossas decisões em ciência, buscando o consenso, e estimulando a transparência e a so-
lidariedade internacional, sempre em benefício da segurança sanitária no comércio nacional e internacional,
o Brasil seguirá gozando da confiança e reconhecimento de todos os países do mundo e da nossa sociedade.
Por fim, gostaria de registrar meu orgulho em apresentar essa obra, e dizer que apoio a ideia de que o me-
lhor livro ainda não foi escrito, e nunca será, o que permite encorajá-lo, e aos demais especialistas, a também
produzir trabalhos como esse, no intuito de sempre colaborarmos para o crescimento da suinocultura brasi-
leira e do nosso querido País.
Boa leitura.
Guilherme H. F. Marques é Fiscal Federal Agropecuário, Diretor do Departamento de Saúde Animal do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento e Presidente da Comissão Regional da OIE das Américas e Delegado do Brasil perante a OIE (desde 2011)
Autores
11
Adilson Hélio Ferreira Antoni Dalmau Bueno
Médico Veterinário UFMG Médico Veterinário, Doutor em bem-estar animal
Mestrado Economia Rural UFV Pesquisador, IRTA Investigación y Tecnología Agroalimentarias-
Integral Soluções em Produção Animal Ltda. Monells – Espanha
adilson@integrall.org antoni.dalmau@irta.cat
Sumário
Capítulo 1 – Panorama da Produção de Suínos no Brasil e no Mundo 17
1.1 Evolução do mercado mundial de suínos nos últimos 30 anos...............................................................................23
1.2 Estatísticas da produção, abate e comercialização brasileira e mundial de suínos........................................30
1.3 Sistemas de produção integrado, contratado, cooperado e independente.......................................................37
Capítulo 15 – Creche
15.1 Influência do peso ao desmame no desempenho de creche.................................................................................625
15.2 A primeira semana pós-desmame: desafios e relevância.......................................................................................628
15.3 Ambiência na fase de creche.............................................................................................................................................633
15.4 Curvas de alimentação e crescimento na fase de creche.......................................................................................636
15.5 Manejo alimentar e sistemas de alimentação na fase de creche.........................................................................644
Capítulo 20 – Biosseguridade
20.1 Fundamentos teóricos e aplicação prática da Biosseguridade na produção de suínos.............................847
20.2 Biosseguridade na Central de Inseminação Artificial (CIA) e importância do sêmen
na transmissão de patógenos............................................................................................................................................855
20.3 Filtração de ar: fundamentos, importância e aplicação prática...........................................................................860
1 de Suínos no Brasil
e no Mundo
O
suíno doméstico (Sus scrofa) é um mamí- Poucos anos após terem estabelecido residência
fero originado do javali e um membro da fixa, a criação de porcos converteu-se em sua ati-
espécie Cetartiodactyla. Evidência gené- vidade principal.
tica molecular indica que o Sus scrofa originou-se Quem primeiro trouxe esses animais para o
no sudeste da Ásia (Filipinas, Indonésia), durante continente americano foi Cristóvão Colombo, na
as flutuações climáticas do início do Plioceno, en- sua segunda viagem em 1493, desembarcando oito
tre 5,3 e 3,5 milhões de anos. Dessa região, se dis- animais na região de São Domingos. Esses animais
persou pela Eurásia. Hoje, com cerca de um bilhão posteriormente expandiram-se para o México, o
de indivíduos vivos, é um dos mais numerosos dos Panamá e a Colômbia. Francisco Pizarro, que havia
grandes mamíferos do planeta. trabalhado com porcos em sua juventude, em Ex-
Ainda é incerto onde ocorreu a primeira domes- tremadura, trouxe suínos vivos do Panamá para o
ticação, embora os primeiros registros arqueológicos planalto andino em 1531 e Hernando de Soto (“o
(8000-5000 a. C) foram encontrados no Oriente pai da indústria de carne suína norte-americana”)
Médio e leste do Mediterrâneo. As ossadas mais levou os primeiros 13 porcos para a Flórida em
velhas encontradas até o momento foram desco- 1539. No Brasil, os primeiros porcos chegaram ao
bertas em 1994, em Çayönü, no sudeste da Anató- litoral paulista (São Vicente) em 1532, trazidos pelo
lia, uma região do extremo oeste da Ásia que cor- navegador Martim Afonso de Souza.
responde hoje à porção asiática da Turquia.
No sopé das Montanhas Taurus, o porco foi Produção mundial de carne suína
aparentemente criado por volta de 8000 a.C, tor- Nos últimos 17 anos houve um crescimen-
nando-se a mais antiga criatura domesticada co- to de 42,7% na produção mundial de carne suí-
nhecida, além do cão. A criação de porcos no local na, passando de 78,2 milhões de toneladas em
antecedeu o cultivo do trigo e da cevada. Os resul- 1995 para 111,7 milhões de toneladas em 2012
tados dessa escavação contradizem as afirmações (tabela 1). Nesse mesmo período, o plantel mun-
de longa data, de que ovelhas e cabras foram os dial de suínos cresceu apenas 7,1 %, passando de
primeiros animais domesticados e que a cultura 900 para 964 milhões de cabeças. Essa diferen-
desses cereais precedeu a criação dos animais. ça entre o crescimento da produção (42,7%) e o
A domesticação começou quando os primeiros crescimento do plantel (7,1%) deve-se à melhora
homens formaram aldeias para cultivar cereais, de- na produtividade e ao aumento do peso de abate
pois de terem sido nômades por milhares de anos. dos plantéis mundiais.
Porém, eram os porcos, e não os cereais, a principal O continente asiático detém a maior produ-
fonte de alimento nas primeiras comunidades fixas. ção de carne suína do mundo: 61,64 milhões de
Cansados de vagar em busca de nozes e frutas, os toneladas, ou seja, 55,16 % do total mundial. A
habitantes das antigas aldeias decidiram domes- grande maioria produzida em território chinês
ticar os porcos selvagens encontrados na região. (52,3 milhões T). A Europa é o segundo maior
produtor mundial, com 27,6 milhões de tonela- dutores, apenas sete cresceram acima da média
das, ou 24,7% do total mundial, seguida das Amé- mundial. Desses sete, o maior crescimento percen-
ricas, com 20,4 milhões de toneladas, ou 18,2%. tual foi no Brasil e no Vietnã. Nesse período men-
Nos últimos 17 anos, o continente que apresen- cionado, apenas a França e a Polônia apresentaram
tou o maior crescimento foi o asiático, tendo au- quedas na sua produção.
mentado sua participação mundial de 50,73 para O Brasil é o único país da América do Sul entre
55,16 %. A Europa foi a que mais perdeu parti- os dez maiores produtores de carne suína. Sua po-
cipação mundial, caindo de 31,4 para 24,7 %. A sição é crescente, ganhando posições ano após ano.
participação das Américas cresceu ligeiramente, Em 1995, a participação do Brasil no total mundial
passando de 17,8% para 18,2%. era de 1,82 % e cresceu para 3,1 % no ano 2012.
Tabela 2 – Principais Produtores Mundiais de Carne Suína, 1995 a 2012. (em milhões de T.)
tabela 3 – Principais Plantéis de Suínos, por país, 1995 a 2012 (em milhões de cabeças)
Número de matrizes nos principais cia. Esse número pode ser obtido dividindo-se a
países produtores de carne suína produção de carne suína do país pelo seu número
O plantel mundial de fêmeas suínas reproduto- de matrizes (tabela 5). Entre os maiores produtores
ras é estimado em aproximadamente 94 milhões de mundiais, o país mais eficiente nesse parâmetro é a
cabeças. Cinquenta por cento delas estão localiza- Alemanha, que obtém 2.435kg de carne por matriz
das na China. Os dez maiores países em número de alojada. Em segundo lugar, estão os Estados Unidos
reprodutoras detêm 78% do total mundial. Vários com 1.763kg, seguidos da Espanha (1.412kg) e do
países apresentaram uma diminuição no seu plan- Canadá (1.368kg).
tel de matrizes nos últimos anos (tabela 4). Entre os
maiores produtores, só a China, o Vietnã e a Rússia Evolução do consumo mundial de carnes
alojaram mais matrizes em 2010 do que tinham no Analisando-se o período de 2000 a 2012, a
ano 2000. maior evolução no consumo e na produção de pro-
O nível tecnológico de cada país pode ser avalia- teínas de origem animal ocorreu com a carne de
do pela quantidade de carne produzida anualmente Aves. Seu crescimento nesse período foi de 23,7%.
por matriz alojada. Pode ser um indicativo também Em segundo lugar ficou o consumo de peixes, com
do número de fêmeas tecnificadas e de subsistên- um crescimento de 19,6%. A carne suína apre-
tados Unidos, com 8,4 milhões. Juntos, eles conso- (tabela 10). O maior exportador mundial são os Es-
mem 70% da produção mundial. O Brasil é o quinto tados Unidos, que nos últimos 12 anos cresceram
maior consumidor quantitativo, logo atrás da Rús- suas exportações em 312% e deslocaram a União
sia (tabela 8). Europeia da liderança que ocupava. O Canadá é
o terceiro maior exportador. O Brasil é o 4o maior
Principais exportadores exportador, responsável por 8% do comércio mun-
mundiais de carne suína dial. A China, apesar de ser o maior produtor mun-
As exportações mundiais de carne suína no ano dial, tem modesta participação nas exportações,
2012 atingiram oito milhões de toneladas (tabela por não ser livre de febre aftosa e consumir quase
9). Elas representaram apenas 7% da produção, o tudo que produz, com seus habitantes estimados
que mostra que o maior consumo de carne suína é em 1,3 bilhão.
realizado localmente, no país onde é produzida. As
exportações mundiais cresceram 192% de 1995 a Principais importadores
2012, o que dá um expressivo crescimento médio mundiais de carne suína
de mais de 11% ao ano. O Japão é o maior importador mundial de carne
Os três maiores exportadores são responsá- suína, tendo aumentado suas importações em 43%
veis por 80% do comércio mundial de carne suína nos últimos 12 anos (tabela 11). É considerado um
Tabela 10 – Principais Países Exportadores de Carne Suína, 2000 a 2012 (em milhões de toneladas)
Tabela 11 – Principais Importadores Mundiais de Carne Suína, 2000 a 2012 (em milhões de toneladas)
comprador exigente, pois impõe estritas normas de importador. Suas importações cresceram mais de
sanidade e de qualidade. Seus principais fornece- 500% em 12 anos, devido aos constantes proble-
dores são os Estados Unidos, a União Europeia (em mas sanitários que têm limitado a produção e, por
especial a Dinamarca), o Canadá, o Chile e o México. consequência, diminuído a oferta interna.
A Rússia é o segundo maior importador mun- O México é o quarto maior importador, tendo
dial, tendo aumentado suas importações em 256% aumentado suas importações em 443% nos últimos
nos últimos 12 anos. É um mercado que gradu- 12 anos. Os Estados Unidos, o Canadá e o México
almente se torna mais exigente e que estimula a respeitam o tratado da NAFTA, e facilitam o comér-
produção interna para depender menos das impor- cio entre si. Grande parte das importações dos EUA
tações. Suas compras são feitas principalmente da vem do Canadá, enquanto as do México vêm dos
União Europeia e do Brasil. EUA e do Canadá.
A China, maior produtor mundial de carne suí- A Coreia do Sul era um país exportador no
na, é também o maior consumidor e terceiro maior início deste século. Porém, em virtude de fortes
ucrânia
90%
rússia
canada 68%
223%
u.e 27
112%
usa
119% china
japão 51%
99%
taiwan
méxico 92%
66% coreia sul 57%
vietnam filipinas 93%
100%
brasil
118%
autrália
chile 71%
131%
exportador
importador
Figura 1 – Autossuficiência (Produção – Consumo) em carne suína nos principais países do mundo, 2012
Fonte: L. Roppa, 2013, com base em dados do Marche Du Porc
problemas sanitários (Febre Aftosa no ano 2000), excedentes exportáveis. Por exemplo, os Estados
passou a ser um importador de carne suína devido Unidos possuem um excedente de 19%, que é ex-
à diminuição do seu plantel e da sua produção. Hoje portado para outros países. Em “vermelho” estão os
29
é o quinto maior importador mundial. países cuja produção não é suficiente para seu au-
A figura 1 mostra, de forma resumida, a au- toabastecimento e necessitam importar de outros
tossuficiência dos principais países produtores e países. Por exemplo, a Rússia produz 68% do seu
consumidores de carne suína. Os países em “ver- consumo interno e necessita importar 32% para
de” produzem mais do que consomem e possuem abastecer seu mercado.
Bibliografia
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K. and Kriemhild O., Cambridge Univ. Press. 2008 6. http://epp.eurostat.ec.europa.eu/portal/page/portal/sta-
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3. http://www.fas.usda.gov/psdonline/circulars/livestock_ 7. OECD-FAO Agricultural Outlook 2012-2021-Meats
poultry.pdf 8.http://www.asprocer.cl/index/for_publica_exporta.as-
4.www.canadapork.com/en/industry-information/cana- p?id_seccion=7&id_subsecciones=73
dian-pork-export 9. http://tnet.teagasc.ie/fapri/downloads/paper1.pdf
O
s primeiros porcos chegaram ao Brasil Começaram então os processos de melho-
em 1532. Foram trazidos pelo navegador ramento genético das raças existentes, através
Martim Afonso de Souza, que desembar- das importações de animais das raças Berkshire,
cou na cidade de São Vicente, no litoral paulista. Tamworth e Large Black da Inglaterra e, posterior-
Pertenciam às raças da Península Ibérica, existen- mente, das raças Duroc e Poland China. Entre 1930
tes em Portugal naquela época. e 1940, chegaram as raças Wessex e Hampshire.
No Brasil, a utilização da carne suína foi muito Nos anos seguintes, com o surgimento e difu-
importante na alimentação da época da colonização. são dos óleos vegetais, a produção de suínos como
Os portugueses procuraram reproduzir aqui a fonte de gordura perdeu espaço, pois ela passou a
mesma alimentação que tinham no velho mundo, ser menos utilizada na alimentação. A partir daí, a
onde a carne suína era um dos seus pratos prefe- produção de suínos para carne passa a ser privile-
ridos. Os africanos contribuíram com sua técnica, giada e surge um novo perfil de consumo.
tempero e manejo de preparo. É nesse período que é fundada a Associação Bra-
Desde o início, passaram a criar porcos em sileira dos Criadores de Suínos (ABCS), em 1955, na
maior escala, para que deles fosse retirada, além cidade de Estrela, Rio Grande do Sul. Sua principal
da carne, toda sua gordura, utilizada no lugar da função seria a busca pelo melhoramento genético
manteiga em toda a sorte de preparo. Do porco do rebanho nacional, por meio de incentivo à intro-
também se extraía o toucinho, para que fosse cozi- dução de raças puras, que garantiriam a produção de
do com o feijão, frito como torresmo ou guardado menos gordura e mais carne. Incentivados por esse
em grandes potes para a conservação de carnes novo desafio, os produtores trouxeram novas raças
que sobrassem. Desse modo, a gordura passou a para o Brasil: na década de 50 chegam os Landrace;
ser item de consumo quase vital para a nossa culi- na de 60, os Large White; a partir da década de 70,
nária. O porco, com todos os seus “encantos” culi- os híbridos de empresas especializadas no melhora-
nários, ganhou de imediato o paladar dos nativos. mento genético de suínos.
Com o tempo, os criadores brasileiros passa- O trabalho da ABCS e a introdução de diferentes
ram a desenvolver raças próprias, como o Piau, o raças geraram um novo patamar de desenvolvimento
Canastra, o Sorocaba, o Tatu e o Caruncho. Todos na suinocultura nacional. Uma melhor assistência téc-
eram destinados à produção de carne e toucinho. nica, um controle sanitário adequado e o desenvolvi-
No final do século XIX e início do século XX, mento da indústria frigorífica e de alimentos garanti-
com a imigração europeia para os estados do Sul, ram ao País a produção mais eficiente de uma proteína
a suinocultura ganhou um novo aliado. Esses imi- animal e contribuíram para o aprimoramento do setor.
grantes, vindos, principalmente da Alemanha e da
Itália, trouxeram para o Brasil os seus hábitos ali- Evolução da produção de
mentares de produzir e consumir suínos, bem como carne suína no Brasil
um padrão próprio de industrialização. O Brasil é o quarto maior produtor mundial de
carne suína, ficando atrás apenas da China, União Eu- anos o crescimento do plantel foi de apenas 20,9%,
ropeia e dos Estados Unidos. Tem aumentado cons- enquanto a produção aumentou 200%. Esses nú-
tantemente sua participação e hoje representa 3,2 % meros exemplificam claramente a evolução tecno-
da produção mundial (tabela 1). Em 1980, recém-saí- lógica do setor nesse período, graças a um forte tra-
do do episódio da Peste Suína Africana, o Brasil pro- balho dos técnicos, das associações, das entidades
duziu 1,15 milhão de toneladas. Os dez anos seguintes de pesquisa e dos criadores nas áreas de genética,
foram caracterizados por algumas crises de preços e, nutrição, instalações e manejo.
principalmente, pela forte modernização das insta- Outros fatos que exemplificam essa evolução
lações, genética e nutrição. A suinocultura Brasileira tecnológica são a melhora do desfrute (número de
terminou a década de 90 com produção inferior à animais abatidos divididos pelo plantel total), que
de 1980, mas com bases consolidadas para um forte passou de 54,4% para 103% em 32 anos. O peso
crescimento, que iria ocorrer nos anos subsequentes. médio das carcaças também aumentou de forma
Se compararmos o crescimento da suinocultura bra- considerável, passando de 64 para 84kg.
sileira com o crescimento da mundial, verificaremos Com a evolução genética e nutricional, os suínos
que, nos últimos 32 anos, a produção brasileira cres- puderam ser abatidos com maior peso, sem acumu-
ceu 200%, enquanto a mundial cresceu 110%. lar gordura, como no passado, e se tornaram muito
mais eficientes. Em 1980, os suínos eram abatidos
Brasil: evolução do plantel total de suínos com 180 dias de idade, com conversão alimentar de
O Brasil tem um plantel de aproximadamente 1:3,6kg (3,6kg de ração para 1kg de ganho de peso),
39 milhões de cabeças (tabela 2). Em 1980 o plantel espessura de toucinho de 4 a 5mm e peso vivo de
era de 32,5 milhões de cabeças e a produção havia abate de 94kg. Em 2012, os suínos eram abatidos
sido de 1,150 milhão de toneladas. Em 2012, com aos 140-150 dias de idade, com conversão alimen-
39,3 milhões de cabeças, a produção aumentou tar de 1:2,4kg, espessura de toucinho de 1mm e peso
para 3,450 milhões de toneladas. Portanto, em 32 vivo de abate de 110 a 120kg.
Tabela 5 – Evolução do Plantel por Região do Brasil (milhões de cabeças), 1980 a 2011
centual de participação na mesa dos consumidores como um produto saudável e nutritivo, produzido
brasileiros caiu de 19 para 14,5% (tabela 6 ). O maior de forma tecnicamente correta, socialmente justa
crescimento na participação foi o da carne de frango, e ambientalmente responsável. A meta é incremen-
que passou de 17,5 para 44% do consumo dos brasi- tar o consumo doméstico per capita para 18 kg até
leiros. A maior queda foi a da carne bovina, que de o final do ano de 2015. Nos primeiros anos de exe-
63% caiu para 41% de participação. cução do projeto, o consumo cresceu de 13,4kg em
Um ponto extremamente positivo a ser realça- 2008 para 15,1kg em 2011.
do foi o forte crescimento do consumo de carnes Ao longo de dois anos, o Projeto realizou mais
em nosso País, que cresceu de 51kg por habitante de 280 ações, registrou aumentos de 20% a 90%
em 1980 para 102,1kg em 2012. nas vendas de cortes suínos e, através do trabalho
O pequeno avanço do consumo quantitativo de realizado pelas afiliadas da ABCS, mais de um mi-
carne suína no Brasil esbarrou ao longo desses últi- lhão de pessoas foram sensibilizadas por meio de
mos 30 anos mais em fatores culturais do que na aces- informações sobre a salubridade da carne suína,
sibilidade e teve como base a preferência dos produ- sua importância para a saúde humana e suas diver-
tos processados em detrimento da carne in natura. sas opções de consumo. Além disso, cerca de 13 mil
Durante a primeira década deste século, o con- profissionais foram capacitados de forma direta em
sumo per capita de carne suína no Brasil permane- treinamentos de cortes, oficinas gastronômicas,
ceu estagnado, aumentando apenas de acordo com palestras para médicos e em universidades. Nessa
o crescimento da população (tabela 7). Com o ob- fatia de capacitações, mais de dois mil produtores
jetivo de aumentar o consumo in natura de carne do Brasil receberam treinamento para melhoria de
suína no Brasil e melhorar a estabilidade econômi- gestão e mão de obra, além de consultorias técni-
ca da atividade, surgiu, em 2009, o Projeto Nacio- cas e de inovação realizada nas granjas.
nal de Desenvolvimento da Suinocultura (PNDS), Vale ressaltar que os dados da tabela 7 refe-
criado pela ABCS. rem-se à disponibilidade interna, o que, na prática,
Para que o PNDS se concretizasse, houve a traduz um indicador do consumo per capita. No fi-
união de entidades como a Associação Brasileira nal, é o balanço entre produção e exportações que
dos Criadores de Suínos (ABCS), o Serviço Bra- define as alterações na disponibilidade interna.
sileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
(SEBRAE), o Serviço Nacional de Aprendizagem Suinocultura brasileira: exportações
Rural (SENAR) e da Confederação da Agricultura e Com a abertura comercial no início de 1990
Pecuária do Brasil (CNA). Os objetivos específicos e com a desvalorização cambial em 1999, o Brasil
são modernizar a comercialização da carne suína e conseguiu aumentar sua produção e ampliar as ex-
generalizar boas práticas de produção da granja à portações no mercado internacional, passando a
mesa, que contribuam para consolidar a carne suína figurar atualmente como quarto maior exportador
Tabela 7 – Carne Suína: Oferta e Demanda no Brasil, 1980 a 2012 (Milhões Toneladas)
mundial de carne suína, atrás apenas dos Estados exemplo para outros países que adotam comporta-
Unidos, da União Europeia e do Canadá. mento semelhante.
Nossas exportações tiveram um forte cresci- Hoje é grande a preocupação da ABIPECS, que
mento no período de 2000 a 2005, quando atingi- continua em busca de novos mercados para a car-
mos o recorde de 625 mil toneladas (tabela 8). Nos ne suína brasileira, a exemplo da avicultura. Infeliz-
anos seguintes, o crescimento foi interrompido e mente, o exemplo de sucesso da avicultura brasilei-
mantivemos uma exportação estável, chegando a ra não é tão fácil de ser seguido pela suinocultura,
2012 com 580 mil toneladas. O motivo dessa inter- pois 70% das exportações de carne de frango são
rupção foi um foco isolado de febre aftosa no Para- para mercados em que a carne suína não tem aces-
ná, em 2005. Vários países cancelaram suas impor- so atualmente (União Europeia, Japão e Países de
tações de carne brasileira, alguns deles continuam origem muçulmana que, por motivos religiosos,
com restrições até hoje. É o caso da Rússia, África não a consomem).
do Sul e Argentina. Por não ser um país totalmente Como as exportações representam quase 17%
livre dessa enfermidade, o Brasil continua enfren- do total de carne suína produzida pelo nosso país, a
tando barreiras comerciais, como é o caso do Mé- concentração em poucos compradores é uma séria
xico e Coreia do Sul, que não aceitam o princípio preocupação. Uma das maiores conquistas nessa
da regionalização e impõem restrição a países que área foi a ampliação das exportações brasileiras,
vacinam contra febre aftosa. que hoje atendem 74 países, diminuindo a depen-
Em julho de 2012, o Japão (maior importador dência da Rússia que, em alguns anos, chegou a ser
mundial) reconheceu oficialmente o status livre de responsável por até 80% das exportações brasilei-
febre aftosa, sem vacinação, para a carne suína do ras (tabela 9).
estado de Santa Catarina. Esse foi o primeiro caso Comparando os anos de 2005 (quando o Brasil
de aprovação de uma região livre de febre aftosa atingiu o recorde de exportação e onde a sequên-
sem vacinação por aquele país. Até então, o Japão cia de aumentos foi interrompida com o caso de
só aceitava importações de carnes de animais sus- febre aftosa) e 2012, podemos verificar que o vo-
cetíveis à doença se o país de origem fosse inteira- lume exportado caiu 7%, mas a receita aumentou
mente livre. Essa decisão abre uma nova perspec- 28%. A participação quantitativa da Rússia caiu de
tiva de aumento das exportações e passa a ser um 64,7 para 21,8%, e Hong Kong e Ucrânia passaram
Tabela 8 – Evolução das Exportações Brasileiras de Carne Suína (em mil toneladas)
1980 1990 1995 2000 2005 2010 2012
Exportação, mil T 0,2 13 40 135 625 540 581
Fonte: L. Roppa, 2013 com base em dados estatísticos da ABIPECS, ABCS/Associações Estaduais e IBGE
Tabela 9 – Exportações Brasileiras de Carne Suína por Destinos Selecionados, comparativo 2005 x 2012
a ser parceiros muito importantes tanto em volume ção) e a integração dos estabelecimentos suinícolas
como em receita. por meio de contrato. Fornecem ração, genética,
Para concretizar a ambição de ser um grande logística e assistência técnica. A maioria é diversifi-
exportador mundial, o Brasil precisa erradicar a fe- cada, atuando também com carnes de outras espé-
bre aftosa em todo o País e desenvolver suas van- cies e alimentos processados. Na gama de produtos
tagens competitivas, que incluem a diminuição do dessas organizações predominam os processados
Custo Brasil, maior eficiência logística e uma polí- em detrimento da carne fresca e congelada.
tica agrícola definida, que permita a elaboração de As organizações de menor escala, voltadas
estratégias de médio e longo prazo. para nichos de mercado, apresentam grande diver-
sidade de formas e estratégias. São micros, peque-
Suinocultura brasileira: nas e médias empresas e cooperativas, agroindús-
estrutura da produção trias familiares e outras experiências associativas.
Existem dois grupos distintos de empresas que Essas organizações têm abrangência local (dentro
abatem suínos e processam carne suína no Brasil: do município e seu entorno) ou regional (dentro
as líderes de mercado e as organizações que atuam do estado ou seu entorno). Há grande heteroge-
em mercados regionais e locais. neidade em termos de diversificação para outros
Entre as líderes de mercado predominam a bus- segmentos da produção animal e na extensão da
ca por ganhos de escala, a promoção da marca em gama de produtos. Entretanto, destaca-se que têm
produtos processados e a integração da produção. importante papel na oferta de carne suína in natu-
São organizações de grande porte, com mais de uma ra, sobretudo porque se constituem de canais de
unidade industrial e abrangência internacional. comercialização mais curtos, próximos dos pontos
Controlam a produção de insumos (fábricas de ra- de venda e consumo.
Bibliografia
1. http://www.abipecs.org.br/pt/relatorios.html 4. PENA CATÃO, Leandro & AVELAR FUMAM, Sheilla. Cultu-
2.http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/agro- ra Alimentar, Saúde e Mundialização: um olhar
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3. OECD-FAO. Agricultural Outlook. 2012-2021-Meats ano 11, nº 6. p. 7-27. outubro de 2007.
N
a agricultura tradicional as fazendas eram possibilidades de ganhos de eficiência na realização
caracterizadas por uma relativa autonomia das operações técnicas dissociáveis, que podem
técnico-econômica. Consumiam poucos ser separadas/realizadas por agentes econômicos
insumos externos e realizavam internamente a distintos, ou internamente desempenhadas pelo
totalidade das operações técnicas necessárias para mesmo agente econômico.
a produção, tanto dos produtos destinados aos mer- A cadeia produtiva da carne suína e seus deri-
cados consumidores quanto dos utilizados como vados é um bom exemplo desse processo evolutivo.
matérias-primas para as agroindústrias. Das antigas fazendas de criação de porcos, em que
Davis e Goldberg em 1957 foram pioneiros na todas as etapas do processo produtivo e até mesmo
observação do que eles chamaram de “dispersão de o abate, processamento artesanal e comerciali-
funções” da agricultura1. O que observaram à época zação eram feitos pelo mesmo agente econômico,
é que a agricultura americana, em franco processo evoluímos hoje para uma cadeia produtiva com uma
de modernização, passava por uma consistente intensa especialização formada por um número sig-
divisão de tarefas conduzida pela necessidade de nificativo de agentes econômicos.
maior eficiência econômica. Isso poderia ser obtido A cadeia produtiva pode então ser vista como
pela “especialização” das atividades de produção, uma sucessão de operações de transformação dis-
incorporando nesse setor a dinâmica trazida pela sociáveis, capazes de ser separadas e ligadas entre
maior divisão do trabalho que se observava nos si por um encadeamento técnico, ao mesmo tempo
demais setores da economia. A evolução desse pro- que pode ser vista como um conjunto de relações
cesso trouxe um dinamismo peculiar aos negócios comerciais e financeiras entre fornecedores e clien-
abrangendo produção, distribuição e consumo de tes. No caso da Cadeia Produtiva Agroindustrial
produtos oriundos de matérias-primas agropecuá- (CPA) da carne suína podemos identificar atualmen-
rias, conformando o que os norte-americanos cha- te as dez principais operações técnicas dissociáveis,
maram de agribusiness e que nós traduzimos aqui no ou seja, os principais segmentos que conformam
Brasil como “agronegócio”. sua estrutura produtiva e que são mostradas na
Assim é que “divisão do trabalho” e “especia- figura 1.
lização” são processos presentes na evolução de As razões para que os agentes econômicos
todas as cadeias produtivas que constituem o agro- juntem (internalizem) ou separem (externalizem)
operações técnicas sucessivas no âmbito da cadeia
1
O termo agricultura é aqui utilizado no sentido produtiva são estudadas pela Nova Economia Ins-
amplo de todas as atividades de produção de produtos
agrícolas e pecuários no interior das fazendas. titucional no seu capítulo da Economia dos Custos
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Figura 1 – Principais operações técnicas dissociáveis na CPA da carne suína e seus derivados.
Fonte: elaboração própria, baseado em Thomé (2010)
de Transação. Surgem então no âmbito das cadeias tratar de produtos biológicos, que em sua produção,
de produção diferentes arranjos produtivos que de- na maioria das vezes, implicam dependência climá-
vem lidar com o desafio da governança: estabelecer tica, sazonalidade na oferta, vista sob a ótica econô-
uma eficiente coordenação das operações técnicas mica como incerteza, interfere nos preços ao longo
(capazes de propiciar eficiência técnica e baixos de cada cadeia. É o caso emblemático da produção
custos de produção), aliadas a uma eficiente coor- dos grãos milho e soja utilizados como insumos fun-
denação econômica entre os agentes (propiciada damentais da alimentação de aves e suínos, cujas
pelos arranjos organizacionais com menores custos variações de preços tanto interferem na dinâmica
de transação). econômica dessas cadeias.
Assim, o grande desafio que se impõe a todas as
Peculiaridades dos produtos cadeias produtivas alimentares é conciliar uma de-
agroindustriais e a necessidade de manda de produtos relativamente estável por parte
formas de governança mais eficientes dos consumidores, com uma oferta de produtos, por
Os produtos agropecuários se posicionam diante natureza instável, por parte dos produtores. Esse
do mercado, com algumas particularidades, reque- equacionamento irá requerer dos agentes respon-
rendo uma análise diferenciada perante a demanda sáveis pelos processos eficiencia na coordenação
e a oferta. A maior parte deles se constitui como pro- que assegure custos de produção e de transação
duto de primeira necessidade e, também, na maioria compatíveis com as condições dos mercados. Aos
das vezes, com baixo valor agregado em sua cadeia de custos de produção corresponde uma dimensão
valor. Além disso, muitos desses produtos, por serem técnica da coordenação e aos custos de transação
de primeira necessidade e de consumo frequente associam-se as opções alternativas de governança
pela população, estão condicionados a implicações capazes de minimizar o custo de conduzir as transa-
de cunho social e político, que lhes conferem atenção ções entre os agentes .
especial de ordem institucional. Tomando em conta a cadeia produtiva da
As carnes são alimentos de consumo frequente carne suína e seus derivados, a dimensão técnica
no cotidiano da população brasileira e, mesmo em ocupa-se da redução dos custos de produção e age
alguma forma diferenciada ou processada, perante dentro dos processos produtivos ao longo de toda
o consumidor, seu consumo tende a ser regular de a cadeia. Sendo assim, na etapa de produção nas
janeiro a dezembro. A regularidade, diante da de- granjas, deve-se produzir com menor custo, buscar
manda, é exigida não só em termos de quantidade, melhores índices de conversão alimentar, maiores
mas também cada vez mais em termos de padroni- índices de produtividade animal, redução das per-
zação e qualidade. das com mortalidade e garantia de maiores des-
Entretanto, essa característica de regularidade frutes. No processamento agroindustrial, deve-se
da demanda não ocorre quando analisamos os pro- buscar otimização nos processos e eficiências
dutos agroindustriais do prisma da oferta. Por se logística e operacional, com garantia de qualidade
e baixo custo. Na distribuição, é preciso garantir com mudanças estruturais importantes como o au-
fluxos de informações precisas e eficazes, com mento vigoroso nas escalas de produção.
redução dos custos com operações de movimenta- As estratégias dominantes das principais em-
39
ção e armazenagem. presas e cooperativas agroindustriais que abatem
Se por um lado a crescente especialização da suínos e processam sua carne no Brasil baseiam-se
suinocultura, obtida pela segmentação do processo na garantia de fornecimento de matéria-prima na
produtivo nas granjas, tem contribuído para uma quantidade e qualidade desejadas, bem como na
maior eficiência técnica, por outro, tem aumentado busca de eficiência logística. Isso tem sido alcan-
o desafio para a coordenação técnica e econômica çado em grande parte pela coordenação da cadeia
dessas atividades segmentadas. Ou seja, o desafio produtiva por meio dos contratos e de programas
encontra-se no modo de governança mais adequa- de fomento pecuário.
do, de modo que garanta maior sintonia entre os Esses instrumentos estabelecem compromis-
componentes e maior eficiência nas transações. sos formais entre as partes, viabilizam uma maior
As formas de governança predominantes nas padronização e estabilidade da matéria-prima e
cadeias mais organizadas do complexo carnes permitem a transferência de riscos e margens entre
apontam para a necessidade de uma coordenação os diversos segmentos. Esse modelo organizacional
mais estreita ou via contrato entre produtores e é conhecido no setor como integração, no qual o sui-
agroindústrias para a garantia de abastecimento nocultor se insere em uma cadeia produtiva vincu-
do mercado com a qualidade e os preços requeridos lado a uma agroindústria de abate e processamento
pelo consumidor final. A formalização de contratos que, geralmente, também coordena os elos a mon-
demanda transparência entre as partes, pois os cus- tante da produção primária, sobretudo na de ração.
tos de produção e processamento devem ser conhe- A integração predomina na suinocultura da
cidos para balizar as negociações sobre as margens região Sul do país, mas cresce nas demais regiões,
de lucro, como forma de minimizar a incerteza e o acompanhando a expansão geográfica das em-
oportunismo das relações. Entretanto, observa-se presas e cooperativas líderes. Entretanto, há uma
que muito ainda se tem a avançar para buscar o ne- multiplicidade de formas organizacionais coexis-
cessário equilíbrio entre eficiência e equidade nos tindo com um expressivo número de suinocultores
arranjos contratuais estabelecidos pelos compo- não integrados, denominados independentes pelo
nentes dessas cadeias. setor, mas que também acompanharam a evolução
técnica e fazem parte da suinocultura industrial.
Estratégias empresariais e governança Em termos de diferenças regionais, destaca-se
na cadeia produtiva da carne suína que a escala de produção na região Sul é inferior
No caso da cadeia produtiva da carne suína e à das demais regiões, com grande participação de
seus derivados, o desafio da governança se colocou agricultores familiares integrados a empresas e co-
desde as primeiras iniciativas de organização dessa operativas agroindustriais. Predomina a produção
atividade nos primórdios da década de 1940, na segregada em múltiplos sítios e com especialização
região Sul do Brasil. De lá para cá, esse setor tem se na atividade, com pouca produção de grãos. Mais
caracterizado por uma permanente modernização recentemente, verifica-se uma diversificação para a
tecnológica, sendo um dos setores da produção bovinocultura de leite. Na região Sudeste predomi-
animal mais intensivos em conhecimento e inova- na o sistema em ciclo completo (CC) não integrado
ção. Esse dinamismo tem requerido igualmente (mercado spot), mas tem aumentado a participação
um esforço de adaptações econômicas na busca de granjas integradas, com produção segregada,
das estratégias de governança mais adequadas às ligadas à expansão das agroindústrias líderes. A
distintas situações, mormente na atual, em que a região Centro-Oeste é uma das principais regiões
atividade se expandiu para outras regiões do país, de expansão da fronteira agrícola no mundo. A sui-
Agroindústria
Empresa de
Frigorífico /
Suinocultor
Exportador
Tradings /
Empresas
de varejo
genética
econômico
Agende
Operações
técnicas
9
1 2 3 4 5 6 7 8
10
CT
CT
M
M
genética/Suinocultor
Frigorífico / Varejo
Suinocultor /
Empresa de
Transações
Frigorífico /
Exportador
Frigorífico
Externas
T1 T2 T3 T4
Governança de transações: 1. Genética de reprodutores e 5. Terminação de cevados (UT)
M. Mercado Matrizes (GR) 6. Abate e processamento
CT. Contratos tácitos 2. Preparação de marrãs e primeira 7. Embalagem e rotulagem
CI. Contratos de integração prenhez 8. Distribuição para o mercado
3. Frabricação e transporte de ração Interno
4. Criação de matrizes e rrodução de 9. Varejo
leitões (UPL) 10. Exportação
Figura 2 – Arranjo organizacional da CPA – Carne suína com suinocultor independente em ciclo completo
Fonte: elaboração própria, baseado em Thomé (2010)
Agroindústria
Agroindústria
/ Integradora
/ Integradora
Empresa de
Suinocultor
Suinocultor
Exportador
Tradings /
Empresas
de varejo
genética
econômico
UPL
Agente
UT
42
Operações
técnicas
3 5 9
1 2 4 6 7 8
10
CT
CI
CI
CI
CI
M
Integradora / Varejo
Suinocultor UPL /
Suinocultor UPL
Suinocultor UT /
Suinocultor UPL
Suinocultor UT
Agroindústria
Emp. genética
Agroindústria
/ Exportador
Integradora /
Integradora /
Integradora/
Integradora
Integradora
Integradora
Transações
externas
T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7
dução de leitões. Por meio da transação T1 adquirem tratos tácitos, já que a opção por um tipo de genética
a genética de reprodutores e matrizes. A natureza des- implica certo grau de fidelização que concorre para
sa transação varia conforme o tipo de contrato de a recorrência da transação.
integração. Nos contratos do tipo compra e venda, Por meio da transação T2, tanto para os contra-
a transação se realiza diretamente entre a empresa tos de integração de compra e venda quanto de co-
de genética e o suinocultor UPL, e os animais de modato, o suinocultor UPL recebe da agroindústria
reprodução pertencem ao Suinocultor UPL. Nos integradora a ração para alimentar os animais de
contratos do tipo comodato, a transação se reali- criação, submetendo-se dessa forma a uma coor-
za entre a empresa de genética e a agroindústria denação técnica necessária para a garantia da qua-
integradora que repassa esses animais em regime lidade e da padronização dos animais produzidos.
de comodato para o suinocultor UPL. Nesse caso, Como a ração responde pela maior parte do custo
então, os animais de reprodução são de proprie- de produção, geralmente são incluídos na transação
dade da agroindústria integradora e o suinocultor mecanismos de monitoramento, como indicadores
é fiel depositário desses ativos. Nos dois casos, a e coeficientes técnicos, com o objetivo de otimizar o
coordenação se dá via mercado ou por meio de con- seu consumo.
»» transporte dos animais (que às vezes é assu- nocultor tem maior liberdade para selecionar for-
mido pelo próprio suinocultor). necedores com base em uma análise de custo/bene-
Na relação a jusante das granjas de suínos, fício sem exclusividade. Nesses casos o suinocultor
44
representadas pela transação T2 da figura 2 para é responsável pelas decisões técnicas (sobretudo
o caso das granjas em CC, pela transação T3 da em genética, nutrição e medicamentos), enquanto
figura 3 para o caso das UPLs e pela transação T5 na relação amparada por contratos de integração
da figura 3 para o caso das UTs, podemos obser- stricto sensu a margem de manobra é bem menor.
var os seguintes elementos de natureza contra-
tual, de qualificação ou de monitoramento das Breve análise comparativa entre
transações: os arranjos organizacionais
»» garantias mútuas de compra e venda; da CPA – Carne suína
»» comprometimentos de exclusividade; Entre 2005 e 2010, o número de matrizes inte-
»» definição de um preço de referência e formas gradas com contratos ou vinculadas a uma coope-
de remuneração baseadas em critérios pre- rativa com estrutura própria de abate aumentou
viamente acordados. em 27%, chegando a 1,1 milhão de cabeças alojadas,
Note-se que, apesar das semelhanças com os ou 67% do rebanho industrial brasileiro. No mesmo
arranjos organizacionais anteriores, há um menor período, o número de matrizes do rebanho indepen-
grau de comprometimento entre as partes, geral- dente foi reduzido em 1,2% para pouco mais de 500
mente sujeito ao desenvolvimento de relações de mil cabeças alojadas, ou 33% do rebanho industrial.
confiança e conhecimento mútuo. Além disso, o sui- Esse movimento foi mais intenso na região Sul, na
Contratos de integração
Dimensão do contrato Contrato de Mercado spot
Contrato de produção*
compra e venda
Crescimento e terminação Ciclo completo
Sistema de produção Produção de leitões
Produção de leitões Produção de leitões
Acesso ao mercado Garantido Garantido Não garantido
Controle da produção Agroindústria Agroindústria Produtor
Mão de obra
Mão de obra Eletricidade
Eletricidade Instalações e
Mão de obra
Instalações e equipamentos
Insumos e fatores de Eletricidade
equipamentos Manejo dos dejetos
produção pagos pelo Instalações e
Manejo dos dejetos Ração
produtor equipamentos
Ração Genética
Manejo dos dejetos
Genética Insumos veterinários
Insumos veterinários Transporte
Assistência técnica
Serviço de criação e Leitões para engorda Leitões para engorda
engorda de animais Suínos para abate Suínos para abate
Fontes de receita do
Valor fertilizante dos Valor fertilizante dos Valor fertilizante dos
produtor
dejetos (NPK) e outros dejetos (NPK) e outros dejetos (NPK) e outros
subprodutos subprodutos subprodutos
Volume x preço base + Volume x preço de
Volume x preço base x
Fórmula de remuneração bônus por eficiência ou mercado + bônus por
índice de eficiência
processo rendimento de carcaça
* Conhecidos entre os praticantes como contratos de parceria ou de comodato.
Fonte: elaborado por Miele e Miranda (2013)
Autoconsumo
subsistência
contrato de comodato
independente
Figura 4 - Relação entre terminologia utilizada pelos agentes da cadeia produtiva e a terminologia
teórica para as formas organizacionais da transação entre suinocultor e agroindústria.
Fonte: Miele e Waquil, 2006
baseados em assistência técnica também estabele- um vasto leque de opções, desde as transações
cem condições para o desenvolvimento de relações formalizadas por contratos, características desse
de confiança, conhecimento mútuo e aprendizado, grupo, até as transações sem contrato mas am-
além de se constituírem no principal instrumento paradas no cooperativismo, em programas de fo-
para monitorar a transação. mento pecuário ou em mini-integradores. Assim,
Portanto, há certo grau de indeterminação nes- do ponto de vista teórico, a integração ocorre não
se espectro de formas e arranjos organizacionais, apenas sob formas híbridas de coordenação (con-
uma vez que os elementos acima apontam para tratos neoclássicos), mas também por meio de
práticas e vicissitudes que reduzem a rigidez dos acordos tácitos ou mesmo contratos relacionais
contratos ou estabilizam a flexibilidade dos acordos (programas de fomento agropecuário).
tácitos e do mercado. Essa indeterminação fica ain- O que os agentes da cadeia produtiva cha-
da mais evidente quando se analisa a terminologia mam de suinocultura independente também
utilizada pelos agentes da cadeia produtiva, quais abrange um vasto leque de opções, que às vezes
sejam: suinocultura de subsistência, suinocultura se sobrepõe a algumas características da integra-
industrial independente e suinocultura industrial ção das transações no mercado spot, sem contra-
integrada (figura 4). tos formais neoclássicos, entre agroindústrias,
Entende-se por suinocultura industrial o terceiros e mini-integradores, passando pelas
conjunto de produtores tecnificados, ou seja, que transações amparadas pelo cooperativismo ou
incorporam os avanços tecnológicos em genética, pelos programas de fomento agropecuário, até
nutrição, sanidade e demais aspectos produtivos. os suinocultores que têm acordos de forneci-
Nesse grupo encontram-se suinocultores inte- mento com empresas de genética e nutrição. Do
grados e independentes. Aquilo que os agentes da ponto de vista teórico, esses se enquadram nas
cadeia produtiva chamam de integração abrange categorias de coordenação externa (mercado
spot) e acordos tácitos. Também fazem parte dos pria de suínos, geralmente em granjas de repro-
independentes os suinocultores organizados em dutores e em fábricas de ração.
pequenas cooperativas, outras iniciativas asso- Por fim, entende-se por suinocultura de subsis-
48
ciativas e que processam os próprios animais em tência o conjunto de produtores não tecnificados,
agroindústrias familiares, mais comuns na região que não incorporaram os avanços tecnológicos (so-
Sul do país. Ainda do ponto de vista teórico, esses bretudo em genética, nutrição e sanidade) e para os
se enquadram nas categorias de alianças estra- quais a produção de suínos é destinada ao consumo
tégicas e coordenação interna (hierarquia, inte- próprio ou ao acesso de forma marginal aos princi-
gração vertical). Também se enquadram nessa pais canais de processamento e distribuição da ca-
categoria teórica os investimentos das empresas deia produtiva. Neste último caso, também poderiam
e cooperativas agroindustriais na produção pró- ser considerados suinocultores independentes.
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2 Genético Aplicado à
Produção de Suínos
A
importância das raças e linhagens na pro- Suínos de raças puras são, geralmente, homo-
dução de suínos está embutida no conceito zigotos para os alelos mais comuns responsáveis
“FENÓTIPO = GENÓTIPO + AMBIENTE”. pela cor da pelagem. Linhagens ou linhas genéticas
Raças e linhagens de suínos, suínos mestiços ou cru- de suínos são grupos ou famílias de animais de uma
zados, suínos de linhas sintéticas e de linhas consan- raça selecionados para a expressão mais intensa de
guíneas constituem GENÓTIPOS, pois são portado- determinadas características.
res de genes que sustentam o seu funcionamento e É comum ter em algumas raças o que se de-
que os caracterizam quanto ao seu aspecto exterior, nomina de linhagens ou linhas maternas, isto é,
como cor da pelagem, e quanto à sua capacidade machos e fêmeas selecionados para aumento da
de produção ou de função, como número de leitões prolificidade e para melhoria da habilidade ma-
nascidos por leitegada e rendimento de carne, cuja terna, e animais de linhagens ou linhas paternas,
expressão depende das condições nas quais são selecionados principalmente para aumento da
criados (AMBIENTE). taxa de crescimento, da eficiência alimentar e
Raças de suínos são grupos de animais com ca- da deposição de carne na carcaça. São, portanto,
racterísticas específicas de exterior, tais como cor grupos de animais que foram refinados pela sele-
da pelagem, tipo de perfil fronto-nasal, de cabeça ção para expressarem um determinado desempe-
e de orelhas (figura 1), criados e selecionados se- nho (FENÓTIPO).
paradamente de outros genótipos e agrupados em Linhagem pode estar associada também ao re-
registros genealógicos. sultado do acasalamento de animais aparentados,
gerando progênies consanguíneas ou endogâmicas.
Nesse caso, visa-se intensificar características
excepcionais observadas em um ou mais repro-
dutores, fixando seus genes na população. Pode
também descrever uma família ou grupo de animais
conhecidos dentro de uma raça por sua pelagem,
seu exterior ou sua capacidade de produção. Exem-
plos disso são animais Landrace da linhagem “Alex”,
conhecida por apresentar manchas escuras na pela-
gem, e animais Large White da linhagem “Maverick”,
muito valorizada no passado por sua excelente taxa
de crescimento diário.
Duroc
A raça Duroc foi desenvolvida no século 19 nos
Estados Unidos da América do Norte, nos estados
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de Nova Jersey e Nova Iorque, tendo recebido,
à época, a contribuição de genes de animais de
pelagem vermelha provenientes da Espanha e da
Inglaterra. As importações de Duroc para o Brasil
iniciaram-se na década de 1950 e se intensificaram
no decorrer dos anos com animais vindos dos Es-
tados Unidos da América do Norte, do Canadá, da
Foto 2 – Fêmea Duroc e seus leitões
Dinamarca e da Noruega. Nos registros do PBB de Fonte: autor
Tabela 1 – Idade aos 90kg, espessura de toucinho corrigida para 90kg de peso vivo
e número de tetos de fêmeas Duroc, Landrace, Large White e Pietrain em Testes de
Granja em um programa brasileiro de melhoramento genético de suínos
das carcaças. É importante que genes de Duroc façam lizados como linha paterna, tanto na forma de raça
parte do genótipo de suínos criados para a produção pura ou como de machos terminadores mestiços,
de carne in natura, para consumo assada ou cozida, e com vistas a explorar a heterose na taxa de cresci-
para a obtenção de salames e presuntos curados. A au- mento dos animais produzidos para o abate e o efeito
sência praticamente total do alelo Halotano recessivo de complementaridade na qualidade da carne.
(Haln) do genoma de Duroc é outro fator que confere à Em criações de menor escala industrial ou em
raça capacidade genética para produzir carne de exce- criações de suínos ao ar livre, pode-se explorar os
lente qualidade. efeitos de complementaridade da raça Duroc em
Em cruzamentos com Landrace e Large White cruzamento com raças de pelagem branca na pro-
recomenda-se que reprodutores Duroc sejam uti- dução de fêmeas mestiças ou F-1, pois o gene para
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Foto 5 – Macho Large White Foto 6 – Fêmea Large White e seus leitões
Fonte: autor Fonte: autor
leitegada de fêmeas Landrace. Em programas de I (inibidor da cor). Diferencia-se, porém, por apre-
melhoramento genético, no estrato multiplicador, sentar orelhas eretas, tipo asiático, e perfil fronto-
reprodutores Landrace são cruzados com Large nasal subconcavilíneo a concavilíneo (Fotos 5 e 6).
White na produção de fêmeas comerciais F-1, co- Os animais são sexualmente precoces, têm alta
nhecidas também como “Fêmeas Universais”. O uso prolificidade (tabela 4), excelente taxa reprodu-
de fêmeas ou de machos Landrace no cruzamento tiva e de crescimento diário, excelente eficiência
com Large White para a produção dessas fêmeas alimentar, ausência do alelo Haln e produzem car-
depende da capacidade de combinação das duas caças com alto rendimento e qualidade de carne
raças. Pelo fato de fêmeas Landrace produzirem para consumo in natura ou para produtos curados
número igual ou maior de leitões por leitegada e e cozidos. Em países como França, Inglaterra e Es-
leitões um pouco mais pesados ao nascerem do que tados Unidos da América do Norte, a raça tem sido
fêmeas Large White, é interessante, sempre que utilizada para desenvolver linhas hiperprolíficas e
possível, cruzar fêmeas Landrace com machos Lar- em outros, como a Itália, para a produção de suínos
ge White na produção de fêmeas F-1. com peso elevado de abate.
Uma parte considerável da raça foi desenvolvida
Large White no condado de Yorkshire, Inglaterra, enquanto ani-
A raça Large White, como a Landrace, apresen- mais Large White de outras partes do mundo foram
ta pelagem branca resultante do alelo dominante agregados à raça. Por essa razão, a raça é conhecida
Tabela 4 – Prolificidade de suínos Duroc, Landrace, Large White e Pietrain em leitegadas registradas
no Pig Book Brasileiro em 2003, 2005, 2007, 2009 e 2011 e média geral do total de 2003 a 2011
pelos dois nomes: Large White, no Brasil, na Ingla- produzir presuntos curados do tipo “Parma” na Itá-
terra, na França e em outros países, e Yorkshire, nos lia (160 a 170kg de peso vivo).
Estados Unidos da América do Norte, no Canadá, na Observa-se às vezes que animais Large White
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Noruega, na Finlândia e em outros países. Nos Esta- apresentam pequeno porte, corpos curtos e baixos,
dos Unidos da América do Norte, no final do século o que sugere segregação de genes para essa carac-
19, a raça era conhecida como Large Yorkshire. terística. Isso pode ocorrer devido à contribuição,
As primeiras importações de Large White para no passado, de genes das raças Small White e Midd-
o Brasil foram feitas da Suécia, em 1968. Novas im- le White na formação de Large White. Essa caracte-
portações, feitas no decorrer dos últimos 40 anos rística, porém, não é desejável na raça.
da Suécia, da Holanda, da Inglaterra, dos Estados Animais Large White apresentam seis a oito
Unidos da América do Norte, da Dinamarca, da ou mais pares de tetos. Devido à sua alta prolifici-
Alemanha, da França e do Canadá, ajudaram a cons- dade, machos e fêmeas são cruzados com repro-
tituir o que é hoje o Large White brasileiro, permi- dutores Landrace para a produção de fêmeas F-1,
tindo agregar grande variabilidade genética à raça. proporcionando, pelo cruzamento, a obtenção de
A Large White foi reconhecida pela primeira vez embriões e leitões heterozigotos e de fêmeas mes-
como raça na Inglaterra, em 1868, onde, em 1884, tiças que proporcionam ganhos de heterose de 5 a
foi publicado o seu primeiro Herdbook. 10% na produção de leitões por leitegada. Por sua
Relatos históricos indicam que entre um dos vez, linhagens paternas de Large White, com exce-
melhoradores da raça encontrava-se o famoso lente arcabouço de carcaça, têm sido usadas para o
criador inglês Robert Bakewell que, entre 1700 e desenvolvimento de machos mestiços “terminado-
1800, ajudou a moldá-la. Informações disponíveis res” e de linhas sintéticas de machos, visando com-
da metade dos anos de 1800 indicam que a raça plementar ou corrigir a menor estrutura corporal
era constituída de animais de grande porte, muito de raças que apresentam excelente conformação de
prolíficos, capazes de produzir, já naquela época, carcaça como Pietrain.
eventualmente 16 a 18 leitões por leitegada e que
era conhecida pela qualidade do bacon. A foto 7, ex- Pietrain
traída do livro Swine in America, publicado em 1910, A raça Pietrain (fotos 8 e 9) foi desenvolvida
proporciona uma ideia de um reprodutor Yorkshire na Bélgica em 1920, em uma vila de mesmo nome,
norte-americano ideal para a produção de bacon como resultado da combinação de suínos Berkshire,
da época. Chama a atenção o grande arcabouço de Normandos e Large White com suínos locais. Suínos
carcaça da raça, característica muito importante Pietrain se caracterizam por apresentar pelagem
em suínos Large White criados atualmente, os quais malhada, em tons cinza, marrom e vermelho, ore-
têm sido utilizados para aumentar o peso de abate lhas do tipo asiático, perfil cefálico subconcavilíneo,
de suínos no Brasil (120 a 140kg de peso vivo) e para baixa espessura de toicinho, grande musculosidade
e conformação de carcaça.
Entre as raças de suínos criadas no mundo,
Pietrain é a que apresenta a menor deposição de
gordura e a maior deposição de carne na carcaça. Por
causa dessas características, a raça esteve a ponto
de desaparecer no decorrer da II Grande Guerra
Mundial, pois a demanda naquela época era grande
por gordura animal. Com o fim da guerra, o aumento
do consumo de carne magra de suínos proporcionou
Foto 7 – Reprodutor Large White novo fôlego à raça, que foi então exportada para a
(Yorkshire) do início dos anos 1900
Fonte: Coburn, 1910 França (1955) e para a Alemanha (1960), países em
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que foi selecionada para carcaças ainda mais mus- devido a seu menor tamanho corporal, menor taxa de
culosas. Essa característica despertou interesse e crescimento diário e grande susceptibilidade ao es-
muitos países passaram a importar animais Pietrain tresse, suínos Pietrain não têm sido criados na forma
para aumentar, rapidamente, a quantidade de carne de raça pura para o abate. Sua intensa deposição de
na carcaça dos animais produzidos para o abate. Esse carne ocorre principalmente até 90 a 100kg de peso
também foi o caso do Brasil, para onde os primeiros vivo, e sua estrutura corporal impõe limites à taxa
animais da raça foram trazidos em 1967, vindos da de crescimento em suínos de maior peso de abate,
Bélgica. Uma nova importação foi feita em 1970. A conferindo-lhes maturidade precoce. Por isso, ani-
grande musculosidade da raça deve-se à presença mais Pietrain têm sido usados principalmente para o
da alta frequência do gene Haln, superior a 90%, que desenvolvimento de linhas genéticas paternas e sin-
também é o responsável genético pela PSS, que torna téticas de macho e para a obtenção de reprodutores
os suínos muito susceptíveis a problemas causados mestiços e híbridos comerciais, a partir de cruzamen-
por temperaturas elevadas e a manejo incorreto. tos com Duroc, com linhas paternas de Large White
Quando os animais se encontram em situações de ou com animais da raça Hampshire.
estresse e de desconforto térmico, os portadores de Os problemas de qualidade de carne (PSE)
carga dupla do alelo (Halnn ) apresentam hipertermia causados pelo gene Hal n despertaram, em 1980,
maligna e podem vir a óbito, fato que causou o desa- na Bélgica, o interesse em produzir suínos Pietrain
parecimento por completo dos primeiros animais homozigotos para o alelo homólogo HalN, o que foi
trazidos para o Brasil. Novas importações feitas da obtido por introgressão com genes de Large White.
Alemanha em 1977 e 1979, e cuidados no manejo Em consequência disso, machos e fêmeas Pietrain
dos animais, permitiram que a raça contribuísse Hal NN ou Hal Nn estão disponíveis atualmente no
efetivamente para aumentar o rendimento de carne mercado de reprodutores. Além disso, sêmen de
na carcaça no Brasil, a qual, na década de 1980, se machos HalNN pode ser encontrado com relativa fa-
encontrava entre 45 e 48% em suínos de abate de cilidade em Centrais de Inseminação Artificial euro-
boa qualidade genética, passando para 54 a 55% no peias. Reprodutores livres do alelo Haln têm permi-
começo dos anos 2000. Importações de animais e tido produzir animais de abate menos susceptíveis
de sêmen feitas a partir de 1992 até 2011 solidifica- ao estresse e com excelente qualidade de carne.
ram a presença e a importância da raça no Brasil, e
contribuíram significativamente para o aumento do Linhas sintéticas de suínos
rendimento de carne que alcança agora 56 a 58% e da Linhas sintéticas ou compostas de suínos resul-
quantidade de carne na carcaça. tam do cruzamento único ou sequencial de machos
Fêmeas Pietrain apresentam seis a sete pares e fêmeas de duas ou mais raças, formando um novo
de tetos salientes e bem espaçados e produzem, em genótipo contendo genes de cada uma das popula-
média, 11 leitões nascidos por leitegada. No entanto, ções de origem.
No desenvolvimento de linhas sintéticas, pode- à produção de animais de abate com alto rendi-
se objetivar: mento de carne, sem muita importância, inicial-
a) a formação de um novo grupo genético com per- mente, para a qualidade da carne. Linhas sintéticas
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centuais fixos de cada uma das raças de origem; com esse objetivo foram desenvolvidas na Europa
b) a formação de um novo grupo de animais com ca- e no Brasil, tendo recebido, geralmente, nomes
pacidade genética específica para uma ou mais que expressavam o seu potencial genético. A linha
características de importância econômica. sintética de machos suínos MS-58, desenvolvida
Na sua formação, deve-se obedecer a algumas pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
regras fundamentais: (Embrapa), nos anos de 1990, por exemplo, tinha
1) Certificar-se de que os animais usados nos em sua composição 62,5% de genes de Pietrain,
cruzamentos originais tenham sido intensa- 18,75% de Duroc e 18,75% de Hampshire, e obje-
mente selecionados para as características tivava a produção de suínos de abate com 58% de
relevantes; carne na carcaça, numa época em que o rendimen-
2) Maximizar a variabilidade genética em termos to médio de carne de suínos era inferior a 54%. A
de valores genéticos nos grupos genéticos ou grande aceitação dos machos dessa linha deveu-se
raças de fundação, utilizando o maior número à sua capacidade genética e ao bônus em dinheiro
possível de animais não aparentados. recebido pelos produtores de suínos de abate, que
Uma vez formada a nova linha sintética, deve-se eram remunerados de acordo com o rendimen-
melhorá-la por meio de seleção, objetivando obter to de carne de seus animais. A linha MS-58 era,
rapidamente animais geneticamente excepcionais inicialmente, portadora do alelo Haln. Mudanças
nas características de interesse. Esse novo grupo posteriores em sua composição (MS-60) incluíram
de animais pode se constituir, com o tempo, em uma a eliminação do alelo Haln do seu genótipo e a se-
nova raça. leção para produzir suínos com peso mais elevado
Os objetivos a serem alcançados com linhas sin- de abate (MS-115). Outras linhas sintéticas de
téticas podem variar, mas geralmente concentram- machos foram desenvolvidas no Brasil, quase to-
se em alta prolificidade em linhas sintéticas mater- das com genes de Pietrain, visando, geralmente, à
nas e em alta eficiência alimentar e rendimento de produção de suínos de abate com alto rendimento
carne em linhas sintéticas paternas. e qualidade de carne.
As primeiras linhas genéticas sintéticas dispo- A importância do aumento no número de lei-
níveis no mercado de reprodutores suínos visavam tões produzidos por leitegada e por porca por ano
fez com que houvesse um grande interesse do mer- No PBB, esses novos grupos genéticos são
cado por genótipos com alta prolificidade. Para isso, denominados de “Puros Sintéticos”. Em termos
foram desenvolvidas linhas hiperprolíficas em raças reprodutivos, eles funcionam como qualquer raça
59
puras, tanto em Landrace como em Large White, pura, com acasalamentos entre machos e fêmeas
mas principalmente na última, e linhas sintéticas do mesmo grupo. O número de registros desses
do cruzamento de Landrace, Large White e outras animais vem crescendo e, em 2011, superou o
raças com uma ou mais raças chinesas de suínos de número de registros juntos de Duroc e Pietrain
alta prolificidade, como a Meishan. (tabela 5).
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E
m genética, convencionou-se dar o nome de bem organizados, ou seja, com uma definição clara
pirâmide à forma da estrutura dos diferentes de quais são os agentes que atuam em cada um dos
estratos de produção de um programa de me- estratos. Com a profissionalização cada vez maior
lhoramento genético. Essa forma dá uma ideia de da suinocultura e a necessidade de altos investi-
como esses estratos estão distribuídos, bem como mentos em genética, principalmente na área mole-
os volumes de animais em cada um desses estratos cular, os rebanhos núcleos estão cada vez mais con-
e a estratégia de seleção a ser aplicada no programa. centrados, e, normalmente, nas mãos de empresas
A estrutura de um programa de melhoramento especializadas em melhoramento genético.
genético é relevante devido a dois aspectos da es- Por sua vez, o estrato de multiplicação nor-
tratégia de seleção: malmente está integrado ao estrato núcleo, em
1. O de melhoramento genético: de que modo de- função da necessidade de expandir a base de pro-
terminar os animais geneticamente superiores; dução de animais comerciais, bem como de reali-
2. O da disseminação dos genes dos animais zar os cruzamentos necessários de acordo com os
geneticamente superiores: como fazer para objetivos de cada programa.
que esses animais geneticamente superiores Sendo assim, a pirâmide é formada no seu
disseminem seus genes mais rapidamente topo pelo estrato núcleo, onde estão localizadas
por toda a população. as granjas que possuem os rebanhos puros ou sin-
Esses dois aspectos também estão relacio- téticos, rebanhos esses compostos de um menor
nados com o sistema de produção da espécie em número de animais, quando comparados aos de-
questão. Além disso, os tipos de animais a serem mais estratos. Porém, esse estrato possui os ani-
produzidos, e, mais ainda, os tipos de cruzamentos
utilizados para a sua produção é que vão definir a
estrutura dessa pirâmide. Outros aspectos “não
genéticos” também estão envolvidos na definição
Rebanhos
dessa estrutura, aspectos tais como o perfil sanitá- núcleos
rio das populações e o investimento necessário em
cada um dos estratos.
Rebanhos
multiplicadores
Estrutura de um programa de
melhoramento genético de suínos
No caso da espécie suína, normalmente a pi-
râmide possui bem definidos todos os estratos de Rebanhos comerciais
produção. Isso acontece devido, principalmente, à
estrutura de um programa de melhoramento gené-
tico de suínos estar baseada em cruzamentos, bem Figura 1 - Estrutura piramidal de um programa
de melhoramento genético de suínos
como esses programas estarem estruturalmente Fonte: Próprio autor, 2013
mais de maior valor genético dentro da população É importante ressaltar que, por questões sa-
como um todo e no qual são aplicados os protoco- nitárias, o fluxo de animais na pirâmide é sempre
los de avaliação genética, bem como os controles do topo, rebanhos núcleos, para a base, rebanhos
61
de acasalamento dos animais, com o objetivo de multiplicadores e comerciais. Além disso, o fluxo de
manter a variabilidade genética e identificar gene- animais nos diferentes estratos da pirâmide depen-
ticamente os melhores indivíduos da população. derá do sistema de cruzamentos utilizado, tendo
Nesse estrato, há alta intensidade de seleção, com esse fluxo impacto na agilidade de transferência
vistas a maximizar o progresso genético. Nele, os dos genes selecionados nos estratos superiores, e,
melhores indivíduos são utilizados para a autorre- consequentemente, no lag genético, que é a dife-
posição dos rebanhos em questão, os indivíduos rença genética entre indivíduos nascidos em um ní-
de valores genéticos intermediários são enviados vel do sistema e aqueles nascidos do sistema como
para a reposição do estrato de multiplicação ou um todo em um nível superior em determinado mo-
comercializados diretamente com o estrato co- mento. Outros fatores que interferem no lag gené-
mercial, e os piores indivíduos são enviados para o tico são: a taxa anual de ganho genético no estrato
abate. O dimensionamento dos rebanhos núcleos núcleo, a superioridade genética dos animais trans-
depende da intensidade de seleção aplicada e das feridos e a porcentagem de reposição dos machos e
taxas de reposição nos rebanhos núcleos e nos re- fêmeas em todos os estratos.
banhos multiplicadores e comerciais.
O estrato seguinte, chamado de multiplicador, Modelos de disseminação de
recebe os animais puros ou sintéticos das gran- material genético de suínos
jas núcleos e promove o cruzamento entre eles, Considerando que a pirâmide de disseminação
produzindo os animais cruzados ou híbridos que do material genético pode ser composta dos estratos
serão utilizados no estrato comercial. Nesse ní- núcleos multiplicadores e comerciais, é possível en-
vel da pirâmide, em geral, o objetivo é promover o contrar variações com relação à presença ou não de
cruzamento entre as raças puras ou sintéticas, de algum estrato. Os modelos mais utilizados de dissemi-
maneira que se obtenha a complementaridade de nação de material genético de suínos podem ser re-
características entre as raças, além de buscar ma- presentados pelos diagramas mostrados na figura 2.
ximizar a heterose, atendendo à demanda de ani- Na figura 2a está representado um modelo
mais de reposição do estrato comercial. A seleção de disseminação de material genético, no qual as
feita nesse estrato é apenas fenotípica, com o me- granjas núcleos somente enviam machos direta-
lhoramento genético aplicado apenas por meio da mente para as granjas comerciais, e estas, por sua
reposição dos plantéis puros ou sintéticos, cujos vez, produzem as próprias fêmeas para a autorre-
animais superiores são geneticamente seleciona- posição, não existindo o estrato de multiplicação.
dos nas granjas núcleos. O dimensionamento dos Nesse caso, não se utiliza o vigor híbrido oriundo
rebanhos multiplicadores se dá de acordo com a de fêmeas F1, que seriam produzidas pelo estrato
taxa de aproveitamento dos animais cruzados ou de multiplicação, devendo-se utilizar o sistema al-
híbridos na seleção fenotípica e com a taxa de re- ternado de cruzamento com o objetivo de evitar o
posição aplicada no rebanho comercial. acasalamento de animais aparentados.
O estrato comercial recebe os animais do estrato A figura 2b representa um modelo de dissemi-
de multiplicação ou núcleo, dependendo do sistema nação de material genético em que apenas machos
de cruzamento utilizado, e promove o cruzamento são transferidos das granjas núcleos para as gran-
desses animais, produzindo os animais de abate. O jas multiplicadoras e comerciais, cuja reposição de
melhoramento genético na base da pirâmide é, por- fêmeas nas granjas multiplicadoras e comerciais é
tanto, alcançado como consequência da transferên- realizada através de fêmeas produzidas no próprio
cia dos genes selecionados nos estratos superiores. plantel. Esse modelo é o que apresenta o maior
N N N N
62
M M M
C C C C
atraso genético entre as granjas núcleos e comer- ciais através da utilização de fêmeas F1 e machos
ciais devido à demora na transferência do melhora- cruzados.
mento genético realizado nas granjas núcleos para A figura 2d representa um modelo de disse-
as granjas comerciais. minação do material genético em que machos e
A figura 2c representa um modelo de dissemina- fêmeas são enviados das granjas núcleos para as
ção de material genético em que as granjas núcleos granjas multiplicadoras, bem como as granjas nú-
enviam machos e fêmeas para as granjas multiplica- cleos enviam machos diretamente para as granjas
doras, e estas enviam machos e fêmeas para as gran- comerciais. As granjas multiplicadoras, por sua vez,
jas comerciais. Esse tipo de modelo permite a utiliza- enviam somente fêmeas para as granjas comerciais.
ção de quatro raças ou linhagens puras no programa Esse é o modelo que permite a maior celeridade de
de melhoramento genético, podendo ser explorado transferência de ganho genético das granjas núcle-
o potencial máximo de heterose nas granjas comer- os para as granjas comerciais.
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O
melhoramento genético usa conceitos de os animais selecionados gerará uma população de
genética e estatística para aprimorar os filhos, em média, melhor que a população da qual
genótipos disponíveis, assim como deter- vieram seus pais. Quanto maior o número de ani-
minar os melhores cruzamentos. O objetivo final do mais avaliados, maior a acurácia (ou seja, a certeza)
melhoramento é obter uma população de filhos com da seleção dos melhores animais.
média superior à dos pais, obtendo avanços ao lon- Existem características que não podem ser
go do tempo nas características de interesse. mensuradas em todos os indivíduos por vários mo-
A produção de suínos depende de vários fato- tivos. Alguns testes são considerados destrutivos,
res, entre esses citam-se: instalações, sanidade, como é o caso de características relacionadas com a
alimentação, mão de obra, manejo, genética e outros qualidade de carne ou rendimento de cortes. Outro
efeitos, que levam ao sucesso ou ao fracasso na ativi- caso é o de características que se manifestam em
dade. Este texto se dedica especialmente aos efeitos apenas um dos sexos como o tamanho de leitegada.
da genética na produção de suínos e o modo como Também é importante testar os animais da mesma
melhorar a produtividade através do melhoramento. família em diferentes ambientes, para excluir os
efeitos de ambiente do desempenho dos animais
Conceitos de melhoramento e possivelmente detectar o melhor genótipo para
genético animal cada ambiente.
O principal objetivo do melhoramento gené- É importante lembrar que seleção é diferente
tico é aumentar a frequência de alelos favoráveis de descarte. A seleção pressupõe escolher os me-
na população de seleção. Para isso, utilizam-se lhores animais e o descarte apenas excluir os de
duas ferramentas: 1) selecionar dos melhores pior desempenho. A principal diferença nesses dois
animais e 2) conceder vantagens reprodutivas sistemas é a velocidade do ganho genético, que é
aos selecionados. Os ganhos obtidos no melhora- muito maior quando se tem a opção de selecionar os
mento genético são ditos estáveis e permanentes, melhores animais.
pois independem do ambiente e são transmitidos
às próximas gerações. Programas de melhora- Como estimar o ganho do
mento bem desenhados permitem ganhos genéti- melhoramento genético?
cos da ordem de 1-3% ao ano para as característi- O ganho genético (Δg) é dado pela diferença de
cas de seleção. desempenho que a geração dos filhos teve em rela-
A identificação dos melhores animais exige a co- ção à população média dos pais, ou seja:
leta de dados do maior número possível, e o ideal é a
coleta dos dados de todos os animais da população.
Δg = Média da geração 1 – Média da geração 0
Considerando os dados e conhecendo o parentesco
entre eles é possível selecionar os melhores ani-
mais. Em um segundo momento, a reprodução entre Pode também ser denominado Resposta à
Média
Distribuição
Geração 2
Média
Distribuição
Seleção (RS), ou seja, o ganho efetivo com a sele- opções de seleção de animais com desempenho
ção. Esses conceitos pressupõem que não tenham superior, fazendo com que os ganhos genéticos se-
ocorrido mudanças ambientais de uma geração jam menores. É o que acontece em populações com
para a próxima (ou seja, nutrição, manejo, ambiên- variância genética baixa, ou seja, todos os animais
cia etc) para que o ganho genético, que é perma- da população têm desempenho similar para carac-
nente, não seja confundido com o ganho devido ao terística de interesse, excluindo-se os efeitos de
ambiente, que é transitório e não transmitido para ambiente.
as próximas gerações. O ganho genético também depende da intensi-
É possível estimar o ganho genético por meio dade de seleção, que é proporcional à porcentagem
da fórmula abaixo, que depende do desvio padrão de animais selecionados em relação ao total de ani-
da característica na população (σ), a intensidade de mais disponíveis para seleção. Ou seja, se a propor-
seleção para a característica e a sua herdabilidade. ção de selecionados é de 10%, a cada 100 animais
Δg = i * σ * h2 a μ= 0, σ2= 0,2
0,9
μ= 0, σ2= 1,0
0,8
O desvio padrão fenotípico é um indicador μ= 0, σ2= 5,0
0,7
da variância genética que a característica possui. 0,6 d μ= -2, σ2= 0,5
Quanto maior o desvio padrão da característica, 0,5
b
mais dispersa é a curva normal dessa população e 0,4
igualmente maior a probabilidade de encontrar ani- 0,3
c
mais com desempenho muito acima ou muito abaixo 0,2
10% ou 1 : 10 1,76
5% ou 1 : 20 2,06
2% ou 1 : 50 2,42
1% ou 1 : 100 2,6
0,2% ou 1 : 500 2,9
0,1% ou 1 : 1000 3,4
0,02% ou 1 : 5000 3,6
0,01% ou 1 : 10.000 4
Fonte: Pereira (2004)
10 serão selecionados. Porém, se a proporção de cessário que se faça a correção para o intervalo
selecionados é de 1%, será selecionado apenas um de gerações da espécie em estudo. O intervalo de
animal, o que permite teoricamente que seja um gerações é dado como o tempo médio necessário
animal com um desempenho muito superior ao da para que os filhos de um reprodutor(a) que está
média, tornando o ganho genético maior. A tabela hoje em produção cheguem até a sua reprodução.
1 traz o valor do índice i, que é usado nas fórmulas Esse intervalo de gerações depende da taxa de
de ganho genético e que depende da proporção de reposição das granjas de melhoramento animal,
selecionados. e quanto menor o intervalo de gerações, maior é
É importante ressaltar que a intensidade de se- o ganho genético anual. Como exemplo pode ser
leção usada para o cálculo do ganho genético deve calculado um intervalo de geração de 1,7 ano para
ser a média de intensidade de seleção aplicada para certa população de suínos. Calculando o ganho
machos e fêmeas. genético anual:
Conhecendo-se a herdabilidade e o desvio
padrão fenotípico da característica de interesse, po- Δg 21,12g / dia
Δganual = = = 12, 42g / ano
de-se estimar o ganho genético esperado para essa Intervalo _ geração 1, 7anos
população. Suponha que a intensidade de seleção
para a característica “ganho de peso diário” seja 5% Ou seja, a cada ano espera-se avançar 12,42
para machos e 15% para fêmeas. A intensidade de se- gramas de GPD. Para calcular a nova média da po-
leção média é de 10%. Na tabela 1, para 10%, o valor é pulação depois de uma geração de seleção, basta so-
de 1,76. mar o ganho genético à média antiga da população
Para o exemplo abaixo, considere a herdabili- (G0). Considerando a média da população dos pais
dade de 30%, ou seja, 0,3 e desvio padrão fenotípico (G0) de 949,6g/dia, espera-se que a média da primei-
de 40g/dia para o ganho de peso diário dos 30 aos ra geração seja de:
100Kg.
Logo: GPDG1 = GPDG0+ Δg = 949,6 + 21,12 = 970,72g/dia.
Δg = i * σ * h 2 = 1, 76 * 40 * 0, 30 = 21,12g / dia
Diferencial de seleção
Ou seja, ao longo de uma geração de seleção, o O diferencial de seleção (DS) representa a dife-
ganho seria de 21,12g/dia. rença entre a média da população selecionada e a
Para calcular o ganho genético anual, é ne- média da população e pode ser usado para o cálculo
do ganho genético. Por exemplo, se o Ganho de Peso dos Pietrain e Duroc, e mães cruzadas formadas
Diário (GPD) médio da população for 950g/dia e a pelas raças Landrace e Large White. Quando pai e
média dos machos e fêmeas selecionados para re- mãe são híbridos (F1, ou seja, primeiro cruzamen-
66
produção for de 1.020g/dia: to de duas raças puras), transmitem ao máximo o
ganho para os seus filhos que, por sua vez, serão
DS = GPDselecionados – GPDmédio = 1.020 – 949,6 = 70,4g/dia combinação de duas linhagens F1, das 4 quatro ra-
ças. Nesse sistema há exploração do máximo efeito
O DS pode ser calculado usando o desvio pa- da heterose.
drão fenotípico da população e a intensidade de Utiliza-se o termo heterose, ou vigor híbrido,
seleção, da seguinte forma: para caracterizar a superioridade média dos filhos
em relação à média dos pais, independentemente
DS = i * σ →1, 76 * 40 = 70, 4g / dia da causa. O ganho adicional da heterose é inver-
samente proporcional ao da herdabilidade da
O ganho genético nesse caso pode ser calculado característica, ou seja, os ganhos são maiores em
com o diferencial de seleção e a herdabilidade da características de baixa herdabilidade, como é o
característica, assim: caso de características reprodutivas em suínos.
Geneticamente, a heterose pode ser explicada
g DS * h² pela presença da dominância, sobredominância e
Ou: epistasia nos genes.
A heterose pode ser assim calculada, conside-
g i * * h 2
rando R o desempenho de uma população e S de
Assim, pode-se calcular o ganho genético da uma segunda:
mesma forma: Heterose = (média (RS)+ média (SR))-(média pop (R)+média pop (S))
2 2
Δg = DS * h2 = 70,4 * 0,3 = 21,12g / dia
em unidade de característica ou:
Heterose ou vigor híbrido
Heterose=((média (RS)+ média (SR)) - (média pop (R)+média pop (S))
O sistema de cruzamentos mais comum na 2 2
suinocultura industrial é o uso de fêmeas e machos ((média pop (R)+média pop (S))*100
Tabela 2 – Estimativas de heterose individual (hI), materna (hM) e paterna (hP) para várias características de
importância econômica em suínos, dados em porcentagem
Característica hI hM hP
Taxa de concepção 3 - 7
Número de nascidos 2 8 -
Número de desmamados 9 11 -
Peso da leitegada aos 21 dias 12 18 -
Conversão alimentar -2 - -
Espessura de toucinho 1,5 4 -
Área de olho de lombo 1 1 -
Fonte: Bourdon (2000) citado por Pereira (2004)
A heterose pode ser individual, quando o au- mãos (filhos do “Elegante”) de quem receberam a
mento no desempenho do animal é decorrente das cópia do alelo “a” idêntica.
combinações gênicas na geração corrente. A he- Quanto mais próximo o nível de parentesco,
67
terose materna refere-se à heterose na população maior a probabilidade de terem alelos indênticos
que é atribuída à utilização de fêmeas cruzadas ao por descendência, ou seja, terem um mesmo paren-
invés de linhas puras, como, por exemplo, melhoria te que doou a mesma cópia de um alelo para os dois
da produção de leite, ambiente pré-natal, tamanho descendentes. Nesse caso, tem-se um acasalamen-
de leitegada etc. A heterose paterna refere-se to endogâmico, ou consanguíneo, cuja definição
igualmente a qualquer vantagem de utilização de consiste na união de indivíduos com certo grau de
um macho cruzado ao invés de reprodutores puros parentesco. O coeficiente de consanguinidade (ou
na performance da progênie. Tanto a heterose ma- endogamia) do animal é igual à metade do parentes-
terna quanto a paterna devem-se às combinações co entre os seus pais.
gênicas na geração anterior. A endogamia altera as frequências genotípicas,
ou seja, a proporção dos heterozigotos e homozi-
Parentesco e consanguinidade gotos, mas não as frequências gênicas, ou seja, a
Em melhoramento genético animal, a ideia de porcentagem de alelos “A” e “a” é a mesma. Há uma
parentesco pressupõe semelhança entre genó- redução do número de heterozigotos (Aa) na pro-
tipos. Para que haja parentesco entre dois indiví- porção do aumento da homozigose (AA e aa), con-
duos, é necessário pelo menos um ascendente em forme a fórmula abaixo.
comum entre esses. Por exemplo, irmãos comple-
tos têm os pais em comum, primos têm um avô em Aa = 2pq(1-F) = 2pq-2pqF,
comum. Sabe-se que 50% da genética do indivíduo
vêm do pai e 50% vêm da mãe. O filho é 50% seme- Na qual F é a taxa de endogamia ou consanguini-
lhante ao pai e 50% semelhante à mãe. O paren- dade e essa proporção de redução de heterozigotos
tesco, ou coeficiente de parentesco (R), entre pai e é somada à proporção dos homozigotos.
filho é, portanto, de 50%. Observe na figura abaixo Por exemplo, se os pais são irmãos completos
que o animal “Campeão” é filho de dois meios-ir- (R=50%), a consanguinidade do indivíduo é de 25%,
Aa AA Aa aa
Galante Formosa
Aa aa
Campeão
aa
Figura 3 – Exemplo de estrutura de pedigree
ou seja, o animal será homozigoto para 25% dos pares res de indivíduos não relacionados na população.
de genes para os quais seus pais eram heterozigotos. Um ponto importante para os programas de me-
De acordo com o que foi visto em relação à interação lhoramento genético é o chamado Tamanho Efetivo
entre genes, há uma redução da importância da do- de População e esse conceito não está relacionado
minância nesses animais, o que faz com que seu fenó- somente com o número de animais que compõem a
tipo possa ter uma perda de desempenho. população.
Outro problema gerado pela homozigose é o O tamanho efetivo da população são todos os
aumento da probabilidade do indivíduo ter alelos indivíduos que se reproduzem e conseguem deixar
deletérios em carga recessiva dupla (aa), ou seja, descendentes, e, dessa maneira, transmitir os genes
na forma que esses alelos podem se manifestar. Em para a próxima geração, mantendo o fluxo gênico e,
alguns casos, pode haver aumento da ocorrência consequentemente, mantendo a diversidade gené-
de problemas congênitos ou redução do fitness, ou tica. Por exemplo, se a população é de 100 animais,
seja, da capacidade de adaptação e vigor. Em casos porém somente dois machos estão em reprodução,
pontuais, pode haver depressão endogâmica, de- o tamanho efetivo da população cai muito, pois na
vido à redução do valor médio dos loci dominantes próxima geração haverá somente filhos de dois ma-
(A), pela redução da proporção de animais em he- chos disponíveis para formar a próxima geração. Isso
terozigose. faz com que a endogamia da população aumente na
Na tabela 3 há o resultado de um experimento mesma velocidade que o tamanho efetivo da popula-
conduzido para avaliar os efeitos da consanguini- ção cai e, como consequência, a diversidade genética
dade, em que 146 linhagens de suínos foram desen- cai também. Com a redução da diversidade genética,
volvidas, atingindo níveis de até 40-50% de con- reduz-se também a diversidade fenotípica, que gera
sanguinidade. Nesses valores de consanguinidade, uma população mais homogênea. Nesse caso, o
somente 18 das linhagens sobreviveram. desvio padrão fenotípico da população é reduzido,
O conhecimento dos índices de parentesco entre levando a menor ganho genético, com menores op-
os animais é importante, pois indica a similaridade, ções de animais para selecionar, já que haverá grande
em nível de DNA, entre os animais e esses valores são uniformidade genética entre esses.
usados para a estimativa dos valores genéticos dos
animais. Todos os valores de parentesco são valores Valor genético e avaliação genética
médios. Em princípio, dois irmãos completos podem O objetivo do melhoramento genético consiste
ser semelhantes geneticamente em qualquer por- na seleção dos melhores indivíduos para a reprodu-
centagem entre 0 até 100%. Porém, se tomarmos um ção, esperando com isso que os filhos tenham, em
grupo de vários pares de irmãos completos, em média, média, méritos mais altos para as características sob
eles terão 50% a mais de genes em comum do que pa- seleção. Como os genes que controlam caracteres
quantitativos não podem ser conhecidos direta- os parentes considerados influenciam a estimativa
mente, pois são vários genes que interferem na ca- do VG do animal assim como o animal influencia
racterística, os procedimentos para estimar valores as estimativas do VG dos seus parentes. Além de
69
genéticos devem utilizar fontes de informação indi- contribuir para o aumento da acurácia do valor
reta sobre o genótipo de cada animal, que são os seus genético, o parentesco entre os animais auxilia
valores fenotípicos. a remover os efeitos fixos, ou seja, os efeitos am-
O valor genético do indivíduo (ou EBV, Estimated bientais, separando o que é efeito genético do que
Breeding Value) é definido como a soma dos efeitos mé- é efeito ambiental no desempenho do animal. Por
dios dos genes que ele carrega, ou seja, é a parte do seu exemplo, se dois irmãos completos estão em duas
desempenho que pode ser transmitida para a sua prole. granjas diferentes, uma com excelente nutrição e
O valor genético do animal depende da média a segunda com nutrição deficiente, os dois animais
da população em que ele está inserido e por isso não certamente terão desempenhos muito diferentes.
é correto comparar VG ou EBV entre indivíduos Como o componente genético é similar, pois são
de grupos diferentes. Isso ocorre porque cada po- irmãos completos, pressupõe-se que grande parte
pulação avaliada tem sua própria média fenotípica da diferença seja devida ao ambiente. Essa compa-
e a média dos valores genéticos dos indivíduos de ração faz com que seja possível remover os efeitos
qualquer população é sempre igual a zero, ou seja, ambientais das duas granjas nesse exemplo e, em
tem animais acima e abaixo da média fenotípica. grandes populações, faz com que as diferenças res-
Por exemplo, um animal com GPD de 1100g/dia e tantes se devam apenas à genética.
que está num grupo que o GPD médio é de 900g/dia, Outra característica do método baseado no
tem um valor genético maior do que outro animal modelo animal é que as avaliações genéticas de um
com GPD de 1.100g/dia que está em um grupo com animal vão sendo atualizadas ao longo de sua vida
média de GPD de 1.000g/dia. Ambos apresentam à medida que o volume de informações disponíveis
o mesmo GPD (mesmo valor fenotípico) e valores vai aumentando. A primeira fonte de informação
genéticos distintos, considerando que o ambiente sobre um animal é derivada de seus ancestrais.
(nutrição, manejo, ambiência, etc.) seja similar. Por Com o passar do tempo, a produção do próprio ani-
essas diferenças, não se deve comparar VG ou EBV mal é adicionada ao volume de informações. Pos-
de populações ou grupos genéticos diferentes. teriormente, informações sobre as progênies são
Para extrair os valores genéticos dos indivíduos também utilizadas. O resultado é que as estimati-
tendo como base os dados fenotípicos existem re- vas dos valores genéticos dos animais, obtidas por
cursos matemáticos. O mais conhecido no melhora- essa metodologia, são as mais confiáveis que o co-
mento animal é o BLUP, ou Melhor Preditor Linear nhecimento atual pode oferecer. Como em suino-
Não-Viesado (Best Linear Unbiased Predictor). Essa cultura a vida reprodutiva dos animais é curta, nor-
metodologia foi proposta por Henderson em 1973 e malmente são usadas apenas as informações do
emprega os modelos mistos, ou seja, a estimação dos animal e de seus ancestrais. Quando sua progênie
valores genéticos (VG ou EBV) e a predição e corre- entra em produção, normalmente os reproduto-
ção dos efeitos fixos (ambientais) são feitas simulta- res já saíram do sistema produtivo. Como existem
neamente. Atualmente, o procedimento padrão de informações de muitos animais, juntamente com o
avaliação genética é o BLUP do modelo animal. pedigree completo, isso não prejudica a estimativa
As avaliações do modelo animal baseiam-se dos valores genéticos e aumenta o ganho genético
no desempenho do próprio animal bem como de anual, pois reduz o intervalo entre as gerações.
outros animais avaliados. O método incorpora
informação sobre o animal, seus ancestrais e suas Índice de seleção
progênies, levando em conta todas as relações de Nas espécies de interesse zootécnico, exis-
parentesco genético entre eles. Dessa forma, todos tem várias características que são de importância
Rendimento de carcação
3%
GPD 0-30 característica menos importante. Por exemplo, se
kg
3% o objetivo é reduzir a conversão alimentar, é dado
Conformação alto peso no índice de seleção pelo alto impacto
70 5%
econômico que essa característica tem, mantendo
pressão de seleção menor (menor peso no índice)
para as características de menor importância eco-
nômica, porém que precisam igualmente evoluir. É
GPD 30-100 kg
importante salientar que, à medida que se aumenta
22% Conversão o número de características no índice de seleção, há
Alimentar redução na velocidade de ganho genético em cada
51%
característica igualmente.
% de carne Essa metodologia também pode ser combinada
magra
com outras metodologias de seleção como “Níveis
16%
Independentes de Descarte”, com a qual, para ser
selecionado para reprodução, o animal tem que
Gráfico 1 – Exemplo de índice de seleção para suínos alcançar valores mínimos em certas características
nas diferentes fases de produção e depois pode ser
selecionado pelo índice de seleção. Por exemplo, um
econômica para a produção. Em suinocultura, por número mínimo de tetos viáveis pode ser considera-
exemplo, visa-se aumentar o ganho de peso diário, do critério mínimo de seleção (Níveis Independen-
a prolificidade, o rendimento de carne dos animais tes de Descarte) e dentro dos aprovados nesse que-
e ao mesmo tempo se deseja reduzir a conversão sito, selecionam-se os melhores animais com base
alimentar e a espessura de toucinho. Quando se de- no índice de seleção, assegurando ganhos genéticos
seja selecionar para mais de uma característica ao em todas as características.
mesmo tempo, uma das possibilidades é o uso dos
índices de seleção (gráfico 1). Nesse sistema, usa-se Conclusão
o valor genético dos indivíduos para cada caracte- O desenvolvimento nas metodologias de avalia-
rística que é multiplicado pela porcentagem (impor- ção genética nas últimas décadas possibilitou que os
tância) que cada característica tem na composição programas de melhoramento genético se tornassem
do índice. O conjunto do valor genético do animal mais eficientes e promovessem ganhos genéticos
é agrupado em apenas um número, sendo que os mais rápidos nas características que são de interes-
animais de maior índice são utilizados para reprodu- se. De posse dos atuais conhecimentos de genética
ção. O peso de cada característica na composição fi- e estatística, e com o desenvolvimento de novas
nal do índice é normalmente dado pela importância metodologias incluindo as avaliações com o uso de
econômica de cada característica ou de acordo com informações genômicas, espera-se que esses ganhos
o objetivo final de seleção da linhagem. Usando esse continuem acontecendo para as principais caracte-
sistema, um animal muito bom em uma caracterís- rísticas, respeitando os limites fisiológicos dos suínos
tica de alto peso econômico pode ser selecionado e gerando ganhos adicionais em produtividade e ren-
em detrimento de um animal muito bom em uma tabilidade para a cadeia de produção suinícola.
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A
carne suína é a carne mais consumida no de insumos de qualidade, e a adoção de modernas
mundo, responsável por cerca de 50% do tecnologias relacionadas com a produção de suínos.
consumo global. Em dados numéricos, o A evolução na qualidade dos insumos e das
Brasil detém o quarto maior plantel suíno, com um tecnologias na produção de carne suína tem pos-
rebanho de 37 milhões de cabeças, e sua produção sibilitado uma substancial evolução nos índices de
vem crescendo em torno de 4% ao ano. Atualmente, produtividade e qualidade da carne suína, como a
o Brasil representa 10% do volume de carne suína redução, por exemplo, ao longo dos anos, de 31%
exportado no mundo, chegando a um faturamento no conteúdo de gordura da carne, 10% no nível de
superior a US$ 1 bilhão por ano (MAPA, 2013). colesterol e 14% no teor de calorias, tornando a
Estima-se que a produção de carne suína atinja a carne suína brasileira mais magra e mais nutritiva.
média anual de 2,84%, no período de 2008/2009 a Nesse contexto, o melhoramento genético como
2018/2019, e o seu consumo chegue a 1,79%. Em ferramenta de produção e tecnologia tem tido gran-
relação às exportações, a representatividade do de importância na produção de suínos, uma vez que
mercado brasileiro de carne suína saltará de 10,1%, a finalidade de um programa de melhoramento é
em 2008, para 21% em 2018/2019 (IBGE, 2013; utilizar a variabilidade genética da população para
MAPA, 2013). aumentar a produtividade dos animais, sempre
As estatísticas apresentadas mostram não procurando trabalhar com características de impor-
somente a fundamental importância desse setor tância econômica.
no contexto econômico brasileiro, mas também o Ao focarmos a teoria em si, e a maneira como
grande potencial do Brasil em relação à produção de o melhoramento genético age no processo de
carne suína, e esses números tornam-se ainda mais aumento da produtividade, devemos considerar
interessantes, quando se consideram o grande cres- que a produtividade de um sistema se traduz pelo
cimento e o desenvolvimento que vêm acontecendo desempenho do animal, ou seja, seu fenótipo, e que
no mercado asiático, atualmente o principal impor- este, por definição, é uma função de seu genótipo e
tador de carne suína. Entretanto, o aumento da pro- do meio, o que nos leva a crer que qualquer melhora
dução vem aliado à grande exigência do mercado, conseguida no genótipo e no ambiente, melhorará,
tanto interno quanto externo e, em função disso, consequentemente, o desempenho do animal.
a produção de suínos no Brasil precisa continuar As mudanças produtivas promovidas no genó-
evoluindo, para acompanhar a tendência mundial tipo (parte genética) dos animais são estáveis e per-
de produtividade e competitividade, respeitando as manentes, enquanto as mudanças de ambiente têm
normas oficiais de bem-estar animal e de proteção caráter transitório e não são transferidas de uma
ao meio ambiente. geração para outra. Apesar de os ganhos genéticos
Dentro desse cenário, a busca por sistemas de obtidos pelo melhoramento apresentarem valores
produção mais eficientes é de vital importância aparentemente pequenos, tornam-se expressivos
para que o produtor se mantenha competitivo. por serem acumulativos ao longo dos anos.
Essa eficiência somente é possível, mediante o uso Nascimento (2011) comenta que o progresso
genético anual em suínos gira em torno de 1% ao idade, -0,018 na conversão alimentar, 0,19% na por-
ano, em relação ao desempenho médio das prin- centagem de carne na carcaça, 0,29% na redução da
cipais características nos sistemas de produção. mortalidade na recria e terminação e 0,12 no núme-
73
Como os procedimentos e o uso das tecnologias ro de leitões nascidos vivos por leitegada.
relacionadas com o programa genético para obter Essa evolução e melhora, traduzidas para valor
esses ganhos são muito dinâmicos e complexos, é de econômico por suíno produzido para o abate, pro-
suma importância que tais ganhos sejam incorpora- porciona um valor anual de 3,82 reais, ganho esse
dos nas granjas comerciais, isto é, que tal progresso que não seria conseguido, se não se valesse dos
chegue ao destino final – o produtor. E, para isso, a benefícios do melhoramento genético nas granjas,
inseminação artificial é a técnica de reprodução dis- por um ano.
ponível mais eficiente, conseguindo, assim, dissemi- Ganhos genéticos dessa magnitude são obtidos
nar os genes de efeitos melhoradores para os suínos devido à utilização de metodologias estatísticas
destinados ao abate. avançadas e métodos modernos de avaliação gené-
Para se ter uma ideia, nos últimos anos, já se tica, os quais consideram o desempenho dos suínos
observou uma significativa evolução genética nos avaliados e de seus parentes próximos, em ambien-
produtos comerciais de suínos, sobretudo nas em- tes de granjas núcleo e de granjas comerciais, onde
presas que, efetivamente, possuem um programa os suínos serão efetivamente criados. Essa técnica
genético estruturado e que investem continuamen- de avaliação genética permite aprimorar dois
te nesse sentido. Um exemplo pode ser observado aspectos importantes e fundamentais no melhora-
no gráfico 1, na qual se observa o crescimento do mento genético de suínos:
peso dos leitões à desmama, ao longo dos anos. 1. Avaliar o efeito da interação genótipo/am-
Tem-se observado, por exemplo, em determi- biente para aquelas características de maior
nadas linhas genéticas de empresas do gênero, um impacto econômico;
progresso genético anual de 0,85kg aos 160 dias de 2. Detectar a variabilidade genética e incorpo-
4
Peso leitegada a desmama (kg)
-1
2006 2007 2008 2009 2010
Anos de avaliação
Gráfico 1 – Crescimento do peso da leitegada à desmama ao longo dos anos de melhoramento genético
rar essa informação na estimativa do valor ticas de herança simples, determinadas por um ou
genético dos suínos para reprodução àquelas poucos pares de genes; sofrem pouca influência do
características relacionadas com a viabili- ambiente e, assim, têm distribuição discreta, sendo
74
dade, cuja expressão é dependente de uma que a cada fenótipo estão associados um ou poucos
exposição em um ambiente de desafio. genótipos. Assim, para efeito de seleção, o criador ou
Nota-se, com esses aspectos, que o melhora- o selecionador identifica os genótipos ou indivíduos
mento genético de suínos tem resposta na produti- de interesse para uma determinada característica
vidade de um sistema de produção, por intermédio e seleciona aqueles indivíduos com genótipo mais
do aumento da frequência dos genes responsáveis favorável. No caso de uma característica métrica ou
pela expressão das características que trazem re- quantitativa, que é determinada por um conjunto de
torno econômico nas condições de produção co- genes com pequeno efeito individual, o processo de
mercial de suínos. seleção, embora parecido, não é tão simples.
Sabe-se que, ao longo dos anos, as principais O melhorista tem que escolher os indivíduos
características de interesse econômico têm conse- que serão pais da próxima geração, com base em
guido ganhos genéticos expressivos em várias espé- características de interesse. Nesse caso, não há uma
cies. Segundo Oliveira (2012), o desenvolvimento correspondência entre o fenótipo e o genótipo, como
da informática e das metodologias estatísticas para acontece com as características qualitativas. A maio-
identificação dos animais geneticamente superiores, ria das características econômicas é poligênica, ou
assim como das biotécnicas reprodutivas (especial- seja, elas são determinadas por muitos genes e são
mente a inseminação artificial) que permitem uma muito influenciadas pelo ambiente, apresentando
rápida disseminação do material genético, foi fator distribuição contínua. O fenótipo dessas caracterís-
primordial para esse processo. Duas principais ver- ticas é mensurado, isto é, tem um valor, chamado de
tentes ou ferramentas são utilizadas no processo valor fenotípico e, nesse caso, as características são
de melhoramento genético dos animais: a genética analisadas por métodos estatísticos.
quantitativa e a genética molecular. A genética quantitativa parte da premissa de
que, quanto mais observações existirem e forem
A genética quantitativa – uma revisão avaliadas, mais acurado será o valor genético esti-
A genética quantitativa é a área do melhora- mado, ou seja, mais próximo se consegue chegar do
mento animal que tem como principal objetivo verdadeiro valor genético dos animais. Entretanto,
estimar os valores genéticos dos animais, para o desafio ainda está em conseguir uma forma que
posterior seleção. Para isso, são utilizadas apenas avalie, conjuntamente, da melhor maneira possível,
informações dos fenótipos, ou seja, do desempenho todas essas informações. Para isso, essa área de
em si. Tais medidas são mensuradas ao longo da pesquisa utiliza-se, principalmente, de diversas fer-
vida desses animais e conjuntamente com os dados ramentas estatísticas e computacionais.
provenientes dos parentes, consegue-se estimar o Há alguns anos, as decisões sobre a utilização
valor genético do animal para determinada carac- dos “melhores” reprodutores eram mais simples.
terística. Entretanto, esse valor calculado é apenas A escolha dos animais envolvia a substituição de
uma “estimativa” do que poderia ser o verdadeiro e reprodutores de “raças de pelagem colorida” por
real valor genético do animal, o que depende, dire- reprodutores de “raças brancas” ou, ainda, recorria
tamente, das características avaliadas nas diversas à utilização de matrizes híbridas ao invés de usar
situações, as quais podem ser classificadas como matrizes de raça pura. Com o tempo, a simples
características qualitativas ou quantitativas. substituição dos animais na reprodução deixou de
As características qualitativas, como o próprio existir. Juntamente com o incremento no uso de
nome sugere, conferem uma qualidade específica tecnologias aplicadas aos programas comerciais
ao animal, como a cor da pelagem. São caracterís- de melhoramento genético de suínos e a melhor
qualidade genética dos reprodutores produzidos, o como exemplo. Essa metodologia calcula os valores
uso de material genético especializado em granjas genéticos por meio de procedimentos de solução
comerciais aumentou acentuadamente. de regressões matemáticas, em que são incluídas
75
Atualmente, a decisão sobre quais animais todas as informações para que a previsão seja feita.
selecionar fundamenta-se na predição dos valores De maneira mais detalhada, os métodos usa-
genéticos para os critérios de seleção adotados, dos no BLUP envolvem a construção e a solução
sendo necessário, para tanto, o desenvolvimento de equações para cada grupo de contemporâneos,
de métodos que possibilitem a estimação acurada conjuntamente com uma equação para cada animal
dos componentes de variância e dos parâmetros avaliado. Em modelos de características multivaria-
genéticos. Mais especificamente, o aumento na das, é resolvida uma equação para cada característi-
precisão das estimativas é proporcional ao número ca, para cada animal.
de fontes de informações, portanto é interessante A inclusão de equações para grupos de contem-
a utilização de métodos de características múltiplas porâneos implica considerar as diferenças entre as
ou multicaracterísticas. Tais métodos, além de uti- performances desses grupos, quando são feitas as
lizar informações de desempenho individual e de previsões dos valores genéticos. Para linhas gené-
parentes, agregam outras informações provindas ticas com grande número de indivíduos, muitos mi-
de outras características, através das correlações lhares de equações são resolvidas simultaneamen-
genética e residual. te. Isso se deve ao fato de que o método usa todas as
Adicionalmente às informações utilizadas, a informações disponíveis, incluindo a performance
qualidade das medidas tomadas na seleção é um do próprio indivíduo, de sua progênie e de todos os
aspecto de fundamental importância na precisão seus parentes conhecidos e avaliados. Já que os pa-
da estimativa do valor genético dos animais utili- rentes têm genes em comum, o uso de informações
zados na reprodução. Nesse sentido, dois fatores da sua performance aumenta a acurácia na previsão
devem ser considerados com atenção: a qualidade do valor genético do animal.
dos equipamentos utilizados nas medições das ca- As técnicas BLUP, usadas para o cálculo dos
racterísticas e o padrão de obtenção e anotação das valores genéticos, requerem estimativas de pa-
informações. râmetros tais como herdabilidades, correlações
Nesse contexto, o progresso genético não se genéticas entre as características e suas variâncias
torna fácil de ser avaliado com exatidão, uma vez genéticas e ambientais, bem como a covariância en-
que o desempenho dos animais é resultante de tre características. O método BLUP pode também
sua constituição genética e da influência de outros ser usado para obter coeficientes de endogamia
fatores que influenciam a expressão dos genes. No para cada animal, inclusive se a matriz de parentes-
entanto, existem métodos que permitem quantifi- co completa for usada.
car a evolução no nível de desempenho dos animais De uma maneira geral, todas as técnicas utilizadas
devido, exclusivamente, ao efeito de seus genes. em genética quantitativa e áreas afins encontram-se
Em tempos passados, usava-se a população- fundamentadas na decomposição do valor fenotípico
controle para avaliação do progresso genético. do indivíduo em componentes genotípico e ambiental.
Atualmente, quando avaliamos a evolução do nível Tal consideração há muito já tem sido mencionada
de performance expressa pelos animais, o uso de na literatura científica (DARWIN, 2005). Em 1918,
metodologias estatísticas complexas permite a se- Fisher, citado por Lowry (1955), apresentou a de-
paração entre a contribuição do programa de sele- composição do componente genotípico em valores
ção genética e a contribuição das melhorias de ma- atribuídos às ações aditiva, de dominância, e epistasia,
nejo e de ambiente nos quais o animais são criados. desempenhadas pelos genes. A epistasia é simples-
Nesse contexto, a metodologia de avaliação BLUP mente a interação entre genes e ocorre quando a ação
(melhor preditor linear não viesado) pode ser citada de um gene é modificada por um ou diversos genes que
y =G+ E*
[3]
y = (Ga + Gd + Ge ) + E *
y = Ga + E De forma que:
[1] σ2ma, σ2pm correspondem à variância dos efeitos
aditivo materno e de ambiente permanente e sgm
Em que: corresponde à covariância entre os efeitos genéti-
G, G a, G d e G e, representam os componentes cos materno e direto.
genotípicos, aditivo, de dominância e epistasia, Quando da avaliação de mais de uma caracterís-
respectivamente; E*, figura como efeito ambiental tica, outra importante estatística a ser considerada
puro; E, como efeito ambiental mais os componentes é a covariância entre elas. Assim como na variância,
genéticos não aditivos. Considerando que os compo- temos fontes de covariâncias aditivas e residuais.
nentes acima são variáveis aleatórias, pressupõe-se Dentre as principais utilidades do emprego de
que seu comportamento seja determinado por uma estimativas de componentes de variância em me-
distribuição normal de probabilidade, partindo do lhoramento animal, destaca-se a estimação acura-
pressuposto apresentado no Teorema do Limite da do valor genético e dos parâmetros genéticos
Central. Tomando tais variáveis como desvios – por- populacionais (HENDERSON, 1986). A partir dos
tanto apresentando média 0 –, desconsiderando-se últimos, tornou-se possível a descrição da estrutura
possíveis efeitos de interação genótipo ambiente, e a genética de uma população e a compreensão dos
propriedade da soma de variâncias, temos: mecanismos hereditários contidos na expressão de
determinada característica. De forma generalizada,
esses parâmetros compõem-se de interpretações
matemáticas das relações entre os componentes de
variância, descritos em [3].
[2] Em genética quantitativa, os principais parâ-
metros genéticos referem-se a razões entre um
Em que: determinado componente de interesse e a vari-
σ2y, σ2ga, σ2e simbolizam a variação fenotípica; ância fenotípica, em que temos: a) herdabilidade
variação genética e ambiental, na mesma ordem. restrita direta (variância aditiva); b) herdabilidade
Entretanto, mesmo que o modelo [2] descreva a restrita materna; e c) porção atribuída ao efeito
variação apresentada pela maioria das característi- permanente materno. Além dessas, quando da
cas de forma satisfatória, nos últimos anos tem sido avaliação conjunta de mais de uma característica,
referenciada a inclusão de componentes de efeito tem-se a necessidade do conhecimento de corre-
materno, em caracteres pré-desmame. Tais efeitos lações genéticas e ambientais, baseadas na covari-
são determinados pela influência do ambiente ância entre elas.
No decorrer dos anos, têm sido de vital impor- Nota-se que o desenvolvimento dos métodos
tância o desenvolvimento e a aplicação de métodos de melhoramento genético animal, ao longo dos
que possibilitem maximizar a acurácia das estima- anos, procurou gerar maneiras de mensurar e
77
tivas dos componentes de variância, apresentados comparar os animais, de forma que apresentassem
no modelo genético. Assim, inúmeros têm sido os resultado de maior confiabilidade. Desde os pesos
métodos desenvolvidos para tal finalidade, entre ajustados, às ferramentas mais modernas de avalia-
os quais: métodos I, II e III de Henderson (HENDER- ção da performance na progênie, utilizando-se da
SON, 1953); método de estimação quadrática não estatística e da genética quantitativa e de popula-
viesada de norma mínima – Minque (RAO, 1971a); ções como bases para a adequada comparação dos
método de estimação quadrática não viesada de dados obtidos, e ainda passando pela evolução da
variância mínima – Minque (RAO, 1971b); método informática, chega-se a um nível em que o produtor
de máxima verossimilhança – ML (HARTLEY & encontra informações de grande acurácia, obtidas
RAO, 1967) e de máxima verossimilhança restrita – com o uso de metodologias estatísticas específicas.
REML (PATTERSON & THOMPSON, 1971). Especificamente em suínos, o melhoramento
Verifica-se, de forma geral, que a evolução dos genético tem liderado o processo de evolução da
métodos de estimação é determinada pelo avanço produtividade na produção e em outras áreas afins,
computacional. No que concerne ao escopo dessa como nutrição, manejo, saúde animal, instalações.
revisão, não serão apresentadas minúcias desses E, nesse processo, equipamentos tiveram que se
métodos, estando disponíveis vários textos-refe- ajustar aos níveis de requerimento de animais gene-
rência, em que se encontram descrições pormenori- ticamente melhorados. Na prática, o melhor poten-
zadas e comparações entre eles (LOPES et al., 1993; cial de produção, como resultado de um eficiente
RAO, 1997). No entanto, algumas considerações programa genético, traz como consequência uma
serão realizadas sobre o último método, já que, na alteração nos processos fisiológicos dos suínos.
atualidade, é o que vem sendo comumente empre- Para dar suporte à expressão do potencial genético
gado na obtenção dos componentes de variância, os há necessidade da adoção de medidas em relação
quais são necessários à predição dos valores genéti- aos procedimentos de manejo, nas condições de
cos dos animais. alojamento, na qualidade da nutrição e proteção
O método de máxima verossimilhança restrita dos suínos contra a ação de agentes infecciosos.
(REML) tem sido preferido pelos pesquisadores Atualmente, as demais áreas do conhecimento
da área, para estimação de componentes de vari- estão evoluindo no sentido de entender, acompanhar
ância em modelos lineares mistos, por permitir a e participar dos programas de seleção genética de su-
inclusão das informações da matriz de parentes- ínos, tornando os ganhos genéticos efetivos na práti-
co e proporcionar, em geral, estimativas menos ca. Uma ferramenta que tem sido bastante utilizada,
viciadas que os métodos anteriores, quando os nos últimos anos, em que as várias características
dados são provenientes de rebanhos sob seleção, sob seleção de suínos têm sido trabalhadas conjunta-
baseados na característica estudada ou em alguma mente, são os chamados índices de seleção.
característica correlacionada. Nesse contexto, Adicionalmente, além da montagem dos índi-
apesar de o custo computacional crescer exponen- ces, alternativas estão sendo utilizadas com o intui-
cialmente com o aumento do número de compo- to de aumentar o ganho genético, principalmente
nentes estimados em cada análise, as avaliações em características de baixa herdabilidade. Como
genéticas com modelos com mais de três caracte- exemplo, pode-se citar a alternativa citada por
rísticas têm sido frequentes, principalmente em McLarem (2010), na qual há a realização de testes
suínos, o que comprova o trabalho dessa área no utilizando suínos considerados outliers, mas, nesse
aperfeiçoamento dos modelos utilizados, assim caso, não são os animais ruins e sim os com extremo
como na tecnologia empregada. alto mérito genético – os animais chamados de “eli-
te” –, que são utilizados como meio de comparação e ao controle dos efeitos de ambiente, vem apre-
à média dos animais com alto valor genético e tam- sentando uma herdabilidade de 0,23, que tem
bém como uma forma de aumentar a influência de proporcionado uma taxa de progresso genético de
78
genética superior e acelerar a taxa de disseminação aproximadamente 0,44kg por leitegada à desmama,
para um nível comercial. considerada uma boa taxa de progresso genético
Mesmo que o contínuo desenvolvimento das para uma característica a essencial na produtivida-
técnicas quantitativas tenha levado a expressivos de de suínos.
ganhos nas características de crescimento e efici-
ência alimentar em suínos, a melhora em caracterís- Seleção assistida por marcadores
ticas ligadas à eficiência reprodutiva ainda tem sido A genética molecular tem sido forte aliada no
lenta e difícil de ser obtida, uma vez que esse tipo de melhoramento das características ligadas à efici-
característica é difícil de ser mensurada, medida, ência reprodutiva de suínos. Essa área tem revolu-
por muitas vezes, em apenas um dos sexos. Atual- cionado a maneira com que os melhoristas podem
mente, as características de eficiência reprodutiva, examinar as diferenças genéticas entre os indiví-
além das características de sobrevivência dos su- duos (PLASTOW, 2000). Desde então, a tecnologia
ínos do nascimento à idade de abate, têm sido um dos marcadores moleculares tem possibilitado adi-
dos principais focos do melhoramento genético de cionar novos ingredientes aos programas clássicos
suínos e, para isso, a seleção assistida por marcado- de melhoramento de suínos. A indústria suinícola
res tem constituído uma das principais ferramentas beneficiou-se, inicialmente, com a descoberta do
utilizadas. ponto de mutação responsável pela síndrome de
Em se tratando do melhoramento de caracte- estresse dos suínos (PSS) por Fuji et al. (1991), o
rísticas de eficiência reprodutiva, sabe-se que é uma qual viabilizou o teste de DNA para o gene halota-
tarefa complexa e os suínos não são exceção a essa no (HAL-1843TM). Em seguida, o mapeamento de
regra geral. Em uma revisão sobre herdabilidade, feita QTLs e de genes candidatos permitiu a descoberta
por Rothschild & Bidanel (1998), as características re- de grande número de mutações e de polimorfismos
produtivas, nos machos, mostram apreciável variação de marcadores para reprodução, consumo alimen-
genética, com herdabilidade variando de moderada tar e crescimento, composição corporal, qualidade
a alta (0,15 a 0,44). No caso das fêmeas, a maioria das de carne, resistência a doenças e cor da pelagem,
características reprodutivas mostram herdabilidades entre outros.
variando de moderada a baixa (0,05 a 0,33). Segundo Pereira (2012), a análise de DNA tem
Até há bem pouco tempo, o melhoramento da como objetivo desnudar a arquitetura genética das
eficiência reprodutiva das fêmeas suínas teve na características de interesse econômico visando
característica o tamanho da leitegada seu principal quantificar o número de genes e individualizar a
foco de atenção. Atualmente, o foco principal de contribuição de cada gene na expressão de determi-
melhoramento da produtividade das fêmeas suínas nado fenótipo. Como mencionado anteriormente, a
tem sido o peso da leitegada à desmama. Essa ca- maioria das características de interesse econômico
racterística é considerada o critério principal para o são de caráter poligênico, ou seja, são influenciadas
melhoramento da eficiência reprodutiva dos suínos, por uma grande quantidade de genes. Alzate-Marin
porque ela mede a habilidade materna da fêmea su- et al (2005) comentam que os marcadores mole-
ína, que é, do ponto de vista da produção de suínos, culares são úteis, também, se levarmos em conta
o que realmente interessa, além de ser altamente que, durante o melhoramento, via de regra, são
correlacionada com a eficiência de crescimento até monitorados diversos tipos de genes, não somente
o peso de abate. aqueles ligados diretamente à característica. Nesse
Essa característica, dentro do programa ge- contexto, é interessante dispor de uma ferramenta
nético estável, devido aos métodos de avaliação de seleção que possa ser utilizada de modo direto,
pela simples análise da presença ou da ausência de esse genótipo. Outra vantagem se dá para aqueles
uma sequência de DNA. caracteres em que a avaliação fenotípica apresenta
Para Ferraz (2012), apesar de o aprimoramento elevado custo. Também, quando o caráter de interes-
79
das técnicas de genética e biologia molecular ter per- se só se manifesta em fases avançadas, a SAM pode
mitido o estudo do genoma e das variações existen- ser realizada nos estágios iniciais, reduzindo signi-
tes, tanto em regiões codificadoras quanto naquelas ficativamente o tempo necessário para um ciclo de
cuja função permanece pouco compreendida ou até seleção. Os passos para realização da SAM envolvem
mesmo desconhecida para muitas espécies, é rara a a obtenção de marcadores genéticos, a associação
identificação de genes com grandes efeitos em carac- dos marcadores com características fenotípicas e a
terísticas produtivas (“Major genes”). aplicação dessas informações na seleção.
Uma alternativa são os marcadores genéticos, Nas últimas décadas, os conhecimentos sobre
os quais são frações polimórficas do DNA que estão a natureza e o conteúdo da informação genética e
próximas de genes (ou que até mesmo façam parte também as tecnologias para o sequenciamento de
desses genes e seus promotores) que condicionam genomas em larga escala evoluíram de uma forma
diferenças na expressão de características. Essas sem precedentes. Como consequência, enorme
frações tornam-se “marcadores”, quando se apre- volume de informações acerca das sequências de
sentam em mais de uma forma, são detectáveis e suas nucleotídeos dos genomas de diversos organismos,
associações com essas características devem ser incluindo os diversos animais domésticos, acumu-
comprovadas. Os marcadores genéticos são resul- lou-se nos bancos de dados públicos. Com base
tantes de mutações pontuais ou outras causas que nessas informações, surgiu a oportunidade para o
resultam em modificações da sequência de DNA dos desenvolvimento de novos métodos de melhora-
animais, com mudança sensível nas proteínas ou nos mento que prometem revolucionar a produção, ao
peptídeos e nos desempenho dos animais. auxiliarem na superação das limitações ligadas à
Vários tipos de marcadores têm sido usados seleção de características difíceis de serem selecio-
para a identificação da variabilidade existente no nadas pelos métodos tradicionais.
DNA, e os mais comuns são: Restriction Fragment Segundo Oliveira (2012), o grande desafio é a
Length Polymorphism (RFLP), Random Amplifica- incorporação dessas informações nas avaliações
tion of Polymorphism (RAPD), Amplified Fragment genéticas dos animais. O valor das informações
Length Polymorphism (AFLP), microssatélites – Va- genotípicas na predição do mérito dos animais
riable Number of Tandem Repeats (VNTR) e, mais depende da capacidade preditiva do marcador.
recentemente, com o desenvolvimento de equipa- Com respeito a essa capacidade preditiva, os
mentos que permitem o sequenciamento do DNA, marcadores podem ser classificados como causa
os polimorfismos de base única Single Nucleotide direta da variação fenotípica (marcadores diretos),
Polymorphism (SNP). marcadores em desequilíbrio de ligação com o QTL
O ato de incorporar esse tipo de informação na população (marcadores DL), e marcadores em
na seleção de genótipos superiores é conhecido equilíbrio de ligação com o QTL na população (mar-
como seleção assistida por marcadores moleculares cadores EL).
(SAM). A SAM apresenta algumas vantagens em Quanto à informação fornecida pelo marcador,
relação à seleção fenotípica (SF), por exemplo, na o primeiro fornece informações inequívocas, uma
realização de piramidação de genes, em que se bus- vez que ele próprio é o causador da diferença. No
cam concentrar, em um único genótipo, diferentes caso dos marcadores DL, há grande probabilidade
características de interesse (principalmente para de se conhecer o genótipo do QTL, pelo próprio
resistência a diferentes linhas genéticas de um mes- marcador. E, no caso dos marcadores EL, há neces-
mo patógeno, ou para resistência a diferentes pa- sidade de verificar, em cada família, à qual o alelo
tógenos), reduzindo o tempo necessário para obter do marcador está ligado, o alelo de QTL, e, por isso,
são os menos atrativos para o uso de programas de dados fenotípicos acurados; utilização de avança-
melhoramento. dos algoritmos e metodologias estatísticas; poder
Até recentemente, as conquistas práticas ob- computacional para obter rapidez nas análises e
80
tidas pelo uso da seleção assistida por marcadores aplicações em tempo real e, por último, tecnologia
moleculares estavam aquém do desejado, ou seja, de genotipagem a um menor custo.
nem sempre essa estratégia pôde ser aplicada, O rápido aperfeiçoamento da tecnologia de
já que, muitas vezes, os resultados de diferentes genotipagem e de obtenção dos marcadores SNPs
trabalhos se mostravam pouco conclusivos ou con- tem gerado e disponibilizado uma grande quanti-
traditórios. Meuwissen (2001) considerava que o dade de informação genômica, o que tem sido uma
principal problema para a aplicação da MAS era a vantagem no estudo da influência dos genes nas
pequena porção da variância genética explicada características, principalmente nas quantitativas.
pelos marcadores. Entretanto, tanta informação gerada ao mesmo
Desde então, um grande número de ferra- tempo requer uma metodologia estatística que
mentas genômicas foram desenvolvidas e têm se consiga aproveitar e avaliar, da melhor maneira pos-
tornado disponíveis devido ao rápido avanço da sível, todos esses efeitos, conjuntamente. Nos dois
tecnologia dos marcadores de DNA, como conse- passos usualmente empregados no processo da
quência do mapeamento (e sequenciamento) do seleção genômica, a aplicabilidade dessa metodo-
genoma. Isso tem levado ao aumento do interesse logia torna-se particularmente interessante, prin-
da inclusão de tais informações em tradicionais cipalmente no primeiro passo, no qual os efeitos dos
sistemas de avaliação genética, com o objetivo de SNPs são estimados em uma população-referência
produzir estimativas de valores genéticos “assisti- e, posteriormente, serão validados na população de
dos” por marcadores, frequentemente com maior validação (candidatos à seleção).
acurácia, se comparados com os estimados pelo Diversas ferramentas têm sido desenvolvidas
método tradicional. para a utilização das informações provenientes
Dessa forma, a grande vantagem da seleção da genotipagem dos animais. Uma delas, que vem
genômica é estimar valores genéticos preditos de sendo utilizada recentemente por um programa de
animais jovens e/ou sem informação, utilizando-se melhoramento genético de suínos, é o cálculo real
de amostras de DNA através de painéis de polimor- do valor de parentesco entre os animais seleciona-
fismos de bases únicas (SNPs), reduzindo, assim, o dos. Esse tipo de informação já vem sendo utilizado
intervalo de geração e, consequentemente, aumen- desde 2012 e tem possibilitado a utilização do pa-
tando a taxa do ganho genético na população. rentesco real e não apenas de uma estimativa média
No melhoramento genético de suínos, tem-se de parentesco. Isso é possível, atualmente, uma vez
atingido a implementação das informações dos que se pode detectar qual fita de DNA um deter-
SNPs com grande sucesso. Entretanto, segundo minado suíno herdou do pai e da mãe. Para melhor
McLaren (2010) esse sucesso tem sido alcançado compreensão dessa nova metodologia, vejamos
por meio da estruturação do processo que envolve que, na tabela 1, a relação de parentesco entre
a utilização de dados genômicos. Segundo o pró- irmãos completos é 50%, mas, para algumas com-
prio autor, a estruturação se dá em consequência binações de irmãos completos, o parentesco real é
da complexidade gerada pela grande quantidade igual a 100%, de outros, 50% e 0%, perfazendo uma
de informações obtidas, o que gera uma cadeia de média de 50%.
complexas estruturas. Para ele, cinco requisitos Muito embora, a partir da década de 90 tenha
devem ser atingidos e seguidos para que a seleção havido muito progresso em relação à genética mo-
genômica consiga seus objetivos: obtenção de um lecular, há muito ainda a ser estudado e pesquisado
alto número de SNPs, ao longo do genoma; grande sobre a nova era chamada de seleção genômica.
quantidade de amostras do pedigree de animais, com Apesar da sua clara vantagem em relação à seleção
Pai Mãe
A B x C D 81
B C A C 0,5 B D A C 0,0
B C A D 0,0 B D A D 0,5
B C B C 1,0 B D B C 0,5
B C B D 0,5 B D B D 1,0
Parentesco médio 0,5 Parentesco médio 0,5
tradicional, realizada somente por meio das infor- As análises de estimação dos valores genéticos dos
mações fenotípicas, ela ainda está em fase de aper- animais, apesar de serem parte de extrema impor-
feiçoamento. tância em todo o processo, constituem apenas uma
fração de toda a cadeia do melhoramento. De nada
Conclusão tem valia saber quais são os melhores animais, se
Como vimos, o progresso genético anual tem não traçados, adequadamente, os critérios de se-
sido cada vez mais consistente, o tamanho médio leção. Assim como de nada vale atingir adequados
das unidades de produção de suínos são cada vez índices de seleção se não existe a disseminação do
maiores, a determinação do valor genético dos re- material genético, uma vez que mais importante
produtores está mais precisa e as técnicas de inse- que ter animais geneticamente superiores é que
minação artificial permitem o uso de um reprodutor esse material chegue às unidades de produção de
para um grande número de fêmeas. Tudo isso justifi- suínos e seja utilizado.
ca o uso de reprodutores de alto valor genético, do Além da disseminação, torna-se necessário que
qual advêm dois ganhos econômicos importantes: os produtores adquiram a consciência de que não
o progresso genético anual e o nível genético dos re- adianta ter suínos de alta capacidade de produção,
produtores entregues e, efetivamente, usados nos se não forem dadas a eles as condições necessárias
sistemas de produção. para a expressão dos seus genes. Por isso, o investi-
É importante ressaltar que o melhoramento ge- mento nas áreas de produção de suínos é igualmen-
nético é um conjunto de fatores que agem conjunta- te importante. Não devemos nos esquecer da inte-
mente e que todos os setores presentes no processo ração entre o genótipo e o ambiente na obtenção
são interligados e devem ser considerados um todo. do fenótipo, e em todo o processo que essa equação
abrange. Por isso, o foco na parte genética tem sido 2. Escolha das linhas genéticas a serem selecio-
maior nos últimos anos, para que a incerteza dada nadas, tendo em vista os objetivos de seleção
pelo genótipo seja reduzida e, assim, possamos de definidos;
82
forma direta e rápida aperfeiçoar e modificar os 3. Trabalho de seleção genética que foi ampla-
outros componentes da fórmula, visando sempre à mente abordado neste capítulo;
maior produção no sistema de produção. 4. Eficiência do processo de disseminação dos
Portanto, todo e qualquer processo deve ser genes dos suínos identificados como superio-
avaliado de maneira ampla e não individual para que res no processo de seleção genética;
os níveis de produtividade sejam alcançados mais 5. Forma com que as linhas genéticas selecio-
rapidamente. Empresas que sabem dessa conexão e nadas são combinadas para explorar o efeito
do quanto ela é importante têm, com certeza, suces- da heterose e permitir a combinação de agru-
so no mercado. pamento de características selecionadas em
Assim, podemos definir e resumir cinco etapas linhas genéticas diferentes.
que garantem a eficiência de um programa de me- Todas essas etapas são importantes e não
lhoramento genético: podem ser negligenciadas, se o objetivo é ter um
1. Determinação dos objetivos de seleção e das programa genético que atenda à demanda de pro-
características a serem selecionadas que me- dução comercial de carne suína por um período
lhor representam os objetivos delineados; longo de tempo.
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P
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dos suínos alcançou as metas tão almejadas turo. Não é uma tarefa tão fácil, pois as variáveis são
nas décadas de 60 e 70 de produção de carca- muitas e algumas de pouco previsibilidade.
ças com baixo percentual de toucinho, maior pro- A necessidade de fazer esse exercício conti-
fundidade e maior área de olho de lombo resultando nuamente, de antever o futuro das exigências do
em alto percentual de carne magra produzido por mercado, se deve ao fato de que as mudanças nas
animal abatido, em um intervalo de tempo cada vez frequências gênicas provocadas pela seleção artifi-
menor, devido às altas taxas de crescimento diário. cial são lentas e as taxas de mudanças desejadas nas
Essa produção se dá com custos também cada vez características sob seleção variam entre um e três
menores, fruto da melhoria da conversão alimen- por cento ao ano, dependendo da característica em
tar imprimida, principalmente, pelo componente questão, da estratégia de seleção adotada, do tama-
paterno das linhagens comerciais. Em relação às nho da população sob seleção, entre outros fatores.
características advindas do componente materno, Se a empresa de melhoramento genético conduzir
também houve um grande avanço a partir da dé- o programa em uma direção muito fora daquela
cada de 80, que se concretizou na década de 90 e pela qual o mercado caminhar, a sobrevivência da
continua até os dias atuais. Em termos numéricos, o empresa de melhoramento ficará comprometida.
melhoramento genético dos suínos, considerando Sobreviver no mercado também exige que, além
as linhagens paternas e maternas, proporcionou de manter um olhar para o futuro, se resolvam os
em média progressos genéticos anuais da ordem problemas e as deficiências que as linhagens apre-
de +20 gramas para ganho de peso médio diário sentam no presente. Muitos dos problemas que as
(GPMD), +0,5% em carne magra (CM%) e +0,2 lei- linhagens comerciais apresentam se devem à res-
tões/leitegada. E nos próximos anos, como se dará o posta correlacionada. Produzir mudança genética
melhoramento genético de suínos? Quando se ten- (genetic change) é relativamente fácil, mas produzir
ta descrever o futuro do melhoramento genético melhoramento genético (genetic improvement)
de suínos passa-se a fazer o mesmo exercício que as pode não o ser por causa do efeito indesejável das
empresas de melhoramento genético são obrigadas respostas correlacionadas desfavoráveis. As res-
a fazer quando planejam os programas de melho- postas correlacionadas acontecem pelo fato de
ramento internamente no curto, médio e longo genes capazes de afetar características diferentes
prazo. As empresas de melhoramento genético são e distintas estarem situados muito próximos em
obrigadas a isso devido ao fato de que a maior força um mesmo cromossomo, formando um grupo de
direcionadora das estratégias de seleção adotadas ligação (linkage), cuja probabilidade de quebra e
dentro dos programas de melhoramento genético é rearranjo por crossing over durante a meiose é muito
o mercado. A sobrevivência de uma empresa de me- baixa, portanto não há segregação independente
lhoramento genético depende de sua capacidade entre esses genes, e/ou pelo efeito de um gene único
de antever as exigências do consumidor do futuro e que afeta duas ou mais diferentes características
começar a pressionar a seleção das características (“pleiotropia”). Disso resulta o fato de que a magni-
tude e o sinal da correlação genética dependem da ta”? As empresas de genética sozinhas? Os clientes
frequência dos alelos desses genes responsáveis das empresas de genética? A sociedade? E sobre o
pelos efeitos de linkage e “pleiotropia” na população. uso da água pelos animais? Será que a rotatividade
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Portanto, duas características podem ser corre- diária de água dentro do corpo dos animais difere
lacionadas de maneira direta em uma população, consideravelmente? Essa é uma característica que
mas serem inversamente correlacionadas em outra poderia ser selecionada? A água ainda não é com-
população sob seleção. putada na conversão alimentar dos animais. Mas, e,
Em termos de futuro, sempre há muitas possibi- no futuro, será considerada no cálculo da conversão
lidades que devem ser consideradas. Por exemplo, alimentar?
parece que o petróleo será substituído no futuro Foram apresentadas algumas questões com
por outras fontes de energia e o caminho natural que as empresas de melhoramento genético terão
será o uso do hidrogênio como fonte de energia, já que lidar em um futuro próximo apenas a título de
que historicamente a humanidade tem caminhado ilustração, algumas sobre estratégias de seleção de
para substituição de fontes de energia com mais linhas machos e outras sobre características de se-
carbono por fontes cada vez com menos carbono. leção nas linhas fêmeas. Já que as questões que di-
Neste contexto atual, já há investimento para pro- zem respeito ao futuro são inúmeras e as respostas,
duzir biocombustível de gordura animal e cabe, en- muito questionáveis, e não são as mesmas para to-
tão, questionar se linhagens de alto ganho de peso das as empresas de melhoramento genético nos di-
e alta deposição de gordura concomitantemente ferentes contextos, este capítulo tratará com mais
com a alta produção de carne poderiam ser inte- profundidade das questões que dizem respeito ao
ressantes e se viabilizarem para uma Agroindústria segundo grupo de preocupações que as empresas
que pode entrar no setor também de produção de de melhoramento genético devem ter. Ou seja, lidar
energia, além do setor de alimentos. Se isso for ver- com os problemas e deficiências que as atuais linha-
dadeiro, pode-se pensar em diminuir a pressão de gens possuem para atenderem às exigências do fu-
seleção pela característica carne magra e aumentar turo, pois isso é mais palpável. Em termos didáticos,
relativamente a pressão de seleção para a caracte- será discutido o futuro do melhoramento nas linhas
rística ganho de peso médio diário? fêmeas e, em seguida, o futuro do melhoramento
Há uma pressão crescente da sociedade para nas linhas machos.
que se aumente o bem-estar dos animais de pro-
dução e para que as instalações sejam modificadas Futuro do melhoramento
para possibilitar aos animais manifestarem seu genético nas linhas fêmeas
comportamento natural. Na Europa, por exemplo, Para discutir aqui o grande problema que as
já não é mais permitido o uso de gaiolas na gestação. linhas fêmeas apresentam no momento e que deve
Considerando o exposto, faz sentido selecionar ser o foco dos programas de melhoramento genético
por características comportamentais relacionadas no futuro, há de se responder com detalhes técnicos
com o bem-estar, já que há trabalhos mostrando à seguinte pergunta: por que nas granjas núcleos
que comportamento é herdável , portanto, passível de melhoramento genético busca-se alojar animais
de seleção? Atualmente, de acordo com algumas com alto “status sanitário”, apelando até mesmo para
pesquisas, já há uma forte pressão para que mesmo técnicas de histerectomia combinadas com “depopu-
características com baixo valor econômico também lação” e “repopulação” com animais livres? Busca-se
sejam consideradas nos índices de seleção, como isso, mesmo sabendo-se que nas granjas comerciais
agressividade e comportamentos estereotipados. os animais são contaminados com micro-organismos
Mas essas mesmas pesquisas questionam sobre ausentes nas granjas núcleos de melhoramento, pro-
quem vai pagar o custo de selecionar com base nes- vocando um problema na pirâmide de produção, pois
sas características. Ou seja, quem vai “pagar a con- os animais selecionados na ausência de micro-orga-
nismos presentes no estrato comercial da pirâmide mencionam que a taxa de reposição de granjas esta-
podem não ser os melhores em uma situação em que bilizadas deve ser de 40% ao ano, exatamente o valor
determinados micro-organismos estão presentes. médio entre os valores citados. Os livros-textos tam-
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As empresas de melhoramento genético continuam bém citam que esse número é o somatório da taxa de
fazendo “depopulação” de granjas núcleos quando descarte com a taxa de mortalidade, e a equação que
estas se contaminam com Mycoplasma hyopneumo- determina a taxa de reposição anual é dada por: taxa
niae, por exemplo, e “repopulando” a granja núcleo, de reposição anual = 100% / Vida produtiva. Como
antes contaminada, com animais agora livres do a vida produtiva média das fêmeas é em torno de 2,5
agente em questão, utilizando-se de uma estratégia anos, a taxa de reposição é igual a 100% / 2,5 anos, ou
popularmente conhecida no setor de suinocultura seja, 40% ao ano. Agora se pode discutir o grande pro-
como “depop/repop”. blema enfrentado atualmente por todas as empresas
A resposta a esta pergunta tem a ver com pro- de melhoramento genético de suínos, umas com mais
gresso genético. A resposta à seleção por determi- intensidade, outras com menos. A vida produtiva das
nada característica ou progresso genético é função fêmeas diminuiu, ou seja, a longevidade diminuiu.
direta da intensidade de seleção (i) praticada, da Por isso atualmente é comum encontrar granjas no
acurácia de seleção (α) e do desvio-padrão da ca- estrato comercial, ou seja, na base da pirâmide de
racterística (σ), mas é indiretamente proporcional produção, que praticam taxas de reposição de 50%
ao intervalo de geração (L). Por isso, praticam-se ao ano ou até mesmo 55% ao ano, e, em alguns casos
altas taxas de reposição anual nas granjas núcleos extremos, até mais que 55% ao ano. Como a taxa de
de melhoramento genético, chegando a ser, no caso reposição anual é o somatório da taxa de mortali-
das linhas machos, até superior a 100% ao ano. Se- dade de porcas e leitoas com a taxa de descarte de
ria impraticável granjas núcleos com baixo “status porcas e leitoas, conclui-se que a taxa de mortalidade
sanitário”, pois há um grande número de fêmeas aumentou ou a taxa de descarte aumentou ou am-
jovens dentro dessas granjas, e fêmeas jovens são bas aumentaram. Há trabalhos mostrando que em
“amplificadoras” de agentes etiológicos de doenças muitas granjas o que mais contribui para esse fato é
e afetam negativamente o “status imunológico” do o descarte precoce de fêmeas por diversos motivos:
plantel. Essa é a explicação de por que empresas de problemas reprodutivos, anestro pós-parto prolon-
melhoramento genético, não raro, adotam estra- gado e problemas de cascos e de aprumos. Granjas
tégias de “depop/repop”, total ou parcial, que são com distribuição de ordem de partos longe da ideal
estratégias, invariavelmente, de alto custo. E, para são granjas menos produtivas e/ou com custo de pro-
contornarem o problema da diferença entre o “status dução maior. Portanto, a primeira característica que
sanitário” entre os extratos da pirâmide de produção, o melhoramento genético em suínos deve focar no
desenvolveram ferramentas estatísticas para corri- futuro é a longevidade das fêmeas. Há necessidade
gir essas diferenças, estratégia esta conhecida como de se lembrar de que o componente longevidade das
CCPS (Combined Crossbred and Pure Breed Selection). matrizes influencia diretamente a lucratividade e a
Porém, nas granjas comerciais é importante manter eficiência do sistema de produção de leitões.
entre 30 e 40% das fêmeas entre as ordens de parto O segundo grande problema enfrentado pelas
3 e 5, pois são as fêmeas mais produtivas do plantel empresas de melhoramento genético atualmente é
e contribuem positivamente para o “status imunoló- a viabilidade dos leitões nascidos vivos e o aumento
gico” do mesmo. São as fêmeas que produzem mais do número de leitões nascidos mortos. Hoje, em
leite e maior quantidade de leitões nascidos vivos e todas as linhagens nascem muitos leitões, mas até o
possuem uma boa resposta imunológica aos agentes desmame também morrem muitos leitões. Devido à
etiológicos de doenças presentes na granja. Para con- resposta correlacionada, as taxas de mortalidade de
seguir isso, há necessidade de praticar taxas de repo- leitões nas fases iniciais de vida aumentaram muito,
sição entre 35 e 45% ao ano. Por isso, os livros-textos contribuindo para a diminuição da velocidade do
progresso genético da característica número de lei- já que a produção de leite da porca é um dos fato-
tões desmamados por porca por ano (D/P/A), mesmo res mais importantes da limitação do crescimento
com grande progresso genético na característica ta- do neonato, quer seja pelo melhor comportamen-
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manho de leitegada. Algumas pesquisas mostraram to da matriz ao expor os tetos ou pelo som emitido
correlação genética desfavorável para tamanho de característico para chamar os leitões para mamar,
leitegada e taxa de sobrevivência pré-natal e corre- quer seja pelo comportamento cuidadoso ao
lação genética desfavorável também com eficiência deitar, evitando o esmagamento, ou pela combi-
placentária, incidência de splayleg e variabilidade nação dessas características, necessário é tomar
de peso ao nascer, que tem alta relação com morta- alguns cuidados nos programas de melhoramento
lidade. Além disso, há o fato de que a diminuição do genético.
peso ao nascer decorre da competição por espaço Investir no melhoramento genético da carac-
e nutrientes no útero devido ao elevado número de terística habilidade materna é possível, já que os
embriões que, por consequência, acaba afetando a vários componentes dessa característica são her-
determinação do número de fibras musculares ge- dáveis e necessários, pois há grande variação entre
neticamente programada ainda na vida intrauterina, as linhagens comerciais dos resultados de produção
levando à produção de leitões com menor número que também são consequência do comportamento
de fibras musculares e a uma menor taxa de cresci- materno entre outros fatores. No entanto, é impor-
mento pós-natal, pós-desmame e até ao abate. Há tante lembrar que, para calcular valores genéticos
consenso entre os pesquisadores de que leitões de para determinados componentes da característica
baixo peso não conseguem ter ganho compensatório habilidade materna, deve-se corrigir estatistica-
e demoram entre uma a duas semanas a mais para mente para a vitalidade inerente dos leitões que a
atingirem o mesmo peso de abate que seus irmãos de porca amamentou em cada ciclo.
peso normal. Mas, não há consenso sobre a qualidade Finalizando, deve-se evidenciar que um dos
da carne. Algumas pesquisas mostraram uma quali- componentes mais importantes da característica
dade de carne inferior, enquanto outras mostraram habilidade materna, que é a produção de leite,
qualidade de carne igual e uma pesquisa mostrou pode ser melhorada, selecionando-se fêmeas com
melhor qualidade de carne no tocante à quantidade boa conformação de úbere durante o período de
de gordura intramuscular nos animais que nasceram lactação, pois existe correlação positiva entre
com peso baixo. produção de leite e conformação do úbere. Mas é
Estratégias de aumento da taxa de sobrevivên- preciso considerar as respostas correlacionadas
cia dos leitões pelo melhoramento genético podem para as outras características, buscando o melhor
ser implementadas, focando a habilidade materna balanço entre elas.
(foto 1) das linhas fêmeas ou o aumento da resistên-
cia inata dos leitões às condições adversas enfren-
tadas no ambiente extrauterino logo após o nasci-
mento, ou melhorando geneticamente os leitões no
que diz respeito à resistência a doenças específicas,
e, logicamente, adotando uma combinação de todas
essas estratégias.
Aumentando a sobrevivência
através do componente materno
Para fazer o melhoramento genético da habi-
lidade materna da porca, quer seja pelo aumento Foto 1 – Habilidade materna para melhoria
da seleção genética de matrizes.
da produção de leite ou da eficiência da lactação, Fonte: ABCS.
pesados têm mais chances de sobreviver, já que a também com outras características de interesse eco-
probabilidade de sofrerem hipotermia é menor. Mas, nômico e devem ser balanceadas dentro do progra-
paradoxalmente, em uma revisão publicada sobre ma de melhoramento genético. É interessante notar
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esse tema são citados vários trabalhos que mostram que quando se seleciona para vitalidade dos leitões e
que selecionar para o aumento do peso ao nascer não taxa de crescimento, concomitantemente ocorre um
aumenta a sobrevivência dos leitões, e a explicação ganho extra na característica taxa de crescimento,
dada para essa contradição é o fato de que são genes comparado a uma estratégia com a qual se seleciona
diferentes que controlam o peso ao nascer e a ma- apenas para taxa de crescimento.
turidade fisiológica do leitão, sendo mais eficiente Durante o 8º Congresso Mundial de Genética
selecionar para aumentar a uniformidade de peso Aplicada ao Melhoramento Animal (8th WCGAL-
dentro de leitegada para elevar indiretamente a taxa P-World Congress on Genetics Applied to Livestock
de sobrevivência até o desmame. Production), realizado em 2006 pela primeira vez no
Pensando em selecionar características com- Brasil, muitos dos trabalhos de pesquisas apresen-
portamentais dos leitões que por consequência tados foram sobre o melhoramento genético para
aumentaria a taxa de sobrevivência, uma pesquisa foi vitalidade dos leitões. Dos 27 trabalhos apresen-
conduzida em rebanhos núcleos de melhoramento, tados na seção de Melhoramento Genético de Su-
em que foi avaliado o comportamento de dois gru- ínos (Pig Breeding), oito foram sobre vitalidade dos
pos de leitões com relação ao mérito genético para a leitões. Desses trabalhos apresentados em 2006,
característica vitalidade, logo após o parto e durante muitos já foram publicados em revistas especiali-
as primeiras 24 horas, medindo o tempo gasto do zadas. Um especificamente traz uma contribuição
nascimento até o leitão ficar de pé, tempo gasto até interessante, mostrando que selecionar para o
o primeiro contato com o úbere e tempo que o leitão número de leitões que sobreviveram até o 5º dia útil
levou do nascimento até colocar o teto na boca. Essas após o parto é mais eficiente do que selecionar para
características comportamentais não explicaram a tamanho de leitegada ao nascer.
diferença de mérito genético para a característica Para finalizar, há necessidade de selecionar para
vitalidade. Esse mesmo grupo de pesquisadores aumentar o número de tetas, já que o tamanho de
continuou aprofundando-se no assunto para tentar leitegada continuará aumentando e a sobrevivência
explicar as diferenças encontradas em relação ao dos leitões idem. A herdabilidade dessa caracterís-
mérito genético para a característica vitalidade dos tica é de moderada a alta.
leitões. E conduziram outras pesquisas em busca de
diferenças de estoques de energia nos dois grupos Futuro do melhoramento
de leitões com relação ao mérito genético e encon- genético nas linhas machos
traram, no grupo de maior mérito genético, maior Nas linhas machos buscou-se até o momento
quantidade de glicogênio muscular e hepático, maior focar em taxa de crescimento, conversão alimentar,
conteúdo de gordura, maior peso de adrenal, níveis carne magra e qualidade de carne. Há quem afirme
mais elevados de corticóides circulantes e melhor que a meta de conversão alimentar para as linha-
eficiência placentária. Esse grupo de pesquisadores gens machos do futuro deveria ser de 1:1 (kg/kg).
também mostrou que a seleção para a característica Teoricamente é possível alcançar uma conversão
vitalidade dos leitões ao parto leva a uma diminuição dessa magnitude, já que a deposição de proteína
do número de leitões natimortos sem diminuir o ta- leva junto a deposição de água ligada, numa relação
manho da leitegada. aproximadamente de 1:3, ou seja, para cada grama de
Selecionar para vitalidade dos leitões é possível, proteína depositada por dia, depositam-se três gra-
eficiente e necessário para compensar a resposta mas de água. Como a água não está sendo computada
correlacionada desfavorável com a característica nessa conta de conversão, apenas a ração, pode-se,
tamanho de leitegada. Há resposta correlacionada teoricamente, com animais de alta taxa de deposição
de proteína se alcançar conversão alimentar dessa do consumo de cada macho individualmente, mas
magnitude ou muito próximo a isso. Mas, há algo a com os mesmos alojados em baias coletivas, uma
discutir nessa questão. Pode ser que não seja possível vez que pois, essa é a condição que a progênie des-
90
alcançar essa meta no médio prazo, porque a indús- ses machos terminadores encontrará nas granjas
tria de carnes altera constantemente a meta de peso comerciais de terminação. Para isso, as estações
de abate, porque o aumento do peso de abate leva a contam com uma antena que se comunica por meio
uma redução do custo por unidade abatida dentro da de um chip colocado na orelha de cada animal, por
indústria. E, todas as vezes que a indústria busca um ondas de rádio, e também têm balanças que pesam
peso mais elevado, as empresas de melhoramento o consumo de ração do animal ao visitar a estação.
genético são obrigadas a desenvolver linhagens que Esses equipamentos também permitem registrar
atendam à nova meta e as linhagens que alcançavam o comportamento de consumo de ração de cada
a meta de conversão alimentar na meta antiga po- animal, como quantas visitas eles fazem por dia ao
dem não atingir a meta de conversão alimentar com comedouro, quanto consomem em cada visita em
a alteração da meta de peso de abate. Parece que as média, quais os horários em que os animais visitam
empresas de melhoramento genético terão que lidar o comedouro durante o dia e durante a noite, etc.
com este desafio constantemente por muitos anos Essas estações estão conectadas via cabo a um com-
ainda, até que a indústria de carnes alcance o peso putador central que coleta e armazena os dados de
máximo que poderia ser praticado sem elevação cada estação de cada baia coletiva.
do custo de produção por carcaça dentro da linha Outra necessidade do melhoramento das
de abate e no armazenamento. Ainda no tocante à linhas paternas é o restabelecimento da gordura
conversão alimentar, vários autores têm mostrado intramuscular, grande responsável pela qualidade
que a melhor estratégia é, ao invés de se selecionar sensorial da carne suína, que acabou diminuindo
diretamente para conversão alimentar, selecionar devido à pressão de seleção que sofreu a carac-
para diminuição da ingestão ou consumo residual terística carne magra em todos os programas de
de alimento (Residual Feed Intake), já que essa é uma melhoramento genético nas últimas décadas.
característica que não tem correlação genética des- Felizmente, atualmente, já existem algoritmos e
favorável com outras características importantes, ferramentas estatísticas apropriadas para “inter-
melhora a eficiência de utilização dos alimentos e pretar” as imagens geradas pelos equipamentos de
tem herdabilidade de magnitude moderada. Também ultrassonografia do tipo “Real Time” e determinar
é importante mencionar que a coleta de informação nos animais vivos o teor de gordura intramuscular
de consumo de ração deve ser feita nas mesmas con- no músculo longyssimus dorsi. Assim, as empresas
dições em que as progênies dos machos terminado- de melhoramento poderão selecionar machos ter-
res serão submetidas em nível de granjas comerciais.
Analogamente ao que acontece com a diferença de
“status imunológico” entre os extratos da pirâmide
de melhoramento que exige a adoção de estratégias
como implantação de CCPS (Central de Coleta e Pro-
cessamento de Sêmen), aqui também se deve pensar
em estratégias que minimizem o problema advindo
do fato de que os melhores machos para ganho de
peso médio diário e conversão alimentar alojados em
baias individuais (foto 2) podem não ser os melhores
machos terminadores em baias coletivas.
Ou seja, é importante investir na instalação de Foto 2: Machos de melhoramento
genético em baias individuais.
estações de comedouros que permitam a coleta Fonte: ABCS
minadores que imprimam teores de gordura intra- O macho terminador que atende o mercado de
muscular adequados às suas progênies. Também produção de presunto maturado cru na Espanha e
há uma preocupação com o tipo de fibra muscular Portugal pode não ser o mesmo macho terminador
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que compõe a musculatura do suíno moderno. Há que atende a produção de Parma na Itália e certa-
um predomínio de fibra do tipo branca, de con- mente não é o mesmo que atende a produção de
tração rápida, em detrimento de fibra vermelha, presunto cozido no Brasil. Há necessidades especí-
de contração lenta, na musculatura do pernil e do ficas de cada mercado que devem ser consideradas
lombo. Essa característica é herdável e, portanto, nos programas de melhoramento genético. Há
passível de seleção e merece atenção por parte um mercado de bacon na Inglaterra muito típico
das empresas de melhoramento genético. Final- daquele país, assim como há um mercado de pernis
mente, é importante salientar que as empresas de de musculatura pesada na Alemanha e há exigên-
melhoramento continuarão tendo que lidar com cia de lombo extremamente vermelho e com alto
as demandas de nichos específicos de mercado. escore de marmoreio no caso do mercado japonês.
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O
conceito de “sistema” na suinocultura nos suínos podem ser produzidos de forma intensiva ao
leva a avaliar a maneira como se organiza ar livre ou confinados, destacando-se que, mundial-
a produção. No Brasil, há uma imensa va- mente, há uma predominância do modelo confinado.
riedade de modelos de produção dentro das diver- A suinocultura de subsistência com baixa tec-
sas regiões produtoras e muitas particularidades nificação apresenta uma tendência de desapareci-
entre elas, o que resulta numa dificuldade muito mento, o que dará origem a uma suinocultura tecni-
grande de padronização de conceitos e manejos, já ficada e de maior produtividade (gráfico 1).
que, além do fluxo de produção, não há padrão de Nos últimos cinco anos, houve uma redução de
instalações e equipamentos. 32% na suinocultura de subsistência e um aumen-
A produção de suínos pode ser classificada de to de 34% na suinocultura industrial. Além disso,
acordo com o grau de controle da produção em ex- no mesmo período, constatou-se um aumento de
tensiva e intensiva, e a produção extensiva é defini- 4% no plantel de matrizes do País e um aumento
da pelos autores como extrativista e de subsistên- de 22% no total de carne suína produzida, indican-
cia, praticamente sem controle de dados e manejos. do a grande melhora na produtividade dos siste-
No início da década de 90, estimava-se que 32% da mas de produção.
produção brasileira de suínos no início dos anos 90 Atualmente, o que se vê é a transformação da
era produzida nesse modelo. suinocultura independente para modelos de inte-
Todas as demais formas de produção são con- grações de pequeno e médio porte, nos quais, em
sideradas intensivas, nas quais existe uma preocu- geral, a produção dos terminados é verticalizada.
pação com viabilidade econômica e produtividade. Em vários casos, tem-se a construção de frigorífi-
Além disso, há investimentos e condições controla- cos para industrialização dos produtos e lançamen-
das de genética, nutrição, instalações e sanidade. Os tos de novas marcas de cortes e embutidos.
3.500 3.190
2.943 2.997 3.026
3.000 2.601 2.709
2.500 2.872
2.643 2.684
2.531
2.000 2.247
2.133
1.500
1.000
468 462 412 354 342
500 318
0
2004 2005 2006 2007 2008 2009
A produção de suínos também pode ser classi- zes para reprodução, a fase de maternidade
ficada pelo tipo de vínculo de produção, como inde- e creche e, no segundo sítio, será realizada a
pendente, integrada ou cooperativa, com diferente terminação. Uma recente modificação desse
96
distribuição e predominância de acordo com a re- sistema é o chamado wean-to-finish, em que o
gião geográfica do País. primeiro sítio aloja o plantel de reprodução e
Quanto à localização dos sítios, os sistemas de a maternidade e o segundo sítio realiza as fa-
produção podem ser classificados em ciclo completo ses de creche e terminação no mesmo local;
em sítio único ou produção distribuída em diversos »» Sistema de três sítios: existem três locais de
sítios (dois, três, quatro e cinco sítios). Nesse senti- produção independentes. No primeiro sítio,
do, os sistemas de produção de suínos no Brasil po- ficam alojadas as fêmeas para reprodução e
dem ser divididos em quatro modelos diferentes: a fase de maternidade, no segundo sítio fica
a fase de creche e no terceiro sítio, realiza-se
»» Ciclo completo: esse modelo engloba to- a terminação;
das as fases da produção, ou seja, a mesma »» Sistema de quatro sítios: é semelhante ao
propriedade contempla desde a chegada de sistema de três sítios, com a diferença que
leitoas destinadas à reprodução até o fim da as leitoas de reposição são alojadas e prepa-
terminação; radas em local específico, onde é feito todo o
»» Sistema de dois sítios: nesse caso, a produção manejo necessário e, com 35 a 40 dias após a
será realizada em dois locais independentes. cobertura, se comprovada a prenhez, elas são
No primeiro sítio ficarão alojadas as matri- enviadas para o primeiro sítio tradicional.
Embora não exista no Brasil até o momento, Embora a busca pelo controle e erradicação de
há ainda a possibilidade de criação em sistema de doenças de suínos seja um interesse já manifesta-
cinco sítios, com um conceito que leva em conside- do há muitas décadas, a Produção Segregada tem
97
ração a comprovada diferença sanitária existente suas origens mais diretas nos trabalhos científicos
entre os leitões filhos de primíparas e os descen- liderados pelo Dr. Tom Alexander, no início da dé-
dentes das fêmeas das demais ordens de parição. cada de 80, visando principalmente à eliminação
A preparação das leitoas, inseminação e primeiro do agente Mycoplasma hyopneumoniae em reba-
parto ocorrem no mesmo sítio geográfico, permi- nhos ingleses de alto padrão sanitário. Seu clássico
tindo a criação segregada dos leitões filhos de pri- trabalho (Alexander et al, 1980) resultou na téc-
míparas e das demais ordens de parto. Nesse sis- nica denominada “Desmame Precoce Medicado”
tema, é possível aliar as vantagens reprodutivas da (DPM), pela qual fêmeas mais velhas eram isoladas
adequada preparação das leitoas e fêmeas de pri- do rebanho de origem antes do parto, seguido de
meiro parto com os ganhos sanitários do produto procedimentos de medicação intensiva e desmame
na creche, recria e terminação. aos cinco dias de idade.
Diante de tantas possibilidades e variações, é O sucesso dessa equipe na obtenção de animais
fundamental descrever a diferença entre produção livres criou novas perspectivas de produção de ani-
segregada (múltiplos sítios) e a frequente (comum) mais de alto padrão sanitário sem necessidade de
produção em sítios estabelecida no Brasil entre os adoção dos procedimentos radicais conhecidos até
anos 80 e 90. O país passou por uma relativa im- então, como o despovoamento completo e técnicas
portação errônea de conceitos bem-sucedidos em cirúrgicas como a histerectomia (cesariana), já em
outros países produtores. A imensa maioria dos sis- uso desde a década de 50 na produção de animais
temas que investiram na segregação o fizeram de SPF (Specific Pathogen Free).
forma equivocada e perderam quase a totalidade Esses procedimentos tinham óbvias limitações,
dos benefícios potenciais da segregação. não somente econômicas, mas também técnicas,
Nesse sentido, deve ficar claro que o concei- uma vez que os animais SPF-primários (oriundos
to de produção segregada não se aplica à divisão da histerectomia) são de extrema sensibilidade aos
em três sítios (normalmente reprodução/mater- patógenos normalmente encontrados, portanto de
nidade, creche e terminação) com vazio sanitário difícil e inconveniente adaptação sanitária. Além
apenas por sala ou prédio, tampouco a modelos disso, já se sabia àquela época que é perfeitamente
de ciclo completo em um único sítio geográfico, possível conviver com as enfermidades usuais (res-
mesmo que respeite intervalo entre lotes e vazio piratórias, por exemplo) somente no plantel repro-
sanitário por sala. dutor, sem impacto negativo no seu desempenho e
Para a produção segregada, os pontos fun- sem custos maiores, em face da expressiva imuni-
damentais do conceito são a definição da idade dade protetora presente neles.
de desmame (precoce ou não de acordo com os As vantagens advindas dos novos conheci-
patógenos a serem trabalhados) e a separação mentos da década de 80 foram inicialmente apli-
geográfica após o desmame com vazio sanitário cadas apenas para a produção de material gené-
por sítio todos dentro/todos fora (não negociá- tico, devido à demanda por melhores padrões
vel nesse modelo). sanitários no topo das pirâmides de produção e às
No interior de uma granja, a infecção dos ani- limitações práticas ainda existentes com esses sis-
mais por agentes enzoóticos é facilitada quando temas. Mas a evolução técnica foi surpreendente
suínos de diferentes idades são mantidos no mes- a partir de então.
mo ambiente ou por contaminação residual das ins- Trabalhos sequenciais realizados durante a dé-
talações provocada por suínos de lotes anteriores cada de 80 por Dr. Joseph Connor, Dr. D. L. Hank
(que é o caso do sistema contínuo). Harris e outros levaram modificações à técnica
DPM, tornando-a mais facilmente aplicável e ge- considerar os fatores indispensáveis na atividade,
rando o processo de “Desmame Precoce Medicado como recursos ambientais, mão de obra, disponibi-
Modificado” (DPMM), em que os partos eram feitos lidade de tecnologias e avaliação de custos.
98
na própria granja sanitariamente comprometida, as É imprescindível estar ciente de que essa ativi-
medicações suavizadas e o desmame feito em ida- dade vai exigir do produtor e dos funcionários alto
des ligeiramente superiores. Esses trabalhos foram grau de dedicação no processo de criação para se
decisivos para a consolidação do princípio de segre- chegar aos objetivos esperados.
gação como fator fundamental na produção de ani- Ao definir o tipo de produção a ser implanta-
mais livres com origem em rebanhos contaminados do, pode-se ter uma previsão de todo o manejo de
com alguns agentes específicos. sanidade, determinando o fluxo de animais, a pos-
Inúmeros trabalhos deram continuidade ao sibilidade da realização de vazio sanitário, além da
desenvolvimento da técnica, com aplicações espe- organização logística dos produtos.
cíficas e tentativas cada vez maiores de torná-la Os galpões devem ser construídos consideran-
praticável na produção comercial, o que foi conse- do conceitos de conforto e bem-estar, tanto para
guido com sucesso. A terminologia foi sofrendo al- os animais, como para os funcionários. A partir de
terações conforme a técnica evoluía, e atualmente 2007, algumas instalações têm sido construídas
utiliza-se com frequência os termos “Isowean®”, com base nos conceitos de bem-estar animal cita-
“Desmame Precoce Segregado” (DPS) e “Produção dos nas normas europeias, especialmente para a
em Sítios” (dois, três ou múltiplos sítios), todos eles fase de gestação.
referindo-se a sistemas que se utilizam dos princí- Além do aspecto físico, sanitário e genético, o
pios de segregação ao desmame para a obtenção capital humano utilizado será um dos pontos de-
comercialmente viável de um melhor padrão sani- cisivos sobre o resultado técnico-econômico do
tário e, consequentemente, de melhores desempe- sistema de produção. O constante treinamento e
nhos zootécnicos. condições gerais de trabalho e motivação ofereci-
A decisão sobre o melhor sistema de produção dos às pessoas podem afetar diretamente a produ-
a ser implantado (ou adaptado) depende da conjun- tividade do sistema.
ção de variáveis decisivas como visão realista da A evolução dos sistemas de produção está inti-
biosseguridade regional, escala de produção, per- mamente associada às questões sanitárias que de-
fil dos produtores, pirâmide sanitária e logística e safiam a suinocultura industrial, bem como às dire-
viabilidade operacional. Além disso, é fundamental trizes externas ditadas pelo mercado consumidor.
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A
“Produção Segregada” (PS) pode ser defini- Entre esses cinco pilares considerados acima,
da como um conjunto de métodos de pro- nitidamente três deles estão ligados à imunologia dos
dução de suínos baseados na segregação suínos: imunidade do rebanho, idade de desmame e in-
de leitões ao desmame, visando a uma produção gestão de colostro. A condição de imunidade, situação
técnica e economicamente viável de animais de alto em que o indivíduo não está susceptível a determina-
padrão sanitário originários de rebanhos endemica- do agente agressor, faz parte de todas as tentativas de
mente infectados com diferentes agentes etiológi- controle/erradicação de doenças dos animais, consi-
cos, dentro de objetivos específicos. derando-se fundamental que se tenha o conhecimen-
Os sistemas modernos de produção segregada to absoluto a respeito desse tema e se utilizem todas
fundamentam-se mais em programas de vacinação as estratégias em relação a isso com o devido rigor.
e estabilidade imunológica do plantel do que em Todos os princípios anteriormente citados fa-
programas de medicação intensiva, embora as me- zem parte da rotina de implantação e condução dos
dicações ainda sejam uma importante ferramenta sistemas de PS. Em função do conhecimento e da
quando se busca a erradicação segura de alguns manipulação desses conceitos de imunidade, três
agentes etiológicos específicos, principalmente fenômenos básicos ocorrem dentro do contexto da
em rebanhos destinados à produção de material produção segregada:
genético. Podemos destacar cinco pilares principais »» Produção de animais “livres” de determina-
necessários para sustentar um sistema adequado das enfermidades em meio a plantéis com-
de produção segregada (tabela 1). prometidos.
Estabilização
A máxima concentração de anticorpos colostrais é fator decisivo para a efetiva
imunológica e
proteção dos lactentes contra a colonização de agentes disseminados pelas mães.
imunidade passiva
Foco total na ingestão do colostro, já que de nada adianta o trabalho de
Maximização da
imunização e estabilização imunológica no plantel reprodutor, se a ingestão do
ingestão colostral
colostro produzido não for uniforme em quantidade e qualidade pelos leitões.
Definição a respeito de duração de imunidade colostral e níveis protetores para
Idade ao desmame
impedir ou minimizar a colonização (infecção) dos leitões com agentes específicos.
Estabelecer políticas de segurança sanitária que permitam manter pelo maior
Programa de
tempo possível o padrão sanitário nos animais produzidos, ou seja, manter o nível
biosseguridade
de saúde alcançado.
Além da segregação dos leitões ao desmame, a utilização do manejo tudo dentro/
Segregação de idades tudo fora com efetiva segregação etária permite a redução dos efeitos das
subpopulações imunologicamente comprometidas ou positivas para os agentes.
»» Inter-relação entre sistema imune, nutrição três ou múltiplos sítios, uma das primeiras decisões
e desempenho zootécnico. tomadas é a definição da idade máxima ao desmame.
»» Maior sensibilidade desses animais a deter- Tem sido comum, nesses casos, o aproveitamento de
100
minadas enfermidades. dados publicados em diferentes trabalhos, uns com
A produção de animais livres com origem em maior e outros com menor rigor científico. Para se ter
plantéis contaminados é, sem dúvida, um dos ob- uma ideia da variabilidade encontrada na literatura
jetivos mais comuns procurados por quem decide e, consequentemente, do risco a que se está exposto
adotar a produção segregada. Em contrapartida, é quando a decisão sobre a idade ao desmame é pouco
também um dos grandes motivos das frustrações embasada, a tabela 1 apresenta uma compilação de
que têm sido observadas no campo da aplicação alguns trabalhos, procurando incluir somente aque-
prática dessa técnica. A obtenção de animais livres les realizados em condições experimentais represen-
em rebanhos contaminados via segregação ao des- tativas da realidade prática em que vivemos.
mame tem na imunidade passiva sua principal fer- Como pode ser claramente observado, existem
ramenta. Trabalhos recentes e resultados práticos diversas citações sobre idades máximas de desmame
têm evidenciado que a correta manipulação da imu- sugeridas para a eliminação de doenças por meio
nidade torna-se mais importante que os protocolos do desmame precoce segregado (tabela 2). Muito
de medicação de matriz e leitões para evitar a disse- embora possa ser observada uma tendência unifor-
minação dos agentes infecciosos na maternidade e me para alguns agentes etiológicos, como o vírus da
a consequente infecção dos leitões. Doença de Aujeszky, também é visível a enorme dis-
Quando um produtor ou técnico decide adaptar crepância nos resultados de diferentes autores para
sua produção ao desmame segregado, com dois, outros agentes, tais como o Streptococcus suis tipo II.
Tabela 2 – Idades máximas de desmame sugeridas para eliminação de alguns patógenos dos suínos
Yeske, P. (1995) 10 10 21 14 10 - - 21 10
Schultz, R. A (1996) 19 10 19 10 03 14 - 21 -
Gramer, M. L et al (1998) - - - - - - - - 12
Em função disso, podemos afirmar que o Cabe ao produtor, juntamente com seu suporte
mais importante é reconhecer a transferência técnico, analisar o contexto em que está inserido
de imunidade passiva e, mais que isso, a efetiva (nível sanitário, tamanho do rebanho, região, disponi-
101
aquisição dessa imunidade pelos leitões lacten- bilidade de recursos, possibilidade de parcerias, pro-
tes, como um fenômeno biológico, e não mate- jeto de ampliação etc) e “pesar” as vantagens e riscos.
mático, portanto passível de interferência por Também, quanto a escolher ou não a adoção da
inúmeras variáveis. Trabalhando no sentido de produção segregada, é fundamental ter claro quais
minimizar a variabilidade imunológica, por meio são os objetivos. A produção segregada pode ser
da intensificação de alguns manejos no sítio 1, po- aplicada com diferentes propósitos e em diferentes
deremos usufruir com muito mais propriedade as situações, desde a simples melhora de desempenho
valiosas informações que nos são apresentadas em granjas comerciais até a erradicação de doenças
pela literatura. (em granjas pertencentes a programas de melho-
ramento genético ou não). É fundamental saber
Implantação e condução de um antecipadamente o que se espera com a segregação
sistema de produção segregada ao desmame:
A implantação e condução de um sistema de »» erradicar alguma(s) doenças que inviabilizam
produção segregada incluem um grande número de a sobrevivência na atividade?
princípios técnicos ligados à medicina veterinária »» controlar a níveis subclínicos doenças que
preventiva, à fisiologia da reprodução, à epidemio- afetam negativamente o rebanho?
logia das principais doenças dos suínos, à nutrição »» comercializar reprodutores efetivamente
especializada pós-desmame, ao comportamento livres de algumas enfermidades?
animal, à manipulação de condições ambientais, »» ampliar a produção em casos onde não há
entre diversos outro itens. mais espaço físico disponível no mesmo sítio?
São poucas as chances de sucesso quando não »» aproveitar para modernizar-se em um mo-
se busca apoio profissional na definição dos rumos, mento de ampliação da granja já povoada?
investimentos, prioridades e protocolos de trabalho Para cada uma dessas situações, o trabalho
que serão seguidos. Para os profissionais da assis- deve ser conduzido de forma distinta e com enfoque
tência técnica, já é farta a literatura aplicada à pro- em diferentes prioridades. Protocolos de trabalho
dução segregada, bem como os exemplos bem e mal específicos deverão ser adotados, desde a definição
sucedidos no campo prático, tanto no Brasil como da idade ao desmame e dos manejos de transfe-
em outros países. rência de leitões na maternidade até a rigidez das
A escolha pela adoção ou não desse sistema normas de biosseguridade dos sítios que compõem
passa pela quantificação das vantagens para ana- o sistema de produção. A expansão do uso do Des-
lisar a viabilidade do empreendimento. Não é ta- mame Precoce Segregado (DPS) dá-se muitas vezes
refa fácil, uma vez que a resposta em desempenho por “inércia”, resultado da precipitação em copiar
dependerá de inúmeras variáveis, desde o tipo de pacotes tecnológicos ou da errônea divulgação da
doenças ou agentes presentes no rebanho até a técnica em publicações de grande circulação, como
capacidade de lidar com os riscos inerentes a uma se dela os produtores pudessem extrair resultados
estrutura de produção segregada. Alguns dados milagrosos. Não é o que acontece, sendo até mesmo
extraídos da literatura indicam melhoras de 12 a comum que resultados opostos sejam alcançados,
70% no ganho de peso dos animais e 10 a 15% de com aumento de custos operacionais sem a contra-
melhora na conversão alimentar em diversas fases partida de melhores resultados de desempenho que
da produção. É importante ressaltar que há poucos justifiquem o investimento.
dados brasileiros e uma imensa variabilidade das Os modelos de produção segregada atualmente
respostas alcançadas. em uso e passíveis de condução viável são: produ-
ção em dois sítios (sempre com desmame segrega- estudo prévio. A definição do tipo de veículo
do), produção em três sítios, produção em múltiplos (capacidade de carga e biossegurança envol-
sítios e sistema wean-to-finish. vida) será decisiva no cálculo de custos.
102
Podemos, entretanto, trazer à tona alguns pon- »» Região onde será implantado ou adaptado
tos que, quando analisados cuidadosamente e utili- o projeto: seria questionável a validade de
zados como base de cálculo de viabilidade, darão a uma produção segregada em que as fases
qualquer produtor a resposta necessária: pós-desmama (sítios 2 e 3) ficariam em
»» Volume de produção: é fator decisivo para áreas de densidade populacional de suínos
se optar por algum sistema de segregação. muito intensa, portanto sujeita à rápida
Não adianta pensar nas imensas vantagens recontaminação, principalmente quando
dos sistemas de múltiplos sítios com vazio falamos de sistemas de dois ou três sítios, nos
sanitário total por sítio, e não por sala ou por quais a contaminação dos sítios 2 e 3 leva por
prédio, se não estivermos falando de reba- terra boa parte das vantagens da produção
nhos acima de sete a dez mil matrizes, justi- segregada (somente o despovoamento deles
ficando a construção ou a contratação (mais permitiria retornar à situação sanitária ori-
comum) de sítios 2 e sítios 3 com capacidade ginal), sem todavia permitir que o produtor
para uma só semana de produção. Em contra- se livre dos custos administrativos maiores
partida, mesmo com a tendência mundial de advindos da produção em sítios. Deve haver
evolução da produção em escala em vários uma grande responsabilidade ao se fazer
países produtores, a produção segregada é uma análise prévia dos riscos envolvidos e da
perfeitamente aplicável a rebanhos meno- disposição ou não em se montar uma estrutu-
res. A cooperação entre produtores visando ra que minimize esses riscos.
à formação de núcleos maiores de reprodu- »» Estrutura administrativa x distâncias x
ção e transformando as granjas existentes biosseguridade projetada: todos esses itens
em sítios 2 e/ou sítios 3 tem sido um caminho estão intimamente relacionados e reque-
adotado por produtores do centro-oeste rem uma decisão em conjunto. A política de
americano e poderá ser uma alternativa viá- biosseguridade projetada dependerá dos
vel em algumas regiões brasileiras. objetivos do sistema (comercial, material
»» Área física disponível para o projeto: embo- genético), da localização (maior ou menor
ra seja desejável dispor de áreas as maiores risco de contaminações de origem aerógena,
possíveis para a segregação dos sítios, já topografia etc) e do volume de produção con-
sabemos que distâncias menores, às vezes de siderado (se permite ou não diluir os custos
não mais que 150 a 200 metros, já podem ser de uma estrutura mais rígida de isolamento).
suficientes para a manutenção de boa parte Associando a estrutura de biosseguridade
dos problemas sanitários limitados ao sítio planejada (veículos exclusivos, barreiras sa-
1, onde permanece o rebanho reprodutor. nitárias simples ou duplas, locais separados
Rotinas de biosseguridade, tais como separa- de lavagem de roupas etc) com as distâncias
ção total das equipes de trabalho e veículos, existentes entre os sítios (custos associados
organização do processo de distribuição de a transporte de leitões, cevados e ração,
ração e outras inerentes ao desmame preco- principalmente) e com a estrutura gerencial
ce segregado (idade de desmame e manejos necessária a uma adequada administração
internos) permitem a manutenção do siste- dos riscos, será possível chegar à conclusão
ma em equilíbrio em longo prazo. de qual o volume de produção exigido para
»» Custos de transporte: os custos de transpor- permitir que os custos administrativos não
te representam um importante elemento de superem os limites toleráveis.
esse número de leitões pode chegar até a tabilização da resposta imune do plantel
1,5% da produção total. aos agentes etiológicos é fundamental
»» Maximização da qualidade dos manejos para a manutenção da produção de leitões
104
gerais da maternidade, visando ao ótimo livres via DPS. A correta introdução de
consumo e produção de colostro/leite, animais de reposição e os programas de
à adequação de ambiente, à limpeza/de- vacinação aplicados no rebanho são os
sinfecção, ao corte de dentes, à castração dois fundamentos principais para alcançar
etc. As condições devem ser as melhores e manter a estabilidade imunológica. Nos
possíveis, tanto para a porca quanto para EUA crescente atenção tem sido dada a ins-
os leitões. talações isoladas para receber, aclimatar e
»» Condições de criação pós-desmame: pelo melhor introduzir as leitoas de reposição,
fato de a produção segregada normalmente criando os conceitos do “Gilt Developer”.
ser associada ao desmame precoce, é impor- Doenças virais extremamente importantes
tante estarmos aptos a manejar com esse no rebanho americano, tais como a PRRS,
novo desafio que é o leitão de menor peso ao TGE e Influenza fazem com que os progra-
desmame. As limitações às vezes impostas mas de manipulação da imunidade humoral
no manejo da maternidade podem fazer com ganhem máxima atenção nos programas de
que a variabilidade no peso ao desmame seja PS naquele país.
um desafio ainda maior a ser superado. Todos »» Segregação de idades no processo de
os esforços para uniformizar o ganho de peso produção: não há muito sentido em iniciar
dos leitões devem ser implementados, desde um programa de PS mantendo as fases pós-
as condições de ambiente dadas às porcas desmama (creche, recria e terminação) em
até o manejo básico dos leitões. Nutrição, sistema de fluxo contínuo de produção. O
hidratação, ambiente e manejo são os quatro vazio sanitário e a metodologia tudo dentro/
pontos básicos a serem trabalhados, e mere- tudo fora são importantes. A segregação de
cem total atenção. idades é melhor por sítio, em seguida por pré-
Em nosso meio, a nutrição já é um fator bas- dio e, em último lugar, por sala.
tante explorado, estando disponíveis progra-
mas de alimentação aplicáveis ao desmame A produção segregada representa um dos
precoce e ultraprecoce. A hidratação ainda é maiores avanços presenciados na produção de suí-
um fator erroneamente relegado a segundo nos nos últimos anos. Seus benefícios são claros e
plano e deve ser mais observada em nossas cientificamente comprovados. Como na aplicação
condições de campo, pois afeta decisivamen- de qualquer outra nova técnica, existem também
te o desempenho do leitão precocemente riscos e limitações inerentes à técnica. A diferença
desmamado. O ambiente é um ponto de fun- é que, ao contrário de diversas outras técnicas, não
damental importância, e muitas das pré-cre- há como voltar atrás. Se os benefícios previstos
ches e creches existentes em nosso meio não não forem atingidos, restarão ao produtor so-
são adequadas ao trabalho com desmames mente os custos e complexidades administrativas
precoces. agregadas junto com a PS. Os fundamentos básicos
»» Estabilidade imunológica do plantel para a sua aplicação já são conhecidos, assim como
reprodutor: esse tem sido o maior enfo- vários erros que levam ao fracasso em sua utiliza-
que de todas pesquisas voltadas para a ção. Cabe-nos avaliar todos esses itens e adotar a
produção segregada nos últimos cinco técnica de forma correta, usufruindo de todos os
anos. Sabemos hoje que alcançar uma es- seus benefícios.
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A
suinocultura experimentou, nas últimas para outro, melhorando a saúde geral do rebanho
décadas, uma evolução genética bastante e a performance produtiva, havendo diminuição no
significativa na redução de carne magra na uso de medicamentos.
carcaça e na maior eficiência de crescimento. Tam- Para adotar o sistema de vazio sanitário e
bém o grau de exploração e o aumento da produtivi- all in-all out é preciso planejar as instalações e o
dade, especialmente no número de suínos vendidos manejo dos animais a fim de obedecer a um flu-
por matriz por ano, fizeram com que os rebanhos fi- xo de produção.
cassem cada vez mais vulneráveis do ponto de vista A definição do fluxo de produção, em uma gran-
sanitário. O surgimento de novas doenças e o recru- ja de ciclo completo depende basicamente da de-
descimento de outras tornaram fatores como bem terminação das seguintes premissas:
-estar animal e ambiência fundamentais para a pro- »» Intervalo entre lotes de produção: 7, 14, 21
dutividade e mesmo a viabilidade da suinocultura. ou 28 dias;
O fluxo de produção bem conduzido é peça »» Idade média de desmame: 21 a 28 dias;
fundamental na manutenção da atividade estável e »» Idade de saída da creche: 63 a 70 dias;
em constante melhoria. A concepção e o fluxo das »» Idade de venda dos suínos produzidos (mer-
instalações devem estar inseridos em um contex- cado): de 150 dias ou mais;
to que considere a capacidade de investimento do »» Limpeza, desinfecção e vazio sanitário entre
produtor, o tamanho do rebanho, o nível de produ- lotes: de 4 a 7 dias.
tividade e status sanitário almejados, o manejo a ser Essas premissas devem levar em conta o nível
adotado e a viabilidade econômica. de exploração, o tamanho do plantel e as limitações
de investimento do produtor. A seguir são apresen-
Cálculos de fluxo de lotes tados os cálculos de fluxo de produção de granjas
e dimensionamento de com lotes semanais, são descritas as característi-
instalações (lotes semanais) cas do manejo em bandas com intervalo de duas ou
Dois dos aspectos mais importantes na pre- mais semanas.
venção e controle das doenças dos sistemas de
produção dos suínos são o vazio sanitário e a pro- Dimensionando a granja
gramação de lotes no sistema all in-all out (todos O que determina o tamanho de uma granja de
dentro-todos fora) nas fases de maternidade, cre- produção de leitões ou ciclo completo é o número
che, recria e terminação. de matrizes produtivas. No planejamento de uma
O vazio sanitário pode ser definido como o granja, o que deve determinar o tamanho desse
período em que determinada instalação fica deso- plantel reprodutivo é o volume de produção alme-
cupada (sem animais), após lavada e desinfetada, jado, representado por cevados/semana, por lei-
até a entrada de outro lote. O vazio sanitário re- tões/semana ou quilogramas de suínos/ano. Já esse
duz significativamente o potencial de infecção e volume de produção é limitado, entre outros, pela
a transmissão de agentes patogênicos de um lote demanda de mercado, pela capacidade de investi-
mento e custeio do produtor e pela disponibilida- a redução cada vez maior da idade ao desmame,
de de área para destinação dos dejetos. A partir de visando aumentar os partos/fêmea/ano, costuma-
então estima-se uma produtividade e determina-se se trabalhar com números superiores a 13 partos/
107
o tamanho do plantel reprodutivo (matrizes) neces- gaiola/ano, ou seja, menos de 28 dias por ciclo des-
sário para conseguir a produção almejada. de a entrada da fêmea na maternidade, passando
Se no projeto a produtividade for subestimada, pela lactação, desmame, lavação/desinfecção e va-
haverá problemas de falta de espaço e superlota- zio sanitário. Entretanto, o desmame considerado
ção nas fases de crescimento (creche, recria e ter- precoce (abaixo de 19 dias) em granjas comerciais
minação), em contrapartida, se a produtividade for já foi uma prática adotada com vistas a aumentar
superestimada, a granja terá de aumentar o plantel o aproveitamento da fêmea e/ou melhorar o status
reprodutivo para atingir a meta almejada, resultan- sanitário dos leitões desmamados. Entretanto, a
do em problemas de espaço nas áreas de gestação e necessidade de que haja uma recuperação do apa-
maternidade. Seja no planejamento de instalações relho reprodutivo da matriz, a fim de que a taxa de
novas, seja em reformas ou adequações de manejo fertilidade e a de prolificidade se mantenham ou
de granjas já estabelecidas, é fundamental definir o melhorem no ciclo subsequente, e o alto custo nu-
fluxo de produção que pondere a otimização de uso tricional e adequação de ambiente para um leitão
de instalações, sem comprometer questões de bem extremamente imaturo determinaram a adoção da
-estar e sanidade. Explorar bem uma instalação é prática de desmame com idade mínima de 21 dias.
conseguir produzir alto volume de carne, manten- Portanto, atualmente, é interessante trabalhar com
do os custos baixos, compatíveis com um manejo um período de, pelo menos, 31 dias por ciclo (lote).
adequado que mantém a estabilidade sanitária. Dessa forma, consegue-se uma idade média de des-
mame dos leitões ao redor de 23 dias e uma idade
Dimensionando a área de reprodução mínima de 21 dias, com a possibilidade de trabalhar
Os setores de reprodução são compostos de com um período de aproximadamente 8 dias para
maternidade, gestação e reposição. Esta última serem divididos entre alojamento pré-parto e pos-
pode ser feita, em parte, em um setor de quaren- terior lavação, desinfecção e vazio sanitário entre
tena. No dimensionamento das instalações de re- lotes. Na prática isso representa espaço para 4,5 lo-
produção e na definição do fluxo deve-se levar em tes semanais de parto. Baseado nesses princípios,
conta o número de matrizes produtivas, a taxa de um exemplo de dimensionamento de maternidade
reposição, a meta de idade de primeira cobertura para uma granja de 1.150 matrizes é o seguinte:
das leitoas, o vazio sanitário da maternidade e a »» Número de matrizes produtivas: 1.165
área de circulação. »» Partos/porca/ano: 2,50
Para esse cálculo todas as matrizes que já fo- »» Partos semanais: 56 (2,50 p/p/a x 1.165 por-
ram inseminadas (cobertas) ao menos uma vez são cas/52 semanas)
consideradas produtivas, incluindo fêmeas no in- »» Número de lotes: 4,5 (31,5 dias de ocupação
tervalo desmame cobertura (IDC) e matrizes para / sete dias)
descarte que ainda estejam alojadas na granja. »» Número de gaiolas de maternidade na gran-
ja: 252 (56 partos semanais x 4,5 lotes)
Maternidade »» N° de partos/gaiola de matern./ano: 11,55
Uma das maneiras de definir o grau de explora- (56 partos semanais x 52 sem./252 gaiolas)
ção do plantel reprodutivo de uma granja é através Cada lote pode ocupar uma ou mais salas. A van-
do n° de partos/gaiola de maternidade/ano. De fato tagem de ter mais salas por lote está na flexibilidade
a maternidade tem sido apontada como um dos em se desmamar em mais do que um dia por semana,
maiores entraves da produção, limitando a amplia- dividindo as atividades ao longo da semana e permi-
ção do plantel temporária ou definitivamente. Com tindo uma idade de desmame mais uniforme. Porém,
essa situação, além de encarecer a construção (mais O espaço de circulação deve ser equivalente ao
paredes portas e corredores), também pode dificul- tamanho do lote semanal de cobertura (62). Caso a
tar o manejo, por não concentrar todos os animais granja pratique o desmame localizado, ou seja, em
108
do mesmo lote em um só ambiente. área específica e não na linha de cobertura, então
A alta prolificidade de determinadas linhagens essa área deve equivaler a dois lotes de cobertura,
genéticas, com mais de 14 leitões vivos por parto, em nesse caso, 124 espaços de área para circulação.
média, trouxe mais um desafio em termos de manejo A reserva técnica representa a área utilizada
das instalações: o uso de mães de leite na sala de parto para situações em que o plantel aumenta tempo-
para absorver os leitões excedentes. Nesse caso, não rariamente. As principais ocorrências que levam a
é absurdo prever a instalação de mais algumas gaiolas esse aumento do plantel são: queda temporária da
de maternidade específicas para esse fim. taxa de parição, aumento da taxa de reposição e
atraso na retirada de descartes.
Gestação e reposição No caso da queda da taxa de parição se, por
Tomando o exemplo anterior, sobre a granja de exemplo, ela cair de 90% para 87%, a granja em ques-
1.165 matrizes, para a qual se dimensionou um to- tão passaria a cobrir duas fêmeas a mais por semana
tal de 252 gaiolas de maternidade, deve-se primei- para manter o número de partos almejado. Sabe-se
ramente calcular o estoque médio de reprodutores que cada cobertura a mais por semana como meta
(machos e fêmeas). Com base no plantel produtivo representa mais 20 fêmeas produtivas no plantel. O
(1.165), define-se o estoque médio de marrãs de re- aumento temporário da reposição pode ocorrer por
posição, levando-se em consideração a idade média problemas de logística no fornecimento de matrizes,
de entrada e de cobertura dessas marrãs e a taxa de bem como por atraso na retirada dos descartes. En-
reposição anual: fim, a reserva técnica é uma segurança que a gran-
»» Plantel produtivo: 1.165 ja tem para manter as condições de lotação e fluxo,
»» Taxa de reposição anual: 45% mesmo em situações de contingenciamento de cur-
»» Idade média de entrada: 150 dias to e médio prazos. Pode-se determinar um acrésci-
»» Idade média da primeira cobertura: 220 dias mo de 3% de espaços como reserva técnica, o que
representa, neste exemplo, mais 40 espaços.
Então: Sintetizando, o espaço total necessário para
»» Reposição anual: 525 marrãs (45% de 1.150) todo o plantel reprodutivo de uma granja de 1.165
»» Estoque médio de marrãs: 100 matrizes produtivas é de 1.449.
»» (525 por ano/52 semanas = 10/semana) Considerando que a maternidade dessa granja
»» (10 por semana X 10 semanas entre entrada possui 252 gaiolas e o espaço total necessário da
e cobertura = 100) granja é de 1.449, então, no setor de reposição e ges-
Se a granja trabalha com inseminação artificial tação, são necessários 1.197 espaços (1.449 – 252).
tradicional, calcula-se um macho para cada 150 ma-
trizes, ou seja, oito machos em coleta (podem ser Dimensionando as áreas de
alojados em setor específico, em separado). Com creche, recria e terminação
os rufiões, o total de machos dessa granja chega ao As fases de crescimento e engorda represen-
redor de 20. Ou seja, a granja terá, em média, um tam o local onde o suíno passa a maior parte de
estoque de 1.285 reprodutores (1.165 matrizes pro- sua vida e onde há o maior consumo de ração da
dutivas + 100 marrãs + 20 machos). Entretanto, essa granja (custo). Além disso, perder um suíno pró-
área não é suficiente para que o fluxo da granja seja ximo à idade de abate traz maiores prejuízos que
executado adequadamente. É preciso definir ainda nas demais fases de crescimento, tendo agregado
um espaço para circulação e também uma área extra a este todos os custos anteriores. No planejamen-
que pode ser chamada de reserva técnica. to de instalações e do fluxo de produção nas fases
de creche, recria e terminação, além do período de Em qualquer uma das fases de crescimento
vazio sanitário e idade de transferência e venda, é (creche, recria ou terminação), a fórmula básica
preciso considerar o tamanho do lote, o tamanho para definir o número de lotes por fase é a seguinte:
109
das subdivisões do lote (grupos), o espaço por ani- Número de lotes = (período de ocupação + va-
mal (m2) e a forma de arraçoamento (automático, zio sanitário)/intervalo entre lotes
manual, controlado, à vontade etc). Todos esses O período de ocupação nada mais é do que a
itens interferem no dimensionamento e desenho idade média de saída da fase menos a idade média
das instalações. de entrada. Por exemplo, em uma granja que des-
Em fins da década de 90, quando grandes pro- mama com 21 dias e faz a descreche com 63 dias,
jetos de suinocultura começaram a surgir, a fim de o período de ocupação da creche é de 42 dias. O
otimizar as construções, reduzindo o valor do in- vazio sanitário deve ser de quatro a sete dias e o in-
vestimento e visando também à otimização da mão tervalo entre lotes é múltiplo de sete. Dependendo
de obra, a suinocultura brasileira migrou em mas- do tamanho do lote, ele pode ser alojado em uma
sa para sistemas que trabalhavam com alojamento ou mais salas.
de grandes grupos (subdivisões de lotes) nos se-
tores de crescimento. Baias “gigantescas” que, em Creche
alguns casos, tinham a capacidade dimensionada O desmame é um dos momentos mais críticos
para mais de 100 animais, permitiam um aprovei- no sistema de produção de suínos. Fatores sociais,
tamento de área construída e de equipamentos sanitários, imunológicos, nutricionais e de ambien-
instalados que pareciam revolucionar o manejo, te, decorrentes da separação do leitão de sua mãe
desde a creche até a terminação. Após o advento e de sua transferência para outra instalação, muito
da circovirose, percebeu-se que esse modelo, com diferente da maternidade, têm consequências so-
a mistura de animais de muitas origens (leitegadas bre seu desempenho subsequente.
ou mesmo granjas diferentes), do ponto de vista Assim como na maternidade o número de gaio-
sanitário, pode determinar, no longo prazo, per- las é dimensionado sobre a performance produtiva
das de performance muito maiores que a econo- (alvo de cobertura e taxa de parição), na creche e
mia na construção da granja. Em contrapartida, o demais setores de crescimento, o número de espa-
arraçoamento automático, com comedouros para ços depende do número de desmamados por por-
até 50 animais, em que o próprio suíno aciona o ca/ano. Com a constante evolução genética não é
comedouro, embora determine uma otimização absurdo projetar números iguais ou superiores a
na mão de obra, mostrou-se relativamente inefi- 35 leitões desmamados/porca/ano.
ciente tanto na fase em que o animal precisa in- Tomando como exemplo a mesma granja com
gerir o máximo de ração possível (creche), quanto 1.165 matrizes, e uma produtividade de 30 desma-
na fase em que o consumo precisa ser controlado mados/porca/ano, cada semana de produção (lote)
(fase final de terminação), a fim de obter ganhos deverá ter espaço para 672 animais. O espaço por
na conversão alimentar e na qualidade da carcaça. animal na creche depende do tipo de piso e da ida-
Esse sistema, com ração disponível à vontade, por de (peso) de saída. Com idade de saída de 63 dias,
si só não estimula de forma eficiente o consumo na deve-se trabalhar com 0,30m2/animal alojado para
creche (desperdício de rações caras) e não limita pisos com mais de 80% da área vazada e 0,35 a
o consumo na terminação. Ou seja, na concepção 0,40m2 para pisos com menos de 50% da área vaza-
das instalações e do fluxo de produção nos setores da. Caso a saída de creche seja aos 70 dias, deve-se
de crescimento, é preciso ponderar o custo da ins- aumentar a área de creche em mais 0,05m2/animal
talação, a disponibilidade e custo de mão de obra, alojado. Por se tratar de uma instalação mais cara,
o sistema de arraçoamento, a performance alme- deve-se objetivar, sempre que possível, a saída de
jada e o tamanho dos lotes. creche aos 63 dias.
Considerando um piso totalmente ripado de cre- mesma capacidade por baia, ou dividir essa capacida-
che, um rebanho de 1.165 matrizes com produtivi- de em duas ou mais baias, nunca o contrário (agrupar
dade de 30 desmamados/porca/ano e idade de saída baias diferentes da creche em uma só baia na recria).
110
de creche de 63 dias, então a referida granja precisa Para definir o número de lotes na recria e termi-
de um espaço de 200m2 de área livre/lote semanal nação, é preciso determinar o número de dias de ocu-
(descontados corredores, divisórias e área ocupada pação, a partir do peso de entrada e do GPD na fase:
por comedouros). Assim como na maternidade, esse Cálculo de número de lotes na recria/terminação:
lote semanal pode ser alojado em duas salas ou mais. »» Peso de saída de creche: 25kg
Como o período de ocupação dessa creche é »» Peso de abate: 110kg
de 42 dias (seis semanas), então deve-se projetar o »» GPD de recria/terminação: 0,870kg
espaço para sete lotes, com uma semana para lava- »» Dias de ocupação na fase: 98 dias (110 -25) /
ção, desinfecção e vazio sanitário. 0,870) = 14 lotes
»» Lavação, desinfecção e vazio sanitário entre
Recria e terminação lotes: sete dias (um lote)
A fase de recria ou crescimento está convencio- Nesse exemplo o espaço total de recria/termi-
nada entre a saída de creche até mais ou menos 110 nação, sem transferência intermediária da recria
dias de vida, pode ser um setor separado da termina- para a terminação é de 15 semanas (lotes), conside-
ção ou feito de forma contínua, na mesma instalação, rando 14 semanas de ocupação e uma semana para
sem a necessidade de transferência. O fracionamen- lavação, desinfecção e vazio sanitário entre lotes.
to dessas duas fases é feito em função da redução Algumas empresas preferem construir uma instala-
de área construída, pois pode-se trabalhar com ção extra, aumentando a capacidade para mais um
uma área/animal alojado de 0,65 a 0,75m2 na fase lote, como forma de assegurar espaço para eventu-
de recria, enquanto a área de terminação deve tra- ais problemas de logística ou mercado na venda dos
balhar com uma área proporcional ao peso previsto animais, ou necessidade de represar animais por
de venda. Na terminação, em separado da recria ou problemas transitórios de baixo desempenho (GPD
como uma fase contínua (recria/terminação) a área inferior ao planejado).
recomendada é de 0,01m2/kg de venda, ou seja, se, No caso de granjas que tenham a recria separa-
por exemplo, a granja abater os animais com 110kg da, deve-se considerar um espaço extra para lava-
de peso vivo, recomenda-se trabalhar a terminação ção, desinfecção e vazio sanitário entre as duas fa-
com uma área livre de 1,1m2 /animal alojado. A área ses, ou dividir o vazio de uma semana entre a recria
destinada à lâmina d’água, quando se faz uso desse e a terminação, o que é arriscado do ponto de vista
recurso, não deve ser considerada área útil. sanitário e mesmo do ponto de vista prático, pois
Sanitariamente, é recomendável que o mesmo nem sempre se consegue cumprir com a lavação e
subgrupo (baia) seja transferido da creche para as desinfecção em prazo ágil, em função de eventuais
fases subsequentes. Ou seja, se a creche aloja 35 ani- problemas de logística de venda e carregamento
mais por baia, a recria e a terminação devem manter a dos animais.
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O
fluxo dos animais em granjas de suínos é mero de animais alojados durante as primei-
reconhecido há tempos por ser um impor- ras sete semanas após o desmame;
tante fator que contribui para otimizar »» Uso mais eficiente das instalações: a instala-
a produção. Wean-to-finish é uma instalação que ção fica sem animais (lavagem, vazio sanitá-
aloja leitões desde o desmame até o peso de abate. rio) 2,1 vezes por ano comparado à creche,
O sistema Wean-to-finish (WF) foi desenvolvido na que fica de seis a oito vezes, e a terminação,
região central dos Estados Unidos na década de que fica ao redor de 2,7 a 3,1 vezes ao ano.
90 e atualmente é encontrado em diversos outros
países. Nesse sistema, os leitões, em vez de serem Limitações do sistema
transferidos para creche quando desmamados e, »» Custo da instalação: maior área construída;
posteriormente, para a terminação, são transferi- »» Custo de energia e ou gás (aquecimento);
dos diretamente para uma granja onde ficam até »» Necessidade de maior treinamento de toda a
o abate. Essa granja deve ser capaz de fornecer equipe – mais funcionários necessitam ser treina-
ambiente e instalações adequados para leitões de dos para trabalhar com leitões pequenos;
seis até 125-145kg. Esse sistema tem como objetivo »» O fluxo de produção deve ser grande o su-
simplificar o fluxo de produção, a logística, os custos ficiente para preencher uma instalação de
com transportes, mão de obra, lavagem das instala- 1.200 animais;
ções e reduzir os desafios sanitários, assim como o »» Menor número de lotes por ano;
estresse devido ao estabelecimento de nova hierar- »» Maior desafio para leitões desmamados leves
quia social entre os leitões. Como regra, o sistema (menos de 5kg) ou de baixa idade (< 18 dias).
WF possui vantagens e limitações que devem ser
entendidas e consideradas no momento da tomada Fluxo de animais
de decisão sobre usá-lo ou não. Além do fluxo convencional, em que os leitões
são transferidos da unidade de produção de leitões
Vantagens do sistema (UPL) para a creche e, posteriormente, para a termi-
»» Menores custos com transporte de leitões; nação (Fluxograma 1), existe o sistema WF tradicio-
»» Menores custos com mão de obra (embar- nal e o sistema WF com alojamento duplo.
que, desembarque, lavagem de galpões, for- No sistema WF tradicional (Fluxograma 2), os
mação de lotes/baias); leitões chegam com aproximadamente 6kg e são
»» Redução de estresse por transporte e mistu- mantidos até o peso de abate, que pode variar de
ra de animais; 125 a 145kg, dependendo do sistema de produção
»» Fluxo de produção simplificado; e do mercado.
»» Potencial diminuição na mortalidade; No sistema de WF com alojamento duplo, o
»» Potencial aumento no desempenho; dobro do número normal de leitões desmamados
»» Menor consumo de água e produção de dejetos; é alojado na instalação, com o objetivo de fazer
»» Maior flexibilidade: é possível dobrar o nú- melhor uso dela e dos espaços vazios e, consequen-
temente, menor custo com mão de obra e com ener- a produção optaram por não mais investir em cre-
gia/gás para aquecimento. Com isso, é possível usar ches, mas em unidades de WF.
melhor a mão de obra capacitada, além de manter
112
um melhor aquecimento da instalação com menor
consumo de gás ou energia. Quando os leitões atin-
gem 25kg, metade dos animais alojados é transferi- Unidade de
Creche Terminação
produção de leitões
da para uma terminação convencional, granja esta
que muitas vezes faz parte do sistema de produção
da empresa dedicada somente à fase de terminação.
Portanto, no sistema WF com alojamento duplo, Fluxograma 1 – Fluxo da unidade de produção
de leitões para creche e terminação.
metade dos leitões alojados é transferida duas ve- Fonte: Piva & Gonçalves, 2013
Comedouros
Um comedouro de quatro bocas recebe entre
nove e 18 mil dólares de ração por ano. Visto que
113
70 a 80% do custo de produção de suínos são pro-
venientes da ração e que atingir ótimas conversões
alimentares, pouco desperdício de ração e adequa-
do ganho de peso são uma meta compartilhada por
todos, o investimento inicial em comedouros de
altíssima qualidade se faz necessário. Normalmen-
te, os comedouros utilizados são automáticos (foto
1, para facilitar o manejo e otimizar a mão de obra.
Foto 1 - Comedouro automático
Além disso, é recomendado que a divisória entre Fonte: Piva, 2013
se fazem necessários para manter a correta dispo- animais nos tipos “chupeta fixa” e “chupeta pendular”.
nibilidade de ração para os animais, a fim de evitar Pesquisadores estudaram o consumo de água em
úlceras, torções e canibalismo. comedouros tradicionais (sem bebedouro embutido
114
Alguns sistemas utilizam comedouros com be- e com bebedouro “chupeta fixa” na baia) versus come-
bedouros embutidos. Esse tipo de comedouro pode douros com bebedouros embutidos. O consumo diá-
proporcionar até 5% de melhoria em ganho de peso rio de água por suíno foi de 4,5 e 6,0 litros para come-
diário e ser utilizado por um número maior de suínos douros com bebedouros embutidos e comedouros
por boca. O impacto desse tipo de comedouro sobre tradicionais, respectivamente. Os mesmos autores
a conversão alimentar é variável. Em experimentos compararam o consumo de água dos leitões em baias
recentes com leitões desmamados, leitões com com bebedouros tipo “chupeta pendular” versus
acesso a comedouros secos tiveram desempenho “chupeta fixa”. Cada leitão consumiu 5,0 litros de
melhor do que os com acesso a comedouros com água por dia em baias com bebedouros tipo “chupeta
bebedouros embutidos. pendular”, enquanto leitões com bebedouros tipo
“chupeta fixa” consumiram 5,5 litros de água por dia.
Ao comparar bebedouros tipo “taça” versus “chupeta
pendular”, os resultados foram 3,8 e 5,0 litros de água
consumidos diariamente por leitão, respectivamen-
te. Em geral, existe uma preferência pelo bebedouro
tipo “taça”, já que permite menor desperdício de água
Foto 3 - Ajuste de comedouro para fase de terminação
Fonte: Kansas State University, 2013
e, consequentemente, menor produção de dejetos e
melhor aproveitamento de medicação via água.
Baias
As divisórias das baias do sistema WF podem
ser de grades ou de concreto (sólido ou vazado).
Normalmente, as divisórias das baias são de grades,
o que facilita a limpeza e ventilação, e é necessária a
disposição de barras extras na metade inferior das
Foto 4 - Comedouro com bebedouro embutido
Fonte: Bergstrom et al., 2012
grades para que não permitam a passagem de lei-
tões recém-desmamados. A largura dos corredores
varia de 70 a 90 centímetros.
Bebedouros Por questões operacionais e de manejo, para ins-
Da mesma maneira que os comedouros, talações de WF, o piso normalmente é de con-
os bebedouros devem ser ajustáveis para creto 100% vazado com 2,5cm de largura
leitões desde a fase inicial de creche até a de fresta, 15cm de largura do ripado de
fase final de terminação. Os bebedouros concreto, 12cm de altura, 6 frestas por
disponíveis são: tipo “taça”, tipo “chupe- peça de concreto e 120cm de largura
ta fixa” e tipo “chupeta pendular”. total. No entanto, a diretiva europeia
A vazão de água deve ser de, no de bem-estar animal, que entrou em
mínimo, 500ml por minuto para leitões vigor em janeiro de 2013, recomenda
até 25kg e 1 litro para leitões acima de no máximo 1,4 a 1,6cm de fresta e no
25kg. É recomendado que se tenha um mínimo 5cm de ripado para leitões de
bebedouro para cada 20 animais no creche e no máximo 1,8 a 2,1cm de
Foto 5 - Bebedouro tipo “taça”
tipo “taça”, um bebedouro para cada 12 (Fonte: HogSlat, 2013) fresta e no mínimo 8cm de ripado para
Consumo Ventilação
Consumo Conversão Temperatura
Semana Peso, kg GPD, g alimentar mínima,
116 médio diário alimentar ideal, °C
cumulativo CFM*/suíno
0 4 29 1,1
1 5 149 0,4 1,00 2,8 27 1,4
2 3,7 220 0,64 1,08 7,3 26 1,6
3 8,9 321 1,03 1,20 14,5 25 1,9
4 11,5 407 1,41 1,29 24,4 24 2,2
5 14,9 447 1,62 1,35 35,8 23 2,6
6 18,6 548 2,06 1,40 50,2 22 3,0
7 22,7 597 2,3 1,44 66,3 21 3,4
8 26,8 615 2,44 1,48 83,4 20,5 4,0
9 31,3 634 2,58 1,51 101,4 20 4,6
10 35,4 654 2,73 1,57 120,5 19 5,2
11 40,3 675 3,06 1,69 142,0 18,8 5,4
12 44,7 697 3,38 1,81 165,6 18,8 6,0
13 49,6 716 3,68 1,92 191,4 18,8 6,7
14 52,8 731 3,96 2,03 219,1 18,8 7,3
15 59,5 739 4,21 2,12 248,6 18,8 8,0
16 61,9 746 4,44 2,22 279,7 18,8 8,7
17 70,2 753 4,65 2,31 312,2 18,8 9,4
18 75,4 753 4,83 2,39 346,0 18,8 10,1
19 80 753 4,99 2,48 380,9 18,8 10,8
20 86,2 750 5,13 2,56 416,9 18,8 11,5
21 91,4 746 5,26 2,64 453,7 18,8 12,2
22 93,6 739 5,37 2,73 491,3 18,8 12,9
23 101,8 731 5,47 2,81 529,6 18,8 13,6
24 106,7 720 5,55 2,89 568,4 18,8 14,3
25 111,9 709 5,63 2,98 607,8 18,8 15,0
26 116,8 697 5,69 3,07 647,6 18,8 15,7
27 121,6 686 5,75 3,16 687,9 18,8 16,3
28 126,5 671 5,79 3,25 728,4 18,8 17,0
*CFM: Pés cúbicos por minuto. Fonte: Adaptado de PIC, (2008)
Tabela 5 – Benchmarking com metas e níveis de intervenção para creche, terminação e Wean-to-Finish
Indicadores de desempenho Meta Nível de intervenção
Ganho de peso diário, kg/dia
Creche >0,450 <0,410
Terminação >0,860 <0,770
Wean-to-finish >0,770 <0,700
Conversão alimentar
Creche <1,45 >1,65
Terminação < 2,5 >2,8
Wean-to-finish <2,4 >2,6
Conversão energética, kcal EM/kg 1
duas semanas após alojamento e no embarque dos Dentro da realidade atual da suinocultura,
animais para o abate. Em geral, funcionários treina- o sistema Wean-to-Finish apresenta vantagens
dos para fazer as rotinas diárias de um sistema de econômicas e operacionais, porém estas podem
119
terminação convencional necessitam de um trei- variar de região para região, de acordo com os cus-
namento específico quando forem trabalhar com tos das instalações, equipamentos, combustível
sistema de WF. e disponibilidade de mão de obra. As vantagens
estão concentradas no menor custo com mão de
Impacto sobre o desempenho obra, na simplificação da operação, da logística e
e mortalidade possíveis ganhos com desempenho zootécnico. As
É comum observar melhorias no ganho de desvantagens estão relacionadas, principalmente,
peso e no percentual de animais vendidos sem com maiores custos com instalação, necessidade
condenações de carcaça, porém existe muita de leitões mais pesados e treinamento mais apro-
dependência da qualidade dos animais na fase ini- fundado de um maior número de funcionários.
cial, das condições de ambiente, das instalações e Em certos países, o Wean-to-finish como sistema
do manejo. de produção é uma tecnologia validada e preferida
Em 2012, foram comparados 24.601 resultados dentro de muitas empresas, porém, dependendo
zootécnicos de lotes fechados padronizados para da realidade de cada empresa, existem períodos em
gerar médias ponderadas entre os sistemas de cre- que o sistema tem certos desafios principalmente
che, terminação e WF (tabela 4). na parte operacional devido à necessidade de man-
Em média, em baias com piso parcialmente ter um maior número de pessoas treinadas para
vazado, uma redução de 3% em espaço por leitão trabalhar com leitões recém-desmamados.
irá diminuir o ganho de peso médio diário em 1,5%. Quando planejar a execução de uma nova insta-
Nesse estudo, não foram encontradas diferenças em lação ou a ampliação de um fluxo de produção, é im-
desempenho dos leitões alojados em baias de 25, 50 portante fazer isso pensando nos próximos 20 anos.
ou 100 leitões. Os aumentos contínuos nos custos com transporte,
Na tabela 5 é possível observar os resultados aquecimento de instalações, escassez de mão de
esperados e os níveis de intervenção para creche, obra, fazem do Wean-to-finish uma opção de sistema
terminação e WF. de produção.
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pig performance in a multisite production system.
É
possível criar suínos sem o confinamento em baixo custo de implantação, quando comparado ao
todas as fases ou em algumas fases da criação. sistema confinado. Pesquisas da Embrapa Suínos e
Esses sistemas de criação existem em outros Aves mostram que o custo de implantação por ma-
países, tais como França (lá é chamado de plein air– triz alojada no SISCAL representa 44,72% do custo
fotos 1 e 2) e Inglaterra. Na Europa surgiu na década de implantação do sistema confinado. Assim sendo,
de 50, e, no Brasil, na década de 80. No inglês é co- pode ser uma boa opção para os suinocultores que
nhecido como outdoor. irão iniciar uma criação de suínos e não querem
No Brasil, o sistema intensivo de suínos criados ou não podem fazer um investimento inicial muito
ao ar livre é conhecido como SISCAL. O SISCAL é grande; que têm sua a criação instalada e, para apro-
caracterizado por manter os suínos em piquetes veitar o preço bom dos suínos em determinadas
com boa cobertura vegetal nas fases de reprodução, épocas, querem aumentar a sua produção.
maternidade e creche, cercados com fios e/ou telas
de arame eletrificado, através de eletrificadores Detalhes para implantação de um SISCAL
de correntes alternadas. As fases de crescimento e Quanto ao local, o SISCAL não deve ser insta-
terminação (25 ao 100kg de peso vivo) ocorrem no lado em terrenos com declividade superior a 20%,
sistema confinado. O SISCAL consiste em um siste- dando-se preferência a solos com boa capacidade
ma que preconiza a criação de suínos em ambientes de drenagem. A área destinada aos animais depen-
abertos em piquetes de forrageiras formadas ou em de das condições climáticas, das características
áreas arborizadas, em cabanas ou abrigos, nas fases físicas do solo (drenagem, capacidade de absorção
de reprodução, gestação, lactação e recria (creche). de água e da matéria orgânica) e do tipo de cober-
Criados soltos, ao final da fase de creche, os leitões tura do solo (forragem). Em terrenos bem drenados
são terminados em confinamento. com boa cobertura vegetal, sugere-se para as fases
Esse sistema tem sido considerado uma opção de cobrição e gestação uma área de 800m2/matriz,
para reduzir o custo de produção, por apresentar dividida em quatro a seis subpiquetes, cuja ocupa-
ção deve ocorrer de forma alternada. O número de
matrizes por lotes não deve ser muito grande, no
máximo seis matrizes, para evitar problemas com a nar), mantendo o solo coberto nessa área,
competição por alimento e permitir o uso adequado a fim de permitir boa visualização dos fios e
das cabanas. evitar curtos-circuitos.
122
Para formação dos piquetes, alguns pontos pre- No caso da creche, deve ser cercada com tela
cisam ser observados: metálica de arame galvanizado, malha 4 ou 5, presa
a. O sistema deve ser implantado sobre gramí- ao chão. Pela parte interna do piquete, colocar um fio
neas resistentes ao pisoteio, de baixa exigên- de arame eletrificado (corrente alternada), a 10cm
cia em insumos, perenes, de alta agressivida- do solo, até a primeira semana após o desmame; após
de, estoloníferas e de propagação por muda esse período, a corrente elétrica pode ser desligada.
ou semente, tais como uma combinação das No tocante à alimentação (água e ração), a ex-
seguintes gramíneas: missioneira (Aronopus periência demonstra que, quanto aos bebedouros
compressus), hematria (Hematria altissima), e comedouros, as orientações adiante devem ser
estrela africana (Cynodon plectostachyius), seguidas. O bebedouro mais utilizado é o de vasos
bermuda (Cynodon dactylon) e quicuio (Pen- comunicantes com boia (Figura 1). O sistema de for-
nisetum clandestinum). No inverno semeia-se necimento de água deve ser feito mantendo-se uma
o azevém anual (Lolium multiflorum), época caixa d’água, como reservatório, num ponto mais
em que também ocorre o rebrote natural da alto do terreno. A canalização deve ser enterrada
aveia (Avena sativa) e vica ou ervilhaca (Vicia a uma profundidade de ± 35cm, evitando assim o
sativa), que são leguminosas. Na semeadura, aquecimento da água nos dias mais quentes. De-
deve-se ter o cuidado de não mexer muito na ve-se evitar que a água escorra para o interior dos
estrutura do solo. piquetes, impedindo a formação de lamaçal, o que
b. O tempo de ocupação dos piquetes deve ser pode ser feito com o uso de uma chapa coletora de
aquele que permita a manutenção constante água sob os bebedouros e sua colocação na parte
da cobertura vegetal sobre o solo e sua recupe- mais baixa dos piquetes. Os bebedouros devem
ração rápida. Em períodos com intensa pluvio- ser limpos diariamente e protegidos da ação solar.
sidade ou seca, diminui o tempo de ocupação Com o uso do sistema de rotação dos piquetes, os
devido ao desgaste da pastagem e do solo. bebedouros que não estão sendo usados devem ser
c. Com o objetivo de facilitar a limpeza do solo sob desligados do sistema de fornecimento de água, im-
a cerca, sugere-se colocar dois fios de arame pedindo-se assim o desperdício de água.
nos piquetes de cobertura, pré-gestação, ges- Os comedouros devem ser móveis e confec-
tação e maternidade a 35 e 60cm do solo. cionados com materiais leves e resistentes, tais
d. Deve-se limpar constantemente o local sob como madeira dura ou de lei, metal e pneu, com o
as cercas, através do ato de roçar (não capi- objetivo de trocá-los de local com facilidade. Com
Os suínos, quando mantidos em piquetes, vol- cendo a erosão. Existem citações na literatura que
tam a exercitar seu hábito, inerente à espécie, de falam a respeito de uma alternativa para evitar que
fuçar e revolver a terra. Por meio desse hábito, des- os animais fuçem o solo, que é a utilização da prática
124
troem as pastagens de cobertura do solo, favore- do destrompe.
Bibliografia
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A
organização de grupos de fêmeas com mes- Com a adoção do MEB, otimizam-se as insta-
mo período sexual proporciona a formação lações, já que os lotes são divididos por tamanho,
de bandas de reprodutoras, com cobertura e número e disposição das diferentes salas, com uma
partos sincronizados, que podem ser a cada sete dias taxa ótima de ocupação, respeitando uma correta
ou superior como: 14, 21, 28 dias, múltiplos de sete. densidade em cada fase.
Muitos esforços têm sido feitos para aperfeiçoar Nesse manejo há maior controle da reprodução
e identificar qual sistema de bandas é mais efetivo, pela melhoria na observação do cio, bem como me-
considerando as características de cada sistema de lhor previsão e planejamento das coberturas, o que
produção. A seleção do intervalo entre bandas é feita facilita programar a reposição. Por meio da concen-
pelo número total de fêmeas, disponibilidade de mão tração dos partos consegue-se uma transferência
de obra e perspectiva de crescimento da granja. mais efetiva de leitões entre as matrizes. E sob o
O objetivo do manejo em bandas (MEB) é pla- ponto de vista da sanidade, possibilita a aplicação de
nificar/planejar diferentes fases da produção: des- profilaxia de grupo.
mame, cobertura, partos, pós-desmame (creche), A produção em bandas torna mais fácil a ob-
crescimento e terminação. servação dos animais em diversas fases, melho-
O MEB consiste em dividir as fêmeas em vários rando os resultados de fertilidade, prolificidade,
grupos ou bandas do mesmo tamanho com intervalos diminuição das perdas na maternidade por esma-
regulares, em diferentes locais (salas) previamente gamento e diarreia.
desinfetados e adaptados às diversas fases fisiológicas, Com a obtenção de lotes de leitões mais ho-
nos quais os animais são introduzidos e retirados de mogêneos, com a redução da diferença entre as
uma única vez, no conceito de todos dentro/todos fora. idades dos animais de cada lote, o que permite um
Uma das principais vantagens do MEB é a me- manejo ajustado nas diversas fases de alimenta-
lhoria do estado sanitário da produção, uma vez ção e nutrição, a classificação dos leitões por peso
que reduz as contaminações entre animais de dife- com a mesma idade melhora o rendimento na fase
rentes idades, auxilia em uma correta desinfecção, de recria e engorda.Com a adoção do manejo em
aumentando o tempo de vazio sanitário que sempre bandas, tem-se redução no custo de transporte,
ocorre no sistema todos dentro/todos fora. Ainda não havendo necessidade de carregamento se-
facilita na organização do trabalho pela planificação manal de lotes menores (MEB de duas ou mais
da mão de obra, tarefas e tempo, com as interven- semanas). Assim, a organização sistemática da
ções programadas de forma sistemática em cada produção permite melhorar a produtividade,
lote. Outro ponto de extrema importância é a espe- as previsões de alojamento, o planejamento do
cialização da mão de obra por fase de exploração ou carregamento e a venda dos animais, ajustando o
momento da produção (cobertura, desmame etc). fluxo de caixa da propriedade.
Consegue-se também uma diminuição do trabalho Cálculos necessários para o manejo em bandas.
aos finais de semana, melhorando o controle dos »» IDC - Intervalo desmame/cio, este pode va-
leitões recém-nascidos. riar de uma granja para outra;
7+114+20
NL = NSC = nº dias de ocupação + vazio sanitário
21
intervalo entre lotes
NL = 6,71 número de lotes = 6 Capacidade da sala de creche = média de leitões
desmamados por fêmea X nº fêmeas por lote.
»» Variação do número de bandas em função Capacidade total da creche = capacidade de
da idade média do desmame em diferentes cada sala (em cabeças) X nº sala de creche.
intervalos entre os lotes.
Número de salas de terminação:
Número de fêmeas por lote: NST = nº dias de ocupação + vazio sanitário
intervalo entre lotes
total do plantel
NFL = Capacidade necessária para terminação (em
número lotes
cabeças) = nº de animais em engorda por banda X nº
Número de salas de maternidade de salas de terminação.
Ocupação (pré-parto + O ponto mais importante e que deve ficar
lactação) + vazio sanitário
NSM = claro é que não há um sistema em bandas ideal
intervalo entre lotes
nem uma regra para a escolha do melhor MEB.
5 + 114 + 21
Deve ser feita uma análise cuidadosa dos fatores NL = = 20 lotes x 2 = 40 lotes
7
de cada propriedade e um diagnóstico do sistema
mais adequado. Independentemente do tamanho ou do número
127
O planejamento de produção de suínos é feito de lotes, deve-se levar em consideração o número
com planilhas que utilizam números considerados em dias, para cobertura, e, assim, os partos também
ótimos, mas, na prática, podem ocorrer alguns ocorram com uma pequena variação de dias, o que
desvios. Por isso deve-se realizar um trabalho faz com que a leitegada não apresente diferença
responsável, com dedicação e registro de todas as significativa.
atividades. O MEB em intervalo semanal apresenta como
Em MEB superior a uma semana, pode haver ne- principais vantagens os itens abaixo:
cessidade de uma sala tampão, devido à cobertura »» Grande flexibilidade de utilização, adaptado
de fêmeas fora do melhor período ou a uma taxa de para todos os sistemas de produção; Facili-
parição superior à planejada. dade de introdução de fêmeas de reposição;
Utilização regular de machos (monta natu-
ral); Retorno ao cio, fácil reciclagem, pode ser
MEB – Semanal introduzido a qualquer momento;
O conceito básico de MEB deve ser levado em »» Necessidade regular de mão de obra por tur-
consideração nesse sistema, em que são muito co- no de trabalho e especializada.
muns erros de metodologias e constantemente são Dificuldade em alcançar o objetivo de parto é
tomadas granjas de fluxo contínuo, onde partos e provavelmente o maior problema do MEB semanal.
coberturas ocorrem todos os dias com o desmame Existindo uma tendência em cobrir mais ou menos
em dia fixo da semana, muitas vezes tido como ma- fêmeas por banda, essa situação é facilmente corri-
nejo em bandas semanal. gida, adiantando ou atrasando o desmame.
Esse modelo de manejo é mais adequado para A introdução de animais de reposição no lote,
granjas com maior capacidade de alojamento de algumas vezes, é feita fora do período melhor de
fêmeas, o que permite ter pessoas especializadas cobertura, diariamente ao longo da semana, ficando
trabalhando em todos os setores. o acerto também para o desmame.
Existem granjas que fazem mais de um desma- Assim, semanalmente, repetem-se as ativi-
me por semana, com isso o número de lotes da pro- dades como: transportes de fêmeas, lavagens e
dução é multiplicado pelo número de desmames. desinfecção de salas, partos, aplicação de ferro,
castração, desmame, aplicação de vacinas, vendas,
Exemplo: cobrições, etc.
Granja com dois desmames semanais com 21 Para MEB em intervalos de duas e quatro sema-
dias em média de lactação. nas (14 e ou 28 dias), há uma diminuição no número
de lotes, aumentando o intervalo entre esses, o que preparação e adaptação das leitoas fundamental,
contribui para uma maior estabilidade sanitária do para que o cio ocorra na semana e dias de cober-
plantel. Esse manejo possibilita que as granjas, nas tura dos lotes.
quais as instalações não estão bem dimensionadas, O manejo das fêmeas que retornam ao cio tem
trabalhem no conceito de todos dentro/todos fora. pouca flexibilidade, pois nesse tipo de MEB há um
A concentração do trabalho de observação de período de cobertura diferente do ciclo estral das
cio e cobertura torna o desempenho mais eficiente matrizes, sendo necessário, para algumas fêmeas, o
por parte dos funcionários, principalmente em descarte prematuro ou cobertura fora do período,
granjas de pequeno e médio porte, que não estão comprometendo o sistema todos dentro/todos
setorizadas. fora. Uma opção para atingir o alvo de parição, nesse
Com atraso nas coberturas dos lotes, haverá co- caso, seria a reposição de animais gestantes dentro
berturas e partos no mesmo dia, forçando uma das do quarto sítio.
atividades a ficar em segundo plano. O sistema de MEB em três semanas apresenta
Como principais vantagens do MEB de duas e melhor organização das tarefas nas granjas meno-
quatro semanas, podemos citar: res, com número reduzido de funcionários. Esse
»» Manutenção do número de reprodutoras; permite o agrupamento das atividades a cada sema-
Desmame pode ser feito com 21 dias de na, com melhor aproveitamento do tempo.
média; Aumento no número de leitões para Nesse tipo de MEB as principais atividades
carregamento; Maior homogeneidade em ocorrem em semanas distintas, como parto, desma-
peso e idade dos animais de creche, recria- me e cobertura, já que o manejo deve estar de acor-
terminação. do com o ciclo hormonal da fêmea suína.
Nesse conceito há dificuldade de introdução O MEB em três semanas apresenta como princi-
de leitoas de reposição, tornando o manejo de pais vantagens:
»» Especialização do trabalho com a dedicação dotrofinas para indução de cio fértil pós-desmame,
nas diferentes semanas, havendo mais tem- prostaglandina para indução do parto. As leitoas
po e atenção para cada atividade; com cio no mesmo dia ou em dias próximos são
129
»» Nesse manejo a idade de desmame é um ele- agrupadas em uma mesma baia, sincronizando os
mento importante e permite desmamar os próximos cios e formando o lote de reposição para a
leitões mais velhos e pesados, sendo estes semana de cobertura. Utilizando-se de hormônios,
menos exigentes quando chegam à creche. faz-se a aplicação de gonadotrofinas para induzir
Devido à dificuldade da entrada de animais a ovulação em leitoas acíclicas, preferencialmente
de reposição, as marrãs devem estar sincro- uma semana antes do período de cobertura, sincro-
nizadas para semana e dias de cobertura. É nizando os próximos estros. Através da aplicação
indispensável o planejamento e adaptação das de progestina sincroniza-se o cio de acordo com a
leitoas, para que se aproveite o cio natural com necessidade da semana e dia de cobertura da gran-
a semana de cobertura. ja. Nesse caso, fornecer por 18 dias o Altrenogest
Aumento da idade de desmame provoca uma 0,4%, por via oral, e retirá-lo no dia do desmame do
redução no ritmo reprodutivo partos/porca/ano lote, sincronizando a cobertura.
e utilização da sala de maternidade com um efeito Para transformar uma banda semanal em
direto no tamanho do plantel, com uma redução de duas de 14 dias, se houver espaço na maternida-
20 a 30% das fêmeas, o que não acontece no manejo de, a condição corporal da fêmea for adequada,
semanal, duas e quatro semanas. um lote será desmamado com 28 dias de lacta-
O MEB deve ser aplicado em granjas onde haja: ção e outro com 21 dias. Na semana seguinte,
»» dificuldade no vazio sanitário, manejo todos cobrem-se os dois grupos. Utilizando-se de hor-
dentro/todos fora; falha no planejamento e mônios, deve-se fornecer por via oral no dia do
reorganização de lotes; problema de pessoal, desmame o Altrenogest até o desmame do lote
distribuição de férias ou somente um traba- seguinte e interromper o fornecimento junta-
lhador; necessidade de aumentar o tamanho mente com o desmame do próximo lote. Os dois
do lote, melhorando as condições de trans- lotes serão cobertos na semana seguinte.
porte e comercialização, além do aumento da Passando de lotes semanais para três ban-
produtividade e rentabilidade. das, deve-se checar se as condições das instala-
Para formar lotes homogêneos deve-se veri- ções para alojar os leitões desmamados são ade-
ficar a situação atual do plantel reprodutivo, de quadas para receber leitões com idade e peso
acordo com o mapa de cobertura e previsões de menores. O desmame deve ser em três grupos,
partos e acertar o alvo de cobertura conforme um com 28 dias, outro com 21 dias e outro com
planejamento do tamanho do lote e o intervalo 14 dias de lactação, com cobertura dos três lotes
entre eles. Posteriormente fazer os ajustes ne- na semana seguinte.
cessários, que podem ser de forma natural ou pela Com a utilização de progestina, será feito o blo-
utilização hormonal. queio da atividade cíclica das fêmeas de acordo com
Para um ajuste natural, o tempo da lactação os desmames. No manejo semanal existem 20 a 21
depende do escore corporal da fêmea, espaço na grupos; no MEB 3 bandas, serão sete grupos. Para
maternidade e condições das creches para desma- a formação do primeiro lote (A), fornecer o altre-
me de leitões de menor peso e idade. Saltar o cio, nogest por via oral no dia do desmame por 14 dias e
quando o lote de fêmeas for maior que o número de retirá-lo no dia do desmame do lote (C). Ao segundo
animais a ser coberto no lote. grupo (B), no dia do desmame, fornecer altrenogest
O ajuste da banda pode ser realizado através da por um período de sete dias e retirá-lo no dia do des-
utilização de hormônios: progestina para bloquear mame do lote (C). O próximo grupo a ser desmama-
a atividade cíclica da fêmea pós-desmame, gona- do será o grupo (C) e interrompido o fornecimento
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www.3tres3.com> Manejo em bandas), Acesso 11 2013.
março 2013.
4 (BEA) Aplicado à
Produção de Suínos
É
crescente a preocupação dos consumidores 29.152 entrevistados na União Europeia demons-
com a forma como os animais são criados, traram alguma disposição de mudar o local usual
transportados e abatidos, pressionando as de compras para ter acesso a produtos com maior
agroindústrias ao desafio de um novo paradigma: grau de bem-estar animal. As indústrias e redes de
trate com cuidado, por respeitar a capacidade de comercialização reconhecem cada vez mais que a
sentir dos animais (senciência), melhorando não preocupação dos consumidores com o bem-estar
só a qualidade tecnológica dos produtos de origem animal representa uma oportunidade de negócios
animal (aparência, composição nutricional, pala- que pode ser incorporada com sucesso às estratégias
tabilidade, rendimento, segurança alimentar), mas comerciais. Um exemplo é a rede de fast food McDo-
também a qualidade ética que se refere ao modo nald’s, que, desde 2013, somente compra carne suína
como os animais foram criados, desde o nascimento e bacon de fornecedores no Reino Unido, com certifi-
até o abate. cação Freedom Food, na busca de elevar os padrões
A qualidade ética inclui todos os aspectos pla- de bem-estar e corresponder às expectativas dos
nejados e implementados da produção, transporte consumidores. Já na América Latina, a rede adotou
e abate dos animais para melhoria dos processos em 2014 o sistema de eliminação das gaiolas indivi-
pelos quais os animais são manejados. É importante duais para matrizes na fase de gestação, dando o pra-
distinguir a qualidade ética para gerar valor agrega- zo de dois anos para os fornecedores apresentarem
do ao produto que será destinado a um consumidor o planejamento da transição, do sistema de gaiolas
potencial, e com isso produzir um bem em si, nos individuais para gestação em grupo.
sistemas produtivos e em seus animais. Além de ser uma oportunidade de negócios,
Uma pesquisa de avaliação de consumidores o tema vem despertando interesse também nas
conduzida em 2007 revelou que mais de 63% dos instituições financeiras, um exemplo é a Corpora-
ção Financeira Internacional (IFC, Banco Mundial)
reconhecer que o bem-estar animal é um elemento
importante das operações comerciais relativas à
produção animal ao redor do mundo. De acordo com
a IFC, altos padrões de bem-estar animal são impor-
tantes para melhorar a eficiência e o lucro dos negó-
cios, para atender às expectativas dos consumidores
e satisfazer mercados nacionais e internacionais.
No Brasil, o Ministério da Agricultura, Pecuária
e Abastecimento (MAPA), por intermédio do Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES), abriu em 2013 uma linha de financia-
mento específico para a melhoria do bem-estar dos
Foto 1 – Consumidor selecionando o
produto na hora de decidir a compra animais no setor produtivo. O Programa Incentivo
A B
134
C D
Foto 2 A, B, C e D – Granja com gestação em grupo, maternidade, cria e recria em cama sobreposta
à Inovação Tecnológica na Produção Agropecuária bem-estar animal é uma forma de oferecer a produto-
(INOVAGRO) visa auxiliar os produtores rurais e res, processadores, varejistas e redes de restaurantes
as agroindústrias a adequarem os sistemas às boas uma oportunidade de agregar valor aos produtos,
práticas agropecuárias e bem-estar animal, e conta respondendo também a uma demanda do consumi-
com uma linha de crédito total de R$ 1,7 bilhão de dor. Portanto, o estabelecimento de uma certificação
reais (safra 2014/2015), podendo o suinocultor de bem-estar animal é uma opção a ser explorada em
financiar por meio das agências bancárias que ope- um futuro próximo que poderá promover alimentos
ram o crédito rural (até R$ 1 milhão por projeto indi- produzidos com alto padrão.
vidual e R$ 3 milhões para projeto coletivo). Um baixo grau de bem-estar animal nos sistemas
O bem-estar animal é cada vez mais reconhecido produtivos pode ser oneroso ao produtor, já que
como um atributo importante de um conceito amplo condições que prejudicam o bem-estar dos suínos
de qualidade do alimento. Na Comissão Europeia afetam negativamente a saúde, a produtividade e
existe uma demanda para que se estabeleçam padrões aspectos de qualidade do produto, colocando em
de bem-estar animal e que haja a discriminação desses risco a lucratividade.
padrões na rotulagem dos alimentos. Em pesquisa Na última década, diversos grupos (produtores,
realizada na União Europeia, verificou-se que 54% dos processadores, varejistas e redes de restaurantes)
entrevistados tinham dificuldades para encontrar in- desenvolveram certificações de bem-estar animal
formações adequadas sobre os padrões de bem-estar com fornecedores para oferecer segurança aos
dos animais de produção, portanto têm dificuldade consumidores, como o programa Freedom Foods no
na hora de decidir o que levar em conta ao comprarem Reino Unido, o IKB da indústria da carne na Holanda
alimentos ou produtos de origem animal. Regular o e o Certified Humane nos Estados Unidos e Brasil.
a qualidade de vida dos animais e as condições de qual “o bem-estar de um suíno é o estado em que se
abate. Existe a necessidade de harmonização, cla- encontra esse animal em relação a suas tentativas
reza e confiabilidade dos sistemas de avaliação de de adaptar-se ao ambiente”. Um elemento-chave na
136
bem-estar animal. definição é que o bem-estar está relacionado com a
Para avaliar o bem-estar, é necessário que capacidade do animal em relação às possíveis difi-
sejam mensuradas diferentes variáveis que inter- culdades criadas pelo ambiente em que se encontra.
ferem na vida dos animais. Para tanto, é importante Teoricamente, um suíno poderia encontrar-se em
compreender as definições de bem-estar animal três situações distintas:
que podem ser agrupadas em três categorias: Um ambiente ruim em que o suíno não conse-
1. Em relação às emoções que os animais viven- gue enfrentar as dificuldades com sucesso no meio
ciam; em que se encontra. Caberia esperar, portanto, que
2. Em relação ao funcionamento do organismo; o suíno morresse ou que desenvolvesse doenças
3. Quanto à mensuração do comportamento do denominadas “multifatoriais”, ou seja, doenças que
animal e do ambiente em que ele se encontra dependem das condições ambientais, consequência
em comparação ao comportamento e ao am- de fatores como alimentação, características do
biente “natural” do suíno. piso da granja, ambiência, área de descanso na baia,
O primeiro grupo das definições de bem-estar espaço disponível por animal, entre outros. Dessa
tem a vantagem de abordar diretamente a raiz do forma, quando o ambiente é particularmente ruim,
problema. Se a preocupação com o bem-estar dos a mortalidade e a incidência ou prevalência de do-
animais é consequência do fato de que os animais enças multifatoriais são indicadores de um proble-
podem sofrer, a definição de bem-estar deveria ma ligado ao bem-estar.
incorporar o sofrimento como elemento-chave. Uma segunda possibilidade é que o ambiente
Dessa forma, o bem-estar dos suínos será melhor não seja tão ruim para o suíno, de forma que ele pos-
quanto mais intensas e duradouras sejam as emo- sa se adaptar, mesmo que essa adaptação seja difícil.
ções positivas, ou seja, as que são prazerosas e, ao A dificuldade de adaptação é relativa ao custo que o
contrário, o grau de bem-estar será menor, quanto próprio processo de adaptação tem para o animal.
mais intensas e duradouras sejam as emoções nega- Esse custo é resultado de dois elementos: por um
tivas vivenciadas, como a dor, o medo e a ansiedade. lado, possíveis consequências negativas da respos-
A razão pela qual a maioria dos pesquisadores ta do estresse e, por outro, possíveis consequências
aceita que os animais – pelo menos os mamíferos e negativas das alterações comportamentais que o
outros vertebrados – podem sofrer é denominado animal desenvolve.
o “princípio da analogia”. Esse princípio resulta das Finalmente, a terceira situação, em que o suíno
similaridades entre os vertebrados e os seres hu- pode encontrar um ambiente o suficientemente
manos, especialmente em relação às estruturas do adequado, de forma que a adaptação não seja difícil
sistema nervoso central, que é responsável pelas ou que não tenha nenhum custo biológico. Nesse
emoções e pela capacidade de sentir dor e outras caso, o bem-estar do animal é ótimo.
formas de sofrimento. Além disso, os animais e as De acordo com o terceiro grupo de definições, o
pessoas respondem de forma semelhante diante de bem-estar dos animais depende da medida em que o
situações que causam dor e sofrimento. comportamento dele é parecido com o “natural” da
Outros autores abordam o problema por uma espécie. Essa aproximação coincide notavelmente
perspectiva mais ampla e definem o conceito de com a percepção de uma porção importante de con-
bem-estar animal de acordo com o funcionamento sumidores, que tendem a considerar que o “natural”
biológico do organismo animal. Nesse sentido, a é bom. Do ponto de vista científico, contudo, essa
definição de bem-estar animal mais citada é a do definição apresenta problemas conceituais. Em
pesquisador Donald M. Broom (1986), segundo a primeiro lugar, não existe razão para supor que as
1 O Welfare Quality é um projeto de pesquisa da União Europeia que se iniciou em 2004, com duração de cinco anos. Nesse projeto participaram mais de
40 instituições científicas de quinze países, em que Brasil, Uruguai, Chile e México são os representantes da América Latina. Um dos objetivos foi criar um
sistema de mensuração do bem-estar animal, aceito pela União Europeia. Mais informações sobre o projeto estão disponíveis em www.welfarequality.net
Esses quatro princípios são o ponto de partida »» Expressão adequada de outros comporta-
de um conjunto de 12 critérios em que qualquer mentos, de forma que exista um equilíbrio
sistema de mensuração do bem-estar dos suínos entre os aspectos negativos (como estereoti-
138
deveria se basear, tais como: pias) e positivos;
»» Ausência de fome prolongada; »» Interação adequada entre os animais e seus
»» Ausência de sede prolongada; tratadores, de forma que os animais não ma-
»» Conforto em relação à área de descanso; nifestem medo em relação às pessoas que os
»» Conforto térmico nas instalações; manejam;
»» Facilidade de movimento; »» Ausência de medo.
»» Ausência de lesões;
»» Ausência de doenças; Indicadores de bem-estar dos suínos
»» Ausência de dor causada por práticas de ma- Um indicador é uma medida simples que reflete
nejo (castração, corte de cauda); um aspecto do bem-estar dos animais. Os indicado-
»» Expressão de comportamento social ade- res selecionados devem trazer informações sobre
quado, de forma que exista um equilíbrio os critérios de bem-estar animal. De maneira geral,
entre os aspectos negativos (como agressivi- os indicadores utilizados para mensurar o bem-es-
dade) e positivos; tar dos suínos podem ser baseados no animal e no
ambiente. Como exemplo, a porcentagem de suínos
com lesões nos membros (cascos) é um parâmetro
baseado no animal, enquanto o tipo de piso é um pa-
A
râmetro baseado no ambiente.
Apesar dos indicadores baseados no ambiente
serem mais fáceis de mensurar, a maioria dos pes-
quisadores acredita que os indicadores baseados
no animal trazem informações mais relevantes so-
bre o bem-estar e têm a vantagem de poder ser utili-
zados em qualquer criação, independentemente do
sistema de alojamento e manejo.
Isso não significa, contudo, que só se devam uti-
lizar os indicadores baseados no animal, pois os indi-
cadores baseados no ambiente são necessários para
B
decidir quais estratégias de melhorias são mais ade-
quadas e, em alguns casos, podem ser mais práticos nalmente associadas à resposta de estresse, existem
do que os indicadores baseados no animal. Contudo, outras que surgem em decorrência de ambientes
é importante lembrar que os indicadores definidos pouco adequados para os animais. Uma dessas
139
devem ser válidos (mensurar o que realmente se mudanças são as estereotipias, definidas como com-
pretende), confiáveis (fornecer mensurações replicá- portamentos repetitivos que resultam de tentativas
veis) e práticos. repetidas de adaptação a um ambiente difícil.
Os indicadores baseados no animal podem ser Os sistemas de alojamento, manejo ou alimen-
agrupados em quatro categorias: tação que resultam em alta porcentagem de animais
1. Indicadores fisiológicos; com estereotipias são inadequados do ponto de vis-
2. Indicadores de comportamento; ta do bem-estar animal. Uma das estereotipias mais
3. Indicadores ligados à saúde dos animais; conhecidas na suinocultura, e que frequentemente
4. Indicadores ligados à produção. as matrizes suínas realizam quando alojadas em
gaiolas individuais, consistem em morder as barras
Indicadores fisiológicos metálicas da gaiola, enquanto realizam movimentos
A concentração de cortisol ou de seus metabó- repetitivos de cabeça só, e enrolar da língua ou sim-
litos no plasma sanguíneo, na saliva, na urina ou nas plesmente fazer movimentos de mastigação sem
fezes é um dos indicadores mais frequentemente uti- alimento, o que as faz produzir uma grande quanti-
lizados para mensurar o bem-estar dos animais. En- dade de saliva.
tretanto, deve-se levar em conta que a concentração As estereotipias das matrizes suínas surgem
de cortisol também aumenta em situações que difi- como resultado da alimentação e, mais especifica-
cilmente podem ser consideradas desconfortáveis, mente, da sensação de fome pela restrição alimen-
por isso que alterações na concentração de cortisol tar durante a gestação e pelo fato de os animais não
devem ser interpretadas com cautela e levando em poderem expressar seu comportamento normal de
conta outros indicadores (como comportamento). alimentação, o que gera estresse e frustração.
É importante lembrar que a concentração de Outro comportamento que pode ser indicati-
cortisol difere entre os suínos, essa variação fre- vo de um problema de bem-estar é o denominado
quentemente está relacionada com o ritmo circa- “caudofagia”. Esse comportamento aparece ocasio-
diano de cada animal. Outro fator que pode alterar nalmente em suínos e consiste no hábito de morder
o cortisol plasmático é o manejo durante a realiza- a cauda dos outros animais, chegando, às vezes, a
ção da coleta da amostra, que pode gerar estresse produzir feridas hemorrágicas. As causas da caudo-
e alterar a concentração. Por todas essas razões,
a utilização de indicadores fisiológicos ligados à
resposta de estresse não é prática para mensurar o
bem-estar dos suínos a campo.
Além de estudar as mudanças fisiológicas que
constituem a resposta de estresse, o bem-estar
dos suínos pode ser mensurado pela avaliação de
uma resposta ao estresse prolongado ou frequen-
te. Assim, uma diminuição de crescimento ou falha
na função reprodutiva ou baixa imunidade podem
indicar situações de estresse e que o animal tem difi-
culdades de adaptação ao ambiente.
140
Normativa de bem-estar animal
As primeiras normativas de bem-estar animal
apareceram na Europa há mais de 200 anos, e, atual-
mente, a Europa vem se mantendo como a região do
mundo em que mais normativas são desenvolvidas
na área de bem-estar animal.
As primeiras leis que surgiram no Reino Unido
(anos 60) foram embasadas nas cinco liberdades.
Foto 9 – Suíno apresentando lesão na cauda (caudofagia) A partir desse momento, muitas legislações foram
– porta de entrada para diversos micro-organismos
elaboradas sobre o bem-estar animal no Reino Uni-
fagia não são claramente conhecidas, mas a hipóte- do e em outros países, e, com a formação da União
se mais aceita é que se trata de uma forma normal de Europeia (UE), houve a convergência em uma políti-
comportamento exploratório que o animal dirige a ca global para os Estados-membros.
outros suínos, quando o ambiente em que se encon- Na UE as primeiras normativas foram elabora-
tra não permite que expresse o comportamento ex- das nos anos 70. Um marco importante se deu com
ploratório normal. Outros fatores também podem o estabelecimento do Tratado de Amsterdã (1997),
contribuir, como a ausência de conforto térmico, no qual a União Europeia passou a reconhecer ofi-
densidade inadequada nas baias, deficiência de mi- cialmente os animais de produção, não como bens
nerais, entre outros. de consumo (como eram definidos no Tratado de
Fundação da Comunidade Econômica Europeia,
Indicadores ligados à saúde dos animais Roma, 1952), mas como seres com a capacidade de
A saúde é uma avaliação importante do bem sentir. Em consequência, tornou-se obrigatório a
-estar dos suínos. Doenças multifatoriais como sociedade da UE estabelecer regras mais restritas
diarreias pós-desmame ou doenças respiratórias para a forma com que os animais são criados, trans-
são indicadores úteis do baixo grau de bem-estar portados e abatidos, embasando-se na qualidade
dos suínos, assim como também são importantes a ética dos sistemas de produção.
mortalidade, as lesões causadas pelo manejo, o am- Atualmente, a legislação Europeia de bem-estar
biente (físico) e as brigas com outros animais. animal inclui o transporte, o abate e o alojamento
de animais de produção. Em relação aos suínos, a
Indicadores ligados à produção Diretiva EC 58/1998 proporciona um marco geral
Uma queda da produção deve ser considerada para todas as espécies de produção (incluindo pei-
um indicador de baixo grau de bem-estar. No entan- xes, répteis e anfíbios) e atribui aos criadores a res-
to, é importante levar em conta que uma produção ponsabilidade de evitar dor, sofrimento e qualquer
satisfatória não implica necessariamente um nível tipo de lesão aos animais. A decisão da Comissão
adequado de bem-estar. EC 50/2000, por sua vez, proporciona aos Estados-
Animais de produção foram selecionados para membros as instruções necessárias para realizar as
manter índices de produtividade elevada, também inspeções pertinentes e busca padronizar e centra-
em condições que não sejam as melhores do ponto lizar os procedimentos de controle.
de vista do bem-estar. Além disso, a mensuração As diretivas EC 630/1991, EC 88/2001 e EC
da produção só leva em conta os valores médios, ao 03/2001 e a regulamentação 806/2003 foram his-
passo que, para a avaliação do bem-estar, deve se toricamente as que regulamentaram a produção
considerar cada animal individualmente. A variabi- suína na União Europeia. Contudo, para simplificar
em apenas um documento e devido a mudanças in- animais pelo menos uma vez por dia. Proibição do
troduzidas ao longo dos anos em alguns desses do- corte de cauda ou dentes de forma rotineira, e sem
cumentos, toda a normatização sobre suínos se con- diagnóstico prévio feito por Médico Veterinário,
centrou na diretiva EC 120/2008, que está vigente. recomendando o procedimento. A EC 120/2008 foi
Essa legislação inclui os requerimentos básicos de aplicada de forma definitiva, a partir de 1° de janeiro
espaço para animais em crescimento e engorda em de 2013. Com isso, em diversos Estados-membros
relação ao peso, mas também para machos reprodu- da União Europeia adotou-se a gestação em grupo
tores, fêmeas gestantes e em parição. e a eliminação progressiva das gaiolas (tabela 1),
No caso das fêmeas gestantes, a EC 120/2008 conforme o relatório publicado pelo British Pork
estabelece o mínimo de piso que deve ser contínuo Executive ( BPEX, 2012).
(não ripado) e a área máxima de piso ripado. Proíbe Preocupações com o bem-estar animal não são
que as matrizes sejam acorrentadas nas granjas e restritas à Europa, em recente publicação do Códi-
exige que os animais fiquem soltos em grupos a par- go de Boas Práticas de Suínos no Canadá, já consta,
tir de, no máximo, quatro semanas após a insemina- a partir de julho de 2014, a proibição de projetos de
ção, e até uma semana antes do parto. granjas com gaiolas individuais e mantém o prazo
Também estabelece que as dietas devem ser ri- para adequações dos sistemas de alojamento até
cas em fibra e energia, que é necessário garantir um 2024. Outros países como a Nova Zelândia (2015),
sistema de alojamento em grupo, em que todos os a Austrália (2017) e a África do Sul (2020) já se pro-
animais tenham acesso a alimentos em quantidade nunciaram quanto ao prazo vigente para obedecer à
suficiente, assim como torna obrigatório propor- proibição.
cionar material de enriquecimento ambiental aos De acordo com informações da Humane Socie-
animais nas granjas. ty of the United States (HSUS), nos Estados Unidos
Outros aspectos considerados importantes nove estados proibiram a gestação em gaiolas indi-
são: o manejo de animais que apresentam proble- viduais (Arizona, Califórnia, Colorado, Flórida, Mai-
mas e devem ser separados do restante grupo, a ne, Michigan, Ohio, Oregon e Rhode Island), assim
presença de ruídos nas granjas, as horas de expo- como grandes empresas americanas produtoras já
sição à luz e a qualidade da iluminação, garantia de anunciaram que estão realizando o planejamento
acesso à água fresca aos leitões, pelo menos a partir e eliminação gradual das gaiolas individuais (Smi-
de duas semanas de vida, alimentação de todos os thfield – prazo até 2022; Cargill – a partir de 2015;
Tyson Foods – novas granjas somente gestação em Os resultados, obtidos de forma independente
grupo; Hormel – a partir de 2017). em cada mensuração diferente, são combinados
Atualmente, a Organização Mundial de Saúde para calcular a pontuação final obtida em cada
142
Animal (OIE), uma instituição internacional com critério. As mensurações obtidas dentro de certo
178 países-membros, possui padrões de bem-estar critério serão consideradas com base na opinião
acordados entre os países-membros para a área de de diferentes painéis científicos, combinando-os
transporte, abate e sacrifício para controle de doen- para obter uma pontuação final entre (zero a cem),
ças (surtos), além de definir o tema como prioridade, na qual “zero” significa mais problemas relativos ao
desde 2001 (Plano Estratégico OIE- 2001 a 2005). bem-estar, e “cem”, a melhor situação para o critério
específico. Essa avaliação deve servir para identifi-
Avaliação Welfare Quality® car problemas e orientar o produtor sobre estraté-
O Welfare Quality® é um projeto de pesquisa gias de melhoria em cada critério.
integrado e financiado pela Comissão Europeia, Em contrapartida, a informação transmitida
executado de maio (2004) a dezembro (2009), para o consumidor resume o resultado dos 12 crité-
cujo objetivo é integrar o bem-estar animal na ca- rios em má pontuação geral, que reflete o bem-estar
deia de consumo. Com isso, foi desenvolvido um dos animais em má situação (granja ou frigorífico).
sistema padronizado para avaliação do bem-estar Para tanto, o primeiro passo é obter uma pontuação
dos animais nas granjas e frigoríficos, de maneira para cada um dos princípios pela combinação das
científica (segura e replicável), para converter pontuações obtidas nos diferentes critérios (figura
esses sistemas em informação compreensível e 2). Essa relação é assimétrica, e é levada em conta
melhorar o bem-estar animal com estratégias es- pela importância que os painéis científicos deram
pécie-específicas. para cada critério em um determinado princípio.
O Welfare Quality® desenvolveu sistemas para Por exemplo, o princípio de boa alimentação é com-
avaliar objetivamente o bem-estar dos suínos du- posto do critério que estabelece que os animais não
rante a criação e nas instalações de abate, visando devem passar fome nem sede prolongada. Porém,
identificar as causas de deficiências relativas ao os pesquisadores consideram que, do ponto de vista
bem-estar e informar os produtores sobre possíveis do bem-estar animal, sede é pior que fome, portan-
melhorias. Dessa forma, esse projeto forneceu uma to, dentro do princípio “ausência de fome prolon-
ferramenta útil ao produtor para informar os con- gada” a granja pode obter uma boa pontuação, mas
sumidores sobre os padrões de bem-estar animal, pode, dentro do princípio “boa alimentação”, obter
ajudando a beneficiar mercados com maior valor uma pontuação ruim, se o critério de “ausência de
agregado (figura1). sede prolongada” obtiver pontuação ruim.
Produtor
Alojamento Manejo
Animal Estratégias de
Consumidor
melhoria
Programa de avaliação de
Informação Produto
bem-estar animal
Figura 1 – Programa de avaliação do bem-estar animal
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Finalmente, a pontuação final de uma proprie- grupo, que é o consumidor. Ou seja, nesse caso, fa-
dade/granja será determinada pela combinação de lamos de um conceito que tenta fornecer ao consu-
quatro pontuações (zero a cem) obtidas em cada midor um valor agregado ao produto comprado, em
princípio avaliado (figura 2). Nesse caso, uma pon- relação aos padrões mínimos estabelecidos em seu
tuação excelente, de acordo com os pesquisadores, contexto social e, portanto, legais ou normativos.
é considerada acima de oitenta, boa (acima de cin- Esse valor agregado pode ser de grande impor-
quenta e cinco) e aceitável, (acima de vinte). Porém, tância para o produtor em determinados sistemas
novamente, os valores foram gerados de forma que, produtivos. Ou seja, ainda que um grau de bem
para uma pontuação excelente, os quatro princípios -estar seja melhor, normalmente produz animais
devem ter uma pontuação mínima de cinquenta e cin- com menos problemas de lesões, doenças e outras
co, e dois deles devem estar acima de oitenta. situações de estresse que os obriguem a mobilizar
recursos para funções diferentes de crescimento,
Consumidores reprodução e rendimento de carcaça.
Ao considerar o conceito de qualidade ética dos Entretanto, chega um momento em que as medi-
alimentos de origem animal, pode-se incluir outro das planejadas para melhorar o bem-estar animal não
A B
podem ser “pagas” pelo próprio animal na forma de a considerações com o bem-estar animal, quando
maior produção. Isso ocorre especialmente à medida comparadas aos homens. A mesma preocupação se
que chegamos perto do potencial genético máximo de dá em pessoas mais jovens e com curso superior.
144
um animal. Quando isso acontece, e as medidas toma- De fato, o consumo de produtos de origem
das em prol do bem-estar animal não têm um retorno animal mostra uma diferenciação social e cultural
econômico por parte do animal, em forma de melhores muito clara, em que variações como idade, profissão
índices produtivos ou menores custos, por exemplo, e gênero são fatores fundamentais. Por exemplo, na
com o uso de antibióticos ou cuidados veterinários, é França, as classes sociais mais altas consomem duas
preciso buscar estratégias alternativas para cobrar vezes mais carne ovina do que as mais baixas. Os
esse sobrecusto de um terceiro. produtos com apelo ecológico, que são outro exem-
Essa estratégia pode consistir em cobrar esse plo de valor agregado a um produto, se definiram na
sobrecusto do consumidor, mas, para que ele aceite Itália com um alvo muito específico, normalmente
esse custo, deve ser informado sobre as vantagens do classes médias/altas, entre 25 a 50 anos, de zonas
conceito de qualidade ética que o sistema oferece, e, urbanas, solteiros ou famílias com um a dois filhos.
o mais importante, considerar que essas vantagens Normalmente, eles compram produtos ecológicos
são suficientes para realizar esse esforço econômico. motivados por uma melhor qualidade do alimento
Por definição, esses sistemas com valor agregado, (saudável e comprometido com o meio ambiente),
diferenciados, devem estar voltados para nichos es- mas raramente se menciona o bem-estar animal.
pecíficos, portanto são considerados uma saída para Em contrapartida, observa-se que as pessoas mais
mercados específicos em contextos particulares. preocupadas com o bem-estar animal geralmente
Um ponto fundamental é conhecer o consumi- são vegetarianas.
dor e saber se aproximar dele. Por exemplo, ainda Nesse sentido, chama muito a atenção a impor-
que se pudesse considerar que globalmente há tância que crises alimentares podem ter, como a que
preocupação com o bem-estar animal, os trabalhos aconteceu com a BSE (vaca louca). Na França, por
de avaliações de consumidores realizados no de- exemplo, durante a crise da vaca louca, a porcenta-
correr do projeto Welfare Quality (Roex & Miele, gem de vegetarianos chegou a 6,1% da população
2005) indicaram que existe uma tendência (geral) (2001), mas um ano mais tarde, essa porcentagem
por parte das mulheres a serem mais simpatizantes era de 2,5%. Em geral, segundo avaliações realiza-
A B
das no Projeto Welfare Quality, os vegetarianos são chegar a ser vegetariano), principalmente por con-
cerca de: siderá-los menos naturais, portanto não seguros do
»» 1-2% em países como Noruega ou França; ponto de vista sanitário. O bem-estar animal, nesse
145
»» 4-5% em países como Suécia e Holanda; caso, é somente uma consequência dos conceitos
»» Até 7% em países como Itália e Reino Unido. iniciais prioritários.
A motivação para se tornar vegetariano, Contudo, proporcionar ao consumidor mais
nesse caso, inclui os direitos dos animais, além informações sobre os benefícios dos produtos com
de questões de saúde e conceitos éticos, sociais maior bem-estar (“animal-friendly”) em relação à
e políticos. Portanto, um fator fundamental para qualidade ética, ao invés de deixar que o consumi-
poder chegar ao consumidor é proporcionar dor tenha que procurar e se informar sobre essas
informação sobre o bem-estar animal de forma questões, pode ser o elemento-chave.
positiva e conseguir que ele pague pelo valor
agregado ao produto, sem que deixe de consumir Conclusão
produtos de origem animal. Condições melhores de bem-estar animal e do
A intenção de um consumidor de pagar um pou- ambiente contribuem para a sanidade, a produti-
co mais para garantir condições mínimas de bem-es- vidade e a melhor qualidade final do produto. A so-
tar animal pode variar muito entre os países, classes ciedade toda se beneficia quando se estabelecem
sociais e, às vezes, até depende do produto ou da melhores práticas que assegurem que as pessoas
espécie animal em questão. responsáveis que criam animais para consumo o
É preciso levar em conta, ainda, que o consumi- façam seguindo princípios básicos de respeito,
dor prioriza principalmente a qualidade sensorial/ ligados ao bem-estar animal e ao ambiente. Isso
tecnológica da carne e a segurança do alimento, confere uma qualidade ética ao produto que pode-
até no ponto em que se mostra contrário a deter- rá, em um futuro próximo, gerar melhores preços
minados sistemas produtivos mais intensivos (sem de mercado.
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E
stabelecer se o animal está em bem-estar não lidade de vida deles pode estar prejudicada. O
é uma tarefa fácil. Essa empreitada torna-se fornecimento de um ambiente enriquecido com
ainda mais complicada, especialmente quando substratos para cama é um exemplo dessa medi-
se deseja atender a um consumidor alvo que utiliza da, pois reduz o estresse por suprir a necessida-
embasamentos do senso comum em seu critério de de de exercer o comportamento investigativo,
julgamento. Cientificamente, no entanto, os manejos natural da espécie.
podem ser avaliados de diversos ângulos, isso porque 3. Medidas interessantes: podem ser utilizadas
definições de bem-estar levam em consideração um para melhorar o ambiente em que os animais
conjunto de conceitos que incluem: homeostasia vivem. São pensadas para causar sensações
(equilíbrio das funções fisiológicas), estados mentais agradáveis, bem como minimizar problemas
e físicos (como prazer, dor e felicidade – senciência), provocados pelos manejos convencionais. A
as “cinco liberdades” e necessidades da espécie. Des- utilização de música nas baias é um exemplo
sa forma, para avaliar um determinado manejo, todos que pode oferecer sensações agradáveis aos
esses aspectos podem ser considerados. animais e reduzir ruídos em decorrência do
Após a avaliação do grau de bem-estar, deve-se manejo e que podem estressar os animais.
pensar em quais as formas para melhorar essa gra- Encaixam-se aqui a introdução de aromas, ilu-
duação. Em geral, modificações geradas por esses minação, ionização, etc. no ambiente em que os
estudos tendem a agradar ao consumidor. animais estão inseridos.
Para facilitar a compreensão das medidas Em todas as categorias apresentadas pode
disponíveis para melhorar as condições de bem haver ferramentas que tragam aumento da produti-
-estar, podem ser divididas, didaticamente, em vidade ou não. Em algum momento, medidas de bem
três categorias: -estar podem ser enquadradas em mais de uma das
1. Medidas necessárias: visam à melhoria de categorias apresentadas, mas essa é apenas uma di-
manejos necessários e corriqueiros. Tratam de visão didática, útil para a tomada de decisões, prin-
manejos sem os quais a suinocultura se torna in- cipalmente no momento em que forem implantados
viável ou de manejos amplamente utilizados nas programas de bem-estar. A ordem da introdução de
granjas. Em geral, esses procedimentos são mui- ferramentas e métodos em prol do bem-estar pode
to atacados pela opinião pública. Um exemplo ser estabelecida considerando essa classificação,
desses manejos é a castração. Para melhorá-lo, isso porque programas de bem-estar geram custos
seria possível estabelecer medidas para redução e, assim, sua implantação ser feita gradativamente.
da dor operatória e no pós-operatório. Trata-se, No entanto, os custos gerados pela implan-
portanto, de medidas necessárias. tação de programas de bem-estar animal podem
2. Medidas importantes: objetivam melhorar a ser reduzidos por meio de ideias criativas. Tam-
qualidade de vida dos animais, por atenderem bém, ao considerar os custos, cabe ponderar os
a necessidades da espécie. Sem elas há sobre- benefícios provenientes do processo. Obvia-
vivência da atividade e dos animais, mas a qua- mente que esses benefícios podem ser imensu-
ráveis e vão depender do mercado consumidor Em todos esses pontos, pode-se agir para melhorar
do produto suíno. as condições de bem-estar dos leitões.
Este capítulo aborda mais detidamente as me- Para a manutenção da temperatura corporal
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didas necessárias, que são as técnicas de manejo. Já dos leitões neonatos, diversos artifícios são ge-
o item 4.3 tratará mais das medidas importantes e ralmente utilizados na prática: escamoteadores,
das interessantes. resistências elétricas, pisos aquecidos, lâmpadas
As técnicas modernas de manejo e os marcos incandescentes (que terão seu uso suspenso defini-
regulatórios que visam ao bem-estar dos animais, em tivamente no Brasil em 2017), etc. No campo, nesse
geral, levam em consideração os seguintes aspectos: ponto importante para o bem-estar, não se encon-
1. Os suínos deverão dispor de um ambiente tram muitas controvérsias. É quase um consenso
que corresponda às suas necessidades de entre os produtores e técnicos que o uso dessas fon-
exercício e de comportamento exploratório. tes de calor se faz necessário. É importante, porém,
2. Quando os suínos se encontram agrupados, que, independentemente da forma de fornecimen-
há necessidade de adotar medidas adequa- to de calor, atente-se para o fato de que a tempera-
das de manejo para a sua proteção. tura para os leitões deve ser controlada, evitando
3. As porcas estabelecem facilmente contatos que esses animais sofram com o frio, ou mesmo com
sociais, quando dispõem de liberdade de mo- o calor. Um controle ambiental mais eficiente pode
vimentos e de um ambiente variado. Por essa ser feito com o uso de termostatos ou controlado-
razão, não devem ser mantidas em confina- res mais complexos de temperatura.
mento rigoroso. Em conjunto com o aquecimento, um manejo im-
4. Os manejos que causam mutilação (cas- portante é a secagem dos neonatos. Esse procedimento
tração, manejo dentário e corte de caudas) evita que os animais percam calor. As regulamentações
provavelmente causam dor. Dessa forma, de bem-estar animal não fazem menção a esse respeito,
requerem ter sua utilização repensada. mas nem por isso deve ser negligenciado.
5. Deve haver um equilíbrio entre bem-estar e Após o nascimento, imediatamente, horas ou
sustentabilidade da produção, considerando dias depois, manejos se tornam necessários para
os aspectos econômicos, sociais, ambientais a produtividade. Leitões em fase de maternidade
e sanitários. são submetidos a manejos que causam diferentes
Em geral, as regulamentações tratam de manejos graus de injúria tecidual, portanto com dor. A dor
e edificações (layouts, dimensionamento e recomen- comprovadamente prejudica o bem-estar e, assim,
dações para alojamento dos animais). Nesse item é fundamental minimizá-la em manejos necessários
deste capítulo serão enfocadas apenas as técnicas de ou mesmo lançar mão de manejos alternativos aos
manejo que visam atender a esses cinco pontos. dolorosos. Ausência do manejo invasivo, redução
do grau de injúria, analgesia ou até mesmo anestesia
Cuidados com o bem-estar dos animais são assuntos discutidos pela comunidade científica
nos manejos, do nascimento à terminação e a cadeia produtiva, visto que esses procedimentos
O nascimento é, por si só, uma situação podem implicar custos.
estressante para o indivíduo. O estresse é incompa- O manejo dentário é um desses necessários.
tível com o bem-estar. Por essa razão, é importante Sua justificativa são as lesões causadas nos tetos
trabalhar para que o animal estabeleça a homeosta- das porcas e nos leitões, durante a competição natu-
sia o mais rapidamente possível. ral pelos tetos.
Ao nascer, o leitão recebe vários desafios con- A literatura é controversa quanto aos benefícios
tundentes: a regulação da temperatura corporal pe- e malefícios dos manejos dentários em suínos confi-
rante a temperatura ambiente, a busca pelo alimen- nados. Os trabalhos que encontraram maior gravida-
to, além dos manejos inerentes à criação intensiva. de de lesões em tetos de porcas, com leitões que pos-
suem dentes intactos, apontam que essa condição tões pelos tetos. Outro manejo interessante pode
não foi suficiente para reduzir o desempenho dessas ser o manejo dos dentes de leitões maiores, que, em
porcas. Poucos trabalhos comprovam que cortar os razão do tamanho, possuem posição hierárquica
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dentes dos leitões interfere no ganho de peso. superior na leitegada. Dependendo do manejo da
O corte pode ser feito extirpando-se totalmente granja, inclusive na creche, pode-se ainda avaliar a
o dente, na linha da gengiva, ou, ainda, apenas retiran- necessidade do manejo em cada leitegada.
do-se o ápice do dente. Em substituição ao manejo do Após serem tomadas precauções para minimi-
corte, existe a possibilidade de desgastar o ápice dos zar as lesões, a realização do manejo dentário deve
dentes. O desgaste é o manejo mais recomendado ser meticulosamente ponderada com base em seus
pelos técnicos no Brasil. Para o senso comum, essa prá- benefícios.
tica pode ser menos prejudicial ao bem-estar, mas há O corte do último terço da cauda é utilizado
também pouco subsídio científico nesse sentido. para prevenção do canibalismo dos leitões. O cau-
É ainda necessário ressaltar que o desgaste dos docanibalismo possui consequências sérias na
dentes pode danificar a pulpa dentária e causar dor. saúde dos animais (infecções e dor) e pode inter-
Há divergências de achados científicos quanto à ferir no ganho de peso e ser causa de mortalidade.
dor e estresse causados pelos manejos de desgaste Sendo assim, apesar de bastante questionado
e corte. Alguns trabalhos apontam maior dor e es- pela sociedade, pode também ser considerado um
tresse durante o manejo de desgaste, quando com- ato para promoção do bem-estar, pois reduz a in-
parado ao corte. Outros trabalhos apresentam o cidência ou a severidade das injúrias de cauda. Da
contrário. Assim, pouca coisa ainda pode ser conclu- mesma forma que o corte de dentes, esse manejo
ída sobre esse manejo, considerando os subsídios deveria ser recomendado em casos específicos
científicos existentes. porque, na teoria, se houver boas práticas de ma-
Em leitegadas de baixo peso, pode-se optar por nejo, não há necessidade de ser realizado. Porém,
não fazer o corte ou desgaste dos dentes. O que se na prática, as consequências do confinamento
pode afirmar é que um manejo mal feito traz muitos geralmente não permitem que este seja um mane-
problemas. Como consequência de um manejo den- jo dispensável. Aliás, o fato de haver caudocani-
tário mal realizado pode-se observar pulpite, abces- balismo indica que o bem-estar dos animais está
sos periapicais, cortes na língua e gengivas e cáries. comprometido.
O tipo de equipamento de corte ou desgaste, sua O ato de cortar a cauda causa dor e pode ainda
manutenção, bem como a perícia de quem realiza provocar o desenvolvimento de neuromas (tumores
o manejo são fundamentais para a higidez dentária derivados de células do sistema nervoso) que au-
dos animais. mentam a sensibilidade à dor. Essa é, inclusive, uma
A legislação mundial, em geral, proíbe o manejo das hipóteses para explicar a eficácia do manejo
de remoção dos dentes dos leitões, a não ser em ca- contra o canibalismo, pois, logo que o animal é mor-
sos de ferimentos nos tetos das matrizes. O Conse- dido, ele foge rapidamente.
lho Federal de Medicina Veterinária não recomenda No entanto, cortar a cauda pode causar res-
esses manejos. Para algumas regulamentações, a postas comportamentais e fisiológicas que indicam
necessidade da prática deve ser revista trimestral- estresse agudo. A recomendação para que a cica-
mente e deve ser feita por profissional treinado, nos trização do tecido seja mais rápida e com menos
primeiros sete dias de vida dos leitões (preferen- hemorragia é cortar e cauterizar ao mesmo tempo.
cialmente nas primeiras 48 horas). É comprovado cientificamente que a resposta de
Manejos como a transferência de leitões entre estresse é menor quando se realiza o corte da cauda
as porcas, com o objetivo de uniformizar as leitega- com cauterizador. Porém, há autores que apontam
das em termos de número de leitões e tamanho, po- que o uso de ferro quente para corte de cauda au-
dem colaborar na redução das disputas entre os lei- menta a formação de neuromas, o que é doloroso.
É importante ressaltar que, se o procedimento for leitões de diferentes origens para que se desca-
mal feito, podem ser causados abscessos na coluna racterizem odores diferentes ou aplicar soluções
vertebral, septicemias e artrites. odorizantes nos leitões.
149
Como fatores predisponentes ao caudocaniba- O manejo da castração de leitões machos tem a
lismo tem-se a densidade elevada de animais, mistu- função de melhorar o sabor e odor da carne. É, por-
ra de leitegadas, redução de espaço no comedouro tanto, uma medida que visa ao bem-estar do consu-
por animal e idade precoce de desmame. Ainda não midor. Contraditoriamente, possui também impli-
há um consenso quanto à relação entre o caudocani- cação positiva no bem-estar dos suínos confinados,
balismo e o alojamento de acordo com o sexo. Embo- uma vez que diminui a agressividade dos machos e,
ra existam trabalhos que apontam uma incidência de portanto, as brigas.
machos mais mordidos quando alojados com fêmeas, O procedimento cirúrgico da castração en-
há outros que mostram que a mistura de sexos reduz volve injúria tecidual e manipulação de tecidos
essa incidência. Recomenda-se o enriquecimento enervados, logo, causa dor. Alguns indicadores de
ambiental, como a utilização de palha, para minimizar dor podem ser percebidos nos leitões até cinco dias
os problemas de caudocanibalismo. após a castração. Em longo prazo, machos castrados
As regulamentações a favor do bem-estar ani- possuem supressão do sistema imunológico e maior
mal caracterizam o procedimento como mutilação, incidência de inflamações.
um manejo fortemente atacado pela opinião públi- O uso de anestesia geral seria indicado, mas
ca. Dessa forma, o Conselho Federal de Medicina seus custos são proibitivos na prática. A anestesia
Veterinária e Zootecnia, por exemplo, não reco- local é também aceita pela opinião pública, po-
menda que esse manejo seja realizado. As demais rém, tem seus benefícios questionados, quando
legislações internacionais não o permitem, a não ser se consideram um maior tempo de contenção e a
em casos de comprovada necessidade. dor para a aplicação do anestésico. O anestésico
Quando necessário, deve ser realizado por local de eleição é a lidocaína. Há ainda a possibi-
pessoal treinado, nos primeiros sete dias de vida do lidade de associar medicações analgésicas e anti
leitão, mas preferencialmente até 48 horas de vida. -inflamatórias ao manejo. Contudo, mais estudos
Outro ponto crítico para porcas e seus lei- devem ser desenvolvidos, especialmente os de
tões é o momento da uniformização da leitegada viabilidade econômica.
pós-parto. Nesse manejo, retira-se o excesso de Algumas alternativas à castração cirúrgica
leitões de uma porca, transferindo-os para outra podem ser propostas. A imunocastração é uma
porca, com o objetivo de uniformizar o lote. A dis- delas. Essa técnica consiste no ato de aplicar uma
tribuição dos leitões é feita de acordo com o peso. vacina que inibe a produção de esteroides, inclu-
Esse manejo possui dois aspectos, com relação ao sive a androsterona, principal responsável pelo
bem-estar. Do ponto de vista do bem-estar, uni- odor e sabor desagradáveis da carne. Elimina-se,
formizando os lotes, evitam-se disputas desleais portanto, o procedimento cruento da castração
pelos tetos, que ocorrem quando um leitão maior cirúrgica. Mas essas vacinas devem ser administra-
e mais forte possui maior capacidade de buscar o das na oitava e na quarta semanas antes do abate.
teto e de mantê-lo do que um leitão menor e mais Até então, os animais desenvolvem seu comporta-
fraco. Ainda como consequência da uniformização, mento relativo aos machos, inclusive a agressivi-
melhora-se o relacionamento entre os leitões, con- dade. Sendo a avaliação comportamental uma das
siderando que o tamanho dos animais é um critério formas de verificar o bem-estar, questiona-se esse
para o estabelecimento da hierarquia. Porém, com procedimento quanto ao fato de causar estresse
a separação da mãe de seus leitões, causa-se um por meio dessas interações agonísticas.
rompimento do elo afetivo, que deve ser minimiza- Como o odor sexual é determinado pela gené-
do por algumas manobras, tais como: conter juntos tica, a seleção pode contribuir para reduzir essa ca-
racterística. Também, a sexagem espermática é uma Normalmente, os lotes são formados conside-
possibilidade para eliminar a castração cirúrgica. rando-se o peso dos animais. Animais de pesos se-
Porém, são propostas ainda inviáveis na prática. melhantes são alojados juntos, independentemente
150
No geral, os protocolos e normativas de bem-es- da leitegada de origem. Essa medida causa maior
tar recomendam que o procedimento cirúrgico seja estresse social, pois os leitões precisam estabele-
realizado sem anestesia até, no máximo, os sete dias cer uma nova hierarquia. As primeiras horas após o
de vida. Após essa idade, o animal só pode ser castra- alojamento são as mais críticas, porém as interações
do sob o efeito de anestésicos e devem ser utilizados agonísticas podem durar por mais de uma semana.
procedimentos de analgesia prolongada. A legislação europeia sugere a miscigenação do
A idade ao desmame influencia o nível de es- grupo o mais precocemente que se conseguir e, se
tresse na creche. Animais desmamados precoce- possível, antes do desmame.
mente são inseguros e, em geral, apresentam vícios, Uma das garantias de bem-estar mais óbvias é o
principalmente o de sucção e o de fuçar a barriga fornecimento de nutrientes, para que o animal não
dos companheiros de baia. Também apresentam seja privado de uma das cinco liberdades do bem-es-
maior número de episódios de briga não resolvidos, tar animal – liberdade de não passar fome e sede. É
o que prolonga o tempo em que passam brigando. necessário atentar para alguns pontos que podem
Quando a porca possui uma produção de leite passar despercebidos. O leitão que realizava uma
adequada, os leitões não ingerem quantidade signi- alimentação individual passa a alimentar-se de forma
ficativa de ração até os 15 dias de vida. Isso significa coletiva e toda a atenção deve ser dada para adequar
que quando são desmamados aos 21 dias, os leitões a disponibilidade de cochos de acordo com a lotação.
tiveram pouco tempo para se acostumar com a nova Também o fato de fornecer alimentos e água nem
dieta. Especificamente pensando-se em bem-estar sempre garante que os animais tenham acesso a esses.
animal, considerando esse fato, mais a curva de de- Medidas simples como a utilização do mesmo modelo
senvolvimento do sistema imunológico, o compor- de bebedouro na maternidade e na creche podem
tamento dos animais, o desenvolvimento do sistema melhorar as condições de vida do animal. Isso porque
gastrointestinal e a maioria das regulamentações os animais reconhecerão mais rapidamente o dispo-
sobre bem-estar animal, é recomendado desmamar sitivo para a obtenção de água. Fornecer bebedouros
os leitões com no mínimo 28 dias. Entretanto, quan- suplementares, abastecidos frequentemente, é uma
do se ponderam questões econômicas e fisiológicas, atitude interessante. Essas condições garantem que
recomenda-se desmamar os leitões com idade média os animais não sejam privados de água.
entre 23 e 25 dias, no mínimo com 21 dias. Fornecer ração seca ainda na maternidade,
O desmame é um momento crítico na vida além de ser importante porque ela pode ser utiliza-
dos suínos, por uma série de fatores, tais como a da como enriquecimento ambiental, faz com que os
separação da mãe e dos leitões, o reagrupamento animais consumam mais rapidamente esse tipo de
de animais de leitegadas diferentes, a alteração da alimento ao chegarem à creche (mesmo que depois
dieta e do comportamento alimentar, mudança de a ração seja fornecida molhada).
ambiente de alojamento, a mudança de tratador – As regulamentações de bem-estar sugerem
uma série de episódios estressantes. Todo esforço ambientes controlados para o alojamento de leitões
deve ser feito no sentido de minimizar esse estresse em fase de creche. A manutenção da temperatura
para a garantia do bem-estar. dos animais recém-desmamados é ainda muito ne-
O alojamento dos leitões desmamados é um gligenciada na prática. A própria literatura oferece
momento que requer cuidados especiais. A superlo- informações desencontradas sobre a zona de con-
tação e a mistura dos lotes de diferentes origens são forto térmico dos leitões. Muitos manuais sobre as
um fator estressante e que altera o comportamento genéticas que comercializam reprodutores também
normal dos leitões e suas funções imunológicas. não oferecem informações a esse respeito. Por isso,
a observação do comportamento dos leitões é fun- peratura do ar requerida para conforto está entre
damental para assegurar o bem-estar. Fontes suple- 18 a 23ºC. Recomenda-se que a climatização seja
mentares de calor devem ser fornecidas e calculadas automatizada, visto que as temperaturas, depen-
151
de acordo com as características das edificações, dendo das características construtivas dos aloja-
manejo e necessidades dos animais. mentos, podem chegar a níveis alarmantes, mesmo
A ausência de bem-estar gera distúrbios com- durante a madrugada. Durante uma madrugada de
portamentais. Uma vez instalados os problemas primavera, no interior de um galpão de uma granja
comportamentais, é possível minimizá-los, mas a suinícola na região Sudeste do Brasil, encontramos
investigação da causa desses problemas, para pos- até 40ºC de temperatura do ar.
terior correção, deve ser minuciosa. Na hora do alojamento, é importante que os lo-
As brigas devem ser manejadas de forma que tes sejam uniformizados por tamanho. A divisão por
se separem os que dela participam. Animais feridos sexo também é recomendada. Dessa forma, minimi-
nesses episódios devem ser separados em baias para a zam-se dois fatores importantes para o estabeleci-
recuperação, longe dos animais saudáveis, sob pena de mento da hierarquia: o tamanho e o sexo.
serem ainda mais molestados pelo grupo. Para minimi- A prática da imunocastração, comumente uti-
zar as brigas, cabem algumas atitudes, principalmente lizada no Brasil, exige o manejo de separação dos
no que se refere ao enriquecimento ambiental das leitões, tendo como critério o sexo. Isso reduz a
baias. No entanto, deve-se considerar que o enriqueci- manifestação de comportamentos peculiares à có-
mento ambiental pode não resolver o problema, visto pula. Porém, os leitões machos, ao desenvolverem
que animais estressados interagem menos com o am- suas características sexuais, apresentam muitos
biente. Zonas de fugas para proteção dos animais são episódios de agressividade entre si. Assim, para a
também altamente recomendadas. manutenção do bem-estar, é necessário fornecer
As mesmas considerações quanto à separação possibilidades de fuga para os animais.
do grupo servem para animais que participam de
episódios comportamentais indesejáveis, como é o Cuidados com o bem-estar no
caso do vício de sucção, do ato de fuçar a barriga, ato manejo de fêmeas reprodutoras
de morder a cauda, até consequências mais sérias, Um dos pontos bastante levantados pelos ativis-
como é o caso do canibalismo. tas do bem-estar animal é o alojamento das fêmeas
Se todos os manejos forem cuidados sob a em gestação. Na maioria das granjas brasileiras, as
perspectiva do bem-estar animal, será gerado um fêmeas gestantes são mantidas em gaiolas (celas). O
ambiente de maior harmonia entre os leitões, re- fato de as porcas não poderem exercer minimamen-
duzindo a necessidade de manejos como corte de te seu comportamento natural e de não poderem
cauda e dos dentes. se virar, tanto para o senso comum quanto para a
A legislação europeia reza que o recurso a tran- ciência, torna ruins as condições de bem-estar. Por
quilizantes para facilitar a miscigenação limite-se a essa razão, na Europa, o uso de gaiolas, após a quarta
circunstâncias excepcionais e apenas seja adotado semana de gestação, já está proibido. As gaiolas ainda
após consulta a um veterinário. predispõem a problemas urinários, problemas ósse-
Muitos pontos críticos para a fase de creche os e redução do movimento dos intestinos, causando
podem ser considerados para as fases de recria e maior por dificuldade de defecar. A alternativa às
terminação. Algumas particularidades referentes gaiolas são as baias coletivas, que ainda têm seu efei-
à exacerbação do comportamento natural da espé- to prático questionado por alguns produtores.
cie e às novas necessidades dessa categoria devem Quanto às evidências de melhorias das con-
ser ponderadas. dições de bem-estar com a utilização de baias
Particularmente nessa fase, no Brasil, os ani- coletivas (foto 1), encontra-se a redução das
mais precisam de resfriamento. Isso porque a tem- estereotipias e comportamentos agressivos. Já
dos fatores estressantes é importante. Ou seja, a duração do dia. Outras só recomendam a ilumina-
ausência de bem-estar tem implicações diretas na ção mínima de 50 lux à altura dos olhos dos suínos,
reprodução, bem como na vida dos leitões nascidos sem determinar por quanto tempo.
153
de reprodutores estressados. É importante compreender ainda que o excesso
de luminosidade pode interferir negativamente no
Considerações gerais bem-estar dos animais, por ofuscar a visão, e requer,
portanto, um cálculo luminotécnico.
Instalações e ambiência
Para todas as fases, no geral, deve-se aten- Planos para redução de
tar para as recomendações para as instalações comportamentos agressivos
(densidade, disponibilidade de comedouros e Se o comportamento agressivo for exacerba-
bebedouros, fluxo mínimo dos bebedouros, etc.). do em um lote, isso sinaliza para a necessidade de
Os alojamentos devem ser construídos de modo um plano estabelecido para reduzi-lo, com me-
que permitam o acesso dos suínos a uma área didas de enriquecimento ambiental, redução da
de repouso física e termicamente confortável, densidade de animais e alterações no regime de
drenada e limpa, e que todos os animais se dei- alimentação.
tem simultaneamente, repousem e levantem-se Animais muito agressivos, que desarmonizam
normalmente. Também os animais precisam a baia, devem ser separados. Os animais oprimidos
enxergar-se mutuamente, exceto na semana que pelo grupo, também devem ser separados.
precede à parição.
Em consonância com o que preconizam as le- Contenção e condução dos animais
gislações de bem-estar animal, devem ser criadas A contenção física é capaz de aumentar os valores
condições para que os animais não recebam ruídos do hematócrito, teor de hemoglobina, número de
acima de 85dB, assim como evitar ruídos constan- hemácias, leucócitos, os níveis de cortisol, a creatina
tes ou súbitos. kinase, glicose e lactato desidrogenase. Por isso,
Pouco se sabe a respeito das necessidades dos deve ser realizada o mínimo possível.
suínos quanto à luz, especialmente no que se refere A condução deve transcorrer de forma tranqui-
ao número de horas de luz de que necessitam por dia la e sem gritos, lembrando que as edificações para
e a iluminância que atende às necessidades fisioló- seu alojamento não permitem que o animal caminhe
gicas da espécie. Por isso, a legislação mundial e nor- frequentemente por longas distâncias. Portanto, a
mas de boas práticas que regem o bem-estar animal paciência durante o processo é fundamental.
são generalistas nesse sentido. Recomenda-se que os suínos sejam conduzi-
A literatura indica que até 80 lux os animais dos em pequenos grupos de acordo com a largura
provavelmente estejam em bem-estar e que ilumi- do corredor. Para facilitar a movimentação no
nância de 40 lux não é nem preferida nem aversiva corredor, podem ser utilizados chocalhos, tábuas,
aos suínos. A legislação da Europa recomenda que sacos de ração ou contato com as mãos, pois esses
os suínos sejam submetidos a um regime de pelo artifícios estimulam o suíno a continuar andando
menos 40 lux, por um período mínimo diário de oito em frente. Considerando o interesse dos suínos por
horas. Algumas normas de bem-estar animal exi- objetos novos, é possível também atraí-los com ob-
gem que os suínos alojados devam ter acesso a uma jetos utilizados para enriquecimento.
área que ofereça uma iluminação mínima de 50 lux, Uma forma interessante de conduzir um grupo
durante um período contínuo de pelo menos oito com mais eficiência é a utilização do líder do grupo
horas e devem ter acesso a uma área escura por um como aliado. Assim que esse indivíduo for retirado
período mínimo de seis horas, podendo ser reduzido da baia e seguir o caminho desejado pelo ser huma-
para corresponder com às mudanças sazonais na no condutor, os demais suínos tendem a segui-lo.
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A
lém das medidas necessárias, há formas sações positivas ou minimizar sensações negativas
de promoção do bem-estar que podem que geralmente acontecem no confinamento.
ser consideradas importantes ou interes- A utilização da criatividade permite o enrique-
santes. É importante enfatizar que grande parte cimento sem incrementar os custos. Muitos dos
delas ainda necessita de mais pesquisas para artefatos podem ser feitos com material reciclável.
comprovação de sua eficácia e aplicabilidade. A Uma vertente de estudos considera que altera-
viabilidade técnica e econômica para as condi- ções ambientais e estimulações sensoriais podem
ções brasileiras deve ser avaliada, considerando ser uma forma de enriquecimento ambiental (enri-
as particularidades do país. quecimento ambiental não convencional).
Em razão das dificuldades de mensurar o bem A legislação europeia preconiza que suínos
-estar dos animais, pesquisas que visem estudar e devem ter acesso permanente a materiais como
divulgar o bem-estar científico, realizando ponde- palha, madeira, feno e serragem para permitir ade-
rações éticas, são importantes para que se consiga quada manipulação e comportamento investiga-
dar credibilidade ao tema, embasar legislações, tivo. Mas há diversos métodos de enriquecimento
melhorar a produtividade dos animais e satisfazer ambiental disponíveis. Como exemplos, citam-se:
o consumidor. Muitas medidas ainda precisam ser corda, corrente, brinquedos comestíveis rígidos e
mais bem estudadas. deformantes.
Várias ferramentas de manejo são apresenta- Um enriquecimento muito utilizado no Brasil,
das diariamente aos produtores e técnicos, como na prática, são as correntes fixas (foto 1), que mui-
alternativas viáveis para melhorar o bem-estar. No tas vezes são penduradas sem critérios. A saber, os
entanto, é importante que se atente para resultados suínos perdem rapidamente o interesse por objetos
de campo, bem como para resultados experimentais introduzidos na baia. Assim, a forma como a corren-
a respeito desses produtos. Muitas questões ainda te é utilizada hoje (pendurada permanentemente)
precisam de subsídio científico quando se trata do pode não ser tão interessante do ponto de vista do
bem-estar dos animais. enriquecimento do ambiente.
A seguir, serão abordadas ferramentas impor- A literatura é controversa com relação aos ga-
tantes e interessantes para o bem-estar que ainda nhos reais em produtividade de animais submetidos
precisam ser mais trabalhadas cientificamente. ao enriquecimento ambiental. Há apenas indicati-
vos de que o enriquecimento pode melhorar a pro-
Enriquecimento ambiental convencional dutividade e a qualidade da carne. Porém, sabe-se
O enriquecimento ambiental é a utilização de que indiretamente esses ganhos são reais, visto que
objetos animados ou inanimados para a criação comportamentos indesejáveis e condições estres-
de um ambiente estimulante e interativo, visando santes resultam em desempenho insatisfatório dos
melhorar a qualidade de vida de animais confinados. animais estressados. Alguns autores concluíram
Esse artifício pode influenciar no desenvolvimento que medidas de enriquecimento ambiental melho-
físico e psicológico dos suínos. Deve estimular sen- ram a produtividade da criação, embora haja auto-
por serem mais ávidos pelo material de manejo que Porém, a quantidade de palha ainda não está bem es-
os criados em ambientes enriquecidos. Porém, em tabelecida, portanto seu uso ainda é empírico.
ambientes enriquecidos, a capacidade de locomo- Sabe-se que o tempo gasto na exploração aumen-
158
ção dos animais é maior, eles são menos inibidos e ta com a disponibilidade de substrato para cama. Isso
entram em contato com o objeto novo mais rapida- mostra que esse material contribui no sentido de aten-
mente, mostrando menos reações de medo. Consi- der à liberdade de o animal exercer seu comportamen-
derando essas informações, pode-se concluir que, to natural. Os substratos também reduzem o tempo
atraindo os animais com objetos, é possível obter ocioso e o tempo gasto com agressividade.
mais sucesso que empurrá-los com objetos. Essa Ambientes enriquecidos com palha podem
informação é importante quando se deseja condu- aumentar o consumo de ração dos animais, me-
zir o animal. lhorando, porém, a taxa de conversão alimentar.
Ao desencadear o sistema de busca do cérebro, Proporcionam ainda maiores taxas de crescimento
inibe-se a sensação do medo. Assim, é provável e carcaças mais pesadas. A qualidade da carne
que, se a estimulação do comportamento de busca também é alterada com a utilização de palha. Nos
for pequena, o comportamento relacionado com o ambientes enriquecidos, alguns encontraram maior
medo seja estimulado. Assim, incentivar a investi- espessura de toucinho, carne mais macia e com me-
gação dos suínos constantemente pode torná-los nor perda ao cozimento.
menos medrosos. No entanto, na prática, a palha e demais subs-
Como substratos para cama, entendem-se os tratos possuem impedimentos operacionais, como
materiais utilizados no interior das baias, sobre os o entupimento do sistema de escoamento de deje-
quais os animais podem deitar-se. Como brinque- tos, além de, por vezes, aumentarem o custo de pro-
dos pode ser utilizada uma infinidade de objetos, dução. Para isso, a frequência e a quantidade a ser
tais como: bola com um sino ou pedras dentro, bal- administrada devem ser mais bem estudadas por
des pendurados, pedaços de tapetes, tiras de tecido, meio de análises de viabilidade. Devem ainda ser
papel picado. estudadas as relações entre o uso dos substratos e
Testes de preferência em baias de suínos apon- as condições climáticas locais.
tam que as palhas são o enriquecimento preferido Na impossibilidade do uso da palha (embora
dos animais. esta seja uma exigência das legislações mundiais),
Os substratos utilizados para formar a cama outras formas de enriquecimento podem ser for-
dos animais são os materiais interessantes para necidas aos animais. Há formas de enriquecimento
serem utilizados como enriquecimento por terem ambiental que obtêm resultados significativos e que
função de estimular o hábito de fuçar, investigar e não oneram o custo de produção. Existem artefatos
chafurdar, por aumentarem o tempo de repleção simples que mostram bons resultados na redução
gástrica dos animais que a ingerem e por reduzirem de comportamentos nocivos ao bem-estar.
problemas comportamentais. É importante consi- O enriquecimento ambiental para suínos é mais
derar que os animais geralmente ingerem o material efetivo na fase pós-desmame, mas pode ser utiliza-
de cama. Essa informação deve ser considerada do com sucesso em todas as fases de criação.
no momento da escolha do material, avaliando sua Outra observação prática fundamental é que
possível toxicidade e outras características de peri- se devem considerar questões de biosseguridade
culosidade para a higidez dos animais. no momento da escolha do enriquecimento. Obje-
Trabalhos que visam determinar a quantidade tos de difícil desinfecção (como cordas e madeira)
ideal de palha são importantes, devendo-se ponde- devem ser evitados, o intercâmbio de objetos entre
rar questões de conforto térmico e de atendimento as baias, impedido, e a desinfecção dos objetos deve
à liberdade do animal exercer seu comportamento ser realizada com periodicidade, considerando o
natural, apontado no conceito das “cinco liberdades”. vazio sanitário da granja.
cionar, por exemplo, como um condicionante a deter- comprovado também que a música clássica aumen-
minado manejo (de alimentação, por exemplo). ta a produção leiteira. Já os estilos rock e o country
A musicoterapia, utilizada com mais frequência em reduzem a produção.
160
humanos, é definida como o uso da música no acom- Os trabalhos de musicoterapia para suínos, no
panhamento de terapias, com objetivos de restaurar, geral, têm apresentado resultados positivos quan-
manter e promover a saúde mental e física. A música na to ao uso dessa prática na produção animal. Um
medicina é mais frequentemente utilizada para influen- trabalho sobre a exposição de suínos na fase de ter-
ciar pacientes em estados físicos, mentais e emocionais minação a dois ritmos musicais (clássico e rock and
antes, durante e após a terapia medicamentosa. Pesqui- roll) concluiu que a ingestão diária de matéria seca
sas mostram que a música pode influenciar os estados aumentou quando os animais foram submetidos
comportamentais, de humor, atitudes, aumentar a vigi- ao rock. Porém, o ganho de peso foi maior nos trata-
lância, a eficiência, a produtividade nos locais de traba- mentos sem música e com música clássica.
lho, reduzir a tensão, a fadiga, o tédio, a melancolia ou a A exposição à música, com a apresentação de
solidão durante qualquer atividade e modular o humor brinquedos, aumenta os episódios de brincadeira
das pessoas em áreas públicas. em leitões na fase pós-desmame, o que constitui um
A influência da música no crescimento das plan- indicador positivo de bem-estar.
tas tem sido objeto de debate científico por décadas. Trabalhos realizados com a execução da Valsa
Para exemplificar, há efeitos positivos da música das Flores, de Peter Tchaikovsky, em baias de creche,
em relação à germinação do quiabo e de um tipo de em quatro episódios musicais diários, apontam que
abóbora. Uma ação acústica pode efetivamente o comportamento pode ser alterado pela música.
influenciar o desenvolvimento de um vegetal, mas Aparentemente, leitões que ouvem música durante
ainda não se tem uma hipótese satisfatória que expli- a maternidade e creche apresentam menos mani-
que essa interação. Em humanos, a música aumenta festações de comportamentos agonísticos (de luta)
os níveis de diversos neurotransmissores, alterando que leitões que só ouviram música durante a creche e
a plasticidade sináptica e as funções cognitivas. Se que o grupo controle. Durante os episódios musicais,
essa tendência se estender a animais de produção (e houve aumento no número de episódios de luta.
há resultados indicando que sim), tem-se uma impor- Considerando a música uma mistura complexa
tante informação nas mãos para melhorar o manejo e de notas, tons, amplitudes e harmônicos, há muitos
incrementar o bem-estar dos animais. estudos a serem realizados na suinocultura. É neces-
Músicas clássicas possuem efeitos apazigua- sário pesquisar, por exemplo, qual o melhor ritmo,
dores para cães. Canções de ninar acalmam os cães, qual a duração dos episódios musicais e quais os
reduzem latidos e sintomas de ansiedade de separa- melhores horários de exposição a esse artifício, para
ção, diminuem episódios de diarreia causados pelo que a música seja considerada um enriquecimento e
estresse e ainda ajudam os cães a dormir. não um desencadeador de estresse para os animais.
Para aves, são poucos os relatos científicos Ou seja, é importante que a utilização da música para
sobre esse tipo de enriquecimento ambiental. No os suínos seja norteada por critérios científicos e não
caso de frangos, o manejo associado à música pode apenas por critérios do bom-senso humano.
aumentar a atividade e o peso corporal dos animais,
mas também aumentar as reações de medo (mobi- Iluminação
lidade tônica) após o transporte. Há relatos de alte- A iluminação também pode influenciar no bem
rações comportamentais em poedeiras, bem como -estar dos animais. O maior número de informações
mudança do leucograma desses animais. comprovadas sobre a importância da luz (fotoperío-
A música também colabora no manejo de vacas do – duração do dia em relação à noite, num período
leiteiras, uma vez que promove a aproximação dos de 24 horas) refere-se à reprodução dos suínos.
animais com o sistema automático de ordenha. É Esses efeitos podem ser sentidos no aparecimento
da puberdade, na taxa de concepção das fêmeas, fisiológicas durante o período de 24 horas do dia.
no tamanho da leitegada, entre outros. Mas pouca Essas modificações são também comportamentais.
informação é constatada quando se trata de seus A melatonina é o hormônio que regula o sono e
161
efeitos no bem-estar dos animais. é produzido pela glândula pineal, fundamental para
Na prática, os conceitos sobre iluminação são o estabelecimento do ritmo circadiano. Seu padrão
pouco utilizados para incremento da produtividade e de secreção e suas respostas a fatores ambientais
bem-estar e, muitas vezes, são empregados sem fun- parecem ser mais complexos nos suínos que nas ou-
damentação científica. As recomendações técnicas tras espécies. Mas, sendo o sono importante para a
são as mais variadas quanto à luminosidade (desma- qualidade de vida e o bem-estar dos animais, fatores
me em condições de baixa luminosidade, escamote- ambientais que influenciam na secreção da melato-
adores iluminados, etc.). Porém, poucos trabalhos nina são importantes.
científicos comprovam essas afirmações – o que não Iluminâncias relativamente altas são necessá-
quer dizer que a prática não valide métodos. rias para suínos gerarem um ritmo diurno de mela-
Para dar subsídios ao uso da iluminação como tonina diferente do padrão para a espécie. Assim,
enriquecimento ambiental, há pouca informação eles parecem incapazes de responder adequada-
sobre o espectro visível de suínos, uma questão ain- mente às mudanças bruscas de fotoperíodo.
da fruto de debates. Alguns especialistas apontam Estudos realizados com cachaços em idade de
que os suínos são dicromáticos. Essa teoria é emba- puberdade concluíram, porém, que a utilização de
sada na presença de cones e bastonetes na retina iluminação artificial controlada pode estabelecer
com estruturas sensíveis à detecção de comprimen- um padrão de excreção da melatonina. Essa infor-
tos de ondas correspondentes ao azul e verde no mação tem importância prática quando se pensa em
espectro visível. Também, os suínos não possuem controle da iluminação da granja.
a terceira classe de cones fotorreceptores, sendo Em humanos, as terapias com fornecimento de
assim, acredita-se que esses animais não consigam iluminação são coadjuvantes no tratamento das de-
perceber luz infravermelha. Outros acreditam que sordens depressivas que estão ligadas à redução da
os suínos possuem visão colorida, por serem capa- luminosidade durante um dia. A remissão dessas de-
zes de diferenciar cores. sordens está intimamente ligada a um aumento sa-
Trabalhos apontam que os suínos podem dis- zonal na luz do dia subsequente. Também, trabalhos
tinguir o azul do verde e vermelho, mas não diferen- desenvolvidos com roedores indicam que a redução
ciam o verde e vermelho (quando na mesma lumino- de luz possui função de colaborar no agravamento
sidade). Assim, os suínos são capazes de distinguir o de estados depressivos. Essas informações apon-
azul de outras cores com base na tonalidade. Suge- tam que a sazonalidade pode ser importante nas
re-se que esses animais possam ser vermelho-verde alterações mentais dos animais.
daltônicos. Estudos relatam que a preferência para Há uma influência no sistema endócrino e no es-
cor de bebedouro possa estar relacionada com o tado imunológico das leitegadas de porcas gestantes
sexo. Um estudo reporta que fêmeas preferiram o que são submetidas a diferentes fotoperíodos.
bebedouro azul, enquanto os machos, o bebedouro Outras alterações comportamentais foram es-
vermelho, e ambos não foram atraídos pelo de cor tudadas para verificar se elas recebiam influência da
verde. luz. Programas de luz em que se estende o período
Ainda para dar suporte às medidas de incre- de luz diária a uma constante 15-16h podem esti-
mento do bem-estar, é necessário compreensão mular a frequência de sucção de leitões.
sobre o ritmo circadiano dos suínos, que representa Trabalhos mostram que, em comparação com
o controle da homeostasia do indivíduo por meio da lâmpadas brancas, os leitões têm preferência
luz. Quando o animal é submetido a um programa por ambientes iluminados com lâmpadas de cor
de luz natural, o organismo apresenta modificações azul. Foram observados comportamentos de
A aspersão do óleo de lavanda pode contribuir ficos para humanos e animais, enquanto a ionização
para a redução de comportamentos indesejáveis positiva causa efeitos nocivos.
como as brigas e vício de morder após o desmame. Pesquisas mostram que elevados níveis de íons
163
Existem poucos trabalhos de pesquisa que negativos no ar exercem efeitos benéficos sobre hu-
relatam o efeito da aromaterapia em suínos, espe- manos, os quais incluem relaxamento, melhoria do
cialmente em condições brasileiras. Sendo assim, bem-estar, redução do cansaço, do estresse, da an-
torna-se importante fazer um estudo mais apro- siedade, da depressão e tensão. Em contrapartida,
fundado sobre os efeitos da aromaterapia e de que altos níveis de íons positivos apresentam efeito de-
forma essa ferramenta pode contribuir para a me- letério, como induzir sentimentos de aborrecimen-
lhoria das condições de criação dos suínos. Mas já há to, irritabilidade, de ansiedade, além de aumentar a
indicativos científicos de que esse seja um manejo produção de hormônios envolvidos no mecanismo
interessante a ser utilizado na prática. de estresse como neuro-hormônios, serotonina,
tanto em animais como em humanos.
Ionização do ar Em animais, a maioria dos estudos foca na me-
Os íons são definidos como uma espécie quími- lhoria da qualidade do ar das instalações e pouca
ca eletricamente carregada, átomos ou moléculas, literatura que mostra os efeitos da ionização sobre
que perderam ou ganharam um ou mais elétrons. os animais é encontrada.
Por sua vez, a ionização é o resultado de um proces- A aplicação de íons negativos em instalações
so pelo qual uma molécula eletricamente neutra ad- para matrizes suínas, matrizes de corte e frangos
quire uma carga elétrica positiva ou negativa. Uma de corte reduz a quantidade de poeira, amônia, gás
fonte de alta energia é necessária para induzir a carbônico, endotoxinas e bactérias no ar.
ionização e a separação de carga. Essa energia pode
ser fornecida por formas naturais (decaimento de Conclusão
elementos radioativos no ar ou solo, cachoeiras, on- Há medidas que não são fundamentais para a
das oceânicas, tempestades) ou artificiais. sustentabilidade da produção, porém podem con-
Embora as moléculas negativas ionizadas no ar tribuir para melhorar a produtividade e o bem-estar
constituam uma pequena porcentagem, a ionização animal. Para implantá-las são necessários mais estu-
negativa do ar tem mostrado produzir efeitos bené- dos comprobatórios e de viabilidade econômica.
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165
T
ão importante quanto produzir bem é medir derar o nível de tecnologia e recursos utilizados no
com precisão a produtividade e tomar decisões processo produtivo e o potencial genético máximo
corretas com base nessas informações. A dos animais. O nível de tecnologia inclui instalações,
suinocultura moderna é uma atividade altamente tec- equipamentos, capacidade de gestão, qualificação
nificada, com margens de lucro relativamente baixas, da mão de obra e boas práticas de produção. Assim
determinadas basicamente pelo preço de venda e pelo como há evolução genética, todas as demais áreas de
custo de produção. Desse modo, a produtividade é um conhecimento aplicáveis na suinocultura também
fator fundamental para otimizar custos e obter ganhos evoluem constantemente, portanto as metas devem
de escala, determinando a sustentabilidade econô- ser revistas periodicamente, caso contrário a granja
mica do empreendimento. Em meio a esse contexto, perderá em competitividade e se tornará inviável
infelizmente ainda existem granjas que não possuem economicamente. As metas aqui descritas, no decor-
um sistema de coleta e armazenamento de dados e as rer de poucos anos, podem e devem se tornar ultra-
decisões são tomadas de forma intuitiva, sem o uso passadas, portanto, cabe analisá-las no contexto do
das informações do processo de produção, ou, quando momento da publicação deste livro.
possuem os dados, são armazenados em folhas de Metas de produtividade devem ser estabelecidas
cadernos ou quadros, o que impossibilita análises mais visando a níveis superiores do desempenho atual do
aprofundadas. rebanho, bem como devem ser revisadas e discutidas
Na suinocultura tecnificada não há mais espaço periodicamente, ou sempre que houver mudanças
para a gestão amadora, e somente as granjas com importantes nos fatores que influem diretamente
uma gestão eficaz e profissional permanecerão no na produtividade, como melhorias nas instalações/
mercado, e o gerente é peça fundamental no pro- equipamentos, genética, número médio de parição do
cesso e, obrigatoriamente, precisa entender que o rebanho (estrutura etária), estação do ano, níveis nu-
modelo de gestão atual exige análise minuciosa dos tricionais, qualificação da mão de obra, entre outros.
dados zootécnicos, extrapolação econômica desses Para o estabelecimento de metas de uma granja, é
dados e, acima de tudo, uma visão global de todo o preciso que se respeitem três premissas básicas: que as
processo de produção, interno e externo. metas sejam específicas, mensuráveis e razoavelmente
A responsabilidade em garantir a integridade da alcançáveis com os recursos disponíveis. Dessa forma,
informação gerada e a consonância com as regras de ao determinar o potencial de produtividade de um re-
negócios da empresa são atribuídas ao gerente, po- banho, não se deve levar em conta o potencial biológico,
rém a coleta e armazenamento dos dados é respon- pura e simplesmente, mas sim o “Potencial Estimado”,
sabilidade de todos os funcionários subordinados à que pode ser calculado da seguinte forma:
gerência. Potencial Estimado = Meta Estabelecida - De-
O estabelecimento de metas de produtividade sempenho Atual.
deve ter como referência outros sistemas de produ- Na prática, alguns questionamentos devem ser
ção similares (benchmarking) e também deve pon- levantados para definir as metas e buscar alcançá-las:
Tabela 1 – Relação das 10 granjas brasileiras que utilizam determinado software, com
maior número de leitões desmamados/porca/ano, entre julho de 2012 e junho de 2013
Tabela 2 – Relação de grupos de granjas separados em piores, médias e melhores, que utilizam
determinado software, classificados pelo desmamados/fêmea coberta/ano (equivalente ao p/p/a).
Performance reprodutiva Piores 10% Piores 33% MÉDIA Melhores 33% Melhores 10%
Número total coberturas 3.626 4.190 4.635 5.575 8.037
171
Porcentagem repetição cio 5,42 5,3 4,54 3,27 3,01
Intervalo desmama 1ª cobertura 6,07 6,17 5,94 5,56 5,47
Número porcas paridas 3.173 3.689 4.151 5.109 7.386
Taxa de parição 88,1 88 89,5 91,4 92,3
Intervalo entre partos 144,15 143,96 144,19 144,38 145,16
Média total nascidos 11,43 11,9 12,78 13,73 14,43
Média nascidos vivos 10,68 11,01 11,77 12,59 13,33
Porcentagem natimortos 4,34 5,04 5,24 5,38 4,63
Porcentagem mumificados 2,18 2,4 2,57 2,79 2,84
Peso médio nascidos 1,44 1,42 1,47 1,44 1,41
Parto/porca/ano 2,39 2,42 2,45 2,48 2,49
Números porcas desmamadas 3.161 3.682 4.139 5.084 7.361
Números leitegadas desmamadas 3.062 3.597 4.138 5.238 7.478
Total leitões desmamados 31.255 37.470 44.880 59.069 90.667
Desmamados/leitegada 10,21 10,42 10,85 11,28 12,12
Desmamados/porca 9,89 10,18 10,84 11,62 12,32
Mortalidade na maternidade 7,4 7,54 7,9 7,7 7,58
Peso médio/leitão desmamado 6,14 5,95 5,98 6,08 6,38
Peso médio ajustado 21 dias 6,21 6,08 6 5,91 5,87
Idade média desmama 21,19 21,11 21,53 22,12 22,86
Desmamados/fêmea coberta/ano 23,63 24,63 26,57 28,81 30,67
Kg desm/fêmea coberta/ano 146,82 149,67 159,31 170,3 179,91
Inventário médio fêmeas 1.387 1.632 1.819 2.204 3.256
Parição média 2,7 2,7 2,72 2,69 2,6
Taxa reposição 54,08 50,28 49,79 48,94 45,68
Taxa de descarte 44,7 44,41 43,43 42,6 38,39
Fonte: AgroceresPIC, 2010
Cabe reforçar que, conceitualmente, matrizes pro- o volume de produção almejado (animais produzi-
dutivas são todas aquelas que já foram inseminadas (co- dos por semana), limitado pelo mercado e pela capa-
bertas) ao menos uma vez, incluindo porcas no intervalo cidade de alojamento das fases de crescimento (cre-
desmame cobertura (IDC) e matrizes para descarte que che e terminação). A partir daí, de forma regressiva,
ainda estejam alojadas na granja, e é importante lem- deve-se determinar os demais índices, ponderando,
brar que as leitoas de reposição, que ainda não foram além das limitações fisiológicas e do potencial de
cobertas, não são consideradas produtivas . cada genética, também a capacidade de alojamento
de matrizes e o ponto de equilíbrio econômico. Ou
Estabelecendo metas para seja, uma granja pode produzir o mesmo número
os índices reprodutivos de leitões que outra, mas com um número bem me-
A primeira premissa para estabelecer as metas nor de matrizes no plantel. Nesse caso, as matrizes
de produtividade na reprodução é determinar qual representam parte dos custos fixos da empresa e o
que vai determinar o número de fêmeas produtivas Para chegar ao número de desmamados/porca/
do plantel é o alvo de coberturas semanais. Cada ano, aplicou-se a seguinte fórmula:
matriz coberta por semana representa entre 19 e
20 matrizes no plantel reprodutivo. Assim, se uma 600 X 52 semanas
Desmamados/
granja cobrir 30 matrizes toda a semana, o plantel porca/ano = Número de matrizes
produtivas
produtivo deverá oscilar entre 570 e 600 porcas.
Para definir o alvo de cobertura e, consequen- No exemplo da tabela 3, para um mesmo núme-
temente, o número de matrizes produtivas do ro de leitões desmamados por semana, consideran-
plantel, tomemos como exemplo quatro granjas hi- do somente a diferença no p/p/a e no NV, a granja
potéticas (tabela 3), com a mesma meta de número pode ter entre 1.002 (granja A) e 1.241 (granja D)
absoluto de desmamados por semana (no caso 600 porcas no plantel, uma diferença de 239 matrizes
leitões), mas com alguns índices de produtividade que influenciará diretamente nos custos de produ-
diferentes: ção. Somente em gastos com rações de reproduto-
1- Granja A: alto parto/porca/ano (p/p/a) e alto res essa diferença representa algo em torno de 250
nascido vivo/parto (NV); toneladas de ração por ano. Existem ainda outros
2- Granja B: alto parto/porca/ano e baixo nasci- custos relevantes com manutenção de um plantel
do vivo/parto; maior de matrizes, como medicamentos, vacinas,
3- Granja C: baixo parto/porca/ano e alto nasci- reposição de leitoas ou mesmo as instalações do
do vivo/parto; setor de reprodução (investimento).
4- Granja D: baixo parto/porca/ano e baixo nas- Embora o desmamado/porca/ano seja o prin-
cido vivo/parto. cipal índice reprodutivo, há ainda outros índices
Considerou-se o p/p/a alto como 2,48 e o baixo importantes que determinam a qualidade dos lei-
tões desmamados, é o caso do GPD dos leitões na melhorar a rentabilidade do negócio, pois redução
lactação e do peso dos leitões ao desmame. Inúme- de custos nem sempre significa maximização do
ros fatores interferem nesses índices, em especial lucro ou minimização dos riscos. O cálculo do re-
o peso ao nascer, a alimentação e saúde da porca na torno sobre o investimento é realizado utilizando a
lactação, a idade ao desmame e a saúde dos leitões equação:
no período. Alguns sistemas de produção avaliam
ainda a uniformidade dos leitões ao nascimento e/ [(retorno – investimento) / investimento] x 100
ou ao desmame, pela pesagem individual e pela de-
terminação do coeficiente de variação. Na prática, existem diversas formas de avaliar a
viabilidade econômica de um investimento, de acordo
Índices de crescimento com o potencial de melhoria que ele pode gerar.
As fases de crescimento (creche, recria e termina- Rotineiramente, as equipes técnicas discutem
ção) têm mais ou menos os mesmos parâmetros a se- muito a respeito dos índices técnicos, porém o custo
rem medidos, quais sejam: conversão alimentar (CA), médio/kg de ração na terminação tem um impacto
ganho de peso diário (GPD) e taxas de mortalidade e muito grande sobre o custo de produção e a renta-
descarte. O descarte representa um produto vendido bilidade. Se não forem trabalhados juntos, custo e
em não-conformidade, com valor menor do que o índices técnicos, corre-se o risco de que o ganho de
suíno normal, representando um potencial de ganho, produtividade seja anulado pelo custo alto da ração
se reduzido esse índice. Nesses setores a variabilidade (tabela 4).
(uniformidade de peso), que nem sempre é avaliada, Nesse caso, uma ração R$ 0,05/kg mais cara,
também pode ter importância no valor de comercia- cujos benefícios são uma melhora de 0,050 unida-
lização dos animais e na determinação de estratégias des na conversão alimentar (2%) e um aumento de
especiais para recuperação de grupos de animais que 0,025kg no GPD (3%) implica R$ 8,00 a mais/suíno
destoam negativamente dos demais. com ração. O valor de venda por peso vivo desses
Por ser a alimentação o principal componente animais é de R$ 288,75 para 105kg e R$ 295,62
do custo de produção dos suínos, a conversão ali- para 107,5 kg, uma diferença de R$ 6,87.
mentar normalmente adquire maior importância na Calculando o retorno sobre o investimento pela
avaliação dos setores de crescimento. Entretanto, equação [(retorno – investimento) / investimento]
o foco exclusivo na redução de custos de produção x 100: [(6,78-8,00)/8,00] x 100 = -15,25%, ou seja,
pode ser uma estratégia não muito eficiente para dentro dessa situação de ganhos de produtividade,
Tabela 4 – Simulação da interação entre dados técnicos e custo da nutrição na fase de terminação
não é viável economicamente utilizar a ração de como um índice expresso em percentual. Esse tipo
R$ 0,55/kg, mesmo que os índices técnicos sejam de informação serve apenas para indicar relativa-
melhores. mente a dimensão da perda e não é uma boa ferra-
menta para auxiliar na decisão de quais ferramentas
Valor da mortalidade podem auxiliar na solução dos problemas.
A perda de suínos devido à mortalidade é um A coleta de dados e gerenciamento da morta-
dos índices mais facilmente medidos nos sistemas lidade e eliminação de animais pode ser mapeada
de produção. Apesar disso, essa perda geralmente de acordo com a fase e a causa. Com esses dados, é
é subestimada, pois é calculada apenas pelo valor possível definir medidas de controle voltadas para
que poderia ser recebido se os suínos estivessem as ocorrências.
vivos, quando deveriam ser considerados também O uso de fichas de coleta de dados preenchidas
os custos investidos na produção desse animal até o por pessoas treinadas para a identificação macros-
momento da morte. cópica das causas de mortalidade é uma forma inte-
A tabela 5 apresenta uma simulação simples do ressante de construir um mapeamento da dinâmica
impacto econômico da redução da mortalidade em dos agentes nos plantéis. Esse mapeamento pode ser
30% num sistema de produção que aloja 1.300 suí- realizado nas maternidades, creches e terminações.
nos/mês na terminação.
Dividindo o valor obtido com o maior número Variabilidade nas fases de crescimento
de suínos vendidos pelo número total de vendidos, O coeficiente de variação (CV) é um indicador
é possível verificar que aumenta a receita bruta do que avalia a instabilidade de uma variável e é obtido
produtor em R$ 3,22/suíno vendido. Em um ano, o pelo seguinte cálculo: divisão do (desvio padrão/
valor bruto produzido a mais é de R$ 49.335,00. média) x 100. O coeficiente de variação do peso vivo
A mortalidade costuma ser tratada apenas na entrada da terminação deve ser de 15%, reduzi-
do para 9% ao abate.
Tabela 5 – Simulação do impacto direto A preocupação com a falta de uniformidade
da mortalidade na terminação
em lotes de suínos ainda é bastante negligenciada
Mortalidade no Brasil principalmente pelo fato de o sistema de
Alojados/ mês
3% 2% remuneração ainda não considerar padrão de peso
1.300 1261 1274 ao abate e pela imposição do sistema todos dentro/
R$ R$ todos fora de retirada de todos os suínos no mes-
Valor bruto/ mês*
398.791,25 402.902,50 mo momento. Outros aspectos também ligados
Valor/mês R$ 4.111,25 ao estudo da variabilidade dos pesos devem estar
Valor/suíno vendido** R$ 3,22 relacionados com o custo de produção dos animais
* Preço do kg suíno vivo R$ 2,75 e peso de venda 115kg. mais leves, o qual geralmente é mais elevado, e com
**Valor/mês dividido pelo número de vendidos. o custo de oportunidade embutido nessa categoria.
A variabilidade dos pesos implica a definição efeitos limitados, se o restante da cadeia não for tra-
de uma categoria de leves ao final de cada fase, ou tada ao mesmo tempo.
seja, determinação de um desempenho esperado
175
e mensuração de quantos indivíduos na população Índices de plantel
não atingiram esse desempenho. Não existem mais Os índices gerais que resumem a eficiência de
dúvidas a respeito da importância de medir a varia- uma granja e sintetizam todos os demais podem ser
bilidade dentro de cada granja para definir medidas considerados índices de plantel e facilitam a com-
que atuem na redução dos efeitos sobre a rentabili- paração entre diferentes sistemas de produção. Os
dade. Certamente, incluir mais essa tarefa na rotina principais são:
das granjas não é uma tarefa fácil, porém é possível »» Peso (quilos) de leitões desmamados/porca/
e já vem sendo realizada em um número cada vez ano ou peso (quilos) de cevados vendidos/
maior de granjas. porca/ano – o peso depende diretamente da
Em situações sem intervenção, 30-35% dos suí- quantidade de partos realizados por porca/
nos nascidos vivos podem se tornar refugos, leves ano, da média de leitões nascidos, da morta-
ao abate ou morrerem (mumificados, natimortos, lidade de leitões e do ganho de peso diário do
mortos na lactação, mortos na creche e mortos na nascimento ao abate.
terminação) durante o ciclo de produção. »» Conversão alimentar de rebanho – depende
Além do custo de oportunidade gerado pela diretamente da quantidade (quilos) de ração
variabilidade dentro das granjas, o mesmo se repe- consumida em toda a granja, incluindo o plan-
te na indústria, na qual a falta de uniformidade das tel reprodutivo, em relação ao peso (quilos)
carcaças se transforma num grande problema para de animais vendidos.
o atendimento das exigências dos mercados consu- Pode-se incluir entre os índices de plantel os
midores. dados gerais do plantel reprodutivo, como as taxas
O melhor é que seja definida a categoria de de descarte, reposição e mortalidade de matrizes e
maior rentabilidade dentro de cada sistema e que a composição etária do plantel reprodutivo (ordem
se faça uso de ferramentas para que o maior número de parição das matrizes alojadas).
possível de animais encontre-se nessa faixa. Mais recentemente alguns sistemas de produ-
Como a sanidade tem um efeito muito importante ção têm avaliado o grau de exploração das instala-
e talvez o mais importante sobre a variabilidade, o ções com base nos índices exemplificados abaixo:
controle clínico e subclínico das enfermidades é uma »» Kgs vendidos por gaiola de maternidade;
estratégia fundamental de redução de variabilidade. » » Kgs vendidos por metro quadrado de
Nesse ponto, existem vacinas, medicamentos e mane- construção;
jos que podem ser utilizados para reduzir e manter sob »» Partos por gaiola de maternidade/ano.
controle as causas sanitárias de variabilidade.
Em sistemas de fluxo contínuo, a retirada par- Sugestões de metas
celada de animais também pode ser uma estratégia Conforme comentado anteriormente, a defini-
para diminuir a variabilidade no peso. Dentro de ção de metas depende de uma série de fatores, como
limites aceitáveis de tempo de permanência dentro genética, instalações, nutrição, manejo e até mesmo
das instalações, pode-se se retirar antecipadamen- mercado de venda e composição de custos. A evolu-
te os animais de melhor desenvolvimento e retardar ção constante da suinocultura faz com que valores
a retirada dos animais mais leves. de hoje, em poucos anos, sejam ultrapassados. Além
Há variabilidade da terminação sobre os efeitos disso, uma série de tecnologias, como imunocastra-
do comportamento dos dados do restante do siste- ção, uso de ractopamina, rações diferenciadas para
ma de produção, desde o peso ao nascimento. Por sexos e até mesmo a forma de arraçoamento (restrito
isso, as estratégias de intervenção podem ter seus ou à vontade), interferem diretamente na conversão
Tabela 6 – Sugestão de metas para alguns parâmetros de produtividade, para sistemas de produção de
suínos modernos e com alta tecnologia. Considerada venda de cevados com 100 e com 120kg
de terminação e são objeto de análise em outros capí- razoáveis para a grande maioria dos sistemas de pro-
tulos deste livro. Portanto, na tabela 6, são sugeridas dução brasileiros se manterem sustentáveis técnica
metas que, no ano de 2013, podem ser consideradas e economicamente.
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Gestão estratégica e o custo de produção savam despercebidos, pois as boas margens conti-
A
tualmente a administração das granjas de nuavam a cobrir a perda, já estão se tornando raras.
suínos exige uma visão multidisciplinar dos O problema maior reside em identificar a perda so-
gestores, uma vez que seu desconhecimen- mente no resultado financeiro final, ou seja, quando
to pode levar à interpretação inadequada dos resul- temos piores lucros operacionais (Lucros antes de
tados do negócio, bem como dos destinos definidos juros, impostos, depreciação e amortização - EBIT-
para este. DA) ou, por vezes, prejuízos.
Estamos atualmente em um mercado caracteri- Quando não utilizamos o custo de produção
zado por fortes oscilações de preços de insumos e de como ferramenta de gestão, torna-se significati-
produto final (suínos ao abate), diretamente influen- vamente mais difícil identificarmos os desvios pro-
ciados por fatores nacionais e internacionais, o que dutivos que estão gerando perdas, principalmente
torna ainda mais complexa uma gestão eficiente. quando esses desvios são menores, mas, somados,
As margens de lucratividade têm sido menores geram, ao final, perdas significativas.
com o passar dos anos, exigindo então que, para É comum observarmos granjas dentro da mes-
mantermos a rentabilidade do negócio, sejam neces- ma região, com número de matrizes semelhante,
sários não somente ganhos em escala, mas também ou seja, possuem potencial de compra de insumos a
ganhos em eficiência, ou seja, produzir maior volume, preços próximos e ainda assim possuem de R$ 0,10
com menor tempo e a um custo mais baixo. a até R$ 0,30 de diferença em seu custo por quilo
A gestão estratégica dos custos se torna dentro de suíno vivo produzido. O impacto dessa realidade
desse perfil de necessidades uma ferramenta indis- podemos perceber, ao imaginarmos o reflexo em
pensável para o sucesso do negócioe as habilidades lucratividade, quando o preço do quilo do suíno au-
em gerir custos serão certamente um diferencial menta ou diminui R$ 0,10, R$ 0,20 ou R$ 0,30.
para separar granjas lucrativas de granjas não lucra- O custo de produção, quando segmentado, nos
tivas nos próximos anos. fornece informações a respeito dos valores gastos
com mão de obra, milho, farelo de soja, manutenção,
Utilização dos custos de produção administração, entre outros gastos. Dessa forma,
como sistema de gestão em granjas quando temos a informação rotineiramente gerada,
Por formação, quando pensamos em gestão das podemos analisar onde está aumentando nosso cus-
granjas, pensamos inicialmente em gestão de índi- to e consequentemente diminuindo nossa lucrativi-
ces zootécnicos. Porém, nos dias atuais, se tornou dade, e então voltarmos nossos planos de ação para a
fundamental não somente acompanhar os números recuperação da margem que está se perdendo.
de produtividade, mas também saber quanto cus- Ainda, a gestão que considera estratégia em
tou para se produzir. custos gera uma tomada de decisão mais ágil por
Com a diminuição das margens de lucrativida- conseguir identificar objetivamente a perda. Em
de, perdas em eficiência ou investimentos de baixo períodos de crise, por exemplo, as granjas que
retorno que muitas vezes seus maus resultados pas- acompanham seu custo de produção rotineiramen-
Custos variáveis são itens que se incorporam útil do equipamento para que possa ser reposto ao
totalmente ao produto em curto prazo, não sendo final da sua vida útil.
reaproveitados em outros ciclos produtivos. Exem- De forma semelhante ainda temos o custo sobre
180
plos: mão de obra, despesas com alimentação do o capital investido (CSCI). Esse item dificilmente é
rebanho, reprodutores, medicamentos, alguns im- percebido pelo produtor, entretanto ele é importan-
postos (IRPJ, PIS, CONFINS etc) e despesas gerais. te na análise de rentabilidade. O CSCI representa a
Enfim, os custos variáveis são aqueles que remuneração mínima desejada pelo produtor para se
deixam de existir, se o processo de produção for manter na atividade. Ela também pode ser entendida
interrompido. como a remuneração mínima que o produtor poderia
estar obtendo em outro tipo de investimento produ-
Custos fixos tivo ou financeiro. Ela parte do pressuposto de que
Os custos são denominados fixos (tabela 2) por- o capital tem um valor. Ele não gera riqueza por si só,
que não são alterados em função da quantidade de entretanto ele pode ser utilizado por outro empre-
suínos produzida. São aqueles que não variam com sário em uma atividade produtiva e esse empresário
a quantidade produzida, e sua renovação acontece poderia estar disposto a pagar um prêmio por utilizar
em longo prazo. Exemplos: a depreciação (benfei- esse capital (juros).
torias, animais destinados a reprodução e serviços,
máquinas, implementos e equipamentos), alguns Análise de rentabilidade
impostos (ITR e IPVA), seguro, remuneração do ca- De forma similar aos itens de custos, a renda
pital fixo etc. possibilita desagregação em níveis de classificação
Em geral, por já terem sido pagos ao longo dos hierárquicos análogos: renda total, margem opera-
anos, deixam de fazer parte da visão do agricultor. cional, margem bruta, lucro ou renda líquida.
Esse é um grande erro, pois as instalações e equipa-
mentos devem receber manutenção e, ao final da Renda total
vida útil, devem ser repostos. O capital necessário Representa o resultado da atividade em valores
para a reposição das instalações e equipamentos monetários. Na atividade suinícola as receitas são
deve vir da própria rentabilidade da atividade. provenientes principalmente da venda de animais
Dessa forma, o custo fixo deve ser considerado para abate ou para engorda e descarte de animais de
uma poupança que o produtor faz ao longo da vida reprodução. Em alguns casos, o esterco produzido
pode ser uma fonte de renda quando existir merca- produtividade somente terá correlação direta com
do efetivo para ele ou em casos em que a transferên- lucro se o custo unitário se mantiver constante. De
cia interna do esterco como fertilizante represente forma geral, pode-se adotar a seguinte máxima:
181
uma economia na compra de insumos (custo de dis- A tecnologia somente deverá ser adotada, se os
tribuição menor que o valor fertilizante). custos decorrentes da sua implementação forem in-
feriores aos retornos incrementais que ela fornecerá.
Lucro ou prejuízo
O resultado financeiro da propriedade é o de- Lucro da tecnologia = incremento de renda - custo
terminante da sua sustentabilidade econômica. incremental
Ele depende da relação entre a receita e o custo e
o resultado é expresso em renda líquida, margem
líquida e margem bruta (tabela 3). Assim, por exemplo, se a adoção de uma prática
No longo prazo, para que a empresa possa se man- for levar a um incremento de 10% no custo de pro-
ter, é necessário que a renda líquida apresente resul- dução, sua efetividade econômica somente ocorre-
tado positivo. No curto prazo, a empresa pode operar rá se a receita incremental for superior a esse custo.
mesmo com esse indicador apresentando sinal negati-
vo, desde que a margem bruta tenha sinal positivo. Quilos de leitões desmamados
por porca por ano
Indicadores para medir a Esse indicador mede a eficiência técnica da
eficiência da suinocultura granja e repercute diretamente sobre a eficiência
Ao longo dos anos diversos indicadores são econômica da unidade de produção de suínos (UPS).
utilizados para mensurar a eficiência técnica dos Ele é obtido pela divisão da quantidade de leitões,
sistemas de produção de suínos. Muitas vezes os na saída da maternidade, produzidos e ou produ-
produtores e técnicos, ao buscarem maximizar zidos, expresso em kg número total, pelo total de
esses indicadores, esquecem que produtividade é matrizes alojadas na UPS.
um bom indicador, porém não é sinônimo de lucro. A Exemplo: considere uma UPS com 250 matrizes
RENDA LÍQUIDA
MARGEM LÍQUDA
(ML=rt (CO)
(LUCRO)
MARGEM BRUTA
MB = (RT-CV)
CUSTO DE OPOR-
TUNIDADE DO
CAPITAL
RENDA TOTAL
DEPRECIAÇÃO
CUSTO TOTAL
(RT)
CUSTO OPERACIONAL
DO CAPITAL
(CT)
CUSTO VARIÁVEL
(CO)
(CV)
e cada matriz tenha produzido em média no ano 26 melhante ao de uma caderneta de popança.
leitões na saída de maternidade com peso médio Exemplo: a margem líquida anual (diferença
de 6,5kg. O indicador é calculado multiplicando 26 entre receita bruta e custo operacional) foi de R$
182
leitões × 6,5kg, que é igual a 169. Quanto maior esse 42.000,00, o ativo imobilizado (soma de todos os
índice, melhor a UPS. investimentos) é de R$ 600.000,00 e multiplicando
o seu resultado por 100 (R$ 42.000 ÷ R$ 600.000 ×
Conversão alimentar 100 = 7%), isso significa que a taxa de remuneração
Esse é um indicador amplamente utilizado na anual do capital imobilizado foi de 7%, portanto,
zootécnica para determinar eficiência técnica da superior ao valor pago pela caderneta de poupança.
UPS. Ele mostra quanto em média foi necessário de
ração para produzir um kg de suíno. Sanidade do rebanho
Esse indicador, ainda que importante na ava- A sanidade animal não apresenta um indicador
liação técnica da UPS, apresenta a limitação de ter para mensurar sua eficiência. De forma geral, ela é
pouca ou nenhuma relação com a eficiência econô- parte de todos os indicadores técnicos existentes,
mica da UPS, pois não possui total relação com esse pois interfere diretamente sobre a produtividade do
indicador, considerando que é possível possuir uma rebanho. Esse item tem grande relação com o manejo
alta eficiência técnica em termos de conversão ali- do rebanho, portanto também está relacionado com a
mentar e, em contrapartida, apresentar uma baixa qualidade das instalações e ao dia a dia da UPS.
rentabilidade do sistema. O monitoramento do seu custo permite de-
O melhor é calcular o retorno econômico obtido tectar problemas de manejo existentes, antever
pela ração consumida, que é a junção do indicador téc- problemas sanitários graves e caminhar de forma
nico com variáveis econômicas. O indicador é obtido estratégica em direção aos interesses e objetivos
pela fórmula: consumo total de ração no ano × custo dos consumidores atuais na busca de um alimento
médio do kg de ração/total, em kg, de suínos vendidos mais seguro. A visão de alimento seguro diverge
× valor médio recebido pelo kg de suíno vendido. do conceito clássico do passado de segurança ali-
mentar. Na segurança alimentar, estamos falando
Terminado porca por ano em volume, e, no alimento seguro, nos referimos
Esse é também um indicador amplamente acei- à qualidade. Essa qualidade está relacionada com
to na literatura para medir a eficiência técnica de as características nutricionais, a inexistência de
uma UPS. Ainda que importante, também deve ser contaminantes químicos e biológicos (nesse caso
analisado com cautela pelo produtor, pois é neces- os resíduos de antibióticos são um temor cada vez
sário ter em mente o segundo paradigma. O que é crescente), o baixo impacto ambiental, a inexistên-
melhor, produzir muito com alto custo ou produzir cia de serviço escravo na sua produção, etc.
pouco com baixo custo.
O melhor é produzir uma síntese entre esse indi- Pontos importantes para a
cador, kg de leitões produzidos porca ano e o retorno gestão financeira da granja
econômico da ração consumida nas diversas fases. A atenção com o custo fixo não pode servir para
que o produtor busque a sua minimização. A quali-
Taxa de remuneração do dade dos equipamentos e instalações afetam direta-
capital imobilizado mente no desempenho dos animais e podem prejudi-
É o percentual resultado da divisão da margem car/potencializar os resultados zootécnicos da UPS.
líquida pelo capital investido sem ou com terra. Indica O custo fixo representa, para a suinocultura em ciclo
quando a UPS ganha para cada real de capital investi- completo 7,92% do custo total. No caso da UPD (até
do. Se o retorno de uma propriedade for, por exemplo, o desmame) e UPL ( até saída de creche), ele passa a
de 6% ao ano além da inflação, o rendimento será se- ser de 13,35% e 12,04%, respectivamente.
Como pode ser observado no parágrafo anterior, Para os sistemas de produção ditos indepen-
o investimento em custo fixo, desde que afete os itens dentes (produtores que utilizam o mercado spot
de custo como nutrição, mão de obra, sanidade como nas suas relações de compra e venda), o item de
183
de receita no caso do desempenho zootécnico, pode produção que mais compromete a renda é a alimen-
apresentar retorno econômico positivo. A decisão tação que, sozinha, responde por mais de 75% do
do produtor em investir em novos equipamentos/ custo total de produção (gráfico 1). Ainda assim,
instalações, dessa forma, dependerá da intensidade na gestão da UPS, é importante ter em mente que
do aumento do custo e da intensidade da diminuição os outros itens do custo de produção (mão de obra,
de custos ou do aumento de receitas. genética, sanidade e ambiência-custo fixo) afetam
Outro problema relativo ao investimento em diretamente a nutrição, portanto não podem ser co-
instalações e equipamentos tem a ver com o tempo locados em segundo plano quando do planejamento
de retorno do investimento e a vida útil dos equipa- técnico da granja.
mentos. Caso o produtor busque recursos no mer- Para os sistemas de produção integrados,
cado financeiro, deve ter em conta que o tempo para conhecidos pelos produtores como comodato, o
pagar as instalações é muitas vezes inferior ao tem- custo de produção do produtor é bastante alterado.
po da vida útil destas. Esse fato pode comprometer Nesse caso, os itens de maior importância no custo
o fluxo de caixa da propriedade. Desse modo, as passam a ser a mão de obra e o custo fixo. Para a UPS,
decisões de investimento devem ser sempre acom- inexistem o custo da alimentação, sanidade, animais
panhadas de uma análise criteriosa da viabilidade e muitos itens do transporte (gráfico 2).
técnica do investimento. Nesse caso, as tecnologias de construções e
Na viabilidade técnica do investimento, além instalações que impactam na melhoria da mortali-
dos tradicionais indicadores de taxa interna de dade, terminados/porca/ano, conversão alimentar
retorno, valor presente líquido, tempo de retorno e outros terão mais consequências sobre a agroin-
do investimento, deve-se levar em consideração a dústria integradora. O produtor será beneficiado de
estabilidade do fluxo de caixa da propriedade. Em forma indireta pela melhoria da bonificação. Quan-
outras palavras, não se deve comprometer a capaci- do a tecnologia for também poupadora de mão de
dade de o produtor honrar com seus compromissos obra, o impacto sobre a renda do produtor rural será
de curto prazo, e isto é efetuado pela montagem de maior, portanto este terá maiores estímulos para
fluxo de caixa da propriedade esperado (trimestral investir. De qualquer forma, é necessário que se
de preferência). faça a avaliação do investimento para detectar sua
0,22%
0,42%
0,67%
1,02%
1,76%
2,10%
2,36%
2,54%
3,76%
4,16%
5,03%
75,97%
0,0% 20,00% 40,00% 60,00% 80,00%
Ciclo completo
Gráfico 1 – Participação percentual dos itens de custo para a produção
de suínos em sistemas de produção independente em ciclo completo
Despesas financeiras
Eventuais
184
Funrural
Mãos -de-obra
UT UPL UPD
Gráfico 2 – Participação percentual dos itens de custo para a produção
de suínos em sistemas integrados de produção – Unidade de terminação
viabilidade para o produtor. De forma semelhante, a somente aplicado na área agrícola, em localidades
agroindústria deve perceber que, em muitos casos, próximas da unidade de produção e com o relevo
a não-utilização das técnicas modernas lhe traz plano ou levemente acidentado, o custo de distri-
mais malefícios, portanto deve ajustar suas fórmu- buição torna-se mínimo. Em contraposição, caso o
las de pagamento, visando dar viabilidade para o dejetos seja aplicados em áreas distantes da unida-
produtor rural. de de produção e com relevo desfavorável durante
O item transporte tem também uma contri- o deslocamento, esse custo pode ser elevado, o que
buição expressiva no custo de produção, principal- pode tornar necessário a utilização de outra tecno-
mente no caso do produtor integrado. Os dejetos logia para a solução do problema.
de suínos, até a década de 70, não constituíam fator A mão de obra tem tendência histórica de escas-
preocupante, pois a concentração de animais, mes- sez em todos os países do mundo. Assim sendo, é de
mo nas áreas de pequena propriedade rural, era esperar que, seguindo o que já ocorreu no passado,
pequena e o solo das propriedades tinha capacidade a mão de obra rural fique cada vez mais escassa e, as-
para absorvê-los, como adubo orgânico. O desen- sim sendo, devido à famosa lei da oferta e demanda,
volvimento da suinocultura intensiva e o crescente o salário real tende a subir, o que irá induzir a com-
aumento na escala resultaram na produção de uma pra de equipamentos automatizados e mudanças
grande quantidade de efluentes que são lançados na forma de organizar o trabalho, visando diminuir
ao solo, em certas situações, sem critério e sem tra- a demanda por esse fator de produção. Esse fato
tamento prévio. já está acontecendo nos dias atuais na maioria das
Assim como os dejetos não podem ser jogados regiões produtoras brasileiras.
nos cursos d’água ou distribuídos sem critério no Outro importante insumo para o custo de pro-
solo, existem diversos custos atrelados a ele. Na dução de suínos é a energia elétrica. Na suinocultu-
aplicação direta no solo, a experiência recente do ra, seu custo pode ser minimizado pela cogeração
oeste catarinense mostra que os custos podem va- de energia elétrica por meio da utilização de biogás.
riar entre R$/m³ 3,16 e 5,83 naquelas situações em O biogás é composto de gás metano e é proveniente
que há subsídio e R$/m³ 4,62 e 12,08 para situações da fermentação de resíduos orgânicos. A produção
em que não há subsídios. Dessa forma, caso ele seja de suínos tem um grande volume de resíduos orgâ-
nicos líquidos (dejetos + água de limpeza + urina). do custo total de produção e é um dos grandes de-
Esses resíduos podem ser utilizados para produzir finidores da rentabilidade da atividade. O preço do
metano em um biodigestor. Esse metano, por sua suíno pago ao produtor tem correlação direta com
185
vez, pode ser utilizado para fazer funcionar um ge- o preço do milho e do farelo de soja, o que era espe-
rador a gás. A viabilidade desse processo depende rado em um mercado de livre concorrência. Quando
da eficiência na produção de biogás e do valor pago se fala de um produtor independente, esses valores
pela energia elétrica. Valores acima de R$ 0,18/Kwh refletem o seu custo de produção, e os preços des-
podem tornar viável o empreendimento, desde que ses insumos afetam a sua lucratividade. Entretanto,
exista uma escala de produção (acima de quatro mil para os produtores integrados, o modelo de remu-
suínos em terminação). O valor do Kwh rural no Bra- neração baseado no preço base do produtor inde-
sil varia entre R$ 0,23 e R$ 0,30 e, assim sendo, des- pendente causa viés na rentabilidade do produtor
de que o produtor tenha a possibilidade de utilizar rural. Diferentemente do produtor independente
toda a energia gerada na sua propriedade (ou pelo ou daqueles que tenham relação de compra e venda
menos grande parte), essa técnica é economica- com as agroindústrias, os produtores integrados
mente rentável. O subproduto desse processo pode têm somente as instalações e a mão de obra como
ser utilizado em fertilirrigação ou ser tratado para principais itens no seu custo.
depósito nos cursos d’água (essa prática incorre em Dessa forma, para o produtor independente
custos sem contrapartida de receita). de suínos, a manutenção de estoques de milho, que
tem nos últimos anos uma grande variabilidade
Outros fatores determinantes do nos preços e é utilizada em grande intensidade na
custo e da lucratividade da atividade produção de frangos, ovos e suínos, é uma forma
No custo total de produção de suínos, a ração é o eficiente de minimizar o risco. Em geral existe uma
item mais importante, representando mais de 70% relação inversa entre preço do milho e rentabilida-
600 60%
50%
500
40%
30%
400
20%
300 10%
0%
200
-10%
-20%
100
-30%
0 -40%
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
de da atividade, pois os aumentos no custo da ração, Como dito por um grande líder empresarial,
decorrentes do aumento do milho e do farelo de custo é igual a unha, está sempre crescendo. Dessa
soja, não são transferidos integralmente para o pre- forma, a busca por estratégias que minimizem o
186
ço dos produtos de aves e suínos (gráfico 3). Assim, custo de produção deve ser constante dentro da
crises de oferta na produção de milho são acompa- propriedade. Atualmente tem-se observado o au-
nhadas por perda de rentabilidade do produtor de mento no custo da mão de obra. Para o produtor in-
suínos independente. tegrado verticalmente, esse é um dos itens que mais
Além da possibilidade de ganho na armazena- pesam sobre o custo de produção. Sua minimização
gem de milho, essa prática proporciona diminuição decorrerá de estratégias de reorganizar a produ-
do risco do produtor, além de garantir maior quali- ção, aumentar sua escala e o grau de automação das
dade da matéria-prima, que tem efeito direto nos unidades de produção.
coeficientes técnicos de produção. No caso da escala de produção, estudo efetuado
Dentro de um mesmo custo ou com um menor em SC mostrou que, na avicultura de corte, sistema
custo, o aumento na produtividade do rebanho é de produção com maior escala e maior grau de auto-
garantia de maior rentabilidade do produtor. Na sui- mação, apresenta um custo de produção para o pro-
nocultura, para um produtor de leitões, o aumento dutor integrado de aproximadamente 20% menor
do número de nascidos em intensidade maior que a do que o do sistema tradicional. Para a suinocultura,
possível queda de peso médio dos leitões (aumento a escala de produção também produz economia de-
dos kgs de leitões produzidos) é garantia de aumento vido ao potencial de utilizar tecnologias modernas
da sustentabilidade econômica do negócio. de ambiência, climatização e automação.
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Catarina. Concórdia: Embrapa Suínos e Aves, VERRIA, L. C. R.; SANTOS, O. V. dos; NADAL, R.;
C
om a globalização e o boom da tecnologia, a de todo o mundo e em tempo real. As informações
informação passou a assumir seu papel de são criadas, distribuídas e compartilhadas em uma
protagonista, tornando-se a ferramenta celeridade como nunca vimos antes. E dentro das
principal de ação, com lugar de destaque nas ativi- sociedades e das organizações, esse fator vem
dades gerenciais e como base para ações estraté- causando mudanças significativas. Na era da tec-
gicas e administrativas dentro das organizações. nologia digital, a entidade com mais liberdade de
E, diante da grande variedade e disponibilidade de informação vence. Nos modelos de gestão, vive-
fontes às quais temos acesso todos os dias, tam- mos a tendência da pouca hierarquização e da am-
bém vêm ganhando destaque e relevância todos pla abertura. A internet atualmente é considerada
os processos de seleção, análise, classificação, ar- algo certo dentro das empresas, algo que veio para
mazenamento e recuperação da informação, que ficar. O impacto das redes de computadores, da
garantam a sua qualificação. microeletrônica, da nanotecnologia, das telecomu-
Fato é que a informação tornou-se um dos mais nicações é total e interfere diretamente no traba-
importantes recursos das organizações. E, mais im- lho, na educação, no entretenimento, nas artes, no
portante do que ter acesso a ela, é saber utilizá-la. relacionamento entre as pessoas. E a inovação nos
O tempo é algo precioso no mundo agitado de hoje, tempos de hoje requer amplo acesso à informação.
e você não pode perdê-lo nesse trabalho incessante Vivemos o momento da tendência à informação
de filtrar, qualificar e organizar todas as informações aberta, livre e disponível.
que recebe para guardar aquelas que realmente são Esse é o movimento que rege nosso mundo de
importantes e valiosas para a sua vida e o seu negócio. hoje e, por consequência, impacta diretamente a
Quanto mais estruturadas, validadas e qualificadas nossa suinocultura. Atualmente, a carne suína é a
as informações estiverem no momento em que che- proteína mais consumida no mundo, e o Brasil é o
garem até você, mais você poderá dedicar seu tempo quarto maior produtor e exportador. A consolida-
analisando o que é realmente importante. ção do mercado internacional de commodities, im-
É por esse motivo que temas como gestão da pactado por essa onda de mudanças, transformou
informação e gestão do conhecimento tornaram-se também o perfil das granjas e tornou o negócio
fatores fundamentais para o ambiente competitivo e muito mais competitivo. Não dá mais para levar a
para a melhoria dos processos das empresas e insti- suinocultura no caderninho, porque a escala de
tuições. Na suinocultura, falamos muito sobre dados produção cresceu a tal ponto que é humanamente
zootécnicos, índices, indicadores de produtividade impossível ficar apenas em anotações e na memó-
e desempenho, mas são a gestão da informação e a ria. O mundo mudou, a suinocultura mudou. Gran-
gestão do conhecimento que transformam essas pa- jas automatizadas, brincos eletrônicos, coletores
lavras simples em temas realmente importantes, es- digitais de dados, softwares de gestão conectados
clarecedores e diferenciais para a tomada de decisão. à internet, portais de notícias, agroindústrias e co-
Em tempos do movimento chamado de globali- operativas com ferramentas de gestão centraliza-
zação, estamos conectados a dados e informações das, técnicos e gerentes cada vez mais capacitados
189
Dados x Informação x Conhecimento
Nesse grande volume de conteúdo que chega Conhecimento A
todos os dias, você provavelmente já ouviu falar Contextualizando, b
compartilhado e
nas diferenças entre os termos dados, informações, s
com interlocução
t
conhecimento. Mas você conhece bem os conceitos r
INFORmação
e a forma como eles se relacionam? Organizada, manipulável e a
sempre disponível ç
Até mesmo os autores que estudam o assunto ã
sabem que os conceitos algumas vezes se confun- dados o
Em grande quantidade, subutilizado
dem e que não há total consenso sobre eles. Mas, e muitas vezes inacessível
7,7
9,4 7,9
8,4 7,8 8,6 8,3
INFORMAÇÃO
De forma geral, não conseguiremos tomar boas lações de preços dos insumos e de venda, pela
decisões se tivermos como base apenas dados e falta de mão de obra qualificada e por exigên-
informações. É fundamental aliar conhecimento cias sanitárias, ambientais e de controle de
sobre o negócio para que a informação tenha o seu qualidade. O acesso rápido e confiável a infor-
valor e possa realmente nortear a tomada de deci- mações da produção é cada vez mais importan-
são e promover melhorias e eficiência. E para que te para manter o negócio em equilíbrio, reduzir
você possa aplicar seu conhecimento, é fundamen- custos e aumentar a eficiência.
tal ter acesso a informações filtradas, qualificadas e Você já parou para pensar nos meios de tornar
organizadas de forma que você possa fazer análises uma granja mais produtiva, lucrativa e competiti-
consistentes e tirar conclusões sobre elas. É nesse va? Atualmente, o mercado brasileiro já encontra à
ponto que a tecnologia e as ferramentas de gestão sua disposição as melhores empresas de genética,
da informação são fundamentais. nutrição, sanidade e equipamentos. Esses quatro
componentes realmente têm um papel importante
O que a suinocultura ganha com e fundamental para o produtor e devem sempre ser
a gestão da informação? considerados, mas a evolução e os impactos causa-
Se pararmos para analisar a história da suino- dos por mudanças em cada um deles são de médio
cultura, fica evidente o quanto já evoluímos em ter- a longo prazo e exigem uma série de pesquisas para
mos de produtividade. As granjas de hoje são bem avançar. Em contraposição, o manejo da granja de-
diferentes das de 20 anos atrás. Além da evolução pende muito mais do produtor, de sua atitude diante
tecnológica que trouxe melhorias em genética, nu- dos números da produção e dos desafios a enfren-
trição, sanidade, equipamentos e ferramentas de tar, e pode trazer resultados muito mais rápidos e
gestão, evoluíram também as relações entre gran- até imediatos na produtividade. Na suinocultura de
jas, consumidores e empresas. hoje, a informação é a principal matéria-prima e a
Fato é que o mercado tornou-se ainda mais que traz as melhores perspectivas de ajudar as gran-
competitivo e exigente. Os produtores vivem jas a conquistarem melhores resultados zootécnicos
em atenção constante, impactados pelas osci- e econômicos. Ou seja, é a informação que pode tra-
zer impactos mais imediatos para o crescimento da medir e comparar tudo o que acontece na granja e sa-
produtividade e lucratividade. ber se as coisas estão indo bem de verdade.
Agora imagine controlar todos os eventos da Ainda há muita granja coletando “pilhas” de in-
191
granja e todas as variáveis que interferem na pro- formação porque entende que é importante ter re-
dução 365 dias por ano. Como relacionar dados e gistros, mas ainda não sabe bem o que fazer com elas.
analisar os resultados? Sem dúvida, o caderninho e a Do caderninho, os profissionais das granjas passaram
planilha são as opções mais baratas, mas incapazes de a ter acesso a dados por meio de seus novos sistemas
lidar com todo o volume de informações e análises ne- de gestão, mas muitos ainda não conhecem o po-
cessárias. É nesse ponto que os sistemas de gestão de tencial dessas ferramentas e tudo o que elas podem
granja assumem papel de destaque e tornam-se gran- oferecer. Entendemos que agora estamos passando
des aliados para atender às necessidades das granjas por mais uma etapa de transformação: produtores,
do século 21. Apenas de posse da informação pode-se técnicos e gerentes cada vez mais estão buscando
seus sistemas de gestão para extrair e analisar dados, tos concretos para tomar decisões e a informa-
acompanhar a produção e tomar decisões. Estamos ção deve, simplesmente, ser a base para todas as
vivendo um momento em que todos os elos da cadeia ações. Além de investir e acreditar no potencial
192
estão cada vez mais conectados, acessando, analisan- das pessoas (que são peça fundamental em todo o
do e compartilhando informações. processo) é preciso saber coletar, organizar e ana-
Investir em tecnologias, boas ferramentas de lisar as informações da produção de forma a levar
gestão e profissionais que saibam utilizá-las a favor cada parte da granja a ser cada vez mais eficiente.
da granja são fatores que fazem toda a diferença Entender a granja como uma unidade produtiva
para transformar dados e processos em melhores envolve recorrer à informação e não apenas à ex-
resultados na produção. periência ou à intuição, para identificar um gargalo
ou uma área com potencial para melhorar sem ne-
Como começar? cessidade de grandes investimentos. As tabelas 2 e
Para acompanhar essa nova onda da Era da 3 podem ser usadas para analisar em que nível de
Informação, o gestor ou consultor deve buscar fa- gestão a empresa se encontra.
Some os pontos das caixas “análise das informações” e “tomada de decisão” e divida por 2. Pegue esse
B
resultado e localize a posição no eixo B do Quadro 1.
EIXO A
Qual a qualidade da informação que você usa?
193
5 GESTOR QUE CONTROLA BEM, GESTOR BEM PREPARADO PARA
MAS DECIDE NO INSTINTO TOMADA DE DECISÃO
Tem informações sistematizadas, mas não as Tem informações sistematizadas, de
utiliza como base para a tomada de decisões. qualidade e disponíveis no momento que
precisa tomar alguma decisão. Utiliza fatos
4 Tem potencial para grandes ganhos de e dados para fundamentar suas decisões.
produtividade, basta dedicar tempo
para utilizar a gestão e a informação Geralmente seu tempo é dedicado a pensar
em benefício do seu negócio. estrategicamente seu negócio, melhorando sua
operação e maximizando seus resultados.
3 Tem potencial para se tornar sustentável
em longo prazo, mas precisa buscar mais Tem um alto grau de sustentabilidade
fatos e dados para suas decisões. do negócio em longo prazo.
GESTOR COM POUCO EMBASAMENTO
PARA TOMADA DE DECISÃO
GESTOR QUE SÓ DECIDE NO
2 Não tem informações sistematizadas,
INSTINTO (FEELING)
mas busca informações para utilizá-
Não tem informações sistematizadas e não usa
las como apoio a suas decisões.
informação como base para a tomada de decisões.
Tem potencial para dar um grande salto
Geralmente utiliza a totalidade do seu
1 em produtividade e resultados, basta
tempo para reagir a problemas, sem saber
colocar a informação como sua aliada, uma
as verdadeiras causas e consequências.
vez que a conduta de gestão já existe.
Tem um baixo grau de sustentabilidade
Tem potencial para se tornar
do negócio em longo prazo.
0 sustentável em longo prazo, precisa
apenas sistematizar sua gestão.
0 1 2 3 4 5
Como você usa a informação no seu processo de gestão?
EIXO B
Para chegar a níveis elevados de uso de infor- 3. Crie uma agenda para análise constante das in-
mação e gestão, recomendam-se alguns passos: formações e extraia ao máximo tudo o que sua
ferramenta de gestão pode oferecer.
1. Utilize a tecnologia como ferramenta de gestão. O acesso e a análise frequentes das informa-
Adote sistemas informatizados que permitam ções deixarão você cada vez mais preparado para
realizar o cadastramento, armazenamento e uso identificar alterações, problemas e oportunidades
das informações e que tornem o processo mais de melhoria, além de permitirem que você tome
confiável, rápido e prático. ações mais rápidas para reduzir os impactos dos
problemas que encontrar.
2. Preocupe-se com a coleta
e a qualidade dos dados. 4. Avalie periodicamente seus resultados.
Crie procedimentos de auditoria do que é cole- Para acompanhar seus indicadores de produ-
tado e cadastrado. Lembre-se, tudo o que acontece tividade, você deve fazer uma análise através do
na granja deve estar no seu sistema. Só assim é pos- que chamamos de “árvore de produção”, ou seja,
sível uma gestão completa e assertiva. escolha o indicador que representa o produto
Desmamados/Fêmea/Ano
194
Reprodução Maternidade
% Morte de Matriz
% Descarte de Matriz
final que você deseja avaliar e vá descendo para uma grande chance de você não conseguir produzir
os índices que impactam diretamente no resulta- melhorias e gerar desperdício de tempo.
do para identificar em que aspectos ocorrem as
maiores perdas. Veja no organograma 1 a “árvore 2. Defina seus critérios de comparação.
de produção” que compõe o índice de desmama- Escolha grupos que você irá utilizar para compa-
dos/fêmea/ano. rar seus dados (produtividade do Brasil, do seu esta-
Outra prática que você deve adotar no proces- do, da sua cooperativa ou agroindústria, por exem-
so de uso da informação a favor da produtividade é plo, e de granjas de mesmo porte que a sua). Escolha
utilizar-se do benchmarking. Comparar-se com ou- aqueles que tenham desempenho produtivo maior
tras granjas é uma ótima oportunidade de perceber que o seu e estabeleça metas que sejam viáveis para
como sua produção está perante as demais e em que a estrutura atual da sua granja. Por exemplo, uma
pontos você, como gestor, pode atuar para aumentar granja com 22 desmamados/fêmea/ano não deve es-
a produtividade. Seu objetivo com o benchmarking colher como alvo imediato, 34 desmamados/fêmea/
deve ser encontrar lacunas entre as melhores prá- ano, e sim 28. Mais importante do que a meta em si é
ticas e o desempenho atual da sua granja com o in- o processo de melhoria dentro da granja, que torna-
tuito principal de criar novos padrões e melhorar rá os resultados duradouros.
processos para atingir melhores resultados.
Algumas dicas para que você possa utilizar o 3. Faça do benchmarking um
benchmarking a seu favor: processo periódico.
O benchmarking é um processo de melhoria
1. Tenha claro qual é o seu ob- contínua que deve ser feito sistematicamente. Sen-
jetivo de comparação. do assim, estabeleça uma rotina para fazer suas
Antes de aplicar o benchmarking, tenha clare- análises e criar seus planos de melhoria. Para a
za do que você deseja com a comparação. Sem ter suinocultura, esse processo deve ser feito mensal-
claramente o que você quer analisar e alcançar, há mente ou bimestralmente.
Top 50 Diferença
Coberturas 1.792
91,88 -3,1%
Partos 2,4 1.596 13,26 -4,4%
6,15 -8,9%
Leitões Nascidos Vivos 12,7 20.269 12,41 -4,8%
2,47 -2,8%
Leitões Desmamados 11,8 18.833
30,68 -7,5%
Animais Vendidos para Abate 17.321 1,37 5,1%
assim, para tirar alguma conclusão sobre a Granja Dentro da nossa Granja Exemplo, há uma série
exemplo e tomar alguma ação sobre ela, apenas os de variáveis que podemos acompanhar e avaliar.
dados da figura 2 não são suficientes, já que não Para trazer um exemplo bem simples, escolhemos
196
temos o contexto em que esses dados estão inseri- como pontos de avaliação os índices de média de
dos. Por ora, são apenas dados soltos. desmamados (MD) e partos/fêmea/ano (PFA), que
Veja novamente o mesmo cenário com um pou- interferem diretamente em nosso resultado de des-
co mais de informações, apresentado na figura 3. mamados/fêmea/ano (DFA). Observe o impacto que
Apesar de termos acesso apenas a uma parte de uma melhoria nesses dois índices poderá trazer.
todos os indicadores que compõem a produtividade Se conseguirmos levar a granja de uma taxa
da granja, passamos agora a ter mais referências so- de mortalidade na maternidade de 6,7% para 6%,
bre ela, algumas das metas que estabeleceu para si nossa média de desmamados será de 11,91 e, por
mesma e seu comparativo com os índices das 50 me- consequência, nosso DFA passará para 28,58 (um
lhores granjas em termos de produtividade dentro do incremento de 0,21 leitão/fêmea/ano). Junto a isso,
benchmarking Melhores da Suinocultura Agriness. se melhorarmos nosso PFA passando de 2,40 para
Com isso à mão, já temos um ponto de parti- a nossa meta de 2,44 (e veja que as Top 50 atingem
da para fazer algumas avaliações e traçar planos índices de 2,47), nosso DFA já passará a 29,06 (0,69
de melhoria. O que precisamos daqui em diante é leitão/fêmea/ano a mais que o inicial). Em uma
fazer análises mais acuradas, destrinchar cada um olhada rápida, o resultado parece pequeno, mas
dos indicadores, encontrar os gargalos e identificar basta fazermos as contas para entendermos o im-
se algo está fora do padrão. Com a visão sistêmica pacto da melhoria.
de todos os processos da granja conseguiremos Em um plantel de 665 matrizes e um DFA de
mapear, planejar e executar as ações de melhoria 28,37, teremos 18.866 leitões desmamados no ano.
de forma mais eficiente e assertiva. Ficará mais fácil O mesmo plantel com um DFA de 29,06 nos dará
definir metas e projetar resultados, além de identi- 19.324 leitões. Uma diferença de 458 leitões ao ano.
ficar erros e corrigir problemas. Quanto isso representa em faturamento? Desconte
ROTA
Ponto Ponto
A Ações
O que precisa ser feito para
B
chegar ao ponto B?
Metas SMART Desejo
Dores
Específicas, mensuráveis, O que você quer para o seu negócio?
Quais são os sintomas?
atingíveis, relevantes e temporais
Onde você está sentindo mais dor? Futuro
Acompanhamento Qual a visão de curto prazo,
Cenário de Dados
Acompanhar as metas médio prazo e longo prazo?
Quais dados temos para trabalhar?
semanalmente e fazer uma
Quais são os parâmetros? Metas SMART
revisão mensalmente
Específicas, mensuráveis, atingíveis,
Diagnóstico
relevantes e temporais
Como está a sua situação real com
base nos dados atuais?
Na suinocultura, o resultado final depende nidades para melhorar os resultados. E é sua atitu-
de muitas variáveis. No mundo globalizado e de diante dos números, dos processos e das exigên-
competitivo de hoje, informação e conhecimen- cias do mercado que promoverá ações que terão
198
to são essenciais para manter-se dentro desse impacto direto na produtividade.
mercado cada vez mais dinâmico e exigente. Lembre-se, um dado é apenas um registro de
Todos os pontos da atividade devem ser acom- um evento. Ele só passa a ser informação quando
panhados de perto, monitorados no dia a dia. É você dá significado a ele. E é o seu conhecimento e
preciso conhecê-los e dominá-los. sua atitude que podem transformar informação em
São os dados organizados e estruturados de ações de melhoria para a granja.
sua granja que irão mostrar como anda a produção, Mais uma vez: informação é essencial para de-
quais são os pontos críticos e onde estão as oportu- cidir o futuro do seu negócio.
Bibliografia
1. ASSEN, M.; BERG, G.; PIETERSMA, P. Modelos de ges- 4. DUARTE, E. N.; SILVA, A. K. A.; COSTA, S. Q. Gestão da
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Kanri). 4ª Edição. Nova Lima: INDG Tecnologia e Pessoa, v. 17, n. 1, p. 97-107, jan./abr., 2007.
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3. Mudando o foco para informação. HSM Management, São Paulo, n. 89, p. 68-74, nov./dez., 2011. Disponível
Paulo, n. 90, p. 40-44, jan./fev., 2012. Disponível em <http://hsmmanagement.com.br/>. Acesso em:
em <http://hsmmanagement.com.br/>. Acesso em: mar. 2014.
mar. 2014.
A
condição do animal em responder ativa- mucosas respiratória e intestinal, respectivamente,
mente aos desafios está relacionada com bem como tecidos linfoides associados às mucosas.
a presença e a integridade de seus órgãos
imunes, também chamados órgãos linfoides, que Sistema imune inato e adaptativo
podem ser primários ou secundários. Cabe aos ór- Todas as células e fatores envolvidos na produ-
gãos linfoides primários, medula e timo, a geração ção da resposta imune são comumente divididos
e maturação de células imunes (leucócitos). Apenas em dois grandes “braços”, embora componham na
após passar por esses órgãos é que os leucócitos realidade um único e indivisível sistema. São esses
recém-produzidos estarão aptos a realizar suas “braços” o sistema imune inato e o sistema imune
funções, aliadas à sobrevivência do animal e ao mes- adaptativo (figura 1).
mo tempo à produtividade ideal. Os órgãos imunes A principal diferença entre o sistema imune inato
secundários compreendem os linfonodos e o baço e o adaptativo está nas células e, consequentemente,
sistemicamente e as tonsilas e Placas de Peyer nas nos processos de ativação envolvidos. Durante uma
infecção, o sistema imune inato será o primeiro a re- 90% da IgM e da IgA são sintetizados localmente na
conhecer o patógeno, agindo de maneira inespecífica glândula mamária. Até o 12º e o 21º dias de vida do
para a eliminação dele. Após aproximadamente 72 leitão, as quantidades de IgA e IgG (respectivamen-
horas, o sistema imune adaptativo será responsável te) na circulação são primariamente dependentes
pela resposta específica contra o mesmo patógeno, da quantidade dessas moléculas no leite (não no co-
culminando com as células imunes efetoras e a pro- lostro). Ou seja, o leitão praticamente não contribui
dução de anticorpos. Na tabela 1, pode-se observar a para a produção dessas imunoglobulinas até essas
proporção relativa de diferentes classes de anticor- datas. A quantidade de IgM na circulação do leitão,
pos em diferentes secreções nos suínos. ao contrário, depende primariamente da sua pró-
pria capacidade de produzi-la, e a IgM passada pelo
Desenvolvimento e maturação: colostro possui pouca importância.
imunidade materna Associado à compreensão do desenvolvimento
Tem sido demonstrado que células e estruturas imune do leitão nos primeiros dias até o desmame,
envolvidas na resposta imune estão inicialmente au- é interessante observar a função imune da glândula
sentes no intestino no nascimento. A colonização do mamária, na transferência de anticorpos prove-
intestino pela microbiota ambiental e as interações nientes da circulação, bem como dos gerados na
com esses micro-organismos residentes é crucial própria glândula. Nas leitoas, a presença de leucó-
para o aparecimento programado dos componentes citos e linfócitos no parênquima mamário aumenta
imunes, não apenas no intestino como em outros a partir do 80º dia de gestação, culminando com a
órgãos imunes. Além da microbiota, os componentes presença de todas as células importantes para a res-
do colostro e do leite relacionados com imunidade posta imune adaptativa presentes durante períodos
(tanto passiva quanto ativa) representam compo- importantes da gestação e lactação. Assim, o colostro
nentes biológicos que afetam a imunocompetência e o leite da leitoa não contribuem apenas com imuno-
do leitão. Até o desmame, esses componentes são globulinas para a imunidade dos leitões, células e ci-
os principais responsáveis pelo sucesso do leitão nas tocinas são também passadas pelo colostro. Há mais
reações contra os patógenos, que entrarão princi- de 2 milhões de células por ml de colostro, das quais
palmente via mucosa. Esta, também chamada imu- 20% são linfócitos, e, desses, 70% são linfócitos T. A
nidade lactogênica, é representada em grande parte importância de mamar o colostro nas primeiras 24h
pelos anticorpos presentes na mucosa intestinal, a demonstra a rápida absorção das imunoglobulinas
IgA secretória, além de linfócitos do colostro. e células nesse momento. As fenestras (janelas) pre-
A placenta suína é do tipo epiteliocorial. As seis sentes no intestino e a baixa presença de proteases
camadas presentes nesse tipo placentário separam nas primeiras 24 horas permitem isso. O manejo nu-
o feto da circulação materna. tricional e sanitário da porca e a ingestão de colostro
Como a placenta da porca impede a transfe- pelo leitão serão determinantes na quantidade de
rência eficiente de anticorpos para o feto e natural- Imunoglobulinas no plasma do leitão nas primeiras
mente para o leitão, a glândula mamária representa semanas de vida. Apesar da meia-vida descrita des-
uma função imune importante. No colostro da ses anticorpos, a percepção de que, aos sete dias, o
leitoa, 100% da IgG, 40% da IgA e 85% da IgM são leitão pode iniciar a produção ativa de seus anticor-
derivados do soro da fêmea. No leite 70% da IgG e pos denota muitas vezes uma curva com uma relação
linear positiva na quantidade de anticorpos no plas- tempo dentro do baço e outros sítios. Apesar do tempo
ma do leitão quando comparada essa quantidade aos reduzido que as células permanecem no baço, o maior
sete e aos 28 dias de idade. Os anticorpos passados fluxo de linfócitos ocorre dentro desse órgão. Essa
203
pelo colostro rapidamente declinam na circulação do circulação constante permite duas funções às células
leitão (dentro de três semanas). Portanto, para o cor- imunes: 1) a formação dos acúmulos celulares pre-
reto desenvolvimento imune do leitão a partir desse sentes no pulmão, por exemplo, discutido acima com
ponto, outros fatores são necessários. respeito aos macrófagos, mas também no fígado; 2) a
Acredita-se que os leitões nasçam com um sis- vigilância imune de todos os tecidos do animal. É por
tema imune mais ativo para respostas Th2, sendo meio da circulação constante, e em um primeiro mo-
primariamente imunodeficientes em respostas Th1. mento não direcionada, de células imunes que existe
Em idades avançadas, a imunidade suína decai, a detecção de antígenos estranhos e o seu transporte
assim como acontece em humanos. A resposta vaci- até os órgãos linfoides secundários, momento em que
nal com o vírus de pseudoraiva é menos pronunciada ocorre a ativação do sistema imune adaptativo.
em animais mais velhos. Há um declínio nas respos- Na defesa contra o vírus da síndrome respirató-
tas Th1, com redução no número de células CD4+ e ria e reprodutiva suína, por exemplo, anticorpos com
CD8+ e aumento no número de células duplamente capacidade neutralizante surgem apenas 56 dias
marcadas CD4+CD8+. Isso indica que as respostas após a infecção, enquanto as células CD8+ encon-
variam com a idade para Th2, já que a proliferação de tram-se em números aumentados já no 7º dia pós-in-
células T é reduzida, mas a quantidade de linfócitos T fecção, e passam a produzir IFN-γ no 14º. Portanto,
é mantida por clones de células B. acredita-se que a capacidade de resistir à doença,
Acredita-se que leitões que não ingerem leite nesse caso, seja dependente principalmente da res-
materno após 48 horas de vida (mas que ingeriram posta imune celular. Já na grande maioria das enfer-
colostro) fazem uma passagem mais rápida para uma midades, a produção e presença primária de diferen-
resposta Th1, aumentando rapidamente a razão en- tes tipos de anticorpos têm grande importância.
tre as células CD4 e CD8 nos linfonodos do sistema Calcula-se que em toda a circulação haja cerca
BALT e possuem mais células CD4+CD8+ nos órgãos de no máximo algumas centenas de células que re-
linfoides durantes as fases iniciais. No mesmo pe- conheçam um antígeno específico.
ríodo, os leitões que ingerem leite expressam mais O resultado da ativação linfocitária é o desen-
receptores de reconhecimento de patógenos (pre- volvimento e exportação de linfócitos que irão se
sentes em células apresentadoras de antígenos). Es- realocar nos tecidos afetados como células efetoras
ses indícios apontam que os animais que não ingerem (plasmócitos, células citotóxicas, células auxiliares).
leite (após 48 horas de vida) precisam passar mais Após a ativação celular dentro das placas de Pleyer,
rapidamente para uma resposta adaptativa do que os por exemplo, sabe-se que os linfócitos suínos atin-
leitões que recebem colostro. gem os linfonodos mesentéricos, e de lá saem pela
Assim, o leite e o colostro são importantes não circulação, como é comum nessa espécie, atingindo
apenas para proporcionar imunidade passiva, mas diretamente o sangue portal. Desse modo, as cé-
são importantes também para o desenvolvimento lulas circulam pelo fígado e pelos pulmões, tecidos
imune da prole. Eles auxiliam no desenvolvimento que possuem reservas de macrófagos, além de re-
do epitélio intestinal e dos tecidos linfoides. circularem por outros tecidos.
Uma segunda e vital consequência da ativação
Ativação imune linfocitária é o desenvolvimento de memória imune.
As células do sistema imune tendem a circular Antes da ativação linfocitária, células T e B específicas
constantemente por todo o sistema, permanecendo para um dado antígeno surgem em baixas frequên-
cerca de algumas horas dentro dos tecidos linfoides cias. Após a interação com as células apresentadoras
nas mucosas, no timo e nos linfonodos, e por menos de antígenos, as células que previamente eram “vir-
gens”, sem contato com antígenos, passam a ser ati- ser, em alguns aspectos, independente do sistema
vadas e multiplicam-se, no processo denominado de circulante, com o intuito de evitar que respostas lo-
expansão clonal, o qual dura de sete a dez dias. Depois calizadas às mucosas, muito frequentes, provoquem
204
da remoção do antígeno, inicia-se o processo de con- inflamações generalizadas. Esse sistema produz
tração clonal, com redução no número de células que grandes quantidades de IgA, secretada para a super-
dura de duas a quatro semanas. Nessa fase, algumas fície da mucosa através de um mecanismo ativo. De
células efetoras (ativadas) sobrevivem e tornam-se fato, a resposta a alguns patógenos parece ser uma
células de memória, sendo mantidas por longos perí- função quase exclusiva do sistema de mucosas. O
odos (podendo durar toda a vida do animal). Essas cé- vírus da síndrome reprodutiva e respiratória porcina,
lulas permanecem nas áreas de linfócitos T dos órgãos por exemplo, replica-se inicialmente nos macrófagos
secundários, respondendo mais rapidamente a um pulmonares, indiferentemente do sítio de entrada do
novo contato com o mesmo antígeno. vírus (por inalação, vacinação IM, inseminação, etc.).
Essa característica tem implicações claras para Assim, a resposta inata pulmonar irá determinar o
a vacinologia, uma vez que o número de linfócitos de destino imunológico contra esse agente.
memória determina a resposta do hospedeiro a um Os imunógenos a que os MALT estão subme-
patógeno após a vacinação. tidos modulam sua atividade. Animais livres de
patógenos possuem linfócitos menos proliferativos
A maturação da resposta nos tecidos linfoides de mucosas do que animais
imune e vacinação comuns. Além de agentes da microbiota, diversas
A ativação imune que se segue após o desenvol- substâncias têm capacidade de amplificar ou redu-
vimento de memória é diversa da resposta primária. zir a resposta nas mucosas. Entretanto, a geração de
Quando um antígeno é detectado pelo sistema imu- respostas específicas (vacinais) através da adminis-
ne pela segunda vez (após ao menos duas semanas, tração de antígenos pelas mucosas requer cuidados
período mínimo para o desenvolvimento de memó- específicos. Antígenos solúveis e não replicantes
ria), a resposta que se segue é baseada na presença administrados pela via oral tendem a induzir tole-
das células de memória. A resposta primária ativa rância imune, ao invés de proteção.
os linfócitos, que se tornam efetores. Entretanto, os
linfócitos de memória não estão mais no estado “vir- Sistema imune e produtividade
gem”, e são ativados mais rapidamente. Os linfócitos Como contrapartida ao lado vantajoso de re-
B, particularmente, produzem mais anticorpos, e sistência a doenças, o sistema imune não pode ser
com afinidade acentuada. ativado indefinidamente, uma vez que pode afetar
A maturação da resposta imune também é uma a produtividade animal. O recrutamento desse sis-
propriedade explorada pela vacinologia. O uso de tema inato imputa ao animal um custo metabólico,
várias doses vacinais tem a função de aumentar que pode ser baixo, quando a eliminação ou diminui-
o número de células de memória, mas também de ção da agressão se dá precocemente, ou um custo
aumentar a afinidade dessas células pelo antígeno muito alto para o indivíduo, quanto mais tempo o
de interesse. Em vacinas de dose única, a estimu- sistema inato induzido precisar agir.
lação da memória pode ocorrer pela presença do O processo de seleção animal ocorre em núcleos
patógeno no ambiente. Os linfócitos T não sofrem com um grau de higidez muito elevado. Entretanto,
maturação por afinidade, mas seu número também a criação comercial dos suínos se dá geralmente em
é alterado ao longo do processo vacinal. ambientes mais imunologicamente desafiadores,
interferindo no potencial genético do animal, em ter-
A ativação do sistema imune mos de desempenho zootécnico. Essa interferência
de mucosas (MALT) se dá mesmo nas situações em que não há um quadro
O sistema imune das mucosas é particular por infeccioso (seja ele clínico ou subclínico). A neces-
sidade de elaborar uma resposta imune, por si só, é pode chegar a níveis notadamente nocivos em
capaz de afetar a capacidade produtiva. alguns quadros patológicos como a sepse. Esses au-
O custo da atividade imune decorre de diversos mentos de ROS provocam estresse oxidativo. Como
205
fatores: custos energéticos, consumo de nutrientes outras atividades metabólicas (como crescimento
pelo sistema imune, desenvolvimento de autoimu- acelerado) também são produtoras de ROS, há, du-
nidade e estresse oxidativo. Podemos utilizar como rante a resposta imune, o aparecimento acentuado
exemplo a fase inata induzida da resposta imune, de estresse oxidativo, que será ainda mais relevante
que é potencialmente a parte mais custosa da imu- no caso de baixa presença de antioxidantes exóge-
nidade. Essa etapa aumenta a demanda por aminoá- nos. As ROS, por serem muito reativas e portanto
cidos para permitir a produção de proteínas da fase terem um tempo de vida média curto no organismo,
aguda e também aumentar a temperatura corporal não são facilmente mensuráveis de uma forma pre-
na resposta febril, além de induzir anorexia. Entre- cisa. Uma boa alternativa é a medição de pares de
tanto, esses custos são de curto prazo e facilmente tióis que participam da regulação do sistema redox.
identificáveis, uma vez que levam a sinais clínicos Acredita-se que animais com diferentes genótipos
e alteração no consumo de alimentos. O “custo” tenham capacidade diversa de controlar endogena-
imune possui reflexos na produtividade mesmo em mente essas espécies reativas.
situações mais sutis, em especial no longo prazo. Sabe-se, por exemplo, que os níveis de monó-
A demanda por micronutrientes como selênio, citos circulantes, células NK, linfócitos B, eosinó-
vitamina E, e vitamina A é também elevada durante a filos e neutrófilos estão correlacionados com o
elaboração de respostas imunes, e a suplementação desempenho de suínos, e a produção de citocinas
desses elementos propiciam um aumento direto da pró-inflamatórias também está associada com
resposta. O desenvolvimento de respostas autoimu- produtividade reduzida. A maior quantidade de
nes também pode acontecer e levar a perdas nas células CD8+ circulantes também parece ser nega-
características produtivas. Na presença de estresse tivamente preditiva da produtividade dos suínos ao
fisiológico, pode haver lesão de células e tecidos, li- longo de toda a vida, ou seja, maiores quantidades
berando epítopos do próprio hospedeiro que podem circulantes dessas células foram correlacionadas
ativar o sistema imune. Essa ativação contra o pró- com menor ganho de peso. Essas correlações são
prio organismo leva a uma resposta autoimune (não mais importantes em animais criados em condições
necessariamente induzindo uma doença autoimune, comerciais do que em animais mantidos sob alta
por ser uma resposta breve). Essa pode ser uma das higidez, demonstrando o impacto do processo de
razões de haver supressão imune durante estresse seleção feito em condições que são muito diferen-
crônico, evitando respostas autoimunes. tes das comerciais.
O aumento metabólico induzido pela ativação Existe, portanto, um ponto de equilíbrio im-
imune leva a um aumento natural na produção de portante a ser atingido na seleção genética, que
espécies reativas de oxigênio (ROS). Ainda mais, as leve em consideração a capacidade dos animais em
células fagocíticas ativadas e as células citotóxicas resistirem à pressão que o ambiente impõe ao siste-
produzem essas espécies reativas para eliminar ma imune, e, ao mesmo tempo, que mantenha a res-
patógenos. O processo infamatório, presente no posta imunológica sob controle, de modo a evitar as
início da maior parte das respostas imunes, é mar- consequências negativas.
cado pela liberação de ROS e RNS (espécies reativas Como discutido anteriormente neste texto, a
de nitrogênio), merecendo destaque a liberação de seleção genética para resistência a doenças não é
óxido nítrico (NO), que tem a função de causar rela- um processo simples, uma vez que a resposta imune
xamento dos vasos, facilitando a diapedese. Porém, também não o é. Em um experimento para analisar
em conjunto com superóxidos, pode causar nitro- a possibilidade de se selecionarem animais resis-
sação de proteínas. A liberação desses compostos tentes a doenças em geral, foram escolhidos suínos
Yorkshire com alta capacidade de produzirem anti- rapidamente ou com melhor qualidade a um desafio
corpos (dependente de CD4, portanto) e respostas infeccioso, enquanto maior resistência indica uma
citotóxicas (CD8) após uma imunização contra um resposta ativa a esse desafio. O termo “resiliência”,
206
dado agente. Animais com alta e baixa resposta imu- mais comumente utilizado, abarca ambas as defini-
ne foram selecionados por oito gerações, criando ções. Selecionar apenas para tolerância ou apenas
linhas com alta ou baixa imunidade (de acordo com para resistência ou mesmo para ambas, sem discri-
o que foi selecionado. Alta imunidade é um termo minar as necessidades de cada situação, pode trazer
genérico que não é aplicável na prática). Após esse consequências que terão impacto na produtividade.
período de seleção, entretanto, foi verificado que os Como alta tolerância não possui impacto sobre a
animais supostamente possuidores de melhor ca- prevalência do patógeno, animais com alta tolerân-
pacidade imune tiveram maior incidência de artrite cia ainda são capazes de espalhar o agente patogê-
em consequência de uma infecção por Mycoplasma nico, influenciando o rebanho. O desenvolvimento
hyorhinis. Diversos parâmetros imunes têm um grau de alta resistência imune pode ter um custo produ-
relativamente elevado de herdabilidade (como o tivo, como discutido acima. Desse modo, é plausível
número de células imunes circulantes), variando que uma das possíveis soluções para a seleção de
entre 0,07 e 0,82. É importante notar que essas ca- animais com melhores características produtivas e
racterísticas têm maior herdabilidade em rebanhos simultaneamente que necessitem de menos inter-
de alto status sanitário, denotando o impacto do venções sanitárias passe pela seleção conjunta de
ambiente sobre o fenótipo imune. Por causa das di- resistência e tolerância.
ferenças observadas em animais mantidos em con-
dições diferentes, é crucial usar como parâmetro de Avaliação imune
seleção dados obtidos no campo. »» Sorologia: é o método mais utilizado. Com
Nesse ponto deve-se definir a diferença entre uma amostra de sangue mensura-se a pro-
resistência a doenças e tolerância. Resistência dução de anticorpos específicos em uma
contra um agente microbiológico pode ser definida determinada doença ou em uma vacinação.
como a redução ativa da carga infecciosa. Isso pode Há ainda a possibilidade de mensuração da
ser feito por inibição da replicação microbiana ou presença de IgA nas secreções ou nas fezes,
inibição da infecção. É possível, por exemplo, redu- método ainda pouco utilizado na prática.
zir a infectividade de E. coli ao epitélio quando da »» Proteínas de fase aguda: correlacionadas
seleção de animais com menos fatores de adesão com o status sanitário das granjas e negati-
intestinal. Tolerância, por sua vez, é a habilidade vamente com ganho de peso. Haptoglobinas
do hospedeiro em limitar o impacto da infecção ao e proteína C reativa têm a concentração
contrabalancear os danos. Desse modo, um hospe- aumentada no sangue dentro de 24 horas em
deiro tolerante terá mais sucesso do que um animal um processo inflamatório, com um pico em
não tolerante em conseguir manter a produtividade 48 horas e retorno ao normal em seis dias.
na presença de uma infecção, enquanto animais Outras proteínas relevantes são a MAP e a
resistentes terão menor incidência ou dissemina- MLB (proteína ligada a manose, importante
rão menos a infecção. Como exemplo de tolerância, para ligação em padrões específicos de pató-
animais da raça Duroc têm menor ganho de peso genos e algumas vezes comuns em alimentos
do que animais mestiços de Large White após uma como a soja). Métodos de detecção são en-
vacinação contra circovírus (são mais tolerantes). saios imunes nefelométricos ou de ELISA.
A principal característica que difere a tolerância »» Haplótipos de SLA (MHC): correlacionados
da resistência talvez seja a ausência de interação com a resistência a doenças, capacidade
do patógeno com o hospedeiro. Maior tolerância de responder a vacinas, importantes em
significa apenas que o hospedeiro se recompõe mais experimentos de transplantes. A tipificação
de haplótipos pode ser feita por sorologia, processos e produtos atualmente é condu-
embora não existam soros que reconheçam zido de modo racional por seu momento e
cada um dos haplótipos, e a reação tem baixa estratégia geral de uso.
207
especificidade. O sequenciamento dos alelos »» Avaliação do estado oxidativo: de forma
pode ser feito em animais de alto valor ge- análoga à medição de proteínas de fase aguda
nético, uma vez que a técnica é dispendiosa. como marcador para inflamação, o estresse
PCR é provavelmente a técnica mais viável, oxidativo (que é aumentado em diversos qua-
utilizando-se iniciadores específicos para dros patológicos e inflamatórios) pode ser
cada alelo. avaliado por meio da medição da relação dos
»» Hipersensibilidade: a hipersensibilidade é, pares redox e/ou tióis livres e oxidados. A me-
por definição, uma resposta imune que se dição pode ser feita de forma inespecífica por
torna prejudicial pelo seu excesso. No en- métodos colorimétricos ou pela busca de pares
tanto, é possível provocar propositalmente redox específicos, utilizando-se, para isso, de
uma resposta de hipersensibilidade cutâ- cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC).
nea através da injeção intradérmica de um Esse parâmetro pode ser obtido localmente em
alérgeno, de modo a permitir a avaliação da tecidos por medição dos pares redox, como glu-
responsividade imune. Animais que nunca tationa reduzida (GSH) e oxidada (GSSG), as-
foram sensitizados ao antígeno injetado não sim como no plasma pode-se medir o potencial
irão responder. A resposta do tipo tardia é redox sistêmico através do par cisteína (CYS) e
definida como uma reação cutânea edema- cistina (CYSS), por exemplo.
tosa e rígida. A resposta imediata é avaliada Todos os conceitos aqui discutidos fundamen-
pelo aparecimento de eritema. tam as principais estruturas envolvidas na resposta
»» - Marcadores celulares: a expressão de imune e as características especiais dessas estru-
diversos marcadores celulares, tanto na turas e momentos de ativação nos suínos. O estudo
superfície celular quanto intracelular, pode das relações de desempenho com resposta imune
ser analisada pelo uso de técnicas como a e a constante demanda por novas estratégias, va-
imuno-histoquímica e a citometria de fluxo. cinais ou não, para o controle das enfermidades,
A utilização dessas ferramentas tem possi- poderão ser assim compreendidos dentro da ótica
bilitado uma compreensão específica dos científica e essencialmente prática exigida para
marcadores (CDs) durante a resposta imune acompanhar a celeridade das transformações nessa
em diferentes estratégias de manejo e de área, a qual culmina com competência de todos os
desafio. Assim o desenvolvimento de novos profissionais e segmentos envolvidos.
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História das vacinas em suínos da vacina de cristal violeta. Em 1950, foi criado, no
A
história da vacinação de suínos está inti- Paraná, o laboratório de produção da vacina contra
mamente associada com a própria história peste suína clássica (foto 1). Na cidade de Jacarezi-
da vacinologia. Apenas dois anos após os nho-PR, instalou-se o abatedouro de suínos infec-
experimentos de Pasteur que levaram à prevenção tados com o vírus do qual se coletavam os órgãos
de doença em aves após infecção por Pasteurella para a produção da vacina. Além do Tecpar (I.B.P.T. à
multocida, foi elaborada a primeira vacina contra um época), o Instituto Biológico em São Paulo também
patógeno de origem suína. Em 1882, após isolarem dedicou-se à produção dessa vacina.
o agente causador de erisipela suína, Erysipelotrix
rhusiopathiae, dois grupos de pesquisadores con- Imunidade e vacinação: o que são vacinas
seguiram reduzir a patogenicidade da bactéria ao Com a compreensão dos conceitos discutidos
atenuá-la em sucessivas multiplicações em coelhos. no capítulo de imunidade suína, é possível res-
Esses animais são apenas modestamente suscetí- ponder às questões o que são e para que servem
veis à bactéria, e, enquanto essas passagens selecio- as vacinas. O ponto de partida para a clareza das
navam bactérias mais virulentas para os coelhos, si- informações é que vacinas devem ser vistas como
multaneamente criavam cepas menos patogênicas ferramentas que, se bem empregadas, auxiliam no
para suínos. Desse modo, a administração dessas controle das enfermidades e melhoram a qualidade
bactérias em suínos era capaz de conferir proteção sanitária do ambiente. Opostamente é compre-
sem levar à doença clínica. A peste suína clássica, ensível que, se mal empregadas, não apenas não
da mesma forma, permitiu um grande incremento contribuirão com o controle, mas trarão um manejo
no campo da vacinologia, com o desenvolvimento desnecessário, com os custos devidos a isso. Vaci-
nação é comumente definida como um processo de
imunização, o que, pela sinonímia, não explica o que
seja. Associar vacina à imunidade é coerente, afinal,
como produto, espera-se algum efeito no organis-
mo pelo estímulo do sistema imune, portanto sis-
tema de defesa. Tradicionalmente pode-se concei-
tuar dessa forma, particularmente nos animais de
produção, como o suíno. Ou seja, utiliza-se a vacina
A para se prevenir contra a mesma doença A. Even-
tualmente, pode-se justificar a utilização de deter-
minadas vacinas em situações em que seu uso em
animais já infectados dentro de uma população terá
Foto 1 – Vacina cristal violeta contra peste suína clássica
(fonte: o autor) efeito terapêutico. A segmentação conceitual para
o que se busca nos animais justifica-se, pois moder- acontece sempre na produção suína). Entretanto,
namente o desenvolvimento de vacinas extrapolou adiar as doses de reforço não é possível no caso de
a questão de prevenção e está fortemente baseado doenças enzoóticas, uma vez que é praticamente
213
em tratamento, contra doenças como câncer e do- certo que os animais contrairão o agente mais cedo
enças autoimunes, por exemplo. Além da vacinação, ou mais tarde. Do mesmo modo, quando a exposição
e até mais do que esta, o próprio efeito dos progra- ambiental ao antígeno provoca “reforço natural” à
mas depende do equilíbrio de fatores associados à vacinação, novas doses também não são necessárias.
exploração, como manejo nutricional e social dos
animais, qualidade do ambiente e fatores genéticos. Características da vacinação em suínos
Dessa forma, com a definição de que se trata de uma Na prática o uso da vacina pode acontecer em
ferramenta, o sucesso de seu uso é obrigatoriamen- dois momentos importantes nos suínos:
te dependente da qualidade e de investimento nos »» Porcas: além da própria proteção do indi-
pontos citados anteriormente. víduo, como seria esperado, a vacinação da
De maneira geral, a resposta imune primária se- porca visa possibilitar a transferência de imu-
guida de uma vacinação ocorre dentro de sete dias, nidade passiva para a leitegada. Isso tem um
com níveis baixos de IgM, principalmente. A respos- impacto não apenas nas primeiras semanas de
ta imune secundária ocorre quando se administra o vida do leitão, mas em toda sua vida produtiva,
mesmo imunógeno novamente após ao menos duas uma vez que a maturação do sistema imune
semanas. A resposta secundária é caracterizada por do leitão é dependente da colonização tole-
ocorrer mais rapidamente do que a primária (dentro rável por micro-organismos, que, apesar de
de três dias) e por ser mais intensa. Como explicado relevante no intestino, impacta na qualidade
anteriormente, vacinas replicantes em geral não de todos os órgãos envolvidos na resposta
dependem de reforço. imune. Da mesma forma, a resposta imune
A maturação por afinidade dos anticorpos se desenvolvida deve auxiliar na minimização do
dá dentro de um período de quatro a seis meses. impacto e presença dos patógenos no ambien-
Um espaçamento de três a quatro semanas entre te em longo prazo. Esse ponto é fundamental,
as doses da vacina permite manter diversas ondas pois, muitas vezes, o que se observa é o inver-
de antígenos que levam à maturação da resposta so, ou seja, a pressão de seleção da vacina no
de anticorpos. Doses subsequentes rápidas (mais patógeno acelera a evolução (mutação) do
próximas do que duas semanas uma da outra) levam mesmo, e muitas enfermidades não apenas
a aumento no título de anticorpos, mas não há esti- se mantêm no ambiente, mas também se des-
mulação suficientemente prolongada para ocasio- viam das respostas originais, fomentando a
nar produção de células de memória. evolução e melhoria das mesmas vacinas.
Por causa dos longos períodos de persistência Imunidade passiva refere-se aos elemen-
das células de memória dentro dos tecidos linfoides, tos imunes passados do colostro materno
um protocolo de vacinação em geral não precisa ser para os leitões. A transferência de anticorpos
recomeçado mesmo se houver longos espaços entre da matriz para a prole é rápida, dentro de
as doses vacinais. De fato, espaçar as doses das va- duas horas após consumo do colostro, já é
cinas inativadas em mais do que duas até quatro se- possível detectar anticorpos protetores de
manas (como são feitos os protocolos mais comuns) origem materna no sangue dos leitões. O pico
tem a vantagem de permitir respostas imunes mais do título de anticorpos é atingido entre cinco
fortes e que levam à maior afinidade dos anticorpos. e 24 horas de vida. A duração de cada anti-
Consequentemente, doses de reforço em geral não corpo materno no neonato é quase tão longa
são necessárias em períodos de baixo risco (quando quanto a dos próprios anticorpos do leitão
o nível de baixo risco pode ser garantido, o que não (meia-vida de seis a 17 dias).
cinação com circovírus suíno durante as três vacinas de mucosa. A vacinação de neonatos
semanas de vida pode prejudicar a geração contra o vírus da pseudoraiva via intranasal
de anticorpos do leitão, se este possuir anti- é capaz de induzir proteção contra infecção,
215
corpos maternos no momento da vacinação. mesmo que os leitões tenham consumido
Ainda assim, a vacina reduz lesões e a carga colostro de porcas imunes.
viral na presença de infecção. Acredita-se Todas essas estratégias, que levam em
que o benefício da vacina mesmo na presença conta a interferência dos anticorpos mater-
de imunidade passiva se deva a um mecanis- nos, devem ser avaliadas em realidades par-
mo de ação ligado à imunidade celular. ticulares de cada sistema de produção, visto
Alguns autores afirmam que a vacinação que o manejo nutricional, as raças, a pressão
de leitões entre 30 e 40 dias é capaz de confe- do ambiente e a vacina administrada deter-
rir imunidade a mais de 70% dos animais. Já foi minarão o sucesso de cada estratégia.
também recomendado que a prole de porcas
vacinadas não deve ser imunizada antes da Vacinas de mucosas
7ª e 9ª semanas de vida. Entretanto, pratica- Na maior parte das circunstâncias, a imunização
mente 100% dos leitões não têm mais níveis não produz quantidades suficientes de anticorpos
protetores de anticorpos maternos nessa ida- (IgAs) nas mucosas de modo a prevenir a infecção.
de, deixando a população suscetível à infecção Apenas após penetrar no organismo o patógeno
oriunda do ambiente ou de animais mais ve- é neutralizado e destruído pela ação do IgG e de
lhos. Assim sendo, em áreas endêmicas, esse outros efetores. Os desafios que as vacinas enfren-
protocolo não é recomendável. tam para encontrar o sistema imune das mucosas
É sugerido, em protocolos experimentais, são os mesmos enfrentados pelos patógenos: eles
que a vacinação dos leitões antes ou apenas estão diluídos em secreções, são atacados por pro-
momentos após a ingestão do colostro per- teases e nucleases e são impermeáveis às barreiras
mita o desenvolvimento de imunidade ativa já epiteliais. Assim, preferencialmente, as vacinas
nessa fase inicial. Utilizando esse protocolo, já destinadas a conferir proteção nas mucosas são
foi possível obter proteção do leitão contra in- compostas de organismos replicantes, de antígenos
fecção por peste suína clássica no período em particulados, protegidos da ação de enzimas. Vaci-
que normalmente estaria a janela de susceti- nas de subunidade são fracos antígenos de mucosa,
bilidade, embora a proteção pareça não estar por exemplo. O uso de adjuvantes específicos favo-
associada à produção de anticorpos. O perí- rece o desenvolvimento de imunidade nesses sítios,
odo necessário de antecipação da vacinação, como as toxinas coléricas e de E. Coli enterotoxi-
considerando-se o consumo do colostro, varia gênica, a vitamina D3, a IL-12, oligonucleotídeos,
entre as vacinas testadas com esse protocolo. flagelinas e porinas bacterianas.
Para obter sucesso com esse protocolo, em Diversos componentes irão afetar a produção
alguns casos é necessário aguardar três horas de imunidade atuante nas mucosas. Entre esses,
a partir da vacinação para que o leitão possa está o sítio de administração da vacina. Como as
consumir colostro, ao passo que outras vaci- vacinas replicantes espalham-se pelo organismo
nas podem ser administradas até três horas naturalmente, o sítio de inoculação tem menor
após o primeiro aleitamento. O pico do título importância. Entretanto, mesmo esse braço da res-
de anticorpos maternos no leitão é variável, posta imune tem uma ação otimizada nas mucosas
e o sucesso da vacinação pré ou pós-colostro quando a imunização é específica para esse sítio.
depende de quão rápido o pico é atingido. Os suínos possuem macrófagos dentro dos va-
Outra solução para evitar os efeitos da sos pulmonares, diferentemente dos humanos. As-
imunidade materna na vacinação é o uso de sim, a presença de partículas intravenosas na região
pulmonar elicita uma resposta dos macrófagos vas- As vacinas autógenas são em geral mais empre-
culares, enquanto em humanos esses agentes ape- gadas contra patógenos cuja grande variabilidade
nas serão removidos da circulação por macrófagos impede a existência de vacinas que confiram prote-
216
no baço ou no fígado. Entretanto, grandes números ção cruzada contra várias cepas. Nessas situações, o
de macrófagos e ativação intensa de citocinas po- isolamento do agente diretamente do local do surto
dem levar a efeitos deletérios sobre o pulmão. De permite o desenvolvimento de vacinas específicas.
fato, é possível que esse seja o mecanismo de ação Por causa dessa mesma característica, esses iso-
da vacinação contra M. hyopneumoniae. A redução lados apenas irão permitir proteção contra cepas
da resposta inflamatória contra o patógeno pode- homólogas. Assim, idealmente, as vacinas deverão
ria explicar os menores escores de lesão pulmonar conter isolados representativos da localidade. As
observados em animais vacinados, bem como os vacinas autógenas deverão ser utilizadas apenas
menores níveis de TNF-α. na propriedade da qual foram isolados os patóge-
nos. Outras situações também levam à escolha das
vacinas autógenas, como a ausência de uma vacina
correspondente no mercado e custo.
Por exemplo, vacinas autógenas contra S. suis
são por vezes utilizadas no campo. Em geral, doses
de bacterinas contra esse patógeno conferem imu-
nidade protetora contra sorotipos homólogos, dos
quais existem cerca de 35 sorotipos. Na produção
de vacinas autógenas, a escolha do adjuvante é
muito importante. O uso de vacinas autógenas deve
ser reavaliado constantemente não apenas pela di-
Foto 2 – Vacinação por via oral. minuição da ocorrência da doença em questão, mas
Fonte: ABCS
principalmente pela monitoria da presença e ca-
Vacinas administradas por via oral (foto 2) con- racterística do patógeno no ambiente. Como essas
tra Salmonella ou contra Lawsonia representam uma vacinas não passam por fases de desenvolvimento
grande vantagem quanto ao mecanismo de ação. muito elaboradas, a pressão de seleção imputada ao
Uma vez que essas bactérias estão vivas na vacina patógeno pode em médio/longo prazo determinar a
e que são intracelulares, o reconhecimento do antí- evolução do patógeno com evasão da resposta imu-
geno vacinal dessa forma, além de gerar a proteção ne e geração de cepas resistentes.
humoral por IgA no sítio de infecção, desencadeia o A implementação de diferentes programas de
braço celular da resposta imune representado pela vacinação nos rebanhos deve levar em conta todos
ativação de linfócitos citotóxicos, importantes no os fatores discutidos aqui e nos outros capítulos.
controle desse tipo de infecção. Por isso mesmo são decisões complexas, e, pela
dinâmica da resposta imune e da evolução dos pa-
Vacinas autógenas tógenos, esses programas devem ser reavaliados
Diversas vacinas autógenas são utilizadas na constantemente. A avaliação constante do sucesso
suinocultura comercial. A normativa técnica brasi- dos programas abrange medidas de prevalência e
leira que autoriza a comercialização de vacinas au- incidência da enfermidade, de redução de lesões e
tógenas define que essas devem ser compostas de condenações no abatedouro e do desempenho zoo-
micro-organismos isolados de uma propriedade na técnico dos animais, entre outras. Desse modo, uma
qual esteja se desenvolvendo a doença específica. recomendação estática e definitiva não existe, mas
Assim, a vacina deve ser livre de patógenos conta- sim linhas gerais e comuns de controle e compreen-
minantes, inativada. são de cada enfermidade. Como uma grande parte
das vacinas utilizadas na suinocultura é composta duas doses na porca durante a gestação. Des-
de dois ou mais agentes, as recomendações para sa forma, o efeito booster da segunda dose
muitas enfermidades seguem manejos racionais, deverá garantir a transferência de taxas ade-
217
com os quais várias enfermidades serão contempla- quadas de anticorpos maternos, importantes
das ao mesmo tempo. Assim é incomum observar para as primeiras semanas de vida do leitão.
uma recomendação de um manejo vacinal especí- Normalmente o esquema de duas doses con-
fica e unicamente para um antígeno. No entanto templa porcas que nunca receberam a vaci-
algumas situações importantes merecem atenção nação e pode ser realizado aos 70-80 dias de
especial, pelo impacto sanitário e econômico, como gestação e o reforço aos 100 dias em média.
é o caso de circovirose, pneumonia enzoótica, pseu- Devido à geração de memória imunológica
doraiva e peste suína por exemplo. nas porcas já vacinadas, principalmente pela
presença de epítopos proteicos das vacinas,
Principais vacinas utilizadas pode-se considerar apenas uma dose em ges-
na suinocultura tações posteriores, manejo esse que deve ser
»» Colibacilose: essas vacinas combatem a Es- avaliado associado ao desafio do ambiente.
cherichia coli enteroxigênica (ETEC, da sigla »» Circovirose: uma enfermidade ainda em
em inglês), que leva à diarreia e à morte no transformação na suinocultura e por isso
período neonatal. Os fatores de virulência mesmo representada por formulações
mais estudados são as fímbrias e entero- modernas, como vacinas de subunidades,
toxinas. As fímbrias permitem a adesão vacinas de VLP e vacinas recombinantes em
bacteriana às células intestinais. A lesão que desenvolvimento. Os programas no Brasil
provoca diarreia é causada pela presença das começaram a ser implementados em 2007 e
enterotoxinas. Grande parte das linhagens visavam inicialmente à vacinação de porcas
de ETEC isoladas de leitões diarreicos con- para geração de imunidade passiva transmi-
tém as fímbrias F4 (K88, que pode ser K88ab, tida aos leitões. Atualmente a vacinação de
K88ac ou K88ad), F5 (K99), F6 (P987), F18 leitões é uma realidade e manejo corrente
ou F41. Comumente as vacinas utilizadas no na produção. Programas contemplam a
Brasil possuem como antígenos as fímbrias vacinação de leitões a partir dos sete dias
F4 (K88), F5 (K99), F6 (P987), além de antí- de idade ou a partir dos 21-26 dias de idade,
genos derivados de toxinas (vacinas de su- mas também observam-se programas com
bunidades). Entretanto, a prevalência desses apenas uma dose no desmame. A resposta
antígenos nos isolados de animais diarreicos imune contra o circovírus suíno é complexa
não é universal. No Brasil, a porcentagem de e abrange fatores mais importantes do que
isolados positivos para as fímbrias citadas, simplesmente a presença de anticorpos ou
em diversas localidades e em diferentes épo- linfócitos gerados pela vacinação. A própria
cas, pode variar, sendo em grande parte dos resposta do animal contra a infecção é um
estudos atuais inferior a 30%. A fímbria F18, componente na patogenia que, em alguns
por sua vez, tem sido demonstrada como casos, mais do que a proteção, revela o curso
sendo um dos fatores de virulência mais pre- dos sinais e da dificuldade no controle com
valentes no País. Ainda assim, a imunidade vacinação. A evolução do circovírus suíno
contra as fímbrias F18ac não é totalmente tem apontado que possivelmente alguns pro-
cruzada com a imunidade contra a fímbria gramas vacinais têm acelerado a transforma-
F18ab, por exemplo, dificultando o desen- ção desse vírus, com detecção de variantes
volvimento de proteção. Manejos comuns do vírus comum, o que pode, em médio/longo
observados no Brasil sugerem a aplicação de prazo, comprometer os objetivos alcançados
dos leitões em fase inicial com vacinações aos bilidade de epítopos de superfície dificulta a
sete dias de idade, com reforço aos 26 dias, eficácia no uso de vacinas comerciais, assim
eventualmente um pouco mais tarde, aos 26 como no caso de pleuropneumonia e doença
219
e 35 dias, e mesmo uma dose única no desma- de Glässer, é comum observar o uso de vaci-
me. Também são utilizados programas com nas autógenas. Os programas visam à vacina-
duas doses durante a gestação nas porcas, ção do leitão após o desmame bem como de
além da vacinação semestral de cachaços. porcas durante a gestação.
»» Pleuropneumonia: as vacinas podem ser de »» Salmonelose: também chamada de paratifo
origem comercial, geralmente contendo os dos leitões ou “batedeira”, frequentemente
sorotipos 1, 3, 4 e 5 da bactéria Actinobacillus associada à infecção com Pasteurella. A maio-
pleuropneumoniae, ou os sorotipos podem ria dos produtos são formulações com bacte-
ser produzidos para cada caso, por meio de rinas de uma ou duas espécies de salmonelas,
vacinas autógenas. Cada sorotipo produz recomendadas para aplicação em leitões a
diferentes combinações das toxinas e a pre- partir do desmame ou em porcas para garan-
sença dessas toxinas na vacina normalmente tir imunidade passiva. Muitas vacinas são
aumenta sua eficácia. São programas comuns compostas de outros antígenos. Desde 2004
que utilizam duas doses no leitão com inter- pode-se utilizar uma vacina atenuada para
valo de 21 dias, iniciando aos sete dias ou Salmonelose suína, por via mucosa e que gera
aos 21 dias de idade. Porcas também podem respostas completas, por se tratar de um pa-
ser vacinadas com duas doses na gestação, tógeno intracelular facultativo.
assim como cachaços a cada seis meses. »» Rotavírus suíno: importante causador de
Alguns programas podem recomendar a diarreia neonatal em leitões, a vacina está,
primeira dose a partir dos 42 dias de idade. na maioria das vezes, combinada a outros
De qualquer maneira, os programas contra agentes de diarreia. A recomendação visa à
pleuropneumonia são muito específicos e produção de anticorpos maternais com duas
devem ser avaliados em cada granja quanto à doses nas marrãs aos 70 e 100 dias de gesta-
sua necessidade. ção, ou uma dose aos 90-100 dias em porcas
»» Doença de Glässer: normalmente são for- já imunizadas em outras gestações. São pro-
mulações que contêm a bacterina de Hae- tocolos similares aos da colibacilose.
mophyllus parasuis adjuvada e sugerem duas »» Clostridium perfringes tipo C: da mesma ma-
doses nos leitões com intervalo de 14 a 21 neira que E. Coli e rotavírus, está presente
dias, iniciando nas quatro ou cinco semanas na etiologia de diarreias no leitão. Por isso
de idade. Em algumas situações, pode-se mesmo esses agentes estão em combinações
observar a recomendação de vacinar leitões vacinais e segue-se o mesmo protocolo de
a partir dos sete dias de idade, bem como as imunização das porcas.
porcas durante a gestação. »» Enteropatia proliferativa dos suínos - Ileíte:
»» Peste suína clássica: a vacina é composta a enfermidade causada pela bactéria Lawso-
de vírus replicante modificado, criado por nia intracellularis ocasiona severos prejuízos
passagens seriadas em coelhos ou cultivo ce- à produção, e o uso de vacinas atualmente
lular. O vírus é ainda capaz de se replicar nas pode trazer grandes vantagens no controle.
tonsilas. O anticorpo vacinal não pode ser Uma vacina composta da bactéria atenuada
diferenciado daquele produzido por decor- administrada por via oral cria estratégias
rência da infecção, e, por isso, o uso da vacina imunes compatíveis com o controle, pois mi-
é proibido nas áreas livres. metiza a infecção natural. A vacinação é nor-
»» Meningite estreptocócica: a grande varia- malmente recomendada para leitões com 21
dias de idade ou mais velhos. Há um apelo no estimulou respostas mais intensas à vacina-
uso desse tipo de produto que, por promover ção contra E. coli.
uma resposta imune específica, diminuiria o »» Probióticos: o uso de bactérias com capacida-
220
uso de antimicrobianos. de probiótica, como Lactobacillus sp. e Bacillus
Apesar de não utilizadas no Brasil, vaci- subtilis aumenta a expressão de citocinas no
nas contra a Influenza suína, contra Doença duodeno e íleo, bem como de TLR2 e de células
Reprodutiva e Respiratória dos Suínos (PRRS) produtoras de IgA. Em situações experimen-
e contra Gastroenterite transmissível têm tais, foi visto que o uso de probióticos pode au-
apresentações em outros países e suas re- mentar a resposta de vacinas de mucosa.
comendações são apropriadas a cada uma »» Zinco, cobre e manganês: deficiências de zinco
dessas enfermidades. O debate sobre a intro- podem causar respostas de anticorpos reduzi-
dução dessas vacinas no País deve levar em das após vacinação. Em animais vacinados con-
conta uma análise de risco completa, extensa tra micoplasma, a adição desses microminerais
e racional, com o conhecimento dos dados na dieta fez com que os anticorpos chegassem a
epidemiológicos e a extrapolação dos possí- um nível positivo oito semanas antes do que em
veis riscos de introdução de antígenos no País, animais não suplementados.
mesmo que vacinais, quando esses não ocor- »» Ácido linoleico: o ácido linoleico é um pre-
rem naturalmente. cursor do ácido araquidônico, um mediador
inflamatório. A quantidade de ácido linoleico
Uso de aditivos no efeito das vacinas é superior em milho de alta oleosidade. Quan-
O objetivo desta seção é discutir pontos atuais do animais suplementados com o ALC foram
sobre o efeito de aditivos nas vacinações. Os aditi- imunizados com vírus da pseudoraiva, os lin-
vos aqui discutidos compreendem substâncias que fócitos CD8+ do sangue periférico mostraram
não estão diretamente relacionadas com a vacina- maior capacidade proliferativa em resposta a
ção, mas que, por serem utilizadas concomitante- um desafio e produziram mais granzima, uma
mente com a imunização, terão um impacto sobre o substância que leva ao efeito citotóxico.
desenvolvimento da resposta imune. »» Vitamina E: doses acima dos requerimentos
normais de vitamina E para leitões podem
Aditivos aumentar a resposta imune contra bacteri-
»» β-glucanos: a adição de β-glucanos (extra- na de E. coli . A adição de selênio pode poten-
ídos de leveduras) à dieta de leitões conco- cializar esse efeito.
mitantemente à administração de antígenos
parece induzir um efeito imunomodulador Estratégias de controle e erradicação
e pode ter um impacto sobre a produção de A vacinação deve prevenir ou limitar a doença
anticorpos e a porcentagem de células CD8+ clínica, mas ela também tem a função de limitar ou
circulantes após vacinação. eliminar a circulação de um patógeno na população
»» Ginseng: o ginseng parece agir sinergica- suína. Esse conceito é especialmente importante
mente com o hidróxido de alumínio como um em programas de erradicação ou contenção.
adjuvante nas vacinações contra erisipela e Para o completo entendimento de programas
parvovirose. Os animais demonstram maior de controle de doenças através da utilização de
produção de anticorpos em diversas pre- vacinas, a compreensão da imunidade de rebanhos
parações vacinais. Os princípios ativos são é fundamental: a vacinação com altos níveis de co-
ginsenosídeos e saponinas. bertura populacional reduz a circulação do agente
»» Levamizol: a administração de levamisole infeccioso. Como resultado, os animais suscetíveis
por três dias consecutivos via IM em suínos têm menor probabilidade de entrar em contato com
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O
surgimento das monitorias sanitárias se 3. Customização das análises de dados contem-
deu nos anos 60, na Dinamarca. A proposta plando os conceitos de epidemiologia.
era constatar, qualificar e quantificar o ní- 4. Apresentação dos dados resumidos e desen-
vel sanitário de populações para determinadas do- volvimento de estratégias de controle basea-
enças ou infecções, realizando o acompanhamento do nos resultados encontrados.
de uma população no tempo e, quando surgissem Dessa forma, as informações geradas pelos
desvios, seriam adotadas medidas corretivas, no in- diversos veterinários serão analisadas de forma
tuito de solucionar o problema. As monitorias por si padronizada, podendo se comparar os resulta-
sós não corrigem o problema, mas permitem obter dos entre os veterinários de diversas regiões.
estatísticas sobre a prevalência e/ou incidência de Isso permite a revisão constante do programa
doenças que afetam os suínos. sanitário de uma granja ou integradora com o
As monitorias sanitárias podem ser definidas intuito de maximizar os efeitos das medidas es-
como uma forma sistemática e organizada de tabelecidas.
acompanhar no tempo e no espaço a saúde de um Os principais objetivos das monitorias sanitá-
rebanho e devem constatar, qualificar e quantificar rias são: diagnóstico de situações de determinada
o nível sanitário de populações de suínos para de- doença; definição de área livre para determinada
terminada doença ou infecção. Sua vantagem é que doença; quantificação dos níveis de proteção para
elas permitem verificar situações sanitárias através determinada doença; verificação dos resultados
do tempo e implantar medidas de controle. Sendo obtidos após aplicação de medidas corretivas; ava-
assim, para que uma monitoria seja realmente efe- liação do custo-benefício das medidas de controle
tiva, ela deve seguir três passos importantes: coleta, adotadas; diagnósticos de doenças subclínicas;
registro e análise de dados; disseminação das infor- confirmação da presença de doenças clinicamente
mações aos envolvidos; ação de controle. evidentes; monitoramento da eficiência de algumas
O veterinário especialista em suínos convive estratégias de controle.
diariamente com monitorias sanitárias e de abate e Monitoramentos sanitários podem ter como
com a coleta de diversos tipos para o diagnóstico de foco os animais, o ambiente, os insumos e até mesmo
enfermidades. Porém, para que esse trabalho seja os funcionários. E devem ser realizados a critério do
efetivo, deve se realizar um planejamento prévio de médico veterinário. Em granjas de Reprodutores Suí-
um sistema de monitoria que deve contemplar: nos Certificada (GRSC), eles são de responsabilidade
1. Padronização da coleta e da utilização de técni- do Ministério da Agricultura, Pecuária e do Abas-
cas de diagnóstico de amostras tanto em situa- tecimento (MAPA) e de acordo com as exigências
ções de rotina como em situações de aumento sanitárias estabelecidas na legislação vigente, regida
da ocorrência das doenças, incluindo a especifi- pela IN 19, de 15 de fevereiro de 2002, devendo ser
cação do número de amostras a ser coletado. livres de Peste Suína Clássica, Febre Aftosa, Doença
2. Desenvolvimento de um sistema de armaze- de Aujeszky, Brucelose, Tuberculose, Leptospirose e
namento dos dados . controlados para sarna.
Entre esses tipos de monitoria, a clínica pode coli enterotoxigênica, Clostridium perfringens tipo A
ser utilizada juntamente com a análise dos índices e C em animais neonatos, Rotavírus em leitões lac-
zootécnicos ou produtivos da propriedade, gerando tentes e pós-desmame e a Isospora suis em leitões jo-
informações para reconhecimento de doenças, de vens com 5-15 dias de vida; Lawsonia intracellularis,
falhas de manejo ou vacinais e até mesmo de doen- Salmonella entérica sorovar typhimurium, Brachys-
ças subclínicas presentes no plantel. pira pilosicoli, Brachyspira hyodysenteriae, Circovírus
suíno tipo 2 são os principais agentes responsáveis
Monitorias clínicas por doenças entéricas nas fases de crescimento e
Um passo importante para efetuar a monitoria terminação.
clínica é conhecer a granja, a estrutura das instala- Uma metodologia bastante útil empregada na
ções, a ambiência e a higiene. Deve-se também re- avaliação de doenças entéricas é o escore de con-
alizar anamnese, observando os principais índices sistência das fezes. Esse tipo de monitoria é muito
produtivos da granja, manejos adotados, estratégia utilizado em testes que visam verificar a eficiência
de vacinação e programas terapêuticos. É impor- de quimioterápicos.
tante analisar cuidadosamente todos esses fatores, As fezes podem ser classificadas de acordo
pois consistem em risco. com a porcentagem de matéria seca (MS): nor-
O exame clínico dos animais tem como foco o re- mais (> 24% MS); pastosas (22 – 24% MS); cremo-
banho todo, podendo, em alguns casos, ser voltada sas (20 – 22% MS); líquidas (<20%MS). E também
também para um indivíduo específico. A monitoria podem ser classificadas como hemorrágicas, mu-
clínica permite medir índices como os de tosse, es- coide e melena.
pirros, diarreia, onfalite, claudicações, etc. A severidade da diarreia pode ser classificada
Esse tipo de monitoria pode ter uma periodici- como: insignificante: quando não foi registrada
dade quinzenal ou mensal, o que vai depender do diarreia em nenhum dia na leitegada; pouca: quan-
objetivo da monitoria e também do tamanho do re- do a diarreia ocorreu entre um e cinco dias; muita,
banho. Sempre que possível, esse acompanhamen- quando a leitegada apresentar diarreia por mais de
to deve ser feito pelo mesmo avaliador. cinco dias consecutivos.
Essa monitoria pode ser realizada em lotes de
Aparelho digestório creche, crescimento e terminação, e o método con-
A diarreia é a principal manifestação clínica das siste em avaliar periodicamente e em horários fixos.
afecções entéricas e se relaciona com o desequi- O lote é considerado com diarreia quando 20% dos
líbrio entre os processos de absorção e secreção animais apresentarem diarreia podendo classificar
intestinal decorrentes de alterações no transporte a severidade em: lote sem diarreia (nenhum dia com
de água e eletrólitos. Patógenos como Escherichia diarreia/semana); lote com pouca diarreia (um a
três dias por semana com diarreia); lote com bastan- Frequência (%) = média das três contagens X 100
te diarreia (quatro ou mais dias com diarreia). nº de animais presentes
Calculada a frequência, a interpretação dos va-
228
Aparelho respiratório lores é a seguinte:
As doenças que acometem o aparelho respira- »» Frequência de tosse igual ou maior que
tório são caracterizadas clinicamente por tosses ou 10% - indicativo de um problema importan-
espirros, e as principais doenças respiratórias dos te de pneumonia;
suínos são as rinites e as pneumonias com etiologias »» Frequência de espirro igual ou maior que 15%
de origem bacteriana ou viral, tais como: Pneumo- - indicativo de que está ocorrendo um proble-
nia enzoótica (Mycoplasma hyopneumoniae); Rinite ma importante de rinite atrófica progressiva.
Atrófica não progressiva (Bordetella bronchiseptica) Antes da contagem de tosse e espirro é impor-
e Rinite Atrófica progressiva quando associada com tante abrir as cortinas ou janelas do prédio para
a Pasteurella multocida toxigênica, Pasteurelose que o ar seja renovado, pois altas concentrações de
(Pasteurella multocida tipo A e D); Pleuropneumonia amônia podem aumentar a frequência de tosse nos
(Actinobacillus pleuropneumoniae); Doença de Glässer suínos em até três vezes, o que pode influenciar na
(Haemophilus parasuis); Circovirose, Influenza, PRRS contagem.
(Síndrome Reprodutiva e Respiratória Suína) e Co- Temos observado que o exame clínico vem sendo
ronavirus respiratório suíno. E, mais recentemente, o substituído pelas monitorias clínicas e laboratoriais.
Complexo das Doenças Respiratórias Suínas (CDRS). Embora essas monitorias sejam valiosas, elas não
Um complexo multifatorial de doenças e fatores pre- substituem o exame clínico no momento de um diag-
disponentes a doenças respiratórias que combina vá- nóstico de doença respiratória. Portanto, é essencial
rios dos agentes citados e que afeta animais nas fases a combinação do exame físico, com as monitorias
de recria e terminação. clínicas e laboratoriais para se obter um sucesso na
Para as pneumonias, o critério mais usado para identificação, controle e prevenção do agente.
as ações de diagnóstico depende da percepção da
quantidade de tosses que ocorrem durante as visi- Sistema nervoso
tas à granja. Algumas doenças apresentam a sintomatologia
nervosa com a presença de sinais clínicos como in-
Contagem de tosse e espirros coordenação, apatia, paralisia, cegueira, depressão,
Essa avaliação é realizada para se estimar a ocor- movimentos de pedalagem, cegueira e decúbito. No
rência de rinite atrófica, influenza e de pneumonias entanto, ainda não há como diferenciar essas doen-
em lotes de suínos nas fases de creche ou recria e ter- ças somente baseado nos sinais clínicos descritos.
minação. Um índice é estabelecido para tosse e outro Sendo assim, se considera animal apresentando
para espirro, em três contagens consecutivas de um sinal nervoso aquele que apresentou um dos sinais
minuto cada, realizadas da seguinte forma: movi- descritos acima. Doenças como de Aujeszky, Me-
mentar os animais durante um minuto; aguardar por ningite Estreptocócica, Doença de Glässer, Doença
um minuto; realizar a contagem de tosse e espirro do Edema, hipoglicemia neonatal, mioclonia congê-
simultaneamente; movimentar os animais; contar nita e intoxicação por sal são algumas das doenças
novamente (2a contagem); movimentar os animais; que apresentam sintomatologia nervosa e para se
contar novamente (3a contagem). confirmar o diagnóstico é essencial a anamnese
O próximo passo é calcular a frequência de aliada a exames laboratoriais.
tosse e espirros, contabilizar o número de animais
do lote e calcular a média das três contagens e o per- Aparelho genito-urinário
centual de tosse e de espirros utilizando a seguinte A monitoria do aparelho genito-urinário ge-
fórmula: ralmente é feita quando se observam problemas
reprodutivos tais como: alta taxa de retorno ao cio; valentes são artrites, abscessos e fraturas e são res-
aumento do intervalo desmame-estro; descarga ponsáveis por perdas econômicas principalmente
vulvar de origem patológica; prevalência de infec- em granja, pois podem levar ao emagrecimento, re-
229
ção urinária superior a 16%; aumento do número de fugagem ou evoluir sistemicamente para polissero-
natimortos pré e pós-parto; mumificação fetal; di- sites e septicemias e chegar ao óbito. Um problema
minuição da taxa de parto; sinais clínicos sistêmicos, emergente observado tem sido a osteocondrose,
entre outros. uma doença relacionada com o rápido crescimento
Nesse tipo de monitoria deve-se fazer a avalia- dos suínos em que há sobrecarga no osso subcon-
ção dos relatórios de produção da granja, para ave- dral e nas cartilagens articulares. Outro fator que
riguar se os índices estão dentro da normalidade. contribui para isso é o sistema de criação intensivo,
Com os relatórios gerados, o veterinário deve ser com muitas instalações contando com pisos irregu-
capaz de definir as categorias de fêmeas afetadas lares e abrasivos. As articulações mais afetadas são
(por exemplo, leitoas e fêmeas desmamadas), época a coxo-femoral e escápulo-umeral.
do ano e período gestacional em que tem a maior Podem ser observados nesse tipo de afecção:
frequência de casos. claudicação (cujo grau varia com a localização e
O recomendado é realizar esse tipo de moni- profundidade da lesão), aumento de volume das
toria pelo menos duas vezes por ano em fêmeas articulações, hematomas, postura anormal e inca-
descartadas por problemas reprodutivos. Para uma pacidade de se locomover. Em animais de reprodu-
maior acurácia na avaliação, os órgãos devem ser ção podem ser observadas protuberâncias e lesões
retirados da bandeja da linha do abate e analisados de cascos, necrose solar e doenças da linha branca.
em um local separado. Raramente, vesículas e úlceras na faixa coronária
Devem ser observados o útero, quanto à pre- podem ser vistas em casos de Febre Aftosa e doen-
sença de fetos ou endometrite; os ovários quanto ças vesiculares.
à presença de corpos lúteos, corpos hemorrágicos
e presença de cistos; os rins quanto à presença de Lesões de pele
cistos, hipertrofia, áreas de infarto e fibrose, hipo- Nesse tipo de monitoria procuram-se lesões
plasia, pielonefrite, nefrite; o ureter à presença de indicativas de falhas de manejo, tais como escoria-
inflamação e infecção; Bexiga, à presença de depó- ções, feridas e hematomas provocados por brigas;
sitos minerais, presença de sangue, inflamação e hiperemia e crostas por queimaduras solares, abs-
infecção. cessos como complicação de lesões na pele, lesões
No caso de cistite deve se fazer o exame de uri- causadas por Erysipelothrix rhusiopathiae e Actinoba-
na com tiras reagentes e também o bacteriológico. cillus suis; enfermidades septicêmicas virais como a
O pH da urina deve girar em torno de pH: 6,1 a 7,3, Peste Suína Clássica, que pode cursar com equimo-
densidade entre 1005 a 1035, ausência de san- ses, petéquias e cianose de extremidades; e icterícia
gue e nitrito. A interpretação do exame de urina é provocada pela infecção por Leptospira icterohemor-
baseada na frequência de cistite na granja. Em uma rhagiae, PCV2 e aflatoxicose, entre outras.
prevalência menor que 15% há presença de fatores Outro achado ocasional são as lesões asso-
de risco, em uma frequência de 16 a 25% existe um ciadas com a Pitiríase rósea, que é uma forma de
problema grave e em evolução em uma prevalência dermatite autolimitante. As lesões são simétricas,
de mais de 26% é considerada problema crônico e máculo-papulares, eritematosas e ocorrem geral-
muito grave, devendo se adotar medidas de contro- mente em suínos jovens (3–14 semanas de idade).
le emergenciais. Iniciam no abdômen e face interna dos pernis e se
difundem de forma centrífuga. A etiologia ainda
Aparelho locomotor não está esclarecida, mas acredita-se que a doença
As afecções do aparelho locomotor mais pre- seja hereditária. As lesões provocadas por picadas
de insetos também são comuns em granja de suí- O programa de controle de sarna na proprieda-
nos. Aedes spp.; moscas como: Stomoxyscalcitrans, de será considerado adequado quando o ID for infe-
Tabanidae, Simuliidae são alguns dos insetos que rior a 0,5. Caso esse índice seja superior a 0,5 e infe-
podem ser encontrados em granjas de suínos. As rior a 1,5, as medidas de controles são insuficientes
lesões características provocadas por insetos são e se for superior a 1,5 significa que propriedade não
de eritematosas, pápulas e áreas edematosas, adota medidas de controle para sarna.
muitas vezes concentradas na área externa do pa-
vilhão auricular ou da glândula mamária. Se ocor- Monitoria de abate
rerem próximo ao abate, essas lesões podem levar Esse tipo de monitoria é uma fonte de informa-
a condenações de pele. ção muito importante pois através de exames ma-
croscópicos das vísceras e de carcaças dos suínos
Sarna Sarcóptica abatidos pode-se quantificar o efeito de enfermida-
A sarna sarcóptica é uma dermatose parasitá- des que são observadas clinicamente ou que se sus-
ria causada por um ácaro denominado Sarcoptes peita estarem presentes na sua forma subclínica ou
scabiei. Ela afeta principalmente os animais adultos, crônica. Além disso, esse controle sanitário em aba-
porém pode afetar animais de todas as idades. Seu tedouros que é realizado pelo serviço de inspeção
quadro clínico é caracterizado pela presença de veterinária contribui de forma direta para a saúde
prurido intenso, podendo ocorrer ainda eritema humana, já que os animais abatidos que apresentam
cutâneo, pápulas, áreas úmidas ou alopecia, forma- alterações patológicas consideráveis são conde-
ção de crostas e hiperqueratose. nados. Nesse contexto, os prejuízos econômicos
A monitoria para sarna sarcóptica é realizada advindos da condenação de órgãos e carcaças de su-
exclusivamente no frigorífico. O exame da pele pode ínos abatidos atingem tanto os produtores quanto a
ser feito na carcaça após a escaldagem e retirada indústria.
das cerdas e antes ou após a evisceração. A classi- Uma desvantagem observada na monitoria de
ficação e o respectivo grau das lesões podem ser abate é que as lesões que ocorrem nas fases de cre-
vistos na tabela 2. che ou recria podem regredir e não serem observa-
O índice de dermatite ID pode ser calculado das ou subestimadas em animais em idade de abate.
para a definição do status do rebanho para sarna. É importante ressaltar que lesões de consolidação
Com base no resultado do exame das carcaças de pulmonar podem ser reversíveis ao longo do cres-
um lote de animais abatidos, pode-se calcular o ID, cimento do animal, desse modo, a lesão observada
utilizando-se para tal a seguinte fórmula: no abate reflete apenas o acontecido nas últimas
semanas de vida do animal.
ID = (1 x no grau 1)+ (2 x no grau 2) + (3 x no grau 3) Algumas metodologias para avaliação das mo-
no carcaças examinadas nitorias ao abate serão descritas a seguir.
Vantagens Desvantagens
• Baixo custo
• Detecta somente a presença 231
• Presença de lesões similares em vá-
rios animais é um fato objetivo de lesões macroscópicas
Tabela 4 – Interpretação dos valores obtidos do cálculo do Índice para Rinite Atrófica Progressiva (IRAP)
IRAP Interpretação
0 - Rebanhos livres de rinite atrófica progressiva (RAP)
232 - Rebanhos em que a RAP está presente porém não constitui uma ameaça
Até 0,50 - Fica evidenciada a existência de fatores de risco e, caso não cor-
rigida, a RAP pode evoluir e atingir valores maiores
- Limiar da faixa de risco
de 0,51 a 0,84 - A definição do risco desse rebanho deve ser complementa-
da com base na avaliação clínica e na performance
Acima de 0,84 - Caracteriza rebanhos em que a RAP é problema, tanto quanto mais elevado for o índice
Fonte: Brito et al. (1993) (Modificado)
devem ser classificadas em: cranioventral: quando rem pleurites por ocasião do abate.
localizadas nos lobos apicais, cardíacos, intermédio As lesões pulmonares que geram desvio e con-
e porção anterior dos diafragmáticos; dorsocaudal: denação de carcaças são, ao contrário daquelas
localizadas nas regiões dorsocaudais dos lobos dia- da PE, pouco exploradas pelos sanitaristas. Isso se
fragmáticos; e disseminada: lesões distribuídas por deve ao fato de que os pulmões são removidos da
todos os lobos pulmonares. Os pulmões também linha de abate para o Departamento de Inspeção
devem ser classificados quanto à presença ou au- Final (DIF), local de acesso restrito e com muita
sência de lesões de hepatização pulmonar. movimentação de carcaças e suas respectivas vís-
A análise qualitativa e quantitativa das lesões ceras, o que dificulta o acesso e a permanência dos
pulmonares, principalmente relacionadas com a sanitaristas nessa área do frigorífico. Desse modo,
Pneumonia enzoótica (PE), pode ser feita por progra- perde-se a oportunidade de avaliar detalhadamen-
mas de computador que calculam a área de pulmão te essas lesões, com vistas à definição do provável
afetada, a prevalência de leitões com lesões de PE e agente causal, restando apenas a análise dos dados
a estimativa de perda no ganho de peso diário (GPD) de destino das carcaças, dado este muito utilizado
e de aumento na conversão alimentar (CA). Esses pelos sanitaristas no acompanhamento de doenças
dados também são utilizados para avaliar programas respiratórias dos rebanhos.
vacinais ou medicamentosos para a PE. As lesões Os pulmões podem ser avaliados quanto à
de PE estão também associadas com as pleurites no prevalência de pneumonia e extensão da área pul-
abate, e os suínos que desenvolvem a doença mais monar afetada e isso pode ser usado para calcular o
precocemente possuem maior chance de apresenta- Índice para Pneumonia (IPP). No frigorífico, através
tabela 5 - Percentual (%) de participação de cada lobo em relação ao peso total do pulmão.
do exame de cada lobo pulmonar, pode-se fazer área total não funcional, que leva em conta o per-
uma classificação de forma rápida e padronizada. centual de participação de cada um dos sete lobos
Sugere-se que o examinador utilize a divisão dos em relação ao parênquima pulmonar. Os cálculos
lobos pulmonares de forma que cada parte dessa di- da área pulmonar não funcional (área pulmonar
visão corresponda a um quarto do tamanho do lobo. hepatizada) e do IPP para classificação de rebanhos
Dessa forma, o médico veterinário poderá avaliar a podem ser feitos segundo metodologia desenvolvi-
extensão afetada de cada um dos lobos e graduá-los, da por pesquisadores do CNPSA – Embrapa. Após
lembrando que o pulmão é formado por sete lobos, o cálculo do volume de hepatização pulmonar, para
os quais têm percentual de participação diferente calcular o IPP, distribuem-se os animais examinados
em relação ao peso total do pulmão conforme apre- nas diferentes categorias de percentuais de volume
sentado na tabela 5. pulmonar afetado.
Essas informações são anotadas em fichas espe- Prevalência de pneumonia é calculada com o
cíficas com as quais se consegue calcular a prevalên- auxílio da seguinte fórmula:
cia tanto de pneumonia como das demais condições
Prevalência = Nº de pulmões com hepatização X 100
morfológicas. Na hora do abate, coleta-se o pulmão
Nº total de pulmões examinados
para determinar o percentual de hepatização de
cada lobo, bem como outras alterações nos pulmões E o IPP é calculado da seguinte forma:
ou nas carcaças. A partir da pontuação obtida de
IPP = Índice total
cada lobo pulmonar, obtém-se o percentual de
Nº de animais examinados
tabela 7 - Interpretação dos valores obtidos no cálculo do Índice para pneumonia (IPP)
IPP INTERPRETAÇÃO
Até 0,55 • rebanhos livres de pneumonia;
• rebanhos em que a pneumonia está presente, porém, não constitui uma ameaça;
De 0,56 a 0,89 • fica evidenciado que existem fatores de risco e, caso não corrigidos,
a pneumonia pode evoluir e o índice atingir valores maiores;
• representa situação ruim, com ocorrência grave de pneumonia,
De 0,90 acima
tanto maior quanto mais elevado for o índice.
Pleura Característica
Grau 0 Normal
Grau 1 Pleurite envolvendo apenas o pulmão com ou sem aderência entre os lobos
Grau 2 Pleurite com aderência do pulmão à carcaça (pleura parietal)
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721-722.
A
avaliação anatomopatológica, exame ma-
croscópico de carcaça e órgãos constitui
uma ferramenta imprescindível para chegar
ao diagnóstico correto de diversas enfermidades.
É importante estar familiarizado com a anatomia e
morfologia dos órgãos para a correta interpretação
de achados. A adequada interpretação permite ao
veterinário a adoção de medidas de forma rápida
e eficiente. Além disso, essas informações serão
fundamentais para que o patologista que receberá Foto 1– Material utilizado para o procedimento de necropsia.
as amostras no laboratório execute os exames mais Da esquerda para a direita, serra, faca longa, chaira (afiador),
tesoura, pinça, facas, prancheta com formulário de necropsia
adequados. Dessa forma, o conhecimento dos pro- ou folha em branco para anotação dos achados e fios com
garras tipo “jacaré” para eutanásia por eletrocussão
cedimentos de necropsia em suínos e interpretação (FONTE: Roberto M. C. Guedes)
Foto 2 – Utilização de plataforma elevada Foto 4 – Avaliação dos linfonodos inguinais após
para o procedimento de necropsia a desarticulação dos membros pelvinos
(FONTE: Roberto M. C. Guedes) (FONTE: Roberto M. C. Guedes)
Avaliação do coração
Durante a abertura do saco pericárdico, não é
esperado qualquer tipo de aderência entre os folhe- Foto 8 – Coração com superfície rugosa e deposição
de fibrina, lesões típicas de pericardite fibrinosa.
tos visceral e parietal do pericárdio. Além disso, este (Fonte: Dra. Túlia M. L. Oliveira de Araújo)
241
Avaliação das meninges,
articulações e cornetos nasais
A avaliação das meninges e do sistema nervoso
central é muito importante, especialmente, nos
casos em que o animal tenha apresentado tremores
musculares, incoordenação, perda do equilíbrio,
movimentos de pedalagem, opistótono e episódios
Foto 9 – Hemorragias petequiais subcapsulares de convulsões. Na avaliação das meninges, a cabeça
e em superfície de corte, aprofundando no
parênquima. Caso de circovirose suína
deve ser desarticulada na região atlanto-occipital.
(FONTE: Roberto M. C. Guedes) Para a abertura do crânio, recomenda-se rebater
toda a pele e musculatura sob a região que será ser-
A ocorrência de pontos vermelhos ou branca- rada, conforme foto 11. Para as patologias no sistema
centos na superfície dos rins é indicativa de nefrite nervoso central, como a meningite estreptocócica,
intersticial aguda ou crônica, respectivamente. Ne- procede-se à coleta de suabes das leptomenintes na
frites intersticiais são achados frequentes em ani- porção ventral do cérebro (foto 12) e dos ventrícu-
mais com circovirose (foto 9). Manchas vermelhas los laterais, e tecido imerso em formol tamponado a
ou brancas devem ser seccionadas para verificar se 10%, para histopatologia. Nesses casos, é possível,
aprofundam em formato de cunha, o que é sugesti- algumas vezes, encontrar secreção purulenta discre-
vo de infarto recente ou antigo, respectivamente. ta a moderada depositada sobre as meninges e/ou
Manchas branco-amareladas, circundadas por halo córtex cerebral. Particularmente em animais que es-
vermelho, associadas a exsudato purulento na pelve tejam em uma fase mais crônica, já com apetite, mas
renal são indicativas de pielonefrites, encontradas com a cabeça tombada lateralmente, é importante
com maior frequência em matrizes. a abertura do osso petroso do ouvido interno para
A bexiga deve apresentar mucosa lisa, brilhan- verificar presença de otite purulenta.
te e sem qualquer mancha. Lesões císticas são par-
ticularmente frequentes em matrizes gestantes
e se caracterizam por espessamento da parede,
mucosa avermelhada (foto 10) ou necrótica e con-
teúdo purulento, necrótico ou hemorrágico. Nes-
243
Foto 16 – Suabe de cornetos nasais para tentativa Foto 18 – Fígado apresentando abscessos em sua superfície.
de isolamento de Pasteurella multocida toxigênica (Fonte: Dra. Túlia M. L. Oliveira de Araújo)
(FONTE: Roberto M. C. Guedes)
Foto 17 – Fígado amarelado, com superfície Foto 19 – Úlcera Gástrica grau IV, com presença
rugosa e diminuído de volume, configura de coágulo sanguíneo intragástrico
quadro sugestivo de cirrose hepática (FONTE: Roberto M. C. Guedes)
(FONTE: Roberto M. C. Guedes)
244
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O
aumento da produtividade nas granjas Desenvolvimento das leitoas
suinícolas exige que as leitoas estejam Quando as leitoas chegam à propriedade, de-
cada vez mais bem preparadas para ga- vem ser alojadas em baias coletivas, limpas e desin-
rantir o sucesso na atividade, sua introdução e fetadas, com boas condições de piso (nem liso, nem
adaptação é um momento importante para o bom rugoso) e com espessa camada de cama. Deve-se
desempenho na suinocultura moderna. fornecer água à vontade e de boa qualidade para
Nos últimos anos observamos uma preocupa- as leitoas de reposição, contribuindo para seu bom
ção cada vez maior na introdução das leitoas de re- desenvolvimento, pois a falta de água de boa quali-
posição no plantel reprodutivo, onde nos modernos dade acarreta o aparecimento de quadros de cistite
rebanhos suínos é comum uma taxa de reposição e, consequentemente, prejuízos ao aparelho repro-
chegar até os 50%. dutivo das fêmeas.
Um trabalho focado, que atenda às exigências Devemos fazer também medicações estraté-
nutricionais e sanitárias das fêmeas que serão intro- gicas logo após a chegada como proteção para as
duzidas no plantel, melhora sua eficiência reprodu- fêmeas, evitando que adoeçam devido ao estresse
tiva, pois sua correta preparação garante um bom sofrido no transporte e promover, nessas fêmeas, o
desempenho reprodutivo durante toda sua vida. desenvolvimento de uma eficiente resposta imune
Como objetivo, devemos garantir que as fêmeas através da aplicação de vacinas uma semana após a
selecionadas para reprodução cheguem à puberdade chegada, período em que promoveremos a imuni-
com peso corporal adequado, aclimatadas, imuniza- zação das leitoas para defendê-las da microbiota da
das e com pelo menos um cio detectado. Essas fême- granja destino ou de agentes infecciosos específicos
as, quando bem preparadas, contribuem para manter como parvovirose, leptospirose e erisipela, prote-
a estrutura de distribuição de ordem de partos ideal, gendo e permitindo a correta adaptação delas ao
concentrando o maior número possível de matrizes perfil sanitário da granja.
na fase mais produtiva (três a seis partos). Na chegada das leitoas, realizar uma avaliação
A busca de melhores índices reprodutivos na dos aparelhos locomotores e mamários e preen-
produção de suínos está diretamente ligada à boa se- cher uma ficha de acompanhamento (tabela 1),
leção das fêmeas a serem introduzidas no plantel. Essa para registrar informações importantes na fase de
seleção deve se iniciar já na desmama, fase em que adaptação das leitoas. Esses pontos são importan-
devemos realizar uma pré-seleção cujo alvo será entre tes para que essas fêmeas tenham um adequado
85-90% das leitoas, descartando já nesse momento desenvolvimento.
10-15% das leitoas com potencial inferior. Em uma se- O desenvolvimento das leitoas começa com seu
gunda etapa, na saída da creche, devemos selecionar adequado alojamento, onde ficam até três semanas
80-90% das leitoas, descartando 10-20% das fêmeas antes da primeira cobertura em baias e, após estas,
com baixo potencial e chegar ao final do processo com devem ir para uma gaiola. Esse período de adaptação
uma taxa de seleção de 65-80% com um descarte de nas gaiolas por 21 dias diminui o estresse da fêmea e
20-35% das fêmeas com baixo potencial. contribui para diminuirmos as perdas reprodutivas.
Quando o alojamento é em baias, o piso pode ser status presente no plantel de destino, visando ga-
ripado ou compacto e este último deve possuir incli- rantir que os animais introduzidos venham a desen-
nação para evitar acúmulo de dejetos e umidade. volver todo seu potencial produtivo e reprodutivo,
A densidade adequada para o alojamento deve sem alterar o status microbiológico do plantel de
ser de no mínimo 1,1m2 por leitoa no piso 100% va- destino. A adaptação bem conduzida reduz custos
zado e de no mínimo 1,60m2 por leitoa no piso com- com medicamentos e permite uma correta introdu-
pacto ou parcialmente compacto, podendo chegar a ção dos animais no plantel.
2m2 por leitoa próximo à cobertura. A preparação e adaptação das leitoas assu-
Para uma correta adaptação em granjas onde te- mem um papel importante para o futuro reprodu-
mos produção própria, a transferência das leitoas para tivo da granja, visto que 20 a 25% das leitegadas
a área de reposição acontece em média com 120 dias de produzidas são oriundas de primíparas. Se o seu
idade, antes da introdução de dietas com ractopamina. crescimento não for adequado, podem advir re-
O alojamento deve ser em baias com capacidade para flexos na sua futura performance reprodutiva.
alojar oito a 20 animais com área disponível por fêmea Por isso, a variabilidade no crescimento dos ani-
de 1,3m2 que facilite a rotina de manejo diário. mais na fase que antecede à transferência para o
Quando trabalhamos com um grande número plantel de reprodução é de vital importância na
de leitoas por baia, a qualidade do trabalho nesses eficiência dos sistemas de produção, portanto
grupos fica comprometida, apresentando atraso na deve ser mensurada para diminuir as perdas nes-
demonstração dos sinais de estro. se processo, principalmente considerando ani-
Sempre que possível, devemos fazer um pla- mais que, por algum motivo, não venham a atingir
nejamento para o correto alojamento das leitoas. o peso esperado. Essa variabilidade tem relação
Setores definidos na granja para a preparação das com vários fatores, resultantes da interação de
leitoas trazem enormes benefícios para os resulta- processos biológicos, regulados pela relação de
dos zootécnicos, pois a evolução do número de nas- um conjunto de fatores genéticos e ambientais
cidos e a taxa de parição das futuras matrizes estão que intermedeiam o metabolismo.
diretamente ligadas a esse trabalho. No passado predominava a convicção de que,
Quando conseguimos, ao longo do tempo de pre- para a produção zootécnica ótima, uma resposta
paração das marrãs, evitar pontos de estrangulamen- imune maximizada seria sempre a situação ideal.
to que possam vir a prejudicar seu desenvolvimento, Porém, alguns estudos recentes têm demonstra-
minimizamos as perdas reprodutivas do plantel. do que um sistema imune ativado pode afetar de
forma adversa o desempenho dos animais e essa
Cuidados com a sanidade percepção já faz parte integrante da indústria
mundial de produção de suínos, em que é cres-
Adaptação cente a busca por sistemas de produção que per-
Seu principal objetivo é tornar equivalente o mitam o mínimo contato dos suínos com agentes
status sanitário dos animais récem-adquiridos e o patogênicos.
patógeno
resposta da sentinela
ao patógeno via de
transmissão
via de transmissão
feita através de testes sorológicos, sinais clínicos e das leitoas tanto em quantidade como em qualidade
necrópsias que contribuam para garantir um diag- será fundamental para conseguirmos bons resultados
nóstico mais preciso. É muito importante a realização reprodutivos, pois as leitoas são as matrizes do futuro.
252
de bateria de exames laboratoriais que identifiquem Somente com uma boa preparação das leitoas
de forma segura a existência de agentes patogênicos existentes no plantel conseguiremos diminuir as
diferentes daqueles existentes na granja. perdas reprodutivas, maximizando a produtividade e
Enfim, o planejamento adequado da introdução aumentando a lucratividade do sistema de produção.
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N
a maior parte dos rebanhos comerciais, a Descarte de matrizes
vida útil produtiva da fêmea suína é invaria- Considerando que todas as matrizes que
velmente menor do que o desejável. Entre- ingressam em um rebanho serão removidas, po-
tanto, mesmo sabendo que a estrutura etária (esto- demos classificar a remoção dessas fêmeas como
que por ordens de parição) é um item crítico para o INVOLUNTÁRIA (ou biológica) ou VOLUNTÁRIA
desempenho do plantel reprodutivo e dos animais (econômica). As remoções voluntárias são aquelas
dele produzidos, pouca atenção tem sido dada às promovidas por uma decisão gerencial de caráter
“taxas de retenção” para cada ordem de parto das técnico e/ou econômico, como baixa produtivida-
matrizes, nos rebanhos suínos brasileiros. de individual histórica, risco de baixa produtivida-
Uma menor vida útil produtiva promove tam- de futura, idade avançada, etc. Diversos trabalhos
bém a redução na lucratividade potencial do sis- já foram conduzidos para identificar as principais
tema de produção, representando um importante causas de remoção de fêmeas do plantel. De forma
custo de oportunidade atual. Analisando dados de geral, as falhas reprodutivas são sempre a principal
1999 a 2007, em mais de 200 rebanhos distintos, causa de descartes involuntários, especialmen-
observa-se que as perdas na taxa de retenção de te para as fêmeas mais jovens, grupo em que se
fêmeas promovem uma redução que varia de 32 encontra o principal problema de perdas repro-
a 43% do faturamento potencial advindo de cada dutivas. Para as fêmeas mais velhas, acima do 7º
matriz alojada. Além disso, a perda elevada de fê- parto, a idade avançada se torna a causa principal
meas jovens é um importante indicador de baixa de descartes, analisando os dados de 7.973 fêmeas
qualidade no processo produtivo, bem como de removidas por diversos motivos, em 28 rebanhos
uma situação inadequada em termos de bem-estar distintos, durante cinco anos. A tabela 1, abaixo,
animal. Dessa forma, a longevidade das fêmeas, apresenta as causas de remoção encontradas pe-
mensurada pela taxa de retenção, pela ordem mé- los autores.
dia de parto ou pela taxa de descarte, representa Como pode se observar na tabela acima, as
uma área de enorme oportunidade para a criação falhas reprodutivas são de fato a principal causa de
de vantagem competitiva e valor agregado em al- remoção de fêmeas jovens. Vale também observar
guns rebanhos suínos. Essa oportunidade só será que, neste trabalho, os problemas locomotores
captada (e transformada em ganhos concretos) representaram a segunda maior causa de remoção
pelas granjas mais bem posicionadas em termos de de leitoas nulíparas e fêmeas de primeiro parto, o
capacitação de equipes e visão ampla do processo que ilustra uma situação prática ainda comumente
produtivo. Torna-se fundamental, portanto, conhe- observada nos dias de hoje. Outros estudos sobre
cer com profundidade os fatores que influenciam a motivos de descartes de matrizes apontam as falhas
longevidade das fêmeas suínas e a maneira pela qual reprodutivas como a causa principal de perdas,
esses fatores podem ser manipulados em benefício universo em que 61% dos descartes precoces deve-
de uma vida produtiva maior das matrizes. ram-se a essas falhas.
Ordem de parto
% geral
Motivos 0 1 2 3 4 5-6 7-8 9
254 descartes
Falha reprodutiva 33,6 64,5 43,5 31,9 28,9 24,7 21,1 12,3 7,5
Desemp. leitegada 20,6 - 14,5 23,7 26,6 32,3 30,4 27,5 21,5
Miscelâneos 13,3 13,2 14,2 14,3 15,6 15,4 13,6 9,5 5,3
Locomotor 13,2 14,4 17,5 16,4 15,6 12,4 11,6 7,1 4,4
Idade avançada 8,7 0,2 0,1 0,3 1 2,3 12 36,3 54,1
Morte 7,4 5,6 7 9,8 9,3 9,2 7,6 5,3 4,4
Doença/Periparto 3,1 2,1 3,2 3,5 2,9 4,2 4,1 1,9 2,5
Fonte: Lucia et. al., 2000
motores e também para problemas urinários, com abordagem tem pouca correlação com o impacto
provável interação entre os mesmos. econômico da longevidade e não permite uma ati-
Diversos outros trabalhos evidenciam as dife- tude proativa nem tampouco garante precisão nas
255
rentes causas de mortalidade, sempre com alguma decisões relativas aos descartes de matrizes.
variação entre granjas e entre países distintos. Afinal, por qual motivo devemos avaliar a lon-
Mesmo assim, sempre prevalecem os problemas gevidade? A necessidade de termos foco e atenção
urinários, gástricos e locomotores como principais à análise da vida útil média dos rebanhos deriva de
causas de morte e/ou sacrifício de porcas. vários aspectos. Primeiramente, trata-se de uma
Pesquisadores em 275 avaliações post-mortem, questão econômica, uma vez que está amplamente
por meio de análise anátomo-patológica e histo- comprovado que os rebanhos estabilizados com
lógica, em fêmeas mortas oriundas de diversos ordens de parto superiores, oriundas de maiores
rebanhos do meio-oeste americano, encontraram taxas de retenção nos primeiros três partos, são
variação significativa na hierarquia de causas da exatamente os rebanhos mais rentáveis. As taxas
mortalidade, mas relataram que as úlceras gástricas de reposição muito elevadas contribuem ainda
foram os achados mais frequentes. para um pior desempenho da prole oriunda desses
A mortalidade de porcas representa um custo rebanhos, por questões ligadas à qualidade da res-
significativo para o sistema de produção. A metodo- posta imune e ao desempenho ponderal dos animais
logia para apurar os custos exatos é muito variável, oriundos de fêmeas de primeiro parto. Altas taxas
entretanto, estima-se o custo da mortalidade de de remoção representam também um problema de
matrizes em granjas comerciais partindo de alguns ordem logística, por serem variáveis e não consis-
pressupostos e calculando os custos ligados à per- tentes a cada semana.
da parcial do valor genético, custos operacionais e Por último, não se pode negligenciar que a
lucros cessantes (pela não-realização da venda da longevidade é também uma questão de bem-estar
matriz e dos seus leitões). Assim, conclui-se que a animal, uma vez que a redução na vida útil da fêmea
morte de uma matriz gera, em média, um custo de está comumente associada ao aumento na taxa de
R$ 790,91 (setecentos e noventa reais e noventa e mortalidade e aos descartes ligados a condições do-
um centavos). lorosas, tais como artrites e laminites, entre outras
Vale ressaltar que esses são dados levantados patologias.
em 2007. Entre os itens de custo levantados, 58,6% Para definirmos como mensurar e gerenciar a
do custo relacionado com a morte de porcas está longevidade de um rebanho, é preciso reconhecer
ligado aos lucros cessantes, seguido do custo atrela- que a longevidade é economicamente importante
do à perda de valor genético, representando 21,8% sobretudo nas fêmeas novas, até o terceiro parto. A
do custo advindo da morte da matriz. Nos EUA, remoção de uma fêmea de segundo parto é muitas
estima-se que a morte de uma matriz gere um custo vezes mais importante do ponto de vista econômi-
adicional de 400 a 500 dólares, levando-se em conta co, do que a remoção de uma porca de 6º parto. O
o custo de reposição e custos de oportunidade. gráfico 1, ilustra a significância dos dias não produti-
vos de uma fêmea jovem, em comparação com os de
Análise e gestão da longevidade fêmeas mais velhas.
Muito embora tenha grande relevância sobre o No gráfico 1, fica evidente que os dias não pro-
resultado financeiro da atividade produtiva, a lon- dutivos de uma fêmea descartada ou morta na pri-
gevidade em rebanhos suínos é um item que ainda meira ou segunda parição são proporcionalmente
permanece negligenciado em muitas análises. Nor- muito maiores do que os dias não produtivos de uma
malmente, gerenciamos a longevidade pela avalia- fêmea velha. Nesse sentido, o número de dias de
ção passiva e retroativa da “taxa de descartes” e da rebanho consumido para cada leitão produzido será
“taxa de mortalidade de matrizes”. Entretanto, essa muitas vezes maior para uma fêmea jovem descar-
Figura 1 – Média de dias de rebanho e dias não produtivos acumulados, durante a vida útil,
de acordo com a ordem de parto no momento da remoção (n= 5.378 porcas)
Fonte: Lucia et. al., 2000
tada, o que eleva o custo advindo da sua remoção e parto. A distribuição hipotética do rebanho por or-
reduz a lucratividade do sistema. dem de parto ficaria conforme ilustrado na tabela 2
Na avaliação econômica de diferentes cenários abaixo, caso 100% dos descartes fossem realizados
de longevidade, foram utilizados parâmetros téc- em uma determinada ordem de parição.
nicos e econômicos pré-determinados e simuladas Aplicando o modelo matemático proposto por
situações hipotéticas em que os descartes e/ou Dhuyvetter (2000), e posteriormente atualizado e
remoções ocorrem desde o primeiro até o décimo validado por Dhuyvetter e Tonsor (2008), conclui-
Tabela 3 – Análise de custo e retorno para uma operação de parto ao desmame, de acordo
com a ordem de parto em que ocorre a remoção da fêmea (Dhuyvetter, 2000)
Parição antes do
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
descartea
257
C. Custo total por
$48.48 $37.98 $34.81 $33.32 $32.60 $32.10 $31.88 $31.73 $31.73 $31.90
cevado vendido
Retorno bruto por
$34.77 $34.77 $34.77 $34.77 $34.77 $34.77 $34.77 $34.77 $34.77 $34.77
cevado vendido
Retorno sobre
-$5.57 $4.57 $7.56 $8.93 $9.59 $10.05 $10.24 $10.37 $10.39 $10.25
VC (D-A)
Retorno sobre
-$13.71 -$3.21 -$0.04 $1.45 $2.17 $2.67 $2.88 $3.03 $3.03 $2.87
TC (D-A) $/cab.
Retorno
líquido sobre -12.8% 1.8% 6.5% 8.8% 10.0% 10.8% 11.1% 11.4% 11.4% 11.1%
investimento
se que a remoção de matrizes jovens implica eleva- reposição também tenham seu desempenho in-
do custo para o sistema de produção. Na hipótese fluenciado pelos mesmos fatores que prejudicaram
de remoção de todas as porcas no primeiro parto, o desempenho de toda a granja. Quando isso acon-
o retorno sobre o investimento se torna negativo, tece, a eficiência da política de descarte e reposição
conforme ilustrado na tabela 3. Sabemos que essa se torna muito baixa ou inexistente. Além de entrar-
situação não é realista, mas esse modelo é extre- mos com fêmeas que terão baixo aproveitamento
mamente útil para embasar as estratégias e polí- do seu potencial de produtividade, aumentamos o
ticas de descartes do plantel, bem como a gestão percentual de fêmeas jovens e, com isso, incorpo-
da longevidade dos rebanhos. O modelo mostra ramos todos os demais problemas advindos desse
ainda que, após o 5º-6º parto, os ganhos financei- aumento, inclusive de ordem imunológica e, em
ros adicionais com a manutenção das matrizes são última análise, sanitária. É importante considerar,
muito reduzidos, embora continuem crescentes portanto, o risco de descartes motivados por da-
até o 8º parto. Assim como já comentado ante- dos reprodutivos individuais, pois tende a ocorrer
riormente, esse trabalho confirma o fato de que a aumento no percentual de fêmeas descartadas por
gestão da longevidade é algo a ser aplicado espe- retorno ao estro, à medida que declina a taxa de pa-
cialmente nas porcas jovens, grupo em que o risco rição de toda a granja.
de remoção é alto e os custos advindos dessa even- Nesse mesmo contexto, um amplo estudo
tual remoção são os mais altos de todo o rebanho. retrospectivo, analisando 1.000 descartes voluntá-
A tabela 3, apresenta os resultados financeiros rios realizados em três rebanhos americanos, com
advindos dos 10 diferentes cenários de remoção uma simulação de retorno técnico e financeiro para
de plantel por ordem de parto. políticas de descarte baseadas em dados reprodu-
A estratégia de descarte com base em resulta- tivos, considerando o desempenho comparativo
dos de desempenho reprodutivo é muito utilizada entre as leitoas e as porcas-controle (porcas com
na prática, mas carrega consigo um alto risco de bai- histórico e situação similares aos das porcas remo-
xa repetibilidade (alta variabilidade) dos dados re- vidas voluntariamente com base em dados de pro-
produtivos, principalmente quando consideramos dutividade). A tabela 4, ilustra alguns dos resultados
apenas os resultados de um único parto. De forma encontrados pelos autores. Houve interação entre
geral, quando um rebanho enfrenta graves proble- rebanho e estratégia de reposição, reforçando a
mas de ordem reprodutiva, há grandes chances de recomendação de que a estratégia seja sempre es-
que os descartes aumentem, mas que as leitoas de pecífica para cada caso, analisando os dados de cada
rebanho em que se pretende elaborar uma política Vale ressaltar que as conclusões obtidas
séria de gestão da longevidade. Além disso, houve pelas diferentes pesquisas são dependentes das
interação significativa entre o contexto de produ- circunstâncias em que foram realizados seus
tividade do rebanho e o resultado da estratégia de experimentos, daí a necessidade de uma aborda-
descarte voluntário por produtividade. Em todos gem específica para cada rebanho. Além disso,
os três rebanhos avaliados, quando o contexto era deve-se considerar que as fêmeas primíparas de
de alta fecundidade (alto número de nascidos), a hoje são quase tão produtivas quanto as fêmeas
substituição da porca pela leitoa de reposição se em pico de produção, em muitos rebanhos, o que
mostrou uma decisão acertada, com elevação apro- muda completamente o cálculo de viabilidade da
ximada de cinco leitões vivos produzidos a mais por reposição, favorecendo o cenário de descarte vo-
ano, por fêmea. luntário, dentro de certos limites. O gráfico 1 ilus-
18,00
12,00
10,00
8,00
6,00
4,00
2,00
0,00
Ciclo 1 Ciclo 2 Ciclo 3 Ciclo 4 Ciclo 5 Ciclo 6 Ciclo 7 Ciclo 8 Ciclo 9 Ciclo 10
Gráfico 1 – Exemplo de quadro atual de desempenho por ordem de parto, em granjas de alta produtividade
100%
tra uma situação dessas, em que as primíparas já
90%
iniciam sua vida reprodutiva acima de 14 leitões 80%
nascidos, e a síndrome de segundo parto não mais 70%
Taxa de concepção
259
existe, por meio de manejos específicos. Nesse 60%
cenário, o custo da remoção de uma porca jovem 50%
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Discover Conference on
A
reposição nas granjas gira em torno de 40 no qual as leitoas com baixo peso (<1,0 kg) sequer
a 45%, e não é raro encontrar taxas ainda serão tatuadas. Sabe-se que o peso ao nascimento
mais significativas, ultrapassando os 50% influencia a futura vida reprodutiva. Também ao
de reposição anual, o que significa dizer que apro- desmame, as leitoas previamente selecionadas
ximadamente 18% dos plantéis são compostos de e que não apresentarem peso mínimo superior a
marrãs, com estas sendo responsáveis por aproxi- 4,5kg também serão descartadas. Ainda para esse
madamente 30% dos dias não produtivos das gran- parâmetro, a seleção de leitoas ocorrerá entre os
jas. Nesse contexto, garantir uma boa preparação 140 e 150 dias e aquelas que apresentarem um
de marrãs significa, antes de tudo, garantir uma evo- ganho de peso diário inferior a 600g devem ser
lução contínua nos resultados reprodutivos já que descartadas. Enfim, até a seleção, para a maioria das
estaremos assegurando que a matriz descartada é genéticas, busca-se o máximo ganho de peso, com
inferior à que ingressa no plantel, com uma taxa de as leitoas alimentadas à vontade.
retenção no plantel de pelo menos 70% das matri- Já ao nascimento, com a seleção de fêmeas com
zes até a terceira parição. bom peso, descartando aquelas que apresentem
Para que se consiga atender aos pré-requisitos peso inferior a um quilo ao nascimento e sem altera-
de uma correta preparação das leitoas, é fundamen- ções anatômicas, essa seleção deve ser continuada
tal um planejamento das coberturas, por meio da ao desmame, na saída da creche, pois sabe-se que
determinação de critérios de descarte, obtendo- a ovogênese (período de replicação dos folículos
se a necessidade futura de marrãs. Dessa forma, presente no ovário) continua até os 35 dias de idade.
consegue-se o cumprimento dos alvos semanais de Portanto, se as leitoas não forem devidamente nutri-
cobertura, respeitando os principais parâmetros das já nas fases iniciais de vida, a função dos ovários
para correta cobertura das marrãs (cio, idade e pode ser comprometida e assim afetar toda a ativida-
peso) e gerando melhoria contínua nos resultados de reprodutiva da fêmea nas fases subsequentes. A
reprodutivos. seleção definitiva ocorrerá por volta de 20 semanas
As granjas que trabalham no sistema de autor-
reposição, pela aquisição de avós, passam a assumir
a responsabilidades que antes era das empresas
de genética. Agora, toda a produção de leitoas fica
destinada à granja comercial e alguns parâmetros
precisam ser observados. No primeiro momento é
fundamental verificar a área disponível para o aloja-
mento das marrãs, possibilitando a elas um correto
desenvolvimento sobre o ponto de vista nutricional
e sanitário (fotos 1 e 2).
A correta preparação das leitoas, futuras matri-
zes da granja, deve iniciar ao nascimento, momento Foto 1 – Condição ideal
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A
leitoa de reposição é uma categoria de ex- de proteína corporal e ingestão de energia para di-
trema importância dentro do Sistema de ferentes genótipos e a relação de deposição de gor-
Produção de Suínos, pois se trata das fêmeas dura corporal e ingestão de energia para diferentes
que serão as futuras matrizes responsáveis pelo genótipos.
fornecimento de cevados. Estratégias nutricionais Atualmente, várias empresas apresentam di-
e de manejo devem estar intimamente ligadas e versas linhagens de leitoas comerciais no mercado e
ajustadas para garantir uma curva de crescimento essas fêmeas possuem diferentes exigências nutri-
satisfatória desses animais. cionais e padrões de desenvolvimento. Diferentes
Historicamente, sempre houve a preocupação taxas de crescimento representam um dos maiores
de que marrãs não apresentassem alto ganho de problemas na padronização dos plantéis de repro-
peso, o que poderia acarretar problemas como dução. Como as granjas comerciais têm por hábito
fêmeas mais pesadas na idade à cobertura, com pior selecionar as marrãs por idade e não por peso, acaba
desempenho reprodutivo e com maiores custos havendo uma grande variação de peso no primeiro
de mantença. Em consequência desses fatores, estro e, por consequência, na primeira cobertura. A
poderia haver o descarte prematuro dessas matri- tabela 1 apresenta as recomendações de peso e ida-
zes, devido principalmente a problemas de casco. de à primeira cobertura, além de uma estimativa de
A grande preocupação, nesse caso, seria o risco de ganho de peso médio (GMD) diário para as marrãs
as fêmeas nem sequer atingirem o terceiro parto, de cinco empresas.
que é o período a partir do qual elas se tornariam Como apresentado na tabela 1, as empresas de
economicamente viáveis. Alguns trabalhos, no genética recomendam taxas de crescimento mais
entanto, apresentam evidências de que altas taxas conservadoras, no geral com ganhos médios meno-
de crescimento, antes da seleção, não prejudicam o res que 700g/dia. No entanto, diversas pesquisas
desempenho e a longevidade do plantel, passando, a apontam que fêmeas com altas taxas de ganho de
partir dessa idade, a ser de forma controlada. peso (GPD) têm melhor desempenho do que fêmeas
As matrizes de alguns anos atrás apresentavam, com taxas de ganho de peso menores. Leitoas com
no início da vida reprodutiva, grande reserva de GPD acima de 860g/dia tiveram maior número de
tecido adiposo. O melhoramento genético animal leitões, tanto no total de nascidos como no de nas-
permite selecionar leitoas ao longo dos anos com cidos vivos, do que leitoas com menores taxas de
maiores taxas de crescimento e menor deposição crescimento. As marrãs com alto GPD (>700g/dia)
de gordura, resultando em marrãs modernas, mais inseminadas antes de 210 dias, se comparadas com
pesadas e com menores depósitos de gordura no marrãs de alto GPD (>700g/dia) inseminadas após
período de estímulo à puberdade. Essas mesmas fê- os 210 dias e com marrãs de menor GPD (<700g/
meas tornaram-se, com isso, mais sensíveis a qual- dia) inseminadas após os 210 dias, as fêmeas de alto
quer mudança nutricional da dieta, apresentando GPD inseminadas precocemente apresentam me-
redução voluntária da ingestão de alimento. Os nor número de leitões nascidos no primeiro parto,
gráficos 1 e 2 expressam a relação entre deposição porém sem diferença no número de nascidos totais,
267
se forem considerados os três primeiros partos. tro fator importante são os níveis de IGF-1 (Fator
Existe grande variação de fatores atrelados às de Crescimento Semelhante à Insulina Tipo 1)
fêmeas, no momento da puberdade. Esse evento plasmático. Altas concentrações desse hormônio
ocorre entre 131 e 201 dias de idade, com as leito- aos 100 dias estão associadas com marrãs que
as apresentando espessura de toucinho que varia atingem a puberdade em idade precoce. Marrãs
de 9 a 35mm, massa proteica de 12,3 a 21,7kg e com altas taxas de crescimento são mais pesadas e
taxa de crescimento entre 0,66 e 1,13kg/dia. Ou- tendem a atingir a puberdade mais precocemente
Empresa Genética Peso recomendado (kg) Idade recomendada (dias) GPD médio (g/dia)
AGROCERES PIC 136–145 200 –210 635–680
TOPIGS 135–138 230 600*
GENETIPORC 135–145 230 –240 ± 700
PEN AR LAN 145 240 600*
DANBRED 138–149,5 230 –240 600–650
*Calculado de acordo com peso médio e idades recomendadas
Fonte: Adaptado de AGROCERES PIC, TOPIGS, GENETIPORC, PEN AR LAN, DANBRED – 2012
que animais com baixas taxas de crescimento. É imposto, além da duração do período da restrição.
conhecida uma correlação negativa entre idade à A restrição energética na recria tem como finali-
puberdade e taxas de crescimento do nascimento dade limitar o crescimento das leitoas, reduzindo,
268
até os 165 dias, indicativo de que baixas taxas de assim, problemas futuros com as fêmeas muito
crescimento atrasam a puberdade. Recomenda-se pesadas. Uma dieta com alta relação de proteína
que as leitoas devam ser pré-selecionados quando e energia durante a recria promove maior ganho
estiverem pesando entre 55-65kg e então alimen- de peso, mas aumenta o risco de descartes prema-
tadas com dietas de baixa proteína e baixa energia turos por problemas de cascos, enquanto a restri-
na fase final, e, quando estiverem com 140-145 ção proteica aumenta a proporção de primíparas
dias de idade (95-105kg). Vale a pena ressaltar que descartadas por problemas reprodutivos. Reco-
diferentes genéticas podem apresentar exigências mendações de um programa nutricional que bus-
e pesos distintos a uma mesma idade, devendo o que promover a deposição de gordura corporal,
sistema de produção se adequar a esse fato. A ta- espessura de toucinho entre 18-20mm, além de
bela 2 apresenta os valores aproximados da curva não serem efetivas nas genéticas atuais que apre-
de crescimento de leitoas comerciais de duas em- sentam baixa capacidade de deposição de tecido
presas de genética suína. adiposo, apresentam como consequência leitoas
Tradicionalmente as granjas criam suas marrãs com atraso na puberdade, menor peso corporal
sob condições de nutrição e manejo semelhantes à cobertura e baixa condição corporal devido à
às dos cevados destinados à produção de carne, falta de tecido magro.
considerando que a seleção final das fêmeas é reali- Existem várias pesquisas que procuram iden-
zada quando elas apresentam o peso na faixa de 90 a tificar os principais fatores determinantes para
110kg. Com o avanço da nutrição e dos padrões ge- uma boa vida reprodutiva das marrãs. Algumas
néticos dos animais, tornou-se necessário o empre- apontam que nem a idade nem a espessura de tou-
go de um programa nutricional que aperfeiçoasse cinho são índices confiáveis do desenvolvimento
o ganho de tecido magro até o primeiro serviço. No reprodutivo. Ainda sobre a idade, não se observou
plano de controle de desempenho dessas leitoas, o uma relação dela à primeira cobertura com a lon-
ponto de maior atenção é o ritmo de crescimento, gevidade da leitoa. Quanto ao peso de cobertura,
pois existem animais que atingem pesos superiores existe uma correlação significativa entre o peso
aos desejados para o início da reprodução, com altas ao nascimento da leitoa e o peso ao desmame e
taxas de ganho de peso. entre o peso ao nascimento e o peso aos 154 dias.
O efeito da restrição alimentar é contro- Fêmeas que têm maior taxa de crescimento antes
verso, embora a maioria dos estudos realizados do desmame apresentam melhor desempenho
comprove que a restrição atrasa a puberdade. Os reprodutivo. Um peso de no mínimo 180kg no mo-
aspectos que devem ser considerados são a idade mento do primeiro parto parece minimizar as per-
em que a restrição é efetuada, o grau de restrição das proteicas durante a lactação, então marrãs que
Tabela 2 – Pesos aproximados das leitoas de duas empresas de genética suína, dos 63 aos 150kg
Tabela 3 – Desempenho da produtividade de leitoas até o 3º parto de acordo com o peso na 1ª cobertura
atingiram um peso corporal de 135 a 150kg e já parece ser a melhor estratégia, desde que a cober-
apresentaram dois estros poderiam ser insemina- tura não seja realizada no primeiro estro. Leitoas
das, independentemente da idade e espessura de que atingiram a puberdade mais novas (<185 dias)
toucinho, considerando um ganho de 45kg durante tiveram maior número de leitões nascidos, maior
a gestação. Enfim, a cobertura baseada no peso, ao número de leitões nascidos vivos e maior número
invés de baseada na idade e espessura de toucinho, de leitões desmamados após as primeiras três pa-
rições do que marrãs que atingiram a puberdade Em suma, a variabilidade de resultados sobre
mais velhas (>185 dias). a influência dos fatores peso, idade e composição
Para minimizar o problema das taxas de corporal na idade à primeira cobertura, assim
crescimento variáveis, as marrãs devem ser, como a diversidade de genéticas comerciais exis-
como foi dito anteriormente, classificadas de tentes hoje e suas respectivas exigências, dificulta
acordo com seu peso e taxa de crescimento uma decisão definitiva em relação ao crescimento
ainda jovens, e com o uso desses dados devem adequado das leitoas. O peso e a idade fisiológica
ser submetidas a programas específicos de (número de cios) parecem ser os parâmetros mais
nutrição e manejo para que ocorra uma melhor importantes para uma boa capacidade reprodutiva
padronização do plantel. e duradoura da marrã.
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O
plantel de marrãs é um grupo de extre- que a insulina pode intermediar os efeitos intera-
ma importância dentro de um sistema de tivos da nutrição e reprodução de suínos. As ações
produção de suínos, pois representa, em insulínicas podem se manifestar em alvos celulares
outras palavras, o “futuro” da produtividade. O de- no sistema nervoso central ou diretamente nas gô-
sempenho da marrã ao primeiro parto apresenta nadas, pois está comprovada a presença de recep-
correlação positiva com sua produtividade subse- tores insulínicos em células ovarianas e sabe-se
quente. Matrizes bem preparadas permitem toda a que a administração exógena de insulina aumenta a
expressão do seu potencial genético, o que eleva a diferenciação das células da granulosa, além de di-
produtividade do rebanho. Assim, um manejo im- minuir o número de folículos atrésicos e aumentar
portante a ser realizado é o nutricional, pois fêmeas a taxa ovulatória.
mal nutridas nessa fase, além das perdas imediatas
na produtividade, têm perdas permanentes duran- Ação hormonal
te toda sua vida produtiva.
A nutrição específica de marrãs no período que Gonadotrofinas
antecede sua primeira cobertura ou inseminação As deficiências nutricionais podem afetar di-
já é prática consolidada em boa parte da indústria versos sítios do eixo hipotálamo-hipófise-ovários,
suinícola, uma vez que diversos autores demons- mas os efeitos concentram-se no telencéfalo, es-
traram que altos níveis de energia nessa fase estão pecialmente junto aos neurônios secretores de
relacionados com a melhoria do desempenho re- hormônio liberador das gonadotrofinas (GnRH),
produtivo. Essa prática é mundialmente conhecida uma vez que quaisquer manipulações nutricionais
como flushing nutricional. supressoras da liberação pulsátil do LH pela adeno
O flushing é uma estratégia nutricional aplica- -hipófise também promovem inibição da secreção
da às marrãs, que consiste no fornecimento de uma de GnRH no sistema portahipofisário.
dieta à vontade com alto nível de energia, no perío Leitoas realimentadas, após período de res-
do pré-cobertura, durante 14 a 21 dias. O efeito trição alimentar, apresentam um rápido retorno
flushing permite a maximização do potencial ovula- aos níveis normais de LH, fato que evidencia que o
tório através de um status hormonal mais adequa- efeito supressor desse hormônio, causado por uma
do, e tem como objetivo proporcionar um aumento manipulação nutricional, pode ser rapidamente
no número de leitões nascidos vivos. eliminado através de mediadores metabólicos de
Esse artifício nutricional ocasiona primeira- curto prazo. Em contraposição, também já foram
mente um aumento dos níveis plasmáticos de in- demonstradas diversas evidências de que modifi-
sulina, que tem uma importante função reguladora cações no balanço nutricional ou metabólico po-
da atividade ovariana. Diversos autores sugerem dem influenciar a maturação folicular diretamente,
ou seja, independentemente da ação gonadotrópi- ou até pela secretina, e controlada por hormônios
ca central. pancreáticos (glucagon e somatostatina) e por neu-
Nos suínos, o recrutamento e maturação foli- ropeptídios gastrintestinais, que são liberados du-
273
culares são dependentes de ação gonadotrópica, rante a digestão do alimento.
mas a participação do FSH no crescimento e na ma- Há evidências de que a insulina estimula a
turação folicular tende a diminuir, aumentando re- entrada e a utilização de nutrientes nas células da
lativamente a participação de outros componentes granulosa dos folículos ovarianos. Ela age na dife-
metabólicos e mesmo ovarianos, tais como fatores renciação e potencializa a indução de receptores
de crescimento e esteroides produzidos pelas célu- de LH na camada granulosa e a produção de este-
las da granulosa. roides pelos folículos antrais, além de estimular a
A restrição alimentar na fase luteal tardia afe- foliculogênese. A insulina também está relacionada
ta de forma significativa a síntese ovariana de es- com aumento na taxa de ovulação e na produção
tradiol, e as fêmeas submetidas à restrição severa de IGF-I pelos folículos, e em alguns estudos foi
apresentaram menor número de pulsos de LH a encontrada correlação positiva entre as concen-
cada oito horas, menor concentração plasmática trações de insulina e a frequência de pulsos de LH
de IGF-I, menor concentração plasmática de lep- durante a lactação.
tina, menor peso de ovários, menor concentração Estudos mostram que a insulina está positiva-
de estradiol no fluido folicular e uma menor por- mente associada com a retomada da secreção pul-
centagem de oócitos que atingiram a fase final de sátil do LH na lactação, sugerindo ser esse hormô-
maturação ou metáfase-II. Os folículos ovarianos nio metabólico um possível mediador das conexões
são sensíveis às alterações na ingestão de nutrien- entre nutrição e reprodução, e que há correlação
tes por parte das fêmeas e a alteração na concen- positiva entre os níveis de insulina e a amplitude e
tração intrafolicular de estradiol (esteroidogênese frequência dos pulsos de LH, porém esses estudos
ovariana) é um dos possíveis eventos ovarianos não permitem estabelecer uma relação exata de
que explicam os efeitos das alterações nutricionais causa e efeito entre essas substâncias.
e metabólicas sobre respostas ovarianas. Assim, é As ações insulínicas também podem se mani-
possível observar que a disponibilidade mediata de festar em alvos celulares no sistema nervoso cen-
combustíveis metabólicos, tais como glicose e áci- tral ou diretamente nas gônadas. As células pro-
dos graxos, é um fator determinante para a função dutoras de gonadotrofinas representam um alvo
reprodutiva, seja por ação gonadotrópica (central), celular específico para a insulina e, em regiões vi-
seja por ação gonadal (periférica). zinhas aos neurônios secretores de GnRH, no sis-
tema central, também foram identificados recep-
Insulina tores de insulina, estando, portanto, extensamente
A definição clássica da insulina como um hor- documentado o potencial de modulação da secre-
mônio anabólico deriva da constatação de que ela ção gonadotrópica por ação central da insulina. Em
favorece o ganho tecidual, através do estímulo à contrapartida, também já estão evidenciadas ações
captação de glicose pelos mais diversos tipos celu- ovarianas diretas pela insulina. Alguns trabalhos já
lares, principalmente adipócitos, hepatócitos e cé- demonstraram que a ação da insulina foi indepen-
lulas musculares. Entretanto, diversas outras ações dente da ação do FSH ou hCG, em que efeitos posi-
da insulina já foram demonstradas como os efeitos tivos sobre a taxa ovulatória não foram necessaria-
mais específicos sobre a atividade reprodutiva na mente acompanhados por elevação nos níveis de
espécie suína. LH, o que sugere um possível efeito direto sobre os
A secreção desse hormônio é estimulada pelo ovários. Entretanto, não se pode excluir qualquer
aumento da concentração sanguínea de glicose, componente do eixo hipotálamo-hipófise-ovários
alguns aminoácidos como a arginina e a leucina como possível alvo de ação da insulina.
A insulina também pode ter um efeito intrao- com suas respectivas proteínas de ligação, desem-
variano, reduzindo o número de folículos atrésicos, penham papel relevante na seleção da população
principalmente naqueles menores que três milí- de folículos pré-ovulatórios e na maturação deles.
274
metros. A administração suplementar de insulina Constitui, assim, um importante mediador entre o
aumenta a concentração de IGF-I no fluido dos fo- estado metabólico e a função ovariana.
lículos médios, sem qualquer efeito sobre os níveis
sistêmicos de LH e FSH. Interações entre nutrição e reprodução
As interações entre a nutrição e a reprodução
Sistema IGF-I animal são há muito tempo conhecidas e documen-
Muito embora se reconheça o papel central tadas. Em situações em que a demanda por subs-
da somatotropina como determinante do cres- tratos energéticos ou proteicos supera a ingestão
cimento e diferenciação celular, pode-se afirmar destes pelos animais, as reservas corporais são
que esses processos são regulados por diversos imediatamente mobilizadas, de forma dinâmica e
hormônios, que participam do eixo somatotrópico. intensamente reguladas pelo metabolismo. Nesse
Os principais componentes desse eixo hormonal contexto, a função reprodutiva assume posição de
são o fator de liberação da somatotropina (grow- menor prioridade metabólica do que as funções vi-
th releasing factor ou GRF), somatostatina (SRIF), tais desempenhadas pelo sistema nervoso central,
somatotropina (ST), somatomedina IGF-I (insulin sistema cardiorrespiratório, renal, entre outros.
-like-growth-factor-I), além de suas respectivas Atividades consumidoras de nutrientes, tais como
proteínas de ligação (GRFBP, SRIF-BP, ST-BP, IG- crescimento folicular, produção de leite e outras,
F-BP’s, respectivamente). Os sítios de ação desses portanto, são consideradas não essenciais do pon-
diversos componentes estão distribuídos por todo to de vista fisiológico, e estão fortemente regula-
o organismo, incluindo fígado, hipófise, hipotála- das por complexos mecanismos neuro-endócrino-
mo e órgãos do sistema reprodutivo. metabólicos. Esses mecanismos de controle irão
As interações entre os eixos somatotrópico determinar a partição de nutrientes adequada para
e reprodutivo são mediadas principalmente pela um dado estado metabólico, em função de variáveis
somatotropina e pelo IGF-I. Marrãs com baixos circunstanciais tais como idade, composição corpo-
níveis séricos de insulina apresentam a atividade ral, demanda nutricional e balanço energético, en-
esteroidogênica ovariana reduzida, independen- tre outras. Essa partição de nutrientes é inerente ao
temente da ação gonadotrópica, e o IGF-I é um metabolismo vital e é ela que determinará, em últi-
dos possíveis elos entre a insulina e a atividade ma análise, o limite até o qual será possível explorar
metabólica ovariana. o potencial genético dos animais. A infertilidade de
O IGF-I pode atuar como mediador na “im- origem nutricional é particularmente comum em
pressão” de efeitos foliculares pelos tratamentos fêmeas, já que um ciclo reprodutivo completo (ovu-
nutricionais, durante o período de recrutamento e lação, concepção, gestação e lactação) representa
maturação folicular pré-ovulação e potencializar os uma das atividades energeticamente mais dispen-
efeitos do FSH sobre o desenvolvimento folicular. diosas pelas quais passam as fêmeas mamíferas,
Além disso, esse fator, em conjunto com a insulina, principalmente nas espécies pluríparas.
age sobre a esteroidogênese das células da granu- Um dos principais objetivos na interação entre
losa ovariana. Há evidências contundentes de que reprodução e nutrição em suínos está em manter
fatores de crescimento de ação local participam a condição corporal das fêmeas, e, assim, garantir
decisivamente na maturação do pool de folículos uma vida útil reprodutiva adequada à maximização
recrutados, estando comprovado que não somente da produtividade dentro do sistema de produção.
o IGF-I, mas também outros fatores de crescimen- O manejo alimentar das marrãs ou leitoas de re-
to da família dos EGF’s (epidermal growth factors), posição assume papel de destaque principalmente
para granjas tecnificadas, tendo em vista que esses os ácidos graxos livres promovem uma marcante
animais representam 30 a 40% da reposição anual alteração no metabolismo energético das células β
de matrizes. pancreáticas, reduzindo sua capacidade de secre-
275
A nutrição específica de marrãs no período que ção insulínica.
antecede sua primeira cobertura ou inseminação é Trabalhos científicos têm mostrado que a fonte
uma prática consolidada em boa parte da indústria de energia dietética exerce influência sobre a res-
suinícola, uma vez que os altos níveis de energia posta insulínica e a liberação de LH e progestero-
da dieta nessa fase estão ligados à melhoria do de- na, sinal de que dietas em que a fonte de energia é
sempenho reprodutivo. Dessa forma, uma prática um carboidrato são potencialmente mais benéficas
que tem sido alvo de estudo é o flushing alimentar, do que dietas cuja fonte é um lipídeo, no que tan-
o qual se emprega, principalmente, durante o ciclo ge ao desempenho reprodutivo de fêmeas suínas.
estral anterior ao da primeira inseminação artificial Já foi relatado que os picos pós-prandiais de insu-
ou monta natural. O flushing representa um esque- lina são significativamente maiores nas marrãs que
ma de alimentação que corresponde primeiro a recebem o flushing com amido do que nas marrãs
um período de restrição alimentar, seguido de um alimentadas com a dieta lipídica, fato que sugere
incremento alimentar, o que leva a um efeito ime- que a média geral de concentração desse hormônio
diato na resposta ovulatória. Estudos ressaltam também é significativamente maior.
sua função de estabilizar a ovulação e efeito sobre Estudos têm demonstrado que dietas flushing
a qualidade do oócito e, consequentemente, sobre baseadas em amido de milho aumentam a taxa ovu-
a viabilidade embrionária. latória, o peso total dos ovários, o número total de
Essa alternativa nutricional, que traz uma me- embriões viáveis, o comprimento médio dos embri-
lhoria tanto qualitativa quanto quantitativa dos ões, o peso médio dos embriões, a área média pla-
nutrientes, aumenta o número de ovulações atra- centária e o peso médio das placentas.
vés da mobilização de metabólitos no ambiente É possível alterar o padrão da curva de secre-
ovariano, tornando-o mais rico em nutrientes. ção de insulina, bem como as médias de sua con-
Algo que pode interferir no aproveitamento do centração sérica em marrãs, pela substituição de
flushing em marrãs criadas em baias é a mistura uma fonte energética lipídica (óleo de soja) por uma
destas em grupos antes da primeira cobertura ou fonte baseada em carboidratos (amido de milho).
inseminação artificial, influenciando o efeito de- Essa modificação do metabolismo energético e da
sejado do incremento de nutrientes como é pre- regulação hormonal pode ser conseguida mesmo
conizado, pelo fato de existir, nesse caso, queda em animais que estejam em condições anabólicas e
na ingestão de alimentos dos animais submissos. sem restrição alimentar. Outro fator que deve ser
Dessa forma, o incremento alimentar torna-se observado é que a utilização de carboidratos como
mais eficiente ao ser aplicado em fêmeas manti- fonte predominante de energia metabolizável na
das em gaiolas. dieta flushing pode representar uma eficiente ferra-
A utilização de gordura na dieta de suínos é uma menta prática para a manipulação do metabolismo
prática amplamente adotada, em função do seu energético da fêmea suína, e, consequentemente,
grande potencial de contribuição em energia para induzir efeitos anabólicos sobre o sistema reprodu-
as dietas. Entretanto, com o conhecimento sobre tivo e otimizar a eficiência reprodutiva da espécie.
as diferentes rotas metabólicas e mecanismos de O polipeptídeo inibitório gástrico (GIP) é pos-
regulação aos quais estão sujeitos os carboidratos tulado como o principal componente endócrino do
e os lipídios, pode-se supor que eles influenciem, eixo enteroinsular (conexão endócrina entre intes-
de maneira distinta, alguns hormônios cujo padrão tino e ilhotas de Langerhans) e responsável pela in-
de secreção poderá interferir no desempenho re- tegração entre os estímulos de origem digestiva e a
produtivo, como é o caso da insulina. Além disso, secreção insulínica pelo pâncreas. Em animais sub-
metidos à dieta baseada em carboidratos, os níveis tura estão positivamente associados com os pul-
plasmáticos de GIP são significativamente superio- sos de LH. Níveis mais elevados de LH estimulam
res em relação à dieta rica em lipídeos. Assim, os o desenvolvimento de folículos maiores. Folículos
276
ácidos graxos são fracamente indutores da secre- menores, que têm receptores somente para FSH,
ção insulínica, em relação à glicose. Esse conceito serão menos estimulados e sofrerão atresia. Con-
pode ser aplicado à nutrição de marrãs, porém são sequentemente, a população de folículos torna-se
necessários estudos sobre essa categoria. mais uniforme, o que resulta em uma qualidade de
Alguns trabalhos têm demonstrado que fêmeas oócitos e embriões também mais uniformes.
alimentadas com ingredientes à base de dextrose e/ A importância dessa especificidade da dieta
ou carboidratos facilmente fermentáveis apresen- para as marrãs reside no fato de que recentemen-
tam aumento no número de embriões, no número e te a seleção tem sido voltada para a prolificidade,
peso de leitões nascidos vivos, o que evidencia que com resultados de grandes leitegadas que, muitas
esses alimentos podem ser utilizados para melho- vezes, são desuniformes. Assim, pode-se aumentar
ra no desempenho reprodutivo de fêmeas suínas. a vitalidade da leitegada e permitir que ela se apre-
Além disso, recentemente tem sido demonstrado sente homogênea ao nascimento e, consequente-
que a utilização desses ingredientes no período mente, ao desmame.
pré-cobertura auxilia na diminuição da variabilida- Com a utilização do flushing e principalmen-
de de peso da leitegada ao nascimento. te com a utilização de carboidrato como principal
A combinação de ingredientes à base de dex- fonte energética, é possível alterar o padrão de
trose e carboidratos facilmente fermentáveis pode secreção da insulina que, por ser um importante
promover picos elevados e prolongados de insulina. regulador da função reprodutiva, garantirá melhor
Níveis elevados de insulina e IGF-I antes da cober- produtividade da fêmea suína ao primeiro parto.
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O
desenvolvimento de uma leitoa tem como
objetivos principais maximizar a produti-
vidade, permitir uma lactação sem perdas
de peso excessivas, conseguir um segundo parto
igual ou superior ao primeiro e proporcionar ótima
longevidade. Para que isso ocorra, em primeiro
lugar a adaptação sanitária deve ser a melhor pos-
sível. O período para essa adaptação varia de granja
para granja, estabelecendo-se 30 dias como o tem-
po mínimo para que ela ocorra. Nos rebanhos que
fazem a própria reposição, isto é, que têm avós, a
Foto 1 – Estimativa de peso corporal
fase de adaptação sanitária é geralmente mais fácil pela distância entre os flancos
Fonte: O autor
de ser realizada, mesmo assim, deve ser feita.
O manejo alimentar das leitoas tem como meta dias. Controlando o ganho de peso diário (gpd), en-
atingir o peso vivo desejado na idade recomendada, tre 635 a 680 gramas por dia, atinge-se essa meta.
peso esse que é de 130 a 150kg entre 190 e 240 Cada uma das linhas genéticas presentes no Brasil
280
tem em seus manuais orientações técnicas para toucinho (localizado na linha do bordo posterior da
alcançar esses dois objetivos. O acompanhamento última costela, 5cm afastado da linha média dorsal)
do ganho de peso diário, o alojamento em baias com para a avaliação da espessura de toucinho (ET) (fi-
piso de boa qualidade, a lotação adequada, o contro- gura 1). Os padrões utilizados referem-se à medição
le e registro do cio são os outros requisitos necessá- de duas camadas de gordura.
rios para que o animal chegue ao início de sua vida Na tabela 2, mais adiante, estão apresentadas
reprodutiva com peso e idade desejados. as espessuras de toicinho desejadas para as linhas
A quantidade de ração diária fornecida à leitoa genéticas hoje presentes no Brasil.
para que ela alcance o peso na idade desejada de- As leitoas precisam apresentar uma boa qua-
pende do nível nutricional da ração, do nível sanitá- lidade do aparelho locomotor, muito importante
rio do rebanho e da temperatura ambiente. para que se alcance todo seu potencial genético
A pesagem da leitoa é o método mais simples e (fertilidade, prolificidade, longevidade). Por isso
direto para conhecer seu peso vivo. Entretanto, esse o alojamento das leitoas deve ser em pisos de boa
pode ser estimado medindo-se a distância entre os qualidade, pouco abrasivos e pouco escorregadios.
flancos (foto 1). A fita métrica é de fácil manuseio e A inclusão de biotina (250 a 400ppm) na dieta da
prática. Essas fêmeas só devem ser inseminadas se a marrã em fase de recria e reposição (70 a 200 dias)
distância flanco a flanco for superior a 86cm.
Na tabela 1 são apresentados os índices
observados durante a fase de recria da leitoa até o
início do flushing, ou seja, desde a desmama até 200
dias ou mais, facilitando o preparo da leitoa para
que atinja a idade e peso à cobertura recomendados
pela linha genética.
Na tabela 2 estão apresentadas as recomenda-
ções de idade, peso e cio para cobertura das leitoas
das linhas genéticas disponíveis no Brasil.
A espessura de toucinho no ponto P2 é mais um
parâmetro utilizado para o preparo da leitoa para a
cobertura. A figura 1 indica o ponto P2, que é a refe-
Foto 2 – Número de tetas
rência para ser realizada a medição da espessura de Fonte: O autor
0,1
0,05
0 ríodo do flushing. Ou seja, a transferência de local
0
Cobertura 1-3 4-6 7-9 10 a 12 13 a 15 16 a 18 19 a 20
da leitoa deve ocorrer pelo menos 14 dias antes do
-0,2 281
cio previsto para se fazer a inseminação artificial.
-0,4
-0,5
-0,4
No gráfico 1 são apresentadas as diferenças de
-0,6 desempenho em nascidos, conforme o tempo de
-0,8 -0,8 adaptação na gaiola.
-0,9 -0,9
1 São apresentados na tabela 2 os parâmetros
Tempo da leitoa na gaiola – Dias
Gráfico 1 – Diferenças no tamanho da leitegada em P1 de peso, idade e cio recomendados para as linhas
(parto 1) relacionadas com o tempo da leitoa na gaiola (dias) genéticas (fêmeas comerciais) disponíveis no Brasil.
Fonte: Guia de Manejo de Fêmeas Agroceres Pic 2012
Seguir as orientações zootécnicas de idade,
ajudará a manter os cascos em boa condição, ou peso corporal e cio à cobertura, apresentadas na
seja, sem rachaduras. tabela 2, maximizará o desempenho reprodutivo
Para leitoas com 150 dias ou mais dias de idade, da leitoa. O acompanhamento regular do peso
deve-se disponibilizar pelo menos 2m2 por cabeça, corporal e da idade da leitoa (por exemplo, uma
sendo importante montar lotes de até dez fêmeas, vez por semana ou uma vez a cada duas semanas)
de preferência e disponibilizar, pelo menos, um é necessário para que o maior número de leitoas
bebedouro para cada 15 fêmeas, com vazão de dois alcance as metas apresentadas na tabela 2. A avalia-
litros de água por minuto. ção da espessura de toicinho, na prática, perde em
Com o aumento da prolificidade, há necessida- importância na preparação das leitoas para sua vida
de de a leitoa amamentar mais leitões e por isso ela, reprodutiva para as características peso vivo, idade,
ao ser escolhida, deve ter pelo menos sete pares de porque, quando estas duas são acompanhadas re-
tetas funcionais, porém oito pares é uma meta que gularmente, a espessura de toucinho estará dentro
deve ser perseguida (foto 2). dos valores desejados.
Sabe-se que a transferência da leitoa da baia Como quase 20% dos partos de uma granja são
coletiva para a gaiola de inseminação causa estres- de leitoas, tem-se a certeza de que a boa preparação
se e pode interferir no desempenho reprodutivo das leitoas de reposição é fundamental para o bom
da leitoa. Por isso, é recomendável a leitoa ocupar desempenho reprodutivo do rebanho. Por isso,
disponibilizar baias de boa qualidade de piso e água, dietas recomendadas, em quantidade e qualidade,
com lotação adequada, acompanhar rotineiramen- é necessário para que elas mostrem todo seu poten-
te o desenvolvimento corporal, nutri-las com as cial genético, de prolificidade e longevidade.
282
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A
s taxas anuais de descartes de matrizes são para uma adequada detecção do estro, como o
consideravelmente altas, variando entre conhecimento do ciclo estral e o efeito do macho,
35 a 50%, em razão do intenso fluxo de pro- serão discutidos neste capítulo, este último tanto
dução vivenciado em granjas comerciais. Devido a como forma de antecipação da puberdade quanto
essas elevadas taxas, as leitoas de reposição repre- como a principal e decisiva manifestação do estro,
sentam uma categoria muito importante no plantel ou seja, o reflexo de imobilidade da fêmea ao ser
de matrizes, por participarem em torno de 12 a montada ou pressionada na região lombar.
20% dessas matrizes. Considerando o número de
matrizes em 2011 no Brasil (2,4 milhões), teríamos Aspectos ligados à puberdade e fatores
aproximadamente uma inserção de 0,8 a 1,2 milhão importantes na determinação do início
de novas matrizes no rebanho brasileiro anualmen- da fase reprodutiva em marrãs
te, elevando, sobremaneira, os custos de produção. A puberdade na fêmea suína é caracterizada
Destarte, é fundamental o adequado manejo da pelo aparecimento do primeiro estro fértil, seguido
leitoa de reposição, considerando que sua eficiência de ciclicidade regular, com manifestação de ciclos
reprodutiva pode ter influência significante no de- subsequentes, em intervalos de 18 a 24 dias. Nas ra-
sempenho produtivo do rebanho. ças ocidentais selecionadas para produção de carne,
Com base nisso, o adequado manejo reproduti- o estro puberal ocorre naturalmente ao redor dos
vo das marrãs é um fator imprescindível para que a 200 aos 220 dias de vida, podendo variar de 135 a
granja tenha uma eficiência produtiva apropriada. 250 dias. Nas raças chinesas, altamente prolíferas, a
Essa condição assume ainda caráter de maior im- puberdade ocorre em média aos 115 dias. Essa varia-
portância nas unidades em que as fêmeas destina- ção na idade em que há a puberdade está associada
das à reposição são oriundas do próprio sistema de a influências inibitórias ou estimulatórias reguladas
criação. Nesse contexto, um parâmetro de suma por fatores intrínsecos (idade, genética, linhagem,
importância é a média de leitões nascidos vivos por peso, gordura corporal) e extrínsecos (nutrição, ex-
leitegada, a qual está diretamente ligada à eficiência posição ao macho, condições ambientais, tipo de alo-
reprodutiva das fêmeas no primeiro parto. Desse jamento). Nesse contexto, a evolução na genética e
modo, cuidados especiais com o manejo das marrãs nutrição fez com que as leitoas apresentassem taxas
podem significar puberdade mais precoce, maior de crescimento cada vez maiores e puberdade cada
tamanho das leitegadas, melhores taxas de prenhez vez mais precoce, mesmo que isso possa representar
e maior número de partos/porca/ano, garantindo uma abreviação de sua longevidade.
um melhor retorno econômico para o produtor ao Conforme relatado anteriormente, o estro
longo de toda a vida produtiva do animal. puberal deve ser fértil. Destarte, em estudos sobre
Diante disso, dois aspectos muito importantes a puberdade de diferentes genéticas ou linhagens,
o pesquisador deve monitorar se houve a ovulação, desses animais, assim como uma eficaz detecção
por meio de ultrassonografia ou outros métodos de estro, são aspectos fundamentais para garantir
afins, tendo em vista que, na fase pré-púbere, a fê- a longevidade e produtividade da matriz, além de
284
mea pode apresentar estro sem ovulação, fato este reduzir os custos inerentes aos dias não produtivos
de ocorrência nas diferentes fêmeas domésticas. desses animais.
Todavia, para atingir a puberdade, é necessário
que inicialmente haja a maturação fisiológica do Considerações sobre o ciclo estral
animal, quando então ele atinge o desenvolvimento Para o entendimento do estro em marrãs e
adequado a essa condição. Esse processo envolve o porcas e sua efetiva detecção, é importante relatar
crescimento físico da fêmea e uma série de eventos algumas considerações sobre o ciclo estral desses
relacionados com a maturação endócrina, resultan- animais. A fêmea suína é classificada como poliés-
do na manifestação do estro, seguido de ovulação. trica não estacional, apresentando ovulação espon-
Nesse contexto, o hormônio chave para apareci- tânea. O ciclo estral desses animais varia de 17 a 25
mento da puberdade é o LH. Em leitoas, a partir dos dias, subdividido nas fases luteal e folicular, ocor-
180 dias, não só a concentração sérica de LH como rendo, nesta última o estro propriamente dito. O
também a frequência de pulsos desse hormônio se controle do ciclo estral é coordenado exclusivamen-
elevam. Esse evento, em associação com a matu- te por mecanismos neuroendócrinos e gonadais, es-
ração final dos folículos ovarianos, determina uma tando envolvidos, nesse processo, esteróides ova-
onda pré-ovulatória, a qual induz a ovulação. rianos e hormônios hipotalâmicos e gonadotróficos.
Outros hormônios, também importantes, apre- Uma forma mais apropriada e completa da ca-
sentam um comportamento variável em relação racterização do ciclo estral seria a divisão em quatro
à puberdade. Assim, o estradiol ocorre em baixa fases. Essas fases são denominadas de proestro,
concentração sérica durante quase todo o período estro, metaestro e diestro. Assim, o início da fase
pré-puberal, elevando-se próximo à puberdade. A folicular é denominado de proestro, cuja duração
progesterona aumenta somente após a puberdade, em suínos é geralmente de três dias. Nessa fase,
com a formação dos primeiros corpos lúteos devido ocorrem principalmente os eventos relacionados
à primeira ovulação, enquanto a concentração de com a resposta dos ovários à ação das gonado-
FSH endógeno é elevada no animal jovem, reduzin- trofinas hipofisárias, além de modificações nos
do após 70-125 dias de idade. Entretanto, está claro órgãos genitais. Em razão da baixa concentração
que a concentração média de FSH não aumenta, à plasmática de progesterona e elevação do FSH, há
medida que a puberdade se aproxima. o crescimento de folículos ovarianos, cuja condição
Os órgãos genitais da marrã podem até mesmo eleva a concentração plasmática de estrógeno. Essa
estar prontos para a concepção, mas, se não houver concentração de estrógeno é baixa (8 a 12 pg/mL)
a devida estimulação externa desses animais, essas durante a fase luteal do ciclo. Entretanto, a partir do
fêmeas poderão ciclar em idade mais avançada, o 18o do ciclo, essa concentração se eleva, atingindo
que aumenta o custo de produção, devido ao au- um pico de 30pg/mL. Devido à ação do estrógeno,
mento dos dias não produtivos. tem-se frequentes ondas de LH, com o pico (4ng/
Em contraposição, a redução da idade à pu- ml), ocorrendo, em média, 12 horas antes do início
berdade pode ser diretamente influenciada por do estro e 35 horas antes da ovulação. Em virtude
diversos fatores extrínsecos, conforme relatado da concentração elevada do estrógeno durante o
anteriormente. proestro, há modificações externas nos órgãos ge-
Tomando por base que as marrãs ocupam uma nitais femininos como edema e hiperemia de vulva
porção considerável do plantel e são responsáveis e, ocasionalmente, descarga vulvar. Além disso,
por aproximadamente 15 a 25% dos leitões nasci- verificam-se também mudanças comportamentais,
dos, o correto manejo na indução do estro puberal como inquietação, diminuição do apetite e, uma vez
ou outra, atividade homossexual, quando as fêmeas sétimo ao décimo sexto dia do ciclo. Na ausência de
estão mantidas em grupos. Adicionalmente, tendo gestação, eleva-se a concentração sérica de prosta-
em vista essas mudanças na fêmea, inicia-se o inte- glandina PGF2alfa, secretada pelo útero, induzindo
285
resse do macho pela matriz. a atresia dos corpos lúteos. Com isso, há uma redu-
A próxima fase do ciclo estral é denominada de ção drástica das concentrações séricas de proges-
estro, cuja duração em porcas é de 40 a 60 horas terona a partir do 18º dia do ciclo, dando início a um
em média. Entretanto, o estro é geralmente mais novo ciclo estral.
curto em marrãs, durando em média 47 horas. Os
eventos morfológicos e psíquicos determinados A detecção do estro propriamente dita
pelo estro são os mesmos observados na fase Em programas de IA, um dos problemas mais
do proestro, porém geralmente mais intensos. importantes do desempenho reprodutivo das por-
É importante salientar que a ovulação ocorre cas é a deficiência na detecção do estro. A acurácia
durante o estro, mais especificamente em seu ter- na determinação do início do estro é geralmente
ço final. Entretanto, trabalhos a respeito demons- desafiadora e muito laboriosa em condições de
tram que existem grandes variações na ocorrência campo. Para a obtenção de índices compatíveis com
e no tempo da ovulação. Adicionalmente, no final as metas estabelecidas, é necessário observar o mo-
do estro ou logo após pode ser observado muco mento ideal da IA, considerando a duração do estro
esbranquiçado fluindo pela vulva, composto de e a ovulação. Essa condição é importante, uma vez
debris celulares e leucócitos, situação considerada que um longo intervalo IA-ovulação reduz a taxa de
normal. Contudo, a intensidade de alterações du- gestação, a sobrevivência embrionária e o tamanho
rante o estro pode variar de animal para animal, o da leitegada.
que impossibilita a definição do proestro e do estro Inúmeros fatores interferem diretamente no
somente pelas alterações morfológicas e psíquicas sucesso da detecção do estro. Dentre eles pode-
relatadas anteriormente. Assim, o único detalhe mos destacar a experiência do técnico, os fatores
que permite ao observador separar o proestro do ambientais, o intervalo desmama-estro (IDE) e a
estro é a imobilidade da fêmea ao ser montada, ou intensidade de exposição ao macho. Esses aspectos
seja, a aceitação da monta, cujo comportamento são de fundamental importância, sobretudo nos
surge somente durante o estro. animais que têm comportamento de estro menos
Após o estro ocorre a fase do ciclo denominada evidente e intenso, como no caso das marrãs.
de metaestro, com duração média de três a seis dias. Partindo do preceito que o protocolo de inse-
Nessa fase, os corpos lúteos recém-formados estão minação (momento de IA) é definido em função
se organizando, e no quarto dia do ciclo esta luteini- do início do estro, mais importante que encontrar
zação estaria completa para a produção de proges- uma porca em estro é detectar o início dele. En-
terona, cuja concentração sérica vai aumentando à tretanto, mesmo com um bom manejo na detec-
medida que continua o ciclo estral. ção, esse início muitas vezes não é caracterizado,
A próxima fase do ciclo estral é denominada de tendo em vista que pode ter ocorrido durante a
diestro, a qual se estende desde o final do metaestro noite. Esse fato pode ser o responsável pela maior
até o início de um novo ciclo (proestro), cuja duração incidência dos estros detectados no início da ma-
na fêmea suína é de nove a 13 dias. Essa fase é carac- nhã e não no período da tarde. Para demonstrar
terizada pelo rápido desenvolvimento dos corpos a referida situação, verificou-se em um estudo
lúteos, os quais atingem o peso máximo entre seis realizado pelo nosso grupo de trabalho que 16,7%
e oito dias. Em consequência desse evento, tem-se dos estros são inicialmente detectados às 15h30.
uma elevação da concentração sérica de progeste- Entretanto, às 7h30 e 23h30 foi detectado o es-
rona, atingindo rapidamente as concentrações de tro em 44,4 e 38,9% dos animais, respectivamen-
20 a 30ng/mL, permanecendo nesse patamar do te. Desse modo, podemos considerar que 83,2%
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Simpósio Internacional de Reprodução e Inseminação
O
atraso no início da puberdade pode inter- Assim, para ambos os sistemas, o chamado
ferir diretamente no planejamento de re- “efeito macho” é o principal fator para a anteci-
posição de leitoas e trazer consequências pação da puberdade. Entretanto, para que sejam
à produtividade devido, principalmente, a falhas obtidos resultados satisfatórios, é essencial o tra-
nos grupos de cobertura, aumento dos dias não balho do homem na condução do macho, garantin-
produtivos (DNP), diminuição de partos/porca/ano, do o contato de todas as leitoas com o reprodutor,
interferência no planejamento de descarte e conse- evitando coberturas indesejadas, identificando as
quente redução no ganho genético. leitoas em estro, bem como auxiliando o estímulo
A idade de início da puberdade de leitoas à puberdade pela pressão lombar e região inguinal
pode ser influenciada por diversos fatores, um das leitoas.
dos principais é o sistema de exposição ao macho. Atualmente, no Brasil, poucas granjas utilizam
Atualmente, os sistemas mais utilizados no mun- o Sistema B.E.A.R. Os principais motivos para essa
do são o Tradicional e o B.E.A.R., cuja sigla deriva baixa implantação nacional são:
do inglês Boar Exposure Area (área de exposição »» Necessidade de adaptação de estrutura em
ao macho). granjas planejadas e construídas para utiliza-
O Sistema B.E.A.R. foi idealizado pela equipe da ção do Sistema Tradicional;
Universidade de Alberta, Canadá, no início do ano »» Maior custo com instalação quando compa-
2000, respaldado pelo conhecimento da interfe- rado ao Sistema Tradicional;
rência da libido do macho na idade à puberdade das »» Pesquisas nacionais demonstram resultados
leitoas e, também, pela suposição de que o maior reprodutivos similares entre os Sistemas
estímulo à puberdade oferecido pela presença (Tradicional e B.E.A.R.);
simultânea de vários machos na área de manejo »» Certa descrença com o Sistema por proble-
(contato visual, olfativo, auditivo e físico) diminuiria mas de planejamento como:
os reflexos negativos das características individuais »» Implantação do Sistema B.E.A.R. em
de libido dos reprodutores na idade de puberdade granjas com menos de 1.800 matrizes ou
das leitoas. sem baias para alojamento de leitoas pré-
Após sua idealização, diversos estudos surgi- cobertura;
ram comparando-o ao Sistema Tradicional e, de »» Mau dimensionamento ou localização do
maneira geral, demonstraram que, do ponto de vista Sistema B.E.A.R, o que dificulta a logística
reprodutivo, independentemente do sistema utili- de deslocamento de leitoas até o sistema;
zado, leitoas expostas a machos sexualmente madu- »» Muitas granjas não dão devida importância à
ros e com alta libido apresentam uma antecipação estimativa real do peso corporal no momento
da idade à puberdade. da cobertura ou da entrada no flushing, nem
Sistema tradicional
O Sistema Tradicional consiste na introdução
de um macho de boa libido e sexualmente maduro Leitoas em estro entre os dias 1 a 4 de julho
na baia das leitoas, por tempo determinado, con-
duzido e auxiliado por um funcionário capacitado
(foto 1). De maneira geral, o tempo de permanência
do macho na baia é de aproximadamente 10 minu-
tos, entretanto, pode variar conforme o número de
leitoas presente na baia. A permanência por tempo
prolongado pode não gerar melhora nos resultados Reagrupamento de leitoas
de entrada em estro e, além disso, acarretar maior
desgaste do macho, reduzindo, dessa forma, o nú-
mero de baias que pode ser estimulado por ele. Em
contrapartida, curtos períodos de estímulo podem
diminuir o sucesso do manejo.
No Sistema Tradicional, o número de leitoas
Estro: 1 a 4 de julho
presente nas baias não deve ser superior a 15 nem Retornar o Macho: 17 de julho
Intensificar o manejo de estímulo
à puberdade;
Início do Flushing: 23 a 28 de julho
inferior a seis. Grupos muito grandes de leitoas di- Previsão de cobertura: 12 a 15
Aumento do estresse ocasionado
pela mistura de baias pode
de agosto
ficultam o manejo de estimulação ao estro, além de Planejamento de descartes de
diminuir o intervalo entre o início
do estímulo e estro
matrizes!
serem comuns as brigas por indefinição da hierar-
quia da baia. Em contraposição, grupos pequenos
Leitoa em estro Leitoa
também não são adequados, pois a interação entre
as leitoas é um importante fator que influencia a
Figura 1 – Representação esquemática do manejo de
entrada em estro. estímulo à puberdade, diagnóstico de estro, reagrupamento
de leitoas e organização dos lotes de leitoas para a
Após a identificação de fêmeas em estro, estas cobertura no sistema tradicional de estímulo à puberdade
podem ser reagrupadas em baias ou alocadas em ce- Fonte: Thomas Bierhals
Durante 5 Minutos
de maneira semelhante ao Sistema Tradicional.
Posteriormente a esse processo, o macho pode
permanecer na baia com as leitoas e o funcionário
293
pode conduzir outro grupo de leitoas para a outra
baia de estímulo alocada do lado oposto às celas
dos machos. Caso o manejo esteja sendo feito por
Durante 10 Minutos dois funcionários, as duas baias de leitoas podem
ser introduzidas simultaneamente no B.E.A.R.
As ilustrações desse manejo estão demonstra-
das nas figuras 3 e 4.
Após todas as leitoas terem permanecido em
contato com o macho durante dez minutos, o ma-
cho pode ser reconduzido à sua cela e as leitoas
Macho Leitoa em estro Leitoa
para suas baias de origem. Nesse momento, caso as
leitoas identificadas em estro forem permanecer
Figura 3 – Ilustração esquemática do
manejo do sistema B.E.A.R. na mesma baia daquelas sem estro detectado, pre-
Fonte: Thais Schwarz Gaggini ferencialmente aquelas em estro deverão ser libe-
radas primeiro. Esse manejo facilitará a condução,
o macho, após ser solto, destine muito tempo a essas pois as leitoas sem estro auxiliarão a movimentação
fêmeas em detrimento das demais, além de evitar daquelas em estro, as quais tendem a ficar paradas.
problemas locomotores às leitoas decorrentes da De outra maneira, as leitoas diagnosticadas em
carga exercida pelo macho no momento da “monta”. estro também podem ser destinadas a outras baias
Nos dez minutos seguintes, um macho deve ou celas.
ser solto e a estimulação é realizada pela pre- Nesse sistema, o deslocamento do macho é
sença dele associada ao estímulo pelo homem, menor e existe um descanso entre o estímulo de
A: Balança
B: Cela de retenção de leitoas em estro
uma baia e outra, havendo, dessa forma, um me- Sistema Tradicional vs Sistema B.E.A.R.
nor desgaste dos machos quando comparado ao
Sistema Tradicional. Consequentemente, pode- Ciclicidade estral das leitoas
294
se trabalhar com um menor número de machos. Apesar de haver maior número de machos no
Uma relação macho:leitoa de 1:40 a 1:100 pode momento do estímulo à puberdade no sistema
ser utilizada nesse sistema, dependendo do ta- B.E.A.R., estudos que compararam o Sistema Tra-
manho da granja, da utilização do reagrupamento dicional e o B.E.A.R. não demonstraram diferenças
de leitoas com outras fêmeas contemporâneas de entre eles no que se refere à ciclicidade das leitoas.
estro, da libido, da idade, do escore corporal e do Mesmo em diferentes idades das leitoas ao início de
estado clínico dos machos, além da qualidade das estímulo, tanto o intervalo entre o início do estímulo
instalações. e o estro, quanto o percentual de leitoas cíclicas fo-
Como se trata de um sistema mais caro e que ram semelhantes em ambos os sistemas (tabela 1).
demanda um espaço considerável dentro do barra- É bem verdade que, nesses estudos, o manejo
cão de estímulo de leitoas, o sistema só se viabiliza de ambos os sistemas (Tradicional e B.E.A.R.) foi re-
em granjas onde um número superior a 100 leitoas alizado de maneira criteriosa. Resultados díspares
são estimuladas todos os dias, ou seja, em granjas podem ser encontrados, por exemplo, em situações
que possuem mais de 1.800 matrizes ou em granjas em que o rodízio de machos ou o tempo do contato
destinadas exclusivamente à preparação de leitoas do macho com as leitoas não é respeitado, justifi-
(Quarto Sítio). cando-se, nesse caso, a observação de resultados
No caso de sistemas de Quarto Sítio, cabe uma diferentes entre os sistemas de manejo.
reflexão quanto à logística quando o plantel repro-
dutivo atendido por essa granja supera 7.000 matri-
zes. Nesse caso, o grande número de leitoas a serem Particularidades de instalações,
estimuladas ou diagnosticadas em estro pode mão de obra e manejos
conferir uma distância elevada entre o B.E.A.R. e as As principais diferenças de instalações, mão de
baias de alojamento de leitoas. Esse fato pode ser obra e manejos, para ambos os sistemas de estímu-
definitivo e inviabilizar o sistema devido ao tempo lo, estão descritas na tabela 2.
gasto no deslocamento das leitoas. Uma alternativa De maneira geral, ambos os sistemas, B.E.A.R.
para esses casos, afora o Sistema Tradicional, é a e Tradicional, são eficientes no estímulo de leitoas
construção de outro ou outros B.E.A.R. à puberdade e apresentam resultados similares
Tabela 1 – Intervalo para a manifestação do primeiro estro e idade à puberdade de leitoas submetidas ao
estímulo do macho em diferentes idades nos Sistemas Tradicional e B.E.A.R.
para esse fim quando conduzidos de maneira a diminuição dos problemas locomotores ocasio-
correta, respeitando, principalmente, o rodízio nados pelo peso do macho, a melhor identificação
dos machos e o tempo necessário para o estímulo. de leitoas doentes e a possibilidade do manejo ser
Contudo, não é raro observarmos falhas desses realizado por apenas uma pessoa são fatores cada
fatores no processo de estímulo à puberdade quan- vez mais vantajosos à medida que a suinocultura
do o estímulo é realizado no Sistema Tradicional. torna-se cada vez mais competitiva, exigente em
Em contraposição, observamos que o contato com resultados e a mão-de-obra mais escassa. Assim
um maior números de machos confere, de certa sendo, esse sistema deve ser uma alternativa a ser
forma, ao Sistema B.E.A.R. um paliativo a eventuais considerada em granjas com mais de 1.800 matri-
falhas no processo. Além disso, no sistema B.E.A.R., zes ou sistemas com preparação de leitoas em gran-
a facilidade em pesar e separar as leitoas em estro, jas Quarto Sítio.
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boar contact and housing conditions on estrus ex-
I
ncluir a inseminação artificial (IA) no manejo re- cio já estão devidamente tratados em capítulos es-
produtivo dos suínos acelerou a difusão de carac- pecíficos deste livro. O protocolo e a técnica de IA
terísticas desejáveis dos rebanhos. Uma das prin- em suínos serão discutidos abaixo.
cipais diferenças em relação à monta natural é que a
IA possibilita que os ejaculados sejam avaliados an- Protocolo de IA
tes de sua deposição no trato reprodutivo feminino. Como em qualquer outra espécie, o protocolo
Essa avaliação prévia permite o descarte de ejacu- de inseminação considera a viabilidade dos game-
lados de baixa qualidade, os quais interferem nega- tas no trato reprodutivo e o momento da ovulação.
tivamente no potencial fecundante. Além disso, na Depositados no útero, quando oriundos de uma
monta natural, um ejaculado resulta em apenas uma dose de sêmen de boa qualidade, os espermatozoi-
cobertura, enquanto o mesmo ejaculado produz em des permanecem viáveis por 16 a 24 horas, haven-
média 20-24 doses na inseminação artificial. do, entretanto, um gradativo comprometimento da
Diante desses fatos, a definição pelo uso da IA nos capacidade fertilizante dos gametas. Já o oócito,
sistemas de produção de suínos já superou todas as após a ovulação, leva entre 30 e 45 minutos para ser
discussões em relação a vantagens e desvantagens. transportado até o local da fecundação, na junção da
Com sua utilização, é possível otimizar e maximizar ampola com o istmo, permanecendo viável por ape-
o uso do material genético de valor superior e nas quatro a oito horas. Por essa diferença de viabi-
disseminar mais rapidamente as características lidade, é fundamental que exista uma população de
desejadas no rebanho, aumentando a produtividade e, espermatozoides viáveis na junção útero-tubárica
na maioria das vezes, a lucratividade. (local da fecundação), no momento em que ocorrer
As limitações não são muitas e há bastante co- a ovulação.
nhecimento disponível para ser aplicado no sentido Os estudos a respeito do intervalo pré-ovulató-
de contorná-las. De forma sucinta, a utilização de rio ideal indicam que não há prejuízos ao desempe-
doses inseminantes de qualidade, o diagnóstico de nho reprodutivo desde que, pelo menos, uma inse-
cio preciso, o protocolo adequado e a qualidade da minação seja realizada no intervalo de 0-24 horas
matriz inseminada praticamente definem a imple- antes da ovulação.
mentação bem-sucedida da IA na granja. Quanto ao momento da ovulação, na fêmea
No Brasil, ainda há uma preocupação com a suína, na maioria das matrizes, acontece depois de
banalização da técnica, especialmente no que tan- transcorridos 2/3 do cio (período de reflexo de tole-
ge à produção das doses inseminantes. Os progra- rância ao macho na presença do homem). De forma
mas de controle de qualidade das doses ainda são prática, essa informação tem pouca utilidade, já que
escassos, com um significativo grau de improviso e é retrospectiva, ou seja, somente saberemos quanto
utilização de métodos subjetivos de avaliação. Nes- tempo durou o cio depois que ele já terminou.
se sentido, a produção de sêmen e o diagnóstico de Infelizmente, ainda não é possível prever o mo-
mento da ovulação por meio de técnica passível de o último o mais utilizado. A principal diferença en-
ser utilizada em escala comercial/industrial, o que tre ambos é o número de inseminações por matriz.
impede a realização de uma única dose de insemi- São necessárias em média 2,1 e 3,4 doses/cio para
298
nação em cios espontâneos. protocolo de uma dose diária e protocolo de duas
A determinação dos protocolos de IA em suínos doses inseminantes diárias, respectivamente. Isso
baseou-se nessas informações, já que a forma práti- representa praticamente uma dose a menos/estro
ca de compensar a dificuldade de prever o momen- (espermatozoides+diluente).
to da ovulação é realizar múltiplas inseminações Os protocolos de IA com duas doses diárias, por
em intervalos pré-determinados durante o cio. causa do horário de trabalho das granjas, apresen-
Assim, é possível manter uma população constante tam intervalos que variam de oito a 16 horas entre
de espermatozoides vivos e férteis para o momento as doses, e não exatamente 12 horas. Um dos pon-
da ovulação. tos mais importantes é que as granjas ajustem seus
De forma geral, com base em dados do início horários de trabalho para atingir o maior intervalo
dos anos 2000, tem-se considerado que nulíparas possível entre a IA do turno matutino e vespertino.
possuem comportamentos diferenciados de dura- Um protocolo de duas doses diárias preconiza o
ção do cio e momento da ovulação relativamente às uso da primeira IA na hora 0 em leitoas, fêmeas com
demais fêmeas. Devido a isso, em geral, a ordem de IDC 0 ou maior que sete dias e fêmeas de retorno
parto é levada em consideração na hora de definir ao cio (regular, irregular ou após aborto), e 12 horas
o protocolo. para as fêmeas com IDC um a sete dias (tabela 1).
Atualmente, as granjas utilizam dois tipos de O protocolo com uma dose diária ainda apresen-
protocolo, classificados de acordo com o número ta menor uso no Brasil, embora já esteja bastante di-
de doses inseminantes aplicadas por dia: protoco- fundido. Esse protocolo apresenta como principais
lo de uma ou duas doses diárias, considerando-se vantagens a concentração das atividades de IA em
Técnica de inseminação
O sêmen suíno resfriado é o mais amplamente
utilizado em inseminações artificiais. Em contras-
300
te com o sêmen bovino, o sêmen suíno congelado
ainda apresenta fertilidade inferior à do sêmen res-
friado, devido à perda de integridade de membrana
durante o processo de congelamento e desconge-
lamento. Mais de 99% dessas inseminações são re-
alizadas com sêmen resfriado e usualmente arma-
zenado na temperatura de 15° a 18°C, por até três
Foto 3 – Método tradicional de IA
dias, podendo existir uma influência significativa na
sua qualidade de acordo com a qualidade do diluen-
te utilizado e do processo de armazenamento.
Na técnica tradicional de inseminação artificial
suína, são utilizados três a cinco bilhões de esperma-
tozoides/dose em volume total de 80 a 100 ml, rea-
lizando de duas a três inseminações durante o estro.
A técnica tradicional consiste da utilização de
uma pipeta, preferencialmente descartável, intro-
duzida através da vulva e vagina, no sentido dorso-
cranial até ser afixada na cérvix, região em que a
Foto 4 – Auto-inseminação
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E
ntre os principais ganhos obtidos com a in- de tempo grande entre as avaliações e o assunto só
seminação artificial (IA), o melhoramento voltou a ser discutido nas décadas de 1990 e 2000,
genético é considerado o mais importante. quando se desenvolveu uma série de trabalhos uti-
Com isso, o foco das centrais de processamento de lizando diferentes números de espermatozoides e
sêmen tem sido a redução do número de esperma- volume da DI.
tozoides por dose inseminante (DI), o que possui No Brasil, um dos primeiros trabalhos que com-
um impacto muito grande na difusão dos genes pararam a técnica de inseminação artificial tradicio-
de alto valor genético. Com esse objetivo, foram nal (IAT) (foto 1) com a técnica IAPC foi elaborado
criadas técnicas diferenciadas de IA que permitem no ano de 2004, utilizando doses de 1,5 bilhão de
a redução do número de espermatozoides na DI, espermatozoides em 60ml e uma pipeta de IA des-
considerando a inseminação artificial pós-cervical cartável com cateter que deslizava por dentro da
(IAPC) e a inseminação artificial intrauterina pro- pipeta de IAT e alcançava até 20cm além da cérvix.
funda (IAUP) os principais exemplos. Em relação Logo após, em 2005, outros pesquisadores avalia-
à aplicabilidade dessas na prática, a IAPC é mais ram a IAPC com 0,5 bilhão de espermatozoides em
recomendada, tendo em vista que trabalhos com 20ml. Ambos os trabalhos demonstraram a manu-
IAUP em granjas tiveram resultados pouco satis- tenção de bons desempenhos reprodutivos da IAPC
fatórios devido ao maior cuidado que a aplicação quando comparada à técnica de IAT.
dessa técnica exige. Os primeiros relatos da IAPC Em relação à IAT, a IAPC apresenta uma série de
de forma não cirúrgica, em suínos, datam da década vantagens:
de 50, quando se observou que o local de deposição a) Redução do número de espermatozoides por
do sêmen influenciava diretamente os resultados DI – vários trabalhos demonstraram ser pos-
de fecundação. Em uma avaliação considerando o
efeito de uma única IA com deposição vaginal, cer-
vical ou uterina do sêmen, observou-se uma taxa de
prenhez de 57,1%, 50,0% e 96,3%, respectivamen-
te. Na mesma época, outros autores inseminaram
fêmeas com dez e um bilhão de espermatozoides em
um volume de 20ml e obtiveram taxas de fecunda-
ção de 80,9% e 81,2%, respectivamente, confirman-
do a hipótese de que, com a deposição dos esperma-
tozoides no ambiente uterino (IAPC), seria possível
a redução do número de células espermáticas e do
volume da DI sem prejuízo à taxa de fecundação.
Apesar dos resultados demonstrarem a possibi-
lidade da utilização da IAPC com reduzido número Foto 1 – Representação da fixação da pipeta na
cérvix, na inseminação artificial tradicional
de espermatozoides e volume da DI, houve um lapso Fonte: acervo do autor
Trat Sptz (x109) Vol (mL) TPr (%) TP (%) NT/ET Autor
IAPC 1 80 - 86,9 12,1
Watson & Behan, 2002
IAT 3 80 - 92,5 12,3
IAPC 1,5 60 - 94,9 11,5
Dallanora et al., 2004
IAT 3 90 - 94,4 11,76
IAPC 0,5 20 - 92,7 11,3
Bennemann et al., 2005
IAT 3 90 - 95,1 12,1
1 20 84,7 - 13,3
IAPC Mezalira et al., 2003
0,5 20 85,5 - 14,3
1 60 82,1 - 15,9
IAPC Bennemann et al., 2004
2 60 96,5 - 14,9
1 25 93,4 90,6 12,4
IAPC* Diehl et al., 2006
1 25 96,2 95,1 12,7
IAT 3 90 90,1 89,1 11,9
Sbardella, 2013
IAPC** 1,5 45 93,3 91,5 12,5
IAPC – inseminação pós-cervical; IAT – inseminação tradicional; Sptz – espermatozoides; Vol. – volume; TPr – taxa de prenhez; TP – taxa de
parto; NT/ET – nascidos totais/embriões totais; *DIs com o mesmo número total de espermatozoides com duas pipetas diferentes; **IAPC
em primíparas.
pois alguns autores observaram influência parado ao intervalo de 0-24 horas (16,3). Da mesma
desse fenômeno nos resultados e outros não. forma, outro trabalho em que inseminaram fêmeas
Fêmeas, nas quais se detectou a presença de uma única vez no intervalo de até 24 horas antes da
305
sangue no cateter após a IAPC, apresentam ovulação, utilizando DIs de um bilhão e 500 milhões
uma maior taxa de retorno ao estro (13,8%) de espermatozoides em 20ml, não houve diferença
que as fêmeas em que não se observou qual- na taxa de prenhez nem no número de embriões
quer sinal de sangramento (2,6%). No entanto, totais. Esses trabalhos mostram claramente que,
em outro trabalho a taxa de parto não foi afe- quando é utilizado um protocolo de até 24 horas
tada pela presença de sangue, mas o tamanho entre as inseminações (uma inseminação/dia), a
da leitegada reduziu em 2,6 leitões nas fêmeas mudança da técnica de IAT para IAPC não interfere
que apresentaram sinais de sangue em rela- nos resultados de taxa de prenhez e tamanho de lei-
ção às que não apresentaram. tegada. Dessa forma, cabe inferir que, mesmo com
Sendo assim, o treinamento e a reciclagem da a IAPC, é possível a utilização de protocolos de uma
equipe de trabalho se tornam fundamentais. única inseminação diária sem que haja prejuízo ao
Toda aplicação de novas tecnologias requer desempenho reprodutivo, mesmo quando o núme-
uma melhor preparação dos executores, ro de espermatozoides é reduzido.
independentemente da área em que será
aplicada, e na IAPC não é diferente; Inseminação artificial pós-
d) Necessidade de um método preciso de ava- cervical profunda (IAPCP)
liação da concentração espermática – devido A IAPCP consiste na deposição do sêmen na
ao baixo número de espermatozoides utiliza- porção final do corno uterino, o mais próximo possí-
dos por DI, qualquer variação na contagem vel da junção útero-tubárica, com o intuito de redu-
do número de células espermáticas pode zir ainda mais o número de espermatozoides por DI.
representar um valor significativo no total de Porém, para que essa técnica possa ser aplicada, um
espermatozoides por DI. Assim, é necessário cateter flexível precisa vencer as barreiras anatô-
adotar uma metodologia precisa para a con- micas do trato genital feminino e chegar ao final dos
tagem do número de células espermáticas. cornos uterinos.
Avaliações realizadas em relação à concen- Inicialmente foi desenvolvida uma técnica de
tração espermática têm demonstrado situa- IAPCP não cirúrgica com o auxílio de um endos-
ções em que apenas 30% das DIs atingiram o cópio, observando a possibilidade de inserção do
número de espermatozoides esperados. endoscópio em 90% das fêmeas. Os resultados
mostraram um desempenho reprodutivo satisfa-
Existe alteração quanto ao protocolo tório em relação à taxa de parto e ao tamanho da
de IA quando utilizada IAT ou IAPC? leitegada, utilizando 50 milhões, 200 milhões e um
Quando fêmeas foram submetidas a uma única bilhão de espermatozoides com essa tecnologia,
IAPC com um ou dois bilhões de espermatozoides comparada ao controle com IAT (três bilhões). Po-
nos períodos de 0-24 horas e 25-36 horas antes da rém, apesar de a técnica ter-se mostrado efetiva, ela
ovulação, observou-se que o número total de esper- é inviável em nível de campo devido ao alto custo e à
matozoides na dose e o intervalo pré-ovulatório do fragilidade do endoscópio. Com base nessa obser-
momento da inseminação não tiveram influência vação, desenvolveu-se um cateter para IAPCP, com
na taxa de prenhez (82,1% e 96,5%) nem na sobre- o qual se obteve sucesso em 95,4% das tentativas
vivência embrionária (70,8% e 64,1%), respecti- de transposição da cérvix. As taxas de prenhez e
vamente. Porém o número total de embriões foi parição foram semelhantes nos grupos de fêmeas
menor quando as fêmeas foram inseminadas com inseminadas com DI de 50 e 150 milhões de esper-
intervalo IA-ovulação de 25-36 horas (14,7) com- matozoides via IAPCP comparadas às das fêmeas
inseminadas tradicionalmente (IAT- três bilhões). relatou um grau de passagem pela cérvix superior
Porém, quando os autores utilizaram DI com 10 e a 90%, em fêmeas multíparas. No início da década
25 milhões, o desempenho reprodutivo mostrou-se de 2000, o tamanho e maleabilidade dos cateteres
306
inferior em relação aos demais grupos. dificultavam a aplicação prática, além de ocasiona-
No entanto, outros autores observaram em rem injúrias significativas ao trato genital. O princi-
granjas com a utilização da IAPCP comercialmente, e pal obstáculo da disseminação da técnica de IAPC
utilizando DI com 150 milhões de espermatozoides, era o custo do equipamento (cateter), da ordem de
uma redução da taxa de parto e número de leitões R$ 5,00 a R$ 7,00. Em um protocolo tradicional de
nascidos. Dessa forma, essa é uma tecnologia que po- IA, isso significava R$ 15,00 a R$ 21,00 de investi-
deria, futuramente, ser empregada em situações em mento por fêmea coberta para que o desempenho
que se utiliza um número muito reduzido de células reprodutivo fosse mantido, assumindo ainda um
espermáticas, como é o caso do sêmen sexado. risco de redução do tamanho da leitegada devido a
injúrias do trato genital.
Aplicabilidade prática e viabilidade Com o surgimento de novos materiais e novas
da técnica da inseminação tecnologias de fabricação, foi possível o desenvolvi-
pós-cervical (IAPC) mento de um cateter de baixo custo e que se adapta
Atualmente, a IAPC é uma técnica consagrada em a pipetas descartáveis convencionais utilizadas
termos de resultados técnicos em todas as escalas de no processo rotineiro da inseminação artificial
produção da suinocultura. Os questionamentos com tradicional em suínos. Os novos cateteres, além
relação à sua aplicabilidade prática e execução em de apresentarem menor diâmetro, possuem alta
situações de campo também estão se extinguindo, à maleabilidade, proporcionando maior facilidade à
medida que diversos trabalhos vêm sendo realizados aplicação da IAPC.
nessa área, com resultados positivos, mesmo com um Atualmente, é possível encontrarmos no
treinamento mínimo dos operadores. mercado cateteres a um custo inferior a R$ 1,00
No início dos estudos com IAPC, a principal e, mesmo em protocolos de três DI/estro, temos
limitação da técnica era a dificuldade encontrada um investimento, considerando pipeta e cateter,
em passar a pipeta pelos anéis cervicais e alcançar de aproximadamente R$ 3,00 a R$ 4,50 por fêmea
o ambiente uterino. Por isso, os estudos iniciais se coberta, ou seja, uma redução de até 400% do custo
deram de forma cirúrgica, nos quais mostrou-se a da IAPC. Esse fato, aliado ao desenvolvimento de
possibilidade de reduzir o número total de esper- protocolos de uma IA/dia (protocolos de IA a cada
matozoides para alcançar resultados satisfatórios. 24 horas), com consequente redução do número
Com a evolução dos estudos, diversas tecnologias de cateteres, possibilitou a retomada da IAPC de
desenvolvidas permitiram realizar a IAPC sem forma massal e, hoje, grande parte do sistema de
sedação e de forma não cirúrgica. Até o presente produção de suínos tecnificado adota a IAPC como
momento, a maioria dos trabalhos desenvolvidos prática de manejo rotineiro.
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O
s estudos com inseminação artificial em mente, o uso de hormônios indutores da ovulação é
tempo fixo (IATF) preconizam a sincroni- uma alternativa utilizada para tentar sincronizar a
zação do ciclo estral por meio de combina- ovulação das fêmeas e tornar possível a adoção de
ções hormonais que estimulam o desenvolvimento protocolos de IATF.
folicular e posteriormente induzem a ovulação
para que a inseminação artificial (IA) seja realiza- Indução da ovulação
da em um período específico de tempo. A IATF em Para a realização de IATF, a ovulação deve ser
suínos pode ser dividida em protocolos que preco- induzida pelo uso de gonadotrofinas que, predo-
nizam a detecção de estro com posterior IA em mo- minantemente, tenham a mesma atividade do LH
mento fixo e outros em que não se faz detecção de (Hormônio Luteinizante), como a gonadotrofina
estro e a IA é feita em um momento pré-definido, coriônica humana (hCG – human Chorionic Gonado-
totalmente às cegas. Estudos observaram que a uti- tropin) e hormônio luteinizante suíno (pLH – porcine
lização de protocolos farmacológicos para induzir a Luteinizing Hormone) ou através do uso de liberado-
ovulação pode tornar possível o procedimento de res de gonadotrofinas como os análogos do hormô-
uma única inseminação com o uso de protocolos de nio liberador de gonadotrofina (GnRH – Gonadotro-
IA em tempo fixo. pin – Releasing Hormone), estando os produtos mais
utilizados descritos na tabela 1.
Ciclo estral e ovulação
O suíno doméstico é uma espécie poliéstrica eCG/hCG
anual, apresenta ciclos estrais durante todo o ano, Nos suínos o eCG é usado com função de FSH
que podem durar de 18 a 24 dias. O ciclo é divido (Hormônio Folículo Estimulante) e LH via ação dire-
em uma fase luteal e outra folicular. A fase luteal é ta nos ovários, estimulando o crescimento folicular,
o período entre a ovulação até a regressão do cor- a ovulação e o estro em leitoas, e assim desenca-
po lúteo, subdividida em metaestro e diestro, e a deia um novo ciclo em porcas desmamadas. O hCG
fase folicular é subdividida em pró-estro e estro, tem função semelhante à do LH, e, além de induzir
que é o período entre a regressão do corpo lúteo a ovulação, ele atua na luteinização das células da
e a ovulação. A ovulação é um fenômeno dinâmico granulosa, mantém a vida funcional do corpo lúteo
e espontâneo, em média transcorre de 64-72% do e aumenta a secreção de progesterona das células
estro, ou seja, no início do terço final do estro, tor- luteinizadas. A combinação mais comumente usada
nando-se uma informação retrospectiva. Porém há para indução de estro em suínos é 400UI (Unidades
uma grande variabilidade no intervalo de início do Internacionais) de eCG associadas de 200UI de
estro e a ovulação, com média de 37 a 45 horas, em hCG, e isso culmina com a entrada de cio e poste-
uma amplitude de oito a 85 horas, porém essa am- rior ovulação, permitindo a adoção de protocolos
plitude dificulta a adoção de um protocolo fixo de de IATF. Quanto menor o intervalo entre as aplica-
inseminação. Devido a essa dificuldade em definir ções de eCG e da droga luteinizante (hCG ou LH),
em que momento a ovulação ocorre espontanea- melhor é a sincronização da ovulação, pois a chance
de ocorrência do pico endógeno do LH antes da in- dendo de sua origem: GnRH natural e os análogos
jeção da droga luteinizante diminui. Nos protoco- de GnRH (sintéticos). Os sintéticos são chamados
los tradicionais, o intervalo entre as aplicações é de de superanálagos, com exceção da gonadorelina,
72 horas, o qual resulta em intervalo médio entre que é produzida do GnRH natural, e alguns supera-
a aplicação da droga luteinizante e a ovulação em nálogos podem ser até 20 vezes mais eficientes do
aproximadamente 40 horas, com um desvio padrão que a gonadorelina, além de possuir uma meia-vida
próximo a seis horas. Alguns resultados nos mos- maior. Além desse agonista e da gonadorelina, ou-
tram que essa combinação tem eficiência em indu- tros agonistas têm sido usados na indução da ovula-
zir o crescimento folicular, o estro e a ovulação, mas ção: buserelina, goserelina, licerelina e a triptorelina.
apresenta amplitude entre o intervalo estro-ovula- A buserelina é o agonista de GnRH mais utilizado na
ção (tabela 2). medicina veterinária e apresenta um efeito positivo
na sincronização da ovulação em leitoas e porcas.
GnRH Os resultados apresentados nas tabelas 3, 4 e 5 de-
O GnRH, diferente do hCG, atua na glândula monstram eficiência no uso da buserelina para ado-
pituitária estimulando a liberação do LH. A concen- ção de protocolos de IATF.
tração máxima de LH ocorre entre duas a quatro Resultados com outros análogos de GnRH nos
horas e se mantém alta por seis a oito horas após a indicam que é possível antecipar e sincronizar a
aplicação exógena de GnRH, e o pico de LH induzi- ovulação após aplicação de hormônio. O acetato de
do não interfere com o que ocorre de forma natural, triptorelina é um gel de aplicação intravaginal, com
agindo em conjunto e prolongando a sua duração. O uma apresentação diferente dos demais análogos
GnRH pode ser dividido em duas categorias depen- de GnRH, que são de aplicação intramuscular, e re-
Tabela 2. Intervalo estro ovulação após o uso de eCG+hCG no desmame
310
Buserelina Controle
N 184 199
Taxa de parto (%) 78,8 (145/184) 80,9 (161/199)
Leitões nascidos totais 13,1 12,9
Fonte: Adaptado de Swartset al. (2012b)
Tabela 4 – Momento da ovulação em leitoas púberes sincronizadas com 20mg/dia de altrenogest (Alt) por
18 dias. Grupo controle (Alt), Grupo buserelina aplicada 120h após término de altrenogest (Alt+bus+120h),
Grupo de buserelina aplicada 104h após aplicação de 800UI de eCG 24 horas após o término de altrenogest
(Alt+eCG+bus104h) e Grupo buserelina aplicada 104h após o término de altrenogest (Alt+bus104)
Tabela 5 – Desempenho reprodutivo de fêmeas com inseminação única em tempo fixo sem
detecção de estro (30-33h após aplicação de 10µg buserelina, 86±3h após o desmame), em relação
às fêmeas não tratadas hormonalmente e inseminadas duas ou três vezes (Controle)
Buserelina Controle
N 213 206
N fêmeas inseminadas 90,1% (192/213) 97,1% (200/206)
Taxa de parto (%) 86,5 (166/192) 84,5 (169/200)
Taxa de parto porcas multíparas (%) 88,1 (141/160) 84,1 (138/164)
Taxa de parto porcas primíparas (%) 78,1 (25/32) 86,1 (31/36)
Leitões nascidos totais a
13,6±3,8 13,7±3,2
a
Média ± Desvio padrão
Fonte: Adaptado de Swarts et al. (2012a)
sulta em uma maior taxa de fêmeas que ovulam até 25µg na detecção de estro lecirelina obtiveram
48 horas após a aplicação de acetato de triptoreli- uma diminuição de 4,4h no intervalo estro–ovula-
na, 96h após o desmame, quando comparadas com ção para o grupo tratado (39,9±1,23h) em relação
fêmeas não tratadas hormonalmente. Leitoas que ao grupo controle (44,3±1,18h). A relação do total
receberam aplicação de 50µg de gonadorelina (80 de fêmeas que ovularam até 40 horas após o des-
horas após eCG) tiveram uma sincronização me- mame foi de 70,9% e 48,2% para fêmeas tratadas e
lhor da ovulação do que as do grupo que recebeu controle respectivamente (P<0,01), e, em 48 horas,
20µg de goserilina (80h após eCG), após as leitoas 92,7% das fêmeas tratadas e 82,4% das fêmeas do
serem induzidas ao estro com eCG, 24 horas depois grupo controle tinham ovulado (P=0,09).
do término de tratamento com altrenogest (16mg/
dia por 15 dias), em até 38 horas depois da aplica- pLH
ção hormonal. Porém 100% das fêmeas de ambos O pLH pode sincronizar a ovulação de fêmeas
os grupos ovularam em até em 42h após aplicação suínas desmamadas, por meio de um protocolo de
de hormônio. Porcas desmamadas que receberam sincronização que utiliza 600UI de eCG no dia do
Variáveis Tratamentos
Horas T1 T2 T3
311
IDE 87,4±3 (87-111)
b
87±0 (87)
b
99,1±13,6a (63-135)
DE 44,3±8.78 b (12-60) 41,3±9.77b (24-60) 60,1±10,22a (36-84)
pLH-OV 35,7±6,07 b (24-48) 35,5±6,06b (24-48) 56,1±15,91a (18-112)
Letras sobrescritas diferentes, dentro do mesmo item e mesma linha, diferem estatisticamente (P<0,0001)
T1= 600UI de eCG após desmame e 5mg de pLH, 72h após eCG , com única inseminação artificial (IA) 24h após pLH;
T2= mesmo tratamento hormonal do T1, com 2 IA, 24 e 32h após pLH;
T3= grupo controle sem tratamento hormonal, com 3 IA.
Fonte: Adaptado de Candini et al. (2004a)
desmame e 5mg de pLH 72h após o desmame. Com lhante (P=0,2) à do grupo controle (23,16±12,19
esse protocolo hormonal, observou-se que o hor- vs 20,08±5,19, respectivamente). Para as fêmeas
mônio tem a capacidade de concentrar o momen- que receberam tratamento hormonal, as ovula-
to da ovulação de um grupo de fêmeas em aproxi- ções ocorreram entre 32 e 48h (37,25±3,65) após
madamente 35 horas após aplicação do pLH, com aplicação de pLH, diferentemente (P<0,0001) do
todas as fêmeas com ovulação até 44 horas, dife- controle (63,67±20,22, variando de 32 a 104h).
rindo-se das fêmeas não tratadas hormonalmente. Com o objetivo de comparar fêmeas que recebem
O intervalo desmame–estro (IDE) e a duração do eCG previamente ao pLH com fêmeas que não
estro (DE) também foram melhores nas fêmeas tra- recebem, foi realizado um estudo com aplicação
tadas hormonalmente (Tabela 6). hormonal de 600UI de eCG no desmame e 5mg de
Outros estudos demonstraram a efetividade pLH 80 horas após o eCG, no qual se observo que
do pLH associado ao eCG em induzir a ovulação as fêmeas com associação de eCG e pLH tiveram
em fêmeas desmamadas. Com o objetivo de ava- uma taxa de parto maior, mas não foi encontrada
liar o IEO e emprego de protocolos fixos de IATF, diferença estatística no tamanho da leitegada en-
foram aplicadas 600UI de eCG 24 horas após o tre os tratamentos (tabela 7).
desmame, e 5mg de pLH 56 horas após o eCG; e, Vale ressaltar que, nesse estudo, os tratamen-
comparando com fêmeas não tratadas hormonal- tos um a quatro foram inseminadas somente fême-
mente, observou-se que o intervalo desmama–es- as com presença de estro, e no tratamento cinco a
tro (IDE) foi reduzido (P=0,01) nas fêmeas tratadas inseminação foi realizada independentemente da
comparadas ao grupo controle (87,4 vs 98,5 ho- manifestação ou não de estro.
ras), e a taxa de ovulação do tratamento foi seme- A avaliação do uso somente do pLH em anteci-
Tabela 9. Desempenho reprodutivo em fêmeas multíparas inseminadas com o método tradicional (IAT -
intra cervical) após administração de 5mg pLH no inicio do estro
par e sincronizar a ovulação parece não ser eficien- desmamadas, e o uso combinado de eCG com pLH
te, não foi encontrada diferença no perfil ovulatório parecem ser, até o momento, os melhores proto-
(P>0,05) entre os grupos de fêmeas tratadas com colos para a adoção desse manejo reprodutivo. A
pLH na detecção de estro uma vez por dia e fêmeas introdução dessa técnica possibilita aproveitar me-
do grupo controle que não receberam pLH, porém lhor o tempo da mão de obra, já que alguns manejos
o desempenho reprodutivo de fêmeas com aplica- reprodutivos, como detecção de cio e inseminação
ção somente de pLH não é afetado (tabelas 8 e 9). artificial, serão reduzidos ou até mesmo excluídos
Esses resultados evidenciam que o pLH asso- da rotina, para melhorar a qualidade genética do
ciado ao eCG no momento do desmame é capaz plantel otimizando o uso de machos geneticamente
de concentrar o momento da ovulação nas fêmeas superiores, uma vez que apenas uma única insemi-
submetidas à indução da ovulação, porém o uso so- nação artificial proporciona o aumento de fêmeas
mente de pLH no início do estro não mostrou dife- atendidas por reprodutor. E essa variável pode ser
rença na indução da ovulação, em comparação com mais bem aproveitada quando se aplica a técnica
fêmeas que não receberam pLH. de inseminação artificial pós-cervical em conjunto
Há diversos produtos capazes de manipular com a IATF. No entanto é necessário avaliar o cus-
a fisiologia do ciclo estral da fêmea suína, eficien- to-benefício do protocolo adotado, pois, devido à
tes na indução e sincronização da ovulação, e esse biologia e fatores individuais das fêmeas, algumas
mecanismo permite realizar protocolos de insemi- matrizes poderão não responder ao tratamento, e,
nação artificial em tempo fixo. A utilização de aná- ao assumir o risco de fazer uma única inseminação
logos de GnRH combinados com o uso de altreno- artificial, é de suma importância ter alto controle
gest em leitoas, ou aplicados sozinhos em porcas de qualidade das doses inseminantes.
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A
eficiência reprodutiva é a principal meta entre as circulações materna e fetal. O desenvol-
econômica em qualquer sistema de produ- vimento placentário, incluindo o desenvolvimento
ção animal. No sistema de produção de suí- vascular, é essencial para o crescimento e desen-
nos, é representada pelo número de leitões desma- volvimento fetais. Na verdade, o fluxo sanguíneo
mados por porca anualmente. Entre os fatores que útero-placentário é o principal fator que influencia
influenciam a eficiência reprodutiva, a taxa de ovu- a disponibilidade de nutrientes para o crescimento
lação apresenta um papel de destaque. Assim, ao fetal. Portanto, placentas pouco desenvolvidas po-
longo da última década, o melhoramento genético dem estar associadas ao CIUR, visto que peso das
tem se voltado para o desenvolvimento de fêmeas placentas e fluxo sanguíneo placentário estão cor-
com taxas de ovulação cada vez maiores, originan- relacionados com o peso dos fetos. Fatores que es-
do as fêmeas hiperprolíficas. timulam a angiogênese são essenciais para manter
Entretanto, a intensa pressão de selecionar para uma boa eficiência placentária e assim garantir um
taxa de ovulação tem criado um desequilíbrio entre bom desenvolvimento fetal. Nesse sentido, inves-
taxa de ovulação, número de conceptos (feto e mem- tigações têm se direcionado ao estudo da arginina,
branas fetais) que sobrevivem ao período pós-implan- um substrato para a síntese de óxido nítrico (ON)
tação e capacidade uterina. Na verdade, uma taxa de e poliaminas. Por sua vez, o ON é um importante
ovulação maior que o número de fetos que a fêmea fator vasorrelaxante, que regula o fluxo sanguíneo
suína seja capaz de levar ao término da gestação au- materno-fetal e, portanto, a transferência de oxigê-
menta a competição entre os fetos por nutrientes e nio da mãe para o feto. Recentemente, verificou-
oxigênio, levando ao nascimento de leitões menores, se que o fluido alantoide dos suínos seria rico em
mais leves e, consequentemente, mais fracos, sinais arginina aos 40 dias de gestação e essa abundância
estes característicos do crescimento intrauterino em arginina nos fluidos fetais estaria relacionada
retardado (CIUR). Com isso, surgiu uma variação no com a elevada síntese de ON e poliaminas pela pla-
peso ao nascimento dentro da leitegada, aumentando centa suína durante a primeira metade da gestação,
a incidência de leitões mais leves nas granjas, o que re- quando seu crescimento é mais rápido.
sulta em perdas econômicas para o produtor. Vários fatores influenciam o crescimento da
Em virtude de leitões pequenos ao nascimen- placenta e, consequentemente, o desenvolvimento
to serem uma realidade dentro de granjas comer- embrionário e fetal. Entre eles, pode-se citar o ta-
ciais, o presente capítulo tem por objetivo abordar manho corporal materno, a idade e a ordem de pa-
as possíveis causas do CIUR, suas consequências e rição da fêmea, o genótipo, a capacidade uterina e a
apresentar perspectivas da presença desses ani- nutrição. Os efeitos do tamanho corporal materno,
mais nas granjas. idade e ordem de parição sobre o desenvolvimen-
to fetal parecem estar interligados e mediados por
Fatores predisponentes diferenças no ambiente uterino (hormonal e imu-
A placenta é o órgão que transporta nutrientes, nológico), na capacidade uterina e na partição de
gases respiratórios e os produtos do metabolismo nutrientes entre mãe e prole. Em suínos, tem sido
amplamente aceito que a capacidade uterina seja o o cérebro”). Assim, uma boa medida para deter-
principal fator determinante do tamanho da leite- minar a existência do CIUR seria a relação entre
gada. Entretanto, a eficiência de fixação da placen- o peso do cérebro e o peso do fígado. Em animais
316
ta e sua capacidade de fornecimento de nutrientes normais, essa relação é menor que um. Evidências
para o feto também podem ser fatores determinan- mostram que CIUR, além de acometer a sobrevida
tes para o crescimento fetal, como evidenciado por do animal, deixa sequelas permanentes que aco-
estudos nas fêmeas prolíficas Meishan. metem determinados parâmetros zootécnicos, tais
como conversão alimentar, composição corporal,
CIUR: causas qualidade da carne e desempenho reprodutivo.
O CIUR ocorre naturalmente em suínos e pode Portanto, possui implicações importantes em qual-
ser definido como a redução no crescimento e de- quer sistema de produção animal. O baixo peso ao
senvolvimento de embriões e fetos ou de seus ór- nascimento acarreta perdas econômicas por duas
gãos durante a gestação. Esta patologia se desen- razões principais. Primeiro, animais de baixo peso,
volve no período entre o 30º e o 45º dia de gestação, ao nascerem, apresentam elevadas taxas de mor-
mostrando-se mais severa na espécie suína que em talidade; segundo, os animais que sobrevivem têm
outras espécies produtoras de carne, cuja causa desempenho reduzido, isto é, menor ganho de peso
principal seria uma deficiência nutricional ainda no diário, maior taxa de conversão alimentar e menor
útero em decorrência de insuficiência placentária. deposição de carne magra.
Esses fetos se adaptam a essa desnutrição no úte- Na espécie suína, o número de leitões nasci-
ro por meio de alterações fisiológicas e metabólicas dos é uma importante característica econômica e
no intuito de aumentar as chances de sobrevivência os componentes do tamanho da leitegada (taxa de
após o nascimento. No entanto, essas modificações, ovulação, sobrevivência embrionária e capacidade
que ocorrem no genoma, envolvendo alterações na uterina) que respondem à seleção genética estão
metilação do DNA, podem permanecer ao longo da bem estabelecidos. Entretanto, como a seleção
vida do animal, o que é chamado de programação para taxa de ovulação tem sido associada à seleção
pré-natal. O peso fetal relativo à idade gestacional contra sobrevivência embrionária e à diminuição
ou o peso ao nascimento podem ser usados como do peso ao nascimento com o aumento do número
um critério prático para detectar o CIUR, visto que de animais nascidos, a seleção para capacidade ute-
podem ser facilmente medidos nas granjas. Apesar rina poderia ser a abordagem mais eficiente para os
do crescimento e desenvolvimento fetais serem programas de seleção genética. Um estudo recente
guiados pelo genoma, a regulação genética do cres- das associações entre variações de peso ao nasci-
cimento fetal é influenciada pelo ambiente intrau- mento dentro da mesma leitegada, sobrevivência
terino no qual o feto cresce. Portanto, qualquer pré-desmama e ganho de peso também levaram à
anormalidade no ambiente intrauterino poderá al- conclusão de que a seleção para o aumento do ta-
terar a expressão do genoma fetal, prejudicando o manho da leitegada, resultando em um maior nú-
crescimento do feto e deixar sequelas irreversíveis mero de leitões com baixo peso ao nascimento, po-
no indivíduo. Fatores múltiplos (e.g. genéticos, epi- deria não ser benéfica, a menos que medidas para
genéticos e ambientais) regulam o crescimento do aumentar a sobrevivência daqueles leitões fossem
concepto e contribuem para o CIUR. Entretanto, tomadas. Portanto, tanto o desenvolvimento dos
capacidade uterina insuficiente e nutrição materna leitões nascidos quanto o tamanho da leitegada ne-
inadequada são os dois principais fatores que impe- cessitam ser cuidadosamente considerados.
dem o crescimento fetal. A literatura demonstra que uma parte conside-
Um animal acometido por CIUR possui órgãos rável da variação do crescimento após o nascimento
menores, com exceção do cérebro; isto é conhe- pode ser largamente determinada e essencialmen-
cido como brain sparing effect (“efeito de poupar te pré-programada, durante o desenvolvimento
do feto dentro do útero. Além disso, parece que e obesidade. As implicações da programação pré-
essas limitações pré-programadas do desenvolvi- natal sobre os problemas de saúde ao longo da
mento só irão se expressar ao final do período de vida são reais, principalmente no contexto do de-
317
recria e início do período de terminação no sistema senvolvimento do sistema imune e a sobrevivência
de produção. Há também evidências de que as di- pós-natal. Além disso, as análises dos efeitos sobre
ferenças no desenvolvimento fetal podem afetar o cérebro (brain sparing effect) indicativos de CIUR
o desempenho pós-natal na ausência de quaisquer mostraram que os órgãos mais afetados em leitões
efeitos associados ao peso quando do nascimento. natimortos são coração, fígado e baço.
Assim sendo, a incapacidade dos animais de com- Essas complicações, indubitavelmente, mar-
pensarem os efeitos negativos indiretos da lotação cam os problemas do manejo dos leitões de baixo
intrauterina sobre o desenvolvimento placentário peso ao nascimento na lactação e na creche, razão
no início da gestação leva a uma reprogramação do para adotar técnicas de manejo segredado por or-
desenvolvimento fetal e, consequentemente, a um dem de parição das fêmeas na creche.
pior desempenho pós-natal, refletindo na qualida- Diversos estudos têm mostrado que leitões
de da carne desses animais. mais leves ao nascimento apresentam um desen-
volvimento pós-natal comprometido, bem como
CIUR: consequências carne de pior qualidade. Assim, o peso ao nasci-
Os efeitos da programação pré-natal sobre o de- mento está diretamente relacionado com a quali-
senvolvimento pós-natal são evidentes sobre o de- dade do leitão que, por sua vez, está correlacionado
senvolvimento muscular e o crescimento. Estudos com sua capacidade de sobrevivência e seu desem-
anteriores realizados em humanos demonstraram penho pós-natal. Portanto, o peso ao nascer é uma
que crianças nascidas com características fenotí- importante característica econômica para a suino-
picas indicativas de CIUR teriam um maior risco de cultura, visto que leitões com um peso baixo pos-
desenvolverem doenças cardiovasculares quando suem menores taxas de sobrevivência, bem como
adultos. Esse e outros estudos patológicos levaram piores taxas de crescimento. O fenótipo de um lei-
à “hipótese de Barker”, conectando a programação tão recém-nascido é resultante de seu desenvolvi-
pré-natal do feto a problemas de saúde ao longo da mento embrionário e fetal. Este, por sua vez, é um
vida, tais como doenças cardiovasculares, diabetes processo bastante complexo e altamente integra-
Grupo Grupo
Variáveis Alto peso Baixo peso Erro padrão P
(n=112) (n=98)
Peso ao nascimento (kg) 1,93 1,11 0,02 -
Peso ao desmame (kg) 7,6 a 5,22 b 0,22 < 0,01
Peso saída de creche (kg) 28,55 a 22,4 b 0,51 < 0,01
Peso saída de recria (kg) 67 a 58,3 b 0,9 < 0,01
Peso saída de terminação (kg) 107,05 a 99,95 b 1,08 < 0,01
GPMD maternidade (kg) 0,245 a 0,178 b 0,01 < 0,01
GPMD creche (kg) 0,513 a 0,42 b 0,01 < 0,01
GPMD recria (kg) 0,87 a 0,812 b 0,01 < 0,05
GPMD terminação (kg) 0,961 a 0,999 a 0,02 NS
Média de dias: Maternidade = 23,10; Creche = 40,83; Recria = 44,16; Terminação = 41,66
a,b Médias seguidas por letras diferentes na mesma linha são estatisticamente diferentes (P < 0,05); NS: não significativo.
Fonte: Alvarenga, 2011
AP BP
do, pois depende do suprimento de nutrientes dado
AP BP
do foram investigados os efeitos do peso ao nasci-
a
10 mento sobre o desenvolvimento do trato reprodu-
b
8 tivo em marrãs de 150 dias de idade. As marrãs AP
6
apresentaram um melhor desempenho pós-natal
em todas as fases de produção em comparação às
4
marrãs BP (tabela 3).
2 a
b Já os estudos morfológicos e morfométricos
0 dos ovários mostraram que os números de folícu-
Recém-nascidos Terminados
los primordiais, folículos primordiais apoptóticos e
Gráfico 1 - Número de fibras musculares/cm2 em leitões
recém-nascidos e animais terminados nos diferentes grupos folículos primários apoptóticos por µm2 de região
experimentais (AP e BP). a,b Letras distintas nas barras, dentro cortical foram semelhantes em ambos os grupos
da mesma idade, são estatisticamente diferentes (P < 0,05)
Fonte: Alvarenga, 2011 experimentais. Entretanto, o número de folículos
Parâmetro AP BP SE P
Peso castração, kg 2,86 1,9 0,1 < 0,01
319
Peso testicular, g 0,76 0,49 0,06 < 0,01
Índices gonadossomáticos (IGS) 0,027 0,026 0,002 NS
Números absolutos (x 10 ) 6
Células de Sertoli 0,13 0,05 0,03 < 0,05
Células germinativas (x 109) 28,50 14,97 4,54 = 0,055
Células de Leydig 0,94 0,41 0,08 < 0,01
Índices relativos ao peso testicular
Células de Sertoli 0,002 0,0002 0,0004 < 0,01
Células germinativas 0,29 0,06 0,07 < 0,01
Células de Leydig 0,01 0,002 0,002 < 0,01
Número/grama de testículo (x10 ) 6
Células de Sertoli 0,12 0,14 0,01 NS
Células germinativas (x 109) 31,75 39,11 3,77 NS
Células de Leydig 0,94 1,06 0,08 NS
Correlações
Peso testicular x peso corporal r = 0,56 < 0,01
Peso testicular x número cels Sertoli r = 0,93 < 0,01
Peso corporal x número cels Sertoli r = 0,76 < 0,05
Fonte: FIÚZA et al., 2010
Tabela 3 - Peso corporal médio das marrãs do nascimento aos 150 dias nos
grupos experimentais de alto peso (AP) e baixo peso (BP) ao nascimento
primários foi menor nas fêmeas BP em comparação significativo sobre diversas características econo-
com as fêmeas AP (tabela 4). A ocorrência de um micamente importantes, tornando questionável
menor número de folículos primários nas fêmeas a viabilidade de manter o leitão de baixo peso no
BP sugere um atraso no desenvolvimento folicular plantel. Sabe-se que o peso ao nascer exerce um
nessas fêmeas, o que corrobora a teoria de que es- impacto positivo sobre as características de car-
ses animais poderiam apresentar puberdade mais caça. Além disso, evidências sugerem que o CIUR
tardia em relação às fêmeas AP. afeta não somente parâmetros zootécnicos ligados
No sistema de produção comercial de suínos diretamente à produção, mas também característi-
no Brasil, o peso ao nascimento gera um impacto cas reprodutivas importantes em machos e fêmeas.
Tabela 4 - Número de folículos ovarianos por µm2 de região cortical nos ovários de fêmeas dos grupos
experimentais de alto peso (AP) e baixo peso (BP) ao nascimento
Assim sendo, um maior conhecimento dos me- para a elaboração de uma estratégia de seleção
canismos pelos quais os ambientes pré e pós-natal que vise reduzir a incidência de leitões de baixo
afetam o desenvolvimento fetal poderá ter impli- peso ou para a implementação de um protocolo de
cações significativas para a indústria suinícola na manejo de forma a amenizar o impacto do peso ao
tentativa de maximizar o retorno econômico em nascimento sobre o crescimento futuro, bem como
termos de taxa de crescimento, qualidade de car- sobre as características de composição de carcaça,
ne e fertilidade. Mais pesquisas são necessárias qualidade de carne e fertilidade.
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S
istemas de alojamento de reprodutores b. Tipo de instalações de alojamento. Utili-
doadores de sêmen é um assunto de grande zação de baias ou gaiolas individuais? Di-
importância, porém, quando esse tema é dis- mensões de cada sistema. Existem poucas
cutido, principalmente em novos projetos de cen- evidências sobre qual é o melhor tipo de
trais de processamento de sêmen (CIA), é possível sistema de alojamento, apesar de que existe
perceber que não existe um consenso sobre o que um consenso de que reprodutores alojados
realmente importa. em baias individuais apresentam um menor
O principal objetivo de uma instalação de re- índice de problemas reprodutores e, conse-
produtores deve ser proporcionar conforto e bem quentemente, uma vida reprodutiva mais
-estar aos reprodutores, a fim de que a produção longa, bem como melhor produção espermá-
espermática seja favorecida. No entanto, muitas tica. De maneira prática, recomenda-se que
vezes o custo de um projeto se torna mais impor- um galpão de reprodutores seja composto
tante e esses aspectos deixam de ser relevantes. É de, pelo menos, 20% de baias individuais
importante que no momento em que um novo pro- e 80% de gaiolas individuais (Foto 1). Isso
jeto de CIA seja concebido, algumas variáveis de- permite que se adote um manejo de rotação
vam ser consideradas e discutidas, entre elas: de machos em que, com intervalos progra-
a. Funcionalidade do projeto, ou seja, facilida- mados de tempo, cada reprodutor possa ter
de no fluxo de animais. Um layout simples e uma condição diferenciada de instalação. Da
bem dimensionado facilita o deslocamento mesma forma, reprodutores que apresen-
dos animais e, consequentemente, o ritmo de tem qualquer dano ao aparelho locomotor
coletas, contribuindo para a melhor eficiência podem ser transferidos para o sistema de
da CIA. A presença de corredores superdi- baia até a plena recuperação. O dimensiona-
mensionados (> 0,90m de largura), além de mento adequado de cada local de alojamen-
agregar um maior custo ao projeto, dificulta to também assume um papel importante em
o trânsito dos animais e compromete a segu- relação ao bem-estar do reprodutor. Gaiolas
rança operacional dos colaboradores, o risco individuais mal dimensionadas, tanto em lar-
ocupacional é elevado, pois o macho pode se gura como altura irão interferir diretamente
virar e atacar o colaborador. A disposição dos na vida reprodutiva do macho. Atualmente
reprodutores na orientação cabeça a cabeça existe uma diversidade grande de genéticas
é um layout interessante, facilitando o fluxo e linhagens que certamente apresentam ta-
dos reprodutores, uma vez que eles são reti- manhos diferenciados, principalmente no
rados da gaiola pelo corredor frontal e retor- que dizem respeito a comprimento. Para a
nam a ela por corredores na porção traseira definição do dimensionamento das insta-
da gaiola. Isso permite um fluxo contínuo de lações é importante, além da genética uti-
deslocamento dos reprodutores, pois não há lizada, a definição da idade de descarte dos
encontro simultâneo de animais; reprodutores. De uma forma geral, são reco-
A B C
Fotos 2 a, b e c – Detalhe do alojamento de reprodutores em gaiola e baia com piso vazado em concreto
Fonte: Acervo do autor
326
a 28°C. De forma prática, a manutenção de vos, têm sido uma boa opção para manter um
temperaturas variando de 20°C a 24°C é ambiente controlado. O sistema é muito efi-
capaz de proporcionar um ambiente ade- ciente na manutenção de uma temperatura
quado para a produção espermática. Nesse de 20°C a 24°C. No entanto, perde eficiência
contexto, a busca por um ambiente com em regiões ou épocas de alta umidade relati-
temperaturas amenas se torna importante. va do ar devido à saturação do ar. Em climas
Existem várias maneiras de controle de tem- secos, é possível a redução de até 9°C em
peratura, naturais como orientação solar, relação à temperatura externa quando esta
utilização de um pé-direito alto e largura da supera os 30°C.
instalação, plantio de árvores ao redor da Com a finalidade de conhecer o padrão de
instalação para sombreamento, ou sistemas instalações e práticas de coleta e processamento
artificiais através de ventilação forçada (foto de sêmen, no ano de 2008, realizou-se um levan-
5), associada ou não à utilização de nebuliza- tamento das principais práticas desenvolvidas
dores (foto 6), ou resfriamento por painéis em 44 CIAs canadenses e americanas. Foram
evaporativos (foto 7). Para CIAs de grande avaliadas CIAs com capacidade de alojamento
porte, os sistemas de climatização por pres- de 51 a 500 reprodutores. Dessas, 90% dos re-
são negativa, associados a painéis evaporati-
Tabela 1 – Percentual de horas gastas por
funcionários com determinados manejos na
Central de Inseminação Artificial durante uma
semana de 40 horas de trabalho
Horas/semana
Atividade 1-5h 6-10h 11-15h 16-25h
(%) (%) (%) (%)
Saúde animal 82 11 5 0
Manutenção
81 7 0 2
instalações
Alimentação 64 30 5 0
Movimentação
52 25 11 5
machos
Coleta sêmen 7 7 14 36
Foto 6 – Sistema de climatização através do uso Limpeza 43 32 16 7
associado de ventiladores e nebulizadores Adaptado de Knox et al (2008)
Fonte: acervo do autor
produtores eram alojados em gaiolas individuais, reprodutores e limpeza da instalação (tabela 1).
70% das instalações eram compostas de piso Esse fato justifica, muitas vezes, o investimento
de concreto vazado, 60% continham sistema de em determinados equipamentos ou mudanças de
327
alimentação automático e 84% possuíam chupe- projetos construtivos.
tas como sistema de fornecimento de água aos É importante salientar que, em algumas situ-
reprodutores. Da mesma forma, foi avaliada nos ações, o componente financeiro, depreciação de
diferentes layouts, a demanda de tempo necessá- instalações e equipamentos, não é a variável mais
ria para cada atividade de rotina. Independente- importante na formação do custo da dose insemi-
mente da CIA, nessa avaliação, chama a atenção nante. Dessa forma, uma avaliação criteriosa dos
que as tarefas que demandam grande percentual custos e benefícios da adoção de determinadas
de tempo são arraçoamento, movimentação dos tecnologias deve ser considerada.
Bibliografia
1. BORTOLOZZO, F. P.; WENTZ, I. Implantação de um quality. Livestock Production Science. v. 74, p. 55-
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temperature and boar facilities with seminal conditions. Theriogenology, v. 63, p. 657-667, 205.
A
coleta de sêmen suíno pode ser conside- »» ter tapetes antiderrapantes para segurança
rada o ponto de partida para uma dose do macho na coleta.
inseminante de qualidade. Todos os proce-
dimentos realizados com base na coleta têm como Sistema de fosso de coleta
objetivo único prolongar ao máximo a viabilidade Atualmente diversas centrais têm utilizado o
espermática, lembrando sempre que não é possível sistema de fosso de coleta, onde o coletador perma-
melhorar a qualidade de um ejaculado, mas somen- nece em um nível abaixo do piso do reprodutor. Des-
te mantê-la ou minimizar suas perdas. Para isso é sa forma, o coletador permanece em pé, tendo uma
necessário que sejam considerados diversos aspec- visão completa da região ventral do animal.
tos, que serão abordados a seguir. O fosso deve possuir uma profundidade míni-
ma de 90cm, permitindo uma melhor ergometria
Gaiola de pré-coleta ou de higienização do operador no momento da coleta. Quando há
A gaiola de pré-coleta, utilizada pela maioria somente um coletador, a largura do fosso pode ser
das centrais, é um local onde é realizada a higiene de aproximadamente um metro. Nos casos em que
dos machos antes da coleta, como limpeza da região existem mais de uma pessoa na atividade da coleta,
abdominal e o esvaziamento dos divertículos pre- podem ser utilizados fossos mais largos, entre 1,3 e
puciais, evitando o contato de sujeiras e secreções 1,5 metro.
com o piso da sala de coleta e, principalmente, com Nesse tipo de estrutura, a sala de coleta é
o manequim. substituída por uma gaiola, com aproximadamente
75cm de largura, na qual o manequim está posi-
Área de coleta cionado no centro da estrutura. Dessa forma, o
A sala de coleta deve possuir algumas caracte- reprodutor, ao entrar na gaiola de coleta, encontra
rísticas específicas: uma área restrita, tendo contato somente com o
»» ter localização próxima ao laboratório; manequim, impossibilitando sua movimentação e
»» possuir área entre 7 e 9m2; distração.
»» possuir locais de fuga para o coletador, para
que a pessoa passe e o cachaço não. Normal- Manequim de coleta
mente são utilizadas barras verticais coloca- O manequim de coleta deve ser o único objeto
das a cada 25-30cm; instalado na sala ou gaiola de coleta.
»» ter comunicação com o laboratório através É importante que o manequim de coleta tenha
de uma janela dupla, para que o sêmen seja as seguintes características:
rapidamente processado, sem que o coleta- »» estar fixo ao chão;
dor entre no laboratório; »» ter estrutura reforçada;
»» não conter objetos que possam distrair os »» conter material de fácil limpeza, evitando a
machos, como mangueiras, cabos etc; utilização de cobertura com couro animal;
»» ter piso de fácil higienização e seco; »» ter altura regulável, permitindo a adaptação
330
Coleta de sêmen propriamente dita
Coleta manual
No suíno, o método mais utilizado para a coleta
de sêmen é denominado “Método da Mão Enluva-
da” e foi descrito pela primeira vez em 1959. A cole-
ta é realizada pela estimulação mecânica do pênis,
com a fixação manual da extremidade do pênis e o
ejaculado é composto de quatro fases, mas que nem Foto 1- Coleta manual bem executada
Fonte: Minitub do Brasil Ltda., 2007
sempre são identificáveis durante a coleta.
Secreções uretrais: são os primeiros jatos do (foto 1). A força com que se faz a fixação deve ser
ejaculado e têm a função de limpar a uretra. São suficiente para que impeça o movimento de rotação
transparentes e oriundos das glândulas uretrais. do pênis. A exposição completa do pênis se dá atra-
Fase rica: apresenta um aspecto leitoso e con- vés do estímulo proporcionado pela correta fixação,
tém aproximadamente 70% dos espermatozoides e por isso o coletador não deve tracionar o pênis. A
do volume do ejaculado, o qual é determinado pelas estimulação do macho pode ser aumentada com
vesículas seminais. movimentos alternados de pressão sobre a extremi-
Fase pobre: de aspecto intermediário entre a dade do pênis.
fase rica e as secreções uretrais, representa o res-
tante do número de espermatozoides e do volume Coleta semiautomática e automática
produzido pelas vesículas seminais, podendo ser Sistemas semiautomáticos e automáticos de
observada alternadamente com a fase rica. coleta vêm sendo utilizados por grandes centrais
Fase gelatinosa: produzida pelas glândulas bul- desde o início dos anos 2000, especialmente em
bo-uretrais, geralmente representa a fase final da função da necessidade de otimização da mão de
ejaculação. Sua função na monta natural é servir de obra e melhoria das condições de trabalho (foto 2
tampão da cérvix, evitando o refluxo do sêmen. adiante). Denominados handsfree (mãos livres), a
Após a escolha do macho a ser coletado, este fixação do pênis é realizada pelo operador somente
deve ser conduzido com tranquilidade para a sala no primeiro momento da coleta, quando o pênis
de coleta. Como descrito anteriormente, algumas é posicionado em estrutura chamada de cérvix
centrais utilizam uma sala de pré-coleta, onde é artificial e esta é fixa ao manequim (foto 3 adiante).
realizada a eliminação do conteúdo dos divertículos Durante a coleta, o trabalho do operador restrin-
prepuciais, principalmente urina. É extremamente ge-se a acompanhar e manter a estimulação do
importante que o coletador não faça essa limpeza macho, sendo capaz de atender simultaneamente a
com a mesma luva que será utilizada na coleta. O dois manequins, ou mais, quando bem treinado. O
uso de uma sobreluva, ou luva higiênica, evita a tempo de adaptação dos operadores e dos reprodu-
contaminação da luva de coleta com as secreções tores a esses sistemas varia entre um e dois meses e
prepuciais ou qualquer outro tipo de agente conta- aproximadamente 95% dos reprodutores aceitam
minante. Depois da higiene pré-coleta, a sobreluva bem esses novos sistemas. Eventualmente alguns
é retirada e, no momento em que o reprodutor inicia reprodutores não se adaptam, sendo necessária a
a exposição do pênis, o coletador fixa a extremidade manutenção da coleta manual.
do pênis, deixando cerca de dois a três centímetros Resultados publicados mostram que não há
livres para que o ejaculado não escorra sobre a luva mudança na duração da coleta, volume do ejaculado
Foto 3 - Cérvix artificial para coleta Foto 4 - Acúmulo de líquidos no divertículo prepucial
Fonte: Minitub do Brasil, 2012 Fonte: Minitub do Brasil, 2007
332
relataram o efeito tóxico de luvas de látex sobre coleta, entre outros. Analisando-se o efeito de cada
os ejaculados, resultando em queda da motilidade um desses fatores, os pesquisadores observaram
do ejaculado in natura ou das doses produzidas e que o percentual de ejaculados com elevada conta-
armazenadas, de acordo com o grau de toxicidade minação aumenta à medida que aumenta o número
e tempo de contato. desses fatores presentes.
Com relação à contaminação bacteriana, pes- Quando utilizados os sistemas semiautomáti-
quisas apontam que aproximadamente 95% dos cos ou automáticos, espera-se uma melhor condi-
ejaculados apresentam contaminação bacteriana, ção de higiene da coleta, especialmente naqueles
com variações observadas no número de UFC/ml sistemas denominados fechados, ou seja, onde não
médio entre 490 e 18.862. Em um estudo recente, há comunicação entre a extremidade do pênis, su-
avaliando quatro centrais de grande porte, essa perfície do copo de coleta e meio externo, pois não
variação foi de 622 a 2.985 UFC/ml, embora tenha há o risco de queda de sujeira e conteúdo prepucial
sido observado que, em uma das centrais, 77% dos no ejaculado.
ejaculados apresentaram contaminação inferior a Após o término da coleta, o ejaculado deve
220UFC/ml. imediatamente ser levado ao laboratório para ava-
Entre os principais fatores associados à con- liação. O filtro é desprezado fora do laboratório e
taminação bacteriana estão a higiene dos repro- somente a bolsa/copo de plástico contendo o ejacu-
dutores, higiene externa do prepúcio, divertículo lado é transferida através da janela de comunicação.
prepucial grande devido ao acúmulo de líquidos Centrais pequenas, normalmente internas, operam
(foto 4), pelos prepuciais longos, luvas de coleta su- com apenas um funcionário que atua na coleta e no
jas, sujeira durante a coleta (foto 5 e 6), necessidade processamento. Nesses casos, é aconselhável que
de uma segunda fixação do pênis durante a coleta, o coletador troque o calçado (botas ou chinelos) e
inabilidade do coletador, sujeira no ambiente de coloque um avental.
Bibliografia
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333
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tador: Prof. Dr. Fernando P. Bortolozzo]. Embrapa-CNPSA. p. 148. 1995.
A
avaliação do sêmen é de fundamental im- motilidade, sensibilidade a estresse térmico e resis-
portância para que problemas de sub ou tência osmótica, taxa de fluxo metabólico, atividade
infertilidade nos machos sejam diagnostica- de enzimas específicas, concentração de metabó-
dos. Estabelecendo-se os valores seminais padrões, litos, estrutura de cromatina e outros parâmetros
qualquer desvio pode ser reconhecido ou correlacio- relacionados com interação espermatozoide-oóci-
nado com a fertilidade. Os métodos de avaliação do to. Contudo, do ponto de vista prático e econômico,
sêmen fornecem dados sobre o potencial fecundante seria inviável a execução desses testes na rotina
de uma amostra, entretanto o resultado de um único de uma central de processamento de sêmen (CIA).
ejaculado não é conclusivo, sendo necessárias outras Assim, as técnicas de avaliação do ejaculado devem
avaliações, além de um exame criterioso do sistema cumprir premissas básicas como acurácia, simpli-
reprodutivo do macho para concluir uma possível cidade, rapidez e economia. O exame do ejaculado
situação de infertilidade. pode ser dividido em duas fases: 1) exame realizado
Os métodos de avaliação in vitro do sêmen di- na CIA e 2) exame de suporte laboratorial. Na tabela
zem respeito a critérios espermáticos, que possam 1, são demonstrados os diferentes métodos de ava-
ser relevantes para o potencial de fecundação do liação do ejaculado.
espermatozoide. Exemplos desses critérios são: a A avaliação do sêmen, normalmente, envolve
integridade de membrana, integridade acrossomal, dois aspectos básicos: 1) a percentagem de es-
1. Exame macroscópico:
a) Volume b) Cor c) Odor d) Aspecto
335
2. Exame microscópico:
a) Motilidade espermática b) Vigor c) Aglutinação d) Concentração espermática
e) Morfologia espermática
permatozoides apresentando movimentos pro- sacos plásticos com peso conhecido. A precisão na
gressivos e 2) a percentagem de espermatozoides determinação do volume é importante para maxi-
com morfologia normal. Essa técnica de análise do mizar a produção de doses de sêmen. O volume do
sêmen é baseada na premissa de que, quanto maior ejaculado suíno varia de acordo com a idade, raça,
o número de espermatozoides normais e móveis, época do ano e frequência de coletas, atingindo va-
maior será a fertilidade do ejaculado. No entanto, lores que oscilam de 125 até 500ml.
esses parâmetros devem ser avaliados com certo A cor do ejaculado suíno varia do branco ao
cuidado, pois, apesar de serem os mais utilizados, branco-acinzentado, podendo também apresentar
ainda existe pouca relação com a fertilidade in vivo, uma coloração marfim. Essa variação pode depen-
considerando-se sua principal importância de ca- der do próprio indivíduo e da concentração esper-
ráter eliminatório em amostras de baixa qualidade. mática. Cores amareladas fortes ou rosadas podem
Nas CIAs, rotineiramente são avaliados o vo- indicar presença de células inflamatórias ou, até
lume do ejaculado, a concentração espermática mesmo, sangue no ejaculado. O ejaculado, em situ-
(espermatozoides/ml), a motilidade e a morfologia
espermática. O ejaculado deve ser submetido a uma
avaliação macro e microscópica e, se necessário, a
outros exames complementares conforme apre-
sentado na tabela 2.
Outras características físico-químicas como pH,
viscosidade, presença de células saguíneas (brancas
ou vermelhas), células de espermatogênese e cristais
podem ser avaliadas em um exame mais apurado.
ações em que haja processos inflamatórios do siste- bom-senso do operador. Esse exame geralmente é
ma reprodutivo, pode apresentar também, além da concluído pela análise de três ou mais campos em um
alteração de cor, um aspecto de coalho, semelhante mesmo preparado. Para tal, utiliza-se uma amostra de
336
à fração gel. sêmen (gota) depositada entre uma lâmina de vidro
O odor do ejaculado suíno é característico, mui- previamente aquecida a 37°C e recoberta por uma
tas vezes imperceptível. Na maioria das espécies, o lamínula. A amostra é avaliada em microscopia de
odor do sêmen é tido como sui generis, ou seja, de odor campo claro em 100 aumentos (foto 2 A e B).
característico. Assim, eventuais contaminações, por É importante que a avaliação seja realizada de
secreções prepuciais ou urina, são facilmente detec- forma rápida, pois devido à baixa tensão de oxigênio
tadas por meio de uma análise sensorial. na amostra, a motilidade espermática é rapidamen-
O aspecto do ejaculado permite uma estimativa te reduzida. A maneira como a amostra é preparada
subjetiva da concentração espermática, porém esse pode auxiliar na avaliação. Gotas grandes favore-
procedimento não é tecnicamente adequado por cem o aparecimento de espermatozoides sobrepos-
ser de baixa precisão em animais com grande volu- tos, dando assim a impressão de que células mortas
me de ejaculado, como o suíno. Diante da necessida- podem apresentar movimento.
de de maximização na produção de doses de sêmen Dessa forma, é necessário um tamanho adequa-
por doador alojado e da precisão cada vez maior do do de gota, de forma que os espermatozoides pos-
número de espermatozoides/DI, é fundamental sam ser individualizados no momento da análise.
utilizar métodos de determinação mais precisos e
que são utilizados atualmente como: fotômetro, es-
A
permodensímetro de Karras, câmara de Neubauer
ou sistema computadorizado de análise (Computer
Assisted Semen Analysis – CASA).
Motilidade espermática
O teste mais comumente utilizado em labo-
ratório para avaliar a qualidade espermática é a
estimativa visual da percentagem de células esper-
máticas móveis. Nesse método de avaliação, os es-
B
permatozoides em movimento são classificados em
um escore de 0 a 100%. Paralelamente ao exame de
motilidade espermática, pode ser realizada a avalia-
ção qualitativa do tipo de movimento apresentado,
classificado em um escore de zero (espermatozoi-
des imóveis ou mortos) a cinco (espermatozoides
com movimentos progressivos muito rápidos).
Por ser um método subjetivo de avaliação, a análi-
se de motilidade espermática está sujeita a variações Foto 2 – Avaliação da motilidade espermática.
Detalhe ao material pré-aquecido a 35°C.
e interpretações, sendo necessário o treinamento e Fonte: acervo do autor
Caso seja necessário, há possibilidade de trabalhar- nova análise de motilidade espermática antes do
mos com uma pré-diluição 1:1 (sêmen:diluente) do envase, evitando que um sêmen de baixa qualidade
ejaculado in natura, de forma a favorecer a análise seja utilizado. Nesse momento, o critério de 70% de
337
de motilidade. O percentual mínimo aceitável de espermatozoides móveis também é válido.
motilidade para aprovação de um ejaculado é de
70% de células móveis, descartados os ejaculados Vigor espermático
classificados com um valor abaixo desse. Atualmen- O vigor espermático é um parâmetro de estima-
te, essa avaliação já pode ser realizada utilizando tiva da qualidade do movimento do espermatozoide.
um sistema de análise computadorizada de sêmen Essa análise é realizada juntamente com a motilidade
(Sistema CASA), diminuindo a subjetividade. espermática, utilizando-se uma classificação de zero a
Essa técnica permite a análise de um número cinco, em que zero representa a imobilidade espermá-
muito grande de espermatozoides em um curto es- tica e cinco, um alto grau de movimentos progressivos
paço de tempo, fornecendo informações detalhadas rápidos.
sobre a qualidade do movimento individual do esper- É determinado de forma subjetiva, considerado
matozoide, velocidade, trajetória e percentagem de uma análise complementar à motilidade. Como pa-
espermatozoides com movimentos circulares. râmetro de normalidade, deseja-se que uma amostra
A percentagem de células espermáticas móveis de sêmen obtenha um vigor três, ou seja, mais que
é altamente correlacionada com a percentagem de a metade dos espermatozoides com movimento
células espermáticas vivas ou viáveis, tomando-se progressivo. Na prática, amostras que apresentarem
o cuidado de considerar os casos em que diluentes vigor inferior a três devem ser descartadas.
hiperosmóticos são utilizados ou quando as DIs são Durante a diluição do ejaculado pode ocorrer
armazenadas por mais de três dias. Nesses casos, a uma redução do vigor devido a choque osmótico,
viabilidade é normalmente maior que a motilidade. principalmente quando a diluição é feita de forma
No caso dos diluentes hiperosmóticos, é necessário abrupta. Nessa situação, deve-se aguardar por 10-
utilizar uma solução de cafeína 0,1% em citrato de 15 minutos e proceder a uma nova avaliação.
sódio para avaliar a capacidade real de movimenta-
ção espermática. Avaliação da aglutinação espermática
As discrepâncias existentes entre motilidade A aglutinação espermática é um fenômeno em
espermática e fertilidade podem ser decorrentes que as cabeças de grande número de espermato-
do fato de que a integridade acrossomal e enzi- zoides aparecem presas uma contra as outras. Essas
mas importantes ao processo de fertilização não aglutinações são visíveis no momento em que se
estejam relacionadas com a motilidade das células examina a motilidade do sêmen in natura ou mesmo
espermáticas. diluído. Isso acontece em praticamente todos eja-
Apesar de ser uma avaliação bastante sim- culados na espécie suína, com pequenas variações
ples, alguns cuidados devem ser considerados na intensidade. A aglutinação espermática pode ser
no momento de sua realização e que podem ter induzida, em situações como presença de células es-
interferência direta no resultado. É importante permáticas ou epiteliais mortas no ejaculado, alte-
que o material utilizado na análise seja aquecido rações de acrossoma, alta contaminação bacteriana
previamente a 35-37°C. Alterações de temperatura em doses armazenadas, contato com superfície de
podem levar a choque térmico e consequentemen- vidro contendo resíduos ou o resfriamento rápido
te à redução de motilidade espermática. Cuidados após a coleta também podem ocasionar aglutina-
com a diluição do ejaculado, seja em uma pré-di- ções espermáticas. Outra forma de aglutinação
luição, seja na diluição propriamente dita, devem pode ser a adesão dos espermatozoides a uma
ser levados em conta. Como medida de segurança, substância semelhante a um gel, o que, em geral, é
todo ejaculado diluído deve ser submetido a uma reduzido pelo processo de diluição.
Concentração espermática
A concentração espermática, aliada ao volume
total do ejaculado, permite determinar o número
total de espermatozoides e, consequentemente, o
número de doses a serem produzidas. Assim, é fun-
damental que o método de medida dessa concen-
tração seja altamente confiável.
Para determinar a concentração, há métodos
com contagem direta de células como a Câmara de
Neubauer e a análise computadorizada e os métodos
indiretos como o fotocolorímetro e o espermoden-
Foto 3 – Espermodensímetro de Karras
símetro de Karras, os quais estimam o número de Fonte: acervo do autor
Determinação da concentração
espermática por fotocolorimetria
O espectrofotômetro (fotocolorímetro) é um
340
método indireto de determinação da concentração
espermática. Nesse método a concentração é medi-
da pelo grau de dispersão da luz causada por células
em suspensão, em que a densidade óptica obtida é
lida em uma curva de calibração feita previamente
por meio da contagem em câmara hemocitométrica.
A quantidade de luz dispersa pelos espermatozoi-
des em suspensão dependerá de seu tamanho, for-
ma e índice de refração.
A espectrofotometria é o procedimento mais
fácil e rápido para a utilização rotineira na determi-
nação da concentração espermática em muitas CIAs.
Entretanto, cada aparelho necessita da própria curva
ou tabela de calibração, recomendando-se aferições
periódicas do aparelho (a cada três meses), que con-
sistem, basicamente, em verificar se a concentração
determinada equivale à concentração real (deter- Foto 4 – Fotocolorímetro utilizado para
determinação da concentração espermática
minada por contagem direta em câmara hemocito- Fonte: acervo do autor
DEFEITOS DE CABEÇA
01. Base da cabeça
a) Normal
b) Reta
342 c) Invertida
d) Estreita
e) Larga
DEFEITOS DE ACROSSOMA
01. Normal
02. Difuso
03. Deformado
04. Contorno irregular
05. Em destacamento
06. Destacado
01 02 03 04 05 06
Fonte: Adaptado de Bortolozzo e Wentz, 2005
contaminação bacteriana. Os defeitos de cauda não A gota citoplasmática distal, na espécie suína,
devem exceder a 10% do total de alterações. não tem um significado patológico, portanto não é
A gota citoplasmática é um achado que reflete o computada no total de alterações. Entretanto, em
estágio de maturação do espermatozoide. Normal- situações em que a sua presença supere 30%, deve
mente é destacada do espermatozoide no momento ser avaliada com cautela.
da ejaculação. No entanto, em algumas circunstân- Além dos defeitos considerados mais prevalen-
cias, ela permanece aderida ao espermatozoide. A tes, outros defeitos encontrados podem ser referen-
presença e a localização das GCs é um indicativo da tes à peça intermediária e a formas teratológicas.
maturidade da célula espermática. A grande frequ-
ência de gota citoplasmática proximal (GCP) pode Aspectos físico-químicos
ser observada em machos jovens, machos adultos No exame físico-químico do ejaculado são avalia-
submetidos a um intenso regime de coletas ou em dos basicamente o pH e teste de resistência osmótica.
processos patológicos como hipoplasia ou dege-
neração testicular. Como regra geral, a presença Exame de pH do ejaculado
de gota citoplasmática proximal não deve exceder O pH do sêmen da espécie suína é levemente
a 10% das alterações de morfologia, caso contrá- alcalino, estando em torno de 7,3 a 7,9. O pH de uma
rio o sêmen deve ser descartado. Já a presença de amostra de sêmen é avaliado logo após a coleta com
gota citoplasmática distal (GCD) pode resultar o sêmen puro. Para tal, é utilizado papel indicador
da baixa frequência de coleta dos machos, e não ou potenciômetro digital. Entretanto os métodos
necessariamente de um processo patológico. eletrométricos (pH-metro), dada a aparelhagem
01 02 03 04 05
Fonte: Adaptado de Bortolozzo e Wentz, 2005
CAUDA
01. Cauda rudimentar
02. Cauda dobrada
03. Cauda dobrada
04. Bent tail (em itálico)
05. Cauda fortemente enrolada
06. Cauda fortemente enrolada
01 02 03 04 05 06
Fonte: Adaptado de Bortolozzo e Wentz, 2005
CAUDA E GOTA
CITOPLASMÁTICA
01. Cauda enrolada
02. Gota citoplasmática
distal com cauda dobrada
03. Gota citoplasmática
com cauda dobrada
04. Gota citoplasmática proximal
05. Gota citoplasmática distal
06. Gota citoplasmática destacada
01 02 03 04 05 06
Fonte: Adaptado de Bortolozzo e Wentz, 2005
FORMAS TERATOLÓGICAS
01. Cauda dupla
02. Cauda múltipla
03. Cabeça dupla
04. Cabeça e cauda dupla
05. Cabeça dupla e várias caudas
01 02 03 04 05
Fonte: Adaptado de Bortolozzo e Wentz, 2005
01 02 03 04 05
Fonte: Adaptado de Bortolozzo e Wentz, 2005
PEÇA INTERMEDIÁRIA
01. Segmentada
02. Axial
02. Curva
04. Dobrada na base
01 02 03 04
Fonte: Adaptado de Bortolozzo e Wentz, 2005
exigida, são mais propriamente utilizados nos labo- de sêmen é incubada a 35-37°C por cinco horas, e,
ratórios com melhores recursos. durante esse período, é avaliada em intervalos fixos
de tempo, parâmetros de motilidade, integridade de
Teste de resistência osmótica membrana e morfologia espermática (acrossoma).
O teste de resistência osmótica permite clas- Devido à demanda de tempo, o teste de termorre-
sificar os cachaços de acordo com a qualidade sistência é utilizado somente em circunstâncias
espermática, podendo indicar a capacidade de especiais e não na rotina da CIA.
fertilização e de conservação do sêmen. O sêmen
é classificado em um escore que varia de um a três, Outros testes
escala em que o um é considerado ejaculado de alta
qualidade. O teste consiste na avaliação da integri- Acompanhamento da qualidade
dade acrossomal de duas alíquotas de sêmen sub- da dose inseminante durante o
metidas a um meio isotônico (300mOsm) e a outro período de armazenamento
hiposmótico (150mOsm). Os espermatozoides que Esse exame tem como objetivo avaliar o com-
após 30 minutos incubados a 35°C apresentarem a portamento da motilidade espermática durante
cauda curva ou dobrada são considerados normais. o período em que a DI é estocada. Paralelamente
à motilidade, a cada 48 horas, pode ser avaliada
Teste de termorresistência a integridade acrossomal. É um exame que pode
O teste de termorresistência consiste fornecer subsídios para a resolução de problemas
em mimetizar o estresse térmico sofrido pelo ligados à temperatura de armazenamento e ao
espermatozoide no ambiente uterino. Uma amostra tempo de estocagem.
no período pós-diluição são decorrentes da qualidade táveis diferenças de até 1oC entre os dois. Quando
da água. É preconizada, para o processamento do sê- a variação de temperatura excede a 2oC, há uma
men, a utilização de água destilada e desmineralizada redução da viabilidade dos espermatozoides. Os
346
(deionizada). Equipamentos de osmose reversa, além termômetros podem ser uma importante fonte de
da segurança em relação à qualidade físico-química e contaminação bacteriana e devem ser cuidadosa-
microbiológica da água, têm sido uma boa alternativa mente manipulados.
mesmo para CIAs de pequeno porte. A adição da quantidade predefinida de di-
A taxa de diluição do sêmen (TD), ou seja, a pro- luente deve ser realizada de forma lenta, trans-
porção entre sêmen e diluente utilizado é um fator
que pode interferir no período de conservação e via- A
bilidade da célula espermática, reduzindo a fertilida-
de. A TD do sêmen considerada ótima varia de 1:5 e
1:15, ou seja, uma parte de sêmen para até 15 partes
de diluente. Alguns trabalhos demonstraram uma
redução na motilidade espermática em DIs com uma
menor diluição (5x109 sptz/DI) quando comparadas
a DIs de maior diluição (1x109 e 3x109 sptz/DI), redu-
ção atribuída ao pobre ambiente metabólico gerado
nas doses de TD menores. Já a razão pela qual ocorre
uma redução da fertilidade e viabilidade espermá-
tica das DIs submetidas a uma alta TD (>1:15) não é
claramente conhecida e acredita-se que o fenômeno
chamado choque osmótico esteja presente.
ferindo o diluente ao ejaculado coletado e nunca ters são utilizados em CIAs que possuem sistemas
o contrário, tendo em vista que um choque os- semiautomáticos que selam a embalagem. Com a
mótico pode inviabilizar o ejaculado (foto 5 A e popularização da técnica de inseminação pós-cer-
347
B). Quando a diluição é realizada de forma muito vical, já estão disponíveis flexitubos próprios para
rápida, há uma grande proporção de espermato- aplicação dessa técnica, com capacidade de 50ml.
zoides com defeitos de acrossoma. Atualmente existem embalagens que visam à
Para evitar o choque térmico e osmótico causa- proteção contra a exposição ultravioleta do sêmen por
do entre espermatozoide e diluente, sugere-se que meio de um tratamento do plástico utilizado no flexi-
a diluição se proceda em dois tempos. No primeiro, tubo ou por embalagem aluminizada como no blister.
é realizada uma diluição de 1:1, após cinco a 10 mi- Uma vez diluída, envasada e identificada, a DI
nutos de estabilização, acrescentado o volume total é submetida a uma diminuição gradual de tempe-
do diluente, completando o segundo tempo dois. ratura. Durante 90 minutos essa DI é mantida à
Dessa forma, ocorre um lento equilíbrio de pH e os- temperatura ambiente (20-24oC), quando então é
molaridade entre sêmen e diluente. Após a diluição, armazenada a 15-18oC.
deve ser avaliada novamente a motilidade e, se esta
apresentar um mínimo de 70% de espermatozoides Temperatura e armazenamento da DI
móveis, a DI é envasada. A redução da temperatura tem sido um método
Existem disponíveis no mercado equipamentos utilizado para prolongar a viabilidade dos esperma-
de diluição automatizada. A vantagem desse sistema tozoides ejaculados, devido ao seu efeito de desa-
é a manutenção de uma velocidade sempre constante celeração dos processos metabólicos celulares. O
de adição do diluente ao sêmen, minimizando, dessa espermatozoide suíno é, particularmente, sensível
forma, possíveis problemas de diluição (foto 6). ao resfriamento, e temperaturas inferiores a 15°C
Estão disponíveis no mercado várias embala- resultam em uma diminuição da taxa de sobrevivên-
gens destinadas ao acondicionamento de sêmen, cia espermática. Esse fenômeno é atribuído a altera-
desde as mais simples como as garrafas plásticas de ções estruturais e bioquímicas que levam à ruptura
volume que varia de 80 a 100ml e tampa rosqueável da membrana plasmática e à degeneração do acros-
a flexitubos e blisters que necessitam de uma solda soma. A temperatura ideal para o armazenamento do
térmica para serem fechados. Os flexitubos e blis- sêmen suíno diluído é de 16-17°C. Esse pode ser ar-
mazenado em estufas especiais ou, em alguns casos,
em refrigeradores adaptados a essa temperatura,
porém nunca em refrigeradores convencionais (2-
8°C) ou a temperaturas superiores a 20°C.
Durante o armazenamento, é recomendado que
os espermatozoides sejam homogeneizados duas
vezes ao dia, o que parece interferir positivamente na
viabilidade espermática e tempo de conservação da
DI. Especula-se que esse efeito se deva a uma distri-
buição uniforme dos nutrientes e outros componen-
tes do diluente para cada célula espermática e que a
sedimentação pode criar trocas no meio, comprome-
tendo a sobrevivência espermática.
O tempo máximo de armazenamento das DIs,
quando utilizados diluentes de curta duração, não
deve ser superior a 72 horas, podendo comprometer
Foto 6 – Diluição automatizada do sêmen suíno.
Fonte: acervo do autor a qualidade da DI.
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A
adoção de novos programas de inseminação os animais são identificados por leitores eletrônicos,
artificial (IA), utilizando uma dose insemi- e os dados, transmitidos ao laboratório. A partir daí,
nante (DI) diária fez com que se buscasse etiquetas são automaticamente impressas, identi-
um maior rigor na qualidade da dose. A manutenção ficando os ejaculados durante seu processamento
de um espermatozoide íntegro, com capacidade (foto 1) . Esse sistema proporciona maior confiabi-
fecundante e qualidade microbiológica, deve ser lidade das informações, principalmente, em CIAs
premissa básica e não mais um diferencial da central com um grande número de reprodutores coletados
de produção de sêmen (CIA). O mesmo vai aconte- simultaneamente ou em sistemas de melhoramen-
cer com a implementação massal das inseminações to genético com cruzamento predefinido, em que
pós-cervicais, exigindo uma garantia de um número qualquer falha na identificação e processamento do
mínimo de espermatozoides viáveis na dose insemi- reprodutor pode resultar em prejuízos futuros.
nante. Todas essas mudanças são adaptações a um
novo sistema de produção. Sistemas de coleta automática
Atualmente, existem disponíveis vários equipa- Os manequins para coleta automática de sêmen
mentos que auxiliam na produção de DIs agregando proporcionam à central um maior aproveitamento
qualidade, desde a coleta ao transporte e armaze- da mão de obra, uma vez que um coletador atende
namento. Sistemas automáticos de coleta propor- duas coletas simultaneamente. Além disso, os riscos
cionam maior rendimento dos coletadores, além de de lesões por esforço repetitivo, denominadas LER,
melhor higiene da coleta. Além da análise do sêmen, são consideravelmente reduzidos, uma vez que não
o processamento assumiu real importância, na pre- há necessidade de fixação manual do pênis durante
paração do diluente, no equipamento de diluição, no
envase e armazenamento. Atualmente o sistema de
produção deixou de ser subjetivo e tornou-se profis-
sionalizado para atender às novas demandas.
A seguir, serão discutidas as principais vanta-
gens de equipamentos avançados no processamen-
to do sêmen.
Sistemas de identificação
eletrônica dos reprodutores
Já estão disponíveis no mercado sistemas de
identificação dos reprodutores por meio de brincos
com chips eletrônicos, os quais armazenam os dados Foto 1 – Sistema computadorizado de
identificação do ejaculado
de identificação dos reprodutores. Durante a coleta, Fonte: acervo dos autores
todo o período da coleta. Quanto à qualidade das A qualidade físico-química e microbiológica deve
coletas, se bem conduzidos, esses sistemas per- ser preservada, ou seja, a água deve estar livre de
mitem a redução da carga contaminante (física e impurezas orgânicas e minerais, bem como de micro
350
microbiológica). -organismos.
A presença de elevadas concentrações de sais e
Sistemas de análise minerais provoca um desequilíbrio osmótico entre
A grande profissionalização do sistema de análise o sêmen e o diluente, acarretando lesões esper-
de sêmen se dará com a utilização do sistema CASA máticas, principalmente no acrossoma. Da mesma
(foto 2 A e B). Infelizmente hoje esse equipamento é forma, a contaminação bacteriana é responsável
restrito a grandes CIAs devido ao seu alto custo de por lesões físicas à membrana plasmática do acros-
implantação. Existem sistemas mais simples e com o soma, bem como alteração do meio em que se en-
mesmo propósito, porém com o custo ainda elevado. contram os espermatozoides através da produção
No entanto, com o desenvolvimento de novos equi- de metabólitos tóxicos. Essa condição afeta direta-
pamentos e sistemas informatizados, em um futuro mente a viabilidade espermática.
próximo esse equipamento deva estar mais acessível, Os equipamentos mais utilizados para a pu-
contemplando também CIAs de médio porte. Por rificação da água são os destiladores e os deioni-
ser um equipamento que traduz as informações de zadores. É interessante que o deionizador seja
forma objetiva, a garantia na qualidade do produto posicionado antes do destilador, impedindo assim
final apresenta um grande diferencial. A análise o acúmulo de minerais no destilador. Além disso, a
computadorizada do sêmen (sistema CASA) é capaz água que sai do destilador tem maior chance de ser
de realizar, em um curto período de tempo, uma aná- recontaminada durante a passagem pelo deioniza-
lise objetiva de parâmetros espermáticos como moti- dor, prejudicando a eficiência do processo.
lidade, vários critérios de velocidade e deslocamento Atualmente, estão disponíveis no mercado, a
espermático, concentração com alta acurácia, bem um custo acessível, equipamentos denominados de
como morfologia e morfometria espermáticas, análi- Osmose Reversa (foto 3 A e B). Esse equipamento
ses de acrossoma e viabilidade de membrana. permite uma purificação da água em um sistema fe-
chado por meio de passagens da água por filtros de
Sistemas de purificação de água retenção de soídos, carvão ativado, membranas de
A qualidade da água utilizada no preparo do osmose reversa, deionização e lâmpada ultraviole-
diluente é considerada um dos principais pontos ta, garantindo, dessa forma, a qualidade superior da
críticos de controle no processamento do sêmen. água. Devido a suas vantagens, o Osmose Reversa
A B
A B C
352
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C
omo já se discutiu, a motilidade espermá- também da técnica de amostragem do sêmen, do
tica é uma avaliação de rotina nas centrais tipo de lâmina utilizada (lâmina padrão) e do modo
de processamento de sêmen (CIAs), e esse como a amostra é preparada. O simples fato de ho-
procedimento deve ser realizado, apesar de nem mogeneizar o sêmen por movimentos centrífugos
sempre estar correlacionada com a fertilidade. No ocasiona uma migração de células espermáticas
entanto, a motilidade progressiva é um indicador para a periferia do copo de coleta, alterando o pro-
do metabolismo funcional do espermatozoide e de cesso de amostragem. Nessa situação, é indicado
membranas íntegras. utilizar sacos plásticos de coleta, o que permite
Uma alternativa ao método tradicional de ava- uma melhor homogeneização do sêmen in natura.
liação dessa característica é o uso do “computer-as- Da mesma forma, a distribuição da amostra no in-
sisted semen analysis” (CASA) ou método de análise terior da lâmina de análise pode ocorrer de forma
computadorizada de sêmen, o qual mensura a moti- heterogênea, alterando a leitura da amostra pelo
lidade espermática de forma objetiva. sistema. Em parte, esse problema pode ser minimi-
Essa tecnologia já existe comercialmente há 20 zado pela observação da variância dos resultados
anos, e o sistema é composto, basicamente, de um das leituras consecutivas do sistema. Normalmen-
microscópio com uma câmera de vídeo acoplada te é recomendada a leitura de, pelos menos, oito
e conectada a um computador. O equipamento campos da lâmina para que possa ser realizada
digitaliza (captura) as imagens e com o auxílio de uma análise apurada. Há possibilidade de o sistema
um software analisa os parâmetros de motilidade. CASA subestimar a concentração espermática
Além desse parâmetro, pode ainda avaliar a concen- quando comparado ao método de análise em câ-
tração e a morfologia espermática, basta que, para mara de Neubauer, principalmente na presença de
isso, se utilize uma lâmina padrão. O sistema CASA aglutinações em alguns ejaculados. Da mesma for-
reconhece o espermatozoide a partir da área de ma, na presença de outros tipos celulares (células
sua cabeça (20 – 120μm2 – suíno), sendo automati- epiteliais) e partículas de gel, pode superestimar
camente selecionado conforme a espécie avaliada. a leitura da concentração espermática. No entan-
As células são classificadas de acordo com o deslo- to, o software permite uma correção manual em
camento da cabeça do espermatozoide em: células situações em que outras células ou partículas são
imóveis, com movimento local e apresentando mo- marcadas como espermatozoides, aumentando a
tilidade progressiva. precisão do sistema.
Apesar de o sistema CASA ser considerado um Na prática do dia-a-dia da CIA, o sistema CASA
método objetivo de análise, pode sofrer a influên- assume grande importância na adoção massiva de
cia de vários fatores que podem alterar o resultado IA pós-cervical. Nessa técnica, por ser utilizado um
da avaliação. A acurácia do sistema não depende número reduzido de espermatozoides na DI, pro-
somente das propriedades ópticas do equipa- cesso em que a padronização das DIs é essencial. O
mento de microscopia e do software utilizado, mas número de espermatozoides na DI pode influenciar
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P
aralelamente ao grande crescimento da inse- dade da DI. Inicialmente há necessidade de estabe-
minação artificial (IA) ao longo das últimas dé- lecer um padrão mínimo aceitável para as variáveis
cadas surgiram as centrais de processamento determinadas.
de sêmen (CIA), as quais são as grandes dissemina- As variáveis de uso rotineiro apresentam um
doras do material genético. Sendo assim, o papel do padrão consagrado como motilidade espermática
reprodutor assume uma importância significativa mínima de 70% e total de alterações morfológicas
no sistema de produção. de 20%. Da mesma forma, o estabelecimento de um
Anualmente um bom reprodutor produz, apro- nível aceitável de variação é importante. Baseado
ximadamente, 1.500 doses inseminantes (DI)/ano, nisso, um programa de controle de qualidade míni-
ou seja, material suficiente para, em uma situação mo deve considerar as seguintes variáveis.
convencional, inseminar 500 matrizes. Tendo em a. Volume da DI;
vista que o plantel tecnificado de matrizes suínas no b. Motilidade da DI (in natura, pós-diluição,
Brasil compreende 1,6 milhão de fêmeas, supondo 24, 48 e 72 horas de armazenamento);
que 90% do plantel adote IA, é possível estimar que c. Morfologia espermática;
sejam produzidas anualmente mais de 11 milhões d. Concentração espermática na DI (qual a
de doses inseminantes. Com essa afirmação, sur- variação aceita?).
gem alguns questionamentos:
1. Como está a qualidade dessas doses insemi- Implantação de um programa de
nantes? controle de qualidade em uma CIA
2. Existe algum gerenciamento de pontos críti-
cos de controle na produção das DIs? Material/amostras a serem
3. Como é monitorada a qualidade das DIs após coletadas e avaliadas
a expedição? Na rotina, é importante que seja estabelecido
4. Como está o padrão microbiológico das DIs um fluxo de pontos críticos na coleta e processa-
produzidas? mento do sêmen (figura 1). Um programa de amos-
5. As DIs atendem a um padrão mínimo de qua- tragem deve ser representativo, assim deve con-
lidade após a expedição? templar grande parte das fases de processamento
A adoção e gerenciamento de um plano de con- até a expedição da DI.
trole de qualidade em CIAs é um assunto ainda pou- Sempre que levamos em conta pontos críticos
co explorado. Na maioria das vezes são realizadas de controle, o processo de decisão por si só já é con-
apenas algumas análises de DIs armazenadas por siderado crítico, pois dele depende o sucesso do pro-
um determinado período e poucos exames micro- grama. Dessa forma, padronização, critério claro e
biológicos sem muito critério de amostragem. objetivo e treinamento constante são fundamentais.
Um bom programa de controle de qualidade Da mesma forma, muitas vezes trabalhamos
deve ir além da rotina básica da análise de motili- com variáveis inter-relacionadas em que existe
Coleta de Treinamento de
Sêmen reprodutores
358
Laboratório
Envase
Expedição
Figura 1– Fluxograma de produção das doses inseminantes e seus pontos críticos de controle
uma sinergia, positiva ou não, de uma determina- tema de purificação de água, swabs de superfície em
da ação nos demais pontos do fluxo de produção. bancadas e equipamentos que entram em contato
Para exemplificar essa afirmação, tenhamos direto com o sêmen também são importantes.
como base o procedimento de coleta de sêmen. Em relação à frequência de coletas, esse ponto
Se ele não for realizado de forma correta, existe varia de acordo com o objetivo do controle de qua-
o comprometimento da qualidade final da dose lidade. É preconizado que se inicie um programa de
inseminante, ou seja, um único ponto interferindo controle com coletas mensais até que tenhamos
em todo o processo. o perfil de qualidade da CIA. Essa metodologia
permite monitorar os aspectos de produção e con-
Número de amostras a serem taminação da CIA e qualquer alteração do padrão
coletadas e frequência de avaliação normal é facilmente detectada. O perfil é inerente
As amostras a serem analisadas devem ser co- a cada CIA e não pode ser extrapolado às demais.
letadas de forma aleatória, selecionadas do pool de Depois de estabelecido o perfil, é possível que se
machos escalados para a coleta (sêmen in natura) e trabalhe com coletas bimestrais ou trimestrais.
das DIs produzidas no dia (sêmen diluído). Do ponto Passam a ser então amostragens de controle e não
de vista prático, 10 amostras de sêmen in natura mais de diagnóstico.
e sêmen diluído são suficientes para que se possa Uma vez estabelecido o número de amostras e a
traçar um perfil de boa qualidade, principalmente o frequência de coletas de amostras, serão definidas as
microbiológico. Amostras de água, água destilada, análises realizadas. Elas podem ser classificadas em:
diluente, swabs de mangueiras e tubulações do sis- a. Análise de fatores inerentes ao sêmen (moti-
uma fonte bacteriana para outros equipamentos e em microbiologia em prazo máximo de 48 horas. É
para o sêmen. importante que o material seja coletado em reci-
Na análise microbiológia, é importante que, pientes estéreis.
361
além de amostras de sêmen in natura e sêmen diluí- A identificação dos agentes contaminantes,
do, amostras de água, diluente, swabs de superfícies o número de UFC/ml, bem como a sensibilidade a
(bancadas, paredes etc), swabs de tubulações de antimicrobianos, deve ser solicitada ao laboratório.
purificação e armazenamento de água, bem como Como padrão, adota-se um limite máximo de
do material não descartável e que entra em contato contaminação à contagem de 500UFC/ml. Qual-
direto com o sêmen, sejam coletadas. Essas amos- quer contagem além desse limite deve ser encarada
tras devem ser encaminhadas em caixa isotérmica e como fonte de problema, o qual deve ser resolvido o
refrigeradas (5-8°C) a um laboratório especializado mais breve possível.
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suas consequências sobre a qualidade das doses in- 10. WATSON, P. F.; BEHAN, J. R. Intrauterine insemina-
seminantes. Porto Alegre. 2009. 44f. Dissertação tion of sows with reduced sperm numbers: results
(Mestrado em Ciências Veterinárias) - Universi- of a based field trial. Theriogenology, v. 57, p. 1.683-
dade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1.693, 2002.
O
acentuado crescimento e modernização do da automação? A gestão do material genético está
sistema de produção de suínos constatado adequada? São algumas perguntas que devem ser
nas últimas décadas bem como o incremen- respondidas.
to na demanda da inseminação artificial (IA) deixa- Para que possamos tornar a CIA mais eficiente,
ram clara e evidente a necessidade de um melhor ge- é fundamental uma reflexão das práticas executa-
renciamento da produção de sêmen. O que antes era das diariamente. Segundo Bill Gates, a “automação
secundário assume um papel importante na rotina da aplicada a uma operação ineficiente aumentará a
central de processamento de sêmen (CIA). ineficiência”. Será que realmente todos os manejos
Como em qualquer outra fase da produção e que executamos no processo de coleta e processa-
considerando o alto investimento na aquisição dos mento de sêmen são necessários? Será que existe
machos, torna-se importante estabelecer metas de uma maneira diferente de executar a mesma tarefa
produção da CIA. É preciso criar indicadores que de forma mais eficiente? Será que estou disposto a
possam traduzir a eficiência da CIA, de forma que se aceitar mudança de alguns resultados em prol de
estime se está sendo realizada a máxima utilização outros? São questionamentos que vão nortear a
dos recursos disponíveis. Da mesma forma, o geren- gestão eficaz do sistema de produção de sêmen.
ciamento do plantel de reprodutores deve ser feito
com vistas ao incremento genético e não mais por Estabelecendo metas de produção
idade de produção. Cada vez mais, a necessidade Uma vez determinada a capacidade de produ-
de melhoria em índices como conversão alimentar ção da CIA, é preciso organizarmos alguns indica-
e ganho diário de peso tem sido o foco da cadeia de dores que possam ser traduzidos em eficiência da
produção, portanto necessita de maior atenção. CIA. Indicadores tradicionais como doses insemi-
Gerenciar qualquer sistema requer habilidade nantes produzidas por ejaculado por semana, nú-
e, principalmente, foco no resultado. Não se ge- mero de machos coletados por hora são exemplos
rencia o que não se mede, não se mede o que não se comuns de avaliações realizadas. É definido que
define, não se define o que não se entende, não há um reprodutor, quando bem manejado, é capaz de
sucesso no que não se gerencie. Portanto, só pode- produzir, em média, 1.500 doses de inseminantes/
mos melhorar o que medimos de forma objetiva. ano (considerando idade média de oito meses ao
Portanto, se o objetivo é tornar a CIA mais início da produção e uma taxa de 5% de descarte dos
eficiente, temos que medir como ela está sendo ejaculados). No entanto, indicadores modernos e
gerenciada, ou seja, quais são as minhas metas de mais amplos de eficiência produtiva devem ser esta-
produção. Como está o fluxo de produção? Qual é belecidos. Um exemplo prático disso é um indicador
o meu custo de operação? Ele é competitivo? Posso de toneladas de carne produzidas por reprodutor
reduzir custos mantendo a mesma eficiência? A por ano. Além de um índice mais palpável, traduz
minha mão de obra é qualificada e otimizada? Há o objetivo real da CIA, ou seja, difusão de genes de
como melhorar o processo de produção por meio alto valor.
Outro ponto importante é a definição da taxa de Investir em reprodutores de alto valor genético, que
reposição dos reprodutores. Essa variável, além de imprimem características de alto ganho de peso e
representar maior custo, está relacionada direta- melhora na conversão alimentar fazem com essa va-
363
mente com o melhoramento genético da progênie riável seja mais representativa. No entanto, existem
pela difusão de genes de alto valor genético. estratégias para controle e redução desse custo. A
A taxa de reposição anual praticada nas CIAs redução da concentração espermática e/ou a redu-
é de 60 a 150%, dependendo de sua localização na ção do volume da DI em um programa de insemina-
pirâmide de produção. Animais destinados a plan- ção pós-cervical permite que o mesmo ejaculado
téis de granjas denominadas núcleo são substi- produza um maior número de doses, diluindo dessa
tuídos a cada seis meses, representando um custo forma o custo do reprodutor devido a uma maior efi-
operacional elevado. Com exceção às causas de re- ciência produtiva. Essa estratégia, além da redução
moção involuntária (mortes, qualidade seminal), a direta do custo do reprodutor, ainda permite uma
remoção de machos de um plantel de reprodutores rápida difusão dos genes no plantel.
se dá pela idade. Sendo assim, reprodutores de bai- Outros custos referentes a materiais de con-
xo potencial genético são mantidos em produção sumo (18 a 30%), depreciações de investimentos
por falta de um indicador que possibilite uma aná- em instalações e equipamentos (2 a 6%), mão de
lise mais apurada dos critérios de reposição. Em obra (9 a 19%), nutrição (10 a 15%) devem ser
sistemas tecnificados, a adoção do gerenciamento controlados por meio de planilhas ou softwares es-
genético tem sido o grande indicador na decisão de pecíficos. É importante lembrar que, quanto mais
descarte de um reprodutor, independentemente “tecnificada” for a CIA, maior será a participação
da idade. Nessa situação, muitas vezes a qualidade de custos com materiais de consumo e equipamen-
seminal é uma decisão secundária no descarte de tos no montante total do custo da DI. Dessa forma,
um reprodutor. não é possível comparar diferentes custos sem
o conhecimento do propósito da CIA. A tabela 1
Gerenciamento dos custos de produção exemplifica os diferentes percentuais de custo de
O controle do custo de produção das doses acordo com o padrão da CIA.
inseminantes (DI) é importante para mensurar a efi-
ciência produtiva do negócio. O principal custo na Gerenciamento de dados da central
composição da DI, variando de 30 a 60%, é referen- de processamento de sêmen
te ao reprodutor. Esse custo varia em função do ob- A tecnologia de informação está disponível no
jetivo do sistema (granja núcleo – royalties, termina- mercado por meio de simples planilhas e banco de
dor indexado ou somente reprodutor terminador). dados até softwares específicos de controle e inte-
gralização de sistemas de produção, basta apenas com a genética do reprodutor e é atualizado perio-
avaliar o que mais se adapta à realidade da CIA. dicamente.
A agilidade com que os dados são obtidos ou Em uma reposição de plantel, deve-se sempre
364
estão disponíveis para que se possa avaliar determi- buscar reprodutores com EBV superior à média do
nadas situações é importante no gerenciamento do plantel, garantindo-se assim o constante incremen-
dia-a-dia da CIA. Outro ponto a ser considerado é a to genético da CIA.
confiabilidade dos dados. Inconsistências, além de Espera-se que a cada 10 pontos de melhoria no
comprometerem o gerenciamento da CIA, acarre- EBV médio do plantel e reprodutores, haja um ga-
tam decisões errôneas. nho de US$ 0,90 a US$ 1,00 por animal terminado.
Esse valor se deve, principalmente, à melhoria em
Gerenciamento do material genético índices zootécnicos de conversão alimentar e ao
Devido ao fato de os reprodutores represen- ganho de peso diário da progênie.
tarem o grande custo da produção de DI, deve ser Cada empresa de genética valoriza o EBV con-
avaliado com cautela e de forma estratégica. O forme o seu programa de melhoramento genético,
gerenciamento do valor genético do plantel re- não sendo possível generalizar o ganho esperado
presenta o foco principal de todo o gerenciamento ou até mesmo comparar o valor numérico do EBV
operacional da CIA. em diferentes genéticas. CIAs que buscam alta efi-
Cada reprodutor possui um índice de valor ge- ciência operacional consideram o gerenciamento
nético, ou seja, determinadas características que genético a grande oportunidade de ganhos.
cada macho possui e tem a capacidade de imprimir
na sua progênie. Essas características denominam- O que significa gerenciamento
se EBV (Estimated Breeding Value), ou seja, valor operacional da central de
esperado na progênie. Os reprodutores são classi- processamento de sêmen na prática?
ficados de acordo com esse índice, cujo valor base 1) Estabeleça metas claras e objetivas de pro-
é 100. Machos superiores possuem valores de EBV dução e as controle;
superiores a 100. Essas características são relacio- 2) Tenha controle da composição do custo da
nadas, principalmente, com aspectos econômicos dose inseminante e foque nos custos que re-
da produção como ganho de peso diário e melhor almente interessam;
conversão alimentar. Então, como realizar o geren- 3) Considere o investimento em tecnologias
ciamento genético do plantel? que permitam a otimização de determinadas
O EBV não é um valor fixo, ele varia ao longo do atividades e mão de obra;
tempo em função da reclassificação do conjunto de 4) Gerenciamento de fatores de risco na produ-
variáveis que compõem esse índice. Um reprodutor ção são importantes;
que hoje possui um EBV 100 pode ser reclassificado 5) O gerenciamento genético é fundamental
em 90 no mês seguinte. Esse dado varia de acordo para a excelência operacional.
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Alegre. Pallotti, v. 2 , p. 27-42, 2005.
A
tecnologia de preservação do sêmen suíno Ultrarresfriamento do sêmen suíno
tradicionalmente adotada nas Centrais A possibilidade de armazenar e transportar
de Inseminação Artificial (CIAs) compre- o sêmen suíno à temperatura de 5°C seria uma
ende o armazenamento das doses inseminantes importante alternativa para viabilizar a preser-
à temperatura entre 16ºC e 18ºC e sua utilização vação do sêmen suíno por um período de tempo
em até 48-72 horas após a coleta. Isso ocorre de- superior ao que vem sendo rotineiramente uti-
vido à falta de uma taxa de resfriamento ideal para lizado (16 a 18°C), para otimizar o transporte
temperaturas inferiores, bem como de um diluidor a longas distâncias e otimizar a utilização de
capaz de proteger as células espermáticas contra reprodutores melhoradores apenas no local da
os efeitos deletérios da baixa temperatura por um colheita do sêmen. Em algumas espécies, a utili-
período prolongado de estocagem. Entretanto, essa zação do resfriamento e transporte a 5°C gerou
temperatura de 16-18°C limita armazenamento novas oportunidades de comercialização do sê-
das doses por períodos prolongados, em virtude men, principalmente daqueles animais com baixo
de não interromper totalmente o metabolismo das desempenho com o congelamento. Além disso, o
células espermáticas e a multiplicação bacteriana, armazenamento do sêmen suíno a temperaturas
propiciando o acúmulo de metabólitos que podem próximas a 5°C seria conveniente para a maioria
interferir na qualidade do sêmen. dos produtores, uma vez que as doses inseminan-
Dessa forma, a capacidade de armazenar o tes poderiam permanecer armazenadas em refri-
sêmen a baixas temperaturas (foto 1), por um geradores domésticos.
prolongado período de tempo e sem alterações na A redução da temperatura de armazenamento
viabilidade espermática, tem sido um dos principais para valores inferiores a 15°C tem sido ocasional-
desafios das centrais produtoras de sêmen suíno. mente mencionada na literatura nacional e inter-
nacional para o transporte do sêmen suíno (tabela
1). Alguns estudos têm utilizado temperaturas de
5-7°C para prolongar a viabilidade dos espermato-
zoides, em virtude da desaceleração dos processos
metabólicos celulares. Teoricamente, quanto mais
baixa a temperatura de armazenamento, menor
seria o metabolismo celular e maior o tempo de es-
tocagem das doses inseminantes.
Porém, o espermatozoide suíno é particular-
mente sensível ao resfriamento a temperaturas
inferiores a 15ºC, o que resulta em uma diminuição
da sobrevivência espermática quando o sêmen
Foto 1 – Doses de sêmen em descanso para serem fresco é resfriado rapidamente para temperaturas
armazenadas na conservadora entre 16-18º C
Fonte: ABCS. abaixo desse valor. O resfriamento rápido das cé-
Tabela 1 - Avaliação da qualidade do sêmen suíno diluído em diferentes diluidores e armazenado a 5°C
Armazenamento
Fonte Diluidor Tempo Mot. (%) NAR* (%)
Temperatura (ºC)
366 (Horas)
Pursel (1972) 20% gema de ovo 5 0,17 55 49,3
33 65
42 65
Weber (1989) Androhep ®
5 48 52 70
55 72
62 72
BTS® 5 48 42 73
Kotzias-Bandeira (1999)
Androhep® - 48 42 72
Nascimento (1997) MC1 5 72 37,5 -
Foote (2002) 20% gema de ovo 5 48 >70 -
Lactose-gema 5 48 51,4 69,8
Lairintluanga (2002) Modena ®
5 48 6,3 18,6
Kiev ®
5 48 6,6 20,2
5 72 65,6 80,1
Katzer (2002) BTS®
5 72 62,8 78,5
BTS ®
5 36 43,1 -
Roner (2003)
X-Cell ®
5 36 55 -
5 72 68,4 71,4
5 72 65,7 68,1
Pérez-Llano (2005) Acromax®
5 72 52,2 70,1
5 72 24,1 44,4
1MC = Diluidor de Mínima Contaminação; *NAR = Percentual de células com reação acrossômica.
Fonte: Adaptado de Katzer (2002)
lulas espermáticas causa danos celulares e é comu- e transporte das doses inseminantes, porém com
mente chamado de choque térmico ou cold shock. limitada longevidade.
O choque térmico é caracterizado pela presença A extensão dos danos celulares causados pelo
de movimentação atípica do espermatozoide, com choque térmico está relacionada com vários fato-
baixa na produção de energia e do metabolismo res, podendo citar o formato da cabeça do esperma-
celular, perda prematura da motilidade, aumento tozoide e a estrutura e composição da sua membra-
da permeabilidade das membranas e perda de mo- na plasmática. Em suínos, o formato da cabeça dos
léculas e íons intracelulares, bem como aumento do espermatozoides é grande e fortemente achatado,
número de espermatozoides com movimento circu- enquanto nos mais resistentes ao resfriamento/
lar. Esses efeitos são mais severos a temperaturas congelamento as cabeças dos espermatozoides
na faixa de 12 a 2°C, ou quando os espermatozoides são menores e mais compactas. Ainda, comparada
do ejaculado são rapidamente resfriados, da tempe- à de outras espécies, a membrana plasmática do
ratura corporal a temperaturas abaixo de 15°C. Por espermatozoide suíno é caracterizada por apre-
essa razão, as centrais de inseminação seguem uti- sentar baixa relação colesterol/fosfolipídeo, uma
lizando a temperatura de 17°C no armazenamento distribuição assimétrica do colesterol (o colesterol
Tabela 2 - Desempenho reprodutivo de fêmeas suínas inseminadas com sêmen diluído em diluidor GGO, BTS®
ou MR-A®, submetido a diferentes períodos de armazenamento e estocado a 5 ou 17°C.
Fração do Armazenamento
ejaculado/ Taxa de
Fonte Diluidor Temperatura Tempo NT1
368 conservação parto (%)
(°C) (h)
Foote (2002) GGO Refrigerador 5 48 63 10,1
GGO 5 75,76 10,72
Braga (2007) Contêiner 17 a 21
BTS ®
17 91,18 14,87
GGO 5 90* 13,39
Alkmin (2010) P1/Contêiner 15 a 28
MR-A® 17 100* 15,6
100 11,25
GGO Contêiner 5 100 8,27
75 10,67
Siqueira (2011a)** 18 a 51
90 12
MR-A ®
Contêiner 17 90,91 12,2
90 11,89
91,67 11
GGO Contêiner 5
76,92 12,8
Siqueira (2011b) 19 a 35
100 12,8
MR-A® Contêiner 17
100 13,91
80 13,44
Silva (2011a) GGO P1/Contêiner 5 20 a 27
90 15,11
80 16,5
Silva (2011a) GGO P1/Contêiner 5 17 a 30
100 14
GGO: Diluidor Glicina-Gema de ovo (Foote, 2002); *Taxa de gestação; **Linha macho;1NT = número de leitões nascidos totais; P1 = Primeiros 15mL da fração espermática rica.
Fonte: Siqueira (2011).
Assim, torna-se claro que para o comércio interna- pesquisa foi desenvolvida na Universidade de Uppsa-
cional de material genético, a utilização do sêmen la, iniciando-se em 2000 e com os últimos resultados
congelado ainda é um pré-requisito fundamental. apresentados em 2008. Nesse sentido, desenvolveu-
369
No entanto, apesar da técnica de criopreserva- se uma nova forma de envase para o sêmen suíno, o
ção do sêmen suíno estar disponível há mais de 30 Flatpack™ (foto 3). O Flatpack™ é feito de polietileno,
anos, até o presente momento poucos avanços têm com espessura de 0,2mm. Suas dimensões (compri-
sido feitos. O que se observam são apenas discretas mento: 30cm, largura: 22mm, capacidade para 5ml)
modificações na curva de congelamento/desconge- permitem um rápido e uniforme congelamento e
lamento, nos diluidores e na concentração do crio- descongelamento, quando comparado às palhetas
protetor. Assim, o processo de criopreservação do de maior diâmetro (macrotubos). Estudos realizados
sêmen suíno ainda continua sendo laborioso e pouco pelos pesquisadores dessa universidade mostram
rentável, uma vez que todo o processo dura aproxi- uma taxa de parto de 73% e uma média de 10,7 lei-
madamente oito horas e o rendimento em termos de tões nascidos vivos, com o uso de sêmen congelado
número de doses/ejaculado é baixo (uma dose produ- em Flatpacks™ e inseminação tradicional, o que cor-
zida corresponde a 10% do ejaculado). respondeu a uma redução de 6,5% na taxa de parto e
Historicamente, a forma de envase mais utiliza- de 0,3 leitões nascidos.
da para a espécie suína é o macrotubo de 5ml (foto No entanto, apesar de ser mais adequado
3). Porém, seu diâmetro de 5,4mm, impede um rá- do ponto de vista da manutenção da qualidade
pido e uniforme congelamento e descongelamento espermática após o congelamento, a alta con-
do sêmen. Durante o congelamento, e mesmo no centração e volume contidos em um Flatpack™
descongelamento, ocorrem diferenças significa- ia contra a utilização mais eficiente do ejaculado.
tivas entre a temperatura no centro e periferia do Essa questão estimulou o desenvolvimento e uti-
macrotubo, o que pode levar à redução da motilida- lização do chamado MiniFlatpacks™ (foto 3), para
de pós-descongelamento. A fim de contornar esses o congelamento de amostras superconcentradas
problemas, vários pesquisadores têm congelado o em baixo volume (1-2x109/ml em 0,5-0,7ml) e uso
sêmen suíno em outras palhetas, criobiologicamen- em inseminação intrauterina profunda. Esse novo
te mais adequadas, de 0,25ml, 0,5ml, entre outras. recipiente foi testado com um bom resultado tanto
Embora melhorias na viabilidade espermática in no pós-congelamento (~ 50% de motilidade pós-
vitro estejam sendo alcançadas, essas embalagens descongelamento), quanto na fertilidade usando
ainda não são adaptadas para o uso prático, isso inseminação intrauterina profunda (60% de taxa
porque várias palhetas são necessárias para consti- de parto quando a inseminação ocorreu entre oito
tuir uma dose inseminante. Além disso, o grande nú- e quatro horas antes da ovulação).
mero de palhetas pode ser um fator limitante para o
armazenamento do sêmen congelado.
Não obstante, envolvendo a mudança no local de
deposição do sêmen, permitiram a redução do volu-
me inseminante e a maximização do uso do ejacula-
A
do, abrindo novas oportunidades para a utilização do
sêmen congelado. Todavia, as formas de envase do
sêmen ainda interferiam negativamente no processo
de criopreservação, tanto pela sua relação entre área
e volume, quanto pela necessidade de rediluição da B
dose no momento do descongelamento.
Nesse contexto, paralelamente aos trabalhos
Foto 3 – Tipos de embalagens para envase
realizados por Martinez e Watson, uma nova linha de do sêmen suíno congelado
Paralelamente a essas pesquisas, uma nova Todavia, apesar das melhorias nos protocolos
metodologia de congelamento mais simplificada de criopreservação e do desenvolvimento de no-
foi desenvolvida. Nesse método simplificado, os vos procedimentos de inseminação atualmente
370
espermatozoides dos primeiros 10ml da fração disponíveis, a aplicação prática do sêmen suíno
espermática rica (P1) são mantidos à temperatura congelado em programas de IA comerciais ainda
ambiente (22-24°C) por 30 minutos e, em seguida, necessita de precaução. A consolidação do uso da
diluídos em diluidor lactose-gema de ovo, refriados criopreservação na indústria suinícola depende
a 5°C por 1,5 hora. Após esse período, uma nova de novas pesquisas no desenvolvimento de técni-
diluição com diluidor lactose-gema de ovo + glicerol cas para a previsão mais precisa do momento da
+ orvus es paste é realizada e as doses envasadas em ovulação, visando à determinação do momento
MiniFlatPack™ e congeladas a 50°C/min. Em com- ideal para a inseminação; do estabelecimento
paração com o protocolo de congelamento conven- de protocolos de sincronização do estro e ovu-
cional, que dura aproximadamente oito horas, essa lação que permitam a utilização de apenas uma
nova metodologia simplificada de congelamento inseminação/estro; da determinação do número
leva 3,5 horas, dispensa a necessidade de aquisição mínimo de espermatozoides na dose necessária
de equipamentos onerosos, como as centrífugas para garantir a fertilização; do desenvolvimento
refrigeradas, além de permitir o uso mais eficiente de marcadores moleculares para identificar e
do ejaculado, uma vez que o restante do ejaculado selecionar reprodutores “bons" e "maus" conge-
(cerca de 75% do total de espermatozoides) pode ladores e, ao mesmo tempo, desenvolver um teste
ser usado para o processamento tradicional das indireto para predizer o potencial de fertilização
doses. O desenvolvimento desse processo simpli- dos espermatozoides. A combinação dessas abor-
ficado abriu uma nova era da criopreservação do dagens pode resultar em ótimo desempenho de
sêmen suíno devido a inúmeras possibilidades que fertilidade com sêmen criopreservado e sua difu-
essa metodologia traz consigo. são em programas de IA.
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M
atrizes em gestação estão em estado ca- de matrizes em gestação
tabólico no final da gestação devido ao As exigências de aminoácidos de matrizes em
consumo limitado de proteína e aumen- gestação dependem do número de fetos, glându-
to das necessidades de proteína para sustentar o las mamárias, potencial de crescimento materno
crescimento dos tecidos fetais e do parênquima e necessidades de mantença. Esses componentes
mamário. O quadro catabólico materno prejudica também afetam a proteína ideal para matrizes em
o crescimento do feto e do neonato, e, consequen- gestação. Estudando as exigências de aminoácidos
temente, aumenta sua morbidade e mortalidade. e proteína ideal para matrizes em gestação com
Devido ao baixo consumo de proteína durante o fi- base nas quantidades de aminoácidos deposita-
nal da gestação, é importante fornecer um balanço dos nos tecidos fetal, mamário e materno durante
ideal de aminoácidos para obter máxima eficiência os diferentes estágios de em gestação, foi possível
de utilização. estimar as necessidades de aminoácidos para man-
Ao estabelecer a proteína ideal para matrizes tença sugeridas pelo NRC (1998). As exigências de
em gestação, os seguintes fatores devem ser con- lisina em digestibilidade ileal verdadeira, por exem-
siderados: (1) aminoácidos necessários para o cres- plo, aumentaram muito: de 6,8g/d no início da ges-
cimento fetal, (2) aminoácidos necessários para o tação (dias 0 a 70) para 15,3g/d no final da gestação
crescimento do tecido mamário e (3) aminoácidos (70º dia ao parto). As exigências dos outros amino-
necessários para o crescimento do tecido materno ácidos podem ser calculadas com base na proteína
no caso de matrizes jovens. Alterações nas quanti- ideal sugerida, como mostra a tabela 1. As exigên-
dades e composição de aminoácidos depositados cias de aminoácidos sugeridas são baseadas em lei-
nos tecidos fetal, mamário e materno afetam as exi- toas (ou primíparas) com 160kg de peso corporal à
gências e padrão ideal de aminoácidos de matrizes cobertura, alto potencial de ganho de tecido magro,
em gestação.
Tabela 1 – Exigências de aminoácidos
Estudos recentes mediram os padrões de cres- de matrizes em gestação
cimento do feto, das glândulas mamárias e dos te-
Aminoácido Dias 0 a 70 Dia 70 ao parto
cidos maternos de matrizes hiperprolíficas moder- PB 39,8 103,4
nas, com evidência de que o crescimento dos fetos Lys 6,8 15,3
e das glândulas mamárias ocorreu principalmente Thr 5,4 10,9
no final da gestação. Com base nesses resultados, Val 4,4 10,1
foi estabelecida a proteína ideal para matrizes em Leu 6,0 14,5
gestação. No entanto, as exigências e perfil ideal de Ile 4,0 8,5
Phe 3,4 7,9
aminoácidos sugeridos são influenciados pelo nú-
Arg 6,1 14,9
mero de fetos e glândulas mamárias de cada matriz
His 2,5 5,4
individualmente. Fonte: Kim et al., 2009
Tabela 4 – Exigências de aminoácidos para ganho materno e mantença1. Peso corporal foi de 160kg à
cobertura, 195kg aos 70 dias de gestação e 220kg aos 114 dias de gestação2. Os valores de triptofano e
metionina foram adaptados de suínos em terminação3.
Número Dias de
Lys Thr Trp Met Val Leu Ile Arg
de fetos gestação
0 a 70 6,70 5,35 0,98 1,69 4,33 5,89 3,95 6,01 377
6
70 a 114 13,86 10,07 2,15 3,66 9,03 12,79 7,79 13,21
0 a 70 6,74 5,37 0,99 1,70 4,36 5,93 3,97 6,05
8
70 a 114 14,42 10,40 2,26 3,84 9,45 13,46 8,07 13,84
0 a 70 6,77 5,39 0,99 1,71 4,38 5,97 3,99 6,08
10
70 a 114 14,99 10,72 2,37 4,02 9,87 14,12 8,36 14,48
0 a 70 6,81 5,41 1,00 1,72 4,41 6,01 4,01 6,11
12
70 a 114 15,56 11,05 2,48 4,21 10,29 14,79 8,64 15,11
0 a 70 6,85 5,43 1,00 1,73 4,43 6,05 4,02 6,14
14
70 a 114 16,12 11,37 2,59 4,39 10,72 15,45 8,93 15,74
0 a 70 6,89 5,45 1,01 1,75 4,46 6,09 4,04 6,17
16
70 a 114 16,69 11,69 2,71 4,58 11,14 16,11 9,21 16,38
0 a 70 6,93 5,47 1,02 1,76 4,49 6,13 4,06 6,21
18
70 a 114 17,25 12,02 2,82 4,76 11,56 16,78 9,49 17,01
da gestação foram calculadas usando 36mg/PV0,75 noácidos para matrizes em diversas condições. As
kg (NRC, 1998), em que PV é o peso corporal médio necessidades de aminoácidos para matrizes com di-
ajustado para cada fase e as necessidades dos outros versos números de fetos estão simuladas na tabela
aminoácidos essenciais para mantença foram calcu- 5. O aumento no número de fetos eleva as exigên-
ladas com base nas necessidades de lisina em diges- cias de aminoácidos de matrizes em gestação, es-
tibilidade ileal verdadeira e nas relações AA para lisi- pecialmente no final, devido ao rápido crescimento
na sugeridas pelo NRC (1998) para mantença. dos fetos durante essa fase. Os perfis de aminoáci-
dos também mudam de acordo com o número de
Simulação de necessidades de fetos (tabela 6). A relação de treonina e isoleucina
aminoácidos para matrizes para lisina diminuiu à medida que aumentou o nú-
Usando os dados mostrados nas tabelas 1, 2, 3 mero de fetos, enquanto para os outros aminoá-
e 4, podem ser estimadas as necessidades de ami- cidos, a relação para lisina aumentou. Da mesma
Tabela 6 – Perfil ideal de aminoácidos em relação à lisina para matrizes com diferentes números de fetos.
Número Dias de
Lys Thr Trp Met Val Leu Ile Arg
de fetos gestação
0 a 70 1,00 0,80 0,15 0,25 0,65 0,88 0,59 0,90
6
70 a 114 1,00 0,73 0,15 0,26 0,65 0,92 0,56 0,95
0 a 70 1,00 0,80 0,15 0,25 0,65 0,88 0,59 0,90
8
70 a 114 1,00 0,72 0,16 0,27 0,66 0,93 0,56 0,96
0 a 70 1,00 0,80 0,15 0,25 0,65 0,88 0,59 0,90
10
70 a 114 1,00 0,72 0,16 0,27 0,66 0,94 0,56 0,97
0 a 70 1,00 0,79 0,15 0,25 0,65 0,88 0,59 0,90
12
70 a 114 1,00 0,71 0,16 0,27 0,66 0,95 0,56 0,97
0 a 70 1,00 0,79 0,15 0,25 0,65 0,88 0,59 0,90
14
70 a 114 1,00 0,71 0,16 0,27 0,66 0,96 0,55 0,98
0 a 70 1,00 0,79 0,15 0,25 0,65 0,88 0,59 0,90
16
70 a 114 1,00 0,70 0,16 0,27 0,67 0,97 0,55 0,98
0 a 70 1,00 0,79 0,15 0,25 0,65 0,89 0,59 0,90
18
70 a 114 1,00 0,70 0,16 0,28 0,67 0,97 0,55 0,99
forma, podem ser feitas estimativas para multípa- dos para matrizes em gestação e depois converti-
ras com diversos pesos corporais e ganho de tecido das em relações de aminoácidos para lisina. As exi-
materno, diferentes números de glândulas mamá- gências de aminoácidos para matrizes em gestação
378
rias, diferentes pesos dos leitões, ao nascerem, etc. são diferentes no início e no final da gestação e po-
Enfim, as quantidades de aminoácidos necessá- dem ser afetadas pelo número de fetos e de glându-
rias para a deposição de proteína e mantença foram las mamárias, peso corporal das matrizes e ganho
somadas para obter as necessidades de aminoáci- de proteína materna durante a gestação.
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A
função reprodutiva normal leva à produ- versas gerações de seleção para tamanho de leitega-
ção de gametas saudáveis, prontos para da, o que originou as fêmeas hiperprolíficas. Nessas
serem fertilizados e que irão se desenvol- populações, essa seleção criou um desequilíbrio
ver em conceptos (conjunto formado por fetos entre o número de conceptos que sobrevivem ao pe-
e membranas fetais). A fase inicial do desenvol- ríodo pós-implantação e a capacidade uterina. Sem
vimento embrionário é considerada crítica, pois dúvida alguma, a hiperprolificidade trouxe inúmeros
é nesse período que acontece grande parte das ganhos à suinocultura em termos de tamanho de
perdas embrionárias. leitegada, mas também perdas foram geradas quanto
Nos mamíferos, a maioria das perdas embrio- ao desempenho e qualidade da carne da progênie.
nárias (acima de 30% em grande parte das espécies Assim sendo, os eventos e fatores que podem afetar o
de mamíferos e cerca de 50% nos humanos) se dá no desenvolvimento e sobrevivência do concepto, bem
início da gestação. A razão de o início da gestação ser como algumas consequências dessa interferências,
um período tão crítico talvez se deva à ocorrência dos serão tópicos da presente sessão.
principais eventos do desenvolvimento, tais como
organogênese e formação da placenta (processo Desenvolvimento embrionário
conhecido como placentação). A fertilização ocorre dentro das tubas uterinas
Especificamente em suinocultura, perdas em- na junção entre as regiões da ampola e do istmo.
brionárias antes da implantação ainda são consi- Uma vez fertilizado, o oócito inicia o processo de
deradas a grande proporção das perdas pré-natais, clivagem (divisão celular), cujo primeiro estágio
com alguma perda menor no período pós-implan- de divisão celular é o embrião de duas-células, que
tação, que irá consequentemente refletir a capaci- dura de seis a oito horas, seguido pelo estágio de
dade uterina. Em condições comerciais, isso carac- quatro-células, em que o embrião permanece por
teriza a situação de marrãs, nas quais ovulações de 20 a 24 horas. Vale ressaltar que os estágios iniciais
cerca de 10 a 15 folículos associadas a perdas em- de clivagem ocorrem no ambiente da tuba uterina,
brionárias antes da implantação são os principais pois os embriões migram para o útero, ainda no es-
fatores determinantes do tamanho da leitegada. A tágio de quatro-células, cerca de 48 a 56 horas após
fêmea primípara desmamada e coberta no primeiro a ovulação. A síntese de RNA embrionário inicia-se
cio pós-desmama também se enquadra nessa cate- no estágio de quatro-células e acredita-se que isso
goria. Entretanto, apesar de as taxas de ovulações corresponda à transição do controle do desenvolvi-
serem mais elevadas em porcas multíparas (18 a 20 mento da mãe para o embrião, quando proteínas do
ovulações), muitas fêmeas se encontram em estado genoma embrionário são transcritas. Os embriões
catabólico, o que geralmente diminui a sobrevivên- permanecem dois a três dias na porção proximal dos
cia embrionária até o 30º dia de gestação. cornos uterinos, antes de se distribuírem uniforme-
É interessante notar que a dinâmica de perdas mente pelo útero (figura 1).
pré-natais vem mudando ao longo dos anos nas O estágio de blastocisto no suíno é alcançado
linhas maternas comerciais, em detrimento das di- cinco a seis dias após a fertilização, normalmente
380
quando os embriões possuem 16 até 32 células. to de folículos e oócitos e sua uniformidade seriam
O embrião eclode de sua capa de glicoproteína, importantes para o desenvolvimento subsequente
a zona pelúcida, seis a sete dias após a cobertura. e a uniformidade de embriões e placentas que, por
Após o 12º dia, os embriões não podem mais se sua vez, afetariam o desenvolvimento e uniformida-
mover para diferentes locais no útero. Assim, os de de leitões ao nascimento.
embriões se tornam regularmente espaçados no A segunda semana de gestação é um período
útero, sem sobreposição dos embriões adjacentes crítico para a sobrevivência embrionária nos suínos.
(figura 2). A partir do 11º dia, o blastocisto alonga- Nessa fase, inicia-se a síntese de estrógeno pelo
se rapidamente do estágio esférico de 9-10mm concepto, o espaçamento e a localização dos con-
para a forma filamentosa (1.000mm de compri- ceptos estão finalizados e o sinal para a extensão
mento, o que ocorre no 16º dia de gestação). da vida útil dos corpos lúteos é recebido pela mãe
Estudos sugerem que os oócitos provenien- (reconhecimento materno da gestação). No suíno,
tes de folículos que ovularam mais tarde (ou seja, o reconhecimento materno da gestação se dá apro-
menos desenvolvidos) se tornariam os embriões ximadamente aos 11-12 dias após o início do cio. Os
menos desenvolvidos ao 4º dia de gestação e, con- blastocistos sinalizam a sua presença por meio de
sequentemente, seriam os menos desenvolvidos ao síntese e liberação de estrógenos, e possivelmente
12º dia de gestação. Dessa forma, o desenvolvimen- outras substâncias, que interagem com o sistema
materno, permitindo a continuidade da gestação.
Portanto, o reconhecimento materno da gestação
pode ser definido como o método pelo qual o con-
cepto prolonga a vida útil funcional dos corpos lúteos
estabelecidos após a ovulação. Além disso, pelo me-
nos quatro embriões devem estar presentes nesse
estágio, do contrário os corpos lúteos irão regredir,
resultando no término da gestação.
As concentrações plasmáticas de progeste-
rona no início da gestação podem modificar as
atividades secretórias da tuba uterina e do útero,
acarretando uma assincronia entre o embrião e
Figura 2 - Migração intrauterina e migração de embriões
Fonte: McLaren 1985 o útero. Portanto, o momento e o padrão de in-
cremento das concentrações plasmáticas de pro- estudar os efeitos da lotação uterina no suíno. Entre
gesterona podem ser um fator importante para a essas técnicas, incluíram-se ligação uterina, resse-
viabilidade do embrião. ção de tubas uterinas, histerectomia e ovariectomia
381
unilaterais, superovulação e transferência de em-
Secreções uterinas briões, que levaram à conclusão de que, quando o
O útero apresenta um papel crucial na biologia da número de embriões excedia 14, a lotação uterina
reprodução em mamíferos, sendo responsável pela seria um fator limitante para o tamanho da leitega-
manutenção de um ambiente que possa suportar o da nascida. Entretanto, no terço final da gestação,
desenvolvimento do embrião e do feto. Esse ambiente a competição intrauterina para o estabelecimento
adequado inclui a síntese e secreção de produtos, tais de uma área adequada para troca de nutrientes
como proteínas (uteroferrinas, fatores de crescimen- entre as circulações materna e fetal poderia limitar
to, inibidores de plasmina/tripsina e peptídeos opioi- o tamanho da leitegada. Assim sendo, a vasculari-
des) e prostaglandinas pelo endométrio (camada mais zação da placenta possui um papel importante no
interna do útero, onde estão localizadas as glândulas desenvolvimento pré-natal dos leitões, de tal modo
endometriais responsáveis pela síntese de secreções que quanto mais eficiente esta, melhor será o cresci-
que irão nutrir o embrião a partir da implantação), que mento desses animais dentro do útero.
disponibilizam nutrientes para o concepto em desen- A capacidade uterina se tornaria um fator
volvimento. Dessa forma, fatores que controlam a limitante à sobrevivência fetal a partir do 30º dia
secreção endometrial daquelas e de outras proteínas de gestação. De fato, a taxa de crescimento fetal
possivelmente podem influenciar o desenvolvimento seria menos sensível à lotação intrauterina que a
do concepto. taxa de crescimento placentário, como acontece
A liberação de estrógeno no lume uterino pelos nas fêmeas prolíficas da raça chinesa Meishan.
blastocistos mais desenvolvidos acelera o desen- Dentro de certos limites da capacidade uterina,
volvimento uterino e a liberação de suas secreções. um aumento na eficiência placentária (capacidade
Em contrapartida, os blastocistos menos desen- de troca entre mãe e fetos) poderia, inicialmente,
volvidos seriam mais sensíveis ao avanço do útero proteger o feto em desenvolvimento da limitação
em comparação aos demais embriões mais desen- no tamanho da placenta.
volvidos no mesmo útero. Consequentemente, os No que se refere à variação do desenvolvimento
blastocistos mais desenvolvidos dentro da leitega- no útero, os mecanismos promotores de compe-
da teriam uma melhor chance de sobreviver que os tição entre embriões no período pré-implantação
menos desenvolvidos. Portanto, a assincronia entre irão atuar para reduzir a variação dentro da leite-
útero e conceptos pode ser uma importante causa gada, através da remoção seletiva dos embriões
de mortalidade embrionária. menos desenvolvidos. Já foi confirmado que, mes-
Estudos desenvolvidos em fêmeas da raça mo em porcas com taxas de ovulações “normais”, a
chinesa Meishan sugerem que o início da secreção capacidade uterina poderia afetar tanto o tamanho
das proteínas uterinas seria controlado pelos níveis da leitegada quanto o peso médio ao nascimento
plasmáticos de progesterona. Na verdade, o con- desta. Além disso, informações de grandes popu-
teúdo intrauterino total de proteínas seria menor lações de matrizes comerciais de altas ordens de
nas fêmeas Meishan em comparação às fêmeas das parição suportam a hipótese de que a dinâmica do
raças europeias, o que poderia contribuir para o au- desenvolvimento intrauterino tende a se tornar
mento da fertilidade nas fêmeas Meishan. mais variável, à medida que as porcas avançam para
altas ordens de parição. Por sua vez, isso cria maior
Capacidade uterina variação no peso das leitegadas nascidas e maiores
O conceito de capacidade uterina foi estabele- problemas para o manejo apropriado dessas leite-
cido usando diferentes técnicas experimentais para gadas após a desmama.
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A
alimentação das fêmeas suínas durante a alterações na relação de composição corporal, com
gestação deve garantir a mantença, o cres- maior taxa de tecido magro em relação à gordura,
cimento de tecido muscular, a reposição maior peso na maturidade, início da vida reprodutiva
das reservas de gordura e músculo utilizadas duran- precoce com maior massa corporal magra, maior
te a lactação e o crescimento fetal dos leitões. tamanho de leitegada, leitões com maior taxa de
O fornecimento dos diversos nutrientes du- crescimento, maior produção de leite, redução do
rante o estágio gestacional é importante para que potencial de consumo (apetite), maiores diferenças
as fêmeas reprodutoras tenham uma ótima condi- nas exigências nutricionais, menor flexibilidade no
ção corporal previamente ao parto, com máximo manejo nutricional, maiores efeitos remanescentes
desempenho reprodutivo, sendo essencial que as de um parto ao outro e animais sensíveis a fatores de
estratégias nutricionais sejam adaptadas segundo o estresse em função do ambiente, manejo e nutrição.
estágio fisiológico do animal. A seguir (tabelas 1 e 2), são apresentadas bases
Considerando um ciclo reprodutivo, as fêmeas que determinam as exigências de energia meta-
gestantes ganham e perdem peso e massa corporal. bolizável e lisina digestível para as fêmeas suínas
Quando analisado o período de vida reprodutiva, as em gestação, equações e tabelas com valores es-
fêmeas crescem durante o ciclo de vida completo. timados das exigências de energia metabolizável
As curvas de alimentação das fêmeas suínas em e lisina digestível e os principais programas de
gestação são elaboradas de acordo com o peso-alvo alimentação preconizados por diferentes empre-
em cada cobertura e ao parto, ordem de parto, ne- sas de genéticas comparados na mesma unidade:
cessidade de ganho de peso, ou de recuperação de consumo de energia metabolizável em kcal por dia
tecido muscular e adiposo durante a gestação e es- e de lisina digestível em gramas por dia.
timativa de desenvolvimento dos fetos no período
final da gestação. Estimativa das exigências de
Para que seja possível atender aos objetivos es- energia metabolizável e lisina
tabelecidos, a dieta de gestação deverá ser associada digestível durante a gestação
ao programa de arraçoamento das fêmeas, possibili- As exigências de energia e aminoácidos durante
tando a ingestão diária de energia e nutrientes para a gestação deverão atender às necessidades das
a maximização do número de leitões por leitegada, fêmeas para mantença, ganho de tecido materno,
ótimo peso de leitões ao nascimento, maior ingestão produto e desenvolvimento fetal.
de ração durante a lactação, preparo das tetas e, con- Quando o consumo de energia é superior à exi-
sequentemente, produção de leite, menor intervalo gência, a energia que não é utilizada para a manten-
desmama coberta, longevidade e produtividade de ça corporal será destinada à deposição de lipídeos,
acordo com o potencial genético do animal. em contrapartida quando o consumo de energia é
Eq. 2 = Lis. Dig. (g/dia)= 0,036 P0,75 + 22,6 GPC + 22,6 GPR
Onde P = Peso corporal em kg;
GPC = Ganho de peso corporal em kg/dia;
GPR = Ganho de peso reprodutivo (útero + tecido mamário= 2,26kg/leitão) em kg/dia;
Gestação =114 dias
Fonte: Rostagno et al. (2011).
insuficiente para suportar as exigências de manten- depósito de aminoácidos nos diversos tecido tais
ça, deposição de proteína nos conceptos e no corpo como: placenta e fluídos uterinos, feto, útero, tecido
materno, as reservas de lipídeos corporais serão mamário, tecido corporal. Será mencionado neste
mobilizadas para seu uso como energia. capítulo apenas o aminoácido lisina por ser consi-
A deficiência energética provoca perda de es- derado o primeiro aminoácido limitante em rações
pessura de toucinho, com queda no número de lei- para suínos a base de milho e farelo de soja.
tões nascidos viáveis e menor peso ao nascimento. A curva de alimentação na gestação tem como
Além disso, a fêmea suína não terá uma lactação em objetivo garantir que o volume diário a ser forneci-
condições nutricionais ótimas, obtendo menores do e ingerido pela fêmea em uma fase de gestação
pesos ao desmame e incremento do intervalo des- forneça a quantidade de energia e nutrientes em
mame-cobertura. Os efeitos negativos serão obser- kcal e gramas por dia, respectivamente, necessários
vados nas lactações posteriores. às funções reprodutivas.
Fica evidente que as exigências de energia e A alimentação e ingestão de nutrientes durante
nutrientes necessárias para a gestação das matrizes a gestação será dividida em um programa de arra
suínas são dependentes da genética (influenciando çoamento em duas fases, de acordo com as deman-
o crescimento, taxa de deposição de proteína e gor- das de desenvolvimento das fêmeas e dos fetos.
dura corporal), ordem de parição, tamanho das leite- No terço inicial e intermediário da gestação (0 a
gadas e potencial de peso dos leitões. Em função das 85 dias) os planos de arraçoamento visam atender
variáves que influenciam as exigências nutricionais, à demanda para reposição de tecidos, ou mantença,
estas podem ser estimadas para cada condição e ba- e ou crescimento das fêmeas, sendo este definido
seados nesta estimativa e na concentração de ener- principalmente pelo peso corporal da fêmea e ganho
gia e nutrientes na dieta é que serão estabelecidas as de peso-alvo durante a gestação, havendo menor in-
curvas de alimentação das fêmeas gestantes. fluência do número de leitões em desenvolvimento.
As fêmeas gestantes apresentam necessidades Já no terço final de gestação (85 a 115 dias), o
específicas de aminoácidos que se diferenciam em metabolismo do animal é direcionado para o ganho
maior proporção entre 0 a 70-85 dias e 85 a 115 fetal. Nos últimos 45 dias de gestação, o ganho fetal, o
dias de gestação, sendo os principais determinan- conteúdo de proteína fetal e o conteúdo de proteína
tes dessas exigências a reposição basal de perdas na glândula mamária aumentam, respectivamente,
endógenas (trato gastrintestinal e tegumento) e o em cinco, 18 e 27 vezes, conforme pesquisas.
TABELA 5 – CONSUMO DE ENERGIA METABÓLIZAVEL EM KCAL POR DIA POR FÊMEA NAS
DISTINTAS FASES DE GESTAÇÃO SUGERIDOS PARA AS DIFERENTES GENÉTICAS SUÍNAS
Topigs 20
Unidade 0 a 49 d 50 a 84 d 85 a 110 d 110 ao parto
Nulíparas kcal/dia 5.700 6.600 8.700 6.460
Primíp/Multíp. kcal/dia 7.080 6.933 8.998 6.860
Topigs 40
Unidade 0 a 49 d 50 a 84 d 85 a 110 d 110 ao parto
Nulíparas kcal/dia 5.550 6.450 8.550 6.400
Primíp/Multíp. kcal/dia 6.785 6.638 8.924 6.672
Genetiporc F-25
Unidade 0 a 10 d 11 a 85 d 85 ao parto -
Primíparas kcal/dia 5.800 6.641 9.570 -
Multíparas kcal/dia 7.018 8.004 10.498 -
PIC
Unidade 0 a 28 d 29 a 90 d 91 a 114 d 114 ao parto
Primíparas kcal/dia 5.860 5.860 8.790 7.625
Multíparas kcal/dia 7.325 5.860 8.790 7.625
Penarlan – Naima
Unidade 0a3d 4 a 90 d 91 a 112 d 112 ao parto
Primíparas kcal/dia 5.510 5.800 9.300 6.200
Multíparas kcal/dia 5.510 6.380 10.850 6.200
Dan Bred
Unidade 0 a 21 d 22 a 75 d 76 a 90 d 91 a 113 d
Primíparas kcal/dia 6.248 5.112 7.384 8.520
Multíparas kcal/dia 6.248 5.112 7.952 9.088
Fonte: Hannas e Lescano (2014) – Adaptados dos Manuais das Genéticas.
TABELA 6 – CONSUMO DE RAÇÃO RECOMENDADO POR DIA POR FÊMEA NAS DISTINTAS FASES DE GESTAÇÃO,
CONSIDERANDO AS EXIGÊNCIAS DE EM DIÁRIAS E A CONCENTRAÇÃO DE EM DA RAÇÃO DE 3.200KCAL DE EM POR KG
Topigs 20
390 Unidade 0 a 49 d 50 a 84 d 85 a 110 d 110 ao parto
Nulíparas kg/dia 1,78 2,06 2,72 2,02
Primíp/Multíp. kg/dia 2,21 2,17 2,81 2,02
Topigs 40
Unidade 0 a 49 d 50 a 84 d 85 a 110 d 110 ao parto
Nulíparas kg/dia 1,73 2,05 2,67 2,00
Primíp/Multíp. kg/dia 2,12 2,08 2,79 2,08
Genetiporc F-25
Unidade 0 a 10 d 11 a 85 d 85 ao parto -
Primíparas kg/dia 1,81 2,07 2,99 -
Multíparas kg/dia 2,19 2,50 3,28 -
PIC
Unidade 0 a 28 d 29 a 90 d 91 a 114 d 114 ao parto
Primíparas kg/dia 1,82 1,83 2,75 2,38
Multíparas kg/dia 2,29 1,83 2,75 2,38
Penarlan- Naima
Unidade 0a3d 4 a 90 d 91 a 112 d 112 ao parto
Primíparas kg/dia 1,72 1,81 2,91 1,94
Multíparas kg/dia 1,72 1,99 3,39 1,94
Dan Bred
Unidade 0 a 21 d 22 a 75 d 76 a 90 d 91 a 113 d
Primíparas kg/dia 1,95 1,60 2,31 2,66
Multíparas kg/dia 1,95 1,60 2,49 2,84
Fonte: Hannas e Lescano (2014) – Adaptados dos Manuais das Genéticas
os quais podem ser utilizados como referência na No terço final de gestação, as recomendações
elaboração das curvas de alimentação. É possível entre as genéticas divergem em maior proporção.
observar variações mínimas de nutrientes, sem ter O arraçoamento nesta fase deve ser estabelecido
efeito significativo no desempenho dos animais. de acordo com as características dos animais, com a
As recomendações de energia metabolizável meta de desenvolvimento destas fêmeas e a capaci-
em kcal por dia para as fêmeas nas diferentes fases dade de produção de leitões. O programa de arraço-
de gestação em função da ordem de parição suge- amento deve considerar a necessidade e ajuste, caso
ridas para as várias genéticas estão apresentadas as fêmeas estejam magras ou com excesso de peso.
na tabela 5. Na primeira gestação, as exigências Os valores das tabelas são referências e outros
de energia metabolizável estão entre 5.500 e ajustes deverão ser realizados considerando o am-
5.860kcal por dia. Para fêmeas em gestação acima biente, sanidade, instalações entre outros.
do primeiro parto, as exigências de energia metabo- A partir das necessidades de energia metabo-
lizável variaram entre 5.550 e 7.325kcal por dia. A lizável sugeridas pelas genéticas em kcal por dia e o
variação deve-se à genética e à capacidade de mobi- uso de uma dieta com 3.200kcal de EM por kg, foram
lização de tecido durante a lactação. determinadas as curvas de alimentação para as
TABELA 7 – CONSUMO DE LISINA DIGESTÍVEL EM Gramas/DIA PARA FÊMEAS SUÍNAS NAS DISTINTAS FASES DE GESTAÇÃO
Topigs 20
Unidade 0 a 49 d 50 a 84 d 85 a 110 d 110 ao parto
Nulíparas g/dia 14,1 16,3 21,5 17,8
Primíp/Multíp g/dia 11,3 11,0 14,3 19,0
Topigs 40
Unidade 0 a 49 d 50 a 84 d 85 a 110 d 110 ao parto
Nulíparas g/dia 12,0 14,0 18,5 17,6
Primíp/Multíp g/dia 9,2 9,0 12,1 18,8
Genetiporc F-25
Unidade 0 a 10 d 11 a 85 d 85 ao parto -
Primíparas g/dia 11 12,6 18,2 -
Multíparas g/dia 13,3 15,2 19,9 -
PIC
Unidade 0 a 28 d 29 a 90 d 91 a 114 d 114 ao parto
Primíparas g/dia 10,9 10,9 16,3 25,4
Multíparas g/dia 13,6 10,9 16,3 21,5
Penarlan – Naima
Unidade 0a3d 4 a 90 d 91 a 112 d 112 ao parto
Primíparas g/dia 11,4 12,0 21,0 14,0
Multíparas g/dia 11,4 13,2 24,5 14,0
Dan Bred
Unidade 0 a 21 d 22 a 75 d 76 a 90 d 91 a 113 d
Primíparas g/dia 13,67 11,18 16,15 25,29
Multíparas g/dia 13,67 11,18 17,40 26,98
Fonte: Hannas e Lescano (2014) – Adaptado dos Manuais das Genéticas
As curvas de alimentação devem evitar o apa- animais. Quando as reprodutoras são manejadas
recimento de fêmeas com sobrepeso ou subpeso. a partir da 4-6 semanas em lotes, estes devem ser
O sobrepeso impacta negativamente no desempe- compostos por grupos menores, ou a baia deve ser
392
nho dos animais e aumenta o custo de produção da adaptada com sistema de arraçoamento simultâneo
operação. Fêmeas com peso fora do padrão devido individualizado com barreiras e espaços de alimen-
ao excesso de gordura apresentam dificuldades na tação predefinidos para os animais. Dessa forma,
manutenção da gestação e no desenvolvimento de é possível reduzir a variabilidade no consumo de
leitões, com o aumento do percentual de desuni- ração e competição entre os animais.
formidade na leitegada. Enquanto o subpeso será Os valores de energia e nutrientes apresentados
responsável pela ocorrência de leitegadas menores, têm como objetivo principal permitir que a ingestão
de baixo peso e fêmeas com redução da produção de das quantidades exigidas pelas fêmeas seja atendida
leite durante a lactação. por meio da concentração de energia e nutrientes
No arraçoamento de fêmeas em grupo há uma das dietas e da quantidade de ração fornecida, sendo
dificuldade maior na alimentação uniforme dos esta a base para a curva de alimentação.
BIbliografia
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M
atrizes de genética moderna têm de 12 a 120
18 glândulas mamárias, localizadas em 100
80
duas linhas paralelas, uma em cada lado 60
da linha média ventral. As cisternas da glândula 40
20
mamária completamente desenvolvida do suíno são 0
relativamente pequenas em comparação às de ru- 0 15 30 45 60 75 90 105
Dias de gestação
minantes. Em vez disso, contêm um grande número
de alvéolos globulares em forma de saco que secre- Gráfico 1 – Teor de proteína (g/glândula) nas glândulas
mamárias durante a gestação. O teor de proteína de uma
tam leite (figura 1). glândula mamária individual aumentou em 0,41g/d até o
Os alvéolos contêm uma única camada de célu- 80º dia de gestação e 3,41g/d do 80º dia de gestação até
o parto. O aumento em proteína a partir do 80º dia de
las epiteliais em que são sintetizados os principais gestação é maior (P < 0.05) que até o 80º dia de gestação.
Fonte: Adaptado com permissão de Ji et al (2006) e Kim et al (2009)
componentes do leite, armazenados no alvéolo
e secretados para os leitões depois de um pico de
ocitocina. Portanto, a capacidade da glândula ma- tamanho das glândulas mamárias em multíparas
mária produzir leite é determinada pelo número de aumenta principalmente durante o 75º e o 90º dia
células mamárias e pela quantidade de nutrientes da gestação e quase quatro vezes durante a gesta-
disponíveis para essas células. ção, como indicado pelo teor de DNA. Em leitoas,
durante a primeira gestação, demonstrou-se que o
Crescimento da glândula mamária suína teor proteico do parênquima mamário aumentou
As glândulas mamárias passam por alterações 24 vezes durante o período gestacional (gráfico 1).
fisiológicas e morfológicas no início da gestação Outros trabalhos mostraram que uma leitoa tem
e crescem consideravelmente durante esse pe um ganho de 50g de proteína por cada glândula
ríodo. Pesquisas anteriores demonstraram que o durante a gestação.
A composição da glândula mamária também
A B muda à medida que cresce. Em geral, o teor de
gordura diminui, enquanto o teor de proteína e de
DNA aumenta (gráfico 2). A percentagem de ma-
téria seca no parênquima mamário fresco diminui
de 74% à cobertura para 40% antes do parto e se
reduz ainda mais, de 32% ao parto para 24% ao
desmame. A percentagem de proteína no parên-
Figura 1 – Estrutura da glândula mamária suína quima mamário seco aumenta de 7% à cobertura
(L: lóbulo; A: alvéolos; CT: tecido conjuntivo). para 38% antes do parto e de 39% ao parto para
Fonte: Adaptado com a permissão de Kim (1999). (a) tecido mamário totalmente
desenvolvido (x 10); (b) glândulas mamárias de uma leitoa antes da gestação (x 10) 47% ao desmame. A percentagem de gordura no
80 A
com as localizadas nas regiões anterior e posterior.
70
Isso talvez se deva ao fato de que há mais espaço
Matéria seca, %
60
50 físico para o crescimento das glândulas na parte
394 40 média do corpo, uma vez que o crescimento das lo-
30
calizadas nas regiões anterior e posterior é limitado
20
10 pelos membros anteriores e posteriores. Também
0 especula-se que a circulação de sangue se inicie na
45 75 90 112 1 5 14 21
região média, onde geralmente está o terceiro par
Dias de gestação Dias de gestação de glândulas mamárias e se estenda para as regiões
B
100%
anterior e posterior. Portanto, as glândulas locali-
90% zadas na região média têm maior probabilidade de
80%
70% obter nutrientes em comparação com aquelas em
60% outras localizações .
50%
40%
30%
20%
Nutrição materna e crescimento
10% da glândula mamária
0%
45 75 90 112 1 5 14 21
Na suinocultura comercial, as matrizes têm
acesso limitado à ração durante a gestação, a fim
Dias de gestação Dias de gestação
de controlar o consumo de calorias e evitar a obe-
Matéria mineral Gordura Proteína sidade ao parto. No entanto, a restrição alimentar
Gráfico 2 – Composição percentual das glândulas mamárias pode causar deficiência de proteína, especial-
durante a gestação e a lactação. (a) composição percentual mente durante o final da gestação. O ganho pro-
da matéria seca (%) e (b) composição percentual de
proteína, gordura e matéria mineral na matéria seca. teico no parênquima mamário aumenta 24 vezes
Fonte: Adaptado com permissão de Kim et al (1999) e Ji et al (2006)
no final da gestação (3,41g/d a partir do 80º dia
da gestação) comparativamente com o período
parênquima mamário diminui de 92% à cobertura entre o início e o meio da gestação (0.14g/d até o
para 47% ao desmame. Essas alterações na com- 80º dia da gestação), o que indica que aumentam
posição são causadas por alterações estruturais, as exigências nutricionais para o crescimento da
pois uma proporção cada vez maior do tecido com- glândula mamária no final da gestação (gráfico 1).
posto de adipócitos e tecido conjuntivo no início da Essa grande diferença na taxa de ganho proteico
gestação é substituído por alvéolos à medida que a de cada glândula nas diferentes fases da gestação
gestação progride. indica que a matriz necessita de maior forneci-
O crescimento da glândula mamária é influen- mento de nutrientes para sustentar o crescimen-
ciado por sua localização anatômica na porca. Es- to da glândula mamária, especialmente no final da
tudos mais antigos demonstraram que as glândulas gestação. Se uma matriz tiver 15 glândulas mamá-
mamárias com localização anterior são maiores rias, a deposição de proteína no tecido mamário é
que as outras. No entanto, é interessante observar de 2g/d e esta aumenta para 51g/d no 80º dia de
que as glândulas mamárias localizadas na parte gestação. A fim de sustentar o ganho adicional
média do corpo crescem mais rapidamente durante de 49g/d de proteína, as necessidades dietéticas
a gestação e são maiores ao parto em comparação desta serão significativamente mais altas.
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bia, MO.
A
nutrição de fêmeas suínas tem evoluído con- rar o material genético da granja, suas necessidades
sideravelmente nos últimos anos. Essa evo- nutricionais, bem como os fatores que afetam essas
lução deve-se principalmente à necessidade necessidades. Deve possuir ainda entendimento
que os nutricionistas tiveram de adequar os progra- dos diversos aspectos metabólicos inerentes à in-
mas nutricionais ao potencial genético e ao nível de teração entre a nutrição e a reprodução da fêmea
produção das matrizes atualmente disponíveis no suína. Esse entendimento é fundamental para que
mercado. Ainda assim, os desafios continuam. se possa alcançar, ao mesmo tempo, produtividade
As matrizes atuais são mais precoces, mais pro- e longevidade do plantel de fêmeas.
dutivas, possuem maior peso corporal e são mais
exigentes nutricionalmente. Além disso, apresen- Nutrição da porca gestante
tam menos reserva corporal de gordura e padrão de
consumo de alimento muitas vezes insuficiente para Fundamentos da nutrição
atender à demanda nutricional da fase de lactação. de porcas gestantes
Como consequência, essas matrizes têm forte ten- Um programa nutricional para porcas gestantes
dência de perda na condição corporal, o que resulta deve levar em consideração os seguintes aspectos:
em falhas reprodutivas e redução da produtividade a) as diferentes fases e os fenômenos metabólicos
durante sua vida útil. Essa situação é mais evidencia- que acontecem durante o período de gestação; b)
da em matrizes de primeiro parto que, por ainda se as diferenças de padrão de crescimento entre as
encontrarem em fase de crescimento, têm suas exi- porcas, segundo a ordem de parto e c) o estado me-
gências nutricionais mais aumentadas. O resultado tabólico da matriz após a lactação anterior.
pode ser uma elevada taxa de descarte de matrizes
antes do terceiro parto, o que compromete o rendi- Fases e fenômenos metabólicos da gestação
mento econômico do sistema produtivo. a) Período inicial da gestação (primeiros 21 dias)
Assim, sabendo-se que o sucesso de um sis- A primeira fase da gestação se caracteriza pela
tema de produção de suínos está relacionado implantação dos embriões. Altos níveis de consu-
com o bom desempenho de suas matrizes, faz-se mo alimentar durante o início da gestação podem
necessário estabelecer programas nutricionais ter uma influência negativa sobre a sobrevivência
adequados nas diversas fases da vida da matriz. As embrionária, especialmente para primíparas. O
práticas de alimentação das categorias de fêmeas aumento da mortalidade embrionária tem sido
em uma granja de suínos estão inter-relacionadas, atribuído à baixa da concentração de progesterona
embora tenham objetivos específicos, isso faz com plasmática, devido ao aumento do fluxo sanguíneo
que o programa de nutrição em uma determinada e do catabolismo hepático da progesterona, causa-
fase tenha efeitos significativos no desempenho dos pelo alto consumo de alimento. Essa associação
alcançado na fase subsequente. estaria relacionada com o fato de que a progestero-
Para estabelecer um adequado programa de nu- na influencia as atividades secretórias do útero e do
trição para matrizes, o nutricionista deve conside- oviduto necessárias para o embrião em desenvolvi-
mento. Embora a recomendação prática seja limitar ção de pST às porcas entre o 28 e 42 dias de gestação
o consumo nos primeiros sete dias após a cobertura, reduz a variação de peso dos fetos. Os leitões de por-
estudos têm mostrado que o período crítico para so- cas que recebem L-carnitina na gestação apresentam
397
brevivência embrionária compreende as primeiras maior taxa de crescimento durante o período de ama-
48 e 72 horas da gestação. mentação do que leitões do grupo controle. Os efeitos
A condição corporal ou status energético da positivos da administração de pST e carnitina esta-
porca influencia a resposta desses animais a altos riam relacionados com a possível elevação dos níveis
níveis de consumo alimentar, porém a mortalidade de IGF-I na fase fetal, o que estimularia a proliferação e
embrionária somente é aumentada quando altos a diferenciação das células miogênicas, resultando em
níveis de alimentos são fornecidos a porcas em boas melhora do crescimento pós-natal dos leitões.
condições corporais. Em termos práticos, a redu- Os primeiros 60 dias de gestação representam
ção do fornecimento de ração tem sido restrita aos também uma fase de recuperação das reservas cor-
primeiros sete dias após inseminação. Em geral, a porais das porcas, mobilizadas na lactação anterior.
recomendação tem variado de 1,8 a 2,0kg de ração Nesse período, o produtor deve estabelecer um pro-
gestação por dia, essa ração contendo entre 2.950 a grama de alimentação que permita as matrizes mais
3.050kcal de EM/kg e 0,7 a 0,72 de lisina total. magras receberem mais ração para atingir a condição
corporal desejada. O acompanhamento da condição
b) Período intermediário da gestação (22 a 75 dias) corporal das matrizes deve ter continuidade durante
Durante a segunda fase da gestação se esta- todo o período intermediário da gestação. Para isso,
belece o número de fibras musculares dos fetos. O o produtor necessita de um sistema para avaliação da
número de fibras musculares determina o máximo condição corporal das suas matrizes.
de crescimento pós-natal e a eficiência desse cres- Em condições de campo, tem sido adotado o sis-
cimento. Os estudos que visam maximizar o número tema de escores de acordo com o estado corporal da
de fibras musculares do feto têm levado em consi- fêmea, por meio de avaliação visual e apalpamento
deração a oferta de alimento extra para a porca, a dos ossos pélvicos. Por esse sistema, as matrizes
administração de somatotropina (pST) e a suple- são classificadas de um até cinco, com os extremos
mentação da ração com L-carnitina, entre outras significando, respectivamente, matrizes muito
alternativas de fundo nutricional. magras, depauperadas com espessura de toucinho
Os trabalhos que tratam da influência da ali- no ponto P2 (ETP 2) < 15 mm e matrizes obesas,
mentação materna sobre a miogênese dos fetos têm com ETP2 > 23mm. O escore três é definido como a
apresentado resultados contraditórios. Estudando meta a ser atingida para as fêmeas, corresponden-
o efeito de um maior consumo de alimento entre o do a ETP2 de 18 a 20mm. Entretanto, em testes de
25º e 50º dia de gestação, verifica-se uma tendência campo, verificou-se que a condição corporal não
de aumento no número de fibras musculares, maior reflete precisamente a espessura de toucinho das
relação fibras secundárias : fibras primárias e maior porcas (tabela 1), e a proposta é que os programas
crescimento pós-natal dos leitões até o abate. Em alimentares sejam baseados no peso das porcas e na
contrapartida, aumentando-se o consumo energé- medida da espessura de toucinho.
tico das porcas, entre o 29º e 45º e 25º a 50º dia de Os problemas associados com o sistema de es-
gestação, respectivamente, não se encontra nenhum core corporal se devem basicamente a três fatores:
efeito sobre o número de fibras musculares e peso a) ser uma medida indireta da espessura de toucinho,
dos fetos. Mais recentemente, verificou-se que a com erros devido ao tamanho e forma da matriz; b)
alimentação não influenciou o número de fibras mus- depender da análise subjetiva dos avaliadores e com
culares, embora tenha alterado o tipo de fibra. os padrões podendo mudar durante o tempo e c) a res-
Com relação aos efeitos da utilização de somato- posta da condição corporal às mudanças no consumo
tropina (pST) e carnitina, observa-se que a administra- alimentar não ser bem documentada.
398
c) Período final da gestação (76 dias até o parto) Ordem de parto e sua influência
A terceira fase da gestação é caracterizada pelo na nutrição da matriz suína
maior desenvolvimento da glândula mamária (76 a As matrizes atuais foram geneticamente pro-
90 dias) e pelo crescimento mais acentuado do feto gramadas para produzir mais músculos e mais leite
do que as matrizes de duas décadas atrás e seu de- Exigências nutricionais da porca gestante
senvolvimento (crescimento muscular) acontece As exigências nutricionais de uma porca gestan-
ainda durante os dois primeiros ciclos reproduti- te podem ser divididas em três áreas, de acordo com
vos. As fêmeas de primeiro e segundo parto, para suas necessidades funcionais: a) mantença; b) cres-
atingirem a condição corporal desejada ao parto cimento maternal e c) reprodução (crescimento fe-
(mensurada pela espessura de toucinho), devem tal e estruturas relacionadas). A literatura científica
apresentar maior ganho de peso em relação a por- registra trabalhos que objetivaram a quantificação
cas de três ou mais partos. Isso é explicado pela dife- dessas necessidades. Durante a interpretação des-
rença na composição do ganho, na qual o ganho em ses resultados, alguns pontos merecem atenção: a)
proteína constitui a maior proporção do ganho de a maioria dos trabalhos foi realizada fora do Brasil,
peso maternal em porcas mais jovens. Assim sendo, em condições de termoneutralidade ou de baixa
consumindo iguais quantidades de energia acima da temperatura, não predominantes em nosso país;
mantença, as primíparas apresentam maior ganho b) a genética dos animais trabalhados em alguns
de peso corporal do que as multíparas. estudos difere consideravelmente genéticas em uso
Dessa forma, a nutrição das matrizes de primeiro atualmente; c) alguns trabalhos não fazem comen-
e segundo partos deve ser distinta em relação ao que tários à composição e quantidade do ganho de peso
se pratica para o restante do plantel reprodutivo. Al- perdido no período anterior de lactação e d) a varia-
guns trabalhos, por exemplo, sugerem ração mais alta bilidade de resultados pode ser atribuída às diferen-
em proteína na primeira parição, seguida de dieta com tes condições experimentais dos trabalhos (manejo,
menor teor proteico nas gestações seguintes. ambiência das instalações, etc.) e/ou a forma como
os resultados foram obtidos, considerando ou não a
Estado metabólico da matriz eficiência de utilização da energia e dos nutrientes
após a lactação anterior dietéticos para determinada função. Dessa forma,
O saldo entre as exigências nutricionais para devem ser feitos ajustes às informações abaixo re-
mantença, desenvolvimento corporal e produção lacionadas, quando essas mesmas forem adotadas
de leite e a quantidade de nutrientes consumidos para definição de planos nutricionais em rebanhos
pela porca vai definir o estado metabólico da matriz comerciais brasileiros.
no final da lactação. O fornecimento de energia para
as porcas na gestação deve ser modulado de acordo a) Energia
com a mobilização das reservas corporais durante a Sabe-se que mais de 60% da exigência de
lactação anterior. Assim, ao contrário de porcas em energia das porcas gestantes é representada pelas
boas condições corporais, porcas debilitadas devem exigências de mantença, estando estas em torno de
receber maior quantidade de ração nos primeiros 100kcal de EM/kg de peso metabólico (PC0,75) por
dias após a cobertura . dia, em condições de termoneutralidade. Esse valor,
% da exigência total
estágio da gestação. A termorregulação e a ativida- 80%
diária de ED
400 60%
de física podem elevar a necessidade energética de
40%
mantença para mais de 80% das exigências energé-
20%
ticas totais da gestação.
0%
O ganho maternal deve ser entendido como o 0a 0b 28a 28b 56a 56b 84a 84b 112a 112b
ganho líquido de peso da porca durante o período Dias de gestação
progressiva retenção de nitrogênio nos fetos e estru- Em resumo, o manejo nutricional das matrizes
turas relacionadas, bem como ao desenvolvimento da suínas deve considerar todo o ciclo reprodutivo,
glândula mamária. Sabe-se que as taxas de deposição pois do bom desempenho durante os diferentes
proteica diária nos fetos e na glândula mamária foram, estágios (pré-cobertura, gestação, lactação) de-
respectivamente, de 5,6g e 2,4g nos primeiros 75 dias penderão a longevidade e os resultados produtivo e
de gestação, enquanto no restante da gestação foram reprodutivo das matrizes.
de 34,4g e 6,6g, respectivamente. Com base nas exi- A nutrição da fêmea suína gestante deve ser
gências de mantença, ganho de tecido maternal e cres- realizada, considerando os diferentes fenômenos
cimento dos conceptos, porcas primíparas gestantes metabólicos que ocorrem ao longo da gestação, a
exigem 6,8 e 15,3g/dia de lisina digestível antes e após ordem de parto e a condição corporal das matrizes
os 75 dias de gestação, respectivamente. Isso tem esti- resultante do período de lactação anterior.
mulado o estabelecimento de programas nutricionais No início da gestação, o padrão de alimentação
baseados em mais de uma fase e não mais uma única dependerá do estado metabólico da matriz. Nesse
ração durante todo o período de gestação. Embora sentido, podemos restringir a alimentação nas
alguns trabalhos não tenham encontrado benefícios primeiras semanas para porcas em boas condições
produtivos e reprodutivos para porcas alimentadas corporais e permitir um maior consumo de alimento
com três níveis de proteína durante a gestação, os para matrizes debilitadas.
autores recomendam essa prática pela redução da O consumo excessivo de alimento durante os
excreção de nitrogênio total e emissão de amônia, o primeiros ¾ da gestação pode resultar em prejuízos
que pode contribuir para maior produtividade animal para a matriz, tais como: elevada mortalidade em-
e atendimento da legislação ambiental. brionária, problemas de parto, de locomoção e con-
A nutrição durante a gestação deve maximizar a sumo baixo de ração na lactação seguinte. Matrizes
retenção proteica e garantir uma adequada deposi- de primeiro parto podem ainda apresentar inade-
ção de gordura. Essa estratégia maximiza a liberação quado desenvolvimento do aparelho mamário.
de insulina, minimiza os níveis de glucagon, e aumen- O ajuste da quantidade de ração a ser forne-
ta o consumo voluntário de ração durante a lactação. cida às porcas gestantes deve ser baseado na sua
condição corporal, avaliada por meio de pesagens a finalidade de atender o desenvolvimento fetal,
periódicas e medição de espessura de toucinho. A que é mais expressivo nesse período.
aplicação do escore corporal pode não representar A nutrição proteica da fêmea gestante deve
402
a real condição corporal da fêmea. ser diferenciada segundo a ordem de parto, po-
Nas últimas três semanas de gestação, as por- dendo ser ajustada, antes e após os 70 dias de
cas devem receber maior quantidade de ração com gestação.
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E
mbora não seja o componente mais significa- Formação da glândula mamária
tivo no custo de produção do suíno termina- O desenvolvimento quantitativo da glândula
do, a alimentação do plantel de matrizes pode mamária é mínimo nos primeiros dois terços da ges-
ser considerada a mais difícil de ser planejada, em tação, seguido por um crescimento acelerado a par-
virtude das complexas interações entre a nutrição tir dos 75 dias. Durante esse período de rápido de-
e a reprodução. Além disso, embora tenham obje- senvolvimento, as glândulas mamárias passam por
tivos específicos, as práticas de alimentação das importantes alterações histológicas com o tecido
categorias de fêmeas em uma granja de suínos estão adiposo sendo substituído por tecido alveolar, para
inter-relacionadas, o que faz com que o programa dar origem ao aparelho secretor de leite. As altera-
de nutrição em uma determinada fase tenha efeitos ções histológicas e as diferenças nas concentrações
significativos no desempenho alcançado na fase de DNA verificadas nos tecidos mamários indicam
subsequente. aumento da diferenciação dos tecidos entre o 75º e
O principal objetivo do programa nutricional 90º dia de gestação. Nesse período, os lóbulos alve-
de matrizes suínas na lactação é maximizar a pro- olares se desenvolvem com maior intensidade e as
dução de leite para atendimento das necessidades células secretórias multiplicam-se para permitir a
de crescimento de sua leitegada. Alguns aspectos alta produção de leite após o parto.
aumentam a importância da nutrição durante a O maior desenvolvimento da glândula mamária
lactação: a) alguns genótipos têm reconhecida no terço final de gestação coincide com o período de
dificuldade de consumo de alimento para atender maior desenvolvimento fetal, o que exige aumentar
à alta produção de leite; b) os leitões atuais apre- o fornecimento de energia e nutrientes via ração,
sentam rápido crescimento, portanto têm suas prática de manejo conhecida como dieta de pré-lac-
exigências nutricionais aumentadas; c) algumas tação ou de transição. Entretanto, cuidados devem
matrizes apresentam alto grau de mobilização de ser tomados, pois o excesso de consumo de energia
tecidos corporais para compensar o déficit ener- entre os 75º e 90º dias de gestação pode resultar em
gético e nutricional proporcionado pelo insufi- prejuízo na formação da glândula mamária, com re-
ciente consumo de ração, o que pode desencadear flexo na produção de leite durante a lactação, espe-
prejuízos reprodutivos futuros na matriz após o cialmente em nulíparas e primíparas, pela redução,
desmame. principalmente, do número de células secretórias,
A produção de leite da matriz suína está na conforme apresentado na tabela 1. Nesse estudo,
dependência da capacidade láctea do aparelho as porcas gordas produziram menos leite (7,0 vs 9,0
mamário, da sua capacidade de consumo alimentar litros/dia) durante a lactação.
e da composição corporal no momento do parto.
Esses aspectos podem ser influenciados pela nutri- Consumo de ração durante a lactação
ção durante a gestação da matriz e serão aborda- O consumo de ração pela matriz durante a lac-
dos na sequência. tação pode ser afetado por fatores extrínsecos ao
animal, tais como altas temperaturas ambientais, o que, por sua vez, resultará em uma maior lipólise,
estresse de manejo, desafio sanitário, e fatores nível mais elevado de ácidos graxos não esterifica-
ligados ao próprio animal (fatores intrínsecos), tais dos e, consequentemente, em um apetite reduzido
como genética, ordem de parto, tamanho da leitega- (gráfico 1). Esse menor consumo de ração durante
da e condição corporal no momento do parto. Este a lactação resultará em perda de peso acentuada na
último é influenciado fortemente pela alimentação lactação (gráfico 2).
durante a gestação. Alguns possíveis mecanismos ajudam a explicar
O excesso de alimento durante a gestação pode a redução do consumo de ração na lactação de por-
resultar em animais gordos no momento do parto. cas com altos níveis de gordura corporal ao parto,
Além das consequências conhecidas como maiores entre eles estão o turnover da gordura corporal, os
dificuldades de parto, aumento da mortalidade níveis de leptina e insulina no sangue e no fluído
de leitões por esmagamento, porcas gordas apre- cérebro-espinhal, a resistência à insulina e intole-
sentam menor capacidade de consumo durante a rância à glicose e o nível de produção de leite. No
lactação, com prejuízos na produção de leite e, por entanto, é importante ressaltar que esses mecanis-
conseguinte, no desenvolvimento da sua leitegada. mos não são independentes, mas agem de maneira
Os altos índices de consumo alimentar durante conjunta (figura 1).
a gestação irão reduzir os níveis de insulina durante
a lactação e/ou diminuir a sensibilidade à insulina,
4 Produção de leite Proteína
Consumo de ração na lactação (kg/dia)
Gordura
6,5 5 Fornecimento de
substratos endógenos
6 Composição corporal ao parto
5,5
Turnover (mobilização) resistência à insulina e/
5 1 de gordura corporal 2 ou intolerância à glicose 3 Adipócitos
4
3,5
“Saciedade”
3 Consumo
alimentar
voluntário
2,5
1 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 Hipotálamo
Consumo de ração na gestação (kg/dia)
6
Gordas Outro possível mecanismo observado na redu-
Leptina, mg/mL
5 Médias
Magras ção do consumo de porcas gordas durante a lacta-
4 ção, que também envolve a insulina, é o desenvolvi-
406
3 mento da resistência à insulina e/ou intolerância à
glicose. O excesso de consumo durante a gestação
2
0 7 14 22
pode tornar as porcas resistentes à insulina, por
Dias de lactação comprometer o número de receptores de insulina
e/ou a sua afinidade. A insulina regula tanto os ní-
Gráfico 3 – Concentrações séricas de leptina de porcas em
lactação classificadas como gordas, médias e magras veis de glicose sanguíneos quanto a mobilização de
Fonte: Adaptado de Estienne et al (2000) gordura, resultando na diminuição da oxidação de
ácidos graxos não esterificados (NEFA) e na estimu-
A gordura é armazenada no organismo e so- lação da oxidação da glicose. Assim, o desenvolvi-
fre contínuo turnover, resultando na liberação de mento de resistência à insulina e/ou intolerância à
ácido graxo e glicerol. Quanto maior a reserva de glicose reduz a taxa de utilização da glicose sanguí-
gordura corporal, maior a liberação desses subs- nea após a ingestão de alimento, fazendo com que
tratos na corrente sanguínea, podendo agir como não seja necessário aumento do consumo alimentar
sinais que são identificados pelo fígado e enviados para manter a glicemia. Ainda, baixos níveis de in-
ao cérebro via nervos vagais, que, por sua vez, sulina resultantes da intolerância à glicose podem
respondem com redução do consumo de alimento. incrementar a taxa de mobilização e oxidação do
A teoria lipostática, presente no mecanismo do tecido adiposo, contribuindo também para redução
turnover da gordura corporal, sugere então que o do consumo.
hipotálamo é sensível à concentração de determi- A baixa capacidade de produção de leite ou o
nados metabólitos sanguíneos influenciados pela baixo fornecimento de substratos endógenos para
mobilização da gordura. sustentar a síntese do leite são outras duas razões
À medida que os animais engordam, há um pelas quais fêmeas gordas consomem menos duran-
aumento gradual do nível sanguíneo basal de in- te a lactação. Porcas gordas possuem menor número
sulina e da concentração de leptina. A leptina é um de células secretórias e, como consequência, menor
hormônio secretado pelos adipócitos e produzido produção de leite comparada à de porcas magras.
pelo gene obese, cuja expressão só ocorre no teci- Quando elaboramos um programa nutricional
do adiposo. Em alguns estudos, tem-se demons- para porcas em lactação, nos preocupamos com o
trado que a concentração sérica de leptina é posi-
tivamente associada com a adiposidade da porca
ao parto (gráfico 3) e inversamente relacionada
com o consumo de ração durante a lactação. Tanto
a leptina quanto a insulina podem penetrar no flu-
ído cérebro-espinhal e agir diretamente no centro
de controle do consumo no hipotálamo, inibindo
os efeitos dos neuropeptídios Y, que são potentes
estimuladores do consumo voluntário. Assim, ní-
veis sanguíneos aumentados de glicose e leptina
resultantes do consumo em excesso de energia
durante a gestação podem resultar no aumento de
suas concentrações no fluído cérebro-espinhal ao
parto, causando redução no consumo das porcas
Foto 1 – Glândula mamária com baixa produção de leite
durante a lactação. Fonte: ABCS
crescimento da sua leitegada e com a perda de con- produção de leite. Se a produção de leite for limita-
dição corporal da matriz. A prioridade, entretanto, da pelo fornecimento de aminoácidos endógenos,
deve ser a matriz, uma vez que, se o ambiente permi- então a capacidade da porca em produzir leite dimi-
407
tir, ela produzirá leite suficiente para satisfazer sua nui. A menor produção de leite nesses casos pode le-
leitegada via consumo de ração e mobilização de var a uma diminuição do apetite das matrizes, tendo
tecidos corporais, podendo esta ser tão intensa que como resultado menor consumo de ração durante o
haverá prejuízo reprodutivo futuro: maior intervalo período de lactação.
desmame-cio, repetição de cio ou menor tamanho A maior preocupação é com as fêmeas até o
da leitegada no próximo parto. segundo parto, pois, durante o período de gestação,
ainda se encontram em fase de crescimento e a nu-
Composição corporal no trição proteica deve atender à maior demanda para
momento do parto ganho maternal, que deve ser entendido como o
Evitar o excesso de peso no momento do parto ganho de peso líquido de peso da porca durante o pe-
é importante, mas também a proporção correta ríodo de gestação, desconsiderando o ganho de peso
de tecido magro e adiposo deve ser um dos obje- atribuído ao útero, placenta, fluídos placentários
tivos quando alimentamos porcas em gestação. e glândula mamária. Esse ganho maternal é repre-
As matrizes atuais, comparadas com as de anos sentado principalmente pelo crescimento muscular.
atrás, possuem maior relação de tecido muscular Portanto, cuidados com um adequado suprimento de
adiposo. Dessa forma, aumenta a importância do aminoácidos para esses animais é fundamental.
tecido muscular como fornecedor de energia e
nutrientes durante o balanço energético negativo Conclusão
que enfrentam durante a lactação. Pode-se dizer Os cuidados com o desempenho da fêmea na
que o desempenho reprodutivo da porca após o lactação quanto à produção de leite, ao crescimento
desmame é mais influenciado pela intensidade de da sua leitegada e ao desempenho reprodutivo pós-
mobilização muscular do que pela perda de tecido desmame devem ser iniciados ainda durante a ges-
adiposo durante a lactação. tação. O excesso de ganho de peso durante a gesta-
Embora seja difícil quantificar a proporção ção provocará alterações hormonais que limitarão
adequada entre tecido muscular e tecido adiposo o consumo de ração pela fêmea durante a lactação.
que uma fêmea suína deva possuir no momento do Isso poderá resultar em maior catabolismo corporal
parto, sabe-se que o déficit aminoacídico durante a e prejuízos reprodutivos futuros. Além disso, fême-
gestação pode resultar em uma fêmea menos pre- as nulíparas e primíparas submetidas à alimentação
parada para suportar o desgaste corporal durante a excessiva no final da gestação terão suas glândulas
lactação. Comparadas com fêmeas magras de mes- mamárias prejudicadas, com menor capacidade de
mo peso, porcas gordas possuem menores reservas produção de leite (foto 1) e consequente menor de-
proteicas para fornecimento de substrato para a senvolvimento da sua leitegada.
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asing food intake in late gestation improved sow
O
s avanços na área da genética precisam servas corporais. Por consequência, a deficiência
ser acompanhados pela nutrição, para na nutrição da porca gestante afeta diretamente o
atender às necessidades dos animais, já desempenho dos conceptos, o crescimento intrau-
que as exigências mudam em função do aumento terino, o crescimento maternal, com ocorrência de
da produtividade. Isso acontece com as exigências leitões com baixo peso.
nutricionais das matrizes suínas, cujo número de O estresse gerado na porca gestante pela priva-
nascidos por parto aumentou consideravelmente ção de nutrientes desencadeia um processo fisioló-
nos últimos anos. gico de diminuição na permeabilidade da placenta,
Alguns estudos demonstram que o aumento no restringindo a transferência de nutrientes para os
número de leitões nascidos/parto é acompanhado fetos. A dieta, portanto, necessita ser reequilibrada
por uma tendência de aumento no peso total da a cada vez que a gestante for submetida a estresse
leitegada, mas uma diminuição no peso individual, por alterações na sanidade, no ambiente e ou ma-
acompanhado ou não de aumento na desunifor- nejo, uma vez que, nesses casos, a demanda por nu-
midade. Observa-se que leitões de baixo peso e trientes também é alterada. Há crescente evidência
leitegadas desuniformes estão diretamente cor- de que o estado nutricional materno pode, inclusive,
relacionados com a taxa de mortalidade durante alterar o caráter epigenético do genoma fetal e, por
a fase de amamentação. Diante desse quadro, um consequência, expressões gênicas com interesse
dos maiores desafios dos nutricionistas é conseguir econômico, como ganho de peso, qualidade de car-
manipular o peso dos leitões, ao nascerem, pela nu- ne, conversão alimentar, etc. Quando se aumenta
trição da matriz gestante. o fornecimento de ração para a porca gestante,
isso apresenta reflexo no peso dos leitões ao nasci-
Equilíbrio nutricional da porca mento, evidenciando-se o quanto um protocolo de
gestante em relação ao peso alimentação pode estar deficiente. Em um estudo
dos leitões ao nascerem recente, trabalhando-se com grupos de primíparas,
Pela ótica da nutrição, encontramos na litera- submetidas a três tratamentos (2,23kg, 2,94kg e
tura várias pesquisas com resultados promissores. 3,85kg de ração) do 100º dia de gestação ao parto,
Naturalmente, existe uma exigência nutricional os leitões apresentaram um peso ao nascimento de
adequada a cada fase da gestação, desde a prepa- 1,31kg, 1,38kg e 1,43kg, respectivamente. Esses
ração para a concepção até o parto, de forma que se resultados comprovam que a dieta padrão estava
atendam às necessidades da gestante e seus con- deficiente, tendo como objetivo melhoria do peso
ceptos, em função do desempenho ótimo. ao nascimento. Entretanto, outros pesquisadores
A dieta da porca gestante deverá estar equili- não observaram aumento no peso dos leitões,
brada de forma a atender, pela ordem, a suas neces- fornecendo 1,15 e 2,3 vezes a energia considerada
sidades de mantença, o crescimento dos embriões/ para mantença, para porcas a partir do 100º dia de
fetos e anexos, o desenvolvimento das glândulas gestação até o parto. Essa diferença pode ser expli-
mamárias, o próprio crescimento e acúmulo de re- cada pelo fato de se trabalhar com matrizes de baixa
Tabela 3 – Peso da placenta e fetos, volume dos líquidos alantoico e amniótico em fêmeas suínas
de avaliação. De forma geral, todo nutriente par- síntese e atividade de óxido nítrico, se compa-
ticipa no desenvolvimento fetal, porém, aqueles radas com porcas sem restrição nessa fase. Com
com atuação direta no processo são objeto de es- efeito, ao suplementarem 1,0% de L-arginina para
tudos mais detalhados. Nessa lista, estão alguns porcas primíparas gestantes, do 30º ao 110º dia
aminoácidos como arginina, glutamina, leucina, de gestação, observa-se aumento no peso dos lei-
triptofano, glicina e taurina e ácidos graxos es- tões individualmente, bem como da leitegada, re-
senciais como linoleico (CLA), docosahexaenoico sultados estes obtidos em partos com um número
(DHA) e eicosapentaenoico (EPA), assim como o de nascidos abaixo do atual potencial das gené-
ácido ascórbico e L-carnitina. ticas comerciais. Esse aumento no peso ao nasci-
O aminoácido arginina tem sido foco de mento também foi registrado em ratas gestantes,
muitas pesquisas, visto estar ligado à síntese ao suplementarem 1,3% de arginina HCl do 1º ao
proteica e presente em grande quantidade no 7º dia, bem como durante toda a gestação.
líquido alantoide e amniótico. Esse aminoácido A lisina – é o primeiro aminoácido na ordem de
é também precursor do óxido nítrico, um me- limitação para suínos em dieta baseada em milho
diador da angiogênese e regulador do tônus dos e farelo de soja. Todavia, os níveis recomendados
vasos sanguíneos. Níveis insuficientes de óxido para porcas em fase de gestação são controversos,
nítrico na placenta são acompanhados por uma variando de 9,0g/matriz/dia a 24,0g/matriz/dia.
redução do fluxo sanguíneo, o que prejudica a Tamanha variação pode ser explicada, em parte,
nutrição fetal. pelas diferenças genéticas de prolificidade. Com-
As porcas gestantes com restrição protei- parando uma dieta com 3.064kcal de EM e 0,84%
ca até o 60º dia de gestação apresentam nível de lisina total para porcas do 84º ao 110º dia de
reduzido de arginina na placenta e redução na gestação, com outra dieta cujo conteúdo de lisina
400 1400
Gramas
200
600
150
Líquido 400
100 amniótico
Líquido 200
50
alantóico
0 0
20 30 35 40 45 50 60 90 110
Dias de gestação
Gráfico 1 – Peso da placenta e fetos, volume dos líquidos alantoico e amniótico em fêmeas suínas
Fonte: Wu et al., 2005
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P
ara estabelecer um adequado programa de Fatores nutricionais na gestação
nutrição para matrizes, os nutricionistas de- A alimentação da fêmea é dividida em três
vem considerar o material genético da granja, estágios e cada um deles necessita de estratégias
suas necessidades nutricionais, os fatores que afe- nutricionais diferenciadas. O programa nutricional
tam essas necessidades e devem também possuir para porcas gestantes deve levar em consideração
entendimento sobre os diversos aspectos metabó- os seguintes aspectos:
licos da interação entre a nutrição e a reprodução »» As diferentes fases e fenômenos metabólicos
da fêmea suína. Esse entendimento é fundamental que acontecem na gestação;
para que se possa alcançar, ao mesmo tempo, pro- »» As diferenças de padrão de exigência nutri-
dutividade e longevidade do plantel de fêmeas. cional entre porcas, como fatores ligados à
Os nutricionistas buscam juntamente com ordem de parto e à genética;
os produtores uma matriz que tenha bom esco- »» Estado metabólico da matriz após a lactação
re corporal e que esteja com bom “status meta- anterior.
bólico”, característica essa que mais se relacio- As três fases relacionam-se entre si, embora
na com a matriz durante sua vida reprodutiva. tenham objetivos específicos, com efeito sobre o
Assim, quando proporcionamos uma alimenta- desempenho nas fases subsequentes.
ção adequada com seus requerimentos nutri-
cionais atendidos de acordo com sua respectiva Fase: 0-30 dias
genética, poderemos usufruir da matriz suína o A gestação da fêmea suína pode ser definida
seu potencial máximo. em três terços em que, no primeiro terço da gesta-
Nesse contexto, abordaremos o manejo ali- ção, as necessidades nutricionais são ligeiramente
mentar e os sistemas alimentares na gestação de superiores às necessidades de mantença. Nesse
forma a produzir o máximo potencial genético período, tanto a subnutrição como a supernutri-
do plantel, para atingir os índices econômicos e ção podem ser prejudiciais. Dessa forma, nessa
reprodutivos necessários na suinocultura mo- fase, o consumo de alimento deve ser altamente
derna. Uma vez que as necessidades nutricionais restrito, podendo ser de 40% a 50% menor do que
das matrizes são estabelecidas, os funcioná- se as fêmeas estivessem sendo alimentadas à von-
rios devem assegurar-se de que as práticas de tade. Uma alternativa para minimizar o problema
alimentação na gestação e o equipamento de do baixo consumo de alimento nesse período é o
alimentação forneçam a quantidade de ração emprego de fibras na dieta, que diluirá os nutrien-
adequada para cada porca. tes. A subnutrição pode prejudicar a síntese e a
Os resultados pretendidos com um programa vascularização da placenta e a regulação do fluxo
nutricional bem-sucedido na gestação são: sanguíneo útero-placenta. Assim, a transferência
»» Leitegada grande e vigorosa no parto; de nutrientes e oxigênio da mãe para o feto será
»» Porca saudável, preparada para produzir menor e haverá redução do crescimento fetal. A
grandes quantidades de leite para a leitegada. concentração de arginina e de seu precursor, a
ornitina, é bastante elevada no líquido alantoico pode afetar o desenvolvimento de órgãos fetais e o
suíno, próximo aos 40 dias de gestação. número e tipo de fibras musculares, de modo análogo
Quando aumentamos o consumo de ração, à situação do crescimento intrauterino retardado
415
também estamos aumentando o fluxo de nutrien- (CIUR) em porcas que sofreram desafio nutricional.
tes para a corrente sanguínea devido à digestão O desenvolvimento das fibras musculares dos
dos alimentos. Com isso, o elevado nível de nu- leitões durante a gestação ocorre em duas etapas
trientes aumenta a atividade hepática e a metabo- distintas. A primeira é a formação primária de fibras
lização de progesterona no sangue. Com a quanti- musculares pré-natais, denominadas fibras mus-
dade menor de progesterona no sangue, há queda culares primárias. Esse tipo de fibra é influenciado
da produção de proteína e aumento da mortalida- pela genética (não afetado por nutrição ou condi-
de de embriões no útero nos primeiros 14-16 dias ção do ambiente uterino). A segunda é a formação
de vida. As porcas jovens são mais sensíveis a esse secundária, a qual engloba o período de hiperplasia
problema, porque elas possuem menor nível de das fibras musculares secundárias (25 a 90 dias de
progesterona no sangue, devido à sua baixa taxa gestação). Essa fase é determinada por eventos
de ovulação. O período crítico para sobrevivência pré-natais relacionados, principalmente, com fato-
embrionária compreende as primeiras 48 e 72 res nutricionais e limitações do espaço uterino da
horas da gestação, período em que se recomenda fêmea durante o desenvolvimento fetal.
limitar o consumo de ração. Quando o aporte nutricional da fêmea em ges-
A condição corporal ou status energético da tação melhora, via nutrição ou uso de substâncias
porca influencia a resposta desses animais a altos repartidoras de nutrientes, como o hormônio do
níveis de consumo alimentar, sabendo-se que a crescimento e os β-adrenérgicos, há melhor aporte
mortalidade embrionária somente é aumentada de glicose e aminoácidos para a placenta e para o feto.
em animais com boas condições corporais. As Esse fato estimula a liberação de IGF (fator de cres-
fêmeas Meishan, por terem características hiper- cimento semelhante à insulina), que é importante na
prolíferas, são uma exceção e apresentam uma regulação da hiperplasia muscular por estimular a
placenta relativamente mais leve, porém com alto proliferação e diferenciação mioblástica, resultando
grau de vascularização, o que permite melhor troca em animais com maior número de fibras.
materno-fetal.
Fase 75 dias ao parto
Fase: 30-75 dias Na terceira fase da gestação (75 dias até o par-
Essa fase intermediária da gestação é conside- to), a necessidade de ganho de reserva energética
rada de recuperação das reservas corporais. Nesse torna-se muito maior quando comparada aos dois
período, o produtor deve permitir que as matrizes períodos anteriores, em virtude de representar a
mais magras recebam um pouco mais de ração e que fase em que o feto apresenta maior intensidade em
as mais gordas possam sofrer uma pequena restri- seu crescimento. Aproximadamente 72, 12, 5 e 11%
ção. É nesse período que se estabelece o número do total da energia armazenada no trato reprodu-
de fibras musculares nos fetos, que refletirá no tivo da fêmea durante a gestação estão presentes,
crescimento pós-natal. Atualmente, tem-se busca- respectivamente, nos fetos, placenta, fluídos e úte-
do fornecer alimentação extra à porca nessa fase, ro vazio, respectivamente.
buscando-se, assim, maximizar o número de fibras Deve-se lembrar de que o excesso de energia
musculares. entre os 75 e 90 dias de gestação pode resultar em
Baseados no desenvolvimento da fibra muscular, prejuízo na formação da glândula mamária, com
alguns estudos levantaram a hipótese de que, além queda na produção de leite durante a lactação,
de prejudicialmente afetar o tamanho da placenta especialmente em primíparas, devido à redução no
no início da gestação, a lotação uterina também número de células secretoras do leite.
416
Para a nutrição correta das matrizes nas três de leitões que possuem, sem que haja perdas ou
fases, torna-se fundamental a presença do nutri- que sejam minimizadas as perdas nas parições sub-
cionista dentro da granja, para avaliar o plantel e sequentes. O fator mais importante a ser levado
recomendar o melhor programa alimentar para em conta é a condição corporal no momento da
cada situação. primeira cobertura, durante a gestação, a lactação
e o desmame. Sabemos também que a condição cor-
Programa de alimentação poral não é a decisão de melhor “status metabólico”
de porcas na gestação da matriz, mas pode ser usado como um indicativo
A quantidade de alimento exigido pelas fêmeas dessa condição se todas as necessidades, nutri-
depende da ordem de parto, do estado nutricional, cionais e de ambiente, estiverem cumpridas e se a
do período de gestação, da estação do ano e da produtividade estiver adequada. Existem vários
origem genética das fêmeas, entre outros aspec- métodos que podem ser utilizados para estimar a
tos. É um desafio estimar a quantidade correta de condição corporal da matriz, como a mensuração
alimento para que a fêmea atinja a necessidade da espessura de toucinho, a medida do flanco ou a
nutricional de mantença, a recuperação de pesagem da fêmea. Entretanto, devido aos aspectos
eventuais perdas de condição corporal durante a práticos, a utilização da condição corporal de um a
lactação anterior e possa também desenvolver e cinco vem sendo o método mais utilizado atualmen-
nutrir seus conceptos. te nos grandes sistemas de produção. Para isso, o
É necessário avaliar corretamente a alimentação consumo de energia deve ser normalmente limitado
das fêmeas de gestação para que, durante sua vida para controlar o ganho de peso e manter condição
reprodutiva, as fêmeas estejam saudáveis e com corporal (avaliado por meio do sistema de escore
níveis adequados de reserva corporal para os partos corporal) apropriada para porca, conforme pode ser
subsequentes. visto na figura 1.
Os esforços devem ser voltados para minimizar
as perdas durante as fases mais críticas da vida re- Manuais sugeridos pelas empresas
produtiva das fêmeas, permitindo que estas possam Após as fêmeas serem inseminadas, iniciando
expressar da maneira mais eficiente possível o seu o primeiro dia após a última inseminação, utiliza-se
potencial ao longo de toda sua vida reprodutiva o método de condição corporal da matriz. O ajuste
dentro do plantel. no fornecimento de ração deve ser gradativo. Nas
Alguns aspectos de grande importância devem tabelas 1 e 2, são apresentadas algumas curvas
ser levados em conta para que as fêmeas tenham de alimentação recomendadas por empresas de
condições de depositar reservas em níveis adequa- material genético no Brasil para leitoas e multípa-
dos para expressar todo o potencial de produção ras, respectivamente.
DIAS DE GESTAÇÃO
EMPRESAS FÊMEA
0-30 31-90 91-110
417
1,81 1,81 2,70
EM: 5.846/dia EM: 5.846/dia EM: 8.721/dia
AGROCERES – PIC1 CAMBOROUGH
LD : 0,60%
6
LD: 0,60% LD: 0,60%
LD: 10,8g/dia LD: 10,8g/dia LD: 16,2g/dia
2,20 2,20 3,40
EM: 6.534/dia EM: 6.534/dia EM: 10.098/dia
DB - DAN BRED2 DB90
LD: 0,66% LD: 0,66% LD: 0,66%
LD: 14,5g/dia LD: 14,5g/dia LD: 22,44g/dia
2,14 2,29 3,04
EM: 6.206/dia EM: 6.641/dia EM: 9.576/dia
GÉNÉTIPORC3 FERTILIS 25
LD: 0,60% LD: 0,60% LD: 0,60%
LD: 12,8g/dia LD: 13,7g/dia LD: 18,2g/dia
1,90 2,10 3,25
EM: 5.510/dia EM: 6.090/dia EM: 9.425/dia
PEN AR LAN4 NAIMA
LD: 0,60% LD: 0,60% LD: 0,60%
LD: 11,4g/dia LD: 12,6g/dia LD: 19,5g/dia
2,35 2,30 3,00
EM: 7.050/dia EM: 6.900/dia EM: 9.000/dia
TOPIGS5 TOPIGS 20
LD: 0,74% LD: 0,74% LD: 0,74%
LD: 17,3g/dia LD: 17,0g/dia LD: 22,2g/dia
1
Guia de Manejo de Fêmeas (Agroceres PIC). Considerando 3.230 kcal EM NRC/kg para dietas de gestação. 2Manual Dan Bred – DB.
Considerando 2.970kcal EM. 3Manual de Reprodutores (Génétiporc). Considerando 2.900kcal EM para dietas de gestação/ 3,150kcal para
dietas em Pré-lactação (86 a 110 dias). 4Manual Nutricional PEN AR LAN 2007. Pontos chaves da nutrição dos reprodutores da Pen Ar Lan.
Considerando 2.900kcal EM. 5Manual Topigs de Reprodução. Considerando 3.000kcal para as dietas de gestação. 6 LD = Lisina digestível.
DIAS DE GESTAÇÃO
EMPRESAS FÊMEA
0-30 31-90 91-110
418
2,27 1,81 2,70
EM: 7.332/dia EM: 5.846/dia EM: 8.721/dia
AGROCERES – PIC1 CAMBOROUGH
LD6: 0,60% LD: 0,60% LD: 0,60%
LD: 13,6g/dia LD: 10,8g/dia LD: 16,2g/dia
2,20 2,30 3,70
EM: 6.534/dia EM: 6.831/dia EM: 10.989/dia
DB - DAN BRED2 DB90
LD: 0,66% LD: 0,66% LD: 0,66%
LD: 14,5g/dia LD: 15,1g/dia LD: 24,4g/dia
2,41 2,76 3,33
EM: 6.989/dia EM: 8.004/dia EM: 10.489/dia
GÉNÉTIPORC3 FERTILIS 25
LD: 0,60% LD: 0,60% LD: 0,60%
LD: 14,4g/dia LD: 16,5g/dia LD: 19,9g/dia
1,90 2,10 3,25
EM: 5.510/dia EM: 6.090/dia EM: 9.425/dia
PEN AR LAN4 NAIMA
LD: 0,60% LD: 0,60% LD: 0,60%
LD: 11,4g/dia LD: 12,6g/dia LD: 19,5g/dia
2,35 2,30 3,00
EM: 6.932/dia EM: 6.785/dia EM: 8.850/dia
TOPIGS5 TOPIGS 20
LD: 0,47% LD: 0,47% LD: 0,47%
LD: 11,0g/dia LD: 10,8g/dia LD: 14,1g/dia
1
Guia de Manejo de Fêmeas (Agroceres PIC). Considerando 3.230 kcal EM NRC/kg para dietas de gestação. 2Manual Dan Bred – DB. Con-
siderando 2.970 kcal EM. 3Manual de Reprodutores (Génétiporc). Considerando 2.900 kcal EM para dietas de gestação/ 3.150 kcal para
dietas em pré-lactação (86 a 110 dias). 4Manual Nutricional PEN AR LAN 2007. Pontos chaves da nutrição dos reprodutores da Pen Ar Lan.
Considerando 2.900 kcal EM. 5Manual Topigs de Reprodução. Considerando 2.950 kcal para as dietas de gestação. 6 LD = Lisina digestível.
evitado.
A desvantagem desse sistema é saber a quan- Porcas em sistema de alimentação
tidade de alimento que o grupo de fêmeas está automático com dosadores para gaiolas
recebendo, porém sem conhecer a quantidade de O sistema automático de arraçoamento (foto
alimento das fêmeas individualmente. Na prática, 1) é caracterizado por transportar o alimento,
utiliza-se a divisão do alimento com marcação das localizado em silo externo, para o interior da edi-
fêmeas (magras/gordas) e passagem dessas fêmeas ficação, utilizando tubos de polivinilpropileno, de
para acompanhamento zootécnico. diâmetro variável (45 a 90mm), com helicoides de
aço no seu interior, acionados por motores, estra-
Porcas em sistema de alimentação tegicamente colocados ao final de cada linha de
semiautomático transporte de alimento. A posterior distribuição
Os sistemas de alimentação podem possibi- do alimento aos animais é efetuada por meio de
litar maior controle sobre a quantidade de ração dosadores individuais de ração. Esse processo é
fornecida às fêmeas em gestação, desse modo controlado por sensores, ligados a um painel de
permitem uma vida reprodutiva mais longa e com controle eletrônico, medida que reduz o uso de
um nível de produção maior, quando em compa- mão de obra.
ração a sistemas cujo gerenciamento é menor no Os dosadores de ração do tipo drops (foto 2 a, b e
arraçoamento. c), com regulagem da quantidade de alimento forne-
A B C
421
Foto 3 – Estação automática de alimentação de Foto 4 – Sala de controle com software para gerenciamento do
fêmeas gestantes. Quantidades de ração fornecidas sistema de alimentação eletrônica individualizada das matrizes
individualmente, a partir de brincos eletrônicos Fonte: ABCS
Fonte: ABCS
cida por trato, por fêmea, permitem aos produtores Porcas em sistema automático com
controlar o consumo de ração por porcas individual- sistema eletrônico individual em baias
mente. São equipamentos de diversos fabricantes. Nas últimas décadas, o crescimento da pro-
A precisão de três tipos diferentes de dosado- dução de suínos, pressionado por uma crescente
res de alimentação na gestação (Econo®, Accu®, procura de alimentos, tem-se caracterizado por
Ultra®), com três diferentes ângulos (90°, 75° e aumento no tamanho e na concentração de animais
60°), foi avaliada e observou-se que, independen- nas unidades de produção, o que dificulta o registro
temente do ângulo, os modelos Accu® e Ultra® dos dados de cada animal em particular. Os sistemas
foram mais precisos do que o Econo® e se enqua- automáticos de identificação eletrônica podem
draram melhor na equação de regressão, podendo auxiliar na detecção de doenças, respostas fisiológi-
ser desenvolvidos para cada tipo de alimento na cas ao estresse ambiental, atividade física, impacto
linha de alimentação. Isto é, todos os dosadores ambiental causado pelo sistema de produção e,
são definidos em um mesmo ângulo em relação à principalmente, na ingestão de alimentos. Trans-
linha de alimentação dentro de um sistema pro- ponders injetáveis e brincos eletrônicos estão sendo
dutivo. Outro ponto importante foi que o trabalho utilizados no processo de identificação eletrônica.
não avaliou a densidade da dieta e pode ser afeta- O sistema de alimentação eletrônico (Fotos 3 e 4)
do quando diferentes densidades são usadas, por torna-se de grande eficiência, quando os animais
exemplo, farelada e peletizada ou com ingredien- são alojados em grupos, o que permite controlar a
tes fibrosos. Além disso, o tamanho de partícula da necessidade nutricional de cada porca e, assim, evi-
dieta e o diâmetro do tubo de alimentação podem tar comportamentos agressivos dentro do rebanho
também contribuir para uma precisão de queda de e garantir controle do peso, a máxima produtivida-
alimentos. Sugere-se que os responsáveis técnicos de e maior longevidade do rebanho.
desenvolvam equações para regredir a alimenta- O acesso livre das fêmeas ao alimento permite
ção de forma a obter melhor acurácia na alimenta- maior bem-estar aos animais, além da possibilidade
ção do seu plantel. de se moverem livremente dentro do grupo. A ali-
Uma das principais vantagens do sistema seria mentação de cada fêmea é monitorada de forma a
o aspecto que pode favorecer o bem-estar animal assegurar a quantidade fornecida e a sobra da sua ali-
no momento da alimentação. Há outras vantagens mentação diária, com dietas que podem ser secas ou
como facilidade do gerente em monitorar e acom- líquidas. Nesse sistema, são observadas vantagens
panhar o seu estoque, período de treinamento para como a entrada e saída à vontade da fêmea, proteção
o sistema, diminuição das brigas durante a alimen- quanto às fêmeas mais agressivas (dominantes),
tação e arranjo simples na canaleta. sem estresse durante a alimentação, possibilidade
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10 Alimentação do Macho
Reprodutor Suíno
D
o ponto de vista fisiológico, o processo de Fisiologia da espermatogênese
fertilização resulta de participações igual- O desempenho de um macho reprodutor pode
mente importantes para os gametas mascu- ser descrito por três características: libido, número
linos e femininos. Em termos zootécnicos, todavia, a de células espermáticas produzidas por unidade
fertilidade do macho tem um impacto muitas vezes de tempo e capacidade fecundante dessas células.
maior sobre a eficiência reprodutiva de um reba- Para que possamos compreender esses fenômenos,
nho suíno, se comparada à fertilidade individual da bem como os mecanismos pelos quais a manipulação
fêmea. Enquanto a produção anual de uma matriz nutricional pode interferir sobre a eficiência repro-
situa-se em torno de 30 animais, um único macho dutiva dos machos, torna-se fundamental o estudo
reprodutor poderá gerar 6.000 a 7.000 descenden- dos aspectos fisiológicos que governam o processo
tes por ano, quando utilizado em regime de coleta de espermatogênese no reprodutor suíno.
de sêmen. O sistema reprodutor masculino está com-
Apesar de influírem decisivamente no de- posto não somente de alguns órgãos específicos
sempenho reprodutivo dos rebanhos suínos, os (testículos, epidídimo, glândulas acessórias, pênis),
varrões costumam representar a categoria mais mas também de um complexo sistema de regulação
negligenciada dentro do processo produtivo. hormonal dependente da região hipotalâmica, e
Surpreendentemente, a nutrição de cachaços isso evidencia que um componente neuroendócrino
tem recebido muito pouca atenção por parte da participa na intercomunicação entre os diversos
pesquisa científica aplicada. Uma vez que a esti- órgãos e sistemas envolvidos na reprodução do
mativa de herdabilidade (h2) para várias caracte- macho. Os testículos, no adulto, possuem duas fun-
rísticas reprodutivas, tais como volume de sêmen ções básicas: a espermatogênese e a produção de
e concentração espermática, situa-se entre 0,1 e testosterona.
0,3, torna-se evidente que outros fatores não ge- A espermatogênese compreende o processo
néticos, tais como ambiente, nutrição ou manejo, de transformação de uma célula indiferenciada (ou
desempenham papel fundamental na expressão espermatogônia tipo A) em um espermatozoide,
dessas características. dentro do epitélio seminífero. A espermatogênese
O presente capítulo tem por objetivo revisar ocorre de forma cíclica no epitélio seminífero, em
sobre a fisiologia e o desempenho reprodutivo que uma nova espermatogônia tipo A inicia seu
de varrões associado à nutrição. Pela amplitude desenvolvimento a cada ciclo de quatro a sete dias,
de variáveis nutricionais envolvidas, serão enfa- no macho suíno. Após sucessivas divisões mitóticas,
tizados apenas alguns dos nutrientes de maior que produzem os espermatócitos primários, duas
relevância à luz do atual conhecimento, tais como divisões meióticas irão formar as espermátides
a energia, a proteína, os lipídeos, a vitamina E e o haploides. Os espermatozoides imaturos migram
selênio. do lúmen tubular para o epidídimo, onde serão
submetidos a um processo gradual de maturação. além de produzir e secretar ainda diversas outras
O epidídimo é composto de um ducto único e tortu- substâncias que podem atuar como substratos
oso, com comprimento médio estimado em 63 me- energéticos para os espermatozoides ejaculados.
428
tros, no macho suíno. À medida que progridem pelo Na composição do ejaculado, há ainda as secreções
ducto do epidídimo, os espermatozoides sofrem prostáticas alcalinas e a fração gelatinosa caracte-
alterações fisiológicas, bioquímicas e morfológicas, rística do sêmen suíno, produzida pelas glândulas
e esse processo de trânsito e maturação dura apro- bulbouretrais.
ximadamente duas semanas. Quanto mais próximas Do ponto de vista clínico, é importante salientar
da porção distal do epidídimo estiverem as células que eventuais condições adversas podem afetar a
espermáticas, maior a probabilidade de já apresen- espermatogênese em qualquer uma de suas fases,
tarem plena capacidade fecundante. desde as espermatogônias no epitélio seminífero
Desde sua produção no epitélio seminífero até até os espermatozoides férteis armazenados na
sua completa maturação no epidídimo, a transfor- cauda do epidídimo. O conhecimento das variáveis
mação de uma célula indiferenciada em um esper- que podem interferir na espermatogênese, bem
matozoide fértil requer um período de 48 a 57 dias como o potencial de manipulação zootécnica dessas
para se completar. variáveis, permitirá a adoção de conceitos e téc-
Para que a espermatogênese se efetive, dois nicas que aumentem a eficiência reprodutiva dos
tipos celulares são essenciais: as células de Sertoli, varrões, em condições práticas.
que suprem nutrientes e outros fatores necessários
ao processo de formação dos espermatozoides e Interações entre a nutrição e a
formam o epitélio seminífero, e as células intersti- eficiência reprodutiva do varrão
ciais de Leydig, que produzem andrógenos, predo-
minantemente a testosterona, hormônio esteroide Energia e proteína
essencial para a manutenção da espermatogênese, As exigências diárias de energia para varrões
para o desenvolvimento da libido, da atividade se- podem ser divididas em exigências de mantença,
cretória de glândulas sexuais e das características ganho de peso, produção de sêmen, atividade
corporais associadas ao fenótipo masculino, por física da monta e manutenção da temperatura
exemplo a maior massa muscular. Ainda nas células corporal.
de Leydig, a testosterona pode ser convertida em As exigências de mantença constituem a maior
estrógenos que desempenham importante função parte da exigência total de energia, variando de
no ejaculado do varrão, favorecendo o transporte 60%, no varrão com 100kg de peso, até mais de 90%,
espermático e influindo no momento da ovulação em machos pesados. Já as exigências ligadas à mon-
pela fêmea. ta e à produção do ejaculado variam entre 3,5 e 5,0%
O controle das funções testiculares requer a da necessidade energética total. Daí concluirmos
atividade coordenada de hormônios hipofisários, que a atividade reprodutiva por si só não justifica
havendo especificidade de receptores para ação a adoção de níveis energéticos muito elevados, na
das gonadotropinas (LH e FSH) nos diferentes tipos alimentação de varrões. Ao contrário, essa prática
celulares do parênquima testicular. leva à obesidade e aos problemas físicos e reprodu-
Muito embora o plasma seminal não esteja tivos associados a ela.
diretamente ligado à espermatogênese propria- Pesquisadores sugerem que os níveis energéti-
mente dita, é essencial compreendermos um cos podem ser reduzidos em varrões adultos, para
pouco de sua importância no processo reproduti- que se obtenha uma melhor condição física, sem
vo da espécie suína. As glândulas vesiculares (ou maiores prejuízos à produção de sêmen. Todavia,
vesículas seminais) produzem a maior parte do vo- se a ingestão protéica for também reduzida, pode-
lume de líquido que compõe o ejaculado do varrão, se esperar uma menor libido e menor produção de
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O
s machos reprodutores representam uma fatores não relacionados com o genótipo, como a
pequena parcela dentro do sistema de nutrição, podem exercer importante influência na
produção suinícola, um dos motivos para manifestação dessas características e que proble-
explicar o número limitado de pesquisas sobre suas mas nutricionais que as prejudiquem compromete-
exigências nutricionais. Além disso, em certas gran- rão o desempenho reprodutivo do animal.
jas, a produção de ração específica para essa classe A nutrição dos reprodutores mostra-se de forma
e em pouca quantidade torna-se um problema tan- contraditória, uma vez que, na fase de crescimento, têm
to para a fábrica como para o transporte e armaze- recebido a mesma ração de fêmeas e castrados, porém
namento dentro do sistema de produção. Por isso, os machos inteiros crescem mais rápido que os demais,
ficou comum o fornecimento de ração para porcas necessitando de ração com maior porcentagem de
gestantes ou em lactação para os varrões, sem se proteína. Já na fase adulta, recebem ração para porcas
preocupar com o impacto que esse alimento pode em lactação com alto nível de energia, e isso pode estar
causar na eficiência reprodutiva do macho. O ma- ligado a um dos maiores problemas de descarte de re-
cho reprodutor possui necessidades nutricionais produtores, que é o excesso de peso.
diferentes das reprodutoras, principalmente por Otimizar a qualidade e quantidade do ejacula-
influenciar na sua libido, qualidade e quantidade do e prolongar ao máximo a vida produtiva do var-
de sêmen, e capacidade fecundante dos esperma- rão é um dos temas que vêm despertando interesse
tozoides. Portanto, a dieta dos varrões deve re- crescente. A nutrição dos machos reprodutores
ceber merecida atenção, lembrando que eles são influencia a quantidade de sêmen (número de esper-
fonte de 50% do material genético no rebanho, e matozoides e volume do ejaculado), especialmente
afetam também a taxa de parto e tamanho da lei- nos animais jovens e sob condições desfavoráveis
tegada. Uma ração específica fornecerá nutrientes de ambiente, já que é bem conhecida a depressão da
em quantidade ajustada aos requerimentos dessa alta temperatura sobre a produção de sêmen.
categoria, o que pode melhorar a qualidade do eja- Um ponto importante sobre o efeito da alimen-
culado e aumentar a produção. tação do varrão sobre sua eficiência reprodutiva é o
excesso de peso. Os reprodutores são selecionados
Exigências nutricionais de acordo com sua taxa de crescimento, deposição
A suinocultura tem exigido averiguações mais de carne magra, conversão alimentar e qualidade
aprofundadas da interação entre nutrição e re- de carcaça, assim, a alimentação ad libitum leva-os
produção. E o conhecimento dessa interação pode a adquirir sobrepeso, originando problemas de
trazer benefícios na redução da idade à puberdade, aprumos e libido. Em contrapartida, restrições se-
melhoria da libido e do vigor sexual, e no desenvol- veras e prolongadas de ração resultam em perdas
vimento e manutenção das glândulas endócrinas. significativas de peso, levando à recusa de serviço
Pela baixa herdabilidade atribuída a características pelos varrões. Suínos machos inteiros têm apre-
reprodutivas, como o volume de sêmen e a con- sentado maior exigência de mantença em relação
centração espermática, parece óbvio que outros às fêmeas. Isso pode estar ligado à maior massa de
carne magra, à alta taxa de deposição de proteína e energética diária do animal. O ejaculado suíno, com
também a uma maior produção de calor. 200-400ml, contém 95% de água, 3,4% de proteína
e 1,6% de outros compostos (carboidratos, gordu-
435
Energia, proteína e aminoácidos ras, etc.). Com um regime de duas coletas semanais,
As exigências diárias de energia para varrões tem-se uma média diária de 100ml de sêmen, com
podem ser divididas em exigências de mantença, 3,4g de proteína e 1,6g de outros compostos. O
ganho de peso, produção de sêmen, atividade física custo energético desse processo é, portanto, pouco
da monta e manutenção da temperatura corporal. significativo se comparado ao requerimento total
Por meio de compilação de informações disponíveis de energia do varrão.
na literatura, estimam-se as exigências energéticas Analisando ainda os dados da tabela 1, verifi-
para varrões em diferentes categorias de peso vivo, ca-se que as exigências de mantença constituem a
conforme ilustrado a seguir, na tabela 1. Uma dieta maior parte da exigência total de energia, variando
contendo 14% de proteína ou nível de lisina de 0,7% de 60%, no varrão com 100 Kg de peso, até mais de
e 70% de energia é recomendada para machos re- 90%, em machos pesados. Já as exigências ligadas à
produtores e, quando reduzida a ingestão diária, a monta e à produção do ejaculado variam entre 3,5 e
produção de sêmen será também reduzida. 5,0% da necessidade energética total. Daí conclui-
Para a definição das exigências especificadas na se que a atividade reprodutiva per se não justifica
tabela 1, foram utilizadas equações citadas em dife- a adoção de níveis energéticos muito elevados, na
rentes trabalhos científicos. Com os reprodutores alo- alimentação de varrões. Ao contrário, essa prática
jados em câmaras respirométricas, submetendo-os a pode levar à obesidade e a problemas físicos e re-
duas distintas frequências de coleta de sêmen, foi produtivos associados a ela.
possível concluir que no dia de coleta de sêmen há As exigências de proteína e aminoácidos es-
um requerimento adicional médio de energia de tão estabelecidas com menor precisão que os de
18 KJ (4,3 kcal) por kg de peso metabólico (kg0,75), energia, muito embora diversos autores tenham se
o que representa uma fração mínima da exigência dedicado ao estudo dos efeitos da nutrição protei-
diário total de 12-15g de lisina, pelo varrão. Logo, Sabe-se também que a suplementação extra de vi-
o consumo de 2,5 a 3,0kg/dia de uma típica dieta taminas hidro e lipossolúveis aumenta a produção
de gestação, contendo 0,6 a 0,7% de lisina, por um de sêmen durante um período de coleta intensiva.
437
macho de 160kg, seria mais que suficiente para O fornecimento de dietas deficientes em vi-
atender à demanda total de lisina. tamina A leva à atrofia do testículo e a mudanças
A tabela 2 resume as exigências de proteína e qualitativas ligadas à interrupção parcial ou total
energia segundo o NRC 2012. da espermatogênese Essa vitamina é essencial
A tabela 3 demonstra as recomendações nu- para o crescimento e a proliferação de células epi-
tricionais apresentadas por algumas empresas de teliais e atua também na proteção do epitélio ger-
genética no mercado. É importante ressaltar que minativo de machos e estabiliza a integridade das
os níveis nutricionais sejam respeitados dentro dos membranas celulares. A ação é reforçada quando
padrões de cada genética. combinada com as vitaminas E e D e há evidências
de que o betacaroteno, precursor da vitamina A,
Vitaminas e minerais juntamente com o manganês e o zinco, estão envol-
Em várias espécies, uma suplementação die- vidos na esteroidogênese.
tética extra de vitaminas levou ao aumento na A vitamina D adquire importância devido aos
qualidade do sêmen, quantidade ou ambos. Em machos serem alojados em ambientes sem exposi-
varrões, a suplementação com selênio e vitamina ção à luz solar, fundamental na absorção e utilização
E melhorou a qualidade espermática, aumentando do cálcio e fósforo. As vitaminas C e E, juntamente
a concentração espermática no sêmen do varrão. com o selênio, atuam como antioxidantes celulares,
Tabela 4 – Exigências de vitaminas e minerais segundo NRC (2012), NSNG (2010) e Rostagno et al. (2011)
muito importantes para o desenvolvimento normal aqueles necessários para a produção espermática e
e manutenção da integridade da membrana e da desenvolvimento testicular, a suplementação com
função locomotora da cauda dos espermatozoides. microminerais orgânicos como o cobre, cromo, man-
A biotina é uma vitamina sulfurada que atua ganês, iodo, selênio, zinco e ferro, levam ao aumen-
como cofator em diversos processos biológicos li- to do volume do ejaculado e à redução dos efeitos
gados à integridade dos cascos e tecidos adjacentes. estressantes aos quais os animais são submetidos.
Nem sempre uma suplementação extra de biotina Em uma pesquisa para avaliar o efeito da suplemen-
resolve os problemas de aprumos no sistema, mas, tação micromineral orgânica e inorgânica sobre a
na prática, os autores recomendam de 200 a 300ppb qualidade do sêmen, pesquisadores concluíram que
na dieta de varrões e, caso haja muitos problemas os machos do grupo da dieta orgânica apresentaram
podais, devem ser fornecido de 600 a 1.000ppb du- maior concentração espermática (233,5 ± 76,7 x 106
rante um período de 30 a 60 dias. sptz/ml) quando comparados ao grupo da dieta inor-
Os minerais constituem uma pequena porção gânica (181,2 ± 77,3 x 10 6 sptz/ml) e maior porcen-
do organismo animal, mas possuem papel impor- tagem de espermatozoides normais também (93,31
tante como componentes estruturais e coenzimas ± 5,20% contra 78,48 ± 12,15%).
de numerosos processos orgânicos. No caso do A tabela 4 ilustra a exigência de vitaminas e mi-
varrão, deve-se prestar atenção àqueles minerais nerais segundo três manuais de nutrição mais utili-
que influenciam no sistema locomotor, produção de zados atualmente.
sêmen e características dos espermatozoides. Com A tabela 5 nos mostra as exigências nutricio-
relação à importância dos minerais, principalmente nais apresentadas pelas principais empresas de
genética no mercado. É importante ressaltar que logia reprodutiva do varrão e nos recentes conheci-
os níveis exigidos são de acordo com a genética co- mentos sobre o papel de nutrientes específicos nas
mercializada e foram determinados de acordo com funções reprodutivas do macho. Para que se obte-
439
pesquisas feitas pelas empresas. nha êxito nesse novo foco da nutrição de suínos, to-
Enfim, existe um crescente interesse na imple- davia, é fundamental que os princípios fisiológicos
mentação de dietas específicas para machos suínos e nutricionais envolvidos sejam amplamente com-
reprodutores, em substituição às tradicionais prá- preendidos, uma vez que é na fisiologia que reside a
ticas de uso das rações de gestação ou de lactação. essência das interações entre a nutrição e a repro-
Esse interesse encontra forte sustentação na fisio- dução das espécies domésticas.
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26. ROSTAGNO, H. S., ALBINO, L. F. T., DONZELE, J. L. et
Q
uando comparado a outras classes de suí- um período preliminar de pelo menos seis semanas,
nos, as pesquisas com foco em nutrição de antes dos efeitos reais dos tratamentos serem ava-
machos reprodutores, historicamente, liados. Deve-se ter bastante atenção ao analisar os
têm sido bastante limitadas. As razões para essa re- efeitos de níveis de nutrientes nos parâmetros re-
lativa falta de atenção incluem o fato de que machos produtivos de varrões, como características do sê-
maduros compreendem uma parte relativamente men e libido, pois estas são medidas pouco sensíveis
pequena de toda a população suína. Como o sistema a alterações dietéticas. Isso pode estar em contras-
de monta natural era dominante na indústria, pouco te com a pesquisa nutricional sobre desempenho de
incentivo era fornecido para investigar abordagens suínos, em que uma mudança relativamente peque-
nutricionais para aumentar o número médio de na nos nutrientes proporciona resultados facilmen-
células de esperma produzido em uma ejaculação. te observados no desempenho.
Era comum nas granjas alimentarem machos re- Atualmente, para reprodução nas granjas, são
produtores com uma dieta de fêmeas em gestação e buscados varrões de alto padrão genético com alto
assumir que a eficiência reprodutiva do varrão não valor monetário. Por isso, esses animais requerem cui-
seria gravemente afetada. Hoje, porém, a insemina- dados especiais, para que seu desempenho seja satis-
ção artificial é o sistema de reprodução mais comum fatório. É de fundamental importância conscientizar
na produção de suínos e a cada dose adicional de es- os produtores de suínos sobre o papel que o repro-
perma obtido de um ejaculado tem valor monetário. dutor representa no sistema de produção, represen-
Outro fator que pode ter influenciado no baixo tando 50% do potencial genético do plantel, além dos
número de pesquisas nessa área é a grande varia- benefícios com a melhoria da produção espermática,
ção apresentada entre os machos com relação aos como aumento no número de fêmeas inseminadas por
aspectos produtivos, tais como volume de sêmen, macho, aumento no tamanho da leitegada e melhoria
concentração de espermatozoides, patologias es- na taxa de fecundação, otimizando o retorno do inves-
permática, motilidade, linhagem, ambiente, idade timento no reprodutor. Dessa forma, a nutrição desses
ou medidas de comportamento sexual. Dessa for- animais precisa ser diferenciada para atender à função
ma, para realizar uma pesquisa, detectar diferenças específica de produzir sêmen em volume e qualidade,
estatísticas entre tratamentos e tirar conclusões exigindo dietas nutricionais balanceadas.
sólidas, um grande número de machos reproduto- Com isso, o objetivo deste capítulo é apresentar
res são geralmente necessários. algumas das pesquisas que têm sido conduzidas
Além disso, a espermatogênese em varrões para examinar os efeitos da nutrição na reprodução
varia de seis a sete semanas, com isso, experimentos do varrão adulto, prestando particular atenção às
que investigam os efeitos de vários regimes nutri- mais recentes descobertas sobre nutrientes condi-
cionais sobre a produção de esperma necessitam de cionalmente essenciais.
para o desenvolvimento de células germinativas nos queratinizado, possibilita infecção e provoca trans-
testículos durante o desenvolvimento precoce dos tornos digestivos. Na formação óssea, os sais de
espermatozoides, mas também pode vir a afetar o cálcio são depositados em uma matriz formada de
444
número de células germinais no adulto. mucopolissacarídeos, que são sintetizados por ação
Células de Sertoli podem indiretamente re- da vitamina A.
gular a espermatogênese através de mudanças na Na reprodução, atua na síntese de hormônios
quantidade de proteína de ligação de andrógenos, esteroidais a partir do colesterol orgânico nas gô-
hormônios e no fornecimento de nutrientes. Essas nadas, placenta e adrenais. Em caso de deficiência,
alterações podem influenciar a taxa de esperma- há alterações histológicas dos órgãos reprodutivos
togênese no testículo, alterando o número total de de machos e fêmeas, atrofiando as glândulas. Foi
células germinais formadas. demonstrado que em animais com deficiência dessa
Em um estudo comparando 0,3ppm de selênio vitamina, os túbulos seminíferos contêm apenas cé-
na forma quelatada e na forma inorgânica, foi possí- lulas de Sertoli, espermatogônias e alguns esperma-
vel observar que o tratamento dietético não afetou tócitos, estando ausentes as células germinativas
o volume, a concentração total de espermatozoides em desenvolvimento, fundamentais para a esper-
no ejaculado, a motilidade espermática, morfologia, matogênese. A falta dessa vitamina proporciona
peroxidação lipídica, ou atividade da glutationape- ainda problemas reprodutivos, devido à vacuoliza-
roxidase. Esses resultados indicam que a suplemen- ção das células basófilas, chegando a degenerar e
tação de uma dieta basal com selênio quelatado ou impedir a elaboração dos fatores gonadotróficos e
inorgânico não afetou a quantidade de sêmen ou a inibindo a produção espermática.
qualidade do esperma em ejaculados frescos, nem Maior número de espermatozoides anormais
demonstrou efeitos latentes benéficos no sêmen foram observados em varrões que recebiam 1.000UI
armazenado. de vitamina A em comparação ao grupo de animais
As recomendações na literatura estão entre 0,150 que consumiram mais de 31.000UI. No entanto, a
a 0,300mg/dia. Aproximadamente 0,3ppm na dieta. produção de sêmen não foi afetada. Em outro estudo,
A vitamina A é exigida para a manutenção do em animais que receberam 40.000UI de vitamina A
epitélio que recobre todos os canais, cavidades e por dia, não se observou aumento no volume do eja-
áreas de exposições externas, atuando diretamente culado e na concentração total expressa em bilhões
na síntese de mucopolissacarídeos. A queratini- de células espermáticas por ml, mas pôde-se obser-
zação dos epitélios é o resultado da perda de sua var um aumento na motilidade, contagem de células
capacidade secretora, tornando-os secos e suscep- espermáticas na câmara de Neubauer e diminuição
tíveis às infecções. O trato gastrointestinal, quando nas alterações morfológicas.
O ácido graxo DHA ω-3 desempenha uma fun- Considerando que o investimento na nutrição
ção essencial, promove ótima fertilidade. Reduções dos machos reprodutores interfere muito pouco nos
significativas desse ácido graxo na fração lipídica custos de produção, e que o impacto dos reprodutores
446
dos espermatozoides têm correlação não só com re- é de 50% no potencial genético do plantel, as dietas
duções na concentração espermática, mas também desses animais precisam ter em suas composições tec-
na motilidade progressiva e morfologia normal dos nologias nutricionais diferenciadas que certamente
espermatozoides. irão impactar a produtividade e lucratividade.
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Mesmo sabendo que a taxa de crescimento é qualquer peso vivo para desenvolver uma curva de
muito importante, na maioria das granjas os machos GPD (gráfico 2). A taxa de crescimento existente
não tem uma taxa de crescimento-alvo. Estabelecer na granja pode ser comparada para sugerir curvas
449
essa taxa é bastante interessante para fixar níveis de crescimento (tabela 2). Como demonstrado no
de alimentação, pois a taxa de crescimento desejada exemplo da tabela 2, machos em muitas granjas pos-
determina a maior parte da exigência de alimenta- suem GPDs diários mais rápidos a pesos mais baixos
ção dos animais além das suas exigências de man- do que os alvos sugeridos, o que indica que eles pos-
tença. Em vez de existir uma taxa de crescimento-al- sivelmente estão sendo alimentados mais do que a
vo, a alimentação é fornecida ao macho e, após suas sua exigência ótima.
exigências para manutenção, produção de esperma Peso vivo (kg) = (8 x 10-7 x Idade³ - 0,00023 x ida-
e atividade serem supridas, os nutrientes “de sobra” de² + 2,2561 x idade – 63,1) x 0,4536
determinam a taxa de crescimento. Desse modo, a
Tabela 2. Comparação do GPD predito em
taxa de crescimento é a consequência do nível de relação às recomendações holandesas
alimentação, em vez de ser utilizado para determi-
nar o nível de alimentação. GPD recomendado (kg/d)
Em vez de pesar o macho ao longo do tempo Peso vivo Estudo Exemplo Dif. (%)
para estabelecer a curva de crescimento, alguns au- (kg) Holandês Granja
tores utilizam um procedimento desenvolvido para 150 0,499 0,617 24%
suínos em terminação, no qual todos os machos da 200 0,399 0,481 20%
granja são pesados em um período relativamente 250 0,299 0,318 6%
curto. Traçando a idade do macho em relação ao seu 300 0,2 0,1 -50%
peso (gráfico 1), o peso por dia com relação à curva 350 0,1 - -
de crescimento pode ser determinado. O peso por 400 0,05 - -
dia da curva de crescimento pode ser usado para
² Taxa de crescimento de machos em uma granja comercial
estimar o ganho de peso médio diário (GPD) em Adaptado de Sulabo et al (2006b)
350,0
300,0
250,0
200,0
Peso (kg)
150,0
100,0
50,0
0,0
0 200 400 600 800 1000 1200
Idade (dias)
Gráfico 1 – Relação entre a idade do macho e seu peso vivo (215 machos)
Adaptado de Sulabo et al (2006b)
0,7
0,6
450
0,5
0,4
GPD (kg)
0,3
0,2
0,1
0
0 200 400 600 800 1000 1200
Idade (dias)
Gráfico 2 – GPD predito de machos reprodutores dos 220 aos 1000 dias de idade
Adaptado de Sulabo et al (2006b)
Quanto o consumo de ração varia durante mudanças nas taxas de crescimento ao longo do
a vida de um reprodutor na granja estudo causadas por um padrão cíclico de aumento
Em um estudo sobre o consumo de ração de e diminuição de quantidade de ração oferecida aos
machos, os pesquisadores avaliaram diferentes machos, para adequar a condição corporal (gráfico
fornecimentos de ração para os machos da granja. 3). Os animais receberam 5,08kg de ração por dia
Quando os pesquisadores definiram o forneci- quando estavam abaixo do considerado o melhor
mento de ração com base no monitoramento da para a condição corporal e 2,04kg de ração por
condição corporal dos cachaços, houve grandes dia quando os machos precisavam perder, isto é,
4
Macho 1
Ração (kg/dia)
3 Macho 2
Macho 3
2
Macho 4
1
Macho 5
Período (Semanas)
Gráfico 3 – Fornecimento de ração individual para machos por meio do controle de um programa de alimentação
Adaptado de Schneider, et al. (2008)
diminuir a condição corporal. Com esse baixo nível maior parte da energia é ligada ao peso do animal e
de alimentação, os animais estavam sendo alimen- à taxa de crescimento desejada. A exigência total de
tados próximo ou abaixo das suas exigências de energia para o macho aumenta de 7,9 a 9,3Mcal/dia,
451
manutenção. à medida que ele cresce de 136-317kg. Ao dividir
Os autores concluíram que os níveis de alimenta- essa faixa de peso em incrementos de 45kg, os ma-
ção definidos com base na condição corporal alteram chos podem ser alimentados em fases nos diferen-
a taxa de crescimento substancialmente nos machos. tes tempo para melhor se adequar à sua exigência
energética.
Como estabelecer níveis de alimentação Nesse exemplo, quando os machos atingirem
Para machos alojados em sua zona termoneu- aproximadamente 136kg, eles terão sido alimen-
tra, as exigências são determinadas pela necessida- tados com 2,77; 2,86; 2,95 e 3,04kg de ração/dia
de de energia para a mantença, taxa de crescimento, aos três, quatro, seis e 12 meses, respectivamente
produção de sêmen e atividade de cobrição (tabela (tabela 4). Pesando os machos ou medindo com uma
3). As exigências para a atividade de cobrição e fita de peso, pode-se determinar se o período de
produção de sêmen são relativamente baixas, cuja alimentação deve ser reduzido para o primeiro nível
de alimentação. Por exemplo, se um grupo de ma- crescimento desejada possuem uma taxa de cres-
chos tem peso médio de 159kg, quando entram na cimento mais regular do que quando comparados
granja, a duração do primeiro nível de alimentação a machos alimentados com base na condição
deve ser reduzido de três meses para aproximada- corporal, principalmente devido a flutuações no
mente seis semanas. nível de alimentação. Embora o número de estu-
dos com programas de alimentação com machos
Passo para implantar um reprodutores sejam escassos, os pesquisadores
programa de alimentação concordam que programas de alimentação que
Passos para executar um programa de alimentação: seguem planos e curva de crescimento levam à
1. Determinar a densidade de energia da dieta melhor longevidade, com maior proporção de
(EM/kg) e ajustar os níveis de alimentação na animais ativos. Machos alimentados com base
tabela 4 para a densidade de energia da dieta. na condição corporal tendem a ser superalimen-
2. Determinar o peso dos machos que entram tados nas fases iniciais e desnutridos durante os
na granja para estabelecer o período que os períodos mais tardios.
animais irão receber de acordo com o primei- Dessa forma, machos destinados à coleta de
ro nível de alimentação, e sêmen podem ser alimentados com um nível de ali-
3. Monitorar os machos individualmente. mentação adequado para alcançar ganho de peso
Enfim, os machos alimentados com a estraté- desejado e sem influências deletérias sobre longevi-
gia de alimentação em planos segundo a curva de dade, produção e qualidade do sêmen.
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11 da Fase Puerperal
na Fêmea Suína
O
parto representa um momento extrema- até então sustentada pela progesterona que pro-
mente importante na vida reprodutiva da vém principalmente dos vários corpos lúteos que,
matriz suína, um elo entre a fase de gesta- por sua vez, são mantidos através dos hormônios
ção que se completa e o período de lactação que se luteotróficos, LH e prolactina.
inicia. Embora tenha uma duração relativamente O desencadeamento do parto, preservadas algu-
curta, o momento é delicado e crítico e, se mal de- mas polêmicas, é atribuído à participação fetal no pro-
senvolvido ou assistido, resulta em riscos imediatos, cesso, em que ao final do período gestacional, através
comprometendo a leitegada e a matriz durante da ativação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal dos
o parto, com consequências às duas categorias fetos, há um aumento de corticosteroides fetais que
durante o período lactacional, e danos subsequen- determina uma série de descargas hormonais na ma-
tes à fêmea após o desmame, com repercussão ne- triz, resultando no desenvolvimento das contrações
gativa no intervalo desmame-estro e nos índices da uterinas e no parto propriamente dito. Esse contraste
gestação seguinte. é no mínimo interessante, pois uma gestação se sus-
No parto, os gastos metabólicos são elevados tenta ou se estabelece justamente porque quatro
e, na suinocultura comercial, o parto está sujeito a a seis corpos lúteos são suficientes para garantir a
dois agravantes, a elevada prolificidade das genéti- produção de progesterona responsável por manter a
cas modernas e a condição artificial de alojamento. prenhez, sendo necessários no mínimo 6ng/ml do hor-
Este último é representado pelo ambiente não mônio. Com 14-15 dias após a fecundação, a partir de
identificado com as necessidades das parturientes e quatro embriões viáveis, obtém-se um sinal embrio-
que não permite a expressão dos comportamentos trófico que permite evoluir a gestação.
intrínsecos que a matriz detém e que desenvolve O aumento de corticosteroides fetais também é
em condições naturais de parturição. Assim, comu- responsável pelo aumento do estrógeno e pela libe-
mente, muitas matrizes passam também por um ração de prostaglandina F2 ɑ (PGF2alfa), hormônios
momento de alto estresse no período. importantes no processo de contração uterina e no
Compreender a dimensão desses riscos é ne- desenvolvimento do parto. A PGF2alfa, que tem ação
cessário em contraposição ao reconhecimento de luteolítica, é associado o papel de auxiliar a contração
que o desenvolvimento de um parto é regido por uterina, sendo responsável também por uma maior
alterações anátomo-fisiológicas e fatores nervosos e mobilização do cálcio sarcoplasmático. A destruição
mecânicos, monitoradas por uma rede hormonal que dos corpos lúteos pela ação da prostaglandina inter-
atinge sua eficiência plena quando as condições de rompe a gestação, permitindo a ação dos hormônios
saúde e bem-estar da matriz encontram-se ótimas. envolvidos no trabalho de parto.
A produção de estrógenos é muito importan-
Alterações anátomo-fisiológicas te para o desenvolvimento do parto. O aumento
Considerado um evento que marca o fim da fase na produção de cortisol pelos fetos, além da ma-
gestacional, seu desencadeamento é atribuído ao turidade que atingem, dá início à elevação dos
reconhecimento da compleição da fase de prenhez, níveis de estrógeno. Este hormônio auxilia na
produção de proteínas responsáveis pela contra- plasmáticos máximos entre 110 e 115 dias de
ção uterina e na formação de junções abertas que, prenhez. A liberação para a circulação ocorre nas
respectivamente, aumentam o potencial contrátil proximidades do parto, com níveis plasmáticos
456
do útero e facilitam esse processo através do em torno de 5ng/ml, no 110º dia, seguindo para
aumento da comunicação entre as células da mus- aproximadamente 15ng/ml entre 110 e 112 dias
culatura lisa uterina. Somada à baixa da progeste- de gestação. Durante os dois dias que precedem
rona, esses hormônios conduzem o útero a deixar o parto, há um aumento acentuado do nível de
um estado de quiescência para atingir um estado relaxina, sendo atingidos valores máximos que
de contração potencial. Também o estrógeno par- variam entre 60 a 250ng/ml.
ticipa estimulando a matriz para a preparação da Durante o parto, a ocitocina é secretada sob
cama e para outras respostas comportamentais altos níveis em pulsos intermitentes adicionais.
que aparecem pouco antes do parto. Contudo, se a matriz sofre algum estresse, a libera-
Uma outra hipótese que explica o desencade- ção de ocitocina é reduzida e o parto é comprome-
amento do parto indica que na fase final da ges- tido ou interrompido. Como um apoio às possíveis
tação o conjunto fetal, ao atingir um limite físico intercorrências que se apresentam antes do início
no útero, passa a perceber um estado de estresse do parto propriamente dito, há uma liberação de
que leva à liberação do hormônio adrenocortico- opioides, cujos níveis são incrementados junto com
trófico fetal. Essa descarga estimula a produção a ocitocina à medida que o parto se aproxima. Com
de corticosteroides nas adrenais dos fetos que a supressão dos efeitos dos opioides, o hipotálamo
conduzem a um aumento plasmático do hormônio promove uma descarga adicional importante de oci-
24 horas antes do parto. Com o aumento das con- tocina que vem a desencadear o parto.
trações uterinas e a condução do feto para a ex- Na literatura, a duração do parto tem diferentes
pulsão, este, ao atingir o conduto cervical-vaginal números. Para um parto de cinco a 14 leitões, comu-
ou pélvico, promove uma determinada distensão mente o intervalo varia entre um a cinco horas, em-
pela pressão física exercida na região, que resulta bora em algumas situações os limites máximos sejam
no desencadeamento do reflexo de Ferguson. As de oito a dez horas. Também o intervalo de tempo de
respostas a esse estímulo são as contrações mus- expulsão entre leitões é variável, desde poucos minu-
culares fortes do abdômen e também a liberação tos até 60 minutos. A princípio, essas expulsões apre-
de ocitocina, que paralelamente acentua as con- sentam-se mais longas entre o primeiro e o segundo
trações miometriais. leitões e entre os últimos a serem paridos.
Efetivamente há uma complexa interação hor- Embora a duração do parto sofra muitas va-
monal no processo. Em suínos a PGF2alfa estimula riações, distintas entre raças e entre porcas com
a liberação de prolactina, ocitocina e relaxina. Para o diferentes ordens de parto (aumentando até a sexta
último hormônio é atribuído um papel potencializa- parição), há uma proporcionalidade da duração do
dor das ações da oxitocina. parto com o número de leitões nascidos. Até o 6º
A relaxina é responsável pela expansão/relaxa- ciclo, muitas genéticas comerciais têm uma curva
mento dos ligamentos pélvicos e pela dilatação da ascendente no número de nascimentos e, portanto,
cérvix, atuando de forma direta e central para que têm partos progressivamente mais longos.
a ocitocina desenvolva a contração uterina. Esse Adversamente, partos com leitegadas com mais
quadro sinérgico, com mais descargas de prosta- natimortos tendem a ser mais longos, e os interva-
glandina e com as paredes do útero sensíveis ao los entre os nascimentos para essa categoria são
estrógeno, somado às contrações dos músculos igualmente maiores. Isso pode sugerir que os nati-
abdominais, resulta na expulsão fetal. mortos são menos hábeis em induzir as contrações
Os níveis de relaxina aumentam rapidamente pelo menor estímulo que exercem na porca, que
depois do 20º dia de gestação, atingindo níveis respondem com uma menor força contrátil.
Tabela 1- Fases e eventos relacionados com o trabalho de parto em animais de interesse zootécnico
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M
uitos autores destacam a importância do Existem prós e contras de um vazio sanitário de
parto e da lactação como as fases mais apenas três dias. A favor dessa prática é argumen-
críticas da produção de suínos. Na mater- tado que, ao se transferirem matrizes muitos dias
nidade, portanto, o produtor encontra um verda- antes do parto, aumenta o nível de contaminação da
deiro desafio para assegurar bons resultados na sua sala até o nascimento dos leitões. Contra um vazio
atividade, aqui traduzidos no número de nascidos sanitário muito curto, existem situações em que
vivos e na produção de leite que irá garantir um bom fêmeas jovens terão pouco tempo para adaptar-se
peso ao desmame. É consenso entre técnicos e pro- nas celas parideiras e também o argumento de que
dutores que todos os esforços dedicados nas fases poderá aumentar o número de situações de traba-
anteriores podem ser perdidos na maternidade se lho de parto ainda nas gaiolas de gestação, devido à
atenção e cuidado especiais não forem dedicados à ocorrência natural de uma percentagem de gesta-
porca e aos recém-nascidos. ções mais curtas.
O manejo na etapa pré-parto tem seu início na A higiene na maternidade, entre outros, é um
semana anterior à data prevista para a parição e dos fatores que distinguem as granjas mais eficien-
inclui cuidados com o ambiente destinado a alojar os tes. A rotina dessa tarefa prescreve uma série de
animais e a transferência e adaptação dos animais à etapas que iniciam após o esvaziamento de uma
instalação da maternidade. Não se pode negligenciar sala de maternidade que será lavada e desinfetada.
que será nesse local que a fêmea permanecerá du- Antes da desinfecção, é preciso ter havido uma
rante o período de parto e lactação, e que uma orga- profunda limpeza dos restos de excrementos e
nização e planejamento quanto ao local onde colocar
cada fêmea conferem um bom atendimento ao parto
pelos funcionários, diminuindo as perdas nesse pro-
cesso. A seguir, são destacados os principais pontos
de manejo nessa fase de criação.
alimentação. Isso inicia-se pela limpeza seca, com a porca e seus 12 ou mais leitões. Na suinocultura
pá e vassoura imediatamente após a retirada dos intensiva, ainda não é possível atender a todas as
animais. Na sequência, procede-se à limpeza úmida necessidades que cercam a porca, os leitões e o pró-
463
com água sob pressão (no máximo três horas após prio funcionário da maternidade, porém, já estão
a retirada dos animais), removendo todos os equi- surgindo opções com uma visão de abrigar animais
pamentos móveis da sala. Esvaziam-se as calhas e com mais respeito às suas necessidades.
fossas existentes. Depois se aplica detergente em Com o progresso genético, as porcas atual-
toda a instalação. mente são fisicamente maiores. Uma gaiola peque-
Prescreve-se deixar a sala molhada por uma ou na prejudica o bem-estar da matriz e possibilita
mais horas, após ter utilizado um detergente com mais casos de esmagamento de leitões, porque
água. Depois, com auxílio de um lava-jato de alta é mais difícil para a porca deitar e levantar. Uma
pressão (1.500 a 2.000 libras) retira-se a matéria boa cela parideira deve permitir um fácil acesso
orgânica que tenha se desprendido e deixa-se tudo às tetas pelos leitões, possibilitando ajustes ou
secar. O desinfetante não irá atuar bem na presença regulagem de sua barra horizontal inferior. Uma
de restos de matéria orgânica. característica importante é que o piso na metade
Autores atestam que nunca é possível compen- traseira da porca não seja escorregadio. Também
sar uma má limpeza com um excesso de desinfetan- é importante que exista espaço suficiente para os
te. Finalmente, após a sala secar, o melhor é que seja leitões locomoverem-se ao redor da porca e que
feita uma passagem com vassoura de fogo (lança- seu abrigo seja acolhedor, com lâmpada e/ou piso
chamas), como medida auxiliar no controle de coc- aquecido.
cídeos e outros agentes patogênicos. Um cuidado A gaiola de parição deve estar preparada na
adicional e importante deve ser o combate à sarna véspera da parição, com um tapete permeável atrás
pela pulverização de celas parideiras com produtos da porca, em especial nos pisos ripados, além de uma
específicos. lâmpada infravermelha extra nas proximidades.
Em resumo, é fundamental que, no momento da Necessariamente deve existir um refúgio dos
entrada das porcas, as instalações e equipamentos leitões aquecido a 30º até 32ºC, no dia do parto.
da maternidade tenham sido corretamente lavados Quanto aos padrões de higiene, as fezes frescas
e desinfetados, havendo passado por um período devem ser retiradas pela manhã e pela tarde, desde
de vazio sanitário de no mínimo 72 horas. Após a o dia da entrada da porca na maternidade, visando
limpeza das salas de parto, deve-se ter o cuidado de reduzir ao máximo a contaminação do ambiente.
inspecionar cada bebedouro para uma correta vazão,
que deve ser acima de 2,0 litros de água/minuto. Fi- Transferência das porcas
nalmente, é importante certificar-se de que todos os para a maternidade
equipamentos e produtos necessários para o parto A preparação final para o parto inicia 10 a 14
estejam disponíveis e limpos. dias antes da data prevista, com maior desenvol-
Em termos de conforto térmico, o objetivo nas vimento da glândula mamária, edema vulvar e
salas de maternidade é oferecer dois ambientes dis- mudanças comportamentais como sinais evidentes
tintos, com uma temperatura na faixa dos 18º-20ºC nessa fase.
para a porca (máxima de 24ºC) e mínima de 25ºC Alguns cuidados devem ser tomados no mo-
para os leitões. mento da transferência das fêmeas da gestação
para a maternidade como:
Preparação da gaiola de parição 1. Evitar grandes distâncias entre as instala-
A cela parideira mais adequada necessita aten- ções de gestação e maternidade, para preve-
der às demandas para uma máxima produção de lei- nir estresse por calor e eventuais colapsos
tões, com acomodação, segurança e conforto para circulatórios provocados pela fadiga, que po-
30
25
percentual (%)
20
464
15
10
0
109 110 111 112 113 114 115 116 117 118 119 120 121
antibiótico de largo espectro, a partir do aloja- são: leitegadas grandes, fêmeas velhas e com maior
mento das porcas na maternidade até cinco dias duração de parto. Num estudo realizado no Brasil,
após o parto. fêmeas que pariram mais de 12 leitões tiveram 3,6
466
É importante destacar, cada fêmea deve ter con- vezes mais chances de terem natimortos compa-
dições de consumir de 15 a 20 litros de água por dia e radas àquelas que pariram menos de 10 leitões.
isso depende da correta vazão dos bebedouros. Fêmeas maduras, com ordem de parto (OP) maior
que cinco tiveram 1,7 vez mais chance do que as fê-
Identificação de porcas de risco meas com OP entre dois e cinco. No mesmo estudo,
Trata-se de uma prática que objetiva antecipar quanto à duração de parto, quando foi maior que 3h,
os riscos, apontando previamente animais com po- a chance aumentou duas vezes comparativamente
tencial de apresentarem algum problema durante e a partos mais rápidos (< 3h). Segundo os autores, a
logo após a parição. identificação dessas fêmeas num período pré-alo-
»» Porcas cuja parição anterior foi prolongada jamento pode auxiliar no planejamento de distribui-
(> 4 horas): aplicar uma associação de cálcio ção delas dentro da sala de maternidade, visto que
-magnésio (75g durante 3 dias anteriores à se podem intensificar as ações e a atenção ao parto
parição). dessas fêmeas alojando-as próximas.
»» Porcas com problemas urinários: tratar com É importante manter a atenção nos grupos de
antibiótico (consultar o veterinário). porcas que chegam à maternidade, evitando desu-
»» Porcas com histórico de natimortos: analisar niformidades, pois fêmeas muito gordas ou muito
a situação das porcas de risco com auxílio de magras afetam adversamente os resultados do re-
uma tabela de risco (tabela 1) e prever uma banho. Essa avaliação usualmente é feita de forma
supervisão reforçada. visual, classificando os animais em cinco classes
»» Porcas agressivas (canibalismo): habituar de escore corporal. O escore corporal à entrada da
essas porcas aos ruídos, aos movimentos e à maternidade deverá estar entre 3,5 e 4,0 e, após o
presença do homem. No caso das leitoas, isso desmame, entre 2,0 e 2,5.
deve ser feito desde a quarentena. Em especial nas gestações coletivas, é co-
Nesse momento, antes do parto (tabela 1), re- mum o caso de porcas mais velhas e dominantes
comenda-se proceder a uma contagem e ao registro entrarem na maternidade com excesso de peso.
das tetas funcionais de cada matriz, visando auxiliar Sua parição pode ser prolongada, resultando em
no momento da uniformização das leitegadas. mais natimortos. Depois do parto, essas fêmeas
É bastante difundido na literatura especializada apresentarão menor apetite, porque estarão con-
que os principais fatores de risco para natimortos sumindo as próprias reservas. Devido ao fraco
desenvolvimento do aparelho mamário, poderão
Tabela 1 - Grade de avaliação ter reduzida (20% menos capacidade) a produção
de risco de natimortos
de leite.
Nº partos e % de risco de
A identificação de porcas de risco, visando a
fatores de risco natimortos
uma maior atenção durante o parto e/ou medidas
1e2 15% preventivas, inclui o risco para o parto distócico,
3e4 25% mais comum em porcas velhas, e o risco para falhas
5e6 35% lactacionais como a disgalactia pós-parto, mais
7e+ 45% comum nas fêmeas de primeiro e segundo parto. Se-
Natimortos na gundo autores, o planejamento de alojamento des-
+ 30%
parição precedente sas fêmeas na maternidade pode servir como uma
Leitegada >12 + 15% prática de prevenção dessas situações, ao propiciar
Fonte: SYNTHESE ELEVAGE (1998) maior atenção a essas matrizes.
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A
parição é um momento crucial para a porca limpo, seco, com o mínimo de ruído possível. Toda a
e os leitões. É importante conhecer um perturbação estressante para o animal pode acarre-
pouco dos processos fisiológicos e das tar um aumento da mortalidade neonatal de leitões.
complicações que ocorrem durante a parição, além A temperatura da sala deve estar entre 18-20°C,
das práticas de manejo que podem contribuir para enquanto no escamoteador, para onde irão os leitões
aumentar a chance de obter um maior número de recém-nascidos, tem que estar entre 30-32°C.
leitões desmamados, mantendo a saúde reproduti- Durante os dias que antecedem o parto, as por-
va das porcas e evitando descartes precoces. cas deverão receber 20 a 30 litros de água fresca por
É enfatizado por autores que as preocupações dia, sendo alimentadas com 3kg de ração tipo lac-
com o parto são absolutamente importantes na tação, duas vezes ao dia. A ração deve conter algum
suinocultura. A maioria da mortalidade de leitões laxativo, maior teor de fibra ou sulfato de magnésio
ocorre nas primeiras 48 horas pós-parto e estudos (sal amargo), na proporção de 3 a 5kg por tonelada.
demonstraram que a assistência ao parto pode Esse procedimento previne a constipação, agalaxia,
aumentar a sobrevivência de leitões e o número de mastite e reduz o tempo de parição bem como a taxa
leitões desmamados. Havendo assistência durante de natimortos. A partir dos 110 dias de gestação,
as parições, é possível identificar rapidamente a fê- recomenda-se observar periodicamente o compor-
mea e/ou leitões em dificuldades ou desvantagem e tamento e a ocorrência ou não de secreção láctea.
iniciar um trabalho de assistência a eles. No dia do parto, não fornecer ração, somente
O início do parto envolve uma complexa intera- água à vontade. Antes do parto, lavar o posterior
ção hormonal, a qual culmina com um incremento da porca. A gaiola de parição deve estar preparada
nas contrações da musculatura uterina. Provavel- na véspera da parição, com um tapete permeável
mente a chave dessa complexa interação sejam os atrás da porca, em especial nos pisos ripados, além
fetos, porque a parição não acontece em um prazo de uma lâmpada infravermelha extra nas proximi-
normal quando os fetos estão mortos. dades. Certificar-se de que todos os equipamentos
e produtos necessários para o parto estejam dispo-
Medidas prévias com relação à níveis e limpos.
maternidade e aos animais
As condições de ambiente têm um papel muito Como supervisionar a parição
importante no desencadeamento e no desenrolar Segundo autores, a assistência adequada ao parto
da parição. Antes de receber as fêmeas, as salas significa dar atenção a cada fêmea e aos seus leitões,
devem passar por um período de vazio sanitário por, interferindo quando for absolutamente necessário,
pelo menos, 3 a 5 dias independentemente do modo de acordo com uma recomendação para cada evento,
de construção das celas. As porcas devem ser trans- para prevenir futuros problemas produtivos e repro-
feridas pelo menos três dias antes do parto previsto dutivos. Essa assistência deverá ser feita por meio de
para se adaptarem ao novo ambiente. uma supervisão discreta, sem causar estresse. Quanto
O local onde as fêmeas irão parir deve estar maior o esforço de supervisão e de manejo desde o
início das parições e durante as 48 horas seguintes, aparelho mamário. De uma forma estereotipada, a
menor será a perda de leitões. O atendimento ou porca demonstra o comportamento de preparar o
auxílio ao parto deve ser realizado por pessoas com ninho, ou seja, tenta raspar o piso com as patas dian-
469
treinamento e experiência com o objetivo de realizar teiras, tenta morder o comedouro e empurra o piso
intervenções naquelas fêmeas que realmente apre- ripado com seu focinho.
sentam necessidade de auxílio. Um parto normal dura em média 2h30min a
Após um período de gestação de 114 e 115 dias, 3h, tempo em geral inferior a quatro horas, com um
a porca usualmente pare pela tarde ou à noite. É intervalo máximo de 25 minutos entre cada leitão.
possível obter um controle maior sobre as parições No momento do parto, a observação das matrizes
pela indução de partos. A prostaglandina e seus em intervalos de 30 a 60 minutos é necessária para
análogos podem ser utilizados para sincronizar os permitir uma intervenção precoce sobre a porca
partos e, nesse caso, maior ainda é a necessidade da e/ou leitão, em caso de dificuldades, evitando-se
supervisão. perdas. O parto normal não necessita de nenhuma
O agrupamento dos partos permite assegurar intervenção particular sobre a porca.
a supervisão dentro das melhores condições, favo- Uma sequência de atendimento ao parto foi
recendo a prática da equalização das leitegadas. A descrita por WENTZ et al (2009) e pode ser assim
indução ao parto é amplamente abordada em um resumida:
tópico específico desta publicação. a) Acompanhamento da fêmea quanto aos
sintomas de parto: essa avaliação deve ser
Sinais de parto e rotinas para realizada para que se tenha uma orientação
o atendimento ao parto sobre a proximidade do parto;
Na maternidade, duas vezes ao dia, recomenda- b) Anotação do início do parto: culmina com
se observar os sinais de parto, por exemplo: gotas de a eliminação de secreção acompanhada de
leite são expressivas 24 a 48 horas antes do parto, contrações abdominais e a expulsão do pri-
jatos de leite podem ser provocados 12 a 24 horas meiro feto;
antes do parto, 85% dos partos ocorrem entre 114 c) Anotação da hora de nascimento de cada lei-
a 116 dias de gestação, 60% dos partos são à noite, tão por meio da utilização de uma ficha indivi-
quando não é feita indução. dual de acompanhamento do parto: necessá-
Ao aproximar-se o momento do parto, a porca ria para determinar a necessidade de intervir
torna-se agitada (foto 1), a vulva está edemaciada no parto em relação ao período decorrido do
e seis horas antes é possível ordenhar colostro no nascimento do último leitão;
d) Tomada de decisão diante das situações em
que a porca apresenta dificuldades em pro-
gredir na sequência de parição de leitões (o
autor enumera os tipos de distocias, os sinto-
mas apresentados e os auxílios ou tratamen-
tos cabíveis).
Várias situações são didaticamente descritas por sagem estreita provoca uma parição longa. Pode
muitos autores, em busca de orientar a tomada de vir associada à inércia uterina nessa fase do parto,
decisão em casos de parições dificultadas (distocias): conhecida como fase de dilatação. Em casos espe-
471
»» Primeiro caso: o parto teve início, mas não cíficos, a injeção do hormônio de eleição relaxina
houve continuidade, embora a fêmea esteja (difícil de obter em nossas condições) aplicada no
tendo contrações. Normalmente nesses casos início da parição permite a dilatação do colo uterino
a intervenção manual se faz necessária, pois e regulariza as contrações. Felizmente, trata-se de
possivelmente existe algum obstáculo no ca- um problema de baixa incidência.
nal que impede o progresso do parto. Contrações com leitões: com contrações abdo-
»» Segundo caso: nasceram alguns leitões e o minais, significa que a fêmea tenta expulsar o feto e
intervalo entre o último a nascer e a espera não consegue.
do próximo está prolongado: »» Apresentação dificultada: ocasionalmente, em
a) com contrações abdominais: significa que a particular nas leitoas, os fetos se apresentam
fêmea tenta expulsar o feto e não consegue. muito grandes para passarem pelo canal de
Como existem contrações, não se deve fazer parto ou em posição lateral com postura irre-
uso de ocitocina, pois parte-se do princípio de gular dos membros com relação ao canal de
que existem contrações uterinas também; parto, ou ainda com apresentação posterior.
b) sem contrações abdominais: pode significar Em todos os casos, o leitão precisa ser palpado e
que nenhum feto está inserido na bacia, em- puxado para o exterior manualmente.
bora possa haver as contrações uterinas. »» Desvio para baixo ou queda do útero (porcas
Num estudo conduzido sobre 3.290 partos, velhas): pode-se fazer a fêmea levantar,
parições prolongadas foram associadas a leitegadas deitar-se do lado oposto, para que ela repo-
numerosas, maior ocorrência de natimortalidade sicione seu útero. A intervenção manual se-
e de intervenção obstétrica. Além disso, o período guidamente é indispensável nesse caso, para
de primavera e verão apresentou partos mais pro- a retirada dos leitões. A prevenção inicia-se
longados do que no outono e inverno. Isso pode ser por uma política de descarte de porcas, consi-
relacionado a um possível estresse térmico, resul- derada após o 6º-7º parto.
tando em exaustão física das fêmeas, diminuindo, »» Rotação dos cornos uterinos: pode ocorrer
portanto, as contrações abdominais e uterinas. eventualmente quando leitegadas muito
Diante de uma porca no trabalho de parto, é grandes se apresentam. Há uma distorção do
necessário proceder de uma maneira racional e sis- formato da cérvix devido ao cruzamento de
temática. Deve-se limitar, ao mínimo, as interven- um corno uterino sobre o outro. Isso impede
ções manuais durante a parição, porque elas repre- a passagem dos leitões. Nessa situação, é ne-
sentam um grande risco para infecções puerperais, cessário introduzir o braço profundamente
mesmo sendo realizadas com higiene rigorosa. na porca (que deve estar em pé) e trabalhar
Existe uma variedade de textos com a descrição para trazer dois ou três leitões para fora.
do parto em suínos e com as distocias que se apre- Após a remoção dos leitões, com a fêmea
sentam mais comumente. em pé, fazer uma forte pressão com o punho
Abaixo são apresentadas as situações mais des- cerrado sobre o flanco da fêmea, tentando
critas e as ações para intervenção. realinhar leitões e cornos uterinos.
trair-se. A inércia de origem primária pode estar Na ausência de resultado, a intervenção manual
relacionada com a debilidade da fêmea, toxemia e se impõe e, finalmente, não havendo alternativa,
deficiências uterinas. Na inércia de causa secundá- na ausência de maiores alterações do estado geral,
472
ria, há perda da capacidade de contrair o útero de quando possível, é recomendado chamar um vete-
forma ritmada e expulsar o feto, causada pela dura- rinário e praticar a cesariana. Tratar com antibiótico
ção prolongada do parto (provocada por estresse toda a porca submetida à palpação.
calórico, ruídos e intervenções com toque vaginal Para se examinar o canal do parto e verificar a
em momento inapropriado e uso de ocitocina em presença e o posicionamento do leitão, bem como
doses excessivas). Na inércia de origem idiopática, outras alterações, é fundamental seguir algumas re-
as contrações uterinas cessam ainda na fase de dila- comendações: lavar o posterior da porca, limpar mi-
tação (segunda fase do parto), também não havendo nuciosamente mãos e braços, colocar luvas, lubrificar
dilatação da cérvix e vagina. as luvas (com vaselina ou mucilagem) e introduzir a
Em certos casos poderá haver dois ou três lei- mão com muito cuidado, evitando movimentos brus-
tões logo além da cérvix. Se eles se apresentam em cos que possam causar lesão ao animal.
posição anterior, será necessário segurar a cabeça
com o polegar e dedo indicador e fazer a tração para O uso de ocitócicos
a retirada. Se os leitões vierem em posição poste- Segundo autores, a ocitocina é utilizada em
rior, fixar os membros posteriores à altura dos jarre- mais de 80% das explorações de suínos nos Estados
tes para tracionar o leitão para fora. Unidos para complementar o parto normal, pro-
A primeira medida de intervenção é a massa- vavelmente na tentativa de diminuir os cerca de
gem do complexo mamário. Como último recurso, 5-15% de natimortos observados nesses rebanhos.
pode-se tentar a intervenção manual obstétrica. Para uso da ocitocina como ferramenta de auxílio
ao parto, sempre se deve considerar que ela é indicada
Medidas possíveis em todas as situações quando há falhas nas contrações uterinas (hipotonia
Nas situações diante das fêmeas em trabalho de ou atonia uterina) e o decurso do parto é alterado,
parto e com temperatura corporal elevada, costuma embora em algumas situações também seja utilizada
tratar-se de um sinal de sofrimento. Se a tempera- com o objetivo de reduzir o período de parto e a taxa
tura corporal for superior a 39,5ºC, deve-se injetar de natimortalidade. Segundo a literatura, um curto
um anti-inflamatório para acalmar a dor e baixar a tempo de duração do parto é muito importante para a
temperatura. Fêmeas nervosas ou agitadas podem sobrevivência dos recém-nascidos.
receber uma injeção de tranquilizante e ser banha- Em situações com alteração do decurso do parto,
das. O aumento do intervalo de nascimento entre antes da aplicação de ocitocina deve-se examinar
leitões pode significar a presença de fetos mortos o canal do nascimento, pois em casos de estreita-
ou mumificados. mento de via fetal óssea e mole, mais frequente em
No caso de fêmeas exaustas, com ausência de primíparas, o seu uso pode ser prejudicial e levar à
contrações uterinas, é possível intervir com o uso ruptura uterina. Em fêmeas com baixa intensidade
de uma massagem do colo uterino, utilizando um de contrações uterinas, sem obstáculos no canal de
cateter de inseminação, do tipo cuja extremidade é parto, a dose administrada deve ser baixa (10-15UI),
protegida com espuma. Massagear ainda o aparelho independentemente da via de administração, poden-
mamário, e, logo após, tentar fazer o animal se le- do ser repetida após 30 a 60 minutos, dependendo
vantar. Pode-se também aplicar uma injeção de oci- do fármaco utilizado. Caso a fêmea esteja muito es-
tocina. Entretanto, a ocitocina não deve ser aplicada tressada, é recomendado um banho 10 a 15 minutos
antes do toque vaginal e do nascimento de alguns antes da aplicação de ocitocina.
leitões. Uma injeção de cálcio auxilia a melhoria do Vários estudos ressaltam que, dependendo
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E
m suínos, a duração média da gestação varia A possibilidade de induzir e sincronizar os
entre 114 a 117 dias conforme a linhagem partos para determinados dias da semana ou horas
genética. Apesar de haver uma concentração do dia surgiu com o advento das prostaglandinas
de até 90% de partos entre dois dias antes e após a (PGF2alfa) e seus análogos, associadas ou não a
média, a amplitude do tempo de gestação pode che- ocitócitos.
gar a dez dias (110-120 dias) dentro de um mesmo Fisiologicamente, no decurso natural do parto,
rebanho. Essa grande variação pode ser explicada, o fim do bloqueio da progesterona ocorre tanto
principalmente, pela ordem de parto (Ordem de pela conversão de progesterona em estrógeno,
Parto > 6 = maior duração), tamanho da leitegada quanto pela luteólise induzida pela Prostaglandina
(leitegadas menores = maior duração), presença F2(PGF2alfa) placentária. Assim, o parto é pre-
de mumificados (maior número de mumificados = cedido por um aumento gradual de estrógeno du-
maior duração) e, também, pela diferença no mo- rante as últimas semanas de gestação, diminuição
mento da ovulação após a primeira inseminação, brusca de progesterona e um aumento de PGF2al-
momento esse considerado dia zero da gestação. fa entre 48 e 24 horas antes do início da expulsão.
A grande variação de tempo de gestação den- A administração exógena de PGF2alfa tem por
tro de um mesmo rebanho traz consequências na objetivo mimetizar a ação da PGF2alfa placentária
organização das tarefas dos funcionários, no fluxo e, assim, adiantar o processo natural de parto ao
de matrizes entre salas de maternidade, bem como induzir a lise do corpo lúteo. Por sua vez, o aumen-
na padronização de manejos com leitões desde seu to da secreção de estradiol estimula a expressão
nascimento até o desmame. Assim, a manipulação dos receptores de ocitocina na musculatura lisa do
do momento da ocorrência dos partos pode contri- útero (miométrio), os quais, quando estimulados
buir para: pela ocitocina, causam contrações dessa muscula-
»» Permitir intervenções pontuais quando há tura (figura 1).
dificuldades no parto; A administração exógena de PGF2alfa pode
»» Possibilitar maior pressão de assistência, causar abortamento ou reabsorção embrionária
reduzindo as perdas de leitões durante e logo a partir do 12º dia de gestação e induzir parto a
após o parto; partir do 110º dia, entretanto, induções anteriores
»» Criar oportunidade para maior eficiência na aos 112 dias de gestação podem resultar em nasci-
uniformização de leitegadas e orientação de mento de leitões com menor viabilidade, acréscimo
mamadas; na natimortalidade, aumento no intervalo entre
»» Diminuir a variabilidade da idade dos leitões o primeiro e último leitão, no número de assistên-
e período lactacional das fêmeas; cias, maior intervalo desmame-estro (IDE), maior
»» Agilizar e otimizar o “fechamento” de sala da ocorrência de Síndrome Mastite Metrite Agalaxia
maternidade, facilitando o manejo all in-all out; (MMA) e diminuição no número de desmamados. A
»» Evitar partos nos finais de semana e feriados; partir dos 112 dias de gestação, esses efeitos nega-
»» Otimizar as instalações de maternidade. tivos são minimizados ou nulos.
Intervalo indução/parto
478 Publicação Análogo Via Dose 8-24h 24-34h >34h
IM 10mg 18,7a 48,7ac 32,5ac
IM 10 + 10mg 28,2a 64,1b 7,7b
Dinoprost
SMV 2,5mg 23,9a 34,7a 41,3a
SMV 2,5 + 2,5mg 18,6a 56,3c 25,1c
Peixoto (2002)
SMV 0,06mg 40,0m 43,7m 16,2m
Cloprostenol
SMV 0,06 + 0,06mg 44,3m 51,9m 3,8m
Placebo SMV 0,5ml 23,2n 13,0n 63,8n
Placebo SMV 0,5ml + 0,5ml 15,9n 10,1n 73,9n
Cloprostenol SMV 0,175mg 38,0x* 49,7 x** -
Gheller (2009)
Placebo SMV - 28,2 y*
28,1 y**
-
* = Intervalo entre 0-24 horas após a indução; ** = Intervalo entre 24-30 horas após a indução
a, b, c na coluna (Experimento 1), P<0,05; m, n na coluna (Experimento 2), P<0,05; x, y na coluna, P<0,05
Com relação às vias de administração, duas são mamário. Sua principal função é a contração da
recomendadas: intramuscular na tábua do pescoço ou musculatura nesses locais, que culmina com a
submucosa vulvar na junção vulvovaginal, aproxima- expulsão dos fetos e ejeção do leite. Por essa pro-
damente 2 a 3cm do lábio vulvar. Independentemente priedade, esse hormônio vem sendo utilizado em
da via utilizada, não há diferenças de desempenho do protocolos de indução de parto com a finalidade de
protocolo, entretanto, a dose pode ser diminuída em aumentar a sincronização desses.
até ¼ quando a via de escolha for a submucosa vulvar. É bem verdade que, quando a ocitocina é ad-
A administração de PGF2alfa pode causar os ministrada sozinha, ela não possui capacidade de
seguintes efeitos adversos: aumento da frequência sincronização de parto, pois há necessidade de
respiratória, da salivação, micção e defecação den- receptores para a sua ligação às células mioepite-
tro de poucos minutos. Alterações comportamen- liais. Esses receptores só estão presentes a partir
tais, tais como movimentos similares a fazer ninho, de 24 horas antes do parto, pois a sua expressão é
arrastar os pés, morder as barras da cela podem mediada pela secreção de estradiol. Isso subsidia
aparecer dentro de duas horas. A administração a administração de PGF2alfa 24 horas antes do
via submucosa vulvar pode reduzir a inquietação, uso de ocitocina para garantir a presença desses
entretanto lesões teciduais locais podem surgir, receptores. Assim, diz-se que a ocitocina por si só
principalmente quando o análogo for o Dinoprost. não é indutora de partos, porém pode aumentar a
sincronização de partos em protocolos de indução
Associação de agentes luteolíticos que se utilizam de PGF2alfa.
com outros fármacos Quantidades superiores a 90% das fêmeas que
recebem ocitócitos 24 horas após a administração
Associação de agentes luteolíticos de PGF2alfa iniciam o parto em até oito horas de-
(PGF2alfa) e ocitócitos em protocolo pois, período esse que pode ser programado para
de sincronização de partos o momento em que há maior número de pessoas
A ocitocina é um hormônio produzido no hipo- trabalhando. Em contrapartida, quando se utiliza
tálamo e armazenado na hipófise. Ela possui ação apenas PGF2alfa, a concentração de partos durante
nas células mioepiteliais do útero e do complexo esse mesmo período geralmente é inferior a 60%.
Da mesma forma que acontece na administra- que a atividade biológica de 0,07mg da carbetocina
ção de prostaglandinas, a via de administração dos equivale a 10UI de ocitocina.
ocitócicos também pode interferir no sucesso do De maneira geral, associações de ocitócitos
479
protocolo. Existem três vias recomendadas: intra- 20-24 horas após a administração de PGF2alfa
muscular, intravulvar e endovenosa, consideran- permitem melhor organização, sincronização e su-
do-se que a variação entre elas se dá no tempo de pervisão dos partos, e, consequentemente, melhor
absorção e ação, bem como na concentração plas- assistência aos partos e leitões. Entretanto, essa
mática. A via intramuscular é a mais utilizada e tem grande concentração de partos em um curto espaço
efeito a partir de três a cinco minutos, perfazendo de tempo pode tornar-se um problema operacio-
cerca de 30 a 45 minutos. Com relação ao tempo de nal na prática, principalmente se não houver mão
ação, varia de 31, 20 e nove minutos quando a ocito- de obra capacitada suficiente nesses momentos.
cina é administrada por via intramuscular, intravul- Portanto, antes de introduzir esse manejo, deve-se
var e endovenosa, respectivamente. analisar e planejar a disponibilidade e qualidade da
Foi demonstrado que o uso de ocitocina via mão de obra empregada.
intramuscular diminui o número de leitões natimor- Na tabela 2 estão resumidos os principais pro-
tos intraparto e com o cordão umbilical rompido. tocolos de indução de parto utilizados em suínos e
Esse fato pode ser atribuído à distribuição mais suas consequências comparativas.
homogênea das contrações uterinas durante um
maior período de tempo comparado com o tempo Associação de agentes luteolíticos
quando a administração é via endovenosa. Em con- (PGF2alfa) e progestágenos
trapartida, a administração endovenosa aumenta a A associação entre o tratamento com proges-
duração do parto, e, quando se opta por essa via, a tágenos e indutores de parto é realizada quando
dose recomendada deve ser menor. se busca evitar partos precoces e, ainda, concen-
Outro ponto importante que pode interfe- trá-los. Denomina-se precoce o parto antes do
rir nos resultados dos protocolos associados a 114º dia de gestação. Esses partos geralmente são
ocitócitos é a dose de ocitocina utilizada, prin- associados com efeitos indesejáveis tanto à fêmea
cipalmente com relação à natimortalidade. Foi quanto à sua leitegada, entre eles: aumento da nati-
comprovado que doses superiores a 30UI podem mortalidade, maior porcentagem de leitões leves na
causar excessiva atividade da musculatura do leitegada, menor viabilidade de vida dos leitões nos
útero e consequente exaustão uterina, hipoten- primeiros dias, redução na produção e na qualidade
são, espasmos uterinos, asfixia fetal, vômitos do colostro e do leite e, consequentemente, um me-
e arritmias nas porcas, aumentando, assim, as nor desempenho dos leitões durante a fase lacta-
chances de distocias e natimortos. cional. Atualmente, devido às diferentes linhagens
Alternativamente, a carbetocina surge como genéticas existentes no campo, partos precoces não
opção para se associar com prostaglandinas na são observados em todos os plantéis, no entanto
indução de partos. Trata-se de um análogo sinté- chegam a ser superiores a 10% em alguns rebanhos.
tico da ocitocina cuja estrutura lhe garante uma O principal progestágeno utilizado para esse
meia-vida plasmática maior, perfazendo um total fim é o Altrenogest, um esteroide sintético que
de 90 minutos, com duração da dose terapêutica deve ser fornecido por via oral, na dosagem de
por várias horas. Essa característica confere menor 20mg/dia. Diversos estudos comprovaram seu
necessidade de reaplicações do medicamento, além efeito de prolongamento da gestação quando for-
de fornecer melhor homogeneidade nas contrações necido nos últimos dias desta. Em geral, o forneci-
miometriais, proporcionando intervalo mais unifor- mento do Altrenogest é realizado a partir do 111º
me entre o nascimento dos leitões, além da diminui- dia de gestação, uma vez ao dia, até um dia antes
ção na duração do parto. Trabalhos demonstraram do que se planeja o parto. Após o término do trata-
Tabela 2 - Comparativo da concentração de partos conforme os protocolos mais utilizados para induzir
partos em suínos
mento com Altrenogest, a indução do parto pode fatores importantes na natimortalidade. Contudo, o
ou não ser utilizada. Quando a opção é aumentar a momento da indução do parto é de muita importân-
concentração dos partos, a associação com agen- cia na ocorrência de natimortos. Ao induzir partos
tes luteolíticos é a alternativa. Nesse caso, eles precoces (menos de 112 dias), o que pode acontecer
podem ser administrados 24h após o último forne- quando existem erros de cálculo ou anotação no
cimento de Altrenogest. momento da inseminação, aumenta-se a chance de
Devido à alta correlação existente entre a dura- natimortos.
ção das gestações anteriores e a atual, a identifica- Em contrapartida, a natimortalidade intra e
ção de fêmeas que apresentaram partos precoces pós-parto pode ser maior quando ocitocina ou
nas gestações passadas pode ser uma alternativa carbetocina são utilizadas após PGF2alfa, principal-
para diminuir as perdas sem, para isso, haver neces- mente, quando utilizadas em altas doses ou quando
sidade do tratamento de todas as fêmeas do lote. há novas aplicações de carbetocina ou ocitocina no
decorrer do parto. No caso da carbetocina, o maior
Indução de parto e suas consequências tempo de ação desse fármaco pode aumentar as
para leitões e matrizes chances de natimortalidade, entretanto esse fato
parece não acontecer em todas as situações. Pos-
Natimortalidade, duração do parto sivelmente, diferenças individuais, de linhagens e
e intervenções obstétricas de assistência ao parto exercem influência sobre a
A natimortalidade intra e pós-parto é uma ocorrência ou não de natimortos associadas ao uso
questão multifatorial, contudo a asfixia durante o desse fármaco, as quais ainda não estão completa-
momento do parto é uma das causas mais importan- mente esclarecidas.
tes, pois os fetos de suínos possuem uma tolerância O aumento ou não dos natimortos geralmente
muito baixa à anóxia. está mais relacionado com a distribuição de tarefas,
A indução do parto pela administração de PG- habilidade técnica e presença humana para aten-
F2alfa parece não ter influência sobre a duração der os partos do que diretamente com o protocolo
do parto, nem no caso de intervenção obstétrica, de indução de parto utilizado. Assim, ressalta-se a
importância do entendimento de que a grande con- da gestação, entretanto ela é potencializada no final
centração de partos em um curto espaço de tempo da gestação, quando as células alveolares tipo II au-
exige maior concentração de mão de obra qualifica- mentam a sua síntese em decorrência da elevação
481
da nesse momento. Mesmo quando a decisão é pela dos níveis de cortisol. Assim, quando a indução de
não-indução de partos, a importância da atenção parto é realizada precocemente, há chances de os
aos partos é a mesma, porém mais distribuída ao leitões apresentarem problemas respiratórios pela
longo do dia. impossibilidade de o pulmão se manter inflado em
decorrência de quantidades insuficientes de surfac-
Produção e qualidade do colostro tante pulmonar.
A indução do parto por meio da administração Já foi demonstrado, também, que fetos de
de PGF2alfa ou seus análogos é capaz de precipitar matrizes induzidas sofrem redução transitória (15
a cascata hormonal normal de pré-parto. Esse fato minutos após a indução) na oxigenação. Além dis-
influencia diretamente uma alteração transitória so, os leitões, frutos de partos induzidos, tendem a
na composição do colostro, aumentando, principal- demorar mais para mamar pela primeira vez e, con-
mente, a concentração de lactose por um mecanis- sequentemente, podem apresentar menor número
mo de aumento da liberação de cortisol e prolactina. de células brancas (células de defesa) circulantes,
Por se tratar de um importante agente osmótico, principalmente neutrófilos e, dessa forma, estar
a lactose induz uma “diluição” do colostro e, dessa mais sujeitos a infecções logo após o nascimento.
forma, menores concentrações de matéria seca, Ainda, caso a indução seja feita antes dos 111 dias
proteína e cinzas podem ser encontradas. Entretan- de gestação, os leitões apresentam maiores dificul-
to, nas primeiras horas após o parto, a composição dades de sugar o leite. Em contrapartida, a capaci-
do colostro já retorna a níveis normais. dade de absorção de IgG não é afetada em leitões
Apesar dessa alteração transitória no colostro, provenientes de partos induzidos.
a concentração de Imunoglobulina G (IgG) parece Embora as consequências quanto à viabilida-
não ser afetada pelo processo da indução de parto. de e desempenho dos leitões sejam mais eviden-
Possivelmente, essa diferença se deve a diferentes tes quando a indução é realizada antes dos 111
mecanismos de captação da IgG pelas células epite- dias de gestação, após esse período, elas ainda
liais da glândula mamária. Outras alterações quanti- podem ser impactantes. No gráfico 1, pode-se ob-
tativas ou qualitativas no colostro e leite ainda não servar a consequência da administração via sub-
são bem esclarecidas. mucosa vulvar da mesma dose de Cloprostenol
(175 mg) em diferentes momentos da gestação
Viabilidade e desempenho dos leitões em um rebanho com histórico de duração de ges-
O momento da indução é um fator que influen- tação média de 116 dias.
cia diretamente o sucesso ou não da ação. Como já Em consequência dos diferentes momentos da
relatado, induções realizadas antes dos 111 dias de indução de parto, a duração média da gestação é
gestação trazem consequências severas à viabilida- influenciada (gráfico 2).
de dos leitões. Embora ainda pouco estudado, alguns estudos
Ao nascerem, os pulmões dos leitões neces- demonstram que o crescimento fetal nos últimos
sitam estar capacitados para assumir as funções dias de gestação varia de 26 a 84g/dia. Dessa forma,
de trocas gasosas, as quais eram realizadas pela ao considerar o exemplo acima, pode-se estimar a
circulação placentária durante a gestação. Nesse influência da indução no peso médio dos leitões ao
momento, a produção adequada do surfactante pul- nascerem nas diferentes estratégias de indução,
monar, substância responsável pela conservação conforme demonstrado no gráfico 3, em que se con-
do pulmão inflado após o nascimento, é essencial. siderou 84g/dia como máxima diferença de peso, ao
Essa substância começa a ser produzida na metade nascerem, e 26g/dia, como mínima.
Gráfico 1 - Distribuição de fêmeas conforme o tempo de gestação de acordo com o protocolo de indução de parto utilizado
60
50
482
40
30
20
10
Dessa maneira, uma diminuição de 31 a 102g nascem menores devido ao processo de indução de
no peso médio dos leitões, ao nascerem, pode ser parto apresentam menor viabilidade e desempenho
encontrada quando da indução de parto aos 113 nessas fases. Trabalhos que utilizaram indução com
dias em rebanhos com duração média de gestação base no histórico de duração de gestação anteriores
próxima a 116 dias. não encontraram diferença na viabilidade e desem-
Sabe-se que o peso, quando do nascimento, pos- penho de leitões induzidos quando comparados
sui correlação com a viabilidade e o desempenho de àqueles oriundos de partos naturais. Entretanto,
leitões durante a fase lactacional e as posteriores, o são necessários mais estudos para melhor elucida-
que ainda não está totalmente claro é se leitões que ção dessa interação.
Gráfico 2 - Duração média de gestação conforme Gráfico 3 - Estimativa de peso médio dos leitões ao
o protocolo de indução de parto utilizado nascerem, conforme o tempo de gestação de acordo
com o protocolo de indução de parto utilizado
116,0
Média de duração de gestação (d)
115,8
1,456 1,456
Peso dos leitões ao nasc. (kg)
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ción Latinoamericana de Especialistas 35-47.
N
os últimos anos, devido às dificuldades Para assegurar baixa perda de calor corporal, rá-
encontradas para formação e manutenção pido acesso ao colostro e ganho de peso no primeiro
das equipes de trabalho da suinocultura, dia de vida, seguem-se alguns cuidados prescritos
tem sido frequente a tendência de excluir ou reduzir para com os leitões recém-nascidos. O primeiro
algumas tarefas da rotina de manejo das granjas. procedimento imediatamente após o nascimento é a
De fato, há diversas possibilidades nesse sentido, secagem do leitão e se justifica pelo fato de que a umi-
porém, definitivamente, isso não deve incluir os cui- dade permite a troca de calor do leitão com o meio e
dados com os leitões recém-nascidos. acelera a queda da temperatura corporal, promoven-
A mortalidade neonatal é a principal causa do a hipotermia. É preciso considerar que a zona de
de perdas no período lactacional, cujo momento conforto térmico de um leitão recém-nascido é pró-
mais crítico são as primeiras 72 horas de vida dos xima dos 32ºC, com limite crítico inferior a 29ºC, ou
leitões. Na maioria das vezes, essa mortalidade seja, mesmo em situações de verão os leitões podem
é superior à soma das perdas por mortalidade de estar em condições desfavoráveis.
todo o restante do ciclo do suíno até o abate. Dessa Muitos trabalhos que estudaram os fatores de
forma, trata-se de um período crítico e, invariavel- risco para a mortalidade durante a fase lactacional
mente, deve ser contemplado por qualquer plano evidenciaram a diminuição da temperatura corpo-
de ação que objetive aumentar o número de suínos ral como um dos principais eventos adversos. Quan-
vendidos/fêmea/ano. do a temperatura está abaixo da zona de conforto
Nesse período, as principais causas de mortali- térmico, os leitões neonatos aumentam em apro-
dade são o esmagamento, a inanição e a hipotermia, ximadamente 35% seus requerimentos de energia
na maioria das vezes com uma relação muito forte para mantença, termorregulação e atividade física,
entre elas. Os manejos indispensáveis têm como utilizando energia proveniente das reservas corpo-
objetivo reduzir a perda de calor corporal (evitar rais e do colostro para sobreviverem e se movimen-
choque térmico) e conduzir os animais o mais rápido tarem. Outro fato relevante é que a temperatura
possível para a ingestão de colostro. ambiente tem uma influência importante sobre a
Recentemente, alguns índices têm sido sugeri- ingestão de colostro e consequente sobrevivência
dos como indicadores de sobrevivência dos leitões dos leitões.
e um dos principais é o ganho de peso esperado Os leitões mantidos na zona de termoneutra-
dos leitões nas primeiras 24h de vida. Trabalhos lidade mamaram 36,8% a mais de colostro do que
recentes indicaram que, para reduzir a mortalidade os leitões que estavam em ambiente com 18-20ºC.
durante a lactação, os leitões devem ganhar 70g/kg Além disso, leitões mantidos em condições adver-
de peso ao nascimento, ou seja, um leitão que nasce sas de temperatura ambiente permaneceram com
com 1,350kg deve ganhar aproximadamente 90g sua temperatura corporal significativamente mais
ao final das suas primeiras 24h. Além disso, o ideal é baixa que os mantidos na zona de conforto térmico.
que a primeira mamada ocorra entre 10 e 30 minu- A mortalidade de leitões foi de 13,8% para os manti-
tos após o nascimento. dos no frio e não houve perdas de leitões mantidos
Bibliografia
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D
urante a vida intrauterina, o feto recebe transferência é com a ingestão adequada do colos-
continuamente um suprimento intraveno- tro em quantidade e em um determinado período.
so de substratos para nutrição, seja através O colostro é composto de imunoglobulinas (a IgG
do “leite uterino” (produzido pelas glândulas ute- e IgM são absorvidas e transferidas para a circulação
rinas), seja através das trocas sanguíneas, direta- e a IgA é pobremente absorvida e tem um papel es-
mente. Imediatamente após o nascimento, o leitão sencial na proteção da mucosa intestinal), linfócitos
passa a contar com as reservas orgânicas de energia (que são absorvidos e rapidamente transferidos
e proteína e com a ingestão do colostro para manu- para todo o organismo), macrófagos e neutrófilos
tenção das funções orgânicas e início imediato do (que são células fagocíticas essenciais) e fatores imu-
crescimento. nomoduladores (a lactoferrina, a lactoperoxidase
Sob a ótica imunológica, o tipo de placenta do e a transferrina são conhecidas por sua atividade
suíno não permite a passagem de determinadas antimicrobiana), além das citocinas (têm um papel na
moléculas da circulação materna para os fetos, resposta aos patógenos e estimulam a diferenciação
como as imunoglobulinas e a maioria dos patóge- das células que produzem IgA no intestino do leitão).
nos. Portanto, não há transferência de imunoglo- É fato que há uma limitação de tempo para
bulinas maternas para os fetos, e os leitões nas- ingestão de colostro. Sob a esfera nutricional, a pri-
cem sem defesas específicas para determinados meira mamada deve ocorrer entre 10 e 30 minutos
patógenos que existem no ambiente. Além disso, após o nascimento, para que a demanda de energia
os fetos suínos têm baixa capacidade de produ- de manutenção das funções vitais seja suprida. Sob
zir anticorpos e tornam-se imunocompetentes a esfera imunológica, a limitação de tempo está
somente a partir dos 70 dias de gestação e, geral- ligada à gradativa redução da capacidade do in-
mente, não produzem anticorpos pelo fato de não testino do leitão em absorver as imunoglobulinas
estarem expostos a agentes infecciosos durante a (redução da permeabilidade da mucosa intestinal
vida intrauterina. a grandes moléculas – gut closure) e também liga-
O colostro tem diversos componentes e fun- da às mudanças na composição do colostro e sua
ções de nutrição e imunidade do recém-nascido e transformação em leite (tabela 1). Apenas 12 horas
que serão determinantes para sua sobrevivência, já após o parto, já há apenas 30% da concentração
que nasce praticamente agamaglobulêmico e com inicial de IgG/ml de colostro.
baixas reservas de energia orgânica. Há um impacto muito significativo da ingestão
A função imunológica do colostro é a transfe- de colostro sobre a sobrevivência nos primeiros
rência da imunidade da matriz, seja ela adquirida dias de vida do leitão, estimando-se que 72% dos
ao longo da vida com a exposição natural aos pa- leitões que morrem nas primeiras 96 horas após o
tógenos ambientais, seja através da vacinação na parto não ingeriram colostro suficiente.
fase final de gestação, protegendo-os dos primei- Trabalhos recentes indicam que a quantidade
ros desafios sanitários e até que se tornem imu- de colostro ingerida necessária para garantir a so-
nocompetentes. A única maneira de efetivar essa brevivência do leitão seria de mais de 200g/kg de
peso vivo ao nascimento. Assim, um leitão com peso essa produção, já que a média foi de 3,3 a 3,7kg de
médio de 1,350kg, deveria ingerir 270g de colostro colostro nas 24 horas após o parto e variou de 1,5
até o final de suas primeiras 24h. Essa quantidade a 5,5kg. Os autores ainda afirmam que a produção
seria a adequada para garantir imunidade passiva, de colostro, ao contrário da produção de leite, não
moderado ganho de peso e reduzir significativa- aumenta de acordo com o número de nascidos e
mente o risco de morte. com o peso desses leitões. Assim, a disponibilidade
Alguns autores citam que um fator importante de colostro por leitão é reduzida em leitegadas
na espécie suína é que o colostro ingerido ou uma numerosas.
parte significativa dele deva ser proveniente da Além da produção da matriz, os principais fa-
mãe biológica. Por esse motivo, bancos de colostro tores ligados ao leitão que influenciam na ingestão
congelado poderiam ser muito efetivos para suprir do colostro são o peso ao nascer, a ordem de nasci-
a função nutricional, porém menos efetivos sob mento, estresse pelo frio, nascimento pré-maturo
a ótica imunológica. Esses autores afirmam que, e hipóxia/cordão umbilical rompido ao nascimento.
especialmente, a absorção da imunidade celular Diante dessa situação e da hiperprolificidade
(linfócitos) seria prejudicada quando o colostro das matrizes modernas, é clara a necessidade de
fornecido não é proveniente da mãe biológica. instituir técnicas de aplicabilidade prática para
Nesse sentido, devido às disputas por tetas ou pela maximizar e uniformizar a ingestão de colostro,
limitação da ingestão de colostro da mãe biológica, minimizando a existência de subpopulações imuno-
o manejo de uniformização de leitegadas ganha uma lógicas até o desmame, ocorrência de hipoglicemia
importância fundamental. e mortalidade nessa fase.
O ponto primordial para uma ingestão ade-
quada de colostro é sua produção pelas matrizes, a Técnicas para uniformizar a
qual apresenta uma viariabilidade muito alta entre ingestão de colostro
matrizes. Na simulação para uma realidade bra- Observações de campo e dados de pesquisa
sileira de granjas hiperprolíficas (1,35kg peso ao evidenciam que há uma variação muito grande
nascer e 14,5 nascidos vivos), a matriz suína pre- de colostro ingerido entre leitões de uma mes-
cisaria produzir 3,625kg de colostro nas primeiras ma leitegada, devido às disputas pelas tetas já
24 horas pós-parto para suprir 250g de colostro/ durante o parto, quando não há o acompanha-
leitão. Dados recentes indicam que aproximada- mento das mamadas. Esse trabalho deve ser
mente 35 a 55% das matrizes não apresentariam realizado para auxiliar o leitão no acesso e apre-
ensão da teta, até que ele desencadeie o reflexo partos para o período diurno é uma sugestão que
da sucção (figura 1 e foto 1). ajuda a resolver boa parte dessa questão.
Nas leitegadas numerosas, o ideal é asse- Atenção especial deve ser dada aos partos que
490
gurar que os primeiros 10 leitões nascidos ma- ocorrem após o horário comercial, já que a unifor-
mem o colostro e, após isso, marcá-los com um mização da leitegada e a adequação do número de
bastão/pincel. A marcação com bastão de cores leitões ao número de tetas funcionais só acontecem
diferentes ajuda a identificar a ordem de nasci- na manhã seguinte. Isso compromete diretamente
mento. No transcorrer do parto, os primeiros a ingestão de colostro, caso as mamadas não sejam
serão fechados no escamoteador, mantendo organizadas.
no máximo dez leitões mamando até o término. A tabela 2 descreve algumas situações em que
Dessa forma, evita-se disputa por tetos e ga- os leitões estão predispostos à baixa ingestão de
rante-se uma melhor ingestão de colostro em colostro.
100% dos leitões. Para prevenir essas situações ou minimizar os
Adotando esse manejo, porcas com apenas 11 riscos gerados por elas, a técnica de sondagem oro-
tetos viáveis conseguem fornecer colostro unifor- gástrica pode auxiliar no fornecimento de colostro
memente para 100% dos seus leitões, mesmo que ainda durante o parto. Essa técnica tem sido imple-
sua leitegada exceda esse número. A indução dos mentada com sucesso na suinocultura brasileira,
mostrando-se rápida, prática e eficaz. Quando uti-
lizada dessa forma, tem dado excelente resultado
de redução de mortalidade e melhoria da qualidade
dos leitões.
Para os leitões leves, o fornecimento via sonda
garante o aporte inicial de energia para melhorar a
condição de realizar a mamada natural. Nos últimos
a nascer, permite-se realizar a uniformização das
leitegadas mais precocemente, já que pode ser for-
necida uma maior quantidade de colostro da mãe
biológica em menor espaço de tempo.
O manejo consiste em fazer a coleta do colos-
tro e fornecê-lo com auxílio de uma sonda uretral
Figura 1 – Principais rotas neonatais
ou nasal humana acoplada a uma seringa (figura 2).
(Bunger, 1983) O ideal é que seja fornecido colostro recém-cole-
sem que eles diminuam o interesse pelo aparelho contato do colostro com as papilas gustativas pre-
mamário da fêmea, já que o colostro é introduzido sentes na língua dos leitões ou o vício comumente
diretamente no estômago, evitando, portanto, o desenvolvido com a mamadeira.
492
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A
s alterações drásticas do aparelho reprodu- a ser questionada, pois não refletia o quadro mais
tivo da porca, ligadas à fisiologia do parto, frequentemente observado de insuficiência lacta-
tornam a parição um evento crítico no ciclo cional, no qual nem sempre a metrite estava pre-
reprodutivo, com a abertura do colo uterino, alta sente. Algumas observações parecem enfatizar
carga de estresse físico, mudanças bruscas no apor- uma infecção primária do trato urinário e o desen-
te imunológico uterino, aumento na população bac- volvimento subsequente do problema lactacional
teriana, danos no epitélio uterino, além de traumas (hipogalactia ou agalactia), quando a infecção do
físicos que tornam o útero vulnerável à ocorrência útero ocorre durante o período pós-parto. Entre-
de infecções que afetam a saúde da porca e seus tanto, a saúde uterina acaba sendo claramente
leitões. Em contrapartida, como um fator de risco, comprometida em muitos casos de parições pro-
existe uma estreita relação entre as infecções uriná- longadas e/ou com intervenção manual por palpa-
rias (cistite e pielonefrite) e os problemas reproduti- ção do trato genital.
vos que envolvem a saúde uterina, conforme relato
de vários autores.
O período do periparto (os últimos 10% da ges-
tação + as primeiras semanas pós-parto) têm um
alto risco para as matrizes suínas. Foi relatado que
8,8% das fêmeas morreram devido a problemas no
parto. A inapropriada assistência ao parto, a reten-
ção de leitões, a síndrome MMA (mastite-metrite
-agalactia), a distocia e o prolapso uterino ou vaginal
foram citados como desordens.
Além do próprio risco da mortalidade existem
várias condições de doença associadas com o perío-
do do periparto, ligadas à insuficiência lactacional e/
ou endometrite, sob diferentes denominações. Essa
multiplicidade de etiologias está refletida nas de-
nominações associadas a esse complexo de doença,
tais como MMA; disgalactia; mastite por coliformes
(CM), toxemia puerperal; síndrome de hipogala-
xia do periparto (PHS); síndrome da disgalactia
pós-parto; síndrome de descargas vaginais (VDS) e
infecção do trato urogenital.
A denominação síndrome metrite, mastite e Foto 1 – Prolapsos uterino e retal decorrentes
de complicações durante o parto
agalactia (MMA), com o passar do tempo, passou Fonte: ABCS
O complexo de doenças do periparto aqui vada nos períodos iniciais da prenhez. Porém, o es-
referido engloba infecções do trato genital (endo- tresse da parição pode ocasionalmente ativar essas
metrites) e glândulas mamárias (mastites), tendo as infecções, que são mantidas em caráter crônico. Es-
494
cistites como fator intercorrente ou fator de risco. tudos estabeleceram uma correlação positiva entre
Problemas dessa natureza estão associados a per- bacteriúria mais albuminúria em exames pré-parto
das econômicas devidas à redução do número de e o subsequente desenvolvimento de insuficiência
leitegadas por porca/ano e ao descarte prematuro lactacional. Se bactérias gram-negativas e proteína
de fêmeas. forem detectadas em amostras de urina pré-parto,
existe 97% de probabilidade de a porca desenvolver
Doenças do periparto: inter-relação a síndrome da disgalactia. Levantamentos em aba-
com problemas urinários tedouro estimaram que porcas afetadas por urocis-
Porcas com infecção do trato urinário apresen- tite apresentaram 3,5 vezes maior probabilidade
tam alta prevalência de MMA comparadas às porcas de ter simultaneamente endometrite, e estudos de
com tratos urinários normais. Vários autores relata- campo concluíram que porcas com problemas uri-
ram a relação entre as infecções urinárias e os pro- nários à entrada da maternidade apresentaram oito
blemas reprodutivos, tais como descargas vulvares, vezes mais risco de doenças puerperais.
síndrome de hipogalaxia, falhas de concepção e A estrutura anatômica da porca é citada como
redução do tamanho da leitegada. fator predisponente de problemas urinários, na
Infecções da bexiga e dos rins são muito comuns qual a distância da vulva até a uretra é relativa-
na fêmea suína, mas a doença é usualmente obser- mente pequena, o que torna a bexiga da porca mais
acessível à ascensão de bactérias da flora intestinal
ou da vulva, favorecendo casos de cistites ou, por via
ascendente direta, de vaginites e endometrites.
Em estudo com porcas abatidas por falhas
reprodutivas foram encontrados 73% de casos de
alterações inflamatórias do trato urogenital e glân-
dulas mamárias. Em um estudo sobre 25 rebanhos
no Sul do Brasil, houve constatação de uma alta
prevalência (22,2%) de infecção urinária em porcas
gestantes mantidas em confinamento, ao passo que
com as porcas mantidas ao ar livre a frequência foi
significativamente menor (6,7%).
tisse diferença significativa entre porcas de variadas Em um estudo em que 400 fêmeas suínas foram
ordens de parição, identificou-se uma tendência de submetidas à palpação vaginal durante o parto, sem
as porcas mais velhas apresentarem mais amostras luvas e sem prévia desinfecção e lubrificação, iden-
495
positivas após a parição. Essas infecções costumam tificou-se uma incidência de 34,7% de descarga vul-
ser superadas e eliminadas dois ou três dias após a var patológica, cursando com febre. É sabido que a
parição. Quando, porém, patógenos facultativos so- intervenção manual retarda o processo de parição,
brepõem-se à flora local apatogênica, estabelece-se introduz micro-organismos infecciosos, principal-
uma infecção persistente. Das infecções puerperais mente de origem fecal, normalmente habitantes da
podem advir infecções da bexiga, que posterior- parte anterior da vagina, e provoca trauma, fatores
mente atuam novamente como fonte de infecção do que provavelmente resultem em descargas patoló-
útero.
Uma pesquisa observacional, com enfoque gicas pós-puerperais.
em fatores de risco para a constatação de leitega-
das muito pequenas (<8 leitões nascidos totais), Síndrome da disgalactia pós-parto (SDP)
acompanhou 1.214 porcas desde a cobertura até a Um bom peso da leitegada ao desmame, em
parição subsequente. Entre os fatores de risco com grande parte, está na dependência da produção
importância estatística foram identificadas a inter- leiteira da matriz, que pode ser influenciada por
venção manual no parto e a presença de corrimentos muitos fatores como a saúde da porca, temperatu-
à inseminação (que se caracteriza como sequela ra e ventilação da sala de maternidade, potencial
de infecções puerperais). De acordo com o mesmo genético, estimulação da glândula mamária/tama-
autor, o fato de os rebanhos estudados já utilizarem nho da leitegada, fase da lactação, ordem de parto,
com certo rigor medidas preventivas (detecção de qualidade e consumo de ração e água e condição
cistite e corrimentos) e praticarem os respectivos corporal da porca.
tratamentos, explica por que os demais critérios Nesse contexto, o fato de haver falhas lactacio-
incluídos no estudo (corrimentos na maternidade nais causa distúrbios na maternidade, ao compro-
após a parição precedente ou infecções urinárias e meterem a produção de leite em diferentes graus,
febre após a parição precedente) não puderam ser desde uma hipogalactia moderada até uma aga-
identificados claramente como fatores de risco. lactia. A síndrome da disgalactia pós-parto (SDP)
caracteriza-se como uma doença de produção mul-
Intervenção manual durante o parto tifatorial muito frequente e insidiosa, mais segui-
Uma pesquisa no Brasil relatou o percentual damente representada por hipogalactia do que por
de 20% de fêmeas submetidas à intervenção ma- mastite, metrite ou agalactia.
nual durante a parição, num estudo com 4.121 Classicamente vista como uma das facetas da
porcas. Considerando outros relatos da literatura síndrome MMA (mamite, metrite e agalactia), a
que situam entre 3 e 5% a presença de distocia em SDP, na verdade, deveria ser considerada um qua-
suínos, esse alto percentual encontrado em casos dro mais geral. Autores consideram que a síndro-
de intervenção no parto sugere que muitas das pal- me MMA não seria mais que uma forma particular
pações genitais podem estar sendo efetuadas de da síndrome SDP, provavelmente a forma mais
forma indiscriminada. grave, mas também hoje a menos frequentemente
Em geral é preconizado que a taxa de interven- encontrada.
ção manual no parto deva ficar abaixo de 10%, para O papel da infecção do útero no desenvolvi-
que sejam evitadas intervenções desnecessárias. mento da SDP é controverso, embora existam argu-
Por ser um método invasivo ao ambiente uterino, mentos diretos e indiretos a favor de se considerar
pode haver a introdução de agentes patogênicos, o útero na patofisiologia da SDP. Na verdade, essa
com o consequente comprometimento do útero controvérsia pode ser derivada da reação uterina, a
para a gestação seguinte. qual difere da reação da glândula mamária. Em con-
intensa atividade contrátil do miométrio, libera uma porcas, com base na sintomatologia clínica, con-
quantidade pequena de um corrimento esbran- siderando temperatura retal, apetite, alterações
quiçado, mucoide (lóquios) que dura de um a três mamárias e descargas vulvares. Um exemplo de cri-
498
dias. Essa secreção uterina não possui odor fétido tério adotado em estudos de campo é apresentado
e não tem efeito sobre o apetite da porca, sobre sua abaixo (tabela 1).
capacidade de aleitamento ou sobre o desempenho Um estudo com 136 porcas com um ou mais
subsequente da leitegada. Entretanto, as descargas sintomas durante o período de observação no
vulvares persistentes após a parição também po- periparto determinou a seguinte prevalência
dem indicar a presença de uma infecção ativa que das alterações clínicas nas porcas: descarga
irá requerer tratamento. vulvar (47%); hipertermia (11%); alterações
mamárias (2%); perda de apetite (45%) e pari-
Diagnóstico ção prolongada (13%). É necessário ressaltar
Muitas vezes, existe uma fácil tendência de as- a variabilidade dos sintomas dentro do mesmo
sociar qualquer corrimento vulvar pós-parto com rebanho e que a importância dos sintomas varia
endometrites, porém existem outras entidades entre rebanhos. Segundo autores, isso reforça o
como a síndrome da disgalactia pós-parto, em que fato de que a unidade de observação é o rebanho
as descargas vulvares após o parto representam e não o animal individualmente.
um dos sintomas. As endometrites e metrites (mais O diagnóstico de um problema de endometrite
graves) são mais prováveis de surgirem quando a será mais fácil se dispuser de informações sobre
parição foi prolongada ou quando houve assistên- o desenrolar da parição (duração, natimortos pré
cia manual. -parto ou intraparto, intervenção manual).
Do ponto de vista clínico, devem ser observados Estudos sugerem uma abordagem diagnóstica
os demais sintomas associados tanto nos leitões em que é necessário combinar diferentes exames
como na matriz. Às vezes podem vir associadas com clínicos antes de se chegar ao diagnóstico de endo-
mamites, de modo que é importante também exa- metrite pós-parto (fluxograma 1).
minar o úbere na presença de descargas vulvares.
Em geral, o diagnóstico é baseado no fato da porca Principais agentes presentes
parar de comer, quando da presença de febre e evi- Muitos tipos de bactérias foram isolados
dência de uma descarga vulvar, usualmente de cor de úteros infectados, entretanto tem sido im-
branca amarelada ou marrom, às vezes associada possível a associação de um agente patogênico
com mastite. Um bom momento para a pesquisa de específico com todas as descargas vulvares. As
secreções vulvares é durante a amamentação. Pelo endometrites não específicas são resultantes da
fato de haver uma grande liberação de ocitocina infecção por bactérias não consideradas patóge-
endógena, tem-se a contração uterina e a expulsão nos específicos do trato reprodutivo. As várias
dessas secreções. Muitos e diferentes critérios espécies bacterianas isoladas de úteros infecta-
podem ser utilizados para avaliar a presença do dos incluem Escherichia coli, Streptococcus sp., Sta-
problema (doenças puerperal ou do periparto) nas phylococcus sp., Arcanobacterium pyogenis, Proteus,
Tabela 1 – Exemplo de critério* para avaliar a presença de descarga vulvar acima de 50ml/
dia e a severidade da síndrome de doença do periparto em um dado rebanho
Fluxograma1 – Abordagem diagnóstica clínica dos corrimentos vulvares na porca após o parto
Diagnóstico:
Com
Sem sintomas síndrome da
consequência
agudos na porca disgalactia
sobre os leitões
Descargas pós-parto
vulvares
pós-parto
Com (ou sem) Com Diagnóstico:
sintomas agudos consequência endometrite
na porca sobre os leitões benigna pós-parto
Com Diagnóstico:
Com sintomas
consequência metrite severa
agudos na porca
sobre os leitões pós-parto
adaptado de MARTINEAU, 1997
Klebsiella e vários outros. Um estudo brasileiro lo desmama-cio, quando comparadas com fêmeas
analisou 53 amostras de descargas vulvares de 20 com descarga de menor duração. Também no mes-
rebanhos suínos comerciais e registrou 44,4% de mo estudo houve redução no tamanho da leitegada,
contaminação por Staphylococcus aureus, 44,4% mas apenas nas porcas primíparas. Os autores suge-
por Escherichia coli, 34,6% por Staphylococcus α riram que o útero menos maduro de leitoas jovens
hemolítico, 7,5% por Proteus sp., 3,8% por Ente- talvez requeira mais tempo para recuperar-se da
rococcus faecalis e 3,8% por Klebisiela. Os autores infecção em comparação com porcas mais velhas.
sugeriram que bactérias ambientais e outras Outro trabalho com 3.976 matrizes em dois
bactérias presentes no trato urogenital (oportu- rebanhos observou que porcas sem doença puer-
nistas) são as causas mais comuns desse tipo de peral na parição anterior tiveram menor frequên-
infecção seguida de descarga vulvar. cia de falha de concepção (12,4% e 16,1%) compa-
radas com porcas com doença puerperal (15,8%
Inter-relação das afecções uterinas e 21,6%). Com relação ao tamanho da leitegada,
com a fertilidade subsequente as porcas que passaram por doença puerperal na
De acordo com a literatura, as infecções do úte- parição anterior tiveram menos leitões nascidos
ro causam infertilidade transitória ou persistente, vivos por parto, em comparação com porcas sau-
podem afetar a saúde geral das porcas, e são mais dáveis (-0,36 leitões). Segundo autores, a duração
comuns em porcas com maior ordem de parto e da descarga vulvar (> 6 dias), com volumes supe-
em leitoas. Um estudo de referência observou que riores a 50ml/dia, significativamente reduziu a
porcas acometidas por doença puerperal acompa- taxa de concepção e a taxa de parição. Essas porcas
nhada por descarga vulvar que persistiu por mais tiveram maior probabilidade de apresentarem
de seis dias, apesar de receberem tratamento, apre- infecção crônica persistente e condições uterinas
sentaram efeito adverso nas taxas de concepção desfavoráveis no momento do retorno ao estro e
(-3,5%) e de parição (-9,2%) subsequentes, em todas cobrição, dependendo do tempo da lactação e da
as ordens de parto, independentemente do interva- eficácia do tratamento, caso esse tenha sido apli-
cado. Também ficou evidenciado que a descarga Tratamento das descargas após o parto
vulvar acima de seis dias é uma indicação da severi- »» As porcas com descarga vulvar decorrente
dade da endometrite e dos seus efeitos associados de endometrites puerperais podem ser trata-
500
de longo prazo. das com antimicrobianos por via intrauteri-
na, parenteral ou oral.
Medidas de controle dos problemas »» As drogas com potencial eficácia na terapia
do periparto em porcas ou profilaxia das doenças urogenitais do su-
As medidas preventivas são baseadas princi- íno incluem o florfenicol, a amoxicilina, cefa-
palmente em práticas de manejo que minimizem losporinas, sulfas + trimetoprin, enroflaxina
ou eliminem os fatores de risco, visando reduzir ao e oxitetraciclinas. Os testes de sensibilidade
máximo as infecções uterinas, infecções urinárias e antimicrobiana após o isolamento de uma ou
os problemas lactacionais. mais bactérias devem orientar a escolha do
O combate aos fatores predisponentes às des- antibiótico. Dependendo do tempo de meia-
cargas vulvares, atribuídos principalmente às endo- vida da droga utilizada, o tratamento deve
metrites e vaginites, confunde-se com o das infec- ser repetido, no mínimo, por três dias.
ções urinárias, desde a utilização de acidificantes de »» Adotar um uso prudente do antibiótico por
urina e/ou utilização de quimioterapias na ração, até meio de terapias individuais e somente quan-
a correção dos vários fatores como lesões nos cas- do necessárias, além de produzir melhores
cos, higiene no piso, consumo de água, desinfecção resultados, evita a seleção de bactérias
das instalações e higiene dos cachaços e da insemi- patogênicas e o desequilíbrio da microbiota
nação. A aplicação de prostaglandinas naturais 38 normal do plantel.
horas após o parto também tem sido indicada como
medida preventiva. Modelo de tratamento para doenças puerperais:
Em cada rebanho, a possibilidade de conquistar WALLER et al, 2002.
avanços nessa área se baseia na supervisão acurada »» Infusão intrauterina de antibiótico
das porcas quanto às descargas vulvares desde o (no primeiro dia);
primeiro dia pós-parto, até a inseminação ou co- »» Injeção diária com antibiótico por três dias;
bertura seguinte, não hesitando, mesmo nos casos »» Injeção de Ocitocina por três dias
discretos, em realizar uma intervenção por meio (duas vezes ao dia – 10UI);
do tratamento adequado. Não existe uma fórmula »» PGF2alfa (Cloprostenol – 175mg)
padrão para o controle de descargas vulvares, pois no primeiro dia de tratamento.
os fatores predisponentes e os agentes microbianos
variam de uma granja para outra. Prevenção e controle das cistites
O tratamento das infecções urogenitais na O combate aos fatores predisponentes às des-
porca não é tão documentado como nas vacas e cargas vulvares, atribuídos principalmente às endo-
éguas. Devido ao fato de o corpo lúteo da porca não metrites e vaginites, assemelha-se ao das infecções
responder às prostaglandinas até depois do 11o-12o urinárias:
dia do ciclo estral, não é viável encurtar o diestro ou »» A escolha da medicação via antibióticos na
reduzir o intervalo interestros para o tratamento ração como método eletivo para o combate
das endometrites suínas. (prevenção/tratamento) das infecções uri-
Em casos individuais, a aplicação de antimicro- nárias no rebanho tem conduzido a inúme-
bianos por via parenteral tem dado bons resultados. ras falhas que costumam acontecer, desde
Em contraposição, em granjas com uma taxa maior a ausência de urianálise prévia do rebanho
que 5%, em geral, há necessidade de tratar os animais para avaliar a prevalência do problema (tra-
com quimioterápicos administrados via ração. tamento indiscriminado de todas as fême-
as); escolha do antibiótico sem base no perfil ter se elevado logo após o fim do tratamento.
de sensibilidade antimicrobiana; questões Adicionalmente, a redução da bacteriúria
logísticas de fábrica de rações e falhas no não ocorreu em níveis suficientes para a cura
501
cálculo da dose de antibiótico ao realizar a da infecção.
mistura. »» Raspagem diária (duas vezes) do piso e colo-
»» Prevenção dos problemas urinários por cação de um pó secante, não irritante. (80%
meio de uma oferta individual de água de de caulin e 20% hiperfosfato de Na)
15/20 l/dia. »» Supervisão dos aprumos (tratar artrites e pa-
»» Medição do fluxo de água (1,5 litros/minuto narícios). Se necessário utilizar terapias para
pelo bebedouro); aumentar a resistência dos cascos como so-
»» O uso periódico de acidificantes e de ácidos luções à base de formol ou sulfato de cobre,
orgânicos na ração tem sido bastante reco- ou formulações comerciais indicadas para
mendado. Atualmente, existem questiona- esse fim. Quando as porcas estão na mater-
mentos sobre sua eficácia, pelo fato da redu- nidade, torna-se prática a aplicação desses
ção do pH ser de menos de um ponto e o pH produtos.
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12 da Fêmea Suína
Lactante e Desmamada
D
iversos fatores influenciam a eficiência mente mobilizadas, o que caracteriza o catabolismo
produtiva e lucrativa de um rebanho suiní- lactacional. A correta nutrição das matrizes durante
cola, conferindo a formação inadequada de a lactação também tem impacto significativo no
programas de alimentação, como o principal fator. desenvolvimento reprodutivo subsequente das fê-
O principal desafio para os nutricionistas é manter o meas. Ao respeitar a utilização de níveis nutricionais
equilíbrio de energia e proteína durante a lactação, e padrões de consumo que possibilitem a ingestão
a fim de minimizar os impactos negativos no desem- de nutrientes em quantidade satisfatória e a redução
penho reprodutivo do animal. A rentabilidade de dos efeitos do balanço energético negativo dificil-
um sistema de produção está diretamente ligada à mente haverá influências nutricionais relevantes
eficiência reprodutiva, que, na suinocultura, é men- sobre a eficiência reprodutiva desses animais.
surada pelo número de leitões desmamados por Devido à mobilização de proteína corporal para
porca por ano. Sabe-se que as características gené- suprir as exigências da síntese de leite, o aumento
ticas têm mudado significativamente nas últimas da massa proteica corporal da matriz ao parto pa-
décadas, concomitantemente com as mudanças rece proteger contra a falta de ingestão proteica
na exigência requerida pelas fêmeas. Essas fêmeas em porcas lactantes. A perda de mais de 12% de
modernas possuem como principais características massa proteica pela porca ao parto parece reduzir
um elevado número de leitões nascidos, alta pro- significativamente a fertilidade dessas fêmeas após
dução de leite, exigência nutricional elevada, baixo a desmama. Estudos recentes indicam que, para
consumo voluntário, capacidade de deposição rápi- porcas primíparas mais leves ao parto (167- 206kg)
da de altas quantidades de tecido magro e menores o limite é de 8% de perda de peso na lactação e, acima
reservas de gordura. Assim, com o desenvolvimento desse valor, ocorre uma redução do tamanho da lei-
de diferentes linhagens maternas pelas empresas tegada no segundo parto. É importante que os níveis
comerciais, tem sido necessário reavaliar as exigên- nutricionais e de consumo sejam respeitados dentro
cias nutricionais e as técnicas de manejo nutricional, dos padrões de cada genética, pois mesmo restrições
para se obter o melhor o aproveitamento de nu- modestas em estágios críticos do desenvolvimento
trientes por parte dessas fêmeas modernas. folicular podem ter implicações duradouras para
a função reprodutiva das fêmeas no plantel. Além
Porcas em lactação disso, considerando que primíparas modernas foram
Durante a lactação das reprodutoras moder- selecionadas para alta prolificidade e alta produção
nas as exigências nutricionais apresentam-se bem de leite e ao mesmo tempo apresentam capacidade
altas, já que as fêmeas contemporâneas foram limitada de consumo durante a lactação, as exigên-
selecionadas para alta prolificidade e produção de cias nutricionais desses animais apresentam-se bem
leite. Aliado à elevada exigência nutricional, o consu- altas e, por isso, devem ser estabelecidos programas
mo de alimentos normalmente é baixo. Assim sendo, nutricionais distintos das matrizes. Os objetivos
as fêmeas muitas vezes entram em balanço ener- de um programa nutricional para porcas lactantes
gético negativo e as reservas corporais são pronta- são: a) garantir a maior taxa de sobrevivência e o
Tabela 3 - Padrões de proteína ideal para porcas em lactação segundo Rostagno et al. (2011, 41) NRC (2012, 35)
Fonte
Aminoácido
Rostagno et al. (2011) NRC (2012)*
510 Lisina 100 100
Metionina 27 26,6
Metionina + Cistina 54 53,3
Treonina 64 64,4
Triptofano 19 19,5
Arginina 69 54,5
Valina 78 85,3
Isoleucina 59 55,7
Leucina 114 113,7
Histidina 38 39,7
Fenilalanina 57 54,6
Fenilalanina + Tirosina 114 113,1
* Porcas com perda de 10% de peso na lactação.
ção significativa de arginina, leucina, isoleucina, valina, excessiva desses tecidos, muitas vezes, resulta em
fenilalanina e treonina, enquanto não se observou prejuízos reprodutivos nos partos subsequentes.
retenção de metionina, lisina e histidina. Acredita-se Portanto, estabelecer a exigência nutricional de por-
que os aminoácidos retidos seriam utilizados para ma- cas em lactação não se restringe apenas a maximizar
nutenção da glândula mamária, síntese de proteínas a produção de leite, mas estende-se também a man-
estruturais ou como fonte de energia. ter a condição corporal da porca para os partos sub-
Quando as porcas não recebem quantidades sequentes. A mobilização proteica ocorre em vários
adequadas de aminoácidos dietéticos, tecidos pro- tecidos da porca com diferentes taxas. O músculo é
teicos maternos são mobilizados (especialmente o maior doador de aminoácidos durante a privação
proteínas do músculo esquelético). Mobilização alimentar ou inadequado fornecimento de proteína
Tabela 5 - Exigência nutricional para porcas lactantes, segundo NRC (2012), NSNG (2010) e Rostagno et al. (2011)
dietética, considerando que o trato reprodutivo con- Com a introdução de novas linhagens maternas
tribui com a maior porção do seu próprio aminoácido. capazes de produzir leitegadas de tamanhos maio-
res, maior peso ao nascimento e porcas com maior
Compilações sobre exigências produção de leite, cujo resultado são mais leitões
nutricionais para porcas lactantes desmamados e maior peso ao desmame, a demanda
A tabela 5mostra as recomendações nutricionais nutricional desses animais tornou-se excessivamen-
para porcas lactantes. Há diferenças entre as tabelas te alta. As recomendações minerais e vitamínicas
de exigências (nacionais e estrangeiras) de nutrientes do NRC (1998) para suínos não mudaram substan-
para porcas em lactação. Essas diferenças devem ser cialmente nos 25 anos passados, com exceção do
entendidas como resultados dos diversos modelos Se. Evidentemente, as porcas não podem encontrar
utilizados para os cálculos, bem como dos variados pa- suas necessidades biológicas para nutrientes, par-
drões utilizados nos experimentos realizados nas mais ticularmente os minerais e vitaminas, utilizando-se
diversas condições experimentais. recomendações das décadas passadas.
As tabelas 6 e 7 mostram as recomendações de vi- Nos últimos anos muitas informações têm fun-
taminas e microminerais para porcas lactantes segundo damentado o desenvolvimento de programas nutri-
NRC (2012), NSNG (2010) e Rostagno et al. (2011). cionais para porcas lactantes, porém novos desafios
estão sendo diariamente lançados e pesquisas são
Compilações de exigências nutricionais necessárias para adequação permanente dessas es-
apresentadas pelas principais empresas tratégias nutricionais.
de genética para porcas lactantes É importante salientar que considerar as situações
A tabela 8 ilustra as recomendações nutricionais específicas de cada sistema de produção como tipo de
apresentadas pelas principais empresas de genética animal utilizado (genética), do ambiente (temperatura e
no mercado. É importante que os níveis nutricionais desafio imunológico), do manejo alimentar, entre outros,
e de consumo sejam respeitados dentro dos padrões são fundamentais para o estabelecimento de um progra-
de cada genética. ma de nutrição eficiente para as fêmeas de lactantes.
Tabela 7 - Recomendações de microminerais para porcas lactantes, segundo NRC (2012), NSNG (2010) e
Rostagno et al. (2011)
1 2 3 4 5
GPDL (Kg/dia) - 3,0 - 2,5 -
ED (Kcal/Kg) 3.530 - - - - 513
EM (Kcal/Kg) 3.400 3.430 3.250 3.362 3.350-3.600
EL (Kcal/Kg) - - 2.450 - -
PB (%) 17-19 - 19 - 18-20
Lisina total (%) 1 - 1,30 - 1,10-1,30
Lisina digestível (%) 0,85 0,95 1,16 1,12 -
Ca total (%) 0,90-1,00 0,95 0,95 0,85 0,90-1,00
Fósforo total (%) - - - - -
Fósforo digestível (%) 0,35-0,45 0,33 - - -
Fósforo disponível (%) - 0,45 0,40 0,40 0,45-0,60
Lisina (%) - 100 100 - -
Metionina (%) - 27 28 - -
Metionina + cistina (%) - 54 60 - -
Treonina (%) - 64 65 - -
Triptofano (%) - 19 19 - -
Vitaminas
Vitamina A (UI/Kg) - - 13.000 9.921 12-18
Vitamina D3 (IU/Kg) - - 1.500 1.984 2,7
Vitamina E (UI/Kg) - - 60 66 80
Vitamina K (mg/Kg) - - 4 4 3,0
Tiamina (mg/Kg) - - 2 2 2,4
Riboflavina (mg/Kg) - - 8 9,92 5,4
Vitamina B12 (mcg/Kg) - - 40 37 31
Niacina (mg/Kg) - - 40 - 34
Ác. Pantotênico (mg/Kg) - - 25 - 21
Piridoxina (mg/Kg) - - 4 3,31 3,1
Biotina (mg/Kg) 0,250 - 0,4 0,22 0,35-0,80
Ácido fólico (mg/Kg) - - 7,5 1,323 3,00
Colina (mg/Kg) - - 450 - 800
Microminerais
Zinco (mg/Kg) - - 150 125 120
Cobre (mg/Kg) - - 20 15 50
Manganês (mg/Kg) - - 50 50 40
Ferro (mg/Kg) - - 150 100 100
Iodo (mg/Kg) - - 2 0,35 1,80
Selênio (mg/Kg) - - 0,3 0,30 0,35
As exigências foram baseadas nos níveis preconizados para leitoas.
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A
s matrizes suínas atuais são mais preco- grandes perdas no peso corporal precisam ingerir
ces, mais produtivas, possuem maior peso uma determinada quantidade de nutrientes confor-
corporal e são mais exigentes nutricional- me tabela 1.
mente. Essas exigências, na maioria das vezes, não
são atendidas pelo consumo de ração, o que pode Nível de lisina em dietas de lactação
causar a perda excessiva da condição corporal da Atualmente as dietas de lactação são persona-
matriz durante a lactação (catabolismo), levando à lizadas, ou seja, definem-se os níveis de lisina com
queda nos desempenhos reprodutivo e produtivo base na produtividade das porcas, no peso e número
durante sua vida útil. médio da leitegada e consumo de ração médio das
Um programa nutricional para porcas lactantes porcas durante todo o período de lactação. Ao di-
tem dois objetivos principais: a) garantir a maior vidir o peso da leitegada, pela tempo da lactação, o
taxa de sobrevivência e crescimento da leitegada e ganho de peso da leitegada ao dia pode ser determi-
b) possibilitar um bom desempenho reprodutivo da nado. As porcas requerem aproximadamente 5,40
matriz na fase pós-desmame. O primeiro objetivo gramas de lisina por kg de ganho de peso diário da
tem estreita relação com a capacidade de produção leitegada. Na tabela 2, podemos determinar o nível
de leite da matriz, enquanto o segundo é reflexo da de lisina dietética aproximada para manter a produ-
dinâmica do estado metabólico que a matriz enfren- ção de leite das porcas.
ta durante o período de lactação e seu efeito sobre Quando nos deparamos com uma dieta de lacta-
hormônios e mediadores metabólicos relacionados ção com nível de lisina maior do que o recomendado,
com a capacidade reprodutiva da fêmea. Ambos são é possível reduzir esse percentual sem sacrificar o
influenciados pelo consumo de ração durante todo desempenho. Em contraposição, se o nível de lisina
o período de lactação. da ração estiver inferior ou igual ao da recomenda-
As matrizes suínas devem receber durante o ção, podemos aumentar a lisina (proteína) e checar
período de lactação ração à vontade, com objetivo o desempenho para determinar se o peso da leite-
de obter maior produção de leite. Uma porca deve gada ao desmame aumenta. Essa abordagem relati-
consumir normalmente entre 4 a 6,5kg de ração vamente simples permite determinar uma dieta de
por dia. Essa ingestão dependerá da composição da lactação personalizada e individualizada. Dietas de
dieta, da condição corporal, do consumo de ração lactação sugeridas estão listadas na tabela 3. Essas
na gestação anterior e da temperatura ambiente dietas foram formuladas para atingir o nível de lisina
nas instalações. Para a máxima produção de leite, determinado na tabela 2.
recomenda-se que a porca seja mantida num am-
biente de 15 a 21°C. Em altas temperaturas, ocorre Adição de gordura na dieta
redução no consumo de ração e comprometimento A redução do consumo de ração pelo animal é
na produção de leite. uma forma de reduzir o calor gerado nos processos
Para que as matrizes apresentem uma boa pro- de digestão, absorção e metabolismo dos nutrien-
dução de leite na maternidade e ainda não tenham tes, também conhecido como incremento calórico.
Nesse sentido, dietas com menor incremento caló- ração adicionada de gordura com ração rica em fibra
rico, vêm sendo estudadas em condições de estres- para porcas alojadas em ambiente com temperatura
se por calor. Schoenherr et al (1989) compararam de 32oC. Os autores observaram que a ração rica
Tabela 2. Nível de Lisina da Dieta Baseado no Peso da Leitegada e na Ingestão de Alimento da Porca
Lisina %
Ingredientes, kg/ton 0,7 0,8 0,9 1 1,1 1,2
Milho 1528 1492 1455 1391 1317 1239
Farelo de soja, 46 % PB 330 380 400 450 520 590
Gordura - fonte de a
0 até 5 % 0 até 5 % 0 até 5 % 0 até 5 % 0 até 5 % 0 até 5 %
Açúcar 30 30 40 50 50 50
Fosfato monocálcico 18,5 % P 45 44 42 41 40 38
Calcário 21 21 22 22 22 22
Sal 10 10 10 10 10 10
Premix vitamínico 6 6 6 6 6 6
Suplemento porca 5 5 5 5 5 5
Premix micromineral 2 2 2 2 2 2
Total 2000 2000 2000 2000 2000 2000
Níveis calculados
Lisina % 0,70 0,80 0,90 1,00 1,10 1,20
Met:lisina, relação, % 36 33 32 30 29 28
Met&Cis:lisina relacão, % 79 73 69 66 63 61
Treonina:lisina, relação, % 86 82 79 76 74 73
Triptofano:lisina, relação, % 25 25 24 24 23 23
ME, kcal/kg 3350 3350 3350 3380 3400 3450
Proteína, % 16,5 18,5 19,0 19,5 21,0 22,0
Cálcio, % 0,90 0,90 0,90 0,90 0,90 0,90
Fósforo, % 0,80 0,80 0,80 0,80 0,80 0,80
Fósforo disponível, % 0,53 0,53 0,51 0,50 0,50 0,48
a
Se adicionar gordura, substitua por igual quantidade de peso do milho
Fonte: KSU – Kansas State University – Breeding Herd Recommendations for Swine – 2009
aumentar o consumo de ração na lactação, se a gor- gir o consumo ad libitum, mais cedo entrará numa
dura é adicionada ou não na dieta. Como orientação fase anabólica, recuperando-se metabolicamente e
geral, se é econômico adicionar gordura no final da retornando ao cio pós-desmame em menor interva-
520
creche, será econômico usar 3 a 5% de gordura na lo de tempo.
dieta de lactação.
Influência da temperatura ambiente
Alimentação restrita ou à vontade A temperatura ambiental elevada é um dos
A baixa ingestão de ração durante a lactação principais fatores que afetam a capacidade de con-
diminui o ganho de peso da leitegada e, subsequen- sumo alimentar pelas porcas lactantes. Quando
temente, o desempenho reprodutivo. esses animais são submetidos a temperaturas ele-
O regime alimentar pode ter influência no vadas, condição frequente em regiões tropicais, em
padrão de consumo da porca lactante. Em muitas geral há uma redução no consumo de ração, queda
granjas comerciais, o regime alimentar adotado na produção de leite, maior perda de peso corporal,
para as matrizes consiste em aumentar gradativa- aumento no intervalo desmame-estro e prejuízos
mente o nível alimentar pós-parto, com objetivo de no tamanho e peso da leitegada.
reduzir os problemas da síndrome Mastite-Metrite Três hipóteses podem existir na redução da pro-
-Agalaxia (MMA). Entretanto, essa prática tem sido dução de leite de porcas estressadas por calor: a) o
questionada, uma vez que existe a possibilidade de suprimento de nutrientes para a glândula mamária
redução do alimento consumido no período total de não é suficiente para atender à produção de leite em
lactação e queda no desempenho da leitegada e na virtude do reduzido consumo de alimento; b) dife-
reprodução subsequente das fêmeas. Observações rentemente de porcas mantidas na termoneutrali-
de campo têm sustentado que a melhor alternativa dade, porcas estressadas por calor têm dificuldade
seria uma oferta maior de alimento logo nos primei- para mobilizar reservas corporais diante da redu-
ros dias pós-parto. Quanto mais rápido a porca atin- ção de consumo alimentar e c) o fluxo sanguíneo
Variáveis Tratamento CV P
Piso com resfriamento Piso sem resfriamento (%)
(28oC) (36,2oC)
Temperatura pisoa 28,0 36,2 6,58 0,01
Parâmetros fisiológicos da porca a
reduzido para a glândula mamária pode também etc.) e com a nutrição/alimentação (digestibilidade dos
contribuir para reduzir a quantidade de nutrientes nutrientes, balanço de aminoácidos, disponibilidade
disponível para a síntese de leite. de água, características físicas da dieta, espaço de co-
521
Trabalhando com o ambiente térmico das insta- medouro, etc.).
lações na Universidade Federal de Viçosa, Silva et al Matrizes de primeiro parto apresentam menor
(2004) encontraram melhoras significativas nos parâ- capacidade de consumo alimentar, da ordem de
metros fisiológicos e nas variáveis de desempenho de 20% quando comparadas a porcas multíparas. Isso
porcas em lactação e de suas leitegadas, ao resfriarem se dá devido à menor capacidade gastrointestinal
o piso da maternidade sob as porcas (tabela 4). das fêmeas jovens para atender às demandas nutri-
A utilização de aditivos pode ser outra alternati- cionais da produção de leite e do desenvolvimento
va para melhorar o consumo de ração pelas porcas. corporal. Como primíparas ainda estão em fase de
A suplementação da ração com L-carnitina aumen- crescimento, esse insuficiente consumo pode ter
tou em até 11% o consumo de ração pela porca em efeitos mais prejudiciais, quando comparadas às
lactação, com reflexos positivos na produção de porcas multíparas, em sua capacidade produtiva e
leite e no ganho de peso da leitegada. reprodutiva futura.
Ajustes na nutrição proteica podem proporcio- Existem muitos métodos de alimentação para
nar menor desgaste da porca durante a lactação, otimizar consumo máximo de alimento. O mais
principalmente em condições de alta temperatura importante de qualquer método é assegurar que
ambiental, com benefícios para o seu desempenho todas as porcas tenham livre acesso ao alimento.
reprodutivo após o desmame. Porcas em lactação devem ser alimentadas três
O aumento da densidade nutricional da ração a quatro vezes ao dia para garantir que a alimen-
vem sendo sugerido como alternativa de sustentar tação esteja sempre disponível. Para maximizar o
o aporte de nutrientes para a porca em lactação que consumo de ração, pode-se seguir o esquema su-
apresenta queda do consumo de alimento durante gerido na tabela 5:
períodos de estresse por calor. Fornecer 0, 1 ou 2 conchas (concha de 2,2kg) em
cada um dos três arraçoamentos durante o dia. Se o
Maximizar o consumo de comedouro possui sobra da alimentação anterior,
ração de porcas lactantes
O consumo de alimento pela porca lactante é Tabela 5 – Estratégia Alimentar
para Porcas em Lactação
um dos maiores desafios para o nutricionista. Na(s)
Número de conchas de 2,2kg de ração para
sala(s) de maternidade podem ser encontradas
cada arraçoamento até o 2° dia após o parto
fêmeas de várias ordens de parto, com diferenças
Ração no Arraçoamentos
acentuadas no comportamento de consumo e de
comedouro Manhã Tarde
produção de leitões, portanto, com diferentes exi-
gências nutricionais. Em condições comerciais de Vazio 1 1
criação, menos de 18% das fêmeas apresentam o < 1kg 0 1
padrão ideal de consumo alimentar na lactação. > 1kg 0 0,5
Atualmente as matrizes disponíveis para o produ- Número de conchas de 2,2kg de ração para cada
tor apresentam uma baixa capacidade de consumo de arraçoamento a partir do 3° dia após o parto
ração, como consequência da seleção genética. Além Arraçoamentos
Ração no
disso, há outros fatores que afetam o consumo de ali- comedouro Manhã Tarde Noite
mento pela porca lactante. Esses fatores podem estar
Vazio 1 1 1
relacionados com a própria matriz (tamanho da leite-
< 1kg 0,5 1 1
gada, ordem de parto, estágio da lactação, peso e com-
posição corporal), ao ambiente (temperatura, doença, > 1kg 0 0,5 0,5
recomenda-se limpar e nenhum alimento ser adicio- No final da manhã – A segunda alimentação é
nado ao comedouro. Se houver uma pequena sobra feita no final da manhã ou imediatamente após o
de alimento, então adiciona-se uma concha. No caso almoço usando o mesmo esquema (uma concha,
522
de o comedouro estar vazio, são adicionadas duas ou se uma pequena quantidade de ração é deixada no
até três conchas. A única exceção a esse padrão seria comedouro e duas conchas, se o comedouro está
para porcas com até dois dias pós-parto. Nesse perí- vazio). Se nenhum alimento foi consumido desde a
odo, deve-se fornecer até uma concha em uma única alimentação matinal, a porca deve ser investigada
refeição. As porcas não devem receber duas conchas para determinar se apresenta febre, leitão retido,
em uma mesma refeição durante esse período. É ou outra razão por não estar se alimentando.
importante checar se a ração no comedouro está em Alimentação à noite – Um esquema seme-
boa condição de ser ingerida. lhante é utilizado para a alimentação da noite, no
entanto, algum critério terá de ser usado se houver
Orientação prática de alimentação alguma sobra no comedouro. As fêmeas que tive-
Pela manhã – Alimentar todas as porcas à vontade. ram bom apetite durante todo o dia, mas com algu-
Se pequena quantidade de alimento foi deixada no ma sobra de ração, devem receber duas conchas. As
comedouro, adiciona-se uma concha (2,2kg). Se o come- porcas que parecem estar satisfeitas recebem uma
douro está vazio, adicionam-se duas conchas (4,4kg). É concha de ração e novamente, se a alimentação não
muito importante que o consumo seja estimulado nos foi ingerida desde a última refeição, a porca deve ser
momentos mais frescos do dia, buscando-se sempre a investigada para ver se há uma razão para não estar
máxima ingestão, individualizada pelos animais. se alimentando.
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C
onsiderando os aspectos reprodutivos, terminação. Finalmente essa manipulação genética
a suinocultura industrial, sustentada por determinou uma contradição entre a produção/ma-
constantes e profundos investimentos em nutenção e o consumo de ração.
genética, nutrição, ambiente e manejo, vem colhen- Na seleção para animais cada vez mais magros,
do nos últimos anos resultados que seguidamente com melhor eficiência alimentar, o consumo de
se superam. Nesse particular, destaca-se o número ração diminuiu, pois a alta deposição muscular e a
total de leitões nascidos e, por consequência, o ele- eficiência alimentar estão negativamente correla-
vado número de desmamados/matriz/ano. cionadas com o apetite.
Dentro desse processo, cuja hiperprolificida- Compreendendo os efeitos da seleção sobre
de é a marca reprodutiva que se carrega, deve ser o consumo voluntário de ração, associado às mu-
considerado que a matriz suína é um produto que danças na performance da matriz, especial atenção
sofreu também outras modificações, não somente deve ser dirigida à fêmea em fase de lactação, que
associadas à maior produção de leitões, mas a trans- tem um catabolismo corporal intenso.
formações importantes de caráter corporal/fisioló- Nessa etapa reprodutiva, desvios de qualquer
gico. Com leitegadas maiores e a duração da lacta- natureza expõem a matriz lactante a descompen-
ção superando 21 dias, e, em alguns casos, atingindo sações que levam a prejuízos diretos aos lactentes
28 dias, a produção de leite aumentou para atender e à sua performance reprodutiva subsequente. A
à crescente demanda nutricional de leitegadas cada restrição alimentar na lactação, decorrente da intrín-
vez mais pesadas. seca limitação do consumo voluntário de ração pela
Tal progresso levou as porcas a suportarem matriz, resulta em perda excessiva de peso, aumenta
taxas de crescimento de suas leitegadas da ordem o intervalo desmame-estro e o número de fêmeas em
de mais 2 a 3kg de peso vivo/dia, demandando uma anestro. Os efeitos negativos da restrição alimentar
produção de leite de mais de 12 litros/dia. Também na lactação também podem ser observados por taxas
o peso vivo das fêmeas na maturidade (260-290kg) de ovulação e de sobrevivência embrionária meno-
aumentou, exigindo um incremento nos requeri- res, sendo essas consequências ainda mais evidentes
mentos de manutenção. nas matrizes primíparas.
Esse quadro, todavia, contrasta com as diretri- Quando a restrição tem um caráter qualita-
zes do melhoramento genético, que dispensou um tivo, em especial à limitação do aporte proteico,
grande esforço na seleção de linhagens nos últimos o desenvolvimento folicular e a manifestação
anos, com foco num consumo voluntário mais baixo do estro ficam prejudicados. Nesse aspecto, as
de ração, objetivando evitar uma alta deposição de porcas podem suportar uma perda de 9-12% da
gordura na carcaça. Isso, porém, trouxe algumas sua massa corporal na lactação sem prejuízo na
consequências negativas, destacando a insuficien- função ovariana, mas altas perdas proteicas pre-
te ingestão de ração, verificada nas matrizes em judicam o desenvolvimento folicular, implicando
lactação e um consumo de nutrientes aquém dos menor sobrevivência embrionária e tamanho da
demandados para animais em fase de crescimento e leitegada subsequente.
No balanço corporal, que compreende o anabo- de ingestão e produção de leite similar à das matri-
lismo gestacional e a perda ou catabolismo lactacio- zes mais velhas.
nal, deve existir uma harmonia que resulte em saldos Uma das razões mais associadas a esse com-
524
positivos de ganhos de peso ao final de cada ciclo portamento, como tratado, provém das consequ-
reprodutivo, que, a princípio, deverá se estender até ências do melhoramento genético que dirigiu a
o descarte da matriz entre o 5º e o 7º ciclo reprodu- seleção de animais para um maior ganho de peso e
tivo. Portanto, constituem metas na fase de lactação maior deposição de carne magra na carcaça, o que
a máxima produção leiteira, a minimização do cata- resultou a redução no apetite da matriz ou deter-
bolismo corporal e a redução em dias do intervalo minou que a ingestão não aumentasse na mesma
desmame-estro. Ao atender a esses quesitos, espe- proporção que as exigências de energia. Na tabela
ra-se que a ovulação seja elevada (compatível com o 1 pode ser verificado que o apetite muitas vezes é
histórico da genética e da idade reprodutiva) e que o insuficiente para garantir altos consumos de ração
aproveitamento da matriz seja máximo. exigidos, resultando na inevitável perda excessiva
das reservas corporais.
Fatores relacionados com o catabolismo Preservadas essas consequências decorrentes
Na fase de lactação, o consumo voluntário é fre- do melhoramento genético, o consumo voluntário da
quentemente insuficiente para prover os nutrientes matriz lactante também acompanha a curva de pro-
necessários à síntese de leite e à sua manutenção e dução leiteira, que atinge o pico entre três e quatro se-
crescimento, determinando a utilização das reser- manas de lactação, quando então declina. O consumo
vas corporais, o que resulta num acentuado catabo- também é incrementado na fase de acordo com o ciclo
lismo. Esse risco é particularmente mais agudo em lactacional (ordem), número de leitões desmamados e
fêmeas jovens, que apresentam menor capacidade comprimento da lactação (tabelas 2 e 3).
Tabela 2 - Requerimento de alimento (MJ Energia Metabolizável por dia) por semana até 28 dias de
lactação para uma leitegada de 10 leitões com um ganho de peso diário da leitegada de 2.200g.
Tabela 3 - Requerimento de alimento (MJ Energia Metabolizável por dia) por semana até 28 dias de
lactação para a primeira parição de acordo com o ganho de peso da leitegada.
Quanto ao tamanho da leitegada, há uma relação (tabela 4). Também esse consumo é influenciado pelo
positiva entre o número de leitões e o consumo volun- peso dessa matriz no início da lactação, quando a con-
tário, pois leitegadas maiores estimulam maior produ- dição corporal desequilibrada, com uma deposição
ção leiteira. Atribui-se que, para cada leitão adicional, de gordura elevada, em excesso, conduz essas matri-
há um incremento de 0,6kg de leite/dia. zes a um menor consumo de ração.
Existe, nesse caso, uma proposição de fórmula A relação entre o porcentual de gordura corporal
que explica essa relação: Consumo voluntário de e o consumo durante a lactação é negativo, sendo
ração (g/dia) = A + 224 x N – 8 x N2, em que o fator A igualmente antagônico o excesso de ingestão alimen-
correspondente à intercepção e aos efeitos de outros tar na gestação e o consumo na lactação subsequen-
fatores e N o número de leitões. te. Esse comportamento é atribuído à presença de
Quanto à ordem de parição e sua relação com o ácidos graxos e glicerol séricos provenientes do me-
consumo de ração, observa-se um aumento impor- tabolismo da gordura corporal, que agem no fígado e
tante entre a 1º e a 2º lactação e uma mudança menos no sistema nervoso central inibindo a ingestão volun-
acentuada entre as demais parições. tária. Concentrações elevadas de insulina plasmáti-
Numa condição prática, para a otimização do ca, também presentes no líquido cérebro-espinhal,
consumo na fase de lactação, a fêmea gestante deve podem influenciar esse consumo, pois, no animal que
ter atingido um nível de consumo de ração pleno, tem um alto consumo de ração, a insulina age sinali-
preservada a conduta reconhecida e adotada de res- zando a presença de energia acumulada, inibindo a
trição alimentar nessa fase. Ou seja, uma condição ingestão alimentar. Um outro hormônio, a leptina,
de consumo adequado na gestação tem influência produzida no tecido adiposo, também aparece como
direta e positiva sobre o consumo da fêmea lactante um sinalizador desse reduzido consumo.
Nível alimentar durante a gestação Ingestão alimentar durante a lactação* (kg ao dia)
(kg ao dia) Primeira lactação Segunda lactação
1,6 5,9 5,9
1,8 5,7 6,1
2 5,8 5,9
2,2 5,2 5,2
2,4 5,2 4,8
2,6 4,9 4,7
* Dieta com 3.320kcal EMI/kg e 14,6% de PB.
Fonte: Fehse e Fehse (1992).
220
Interagindo negativamente com a condição am-
200
180 biental, a espécie suína também tem a habilidade de
160 produzir uma alta soma de calor. Esse cenário é pio-
140 rado dado que a capacidade de produção de calor
35 49 63 77 91 0 14 21
dos genótipos modernos é 18,1% superior ao dos
Dias de gestação ou lactação
genótipos das décadas de 80 e 90. Isso se deve em
Alta Normal
grande parte às mudanças na composição corporal
Gráfico 1 - Peso corporal de porcas alimentadas com diferentes
níveis energéticos na gestação. Dia 0 é o dia do parto. dos animais (mais músculo e menos gordura) e ao
Fonte: Adaptado de Xue et al. (1997).
aumento nas taxas de crescimento de tecido mus-
cular. Foi estimado que para cada 2,1% de aumento
Espessira de toucinho (mm)
leitão, ou seja, a produção cresce, mas o consumo de ácidos graxos livres através do catabolismo da gor-
leite por leitão não aumenta na mesma proporção. dura, objetivando manter a glicemia, direcionando
Também a produção leiteira está correlacionada a glicose para o complexo mamário. Considerando
527
com o período de lactação. A curva pós-parto segue que a insulina inibe a lipólise, a baixa concentração
uma ascendência com o pico por volta da 3ª semana. desse hormônio em porcas mal nutridas pode po-
Quanto ao número de parições, as curvas de tencializar a mobilização de gordura.
produção leiteira, preservadas algumas poucas dife- No ciclo reprodutivo da fêmea suína, as exigên-
renças entre linhagens genéticas, são crescentes até cias para o tecido mamário são prioritárias, sendo
o 5º-6º parto, ora com picos a partir dos 21 dias de lac- que a utilização das reservas corporais é considerada
tação. Assim, porcas modernas podem produzir mais um ajuste fisiológico da matriz para a produção de
de 500g de leite em intervalos de uma hora, o que to- leite, o que resulta no balanço energético negativo.
taliza mais de 12 litros de leite/dia, o que efetivamen-
te representa um grande consumo de nutrientes. Aspectos nutricionais durante
Quanto à qualidade do leite, o produto é extre- o catabolismo lactacional
mamente rico em gordura, proteína e carboidratos, A produção leiteira e o aporte nutricional ne-
detendo, portanto, elevada concentração de ma- cessário para minimizar o estado catabólico nessa
téria seca. Assim, para sua compleição, há necessi- fase têm uma regulação complexa com interações
dade de alta demanda nutricional, que pode então intensas. O consumo energético para a síntese de
colaborar com o catabolismo corporal acentuado da leite na matriz suína pode chegar a 100%, efeti-
matriz. Destaca-se no leite a elevada participação vamente priorizado para a produção leiteira. Os
da gordura e da proteína. O papel desses nutrientes requerimentos em energia, assim como de proteína,
pode ser visualizado pelo desenvolvimento corpo- aminoácidos essenciais, minerais e vitaminas, são
ral do lactente, que, ao nascer, pesa em média 1,3kg aumentados em até três vezes na fase lactacional,
e possui 2% de gordura corporal, passando na 3ª comparados com as exigências para a fase gesta-
semana de idade a pesar em torno de 6kg com 15% cional. Considerando a alta demanda nutricional
de gordura corporal. na lactação, o consumo voluntário comumente é
Quanto à proteína do leite, é principalmente insuficiente para suprir as necessidades energéticas
representada pela caseína, albumina, gama-lacto- dessa fase. Nesse balanço, a energia requerida para
albumina, beta-lactoglobulina, imunoglobulinas A, a produção de leite representa 60-80% da neces-
G e M, e lactoferrina, e os principais aminoácidos sidade nutricional diária, dependendo da ordem
relacionados são o ácido glutâmico, a prolina e me- de parto e do tamanho da leitegada. Porém, para
tionina. A cisteína, a glicina e a treonina são mais lactação e para a gestação, essas diferenças parecem
importantes principalmente na formação das pro- ser relativamente pequenas, da ordem de 5%. Sob
teínas do soro. condições de consumo de ração com níveis elevados
Quanto ao principal carboidrato do leite, a lac- de energia na lactação, a perda de peso corporal e o
tose, na fase ascendente de produção leiteira (até menor intervalo desmame-estro mostram-se com
a 3ª-4ª semana de lactação), o açúcar acompanha a valores menores. Esse efeito pode ser atribuído ao
curva, um desenho contrário ao da concentração de perfil hormonal de LH e insulina.
proteína, que tem uma diminuição paralela. A exigência de energia para a lactação também au-
Associado às altas necessidades nutricionais menta com a ordem de parição, porém o consumo de
para a produção de leite (compreendendo aspectos energia voluntário é suficiente para atender somente
qualitativos e quantitativos), na fase de lactação 83% das necessidades da energia para a lactação, va-
também há uma alta demanda de glicose pela lor este inferior para porcas primíparas (75%).
glândula mamária. Nos casos em que há privação Os efeitos de outros fatores, como condições
alimentar nessa fase, há uma rápida mobilização de de alojamento, nível de desempenho etc, sobre os
requerimentos nutricionais da lactante também que as necessidades de aminoácidos para cada leitão
devem ser considerados. Por exemplo, se a taxa e adicional serão maiores do que o acúmulo atual de
crescimento da leitegada durante a lactação é mais aminoácidos pelos tecidos, especialmente para as
528
elevada (3,0kg/dia versus 2,6kg/dia; ou seja, 15% fêmeas de genótipos modernos, que possuem leite-
maior), os requisitos de aminoácidos e de energia gadas grandes e mais glândulas mamárias ativas. As-
aumentam cerca de 10%. sim, para atender às demandas proteicas e de lisina,
Na fase lactacional, o crescimento da glândula ma- além dos gastos com a manutenção e a produção de
mária tem repercussão direta na quantidade de leite leite, devem ser considerados também os gastos com
produzido e, por consequência, no crescimento dos a mobilização dos tecidos corporais.
leitões. Assim, o manejo nutricional adotado durante Todavia, sob condições de moderadas defici-
a lactação deverá priorizar o máximo crescimento ências proteicas dietéticas, as fêmeas são capazes
mamário, que é diretamente afetado pelo consumo de de mobilizar proteína corporal para suportar as
energia e de aminoácidos durante a lactação. demandas por aminoácidos para a síntese de leite.
Em síntese, preservadas as particularidades Contrariamente, uma deficiência severa de proteína
relacionadas com o aporte energético dietético, na dieta durante a lactação reduz a produção de leite.
uma matriz em lactação, alimentando leitões com Estabelecer, portanto, os requerimentos de
ganho diário de 200 a 250g, deveria ingerir 18,2 a aminoácidos ideais para fêmeas em lactação não só
21,8Mcal de energia digestível por dia, o que signifi- maximiza a produção de leite, mas também auxilia
ca um consumo de 5,3 a 6,4kg de ração com 3,4Mcal a manter a condição corporal para garantir uma boa
de energia digestível/kg. longevidade. Fêmeas que detêm alta capacidade
Quanto às demandas de aminoácidos para a pro- produtiva precisam de no mínimo 55g/dia de lisina
dução de leite, existe certa dificuldade para essa de- dietética para minimizar a perda corporal, requeri-
terminação, uma vez que a contribuição das reservas mento esse também exigido para obter o máximo
corporais de proteína não é precisamente conhecida. crescimento da glândula mamária.
Assim, utilizar uma relação empírica entre a lisina di- Em um ensaio de campo observou-se menor
gestível e o balanço de nitrogênio corporal e no leite perda de peso e de proteína corporal em fêmeas que
pode ser importante para essa definição. receberam ração com redução de proteína bruta adi-
A quantidade e a composição das reservas cor- cionada de aminoácidos sintéticos, em que a relação
porais mobilizadas durante a lactação dependem do treonina digestível e lisina digestível foi aumentada.
déficit nutricional. A mobilização de lipídios do tecido Embora não tenha havido diferenças para o desem-
adiposo é predominante quando o fornecimento de penho da leitegada, as fêmeas que perderam menos
energia é insuficiente, ao passo que o consumo de peso apresentaram menor intervalo desmame-cio.
proteína muscular é desencadeado em casos de defi- Quanto às exigências baseadas no conceito de
ciência aminoacídica. Mas, a mobilização de proteína proteína ideal para a matriz lactante, em função das
e energia são não completamente independentes. A necessidades de diversos aminoácidos serem bem
proteína corporal pode também ser mobilizada para superiores às demandas metabólicas, o balanço die-
o fornecimento de energia em quadros de deficiência tético ideal de aminoácidos relativo à lisina deveria
de energia dietética. ser semelhante às exigências de aminoácidos do
Quanto à deposição de lisina e aminoácidos leite, embora existam divergências. Os aminoácidos
essenciais, há um aumento de 0,13g/dia e de 1,20g/ essenciais com significativa retenção para a síntese
dia, respectivamente, na glândula mamária para cada de leite, produção de energia e manutenção da glân-
leitão lactente a mais na leitegada. Foi quantificada dula mamária são a arginina, leucina, isoleucina, vali-
em 1,92g de lisina/dia a demanda de lisina utilizada na, fenilalanina e treonina, enquanto não se observa
na glândula mamária para cada leitão extra (por retenção de metionina, lisina e histidina. Quando
leitegada), durante 21 dias de lactação. Isso denota se considera o estabelecimento das exigências de
ser pequena, contrastando com os conceitos mais penho reprodutivo da matriz são comuns para níveis
tradicionais que versam sobre o assunto. É possível de perda de peso corporal entre 10% e 15% durante
que o efeito da gordura corporal no consumo vo- a lactação. Num estudo com genótipos mais novos,
530
luntário da matriz durante a lactação não tenha um definiu-se que, em geral, perdas de peso de até 15%
desenho linear com a maior espessura de toucinho não resultam em prejuízos para a matriz, verificando-
no parto. Nesse sentido, pesquisadores relataram se elevada frequência de retorno ao estro dentro de
que não houve redução significativa no consumo sete dias pós-desmame e alta taxa de parto ao primei-
voluntário de alimento durante a lactação para fê- ro serviço. Contudo, perdas mais elevadas de peso
meas que apresentavam até 25mm de espessura de (maior que 15%) aumentaram o intervalo desmame-
toucinho (P2) no parto. cio e determinaram diminuição da taxa de parto. Em
Os mecanismos sugeridos para explicar o efeito conformidade com vários trabalhos, deve ser consi-
da composição corporal (gordura em especial) no derado que esse catabolismo pode variar com a idade
parto sobre o consumo de ração na lactação variam. reprodutiva. Nesse sentido, o intervalo desmame-cio
Entretanto, o mecanismo mais aceito está relacio- foi maior quando as perdas de peso na lactação mos-
nado com o aumento da concentração sérica de glu- traram-se superiores a 5% para porcas de primeiro
cose ou com o aumento da resistência à insulina ou parto, não repercutindo negativamente no peso cor-
com a reduzida secreção de insulina (intolerância à poral para porcas de duas ou mais parições.
glicose) depois do parto. Estudos recentes também Quanto à perda de proteína corporal, porcas
sugerem que as concentrações de leptina no sangue de primeiro parto podem sofrer perdas de nove a
poderiam desempenhar um papel na modulação 12% durante a lactação, sem qualquer prejuízo no
do consumo de ração. A leptina é um hormônio sin- crescimento dos leitões e nas funções ovarianas.
tetizado pelas células de gordura e que exerce um No entanto, além desse catabolismo, os danos são
efeito sobre a reprodução, a imunologia e o controle inevitáveis. Efetivamente é importante reconhe-
de alimentação voluntária. Uma relação positiva foi cer que a condição corporal ideal deve preservar
encontrada entre a concentração de leptina no soro um equilíbrio entre as reservas de gordura e de
e os níveis de gordura subcutânea na hora do parto proteína. Quanto a isso, relatou-se como ideal que
em primíparas. a relação proteína-lípideo seja de 1:1,5. Outras
Ao contrário das reservas de gordura corporal, sugestões indicam que essa proporção para primí-
alguns trabalhos apontaram que as reservas de pro- paras seja de 1:1.
teína no parto parecem não prejudicar o consumo Num estudo meta-analítico foi verificou-se que
voluntário durante a lactação. A esse respeito, o con- alguns parâmetros séricos podem qualificar e quan-
sumo de ração durante a lactação diminuiu quando as tificar os danos do catabolismo lactacional. A con-
reservas de gordura aumentaram no parto, mas não centração de leptina tem alta correlação com a es-
quando esse aumento foi acompanhado também por pessura de toucinho (0,88; P<0,01) e concentrações
um aumento das reservas proteicas. Nessa linha, não elevadas desse hormônio no soro e no leite também
se tem observado diferenças no consumo de ração estão correlacionadas positivamente com a massa
durante a gestação quando o conteúdo de tecido ma- lipídica corporal após quatro e 25 dias de lactação
gro foi aumentado no parto. e com a redução do apetite na lactação. Os sinais da
No entanto, a definição de quais são os parâme- leptina são traduzidos pelo sistema neuroendócrino
tros de perda de peso aceitáveis e qual o consumo na regulação do apetite, na liberação do hormônio
adequado para prevenir esses danos é uma questão liberador de gonadotrofinas (GnRH) e na secreção do
complexa e controversa. Atribui-se que cerca de hormônio luteinizante (LH).
10kg de perda de peso corporal durante a lactação A ureia, por sua vez, também pode ser utilizada
é um valor aceitável, sem prejuízos no desempenho como um indicador da utilização de aminoácidos,
subsequente. Consequências negativas no desem- entre eles a lisina. Já a creatinina pode ser um bom
preditor do potencial genético de deposição de car- ainda uma limitada capacidade de compensar, por
ne magra em suínos, já que o aumento do catabolis- meio da nutrição, os efeitos prejudiciais das altas
mo muscular eleva a creatinina sanguínea. temperaturas sobre o desempenho das matrizes
531
suínas lactantes.
Condutas para minimizar o catabolismo Um outro recurso para melhorar o consumo
Especialmente em condição de estresse calórico, o de ração na lactação é voltado para promover um
fornecimento de dietas com níveis proteicos mais bai- aumento da capacidade do trato gastrintestinal por
xos, mantendo o perfil adequado de aminoácidos, ame- meio da alimentação das fêmeas durante a gestação
niza o problema do baixo consumo de ração na lactação com níveis mais altos de fibra. Nesse procedimento,
e resulta em menor perda de peso nessa fase. alguns resultados favoráveis têm sido obtidos, en-
Também o recurso de incrementação da den- tretanto níveis muito altos de fibra dietética podem
sidade energética das dietas de lactação pelo uso reduzir o ganho de peso das matrizes e o peso dos
de até 6% de óleo na ração é uma conduta indicada leitões, ao nascerem.
para épocas quentes. O incremento calórico das Quanto à utilização de aditivos para melho-
dietas com óleo é menor, colaborando com os pro- rar o consumo de ração pelas fêmeas lactantes, a
cessos de controle da temperatura corporal. Os suplementação com L-carnitina resultou em até
efeitos desse manejo também são positivos por 11% de aumento da ingestão de ração, com refle-
melhorar aspectos de pulvurulência da ração. Ao xos positivos na produção de leite e no ganho de
mesmo tempo, as graxas ou óleos têm um efeito peso da leitegada.
positivo sobre a palatabilidade, fato marcadamen- Finalmente, para matrizes em lactação, as ne-
te evidente na alimentação humana. Atribui-se cessidades de água são extremamente elevadas.
também que o maior conteúdo de gordura da dieta Avaliando o consumo de água de linhagens suínas
participe no sequestro de compostos voláteis lipo- melhoradas, verificou-se um aumento de 11,7
fílicos liberados pelos ingredientes da ração, que litros no primeiro dia de lactação para até 36,5
têm importantes efeitos olfativos negativos e que litros no vigésimo dia. A ingestão de água aumen-
podem comprometer o consumo. ta à medida que o consumo de ração aumenta e,
Embora o aumento da densidade nutricional por sua vez, essa relação transita, favorecendo as
da ração venha sendo uma das principais alternati- duas partes, portanto ameniza os danos no cata-
vas para aportar mais nutrientes para a fêmea em bolismo.
lactação, alguns trabalhos têm mostrado que essa Assim, a oferta de bebedouros que tenham uma
conduta nem sempre resulta em benefícios plenos alta vazão, em torno de 1,5 a 2,0 litros/minuto e que
para os animais, dadas as alterações endócrinas permitam fácil acesso e ingestão de água são funda-
e metabólicas desencadeadas. Isso sugere existir mentais para otimizar o consumo de ração.
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O
ambiente térmico é complexo e pode ser dentro de valores compatíveis com a vida, quando a
definido como o conjunto das variáveis tér- temperatura do meio externo varia.
micas ou meteorológicas que influenciam Embora a sudorese em muitas espécies consti-
as trocas de calor entre o animal e o meio, além de tua um eficiente meio de arrefecimento do organis-
interferir, de forma direta ou indireta, em sua saúde, mo em situações de hipertermia, no caso dos suínos,
desempenho e bem-estar. Embora a temperatura que possuem glândulas sudoríparas afuncionais, a
do ar seja a variável bioclimática mais importante do perda de calor latente que prevalece é a que ocorre
ambiente físico do animal ela não pode ser a única por meio do trato respiratório. Nesse caso, pode-se
medida representativa do ambiente térmico, deven- afirmar que em suínos a eficiência da perda de calor
do também serem consideradas a umidade relativa e evaporativa pelos pulmões, por meio do aumento da
velocidade do ar e a radiação. Assim, o mais adequa- frequência respiratória, fica comprometida com a
do seria descrever o impacto do ambiente térmico elevação da umidade relativa do ar. No estresse por
em termos de temperatura efetiva, que expressa o calor então, os suínos utilizam ajustes metabólicos e
efeito combinado dos elementos do clima e ambiente fisiológicos decorrentes dos processos de termor-
no balanço térmico animal. regulação que resultam em comprometimento do
Para cada espécie e categoria animal, existe desempenho produtivo.
uma faixa de temperatura ótima, conhecida como Assim, para avaliar a influência do ambiente
zona de termoneutralidade. É nessa zona que a térmico no desempenho produtivo dos animais,
maior parte da dissipação de calor ocorre por meio podem ser utilizadas medidas fisiológicas, como
de trocas sensíveis (radiação, convecção e condu- temperatura retal e taxa respiratória, ou avaliações
ção) e onde o custo fisiológico para manter a homeo de parâmetros de desempenho como consumo de
termia é mínimo, proporcionando maior retenção ração, variação de peso corporal, produção de leite
da energia da dieta, o que resulta em melhores e, consequentemente, o ganho de peso da leitegada,
índices de desempenho produtivo e reprodutivo. entre outros, que são relacionados com a capacida-
Fora dessa faixa, esses índices podem ser prejudica- de do animal de enfrentar desafios agudos ou crôni-
dos devido à necessidade de o animal aumentar ou cos de alta temperatura.
diminuir a taxa de produção de calor para manter a
homeotermia. Influência das respostas
Os suínos, como animais homeotérmicos, pos- termorregulatórias no desempenho
suem um sistema de controle da homeostase, que das porcas lactantes
é estimulado quando o ambiente externo impõe Os animais apresentam melhor eficiência na
situações desfavoráveis. Esse sistema de controle, utilização dos nutrientes quando mantidos em am-
conhecido como termorregulação, é definido como biente de termoneutralidade, devido ao reduzido
um conjunto de mecanismos que permitem regular gasto energético para manterem a homeotermia.
Valores na mesma linha, não seguidos de mesma letra, diferem significativamente (P< 0,05).
Adaptado de QUINIOU & NOBLET (1999).
leite, as porcas no calor mobilizam reservas corpo- reservas é atingido, verifica-se queda na produção
rais, o que resulta em perda de peso corporal e de de leite, visto que há um desvio da energia líquida de
espessura de toucinho (tabela 2). A perda da condi- produção para mantença, prejudicando o crescimento
ção corporal durante a lactação é mais acentuada em da leitegada. Parece assim que porcas lactantes em es-
fêmeas suínas expostas ao calor, detectando-se re- tresse por calor estabelecem um novo balanço entre a
dução da espessura de toucinho de 1,9mm a 2,2mm, energia do alimento e a energia das reservas corporais.
respectivamente, ao desmame, em relação às fêmeas Deve ser considerado que o efeito negativo da
mantidas em conforto térmico. alta temperatura na produção de leite não pode ser
Entretanto, parece que a capacidade das por- explicado somente pelo reduzido consumo de nu-
cas lactantes em mobilizar reservas corporais fica trientes. Isso seria um indicativo de uma ação direta
prejudicada quando são desafiadas pelo calor. Essa da alta temperatura. O aumento da proporção de
menor capacidade de a porca mobilizar reservas fluxo de sangue irrigando os capilares da pele para
para sustentar a produção de leite parece ocorrer dissipar calor corporal, com a consequente diminui-
a partir da temperatura de 25 oC. A inabilidade ção no fluxo para as glândulas mamárias, justifica a
das porcas em mobilizar reservas fica evidenciada aparente ineficiência dessas glândulas em porcas
quando se verifica que porcas em ambiente ter- mantidas em ambientes quentes.
moneutro, ao consumirem igual quantidade de As alterações da capacidade das porcas em mo-
alimentos que porcas em ambiente de calor, apre- bilizar reservas corporais para manter a produção de
sentam maior perda de peso corporal e produção leite, associadas a um menor consumo de alimentos no
de leite (tabela 3). ambiente de alta temperatura, influenciam negativa-
Assim, quando o nível máximo de mobilização de mente o seu desempenho reprodutivo, aumentando
Tratamento1
Item
20AV (n=6) 20CR (n=6) 30AV (n=12) Valor de P
539
CRD (kg/dia) 4,9 ± 0,10 a
3,1 ± 0,02 b
2,8 ± 0,01 b
0,001
PPC(kg/dia) -0,39 ± 0,19c -1,50 ± 0,23a -1,01 ± 0,11b 0,001
ET (mm/dia) -0,04 ± 0,03 b
-0,17 ± 0,02 a
-0,13 ± 0,02 a
0,01
120AV = Porcas alimentadas à vontade durante a lactação e mantidas a 20ºC.
120CR = Porcas com consumo restrito durante a lactação e mantidas a 20ºC.
130AV = Porcas alimentadas à vontade durante a lactação e mantidas a 30ºC.
Médias seguidas de mesma letra na linha não diferem (P<0,05).
Adaptado de Messias de Bragança et al (1998).
o intervalo desmama-cio (IDC) fértil. A desfavorável maior mobilização de reservas corporais e prolonga-
associação entre o IDC e a alta temperatura é mais do intervalo desmama-cio está em parte relacionado
acentuada nas primíparas. Tem sido mostrado que o com o baixo consumo de alimentos resultante da alta
aumento da temperatura de 25 para 35oC resulta em temperatura. Dessa forma, a utilização de estraté-
maior IDC das primíparas em relação às pluríparas. gias nutricionais para redução da carga termogênica
Nesse contexto, pode-se considerar que a in- da dieta seria fundamental para atenuar os efeitos
tensidade do efeito negativo da alta temperatura no negativos do estresse por calor. A importância dessa
desempenho produtivo das porcas lactantes varia prática está no fato de que a produção de calor asso-
em função da ordem de parto, com as primíparas ciada à digestão, à absorção e ao metabolismo dos
mais sensíveis. A maior sensibilidade das fêmeas nutrientes do alimento representa aproximadamen-
primíparas à alta temperatura está relacionada te 40% do total de calor produzido por uma porca de
com sua menor capacidade de consumo associada 250kg em lactação (gráfico 2). Logo, considerando
ao fato de o seu sistema endócrino estar menos que o incremento calórico, que corresponde à por-
desenvolvido. Dessa forma, a elevação da tempe- centagem de energia convertida em calor, dos lipíde-
ratura ambiental durante a lactação compromete os é 15%, do carboidrato 22%, da proteína 36% e da
comparativamente mais o desempenho reproduti- fibra 42%, a mudança na composição da dieta como
vo dessas fêmeas, prejudicando a taxa de parição e redução da proteína bruta com suplementação de
elevando a de descarte. aminoácidos industriais, inclusão de lipídios e a limi-
Assim, fica evidente a necessidade de um con- tação na utilização de alimentos fibrosos são alter-
trole eficiente da temperatura na maternidade, que nativas que podem tornar as dietas mais apropriadas
contempla duas categorias com exigências térmicas para ambientes de alta temperatura.
distintas. É sabido que a zona de conforto do leitão Entre os nutrientes, a proteína bruta é o que
é no mínimo 10oC maior que aquela para a porca. mais produz calor nos processos de digestão, ab-
No entanto, em razão do alto custo, muitas vezes sorção e metabolismo. Em parte esse maior incre-
as instalações modernas falham em atender às ne- mento de calor, característico das proteínas, está
cessidades térmicas de ambas as categorias (leitões associado ao necessário processo de desaminação
e porcas). Assim, outras alternativas que aliviem o dos aminoácidos em excesso para síntese de ureia.
estresse por calor das porcas devem ser buscadas. Assim, como a eficiência da utilização metabólica
da PB pode variar dependendo do seu perfil de ami-
Alternativas nutricionais para porcas noácidos, se estiver mais ou menos ajustada à exi-
lactantes em climas quentes gência do animal, a redução do seu nível na dieta de
Embora possa haver muitos fatores, fica eviden- porcas em lactação no calor, utilizando o conceito
te que o subótimo desempenho das porcas em es- da proteína ideal, contribuiria para reduzir a carga
tresse por calor que inclui menor produção de leite, termogênica da dieta. Reduzir o nível de proteína
600 30
responde mais sensivelmente a mudanças no su-
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544
O
estro normalmente ocorre entre três e Esse processo é controlado pela secreção
sete dias após o desmame, e tem duração de gonadotrofinas na hipófise anterior, havendo
entre 24 e 76 horas, sendo em média 60 evidências que o FSH estimula o desenvolvimento
horas, mas com grande amplitude. Os seus sintomas folicular até cinco a seis milímetros (mm) de diâme-
são facilmente visualizados na fêmea suína. Há di- tro, sendo o LH necessário para o estágio final da
minuição de apetite, estando inquietas e nervosas. maturação dos folículos e ovulação.
Esses animais apresentam os lábios vulvares ede- A secreção de LH durante a lactação é primaria-
maciados, hiperêmicos e ocasionalmente ocorre mente controlada pela intensidade de sucção, que
descarga de muco na vulva. Entretanto, o fator que leva à secreção de opioides, que, por sua vez, impe-
determina o início do estro é a imobilidade da fêmea dem a liberação de GnRH, evitando-se assim, uma
na presença do macho e, no final do estro ou início ovulação precoce pós-parto.
do metaestro, observa-se um muco esbranquiçado A secreção de FSH é inibida por um fator ovaria-
composto de debrís celulares e leucócitos. no não esteroidal, presumivelmente a inibina. Com o
O conhecimento dos mecanismos e fatores que avançar da lactação, há aumento do LH armazenado,
afetam o desenvolvimento folicular é importante dos receptores de GnRH na hipófise e da habilidade
no sentido de propiciar ambiente e manejo adequa- do estradiol induzir pico de LH, uma vez que há íntima
do para fêmea suína, durante e após a lactação. As relação entre início da onda de LH e o pico de estra-
matrizes apresentam um perfil endócrino diferen- diol, caracterizado por um feedback positivo.
ciado das demais fêmeas domésticas, com o nível de Nas primeiras 48 horas após o desmame, a
estradiol e progesterona declinando logo após a eli- concentração de inibina no fluido folicular dos pe-
minação da placenta. Entretanto, os níveis de LH e quenos e médios folículos está até 300 vezes maior
FSH continuam elevados, declinando 48 a 72 horas que no plasma venoso ovariano. Várias mudanças
após parto/início da lactação, pela ação inibitória da séricas de FSH e inibina ocorrem nesse período,
amamentação. havendo uma correlação inversa entre esses, exceto
Os ovários da porca, a partir do início da lacta- durante o pico pré-ovulatório de FSH, quando essa
ção, apresentam uma grande população de folículos relação é positiva. Nesse momento, há um rápido
de pequeno diâmetro, contrastando com alguns crescimento folicular. Em contrapartida, animais
médios, e essa condição permanece durante os dez em anestro iniciam o desenvolvimento folicular,
dias pós-parto. Com o avançar da lactação, há um apresentando altas concentrações de estrógeno e
aumento gradual do número dos folículos médios inibina com uma baixa concentração de FSH.
e grandes, sendo que, ao desmame, há um rápido Há um intervalo de aproximadamente 11 horas en-
crescimento desses folículos, o que culmina com o tre o pico de estradiol e o de LH. Longos intervalos entre
estro entre três a cinco dias. esses compromete a qualidade dos ovócitos, levando
matrizes desmamadas, reduza o intervalo desmame Sabe-se que a insulina é peça fundamental no
estro, melhorando os resultados reprodutivos (nú- processo de ovulação, assim a utilização de dietas
mero de nascidos e taxa de parto). com alta concentração de carboidratos nessa fase
548
Esse período é muito curto para a maioria das traz melhores resultados do que as rações com alta
matrizes, e grande parte dos resultados consegui- porcentagem de gordura. Nesse contexto, suge-
dos nessa fase é reflexo da correta alimentação na re-se a utilização de cromo quelatado na dieta de
gestação e na maternidade, permitindo que venham flushing, devido à sua propriedade de aumentar a
a parir num bom escore corporal e sejam desmama- atividade insulínica.
das, sem perda excessiva na lactação, em condições Diante do grande impacto do IDE sobre os
de um rápido retorno ao cio. dias não produtivos e o número de nascidos totais
A alimentação à vontade, em vários tratos di- no parto subsequente, é fundamental que se dê
ários, após o desmame, elava a concentração plas- atenção às fêmeas recém-desmamadas, evitando
mática de insulina e IGF-I (fator de crescimento se- condições de estresse e possibilitando um correto
melhante ao da insulina do tipo I), próximo ao estro arraçoamento. Ainda, cabe entender que a qualida-
durante a onda de LH. A insulina age diretamente no de dessa fêmea ao desmame está associada a toda
ovário, reduzindo a atresia folicular e aumentando preparação que deve haver ainda na reposição para
o número de folículos com capacidade para ovular, as leitoas e que é fundamental a manutenção de um
estando a ação desse hormônio sobre as funções escore corporal na gestação, além de um manejo de
ovarianas relacionada com o aumento da produção arraçoamento que permita baixa perda na condição
de IGF-I folicular. corporal durante a lactação.
Bibliografia
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13 Maternidade na
Produção de Suínos
A
suinocultura tem agregado, a cada ano, dos/fêmea/ano. Entretanto, leitegadas numerosas
avanços que contribuem para ganhos reais estão correlacionadas com o aumento de leitões
em prolificidade e crescimento. Entretanto, com baixo peso ao nascimento, aumento de morta-
com a redução da margem de lucro e consequen- lidade na maternidade e menor ganho de peso nas
te competitividade, faz-se necessária a adoção de fases subsequentes da produção.
manejos que reduzam a variabilidade de peso en- A seleção para aumento da taxa de ovulação
tre lotes, considerando que esta talvez seja a maior está correlacionada negativamente com a sobre-
oportunidade de ganhos zootécnicos, financeiros e vivência embrionária precoce e afeta o peso ao
sanitários num sistema de produção. nascimento. Recentes estudos apontam que leite-
A indústria de suínos tem direcionado gran- gadas numerosas apresentam maior variabilidade
de parte do seu foco na seleção de matriz de alta no peso ao nascimento e redução na sobrevivência
produtividade, especificamente para o número de pré-desmame e ganho de peso.
leitões nascidos/parto e um consequente aumento O aumento de um leitão na média de nascidos
no número de leitões desmamados/porca/ano. En- reduz em 100g o peso ao nascimento, dobrando
tretanto, esse aumento no número de leitões nas- o percentual de leitões que nascem com menos de
cidos/parto pode afetar diretamente a qualidade 800g. A redução no peso ao nascimento é acompa-
desses leitões, estando correlacionada negativa- nhada pelo aumento na variação de peso no cresci-
mente com o peso ao nascimento. Esse fato impac- mento e queda no desempenho. Em média, os leitões
ta diretamente na mortalidade, na maternidade, com peso inferior a 900g ao nascimento requerem
bem como na variabilidade do peso nas leitegadas de sete a 15 dias a mais para chegarem ao abate que
e no desempenho nos demais setores da granja. as categorias de pesos superiores (tabela 1).
O baixo peso ao nascimento afeta de forma Sabe-se que os leitões, ao nascimento, apre-
direta a taxa de mortalidade nas diversas fases de sentam baixas reservas energéticas corporais, pela
produção e cria, dentro do sistema de produção, ausência de tecido adiposo marrom, ainda baixo
subpopulações. Estas apresentam um comporta- percentual de gordura corporal e dependência ex-
mento sorológico e sanitário distinto dos demais clusiva de glicose nas primeiras horas de vida, apre-
animais e são responsáveis pela manutenção de sentando alto risco de morte.
problemas clínicos no rebanho, além da amplifi- Os leitões nascem em média com 1,6% de gor-
cação dos problemas sanitários por esses animais dura corporal e o aumento do peso ao nascimento é
(“superdifusores”), um fator de risco para os ani- acompanhado do crescimento nesse percentual de
mais contemporâneos. gordura, que assegura melhor isolamento corporal
e maior reserva. Isso faz com que haja elevação da
Peso ao nascimento e a maternidade taxa de sobrevida nessa fase, obtida com ajuste nu-
A rentabilidade na suinocultura está direta- tricional na gestação.
mente ligada ao resultado reprodutivo, tendo como A mortalidade pré-desmame representa um
principal parâmetro o número de leitões desmama- importante fator de perdas econômicas e zootéc-
Categorias de peso
Idade P
Alto Médio Baixo
552
Ao nascer 1,81 a 1,51 b 1,14 c P<0,001
Ao desmame 8,9 a 8,2 b 6,5 c P< 0,001
48 dias 31 a 29,9 a 26,6 b P< 0,001
90 dias 60,9 a 60,1 a 54,6 b P< 0,01
131 dias 95,5 a 96 a 88 b P< 0,01
Peso de carcaça 72,2 a 72,8 a 66,2 b P< 0,01
Adaptado de Lawlor et al (2007)
nicas na suinocultura. Somados natimortos, mu- ção dos problemas sanitários nas distintas fases
mificados e mortes no setor, algumas granjas ain- de crescimento.
da ultrapassam 17% de perdas, o que representa A ingestão de colostro nas primeiras horas de vida
enormes prejuízos. Grande parte dessas perdas é, portanto, muito importante para a sobrevivência
acontece nos primeiros dias de vida e está relacio- dos leitões, por nascerem sem nenhuma o imunida-
nada a uma baixa ingestão de colostro pelos leitões de contra micro-organismos patogênicos existentes
com baixo peso ao nascimento e/ou, ainda, pelos no ambiente. Essa importância é dada devido às altas
últimos leitões a nascerem. concentrações de imunoglobulinas, encontradas nas
Essas mortes ocorrem, em sua grande maioria, primeiras amostras de colostro após o parto.
até o quinto dia após o nascimento, estando estas Além da importância da ingestão do colostro,
associadas a esmagamentos, nascimento de leitões leitegadas com alta variação de peso ao nascimento
de baixa viabilidade e refugagem. Sabe-se que mui- têm redução na sobrevivência dos leitões, uma vez
tas dessas estão correlacionadas com uma baixa que excluem leitões menores do acesso aos tetos
ingestão de colostro, concentradas em leitões com funcionais e produtivos, tornando-se necessária a
baixo peso ao nascimento e nos últimos leitões a equalização das leitegadas/tetos viáveis. Essa téc-
nascerem, a partir do décimo terceiro, devendo es- nica visa corrigir variações de peso entre leitegadas,
ses serem identificados como animais de risco. no início da lactação, evitando também excesso de
Um maior número de nascidos vivos nos úl- leitões na mesma fêmea, e deve ser realizada o mais
timos anos aumentou a variação da ingestão de cedo possível, no máximo até 24 horas após o parto.
colostro entre leitões (tabela 2), o que tem difi- Em contrapartida, os leitões que nascem mais pe-
cultado padronizar a proteção entre os animais, sados têm maior peso ao desmame e na saída de cre-
alterando a dinâmica de infecção e manifesta- che, com esse potencial expresso até o abate (tabela 3).
Tabela 3 – Pesos dos suínos do nascimento ao abate de acordo com a categoria de peso ao nascimento
Como regra geral, sabe-se que um aumento de com peso inferior a 800g. Em síntese, baixo peso
100g ao nascimento resulta num ganho de 200g ao ao nascimento e alta variabilidade de peso dentro
desmame e que, a cada 100g adicionados no des- das leitegadas contribuem para a mortalidade pré-
mame, há um ganho extra de 500g ao abate. -desmame e leitões requerem dias adicionais para
Na maternidade, as maiores perdas por mor- chegarem ao abate.
talidade ocorrem na maioria até o terceiro dia de Esses fatores associados deixam esses animais
vida, em razão do peso e pouco vigor dos leitões ao vulneráveis a um quadro de hipoglicemia. Menor in-
nascimento. Os leitões que nascem com peso infe- gestão de imunoglobulinas resulta, por sua vez, um
rior a 1,0kg têm a mortalidade na ordem de 40% e aumento da mortalidade pós-natal. Ainda, os leitões
esses animais demoram mais tempo para a primeira com baixo peso ao nascimento apresentam maior
mamada que os leitões em categorias de peso supe- superfície corporal em relação ao seu peso, estando
riores (86 contra 38 minutos). mais susceptíveis aos quadros de hipotermia.
Os leitões mais pesados ao nascimento con- O coeficiente de variação do peso das leitega-
somem aproximadamente 30% mais leite que os das ao nascimento situa-se entre 22 e 26% e o nú-
oriundos de leitegadas com baixo peso ao nasci- mero de leitões nascidos está inversamente relacio-
mento. Eles tendem a sugar nas tetas dianteiras, nado com o peso ao nascimento e de forma positiva
que produzem mais leite. A baixa ingestão de lei- com o coeficiente de variação (CV). Assim, há uma
te dos leitões com baixo peso ao nascimento não forte correlação entre o peso ao nascimento, peso
está associada apenas com o baixo crescimento, ao desmame e dias necessários para o abate. Ain-
mas também com uma redução na síntese proteica. da, observa-se que os leitões que nascem menores
Dessa forma, a ingestão de leite na primeira sema- fazem parte de uma subpopulação de animais, na
na de vida está correlacionada com a taxa de depo- qual há menor ingestão de colostro, com redução
sição proteica dos leitões. na duração da imunidade passiva, ficando expostos
Sabe-se que leitões com peso ao nascimen- aos agentes patogênicos de forma prematura. Essa
to inferior a 1,2kg apresentam baixas reservas ao classe de animais altera a dinâmica de infecção nas
nascimento, requerendo maior tempo para a pri- granjas, e isso permite repiques nas taxas de mor-
meira mamada, com maior taxa de mortalidade até talidade com perda de desempenho.
o terceiro dia e menor peso ao desmame. Sabe-se O número de fibras musculares é um determi-
ainda que leitegadas numerosas, em porcas com nante essencial da massa muscular. No suíno, o nú-
idade avançada, aumentam a prevalência de leitões mero de células musculares é concluído durante a
fase de gestação, com este permanecendo fixo do diferença quanto ao número de fibras entre as ca-
nascimento ao abate. Após o nascimento, o poten- tegorias de peso ao nascimento.
cial crescimento muscular está limitado à hipertro- Os animais com baixo peso ao nascimento apre-
554
fia (aumento no tamanho das células). Dessa forma, sentam ainda uma menor altura das vilosidades in-
algumas questões são levantadas quando da ca- testinais, redução na atividade das enzimas lactase
pacidade limitada de crescimento dos leitões com e lípase, menor número de receptores de hormônios
baixo peso ao nascimento: 1) apresentam menor da tireoide no músculo e menor nível de IGF-1 na cir-
número de fibras musculares ao nascimento, por- culação. Ainda observam-se um aumento no tama-
tanto menor potencial de crescimento muscular, 2) nho das leitegadas e redução no peso ao nascimen-
menor capacidade de ingestão em valores absolu- to, além de um menor número de fibras musculares e
tos ou, ainda, 3) uma menor concentração de IGF-1, redução no percentual de carne magra ao abate.
o que reduz a taxa de ganho desses animais. Assim, um baixo peso ao nascimento se perpetua
Algumas pesquisas têm mostrado que os lei- em todas as fases da granja, havendo consenso de que
tões com baixo peso ao nascimento possuem menor esses animais representam riscos sanitários nas fases
número de fibras musculares. Entretanto, outros subsequentes. Sabe-se que leitões que nascem com me-
trabalhos mostram que essa redução no número nos de 1kg têm pequena chance de sobrevivência, con-
de fibras musculares ocorre apenas em leitões que centrando-se nesses animais perdas próximas a 86%.
nascem com peso inferior a 800g, não se observan- Enfim, as diferenças fisiológicas encontradas
do isso nas demais categorias de peso. entre os leitões leves e pesados justificam a ado-
Os leitões de baixo peso ao nascimento apre- ção de manejos e intervenções terapêuticas entre
sentam-se mais leves ao abate, com redução na essas diferentes classes de animais, buscando-se
média de ganho diário e ingestão de alimentos. a redução na diferença absoluta de peso ao abate,
A concentração de IGF-1 é menor (28%) que no taxa de mortalidade e manifestação de doenças en-
grupo de animais pesados, não havendo qualquer tre e dentro dos lotes.
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A
hiperprolificidade é uma característica »» dificultará o atendimento ao parto?
consistente no rebanho brasileiro e pode-se »» aumentará o percentual de natimortos e
observar um aumento médio de 0,30 lei- mumificados?
tões nascidos totais/ano nos últimos cinco anos. Nas »» aumentará o percentual de nascidos com
granjas que estão entre os melhores resultados de baixo peso?
desmamados/fêmea/ano do País, esse aumento é de »» precisará de um número muito maior de
0,66 nascidos totais no período. No mesmo banco de funcionários na maternidade?
dados, chama a atenção o excelente número de 37 »» diminuirá o peso ao desmame?
leitões nascidos totais/matriz/ano e 32 desmama- »» aumentará a mortalidade na lactação?
dos/matriz/ano nas 10 melhores granjas (13,5% de »» aumentará efetivamente o número de des-
perdas entre o nascido total e o desmamado). Além mamados?
disso e não menos importante, há uma diferença »» aumentará o custo com alimentação da matriz?
considerável de 6 desmamados/matriz/ano entre a »» piorará o desempenho das minhas creches e
média e os melhores (25,91 e 31,96 leitões, respec- terminações?
tivamente), o que deve nos fazer refletir a respeito Todas essas dúvidas são advindas de um
das oportunidades que se apresentam, as quais estão quadro transitório – e não definitivo – quase in-
sendo aproveitadas apenas por alguns sistemas. variavelmente visto durante a adaptação ao novo
O principal foco técnico das unidades produto- patamar de produtividade, em que as granjas apre-
ras de leitões deve ser o número de desmamados/ sentam queda no peso ao nascimento, aumento da
fêmea/ano com peso compatível com a idade e variabilidade, aumento das perdas de maternidade
boa saúde geral. Esse conjunto de características (ao parto e durante a lactação) e piora no ganho de
é o mais adequado, pois contemplam o número peso diário dos lactentes.
de nascidos (ponto de partida para o desmame), a Esse momento de transição deve transcor-
mortalidade de maternidade e o desempenho dos rer de forma cuidadosa, pois é fato que existem
leitões, todos os índices que colaboram para a de- opções de trabalho para aproveitar todos os be-
terminação de kg desmamados/matriz/ano. nefícios da hiperprolificidade e seu real impacto
O potencial genético atual permite que as metas positivo no desempenho financeiro das unidades.
das granjas sejam definidas com taxa de parição aci-
ma de 90% e número de nascidos totais superior a Aprendendo a trabalhar com 30%
14,5 leitões, gerando aproximadamente 12,5 desma- a mais de leitões nas instalações
mados (considerando perdas de 14% com natimor- Muitas vezes, os sistemas de produção não aten-
tos + mumificados + mortalidade na lactação). tam para esse fato tão significativo: passaram a tra-
De forma prática e generalista, as principais balhar com aproximadamente 30% a mais de leitões
dúvidas que se apresentam em relação à hiperpro- dentro da mesma situação de manejo e instalações.
lificidade estão descritas abaixo: Em granjas hiperprolíficas, o trabalho para conseguir
qualidade dos leitões inicia-se na gestação e passa velmente, já estejam subestimados nas granjas
por momentos cruciais durante o atendimento ao construídas há mais de cinco anos. Indicadores
parto e aos primeiros dias de vida dos leitões. positivos de redução da mortalidade por esmaga-
556
O adequado descarte e reposição de matrizes e mento e de ganho de peso dos leitões têm mostra-
a inclusão de causas de descarte ligadas ao aparelho do que a dimensão dessa instalação precisa ser re-
mamário e à capacidade de desmame de cada matriz vista de acordo com o número de nascidos (foto 1).
são fundamentais em granjas que pretendem desma- A estrutura de escamoteador deve ser ade-
mar uma grande quantidade de leitões. Tanto o núme- quada para a permanência dos leitões em seu
ro de tetas viáveis como a capacidade de produção de interior, devendo ter área suficiente, ser seco, ilu-
leite definirão o número de leitões que uma matriz é minado e com temperatura adequada (foto 2). Nos
capaz de desmamar com boa qualidade. primeiros dias de vida, o ideal é que os leitões se-
Quando as granjas não realizam adequadamente jam fechados várias vezes ao dia, logo após as ma-
o descarte e a reposição ou perdem uma quantidade madas, assim que começarem a dormir, para que
grande de matrizes jovens (baixa taxa de retenção), sejam condicionados a fazer isso voluntariamente.
invariavelmente o plantel envelhece. Em matrizes Nos momentos do arraçoamento das matrizes,
mais velhas, é comum a perda da funcionalidade de também devem ser fechados no escamoteador,
glândulas mamárias, especialmente na região ingui- sendo liberados assim que as matrizes deitarem.
nal. Essa situação gera a necessidade de um número
significativo de mães de leite para o excesso de lei- Perdas de leitões na maternidade
tões, as quais, dependendo do percentual, impactam – do número total de nascidos
negativamente sobre alguns dados de produtividade. ao número de desmamados
De forma geral, não somente sobre as materni- As perdas de leitões no período de transição
dades hiperprolíficas, o manejo de gestação também para a hiperprolificidade podem aumentar consi-
impacta sobre as perdas na maternidade, especial- deravelmente nas maternidades e superar 20%,
mente o manejo de alimentação das matrizes. O ter- somando mumificados, natimortos pré e intra-
ço final da gestação é a fase em que há o crescimento parto (morto ao nascer) e mortalidade de lacten-
mamário e fetal de forma mais significativa. Por isso, tes. Apesar disso, podemos considerar que, nos
alimentar adequadamente essas matrizes (em quan- casos de adoção adequada dos manejos, é possí-
tidade e qualidade de dieta) é fundamental quanto vel trabalhar com índices entre 12 e 14%, apenas
à produção de colostro e leite e ao peso ao nascer e organizando as atividades, focando em alguns
sua variabilidade. Após formular adequadamente as pontos importantes e sem aumentar os custos.
dietas e garantir a qualidade dos ingredientes, cum- De forma geral, o número de natimortos au-
prir o fornecimento da quantidade pré-estabelecida menta de acordo com o número de nascidos nas
de alimento é crucial. Uma boa gestão da regulagem
do sistema automático de alimentação ou das cane-
cas no trato manual vai definir se as matrizes recebe-
rão o aporte adequado de nutrientes e energia para
o adequado crescimento dos tecidos mamário e fetal
e produzir leitegadas uniformes e com bom peso ao
nascimento, diminuindo a mortalidade e facilitando
os manejos do setor de maternidade.
As instalações da granja são também um dos
pontos críticos na gestão de granjas hiperprolífi-
cas. O espaço de maternidade para o uso de mães
Foto 1 – Leitões deitados próximo à matriz
de leite e até a área destinada aos leitões, prova- com alto risco de esmagamento
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Copenhagen, Denmark. v. 1. p.105.2006.
A
mortalidade neonatal é umas das principais permanecem próximos à matriz e, dessa maneira, as
causas de perdas no período lactacional, e chances de serem esmagados também aumentam.
o momento mais crítico são as primeiras 72 Grande parte dos leitões que morrem por essa causa
horas de vida dos leitões. Em muitas granjas, a mor- apresentam estômagos e intestinos com pequenas
talidade nesse período é superior a todo o restante quantidades de colostro ou leite (foto 1).
do ciclo do suíno até o abate. Dessa forma, trata-se O peso do leitão ao nascer é um dos principais
de um período crítico e, invariavelmente, contem- fatores ligados à sobrevivência e ao desempenho
plado por qualquer plano de ação que objetive au- até o abate. Leitões que nascem com baixo peso (<
mentar o número de cevados/fêmea/ano. 1,0kg) são os mais predispostos a não sobreviverem
Nesse período, inanição, esmagamento e hi- nos primeiros dias de lactação, como demonstrado
potermia são as principais causas de mortalidade. no gráfico 1.
Geralmente, ambas estão relacionadas com o baixo É bem verdade que fatores como nutrição da
consumo de colostro, e, no caso da inanição, esse fêmea gestante e condução do melhoramento
baixo consumo é seguido por quadros de hipotermia genético podem gerar diferentes respostas entre
e hipoglicemia (concentração plasmática < 60mg peso ao nascer e sobrevivência pré-desmame. Es-
glicose/ml), podendo, de acordo o grau de severida- tudos demonstram que a seleção de animais com
de, evoluir rapidamente para coma e morte. Já no alto valor genético para vitalidade dos leitões pode
aumentar a sobrevivência de leitões de baixo peso,
ao nascerem. Assim, diferenças de sobrevivência de
leitões de peso semelhantes, porém de diferentes
linhagens ou genéticas, podem ser observadas. En-
tretanto, dentro de uma mesma linhagem e genéti-
ca, invariavelmente os leitões de baixo peso ao nas-
cimento possuem menor sobrevivência no período
pré-desmame quando comparados às categorias de
animais mais pesados.
Embora geralmente não representem mais do
que 10 a 15% do total de leitões nascidos, devido à
menor taxa de sobrevivência, os leitões que nascem
Foto 1 – Estômagos de leitões com idade entre 0 e 3 com peso inferior a 1,0kg representam cerca de 40
dias que tiveram esmagamento como causa da morte. a 60% das mortes durante o período pré-desmame,
Observar o número de estômagos com pouco conteúdo
Fonte: Gabriela Freitas como demonstrado em um dos vários estudos sobre
100 100
90
80 80
70
lg 12h (mg/ml)
Sobrevivência (%)
60
60 50
560 40
40 30
20
10
20 0
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0
0
Nascimento dia 1 7 dias 14 dias Desmame
Peso ao nascer (kg)
<0.61 100 36 16 16 15
0.61 - 0.80 100 71 51 48 48 Gráfico 3 – Concentração plasmática de
0.81 - 1.00 100 85 75 73 71
imunoglobulinas (Ig) 12 horas após nascimento
1.01 - 1.20 100 91 87 86 85
>1.20 100 96 94 93 93 conforme peso dos leitões, ao nascerem.
Fonte: Adaptado de Risum, 2003
8 7,47 120
6,86 115,26
7 6,39 110 Baixo 108,38
5,79 100 Intermediário 99,66
6 5,12
Alto
4,68
90
5 4,44
Peso (kg)
80
Peso (kg)
564
4 3,65 70
60,35
3
2,84 60
56,11
Baixo 50 48,94
2 1,816 Intermediário
1,387 Alto 40
28,19
0,949
1 30 25,67
22,23
0 20
Nascimento 10 dias 19 dias 28 dias 70 dias 115 dias 170 dias
sempre deve ser levado em consideração, pois, desempenho pós-natal que, provavelmente, os
como descrito anteriormente, a condução dos torne economicamente viáveis. Trabalhos recen-
programas de melhoramento genético pode afe- tes que estudaram a relação entre peso ao nascer
tar não só a viabilidade dos leitões de baixo peso, e ao abate, classificando os leitões em 8 catego-
como também todo o metabolismo do animal. rias, demonstraram que cerca de 80% dos leitões
Assim, diferentes desempenhos entre leitões de que nasceram na categoria de menor peso chega-
peso semelhante, porém de diferentes linhagens, ram ao abate no mínimo uma categoria acima da
podem ser encontrados. que nasceram, resultado inverso ocorreu com a
De uma maneira geral, existe uma correlação categoria de maior peso ao nascer (Gráfico 7).
positiva entre peso ao nascer e peso nas fases Em todas as situações, invariavelmente, o nas-
posteriores, fenômeno denominado “efeito multi- cimento de leitões com baixo peso ocorrerá. Cabe
plicador”. Estudos recentes evidenciam a chamada aos produtores, técnicos e demais profissionais da
programação pré-natal no ambiente uterino. Essa atividade minimizarem os efeitos, adequando ma-
programação é que determina as características de nejos nos momentos pré e pós-natal, a fim de buscar
desenvolvimento de órgãos e tecidos, em decor- a melhor rentabilidade na realidade em que a granja
rência de alterações na expressão do genoma fetal, está inserida.
gerando, assim, efeitos que são permanentes sobre
a estrutura, o metabolismo e a fisiologia do animal. 0,9
O impacto mais visível é no peso dos leitões, ao 0,8
nascerem, porém pode apresentar reflexos durante 0,7
0,4
de granjas comerciais no Brasil demonstraram que
0,3
o aumento do peso dos leitões, quando do nasci- 0,2
mento, proporcionou maior GPD e peso nas fases 0,1
subsequentes até o abate. A diferença de peso ao 0
nascimento de 867g (1.816 vs 949 para nascidos 1 2 3 4 5 6 7 8
Categoria de peso ao nascer
pesados e nascidos leves, respectivamente) resul-
Caiu Manteve Subiu
tou em uma diferença de 2,3kg aos 28 dias de vida e
de 15,6kg aos 170 dias (Gráficos 5 e 6). Gráfico 7 – Percentagem de leitões que mantiveram,
subiram ou caíram no mínimo 1 categoria de peso no
Entretanto, existem muitos leitões com baixo abate (155 dias) comparado ao peso, ao nascerem
peso, ao nascerem, que possuem potencial para Fonte: Adaptado de Douglas et al., 2013
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D
enomina-se uniformização ou equalização tes momentos, entretanto, cabe aos profissionais
de leitegadas o processo pelo qual leitões que conduzirão ou orientarão esse trabalho adota-
são transferidos entre leitegadas, com a rem conceitos de fisiologia para adequar esse mane-
finalidade de uniformizar o tamanho da leitegada jo a cada realidade, visando proporcionar melhores
ou formá-la com leitões de peso similar ao do nas- resultados à granja.
cimento. Trata-se de um manejo utilizado com o Vários fatores, tais como o período entre o nas-
objetivo de aumentar as chances de sobrevida e cimento e a uniformização, o tamanho dos leitões, a
melhorar o ganho de peso dos leitões durante a fase ordem de parto da mãe adotiva e biológica, a porcen-
lactacional e nas subsequentes, trazendo também tagem de leitões transferidos e a origem dos leitões,
consequências para as matrizes, principalmente, influenciam diretamente o resultado desse manejo
para as primíparas. e devem ser levados em consideração em qualquer
Atualmente, muitas das matrizes suínas produ- granja e situação. A discussão de cada um desses fa-
zem leitegadas mais numerosas que seu complexo tores será realizada ao longo deste capítulo.
mamário suporta e, dessa maneira, a uniformiza-
ção de leitegadas por número de leitões de acordo Aspectos imunológicos
com o número de tetos viáveis torna-se um manejo A espécie suína possui placenta epiteliocorial,
indispensável. Por outro lado, mover leitões entre ou seja, a circulação materna e fetal é separada por
leitegadas aumenta os custos com a mão de obra e a seis camadas celulares, o que impede a passagem
chance de disseminação de doenças e, dependendo de macromoléculas, como as imunoglobulinas
do protocolo utilizado, pode-se não ter os efeitos (anticorpos). Dessa maneira, os leitões nascem
positivos esperados. Pesquisadores alertam que agamaglobulêmicos, ou seja, sem anticorpos. Ao
transferências de leitões devem ser limitadas a, no nascerem, os leitões são expostos imediatamente
máximo, 20%, como forma de atenuar várias doen- a patógenos presentes no ambiente e, em contra-
ças, entre elas a circovirose. Em algumas situações, partida, o tempo necessário para o leitão gerar
isso se torna um viés, principalmente nas granjas uma resposta imune ativa capaz de lhe conferir
multiplicadoras que se utilizam da uniformização proteção demora cerca de sete a dez dias. Assim,
de leitegadas por sexo, devido ao maior valor econô- a proteção inicial dos leitões é totalmente depen-
mico de uma categoria. Nesse caso, no mínimo 50% dente da ingestão de células de defesa e imunoglo-
dos leitões são transferidos. bulinas do colostro.
É verdade que, no momento da uniformização, Nesse contexto, um fator importante a ser con-
existem particularidades intrínsecas à realidade de siderado é a quantidade e a qualidade do colostro
cada granja, como número de leitões nascidos, nú- ingerido por leitão. Trabalhos relatam que leitões
mero de partos/dia, distribuição etária do plantel, com concentração plasmática de imunoglobulina G
tamanho dos tetos das matrizes, as quais impedem a (IgG) inferiores a 10mg/ml após 12 horas de nasci-
implantação de um protocolo-padrão que pode ser mento têm pequenas chances de sobrevivência, em
aplicado a todas as granjas ou na mesma em diferen- contrapartida, aqueles que atingem concentração
80
568
% de mortalidade
60
40
20
0
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85
Anticorpos, g/L
(RISUM AND THORUP, 2003)
Gráfico 1 – Mortalidade de leitões no período lactacional conforme a concentração plasmática de anticorpos após 12h de nascimento
Fonte: Adaptado de Risum, 2003.
60
leitões e, sendo assim, a quantidade de colostro neces-
40 sário para atingir tal concentração plasmática de IgG
pode ser bem maior. Estudos demonstram que há uma
20
parcela de leitões que ingerem quantidades superio-
0 res a 250g de colostro nas primeiras 24 horas de vida e,
0 6 12 18 24 48 72
Horas pós-parto
mesmo assim, não atingem concentração plasmática
de IgG superior a 10mg/ml (gráfico 3).
lgG lgM lgA
Quanto maior for o período entre o nascimento
Gráfico 2 – Concentração de imunoglobulinas no
colostro conforme o período pós-parto e a primeira mamada, teoricamente, maior será a
Fonte: Adaptado de Klobasa et al., 1987.
chance de se estabelecer uma infecção. Dessa forma,
para assegurar uma ingestão adequada de colostro,
É necessário considerar ainda que o epitélio é essencial que os leitões sejam colocados a mamar
intestinal dos leitões neonatos é permeável a ma- já na primeira hora após o nascimento. Em situações
cromoléculas, como as imunoglobulinas, apenas nas de leitegadas muito grandes, a identificação dos pri-
primeiras horas de vida. A partir da 12ª hora, esse meiros leitões que nasceram e a privação do contato
leitegadas após as 24 horas de vida pode aumentar Em granjas onde a uniformização de leitegadas é
a mortalidade e diminuir o ganho de peso dos lei- realizada uma vez ao dia, respeitar esse período ideal
tões durante a lactação e aumentar a variabilidade pode ser um problema, principalmente naquelas
571
do peso quando do desmame em até 50%, 15% e fêmeas que terminam o parto até seis horas antes
40%, respectivamente. da uniformização. Nesses casos, ou os leitões são
Existem algumas situações em que há neces- equalizados antes do momento ideal ou após, caso
sidade de realizar a uniformização de leitegadas em que são uniformizados no dia seguinte. Uma das
durante a lactação, como quando há leitões com alternativas para esse impasse é uniformização duas
baixo ganho de peso comparado ao de sua leite- vezes ao dia. Outra opção é a identificar a ordem e o
gada (refugos). Nesses casos, a retirada imediata horário de nascimento dos leitões por meio de nu-
desses leitões de suas leitegadas e a formação de meração crescente ou diferentes marcas ou cores e
uma nova leitegada é imprescindível para seu de- correspondente anotação da hora do nascimento na
sempenho e, até mesmo, para sua sobrevivência. ficha de acompanhamento de parto. Assim, pode-se
Obviamente, essa nova leitegada será composta ter maior precisão do tempo pós-nascimento de cada
de leitões já com desempenho comprometido, e, leitão e, no momento da equalização, torna-se possí-
associado a isso, como não podem mais adquirir vel dar preferência para transferir aqueles que nas-
imunoglobulinas por meio do colostro, pois seu ceram primeiro e, teoricamente, já ingeriram maior
trato digestório não é mais permeável para macro- quantidade de colostro.
moléculas como as imunoglobulinas (anticorpos), Obs.: Leitões que nascem com baixo peso (<
o futuro desempenho e viabilidade são incógnitas. 1,0kg) tendem a demorar mais tempo para mamar
Além disso, esses leitões podem sofrer rejeição da quantidade suficiente de colostro. Dessa maneira,
mãe adotiva. Assim, a medicação preventiva com deve-se evitar retirá-los de suas mães biológicas
antimicrobianos de todos esses leitões, bem como antes de 12 horas ou, se necessário, lançar mão de
a mistura prévia desses leitões com os leitões da manejos que visem garantir a ingestão de colostro,
fêmea adotiva durante um período mínimo de 10 tais como orientação de mamada ou fornecimento
minutos são alternativas para amenizar possíveis artificial de colostro por meio de sondas gástricas
infecções e rejeições, respectivamente. ou mamadeiras. Sugere-se identificar esses leitões
Sumariamente, respeitar o período ideal pós- no momento do nascimento para facilitar a iden-
nascimento (mínimo seis e máximo 24 horas) para tificação deles pelos responsáveis dos manejos de
realizar o manejo de uniformização de leitegada é colostro e uniformização de leitegadas (foto 2).
fundamental para a otimização do desempenho dos
leitões uniformizados. Vários trabalhos demons-
tram que, desde que esse período seja respeitado,
não há diferença de desempenho lactacional entre
leitões que permanecem lactentes em suas mães
biológicas ou aqueles que são transferidos para
uma mãe adotiva. Portanto, a anotação da hora do
nascimento de cada leitão ou, no mínimo, do mo-
mento do início e final do parto por meio de fichas
de acompanhamento de parto ou da própria ficha
de identificação da fêmea é essencial. Obviamente,
há necessidade de acurácia e veracidade nessa co-
Foto 2 – Identificação dos leitões por diferentes cores e
lheita de dados. Assim, protocolos de uniformização números conforme a ordem de nascimento e peso ao nascer.
de leitegadas podem ser elaborados respeitando o Primeiros a nascer (verde), 9º ao 14º a nascer (azul), a partir do
15º e leitões com peso ao nascer inferior a 1,0kg (vermelho)
período sugerido. Fonte: Fernando Perazzoli.
A B
sadas e colocadas em prática (Tabela 1). Se assim tornando-se uma ferramenta de auxílio à sanidade,
forem seguidas, a uniformização de leitegadas à reprodução, à produtividade e potencial de lucro
deixará de ser uma simples “mistura” de leitões, da atividade.
575
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A
pesar de as matrizes atuais apresentarem relho mamário das matrizes nos grupos de parição
entre seis e sete pares de tetas e, frequen- (número de tetas viáveis de fato) e problemas com
temente, o número de nascidos vivos supe- baixa produção de leite da granja. Uma granja com
rar o número de tetas viáveis no grupo de parição, plantel envelhecido, aparelho mamário mal mane-
devido à hiperprolificidade. Nesse contexto, a jado, tetas secas e com problemas na alimentação
figura da mãe de leite ou mãe adotiva ganhou ex- das lactantes provavelmente tenha que trabalhar
pressão e importância e tem o objetivo de permitir com um percentual maior de mães-de-leite até
o desenvolvimento adequado dos leitões exce- que a situação seja revertida. Assim, é importante
dentes. Além dessa situação, as mães-de-leite são estar entre os critérios de descarte a qualidade de
utilizadas para realocar leitões de baixo desenvol- aparelho mamário, produção de leite e número e
vimento, nos casos de distúrbios de produção de qualidade dos desmamados.
leite (disgalactia, agalactia), problemas de saúde A definição do número de leitões que perma-
da matriz ou ainda morte dela. necem em cada matriz no momento da unifor-
O manejo de mães-de-leite precisa ser clara- mização é feito em função do número de tetas
mente diferenciado do manejo de uniformização viáveis, porém o desempenho dos leitões também
das leitegadas, onde apenas há a troca de alguns precisa ser considerado. Em situações práticas, foi
leitões entre matrizes. Para ser considerada mãe-de observado que mais que 13,7 lactentes/matriz no
-leite, a matriz deve adotar uma nova leitegada. Para primeiro dia de vida resulta no aumento da mor-
efeito de manejo, existem duas situações passíveis talidade de maternidade e reduz o ganho de peso
de uso dessa ferramenta: a adoção de recém-nas- diário na fase (tabela 1).
cidos (de caráter preventivo, adota os leitões exce- Para exemplificar, vamos utilizar um grupo de
dentes do grupo de parição) e a adoção de refugos parição com 20 partos e 14,5 nascidos vivos (290
(que adota os leitões que estão falhando no seu leitões), numa maternidade com meta de desma-
desenvolvimento). mados superior a 13,3 leitões, com mortalidade
Por ampliar o período de lactação de um grupo esperada de 6% (consideramos que 30% destes
de matrizes, consequentemente há a redução dos morrem entre o primeiro e o segundo dia de vida).
partos/matriz/ano e a taxa de uso das gaiolas de O número de tetas viáveis da sala é de 266, então
parição. Apesar disso, avaliações de viabilidade eco- sobram 24 leitões para serem adotados. Utilizan-
nômica têm demonstrado que o uso de até 10% de do uma mãe de leite (5%), teremos 13,8 leitões
mães-de-leite em granjas com 14,5 nascidos vivos mamando/matriz (290 leitões/21 matrizes). Con-
é viável e melhora os dados técnico-financeiros dos siderando uma perda de 2%, haverá 13,5 leitões
sistemas de produção. mamando ao final do primeiro dia. Nesse caso,
O principal fator que impacta na necessidade podemos optar por utilizar 10% de mãe de leite
exagerada de mães-de-leite é a qualidade do apa- ou observar a necessidade de fazer a segunda
mãe de leite no segundo ou terceiro dia de vida, haver espaço para trazer a mãe adotiva até a sala
caso haja início de refugagem de alguns leitões. que acabou de parir.
O número de desmamados será de 13,63 leitões, Devido à grande diferença na quantidade e
lembrando que o número de desmamados é cal- composição de leite produzido, deve ser utilizado
culado rotineiramente sobre o número de partos o procedimento de mãe de leite em pelo menos
(no exemplo, 20 partos). dois passos, ou seja, utilizar uma matriz que esteja
Algumas condições relacionadas às instala- na sua primeira semana de lactação na sala de
ções, matrizes e leitões são necessárias para o parto e utilizar uma matriz da semana de desma-
sucesso do uso adequado dessa ferramenta na sala me ou descarte para os leitões de sete dias (figura
de parto. As matrizes utilizadas para essa função 1). Para os leitões dessa matriz que permane-
devem ter características especiais de aparelho cerão na maternidade, porém desmamados, é
mamário e docilidade, adequadas para a leitegada fundamental adequar o número de bebedouros e
que será adotada. Os leitões que serão adotados comedouros e iniciar o fornecimento de ração em
devem permanecer na própria sala, ou seja, deve quantidade e qualidade adequadas.
*adoção de recém-nascidos por fêmea com 21 dias de lactação; letras diferentes na linha indicam diferença significativa (p<0,05)
Adaptado de Thorup (2006)
Tabela 3. Efeito da uniformização, uma vez a cada três dias, sobre o número
de brigas dos leitões nas primeiras duas horas após a adoção
Dias de uniformização
580 Grupos 1 4 7 10 13 16
Controle 12,2 ± 2,6 3,8 ± 1,0 a
3,9 ± 0,7 a
5,0 ± 1,1 a
3,3 ± 1,1 a
3,6 ± 0,9 a
Uniformizados 19,1 ± 3,2 18,2 ± 2,2 b 20,8 ± 2,8 b 27,2 ± 4,0 b 20,7 ± 1,7 b 18,3 ± 2,6 b
Adaptado de Robert & Martineau (2001)
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581
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A
castração de suínos é uma técnica utilizada machos do que em fêmeas, bem além, devido aos
como prática de manejo necessária para o eventos óbvios relacionados com a castração, tais
controle do odor sexual ou de macho intei- como herniação inguinal. Isso foi confirmado no
ro. No Brasil é uma medida obrigatória, segundo os trabalho de campo publicado, mas poderia sim-
artigos 121 e 172 do Título VII – Inspeção Industrial plesmente refletir uma viabilidade em geral menor
e Sanitária de Carnes e Derivados do Regulamento nos machos do que nas fêmeas. Até agora, faltam
da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de dados de campo em grande escala comparando a
Origem Animal (RIISPOA), Lei nº 1.283, de 18 de saúde de machos castrados e inteiros em condi-
dezembro de 1950, do Ministério da Agricultura, ções equivalentes.
Pecuária e Abastecimento. Embora o impacto, em curto prazo, da castração
A castração de suínos machos inteiros (cachaços) na saúde seja provavelmente negativo, existe uma
é necessária para que a carne desses animais não possibilidade teórica de benefícios positivos mais
apresente sabor e odor desagradáveis, provocados tarde na vida. Suínos machos inteiros são conheci-
por determinadas substâncias (androstenona e esca- dos por serem mais agressivos que as fêmeas ou ma-
tol) que se acumulam na gordura dos suínos. chos castrados, o que pode resultar em ferimentos
A castração cirúrgica é por definição um proce- e lesões. Provavelmente isso é mais sério quando
dimento traumático. Um ferimento aberto é criado há brigas entre animais mais velhos, por exemplo,
com exposição ao ambiente externo, tipicamente quando leitões não castrados são misturados com
não higiênico. Os testículos são soltos dos tecidos companheiros de outro lote durante o transporte
adjacentes e são então removidos separando o ou no abatedouro.
cordão espermático. A hemorragia ocorre por A remoção dos animais dominantes das baias
certo período de tempo e o ferimento é deixado de suínos não castrados também pode resultar em
aberto para drenar, às vezes com a aplicação de um briga, uma vez que os remanescentes restabelecem
antisséptico local. uma hierarquia. Isso pode acontecer no período
O senso comum sugere que o procedimento final da terminação se alguns animais forem removi-
descrito pode ser prejudicial à saúde do animal, dos quando atingem o peso-alvo. Comportamento
pelo menos em certo grau. Dados sobre a natureza de monta também é frequente entre os machos
precisa e a magnitude do impacto, entretanto, são inteiros e pode resultar em problemas nas pernas e
surpreendentemente difíceis de encontrar. Estudos claudicações.
experimentais identificaram efeitos negativos no
comportamento do leitão, nas concentrações de Odor de macho inteiro – um desafio
hormônio e no desenvolvimento da imunidade. universal na produção de carne suína
No mundo comercial, tem-se um feedback ane-
dótico sobre os procedimentos com os suínos, o Um desafio de qualidade da carne
qual sugere, já há muito tempo, um maior nível de O odor de macho inteiro e o odor ou sabor de-
doenças e mortalidade pré-desmame em leitões sagradável associado com a carne cozida de alguns
suínos machos sexualmente maduros foram descri- comum internacionalmente aceito para o odor de
tos como um cheiro tipo urina, fecal ou de transpi- macho inteiro.
ração detectável durante o cozimento ou consumo O escatol é um subproduto da degradação me-
583
da carne. Resumindo, a carne de suínos com odor é tabólica do triptofano (um aminoácido) pelas bac-
desagradavelmente “mal-cheirosa” ao consumidor térias intestinais, como parte da conversão de nu-
comum. O odor de macho inteiro raramente está trientes em energia. Uma concentração de 0,2μg/g
presente nas fêmeas suínas, nos suínos castrados de escatol na carne suína é um valor comum aceito
ou em machos sexualmente imaturos, porém é mui- internacionalmente. Embora o escatol seja produ-
to comum em suínos machos inteiros, à medida que zido em fêmeas suínas, machos inteiros e castrados,
estes se aproximam da época de abate, a menos que sua concentração na gordura é significativamente
sejam abatidos com um peso mais baixo. A percep- mais alta nos machos inteiros. Isso é o resultado de
ção do odor de macho inteiro é menos pronunciada uma taxa mais lenta de clearance hepático de esca-
na carne suína fria, tais como salame ou presunto tol, devido aos efeitos dos esteroides sexuais mas-
frio. Os estudos sensoriais indicam que aproxima- culinos sobre a função hepática. O papel do escatol
damente 75% dos consumidores são sensíveis ao no odor de macho inteiro também é influenciado
odor de macho inteiro, o que o torna um problema pelos seguintes fatores:
significativo de qualidade da carne que pode afetar »» Além de fontes dietéticas, o escatol também
os padrões de consumo. pode ser absorvido através da pele, na gor-
dura, a partir de contaminação fecal sobre a
O que causa o odor de macho inteiro? pele. Devido ao escatol ser desprendido nas
O odor de suíno macho inteiro é causado predo- fezes, a higienização das instalações é um fa-
minantemente por dois compostos naturalmente tor que pode contribuir para a assimilação do
presentes nos suínos: escatol por suínos machos ou fêmeas.
»» Androstenona, um ferormônio sexual masculino. »» O escatol demonstrou aumentar a percep-
»» Escatol, um metabólito do triptofano, um ção sensorial da androstenona, isso cria um
aminoácido da dieta produzido pelas bac- efeito sinérgico quando ambos os compostos
térias presentes no intestino do suíno. Ao estão presentes na carne.
contrário da androstenona, o escatol não é
específico dos machos. Qual é a frequência do odor
A androstenona e o escatol são altamente so- de macho inteiro?
lúveis no tecido gorduroso (lipofílicos), resultando Embora machos individuais possam ter altos
em concentrações potencialmente altas na gordura ou baixos níveis de compostos do odor, todos os
subcutânea ou intramuscular. machos são susceptíveis ao odor de macho inteiro
A androstenona é produzida somente em suí- à medida em que a maturidade sexual se aproxima.
nos com tecido testicular funcional. Em machos Os dados dos estudos para registro de imunocas-
sexualmente maduros, as glândulas salivares tração, vacina utilizada para promover a castração
absorvem grandes quantidades de androstenona imunológica de suínos, mostraram que aproximada-
da circulação, convertendo-as em um ferormônio mente metade de todos os machos inteiros testados
sexual, liberado na saliva durante o acasalamento. no abate (n = 369, idade de aproximadamente 23
Ferormônios são secreções externas que produzem semanas, peso vivo variando de 100 a 105kg) tinha
comportamentos específicos em outros animais. concentrações de androstenona e/ou escatol na
Os suínos castrados cirurgicamente e as fêmeas gordura que excederam os limiares sensoriais inter-
geralmente apresentam níveis baixos ou não detec- nacionalmente aceitos (figura 1).
táveis de androstenona. Uma concentração de an- É importante salientar que o atual sistema de
drostenona de 1μg/g no tecido é um limiar sensorial manejo que produz fêmeas e machos castrados ci-
rurgicamente não é 100% eficaz em eliminar o odor »» A higienização das instalações pode ter um
de macho inteiro, detectado por análises químicas efeito significativo sobre a assimilação de
ou por análises olfatórias. Por exemplo, um recente escatol, que pode ser absorvido transdermi-
584
levantamento realizado nos EUA revelou que 1-3% camente de material fecal.
das fêmeas e machos castrados cirurgicamente apre- »» Antibióticos adicionados à alimentação
sentavam altas concentrações de androstenona e/ demonstraram reduzir os níveis de escatol
ou escatol, refletidas pelos altos escores de odor nas quando fornecidos durante o período de pré
análises olfatórias. -abate, presumivelmente por provocarem
Esse percentual de odor perceptível com os atu- redução da biomassa bacteriana no intestino.
ais sistemas de manejo pode ocorrer em parte devi-
do aos suínos criptorquídicos ou mal castrados, que Soluções tradicionais
estarão inevitavelmente presentes em qualquer O abate de suínos machos inteiros antes da ma-
esquema de castração cirúrgica ou a fontes am- turidade sexual pode prevenir o acúmulo de andros-
bientais de escatol, as quais podem afetar fêmeas e tenona e escatol na carcaça. Entretanto, o abate em
castrados, assim como os machos inteiros. uma idade relativamente precoce e o baixo peso
vivo (< 75-80kg) resultam em perdas de produção
Fatores contribuintes inaceitáveis e em aumento dos custos de processa-
»» Em termos gerais, o risco de odor de macho mento e desossa.
inteiro começa a aumentar à medida que o A manipulação da dieta pode ter certo efeito
peso vivo dos machos excede a 80-90kg e a sobre as concentrações de escatol por meio da
largura dos testículos emparelhados excede redução de triptofanos disponíveis para conversão
110mm, os quais são fatores de crescimento em escatol. Entretanto, essa abordagem pode afe-
que sinalizam o início da maturidade sexual. tar negativamente a ingestão alimentar e a taxa de
»» As concentrações de androstenona e escatol crescimento. Além disso, o conteúdo da dieta não
demonstraram certa variação entre raça (por produz efeitos sobre a produção de androstenona.
exemplo, relativamente mais altas em Duroc, A seleção genética para baixo odor de macho
relativamente mais baixas em Hampshire). inteiro tem sido tentada, porém a produtividade e o
»» Uma dieta rica em carboidratos demonstrou desempenho subótimos resultantes tornaram essa
ter algum efeito sobre a redução do escatol abordagem ainda insatisfatória até o momento.
na gordura, embora a androstenona perma- Medidas de higiene podem reduzir a exposição
neça sem ser afetada pela dieta. dos suínos à contaminação externa com escatol
fecal, diminuindo, dessa forma, a assimilação de es-
catol na gordura.
Os métodos de castração disponíveis são o
cirúrgico com e sem anestesia, o químico e o imu-
nológico ou imunocastração. A castração cirúrgica
sem anestesia é um método em que se incisa a pele
e puxam-se os cordões espermáticos ou “arran-
cam-se” os testículos. Em condições comerciais,
esse manejo é realizado em leitões com menos
de sete dias de idade, geralmente sem anestesia
Figura 1 – Aproximadamente metade de 369 machos inteiros
com peso de abate (23 semanas de vida, peso vivo variando
e analgesia. Um segundo método é a castração
de 100 a 105 kg) exibiram concentrações de androstenona cirúrgica com anestesia e analgesia, que envolve a
e/ou escatol na gordura que excederam os limiares
sensoriais – odor detectável no quadrante superior direito utilização de anestesia local antes da realização do
Fonte: Imunocastração, Estudos de Registro, 2006 procedimento cirúrgico e de analgesia após o tér-
mino, para prevenir dor nos leitões castrados. Um na espessura de toucinho no ponto P2 de me-
terceiro método é a castração química, um método dição da espessura.
temporário ou definitivo de castração com a utili- Além das perdas de produção, a castração cirúr-
585
zação de certas drogas ou medicamentos injetados gica está associada com preocupações em relação ao
diretamente no testículo. O método mais recente, bem-estar dos animais. Os estudos demonstraram
atual e inovador é a vacina anti-GnRF (fator libera- que a castração produz comportamento significa-
dor de gonadotropinas), para melhoria da qualida- tivo associado com a dor em suínos pré-desmame,
de da carne e controle do odor de macho inteiro de incluindo vocalização e tempo reduzido de mamadas
uma forma alternativa à castração cirúrgica, que e permanência em pé. Perdas por morte associadas
respeita o bem-estar dos animais. A vacina atua in- com a castração, provocadas por hérnia, hemorragia
duzindo o próprio sistema imunológico do suíno a e infecções têm sido relatadas com base em obser-
produzir anticorpos contra o GnRF, o fator que ini- vações casuais com uma taxa entre 0,5 e 1,5%. Como
cia os eventos fisiológicos primários responsáveis, resultado dessas preocupações, a castração não
ao final, pelo acúmulo de substâncias odoríferas é praticada no Reino Unido, e outros países estão
nas carcaças de suínos machos inteiros. considerando banir essa prática, pelo menos quando
A castração cirúrgica, com ou sem anestesia, realizada sem anestesia.
tem o preço de reduções substanciais na taxa de
crescimento, redução da porcentagem de carne Informações publicadas sobre o impacto
magra e comprometimento do bem-estar dos ani- da castração na saúde do suíno
mais. Por exemplo, um estudo australiano (tabela Por volta de 1974, um artigo publicado rela-
1) mostrou que, no momento em que alcançaram o tou que o predomínio de pneumonia era maior em
peso de abate, os suínos castrados apresentaram os castrados do que em fêmeas. Uma grande pesquisa
seguintes atributos negativos em comparação com de três anos com 18.000 suínos que passaram pelo
os machos inteiros: abatedouro holandês sustentou essa descoberta
»» Consumiram mais ração para alcançar um e apontou que a incidência de inflamação crônica
peso de carcaça equivalente (uma diminui- (pericardite, pleurisia, pneumonia, inflamação da
ção de 13% na conversão alimentar média). cauda e inflamação dos pés) era significativamente
»» Apresentaram um aumento médio de 4,5mm maior nos castrados do que nas fêmeas. Conforme
já mencionado, entretanto, isso poderia refletir
uma diferença de gênero intrínseca e não um impac-
Tabela 1 – Efeitos da castração cirúrgica sobre to da castração física. Entretanto, em uma amostra
o desempenho de suínos machos em um estudo
australiano (P < 0,05) menor de 395 fêmeas, 425 machos castrados e 348
suínos inteiros não castrados, o mesmo autor des-
Grupos do teste
cobriu que sinais de pneumonia, pleurisia crônica e
Fatores de Machos Castrados pneumonia crônica também eram menos comuns
desempenho inteiros cirurgicamente
entre os machos inteiros do que entre os castrados,
(N=50) (N=50)
com os índices em machos inteiros similares aos das
Peso ao
113,3a 117,1b fêmeas. O estresse e as alterações hormonais in-
abate (kg)
duzidas pela castração foram sugeridos como uma
Ganho de peso
858a 847b possível causa de doença exacerbada nos castrados.
diário (g/dia)
Espessura de
12,6a 17,1b Impacto fisiológico da castração
toucinho
Conversão cirúrgica e seus efeitos no
3,3a 3,73b
alimentar desenvolvimento da imunidade
Fonte : Dunshea F. R. et al., 2001 Sabe-se que o ato de castração estimula a libe-
ração de cortisol. Isso foi demonstrado em diversas castrados em 10 e 17 dias de idade demonstraram
espécies domésticas incluindo suínos, nos quais a uma resposta de anticorpos mais fraca do que nos
castração resultou em um rápido aumento em qua- que tiveram controles equivalentes com falsa cas-
renta vezes do ACTH no plasma, seguido por um au- tração. Aqueles castrados com três dias de idade
mento em três vezes do cortisol no plasma, com pico não apresentaram uma diferença com os controles,
15 a 30 minutos após a cirurgia (tabela 2). Suínos mas a resposta de anticorpo foi fraca em ambos os
que tiveram castração simulada não demonstraram grupos castrados nessa idade. Um efeito negativo
um aumento similar, nem os leitões em outros ex- da castração na resposta imune celular também foi
perimentos sujeitos ao corte da cauda e do dente, sugerido e um trabalho mais recente, ainda não pu-
sugerindo que foi o processo de castração por si só o blicado, da Coreia, apoia esse ponto de vista.
responsável e a castração é mais estressante do que
outros procedimentos de rotina. Comparação das taxas de mortalidade
A duração do aumento no cortisol não foi me- em suínos cirurgicamente
dida no estudo acima, embora, em outro estudo em castrados e imunocastrados
leitões com cinco dias de vida, alguns dos mesmos As informações apresentadas até agora demons-
pesquisadores mediram corticosteroides urinários tram que a castração cirúrgica tem o potencial de
e catecolaminas durante um período de quatro dias. influenciar a saúde do suíno. Entretanto, não ficou
Não se observou nenhum efeito claro nesse peque- demonstrado que influencia a saúde do suíno de
no estudo, embora tenha havido uma tendência forma comercialmente significativa. Para responder
para os leitões castrados apresentarem um cortisol a essa questão, uma comparação estatística, cientifi-
urinário maior no primeiro dia (65,1 vs. 43,9pg/mg camente válida, dos resultados de suínos castrados
creatinina, p < 0,1; as unidades de medição refletem e suínos não castrados é necessária com um número
a metodologia analítica usada). O mesmo expe- suficiente de animais para detectar diferenças rela-
rimento incluiu medição do comportamento do tivamente pequenas. Esses dados não são facilmente
leitão, que surpreendentemente não demonstrou encontrados.
alterações marcadas após a castração, com mamada Como parte do desenvolvimento global da
reduzida e atividade geral. Algumas das mudanças vacina de imunocastração, um grande número de
comportamentais persistiram por até quatro dias, estudos de campo já foi realizado comparando-se os
mas os principais efeitos foram observados nas pri- suínos cirurgicamente castrados e aqueles que rece-
meiras horas. beram vacina de imunocastração. Os últimos podem
Altas concentrações de cortisol são conhecidas ser considerados suínos não castrados até o momen-
por serem imunossupressoras e o efeito da castra- to da segunda dose, geralmente administrada quatro
ção cirúrgica no desenvolvimento da imunidade foi a seis semanas antes do abate.
diretamente medido. Os leitões foram castrados Concluiu-se recentemente uma meta-análise
com três, 10 ou 17 dias de vida e receberam uma em 15 estudos conduzidos na Europa. Eles foram
injeção de albumina sérica bovina (BSA) no mesmo primeiramente realizados para comparar a eficácia
dia. A resposta do anticorpo a uma segunda injeção no controle do odor do macho inteiro ou observar
de BSA 14 dias depois foi então avaliada. Aqueles o impacto dessas duas abordagens no desempenho
do crescimento. Em todos os casos, entretanto, significativamente diferentes. Uma vez que os suí-
os leitões foram selecionados e randomicamente nos recebem imonocastração, comportam-se como
alocados para grupos de tratamento no momento castrados após a segunda dose. A análise não aborda
587
da castração cirúrgica. Registros foram então man- a questão se os suínos castrados podem ter uma
tidos de todos os suínos que morreram ou foram vantagem em relação aos machos inteiros no fim da
excluídos dos estudos até que estes terminassem terminação. Nas fases iniciais, não houve evidências
no abate, resultando em um banco de dados com desse benefício.
4.540 animais registrados, de diversos centros e Infelizmente, o desenho dos estudos não permi-
bem equilibrados entre suínos imunocastrados e te uma fácil análise das causas de morte ou exclusão,
cirurgicamente castrados. A maioria dos suínos ex- uma vez que o nível no qual foram registrados era
cluídos estava muito doente para continuar ou em inconsistente, particularmente no início da vida,
condições insatisfatórias, de modo que o produtor quando a fase principal dos estudos ainda não havia
normalmente o separaria, adequando-se, assim, às começado.
mortalidades na prática comercial. Uma visão geral subjetiva dos dados sugere
Havia registros disponíveis para 2.274 suínos que houve um nível reduzido de doença no grupo
cirurgicamente castrados e 2.266 machos imuno- de imunocastrados, o que é consistente com os
castrados e os dados sobre mortalidade/exclusões relatórios de campo de uma incidência reduzida de
foram analisados para quatro períodos de tempo: infecção estreptocócica quando a castração é inter-
castração até desmame, desmame até entrada na rompida.
unidade de terminação, entrada na unidade de ter-
minação até o momento da segunda dose de vacina Impacto da castração cirúrgica
de imunocastração e o momento da segunda dose de leitões na performance de
de imunocastração até o abate. Os resultados são crescimento, eficiência alimentar
apresentados na tabela 3 abaixo. Os números apre- e parâmetros sanitários
sentados são uma porcentagem do número de ani- Um trabalho realizado no Brasil avaliou o
mais que estão entrando em cada fase. A diferença impacto da castração cirúrgica nas fases de mater-
na taxa de mortalidade pré-desmame é altamente nidade e creche (tabelas 4 e 5). Um total de 1.024
significativa, com as mortes adicionais no grupo de leitões foram individualmente pesados e aleatoria-
suínos castrados, representando aproximadamente mente randomizados entre dois tratamentos: ma-
1,5% da população. De maneira interessante, esse chos inteiros e machos cirurgicamente castrados
também é o número às vezes mencionado para a di- aos quatro dias de idade.
ferença de mortalidade pré-desmame entre machos Os leitões cirurgicamente castrados exigiram
e fêmeas. Em outros períodos esses números não são maior uso de tratamentos injetáveis adicionais com
Tabela 4 – Mortalidade, medicações injetáveis adicionais e peso ao desmame nos dois tratamentos (P < 0,10).
Tabela 5 – Incidência de leitões de baixo peso ao desmame (D-21) e ao final da creche (D-63) – P < 0,10.
antibióticos quando comparados com os não castra- mente maior nos leitões cirurgicamente castrados
dos durante a fase de creche (p = 0,016) e também (p = 0,002). Não foi encontrada diferença estatísti-
durante todo o período do experimento (p = 0,004). A ca entre os tratamentos para peso, GPD, consumo
taxa de mortalidade foi menor para os machos intei- de ração e conversão alimentar na fase de creche.
ros antes do desmame (p = 0,087) e também durante Uma maior frequência de animais de baixo peso foi
o período completo do trabalho (p = 0,059). O peso ao encontrada entre os castrados, ao desmame (p =
desmame foi maior para os inteiros quando compa- 0,017) e ao final da creche (p = 0,052).
rados aos castrados cirurgicamente (p = 0,071), com Nas condições desse estudo, a castração cirúr-
médias de 5,57kg e 5,42kg, respectivamente. gica teve um impacto negativo no peso de desmame,
Não houve nesse estudo efeito dos tratamen- mortalidade e incidência de leitões de baixo peso.
tos na incidência de diarreia e artrites antes do A castração no quarto dia também aumentou a ne-
desmame. Durante a fase de creche também não cessidade de medicação injetável adicional antes e
houve efeito dos tratamentos nos casos de artri- após o desmame, assim como a ocorrência de diar-
tes, mas a incidência de diarreia foi significativa- reia durante a fase de creche.
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O
desempenho dos leitões na fase pré-des- suas necessidades nutricionais, consequentemen-
mame reflete no desempenho desses te, contribuir positivamente no crescimento desses
animais ao longo da produção. Dessa for- animais.
ma, o manejo nutricional nessa fase é considerado
fundamental, pois apresenta índices satisfatórios Colostro
na suinocultura. Os leitões nascem praticamente sem imuni-
Sabe-se que, do nascimento ao desmame, a dade devido à natureza epiteliocorial da placenta
principal fonte de nutrição dos leitões é o leite ma- da fêmea suína que não permite a transferência de
terno, que é rico em gordura e muito digestível, além anticorpos para os fetos durante a gestação, e é por
de ser um alimento natural que fica à disposição do meio do colostro que esses animais obtêm proteção
leitão na forma líquida, em horários adequados e em imunitária passiva, capaz de sintetizar quantidades
temperaturas ideais. Entretanto, em algumas oca- adequadas de imunoglobulinas (Ig).
siões, a porca não é capaz de garantir crescimento O colostro é o primeiro leite produzido pelas
satisfatório dos leitões somente através do leite. glândulas mamárias nos primeiros dias pós-parto,
Dessa forma, sugere-se que se estimule o con- a fonte mais importante de energia e imunidade
sumo de ração ainda durante a amamentação, pois para o leitão recém-nascido. Possui maior porcen-
o leitão que tem o acompanhamento nutricional tagem de sólidos totais e proteína que o leite, porém
com ração pode estimular o crescimento de leitões menor porcentagem de cinzas, gordura e lactose
mais fracos. Essa combinação estimula o desenvol- (tabela 1). Esse alto nível de proteína e sólidos totais
vimento do sistema digestório, a secreção de ácido reflete alta concentração de Ig.
clorídrico pelo estômago, amenizando o sofrimento A concentração de sólidos, entretanto, decresce
dos leitões com o impacto do desmame. cerca de 30% durante a transição para leite maduro,
Além disso, quando os leitões tornam-se inca- mantendo no final uma concentração próxima a 18%.
pazes de se alimentarem do leite da porca, o forne- Já a concentração de gordura aumenta de apro-
cimento de uma alimentação artificial pode suprir ximadamente 5%, nas primeiras horas de lactação,
para cerca de 6,5% dois dias mais tarde. de anticorpos. Após o parto, as concentrações de
A concentração de lactose também aumenta imunoglobulinas na secreção láctea decresce a cada
de cerca de 3% para cerca de 5%, nos dois primeiros aleitamento sucessivo, como apresentados na tabe-
dias de lactação. la 3, coincidindo com o período de absorção dessas
A concentração de proteína total é de mais de macromoléculas pelo intestino dos animais recém-
15% no primeiro colostro e cai para próximo a 6% 24 nascidos, que também é máxima nas primeiras ho-
horas depois do início da lactação. A proteína total ras de vida e diminui rapidamente, para desaparecer
diminui aproximadamente 50% e continua a cair quase completamente em dois ou três dias.
nas horas seguintes, de forma que no segundo dia a Além das imunoglobulinas, as secreções mamá-
concentração é de apenas 40% do valor observado rias contêm outros peptídeos bioativos, como a in-
na primeira hora do colostro (tabela 2). A drástica sulina, fatores de crescimento, etc. Esses peptídeos
queda na concentração de proteína total está refle- podem ser importantes para o desenvolvimento do
tida no valor da proteína de soro, que diminuiu cerca trato gastrointestinal, que ocorre em ritmo acelera-
de 70% durante as primeiras 24 horas. do logo após o nascimento.
A imunoglobulina G (IgG), que se apresenta Os tetos peitorais da porca são mais produtivos,
com concentração máxima no colostro por oca- e isso pode causar desigualdade entre os leitões na
sião do parto, constitui a mais importante classe hora do desmame.
Entretanto, estudos mostram que há menor taxa de de cadeia curta. Portanto, os ingredientes à base
fertilidade de fêmeas desmamadas com um dia de de leite como leite desnatado, soro de leite, lactose,
idade, em comparação com o desmame entre duas leite coalhado e seus derivados devem compor a
593
a três semanas. Essa desvantagem em si é de uma maior parte de qualquer substituto do leite de alta
importância econômica suficiente para impedir o qualidade.
uso generalizado de criação artificial salvo ocasiões Devem também conter lipídios facilmente
necessárias. digeridos, como gordura de coco e óleos vegetais,
Sabe-se que, apesar de todos os avanços da ci- além de sacarose, palatabilizantes e flavorizantes,
ência, os leitões recém-nascidos ainda dependem vitaminas e minerais, e outros medicamentos ne-
do leite da porca para fornecer-lhes a maioria dos cessários.
nutrientes, portanto, não é interessante substi- Lecitina e ácidos orgânicos são geralmente utili-
tuir o leite da porca completamente. A ingestão zados no substituto do leite. A lecitina age como um
do leite da porca nas primeiras semanas de vida é emulsionante que aumenta a mistura do substituto
importante, pois proporciona imunidade local nas do leite líquido, enquanto os ácidos orgânicos são
paredes intestinais através das imunoglobulinas. utilizados para prolongar a vida de prateleira do
Embora a criação artificial completa seja possí- substituto do leite.
vel, a substituição parcial do leite é mais eficiente e A maioria dos produtos de alta qualidade tem
segura para permitir que os leitões tenham acesso adicionada uma fonte de imunoglobulinas. As três
ao leite natural, utilizando os substitutos do leite fontes de imunoglobulinas são colostro bovino (ra-
como complemento. Se isso for feito corretamente, ramente utilizado devido ao custo excessivo), plas-
muitos leitões mais fracos podem ser salvos e obter ma sanguíneo, e derivados de ovo. Substitutos do
níveis satisfatórios de crescimento. leite sem imunoglobulinas podem nutrir os leitões,
No entanto, mesmo quando há o aleitamento mas não podem proteger a saúde do intestino, pro-
artificial na granja, os leitões não podem ser pri- porcionando, assim, apenas metade dos recursos
vados do colostro, devido a suas propriedades oferecidos pelo leite natural.
nutritivas, laxativas e imunizantes. Qualquer tipo As características físicas mais importantes
de colostro pode ser preservado por congelamento de qualquer sucedâneo de leite de alta qualidade
para uso futuro, mas não pode ser descongelado incluem sua estabilidade em até dois dias e alta so-
em micro-ondas, porque o rápido degelo reduz seu lubilidade, uma cor branco cremoso com um cheiro
valor imunológico. típico do leite e, é claro, deve ser não higroscópico,
Apesar de o sistema de criação artificial melho- para facilitar a utilização e o armazenamento. É
rar o desempenho e reduzir a mortalidade de leitões necessário seguir as instruções do fabricante an-
na fase pré-desmame, essas vantagens devem ser tes de começar a preparar a solução, verificando a
avaliadas em relação ao custo relativamente alto temperatura da água, o tempo de mistura e da taxa
dos ingredientes lácteos que tradicionalmente de diluição.
compõem essas dietas. A mistura do leite em pó com água deve ser feita
cuidadosamente em dosagens recomendadas pelo
Substitutos do leite fabricante. Os substitutos não podem ser mistura-
Normalmente, 1kg de um substituto do leite dos com água quente, pois pode haver degradação
líquido equivale a cerca de 0,5-0,75kg de leite da de nutrientes (por exemplo, vitaminas), e, além dis-
porca. É semelhante ao leite da porca, porém, com so, recomenda-se que uma nova solução seja pre-
menos energia. parada todos os dias. Em caso de diarreia, os substi-
Nessa fase, o sistema enzimático dos leitões tutos do leite devem ser reduzidos juntamente com
está voltado para a digestão dos nutrientes do leite um tratamento à base de antibiótico, de acordo com
e absorção de proteínas lácteas, lactose e lipídeos a prescrição de um veterinário.
madamente cinco dias de idade utilizam as calorias A carnitina é um metabólico necessário para
do óleo de milho, óleo de amendoim e óleo de peixe o transporte de ácidos graxos de cadeia longa
de forma eficiente. através da membrana mitocondrial interna para
595
A relação proteína x calorias para leitões re- subsequente oxidação. O leite da porca fornece
cém-nascidos deve ser de pelo menos 67g de pro- carnitina para o leitão, portanto, a suplementação
teína/Mcal de energia digestível. Ganhos de peso de uma dieta contendo proteína isolada de soja e
diários e taxas de deposição de proteína em leitões óleo de soja com L-carnitina não melhora a utili-
jovens podem aumentar com um maior teor de lisina zação de carnitina da energia metabolizável em
até cerca de 0,23g de lisina/kcal de energia diges- leitões neonatais.
tível, mantendo-se constante em dietas contendo
proteínas do leite e lactose. Arginina
O comprimento da cadeia de ácidos graxos tem Embora não seja considerado um aminoácido
um efeito maior sobre a digestibilidade de gordura essencial para animais adultos, a arginina é essen-
do que o grau de insaturação, considerando-se que cial para o máximo crescimento de leitões jovens.
o ácido graxo de cadeia curta é mais digerível do Além de ser carregador de nitrogênio em humanos
que os de cadeia longa. Além disso, triglicerídeos e animais, é um dos aminoácidos mais versáteis nas
de cadeia média representam uma fonte de energia células de animais, servindo como precursor para
facilmente disponível para o leitão recém-nascido. a síntese não apenas de proteína, mas também de
Uma comparação feita com fontes de gordura, óxido nítrico, ureia, poliaminas, prolina, glutamato,
desempenho e digestibilidade aparente de gordura, creatina e agmatina.
indicou que o óleo de soja é igual à nata para leitões Existem evidências de que o leite da porca é de-
dos dois aos 28 dias de idade, enquanto a nata é le- ficiente em arginina, e a arginina do leite é respon-
vemente superior ao óleo de coco e muito superior sável por pelo menos de 40% da necessidade dos
ao sebo. Dos dois aos sete dias de idade, no entanto, leitões com uma semana de idade.
a nata é superior a todas as fontes de gordura. Além Dessa forma, leitões alimentados com uma die-
disso, a digestão de ácidos oleico e linoleico é maior ta artificial entre os sete e 21 dias de idade contendo
do que a dos ácidos palmítico e esteárico. 0,2 e 0,4% de L-arginina apresentam melhora no
A concentração de gordura em substitutos co- desempenho. Além disso, os níveis plasmáticos de
merciais raramente excede a 20% devido aos limites amônia e ureia reduzem-se, enquanto os níveis de
de emulsificação. A baixa emulsificação da gordura insulina e hormônio de crescimento aumentam nos
na dieta pode reduzir a digestibilidade lipídica. leitões suplementados com L-arginina.
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14 Sanitários Aplicados à
Produção de Suínos
U
ma das maneiras mais utilizadas para preve- Princípios da vacinação
nir ou diminuir a perda econômica causada O objetivo da vacinação em qualquer espécie é
por doenças infecciosas é a vacinação. A desafiar o indivíduo com uma dose “controle” de um
vacinação tem provado ser o meio mais eficiente organismo potencialmente patogênico (bactérias,
de intervenção em saúde, tanto na humana quanto vírus etc), a fim de estimular uma reação imunogê-
na animal. As doenças infecciosas são causadas nica. A vacinação prepara o sistema imunológico
por micro-organismos tais como bactérias ou do animal para responder rápida e eficazmente a
vírus e as vacinas contêm micro-organismos que qualquer desafio futuro. Em outras palavras, a va-
são administrados no animal para preparar o seu cinação é aplicada para evitar doenças futuras, no
sistema imunológico para combater a doença. Os entanto a vacinação não evitará futuras infecções.
micro-organismos presentes nas vacinas podem Para fins práticos, a reação imunológica do
estar inativados, viáveis, modificados ou atenuados. suíno diante de um organismo estranho pode ser
Isso significa que a partir do momento em que eles dividida em três formas:
entrarem em contato com o sistema imunológico do »» A resposta humoral – Nesse tipo de respos-
animal haverá ativação desse sistema para os agen- ta, o desafio (organismo estranho) estimula
tes inoculados. os linfócitos circulatórios (glóbulos bran-
Muitas pessoas confundem os antibióticos, cos) a produzir anticorpos (principalmente
como a penicilina ou a tetraciclina, chamando-os de IgG e IgM), que podem ser medidos no san-
vacinas. As vacinas são administradas para evitar gue. Esses anticorpos conferem proteção
uma doença antes que ela ocorra; já os antibióticos contra os organismos que penetraram as
são indicados para o tratamento de uma doença que barreiras físicas do corpo (pele, mucosas
está ocorrendo. A vacinação é a forma mais segura e etc) É a resposta humoral que é medida por
de baixo custo para evitar a doença. Uma variedade testes sorológicos, mas por si só não pode
de vacinas estão disponíveis para se utilizar no re- ser protetora. Uma resposta humoral de-
banho suíno, todavia programas de vacinação para mora duas a três semanas para ocorrer. Os
prevenção de doenças devem ser realizados sempre níveis de circulatório IgG e IgM são geral-
sob a consulta de um médico veterinário. mente relacionados com o colostro ingerido
No decorrer deste capítulo será abordado o no período pós-parto.
princípio da vacinação, os tipos de vacinas dispo- »» Resposta de mucosa – As superfícies das
níveis, os métodos de aplicação e os programas de mucosas (ou seja, o revestimento do intes-
vacinação empregados na suinocultura. tino, trato reprodutivo e tecido mamário)
formam uma barreira física contra a infec-
ção. Além disso, os linfócitos presentes vacinação da porca antes do parto aumentará os
imediatamente abaixo da superfície libe- níveis de anticorpos no colostro contra o organismo
ram os anticorpos (IgA), que funcionam lo- para o qual ela foi vacinada e, consequentemente,
602
calmente contra organismos estranhos que aumentará a proteção dos leitões. Em algumas situ-
podem se ligar à superfície. Essa resposta ações o objetivo da vacinação é puramente induzir
de superfície com anticorpos é o método a produção de anticorpos pela porca para sua pro-
primário de proteção contra organismos teção. Os anticorpos adquiridos pelo leitão através
que se ligam na superfície da mucosa (por do colostro serão lentamente degenerados com
exemplo, E. coli, Lawsonia intracellularis). o tempo, mas também serão gastos por qualquer
Os níveis de imunidade de mucosa não são desafio a que o leitão se submeta. O tempo da prote-
diretamente mensuráveis p or um teste ção obtida dependerá:
sorológico e a produção de IgA em resposta »» Da quantidade de colostro consumido;
ao desafio da mucosa é frequentemente, »» Da idade do leitão quando o colostro é con-
mas não necessariamente, muito rápido sumido;
(alguns dias). »» Da concentração de anticorpos no colostro;
»» Imunidade mediada por células – Essa é »» Dos números de desafios encontrados;
provavelmente a forma mais eficaz e destru- »» Dos organismos específicos contra os quais
tiva da resposta imune ao desafio da infec- os anticorpos são ativos.
ção ou da vacinação e é particularmente im- O desafio utilizará os anticorpos maternos
portante em certas infecções, por exemplo, e essa proteção passiva também pode impedir o
Mycoplasma hyopneumoniae. Geralmente leitão de responder ativamente ao desafio de uma
são necessárias semanas para chegar a um infecção ou de uma vacina. Por exemplo, Parvovírus
pico de resposta imune após o desafio/vaci- (PPV) anticorpos maternos são muito persistentes
nação. E, nesse caso, não é possível mensu- e podem bloquear a resposta a qualquer vacina-
rar o nível de anticorpos por meio de testes ção dada antes dos seis meses de idade. Contudo,
sorológicos. quando a resposta protetora da vacinação primária
O objetivo de cada programa de vacinação é é mediada por células, os anticorpos maternos têm
estimular as respostas imunes mais adequadas ao efeito muito limitado de bloqueio à resposta vacinal
organismo causador da doença e também ter conhe- (por exemplo, vacinas de Mycoplasma hypopneumo-
cimento da resposta imune esperada, o que pode afe- niae). Essas considerações são importantes e podem
tar a velocidade de proteção após a vacinação. influenciar o período de vacinação.
cinação da matriz e aquisição de anticorpos meio de cultura no laboratório. Com isso, apre-
maternos (por exemplo, E. coli, Clostridium sentam resultado eficaz na indução de resposta
perfringens); imune e têm a vantagem de ser mais imunogê-
603
4. Combinação de proteção (por exemplo, a nicas do que as vacinas mortas e são adequadas
vacinação da porca para protegê-la e a futura para a estimulação da infecção natural de mu-
leitegada via anticorpos maternos, como na cosa. No entanto, elas apresentam capacidade
erisipela). de levar à excreção e disseminação do patógeno
Algumas vacinas não atuam quando ainda estão entre os animais não vacinados e podem reverter
presentes anticorpos maternais. Exemplos disso a virulência, causando doença.
incluem a vacina de erisipela e as vacinas contra Vacinas de DNA estão começando a entrar no
pleuropneumonia suína em animais com menos de mercado veterinário. Por exemplo, as vacinas de
8-10 semanas de idade. DNA estão disponíveis contra o vírus Ocidental do
Na produção tecnificada de suínos, os progra- Nilo em cavalos e melanoma em cachorros. Essas
mas de vacinação fazem parte de um programa de vacinas contêm o DNA recombinante, sem quais-
controle de doença, em que o grupo vacinado, em- quer agentes patogênicos ou proteínas de subuni-
bora não necessariamente tenha proteção total do dade, e são muito seguras. Estudos experimentais
indivíduo, consegue o efeito de diminuir o desafio demonstraram que elas são eficazes. No entanto,
contra a doença de todo o rebanho, minimizando, a sua utilização na pecuária é atualmente limitada,
assim, os sinais clínicos da doença. mas provavelmente terá um papel importante na
apresentação de vacinas no futuro.
Tipos de vacinas As vacinas ainda podem ser: à base de água; à
As vacinas disponíveis para uso em suínos base de óleo; óleo-em-água (em que as gotículas de
podem ser categorizadas tanto por sua natureza óleo contendo o antígeno são suspensas em água);
clínica e/ou sua forma. Para fornecer doses contro- água-em-óleo (gotas de água contendo o antígeno
ladas de agentes infecciosos específicos, as vacinas são suspensas em óleo).
podem ser vivas ou mortas. A escolha de tais “transportadores” depende-
As vacinas inativadas (vacinas mortas) são rá da natureza do antígeno primário e do nível de
seguras para uso desde que os patógenos estejam estimulação imunitária não específica necessária.
inativados por calor ou produtos químicos. Após Diferentes micro-organismos têm antigenicidade
esse processo de inativação, o patógeno não pode altamente variável. Por exemplo, o PPV é um antí-
ser eliminado nem voltar para a forma mais viru- geno muito forte e vacinas preparadas a partir dele
lenta. A desvantagem de vacinas inativadas é que fornecem uma imunidade forte de longa duração
elas são, algumas vezes, menos imunogênicas. E, enquanto Erysipelothrix rhusiopathiae, o causador da
para melhorar a sua capacidade de induzir uma erisipela, é um antígeno fraco, dando apenas prote-
resposta imune (imunogenicidade), deve-se rea- ção de curta duração.
lizar mais de uma imunização (vacinas de reforço) Como regra, as vacinas vivas são fornecidas
ou uma dose maior e/ou a adição de adjuvantes. liofilizadas e requerem reconstituição com um
Vacinas inativadas contêm concentrações especí- veículo tampão (água ou um adjuvante específi-
ficas de um organismo ou parte dele ou até toxinas co) para aplicação imediata. Vacinas mortas são
produzidas por ele. As vacinas inativadas estimu- geralmente fornecidas como suspensões e estão
lam a imunidade da mucosa com menor intensida- prontas para usar.
de que as vacinas vivas. Atualmente, esforços de pesquisa têm se volta-
Vacinas vivas atenuadas (vacinas vivas mo- do para o desenvolvimento de novas vacinas mais
dificadas) contêm patógenos vivos que foram eficazes após uma única imunização, que induzam
atenuados (enfraquecidos) geneticamente ou por o início precoce da imunidade, estimulem a imuni-
dade duradoura, sejam economicamente viáveis e nação para o suíno montar uma resposta imunitária
permitam distinguir os animais vacinados dos infec- protetora. O tempo exato depende da idade do suí-
tados. Muitas acinas atuais não requerem o uso de no, da própria vacina, e se o suíno foi vacinado antes.
604
agulhas e são administradas por injeção intradérmi- Por exemplo, a leptospirose (lepto) é uma do-
ca ou via mucosa. Esses métodos de administração ença que pode causar aborto em porcas e marrãs,
de vacinas têm a vantagem de evitar a utilização e elas devem ser vacinadas contra lepto antes da
de agulhas, que podem apresentar problemas na gestação. Muitas vacinas de lepto sugerem que as
qualidade da carcaça. Mucosas que revestem o marrãs devem ser vacinadas duas vezes antes da
trato respiratório, gastrointestinal e urogenital são reprodução, enquanto porcas devem receber uma
a porta de entrada de mais 95% de todas as doen- única dose de reforço a cada desmame.
ças infecciosas de suínos e são um local ideal para Para algumas doenças em leitões, como diarreia
iniciar a primeira etapa da linha de defesa. Vacinas neonatal causada por E. coli, a melhor estratégia é
de mucosa, que apresentam o antígeno na mucosa, vacinar a porca antes do parto. A vacinação aumen-
permitem a indução da imunidade de mucosa local, ta a concentração de anticorpos no colostro da por-
bem como a imunidade sistêmica geral. Atualmente, ca. Esses anticorpos são absorvidos pelos leitões,
existem vacinas orais disponíveis no mercado para proporcionando uma proteção temporária, até que
erisipela, ileíte, salmonela. o seu sistema imunitário seja capaz de fornecer ou
produzir os próprios anticorpos.
Benefícios da vacinação
As vacinas são o método mais eficaz na preven- Métodos de aplicação
ção de doenças na indústria de animais confinados. A maioria das vacinas utilizadas nos suínos é
Elas ajudam a melhorar a saúde do rebanho e, em administrada individualmente, por injeção por via
combinação com as medidas de biossegurança subcutânea (SC) (foto 1) ou por via intramuscular
eficazes, boas práticas de gestão e nutrição ideal (IM) (foto 2). Os principais locais de injeção são o
podem ajudar a salvar reais/animal nos custos de músculo do pescoço ou da perna, embora, tendo em
produção. Contudo, é importante salientar que a vista o elevado valor da carne de pernil, o local rara-
principal vantagem das vacinas é a prevenção de mente é utilizado, preferindo-se utilizar o músculo
doenças e não a terapia real de infecções já em de- do pescoço. Deve-se evitar injetar a vacina na gor-
senvolvimento. O uso de vacinas deve ser planejado dura, pois o tecido adiposo é pouco vascularizado e
com o veterinário da granja e constituir uma estra- a pequena vascularização interfere negativamente
tégia de longo prazo ao invés de uma abordagem de na resposta à vacinação. Alguns pontos são relevan-
curto prazo, como medicar a ração ou medicação em tes na hora da aplicação da vacina.
massa por meio do uso de antibióticos injetáveis. Para a vacinação SC, deve-se escolher pele fina
Como os antibióticos são ineficazes na prevenção
ou tratamento de infecções virais, a utilização de
vacinas é ainda mais importante para as doenças
virais, tais como o PCV2, PRRS, Parvovírus e outros.
O veterinário tem a função de ajudar o proprietário
a escolher a melhor combinação de vacinas para o
seu rebanho.
Quando vacinar
Os suínos devem ser vacinados antes que eles
entrem em contato com o micro-organismo causa- Foto 1 – Aplicação subcutânea em leitões do setor de creche
dor da doença, pois leva de 10 a 21 dias após a vaci- Fonte: acervo do autor
mais frequente de agulha). Deve-se considerar o Múltiplas vacinações: existem vacinas disponí-
uso de agulhas descartáveis, principalmente quan- veis que fornecem proteção para mais de uma doen-
do da vacinação na creche e com o uso de seringas ça ao mesmo tempo (por exemplo, PPV e erisipela, E.
automáticas. coli e Clostridium perfringens, Haemophillus parauis e
Em nenhuma circunstância deve ser inserida Streptococcus suis). Há também alguns casos em que
uma agulha em um animal e depois reinserida em é adequada a vacinação contra mais de uma doença
um frasco de vacina (riscos de contaminação do no mesmo tempo. A maioria das licenças de vacinas
frasco). Quando se utilizam algumas doses de um alerta que a vacina não deve ser administrada simul-
único frasco, deve-se utilizar uma seringa para ex- taneamente com outra vacina, já que podem ocorrer
trair a vacina do frasco e outra agulha para injetar interações adversas desconhecidas. Essa regra deve
nos animais. Quando se trabalha com seringas auto- ser seguida, mas temos observado que essa situação
máticas, esse ponto não é relevante. não ocorre. Outro ponto importante a ser observado
Na aplicação de vacinas em leitões do setor de é não misturar vacinas na mesma seringa.
creche, deve-se utilizar agulhas 20/12 ou 20/10. Doses: as doses indicadas na bula das vacinas
Higiene e saúde: nunca injetar uma vacina em são cuidadosamente elaboradas e totalmente ava-
um local visivelmente contaminado, por exemplo, liadas em ensaios que levam ao licenciamento com-
com fezes. Só vacinar animais saudáveis. A vacina- pleto do produto. Portanto, a dose aplicada deve ser
ção de um animal doente não só aumenta o risco de sempre a indicada. Usando uma dose maior do que a
uma falha vacinal, mas também o de efeitos adver- dose recomendada, não haverá melhora na respos-
sos (especialmente com vacinas vivas). ta imune, e poderão surgir reações adversas, além
Deve-se evitar a vacinação de matrizes sete do desperdício econômico. A falha em dar a dose
dias antes e pós-parto período em que a capacida- adequada pode comprometer a resposta imunoló-
de de responder à vacinação pode ser comprome- gica e levar à falha vacinal. Da mesma forma, quando
tida por alterações hormonais que ocorrem nesse o indicado é o uso de duas doses da vacina, uma falha
momento. no intervalo de tempo necessário entre a aplicação
Como regra, os tratamentos profiláticos simul- de uma dose e a do reforço (geralmente entre duas
tâneos não interferem na vacinação. No entanto, em e seis semanas entre as doses, mas específicas para
situações específicas, deve ser evitado o uso con- cada vacina) ou uma falha em dar a segunda dose
comitante de antimicrobianos no momento da va- pode levar à falha vacinal.
cinação e durante três dias antes e após a aplicação. Frascos parcialmente usados: todas as vacinas
Isso é importante quando se trata de vacinas vivas de suínos são fornecidas em frascos de múltiplas
administradas por via oral (por exemplo, Lawsonia in- doses com as instruções de que qualquer vacina não
tracellularis e vacinas Salmonella spp). Se o animal está utilizada deve ser descartada, uma vez que o frasco
doente, necessitando de tratamento, a vacinação já foi utilizado. Isso se deve:
deve ser adiada até sua recuperação completa. »» Ao risco de o frasco ser contaminado com
Bibliografia
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944, setembro, 2009.
O
Ministério da Agricultura conta em e pelo representante do Serviço Oficial. Caso haja
sua estrutura com vários órgãos de as- qualquer dúvida por parte do órgão federal ou não
sessoramento. A Secretaria de Defesa conformidade dos documentos ou informações, o
Agropecuária (SDA), por exemplo, é um órgão processo fica parado até que seja feita a retificação.
que exerce o papel de unidade central do sistema
de fiscalização da produção e comercialização Síntese das principais
de insumos agrícolas e pecuários; da inspeção exigências da Normativa
higiênico-sanitária de produtos de origem animal Disponível em formato digital no próprio site
e vegetal; da garantia da sanidade e da saúde ani- do MAPA, a IN n° 19 está dividida em cinco itens e
mal. Procede aos registros de estabelecimentos, possui um conteúdo claro e direto, ao expor todas as
produtos, subprodutos, derivados, resíduos de condições e exigências que serão impostas a granjas
origens animal e vegetal, controle do trânsito de reprodutores.
interestadual e internacional de animais vivos e “A comercialização e distribuição, no Territó-
produtos de origem animal e vegetal e certifica- rio Nacional, de suídeos destinados à reprodução,
ção sanitária agropecuária.
Entre os inúmeros programas sanitários brasi- Tabela 1 – Condições e exigências
leiros, é no Programa Nacional de Sanidade Suídea básicas para a granja
(PNSS) que podemos encontrar a Instrução Norma- »» Ser registrada no MAPA, na Associação
tiva SDA n° 19, que tem como objetivo “manter um Brasileira de Criadores de Suínos e no Serviço
nível sanitário adequado nas granjas que comercia- Oficial da jurisdição onde esteja localizada.
lizam, distribuem ou mantêm reprodutores suídeos »» Possuir prática de biossegurança.
para multiplicação animal, a fim de evitar a dissemi- »» Possuir assistência médico-veterinária e
nação de doenças e assegurar níveis desejáveis de responsável técnico.
produtividade”. »» Colheita de material para exames laboratoriais
sob supervisão direta do Serviço Oficial.
A intenção deste capítulo é sintetizar a nor-
»» Possuir autorreposição ou receber animais de
mativa e auxiliar o leitor a entender as principais
granjas também certificadas.
exigências por parte do MAPA (tabela 1) e, assim,
»» Renovação semestral do certificado.
agilizar ações que acelerem esse processo. O perío-
»» Todos os suídeos em trânsito deverão estar
do compreendido entre o pedido de certificação e a munidos de uma cópia do GRSC.
emissão do certificado pode variar muito, mas dificil-
»» Suspensão do GRSC pelo Serviço Oficial a
mente é inferior a cinco meses. Isso porque todas as qualquer momento pelo não cumprimento de
informações da unidade devem ser bem detalhadas, quaisquer das determinações da IN n° 19 ou a
pedido do interessado.
documentadas e assinadas pelo responsável técnico
613
Bibliografia
1. BRASIL. Ministério da Agricultura. Instrução Normativa de granjas de reprodutores suídeos. Diário Oficial da
n° 19 de 15 de fev. de 2002. Normas para certificação União, n. 41, 1° de março de 2002, Seção 1, p. 1-9.
C
om o crescente avanço da suinocultura o suficiente e adoecem com maior frequência, cau-
pelo mundo, cresceram também os de- sando perdas diretas (mortes) ou indiretas (desuni-
safios sanitários. Com isso, é imprescin- formidade, perda de peso, gastos com medicamen-
dível muita atenção aos métodos de prevenção. tos, mão de obra).
Dentro desse contexto, a biosseguridade tem se Os desinfetantes são, portanto, um excelente
tornado o foco das atenções da maioria dos pro- investimento, mas não são produtos milagrosos
dutores de animais e indústrias de alimentos, a que resolvem qualquer problema. Cada um tem
fim de maximizar a capacidade produtiva e ainda seu uso específico e limitações. Utilizar um desin-
promover a oferta de um produto de boa quali- fetante sem conhecer bem do que se trata, para
dade que atenda às exigências do consumidor que serve, como também sem fazer um controle
interno e externo. microbiológico, é perigoso. Sem essas informações
Uma das ferramentas da biosseguridade é o não se sabe o que acontece antes e após a aplica-
processo de limpeza e desinfecção. A limpeza e de- ção. Pode-se aplicar o desinfetante errado no lugar
sinfecção de granjas constituem um processo muito errado, na dosagem errada e, dessa forma, elevar
importante na atividade pecuária. Marca o início de custos ou criar micro-organismos resistentes (sub-
uma sequência de atividades técnicas e administra- dosagens).
tivas cujo objetivo é reduzir o risco do comprometi-
mento da produtividade pelos desafios sanitários, já O papel da limpeza e desinfecção
que esse risco pode ocasionar grandes perdas eco- dentro da biosseguridade
nômicas ou causar impacto sobre a saúde pública, Os procedimentos ou programas de limpeza e
citando como exemplo a salmonelose. desinfecção (PLD) fazem parte de uma das etapas
Assim como outras medidas técnicas e de pro- mais importantes dentro do ciclo de produção, es-
fissionalização, a higienização, ou seja, limpeza e tando presente em todas as fases de criação.
desinfecção rotineira das instalações de suínos, O programa requer, para seu efetivo sucesso,
faz parte da suinocultura tecnificada há décadas. produtos de comprovada eficácia, adequados
O objetivo principal é a retirada de sujidades e eli- às características próprias de cada instalação e
minação de agentes causadores de doenças como equipamentos, mão de obra qualificada, treinada
vírus, bactérias e parasitos, antes do alojamento de e conhecedora da necessidade de uma perfeita
um novo lote de animais. atuação nas atividades de limpeza e desinfecção,
Muitas doenças são estabelecidas quando a e, ainda, o conhecimento dos agentes etiológicos
grande presença de agentes patogênicos (chamada instalados na propriedade. A realização rotineira
de pressão de infecção) ultrapassa os limites da re- de um processo de higienização detalhado é a con-
sistência do animal. Então, quando em um ambiente dição indispensável para a manutenção de um alto
de baixa higiene, que é potencialmente contami- nível de saúde do rebanho, pois, pela redução da
nado, muitas vezes os animais não têm resistência carga microbiana nas instalações, equipamentos
a. Remoção incompleta dos dejetos antes dos de baixa eficácia para combater a matéria
procedimentos de limpeza; orgânica).
b. Mão de obra desqualificada ou que não foi O profissional de compras deve, então, receber
617
treinada adequadamente; orientação sobre análise de bulas e solicitar testes de
c. Uso inadequado dos produtos devido à falta eficácia dos desinfetantes (vide mais adiante “Teste
de orientação; de eficiência de desinfetantes”). Vale lembrar que
d. Lavagem insuficiente com quantidade e pres- muitas vezes o desafio da granja é específico, ou seja,
são de água inadequada; é único e com situação complexa que abrange desde
e. Falta de desinfecção de paredes e teto; o tipo de água até pressão de desafio.
f. Falta de limpeza e desinfecção nas áreas ex- O recebimento e a armazenagem também são
ternas da granja; outros pontos que merecem atenção especial para
g. Limpeza inadequada dos silos, sem retirada evitar acidentes ou mesmo alterações indesejáveis.
dos restos de ração; Ao receber, confira quantidades, possíveis danos à
h. Falta de limpeza e desinfecção dos veículos embalagem e sedimentos ou alteração de cor (quan-
que circulam pela propriedade; do o recipiente permitir). Para armazenar, conside-
i. Desinfecção inadequada de roupas e utensí- re sempre as instruções do fabricante e a ficha de
lios dos colaboradores; segurança do produto.
j. Quantidade de solução desinfetante insufi-
ciente para uma determinada área; Características dos desinfetantes
k. Mistura de vários desinfetantes, de desinfe- e a questão da mão de obra
tantes com inseticidas ou, ainda, de desinfe-
tantes com detergentes; Características dos desinfetantes
l. Uso de desinfetante inadequado para o con- É muito importante estabelecer quais bases
trole de uma doença específica; serão utilizadas para desinfecção dentro da granja,
m. Diluição incorreta do desinfetante a ser inclusive determinando qual o tipo de desinfetante
usado; e sua diluição para cada tipo de instalação ou fase
n. Tempo de vazio sanitário insuficiente. de criação. Esse planejamento deve prever o gasto
Além disso, outros fatores podem interferir, mensal ou anual, e, quando tecnicamente justificá-
mesmo que indiretamente, no resultado final do pro- vel, estabelecer rodízio de bases ou princípio ativo
cesso. Um desses fatores é o funcionamento do setor e ainda definir responsabilidade na execução e trei-
de compras da granja. A função de compra muitas ve- namento do pessoal.
zes é relegada a um segundo plano do ponto de vista Cada princípio ativo ou base do desinfetante
técnico (área de compras não “conversa” com área tem ação sobre determinados micro-organismos
técnica). Os erros mais comuns observados são: (vide exemplos na tabela 1). Sua eficácia é modulada
a. Falsa expectativa de diluição maior para redu- ou determinada pela concentração utilizada, ou
zir custos (acaba por gerar ineficácia ou baixa seja, o grau de diluição.
eficácia e consequente custo superior); A atenção à escolha do desinfetante deve ser
b. Compra de produtos para rodízio de mesma grande por diversos motivos, como:
base com marcas diferentes; a. É um insumo extremamente necessário e be-
c. Compra de produtos inseguros (sem regis- néfico, mas tem custo e então deve apresentar
tro no Ministério da Agricultura, Pecuária e boa relação custo-benefício;
Abastecimento – MAPA ou com recomenda- b. A escolha da base (princípio ativo) deve con-
ções diferentes de bula); siderar as instalações (tipo de materiais),
d. Não avaliação da eficácia do produto den- desafios, doenças prevalentes e eficácia nas
tro das realidades da granja (ex.: produto condições da granja;
619
Vazio sanitário Eficácia do desinfetante
Trata-se de um período de “descanso” que
se inicia após a desinfecção. É um complemento Matéria orgânica
à desinfecção que permite a destruição de mi- Alguns produtos sofrem menos ação da matéria
cro-organismos não atingidos pelo processo an- orgânica quando comparados com outros desin-
terior, mas que são sensíveis aos agentes físicos fetantes. De qualquer forma, o ideal é remover a
naturais. Sua duração é variável, mas deve ser maior quantidade possível de matéria orgânica
de, no mínimo cinco a sete dias. Nesse período, a presente nas instalações (limpeza prévia) antes de
instalação deve ficar fechada e isolada de animais iniciar os procedimentos de desinfecção. Isso irá au-
e pessoas. mentar a eficácia do desinfetante, além de oferecer
Além disso, o vazio sanitário permite a secagem a melhor relação custo-benefício.
das instalações e efetiva a atuação do desinfetante.
A prática do vazio sanitário somente será eficiente Associação de produtos
se for possível fechar o local, impedindo-se a passa- Não se deve utilizar dois desinfetantes ao
gem de pessoas ou animais. mesmo tempo, salvo apresentações comerciais
O período de vazio sanitário para as diversas que contenham mais de um princípio ativo, pois
fases da produção (gestação, maternidade, creche, alguns deles inativam ou diminuem a eficácia do
recria e terminação) deve, idealmente, ser de apro- outro, o que irá prejudicar o processo de desin-
ximadamente cinco dias. Em casos de população fecção da granja.
de granjas, o período de vazio pode variar de 30 a Também, não se deve utilizar detergentes ou sa-
120 dias, dependendo dos agentes patogênicos bões juntamente com soluções desinfetantes, pois
encontrados. em alguns casos, como nos desinfetantes compos-
tos de amônia quaternária, há uma ligação entre o
Fumigação detergente e o desinfetante, o que leva à inativação
É um processo complementar ao de do desinfetante. No caso da necessidade de contro-
limpeza e desinfecção. Trata-se da exposição de le químico (uso de inseticidas), aplicar o desinfetan-
determinada área ou objeto a um desinfetante te no mínimo 48 horas após a aplicação do inseticida
na forma de gás. Dessa forma, objetiva-se atingir para que ele não prejudique a ação do desinfetante
aquelas partes que porventura não tenham sido e vice-versa.
atingidas pelo processo de limpeza e desinfecção
com produtos líquidos. Qualidade da água
Para a eficácia da fumigação, são necessários Na prática, a presença de água dura (maior
alguns pré-requisitos: a possibilidade de fechar to- concentração de sais) e o pH podem interferir
talmente o local; a umidade relativa do ar não deve nos resultados da desinfecção em graus varia-
ser inferior a 60%; e a temperatura ambiental não dos, de acordo com a natureza do desinfetante.
deve estar abaixo de 20°C. O mesmo vale para a qualidade microbiológica
Para a fumigação de materiais a serem intro- da água. Por exemplo, a presença de coliformes
duzidos na granja, usa-se o fumigador. O produto reduz a eficácia do desinfetante, pois parte dele
usado é o permanganato de potássio+formol ou o é consumida com a própria água poluída. Uma
paraformaldeído. Os produtos citados são queima- análise físico-química da água e o conhecimento
dos, originando o gás desinfetante. O tempo mínimo da natureza do desinfetante da granja resolvem
de fumigação é de 20 minutos. essa questão.
sob refrigeração, em caixas de isopor e adequada- hora. A orientação do fabricante também deve
mente identificadas. Toda orientação pertinente ser seguida quanto às precauções em relação ao
à coleta e envio de amostra deve ser dada pelo manuseio, armazenagem, procedimento em caso
622
consultor responsável ou pelo responsável pelo de contato direto com o produto e destino de
laboratório de análises. embalagens vazias.
Para a execução de um processo de limpeza e
Aplicação prática de um programa desinfecção, fazem-se necessários os seguintes
de limpeza e desinfecção (PLD) elementos:
Nem sempre se aplicam os processos de limpe- »» Colaborador capacitado;
za e desinfecção sequencialmente. Usualmente se »» POP;
aplica somente a limpeza em instalações com ani- »» Vassoura, espátula, escova, mangueiras, re-
mais, e os dois processos, em instalações de onde os gadores;
animais foram retirados. »» Bomba de alta pressão e bomba costal;
A limpeza diária e rotineira das instalações é »» Detergente e desinfetante com dosadores;
importante para garantir boa higiene no ambiente. »» Balde ou tambor plástico.
Essa limpeza é realizada em todos os setores da
granja e pode ser com uso de água ou limpeza a seco A seguir está descrito o passo a passo do referi-
(ex.: varrer). do processo:
A desinfecção pode ser preventiva ou de emer- 1. Retirar a sujeira grosseira;
gência. Esta última é aplicada em casos de surtos 2. Desmontar partes móveis (grades, comedou-
de doenças. No passado era comum a desinfecção ros, bebedouros etc.);
somente em casos de doenças. Atualmente, o pro- 3. Preparar e aplicar detergente;
cesso faz parte da biosseguridade e é usado prin- 4. Aguardar uma hora;
cipalmente na forma preventiva. Certamente isso 5. Enxaguar com água sob pressão;
não elimina seu uso de forma emergencial. 6. Montar (grades, comedouros, bebedouros
O produto sempre deve ser diluído, res- etc.);
peitando-se a recomendação do fabricante. A 7. Deixar secar;
preparação deve ser feita somente no momento 8. Preparar e aplicar desinfetante;
do uso e em quantidade que seja toda usada na 9. Vazio sanitário.
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CNPSA: outubro de 1998. gia Aplicada a Medicina Veterinária. Guanabara, 1.
ed., 1997, 545 p.
15 Creche
A
suinocultura tem agregado, a cada ano, Assim, há grande importância em desmamar lei-
avanços que contribuem para ganhos reais tões com pelo menos 5,5kg aos 20 dias de idade com
em prolificidade e crescimento. Entretanto, redução na idade ao abate e maior porcentagem de
com a redução da margem de lucro e consequente carne na carcaça. Ou seja, há redução no custo por
competitividade, faz-se necessária a adoção de kg de carne produzido de animais com melhor peso
manejos que reduzam a variabilidade de peso entre ao desmame.
lotes, considerando-se esta talvez a maior oportu- Numa simulação econômica, considerando
nidade de ganhos zootécnicos, financeiros e sanitá- pressupostos americanos de mercado, foi detec-
rios num sistema de produção. tada vantagem em dólar, de 3,47; 5,24; 4,91; 6,34
Nesse contexto, os leitões com baixo peso ao e 8,29 por suíno abatido aos 125kg de peso vivo
desmame requerem um manejo diferenciado que e desmamados, respectivamente, com 5,5; 6,4;
prevê cuidados individuais, utilização de baias e ou 7,3; 8,2 e 9,5kg aos 20 dias em comparação com
salas destinadas a isso, além de dietas mais com- os leitões desmamados com 4,6kg. Nesse caso,
plexas, o que eleva o custo de produção, não che- faz-se necessária a implementação de manejo e
gando ao abate dentro do prazo e nas condições tecnologias, de ordem prática, que assegurem o
esperadas. Esses animais comprometem o fluxo desmame de suínos com, no mínimo, 5,5kg aos 20
de produção e são mantidos nas instalações como dias de idade.
tentativa de correção do baixo desempenho nas Em geral, leitões mais pesados ao desmame
fases antecedentes. crescem mais rapidamente no período imedia-
tamente posterior ao desmame e são menos
Peso ao desmame versus susceptíveis a distúrbios digestivos e a diarreia.
desempenho de creche No entanto, leitões desmamados precocemente,
Um dos mais importantes fatores que influen- mesmo com peso acima de 5,5kg, não apresenta-
ciam o desempenho pós-desmame de suínos é o ram desempenho subsequente satisfatório. Assim,
peso ao desmame. Há uma relação positiva entre o os animais que pesam menos de 4,5kg ao desmame
peso ao desmame e a eficiência de crescimento de (21 dias) requerem 12 dias a mais para atingirem
suínos e qualidade de carcaça de animais abatidos.
Dessa forma, peso ao desmame é um importan- TABELA 1 – Influência do peso ao desmame na
performance até o abate com 104Kg
te parâmetro de predição para o desempenho na sa-
ída de creche, havendo uma forte correlação entre 4,1 5,1 a 6,9 a
Pesos ao desmame
a5 6,8 8,6
o peso ao desmame e o peso na saída de creche (ta-
Idade ao desmame (d) 24 25 25
bela 1). Sabe-se que para cada 1kg que se consegue
Peso ao abate (kg) 104 104 104
agregar no peso ao desmame, há um acréscimo de GPD recria e terminação (g) 703 732 750
1,9kg no peso de saída de creche (56 dias de idade), Consumo diário ração (kg) 2.304 2.336 2.300
e, ao abate, esses animais tiveram 4,2kg de ganho Dias do desmame até o abate 136 134 128
adicional. Fonte: Cole & Valey, 2000
o peso de venda, quando comparados aos leitões res taxas de ganhos e elevação na taxa de morta-
desmamados com 6,8kg. lidade (tabela 2).
As pesquisas apontam para uma relação de 2,5kg Nos casos de desmame precoce, sabe-se que
626
adicionais na saída de creche para cada 1kg agregado aproximadamente 25% dos animais são desma-
ao peso do desmame, e 2,12kg adicionais ao abate mados com menos de 3,5kg. Os leitões que nascem
para cada 1kg agregado ao peso na saída da creche, com baixo peso devem ser manejados de forma dife-
podendo-se projetar que, para cada 1,0kg adicional renciada, com fornecimento de dieta líquida. Nesse
ao desmame, tem-se 5,3kg ao abate. manejo, observa-se um ganho adicional nos animais
Os animais leves ao desmame têm entre 2,9 a alimentados desse modo. Entretanto, há perda de
3,8 vezes mais chances de serem mais leves na sa- desempenho, quando se retira a água e se introduz
ída de creche, com uma probabilidade ainda maior a dieta seca.
de serem animais leves ao abate (10 a 13 vezes). Enfim, a melhoria da condição corporal das matri-
Assim, os leitões que fazem parte da categoria de zes, ajustes de manejos e ambiente, incrementos na
leves ou que não ganharam peso conforme espe- qualidade da ração de lactação e adoção de um pro-
rado na creche têm alto risco de serem leves ao grama de suplementação para leitões lactantes, como
abate, bem como os leves ao desmame, e é funda- o uso de sucedâneos lácteos na fase pré-desmame,
mental minimizar essa categoria durante a creche, trazem benefícios, observando-se melhoria no peso
pois isso resulta em alto retorno econômico. médio, redução da variação de peso dentro da leitega-
Pode-se também associar as características da e menor mortalidade de leitões lactentes.
no desmame com mortalidade durante a fase de A maternidade é, portanto, o segmento em que
creche, já que os leitões com menos de 3,6kg ao surgem e/ou se intensificam as principais causas
desmame apresentam 2,92 vezes mais chances de de variabilidade na produção de suínos. Os efeitos
morrer e 3,6 vezes mais chances de serem leves às advindos da boa (ou má) gestão desse setor se am-
10 semanas de vida. plificam-se por todo o sistema produtivo, justifican-
Sabe-se também que a idade do desmame é do-se sua abordagem como “Unidade de Negócio”
um importante fator que interfere na média de dentro da produção.
ganho diário após o desmame e na lucratividade
ao abate em função do peso ao desmame e ma- Tabela 2 – Influência da idade ao desmame sobre o
desempenho subsequente
turidade fisiológica dos animais. O desempenho
dos animais aumenta de forma linear com o Idade 12 d. 15 d. 18 d. 21 d.
aumento da idade de desmame até que se atinja Peso (kg) 4,2 4,9 5,7 6,5
Cons. (g/d) 426 512 562 653
22 dias como idade de desmame. Entretanto, em
GPD (g/d) 299a 367b 408b 476c
muitos momentos, desmama-se de forma preco-
C.A 1,42 1,39 1,38 1,38
ce, projetando o peso aos 21 dias e se esquece de Peso 42 d.
16,9a 20,3b 22,6b 25,8c
que o ganho real é muito inferior ao projetado, e pós-desm.
isso cria maior variação dentro dos lotes, meno- Fonte: Main et al (2002)
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A
suinocultura tem agregado, a cada ano, Para essa variável, os alvos são 0,900 e 1,3kg, para
avanços que contribuem para ganhos reais plantéis que desmamam com 21 e 23 dias, respec-
em prolificidade e crescimento. Entretanto, tivamente.
com a redução da margem de lucro e consequente
competitividade faz-se necessária a adoção de A fase pós-desmame
manejos que reduzam a variabilidade de peso entre Um dos pontos cruciais dentro do sistema de
lotes, considerada esta talvez a maior oportunidade produção é o momento do desmame dos leitões, pe-
de ganhos zootécnicos, financeiros e sanitários em ríodo no qual os leitões sairão de uma de alimenta-
um sistema de produção. ção líquida para sólida, com o desmame feito de for-
Nesse contexto, a taxa de crescimento na pri- ma abrupta, o que gera consequências na fisiologia
meira semana pós-desmame também é um exce- do leitão, especialmente nos processos digestivos,
lente indicador dos dias necessários para o abate. metabólicos e imunológicos.
Os leitões com ganhos superiores na semana sub- Abaixo os principais fatores que contribuem
sequente ao desmame chegam ao abate alguns dias para o estresse do desmame:
antes que os animais com uma baixa taxa de ganho »» O leitão é retirado da mãe e de seus irmãos,
ou que perdem peso nesse período (gráfico 1). isso forma nova divisão social e hierarquia
Os animais com ganhos diários inferiores a estabelecida com grupo de leitões estranhos,
115g na primeira semana após o desmame demo- resultando em brigas e lesões;
ram até 20 dias a mais para chegar ao abate quando »» O local de alojamento é completamente di-
comparados com os animais que mantêm a taxa ferente da maternidade. Com variados tipos
de ganho similar à da maternidade (250g/dia). A de piso, de cocho, de bebedouro, tamanho do
magnitude da correlação entre ganho pós-des- grupo e temperatura ambiente;
mame e peso ao abate é superior que a do peso ao »» A dieta e sua forma de fornecimento mudam
nascimento e ao desmame, o que justifica a adoção completamente, já que o leite materno con-
de manejos que incrementem ganhos nessa fase. tém cerca de 80% de água e, durante a lacta-
ção, é o principal alimento, capaz de satisfa-
Taxa de crescimento 0-7 (g/dia) zer também quase toda necessidade hídrica,
184
182
além de ser fornecida numa maior frequência
Dias ao abate
Produto da
Enzima
da lactose (pela lactase) e das gorduras do digestão
Amilase
Atividade enzimática
leite (enzima lipase), enquanto a secreção de Maltase
Amido
Proteína
Protease
enzimas pancreáticas como amilase, malta-
Lipase Gordura 629
se e proteases (tripsina e quimiotripsina) é
bastante inexpressiva (gráfico 2). Em adição,
Açucar
o leitão desmamado tem secreção relativa- Lactase
do leite
Esse programa pode ser alterado conforme ao dia auxilia no fornecimento de água até que os
os níveis nutricionais de cada ração, além do po- leitões se adaptem aos bebedouros da creche. Po-
tencial genético dos animais. As fases pré-inicial de-se adicionar a essa água ácidos orgânicos que,
630
1 (26 aos 35 dias) e inicial (36 aos 49 dias) também além de aumentarem a palatabilidade, também
deverão ter seu uso limitado pelo consumo médio auxiliam na redução do pH do estômago. Parale-
individual. Entretanto, não há necessidade de lamente a isso, pode-se deixar, nos primeiros dias,
relacionar o peso corporal em cada fase com a que os bebedouros (tipo nipple ou taça) apresentem
quantidade recomendada. Normalmente, limita- gotejamento, isso atrai a atenção dos leitões e reduz
se em 3,5kg/cabeça a pré-nicial 2 e 9,0kg/cabeça o período de adaptação ao sistema de fornecimento
a inicial 1. Já a ração inicial 2 deverá ser fornecida de água. Recomenda-se trabalhar com, no máximo,
sem limite de quantidade durante o restante do 10 animais por bebedouro e a vazão deve ser de 1
período de creche. litro/minuto, com a altura regulável ao tamanho e
Uma das maiores preocupações com o de- desenvolvimento de cada grupo.
sempenho dos leitões nos primeiros dias após o O manejo da utilização de comedouro adi-
desmame é o consumo de ração e de água. O leitão cional no momento do desmame contribui para
lactente estava acostumado a saciar fome e sede um maior consumo na primeira semana após des-
com o mesmo alimento (leite). Na creche, ele tem de mame, apenas com o aumento da frequência de
satisfazer as duas necessidades fisiológicas em fon- alimentação dos animais. Em condições em que a
tes diferentes (ração e água). O tempo médio para disponibilidade de área/animal está restrita, isso
que o leitão ingira água pela primeira vez na creche pode incrementar ganhos significativos, devendo
é variável; alguns leitões podem levar até dois dias considerar entre o desmame e 63 dias de idade
para encontrar o bebedouro e ingerir efetivamente uma disponibilidade de 15cm de cocho/animal e
esse alimento (gráfico 3). 0,28m2 de área útil.
Em sistemas com manejo deficiente de forne- Outro fator determinante para o bom desem-
cimento de água, pode-se observar inclusive perda penho diz respeito à ambiência. É fundamental que
de peso dos leitões nos primeiros dias pós-desma- os leitões sejam mantidos em sua zona de conforto
me, com sinais claros de desidratação. Em contra- para que todos os nutrientes absorvidos sejam uti-
partida, o maior consumo de ração pós-desmame lizados para o crescimento e não para a manutenção
estimula a secreção de enzimas pancreáticas, e um da temperatura corporal. Flutuações extremas na
aumento na altura das vilosidades do intestino del- temperatura diária, associadas às altas concentra-
gado, consequentemente, um incremento no ganho ções de gases (amônia) e poeira, acabam por oca-
de peso. Portanto, consumo de ração e de água de- sionar irritações no trato respiratório dos animais,
vem ser trabalhados em conjunto desde a entrada
dos leitões na creche. 30
O acesso à fonte de água e alimento é um im-
25
portante fator na determinação da variabilidade.
20
% Leitegada
Foto 1 – Leitões amontoados, com frio Foto 2 – Leitões aquecidos com resistência elétrica suspensa
Fonte: autor Fonte: autor
Bibliografia
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A
fase de creche é crítica para os suínos, prin- estão em conforto térmico, que é a zona de termo-
cipalmente devido aos fatores estressantes neutralidade (tabela 1). Em uma temperatura crítica
do desmame, que acabam promovendo que- baixa (TCB), os leitões podem apresentar estresse
da da imunidade desses animais. Simultaneamente, por frio até o óbito, enquanto no excesso de calor, a
eles enfrentam várias situações de estresse: a mu- uma temperatura crítica alta (TCA), eles podem apre-
dança de ambiente e o estresse da manipulação na sentar estresse por calor.
transferência da maternidade para a creche; conflito
social (devido à mistura de leitegadas para uniformi- Ventilação sanitária na creche
zação do rebanho) e a separação da mãe (perdendo a O controle sanitário ainda é um desafio para a
imunidade passiva obtida do leite materno e sofren- suinocultura. O aparecimento de doenças nas gran-
do desafio nutricional, já que as rações existentes no jas pode diminuir os índices zootécnicos, onerar o
mercado ainda não conseguem suprir a qualidade do gasto com medicamentos e honorários veterinários,
leite materno). além de aumentar o risco sanitário para animais e
O prédio para a creche é ocupado por animais pessoas envolvidas com a produção e consumo da
susceptíveis às condições térmicas desfavoráveis, carne. Vale ressaltar que a liberdade sanitária é uma
bem como pela presença de micro-organismos e ga- das “cinco liberdades” preconizadas para atender ao
ses no ar. A presença de microtoxinas em ração pode bem-estar animal, tema que vem sendo cada vez mais
resultar em efeitos tóxicos sinérgicos, aditivos ou discutido e exigido pela sociedade.
antagônicos. Dessa forma, há necessidade de medidas
Os componentes ambientais dentro de um aloja- preventivas ao aparecimento de doenças nessa
mento de creche são divididos em físicos, como tem- fase de vida dos animais. A correta ventilação
peratura, ventilação, umidade e tipos de piso; sociais, das instalações pode melhorar a qualidade do ar,
como hierarquia, presença ou ausência de animais fator importante na prevenção de doenças, já que
estranhos; e de manejo, como dieta, desmame e for- a presença de poeira, gases, alta umidade e mi-
mas de arraçoamento. Dentro dos aspectos físicos, cro-organismos patogênicos aumentam o desafio
o mais importante é a temperatura na qual os leitões sanitário das instalações. A amônia, o CO2 e H2S
Temperatura Temperatura
Temperatura de conforto térmico
Fases do animal crítica baixa crítica alta
(TCB) Mínima Máxima (TCA)
5 . a 6 . semana
a a
10°C 20°C 22°C 30°C
20-30kg 10°C 18°C 20°C 27°C
Adaptada de CURTIS (1983), Nienaber et al. (1987) e Pomar et al. (1991).
são os principais gases produzidos nas instalações de telhas de fibrocimento, beiral de 0,85m, tendo
de suínos e são tóxicos para células de defesa do quatro salas com área de piso de 173m2 (0,48m2/
sistema respiratório como os macrófagos e células animal), volume interno médio de 404m 3, fecha-
634
produtoras de muco. A amônia em níveis elevados mento lateral de alvenaria com 1,00m de altura e
pode lesionar as vias respiratórias dos animais, uso de cortina para controle ambiental, limpeza
predispondo-os a doenças respiratórias como feita diariamente pela manhã, com raspagem e lava-
pneumonia e rinite atrófica. A concentração desse gem eventual do piso, prioritariamente na entrada
gás acima de 100ppm está associada à diminuição de novo lote. A granja 2 possuía pé-direito no beiral
do apetite dos animais, o que pode favorecer o apa- de 2,35m, telhado de duas águas com lanternim e
recimento de doenças entéricas, e a concentração cobertura de telhas de barro, beiral de 0,35m, sendo
acima de 300ppm pode levar a convulsões. Embora formada por três salas com área de piso de 61,25m2
o nível máximo recomendado para a amônia seja (0,36m 2/animal) semirripado, volume interno de
de 20ppm, em algumas horas do dia observam-se 144m3, fechamento lateral de alvenaria com 1,55m
níveis superiores a esse. Níveis elevados de sulfeto e cortina para controle ambiental, limpeza feita dia-
de hidrogênio também podem causar perda de riamente pela manhã com raspagem e lavagem do
apetite, doenças entéricas e respiratórias. piso de todas as baias e a fossa. A presença de NH3
A poeira presente nas instalações (composta nas instalações para creche mostrou ser resultado
de partículas sólidas suspensas no ar originadas de de uma complexa interação entre vários fatores,
pelo, pele, ração, materiais como madeiras ou plásti- e sua concentração relacionada com o volume e a
cos) também pode lesionar as vias respiratórias dos circulação de ar nas instalações, o que pode explicar
animais, facilitando a entrada de micro-organismos. a maior incidência desse gás na granja 2 no período
Além disso, serve de substrato para micro-organis- de verão (13ppm). A concentração de NH3 também
mos, podendo carregar bactérias, fungos e endoto- está relacionada com o manejo dos dejetos e a re-
xinas. Em geral, nas granjas de suínos, as instalações tirada dos substratos. A maior incidência de NH 3
de creche são as que possuem maior concentração na granja 1, no período de inverno (20ppm), pode
de poeira, o que pode estar relacionado com maior ser explicada mais pelo fechamento das cortinas e
atividade dos animais, tipo de alimentação e manejo pela falta de ventilação mínima do que pela lotação.
das instalações. Possivelmente, a densidade maior (kg/m3) no verão
Estudo sobre ambiente de creche em duas tipo- entre as instalações e a lavagem do piso não foram
logias indica que, dependendo do manejo, as quanti- suficientes para compensar o maior volume de ar
dades de gases, gerados dentro da instalação, podem contaminado na granja 1, mostrado pelo menor gra-
diferir (tabela 2). diente nas concentrações de NH3.
A granja 1 tinha pé-direito no beiral de 2,30m, As doenças respiratórias são causadas princi-
telhado de duas águas com lanternim e cobertura palmente por agentes infecciosos como Mycoplasma
Poeira (mg/m3)
Fase-Creche Verão Inverno
total resp. resp. total
Concentração < 9,16 < 3,67 < 4,17 < 1,47
Granja 1
URm(%); Tm(oC); V(m.s-1) 66; 29,1; < 2,56 65,6; 21,3; < 0,58
Concentração < 4,17 < 0,74 < 4,17 < 2,94
Granja 2
URm(%); Tm(oC); V(m.s-1) 78,2; 26,2; <0,75 55,16; 29,8; <0,83
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A
s curvas de alimentação e de crescimento fases de creche tem como intenção primordial redu-
são de grande importância na atual suino- zir, da melhor forma possível, o custo de produção
cultura. O conhecimento do consumo dos dos leitões. A Tabela 1 mostra uma sugestão de con-
leitões, principalmente na primeira semana após o sumo por fase na creche.
desmame, é de grande valia para ajustar os manejos Uma das questões mais importantes a ser consi-
de fornecimento e estímulo de consumo nessa fase. derada é o custo de um programa nutricional. Estu-
A estratégia de trabalhar com rações mais com- dos demonstraram que o fornecimento de leite de
plexas nos primeiros 14 dias após o desmame visa vaca a leitões dos 10 aos 50 dias, em condições ex-
melhorar o consumo dos nutrientes mais importantes, perimentais, permite alcançarem peso de 32kg aos
permitindo aos leitões enfrentar o desafio do desmame 50 dias com GPD acima de 700g/dia. Entretanto,
da melhor forma possível. Por isso, nessa fase, os níveis devemos sempre nos perguntar a que custo conse-
de lactose, fontes proteicas de alta qualidade e carboi- gue-se obter um determinado resultado zootécni-
dratos pré-cozidos, têm inclusões altas na dieta. co. Nas Tabelas 2 e 3 podemos observar que o uso
A estratégia alimentar baseada em “orçamen- de dietas à base de lácteos e/ou sucedâneos lác-
to” de quantidades de rações nas quatro primeiras teos melhora bastante o desempenho dos leitões
Tabela 2 – Desempenho de leitões ao desmame com o uso de dietas à base de produtos lácteos
Níveis de lactose, %
0 7 14 21
0 a 14 dias
Ganho de peso diário , g 1
142±73 186±46 191±44 219±31
Consumo de ração diário , g 1
240±166 280±30 300±53 334±47
Conversão alimentar , g 2
1,81±0,41 1,55±0,25 1,59±0,17 1,53±0,14
14 a 35 dias
Ganho de peso diário, g 463±94 488±63 501±47 470±57
Consumo de ração diário, g 845±158 897±91 878±97 879±76
Conversão alimentar, g 1,83±0,12 1,85±0,12 1,75±0,06 1,88±0,10
0 a 35 dias
Ganho de peso diário , g 3
337±81 367±45 376±58 370±43
Consumo de ração diário, g 605±165 651±58 645±107 661±61
Conversão alimentar, g 1,80±0,10 1,78±0,13 1,71±0,05 1,79±0,09
Ganho de peso total3, kg 11,66±2,26 12,86±1,59 13,25±1,44 12,94±1,51
Efeito linear (P<0,002), 2 Efeito linear (P<0,08), 3Efeito linear (P<0,14).
1
Tabela 5 – Efeito do consumo de ração dos leitões na maternidade e o resultado na fase de creche
Tabela 6 – Importância do consumo na primeira semana após a desmama nas fases subsequentes
Tratamentosa
Item Suplementados Não Suplementados SEM P-valor 639
N° leitegadas 16 16 - -
N° leitões/leitegada
Início (Nascimento) 12,0 12,0 - -
Final 3ª semana 11,4 10,9 0,21 0,10
Ganho de peso, kg
Nascimento (Início) 1,58 1,58 0,010 0,76
Final 1ª semana 2,90 2,78 0,068 0,22
Final 2ª semana 4,58 4,24 0,100 0,04
Final 3ª semana 6,60 5,69 0,144 0,001
CV, % b
Os leitões receberam ração com óxido de cromo leitões suplementados durante a lactação com
com o objetivo de alterar a coloração das fezes, o sucedâneos lácteos são apresentados na Tabela 7.
que funciona como indicador indireto de consumo.
Foi observado também que 50% dos leitões que Programas de fases
consumiram a ração na maternidade iniciaram o Para buscar o equilíbrio do melhor custo por
consumo em até quatro horas após o desmame, ao quilograma produzido, o uso de um programa de
passo que os leitões sem consumo e aqueles que não fases equilibrado é a estratégia que nutricionistas
tiveram oferta da ração consumiram depois de 6-7 e e produtores devem buscar para produzir um leitão
6-9 horas, respectivamente. de alta qualidade para a fase de engorda. Para isso,
Na Tabela 6, pode-se observar a importância busca-se trabalhar com um programa de quatro
do ganho de peso na primeira semana e sua influ- fases, visando fornecer as rações mais complexas,
ência no desempenho dos animais até o abate. principalmente nas duas primeiras fases e buscando
Essa é uma das fases de grande importância para uma adaptação correta para rações mais baratas ,
o desempenho futuro dos animais, até a fase de sem prejuízos do desempenho zootécnico, confor-
terminação. me pode ser observado na Tabela 8.
Os dados de ganho de peso e mortalidade de Outro ponto relevante é a importância de uti-
Tabela 8 – Especificações das dietas para um programa de creche com três ou quatro fases
lizar nutrição de alta digestibilidade aos leitões de cisa haver uma relação de espaços de come-
melhor desempenho. No trabalho a seguir, o desem- douros e de bebedouros em quantidade e
penho dos animais pesados ao desmame demonstra disponibilidade para o máximo de consumo
que eles respondem de forma positiva à melhoria da na creche. É preciso ter um consumo médio
dieta, porém nos animais de baixo peso na desmama de ração acima de 650g/dia no período.
essa estratégia não é evidenciada. »» Ambiência: a creche precisa ser um ambiente
Porém, para um programa de nutrição pós-des- que favoreça o consumo em baixas ou altas
mame funcionar adequadamente, há alguns fatores temperaturas, pois grandes variações de
importantes que devemos levar em conta. Segue temperatura durante o período de creche cer-
uma relação de fatores que podem influenciar no tamente vão influenciar de forma negativa o
desempenho: consumo esperado, além de favorecer o surgi-
»» Peso à Desmama/Nascimento: há relação mento de problemas entéricos e respiratórios.
estreita entre peso ao nascimento e desma- »» Manejo: principalmente nos primeiros três
ma e desempenho dos leitões no período de dias após o desmame, é muito importante
creche. Nesse contexto, é importante ficar ficar atento aos manejos de estímulo do con-
atento às variações desses pesos. A Tabela sumo de ração e de água. Se o leitão for esti-
9 mostra o efeito ao desmame do peso ao mulado nesse início, há uma grande possibili-
nascerem sobre o desempenho de suínos do dade de sucesso do programa nutricional.
desmame aos 110kg de peso vivo. »» Medições de peso: é muito interessante ter
»» Água e ração com acessos disponíveis: pre- uma sala ou mesmo algumas baias para medir o
Tabela 9 – Desempenho de leitões de acordo com o uso de rações de alta e média digestibilidade
Pesados Leves
Dieta Alta Média Alta Média
Peso desmama 7,1kg 7,0kg 5,8kg 5,9kg 641
Peso aos 14 dias 10,4kg 9,8kg 8,6kg 8,5kg
Peso aos 26 dias 18, kg 16,8kg 15,5kg 15,1kg
Consumo diário
0-14 dias 245g 242g 217g 227g
14-26 dias 666g 638g 582g 594g
0-26 dias 448g 431g 390g 402g
GPD
0-14 dias 235g 199g 196g 196g
14-26 dias 604g 551g 534g 524g
0-26 dias 412g 367g 357g 353g
Conversão alimentar
0-14 dias 1,20 1,28 1,11 1,24
14-26 dias 1,11 1,16 1,10 1,14
0-26 dias 1,10 1,17 1,11 1,15
Fonte: Adaptado de Lyinch et al., 1998
consumo e o peso dos leitões nas mudanças de para favorecer o desempenho dos animais.
rações. Essa prática permite avaliar o consumo e O processo de adaptação a essa ração deve co-
pesos de forma bastante assertiva e rapidamen- meçar desde a maternidade, oferecendo rações na
te montar ações corretivas, quando necessárias. forma seca, seja ela peletizada ou não, ou mesmo na
Outro ponto importante na questão do consu- forma umedecida em vários tratos ao dia, em peque-
mo pós-desmame é o peso dos leitões. Leitões mais nas quantidades; considerar que os leitões apreciam
pesados apresentam consumo menor nas primeiras novidades e alimento fresco. Não economize nessa
24 horas após o desmame, o que pode ser causado fase, principalmente nos leitões mais pesados.
por maiores reservas de energia, ou mesmo pelo O monitoramento da curva de crescimen-
baixo contato e consumo de rações na maternidade, to e de consumo na fase de creche é de grande
levando maior tempo para adaptação. importância para a determinação do equilíbrio
Na questão de atrativos para os leitões, rações econômico do custo desse leitão. A determinação
com lactose alta na primeira fase (entre 15 a 25% do custo por quilo produzido é de grande valia
de lactose) e com produtos de origem animal de alta para determinar se o ganho adquirido nessa fase,
qualidade (farinha de peixe e plasma sanguíneo) apre- descontando o peso da desmama do peso de saída
sentam os melhores desempenhos de consumo na pri- de creche, ficou com o custo dentro do esperado
meira semana. Ingredientes de sabor adocicado, como pelas condições de produção.
os açúcares, e níveis maiores de aminoácidos, como E a avaliação correta para medir a eficiência
o triptofano, vão favorecer o consumo adequado da dessa fase é o custo por quilo produzido, quanto
ração na fase de creche na primeira semana. mais produtiva for a nutrição dessa fase, menor será
Enfim, os leitões têm um desafio muito grande o custo para produzir esse leitão.
na sua adaptação da dieta líquida da maternidade A busca desse equilíbrio entre custo da dieta,
para a dieta sólida da creche; essa migração do há- o peso e a conversão alimentar dos animais nesse
bito alimentar necessita do fornecimento de rações período é de grande importância para os desempe-
adequadas, tanto em níveis como em ingredientes nhos posteriores.
Tabela 10 – Efeito do peso, ao nascerem, sobre o desempenho de suínos do desmame aos 110kg de peso vivo
Peso Vivo
SEM P-Valor
Item Pesado Leve
642 Nº leitegadas 39 38 - -
Peso ao nascer, kg 1,83 1,32 0,10 0,001
Peso aos 21 dias de idade, kg 6,58 5,72 0,144 0,001
Ganho diário, g
Desmame até 14kg de PV 450 409 7,0 0,001
14 a 25kg de PV - - 11,6 —
25 a 65kg de PV 952 904 11,3 0,01
65 a 110kg de PV 1,051 955 18,1 0,001
Desmame até 110kg de PV 851 796 6,7 0,001
Consumo diário de ração, g
Desmame até 14kg de PV 489 448 5,7 0,001
14 a 25kg de PV 920 902 15,9 0,40
25 a 65kg de PV 1,863 1,800 25,2 0,04
65 a 110kg de PV 2,979 2,836 47,3 0,02
Desmame até 110kg de PV 1,866 1,783 17,6 0,001
Eficiência alimentar
Desmame até 14kg de PV 0,928 0,896 0,008 0,01
14 a 25kg de PV - - 0,0113 —
25 a 65kg de PV 0,515 0,505 0,0073 0,41
65 a 110kg de PV 0,354 0,338 0,0040 0,01
Desmame até 110kg de PV 0,456 0,448 0,0034 0,11
Nº dias do desmame até kg PV 141 148 0.9 0.001
Fonte: Adaptado de Wolter et al, 2002
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1,59
Maternidade
Dias de Idade
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60 61 62 63
1,52
Fonte: autor
185
de ração nessa fase é um dos principais problemas a
180 serem contornados.
Idade ao abate (d)
restrito e a ração precisa ficar disponível durante A granulometria da ração deverá ser mais fina
quase todo o dia, a frequência de entrada na sala ou mais grossa, dependendo da fase. Na creche,
pelo funcionário pode ser um dos principais fatores a ideal é relativamente fina, com DGM (diâmetro
a ser controlado. geométrico médio) de 0,400mm. Entretanto, não
O processo da fome está ligado a uma série de é somente o tamanho das partículas dos alimentos
fatores hormonais que são desencadeados pela que deve ser considerado.
taxa de glicose no sangue (glicemia). A regulação Em suínos, vários trabalhos têm evidenciado o
hormonal desse processo acontece no estômago efeito do tamanho das partículas na ingestão de ali-
(caso da grelina), pâncreas, hipotálamo, fígado e mentos e na consequente melhora no desempenho
intestino (glucagon e insulina) e, baseado na influ- dos animais. A diminuição do tamanho das partícu-
ência dos ritmos biológicos no sistema endócrino, las do milho melhora, de forma linear, as digestibili-
cada um dos hormônios circulantes apresenta seu dades aparentes da matéria seca, do nitrogênio e da
pico de máxima produção e secreção em momentos energia bruta da dieta e diminui, também de manei-
diferentes do dia de acordo com as necessidades ra linear, a excreção de matéria seca e nitrogênio. A
típicas da espécie. Dessa forma, observa-se, por tabela 4 mostra o padrão de DGM sugerido para as
exemplo, o pico máximo de secreção e produção diferentes fases de uma suinocultura.
de insulina de forma mais intensa logo de manhã e Contudo, vários autores estudaram os efeitos
no começo da tarde. Com isso, horários intermedi- do tamanho das partículas (DGM: 0,900, 0,700,
ários como 10h e 16h (meio da manhã e da tarde) 0,500 e 0,300mm) de milho e sorgo para leitões de
sugerem horários que devem ser contemplados no creche e verificaram que os escores de queratose
arraçoamento mais eficiente na creche. A tabela 3 foram maiores naqueles que receberam dietas de
sugere horários de arraçoamento na creche. 0,300mm. Com isso, ficou comprovado que o uso de
dietas muito finas durante tempo prolongado pode
Granulometria das rações favorecer o aparecimento de úlceras.
na fase de creche
Granulometria de rações sempre foi conside- Manejo e tipos de comedouros na creche
rada pelos produtores, pesquisadores e nutricio- Os comedouros na fase de creche apresentam
nistas, e a maior parte deles sempre atribuiu que, uma função importante, pois, além da necessidade
quanto mais moída fosse a ração, melhor seria o de proporcionar fácil acesso e quantidade suficien-
aproveitamento dos nutrientes pelo melhor con- te de vagas/bocas, são fonte de 100% do alimento
tato deles com os sucos digestivos, favorecendo a sólido oferecido aos animais.
digestão e a absorção. Já a área de produção de ra- No início da década de 2000, o mercado brasi-
ção sempre preferiu fazer dietas com moagem mais leiro passou a adotar comedouros semiautomáti-
grosseira pelo aumento na eficiência (toneladas/ cos, (foto 1), que, embora apresentem maior con-
hora) de produção. veniência em relação à sua operação e capacidade
Utilização de “papinhas” na
O consumo inadequado de água pode ser um fase pós-desmame
risco à saúde e bem-estar dos leitões. A higieni- A forma de fornecimento da ração, seca ou líquida,
zação do sistema de fornecimento de água deve também pode contribuir para aumentar o consumo
ser considerada parte do programa de limpeza/ de ração dos leitões nas primeiras semanas após o
desinfecção das instalações e do programa “todos desmame. Independentemente da idade de desmame
dentro/todos fora”. tem-se observado aumentos de 75 a 150% no consu-
O tempo médio para que um leitão ingira água mo de ração quando a alimentação líquida é oferecida
pela primeira vez na creche é variável, e alguns aos leitões, com consequente aumento no ganho de
animais podem levar até dois dias para encontrar o peso. As maiores vantagens são observadas quando
bebedouro e ingerir efetivamente esse ingredien- a alimentação líquida é fornecida nas primeiras duas
te. O baixo consumo de água, além de ocasionar
desidratação, também contribui para redução do Tabela 6 – Altura dos tipos de bebedouros de acordo
com a fase dos suínos
consumo de ração.
No caso dos bebedouros, o ideal é que seja dis- Tipo taça Tipo chupeta
Peso dos
ponibilizado um ponto de fornecimento de água, altura do piso altura do piso
suínos (kg)
(cm) (cm)
seja em bebedouro do tipo chupeta ou taça, para
cada 10 leitões, e com a vazão recomendada confor- 05-15 20 26
me tabela 5. 15-30 25 35
Trabalhos propõem alguns artifícios para esti- 30-65 30 45
mular a ingestão hídrica, entre eles: 65-100 40 55
1. Utilizar bebedouros suplementares com adi- >100 45 65
ção de água várias vezes ao dia; Fonte: Sobestiansky, 2006
f(x)
na água oferecida a esses animais. A inclusão
de ácidos e sais orgânicos entre 1 e 2% na
x média
μ desvio padrão ração pode diminuir a proliferação de micro
652 x
-organismos patogênicos no trato digestivo,
melhorar o ganho de peso diário e conversão
alimentar dos leitões (os mais comumente
utilizados são os ácidos fumárico, acético,
cítrico e málico);
μ x
4. Manter a frequência diária de arraçoamento
Gráfico 3 - Gráfico padrão de uma
distribuição normal da população acima de cinco vezes ao dia.
Fonte: autor
formulação complexa específica para a fase, em que tes envolvidas na alimentação – que descrevemos
normalmente há um nível alto de carboidratos de neste capítulo –, o resultado na creche depende do
alta digestibilidade (como a lactose) que, em função somatório de diversos fatores como tipo das ins-
653
da degradação destes açúcares em alta temperatu- talações, ambiência, genética, nutrição aplicada,
ra, pode comprometer o pélete por caramelização saúde do plantel e capacidade e motivação da mão
(o pélete fica escuro, duro e com baixa aceitação de obra do setor. Não adianta oferecermos uma
pelos animais). dieta de alto nível nutricional se o consumo não
De um modo geral, na creche, a peletização corresponder por qualquer outro motivo. Por isso
melhora a digestibilidade do alimento, promove encontramos situações adversas, em que muitas
um controle dos principais contaminantes micro- vezes uma granja que utiliza um programa nutri-
biológicos da ração, e, como proporciona menor cional inferior consegue alcançar um desempenho
desperdício, pode ajudar a melhorar a conversão superior à outra com uso de dietas mais densas.
alimentar. O processamento do pélete segura- P o r exe m p l o , c o n s i d e ra n d o a p e n a s o s
mente aumenta a disponibilidade de energia das níveis de lisina digestível e energia metabo-
rações. Esse fato é importante, já que nos primeiros lizável, uma dieta “X” com respectivamente
dias após o desmame os leitões podem perder uma 1,25% e 3.480kcal/kg, e outra “Y” com 1,40%
substancial quantidade de gordura corporal, por e 3.550kcal/kg. Se na primeira semana pós
não consumirem quantidade suficiente de ração desmame os animais que receberem a dieta
para atender à quantidade de energia necessária à “X” apresentarem um consumo médio diário
deposição de proteína. Ainda, devido a seu formato de 250g/dia/cabeça, enquanto os da dieta “Y”
físico, apresenta melhor fluidez que a farelada nos um consumo de 200g/dia/cabeça, parâmetros
comedouros semiautomáticos. absolutamente normais, os animais “X” terão
Contudo, como mencionado, no dia a dia ob- consumido 11,6% a mais de lisina e 22,5% a
servam-se ótimos resultados de desempenho em mais de energia que os animais “Y”, mesmo com
creches bem manejadas tanto com dietas peleti- um programa de menor nível nutricional, con-
zadas quanto com fareladas. As rações fareladas, sequentemente de menor custo. Contudo, sem
por sua vez, proporcionam melhor sensibilidade à saber o quanto cada grupo conseguiu converter
palatabilidade em função da maior área de contato em peso, não há como concluir qual programa
do alimento com as papilas gustativas dos suínos. alimentar é mais vantajoso.
Portanto, desde que bem formuladas, podem pro- Existe uma quantidade considerável de siste-
porcionar maior atratividade e, consequentemente, mas de alimentação na creche, em que descreve-
maior consumo do que as peletizadas, no entanto, remos os mais significativos a seguir, no entanto
deve-se ficar atento ao desperdício das rações fa- existem algumas informações que precisam ser
reladas, pois este é maior do que o que se tem com analisadas antes de propor qualquer que seja o pro-
dietas peletizadas. grama alimentar.
Lote desmamado com média de peso vivo acima de 6,0kg aos 21 dias de idade
655
Consumo total Consumo médio Peso vivo
Rações Idade de uso CA
(kg/cab) diário (kg) esperado (kg)
Pré-mater 0,50 07 a 27 dias 0,250 até 7,5 1,150
Pré-inicial-1 4,00 28 a 35 dias 0,500 8,5 a 9,5 1,286
Pré-inicial-2 9,00 36 a 49 dias 0,600 14,0 a 15,0 1,357
Inicial 14,00 50 a 63 dias 1,000 22,5 a 24,0 1,480
Inicial 9,00 64 a 70 dias 1,300 28,5 a 30,0 1,620
Total 36,5 Conversão alimentar esperada: 1,55 a 1,57
Lote desmamado com média de peso vivo entre 5,5kg e 6,0kg aos 21 dias de idade
Consumo total Consumo médio Peso vivo
Rações Idade de uso CA
(kg/cab) diário (kg) esperado (kg)
Pré-mater 1,00 07 a 27 dias 0,250 até 7,0 1,150
Pré-inicial-1 3,50 28 a 35 dias 0,500 8,0 a 9,0 1,286
Pré-inicial-2 8,50 36 a 49 dias 0,600 13,0 a 14,0 1,357
Inicial 14,00 50 a 63 dias 1,000 21,5 a 23,0 1,480
Inicial 9,00 64 a 70 dias 1,300 27,5 a 29,0 1,620
Total 36,0 Conversão alimentar esperada: 1,57 a 1,59
Lote desmamado com média de peso vivo abaixo de 5,5kg aos 21 dias de idade
Consumo total Consumo médio Peso vivo
Rações Idade de uso CA
(kg/cab) diário (kg) esperado (kg)
Pré-mater 1,50 07 a 27 dias 0,250 até 6,5 1,150
Pré-inicial-1 3,50 28 a 35 dias 0,500 8,0 a 8,5 1,286
Pré-inicial-2 8,00 36 a 49 dias 0,600 12,0 a 13,0 1,357
Inicial 13,00 50 a 63 dias 1,000 20,0 a 21,5 1,480
Inicial 9,00 64 a 70 dias 1,300 26,0 a 28,0 1,620
Total 35,0 Conversão alimentar esperada: 1,59 a 1,61
Fonte: Manual técnico BRNova Sistemas Nutricionais S/A
e, assim, as exigências nutricionais, e são exemplos (figura 9), quanto o sistema “multifases”, em que há a
desses fatores o acesso à ração e água, temperatura mistura com determinada frequência (podendo ser
e umidade do ambiente, exposição aos patógenos, até diária) de duas dietas, uma formulada para o início
qualidade do manejo e da mão de obra, que afetam da creche e outra para o final, tornando de forma mais
de forma adversa cada animal, aumentando a varia- adequada a exigência dos animais, ou do lote espe-
bilidade entre os animais. cífico, em relação ao alimento oferecido. O quadro 9
Considerando a variabilidade dos animais, exis- exemplifica esse processo de acordo com a faixa etá-
tem tanto sistemas sofisticados, de alimentação au- ria dos animais, fazendo uso de um sistema com troca
tomática e inteligente que contemplam o conceito de de dietas a cada quatro dias.
“nutrição de precisão”, em que os animais “chipados” 3. Sistema de alimentação líquida
são alimentados por comedouros que controlam o A alimentação líquida para suínos é utilizada em
fornecimento de ração automaticamente e também larga escala na Europa e é definida pela mistura de
conseguem checar o peso e consumo em tempo real ração ou subprodutos secos com água ou subpro-
Tabela 9 - Sistema alimentar “multifases” na creche com trocas a cada quatro dias
20 a 24 a 28 a 32 a 36 a 40 a 44 a 48 a 52 a 56 a 60 a 64 a 68 a Ração
Ração PRÉ
23 27 31 35 39 43 47 51 55 59 63 67 70 INICIAL
Pré-
Pré- inicial
Pré- inicial
Pré- inicial
Pré- inicial
Pré- inicial
Pré- inicial
Pré- inicial
Pré- inicial
Pré- inicial
Pré- inicial
Pré-inicial Inicial Inicial Inicial
inicial
Inicial
Inicial
Inicial
Inicial
Inicial
Inicial
Inicial
Inicial
Inicial
Inicial
kg/cab./d: 0,20 0,23 0,34 0,43 0,50 0,59 0,64 0,72 0,85 1,20 1,45 1,65 1,85
Fonte: autor
657
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16 Transporte, Abate e
Qualidade da Carne
P
ara tratar de curvas de crescimento e con- Curvas de consumo e ganho
sumo de suínos é necessário entender que O crescimento dos suínos pode ser entendido
aproximadamente 70 a 80% dos custos de basicamente pela taxa de deposição proteica e
produção das granjas de suínos são representa- lipídica, pois esses dois fatores marcam as mudan-
dos pela alimentação dos animais, e que, desse ças ou as diferenças na massa proteica corpórea
montante de custo, aproximadamente 60% são e a massa lipídica corpórea. O National Research
gerados no setor de recria e terminação. Por essa Council (NRC), 2011, propõe modelos matemáticos
razão, a ampliação dos conhecimentos sobre o para calcular esses indicadores de crescimento dos
perfil de crescimento e, sobretudo, o domínio da suínos e com base neles traçar as curvas específicas
eficiência de conversão alimentar dos suínos tem para cada subpopulação. Esses são baseados na
grande importância para evolução econômica da massa proteica corpórea e massa lipídica corpórea.
cadeia produtiva da suinocultura. Consideran- Para que se apliquem esses modelos são necessá-
do os custos fixos já adquiridos pelo sistema de rias medições de características de carcaça que
produção de suínos, é possível demonstrar vanta- se somam ao peso corporal para serem lançadas
gens na produção de suínos com alto peso de aba- nas equações de predição. As curvas básicas de
te, entre 100 e 130kg, pois são reconhecidos pela consumo e ganho de peso dos diversos materiais
indústria, sobretudo a indústria processadora de genéticos disponíveis no Brasil (gráficos 3 e 4) não
carnes, que existe aumento da produção de carne
por matriz alojada, aumento da produtividade Curva de ganho de peso acumulado (kg)
160
na planta de abate e aumento de peso dos cortes
nobres da carcaça. Contudo, as maiores limita- 140
Ganho de peso acumulado kg
2,5
250
2
kg
200 1,5
1
150 0,5
0
100 0 2 4 6 8 10 12 14 16
Genética 1. M. Castrados
Genética 2. M. Castrados Idade em semanas pós-alojamento na terminação
50 Genética 3. M. Castrados
Gráfico 4 – Curva de consumo de alimento diário
0 de suínos machos castrados de alto potencial
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18
genético de 25 a 120kg de peso vivo
Idade em semanas pós-alojamento na terminação
Fonte: Adaptado Rostagno, 2011
140
120 o amadurecimento dos animais, ao longo do seu
100 crescimento, há estabilização da deposição mus-
80
cular nas carcaças e elevação da taxa de deposição
60
40 de gordura nelas. Para essa fase, acima dos 70kg,
20 há aumento significativo da capacidade de inges-
0 tão diária de ração, principalmente nos machos
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18
castrados, por isso, a dieta ingerida diariamente
Idade em semanas pós-alojamento na terminação
apresenta nível de energia mais alto que a deman-
Gráfico 3 – Curva de ganho de peso acumulado da para deposição de carne magra; consequen-
de suínos machos castrados de alto potencial
genético de 25 a 120kg de peso vivo temente, o excedente de energia é transformado
Fonte: Adaptado de Rostagno, 2011 em reserva de gordura depositada na carcaça dos
suínos. A gordura depositada representa alto cus- rem os valores investidos e se obtenha o custo por
to metabólico para o animal, devido às próprias ganho produzido para se tomar a decisão a respeito
características químicas dos tecidos adiposos que do investimento.
665
têm baixa incorporação de água em sua consti-
tuição, ao contrário do tecido muscular, que tem Estratégias de ajuste de curvas –
aproximadamente 70% de água adicionada na sua alimentação por fases e sexos separados
construção. Isso faz com que os suínos, ao entra- A alimentação por fases tem por finalidade se-
rem nessa fase de desenvolvimento, percam efici- guir a evolução das exigências nutricionais dos ani-
ência de conversão alimentar. mais ao longo do desenvolvimento; dessa forma, o
Estudos demonstram que a melhor fase para número de fases pode ser equivalente ao período de
aplicar a restrição alimentar é a partir dos 70kg de alojamento dos animais, pois diariamente se pode
peso vivo, justamente porque é a partir desse peso calcular a exigência dos suínos, entretanto, a utiliza-
que a maioria das linhagens genéticas apresentam ção prática das rações pode ser o primeiro limitante
aumento na inclinação da curva de deposição de para que se trabalhe com múltiplas fases. As fases
gordura na carcaça. A restrição alimentar é dis- delimitadas por períodos semanais são práticas,
cutida na literatura de duas formas. A restrição porque permitem razoável aproximação da curva
qualitativa, na qual se reduz a concentração de de exigência e proporcionam bom ajuste das inter-
nutrientes da dieta, por meio da inclusão de fibras, venções sanitárias no manejo dos suínos.
ingredientes de baixa digestibilidade, para que o Os suínos machos castrados apresentam con-
animal tenha seu apetite satisfeito sem que haja sumo superior em relação aos inteiros e às fêmeas,
satisfação de suas necessidades de nutrientes. A cujas respostas têm sido relacionadas com a baixa
restrição quantitativa é mais comum e é aplicada concentração de hormônios esteróides nos animais
pela restrição de volume diário de alimento forne- castrados. A maior capacidade de consumo de-
cido aos animais. Essa é a vantagem de permitir que monstrada pelos animais castrados e a redução do
se forneçam quantidades suficientes de proteínas efeito anabólico dos hormônios sexuais sobre os te-
e aminoácidos para manter a deposição muscular cidos de crescimento desses animais são a combina-
e aplicar a restrição com maior intensidade sobre ção fisiológica que proporciona a pior distribuição
a fração energética da dieta, com a finalidade de do ganho tecidual desses animais no final do ciclo
reduzir o acúmulo de gordura. Logicamente, o uso de produção. Esses animais apresentam taxas de
de restrição alimentar e a intensidade de restrição ganho de tecido gorduroso bastante superior à dos
a ser aplicada dependerão do custo de ração, da taxa animais não castrados, tanto machos como fêmeas.
de ganho que se pretende, do sexo, da linhagem da Estudos recentes dos efeitos da restrição alimentar
concentração da dieta. e da imunocastração de suínos em fase de termina-
Atualmente, a densidade nutricional das ra- ção tardia constataram que os suínos submetidos à
ções de terminação está menor que a de alguns alimentação à vontade apresentam ganho de peso
anos atrás, quando a gordura era relativamente diário aproximadamente 6,5% superior em relação
barata. Hoje, com o advento das bioenergias, a uti- aos suínos tratados sob o regime de restrição ali-
lização de óleos e gorduras está bastante restrita. mentar, e os suínos imunocastrados apresentam
Mas é possível aumentar o nível de energia e ami- ganho de peso diário 8,3% superior ao dos castra-
noácidos, mantendo a relação entre lisina e ener- dos. Para esses mesmos animais, a conversão ali-
gia, e assim obter melhoria de conversão alimentar, mentar foi melhor somente para o grupo de suínos
da ordem de 14%. Entretanto, para se obter esse castrados, 7%, já para os animais imunocastrados,
ganho em conversão alimentar, é preciso elevar em não houve resposta ao manejo de restrição alimen-
30,2% o custo das rações, devido ao ajuste protei- tar, o que se deve à hipótese de haver distinção
co. Portanto, torna-se necessário que se conside- entre a composição do ganho desses animais, por
efeito residual dos hormônios sexuais e, nesse caso, residual. Logicamente, o momento do mercado é
a maior deposição proteica obtida pelos machos que determinará a escolha das curvas de consumo,
imunocastrados contribuiu para a manutenção da pois em determinados momentos o máximo ganho
666
boa conversão alimentar, mesmo quando houve de peso poderá ser economicamente viável; já na
maior consumo de nutrientes, como em situações maioria do tempo, a melhor conversão alimentar
de consumo à vontade. será a opção de máxima rentabilidade para o siste-
Quando submetidos a uma restrição de 10%, ma de produção.
as carcaças dos animais não foram alteradas pelo A automação e a alimentação computadoriza-
manejo de restrição alimentar. Entretanto, a imuno- da, líquida ou sólida, são ferramentas que podem
castração teve efeito sobre a espessura de toucinho proporcionar praticidade ao uso das curvas de
e maior percentual de carne magra na carcaça dos alimentação.
suínos, fato coerente com a resposta observada A comparação entre sistemas de alimenta-
para a conversão alimentar. ção manuais e automáticos comprova a melhor
conversão alimentar para os animais criados no
Estratégias de ajuste de curvas sistema tradicional de cochos lineares de abas-
– automação de sistemas de tecimento manual, com redução de 6,48% na
alimentação líquida conversão alimentar. Entretanto, o ganho de peso
Atualmente, tem crescido muito o interesse desses animais é 10,34% mais alto para os animais
de produtores no Brasil pela tecnologia de ali- manejados no sistema de cochos automáticos. O
mentação computadorizada, que pode ser do tipo aumento no ganho de peso dos animais não gera
que fornece alimento farelado ou líquido. Essa receita suficiente para tornar favorável a análise
ferramenta vem sendo aprimorada ao longo dos econômica desse estudo, pois o consumo exceden-
tempos e hoje proporciona nível de precisão no te atingido vem do consumo residual, fato que gera
fornecimento de ração aos grupos de animais de a distorção na eficiência de conversão alimentar
forma bastante precisa. Essas técnicas têm torna- dos animais.
do práticos os manejos alimentares dos grupos de A capacidade de apresentar esse consumo resi-
animais, mesmo em grandes sistemas de produção. dual é uma característica genética, de herdabilidade
A programação diária do fornecimento de ração moderada de 0,15 a 0,38, mas que tem sofrido pouca
realizada de forma automática tem permitido aos pressão pelos programas atuais de seleção genética,
nutricionistas a aplicação, em grande escala, dos por isso torna-se uma característica inerente a indi-
programas alimentares construídos com base nos víduos, sendo diferenciada mesmo dentro de uma
cálculos de exigência nutricional diária, as curvas de única linhagem genética tratada com um idêntico
consumo. Essa programação do consumo permite programa nutricional. Estudos nos dão base para
que os nutricionistas trabalhem sobre a curva de tratarmos da alimentação automatizada, que per-
exigência dos animais, pois leva em consideração a mite o fornecimento de quantidades controladas de
taxa de deposição tecidual dos suínos. A precisão do alimento aos grupos de animais, como foi trabalhado
sistema computadorizado permite que se planejem no sistema de cochos lineares e fornecimento manu-
fornecimentos de ração de forma que o consumo de al, no qual se obteve a melhor conversão alimentar,
nutrientes atenda às exigências dos animais e dê se- porém com alta capacidade de expansão em escala,
gurança necessária para que se eliminem as sobras por se tratar de sistema não dependente de grande
de alimento, responsáveis pela geração do consumo volume de ocupação de mão de obra.
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Restrição À vontade
MC IC MC IC
CR, kg/dia 3,24 3,12 3,562 3,455
GPD, kg/dia 0,964 1,01 0,99 1,122
CA, kg/kg 3,36 A 3,09 B 3,60 A 3,09 B
Tabela 2 - Níveis de substituição da energia metabólica (EM) da dieta para suínos machos castrados dos 89
aos 128Kg e consumo diário de ração (CDR), ganho de peso diário (GPD), conversão alimentar (CA), consumo
de energia digestível (CED), espessura de toucinho (ET) e porcentagem de carne magra na carcaça
Níveis de substituição de EM
669
0 5 10 15 20
CDR, kg/dia 3,33 3,54 3,3 3,3 3,52
GPD, kg/dia 0,97 0,99 0,87 0,88 0,87 **
CA, kg/kg 3,42 3,58 3,74 3,8 4,09 L***
CED, Mcal 11,4 11,5 10,1 9,6 9,7 L***
L- efeito linear; **
p< 0,05; *** p<0,001
ET, mmb 30,7 31 31 27,7 28 L*
Carne magra, % 55,7 55,2 56,4 58 57,2 L*
b - ABCS (1973);
L - efeito linear; * p<0,05
Fonte: Adaptado de Fraga et al., 2008
quais isso ocorre precisam ser mais estudados. Esse Tabela 4 – Efeito do tamanho de partícula sobre
o ganho de peso diário (GPD), consumo diário de
sistema de alimentação possui maior dificuldade de ração (CDR) e conversão alimentar (CA) em suínos
na fase de terminação
operação do que o sistema à vontade, no qual o ar-
670 Tamanho da partícula μm
raçoamento é feito de forma manual. Pode ser utili-
28 aos 100kg 1.026 799 645 505
zada em sistemas que adotam alimentação baseado
GPD, kg/dia 0,87 0,86 0,84 0,86
em curva de consumo.
CRD, kg/dia 2,9 2,82 2,57 2,56
CA, kg/kg 3,35 3,28 3,05 3,02
Forma física da ração 52,2 aos 114,8kg 1.000 800 600 400
O processamento dos alimentos fornecidos GPD, kg/dia 0,96 0,94 0,95 0,98
para os suínos tem como principais finalidades: CRD, kg/dia 3,25 3,21 3,26 3,16
alterar a forma física ou o tamanho de partículas, CA, kg/kg 2,95 2,93 2,91 3,10
Fonte: Adaptado de Wondra et al., 1995 e Zanotto et al., 1999
conservar o alimento, aumentar a aceitabilidade e/
ou digestibilidade, modificar sua composição nutri-
cional e eliminar elementos tóxicos. De certa forma, DGM de 509 a 645 micrômetros proporciona uma
todos os tipos de processamento têm por objetivo economia compreendida entre 20 e 27kg de ração
melhorar a eficiência dos animais. por suíno para o mesmo peso e idade ao abate com-
parado ao fornecimento de ração contendo entre
Granulometria 799 a 1.026 micrômetros. Isso se deve ao menor
Uma característica sobre a qualidade do progra- consumo dos animais sem afetar o ganho de peso,
ma de alimentação, simplório, é o tamanho de partí- o que leva à melhor conversão alimentar (tabela 4).
cula (tabela 3). Um tamanho de partícula adequado Quando a partícula passa de 1.000 para 700
permite que as dietas sejam utilizadas com mais efi- micrômetros, a digestibilidade da matéria seca me-
ciência, melhorando o desempenho dos suínos e mi- lhora 20% e a excreção de nitrogênio diminui 24%.
nimizando a excreção de nutrientes. É de esperar que Cada redução em 100mm aumenta a eficiência ali-
a redução do tamanho da partícula aumente a área da mentar em 1 a 1,5%, esse efeito se deve à melhoria
superfície do grão, permitindo maior exposição deste da digestibilidade dos nutrientes.
às enzimas digestivas e aos nutrientes. No entanto, De acordo com os estudos realizados podemos
é preciso buscar um ponto de equilíbrio para obter dizer que, para a fase de terminação, a recomenda-
os resultados esperados; a redução do tamanho das ção do tamanho de partícula está na faixa de 500 a
partículas em excesso pode aumentar a incidência 800 micrômetros (tabela 5).
de úlcera gástrica. Partículas muito finas também
podem formar pontes de ração que dificultam seu Peletização
escoamento em canos e silos. A peletização é um tipo de processamento tér-
O termo granulometria é designado para carac- mico de ração que combina altas temperaturas em
terizar o tamanho dos grânulos de um produto mo- espaços de tempo, com a inclusão de vapor na ração
ído dado pelo Diâmetro Geométrico Médio (DGM). farelada. Geralmente esse processo melhora a di-
O fornecimento de ração contendo milho com gestibilidade da ração pela gelatinização do amido.
Outra vantagem da peletização é diminuir os des- ficiência do ponto de vista de controle individual de
perdícios de ração (pela melhor apreensão da ração consumo, consumo de poucos animais por espaço,
pelos animais e maior densidade), diminuir a pulvi- desuniformidade, é dependente de energia elétrica
671
rolência, diminuir a segregação dos ingredientes da e há muito desperdício.
dieta, aumentar a palatabilidade; essa combinação Como podemos ver na figura 1, apesar do au-
de fatores pode acarretar melhoria de 4 a 8% no ga- mento no ganho de peso final dos animais alimenta-
nho de peso diário e conversão alimentar. dos com o sistema de alimentação automático ser
A desvantagem da peletização é o aumento de maior do que os resultados obtidos com o sistema
custo de produção da ração comparada ao uso da de alimentação manual, a conversão alimentar dos
ração farelada, por isso é importante mensurar os primeiros animais foi pior, o que significa que houve
fatores econômicos ligados ao desempenho zoo- maior consumo de ração nesse grupo para ganhar
técnico dos suínos e custo da peletização da ração um quilo de peso vivo.
antes de optar por ela. A escolha do comedouro adequado tem grande
importância no manejo alimentar de suínos, tanto
Instalações do ponto de vista econômico quanto do ponto de
vista ambiental por evitar o super-arraçoamento
Comedouros dos animais, maximizando o uso de ração para o
A forma de arraçoamento dos suínos pode ser consumo e diminuindo o desperdício, e, consequen-
manual ou automática. O sistema de alimentação temente, o volume de dejetos produzidos.
manual envolve a presença de um ou mais funcioná- Como o comedouro é o recipiente em que a ração
rios para que o arraçoamento dos animais seja feito é oferecida, precisa estar em boas condições físicas,
ao longo do dia. O número de arraçoamentos irá ter o espaçamento adequado para o número de
acompanhar a capacidade dos comedouros, se são animais que irá servir de acordo com o peso vivo do
semiautomáticos ou não, se a alimentação é feita à animal e tipo de arraçoamento (tabela 6), estar posi-
vontade, restrita ou controlada. cionado de modo adequado na baia de forma que to-
A automação é um processo por qual são im- dos os animais consigam acessá-lo simultaneamente.
plantados sistemas para garantir maior rendimento Esse conjunto de fatores contribui para diminuir a
e produtividade. Entre as vantagens relacionadas competição entre os animais e estresse na hora do
com o sistema de alimentação manual estão: baixo arraçoamento, fazendo com que o uso do comedouro
custo por animal alojado, baixo custo operacional, é cumpra sua função de maneira eficiente.
pouco dependente de controles e há possibilidade Entre as opções de comedouros temos: conju-
de uso de grandes grupos. As desvantagens são: ine- gado com bebedouro (para fornecimento de ração
úmida), semiautomático, tipo circular (para o forne-
cimento de ração seca) e comedouros automáticos
CAF: - 6,48% (ração seca ou ração líquida).
Manual PF: 119kg
»» Comedouros circulares:
Ideais para baias grandes, permitindo a alimen-
tação de vários animais devido ao maior número de
Foto 2 – Sistema automatizado de distribuição de ração
bocas e ao ângulo e acesso de 360°; sua colocação no Fonte: ABCS
Tabela 8 – Consumo diário de água (litros) por suíno, de acordo com a composição da dieta
Tabela 9 – Avaliação da qualidade da água para suínos baseada nos sólidos solúveis totais
Densidade de animais
Foto 3 – Bebedouro tipo chupeta
Fonte: ABCS
O número de animais alojados por baia e espaço
destinado a esses animais deve ser respeitado de
Por isso o fluxo de água (litros por minuto) nos acordo com o tamanho dos suínos. Suínos mantidos
bebedouros deve estar bem regulado, a fim de em densidades maiores do que as recomendadas
evitar o consumo inadequado de água. As recomen- podem afetar seu consumo por desvios de comporta-
dações de fluxo em bebedouros tipo chupeta (foto mento; esse quadro se agrava quando os animais es-
3) estão entre 750 a 1.000ml por minuto; a pressão tão mantidos sob estresse térmico (tabelas 10 e 11).
deve ser de 1,5Kgf, o número de animais por bebe- Para cada 3% na redução do espaço, o ganho
douro deve ser de oito a dez; regulagem de altura diário e o consumo diário de ração podem mudar
entre 50 a 80cm (o ideal é estar de 5 a 10cm maior em 1% para suínos criados em piso totalmente
que a altura de cernelha) e conectado a uma curva ripado. O excesso de suínos alojados por baia au-
de 45º em relação à parede da baia. menta a disputa por alimento, os animais menos
competitivos tendem a comer menos e a diferença
de peso entre os animais do lote acaba sendo maior
do que em lotes em que a densidade ideal de ani-
mais é respeitada.
Tabela 11 – Efeito da capacidade da pocilga no crescimento e engorda sobre ganho de peso diário (GPD),
consumo diário de ração (CDR), conversão alimentar (CA) e % de carne magra
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P
ara que a atividade suinícola obtenha sucesso dutividade, rentabilidade e qualidade ambiental
é preciso estar atento ao manejo alimentar e sejam otimizadas.
à alimentação dos animais em todas as fases Este capítulo tem por objetivo abordar o mane-
de criação, mas em especial na fase de terminação, jo alimentar e a alimentação dos suínos de acordo
visto que essa fase, juntamente com a fase de cres- com as variáveis que afetam seu desempenho. É im-
cimento, representa cerca de 75 a 80% dos custos portante ressaltar que essas variáveis podem estar
com ração e 50 a 60% do custo total de produção. agindo de maneira conjunta, porém neste capítulo
Nesse período, os animais consomem grandes faremos a abordagem individual de cada uma delas,
quantidades de alimento e possuem pior eficiência fixando uma variável e considerando que as demais
alimentar, por isso é preciso ter em mente que: ex- estejam de forma regular.
cessos irão acarretar custos exacerbados e maior
poluição ambiental, devido ao desperdício de nu- Fatores que afetam o manejo
trientes nas fezes e que frugalidade, nesse caso, alimentar e sistemas de alimentação
não será sinônimo de economia, pois, dependendo
do modo em que ela for feita, estaremos subesti- Exigência
mando o potencial dos suínos e reduzindo a escala
de produção. Genótipo
Existem duas variáveis que podem afetar o de- Para atender ao mercado consumidor cada vez
sempenho de suínos, as variáveis ligadas às exigên- mais exigente e competitivo, a suinocultura brasi-
cias nutricionais (genética, sexo, status imunológico leira tem investido em melhorias genéticas (tabela
e repartidores de nutrientes) e as ligadas ao padrão 1). Atualmente, as atenções ao melhoramento ge-
de consumo (temperatura ambiental, densidade de nético suíno têm se concentrado em três pontos:
animais, sistema de alimentação, processamento e redução da gordura na carcaça, melhoria da efici-
forma física da ração e instalações). ência alimentar e favorecimento do tecido magro
O manejo alimentar e a alimentação devem ser para maximizar o desempenho dos suínos em ter-
geridos de acordo com essas variáveis para que os minação e na qualidade de carcaça (gráficos 1 e 3).
suínos possam expressar seu total potencial gené- Naturalmente a eficiência dos suínos decresce
tico e produtivo, resultando em sucesso na produ- com o incremento da idade e o aumento de peso
ção. A importância do manejo da alimentação vai do animal. Esse fato está relacionado com a com-
além dos benefícios econômicos e de desempenho, posição corporal do animal de acordo com a idade.
ela também contribui para redução da poluição am- À medida que a idade avança, a proporção entre
biental, uma vez que se maximiza a utilização dos proteína e gordura corporal diminui, a demanda
nutrientes pelos animais e para o bem-estar animal. energética para deposição de gordura é maior do
O desafio é gerir todas as variáveis para que a pro- que para deposição de proteína, desse modo os
Tabela 1 – Evolução das características avaliadas nos testes em estações centrais no Brasil
animais irão consumir maior quantidade de ali- mantêm taxas mais altas de deposição de proteína
mento. A associação desses fatores leva à queda até pesos mais elevados. Associados à alimenta-
da eficiência alimentar. ção adequada esses genótipos refletem em suínos
Existe um ponto máximo de deposição de pro- mais eficientes.
teína corporal de acordo com o peso, depois que As diferenças entre os potenciais de ganho de
esse ponto é atingido haverá uma resposta linear tecido magro (genética) irão refletir em uma nutri-
na taxa de crescimento de carne e gordura apesar ção diferenciada para os diferentes genótipos. Os
do aumento do consumo. Os genótipos com alta suínos com alto potencial de deposição de carne
capacidade de deposição de carne magra atingem magra possuem maiores requerimentos de aminoá-
a máxima deposição de proteína com maior peso e cidos, principalmente a lisina, que é o primeiro ami-
409
1.000 Alto
Ganho de gordura e carne (g/dia)
Baixo/médio
363 potencial de potencial de
ganho em carne
Ganho em carne (g/dia)
ganho em carne
318
272 Gordura
Gordura
227 500
Alta
182 Baixa Carne
Média Carne
136
91
0 1 2 3 0 1 2 3
18 36 55 73 91 109 127
Consumo de alimento (kg/dia)
Peso vivo (kg)
Gráfico 2 - Comportamento da deposição de
Gráfico 1 - Curvas de crescimento em carne de genótipos carne e gordura em genótipos com alto e baixo/
com alto, médio e baixo potencial de deposição de carne médio potencial de deposição de carne
Fonte: Schinkel e Richert (2001) apud Fávero e Bellaver Fonte: Fávero e Bellaver
679
Ingestão de lisina
Gráfico 3 – Relação entre proteína e ingestão de lisina em três genótipos com diferentes potenciais
Fonte: Manual GeneticPorc (2012)
noácido limitante na espécie, e consomem menos do O oposto deve ser adotado para os suínos com
que os animais com baixa deposição proteica. baixo potencial de deposição protéica, uma vez que
Como pode ser visto na tabela 2, linhagens com o consumo desses animais é maior, portanto a ener-
alta deposição proteica consomem menos do que li- gia da dieta precisa estar diluída. Como a energia
nhagens com média e baixa deposição proteica, por é um fator limitante de consumo em suínos, se
esse motivo a dieta formulada para suínos de alto adensarmos a energia da dieta para essa genética,
potencial de deposição proteica na carcaça deve estaremos deprimindo o consumo e, consequente-
ser mais concentrada em energia, uma vez que es- mente, afetando negativamente seu desempenho.
ses animais consomem menos alimento. Deve ha- As tabelas de exigências nutricionais, como
ver essa concentração de energia na dieta a fim de NRC, Tabelas Brasileiras de Aves e Suínos e Natio-
suprir adequadamente a demanda energética, pois nal Swine Nutrition Guide, devem ser usadas como
o consumo inadequado de energia compromete o guia na nutrição de suínos ressaltando-se que hoje
desempenho dos animais e, consequentemente, irá em dia existem os manuais das genéticas presentes
comprometer a deposição de proteína. no mercado, com as especificações técnicas e exi-
Tabela 2 – Exigências nutricionais de Energia e Lisina para fêmeas de acordo com os diferentes potenciais
de deposição de carne magra e de alto potencial genético com vários desempenhos
gências de cada genética em particular, pois, mes- Pode-se perceber que todos esses autores afir-
mo entre as linhagens modernas (de alta deposição mam que após os 60kg a diferença é evidente, logo
proteica), existem diferenças nos requerimentos devemos respeitar as particularidades e diferentes
nutricionais, como ilustrado na tabela 3. exigências entre sexos na hora de planejarmos a ali-
É de suma importância respeitar os limites de mentação desses animais.
aminoácidos e energia na dieta de acordo com a As fêmeas atingem seu platô de capacidade de
genética, uma vez que ela é um fator que diferen- deposição de proteína mais cedo do que os machos,
cia as exigências nutricionais de suínos. Alimentar entretanto machos inteiros apresentam maior taxa
os animais de acordo com as suas genéticas deve de deposição proteica do que fêmeas, que, por sua
ser um procedimento adotado para que o poten- vez, são superiores aos machos castrados. Prova-
cial deles possa ser expressado em sua totalidade, velmente, essa diferença entre os sexos está ligada
o que também contribui para diminuir desperdícios aos hormônios sexuais, qualitativa e quantitativa-
de nutrientes, evitando a contaminação ambiental mente. A ordem crescente para eficiência em depo-
e uso desnecessário da receita. sição de carne magra é: machos castrados, fêmeas
e machos inteiros.
Sexo Machos castrados consomem mais alimento,
Alimentar os suínos em terminação de acordo crescem mais rapidamente, porém possuem uma
com o sexo é tão importante quanto alimentar de pior eficiência alimentar e depositam menor quan-
acordo com a diferença entre as genéticas (tabela tidade de carne magra na carcaça comparativa-
4). Existem quatro diferentes sexos entre os suí- mente à fêmea, que, por sua vez, consome menos
nos: machos inteiros, fêmeas, machos castrados e alimento e possui menor espessura de toucinho.
machos imunocastrados. As diferenças de exigên- Como consequência desse padrão de consumo e
cias nutricionais desses últimos ainda não estão composição de carcaça, machos inteiros e fêmeas
bem evidenciadas, por isso essa revisão irá tratar
3,5
dos três primeiros sexos.
Machos castrados
Segundo vários autores, a diferença no consu- Fêmeas
3
percebida nas fases de crescimento e terminação:
até os 25kg a diferença não é notada, porém na ter-
minação o consumo e a taxa de crescimento che-
2,5
gam a 10%; o efeito do sexo não está evidenciado
na primeira fase do crescimento, as primeiras dife-
renças aparecem a partir dos 30kg; as diferenças
2
entre sexo são visíveis a partir dos 36kg; após os 60 70 80 90 100 110
60kg machos castrados podem comer mais do que Peso kg
fêmeas de 10 a 19% até os 105kg, considerando
Gráfico 4 – Curva de consumo de machos castrados
que as variações no consumo são menores em lotes e fêmeas que consumem uma dieta similar
Fonte: Adaptado de Manual Genetiporc (2012)
separados por sexo (gráfico 4).
serão mais exigentes nutricionalmente do que ma- sexo, estaremos garantindo a adequada ingestão de
chos castrados. nutrientes para que o potencial de cada um possa
As dietas de fêmeas devem possuir maior ser maximizado, tornando a produção mais eficien-
densidade energética, devido ao menor consumo, te. Porém, se a opção for agrupar os animais em sis-
e maiores quantidades de aminoácidos devido à tema misto (machos castrados e fêmeas), devemos
maior deposição de tecido proteico. fazer os ajustes adequados para que nenhum dos
Devido ao menor consumo e à maior taxa de sexos saia prejudicado em termos de desempenho.
ganho de carne magra, fêmeas requerem maiores Uma estratégia para evitar diferentes formula-
níveis de aminoácidos e nutrientes do que machos ções entre os sexos pode ser gerida, alimentando-
castrados, os níveis de aminoácidos ou proporção -se leitoas mais cedo do que machos castrados com
entre aminoácido e energia podem ser maiores de peso corporal semelhante, ou seja, leitoas podem
5% e 15% respectivamente nesse sexo comparati- consumir dietas com alta densidade de nutrientes na
vamente a machos castrados. primeira fase da terminação, seguida por dietas que
Agrupando esses animais de modo que sejam os machos castrados consumiriam na primeira fase.
alimentados separadamente com dietas diferen- Ao abate, as carcaças dos machos castrados
tes, que atendam às exigências nutricionais de cada tendem a ter um pior rendimento do que as de fê-
Tabela 5 – Níveis nutricionais para sistemas separados por sexo e sistemas mistos
meas, que possuem uma carcaça mais enxuta com rativamente a condições de desafios sanitários, logo
menores teores de gordura. Para amenizar esse esses animais serão mais exigentes. Animais criados
problema, no final da fase de terminação, podemos em ambientes com alta exposição a patógenos depri-
682
restringir a alimentação para os machos castrados, mem seu consumo e não crescem adequadamente.
a fim de melhorar o seu rendimento de carcaça. Isso se deve a um mecanismo imunológico responsá-
Como as fêmeas não aumentam muito a sua espes- vel pela diminuição do desempenho dos animais de-
sura de toucinho no final da fase, essa prática não safiados, pois há liberação de citocinas, substâncias
precisa ser aplicada a esse sexo. semelhantes a hormônios, que regulam a resposta
Deve-se manter em mente que a alimentação imune por meio de sinalização intercelular.
separada por sexo é uma boa estratégia alimentar, Em geral, a resposta imunológica a um antíge-
em adicional, o uso do espaço dentro do galpão de no é iniciada pela liberação de uma série de citoci-
terminação também se torna mais eficiente, pois nas que servem como mensageiros a ativa os com-
os machos castrados atingem seu peso de mercado ponentes celulares e humorais do sistema imune;
mais rápido do que as fêmeas, logo suas baias serão nessas condições, os nutrientes são desviados das
desocupadas mais cedo, podendo ser usadas tam- funções produtivas (crescimento de tecido ma-
bém mais cedo, o que permite um maior número de gro) e vão em direção ao sistema imunitário. Es-
animais produzidos com o mesmo espaço. Porém, sas alterações metabólicas aumentam a taxa do
para que essa prática seja aplicada, devemos realizar metabolismo basal, que aumenta a utilização de
as análises econômicas na hora de tomar as decisões. carboidratos e posteriormente aumenta as neces-
sidades de energia.
Status imunológico A glicose é desviada para tecidos periféricos e
Uma das grandes preocupações da suinocultu- para os tecidos responsáveis pela resposta imunoló-
ra moderna é com o controle sanitário das granjas. gica. O desafio imunológico diminui a síntese de pro-
A tendência da intensificação da suinocultura leva teínas e tecidos, aumenta a taxa de degradação de
os produtores a atentarem para medidas de biosse- proteínas e, em parte, como resultado, diminui o con-
gurança, devido ao grande número de animais cria- sumo de ração e há maior necessidade de nitrogênio
dos dentro de um mesmo galpão, já que a exposição para sintetizar produtos imunológicos que talvez pos-
a certo patógeno torna-se um problema sistêmico. sam alterar, em especial, a exigência de aminoácido.
O manejo alimentar nessas situações de contami- Como consequências da baixa síntese e alto ana-
nação deve ser diferenciado para evitar desperdí- bolismo de proteína corporal, além da mobilização
cios de ingredientes e poluição ambiental, além de do nitrogênio para utilização pelo sistema imunoló-
melhorar a performance dos animais nessas condi- gico, teremos animais com carcaças mais gordas.
ções específicas. Por causa da menor ingestão de alimentos e
Compreender o modo como interagem o siste- crescimento, parece razoável sugerir que a quan-
ma imunológico e a nutrição é de suma importância tidade de um aminoácido necessária para suportar
para a formulação de rações, pois essas interações o máximo de crescimento em animais desafiados é
podem afetar a produtividade animal. Podem afetar menor do que a exigência para animais saudáveis,
a produtividade animal de duas maneiras: a resposta e que o estresse imunológico pode alterar não so-
imune ao micro-organismo reduz o crescimento e al- mente a exigência de aminoácidos, mas também
tera o metabolismo de maneira tal que as exigências o perfil de aminoácidos relativos à lisina. Alguns
de nutrientes são reprimidas e/ou a nutrição pode ingredientes possuem propriedades especiais no
cumprir a imunocompetência dos animais e, assim, sistema imunitário, podendo ser incluídos nas die-
sua resistência às doenças infecciosas. tas ou adicionados em proporções maiores para
Em condições sanitárias adequadas, os suínos cumprir funções no sistema imunológico dos suínos
irão produzir mais e de maneira mais eficiente compa- quando esses animais estão em desafio sanitário.
100 Consumo/
Metionina, arginina, glutamina e possivelmente Ganho de peso
Resposta relativa
que são exigidos em maiores quantidades durante
Temperatura
683
uma resposta imune; a arginina é um precursor di- do corpo
Tabela 8 – Efeito da temperatura no consumo Tabela 10 – Ganho de peso diário (GPD), consumo
diário de ração diário de ração (CD) e conversão alimentar (CA)
em suínos machos castrados dos 87 aos 113Kg
Faixa de Variação no mantidos em estresse por calor, consumindo
temperatura consumo Peso vivo, kg dietas com diferentes níveis de inclusão de óleo e
684 proteína bruta (PB)
estudada voluntário
20-27,3oC 39g/dia 35-90kg1 Óleo 1% 8%
20–30oC 65 a 74g/dia 45-85kg2 PB 11,3 13,6 11,3 13,6
19–29oC 77g/dia 75kg3
GPD,
Fonte: Adaptado de Fialho et al., 2001 (1Rinaldo et al. (2000), 0,58 0,54 0,59 0,62
2
Nienaber e Hahn (1983), Quiniou et al. (2000)
3 kg/dia
CD,
2,2 2,14 2,06 2,16
kg/dia
o melhor a fazer é aumentar o IC, e o contrário para
CA,
temperaturas acima da TCS. 2,5 2,5 2,9 2,9
kg/kg
No estresse por frio é preciso incluir na dieta Fonte: Adaptado de Spencer et al., 2005
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A
conversão alimentar ainda é o parâmetro Níveis nutricionais e programa
mais utilizado para avaliar o desempenho de rações por fases
dos animais, principalmente nas fases de O desempenho adequado dos animais, verifi-
recria e terminação. Embora deva ser considera- cado por índices zootécnicos como ganho de peso e
do o custo de produção, a conversão alimentar, conversão alimentar, depende do nível nutricional
definida pela quantidade de ração necessária para utilizado.
produzir um quilograma de carne, é utilizada am- As Tabelas Brasileiras para Aves e Suínos tra-
plamente por sua relação com o ganho de peso e o zem as recomendações dos níveis nutricionais para
consumo de ração, fortes indicadores de desempe- suínos de diferentes sexos e em diferentes idades,
nho e eficiência. e podem servir como parâmetro para definição do
Atualmente, existe uma tendência de elevar plano nutricional. Variáveis como potencial gené-
o peso de abate dos animais, principalmente pelas tico, temperatura ambiental, instalação e peso de
agroindústrias, que necessitam produzir suínos abate devem ser considerados.
com maior peso, de modo a maximizar a produtivi- Um programa nutricional que contemple dife-
dade da planta frigorífica, com menor número de rentes rações ao longo do crescimento dos animais
matrizes alojadas. permite ajustes de acordo com as exigências nutri-
Suínos mais pesados, por sua vez, apresentam cionais, reduzindo o intervalo em que ocorre sobra
piora significativa nos resultados zootécnicos, prin- ou deficiência de nutrientes. Essa estratégia per-
cipalmente em conversão alimentar, devido à redu- mite maior eficiência no uso dos nutrientes pelos
ção na taxa de deposição de carne magra e aumento animais, melhorando a conversão alimentar.
na deposição de gordura. O uso de dietas com alta energia e o objetivo de
O uso de genéticas selecionadas para maior melhorar o desempenho e a conversão alimentar de
deposição de tecido magro e tecnologias como suínos tem sido bastante adotado como estratégia
a imunocastração e beta-adrenérgicos têm sido nutricional, principalmente quando se encontra dis-
amplamente utilizados, mas existem vários fatores ponível a um custo interessante.
práticos que devem ser considerados na melhoria Avaliando o impacto de dietas isoproteicas
da conversão alimentar do rebanho, entre eles o ní- com alta energia, verificou-se um efeito positivo
vel nutricional das dietas, programas diferenciados sobre o desempenho de suínos machos inteiros
por sexo, controle adequado do arraçoamento, uso com peso final de 100kg, com melhora de 440
da restrição alimentar, processamento da ração, gramas na conversão alimentar quando se variou
qualidade das matérias-primas, além do ambiente e de 3.200 para 3.575kcal de energia digestível
status sanitários dos animais. (tabela 1).
Tabela 1– Efeito dos Níveis de Energia sobre o Desempenho de Suínos Machos Inteiros entre 60 e 100kg
do amido, aumentando sua susceptibilidade à ação penho dos animais. Alimentos fibrosos ou de baixa
das enzimas digestivas, e da redução do desperdí- digestibilidade, ou alimentos ditos alternativos, que
cio, uma vez que reduz a formação de pó e a segrega- visem reduzir custo da ração, possuem normalmen-
ção de nutrientes. te fatores antinutricionais que acabam impactando
A qualidade do pellet, porém, é fundamental. Uma negativamente sobre a conversão.
ração mal peletizada, com alto teor de finos, apresenta
resultados semelhantes aos da ração farelada, com os Considerações finais
custos adicionais do processo de peletização. Sabendo-se da importância da conversão
A alimentação líquida é uma alternativa que alimentar na viabilidade econômica do “negócio
vem sendo aplicada com eficiência, apresentando suínos”, estratégias devem ser aplicadas visando ao
resultados de ganho de peso e conversão alimentar controle desse parâmetro nos sistemas produtivos.
bastante interessantes. Pela forma física que é ofere- Embora tenhamos efeitos do peso de abate,
cida, permite ter reduzido desperdício de ração, com linhagens genéticas e condições sanitárias, não
controle adequado de arraçoamento, de acordo com podemos esquecer dos aspectos práticos, muitas
as exigências nutricionais e a curva de alimentação vezes ligados diretamente ao sistema de produção,
projetada para a idade e potencial dos animais. como instalações, sistemas de alimentação, progra-
Vale lembrar ainda que a seleção e controle ma de arraçoamento e qualidade da ração ofertada.
das matérias-primas utilizadas na formulação são A busca da eficiência e a excelência começam
fundamentais para a obtenção de o bom desem- em casa.
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A
alimentação líquida para suínos começou economizada, da melhora na conversão alimentar e
a ser utilizada em larga escala na Europa, e do valor médio das dietas.
é definida pela mistura de ração ou subpro- Com o atual cenário de custos dos principais
dutos secos com água ou subprodutos líquidos. Nos insumos para produção de suínos no Brasil, faz-se
sistemas computadorizados, existentes no mer- necessário o aproveitamento de todas as tecno-
cado, a mistura é feita em tanques e bombeada por logias disponíveis para otimizar a produção, o que
tubulações até os cochos. torna o sistema de alimentação líquida importante
O sistema proporciona diversas vantagens, ao planejar novos investimentos e até mesmo ao
dentre as quais se destacam a economia com ração substituir sistemas de distribuição de ração que não
(menor desperdício e/ou uso de subprodutos bara- conferem tanta precisão (que geram desperdícios
tos ), melhor aproveitamento da mão de obra, me- somados à falta de informação).
lhor digestibilidade e garantia do fornecimento da
quantidade adequada de ração segundo as curvas Instalação do sistema
de crescimento dos suínos em recria e terminação.
A figura 1 mostra o esquema de um sistema de ali- Comedouros
mentação líquida. Durante a implantação de um sistema de ali-
Economicamente viável, o sistema possui inves- mentação líquida, é importante prever atenção
timento inicial maior se comparado com o de dieta especial aos comedouros, que são fundamentais
seca, contudo, o retorno se dá em pouco tempo, para atingir os resultados esperados. Os melhores
sobretudo por meio da redução no desperdício resultados se encontram em projetos que disponi-
da ração e melhor digestibilidade, que aprimoram bilizam espaço suficiente para todos os animais se
a conversão alimentar. O período de retorno do alimentarem ao mesmo tempo, e, por isso, precisam
investimento dependerá da quantidade de ração ser necessariamente do tipo canaleta.
Nas fases de recria e terminação (alojamento a
partir de 64 ou 71 dias de idade e permanência até a
saída para o abate, com 150 ou até 175 dias), o me-
lhor é que sejam disponibilizados 0,35m de cocho
linear para cada cevado, quando o objetivo de venda
for de até 105kg de peso vivo, e 0,40m por animal,
quando a meta for superior.
O acesso aos comedouros para a correta ali-
mentação é fundamental para o desenvolvimento
ideal dos animais, portanto, é importante respeitar
Figura 1 – Esquema de sistema de
arraçoamento de dieta líquida a densidade da baia, 0,9 a 1,2m² por cabeça (regra
FONTE: AUTOR geral de 1,0m² para cada 100kg de peso vivo em
Profundidade e altura do
comedouro em relação ao solo
A profundidade do comedouro precisa de
692
adequadção, pois está diretamente ligada ao
número de tratos diários. Quanto menor a fre-
quência de arraçoamento, maior a necessidade
do reservatório para acondicionar a mistura de
ração com água, pois a máquina fornece exata-
mente a quantidade determinada pela tabela de
arraçoamento, de acordo com os dados de idade
e número de animais na baia. Conforme exemplo
Foto 1 – Consumo simultâneo durante o de curva de arraçoamento que contempla 2,24kg/
arraçoamento da dieta líquida animal/dia aos 123 dias de idade, numa baia com
FONTE: AUTOR
50 cabeças e relação água e ração de 2,45:1, po-
baias com piso parcialmente ripado). As fotos 1 e 2 demos encontrar as duas situações:
ilustram animais consumindo ao mesmo tempo em
comedouro com comprimento adequado. a. Exemplo de cálculo com três tratos diários:
A válvula irá liberar 112kg de ração + 274,4L de
Comprimento do comedouro por válvula água (relação 2,45:1) = 386,4kg de ração com água
Uma das especificações que precisam ser res- por dia, divididos em três tratos, ou seja, 128,8kg
peitadas e influenciam diretamente no custo da da mistura por vez. Portanto, o comedouro preci-
implantação do projeto diz respeito ao número de sará ter capacidade para acondicionar 128,8kg da
válvulas para liberação da mistura de ração com mistura. Considerando uma margem de segurança
água nos comedouros. Esse número varia de acordo de 30% (para, por exemplo, contemplar a inserção
com a empresa responsável pela automação, mas a dos 50 focinhos entrando no comedouro ao mesmo
relação com maior sucesso, observada nos sistemas tempo), o comedouro precisa ter capacidade para
instalados no Brasil, é de 11 metros de comprimen- acondicionar 167,4L.
to linear de comedouro canaleta para cada válvula
de distribuição. Tal fato não é regra, haja vista que b. Exemplo de cálculo com quatro tratos diários:
existem projetos eficientes também, instalados com Já nesta situação, a válvula irá liberar os mesmos
até 18 metros de comedouro por válvula. 112kg de ração + 274,4L de água (relação 2,45:1)
Essa especificação impacta diretamente na qua- = 386,4kg de ração com água por dia, divididos em
lidade do alimento que chegará aos animais alocados quatro tratos, ou seja, 96,6kg, portanto o comedouro
nas extremidades dos comedouros, pois pode ocor- precisará ter capacidade para acondicionar 96,6kg
rer decantação das partículas sólidas e, consequen- da mistura. Considerando a margem de segurança de
temente, uma heterogeneidade da mistura. 30%, o comedouro precisa ter capacidade para acon-
dicionar 125,6L.
Em relação à declividade do solo, a fim de
facilitar o acesso dos animais aos comedouros,
dificilmente poderá ultrapassar os 2,5% para
que os animais alocados nas extremidades não
tenham dificuldade pela elevação da lâmina de
trato, pois o comedouro precisa ficar nivelado a
Foto 2 – Consumo simultâneo durante o 0º. A foto 3 evidencia a importância da correta
arraçoamento da dieta líquida
FONTE: AUTOR declividade.
Curvas de arraçoamento
Qualidade dos leitões no alojamento A alimentação líquida permite a implantação de
O desempenho da fase de terminação possui várias curvas de acordo com o desempenho de cada
uma forte correlação com a qualidade dos leitões baia, além de possibilitar a rápida intervenção (ajus-
que entram na terminação. te de quantidade) para corrigir alguns desvios de
Tabela 1 - Consumo proposto para animais com peso médio de entrada de 23 kg aos 63 dias de idade
Ex. curva: 7 Leitões com peso vivo entre 23kg aos 63 dias de idade
Idade Seg Ter Qua Qui Sex Sáb Dom Semana Consumo acumulado
63 1,25 1,3 1,3 1,35 1,35 1,4 1,45 9,4 9,4
70 1,45 1,5 1,55 1,55 1,55 1,6 1,6 10,75 20,15
77 1,65 1,65 1,7 1,7 1,75 1,75 1,8 12 32,15
84 1,8 1,85 1,9 1,9 1,95 1,95 2,05 13,40 45,55
91 2,05 2,1 2,1 2,15 2,15 2,2 2,2 14,95 60,5
98 2,25 2,25 2,3 2,3 2,3 2,35 2,35 16,1 76,6
105 2,35 2,4 2,4 2,45 2,45 2,5 2,5 17,05 93,65
112 2,5 2,55 2,55 2,55 2,6 2,6 2,6 17,95 111,60
119 2,6 2,6 2,6 2,6 2,6 2,6 2,6 18,2 129,80
126 2,6 2,6 2,6 2,6 2,6 2,6 2,6 18,2 148
133 2,6 2,6 2,6 2,6 2,6 2,6 2,6 18,2 166,2
140 2,6 2,6 2,6 2,6 2,6 2,6 2,6 18,2 184,4
147 2,6 2,6 2,6 2,6 2,6 2,6 2,6 18,2 202,6
154 2,6 2,6 2,6 2,6 2,6 2,6 2,6 18,2 220,8
Metas zootécnicas - Curva 7
Idade entrada 63 dias
Peso entrada 23kg
Idade saída 161 dias
Peso saída 120kg
GPD fase 0,99
CA fase 2,276
Fonte: Adaptado do manual técnico Weda do Brasil Ltda.
2,75
694 2,60
2,55 2,55
2,50
2,45
2,35 2,35
2,30 2,35
2,25
2,20
2,15 2,15
2,10
2,05
1,95 1,95 2,00
1,90
1,85
1,75 1,75 1,80
1,70
1,65
1,60
1,55 1,55
1,50
1,55
1,40
1,35 1,25 1,35
1,30
1,20
1,15 1,15
1,10
1,00
0,95
0,80
0,75
101
103
105
107
109
111
113
115
117
119
121
123
125
127
129
131
133
135
137
139
141
143
145
147
149
151
153
155
157
159
63
65
67
69
71
73
75
77
79
81
83
85
87
89
91
93
95
97
99
ganização das tarefas diárias das equipes de traba- diária dos cochos.
lho da granja em função dos horários pré-definidos. Na alimentação líquida, é possível acompanhar as
Uma máquina, independentemente das marcas consequências de mudanças de formulário de forma
695
existentes no mercado, trabalha bem com três tratos mais direta! Num curto espaço de tempo, um a dois
para até aproximadamente 9.000 animais (conside- dias, a resposta visual do lote se torna mais evidente.
rando os 11m de comprimento linear de comedouro
por válvula, e o espaço necessário de 0,35 a 0,40m 3. Proporção de mistura água e ração
por cabeça), esta realizará os três ciclos em cerca Tanto o volume disponível quanto a qualidade
de 20 horas diárias. A viabilidade do quarto trato da água fornecida para a alimentação líquida devem
normalmente depende do tamanho do sistema e dos ser sempre considerados para o bom funcionamen-
animais alojados. Para que a adição do quarto ciclo to do sistema.
de arraçoamento seja viável, o número de animais A maioria dos sistemas vem calibrada de fábrica
alojados não pode ultrapassar 6.500. Nesse caso, a com a diluição de ração na proporção de 2,6 litros de
solução se dá pela inclusão de mais um conjunto de água para cada 1,0kg de ração. Na maior parte dos
tanques para preparação da mistura. casos, é a melhor proporção, tanto para o bom fun-
A foto 4 mostra uma instalação com sistema de cionamento do sistema quanto para a capacidade
alimentação líquida preparada para a recepção dos de ingestão dos animais de acordo com cada idade.
animais. A relação, 2,7L de água para cada 1,0kg de 100%
MS é também a melhor para as reações metabólicas
Cuidados práticos de manejo que compõem a bioquímica da digestão das aves e
com a alimentação líquida mamíferos.
Alguns pontos importantes, de ordem prática, Todavia, devido principalmente a aspectos
que devem ser observados no dia a dia de uma gran- como a distância entre os galpões e a sala de má-
ja com automação do arraçoamento líquido. quinas do sistema (comumente chamada de “co-
zinha”), a granulometria e componentes da dieta,
1. Limpeza da tubulação e tanques de mistura existem projetos funcionando com quantidade de
de ração água com variação de 2L a até 3,3L de água para
Em sua operação, o sistema de alimentação cada 1,0kg de ração.
líquida tem que disponibilizar tempo hábil para A inclusão de água é um fator muito importante,
limpeza diária de todo o circuito após os tratos, para pois tem impacto direto na limitação de consumo,
evitar que resíduos de ração fiquem dentro da tubu- haja vista que ocupa espaço no estômago dos ani-
lação e tanques de mistura. Com objetivo de evitar mais. Alguns sistemas de alimentação líquida insta-
a formação de microfilme dentro do tanque, alguns lados na região Centro-Oeste do Brasil fazem uso
equipamentos disponibilizam um acessório que faz de maior inclusão de água para restringir o consumo
uso da luz ultravioleta para evitar a proliferação de nos últimos dias.
bactérias dentro do tanque, assim como um sistema
anexo de limpeza alcalina, que utiliza subprodutos 4. Granulometria da dieta
como soro de leite. Quando se utiliza ração com milho seco, o me-
lhor é moê-lo com a peneira de 2 a 2,5mm, para gerar
2. Palatabilidade da ração um DGM de 0,55mm. Além de facilitar a mistura,
Nessa fase, os animais são menos exigentes evita que os animais selecionem as matériasprimas
quanto à palatabilidade da ração, mas, na prática, dentro dos comedouros.
observa-se que toda mudança brusca de matéria- Nos sistemas que utilizam silagem de milho
prima pode provocar alteração no consumo, fato úmido, a moagem do grão (com umidade entre
que pode e deve ser controlado pela observação 30 e 32%) em partículas de 0,4 a 0,5cm pro-
porciona boa fluidez do alimento pelo sistema, 6. Avaliação diária e limpeza dos comedouros
além de ser suficiente para evitar segregação A avaliação diária dos comedouros é muito
nos comedouros. importante para o funcionamento do sistema, pois
696
permite fazer os ajustes necessários de cada válvu-
5. Amostragem e calibração do sistema la, restringindo ou aumentando o fornecimento da
Uma maneira de conferir se a quantidade for- mistura, haja vista que, além do comportamento de
necida em cada válvula está de acordo com a curva cada baia (devido principalmente à sua uniformidade
cadastrada no sistema é a realização da coleta total na entrada do grupo), vários fatores podem alterar o
e pesagem de toda a mistura de ração com água consumo, como temperatura ambiente, troca e/ou
liberada por determinada válvula durante o trato. É inclusão de novas matérias-primas, idade e peso dos
interessante que as coletas sejam feitas pelo menos animais, enfermidades etc.
em três posições, no início, meio e final do circuito A sobra de ração do trato anterior (que normalmen-
de arraçoamento. Caso existam diferenças, os pro- te, após intervalo de seis horas, já estará inapropriada
blemas podem estar relacionados com vazamentos para consumo) e/ou o acúmulo de fezes nos comedou-
de ar ou mesmo com as membranas das válvulas ros podem causar restrição de consumo, por isso a
antecedentes às coletas. limpeza dos comedouros é também muito importante
Caso o objetivo seja a conferência dos níveis para o bom funcionamento do sistema. A instalação de
nutricionais formulados, é interessante que o ma- divisórias para delimitação do espaço de cada animal,
terial coletado seja secado e enviado para análise. O bem como a fixação de adornos para distração dos
mesmo pode ser feito com a coleta da mistura pron- animais nas regiões próximas às saídas das válvulas e
ta no tanque de agitação, antes de ser destinada ao extremidades dos comedouros, ajuda bastante a evitar
arraçoamento pelo circuito. que os animais defequem e urinem nos cochos.
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A
imunocastração criou um novo paradigma na
produção suína, pois elimina de modo seguro
=
e eficaz a presença das duas principais fontes
do odor de suíno macho inteiro (androstenona e es-
Análogo GnRF Proteína
catol), sem necessidade de castração cirúrgica. Adi- modificado carreadora
Conjugada
GnRF-proteína
cionalmente ao controle do odor de macho inteiro, (antígeno)
a imunocastração possibilita aos suínos manterem »» O análogo GnRF, assim como GnRF natural, é
as características naturais de crescimento de um muito pequeno para ser imunogênico;
macho inteiro, evita as preocupações de bem-estar »» Ele precisa ser acoplado covalentemente a uma
associadas com a dor e estresse da castração cirúrgi- proteína carreadora para aumentar seu tamanho
e imunogenicidade;
ca e modifica o comportamento agressivo nos suínos
»» A modificação e acoplamento à proteína
sexualmente maduros, para favorecer ainda mais o
carreadora elimina todo o GnRF ou neutraliza
pleno potencial de crescimento. toda sua aticidade.
E como a castração imunológica afeta os pa-
Figura 1 – Representação esquemática da produção do
râmetros de produção? É muito simples, ela não antígeno conjugado de imunocastração. A conjugação
afeta. A imunocastração é um método de castração do análogo GnRF com uma proteína carreadora aumenta
seu tamanho e suas propriedades antigênicas
que simplesmente controla o odor de macho in- Fonte: Autores
699
»» 4-5 semanas após a primeira dose;
Idade em
semanas
3 6 9 12 15 19-20 24
gicamente. A castração cirúrgica remove a fonte tos níveis de anticorpos anti-GnRF. A segunda dose
dos fatores de crescimento natural dos suínos produz altos níveis de anticorpos anti-GnRF que
machos logo no começo da vida, resultando, dessa neutralizam o GnRF natural do animal e temporaria-
forma, em diminuição da eficiência de crescimento mente inibem a função testicular. A figura 2 mostra
e menor deposição de tecido magro. De modo con- um exemplo de protocolo de imunocastração, no qual
trário, o uso da imunocastração na parte final do o animal estará livre dos odores de macho inteiro
ciclo de produção para controlar o odor de macho ao abate. Quando esse protocolo ou outro similar é
inteiro previne a ocorrência dessas perdas de pro- usado, o pico da concentração de anticorpos se dá
dução, permitindo maiores lucros. de sete a dez dias após a segunda dose de imunocas-
A vacina para imunocastração atua como uma tração, como mostrado no gráfico 1. Depois disso, os
vacina clássica, pela imunização, e sem atividade níveis de anticorpos declinam gradualmente. Se por
hormonal ou farmacológica. A vacina estimula o qualquer razão o abate for atrasado para mais de sete
sistema imune do suíno a produzir anticorpos con- semanas após a segunda dose, existe o risco de vir a
tra seu GnRF natural (figura 1), produzindo, assim, ter reacúmulo de odor nesses animais.
a castração imunológica temporária para prevenir O triângulo à esquerda mostra o intervalo de
o odor de macho inteiro. A neutralização do GnRF tempo possível para a primeira dose. A segunda
também resulta em uma supressão temporária dose deve ser planejada para cerca de quatro a cin-
da função testicular e dos sinais associados com co semanas antes da data prevista para abate.
a maturidade sexual, incluindo fertilidade, libido A primeira dose sensibiliza o sistema imune,
e agressividade, que ocorrem à medida em que o mas não estimula níveis efetivos de anticorpos
suíno macho atinge a puberdade. GnRF. A segunda dose estimula a produção de al-
Os compostos do odor de macho inteiro (an- tos níveis de anticorpos GnRF que neutralizam o
drostenona e escatol) já presentes no suíno antes GnRF natural do suíno, inibindo temporariamente
da vacinação são rapidamente metabolizados e a função testicular.
eliminados do organismo, deixando o animal livre Com a administração da segunda dose de imu-
de odor no momento do abate. nocastração em quatro a cinco semanas antes do
A primeira dose da vacina sensibiliza o sistema abate, os machos inteiros seguramente estarão
imune do suíno, mas não estimula a produção de al- livres de compostos do odor de macho inteiro.
testosterona e a androstenona. Os esteroides tes- ciona amplo período de tempo para o abate após a
ticulares também impedem o clearance hepático de eliminação natural dos compostos do odor de ma-
escatol, resultando em concentrações aumentadas cho inteiro já presentes nos tecidos. Desse modo,
701
de escatol no tecido gorduroso (figura 4, 5A). no momento do abate, os suínos vacinados estão
A imunização com imunocastração produz an- livres do odor de macho inteiro. A tabela 1 mostra
ticorpos GnRF que neutralizam o GnRF produzido as concentrações de androstenona e escatol em
naturalmente pelo suíno. A neutralização do GnRF intervalos semanais de duas a oito semanas após
previne a liberação dos hormônios intermediários a imunização, medidas durante os estudos para
LH e FSH, e, dessa forma, interrompe a função tes- registro de imunocastração. O efeito começa
ticular (figura 4, 5B). em cerca de duas semanas após a segunda dose,
A primeira dose de imunocastração sensibi- com a plena supressão da androstenona e escatol
liza o sistema imune do macho inteiro, mas não ocorrendo em quatro semanas após a imunização.
produz níveis protetores de anticorpos GnRF. Os As concentrações de androstenona e escatol, per-
testículos permanecem com o tamanho normal maneceram completamente suprimidas em suínos
(figura 4, 5C). abatidos em seis ou oito semanas após a imuniza-
Após a segunda dose de imunocastração, ção com imunocastração. De modo contrastante,
os altos níveis de anticorpos GnRF previnem a no intervalo de oito semanas, 42% dos machos
secreção de LH e FSH. Os testículos param de inteiros controles tinham níveis de androstenona
crescer e, em alguns casos, diminuem dramatica- acima dos limiares sensoriais, e 11% tinham con-
mente de tamanho; a síntese de esteroides testi- centrações de escatol acima do nível sensorial.
culares, incluindo a testosterona e a androsteno-
na, é inibida (figura 4, 5D). Efeitos sobre a função testicular
Na ausência de esteroides testiculares, o Ficou demonstrado que a produção testicular
clearance de escatol pelo fígado aumenta. A con- de testosterona consistentemente diminui 90%
centração tecidual de androstenona e escatol, ou mais dentro de duas semanas após a imunização
contribuintes primários para o odor de macho com duas doses da vacina. Além disso, o tamanho
inteiro, declina a níveis insignificantes dentro de dos testículos e sua visibilidade no escroto são
duas semanas. Além disso, diminuem a libido e o muito reduzidos em comparação com os machos
comportamento agressivo associados com os es- não imunizados (foto 1).
teroides testiculares (figura 4, 5E). Os testículos em machos vacinados são reti-
O efeito da vacina é temporário, durando cerca dos no alto do escroto e são menos proeminentes,
de sete a oito semanas. Entretanto, isso propor- o que fornece um indicador visual da eficácia do
703
8
Escores (10 - mais favorável)
2 Castrados
Imunocastrados
Fêmeas
0
Odor Sabor Aceitabilidade Geral
Testes
Gráfico 1– Teste de consumidores que desconheciam a identidade dos grupos de teste apresentou
escores médios para odor, sabor e aceitabilidade geral que foram tão bons para os machos vacinados
com imunocastração quanto para os suínos castrados cirurgicamente ou fêmeas
Fonte: Autores
proveniente de suínos machos castrados, machos estudos demonstraram que os machos inteiros
vacinados para imunocastração e leitoas, todos que recebem a vacina para imunocastração apre-
com peso variando entre 100-105kg (gráfico 1). sentam as seguintes vantagens sobre os castrados
O teste determinou que o odor, o sabor e a aceita- cirurgicamente:
bilidade geral da carne de machos vacinados com »» Menores exigências alimentares para pro-
imunocastração foram indistinguíveis daquela de duzir o mesmo peso de carcaça;
suínos castrados e fêmeas. O mesmo estudo mos- »» Menos gordura do que os suínos castrados;
trou que o escore sensorial médio para os machos »» Alta taxa de crescimento ao longo de toda a
não imunizados com peso de mercado foi pior (me- fase de crescimento (GPD – Ganho de Peso
nos favorável) do que para leitoas e machos que Diário), o que pode resultar em crescimento
receberam a vacina. mais rápido ou em carcaças mais pesadas
em idades comparáveis.
Conversão alimentar, crescimento Se os machos inteiros são criados até o início
e qualidade da carcaça: benefícios da puberdade (aproximadamente 16 a 17 semanas
da imunocastração de idade), suas vantagens metabólicas naturais
Embora eliminar o odor de macho inteiro sobre os castrados são progressivamente neutra-
seja o objetivo primário da imunocastração, seu lizadas pelos efeitos negativos da agressividade
uso também permite aos suínos machos inteiros aumentada e comportamentos sexuais, os quais,
serem criados de uma maneira que pode resultar por sua vez, diminuem a ingestão alimentar, gas-
em melhor taxa de crescimento em comparação tam mais energia e reduzem a taxa de crescimento
com os castrados cirurgicamente ou machos não a nível abaixo do potencial ótimo.
imunizados. Isso porque se permite ao suíno ma- Ao reduzir a produção de testosterona e os
cho inteiro expressar seu pleno e natural potencial comportamentos sexuais na parte final do ciclo
de crescimento durante o período de engorda. Os de produção, o problema é superado, resultando
em aumento do ganho de peso diário nas semanas rias no crescimento em machos imunocastrados
seguintes à segunda dose. Um estudo australiano foram particularmente evidentes nas carcaças
(tabela 3) avaliou o desempenho de crescimento mais pesadas no abate.
704
em machos vacinados para imunocastração versus Após as duas doses recomendadas no esque-
machos inteiros controles e castrados (n = 100 em ma de imunização, os machos que receberam a
cada grupo). Metade dos suínos nesse estudo foi vacina consistentemente cresceram melhor do
abatida com 23 semanas de idade e a outra metade que os machos inteiros não imunizados, porque
com 26 semanas, com GPD e conversão alimen- a imunocastração controla a agressividade e os
tar sendo medidos apenas nas últimas quatro comportamentos sexuais que os machos inteiros
semanas do período de engorda após a segunda tipicamente demonstram da metade para o final
dose. Conforme mostrado anteriormente, nas da puberdade (aproximadamente 19 a 21 semanas
quatro semanas após a imunização completa, os de idade). O efeito dos comportamentos agressi-
machos vacinados apresentaram GPDs significa- vos e sexuais é diminuir a ingestão alimentar para
tivamente melhores do que os machos inteiros não níveis abaixo do normal. A vacinação permite que
imunizados ou castrados cirurgicamente e, o que a ingestão alimentar retorne aos níveis ótimos,
é importante, uma conversão alimentar significa- aumentando a velocidade de crescimento após a
tivamente melhor em comparação com os castra- segunda dose.
dos cirurgicamente. Os imunocastrados também
tiveram menor espessura de toucinho no ponto P2 Efeitos sobre a composição da
comparados aos castrados cirurgicamente. carcaça – produção de carne magra
Devido à produção de gordura requerer Os estudos demonstraram que a porcenta-
maior ingestão alimentar do que a produção de gem de carne magra em machos imunizados é
carne magra, proporcionalmente a menor depo- comparada à de machos não imunizados e supe-
sição de gordura em suínos imunocastrados indu- rior àquela de machos castrados cirurgicamente.
bitavelmente contribuiu para a melhor conversão Por exemplo, um estudo independente conduzido
alimentar. Os resultados indicaram que as melho- no Sudeste Asiático comparou vários parâmetros
Tabela 3 – Parâmetros de desempenho de crescimento nas últimas quatro semanas pré-abate em machos
que receberam imunocastração, machos controles e castrados cirurgicamente abatidos com 23 ou 26
semanas de idade
20 Machos inteiros
Tabela 5 – Médias do desempenho de crescimento Imunocastrados
e composição da carcaça em machos vacinados 15 Castrados cirurgicamente
com imunocastração e suínos castrados
cirurgicamente 10
Grupos de teste 5
Castrados Imuno
Fatores de 0
cirurgicamente castrados
desempenho 17 semanas 21 semanas
(N=263) (N=270)
Ganho de peso Idade dos suíno
0,817a 0,827a Gráfico 4 – Um estudo com 180 suínos mostrou que
diário (kg)
os machos imunizados com imunocastração entre 14 e
Carne magra 18 semanas de idade apresentaram significativamente
(% do peso da 53,76a 54,50b menos comportamentos agressivos em comparação
carcaça) com machos não imunizados (P < 0,01). Após a segunda
dose, os episódios de agressão em machos vacinados
ab
Diferentes sobrescritos na mesma linha indicam diferença com imunocastração foram semelhantes ao número em
estatisticamente significativa (P < 0,05) castrados cirurgicamente com 21 semanas de vida
Fonte: Autores Fonte: Autores
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N
a suinocultura industrial, um dos fatores cos caminhos para viabilização do setor, que ainda
que mais contribuem para a elevada produ- deve atender às demandas dos consumidores
tividade é o uso dos aditivos. De acordo com quanto à qualidade sensorial e à segurança de seus
a legislação brasileira, Decreto nº 76.986, de 6 de produtos.
janeiro de 1976 – art. 4º, item VII, que regulamenta Nesse cenário, a evolução da cadeia e dos seus
a Lei nº 6.198, de 26 de dezembro de 1974, o termo índices é intensa. Novos produtos genéticos, ma-
aditivo inclui todas as substâncias adicionadas às nejos, condições ambientais, aditivos, ingredientes
rações com a finalidade de conservar, intensificar ou alimentares e conceitos nutricionais se renovam,
modificar suas propriedades, desde que não preju- ao mesmo tempo em que permanecem latentes os
dique o seu valor nutritivo. desafios sanitários. Também alguns fatores ine-
Outras definições contemplam que os aditivos rentes à cadeia, como a inevitável concentração
não têm a função de atender às propriedades nutri- dos animais nas granjas, a precocidade produtiva
cionais dos animais, mas ampliam essa caracteriza- e os padrões de desenvolvimento continuamente
ção, atribuindo que esses podem cumprir as funções superiores, são questões que mantêm os riscos de
de nutrientes, pró-nutrientes, condicionadores e enfermidade em níveis bastante elevados.
profiláticos. O papel dos aditivos, nesse complexo desafia-
Assim, diante da diversidade de ações que os dor e exigente, quer atuando na minimização dos
aditivos detêm, são classificados em dois grandes problemas sanitários, quer melhorando aspectos
grupos: nutricionais (aminoácidos e vitaminas zootécnicos e as características de carcaça e carne,
sintéticas) e não nutricionais. Na primeira classe é extremamente importante, por assegurar avanços
de aditivos, algumas atividades específicas são que podem representar a viabilidade do segmento.
priorizadas, como é o caso dos aminoácidos que
ganham a denominação de funcionais, destacan- Antibióticos promotores de crescimento
do a glutamina, o ácido glutâmico, o triptofano, Na função de promotores de crescimento, os
entre outros. antibióticos agem na modulação do equilíbrio intes-
Todavia, a maioria dos aditivos está inserida na tinal, fazendo câmbios no ecossistema microbiano
classe dos não nutricionais, sendo representados (reduzindo a prevalência de bactérias gram-posi-
pelos antibióticos promotores de crescimento, pro- tivas e favorecendo as gram-negativas), promo-
bióticos, prebióticos, extratos vegetais, acidifican- vendo a melhora da digestibilidade dos nutrientes.
tes, enzimas, antioxidantes entre outros. Reconhecidamente os aditivos antimicrobianos são
Esses recursos representam ferramentas efetivos no aumento de produtividade, na otimi-
muito importantes, com uso regular na produção zação da transformação do alimento em carne, no
de suínos. A justificativa de seu emprego contrasta bloqueio dos processos microbiológicos ligados à
com o perfil e as fragilidades do segmento. Com a deterioração da ração, na prevenção de patologias
intensificação dos sistemas de produção de suínos, infecciosas e parasitárias e na redução da taxa de
a máxima produtividade representa um dos pou- mortalidade.
las T do intestino. Também tem sido demonstrado que beneficiam o hospedeiro por meio do equilíbrio
que os probióticos favorecem a atividade fagocítica da microbiota intestinal) definem o produto ou a
inespecífica dos macrófagos alveolares, sugerindo ação simbiótica que, em regra, apresenta em muitas
709
uma ação sistêmica por secreção de mediadores situações efeitos mais consistentes comparados
que estimulariam o sistema imune. com os benefícios isolados dos prebióticos e dos
probióticos.
Prebióticos Os efeitos da suplementação da dieta com
Os prebióticos são definidos como microingre- oligossacarídeos para suínos dependem também
dientes que têm ações benéficas para a população da forma de obtenção e preparação do produto, de
microbiana do trato gastrintestinal, servindo como como ele é adicionado à ração animal (concentra-
substrato para micro-organismos que favorecem a ção), ou ainda da composição da dieta basal.
saúde do trato digestório e o desempenho zootéc- Alguns experimentos demonstraram altera-
nico. Como características básicas esses produtos ções sobre as características anatômicas do apare-
não devem ser hidrolisados nem absorvidos pelo lho intestinal quando o FOS participou como adi-
trato gastrintestinal. tivo. Numa avaliação com leitões recém-nascidos
Entre os prebióticos mais comumente utili- alimentados com 1,4g por dia de FOS adicionado
zados estão os oligossacarídeos não digestíveis, a uma dieta líquida, durante 15 dias, foi verificada
como os frutoligossacarídeos (FOS), representa- que a contagem de bifidobactérias, o pH e a concen-
dos principalmente pela oligofrutose e inulina, os tração de AGVs intestinais não se alteraram, mas
mananoligossacarídeos (MOS) e os glucoligossa- houve diferença na densidade celular cecal, que
carídeos (GOS). aumentou no grupo tratado com FOS em relação ao
Os prebióticos agem na estimulação do cresci- controle. Embora não tenham verificado diferenças
mento de populações microbianas benéficas, melho- na contagem de bactérias, outros trabalhos permi-
rando as condições luminais e anatômicas do trato tiram observar efeitos positivos sobre o número e
gastrintestinal e na modulação do sistema imune. Em a altura das vilosidades do intestino delgado de lei-
alguns casos, essas ações resultam em melhores ga- tões submetidos às dietas que continham FOS.
nho de peso e conversão alimentar dos animais. Os MOS são compostos obtidos da parede ce-
A resposta imune adequada pode ser um dos lular de leveduras, principalmente Saccharomyces
mecanismos pelos quais o desempenho dos animais cerevisiae, por meio de um processo de fermenta-
é melhorado com o uso de prebióticos. Nesse aspec- ção, lise da parede e purificação, resultando em
to, existe a possibilidade de os prebióticos induzi- uma estrutura complexa de manose fosforilada,
rem alteração imunológica no intestino ao menos glucose e proteína.
por três mecanismos: pelo aumento do número de Embora os MOS também pertençam à classe
bifidobactérias, induzidas pela administração de um dos prebióticos, estes não possuem a capacidade
prebiótico, que iniciam um processo de modulação de estimular o crescimento seletivo de bactérias. O
de citoquinas e produção de imunoglobulinas, como modo de ação desses aditivos baseia-se na capaci-
a IgA; aumento da produção de AGVs pelas bacté- dade de esses açúcares ligarem-se aos micro-orga-
rias benéficas, que podem ativar os leucócitos por nismos patogênicos como a Salmonella typhimurium
meio de receptores; e a interação entre receptores e a Escherichia coli, ou, então, pela estimulação do
localizados nos carboidratos dos prebióticos, como sistema imune, possibilitando a redução de patóge-
o receptor B-glucano, componente dos mananoli- nos intestinais. Pelo do uso de MOS, é possível ainda
gossacarídeos que ativa fagócitos, linfócitos B e T e estimular o sistema imune e a redução de patógenos
células natural killer. intestinais; fortalecer a barreira de mucina; reduzir
Os prebióticos associados aos probióticos a taxa de turnover dos enterócitos e aumentar a inte-
(compostos de culturas de micro-organismos vivos gridade do revestimento intestinal.
custo. Porém, os orgânicos, por serem ácidos mais média e curta, misturados para formar um micro-
fracos, menos corrosivos e potencialmente me- grânulo, e sua quelação, são tecnologias que vêm
nos tóxicos que os inorgânicos, correspondem à ganhando frequência.
711
grande maioria dos acidificantes comercialmente Vários são os benefícios descritos pela inclusão
disponíveis e testados. dos acidificantes e seus sais nas dietas de suínos; a
O uso dos ácidos na suinocultura é voltado mais redução da carga bacteriana é o balizador desses re-
para leitões desmamados, pois, principalmente no sultados que, pela melhora na saúde gastrintestinal,
início da fase de creche, animais com três semanas promovem o incremento do desempenho. Também
de idade mostram-se ainda fisiologicamente imatu- se atribui aos acidificantes a sua habilidade na pre-
ros, com destaque para a insuficiente produção de venção do desenvolvimento de fungos na ração.
ácido clorídrico, o que implica negativamente sobre No entanto, algumas respostas ao uso de acidi-
o desequilíbrio da flora intestinal e, por consequên- ficantes ainda guardam polêmica devido à grande
cia, no processo digestivo. variação, à qual são atribuídas influências de fato-
A apresentação dos ácidos pode ser na forma res como dosagens empregadas, antagonismo das
líquida, correspondendo à maioria, ou, na sólida, associações nos blends, característica/composição
como o cítrico e o benzóico. Esses exemplos são in- da ração, idade dos animais e interações ambien-
teressantes para uso comercial, pelo fato de serem tais. Quanto ao seu efeito sobre a variável dieta, a
menos corrosivos e pelo histórico melhorador do capacidade tamponante ácida baixa nos cereais e
desempenho e da conversão alimentar que detêm nos seus subprodutos, intermediária ou alta nos in-
para leitões recém-desmamados. gredientes proteicos, e muito alta nas fontes mine-
Efetivamente, a principal ação dos acidificantes rais, com exceção do fosfato mono e bicálcico, tem
deve-se ao seu efeito antimicrobiano, determinado repercussões diretas e consistentes na eficiência
pela capacidade que têm de difundir-se pela parede do acidificante.
bacteriana (favorecida pela lipossolubilidade que
possuem), dissociando-se internamente na célula, Repartidores de nutrientes
interferindo na produção de ATP e no transporte (agonistas beta-adrenérgicos)
de nutrientes, levando finalmente essa à morte. Os beta-agonistas são também denominados
Portanto, as constantes de dissociação dos ácidos de catecolaminas sintéticas por seus mecanismos
fazem com que sua ação ocorra em diferentes sí- de ação serem semelhantes aos da adrenalina e da
tios do trato gastrintestinal, priorizado o intestino noradrenalina, classificadas como catecolaminas
delgado. O valor dessa constante associado à capa- naturais. As catecolaminas atuam principalmente
cidade de redução do pH identifica o poder antibac- no nível dos receptores adrenérgicos, produzin-
teriano do ácido. do efeitos biológicos e/ou farmacológicos. Esses
Um aspecto importante no uso dos acidifican- receptores adrenérgicos foram inicialmente
tes nas rações é sua característica aromática. O classificados em a e b, sendo subdivididos em a1, a2,
ácido fórmico e o propiônico podem interferir na b b A subdivisão refere-se aos eventos pré e pós-
e 1, 2.
ção e a deposição de lisina tecidual nos suínos au- apontam que animais tratados com a droga apre-
mentam de 6,8 para 7,15%. Desse modo, a relação sentam aumento do conteúdo de proteína entre 4 a
de aminoácidos proposta para formulações que se 8%, da área de olho de lombo entre 9 e 15%, e redu-
713
baseiam no conceito de proteína ideal, sem essa ção da gordura total da carcaça entre10 e 17%.
correção, pode não ser suficiente para atender às Quanto às características de carcaça, a racto-
exigências de suínos alimentados com dietas con- pamina determina maior peso de carcaça, assim
tendo ractopamina. como redução na espessura de toucinho no lombo e
A diminuição da gordura no peso da carcaça é aumento da área do músculo Longissimus dorsi, com
acompanhada pelo aumento do teor em água que consequente aumento na porcentagem de carne
está associado ao correspondente incremento de magra nas carcaças.
proteína. Isso é um dos principais fatores que jus- Quanto à qualidade de carne, o pH final desta
tificam o aumento do ganho de peso associado à tende a ser mais elevado em suínos tratados com
melhora na conversão alimentar. Portanto, pode- ractopamina. Isso é atribuído ao maior consumo de
se inferir que a adição de ractopamina em dietas glicogênio muscular que os agonistas beta-adrenér-
para suínos em terminação melhora a eficiência gicos determinam, resultando em maior produção e
de utilização dos nutrientes, tornando-se, assim, acúmulo de ácido láctico na carcaça pós-abate.
necessária suplementação extra nos níveis de Alterações na maciez da carne em animais
proteína e aminoácidos na dieta para suprir essa tratados com 10 e 20ppm de ractopamina, o que
maior eficiência. leva a um aumento na força de cisalhamento, em
O sexo também é uma variável que pode deter- consequência do aumento do diâmetro das fibras
minar respostas diferentes no desempenho dos musculares, são citadas na literatura.
animais que consomem ractopamina, com alte- Para a cor da carne, é apontado que o menor
rações na deposição dos tecidos magro e adiposo valor de a* para suínos tratados com ractopamina
na carcaça, além de mudanças nas propriedades é decorrente da menor quantidade de mioglobina
tecnológicas da carne. Quando submetidas aos oxigenada. Isso pode ser observado pela redução
tratamentos com agonistas beta-adrenérgicos, e aumento significativos nos valores do índice de
as fêmeas respondem melhor, provavelmente saturação (c*) e do ângulo de tonalidade (h*), respec-
por terem maior capacidade de mobilização dos tivamente, sendo indicativo da cor mais clara obtida
lipídios corporais, cuja diminuição é mais evidente (menos vermelha).
no tecido subcutâneo e menor no tecido adiposo Considerando a taxa de marmoreio, a redução
intramuscular. no valor do parâmetro de acordo com o aumento
No entanto, os machos castrados apresentam dos níveis de ractopamina é indicativa de aumento
características de mobilização de lipídios seme- no diâmetro das fibras musculares associado à
lhantes às das fêmeas. As respostas da ractopamina redução da lipogênese e ao aumento da lipólise do
são muito parecidas entre castrados e fêmeas para tecido adiposo, ações específicas determinadas
o crescimento, consumo de ração, ganho de carne pela droga.
magra e comprimento de carcaça. Na concentração Para a retenção de água na carne, a capacidade
de 20ppm de ractopamina dietética, castrados e de retenção aumenta nos animais tratados com
fêmeas apresentam resultados semelhantes para ractopamina. Esse efeito está associado à menor
as características de carcaça, para rendimentos no deposição de gordura e à maior deposição proteica.
processamento e para a qualidade da carne. Quanto à qualidade da gordura, a menor de-
Os efeitos da ractopamina no ganho de peso e posição desse tecido em animais tratados com
na conversão alimentar, independentemente da do- agonistas beta-adrenérgicos leva à piora no sabor
sagem ou das origens genéticas, são significativos da carne, especialmente pela suculência diminuída.
em relação aos animais não tratados. Referências Com a administração da ractopamina, os estudos
apontam que o perfil dos ácidos graxos saturados A ação fisiológica do cromo não está completa-
é modificado, aumentando a relação insaturados/ mente esclarecida. Sua absorção ocorre no intes-
saturados, ressaltando-se que o ácido linoleico é um tino delgado, sendo esse processo inversamente
714
dos mais influenciados. proporcional à quantidade desse elemento na dieta.
Quanto às alterações fisiológicas e aos efeitos Após sua absorção, atribui-se que parte do cromo
no comportamento do suíno, acredita-se que a ingerido circule no plasma associado à b-globulina e
ractopamina, por ser uma droga com ação similar à parte ligado às células vermelhas do sangue em uma
das catecolaminas, possa gerar mudanças nesses interação com a hemoglobina.
parâmetros, criando dificuldades no manejo, prin- O cromo absorvido é depurado pelos rins em
cipalmente nos momentos finais de carregamento/ poucos dias, mas no organismo pode apresentar
descarregamento pré-abate, determinando, como meiavida de até 83 dias. O cromo é preferencial-
consequência ao estresse, aumento da frequência mente excretado pela urina, contudo pequenas
cardíaca que, por sua vez, também desencadeará al- quantidades podem ser eliminadas pelo cabelo,
terações na frequência respiratória, no pH e na con- transpiração e bile. O estresse pode aumentar a
centração de oxigênio e gás carbônico no sangue. taxa de excreção desse mineral na urina.
A ação do cromo no metabolismo animal en-
Cromo picolinato volve principalmente o estímulo da captação de
O cromo é considerado um mineral, traço essen- glicose pelas células dos tecidos-alvo, especial-
cial para os mamíferos, estando presente em menos mente as fibras musculares e o tecido adiposo.
de 0,01% na constituição dos animais. Sua essenciali- Nos suínos, o picolinato de cromo pode promover
dade está associada à ativação de enzimas e à estabi- a internalização da insulina, com consequente
lização de proteínas e ácidos nucléicos. entrada de mais glicose nas células do músculo
O cromo aparece na alimentação animal na for- esquelético. Esse maior aporte intracelular da gli-
ma inorgânica, formando cloretos (CrCl3) ou óxidos cose também pode ser verificado pela minimização
(Cr2O3) que apresentam baixa absorção pelo orga- da glicose plasmática nos suínos tratados. Por ação
nismo animal. Isso ocorre porque, durante a diges- da glicose, é possível que o uso do picolinato de
tão, esses compostos formam complexos insolúveis cromo possa estar associado ao aumento da de-
e também porque podem se aderir a carboidratos posição de carne magra na carcaça por aumentar
presentes na dieta, evitando sua absorção. Entre- a síntese proteica muscular. Além disso, é referido
tanto, essa absorção pode ser facilitada por outros que o cromo, na forma de picolinato, tem a capa-
nutrientes, como os aminoácidos metionina e histi- cidade de aumentar a área de olho-de-lombo e de
dina e a vitamina C. reduzir a espessura de toucinho. Também, estudos
A maneira de favorecer a absorção do cromo verificaram alterações nas concentrações de lipo-
pelos suínos se dá pelo fornecimento da forma “or- proteínas de alta densidade (HDL), colesterol to-
gânica” ou quelatada. Dessa maneira, a absorção do tal, triglicerídeos, ácidos graxos não esterificados e
mineral seria da ordem de 15 a 30%, em vez dos 3% outros parâmetros sanguíneos.
obtidos com a forma inorgânica. Entre esses compos- Para suínos em crescimento e terminação,
tos quelatados, os de ampla utilização são o picolina- a suplementação com o cromo não é focada na
to de cromo, o cromo nicotínico e o cromo-metionina. melhora da performance, mas dirigida para a qua-
Na forma de picolinato, o cromo tem sido usado lidade da carcaça e da carne. Entretanto, alguns
em ampla escala para a saúde humana como suple- trabalhos apontam que a utilização do picolinato
mento nutricional. Na suinocultura, o cromo tem do cromo ou de outros tipos de cromo “orgânico”
sido utilizado em rações de crescimento e termina- não resulta em benefícios para algumas carac-
ção visando melhorar as características de carcaça e terísticas de carcaça, como também para os
a qualidade da carne. parâmetros sanguíneos. Estudos que associam o
cromo à ractopamina também não identificaram Na prática, para leitões em especial, tem-se lan-
qualquer benefício às características de desem- çado mão da suplementação enzimática por meio de
penho, carcaça e qualidade da carne. blends formados por protease, amilase e lipase, pois
715
os níveis dessas enzimas endógenas são mais baixos
Enzimas nessa categoria, decorrentes da imaturidade enzi-
As enzimas são classificadas como aditivo ali- mática que detêm. A condição de um nível limitado
mentar para rações animais, enquadradas pelo Mi- dessas enzimas endógenas também decorre de
nistério da Agricultura (MAPA) através da Portaria situações típicas por que passa o leitão nessa fase,
no 384 de 26 de dezembro de 2003. como o estresse do desmame, a vacinação, a castra-
Enzimas são proteínas globulares, de estrutura ção e o novo ambiente na fase de creche. Para outras
terciária e quaternária, que agem como catalisa- categorias os blends também são indicados; entre-
dores biológicos, aumentando a velocidade das tanto, devem ser considerados os custos desses
reações químicas no organismo, sem serem elas aditivos na oportunidade, de modo a harmonizar a
próprias alteradas nesse processo. São altamente relação custo-benefício de sua utilização.
específicas para os substratos e dirigem todos os Para as enzimas atuarem de forma positiva,
eventos metabólicos. As enzimas digestivas têm são necessários substratos específicos na dieta,
um sítio ativo que permite que atuem na ruptura de uma correta dosagem e serem essas capazes de
determinada ligação química, sob condições favorá- ultrapassar as barreiras do baixo pH no estômago
veis de temperatura, pH e umidade. e resistir ao processamento pelo qual o alimento é
A função das enzimas digestivas é promover submetido.
a hidrólise dos nutrientes dos alimentos, tornan- Considerando as classes enzimáticas de ma-
do-os mais disponíveis para a absorção. Porém, neira individualizada, as carboidrases têm elevada
em algumas circunstâncias associadas à idade, à importância para a espécie suína. Os polissacarí-
saúde ou à fisiologia, as enzimas podem ser produ- deos não amiláceos estão na maioria das vezes as-
zidas em quantidades insuficientes ou não serem sociados à lignina e formam um complexo fibroso
produzidas, dificultando a digestão dos alimentos. no alimento que os suínos não possuem enzimas
Desse modo, a utilização de enzimas exógenas nas endógenas apropriadas para sua degradação,
rações pode constituir uma ferramenta eficaz para acarretando piora na absorção e na digestibili-
melhorar a eficiência de utilização dos alimentos dade da energia associada aos carboidratos mais
pelos animais. simples e aos lipídeos e às proteínas, que estão
A adição de enzimas exógenas na suinocultu- “protegidas” por essa estrutura. Níveis elevados
ra justifica-se por vários motivos, destacando a de polissacarídeos não amiláceos (PNAs) solúveis
possibilidade do uso de ingredientes alternativos aumentam a viscosidade do quimo, dificultando a
que não são bem aproveitados por apresentarem digestão e a absorção de proteínas, lipídeos e vita-
uma fração fibrosa significativa, diminuindo, minas lipossolúveis.
assim, a digestibilidade da dieta e o uso de ingre- Dessa maneira, a utilização de carboidrases
dientes que têm fatores antinutricionais, cujos permite o uso de alimentos que apresentam gran-
efeitos são de comprometimento do desempenho des quantidades de PNAs. Dentre as principais
animal. Mesmo alguns produtos nobres, como o carboidrases utilizadas comercialmente na alimen-
farelo de soja, possuem fatores que não permitem tação de suínos, destacam-se a celulase, a beta-glu-
uma boa ação das enzimas endógenas do trato canase, a amilase, a pectinase e a xilanase.
gastrintestinal dos suínos, como os polissacaríde- Já os beta-glucanos são polissacarídeos não
os não amiláceos (PNAs), constituídos por arabi- amiláceos encontrados principalmente na ceva-
noxilanos, celulose e lignina, que fazem parte da da, centeio e triticale, possuidores da capacidade
parede celular do grão. de formar géis em contato com a água, dando
origem a soluções viscosas que retardam a absor- Quando são considerados os resultados de
ção dos nutrientes. Os suínos são ineficazes na trabalhos, o uso de carboidrases nas rações para
atividade enzimática para superar esses fatores suínos tem demonstrado alguns casos de incon-
716
antinutricionais. sistência. Resultados insatisfatórios em relação
Portanto, a suplementação exógena com beta- ao consumo de ração, ganho de peso e conversão
glucanase melhora a absorção de nutrientes por alimentar foram observados quando se empregou
diminuir a viscosidade do quimo, além de liberar a xilanase fúngica em dietas à base de milho para
maior quantidade de açúcares disponíveis, pois suínos em crescimento e terminação. Também
atua sobre os beta-glucanos, que são formados por trabalhos com carboidrases exógenas (PNAses
blocos de resíduos de glicose. fúngicas) dirigidos para leitões desmamados ali-
Os arabinoxilanos são polissacarídeos não mentados com dieta à base de milho e soja aponta-
amiláceos solúveis e insolúveis encontrados nos ram pouca eficiência na promoção de melhoras dos
cereais. Da mesma maneira que os beta-glucanos, parâmetros de produção. Resultados semelhantes
os arabinoxilanos solúveis se ligam à água, aumen- também foram encontrados sobre os parâmetros
tando a viscosidade do conteúdo intestinal, preju- de produção, quando se utilizou um complexo enzi-
dicando a absorção dos nutrientes. Os insolúveis mático em dietas à base de milho e soja para suínos
(encontrados nas paredes das células vegetais), em crescimento e terminação.
por sua vez, sequestram as proteínas e o amido, tor- No entanto, observaram-se melhoras na con-
nando-os indisponíveis às proteases e às amilases versão alimentar de leitões alimentados com ração
endógenas. A xilanase, que tem efeito semelhante à base de soja e milho e adição suplementar de blend
à beta-glucanase, atua sobre as pentosanas presen- de carboidrases, porém o efeito foi atribuído mais à
tes nos cereais, permitindo maior disponibilidade redução dos oligossacarídeos encontrados na soja.
dos açúcares. Quanto à fitase, sua ação é dirigida primariamen-
Quanto à amilase, sua ação nos grãos é dirigida te à liberação do fósforo contido nos cereais. Cerca
à quebra do amido em açúcares simples, resultando de dois terços do fósforo presente nos grãos de ce-
na melhor disponibilização de energia. Todos os ani- reais são indisponíveis aos animais não ruminantes,
mais possuem a produção endógena dessa enzima, pois se encontra preso à molécula de ácido fítico (mo-
mas sabe-se que a digestão do amido na parte final no-inositol hexafosfórico) ou fitato. Por sua indispo-
do trato digestivo das aves e dos suínos é incomple- nibilidade e pelas fontes de fósforo inorgânico serem
ta, mesmo considerando uma dieta com ingredien- cada vez mais escassas e de elevado custo, a utiliza-
tes de fácil digestão, como o milho e a soja. Ou seja, ção da enzima fitase para não ruminantes tornou-se
a liberação de energia da dieta é menor do que a uma realidade mundial, consistindo na mais impor-
prevista, devendo-se então trabalhar com margens tante enzima de uso comercial na suinocultura. Ape-
de segurança para que as metas de energia da dieta sar de os estudos da fitase terem começado em 1962,
sejam alcançadas. O uso da amilase objetiva uma apenas a partir de 1991 é que a fitase proveniente
digestão mais completa do amido, liberando mais da fermentação de substratos pelo fungo Aspergillus
energia e, consequentemente, melhorando o de- niger foi comercialmente introduzida, quando a legis-
sempenho animal e auxiliando na redução do custo lação dos Países Baixos passou a controlar a poluição
real da alimentação. por fosfatos em unidades de criação de suínos e aves,
Com a adição da pectinase, ocorre quebra das ampliando seu desenvolvimento e aceitação. O que
pectinas, melhorando a digestibilidade da dieta. antes era mais restrito aos países que adotavam essa
As pectinas são encontradas no farelo de soja e em legislação, tornou-se globalmente utilizado com o
outras proteínas vegetais e também aumentam a reconhecimento do perigo ecológico da eutrofização
viscosidade do quimo, reduzindo a absorção de nu- do fósforo. Além disso, essa proliferação das fitases
trientes no lúmen intestinal. no mercado levou à redução de seu preço e às faci-
lidades para seu uso em rações de monogástricos. de do fósforo fítico, sua eficiência varia também de
Paralelamente, proibida a adição das farinhas de acordo com a relação dietética do cálcio e do fósfo-
carne e ossos nas rações de monogástricos, houve ro. Na formulação de dietas de suínos com fitase, a
717
mais um novo incentivo. Essas farinhas, proibidas na relação cálcio/fósforo deve ser estreita (1,1/1), no
União Europeia em 2000, forneciam 57% do fósforo intuito de manter o cálcio baixo. Isso se deve ao fato
adicionado às rações. Com esse banimento, gerou-se de cátions multivalentes, como o cálcio, aumenta-
uma demanda de 110 mil toneladas de fósforo que, rem a formação de cristais de fitina (forma do ácido
com a utilização da fitase microbiana, foi reduzida a fítico complexado com minerais) que são insolúveis,
26 mil toneladas. o que diminui o acesso da fitase ao fitato e, conse-
O modo de ação da fitase dá-se por meio da quentemente, a disponibilidade do fósforo.
hidrólise de um ou mais grupos de fosfato do fitato, A fitase, além de aumentar o valor nutricional das
que produz cinco classes de produtos intermediá- rações, auxilia a reduzir a suplementação com fósforo,
rios (monofosfato, bi, tri, tetra, penta mioinositol), com diminuição dos custos na alimentação, bem como
disponibilizando o fosfato inorgânico juntamente contribui com o meio ambiente, ao evitar que o exces-
com o nutriente preso à sua estrutura. A habilida- so desse mineral contamine mananciais e o solo. Nesse
de dos suínos para utilizar o fósforo fítico melhora sentido, observou-se que a enzima, sob níveis de 1.000
com a idade devido à maior concentração de fitase e 1.500UFA de fitase, promove efeitos positivos que
presente na mucosa do intestino dos animais mais podem inclusive reduzir o consumo de ração e melho-
velhos. Com referência à idade e à fisiologia, a efi- rar a conversão alimentar dos suínos.
cácia da fitase em liberar fósforo digestível diminui Na condição de blends enzimáticos, incluindo a
de acordo com a seguinte ordem: porcas lactantes, participação da fitase em dietas de leitões em fase
suínos em crescimento e terminação, porcas ao final de crescimento, foi observada melhora no ganho
de gestação, leitões e porcas em meia gestação. diário de peso, na conversão alimentar e ausência
Sobre a ação da fitase exógena na digestibilida- de efeitos no consumo diário de ração.
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O
manejo pré-abate consiste numa série de As estradas de acesso à propriedade rural são
operações sequenciais, cujo início se dá com de responsabilidade do poder público, que deve
planejamento do embarque dos animais, mantê-las em condições transitáveis para cami-
organização da equipe de embarque capacitada, nhões pesados, utilizando recursos como terrapla-
tempo de jejum na granja, retirada dos animais da nagem e cascalho, quando necessário.
baia, condução dos animais (das baias até o interior Em épocas de chuva, as estradas de terra podem
do caminhão), transporte, desembarque no frigorí- se tornar intransitáveis, impedindo a passagem dos
fico (condução dos animais até a baia de descanso), veículos que transportam os animais. Nessa situa-
período de descanso, condução até o restrainer e ção, deve-se comunicar os responsáveis pela rodo-
insensibilização. Nessa fase, os suínos são expostos via para disponibilizar auxílio para o tracionamento
a diversas condições estressantes, principalmente dos caminhões caso seja necessário. Isso evitará
pela interação homem-animal e mudança de ambien- que os caminhões fiquem parados nas estradas, e,
te, situações que são de grande importância para o consequentemente, que os animais fiquem estres-
ciclo de produção, uma vez que podem comprometer sados (prejudicando seu bem-estar) e que haja
o bem-estar animal e a qualidade da carne. maior incidência de perdas econômicas.
esforço e estresse durante o embarque dos suínos. O piso do embarcadouro é um fator importante
As paredes laterais devem ter altura mínima de um que afeta diretamente a condução dos animais. Por
metro e não serem vazadas, a fim de impedir o risco isso, deve-se optar pela escolha de materiais anti-
728
de salto, distrações e paradas devido à visualização derrapantes, a fim de evitar escorregões e quedas, e
do ambiente externo, assim como a formação de facilitar o manejo. Além de a estrutura do embarca-
sombras que podem dificultar a condução. douro ser adequada, o produtor deve buscar man-
Construa o embarcadouro de modo que permita ter o piso sempre limpo e seco. Para isso, podem ser
a passagem de dois suínos ao mesmo tempo. Isso faci- utilizados materiais como: maravalha ou serragem
litará o manejo, já que os suínos devem ser conduzidos (foto 3 A e B), que irão reduzir a umidade e facilitar a
sempre em grupo, mantendo o contato visual entre movimentação dos suínos.
eles e respeitando a característica de seres gregários. Certifique-se sempre de que o caminhão esteja
A estrutura da instalação do embarcadouro bem estacionado e não haja espaço (vão) entre o em-
deve ser firme e estável, não permitindo a movi- barcadouro e o veículo, como mostra a foto 4. Caso
mentação ou trepidação da estrutura durante o ocorram situações como as mostradas na foto 5 A e B,
embarque (foto 2) de forma que encoraje os suínos os animais podem sofrer fraturas e contusões, o que
a se locomoverem, conforme figuras abaixo de três gera sofrimento, além de dificultar o embarque.
modelos de projetos desenvolvidos pela Embrapa A inclinação da rampa deve ser suave, não
Suínos e Aves (CNPSA). ultrapassando 20° quando erguida. Acima disso,
Foto 2 – Modelos de embarcadouros com laterais fechadas e piso antiderrapante que evita paradas,
distrações, escorregões e quedas, desenvolvidos pela Embrapa Suínos e Aves (CNPSA).
Fonte: Dalla Costa et al., 2012
A B A
729
A B
A A B
732
A B
B
Foto 9 A e B – Os corredores devem estar limpos existam, devem ser suaves, dando a sensação de
e secos. Quando possível, deve-se colocar algum
material como: maravalha ou serragem para continuidade para que os animais vejam para onde
manter o local seco durante o manejo devem ir, e não como mostrado na foto 13.
FONTE: AUTORes
Quando o embarque acontecer à noite, reduza
Após o embarque de um grupo de animais, fe- a iluminação no interior das instalações da granja
che o compartimento da carroceria e inicie a con- e coloque no embarcadouro uma boa fonte de luz.
dução de um novo grupo. Esse procedimento deve Os suínos são sensíveis à iluminação e têm forte
ser repetido até que se complete a carga. O fecha- tendência a se moverem de áreas escuras para cla-
mento dos compartimentos evita que os suínos ras, desde que a luz não incida diretamente em seus
retornem ao corredor e prejudiquem a condução olhos, ofuscando-os. Fortes contrastes de luz e som-
dos próximos animais. bra dificultarão o deslocamento dos animais.
É proibido o uso de bastão elétrico (choque) e
outros objetos agressivos que possam causar dor e O manejo durante o
ferimentos. embarque passo a passo
Em algumas situações, o suíno reluta ao manejo 1. Faça o planejamento de todas as atividades
e tende a retornar, como na foto 12 A e B. Por isso, necessárias para o embarque;
não insista em manejá-lo nesse momento. Suínos, 2. Verifique se todos os animais têm condi-
quando isolados, tendem a mudar seu comporta- ções de serem embarcados e informe qual-
mento e suas reações, tornando-se mais agitados quer problema ao profissional responsável
ou até agressivos. Por isso, deixe-os para serem con- pela granja;
duzidos junto ao próximo grupo, em vez de tentar 3. Certifique-se de que todos os documentos
manejá-los isoladamente. necessários para o transporte dos animais
Ao construir a instalação, os corredores de estejam organizados;
acesso ao embarcadouro nunca devem ter curvas 4. Programe o tempo de jejum na granja (oito a
fechadas, pois a movimentação dos animais se tor- 12 horas antes do embarque) de acordo com
na difícil, ocorrendo mais paradas. As curvas, caso o horário definido para o transporte;
A fazer manobras;
9. Certifique-se de que as instalações e equi-
pamentos estejam em boas condições para
733
o trabalho;
10. Suspenda o fornecimento de ração e retire
as possíveis sobras de ração do comedouro,
a fim de realizar o jejum planejado;
11. Redobre a atenção nos suínos, para evitar
brigas devido ao jejum;
B
12. Certifique-se de que o caminhão tenha con-
dições para realizar o transporte dos animais
(foto 14). Caso o caminhão apresente proble-
mas, comunique ao responsável pelo trans-
porte, para que tome as devidas providências;
13. Verifique se o veículo está bem estacionado
(se não existem vãos que possam prejudicar
o embarque);
14. Certifique-se de que a rampa esteja seca,
Foto 12 A e B– Suínos relutantes devem ser
deixados para o próximo grupo, uma vez que
limpa e com boa camada de maravalha ou
podem se tornar agitados e agressivos serragem. Sempre que necessário, reponha
FONTE: AUTORes
o material de cobertura;
5. Assegure-se de que o número de pessoas 15. Respeite a densidade adequada para
escolhidas para o embarque seja suficiente cada compartimento (0,425m²/100kg ou
para a realização do trabalho; 235kg/m²);
6. Organize como será o manejo de embar- 16. Priorize a retirada dos suínos, começando
que, definindo as funções de cada colabo- pelas baias mais próximas ao embarcadouro;
rador da equipe; 17. Retire poucos animais da baia de cada vez,
7. Assegure-se de que as estradas de acesso grupos de dois a três suínos, utilizando auxí-
à granja estejam em boas condições para o lios de manejo adequados (tábua de manejo,
trânsito e manobra dos caminhões. Caso con- lona chocalho);
trário, providencie os reparos necessários; 18. Conduza os animais sempre com calma e
8. Planeje a chegada dos caminhões à pro- em pequenos grupos, evitando paradas no
priedade, de modo que se evitem longas caminho;
esperas pelos motoristas e dificuldades em 19. Durante esse procedimento, se algum ani-
mal manifestar cansaço, deixe-o descansan-
do numa baia;
20. Sincronize o manejo de embarque, evitando
a ocorrência de contrafluxo de pessoas;
21. Caso algum suíno se recuse a se movimentar
ou entrar no caminhão, tenha calma e seja
paciente. Deixe o animal para ser embarca-
do com o próximo grupo;
22. Embarque o número de animais adequados
Foto 13 – Corredor com curva inadequada para cada compartimento do veículo. Ao
para condução dos animais
FONTE: AUTORes completar o compartimento, feche para
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D
urante o deslocamento da granja ao frigo- do estresse pode resultar em valores de pH desfa-
rífico, os suínos são submetidos à retirada voráveis, que, combinados à temperatura elevada
do seu ambiente familiar, embarque, trans- das carcaças durante o abate, provocam diminuição
porte e desembarque. O transporte (foto 1) é uma da capacidade de retenção de água, com aumento
situação estressante para os suínos, já que expõe na incidência de carne pálida, mole, exsudativa
os animais a novos fatores estressantes, tais como (PSE). Além disso, animais estressados apresentam
jejum (fome), barulho, cheiro diferente, vibrações maior risco de ocasionar lesões na pele, ferimentos
e mudanças bruscas de velocidade do caminhão, e, em alguns casos, pode ocorrer a morte durante o
variação da temperatura ambiental e menor espa- transporte.
ço individual. Esses fatores de estresse, frequen-
temente, levam a respostas comportamentais e Legislações no transporte
fisiológicas que podem contribuir para a redução de As diretrizes brasileiras de bem-estar animal são
rendimento da carcaça e qualidade da carne. elaboradas em sinergia com as recomendações da
Quando os suínos são transportados de manei- Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), devido
ra estressante, podem apresentar modificações no o Brasil ser um país exportador e signatário da OIE.
comportamento e nas respostas fisiológicas. Essa Essas recomendações abordam a necessidade de que
prática de manejo influi na indução do estresse os animais não sofram durante o período de manejo
psicológico e físico. O estresse aumenta a liberação pré-abate e abate, envolvendo os seguintes pontos:
de hormônios adrenérgicos e corticotróficos, que »» Os animais devem ser transportados apenas
interferem nas reservas de glicogênio muscular, se estiverem em boas condições físicas;
antecipando a glicólise post mortem. A intensidade » » No transporte, os veículos deverão estar
com boa manutenção e com densidade
adequada;
»» Durante o transporte deve haver espaço
suficiente para os animais deitarem, consi-
derando o clima e a capacidade de ventilação
dos veículos;
»» As pessoas que manejam os animais devem
compreender o comportamento dos animais;
»» Os animais não devem ser forçados a andar
Foto 1– Suínos sendo transportados ao frigorífico
além da sua capacidade natural, procurando-
FONTE: AUTORes se evitar quedas e escorregões;
»» Não é permitido o uso de objetos no manejo órgãos públicos que regulamentam a fiscalização
que possam causar dor ou injúrias aos animais; permite que se estabeleçam densidades de acordo
»» Animais conscientes não podem ser arras- com o interesse econômico do setor. É fundamental
737
tados ou forçados a moverem-se, caso não haver legislações que regulamentem o transporte
estejam em boas condições físicas para se rodoviário dos animais.
locomoverem; No Brasil, o decreto que estabelece o Regula-
»» Na chegada ao frigorífico, deve-se supri-los mento de Inspeção Industrial e Sanitária de Produ-
com suas necessidades básicas como forne- tos de Origem Animal (RIISPOA) e a Portaria n° 711,
cimento de água, espaço, condições favorá- que aprova as Normas Técnicas de Instalações e
veis de conforto térmico. Equipamentos para Abate e Industrialização de Suí-
Além das diretrizes nacionais, há também exi- nos, não faz recomendações quanto à densidade no
gências internacionais embasadas em boas práticas transporte. Algumas agroindústrias brasileiras que
de manejo que minimizem o estresse dos animais no possuem programas de bem-estar animal utilizam
momento do pré-abate e abate. as recomendações da Comissão Europeia.
O Regulamento emitido pela Comissão Euro- A Comissão Europeia recomenda 235kg/m² ou
peia estabelece medidas de proteção aos animais 0,425m² para um suíno de 100kg, podendo variar
durante o transporte, que passou a exigir que todo o no máximo 20% (0,510m²/100kg ou 196kg/m 2),
condutor que transporta carga viva passe por curso dependendo das condições climáticas e do tempo
de formação em centros de treinamentos creden- de transporte.
ciados, para atender aos requisitos de bem-estar O mínimo de espaço requerido pelos suínos de
animal no transporte. O período de validade da au- até 100kg é de 250kg/m2. Lotação mais elevada está
torização deve ser emitido somente por autoridade diretamente associada ao aumento de mortalidade.
competente e credenciada. Os suínos preferem deitar durante o transporte,
desde que haja espaço suficiente. Já em viagens mais
Densidade no transporte curtas, os suínos costumam permanecer em pé; isso
A densidade (foto 2) é uma das variáveis mais pode estar associado a fatores estressantes durante
facilmente manipuladas no transporte dos suínos. a viagem, como a vibração do caminhão e o descon-
Normalmente, é comprometida pela pressão econô- forto, que dificultam a adaptação dos animais em
mica, provocando o aumento da densidade para que curtas distâncias. A dificuldade dos animais para se
se maximize o lucro de uma única viagem (quanto mais manterem em equilíbrio pode aumentar quando as
suínos transportados, menor o custo). A decisão de estradas estiverem em más condições e o motorista
quantos suínos serão transportados pode ser definida tenha que realizar manobras bruscas com mudanças
pela agroindústria e a transportadora contratada, que na direção e variações de velocidade.
são diretamente influenciadas pelo fator econômico.
A densidade deve ser ajustada de acordo com
as condições climáticas no ambiente (temperatura,
umidade e ventilação) e peso dos animais, basean-
do-se no princípio de que todos os suínos devem ter
espaço suficiente para que possam deitar sem haver
amontoamento de um sobre o outro.
Definir padrões internacionalmente aceitos de
densidade no transporte é uma regra difícil de ser
cumprida devido à grande variação existente entre
os modelos dos veículos e as condições climáticas Foto 2 – Densidade elevada no transporte resulta em
estresse térmico e pode elevar a taxa de mortalidade
das regiões. A falta de padrões estabelecidos pelos FONTE: AUTORes
Distâncias de transporte e
condições de viagem
A duração do transporte pode afetar o bem-es-
tar e a qualidade da carne dos suínos e merece aten-
ção especial, visto que qualquer perda nessa etapa
poderá ser irreversível e comprometer o resultado
dos sete meses de produção de um lote.
Quando os animais são submetidos a condições
Foto 4 – Embarque dos suínos na granja, com estressantes no transporte, elevam-se os níveis
utilização de plataforma móvel, facilita a condução
dos animais em caminhões de três pisos plasmáticos de cortisol em resposta ao estresse psi-
FONTE: AUTORes cológico sofrido. Relatou-se baixas concentrações
Frequência cardíaca
Baseados nesses resultados, os autores sugeriram 100
que os suínos podem se adaptar ao transporte, se as 95
90
condições forem adequadas. No entanto, os auto-
85
res concluíram que suínos submetidos ao transpor- 80
Granja Antes embarque Transporte Abate
te de curta distância mostraram uma resposta de
Local de avaliação
estresse mais intensa do que animais submetidos ao
transporte de longa distância. Gráfico 1 – Valores médios da interação (período de
Os níveis de cortisol aumentaram quando com- descanso e local de avaliação) em relação à frequência
cardíaca dos suínos durante o manejo pré-abate
pararam 1h30 e 8h de transporte. Constatou-se que Fonte: Dalla Costa, 2009.
Procedimento no desembarque
no frigorífico
Durante o desembarque, o melhor é que os
suínos não encontrem inclinações; não havendo
possibilidade de eliminar a rampa, a inclinação má-
xima deve ser entre 10 e 15 graus. Uma inclinação
muito acentuada dificulta o manejo, tornando-o
lento, e aumenta o risco de ocorrerem escorregões
e quedas, provocando problemas no bem-estar dos
animais e na qualidade da carcaça.
A rampa deve ser lavada constantemente a
Figuras 1 e 2 – Procedimentos para desembarcar
fim de evitar acúmulo de água e fezes e reduzir e transportar suínos incapacitados de se
locomoverem – utilização de maca e carrinho
FONTE: AUTORes
Foto 15 – Rampa de desembarque com inclinação Figura 3 – Desembarque com a retirada dos suínos por
adequada, laterais fechadas e piso antiderrapante compartimentos e utilização de auxílios de manejo adequados
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O
manejo pré-abate dos suínos destinados Fatores que podem influenciar
ao consumo humano está diretamente a qualidade da carne
ligado à qualidade da carne que irá para Existem determinados fatores que podem in-
a mesa do consumidor final. A falta de comprome- fluenciar a qualidade da carne, interferindo na capa-
timento com o bem-estar e de cuidados com os cidade de retenção da água, cor e pH, o que resulta-
animais nessa fase, pode levar à produção de carne rá em um forte impacto econômico no rendimento
de baixa qualidade e perdas significativas no valor da carcaça e na qualidade dos produtos derivados.
comercial da carcaça. Por isso, deve-se levar em conta a importância de
O conceito de qualidade é comumente ligado a cada fator para que se obtenham resultados eco-
aspectos intrínsecos da carne, como aparência, pala- nômicos satisfatórios, atendendo às exigências de
tabilidade, rendimento, composição nutricional e se- mercado e reduzindo as perdas ocasionadas pelos
gurança alimentar, entre outros atributos. No entan- defeitos de qualidade da carne.
to, está havendo mudanças nesse conceito e alguns Abaixos os fatores que podem influenciar a qua-
autores já o definem como aspectos que englobam o lidade da carne:
bem-estar do animal, o que se denominou qualidade Animal – referem-se às características indi-
ética, referindo-se ao modo como os animais foram viduais dos suínos (genética, reatividade, idade,
criados, desde o nascimento até o abate. Outros sexo) e podem influenciar na susceptibilidade ao
aspectos de grande relevância dizem respeito à sus- estresse e na qualidade da carne. Entre os fatores
tentabilidade dos sistemas de produção e abrangem genéticos, os principais genes que têm influência
questões sociais, econômicas e ambientais. na qualidade da carne é o Gene Halotano (gene
hal) e o Gene do Rendimento Napole (RN - ) ou descer a rampa, manter o equilíbrio durante
gene da carne ácida; transporte);
Ambiente – sistema de criação, conforto térmi- »» Longos períodos de transporte e de descanso;
748
co, densidade, instalações da granja e do frigorífico; »» Densidade inadequada e tempo de descanso
Nutrição – condição física, composição e insuficiente;
quantidade de alimento, disponibilidade e qualida- »» Brigas (mistura de lotes);
de da água; »» Manejo agressivo, suínos agitados em decorrên-
Sanidade – ausência de doenças, ferimentos e cia da falta de familiaridade com os manejadores e
segurança alimentar durante o processamento e linhagens genéticas susceptíveis ao estresse.
armazenamento;
Manejo – interfere na forma como os suínos Curva de pH da carne
reagem durante a criação na granja e no pré-abate, O pH final da carne é estabelecido em dife-
principalmente no momento do pré-abate, em que rentes períodos no post mortem, dependendo da
os suínos estão expostos a vários fatores estressan- espécie, tipo de músculo e nível de estresse a que o
tes como: jejum, mudança de ambiente, embarque, animal foi submetido no manejo pré-abate. A queda
transporte, desembarque, mistura de lotes, méto- do pH na carne é importante para:
dos de condução e contenção; »» Retardar a proliferação de microrganismos;
Insensibilização e fatores post mortem – méto- »» Auxiliar na determinação do sabor e odor;
dos de insensibilização e sangria afetam diretamen- »» Promover a maciez da carne, já que algumas
te o bem-estar e a qualidade da carne e são conside- enzimas são dependentes do pH ácido para
rados de caráter ético. No entanto, os fatores post atuar na maturação.
mortem (velocidade de resfriamento, estimulação A ocorrência de defeitos como PSE e DFD, que
elétrica, maturação, tipo de armazenamento) tam- está diretamente relacionada com a velocidade de
bém influenciam na qualidade da carne, porém es- queda do pH muscular associada à temperatura. Em
tão mais ligados ao ponto de vista tecnológico. algumas espécies, como bovinos, prevalece o DFD,
enquanto em outras, como suínos e aves, prevalece
Metabolismo muscular post o defeito PSE.
mortem e qualidade da carne O pH final da carne suína normalmente sofre
Quando o animal é abatido, ocorrem mudan- uma queda de 7,2-7,0 para valores próximos a 5,3-
ças intensas nos músculos. A circulação sanguínea 5,8 que são alcançados em torno de seis a oito horas
cessa, o oxigênio e outros componentes ricos em post mortem. Em situações extremas de estresse,
energia (glicose) não chegam às células e os produ- em que os suínos desenvolvem o defeito PSE, o pH
tos metabólicos celulares não são removidos. No do músculo varia de 5,3 a 5,5 já nas primeiras horas
entanto, o músculo pode buscar outras fontes de (uma a duas horas) após o abate.
reserva de energia na ausência do oxigênio, como o
glicogênio, que é convertido em ácido lático, o qual é Defeitos da carne suína
responsável pela queda do pH.
A taxa de conversão do glicogênio em ácido DFD
lático é um fator importante nos processos meta- A carne com o defeito DFD (foto 1), do inglês
bólicos e pode afetar diretamente a capacidade de dark, firm, dry, ou escura, firme e seca, é consequên-
retenção de água e a coloração final da carne. En- cia do manejo ante mortem inadequado, que deter-
tretanto, a reserva de glicogênio muscular que cada mina o consumo do glicogênio muscular antes do
animal possui antes do abate pode ser gasta devido abate, contribuindo para um pH final elevado (menor
a vários fatores como: produção de ácido lático devido à baixa reserva de
»» Jejum associado a exercício intenso (subir e glicogênio).
PSE
A carne PSE (pale, soft, exsudative ou pálida,
mole e exsudativa) normalmente está associada ao
estresse intenso ou agudo, que ocorre próximo ao
momento do abate (foto 2).
Em situações em que os suínos estão submeti-
dos ao estresse intenso de curta duração, há aumen-
Foto 1 – Amostra de lombo (Longissimus to da concentração de hormônios no sangue ligados
dorsi) com o defeito DFD
FONTE: AUTORES ao estresse. Esses hormônios podem interferir no
Essa condição é encontrada em animais subme- metabolismo muscular e ocasionar aumento da
tidos a estresse de longa duração (estresse crônico), temperatura, gasto excessivo de glicogênio mus-
geralmente provocado por manejo na granja, mistu- cular com deposição de alta concentração de ácido
ra de lotes, brigas, condições inadequadas de trans- lático no músculo no post mortem.
porte e área de descanso no frigorífico. Ao mesmo tempo, se a concentração de ácido
Nesse defeito, o pH final elevado da carne lático aumenta (maior acidificação), o pH aos 45
(acima de 6,0) favorece o desenvolvimento de mi- minutos será baixo (menor que 6,0) e associado à
cro-organismos responsáveis pela degradação do temperatura elevada (acima de 30°C), produzirá
produto, assim como alterações nas características maior desnaturação proteica durante o processo
físicas, bioquímicas e organolépticas da carne, re- de conversão do músculo em carne, promovendo o
sultando em: aparecimento do defeito PSE. Esse é caracterizado
»» Alta capacidade de retenção de água (CRA) pela baixa capacidade de retenção de água e exces-
das fibras musculares, apresentando aspecto siva exsudação, e isso leva à rejeição dos cortes pelo
seco na superfície; processador e consumidor.
»» Textura firme;
»» Coloração escura;
»» Curto período de conservação;
»» Carne imprópria para a elaboração de alguns
produtos industrializados (produtos fermen-
tados).
Para diminuir a incidência de carnes com o de-
feito DFD, é necessário minimizar os fatores que
proporcionam estresse no manejo pré-abate. Para
isso recomenda-se:
»» Conduzir os suínos em pequenos grupos, de
forma calma, desde a granja até as baias de
descanso do frigorífico; Foto 2 – Amostra de lombo (Longissimus
dorsi) com o defeito PSE
»» Embarcar e desembarcar os suínos calma- FONTE: AUTORES
5,5 Normal
PSE Avaliação do pH
O pH é um importante indicador das caracte-
5
0 1 2 3 4 rísticas de qualidade da carne e pode ser usado para
Horas após o abate
detectar tanto o defeito PSE como DFD (foto 3). As
avaliações do pH devem ser realizadas nas carcaças
Gráfico 1 – Curva do pH post mortem em carne em diferentes tempos (gráfico 1): 45 minutos (linha
suína normal e com o defeito PSE e DFD
Fonte: Adaptado de Gregory (1998) de abate) e 24 horas post mortem (câmara de resfria-
751
Foto 4 – Mensuração do pH no músculo Foto 5 – Análise de cor pelo uso do colorímetro Minolta
Longissimus dorsi 24 horas post mortem FONTE: AUTORES
FONTE: AUTORES
mento) através de um eletrodo de vidro ligado ao tante para a determinação de defeitos como PSE e
pHmetro portátil (foto 4). Os principais músculos DFD. A carne pálida, característica de PSE, é con-
utilizados como referência são: Longissimus dorsi sequência da desnaturação proteica enquanto o
(lombo) e o Semimembranosus (coxão mole). músculo ainda está quente, fazendo com que haja
Valores de pH inicial(45min) menores que 5,8 são grande concentração de água livre nos tecidos e
úteis para detectar PSE, já que alguns cortes suínos desnaturação da porção proteica da mioglobina.
tornam-se PSE logo nas primeiras horas. Valores A avaliação da cor pode ser feita nos músculos
de pH(24h post mortem) acima de 6,0 como na carne DFD Longissimus dorsi (LD) e Semimembranosus (SM), no
indicam alto risco de contaminação microbiológica, período de 24 horas post mortem, utilizando-se mé-
já que essa carne não possui o pH ácido para inibir a todos como:
proliferação de micro-organismos. »» Colorímetro Minolta (foto 5);
»» Padrão de Cor Japonês (Japanese Color
Análise da cor Standards - JCS) (figura 2);
A cor também é um importante fator que con- »» Padrão de fotos “Pork Quality Standards”
tribui para a identificação dos defeitos da carne, (figura 1).
além de ser fator determinante para o consumidor No padrão de fotos “Pork Quality Standards”
no momento da compra. A mioglobina é o principal (National Pork Board ) há uma escala que varia de 1,0 a
pigmento proteico que compõe a carne; varia de 6,0, em que os valores mais baixos correspondem à co-
acordo com espécie, idade, sexo, tipo de músculo e loração pálida e os mais altos à coloração escura, tendo
pode ser influenciado pelo estresse a que o animal o valor 3,0 como dentro da normalidade.
foi submetido antes do abate.
A curva do pH post mortem é um fator impor- Perda por exsudação (drip loss)
A carne processada é afetada pela baixa capaci-
dade de retenção de água, o que limita o rendimento
e o processo de industrialização. Contudo, a carne in
1.0 2.0 3.0 4.0 5.0 5.0
natura com altos valores de exsudação tem aparên-
Figura 1 – Análise de cor por meio do “Pork Quality Standards”
cia pouco atrativa para os consumidores, resultan-
do em uma baixa aceitação no mercado.
A avaliação da perda de água pode ser realizada
pelo:
Figura 2 – Análise de cor por meio do »» Método de perda por absorção – contato do
Japanese Color Standards – JCS
Imagem cedida por: Luigi Faucitano
filtro de papel sobre uma amostra de carne;
A B
752
Foto 6 A e B – Método de exsudação por gravidade para medir a perda por gotejamento da carne suína
FONTE: AUTORES
»» Método de perda por exsudação – perda de A relação entre as três avaliações (pH, colora-
água por ação da gravidade, com gotejamen- ção e perda por exsudação) é que permitirá uma
to, e comumente utiliza amostras colocadas definição confiável da incidência de defeitos (PSE e
em redes com saco plástico inflado (foto 6 A DFD), bem como algumas alterações intermediárias
e B). Para aprimorar esse método, o Instituto entre esses defeitos (RSE e PFN) e a carne conside-
de pesquisa na área de carnes (Danish Meat rada normal.
Research Institute – DMRI) desenvolveu o A carne RSE (redish, soft, exudative ou vermelha,
EZ-DripLoss (foto 7), em que as amostras são mole e exsudativa) é um tipo de PSE intermediário,
colocadas em recipientes específicos para na qual observa-se baixa capacidade de retenção
atuação da gravidade. Resultados das amos- de água (perda por exsudação acima de 5%), porém
tras de carne entre 2-5% de gotejamento são sua coloração permanece normal, pois não atinge o
considerados normais, maior que 2%, DFD, e extremo da desnaturação proteica.
menor que 5%, PSE. A carne classificada como PFN (pale, firm, non
exudative) é pálida, porém sua textura é firme e não
é exsudativa. Já a RFN (redish, firm, non exudative)
é considerada normal por conter um padrão ideal,
uma vez que sua coloração, textura e exsudação são
atendidas.
Outro método de realizar a classificação da qua-
lidade da carne suína está representado na tabela
abaixo. Nesta utilizam-se os valores médios do pH
final post mortem, perda de água por exsudação (drip
loss), coloração subjetiva pelo padrão japonês (JCS)
e objetiva através do Minolta.
Classificação das amostras de carne suína em
relação aos valores médios do pHu post mortem,
Foto 7 – Método de exsudação por gravidade para medir perda de água por exsudação e coloração (JCS e
a perda por gotejamento da carne suína (EZ DripLoss)
FONTE: AUTORES Minolta).
Avaliação visual
Escoriações na carcaça
Um indicativo para avaliar a qualidade do mane-
jo pré-abate dos suínos é quantificar a incidência de
lesões na carcaça (escoriações). Para isso, utiliza-se
o padrão de lesões de carcaça da Meat and Livesto-
ck Commission (MLC) com adaptações, que apre-
senta um escore de 1 a 5, podendo ser consideradas
notas intermediárias (1,5; 2,5), conforme abaixo
(figura 3 A, B, C e D):
1. Carcaça sem lesões aparentes;
2. Carcaça com poucas lesões aparentes “leves”;
3. Carcaça com lesões aparentes “leves”;
4. Carcaça com lesões aparentes “moderadas”;
5. Carcaça com lesões aparentes “severas”.
Lesões localizadas no dorso e parte posterior do
animal, com marcas características de cascos devido
à atividade de monta, podem ter acontecido na fila
indiana no corredor ou na entrada do restrainer, prin- Foto 8 – Lesões ocasionadas pelo uso do bastão elétrico
FONTE: AUTORES
cipalmente quando se utiliza bastão elétrico.
O bastão elétrico deve ser evitado por ser um
A B C D procedimento doloroso, que leva ao sofrimento
e agitação do grupo, podendo ocasionar alta inci-
dência de lesões (foto 8) e defeitos de qualidade
da carne (petéquias).
O monitoramento da incidência de lesões na car-
caça também pode ser utilizado para reconhecer a
origem e causa das lesões, as quais são diferenciadas
em: lesões de brigas, manejo e densidade. Quando
Figura 3 A, B, C e D –Escala de lesões nas as lesões são causadas por brigas entre os suínos, há
carcaças segundo padrão MLC
Fonte: MLC (1985) maior incidência de lesões na região anterior do ani-
754
Hematoma, contusão e fratura
A ocorrência de hematomas, contusões e fra-
turas evidencia um manejo inadequado e é sinal de
sofrimento para os animais (fotos 10 e 11), devido
à presença de dor por longo período. Além disso,
representa grandes perdas econômicas por afetar
locais nobres e de difícil remoção sem comprometer
o restante da região ou corte (pernil, lombo). Podem
Foto 9 – Alta incidência de lesões no pescoço também depreciar os cortes, já que suínos que so-
e paleta provocadas por brigas
FONTE: AUTORES frem traumas (ferimentos) antes do abate tendem a
produzir carne com valores de pH24h indesejáveis.
mal (pescoço e paleta), normalmente caracterizadas »» Hematoma – comumente ocorre no manejo
por uma marca dupla (dentes). O tempo de jejum pro- pré-abate quando há trauma que afeta a resis-
longado também pode contribuir para o aumento das tência da parede dos vasos sanguíneos, levan-
brigas (foto 9), pois os suínos se tornam mais agressi- do ao extravasamento de sangue do sistema
vos quando estão com fome. vascular para os tecidos ou órgãos. Os hema-
Já as lesões características de manejo e densidade tomas podem causar aumento de volume nos
causadas principalmente por agressões, instalações, locais onde ocorrem, dependendo da extensão,
manejo inadequado e alta densidade são facilmente já que têm medidas tridimensionais.
diferenciáveis pela sua localização e formato, quando »» Contusão – causada por um trauma agudo,
comparadas às lesões causadas por brigas (mordidas). sem ferimentos externos ou fraturas, que
A adoção de programas que visam monitorar pode resultar em dor e edema, com trauma
a incidência e o tipo de lesões é uma forma fácil e muscular e de tecido subcutâneo (inchaço),
eficaz que o frigorífico tem para avaliar e controlar até graus elevados de extravasamento de san-
o manejo, e, assim, agir com medidas práticas cor- gue (hematomas).
A coloração do hematoma e/ou contusão na car-
caça pode indicar se é um trauma antigo ou recente.
Essa mudança na coloração se dá devido à degradação
da hemoglobina (vermelho) do sangue retido no teci-
A B C
756
eletronarcose, ocorre aumento da atividade mus- ção de melhores práticas de manejo desde a granja
cular e da pressão sanguínea, pelo fato de a corren- até o momento da sangria, tais como:
te elétrica circulante estimular a contração mus- »» Nutrição adequada dos suínos nas granjas;
cular. Esse aumento na pressão circulatória pode »» Manejo dos suínos com tranquilidade, sem a
provocar rompimento dos capilares sanguíneos utilização de bastão elétrico durante todo o
que irrigam a musculatura. Com isso, podem ser processo;
visualizados pontos hemorrágicos na musculatura, »» Manutenção dos eletrodos e ajuste dos equi-
os quais denominamos petéquias ou salpicamento. pamentos de insensibilização;
»» Treinamento dos operadores;
Causas do salpicamento »» Métodos de insensibilização com gás redu-
O salpicamento (foto 14 A, B e C) pode ser pro- zem a incidência de salpicamento devido à
vocado por uma série de fatores, como: baixa estimulação da musculatura, quando
»» Longo período de aplicação dos eletrodos comparados aos sistemas elétricos;
durante a insensibilização dos suínos; »» Curto período entre insensibilização e a san-
»» Várias aplicações dos eletrodos; gria (máximo de 15 segundos).
»» Excesso de corrente elétrica durante a insen-
sibilização; Conclusão
»» Longo período entre a insensibilização e a O bem-estar no manejo pré-abate está di-
sangria, devido à pressão sanguínea se man- retamente ligado à qualidade da carne suína e à
ter elevada por mais tempo; rentabilidade das agroindústrias. Para tanto, é
»» Utilização de corrente elétrica com baixa fre- importante a indústria avaliar e quantificar os
quência (60 Hz) durante a insensibilização; problemas que podem ser ocasionados pelo ma-
»» Fragilidade dos capilares sanguíneos (defici- nejo inadequado (escoriações na pele, carne PSE
ência nutricional, fatores genéticos); e DFD, salpicamento, hematomas, contusões e
»» Utilização de bastão elétrico no manejo pré fraturas), e assim identificar os pontos de contro-
-abate. le nas etapas de manejo pré-abate que necessi-
tam de maior atenção e propor ações corretivas
Como reduzir o salpicamento para impedir o sofrimento dos animais e reduzir
O salpicamento pode ser reduzido com a utiliza- as perdas econômicas.
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E
m ambientes industriais, a tipificação das car- estômago e que eventualmente podem ser comer-
caças de suínos recém-abatidos consiste em cializadas como alimentos. Consequentemente, a
medir a quantidade de carne (tecido muscular carcaça é a parte do suíno vivo que será transfor-
esquelético) e gordura (tecido adiposo subcutâneo e mada em produtos derivados da carne e da gordura
intermuscular) contida na carcaça quente ou fria em com valor de venda. Do ponto de vista anatômico, a
qualquer peso. É utilizada para selecionar a matéria carcaça dos suínos compreende o corpo do animal
-prima que está entrando na indústria. A tipificação abatido, sangrado, eviscerado, sem a gordura abdo-
das carcaças é praticada quando são medidas a es- minal e perirrenal, sem o rabo e as patas dianteiras
pessura do toucinho (ET, mm) do lombo e de outros e dentro do conceito empregado no Brasil, sem a
pontos da carcaça, da profundidade do músculo do cabeça (figura 1). A esta definição pode ainda ser
lombo (PM, mm) e do peso da carcaça quente (PCQ, acrescida a terminologia carcaça quente, isto é, a
kg) ou fria (PCF, kg). Formam-se “tipos de carcaças”, carcaça pesada na linha de abate aproximadamen-
o que facilita a identificação, classificação, separa- te trinta minutos após a sangria do animal e pos-
ção e o aproveitamento industrial de acordo com as suidora de uma temperatura interna do pernil nor-
prioridades de momento do processador. malmente entre 38° e 41°C, e carcaça fria, pesada
No peso econômico de abate, isto é, entre 110 e após o resfriamento forçado ou convencional, com
130 quilos, o suíno terminado possui em média 48% a mesma constituição anatômica, porém possuindo
de tecido muscular estriado esquelético e aproxi- uma temperatura interna do pernil entre 2° e 7°C.
madamente 18% de gordura (intra + extramuscu- Geralmente a carcaça fria possui um peso entre 0,8
lar + toucinho), o que representa para a indústria a 2,3% menor do que o peso da carcaça quente de-
processadora um conteúdo de 52,8 a 62,4Kg de vido às perdas evaporativas e por gotejamento que
carne magra e 19,8 a 23,4Kg de gordura por animal incidem sobre as carcaças durante o processo de
abatido, nesse intervalo de peso vivo. Entretanto, a resfriamento em câmaras frias.
distribuição das quantidades de carne e gordura é
diferente em cada um dos quatro cortes primários Conceito de carne
da carcaça. Invariavelmente, a melhor relação en- Toda a carne contida na carcaça do suíno ter-
tre carne e gordura está no pernil, seguida da pale- minado é composta de musculatura estriada es-
ta e do costado. A barriga apresenta a pior relação
carne e gordura entre os quatro cortes primários.
quelética, ou seja, todos aqueles músculos direta grânulos de glicogênio. A membrana que envolve
ou indiretamente aderidos aos ossos. Os múscu- a célula é denominada sarcolema ou plasmalema.
los estriados do esqueleto são responsáveis pelo O sarcolema se dobra originando um sistema de
759
movimento corporal e são compostos de células túbulos que formam uma rede através da fibra (os
multinucleadas em forma de fibra, que podem ter túbulos T) particularmente na região das linhas Z
o comprimento total do músculo e estão arranjadas ou discos Z. O sistema permanece em contato dire-
em miofibrilas. Cada miofibrila é formada por dois to com regiões distendidas do RS, formando tríades
tipos de filamentos longitudinais. O filamento gros- ou “trios”. Os túbulos T e o RS formam um sistema
so contém majoritariamente a proteína miosina, funcionalmente contínuo. O núcleo da célula mus-
que, por sua vez, consiste de duas idênticas cadeias cular situa-se logo abaixo do sarcolema.
grossas e de dois pares de cadeia fina. Pequenas Uma característica única das fibras musculares
projeções globulares em uma das cadeias grossas é o seu arranjo regular em fibrilas envoltas pelo sar-
formam a cabeça, as quais possuem sítios de liga- coplasma. Uma única fibra pode conter de mil a duas
ção de ATP assim como uma capacidade enzimática mil fibrilas cada uma com aproximadamente 1µm de
de hidrolisar ATP. Os filamentos finos contêm as diâmetro, dispostas longitudinalmente. Juntas, as
proteínas actina, tropomiosina e troponina. Uma fibrilas podem ocupar até 80% do volume total da fi-
característica única do músculo esquelético é a sua bra. Cada uma das fibrilas é composta de elementos
diversidade, derivada do seu desenho ou forma- ainda menores denominados filamentos. São dois
to, tipo de fibra ou célula, ou ainda da composição os tipos de filamentos: o grosso (aproximadamente
e heterogeneidade individual das fibras. É sabido 15nm de diâmetro), que consiste principalmente da
que nenhum músculo dentro do suíno é idêntico a proteína miosina; e o filamento fino (aproximada-
outro e que, entre distintos grupos genéticos, mús- mente sete nm de diâmetro), consistindo principal-
culos homólogos exibem diferenças na composição mente da proteína actina. Em certas condições, a
da fibra muscular. actina e a miosina podem reagir juntas para produzir
Cada fibra muscular é funcionalmente equiva- a contração do sistema e, dessa forma, do músculo
lente a uma célula, apesar da formação da fibra ter como um todo. Quando elas estão nesse estado, são
acontecido pela fusão de inúmeros mioblastos. O denominadas em combinação como actomiosina. As
comprimento da fibra muscular pode variar em até fibras, fibrilas e filamentos ganham em certas deno-
dezenas de centímetros, mas seu diâmetro possui minações o prefixo mio, indicando sua relação com
somente de 60 a 100µm. Em suínos jovens o diâme- o músculo, e, desse modo, denominam-se miofibra,
tro da fibra muscular pode até ser menor. As fibras miofibrila e miofilamento.
contêm todas as organelas normalmente encontra-
das em outras células vivas, isto é: núcleo (mais de Conceito de gordura
um porque cada fibra é efetivamente formada de A gordura da carcaça dos suínos é encontrada
mais de uma célula), mitocôndria e um extenso retí- em um tecido conjuntivo especializado denomina-
culo sarcoplasmático – RS (equivalente ao retículo do tecido adiposo. As células de gordura são deno-
endoplasmático de outros tipos celulares), todos minadas adipócitos e estão preenchidas com tri-
contidos dentro do sarcoplasma (equivalente ao ci- glicerídeos. Dessa forma, seu núcleo e citoplasma
toplasma). A mitocôndria contém as enzimas envol- estão restritos a uma fina camada abaixo da mem-
vidas no metabolismo aeróbico e o RS atua como brana celular. Entretanto, o tamanho dos adipóci-
um depósito de íons cálcio: estes são liberados tos varia de acordo com o depósito de gordura no
para iniciar a contração muscular e reabsorvidos qual se encontram e também de acordo com as di-
ou sequestrados para terminar a contração. O sar- ferentes fases de crescimento do animal. Os adipó-
coplasma também contém lisossomos, que atuam citos são maiores naquelas quantidades de gordura
como um reservatório de enzimas proteolíticas e depositadas mais precocemente na vida do suíno,
e podem alcançar 10 µm de diâmetro. São quatro altamente significativa. Em outras palavras, quan-
os maiores depósitos de gordura corporal do suí to maior a espessura do toucinho (ET), menor é a
no: gordura subcutânea (“toucinho”), perirrenal quantidade de carne na carcaça e o inverso também
760
(ao redor dos rins), gordura visceral (ou cavitária) é verdadeiro. Devido a esse privilégio anatômico, a
e as gorduras intra (“marmoreio”) e intermuscu- medição da ET com réguas milimétricas deu início
lar (entre os músculos). Aproximadamente de 98 ao processo de tipificação de carcaças suínas nas li-
a 99% das células de gordura maduras consistem nhas de abate. Dependendo da velocidade de abate
de triglicerídeos, portanto possuem citoplasma pe- (suínos/hora), é ou foi possível medir a ET em mais
queno contendo poucas organelas. O complexo de de uma posição na carcaça, o que teoricamente
Golgi também é pequeno, existem alguns poucos aumenta a precisão da estimativa do rendimento
ribossomos e mitocôndrias, com um disperso RS. de carne. Com o passar do tempo e o aparecimen-
As grandes gotas de triglicerídeos que preenchem to de alternativas tecnológicas para a leitura da ET,
quase o total de cada célula não estão diretamente as réguas foram abandonadas, dando lugar a “pis-
envoltas pela membrana celular. Essas gotas estão tolas” ou “probes” de fibras óticas, que realizam a
retidas e se mantêm em posição por meio de uma medida pelo contraste da dispersão da luz entre o
delicada rede de filamentos muito finos com apro- tecido gorduroso (claro) e o tecido muscular (escu-
ximadamente 10nm de diâmetro. ro). Em anos recentes, foram desenvolvidos novos
Os depósitos de gordura corporal nos suínos va- métodos de leitura da ET das carcaças, com desta-
riam em tamanho desde pequenos grupos de adipó- que para o sistema de ultrassom, método não inva-
citos entre os feixes de fibras musculares, até o vasto sivo e de alta precisão.
número de adipócitos localizados subcutâneamente Entretanto, um sistema de tipificação de car-
e visceralmente. É muito importante distinguir entre caças não é composto somente do equipamento de
sítios anatômicos e localizações sistêmicas. Regiões leitura da ET. Associado à medida da ET por qual-
ou músculos específicos da carcaça são sítios anatô- quer equipamento, é fundamental possuir uma
micos. Intermuscular, intramuscular, visceral e sub- balança dinâmica de nórea, pois o peso da carcaça
cutâneo são localizações sistêmicas. Por exemplo, quente mais a ET são os mais importantes estima-
a gordura de um sítio anatômico específico como a dores do rendimento de carne da carcaça. Conse-
paleta pode ser separada em diferentes depósitos quentemente, a manutenção da precisão da balan-
sistêmicos (subcutâneo, intermuscular e intramus- ça é fundamental para que o resultado esperado
cular). A distinção entre sítios anatômicos e localiza- seja obtido sem margem para erros ou geração de
ções sistêmicas é muito importante comercialmen- dúvidas. Na verdade, tanto o equipamento que
te. Por exemplo, a deposição sistêmica de gordura faz a leitura da ET, quanto a balança dinâmica, são
na carcaça influencia os índices comerciais de com- dois pontos críticos e por isso mesmo demandam
posição de carcaça, como o rendimento. A maioria aferição rotineira na linha de abate. Para aferição
da gordura que é depositada ao redor das vísceras é da leitura da ET, é recomendável que, logo após a
removida com as vísceras após o abate e isso reduz o tipificação, sejam feitas novas leituras nas mesmas
rendimento de carcaça. Por sua vez, a gordura que é carcaças tipificadas com o uso de um paquímetro
depositada entre ou dentro dos músculos aumenta o digital. Para maior segurança na aferição, recomen-
rendimento de carcaça. da-se a leitura mútua em carcaças com diferentes
valores de peso quente e de ET, e essas leituras
Equipamentos utilizados no manuais com o paquímetro devem ser comparadas
processo de tipificação com os valores fornecidos pelo equipamento medi-
Na carcaça suína, a correlação entre o depó- dor da ET. Somente dessa forma pode ser conhecida
sito de gordura subcutânea (“toucinho”) e a quan- a precisão da leitura da ET, em um curto espaço de
tidade e o rendimento geral de carne é negativa e tempo (figura 2). Para a aferição da balança, deve-
ralmente executada por um operador que utiliza di- para identificar peso, quantidade de carne, quanti-
ferentes tipos e modelos de equipamentos. Apesar dade de gordura e rendimentos de carne e gordura
de terem sido relatadas diferenças na precisão dos das carcaças e respectivos cortes primários (pernil,
762
equipamentos comumente utilizados para tipificar paleta, costado e barrigas). Dependendo do nível de
carcaças suínas, a variação (baixa repetibilidade) detalhamento durante as dissecações, partes dos
entre operadores ainda é a maior fonte de erro nas cortes também podem ser estimadas (sobrepale-
medidas tomadas na linha de abate. Como con- ta, copa, filezinho, lombo, coxão-mole, coxão-duro,
sequência, os resultados gerados pelas equações patinho, alcatra, costela e outros). Tudo isso torna
estimadoras de quantidade de carne magra ficam possível a identificação e a separação de carcaças e
distorcidos, o que pode desacreditar o próprio cortes dos mais variados pesos e rendimentos, pro-
sistema de tipificação. Entretanto, com a precisão piciando aos frigoríficos detectar o valor agregado
das medidas garantidas pelos equipamentos e pelo aumento da quantidade de carne nas carcaças
operadores, a confiabilidade das equações permite e nos cortes, como também configurar oferta con-
aos frigoríficos a perfeita identificação das carcaças tra demanda de determinados produtos. A seguir,
de máximo valor ao mesmo tempo, possibilitando temos um exemplo em que cem ½ carcaças esquer-
orientar os cortes para o atendimento de determi- das resfriadas foram separadas em quatro cortes
nados mercados e/ou processamento integral deles. primários – paleta, carrê (ou costado), barriga e
A captura do valor expresso pela quantidade de pernil – e estes foram completamente dissecados
carne contida na carcaça é possível de ser realizada em carne, gordura, ossos e pele.
dentro do frigorífico de forma manual e não roti- A tabela 1 descreve diferentes estruturas de
neira por meio da dissecação anatômica dos quatro correlação entre dados obtidos durante a tipifica-
cortes primários (pernil, paleta, costado ou carrê e ção (preditores) e os cortes de carcaças. A primei-
barriga) ou ainda de forma rotineira e automatiza- ra parte da tabela apresenta a correlação somente
da por meio da tipificação das carcaças. A disseca- entre os cortes das carcaças dissecadas. A segunda
ção de carcaças é um trabalho que consome tempo parte mostra a correlação simples entre cada pre-
e mão de obra e, ultimamente, tem sido demonstra- ditor e a quantidade ou peso das partes da carca-
da a possibilidade de substituição desse método de ça e a terceira parte procura mostrar a correlação
quantificação real (não estimada) do conteúdo de parcial. A correlação parcial é extremamente im-
carne magra nas carcaças por meio da ressonância portante, porque individualmente um determinado
magnética (Magnetic Resonance Imaging – MRI) ou preditor pode apresentar correlação positiva com
com o uso de raios-X (Dual energy X-ray absorptio- um determinado corte da carcaça, mas na presen-
metry – DXA). O uso em escala industrial destas ça de outros preditores, também necessários, essa
tecnologias – MRI e DXA – ainda é limitado devido correlação poderá se inverter.
ao custo e à velocidade de resposta dos aparelhos A 1a linha da 2a parte da tabela 1 mostra que a
empregados na emissão das imagens digitais. Por- correlação do peso dos cortes com o peso da carca-
tanto, eles podem substituir com a precisão neces- ça quente é superior a 0,75, o que indica que esse
sária a laboriosa tarefa de dissecar carcaças (120 peso precisa ser considerado para estimar o peso
≤ n ≤ 150), mas não são apropriados para tipificar dos cortes. Isso está de acordo com o fenômeno da
carcaças em linhas de abate. alometria, em que as partes devem concordar com
o todo. Como consequência, essas partes também
Correlações entre as partes da carcaça apresentam correlação mútua de média para alta
Apesar de demorada e do grande número de (1a parte da tabela 1). A profundidade de múscu-
detalhes, a dissecação fornece valioso conjunto de lo (MUS) apresenta uma correlação positiva baixa
dados que permite construir equações de regressão (0,19 a 0,40) com os cortes, entretanto, quando são
linear simples ou múltiplas com precisão suficiente fixados os valores do peso da carcaça quente (PE-
SOQ) e a espessura de toucinho (ESP), essa correla- com os pesos do carrê e barriga, em que a correla-
ção praticamente desaparece. Portanto, a profundi- ção indicada é positiva, contrariando o que postula
dade de músculo é a variável menos importante para a lei alométrica tradicional. Se esse é um dos casos
predizer os cortes da carcaça (compare a 3a linha da em que preenche o jargão “Toda regra possui exce-
2a parte com a 4a linha da 3a parte da tabela 1). ção”, as equações preditoras dessas partes da car-
A espessura de toucinho apresenta correlação caça estarão cometendo os erros normais em que
simples baixa com as partes da carcaça resfriada, toda estimativa incorre. Caso contrário, o trabalho
variando de negativa a positiva (2a linha da 2a parte de predição no dia a dia é ineficiente. Dessa for-
da tabela 1). Mas ao considerar as correlações con- ma, assim como a quantidade de carne na carcaça
dicionadas (2a e 3a linhas da terceira parte da tabela quente foi estimada em função dos preditores peso
1, a ESP se torna importante para predizer os cor- da carcaça quente (PESOQ), espessura de toucinho
tes da carcaça, pelo fato de que as correlações se (ESP) e profundidade de músculo (MUS), poderia se
tornam médias ou altas. Um fato inesperado ocorre usar o mesmo procedimento para gerar equações
específicas para predizer o peso e quantidade de na tabela 2 podem ser consideradas de regulares
carne nas partes da carcaça fria. para boas, uma vez que todos os parâmetros são
Parece ser mais prático incluir a % de carne significativos (P < 0,05), o coeficiente de determi-
estimada como um novo preditor e usar apenas nação (R2) varia de 88,36 a 96,74% e o coeficiente
dois preditores para estimar os cortes; o peso da de variação é inferior a 8%.
carcaça quente (PESOQ) e a % de carne na carcaça A tabela 3 simula o peso e a quantidade de
quente (PCMQ) ou na carcaça fria (PCMF), confor- carne das partes da carcaça em função da % de
me indicado pelas quatro últimas linhas da 3a parte carne magra e do peso da carcaça quente, na qual
da tabela 2. Observe que o problema da correlação se observa que o problema da correlação negativa
negativa de PCMF ou PCMQ com os pesos do carrê entre o peso do carrê e da barriga com a % de car-
e da barriga permanece. Dessa forma, a predição ne pode estar mascarando a estimativa realizada.
pode ser realizada com apenas duas variáveis ex- Caso essas informações sejam inconsistentes, é
plicativas, o peso da carcaça quente e a % de carne necessário realizar outras dissecações. É impor-
quente. A principal finalidade das equações é dar tante lembrar que a utilização das equações de
destino industrial às carcaças tipificadas, portanto predição para classificação dos tipos de carcaça e
o modelo linear da forma Y = a0 + a1*PesoQ + a2* cortes que o frigorífico recebe dos fornecedores
(% carne magra) atende a necessidades dos frigo- (produtores de suínos vivos) é dependente da (1)
ríficos. Apresentam-se na tabela 2 as equações de precisão da medida da espessura do toucinho e
estimativa do peso e da quantidade de carne conti- profundidade do lombo, ambos obtidos durante a
da em cada corte da carcaça. tipificação e (2) da correta pesagem das carcaças
De um modo geral, as equações apresentadas na balança dinâmica da nórea.
PESO DOS CORTES DA 1/2 CARCAÇA KG CARNE NOS CORTES DA 1/2 CARCAÇA
Peso Quente
P%CM Paleta Carrê Barriga Pernil TOTAL Paleta Carrê Barriga Pernil TOTAL
kg
kg kg kg kg kg kg kg kg kg kg
50 60 7,646 3,987 3,825 8,116 23,987 4,654 2,457 2,149 5,316 14,928 765
50 65 7,863 3,675 3,601 8,334 23,917 5,214 2,746 2,388 6,023 16,763
50 70 8,080 3,364 3,376 8,551 23,846 5,774 3,035 2,627 6,730 18,598
60 40 8,098 6,167 5,665 8,773 29,070 3,166 1,784 1,638 3,388 10,230
60 45 8,315 5,855 5,441 8,990 28,999 3,726 2,073 1,877 4,095 12,065
60 50 8,532 5,543 5,216 9,208 28,928 4,286 2,362 2,117 4,802 13,901
60 55 8,749 5,231 4,992 9,425 28,857 4,846 2,651 2,356 5,509 15,736
60 60 8,966 4,919 4,768 9,643 28,787 5,406 2,940 2,595 6,215 17,570
60 65 9,184 4,607 4,543 9,861 28,717 5,966 3,229 2,834 6,922 19,405
60 70 9,401 4,296 4,319 10,078 28,647 6,526 3,518 3,073 7,629 21,240
70 40 9,418 7,098 6,607 10,300 33,868 3,918 2,268 2,084 4,287 12,874
70 45 9,635 6,787 6,383 10,517 33,798 4,478 2,557 2,324 4,994 14,710
70 50 9,853 6,475 6,159 10,735 33,729 5,038 2,846 2,563 5,701 16,545
70 55 10,070 6,163 5,934 10,952 33,657 5,598 3,135 2,802 6,408 18,380
70 60 10,287 5,851 5,710 11,170 33,587 6,158 3,423 3,041 7,115 20,214
70 65 10,504 5,539 5,486 11,388 33,516 6,718 3,712 3,280 7,822 22,049
70 70 10,721 5,227 5,261 11,605 33,444 7,278 4,001 3,519 8,529 23,884
80 40 10,739 8,030 7,550 11,827 38,669 4,669 2,751 2,531 5,186 15,516
80 45 10,956 7,719 7,325 12,044 38,598 5,230 3,040 2,770 5,893 17,352
80 50 11,173 7,407 7,101 12,262 38,527 5,790 3,329 3,009 6,600 19,187
80 55 11,390 7,095 6,877 12,480 38,457 6,350 3,618 3,248 7,307 21,022
80 60 11,608 6,783 6,652 12,697 38,386 6,910 3,907 3,487 8,014 22,857
80 65 11,825 6,471 6,428 12,915 38,316 7,470 4,196 3,726 8,721 24,692
80 70 12,042 6,159 6,204 13,132 38,245 8,030 4,485 3,965 9,428 26,527
90 40 12,059 8,962 8,492 13,354 43,467 5,421 3,234 2,977 6,085 18,158
90 45 12,277 8,651 8,268 13,571 43,398 5,981 3,523 3,216 6,792 19,993
90 50 12,494 8,339 8,044 13,789 43,328 6,541 3,812 3,455 7,499 21,828
90 55 12,711 8,027 7,819 14,007 43,257 7,102 4,101 3,694 8,206 23,664
90 60 12,928 7,715 7,595 14,224 43,186 7,662 4,390 3,933 8,913 25,499
90 65 13,145 7,403 7,370 14,442 43,115 8,222 4,679 4,172 9,620 27,334
90 70 13,363 7,091 7,146 14,659 43,045 8,782 4,968 4,411 10,327 29,169
100 40 13,380 9,894 9,435 14,881 48,268 6,173 3,717 3,423 6,985 20,801
100 45 13,597 9,583 9,210 15,098 48,197 6,733 4,006 3,662 7,692 22,636
100 50 13,814 9,271 8,986 15,316 48,127 7,293 4,295 3,901 8,399 24,471
100 55 14,032 8,959 8,762 15,534 48,058 7,853 4,584 4,140 9,106 26,306
100 60 14,249 8,647 8,537 15,751 47,986 8,413 4,873 4,379 9,813 28,141
100 65 14,466 8,335 8,313 15,969 47,916 8,974 5,162 4,618 10,519 29,976
100 70 14,683 8,023 8,088 16,186 47,844 9,534 5,451 4,857 11,226 31,811
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17 Humanos na
Produção de Suínos
O
s verdadeiros gestores de pessoas são os »» Prover pessoas – trata-se das ações que visam
próprios gerentes e supervisores. Eles é abastecer a organização dos talentos humanos
que têm a responsabilidade maior sobre as necessários ao seu funcionamento. É a porta de
pessoas de suas equipes, desde a decisão de contra- entrada de pessoas na organização e abrange
tar até a decisão de demitir e, principalmente, a de os processos de recrutamento e seleção.
gerenciar o desempenho dessas pessoas ao longo »» Desenvolver pessoas – trata-se dos proces-
de suas carreiras. E a área de Recursos Humanos sos de treinamento e desenvolvimento.
(RH), considerada uma área – meio, tem por missão »» Aplicar pessoas – trata-se dos processos de
fornecer suporte e apoio técnico e operacional aos gestão de desempenho.
gerentes e supervisores para que façam uma gestão »» Reter pessoas – trata-se dos processos de
eficiente e eficaz de seus recursos humanos. reconhecimento e recompensas.
O sistema de gestão de recursos humanos de Apesar da vasta literatura e da gama de em-
uma empresa é produto tanto da área de RH como presas prestadoras de serviços na área de gestão
das áreas operacionais, pois ele existe para atender de recursos humanos, cada empresa deve dar
às necessidades de recursos humanos da organi- tratamento específico a esses processos. Não há
zação. De forma ampla, considera-se também que uma forma única e universal de gerenciar pessoas,
esse sistema é formado pelos seguintes elementos: mesmo porque é uma tarefa que se faz no bojo das
princípios, políticas, processos, estilos gerenciais e teorias organizacionais e de gestão de empresas,
práticas de gestão de pessoas. que também são muitas e, em certo sentido, até
Princípio do alinhamento e da parceria – O RH contraditórias. Nosso foco aqui é a provisão de
deve considerar e alinhar continuamente os seus ob- pessoas ou, mais especificamente, os processos de
jetivos funcionais aos objetivos das demais áreas da recrutamento e seleção. Embora o recrutamento
organização, bem como atuar em parceria com elas. e a seleção sejam etapas de um mesmo macropro-
Políticas são guias para a ação. Políticas de Gestão cesso, cada uma delas será aqui tratada como um
de Recursos Humanos (GRH) são as regras estabe- processo individualizado (figura 1).
lecidas para governar, orientar funções, processos e
práticas de gestão de pessoas, assegurando que eles Pesquisa de mercado de RH e de trabalho
sejam desempenhados de acordo com os objetivos e A pesquisa de mercado de RH é a busca de infor-
estratégias da organização. Os processos e as práticas mações organizadas sobre esse mercado, conside-
de gestão de pessoas devem estar alinhados com as rando sempre o local, a época e a dinâmica de oferta e
políticas e os objetivos e estratégias da organização. procura como subsídio ao processo de recrutamento.
Os processos básicos de um Sistema de Gestão De forma geral, podemos dizer que o mercado é
de Recursos Humanos podem ser agrupados em caracterizado por uma dinâmica entre três dimensões:
quatro grandes macroprocessos, obviamente ali- »» A dimensão espaço;
nhados com os princípios, objetivos e estratégias da »» A dimensão tempo, e
organização. »» A dimensão oferta e procura.
Processo de recrutamento
»» Tratar os candidatos com respeito e dignida-
de, como se fossem funcionários da empresa Entrada Processamento Saída
(pois poderão vir a ser);
774
»» Clareza de informação, assertividade e Necessidade,
Aplicação do Candidatos
requisitos e
transparência; candidatos
processo e selecionados
técnicas de encaminhados ao
»» Rapidez no processo de recrutamento e oriundos do
recrutamento gerente
Mercado de RH
seleção;
»» Padronização do processo de recrutamento
e seleção externa e interna; Figura 2 - Processo de recrutamento
»» Acompanhar de perto os processos de re- Fonte: Autor
Provisão de pessoas – Isso significa que, para cumprir a sua função bá-
processo de integração sica, gerentes e supervisores precisam transformar
A socialização constitui o processo de boas- recursos e capacidades das pessoas em alto desem-
776
vindas aos novos participantes e de socialização penho, obtendo resultados superiores à média de seu
organizacional. Por meio de programas intensivos setor, melhorando continuamente competências,
de treinamento e informações destinados aos no- processos e sistemas e, em consequência, obter de-
vos membros, procurar familiarizá-los com os usos e sempenho cada vez melhor e resultados sustentáveis.
costumes da empresa, sua estrutura organizacional, Se o que está por trás dos resultados é o desem-
produtos e serviços, missão, visão, princípios e valo- penho, esse desempenho precisa ser gerenciado e,
res que norteiam a conduta de todos. para tanto, é necessário conhecer e compreender as
A integração de fato se dá com a ajuda do gerente ou variáveis que o influenciam no nível da organização,
pelo supervisor no ambiente de trabalho, onde funcio- no nível dos processos e, em especial, no nível das
nam como tutores dos novos participantes e se respon- pessoas. Como já frisamos anteriormente, este últi-
sabilizam pela orientação e gestão de seu desempenho. mo nível é o foco deste texto, mas não podemos nos
Em algumas empresas o período de experiência, esquecer do entrelaçamento e interdependência
além de funcionar como treinamento no trabalho, com os dois níveis anteriores.
é considerado parte do processo de integração,
requerendo atenção e acompanhamento, orienta- Variáveis que impactam no desempenho
ção e feedback adequados. Ao final desse período, É uma prática comum prescrever treinamento
gerentes e supervisores deverão emitir pareceres para resolver problemas de desempenho, mas o
sobre a efetivação ou não do novo empregado. treinamento pode suprir apenas uma das muitas
causas de um desempenho aquém do esperado.
Desenvolvendo pessoas – processo O pior ainda é a prática usual de estruturar o trei-
de treinamento e desenvolvimento namento em termos de conteúdo para um tema,
Os principais desafios de gerentes e superviso- partindo dos conhecimentos dos especialistas que
res, principalmente nas organizações orientadas estruturam o treinamento e não do problema de
para a eficiência operacional, como é o caso de gran- desempenho e da análise de suas causas.
ja de suínos, podem ser resumidos em: Existem seis regras práticas para determinar
»» Executar o trabalho de acordo com os pa- quando um treinamento é necessário. A aplicação
drões definidos; dessas regras pode contribuir para a melhoria da
»» Alcançar um alto desempenho e resultados eficácia do treinamento quando recomendado como
sustentáveis; solução um problema de desempenho. São elas:
»» Esforçar-se continuamente para melhorar »» Regra 1 – O treinamento é apropriado apenas
o próprio desempenho, o de sua equipe, dos quando duas condições estiverem presentes:
processos e da organização. »» Há alguma coisa que uma ou mais pessoas
Processo de seleção não sabem como fazer; e
»» Essas pessoas precisam fazer essa “alguma coisa”.
Entrada Processamento Saída »» Regra 2 – Se as pessoas já sabem como fazer
essa “alguma coisa”, mais treinamento em nada
Edificacação do Aplicação do
Candidatos
ajudará.
cargo processo e
Candidatos técnicas de seleção
aprovados e »» Regra 3 – Só conhecimento e habilidade não são
encaminhados
recrutados com e tomada de
perfil adequado decisão
para contratação suficientes para garantir o desempenho.
»» Regra 4 – O treinamento não pode ser armazenado.
»» Regra 5 – Os instrutores de treinamento podem
Figura 3 – Processo de seleção
Fonte: Autor garantir conhecimento e habilidades, mas não
Ciclo de treinamento
podem garantir desempenho no trabalho, muito (Norma ISO 10015)
menos resultados.
Definição das necessidades
»» Regra 6 – Apenas os gerentes e supervisores (e de treinamento
777
não os instrutores) podem ser responsabilizados
pelo desempenho das pessoas em serviço sob
seu comando. Projeto e
Avaliação do
Mesmo os sistemas tradicionais que se orien- Monitoração planejamento de
treinamento
treinamento
tam pelo ciclo de treinamento, com visão de um sis-
tema (conforme figura abaixo), e às vezes, até falam
em desempenho, resultados ou produtividade, mas
Execução do treinamento
não partem do fim para o começo, isto é, dos pro-
blemas de desempenho (resultados indesejados ou
lacunas de desempenho) e da análise de suas causas Figura 4 – Ciclo de treinamento da norma ISO 10015:2001
Fonte: Adaptado da norma ISO 10015:2001 – Diretrizes para Treinamento
(variáveis que influenciam o desempenho) para a
estruturação do esforço de treinamento.
A prática usual para a estruturação de um trei- treinamento não pode ir muito além do que contri-
namento não foge muito da diretriz geral da norma buir para a melhoria de conhecimentos, habilidades
ISO 10015 (figura 4), na verdade cada empresa e atitudes.
estabelece a sequência que melhor atende às suas Uma situação em que as duas abordagens po-
especificidades, como indica o roteiro a seguir: dem ser úteis é quando as organizações estruturam
1. Definição das necessidades; treinamentos (uma espécie de currículo ou grade de
2. Definição dos objetivos; treinamento) de modo a garantir que todos os tra-
3. Determinação do conteúdo; balhadores tenham as competências necessárias ao
4. Seleção dos participantes; desempenho esperado nos cargos em que ocupam.
5. Determinação do melhor horário, Essa é uma prática comum nas empresas que adotam
6. Seleção das facilidades apropriadas; sistemas de gestão da qualidade orientados pelas
7. Seleção do instrutor apropriado; normas ISO ou pelo Modelo de Excelência de Gestão
8. Seleção e preparação do material didático; (MEG) da Fundação Nacional da Qualidade (FNQ).
9. Coordenação e monitoramento do treina-
mento; Treinamento no trabalho
10. Execução do treinamento; Qualquer que seja o treinamento, deverá ser
11. Avaliação do treinamento. focado em resultados, em metas ou solução de pro-
O processo de Definição de Necessidade de Trei- blemas. O treinamento apenas em sala de aula, abor-
namento recomendado pela ISO 10015 foca a lacuna dando conceitos, onde se aprende o chamado conhe-
de competência e não a lacuna de desempenho. Em cimento explícito ou simbólico, de forma teórica, não
meados dos anos 90 do século passado, a American basta. O treinamento teórico, conceitual, é importan-
Society for Training and Development (ASTD) já te, principalmente para os cargos de liderança, mas,
fazia uma análise comparativa entre o que chamou quando se trata do pessoal operacional, se assemelha
de “perspectiva de competências” e “perspectiva de de- a querer ensinar alguém a andar de bicicleta apenas
sempenho”, sintetizado na tabela 1. A intenção aqui por meio de explanações em sala de aula.
é explicitar as diferenças entre uma perspectiva e É necessário o aprendizado tácito, que acon-
outra, o que certamente ajudará na melhor escolha tece no espaço real de trabalho, por isso denomi-
de práticas de treinamento mais eficazes e efetivas. nado Treinamento no trabalho, no qual as pessoas
E mais ainda, talvez o melhor a fazer seja consi- experimentam, erram, corrigem e tentam de novo
derar as duas perspectivas, levando em conta que até incorporar a nova habilidade. Esse tipo de trei-
namento é de inteira responsabilidade de gerentes nho não só para a eficiência, mas para a excelência
e supervisores. operacional.
O ambiente de granja de suíno é típico para o
treinamento operacional pelo método tácito, trei- Motivação
namento no trabalho, baseado nos processos e nos A utilização eficiente e eficaz de pessoas foi
procedimentos operacionais padrões, orientados sempre um desafio presente nas organizações
e supervisionados por pessoas com experiência na ou empreendimentos. A “motivação” tem sido
função. Portanto, é da responsabilidade dos geren- considerada uma das principais “chaves” a serem
tes e supervisores treinar suas equipes, pois são acionadas para se alcançar um alto desempenho
eles que continuamente supervisionam o desem- das pessoas.
penho de seu pessoal, auditando o cumprimento As ciências, a tecnologia, as organizações, a so-
dos padrões, corrigindo e melhorando-os para que ciedade em geral não param de se desenvolver. O in-
as anomalias não voltem a se repetir. Esse é o cami- divíduo, o profissional, e as equipes seguem o mes-
ou salário como o fator básico da motivação. Ofe- des. O que motiva uma pessoa pode muito bem não
recer bônus, prêmios, aumentos de salários e, logo motivar outra. Em contrapartida, os seres humanos
após alguns poucos meses, observar que o desem- têm muitos aspectos em comum, sobretudo aque-
780
penho voltou aos patamares anteriores e concluir les mais profundos, mais próximos de sua essência
que o incentivo para motivação não funcionou. (humanidade). Nesse sentido, há vários fatores co-
Dinheiro é importante, mas não é tudo. Quanto muns a todas as pessoas, por exemplo, “criatividade,
menor o salário ou quanto mais pobres somos, mais o atividade física e sociabilidade”; não é por acaso que
dinheiro se torna importante, pois ele permite o aces- esses fatores estão presentes em toda situação de
so às coisas básicas. Quando superamos as necessida- trabalho saudável.
des fisiológicas da hierarquia de Maslow, a motivação Mesmo em ambientes operacionais orienta-
se desloca para uma necessidade que se manifesta dos para a eficiência, como é o caso das granjas de
em um nível acima. Além disso, cada uma das pessoas suíno, com processos e tarefas padronizadas, há
pode estar em um nível de necessidade diferente. oportunidade para que os trabalhadores utilizem a
Mesmo que tudo isso seja verdade e funcione, criatividade com o prazer de pensar. Isso se dá pela
como explicar o fato de pessoas aceitarem priva- aplicação da Liderança Situacional, promovendo o
ções de necessidades básicas em nome de uma ne- desenvolvimento dos gerentes no uso dos diversos
cessidade de autorrealização, por exemplo? estilos gerenciais e do crescimento da maturidade
Aqui há duas questões importantes: a diferença dos trabalhadores, investindo-se na melhoria de sua
e a semelhança. As pessoas são diferentes em sua capacidade (conhecimento, habilidades e experiên-
biografia, em seus momentos particulares, e por cia) e em sua disposição para o trabalho, promoven-
isso precisamos ser tratados como individualida- do a sua confiança e seu interesse pelo trabalho.
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N
as últimas décadas, o processo acelerado »» Medir o número e frequência de atestados
de urbanização no Brasil tem afastado médicos;
cada vez mais a população do campo. »» Perceber qual o nível de reclamação e insa-
Paralelamente a isso, o crescimento econômico tisfação com o ambiente de trabalho e/ou as
do Brasil tem reduzido as taxas de desemprego e lideranças;
inflacionado os salários em todas as atividades. O »» Realizar análise de desempenho individual
impacto desse cenário na suinocultura brasileira (avaliação).
é evidente e tem consequências na produtividade, A redução do turnover da mão de obra é funda-
nos custos de produção e, consequentemente, na mental para todas as empresas que atuam em um
competitividade. cenário cada vez mais competitivo e exigente, talvez
A qualificação, o treinamento, os planos de um dos mais importantes indicadores da gestão de
benefícios, as bonificações por produtividade, os recursos humanos. O elevado índice de perda de
investimentos em instalações e equipamentos, pessoas revela problemas e desafios a serem supe-
os ganhos de escala, entre outros, são fatores que rados. A perda de pessoas significa perda de conhe-
devem ser considerados neste novo cenário. A sui- cimento, de capital intelectual, de inteligência, de
nocultura tem se profissionalizado cada vez mais, entendimento e de domínio dos processos. Sinteti-
afastando-se da informalidade e do perfil familiar zando, alto turnover é sinônimo de perda de produti-
de criação. Entretanto, a evolução tecnológica nas vidade, de lucratividade e de saúde organizacional.
áreas de genética, nutrição e instalações não tem Impacta na motivação da equipe, no comprometi-
sido acompanhada, no mesmo ritmo, pela gestão mento, que acaba gerando ainda mais absenteísmo
eficaz dos recursos humanos. e baixa produtividade.
A qualificação da mão de obra passa por uma Quando a empresa perde talentos, suas ope-
correta seleção e, a partir dessa seleção de pessoas rações desequilibram-se. O turnover gera custos
com perfil correto para produção, pode-se obter ou investimentos financeiros, de tempo e de re-
uma equipe coesa que tenha como objetivos o cres- cursos, assim como perdas de difícil reparação,
cimento e as melhorias contínuas. que vão além de custos diretos com admissões e
É preciso instituir indicadores estratégicos de desligamentos. Podem-se citar perdas no que dizem
RH, alinhados aos demais indicadores da granja, respeito a posições em aberto e improdutividade;
dentre os quais destacam-se: horas extras que, além da perda financeira, sobre-
»» Medir a rotatividade (turnover) da granja, de- carregam os pares; integração e orientação do novo
terminando em que cargos e funções é maior; profissional; treinamento e desenvolvimento da
»» Medir o absenteísmo; pessoa recém-contratada e tempo do profissional
»» Medir a ocorrência de atrasos; de RH e de outros profissionais, desde o recruta-
mento até a capacitação da nova pessoa; menor todas as despesas, receitas e investimentos
produtividade, enquanto a pessoa está no tempo planejados pela empresa.
de aprendizado; aumento de acidentes e doenças;
783
processos trabalhistas; entre outros. A gestão do Estrutura de cargos
turnover preserva o capital intelectual, o ambiente e Os cargos devem ser organizados conforme a
a imagem da empresa. importância relativa de cada um dentro da estrutu-
Além de questões de bom ambiente de traba- ra organizacional.
lho, programas de treinamento e outros aspectos A estrutura de cargos da empresa pode ser
gerais tratados em outros capítulos deste livro, a composta de diversas classes de cargos. Cada classe
criteriosa implantação de plano de cargos e salários abriga cargos que são considerados semelhantes
e de sistema de bonificação é fundamental para quanto a conhecimentos exigidos, complexidade e
contribuir com a atração de profissionais e retenção responsabilidades da função, mesmo que em fun-
deles na empresa, resultando em ganhos diretos de ções diferentes, como manutenção de instalações
produtividade. e manejo de animais. A tabela 1 mostra um exemplo
de estrutura de cargos.
Plano de cargos e salários
É um conjunto de normas e critérios definidos Estrutura de salários (faixas salariais)
pela empresa para orientar sua administração A faixa salarial serve para definir o salário de
salarial. cada profissional conforme o seu desempenho no
O objetivo do plano de cargos e salários é es- cargo. Deve ser estabelecida faixa salarial dentro
truturar uma política salarial que possa contribuir de uma mesma classe de cargos, e cada nível da faixa
para a atração, retenção e motivação das pessoas, salarial pode ser chamado de estepe. A faixa salarial
mantendo o equilíbrio da equipe, além de prevenir pode ter uma amplitude variável; é comum uma
causas trabalhistas. amplitude ou extensão de até 50% entre o seu início
O plano de cargos e salários de uma granja deve e o fim. A tabela 2 apresenta um exemplo de faixa
ser feito considerando-se os seguintes pontos: salarial com cinco níveis ou estepes de 5% cada,
»» O salário de cada cargo deve ser baseado nos formando uma extensão ou amplitude de aproxima-
conhecimentos exigidos pela função, com-
Tabela 1 – Exemplo de estrutura de cargos de uma
plexidade das atividades desenvolvidas e granja, demonstrando que numa mesma classe
responsabilidades pela execução de tarefas pode haver dois ou mais cargos diferentes.
damente 2 % entre o início e o fim da faixa. sentar o desempenho esperado, o salário inicial
Os níveis da faixa servem como referência para poderá ser estabelecido entre os níveis A e B da
se posicionar o salário do profissional conforme faixa salarial.
784
seu desempenho. A distância entre um nível e outro Para os cargos especializados ou que exigirem a
pode ser entendida como uma subdivisão da faixa admissão de um profissional qualificado e com algu-
salarial. O salário de uma pessoa não necessaria- ma experiência, o salário inicial poderá ficar entre os
mente será exatamente igual a um dos níveis da níveis B e D da faixa salarial.
faixa. Um funcionário com desempenho satisfató- Para os cargos que exigirem um profissional
rio, por exemplo, poderá estar com um salário de com alta qualificação, o salário de admissão poderá
750,00 ou 820,00 e não necessariamente de 735,00 ficar entre os níveis D e E da faixa salarial.
ou 810,34. O mais importante será o posicionamen-
to do salário dentro da faixa. Reajustes salariais
Os reajustes salariais que podem estar pre-
Normas e procedimentos do vistos no Sistema de Administração de Cargos e
plano de cargos e salários Salários e são determinados principalmente pelos
Sugere-se estabelecer uma série de normas seguintes eventos:
objetivas e transparentes para adoção bem-sucedi- »» Fim do período de experiência. O reajuste deve
da de um plano de cargos e salários. Ou seja, todos, ser acertado previamente, na contratação.
RH, lideranças e funcionários devem compreender »» Promoção para um cargo maior (Promoção
como funciona o sistema, caso contrário perde-se Vertical). Está vinculada à existência de vaga
um dos objetivos de sua adoção, que é a motivação no quadro de funcionários ou poderá ser atri-
para o crescimento profissional dentro da empresa. buída em função da necessidade de preenchi-
mento de uma vaga em aberto. Os candidatos
Posicionamento dos salários a uma promoção vertical deverão passar por
dentro da faixa salarial um processo de avaliação conduzido pela
O salário de cada profissional deve ser posicio- área de Recursos Humanos ou pela chefia.
nado dentro da faixa salarial conforme o seu de- São três as modalidades de promoção verti-
sempenho. Tomando como base a tabela 2, pode-se cal: Promoção na mesma carreira específica
exemplificar da seguinte forma: (de Prático I para Prático II, por exemplo);
»» O funcionário que precisa melhorar o desem- Promoção com mudança de carreira especí-
penho profissional, ou que ainda não esteja fica (de Auxiliar para Prático I, por exemplo);
preparado para apresentar um desempenho Promoção para um cargo de nível hierárqui-
satisfatório (sem treinamento e/ou experiência co maior (de Encarregado para Gerente, por
suficientes) deve ficar entre os níveis A e B da exemplo);
faixa salarial. Já o funcionário que estiver com »» Mérito: aumento de salário por merecimen-
um desempenho muito satisfatório deve ter seu to, no mesmo cargo (Promoção Horizontal).
salário estabelecido entre os níveis D e E da faixa Concedido ao funcionário cujo desempenho
salarial. o destaque significativamente dos demais
ocupantes do mesmo cargo ou dentro de uma
Salário de admissão equipe de trabalho. É uma alteração do salário
O salário de admissão deve ser definido confor- do funcionário dentro da faixa salarial da
me o tipo de cargo e qualificações do novo profissio- Classe correspondente ao seu cargo;
nal contratado. »» Transferência para outro cargo. Acontece
Para os cargos que exigirem um aprendizado quando o funcionário passa a ocupar um
inicial interno até que o profissional consiga apre- cargo em outra área. Por exemplo, um Assis-
ficação relativa a esse processo. Uma forma Exemplos e sugestões de índices que
de contornar essas controvérsias é atribuir podem ser avaliados para bonificação
uma parcela do bônus a índices do setor em A seguir são listados alguns exemplos de índi-
786
que o funcionário trabalha e outra parcela a ces, por setor, que, por sua relevância no resultado
índices gerais e desempenho da granja (suí- final, podem ser usados para avaliação e bonificação
nos vendidos/fêmea/ano, por exemplo); das equipes.
»» Definição dos índices, metas, faixas e valores
de bonificação, de forma objetiva, clara e Gestação
transparente. As metas não devem ser muito É o setor que determina o potencial reprodutivo
fáceis, nem impossíveis de serem atingidas, da granja, que pode ser resumido pelo número de
mas desafiadoras e baseadas no histórico leitões nascidos totais em determinado período (se-
da granja, na comparação com outros sis- mana, mês, etc.). Sugerem-se os seguintes índices
temas de produção de alto desempenho para bonificar a equipe desse setor:
( benchmarking) e que determinem lucrati- »» Taxa de parição;
vidade em condições normais de mercado e »» Número de partos por semana (ou mês);
custo. É importante determinar a periodici- »» Número de leitões nascidos por parto (vivos,
dade (mensal, bimestral etc) da apuração dos mortos e mumificados).
resultados e do pagamento do bônus. O es- Muitas granjas determinam o alvo de cobertura
tabelecimento de faixas é interessante para como meta de premiação. Embora seja um índice
manter a equipe motivada, mesmo quando a muito importante, o alvo de cobertura pode ser
meta máxima estabelecida, em determina- atingido com relativa facilidade, com a cobertura de
do momento, torna-se quase impossível. A matrizes sem condições físicas ou mesmo com his-
tabela 3 apresenta um exemplo de faixa de tórico de baixa produtividade. Essa situação acaba
premiação sobre o número de nascidos vivos por acarretar prejuízos ao sistema. Quando temos
por parto. uma alta taxa de parição, certamente temos baixos
Os valores a serem bonificados devem ser de- índices de retorno ao cio e abortos e baixo percentual
terminados de forma clara, em números absolutos de descarte de matrizes pós-cobertura. Dessa forma,
ou em percentual do salário de cada funcionário. a taxa de parição é um indicativo de qualidade que,
É fundamental que os funcionários compre- aliado ao número de partos semanais requeridos,
endam as regras estabelecidas e os índices deter- determinará a eficiência do setor no estabelecimen-
minados. to de um fluxo de produção adequado, premiando
»» A revisão periódica das metas deve ser feita indiretamente o cumprimento do alvo de cobertura.
com frequência pré-estabelecida (semes-
tral ou anual). As revisões são necessárias Maternidade
para adequar os resultados a novos patama- A maternidade é um setor no qual o adequado
res, pois o objetivo é justamente a evolução manejo determina o maior número de leitões des-
constante. mamados em relação aos nascidos, com saúde e
peso compatíveis à idade. Portanto, esse setor tem
Tabela 3 – Exemplo de faixas de
bonificação sobre determinado índice como objetivo reduzir as perdas ao mínimo possí-
de produtividade (nascidos/parto) vel de natimortalidade e mortalidade na lactação.
Faixas de bonificação Nascidos/parto Desse modo, sugerem-se os seguintes índices para
100% do bônus 14,5 ou mais bonificar esse setor:
50% do bônus 14 a 14,49
»» Desmamados/parto;
25% do bônus 13,5 a 13,99
»» Peso médio dos desmamados (relativo à ida-
Sem bonificação Menos de 13,5
de de desmame).
É importante que a equipe de maternidade mados por fêmea coberta e peso desmamado por
tenha em mente que, para chegar a esses números, fêmea coberta são alguns dos índices que resumem
é preciso reduzir as perdas durante o parto (na- a eficiência dos dois setores em conjunto.
787
timortos) e que a saúde e alimentação da matriz
são fundamentais para a eficiência de crescimento Creche, recria e terminação
dos leitões lactentes. Premiações isoladas sobre Como a maior parte do custo de produção está
índices muito específicos, como percentual de ligada à alimentação dos animais, os setores de cres-
natimortos, podem determinar procedimentos fo- cimento (creche, recria e terminação) devem focar
cados somente nessa meta, em detrimento de ou- seus objetivos justamente na racionalização dos
tros fatores. Assim, por exemplo, com o intuito de custos, ponderando também a otimização de recur-
reduzir a natimortalidade, os funcionários podem sos na busca de um produto final de qualidade e va-
abusar das intervenções manuais ao parto (toque), lor agregado, ou seja, com peso adequado e saúde.
criando problemas sanitários na matriz durante a Sugerem-se os seguintes índices para bonificação
lactação, com efeito negativo sobre a produção de das fases de crescimento:
leite. Quando se trabalha com índices mais amplos, »» Conversão alimentar (CA);
também a visão da equipe na busca de resultados »» Ganho de peso diário (GPD)/peso de saída;
amplia-se, com atenção a todos os detalhes relati- »» Taxa de perdas (mortalidade e descarte).
vos à saúde da matriz e manejo dos leitões, desde a Equivocadamente, muitas granjas determinam o
preparação do parto até o desmame. número de vendidos como meta dos setores de cres-
Muitos sistemas de produção determinam ín- cimento, sem ponderar que o desmamado/fêmea/
dices de produtividade para bonificação conjunta ano é atribuição da gestação e maternidade. A taxa de
para os setores de gestação e maternidade, pois de perdas nos setores de crescimento é um indicativo de
fato há uma inter-relação e, em muitos casos, até qualidade, pois pondera questões sanitárias e de ma-
mesmo alguns funcionários dividem sua atuação nejo que interferem na mortalidade e na venda de ani-
entre ambos. Nessa situação, o número de desma- mais em não-conformidade com o mercado (descarte).
Bibliografia
1. ALBUQUERQUE, F. J. B; PUENTE-PALACIOS, K. E. -Andrade e A. V. B. Bastos (Eds.), Psicologia, orga-
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J. C. Zanelli; J. E. Borges-Andrade e A. V. B. Bastos (prelo).
(Eds.). Psicologia, organizações e trabalho no Brasil. 3. ROBBINS, S. P. Comportamento organizacional. Rio de
Porto Alegre: Artmed , 2004. Janeiro: Livros Técnicos, 1999.
2. PAZ, M. G. T; MARTINS, M. C. F; NEIVA, E. R. O Poder
nas Organizações. Em J. C. Zanelli, J. E. Borges
T
rabalho em equipe já foi moda no Brasil, mes- que seja uma equipe de trabalho relatado por Kat-
mo assim, ainda se fala muito sobre equipes, zenbach e Smith sobre um barco à deriva em alto
mas os resultados parecem muito aquém do mar, citado por Moscovici (1999):
barulho. Talvez a primeira pergunta a fazer seja: por “Após um violento temporal que danificou
que trabalhar em equipe? o mastro principal, a bússola e o leme, os tripu-
A resposta dada a essa pergunta na literatura, lantes foram caindo em desânimo e desespero.
nos artigos e palestras, com raríssimas exceções, Não viam terra há vários dias e a comida estava
consiste em apontar os benefícios óbvios de uma começando a escassear.
equipe de alto desempenho. Pesquisadores da Então um marinheiro sugeriu que desvias-
UFMG alegam que não há dados que indiquem sem seu foco de atenção: ao invés de procurar
quando surgiu o trabalho em grupo, contudo che- chegar à terra, focalizassem um objetivo mais
garam à conclusão plausível de que muito provavel- realístico e imediato: consertar o barco. Logo,
mente o trabalho em grupo ou em equipe surgiu: alguém se lembrou de um velho truque para con-
»» Da necessidade histórica do homem de somar sertar bússolas quebradas; alguns tripulantes
esforços para alcançar objetivos que, isolada- começaram a trabalhar no leme e vários outros
mente, não seriam alcançados ou seriam de lidaram com o mastro principal.
forma mais trabalhosa ou inadequada; Embora essas pequenas melhorias não levas-
»» Da imposição que o desenvolvimento e a complexi- sem o barco para mais perto da terra, elas contri-
dade do mundo moderno têm imposto ao processo buíram para adequar todos a suas funções no mar.
de produção, gerando relações de dependência ou Enfim, a equipe conseguiu fazer o barco funcionar
complementaridade de conhecimentos e habilida- precariamente em direção à costa e, naturalmen-
des para o alcance dos objetivos. te, a história teve um final feliz.”
Uma pergunta que sempre surge quando o tema Moscovici (1999) faz a seguinte síntese:
é o gerenciamento de equipes é: “Qual a diferença “Pode-se considerar equipe um grupo que
entre grupo e equipe?”. Há uma resposta que não compreende seus objetivos e está engajado em
ajuda muito, mas faz pensar, que é: “Toda equipe é alcançá-los, de forma compartilhada. A comuni-
um grupo, mas nem todo grupo é uma equipe”. Se- cação entre os membros é verdadeira, opiniões di-
gundo a psicóloga Suzy Fleury, “Grupo são todas as vergentes são estimuladas. A confiança é grande,
pessoas que vão ao cinema para assistir ao mesmo fil- assumem-se riscos. As habilidades complementa-
me. Elas não se conhecem, não interagem entre si, mas o res dos membros possibilitam alcançar resultados
objetivo é o mesmo: assistir ao filme. Já equipe pode ser e os objetivos compartilhados determinam seu
o elenco do filme: todos trabalham juntos para atingir propósito e direção. Respeito, mente aberta e coo-
uma meta específica, que é fazer um bom trabalho, um peração são elevados. O grupo investe constante-
bom filme”. mente em seu próprio crescimento.”
A confusão entre grupo e equipe é imensa, em busca de uma forma de trabalhar em conjunto.
mesmo assim, há diversos tipos de equipes. Vamos Contudo, é nessa fase que se desenvolvem a comu-
considerar aqui aquelas que têm relação com o am- nicação, as relações informais, a base para as boas
789
biente da suinocultura e sistemas de gestão alinha- relações de trabalho e confiança;
dos com os fundamentos e métodos da Gestão pela Nesse momento, a liderança estabelece o pro-
Qualidade Total: cesso de tomada de decisão, resolvendo conflitos
»» A equipe funcional é formada por um gerente de poder e autoridade, permitindo um senso de in-
ou supervisor e seus subordinados diretos. dependência da equipe.
A equipe funcional é orientada para os pro- Estágio 3 – Normalização – O espírito de coleti-
blemas internas da unidade. Questões como vidade começa a despontar, a comunicação já é mais
autoridades, relações, tomadas de decisão, fácil, regras e normas de trabalho começam a ser
liderança e gerenciamento demarcado são definidas. Embora a produtividade ainda seja baixa,
simples e claras; a confiança já se estabeleceu;
»» Equipe interfuncional é composta de um gru- O líder, nesse momento, deve buscar utilizar
po de pessoas de diferentes departamentos o conhecimento e as habilidades dos membros e
ou unidades da organização. Os integrantes realçar que, se trabalharem de forma conjunta, os
da equipe podem ser também especialistas resultados serão apenas uma questão de tempo.
ou convidados temporários; Estágio 4 – Desempenho – O trabalho flui com
»» Equipe Solução de Problemas é também co- normalidade, com a comunicação e a confiança
nhecida como Círculo de Controle da Qua- estabelecidas, os processos e procedimentos estru-
lidade (CCQ), formada por membros de um turados, o bom desempenho e os resultados conta-
mesmo setor, voluntários e orientados para giam a todos;
a solução de problemas de processos e méto- O líder deve aproveitar para celebrar as con-
dos de trabalho; quistas e cuidar da manutenção desse clima.
»» Equipe de Projeto é formada por um conjunto Estágio 5 – Desintegração – Esse estágio só
de pessoas encarregadas de implementar acontece para equipes temporárias, como equipes
uma solução planejada. de projeto ou de solução de problemas, pois, com os
É uma prática de mercado, presente na literatura, objetivos atingidos, não há razão para a equipe con-
em revistas, artigos e em treinamentos, dizer que a tinuar existindo.
formação de uma equipe se dá em quatro ou cinco A percepção e identificação desses estágios
estágios que devem ser percebidos e gerenciados pelos gerentes e supervisores facilitam agir de
com cuidado, podendo com isso evitar frustrações e maneira apropriada em cada um deles, facilitando
alcançar o alto desempenho mais rapidamente: a formação da equipe, ao mesmo tempo em que
Estágio 1 – Inicial ou de exploração – Momento consolida seu papel de líder, de orientador, de coach.
em que os membros da equipe são convidados ou Mesmo para as equipes permanentes, com líder
contratados. É um momento de euforia e de an- único, como é habitualmente denominado o grupo
siedade. Surgem perguntas como: O que deve ser de pessoas que atuam em um determinado setor ou
feito? Qual será o meu papel na equipe? Como os unidade, os gerentes e supervisores podem utilizar
outros membros trabalham?; o modelo acima como uma lista de verificação (check
Nesse estágio o líder tem um papel fundamental list) e diagnosticar em que estágio a sua equipe se es-
no envolvimento dos membros da equipe, fornecen- tagnou e retomar a sua caminhada rumo à formação
do informações e criando condições para o trabalho. de uma equipe de alto desempenho, ou pelo menos
Estágio 2 – Confusão ou conflito – Nesse está- de um desempenho mais satisfatório.
gio a tensão aumenta, pressionados pela produtivi- Alguns autores sugerem outro instrumento, a
dade que continua baixa, os membros se debatem Curva de Desempenho de Equipe, para classificar os
desempenho
seu desempenho;
e. Equipe de alto desempenho – Esse grupo aten-
Equipe
790 real de a todos os requisitos de uma equipe real e
mais ainda: os seus membros estão profun-
damente comprometidos com o crescimento
pessoal de cada um e o sucesso de todos. Esse
Grupo de
trabalho
tipo de equipe consegue resultados muito
Equipe além das expectativas. Entretanto, é raro al-
potencial
cançar esse estágio superior.
Moscovici (1999) compreende a dificuldade
Pseudo-equipe
e a complexidade de desenvolver equipes de alto
Eficácia da equipe
desempenho, em contrapartida, ela parece não
Gráfico 1 - Curva de Desempenho de Equipe perceber exatamente qual é a solução para o desa-
Fonte: Katzenbach e Smith (1994, p. 85) fio. Ela diz:
“O desenvolvimento de equipe pode ser
grupos de trabalho e conduzir a sua evolução de um concebido como uma transformação quali-
estágio incipiente até o seu estágio superior – equipe tativa do todo. Não se trata de uma simples
de alto desempenho. Notar que a Curva de Desem- mudança de procedimentos, técnicas ou no-
penho de Equipe (gráfico 1) foca, como o próprio menclatura. Trata-se de um processo que atin-
nome diz, no desempenho da equipe. Por essa razão ge fundo os sistemas pessoais e interpessoais,
parece extremamente útil para a melhoria do desem- percepções, pensamentos, sentimentos e valo-
penho de equipes permanentes e de líderes formais. res dos membros do grupo e da cultura grupal.
a. Pseudoequipe – Esse tipo de grupo pode defi- A transformação do grupo em equipe envolve
nir um trabalho a fazer, mas não se preocupa profundas alterações na percepção e na lida
com o desempenho coletivo, nem tenta con- com a realidade interna e externa, nas relações
segui-lo; entre o todo e as partes.”
b. Grupo de trabalho – Os membros desse grupo A questão é a organização como um todo se
não veem nenhuma razão para se transfor- transformar numa equipe. Essa questão é compre-
mar numa equipe. Responsabilidades, obje- endida por poucos no mercado, sejam profissionais,
tivos, desempenho e produtos pertencem a sejam organizações. “Todos uma equipe” é uma con-
cada indivíduo; dição para que a Gestão pela Qualidade Total fun-
c. Equipe potencial – Esse grupo é que verda- cione em uma organização. O Modelo de Excelência
deiramente produzirá um trabalho conjunto. de Gestão da Fundação Nacional da Qualidade
Contudo, os membros precisam de esclare- (FNQ) também parte dessa premissa.
cimento e orientação sobre sua finalidade, Joiner (1995) trata dessa questão de maneira
objetivos, produtos e abordagem de tarefa; explícita e contundente:
d. Equipe real – A mudança de equipe potencial “Sempre que falo em “Todos uma Equipe”
para real é a que traz o maior incremento ao algumas pessoas têm a impressão de que estou
desempenho. Uma equipe real compõe-se de referindo-me a algum tipo específico de equi-
pessoas com habilidades complementares e pe: equipes de trabalho, equipes de projetos,
comprometidas umas com as outras por meio projetos interfuncionais, círculos de qualidade
de missão comum, objetivos comuns e abor- e assim por diante. Embora as equipes formais
dagem de trabalho bem definida. Além disso, desempenhem um papel importantíssimo
os membros aprendem a confiar uns nos ou- na Gerência de Quarta Geração, a intenção
aqui possui um âmbito muito maior. Estou Desafios na gestão de talentos humanos
referindo-me a um ambiente organizacional Quando falamos em talento, logo pensamos
onde todos, desde o pessoal de linha de frente nos “fenômenos”, aquelas pessoas que brilham e
791
até os executivos, entendem e agem como se fazem diferença nas atividades que escolheram
fizessem parte da mesma equipe, trabalhando dedicar suas vidas. Não há dúvida de que são pes-
em conjunto para aumentar constantemente a soas que nasceram com um dom especial, talento
satisfação do cliente.” diferenciado, mas o que pouca gente sabe é o es-
É bom esclarecer que “Gerência de Quarta forço e dedicação durante longos anos para chegar
Geração” é o nome que Joiner (1995) dá ao geren- a esse estágio que parece magia. É comum obser-
ciamento baseado nos fundamentos e práticas da varmos esses “fenômenos” em atividades fora de
Gestão pela Qualidade Total. Mais adiante, o mes- sua área de dedicação com desempenho muito
mo autor, conclui dizendo: abaixo da média.
“Esse é o meu segredo para tratar todos os Duas conclusões importantes: a primeira é que
empregados como se estivéssemos no mesmo ninguém tem talento para tudo; a segunda é que
barco, à deriva no mar, sabendo que nossa maior cada um de nós, pobres mortais, tem talento para
chance de sobrevivência está em trabalhar alguma coisa. Dois grandes desafios vêm juntos:
juntos, remar na mesma direção. Isso significa o primeiro grande desafio é descobrir o talento de
acreditar nas pessoas e tratá-las com dignidade, cada um; e o segundo é desenvolver e aplicar esse
confiança e respeito. Quando acreditamos nas talento de forma disciplinada e profissional.
pessoas, trabalhamos a partir do pressuposto de Observamos que a prática organizacional na
que elas estão dispostas a realizar um bom traba- busca do gerenciamento de talentos conceitua
lho e de que nosso papel como gerentes é eliminar “talento” de várias formas diferentes e, por ser um
as barreias do caminho. Nós passamos a nos con- assunto da moda, a cada dia surge um especialista
centrar não em motivar as pessoas, mas em elimi- com um novo livro sobre o tema. Cada um deles
nar os desmotivadores, as coisas que obstruem traz a sua contribuição, mas requer cuidado em
o caminho para realizar um trabalho de melhor uma abordagem consistente para não cair no “mo-
qualidade e com maior produtividade.” dismo” ou em tentativas ingênuas e frustrantes de
A solução do “gerenciamento de equipes” é a so- gerenciamento de talentos.
lução da organização: não é possível ter equipes se- Buckingham e Coffman (1999), em sua análise
toriais de alto desempenho, quando a organização exaustiva das pesquisas da Gallup nos últimos 70
como um todo não funciona como equipe. O desafio anos, descobriram que os grandes administradores
do gerenciamento de equipes é o gerenciamento da que entrevistaram definem “talento” de uma forma
organização. E como se faz isso? Aplicando o geren- técnica, neutra e promissora em sua aplicação no
ciamento do desempenho nos Três Níveis: da orga- gerenciamento de talento. Segue um trecho extraí-
nização, dos processos e das pessoas ou equipes. do do livro desses dois autores:
Mesmo sem um sistema de gestão integrado “Talento é um padrão recorrente de pen-
como o da Gestão pela Qualidade Total ou o da samento, sentimento ou comportamento que
Fundação Nacional da Qualidade é possível uti- pode ser aplicado de maneira produtiva.” A
lizar a Curva de Desempenho de Equipe para fazer ênfase aqui está na palavra “recorrente”. Seus
diagnóstico de setores, departamentos ou da orga- talentos, dizem eles (os grandes administrado-
nização e iniciar a jornada com o objetivo de aper- res), são os comportamentos que você se encon-
feiçoar o gerenciamento de equipes. Observar tra fazendo com frequência. Você tem um filtro
que a Curva de Desempenho de Equipes é focada mental que peneira seu mundo, forçando-o a
no desempenho, nos resultados e nos meios que prestar atenção a alguns estímulos, enquanto
levam a esses resultados. outros passam despercebidos por você. Sua
gosta, ter talento e ganhar dinheiro. No mundo real, »» Posicione cada pessoa onde ela possa render
a maioria das pessoas se “satisfaz” com uma ocupa- mais;
ção em que possa sobreviver. »» Dê o exemplo;
793
Uma boa maneira para começar o gerencia- »» Gerencie com base no Sistema de Desempe-
mento de talentos é “aprimorar o que você já tem”. nho Humano.
Gerencie o desempenho de sua equipe usando o A conclusão é que gerentes e supervisores
talento e os pontos fortes de cada um: são fatores críticos de sucesso de qualquer orga-
»» Conheça os talentos e as capacidades de nização, são eles os verdadeiros gestores da com-
cada membro de sua equipe; plexidade organizacional, por isso devem ser bem
»» Cultive e desenvolva os talentos individuais; preparados, alinhados com suas vocações e ter um
»» Descubra os pontos fortes de cada um e apri- alto grau de profissionalismo. Os gerentes e super-
more-os; visores também precisam ser gerenciados.
Bibliografia
1. MICHELETTI, C. Trabalho em equipe: essencial para 3. KATZENBACH, J. R.; SMITH, D. K. A Força e o Poder das
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2. MOSCOVICI, F. Equipes que dão certo: a multiplicação as regras: as melhores práticas dos melhores execu-
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Estado de S. Paulo, 30/10/2006.
O
tema gestão da qualidade é dinâmico e pouca cultura e horizontes incertos. Sabemos do
sua evolução, fruto da interação dos di- sucesso que foram e ainda estão sendo as filosofias
versos fatores que compõem a estrutura do 5S e Gestão pela Qualidade Total dentro das
organizacional e sua administração. Como conceito, empresas industriais em todo o mundo. Com a glo-
conhece-se a qualidade há milênios. No entanto, só balização dos setores produtivos, cada vez mais ne-
recentemente ela surgiu como função da gerência. cessitamos de pessoas treinadas e capacitadas para
Na segunda década de 1950, o conceito de qualida- desempenhar funções produtivas com alto teor
de tornou-se mais amplo por meio do controle da tecnológico. O processo adotado pelo 5S procura
qualidade total. unir, sistematizar e disciplinar conceitos e ações
O Controle Total da Qualidade (do inglês Total já conhecidas e praticadas de forma isolada, em
Quality Control – TQC) é um sistema gerencial base- diversas partes do mundo. Apesar de inicialmente
ado na participação de todos os setores e de todos o processo ser voltado para a indústria, lembramos
os colaboradores de uma empresa, no estudo e na que pode, e deve, ser aplicado a qualquer empresa
condução do controle da qualidade. ou instituição em que haja trabalhos em equipe,
No cenário mundial após a segunda guerra guardadas as particularidades de cada caso. Esse
mundial, nos deparamos com filosofias implantadas método é chamado de 5S, porque, em japonês, as
por pessoas que sofreram pela destruição de uma palavras que designam cada fase de implantação
nação, física e moralmente, portanto com necessi- começam com o som da letra “S”.
dade de reconstruir sua dignidade. Estamos falando O Brasil também foi atrás da globalização de
do Japão, país palco direto dessa crônica e que mui- processos e os sistemas gerenciais difundiram-se a
to contribuiu para as grandes melhorias organiza- partir da década de 1980 e tornaram-se exigências
cionais que hoje encontramos nos quatro cantos do fundamentais para qualificação como fornecedor
mundo. No seu pós-guerra, viu-se na obrigação de a mercados exigentes. A existência dos processos
melhorar as condições encontradas por seu povo, virou sinônimo de qualidade do produto. A filosofia
estruturar sua produção e construir um novo Ja- 5S foi adaptada, ganhou mais três novos parâme-
pão economicamente importante e com filosofias tros ajustados à realidade das empresas, tornando-
severas em suas organizações produtivas. Surgia, se o Programa 8S.
então, o programa 5S e a Gestão pela Qualidade To-
tal, muito difundido a partir das experiências postas O programa 8S
em prática em 1950 pela equipe do Professor Kaoru O programa 8S é condição primordial de execu-
Ishikawa no Japão. ção, servindo como base para o funcionamento da
Gestão pela Qualidade Total.
Programa 5S Mais recentemente surgiram sugestões de mais
Trata-se de uma filosofia de trabalho capaz de dois sensos: Shisei Rinri – Senso de princípios morais
melhorar pessoas, não mudar sua essência, mas e éticos e Sekinin Shakai – Senso de responsabilidade
Programa 8S
Shikari Yaro – Senso de
Determinação, comprometimento e união de todos.
798 determinação.
Shido – Senso de educação,
Educação do cidadão, qualificação do profissional e treinamento do colaborador.
treinamento.
Seiri – Senso de descarte,
Definição, separação e descarte dos itens necessários e desnecessários.
organização.
Seiton – Senso de ordem,
Ordenação criteriosa dos itens necessários. Cada item no seu lugar pré-definido.
arrumação.
Seiso – Senso de limpeza. Higiene, limpeza, segurança e preservação do meio ambiente.
Seiketsu – Senso de saúde. Manutenção de ambientes agradáveis, onde todos se sintam bem.
Shitsuke – Senso de disciplina. Autodisciplina para respeitar normas, regras e padrões pré-definidos.
Setsuyaku – Senso de economia. Economia e combate aos desperdícios, realizados por todos.
Fonte: o autor
Manter Melhoria
Padronização e melhoria
A padronização é fundamental para as organi-
Manter Melhoria
zações, mas não basta padronizar processos, méto-
dos etc. É preciso melhorá-los continuamente.
Melhoria
A padronização dos processos (figura 1) que,
Tempo
na prática, se dá pela elaboração e execução dos
Escada
procedimentos operacionais padrão (POP), per-
mitirá à empresa estabelecer sempre os mesmos Figura 1 – Efeito da padronização nas
melhorias de uma empresa
meios para atingir o resultado estabelecido nas Fonte: o autor
Onde entra o programa 5S (ou 8S) nessa histó- em mãos para a produção, diminuindo, assim, os
ria? Pois bem. Pelo mecanismo ensinado no progra- riscos de acidentes de trabalho. Organizar e limpar
ma, conseguimos demonstrar aos envolvidos com a para dar agilidade às atitudes e garantir a saúde e o
800
produção de suínos a necessidade e a importância bem-estar dos colaboradores. Com autodisciplina
disso em suas vidas e, depois, o que isso pode acres- podemos respeitar as pessoas, os animais, o que
centar ao dia a dia do trabalho. É preciso transfor- reduz as perdas, a rotatividade de mão de obra e
mar a linguagem burocrática do programa original os desvios nos índices zootécnicos, além de gerar
utilizado em uma metodologia simples, fácil e de as- economias que podem e devem ser revertidas em
similação quase natural por todos os colaboradores. melhorias internas e programas de participação nos
Quando o colaborador entende o mecanismo e sua lucros das empresas.
estrutura, a execução se torna muito mais saudável
no dia a dia da empresa e transformamos pessoas, Rotinas necessárias para a implantação
antes desacreditadas, em cidadãos com emoções, de programas de qualidade
inteligência, criatividade e capacidade de mudar o A implantação de um programa de qualidade
que está ao seu redor. é um processo de aprendizado, portanto, não
Nesse aspecto, podemos ir para o próximo de- deve ter regras muito rígidas, mas, sim, estar
grau: Qualidade Total. Dentro da qualidade total, adaptada às necessidades e aos costumes de cada
verificamos os seus mandamentos básicos e como empresa.
eles interferem na rotina do trabalho. A implantação de programas de qualidade nas
Por meio desses mandamentos (tabela 3) granjas pode tornar-se complexa, devido à variabi-
podemos gerenciar nosso processo produtivo, ga- lidade biológica, de pessoal, e ainda devido à grande
rantindo a execução dos processos de cada setor. A diversidade dos sistemas de produção dentro da
plenitude da Qualidade Total eleva a suinocultura suinocultura. As mudanças não significam apenas
a um nível gerencial superior, pois, com muito mais alterar a forma como são realizadas as tarefas, mas
facilidade, identificamos as falhas, conseguindo otimizar processos e pessoas, melhorando a forma
reduzir os desperdícios, prejuízos e insatisfação dos de pensar de cada um no sistema.
clientes. Então buscamos dentro da empresa pre- É importante definir dentro do sistema da
gar a união entre todos, utilizando a determinação suinocultura os clientes internos e externos. O
obstinada de cada um para concretizar o sucesso. cliente externo é aquele que busca o produto final
É preciso treinar sempre, educando o ser humano da granja, seja ela fornecedora de material genético
para que tenha consciência do que é necessário ter ou de carne para consumo humano. Esse cliente
preocupa-se com a qualidade do produto final sem,
Tabela 3 – Mandamentos da Gestão pela contudo, ter ciência sobre os processos que levam
Qualidade Total
ao seu desenvolvimento. O cliente interno está liga-
MANDAMENTOS DA QUALIDADE TOTAL do aos processos produtivos dentro de cada siste-
1. Satisfação total do cliente ma da suinocultura. Para exemplificar essa relação,
2. Gerência participativa
citamos o setor de gestação, o qual fornece matrizes
3. Constância de propósitos
gestantes ao cliente setor de maternidade para
4. Melhoria contínua
realização dos partos. Este, por sua vez, torna-se
5. Desenvolvimento do RH
também fornecedor da gestação ao devolver as ma-
6. Delegação de funções
trizes para futura inseminação e também fornecer
7. Garantia da qualidade
8. Redução de erros leitões ao desmame para o setor de creche (nesse
9. Gerência dos processos caso, cliente da maternidade). O entendimento da
10. Transmissão de informações relação entre cliente e fornecedor por parte dos
Fonte: o autor
colaboradores cria interdependência entre os seto-
res e consequente busca por melhoria contínua de colaboradores. Na suinocultura industrial, o custo
resultados. com folha de pagamento está entre 3 a 5% apenas,
As mudanças para implantação do gerencia- dos custos totais da produção. Desperdícios de
801
mento pela Qualidade Total na suinocultura devem água, energia elétrica, combustível, materiais,
ser baseadas em fatos e dados concretos e reais ligações telefônicas, cópias, fax, alimentação, ca-
sobre o sistema em análise. É necessário primeiro o fezinho, produtos de limpeza, itens de escritório e
comprometimento e envolvimento dos proprietá- principalmente a ração (este último representa algo
rios e pessoas em cargos de chefia, para que repas- em torno de 70% do custo) são comuns em pratica-
sem esses sentimentos aos demais membros da em- mente todas as granjas e sistemas de produção de
presa. Por intermédio de membros da equipe ou de suínos.
uma consultoria externa, inicia-se um diagnóstico As estatísticas mostram o Brasil como campeão
de todo o sistema bem como do clima organizacio- do desperdício:
nal, nível de envolvimento dos colaboradores, índi- »» Até 30% da energia elétrica distribuída, 0,4%
ces de produção, grau de capacitação, montagem do PIB;
dos processos de cada setor e acompanhamento »» Até 40% da água tratada e distribuída, 0,6%
dos resultados. do PIB;
A implantação dos processos de qualidade »» Cerca de 50% dos alimentos produzidos, 2%
passa sempre por treinamentos e capacitações da do PIB;
chefia do sistema de produção e definição dos co- »» Perdas superiores a 25% com materiais na
ordenadores e multiplicadores do processo. Esses construção civil, 1,7% do PIB;
treinamentos, entre outros atributos, permitem »» Analfabetismo funcional, exclusão social e
mostrar a cada pessoa no sistema seu papel orga- baixa escolaridade representam perdas de
nizacional, sua importância na execução de tarefas 15% do PIB;
e permite que tenham dimensão de sua responsa- »» Perdas de 28% do PIB com corrupção em
bilidade nas metas produtivas estabelecidas e seu toda a sociedade.
papel na manutenção da atividade. Os treinamen- As empresas jogam muito dinheiro fora sem
tos da equipe também propiciam manter a moti- perceber e pensam em reduzir custos apenas “de-
vação, a mobilização e o compromisso coletivo em mitindo pessoas”. Tudo isso pode ser acrescido ao
quebrar paradigmas e proporcionar melhorias a “custo total” e, como resultado, temos produtos e
todo o sistema. serviços de baixa qualidade, produtividade insufi-
ciente e logicamente baixa competitividade interna
Profissionalização da mão de obra e internacional. Nos países desenvolvidos e compe-
O maior patrimônio de uma empresa são seus titivos, esses problemas praticamente não existem
recursos humanos. Nenhuma máquina ou sistema, e, entre outras características, todos têm altos
por mais modernos e automáticos que sejam, conse- índices de educação, escolaridade e treinamento
gue raciocinar e usar a criatividade para propor me- profissional. Eles sabem que a maneira mais eficaz
lhorias que gerem economias. A globalização está de reduzir custos, combatendo desperdícios, é usar
exigindo uma maior competitividade das empresas, a inteligência e a criatividade dos colaboradores.
o que as obriga a produzir melhor e com menor cus- Pessoas treinadas, educadas, felizes, motivadas
to. Para redução de custos, a primeira ideia que sur- e respeitadas como cidadãos e profissionais têm
ge (infelizmente) é reduzir a mão de obra, demitindo condições de dar ideias e sugestões que permitem
pessoas. Isso sempre é proposto erroneamente pela às empresas economias significativas, muitas vezes
administração, pois em qualquer empresa existem com baixo ou nenhum investimento financeiro.
diversos custos que, quando controlados, podem Educação e treinamento profissional são as
gerar economias superiores às das demissões de bases do sucesso. Podemos pensar que essa res-
ponsabilidade é do Estado e até pode ser mesmo. treinamento e qualificação profissional. A metodo-
Mas, se quisermos que nosso cenário econômico logia promove a mudança de comportamento de
e social mude, não podemos esperar décadas e dirigentes e colaboradores, que passam a formar
802
décadas até que isso aconteça. A globalização não um grupo voltado para a sobrevivência dos negó-
permite essa espera. cios, gerando economias e redução de desperdícios.
O investimento em treinamentos, educação e Extraímos do ser humano sua grande virtude: adap-
bem-estar de nossos colaboradores, além de be- tar-se ao meio em que vive. Permitimos o aumento
nefícios e incentivos legais, levam a uma força de da produtividade de forma saudável, inteligente e
trabalho mais bem preparada, refletindo na quali- sustentável.
dade e produtividade e garantindo a sobrevivência Por ser uma metodologia educativa, os retor-
e continuidade dos negócios das empresas. nos são esperados em médio e longo prazos, espe-
A todo o momento, salientamos a importância cialmente por investir na mudança de mentalida-
e a grande vantagem do programa 5S (8S) e Quali- de e comportamento. Paciência e perseverança
dade Total, é o fato de que eles não demandam in- são fundamentais para o desenvolvimento cons-
vestimentos em máquinas e sistemas automáticos. tante do programa. Um dos aspectos importantes
Apenas valorizam uma metodologia de gestão de a ser considerado é que os custos decorrentes da
recursos humanos e materiais, baseada totalmente implantação do programa devem ser encarados e
na capacidade intelectual e criativa dos colabora- contabilizados como investimentos com alta taxa
dores. O investimento é em pessoas, com educação, de retorno.
Bibliografia
1. ABRANTES, J. Programa 8S: da alta administração à 3. _____ . TQC - Controle da Qualidade Total (no estilo japo-
linha de produção: o que fazer para aumentar o nês). 8 a ed. Nova Lima, MG: INDG Tecnologia e
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Dia a Dia. Belo Horizonte: Editora de Desenvolvi- zonte, MG: Werkema Ed., 2006. 306 p.: Il.
mento Gerencial, Belo Horizonte, 1998. 276 p.
A
Qualidade Total intrínseca está diretamen- projeto e o resultado da avaliação era a sua confor-
te ligada à gestão de pessoas e suas rotinas midade ou não.
de trabalho dentro do ambiente de produ- A segunda fase levou em consideração a ade-
ção. A gestão pela qualidade total tornou-se uma quação do uso do produto, fase em que os projetis-
importante opção para as organizações conquista- tas buscavam atender às necessidades de uso dos
rem vantagem competitiva sobre os concorrentes. clientes. A inspeção, nesse caso, aumenta o custo de
Apesar do reconhecimento da importância da ges- execução.
tão pela qualidade total, muitas organizações ainda Na terceira fase, a melhoria foi voltada para
medem o desempenho sem considerar as mudanças o ajuste de custos, cujo objetivo era atender às
decorridas pela adoção de tal sistema de gestão. conformidades e necessidades dos clientes, com
Durante a evolução dos processos de implan- alta qualidade do produto, sempre buscando o
tação da qualidade no Japão, passamos por quatro menor custo.
fases elementares. A primeira constituí-se em Na quarta fase, adequação às necessidades
adequar a padronização do produto, cujo objetivo latentes, o foco era a concepção de produtos ou ser-
era a qualidade da conformação obtida por meio da viços que viessem a satisfazer àquelas necessidades
inspeção direta. O produto atendia às necessidades dos clientes, das quais eles ainda não tinham consci-
dos clientes apenas seguindo a concepção do seu ência plena.
Indicadores de desempenho
nível tático
Aprendizado e
crescimento
Objetivos Indicadores
Indicadores de desempenho
nível operacional
Figura 1 – Os quatro pilares do Balanced Scorecard Figura 2 – Estratificação dos indicadores de desempenho
Fonte: Kaplan & Norton, 1992 Fonte: Martins, 1998
para auxiliar a gestão pela qualidade total. Assim e. Uma integração com quadros de gestão à vis-
sendo, é necessário estabelecer primeiramente ta ou com sistema de informação gerencial,
quais são os indicadores de desempenho que per- quando eles existirem.
mitem medir o desempenho em relação ao objetivo É fundamental que os funcionários sejam
principal da empresa. treinados para interpretarem os dados obtidos
Na tabela 2 mostramos alguns exemplos de dos indicadores de desempenho e, assim, saibam
indicadores de desempenho para medir o desen- quais as ações corretivas deverão ser adotadas
volvimento da empresa em relação ao seu objetivo para a correção de problemas, caso ocorram.
principal, que é a satisfação dos diferentes níveis de Dessa forma, a informação atinge todos as es-
integrantes do processo. feras da empresa e não fica restrita apenas aos
Os indicadores de desempenho da qualidade gestores. Uma forma prática de levar a infor-
precisam ter: mação a todos é a adoção de murais de gestão à
a. Um índice associado (forma de cálculo) bem vista que mostrem a informação necessária aos
explícito e, se possível, simplificado; funcionários para basearem suas ações em fatos
b. Uma frequência de coleta; e dados gerados pelos sistemas de indicadores
c. Uma designação dos responsáveis pela cole- de desempenho.
ta dos dados; Enfim, pela sistematização dos indicadores da
d. Uma divulgação ampla para a melhoria e não qualidade, é possível estabelecer metodologias
para a punição; que irão auxiliar os sistemas de produção suiníco-
Mortalidade na
maternidade
10 807
10 Média
Melhoria
2º Sem = 7,1
8,5 (Problema)
6
META = 5,5
MELHOR BENCH.=5
4
11 12 J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D
2013 2014
las na obtenção de melhorias consideráveis na for- Afinal, a Gestão pela qualidade tem como objetivo
ma de gerir todo o processo dentro de uma granja satisfazer todos os elos da cadeia de produção –
de suínos. As ferramentas da qualidade estão clientes, empregados, acionistas, fornecedores e a
disponíveis para implementação a todos os inte- sociedade.
ressados, bastando, para tanto, termos foco no de- Portanto, buscar a evolução por meio dos sis-
senvolvimento, na capacitação dos colaboradores temas de gestão atrelados ao desenvolvimento do
e vontade da direção e gerência em implementar conceito de qualidade tem dado, cada vez mais, às
uma metodologia vencedora e que permita evolu- empresas vantagens competitivas perante o merca-
ção dos índices de produção de forma sustentável. do produtor e consumidor globalizado.
Bibliografia
1. ABRANTES, J. Programa 8S: da alta administração à linha Gestão & Produção, v. 3, n. 2, p. 173-187, ago./1996.
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808
1996.
A
implementação de ferramentas da qua- amontoadas e sem uso, há muito tempo. As pessoas
lidade como 5S, ciclo do PDCA e gestão à vão usando ferramentas, utensílios, equipamentos
vista resulta na orientação para a mudança e depois largam nos cantos, em qualquer lugar, sem
de comportamento em relação ao saber conhecer, preocupação com a manutenção. Com o tempo, o
ser, conviver e querer fazer. Todas as ações prá- espaço nos galpões, garagens vão acabando: é coisa
ticas da aplicação dessas ferramentas têm o foco pra lá, pra cá, às vezes sem utilidade nenhuma. Não é
final no processo ou na orientação por processos e diferente com os documentos guardados em caixas
informações, para o produto. Trata-se da compre- ou gavetas, mas sem uso, acumulando poeira e mofo
ensão e segmentação do conjunto das atividades ou mesmo se perdendo.
e processos da organização que agreguem valor Tudo isso contribui para a criação de insetos e
para as partes interessadas, considerando-se que outras pragas, e até alguns acidentes de trabalho,
a tomada de decisões e execução de ações devem causando desperdícios e prejuízos. Por essas razões
ter como base a medição e análise do desempenho, é que precisamos combater a bagunça e a desor-
além das informações disponíveis, incluídos os ris- dem. Separar o que não é necessário. Verificar a
cos identificados. situação das gavetas, dos armários, das prateleiras,
Um sinônimo para aplicação é implementação, dos galpões, dos depósitos, das áreas externas, dos
fator que, frequentemente, leva muitas organiza- banheiros, sendo criterioso. O descarte marca a
ções a perder pontos. Outro aspecto importante hora de arregaçar as mangas. Hora de criar as condi-
na avaliação do fator aplicação é a continuidade. ções para que as pessoas da empresa sejam capazes
É requerido da organização evidenciar que suas de separar, com critério, o útil do não necessário, ao
práticas de gestão são aplicadas regularmente ao mesmo tempo, pensando em o que fazer com o ma-
longo dos anos, demonstrando, assim, constância terial descartado.
de propósitos e consciência de que os resultados Descarte em sentido amplo significa utilizar os
esperados podem demorar determinado espaço de recursos disponíveis, com bomsenso e equilíbrio,
tempo para serem alcançados. evitando desperdícios.
Segundo Houaiss (2001), senso é a faculdade Para a arrumação do setor, devemos: classificar
de julgar, de sentir, de apreciar. Portanto, nunca se os itens (necessários e desnecessários), verificar
implementa um senso, mas se planta e se cultiva, por a frequência de uso e dar a destinação aos itens de
meio de um processo educativo. acordo com a frequência de uso. Na empresa suiní-
cola, a aplicação do descarte deve ser marcada pelo
A prática dos 5S início do programa 5S, com comprometimento de
»» Seiri: senso de seleção, utilização, descarte, todos os setores. O descarte, na granja, é o ponto
arrumação. de maior impacto para a aplicação e consequente
Descarte significa deixar no local somente o manutenção do programa 5S. Um impacto bem feito
que for necessário. É comum encontrarmos coisas nos setores, por meio do descarte, pode ser o fator
objetos. Esse é o segundo passo para melhorar a em- tudo com etiquetas, avisos e cartazes, é possível
presa, com o uso do senso da organização. informar visualmente tudo o que foi organizado,
Segundo o SEBRAE (2000), essa fase tem como desde as pastas e arquivos nos escritórios, até as
811
lema: Um lugar para cada coisa, cada coisa no seu lugar. prateleiras na oficina, enfim, em toda a empresa. A
Na prática, o processo para o senso de orga- visualização é importante, pois condiciona as pes-
nização dentro da granja pode ser considerado o soas a recolocarem as coisas nos lugares certos,
mais crítico para sua sustentabilidade. O processo pois, como diz o ditado, um lugar para cada coisa,
de organização não deve deprimir a vontade de cada coisa em seu lugar.
manter e executar os demais sensos, uma vez que Não complicar é importante. Controle apenas
pode vir a gerar burocracia e excesso de detalhes. o que vale a pena e é necessário. Simplifique ao
Cada gestor deve se manter aberto ao raciocínio de máximo os formulários, as planilhas, os relatórios,
que sua empresa necessita de domínio tecnológico quando não puderem ser eliminados. Reorganize
para a execução dos processos e que esse domínio e simplifique a papelada, fique só com o neces-
pode ser ameaçado pela burocracia. Quanto maior sário. Estabeleça as responsabilidades para as
for a capacidade de aprendizado dos colaboradores, decisões do dia a dia. Dê poder de decisão às
maior será o nível de aplicação do senso de organi- pessoas que precisam decidir lidar com clientes e
zação, dentro da empresa. fornecedores.
O colaborador deve ser levado a raciocinar so-
bre a importância da cooperação e de não enxergar »» Seiso: senso de limpeza, zelo.
o colega, empresário rural – ou familiar – colabora- Segundo Calegare (1999), para determinação
dor – como concorrente, mas como uma possibilida- das causas, é interessante que se pergunte sempre
de de efetuar algum tipo de parceria. “por que” (“Por que estava sujo?”; “Por que não havia
É preciso retirar as coisas dos lugares para lixeiras?”; “Por que as lixeiras não foram incluídas no
organizá-las. Isso contribui para organização mais planejamento?”).
eficiente. Retire os papéis das gavetas, examine um Segundo o SEBRAE (2000), essa fase tem como
a um e recoloque os que ainda precisam ficar guar- lema: O ambiente faz a gente.
dados. Retire os móveis para dispô-los melhor. Reti- Na prática, o processo para o senso da limpeza
re as ferramentas dos armários, e assim por diante. leva o colaborador e todas as pessoas presentes na
Objetos diferentes devem ser guardados em empresa a tornar a limpeza um hábito e, sobretudo,
locais diferentes. Cada objeto tem também a forma sensibiliza as pessoas a não sujar. Limpeza significa
ideal de ser estocado, de acordo com suas carac- manter todos os locais limpos, evitando acidentes
terísticas e facilidades de localização, manuseio e e desperdícios. É manter tudo em condições de uso,
recolocação. cuidar da higiene pessoal, eliminar focos de conta-
É preciso evitar que um mesmo objeto seja minação (refugos, restos de alimentos etc.), fazer
chamado por vários nomes na empresa. Isso facilita manutenção das instalações (elétricas, hidráulicas
a comunicação e o controle das coisas. Para cada etc.) e cuidar da aparência da empresa.
objeto, um nome. É comum nos prevenirmos contra Manter a limpeza das diversas instalações e
nossa desordem, duplicando ou triplicando a quan- entornos, máquinas e equipamentos, faz com que
tidade de objetos que necessitamos, para podermos as pessoas trabalhem com satisfação e produzam
encontrá-los com mais facilidade. Reduza então, se mais. As máquinas, os equipamentos e as ferramen-
possível, tudo ao mínimo indispensável. tas duram mais e funcionam melhor quando são
Armários e estandes com portas são ótimos conservados limpos, lubrificados e mantidos em
para esconder a desorganização, assim como locais protegidos da chuva, sol, vento e ataque de
cômodos chaveados, caixas com trancas e outros animais. Tudo deve ser mantido sempre em perfei-
“tesouros escondidos”. É importante visualizar tas condições de uso.
A limpeza ainda evita acidentes e doenças. Até os para a realização da limpeza. Observar que, para
animais gostam de limpeza. A limpeza da empresa é cada lugar, equipamento, objeto, é necessário um
a melhor demonstração de uma boa administração. tipo de material de limpeza.
812
Todos devem ser responsáveis pela limpeza. Quando A prova da qualidade para a limpeza tem um
se fala em limpeza, é bom salientar que muito mais lugar ótimo para ser feita: O BANHEIRO. O japonês
importante do que limpar é não sujar ou evitar ao má- Ichiro Miyauchi, especialista em qualidade, sugere
ximo sujar. Mas quando for inevitável sujar, quem su- que a verificação da qualidade em uma empresa co-
jou deve limpar. Importante é pensar sempre naquele mece pelos banheiros. Outros estudiosos da quali-
que será o próximo usuário da máquina, equipamen- dade também têm o mesmo ponto de vista. Há quem
to ou ferramenta, deixando tudo nas condições em chegue a dizer que em cinco minutos você pode
que gostaria de encontrar. A limpeza é um direito de fazer um primeiro diagnóstico sobre a situação da
todos. Manter limpo é dever de cada um. qualidade na empresa.
É interessante observar que as pessoas costu- Na inspeção, é importante mostrar a todos que
mam respeitar a limpeza dos lugares, ou seja, lugares uma boa limpeza é a forma de verificar o estado dos
sujos parecem que dão a liberdade de serem sujados; equipamentos (se estão em bom estado, se apresen-
lugares limpos, ao contrário, dão às pessoas a res- tam danos, alterações) e as condições de conser-
ponsabilidade de serem mantidos limpos, ou seja, vação das instalações da empresa (pisos, paredes,
a limpeza é uma mão dupla, e as pessoas costumam forros, tetos, telhados etc.).
respeitar o ambiente e passam a se sentir respon- Todos devem ser rigorosos na tarefa da limpeza,
sáveis por essa limpeza também. Esse é o desafio da pelo fato de não haver meio termo nesse assunto. Ou
fase da limpeza no processo do 5S, fazer as pessoas as coisas estão limpas, ou não estão. Dizer que algo
se sentirem responsáveis pela limpeza da empresa, e, está meio limpo, ou meio sujo, é sinal de sujeira.
para isso, duas condições são necessárias: As seguintes recomendações devem ser apre-
1. Que as pessoas sintam-se motivadas para a sentadas:
importância da limpeza; »» Cada um é responsável pela limpeza em sua
2. Que em regime de mutirão, as pessoas pro- área de trabalho;
movam uma profunda mudança na empresa »» Fazer a limpeza em todos os lados (frente,
quanto à limpeza, asseio e conservação de to- atrás, acima, abaixo, lados);
dos os lugares da empresa – LIMPEZA É NA »» Combater as fontes de origem da sujeira;
FRENTE, NOS LADOS, EM CIMA, EMBAIXO »» Estabelecer os lugares próprios para o lixo e
E ATRÁS de todos os lugares, objetos, máqui- estudar o melhor destino para ele.
nas, equipamentos, etc. Para a limpeza deve ser desenvolvido também o
Na prática, muito importante é definir o dia da senso de organização e descarte. Os produtos certos
limpeza. Uma estratégia interessante e adotada por devem ser selecionados para cada tipo de limpeza. As
várias empresas com sucesso é, para o início da fase pessoas devem ser preparadas para que conheçam
da limpeza, promover um dia de trabalho destinado os equipamentos e sua forma de limpeza. O processo
exclusivamente à faxina das instalações. Nesse dia, de limpeza deve ser avaliado constantemente. Deve-
todos da empresa põem a “mão na massa” para uma se evitar a sujeira, distribuindo lixeiras adequada-
limpeza geral, num clima de grande entusiasmo. Se mente e em pontos estratégicos (lembre-se que pode
o gestor observar que isso é possível, combine com estar sujo por falta de lixeiras).
sua família e colaboradores na reunião dessa fase a
data para o DIA DA LIMPEZA e o que é necessário »» Seiketsu: senso de asseio, de saúde, higiene.
para que ela aconteça da melhor maneira possível. Demonstra sua competência, a importância do
É importante conversar com as demais pessoas bem-estar animal e sua implicação na qualidade dos
da empresa e providenciar o material necessário produtos finais e na abertura e manutenção de mer-
cados. Determina a adoção de uma atitude diária res, a fim de aperfeiçoar e dar continuidade ao pro-
preventiva em relação à saúde nas suas dimensões grama. Faz parte do comportamento ético respeitar
física, mental e espiritual. Orienta a aplicação das o acordo estabelecido e cumprir todos os compro-
813
práticas da higiene na empresa. missos para não desapontar o cliente.
Segundo o SEBRAE (2000), essa fase tem como É um hábito consciente e voluntário para man-
lema: “O compromisso de cada um é com todos”. ter e praticar corretamente o que foi determinado
A higiene, na prática, significa “manter as con- nos procedimentos operacionais estabelecidos pela
dições de trabalho, físicas e mentais, favoráveis organização. É a base para a harmonia das ativida-
à saúde”. A higiene representa o equilíbrio das des previstas nos 4S anteriores. O hábito de fazer
funções orgânicas, físicas e mentais das pessoas. as coisas como devem ser feitas precisa ser desen-
Somos pessoas saudáveis, quando temos disposição volvido, e nem sempre a maneira mais fácil é a mais
para a vida, o que demonstramos por meio do nosso correta.
entusiasmo. Higiene significa estar de bem com a Segundo o SEBRAE (2000), essa fase tem como
vida, ter harmonia no lar, ser otimista e contagiar os lema: Água que corre não cria lodo.
outros positivamente. A manutenção da ordem está associada ao mais
Empresários, familiares e trabalhadores devem alto grau de desenvolvimento do ser humano que é o
se importar não só com as técnicas de produção, “autodomínio, o controle sobre si mesmo”. Para alcan-
mas também com seu crescimento pessoal: seu sa- çar esse autodomínio, tem que ter disciplina. Respei-
ber e habilidade para fazer. Assim, a prática da higie- tar acordos estabelecidos e praticar novos comporta-
ne não envolve apenas cuidados com a alimentação, mentos é o grande desafio que todas as pessoas têm,
roupas, saúde física e segurança no trabalho. Tam- seja qual for o seu trabalho ou sua idade.
bém envolve práticas de conservação e proteção da A ordem mantida se alcança planejando e fazen-
natureza, do bem-estar animal e de todas as pessoas do rodar continuamente os outros quatro sensos.
envolvidas no processo. O desafio de manter e melhorar o sucesso conquis-
O mercado valoriza, e até exige, o fato de a pro- tado é de todos os colaboradores e familiares. Para
dução ser sustentável, envolvendo a proteção ao tanto, todos devem conhecer as normas do que,
meio ambiente, ou seja, produzir sem causar danos como e quando fazer as atividades pactuadas e pla-
ao solo, à água, ao ar, às matas. Isso deve estar na ra- nejadas. Aprender sempre, ser paciente e perseve-
zão de ser da empresa, na sua missão. Da mesma for- rante, agir com integridade, compartilhar, ser justo
ma, exige tratamento humanitário com os animais. e honesto são qualidades associadas com o conceito
A higiene também se constitui em pontos fun- da ordem mantida. A ordem mantida significa a ma-
damentais para garantir a qualidade dos produtos. nutenção das práticas do descarte, a organização,
Dessa forma, a empresa deve ser o melhor lugar a limpeza e a higiene para a melhoria da qualidade
para se trabalhar e para morar. Com higiene, a em- devida das pessoas.
presa dá o quarto passo para o sucesso, com as pes- O Padrão de Qualidade terá sido atingido se
soas. É bom sempre lembrar que, para a atividade todos os procedimentos adotados nas cinco fases
da higiene ter sucesso ao longo do tempo, a mesma do Programa 5S estiverem documentados, ou fo-
deverá ser feita, participativamente, entre todas tografados, para que se possa comparar a situação
as pessoas pertencentes à empresa. anterior com a atual.
Para utilizar o 5S, é necessário que se tenha uma
»» Shitsuke: senso de autodisciplina, educação, metodologia de implementação correta, e, assim,
manutenção da ordem, comprometimento. será possível almejar ganhos maiores em termos de
Na prática, é o pacto da qualidade como qual motivação, criatividade, produtividade e lucrativi-
todos assumem o compromisso de manter normas, dade. Se o líder e a equipe não tiverem motivação,
prazos e acordos estabelecidos nas fases anterio- certamente cairão na acomodação, que vem acom-
panhada de regressão, e tudo o que foi implantado e QUEM faz, para que os objetivos sejam atingidos.
vai por “água abaixo”. Aliás, o próprio nome é “Quali- O QUE fazer é definido como a razão de ser da or-
dade Total” e não “Qualidade Parcial”. ganização; o COMO fazer é garantido pelo Método
814
O empresário deve liderar – de coração, por Ciclo PDCA e o QUEM faz é o patrimônio humano
convicção e com vibração – o processo de implanta- da organização.
ção do Programa 5S em sua empresa. O compromis- O objetivo, ao executar um processo, é fazer
so do empresário é fator fundamental para os me- acontecer o que deve ser feito, mantê-lo estável e
lhores resultados. É importante o empenho sincero melhorá-lo constantemente. É fundamental não
de modificar comportamentos, hábitos e atitudes aceitar erros, ou seja, buscar a perfeição.
em sua empresa rural, demonstrar, portanto, que o Na prática, o PDCA significa usar adequadamen-
exemplo vem de cima. te as funções de Planejar, Desenvolver, Controlar e
O caminho participativo do sucesso e manuten- Atuar Corretivamente. O Ciclo PDCA é um método
ção do programa é muito importante. O empresário de gestão, uma forma de trabalho, que orienta o pro-
precisa liderar, motivar e dar exemplo e, muitas ve- cesso de tomada de decisão para o estabelecimento
zes, sua família também, pegar firme e dar exemplo das metas e dos meios e ações necessárias para exe-
aos colaboradores. cutá-las e acompanhá-las a fim de garantir a sobrevi-
É fundamental que o empresário envolva e mo- vência e o crescimento de uma organização.
tive o pessoal, dê o exemplo, explique os “porquês” Gerenciar um processo significa, portanto, apli-
e discuta com a família e colaboradores o que fazer, car sequencialmente cada fase que compõe o ciclo
como fazer e quando fazer. É necessário que todos PDCA. Importante é o desenvolvimento de com-
se sintam “donos” do programa e responsáveis por petências para entender as diferentes maneiras
seu sucesso. de administrar uma organização. A administração
É importante partilhar o sucesso do programa rural envolve gerenciamento de todos os processos
com todas as pessoas envolvidas. A participação de da empresa rural, abrangendo o planejamento, a
todos e de cada um nos resultados alcançados deve execução e a avaliação de todas as atividades, desde
ser elogiada e divulgada. a aquisição de insumos, a produção, até a comercia-
O rigor é fundamental, pois cumprir rigorosa- lização dos produtos e serviços da empresa.
mente tudo aquilo que foi negociado e combinado Com a prática do PDCA, são implementadas
gera a condição de sucesso. Isso também quer dizer, novas melhorias, galgando-se níveis cada vez mais
em outras palavras: “não definir coisas que não elevados de eficiência e, em decorrência, de com-
possam ser cumpridas”. Nesse caso, há o risco da petitividade. A essa situação de melhoria contínua,
frustração de expectativas, o que é desanimador. chamamos de empresa escada. Na verdade o que
O óbvio é difícil de ver. Muitas vezes, pequenas se busca não é uma empresa serrote, mas uma “em-
mudanças trazem grandes resultados. Fazer o que presa escada”, na qual cada melhoria é consolidada
é comum, muito bem feito, é o primeiro passo para mediante novos padrões.
avanços incomuns. A empresa escada documenta e fixa cada novo
O empresário deve ter o empenho em observar procedimento. Visualiza necessidades de novo pa-
que o caminho é construir uma nova base cultural drão e treinamento para determinados problemas.
para a organização, em que todos estejam compro- Fixa e domina o novo procedimento, as novas me-
metidos com os sensos. lhorias que poderão reduzir ainda mais as causas do
problema. E, assim, sucessivamente, num processo
O ciclo PDCA permanente de melhoria contínua.
A organização busca a excelência na prestação Processo é uma ação individual ou um con-
de seus serviços por meio do aperfeiçoamento con- junto de ações interligadas orientadas para a
tínuo, perguntando-se: o QUE fazer, COMO fazer transformação dos insumos recebidos, dos forne-
os padrões, até promover melhoria contínua do pro- determinação para analisá-los e melhorá-los a cada
cesso e avaliações de rotina continuamente. Só se ano ou a cada ciclo de produção.
melhora aquilo que se mede e se compara, tendo-se Não basta vontade. É preciso ir além: usar novos
816
uma referência. Assim é importante definir indica- procedimentos ou ferramentas na análise e me-
dores (formas de mensurar, avaliar) que permitam lhoria de cada processo. A conquista de ser melhor
verificar se os resultados desejados pelos clientes e praticar a excelência não pertence aos homens
(metas definidas) estão sendo alcançados. comuns, nem é um simples dom gratuito. É um es-
Se algum problema é detectado, deve-se, pri- forço permanente de pensamentos e atitudes de um
meiramente, verificar se o padrão foi obedecido. Se homem desenvolvido.
o padrão não foi obedecido, é importante capacitar O que Aristóteles (384 a 322 a.C.) pregava como
novamente as pessoas de modo que se garanta o condição ao aperfeiçoamento pessoal, a busca da
entendimento das instruções. excelência, nos idos da Grécia antiga, aplica-se hoje
Importante é saber quando se deve atuar cor- perfeitamente ao processo de melhoria contínua da
retivamente na solução de problemas. A atuação qualidade nas empresas: o julgamento claro de que
é desejada, sempre que a meta ou as dimensões da não se resolve um problema sem identificá-lo bem
qualidade não estiverem de acordo com o planeja- e sem conhecer sua origem; o autocontrole, neces-
do, ou seja, quando os resultados esperados (metas) sário para a persistência de propósitos, constância;
não estiverem sendo alcançados. a simetria de desejos, pela coerência com as metas e
Assim, deve-se alterar os padrões, seja pelo fato concentração de esforços; a mestria nos meios, por
de não se ter atendido a alguns itens, seja pela visão meio do conhecimento, competência, utilização dos
de melhorias ou redução de defeitos (chegar mais instrumentos adequados; a realização da experiên-
próximo possível do defeito zero). Sempre é mais cia para aplicação nas soluções, acompanhamento e
barato prevenir erros do que corrigi-los. mensuração dos resultados.
A ação corretiva deve ser conduzida em duas
fases: Aplicação da gestão à vista
1. Eliminar o sintoma, para que o processo volte Existe uma relação direta entre saber como as
a funcionar; pessoas aprendem e como devem ser desenvol-
2. Procurar a causa principal até que esta seja vidas as formas de facilitar essa aprendizagem. O
eliminada para que o problema não volte processo de educação empreendedora, por meio de
a ocorrer. A eliminação definitiva da causa desenvolvimento de competências, é centrado na
principal é chamada desbloqueio. Fazer cer- aprendizagem dos colaboradores. A competência
to na primeira vez é melhor do que fazer duas resulta da mobilização, por parte do indivíduo, de
vezes. uma combinação de recursos ou insumos. O conhe-
Sabe-se ainda que toda inovação é resultado cimento está relacionado com aquilo que se sabe; as
da criatividade empresarial. Em qualquer que seja habilidades, com o que se sabe fazer e as atitudes,
o ramo, a inovação exige das pessoas habilidades e com o que se quer fazer.
atitudes empreendedoras. Inovar exige das pessoas O conhecimento já era tema abordado pe-
a capacidade de assumir riscos calculados (plane- los filósofos gregos. Embora a experiência e o
jados) para transformar ideias em ações que garan- conhecimento de gerentes e colaboradores na
tam o sucesso dos seus negócios. empresa suinícola sejam usados e valorizados nas
A criatividade é a capacidade de olhar para a organizações, nos últimos dez anos é que houve
mesma coisa que todos os outros, mas ver algo dife- certo despertar para a importância da Gestão do
rente nela. Por isso, além da dedicação ao descrever Conhecimento, como também para as formas de
o planejamento da empresa, é necessário registrar compartilhá-lo e protegê-lo dentro da organiza-
e padronizar os processos de produção, e muita ção. Se, no passado, quem detinha a informação,
detinha o “poder”, atualmente quem compartilha benéficas, para que o serviço seja fácil, rápido, segu-
suas informações tem uma maior possibilidade de ro e o mais satisfatório. Toda informação disponível
sucesso, adquirindo o conhecimento necessário para ser vista facilmente deve ser atraente, interes-
817
para administração do negócio e ampliando os ho- sante, colorida e apreciável ao observador.
rizontes sobre as possibilidades para a solução de O desenvolvimento e implantação da gestão à
problemas. vista facilita agilizar a divulgação de informações
Uma difícil tarefa dentro de uma empresa suiní- dentro da empresa, principalmente sobre as metas
cola é o compartilhamento das informações. A única de desempenho especificadas, além de permitir
vantagem sustentável que uma empresa tem é aqui- um feedback, em períodos de tempo adequados e
lo que ela coletivamente sabe, ou a eficiência com flexíveis, dos resultados das atividades de produção
que usa o que sabe e a prontidão com que adquire e para a gerência e para os colaboradores.
emprega novos conhecimentos. As informações podem ser apresentadas de vá-
Gestão à vista é uma forma de comunicação rias formas: tabelas, gráficos, painéis, murais, faixas,
que pode ser observada por qualquer um que cartazes, banners, lâmpadas etc.
trabalha em uma dada área, qualquer um que es- A implantação de ferramentas da qualidade,
teja de passagem por essa e para qualquer um para como as descritas anteriormente, é fundamental
quem esteja visível. Ou seja, é aquela comunicação para o modelo de gestão estratégica, com foco em re-
que está disponível em uma linguagem acessível a sultado. No entanto, o suinocultor deve estar atento
todos que possam vê-la, trazendo uma nova luz e ao processo de ampliação da visão sistêmica de seus
uma nova vida à cultura no local de trabalho, por colaboradores, para a gestão dos processos.
meio do compartilhamento das informações e dos Para isso, é importante a ação do gestor no que
resultados. diz respeito à qualidade técnica de seus colaborado-
A sistemática de gestão à vista, iniciada pelo res. O gestor/suinocultor deve demonstrar ao grupo
movimento da qualidade total e reforçada mais sua satisfação, não por palavras ou documento, mas
recentemente com os sistemas da qualidade QS por ações, entendendo e respeitando. Não é adequa-
9000, uma forma de divulgação de informações do buscar fazer isso por um modelo pronto de gestão
sobre o desempenho de empresa ou setor, como (INOVAÇÃO), mas contratar as pessoas certas,
indicadores da produtividade, qualidade, segurança buscar no mercado pessoas capazes de argumentar
etc. O principal objetivo é alocar em lugar visível e e resolver problemas. Cabe ainda: treinar, treinar,
apropriado as informações consideradas cruciais treinar e certificar-se de que todos aprenderam; criar
para percepção de problemas e identificação de um clima de confiança com o grupo, cumprir o que
oportunidades de melhorias. prometeu; transmitir segurança por meio de seus
As informações devem ser bem visíveis, claras, conhecimentos e habilidades; trabalhar com homo-
úteis, estimulantes e motivantes para quem as vê, genia e não com paternalismo; assumir riscos; obter
fáceis de serem visualizadas e entendidas, além de êxito, colocando em prática ideias conhecidas, mas
ainda não testadas por ninguém.
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19 Gestão de Resíduos
À
medida que aumentam as preocupações granjas produtoras de leitão e de 7,5l/cabeça/dia em
com a manutenção e a melhoria da quali- granjas de produção de terminados.
dade do meio ambiente, bem como com O tratamento de dejetos, para cumprir seu ob-
a proteção da saúde humana, organizações de jetivo final e ser efetivo, necessitará converter os
todos os tamanhos vêm crescentemente voltan- dejetos em material inofensivo ao manuseio e ao
do suas atenções para os potenciais impactos de meio ambiente.
suas atividades, produtos e serviços. O desem-
penho ambiental de uma empresa tem importân- Biodigestores
cia cada vez maior para as partes interessadas, Os sistemas de tratamento são ferramentas que
internas e externas. Alcançar um desempenho contribuem para a minimização dos dejetos que vão
ambiental consistente requer comprometimento para o meio ambiente. Em granjas de suínos, quase
organizacional e uma abordagem sistemática do sempre o destino dos dejetos líquidos é a fertiliza-
aprimoramento contínuo. ção agrícola. Nesse ponto é que entra a importância
Para isso, é imprescindível que as empresas do tratamento, por existirem vários problemas de
tenham seu sistema de gestão ambiental (SGA) bem manejo incorreto dos dejetos, o que gera um risco de
definido e em andamento. Esse SGA certamente poluição ambiental. São eles: nitrato, cobre, zinco, li-
terá uma dimensão e complexidade proporcional e xiviação, odores de amônia (NH3) e patógenos no ato
ajustado ao porte de cada uma das empresas, e de de distribuir o dejeto, emissão pelo solo de metano
acordo com seu potencial poluidor. O fato é que, na (CH4) e óxido nitroso (N2O) e o escoamento de carga
atualidade, não há mais como uma empresa não ter orgânica, fosfato e patógenos.
uma política ambiental para apresentar e, natural- É indicada a combinação dos processos de trata-
mente, seguir. A direção da empresa deve elaborar mento. Isso valoriza os dejetos, reduz o manejo e os
uma política ambiental que represente seus pro- custos de armazenagem, transporte e tratamento.
dutos e serviços e divulgá-la entre os funcionários O biodigestor (Foto 1) é um reator biológico que
e a comunidade. Deve, ainda, demonstrar que está degrada os dejetos animais em condições anaeró-
comprometida com o cumprimento dessa política, bias (ausência de oxigênio), produzindo um efluente
obter o cumprimento legal e buscar o melhoramen- líquido (biofertilizante) e gerando o biogás. Existem
to contínuo do desempenho ambiental da empresa. vários modelos de biodigestores; o modelo cana-
Toda suinocultura requer um programa racional dense, construído em lona de PVC, é o mais utilizado
de controle de dejetos, para sua correta utilização, atualmente no Brasil.
o que implica considerar cinco etapas: produção, O resultado da decomposição dos dejetos é a
coleta, armazenagem, tratamento, distribuição e geração de um gás de alto poder energético, capaz
utilização dos dejetos (na forma sólida, líquida ou de substituir a lenha, a gasolina e o GLP. Ainda, tem-se a
pastosa). De forma geral, estima-se que a produção valorização dos dejetos para uso agronômico como
de dejetos de suínos é de 100L/matriz/dia em uma biofertilizante, redução da carga orgânica e menor
granja de ciclo completo e de 60L/matriz/dia em tempo de retenção hidráulica e de área para a de-
824
10.000
8.440
8.000
7.690
825
6.770 6.720
6.460 6.530
Produção (kg/ha)
6.000
4.000
3.440
2.000
0
Test Ad. quím. 50 m3 25 m3+ 50 m3+ N 75 m3 100 m3
ad.quím.
Gráfico 1 – Uso de dejetos suínos em lavoura de milho
Fonte: Konzen e Alvarenga, 2006
4.000
3.530 3.520
3.430
3.240
3.000
Produção de soja (kg/ha)
2.650
2.000
1.000
0
Test. Adub. quím. 25 m3 50 m3 75 m3
Gráfico 2 – Uso de dejetos suínos em lavoura de soja
Fonte: Konzen e Alvarenga, 2006
cional de piso ripado ou compacto. Outro ponto é a Pode representar uma solução efetiva para
questão da dinâmica da sanidade nesse sistema e de regiões com problemas de alta concentração de
sua relação com os problemas de linfadenite. É sabi- suínos e que não dispõem de área com culturas para
826
do que o material usado como substrato (cama) ser- aplicação dos dejetos, pois permite transferir ou co-
ve de meio de cultura e sobrevivência para o agente mercializar os resíduos na forma de composto para
da linfadenite granulomatosa e isso não pode ser outras regiões que possuam maior demanda por
desconsiderado. adubo orgânico.
As unidades de compostagem, também chama-
Compostagem de dejeto líquido de suíno das de “plataformas de compostagem”, podem ser
A compostagem dos dejetos de suínos é uma das mais simples até as automatizadas, dependendo
prática que vem crescendo, significativamente, da finalidade e da escala na qual o processo será im-
nos últimos anos, em vários países da Europa. Foi plantado. As mais requintadas podem ser utilizadas
desenvolvida como um método alternativo de por grandes produções ou empresas que poderiam
manejo e tratamento dos dejetos de suínos, mo- produzir e comercializar o fertilizante orgânico
dificando suas características químicas, físicas e gerado. Pequenas produções podem implantar es-
biológicas, dando origem a um produto final de alto truturas mais simples, com solo compactado e com-
valor agronômico. postagem em leiras montadas manualmente.
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Colletotrichum graminicola, 1., 2006, Belo
A
disposição de carcaças de suínos no Brasil, ção de carcaças, vísceras e demais resíduos orgâ-
apesar de não regulamentada em lei, está nicos de animais.
prevista na Política Nacional de Resíduos A tendência mundial de concentrar as escalas de
Sólidos (PNRS), Lei Federal n° 12.305/2010, no produção leva o produtor a ter que considerar a mor-
art. 3°, que define a caracterização, reutilização e talidade um problema de grandes proporções, uma
destinação de resíduos sólidos no Brasil. Na lei, as vez que uma granja de 500 matrizes gera produção
definições incluem a reutilização, a reciclagem, a da ordem de 12,5t de carcaças por ano. Nos EUA, usa-
compostagem, a recuperação e o aproveitamento se um parâmetro de 40 a 50kg de resíduos/matriz
energético ou outras destinações admitidas pelos que são constituídos de placentas, fetos mumificados
órgãos competentes do Sistema Nacional do Meio e animais mortos em cada uma das fases de uma gran-
Ambiente (Sisnama), do Sistema Nacional de Vigi- ja de ciclo completo. Na tabela 1, temos um exemplo
lância Sanitária (SNVS) e do Sistema Unificado de de kg de animais mortos produzidos por dia por cate-
Atenção a Sanidade Agropecuária (Suasa), visando, goria de animais em granjas de suínos.
entre outros valores, à proteção da saúde pública e Fossas anaeróbias ou “infernos” suportam des-
da qualidade ambiental. tinação de carcaças por até dois anos, tendo como
A geração de resíduos em suinocultura, mais inconvenientes a colmatação do solo ou, quando
especificamente carcaças, não é um problema impermeabilizadas, têm uma vida útil menor. E
só do Brasil, e a proibição de reutilização de tudo isso é somado ainda com os agravantes legais
carcaças de animais na composição de rações, em e de riscos à saúde pública na remoção do material
decorrência da crise gerada pela BSE Encefalopa- decomposto com a consequente disposição desses
tia espongiforme bovina (doença da Vaca Louca) resíduos e do necrochorume no solo.
na Europa, provocou preocupação geral com a Técnicas de incineração têm sérias implicações
qualidade dos ingredientes de origem animal, devido à dificuldade de produção de altas tempe-
autorizados para uso na alimentação dos animais raturas para queima, o que implica o emprego de
de criação que, no Brasil, resultou na regulamen- pneus ou combustíveis que vão onerar o custo ope-
tação prevista na Instrução Normativa do MAPA racional, além da produção de gases tóxicos, maus
nº 34, de 28/5/2008, aumentando a preocupação, odores e complicações quando o local é próximo
na agropecuária e agroindústria, com a destina- de outras propriedades. O enterramento tem con-
60
55
50
45
Temperatura (oC)
40
35
30
25
20
15
10
0 24 48 72 96 120 144 168 192 216 240 264 288 312 336 360 384
Horas computadas
Gráfico 1 – Temperaturas da borda, meio e centro da leira durante 16 dias (384 horas)
FONTE: Wilkinson, 2011
Oxigênio
A compostagem geralmente é um ambiente con-
sumidor de oxigênio. A atividade microbiana aeróbi-
ca é mais desejável em virtude de os seus subprodu-
tos serem água, calor e gás carbônico. Já a atividade
Foto 1 – Maravalha usada como substrato para compostagem
anaeróbica produz pouco calor, ácidos orgânicos e Fonte: ABCS
Granulometria
Quanto menor o tamanho das partículas do compostagem de carcaças. A aeração do composto
composto, maior a área de superfície disponível favorece o escape de gases de amônia para a atmos-
para os micro-organismos trabalharem. No entan- fera que inibem o crescimento microbiano.
to, na prática, carcaças de suínos não precisam ser É importante lembrar que sob condições de
totalmente abertas. Trabalhos feitos na Carolina do epidemias ou de surtos de doenças de notificação
Norte mostram que o desmembramento e cortes no obrigatória, como peste suína clássica e febre afto-
tórax e abdômen foram suficientes para obtenção sa, a eliminação de carcaças deve atender aos requi-
de um produto final de boa qualidade de carcaças de sitos prescritos pelas normas de vigilância sanitária
grandes animais. para a doença em questão e a compostagem pode
O substrato da compostagem tem funções não ser indicada nessas condições.
como proteger a carcaça de roedores e moscas, O impacto do chorume das celas de com-
além do provimento de nutrientes para sustentar os postagem no ambiente deve ser considerado.
altos níveis de demanda da atividade microbiana. A Análises químicas feitas de efluentes de modelos
estrutura da massa a ser compostada deve ter uma experimentais apresentaram concentrações de
porosidade para favorecer a aeração da leira. Na amônia de 2.000 a 4.000mg/L, carbono total de
tabela 2 é apresentada a densidade de vários subs- 7.000 a 20.000mg/L e sólidos totais de 12.000 a
tratos ricos em carbono que podem ser utilizados na 50.000mg/L.
Tabela 2 – Teores médios de densidade a granel em base seca (DABS), por unidade de volume em relação a
diversos tipos de biomassa, descritos por alguns autores.
Peso (kg) 2,0 5,0 25,0 50,0 110,0 175,0 250,0 500,0
1° estágio (dias) 10 16 35 50 75 95 115 160
832
2° estágio (dias) 10 10 12 15 25 30 40 55
Estocagem (dias) 30 30 30 30 30 30 30 30
Fonte: Keener & Elwel, 2000 (Ohio State University)
sanitária do composto, neste é plenamente atendi- estão alguns indicadores por categoria de animais e
da pela atuação de bactérias termofílicas nos pri- tamanho de plantéis.
meiros dias do processo. A compostagem, na prática, tem dois ciclos
distintos: o primário ou de fermentação e o ciclo de
Dimensionamento de instalações maturação ou cura, também chamado de ciclo se-
A logística do processo requer a determina- cundário, que se dá sob condições mesofílicas (em
ção de um local onde as carcaças e tecidos mortos 45ºC) e caracteriza-se por baixas taxas de decom-
possam ser continuamente armazenados. Deve-se posição biológica, sob a qual a aeração não é mais
levar em conta a praticidade do local para trans- um fator limitante. Durante essa fase, os substra-
porte, água, energia e substrato para as células. O tos biologicamente resistentes como lignocelulo-
processo pode ser de fluxo contínuo ou de batelada se e lignina são degradados. A fase de maturação
(fossas para destinação de carcaças ou “infernos” de compostagem tem grande influência sobre a
têm utilização com prazo determinado). adequação do produto final para uso particular. A
Na densidade para fins de dimensionamento de duração desses ciclos é diretamente proporcional
celas, temos que a maravalha varia de 130 a 180kg/ ao peso da carcaça a ser compostada (tabela 3).
m³ e a de carcaças da ordem de 1.250kg/m³. A compostagem de carcaças de suínos deve ser
Meia tonelada de carcaças de suínos pode levar projetada dentro das estimativas de perda por mor-
mais tempo para se decompor do que meia tonelada talidade existente na granja. Para facilitar a compre-
de carcaças de aves. Para acomodar o aumento de ensão do dimensionamento, a memória de cálculo
peso e tamanho das carcaças, às vezes, é necessário sugerida pela EMBRAPA-CNPSA(2001) é um ótimo
aumentar o volume total do sistema de compostagem. procedimento. Os índices de mortalidade e pesos,
Para porcas, javalis ou cevados, a Universidade do Mis- por fase, são ilustrativos.
souri recomenda pelo menos 0,57m³ (20 pés cúbicos) Em primeiro lugar, utilizaremos o Índice de Per-
da capacidade para cada quilo de carcaça produzida da por Mortalidade
por dia. Vale lembrar que as celas de compostagem são
dimensionadas para taxas de mortalidade normais de A) Cálculo do plantel:
um plantel, por categorias como plantel reprodutor, Nº de matrizes x partos/ano x crias vivas/parto =
maternidade, creche, recria e terminação. crias vivas/ano
Pesquisas mostram que celas para composta- Crias vivas/ano – (crias vivas/ano x % perdas) = ani-
gem de suínos funcionam bem até em dimensões mais creche/ano
de 4,0m x 6,0m. O tempo adicional necessário Animais creche/ano – (animais creche/ano x % per-
para preencher celas maiores gera longos ciclos das) = animais terminação/ano
de tratamento para as primeiras carcaças coloca- B) Cálculo do índice de perdas em quilos por ano:
das na cela, desperdiçando espaço e reduzindo a Nº de matrizes x peso médio x % perda) = perda em
flexibilidade operacional. kg/ano
A quantidade de material produzido em uma Nº de crias vivas/ano x peso médio x % perda = perda
granja depende do nível sanitário desta. Na tabela 1 em kg/ano
833
Galpões
Disposição em fila dupla
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N
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-relações entre agricultura e ambiente mo- vinos. O dejeto de um torna-se o insumo do outro,
dificou-se significativamente, em busca de objetivo de discussão do presente trabalho, que
sistemas de produções agropecuários sustentáveis. será dividido em duas partes. A segunda versará
As unidades de produção têm, intensivamente, bus- sobre a análise financeira dos investimentos das
cado altas produções para satisfazer as necessida- granjas para utilizar racionalmente esse impor-
des de grãos, fibras, energia e proteínas de origem tante recurso.
animal, da crescente população mundial, respeitan-
do o meio ambiente. Produção de dejetos
Os mais frequentes estudos ambientais sobre Na atividade suinícula, a concentração de ani-
agricultura sustentável abordam energias reno- mais por unidade de área é uma realidade, que se
váveis, redução da dependência da agricultura iniciou nos anos 70. Desde então, a produção tem
dos combustíveis fósseis, redução das emissões mudado drasticamente nas últimas três décadas
de gases de efeito-estufa, manejo de nutrientes, de um modelo de subsistência para um processo de
manejo dos pesticidas no solo e cadeias de alimen- elevada concentração animal.
tos, níveis de matéria orgânica no solo e práticas de Essa corrente é motivada pela redução no
manejo de lavouras para preservação da estrutura custo de produção e logística para o produtor e
do solo. para a agroindústria. Uma tendência adicional na
Fundamentalmente, os aspectos sociais e produção de carne é a migração dos processos de
econômicos, necessariamente, têm que ser consi- produção dos países desenvolvidos para aqueles
derados, quando a produção é monitorada e/ou ana- em desenvolvimento, devido ao baixo custo ope-
lisada. Em consequência, a demanda por sistemas racional, facilidade de insumos e água, bem como
agrícolas integrados, cujo objetivo é a otimização, políticas menos severas de controle ambiental
cresce e ferramentas para o incremento e sucesso em relação à comunidade europeia e os Estados
têm sido desenvolvidas. Unidos.
Segundo a ABIPECS/ABCS, no Brasil, a po- Concomitantemente a essa concentração ani-
pulação de suínos em 2012 totalizou 39,036 mal e aumento de produção de carne, crescem as
milhões de cabeças e, consequentemente, a pro- exigências ambientais em relação ao controle dos
dução de dejetos é enorme. O grande volume de dejetos produzidos. O sistema de produção de suí-
dejetos gerados pelos suínos e seu potencial de nos propicia elevado volume de dejetos líquidos, o
impacto poluidor no solo, ar e água está no centro que gera problemas de manejo, armazenagem, dis-
das discussões públicas. Entretanto, esse proble- tribuição e poluição ambiental, quando os resíduos
ma pode ser entendido como uma solução para não são corretamente manejados.
Os dejetos líquidos são normalmente desti- ponível é o elo fundamental no processo de integra-
nados às lagoas de decantação ou aplicados no ção entre os sistemas de produção de carnes suína
solo, devido à simplicidade dos processos, baixo e bovina. A forragem pode ser entendida como uma
custo e a possibilidade de reduzir o custo de pro- lavoura e, como tal, a eficiência na produção deve
dução dos grãos pela substituição de partes dos ser almejada.
fertilizantes químicos pelos nutrientes contidos Os dejetos de suínos podem constituir ferti-
no dejeto. lizantes eficientes na produção de grãos e de for-
Sabe-se que o tratamento dos dejetos gerados ragens, desde que adequadamente estabilizados
pela suinocultura é tão importante quanto a própria antes de sua utilização. Esses podem apresentar
criação dos animais, e deve ser analisada sob vários grandes variações em seus componentes, depen-
enfoques. dendo do sistema de manejo utilizado e, principal-
a) Finalidade preservacionista: Eliminar ou ame- mente, da quantidade de água em sua composição.
nizar o elevado volume de dejetos gerado nas Em sistemas de ciclo completo, encontra-se o
propriedades, de forma a reduzir ou extinguir maior volume por unidade alojada, seguido da uni-
o seu potencial poluente e evitar, assim, a de- dade produtora de leitões e, por último, a unidade
gradação ambiental. terminadora. Pesquisas apontam 31,02, 16,42 e
b) Finalidade agronômica: Utilizar os dejetos 3,28m3 de dejetos por ano para as granjas de ciclo
como fertilizante disponível nas proprieda- completo, unidade produtora de leitões e unidade
des, de forma a complementar as necessida- terminadora, respectivamente. O teor de sólidos
des de adubação mineral para melhorar as nos dejetos varia de acordo com o manejo da cria-
condições do solo e aumentar a produtivida- ção, principalmente em relação aos sistemas adota-
de das lavouras. dos no Sul e outras regiões do Brasil, que demandam
c) Finalidade sanitária: Promover o tratamento mais ou menos água, considerando que o volume de
adequado dos dejetos, com a finalidade de re- dejetos produzidos pelo rebanho suíno nacional é
duzir o potencial de transmissão de agentes de aproximadamente 300.000.000 milhões de m3.
causais de doenças, e, com isso, melhorar a No processo de digestão, o aproveitamento dos
produtividade dos rebanhos de suínos. nutrientes ingeridos pelos animais varia. Em mo-
d) Finalidade social: Solucionar o problema de nogástricos, somente 55% do nitrogênio, 54% do
concentração de dejetos, contribuindo para potássio e 56% da matéria orgânica são absorvidos.
a manutenção e incentivo de importante ati- Do fósforo ingerido, a maior parte é excretada, re-
vidade agrícola de grande importância eco- presentando 58%. Consequentemente, em função
nômica e, com isso, viabilizar a continuidade das quantidades excretadas, os dejetos apresentam
do processo agroindustrial que ajuda a fixar o um significativo potencial como fonte de fertilizan-
homem no campo. te, conforme pode ser observado na tabela 1.
Não obstante a importância das demais finali- Analisando a tabela 2, na qual se utilizou a menor
dades, a utilização de dejetos como fertilizante dis- concentração de sólidos descrita na tabela 1, obser-
Tabela 2 – Quantidade de nutrientes NPK dos dejetos de suínos produzidos pela suinocultura
brasileira a 0,54% de sólidos e o equivalente fertilizante, em toneladas ano-1
Nutrientes Toneladas
838 Sólidos 0,54% Ureia Super Simples Cloreto de Potássio Fertilizante
Nitrogênio 290.323 645.163
P2O5 205.510 1.141.721
K20 234.868 391.447
NPK 730.702 2.178.332
Fonte: Adaptado KONZEN, 2003
va-se que os dejetos de suínos apresentam-se como utilização de práticas de adubação, podem ser ele-
uma significativa fonte de adubo. A suinocultura é vados. As pastagens brasileiras degradadas podem
capaz de reciclar através dos dejetos 290,3, 205,5 e produzir mais forragens e ter a fertilidade do solo
234,9 mil toneladas de nitrogênio, P2O5 e K2O, res- melhorada com o uso racional dos dejetos suínos,
pectivamente. Isso equivale a 730,7 mil toneladas de desde que seja utilizado sob manejo criterioso e
NPK, que são os constituintes tradicionais das for- com base científica.
mulações de fertilizantes utilizadas no Brasil. De acordo com as características químicas
No ano de 2013, foram entregues aos consu- dos dejetos líquidos de suínos na reciclagem de
midores finais do Brasil, 31.081.912 toneladas nutrientes, a melhor opção, com o intuito de reapro-
de adubo. De acordo com a tabela 2, a quantidade veitamento, seria utilizá-los como fertilizantes para
de adubo disponível nos dejetos de suínos atual as pastagens, uma vez que estas podem receber os
representa 7,01% do total entregue aos consumi- dejetos o ano todo.
dores em 2013. A aplicação de dejetos como fertilizantes in-
Os preços atuais dos fertilizantes são de 355, dicam que o uso adequado desses resíduos pode
335 e 395 dólares por tonelada de N, P e K. Adotan- minimizar os custos de produção, devido a uma
do esses preços médios, ou seja, US$361,67 por to- aplicação menor de adubos químicos, portanto eles
nelada, o gasto com adubos no Brasil foi de 11,241 devem ser utilizados como insumo útil e econômico
bilhões de dólares. O equivalente fertilizante em na produção agropecuária.
dejetos, considerando a produção brasileira total, é As produções médias, após dois anos de fer-
de 787,8 milhões de dólares. Cabe a cada suinocul- tirrigação, alcançaram seis toneladas de matéria
tor avaliar a sua conta. seca ha-1 por mês, chegando a até oito toneladas em
algumas áreas, mediante a mistura dos dejetos com
Panorama das pastagens brasileiras água de irrigação, na dose de 150m3 ha–1 por ano. A
manejadas racionalmente capacidade de suporte das pastagens, à medida que
No Brasil, as áreas degradadas de pastagem ou os ciclos de fertirrigação foram avançando, passou
em processo de degradação vêm aumentando de- de 1,2 unidade animal (UA) para 3,4 em 1999, para
vido à forma extrativista da exploração pecuária de 7,6, em 2002, estabilizando em 8,5 a partir de 2003.
bovinos. O esgotamento dos níveis de fertilidade do Nessa situação, a economia de fertilizante químico
solo, em consequência da ausência ou do uso inade- foi acima de 85% em 2.000 hectares fertirrigados
quado da adubação, tem sido apontado como uma de pastagem de capim Mombaça. A utilização com
das principais causas da degradação de pastagens doses crescentes de dejetos de suínos para a aduba-
cultivadas. ção de Brachiaria brizantha cv. Marandu (braquia-
Uma alternativa de adubação é o uso de resídu- rão) mostra um incremento de 156% na produção
os orgânicos como os dejetos líquidos de suínos. Os de matéria seca e de 230% na proteína para a dose
índices de produção e produtividade, por meio da de150m3 ha-1.
de complementação. Entretanto, para atender à atender ao ganho de peso proposto, que foi de 750
exigência de nitrogênio, são necessários 79,4kg do gramas por dia. Objetivando atender a esse ganho
nutriente. Para esses cálculos, adotou-se uma efi- médio durante os 270 dias de permanência, é ne-
ciência na utilização dos nutrientes de 80%, 70% e cessário equilibrar a dieta, cujo valor calculado foi
90% para NPK, respectivamente. de R$0,52 por dia com um concentrado energético
Na tabela 5 encontram-se os dados utilizados e minerais.
na simulação. O número de hectares adotado foi de O custo operacional com cada animal fora ali-
100. Considerando os pesos de entrada e saída que mentação, ou seja, mão de obra, medicamentos,
foram de 180 e 369kg, respectivamente, é possível entre outros, foi calculado em 1,15 arroba de bois.
trabalhar nessa área com 738 cabeças durante 270 Portanto, esse custo foi de R$115,00.
dias do ano, quando esses animais sairão do sistema A atividade de recria de bois integrada à produ-
para um confinamento próprio ou de terceiros. ção de suínos proposta necessita de investimentos
Atualmente, o preço da arroba de boi gordo na em redes de distribuição de água, bebedouros, cer-
região é de R$100,00. Convencionou-se o ágio de cas, cocheiras e saleiros e a estrutura de irrigação
18% sobre a arroba do boi gordo para a aquisição do dejeto. A tabela 5 apresenta a infraestrutura
do bezerro. Esse número, embora esteja menor necessária aos 100 hectares, com seus respectivos
que a realidade atual, é um valor que atende o his- valores unitários e totais.
tórico da relação de trocas entre arroba de bezer- A irrigação é o item com maior participação no
ro e de boi gordo. investimento. São R$ 235.520,00, que representam
Quando se trabalha com pastagens fertirri- 49,44% do total necessário. O tipo de irrigação ado-
gadas, é possível acontecer um desbalanço entre tado foi o de malha ou tubo enterrado. Obviamente
os níveis de proteína e energia na gramínea, para que há outras formas e cada investidor poderá
Itens Valores
Custo suplementação complementar R$101.088,00 841
Custo com adubação R$29.656,70
Custo com irrigação R$6.500,00
Custos operacionais gerais R$82.800,00
Aquisição de bezerros R$517.406,40
Valor do ágio pago pelos bezerros R$77.760,00
Custo operacional efetivo anual R$ 737.451,10
Receita operacional R$ 918.000,00
Lucro operacional R$ 180.548,90
Depreciação R$ 22.834,94
Despesas financeiras do investimento à taxa 5,5% a.a R$ 54.660,22
Lucro sem descontar o imposto de renda R$ 103.053,74
Lucro por hectare com capital próprio sem a terra R$ 1.577,14
Lucro líquido por ha com capital de terceiros sem a terra R$ 1030,54
buscar, de acordo com suas condições, modelos de foi de R$737.451,10, conforme apresentado na
irrigação que minimizem esse valor. A formação tabela 6. O principal componente desse custo foi a
das pastagens é o segundo item em participação aquisição de bezerros, seguido da suplementação
relativa nos investimentos. São R$ 120.000,00 que complementar. O valor do ágio já está no custo do
totalizam 25,19%. As cercas representam 17,39% bezerro, mas foi evidenciado para mostrar que esse
e é o terceiro componente que mais pesa no inves- item é importante na tomada de decisão do sistema.
timento. Esses três itens representam em torno de No cálculo da receita, descontou-se 1,5% de taxa de
92,02% do valor a ser investido, portanto, merecem mortalidade anual. O valor da receita operacional
maior atenção. foi de R$ 918.000,00. Essa receita é obtida por meio
Não se consideraram o curral e as instalações de da produção de 4.860 arrobas produzidas, somadas
manejo, para fins dos cálculos. Esse é um parâmetro às 4.320 arrobas compradas e ambas vendidas pela
de enorme variação. De acordo com a preferência do atividade, que perfazem uma produtividade de 48,6
investidor, se ele ainda não os tem, os valores devem arrobas por hectare.
ser incorporados na matriz de cálculos. O lucro operacional, obtido pela diferença entre
Objetivamente, em qualquer projeto, o que se a receita operacional e custo operacional efetivo, foi
busca é a sua rentabilidade. O primeiro passo para de R$180.548,90. Desse valor subtraiu-se o valor
avaliar o negócio é elaborar fluxo de caixa líquido da depreciação para obter o lucro, sem descontar o
do sistema. Nesse caso, calculou-se o fluxo de caixa imposto de renda. Optou-se por não incluir nenhum
para o primeiro ano e admitiu-se que, para os sete valor para o imposto de renda, que é um item impor-
anos subsequentes, as condições se repetissem. tante nos custos, por acreditar que esse fator é parti-
Classicamente, a rentabilidade pode ser anali- cular a cada investidor. O mesmo critério foi adotado
sada financeiramente pelo uso do método do valor para o fator terra. O valor do lucro da atividade foi
atual, taxa interna de retorno, período de recupera- de R$ 157.713,96, o que corresponde ao lucro de
ção do capital. R$ 1.577,14 por hectare se o produtor trabalhar
O custo operacional efetivo da atividade de com recursos próprios. Entretanto, se ele necessitar
recria dos bois integrada à suinocultura estimado trabalhar com capital de terceiros para iniciar a ativi-
dade, adotando a taxa de juros praticada no mercado à taxa de 5,5% no período de sete anos, o projeto
para financiamentos de 5,5% para o investimento apresenta um valor de R$ 397.978,69, quando se
fixo, a despesa financeira anual será de R$ 54.660,22, trabalha com recursos próprios. Se o suinocultor
842
e a lucratividade da atividade será de R$ 1.030,54. for ao mercado e tomar os recursos necessários
Caso o investidor necessite de recursos para man- para investimentos em infraestrutura, adotando o
ter a atividade, ou seja, para capital de giro, ele terá mesmo critério, o VPL é de R$ 103.540,56. Nessas
mais um item de custo. Esse será o juro referente ao duas situações, a atividade é interessante para o
recurso para compra do rebanho e manutenção dele empreendedor sob a ótica financeira. Entretanto,
até a venda. Nessa condição, adotando a mesma taxa caso ele não possua capital financeiro para comprar
de juros de 5,5% a.a, o lucro da atividade será de R$ e manter os animais, o VPL é negativo, o que indica
72.633,88 e de R$ 726,34 por hectare. que não é interessante essa opção.
O capital necessário para iniciar a atividade si- Analisando o TRC, observa-se que, de acordo
mulada é de R$ 476.415,74, considerando as infra- com os parâmetros atuais, o investidor levaria em
estruturas e pastagens. Na aquisição do rebanho e torno de três anos para recuperar o capital inves-
custeio do rebanho, são necessários R$ 737.451,10. tido se utilizar recursos próprios. Caso precise se
Com base nesses valores, as análises financeiras de capitalizar externamente para infraestrutura, gas-
Taxa Interna de Retorno (TIR), Valor atual (VPL) e taria 4,5 anos para recuperar o capital. Na situação
Tempo de Recuperação do Capital (TRC) calculados extrema de se tomar todo capital para infraestrutu-
são apresentados na tabela 7. ra e capital de giro, somente no final do sétimo ano o
Considerou-se o tempo de sete anos para a aná- suinocultor irá recuperar o capital.
lise financeira. A taxa de juros para cálculo do méto- Independentemente do tipo de análise, o sui-
do do valor atual foi de 5,5% ao ano (a.a). nocultor não deve sempre ponderar sobre a opção
Ao se optar por essa atividade de integração, o de fazer um investimento na integração com a
suinocultor pode avaliar o seu negócio por meio dos pecuária. Entretanto, se ele já for um produtor de
três parâmetros, entre outros. Em ambas as análises, bovinos, a opção passa a ser extremamente inte-
fica evidente que na atual conjuntura trabalhar com ressante, pois o item animais representa 70% do
recursos próprios é melhor para o produtor. A TIR capital necessário à atividade. Em uma economia
com capital próprio é de 26,82% ao ano, 2,31 vezes estável, qualquer negócio com uma taxa interna
maior que a taxa quando se toma recursos no merca- de retorno nos patamares de 11,6% é promissor.
do financeiro, à taxa de juros de 5,5%. Nesse caso, a Isso é ratificado pelo VPL positivo no período da
TIR é reduzida para 11,6%. Quando são necessários análise, o que demonstra viabilidade do negócio.
recursos para capital de giro, além do investimento, Da mesma forma, recuperar o capital investido
a taxa interna de retorno cai para 1,7%. Nesse caso, a em um período de 4,5 anos pode ser considerado
decisão por essa atividade não é indicada. muito rápido.
Observando a análise do método do valor Diante das simulações apresentadas, a ativi-
atual, ou seja, descontando o fluxo de caixa líquido dade de integração entre a produção de suínos e
Tabela 7 – Análise financeira da atividade de recria de boi integrada à suinocultura em sete anos
a produção de bovinos se mostra bastante viável. em torno de 50%, constitui uma significativa fon-
Dessa forma, em momentos em que a atividade de te de fertilizantes, capaz de substituir os adubos
suinocultura esteja remuneradora, o investimento químicos e reduzir significativamente os custos. O
843
em pecuária é uma excelente opção. Como os efeitos seu uso em pastagens tem se mostrado eficiente. A
são sinérgicos e o boi tem uma grande liquidez, esses aplicação do dejeto possibilita o aumento da massa
recursos poderão ser devolvidos à suinocultura nos de forragem, a capacidade de suporte dos bovinos
momentos de crise. Ressalta-se que o exemplo acima e o ganho de peso superior a um quilograma por dia.
é uma simulação e cada atividade de produção é um Adotando o preço médio para fertilizante no no ano
caso, que merece um estudo em particular. de 2013, de US$361,67 por tonelada, no mesmo
Enfim, o volume de dejetos de suínos produ- período, o gasto com adubos no Brasil foi de 11,241
zidos pela suinocultura brasileira é enorme. O bilhões de dólares. O equivalente fertilizante em
aproveitamento dos nutrientes minerais NPK está dejetos pode chegar a 787,8 milhões de dólares.
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20 Biosseguridade
Definição Objetivo
B
iosseguridade é uma palavra relativamente nova Em termos práticos, o objetivo de toda granja é
não encontrada em muitos dicionários. Tem ser livre do maior número possível de doenças. Essa
sido definida em suínos como a proteção de um preocupação inicia-se na localização da granja e de-
rebanho contra a introdução de agentes infecciosos pois nas operações de rotina, que abrangem povoa
(vírus, bactérias, fungos ou parasitas), que represen- mento, reposição de animais, veículos, pessoal, fô-
tam um desafio permanente para os suinocultores e mites, ração, produtos veterinários etc. A condição
veterinários. O meio mais fácil de ocorrer patógenos de estar livre do maior número de doenças é o prin-
em um rebanho é pela introdução de suínos infecta- cipal fator de eficiência e rentabilidade das granjas.
dos. Os protocolos de biosseguridade devem conside- Animais obtidos por “desmama precoce medicada”,
rar, no entanto, os vários fatores de risco e sua redução mantidos em granjas novas ou previamente despo-
a níveis aceitáveis. Infelizmente, não há risco zero. voadas, atingem, frequentemente, média de 100kg
Existem áreas bem conhecidas e outras que requerem aos 110-115 dias de idade. Assim, a prevenção de
futuras pesquisas. Novas tecnologias para melhorar entrada de doenças e o controle das existentes são
o status sanitário produzem, em contrapartida, suínos de importância prioritária, se não decisiva, entre o
sem imunidade adquirida para muitos agentes pato- lucro e o prejuízo. Na maioria dos casos, as granjas
gênicos. O risco de introdução de doenças, via novo já instaladas não têm muita escolha. Sob orientação
material genético e outros mecanismos, aumentou do seu médico veterinário, pode-se rever vários
nesses animais imunologicamente suscetíveis. Assim, aspectos, visando minimizar o impacto negativo das
os custos de introdução de novo material genético au- doenças. Quanto pior a localização da granja, maior
mentaram devido às precauções extras que devem ser a importância de implementar medidas rígidas de
tomadas para prevenir a entrada de doenças, seja via biosseguridade. O objetivo de estabelecer um reba-
sêmen ou animais. Não há protocolo absoluto que evi- nho de alto status sanitário é manter o status quo por
te a entrada de doenças, via material genético. Assim, no mínimo dois anos, reduzir de 10-20 dias o tempo
os veterinários devem conhecer os riscos e opções para o abate e melhorar a conversão alimentar em
disponíveis para prevenir a entrada de doenças. Em 0,1 a 0,4. A taxa de parto ideal deve estar acima
termos de introdução de material genético, são três as de 90%, associada a uma mortalidade na fase de
maneiras ideais: crescimento menor do que 3,0%. Se não atingirmos
»» Animais SPF (Livres de Patógenos Específicos); esses objetivos, devemos reavaliar nossa forma de
»» Animais obtidos por desmama precoce e se- trabalhar. As doenças respiratórias representam
parados por idade do rebanho de origem; o maior impacto sobre a eficiência na produção de
»» Sêmen previamente testado para doenças de carne magra. Isso provavelmente se deve ao grande
importância. número de células imunes associadas ao trato respi-
Vazio Sanitário
Em contraste com o grande valor das práticas de
quarentena e testes, o vazio sanitário das pessoas
é cientificamente questionável. Hoje, porém, os
médicos veterinários têm sido obrigados a um vazio
de 48 a 72 horas, embora exista pouco fundamento
científico. A regra de 48 horas baseia-se em muitas
publicações antigas, em razão da febre aftosa e Foto 4 – Lavagem e desinfecção das instalações
Mycoplasma hyopneumoniae. Há publicações do Fonte: Dr. Ricardo Bona, 2013
Atualmente, várias granjas mantêm fumigadores para de três anos. Um único rato pode comer de 9 a 18kg
entrada de material. Além disso, granjas-núcleo têm de ração por ano. Um mesmo rato pode contaminar
exigido uma avaliação por termometria de visitantes, 135kg de ração adicional com fezes e urina. Nos Esta-
850
para evitar a entrada de pessoas doentes na granja, dos Unidos, o custo estimado na agricultura por ratos
especialmente infectadas pelo vírus influenza. O re- e camundongos é de 1 a 3 bilhões de dólares anual-
gistro de entrada de pessoas deve ser feito no livro de mente, além dos prejuízos adicionais às instalações.
visitantes, no qual constam informações sobre o últi- Várias doenças são potencialmente transmissíveis
mo contato com suínos e objetivo da visita. por ratos, como a salmonelose, colibacilose, rinite
atrófica, encefalomiocardite, leptospirose, toxoplas-
Roedores mose, TGE, disenteria suína e outras. Ao todo, são
Programas específicos elaborados por especia- cerca de 25 doenças, atribuídas, em parte, aos ratos
listas, em bases mensais, devem ser implantados, e camundongos, além dos prejuízos às instalações,
quando a população de roedores for preocupante. incluindo incêndios. Os dentes dos ratos crescem
Especialistas em ratos dizem que quando se vê um cerca de 13cm por ano, necessitando , portanto des-
rato ou camundongo, existem provavelmente 10 ou gastá-los continuamente. Existem três espécies de
mais que você não vê. Se toda a progênie sobreviver, roedores que habitam as suinoculturas: Rattus norve-
um único casal de ratos pode ser responsável por cer- gicus, Rattus rattus e Mus musculus (camundongos). O
ca de 20.000.000 de ratos adicionais, num período controle de roedores deve obedecer a um programa
que contemple o uso de raticidas, instalações, mane-
jo e uso de gatos, sob orientação especializada, em
casos emergenciais.
Pássaros e insetos
A tuberculose suína por Mycobacterium avium,
transmitida em especial por fezes de pássaros, pela
contaminação de ração, pode provocar lesões de
tuberculose nos linfonodos mesentéricos e provocar
condenações ao abate. Galpões e cochos sem prote-
ção contra pássaros permitem aos pássaros comerem
e defecarem sobre a ração. As moscas podem ser veto-
Foto 5 – Barreira sanitária res de inúmeras doenças: PRRS, TGE, S. suis, Doença de
Fonte: Dr. Ricardo Bona, 2013 Aujeszky, Pestes Suínas Africana e Clássica, Colibacilose e
outras. Elevadas populações de diferentes espécies de
moscas são importantes vetores de diarreias, causas
de desconforto para os suínos e funcionários em cer-
tas regiões e épocas de clima quente e úmido. Progra-
mas específicos devem ser introduzidos e mantidos
regularmente para o controle de moscas.
dos os responsáveis pelos setores e não apenas pe- de sistemas efetivos. O custo de implantação de um
los gerentes. É recomendável especificar onde cada programa de biosseguridade funcional é mínimo,
evento ocorre, assim como a frequência. Conside- comparado com as perdas potenciais por doenças,
853
rar cuidadosamente cada evento, sob o ponto de que são previsíveis por intermédio da biosseguri-
vista de biosseguridade e a habilidade do staff para dade. Pouco se conhece ainda sobre a efetividade
controlá-los, sempre mantendo as prioridades. Não das práticas de biosseguridade, embora seu reco-
temos como controlar fatores como clima, vento, nhecimento esteja em crescimento. Infelizmente,
vizinhos, etc., mas podemos monitorar a movimen- muitas práticas são implantadas, porém sem enten-
tação de pessoas e animais, sua origem, o descarte, dimento da real necessidade. Protocolos de medi-
o carregamento e entrega de cevados, os vestiários, cações e vacinações são fundamentais e devem ser
a chegada de matérias-primas etc. Auditorias ou mantidos registros do uso. No entanto, devemos
revisão crítica do sistema devem ser regularmen- analisar os riscos de cada granja individualmente
te realizadas, pelo menos uma ou duas vezes por e obedecê-los. Uma vez implementados os proto-
ano, por técnico capacitado, em todos os níveis do colos, devem ser avaliados quanto à eficácia e con-
sistema de produção. O treinamento do pessoal é formidade. As práticas devem ser modificadas ou
essencial para sua capacitação e desenvolvimento eliminadas, caso necessário.
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B
iosseguridade, no sentido amplo da palavra, (CIA) depende de uma série de fatores como: status
nada mais é do que a proteção dos seres vivos sanitário dos reprodutores na sua origem, localiza-
contra doenças, parasitas e outros agentes ção da CIA, densidade de animais no perímetro da
que possam desencadear processos patológicos. O CIA, barreiras naturais (cinturão verde, topografia,
seu principal objetivo é evitar, por meio de barreiras ventos predominantes, etc.), higiene dos processos
físico-químicas, a exposição dos animais a agentes de coleta e processamento de sêmen, logística de
potencialmente patogênicos. As medidas de Bios- distribuição das doses inseminantes, entre outros.
seguridade referem-se tanto ao ambiente externo Como podemos perceber, trata-se de uma inter-re-
(agentes que não fazem parte do plantel, riscos ex- lação complexa de variáveis. Imagine o programa
ternos) quanto ao ambiente interno (medidas que de biosseguridade como os elos de uma corrente,
evitem a expressão de agentes possivelmente pato- em que cada elo representa uma variável. Até o
gênicos e que estão em equilíbrio no plantel). momento em que esses elos permanecem unidos, a
Com o aumento da demanda pelo uso da inse- biosseguridade do sistema é mantida. No entanto,
minação artificial (IA) ocorrida nos últimos anos no na ruptura de qualquer variável (“elos da corrente”),
Brasil, o cuidado com o impacto da difusão de genes teremos a exposição ao risco de entrada de agentes
no plantel de matrizes foi repensado. Estima-se que potencialmente patogênicos no plantel.
90% das matrizes do plantel tecnificado de suínos A premissa básica para qualquer programa de
sejam submetidas a IA. Da mesma forma, o proces- biosseguridade é que ele seja rígido e flexível ao
so de massificação de novas tecnologias como a mesmo tempo, ou seja, deve ter a capacidade de ser
IA pós-cervical fez com que essa disseminação de reestruturado sempre que houver necessidade.
genes se multiplicasse de forma muito rápida, com a Qualquer plano de biosseguridade deve ser cons-
otimização de reprodutores de alto valor genético. tantemente auditado, com a implementação das
No entanto, é importante salientar que o ejaculado, medidas cabíveis imediatamente. A auditoria visa
como qualquer outro material biológico, é passível evidenciar, por um processo sistemático, documen-
de contaminação e veiculação de agentes patogêni- tado e independente, se as atividades desenvolvidas
cos através da IA, o que aumenta o risco potencial de na CIA seguem as descrições contidas no manual de
difusão de doenças. Com isso teremos a perda da fer- biosseguridade, se as pessoas executam as tarefas
ramenta de biosseguridade fornecida pelo programa com conhecimento e se a implementação é eficaz e
de IA. Esse risco é inevitável, a menos que se adotem enquadrada dentro dos objetivos definidos.
medidas extremas de biosseguridade. Em um programa de biosseguridade não há
A manutenção de um programa de biosseguri- espaço para morosidade. Um único lapso pode
dade em uma central de processamento de sêmen comprometer anos de trabalho. Da mesma forma,
por mais simples que seja o programa de biossegu- trato genital, especialmente a do divertículo prepu-
ridade, a elaboração de um plano de contingência cial; as fezes e outros materiais, como a cama da baia
é f undamental, haja vista que o impacto de uma do cachaço, que se torna aderente à pele na região do
856
contaminação é grande. Planos de ação e definições óstio prepucial. A aplicação inadequada da técnica de
de responsabilidades devem ser claros e bem difun- coleta, contato direto com aerossóis, contaminação
didos, caso contrário não será efetivo. dos materiais e equipamentos utilizados na coleta,
Entre as vias de introdução de agentes patogêni- diluição e acondicionamento do sêmen são tidos como
cos em um sistema de produção de suínos, encontra- outras fontes de contaminação.
se a introdução de material genético. A introdução de A importância da contaminação bacteriana
animais vivos oferece um risco grande na transmis- no sêmen do cachaço na veiculação de doenças
são de doenças, no entanto, a IA é uma alternativa de está relacionada ao tipo e ao número de bactérias
menor risco sanitário. Apesar dos riscos menores, é presentes, bem como ao seu potencial patogênico.
importante considerar que, pela capacidade multipli- Bactérias tidas como contaminantes banais irão in-
cadora do processo de IA, essa técnica pode difundir terferir diretamente na qualidade do sêmen, porém
de forma explosiva os patógenos (bactérias e vírus) terão baixo potencial patogênico. No entanto, em
de um reprodutor para as fêmeas através do sêmen, situações em que a contaminação é de origem in-
caso ocorram falhas na biosseguridade da CIA. fecciosa, seja ela sistêmica, seja de origem do trato
genital, existe risco potencial de difusão do agente
Agentes contaminantes do sêmen via IA. Entre as bactérias cuja patogenicidade é
De forma geral, o trato genital de reprodutores sa- comprovada, levando a problemas reprodutivos,
dios está livre de agentes contaminantes. No entanto, encontramos o Mycobacterium spp., o sorogrupo de
é bastante comum observarmos contaminação bacte- Leptospira interrogans e a Brucela suis.
riana no sêmen, na maioria das vezes por bactérias não Vários trabalhos demonstraram o potencial
patogênicas. Em cachaços sadios, há duas principais de difusão de agentes patogênicos através do sê-
fontes de contaminação bacteriana: a flora natural do men (tabela 1), justificando assim a importância
Tabela 1 – Agentes bacterianos e virais isolados do sêmen e o seu potencial risco de contaminação
857
Implicações da contaminação Medidas de controle e difusão de agentes
microbiológica do sêmen potencialmente patogênicos na CIA
A contaminação microbiológica do sêmen pode As medidas de controle de entrada e difusão de
resultar em decréscimo na performance reproduti- agentes patogênicos dependem de uma rotina rígida
va da fêmea devido à baixa qualidade do sêmen. Da de controle. Uma vez estabelecidos os critérios de lo-
mesma forma, impõe risco de infecção genital da fê- calização da CIA, barreiras verdes e proteção do perí-
mea, podendo causar, em determinadas situações, metro externos da CIA por meio de cercas, as demais
descargas vulvares multifatoriais, endometrites, medidas implicam uma mudança comportamental
retornos regulares e irregulares ao estro, muitas ve- permanente. Fazer com que os colaboradores en-
zes devido à morte embrionária (parvovírus, circo- tendam o porquê das exigências de biosseguridade
vírus), abortos, aumento do número de natimortos, é o principal desafio a ser superado. A chave para o
leitões nascidos fracos (leptospirose) e mumifica- sucesso de um programa passa pelo esclarecimento
dos (parvovírus, circovírus), bem como redução do detalhado das normas exigidas. Definir os objetivos
tamanho da leitegada ao nascimento. do programa de biosseguridade é muito importante,
No entanto, apesar de a contaminação do sê- porque expressa o que se pretende atingir com as
men representar um fator de risco, nem sempre o medidas. Treinamentos periódicos para ressaltar a
agente patogênico irá ser transmitido à fêmea via importância do programa é uma forma de motivar os
IA. A infecção é dependente de uma série de fatores colaboradores a cumprirem as normas de biosseguri-
como dose infectante, virulência da amostra e dade, bem como de dividir a responsabilidade sobre o
imunidade da fêmea. resultado do programa de biosseguridade.
De certa forma, o papel do sêmen na disse- A elaboração de um manual do programa de
minação de agentes bacterianos tem uma menor biosseguridade é um ponto que auxilia no entendi-
importância devido à inclusão de antimicrobianos mento do programa. O manual deve ter o foco nos
ao diluente, prevenindo, dessa forma, a transmis- objetivos principais do programa. Deve ser elabora-
são desses agentes bacterianos. Porém, isso não é do pelas pessoas que conhecem os procedimentos
motivo para que medidas de higiene nas instalações, da CIA e descrever as tarefas com detalhes, mas de
no alojamento e cuidado com os animais, coleta, forma objetiva. Deve conter o objetivo, tarefas a
processamento, armazenamento, distribuição e serem realizadas, fluxos da CIA (entrada de pessoas
utilização do sêmen devam ser negligenciados. No e animais, produção), resultados esperados, as ano-
entanto, esse efeito é nulo em contaminações virais malias passíveis de acontecer e como solucioná-las,
que, além de prejudicarem a qualidade do sêmen, bem como um bom plano de contingência. É impor-
são agentes causadores de infertilidade e desor- tante que todo manual tenha sempre a data da ela-
dens reprodutivas nos machos e fêmeas. boração e data prevista para revisão.
Reprodutores em que apresentem qualquer O plano de contingência nada mais é do que o
alteração clínica de doença devem ser afastados da conjunto de procedimentos e decisões emergen-
reprodução e assim não representam risco de vei- ciais que devem ser tomadas no caso da ocorrência
culação de agentes patogênicos via IA. No entanto, inesperada ou da suspeita de um evento relaciona-
animais aparentemente sadios podem encontrar-se do com falhas no programa de biosseguridade da
no período de incubação da doença, cuja possibili- CIA. Seu objetivo maior é prover um diagnóstico
dade de eliminação de patógenos pelo ejaculado é precoce e contenção do risco sanitário. Da mesma
alta. Dessa forma, o ejaculado contaminado pode forma que o manual de biosseguridade, o plano de
ser destinado a IA antes que sinais clínicos da do- contingência tem que ser claro e objetivo.
No Brasil, as CIAs que comercializam o sêmen são que o período de incubação das possíveis infecções
submetidas às exigências sanitárias estabelecidas latentes (tabela 2). Assim, considerando os períodos
pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abaste- de incubação mais comuns para os agentes de im-
858
cimento, pela Instrução Normativa n° 19, de 15 de portância na suinocultura, poder-se-ia recomendar
fevereiro de 2002, que determina os requisitos mí- períodos entre três e oito semanas. É importante
nimos à biosseguridade e monitoria dos principais que a estrutura da quarentena seja independente
agentes patogênicos. Porém, o dia a dia do progra- da CIA (funcionário e instalação), caso contrário sua
ma de biosseguridade é determinado pela disciplina eficiência é reduzida. Durante esse período, pode ser
dos colaboradores e auditorias rígidas. realizada coleta de material para exames comple-
Apesar de existirem várias vias de contaminação mentares de diagnóstico, como sorológicos.
como: aerógena, fômites, água, ambiente, pessoas e
veículos, a contaminação pelo contato animal-animal Regras básicas para manutenção de
tem sido a principal via. Com isso, a instalação de um programa de biosseguridade
uma área de quarentena anteriormente à entrada 1. Biosseguridade requer disciplina 365 dias
de novos reprodutores à CIA é fundamental. Nessa por anos, 24 horas por dia;
instalação deve ser realizado um controle rígido da 2. Planejamento é fundamental. Treinar, orien-
condição sanitária dos animais, visando ao diagnós- tar, estabelecer responsabilidades;
tico precoce de qualquer enfermidade. O período de 3. Determinar regras claras. Implantar um
quarentena varia em função dos agentes. A maioria manual de biosseguridade, adotando regras
dos autores sugere um período mínimo de 30 dias passo a passo;
para a quarentena. Uma regra básica é a de que o pe- 4. Ter um bom plano de contingência e estar
ríodo de isolamento dos novos animais seja maior do sempre pronto para agir;
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E
xistem diversos fatores que podem influen- Ao longo dos anos, essa tecnologia se difundiu
ciar a rentabilidade e a produtividade das para outros países com o mesmo objetivo de redu-
granjas suínas. Dentre eles, a ocorrência de zir o risco de infecções transmitidas pelo ar. Essa é
enfermidades está associada a grandes perdas para uma solução que também já pode ser utilizada em
a cadeia de produção de suínos. O aumento no ní- granjas brasileiras para evitar a contaminação por
vel de biossegurança nas granjas é necessário como Mycoplasma hyopneumoniae, por exemplo.
medida de contenção à entrada de novas doenças.
Alguns patógenos, entretanto, podem ultrapassar Como os filtros funcionam?
as medidas e barreiras de biossegurança mais tra- Os filtros HEPA (High Efficiency Particulate Air)
dicionais, promovendo, assim, a contaminação de verdadeiros normalmente são classificados como
granjas livres de determinadas enfermidades. 99,99% eficientes na filtração de partículas de ta-
As doenças respiratórias que podem ser trans- manhos tão pequenos quanto 0,3 mícron. Isso sig-
mitidas pela via aerógena oferecem grande pre- nifica que, quando os filtros são novos, eles filtrarão
ocupação para as granjas de suínos. Já está com- 99,99% das partículas que têm 0,3 mícron de diâme-
provado que agentes etiológicos como o vírus da tro. A eficiência percentual aumenta para partículas
síndrome reprodutiva e respiratória suína (PRRSv) maiores e diminui para partículas menores, mas, à
e o Mycoplasma hyopneumoniae, por exemplo, po- medida que os tamanhos das partículas tornam-se
dem se deslocar pelo ar, sob certas circunstâncias extremamente pequenos, a eficiência volta a crescer
e condições, a uma distância de pelo menos 9,1km novamente. À medida que o filtro se torna “usado”
e 9,2km, respectivamente. Essas doenças podem ele, na verdade, torna-se mais eficiente, devido a
causar prejuízos enormes para a cadeia de produ- partículas que foram capturadas ajudarem a filtrar
ção de suínos, como, por exemplo, a perda de efi- um percentual ainda maior de partículas pequenas.
ciência em conversão alimentar, redução no ganho A instalação de filtros consiste, normalmente,
de peso, bem como aumento nos índices de morta- da utilização de pré-filtros e dos filtros propriamen-
lidade e refugagem de leitões nas fases de mater- te ditos. Os pré-filtros têm a função de retirar as
nidade, creche, recria e terminação, além do custo partículas mais grosseiras do ar, evitando que uma
das intervenções medicamentosas ou vacinações. carga excessiva destas chegue ao filtro principal, o
Atualmente, existe um novo sistema de isola- que pode diminuir sua vida útil. Além disso, o pré-
mento que vem sendo utilizado com alta eficácia na filtro pode reter sujidades de todo o tipo, umidade e
diminuição do risco de introdução de doenças que outros tipos de materiais que poderiam danificar o
se disseminam pela via aerógena, o qual consiste na filtro principal. Os filtros principais têm a finalidade
utilização de filtros de ar especializados. O uso de fil- de evitar que partículas de bioaerossol, usualmen-
tros de ar na suinocultura teve início na França e no te maiores que 0,3µm, tenham acesso ao interior
Canadá como medida para minimizar o risco de trans- dos galpões filtrados. A eficiência desse processo
missão de doenças via ar com foco na prevenção da pode variar e é classificada de acordo com o valor
síndrome reprodutiva e respiratória suína (PRRS). reportado de eficiência mínima (MERV – Minimum
Bioaerossóis e agentes
transmitidos por via aerógena
Se analisarmos alguns agentes patogênicos de
862
importância para suínos que poderiam ser trans-
mitidos por via aerógena podemos encontrar a se-
guintes medidas para seus diâmetros:
Figura 4 – Mecanismo de filtração de partículas por difusão
»» Vírus da Influenza Suína (VIS) – 80-120 nm
Fonte: Camfil Farr, 2013 (0,080 – 0,120 mícron) (OLSEN et al., 2006)
»» PRRSv – 50-65 nm (0,050 – 0,065 mícron)
Filtração por difusão (ZIMMERMAN et al., 2006)
Partículas muito pequenas entram em contato »» PCV2 – 17-22 nm (0,0017 – 0,0022 mícron)
com fibras devido a efeitos de difusão. As partículas (QUINN et al., 2002)
colidem com as moléculas de ar e são “empurradas” »» Mycoplasma hyopneumoniae – 0,3 – 0,9 mí-
de um lado para outro. Esse efeito é chamado de cron (QUINN et al., 2002)
“movimento Browniano”. Devido ao “movimento Como pode ser visto, VIS, PRRSv, e PCV2 po-
Browniano”, as partículas pequenas não conseguem deriam passar pelos filtros HEPA. Contudo, esses
acompanhar o fluxo de ar e, ao invés disso, vibram agentes são carreados em aerossóis. Um aerossol
ou movem-se erraticamente. Esse movimento errá- consiste de material dividido em pequenas partes e
tico aumenta a probabilidade de as partículas en- suspenso no ar ou outros gases ambientais. Um bio-
trarem em contato com as fibras do filtro (Figura 4). aerossol é um aerossol contendo partículas de ori-
gem biológica ou atividade que possa afetar entida-
Filtração eletrostática des vivas por meio de infectividade, alergenicidade,
Os filtros que utilizam meios filtrantes de fibras toxicidade ou outros processos. O tamanho das par-
grossas dependem de trocas eletrostáticas para tículas pode variar entre 0,5 a 100µm. Além disso,
aumentar sua eficiência na remoção de partículas partículas pequenas podem aderir às fibras dos fil-
finas. Meios filtrantes de fibras grossas são normal- tros devido aos processos de intercepção e difusão.
mente escolhidos devido a seu baixo custo e baixa
resistência ao fluxo de ar. As cargas nas fibras são Mas os filtros realmente funcionam?
importantes porque muitas partículas suspensas As maiores experiências para filtração de gran-
no ar carregam uma carga natural. As cargas nas jas têm ocorrido nos Estados Unidos com vistas à
fibras podem também induzir a polaridade tempo- prevenção contra introdução do vírus da PRRS em
rária em partículas que não apresentam nenhuma centrais de inseminação, granjas de matrizes, insta-
carga, atraindo-as em direção à fibra e aumentando lações de pesquisa, granjas de terminação (wean-
a coleta (Figura 5). to-finish) e plantéis de melhoramento genético.
A filtração das granjas por si só não garante
que as instalações filtradas nunca mais passarão
por episódios de contaminação. Existem outras ro-
tas pelas quais os agentes podem entrar na granja,
como, por exemplo, os veículos de transportes de
animais, alguns tipos de insetos e fômites. No en-
tanto, existem evidências de que após a filtração
das granjas o risco de uma nova infecção pelo PRR-
Sv é significativamente diminuído.
Figura 5 – Mecanismo de filtração de
partículas por eletrostática No caso do PRRSv, observa-se que, após a fil-
Fonte: Camfil Farr, 2013 tração de granjas por sistemas com filtração total
Tabela 1 – Número de novos casos de infecções com o PRRSv em granjas nos cinco
anos anteriores à instalação de filtros de ar e nos anos posteriores.
Nº de granjas 38
Nº de anos de existência das granjas antes do período de filtração 152
863
Nº de contaminações de granjas pelo PRRSv nos 5 anos anteriores à filtração 51
Taxa de contaminação por ano 34%
Nº de anos com 100% de filtração das granjas 50
Nº de contaminações de granjas pelo PRRSv com 100% de filtração das granjas 2
Taxa de contaminação por ano para granjas com 100% de filtração 4%
Nº de anos com filtração parcial das granjas 51
Nº de contaminações por ano para granjas com filtração parcial 4
Taxa de contaminação por ano para granjas com filtração parcial 8%
FONTE: REICKS (2010)
ou parcial, houve considerável diminuição no nú- probabilidade de contaminação após o início da fil-
mero de novos casos de contaminação (Tabela 1). tração. O tempo médio para uma nova infecção nas
A filtração reduziu a taxa de contaminação anual granjas filtradas é de 30 meses, comparado com 11
nas 38 granjas avaliadas de 34% (antes da filtração) meses para as granjas não filtradas. Com isso, de-
para 8% em granjas com filtração parcial e 4% em monstra-se em vários tipos de análise o efeito em
granjas com 100% de filtração. longo prazo na redução da ocorrência de novas in-
Essa tecnologia provou-se eficiente também fecções pelo PRRSv.
em outros estudos. Na avaliação pelo modelo ex-
perimental para verificar a eficácia de um filtro de Custo benefício do uso de
ar HEPA em impedir que leitões livres de PRRSv se filtros de ar em granjas
contaminassem para esse agente, tanto o ar filtra- A implementação da filtração de ar representa
do pelo filtro HEPA como o ar não filtrado passaram um considerável investimento de capital e não eli-
de leitões positivos experimentalmente infectados mina completamente o risco de novas introduções
com o vírus da PRRS para leitões sem contato pré- de enfermidades como a PRRS. Um estudo avaliou
vio com o vírus, alojados em câmaras experimen- o custo-benefício da instalação de um sistema de
tais. Houve redução significativa (P<0,01) na trans- filtros de ar para granjas UPLs (unidades produ-
missão do vírus da PRRS por meio de aerossóis para toras de leitões) até a desmama na prevenção de
leitões sem contato prévio com o vírus em câmaras infecções pelo PRRSv. Nesse estudo foram com-
não filtradas (6/20 réplicas), quando comparados paradas granjas filtradas e não filtradas para veri-
com leitões alojados em câmaras onde o ar estava ficar a quantidade de tempo em que estas estariam
sendo filtrado com filtros HEPA (0/20 réplicas). produzindo leitões livres de PRRSv, os quais teriam
Quando verificada a sustentabilidade em longo um melhor valor de mercado. Além disso, também
prazo no uso de filtros de ar em regiões de alta den- se verificou as diferenças em produtividade entre
sidade de suínos como meio de redução de risco as granjas para avaliar em um modelo econômico
para a ocorrência de novas infecções pelo PRRSv, o custo-benefício da filtração de ar. Foram compa-
chega-se à conclusão de que novas infecções pelo radas granjas filtradas pelo sistema de filtração nas
PRRSv são menores para as granjas filtradas, quan- entradas de ar pelo teto e filtração de galpões com
do comparadas com as granjas contemporâneas ventilação em túnel. O período de retorno do inves-
não filtradas. Além disso, a razão de chance (odds timento, levando em consideração diferenças em
ratio) para uma nova infecção nas granjas antes do produtividade e também a diferença de preço pago
processo de filtração é 7,97 vezes maior do que a por leitões livres de PRRSv, foi de 2,1 anos para as
instalações com filtração de ar pelas entradas no que ter seu próprio equipamento para man-
teto e 2,8 anos granjas com filtração de galpões ter pessoas terceirizadas de fora da estrutura
com ventilação em túnel. Nesse estudo, não foram filtrada. No caso do Brasil, deve-se evitar o re-
864
considerados os possíveis benefícios nas fases de fluxo de ar da tubulação de dejetos entre as
creche, recria e terminação. Portanto, o tempo para lagoas de tratamento e os galpões filtrados.
retorno de investimento pode ser menor quando se 5. Processo de inspeção da granja ineficiente:
consideram os benefícios de um sistema como um checagem do funcionamento e estrutura dos
todo (ciclo completo de produção). ventiladores, buscar por danos que levem ao
Atualmente, ainda não existem estudos como exterior do edifício, portas destrancadas etc.
esse para outros agentes de possível transmissão Frequentemente realizado no mesmo mo-
aerógena como o Mycoplasma hyopneumoniae. mento de checagem dos geradores.
6. Procedimentos de sanitização adequada dos
Considerações práticas para o caminhões de transporte de animais.
funcionamento de uma granja filtrada 7. Procedimentos adequados de quarentena para
Os pontos de biossegurança necessários para a introdução de novos animais no rebanho.
garantir que uma granja filtrada permaneça livre de Outros pontos a que todos os funcionários de
introdução de novas enfermidades transmitidas pela uma granja filtrada devem estar atentos e treina-
via aerógena podem ser sumarizados como a seguir: dos para checagem são:
1. Entrada e saída de pessoas: estas devem cru- 1. Qualquer corrente de ar deve ser investiga-
zar barreiras físicas quando entram e saem da da imediatamente. Vazamentos de ar devem
granja. Bancos em frente à entrada dos chu- ser considerados uma situação de emergên-
veiros, separando fisicamente a área suja da cia na granja. Se os funcionários perceberem
área limpa têm sido úteis para essa função, uma corrente de ar, eles devem encontrar a
ficando os calçados já depositados na área sua fonte e corrigir o problema. Quando rea-
suja. As pessoas também não podem sair do lizando as tarefas da rotina diária, os funcio-
edifício em nenhum outro local que não aque- nários devem estar sempre conscientes de
le comumente utilizado para entrada e saída – que, se sentirem ar vindo de algum lugar que
normalmente o vestiário que permite entrada não seja do fluxo de ar filtrado apropriado,
para o escritório ou refeitório. eles precisam determinar se este ar que per-
2. Entrada de suprimentos: deve ser inspecio- ceberam é filtrado e, caso não seja, corrigir a
nada e isolada. Uma alternativa é o processo situação. Exemplos comuns são refluxo de ar
de fumigação ou a luz ultravioleta. Tudo que por exaustores que não estejam funcionando
entrar na granja deve seguir a mesma regra. e portas externas onde a calafetação tenha
Itens pessoais não devem entrar na granja se soltado. Para situações onde exista reflu-
(ex.: telefones celulares). Refeições (caso não xo de ar podem ser utilizados os abafadores
sejam produzidas dentro da granja) devem de refluxo de ar ou as birutas (cone de tecido
entrar pelo sistema de sacos duplos. Sêmen ou plástico com duas aberturas, sendo uma
também deve utilizar o mesmo processo. das aberturas acoplada ao exaustor e a outra
3. Saída de lixo: deve sair por uma barreira físi- permanece livre). Quando o exaustor está
ca bem definida. em utilização o ar passa livremente através
4. Transporte de dejetos: pode ser um dos pon- da biruta. No entanto, quando o exaustor en-
tos fracos em várias granjas. O equipamento contra-se parado, o material da biruta veda o
para o manejo de dejetos e as pessoas que o exaustor, impedindo o refluxo de ar por meio
estejam fazendo têm que seguir as mesmas dele). Sistemas simples como esse têm sido
regras que todos os demais; ou a granja tem utilizados para diminuir o refluxo de ar, mas
o monitoramento contínuo é crítico. Ou- rede de filtros. Além disso, a parede de filtros
tras formas de prevenir a entrada de ar por está potencialmente em maior risco de danos
exaustores são os abafadores de refluxo de causados por equipamentos da granja, ou por
865
ar duplos, uma unidade abafadora de refluxo movimentos da estrutura caso não tenham
de ar (No Backdraft® damper unit da Ro-Main sido instalados corretamente. Normalmen-
Inc.) e paredes de abafadores (Z-walls). te, também há maior quantidade de madeira
2. Manutenção da estrutura de instalação dos associada a paredes de filtro. A madeira pode
ventiladores. Frequentemente vazamentos de encolher, expandir, dividir e empenar.
ar para o interior dos edifícios ocorrem ao redor 5. Verificar se os filtros e pré-filtros ainda es-
dos ventiladores ou da estrutura onde estes es- tão seguramente presos por clipes em seus
tão inseridos que podem ter sofrido dano. devidos locais. Alguns clipes podem adqui-
3. Monitoramento do sistema de portas duplas rir folga nos filtros maiores. De forma mais
para a saída de animais. A maioria da UPLs comum, os pré-filtros podem ficar úmidos,
tem um ponto de saída comum para animais empenados, e em seguida moverem-se ou
mortos, descartes ou leitões desmamados. deslizar, permitindo que ar passe sem a pré-
Ou estas áreas têm pressão positiva para filtragem. Isso resulta numa vida útil menor
deslocar o ar para fora quando a porta ex- para o filtro principal, que é sempre o mais
terna é aberta, ou há uma troca de ar após caro.
a abertura das portas externas. É essencial Assim, levando em consideração aspectos be-
garantir que todos entendam o sistema por néficos na diminuição do risco potencial para in-
meio de treinamentos e procedimentos ope- trodução de infecções pela via aerógena em reba-
racionais escritos. nhos de diversas categorias (UPLs, centrais de IA,
4. Checar possíveis danos aos filtros. Isso deve creches e terminações), e, consequentemente, be-
ser realizado principalmente após a insta- nefícios produtivos e econômicos, a filtração de ar
lação, mas, também, deve ser feito em um consiste em tecnologia com grande potencial para
acompanhamento semanal. Uma parede de o mercado brasileiro. O processo de filtração de ar
filtros requer mais atenção do que filtros ins- pode tornar mais viável a produção de suínos em
talados em entradas de ar no teto dos galpões. áreas densas, com menor custo de prevenção ou
É necessário um programa agressivo para o tratamento, e maior produtividade devido a manu-
controle de roedores quando se usa uma pa- tenção de alto status sanitário.
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O
s centros nervosos dos suínos são sen- Torna-se, portanto, importante o entendimento de
síveis a mudanças na temperatura do como e por que o ambiente influencia os suínos nos
sangue que passa através deles, e a impul- diferentes estágios de desenvolvimento e a maneira
sos nervosos que chegam da superfície do corpo como esses animais respondem ao ambiente térmico
em contato com o ar ou com alguns objetos cuja e às variações climáticas a que são submetidos. O co-
temperatura seja capaz de influenciá-los. Entre os nhecimento das respostas ou adaptações fisiológicas
fatores ambientais responsáveis pelo desempenho dos suínos relacionadas com o ambiente térmico
animal, estão aqueles relacionados com estresse permite o entender a dinâmica de vida do animal,
ambiental e o esforço que os animais fazem para se bem como possibilita a determinação posterior de
adaptarem a essa condição. Para o animal manter a medidas e/ou alterações de manejo, nutrição e cons-
saúde, sobrevivência, produtividade e longevidade, trução (instalações e equipamentos) com o objetivo
é imprescindível a manutenção da temperatura de maximizar a atividade.
corporal dentro dos limites das variações fisiológi- Temperaturas muito altas também causam
cas. São necessários a circulação adequada de ar, redução no desempenho produtivo, assim como
alimento suficiente para sua saúde e vigor, conforto na qualidade de carcaça de suínos. Em situações de
no ambiente para livre movimentação e para mani- estresse térmico, o estado imunológico dos suínos
festar seu comportamento natural. fica deprimido, resultando em uma resistência
menor às infecções. Doenças gastrintestinais são
Ambiente físico facilmente transmitidas e podem ser evitadas com
Este inclui as características do piso, aspectos um simples controle de temperatura e umidade
microclimáticos particularmente a luz, o fornecimen- nos galpões. A disenteria suína também tem seu
to, a qualidade e quantidade de alimento e água. Nas aparecimento no rebanho quando este está sujeito
criações intensivas, os animais vivem em instalações a grandes variações de temperatura e umidade.
que os protegem das adversidades climáticas, tais Também doenças do aparelho respiratório surgem
como chuva, frio e calor, mas estão sujeitos ao efeito no rebanho, quando este se encontra em condições
de outros fatores dentro da instalação como tempe- fora da região de termoneutralidade.
ratura, umidade relativa, velocidade do vento, amô- Em situações de estresse térmico, o estado
nia e outros gases, poeiras, fungos e bactérias. imunológico dos suínos fica deprimido, e isso resul-
ta em uma resistência menor às infeções. Doenças
Ambiente térmico gastrintestinais são facilmente transmitidas e po-
Fatores ambientais externos e o microclima dem ser evitadas com o simples controle de tempe-
dentro das instalações exercem efeitos diretos e indi- ratura e umidade nos galpões.
retos sobre os suínos, em todas as fases de produção, A ventilação proporciona diretamente perdas de
e provocam redução na produtividade, com conse- calor por convecção, dissipando o calor de radiação e
quentes prejuízos econômicos à produção suinícola. de condução, e, assim, existe um maior gasto energé-
tico para compensar as perdas de calor. Analisando o A presença de amônia nas instalações de cria-
plano metabólico, o efeito das perdas de calor é mui- ção animal deve-se ao conteúdo de nitrogênio
to prejudicial ao desenvolvimento dos suínos jovens, amoniacal do esterco, o que está relacionado com
870
principalmente em ambientes frios, sabendo que o os seguintes fatores:
aumento da taxa de velocidade do ar de 0,10 para »» Porcentagem de proteína da ração;
0,56m/s equivale a um decréscimo de 4°C na sensa- »» Temperatura ambiente;
ção térmica de leitões com 2kg de peso vivo. »» Tempo de armazenamento do material.
Pesquisa desenvolvida em uma maternidade O CO2 é produto da respiração dos animais e
de suínos, onde foram avaliados três sistemas de sua produção esta relacionada com o metabolismo,
ventilação – natural, forçada e refrigerada (adia- de forma tal que sua concentração aumenta após
bática) –, os resultados obtidos mostraram que o a alimentação dos animais. Ele é um indicador da
uso do equipamento de refrigeração adiabática qualidade da ventilação nas instalações. O gás
localizada sobre as porcas diminuiu a temperatura carbônico é um gás presente na atmosfera, sem
de bulbo seco, mas esse deve ser usado de forma cheiro, e, quando a concentração é de 50.000ppm,
controlada, já que contribui para o aumento da causa nos animais um aumento no ritmo respira-
umidade relativa do ar. Esse sistema (ventilação tório e respirações mais profundas. Isso reduz o
refrigerada) diminui a frequência respiratória das desempenho a 12%; 30% e 29,9% do ganho de peso
porcas, induz a uma sensação maior de conforto; a de suínos (8,5kg de peso vivo), quando expostos a
espessura de toucinho mostrou-se maior para os concentrações de 50, 100 e 150ppm de NH3 duran-
animais que se encontravam no sistema de ventila- te quatro semanas. Embora os odores por si sós não
ção forçada. Os parâmetros de produtividade como sejam capazes de provocar doenças, podem gerar
ganho de peso médio e peso médio ao desmame desconfortos em trabalhadores e animais expostos
não foram influenciados pelos tratamentos, mas a essas concentrações de gases.
observou-se uma tendência de melhoria nos lei- O ácido sulfídrico (H2S) é detectado na concen-
tões, cujas mães estavam submetidas à ventilação tração de 0,01ppm ou mais, e, entre 50-200ppm,
com resfriamento adiabático. pode acarretar sintomas, tais como: perda de apeti-
te, fotofobia, vômitos e diarreias nos animais. Reco-
Ambiente aéreo menda-se que os níveis de H2S, nas edificações, não
Os gases poluentes podem afetar os animais de ultrapassem os 20ppm. O gás sulfídrico é um dos
maneira primária e secundária. Afetam de maneira mais tóxicos e está associado ao armazenamento
primária, quando atingem diretamente os tecidos de resíduos produzidos pelos suínos, ele é produto
do animal pela pele, pelo trato respiratório ou pela da decomposição anaeróbica da matéria orgânica
mucosa dos olhos, quando expostos diretamente presente no esterco. Nas instalações de criação
aos gases. E de maneira secundária, quando os gases de suínos, ele pode ser encontrado em pequenas
são absorvidos no trato respiratório e passam para a quantidades, mas sua concentração aumenta até
corrente sanguínea, causando reações no metabo- 800ppm, quando se movimentam os resíduos pro-
lismo. A amônia é o poluente tóxico mais frequen- duzidos pelos animais.
temente encontrado no ar, especialmente quando A poeira também influencia a qualidade do ar.
os excrementos são decompostos no solo. Normal- A poeira é originária, basicamente, do uso de camas
mente é encontrado em baixa concentração, menos e alimentos e constitui um problema comum em
de 30ppm. Seu odor é facilmente detectado pelo unidades com deficiência de ventilação. Recomen-
homem, mesmo em baixa concentração de 10ppm. da-se, para maior conforto e segurança dos operá-
A amônia atua como irritante nas membranas dos rios, manter os níveis de poeira abaixo do limite de
olhos e da mucosa do trato respiratório e pode cau- 1,7mg/m3 de volume de ar, já que nessa faixa exerce
sar corrimentos nasais, apatia e outros sintomas. pequeno efeito sobre o crescimento dos animais.
O tamanho das partículas de poeira é muito suínos, constituindo um dos principais problemas
importante, pois dele depende da sua velocidade que afetam a criação. Essa característica inerente
de sedimentação, as menores ficam em suspensão, à criação pode estabelecer condições de qualidade
871
podendo ser inaladas pelos animais, retidas no apa- do ar prejudiciais aos animais e trabalhadores.
relho respiratório, provocando o aparecimento de Cerca de 50% dos suínos criados em sistemas
doenças respiratórias de origem multifatorial, já que confinados apresentam problemas de saúde, e muitos
a poeira serve como veículo de transporte de orga- criadores tornam-se precocemente incapacitados para
nismos patógenos. o trabalho, em face dos danos causados em seu sistema
A quantidade de poeira nas instalações de cria- respiratório pela exposição constante a ambientes com
ção animal depende dos seguintes fatores: elevadas concentrações de poeiras e gases. Diminuir a
»» Número de animais/m2; concentração dos poluentes ambientais para preservar
»» Peso dos animais; a saúde humana seria, indiretamente, uma forma de
»» Umidade relativa do ar (maior umidade, me- preservar o bem-estar do animal.
nor quantidade de poeira);
»» Temperatura (em condições de altas tempe- Ambiente acústico
raturas, os animais se movimentam menos, O ruído é uma vibração da compressão lançada
portanto há menor quantidade de poeira); no ar por um objeto que está vibrando. O ar trans-
»» Taxa de renovação do ar (quando a taxa de mite essas vibrações de compressão ao tímpano
renovação do ar é menor, maior será a con- que, por sua vez, vibra como reação às vibrações da
centração de poeira no ambiente); pressão. O máximo tolerado pelo ouvido humano,
»» Forma de apresentação, porcentagem de sem desconforto, é 80dB, mas já a partir dos 65dB o
gordura e forma de distribuição da ração. organismo está sujeito a um estresse gradativo.
Fungos e bactérias são encontrados em grande O ruído nos sistemas de criação está relacio-
quantidade disseminados na natureza, na poeira do nado ao som emitido principalmente pelos animais
ar, no solo, nos vegetais, nos animais, entre outros, e equipamentos e seus efeitos variam de acordo
variando sua incidência de acordo com numerosos com o tempo de exposição e de suas características
fatores geográficos ou ambientais. Certos fungos específicas. Pode produzir danos à audição dos
produzem compostos que são venenosos aos ani- trabalhadores, devido ao excesso de ruídos produ-
mais e podem ter efeitos graves, como é o caso das zidos pelos animais, e levar ao aparecimento de uma
micotoxinas produzidas pelos gêneros Aspergillus, surdez temporária até a uma total falta de audição,
Penicillium ou Fusarium, que podem ser detectados dependendo do grau de exposição ao ruído.
em criações. Algumas espécies do gênero Asper-
gillus sp produzem toxinas que são metabólitos Ambiente social,
tóxicos. A aflatoxina B1, abundante e tóxica nas comportamento e bem-estar
contaminações naturais, é facilmente encontrada Em alguns tipos de sistemas de criação, os ani-
na alimentação de animais. Surtos de aflatoxina mais são mantidos em alojamentos individuais, o que
têm sido reportados em quase todos os países que facilita a alimentação e previne as agressões, mais
realizam suinocultura intensiva. Em países de clima limita o contato social e o exercício. Ao contrário,
tropical, os casos de aflatoxicose em suínos são quando são criados em grupo, isso permite o exercí-
frequentes, de acordo com os registros diagnósti- cio, a exploração do local e o descanso dos animais,
cos de laboratórios especializados. Nos quadros possibilitando, assim, o contato social entre eles.
crônicos, há sintomas de queda no consumo de ra- Os indicadores comportamentais são os mais
ção e uma redução acentuada de crescimento. Nas apropriados para a avaliação do bem-estar, pois os
condições tropicais, normalmente o desconforto animais manifestam reações comportamentais anor-
térmico é quase permanente nas construções para mais, quando expostos a estímulos estressantes, que
Outra forma de mostrar comportamentos anô- gado, a todo animal cujo extermínio seja necessário
malos é por meio da análise da vocalização que não para consumo ou não; transportar animais em ces-
é mais do que a geração ativa de sons com o uso de tos, gaiolas ou veículos sem as proporções necessá-
873
órgãos específicos. Ela constitui uma expressão do rias ao seu tamanho e número de cabeças, e sem que
estado específico de um animal que pode ocorrer o meio de condução em que estão encerrados esteja
espontaneamente, ou ser o resultado de um evento protegido por uma rede metálica ou idêntica que
externo. A comunicação vocal constitui uma parte impeça a saída de qualquer membro animal. Entre-
importante da comunicação dos suínos domésti- tanto, essas normas são muito pouco conhecidas, e
cos. Mostrou-se ainda que os animais reagem às assim pouco cumpridas.
situações estressantes como desmame, fome e dor Na tabela 1, de forma resumida, encontram-se
com vocalizações de alta frequência. O estresse por as diferentes normas dos países da União Europeia,
separação da mãe nos leitões de uma a quatro sema- Reino Unido e o comumente praticado em granjas
nas é maior nas idades mais jovens. Leitões de todas brasileiras tecnificadas.
as idades vocalizaram intensamente durante a se-
paração, mas a taxa de chamadas foi mais baixa com Instrumentos de aferição
leitões mais velhos. Quando retornando à porca, os de medidas físicas
leitões fizeram distintas vocalizações, enquanto os As medidas de temperatura de bulbo seco,
leitões mais velhos vocalizaram menos. temperatura de globo negro e umidade relativa do
Estudos indicam que uma maior taxa de gritos ambiente são coletadas por aparelhos específicos
agudos é um indicador confiável de dor em leitões. do tipo Dataloggers. No mercado existem diver-
Quando um leitão em aleitamento é retirado para sos tipos e marcas de dataloggers. A velocidade
um local desconhecido, longe da mãe e dos outros do vento poderá ser medida com um anemômetro
leitões, ele emite um padrão de vocalizações altas e simples digital, que coleta medições, colocando-se
repetidas, acompanhadas de atividade vigorosa. Em o aparelho em uma altura estratégica do solo.
ambientes naturais, esse comportamento provavel-
mente tem a função de ajudar a reunir o leitão per- Medidor de gases
dido à matriz suína. Dessa forma, a vocalização dos O medidor de gases geralmente monitora e
animais é considerada um indicador comportamen- dispara um alarme quando se encontram níveis pe-
tal do bem-estar dos animais. Vocalizações com baixa rigosos de gases e quando há presença no ambiente
tonalidade (grunhidos) são utilizadas na manutenção de gás combustível perigoso. A unidade automática
do contato social, enquanto alta tonalidade (gritos) ativa um alarme audível e visual.
está mais relacionada com estados de excitação.
Decibelímetro
Legislações de bem-estar O medidor de pressão sonora integrador/ar-
A legislação no Brasil busca os direitos dos ani- mazenador de dados permite realizar análises de
mais e garante um tratamento mais humanitário às escalas de ponderação.
criações. O artigo 3º do Decreto Federal nº 24.645,
de 10 de julho de 1934, considera maus tratos man- Bomba de amostragem pessoal
ter animais em lugares anti-higiênicos ou que lhes A bomba de amostragem pessoal é um instru-
impeçam a respiração, o movimento ou o descanso, mento básico de avaliação de agentes químicos no
sem a presença de ar ou luz; abandonar animal ar, cuja aplicação pode ser extremamente diversi-
doente, ferido, extenuado ou mutilado, bem como ficada, dependendo dos tipos de coletores usados,
deixar de ministrar-lhe tudo que humanitariamente específicos para cada substância. No caso específico
lhe possa prover, inclusive assistência veterinária; da coleta de amostra de ar, ela é usada para avalia-
não dar morte rápida, livre de sofrimento prolon- ção de poeira total e respirável.
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876
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Sci. 54, p. 153-160, 1997.
O
conceito de ambiência pode ser definido que chega a um organismo caracteriza a interação
como conforto baseado no contexto am- direta do animal com o meio. Nesse processo, os
biental, levando-se em consideração ca- fatores externos do ambiente tendem a produzir
racterísticas de meio ambiente e fisiológicas que variações internas no animal, o que influencia a
atuam na regulação da temperatura interna do quantidade de energia trocada entre ambos, ha-
animal. A ambiência tem como princípio básico a vendo, então, necessidade de ajustes fisiológicos
minimização de fatores estressantes aos animais, para a ocorrência do balanço de calor.
que visa garantir seu bem-estar e leva em conta Os suínos possuem o aparelho termorregu-
aspectos como densidade animal, a possibilida- lador pouco desenvolvido, são animais sensíveis
de de desenvolver o comportamento natural da ao frio quando pequenos e sensíveis ao calor
espécie, bem como ambientes aéreo e acústico quando adultos, o que dificulta sua adaptação em
satisfatórios. ambientes excessivamente quentes. Os suínos
Os suínos são animais homeotermos, capazes possuem poucas glândulas sudoríparas na pele
de controlar sua temperatura interna quando sub- e são, portanto, menos eficientes na resposta ao
metidos a variações de temperatura, possuindo estresse pelo calor em relação às outras espécies.
um centro termorregulador no sistema nervoso A principal forma de perda de calor nessa espécie
central. O hipotálamo é o órgão responsável pelo é por meio do aumento da taxa respiratória (eva-
controle da produção e dissipação de calor através porativa), ou seja, do aumento dos movimentos
de diversos mecanismos como, por exemplo, o fluxo respiratórios por minuto, aumentando o volume
de sangue na pele (mecanismo vasomotor), ereção de ar que passa pelas vias aéreas.
de pelos, modificações na frequência respiratória e Quando os suínos são expostos a temperatu-
no metabolismo. A produção de calor interno varia ras adversas, eles ficam estressados não apenas
devido ao metabolismo, tanto para mantença como pela alteração da temperatura corporal, mas
para produção e o calor do ambiente envolve a tem- também pela complexidade dos processos dissi-
peratura ambiente, a velocidade do ar, a radiação e o padores e geradores de calor, que são processos
tipo de piso ou cama utilizado. metabólicos que requerem energia, nos quais a
Os fatores meteorológicos influenciam dire- evaporação da umidade do aparelho respiratório
tamente o organismo animal, mediante o fluxo de é o mecanismo primário utilizado pelos animais
energia que ele será capaz de absorver ou emitir. para dissipar o excesso de calor corporal em um
Assim, o animal porta-se como um sistema ter- ambiente quente.
modinâmico que troca constantemente energia Considerando-se que, em regiões tropicais,
com o ambiente. A quantidade de energia calórica a temperatura e a umidade do ar são dois dos
principais fatores ambientais que afetam o con- desconforto térmico, assim como a queda de sua
forto térmico de suínos, portanto constituem produtividade. A determinação das exigências de
limitações para uma ótima produção, justifica-se bem-estar animal em relação à saúde e à economi-
878
a especial atenção para os itens que levam ao cidade da produção constitui um grande desafio
conforto. Os fatores externos e o interno (micro- para a simplificação do manejo, redução de custos
clima) das instalações exercem efeitos diretos e aumento da produtividade.
e indiretos sobre os suínos em todas as fases de Fatores ambientais, fisiológicos e compor-
produção e acarretam redução na produtivida- tamentais têm sua parte na compreensão do
de, com consequentes prejuízos econômicos na conforto animal. Isso sugere estudos multidisci-
exploração, inclusive nas etapas imediatamente plinares para o entendimento, cada vez melhor,
anteriores ao abate, podendo acarretar prejuízos do bem-estar animal, para obtenção de melhores
à qualidade da carne. desempenhos. O desempenho produtivo e repro-
O estresse térmico é a maior causa de perdas dutivo dos animais depende do sistema de mane-
produtivas em países de clima quente, podendo jo empregado, que envolve o sistema de criação
ser minimizado com o uso correto de processos escolhido, nutrição, sanidade e instalações.
e equipamentos que visem mitigar o problema. Geralmente os criadores prestam mais atenção
As instalações zootécnicas devem visar ao con- à genética, concomitantemente com o arraço-
trole dos fatores climáticos que geram conforto amento, área em que está concentrada grande
térmico. parcela dos custos de investimento e operação.
Para cada espécie animal existe uma faixa de As instalações, maior volume de investimento ini-
temperatura de conforto, conhecida como zona cial fixo, são construídas em função dos custos e
termoneutra, que é definida como a faixa de tem- facilidades para o tratador, ficando negligenciado
peratura ambiente efetiva, na qual a produção é o conforto do animal.
ótima, limitada na parte inferior pela temperatura O conceito de estresse enfatiza a ativação
crítica inferior, em que o animal necessita au- do sistema endócrino, significando que um ani-
mentar a taxa de produção de calor para manter a mal deve apresentar níveis de corticosteróides
homeotermia. Na região superior é limitada pela plasmáticos mais elevados que o normal, sendo
temperatura crítica superior, região em que o ani- considerado em “estado de estresse” e o estímulo
mal deve perder calor para manter a temperatura que provoca a alteração hormonal, chamado de
corporal constante. “estressor”. Os estressores ambientais podem
afetar o desempenho produtivo e reprodutivo dos
Zona de conforto térmico animais pela elevação das taxas de corticosterói-
O ambiente térmico ótimo para o suíno, ou des plasmáticos, os quais podem alterar o estado
seja, a zona de conforto térmico dentro da termo- imunológico, diminuir a resistência a infecções,
neutralidade ocorre quando a produção de calor é aumentar o catabolismo e interferir na absorção
transferida ao ambiente sem requerer ajustes dos de nutrientes.
mecanismos homeotérmicos do próprio animal. Entretanto, enfatiza-se que estudos recentes
A zona de termoneutralidade dos animais pode demonstram que suínos modernos apresentam
ser calculada pela diferença entre a energia meta- maior produção de calor do que as linhagens mais
bolizável fornecida na ração e a energia retida na antigas e que suínos machos castrados e marrãs
produção e crescimento dos tecidos. modernas demonstram produção de calor entre
O suíno é um exemplo de animal cujo conforto 6 e 41% maior do que seus contemporâneos, ha-
é prejudicado pela produção intensa, caracte- vendo constantemente a necessidade de reavaliar
rizada pela restrição do espaço, movimentação suas necessidades, considerando-se a evolução
e interação social, o que traz consigo ainda seu genética da espécie.
da subjetivamente pelo comportamento dos leitões: Foi possível identificar suínos em estresse por
leitões amontoados embaixo da fonte indicam que frio a partir da vocalização dos leitões, o que tam-
o calor fornecido é insuficiente; leitões afastados da bém pode ser um indicativo de que o frio afetou o
880
fonte indicam que está muito quente. bem-estar dos animais.
A foto 1A mostra os leitões no escamoteador Entretanto, o aumento na temperatura in-
sob temperatura de conforto (29 e 31 °C) , já a foto terna das salas de maternidade, visando garan-
1B mostra os animais em estresse por frio (tempe- tir conforto térmico aos leitões, pode levar ao
ratura de 25°C por 30 minutos). Observa-se que os desconforto das porcas lactantes, cuja zona de
animais se agregaram quando a temperatura dimi- termoneutralidade varia entre 16 e 22ºC, o que
nuiu. As vocalizações dos animais foram gravadas afeta seu desempenho produtivo e reprodutivo.
nas duas situações e posteriormente analisadas O atendimento das exigências nutricionais para
no software Praat e submetidos àa mineração dos manutenção e produção de leite de porcas em
dados no software WEKA. A figura 1 apresenta a lactação depende de sua capacidade de ingestão
árvore de decisão gerada pelo algoritmo J48, com de alimento, que pode ser severamente prejudi-
precisão de 91,37%. Foi possível identificar com cada em condições de desconforto térmico. Caso
precisão de 95,6% se o animal estava com frio e haja restrição no consumo de nutrientes, a fêmea
com precisão de 87,9% se o animal estava em con- tentará suprir suas necessidades por meio da mo-
forto térmico. O modelo utilizou apenas os atri- bilização de reservas corporais que, quando em
butos duração do sinal e amplitude máxima para excesso, podem ocasionar aumento no intervalo
realizar a classificação. desmama-cio, redução da taxa de ovulação e do
De acordo com a árvore gerada, se a duração do número e peso de leitões ao desmame.
sinal for maior que 0,46s ou se a duração do sinal estiver Como possíveis alternativas para amenizar es-
entre 0,26 e 0,46s e com amplitude maior que 0,42Pa ,o ses problemas encontram-se equipamentos como
animal encontra-se com frio. Se a duração do sinal for ventiladores e exaustores, resfriamento evapora-
menor ou igual a 0,46s e a amplitude máxima for menor tivo e resfriamento do piso na área destinada ape-
ou igual a 0,42Pa ou se a duração do sinal for menor ou nas à porca, possibilitando aumento da troca de
igual a 0,26s e amplitude for maior que 0,42Pa, então o calor e promovendo assim maior conforto térmico
animal encontra-se em conforto térmico. às matrizes.
Duração do sinal
A B
881
Foto 1 A e B– Em A os leitões estão em temperatura de conforto e em B eles estão em estresse por frio.
Estresse Descrição
Normal Temperatura de conforto; acesso à água e alimentação; ausência de dor.
Frio Temperatura de 22°C por período de uma hora.
Fome Restrição alimentar.
Sede Restrição ao acesso à água.
Dor Aperto firme do animal pelo tratador.
Tabela 2. Médias de temperatura mínima, máxima e média para situações de dor, fome, frio, normal e sede.
Condição de estresse Temperatura mínima (°C) Temperatura máxima (°C) Temperatura média (°C)
Dor 30,8 c 35,3 c 33,8 c
882
Fome 32,1 b 36,8 b 35,5 b
Frio 29,0 d 34,5 d 32,8 d
Normal 30,7 c 35,3 c 33,8 c
Sede 34,7 a 38,4 a 37,3 a
Obs. Médias seguidas de letras iguais na mesma coluna não diferem (p ≤ 0,05).
Os resultados para temperatura mínima, máxima das alterações metabólicas provocadas pelo estresse,
e média mostraram-se semelhantes, indicando que ou, ainda, indicação da grande importância da água
qualquer um desses parâmetros poderia ser utilizado na manutenção da homeotermia, devido ao alto calor
para comparar as situações de estresse (Tabela 2). específico da água. Observou-se nessa pesquisa que o
A menor temperatura média encontrada foi para frio provocou diminuição na temperatura corporal dos
leitões em situação de frio (32,8°C). Geralmente, em leitões, afetando sua homeostasia e seu bem-estar.
situações de frio, o animal aumenta a vasoconstrição
periférica, evitando perda de calor para o ambiente. Outros aspectos relevantes na
Não houve diferença na temperatura de leitões em definição de instalações para suínos
condição normal (33,9 °C) ou com dor (33,8°C). Em si- O sol não deve incidir dentro das instalações
tuação de fome, a temperatura (35,5°C) foi maior que para suínos. Assim, estas devem ser projetadas com
na situação normal e de dor. Em geral, a ingestão de ali- seu eixo longitudinal orientado de forma que o sol
mentos aumenta o metabolismo e esperava-se que em percorra sua trajetória diária, passando pela cume-
situação de fome houvesse menor taxa de metabolis- eira do galpão. Na época da construção das instala-
mo e menor temperatura, porém, como a temperatura ções, deve-se levar em consideração a trajetória do
foi maior em situação de fome, isso pode ter sido devi- sol, para que a orientação leste-oeste seja correta
do a alterações hormonais provocadas pelo estresse. para as condições mais críticas de verão.
A maior temperatura foi para leitões em estresse por É de grande importância também a escolha
sede (37,3°C), o que também pode ter sido resultado do material a ser utilizado nos telhados. O telhado
recebe a radiação do sol, emitindo-a tanto para
cima como para o interior da instalação. Embora de
custos mais elevados, os materiais mais adequados
são aqueles que apresentam grande resistência tér-
mica, como as telhas de cerâmica.
A proteção contra a radiação emitida pela
cobertura para o interior do galpão também pode
ser auxiliada pela utilização de forros. Esses atuam
como barreira física, permitindo a formação de uma
camada de ar junto à cobertura, contribuindo assim
na redução do calor transferido para o interior da
instalação. Outras técnicas podem ser adotadas
para melhorar a proteção das instalações contra a
radiação solar, como o uso de isolantes sobre e sob
as telhas (poliuretano, poliestireno extrusado, lã de
vidro ou similares).
Figura 2 – Foto termográfica de um suíno em situação de frio. A
área hachurada no dorso foi similar em todos os animais analisados. A altura do pé-direito também é um elemento
determinante no microclima das instalações. Quan- sa forma, quanto maior o pé-direito da instalação,
to mais distantes estiverem os animais da superfície menor é a carga térmica recebida pelos animais.
inferior do material de cobertura, menor a quanti- Recomenda-se como regra geral pé-direito de 3,0
883
dade de energia radiante que chegará até eles. Des- a 3,5m, dependendo do tipo de cobertura utilizado.
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D
urante a última década, a produção de suínos desempenho reprodutivo das porcas, o que afeta
em países tropicais e subtropicais tem aumen- a qualidade da carcaça e impacta na rentabilidade
tado rapidamente devido ao crescimento da da cadeia de produção de suínos. Além disso, os
população, aumento do poder de renda e do poder problemas de calor que provocam o estresse são
de aquisição do consumidor e, em alguns países, uma enfatizados nas linhagens modernas de suínos, que
maior disponibildiade de matéria-prima essencial possuem elevadas taxas de crescimento muscular
para a alimentação de suínos. Apesar de muitos e elevados potenciais de produção de calor endó-
desafios enfrentados pelas indústrias de suínos nos geno. Ao revisar a produção de calor dos suínos
países em desenvolvimento, incluindo os custos com terminadores modernos, concluiu-se que os ge-
as matérias-primas importadas, a crise econômica e os nótipos modernos apresentaram um aumento de
problemas ambientais, ainda é previsto que a produ- produção de calor em 18,1% (aproximadamente 1%
ção nessas áreas continuará a sustentar o crescimento ao ano) de 1984 a 2002. Desde a realização dessa
mundial futuro da produção de suínos. pesquisa, já se passaram 10 anos, portanto pode-
Nessas regiões, a produção e o desempenho mos inferir que, diante dos mais recentes avanços
geralmente permanecem menores do que os obti- genéticos no potencial de produção de carne magra
dos em países de clima temperado na Europa Oci- dos atuais suínos, essa capacidade de produção de
dental e América do Norte. Embora muitos fatores calor endógeno pode seguramente ser superior a
podem ter influência, os fatores climáticos são 25%. Podemos atribuir a esse aumento mudanças
os mais limitantes do ponto de vista da eficiência na composição corporal dos suínos atuais (menos
de produção nessas regiões quentes. Enquanto o gordura e mais músculos) e na elevação das taxas
estresse causado pelo calor é um desafio ocasional de turnover proteico, para cada 2,8% de aumento no
durante as ondas de calor no verão dos países de percentual de tecido magro, a produção de calor au-
clima temperado, nas áreas tropicais e subtropi- menta em torno de 18,7%. Esse aumento apresenta
cais é um problema constante. Além disso, nessas um impacto significativo sobre as instalações e ma-
regiões, os efeitos da temperatura ambiente nejos adotados para esses animais. O aumento na
elevada podem ser acentuados por uma umidade produção de calor endógeno deve ser considerado,
relativa elevada. principalmente em regiões de clima tropical, no mo-
Sob condições de estresse calórico, os suínos mento em que está sendo feita a construção das ins-
reduzem o apetite, como forma de reduzir a produ- talações e durante as formulações das dietas. Essas
ção de calor endógeno devido ao efeito térmico dos mudanças ocorridas na composição corporal dos
alimentos (TEF). Essa redução do consumo de ração suínos e no aumento das taxas de turnover proteico
é dependente de fatores do animal, tais como peso também contribuem para maiores necessidades de
vivo, raça e sexo, e fatores ambientais, tais como energia e aminoácidos.
instalações, programa de alimentação e condições Devido ao reconhecimento que o estresse tér-
climáticas. A redução do consumo de alimentos mico por calor representa um problema para uma
resulta em menor crescimento dos suínos e menor maior eficiência na produção de suínos em regiões
com altas temperaturas, o objetivo de diversas pes- fornecimento de PB está associado com um turnover
quisas nos últimos anos tem sido o de desenvolver proteico maior, o que contribui para um aumento
soluções para atenuar os impactos negativos do maior na produção de calor.
886
estresse térmico por calor. Diversas técnicas de A redução do conteúdo de PB de 18,9 para
manejo foram testadas, mas apenas algumas pou- 12,3% em suínos de 35kg resultou em uma redução
cas se mostraram realmente efetivas e econômicas de 7% no total da produção de calor, sendo atribuído
em minimizar os impactos do estresse por calor a essa queda do efeito termogênico do alimento
sobre a produção suína. Essas soluções incluem (ETA) um componente de gasto energético. É pos-
estratégias de manejo da temperatura do ambiente sível então hipotetizar que dietas com baixo teor de
dentro da instalação (ventiladores, sistemas eva- PB são capazes de atenuar a redução no consumo
porativos) e/ou intensificação das perdas de calor diário observado sob condições de estresse térmi-
do animal (resfriamento do piso, resfriamento por co. Na prática, a PB é parcialmente substituída por
gotejamento, resfriamento da nuca com ventilação amido e/ou gordura e AA industriais para atender
forçada). Além disso, alguns autores sugerem que ao requerimento proteico de um bom desempenho.
a seleção genética pode ser utilizada para melhorar A diminuição do conteúdo de PB da ração sem
a resistência dos suínos ao estresse por calor. De a suplementação de AA industriais resulta em uma
uma forma geral, as estratégias de manejo são ge- forte queda no potencial de crescimento devido ao
ralmente mais caras e na grande maioria das vezes desbalanço de AA (tabela 1). Considerando-se so-
economicamente inviáveis para muitos produtores mente os experimentos disponíveis na literatura em
de pequeno porte. Nesse sentido, as estratégias nu- que a suplementação aminoacídica foi realizada de
tricionais podem representar técnicas alternativas forma adequada e balanceada e acima do requerido
que poderiam ser recomendadas para minimizar para o desempenho de crescimento, dietas com baixo
os efeitos negativos do estresse por calor. Dessa incremento calórico não amenizaram as consequên-
forma, este capítulo busca dar enfoque às modifi- cias negativas do estresse térmico sobre o desempe-
cações das estratégias nutricionais para aliviar os nho de suínos em crescimento. Em grande parte dos
efeitos detrimentais causados pelo estresse por estudos, os animais foram individualmente alojados
calor sobre o desempenho dos suínos, uma vez que e submetidos a uma temperatura elevada mantida
o Brasil encontra-se posicionado geograficamente constantemente associada a uma baixa umidade
em uma região tropical, onde predominam tempe- relativa (50-60%). Entretanto, os benefícios da utili-
raturas médias anuais acima das requeridas para o zação de dietas com baixo teor de PB têm sido repor-
conforto térmico das diferentes categorias de suí- tados em suínos alojados em grupos na fase final de
nos. As soluções nutricionais podem ser descritas terminação submetidos a temperaturas ambientais
de acordo com a habilidade em reduzir o incremen- que variam entre 27 e 35°C. Nesse estudo, os efeitos
to calórico da dieta ou em aumentar a densidade de negativos das altas temperaturas sobre o desempe-
nutrientes dessa dieta. nho de crescimento foram significativamente ate-
nuados em suínos alimentados com dietas com baixo
Redução do incremento calórico da ração teor de PB (i.e., 11,3%). De fato, esses resultados
De acordo com o sistema de energia líquida para sugerem que o uso de dietas com baixo incremento
suínos, o incremento calórico devido à utilização da calórico sob condições ambientais de alta tempera-
proteína bruta (PB) é significativamente mais alto do tura podem potencialmente melhorar o desempenho
que para a o amido ou extrato etéreo (40 vs. 18 e 10% quando suínos são alojados em condições severas
do conteúdo de EM). O maior incremento calórico semelhantes àquelas observadas em sistemas de
para a PB digestível está parcialmente relacionado produção comerciais.
com a desaminação do excesso de aminoácidos (AA) Em comparação com suínos em crescimento,
na via da síntese da ureia. Em adição, o aumento do o consumo voluntário relativo aos requerimentos
4 23.0-15.0 _ ä à
Ferguson e Gous, 1997 30.0 Individual 12-30
4 23.0-9.30 _ à æææ
12 18.0-16.0 lis thr met à à
Ferreira et al., 2006 32.0 Individual 15-30
12 18.0-14.0 lis thr met à à
Crescimento
9 16.3-14.2 L æ à
Stahly et al., 1979 35.0 Individual 25-60
9 16.3-14.2 _ à à
40 18.2-14.0 L à à
Stahly et al., 1981 29.5 Grupo 20-60
40 18.2-14.0 _ à ææ
Kuan et al., 1986 29.2 Individual 20-50 6 21.9-17.1 _ à æ
Le Bellego et al., 2002 29.0 Individual 27-64 11 20.1-15.6 lis thr met trp ile val à à
4 16.2-13.0 lis thr try à à
suínos alimentados com uma dieta de PB normal. æ,ææ, æææ = EM ingestão ou GDP reduziu em 5, 10 e 20% respectivamente. ä = EM ingestão ou GPD aumentou mais do que 5%. à EM ingestão ou GDP variou menos do que 5%.
887
Capítulo 21
de mantença é muito superior em fêmeas lactantes resultou, segundo os autores, em uma menor mobi-
do que em suínos em crescimento devido à maior lização de tecido corporal por parte das fêmeas.
demanda nutricional para a produção de leite. Em Na prática tem sido sugerido que, aumentan-
888
comparação com suínos em crescimento, poucos do o consumo de ração da fêmea, também resulta
estudos a respeito dos efeitos de dietas com baixo em aumento da produção de leite. Essa afirmação
teor de PB sobre o desempenho de fêmeas lactan- está correta se considerarmos condições de clima
tes submetidas ao estresse por calor estão disponí- temperado, porém, em condições de clima tropical,
veis. Em resposta à redução do nível de proteína de isso não é observado. Diversos autores validaram
16,8 para 14,3%, reportaram melhoras no desem- alternativas nutricionais que melhoraram o con-
penho de fêmeas suínas em lactação mantidas em sumo e a condição corporal das fêmeas lactantes,
ambiente com temperatura de 29°C. Observou-se porém sem efeito algum sobre o desempenho das
um aumento no ganho diário da leitegada (+60 g/d) leitegadas (tabela 2). A explicação para isso é que a
no verão para fêmeas alimentadas com dietas com baixa na produção de leite em fêmeas estressadas
baixo teor de PB (13,7 vs. 16,5%). Nesse estudo, o por calor parece ter envolvimento endócrino. De
aumento no ganho diário de peso da leitegada foi acordo com esse argumento, essas fêmeas apre-
atribuído a uma maior mobilização das reservas sentam níveis reduzidos de hormônios catabólicos
corporais devido ao provável desbalanço de alguns circulantes, tais como triiodotironina e tiroxina, os
AA essenciais (treonina, triptofano e valina) na quais exercem importante função no controle do
dieta com baixo teor de PB. Houve um aumento metabolismo celular, reduzindo a produção de calor
numérico de aproximadamente 8 MJ no consumo metabólico como forma de adaptação ao estresse
diário de EL (energia líquida) e uma redução de 30% térmico. Isso resulta em efeito negativo sobre a
da perda corporal de fêmeas suínas multíparas man- mobilização de reservas corporais para produção
tidas a 29°C, com a utilização de uma dieta com re- de leite e sobre a própria síntese de leite. Menores
dução de PB (17,6 e 14,2%) e teores de gordura mais concentrações plasmáticas de cortisol em fêmeas
elevados (+4%). Avaliando os efeitos da redução em lactação mantidas em ambiente a 30°C, quando
de proteína bruta (17,3 vs. 14,1% PB) da ração para comparadas a animais mantidos a 20°C, poderiam
fêmeas em lactação sob estresse por calor, obser- resultar em menor disponibilidade de energia para a
varam que essa redução permitiu um aumento de glândula mamária, uma vez que o cortisol favorece a
12% (540g/dia) no consumo diário de ração, o que mobilização das reservas corporais.
Tabela 2 – Resumo de resultados produtivos da maternidade para fêmeas submetidas a diferentes dietas
Dieta
Sign.1
Variáveis NP LP NP+
Consumo diário de ração, kg/d 4,39 4,93 4,91 *
Perda peso corporal da fêmea, kg 27,0 25,4 21,8 *
Tamanho da leitegada
Ao Parto (após equalização) 12,2 12,4 11,4 NS
Ao Desmame 10,1 10,1 10,7 NS
Peso do leitão ao desmame, kg 7,5 7,4 7,1 NS
GPD leitegada, kg/ dia 2,2 2,1 2,1 NS
Produção de Leite, kg/d 7,6 7,3 7,5 NS
1 Sign.: * P<0.05 e NS não significativo.
NP = dieta proteína normal (17,3%)
LP = dieta com redução de proteína (14,1%)
NP+ = dieta NP + complemento de AAs “on top”
Fonte : Adapatado de Silva et al., 2009b
GPD ou gordura na carcaça reduziu mais de 5%. 4Gordura na carcaça foi avaliada pela espessura de toucinho ou pelos pesos de cortes de gordura ao abater (ND, não determinado).
Temperatura ambiente diária foi considerada quando a temperatura variou durante o dia. 2 Suplementação com aminoácidos industriais 3Ingestão de energia metabolizável (EM ingestão, MJ/d) ou ganho
de peso diário (GPD, g/d) ou mudança no conteúdo de gordura da carcaça com base no conteúdo de gordura da dieta entre normal e baixo expresso como percentagem de ingestão de EM, GPD ou gordura
na carcaça mensurado em suínos alimentados com uma dieta com conteúdo normal de gordura. ä eää = EM ingerida, GPD ou gordura na carcaça aumentou mais de 5e 10%, respectivemente. àEM ingerida,
carcaça3,4
Com base nos resultados disponíveis na litera-
Gordura
ää
ää
ND
à
à
tura, a utilização de dietas com redução de PB em
ä
ä
Tabela 3 – Efeito da inclusão de gordura na dieta sobre o desempenho de suínos em crescimento sob condições de estresse térmico por calor.
ambientes de alta temperatura pode amenizar os
889
efeitos do estresse por calor somente em animais
∆ GPD3
com maior susceptibilidade térmica (suínos em fase
ää
ää
ää
ää
à
à
à
à
ä
final de terminação e fêmeas em lactação). Também
se pode sugerir que os benefícios do uso de dietas
de baixo incremento calórico são mais evidentes
ingestão3
∆ EM
ää
ää
sob condições comerciais de produção de suínos,
à
ä
ä
em particular em regiões tropicais úmidas.
Dieta gordura
Aumento da densidade
níveis, %
2.4-11.0
3.6-10.6
3.6-10.6
3.4-8.0
3.4-8.0
2.5-7.5
2.5-7.5
2.5-7.5
2.5-7.5
nutricional da ração
O aumento na densidade nutricional da ra-
ção pode ser uma alternativa interessante para
contornar a redução observada no consumo e no
variação, %
Nº. suínos/ Dieta PB
desempenho de suínos mantidos sob condições de
11.02
22.2
22.2
18.0
16.9
16.9
15.7
16.8
13.4
estresse por calor. O aumento dos níveis de energia
e/ou proteína da dieta pode compensar o consumo
reduzido sob condições ambientais quentes.
Algumas pesquisas foram conduzidas para
trat
40
40
40
49
49
8
8
6
5
avaliar o desempenho de suínos em crescimento
mantidos sob condições ambientais de alta tempera-
tura e alimentados com dietas contendo altos níveis
Variação
93-136
85-110
85-110
81-100
PV, kg
20-60
64-80
Individual
Individual
Grupo
Grupo
Grupo
Grupo
Grupo
29.51
29.51
T, °C
30.0
32.9
35.0
30.0
ção. Aparentemente para esses animais, o ajuste no de leite não foram afetadas pelos tratamentos. Em
consumo em resposta às mudanças da densidade contrapartida, quando as dietas foram corretamen-
energética não foi completo. Em outras palavras, o te balanceadas na relação PB ou lisina para a EM, o
890
aumento do peso metabólico e o aumento da capa- aumento na densidade de nutrientes para fêmeas
cidade gastrointestinal podem ter desempenhado suínas lactantes sob estresse por calor melhorou
um papel fundamental na habilidade do suíno em o ganho de peso da leitegada, que demonstrou
ajustar o consumo de ração com base na densidade aumento do conteúdo de gordura do leite, mas não
energética. De acordo com a tabela 2, suínos em ter- impediu a mobilização de reservas corporais. Entre-
minação alimentados com dietas com altos teores de tanto, a magnitude desses efeitos parece ser depen-
gordura se apresentam mais gordos do que os suínos dente do nível de incorporação de gordura na dieta.
da dieta controle. Esse efeito pode ser relacionado Alguns estudos foram conduzidos para avaliar
principalmente com o desbalanço na relação energia: os efeitos da suplementação de AA em suínos em
proteína, ou seja, excesso de energia relativo à in- crescimento ou fêmeas em lactação mantidos sob
gestão de proteína. Apesar de muitos estudos terem condições de estresse por calor. Não observaram ne-
sido conduzidos com o objetivo de avaliar os efeitos nhuma melhoria no desempenho de crescimento ou
da concentração energética da dieta para suínos na carcaça de suínos mantidos a 32°C e alimentados
em crescimento, poucos estudos avaliaram o efeito com uma dieta suplementada com lisina, treonina e
combinado de dietas com alta energia e balanceadas triptofano industriais ou uma dieta controle com a
de forma correta para a relação proteína: energia mesma quantidade de PB e EM. Em fêmeas lactantes,
sob condições de estresse por calor. Esses estudos o aumento do nível de lisina de 0,75 para 0,95% não
avaliaram os efeitos da densidade dos nutrientes em resultou em maior produção de leite nem reduziu a
suínos em fase final de terminação criados durante mobilização de reservas corporais no verão. Assu-
o verão no Norte da Flórida (EUA), utilizando dietas mindo que as necessidades de arginina aumentam
com adição de gordura e suplementadas com lisina em porcas em lactação mantidas sob condições de
industrial como forma de manter constante a relação estresse por calor devido a uma exigência específica
lisina: EM. Esses autores demonstraram que suínos da glândula mamária, não encontraram nenhum efei-
alimentados com dietas de alta densidade (14,9MJ/ to sobre o desempenho de porcas para uma mudança
EM e 0,82 lisina/kg) consumiram menos alimento, na relação de arginina: lisina de 1,0 para 1,8. Podemos
entretanto apresentaram um crescimento diário concluir que mais estudos são necessários para iden-
maior do que os suínos na dieta controle (13,8MJ/ tificar o perfil ideal de aminoácidos para suportar o
EM e 0,71 lisina/ kg). Os mesmos autores não ob- desempenho de fêmeas suínas estressadas por calor.
servaram nenhum impacto do tratamento com alta Por exemplo, fêmeas suínas sob estresse por calor
densidade sobre a deposição de gordura na carcaça geralmente mobilizam reservas proteicas para poder
quando comparado com o controle. Utilizando uma suportar as necessidades de aminoácidos para a sín-
dieta com baixo teor de PB para suínos em fase final tese da produção de leite. Baseado no fato de que o
de terminação mantidos sob condições de estresse perfil de aminoácidos liberados pela mobilização dos
por calor, não encontraram melhoras no desempe- tecidos corporais é diferente daquele encontrado
nho de crescimento com adição de gordura à dieta. no leite, podemos assumir hipoteticamente que o
O fornecimento de dietas com altos níveis de padrão de AA da dieta poderia mudar em função das
inclusão de gordura também foi estudado para fê- condições ambientais a que a porca é submetida.
meas suínas sob estresse por calor, entretanto sob
condições variáveis. Quando dietas com alto teor de Uso da água
gordura foram utilizadas sem aumentar o conteúdo O consumo de água durante o estresse por
de PB ou AA essenciais para manter uma relação calor é um fator limitador para a sobrevivência e a
constante de PB/EM, a perda de peso e a produção mantença do desempenho uma vez que a água tem
lor aumenta a excreção urinária de vários minerais, de consumo diário, bem como na redução da inges-
levando a uma menor retenção desses minerais pe- tão total de alimento pelas fêmeas (gráfico 1). Essas
los suínos. Portanto, podemos sugerir que mais pes- estratégias podem incluir mudanças nos períodos
892
quisas deveriam ser realizadas, visando determinar de arraçoamento com a distribuição da ração nos
as necessidades de vitaminas e minerais para suínos períodos mais amenos do dia ou um sistema de
mantidos sob condições de estresse por calor. alimentação duplo com uma dieta de alta proteína
nos momentos mais frescos e uma dieta com alta
Estratégias de Alimentação concentração de energia durante os momentos de
Em suínos em crescimento e porcas em lacta- temperaturas mais quentes do dia. Em contraste
ção, o padrão de consumo de ração é predominan- com o uso dessas técnicas no caso das aves, ainda
temente diurno com dois picos de alimentação, não foram investigadas e merecem oportunidades
ocorrendo um durante a manhã e outro no final da futuras de pesquisa no caso dos suínos.
tarde. A ocorrência e a intensidade desses picos O maior potencial de produção dos suínos
são determinados pelo padrão de luminosidade e atualmente tende a gerar maior susceptibilida-
as mudanças na temperatura. Por exemplo, o tempo de ao estresse por calor. Devido à produção de
entre os picos aumenta de tal forma que o consu- suínos nas regiões tropicais e subtropicais, as es-
mo de ração tende a ocorrer durante as menores tratégias nutricionais podem limitar os impactos
temperaturas no período da manhã e da tarde. De negativos gerados pela redução na capacidade de
acordo com o conhecimento do padrão diurno de consumo de nutrientes em suínos sob condições
comportamento alimentar dos suínos ou porcas de estresse por calor e permitir melhoras no de-
em lactação mantidos sob condições de estresse sempenho produtivo. O uso de dietas com baixo
por calor, pode ser sugerido que o uso de programas incremento calórico pode efetivamente atenuar
alimentares poderia auxiliar na melhora do desem- os efeitos do estresse térmico em particular so-
penho sob estresse por calor. Observou-se que o bre suínos em fase final de terminação ou fêmeas
estresse por calor ocasionou alterações na cinética em lactação, mas somente quando as dietas são
600 30
500 25
400 20
Temperatura ambiente, ºC
Consumo de ração, g/h
300 15
200 10
100 5
0 0
0 4 8 12 16 20
Hora do dia, h
Muito quente Quente P<0,05
Gráfico 1 – Efeito da estação e hora do dia sobre as flutuações diárias da temperatura (linhas
pontilhadas) e do consumo de ração em porcas lactantes (linhas sólidas).
Fonte: Silva et al., 2009a
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O
Brasil é um dos maiores produtores mun- de um meio ambiente adequado torna-se condição
diais de carne suína, entretanto detém indispensável para que os animais possam expressar
grandes perdas produtivas uma vez que a seu máximo desempenho produtivo, associado ao
maioria das instalações não possui recursos de cli- bem-estar. Nesse contexto, é necessário que se esta-
matização adequados, com limitada eficiência, por beleçam adequadamente os manejos a serem adota-
causa do custo de implementação e manutenção dos em todas as etapas dos processos de produção,
desses sistemas, ou do custo de energia. O clima do utilizando-se, para tanto, dimensionamentos corretos
Brasil apresenta grande variação e tipologia, porém de sistemas de condicionamento térmico.
sua maior área está na zona intertropical, entre o Basicamente a climatização de ambientes, por
Equador e o trópico de Capricórnio, predispondo a meios artificiais, ocorre por aspersão de água na
ocorrência de verões com temperatura e umidade cobertura ou nos animais, ventilação forçada ou
elevadas, elementos meteorológicos que podem nebulização, associados ou não uns aos outros. A
influir na produtividade agropecuária, aumentando ventilação auxilia na dissipação de calor, podendo
sensivelmente a mortalidade de animais alojados. promover o resfriamento por convecção, isto é, troca
Atualmente, não se pode admitir que a pro- do ar mais quente existente ao redor do animal, ser-
dução de suínos esteja alheia aos novos conceitos vindo também para movimentar e eliminar partículas
de bem-estar. Dessa forma, a ambiência agrega de aerossóis poluentes suspensos no ar. Com o uso de
profissionais dos mais diferentes setores para que ventiladores associados a nebulizadores há produ-
possam, juntos, solucionar problemas de ocorrên- ção de uma névoa de água que se evapora com o fluxo
cia diária na suinocultura moderna. Considerando de ar originado pelo ventilador, não molhando o chão.
que poucos países são tão dependentes das varia- No Brasil, a maior preocupação com o conforto
ções de tempo e clima quanto o Brasil (a Amazônia, térmico dos animais é o estresse por calor. As me-
quente e úmida contrasta-se com o Nordeste semi- didas utilizadas para reduzir a temperatura dentro
árido; a sucessão das estações seca e chuvosa do dos galpões são principalmente o direcionamento do
Planalto Central distingue-se da quase regularida- galpão no sentido leste-oeste, o tipo de telha e outros
de das chuvas na região Sul), torna-se fácil enten- materiais utilizados, as aberturas nas laterais e as
der a importância do estudo da influência do clima dimensões desses galpões. Em geral, na suinocultura,
sobre os animais, considerando-se não apenas a os galpões possuem de 8 a 12 metros de largura e
questão do bem-estar animal, mas também os efei- pé-direito de 3,2 metros, com as laterais abertas, o
tos sobre a produtividade e a qualidade da carne. que proporciona maior ventilação dentro do galpão e
Com o avanço no sistema produtivo, tanto do pon- melhor qualidade do ar. O uso de cortinas nas laterais
to de vista genético quanto gerencial, a determinação é adotado apenas nas fases de maternidade e creche.
A temperatura crítica alta de suínos sofre influ- a temperatura do ar, o nível de umidade do ar, a
ência da ventilação, da presença de um mecanismo umidade das superfícies, a uniformidade na tem-
aspersor e da temperatura da água ingerida. A tem- peratura do ar, a velocidade do vento na superfície
897
peratura crítica de resistência ao calor é aumentada dos animais e o controle da concentração de gases e
pelo acionamento do mecanismo de troca térmica odor dentro das instalações.
da convecção por ventilação. A pele molhada pelo Os sistemas de ventilação podem ser naturais,
mecanismo aspersor tem um acréscimo de resistên- forçados ou uma combinação dos dois sistemas. Os
cia a temperaturas altas de até 7°C. A temperatura estilos das instalações e manejo são muitas vezes
da água ingerida funciona como um mecanismo de mais críticos no sistema de ventilação natural do
refrigeração. O parâmetro desejável de temperatu- que no sistema de ventilação forçado. O sistema de
ra da água de bebida para os suínos está entre 10°C ventilação natural é manejado de forma que, duran-
e 26ºC. Água com temperaturas superiores a 32ºC te o inverno, a temperatura dentro das instalações
são impróprias para o fornecimento aos animais. atinja somente 3oC acima da temperatura ambien-
Já elementos físicos da construção, como altura te. Com o manejo correto da ventilação, é possível
do pé-direito, tipo de telhado, etc., também contri- ventilar o ambiente, permanecendo com a mínima
buem para melhorar o ambiente. O uso da cumeeira suplementação de calor.
no sentido leste-oeste promove maior interceptação
dos raios solares pelo telhado nas horas mais quentes Climatização no crescimento
do dia, evitando aumento da temperatura nos gal- e na terminação
pões e a insolação direta sobre os animais, o que po- O suíno estressado apresenta um desequilíbrio
deria resultar em problemas de pele. O tipo de telha hormonal decorrente da excessiva atividade do
utilizada no telhado também pode ajudar na redução eixo hipotálamo-hipófise-adrenal. Esses hormônios
da temperatura, o ideal seria uma telha com maior servem para adaptar o organismo à ação de estres-
refletividade na parte superior para ter o mínimo de sores. Várias funções fisiológicas e metabólicas são
absorção solar, já a parte inferior da telha deveria ter alteradas por causa desse desequilíbrio hormonal,
baixa emissividade, fator que dificulta a transferên- como é o caso do crescimento, reprodução e pro-
cia do calor absorvido para o interior das instalações. dução. A zona termoneutra varia segundo o estágio
Medidas como estas são de alta importância para de desenvolvimento em que se encontra o animal.
evitar aumento da temperatura nos galpões, entre- Em condições de manutenção, pouco calor está
tanto não são suficientes, e se faz necessário o uso da envolvido no metabolismo, com isto a temperatura
ventilação artificial com ventiladores e aspersores. crítica alta é mais elevada. Animais em estágio de
Vale salientar que a ventilação artificial deve ser crescimento produzem grande quantidade de calor
usada como medida complementar, não substituindo em função da alta taxa metabólica, o que faz cair a
as orientações construtivas do galpão, além disso a temperatura crítica alta.
ventilação artificial requer maior gasto energético e Suínos na fase de crescimento e terminação têm
deveria ser utilizada o mínimo possível. dificuldade em perder calor principalmente devido
O condicionamento térmico é função basi- ao aumento da camada de gordura que serve de
camente do isolamento térmico e da ventilação. isolante térmico e diminuição da relação área super-
A radiação solar incidente e o calor gerado pelos ficial por volume de área corporal. No estresse por
animais constituem as principais fontes de calor nas calor, os animais diminuem o consumo de alimentos
edificações. O primeiro pode ser controlado pelo e desviam energia para controle da homeotermia, o
isolamento térmico, e o segundo, pela ventilação. que acarreta baixa dos índices zootécnicos e prejuí-
Ventilação é um processo que controla vários fato- zos econômicos. Além disso, em situação de estresse,
res do ambiente pela diluição do ar interno através os animais podem ter queda da imunidade, ficando
do ar externo. Os sistemas de ventilação afetam mais susceptíveis a doenças. Medidas construtivas
das instalações como direcionamento do telhado no resfriamento, utilizando ventiladores com capacidade
sentido leste-oeste, uso de telhas mais isolantes e acima do requerido durante o inverno. O resfriamento
aberturas nas laterais dos galpões são importantes evaporativo reduz a temperatura por vaporização da
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para diminuir a temperatura nos galpões. Entretanto, água, aumentando a umidade relativa, entretanto,
em granjas de alta produção, o uso de galpões clima- quando a umidade relativa está em torno de 60-70%,
tizados pode ser uma alternativa viável para propor- facilita as trocas de calor por evaporação. Entre os
cionar adequado conforto térmico aos animais. sistemas de resfriamento, os nebulizadores são os
A ventilação forçada deve ser utilizada sempre mais eficientes para o resfriamento do ar. O sistema de
que a ventilação natural for insuficiente para manter nebulização permite a formação de gotículas extrema-
temperaturas confortáveis dentro das instalações. mente pequenas, que aumentam a superfície de con-
Pode ser feita por ventiladores (pressão positiva) tato de uma gota d’água exposta ao ar, assegurando
ou por exaustores (pressão negativa). O uso da uma evaporação mais rápida. A nebulização associada
ventilação tipo túnel garante maior uniformidade à movimentação de ar ocasionada pelos ventiladores
da temperatura dentro dos galpões e consiste em acelera a evaporação e evita que a pulverização ocorra
deixar as laterais dos galpões fechadas com uma das em um só local.
extremidades aberta para entrada de ar e, na outra No sistema de ventilação forçada, as trocas de ar
extremidade, colocar os ventiladores ou exaustores. dentro das instalações são estabelecidas por ventila-
Em regiões de clima quente e seco, o uso da dores. Esse sistema difere do sistema de ventilação
ventilação forçada pode não ser suficiente para natural por ser menos dependente da velocidade do
proporcionar conforto térmico aos animais, e o mais vento e suas flutuações e por apresentar continuado
interessante é o uso do resfriamento adiabático consumo de energia. A principal vantagem do siste-
evaporativo, no qual o ar do exterior é forçado a en- ma de ventilação forçada é a possibilidade de contro-
trar no galpão através de um sistema de ventilação lar a taxa de ventilação. Os sistemas de pressão posi-
associado a uma placa porosa com gotejamento tiva são os mais utilizados para animais, por meio dos
constante, por meio da qual o ar é resfriado e ume- quais os ventiladores forçam a entrada do ar externo
decido antes de adentrar o galpão. Esse sistema para dentro das instalações, movimentando o ar den-
garante maior diminuição da temperatura e aumen- tro destas. Em estudos com imagens termográficas,
to da umidade e da qualidade do ar, promovendo concluiu-se que o limite superior da zona de conforto
maior desempenho dos animais. de suínos em crescimento e terminação foi de aproxi-
Durante o verão, em instalações fechadas, o siste- madamente 21,6°C.
ma de ventilações também é usado com o objetivo de Esses resultados indicam que a concentração de
amônia está mais relacionada com o volume e a circu- no grupo submetido até 8 dias pós-parto do que ao
lação de ar no interior das instalações, o manejo dos mantido entre 8 e 16 dias pós-parto, sugerindo maior
dejetos e da cortina, a tipologia da construção e as con- suscetibilidade dos embriões durante o período de
899
dições de clima local, do que basicamente da lotação e implantação. Pode-se, portanto, concluir que porcas
da densidade de massa no interior. Os teores médios no meio de gestação são relativamente resistentes a
de NH3 não superaram 20ppm, que começa a afetar altas temperaturas, enquanto porcas no começo ou
o desempenho dos suínos. A mesma análise pode ser final de gestação são altamente suscetíveis.
feita no aspecto de salubridade, em que teor a partir de Particularmente, as temperaturas elevadas
20ppm começa a ser prejudicial ao trabalhador. atrasam o início da puberdade, diminuem a taxa de
concepção e aumentam a mortalidade de embriões.
Climatização na gestação Alguns desses efeitos ocorrem diretamente nos ór-
Condições térmicas durante o verão tropical com gãos reprodutivos. Além disso, a temperatura pode
temperatura do ar acima de 25oC e com intensiva agir via hormônios, atuando sobre o período estral, no
radiação solar produziram claramente sintomas de comportamento sexual, na concentração de progeste-
hipertermia em porcas gestantes, durante as primei- rona e LH de fêmeas submetidas a altas temperaturas.
ras e últimas semanas de gestação. Características das O uso de ventiladores é essencial em instalações
reações termorregulatórias em porcas submetidas para porcas gestantes, que não possuem bom fluxo
a condições de estresse térmico foram as seguintes: natural de ar. Os nebulizadores são normalmente
aumento da temperatura retal e temperatura da pele, ligados e desligados automaticamente para intermi-
aceleração da frequência respiratória, diminuição na tentemente molhar e secar. A duração de cada período
emissão de calor sensível, aumento da vasodilatação de nebulização depende da taxa de água e das condi-
e diminuição dos tecidos. Entre os métodos utilizados ções climáticas do local. A nebulização com um ciclo de
para o resfriamento de porcas durante dias quentes, 30min ligada para 5 até 15min desligada promove uma
o mais efetivo é molhar os animais com água fresca, boa refrigeração com um mínimo uso de água. O fluxo
desde que o ar proveniente dos ventiladores não seja de ar deve ser na forma de ar fresco e seco vindo do
suficiente para refrescar o ambiente. exterior da edificação, não do ar reciclado que logo se
As fêmeas, quando expostas a altas temperatu- tornará saturado. A distribuição de ar em áreas de con-
ras, têm sua função reprodutiva afetada ocorrendo finamento não será crítica se todo animal tiver acesso
mortalidade pré-natal na fase inicial da prenhez. A aos nebulizadores e à movimentação de ar.
temperatura crítica inferior é de 7ºC e a superior Quando a temperatura do ambiente está perto
de 20 a 23ºC, para porcas prenhas. A temperatura ou acima da temperatura crítica superior por várias
ótima recomendada para as porcas em gestação horas, o ambiente deve ser resfriado. Fêmeas ges-
varia entre 12,8 e 18,3ºC. Temperaturas elevadas tantes alojadas em altas temperaturas apresentam
comprometem também a duração do ciclo estral em reduzidos sinais de estro, aumento de perdas em-
porcas. A concentração de estradiol diminui e a de brionárias durante o início e final de gestação, haverá
progesterona aumenta quando as porcas em gesta- também aumento na taxa respiratória, pulsação e
ção são expostas a altas temperaturas (35,1 °C). Isso temperatura da pele. Em temperaturas de 35oC ou
sugere que estresse térmico pode inibir o desenvol- mais, porcas apresentam baixa tolerância à umidade
vimento folicular durante o começo do ciclo estral, e, relativa superior a 65% por mais de 7 horas.
consequentemente, estender o período de anestro. Dependendo da estação (verão ou inverno), a
Estudos indicam que porcas mantidas em estresse resposta fisiológica das porcas pode ser diferente
térmico (37,8ºC) até 8 dias ou de 8 a 16 dias pós-parto (tabela 2), bem como o número de leitões mumifica-
tiveram taxa de concepção e número de leitegada dos (tabela 3).
menor que o do grupo controle (23,3ºC). Os danos O uso de ventilação forçada associado à
causados pela elevada temperatura foram maiores nebulização teve efeito positivo nas porcas ges-
Estação do ano
900 Sistema de ventilação Verão Inverno Média
Forçado 26,89c 19,23a 23,10
Natural 27,67 21,50b 24,60
Média 27,30 20,4
Fonte: SOUSA (2002)
Ventilação/Estação MF PMD
Natural/verão 1,70b 5,93
Natural/inverno 1,48c 5,86
Forçada/verão 1,47c 6,03
Forçada/inverno 1,30 a 5,90
Fotos 1 e 2 - Sistema de climatização em túnel
MF = média dos leitões mumificados; PMD = peso médio de leitões
em gestação. Vedação do teto e das laterais e
ao desmame. entrada de ar resfriado numa das extremidades do
Letra diferente na coluna significa diferença (p ≤ 0,05). barracão, com exaustão na outra extremidade.
Fonte: SOUSA (2002) Fonte: ABCS
fície da pele é de grande significado no desenvol- ratura retal das porcas em lactação oscila em torno
vimento do ambiente ótimo para maximizar o de- de valores médios próximos a 38,6ºC. A resposta da
sempenho dos animais. A temperatura superficial temperatura retal às mudanças no calor corporal
902
da pele aumenta com o aumento na temperatura interno é relativamente lenta. Ou seja, em situações
ambiente e radiação solar e diminui com o aumento de temperatura ambiente elevada sem climatiza-
na velocidade do ar. Quando a pele está úmida, a ção, após a porca ter exaurido as formas de perda
perda de calor evaporativo aumenta com a elevação de calor pelo aumento na frequência respiratória e
na temperatura ambiente, velocidade do ar e radia- pela temperatura superficial, ocorre o incremento
ção solar, mas diminui com aumento na umidade na temperatura retal, confirmando ser um indicati-
relativa do ar. vo tardio do estresse calórico.
Em razão do aumento na temperatura ambiente Os sinais fisiológicos de estresse calórico nos
durante o dia, a frequência respiratória, a tempera- suínos modernos ocorrem em temperaturas mo-
tura retal e a temperatura superficial das porcas em deradas devido à alta atividade metabólica. Além
lactação apresentam valores mais elevados no perí- disso, a série de mecanismos de termorregulação
odo da tarde em relação ao período da manhã. Além exigidos na reação ao estresse calórico é dispendio-
disso, o efeito do resfriamento evaporativo é maior sa e aumenta a carga de calor interno.
no período da tarde, quando as porcas são subme- É importante destacar que o peso dos leitões
tidas a condições de temperaturas mais elevadas e ao desmame é reduzido quando as porcas são ex-
umidade relativa do ar mais baixa. postas a períodos prolongados de temperatura
O aumento na frequência respiratória é o acima de 25°C. O ambiente quente combinado
primeiro indicador fisiológico da reação do suíno com elevada produção de calor metabólico na
à temperatura ambiente acima da termoneutrali- lactação prejudica o desempenho das porcas e
dade com o objetivo de maximizar a perda de calor dos leitões. Esse problema pode ser reduzido
evaporativo através dos pulmões. A frequência com adequação na ambiência, como o uso do
respiratória normal em suínos está ao redor de 20 resfriamento evaporativo a fim de aumentar a
movimentos respiratórios por minuto e este valor perda de calor da porca e minimizar os efeitos do
pode ser aumentado durante o período de lactação estresse calórico.
pelo aumento no consumo de ração. Considera-se As figuras 1 e 2 ilustram as imagens termográfi-
a porca ofegante quando a frequência respiratória cas das temperaturas superficiais de porcas em lac-
está acima de 40 movimentos por minuto. tação, nos períodos da manhã e da tarde, de acordo
Em condições de termoneutralidade, a tempe- com o sistema de ventilação.
903
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