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Sexta-feira, 26 de setembro de 2003 DIÁRIO DO GRANDE ABC 3

A educadora Adriana Friedmann fala sobre Ela diz que as crianças se expressam ao
a importância das atividades lúdicas e brincar, mas que o professor nem
das brincadeiras dentro da escola sempre consegue perceber isso

A importância de brincar
brincadeira é uma linguagem Adultos e crianças usam a atividade lúdica. Mas, para

A natural da criança e é importante


que esteja presente na escola desde
a educação infantil para que o
aluno possa se colocar e se
expressar através de atividades lúdicas –
considerando-se como lúdicas as
brincadeiras, os jogos, a música, a arte, a
brincadeira com significados
diferentes, afirma a educadora. “O
adulto não se solta tanto. Por isso, o
jogo do adulto é diferente, mais
complexo e político. Às vezes, é um
hobby. Mas seria muito saudável se os
pais se soltassem mais com os filhos na
isso, o jogo é uma das
estratégias e não a única”,
afirma.
Ela também esclarece
que o trabalho com
brincadeiras deve ser
realizado de maneira
Formação
O primeiro passo para se trazer o lúdico,
a brincadeira para dentro da escola, de
acordo com a escritora, é uma reunião onde
os educadores resgatem a própria infância,
a memória. “Do que brincavam, como
brincavam, lembrarem-se de uma figura
expressão corporal, ou seja, atividades que hora de brincar e jogar com eles.” diferente nos ensinos especial. É um momento de humanizar as
mantenham a espontaneidade das crianças. infantil e fundamental. “No relações, de resgatar o sentimento e
A argumentação é da professora de pós- fundamental é mais formal, lembrar como eles eram e o que sentiam
graduação, educadora e escritora Adriana Dentro da escola voltado para as vivências quando viviam o momento que as crianças,
Friedmann. “As brincadeiras são linguagens Na escola, Adriana acredita ser possível o curriculares. É mais fácil para o seus alunos, estão vivendo agora. Todo
não verbais, nas quais a criança expressa e professor se soltar e trabalhar os jogos como professor do infantil falar de muito foi criança e teve essa vivência”, diz.
passa mensagens, mostrando como ela forma de difundir os conteúdos. Para isso, brincadeiras, enquanto o Além disso, de acordo com Adriana, há
interpreta e enxerga o mundo”, afirma. são necessários três pontos fundamentais: educador do fundamental precisa grupos de informações e formação que
Segundo Adriana, o professor, de vivência, percepção e sentido, reflexão em de mais estratégia.” podem ser procurados por quem se
maneira geral, não está preparado para cima da vivência. Ou seja, o educador Para ela, no estado de São interessa em utilizar o lúdico na prática de
lidar com a presença das brincadeiras precisa selecionar situações Paulo, inclusive no interior, ensino. Uma dica é o Nepsid (Núcleo de
dentro da escola. Para ela, neste momento, importantes dentro da há escolas públicas Estudos e Pesquisas de Simbolismo,
o processo de formação do educador não vivência em sala de aula; realizando trabalhos Infância e Desenvolvimento), o endereço
oferece uma orientação pedagógica para perceber o que sentiu, como interessantes, nos quais os na Internet é nepsid@terra.com.br, do qual
essa consciência de que a criança precisa se sentiu e de que forma isso professores se abrem dentro a educadora faz parte. “Os professores
colocar no mundo através da linguagem influencia o processo de das atividades lúdicas. “É um podem entrar em contato e se orientar
dela. “A criança fala de forma mais aprendizagem; além de trabalho lento, que necessita de sobre cursos de formação. Eu posso dar
espontânea, enquanto o professor tem compreender que no vivenciar, reciclagem contínua.” orientações, temos cursos para
muito medo de perder o controle. Ele acha no brincar, a criança é mais brinquedistas, para formação de
que se não ensinar algo específico, não espontânea. “Sem dúvida, os brinquedoteca.” Segundo ela, há também a
controlará os estudantes. Mas as atividades conteúdos podem ser trabalhados Aliança pela infância, movimento que reúne
lúdicas revelam e apóiam o com o uso do jogo. A criança pode profissionais voltados para área da
desenvolvimento do aluno. O professor trabalhar ou fixar infância, o endereço eletrônico é
precisa tomar conhecimento disso e não um conteúdo www.aliançapelainfancia.org.br, e que
exercer uma pressão que ignore a fase do com a neste final de semana (dias 29 e 30 de
faz-de-conta, do brincar e dançar. setembro) realiza o Primeiro
Normalmente, são Simpósio sobre a Primeira Infância na
atribuídas Construção de uma Cultura de Paz,
responsabilidades que está com as inscrições abertas.
muito precoces aos Adriana diz que maiores informações
alunos. Assumir as podem ser obtidas no endereço
brincadeiras na eletrônico da Aliança que traz
escola é uma postura um link para o evento.
que pede muita
reflexão aos
educadores.”

Jogo e brincadeira
Brincar é mais importante
até do que jogar, garante
Adriana. “O jogo é mais
estruturado, possui regras,
limites, quadra, peças,
tabuleiro.” Ela explica que,
para as crianças, o jogo
precisaria ser mais
Seri
espontâneo e físico. As
propostas para utilização das
brincadeiras e jogos na escola
precisam ser adequadas às
faixas etárias e às séries dos
alunos. “O bebê brinca e se
apropria do mundo através dos
sentidos dele. Com o olfato, o tato,
audição, paladar e visão ele apreende
o que acontece no mundo. Depois,
quando a criança começa a se expressar
pela fala, inicia-se o brincar simbólico, o
faz-de-conta, o construir e o desconstruir.
A partir dos seis anos é que começam os
jogos regrados e os alunos aprendem a
respeitar as regras do jogo; mais tarde,
podem usar as atividades lúdicas até para Fotos: Orlando Filho
desenvolver as regras sociais.”
De acordo com a educadora, atualmente,
o problema da utilização do jogo na escola,
está no fato dele ser usado apenas como
instrumento pedagógico e não como uma
linguagem através da qual o professor pode
ter informações da criança.
Adriana explica que no “Referencial
Curricular Nacional de Educação Infantil” Fale com @ gente
está incluída na lei a importância de brincar lhubner@diarionaescola.com.br
e levar a arte para dentro da educação
Tel: 4996-1993
infantil. “Há o movimento pela formação
dos professores, que precisam ser
capacitados e se soltar dentro do lúdico.
Precisam acreditar que isso é importante.”
Livros de Adriana Friedmann
Sem limite de idade A Arte de Brincar – 1992 –
A educadora também defende que não há Scritta (em 2004 pela Vozes)
idade para utilização das brincadeiras no
ensino. “O brincar e o lúdico devem ser O Direito de Brincar – a Brin-
mantidos até o final da vida das pessoas. A quedoteca – 1992 – Scritta
partir dos seis anos, a criança fica mais
competitiva, bem como os jogos para essa Brincar, Crescer e Aprender –
faixa etária. Eles são importantes para 1994 – Moderna Adriana Friedmann diz
ensinar a convivência em grupo, a competir
que os professores devem
e a cooperar. Os jogos cooperativos são uma Caminhos para uma Aliança
resgatar a infância, lembrar
nova proposta para desenvolver nos pela Infância – 2003 – Aliança
participantes as habilidades de trabalhar e pela Infância
de como brincavam e de
criar em conjunto. O lúdico se inseriu nos como aproveitaram o
ensinos fundamental, médio, Dinâmicas Criativas – Um Ca- momento que seus alunos
complementar, nas faculdades e até dentro minho para a Transformação estão vivendo agora
das empresas – os departamentos de de Grupos – Vozes –
recursos humanos utilizam jogos para tratar 2004
de qualidade e de temas importantes”, diz.

Coordenação pedagógica – Luciana Hubner Edição – James Capelli Diagramação – Alexandre Elias Diário na Escola – Santo André é um projeto do Diário em parceria com a Secretaria de Educação e Formação Profissional de Santo André.

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