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Gabriel Antônio Custódio Silva

Filosofia

(ENEM - 2019) Penso que não há um sujeito soberano, fundador, uma forma universal
de sujeito que poderíamos encontrar em todos os lugares. Penso, pelo contrário, que o
sujeito se constitui através das práticas de sujeição ou, de maneira mais autônoma,
através de práticas de liberação, de liberdade, como na Antiguidade — a partir,
obviamente, de um certo número de regras, de estilos, que podemos encontrar no meio
cultural.

FOUCAULT, M. Ditos e escritos V: ética, sexualidade, política.Rio de


Janeiro: Forense Universitária, 2004​.

O texto aponta que a subjetivação se efetiva numa dimensão:

a) legal, pautada em preceitos jurídicos.


b) racional, baseada em pressupostos lógicos.
c) contingencial, processada em interações sociais.
d) transcendental, efetivada em princípios religiosos.
e) essencial, fundamentada em parâmetros substancialistas.

Resposta: ​C

Justificativa:
Podemos tomar duas linhas de pensamento para resolver essa questão:
1 -​ Observando o contexto histórico do autor e analisando as alternativas:
‘ Partindo da observação que o texto é de Foucault, um filósofo contemporâneo,
não precisamos necessariamente conhecê-lo. Pelo seu tempo, podemos inferir que se
trata de um momento da filosofia em que havia se abdicado do racionalismo pregado no
Iluminismo, na verdade, era um momento de crítica à razão (Aqui, eliminamos a
alternativa ‘b’). Da mesma maneira, trata-se de uma filosofia que buscava libertar o
homem de dogmas que o impediam de ser pleno politicamente e individualmente,
assim, não seria possível afirmar que o caminho para a libertação seja guiar os
indivíduos por meio de preceitos religiosos ou jurídicos (Desse modo, eliminamos a
alternativas ‘a’ e ‘d’). No tempo de Foucault, já havia se abdicado, a muito tempo, a
noção de tratar as questões humanas como a questão da substância, como nos
filósofos seiscentistas (Descartes, Espinosa, Leibiniz, etc), por isso, não faria sentido
que fosse uma questão fundamentada em parâmetros substancialistas (Por fim,
eliminamos a questão ‘e’). Assim, a única resposta possível é que seja a alternativa ‘c’:
contingencial, -- isto é, o que deriva de escolhas e as possibilita -- processada em
interações sociais.

2 -​ Procurando o sentido filosófico do próprio texto:


A pergunta pede ao candidato para assinalar o que o texto afirma sobre a
dimensão que se efetiva a subjetivação, isto é, de que modo se dá a consolidação do
sujeito na visão do filósofo citado acima. Por isso, em questões de filosofia é de
extrema importância compreender o que está sendo perguntado. Assim, vamos ao texto
entender qual é a visão de formação do sujeito para Foucault.
O trecho inicia dizendo o que NÃO é sujeito para o filósofo: “​Penso que não há
um sujeito soberano, fundador, uma forma universal de sujeito que poderíamos
encontrar em todos os lugares​”. Com essa frase já podemos inferir que não se trata do
sujeito que encontramos nas perspectivas jurídicas, religiosas ou essenciais
(substancialistas). Por quê? Porque todas essas visões de mundo pressupõem uma
forma universal de sujeito. A jurídica por sua natureza de ver todos homens iguais
perante as leis, a religiosa por partir do princípio em que a imagem do homem é feita à
semelhança da divina e, por isso, tem prescritivos éticos universais para os humanos, e
a visão substancialista por prescrever um modelo universal de homem por meio da
substância, também colocando uma ética universal.
Então, até aqui, não poderiam ser as alternativas ‘a’, ‘d’ e ‘e’.
Após isso, o filósofo diz que o sujeito para ele se constitui “através das práticas
de sujeição ou, de maneira mais autônoma, através de práticas de liberação, de
liberdade (...) a partir, obviamente, de um certo número de regras, de estilos, que
podemos encontrar no meio cultural”. Observando as palavras-chave dessa frase, entre
as duas alternativas restantes, não parece razoável afirmar que é a alternativa ‘b’ que
diz que é “​racional, baseada em pressupostos lógicos”​ , não vemos no trecho nenhuma
menção à lógica ou racionalidade. Mas ao olhar para a alternativa ‘c’: ​“contingencial,
processada em interações sociais” ​, vemos que faz todo o sentido, e isso se justifica
quando Foucault diz que escolhemos nos sujeitar a regras que encontramos no meio
cultural. Se escolhemos nos sujeitar, então é contingencial, e se adquirimos no convívio
social, então é processada em interações sociais. Logo, a letra ‘C’ é a resposta mais
plausível para a questão.

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